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    MANUAL TCNICODA GINJA DE BIDOS E ALCOBAA

    Projecto AGRO 940:

    MELHORIA DA QUALIDADE DA GINJADE BIDOS E ALCOBAA

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    Ficha Tcnica

    Ttulo: Manual Tcnico da Ginja de bidos e Alcobaa

    Autor: Antnio Ramos (Prof. Coordenador da ESACB)

    Edio: Instituto Politcnico de Castelo Branco e Associao dos Produtoresde Ma de Alcobaa

    Capa: Rui Monteiro

    Composio: Servios Editoriais e de Publicao do IPCB

    Impresso: Grfica de S. Jos - Castelo Branco

    Esta publicao foi financiada pelo Projecto AGRO 940: Melhoria da Qualidade daGinja de bidos e Alcobaa

    ISBN: 978-972-99849-8-3Depsito Legal: 272979/08

    Tiragem: 1000 exemplares

    Fevereiro de 2008

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    Entidades Participantes do Projecto AGRO 940:ESCOLA SUPERIOR AGRRIA DE CASTELO BRANCO

    (ESACB)DIRECO REGIONAL DE AGRICULTURA

    DO RIBATEJO E OESTE (DRARO)ASSOCIAO DOS PRODUTORES DE MA

    DE ALCOBAA (APMA)MUNICPIO DE BIDOS (MO)

    Equipa Tcnica do Projecto AGRO 940:Antnio Maria dos Santos Ramos (Lder, ESACB)

    Maria Cndida Viegas Tavares (ESACB)Ceclia Maria Marcelo Silva Gouveia (ESACB)Manuel Antnio Martins Silva (ESACB)Srgio Nuno Marques Branco* (ESACB)

    Maria do Carmo Simes Horta-Monteiro** (ESACB)Joo Paulo Rodrigues de Brito Monteiro (DRARO)Regina Clia da Angela Tiago Andrnico (DRARO)

    Jorge Manuel Pereira Soares (APMA)Susana Isabel da Cruz Jacinto e Costa (APMA)

    Miguel Antnio Leo de Sousa* (APMA)Pedro Manuel Domingues Trindade de Oliveira Maia** (APMA)Jos Filipe Leito Ribeiro (MO)

    * at 21 de Maro de 2007** a partir de 21 de Maro de 2007

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    ndice Geral

    Pg.ndice de Quadrosndice de FigurasPrefcio

    Introduo 1Origem 3A Ginja e a sade 7Breve caracterizao da rea geogrfica 9

    Geologia e Solos 10Clima e Meteorologia 11Ocupao dos solos 14

    Estruturas de apoio 16

    Caracterizao botnica 17Cultivares 19Hbitos de vegetao e frutificao 27

    Implantao da cultura 33Adaptao Edafo-climtica 33Propagao e Porta-enxertos 35

    Produo Integrada 39Preparao e Manuteno do Solo 40Conduo e poda 42Fertilizao 46Rega 53Proteco Integrada 56

    Cilindrosporiose 57Moniliose 59

    Crivado 61

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    Cancro Bacteriano 62Tumores (Galhas) Radiculares 63

    Pragas 63Colheita 67O licor de ginja 71

    A Matria-Prima 72A Extraco 76

    O licor 79

    Agradecimentos 85Referncias bibliogrficas 87

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    ndice de Quadros

    Quadro 1 Diferenas no tamanho, peso e acidez dos frutosdas cultivares Galega, Garrafal e de bidos, no anode 2007, em Alcongosta

    Quadro 2 Parmetros fsico-qumicos das ginjas Galega ede bidos, em Alcongosta (2007) e da ginja da regio

    de bidos e Alcobaa (2005 a 2007)Quadro 3 Caractersticas de cor da epiderme e da polpadas cultivares da coleco de Alcongosta e da ginja daregio de bidos e Alcobaa

    Quadro 4 Datas de abrolhamento (ponta verde) e plenaflorao da Ginja de bidos e Alcobaa em dois locais,no ano de 2007

    Quadro 5 Resultados das contagens do nmero de gomos,flores e frutos e da percentagem de vingamento em dois

    pomaresQuadro 6 Valores das anlises de solos em cinco pomaresde Ginja de bidos e Alcobaa em amostras colhidas aduas profundidades

    Quadro 7 Porta-enxertos utilizados nas culturas dacerejeira e ginjeira e suas principais caractersticas

    Quadro 8Nveis nutricionais de referncia nas folhas decerejeira e ginjeira

    Quadro 9 Valores das anlises foliares s cinzas em cinco

    amostras de folhas de Ginja de bidos e Alcobaa (datade amostragem: 18/05/2007)

    Pg.

    20

    23

    23

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    Quadro 10 Valores das anlises foliares seiva emtrs amostras de folhas de Ginja de bidos e Alcobaa(data de amostragem: 28/05/2007)

    Quadro 11 Parmetros qumicos e seus equilbrios emamostras das ginjas Galegas e Garrafais(Alcongosta, em 2007) e da Ginja de bidos eAlcobaa (de 2005 a 2007)

    Quadro 12 Resultados da extraco dos constituintesdo fruto ao fim de 72 horas

    Quadro 13 Parmetros de cor e sabor e seus equilbrios

    em infuses de ginjas Galegas e Garrafais(Alcongosta) e de Ginja de bidos e AlcobaaQuadro 14 Parmetros analticos e equilbrios em

    amostras de licores de ginja produzidos comercialmentena regio de bidos e Alcobaa.

    Quadro 15 Parmetros de sabor e seus equilbrios emlicores de ginjas Galegas e Garrafais (Alcongosta,2007) e de Ginja de bidos e Alcobaa, com duasconcentraes (2007)

    Quadro 16 Parmetros de sabor e seus equilbrios emlicores de Ginja de bidos e Alcobaa, com vriasdiluies proporcionais e no proporcionais

    51

    74

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    ndice de Figuras

    Figura 1 Localizao da rea Geogrfica da IGP Ginjade bidos e Alcobaa

    Figura 2 Carta litolgica da rea geogrfica da IGP Ginjade bidos e Alcobaa

    Figura 3 Carta de solos da rea geogrfica da IGP Ginjade bidos e Alcobaa

    Figura 4 Carta meteorolgica temperatura mdia darea geogrfica da IGP Ginja de bidos e Alcobaa

    Figura 5 Carta meteorolgica precipitao da reageogrfica da IGP Ginja de bidos e Alcobaa

    Figura 6 Carta meteorolgica humidade relativa do ar da rea geogrfica da IGP Ginja de bidos e Alcobaa

    Figura 7 Carta meteorolgica insolao da reageogrfica da IGP Ginja de bidos e Alcobaa

    Figura 8 Aspecto da inflorescncia da ginja regional debidos e Alcobaa, com a caracterstica Folha no PFigura 9Diferena morfolgica ao nvel do caracterstico

    aspecto da Folha no p ( esquerda) e na Galega (direita), da coleco de Alcongosta, em 2007

    Figura 10 Diferena no comprimento do pednculo daginja Folha no P ( esquerda) e a Galega ( direita),da coleco de Alcongosta, em 2007

    Figura 11 Classificao das cultivares de ginja em funo

    da cor da epiderme e da polpa. Em cima: Amarelles.Ao centro e em baixo: Morellos

    Pg.

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    Figura 12 Aspecto do porte prostrado da Ginja de bidose Alcobaa ( esquerda) e do porte erecto da GarrafalNegra ( direita)

    Figura 13 Aspecto da frutificao em ramo misto na Ginjade bidos e Alcobaa ( esquerda) e em esporo naGarrafal Negra ( direita)

    Figura 14 Aspecto da flor da Ginja de bidos e Alcobaa,com as 5 ptalas caractersticas das Rosceas

    Figura 15 Temperaturas mximas, mdias e mnimas diriasde Maro e Abril de 2007, na regio de bidos

    Figura 16 Proposta de estados fenolgicos da Ginja debidos e AlcobaaFigura 17Aspecto da colonizao do espao por emisso

    de plas radicularesFigura 18 Sistema misto de manuteno da superfcie do

    solo (enrelvamento e herbicida). Em cima: aspecto dopomar algumas semanas aps a aplicao do herbicida(foto de 9 de Maro). Em baixo: aspecto da floraadventcia alguns dias aps a passagem com destroador

    (foto de 23 de Junho)Figura 19 Poda da ginjeira. Em cima: poda de formao.Em baixo: aspecto da rvore antes (esquerda) e aps(direita) a operao de poda

    Figura 20 Medidor da transmisso da radiao PAR(radiao fotossinteticamente activa) atravs da copa

    Figura 21 Sonda DIVINER 2000, para medio da guaarmazenada no solo

    Figura 22 Cmara de presso para medio do potencial

    hdrico foliarFigura 23Aspecto das folhas da ginjeira com sintomas de

    cilindrosporioseFigura 24Aspecto das flores atacadas pela monilioseFigura 25 Aspecto das folhas de ginjeira com sintomas de

    crivado (Wilsonomyces carpophilus)Figura 26Aspecto dos prejuzos causados pela larva-lesmaFigura 27Aspecto dos prejuzos causados pelos caracisFigura 28 Aspecto da colheita num pomar de ginja em

    bidos, na campanha de 2007

    28

    28

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    30

    35

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    616566

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    Figura 29 Espectro do sumo da Ginja de bidos eAlcobaa na diluio de 1:10 ( esquerda) e de 1:100 (direita). Picos de absorvncia: 310, 410 e 510 nm

    Figura 30 Influncia das propores fruto/soluo eetanol/soluo no teor de slidos solveis totais (Brix),na acidez total (g de cido mlico/litro) e nasabsorvncias no ultravioleta (A

    280 nm) e no visve l

    (A310 + 410 + 510 nm

    )Figura 31 Influncia do teor alcolico da infuso (

    esquerda) e da proporo de frutos ( direita) na acidez

    total (em cima) e nas absorvncias no ultravioleta (aomeio) e no visvel (em baixo) antes e aps a adio dasoluo aucarada

    75

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    Prefcio

    O projecto Agro 940: Melhoria da Qualidade da Ginja debidos e Alcobaa foi aprovado em 2006, na sequncia do convite apresentao de candidaturas da Medida 8 DesenvolvimentoTecnolgico, Aco 8.1 Desenvolvimento Experimental eDemonstrao, para Valorizao dos Produtos Tradicionais nombito da Fruticultura.

    A produo de licores e aguardentes a partir dos frutos da ginjeira,existe em todas as regies onde haja ginjeiras, seja em Portugal,seja no resto do mundo (Moreiras, 2006). No entanto, a projeconacional e internacional que os licores de ginja produzidos evendidos no entorno histrico e patrimonial do Castelo de bidose do Mosteiro de Alcobaa, a sua antiguidade e o carcter artesanalda sua produo justificam a incluso da Ginja de bidos eAlcobaa como um produto tradicional no mbito da fruticultura.

    O prazo de realizao do projecto, 18 meses, foi muito curtopara os problemas tcnicos da cultura e da implementao da IGP(Indicao Geogrfica Protegida), tendo comeado em Junho de2006, j no final da poca de colheita, e terminado em Dezembrode 2007, o que, na prtica, deu oportunidade ao acompanhamentode apenas um ciclo cultural.

    Espera-se que este trabalho possa dar um contributo positivopara caracterizar a situao, fazer o levantamento dosestrangulamentos ao desenvolvimento da produo do fruto e dolicor e lanar algumas pistas para a soluo dos problemas maisprementes. Espera-se tambm que o projecto possa ter continuidade

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    na prtica e no esprito dos produtores do fruto e do licor, de formaa congregar esforos na obteno de apoios oficiais para a resoluodesses problemas.

    Para alm dos aspectos tcnicos que sero abordados nestetrabalho, a ginja (fruto, rvore ou licor) est presente na histria,na cultura, na literatura e na arte, como recentemente foi publicadopor Paulo Moreiras no seu Elogio da Ginja (Moreiras, 2006),cuja leitura se recomenda vivamente, como complemento a estemanual. Outra leitura fcil e acessvel foi publicada pelo COTHN(Centro Operativo e Tecnolgico Hortofrutcola Nacional), o

    Guia da Ginja (Sobreiro e Lopes, 2003).

    Castelo Branco, 30 de Janeiro de 2008Antnio Ramos

    (Lder do projecto AGRO 940)

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    Manual Tcnico da Ginja de bidos e Alcobaa 1

    Introduo

    A rea tradicional de produo de ginja, na zona litoral centrode Portugal, distribui-se principalmente pelos concelhos deAlcobaa, Caldas da Rainha e bidos, sendo ainda referidos commenor importncia alguns concelhos limtrofes como Porto de Ms,Nazar, Bombarral e Cadaval.

    A produo dos frutos para fabrico de licor remonta j h vrias

    dcadas e o seu solar localiza-se fundamentalmente na freguesiade Sobral da Lagoa, concelho de bidos, em particular na vertenteoeste da colina onde se localiza a aldeia, com vista sobre a Lagoade bidos e sobre o Atlntico. A produo de ginja nesta localidadedestinava-se principalmente ao fabrico de licor em duas unidadeslocalizadas em Alcobaa, s mais tarde se tendo iniciado a suatransformao localmente, aquando da crise que levou aoencerramento definitivo de uma das unidades transformadoras deAlcobaa. Esta histria, bastante interessante, pode ler-se noElogio da Ginja (Moreiras, 2006).

    At h poucas dcadas, as ginjeiras eram muito utilizadas nasbordaduras de caminhos, valados e quintais. Por outro lado, como uma planta que emite lanamentos a partir das razes (Webster,1996b), consegue expandir-se e colonizar os espaos seminterveno humana, naturalizando-se (Silva e Alarco, 1999).

    Com o advento da mecanizao foi necessrio proceder aoarranque de muitas ginjeiras devido necessidade de mais espaopara a passagem dos tractores e das alfaias necessrias ao amanhodos terrenos (Moreiras, 2006), aspecto de particular relevncia numa

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    Manual Tcnico da Ginja de bidos e Alcobaa 3

    Origem

    A origem e a expanso da ginjeira esto cercadas de grandesdvidas e imprecises. Os autores actuais baseiam-seessencialmente nos estudos de De Candolle, nos finais do sculoXIX, que, por sua vez, referia os escritores e historiadores gregos eromanos, cujos escritos, no dizer de De Candolle, eram algocontraditrios e pouco precisos. De entre todo esse conjunto de

    informaes, alguns aspectos merecem, no entanto, algumconsenso, sendo referidos ou repetidos por diversos autores(Webster, 1996a; Silva e Alarco, 1999; Sobreiro e Lopes, 2003;Moreiras, 2006):

    A origem, tanto da cerejeira como da ginjeira, localiza-se naAnatlia Setentrional, regio que se estende do mar Cspios cercanias de Constantinopla, sendo j conhecidas nasgrandes civilizaes da Mesopotmia, principalmente pelassuas propriedades teraputicas.

    A ginjeira era conhecida e j se tinha naturalizado na Grcia,nos primrdios da civilizao grega e, um pouco mais tarde,em Itlia, mesmo antes de Lculo ter levado alguns ps deginjeira da sia Menor. Essa capacidade para se expandirrapidamente de forma natural ficar-se-ia a dever disseminao das sementes feita pelas aves migratrias.

    Foram os gregos os primeiros a cultivar a ginjeira, embora seatribua a Lculo (famoso comensal romano do sculo I a.C.)a introduo da ginjeira em Roma.

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    Parece pouco provvel que a ginjeira e a cerejeira s se tenhamexpandido no Imprio Romano aps a sua introduo emRoma, por Lculo. Este ter eventualmente introduzido umanova variedade, j que no sculo I d.C. Plnio faz umadescrio das 10 variedades de cerejeira cultivadas em Itlia.Para os especialistas, o perodo de tempo em causa (cerca deum sculo) seria demasiado reduzido para que surgissemtantas variedades a partir de uma s planta.

    Na sua descrio das 10 variedades cultivadas em Itlia, Plnioidentifica uma, chamada Lusitania, que era certamente uma

    variedade cultivada na correspondente provncia romana.

    A Histria da origem e expanso da ginjeira deixa poucas pistassobre a origem da ginjeira que se cultiva actualmente na regio debidos e Alcobaa e que d origem ao conhecido licor de ginja daregio. A ginjeira pode ter sido introduzida pelos Romanos na suaexpanso para a Pennsula Ibrica, depois da sua introduo emRoma por Lculo. No entanto, no se sabe exactamente se Lculointroduziu a espcie ou apenas uma nova variedade, pelo que

    tambm no possvel saber se os romanos introduziram naPennsula Ibrica uma espcie at ento desconhecida ou se terointroduzido uma (ou, eventualmente, vrias) nova variedade deuma espcie j existente. Especula-se mesmo que Lculo terintroduzido algumas plantas (variedades de cerejeira) at entodesconhecidas em Roma e entre elas estaria a ginjeira ou uma novavariedade de ginjeira.

    Por outro lado, curiosa a referncia por Plnio a uma variedadechamada Lusitania, j no sc. I d.C., que Webster (1996a) considera

    ser uma Ginja de Portugal. Esta variedade era uma entre as 10variedades de cerejeira mais cultivadas em Itlia, no significando,portanto, que existissem nessa poca 10 variedades de ginjeiraobtidas a partir da suposta introduo da espcie em Roma porLculo. Como pouco provvel que em pouco mais de um sculoa ginjeira se expandisse a partir de Roma e se naturalizasse nasregies mais afastadas do imprio, como a Lusitnia, muitoplausvel a hiptese de que a ginjeira j existisse na Pennsula Ibricaantes da sua suposta expanso a partir de Roma.

    Considerando esta hiptese, alguma ou algumas variedades deginjeira podero ter sido introduzidas antes dos romanos,

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    Manual Tcnico da Ginja de bidos e Alcobaa 5

    eventualmente por mercadores fencios, e outra ou outras poderoter sido introduzidas mais tarde, pelos romanos. As variedadesactualmente cultivadas em Portugal, nomeadamente asconsideradas portuguesas (as Galegas e as Garrafais) podero terevoludo a partir das introduzidas pelos romanos, das previamenteexistentes (se as houve) ou mesmo de introdues mais recentescomo as que ocorreram no sc XIX.

    Em suma, as ginjas hoje cultivadas nas regies de bidos eAlcobaa, pelas caractersticas morfolgicas distintas das outrasginjas Galegas produzidas em outras regies portuguesas, como

    adiante se mostrar, podero ter tido uma das seguintes origens:

    Uma origem diferenciada: uma variedade diferente introduzidaem poca diferente.

    Uma adaptao regional: do conjunto das variedadesintroduzidas (independentemente da poca), foi aquela quemelhor se adaptou s condies locais e que subsistiu ao longodos tempos, apenas na regio.

    Uma origem endmica: uma variedade que evoluiu apenas

    naquela regio, pelo isolamento e condies naturaisparticulares.

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    6 Antnio Ramos

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    A Ginja e a Sade

    As referncias s propriedades teraputicas da cereja e da ginjaremontam ao sc. III a.C., por Diphilus Sifnos, mdico grego dotempo de Alexandre Magno (Webster, 1996a; Moreiras, 2006). Estaspropriedades provm da composio dos frutos, apesar da mesmapoder variar bastante, entre outros factores, com a cultivar.

    Nas ltimas dcadas, as ginjas, tal como as cerejas e outros frutos(bagas) vermelhos, tm sido objecto de intensa investigao porcausa dos compostos responsveis pela sua cor. So tambmconhecidos e amplamente divulgados os estudos sobre a relaodo vinho, do azeite e de outros frutos com a sade humana. Asantocianinas so os pigmentos responsveis pela cor laranja,vermelha e azul dos frutos, flores e outros tecidos dos vegetais(Chandra et al, 2001; Seeram et al., 2001b; imuni et al., 2005) eesto presentes em elevadas quantidades nos frutos da ginjeira

    (Blando et al., 2004; Kim et al., 2005).As antocianinas, tal como outros pigmentos e outros compostosfenlicos, tm demonstrado elevada actividade antioxidante(Seeram et al., 2001a; 2001b; Milbury et al., 2002; Blando et al.,2004; Reddy et al., 2005; Veres et al., 2006; Burkhart et al., 2001),anti-inflamatria (Seeram et al., 2001a; Tall et al., 2004; Blando etal., 2004), anticancergena (Seeram et al., 2001a; Reddy et al., 2005;Bobe et al., 2006) e antineurodegenerativa (Kim et al., 2005).

    A actividade antioxidante tem sido testada contra vrios radicais

    livres, tanto em meio hidroflico como hidrofbico, tendo-serevelado mais eficaz em meio hidrofbico (Veres et al., 2006). O

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    8 Antnio Ramos

    poder antioxidante das antocianinas semelhante a algunsantioxidantes comerciais, podendo ser superior ao da vitamina E(Seeram et al., 2001a). O efeito anticancergeno foi mostrado nainibio da proliferao de clulas tumorais (Reddy et al., 2005) ena preveno de tumores intestinais no rato, como auxiliar damedicao (Bobe et al., 2006). A supresso da dor relacionadacom estados inflamatrios foi tambm referida (Tall et al., 2004).

    As propriedades demonstradas pelas antocianinas levaram jalguns investigadores a apontar o seu interesse como alimentobiofuncional (Blando et al., 2004; Kim et al., 2005). A extraco

    das antocianinas da ginja, da cereja e de outros frutos tem sido,por isso, alvo de ateno, seja para utilizar com alimento funcionalou como corante natural, mas o processo debate-se com o problemada estabilizao dos extractos (Chandra et al., 1993). A biossntesede antocianinas in vitro a partir de callus de explants de folhas deginjeira parece ser um sistema til para melhorar a produo deantocianinas (Blando et al., 2005). No entanto, tem-se verificadoque os extractos de callus possuem menor efeito benfico que osextractos de frutos (Blando et al., 2004), talvez porque o perfil

    das antocianinas presentes em cada um daqueles extractos sejadiferente.A composio da ginja em antocianinas tem mostrado um perfil

    bastante especfico. Em geral, a nica antocianidina presente acianidina, nas formas de glicosil rutinsido, rutinsido, glucsidoe soforsido (Chandra et al., 1992; Wang et al., 1997; 1999; Seeramet al., 2001b; imuni et al., 2005). Na ginja, predominam o glicosilrutinsido e o rutinsido de cianidina, enquanto na cerejapredominam o rutinsio e o glucsido de cianidina (Seeram et al.,

    2001b). Nas folhas da ginjeira, bem como nos extractos de callusdos explants foliares, predomina o glucsido de cianidina (Blandoet al., 2005). As ginjas parecem ser mais ricas em fenis totais queas cerejas (Kim et al., 2005).

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    Manual Tcnico da Ginja de bidos e Alcobaa 9

    Breve caracterizao da rea geogrfica

    A rea geogrfica da IGP Ginja de bidos e Alcobaa abrangea rea tradicional de produo de ginja da regio, ou seja, osconcelhos de Alcobaa, Nazar, bidos, Caldas da Rainha eBombarral e parte dos concelhos de Porto de Ms (a oeste da serrados Candeeiros) e do Cadaval (a oeste da serra de Montejunto)(Fig. 1), correspondendo, deste modo, rea de Portugal Continental

    situada entre as serras dos Candeeiros e de Montejunto e o OceanoAtlntico.

    Figura 1 Localizao da rea Geogrfica da IGP Ginja de bidos e Alcobaa.

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    10 Antnio Ramos

    Geologia e Solos

    Apesar de ser uma faixa de territrio relativamente estreita,apresenta-se bastante diversificada, devido diferente origem dassuas formaes geolgicas, identificando-se grandes unidadesestruturais de Leste para Oeste: os macios calcrios, a zona dascolinas, os terraos, o vale tifnico, a plataforma costeira e, ainda,as plancies aluviais (Alarco et al., 1961).

    De acordo com a Carta Geolgica de Portugal, publicada em1952 e referida por Alarco et al. (1961):

    As formaes mais antigas datam do Lias inferior oupossivelmente do Trissico e so elas que aliceram o valetifnico das Caldas da Rainha, se bem que estejam por vezesrecobertas por areias pliocnicas.

    Da mesma era geolgica devem ser os diversos afloramentosde doleritos que acompanham o referido vale, cuja zonacentral constituda por um ncleo de rochas intensamentedobradas, em especial margas variegadas, gipsferas e calcriosdolomticos.

    Do Jurssico mdio h a destacar a grande mancha doanticlinal de calcrios que constitui a serra dos Candeeiros.

    Uma das formaes mais importantes a do JurssicoSuperior, onde se pode distinguir o Lusitaniano, encostadoao sop ocidental da Serra dos Candeeiros, e o Neo-jurssico,que se lhe segue para oeste atingindo o mar, cortado pelovale tifnico das Caldas da Rainha.

    A mancha do Lusitaniano, formada por calcriossubcoralinos, menos brancos e compactos que os do Jurssicomdio, uma zona essencialmente calcria comcaractersticas Krsticas, onde as guas pluviais desaparecemrapidamente para dar origem a uma intensa circulaosubterrnea que aflora a noroeste. Intercaladas nesta zona,encontram-se pequenos depsitos arenosos que se tm tidopor pliocnicos, mas cuja idade mal definida.

    A mancha do Neo-Jurssico, zona tpica das colinas, formada essencialmente por grs finos e argilosos, se bemque no limite leste possam ocorrer manchas de grsesbranquiado grosseiro. Os grs Neo-jurssicos so em geral

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    finos, micceos e com cimento argiloso e calcrio, dandomuitas vezes solos notavelmente frteis.

    Esta diversidade geolgica que se pode observar na CartaLitolgica do Atlas do Ambiente (Fig. 2) leva a uma importantediversidade de tipos de solo, cujo perfil se apresenta diferenciado,no apenas em funo da natureza da rocha-me, mas tambm emfuno do declive, da intensidade dos fenmenos erosivos e dadrenagem externa, por sua vez dependentes das caractersticas dorelevo e dos factores climatricos.

    Figura 2 Carta litolgica da rea geogrfica da IGP Ginja de bidos e Alcobaa (Soares daSilva, 1982).

    A Carta de Solos do Atlas do Ambiente (Fig. 3) ilustra essa

    diversidade de tipos de solos, na qual sobressaem os Luvissolosclcicos, nas reas abrangidas pela serra dos Candeeiros, os Podzisem toda a faixa litoral e os Cambissolos na zona central e em todaa extenso da rea geogrfica da IGP Ginja de bidos e Alcobaa.

    Clima e Meteorologia

    A localizao muito particular da regio, entre a serra e o mar,

    e o constante ondulado do relevo condicionam grandemente aocorrncia e variao dos factores meteorolgicos. De facto, a

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    regio tem uma grande exposio entrada dos ventos e do arhmido do Atlntico que, sendo barrados pelas serras dosCandeeiros e de Montejunto, que correm paralelas ao oceano,criam condies de elevada humidade do ar, com ocorrnciafrequente de nevoeiros ou neblinas matinais e de precipitao(Alarco et al., 1961).

    Esta exposio da rea geogrfica da IGP ao ar hmido e aosventos martimos e a ocorrncia frequente de neblinas e nevoeirospode condicionar bastante a cultura da ginja, pois propcia aodesenvolvimento de doenas, em particular moniliose, cujos

    estragos tm, em alguns anos, um efeito devastador sobre os botesflorais, prejudicando fortemente a produo desses anos.De acordo com Alarco et al. (1961), que refere as classificaes

    climticas de Kppen e de Thornthwaite, o clima da regio temperado, com Veres pouco quentes, mas prolongados, e comelevado dfice de gua. A temperatura anual mdia do ar ronda os15C, com amplitudes trmicas relativamente baixas devido proximidade do oceano Atlntico, sendo de salientar uma faixarelativamente mais amena que atravessa os concelhos de bidos,

    Caldas da Rainha e a parte dos concelhos de Alcobaa e Porto deMs junto serra dos Candeeiros (Fig. 4). A precipitao (Fig. 5),

    Figura 3 Carta de solos da rea geogrfica da IGP Ginja de bidos e Alcobaa (Cardoso etal., 1971).

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    no obstante a pequena largura da faixa de territrio, bastante

    varivel, de 500 (na zona litoral dos concelho de bidos e Caldasda Rainha) at 1600 mm (junto serra dos Candeeiros, na zona dePorto de Ms).

    Figura 4 Carta meteorolgica temperatura mdia da rea geogrfica da IGP Ginja debidos e Alcobaa (S. M. N., 1974).

    Figura 5 Carta meteorolgica precipitao da rea geogrfica da IGP Ginja de bidose Alcobaa (S. M. N., 1974).

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    A humidade do ar influenciada pela proximidade do mar epela incidncia dos ventos dominantes de Norte e Noroeste,sendo os valores anuais mdios de cerca de 80%, distinguindo-se claramente a faixa litoral com maior humidade relativa (Fig.6) . A insolao influenciada pela nebulosidade e pelaocorrncia de nevoeiros e neblinas, variando entre as 2400 e as2500 horas (Fig. 7).

    Figura 6 Carta meteorolgica humidade relativa do ar da rea geogrfica da IGP Ginjade bidos e Alcobaa (S. M. N., 1974).

    Ocupao dos solos

    Do ponto de vista socio-econmico, a rea geogrfica da IGPGinja de bidos e Alcobaa tem ainda uma prevalncia elevadado sector primrio, no s a agricultura como a pesca, pese emboraa instalao de algumas indstrias importantes e o desenvolvimentodo sector dos servios. O turismo, associado importante riquezaarquitectnica e monumental, cultura, s praias comcaractersticas nicas, aos campos de golfe, gastronomia e aoartesanato, talvez a actividade que maior crescimento tem tido

    nas ltimas dcadas. A este crescimento no ser alheia, tambm,a melhoria das vias de acesso e a proximidade com a capital.

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    Figura 7 Carta meteorolgica insolao da rea geogrfica da IGP Ginja de bidos eAlcobaa (S. M. N., 1974).

    Relativamente ocupao do solo, salientam-se os seguintes

    aspectos: A f loresta, nas zonas mais altas, inacessveis e rochosas, das

    serras e colinas e em algumas zonas dunares do litoral,dominando o pinheiro e o eucalipto.

    A horticultura e a floricultura, frequentemente em regimeintensivo, por vezes sob cobertura de plstico, especialmenteem zonas aluviais dos vales dos rios e linhas de gua e emzonas prximas do mar, onde a ausncia de geada e o regadioso factores determinantes para a horticultura de primor epara a intensificao cultural, podendo fazer-se com sucessomais do que uma cultura anual.

    A fruticultura, onde predomina a pereira e a macieira, masonde tambm se cultiva o pessegueiro e a ameixeira. A prae a ma tm sido objecto, nos ltimos anos, de um esforode organizao, tanto a nvel de produo como dacomercializao, sendo bastante abrangente e conhecida aDOP (Denominao de Origem Protegida) Pra Rocha do

    Oeste e a IGP Ma de Alcobaa, cujas reas geogrficasincluem a rea da IGP Ginja de bidos e Alcobaa.

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    A viticultura, associada ao enoturismo, que se insere dentro daregio vitivincola da Estremadura e onde se destacam as DOC(Denominao de Origem Controlada) Encostas de Aire e bidose os vinhos regionais da Estremadura. De salientar tambm, oimportante ncleo de actividade viveirista que se centraliza desdelonga data na localidade de P, concelho do Bombarral.

    A pecuria , em especial a avicultura, a suinicultura e abovinicultura. A suinicultura intensiva e os seus impactesambientais mais negativos tm maior preponderncia a Leste,j fora ou na periferia da rea geogrfica da IGP, no a

    influenciando directamente.

    Estruturas de apoio

    No apoio actividade agrcola, existem na regio (rea geogrficada IGP e limtrofes) vrias estruturas de diferentes ordens e grausde organizao, tais como as delegaes dos servios regionais doMinistrio da Agricultura, as Estaes Nacionais de Fruticultura

    (Alcobaa) e Vitivincola (Torres Vedras) do INRB (InstitutoNacional dos Recursos Biolgicos), a Caixa de Crdito AgrcolaMtuo, as estruturas privadas ou cooperativas de concentrao eprocessamento de produtos (centrais ou cooperativas fruteirase/ou hortcolas, adegas cooperativas e produtores engarrafadores),as associaes de prestao de servios (factores de produo eassistncia tcnica, com particular relevncia na rea da Protecoe/ou Produo Integrada) e as entidades que se preocupam com adinamizao dos mercados de consumo, com a certificao e com

    a qualidade dos produtos, com a criao e gesto de marcascolectivas e com a proteco da especificidade e tipicidade dealgumas produes tradicionais.

    No obstante a diversidade de estruturas de apoio actividadedo sector primrio, este ainda caracterizado por uma grandedisperso da estrutura fundiria, com excessivo parcelamento ereduzida dimenso mdia das exploraes, o que deixa ainda umlongo caminho para uma plena organizao da produo e dosprodutores. Estes so ainda, na sua maioria, idosos e com baixo

    nvel de instruo, apesar do esforo de formao das ltimasdcadas e da instalao de alguns jovens agricultores.

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    Caracterizao Botnica

    A gingeira uma planta da famlia das Rosceas, sub-famliaPrunideas, gnero Prunus, sub-gnero Cerasus, espcie P. cerasus.Ao sub-gnero Cerasuspertencem a cerejeira e a ginjeira, enquantoas restantes espcies do gnero Prunus se distribuem em outrosdois sub-gneros. O sub-gnero Amigdalus, que engloba opessegueiro e a amendoeira e o sub-gnero Prunophora, que engloba

    o damasqueiro e a ameixeira (Westwood, 1982).O sub-gnero Cerasusinclui vrias espcies com interesse actual,

    quer no aproveitamento dos frutos para consumo em fresco oupara transformao industrial, quer na utilizao como ornamentalou como porta-enxerto (Webster, 1996a). As mais interessantespela utilizao do fruto so a P. avium (2n=16), qual pertencemas inmeras cultivares de cereja, maioritariamente para consumoem fresco, e a P. cerasus (2n=32), cujos frutos mais cidos, as ginjas,se utilizam principalmente para transformao e/ou utilizao emdoaria (Silva e Alarco, 1999). Segundo Olden e Nybom (1973),cit. por Webster (1996a), e Westwood (1982), a espcie P. cerasuster resultado de um cruzamento natural entre a espcie P. fructicosa(cereja da Sibria, ou cereja das estepes siberian cherry,ground cherry ou steppe cherry) e um gro de plen noreduzido de P. avium. Com recentes tcnicas de PCR-RFLP,comprovou-se que o polimorfismo do c-DNA permite separar omaterial gentico das cultivares de cereja das de ginja e que aespcie P. avium no o progenitor feminino da espcie P. cerasus(Panda et al., 2003).

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    A espcie P. cerasus, a ginjeira, conhecida como produtora dasvulgares ginjas, cerejas cidas ou cerejas de tarte (sour cherry,tart cherry ou pie cherry), formando rvores pequenas oufrequentemente um arbusto que emite rebentao profusa a partirda base (plas radiculares), constituindo povoamentos densos noestado selvagem (Webster, 1996b). Segundo o mesmo autor, temfolhas mais pequenas que a cerejeira, ovais, com pice agudo, decomprimento entre 4 a 7 cm e largura cerca de metade docomprimento. As flores so abundantes nos ramos com um ano deidade (crescimentos do ano anterior), brancas com cerca 1,75 a

    2,5 cm de dimetro e pednculos com cerca de 2 cm decomprimento (Webster, 1996a), aparecendo em grupos de 2 a 4flores por gomo (Thompson, 1996). Os frutos so vermelhos comtonalidades mais ou menos escuras, arredondados e com polpabranda e cida (Webster, 1996a).

    Enquanto as cerejas doces (ou simplesmente cerejas)pertencem eventualmente todas espcie P. avium, a denominaode cerejas cidas (ou ginjas) engloba a espcie P. cerasuse todosos hbridos de P. cerasus com os seus progenitores (P. avium e P.

    fructicosa), provavelmente pela sobreposio dos habitats das trsespcies nas regies de origem (Iezzoni, 1996). Entre os hbridosmelhor conhecidos encontram-se as chamadas cerejas Duke(Duke cherry) (2n=32), um hbrido tetraplide de P. aviumx P.cerasus (Westwood, 1982; Webster, 1996a).

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    Cultivares

    A existncia de hbridos (tanto naturais como promovidos peloHomem) e a origem (genealogia) desconhecida de grande parte dascultivares existentes em coleces de vrios pases, como a doInstituto Experimental de Fruticultura em Roma (Albertini e Strada,2001), juntamente com a vegetao em estado selvagem (nas zonasde origem) ou semi-selvagem nas regies para onde o Homem a

    expandiu e onde se naturalizou (Silva e Alarco, 1999), formandopovoamentos em forma de bosque, torna difcil a classificao dasvariedades de ginja cultivadas.

    Segundo Silva e Alarco (1999), o famoso mdico e humanistaespanhol Andrs de Laguna (nascido em Segvia entre 1494 e 1499)teceu o seguinte comentrio: Todas as espcies de cereja foramreduzidas pelos antigos a trs diferenas principais, chamando a umasdoces, outras azedas e adstringentes e finalmente s outras cidas.

    Esta distino parece prevalecer ainda em Portugal, j queBarros e Graa (1960) diferenciam as cultivares de cereja (frutosdoces) e de ginja, classificando estas como Galegas (frutospequenos e cidos) ou Garrafais (frutos grandes, acdulos esucosos). Segundo aqueles autores, incluem-se nas Galegasapenas a Galega e a Griotte du Nord, enquanto nas Garrafaisse incluem a Anglaise Htive, a Bical, a Branca, a Francesa, aGarrafal, a Montmorency e a Reine Hortense. Como tal, emboraseja referida uma Galega e uma Garrafal, estes termos tanto sepodem referir a uma s cultivar como a um grupo de cultivares.Alm disso, os mesmos autores no referem a expresso, a

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    representatividade ou a distribuio geogrfica das diferentescultivares portuguesas e estrangeiras em Portugal.

    No seu Elogio da Ginja, Paulo Moreiras faz um exaustivo estudoda botnica da ginja em documentos dos ltimos sculos, na maioriados quais a nomenclatura das variedades de ginja cultivadas em Portugalse resume quase sempre s designaes genricas de ginjeiras-galegasou ginjeiras-das-ginjas-galegas (P. cerasus) e s ginjeiras garrafais ouginjeiras-das-ginjas-garrafais (P. avium x P. cerasus) (Moreiras, 2006).

    Antnio Jos Tinoco faz a seguinte descrio: a Galega muitoprodutiva, tem fruto pequeno, polpa cida e mais adequada para

    confeco de doces e licores; a variedade Rosa (que uma garrafal) uma das mais cultivadas, possui fruto grande, polpa macia, rosada,doce e consome-se em fresco; a variedade Garrafal, a preferida e aque ocupa maior rea, principalmente nas Beiras, tem fruto grande,polpa doce, macia e magnfica qualidade (Tinoco, 1983).

    Desta forma, parecem existir 3 variedades ou tipos de ginja:pequena e cida (Galega); grande e mais clara (Rosa ou GarrafalRosa); grande e, eventualmente, mais escura (Garrafal ou GarrafalNegra). Esta distino parece plausvel e est de acordo com uma

    coleco varietal de ginjeiras instalada em Alcongosta, desde hcerca de 15 anos. Alguns dados relativos a esta coleco forampublicados numa tese de doutoramento (Rodrigues, 2003), da qualo COTHN editou uma sinopse (Rodrigues, 2004), e num relatriode estgio (Gaspar, 2007). Este ltimo, j no mbito das actividadesdo projecto AGRO 940.

    O Quadro 1 mostra as diferenas evidentes entre as cultivaresGalegas e Garrafais, no tamanho ou peso do fruto e na acidez,caractersticas que esto associadas aos dois grupos, conforme

    descrito por Barros e Graa (1960) e Tinoco (1983).

    Quadro 1 Diferenas no tamanho, peso e acidez dos frutos das cultivares Galega, Garrafale de bidos, no ano de 2007, em Alcongosta.

    Galega Garrafal de bidos

    Altura do fruto (mm) 18,3 19,9 17,2Dimetro do fruto (mm) 21,2 23,3 21,0Peso mdio do fruto (g) 4,9 6,5 4,8

    Acidez (g c. mlico/L) 12,7 7,2 13,5

    No contexto da discusso que tem sido feita e perante osresultados apresentados no Quadro 1, os frutos produzidos

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    tradicionalmente na rea da IGP Ginja de bidos e Alcobaaso pequenos e cidos (ou agridoces Sobreiro e Lopes, 2003),donde a sua incluso no grupo das Galegas. No entanto, no seencontraram descries ou referncias a estes frutos, restando advida sobre se a Ginja de bidos e Alcobaa tambm a Galega(igual a todas as Galegas) ou se uma cultivar individualizada. Anica referncia especfica a estes frutos diz respeito ao nome quetoma localmente de Ginja de Folha no P ou Galega de Folhano P.

    Na coleco de Alcongosta esto representadas, felizmente, trs

    (supostamente diferentes) cultivares originrias de bidos, o quepermite afirmar com segurana que a caracterstica que lhes d onome na regio de origem, a Folha no P no uma peculiaridaderelacionada com as condies naturais da regio, j que essacaracterstica tambm se manifesta numa zona to diferente edistante como a encosta norte da serra da Gardunha.

    A caracterstica Folha no P (Fig. 8) deve-se ao facto dospednculos das flores e dos frutos no se inserirem directamentesobre a madeira do ano anterior, mas antes sobre um pequeno

    crescimento (o p ou pednculo da inflorescncia) em geral comcerca de 1 cm, no qual aparecem algumas folhas de tamanhoreduzido (provavelmente comorigem nas brcteas).

    Figura 8 Aspecto da in florescnc ia da ginjaregional de bidos e Alcobaa, com a caractersticaFolha no P.

    Nas Figuras 9 e 10 comparam-se as inflorescncias e asinfrutescncias, respectivamente, das duas cultivares, a Galega e ade origem na regio de bidos, produzidos no campo de Alcongosta,onde, para alm da caracterstica Folha no P, visvel tambmuma importante diferena ao nvel do comprimento dos pednculosdos frutos. O Quadro 2 traduz numericamente essa diferena e mostra

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    que as restantes caractersticas fsicas e qumicas so muito idnticas,embora o tamanho e peso do fruto tendam a ser ligeiramente maisreduzidos nas ginjas Folha no P relativamente Galega,especialmente quando produzidos na regio de bidos e Alcobaa.A acidez, por sua vez, superior nas ginjas Folha no P, mas apenasquando so produzidas na regio de bidos e Alcobaa.

    Figura 9 Diferena morfolgica ao nvel da inflorescncia da ginja Folha no p (esquerda) e na Galega ( direita), da coleco de Alcongosta, em 2007.

    Figura 10 Diferena no comprimento do pednculo da ginja Folha no P ( esquerda) eda Galega ( direita), na coleco de Alcongosta, em 2007.

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    Outra forma de classificar as cultivares de ginja, baseia-se nacolorao da epiderme e da polpa do fruto. Assim, Amarellesso todas as cultivares com epiderme rosada e polpa amarelada eMorellos as que apresentam frutos com epiderme vermelha-

    -escura e polpa rosada a vermelha (Iezzoni, 1996). Um terceirogrupo de cultivares, que chegou a ser considerada como uma sub--espcie diferente, denomina-se por Marasca, apresentando frutospequenos e muito escuros, que so os de melhor qualidade para aproduo de vinho e licor, e encontrando-se nos bosques na ex--Jugoslvia e pases limtrofes (Iezzoni, 1996), principalmente naregio da Dalmcia (Webster, 1996a).

    Segundo esta forma de classificao (Fig. 11; Quadro 3), asGinjas de bidos e Alcobaa, as Galegas, a Garrafal Negra e a

    Seixas incluem-se no grupo dos Morellos, enquanto a GarrafalRosa (possivelmente a Montmorency) e a Reine Hortense (uma

    Quadro 2 Parmetros fsico-qumicos das ginjas Galega e de bidos, em Alcongosta (2007)e da ginja da regio de bidos e Alcobaa (2005 a 2007).

    Alcongosta bidosGalega de bidos e Alcobaa

    Dimetro do fruto (mm) 21,2 21,0 19,4Altura do fruto (mm) 18,3 17,2 16,7Relao altura/dimetro 0,86 0,82 0,86Comprimento do pednculo (mm) 26,8 42,6 41,7Peso do pednculo (mg) 110,0 100,0 109,2Peso do fruto (sem pednculo) (g) 4,9 4,8 3,8Rendimento em polpa (%) 94,3 90,6 89,5pH 3,5 3,5 3,5

    Acidez tota l (g de cido mlico/L) 12,7 13,5 17,3Acares totais (Brix) 16,5 16,5 17,7

    Absorvncia a 280 nm (1:100) 0,582 0,698 0,577Absorvncia a 310+410+510 nm (1:100) 0,411 0,450 0,409

    Quadro 3 Caractersticas de cor da epiderme e da polpa das cultivares da coleco deAlcongosta e da ginja da regio de bidos e Alcobaa.

    Cultivar Epiderme H (epiderme)* Polpa H (polpa)*

    Galega Vermelha 21,3 Rosada 35,8Garrafal Rosa Rosada 29,9 Amarelada 78,7Garrafal Negra Vermelha a 19,0 Vermelha escura -0,9

    vermelha escura a negraReine Hortense Rosada 27,0 Amarelada 78,8

    Seixas Vermelha escura 14,8 Vermelha escura a negra -1,4Ginja de bidos Vermelha 19,5 Rosada 47,6e Alcobaa

    *H - ngulo de tom ou ngulo de tonalidade (arco tangente, em graus, da razo entre ascoordenadas b* e a* do colormetro).

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    Duke cherry) se incluem no grupo das Amarelles. O Quadro 3mostra tambm os valores da tonalidade, ngulo de cor ou ngulode Hue (H), que varia de 0 (vermelho) a 90 (amarelo), sendo umvalor que conjuga as coordenadas a* e b* obtidas pelo colormetro(Francis, 1980, cit. Aular et al., 2002).

    Figura 11 Classificao das cultivares de ginja em funo da cor da epiderme e da polpa. Emcima: Amarelles. Ao centro e em baixo: Morellos.

    Os valores da tonalidade (H) so bastante crticos nadiferenciao da cor da polpa, acima de 75 para a polpa amarelada,entre 35 e 50 para a polpa rosada e valores negativos para a polpaquase negra. J para os tons da epiderme distinguem-se bem osvalores acima de 25 para a epiderme rosada, volta de 20 para asepidermes vermelhas e abaixo de 15 para a epiderme mais escurada cultivar Seixas. Esta cultivar pode ter algum interesse devido cor, mas apresenta uma acidez relativamente baixa (intermdia entreas Galegas e as Garrafais).

    A problemtica com a denominao das cultivares mereceriaum estudo de caracterizao morfolgica e gentica apurado, no

    ReineHortense

    GarrafalRosa

    Ginjade bidose Alcobaa

    Galega

    GarrafalNegra

    Seixas

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    sentido de discriminar as diferentes cultivares e aclarar osproblemas relacionados com a sua nomenclatura e origem. Nasequncia deste estudo, poderia ser interessante iniciar um estudode melhoramento gentico, ao nvel da seleco ou mesmo daobteno de novas cultivares, com melhores caractersticas deproduo e de qualidade para os fins em vista.

    As formas de classi ficao das cult ivares (pe la cor, pelotamanho e pela acidez), como atrs se descreveu, reflectemcertamente os usos que, ao longo do tempo, tm sido dados ginja.Dever ser por isso, que no melhoramento de uma cultivar

    altamente pigmentada, para a produo de licor, o teor emantocianinas e a relao acar/cidos dos frutos so os aspectoscrticos a ter em conta (Iezzoni, 1996).

    Em suma, face inexistncia de uma classificao mais completadas cultivares e ao desconhecimento generalizado sobre as mesmase, ainda, forma clara como os dados atrs apresentadosdiferenciam claramente as ginjas da regio de bidos e Alcobaadas outras Galegas, prope-se e seguir-se- neste trabalho aseguinte classificao para as cultivares genericamente

    denominadas de Galegas ou Garrafais:

    Ginja de bidos e Alcobaa:cultivar de ginja com Folhano P, caracterstica da regio do litoral centro de Portugal,produtora do licor de Ginja de bidos e Alcobaa. Tmepiderme vermelha e polpa rosada (tipo Morellos). Naregio, produzem frutos com acidez superior a 15 g de cidomlico/litro de sumo. , provavelmente, uma cultivar daespcie P. cerasus.

    Galega: cultivar ou grupo de cultivares da espcie P. cerasus,de ginjas pequenas e cidas (acidez superior a 10 g de cidomlico/litro de sumo), sem Folha no P e que tambmpodem ser utilizadas no fabrico de licor. So do tipoMorellos, pois apresentam epiderme vermelha e polparosada.

    Garrafal Rosa: cultivar ou grupo de cultivares de ginjasgrandes (certamente hbridos de P. aviumcom P. cerasus), dotipo Amarelles, ou seja, com epiderme rosada e polpa

    amarelada, sendo pouco cidas (acidez inferior a 10 g de cido

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    mlico/litro de sumo) e utilizadas para doaria, licor ouconsumo em fresco.

    Garrafal Negra: cultivar ou grupo de cultivares de ginjasgrandes (certamente hbridos de P. aviumcom P. cerasus), dotipo Morellos, ou seja, com epiderme vermelha a vermelhaescura e polpa vermelha escura a quase negra, sendo poucocidas (acidez inferior a 10 g de cido mlico/litro de sumo)e utilizadas para doaria, licor ou consumo em fresco.

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    Hbitos de vegetao e frutificao

    Como resulta da descrio das espcies P. avium e P. cerasus,para alm das caractersticas do fruto (tamanho e acidez), existemtambm diferenas ao nvel do porte da rvore e dos rgos defrutificao. As espcies de P. aviumtm porte erecto e frutificamem espores que podem atingir idade elevada, enquanto as espciesde P. cerasustm um porte mais prostrado, com ramos pendentes, e

    frutifica tanto em ramos mistos como em espores, embora estestenham em geral uma longevidade menor (Webster, 1996a).

    No entanto, como refere (Iezzoni, 1996), tambm se classificamcomo ginjas (ou cerejas cidas) os hbridos de P. cerasuscom ambosos seus progenitores, pelo que existe toda uma gama completa devariao do porte erecto a prostrado e da frutificaoexclusivamente em ramos mistos a exclusivamente em espores,no sendo, de forma alguma, estes critrios suficientes paradistinguir a ginjeira da cerejeira.

    As diferenas no porte e nos hbitos de frutificao podemobservar-se nas Figuras 12 e 13. Na Figura 12, compara-se umaginjeira de bidos e Alcobaa, de porte prostrado ou pendente,com uma Garrafal, com porte erecto ou semi-erecto. O porteprostrado ou pendente tambm caracterstico da Galega, da ReineHortense e da Seixas, enquanto o porte erecto ou semi-erectoaparece nas duas Garrafais (Rosa e Negra). A Figura 13 mostrauma frutificao em ramos mistos, que pode ser observada naGalega, na Ginja de bidos e Alcobaa e na Reine Hortense e emespores, como se observa nas Garrafais.

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    Figura 14 Aspecto da flor da Ginja de bidos eAlcobaa, com as 5 ptalas caractersticas das Rosceas.

    De um modo geral, as inflorescncias apresentaram o tpico pque d origem denominao local. O p tinha cerca de 1 a1,5 cm, embora se tivessem observado tambm alguns gomos emque o p era quase nulo ou muito reduzido (< 0,5 cm), com e semfolhas, e gomos em que o mesmo p apresentava comprimentosuperior a 2 cm.

    No ano de 2007, o incio da actividade vegetativa(intumescimento dos gomos) deu-se a partir de meados de Maro ea plena florao a partir dos incios de Abril, tendo ocorrido cerca

    de uma semana mais cedo em bidos do que em Alcobaa (Quadro4). Comparativamente a anos anteriores e de acordo com asinformaes orais prestadas por produtores, a plena florao foimais tardia em 2007 e arrastou-se por mais tempo, provavelmentedevido falta de frio outonal, ocorrncia de algumas noites friasna segunda quinzena de Maro ou manuteno de temperaturas(mdias e mximas) relativamente baixas e com muita nebulosidadedesde meados de Maro a meados de Abril (Figura 15). Odesenvolvimento da flor, desde o gomo de Inverno at maturao

    do fruto, ocorre em diversas etapas ou estados fenolgicos, comoilustra a Figura 16.

    Quadro 4 Datas de abrolhamento (ponta verde) e plena florao da Ginja de bidos eAlcobaa em dois locais, no ano de 2007.

    Sobral da Lagoa (bidos) Vale do Amieiro (Alcobaa)Tratadas* No tratadas Tratadas* No tratadas

    Data de abrolhamento 2 Maro 22 Maro 9 Maro 29 MaroData de plena florao 26 Maro 12 Abril 3 Abril 20 Abril

    *tratadas com uma mistura de ureia, leo de vero e nitrato de potssio nas concentraes de4, 5 e 3%, respectivamente, para quebra da dormncia dos gomos (antecipao da florao).

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    devem ser os pontos de partida para melhorar o vingamento dofruto. S posteriormente se devero tentar outras medidas maisdrsticas, como o caso dos reguladores de crescimento.

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    Implantao da Cultura

    Adaptao Edafo-climtica

    O estudo completo das caractersticas do solo, no qual se instalao pomar fundamental para tomar decises relativamente melhoria das condies de longevidade e produtividade do pomar.Deste modo, a textura e a estrutura do solo so determinantes da

    drenagem, da capacidade de reteno de gua e do desenvolvimentoradicular (Longstroth e Perry, 1996).

    O solo dever ser bem arejado, com uma percentagem mdia deargila, j que a ginjeira sensvel a solos encharcados ou com mdrenagem (Longstroth e Perry, 1996). A ginjeira desenvolve-semelhor em solos pouco cidos a ligeiramente alcalinos (pH 5,5 a7,5) e ricos em matria orgnica, pelo que dever ser dada especialateno sua correco aquando da preparao do solo (Longstrothe Perry, 1996; Sobreiro e Lopes, 2003).

    Sendo uma espcie de zonas temperadas, a ginjeira necessita deperodos quentes durante o desenvolvimento vegetativo e deInvernos frios durante o perodo de dormncia (Longstroth e Perry,1996), devido s suas necessidades de frio.

    No entanto, as temperaturas baixas no podem ocorrer aps o inciodo abrolhamento, pois podem reduzir o vingamento do fruto. Tambmas chuvas, embora necessrias planta, podem ter um efeito nefasto ecomprometer a colheita, se ocorrerem em dois perodos crticos: aflorao, pela lavagem do lquido estigmtico, e a maturao, pelorachamento que podem causar no fruto (Longstroth e Perry, 1996).

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    Por outro lado, temperaturas extremamente altas durante o Veroprovocam o aparecimento de frutos duplos, por duplicao do pistilodurante a formao da flor (Iezzoni et al., 1990, cit. Longstroth ePerry, 1996; Thompson, 1996).

    Relativamente Ginja de bidos e Alcobaa, a regio onde sedistribui, pela proximidade do mar, no apresenta amplitudestrmicas muito elevadas, nem riscos elevados de geadas tardias,embora a falta de frio invernal para a quebra da dormncia possaser um problema a merecer ateno e objecto de estudo para seencontrarem meios de quebrar artificialmente a dormncia e

    melhorar o vingamento, como atrs se referiu. Alguns ventos maisfortes, com predominncia de noroeste, podem tambm causaralgumas dificuldades ginjeira, nomeadamente conduo daspernadas enquanto jovens (poda de formao).

    O solo dever ser objecto de especial ateno, uma vez quealguns solos da regio de bidos e Alcobaa so demasiadoargilosos e/ou alcalinos. Em Sobreiro e Lopes (2003) foramapresentadas as anlises de alguns perfis de solos que estavam aser estudados para a implantao de um pomar de ginja a oeste da

    aldeia de Sobral de bidos. O Quadro 6 mostra os resultados dasanlises de solos em cinco pomares de ginja, acompanhados nombito do projecto AGRO 940.

    Quadro 6 Valores das anlises de solos em cinco pomares de Ginja de bidos e Alcobaa emamostras colhidas a duas profundidades.

    Profun- Tex- pH M.O. P2O

    5K

    20 Ca2+ Mg2+ Na+ K+ Ca2+/

    didade tura (%) (ppm)(ppm) (*) (*) (*) (*) Mg2+

    (cm) H2O HCl

    0-20 Md. 7,6 7,0 1,2 102 >200 94,2 4,6 0,2 0,9 20,3

    0-20 Fina 7,4 6,8 1,2 104 190 96,2 3,1 0,2 0,7 31,00-20 Md. 6,7 5,5 0,9 130 184 82,7 13,8 0,5 2,9 6,00-20 Gros. 5,2 4,1 1,0 48 140 76,4 12,1 1,3 10,3 6,30-20 Md. 6,1 5,1 1,8 28 110 73,0 12,5 3,4 11,2 5,820-50 Md. 7,2 6,5 0,6 22 136 86,7 11,2 0,7 1,5 7,820-50 Fina 8,0 7,0 0,7 41 168 96,1 3,0 0,3 0,6 30,620-50 Fina 7,0 5,9 0,8 21 142 80,5 16,7 0,7 2,1 4,820-50 Gros. 5,2 3,9 0,6 66 158 75,1 13,8 1,5 9,7 5,520-50 Gros. 6,3 5,2 1,8 24 100 87,5 6,8 1,7 4,1 12,8

    (*) expresso em percentagem da capacidade de troca catinica.

    A maioria das amostras mostra uma textura mdia com reaco

    de pouco cida a pouco alcalina. A matria orgnica relativamentebaixa em todas as amostras e nas duas profundidades. Os dois ltimos

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    pomares apresentam valores baixos ou muito baixos de fsforo epotssio assimilveis e um valor muito baixo da capacidade de trocacatinica. Esta dominada pelo clcio, deixando prever algumadificuldade na absoro de outros caties. Em particular, a absorodo magnsio deve ser bastante difcil nos dois primeiros pomares,cujos valores da relao clcio/magnsio so bastantes elevados.

    Em suma, no se dispondo ainda de estudos especializados sobreas exigncias e a adaptao da Ginja de bidos e Alcobaa, em pfranco ou com porta-enxertos, apenas se poder recomendar prudnciana escolha de solos, ou seja, que sejam bem drenados, de textura franca,

    franco-argilosa, franco-arenosa ou argilo-arenosa, de ligeiramente cidosa ligeiramente alcalinos, dependendo da escolha do porta-enxerto.

    Propagao e Porta-enxertos

    A ginjeira uma planta que emite com facilidade rebentos ouplas a partir das razes (Sobreiro e Lopes, 2003; Webster, 1996b).A sua auto-propagao , por este motivo, bastante fcil, o que

    levou formao de bosques semi-naturais densos. Como refereSilva e Alarco (1999), a ginjeira uma planta que se naturalizamuito facilmente. Devido a esta fcil propagao vegetativa (dep franco), a constituio de novos povoamentos da Ginja debidos e Alcobaa tem sido feita tradicionalmente atravs datransplantao das plas radiculares (Fig. 17), o que poder justificara sua permanncia em certasreas especficas ao longo dosanos.

    Figura 17 Aspecto da colonizao doespao por emisso de plas radiculares.

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    No entanto, esta caracterstica pode tornar-se bastanteprejudicial quando se quer ter uma cultura alinhada, com espaosde entrelinha que facilitem a passagem de pessoas e mquinas, poisexige interveno contnua para eliminar os rebentos que aparecempor toda a parte. Por tal motivo, hoje em dia deve recomendar-se autilizao de porta-enxertos, com menos rebentao de plasradiculares, enxertados de borbulha ou de garfo, com as cultivaresdesejadas, neste caso, com a Ginja de bidos e Alcobaa.

    Desta situao resulta, tambm, uma nova dificuldade, aobteno de plantas para as novas plantaes, j que os viveiros

    no dispem desta cultivar enxertada. Normalmente, s possuemginjas Garrafais, menos propensas emisso de plas radiculares,logo, mais difceis de propagar de p franco. A procura de plantasda Ginja de bidos e Alcobaa tem levado alguns viveiristas aquerer enxertar esta cultivar, mas outro problema surge quando sequestionam sobre o porta-enxerto a utilizar. Infelizmente, no hem Portugal qualquer estudo, ensaio, coleco ou dados publicadosque incluam cultivares de ginjeira em diferentes porta-enxertos.Mesmo os estudos em outros pases s incluiro as cultivares com

    interesse local, no as portuguesas, muito menos uma to restritacomo a que s existe numa regio de Portugal e cuja utilizao serestringe, quase exclusivamente, produo de um licor artesanal.

    Qui seja nesta restrita divulgao e conhecimento da planta queproduz o fruto, mais do que do licor que produzido, que reside osegredo da qualidade e especificidade da Ginja de bidos e Alcobaa.Para a generalidade das pessoas, a compra de ginjas nos mercados nolhes permite perceber as diferenas entre as que so produzidas embidos e Alcobaa e as produzidas nas restantes regies do pas. ,

    pois, do interesse local, tambm, pugnar pela manuteno desta cultivar,evitar a importao de frutos de outras regies e cultivares, precaver acompra apressada de plantas nos viveiros sem ter segurana do materialvegetal e estudar o melhor porta-enxerto para a cultivar e para os solosda regio de bidos e Alcobaa.

    Enquanto tal estudo, que demorar alguns anos, no derresultados concretos, pode sempre recorrer-se aos porta-enxertosde cerejeira, mais conhecidos e divulgados. Se o viveiro ainda notem as plantas, o agricultor pode sempre recorrer constituio de

    um viveiro prprio, atempadamente, para dispor das plantas nomomento da plantao, ou enxertar no local definitivo.

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    Tradicionalmente, os porta-enxertos mais utilizados para acerejeira eram obtidos a partir de semente. Actualmente, tm sidoobtidos e utilizados diversos porta enxertos de origem clonal,seleccionados em funo de caractersticas adicionais, tais comoresistncia a doenas ou controlo do vigor (Webster e Schumidt,1996). O Quadro 7 resume algumas caractersticas de alguns porta--enxertos mais utilizados na cerejeira.

    Uma das caractersticas mais importantes na escolha de um porta--enxerto o vigor que o mesmo transmite cultivar nele enxertada.Deste modo, como a ginjeira uma planta menos vigorosa que a

    cerejeira, a escolha do porta-enxerto deve recair em porta-enxertosque induzam um vigor mdio (50 a 75% de reduo do vigor,relativamente ao P. avium), uma vez que o vigor reduzido dos porta--enxertos mais ananicantes pode levar a uma florao demasiadoprecoce e a uma tendncia para o excesso de produo, debilitandoa planta, apesar da maior eficincia produtiva (Bujdoz et al., 2004).

    Quadro 7 Porta-enxertos utilizados nas culturas da cerejeira e ginjeira e suas principaiscaractersticas.

    Caractersticas dos Vigor Resistncia Resitncia Resitncia Emisso Sensibili- Compati- Soloporta-enxertos ao calcrio asfixia secura de plas dade ao bilidade pesado

    Agrobac- (gingeira)terium

    P. avium(F12/1) Elevado Baixa Baixa Baixa _ Baixa Sim Sim(100%)

    P. malaheb= Mdio SolosSanta Lcia 64 (80%) Boa Baixa Boa _ Baixa _ arenosos

    ou francos

    Maxma 14= Semi- Mdia _ Baixa Sem Baixa Sim SimBrokforest (P. ananicante ou baixamalahebx P. avium) (40%)

    Maxma 97= Semi- _ _ Baixa Sem Baixa Sim Sim

    Brokgrove (hib. SL) ananicante ou baixa(60%)

    Colt(P. Aviumx Mdio Mdia Baixa Baixa _ Alta _ _ xP. pseudocerasus)

    GM 61/1(Damil) Semi- _ _ Baixa Sem _ Sim _ (P. dewyckensis) anan icante ou baixa

    (40%)

    GM 9(Inmil) Ananicante _ _ Baixa Sem _ Sim _ (P. incivax P. serrula) (30%) ou baixa

    Morello(Cab 6P, Semi- _ Mdia Boa Sim _ Sim SimCab 11E) (P. cerasus) anan icante

    (50%)

    Fonte: Sobreiro e Lopes (2003).

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    desequilbrios na disponibilidade e absoro dos nutrientes do soloe na qualidade dos produtos e pela poluio dos lenis freticos;a rega, pela utilizao, por vezes excessiva, de um recurso cadavez mais escasso e pelo risco de desequilbrios na qualidade dosprodutos e do ambiente; os tratamentos fitossanitrios, pelautilizao de produtos qumicos que podem deixar resduos nosprodutos e ser txicos para o homem, auxiliares e ambiente.

    Para aplicar racionalmente os factores de produo, uma dasmedidas mais importantes da Produo Integrada, muitas vezesignorada, a monitorizao. Embora esta j se pratique com alguma

    regularidade na Proteco Integrada com vista estimativa de riscoe determinao do nvel econmico de ataque de algumas pragasmais importantes, a sua utilizao ainda muito restrita ao nvelde outras prticas culturais, tais como na determinao dasnecessidades e tcnicas de fertilizao e de rega, na poda e mondade frutos e na qualidade intrnseca dos frutos.

    Se o sc. XX foi o sculo da exploso da Agricultura Cientfica,o princpio do sculo XXI est a introduzir uma nova conscinciasocial e ambiental actividade agrcola. Que os fundamentalismos

    vrios no venham a trazer um sculo de obscurantismo naagricultura, mas sim um sculo de uma nova e mais esclarecidaagricultura: a Agricultura Monitorizada. H que monitorizar aactividade agrcola, as necessidades e a aplicao de factores deproduo, a qualidade dos produtos e do ambiente. S assim sepodero evitar e corrigir os erros do passado sem se cair nosexageros alarmistas que por vezes chegam ao consumidor.

    Os actuais problemas ambientais da agricultura, tanto na moda,no so s da responsabilidade dos agricultores. Toda a sociedade

    globalmente contribuiu para tal, exigindo alimentos em quantidade,com boa aparncia e a baixos preos e pondo disposio dosagricultores as necessrias tecnologias. Os agricultores tm decontinuar a desempenhar o seu papel fundamental de produziralimentos para uma populao mundial sempre crescente.

    Preparao e Manuteno do Solo

    A preparao do solo um factor muito importante no sucessode qualquer plantao. nesta fase que se devem realizar os

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    trabalhos necessrios para evitar problemas futuros e garantir osucesso da plantao durante o seu perodo de vida til. Entre osaspectos mais importantes a ter em conta na preparao do terreno,salientam-se a proteco contra a eroso, a garantia de uma boadrenagem superficial e interna e a correco ou melhoria dafertilidade dos solos. nesta fase que se tornam importantes edecisivas as anlises fsico-qumicas aos solos, para decidir dasoperaes a realizar e determinar o tipo e as quantidades decorrectivos a aplicar na fertilizao de fundo.

    A manuteno da superfcie do solo durante o perodo de vida til

    do pomar tambm um factor importante para a cultura. De facto,uma boa manuteno da superfcie do solo permite manter ou melhoraras condies de defesa contra a eroso, de drenagem e de fertilidadedo solo criadas com a preparao do terreno (Amaro, 2003).

    Um sistema misto de manuteno da superfcie do solo, quecombine o enrelvamento na entrelinha com o controlo da floraadventcia na linha atravs do recurso a herbicidas, parece ser omais vantajoso. O enrelvamento promove o aumento da matriaorgnica, a melhoria da estrutura do solo e a sua permeabilidade,

    actuando como reserva de nutrientes, prevenindo a lixiviao e aeroso, facilitando a passagem das mquinas e actuando comorefgio dos auxiliares e predadores. A eliminao da flora adventciana linha evita a competio pela gua e pelos nutrientes e destri ohabitat favorvel aos roedores (Hogue e Looney, 1996).

    A Figura 18 mostra o aspecto de um pomar de Ginja de bidos eAlcobaa em sistema de manuteno mista da superfcie do solo. Ocorte da vegetao na entrelinha deve ser feito com um destroadorde martelos ou correntes, a primeira vez no fim do Inverno (Maro--Abril) e a segunda, se necessria, no final da Primavera (Maio-Junho).

    O herbicida deve ser aplicado essencialmente para combater aflora adventcia de Primavera e as plantas vivazes ou as perenes,caso existam. Neste sentido, a flora de Primavera pode ser combatidaem pr-emergncia (com herbicidas residuais, at Janeiro ouFevereiro) ou em ps-emergncia (com herbicidas sistmicos ou decontacto, em geral a partir de Maro). As plantas vivazes e as perenesdevem ser combatidas no final da sua poca de crescimento, quando

    comeam a acumular reservas (com herbicidas sistmicos, do finalda Primavera ao Outono). As espcies adventcias de Outono

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    Inverno cujo ciclo se prolongue at ao Vero tambm devem sercombatidas, com herbicidas sistmicos ou de contacto, antes doabrolhamento das ginjeiras (at Maro), podendo conjugar-se comos tratamento de pr ou ps-emergncia. A escolha do herbicidadeve estar condicionada poca de aplicao e ao tipo de floraadventcia.

    Conduo e poda

    No seu sentido mais lato, como definido por Castro e Cruz (2005),o sistema de conduo engloba todas as operaes directas sobre asplantas e as decises ao nvel da geometria de plantao, relacionadascom a ocupao do espao areo (coberto vegetal) e que influenciamdirectamente o microclima luminoso envolvente das plantas.

    O aspecto mais importante do microclima a radiao, j que aintercepo da luz necessria para a fotossntese, ou seja, para aproduo dos hidratos de carbono necessrios manuteno e formao de novas estruturas da planta (Flore e Layne, 1990). Aintercepo da radiao depende directamente da disposio dasplantas no terreno (densidade, compasso, orientao das linhas) eda arquitectura das partes lenhosas e permanentes da planta (formade conduo). A eficincia com que a luz interceptada depende,ainda, da forma do coberto vegetal (altura, largura e volume daplanta ou da sebe de vegetao) e com a manuteno das condiespara uma boa penetrao da luz, aumentando a exposio foliar einfluenciando a disposio/distribuio da rea foliar (podas,empas, operaes em verde).

    As necessidades de mecanizao e circulao nos pomares, paraos amanhos culturais e para a colheita, impedem que o cobertovegetal seja contnuo, ou seja, que a copa das r vores cubracompletamente todo o espao disponvel. Logo, h sempre perdade radiao directamente para o solo. Para minimizar essas perdas,s existem dois caminhos: aumentar o nmero de rvores porhectare ou aumentar o tamanho da copa. O aumento de densidade mais caro (maior custo em plantas) mas pode compensar emprecocidade e quantidade de produo. O aumento de tamanho

    tem menor custo em plantas, mas demora mais tempo a atingir aplena produo.

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    Figura 18 Sistema misto de manuteno da superfcie do solo (enrelvamento e herbicida).Em cima: aspecto do pomar algumas semanas aps a aplicao do herbicida (foto de 9 deMaro). Em baixo: aspecto da flora adventcia alguns dias aps a passagem com destroador(foto de 23 de Junho).

    Independentemente destas vantagens e inconvenientes, qualquerdas opes tem um outro seno: quanto maior a intercepo da luz,

    ou seja, quanto melhor a cobertura do terreno pela copa das rvores,menor a eficcia com que a luz captada, uma vez que muitasfolhas ficam ensombradas e no fazem fotossntese, tornando-separasitas. Quando se aumenta a densidade, aumenta oensombramento de umas plantas sobre as outras. Quando se aumentao tamanho, alm da sombra de umas rvores sobre as outras, diminuia penetrao de luz no interior da copa.

    O aumento de densidade tem que ser acompanhado de umareduo do tamanho e do vigor da planta, normalmente com porta-

    -enxertos mais ananicantes. So sistemas verticais, em superfcie,concebidos para receber luz lateralmente. Adaptam-se naturalmente

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    a esta forma todas as plantas com tendncia a formar um eixocentral. As plantas que no formam facilmente um eixo centraltendem naturalmente para formas volumosas, com copas redondas,concebidas para receber a luz por cima. A forma em vaso nasceuda necessidade de abrir as copas para a penetrao da luz no interiordas copas. Quando a planta demasiado vigorosa (falta de umporta-enxerto adequado, por exemplo) e se quer um sistema emsuperfcie ainda se pode optar por um sistema menos denso, tipopalmeta (palmeta de 2 ou 3 eixos, por exemplo), embora exigindomais trabalho e meios. Quando a planta no forma facilmente um

    eixo central, tambm possvel intensificar o pomar recorrendo asistemas tipo Y (por exemplo, as modernas taturas), que no sonaturais da planta, exigindo mais cuidados e armao especial.

    Os hbitos de frutificao e de vegetao das plantascondicionam a escolha da melhor forma de conduo para o pomar.Pelo seu porte tendencialmente semi-erecto a prostrado e comvegetao pendente, a ginjeira adapta-se bem a formas de conduoem volume (tipo vaso), embora tambm se possam utilizar sistemastipo tatura, palmeta e vrias modificaes do eixo central (Flore et

    al., 1996). A escolha do compasso condicionada pelo vigor daplanta e pela forma de conduo. Para a forma de conduo emvaso, os compassos devem situar-se entre 4 a 4,5 m na entrelinha e2,5 a 3,5 m na linha (Sobreiro e Lopes, 2003). Para sistemas emtatura, os compassos podem ser mais apertados, podendo atingirdensidades at 3000 plantas/ha (Flore et al., 1996), desde que seutilize o porta-enxerto adequado.

    Para a Ginja de bidos e Alcobaa, o porte prostrado e os ramospendentes parecem indicar uma dificuldade acrescida na obteno e

    manuteno de sistemas tipo eixo ou tipo palmeta. Desta forma,para sistemas de plantao de baixa ou mdia densidade e conduoem vaso, os compassos podero situar-se nos valores atrs referidospor Sobreiro e Lopes (2003). Para sistemas de maior densidade,conduzidos em tatura, os compassos podero ir dos 4 - 4,5 m naentrelinha a 1 - 1,5 m na linha. No convm utilizar, no entanto, oscompassos mais apertados com porta-enxertos vigorosos.

    Pode parecer que a Ginja de bidos e Alcobaa no deva sercultivada to intensivamente. No ser da tradio ou poderestragar a qualidade, mas a realidade tem mostrado que o preo

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    dos produtos tende a estabilizar ou a descer, enquanto o preo dosfactores de produo aumentar sempre (mo-de-obra, gua,produtos qumicos, energia). Alm de caros ou escassos, algunsfactores de produo tm levantado questes ao nvel da seguranaalimentar e ambiental que pem em causa a sua utilizaosustentvel.

    Com tais condicionantes, a produo tem de ser eficiente. Umprodutor eficiente aquele que sabe aproveitar ao mximo o nicofactor de produo que grtis e amigo do ambiente, a luz solar.A intensificao no da tradio, mas necessria. Se estraga a

    qualidade, porque no se utilizam eficientemente(equilibradamente e de acordo com as necessidades) os outrosfactores de produo.

    A poda vista tradicionalmente como uma operaoindispensvel rvore para regular a produo. No entanto, o papelde regulao da produo deve ser deixado monda de frutos,uma vez que esta se faz quando os frutos j esto vingados, havendomais certeza da carga de frutos a deixar ou a eliminar. A poda eoutras operaes complementares como a empa ou a conduo da

    vegetao em verde so aspectos fundamentais da gesto davegetao, no na gesto da produo. Isto porque as intervenesde poda s se devem efectuar na exclusiva medida em que sejamnecessrias para melhorar o aproveitamento da luz solar, emparticular quando em presena de sistemas de plantao maisdensos.

    Em sistemas verticais, em superfcie, a poda essencial paraeliminar ramos demasiado longos ou densos, especialmente naspartes altas da copa, pois provocam ensombramento sobre as partes

    mais baixas. Em sistemas em volume, essencial para evitar oexcesso de ensombramento no interior da copa. Para garantir aentrada de luz no interior do vaso (ou da tatura) e a renovao dosramos frutferos, para reduzir o vigor dos ladres no interior dacopa e para evitar possveis infeces nas feridas, recomenda-seque a poda da Ginja de bidos e Alcobaa deva ser feita comregularidade e durante o perodo vegetativo (Figura 19).

    A Figura 20 mostra um aparelho que mede a transmisso da luzfotossinteticamente activa (PAR) atravs da copa da rvore. A suautilizao um meio fundamental para avaliar as necessidades de

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    poda, uma vez que uma copa opaca intercepta muita luz, mastem muitas folhas ensombradas no interior, enquanto uma copatransparente tem as folhas bem iluminadas, mas uma parteimportante da luz perde-se para o solo. Alm disso, a utilizao doaparelho permite determinar, por meios indirectos, o ndice de reafoliar e a produtividade fotossinttica.

    Figura 19 Poda da ginjeira. Em cima: poda de formao. Em baixo: aspecto da rvore antes(esquerda) e aps (direita) a operao de poda.

    Fertilizao

    O estado nutritivo da ginjeira um aspecto que merece atenoespecial, pois a aplicao de factores de produo est cada vezmais condicionada por imperativos de qualidade e segurana

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    alimentar e ambiental, para alm dos factores econmicos etcnicos que envolvem a aplicao de fertilizantes.

    Figura 20 Medidor da transmisso da radiao PAR (radiao fotossinteticamente activa)atravs da copa.

    No entanto, do conhecimento geral que a absoro denutrientes no depende apenas da fertilizao aplicada. Outrosfactores, como a manuteno do solo, a intensidade da luz, atemperatura, a precipitao, a idade das rvores, a cultivar, o porta--enxerto, o estado de desenvolvimento da planta e a produopodem influenciar a absoro dos nutrientes (Jadczuk e Sadowski,1997). Alguns aspectos mais importantes relativos fertilizaoda ginjeira so os seguintes:

    A poca de aplicao dos adubos azotados deve ser na Primaverae at ao incio do Vero (Maio-Junho), uma vez que as aplicaestardias afectam negativamente a florao, o nmero de florespor gomo e por rvore, o vingamento e a produo no anoseguinte. Por outro lado, aumentam tambm o risco de lixiviaodurante o Outono e Inverno (Lindhard e Hansen, 1997).

    Com o aumento do nvel de azoto na fert i lizao, aconcentrao de azoto nas folhas, o crescimento de ramos e

    de folhas e a acidez nos frutos aumentam, enquanto a percentagem

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    A utilizao de bio-reguladores pode ser til para resolveralguns problemas pontuais relacionados com a polinizao ea fecundao, sejam devidos a causas biolgicas ouambientais (Chitu et al., 1997).

    Algumas deficincias ou excessos originam sintomas especficosque podem ser facilmente detectveis pelo fruticultor. Contudo,devido s mltiplas interaces entre os diferentes elementos e forma como as plantas se adaptam e se manifestam em situao decarncia de cada elemento, a rvore pode ser deficitria em um ou

    mais nutrientes sem que se identifiquem sintomas ou efeitosnotveis na capacidade produtiva das plantas (Fernndez-Escobar,2001). por isso que se deve proceder a um diagnstico maispreciso, tendo os nveis dos nutrientes nas folhas sido consideradoscomo um bom indicador do estado nutricional das plantas. OQuadro 8 mostra os teores dos nutrientes nas folhas da ginjeira,para os quais se reflectem os nveis considerados adequados ousuficientes, deficientes e excessivos.

    Quadro 8 Nveis nutricionais de referncia nas folhas de cerejeira e ginjeira.

    Nutriente Deficincia Suficiente Excessivo

    N (%) 2,2 3,4 > 3,4F (%) < 0,08 0,16 0,4 > 0,4K (%) < 1,0 1,0 3,0 > 3,0Ca (%) 0,7 3,0Mg (%) < 0,24 0,4 0,9 > 0,9S (%) 0,13 0,8B (ppm) < 20 25 60 > 80Cu (ppm) 5 20Fe (ppm) 20 250Mn (ppm) < 20 20 200

    Zn (ppm) < 10 15 70Fonte: Shear e Faust (1980) e Huguet (1984), cit. Hanson e Proebsting (1996).

    A utilizao das anlises foliares e a sua comparao com osvalores de referncia, como a que se mostra no Quadro 8, constituium precioso auxiliar na prtica da fertilizao, mas apresentaalgumas limitaes: os nveis de nutrientes nas folhas no serelacionam directamente com os nveis de produtividade dasplantas; necessrio padronizar a poca de amostragem,

    normalmente uma poca em que os nveis dos nutrientes sejammais estveis; as pocas de amostragem so em geral prximas do

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    Os Quadros 9 e 10 apresentam os valores das anlises foliares scinzas e ao fluxo flomico, respectivamente, em algumas amostrascolhidas em diferentes pomares de Ginja de bidos e Alcobaa.

    Quadro 10 Valores das anlises fol iares seiva em trs amostras de folhas de Ginja debidos e Alcobaa (data de amostragem: 28/05/2007).

    pH 5,5 5,2 5,6Condutividade elctrica (mS/cm) 10 6,5 9,4

    Azoto ntrico (mg/l) 4 0 2Azoto amoniacal (mg/l) 21 19 17Fsforo (mg/l) 277 242 307Potssio (mg/l) 2387 1765 2972Magnsio (mg/l) 296 297 265

    Enxofre (mg/l) 39 38 24Clcio (mg/l) 562 483 574Sdio (mg/l) 212 25 38Cloro (mg/l) > 2300 1602 1669Mangans (mg/l) 1,6 3,1 14,0Boro (mg/l) 2,05 1,59 0,68Cobre (mg/l) 0,74 0,68 0,63Ferro (mg/l) 0,4 0,5 0,4Zinco (mg/l) 3,4 2,2 2,8Molibdnio (mg/l) 0,03 0,08 0,05

    Alumnio (mg/l ) 0,19 0,48 0,62

    A colheita das amostras foi realizada na 2 quinzena de Maio, acerca de um ms e meio da colheita. Apesar de poder no ser a datamais propcia para comparar com os valores de referncia (Quadro 8),os valores das anlises s cinzas apenas deixam notar valores elevados(excessivos) de azoto total e ligeiramente baixos de magnsio. Osvalores excessivos de azoto podem influenciar negativamente aqualidade dos frutos. A deficincia relativa de magnsio poderjustificar-se pela elevada relao Ca2+/Mg2+ resultante da elevadasaturao do complexo de troca catinica com clcio.

    Os resultados das anlises seiva, tomando como orientaovalores observados na mesma poca em outras prunideas,indiciam, pelo contrrio, um relativo equilbrio vegetativo da rvore,mas do qual ser de esperar uma produo baixa e de m qualidade.Elementos como o fsforo e o potssio andaro por metade daconcentrao desejvel, no s em prunideas, mas tambm empomideas, na regio considerada. Em consequncia, as folhaspodero no atingir a sua expanso mxima e os frutos, se a cargaestiver equilibrada na altura em que as anlises foram feitas, teriam

    calibre sempre pequeno, podendo muitos deles parar de crescer emumificar sem chegar maturao (J.M.S. Martins, com. pessoal).

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    45 cm, mais vigorosos, com mais flores por gomo e uma elevadadensidade de florao (Dencker e Hansen, 1994).

    Ao contrrio do que o agricultor comum possa pensar, a plantano se alimenta dos adubos que ele aplica. Os elementos mineraiscontidos nos adubos so essenciais, mas servem apenas para que afbrica dos acares (nas folhas) trabalhe eficientemente.Portanto, com fertirrigao ou com fertilizao por via foliar oucom aplicao ao solo, o importante poder actuar sobre as plantasem tempo oportuno e com as quantidades necessrias para que aplanta cumpra eficientemente a sua misso de produzir.

    A fertilizao da Ginja de bidos e Alcobaa deve ser cuidadosa,como em qualquer cultura, pelo custo que importa e pela perda dequalidade que uma fertilizao desequilibrada, principalmente oexcesso de azoto, pode significar. Como tal, no correcto dizer--se que a fertilizao prejudica a qualidade ou que a qualidade s boa nas rvores tradicionais (semi-abandonadas). Tratando-se deum produto para transformao, cuja qualidade depende doequilbrio entre os diferentes constituintes qumicos do fruto, oimportante conhecer a forma como a fertilizao influencia,

    positiva e negativamente, aquele equilbrio, de forma a reduzir asvariaes anuais de produtividade e de qualidade.

    Rega

    O principal objectivo da rega fornecer s plantas a quantidade degua necessria para compensar total ou parcialmente a que perdidapor evaporao directa do solo e por transpirao das plantas. A taxaa que essa gua deve ser fornecida, ser funo das caractersticas dossolos, das condies climticas e da cultura, nomeadamente do seuestado de desenvolvimento (Oliveira e Maia, 2003).

    A crescente escassez de gua, como recurso natural, tem levado adopo de sistemas de rega que evitem perdas e permitam umaboa gesto dos recursos hdricos. Desta forma, tem sido cada vezmaior o interesse pela rega localizada, nomeadamente a rega gota--a-gota, qual se deve um elevado potencial para reduzir tanto a

    procura de gua como os custos que esto associados rega: energiae mo-de-obra (Oliveira et al., 2003).

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    se a rega for feita sem controlo e sematender s necessidades da planta em cadamomento do seu desenvolvimento. Nestecontexto, tudo est para estudar.

    Figura 21 Sonda DIVINER 2000, para medio da guaarmazenada no solo.

    Figura 22 Cmara de presso para medio do potencial hdrico foliar.

    Proteco Integrada

    A proteco das plantas contra os agentes causadores de doenase pragas um factor fundamental para a obteno de boas produesem quantidade e qualidade (Mink e Jones, 1996). No entanto, ocombate a esses agentes geralmente efectuado com o recurso asubstncias qumicas, mais ou menos txicas para o Homem enocivas para o equilbrio biolgico e ecolgico do pomar.

    A crescente preocupao das ltimas dcadas com as questesde segurana alimentar e ambiental levou ao conceito de ProtecoIntegrada das Plantas, dando prioridade aos meios de luta culturais,

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    reduzindo a esporulao nos tecidos infectados e as fontes deinculo hibernante (Ogawa et al., 1995).

    O cobre (em pr-abrolhamento) e o bitertanol so as substnciasactivas recomendadas em Proteco Integrada para o combate moniliose. O tirame ou o zirame tambm se podem utilizar,complementarmente, num mximo de duas aplicaes (Cavaco etal., 2006).

    Crivado

    O crivado uma doena caracterstica das Prunideas, sendocausada pela infeco do fungo Wilsonomyces carpophilus (Lv.)Adaskaveg, Ogawa & Butler), que anteriormente j pertenceu aosgneros Clasterosporium, Coryneum e Stigmina (Ogawa et al., 1995).

    Durante o Inverno, o fungo infecta e destri os gomos dormentes,mas tambm afecta frutos, folhas e ramos (Wilson, 1937). A infecodo crivado nas folhas manifesta-se inicialmente com uma manchaavermelhada tornando-se numa necrose, que se destaca, formando

    um orifcio arredondado (Fig. 25). Nos ramos, poder haver aformao de goma, a qual evidencia uma reaco infeco. Nosfrutos, formam-se manchas acastanhadas (Grove, 2002).

    Os sintomas de crivado nas folhas poderoconfundir-se com infeces de Pseudomonassyringae (Van Hall). No entanto, podemdistinguir-se pelos orifcios mais perfeitos earredondados com uma mancha avermelhada volta da ferida, enquanto os orifcios

    provocados por P. syringae, apresentam bordosamarelados (Shaw et al., 1990).

    Figura 25 Aspecto das folhas de ginjeira com sintomas decrivado (Wilsonomyces carpophilus).

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    complementar, j que no existem substncias activasrecomendadas em Proteco Integrada (Cavaco et al., 2006).

    A larva-lesma (Caliroa cerasi L.) um himenptero que causaestragos ao nvel das folhas, apenas quando se encontra no estadode larva (Fig. 26), alimentando-se do parnquima foliar e deixandoas nervuras e a cutcula inferior das folhas. Ataques sucessivosprovocam uma diminuio da actividade fotossinttica, afectando oestado nutricional e reduzindo o crescimento vegetativo e a produode frutos dos anos seguintes (Aslantas et al., 2007; Pino et al., 2007).

    Figura 26 Aspecto dos prejuzos causados pela larva-lesma.

    O controlo desta praga feito com a aplicao de insecticidas

    organofosforados e/ou piretrides, mas, devido ao elevado riscode persistncia de resduos nos frutos, torna-se desaconselhada asua utilizao. Outros produtos base de cidos gordos, que actuamfisicamente sobre as larvas, devero ser utilizadospreferencialmente (Pino et al., 2007).

    Estudos recentes prometedores parecem indicar uma elevadaeficcia da utilizao de suspenses do fungo Beauveria bassiana(Bals.-Criv.) Vuill.) no controlo da larva-lesma (Aslantas et al., 2007).Tambm a actividade predadora de alguns auxilia res, como

    Brontocoris nigrolimbatus (Spinola), mostrou alguma capacidade nocombate quela praga (Rebolledo et al., 2006).

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    Colheita

    A colheita da ginja deve ser uma operao efectuada emtempo oportuno, pois a maturao do fruto ocorre em poucosdias. Contudo, a maturao dos frutos no ocorresimultaneamente em todos eles, sendo por isso desejvel umacolheita escalonada. Para alm disso, h que considerar o destinoda produo, para fresco ou para transformao em doces ou

    licores (Brown e Kollr, 1996).A colheita, quer de ginjas quer de cerejas, uma operao

    particularmente morosa e dispendiosa devido ao pequeno tamanhodo fruto. Sobreiro e Lopes (2003) referem um rendimento dacolheita da cereja entre 7,5 e 12 kg/hora/trabalhador, com frutosde 8 a 10 g. Para a ginja, o rendimento da c