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Curso PSICOMOTRICIDADE
Disciplina
LINGUAGENS EXPRESSIVAS
Curso PSICOMOTRICIDADE Disciplina
LINGUAGENS EXPRESSIVAS
Eveline CARRANO Gerassina COSTA
Ivan COROMANDEL Juliana OHY
Maria Estela LOPES Naila BRASIL Renata CURY
Virginia de SOUZA
www.avm.edu.br
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Olá meu nome é RENATA CURY e sou Arteterapeuta e pós graduada em
Arte e Educação pela Candido Mendes. Hoje estou em formação Reichiana. O estudo do corpo sempre me atraiu e não vejo como ter êxito no meu trabalho se não ver o ser humano como um todo. Procuro trazer as minhas vivências para o meu espaço, tanto nos atendimentos individuais
como no grupo. O estudo do corpo é muito encantador.
Sou JULIANA OHY, formada em Psicologia. Possuo cursos na área clínica focados em Psicodiagnóstico infantil, Psicologia Junguiana, Dançaterapia; Minha experiência profissional engloba tanto a área clínica em hospital psiquiátrico, atendimento clínico individual e em grupo; como a área escolar, auxiliando no processo psicopedagógico na educação infantil.
Minha profissão é sem dúvida minha maior realização atualmente.
Olá! Meu nome é GERASSINA CARVALHO. Trabalho atualmente como docente e atuo também como Supervisora Pedagógica na rede pública de
ensino. Fico feliz com o convite de fazer parte desta instituição de ensino tanto como aluna que fui concluindo Pós Graduação em Arteterapia e como professora conteudista para uma área que é a fotografia. Espero que possa ajudá-los nesta caminhada sempre que precisar.
EVELINE CARRANO HENRIQUES PORTO, psicóloga, arteterapeuta, arte-educadora; pós-graduada com especialização em Psicoterapia Junguiana e o Imaginário (PUC-RJ) Terapia de Família (UCAM-RJ) e Arteterapia na Saúde e na Educação (UNIRIO); curso de mestrado na área de Psicologia Social e da Personalidade (FGV - RJ). Professora na Pós-Graduação em Arteterapia e Psicopedagogia e Terapia de Família no Projeto A Vez do Mestre (UCAM - RJ) na Graduação do curso de Pedagogia (UCAM - RJ); na
Pós-Graduação (UVA - RJ). Membro Fundador da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro - AARJ.
Olá! Eu me chamo NAILA BRASIL. Sou professora de Música (estudei na Escola Nacional de Música da UFRJ), especialista em Arteterapia (UCAM) e também Arteterapeuta (formada pela Clínica Pomar): tudo no Rio de Janeiro, onde nasci e onde resido. Tenho trabalhado dando aulas de
música e também de história da arte. Um grande abraço.
Sou VIRGINIA MARIA CASTILHO RIBEIRO DE SOUZA, carioca, de 1955, setembro. Estou Mestre em Design, PUC / RJ, na linha de Pesquisa Design: Tecnologia, Educação e Sociedade, 2005: pelo LILD (Lab. Living Design,). Trata-se de Design em trabalhos lúdicos para Arte-terapia em Educação e Saúde, pesquisa aplicada no Ensino Básico da rede pública, em nosso Estado do Rio de Janeiro. Um estudo de casos envolvendo
materiais biológicos como bambu e flores, com a linguagem da música e dança, como atividade complementar pedagógica para Matemática, Ciências Naturais e Português. Sou Pesquisadora-Associada do NIMA, Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente, pelo NimaEdu, Sou Professora I
de Artes da Rede estadual do Rio de Janeiro, Município de Nova Iguaçu, Ciep 390, Chão de Estrelas.
MARIA ESTELA LOPES possui graduação em Psicologia pela Faculdade de Humanidades Pedro II (1975). Atualmente é professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá. Tem experiência na área de Psicologia, com
ênfase em Psicologia. É especialista em arteterapia na Educaçãoe e Saúde pela Universidade Cândido Mendes e professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá.
Meu nome é IVAN COROMANDEL. Sou Psicanalista, ex-membro fundador da formação freudiana do Rio de Janeiro. Sou formado em arteterapia e sou professor de história da arte e educação artística. Sou arte-educador.
Como psicólogo do município do Rio de Janeiro formei núcleos de artes para crianças e dei supervisão para os núcleos de arte e criatividade para
psicólogos do município do Rio de Janeiro. Faço palestras e neste ano de 2009 lanço meu livro sobre paradigma ético-estético na psicanálise.
Su
mário
07 Apresentação
09 Aula 1
Corpo e expressão
35 Aula 2 Linguagens literárias
65 Aula 3 Música
97 Aula 4 Dança
127 Aula 5 Teatro
163 Aula 6
Fotografia, cinema e computação gráfica
203 AV1 Estudo dirigido da disciplina
206 AV2 Trabalho acadêmico de
aprofundamento
208 Referências bibliográficas
Linguagens Expressivas
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ão
Olá Caros alunos neste caderno apresentaremos as diversas
linguagens expressivas, distribuídas em 6 aulas. A primeira aula
trataremos do tema corpo e as mais diversas expressões, onde
abordamos a importância da consciência corporal. Na segunda
aula o nosso encontro está marcado no prazer da literatura e suas
diversas expressões, conhecendo um pouco mais sobre as
linguagens literárias. Na terceira aula é hora de ouvir música e
seus encantos, compreendendo sua importância para a formação
do ser. Na quarta é hora de dançar e trazer o movimento para o
nosso dia a dia.
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Este caderno de estudos tem como objetivos:
Conhecer a aplicar as diferentes linguagens expressivas;
Entrar em contato com dinâmicas e conteúdos das linguagens
expressivas;
Aprender a utilizar as diversas formas expressivas em sintonia
com o corpo e o movimento.
Corpo e expressão
Renata Fiani Cury
Juliana Bastos Ohy
AU
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1
Ap
res
en
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ão
Olá, seja bem vindo! Você agora vai entrar em contato com o
mundo corporal. O corpo aqui vai ser abordado dentro de uma
visão de integração entre corpo, mente, espírito e o meio. Para
isso vamos despertar a consciência corporal e a sua importância
na forma de expressão. Vamos manter um diálogo com o nosso
corpo. Para que isso ocorra, aqui vai um convite: Estamos
entrando em um processo de percepção, onde será necessária
uma transformação do olhar para depois poder haver a integração
dessa linguagem no seu dia-a-dia. O processo requer
envolvimento, abertura e ter um objetivo. O objetivo é trabalhar a
consciência corporal.
Segundo Elisabeth Bauch Zimmermann, “Quando pensamos em
educação surgem diante de nós os diversos níveis da existência
humana: o do corpo, o das emoções e da energia, o da mente e
dos valores. Tomo como exemplo um exercício meditativo:
fazendo um gesto que contenha toda nossa pessoa naquele
momento, tal como abrirmos uma das mãos lentamente, de olhos
fechados: reconhecemos a presença de nossa realidade física - a
mão com seus músculos e nervos, a realidade vital - a energia da
moção - e a mental - a intenção de abri-la. Estamos presentes e
vivos nesse único gesto, simples e aparentemente delimitado.
Esse gesto simbólico talvez represente o germinar de uma
semente, o desabrochar das pétalas de uma flor ou o despertar da
natureza com seus primeiros sons na manhã e a expectativa da
chegada de um novo dia. No plano humano e com referência à
educação, pode representar o começo da formação do indivíduo.
Esse movimento de abertura lenta da mão expressa a minha
reflexão neste momento sobre a existência da educação e que
significado ela tem em nossa vida.”
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Estar em contato consciente com o seu corpo;
Entender a importância do trabalho corporal;
Ser capaz de ministrar algumas vivências corporais, inclusive
utilizando a arte como meio expressivo do trabalho de corpo.
Aula 1| Corpo e expressão 10
História do corpo
Vamos abordar a história do corpo dentro da
relação que o homem estabelecia com o seu corpo e
como se dava o processo de cura desde o homem
primitivo. Essa relação é importante, pois vamos
perceber que cada vez mais, com o desenvolvimento do
mundo capitalista e a era mecanicista, o homem foi se
distanciando do seu corpo e se relacionando apenas
com o seu mundo intelectual. Essa relação foi ficando
fragmentada e o homem passou a ser um reflexo dessa
fragmentação. O corpo expressa de diversas formas
essa cisão sendo através da doença, da dor física ou na
não expressão ou expressão parcial de estados
emocionais.
Modelo Primitivo
O xamã (...) ouvia a história do
paciente não em busca do sintoma,
mas para descobrir qual tinha sido o
erro do doente. A doença era sempre a
conseqüência da violação de um tabu
ou de uma ofensa aos deuses. A cura
estava no restabelecimento da ligação
do homem com o divino por
intermédio de arrependimento e
sacrifício.
Nesse sentido, doença e transformação
são conceitos interligados. (...) A
doença pode ter muitas causas
(diferentes transgressões), mas tem
sempre uma finalidade: a
transformação(...).
(Ramos, Denise, p.22)
Neste modelo o homem e a natureza eram um
só. A totalidade era a existência. Não existia uma forma
de ser separada da natureza. As relações se davam a
um nível em que o homem era subjugado pelo poder
das forças da natureza, as quais sua mente não era
capaz de entender.
História do corpo 10 O corpo e a criança 14 O corpo na adolescência 17 O corpo e a meia idade 18 O corpo e sua simbologia 19 Dica de atividade 23 Gestos e posturas 25 O corpo contemporâneo 27 Atividade 28 Respiração 30
Aula 1| Corpo e expressão 11
Modelo Grego
(...) Assim como não é possível
tentar a cura dos olhos sem a da
cabeça, nem a da cabeça sem a do
corpo, do mesmo modo não é
possível tratar do corpo sem cuidar
da alma. (...).
(Platão, 380 a.C., cit. Ramos, p.25)
No séc V ªc surge Hipócrates, pai da medicina
moderna. A busca do conhecimento da natureza no
sentido de entender o funcionamento do corpo fez com
que a palavra tivesse uma importância menor. Mas de
qualquer forma a finalidade maior era a busca do
conhecimento da natureza, e não o desejo de dominá-
la.
Modelo Cartesiano
(...) O corpo podia ser comparado
com uma máquina que funcionaria
igualmente bem ou mal, com ou sem
psique.
(Ramos, Denise, p.27)
Modelo cartesiano, séc. XVIII. Ocorre a
desintegração entre o corpo e a natureza. No modelo
cartesiano ocorre a cisão do homem e sua relação com
o seu corpo. Prevalece o racionalismo e o
determinismo. A visão do todo se perde.
Modelo Romântico
(...) na medicina do futuro, a
interdependência da mente e do corpo
será mais plenamente reconhecida e a
forma como uma poderá influenciar a
outra nem sequer é possível imaginar
agora.
(Lipowiski, 1984, cit. Ramos, Denise,
p.31)
Meados do séc. XIX. Ocorre uma volta a busca
do homem como um ser total e ligado a natureza.
Aula 1| Corpo e expressão 12
Ênfase na maneira de ver, sentir, reagir, própria de
cada pessoa. A doença era vista com um fator ligado a
diversos fatores que não só biológicos. Fatores morais,
psíquicos, espirituais e biológicos.
Modelo Biomédico
Final do séc. XIX. Ocorre o reducionismo,
determinismo e universalismo. O homem não é visto na
sua individualidade, mas de uma forma geral. O olhar
clínico é deslocado dos aspectos individuais para os
aspectos universais da patologia. Séc. XX visão
fragmentada do homem.
Psicossomática
Esse termo parece ter sido usado pela primeira
vez em 1808. Dunbar (1935) trouxe a base principal
para a formação desta área. A psicossomática veio
trazer a união entre corpo e mente. Conteúdos
emocionais e biológicos não podem ser separados.
Existe uma relação entre eles que determinam o estado
de saúde do indivíduo. Alguns teóricos criticam este
termo psicossomática, pois deixa de fora a relação do
homem com o meio externo, social.
Modelo Holístico
Década de 80. Holos=todo. Traz a idéia do todo.
O homem existe em muitos níveis de igual importância:
corpo, mente, espírito, meio. Cada pessoa deve ser
vista como única e tratada como tal. Saúde Integral :
Físico, psíquico-emocional, social e energético.
SOBRE A SOMATIZAÇÃO
É de suma importância entender a o que ocorre
no corpo quando este não se expressa. O corpo que
Aula 1| Corpo e expressão 13
falo aqui não é somente o corpo físico mas também o
corpo emocional. Quando não há espaço para
simbolizar verbalmente a dor emocional, ela vai ser
vivida a nível corporal. O sintoma traz a idéia de que
algo está lhe faltando e traz consigo a possibilidade de
cura, desde que se entenda para que aquele sintoma
apareceu. Segundo Groddeck, pai da medicina
psicossomática, “curar significa interpretar
corretamente o que esta totalidade está tentando
expressar através dos sintomas.”
Observando pessoas que tendem a
reagir aos conflitos internos e externos
através de manifestações somáticas,
Joyce MacDougall relata que muitas
delas se revelam superadaptadas à
realidade e mesmo às dificuldades de
sua existência. Em seu
comportamento, as pessoas são
freqüentemente impelidas à ação em
vez de lidar com os conflitos pela
elaboração psíquica, solicitando
permanentemente dos objetos do
mundo exterior a realização de
funções que deveriam ser asseguradas
por objetos internos simbólicos
ausentes ou comprometidos.
(Mente e Cérebro, Linguagens do
Corpo, Edição Especial nº 14, pág. 11)
O sintoma pode ser vivido através de uma
rigidez corporal. Geralmente as pessoas transitam
muito pouco, flexibilizam pouco os seus movimentos e
sem perceber caem em uma rotina corporal. Não
experimentam transitar pelas diferentes plásticas ou
personagens e ficam prisioneiras delas mesmas. Isso
causa uma rigidez muscular e emocional, que pode ser
flexibilizada através da consciência corporal e da
expressividade. Essa rigidez restringe a capacidade que
a pessoa tem de se comunicar, relacionar, de estar no
mundo de uma forma mais prazerosa.
É importante trabalhar o corpo expressivo desde
cedo, mas se isso não foi possível sempre é tempo de
começar.
Aula 1| Corpo e expressão 14
Vamos estudar o corpo e a criança.
O corpo e a criança
O bebê quando nasce é todo corporal. Não há
uma distinção entre eu-outro. Ele vivencia tudo a nível
corporal. A criança vivencia a eternidade, estando em
um universo que a envolve, a contém, circunda e nutre.
O bebê explora o seu próprio corpo. Esse período é
chamado por Piaget de período sensório-motor.
Esse período vai de 0 até 2 anos de idade e a
criança começa a diferenciar os objetos externos e o
próprio corpo.
Nesta fase os trabalhos corporais devem ser
bastante incentivados. O trabalho deve focalizar o
universo sensorial. Ela vai tentar elaborar, repetindo e
vivenciando as mesmas atividades.
Passar dentro de um túnel (o pano do túnel
deve ter uma certa transparência para a
criança enxergar o lado de fora), onde o
facilitador da atividade deve estar a espera da
criança. É importante ela te ver do outro lado,
pois isso passa segurança.
Dar contorno corporal. A criança nesta fase
gosta de se esconder e aparecer. Pode se
esconder atrás de almofadas, debaixo de
panos... qualquer material que toque o seu
corpo de forma suave e segura.
Fazer trabalhos em cima de panos que
permitem o balanceio da criança.
Como a criança está conhecendo os objetos
externos e o seu corpo também é interessante
trabalhar com 2 bacias de água: uma com água morna
e outra com água fria e a criança colocar as mãos na
água sentindo essas duas temperaturas.
Dica da professora
Dica: Procure conhecer as fases de desenvolvimento de Piaget! É muito importante para o trabalho de arte e corpo!
Aula 1| Corpo e expressão 15
Aos poucos a criança vai criando a percepção de
um envelope corporal. Com o passar do tempo
seguindo o desenvolvimento da criança podem se
introduzir objetos diversos como bolas grandes e caixas
grandes.
Na fase inicial do desenvolvimento a criança
arremessa objetos ao chão para em seguida a pessoa
que cuida recuperar este objeto e retornar para a
criança. Ela faz isso experimentando a possibilidade de
perder e recuperar o que ama. Depois engatinhando e
andando ela mesma se aproxima e se afasta dos
objetos que deseja.
Seguindo o desenvolvimento a criança vai
precisar experimentar sua força e sua capacidade de
ação no mundo. É importante a criança vivenciar isso
de forma segura. Pode correr, pular, soltar a voz e
também fazer uso de objetos que possam soltar a
raiva.
Depois a criança começa a gostar das
brincadeiras de roda e jogos cantados. Eles
desenvolvem a coordenação motora, linguagem e a
consciência corporal.
A criança vai crescendo e sempre será
importante manter atividades que trabalhem esse lado
corporal. Atividades de música, teatro, arte, dança,
exercícios físicos.
Podemos observar como nas fases de
desenvolvimento o corpo sempre foi estimulado, pois a
criança inicialmente se comunica com o adulto através
do corpo. O desenvolvimento psíquico ocorre junto com
o desenvolvimento corporal.
Sempre estivemos intimamente ligados ao nosso
corpo e em um determinado momento ocorreu a
Aula 1| Corpo e expressão 16
fragmentação dessa união. É necessário recuperar este
contato e esse olhar.
Uma atividade que gosto de fazer com crianças
é o contorno do corpo. Eu faço com crianças de três
anos e meio para cima, mas vai da percepção de cada
um.
Atividade:
Você pode usar papel pardo ou papel 40Kg.
Prenda o papel na parede na posição vertical. Peça para
a criança ficar encostada no papel e enquanto isso você
vai contornando o corpo dela com caneta ou lápis.
Depois que terminar peça para criança pintar o seu
corpo contornado no papel. Use tinta guache ou pintura
a dedo.
Essa atividade permite que a criança entre em
contato com o seu corpo de uma forma plástica,
concreta. Traz a noção corporal e o uso das cores.
Atividade para crianças a partir de 7 anos:
TÍTULO: Brincando com a argila.
TEMA: Expressar os sentimentos através da
argila.
OBJETIVO: Se expressar através da argila
TÉCNICA: Modelagem.
MATERIAL: Argila, água, papel pardo, cd.
PROPOSTA:
Atividade corporal;
Brincar de estátua;
Mexer na argila seguindo os comandos dados
pelo arteterapeuta;
Aula 1| Corpo e expressão 17
Compartilhar.
RELAXAMENTO: Movimentar pela sala ao som
da música e se imaginar nas seguintes situações:
Caminhar com os pés bem firmes no chão;
Caminhar na ponta do pé;
Atravessar a grama alta;
Andar no barro;
Asfalto (chão quente);
Rodopiar;
Se arrastar como cobra.
Brincar de estátua. Ao desligar a música todos
devem se congelar no movimento.
DESENVOLVIMENTO: Após os trabalhos de
corpo sentar em roda e pegar um pouco de argila. Ficar
um momento com as mãos sobre a argila e respirar
profundamente. Sentir o monte de argila: como ele é?
Fique amigo dele. Ele é liso? Mole? Ondulado? Frio?
Quente? Seco? Molhado? Agora pegue-o e segure. É
leve? Pesado? Belisque. Use as duas mãos. Belisque
devagar, mais depressa. Dê beliscões grandes e
beliscadas pequenas. Aperte a sua argila e alise-a
usando cada parte da sua mão. Junte tudo formando
uma bola. Depois com outro pedaço faça uma bolinha.
Junte tudo de novo. Agora você já o conhece bem.
Do que você mais gostou?
Do que menos gostou?
O corpo na adolescência
O adolescente passa por inúmeras
transformações tanto corporal quanto psíquicas. Essas
transformações trazem desequilíbrios e instabilidades
extremas. Este período é marcado por mudanças
Aula 1| Corpo e expressão 18
hormonais, corporais e emocionais e também por uma
forte insegurança e ansiedade no movimento de
conquista de um espaço no mundo dos adultos. O
trabalho corporal traz a possibilidade da expressão dos
conflitos de identidade, elaboração da despedida do
corpo infantil, do papel infantil e da profunda mudança
na relação com os pais. Todo adolescente vai passar
por estas transformações.
Uma boa dica para o trabalho corporal com
adolescente é trabalhar esta nova imagem do corpo
que está se manifestando. Como já citei antes trabalhar
o contorno do corpo, buscar a auto-imagem, trabalhar
com espelho. A expressão como forma de entrar em
contato com sentimentos confusos, dúvidas e conflitos
de identidade. A dramatização traz um suporte muito
positivo para este tipo de trabalho. Vocês entrarão em
contato com o teatro nas próximas aulas.
O corpo e a meia idade
Ele envolve finalmente enfrentarmos
nossas dependências, complexos e
temores sem a mediação de terceiros.
Requer que deixemos de culpar os
outros pelo nosso destino e
assumamos total responsabilidade pelo
nosso bem-estar físico, emocional e
espiritual.
(Hollis, James, A Passagem do Meio.
São Paulo, Editora Paulus, 1995)
Torna-se fundamental na meia-idade que
algumas questões estejam melhores resolvidas como:
Aprimorar os relacionamentos;
Melhor adaptação ao mundo exterior;
Equilíbrio da psique.
Quanto mais eu souber a respeito de
mim mesmo, maior parte do meu
potencial poderei personificar, mais
diversificados serão os tons e os mati-
Aula 1| Corpo e expressão 19
zes da minha personalidade e mais
rica será a minha experiência de vida.
(Hollis, James, A Passagem do Meio.
São Paulo, Editora Paulus, 1995)
Desse modo o corpo também sofre muitas
alterações. Alteração hormonal e corporal. O
metabolismo fica mais lento. O cuidado e atenção com
o corpo devem ser maiores. A relação com o corpo se
modifica. Trabalhar a respiração, meditação,
relaxamento, exercícios de alongamento e através
destes exercícios trazer a consciência corporal. Abaixo
segue um bom relaxamento para ser trabalhado com
pessoas na meia-idade. As atividades devem ser feitas
em um ambiente confortável, com almofadas ou
cadeiras. Se possível as atividades de relaxamento
pedem um ambiente silencioso e com uma música
tranqüila de fundo.
Relaxamento: Sentar em uma posição
confortável, fechar os olhos. Inspirar pelo nariz e soltar
o ar pela boca. Sentir o ar chegar até os seus dedos
dos pés... (fazer uma pausa) sentir o ar chegar até
suas mãos... (fazer uma pausa) sentir o ar na sua
cabeça, massageando seus cabelos... Inspire fundo
novamente e solte o ar pela boca e se estiver sentindo
alguma tensão em qualquer parte do corpo, respire
nela e vai deixando com que ela se desfaça. Agora
inspire felicidade e expire tristeza. Inspire confiança e
expire o medo, inspire amor e expire a raiva e etc. Aos
poucos abrir os olhos e se espreguiçar.
O corpo e sua simbologia
O corpo é a nossa memória mais arcaica. Nosso
corpo não se esquece de nada. Tudo que vivemos, fica
guardado em nosso corpo. E o corpo também nos
comunica algo. Existem centros específicos no corpo
que devem ser trabalhados para se buscar um
Aula 1| Corpo e expressão 20
equilíbrio e harmonia. Devemos conhecer o nosso corpo
físico para desenvolvermos através das atividades
propostas um trabalho que ajude a modificar os
aspectos rígidos de nossa personalidade e assim poder
trazer a tona à criatividade.
Nosso corpo é o meio de expressão mais direto
de nossas emoções. Quando estas são conflituosas e
nos fazem sofrer, reprimimos como algo nocivo no
lugar de direcionar e harmonizar no todo. Isso produz
um estancamento da energia em algum lugar do nosso
corpo. Chamamos de couraças a essas cargas
energéticas que se localizam em nossos músculos e
articulações, impedindo de nos expressarmos como
realmente necessitamos e causando limitações físicas,
mal estar e enfermidades.
Segue abaixo algumas características principais
do nosso corpo.
Planta dos pés, calcanhares, canelas, pernas
O trabalho de corpo visando o desenvolvimento
e o alongamento destas partes proporciona
principalmente a expressão da auto-afirmação e da
confiança em si mesmo. Os movimentos rítmicos dos
pés batendo firmes no chão trazem a confiança e
capacidade para enfrentar a vida. Traz o indivíduo para
a realidade, ajuda na concentração, capacidade de
realizar, traz energia física, "pique", capacidade de
criar, sexualidade, capacidade de ação.
Atividade proposta: Trabalhar ao som de música
tribal o movimento rítmico com os pés, como em uma
grande dança em uma aldeia indígena. Movimentar as
pernas e sentir bem os seus pés no chão. Será muito
bom utilizar a argila em atividade artística. A argila
trabalha essa relação com a terra e fortalece estes
aspectos.
Aula 1| Corpo e expressão 21
Abdômen, virilha, lombar, parte interna das
pernas, pés.
O trabalho de corpo visando o desenvolvimento
e alongamento destas partes proporcionam alegria e
prazer. Traz a necessidade de se opor às resistências e
vencê-las, de lutar e vencer, de conquistar espaço. O
importante é o movimento das pernas e cintura. O não
desenvolvimento e o atrofiamento destas áreas
acarreta na perda da capacidade de sentir prazer nas
coisas da vida. É sempre bom lembrar que a
enfermidade surge primeiramente no plano energético
e depois no corpo físico. Então estar consciente e
trabalhar corporalmente, alongando e movimentando,
reduzem a depressão, fortalece a autoconfiança, re-
equilibra a área renal, intestinal, capacidade de fazer
amigos, estabelecer relações emocionais, modo de
encarar o cotidiano, liberação da criatividade através da
emoção, herança familiar na expressão emocional,
sexualidade.
Atividade proposta: Colocar uma música bem
alegre e dançar livremente movimentando bastante a
parte da cintura. Depois expressar com tinta estes
movimentos. A tinta usada pode ser guache.
Estômago, fígado, vesícula e intestino.
Esta área situada acima do abdômen traz a
capacidade de lidar com a raiva, o medo, tristeza e
também com o prazer de comer e beber, de descansar
e de sentir-se protegido na companhia de outros.
Aprender a se expressar, dizer sim ou não de uma
maneira correta. A função abdominal tem uma função
de união e separação assim como a digestão. A emoção
é entendida aqui como reação emotiva frente a um
estímulo interno e ou externo.
Aula 1| Corpo e expressão 22
Emoções estão a serviço:
Da vida biológica
Da vida psicológica: ego se sente ameaçado –
raiva, medo, tristeza. Ego caricia afetiva –
alegria como se o corpo tivesse recebido uma
gratificação alimentícia ou sensorial de outro
tipo.
O trabalho corporal permite amenizar distúrbios
digestivos. Consciência do ser e do querer,
autocontrole, maior realização de desejos, maior
progresso material.
Atividade proposta: Fazer o contorno do seu
corpo em uma folha de papel pardo. Ou você mesma
pode fazer (colar o papel na parede e em pé encostada
na folha ir contornando o seu corpo) ou pode pedir para
contornarem o seu corpo. Depois ache figuras de
revistas para colar em todo o corpo. Observe as figuras
coladas. Veja o que gostou ou não. Esta atividade
permite um olhar mais profundo sobre como você está
lidando com o seu corpo.
Região do tórax e parte interna dos braços
compreendendo as palmas das mãos
Aqui o bem estar do outro é tão importante
quanto o nosso. O bom desenvolvimento e a
consciência desta região do tórax faz com que a pessoa
veja a melhor parte dos outros e se reconhece nelas,
em vez de buscar as diferenças. O tórax é o centro da
pulsação. É o ponto central da nossa vida. Todo fluxo
do organismo depende a pulsação do coração.
Trabalhar esta área gera calor suavemente, alivia a
tensão, equilibra as emoções, liberação de trauma
emocionalmente reprimido, consciência alma/coração,
expressão do amor em ações, amar a si próprio e aos
Aula 1| Corpo e expressão 23
outros, auto-estima, auto-valorização, afetividade,
mágoas, carências, coração. Ajuda a curar as feridas do
coração e transformar o amor em amor incondicional
Atividade proposta: Em uma atividade de grupo,
pedir aos participantes que formem duplas. Uma
pessoa deve massagear a outra e depois quem recebeu
a massagem agora vai fazer. Uma massagem simples.
Massageando os ombros, cervical, cabeça e braços.
Esta atividade permite doar e receber. A música pode
ser suave como música clássica.
Olhos, ouvidos, nariz, língua, lábios, laringe
Ponte entre cabeça e coração, mente e corpo.
Inclui os órgãos dos 5 sentidos. Função principal
expressiva e de comunicação das emoções,
sentimentos, idéias e pensamentos. Criatividade
superior, do mundo não material. Qualquer coisa que
sentimos, pensamos, queremos e opinamos necessita
uma forma para passar do nosso mundo interno para o
mundo exterior e se manifestar.
Atividade proposta: Falar, cantar e criar algo
com as mãos. Além disso todas as funções expressivas
estão ligadas a este centro. Na aula de teatro vocês vão
entrar em contato com algumas atividades de
expressão que serão muito ricas para trabalhar os
órgãos dos sentidos.
Assim podemos verificar que o corpo físico é
também corpo emocional.
Dica de atividade
Esta atividade deve ser feita em grupo de
adultos. Esta atividade traz a consciência para o corpo.
Aula 1| Corpo e expressão 24
TÍTULO: O que faria com mais quantidade de
energia se a tivesse?
TEMA: O que me faz perder tanta energia?
OBJETIVO: Conscientização.
TÉCNICA: Dramatização.
RELAXAMENTO: Trabalhar o corpo. Alongar
primeiro o pé direito e movimentar a cintura com
movimentos circulatório. Depois o mesmo com o pé
esquerdo. Apoiar sua mão no ombro da pessoa ao lado
e colocar o pé sobre o joelho e inclinar a coluna
soltando a cabeça. Esticar as mãos a frente e subir
lentamente. Peito para frente e cabeça para trás. Soltar
o ar. Deixar a mão descer pela perna direita e depois
pela perna esquerda, lembrando que a cabeça sempre
acompanha. Repetir esse movimento. Descer com a
mão direita e elevar (empurrar) para cima com a palma
da mão esquerda e olhar para cima. Fazer com o outro
lado. Repetir. Ir com a cabeça até o peito e depois com
a cabeça para trás. Depois girar para um lado e para
outro. Depois me abraçar com o braço direito por cima.
Colocar a perna direita a frente e ir até o chão. Ir
subindo e ainda abraçada elevar o cotovelo e ir
desfazendo abrindo espaço para outras coisas
entrarem. Fazer o mesmo com o pé esquerdo e mão
esquerda. Voltar para o eixo. Em dupla proporcionar
uma massagem no ombro e braço da outra pessoa.
DESENVOLVIMENTO: A energia fica presa:
atitudes repetitivas/acomodar-se a sua forma de existir
até que algo de errado.
Para dispor de energia uma nova Educação se
faz necessária. Como dispor de energia? Como usar sua
energia?
Aula 1| Corpo e expressão 25
Depois escolher uma frase de como perco
energia e expressar corporalmente. Fazer
exageradamente o movimento e desfazer. Como é? O
que sente? O que mudou?
Gestos e posturas
Hoje já sabemos como os gestos falam. Como
diz o ditado popular “um gesto fala mais do que mil
palavras”. O tempo todo nosso corpo está se
comunicando, um simples aceno pode transmitir uma
série de desejos.
Segue uma entrevista feita pela revista mente e
cérebro a lingüista Cornelia Muller, da Universidade
Livre de Berlim. Cornelia Muller pesquisa a importância
dos gestos na comunicação.
Mente e Cérebro: Europeus do sul (italianos,
por exemplo) gesticulam realmente mais que pessoas
de outras regiões?
Cornelia Muller: É opinião comum mas
empiricamente não está provada. Numa pesquisa
comparativa entre espanhóis e alemães não pude
constatar que os germânicos utilizam menos gestos.
Mas é inegável que gesticulam de outra forma, partindo
do pulso. Espanhóis usam ombros e cotovelos mais
freqüentemente, isto é, seus movimentos são mais
amplos e visíveis. Isso talvez despertasse a impressão
de que eles usam gestos com maior freqüência.
Mente e Cérebro: Por que a pesquisa dos
gestos foi negligenciada por tanto tempo?
Muller: Nos anos 70 muitos pesquisadores
tinham a convicção de que a linguagem do corpo e a
mímica tinham a ver só com emoções e com as
Aula 1| Corpo e expressão 26
relações que as pessoas constroem entre si. No plano
semântico, a comunicação verbal parecia ser a única
responsável pelos significados. Por isso muitos
lingüistas e psicólogos não perceberam que os gestos
podem mais que expressar apenas sentimentos.
Mente e Cérebro: O que os gestos dizem e as
palavras não?
Muller: Um único gesto é capaz de transmitir
muitas informações ao mesmo tempo. A linguagem
sonora precisa ordenar mais palavras. Se estendo
minha mão com a palma da mão para cima, posso
enviar a mensagem: “Isto está claro para você?”. Um
movimento breve pode significar duração, então
enfatizo um período de tempo e não um momento
isolado.
Mente e Cérebro: Gestos, portanto, não são
responsáveis pela empatia?
Muller: Certo. É um equivoco atribuir a uma
pessoa um “emocionalismo” exacerbado só porque ela
gesticula muito.
Mente e Cérebro: Mas em treinamentos para
oradores é comum que se tente atenuar o hábito que a
pessoa tem de gesticular.
Muller: Desde o retórico romano Quintiliano a
gesticulação excessiva é vista como expressão de um
fraco domínio da linguagem falada. Muitos concluem
que quanto menos gestos, melhor. Mas os oradores
profissionais sabem o quão poderoso pode ser um
movimento bem colocado. É muito mais inteligente
usar a linguagem do corpo como canal adicional de
informação do que reprimi-la.
Para navegar
Vá correndo buscar mais informações no site www.berlingesturecenter.de Centro Berlinense de Pesquisa do Gesto
Aula 1| Corpo e expressão 27
O corpo contemporâneo
Hoje em dia muitas pessoas se preocupam com
o bem estar físico e mental. Mas apesar destas
preocupações de unir corpo e mente, em tentar trazer
para a consciência a importância de cuidar do corpo,
como na Yoga, meditação, Pilates, dança, biodança e
outros o corpo vem sofrendo fortes pressões por parte
da mídia, no sentido da perfeição do corpo. A indústria
e o comércio que norteia a estética é muito sedutor.
Com o corre-corre do dia-a-dia as pessoas buscam
resultados imediatos. Mas é preciso tentar sair um
pouco desse vício e tentar buscar uma alimentação
mais equilibrada, um olhar para o seu corpo de uma
forma mais natural, integrando-o, buscando atividades
que permeiam esse olhar.
Hoje temos muitos procedimentos violentos
sobre o corpo e sobre a vida psíquica para a eliminação
de sintomas, de traços de dor, do mal-estar. A indústria
do corpo busca anestesiar as experiências mais
profundas de vazio. As formas de mal estar da pós
modernidade tem no corpo e na ação os registros de
sua apresentação. Na ação estão as compulsões, que
evidenciam o descontrole dos impulsos – ânsia do
consumo. No plano da corporeidade vivemos o pólo da
dor que está intimamente relacionada ao narcisismo.
As patologias contemporâneas: depressão,
anorexia, bulimia, obesidade tangenciam no vazio e nas
questões narcísicas.
É pensando nessas questões que é importante
você entrar em contato com técnicas que promovam a
capacidade de expressão espontânea buscando trazer a
pessoa para o seu centro.
Aula 1| Corpo e expressão 28
Atividade
Movimento: Trabalhar o chegar. Como está o
seu corpo agora. Sinta os seus pés firmes no chão e
comece a entrar em contato com a sua respiração.
Inspira e expira lentamente cada um no seu ritmo.
Solte o ar pela boca. Sente alguma tensão? Alguma
parte do seu corpo que precise de cuidados? Inspire
mais intensamente pela boca e solte o ar soltando um
som. Agora leve lentamente a cabeça até os pés. Solte
a cabeça, sinta alongar a parte de trás do pescoço,
joelhos flexionados e esvazie os pensamentos. Solte a
respiração esvaziando os pensamentos. Suba
lentamente a cabeça é a última a voltar para o eixo.
Alongue o corpo, gire um pouco o pescoço, apóie no
ombro do colega do lado e vamos alongar um pouco os
pés. (Até aqui sem música).
Colocar a Música:
Vamos começar entrando em contato com o
nosso corpo e se apossar do movimento que vai ser
feito. Acompanhar o movimento, lembrando que todas
as partes estão presentes em cada movimento,
inclusive o olhar, a cabeça, o tronco. Entrar em contato
e sentir o que esse movimento está dizendo.
Começar trabalhando mãos, braços. Movimento
de abrir e fechar. Depois soltar bastante o braço.
Buscar o infinito e conter. Fazer esse movimento mais
rápido. Conter e abrir. Mãos e braços esticados em
lados opostos. Fazer um mergulho até o chão. Flexionar
um pouco os joelhos e caminhar com as mãos para
frente. Sinta abrir os espaços da coluna. Respire na
coluna. Dobre os joelhos e fique ai um pouco.
Experimente não fazer nada... Coloque agora os braços
para trás. Aos poucos vamos desenrolando a coluna e
vamos sentar e deitar. Sinta sua coluna no chão se
Aula 1| Corpo e expressão 29
entregue ao chão. Agora lentamente vá levando seus
braços para trás. Sinta o peso dos seus braços.
Lentamente vai voltando e entregue seus braços ao
chão, palmas das mãos inteiras no chão. Sinta esse
movimento de conter e se entregar. Faça mais uma
vez. Agora leve a cabeça até os joelhos e os joelhos até
a cabeça mãos atrás da cabeça. O que sente? Como é
fazer esse movimento? Faça lentamente. Conter e
soltar e se entregar ao chão novamente. Repita esse
movimento mais 2x. Fazer a torção. Como está sendo
torcer, está mexendo com tudo dentro de você. Vamos
prestar atenção nessa torção. Na respiração. Volte a
posição e fique um pouco ai. Estique as pernas e
mantenha os braços ao longo do corpo e não faça nada.
Atividade em dupla:
Seguindo a vivência cada dupla receberá uma
folha de papel A3 e pastel oleoso colorido onde deverá
expressar com rabiscos o movimento. Cada dupla não
deverá se comunicar verbalmente. Apenas deixar
sentir. Esse espaço é de vocês!!!
Depois entre em contato com o resultado desse
rabisco em conjunto e perceba as formas, o
movimento, as imagens, as cores, o espaço ocupado.
Pode se comunicar com a sua dupla verbalmente.
Agora vamos soltar a mão e expressar todos os
sentimentos que surgiram durante a vivência. Não
pense apenas faça. Não use a crítica lembre que essa
arte é uma arte de expressão e não uma arte estética.
Comecem utilizando uma cor e depois de esgotá-la
peguem outras.
Vamos compartilhar sentando em roda. Primeiro
começamos a falar e depois cada um vai falar da sua
experiência. Depois vamos falar da pintura final e
vamos em conjunto buscar um título para esta pintura.
Aula 1| Corpo e expressão 30
Respiração
A respiração tem um papel funcional no
organismo que é oxigenar o sangue e por este motivo
fazer a limpeza dos órgãos e músculos. O cérebro mal
oxigenado é responsável pelos pensamentos confusos,
pelos pensamentos negativos, dificuldade de
concentração e falta de memória.
Já sabemos da importância de trabalhar a
respiração de uma forma consciente, conhecendo e
trazendo o movimento do corpo junto com a
respiração. Em vários trabalhos com o corpo, a
respiração é vista como fator principal de qualquer
movimento e exercício. Já está comprovado que os
exercícios de meditação e relaxamento ajudam na
recuperação e equilíbrio da saúde.
Segundo Sylvie Lagache a respiração com
movimento têm o poder de:
Descarregar as tensões;
Facilitar o alongamento muscular graças à
liberação de energia;
Ajudar na concentração, porque o esforço
para coordenar a respiração com o movimento
torna o movimento perceptível e sensível, não
simplesmente um ato mecânico;
Criar um movimento circular e harmônico,
recolhendo ao inspirar e expandindo ao
expirar;
A prática da respiração torna a dança mais
livre, mais viva, inclusive no balé clássico.
A respiração permite a liberação da tensão
mental quando mentalizamos no movimento que o ar
percorre ao entrar e sair pelo nariz. Depois quando se
inspira pelo nariz e expira pela boca sentimos um
Aula 1| Corpo e expressão 31
relaxamento da laringe, trazendo à tona a criatividade
e comunicação. Ajuda também a liberar as tensões
emocionais, estimula as forças vitais, pois está
relacionada com a caixa torácica e abdominal.
Sendo assim é de suma importância a relação da
respiração com os fatores emocionais. Trabalhar e
estimular a respiração ajuda a mexer e a reacender a
vida, pois estamos falando dos sentimentos. Não
somente os sentimentos de medo, raiva e tristeza, mas
também os sentimentos de alegria e amor que por
muitas vezes ficaram anestesiados pelo medo de sofrer.
Respiração é vida e deve ser trabalhada sempre de
forma consciente.
EXERCÍCIO 1
Marque a alternativa correta sobre o corpo e a criança:
( A ) O bebê quando nasce é todo corporal.
( B ) O bebê não precisa de atividades que o estimule
corporalmente.
( C ) Passar dentro de um túnel não é indicado para
crianças.
( D ) A alternativa 1 e 2 são corretas.
( E ) Nenhuma das resposta anteriores.
EXERCÍCIO 2
Coloque Falso ou Verdadeiro:
(sss) Corpo e mente são um só.
(sss) Trabalhar os pés traz a questão da auto-afirmação.
(sss) O corpo é a nossa memória mais arcaica.
(sss) Os adolescentes não passam por transformações
psíquicas e corporais.
(sss) A respiração tem um papel funcional no organismo.
Aula 1| Corpo e expressão 32
EXERCÍCIO 3
Citar duas características essenciais da respiração para
o bem estar da pessoa:
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 4
Quais são as 7 fases da história do corpo?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
RESUMO
Vimos até agora:
Vimos na aula de corpo algumas questões
que poderão ser de grande valor na sua
prática escolar ou terapêutica. Espero que
você possa utilizar os conhecimentos e as
propostas sugeridas com bastante
criatividade e proporcionar aos seus alunos
ou clientes atividades enriquecedoras e que
os auxiliem no crescimento pessoal;
Em seguida, contei um pouco da história do
corpo e espero que você se interesse em apro
Aula 1| Corpo e expressão 33
fundar seus conhecimentos, pois é um estudo
fascinante;
Finalizando, conversamos um pouco também
sobre a importância do corpo em cada fase da
vida: bebê, criança, juventude e meia-idade.
Trouxemos também a respiração como
primordial para um trabalho de corpo.
Linguagens literárias
Virginia Maria Castilho Ribeiro de Souza
Maria Estela Lopes
Renata Cury (revisora)
AU
LA
2
Ap
res
en
taç
ão
Uma introdução ao mundo da imaginação. A riqueza dos contos
para o desenvolvimento principalmente da criança. Depois falamos
dos mitos, contos, lendas e fábulas e como o contador de histórias
deverá estar atento a expressão e a memória.
Foram abordadas diversas técnicas para o contador entrar em
contato com o mundo das histórias e poder fazer uma boa
apresentação. As histórias podem ser apresentadas de diversas
formas, desde que quem conta esteja em contato com quem
ouve, interagindo e tornando a história dinâmica.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Trabalhar as linguagens literárias com o seu grupo;
Saiba diferenciar e conhecer as diferentes linguagens;
Tenha adquirido conhecimento suficiente para criar novas
atividades utilizando os contos;
Estabelecer uma linha constante de contato com o mundo da
imaginação.
Aula 2 | Linguagens literárias 36
O contador de histórias
E em noite de lua cheia, o índio Taipi
buscava em vão alcançar a lua pelo
seu arco e flecha; às vezes chorava
olhando aquela enorme bola prateada
no céu escuro, pedindo a Tupã uma
árvore bem alta para chegar até ela...
(anônimo)
O menino brinca de pirata
Sua espada é de ouro e sua roupa é de
prata
Atravessa os sete mares
Em busca do grande tesouro
Seu navio tem setecentas velas de
pano
E é o terror do oceano
Mas o tempo passa e ele se cansa
De ser pirata
E vira outra vez menino.
(cantiga de roda – Roseanna Murray)
No mundo mágico do faz-de-conta, da libertação
das histórias, sejam contos de fada, lendas, mitos,
fábulas ou contos populares, o essencial é compartilhar
a fantasia.
Nenhuma formação prescinde da
educação do espírito, porque esta é a
que vai formar o homem, despertando
a sensibilidade, os valores éticos para
a conscientização do ser humano e seu
relacionamento.
(Carvalho, P., 1998)
Aqui se inclui uma discussão sobre cultura e
civilização, seus significados e como estão relacionados.
A cultura vai fornecê-la, através da
Literatura, como fonte de
conhecimentos e informação. E a
poesia é a primeira manifestação de
expressão literária, é pela poesia que
se iniciam todas as Literaturas.
(Id., 1998)
Câmara Cascudo já nos dizia que o leite materno
era temperado com os contos populares, considerados
O contador de histórias 36 Expressão corporal e estudo das vozes 52 A importância da leitura 55 Conclusão 59
Importante
Analisar a questão cultural é muito importante quando falamos em histórias, seja no âmbito da Literatura ou do Folclore. Lembre-se sempre da questão do MULTICULTURALISMO e pense o quanto as histórias podem trazer pra dentro da escola as diversas culturas regionais com as quais convivemos no cotidiano educacional.
Aula 2 | Linguagens literárias 37
como a “alma do povo”, pois só através deles
conhecemos o verdadeiro perfil dos moradores de um
lugar. O folclore, portanto, trabalha a psicologia
coletiva, trazendo o imaginário do homem comum.
E essa fonte também foi abordada pelo nosso
saudoso Monteiro Lobato, com seu estilo único:
“...Agora vou contar pra vocês uma história bem
comprida...” Já dizia D. Benta, um dos personagens
centrais de sua obra.
Só de ouvir esse nome, muita gente já revive
cenas gostosas da infância. Parece que todos os
personagens nos chegam numa viagem da Via Láctea:
Emília, Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa,
todos nos convidando para cenas com tantos outros: o
Saci, tio Barnabé, a onça pintada, fadas...
O autor sabia como poucos, combinar os mais
diversos ingredientes em seus livros, como a história de
Peter Pan, de autoria de James Barring (viva o Capitão
Gancho, a fada Sininho, as sereias, Wendy e seus
irmãos) em sua obra. E, assim, ia aproximando
elementos pouco humanos, uma vez que não possuem
a vida humana interior da psique, de outros com quem
é fácil nos identificarmos.
O uso de histórias envolve vários ingredientes:
invenção das próprias histórias trazendo elementos de
nosso dia-a-dia, a leitura de histórias de livros,
escrever histórias, ditá-las, utilizar coisas para
estimulá-las como figuras, testes projetivos, bonecos,
painel de feltro, mesa de areia, desenhos, fantasias de
final aberto, entre outros.
Sendo a história da criança uma projeção, ela
reflete algo sobre a vida da própria pessoa; cada
Para navegar
Para saber mais sobre Monteiro Lobato, conhecer um pouco de sua vida e obra, consulte o site www.lobato.com.br
Aula 2 | Linguagens literárias 38
história é encerrada com uma lição, uma filosofia de
vida extraída da situação. Portanto, ao se utilizar esta
técnica, você deve ter em mente a importância de
perceber o outro ouvinte; é essencial saber algo sobre
a criança (ou o participante em qualquer faixa etária) e
entender rapidamente o tema central da história
apresentada.
Daí também a ênfase que o próprio contador
enquanto orientador, deve dar ao olhar. Ao perceber
sua “platéia”, ele vai dar o exemplo do que deve ser
seguido, vai estar guiando o participante do grupo para
se ver, buscando o reflexo do que está sendo contado,
no outro. Trata-se, portanto, de uma pesquisa paciente
que muitas vezes nos conduz a ver, ouvir, sentir e
calar...
“A importância do Olhar"
Bernardo Arraes Gonzalez Cruz*
Atualmente, as pessoas mal se falam,
muito menos se permitem o olhar
sincero. O olhar que existe é o da
crítica raivosa, ofensiva, para diminuir,
desmoralizar, confundir e estimular a
baixa auto-estima das pessoas. Nos
desacostumamos a ver os rostos e até
sentimos vergonha muitas vezes de
olhar nos olhos de nosso semelhante.
A que ponto chegamos. Nos sentimos
cansados com tanta pressão, opressão
e cobranças descabidas, sem o
interesse pelo afeto e pelo calor
humano.
Daí a necessidade do olhar, que
desperta na alma a troca do
sentimento humano, da emoção do
próximo. Quando olhamos com
sinceridade nos olhos de uma pessoa,
ficamos mais próximos. É esse olhar
intenso, cheio de vontade, com
sentimento, que permite o alcance de
um amor sincero, que nasce do desejo
de ajudar, porque tem vontade de
amar. É dentro dessa proximidade que
se permite a troca de experiências e
até da descoberta dos desejos em co-
Quer saber mais?
Dicas de alguns meios e técnicas para contar histórias: Usar o próprio livro
– Contar a história apontando as figuras ricas de iluatração;
Figuras sobre um
cenário – Pode ser feito de cartolina, papel cartão. Cada
suporte pode conter figuras e cenários diversos conforme o desenrolar da história;
Criando bonecos e
fantoches – Criar vários personagens e narradores. As crianças também podem manusear os fantoches;
Criação de
cenários – Estes devem ser criados com a ajuda das crianças. Ex: Casinha de papelão, Floresta de papel crepom;
Avental de
histórias – Um avental com desenhos, bolsos e personagens para contar histórias.
Aula 2 | Linguagens literárias 39
mum. Porque só o olhar consegue o
saber sem palavras, o sentir sem
dizer, o conhecer sem saber, a troca, a
proximidade, a igualitariedade e a
compreensão. Este olhar sincero é
naturalmente ético e, por isso,
puramente humano.
Nas civilizações primitivas, bem como
nas tribos indígenas, as pessoas
sentavam-se em roda, olhavam-se
umas para as outras e então os mais
idosos, com toda naturalidade pessoal,
contavam as histórias de seu povo, de
sua vida e até das explicações dos
fenômenos da natureza. Já na Idade
Média, surgem os menestréis, que
contavam histórias, cantando notícias.
Estes foram os primeiros contadores
de história.
O contar histórias parte do princípio
deste olhar, da necessidade de
comunicação, do desejo de estar junto
de outras pessoas e compartilhar o
sentimento que se move do coração e
sai pelo olhar, pela história oralizada,
pela palavra.
O contar histórias não só exige como
resgata a questão da comunicação
pelo olhar, como pela palavra que,
junto ao sentimento, à voz e ao corpo,
transmite o desejo de proporcionar ao
outro momentos agradáveis, em que
retornamos sentimentos puros,
vivenciados em nossa infância. Nada
mais agradável do que isso, neste
mundo tão conturbado em que
vivemos e muitas vezes não sabemos
mais o que fazer.
E é absorvido nesse mundo do
imaginário, no momento em que se
conta ou em que se ouve uma história,
que podemos pensar em ser felizes,
porque conseguimos levantar o sorriso
de alguém ou até mesmo fazer feliz
esse alguém”.
(Entrevista -1999)
Aula 2 | Linguagens literárias 40
SUGESTÃO DE ATIVIDADE PARA INICIAR OU
FINALIZAR UMA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA
Sentados, solicita-se que todos fechem os olhos,
se quiserem, trabalhando a respiração de forma suave,
pedindo que se imaginem no único lugar onde
gostariam de estar naquele instante, seu lugar especial.
Imaginar um sol ameno, agradável e uma suave brisa
ao redor. Pede-se que façam movimentos leves com as
articulações, que tragam alguém para compartilhar com
aquele lugar sugerindo-se que se abracem, se
quiserem. Lentamente, vão retornando ao local de onde
vieram e num movimento lento, inclinando a cabeça e
abrindo os olhos devagar.
Em círculo: todos de pé, vamos procurando um
par para desenvolvermos movimentos juntos. Sempre
nos olhando nos olhos, procurando o reflexo do que
estamos passando no próprio olhar, nos gestos, na
expressão corporal.
Uma pessoa vai ser a imagem real e a outra, a
virtual. A primeira vai guiando os movimentos, nos três
planos (superior, médio e inferior). E a outra, sendo o
“espelho”, vai procurar imitá-la, sem desviar o olhar
“dentro dos olhos’’. Num segundo momento, as duplas
vão se alinhar umas às outras em duas filas, uma em
frente à outra. Numa seqüência, cada dupla vai
repetindo os movimentos feitos pelas duplas que as
antecedem à sua esquerda; o que era imagem virtual
agora vai liderar a expressão, copiando-a e
repassando-a para seu parceiro, sem desviar o olhar
deste.
Esta dinâmica deve levar cerca de 20 minutos.
Uma vez realizada, todos podem concluir os
movimentos com calma e retornar aos lugares.
Aula 2 | Linguagens literárias 41
SE VOCÊ ESCREVEU UMA HISTÓRIA, É SÓ
CONTAR...
Agora vamos incluir a fala de Bernardo Arraes
(1999) sobre sua experiência como oficineiro da arte de
contar histórias. Pois, indo ao encontro do que
dissemos antes, saber trabalhar as propriedades de
cada ferramenta, agiliza a imaginação e potencializa a
criação, pois favorece a desinibição:
Não sendo um trabalho específico para
uma editora, o contador de histórias
poderá pesquisar e escolher com
calma seu repertório. Esse, quando
desenvolvido em grupo, é enriquecido
pelas qualidades literárias existentes
nas histórias.
Alguns contadores escolhem as histórias
gradativamente e cada uma delas, sendo apresentada
mais de uma vez, torna-se um encanto para o público,
pois novos ângulos vão sendo mostrados e a expressão
sendo melhor elaborada. Um registro por escrito é
importante para se preservar a forma como foi
contada, facilitar a memorização e as futuras
apresentações.
Ao se fazer a seleção das histórias, os elementos
essenciais da estrutura definem sua classificação em
lendas, mitos, fábulas, contos populares e contos de
fadas. Todos apresentam introdução, enredo e
desenlace.
Apresentam diferenças significativas entre si;
um conto de fadas, segundo a Dra. Marie Louise von
Franz (1993), “não é produzido pela psique do
indivíduo e não constitui material individual” (Franz, M.,
1993: 12-13). Podem se associar fenômenos
parapsicológicos. Um outro tipo de conto de fadas é o
da saga local que contém referências a um
determinado local, o herói se torna um ser humano
Dica de leitura
PAVONI, A. Os contos e os mitos no ensino: uma abordagem junguiana. São Paulo: EPU, 1989.
Aula 2 | Linguagens literárias 42
definido e o conto é narrado associado a um evento
concreto que realmente aconteceu, mesmo com
características de contos de fadas. Nas sagas, os
elementos fantasmagóricos são mais freqüentes.
Luís da Câmara Cascudo já nos anunciava que:
O conto nasceu do povo e foi feito para
ele. É um documento vivo,
denunciando costumes, idéias,
mentalidades, decisões e julgamentos.
Para todos nós, é o primeiro leite
intelectual.
(Oaklander, V., 1980, p. 113)
As mensagens simbólicas transmitidas, tanto
nos contos de fadas como nos populares, emergem das
profundezas da humanidade, tratam dos problemas
existenciais, relacionando, portanto, momentos alegres,
tristes, extremamente dolorosos, corajosos, que vão
favorecendo, aos poucos, a estrutura psíquica da
criança. Essa passa a incluir elementos sólidos em sua
personalidade que vão ajudá-la a dar respostas na vida,
sob forma lúdica.
São compreensíveis para a criança
como nenhuma outra forma de arte é;
como toda arte significativa, o sentido
mais profundo dos contos de fadas,
por exemplo, será diferente para cada
pessoa, e diferente para a mesma
pessoa em momentos diversos de sua
vida. A criança extrairá um sentido
diferente do mesmo conto de fadas,
dependendo de seus interesses e
necessidades do momento. Sendo-lhe
dada a oportunidade, ela voltará ao
mesmo conto de fadas, dependendo
dos seus interesses e necessidades do
momento; quando estiver pronta a
ampliar significados ou substituí-los
por novos.
(Id., 1980, p. 113)
Os contos de fadas são verdadeiros tesouros da
sabedoria humana, passados de geração a geração,
estão no maravilhoso mundo da fantasia, carregados de
Dica da professora
Mesmo não mais na infância, os contos nos ajudam a encontrar respostas para nossa vida, não é verdade? Você se lembra de uma história que seja significativa para sua vida?
Aula 2 | Linguagens literárias 43
emoções. Os contos de fada têm uma linguagem
internacional de toda espécie humana, estão além das
diferenças de idade, raça e cultura ou crenças.
As famílias se reuniam em roda e o mais velho
contava histórias que prendiam a atenção e a todos
encantavam, principalmente as crianças, com suas
fantasias, imaginação, alegria.
Existe uma diferença entre contos de fadas,
saga local e mito. Os Contos de fadas não têm raízes,
eles são de todos os lugares e não são destruídos. A
Saga local é um conto de um determinado lugar, tem
raízes no local.
O Mito é uma produção cultural, expressa o
caráter da civilização de onde surge, onde continua
vivo.
Agora vamos falar um pouco sobre as lendas e
as fábulas.
As lendas são uma narrativa fantasiosa
transmitida pela tradição oral através dos tempos.
De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas
combinam fatos reais e históricos com fatos irreais que
são meramente produto da imaginação aventuresca
humana. Já diz o ditado popular: “Quem conta um
conto aumenta três pontos.”
Também segundo a Dra. Von Franz, a saga local
e a lenda histórica têm fundamentos reais, que foram
vivenciados, detalhados e depois ampliados até se
resumirem numa história, passando a ser recontada
durante um longo período de tempo.
Dica de leitura
CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Editora Palas Athena, 1990.
Aula 2 | Linguagens literárias 44
Estudar uma lenda é como estudar o
corpo todo de uma nação.
(Id, p. 15)
Nas fábulas os animais têm características
humanas e transmitem lições morais de grandes
simplicidades com mensagens relacionadas ao
comportamento no cotidiano, com singelos conselhos
sobre lealdade, generosidade e as virtudes do trabalho.
Quase sempre os animais apresentam comportamento
humano, satirizando os defeitos dos homens e
revelando verdades universais sobre a natureza
humana.
A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS
Se os contos são contados por pessoas, com
imaginação e/ou talento de um contador de histórias,
tornam-se mais bonitos e interessantes.
Cada pessoa tem, em cada momento,
os conflitos mais emergentes a serem
enfrentados. Quando entra em contato
Marie-Louise Von Franz nasceu em 1915 em uma
família austríaca que veio se fixar na Suíça depois
de 1918. Depois de terminado seus estudos
literários, ela se encontra com o homem que iria
mudar toda a sua vida: Jung. Ela veio a falecer em
Fevereiro de 1998.
Aprofundou-se no estudo da Alquimia e se tornou
uma colaboradora importante na tradução dos
textos em grego e em latim.
Tornou-se uma Analista e participou de vários
trabalhos junto com Jung. Von Franz publicou vários
livros, em particular sobre a interpretação dos
contos de fadas.
Além de sua brilhante carreira como psicoterapeuta
e escritora ela ainda construiu uma brilhante
carreira como professora e conferencista no Instituto
C.G. Jung de Zurich
Para saber mais sobre suas obras, acesse o site
http://www.salves.com.br/jb-franz.htm
Aula 2 | Linguagens literárias 45
com uma história que traz esse tema,
cria-se a oportunidade de se
estabelecer uma rede de associações
que lhe permite chegar a um
significado psicológico essencial. Este
pode ser desvendado e compreendido
através das figuras e eventos
simbólicos que as histórias trazem.
(Dias, C., 1999, p. 93)
As crianças, ao ouvirem contos de bruxas, ficam
esperando aparecer a ajuda da fada ou de um outro
herói.
Na história de João e Maria que se perdem de
casa e a bruxa os coloca em uma gaiola, retrata os
temas de abandono, medo, solidão, desamparo, mas
faz com quem ouve entre em contato com estes temas
e a possibilidade de poder elaborar os seus conflitos.
As religiões e os cultos baseiam seus
ensinamentos através dos contos de conteúdo moral.
Da mesma forma, existem também as histórias de
ensinamento de tradição sufi, que são documentos de
contos que há milênios os povos do oriente usam, os
contos são como instrumentos para ensinamentos
importantes da humanidade.
Exemplo:
O empréstimo
Na casa de chá, um homem dizia aos
amigos:
- Emprestei uma moeda de prata a uma
pessoa e não tenho testemunhas.
Receio que quem a recebeu negue que
a pus em suas mãos.
Os amigos ficaram com pena dele,
mas um sufi que estava sentado a um
canto ergueu a cabeça e disse:
- Convide-o para tomar um chá aqui e
diga-lhe, na presença de todas as
pessoas, que você lhe emprestou vinte
moedas de ouro.
- Como posso fazer isso se só emprestei
uma de prata?
Aula 2 | Linguagens literárias 46
- É exatamente isso que ele vai
responder indignado - disse o sufi - e
todos poderão ouvi-lo de seus lábios.
Você não queria testemunhas?
(Nícia, G., 1993)
Um conto de fadas leva você para bem longe,
para o mundo sonhador da infância, do inconsciente
coletivo, onde não se pode ficar e por isso toda história
tem que ter um fim para entrarmos novamente na
realidade.
Os contos podem ser entendidos como materiais
muito ricos no trabalho com arte. Normalmente, todos
gostam de ouvir e contar histórias e através delas
podem-se abordar diversos temas.
Quando se inventa uma história, projetamos
algo de nossa vida, falando de algum tema que nos é
importante. A forma que se encerra a história mostra
como se resolvem os conflitos e se pensam sobre
outras alternativas. Em cada personagem, se
encontra parte de nós mesmos.
Na microssérie da emissora de TV, Rede Globo,
“Hoje é dia de Maria – Segunda Jornada”, se buscou
um imaginário popular brasileiro. Falou-se, também, do
poder que os contos de fadas têm na arqueologia da
infância no Brasil e na reinvenção de um território
lúdico, tão sacrificado no cotidiano das grandes cidades.
Em entrevista feita à Revista da TV, do Jornal o
Globo, o diretor Luiz Fernando Carvalho faz uma crítica
social ao mundo de hoje, tão distante da nossa
infância:
Onde está a nossa infância? Onde ela
foi morar? Os contos de fadas revelam
o nosso imaginário mais arcaico, a
origem dos nossos medos e
fantasmas. São histórias ancestrais,
seculares da tradição oral, que têm co-
Dica da professora
Por vezes nos identificamos mais com uma personagem da história. No entanto, se prestarmos atenção, todos temos um pouco do herói, do vilão, da fada, do mago e das outras personagens que compõem os contos e os mitos. Faça esse exercício. Identifique em uma história o que você tem de cada personagem.
Aula 2 | Linguagens literárias 47
municação muito direta, simples.
(CARVALHO, 2005, p.22-24)
Nesse conto, o autor busca o confronto não só
das crianças, mas também dos adultos de enfrentar o
medo e o desejo de tudo. O mundo do faz de conta foi
utilizado para mostrar sentimentos da modernidade
como o desejo de justiça, a necessidade de reatar uma
relação lúdica com o mundo, confrontando com
descrença que assola a cidade, a falta de poesia, o
excesso de raciocínio e a falta de criatividade e, assim,
o apelo aparece: não fechem a porta ao sonho humano.
O processo que se vive através da fantasia, do
imaginário, com invenção de personagens mágicos
como fadas, bruxas, animais e plantas que falam ,
todos têm significados que pode-se não saber o
simbolismo real, porém ele é assimilado ao nível
inconsciente. Encontramos o amor, os medos, as
dificuldades, carências, perdas, solidão, encontro,
buscas, descobertas, entre outros. Os símbolos
apresentados nos contos de fadas, como os monstros e
as bruxas, representam nossos próprios temores e
incapacidade que temos para lutar, enquanto as fadas
representam nossas capacidades e possibilidades.
Para as crianças pequenas, os contos devem ser
curtos e com poucos personagens, elas acreditam que
tudo à sua volta tenha vida (animismo), para elas a
história está acontecendo no tempo real, pois ainda não
separam a realidade e a fantasia. Gostam de histórias
de animais, plantas e objetos que falam. Quando já
alfabetizadas, elas se interessam por detalhes, prestam
mais atenção em contos mais longos.
Na pré-adolescência e adolescência, exigem
riqueza de detalhes e maior elaboração com diálogos e
cenas. Gostam de temas ligados à realidade, ao social,
às ficções, às aventuras e aos mitos. Segundo Marie
Aula 2 | Linguagens literárias 48
Louise von Franz (1993), os contos de fadas são
parábolas que narram a trajetória de vida do ser
humano. O período da adolescência, quando está
iniciando uma vida independente, é uma tarefa difícil e
nos contos são representados diante de várias
aprovações, tendo que vencer as bruxas e gigantes até
encontrar o verdadeiro amor que está simbolizando a
conquista na vida real, o encontrar-se a si mesmo, o
assumir compromissos.
Na oficina de Arte, podem-se usar os contos de
diferentes formas. Vejamos alguns exemplos:
Fazer um relaxamento, depois usar um
desenho que tenha feito, um objeto, um
brinquedo, uma planta ou qualquer outra coisa,
pedir para inventar uma história com início,
meio e fim;
COMPLEXO DE CINDERELA
Francisco Antônio Pereira Fialho
“O tema de Cinderela é uma viagem de iniciação,
que conduz ao estado de adulto e de maturidade. De
acordo com a época, o país e o autor, os contornos
da história variam tal como os cenários, mas o
progresso da adolescência à maturidade, mantém-se
a preocupação central. Em Cinderela é a fada-
madrinha quem, tal como em A Bela Adormecida,
fornece o toque mágico necessário para cumprir um
destino que também envolve a descoberta do amor
e os trâmites que daí vêm e advêm.
Os contos de fadas, contados
e recontados no decorrer dos tempos, escondem
arquétipos que, ao serem revelados, desnudam a
alma do mundo.
Os personagens não estão lá simplesmente para
mostrar a personagem central. O príncipe, partindo
das cortes, tentando encontrar um verdadeiro
significado para a sua vida; as irmãs e a madrasta,
tentando tornar-se num ideal de beleza, o pai,
deprimido; todas estas figuras são indispensáveis à
emergência de Cinderela.”
Para ler o texto na íntegra, acesse o site:
http://www.psicologiabrasil.com.br/rev_07/capa/cap
a.htm
Aula 2 | Linguagens literárias 49
Pedir para dramatizar uma história qualquer;
Solicitar que o participante invente um final
ou qualquer outra parte de uma história
contada anteriormente;
Fazer um fantoche que represente um
personagem que gostou muito.
Assim como existem “contos infantis”, também
existem os “contos de méis idade”, ou seja, contos
para adultos acima de 40 a 50 anos, eles surgiram há
‘muito tempo. Esses contos simbolizam as tarefas de
desenvolvimento que se têm que realizar na segunda
metade da vida, retratam o envelhecimento, mas com
crescimento espiritual e psíquico. Ajudam a mostrar o
sentido da vida, na maturidade e na velhice, de uma
forma agradável, com sabedoria e autoconhecimento.
Esses “contos de meia idade” são muito comuns
na cultura oriental, nos países árabes, na Índia e na
China, onde o idoso é valorizado e respeitado por sua
sabedoria e experiência.
O sábio mercador (conto judaico)
Há muito tempo, um mercador e um
filho já moço partiram em viagem por
mar. Levaram consigo uma arca de
jóias para vender durante a viagem. A
ninguém falaram sobre sua fortuna.
Um dia, o mercador ouviu os
marinheiros cochicharem entre si.
Haviam descoberto o tesouro e
estavam tramando matá-los para
roubar as jóias!
O mercador, fora de si de tanto medo,
andava de um lado para o outro em
sua cabina, procurando uma forma de
se livrar daquela situação perigosa.
Seu filho perguntou o que estava
acontecendo e o pai lhe contou.
- Precisamos enfrentá-los! – o jovem
exclamou.
- Não – o velho respondeu - eles nos
venceriam!
Dica de leitura
CHINEN, Allan B. E foram felizes para sempre. Contos de fadas para adultos. São Paulo: Cultrix. Exposição de uma psicologia da maturidade mediante a reunião de contos de fadas em que os personagens são adultos. Esses contos, ricos em significado psicológico e espiritual, ligam-se a temas arquetípicos.
Aula 2 | Linguagens literárias 50
Um pouco mais tarde, o mercador
assomou, abruptamente, ao convés. -
Você é um tolo, meu filho! – ele gritou.
Nunca escutou os meus conselhos!
- Velho! – gritou o filho de volta – Você
não tem nada a dizer que valha a pena
ouvir!
Os marinheiros, curiosos, cercaram o
pai e o filho que começaram a soltar
imprecações entre si. Então o velho
correu para a cabina e trouxe,
empurrando com esforço, a arca
pesada de jóias.
- Filho ingrato! – o mercador gritou –
Prefiro morrer de miséria do que
permitir que você herde a minha
fortuna! – Dizendo isso, o mercador
abriu a arca do tesouro e os
marinheiros engasgaram à vista de
tanta riqueza. Então o mercador
correu para a balaustrada do navio e,
antes que alguém pudesse retê-lo,
atirou seu tesouro ao mar.
- No instante seguinte, pai e filho
olharam para a arca vazia e se
abraçaram chorando pelo que haviam
feito. Mais tarde, quando a sós na
cabina, o pai falou:
- Tínhamos que fazê-lo, filho. Não havia
outro meio de salvar nossas vidas!
- Sim – respondeu o filho - seu plano foi
o melhor.
Em breve, o navio ancorou e o
mercador e o filho correram para o juiz
da cidade. Acusaram os marinheiros
de pirataria e tentativa de homicídio e
o magistrado os prendeu. O juiz
perguntou aos marinheiros se haviam
visto o mercador atirar seu tesouro no
mar e eles responderam que sim. O
juiz então condenou todos à morte.
Que homem iria se desfazer das
economias de uma vida senão por
medo de perdê-las? – o juiz ponderou.
Os piratas se ofereceram para dar
novas jóias ao mercador e, em troca, o
juiz lhes poupou a vida.
(resumo do conto “O sábio Mercador”
da obra de G. Friedlander)
... E a poesia é a primeira
manifestação de expressão literária, é
pela poesia que se iniciam todas as
Literaturas.
(Carvalho, B., 1998)
Aula 2 | Linguagens literárias 51
A IMPORTÂNCIA DA LIVRE EXPRESSÃO
Quando se pede a alguém que escreva um
poema, começam as preocupações com rimas... Essas
podem ser trabalhadas, mas como um ponto à parte. O
mais importante é se desenvolver a expressão livre,
uma vez que a poesia vem do coração, podendo fluir de
todas as formas, até sem aparente nexo.
Exemplo de dinâmica:
Apresentar um poema e pedir aos participantes
que repitam frase por frase, caminhando pelo espaço
em que estão de forma descontraída, compondo o todo.
Depois, que se organizem em duplas e contem o
poema, com expressão corporal.
Em um segundo momento, cada um pode repetir
parte do poema deixando sentenças inacabadas, a
pessoa seguinte pode completar com criações suas. Por
esse meio, os integrantes (de qualquer idade) são
encorajados a falar de si próprios.
A partir daí, pode-se pedir ao grupo que faça um
desenho de seus sentimentos acerca do poema. Podem
vir expressões de inúmeros sentimentos: alegria. raiva,
tristeza, ódio. Uma janelinha se abre para o interior da
pessoa, às vezes, facilitando a abertura de uma porta
gradativamente.
Outra expressão plástica - utilizando-se a
mesa de areia: pede-se, com antecedência, que tragam
pequenos objetos decorativos de casa: animais, anéis,
mobiliário, bibelôs, como se fossem compor a
“maquete” de um cenário (= modelo minimizado de um
ambiente em tamanho natural, real). Estes são
colocados dentro de uma caixa com areia; se houver
possibilidade de se preencher sua parte inferior com
Aula 2 | Linguagens literárias 52
água, tampando-a com um vidro e colocar a areia por
cima deste, cria-se um espaço mais lúdico. A partir daí,
os objetos são colocados, delineando mais uma
história.
O fato de podermos olhar a cena com largura,
altura e profundidade, leva-nos a visualizar a história
que nos pertence, que traduz uma passagem de nossas
vidas como espectadores, ajudando a esclarecer
situações, a clarificar problemas e cisões.
Segue mais uma orientação do oficineiro
Bernardo Arraes:
Apresentando um conto popular, o
contador fará uma estrutura oral,
semelhante a do contador de “causos”.
Ele usa as palavras, pausas etc. com
uma naturalidade tão grande, que
parece um ator, mas não é.
(Entrevista, 1999)
Memória
É importante conhecer bem a história
selecionada, com relação aos detalhes formais:
Suspense, conflitos, ações, sentimentos dos
personagens. Ele poderá contar a história sem risco de
esquecer momentos importantes da mesma. E recriará
a narrativa em caso de esquecimento ou entusiasmo
visual causado pelo envolvimento da memória.
Não convém memorizar a história sem esquecer
um artigo. Isso acaba com a naturalidade emotiva,
bloqueando a espontaneidade do narrador. O
estrelismo também deve ser evitado.
Conhecer bem a história é fundamental.
Entretanto, saber com exatidão os acontecimentos que
a compõem não significa necessariamente decorar.
Aula 2 | Linguagens literárias 53
Esquecer certos detalhes podem fazer com que os
personagens fiquem sem coerência interna entre eles.
É fundamental perceber as nuanças do texto:
os momentos emotivos, de humor, os momentos que
revelam os espaços em que ocorrem os conflitos e
desenlaces, onde está o suspense, que poderá levar ao
desfecho. As circunstâncias que provocam a
“plasticidade visual” do que o contador está narrando. É
preciso estudar os personagens, sob os aspectos
psicológicos (situação, econômica, afetiva, sexual etc.).
O autor deve elaborar análises do texto para dar
destaque aos elementos essenciais da história. Pode
sublinhar no texto as passagens principais do mesmo, o
que indicará que não podem ser esquecidas.
Deve-se estar atento para perceber o objetivo
principal da história e observar como os personagens se
relacionam e solucionam os conflitos para realizar esse
objetivo. Uma boa história desperta no leitor a vontade
de continuar vivendo a narrativa, despertando inclusive
o desejo de conhecer o texto para ler e reler.
Expressão corporal e estudo das vozes
Experimentar determinados tipos de gestos,
brincar com as diversas vozes e falas; tudo dependerá
de como você poderá passar para o(s) ouvinte(s) a
história. Um contador, às vezes não muda a voz, não
teatraliza o texto (gestos e dramatização exagerada) e
consegue um efeito muito forte, emocionando os
ouvintes, apenas com a naturalidade da voz e do
gestual. A emoção do contador será espontânea e
descobrirá o que fazer, se ensaiou antes, e relaciona
esse ensaio (história memorizada ou decorada) na
comunicação com o outro.
Importante
No momento de contar a história essas nuanças do texto podem aparecer na voz do
contador. Sem ser caricatural, o tom da voz ajuda na emoção do relato.
Aula 2 | Linguagens literárias 54
COMO ENSAIAR
O ensaio deve significar uma preparação
carinhosa para quem nos assiste. Se temos o dom da
comunicação oral, corporal, só pode ser para
compartilharmos pensamentos, idéias, sentimentos.
Há algumas sugestões para se elaborar uma
apresentação:
Diante de um espelho;
Com um gravador ou uma câmera de vídeo;
Diante dos colegas do grupo que ouvem a
história ou, em caso de não ter um grupo,
para amigos e familiares;
Escrevendo a história, além de estudos e
resumos, para compor um repertório.
APRESENTAÇÃO
O contador de histórias utiliza como recursos,
além das histórias, é claro, seu sentimento, a memória,
a leitura, o olhar, a voz e o gestual. A linguagem não
verbal também conta a história e deve ser empregada
com freqüência. Muitas perguntas podem surgir
nesse momento:
Qual será o público? Crianças? Adultos?
Público misturado?
Existe algum tema específico para a
apresentação no qual as histórias têm que
estar relacionadas?
Estudar a ordem em que serão apresentadas
as histórias pode envolver emocionalmente o
contador e seus ouvintes?
Como é a acústica do espaço? É necessário o
microfone? Ou basta a projeção da voz?
Como ficarão acomodadas as pessoas?
Dica da professora
Atenção a estas dicas! Elas são fundamentais para um encontro agradável para o contador da história e seu público.
Importante
Contar bem uma história requer prática! Já dizia Picasso que a arte é 1% inspiração e 99% transpiração! É fundamental estudar a história e ensaiar!
Aula 2 | Linguagens literárias 55
Qual o espaço disponível para o contador se
movimentar?
Com relação às perguntas acima, é
importante observar:
É interessante que a platéia fique num
semicírculo, e um único terá repertório específico. Mais
de um contador já implica a se