Corrente Interferencial.unlocked

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE CINCIAS BSICAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM NEUROCINCIAS

    EFEITOS DO USO DA CORRENTE INTERFERENCIAL NO TRATAMENTO DA DOR DECORRENTE DE MICROLESO INDUZIDA POR EXERCCIO

    EXCNTRICO NOS MSCULOS FLEXORES E EXTENSORES DO JOELHO EM HUMANOS

    TESE DE DOUTORADO

    Clarice Sperotto dos Santos Rocha

    Porto Alegre, RS, Brasil 2012

  • EFEITOS DO USO DA CORRENTE INTERFERENCIAL NO TRATAMENTO DA DOR DECORRENTE DE MICROLESO INDUZIDA POR EXERCCIO

    EXCNTRICO NOS MSCULOS FLEXORES E EXTENSORES DO JOELHO EM HUMANOS

    Clarice Sperotto dos Santos Rocha

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Biolgicas, rea de

    Concentrao em Neurocincias, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    (UFRGS) como requisito parcial para obteno de grau de Doutora em

    Neurocincias.

    Orientadora: Profa. Dra. Wania Aparecida Partata Co-orientador: Prof. Dr. Milton Antnio Zaro

    Colaborador: Prof. Dr. Marco Aurlio Vaz

    Porto Alegre, RS, Brasil

    2012

  • II

    AGRADECIMENTOS

    - Ao Prof. Dr. Milton Zaro, orientador e exemplo de professor, pelo apoio e incentivo

    desde o incio da minha vida acadmica;

    - Profa. Dra. Wania Partata, orientadora e incentivadora, pela confiana, apoio e

    oportunidade de realizar esse trabalho;

    - Ao Prof. Dr. Marco Vaz, orientador e incentivador da minha vida acadmica, pelas

    inmeras contribuies em diversas fases do trabalho;

    - Profa. Dra. Matilde Achaval pelo incentivo linha de pesquisa Bases Neurais e

    Biomecnicas do Controle Motor, pelas contribuies ao longo do percurso e pela

    participao como membro da banca examinadora;

    - Profa. Dra. Stella Peccin e ao Prof. Dr. Ronei Pinto pela disponibilidade em

    participar da banca examinadora;

    - Ao meu marido, Paulo Cabral, pelo carinho, pacincia e constante incentivo na

    minha vida pessoal e profissional;

    - Aos meus pais, familiares e amigos pelo apoio e pacincia durante os quatro anos

    de trabalho;

    - s colegas Carolina Kolberg, Andra Horst, Tana Scheid e Maira Moares pelo

    incansvel apoio e por todos os ensinamentos, vocs so um exemplo de trabalho

    em equipe;

    - A todos os colegas do departamento de fisiologia, especialmente Felipe Coutinho e

    Rafaela Franceschi pelo apoio durante as anlises;

    - Aos colegas do ICBS: Luciane Balbinot, Gustavo Balbinot, Viviane Elsner, Gisele

    Lovatel e Felipe Stigger pelo apoio em diferentes momentos e pelo auxlio no

    recrutamento da amostra;

    - Aos professores do PPG Neurocincias pela contribuio na minha formao;

    - Ao professor Fbio Lanferdini pelo assessoramento na coleta de dados e apoio em

    vrios momentos do trabalho;

    - Aos professores Andr Lopes e Juliane Rossato pela coleta de sangue e auxlio na

    preparao das amostras;

    - Ao Prof. Dr. lvaro Reischak de Oliveira por disponibilizar o Laboratrio de

    Bioqumica do LAPEX (ESEF/UFRGS) para a coleta e preparao das amostras;

    - Ao professor e amigo Prof. Dr. Marcelo Faria pelo assessoramento estatstico e

    pelo apoio durante todo o processo;

  • III

    - Ao professor Tiago Kiefer pelas substituies nos momentos crticos e pelo auxlio

    durante a coleta de dados;

    - Ao fisioterapeuta Rodrigo Py pelo apoio na busca cientfica;

    - Ao fisioterapeuta Lucas Job e aos alunos do IPA e da PUCRS: Thiago

    Albuquerque, Letcia Maier e Luiz Fernando Biazus pelo precioso auxlio na coleta

    de dados e no recrutamento da amostra;

    - Aos colegas e alunos do LAPEX: Jlio Cezar Silva, Rafaela Cavalheiro, Juliana

    Bertani, Carlo Cancelli e Paulo Henrique de Moura pela ajuda nas coletas de

    dados;

    - Aos colegas Caroline Robinson e Alexandre do Pinho pelo apoio e auxlio na rea

    de Biomecnica;

    - Ao professor Fernando Favaretto pelo apoio em diversas fases do trabalho e

    auxlio no recrutamento da amostra;

    - Aos professores e ex-professores do IPA pela compreenso, apoio e substituies

    durante todo o processo, especialmente os professores Mauro Matos, Luciana

    Paiva, Vera Striebel, Fernando Prati, Andreia Calegari, Arnaldo Valentin, Cntia

    Stocchero e Marcelo SantAnna;

    - Aos fisioterapeutas Giovani Michielon e Ed Niger Nabarro pelo apoio em deferentes

    fases do processo e auxlio no recrutamento da amostra;

    - Ao IBTec pela disponibilizao e calibrao dos equipamentos;

    - Aos professores coordenadores do LAPEX (ESEF/UFRGS): Prof. Dr. Flvio Castro

    e Profa. Dra. Flvia Martinez pela liberao do laboratrio para a coleta de dados e

    pelo emprstimo dos equipamentos;

    - Aos funcionrios do LAPEX (ESEF/UFRGS), especialmente Dani, Luciano e Luis

    pelo apoio indispensvel durante a coleta de dados;

    - Andreia, Sara, Linhares e estagirios do PPG Neurocincias;

    - Aos rgos de fomento CNPq, CAPES, FINEP e FAPERGS pelo auxlio financeiro;

    - A todos os voluntrios que participaram da pesquisa.

    Obrigada!

  • IV

    APRESENTAO

    Esta tese o resultado da investigao sobre os efeitos da corrente

    interferencial no tratamento da dor relacionada com microleso muscular induzida

    por exerccio excntrico nos msculos flexores e extensores do joelho. A tese est

    estruturada em cinco captulos, onde inicialmente apresenta-se a introduo ao

    tema, seguida de trs subcaptulos de referencial terico que abordam os achados

    relativos ao tema, provenientes da literatura cientfica atual: Neurocincias e Dor;

    Exerccios Excntricos; Corrente Interferencial. No captulo sobre Material e Mtodos

    so apresentados dois artigos cientficos contendo os resultados obtidos nos

    estudos. O primeiro artigo mostra os efeitos da corrente interferencial aplicada nos

    msculos flexores de joelho aps a realizao de um protocolo de exerccios

    excntricos, sendo recentemente publicado no peridico Journal of Sports Sciences.

    Os resultados dos msculos extensores do joelho e de protenas marcadoras de

    leso encontram-se no segundo artigo, que est neste momento sendo analisado

    pelo corpo editorial de um peridico da rea. No captulo de Discusso, os principais

    resultados dos dois artigos cientficos so discutidos em conjunto, amparados por

    achados da literatura. No quarto captulo so mostradas as principais concluses

    dos dois artigos cientficos resultantes deste trabalho de doutorado, juntamente com

    perspectivas de futuros estudos sobre o tema da tese. No ltimo captulo

    encontram-se as referncias bibliogrficas dos textos cientficos consultados para a

    redao dos captulos de Introduo e Discusso. As referncias bibliogrficas dos

    artigos cientficos esto apresentadas ao final de cada trabalho. O modelo do Termo

    de consentimento livre e esclarecido assinado pelos participantes do estudo

    juntamente com os dados referentes calibrao do equipamento utilizado para

    avaliao do limiar de dor mecnica encontram-se em anexo no final do trabalho.

  • V

    RESUMO

    O objetivo do presente trabalho foi avaliar os efeitos da corrente interferencial

    na sensibilidade dolorosa e no torque muscular dos msculos flexores e extensores

    do joelho aps a realizao de um protocolo de exerccios excntricos. A amostra foi

    constituda de 41 indivduos saudveis do sexo masculino com idade entre 18 e 33

    anos, que foram divididos aleatoriamente em dois grupos experimentais: grupo

    corrente interferencial (n=21) e grupo placebo (n=20). Para induo da microleso

    muscular, ambos os grupos realizaram 100 contraes musculares isocinticas

    excntricas mximas (10 sries de 10 repeties) dos msculos flexores e

    extensores do joelho na velocidade angular de 60.s-1. No dia seguinte, os

    voluntrios receberam tratamento com corrente interferencial ou tratamento placebo

    em ambos os grupos musculares. O tratamento foi realizado durante 30 minutos

    utilizando-se 4 kHz de frequncia portadora (modulao de 80-150 Hz) e 125 s de

    durao do pulso. O limiar de dor mecnica, o pico de torque e a concentrao da

    protena creatina cinase foram avaliados em quatro momentos diferentes: antes da

    induo da microleso, imediatamente aps o exerccio, 24 horas aps a induo e

    aps o tratamento com corrente interferencial ou tratamento placebo. Tanto para os

    msculos flexores quanto extensores do joelho, ambos os grupos experimentais

    apresentaram uma reduo significativa no pico de torque e no limiar de dor

    mecnica aps a realizao dos exerccios excntricos, assim como uma elevao

    na concentrao de protenas marcadoras de leso, mostrando que o protocolo de

    exerccios foi efetivo na induo da microleso. Aps o tratamento, apenas o grupo

    experimental, que recebeu a corrente interferencial, apresentou um aumento

    significativo no limiar de dor mecnica para ambos os grupos musculares avaliados,

    mostrando que a corrente foi efetiva na diminuio da sensibilidade dolorosa. Os

    valores de torque e a concentrao das protenas no sofreram alterao aps o

    tratamento. Os resultados indicam que a corrente interferencial foi efetiva no

    tratamento da dor relacionada com microleso muscular induzida por exerccio

    excntrico a partir de um aumento do limiar de dor mecnica nos msculos flexores

    e extensores do joelho.

    Palavras-chave: eletroterapia, corrente interferencial, exerccio excntrico, dor, fora

    muscular, microleso muscular, creatina cinase.

  • VI

    ABSTRACT

    The goal of the work presented here was to evaluate the effects of the

    interferential current in the pain sensibility and muscular torque of the flexor and

    extensor knee muscles after the performance of an eccentric exercise protocol. The

    sample was comprised of 41 healthy male individuals aged 18 to 33 years old,

    randomly divided into two experimental groups: interferential current group (n=21)

    and placebo group (n=20). To induce muscle soreness, both groups performed a

    hundred maximal isokinetic eccentric muscular contractions (10 series of 10

    repetitions) in the flexor and extensor knee muscles, with an angular velocity of 60.s-

    1. On the following day volunteers were treated with interferential current or with the

    placebo treatment in both muscular groups. Treatment was carried out for 30 minutes

    using a 4 kHz carrier frequency (80-150 Hz) and a pulse duration of 125 s.

    Mechanical pain threshold, peak torque and creatine kinase protein concentration

    were evaluated at four different times: before muscle soreness induction,

    immediately after exercise, 24 hours after induction and after the interferential current

    treatment or the placebo treatment. For both flexor and extensor knee muscles, both

    experimental groups presented a significant reduction in peak torque and mechanical

    pain threshold after performing the eccentric exercises, as well as a rise in injury-

    signaling protein concentration, demonstrating the efficiency of the exercise protocol

    in inducing muscle soreness. After treatment, only the experimental group that

    received the interferential current presented significant increases in mechanical pain

    threshold for both evaluated muscular groups, thus showing that the current was

    effective in diminishing pain sensitivity. Torque values and protein concentration

    underwent no changes after the treatment. The results pointed out that the

    interferential current was effective in the treatment of pain related to muscle soreness

    induced by eccentric exercise through an increase in mechanical pain threshold in

    the flexor and extensor knee muscles.

    Keywords: electric stimulation therapy, interferential current, eccentric exercise, pain,

    muscle strength, muscle soreness, creatine kinase

  • VII

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AMIG amgdala

    AMPc adenosina monofosfatocclica

    AMS rea motora suplementar

    ATP adenosina trifosfato

    Ach acetilcolina

    BVMR bulbo ventral medial rostral

    CCA crtex cingulado anterior

    CCP crtex cingulado posterior

    CGRP peptdeo relacionado ao gene da calcitonina

    COX ciclooxigenase

    CK creatina cinase

    CPF crtex pr-frontal

    DMIT dor muscular de incio tardio

    GABA cido gama-aminobutrico

    GDNF fator neurotrfico derivado da glia

    GRD gnglio da raiz dorsal

    HT hipotlamo

    IL interleucina

    MLP protena muscular LIM

    M1 crtex motor primrio

    NB ncleos da base

    PB ncleo parabraquial

    PG prostaglandinas

    S1 crtex somatossensorial primrio

    S2 crtex somatossensorial secundrio

    SCP substncia cinzenta periaquedutal

    SNC sistema nervoso central

    TENS estimulao nervosa eltrica transcutnea

    TNF fator de necrose tumoral

    TPDL tegmento pontino dorsolateral

  • VIII

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Vias nociceptivas da periferia ao sistema nervoso central .............. 08

    Figura 2 - Regies enceflicas envolvidas no processamento da dor ............ 09

    Figura 3 - Teoria das comportas da dor ........................................................... 17

    Figura 4 - Vias descendentes de modulao da dor ........................................ 18

    Figura 5 - Representao da contrao excntrica ......................................... 23

    Figura 6 - Representao esquemtica do sarcmero .................................... 24

    Figura 7 - Tcnicas de aplicao da corrente interferencial ............................ 29

    LISTA DE FIGURAS DO ARTIGO 1

    Figura 1 - Posicionamento dos eletrodos para aplicao da corrente

    interferencial. Ponto de avaliao do limiar de dor mecnica na regio posterior da coxa ...................................................................

    39

    Figura 2 - Diagrama sobre o recrutamento e randomizao dos indivduos participantes ......................................................................................

    41

    Figura 3 - Valores referentes ao limiar de dor mecnica para os grupos interferencial e placebo em todos os testes ......................................

    42

    Figura 4 - Valores referentes ao pico de torque isomtrico para os grupos interferencial e placebo em todos os testes ......................................

    43

    LISTA DE FIGURAS DO ARTIGO 2

    Figura 1 - Ponto de avaliao do limiar de dor mecnica na regio anterior

    da coxa. Posicionamento dos eletrodos para aplicao da corrente interferencial .......................................................................

    54

    Figura 2 - Diagrama sobre o recrutamento e randomizao dos indivduos participantes ......................................................................................

    57

    Figura 3 - Valores referentes ao limiar de dor mecnica para os grupos interferencial e placebo em todos os testes ......................................

    60

    Figura 4 - Valores referentes ao pico de torque excntrico para os grupos interferencial e placebo em todos os testes ......................................

    61

    Figura 5 - Valores referentes concentrao de creatina cinase para os grupos interferencial e placebo em todos os testes .........................

    62

  • IX

    LISTA DE TABELAS DO ARTIGO 1

    Tabela 1 - Caracterizao dos indivduos participantes do grupo interferencial e do grupo placebo ......................................................

    41

    LISTA DE TABELAS DO ARTIGO 2

    Tabela 1 - Caracterizao dos indivduos participantes do grupo interferencial e do grupo placebo ......................................................

    57

    Tabela 2 - Resultados para os grupos interferencial e placebo nas quatro avaliaes ............................................................................

    59

  • X

    SUMRIO

    1. INTRODUO .......................................................................................... 01 1.1 NEUROCINCIAS E DOR ................................................................. 05 1.1.1 Mediadores qumicos envolvidos na nocicepo ....................... 10 1.1.2 Modulao da dor ...................................................................... 15 1.2 EXERCCIOS EXCNTRICOS ........................................................... 23 1.3 CORRENTE INTERFERENCIAL ....................................................... 28 1.3.1 Possveis mecanismos analgsicos da corrente interferencial .. 30 1.4 OBJETIVOS ....................................................................................... 34 1.4.1 Objetivo geral ............................................................................. 34 1.4.1 Objetivos especficos ................................................................. 34 1.5 HIPTESES ....................................................................................... 34 2. MATERIAIS E MTODOS ........................................................................ 35 2.1 ARTIGO 1 ........................................................................................... 36 Interferential therapy effect on mechanical pain threshold and isometric

    torque after delayed onset muscle soreness induction in human hamstrings

    2.2 ARTIGO 2 ........................................................................................... 47 Efficacy of interferential therapy on mechanical pain threshold, maximal

    torque and creatine kinase activity after eccentric exercise in human quadriceps

    3. DISCUSSO ............................................................................................. 73 4. CONCLUSES e PERSPECTIVAS .......................................................... 85 5. REFERNCIAS ......................................................................................... 87 ANEXO I - Termo de consentimento livre e esclarecido .................................. 100

    ANEXO II - Curva de calibrao do algmetro ................................................. 103

  • 1

    ________________

    1. INTRODUO

    ________________

  • 2

    corrente interferencial representa uma das tcnicas da

    Fisioterapia que tem sido amplamente utilizada como mtodo

    analgsico (Johnson e Tabasam, 2002; Gracey et al., 2002). Ela

    produzida a partir de duas correntes eltricas alternadas de mdia frequncia

    moduladas pela amplitude para criar uma corrente teraputica de frequncia baixa

    (Minder et al., 2002; Ward, 2009).

    A corrente interferencial, assim como outros tipos de correntes eltricas

    analgsicas, pode ser empregada em crises de dor aguda ou crnica, principalmente

    quando outras tcnicas teraputicas como os exerccios ativos e os alongamentos

    no so indicados em funo do quadro lgico do paciente (Harman et al., 2009;

    Ward et al., 2009;). Estudos descrevem a utilizao da corrente interferencial no

    tratamento da dor decorrente de diversas condies patolgicas, como, por

    exemplo, lombalgia (Gracey et al., 2002; , Poitras, et al., 2005; Harman et al., 2009),

    cervicalgia (Helmers e Irwin, 2009), dor miofascial (Hou et al., 2002), osteoartrite de

    joelho (Burch et al., 2008), dor no ps-operatrio de cirurgia de joelho (Jarit et al.,

    2003), artrite psoritica (Walker et al., 2006), constipao intestinal (Clarke et al.,

    2009), dismenorria (Tugay et al., 2007) e dor muscular decorrente de exerccios

    excntricos (Minder et al., 2002).

    O estudo da dor e de suas formas de tratamento constitui uma rea de estudo

    nas Neurocincias (Farah, 2012), j que a dor se relaciona com vrios fatores

    neurais, entre eles emocionais e comportamentais (Villemure e Schweinhardt, 2010).

    As correntes eltricas como forma de terapia tm sido utilizadas na prtica clnica

    A

  • 3

    para o alvio da dor, e seus efeitos analgsicos so baseados principalmente nos

    princpios de modulao da sensao dolorosa (Ward et al., 2009).

    O tratamento da dor originada a partir da microleso muscular decorrente dos

    exerccios excntricos tem sido alvo de estudos que utilizam diversas formas de

    tratamento (Sellwood et al., 2007; Best et al., 2008; Howatson et al., 2009; Tartibian

    et al., 2009), entre eles, a aplicao da corrente interferencial (Minder et al., 2002). A

    realizao de uma srie de exerccios excntricos promove efeitos agudos

    representados por sinais e sintomas como dor, diminuio de fora muscular e

    aumento da concentrao de protenas no sangue, como a creatina cinase (CK)

    (Farthing e Chilibeck, 2003; Rawson et al., 2007; Chen et al., 2011). Esse tipo de

    exerccio muito comum na prtica esportiva, principalmente em condies

    submximas nas modalidades que exigem produo de fora muscular para

    desacelerar movimentos, como corrida e saltos. Portanto, a rpida reverso dos

    sinais e sintomas dos exerccios excntricos essencial para reestruturao da

    funo do atleta e seu retorno ao esporte (Cheung et al., 2003).

    Apenas dois estudos foram encontrados na literatura sobre o uso da corrente

    interferencial no alvio dos sinais e sintomas relacionados com a microleso

    muscular decorrente dos exerccios excntricos, sendo seus resultados

    contraditrios (Schmitz et al., 1997; Minder et al., 2002). Schmitz e colaboradores

    (1997) encontraram uma diminuio significativa na sensibilidade dolorosa dos

    indivduos aps um dia de tratamento utilizando a escala de percepo de dor,

    enquanto Minder e colaboradores (2002) no observaram diminuio da dor ao

    longo do tratamento de cinco dias utilizando a escala visual analgica e o limiar de

    presso dolorosa, e no houve diferena significativa entre os grupos tratado e

    controle. Ambos os estudos utilizaram a aplicao da corrente interferencial para

  • 4

    tratamento da dor dos msculos flexores do cotovelo de indivduos saudveis

    submetidos a um protocolo de exerccios excntricos.

    Os estudos realizados at o presente momento avaliaram apenas grupos

    musculares dos membros superiores. No foi encontrado nenhum trabalho que

    tenha estudado grupos musculares dos membros inferiores, como os msculos

    flexores do joelho (isquiotibiais: bceps femoral, semitendneo e semimembranceo)

    e extensores do joelho (quadrceps: reto femoral, vasto lateral, vasto medial e vasto

    intermdio), o que demonstra uma lacuna na literatura, j que so msculos

    frequentemente submetidos a contraes excntricas submximas durante a prtica

    de atividade fsica e durante as atividades de vida diria como descer uma escada,

    por exemplo.

    A microleso muscular desencadeia a curto prazo processos fisiolgicos que

    levam ao aumento da sensibilidade dolorosa e da concentrao de protenas

    plasmticas como a CK, alm de diminuio na fora muscular. Como a fisiologia da

    dor e as respostas neuromusculares abrangem um dos ramos das Neurocincias, o

    estudo de recursos que possam reverter esses sinais e sintomas apresentam

    importante relevncia clnica para a rea da Fisioterapia aplicada s Neurocincias.

    Considerando os resultados contraditrios obtidos sobre as condies de uso

    da corrente interferencial nos membros superiores e a inexistncia de estudos em

    membros inferiores, os estudos cientficos ainda especulam sobre as condies

    ideais a serem utilizadas nesse tipo de tratamento.

  • 5

    1.1 NEUROCINCIAS E DOR

    Considerando que a dor est relacionada com diversos fatores, entre eles,

    fatores emocionais que influenciam o comportamento de indivduos (Villemure e

    Schweinhardt, 2010), o estudo da dor representa uma rea de aplicao importante

    para as Neurocincias (Farah, 2012). Diversos artigos publicados em peridicos da

    rea das Neurocincias estudaram a dor relacionada a diferentes causas, como

    fibromialgia (Petersel et al., 2011), dor neuroptica (Mittal et al., 2011), fratura

    vertebral (Qian et al., 2011) e traumatismo medular (Revell, 2011), entre outras.

    Diversas definies de dor foram descritas ao longo do tempo. A evoluo dos

    estudos relacionados com a compreenso dos mecanismos da dor fez com que sua

    definio fosse aprimorada at considerar o carter multifatorial que compe a

    sensao dolorosa. Dentro dessa concepo, a Associao Internacional para o

    Estudo da Dor (IASP, 2008) definiu dor como experincia sensorial e emocional

    desagradvel associada a dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos

    que sugerem tal dano. Entretanto, apesar de estar presente em diversas condies

    patolgicas e ser um assunto amplamente estudado, os mecanismos relacionados

    com a dor ainda no esto suficientemente esclarecidos (Chen, 2011).

    As primeiras descries dos sinais e sintomas de dor foram realizadas pelos

    estudiosos da medicina tradicional chinesa h mais de 3.000 anos. No ocidente, o

    termo dor aparece no sculo V a.C., entretanto, naquela poca o crebro ainda

    no era descrito como parte integrante da sensao de dor. Mais adiante no sculo

    XVII, Descartes desenvolveu um modelo hipottico sobre a dor em que ele

    descreveu que a transmisso do estmulo doloroso partia dos neurnios perifricos e

    seguia at regies cerebrais, onde o estmulo era percebido como dor (Chen, 2011).

  • 6

    Nos estudos relacionados com dor em humanos, alm do tratamento da

    sintomatologia presente em vrias disfunes patolgicas, diversos modelos tm

    sido adotados na tentativa de garantir uma amostra mais homognea em relao

    aos sinais e sintomas da leso. Entre eles pode-se citar a induo da dor por frio

    (Johnson e Tabasam, 2003a; 2003b), calor (Cheing e Hui-Chan, 2003) e realizao

    de exerccios excntricos (Tourville et al., 2006).

    A dor constitui um sistema de proteo corporal a partir da deteco de

    estmulos nocivos, desencadeando diversos mecanismos. Esses estmulos ativam

    receptores que recebem o nome de nociceptores. Os nociceptores so terminaes

    livres de neurnios nociceptivos perifricos localizados nos gnglios raquidianos

    ativados por estmulos capazes de causar leso tecidual (Sneddon, 2004; Dubin e

    Patapoutian, 2010). Os nociceptores possuem especificidade ao tipo de estmulo

    nocivo, os quais podem ser de diferentes modalidades: trmicos, mecnicos e/ou

    qumicos. Esses estmulos alteram as propriedades da membrana dos nociceptores

    e deflagram potenciais de ao (Loeser e Bonica, 2001; Garry et al. 2004).

    Os aferentes sensitivos primrios responsveis pela nocicepo so fibras

    nervosas do tipo A-delta (A) e C. As fibras A so pouco mielinizadas, sendo

    responsveis pela transmisso da dor primria ou dor rpida. Devido presena da

    mielina elas transmitem estmulos mais rapidamente, cerca de 5 a 30 m/s. As fibras

    do tipo C, amielnicas, so as responsveis pela transmisso da dor secundria ou

    dor lenta com velocidade entre 0,3 e 1,2 m/s (Sneddon, 2004; Chen, 2011).

    As fibras nociceptivas se dirigem para o sistema nervoso central (SNC) de

    forma organizada, e o centro metablico de cada clula est localizado em seu

    corpo celular, localizado no gnglio da raiz dorsal quando se considera a

    sensibilidade dolorosa da pele, dos msculos e das articulaes do tronco e dos

  • 7

    membros. As fibras nervosas entram na regio dorsal da medula espinal e fazem

    sinapses com neurnios secundrios (ou de segunda ordem) situados em algumas

    das lminas de Rexed, diviso histolgica da substncia cinzenta da medula espinal.

    As fibras A e C finalizam em diferentes lminas, ocorrendo uma grande densidade

    de projees de aferentes nociceptivos nas lminas I, II e V (Figura 1).

    Interneurnios inibitrios e excitatrios do corno dorsal da medula espinal, assim

    como vias descendentes originadas em centros superiores do neuroeixo, modulam a

    transmisso dos estmulos nociceptivos neste local de entrada (Dubin e Patapoutian,

    2010; Perl, 2011). Os mecanismos de modulao da dor sero discutidos no captulo

    2.1.1.

    A partir da medula espinal, o estmulo nociceptivo ascende para o encfalo por

    meio de diferentes tratos: espinotalmicos lateral e medial, espinorreticular,

    espinomesenceflico, cervicotalmico e espinohipotalmico (DMello e Dickenson,

    2008). Portanto, os neurnios de segunda ordem projetam-se da medula espinal

    principalmente para o tronco enceflico e o tlamo, onde so enviadas projees

    para diferentes regies, como crtex somatossensorial e crtex cingulado anterior,

    responsveis respectivamente pelos aspectos sensrio-descriminativos e afetivo-

    motivacionais da dor (Dubin e Patapoutian, 2010). As principais regies de projees

    talmicas so os ncleos talmicos ventral posterior lateral, ventral posterior medial

    e ventral posterior, e ncleos posteriores. (Alves Neto et al., 2009). Os estmulos

    nociceptivos sofrem novas modulaes em diferentes estruturas do tronco enceflico

    e, secundariamente, em centros talmicos e estruturas corticolmbicas.

  • 8

    Figura 1. Vias nociceptivas da periferia ao sistema nervoso central. Fibras aferentes primrias (tipos A, A e C), cujos corpos celulares encontram-se no gnglio da raiz dorsal (GRD), transmitem impulsos nervosos da periferia ao corno dorsal da medula espinal nas lminas I, II e V de Rexed. Neurnios de projeo da lmina I inervam regies como o ncleo parabraquial (PB) e a substncia cinzenta periaquedutal (SCP), as quais se comunicam com o sistema lmbico. Deste sistema e da SCP emergem projees descendentes que se dirigem a ncleos do tronco enceflico, como o bulbo ventral medial rostral (BVMR), que modulam o processamento nociceptivo espinal. Neurnios da lmina V dirigem-se principalmente ao tlamo (trato espinotalmico), de onde se projetam a vrias regies corticais que compem a matriz da dor (adaptado de DMello e Dickenson, 2010).

    Dentre os ncleos do tronco enceflico envolvidos na transmisso da dor

    destacam-se a formao reticular mesenceflica, o colculo superior, os ncleos

    cuneiforme e parabraquial, o ncleo magno da rafe e a substncia cinzenta

  • 9

    periaquedutal mesenceflica. Do sistema lmbico e da substncia cinzenta

    periaquedutal emergem projees descendentes que se dirigem a ncleos do tronco

    enceflico, como o bulbo ventral medial rostral, que modulam o processamento

    nociceptivo espinal (Figura 1) (Millan, 1999; DMello e Dickenson, 2008).

    Segundo Schweinhardt e Bushnell (2010), os estudos da dor mostram a

    participao de uma rede cortical e subcortical que envolve reas sensoriais,

    lmbicas, associativas e motoras (Figura 2). Os autores encontraram uma maior

    ativao no crtex somatossensorial primrio e secundrio (S1 e S2), crtex

    cingulado anterior, crtex insular e crtex pr-frontal em decorrncia de estmulos

    nocivos na periferia.

    Figura 2. Regies enceflicas envolvidas no processamento da dor. A: vias ascendentes e as regies enceflicas envolvidas no processamento da dor. B: corte coronal do encfalo mostrando diversas regies envolvidas com o processamento da dor. M1: crtex motor primrio; S1: crtex sensorial primrio; S2: crtex sensorial secundrio; AMS: rea motora suplementar; CCA: crtex cingulado anterior; CCP: crtex cingulado posterior; CPF: crtex pr-frontal; AMIG: amgdala; NB: ncleos da base; HT: hipotlamo; PB: ncleo parabraquial (adaptado de Schweinhardt e Bushnell, 2010).

  • 10

    A dor pode ser classificada em diferentes tipos, por exemplo: dor inflamatria,

    dor neuroptica, dor referida, etc. (Costigan et al., 2009, Woolf, 2010; Perl, 2011). A

    dor relacionada com a microleso muscular pode ser entendida como uma dor

    inflamatria, j que os sintomas decorrem de um processo de leso na estrutura

    celular que desencadeia um processo inflamatrio (Loeser e Bonica, 2001; Garry et

    al., 2004). A dor de origem inflamatria ocorre em resposta a uma leso e resulta

    basicamente da interao de mediadores inflamatrios e nociceptores perifricos

    (Costigan et al., 2009).

    1.1.1 Mediadores qumicos envolvidos na nocicepo

    Os nociceptores so receptores diferenciados porque no apenas transmitem

    informaes como tambm liberam substncias qumicas para o meio extracelular.

    Quando h leso tecidual, ocorre a ativao dos nociceptores devido produo e

    liberao de vrias substncias por clulas no-neuronais (mastcitos, neutrfilos,

    plaquetas, fibroblastos) presentes no local da leso ou que infiltram a rea lesada.

    Os nociceptores expressam grande variedade de receptores para mediadores

    inflamatrios, sendo trs suas classes mais importantes: (1) canais inicos

    dependentes dos ligantes, (2) acoplados protena G (protena localizada no meio

    intracelular que ativa enzimas ou canais inicos) e (3) receptores de tirosina cinase

    (Alves Neto et al., 2009).

    Em leses traumticas, inflamatrias ou isqumicas diversas substncias

    algognicas so liberadas por diferentes tipos celulares, como os mastcitos,

    leuccitos e outras clulas, inclusive a prpria clula lesada, podendo sensibilizar e

    ativar os nociceptores. So exemplos de substncias algognicas: ons (como K+ e

    H+), acetilcolina (ACh), bradicinina, histamina, serotonina (5-HT), susbtncia P,

  • 11

    peptdeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), prostaglandinas (PG),

    citocinas, leucotrienos, fator de ativao plaquetrio, fatores de crescimento,

    purinas, metablitos do cido araquidnico, entre outras (Loeser e Bonica, 2001;

    Vanderah, 2007; Alves Neto et al., 2009).

    Alguns mediadores inflamatrios, como os prtons, o ATP e a serotonina,

    ligam-se aos canais inicos das terminaes nervosas sensitivas, enquanto outros,

    como a bradicinina, a histamina, as prostaglandinas e o fator de crescimento neural,

    medeiam os seus efeitos por meio de receptores ligados protena G ou receptores

    de tirosina cinase, que modulam a atividade dos segundos-mensageiros nos

    aferentes sensitivos primrios (Loeser e Bonica., 2001; Alves Neto et al., 2009).

    Quando h leso tecidual, a serotonina liberada pelas plaquetas e pelos

    mastcitos pode ativar os nociceptores tambm por se ligar a receptores acoplados

    protena G. A histamina tambm liberada pelos mastcitos e atua nos

    nociceptores e, dependendo da sua concentrao, evoca a dor. A bradicinina um

    dos mediadores inflamatrios envolvidos na dor espontnea e hiperalgesia (aumento

    da sensao dolorosa sem alterao na intensidade do estmulo nocivo) por meio da

    ativao de receptores de membrana acoplados protena G localizados nas

    terminaes livres dos neurnios sensitivos. Indiretamente, a bradicinina pode

    induzir a liberao de outros mediadores inflamatrios de clulas no-neuronais.

    Sua formao no local da leso tecidual pode ocorrer por liberao de citocinas,

    como as interleucinas, e sua regulao requer nova sntese de protena e

    neurotrofinas, como o fator neurotrfico derivado da glia (GDNF) (Loeser e Bonica,

    2001; Alves Neto et al., 2009).

    A ativao dos macrfagos resulta na liberao de vrias citocinas que

    sensibilizam as terminaes nervosas. As citocinas so polipeptdeos sinalizadores

  • 12

    da comunicao intracelular e influenciam uma grande variedade de funes

    celulares, incluindo a proliferao, a diferenciao, a reparao tecidual, os

    mecanismos de degenerao e regenerao do tecido nervoso e a ao de outras

    citocinas. Elas afetam a funo de outras clulas, pois se ligam a receptores

    especficos na superfcie das membranas celulares e agem por meio de

    mecanismos que envolvem segundos-mensageiros, como a adenosina

    monofosfatocclica (AMPc), por exemplo. Dentre as citocinas destacam-se o fator de

    necrose tumoral (TNF), as interleucinas (ILs) (IL-1 - IL-17) e o fator de ativao

    plaquetria. O TNF- desencadeia a cascata de liberao de citocinas e o responsvel pela hiperalgesia mediada pelas PGs. Entre as interleucinas, a IL-1 induz a produo de substncia P. Quando em concentraes elevadas a IL atua na

    formao do cido araquidnico, alm de aumentar a potencializao prolongada e

    causar hiperalgesia (Loeser e Bonica, 2001; Alves Neto et al., 2009; Garrido-Suarz

    et al., 2009).

    A substncia P e o CGRP facilitam a transmisso da informao dos aferentes

    primrios para os neurnios do corno dorsal da medula espinal, sendo a substncia

    P pertencente famlia das taquicininas ou neurocininas. Nos tecidos, a substncia

    P causa vasodilatao, calor, hiperemia e edema. A vasodilatao induzida pela

    substncia P relaciona-se desgranulao de mastcitos que causa a liberao

    secundria de histamina. Existem trs fontes de substncia P na medula espinal: as

    terminaes de aferentes primrios, os neurnios intrnsecos da medula espinal e as

    fibras oriundas do tronco enceflico. A concentrao da substncia P aumenta em

    condies inflamatrias e exerce atividade excitatria em grande variedade de

    neurnios do corno dorsal da medula espinal. A estimulao mecnica dos gnglios

    e das razes sensitivas aumenta a concentrao de substncia P nos corpos

  • 13

    celulares das razes sensitivas e na lmina II do corno dorsal da medula espinal. O

    CGRP encontrado nas lminas I e II do corno dorsal da medula espinal e ativa a

    enzima que sintetiza a substncia P, sendo metabolizado pela mesma enzima

    envolvida no metabolismo dessa substncia. Quando ocorre dor, a substncia P e o

    CGRP, dentre outros neurotransmissores, so liberados nos tecidos pelas

    terminaes nervosas dos aferentes nociceptivos e ativam os elementos celulares

    envolvidos no processo inflamatrio (neutrfilos, linfcitos, macrfagos) ou

    regenerativo (fibroblastos, clulas de Schwann), que so agentes envolvidos na

    vasodilatao e no processo inflamatrio (Loeser e Bonica, 2001; Alves Neto et al.,

    2009).

    Algumas substncias qumicas que ativam os nociceptores o fazem por sua

    ligao a receptores ionotrpicos e acoplados protena G que so canais inicos

    permeveis tanto para Na+ como para outros ons. Entre essas substncias pode-se

    citar o ATP e os prtons. O fluxo inico despolariza os neurnios sensitivos e induz a

    descarga neuronal. Durante o processo inflamatrio ocorre uma diminuio do pH no

    local da leso, o que ativa canais inicos sensveis a cidos e prolonga a ativao

    dos nociceptores. Esses canais so encontrados tanto no sistema nervoso central

    como no perifrico (Loeser e Bonica, 2001; Alves Neto et al., 2009; Gautam et al.,

    2010).

    Os aferentes primrios no corno dorsal da medula espinal utilizam o glutamato

    como principal neurotransmissor excitatrio. O glutamato despolariza neurnios

    sensitivos e isso determina a transmisso da informao pelas vias ascendentes e

    tambm contribui para a hiperalgesia (Alves Neto et al., 2009; Dubin e Patapoutian,

    2010). Existem trs tipos de receptores ionotrpicos de glutamato no corno dorsal da

    medula espinal: o NMDA, o AMPA e o cainato (Garry et al., 2004).

  • 14

    Os estmulos dos aferentes nociceptivos e a liberao de neurotransmissores

    que ativam receptores metabotrpicos e ionotrpicos dos neurnios do corno dorsal

    da medula espinal causam sensibilizao neuronal. Essa sensibilizao depende de

    aminocidos e da substncia P, entre outros. Os receptores AMPA e cainato so

    ativados aps a liberao do glutamato e permitem o influxo de Na+ e K+ para o

    interior do neurnio e a despolarizao rpida da membrana neuronal. Aps alguns

    segundos, ocorre a ativao dos receptores NMDA que propicia o influxo

    citoplasmtico do Ca++ acoplado ao influxo de Na+ e ao efluxo de K+. Os receptores

    metabotrpicos ativados promovem a formao de segundos-mensageiros que

    levam a liberao de Ca++ de reservas citoplasmticas e tambm a formao do

    cido araquidnico. Esse cido o substrato da ciclooxigenase (COX) na produo

    das PGs e gerado como reao ativao dos receptores de glutamato. A

    substncia P estimula a sntese de ATP e ativa os canais de Ca++, resultando em um

    aumento da concentrao intraneural de Ca++ alguns minutos aps a estimulao

    nociceptiva (Loeser e Bonica, 2001; Alves Neto et al., 2009).

    Alm da ativao, a transmisso da informao sensitiva na medula espinal

    tambm pode ser alterada por mecanismos inibitrios. Os principais

    neurotransmissores inibitrios utilizados pelos interneurnios do corno dorsal da

    medula espinal so o cido gama-aminobutrico (GABA) e a glicinina. A inibio

    gabargica e glicinrgica reduz a capacidade de os aferentes dos

    mecanorreceptores de baixo limiar ativarem as vias que veiculam a informao

    nociceptiva para o encfalo. A inibio pr-sinptica diminui a liberao dos

    neurotransmissores dos aferentes primrios, enquanto a ps-sinptica hiperpolariza

    ou bloqueia a membrana ps-sinptica (Loeser e Bonica, 2001; Maeda et al., 2007;

    Alves Neto et al., 2009).

  • 15

    Portanto, a transferncia das informaes dos tecidos para o corno dorsal da

    medula espinal depende da quantidade e tipo de neurotransmissores liberados pelos

    aferentes primrios, da densidade e da natureza dos receptores ps-sinpticos, da

    cintica da ativao dos receptores, da abertura e do fechamento dos canais inicos

    e da captao ou sntese por metabolizao ou difuso dos neurotransmissores.

    Alm de sua atividade como neurotransmissores, os peptdeos podem exercer ao

    neuromodulatria, modificando a sensibilidade dos receptores da medula espinal

    aos neurotransmissores de ao rpida ou alterando sua liberao pr-sinptica

    (Alves Neto et al., 2009).

    1.1.2 Modulao da dor

    O corno dorsal da medula espinal, alm de uma estao de coleta de

    informaes transmitidas pelos aferentes primrios, tambm contm interneurnios

    que interferem no processamento das informaes sensitivas, inibindo ou facilitando

    a transmisso dos potenciais veiculados pelos aferentes primrios para as reas

    superiores do neuroeixo (Alves Neto et al., 2009; Chen, 2011). O processo de

    modulao da dor representa alteraes que ocorrem no sistema nervoso em

    resposta a um estmulo nocivo e permite que esses estmulos recebidos no corno

    dorsal da medula espinal sejam seletivamente modulados de forma que a

    transmisso do sinal para centros superiores do SNC seja modificada (Vanderah,

    2007). A modulao da dor pode ocorrer baseada nos princpios da Teoria das

    comportas da dor ou por meio das vias descendentes do encfalo (Alves Neto et al.,

    2009; Chen, 2011).

    Segundo Chen (2011), ao longo dos sculos as principais teorias que surgiram

    para tentar explicar os mecanismos da dor foram a Teoria da especificidade (1849),

  • 16

    a Teoria da intensidade (1874), a Teoria padro (1929) e a Teoria das comportas da

    dor (1965). As duas primeiras teorias no abrangiam todos os mecanismos

    envolvidos na sensibilidade dolorosa, mas a partir delas se desenvolveu a Teoria

    das comportas da dor, elaborada por Melzack e Wall, que direcionou todas as

    pesquisas nos anos seguintes. Entretanto, atualmente essa teoria tem sido apontada

    como simplista para explicar os mecanismos envolvidos na codificao e

    transmisso da dor (Chen, 2011).

    A Teoria das comportas da dor prope a existncia de uma modulao na

    sinapse entre aferentes primrios e neurnios de transmisso na lmina II do corno

    dorsal da medula espinal (Figura 3). Segundo a teoria, trs situaes podem

    contribuir para a modulao da dor: 1) quando a atividade mediada pelos aferentes

    nociceptivos prevalece, eles desativam a ao inibitria dos interneurnios da lmina

    II e prevalece a sensao dolorosa; 2) quando a atividade neural mediada pelas

    fibras aferentes no-nociceptivas de grosso calibre prevalece, ela inibe a atividade

    das fibras nociceptivas de pequeno dimetro (A e C) por meio da ativao de

    interneurnios inibitrios na lmina II, resultando em diminuio (hipoalgesia) ou

    ausncia (analgesia) da sensao de dor; 3) a modulao decorrente das vias

    descendentes do encfalo tambm interferem nas comportas da dor. Contudo,

    recentemente a Teoria das comportas da dor foi apontada como muito simplista para

    explicar os mecanismos da transmisso de estmulos perifricos nocivos que

    chegam medula espinal. A organizao das sinapses das fibras A e C no corno

    dorsal da medula espinal parece muito mais complexa, uma vez que foram

    identificados neurnios relacionados com a transmisso do estmulo doloroso

    tambm nas lminas I e V. De qualquer forma, mesmo os autores que hoje criticam

  • 17

    aspectos da Teoria das comportas da dor assumem que essa Teoria teve papel

    essencial e efeito positivo nas pesquisas sobre dor (Chen, 2011).

    Figura 3. Teoria das comportas da dor. O sistema de comportas presente na lmina II do corno dorsal da medula espinal composto pelos aferentes primrios (fibras A e fibras C) e pelos neurnios de projeo. Quando a atividade das fibras nociceptivas C prevalece, as comportas abrem-se permitindo a ao dos neurnios de projeo e prevalece a sensao dolorosa. Caso a atividade das fibras aferentes de grosso calibre prevalea (fibras A-beta), ocorre uma modulao da dor podendo resultar em diminuio ou ausncia da sensao dolorosa. Vias descendentes do sistema nervoso central tambm podem modular as comportas da dor. T: neurnios de transmisso (adaptado de Chen, 2011).

    Alm das aferncias oriundas dos nervos perifricos, o corno dorsal da medula

    espinal tambm recebe projees oriundas do crtex cerebral, das estruturas

    subcorticais e do tronco enceflico que participam do mecanismo de modulao da

    atividade sensitiva a partir de vias descendentes do encfalo (Figura 4). As

    evidncias experimentais da importncia dos sistemas neuronais rostrocaudais de

    modulao da dor so descritas desde a dcada de 1950 e foram confirmadas em

    estudos em que a estimulao eltrica da substncia cinzenta periaquedutal

    mesenceflica de animais promoveu a depresso da atividade de neurnios das

    lminas I e V do corno dorsal da medula espinal, resultando em analgesia sem

  • 18

    comprometer outras formas de sensibilidade (McMahon e Koltzenburg, 2006; Waters

    e Lumb, 2008; Alves Neto et al., 2009).

    As fibras descendentes relacionadas com a modulao da dor projetam-se para

    o corno dorsal da medula espinal chegando no funculo dorsolateral e fazendo

    sinapse com os aferentes primrios e com os neurnios de segunda ordem

    (McMahon e Koltzenburg, 2006; Vanderah, 2007).

    Figura 4. Vias descendentes de modulao da dor. Vias de modulao da dor com conexes na substncia cinzenta periaquedutal (SCP) e no bulbo ventral medial rostral (BVMR). Neurnios do lobo frontal e da amgdala projetam-se diretamente e via hipotlamo (H) para a SCP. A SCP controla os neurnios nociceptivos por meio do tegmento pontino dorsolateral (TPDL) e do BVMR, que contm neurnios de projeo. O BVMR exerce controle na transmisso nociceptiva no corno dorsal da medula espinal (adaptado de McMahon e Koltzenburg, 2006).

    A modulao da dor a partir de vias descendentes se relaciona tambm com a

    ao de peptdeos opiides, presentes em vrias regies do SNC, incluindo

    estriado, mesencfalo, ponte, bulbo e medula espinal. Existem trs tipos de

    opiides: as encefalinas, as dinorfinas e as endorfinas. Alguns dos locais de ao

    dos peptdeos opiides so a substncia cinzenta periaquedutal mesenceflica, o

  • 19

    ncleo magno da rafe, a formao reticular e o locus ceruleus (Loeser e Bonica,

    2001; Vanderah, 2007; Alves Neto et al., 2009).

    Os receptores opiides , , e ocorrem principalmente nas terminaes dos aferentes primrios e ps-sinapticamente nos neurnios do corno dorsal da medula

    espinal. Alguns peptdeos opiides so encontrados nos gnglios das razes

    sensitivas e atuam centralmente inibindo os neurnios da medula espinal, pois

    interferem na liberao de neurotransmissores excitatrios pelos aferentes primrios.

    H grande concentrao de receptores opiides nas lminas I, II, III e V do corno

    dorsal da medula espinal. Eles agem pr-sinapticamente nas terminaes nervosas

    sensitivas do corno dorsal da medula espinal, inibem as correntes de Ca++ e

    suprimem a liberao de neurotransmissores, incluindo o glutamato e a substncia

    P. Atuam tambm em stios ps-sinpticos e hiperpolarizam neurnios do corno

    dorsal da medula espinal. A ativao dos receptores opiides resulta em

    hiperpolarizao das terminaes das fibras nociceptivas em decorrncia da

    abertura de canais de K+ e da reduo da sua excitabilidade com conseqente

    reduo da liberao de neurotransmissores excitatrios (Loeser e Bonica, 2001;

    Alves Neto et al., 2009).

    Alm dos opiides endgenos, podem ser administradas substncias opiides

    exgenas para o controle da dor, como a morfina. No sistema nervoso h vrios

    subtipos de receptores de morfina envolvidos no mecanismo de supresso da dor

    presentes na amgdala, no hipotlamo, no ncleo caudado, na substncia cinzenta

    periaquedutal mesenceflica, no tlamo e na lmina II do corno dorsal da medula

    espinal. A injeo de morfina na substncia cinzenta periaquedutal resulta em

    aumento da atividade neuronal no ncleo magno da rafe, sendo que o efeito

    analgsico da administrao de morfina e da estimulao eltrica relaciona-se com a

  • 20

    ativao de tratos inibitrios rostrocaudais. A morfina liga-se a seu receptor acoplado

    protena G que bloqueia canais de Ca++ e, consequentemente, reduz a liberao

    de neurotransmissores. Alm disso, a morfina pode atuar na substncia cinzenta

    periaquedutal via mecanismos de desinibio onde atuam sistemas gabargicos

    (Loeser e Bonica, 2001, Alves Neto et al., 2009).

    Na medula espinal os opiides exercem efeito inibitrio nas terminaes

    nervosas assim como nos neurnios excitatrios vizinhos, alm disso, eles inibem

    diretamente neurnios da lmina II, que so a fonte mais importante de estmulos

    excitatrios veiculados pelas fibras C em neurnios de projeo rostral originados na

    lmina I. A lmina II exerce efeito excitatrio nas lminas mais profundas do corno

    dorsal da medula espinal. Os receptores assim como os receptores inibem pr-

    sinapticamente esses neurnios. Portanto, as vias supressoras de dor originadas na

    poro rostral e medial do bulbo e do tegumento dorsolateral pontomesenceflico

    inibem os neurnios de projeo, a liberao de neurotransmissores dos aferentes

    primrios e os interneurnios excitatrios e excitam os interneurnios inibitrios. As

    projees rostrais das estruturas do tronco enceflico parecem tambm ser

    relevantes para o processamento da dor. provvel que os ncleos

    serotoninrgicos dorsais da rafe, sob influncia de vias encefalinrgicas, apresentem

    funo moduladora no ncleo acumbens, na amgdala e na habnula (Loeser et al.,

    2001; Waters e Lumb, 2008; Alves Neto et al., 2009).

    No processo de modulao da dor existe a ao do neurotransmissor inibitrio

    GABA com atividade supressora em neurnios e em terminaes nervosas da

    substncia periaquedutal, no ncleo magno da rafe e no ncleo reticular

    gigantocelular. Na medula espinal o GABA atua em receptores ps-sinpticos e

    induz a hiperpolarizao da membrana neuronal em decorrncia da ativao de

  • 21

    receptores pr-sinpticos, inibindo a liberao de neurotransmissores e limitando a

    propagao da atividade excitatria glutamatrgica (Loeser e Bonica, 2001, Maeda

    et al., 2007; Alves Neto et al., 2009).

    A ao das correntes eltricas analgsicas utilizadas na terapia baseia-se nos

    mecanismos de modulao da dor, j que a transmisso da informao sensitiva na

    medula espinal pode ser ativada ou suprimida por mecanismos facilitatrios ou

    inibitrios. Os mecanismos inibitrios podem ser ativados por vrios estmulos

    perifricos e por influncias rostrocaudais, justificando a analgesia induzida pela

    estimulao eltrica transcutnea, pela acupuntura, pela hipnose e pelo efeito

    placebo (Maeda et al., 2007; Alves Neto et al., 2009).

    A analgesia relacionada ao efeito placebo refere-se ao alvio da dor de um

    indivduo aps a administrao de uma substncia quimicamente inerte ou aplicao

    de um equipamento teraputico desligado. Sugere-se que a analgesia ocorra devido

    crena de uma pessoa que uma potente medicao ou tcnica teraputica para

    dor foi administrada. Estudos de imagens cerebrais mostram que a analgesia

    placebo pode estimular a liberao de opiides endgenos associados com a

    modulao da dor. Estes resultados mostram que a sinalizao dos opiides

    endgenos durante a analgesia induzida pelo efeito placebo atua modulando as

    reas e as projees que atuam no controle descendente da dor (Eippert et al.,

    2009). Dessa forma, torna-se importante a incluso de um grupo placebo em

    estudos em que o tratamento tem como objetivo a reduo da dor percebida pelos

    indivduos.

    Em resumo, as unidades neuronais, os canais sensoriais e os

    neurotransmissores envolvidos no mecanismo de supresso e ativao das vias

    nociceptivas atuam em conjunto. A ativao dos receptores opiides ou de

  • 22

    glutamato no tronco enceflico, a estimulao eltrica do tlamo, do hipotlamo

    lateral, da substncia cinzenta periaquedutal mesenceflica e das estruturas da

    formao reticular ventromedial do bulbo podem bloquear as unidades nociceptivas

    espinais por meio da excitao das vias bulboespinais inibitrias. As vias

    rostrocaudais podem inibir os circuitos nociceptivos diretamente ou ativar vias

    segmentares que liberam neurotransmissores inibitrios. A substncia P e o

    glutamato parecem liberar encefalinas nas terminaes nervosas do corno dorsal da

    medula espinal. A supresso do mecanismo de modulao resulta em aumento

    aparente da intensidade do estmulo, tal como ocorre em situaes em que h

    bloqueio da ao do GABA ou da glicina. Isso sugere que exista atividade inibitria

    intensa que ativada por estmulos aferentes de vrios limiares. A atuao desse

    sistema resulta na interpretao de o estmulo ser ou no nociceptivo (Loeser e

    Bonica, 2001, Alves Neto et al., 2009).

    Uma condio dolorosa que afeta tanto indivduos atletas quanto no-atletas

    a dor muscular oriunda da prtica de exerccios fsicos. Essa condio est

    fortemente associada realizao de exerccios excntricos e pode resultar em dor

    muscular de incio tardio, aspectos que sero discutidos a seguir.

  • 23

    1.2 EXERCCIOS EXCNTRICOS

    As contraes excntricas ocorrem a partir da produo de fora muscular

    juntamente com o alongamento da unidade msculo-tendnea, ou seja, existe

    produo de fora acompanhada de um aumento no comprimento do msculo

    (Guilhem et al., 2010) (Figura 5). Isso confere algumas caractersticas especficas

    a esse tipo de contrao, como exemplo pode-se citar a maior capacidade de

    produo de fora muscular nas contraes excntricas quando comparadas s

    contraes concntricas e isomtricas. Esse fato decorre principalmente da

    grande produo de fora passiva durante as contraes excntricas, que est

    relacionada com os elementos elsticos do msculo, como, por exemplo, os

    tendes (Santos et al., 2010; Guilhem et al., 2011; Rocha et al., 2011).

    Figura 5. Representao da contrao excntrica. Durante as contraes excntricas ocorre produo de fora juntamente com um alongamento do msculo e de suas unidades contrteis, os sarcmeros (adaptado de Huard et al., 2002).

    Os exerccios excntricos so amplamente utilizados na rea da reabilitao,

    principalmente no tratamento de leses msculo-tendneas (Fahlstrm et al., 2003;

    Laurin et al., 2011). O uso crnico do exerccio excntrico, ou seja, sob forma de

    treinamento, promove efeitos protetores contra leses musculares (Paddon-Jones e

    Abernethy, 2001; Paschalis et al., 2011). A utilizao desse tipo de exerccio, tanto

    sarcmero

  • 24

    no tratamento quanto na preveno de leses, tem sido relacionada com o efeito

    desses exerccios no fortalecimento dos elementos elsticos musculares (Albert,

    2002) e com alteraes na regio contrtil do msculo, mais especificamente

    relacionadas com um possvel aumento do nmero de sarcmeros em srie na fibra

    muscular (Morgan e Proske, 2004; Butterfield et al., 2005; Butterfield e Herzog,

    2006). Os sarcmeros so delimitados pelas linhas Z e representam as unidades

    funcionais do aparelho contrtil onde esto presentes protenas relacionadas com a

    contrao muscular, como a miosina, actina, troponina, tropomiosina e titina (Barton,

    2012; McNally, 2012) (Figura 6).

    Figura 6. Representao esquemtica do sarcmero. O sarcmero representa a unidade funcional do aparelho contrtil, constitudo pelo filamento grosso (composto pela protena miosina) e filamento fino (composto pelas protenas actina, troponina e tropomiosina), que formam as bandas A e I. Protenas de sinalizao (miozenina, teletonina e protena muscular LIM) esto associadas com a protena titina, prximas linha Z. A linha Z delimita o sarcmero e a regio onde se encontra a protena -actinina. A linha M est localizada na regio central do sarcmero onde a protena miomesina mantm o alinhamento dos filamentos grossos (adaptado de Barton, 2012).

    filamento grosso (miosina)

    filamento fino (actina, miosina, tropomiosina)

    -actinina

    banda I banda I banda A

    linha Z linha Z

    titina

    miomesina

    miozenina

    telotonina

    protena muscular LIM (MLP)

    sarcmero

    linha M

  • 25

    Contraditoriamente, antes que os efeitos benficos crnicos do treinamento

    excntrico sejam instalados, primeiramente necessrio que o sistema msculo-

    esqueltico do indivduo seja submetido aos efeitos agudos desse tipo de

    exerccio, os quais ocasionam microleso muscular. Esse tipo de microleso

    normalmente acontece aps a prtica de exerccios fsicos e necessria para

    que processos adaptativos sejam instalados na unidade msculo-tendnea como,

    por exemplo, o aumento da capacidade de produo de fora desse msculo

    (Farthing e Chilibeck, 2003, Guilhem et al., 2010).

    A grande capacidade de produo de fora associada ao aumento do

    comprimento muscular durante as contraes excntricas remetem a um maior

    grau de microleso muscular quando comparada aos outros tipos de contrao

    (Stupka et al., 2000; Guilhem et al., 2010). Alm das modificaes na estrutura do

    msculo aps uma srie de contraes excntricas, foi demonstrado tambm que

    a microleso causa a chamada dor muscular de incio tardio (DMIT) (Cheung et

    al., 2003; Crameri et al., 2007; Rawson et al., 2007; Miles et al., 2008). A DMIT

    decorrente do exerccio excntrico foi definida na dcada de 80 por Armstrong

    como a sensao de desconforto ou dor no msculo esqueltico que ocorre

    devido a um esforo muscular exagerado. O termo em ingls conhecido como

    delayed onset muscle soreness (DOMS) e representa a leso por esforo

    muscular que produz aumento da sensibilidade palpao e/ou ao movimento. A

    DMIT aparece aproximadamente de 12 a 24 horas aps o esforo, apresentando

    um pico de 24 at 72 horas, e os sintomas desaparecem em torno de 5 a 7 dias

    aps a realizao do exerccio (Marginson et al., 2005; Guilhem et al., 2010).

    A microleso associada ao exerccio excntrico tem sido amplamente

    estudada na literatura. Alm da DMIT, outros efeitos agudos desse tipo de

  • 26

    exerccio podem ser citados, como aumento do nvel de protenas musculares no

    sangue (Chapman et al., 2006; Rawson et al., 2007; Jimnez-Jimnez et al., 2008;

    Sewright et al., 2008; Chen et al., 2009; 2011), diminuio da amplitude de

    movimento articular (Chapman et al., 2006; Rawson et al., 2007; Chen et al., 2009;

    2011) e reduo na fora muscular (Minder et al., 2002; Cheung et al., 2003;

    Farthing e Chilibeck, 2003; Chapman et al., 2006; Crameri et al., 2007; Sewright et

    al., 2008; Chen et al., 2009; 2011).

    Segundo Lee et al. (2002), os possveis fatores que contribuem para a leso

    muscular relacionada com os exerccios excntricos incluem fatores inflamatrios e

    reaes mediadas por radicais livres. Muitos fatores tm sido propostos para explicar

    o aumento da sensibilidade dolorosa em funo da DMIT, incluindo espasmo

    muscular, leso no tecido muscular (normalmente relacionado ruptura de protenas

    e da linha Z do sarcmero) (Cheung et al., 2003; Yu et al., 2004; Crameri et al.,

    2007) e/ou leso no tecido conjuntivo (Cheing e Hui-Chan, 2003). Os nociceptores

    localizados principalmente no tecido conjuntivo, na regio das arterolas e capilares,

    e na juno miotendnea, quando estimulados levam sensao de dor provocada

    pelo exerccio (Cheing e Hui-Chan, 2003).

    A ruptura da linha Z do sarcmero produz uma desestruturao do material

    miofibrilar incluindo alteraes nas protenas actina, titina, alfa-actinina, nebulina e

    desmina, o que leva a uma diminuio da capacidade de produo de fora pelo

    msculo. Alm da alterao estrutural no sinccio muscular, a diminuio da fora

    tambm pode estar associada dor muscular decorrente do exerccio excntrico (Yu

    et al., 2004; Guilhem et al., 2010; Chen et al., 2011).

    Em estudos com humanos, a avaliao da diminuio da fora muscular pode

    ser realizada pela medida do torque concntrico, excntrico e isomtrico de um ou

  • 27

    mais grupos musculares. O torque representado pela fora multiplicada pela

    distncia perpendicular entre o eixo da articulao e o ponto de avaliao dessa

    fora (Santos et al., 2010). A microleso no tecido muscular faz com que protenas

    presentes no sinccio muscular sejam liberadas, como, por exemplo, a protena CK.

    A avaliao da concentrao dessa protena tem sido utilizada como um marcador

    de leso muscular aps a realizao de exerccios (Albert, 2002; Rawson et al.,

    2007).

    Na rea esportiva, o tratamento dos sinais e sintomas da DMIT desempenha

    um importante papel, considerando que os exerccios excntricos so muito comuns

    em diversas modalidades esportivas e que a rpida reverso dos sintomas

    essencial para a reestruturao da funo do atleta (Cheung et al., 2003).

    Diversas modalidades teraputicas so adotadas no tratamento da dor

    muscular decorrente dos exerccios excntricos, incluindo alguns tipos de correntes

    eltricas, como, por exemplo, a estimulao eltrica transcutnea (TENS) (Craig, et

    al., 1996; Leeder et al., 2011), a microcorrente (Lambert, et al., 2002; Curtis et al.,

    2010), a corrente de alta voltagem (Tourville, et al., 2006) e a corrente interferencial

    (Minder et al., 2002). Em relao corrente interferencial, os estudos encontrados

    avaliaram os efeitos da corrente nos msculos flexores do cotovelo, em que Schmitz

    e colaboradores (1997) verificaram resultados significativos na reduo da dor aps

    o tratamento. Entretanto, Minder e colaboradores (2002) no evidenciaram

    diferenas entre os grupos tratamento, placebo e controle aps a aplicao da

    corrente. Os efeitos, formas de aplicao e mecanismos de ao da corrente

    interferencial sero abordados a seguir com nfase na sua aplicao para o

    tratamento da dor relacionada com a realizao de exerccios excntricos.

  • 28

    1.3 CORRENTE INTERFERENCIAL

    A corrente interferencial difere-se das demais correntes eltricas analgsicas

    como o TENS, por exemplo, por ser uma corrente de mdia frequncia modulada e,

    portanto, pode atingir maior profundidade de ao (Minder et al., 2002; Johnson e

    Tabasam, 2003a). Ela pode ser definida como a aplicao transcutnea de duas

    correntes eltricas alternadas de mdia frequncia moduladas pela amplitude para

    criar uma corrente teraputica de frequncia baixa (Minder et al, 2002; Ward, 2009).

    O princpio da modulao foi desenvolvido por Nemec, em 1959, e ocorre

    quando duas correntes de mdia frequncia fora de fase sofrem interferncia. A

    frequncia de modulao corresponde diferena entre as duas ondas originais e

    geralmente varia de 1 a 150 Hz. As faixas ideais de modulao para o tratamento de

    diferentes tipos de desordens fisiopatolgicas ainda no so claras na literatura

    (Minder et al., 2002; Ward et al., 2009).

    Existem duas formas de aplicao da corrente interferencial. Uma por meio da

    tcnica bipolar (ou pr-modulada), e a outra pela tcnica tetrapolar (ou verdadeira).

    Na tcnica tetrapolar, duas correntes de mdia frequncia so aplicadas atravs de

    dois pares de eletrodos cruzados entre si para produzir a interferncia na regio

    central da interseco (Figura 7A) (Ward, 2009). Na tcnica bipolar, duas correntes

    individuais sofrem interferncia dentro do equipamento e por isso so chamadas de

    pr-moduladas (Figura 7B). Nessa tcnica, cada par de eletrodos funciona

    independentemente, permitindo que eles sejam aplicados em regies diferentes do

    corpo (Minder et al. 2002). Alguns autores sugerem que os efeitos analgsicos da

    corrente interferencial verdadeira podem ser superiores aos da corrente pr-

    modulada (Ward, 2009). Entretanto, as evidncias cientficas no mostram

  • 29

    superioridade de nenhum dos dois tipos de aplicao da corrente interferencial

    (Ozcan et al., 2004).

    Figura 7. Tcnicas de aplicao da corrente interferencial. A: tcnica verdadeira (tetrapolar); B: tcnica pr-modulada (bipolar) (adaptado de Ozcan et al., 2004).

    Estudos mostram a utilizao da corrente interferencial no tratamento da dor

    decorrente de diversas condies patolgicas, como lombalgia (Gracey et al., 2002; ,

    Poitras, et al., 2005; Harman et al., 2009), cervicalgia (Helmers e Irwin, 2009), dor

    miofascial (Hou et al., 2002), osteoartrite de joelho (Burch et al., 2008), dor no ps-

    operatrio de cirurgia de joelho (Jarit et al., 2003), artrite psoritica (Walker et al.,

    2006), constipao intestinal (Clarke et al., 2009), dismenorria (Tugay et al., 2007)

    e tambm na condio de leso induzida, como a dor muscular decorrente dos

    exerccios excntricos (Minder et al., 2002).

    Os resultados experimentais obtidos aps o uso da corrente interferencial so

    contraditrios. Burch e colaboradores (2008) encontraram diminuio significativa da

    dor aps o uso da corrente interferencial no tratamento de osteoartrite de joelho. No

    A B

  • 30

    tratamento de artrite psoritica, Walker e colaboradores (2006) mostraram efeitos

    analgsicos satisfatrios aps o uso da corrente. Jarit e colaboradores (2003)

    observaram reduo da dor, do uso de medicao analgsica e do edema,

    ocorrendo ainda aumento da amplitude de movimento aps o uso da corrente

    interferencial no tratamento da dor decorrente de cirurgias no joelho. Nesse estudo,

    os resultados positivos foram encontrados logo aps a primeira sesso de

    eletroterapia. Entretanto, Alves-Guerreiro (2001) no encontrou alterao no limiar

    mecnico de dor em indivduos saudveis submetidos aplicao de corrente

    interferencial na regio do antebrao. Alm disso, a reviso sistemtica de Fuentes

    et al. (2010) conclui que os estudos realizados at o momento no esclarecem se o

    uso da corrente interferencial suficiente para promover os resultados analgsicos

    esperados, j que reduzido o nmero de trabalhos que estudaram os efeitos da

    corrente como forma isolada de tratamento.

    Segundo Johnson e Tabasam (2002; 2003a), o uso da corrente interferencial

    na prtica clnica tem sido baseada em mecanismos de ao hipotticos. Os autores

    afirmam que o uso da corrente tem se disseminado entre os fisioterapeutas apesar

    da falta de estudos clnicos controlados que comprovem sua eficincia.

    1.3.1 Possveis mecanismos analgsicos da corrente interferencial

    Normalmente se especula que as correntes analgsicas utilizadas na terapia

    modulam a sensao de dor por meio de mecanismos baseados na Teoria das

    comportas da dor (Chen e Johnson, 2010; Sluka e Walsh, 2003), ou mediante

    ativao das vias descendentes do SNC a partir da ao de receptores opiides

    (DeSantana et al., 2008a; Lonard et al., 2011). Maeda e colaboradores (2007)

    sugerem ainda que a liberao de GABA e ativao de seus receptores na medula

  • 31

    espinal um dos mecanismos pelos quais as correntes eltricas reduzem a

    hiperalgesia. A ao analgsica dessas correntes baseia-se nos mecanismos de

    modulao da dor, j que a transmisso da informao sensitiva na medula espinal

    pode ser ativada ou suprimida por mecanismos facilitatrios ou inibitrios discutidos

    anteriormente (Alves Neto et al., 2009).

    Alguns autores sugerem que a utilizao de correntes com frequncias mais

    altas (80 a 150Hz) est relacionada com efeitos analgsicos provenientes do

    recrutamento de fibras sensitivas A-beta que, de acordo com a teoria das comportas

    da dor, modula a informao nociceptiva no corno dorsal da medula espinal (Sluka e

    Walsh, 2003). Entretanto, os efeitos analgsicos das correntes eltricas relacionados

    com a ao de substncias opiides via tratos descendentes de modulao da dor

    normalmente so atribudos ao uso de baixas frequncias de estimulao (at 4 Hz)

    (Sluka e Walsh, 2003; Leonard et al., 2011). Porm, no existe consenso na

    literatura em relao aos mecanismos envolvidos na modulao da dor utilizando

    diferentes frequncias de estimulao. Leonard e colaboradores (2010), por

    exemplo, sugerem que o uso de estimulao eltrica com frequncia alta tambm

    pode envolver a ao de receptores opiides.

    Estudos utilizando outros tipos de correntes eltricas (como o TENS) sugerem

    que, dependendo da frequncia utilizada, a corrente pode ter benefcios melhores no

    tratamento de dor aguda ou crnica (DeSantana et al., 2008b). Entretanto, alguns

    estudos utilizando TENS mostraram no haver diferena entre o uso de frequncias

    maiores (100-110 Hz) e menores (4 Hz) no tratamento de dor crnica (Warke et al.,

    2006) e aguda (DeSantana, 2008a). Em relao corrente interferencial tambm

    no existem resultados na literatura que sustentem o uso de frequncias de

    modulao maiores ou menores. Johsan e Tabasam (2003b) testaram seis

  • 32

    frequncias de modulao variando de 20 Hz a 220 Hz e verificaram que todas as

    frequncias utilizadas foram efetivas no tratamento da dor induzida pelo frio,

    entretanto, no foi encontrada diferena entre elas. Da mesma forma, Schmitz e

    colaboradores (1997) encontraram diminuio significativa da dor aps uso de

    corrente interferencial tanto com frequncia de modulao de 10 Hz quanto de 100

    Hz no tratamento da dor muscular.

    Apenas dois estudos foram encontrados na literatura sobre o uso da corrente

    interferencial no alvio dos sinais e sintomas relacionados com a microleso

    muscular decorrente dos exerccios excntricos, e seus resultados foram

    contraditrios. Alm disso, ambos trabalhos abordam os msculos flexores do

    cotovelo e mostram diferenas metodolgicas e divergncia nos resultados. No

    estudo mais antigo encontrado, Schmitz e colaboradores (1997) demonstraram

    diminuio significativa na percepo da dor, tanto no grupo em que foi utilizada

    frequncia baixa (10 Hz) quanto no grupo tratado com frequncia alta (100 Hz),

    durante 30 min. A avaliao da dor foi realizada imediatamente, 15 e 30 minutos

    aps a aplicao da corrente, utilizando a escala de percepo de dor. Foi

    demonstrado que a reduo da sensibilidade dolorosa se manteve at o ltimo

    momento avaliado em ambos os grupos. No outro estudo encontrado, Minder e

    colaboradores (2002) no observaram diminuio da dor ao longo do tratamento, e

    no houve diferena significativa entre os quatro grupos experimentais: grupo

    tratado com frequncia de 10-20 Hz, grupo tratado com frequncia de 80-100 Hz,

    grupo placebo e grupo controle. O tratamento foi realizado durante cinco dias

    consecutivos, tendo cada sesso durao de 30 min. A dor foi avaliada utilizando-se

    a escala visual analgica de dor e o limiar de dor mecnica, aplicados diariamente.

  • 33

    Dentro desse contexto, nota-se que existe uma lacuna na literatura relativa ao

    uso da corrente interferencial no tratamento da microleso muscular em membros

    inferiores. Alm disso, a correta aplicao da corrente interferencial na prtica clnica

    exige uma maior definio sobre os efeitos da corrente, sobre os parmetros

    utilizados e se o uso de correntes eltricas analgsicas age apenas na modulao

    da dor ou tambm pode interferir nos demais aspectos da leso.

  • 34

    1.4 OBJETIVOS

    1.4.1 Objetivo geral

    O objetivo geral do presente trabalho foi avaliar os efeitos do uso da corrente

    interferencial no tratamento da dor decorrente de microleso induzida por

    exerccio excntrico nos msculos flexores e extensores do joelho.

    1.4.2 Objetivos especficos

    O trabalho teve como objetivos especficos:

    - determinar os efeitos do exerccio excntrico no torque muscular voluntrio,

    no limiar de dor mecnica e na concentrao sangunea da protena CK para

    avaliar a efetividade do protocolo de exerccios em produzir os sinais e sintomas

    esperados;

    - avaliar os efeitos da aplicao da corrente interferencial nas mesmas

    variveis citadas anteriormente para determinar a efetividade da corrente no

    tratamento da dor decorrente da microleso muscular.

    1.5 HIPTESES

    Com a realizao do estudo se esperava encontrar:

    - em relao ao protocolo de induo de dano muscular (aps a realizao do

    exerccio): uma diminuio nos valores de torque muscular e limiar de dor mecnica,

    juntamente com um aumento na concentrao da protena CK.

    - em relao aos possveis efeitos de modulao da dor (aps o tratamento

    com corrente interferencial): um aumento no limar de dor mecnica (diminuio da

    sensibilidade dolorosa) sem alterao dos valores de torque e da concentrao da

    protena CK.

  • 35

    ________________________

    2. MATERIAL E MTODOS

    ________________________

  • 36

    2.1 ARTIGO 1

    Este artigo mostra os efeitos da corrente interferencial aplicada nos

    msculos flexores de joelho aps a realizao de um protocolo de exerccios

    excntricos. O artigo foi submetido para publicao no peridico Journal of

    Sports Sciences em junho de 2011 e foi aceito para publicao em fevereiro de

    2012.

    Citao do artigo: Clarice S. Rocha, Fbio J. Lanferdini, Carolina Kolberg,

    Marcelo F. Silva, Marco A. Vaz, Wania A. Partata & Milton A. Zaro (2012):

    Interferential therapy effect on mechanical pain threshold and isometric torque

    after delayed onset muscle soreness induction in human hamstrings, Journal of

    Sports Sciences, 30:8, 733-742.

    Link: http://dx.doi.org/10.1080/02640414.2012.672025

  • Interferential therapy effect on mechanical pain threshold and isometrictorque after delayed onset muscle soreness induction in humanhamstrings

    CLARICE S. ROCHA1,2, FABIO J. LANFERDINI3, CAROLINA KOLBERG1,

    MARCELO F. SILVA4,2, MARCO A. VAZ3, WANIA A. PARTATA1, & MILTON A. ZARO5,1

    1Institute of Basic Health Sciences, Federal University of Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brazil, 2Physical Therapy

    Department, IPA Methodist University Center, Porto Alegre, Brazil, 3School of Physical Education, Federal University of Rio

    Grande do Sul, Porto Alegre, Brazil, 4Physical Therapy Department, Federal University of Health Sciences of Porto Alegre,

    Porto Alegre, Brazil, and 5Biomechanics Laboratory, Brazilian Institute of Leather, Shoes and Craftsmen Technology, Novo

    Hamburgo, Brazil

    (Accepted 28 February 2012)

    AbstractThis study was undertaken to examine the acute effect of interferential current on mechanical pain threshold and isometricpeak torque after delayed onset muscle soreness induction in human hamstrings. Forty-one physically active healthy malevolunteers aged 18733 years were randomly assigned to one of two experimental groups: interferential current group(n 21) or placebo group (n 20). Both groups performed a bout of 100 isokinetic eccentric maximal voluntarycontractions (10 sets of 10 repetitions) at an angular velocity of 1.05 rad s71 (608 s71) to induce muscle soreness. On thenext day, volunteers received either an interferential current or a placebo application. Treatment was applied for 30 minutes(4 kHz frequency; 125 ms pulse duration; 807150 Hz bursts). Mechanical pain threshold and isometric peak torque weremeasured at four different time intervals: prior to induction of muscle soreness, immediately following muscle sorenessinduction, on the next day after muscle soreness induction, and immediately after the interferential current and placeboapplication. Both groups showed a reduction in isometric torque (P5 0.001) and pain threshold (P5 0.001) after theeccentric exercise. After treatment, only the interferential current group showed a signicant increase in pain threshold(P 0.002) with no changes in isometric torque. The results indicate that interferential current was effective in increasinghamstrings mechanical pain threshold after eccentric exercise, with no effect on isometric peak torque after treatment.

    Keywords: eccentric exercise, delayed onset muscle soreness, interferential current, mechanical pain threshold, isometric peaktorque

    Introduction

    Different types of electrical stimulation are used in

    therapy for various purposes, including pain relief,

    muscle strengthening, edema control and circulation

    promotion (Ward, Lucas-Toumbourou, &

    McCarthy, 2009). In sports, electrical stimulation

    has been used to accomplish several goals such as:

    muscle stimulation (Vanderthommen & Crielaard,

    2001), pain reduction (Bolin, 2003), urinary incon-

    tinence treatment in female athletes (Rivalta et al.,

    2010) and as a recovery method on subsequent

    maximal climbing performance (Heyman, De Geus,

    Mertens, & Meeusen, 2009).

    Electrical stimulation can be used as an analgesic

    therapy to treat muscular pain that occurs after

    performing eccentric exercise (Minder et al., 2002;

    Tourville, Connolly, & Reed, 2006). Eccentric

    exercise usually produces delayed onset muscle

    soreness, dened as muscle strain injury that

    generates an increased tenderness or stiffness to

    palpation and/or movement (Cheung, Hume, &

    Maxwell, 2003). Considering that eccentric ex-

    ercises are very common in sports, the rapid

    reversion of symptoms resulting from exercises in

    athletes is essential for both function restoration

    and regain of sports performance (Cheung et al.,

    2003).

    Although necessary to produce the so-called

    benecial chronic effects, the acute effects of

    eccentric exercise may interfere with movement

    and performance due to its discomfort and other

    Correspondence: Clarice S Rocha, Federal University of Rio Grande do Sul, Institute of Basic Health Sciences, Porto Alegre, Brazil.

    E-mail: [email protected]

    Journal of Sports Sciences, April 2012; 30(8): 733742

    ISSN 0264-0414 print/ISSN 1466-447X online 2012 Taylor & Francishttp://dx.doi.org/10.1080/02640414.2012.672025

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  • unpleasant related symptoms (Farthing & Chilibeck,

    2003). Therefore, studying treatment of symptoms

    after eccentric micro-lesion is relevant for both

    clinical and performance scenarios (Cheung et al.,

    2003).

    According to Gracey, McDonough, and Baxter

    (2002), physiotherapists often choose to use inter-

    ferential therapy to treat subacute and chronic pain.

    Interferential current is derived from the interference

    of two medium frequency currents. When only one

    pair of electrodes is used, the current is called

    premodulated interferential and two individual cur-

    rents interfere with each other in the unit (Minder

    et al., 2002; Ward, 2009). It is the amplitude-

    modulated interference wave that differentiates

    interferential current from other electric devices such

    as TENS and other types of low-frequency alternat-

    ing current (Fuentes, Armijo-Olivo, Magee, &

    Gross, 2010a; Johnson & Tabasam, 2003; Ward &

    Oliver, 2007).

    Acceptance of interferential current into the

    physiotherapy practice has been based on a hypothe-

    tical mechanism of action and objective evidence in

    support is lacking (Johnson & Tabasam, 2002).

    Despite the widespread use of interferential current

    in clinical practice, the ndings of controlled clinical

    trials question its effectiveness. In addition, the exact

    mechanism by which the pain control occurs is still

    obscure (Johnson & Tabasam, 2002). According to

    Fuentes et al. (2010b), available information regard-

    ing interferential current clinical efcacy is

    debatable.

    Although eccentric exercise is commonly used in

    sport practice and also performed to induce muscle

    soreness to study different kinds of treatment, only a

    few studies evaluated the effect of interferential

    current in exercise symptoms (Minder et al., 2002;

    Schmitz, Martin, Perrin, Iranmanesh, & Rogol,

    1997) and all of them studied the elbow exor

    muscles. Therefore, there is a gap in the literature in

    relation to the study of the interferential current

    effects in the treatment of the effects from lower

    limbs eccentric exercise. The aim of this study was to

    examine the acute effects of interferential therapy on

    mechanical pain threshold and isometric torque after

    delayed onset muscle soreness induction in human

    hamstrings.

    Methods

    General overview

    Participants were submitted to a hamstrings ec-

    centric exercise protocol. Twenty-four hours post-

    exercise their muscles were treated with either

    interferential current or a placebo interferential

    current. The study was a single-blinded investiga-

    tion, whereby participants were unaware of the

    treatment group to which they were allocated. A

    control group was not used (group without a

    treatment) due to the general consensus in the

    literature of the time of appearance and the reduction

    of symptoms after eccentric exercises. Studies show

    that the symptoms peak occurs between 24 and 48

    hours after eccentric exercise (Plezbert & Burke,

    2005; Vinck, Cagnie, Coorevits, Vanderstraeten, &

    Cambier, 2006). Therefore, symptoms should not

    decrease before the end of this period if no treatment

    is applied. The option for only two experimental

    groups also took into account the methodology of

    previous studies that assessed the effects of articial

    electrical stimulation for pain treatment without the

    use of a control group (Chen & Johnson, 2009, 2010;

    Leonard, Cloutier, & Marchand, 2011; Tourville

    et al., 2006). Therefore, only a placebo group was

    included where participants thought they were

    receiving interferential current but actually the

    equipment was turned off. Despite the limitations

    of this choice (in view of the probable knowledge of

    the participants of the placebo group that no

    stimulation was applied due to the lack of sensory

    input at the skin), as the stimulation parameters were

    not known by the participants and they were

    unfamiliar with electrical stimulation procedures

    and sensation due to different types of electrical

    stimulation, we thought that this would be clinically

    more appropriate than simply using a control group.

    All procedures were in accordance with the ethical

    standards of the human experimentation committee.

    Ethical approval was obtained from the Universitys

    Research Ethical Committee (15658/2010). All

    volunteers gave informed written consent prior to

    participation in the study.

    Setting and participants

    Forty-one healthy male volunteers aged 18733 years(mean 24.0; s 3.7) were recruited through adver-tisements in the University. Participants were physi-

    cally active for at least three months prior to their

    participation and did not show any of the following

    exclusion criteria: lower limb pathology or neurolo-

    gical decit, cardiovascular problems, undiagnosed

    pain, epilepsy or diabetes mellitus. Participants were

    also instructed to not ingest any medication for at

    least 48 hours prior to data collection.

    This study was performed using only men as

    research participants because womens sex hor-

    mones vary throughout the menstrual cycle and it

    has been demonstrated that sex hormones inu-

    ence nociceptive threshold (Fillingim, King, Ri-

    beiro-Dasilva, Rahim-Williams, & Riley, 2009) and

    muscle strength (Bambaeichi, Reilly, Cable, &

    Giacomoni, 2004).

    734 C. S. Rocha et al.

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  • Randomisation

    All participants were randomly assigned by block

    drawing to one of two experimental groups: inter-

    ferential current group (n 21) or placebo group(n 20). Both groups underwent an eccentricexercise protocol aimed at inducing muscle soreness.

    On the next day, volunteers returned to the

    laboratory for the interferential current or placebo

    treatment. All measures were collected by the same

    researcher.

    Outcome measurements

    All variables were measured at four instances: prior

    to muscle soreness induction, immediately following

    muscle soreness induction, on the day after the

    induction and immediately after the interferential

    current and placebo application. The following

    variables were analysed: pain sensitivity through the

    mechanical pain threshold and hamstring isometric

    peak torque. These outcome measures were chosen

    to allow comparisons with the other studies that

    evaluated interferential current effects on delayed

    onset muscle soreness (Schmitz et al., 1997; Minder

    et al., 2002). Before the beginning of the rst test,

    weight, height and body mass index were obtained.