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Cultivo da Cebola (Allium cepa L.) Valter Rodrigues Oliveira Situação mundial, Mercosul e Brasil A cebola é a terceira hortaliça mais produzida no mundo. A produção mundial em 2002 foi de 50 milhões de t, em 2,9 milhões de ha (produtividade média de 17 t/ha). A América do Sul contribuiu com 7,5% e o Brasil participou com 2% da oferta mundial (1,1 milhão de toneladas) com valor global da produção de US$ 204 milhões (Tabela 1). Brasil e Argentina produzem mais de 60% da cebola da América do Sul e 97% do Mercosul. No Brasil, a cebola é a terceira hortaliça mais importante economicamente. Compreende área total média anual (1999-2001) de cerca de 65,9 mil ha (1,1 milhões t). A área plantada concentra-se em oito estados: 23,4 mil ha em Santa Catarina (393 mil t), 16,3 mil ha no Rio Grande do Sul (179 mil t), 10,5 mil ha em São Paulo (234 mil t), 5,2 mil ha no Paraná (58 mil t), 4,4 mil ha na Bahia (78 mil t), 3,8 mil em Pernambuco (60 mil t), 2,1 mil ha em Minas Gerais (55 mil t), e 1 mil ha em Goiás (40 mil t). A totalidade da produção é destinada ao mercado interno, basicamente para consumo in natura, como condimento e salada, considerando que a produção de bulbos para industrialização, nas formas de pasta, desidratada e picles é incipiente. Socialmente se caracteriza como típica de propriedades pequenas e médias e de natureza familiar, principalmente no Sul e no Nordeste brasileiro. Aspectos da bioquímica e uso da cebola Bioquímica do sabor e aroma As espécies do gênero Allium são caracterizadas pelo seu teor de compostos sulfurosos, que dão a elas seu característico odor e sabor, que conjuntamente são denominados flavor. Embora açúcares e ácidos orgânicos contribuam para o sabor da cebola, os principais componentes do sabor se originam de reações de compostos organosulfurosos (vários aminoácidos sulfurosos não protéicos e não voláteis - sem odor, coletivamente chamados sulfóxidos de cisteina), com a enzima alinase, com produção de piruvato, amônia, óxido de tiopropanal e diferentes compostos sulfurosos, alguns dos quais são

Cultivo de Cebola

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Cultivo da Cebola (Allium cepa L.)Valter Rodrigues Oliveira

Situação mundial, Mercosul e Brasil

A cebola é a terceira hortaliça mais produzida no mundo. A produção mundial em

2002 foi de 50 milhões de t, em 2,9 milhões de ha (produtividade média de 17 t/ha). A

América do Sul contribuiu com 7,5% e o Brasil participou com 2% da oferta mundial (1,1

milhão de toneladas) com valor global da produção de US$ 204 milhões (Tabela 1). Brasil

e Argentina produzem mais de 60% da cebola da América do Sul e 97% do Mercosul.

No Brasil, a cebola é a terceira hortaliça mais importante economicamente.

Compreende área total média anual (1999-2001) de cerca de 65,9 mil ha (1,1 milhões t).

A área plantada concentra-se em oito estados: 23,4 mil ha em Santa Catarina (393 mil t),

16,3 mil ha no Rio Grande do Sul (179 mil t), 10,5 mil ha em São Paulo (234 mil t), 5,2 mil

ha no Paraná (58 mil t), 4,4 mil ha na Bahia (78 mil t), 3,8 mil em Pernambuco (60 mil t),

2,1 mil ha em Minas Gerais (55 mil t), e 1 mil ha em Goiás (40 mil t). A totalidade da

produção é destinada ao mercado interno, basicamente para consumo in natura, como

condimento e salada, considerando que a produção de bulbos para industrialização, nas

formas de pasta, desidratada e picles é incipiente. Socialmente se caracteriza como típica

de propriedades pequenas e médias e de natureza familiar, principalmente no Sul e no

Nordeste brasileiro.

Aspectos da bioquímica e uso da cebola

Bioquímica do sabor e aromaAs espécies do gênero Allium são caracterizadas pelo seu teor de compostos

sulfurosos, que dão a elas seu característico odor e sabor, que conjuntamente são

denominados flavor.

Embora açúcares e ácidos orgânicos contribuam para o sabor da cebola, os

principais componentes do sabor se originam de reações de compostos organosulfurosos

(vários aminoácidos sulfurosos não protéicos e não voláteis - sem odor, coletivamente

chamados sulfóxidos de cisteina), com a enzima alinase, com produção de piruvato,

amônia, óxido de tiopropanal e diferentes compostos sulfurosos, alguns dos quais são

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Tabela 1. Situação da produção e área de hortaliças no Brasil, 2002.

Hortaliças Produção Área Produtividade Produção Área *Valor(t) (ha) (t/ha) (%) (%) (US$/t) US$

**Tomates 3.518.163 62.291 56,48 22,35 7,72 135.08 475.235Batata 2.865.080 153.004 18,73 18,20 18,96 187.08 535.990Cebola 1.131.640 60.613 18,67 7,19 7,51 180.89 204.705***Cenoura 755.258 27.399 27,57 4,80 3,40 213.66 161.370Melancia 620.000 82.000 7,56 3,94 10,16 107.61 66.720Batata-Doce 483.000 43.000 11,23 3,07 5,33 182.10 87.956Inhame 230.000 25.000 9,20 1,46 3,10 148.70 34.202Melão 155.000 12.500 12,40 0,98 1,55 382.18 59.238Alho 113.459 15.090 7,52 0,72 1,87 1,001.7

1113.653

Ervilha 3.600 1.700 2,12 0,02 0,21 248.21 0.894Morangos 2.700 360 7,50 0,02 0,04 806.84 2.178Outras 5.864.687 323.901 18,11 37,25 40,14 140.27 822.660TOTAL 15.742.587 806.858 19,51 100,00 100,00 2,564.80Fonte: FAO-FAOSTAT Database Results;*** Estimativas dos produtoresDisponível URL: http://apps.fao.orgConsultado em 22/03/2003Dólar médio em 2002 (BACEN) 2.925**inclui tomate para mesa e para processamentoTomate indústria - 31/12/2002 = R$ 130,00

Reação enzimática na geração do flavor.

Sulfóxido de cisteína ácido sulfênico + acido pirúvico + amônia

Alinase + H2O Óxido de tiopropanal

muito instáveis e rapidamente produzem muitos voláteis, incluindo o fator lacrimatório. A

maioria do enxofre em Allium está na forma de vários aminoácidos não proteícos.

Os precursores do flavor - compostos organosulfurosos - estão localizados no

citoplasma, enquanto a alinase está localizada no vacúolo, provavelmente dentro de

pequenas vesículas. Quando o tecido fresco é danificado, pelo corte ou maceração, ou

seja, quando as células são rompidas, precursores reagem sob controle da enzima

alinase e ocorre a liberação do altamente reativo ácido sulfênico mais amônia e piruvato.

Isso explica porque bulbos de cebola cozidos inteiros (sem nenhum tipo de dano) não

apresentam pungência, pois a enzima é destruída antes de se ter acesso aos precursores

do flavor.

A intensidade do flavor é geneticamente determinada, mas pode ser modificada por

meio da manipulação do ambiente. A fertilização com enxofre (S) tem função vital na

determinação da intensidade do flavor.

Page 3: Cultivo de Cebola

As escamas secas, mais externas, praticamente não contêm componentes

responsáveis pela pungência, que vão aumentando progressivamente das escamas

externas para as internas e atingem o máximo no caule.

Composição química, formas de consumo e valores condimentar e nutritivo dacebola

Cerca de 89% da cebola é água, sendo o restante hidratos de carbono, celulose,

ácidos graxos, vitaminas, proteínas e minerais (Tabela 2).

Os bulbos imaturos e maduros podem ser consumidos crus em saladas ou cozidos

de diferentes formas. Como condimento, a cebola pode ser usada na forma in natura ou

desidratada. Tem havido aumento na demanda de cebola desidratada, na forma de

escamas, que se reconstituem quando cozidas em água, e é usada como condimento de

pratos, em produtos precozidos, em conservas e saladas. As partes brancas e verdes das

folhas, quando estão tenras, e antes da formação do bulbo, podem ser consumidas cruas,

existindo cultivares desenvolvidas especificamente para este uso.

O baixo teor proteíco, aliado ao baixo teor de aminoácidos essenciais, não

caracteriza a cebola como fonte de proteína, embora seja boa fonte de vitaminas B1, B2 e

C. Seu uso, portanto, é mais como condimentar que a fins alimentares (nutricionais). Além

de baixo valor alimentar, o consumo diário per capita é pequeno, o que também limita sua

ação nutricional. O consumo per capita de cebola no Brasil é de cerca de 6 kg.

Tabela 2. Composição de 100 g de cebola.

Componentes Conteúdo Minerais ConteúdoÁgua 89,0 g K 205 mgMatéria seca 11,0 g Na 2 mg- Hidratos de carbono (açúcares) 8,4 g Ca 35 mg- Proteínas 1,2 g Mg 15 mg- Celulose (fibras) 0,7 g P 47 mg- Ácidos graxos 0,2g S 70 mg- Cinzas 0,4 g Cl 24 mg- Vitaminas Al 8 mg - A 50 UI Mn 0,15 mg - C 24 mg Cu 0,12 mg - E 0,3 mg - B1 0,06 mg - B2 0,03 mg - PP 0,15 mgEnergia 30,0 cal

Page 4: Cultivo de Cebola

Taxonomia do gênero Allium

O gênero Allium é de grande importância econômica, englobando mais de 600

espécies, incluindo várias hortaliças e espécies ornamentais. O elevado número de

espécies indica ter havido uma grande divergência evolutiva desde a origem do gênero,

gerando uma marcante variabilidade em inúmeras características da planta.

O gênero Allium ocupa atualmente a seguinte classificação taxonômica: Classe:

Monocotiledonea; Superordem: Lilliforme; Ordem: Asparagales; Tribo: Alliae; Gênero:

Allium; Família: Alliaceae. Alguns autores defendem outras classificações, sendo a

posição taxonômica do gênero Allium e de outros gêneros ainda controversa.

São plantas, a maioria bulbosas, embora a estrutura subterrânea de reserva seja

muito variada, incluindo também rizomas e raízes. O odor e sabor característico do Allium

é de fundamental importância no reconhecimento de espécies do gênero. As diferenças

no hábito de florescimento, morfologia floral, folhas, escapos, órgãos de armazenamento

e sabor são muito úteis na identificação de diferentes espécies.

São espécies diplóides com número básico de cromossomos é x=8 (nas espécies

cultivadas) e x=7. Em ambas as séries tem evoluído poliplóides. Todas as espécies de

Allium conhecidas são alógamas. As hibridações interespecíficas espontâneas são raras,

existindo fortes barreiras de cruzamento que separam inclusive espécies

morfologicamente similares. Allium cepa é conhecida apenas sob cultivo (domesticada),

não sendo portanto encontrada na forma silvestre.

Classificação das espécies comestíveis de Allium

O gênero Allium é dividido em cinco subgêneros: Rhizirideum, Allium,

Bromatorrhiza, Melanocrommyum e Amerallium. Os dois primeiros contém as sete

espécies comestíveis mais importantes. Cada subgênero possui uma ou mais seções,

que contém espécies (tipos) estreitamente relacionadas. Os diferentes tipos de cebola

estão contidos no subgênero Rhizirideum, seção cepa (Tabela 3).

Distribuição e centros de diversidade de Allium

O gênero Allium se encontra distribuído nas zonas temperadas do hemisfério

Norte, principalmente, e também na Zona Boreal. As espécies não estão igualmente

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Tabela 3. Subgêneros do gênero Allium e principais espécies/variedades botânicas.

Sugênero Seção Espécie/variedade botânica Nome da culturaRhizirideum Cepa A. cepa var. cepa Cebola comum

A. cepa var. aggregatum Cebolamultiplicadora

A. cepa var. ascalonicum ChaloteA. cepa var. solaninaA. cepa var. perutileA. cepa var. viviparumA. cepa var. bulbiferumA. cepa var. proliferumA. cepa var. caespitosum x A.fistulosumA. fistulosum Cebolinha de

cheiroA. chinense Rakkyo

Rhizirideum A. tuberosum CebolinhaJaponesa, Nira

Schoenoprasum

A. Schoenoprasum

Allium Allium A. sativum var. sativum Alho comumA. ampeloprasum var. porrum Alho porróA. ampeloprasum var. porrumaegyptiacumA. ampeloprasum var. holmenseA. ampeloprasum var. sectivum

distribuídas no hemisfério Norte, sendo a maioria encontrada no velho mundo. Grande

parte das espécies se distribui numa faixa que vai desde a Costa Mediterrânea até o Irã e

Afeganistão. Grande diversidade de espécies é encontrada na Turquia e na região

compreendida pelo Irã, Norte do Iraque, Afeganistão, Kazaquistão e oeste do Paquistão.

O número de espécies decresce fora deste centro de diversidade.

A grande variação de características morfológicas e fisiológicas nesta espécie está

associada à sua alta taxa de polinização cruzada, bem como ao intenso processo de

seleção consciente e inconsciente a que foi submetida ao longo de sua domesticação. As

seleções visam, de modo geral, modificar características como: formato; coloração;

retenção de escamas e tamanho de bulbos; aumentar a produtividade; melhorar a

conservação pós-colheita; adaptar a diferentes condições edafoclimáticas. Como

resultado marcante, pode-se ressaltar a adaptação da cebola a diferentes latitudes, cuja

produção estende-se desde os trópicos até regiões mais próximas aos círculos polares,

regiões estas muito diferentes do seu centro de origem, principalmente em se

considerando que o fotoperíodo é fator limitante no processo de bulbificação.

Page 6: Cultivo de Cebola

Descrição botânica da cebola

A planta é herbácea, anual para produção de bulbos (150 a 220 dias da semeadura

a colheita) e bianual para produção de sementes (130-180 dias), com altura de parte

aérea variável, em torno de 70 cm.

A folha é cilíndrica e afila da base para a extremidade. É constituída de duas

partes distintas: parte basal ou bainha envolvente e no fomato de anél e a parte superior

redonda e oca (típico de A. cepa). As bainhas da(s) folha(s) exteriores se mantém

delgadas e escamosas, atuando como protetoras (túnicas), podendo ser de cor branca,

esverdeada, amarela de diversas tonalidades, rosadas e roxas. As mais internas se

mantém espessas (entumescidas) e se sobrepõe umas às outras, podendo ser de cor

branca, amarela ou roxa, acumulando substâncias de reserva e constituindo a parte

comestível do bulbo. O formato do bulbo pode ser periforme, achatado, alongado e

globular. A parte superior estreita das bainhas, acima do bulbo, constitui o colo ou

pseudocaule. As folhas dispõem-se sobre o caule em disposição oposta. Cada nova folha

sai através de um orificio que se abre no ponto de união da bainha e limbo da folha mais

interna, de modo que cada bainha envolve todas as demais que surgem após.

OBS.: A forma cilíndrica da folha é a mais efetiva para a dissipação do calor do ar

em movimento, uma vez que apresenta a maior taxa de transferência de calor por

unidade de superfície. A orientação vertical das folhas cilíndricas são, portanto, bem

adaptadas para dissipar energia, sem excessivo aumento da temperatura foliar, o que é

estratégico para a conservação da água.

O caule possui formato de disco cônico, e constitui a base do bulbo. Possui entre-

nós muito curtos, no qual se insere o sistema radicular na parte inferior e as folhas na

parte superior.

O sistema radicular é do tipo fasciculado (raiz principal + adventícias), capaz de

chegar a 60 cm de profundidade, embora normalmente não passe de 20 cm de

profundidade e 15 cm de raio. As raízes são tenras, finas, pouco ramificadas, bem

providas de pelos radiculares no terço médio inferior, de cor branca e com odor típico da

cebola. Dois conjuntos principais de raízes são formados durante o ciclo vegetativo, um

conjunto dura até o início da bulbificação e o outro, que repõe o primeiro, dura do início da

bulbificação até a maturação do bulbo.

Em condições tropicais, o florescimento ocorre no segundo ano do ciclo

vegetativo da planta, depois de um período de dormência do bulbo, e quando as plantas

Page 7: Cultivo de Cebola

atingem determinado estádio de crescimento. No entanto, baixas temperaturas podem

induzir a uma floração prematura (bolting) no primeiro ano do ciclo vegetativo. Os

meristemas vegetativos diferenciam-se para gemas florais, pela exposição a temperaturas

entre 3 e 15 ºC.

Além da gema central, na maioria dos casos, várias gemas laterais do disco se

diferenciam em gemas reprodutivas, emitindo hastes florais (escapos florais). O número

de escapos florais produzidos por uma planta varia de 1 a 12 sendo o normal de 3 a 7.

Quando ocorre o bolting, apenas a gema central se diferencia em gema repodutiva, com

formação de apenas um escapo floral. A altura do(s) escapo(s) floral(ais) pode(m) oscilar

de 0,8 a 1,5 m. O escapo floral é cilíndrico, oco e apresenta uma dilatação no terço

inferior do mesmo.

A inflorescência é do tipo umbela e localiza-se na extremidade do escapo floral.

Surge, inicialmente, como uma cabeça globosa envolta por uma bráctea membranosa

envolvente (espata) que se prolonga formando um ápice pontiagudo. Quando se completa

o desenvolvimento, a espata se abre, liberando as flores, que se mantém em antese por

duas a quatro semanas. A polinização é principalmente entomófila, e também em certo

grau anemófila. Os principais insetos polinizadores são Aphis melifera, Trigona spinipes e

mosca doméstica.

O número de flores pode chegar a 2.000/umbela, sendo mais comum de 300 a

1.000 flores/umbela. São formadas por um pedicelo muito fino, 6 tépalas (3 sépalas e 3

pétalas iguais) de cor branca, esverdeada ou violácea, 2 vértices com 3 estames cada um

(total de 6 estames) e 3 carpelos soldados formando um ovário súpero com o estigma

trilobado (fórmula floral = 6T (3S+3P), 3+3E, 3C). Existem nectáreos na base do ovário

que secretam uma substância açucarada que atrae os polinizadores.

A população apresenta elevado grau de heterozigose, devido a existência de

protrandria (liberação do pólen 24 a 96 horas antes do estigma estar receptivo).

Entretanto, ocorre também autopolinização devido o fato de nem todas as flores da

umbela se abrirem de uma única vez, de modo que pode-se efetuar a polinização entre

diferentes flores da mesma umbela ou das outras umbelas do mesmo bulbo.

O fruto é uma cápsula trilocular, com 1 ou 2 sementes por lóculo. Cada fruto pode

conter seis sementes, mas na prática é comum ter 3 a 4 (± 300 sementes/grama).

As sementes amadurecem cerca de 45 dias após a antese. São pretas, de formato

irregular, com comprimento de uns 3 mm e com superfície rugosa. Contém um pequeno

embrião cilindrico e encurvado de coloração branco leitosa e uma reserva endospermica

incolor. Quando a semente germina, o embrião retira os nutrientes do endosperma e

Page 8: Cultivo de Cebola

emite a radícula, seguida pelo cotiledone, que ainda dobrado quebra a superfície do solo.

O ponto de crescimento meristemático (caule) permanecerá sob o solo durante toda a

vida da planta.

A semente se deteriora rapidamente em função dos efeitos da umidade, devendo-

se armazená-las bem secas (6% de umidade). Seu poder germinativo diminue muito

rapidamente, passando de 95 a 100% no momento da colheita para 50% em dois anos se

não conservadas em baixas temperatura e umidade atmosférica.

Em certas ocasiões, substituindo as flores e frutos podem aparecer pequenos

bulbilhos na base da inflorescência que podem servir para a multiplicação vegetativa. Isto

não é comum nas variedades de cebola cultivadas no Brasil, mas é em outras espécies

de de cebola como a cebola bulbifera ou do Egito, que normalmente produz poucas flores

e muitos bulbilhos de cor roxa escura.

Fases de crescimento

As fases de crescimento de cebola podem ser descritas conforme Tabela 4.

GerminaçãoAs sementes de cebola, de modo geral, demoram mais tempo para germinar do

que a maioria das espécies hortícolas. Numerosos estudos têm mostrado que na faixa de

5 a 25°C a velocidade de germinação de cebola aumenta quase que linearmente com a

temperatura. Levando em consideração a velocidade e a porcentagem de germinação,

pode-se considerar a faixa de 11 a 25°C como ótima, em condições de solo úmido.

Crescimento da plantaApós a emergência, há um período de crescimento lento até aproximadamente 75

dias após a semedaura, seguido de outro de crescimento rápido (Figura 1), controlado,

principalmente, pela temperatura. Finalmente, ocorre a fase de desenvolvimento de

bulbos, quando a planta cessa de formar folhas e a taxa de crescimento das folhas

decresce e as bainhas foliares do bulbo entumescem para formar o tecido de

armazenamento. Há um alongamento da região do pseudocaule. A formação do bulbo é

feita com o predomínio do processo de expansão celular sobre o processo de divisão

celular.

Page 9: Cultivo de Cebola

Tabela 4. Códigos das fases (estádios) de crescimento da cebola. Adaptado de “

Guidelines for the conduct of tests for distinctness, uniformity and stability for Onion and

Shallot (Allium cepa L., Allium ascalonicum L.)”.

1. de semente a bulboCódigo Descrição da fase de crescimento Ciclo vegetativo00 Semente seca0 Germinação Crescimento de plântulas10 Plântula emergida no estádio de “loop”15 Plântula com testa acima da superfície e ainda ligada ao cotilédone20 Emergência da primeira folha verdadeira25 Estádio de 2a folha verdadeira30 Estádio de 3a folha35 Estádio de 4a folha40 Estádio de 5a folha Crescimento da planta50 Estádio de 7a folha - primeira folha senescente65 Estádio de 10a folha, 2a e 3a folhas senescentes; desenvolvimento inicial do

bulbo100 Completa expansão das folhas é atingida; enchimento dos bulbos continua105 Início do tombamento das folhas, murchamento do pseudo-caule115 Folhas secas; tamanho dos bulbos continua a aumentar; escurecimento das

escamas135 Bulbos maduros para colheita150 Folhas completamente secas; ápice do bulbo seca para dormência2. de bulbo a semente160.1 Início do brotamento - emissão dos primórdios de raízes ou emergência da

brotação180.1 Bulbos brotados com emissão de folhas200.1 Rompimento da película externa210.1 Emergência do escapo e espata subdesenvolvida220.1 Elongação e expansão da região mediana do escapo240.1 Inchamento da espata250.1 Rompimento da espata260.1 Expansão da umbela270.1 Abertura das flores280.1 Polinização das flores290.1 Estabelecimento das sementes - expansão dos ovários polinizados320.1 Sementes maduras nas umbelas350.1 Sementes secas3. de bulbo a bulbinhos150 Bulbos secos com folhas completamente mortas170.2 Formato do bulbo torna-se menos arredondado190.2 Formato do bulbo torna-se irregular com o desenvolvimento de pequenas

rachaduras na película externa210.2 Mais que um ponto de crescimento emerge no ápice (topo) do bulbo230.2 Longas rachaduras desenvolvem na película do bulbo e diferenciação do bulbo

Page 10: Cultivo de Cebola

em bulbinhos270.2 Separação dos bulbos do bulbo mãe, menos na base. Bulbos separados um do

outro por uma película seca290.2 Completa separação dos bulbos do bulbo mãe300.2 Desenvolvimento de muitas folhas

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0 15 30 45 60 75 90 105 120 135

Dias após a semeadura

Mat

éria

sec

a (g

/pla

nta)

Folhas Bulbos

Planta

Figura 1. Acúmulo de matéria seca da cebola, cv. Alfa Tropical.

Fonte: VIDIGAL et al. (2002).

Bulbificação

A cebola é hortaliça extremamente exigente em condições climáticas favoráveis

para a bulbificação. Neste aspecto, fotoperíodo e temperatura são os dois fatores

limitantes para a cultura. Além de fatores externos (ambientais), a bulbificação da cebola

é controlada por fatores internos da planta.

FotoperíodoDentre os fatores que influenciam a bulbificação em cebola, o fotoperíodo é o mais

conhecido, exercendo papel decisivo na adaptação de cultivares de cebolas.

Cebola é planta de dias longos para a bulbificação, ou seja, somente há

bulbificação, se o período de luz for igual ou superior a um valor crítico mínimo

estabelecido para cada cultivar, de modo geral maior do que 10 horas de luz diária. Para

Page 11: Cultivo de Cebola

as cultivares brasileiras, tem-se como fotoperíodo crítico em condições normais de

temperatura, o mínimo de 12 a 14 horas de luz, dependendo da cultivar.

Alguns autores classificam as cultivares de cebola, em função do número de horas

de luz que requerem para que 100% das plantas da cultivar formem bulbos em: cultivares

de dias curtos, de dias intermediários ou de dias longos. As de dias curtos requerem dias

com comprimento igual ou superior a 10 h. As de dias intermediários iniciam a

bulbificação em resposta a dias com 12 ou mais horas de luz. As cultivares que requerem

dias longos, somente bulbificam se cultivadas em dias com comprimento maior que 14

horas de luz. Após estímulo à bulbificação, a medida que o fotoperíodo se alonga, o ciclo

para o desenvolvimento do bulbo será reduzido, antecipando-se a colheita.

Sendo de dias longos, quando uma dada cultivar ou híbrido de cebola se

desenvolve em um fotoperíodo abaixo do mínimo exigido pela cultivar, ela forma folhas

indefinidamente e não bulbifica, apresentando elevado indice de plantas “charuto”, ou

seja, com bulbo pouco desenvolvido. Como a maioria das cultivares de cebola são

geneticamente heterogêneas em função do processo de melhoramento, cultivares

plantadas em condições de dias mais curtos que o mínimo exigido, apresentam

bulbificação variável, ou seja, apresentam proporções de bulbos normais, de bulbos que

bulbificaram mal e de plantas que não bulbificaram. Por outro lado, cultivares que exigem

fotoperíodos mais curtos, quando plantados em condições de fotoperíodo muito maior,

tem suas exigências fotoperiódicas satisfeitas num estádio inicial do desenvolvimento das

plantas e cessam a produção de folhas mais cedo e bulbificam precocemente, resultando

na redução do seu tamanho e rendimento. Essa possibilidade de produção precoce de

bulbo e obviamente de menor tamanho, é explorada para produção de bulbinhos para

produção de picles ou que serão plantados visando a produção comercial de bulbos.

Cada cultivar tem sua exigência em horas de luz para iniciar o processo de bulbificação,

logo, é preciso tomar cuidado na escolha de variedades.

Deve-se salientar que o efeito do fotoperíodo não é um efeito indutivo, tipo floração

em plantas de dias longos, em que apenas algumas horas de exposição ao fotoperíodo é

suficiente para induzir a floração. No caso da bulbificação, é necessário que haja contínuo

fotoperíodo acima do crítico para que a bulbificação ocorra.

Existem indicações que no controle da bulbificação da cebola, ocorre o

envolvimento do sistema fitocromo. As mudanças reguladas pelo fitocromo começam com

a absorção da luz pelo pigmento. A luz absorvida altera de algum modo as propriedades

moleculares do fitocromo de tal modo que pode induzir uma sequência de reações

Page 12: Cultivo de Cebola

celulares que, no final, resultará em mudanças no crescimento e no desenvolvimento dos

órgãos da planta.

Em termos de qualidade da luz, tem-se observado que a bulbificação é promovida

por uma alta razão entre o vermelho distante – VD (750 nm) e o vermelho - V (650 nm). A

luz azul (450-460 nm) tanto quanto o vermelho distante promovem a bulbificação. A luz

incandescente é uma boa fonte de vermelho distante. Ainda em relação ao efeito da

qualidade da luz sobre a bulbificação de cebola, tem-se que, com o aumento do índice de

área foliar (maior competição entre plantas) há aumento da razão VD:V no dossel e

consequentemente um encurtamento no fotoperíodo crítico.

O comprimento do dia varia com variação da latitude. Em geral para cada variação

de 5-100 de latitude existe um grupo de cultivares adaptadas e adequadas à região.

Entretanto, algumas cultivares podem possuir uma faixa de adaptação maior que a citada.

Através do melhoramento genético, usando-se técnicas de seleção, tem-se

conseguido adaptar cultivares de cebola provenientes de regiões de latitude maiores para

regiões de menores latitudes. As cultivares do grupo IPA (latitude 90 S) foram obtidas a

partir de populações normalmente cultivadas a 23-300 de latitude sul.

Em terrenos com declive, no hemisfério Sul, deve-se evitar o plantio em terrenos

com exposição ao Sul, com menor intensidade de luz (ou sombras a tarde). Nestas

condições, a produção diminui muito com um sensível aumento da produção de charutos.

Deve-se escolher terrenos que recebem sol diretamente durante todo o dia.

TemperaturaAinda que a duração do dia seja o fator principal na indução da bulbificação, seus

efeitos são modificados pela temperatura. Em condições indutivas, a bulbificação é

acelerada sob altas temperaturas, e sob condições de temperaturas baixas o processo é

atrasado. Dependendo da sensibilidade da cultivar, temperaturas extremamente altas

(acima de 35ºC) na fase inicial do desenvolvimento das plantas podem provocar a

bulbificação precoce, enquanto, a exposição das plantas mais desenvolvidas a períodos

prolongados de frio (<15°C) pode induzir o florescimento prematuro (“bolting”), ficando

estas sem valor comercial. Portanto, temperaturas elevadas podem encurtar o fotoperíodo

crítico. A incidência de temperaturas mais baixas em mudas menores, não induzem ao

florescimento precoce. Este fato é reconhecido por produtores, e as épocas de plantio

muitas vezes são determinadas por este fator e pela resistência da cultivar ao

Page 13: Cultivo de Cebola

florescimento precoce Ressalta-se que não há efeito da temperatura alta sobre a

bulbificação se o fotoperíodo não for indutivo.

Uma vez satisfeita as exigências fotoperiódicas para a indução à bulbificação, é

importante temperaturas elevadas para completa formação dos bulbos (ideal entre 15 e

25ºC).

A maior ou menor capacidade de tolerar invernos rigorosos depende da cultivar.

Entretanto, pode-se dizer que a cebola tolera bem temperaturas baixas.

Tamanho da plantaEm todas as situações, para que a planta seja sensível a influência do fotoperíodo,

esta deve ter certo desenvolvimento foliar, pois são as folhas os órgãos receptores da

indução fotoperíódica. Logo, plantas maiores bulbificam mais rapidamente.

Observações indicam que a bulbificação é controlada por um transmissível e

persistente “hormônio de bulbificação”, sendo esse estímulo transmitido das folhas para o

pseudocaule. Tal estímulo pode permanecer nos bulbos colhidos e promover a

bulbificação precoce no replantio, utilizado na prática na produção de bulbos por soqueira.

Há evidências da presença de substâncias reguladoras de crescimento (auxinas,

giberelinas, citocininas e etileno) durante o processo de desenvolvimento de bulbos, mas

não é claro quais reguladores são causa e quais são formados em consequência da

bulbificação. Há trabalhos mostrando que injeções de ácido indolacético (auxina) em

folhas de cebola, particularmente em combinação com ácido giberélico (giberelina) e

cinetina (citocinina), atrasam a senescência, resultando em bulbos maiores. Também é

sabido que a aplicação de GA3 em plantas de cebola retarda a formação de bulbos e que

a aplicação de solução de cinetina promove a formação dos bulbos.

A indução da formação do bulbo proporcionada pelo fotoperíodo causaria a

movimentação e acumulação de substâncias de reserva na base das folhas, levando ao

enchimento e formação dos bulbos.

Épocas de plantio

As diferenças nas condições climáticas entre as várias regiões do Brasil,

principalmente em relação ao fotoperíodo (Tabela 5) e temperatura, além das

preferências regionais e práticas culturais utilizadas, torna a produção e

consequentemente a oferta de cebola bem distribuída ao longo do ano no Brasil.

Programas de melhoramento de cebola regionais tem contribuído decisivamente,

Page 14: Cultivo de Cebola

disponibilizando cultivares de cebola adaptadas às mais variadas condições

edafoclimáticas e preferências regionais.

Como para as demais hortaliças cultivadas em condições de campo no Brasil,

considera-se como época ideal para o cultivo da cebola o período de março a novembro.

Neste período, as temperaturas são mais amenas, principalmente as noturnas. Neste

Page 15: Cultivo de Cebola

Tabela 5. Duração média possível de insolação no hemisfério Sul em função de localidade (latitude) e épocas do ano.

Latitude (local) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

5 - PI 12,72 11,40 12,48 12,00 12,24 11,88 12,24 12,36 12,00 12,60 12,36 12,72

10 - PE, BA 12,96 11,64 12,60 11,88 12,12 11,52 12,00 12,12 12,00 12,72 12,60 13,20

15 - BA, DF, GO, MG 13,44 11,76 12,60 11,76 11,76 11,28 11,64 12,00 12,00 12,84 12,84 13,44

20 - MG, ES 13,68 12,00 12,60 11,64 11,52 10,92 11,40 11,88 12,00 1,08 13,08 13,80

22 - MG, SP, MS 13,68 12,00 12,60 11,64 11,40 10,80 11,28 11,88 12,00 1,09 13,20 13,92

23 - SP, RJ 13,80 12,00 12,60 11,64 11,40 10,68 11,28 11,76 12,00 1,09 13,20 14,04

24 - PR 13,92 12,12 12,60 11,52 11,28 10,68 11,16 11,76 12,00 1,10 13,32 14,04

25 - PR 14,04 12,12 12,60 11,52 11,28 10,56 11,16 11,76 12,00 1,10 13,32 14,16

26 - PR 14,04 12,12 12,60 11,52 11,28 10,44 11,04 11,76 12,00 1,10 13,32 14,16

27 - SC 14,16 12,24 12,60 11,52 11,16 10,44 11,04 11,64 12,00 1,11 13,44 14,28

28 - SC, RS 14,28 12,24 12,72 11,40 11,16 10,32 10,92 11,64 12,00 1,11 13,56 14,40

29 - RS 14,28 12,36 12,72 11,40 11,04 10,32 10,80 11,52 12,00 1,12 13,56 14,40

30 - RS 14,40 12,36 12,72 11,40 11,04 10,20 10,80 11,52 12,00 1,12 13,68 14,52

31 - RS 14,40 12,36 12,72 11,40 10,92 10,08 10,68 11,52 12,00 1,12 13,68 14,64

32 - RS 14,52 12,36 12,72 11,40 10,92 10,08 10,68 11,40 12,00 1,12 13,80 14,76

Page 16: Cultivo de Cebola

período, a não ocorrência de períodos longos de chuva facilita o manejo da cultura,

principalmente o controle de doenças. Assim, o período de março a novembro concentra

a maior parte da produção de cebola nas principais regiões produtoras do Brasil. O

Nordeste (Bahia e Pernambuco) é exceção, pois planta-se cebola o ano todo, embora,

como nas demais regiões, considera-se o período de setembro a março como adverso a

cebola, tendo a temperatura como fator limitante para produção.

Nas regiões com latitudes maiores como Sul, Sudeste e Centro-Oeste, março-abril

são os melhores meses para o plantio da cebola, principalmente em termos de

bulbificação. Plantando-se nesta época, o crescimento ocorre sob condições adequadas

de pluviosidade, de temperatura (mais elevadas) e num período de encurtamento de

fotoperíodo, mas ainda suficientemente longo para o crescimento rápido das plantas. A

partir do final de junho, o fotoperíodo volta a crescer, embora a temperatura continue

decrescendo. Obviamente, embora as plantas continuem a crescer no inverno, a taxa de

crescimento é menor. A bulbificação apenas se inicirá quando a combinação de fatores

determinantes da bulbificação de cada cultivar seja atingida, o que ocorre com as plantas

completamente desenvolvidas. A colheita ocorre de finais de setembro a novembro.

Plantio tardio somente é possível em regiões de latitudes menores, onde o

fotoperíodo varia pouco ao longo do ano. Nas regiões de latitudes maiores, o plantio

tardio acarreta a bulbificação precoce das plantas, ou seja, com as plantas não totalmente

desenvolvidas, resultando em alta proporção de bulbos pequenos, problema esse que

pode ser reduzido com a utilização de cultivares apropriadas.

O plantio no verão tem como principal inconveniente à bulbificação sob altas

temperaturas, além das chuvas excessivas e da maior incidência de doenças, pragas e

plantas daninhas. Já existem cultivares de cebola desenvolvidas para o verão (cv. Alfa

Tropical). Outras cultivares com potencialidade para plantio nessas época nas regiões

Sul, Sudeste e Centro-Oeste são Franciscana IPA 10 e Vale Ouro IPA 11, que por serem

desenvolvidas para a região Nordeste do Brasil, sofrem menor efeito das altas

temperaturas.

Distribuição das safras no anoPraticamente não há entressafra de cebola no Brasil, havendo oferta regular do

produto ao longo do ano, permitindo de certo modo, que o mercado opere com relativa

estabilidade (Tabela 6).

Page 17: Cultivo de Cebola

Tabela 6. Oferta mensal de cebola no Brasil, por unidade da federação.

Estado Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.Rio G. do Sul- Precoces X X X- Tardias X X X XSanta Catarina- Precoces X X X- Tardias X X X XParaná X X XSão Paulo- Soqueira X X X X- Bulbinho X X X X- C. Precoces X X X X X- B. Periformes X X X XBahia X X X X X X X XPernambuco X X X X X X X

O Rio Grande do Sul, principalmente os municípios de São José do Norte, Rio

Grande, Mostarda, Pelotas, Cangussu, São Lourenço do Sul e Dois Irmãos; e Santa

Catarina, principalmente os municípios de Ituporanga, Petrolândia, Aurora e Alfredo

Wagner, participam do abastecimento do mercado brasileiro com as cebolas do grupo

Baia de novembro a janeiro (cultivares precoces) e de fevereiro a maio (cultivares tardias).

A cebola é produzida exclusivamente por mudas, iniciando o semeio das cultivares

precoces em final de abril indo até final de junho com as cultivares tardias. As cultivares

Jubileu e Juporanga, de ciclos intermediários são colhidas em dezembro.

De fins de abril a junho, podendo estender até julho, São Paulo, principalmente os

municípios de Piedade, Pilar do Sul e Ibiúna, abastece o mercado com as cebolas

produzidas pelo sistema de bulbinho e soqueira plantadas de novembro a janeiro. A cv.

Pira-Ouro é a mais utilizada. O plantio no verão (novembro a janeiro) por meio do sistema

de bulbinhos ou pelo uso de cultivares de verão, possibilitam a oferta de cebola mais

cedo, obtendo-se os melhores preços.

De fins de junho a outubro, São Paulo, mais precisamente as regiões de Monte Alto

e São José do Rio Pardo, abastece o mercado com as cebolas claras precoces. De final

de setembro até início de novembro, São Paulo, principalmente as regiões de

Paranapiacaba e Piedade abastece o mercado com a safra de mudas das cultivares baias

periformes), que juntamente com a safra do Paraná e dos demais estados suprem a

demanda interna até a entrada da safra sulina em novembro.

Page 18: Cultivo de Cebola

Nos meses de junho, julho e agosto, o mercado é abastecido pela cebola da safra

básica do Nordeste, plantada em fevereiro. De setembro a dezembro, o Nordeste

abastece o mercado com o cultivo de inverno, plantio em abril. Em ambos os períodos a

cultivares IPA 11 e IPA 10 predomina, complementadas pela cultivar Texas Grano 502.

Como já discutido anteriormente, também há o cultivo de verão no Nordeste, de setembro

a março, que é considerado período adverso.

Mesmo não havendo entressafra da cebola no Brasil, a cebola Argentina, pela sua

melhor qualidade, vêm ocupando desde o início da década de 90, cerca de 10 a 30% do

mercado de cebola no Brasil.

Propagação

Comercialmente, o cultivo da cebola é feito diretamente a partir de sementes, de

bulbinhos ou bulbos. Os métodos de plantio que podem ser utilizados são descritos a

seguir:

Semeadura diretaÉ um método normalmente utilizado em grandes áreas, devendo-se utilizar solos

bem preparados, semeadeira mecânica de boa precisão, controle eficiente de ervas

daninhas e sistemas de irrigação eficientes. É ainda um sistema pouco utilizado no Brasil.

Para que se tenha boa emergência, solos leves e bem preparados deverão ser

preferidos. Solos orgânicos são os melhores para o semeio direto, pois geralmente são

bem dotados de umidade e sua estrutura permite fácil emergência das mudinhas e, mais

tarde, melhor ajustamento dos bulbos nas fileiras, evitando-se deformação.

Em solos bem drenados e com irrigação por aspersão, o plantio poderá ser feito no

nível do terreno. Se a irrigação for por infiltração, o plantio será feito em canteiros de 10-

20 cm de altura, separados por sulcos de irrigação. Cada canteiro poderrá ter até 1 m de

centro a centro de sulco, com duas a quatro fileiras longitudinais de plantas.

São necessários em média 3,0 a 7,0 kg de sementes/ha com 80-95% de poder

germinativo, semeando-se 12 a 50 sementes por metro linear de sulco. No processo de

semeadura, deve-se evitar o amontoamento das sementes ou falhas na distribuição, o

que irá requerer uma operação de desbaste mais trabalhosa ou resultará em menor

número de plantas e conseqüente redução de produtividade. Para evitar tais problemas

tem sido preconizado o uso de sementes peletizadas.

Page 19: Cultivo de Cebola

Durante a fase de emergência das plantas poderá haver formação de crostas no

terreno, principalmente quando irrigação for por aspersão, dificultando a emergência das

mudinhas.

Com esse método de cultivo, é comum observar-se na época de desenvolvimento

dos bulbos que esses tendem a ficar parcialmente descobertos, devendo-se escolher

cultivares menos sensíveis a exposição ao sol, que pode causar queimaduras e tornar

bulbos esverdeados.

De modo geral, o custo de produção nesse sistema é menor que o de transplantio

de mudas, pois se elimina a atividade de transplante, porém podem ser adicionados

gastos com desbastes se o semeio não for feito com precisão.

Semeadura em sementeira seguida de transplantioÉ o método mais utilizado na produção de cebola no Brasil. Como propicia a

seleção de mudas uniformes, fortes e sadias, possibilita produção de bulbos uniformes,

mais atrativos em formato e tamanho e com maturação uniforme.

O local da sementeira deve ser de fácil acesso, bem insolarado, próximo a uma

fonte de água e o mais próximo possível do campo de transplantio.

A sementeira deverá propiciar as sementes e plântulas bom arejamento, boa

drenagem, boa temperatura para germinação e crescimento, umidade próxima a

capacidade de campo, nutrientes e isenção de patógenos de solo, bem como permitir fácil

manuseio das plantas.

Como sugestão, o canteiro poderá obedecer as seguintes dimensões: altura de 15-

20 cm, largura de 80 a 120 cm, comprimento variável. Canteiros mais altos deverão ser

preferidos na época das chuvas, mas na época das seca, canteiros altos propiciam maior

ressecamento.

Como adubação da sementeira pode ser utilizado 10 L de esterco de curral e 150 -

300 g de Supersimples ou 150-300 g de 5-20-10 (N, P2O5, K2O) por metro quadrado de

canteiro. Como adubação de cobertura pode-se utilizar 15 g de uréia/m2. Para solos

argilosos, pode-se usar a mistura de duas partes de solo, uma de esterco e uma de areia

para composição do leito de sementeira. A desinfestação da sementeira é prática

recomendável. Manejo de pragas, doenças e plantas daninhas podem ser necessário,

que pode ser feito manual ou quimicamente.

Como a exigência de pH da cebola é de 6,0 a 6,5, solos muito ácidos devem ser

corrigidos dois meses antes com calcário dolomítico.

Page 20: Cultivo de Cebola

A semeadura deverá ser feita usando-se 2,0 a 5,0 gramas de sementes/m2 de

sementeira, dependendo da densidade de semeação, em sulcos transversais ou

longitudinais ao canteiro e distanciados 10 cm, numa profundidade de 0,3 a 0,5 cm. São

necessários 500-750 m2 de sementeira para se produzir mudas para um hectare. As

sementes devem ser semeadas bem distanciadas, de modo que não seja necessário o

desbaste. Quando se gastam 2 g, a proporção de área de sementeira/área de campo é de

1:10 a 1:12, para 5 g, a proporção é de 1:30, requerendo 1,3 a 2,0 kg de sementes com

80-95% de poder germinativo para produção de mudas para um hectare. Considerando

20% de mudas refugo, pode-se conseguir de 260.000 a 400.000 mudas, respectivamente.

A utilização de mudas permite um melhor aproveitamento das sementes que é de

custo elevado. No entanto, o gasto com mão-de-obra é maior do que no semeio direto.

É recomendável a cobertura da sementeira com material palhoso (palha de arroz

ou capim seco sem sementes), retirando-se a mesma antes da emergência. Excesso ou

falta de umidade nessa fase acarretará perdas consideráveis, recomendando-se

irrigações leves diariamente pela manhã e a tarde nos primeiros dias, e mais espaçadas

com o crescimento da cultura. Após a emergência, é muito importante a escarificação do

solo, devido a sensibilidade à falta de oxigênio. É prática comum suspender as irrigações

uma semana antes do transplante, irrigando-se novamente apenas no ato do arranque

das mudas.

As mudas deverão ser transplantadas quando apresentarem com pseudocaule

(pescoço) com diâmetro entre 4-8 mm ou 4-5 folhas (40-70 dias após a semeadura), na

profundidade de 5 cm e distanciadas 7,5 a 10 cm entre cada uma. O peso médio dos

bulbos e a produção total crescem até certo ponto, a medida que aumenta o diâmetro das

mudas a serem transplantadas. Também a porcentagem de florescimento aumenta,

podendo haver crescimento no número de bulbos múltiplos.

A profundidade de semeadura ou do transplantio tem efeito marcante sobre o

formato dos bulbos. De modo geral, a semeadura superficial tende a produzir bulbos

achatados, enquanto a profunda tende a produzir bulbos mais arredondados.

As sementes deverão ser adquiridas em embalagens fechadas, de firmas idôneas.

Não se deve guardá-las em embalagens abertas ou saquinhos de pano de um ano para

outro.

As mudas arrancadas e selecionadas não necessitam ser podadas e nem devem

ficar muito tempo sem serem plantadas, pois ressecam-se, diminuindo o pegamento.

Page 21: Cultivo de Cebola

Propagação por bulbinhosÉ um tipo de propagação mais aperfeiçoado que os dois anteriores e por isso mais

trabalhoso. Tem como objetivo a obtenção de safras precoces, ou seja, fora da época

normal de colheita. É um método tradicional da região de Piedade-SP.

Envolve as seguintes etapas e épocas de plantio: semeadura em julho-agosto

(tardia); colheita dos bulbinhos em outubro-novembro (quando bulbinhos com 1,0 a 3,0

cm de diâmetro); plantio dos bulbinhos em janeiro-março; colheita da cebola em maio-

junho. Esse processo baseia-se em não permitir que a planta de cebola cresça muito para

bulbificar. Consegue-se isso por meio de semeadura tardia e maior competição entre

plantas por água e nutrientes.

Para a produção dos bulbinhos deve-se, inicialmente, corrigir o pH da sementeira

(pH entre 6,0 e 6,5 é o ideal) e adubar com 300-400 g de uma formulação NPK. Em

seguida, proceder a semeadura densa (2,0-4,0 g de sementes/m2 ou até 10 g em alguns

países) em sulcos espaçados de 10 cm, numa profundidade de 3-5 mm. São necessários

1,0 a 2,0 kg de sementes para produção de bulbinhos suficientes para um hectare (1.500

a 1.800 kg de bulbinhos). A semeadura também poderá ser feita lanço em faixas

longitudinais de 15 cm de largura, separadas por um espaço vazio de 30 cm ou a lanço

em todo espaço útil do canteiro.

Após a semeadura, cobrir a sementeira com palha de arroz ou capim seco,

retirando-a por ocasião da emergência. Não fazer o desbaste, deixando-se as plantas

crescer livremente. Irrigações devem ser feitas diariamente (manhã e a tarde) até a

emergência completa, sendo mais espaçadas posteriormente.

A colheita dos bulbinhos (outubro-novembro) deverá ser feita quando os mesmos

apresentarem-se com as folhas quase secas e tombadas. Após colhidos, os bulbinhos

deverão ser curados (ao sol e depois ao sombra) e armazenados em galpões secos e

arejados, evitando-se baixas temperaturas para não haver indução ao florescimento. Para

cura ao sol, bulbinhos devem ser dispostos de tal modo que as folhas de uns cubram os

bulbinhos dos outros, permanecendo neste local por 2 a 3 dias. Para armazenamento,

pode-se usar estrados ou prateleiras, formando camadas de 10 cm de altura com folhas e

raízes. As prateleiras podem ser espaçadas de 30 cm entre si. Deve-se eliminar

periodicamente os bulbinhos podres e brotados.

As cultivares indicadas para este sistema devem ser aquelas com menor

sensibilidade ao perfilhamento e a formação de bulbos múltiplos, além daquelas de boa

conservação pós-colheita. Poderão ser utilizadas as cultivares do tipo Baia Periforme

(Baia periforme, Baia Piracicaba Precoce, Pira Ouro), Roxa do barreiro, Monte Alegre,

Page 22: Cultivo de Cebola

Red Creole, entre outras. Estima-se que Pira Ouro participe com 50% da área plantada

com bulbinho no estado de São Paulo.

Por ocasião do plantio, selecionar bulbinhos com 1,5 a 2,5 cm de diâmetro,

maduros, uniformes, firmes, livres de podridões e de danos causados por insetos, por

doenças, por excesso de umidade, por danos mecânicos ou por outros danos, eliminar as

folhas e raízes secas e plantá-los na posição vertical no espaçamento de 20 x 10 cm. Os

bulbinhos pequenos falham demais e os muito grandes tendem a perfilhar. Não devem

ser plantados adjacentes a campos de plantio por mudas, pois esses podem ser fontes

para infestação de tripes mais cedo do campo. O plantio é normalmente feito

manualmente, embora em outros países este seja feito com máquinas que abrem sulcos,

soltam os bulbinhos e os cobrem em uma operação única, devendo-se nesse caso os

bulbinhos serem padronizados.

Os bulbinhos quando plantados deitados produzem bulbos menores e apenas 70%

da produção daqueles plantados de cabeça para cima. Já os plantados na posição

invertida (cabeça para baixo), produzem apenas 20% pois a redução no estand é

bastante significativa.

A condução da cultura deve seguir as mesmas orientações enumeradas para o

transplante de mudas. O inconveniente do sistema de bulbinho é a maior distribuição de

nematóides e outras doenças do que semeio direto.

Propagação por soqueiraConsiste em retornar para o campo os bulbos de cebola colhidos em setembro-

outubro. Os bulbos normalmente utilizados são os não comercializados, por terem sido

refugados ou por não terem dado preço. É um método pouco utilizado.

A cv. Roxa do Barreiro é muito utilizada para esse processo. Outras opções são

Baia Periforme e Red Creole, que poderão comportar-se bem pois apresentam boa

conservação de bulbos.

Bulbos serão plantados em dezembro-janeiro, obedecendo as mesmas

recomendações no campo para o método de mudas transplantadas. A colheita ocorrerá

em março-abril. Os bulbos provenientes desse sistema de plantio são geralmente

irregulares, de pior aspecto e menores do que aqueles provenientes de mudas

transplantadas, pois é bastante comum o perfilhamento dos bulbos plantados.

Espaçamento

Page 23: Cultivo de Cebola

10-35 x 5-10 cm (280.000 a 1.000.000 plantas/ha). Apenas 75% da área é

normalmente considerada útil.

De maneira geral, a medida que a densidade das plantas aumenta, há tendência

de formação de bulbos menores, mais arredondados, com talos mais finos e atraso na

maturação, enquanto sob densidade baixas, os bulbos tendem a ser achatados e de talo

grosso.

Solos e adubação

SolosA princípio, qualquer solo poderá ser utilizado para o cultivo da cebola. Entretanto,

como a parte comercial da planta é o bulbo desenvolvido no solo, deve-se dar preferência

a solos de textura média (solos arenosos tornam a irrigação ineficiente), profundos, bem

trabalhados, bem drenados (não encharcáveis), férteis, com bom teor de matéria orgânica

e livres de pedras e cascalhos. Solos muito argilosos e compactáveis dificultam o

desenvolvimento dos bulbos, havendo deformação e dificuldade na colheita. O pH ideal é

6,0-6,5.

Os solos com concentrações salinas iguais ou superiores a 0,5% causam sérios

problemas a emergência das sementes de cebola.

Preparo dos solosTratando-se de solos de primeiro plantio, uma a duas arações profundas (30 a 35

cm de profundidade) e duas gradagens deverão ser feitas. Em solos já cultivados, uma

aração profunda e uma gradagem poderão ser suficientes.

Solos bem preparados, sem restos culturais e torrões e sem irregularidades são

muito importantes para uniformidade de germinação e maturação, no caso de semeadura

direta. No caso de produção por mudas, bulbinhos ou soqueiras, pode-se utilizar solos

menos trabalhados. O nivelamento da superfície do terreno, pode ser conseguido,

usando-se um pranchão pesado.

Para o plantio da cebola em canteiros, usado principalmente quando a irrigação for

por infiltração e em solos mal drenados, pode-se utilizar roto-encanteiradores ou sulcar o

terreno de metro em metro, obtendo-se assim canteiros de 15 a 30 cm de altura e 75 cm

de largura de crista, onde serão plantadas fileiras de plantas. Solos com baixa

movimentação de água devem ser sulcados com espaçamento menor, a cada 60 cm, e os

Page 24: Cultivo de Cebola

canteiros, nesse caso, receberão menor número de fileiras de plantas. O ideal é levantar

canteiros com terreno úmido. No caso de irrigação por infiltração, os sulcos devem ser de

15 cm de profundidade, com declividade de 0,5%.

Os canteiros ou sulcos deverão ser preparados em nível. Em terrenos sujeitos à

erosão, efetuar práticas de conservação do solo.

Calagem/adubaçãoComo o sistema radicular da cebola é pouco ramificado e pouco profundo, é

necessário nutrientes disponíveis na camada superior do solo.

Recomenda-se proceder a calagem e a adubação com base nos resultados da

análise físico-química do solo. Para fazer a análise, retirar amostras de solo e enviá-las

ao laboratório, quatro meses antes do plantio.

A calagem, caso seja necessária, poderá ser feita em duas etapas, aplicando-se

metade do calcário antes da aração e metade antes da gradagem, distribuindo o produto

no solo por toda a área de plantio até a profundidade de 30 a 35 cm. A aplicação do

calcário deverá ser feita, pelo menos, 60 dias antes do plantio. Preferir calcários com

PRNT próximo de 100%, principalmente se a incorporação do corretivo for próxima da

instalação da cultura.

Na Tabela 7 são apresentados as quantidades de minerais extraídas pela cv. Alfa

Tropical, considerando população de 700.000 plantas/ha. K seguido pelo N, são os

elementos mais retirados do solo pelos bulbos de cebola. Enquanto N e P tem-se

comportado como fatores de aumento da produtividade e do peso médio de bulbos, o K

parece não ter efeito quantitativo sobre a produção. Entretanto, cultivos sucessivos sem

fertilização com K, mesmo em solos com alto teor inicial de K, mostram reduções na

produtividade após uma ou duas safras.

A deficiência de N poderá antecipar a maturação do bulbo e reduzir seu tamanho,

enquanto excesso poderá atrasar a bulbificação e a maturação, e sob certas

circunstâncias poderá aumentar demasiadamente o tamanho do bulbo e induzir a

formação de talo grosso.

Experimentos com solução nutritiva tem mostrado que com baixa concentração de

S na solução nutritiva, podem ser obtidas plantas ausentes de precursores do flavor.

Solos arenosos, de modo geral, possuem baixos teores de S, podendo-se produzir cebola

Tabela 7. Extração de minerais pela cv. Alfa Tropical, população de 700.000 plantas/ha.

Nutriente Quantidade extraída 1

Page 25: Cultivo de Cebola

Planta inteira Parte aérea BulboK 130,73 73,64 57,09N 124,62 54,96 69,66

Ca 62,78 38,11 24,67P 21,35 6,85 14,50S 20,14 8,07 12,07

Mg 8,47 4,00 4,47Fe 1.354,66 605,42 749,23Mn 808,07 527,99 280,08Zn 376,06 110,30 265,76Cu 330,74 300,57 30,18B 289,45 139,18 150,26

1 kg/ha para macronutrientes e g/ha para micronutrientes.FONTE. Vidigal et al. (2002).

suave nesses locais. São exemplos de locais famosos por produzirem cebola do tipo

grano suave e doce, os solos leves do distrito de Vidalia na Georgia, USA. Cebolas

normalmente absorvem S como sulfato (SO4-2). Uma vez absorvido, este é transportado

para as folhas, reduzido a sulfito e assimilado em cisteína. Glutationa, uma cisteína

tripeptídea, indica ser o ponto de início na rota biossintética que leva a síntese dos

precursores do flavor.

Em relação aos micronutrientes, embora sejam raros os estudos sobre a utilização

desses pela cebola, são conhecidas respostas da cultura ao B, Zn, Cu (em solos

orgânicos) e Mo. A deficiência de B em cebola torna as folhas com tonalidade verde-

azulada, espessas e quebradiças, ocorrendo a morte do ápice das folhas. As folhas

também apresentam acentuado mosqueamento, caracterizando-se por numerosas áreas

irregulares, que inicialmente assumem tonalidade verde-clara, depois amarelada e

finalmente acizentada ou amarronzada, com aspecto sarnento e presença de rachaduras

transversais e longitudinais.

As recomendações de quantidade de fertilizantes a aplicar na cultura da cebola são

bastante variáveis com o tipo de solo, e nível de tecnologia adotada. Recomendações

variando de 50 (solo orgânico) a 200 kg/ha de N; de 120 a 800 kg/ha de P2O5; e de 30 a

480 kg/ha de K2O, tem sido encontradas na literatura.

Como adubação de plantio, podem ser utilizadas as fórmulas 04-14-08, 04-16-08,

04-30-16, entre outras. No caso de uma não calagem com calcário dolomítico, aplicar 50

kg/ha de sulfato de magnésio.

Em complementação a adubação acima, sugere-se ainda a aplicação de 10 a 20

kg de bórax, 10 kg de sulfato de cobre, 30 kg de sulfato de zinco, e 0,2 kg de molibdato de

Page 26: Cultivo de Cebola

amônio, por hectare. A adubação deverá ser incorporada no fundo do sulco de

semeadura ou de transplantio.

Irrigação

Pode ser feita por aspersão, sulco ou gotejamento. Como trata-se de uma cultura

de sementes pequenas e semeadura superficial, a irrigação deve ser leve e freqüente na

fase de germinação e nos primeiros dias do crescimento, com intervalos de um a dois

dias. Após o transplantio, de acordo com o tipo de solo e evapotranspiração, calcular a

lâmina líquida de água a ser aplicada por irrigação e turno de rega. A manutenção de um

bom teor de água no solo, sem excesso, durante todo o ciclo da cultura, é muito

importante para possibilitar um crescimento contínuo e formação de bulbos de boa

qualidade. Após a completa formação do bulbo deve-se reduzir a irrigação, suspendendo-

a 7 a 20 dias antes da colheita com o início dos sinais de maturação, de modo a

proporcionar maturação uniforme, formação de bulbos com alta concentração de matéria

seca e de boa conservação. O período crítico quanto ao déficit de umidade no solo é o

período de desenvolvimento do bulbo. Cebola é altamente sensível ao encharcamento,

portanto, irrigações freqüentes e bem distribuídas são muito importantes.

A irrigação por sulco poderá ser feita, principalmente em pequenas áreas e com

água a vontade, fazendo-se, nesse caso, o plantio em sulcos ou em canteiros com no

máximo 1,0 m de largura.

Plantas daninhas

É uma hortaliça que possui pequeno porte e crescimento inicial lento,

consequentemente, possui pequena capacidade de competição com as plantas daninhas.

Além disso, seu ciclo longo pode exigir várias capinas. A competição com as plantas

daninhas é muito mais prejudicial quando a semeadura é direta.

O pequeno espaçamento entre linhas e os prejuízos causados às raízes pelo

revolvimento do solo, normalmente superficiais nos primeiros meses de plantio, são dois

aspectos que dificultam a capina manual e praticamente impossibilitam o controle

mecânico de plantas daninhas.

Na tabela 8 estão relacionados os herbicidas registrados no Ministério da

Agricultura para o controle de plantas daninhas em cebola..

Page 27: Cultivo de Cebola

Para grandes áreas, o método mais econômico é sem dúvida o controle químico

das plantas daninhas, sendo as plantas de cebola bastante resistentes à herbicidas

foliares, devido a cerosidade das folhas.

O ioxynil e outros herbicídas, de modo geral são fitotóxicos para cebola,

principalmente quando esta se encontra no estádio de chicote, ou seja quando está

emitindo a primeira folha definitiva, o que ocorre a 10 dias da semeadura. A tolerância das

plantas de cebola aumenta com a emissão das novas folhas após a emergência. A partir

desta fase, a cultura passa a adquirir maior tolerância ao herbicída, provavelmente pela

menor retenção do produto pelas folhas em função da cerosidade. Cultivares do grupo

Texas Grano aparentemente demonstram maior suscetibilidade ao Ioxynil.

Para o caso de semeadura direta, deve-se procurar herbicídas que além de

efetivos no controle das invasoras, apresentem fitotoxicidade mínima para a cultura. As

estratégias seguidas nesse aspecto tem sido as seguintes: usar doses pequenas em pré-

emergência com reaplicações posteriores em pós emergência ou usar doses mais

elevadas de produtos com ação pós emergente de comprovada eficiência.

Doenças

Antracnose foliar ou Cachorro quente ou Mal-de-sete voltas (Colletotrichumgloeosporioides f. sp. cepae)

É uma das doenças de folhagem mais prejudiciais a cebolicultura em várias regiões

produtoras de cebola no Brasil. A doença ocorre desde a fase de sementeira até o

armazenamento, manifestando-se de várias formas.

Na sementeira ocorre tombamento, mela ou estiolamento. Mesmo antes da

emergência, as plântulas podem ser atacadas e apodrecer, formando-se uma massa

rosada (esporos) sobre os tecidos mortos. Quando tenta-se arrancar a planta infectada,

ocorre o desprendimento da parte aérea. No campo ocorre enrolamento das folhas,

rigidez do pescoço e formação do charuto.

As lesões nas folhas são alongadas, deprimidas, de coloração parda com

pontuações pretas no centro, dispostas em anéis concêntricos, correspondentes aos

estromas, sobre os quais se desenvolvem os acérvulos rosados do fungo. Folhas com

lesões grandes secam e quebram, resultando em redução no tamanho dos bulbos, que

apodrecem durante o armazenamento.

Tabela 8. Herbicidas registrados para o controle de plantas daninhas em cebola.

Page 28: Cultivo de Cebola

Produtos registradosPlantas daninhas controladas Nome técnico (nome comercial)Diuron (Karmex)Ioxynil-octanoato (Totril)

Folhas largas

Linuron (Afalon)Dicotiledôneas (trevo) e gramíneas Oxadiazon (Ronstar)Gramíneas Trifluralin (Trifluralina), Cletodim (Select),

Setoxydim (Poast), Fluazifop-p-butil (Fusilade)Oxyfluorfen (Goal)Dicotiledôneas e algumas gramíneasPendimethalin (Herbadox)

A temperatura ótima para o desenvolvimento da doença, em condições de campo,

é 24 - 29ºC. Durante o verão, sob alta umidade relativa, a doença torna-se mais severa.

Nessas condições, os conídios em contato com a superfície do hospedeiro penetram

diretamente pela cutícula por pressão mecânica.

O fungo persiste de um ano para outro no solo, nos restos de cultura e nas

sementes. A disseminação dos conídios se dá por meio do vento, implementos agrícolas

e, principalmente, pela água da chuva e de irrigação, já que a substância gelatinosa

hidrossolúvel que aglutina os conídios é dissolvida pela água.

O controle deve ser preventivo e curativo imediatamente após se detectar a

doença. Rotação de culturas, eliminação de restos culturais contaminados, uso de

sementes sadias, semeio não muito denso, evitando-se microclima favorável à doença,

secagem rápida dos bulbos após colheita, armazenamento em locais arejados e

ventilados, são práticas que devem ser adotadas para minimizar a doença.

Cultivares com película arroxeada tendem a ser mais resistentes. Controle químico

deve ser feito com fungicidas à base de benomyl, Folpet, Oxicloreto de cobre e Tiofanato

metílico.

Mancha-púrpura (Altenaria porri (Ell.) Cif.)Juntamente com o Mal-de-sete voltas, é uma das doenças foliares mais prejudiciais

a cebolicultura brasileira. Pode causar danos severos à produção, conservação dos

bulbos e produção de sementes.

Os primeiros sintomas manifestam-se nas folhas e nos ramos florais, inicialmente,

na forma de pequenas manchas brancas circulares ou irregulares, que aumentam

rapidamente de tamanho, havendo condições favoráveis. Posteriormente, surgem zonas

concêntricas, de coloração púrpura, formadas por uma massa superficial dos esporos do

fungo. Em poucas semanas, folhas e ramos infectados podem murchar, enrugando-se a

partir do ápice. Folhas novas também são destruídas, resultando na produção de bulbos

Page 29: Cultivo de Cebola

pequenos. As lesões que surgem na haste floral limitam a circulação de nutrientes para a

inflorescência, causando o seu secamento e comprometendo a produção de sementes.

Pode ocorrer, também, quebra das hastes florais no local lesado, por não suportarem o

peso das inflorescências, resultando na produção de sementes chochas. Os bulbos

podem ser infectados também no período de armazenamento. A penetração do fungo

pode se dar pela região do pescoço e também por ferimentos nas escamas, podendo

ocasionar podridão semi-aquosa e enrugamento das escamas frescas dos bulbos.

O fungo secreta um pigmento que se difunde nas escamas do bulbo,

amarelecendo, inicialmente, os tecidos que, em seguida, tornam-se escuros. Os tecidos

infectados das escamas externas tornam-se secos, com textura de papel.

Os esporos e o micélio do patógeno persistem de uma estação para outra nos

restos de cultura e no solo. A disseminação ocorre pela água de chuva e pelo vento,

atingindo facilmente as folhas. A penetração pode-se dar, principalmente, através de

ferimentos, mas também, pelos estômatos e pela cutícula, diretamente. A resistência da

planta está relacionada com a resistência da cutícula à penetração, pois cultivares

resistentes podem ser severamente afetadas quando feridas. Tem-se verificado a

associação de Thripes tabaci em alguns países.

Sob alta umidade relativa e temperaturas entre 21 e 30ºC, desenvolvem-se lesões

típicas da doença, em grande número. Em condições de baixa umidade relativa,

geralmente aparecem maior número de machas brancas estéreis.

Cebolas suscetíveis devem ser cultivadas em regiões de baixos índices

pluviométricos. A rotação de culturas, a eliminação de restos culturais contaminados e a

aração profunda, evitar excesso de irrigação, visando redução de inóculo no solo, são

medidas de controle também recomendadas.

Controle químico deve ser feito com fungicidas à base de oxitetraciclina +

oxicloreto de cobre, oxicloreto de cobre, azoxystrobin, propineb, fentin acetate, fentin

hydroxide,m metconazole, bromuconazole, tebuconazole, mancozeb + oxicloreto de

cobre, mancozeb, maneb, pyrimethanil, iprodione, difenocon\zole, procymidone,

prochloraz e cyprodinil.

Queima das pontas (Botrytis spp.) Botrytis leaf blightSérios danos são comumente observados nas culturas no Rio Grande do Sul e

Santa Catarina, onde a doença é conhecida como sapeco. A diagnose é dificultada pela

Page 30: Cultivo de Cebola

semelhança dos sintomas com aqueles provocados pela seca, pelo excesso de umidade

no solo e pela oxidação por ozônio. Além disso, o isolamento do patógeno das lesões

foliares não é tarefa fácil.

A doença inicia com o surgimento de numerosas manchas brancas nas folhas. Tais

manchas surgem quando os tecidos foliares e o bulbo não estão ainda completamente

desenvolvidos. Posteriormente, ocorre a morte progressiva dos ponteiros. Os bulbos

produzidos ficam com tamanho reduzido, e os tecidos do pescoço mantêm-se moles. Os

bulbos infectados tornam-se mais vulneráveis a outros microrganismos, principalmente

àqueles causadores de podridões.

A doença pode ocasionar também a morte das mudas nos canteiros de semeadura

e, ocorrendo nas inflorescências, pode prejudicar a produção de sementes.

O fungo, por possuir hábitos necróficos, não penetra diretamente nas folhas jovens

com superfície intacta. O inóculo primário do patógeno é constituído por conídios

facilmente disseminados pelo vento, que, ao germinarem, produzem substâncias letais às

células, resultando no aprecimento das manchas brancas que servem de porta de entrada

para outros conídios. Os ferimentos, causados por tripes, queimadura de sol e lesões de

míldio, também servem como porta de entrada para o patógeno.

A doença é favorecida por condições de baixa temperatura e alta umidade relativa

como, por exemplo, quando períodos com nevoeiro são seguidos de sol forte.

Como estratégia de controle, recomenda-se o plantio elm locais e épocas nos quais

não ocorra alta umidade relativa. Deve-se, ainda, praticar a rotação de culturas, visando à

redução de inóculo.

Os produtos registrados para controle dessa doença são: captan, mancozeb,

mancozeb + oxicloreto de cobre e procimidone.

Nematóide (Ditylenchus dipsaci Filipjev)Ataca também o alho e outras plantas do gênero Allium. Em ataque severo pode

dividir e causar mal formação (aspecto estufado e rachaduras) em mudas e bulbos,

favorecendo infecções secundárias que causam apodrecimentos. O nematóide sobrevive

como larva “desidratada” em sementes e em resíduos de cebola no campo ou no

armazém. Pode sobreviver vários anos em condições secas, em estado de dormência,

reativando-se em condições favoráveis. A prevenção é mais fácil e econômica, usando-se

sementes não contaminadas. A prática de rotação por três anos com milho e outros

cereais tem sido recomendada, com a população declinando rapidamente na ausência do

hospedeiro.

Page 31: Cultivo de Cebola

Outras doenças: míldio (Peronospora destructor (Berck.) Casp.), raízesrosadas (Pyrenochaeta terrestris (Hansen) Groenz, Walker & Larson), antracnose dacebola branca (Colletotrichum dematium f. sp. circinans (Berk.) V. Arx.), podridãobranca (Sclerotium cepivorum Berk.).

Pragas

Tripes (Thrips tabaciO tripes é uma praga importante da cebola. No ataque por esse inseto as folhas

apresentam um aspecto esbranquiçado, podendo reduzir o tamanho dos bulbos

produzidos. Em ataques precoces pode reduzir a produção em até 50%. Cultivares com

as folhas brilhantes (caráter genético) são resistentes ao tripes.

O tripes pode ser controladas por pulverizações com inseticidas recomendados

para a cultura, de acordo com o nível de infestação. Alguns inseticidas registrados para a

cebola são: cypermethrin, parathion methyl, cypermethrin, deltamethrin,

lambdacyhalothrin, fenitrothion, entre outros.

A utilização de espalhante adesivo junto à calda de defensivos (devido a

cerosidade natural das folhas) é necessária para aumentar a eficiência.

Colheita, cura, armazenamento, classificação e embalagem

ColheitaO ponto ideal de colheita é quando as plantas começam a amarelecer e secam em

seguida, requerendo, muitas vezes, mais de uma colheita, pois nem todas as plantas

completam o ciclo de uma só vez. De modo geral, cultivares híbridas possuem maior

uniformidade, possibilitando uma só colheita. Em algumas cultivares o estalo

(tombamento das plantas com folhas ainda verdes) é o sinal de completa maturação dos

bulbos. A não ocorrência dessas característica pode indicar a utilização de cultivar

inadequada, que permanece vegetando com o pseudocaule grosso e as folhas verdes,

sem bulbificar completamente. Esse problema é agravado pelo excesso de umidade no

solo, no período de maturação da cebola.

Quando o bulbo alcança a maturação, nutrientes são translocados das folhas para

o bulbo em decorrência de uma variação no balanço hormonal interno. Um inibidor (ácido

Page 32: Cultivo de Cebola

abcíssico) é formado nas folhas e dirigido para as regiões meristemáticas do bulbo. Neste

período há uma diminuição da concentração de promotores de crescimento (auxinas - AIA

e NIA) e as concentrações do inibidor aumentam, dando um efeito combinado que coloca

o bulbo em estado de repouso. O pescoço (pseudo-caule acima do bulbo) torna-se macio

e a parte aérea vem a tombar (estalo).

Cebolas colhidas completamente maduras possuem melhor capacidade de

conservação. Quando colhidas ainda verdes, ou não maduras, resultarão em produto

mais aquoso, menos firme, de mais difícil conservação e que perderá peso mais

rapidamente. Por outro lado, poderá apresentar menor perda no armazenamento, em

razão do menor ataque de Botrytis.

Não se deve deixar as folhas secarem completamente, pois pode dificultar a

colheita. Um bom sinal para o início da colheita é quando 50% das plantas estiverem

tombadas.

O arranquio dos bulbos pode ser manual (solos mais leves) ou com máquinas

próprias ou adaptadas para tal fim e realizado normalmente 120 a 200 dias após a

semeadura.

Condições ideais para colheita e conservação são dias secos, ensolarados e

quentes e quando solo seco.

É durante o início da maturação, quando 50% das plantas estão estaladas e a

folhagem ainda verde que o inibidor de brotação, HIDRAZIDA MALEICA, MH - 30 SG

(com grânulos solúveis em água) é aplicado em cebolas com boa capacidade de

conservação e que se destinam ao armazenamento por longos períodos, em diversas

regiões produtoras do mundo. Em alguns países a legislação não permite o uso deste

antibrotante ou restringe a comercialização com bulbos que tiveram este tratamento.

Se a aplicação do MH-30 for muito precoce, antes da maturação, resultará em

bulbos esponjosos. Se for tardia com poucas folhas verdes para absorver o produto, o

tratamento é ineficaz.

CuraApós arranquio, faz-se a operação da cura, que consiste em dar condições para

que a planta perca umidade, minimizando assim o risco de entrada de patógenos. A cura

deve ser feita ao sol e a sobra.

Page 33: Cultivo de Cebola

- Ao sol - após o arranquio, deixar os bulbos secando ao sol, no próprio campo por

2-5 dias, dependendo da intensidade do sol e da temperatura, com as folhas cobrindo os

bulbos para evitar queimaduras. O objetivo é eliminar o excesso de umidade dos bulbos e

das folhas e possibilitar a secagem das películas externas dos bulbos. Normalmente se

perde aproximadamente 5% do peso com esta cura ao sol.

- A sombra - após cura ao sol, levar as cebolas para um galpão fresco e ventilado

por 10-40 dias para a eliminação do restante da umidade. Geralmente 10 a 15 dias são

suficientes. A cura estará completa quando a película externa apresentar-se seca e

soltando-se com facilidade. Os bulbos poderão ficar dispostos em camadas de 10 a 20 cm

de altura sobre o assoalho ou em caixas de madeira. Alternativamente, podem ser

restiados e pendurados em estaleiros. A complementação da cura em galpões ventilados

é prática que melhora os aspectos visuais e de conservação dos bulbos. Para cura mais

rápida, pode-se usar ar quente e seco.

ArmazenamentoCaso a cebola não vá ser comercializada imediatamente após a cura, torna-se

necessário o armazenamento em condições adequadas. O ideal é não proceder a toalete

para armazenamento.

Este armazenamento poderá ser feito em galpões frescos (no máximo 25°C),

ventilados, escuros, com pé-direito o mais alto possível (> 3,0 m), e com saída de ar na

parte superior. A cebola deverá ser espalhada sobre piso de cimento, disposta em sacos

empilhados ou em estrados superpostos separados de 0,5 m, de modo a permitir a livre

circulação de ar.

O uso de ventilação artificial para armazenamento de bulbos de cebolas curadas

tem sido proposto como a forma mais barata para controle das condições ambientais e

para a redução das perdas pós-colheita. Para aeração eficiente de cebolas em climas

tropicais, recomendam-se temperaturas de 22-32ºC e umidade relativa de 50-80%, com

taxas de aeração entre 0,5 a 1,0 m3.min-1.m-3 de cebola. Outra forma de armazenamento

é via frigorificação (0 - 2ºC e 75-80% UR). Atmosfera com elevado conteúdo de CO2 e

reduzido O2 contribuem para aumentar o período de conservação. Para pequenas

quantidades de bulbos, pode-se proceder o enrestiamento, mantendo os bulbos com

folhas, armazenando as réstias em lugares ventilados.

Page 34: Cultivo de Cebola

A coloração dos catáfilos dos bulbos melhora durante o armazenamento. O cobre

aplicado na adubação, presente no solo, ou aplicado em pulverizações no campo melhora

a espessura e a cor bronzeada dos catáfilos de certos genótipos de cebola.

O tempo de armazenamento poderá variar de 2 a 6 meses de acordo com a

cultivar, ponto de colheita, frigorificação, cura, etc.

Algumas medidas para se evitar doenças no armazenamento são:

- evitar injúrias durante a colheita e o transporte; eliminar bulbos injuriados antes de

armazená-los e retirar os deteriorados durante o armazenamento; proceder a cura bem

feita; realizar a colheita antes da morte das folhas e em época seca; armazenar em local

seco e ventilado (< 25ºC).

Quando o bulbo amadurece, entra em período de latência, o período compreendido

entre e maturação e a brotação, o que se supõe 4 a 6 meses, dependendo da cultivar.

Neste período, se destinguem duas fases: latência absoluta ou período de repousoque dura de dois a três meses, em que o bulbo não brota mesmo que as condições

ambientais sejam ótimas, devido a presença de inibidores sintetizados nas folhas que são

translocados para o bulbo; período de latência relativa ou quiescência, que segue a

latência absoluta e que se prolonga se as condições ambientais não são ótimas para a

brotação. As temperaturas baixas (O°C) ou altas (40°C) prolongam a latência, enquanto

as intermediárias (10 a 20°C) estimulam a brotação. As características das cultivares e as

condições de armazenamento são decisivas para evitar a brotação dos bulbos uma vez

terminada a fase de latência absoluta. Aplicação de hidrazida maleica pouco antes da

colheita inibe a brotação, estendendo-se o período de conservação.

ClassificaçãoPara a classificação, embalagem e comercialização da cebola, é necessária a

toalete (corte da parte aérea e raízes), deixando-se 1 a 2 cm de talo de acordo com o

diâmetro transversal.

A classificação é feita de acordo com o diâmetro do bulbo (Tabela 9), em

classificadores mecânicos.

Para comercialização, a cebola deve possuir padrão da cultivar, estar

fisiologicamente desenvolvida, madura, limpa, com bulbo inteiro e revestida de películas

Tabela 9. Classes de cebola de acordo com o diâmetro transversal, conforme portaria no

529 de 18/08/1995 (Brasil, 1995).

Page 35: Cultivo de Cebola

Classes Diâmetro (mm)1-chupeta < 35

2 35 ≤ φ < 50

3 50 ≤ φ < 70

4 70 ≤ φ < 90

5 > 90

As classes 3 e 4 são consideradas de maior valor comercial.

externas, firmes e consistentes, de coloração uniforme, livre de danos mecânicos e/ou

fisiológicos, livres de pragas e/ou doenças, isentas de substâncias nocivas a saúde.

A preferência do consumidor é por bulbos de formato globoso, de tamanho médio

(50-150 g), sendo a cebola roxa preferida em Minas Gerais.

São considerados defeitos graves: talo grosso (diâmetro da haste do bulbo acima

do normal); brotado (emissão visível de broto); podridão (apodrecimento no todo ou em

parte devido ataque de patógenos ou problemas fisiológicos); com manchas negras

(áreas enegrecidas decorrentes de ataques de fungos nos catáfilos externos ou no colo

do bulbo); mofado (com fungo nos catáfilos externos).

São considerados defeitos leves: colo mal formado; deformado (formato diferente

do tipo da cultivar, bulbos duplos); descascado (ausência de catáfilos em mais de 30% de

sua superfície do bulbo); flacidez (falta de turgescência); descoloração (esverdeamento

em de 20% da superfície do bulbo); com dano mecânico (ferimento, corte e

esmagamento).

OBS.: os defeitos talo grosso e falta de catáfilos externos não serão considerados

quando tratar-se de cebolas precoces.

EmbalagemÉ feita em sacos telados de polietileno ou polipropileno com capacidade para até

25 kg líquidos de bulbos, tolerando-se até 8% a mais e 2% a menos no peso indicado.

Page 36: Cultivo de Cebola

REFERÊNCIAS

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