Crimes Contra a Administração Pública

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAO PBLICA

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAO PBLICAProfessor: Antnio Wellington Brito JuniorBacharel em Direito pela UFSPs-Graduado em Cincias Penais pela UNIDERP-LFGEx-assessor de Desembargadora do Tribunal de Justia de SergipeDelegado de Polcia CivilCrimes praticados por funcionrio pblicoArt. 327. Considera-se funcionrio pblico, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remunerao, exerce cargo, emprego ou funo pblica. 1 Equipara-se a funcionrio pblico quem exerce cargo, emprego ou funo em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de servio contratada ou conveniada para a execuo de atividade tpica da Administrao Pblica. 2 A pena ser aumentada da tera parte quando os autores dos crimes previstos neste Captulo forem ocupantes de cargos em comisso ou de funo de direo ou assessoramento de rgo da administrao direta, sociedade de economia mista, empresa pblica ou fundao instituda pelo poder pblico.DO PECULATOArt. 312. Apropriar-se o funcionrio pblico de dinheiro, valor ou qualquer outro bem mvel, pblico ou particular, de que tem a posse em razo do cargo (peculato apropriao), ou desvi-lo, em proveito prprio ou alheio (peculato desvio):Pena recluso, de dois a doze anos, e multa. 1 Aplica-se a mesma pena, se o funcionrio pblico, embora no tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtrado, em proveito prprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionrio (peculato furto ou peculato imprprio).PECULATO CULPOSOPeculato culposo 2 Se o funcionrio concorre culposamente para o crime de outrem: Pena deteno, de trs meses a um ano. 3 No caso do pargrafo anterior, a reparao do dano, se precede sentena irrecorrvel, extingue a punibilidade; se lhe posterior, reduz de metade a pena imposta.No peculato culposo, inadmissvel o concurso de pessoas, pois ausente o vnculo subjetivo. Assim, se o particular se apropria ou furta bem pblico por imprudncia ou negligncia do funcionrio, este responder por peculato culposo, e o particular por apropriao indbita ou furto.

CLASSIFICAO DO PECULATOO peculato :a) crime prprio e simples: funcionrio pblico como sujeito ativo e proteo de apenas um bem jurdico: probidade da Administrao.b) crime material: consuma-se com o resultado naturalstico, qual seja, inverso da posse.c) crime de dano, sendo necessrio o prejuzo Administrao;d) crime de forma livre, que pode ser comissivo ou omissivo;e) crime instantneo e unissubjetivo (ou de concurso eventual). No peculato furto em que o funcionrio concorre para a subtrao do bem plurissubjetivo;PECULATO (Informaes principais)OBJETO MATERIAL: Dinheiro, valor, ou qualquer outro bem mvel, pblico ou particular (prestao de servios no se insere no conceito de bem);PECULATO MALVERSAO: Patrimnio particular confiados guarda da Administrao Pblica;No se aplica o princpio da insignificncia (STJ);ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO: Valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionrio;PECULATO DE USO: A doutrina diverge se possvel.TENTATIVA: Possvel, menos na modalidade culposa.PECULATO (Informaes principais)ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: a) Peculato apropriao: dolo; b) Peculato desvio e peculato furto: dolo + elemento subjetivo especfico (em proveito prprio ou alheio). Se o desvio em proveito da Administrao, o caso de emprego irregular de verbas ou rendas pblicas (art. 315 do CP); c) Admite-se a culpa no caso do pargrafo 2.REPARAO DO DANO: a) no peculato doloso no afasta o crime; b) no peculato culposo acarreta a extino da punibilidade ou reduo da pena.CONCURSO DE PESSOAS: Como a qualidade de funcionrio pblico elementar do tipo de carter pessoal, comete peculato o particular que participa do crime sabendo que o coautor funcionrio.PECULATO POR ERRO DE OUTREMArt. 313. Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exerccio do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena recluso, de um a quatro anos, e multa (peculato estelionato).Crime simples e prprio;Crime material, pois se consuma com a inverso da posse;Crime de dano e de forma livre;Crime comissivo (regra);Crime instantneo, unissubjetivo (regra) e plurissubsistente (regra).PECULATO POR ERRO DE OUTREMPeculato estelionato (modalidade especial de apropriao de coisa havida por erro, diferenciada pelo sujeito ativo).Objeto material: dinheiro ou qualquer outra utilidade;A posse do bem pelo funcionrio pblico emana do erro espontneo de outrem;Elemento subjetivo: dolo (dolo superveniente). No admite modalidade culposa.Tentativa: admite (crime plurissubsistente).PECULATO ELETRNICOArt. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionrio autorizado, a insero de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administrao Pblica com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena recluso, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.Crime simples, prprio, formal (consuma-se com a insero dos dados falsos), de dano, de forma livre e ao mltipla;Crime comissivo (regra)Crime instantneo;Crime unissubjetivo;Crime plurissubsistente (regra).PECULATO ELETRNICOPeculato eletrnico;Objeto material: dados, falsos ou corretos, integrantes dos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administrao Pblica.Elemento normativo do tipo: indevidamente.Elemento subjetivo: dolo (elemento subjetivo especfico com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano). No admite modalidade culposa.Tentativa: admite (crime plurissubsistente). 1137PECULATO ELETRNICOArt. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionrio, sistema de informaes ou programa de informtica sem autorizao ou solicitao de autoridade competente:Pena deteno, de 3 (trs) meses a 2 (dois) anos, e multa. Pargrafo nico. As penas so aumentadas de um tero at a metade se da modificao ou alterao resulta dano para a Administrao Pblica ou para o administrado.PECULATO ELETRNICOCrime simples e prprio;Crime formal (consuma-se com a modificao ou alterao do sistema informatizado), de dano, de forma livreCrime comissivo (regra)Crime instantneo e unissubjetivo;Crime plurissubsistente (regra);Objeto material: sistema de informaes e programa de informtica.Elemento subjetivo: dolo. No admite modalidade culposa.Tentativa: admite (crime plurissubsistente).Emprego irregular de verbas ou rendas pblicasArt. 315. Dar s verbas ou rendas pblicas aplicao diversa da estabelecida em lei: Pena deteno, de um a trs meses, ou multa.Crime simples e prprio;Crime material (consuma-se com o resultado naturalstico do emprego de verbas pblicas em desconformidade com a lei);Crime de dano e de forma livreCrime comissivo (regra);Crime instantneo;Crime unissubjetivo;Crime plurissubsistente (regra).Emprego irregular de verbas ou rendas pblicasObjeto material: verbas pblicas e as rendas pblicas.Prefeitos: no incide o art. 315 do CPC (crime especfico: art. 1., inc. III, do Decreto-lei 201/1967);Elemento subjetivo: dolo. No admite culpa;Estado de necessidade: pode excluir a antijuridicidade.Tentativa: admite (crime plurissubsistente);No confundir com o peculato desvio. Aqui o desvio da verba ou da renda ocorre dentro da Administrao Pblica, no havendo destinao para o particular. CONCUSSOArt. 316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da funo ou antes de assumi-la, mas em razo dela, vantagem indevida: Pena recluso, de dois a oito anos, e multa;A doutrina diverge quanto natureza da vantagem. Alguns entendem que qualquer exigncia de vantagem indevida configura o crime (inclusive sexual), outros entendem que a vantagem indevida deve ser de carter patrimonial;

CONCUSSOCrime pluriofensivo. Violao da probidade administrativa + patrimnio privado + liberdade individual;Crime prprio. No concurso de crimes, o particular que auxilia na exigncia indevida, responde por concusso, visto que a figura de funcionrio elementar do tipo, bem como em razo da redao prevista direta ou indiretamente;Crime formal: consuma-se com a exigncia indevida;Crime de dano e de forma livre;Crime comissivo (regra);Crime instantneo e unissubjetivo;Crime unissubsistente.CONCUSSONo confundir a concusso com a corrupo ativa. Concusso crime praticado por funcionrio pblico. Corrupo ativa crime cometido por particular contra a Administrao Pblica;Se a exigncia indevida for realizada com violncia ou grave ameaa, mesmo que o sujeito ativo seja o funcionrio, o crime ser de extorso, segundo STF;Priso em flagrante: cabvel no momento da exigncia da vantagem indevida ou logo aps sua realizao.EXCESSO DE EXAOExcesso de exao: 1 Se o funcionrio exige tributo ou contribuio social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrana meio vexatrio ou gravoso, que a lei no autoriza. Pena recluso, de trs a oito anos, e multa. 2 Se o funcionrio desvia, em proveito prprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres pblicos: Pena recluso, de dois a doze anos, e multa.

EXCESSO DE EXAOExcesso de exao: objeto material tributo ou contribuio social; hiptese excepcional de tipo fundamental previsto em pargrafo;Elementos normativos indevido e que a lei no autoriza (lei penal em branco homognea ou em sentido lato); Elemento subjetivo: Dolo. Dolo direto (que sabe indevido) ou indireto (que deveria saber indevido). No admite modalidade culposa.No caso da figura qualificada, se os valores desviados so incorporados ao patrimnio pblico, para s depois ocorrer a apropriao pelo funcionrio, o crime ser de peculato desvio.CORRUPO PASSIVAArt. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da funo ou antes de assumi-la, mas em razo dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena recluso, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 1 A pena aumentada de um tero, se, em consequncia da vantagem ou promessa, o funcionrio retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofcio (corrupo passiva imprpria) ou o pratica infringindo dever funcional (corrupo passiva prpria). 2 Se o funcionrio pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofcio, com infrao de dever funcional, cedendo a pedido ou influncia de outrem: Pena deteno, de trs meses a um ano, ou multa.CORRUPO PASSIVACrime simples e prprio;Crime formal e de dano;Crime de forma livre;Crime comissivo ou omissivo;Crime instantneo;Crime unissubjetivo;Crime unissubsistente ou plurissubsistente.A corrupo tambm denominada de peita ou suborno.CORRUPO PASSIVAObjeto material: vantagem indevida. Elemento normativo do tipo: indevida.Princpio da insignificncia: no se aplica. indispensvel haver nexo de causalidade entre a conduta do servidor e a realizao de ato funcional de sua competncia.Elemento subjetivo: dolo (elemento subjetivo especfico para si ou para outrem). No admite culpa e possvel a tentativa.Corrupo passiva exaurida: art. 317, 1., do CP.Corrupo passiva privilegiada: art. 317, 2., do CP. No confundir com a prevaricao, em que o agente retarda ou se omite da prtica do ato para satisfazer interesse ou sentimento pessoal ( e no cedendo a pedido ou influncia de outrem).CORRUPO PASSIVAA corrupo pode ser passiva, quando envolve a atuao do funcionrio pblico corrompido, ou ativa, se inerente conduta do corruptor. O CP, nesse campo, rompeu com a teoria unitria ou monista no concurso pessoas, adotada como regra em seu art. 29, caput, abrindo espao para uma exceo pluralstica. H dois delitos distintos: corrupo passiva (art. 317), de natureza funcional, inserida entre os crimes praticados por funcionrio pblico contra a Administrao em geral; e corrupo ativa (art. 333), versada no rol dos crimes praticados por particular contra a Administrao em geral. H dois crimes distintos corrupo passiva (art. 317) e corrupo ativa (art. 333) para sujeitos que concorrem para o mesmo resultado.PREVARICAOArt. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofcio, ou pratic-lo contra disposio expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena deteno, de trs meses a um ano, e multa;Crime simplesA prevaricao somente pode ser praticada pelo funcionrio pblico. Trata-se de crime de mo prpria, pois a execuo da conduta criminosa no pode ser delegada a outra pessoa. No admite coautoria, portanto;Crime formal, de dano e de forma livreCrime comissivo ou omissivo prprio;Crime instantneo, unissubjetivo e unissubsistente.PREVARICAOObjeto material: ato de ofcio indevidamente retardado ou omitido pelo agente, ou praticado contra disposio expressa de lei.Elementos normativos do tipo: indevidamente e contra disposio expressa de lei. Funcionrio pblico e recusa em cumprir mandado judicial: crime de prevaricao (e no de desobedincia, em que o sujeito ativo o particular);Elemento subjetivo: dolo (elemento subjetivo especfico para satisfazer interesse ou sentimento pessoal). No admite modalidade culposa.Tentativa: admite somente na modalidade comissiva (pratic-lo contra disposio expressa de lei).Condescendncia criminosaArt. 320. Deixar o funcionrio, por indulgncia, de responsabilizar subordinado que cometeu infrao no exerccio do cargo ou, quando lhe falte competncia, no levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena deteno, de quinze dias a um ms, ou multa;Crime simples;Crime prprio (funcionrio superior que no responsabiliza ou no toma providncias contra subalterno);Crime formal e de dano e de forma livreCrime omissivo prprio;Crime instantneo;Crime unissubjetivo e unissubsistente.Condescendncia criminosaObjeto material: infrao no punida pelo superior hierrquico ou no comunicada autoridade competente quando lhe faltar competncia para faz-lo;Elemento subjetivo: dolo (elemento subjetivo especfico inteno de ser indulgente com o funcionrio pblico responsvel pela infrao no exerccio do cargo, ou seja, deve estar relacionada ao cargo pblico ocupado pelo subalterno. Se o superior no entrega Polcia funcionrio foragido por homicdio, o fato atpico, desde que a repartio no seja de natureza policial. No admite modalidade culposa;Tentativa: no admite (crime omissivo prprio);Advocacia administrativaArt. 321. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administrao pblica, valendo-se da qualidade de funcionrio: Pena deteno, de um a trs meses, ou multa. Pargrafo nico. Se o interesse ilegtimo: Pena deteno, de trs meses a um ano, alm da multa;Crime simples, prprio, formal e de dano;Crime de forma livreCrime comissivo ou omissivoCrime instantneo;Crime unissubjetivo;Crime unissubsistente ou plurissubsistente.Advocacia administrativaObjeto material: interesse (legtimo ou ilegtimo) privado e alheio patrocinado (direto ou indireto). (Exemplo: o Secretrio de Obras, querendo auxiliar um amigo, pede a um funcionrio seu para solicitar ao fiscal a no interdio das obras de um estabelecimento comercial);Elemento subjetivo: dolo. No admite modalidade culposa;Tentativa: admite (salvo na conduta omissiva);Para que haja o crime de advocacia administrativa necessrio que o interesse patrocinado seja particular e alheio. Se o interesse patrocinado for da prpria Administrao, o fato atpico (entendimento do STJ);