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d i e z a u t o r e s i b e r o m e r i c a n o s de premio Premio Iberoamericano SM de Literatura Infantil y Juvenil

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d i e z

a u t o r e s

i b e r o

m e r i

c a n o s

d e p r e m i o

diez

aut

ores

iber

oam

eric

anos

de

prem

io

Agustín Fernández Paz

Laura Devetach

Jordi Sierra i FabraAna Maria Machado

Ivar Da CollPremio Iberoamericano SMde Literatura Infantil y Juvenil

Con el apoyo de:

Bartolomeu Camposde Queirós María Teresa Andruetto

Juan Farias Gloria Cecilia Díaz Montserrat del Amo

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d i e z

a u t o r e s

i b e r o

m e r i

c a n o s

d e p r e m i o

Premio Iberoamericano SM de Literatura Infantil y Juvenil

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Diseño: Equipo SM© Fundación SMEdición no venal

ISBN: 978-607-8053-17-9

www.cerlac.org

www.fundacion-sm.com

www.ibby.org

www.oei.es

www.unesco.org

C O N E L A P O Y O D E :

www.�l.com.mx

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INTRODUCCIÓN

3

X Aniversario del Premio Iberoamericano SM de Literatura Infantil y Juvenil

La Fundación SM, en cumplimiento de uno de sus objetivos, el fomento

de la lectura y la escritura, puso en marcha en 2005 el Premio Iberoame-

ricano SM de Literatura Infantil y Juvenil, con el propósito de impulsar la

literatura infantil y juvenil en Iberoamérica.

El objetivo de este premio es galardonar a aquellos autores de reco-

nocido prestigio que hayan desarrollado su carrera literaria en el ámbito

del libro infantil y juvenil, y se convoca anualmente por la Fundación

SM junto con las instituciones que conforman la Asociación del Premio:

Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina y el Cari-

be (CERLALC), International Board on Books for Young People (IBBY),

Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y

la Cultura (OEI), y la O� cina de la Organización de las Naciones Unidas

para la Educación, la Ciencia y la Cultura en México (UNESCO), con la

colaboración de la Feria Internacional del Libro de Guadalajara (FIL), en

cuyo marco se entrega el Premio. Nuestro sincero agradecimiento a todas

ellas por su colaboración.

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En estos diez años de recorrido, el Premio Iberoamericano ha reco-

nocido a diez extraordinarios autores de literatura infantil y juvenil de la

región. La lista de los galardonados nos da una idea clara del auge que ha

alcanzado la literatura en lenguas española y portuguesa. Agradecemos a

los miembros de los respectivos jurados por su dedicada labor para de-

signar a los ganadores de cada año. Teniendo en cuenta el listado de las

nominaciones, podemos asegurar que no ha sido tarea fácil.

Este libro, que se entrega a los asistentes al Acto de Entrega del X Pre-

mio Iberoamericano SM de Literatura infantil y Juvenil, es un homenaje a

todos los autores galardonados con este Premio. En él se recogen las sem-

blanzas y los discursos de aceptación del Premio a lo largo de sus diez años

de existencia. Esta valiosa información nos permite conocer más a fondo a

los autores y su obra.

El formato del acto de entrega de los Premios ha ido cambiando a

lo largo de estos años, por lo que, en algunos casos, no se conservan estos

testimonios. En estos casos hemos recurrido a textos, artículos o entrevistas

que igualmente re� ejan la personalidad de los autores. Agradecemos a las

instituciones que nos han ayudado enormemente facilitándonos los docu-

mentos que enriquecen este libro.

Este texto rinde también un especial homenaje y un recuerdo agrade-

cido a dos grandes autores que ya nos han dejado: Juan Farias y Bartolo-

meu Campos de Queirós, ganadores del Premio Iberoamericano en 2005

y 2008 respectivamente.

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INTRODUCCIÓN

4 5

Y, � nalmente, la Fundación SM agradece a todos los que trabajan in-

cansablemente para que la lectura ocupe un lugar cada vez más importante

en la vida de nuestros niños y jóvenes.

Muchas gracias.

Fundación SM

Los interesados pueden encontrar las biografías de los autores y más información sobre el Premio en la página: www.iberoamericanosm-lij.com

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X Aniversário do Prêmio Ibero-Americano SM de Literatura Infantil e Juvenil

A Fundação SM, no cumprimento de um de seus objetivos, fomentar a

leitura e a escrita, lançou, em 2005, o Prêmio Ibero-Americano SM de

Literatura Infanto-Juvenil, com o � m de impulsionar a literatura infantil e

juvenil na Ibero-América.

O objetivo deste prêmio é distinguir os autores de reconhecido

prestígio que tenham desenvolvido sua carreira na área da literatura

infanto-juvenil e é convocado anualmente pela Fundação SM junta-

mente com as instituições que formam a Associação do Prêmio: Centro

Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe

(CERLALC), International Board on Book for Young People (IBBY),

Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência

e a Cultura (OEI), e o Escritório da Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura em México (UNESCO), com a

colaboração da Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL), em

cujo âmbito é entregue o prêmio. Nosso sincero agradecimento a todas

elas por sua colaboração.

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INTRODUCCIÓN

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Nestes 10 anos de história, o Prêmio Ibero-Americano reconheceu

dez extraordinários autores de literatura infanto-juvenil da região. A lista

dos premiados dá-nos uma ideia clara do auge que alcançou a literatura

nas línguas espanhola e portuguesa. Agradecemos os membros dos res-

pectivos jurados por seu dedicado trabalho para escolher os vencedores

de cada ano. Vendo a lista dos candidatos, podemos garantir que não foi

uma tarefa fácil.

Este livro, que se entrega aos participantes do Ato de entrega do X

Prêmio Ibero-Americano SM de Literatura Infantil e Juvenil, é uma home-

nagem a todos os autores distinguidos com esse prêmio. Nele foram coleta-

das as apresentações e os discursos de recebimento do prêmio ao longo de

seus 10 anos de existência. Essa valiosa informação permite-nos conhecer

mais a fundo os autores e sua obra.

O formato do ato de entrega dos prêmios foi mudando ao lon-

go destes anos, por isso, em alguns casos, não foram conservados esses

depoimentos. Recorremos a textos, artigos ou entrevistas que re� etem

igualmente a personalidade dos autores. Agradecemos às instituições que

nos ajudaram enormemente fornecendo-nos os documentos que enri-

quecem este livro.

Este livro também faz uma homenagem especial e lembra com gra-

tidão dois grandes autores que já nos deixaram: Juan Farias e Bartolomeu

Campos de Queirós, ganhadores do Prêmio Ibero-Americano em 2005 e

2008, respectivamente.

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E, por último, a Fundação SM agradece a todos os que trabalham in-

cansavelmente para que a leitura ocupe um lugar cada vez mais importante

na vida de nossas crianças e jovens.

Muito obrigado.

Fundação SM

Os interessados podem encontrar as biogra� as dos autores e mais informações sobre o prêmio na página: www.iberoamericanosm-lij.com

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Índice

14 Juan Farias. Premio 2005

Juan Farias habla sobre Juan Farias.

22 Gloria Cecilia Díaz. Premio 2006

Entrevista con la autora.

Discurso de aceptación.

38 Montserrat del Amo. Premio 2007

Semblanza por Pedro Cerrillo

Entrevista con la autora.

56 Bartolomeu Campos de Queirós. Premio 2008

Semblanza por Ana María Machado

Semblanza por Silvia Molina

70 María Teresa Andruetto. Premio 2009

Semblanza por Beatriz Helena Robledo

Semblanza por Juan Sebastián Gatti

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ÍNDICE

86 Laura Devetach. Premio 2010

Discurso pronunciado por la autora en la Universidad

de Córdoba (Argentina)

Discurso de aceptación.

106 Agustín Fernández-Paz. Premio 2011

Semblanza por María Jesús Gil Iglesias

Discurso de aceptación.

130 Ana Maria Machado. Premio 2012

Semblanza por Marisa Lajolo

Discurso de aceptación.

150 Jordi Sierra i Fabra. Premio 2013

Semblanza por Luis Fernando Crespo

Discurso de aceptación.

166 Ivar Da Coll. Premio 2014

Semblanza por Beatriz Helena Robledo

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Índice

14 Juan Farias. Prêmio 2005

Juan Farias habla sobre Juan Farias.

22 Gloria Cecilia Díaz. Prêmio 2006

Entrevista com a autora.

Discurso de recebimento.

38 Montserrat del Amo. Prêmio 2007

Apresentação por Pedro Cerrillo

Entrevista.

56 Bartolomeu Campos de Queirós. Prêmio 2008

Apresentação por Ana Maria Machado

Apresentação por Sílvia Molina

70 María Teresa Andruetto. Prêmio 2009

Apresentação por Beatriz Helena Robledo

Apresentação por Juan Sebastián Gatti

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Page 14: d i e z a u t o r e s i b e r o m e r i c a n o s d e p r e m i o

ÍNDICE

86 Laura Devetach. Prêmio 2010

Discurso pronunciado pela autora na Universidade

de Córdoba (Argentina)

Discurso de recebimento.

106 Agustín Fernández-Paz. Prêmio 2011

Apresentação por María Jesús Gil Iglesias

Discurso de recebimento.

130 Ana Maria Machado. Prêmio 2012

Apresentação por Marisa Lajolo

Discurso de recebimento.

150 Jordi Sierra i Fabra. Prêmio 2013

Apresentação por Luis Fernando Crespo

Discurso de recebimento do Prêmio.

166 Ivar Da Coll. Prêmio 2014

Apresentação por Beatriz Helena Robledo.

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Juan Farias

2005

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Juan Farias / PREMIO 2005

Juan Farias habla sobre Juan Farias

Hago memoria, recuerdo y me doy cuenta de que nada ha cambiado.

Tengo un buen puñado de años a la espalda y me siguen gustando las

mismas cosas. Hay poco que añadir, en todo caso las mozas, que ya me

tratan de usted.

Escribir, leer, las puestas de sol, desembarcar en una isla desierta, tre-

par a los manzanos, el queso (si es buen queso), ladrarle a mi perro y otras

emociones siguen gustándome tanto como antes.

Lo que no me gusta sigue sin gustarme: la retórica, obedecer porque

no hay más remedio y algunos bandazos del sentido común. He de ad-

mitir que no siento demasiado respeto por el sentido común. Una de sus

virtudes es estropear oportunidades a la felicidad. Es el que te recuerda los

resfriados en el momento en que vas a tirarte de cabeza al río.

Soy un adulto que está en deuda con su infancia. Fui un niño feliz a

pesar de haberlo sido en tiempos amargos. Quizá lo deba todo a que tuve

un padre mágico. Mi padre, entre otras muchas cosas, me enseñó a leer.

No lo hizo de una forma disciplinada, ni rigurosa, sino jugando. No me

explicó que era importante, sino que me demostró que era divertido.

Mi padre aprovechaba los días de lluvia, los de frío, se sirvió de mis

aburrimientos y los entretuvo con unas lecturas en voz alta, hizo la voz de

todos los personajes y yo, que le quería, me acurrucaba junto a él. Eran dos

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placeres: el de tener a mi padre para mí solo y el de oírlo leer aquellas cosas

que me parecían posibles y de algunas de las cuales surgieron mis mejores

sueños, como el de ser grumete en un bergantín en busca del Fin del Mun-

do, escapar en un globo por encima de las montañas o entrar por un agu-

jero al centro de la Tierra, al país de la impertinente Reina de Corazones.

Bien, mi padre me enseñó más cosas, por supuesto. Me enseñó a la-

varme los dientes, a no pegar a los ancianos, a no dejar que los ancianos

me pegasen, a robar manzanas en primavera, a saber lo que vale un amigo

y a no cantar himnos.

Por aquellos años, cuando aún no enderezaba la “o” ni con ayuda de

una falsilla, empecé a escribir.

Esto puede llegar a convertirse en un vicio, en una servidumbre que,

paradójicamente, tiene un claro sabor de libertad. Ocurrió así:

Cuando un niño lee y se emociona, cuando disfruta, es porque ya

sabe dar forma a las palabras, darle a la palabra “pan” la forma y el sabor

del pan; deja de ver signos y ve cosas, imagina, puede coger el camino de

un cuento y, aun después de cerrar el libro, continuar la discusión con el

personaje, que ya es su amigo, o seguir escapando del Diablo Verde que lo

asustó para siempre.

Leer me proporcionó un montón de amigos. Huckleberry Finn fue

uno de ellos. Dudo mucho que una docena de psiquiatras eminentes pu-

dieran convencerme de la no existencia de ese muchacho que sabe quitar

verrugas conjurando a las almas en pena con la ayuda de un gato muerto.

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Juan Farias / PREMIO 2005

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Yo viví con Huck aventuras que no ha escrito nadie. Él y yo navega-

mos el Gran Río, escalamos los Apalaches para encontrar el camino por

donde se escapa el sol todos los atardeceres y fumamos la Pipa de la Paz

con Toro Sentado.

Cuando un niño disfruta con la lectura y la prolonga más allá de la úl-

tima página, cuando acepta que el teckel de la vecina es el doble de Colmi-

llo Blanco, o enristrando la escoba se dispone a derribar, en torneo a juicio

de Dios, al Caballero de la Mala Intención, ya está en el Gran Juego. Un

empujoncito, una gripe, dos días en cama, un lápiz y un papel, dos gotas

de paciencia pueden ser más que su� cientes como para que tengamos otro

escritor delante de nuestras narices, un niño con un juguete que lo hará

feliz hasta que algún avisado le diga:

“Muchacho, tú sirves para que mañana te hagan una estatua”.

Siempre quise ser escritor. Al principio me parecía un trabajo fasci-

nante. Ahora sé más cosas y estoy satisfecho. Empecé por contarme a mí

mismo lo que haría cuando fuese mayor, inventé un mundo en el cual las

islas estaban diseñadas por Stevenson y fui feliz jugando con aquello.

Más tarde tomé el camino de los escritores errantes. El viento me fue

favorable. Viví para contar lo que vivía.

Pude publicar alguna cosa y no me faltó la vanidad necesaria para

creerme un incomprendido.

Asistí a tertulias, acepté compromisos, me emborraché en París, � rmé

mani� estos y aún me quedan amigos.

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Un buen día alguien decidió que mis historias eran historias para niños.

Fue un crítico despectivo, un culto de alto octanaje que me dejó en la miseria

y no por herir mi vanidad (que esa es de corcho) sino porque, de ser cierta

aquella a� rmación, me obligaba a escribir bajo una disciplina más rigurosa.

Cuando uno escribe, lo quiera o no, comunica experiencias, deseos,

fobias, a� ciones, esperanzas, etc. Quien lee, si halla placer en ello, no podrá

librarse de la in� uencia del discurso.

Cuando uno escribe La Araucana, Guerra y Paz, Drácula o algo así, no

contrae responsabilidades. Puede que haga cultura o el ridículo. Eso es todo.

Por otra parte los adultos, esos alegres muchachos que organizan y

reorganizan un par de tiberios por minuto, aun siendo de mucho preocu-

par, no me interesan demasiado.

Pero, cuando uno escribe para un niño, está obligado a recuperar la

esperanza. A veces me pregunto si no deberíamos sentarnos en la cuneta,

tirar la toalla, meter toda nuestra experiencia en un baúl, tirar el baúl al río

y dejar que los niños improvisen una sociedad nueva.

Quizá a ellos se les ocurra aquello de “Ama a tu prójimo como a ti

mismo” que es, sin duda alguna, la constitución ideal.

Texto escrito por Juan Farias con motivo del Encuentro con Juan Farias ce-

lebrado en Salamanca, en febrero de 1997, dentro del programa de “Encuentros

con autores” del Centro Internacional del Libro Infantil y Juvenil (CILIJ).

Texto cedido por cortesía de la Fundación Germán Sánchez Ruipérez.

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Gloria Cecilia Díaz

2006

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Gloria Cecilia Díaz / PREMIO 2006

Gloria Cecilia Díaz

“Todo puede volverse literatura, basta que me emocione” 

Gloria Cecilia Díaz nació en Calarcá, Colombia. En el año 2006 le fue

concedido el Premio Iberoamericano SM de Literatura Infantil y Juvenil.

Estudió Licenciatura en Lenguas Modernas en la Universidad del Quin-

dío. En 1992 obtuvo su doctorado en Letras, en la Université de Paris III-

Sorbonne Nouvelle, en París, con la tesis “Les contes pour les enfants en

Colombie”. Su bibliografía incluye las obras El secreto de la laguna (1991),

El valle de los Cocuyos (Premio El Barco de Vapor 1985), La bruja de la

montaña (1990), El sol de los venados (1992), El árbol que arrulla y otros

poemas para niños (1995), Óyeme con los ojos (2000), La botella azul (2002)

y La otra cara del sol (2007). Sus libros se han traducido a diversas lenguas.

¿Cómo te convertiste en escritora de libros para niños?

Hace muchos años, cuando vivía en Colombia, me llamaron de una

editorial para proponerme que escribiera cuentos para niños; fui sincera y

les dije que había escrito poemas sobre los niños, pero no para los niños.

Se trataba en realidad de unos textos complementarios para un programa

de español dirigido a los niños chicanos de Texas. Debían ser cuentos di-

dácticos, muy breves. A lo mejor mi sinceridad llamó la atención, pues me

dijeron que empezara al día siguiente. Ese fue el comienzo de una hermosa

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aventura. Escribí el primer cuentecito en verso, y a ese le siguieron no sé

cuántos más. Recuerdo la felicidad que me procuraba ese trabajo. Obvia-

mente que, a pesar de todas las fallas que le encuentro ahora a esas histo-

rias, no puedo renegar de ellas porque fueron las que me abrieron la puerta

de la literatura infantil. 

¿Cómo nacen tus historias?

El origen de mis historias es muy diverso. Las exposiciones de pintura

me empujan a escribir; una frase leída o escuchada puede dar nacimiento a

un cuento o a una novela; una imagen; un objeto; bueno, casi todo puede

volverse literatura, basta que me emocione. 

Tus libros oscilan entre lo fantástico y lo simbólico (El valle de

los Cocuyos) y lo realista y lo psicológico (Óyeme con los ojos). ¿En qué

registro te sientes más a gusto y por qué?

Mis libros son todos diferentes, la prueba de que me siento a gusto en

cualquier registro. Lo esencial es que lo que empiece a escribir me guste,

luego la historia surge, simbólica, fantástica o realista, poco importa, no

soy yo quien decide. 

¿Cuánto hay de autobiográ� co en un libro como El sol de los ve-

nados?

Hay mucho de autobiográ� co en El sol de los venados, así como en La

otra cara del sol, puesto que este es la continuación del primero. Creo que

todo libro es autobiográ� co, al escribir no podemos hacer abstracción de

nuestro propio ser, nuestra huella se imprime de alguna manera. Un libro

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Gloria Cecilia Díaz / PREMIO 2006

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como La bruja de la montaña tiene que ver con mi infancia, con ese universo

poblado de seres imaginarios, con la naturaleza que me rodeaba. Mi abuela

juraba que las brujas existían, y obviamente que yo la creía a pie juntillas. 

¿Existe un propósito ético o moral en tu narrativa?

Fernando Savater, en su hermoso libro La infancia recuperada, ha-

blando del � nal de El Señor de los Anillos, dice: “[…] Frodo, muy cerca del

� nal de su Búsqueda, rodeado de enemigos en pleno territorio de Sauron,

logra reposar tranquilo la noche que ve su misión y toda la Guerra del

Anillo como un simple incidente dentro de una in� nita y recurrente con-

� agración que el Bien tiene ganada de antemano, precisamente porque el

universo es � nalmente moral y no hay nada más fuerte que la buena vo-

luntad…”. Pienso como él, que el universo es � nalmente moral. Cuidado,

moral, no moralista. Toda creación busca de alguna manera enriquecer la

vida propia y la de los otros, y ese enriquecimiento está ligado al Bien. 

Las relaciones entre niños y adultos –a veces difíciles, a veces gra-

ti� cantes– parecen ser un tema clave en tu literatura. ¿Por qué tu insis-

tencia en explorarlo?

Siempre me han interesado los niños y su relación con los adultos,

sobre todo con los viejos, esos dos polos de la vida que en cierta manera

se parecen. La verdad es que nunca me digo: “Voy a poner una persona

mayor en mi historia”, simplemente se cuela y eso me encanta. Los vie-

jos, como es el caso de Anastasia y del Pajarero Perdido, en El valle de los

Cocuyos, aportan a Jerónimo su sabiduría ancestral y el amor que el niño

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necesita para afrontar su destino. Emma, en Óyeme con los ojos, se erige en

cómplice de Horacio; los abuelos de Jana, en El sol de los venados, la llevan

de la mano por el mundo de la tradición oral; Li-Yun, en Las cometas del

recuerdo, vela por Dimitri, es la � gura paterna que al niño le falta. Pienso

que el adulto crece al ayudar a crecer al niño. 

¿Cómo es el proceso de escritura de tus libros? 

Nunca plani� co nada antes de empezar a escribir un libro. No parto

ni siquiera de una idea general. Una imagen, una frase, una anécdota se

vuelven libro. Descubro la historia a medida que la escribo y me fascina no

saber de antemano lo que va a pasar. Empiezo, eso sí, a vivir con mis per-

sonajes, los «veo» a ellos y a su entorno. A veces me pregunto si realmente

inventamos, si no tomamos algo que ya está, que ya es. 

¿Qué libro escribiste con mayor facilidad y cuál te dio más trabajo

terminar?

Puede parecer pretencioso, pero no creo haber tenido di� cultad para

escribir ninguno de mis libros, quizá porque solo continúo una historia si

la siento ligada profundamente a mi alma; si no es así, esas páginas iniciales

aterrizan en el cubo de la basura. Jamás envío a un editor un libro del que

no me siento completamente satisfecha.

Aunque se te conoce principalmente como narradora, has publica-

do un libro de versos (El árbol que arrulla). ¿Sigues escribiendo versos?

Aparte de El árbol que arrulla, no he escrito otros poemas para niños,

es probable que lo haga más adelante. En estos últimos tiempos he sentido

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Gloria Cecilia Díaz / PREMIO 2006

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una gran necesidad de volver a la lectura de poesía. Y, cuando no puedo

leer, escucho canciones poéticas, este género me ayuda a vivir. Desde mi

adolescencia he amado la obra de Joan Manuel Serrat. Y la canción france-

sa de la época de Jacques Brel es un derroche de poesía. 

¿Has tenido modelos o paradigmas en los distintos momentos de

tu trayectoria como escritora? ¿Cuáles han sido?

No hablaría de modelos, sino de escritores que admiro incondicio-

nalmente: Andersen, Tolkien, García Márquez, Borges, Faulkner, Antonio

Muñoz Molina, entre otros. 

¿Vivir en París durante tantos años ha in� uido de alguna manera

en tu literatura?

Vivir en París me ha hecho crecer literariamente, lo dije en otra oca-

sión: París invita a la profundidad, al trabajo. Tener acceso a un mundo

multicultural, al vasto mundo del arte y de la historia in� uye de una ma-

nera u otra en lo que uno crea.

¿Qué atención se presta en Francia a la literatura infantil y juvenil

que se produce en América Latina?

Para hablar francamente, Francia no se interesa por la literatura in-

fantil y juvenil de América Latina, los libros traducidos se pueden contar

con los dedos de la mano. Los editores no apuestan por escritores «desco-

nocidos». Vivo aquí hace más de veinte años y publiqué mi primer libro

en francés el año pasado. Los libros que interesan aquí son los de los países

anglosajones. 

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¿Qué te propones con tus libros? 

Mis libros son parte de mi vida, los que ya he publicado y los que es-

tán por publicar, y no sé si me propongo algo con ellos, proponerse suena

a «premeditación» y de esta estoy lejos. Digamos que los escribo porque

nacen de mi ser profundo, los escribo porque amo la vida, porque no hay

nada más increíble que los ojos de un niño cuando se le cuenta o se le lee

una historia.

Entrevista publicada por cortesía de la Fundación Cuatrogatos, www.cuatrogatos.org

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Gloria Cecilia Díaz / PREMIO 2006

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Discurso de aceptación del Premio Iberoamericano de Gloria Cecilia Díaz

Señores y señoras representantes de las entidades organizadoras del Premio

Iberoamericano SM de Literatura Infantil y Juvenil. Señoras y señores:

Hace más o menos quince años vine por primera vez a México. Pasé

dos semanas inolvidables, dos semanas descubriendo y admirando a cada

paso. Siempre soñé con regresar, sin lograrlo nunca por diferentes circuns-

tancias. Ese sueño se cumple ahora y en condiciones maravillosas.

Los lazos que me unen a este país han tenido que ver siempre con la

felicidad. Hace años recibí una carta de una niñita de Cuernavaca en la que

me pedía que escribiera la segunda parte de El sol de los venados, posibilidad

que yo ya había contemplado. La escribí y el libro saldrá aquí, en México,

en 2007. Y ahora esta distinción, que me honra, la recibo en este país que

ocupa un lugar especial en mi corazón.

No puedo continuar sin nombrar a Juan Farias y sin decir lo orgullosa

que me siento de ser su sucesora. Amo la humanidad que palpita en su prosa,

la profundidad que transmite con enorme sencillez. Amo la visión que tiene

de la creación literaria. Lo cito: “La literatura, la poesía, la palabra es todo lo

que tenemos para sobrevivir […]. Si algún día ocurre un cataclismo y todo

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se borra de la Tierra, con que solo queden dos hombres y un atardecer y se

encuentren en el camino, uno le contará al otro cómo logró cruzar las mon-

tañas y, en ese punto, antes que la sociedad, empezará la literatura”.

Se preguntarán ustedes, ¿y el lugar para el amor? Y les respondo: el

amor está siempre en la base, en el trasfondo, en las bambalinas, puesto

que sin él no hay palabra posible, no hay poesía posible, no hay literatura

posible. Vuelvo de nuevo a Farias:

“La literatura infantil, tantas veces sorprendente, tantas veces mal-

tratada por gentes que le deben tanto como yo o más, mucho más, y que

ahora creen tenerla olvidada, es imprescindible para un futuro deseable,

para un mundo donde aún se pueda cabalgar sobre un sueño: subir a las

estrellas o buscar la aventura en el corazón de lo diminuto”.

Soy una de las que debe mucho a la literatura infantil, a los cuentos

contados por mi abuelo en mi lejana infancia, a la luz del cielo estrellado

de mi pueblo cafetero; a los cuentos de Andersen tantas veces leídos, a

aquellos recopilados por los Hermanos Grimm, a los inolvidables Alicia en

el País de las Maravillas, Papaíto Piernas Largas y tantos otros. Sin ellos no

habría dado el paso a Dostoievsky, a Tolstoi, a Whitman, a Víctor Hugo…

a todos los que me han acompañado y me acompañan.

Tengo la suerte de vivir en la literatura infantil, de poder sumergirme

en ese mundo cuando escribo, cuando leo, cuando me encuentro con mis

lectores y cuando la existencia me con� ere momentos como este, único,

inolvidable.

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Gloria Cecilia Díaz / PREMIO 2006

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Quiero también rendir homenaje a todas las personas que en Colom-

bia y en todos los países de Iberoamérica trabajan por difundir la literatura

infantil y juvenil y la lectura. Qué mejor manera de incitar a los pequeños

a leer que poniendo en sus manos un libro de cuentos o de poemas. Siem-

pre me ha encantado la pasión con la que estas personas trabajan, como si

imitaran a los niños que, cuando juegan, lo hacen con una intensidad tal,

como si el mundo dependiera de sus gestos.

En Colombia ya se ponen libros en manos de los bebés. Creo que los

que estamos embarcados en esta aventura de la literatura infantil tenemos

una gran conciencia de la capacidad que tienen los niños para desentrañar

los textos, para comprender conceptos complejos, para establecer la dife-

rencia entre un libro borrador y una verdadera obra. Por lo mismo hay que

actuar para que los libros vayan a todas las manos, sin distinción de clase,

de sexo o de color de piel; hay que trabajar para que el libro no siga siendo

un objeto de lujo para una gran mayoría. Los libros son pan para el alma y

la humanidad está hambrienta.

Hace mucho tiempo, recién llegué a Europa, entrevistaron en la tele-

visión a un médico que se ocupaba de jóvenes drogadictos. Al preguntarle

el periodista por las causas de la drogadicción, él respondió: “Si a los chicos

se les diera más poesía, tendrían menos ganas de recurrir a la droga. No

hay su� ciente poesía en sus vidas”. Les con� eso que me quedé estupefacta

al oírle, y lo que al principio me pareció una enormidad, se reveló ante mis

ojos como una verdad irrefutable.

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No me gusta decir que “todo tiempo pasado fue mejor”, pero lo que sí

es cierto es que vivimos una era de grandes cambios, las nuevas tecnologías

avanzan a una velocidad vertiginosa, y esa avalancha arrastra a los peque-

ños, para bien o para mal; la cuestión es espinosa. Lo que importa es que el

poema, el cuento, la novela los acompañen siempre. Ellos no pueden vivir

sin historia, ningún ser humano puede vivir sin historia contada o leída.

Espero que aún nos queden muchos años para acariciar los libros, para

leérselos a nuestros niños, para que ellos volteen las páginas una y otra vez.

Tengo en casa un ejemplar de La bruja de la montaña que puse en ma-

nos de mi hija cuando ella tenía seis meses; el libro fue mordido, comido,

rasgado, solicitado mil veces. Cuando ella lo toma en sus manos ahora, se

enternece y creo que lo considera como un trofeo, como su entrada a la

literatura.

Vuelvo los ojos al día en que alguien me pidió, en una editorial co-

lombiana, que escribiera cuentos para niños, se trataba de cuentecitos di-

dácticos que no podían exceder los dieciséis renglones. Dije enseguida que

jamás había escrito para niños y la persona me dijo, no sé por qué: “Yo creo

que podrás hacerlo”. De todas formas, me mandaron al psicólogo…

Pienso, sin embargo, que mi camino literario empezó con la lectura;

la poesía tuvo en mí el impacto de un � echazo; hablo de la poesía leída a

los seis años, aún puedo recitar trozos de esos poemas y aún recuerdo las

ilustraciones que los acompañaban. A los seis años la poesía ya me parecía

un prodigio.

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Gloria Cecilia Díaz / PREMIO 2006

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Esa emoción de la infancia me ha acompañado toda la vida y a ella le

debo en gran parte mi paso a la escritura. Todo lo que no está ligado a esa

emoción, al alma en suma, termina en el cubo de la basura.

Me conmovió mucho el hecho de que, una de las razones por las que

se me otorgó este premio, fuera ”…por haber concretado obras valiosas en

lo estético y en lo humano”. Porque es precisamente lo que quiero poner

en las manos de los niños y de los adolescentes: un poco de humanidad, de

emoción, de profundidad, abrirles una ventana al mundo y, para decirlo

llanamente, darles ganas de leer.

Siempre pregunto a mis alumnos en Francia si les gusta leer. A menudo

pienso que el mundo se divide entre los que aman la lectura y los que ni si-

quiera han leído un libro en su vida. Estos, para mí, constituyen un misterio

insondable, pues leer es lo más parecido a la felicidad y ¡ellos no lo saben!

Transmitir la emoción que produce la lectura es uno de mis sueños,

el granito de arena que quiero poner en el edi� cio que deseamos construir

todos los que trabajamos por el libro infantil y juvenil, así como interesar

a los adultos; el mundo andaría mejor si los habitantes de este planeta con-

servaran un retazo de infancia en sus corazones.

Hace años la vida me permitió subir a un “Barco de vapor”, hoy pone

en mis manos un reconocimiento que me hermana aún más a mis raíces

colombianas, latinoamericanas y españolas, y por supuesto a esa otra patria

que es la lengua, mi lengua, lo que en mi caso es vital, pues estoy rodeada

de franceses.

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No quiero dejar de hacer alusión al Museo Quimbaya del Banco de

la República, la entidad que presentó mi candidatura a este Premio. Ese

Museo Quimbaya que es el motor cultural de mi región.

Para terminar, quiero contarles que, la víspera de mi viaje a México,

una de mis alumnas vino corriendo hacia mí y, con todo su candor adoles-

cente, me preguntó:

––“Señora, ¿es verdad que usted acaba de ganarse el Premio Nobel?”.

––“No”, le dije divertida, “pero casi”.

En mi corazón, este es mi Nobel. Gracias.

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Monserrat del Amo

2007

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Monserrat del Amo / PREMIO 2007

Monserrat del Amo

Montserrat del Amo. Un compromiso con la literatura infantil y juvenil

Montserrat del Amo (Madrid, 1927) es una de las escritoras pioneras en

el mundo de la literatura infantil española, a la que ha dedicado su talento

creativo. Con un lenguaje sencillo, expresivo, conmovedor, original, re-

�exivo y accesible a todos los lectores, Montserrat ha escrito para niños de

varias generaciones dando vida a personajes que sienten y se emocionan

más allá de un espacio y un tiempo concretos. Sus historias siguen tenien-

do vigencia porque son historias que hablan del esfuerzo, la amistad o el

amor; historias humanas con personajes que superan tragedias que han

sufrido personal o colectivamente.

El amplísimo currículum de la escritora, relacionado casi todo él con

la literatura infantil y juvenil , le hizo ser galardonada con el Premio Cer-

vantes Chico en 1993, y con el Premio Iberoamericano SM de Literatura

Infantil y Juvenil en su edición de 2007, en reconocimiento, en ambos

casos, a una trayectoria literaria ejemplar. La obra de Montserrat se cita

en manuales, historias y tratados de literatura infantil y juvenil, de ella se han

elaborado tesis doctorales y tiene un portal monográ�co en la bibliote-

ca digital más grande del mundo (la Cervantes Virtual). Algunas de sus

obras han sido galardonadas con importantes Premios: Lazarillo (Rastro de

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Dios, 1960), Nacional de Literatura Infantil y Juvenil(El nudo, 1978) Don-

cel (Zuecos y naranjas, 1968),Comisión Católica Española de la Infancia,

CCEI(Chitina y su gato, 1971, y La casa pintada, 1993). Además, ha sido

nominada dos veces al Premio Andersen.

Desde su primer libro (Hombres de hoy, ciudades de siglos, 1948),

Montserrat del Amo es una autora muy comprometida con su o� cio de

escribir y, por tanto, con el acto de la lectura, en el que de� ende la libertad

de elección por parte del lector, lo que, a� rma, “no está en contradicción

con que a los niños se les ofrezca en las escuelas lectura recreativa”. Al res-

pecto, y sobre su relación, como escritora, con los lectores de sus libros, ha

dicho en alguna ocasión lo siguiente: “No quiero ponerle di� cultades al

lector, pero quiero contar la historia con la técnica narrativa que requiere.

Si se lo ponemos todo muy facilito, si abaratamos el estilo, el lector no

madurará y de adulto no leerá”.

Es importante la presencia de elementos propios de la literatura

oral en sus narraciones. Ella misma se ha referido a sus años infantiles

durante la Guerra Civil española, en los que, al lado de la chimenea

donde la familia amortiguaba el duro frío del invierno, surgía la magia

de la lectura y de la narración oral de boca de sus padres y hermanos

mayores, o las canciones y las nanas que su madre cantaba por las no-

ches. El mundo esotérico de muchos juegos infantiles, con sus palabras

inventadas o sus disparates y sinsentidos, ejerció en Montserrat una

especial fascinación.

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Monserrat del Amo / PREMIO 2007

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En la serie “Contar y cantar” (Alhambra Pearson), que forman seis

libros: La reina de los mares (2003), Al pasar la barca (2004), Cucú cantaba la

rana (2006) El cocherito leré (2007), Al alimón, que se ha roto la fuente (2007) y

Tengo una muñeca vestida de azul , (2008), toma prestados los títulos de dife-

rentes canciones infantiles esceni� cadas para nombrar sus libros, porque ins-

piran o motivan la construcción de una historia a partir de cada uno de ellos.

Esas canciones son composiciones sencillas, de pocos versos, que se entonan

acompañando a juegos mímicos para los más pequeños (“Cucú cantaba la

rana”) o canciones de comba, corro o � las que interpretan niños, y sobre todo

niñas, un poco más mayores. La propia autora ha dicho en alguna ocasión

que ella no ha olvidado “las retahílas, las adivinanzas, las canciones de corro

o los juegos que aprendí de niña, y todavía me las canto por dentro. A ve-

ces, descubro el cuento que encierran esas coplas sencillas” (Hiriart, Rosario:

Vocación y o� cio. Montserrat del Amo. Madrid, Anaya, 2000: 47). Es decir,

que Montserrat del Amo ,además de proponer a los pequeños lectores unas

historias con las que pueden sentirse atraídos desde el primer momento, ya

que, desde el mismo título, aportan referencias a sus conocimientos textua-

les anteriores, en ocasiones recrea una parte del Cancionero Popular Infantil,

por ejemplo en La reina de los mares, en donde, a partir de la cantinela de una

canción de comba muy conocida en toda España y en buena parte de His-

panoamérica, construye una historia que habla de comprensión, cariño y

respeto por el otro. Es la historia de Kadina y su familia, que abandonan

su país para iniciar una nueva vida en Europa: la actualidad de un drama

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que, a diario, viven miles de africanos que intentan llegar, en condiciones

muy difíciles, al continente europeo en busca de una vida mejor; sin citarlo

expresamente, los oasis, las caravanas, el desierto o el pastoreo nos dan las pistas

necesarias para pensar que la autora se está re� riendo a ello.

Otros de sus libros para niños y jóvenes, aparte de los citados, son

Patio de corredor (Escelicer, 1956), La torre (Miñón, 1975), La piedra y el

agua (Noguer, 1981), La piedra de toque (SM, 1983), El fuego y el oro (No-

guer, 1984), La encrucijada (SM, 1986), El abrazo del Nilo (Bruño, 1990),

La cometa verde (Edelvives, 1997), Álvaro a su aire (Bruño, 1998), El perro

azul (SM, 2001)o Cuentos contados (SM, 2006).

Uno de los grandes valores de la obra de Montserrat del Amo es el

uso del lenguaje, directo y expresivo, en el que las estructuras gramaticales

son muy claras pero sin renunciar al uso de un vocabulario amplio, rico y

sugerente, incluso incorporando vocablos, hoy en desuso, que permiten a

los pequeños lectores conocer términos que eran de uso habitual en otras

épocas (“� nolis”, “señoritinga”, “braseros”, “estraperlo”). Mujer leal,

bondadosa y comprometida con los más desfavorecidos, muy querida

en el mundo de la literatura infantil y juvenil sin excepciones, su obra

literaria es muy sólida, cargada de valores que destacan por su propio tra-

tamiento y no por ser un tema en sí mismo, y de notable altura literaria.

Pedro C. CerrilloCatedrático de la Universidad de Castilla-La Mancha

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“Puedo darme el lujo de escribir lo que me dé la real gana. Si lo hice cuan-

do empezaba, ¿cómo ahora no lo voy a hacer?”. Estas palabras son una

buena tarjeta de presentación de Montserrat del Amo, la decana de los

autores españoles de literatura infantil. Alguien que publicó su primera

obra para niños hace ya seis décadas y que desde entonces no ha dejado de

escribir para ese público.

Montserrat nació en Madrid en 1927. Es licenciada en Filosofía y Letras,

con especialidad en Literatura Hispánica, por la Universidad Complutense

de Madrid. Durante largo tiempo combinó su trabajo como escritora con la

docencia, hasta que en 1986 dejó las aulas para dedicarse plenamente a la crea-

ción literaria. Ha recibido numerosos galardones a lo largo de su trayectoria,

como el Premio Lazarillo de Creación Literaria de 1960 por Rastro de Dios, el

Premio Nacional de Literatura de 1978 por El nudo, el Premio Complutense

de Literatura Infantil y Juvenil y el Premio Cervantes Chico, ambos en 1993, y

el Premio Iberoamericano SM de Literatura Infantil y Juvenil en 2007.

Su amplia bibliografía incluye novelas (La piedra de toque, La casa pin-

tada, La encrucijada, Los hilos cortados), cuentos (Tres caminos, Cuentos para

contar, Cuentos para bailar), teatro (Zuecos y naranjas, La � esta, ¡Siempre

toca!) y la serie costumbrista policiaca de ocho novelas sobre Los Blok, una

pandilla infantil que tuvo gran éxito en los años setenta.

Esta entrevista fue realizada en el hotel San Francisco de Santiago de

Chile, en febrero de 2010, pocas horas después de la experiencia de un

fuerte terremoto de intensidad IX en la escala de Mercalli.

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Usted comenzó su carrera escribiendo para adultos. ¿Qué la llevó

a escribir para los niños?

En la primera novela que escribí, aunque estaba dirigida a los adultos,

los niños eran muy protagonistas. Es una novela situada en Europa, duran-

te la Segunda Guerra Mundial, muy cargada de mis vivencias de la Gue-

rra Civil española. Hoy pienso que podría considerarse una novela para

lectores juveniles. La segunda novela, más que un argumento, tenía una

serie de paisajes, de viajes, de costumbres, en el estilo de Azorín, que es un

autor que siempre he admirado mucho. Y después, empecé a hacer libros

para niños. Era muy importante en mí la experiencia de la infancia. Había

leído una colección que se publicaba por entonces en España y escribí a la

editorial; sin conocer a nadie, les envié por correo un relato que también

estaba basado en mis recuerdos de la guerra.

Mi familia tenía relación con el mundo editorial, pero nunca me valí de

esas in� uencias para nada. El relato me lo aceptaron inmediatamente y allí

tuve la oportunidad de que me publicaran prácticamente todo lo que escribía.

Algo que me vino muy bien, porque fueron cinco o seis años en los que tuve el

estímulo de que publicaba, y ese “ejercicio de muñeca” me hizo mucho bien.

Cuando esa colección que yo había empezado a leer como adolescente llegó a

su título número cien, me lo pidieron a mí, algo que consideré un honor.

A partir de ese momento, me he dedicado casi por completo a los

libros para niños y jóvenes. He hecho algunas otras cosas, algo de divulga-

ción histórica, alguna biografía, algo más de ensayo sobre la narración oral

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y la animación a la lectura, pero lo más importante ha sido la literatura

infantil. Yo digo que no la elegí, sino que ella me eligió a mí. En este mo-

mento, cualquier argumento que me viene a la cabeza lo veo desde la mira-

da del niño o del adolescente. A estas alturas, no siento ninguna necesidad

de “convalidar” mis méritos escribiendo una novela para adultos, es algo

que no me interesa. Finalmente, no hay más que buena y mala literatura.

¿Escribe con algún tipo de lector en mente?

Cuando escribo no pienso mucho en quiénes van a ser mis lectores.

Cuando el libro está terminado es cuando me planteo desde qué edad, des-

de qué tipo de experiencia lectora puede ser asequible y en qué colección

pienso que puede tener mayor recepción. En vista de esas consideraciones,

se lo ofrezco a un editor o a otro.

Tampoco he querido nunca publicar con un solo editor, porque eso

podría condicionar demasiado mi trabajo. Los editores tienen una frase

muy dura, pero que la dicen entre ellos: «Estos son los escritores de mi cua-

dra». Claro, un escritor de su cuadra come bien, pero a lo mejor lo condi-

cionan, porque puede llegar un momento en que no se atreva a contradecir

lo que se espera de él y surja una autocensura. Por eso pre� ero trabajar con

varios editores. Si a uno no le gusta, lo llevo a otro lado.

Usted ganó el Premio Lazarillo con el cuento Rastro de Dios. ¿Qué

signi� có ese galardón para usted?

Signi� có un paso importante hacia el gran público. Ya había publica-

do varios libros para niños, pero el Lazarillo era el primer Premio impor-

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tante de literatura infantil que se convocaba en España. Es un cuento de

Navidad sobre un ángel. En realidad se tenía que haber titulado El Sentao

pero, en esos tiempos, que un ángel tuviera un mote no se consideraba

adecuado, no era políticamente correcto. Entonces le puse como título el

nombre o� cial del angelito: Rastro de Dios. Ese cuento tiene muchas lec-

turas. Puede ser leído por primerísimos lectores o por los adultos. Una vez

estaba en una población pequeña de España y me llamaron del convento

de unas monjas de clausura que querían hablar conmigo. Querían decirme

que les había caído en las manos un ejemplar de Rastro de Dios y que lo es-

taban utilizando como libro de meditación... El niño puede leer la historia

del angelito como algo simplemente anecdótico, y otros lectores pueden

hallar contenidos simbólicos más profundos.

¿Qué libros leía cuando niña?

Muchos libros de aventuras, porque tenía muchos hermanos varones,

mayores que yo. Leí a Julio Verne, a Karl May, de ahí pasé a Dickens... y

enseguida a la literatura general.

¿Qué le exige al autor escribir una serie de libros utilizando los

mismos personajes?

Hace muchos años escribí una serie, Los Blok, sobre una pandilla in-

fantil. Nunca he vuelto a publicarla y no sé si alguna vez lo haré. En todo

caso, tendría que rescribirla, porque generalmente las series de tipo realista

están muy atadas a una determinada circunstancia social. Eso hace que

pierdan actualidad.

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En el momento en que hice Los Blok estaban surgiendo las grandes ba-

rriadas alrededor de Madrid y en una de ellas, en el Barrio del Pilar, yo tenía

un estudio que compartía con una amiga pintora. Veía cómo llegaban a vivir

en esos edi� cios familias de muy distintas procedencias, gentes de pueblo

que venían a Madrid a trabajar, también gentes que procedían de casas anti-

guas del viejo Madrid a las que les parecía muy bien tener una terracita. Pero

no había ni escuelas ni casi comunicación con Madrid, excepto unos auto-

busillos que ponía la compañía constructora y que traían y llevaban hasta el

metro de Tetuán. Era un sitio muy particular. Había una mamá que desde la

terraza llamaba a su hija a gritos: «¡Mari Piiiili!». Yo me asomaba para verle la

cara a esa Mari Pili, pero nunca pude, porque no sé dónde se metía.

Entonces empecé a pensar: en esta situación, aislados de Madrid,

sin escuela, venidos de distintos lugares, ¿qué pueden hacer los niños?,

¿cómo se forma una pandilla? Y así surgió la pandilla de Los Blok: un

grupo de niños que vivía en uno de esos bloques, que se comunicaban a

través de las hojas de un bloc. Las historias tenían un tono entre costum-

brista y policiaco.

Hice varios tomos y gustaron, era un momento en que estaban de

moda en España las series de Enid Blyton. Pero unos niños de una biblio-

teca popular de los alrededores de Barcelona pedían mi serie diciendo:

«Queremos los libros de la pandilla de niños que cenan sopa de sobre y

tortilla». Porque los de las pandillas de la Blyton tomaban té y mermelada

de jengibre, y eso a ellos no les gustaba nada.

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La experiencia de escribir una serie fue una cosa transitoria y ahí se

quedó.

Usted ha expresado que ni como lectora ni como escritora le gus-

tan las novelas de fantasía pura. ¿Por qué?

Porque muchas veces me parecen un puro escapismo. Da lo mismo

una novela de fantasía pura que engancharse a ver uno de esos programas

de telerrealidad, que de reales no tienen nada, y que nada más sirven para

pasar el tiempo. ¡Hombre!, me gusta la fantasía de un Ray Bradbury por-

que eso tiene un contenido. O las historias de ciencia � cción para niños

que hacía un autor español llamado Tomás Salvador, al que me parece que

ya no se edita; eso sí me gusta. Pero la pura magia por la magia, no. Me

parece que es jugar al todo vale, que es un juego al que no se debe jugar.

En el año 1980 usted usó recursos composicionales poco frecuen-

tes en la literatura infantil española al escribir la novela El nudo. ¿A

qué responde esa voluntad?

Creo que El nudo salió así, sin un propósito deliberado de salirse de lo

habitual. Me sentía heredera de una tradición familiar y, al mismo tiempo,

sentía una necesidad de innovar, no podía seguir manteniendo los mismos

esquemas de mi familia. Tenía que salir adelante. En cierto modo, siempre

estoy desa� ando al lector, exigiéndole. Le desafío con un vocabulario que

sé que está un poco por encima del nivel normal de los lectores. Y le desafío

también con las técnicas narrativas, como sucedió en El nudo y en otros

casos en que he utilizado el monólogo interior o el narrador en tercera per-

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sona o cambiando los puntos de vista del narrador. Si estilísticamente un

libro es demasiado sencillo, entonces no formamos lectores.

Al niño hay que sorprenderle, hay que exigirle. Cuando hablo con

los chavales, muchas veces les explico que el buen lector es el que es capaz

de resistir el desafío de unas primeras di� cultades de lectura. Les explico

que, aunque he leído mucho, todavía me pasa que, cuando leo las primeras

páginas, me parece que el libro se está burlando de mí y me dice: “¡Eres

tonta, no me entiendes, no vas a poder conmigo!”. Cuando eso me sucede,

tengo dos soluciones. Una es cerrar ese libro y decirle: “No te entiendo,

ahí te quedas, que te entienda quien te escribió”. Pero eso sería admitir que

soy tonta y, claro, eso yo no lo acepto. A mí no hay libro que me llame

tonta. Así que opto por la segunda solución: comenzar a leerlo de nuevo,

poniendo más atención, � jándome en las pistas que me dan las palabras,

en los resquicios de luz.

Es exactamente igual que cuando estás en tu casa y se va la luz. Prime-

ro, oscuridad total, y después veo que no, que los faroles de la calle todavía

dan un resplandor y voy hacia ahí.

Entonces, a menudo, un libro que en un primer momento me ha

ofrecido di� cultades de lectura, después he terminado leyéndolo muy go-

zosamente.

A veces, los autores nos ponemos demasiado de rodillas delante de los

niños diciéndoles: “Lee, por favor, que es muy facilito”. Pues de facilito,

nada. Se quedan sorprendidísimos cuando les digo: “¿No quieres leer mi

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libro? Peor para ti. Mi libro es genial y tú te lo pierdes”. Y esa sorpresa y ese

reto están dentro de algunos de mis relatos.

¿Existen grandes cambios entre la literatura para niños que se

escribía cuando usted comenzaba su carrera y la que se hace ahora?

No muchos. Siempre han existido tendencias pasajeras, que han dado

una literatura que en determinado momento se vende mucho, pero que a

los dos o tres años pasa de moda y ya no interesa.

Tiene libros ambientados en China, en Israel, en Egipto, en Kur-

distán, en Guatemala... ¿Visitó esos lugares antes de escribirlos?

Yo no sé escribir si no conozco los lugares, pero no viajo para buscar

ideas para mis libros.

Sin embargo, los viajes rompen la rutina y, a la larga o a la corta, a

veces en ellos descubro cosas que me parecen interesantes.

Usted ha manifestado su rechazo a la literatura infantil que se

concibe para abordar determinados temas...

Es que los libros que se escriben solo para tratar un tema (por ejem-

plo, el tema de la droga, el tema de la ecología, el tema del divorcio) no me

gustan nada. Estoy harta de los libros sobre el tema de la droga en los que,

en las dos últimas páginas, el adolescente drogadicto sale de la adicción

porque quiere, de rositas, lo decide y lo hace de la noche a la mañana.

¿Así quién no prueba un porrito de vez en cuando? Si se puede salir de

la droga cuando a uno le da la gana. A veces algunas de esas novelas hechas

para tratar “el tema de la droga” más parecen propaganda para la droga. Si

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esos libros mostraran que de la droga se sale aullando, y que se sale o no se

sale, entonces tal vez valdrían la pena.

Yo escribo sobre personajes imaginarios, que son seres humanos, que

tienen sus problemas, pero no sobre temas. Hice un libro en el que el pro-

tagonista es un paralítico cerebral porque conocía a un muchacho con esa

enfermedad, y llegó un momento en que me dije: cómo no escribo yo so-

bre esto. Pero, cuando publiqué ese libro, fue a verme una señora muy bien

intencionada, educadora de niños sordos, que me dio una lata horrible,

porque estaba empeñada en que yo escribiese una novela que tuviera como

protagonista a un niño sordo. «¡Pero si yo no sé nada de niños sordos, no

he tratado a ninguno, no tengo ninguna experiencia con ellos!», le dije.

«No importa, yo le daría muy buena documentación», insistió.

El problema es que, con muy buena documentación y con muy bue-

nas intenciones, se escriben libros malísimos.

¿Cuál es el secreto de su vitalidad?

No lo sé. Tal vez no perder la capacidad de asombro o aceptar las co-

sas como son. Tengo la ventaja de que soy creyente, y tanto lo que me sale

bien como lo que me sale mal en la vida, creo sinceramente que tiene un

sentido. No me hundo en grandes desesperaciones ni me gusta hablar de

desgracias. Hay una anécdota zen que tiene mucha gracia.

Salen dos monjes de un monasterio, el maestro y el discípulo, a pedir

limosna. Y se encuentran a una muchachita muy joven, muy guapa, lloran-

do porque no puede atravesar el arroyo. El novicio retrocede, y el maestro

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toma a la muchacha en brazos y le cruza el arroyo. Luego siguen caminan-

do. El maestro nota que el discípulo va muy pensativo y le pregunta qué le

pasa. El novicio le responde: «Pues que siempre me ha dicho que para ser

un buen monje hay que conservar la pureza extrema y huir del contacto fí-

sico con las mujeres, y usted cargó a esa chica guapísima...». Y el maestro le

dice: «Pero yo la dejé en la otra orilla y tú todavía la llevas encima». Quizá

ese sea el secreto: dejar las cosas en la orilla...

Entrevista publicada por cortesía de la Fundación Cuatrogatos, www.cuatrogatos.org

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Bartolomeu Campos de Queirós / PREMIO 2008

58Bartolomeu Campos de Queirós

Apresentação de Bartolomeu Campos de Queirós por Ana Maria Machado

Saudacão a Bartolomeu

Conheço Bartolomeu Campos de Queirós há quase 30 anos. Invariavel-

mente, no decorrer desse tempo, nas mais variadas circunstâncias, suas pa-

lavras têm me deixado em estado de encantamento. Bartolomeu tem com

as palavras uma relação mágica. Faz com que elas se transformem no que

bem entende. Grande educador, inteligente, sensato, tranquilo, quando

fala emite opiniões corajosas, lúcidas, originais, de quem pensa pela pró-

pria cabeça, integra o intelecto à afetividade e não se limita a repetir ideias

feitas. Grande poeta, quando escreve instala verbalmente um universo feito

de alumbramentos e relâmpagos de beleza, em que apertos no coração se

sucedem a arrepios na alma.

Para apresentá-lo, convém dar alguns dados biográ�cos. Dizer, por

exemplo, que nasceu há 64 anos numa cidade pequena do interior de Mi-

nas Gerais, daquelas de casario colonial e silêncios misteriosos, num am-

biente rural, cercado de morros e campos. Mas algumas de suas evocações

guardadas na memória dizem muito mais do que esses dados objetivos.

Lembram, por exemplo, que a família era pobre de bens materiais,

mas muito rica em alegria e imaginação. Havia galinhas no quintal, todas

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brancas, comendo milho e ciscando no terreiro. E como as crianças da casa

queriam muito ter uma festa, um dia acordaram com uma surpresa mági-

ca: todas as galinhas estavam coloridíssimas – vermelhas, azuis, amarelas,

verdes, roxas. Uma festa inesquecível que a mãe � zera para os � lhos com

alguns pacotes de anilina colorida.

Outra lembrança é do avô. Não, não vou falar do olho de vidro dele,

que já teve um livro inteirinho só para suas aventuras evocadas por Bar-

tolomeu. Vou falar é das paredes de sua casa simples. Onde, num misto

de diário e dazibao, ele escrevia tudo o que lhe acontecia e onde o meni-

no Bartolomeu aprendeu a ler, decifrando um relato interminável sobre o

mundo a sua volta, ou mergulhando numa poesia sem � m, em permanen-

te processo de reescrita.

Com esses exemplos de formação poética ao vivo, feita de imersão no

estético, não é de admirar que, quando o menino cresceu e veio para a ca-

pital da província, em Belo Horizonte, tenha se tornado um educador com

tantas ideias próprias e fecundas. E que tudo o que ele sugere em sua obra

seja uma abertura de horizontes insuspeitados. Sempre privilegiando a arte

e valorizando o estético. Completando esse processo, teve sólida formação

teórica em arte e educação, que incluiu uma fecunda experiência junto ao

Instituto Pedagógico Nacional de Paris.

Desde que começou a publicar, em 1974, foi colecionando prêmios.

Ganhou todos os mais importantes da Literatura Infantil e Juvenil brasilei-

ra. Entre eles, o Selo de Ouro da Fundação Nacional do Livro Infantil, o

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Bartolomeu Campos de Queirós / PREMIO 2008

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da Academia Brasileira de Letras, o Jabuti, o Rosa Blanca (Cuba), o Qua-

trième octogonal (França) e uma preciosa indicação para o Hans Christian

Andersen, do IBBY, quando � cou entre os � nalistas, como já acontecera

com outros brasileiros como Ruth Rocha e Joel Ru� no.

O IV Prêmio Ibero-Americano SM vem consagrar um autor já plena-

mente reconhecido, um poeta de primeira grandeza, daqueles que sabem

explorar a linguagem em seus mistérios mais ocultos e, ao mesmo tempo,

jamais se afastam das fontes da infância, preservadas dentro de si. Por isso

se comunica tão bem com as crianças, metáforas da imaginação – na densi-

dade da busca de sentidos, na musicalidade irresistível, no senso de humor

dos jogos de palavras e conceitos. Mas nem por isso recai em facilitações

imediatas ou sentimentalismos. Sua poesia fala de coisas fundas como mi-

nerações ou elevadas como pássaros e ventos. De músicas e silêncios. De

luas e mares. De cavaleiros e ciganos. Do cotidiano e de tempos remotos.

De tudo. O que nela mais importa não é o assunto, é a linguagem, com sua

potencialidade libertária capaz de reinventar o mundo. Uma linguagem

que, nos livros de Bartolomeu, é sempre densa em signi� cações, dinâmica

em sua reverberação, irresistível em sua musicalidade.

Todos nós que falamos português estamos especialmente felizes com

as premiações desta FIL de 2008, que procura destacar a excelência literária

no mundo ibero-americano. Há três dias, foi conferido o prêmio Juan Rul-

fo a um brilhante romancista de nosso idioma, o português Antonio Lobo

Antunes. Hoje é a vez da literatura infantil, com este Prêmio Ibero-Ame-

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ricano SM. Como brasileira, estou muito contente e orgulhosa porque

este prêmio está sendo dado a Bartolomeu Campos de Queirós. Os júris

internacionais já têm reconhecido a excelência de nossa literatura infantil e

juvenil no campo da narrativa, com vários prêmios consagradores. É signi-

� cativo que agora chegue a vez da poesia, mais difícil de traduzir, mais sutil

em suas exigências ao passar para outra língua. Por se tratar de um prêmio

ibero-americano, esse reconhecimento é ainda mais importante. Somos, ao

lado de Portugal, o único país cuja língua não é o espanhol entre todos os

que compõem esse universo. Ao longo de nossa história, muitas vezes isso

serviu de pretexto para nos mantermos separados e isolados. A aceitação do

que fazemos pode e deve se constituir num convite para que leiamos uns

aos outros, e construamos pontes literárias entre nossas línguas e culturas.

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Bartolomeu Campos de Queirós / PREMIO 2008

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Semblanza de Bartolomeu Campos de Queirós por Silvia Molina

Lectura en tres actos

¿Quién es tan frágil para que una palabra lo lastime?

Bartolomeu

¿Quién es fuerte, o lo su� ciente para que una palabra lo resucite?

Bartolomeu

I

Eso es lo que usted dijo, en alguna ocasión, Bartó. Y he querido des-

tacar sus palabras ante todo porque, sin conocerlo, lo conozco y sé que son

ciertas. Es usted un hombre frágil porque fue amado de niño y conoció el

paraíso; y fuerte, porque cada vez se acerca más a recuperarlo en su escritu-

ra, no hay más que leerlo.

Y discúlpeme, Bartó, por hablarle como lo hacen sus amigos cerca-

nos, pero lo considero mi amigo después de haberle leído. Me ha regalado

tanto… Ha sido como una larga conversación con usted, en la que me

ha presentado a su gente, con sus miserias y sus grandezas, y en la que he

conocido la transparencia del escritor y su compromiso, tanto con la lite-

ratura como con la educación de los primeros lectores.

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He vivido sus sueños: lo vi desear con toda el alma que los gitanos lo

robaran solo para sentirse amado; he percibido sus anhelos, como el gran

esfuerzo por recuperar la vida diaria de una época; y he disfrutado sus

travesuras, sus trabalenguas. También he analizado su poesía y su prosa,

límpidas y transparentes, para entender en qué forma construye usted esa

ligereza en el lenguaje que nos hace avanzar sin darnos cuenta del tiempo,

y para saber por qué nos seduce su musicalidad, tan libre de arti� cios.

Sus libros me han regalado momentos de paz y de enojo, así como

de re� exión y alegría. Siempre en la intimidad con usted, como si me con-

tara en voz baja y casi en secreto sus historias y sus cuentos: para mí, para

mí solita. Su simplicidad, Bartó, es tan intensa que deja huella en el adulto

y llega graciosa al niño inocente porque lo entretiene con sus juegos de

palabras:

Esta estória tem 3 atos.

O ato do gato.

O ato do pato.

O ato do rato.

Si 1 vaca tiene 4 patas

y 1 pata tiene 2 pies,

1 vaca con 4 patas

camina con 8 pies.

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II

Qué desconsuelo he sentido como lectora, luego de leerlo y no poder

encontrar más libros suyos en español. Se consiguen apenas unos cuantos

títulos como Por parte de pa (FCE), El ojo de vidrio de mi abuelo (Babel

libros), Las patas de la vaca (Libros del Rincón/SEP) y en Ediciones SM

Dicen por ahí, la historia de la vieja dama y sus tres pares de anteojos, y

Tiempo de vuelo, una larga re� exión sobre el tiempo y las cosas que nos su-

ceden en su transcurso. Así que, ¿cómo, si no está traducido, hacerle vivir

a nuestros niños la ternura del personaje de Até passarinho passa, por ejem-

plo? ¿Cómo despertarles las palabras que usted ha convertido en poesía y

que duermen en ellos hasta que usted las toca?

Cuando la lectura de una obra nos ha conmovido, deseamos compar-

tirla. ¿No es cierto? Y es que sus historias son entrañables: quisiéramos un

abuelo como su personaje, o lo que es mejor, quisiéramos haber sido esos

niños que pinta: observadores, preguntones, intensos. Me gusta su literatu-

ra porque es sencilla, como he dicho, y asimismo directa, sutil, respetuosa

y sosegada: discreta.

Dicen que el escritor es el re� ejo de su obra, y estoy segura de que us-

ted es un hombre generoso y bueno, y que prodiga afecto a la gente que le

rodea. Además debe de ser alegre y tener un magní� co sentido del humor.

Hay en su trabajo compromiso serio y afán por entregarle a sus lecto-

res no solo la pureza del lenguaje, sino también historias delicadas donde

se da el lujo de jugar con la ironía. Es usted de esos escritores que no están

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dispuestos a hacer concesión alguna; de ahí que sus temas sean a veces cru-

dos y difíciles y que hablen de cosas que los niños quieren saber y no nos

atrevemos a contarles como la muerte, la separación, el miedo o el olvido.

Me imagino su natal Papagaio, en el interior de Minas Gerais, cuan-

do usted nació, en 1944. Un pueblo pequeño, con aroma de azahar,

como usted lo ha descrito. Veo a su abuelo y a sus padres en aquel pueblo

alejado de la guerra y atribulado por la cosecha y el devenir, por el creci-

miento de los hijos, por la enfermedad de los viejos; y cuyos habitantes

usted guardó en la memoria y, una vez instalado en Bel Horizonte, donde

ha hecho su carrera, los recreó para regalárnoslos. ¿Quién iba a decirle a

ese personaje a quien usted ha hecho homenaje en sus libros que un día

usted, el nieto Bartolomeu, recuperaría aquella memoria que su perso-

naje de Por parte de pa escribía en las paredes de su casa? ¿Quién iba a

contarle a ese hombre que le obsequió a usted un pasado vivo y, aunque

nebuloso en su recuerdo, recuperable, que cada una de sus arrugas se

convertiría en un mundo tan humano e imperfecto como el que aparece

en El ojo de vidrio de mi abuelo, Gitanos, Indez, Por parte de pa y Leer,

escribir y hacer cuentas de cabeza? ¿Quién?

III

Quisera saber, Bartolomeu, si cuando publicó su primer libro, El pez

y el pájaro (O peixe e o pássaro), en 1974, pensó que el maestro que usted

era, y que había escrito piezas teatrales para niños y textos educativos con

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la preocupación de acercar a los pequeños la lectura de placer, se iba a con-

vertir en un escritor de su talla.

¿Cómo fueron recibiendo su familia lejana y sus amigos Pedro,

Donde hay una bruja hay un hada (Onde tem bruxa tem fada), Cuchillo

a� lado (Faca a� ada), Gitanos (Ciganos), Flora, Indez, Correspondencia (Co-

rrespondência), Caballeros de las Siete Lunas (Cavaleiros das Sete Luas),

Por parte de pa (Por parte de pai), Historia en tres actos (Estória em tres

atos), Diario de clase (Diário da clase), ¡Ah! mar, Bichos… son todos bichos

(Bichos… sao todos bichos), Más y más igual a menos (Mais com mais dá

menos) y sus otros libros? Más de cuarenta, creo yo. Acaso vieron en ese

hombre observador y bondadoso que es usted, el que va a comprar el pan

como lo hacía su abuelo, a un escritor que da a las palabras el sentido y la

música de la poesía, y que se preocupa por la educación literaria de los ni-

ños ¿Admiraron su descripción de la vida interior de sus personajes? ¿Des-

cubrieron en usted al artista que, buscando su libertad y su propia infancia,

recupera las de sus lectores? ¿Fueron capaces de encontrar los aforismos

que a lo largo de su obra brotan delicados como el rocío?

Me gusta su obra, Bartó, por el alma que recrea, por el espíritu que

re� eja y porque revela una vida interior rica y profunda, también porque se

atreve a decir, a romper los tabúes y el silencio en ciertos temas, y el bien-

estar en otros: y porque sus lectores conocerán las miserias de que somos

capaces los seres humanos. La vida es como es, ni modo. Como en Hasta

el pajarito muere, donde habla de la muerte, de nuestro descubrimiento de

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que todo en este mundo es pasajero, y que nos permite expresar nuestra

soledad y llorar nuestra tristeza. Quisiéramos ser entonces sus siete caba-

lleros que descienden de la Luna en sus siete caballos blancos con sus siete

pares de alas y sus espadas de plata, para enfrentarnos a la vida con valentía

y honor.

Le felicito por este Premio Iberoamericano SM de Literatura Infantil

y Juvenil y por los otros diez que ha recibido, entre los que se encuentra el

Premio de la Academia Brasileña de Letras.

No me queda sino agradecer a la Fundación SM el honor y el placer

de haberle leído y de haberlo conocido a través de su obra. Muchas gracias.

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María TeresaAndruetto

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María Teresa Andruetto

Semblanza de María Teresa Andruetto por Beatriz Helena Robledo

Hace cerca de diez años, llegó a mis manos un cuento que me impactó mu-

chísimo por su �nal sorprendente, por la condensación de la escena, por

el lenguaje preciso, el necesario, ni una palabra más ni una menos, por su

poesía y por la fuerza de sus personajes, caracterizados con una economía

de lenguaje asombrosa. Me gustó tanto que durante mucho tiempo lo leí

con jóvenes con los que hacía talleres, y preparé una actividad con lo más

impactante del relato, su �nal sorpresivo. Leía en voz alta saboreando cada

palabra del cuento y lo dejaba en suspenso: “… y cuando estuvo seguro

de que ella desfallecía de amor, tiró de la cinta…” y allí lo dejaba. Fueron

muchos los �nales inventados por los jóvenes lectores, pero ninguno logró

imaginar ese, terrible, creado por la autora.

Perdí el libro, conservé una fotocopia del cuento que seguí circulando

y el nombre de María Teresa Andruetto se quedó en mí como el de una

gran escritora que deseaba conocer algún día, y sobre todo, encontrar más

libros de ella.

Años más tarde, tuve la fortuna de visitar la Feria del Libro Infantil de

Buenos Aires, y lo primero que hice fue preguntar quién editaba a María

Teresa Andruetto. Me condujeron al estand de Sudamericana y no podía

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creerlo: El anillo encantado, La mujer del vampiro, Benjamino, Huellas en la

arena; conjuntos de relatos, unos de miedo y terror, otros que recreaban los

cuentos populares de la tradición oral italiana, de donde desciende María Te-

resa, relaboraciones de cuentos antiguos de diversos países, en � n, una � esta.

Me sumergí en La mujer del vampiro, una serie de historias de miedo

que � otan en una deliciosa frontera entre la realidad y la fantasía, entre la

razón y la superstición; están en el preciso lugar en que se tejen las leyendas

cuando alguien le entrega a otro su certeza, y ese otro la comunica mediada

por el rumor y la duda, y este a su vez la devuelve al plano de lo posible al

contarla. En ese péndulo entre realidad y fantasía se debaten las historias

de La mujer del vampiro, en cuya introducción, María Teresa a� rma con

sabiduría que “es importante atravesar los miedos, aprender a caminar por

ellos, para sacarlos de nosotros, para hacer que –de tanto contarlos– alguna

vez se vayan a otra parte”.

Ese sabor añejo, de buen vino conservado en toneles de roble, lo

tienen otros relatos de María Teresa, como aquellos del Anillo encantado

y los de Huellas en la arena. Es como si una voz milenaria se encarnara en

su voz y, con el delicado tejido de su escritura, construyera los personajes,

tejiera los diálogos con cuidado de artesana y describiera las escenas con

imágenes poéticas. María Teresa relabora la tradición oral de culturas le-

janas con precisión metafórica. La soltura de la narración oral pasa por el

cedazo de su estilo profundo y condensado para entregarnos relatos que

más parecen poesía.

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Otra obra que en ese entonces me conmovió, y aún lo sigue haciendo,

es Veladuras.

Veladuras es, sobre todo, una voz que encarna la tradición del dolor de

las mujeres y su capacidad silenciosa para sobreponerse.

“Me gusta hacer las veladuras, y también los falsos acabados. Falsos

acabados, es así como los llaman, porque se pinta para que parezca piedra,

mármol o madera con sus vetas, sus manchas y cogollos… aunque no sean

verdaderos a mí igual me gustan, hacen que, después de mucho cubrir y

sobar, todo quede al � n bastante bien.

No sé qué piensa usted, doctora, pero a mí se me hace que es también

así la vida. Yo se lo dije una vez al doctor Freytes, cuando estaba allá en

la Casa de Descanso: primero uno cubre todo y después va sobando de a

poco lo que tiene soterrado, que es siempre lo que duele y hay que soliviar.

Es de ese modo que se cubre lo que estaba expuesto. Por eso pienso algunas

veces que, si pudiera hacerme yo misma a mí unas pátinas como estas que

les hacemos a los ángeles, si pudiera pasarle pan de oro a lo que ha perdido

el brillo, si al alma de uno le fuera bien hacerle veladuras, seguro que lo que

duele se pondría opaco y no se sufriría más”.

Sin embargo, entre toda la obra de María Teresa, la que más me gustó

en ese entonces fue Stefano. Y hoy la sigo considerando uno de sus mejores

libros, de aquellos clasi� cados dentro de la literatura infantil y juvenil.

Stefano es el nombre de un niño al que la dureza de la vida lo vuelve

grande antes de tiempo. Stefano es además la historia de un grupo de niños

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que migran de Italia a América, en busca, ya de un familiar, ya de fortuna,

en aquella época de las migraciones europeas que llegaron a poblar el sur

de nuestro continente. Pero Stefano es también una metáfora del exilio y

el desarraigo, una exploración, allá en lo más profundo de la condición

humana, de la separación del niño de su madre antes de tiempo, separa-

ción que desgarra y que marca el destino de este jovencito, que cuenta su

historia en fragmentos a su mujer. Stefano es también las miserias de la

guerra, la pobreza extrema, el hambre, en contraste con la abundancia en

una América que es Tierra Prometida pero in� erno a la vez.

Además del dramatismo de la historia, del suspenso que logra mante-

ner, celebré el rencuentro con la autora de ese relato que, para ese entonces,

ya era como un mito en mi imaginario: de nuevo el lenguaje contenido,

las imágenes potentes y cargadas de simbología, la precisión del lenguaje

que a la vez es imagen poética, las metáforas que pueblan la historia como

el naufragio, que luego genera un diálogo que se mueve en el plano sim-

bólico, cuando Pino, uno de los muchachos, dice, al encontrarse sin nada:

–Es como si fuéramos recién nacidos, y Stefano responde:

–En cambio, yo creo que ya lo hemos vivido todo.

O la escena de Stefano con el saco de su padre, en un juego que reco-

rre todo el relato, entre el niño y un padre ausente a quien Stefano intenta

remplazar a la fuerza porque así le tocó vivir. O la culpa que arrastra Stefa-

no por haber dejado a su madre pobre y enferma para venir a América, que

lo hace buscar con desespero a una mujer que es puerto y ancla a la vez.

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Su narrativa es compleja, profunda, digamos tan poética que se resiste

a entregarse al lector. De ahí el deseo de volver a ella. Una y otra vez y no se

agota. Y esta característica de su estilo tiene mucha relación con conviccio-

nes que María Teresa ha expresado en varias entrevistas y conversaciones:

su recato y respeto por el arte de la escritura y en especial por el arte litera-

rio. La literatura, más que un o� cio, es un arte, y un arte profundamente

humano. María Teresa, la escritora, busca con insistencia esa voz interior,

profunda, íntima, su propio sello, y pone resistencia a cualquier tentación

de generalización; esquemas, arti� cios, convenciones, lugares comunes es-

tán lejos no solo de sus principios sino, y lo que es más grato, de su obra.

Dice ella en una entrevista: “El arte no generaliza, sino que surge de esce-

nas privadas, muy personales, y sienta su poderío en lo humano particular

y en lo concreto”.

Ya se ha hablado en los estudios sobre su obra, de ese trasegar por

todos los géneros sin importar los límites, de esa libertad que caracteriza

su búsqueda y que se mani� esta tanto en su obra personal y única, ajena

a cualquier estandarización, como en su postura frente a la literatura. En

un territorio como el de la literatura para niños y jóvenes, esta postura

íntegra y libertaria se vuelve más valiosa aún. El mercado del libro para

niños hace uso, quizá con mayor facilidad que el del libro para adultos, de

estrategias que convierten a la obra literaria en una mercancía para un pú-

blico fácilmente manipulable: los niños y los jóvenes. Libros por encargo

para satisfacer demandas escolares o de moda; libros con � nes didácticos

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o moralistas, libros funcionales listos para el consumo, libros en los que se

desdibuja la frontera ente la literatura y la autoayuda; en � n, estrategias

todas que seducen fácilmente al escritor y de las que no es fácil sustraerse,

con el riesgo de quedar marginados. María Teresa ha asumido en este caso

una postura íntegra y política. Ella misma lo a� rma: “No pertenecer ni a

un género literario, ni a una editorial, ni a una institución privada, ni a

un estamento del estado ha tenido para la circulación de mis libros y mi

reconocimiento como escritora algunos, por el momento, muchos costes,

y para mi escritura ha tenido muchas ganancias”.

Celebremos esa capacidad de María Teresa Andruetto de permanecer

atada al mástil, esa � delidad a la escritura que nos permite hoy contar con

una obra genuina, personal, poética y profundamente humana, que la ha

hecho merecedora del V Premio Iberoamericano SM de Literatura Infantil

y Juvenil, Premio que cada vez se posiciona más y se vuelve un importante

reconocimiento a la trayectoria de un escritor. Y María Teresa hace honor

a este Premio. Muchas gracias.

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Semblanza de María Teresa Andruetto por Juan Sebastián GattiLa locura, el azar y las etiquetas

No es fácil presentar a María Teresa Andruetto, porque es una persona al-

rededor de la cual suelen producirse rarezas de las que le gustaban mucho a

Julio Cortázar, esos desplazamientos de lo cotidiano que en general descar-

tamos encogiendo los hombros y mascullando palabras como “casualidad”

o “azar”. Cuando esto se cruza, además, con una obra literaria como la

suya, de enorme poder evocador, su lectura se vuelve una experiencia tan

personal que no se puede hablar de ella más que en esos términos.

Esta breve semblanza de una autora y su obra debería hablar entonces de

la locura, del azar, de las huellas y de las etiquetas, y sobre todo de lo que son las

obras literarias, o mejor todavía, de lo que es la Obra Literaria, con mayúsculas.

Digamos que no por azar estamos todos nosotros reunidos aquí para

festejar a María Teresa Andruetto, que no por azar nació ella en un pueblo

de Córdoba, Argentina, en 1954, hija de un partisano piamontés en el exi-

lio, y que no por azar pasó su infancia en otro pueblito, que se llama Oliva,

del que recuerda, como buena piantada, que lo más famoso que tenía era

un hospital psiquiátrico. Se irán imaginando que, con antecedentes de este

tipo, una semblanza biográ� ca no es cosa fácil.

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La biografía de un escritor, cuando es de verdad, cuando cuenta

en serio, está en las palabras que ese autor ha escrito y ha leído, incluso

cuando esas palabras repiten lo que de su vida es público y notorio y cier-

to, pero sobre todo si no lo es. Hablar de María Teresa es algo que podría

hacerse fácilmente enumerando títulos y Premios, porque tiene muchos

de ambos. Habría que mencionar novelas como Tama, Stefano y La mujer

en cuestión, libros de poesía como Palabras al rescoldo, Pavese y Kodak,

habría que decir que ha ganado el White Ravens de literatura juvenil, el

Premio del Fondo Nacional de las Artes y el Luis de Tejeda, además del

que hoy nos congrega. Pero eso nos dejaría no enfrente de una persona,

sino enfrente de una etiqueta.

Hablemos, pues, de las etiquetas. A la industria editorial le encantan

los apellidos de la literatura. Un libro de literatura es una cosa inasible,

indescriptible y difícil de vender; es una persona de origen incierto y

amistades dudosas con la que puede ser contraproducente sentarse a to-

mar un café y a la que no se puede presentar tranquilamente a la novia

o los hijos. En cambio, un libro de literatura policiaca, pongamos, o de

literatura infantil, es un señor con familia conocida y registro civil. Uno

sabe a qué atenerse con él, cómo hablarle y a qué estantería mandarlo si

se pone pesado.

No por azar María Teresa Andruetto ha venido a esta Feria Internacio-

nal del Libro con una ponencia titulada “Por una literatura sin adjetivos”.

Por puro espíritu de contradicción, empecemos por defender las etiquetas.

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No está mal saber a qué familia pertenece el señor con el que uno se dispo-

ne a pasar varias horas a solas y en la intimidad, y por supuesto no está mal

saber a quién anda uno presentando a los niños. Que los apellidos infantil

y juvenil se hayan puesto en boga es, por un lado, una ayuda social y, por

otro, una constatación de que los niños y los jóvenes son una parte funda-

mental en cualquier sociedad lectora.

Otra cosa es, por supuesto, que los miembros de esa sociedad tenga-

mos prejuicios y pensemos que solo ciertos apellidos son dignos de asistir

a nuestras tertulias, o que por esos mismos prejuicios metamos en casa a

gente de buen apellido y pésima gramática.

Los racismos son insidiosos y de muchos colores.

Pero decir que un texto de Andruetto es “para niños”, “para jóvenes”

o “para adultos” es no hacer justicia a los lectores y no hacer justicia a sus

libros. Catalogar un cuento como El incendio, que me encantaría leerles en

un momento porque es breve y hermoso,

debe de haber requerido grandes dosis de audacia y de fortuna. En

cambio, suponer que uno no puede darles a los niños un poema que dice

Paisaje

Le dijeron: verás el río

(ella llevaba un vestido con canesú),

verás pajaritos y sauces

(un vestido rosa hecho

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por su madre).

En el camino

se largó un aguacero,

¡y ella estaba bajo un toldo

con su vestido nuevo!

(... cuando la lluvia acabó

ya era tarde,

y el agua corría por todas

partes).

porque se encuentra en un libro llamado Kodak, que es “de poesía” y

es “para grandes” resulta prueba su� ciente de los límites del prejuicio y de

los vaivenes de las familias.

Los apellidos etiquetan las obras, eso que con buena suerte llega a

convertirse en un libro y, con no tan buena o quién sabe, en una mer-

cancía. No intento hacer un juicio moral: gente perfectamente respetable

escribe obras literarias y, muy a menudo, esas obras alcanzan un merecido

éxito. Así que hablemos de las obras y la Obra, que no son lo mismo ni dan

igual. Hay escritores para niños cuyos libros, aunque sean muy buenos,

son todos distintos y dispares.

Están construidos (y uso la palabra con toda intención) al arranque

de una voluntad voluble y una estética nunca repetida. Si además escriben

“para adultos”, la línea de separación es muy clara: nadie confundirá unas

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obras con otras, y si les dan el Premio Nobel todos sabremos por cuáles

títulos lo estarán recibiendo.

Otros escritores, en cambio, crean paso a paso una obra que solo por

el accidente de existir en el continuo espaciotemporal se muestra como una

sucesión de libros, como una serie de objetos y discursos desconectados

e independientes. Este es el caso de María Teresa Andruetto. Ni siquiera

voy a intentar aquí hacer una exégesis de su obra, pero me gustaría ofrecer

algún ejemplo.

Para eso tenemos que hablar de las huellas. En Stefano, un libro ape-

llidado juvenil, una memoria imperfecta reconstruye la historia del viaje

de un muchacho piamontés que abandona Italia para eso que en otros

tiempos se llamó “hacer la América”. Es un libro que cuenta y no cuenta

la biografía familiar de Andruetto, entre otras cosas, parece decir, porque

las biografías siempre se cuentan así, siempre son una selección y una al-

teración, una re-creación de la memoria, los sentidos y las emociones. Lo

que se cuenta es una mirada y, en el mejor de los casos, un encuentro de

miradas, ese encuentro en el que ocurre lo que llamamos “realidad”.

No es en balde que se titule Kodak uno de sus libros, con una palabra

que para las generaciones precibernéticas como la mía era sinónimo de

fotografía en una época en que la fotografía quiso ser sinónimo de la reali-

dad. Estas instantáneas que son los poemas del libro se vuelven presentes,

se vuelven reales en los ojos del que mira y en el mundo que recrea desde

las huellas de lo que no está:

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Kodak

Yo miraba,

tras la lente de una Kodak

con la que él sacó fotos de la guerra,

antes que la muerte disolviera

sus pupilas y delegara en mis ojos

el dolor de mirarme devastada

por la ausencia.

Tal vez por eso es que desespera el anónimo narrador de La mujer

en cuestión, que inicia con garbo burocrático asentando: “Fui contratado

por una suma razonable para relevar de un modo exhaustivo el entorno

inmediato y las circunstancias de vida de la mujer en cuestión, a efectos de

que usted eleve lo investigado a quien corresponda”, y se derrumba, cien

páginas más tarde, admitiendo: “Pese a su intención de llevar hasta el fon-

do el conocimiento de la mujer en cuestión, este informante comprende

hoy que ese es un propósito imposible de lograr, siendo la única respuesta

que se ha podido dar para sí la convicción de que cada vez se le abren más

y más interrogantes”.

El informante se hubiera sentido relevado de toda responsabilidad y

justi� cado en su, por otra parte, inquebrantable honestidad de haber co-

nocido estos versos con los que Antonio Machado, mucho tiempo antes y

para siempre, explicó: “Se miente más de la cuenta/ por falta de fantasía:/

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también la verdad se inventa”. “También la verdad se inventa”. Siguiendo

las huellas que quedan en el polvo, Andruetto puede narrar la historia de

un hombre que espera y de una mujer que busca; la de un grupo de mu-

jeres que, movidas por la rebeldía y por designios tenebrosos, deciden en-

gordar, engordar mucho, y usar la gordura como una forma de seducción

o cacería; la historia de una mujer que vuelve del exilio para rencontrar a

su verdugo; la historia llamada Veladuras, de la que no diré nada más por-

que es el primer libro de Andruetto que tenemos en México y no quiero

arruinar el suspense, pero que tiene, hablando de verdades inventadas, un

epígrafe de Horacio Castillo que reza: “¿Fui yo algo en alguna parte?/ Dí-

melo, porque no tengo quien lo diga:/ Ni madre, ni padre, ni memoria”.

Dejo que cada quien piense qué apellidos pueden tener esas historias.

En � n... Si las etiquetas son arriesgadas, los Premios literarios se hacen

públicos y enseguida se vuelven un buen pastizal para el fuego del escep-

ticismo. Pero, de vez en cuando, nos regalan una escritora como esta, una

obra como esta, y a uno no le queda más que agradecer que el Premio haya

ocurrido, y que nos ocurra a nosotros, que ahora sabemos de María Teresa

Andruetto.

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Siempre empecé mis comunicaciones con un poema o con un cuento. No

encontré razones para que en esta oportunidad las cosas fueran diferentes,

así que invito a compartir un cuento.

El ojo de la aguja

Érase una muchacha que cantaba mientras trataba de enhebrar una

aguja.

El hilo pasó por el ojo y del otro lado había un mar y miles de cosas

diferentes, desconocidas.

El viento llevó el hilo que fue a enredarse en el pelo de un pescador. Este

tiró y tiró de él. 

Así, tirando, hizo pasar por el ojo de la aguja a la canción que cantaba

la muchacha y a la muchacha enredada en la canción. 

¿Y entonces, qué sucedió?

Quién sabe. Ese es otro cuento que queda del otro lado del ojo de la aguja. 

Quizá la muchacha quiera enhebrarla una y otra vez. Y en el vaivén,

el hilo pasará nuevamente de un lado al otro. Al ir pasando la muchacha y

el hilo quizá se encuentren con un cuento diferente cada vez, que podría

comenzar diciendo: “Érase una muchacha que cantaba mientras trataba de

enhebrar una aguja…”.

Nunca me hubiera imaginado que me tocaría transitar este momento.

Ni hubiera pensado que la Universidad Nacional de Córdoba honrara a

alguien que, como yo, se dedicó a la literatura para niños y a la formación

de lectores.

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Me encuentro ante una ocasión única de agradecimiento y celebra-

ción hacia un gesto institucional que trasciende mi persona. De ese modo

una disciplina considerada marginal, como la literatura para niños y jóve-

nes, logra una jerarquía en los claustros y honra a todas las instituciones y

profesionales que hace años trabajamos en esto y por esto.

Es una circunstancia de agradecimiento y celebración, porque legiti-

mar estas tareas –que se realizan profesionalmente en muchísimos puntos

no muy coordinados de todo el país– es un gesto de apertura indispensa-

ble. Tenemos un territorio con gran mayoría de niños y jóvenes pobres e

indigentes, que podrían encontrar en los libros alimentos para formar sus

conciencias y acceder a la esperanza.

Juan Gelman, al recibir el Premio Cervantes de Poesía, recuerda a

Hölderling, quien se preguntaba, en tiempos de penurias,  “¿Para qué

poetas?”. Y expresa Gelman: “Qué hubiera dicho hoy [Hölderling] en un

mundo en el que cada tres segundos y medio un niño menor de cinco años

muere de enfermedades curables, de hambre y pobreza”. Pues –diremos

nosotros– poetas para ver la vida de otra forma, para alimentar concien-

cias, para acceder a la esperanza.

Es una circunstancia de agradecimiento y celebración porque sé que

detrás de la gestión de este título que hoy se me otorga están instituciones

y grupos de personas que, tesoneramente y desde hace años, persiguen los

mismos objetivos para con la infancia: nutrir el espacio poético y el imagi-

nario de cada niño, de cada familia, de cada comunidad, por pequeña que

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sea, a sabiendas de que eso es construir un verdadero capital con apuestas a

largo plazo para toda la sociedad. Este doctorado nos involucra a todos. Es

una ocasión iniciática y que no dudamos que puede producir transforma-

ciones. Estamos hablando de un trabajo de hormigas, de muchos granos

de arena, en un país en el que sabemos que los libros no llegan generosa-

mente a manos de los lectores. La sociedad, y más aún sus sectores carentes,

pueden, desde el deseo incentivado, encontrar en los libros el lugar para el

disfrute, el conocimiento y la adquisición de conciencia. Por eso es impor-

tante � jar la mirada en niños y jóvenes.

Vengo de un padre extranjero, ebanista, que tallaba la madera. Mien-

tras tallaba, solía decirme: “¿Ves? Lo lindo es lo que va quedando cuando

uno saca”. Y la madera olorosa tomaba formas en sus manos. Noción que

más de una vez encontré entre los poetas y sus trabajos con la palabra y se

me hizo carne.

Mi padre, a su vez, venía de un padre campesino analfabeto que casti-

gaba a su hijo porque leía libros como Sin familia, de Héctor Malot, cuan-

do llevaba a pastar a la vaca, la fortuna de la familia. No era fácil permitir

que un hijo entrara a la cultura letrada y tomara distancia de su propio

estrato social.

Vengo también de una madre que tejía con hilos, cosía y bordaba.

Me enseñó aquello de la paciencia, de las normas para poder crear, de los

distintos puntos y de no dejar enredar los hilos. Como las mujeres de clase

media del � nal de los años treinta, ella leía novelas sentimentales, revistas

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y cuanto novelón se le cruzara. Mi padre la llevó luego a la lectura de fo-

lletines y de clásicos. En nuestra casa la biblioteca estaba en la cocina y el

diccionario tenía olor a sopa.

En este momento soy vocera de aquella muchacha que, quizá, atra-

vesando el ojo de la aguja, dejó todo lo conocido y llegó a Córdoba en

1955 para ir a la Facultad de “la calle Ancha” como se le decía a la avenida

General Paz por aquella época. Esta vocera le dicta palabras a la persona

que hoy amenaza con desgranar un discurso que no tiene mucho que ver

con las academias. 

La muchacha que fui viene de los hilos y la madera, de las novelas

radiales, del cine que proyectaba los llamados “episodios” en el pueblo,

junto a las primeras películas en colores; viene de la Historia Sagrada y el

Catecismo, de fuertes relatos orales de inmigrantes y lugareños y de histo-

rias de otros países añorados y leyendas o mitos del litoral; de la música, el

carnaval, el circo, de los dichos de los pescadores, de los juegos en la arena,

de la pintura conocida a través de revistas de los años cuarenta, de las ha-

blas propias del litoral y de los extranjeros, de los aborígenes, de los chicos,

del habla de Córdoba.

Vengo de los cuentos de hadas, de Mark Twain, Pinocho, Las mil y una

noches, Alicia, Carlos Dickens, El príncipe Valiente ilustrado por Harold

Foster, La Divina Comedia ilustrada por Doré, Horacio Quiroga y la cons-

telación de textos mezclados que me proporcionaron la Biblioteca Popular

y la Escolar de la Escuela Normal de mi pueblo.

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Vengo de esta casa en la que obtuve conocimientos, sistematicé y

también transgredí. En la que me sentí orientada, desorientada y a la vez

contenida por las � guras de profesores como Adolfo Prieto, Luis Prieto y

Noé Jitrik, entre otros. Y fui alimentada por las generosas bibliotecas de

mis compañeros Luis Mario Schneider, Alfredo Paiva, Toto Schmucker,

Chicha Palacios y Raúl Dorra.

Fui ayudada muchas veces por bibliotecarias de la Facultad de Letras

que aún recuerdo.

Vengo de resistir a través de la palabra, de los desconciertos religiosos,

políticos y sociales, de la diáspora. De la Dictadura militar que cerró vidas e

instituciones, que prohibió libros. Entre ellos, La torre de cubos, mi primer libro

para niños, “por exceso de imaginación” entre otros argumentos utilizados.

Vengo de la compañía de muchos profesionales de todas las artes, de

colegas y alumnos y de la presencia fuerte y creativa de Gustavo Roldán,

compañero de vida y profesión. Y también de nuestros hijos, que andan

por esas rutas.

Y en los momentos aciagos fui defendida por mosqueteros, poetas,

canciones de cuna. Italo Calvino, Ray Bradbury, Katherine Mans� eld,

Walt Whitman, Juan L. Ortiz, Antonio Machado y tantos otros me susu-

rraron sus palabras, y el Cantar de los Cantares me hizo saber del amor a

través de Fray Luis de León. 

Desde este lugar de agradecimiento, aquella muchacha me dice que la

palabra es un gran capital para el ser humano. La palabra que sale de un re-

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servorio profundo, personal, privadísimo. De nuestro espacio poético que

va creciendo alimentado por la vida toda, por otras palabras, por nuestros

pensamientos, emociones y nuestros lazos con los demás. La infancia de

cada persona es un lugar inagotable de misterio, de juego y de drama. Allí

es donde se modela la vida.

Voy a retomar una urdimbre de textos que fueron, entre otros, el

piso de mis vivencias infantiles y también el de miles de personas como

yo. Urdimbre que se convirtió en trabajo hace unos años, que me expresó

ampliamente y que ayudó a expresarse a quienes estaban a mi alrededor.

Invito a quienes me escuchan a dejarse llevar por el hilo para pasar del otro

lado del ojo de la aguja. 

Había una vez el va y el ven, el va y ven, el vaivén, de un arrorró mi

niño, arrorró mi sol, arrorró pedazo de mi corazón. Duerme, duerme negrito,

que tu mamá está en el campo, trabajando, duramente trabajando. Ay, que

viene el coco a comerse a los niños que duermen poco. Noni noni noni, mm,

mm, mm, scht, scht, scht…

Un día el arrorró mi niño hizo tortita de manteca, para mamá que le

da la teta, tortita de cebada, para papá que no le da nada. Y entonces, este

cazó un pajarito, este lo desplumó y este pícaro se lo comió.

Y siempre el tilín tilín, el chas, el broom, el guau, el pío, el cocó, el tolón,

el ¿QUÉ?... Eto, eto, ¡cá tá! Y entonces vino un gato que tenía calzón de trapo y

la cabeza al revés. ¿Querés que te lo cuente otra vez? No me digás sí porque los

zapatitos me aprietan, las medias me dan calor, y aquel mocito de enfrente me

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tiene loca de amor. No me digás no porque a Juancito de Juan Moreyra hay que

darle la escupidera, que anoche comió una pera y le vino una cursiadera. Todo

porque Cenicienta quería ir al baile del príncipe y la madrastra no la dejaba.

Mientras tanto, Blancanieves vivía en el bosque con sus siete enanos.

Y siempre, el chunga chunga, el crak, el ring, el blablablá. Y diostesal-

veMaría... ElfrutodetuvientreJesús. (¿Qué es tesalve? ¿Qué es tuvientreJesús?).

Y entonces, un día, ALA, A-LA, A-L-A, A-LA, ALA.

Alas para la gallina turuleca que, sentada en el verde limón, con el pico

cortaba la rama, con la rama cortaba la � or. Pero cuando los cinco patitos se

fueron a bañar, escucharon: febo asoma, sordos ruidos oír se dejan tras los

muros del histórico convento (¿Qué ruidos hacen los sordos detrás de los mu-

ros?). Bum burumbum, pam papám. Bum burumbúm, pam papám, viene

la murga. Yo por vos me rompo todo, y te vengo a saludar, y a decirte que el

gobierno de hambre nos va a matar. Bum burumbúm, pam papám. Mamá eu

quero, mamá eu quero mamá.

––¿Qué gusto tiene la sal? ––preguntó Hansel a Gretel con la boca llena

de casita de chocolate.

––¡Salado! ––contestó Pinocho mientras se tiraba al mar desde la boca de

la ballena, llevándose a Gepetto al hombro.

La princesa está triste, ¿qué tendrá la princesa? Los suspiros se escapan de

su boca de fresa.

––Este año, sin regalos, no va a parecernos que estamos en Navidad ––

dijo Jo con disgusto.

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––A mí no me parece justo que algunas tengan tantas cosas bonitas mien-

tras que otras no tienen nada ––añadió Amy.

––Tenemos a mamá, a papá y nos tenemos las unas a las otras ––dijo

Beth.

––¡Esta familia es una cooperativa! ––comentó Mafalda, mientras Susa-

nita declaraba que las casas tienen que ser como la del hornero, que tiene sala

y tiene alcoba, y aunque en ella no hay escoba, limpia está con todo esmero.

Pero: hombres necios que acusáis a la mujer sin razón, sin ver que sois la

ocasión de lo mismo que culpáis. Todo de angaú nomás. Por eso Malena tiene

pena de bandoneón: todos los viernes el amado se le convierte en lobizón. Se no

é vero, é ben trovatto.

Y así fue como la luna vino a la fragua con su polizón de nardos. Los

� amencos bailaban y bailaban con sus medias coloradas, blancas y negras. Y

despertaron a Alicia, que venía del País de las Maravillas, y allí estaba Bat-

man, esperándola.

––Bésame ––cantó––. Bésame mucho, como si fuera esta noche la última

vez. Se callaron las luces, se encendieron los grillos, y una música los abrazó.

Era Lisa Simpson en un solo de saxo.

Y colorín colorado, seguramente este cuento no se ha terminado.

Ahora hemos pasado hacia el otro lado del ojo de la aguja, y estamos

unidos por los hilos de tantos textos guardados y que pugnan por salir.

Hago una nueva invitación desde este clima compartido a formularnos

algunas preguntas: ¿Hay lugar en nuestras vidas para todo esto? ¿Les ha-

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cemos lugar en nuestras profesiones de personas que trabajamos con las

palabras? ¿Tienen lugar en el currículo institucional de la universidad la

literatura para niños y la formación del lector y el escritor, de forma per-

manente? Cito a María Saleme, que se preguntaba: “¿Por qué cuando in-

sistimos en la búsqueda de un saber cierto olvidamos incorporar saberes

que no encajan en los moldes académicos clásicos? ¿Será porque fueron

silenciados o porque no se someten a las reglas del buen orden, del orden

que exime de saber lo que se sabe?”.

Recordé tantas cosas... Por ejemplo, la prudente distancia que toma-

ban mis pares cuando yo me ocupaba de escribir cuentos para chicos. ¿Por

qué “para chicos” pudiendo continuar con la escritura “para grandes”? O

la condescendencia: “Bueno, hacelo, pero conste que estás dejando de lado

mejores destinos”.

Reconozcamos que siempre la literatura para niños tuvo mala prensa,

quizá con sobradas razones: la restringida noción de infancia, la perma-

nente actitud pedagógica, la escolarización que recorta todo arte para que

pueda entrar a la escuela. Y esa fue la parte del mundo que uno, sin darse

cuenta, se propuso cambiar, creyendo que hacía otras cosas. Era el recono-

cimiento de la existencia del otro lado del ojo de la aguja y sus posibilida-

des. Desde las palabras de infancia, se podía decir otras cosas a los niños y

alimentar así sus propios espacios poéticos, despertarles el deseo.

Pero, un buen día, también se dio a mi alrededor la generosidad y el

contagio, la curiosidad de quienes se asomaron a esa escritura que tenía –

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para ellos– un poco de tonto y quizá mucho de inquietante, de revulsivo.

Y se fueron quedando prendidos. Mis cuentos para chicos terminaron

incorporados a las largas discusiones de aquellas épocas que en de� nitiva

fueron e� caces y luminosos talleres entre amigos. Eso me ayudó. Y tuvo

que ver con un espacio no convencional dentro de la universidad. Por

los márgenes. Pero, sea por donde sea, cuando se abordan en serio estos

temas, no se puede negar la fascinación que ejercen, la fuerza fundante

que tienen.

En resumen: elegí algunas ideas como mi cuota de granos de are-

na que puede ser aportada en función de la ampliación del espacio que

la literatura infantil se merece. Quiero aclarar que hablo desde el deseo,

quizá desde la utopía, desde la escritora que re� exiona sobre su práctica.

Recordar hoy los Seminarios Taller de Literatura Infantil y Juvenil que se

realizaron de 1969 a 1971 en Extensión Universitaria de la Universidad de

Córdoba signi� ca para mí, y para muchos de los que participamos en ese

ámbito, el reconocimiento de uno de los puntos de partida que marcaron

nuestras actividades y profesiones. Y creo que mucha gente joven está reci-

biendo hoy algo de aquellos bene� cios.

Los saberes sobre literatura para chicos encontraron en estos semi-

narios el espacio y el aliento para crecer en el marco de Córdoba, de una

Córdoba muy especial, caracterizada por tener un medio rico y activo y

también voces que, desde la cultura en general, otras disciplinas creativas o

el estudio abonaron el terreno para fuertes cambios.

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En ese medio surge como posible la idea del Seminario, desde Ma-

licha Leguizamón y otras personas que venían preocupadas por el tema.

Mediante la Secretaría de Extensión Universitaria y los buenos o� cios de

Lucía Robledo, maga de organizaciones culturales, se concretaron estos e� -

caces ámbitos de intercambio y debate, que rindieron sus frutos para todo

el país. Permiso, lugar, consenso para abordar una disciplina que, hasta el

día de hoy, no tuvo entrada a las universidades por la puerta grande. Sí,

en seminarios optativos, congresos, encuentros, posgrados, complementos

para otras carreras. Pero no su cátedra, su foro autónomo y permanente.

Los logros se apoyaron en gestiones de personas, no en la legitimación

curricular de alguna carrera.

Recuerdo la experiencia del Taller Total de Teatro que realizamos

en la Escuela de Artes en 1974. No creo que sea casual este monto de

experiencias que hoy acude a mi memoria y abre la puerta a puntos de

vista muy interesantes sobre el tema del arte, el artista y la creatividad.

Allí, además de centrar el eje en el estudio, se trabajó con los mecanismos

creativos y la metodología de taller, donde se trataba de tener en cuenta

el desarrollo de los estudiantes como artistas y como constructores de sus

conocimientos.

Si vamos a hablar de un posible espacio dentro la universidad para

la literatura infantil, a mí me interesaría incluir de manera importante el

espacio para la formación del escritor, de un escritor que tiene una relación

muy particular y muy directa con su público.

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Me parece fundamental el espacio del artista en el ámbito de la lite-

ratura (y en todas las artes), que vaya más allá de ser el lugar en el que se

adquieren las técnicas. Quizá me hayan rea� rmado en esta convicción los

años de trabajo en el taller, propiciando el desarrollo de las disponibilida-

des de las personas para que pudieran modular su palabra más auténtica.

Quizá mis experiencias con la gente del interior del país. Quizá también la

lucha permanente con los prejuicios y miedos en relación con la escritura

para los chicos. El constante machacar sobre la necesidad de la formación

de un gusto amplio, conectado con las otras artes, de un gusto que no se

quedara en el gineceo, ni en una voz escolar, ni en la mirada pedagógica,

tanto liberadora como conductista, pero siempre unívoca.

Esto incluiría –dentro del espacio imaginario y utópico de la literatu-

ra infantil en la universidad con el que muchos soñamos– el trabajo sobre

el conocimiento del género y sus aledaños, la búsqueda de una noción de

infancia, el desarrollo de la actitud crítica y la investigación como tradi-

cionalmente la universidad lo plantea, los espacios para la creatividad y la

escritura. Y además, seguramente, la interdisciplinariedad.

Pero voy a hacer hincapié en abrir un ámbito para quienes se inte-

resan por la escritura y la lectura. Para el artista que explora y muestra

permanentemente, busca con culpa porque siempre piensa –sobre todo si

escribe para chicos– que está transgrediendo algún canon. El artista pue-

de mostrar cosas que a otros les daría miedo expresar. Como creadores

tenemos que insertarnos en una tradición, en una red y, a la vez, ayudar

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a seguir construyendo esa red. Eso genera un con� icto con respecto a la

búsqueda de lo nuevo. El artista generalmente busca para sorprenderse.

Luis Felipe Noé, gran plástico, tiene en su libro La antiestética una línea

de pensamiento que me ayudó mucho a incorporar como objeto de tra-

bajo la angustia que provoca el caos creativo propio y ajeno. A través de

su lectura pude comprender que, cuando empezamos a crear mundos

imaginarios, nada es tan prolijo. Entramos en un estado de caos que pro-

duce desasosiego o por lo menos nos hace sentir cosas oscuras. Entonces

es bueno lograr ese espacio para que el artista realmente busque, explore,

experimente con sus culpas y transgresiones, pero salga victorioso. El

artista es el que agranda las fronteras, el que hace que dentro del lenguaje

las palabras amplíen sus signi� cados y, en el caso de la literatura para los

chicos, se amplíe también la noción que tenemos de nosotros mismos y

de los demás.

Me alienta a pensar en esa posibilidad: la presencia de instituciones

y profesionales que comparten el deseo de optimizar el diálogo que se da,

desde el libro, con niños y jóvenes. Así lo demuestran con sus trabajos per-

manentes asociaciones de literatura infantil y juvenil, de promoción de la

lectura, de narradores de cuentos, de ilustradores, bibliotecarios, revistas,

editores y libreros que se la juegan por los libros para niños.

Tanto los que estamos interesados en la literatura infantil fuera de la

universidad, como quienes están dentro, somos fuerzas caminando, y creo

que cada una de estas fuerzas tiene que dar un paso hacia la otra.

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María Saleme se hacía esta pregunta en su libro Decires: “¿Qué espera-

mos de este siglo tan apelado?”. Y contesta: “Claridad sobre las intenciones

de aquellos que saben de todo y pueden más que todos, pues nos asiste

una evidencia: el punto crucial de la salud del ser humano es conservar la

conciencia de que se pertenece, que se sabe quién es”.

Quizá ahora pueda resumir mi comunicación en tres deseos, como en

los cuentos:

Primero: Que haya un lugar curricular en la universidad para los que

escriben, estudian y difunden literatura para los niños. Este hecho signi� -

caría una gran apertura: incorpora a los niños, rompe el círculo, implica a

otros públicos y otros sistemas de relación en espacios en los que la necesi-

dad de comunicación está presente de una manera distinta. Cuando llega

un chico a casa, el mundo completa su sentido.

Segundo: Que la universidad forme lectores que disfruten y se apa-

sionen aun leyendo lo que no les gusta, que se piense sobre los libros sin

perder la capacidad para sorprenderse y disfrutarlos.

Tercero: Que la universidad cree avales y legitimaciones para los libros

infantiles, diferentes de los que crea el mercado e intervenga en las políticas

de encuentro entre los niños y la literatura.

Todo esto para que no perdamos el estado de alerta ni la capacidad de

ver lo obvio. Para que podamos desarrollar estrategias frente a tanta avalan-

cha de degradaciones en nuestra sociedad. Y, concretamente en literatura,

para diferenciar Barbis, Disneys y cuentos escritos por “famosos” de la fa-

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rándula. Para que podamos discernir y encontrar el justo lugar de nuestro

objeto. Y para no perder de vista que la gran mayoría de nuestros chicos ni

siquiera tienen acceso a la literatura que se escribe para ellos. Por todo esto,

sería un alivio poder mirar frecuentemente, cada cual desde su tarea, hacia

el otro lado del ojo de la aguja.

Discurso pronunciado por la autora en la Universidad de Córdoba (Argentina), en 2008 con motivo de la concesión del doctorado Honoris causa.

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Discurso de aceptación del Premio Iberoamericano de Laura Devetach

Este es un momento de profunda emoción, agradecimiento y celebración.

Por eso recurro a lo que María Elena Walsh llama “rarísima, desesperada

complicidad con los papeles” para decir estas palabras.

Agradezco a la Fundación SM, a las instituciones que me propusie-

ron, así como a las que respaldaron este Premio, al jurado que actuó, a la

Feria Internacional del Libro de Guadalajara, a todas las personas que me

apoyaron y acompañaron siempre en la vida y desde la lectura, a todos los

presentes.

Dedico este Premio a mi esposo y mis hijos, todos cómplices en este

rarísimo berretín de los papeles y los libros.

Quiero decir solo tres cosas:

La primera, haciendo mías las palabras del gran autor inglés John Ber-

ger, mani� esto que “creo, como creían los chinos, que lo que parece una

creación no es sino el arte de dar forma a lo que se ha recibido”.

La segunda, que creo en el trabajo por amor al arte. Si todos tratá-

ramos de construir la vida como se construye una obra de arte, las cosas

serían muy distintas. Uno de mis libros se llama La hormiga que canta. Y sí,

trabajar y cantar, en la misma proporción, son buenas metas.

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La tercera, creo que las obras se instalan en una red cultural amplia y

azarosa que surge de la rarísima complicidad con los papeles. En cuestión

de libros y de palabras, las redes más visibles son las que se rigen por las

leyes del mercado. Sin embargo están las otras, las de la gente, el mano a

mano, las bibliotecas, los narradores, la escuela y un sinfín de espacios de

difusión y búsqueda, novedosos, también antiguos y a veces insólitos. Por-

que también las hormigas cantan.

Y entonces, cómo no, viene la voz de los niños que se van iniciando

en esta complicidad con los papeles. Esta voz nos habla de la noción de

fuerza que les da a las personas el manejo � uido de las palabras. Cito lo que

escribió Agustín, de 10 años, de la Escuela de Estética de Azul, Argentina:

Digo león y las palabras atacan./ Digo mundo y las palabras giran.

Digo biblioteca y las palabras sueñan./ Digo madre y las palabras cuidan.

Digo abuela y se envejecen./ Digo vida y renacen.

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Agustín Fernández Paz

Semblanza de Agustín Fernández Paz por María Jesús Gil Iglesias

Buenas tardes. Boas tardes.

Me hubiera gustado poder leerles el siguiente texto en gallego, que

es la lengua en la que Agustín Fernández Paz escribe y sueña, pero no

me he atrevido pues, aunque es un idioma que entiendo con facilidad

–gracias a él y a otros queridos autores y amigos gallegos–, no lo hablo

con la misma soltura.

Dice Agustín:

“Aunque cuando escribo abordo los temas que me interesan o me

preocupan, aunque construyo mis historias con materiales tomados de lo

que pasa a mi alrededor, no puedo olvidar que todos los hilos con los que

acabo componiendo mis relatos tienen su origen en mi infancia. En los

cuentos que escuché, en los libros y tebeos que leí, en las películas que vi en

unas salas de cine que ya no existen, en los juegos de las tardes de invierno

y en todas las aventuras de aquellos veranos luminosos y eternos. Todo está

allí, en los paisajes encerrados en mi memoria”.

En este texto, que forma parte de una extensa conferencia del autor –

que se titula Los paisajes de la memoria– encontramos el inicio de un viaje que

parte de sus años de infancia, el del niño que nos mira desde esa fotografía

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en la pantalla. Ese niño de unos 10 años de edad, nacido en un pueblo

gallego llamado Vilalba, en los tristes y grises años de la posguerra española.

Recuerda Agustín que en su escuela, como en tantas otras, todavía escribían

en pequeñas pizarras con pizarrín de tiza, lo que retrata la pobreza de medios

de aquella época.

Época en la que los niños comían en la escuela la mantequilla, el queso y

la leche en polvo procedentes de la ayuda norteamericana. Aquellas escuelas

heladas, en las que había un único libro de texto y algunos libros de lectura,

viejos y gastados, como los que vemos en la fotografía.

Pero Agustín tuvo la suerte de tener libros en su casa. Y en otro texto

evoca así sus primeras lecturas:

“Una noche cualquiera de invierno, en los grises y mediocres años

cincuenta. Una casa de un pequeño pueblo gallego, tan pobre como las

otras que hay a su alrededor. La oscuridad de la larga noche de piedra de la

Dictadura es algo más que una metáfora. En esa casa hay un hombre sen-

tado a la mesa de la cocina, que apoya un libro sobre el hule gastado. Ha

estado trabajando todo el día en la carpintería, quizá ocupado en las piezas

de una cama, o de un armario, muebles hechos con la voluntad de vencer

el tiempo. Ahora tiene el libro abierto y, mientras pasa las páginas, le habla

a su hijo más pequeño de las maravillas que, como si fuera una lámpara

mágica, encierra aquel volumen. “Pronto podrás leerlo”, le dice al niño,

“y entonces verás como es cierto todo lo que te he contado”. Y el niño,

contagiado por el entusiasmo que desprenden los ojos y las palabras de su

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padre, desea que pasen veloces los días para poder entrar en el espacio de

La isla misteriosa de Julio Verne, pues ese es el libro, uno de los que forman

la biblioteca paterna, si es que se le puede llamar así a los dos estantes que

guardan unos pocos volúmenes, un tesoro para aquellos tiempos: Verne,

Poe, Salgari, Dumas, Twain, Pushkin, Fernández Flórez... Todas ediciones

viejas y gastadas, aunque algunas aparezcan protegidas por las nuevas cu-

biertas que les han puesto las manos cuidadosas de un encuadernador ami-

go. Libros que, en un proceso de seducción guiado solo por la intuición

y el entusiasmo, sirvieron para que aquel niño quedase contagiado para

siempre por el deseo de leer”.

Aquel niño era Agustín y el carpintero su padre. De él aprendió que la

lectura, por encima de todo, nos ayuda a vivir; pero también que nos sirve

para conocer otros mundos, otras vidas, para viajar por el tiempo y por el

espacio y para que nuestra imaginación se expanda sin límites.

En ese texto el autor alude a “la oscuridad de la longa noite de pedra”,

la larga noche de piedra, ese guiño al poeta gallego Celso Emilio Ferreiro,

que nos habla de la dura y amarga realidad de la posguerra española en la

que creció ese niño, y que ha in� uido inevitablemente en su obra.

A los trece años salió de Vilalba para cursar siete largos años en la Uni-

versidad Laboral de Gijón. Un mundo completamente nuevo para aquel

niño de pueblo, pero donde vivió experiencias que fueron importantes

para su formación como lector y como escritor. Allí, aparte de conseguir

su título de Perito Industrial Mecánico, tuvo profesores que desempeñaron

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un papel importante en su formación lectora. Frecuentó las bibliotecas del

centro, leyendo las obras completas de autores como Kipling, Valle Inclán,

Kazantzakis o Juan Ramón Jiménez. Fue allí donde empezó a publicar

algunos textos en el periódico semanal La Torre.

¿Cómo un perito industrial al que le gustaban las Matemáticas y la

Física terminó convirtiéndose en escritor?

Nos ha contado Agustín que, durante los dos veranos que pasó ha-

ciendo las milicias universitarias, un amigo, observando su a� ción lectora,

le llevaba libros de la biblioteca familiar todos los � nes de semana. Y así

leyó las obras de Kafka, Samuel Beckett, Camus, Bertrand Russell…

En 1969 decide marcharse a Barcelona con la intención de trabajar

y estudiar. Allí vive la intensa vida cultural de la ciudad: teatro, música,

lecturas y cine, sobre todo cine, al que ya era un gran a� cionado.

Dos años después y con algunos ahorros, regresa a Galicia, a A Coru-

ña, y entre 1971 y 1976, vive intensamente la agitación cultural y política

y estudia Magisterio y Ciencias de la Educación. Ve claramente que sus

inquietudes culturales pueden tener sentido en el mundo de la docen-

cia. Vive con entusiasmo los cambios que se empiezan a producir en el

ámbito de la educación, las ideas renovadoras que comenzaban a llegar

de otros países, la aparición de la revista Cuadernos de Pedagogía, conecta

con otras personas que piensan como él, descubre que forma parte de un

movimiento mucho más amplio. Lee a Piaget, a Paulo Freire, a Ivan Illich,

Carta a una maestra, de los alumnos de dom Milani, de la escuela italiana

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de Barbiana, la Gramática de la fantasía de Rodari o Sempre en Galiza de

Castelao.

Unos años intensísimos como maestro en A Coruña, en Gernika, en

Mugardos… Es una época de profundos cambios sociales y políticos en

España: los últimos años de la Dictadura, la Transición, el golpe de Estado,

el inicio de la etapa autonómica. Es por aquel tiempo cuando aparecen

los primeros movimientos de renovación pedagógica, en los que Agustín

participa con entusiasmo.

En la década de los setenta, descubre la existencia de una literatura

infantil y juvenil que es decisiva para que se convierta en escritor. Lee con

avidez a Gianni Rodari, Roald Dahl, Ursula Wölfel, María Gripe, Michael

Ende, Antoniorrobles, María Teresa León. La mediocre y moralizante li-

teratura infantil española anterior desaparece con los aires renovadores de

estos nuevos escritores.

En ese tiempo se introduce o� cialmente la lengua gallega en la ense-

ñanza. Se necesitaban libros de lectura y la literatura infantil y juvenil en

gallego era muy escasa. Y ese fue el empujón de� nitivo. Aunque nunca

había dejado de escribir para él mismo, comienza a escribir cuentos para

utilizar en clase, y de ahí a publicar de forma autónoma solo había un paso.

Casi al mismo tiempo obtiene dos Premios importantes: uno de ám-

bito gallego, el Merlín, por As � ores radiactivas y otro de ámbito estatal, el

Lazarillo, que concede, a una obra no publicada, la rama española de la

IBBY, la OEPLI (Organización Española para el Libro Infantil). En 1991

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se concedió al título Contos por palabras. Recuerdo este último Premio con

especial emoción, ya que desde entonces data la relación de Agustín con

Ediciones SM y nuestra amistad.

Y me detengo un momento en este punto para contarles una anécdota

personal: la misma tarde del fallo de este Premio recibí el manuscrito en

lengua gallega. Ediciones SM tenía ya por entonces un importante Premio

en lengua gallega, el O Barco de Vapor, y yo había publicado varios libros

en gallego, de Paco Martín, de María Victoria Moreno, de Manuel María,

entre otros. Pero, aun así, mi conocimiento del gallego dejaba mucho que

desear. Sin embargo, pudo más mi curiosidad y empecé a leer aquel ma-

nuscrito que acaba de obtener el Premio Lazarillo. Observé que cada ca-

pítulo empezaba con una fotocopia de la página de anuncios por palabras

de un diario. Y con un círculo, hecho con rotulador, rodeando alguno de

los anuncios.

Así, se podía leer:

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Y, a continuación, una imaginativa, brillante y sorprendente historia,

llena de humor, seguía a cada uno de estos anuncios.

Leí sin parar y, en cuanto terminé, ya estaba segura de que quería

publicar ese manuscrito. Llamé a Agustín. Me interesaban también los de-

rechos para lengua gallega. Me respondió lo que siempre me ha dicho du-

rante todos estos años de amistad: “¿Para gallego? Mira, el gallego ya lo va a

publicar Manolo”. Manuel Bragado, Director General de Edicións Xeráis,

su principal editorial en Galicia, y que hoy está también con nosotros.

Gracias por acompañarnos, Manolo. Aprovecho para confesarte –aunque

creo que siempre lo has sabido- que muchas veces he intentado lograr los

derechos para lengua gallega de los libros de Agustín, sin conseguirlo casi

nunca, como también sabes.

Desde esta fecha, 1991, he tenido la suerte de ser editora y amiga de

Agustín. Sé que esta relación tan cercana, tan cordial, ha sido la misma con

todos sus editores, que somos muchos. Porque Agustín ha escrito muchos

libros para lectores de todas las edades. Unos cuarenta títulos, muchos de

los cuales han sido galardonados con los Premios más importantes. No me

resisto a enumerar alguno de ellos, al menos los más relevantes, para no

cansarles a ustedes:

Aparte del Premio Merlín por As � ores radiactivas y el Premio La-

zarillo por Contos por palabras ya mencionados anteriormente, obtuvo el

Premio Edebé en 1994 por Trece años de Branca y el O Barco de Vapor por

O meu nome é Skywalker en 2002.

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En 2001 obtuvo el Premio Protagonista Jove por el título Aire negro.

Este galardón, que organiza el Consell Català del Llibre en colaboración

con l´Associació Catalana d´Amics del Llibre Infantil i Juvenil, es conce-

dido por un jurado juvenil. Me parece importante destacar que, en este

caso, fueron los destinatarios del libro, los jóvenes, los que lo eligieron

como su libro preferido del año. Y eso que Fernández Paz es un autor

exigente con sus lectores. Como en tantas de sus obras, esta novela se

encuentra llena de referencias a creadores universales como Henry James

o Joseph Conrad.

En sus novelas siempre encontramos algún personaje al que le apa-

sionan los libros. De forma deliberada, introduce poemas de Neruda, Va-

lente, Yeats, Eliot o Pessoa, por citar algunos. De esta forma, consigue

compartir con los jóvenes las lecturas que le gustan. Y sus lectores, a juzgar

por los comentarios que hacen sobre sus obras, reconocen la calidad de lo

que se les ofrece.

En 2008 obtiene el Premio Nacional de Literatura por O único que

queda é o amor, publicado por Edicións Xeráis. Y me detengo un momento

en este título, que ha obtenido el máximo galardón de los Premios de lite-

ratura en España y que empieza con una cita de la obra Nieve, del premio

nobel Orhan Pamuk, que dice:

“Y cuando me doy cuenta de cómo vamos a pasar por este mundo sin

dejar huella después de haber llevado unas vidas estúpidas, comprendo con

rabia que en la vida lo único que queda es el amor”.

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Agustín Fernández Paz / PREMIO 2011

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Es esta una obra fundamental en la que el autor nos presenta una serie

de personajes unidos por una trama de hilos invisibles, por el hilo conduc-

tor del amor, que cada uno vive desde su propia experiencia y perspectiva.

El amor en todas sus variantes: El amor platónico, el amor después de la

muerte, el amor perdido, la amargura del desamor. Relatos que exploran

con gran profundidad el mundo de los sentimientos.

En tres ocasiones, tres de sus obras han aparecido en la prestigiosa Honour

List de la IBBY: Contos por palabras en 1992, Aire negro en 2002 y O único que

queda é o amor en 2010. Dos veces, dos de sus títulos: Aire negro y O meu nome

é Skywalker han tenido un lugar en el catálogo de los White Ravens y otras dos

veces ha sido nominado al Premio Astrid Lindgren Memorial.

Y, por último, Agustín Fernández Paz es el candidato de España para

el Premio que se considera el Nobel de la Literatura Infantil y Juvenil, el

Hans Christian Andersen. Como les decía, y volviendo a lo personal, a lo

largo de estos veinte años, aparte de publicar muchos de sus títulos, puedo

decir que hemos tenido una auténtica amistad que se ha ido fortaleciendo

con el trato. He seguido de cerca sus éxitos, sus Premios, he leído sus nue-

vos libros, que me llegaban puntualmente con cariñosas dedicatorias, y he

tenido noticia de las traducciones de sus títulos a otras lenguas: castellano,

catalán, euskera, italiano, francés, árabe, coreano…

Con qué placer recibo sus cartas manuscritas, con esa letra menuda,

tan característica. A través de esas cartas, he ido conociendo sobre sus

proyectos, que siempre ha acometido con entusiasmo y con rigor. Sobre

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los acontecimientos familiares, Inma; sobre su orgullo de padre y su amor

por esa hija que hoy le acompaña, Mariña. Sobre la vida, en de� nitiva.

Y qué decir de las largas conversaciones sobre nuestras respectivas lec-

turas, sobre las últimas películas que hemos visto. Sobre sus recuerdos, los

tebeos que leía con sus hermanos, sus seriales de radio preferidos: Supermán

y Una princesa de Marte, la hoguera de San Juan de su pueblo, el olor a pan

reciente y a manzanas de su casa. Y sobre la señora Generosa, que por la no-

che les contaba, a él y a sus hermanos, cuentos de crímenes y de aparecidos.

Siempre dices que la literatura nace de la memoria y de la imaginación

y que se teje con los hilos de la vida. Y estos son algunos de los hilos con los

que has tejido tu mundo literario.

Gracias, Agustín. Por tu generosidad. Por tu empeño y por tu lucha

por digni� car la literatura infantil y juvenil, en la que siempre has creído.

Dices, con Pierre Clanché, que “necesitamos historias del mismo modo

que necesitamos sueños; no para olvidar lo real, sino para ejercitarnos en

afrontarlo”. Historias y mundos que ejerciten la fantasía, la creatividad,

la imaginación, la emotividad y que permitan dibujar mundos interiores

donde los mitos, los héroes y las tradiciones culturales pasen a formar parte

de nuestra experiencia vital.

Necesitamos historias y el origen de todas está en los libros.

El jurado que te ha concedido el Premio Iberoamericano ha destacado

“tu compromiso con los valores universales y tu papel determinante en la

construcción de una literatura infantil y juvenil en lengua gallega”.

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Agustín Fernández Paz / PREMIO 2011

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Gracias por la profunda dimensión de tu literatura, en constante bús-

queda de técnicas y recursos, por la hondura de las vidas de los personajes

que nos presentas en ella, por tus historias reales o sobrenaturales, en las

que nunca falta el humor, del que la literatura infantil está tan necesitada.

Gracias por tu complicidad con los lectores para los que no escatimas

esfuerzos, y para los que has creado en tus obras atmósferas y personajes

que evocan el pasado a través de tus recuerdos de infancia.

Decías en una entrevista, nada más concederte este Premio: “He sido

docente a lo largo de treinta y tantos años y, más allá de procedimientos

complejos, lo que se precisa para que los niños y jóvenes se adentren en

el universo de las historias escritas es un conjunto de buenos libros y un

profesor o profesora que ame la lectura. Con esto se puede desatar en los

niños la pasión por la lectura con cierta facilidad”.

En alguna ocasión, te he oído citar una frase del ensayo titulado Imagi-

nación y creación, de uno de los más grandes e imaginativos escritores gallegos,

Álvaro Cunqueiro, que dice: “Lo propio de un escritor es contar claro, seguido

y bien. Contar la totalidad humana, que él por su parte tiene la obligación de

alimentar con nuevas miradas. Y si hay algo que esté claro en esa dieta es que la

persona precisa en primer lugar, como quien bebe agua, beber sueños”.

Y dices tú: “Beber sueños como quien bebe agua. No encuentro mejor

manera de expresar la necesidad y el placer que explican la lectura”.

Moitas grazas. Muchas gracias.

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Discurso de aceptación del Premio Iberoamericano de Agustín Fernández PazLeer para transformar el mundo

Buenas tardes, amigas y amigos, cómplices del entusiasmo por los libros y

la lectura, habitantes de la República dos Sonhos, que diría Nélida Piñón.

Qué difícil es encontrar palabras que no suenen tópicas en un

momento como este. Pero no sé decirlo de otro modo: me emociona

verme aquí, en esta Feria Internacional del Libro, donde el entusias-

mo late con tanta energía que se diría capaz de cambiar el mundo.

Y que la celebración de este acto sea para entregarme el Premio Ibe-

roamericano SM de Literatura Infantil y Juvenil, me parece un sueño.

Una locura maravillosa que me ha traído desde Galicia, el Finisterre

europeo, hasta México, hasta esta evocadora Guadalajara, tan próxi-

ma a la mítica Comala a la que tantas veces he viajado a través de las

palabras de Juan Rulfo.

Antes de nada, debo dar las gracias.

Gracias a María Jesús Gil, por todo lo que ha dicho sobre mí y sobre

los libros que he escrito en todos estos años. Son palabras cargadas de afec-

to y amistad, que agradeceré siempre.

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Agustín Fernández Paz / PREMIO 2011

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Gracias al jurado que decidió premiar mi trabajo como escritor;

es una honra � gurar junto a las personas premiadas desde el año 2005,

desde Juan Farias a Laura Devetach, todas ellas ejemplos de vida y de

altura literaria.

Mi agradecimiento también a las instituciones que hacen posible la

existencia de este Premio Iberoamericano de Literatura Infantil y Juvenil

SM: CERLALC, Fundación SM, IBBY, OEI y OREALC-UNESCO. Y

para el equipo organizador de la Feria Internacional del Libro, que hoy

nos acoge en este salón Juan José Arreola, a quien descubrí en los años

setenta en Barcelona y que nunca he dejado de admirar. Y para Rosalía

y las demás personas de la Fundación, que se han desvivido para que yo

pudiera estar hoy aquí.

Y, cómo no, gracias a todas las personas que me han hecho como

soy. A mi padre, que me contagió su pasión por la lectura, y a mi madre,

que recuerdo aquí a través de los versos robados a mi admirado José Án-

gel Valente: “Cuanto hay de amor en nuestras manos nace/ del amor que

nos diste”.

A mi esposa Inma, la mujer de mi vida, y a mi hija Mariña, que me

acompaña en este momento feliz. Y a todos los que me ayudaron a mejorar

como persona y como escritor (y en la sala están dos nombres esenciales en

mi biografía literaria, María Jesús Gil y Manuel Bragado).

Y gracias a México, por acogernos hoy y por acoger –hace 72 años–

con tanta generosidad a los exiliados españoles. Nombres fundamentales

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para mi generación, desde Luis Buñuel a León Felipe, desde Max Aub

a Luis Cernuda, encontraron aquí el ámbito propicio para desarrollar su

arte. Y, como gallego, no puedo olvidar que fue en México donde se publi-

có la revista Vieiros, en los años cincuenta, de la mano de exiliados como

Carlos Velo y Luis Soto. El primer periódico digital en gallego, creado en

1996, se llamó también Vieiros, en homenaje a esta revista de los gallegos

de México.

Debería continuar, como si este fuera el discurso de los abrazos, que

diría Eduardo Galeano, pero sé que dispongo de poco tiempo y que tam-

bién debo referirme al o� cio de escribir, que me ha traído hasta aquí. O,

mejor dicho, a la escritura y a la lectura, esas dos realidades indisociables

como las caras de una moneda.

María Jesús Gil ha citado a Álvaro Cunqueiro, uno de los grandes

escritores que ha dado Galicia, con esa de� nición maravillosa, tan útil para

expresar la necesidad de la lectura: El hombre precisa en primer lugar, como

quien bebe agua, beber sueños. ¡Beber sueños como quien bebe agua!

Palabras semejantes a las de Cunqueiro las encontramos también en

Paul Auster, en el discurso de recepción del Premio Príncipe de Asturias de

las Letras del año 2006: “Necesitamos historias casi tanto como el comer,

y sea cual sea la forma en que se presenten –en la página impresa o en la

pantalla de la televisión– resultaría imposible imaginar la vida sin ellas”.

Y, hace solo unos meses, Juan José Millás reiteraba la misma idea

en una de sus columnas para el diario El País: “Desde que el mundo es

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mundo, mientras unos amasan el pan que comemos por la mañana, otros

urden las historias que devoramos por la noche. Estamos hechos de pan y

de novelas”.

Cunqueiro, Auster, Millás… Es la misma idea reiterada una y otra

vez. Como comer, como beber agua, como el pan de cada día: imágenes

luminosas para ilustrar la necesidad de la lectura. Porque todas las personas

necesitamos historias, todas tenemos sed de palabras: como si fuera una

característica inscrita en el ADN de la humanidad.

Precisamos las historias para entender el mundo y para entendernos;

para vivir otras vidas, para maravillarnos de todo lo que la existencia nos

da. Y el soporte privilegiado para llegar a ellas está en los libros, que con-

tienen los sueños, las ideas, la imaginación, los sentimientos y experiencias

de las personas, de las que viven ahora en cualquier lugar del mundo y de

las que desaparecieron hace muchos años.

Me encanta que me cuenten historias. Formo parte de una generación

que, como ahora los dinosaurios, será pronto una especie extinguida: la

generación de las personas que vivimos la infancia sin la presencia de la

televisión y crecimos con las narraciones orales que se contaban alrededor

de la cocina de hierro, en el tiempo de invierno, o al aire libre, bajo las

estrellas, en las noches de verano.

Los años de la niñez tienen una relevancia especial, y no lo digo por-

que la mayoría de mis libros se encuadre en lo que llamamos literatura

infantil. Rilke escribió que la patria de una persona es la infancia, y Pessoa

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a� rmaba que la patria de un escritor era su lengua. En mi caso, lengua e

infancia me llevan a mis años en Vilalba, cuando asistí a la creación del

mundo y fui descubriendo los nombres de las cosas, en ese proceso mara-

villoso que se repite durante los primeros años de vida de cualquier persona

y que tan bien expresó García Márquez en las líneas iniciales de Cien años

de soledad.

Las historias eran un componente esencial de aquel tiempo. Estaban

en las palabras de los narradores orales, y en los escasos libros, y en las

historietas, y en los seriales de la radio, y en el cine, en las películas inolvi-

dables que tanto nos fascinaban. Eran años amargos, la posguerra española

no fue nada fácil, pero aquellos mundos creados con palabras e imágenes

nos ayudaban a vivir y expandían el territorio sin límites de la imaginación.

El placer de leer lo descubrí en mi casa, de la mano de mi padre. En

las pocas horas libres que le dejaba el trabajo, nos transmitió a mis herma-

nos y a mí el deseo de leer. Ese primer estadio, el del entusiasmo ante lo

que lees, semejante al que tan bien describe Michael Ende en La historia

interminable, me lo contagió mi padre. Porque la lectura es un placer que

se contagia, y quizá solo pueden transmitirlo quienes antes hayan experi-

mentado en su carne ese mismo placer.

Si tuviera que de� nirme en pocas palabras, diría que soy un lector que

un día decidió pasar al otro lado del espejo y contar sus propias historias.

Hoy me presento aquí como escritor, un o� cio que, en palabras de Paul

Auster, “es una extraña manera de pasarse la vida: encerrado en una habi-

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tación con la pluma en la mano, hora tras hora, día tras día, año tras año,

esforzándose por llenar unas cuartillas de palabras con objeto de dar vida a

lo que no existe… salvo en la propia imaginación. Esa necesidad de crear,

de inventar, es sin duda un impulso humano fundamental”.

Sí. El acto de crear por medio de la escritura tiene algo de irracional

y maravilloso, que quizá sirva para explicar el ansia que nos lleva a estar

horas y horas ante el papel o la pantalla del ordenador, en busca de un

texto donde, por decirlo con palabras de Luis Cernuda, otro exiliado en

México, consigamos que sea algo más corta la distancia entre la realidad

y el deseo.

Escribir es como tejer una tela, una creación paciente y minuciosa; la

diferencia está en que se hace con los hilos de nuestra vida. La idea de que

la literatura se teje con los hilos de la vida me parece esencial. La vida, en

sentido amplio, es el único material que tengo a mano para construir mis

libros, todo sale de ella. Desde las tramas, que me sirven para expresar mi

visión del mundo, hasta la forma del texto, con mi experiencia de lector

como telón de fondo.

Que las historias salgan de mi vida no es una limitación. Al revés,

se trata de lo único original que puedo aportar a las personas que viven

conmigo y a las que vivirán cuando yo ya no esté, si es que alguien lee

entonces mis libros. Las personas, todas, somos irrepetibles. Somos únicas,

poseemos una visión del mundo, unos sentimientos, unas experiencias que

nos singularizan y que desaparecerán con nosotros.

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A mí esto me parece extraordinario, y creo que está en la raíz de ese

impulso irracional que me lleva a inventar historias en las que quede re� e-

jada mi visión del mundo y de la vida.

He escrito libros muy diversos a lo largo de bastantes años. He in-

tentado que todos ellos funcionen como un iceberg, del cual el texto es

solo la parte visible. Siempre son historias dirigidas a todas las edades,

porque tengo muy claro que un libro, aunque se dirija en primer lugar a

un lector infantil o juvenil, debe interesarle también a un lector adulto.

No conseguir esto es un signo de fracaso, lo digo como lector y como

escritor.

El procedimiento que pre� ero es imaginar historias que suceden en

un contexto realista pero en las que, de un modo u otro, irrumpe algún

elemento fantástico. El empleo de elementos fantásticos tiene una alta ren-

tabilidad literaria. Sirve para hablar de la realidad con una profundidad

mayor, desvelando aspectos que con el realismo estricto sería más difícil

mostrar.

Además, por lo que tiene de atractivo y por la libertad que me da, lo

fantástico me permite un acercamiento más efectivo a temas difíciles de

abordar, sobre todo para unos lectores en formación, como son los de la

literatura infantil y juvenil, esa literatura a la que he entregado una bue-

na parte de mi vida. Como Jostein Gaarder, también yo digo que estoy

empeñado en una batalla explícita por la digni� cación de la literatura

infantil y juvenil.

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Vuelvo a la lectura en mis palabras � nales porque, además del de es-

critor, no puedo olvidar mi trabajo como docente durante más de treinta

años. Y, formando parte de él, la permanente actividad de promoción de

la lectura.

La lectura no solo nos ayuda a crecer como personas, sino que tam-

bién es imprescindible para construir una sociedad mejor, más justa, con

ciudadanos críticos y responsables. Aunque en muchas ocasiones escucha-

mos análisis sombríos, yo pre� ero � jarme en los muchos síntomas que

invitan a la esperanza. La infancia y la juventud nunca leyeron tanto como

hoy; internet está siendo un inesperado aliado en la expansión de la lectu-

ra; los libros de calidad nunca fueron tan numerosos, como constatamos

en nuestros paseos por los estands de la Feria.

Pero la lectura es un placer que exige tiempo y constancia. Por eso

su promoción tiene que formar parte de las prioridades estratégicas de

cualquier sociedad democrática. Es importante que las administraciones

apoyen de una manera decidida leyes y medidas que favorezcan la biodi-

versidad cultural, tanto a través del libro de papel como a través de la Red.

Por eso es urgente y necesaria esta revolución silenciosa en la que tantas

personas andamos embarcadas. La revolución de la lectura, imprescindible

para conseguir una sociedad más democrática, más justa, más feliz. Esa

revolución que � orece imparable en Guadalajara cada año.

La literatura tiene una dimensión muy profunda, pues es capaz de

llegar a la esencia que nos caracteriza como seres humanos. La comple-

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jidad de las personas, la hondura de la vida, las grandes preguntas de la

humanidad, los sentimientos y las emociones... Todo eso está en los libros,

que tienen la capacidad de cambiarnos la vida y de mejorar la sociedad.

Lo enunció de manera inolvidable Gianni Rodari, en su Gramática de la

fantasía:

“La creatividad y la fantasía sirven a las personas precisamente porque

en apariencia no sirven para nada. Pero sirven a la persona completa. Si

una sociedad basada en el mito de la productividad solo tiene necesidad de

hombres mutilados

–� eles ejecutores, diligentes reproductores, dóciles instrumentos sin

voluntad– quiere decir que está mal hecha y que es necesario cambiarla.

Para cambiarla hacen falta hombres y mujeres creativos, que sepan utili-

zar la imaginación. Desarrollemos la creatividad de todos para transfor-

mar el mundo”.

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Ana MariaMachado

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Ana Maria Machado

Apresentação de Ana Maria Machado por Marisa Lajolo

Buenas tardes a todos y perdón por el portuñol en que les hablo. Comien-

zo por agradecer a la Câmara Brasileira do Livro y a la Feria Internacional

del Libro por traerme a Guadalajara en una ocasión tan festiva para Brasil:

la premiación de Ana Maria Machado con el Premio Iberoamericano SM de

Literatura infantil y juvenil y agradezco a la Fundación SM por invitarme a

hacer la semblanza de Ana Maria Machado.

México, como ya sabemos, es la segunda patria de todos nosotros, los

latinoamericanos, y me encanta la oportunidad de volver una vez más a

este país, hermano de Brasil en tantas cosas, entre las cuales lo que respecta

a la pluralidad de sus culturas y a la riqueza de su literatura.

Entre colecciones, series y obras independientes, Ana Maria Machado

escribió casi doscientos títulos: libros para niños muy chiquititos, obras

para jóvenes, ensayos, poesía y romances. Brasil tiene hoy casi doscientos

millones de habitantes, lo que hace muy significativa la cantidad de li-

bros de Ana Maria Machado -más de diecinueve millones- que circulan en

nuestro país.

Afortunadamente – para los que (¡desafortunadamente!) no hablan

portugués - muchos de sus libros están traducidos y decenas de ellos han

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ganado importantísimos premios en Brasil y en el exterior: Premio João de

Barros (História meio ao contrário), 1977, Premio Jabuti (História meio ao

contrário),1978, Premio Casa de las Américas (De olho nas penas), 1981,

Premio Hans Christian Andersen, 2000 y ahora el Premio Iberoamericano

SM de Literatura infantil y juvenil.

Pero estos galardones no le cayeron del cielo: son el resultado del

trabajo y la determinación que han empezado cuando la niña Ana leía

a Monteiro Lobato, el más grande escritor infantil brasileño (y quizás

latinoamericano…) del siglo XX, siguió en el curso universitario de

letras, y continuó en un doctorado en Francia bajo la dirección de Ro-

land Barthes.

Su doctorado investigó la función de los nombres de los personajes

en Guimarães Rosa y puede ser que venga de ahí la sabiduría con la cual

ella bautiza sus personajes, como Beatriz y Isabel que devienen Bisa bia

Bisabel.

En su vastísima producción se manifiestan rasgos que caracterizan la

mejor literatura: presencia de la más alta fantasía, atención a la voz de los

niños, un apurado sentido de la realidad, y un sofisticadísimo manejo de la

tradición literaria y de la musicalidad de nuestra lengua.

El mundo de sus libros es un mundo plural: múltiples identidades

culturales, brasileñas y brasileños de diferentes colores, humor siempre y

siempre también una saludable voluntad de preguntar, cuestionar y retra-

zar caminos.

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Ana Maria Machado / PREMIO 2012

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Menina bonita do laço de fita (1986) es la historia de un conejo que

quiere ser negro, tener hijos negros, y pregunta a una niña negra cómo se

hace para tener un color tan bello. La historia, como se ve, invierte la tra-

dicional descalificación del aspecto físico de los negros y las negras.

La historia está traducida al español, inglés, francés, sueco, danés y

japonés y ganó innumerables premios.

Muchos de los libros de Ana Maria Machado hacen gravitar la na-

rración en torno a las mujeres. Este predominio del femenino encaja muy

bien con la presencia masiva de mujeres en todos los circuitos del libro y

de la lectura en Brasil: son muchísimas las autoras mujeres, y son también

mujeres muchas editoras del área, sin hablar de la multitud de maestras y

bibliotecarias, primeras mediadoras entre los libros y los niños.

Enriqueciendo el imaginario de sus lectores con lo mejor de nuestra

tradicion cultural, la literatura de Ana Maria Machado bebe muchas veces

en los clásicos reescribiendo textos antiguos, como ha hecho recientemente

con la historia de La nau Catarineta, donde, mezclando la prosa y el verso,

relee y reescribe el lejano siglo XVI, tiempo de la llegada de los europeos a

nuestra América.

Há mais de um ano e um dia que vagavam pelo mar.

Já não tinham o que comer, já não tinham o que manjar.

Os marinheiros passavam todo o tempo tentando pescar alguma coi-

sa, mas não tinham sorte. Caçaram os ratos do porão e comeram. Cozin-

haram o couro dos sapatos e comeram. Desfiaram as cordas que consegui-

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ram. Desmanchar e comeram. Mas acabaram chegando a um ponto em

que não havia mais nada que pudessem inventar para comer.

A não ser… (A nau Catarineta, p.21-23)

Hay que leer el libro…

La llegada de los europeos a nuestra América ya había sido magistral-

mente tratada por Ana Maria Machado en de Olho nas penas, libro que ha

ganado el Premio Casa de las Américas y que tiene pasajes muy parecidos

a algunos párrafos de Bartolomeu de las Casas.

Primeiro viram umas naus e caravelas chegando a uma praia e os cava-

leiros desembarcando com seus cavalos, suas armaduras, suas armas. Tinham

uma roupa de guerra feita de ferro, e de ferro cobriam a cabeça, e também de

ferro tinham espadas, escudos e lanças. Os homens cor de fogo os receberam

com muitas festas, como se os cavaleiros fossem convidados de honra ou deu-

ses. Deram-lhes presentes: comidas gostosas, aves bonitas. Puseram seus me-

lhores enfeites. E os enfeites tinham ouro, tinham prata, tinham esmeraldas.

Miguel (…) viu os cavaleiros fazerem sinal que queriam ouro e pe-

diram mais ouro, ainda mais, sempre mais. Viu muitas e muitas vezes as

matanças, os cavalos atropelando os homens cor de cobre, os cavaleiros

massacrando, roubando tudo o que eles tinham, derramando muito san-

gue, acabando com cidades inteiras, mesmo com toda a luta – é que eles tin-

ham canhões, mosquetes, arcabuzes, escopetas, uma porção de armas de nomes

antigos, mas que matavam de maneira bem moderna (de Olho nas penas)

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La mención a viajes y viajeros es el puente que nos lleva a la impor-

tancia en la obra de Ana Maria Machado del mar, el gran personaje de su

único y bellísimo libro de poemas, Sinais do mar (2010):

Primeiro mar

Tantas páginas lidas muito antes

tantos livros que enchiam as estantes

tantos heróis a povoar os sonhos

tantos perigos, monstros tão medonhos

nos tempos sem TV e sem imagem

palavras fabricavam paisagem

tesouros, mapas, ilhas tropicais,

argonautas, recifes de corais,

perigos na neblina entre rochedos.

Vinte mil léguas cheias de segredos,

histórias de naufrágio e abordagens,

Ulisses, Moby Dick, mil viagens,

Robinson, calmarias, um montim.

descobertas, veleiros, mar sem fim (Sinais do mar, p.45)

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Hay muchísimas otras maneras por las cuales Ana Maria Machado

se hace escritora brasileña de hoy, y mantiene sintonía con su tierra y con

su pueblo. Y ¿quién es su pueblo?. Creo que –más allá de las fronteras de

Brasil - la obra de Ana Maria Machado tiene un bienvenido rasgo latinoa-

mericano que – pienso yo - es lo que también subraya el premio que recibe.

Su obra incluye también libros de naturaleza ensayística – que se

ocupan de diferentes aspectos de la lectura. En ellos, Ana Maria Machado

visita con competencia y elegancia a todos los rincones de lo que el crítico

uruguayo Angel Rama ha llamado la ciudad letrada (http://www.archive.

org/details/LaCiudadLetradaRama). Son textos de conferencias y artículos

en la prensa, en los cuales ella problematiza la lectura, a los lectores y tam-

bién a los no lectores.

Estos ensayos son la otra cara de su intensa actividad de promoción

de la lectura: ella participa este año en proyectos de lectura en una favela

en Río de Janeiro.

Uno de sus libros más recientes – A princesa que escolhia (2006) hace

avanzar la temática de uno de sus primeros libros – História meio ao con-

trário (1978), que ha ganado tal vez dos de los primeros gran premios de

su carrera.

En estos dos libros las protagonistas son mujeres – princesas - que

deconstruyen e invierten los valores tradicionales de la cultura femenina y

de la cultura política. La princesa del último libro cambia incluso la forma

de gobierno del reino:

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No reino, por exemplo, o rei morreu, e a princesa teve de ocupar o

trono. Logo na sua primeira entrevista, tinha uma palavra enorme:

- Eu adoro escolher. Então quero que todo mundo também es-

colha. Por isso, proponho que este reino seja parlamentarista. Vamos

fazer eleições.

- Eleições? mas isto aqui é um reino… estranharam os ministros.

- E daí? Os melhores reinos por este mundo afora são assim. Têm rei

e rainha, mas… (A princesa que escolhia, p. 36)

¡Hay que leer el libro para saber que pasa!

A princesa que escolhia nos conduce a la arena política en la cual se

ubica su última novela - Infâmia, que tiene por intertexto la Biblia y por

tema cuestiones actualísimas de ética y política y en la cual el narrador

(como hace el narrador de Machado de Assis, el gran escritor brasileño) se

entromete en la historia y charla con los lectores:

Em muitas histórias bíblicas eu me intrometi, desde o dia em que

ganhei de meu padrinho aquele livro. E em muitas outras, de outros livros,

pela vida afora, à medida que fui crescendo e ampliando minhas oportu-

nidades, conhecendo mais enredos. Invisível, silencioso, sem que nenhum

deles desconfi asse de minha presença, eu acompanhava os personagens

- uns bem mais do que outros, é verdade. José foi um de meus primei-

ros favoritos. Encolhido num canto da cela, ouvi seus companheiros lhe

contarem os sonhos que haviam agitado aquela noite. Admirado, escutei

as palavras com que decifrou os relatos. Atento, fui aprendendo que todo

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relato tem interpretações. Mais de uma. Nenhuma é a única correta. (In-

fâmia, P. 24)

Son estos algunos flashes de la obra de Ana Maria Machado. De ellos

nos vamos a la recepción de su obra.

Una de las prácticas escolares más corrientes hoy en Brasil es pedir

que los estudiantes escriban al escritor que leen, como escribió a Ana Maria

Machado una estudiante que dice lo siguiente:

Quando estou lendo eu penso que estou no meio da história, eu fi co no

mundo da lua.

Y – hacer el milagro de multiplicar la vida y la historia de los lecto-

res ¿No es lo que quiere un escritor? Yo pienso que sí y que Ana Maria

Machado tanto en su obra literaria, como en su ensayística revela la clara

conciencia de la misión del artista: perpetuar un imaginario y un lenguaje

a través de los cuales se mantiene y se renueva la identidad de los pueblos,

la humanidad de los humanos.

Otros lectores, menos jóvenes que la niña que escribió la carta y más

experimentados en libros y en lecturas también dan testimonio de la cuali-

dad literaria de la obra de Ana Maria Machado:

Fiquei deveras gamado

pela � gura de Nita

a criação tão bonita

de Ana Maria Machado

por onde quer que ela siga,

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brota uma alegre verdade.

Se bento-que–bento–é-o-frade

ai Nita-que-Nita-amiga! (CF. homepage da autora)

Son versos del mayor poeta brasileño del siglo veinte, Carlos Drummond de Andrade – con los cuales se cierra esta semblanza.

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Discurso de Recebimento do Prêmio Ibero-Americano de Ana Maria Machado

Receber um prêmio é sempre uma alegria e motivo para agradecimento.

Assim, minhas palavras iniciais, quase como epígrafe, são para dizer “Mui-

to Obrigada” e “Estou muito contente com o prêmio que me dão.” Agra-

deço, portanto à Fundação SM que promove esta premiação, aos membros

do júri que me escolheram, aos editores que me publicaram, aos ilustrado-

res que acrescentaram suas imagens às minhas histórias, aos tradutores que

me fizeram transpor fronteiras de uma forma que eu jamais poderia imagi-

nar. E, sobretudo, aos leitores do mundo ibero-americano que diariamente

mantém minha obra viva por meio de seu diálogo com meu texto – não

apenas em português, mas também nos 74 títulos infantis traduzidos em

castelhano. Foram eles que me permitiram estar aqui hoje, como tantos

outros merecem estar e talvez um dia estejam. E para falar apenas nos

do meu país, rendo homenagem a Lygia Bojunga, Ruth Rocha, Ziraldo,

Marina Colassanti, para só citar alguns nomes, dignos de estar ao lado dos

de outros grandes autores brasileiros já falecidos e, portanto, inabilitados

para ganhar este prêmio -- como Monteiro Lobato, Maria Clara Machado

e Sylvia Orthof.

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Além do mais, um prêmio como este que me entregam hoje, o Ibero-

-Americano de Literatura Infantil, vem também carregado de um peso co-

letivo, que engloba sua abrangência geográfica e cultural e toda sua histó-

ria, ao me situar numa lista que compreende os autores de diferentes países

a quem já foi outorgado em suas edições anteriores, inclusive o brasileiro

Bartolomeu Campos de Queirós, a quem tive a honra de poder saudar por

ocasião de sua apresentação, aqui mesmo em Guadalajara, em uma de suas

últimas viagens ao exterior.

Começo, pois, agradecendo pela honra. Em seguida, percebo que

também tenho a responsabilidade de aproveitar o pretexto para tentar fazer

alguma reflexão sobre o significado de prêmios. Ou, pelo menos, sobre o

que neste momento ando pensando sobre o assunto em termos gerais, após

mais de quarenta anos de carreira e alguns prêmios.

Antes de mais nada, muito além do que eles podem representar no

estímulo individual a um autor (e sei como foram importantes na minha

vida e contribuíram para minha profissionalização como escritora), quero

destacar a importância da existência de prêmios literários dentro do pro-

cesso geral de produção de literatura. Eles cumprem um papel significativo

naquilo que os críticos chamam de proclamação do que é literatura e na

confirmação da literariedade de uma obra, ajudando a estabelecer o que

provavelmente passará a ser incorporado à tradição literária de uma deter-

minada cultura. Não são a única instância a ter uma função nesse processo.

Aliam-se a instituições como universidades e estabelecimentos de ensino,

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publicações especializadas, ao prestígio profissional das editoras, ao tempo

de permanência nos catálogos editoriais, e mesmo a leitores individuais de

amplo reconhecimento e respeito que às vezes chamam a atenção e dão

destaque para obras que poderiam passar desapercebidas e assim conse-

guem a oportunidade de merecer a consideração dos demais.

Todos esses canais, em conjunto, vão assegurando a legitimação li-

terária de uma obra ou um autor. Isso acontece porque a literatura não é

uma ciência, mas uma arte. Não pode ser medida por padrões de exatidão

nem posta à prova por experiências diferentes. E é uma arte que utiliza

como matéria-prima as palavras, a língua - um meio que está ao alcance

de todos e é utilizado todos os dias por todos os outros falantes daquele

idioma. Mas nem todos os usos são literários. E é bastante difícil definir ou

reconhecer quais seriam. Ou seja, apontar exatamente o que caracteriza a

função estética ou poética da linguagem e faz com que um texto seja visto

como literatura.

Não vou aqui entrar nessa discussão teórica. Já tenho escrito sobre isso

e falado em público sobre o assunto muitas vezes. Basta lembrar que con-

cordo bastante com Roger Chartier quando constata que é literário aquele

texto que, em leituras diferentes, feitas por diferentes pessoas ou em diver-

sos momentos da vida da mesma pessoa ou em épocas e culturas variadas,

permite reapropriações múltiplas (inesgotáveis, segundo alguns teóricos).

Também acho utilíssima a distinção que faz Roman Jakobson, quando

distingue na função poética da linguagem a única em que a escolha das

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palavras a serem usadas não se dá apenas pelo que elas significam quando

substituem outras, mas também pela sua potencialidade de deflagrar novos

sentidos quando acopladas com outras.

É algo difícil de definir, na teoria. Na prática, o leitor vai percebendo

o fenômeno, encontrando esses múltiplos sentidos, adotando textos

diversos como seus – quer dizer, se reapropriando deles de formas diversas.

A eficácia e a excelência nesse modo de usar o idioma vão sendo confir-

madas pelos diferentes e sucessivos leitores. E também por todas aquelas

diferentes instâncias que mencionei há pouco. É nesse processo que os

prêmios literários, quando sérios, desempenham o papel de legitimação da

literatura, a que me referi. Uma cultura necessita que eles existam.

Mas agora introduzi uma nova categoria. Falei em prêmios sérios.

Porque todos nós sabemos que há alguns que não são, e não passam de

iniciativas nascidas em algum departamento de marketing de alguma em-

presa, instituição ou governo e têm como único objetivo promover quem

os patrocina. Mas ainda não se inventou a crítica das premiações ou um

galardão para julgar os prêmios. Sendo assim, não vale a pena perder tem-

po com esses casos. Vamos falar apenas dos prêmios respeitáveis.

Esses podem ser variadíssimos e seus significados serão diferentes. Po-

dem ser para um único livro ou para conjunto de obra. Podem ser para

originais inéditos de autores escondidos sob pseudônimo ou para obras pu-

blicadas num determinado período. Podem buscar descobrir escritores estre-

antes e iniciantes ou consagrar carreiras já solidamente construídas. Podem

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se fazer mediante inscrições explícitas (como o Hans Christian Andersen) ou

sem que jamais se saiba quem foram os concorrentes nem quem os indicou

(como o Nobel). Podem vir acompanhados de um cheque, uma medalha,

uma taça, uma estatueta, a publicação da obra premiada ou um diploma.

O que lhes dá prestígio não é o universo que abarcam ou o prêmio

concreto que concedem.

O que lhes dá seriedade e respeito está ligado a outros fatores – a começar

pelo prestígio da instituição que os outorga. E, em definitivo, pela história do

prêmio. Um prêmio se torna cada vez mais sério e mais respeitável na medida

em que seus ganhadores, ao serem revelados, sejam acolhidos com a sensação

de serem merecedores, de que se fez justiça, de que é como se coletivamente a

comunidade de leitores estivesse se reconhecendo na decisão do júri.

Esses vencedores podem ser totais desconhecidos, que assim são reve-

lados, ou nomes consagrados. Podem ser polêmicos e despertar controvér-

sias ou quase unanimemente amados. Mas o prêmio em si será tanto mais

respeitado quando a reação dominante dos meios culturais em que ele se

insere for a sensação de justiça, de legitimidade e legitimação – mesmo se

for um prêmio para o experimentalismo e a vanguarda. Porque esse é o

papel maior dos prêmios numa cultura, não o de fazer promoção de seus

patrocinadores. Não pode ser apenas uma questão de dinheiro, vendas,

espaço na mídia, publicidade, consumo, consequências materiais.

Para estar à altura dessa responsabilidade, um prêmio respeitável deve

ter idealmente duas coisas: bases claras (regulamento claro) e júris sérios.

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Como acontece com as leis que regem outros setores da vida em so-

ciedade, regras simples, claras, objetivas, redigidas de forma adequada per-

mitem que toda a comunidade possa compreendê-las e saber do que trata a

premiação. Se houver a indicação de uma instância de poder que possa ter a

última palavra para solucionar alguma dúvida ou impasse inesperado, ainda

melhor. Geralmente, esse é o papel do presidente do júri, que deve ter capa-

cidade na área, autoridade para não ser contestado, experiência e habilidade

para conduzir debates multilaterais, de modo a poder equilibrar eventual

carisma de algum jurado, ou compensar excessiva timidez de outro.

O jurado, idealmente, deve ter um número ímpar de membros. Na-

turalmente, nem é necessário dizer isso, devem todos conhecer a área que

vão julgar. Devem ser capazes de defender suas posições com argumentos

coerentes, mas também é indispensável que saibam ouvir, reconhecer o

que há de positivo nos argumentos dos outros, ter a grandeza de saber

que se pode chegar para a discussão com suas próprias preferências, mas

não se deveria vir ao encontro dos outros com uma convicção firmada, de

maneira inabalável. E devem todos ter uma remuneração condigna, que

lhes permita tempo para se preparar. Porque é inadmissível, até mesmo em

nome da ética, que se reúnam para julgar e discutir obras que não leram.

Ao começar seus trabalhos, devem todos também ter clareza sobre o

mecanismo que será utilizado nas votações – que pode fazer parte das nor-

mas internas do prêmio ou pode ser decidido por eles mesmos, segundo o

caso. Sempre lembrando que uma reunião de júri, na maioria das vezes, é

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a construção de um consenso e não a imposição da opinião de quem tem

personalidade mais forte sobre quem é mais introvertido.

Ainda no capítulo do júri, vale recordar que não é bom que os nomes

dos membros desse corpo de julgadores sejam divulgados antes do prêmio

– para impedir pressões descabidas. Mas é indispensável que suas identida-

des sejam reveladas logo que o resultado for conhecido – para que possam

ser responsabilizados por suas escolhas. E é desejável que produzam um

parecer que explique e defenda a decisão a que chegaram. Cada prêmio é

um duplo julgamento: o dos concorrentes e o dos julgadores. O público

leitor tem direito de saber.

Asseguradas essas duas condições simples – regras bem definidas e júri

sério -- resta apenas reiterar os votos para que os concursos e premiações

literárias se multipliquem, para apoiar os bons livros e incentivar a boa

leitura. Em seu conjunto, seguramente, mesmo que haja dúvidas ou ques-

tionamentos aqui e ali, eventuais equívocos ou recuos, os prêmios acabarão

por consolidar a excelência na criação literária. E fazem parte do processo

de reconhecimento literário, de que se vale uma cultura.

Do ponto de vista do autor, esse reconhecimento é fundamental. Es-

crever é uma arte solitária, não é como as artes performáticas, como o te-

atro, a dança, a música, que se passam num palco e podem ser aplaudidas

ou vaiadas pelo público no instante mesmo em que estão sendo apresen-

tadas. O trabalho da escrita se faz no recolhimento sem testemunhas, a

leitura se dá nos silenciosos limites de cada um.

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E é como criadora individual e solitária de escrita que termino estas

palavras, mais uma vez agradecendo pelo prêmio. Fico contente por ver que

ele reconhece que o resultado de minhas carências e de meu trabalho tem

chegado aos leitores de alguma forma positiva. Apesar de eu não ter qualida-

des que em outros tempos já foram consideradas essenciais para se escrever

para crianças – como o conhecimento de pedagogia ou psicologia infantil

ou a preocupação em servir de guia para a infância e lhes apontar modelos.

Isso não impediu que minha deformação profissional de leitora voraz, estu-

dante de letras, professora de literatura, centrasse todo o processo de escrita, para

mim, na exploração da linguagem e na busca de um aprimoramento em minha

capacidade de gerir a palavra, de estruturar a narrativa, de manter diálogo com

outros textos que me dão prazer de ler ou com a rica tradição popular de nossa

cultura. E me alegro diariamente por poder continuar nessa atividade, enfren-

tando o desafio de buscar um uso estético da língua que tenta se mover pelos

espaços coloquiais do idioma vivo, ainda que alternado com outros registros

sempre que necessário. Tento ouvir a razão interna de cada texto, dedicar a ela a

paciência do ofício de uma tecelã. Procuro afinar esses instrumentos por meio

da atenção sutil e do trabalho constante e consciente, na recusa da estridência so-

lene, das abstrações e das consignas consideradas corretas pelo modismo da vez.

Na medida em que um prêmio dado por um júri internacional, sem

ninguém de meu país em sua composição, é um reconhecimento de que

esse esforço não tem sido inútil, só posso me sentir feliz. E mais uma vez

agradecer a todos e expressar a alegria que me domina neste momento.

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JordiSierra i Fabra

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Jordi Sierra i Fabra / PREMIO 2013

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Jordi Sierra i Fabra

Semblanza de Jordi Sierra i Fabra por Luis Fernando Crespo

Jordi, el poder de un nombre propio

En el mundo de la literatura infantil y juvenil, decir “Jordi” (“El Jordi”,

como diría él mismo), es automáticamente equivalente a decir Jordi Sierra

i Fabra. Si pidiéramos a todas las personas relacionadas con el sector (críti-

cos, editores, colegas, escritores, agentes, profesores, bibliotecarios, media-

dores… y sobre todo lectores) que pusieran sobre la mesa los adjetivos que

se les vienen a la cabeza al oír este nombre, sorprendería la coincidencia en

torno a unos pocos.

Entre los más citados estarían sin duda prolí�co y todos sus sinónimos:

productivo, fértil, creativo… Sí, si hay algo indiscutible es que Jordi es crea-

tivo en el sentido más esencial de la palabra: tiene una desbordante capacidad

para crear, y de ello dan fe esos más de cuatrocientos libros que titulan sus

Memorias literarias (Mis primeros 400 libros, Ediciones SM, 2012). Este li-

bro es un repaso minucioso y detallado, se podría decir que casi amoroso, de

las circunstancias en que concibió, guionizó, escribió y publicó cada uno de

sus libros a lo largo de estos sus primeros cuarenta años de profesión.

Pensando en ese detalle (cuarenta años, cuatrocientos libros) hace su

aparición otro grupo de adjetivos que todos aplicaríamos a Jordi: constante,

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perseverante, � rme y decidido. El sábado pasado, en la biblioteca Vascon-

celos, en D. F., escuché hablar de Jordi como tenaz. Jordi es una persona

con una decisión inamovible acerca de cómo vivir su vida (tiene guardado

y archivado cada cuaderno, cada servilleta en la que anotó una idea, los

guiones previos de todas y cada una de sus obras, así como notas detalladas

sobre el lugar y el momento vital en que cada una fue viendo la luz, porque

ya con ocho años tenía decidido que algún día publicaría sus memorias

literarias y no podía olvidar ningún detalle). Porque un día decidió con� ar

en sí mismo y así sigue hasta hoy.

Todo esto no lo ha conseguido a base de cumplir dócilmente las ex-

pectativas ajenas. Jordi es una persona libre, que siempre ha luchado por

mantener el control de su propia vida eligiendo su camino. Un camino

que implica un sólido propósito personal, un objetivo que ha mantenido

siempre a salvo de las críticas y de las opiniones de los demás (incluido su

propio padre, que no quería que se dedicara a la escritura). Porque siempre

ha sabido para qué está en el mundo y, mejor aún, para qué quiere estar. Y

porque siempre ha sabido que tenía su destino en sus manos.

Si pidiéramos más adjetivos no faltarían entusiasta, optimista, apasio-

nado, exuberante, sonriente, ocupado y laborioso, pero abierto siempre a

los demás, a un rato de charla, a un abrazo cercano o una sonrisa cómplice.

Una actitud que viene de algo que Jordi tiene en abundancia: gusto por

la vida. En los ojos de Jordi siempre hay un asombro permanente ante lo

que tiene delante, no importa si es un paisaje de los que va buscando en

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Jordi Sierra i Fabra / PREMIO 2013

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sus múltiples viajes, la mirada de un niño que le agarra de la manga o la

petición callada del joven que se le acerca en busca de consejo o de apoyo.

Asombro ante las noticias del periódico, ante el diálogo de una película o

de una anécdota contada al paso. Asombro ante la belleza, ante el amor,

ante cada nueva historia que toma forma en su imaginación. Para Jordi

todo es material novelable, todo le produce una sorpresa que él transforma

en historias, en personajes, en tramas, en vida hecha palabras.

Por eso Jordi nunca está solo (está consigo mismo) y no se aburre nun-

ca; su entusiasmo le lleva a continuar escribiendo el guion de su próxima

novela incluso durante las réplicas a un terremoto de magnitud 8,8 en la

escala de Richter en Santiago de Chile, o durante las horas de espera en el

hangar de un aeropuerto tras un aterrizaje de emergencia en la Martinica.

Jordi sigue escribiendo siempre, pero sin perder el contacto con la vida,

con la realidad más cercana y también con la más lejana. La realidad de sus

lectores, la realidad de los que no son lectores pero podrían serlo. Porque otra

de sus características es su receptividad, su capacidad de recibir, quizá porque

esa es la condición necesaria para el siguiente adjetivo que sin duda todos

aplicaríamos a Jordi: generoso. Jordi es generoso, quiere dar, devolver parte de

lo que siente que recibe de la vida. Eso, junto a su enorme sensibilidad social,

le ha llevado a crear dos fundaciones, una en Barcelona (Fundació Jordi Sie-

rra i Fabra) y otra en Colombia, en Medellín (Fundación Taller de Letras), y

a convocar, desde 2005, el Premio Literario Jordi Sierra i Fabra para Menores

de 18 años y a publicar una revista literaria digital, La Página Escrita.

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Para hacer todo esto hace falta una fuerte motivación, una voluntad

grande de vivir la vida con un inagotable espíritu de aventura y descubri-

miento, y Jordi la tiene.

Si, por cambiar de categoría gramatical, quisiéramos regalarle unos

pocos sustantivos, entre ellos estarían, por supuesto, los cinco que confor-

man su código ético personal: paz, amor, respeto, honradez y esperanza.

De nuestra cosecha añadiríamos consideración, cariño, amistad, complici-

dad y mucha admiración.

Sí, haría falta medio diccionario para describir a Jordi Sierra. Pero,

bien pensado, para alguien capaz de engendrar la superlativa lluvia de mi-

llones de palabras con la que Jordi ha regado generosamente el mundo, no

debería sorprendernos que unas pocas palabras, aunque llenas de cariño y

reconocimiento, no sean su� cientes.

No son su� cientes y por eso tomo prestadas las palabras del mismo

autor al introducir sus cuatrocientas primeras obras. “Siempre he dicho

que escribo muy en serio pero que, en lo que a mí respecta, aunque mi vida

sea escribir, separo y guardo distancias. Trato de reírme de mí mismo. ¿Con

el título mis cuatrocientos primeros libros hago una broma? ¿Amenazo con

400 más? ¿Le guiño un ojo al destino? ¿Busco el aplauso de los acólitos

mientras provoco a los irredentos? Lo único cierto es que habiendo llegado

a esta cifra, ¿por qué no gritarlo (aunque sea en voz baja) con el orgullo

justo y la sonrisa feliz del que sabe, como dijo Woody Allen, que los hitos

están para ser superados?”.

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Jordi Sierra i Fabra / PREMIO 2013

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Palabras prestadas también para terminar esta laudatio. Son las pala-

bras de la cuarta de cubierta del libro de Jordi que me llevaría a una isla

desierta. Se trata de “material sensible, cuentos crueles”, que nos cuenta

historias como “la niña de Bogotá”, “los caminos de Guatemala”, “un tele-

visor en Caracas”, “favelas de Río” “En algún lugar de España, Europa” y

“montañas de México”, entre otros. A la gerente editorial de SM en Espa-

ña, Elsa Aguiar, editora amiga de Jordi, le gustaría prestarme su voz, como

me ha prestado sus palabras, para leer este � nal:

“Este es un libro de � cción. Pero los relatos que lo forman, nacidos

de experiencias concretas de su autor, Jordi Sierra i Fabra, re� ejan con

ropaje literario situaciones reales, de ahora mismo. Pero, por suerte, las si-

tuaciones que re� ejan los relatos de este libro no son toda la verdad. Miles,

muchos miles de personas en todo el mundo dedican sus energías para que

algún día todo eso llegue a ser solo una � cción.

Gracias a cuantos, con sus relatos, con sus fotografías, con sus libros o

sus acciones mantienen a � or de piel lo mejor de nosotros mismos”.

Gracias, Jordi, porque con tu literatura tratas de transformar el mun-

do y hacerlo más humano, más habitable, más sostenible, respetuoso, justo

y solidario, un mundo que crece con libertad, que busca la justicia y la paz.

En SM también queremos educar al lector para ese mundo.

Gracias, Jordi, por escribir y dedicar tu vida al desarrollo de la

infancia y la juventud. Gracias por mantener a � or de piel tanta huma-

nidad narrada.

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Discurso de aceptación del Premio Iberoamericano de Jordi Sierra i Fabra.

Gratitud y elogio de la palabra escrita y el libro

Gratitud

Hace un año y medio, el 30 de marzo de 2012, Laura Niembro, esa

extraordinaria mujer, alma mater de esta Feria del Libro de Guadalajara,

me mandó un correo electrónico con un sugestivo titular: “Ven, ven,

ven”. ¿Alguien cree que cuando una mujer te dice “ven, ven, ven” puedes

decir que no? Más aún, ¿alguien se imagina diciéndole que no a Laura

Niembro? Ni que decir tiene que vine. Llevaba dos años de ausencia y

Laura, cual sirena reclamando al Ulises viajero, me devolvió a esta Feria

que es mi casa.

Este Premio que hoy recibo se deriva de ese mensaje. Asistí a la en-

trega del galardón a Ana María Machado (era mi tercera presencia en este

acto, siempre sanamente envidioso de los premiados), y en la � esta poste-

rior llegó la magia. Una amiga argentina dijo: “Pero cómo, ¿vos no tenés

el Iberoamericano?”. Yo dije que si nadie me presentaba no podía ganarlo.

Y otra, mexicana, agregó: “Órale, ¿podemos hacerlo desde México?”. A lo

cual Pedro Cerrillo, del Centro de Estudios de Promoción de la Lectura

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Jordi Sierra i Fabra / PREMIO 2013

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y Literatura Infantil (CEPLI) de España, remató la escena manifestando:

“Tranquilas, el próximo año lo presentamos nosotros”.

A la hora de los agradecimientos, imagínense pues la lista, comen-

zando por Laura, acabando con Pedro y sin olvidar a la Fundación SM, la

casa en la que, hace ya treinta y tres años, debuté como autor para niños

y jóvenes. Una Fundación que, no puedo olvidarlo, fue la primera que

nos apoyó económicamente cuando iniciamos en Medellín las labores de

la Fundación Taller de Letras Jordi Sierra i Fabra, de la misma forma que

Ediciones SM edita cada año el Premio literario que lleva mi nombre y que

se falla en España.

Este galardón que hoy nos congrega aquí es un Premio a una vida y

una obra, pero también es un premio que nos une y hermana. Mi amor por

Latinoamérica no solo se mani� esta por los viajes que he hecho por el con-

tinente, profesionales o no, sino por el hecho de tener editores en muchos

países y darles libros originales, que no se encuentran en mi país salvo que

los compren en este lado del Atlántico. Norma, Panamericana y Libros y

Libros en Colombia; Fondo de Cultura Económica, Castillo, MacMillan

y Progreso en México; Libresa y Zonacuario en Ecuador; Arrayán y Mare

Nostrum en Chile o Editorial Gente Nueva en Cuba son el ejemplo de

esto. Creo que no fue casual, incluso, que recibiera la noticia del Premio

en Medellín y no en Barcelona. Cuando empecé a viajar por estas tierras y

me di cuenta de lo mucho que se me quería, no como novelista, sino como

roquero, me sentí emocionado y feliz. Los únicos libros que hablaban del

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fenómeno musical de aquel tiempo, en español, que llegaron aquí durante

más de dos décadas, fueron míos. Ellos dieron paso al Sierra i Fabra na-

rrador que también se ha hecho un hueco en tantos corazones. Recuerdo

un día, a � nales del siglo pasado, en Costa Rica, boquiabierto frente a una

librería con un escaparate lleno de obras mías. Entré preguntando si sabían

que estaba de vacaciones recorriendo el país y me dijeron que no, que

eran los chicos costarricenses los que me leían y pedían. Después, en años

posteriores, la escena se repitió en Bogotá, México D. F., Quito o Santiago

de Chile. Este es pues el Premio que recoge todos estos sentimientos y los

agrupa en una sola palabra: amor. Gracias por quererme. Gracias por dejar

que os quiera.

Elogio de la palabra escrita y el libro

Después de la gratitud, me gustaría hacer un elogio de la palabra escri-

ta y del libro como vehículo esencial de la misma, y como reconocimiento

a todos los lados que forman este prisma que llamamos cultura: escritores,

ilustradores, editores, impresores, promotores, vendedores, libreros, maes-

tros y tantas otras personas que día a día convivimos con el placer de la

escritura y la lectura o del contacto con los libros, nuestra razón de ser, la

misma que nos agrupa hoy aquí a todos nosotros.

Fui ese niño, raro animal de feria, como decía Ray Bradbury, que se

pasaba el día inventando crucigramas, damerogramas, jeroglí� cos, saltos

de caballo, sopas de letras, abecegramas, pictogramas, dibujando… Y na-

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Jordi Sierra i Fabra / PREMIO 2013

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turalmente escribiendo. Como digo siempre, leer me salvó la vida, escribir

le dio un sentido. Jamás recordé lo que estudié, pero nunca olvidé lo que

leí. Y guardo en mi casa todos aquellos libros, al menos desde que pude

comprármelos.

Hoy, cuando en España los escritores luchamos en tantos frentes, des-

de nuestra impotencia, contra la piratería en aras de la falsa gratuidad de

la cultura, hasta la socialización de los libros en las escuelas, –equívoco

pretexto económico que va a impedir que los niños tengan su propia bi-

blioteca y recuerden los libros que leyeron, les marcaron y les cambiaron la

vida–, no dejo de pensar en aquel chico que, bajo la Dictadura, devoraba

un libro al día. Libro que alquilaba con el dinero que conseguía vendiendo

pan seco y periódicos viejos. Como acabo de decir, guardo en mi casa todo

lo que leí después en esa infancia y esa adolescencia, cuando pude comprar

mis propios libros, porque son el germen de lo que he sido. No tengo estu-

dios, me formé leyendo. Creo que el libro es el objeto de arte más hermoso

que se ha creado. Por fuera y por dentro. Borges también lo dice: “De los

diversos instrumentos inventados por el hombre, el más asombroso es el

libro; los demás son extensiones de su cuerpo. Solo el libro es una exten-

sión de la imaginación y la memoria”. Todavía, cuando me llega un libro

mío o compro uno en una librería, lo primero que hago es olerlo. Vamos

ya camino de perder el segundo sentido literario, el olfato, si la tecnología

se acaba imponiendo al papel. Incluso el primero, el tacto, está cambian-

do: del dulce roce con el papel a la fría huella de la pantalla por la que

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deslizamos los dedos. Algún día tampoco necesitaremos la vista, porque

nos enchufarán a una máquina que nos introducirá el libro en el cerebro

directamente. Quizá se incluyan también las emociones que la lectura nos

despierta, aunque es más difícil. Puede que así nazca una nueva generación

de drogadictos: los de las letras.

Hace un mes y medio, en el Congreso de la Lengua de Panamá, se

dieron cifras escalofriantes sobre la incidencia de la lectura en América

Latina. De un total de veinte países, cuatro de los seis últimos eran, nada

casualmente, los que presentaban índices de violencia más altos en el con-

tinente. Me gustaría saber cuántas personas, jóvenes o adultas, que practi-

can algún tipo de violencia, son lectores de libros. Cultura es vida, amor,

libertad y paz. “La falta de prioridad de los gobiernos en la educación es

la clave del poco éxito de la lectura”, a� rmó Orit Btesh, presidenta de la

Cámara del Libro de Panamá. Más aún: vender libros no es crear lectores.

Sin complicidad no hay sinergias. La cultura se expande por la invisible

red de los vasos comunicantes de nuestro ánimo. Si uno se rompe, si uno

cede, se cortocircuita el conjunto entero. ¿Y qué hacer, cuando esta lucha

nos supera año tras año y perdemos generación tras generación?

Cuando puse en marcha mis dos Fundaciones a ambos lados del At-

lántico, lo hice empeñado en algo que, a mi juicio, es la única y verdadera

antesala de la lectura: la escritura. Es mucho más e� caz incentivar esa capa-

cidad en los niños y en los jóvenes que leer y leer textos sin más, por orden

de los esforzados maestros. El mismo Panamá impulsó un plan de escritura

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Jordi Sierra i Fabra / PREMIO 2013

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entre los escolares para que narraran sus cosas, lo que sentían, sus vidas, y

el éxito desbordó la iniciativa. Los niños podían escuchar sus propias voces,

recuperando además la oralidad perdida. Escucharse unos a otros, descu-

brirse, aprenderse fue acercarlos a sí mismos. Una prueba de que solo con

el ingenio podemos combatir la ola de ignorancia e indiferencia que se nos

viene encima, si no nos ha caído ya. Hay muy pocas personas capaces de

plasmar en un papel lo que sienten. No saben hacerlo. Y ese es el problema.

Por eso hay psiquiatras.

Cuando escribimos no lo hacemos pensando en el papel o en una

pantalla. Solo nos vaciamos a nosotros mismos, sea con una pluma o con

un teclado. Y si, con suerte, aparece un lector, bienvenido sea. Pero aun

así, la palabra “lectura” irá asociada durante mucho tiempo todavía con la

palabra “libro”, tal y como lo conocemos hoy o como lo diseñará el futuro.

Hoy el debate se centra entre si el libro muere como objeto y si las tec-

nologías lo rematarán. Pero el problema ya no es el soporte, el problema es

que América Latina, como se dijo en ese Congreso de la Lengua, retrocede

en lo esencial, sin que ningún esfuerzo cuaje. Como dijeron los expertos y

recogió la prensa española: “El futuro está en el pasado”. Si no defendemos

ese pasado, lo que nos ha dado la literatura desde que Gutenberg inventó la

imprenta, llegaremos a ese Más Allá incierto en el que seremos máquinas,

humanos con implantes o seres amorfos sin apenas sentimientos.

El futuro es siempre un rodillo que acaba por aplastar al pasado. El

mundo tecnológico nos reducirá a meras piezas de museo, tan románticas

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como las de otras épocas. Pero no moriremos sin luchar. Somos héroes de

la resistencia. Amamos y amaremos la palabra escrita. Amamos y ama-

remos los libros. La vida es pasión, y nada la re� eja mejor que escribir,

ningún arte es superior a la palabra escrita, pues incluso el cine o el teatro

dependen de ella inicialmente. Estamos hechos de palabras y de sueños.

Unas alimentan a los otros. Por favor, amemos escribir, porque es amarnos

a nosotros mismos en lo más puro de nuestra identidad humana. Y ame-

mos los libros, leer, pero también asomémonos cada mañana a ese periódi-

co que se convierte en hábito de nuestro conocimiento. Seamos agresivos,

no condescendientes, porque nos jugamos una parte de nuestra historia. Ya

no hay militares dictadores en América Latina, aunque sí líderes populistas

de incierto mensaje. Con cada niño no lector se abre la puerta a un into-

lerante del mañana. Como dijo Carmen Balcells, “el libro es la apoteosis

� nal. El libro, que es un acto de amor, es muy dúctil”. Pero para llegar al

libro, escribamos. Ya no es solo leer, es entender lo que leemos, desnudar-

nos, ser capaces de liberarnos a nosotros mismos. Tocar un instrumento,

pintar, esculpir o escribir es crear, y ser creativos es lo que nos diferencia

de las piedras o los animales. Seamos mejores. Volvamos a los orígenes. No

nos perdamos en la selva de las buenas intenciones. Indignémonos tam-

bién contra la pobreza cultural que nos asola, y recordémosles a los que nos

gobiernan que mandar en un país de burros es muy fácil. El reto consiste

en gobernar países y pueblos que valgan la pena.

De nuevo, gracias por estar aquí esta noche. Sean felices.

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Ivar Da Coll

2014

León

Dar

ío/S

eman

a

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Ivar Da Coll / PREMIO 2014

Ivar Da Coll: auténtico intérprete de la cultura infantil

Hablar de Ivar Da Coll es hablar de un creador. Creador de un mundo

expresado en doble clave: texto e imagen. Este ejercicio creativo en el que,

desde su origen, se fusionan los colores, las �guras, las técnicas de la ilus-

tración con las palabras, la historia, el diálogo requiere un gran talento.

Y eso es lo que tiene Ivar Da Coll: talento. Pero un talento cultivado con

o�cio y vocación de explorador. Ivar es el único representante en nuestro

país de ese singular y delicioso género –conquista de los libros para niños–

llamado libro álbum. Género en el que no basta una simple relación entre

imagen y texto, sino en el que además es necesaria la tensión y la lucha por

el sentido entre estos dos lenguajes. Vendrán otros jóvenes creadores que se

irán abriendo camino en este campo que se instala con mesura en nuestro

medio, pero él seguirá siendo el pionero.

El camino para llegar al libro álbum es diferente para cada creador.

Algunos vienen de las artes grá�cas y por casualidad o azar devienen en el

o�cio de crear libros para niños; otros provienen del mundo de la pintura;

y otros se forman en la academia como ilustradores. Ivar viene de un espa-

cio que quizá logre explicar su vocación literaria: el teatro. Su formación

inicial es la de titiritero. O�cio que lo acerca desde una mirada lúdica al

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universo de los niños, y que le da los elementos esenciales para crear perso-

najes. Y quizá estos sean dos secretos que explican su consolidación como

creador de libros para niños: la construcción de personajes y una intuición,

expresada en voluntad creativa, para descifrar el mundo infantil.

Personajes, sí, muchos, variados, inolvidables, singulares, únicos.

¡Qué decir de su primer personaje! Aquel que le entregó la carta mágica

para trasegar por la literatura infantil y los libros para niños: Chigüiro (Ha-

mamelis y el secreto, Bogotá, Alfaguara, 2004).

Este simpático y tierno roedor oriundo de los Llanos Orientales de

nuestro país no necesitó –en manos de Ivar– palabras para contar todas sus

historias. Historias que no eran grandes hazañas ni enredadas aventuras:

sencillas anécdotas de la vida cotidiana que para un niño forman parte de

su descubrimiento del mundo y de su manera de relacionarse con su en-

torno: un lápiz mágico que hace realidad lo que se desea; un � otador que

sirve de rueda de la chiva, desa� ando las leyes de la física y resolviendo una

di� cultad no menor, que logra evitar la frustración de no poder ir a la playa

de paseo; un palo que, en manos de Chigüiro, como en las de un niño, se

transforma en múltiples objetos.

Y este personaje inaugural, por supuesto, no vive solo.

Empieza así la creación de una variedad de seres que forman parte de

su familia y de sus amigos. Animales que encarnan cualidades humanas

que para Ivar resultan fundamentales: la solidaridad, la fraternidad, la clara

y diáfana noción de amistad. La familia y los amigos acogen al niño lector,

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Ivar Da Coll / PREMIO 2014

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lo arrullan y lo protegen. Y ese es el primer nicho en el que se detiene Ivar

en su camino como explorador: la recreación de la amistad. Esta se mani-

� esta de muchas maneras en la vida cotidiana de los personajes: Hamame-

lis, Eusebio, Camila, Úrsula, Ananías, Eulalia, Miosotis tejen sus lazos a

través de pequeños pero grandes pactos, guardar un secreto, hacer un rega-

lo especial al amigo, un regalo anhelado que demuestra conocimiento del

otro; celebrar el cumpleaños entre amigos, cumpleaños que todos habían

olvidado; jugar a las escondidas, disfrazarse para jugar a ser otro; acompa-

ñarse en las noches oscuras cuando salen los monstruos… En esta serie de

libros, que no son necesariamente una época en la trayectoria de Ivar, sino

más bien una línea de expresión o un hilo conductor que se mani� esta

en diversas obras, los personajes son creados en relación con el otro. No

son sus aventuras ni sus actos heroicos los que los caracterizan o los hacen

inolvidables, tampoco es su personalidad, que podría llegar a ser expresión

egocéntrica: es su relación con los otros, con el otro. Allí hay una ética del

cuidado que supera el mero divertimento o la admiración por la técnica.

Chigüiro, Abo, Ata, Carlos, Cochinita, Nano y sus amigos, Eusebio, Juan,

Diego viven en función del otro llamado amigo, hermano, nieto, madre,

padre y sus cualidades los de� nen. En esta porción del mundo de Ivar, que

acoge a los lectores más pequeños, no hay malos ni buenos. Hay seres que

pueden parecer, a los ojos del protagonista, ofensivos, extraños, molestos,

pero no malos, hasta que el personaje, en virtud de la aclaración, compren-

de la verdadera naturaleza de lo que ocurre. Esa sutileza de las relaciones la

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entienden mejor los niños que los adultos, para quienes sí existe la maldad,

como en el caso de Los dinosaurios (2000). En esta historia, por ejemplo,

son los adultos –quienes casi siempre tienen ideas muy tontas, como dice

el narrador– los causantes de la desaparición de los dinosaurios, al querer

exterminarlos con sus carros de ruedas, sus herramientas y sus antorchas

de fuego.

Otra constante que aparece en la obra de Ivar es el juego. El juego

expresado de diversas maneras: tejido de una historia, basamento de

una arquitectura narrativa, como en el caso de Torta de cumpleaños

(1990), Garabato (1990), Chigüiro, Rana Ratón (1997). En todas estas

obras los personajes juegan: a las escondidas, a disfrazarse y convertirse

en otro, a divertirse. El juego es una parte esencial de la vida del niño

y es a través de este que resuelve muchas de sus confusiones sobre el

mundo. El juego para un niño es metáfora. O mejor, abre en la vida

real la posibilidad de la metáfora: juego de roles, juego tradicional con

repeticiones que dan seguridad, con estribillos que glosan y amplían

el sentido, juego de suposiciones. Ivar echa mano del juego como lo

hacen los niños. Haciendo así uso de la expresión más auténtica de la

cultura infantil.

En esa vocación de explorador, Ivar incursiona en el humor, con la

misma comprensión del universo de la infancia, en este caso, con el humor

que puede arrancarle una carcajada a un niño lector más grande, que ya

imagina recorridos largos por senderos y caminos. ¡No, no fui yo! (1998) y

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Ivar Da Coll / PREMIO 2014

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Balada peluda (2001) son muestras de este camino que, aunque no ha sido

ampliamente desarrollado, demuestra aciertos. ¡No, no fui yo! es un ejem-

plo del conocimiento de lo que para los niños puede ser divertido y, sobre

todo, liberador. Frente al mundo convencional y rígido de los adultos, los

personajes se comportan como todo niño desearía comportarse, o como

realmente lo hace cuando está lejos de la mirada represiva y ordenadora de

los mayores.

Y es en estos textos en clave de humor que Ivar se lanza a explorar

la versi� cación. Hay algo de la más genuina tradición pombiana en estos

cuentos en verso, donde lo que importa es poder contar una historia versi-

� cada, buscando las rimas menos reforzadas, pero sin sacri� car el sentido.

El verso � ja la memoria del lector y a los niños los acerca a su propio sen-

tido del ritmo. Da Coll, con este ejercicio de versi� car las historias, pare-

ciera seguir los caminos de Rafael Pombo, nuestro padre poético, cuando

a� rmaba que el niño, desde que nace, comporta un fuerte sentimiento del

ritmo, de la cadencia y medida de las palabras. Esta escritura versi� cada

la hace extensiva a otros textos no humorísticos como El Día de Muertos

(2003) y ¡Azúcar! (2005) (original homenaje a Celia Cruz). En estos dos

libros el derroche visual es generoso.

Allí surge el ilustrador que se inspira en la observación del mundo, el

explorador que mira a través de la lupa agrandando los detalles. Pero tam-

bién surge el escenógrafo que recrea los elementos más insigni� cantes del

vestuario, de la cultura local, de los objetos y utensilios.

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Para el titiritero que no ha dejado de ser, la imagen es escenografía, es

teatrino. La imagen además es la posibilidad de mostrar a los personajes y

su mundo en toda su expresión.

Hasta en los textos más narrativos, sale su condición de dramaturgo.

En sus obras los con� ictos están concentrados y se resuelven en el mismo

escenario. El tiempo presente prima sobre el pretérito, lo que intensi� ca el

con� icto; el diálogo expresa a los personajes y en la dialéctica de la conver-

sación se resuelven las tensiones.

Podríamos referirnos a la obra de Ivar Da Coll como la expresión de

una dramaturgia, pero de una dramaturgia referida a los con� ictos cotidia-

nos de la infancia. El miedo, el olvido del cumpleaños del amigo, el drama

de tener un hermanito que desplaza la atención de los adultos, la di� cultad

de guardar un secreto, las pesadillas encarnadas en monstruos, la partida

de la casa buscando la compañía de un adulto que le dé lo que necesita son

los con� ictos a partir de los cuales Ivar crea los personajes y las historias. Y

en esta recreación de la vida infantil demuestra una agudeza de percepción

que le permite no solo crear historias cercanas a los niños, sino que además

las interpreta, las revela y les devuelve las vivencias de su propio mundo

con una gran calidad literaria y artística.

Los aciertos de Ivar también son técnicos y formales. Sus persona-

jes animales están lejos de una simple reproducción de la realidad. Son

creaciones muy suyas, algunos son híbridos de varios animales que, al fu-

sionarse, logran crear seres con nombre y personalidad singular; otros re-

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presentan a un animal conocido. Vaca, gato, gallina, pato, pero dibujados

con expresiones que los hacen únicos. Eusebio no es cualquier gato, es Eu-

sebio: tierno, sensual, tranquilo, amoroso… Eulalia no es cualquier vaca,

es Eulalia: vanidosa, suave y elegante. Y esos cali� cativos no están escritos

en ninguna parte, los construye el lector a partir de la imagen de cada per-

sonaje. Allí está la maestría del creador. Quizá los personajes humanos se

parezcan entre sí, pero por sus expresiones sabemos si están tristes, alegres,

atemorizados, enojados; en � n, sabemos qué están sintiendo sin que el

texto nos lo haga explícito.

Al mirar el conjunto de su obra, podemos a� rmar con certeza que

Ivar Da Coll logra crear un mundo poblado de seres diversos a quienes

les caben cali� cativos comunes: la inocencia y la candidez propia de la

infancia protegida que aún no se ha enfrentado a la dureza de la vida. Por

eso su literatura acoge, arrulla, divierte y genera gozo en sus lectores, tanto

pequeños como grandes.

Celebramos este homenaje a un artista consagrado a su o� cio, y quien

ha demostrado con su obra estar del lado de los niños.

Texto extraído del libro Cuadernos de literatura infantil colombiana. Ivar Da Coll, publicado por cortesía de la autora, Beatriz Helena Robledo, y de la Biblioteca Nacional de Colombia.

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diez autores iberoamericanos de premiose terminó de imprimir en los talleres

de Fotolitográ�ca Argo en la Ciudad de México, en noviembre de 2014. En su composición se utilizó

la familia tipográ�ca Adobe Garamond.

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Agustín Fernández Paz

Laura Devetach

Jordi Sierra i FabraAna Maria Machado

Ivar Da CollPremio Iberoamericano SMde Literatura Infantil y Juvenil

Con el apoyo de:

Bartolomeu Camposde Queirós María Teresa Andruetto

Juan Farias Gloria Cecilia Díaz Montserrat del Amo

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