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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
1
O SURREALISMO COMO EXPRESSÃO DA IRRACIONALIDADE:
Sandra Silveira Amorim 1
Sonia Mari Shima Barroco22
Resumo
Este texto resulta de pesquisa bibliográfica que teve como objetivo a
reflexão do ensino da Arte especialmente do movimento Surrealista e das
obras de Dali, para os alunos de uma instituição de ensino Estadual da cidade
de Mandaguaçu. Os objetivos deste texto são, portanto, expor aspectos
teóricos estudados e relatar a implementação do projeto na escola. Buscou
propiciar aos alunos do ensino médio do 3º ano a contribuição do movimento
Surrealista, aguçando o espírito crítico é o desenvolvimento da capacidade
reflexiva e criativa dos mesmos. Sendo conteúdo estruturante, e por estar
contemplado nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná, os
resultados da pesquisa PDE possam contribuir para o desenvolvimento dos
1 Sandra Silveira Amorim, professora Formada em Arte, pela Universidade (UNOESTE-Paulista), Pós Graduada em Didática e Metodologia do Ensino (UNOPAR-Londrina).
2 Sonia Mari Shima Barroco, Psicóloga, professora da Universidade Estadual de Maringá, mestre em Educação (UEM), doutoranda em Educação Escolar (UNESP-Araraquara).
2
alunos e também dos professores. Ao longo de nossos estudos bibliográficos
fizemos um exercício de uma leitura crítica, com base nos pressupostos da
Teoria Histórico-Cultural, para compreensão da importância da arte para a
formação humana, com enfoque no estudo do surrealismo como expressão de
um estado de irracionalidade que se configura na contemporaneidade. Na
intervenção prática, organizamos um projeto de intervenção, para
instrumentalizar alunos do 3º ano do Ensino Médio, caracterizando o
surrealismo e realizando relações com o período em que surgiu até os dias
atuais. Concluímos que a disciplina de Arte pode e deve contribuir para o
estado de maior consciência dos alunos, a respeito dos caminhos e
descaminhos da sociedade, permitindo que compreendam a si próprios
olhando para a totalidade. A arte, somada à história permite que a
humanização dos homens possa ser desenvolvida.
Palavras-chave: Ensino de Arte; Surrealismo; Irracionalidade; Ensino Médio;
Psicologia Histórico-Cultural
1 Introdução
A pesquisa PDE que realizamos situa-se no âmbito da disciplina de Arte.
O ensino de Arte tornou-se obrigatório no Brasil em 1971, pela Lei de Diretrizes
e Bases para a Educação Nacional (LDBEN) - Lei 5692/71 (Paraná 2008).
Podemos observar, portanto, que este ensino constitui-se como uma área de
conhecimento relativamente jovem nos currículos escolares de nosso país.
Posteriormente, outra lei, a LDBEN 9394/96 (BRASIL, 1996) tornou obrigatório
3
o ensino da Arte no Ensino Fundamental e Médio. Pelo exposto, podemos
observar que foi criada há tantos anos, e ainda a muito a se pensar e a fazer a
respeito desta disciplina em toda sua estrutura e organização. Desse modo,
ela, na escola publica merece atenção especial. Por outro lado, justificamos
nossa proposta de investigação pela concepção de que a Arte é uma atividade
fundamental na formação do indivíduo como ser humano, haja vista a presença
da atividade artística em todo processo histórico do desenvolvimento da
humanidade. Ela expressa as grandes conquistas e as aflições ou desafios
vivenciados, pelo ser humano, constituindo-se, por isso, um recurso para se
conhecer a respeito de como se dá a humanização dos homens; como eles
superam a condição de espécie biológica e alcançam o nível de gênero
humano mais ou menos desenvolvido. A concepção de Arte como fonte de
humanização incorpora as três vertentes das teorias críticas em Arte: arte
como trabalho criador, arte como ideologia e arte como conhecimento, por
reconhecê-las como aspectos essenciais da Arte na complexidade deste
movimento (PARANÁ, 2008). Para isto articulamos a Arte como forma de
conhecimento uma vez que se encontra presente nos processos mentais de
raciocínio, memória, imaginação, atenção abstração, generalização e na
capacidade de planejamento, sendo estes processos presentes nas funções
psicológicas superiores. Na pesquisa realizada nos atentamos, também, aos
estudos da Teoria Histórico Cultural liderada por L.S.Vigotsky (17/11/1896 –
11/06/1934), para podermos entender e desenvolver por meio dos trabalhos
realizados, com os alunos nas funções psicológicas superiores e a Arte como
meio de transformação e de desenvolvimento e humanização. Demos atenção
ao movimento Surrealista presente desde a época de Francisco de Goya
(30/03/1746 – 15/04/1828), com a série Caprichos (1799), que o antecipou as
características do Surrealismo nas obras de Dali, em cem anos; o manifesto de
André Breton (19/02/1896 – 28/09/1966), a irracionalidade presente na obra de
Dali e apresentamos os resultados no qual os alunos desenvolveram várias
atividades.
4
1.1 Sobre o estudo teórico
Na visão de Karl Marx (05/05/1818 a 14/03/1883), citado por Leandro
Konder (1967, p. 29), autores que subsidiaram uma proposta educacional
crítica, que adotamos como norteadora, a dificuldade não está em
compreender a Arte e a época que estão ligadas aos desenvolvimentos sociais,
e, sim, no fato de que elas possam proporcionar nos dias atuais respaldos para
além dos meros prazeres estéticos. Tanto para Konder (1987) como Vigotsky
(2004) a experiência proporciona uma maior riqueza de imaginação. Estes
autores citados fazem comparações entre uma criança e um adulto e suas
respectivas experiências:
Quanto mais rica a experiência da pessoa, mais material está disponível para a imaginação dela. Por isso a imaginação da criança é mais pobre que a do adulto porque ela tem menos experiência. A imaginação se origina de acúmulos de experiências anteriores, assim quanto mais rica for as experiências mais ricas deve ser também a imaginação (VIGOTSKY, 2004, p. 22).
Quanto mais experiência o ser humano acumular, mais imaginação, mais
criatividade poderá ter e mais rica poderá ser toda sua vivência e
conhecimentos culturais, portanto devemos proporcionar ao nosso aluno
oportunidades em todos os campos do conhecimento. Por que a arte ela esta
presente na ciência, filosofia, matemática, geografia, história e nos outros
campos. Sabemos que o processo criativo envolve a vivência, experiências
acumuladas incluindo saberes universais. Essas experiências envolvem leitura
dos objetos estéticos, reflexão sobre a arte para que esse aluno possa se
desenvolver como um sujeito governado por si próprio e que interage com os
símbolos da sua cultura.
5
Segundo Ostrower (2009, p. 11):
A natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural. Todo individuo se desenvolve em uma realidade social em cujas necessidades e valorações culturais se moldam os próprios valores de vidas. No indivíduo confronta–se por assim dizer, dois polos de uma mesma relação: a sua criatividade que representa as potencialidades de um ser único, e sua criação que será a realização destas potencialidades já dentro do quadro de determinada cultura.
Essa citação reafirma as idéias de Vigotsky, que nos permitem concluir que,
quanto mais rica for a experiência do aluno maior será as suas realizações, e,
portanto, o seu desenvolvimento. Esse potencial criador elabora nos múltiplos
níveis do ser sensível – cultural – consciente do homem, nas aprendizagens ao
longo da sua vivência. O processo criativo fruitivo constitui-se como fonte de
humanização e educação do homem, e a Arte é o produto da criação e do
trabalho deste homem histórico e socialmente datado, ela congrega o homem
na sua totalidade, envolvendo aspectos dos âmbitos sensível, ético e cognitivo.
Pela sua criação o homem constitui-se como ser humano que sente, percebe,
conhece, reflete e toma posição ante o mundo. Podemos dizer que o
desenvolvimento do homem se dá por meio das apropriações e de novas
objetivações que faz com base no acervo apropriado. Em sua criação
encontram-se as suas necessidades existenciais, movendo-o e formando-o. Ao
criar, ao ordenar as motivações que se tornam interiores, estas propõem e
impelem o fazer, levando-o (o homem) a representar a realidade em diferentes
dimensões e em níveis de consciência mais elevadas. Podemos dizer que se
revela de forma nova, criativa, a própria realidade, que nós, como humanos,
necessitamos criar e recriar e estar ampliando, cada vez mais, o sentimento de
abertura e visão para a vida. Esse processo fecundo de tornar nosso aquilo
que o outro ou a humanidade criou é um processo de apropriação, ou ainda, de
6
humanização. Nesse sentido, a educação constitui-se genuinamente em um
processo sócio-histórico de humanização. A arte assume o papel de trazer as
conquistas humanas para dentro de cada homem particular, de formar a
genericidade no ser. Com esse entendimento, indagamos sobre a importância
do professor de Arte.
Quão bem preparado ele deve estar para realizar, com seus alunos,
esse caminho de formação dos órgãos sociais, ensinando-os a ver, a perceber,
a ouvir, a sentir. Ele concorre para que se estabeleça o desenvolvimento
daquilo que é próprio aos homens em cada um: as funções psicológicas
superiores. Para desenvolver essas funções psicológicas superiores (os
aspectos cognitivo, racional, afetivo e emotivo, a consciência) os signos
revelam-se como ferramentas auxiliares (a linguagem), são fundamentais. Pela
linguagem, o homem codifica, nomeia, identifica, conceitua, põem em relação
os fatos, fenômenos e objetos, apreendendo a vida em sua dinâmica. Pelos
signos lingüísticos, mas também os de outra natureza, aquilo que está fora do
homem passa a adentrar e compor a sua mente, tornando o que é
interpsicológico em conteúdo intrapsicológico ou intrapsíquico, como escrevem
Vygotsky e Luria (1996, p. 213). Com essa perspectiva teórica norteando a
implementação do projeto na escola, propusemos atividades que envolviam o
Surrealismo, as obras, autores, filmes e propagandas.
1.2 Aspectos históricos
Nossa temática diz respeito ao surrealismo como expressão do homem
contemporâneo ou da sua irracionalidade. Contudo, faz-se necessário
expormos aspectos históricos para maior compreensão dessa temática.
Durante todo o desenvolvimento da humanidade ocorreram manifestações
artísticas que torna difícil datar com exatidão cada uma delas, a não ser com o
propósito didático. Durante o percurso de seu desenvolvimento o homem foi
7
deixando “marcas” por onde passava, sendo elas os sinais de sua própria
humanização.
Ante os limites deste texto, vamos nos deter no período de 1799, época
em que Goya produz uma série de gravuras intituladas, Os Caprichos, ao todo
são oitenta gravuras, nas quais decidiu dar vazão a criatividade exprimindo
severa crítica a sociedade, a ignorância e as crendices apresentando cenas
fantásticas de pesadelos violentos, delirantes, aberrações, temores, difíceis de
interpretar e expressas por uma técnica audaciosa para seu tempo. Em suas
obras Goya mostra com excepcional crueza e dramaticidade, o lado trágico do
conflito, da guerra e a derrota dos homens. Era um período em que os ideais
da Revolução Francesa, liberdade igualdade e fraternidade, se punham como
norteadoras para a vida moderna. No entanto, na prática social, tais ideais não
se concretizaram. Isso se refletiu na arte, que foi tornando-se mais complexa e
dando lugar a vários movimentos artísticos, sempre em busca de algo que não
existia: uma nova vida, nova sociedade, novas relações, novo homem
(BARROCO, 2007).
Nesse período de grande importância pelas transformações em processo (da
medievalidade ao mundo contemporâneo). Podemos dizer que, enquanto
artistas neoclássicos submetiam-se as regras das academias, outros buscavam
libertar-se delas e expressar livremente seus sentimentos e sua imaginação.
Nesse sentido, podemos verificar que em suas obras Goya evidencia a tirania,
os horrores da guerra, a ação incompreensível de personagens fantásticos em
cenas históricas. Assim o tema da repressão política aparece na pintura de
Goya de forma geral, e de forma universal. Com suas obras Goya propunha
uma orientação com base na liberdade criativa, sendo uma técnica muito
audaciosa para seu tempo, percebendo que estas obras continham
características do Surrealismo, movimento este provavelmente surgido cem
anos após suas gravuras.
Observamos também o processo de irracionalidade muito antes do
movimento Dadaísta, quando Goya com sua série de gravuras já demonstrara
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sua fúria, a desordem para os princípios estabelecidos pela sociedade da
época.
Muito antes de Freud, Goya é o primeiro a penetrar totalmente no tenebroso antro do que existe, se move, e agita na entranha mental da irracionalidade humana. Nem tudo o que de irracional somos e temos: todos os sonhos, o amor, as fantasias, o jogo, as tristezas e alegrias... são uma repugnante confusão. Mas a verdade é que Goya o vê, descobre e desentranha. De modo que o primeiro Surrealista completo da contemporaneidade resulta com cem anos de antecipação em Goya (LOPERA; ANDRADE, 1997, p. 30).
É possível identificarmos quando o inicio do processo da irracionalidade gerada
pelas demandas do mundo capitalista na arte pictórica encontra na pintura e na
gravura de Goya a sua representação, inaugurando o modernismo nas artes
com um realismo feroz, já que no momento não se cogitava a existência do
Surrealismo. Foi do estado de lucidez a loucura que vinham a reboque do
capitalismo, tendo como impacto a revolução política e social que abalaram a
Europa, que mudaram para sempre a arte no mundo.
1.3 Dadaísmo e Surrealismo
A Arte sobre o capitalismo apresenta várias escolas ou estilos nas
diferentes áreas. O Dadaísmo foi um movimento de negação, que surgiu
durante a Primeira Guerra Mundial. Este foi um fato mais devastador da historia
que causou uma crise econômica sem precedentes, sobretudo na Europa,
devido à destruição material, aos gastos militares, aos danos no comércio e
aos deslocamentos das atividades produtivas. Como a guerra diminuiu a
presença Europeia no mercado, este espaço foi ocupado pelo capital norte
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americano. A Primeira Guerra gerou uma crise que também afetou o império
Russo, com a construção das republicas socialistas, as quedas das
monarquias na Europa Oriental, a formação de novos países. A conferência de
(paz) e os diversos tratados (que na maioria das vezes os países foram
obrigados a assinar) causando ressentimentos neutralidade e um futuro incerto
para a Europa.
Neste clima os artistas da época, de várias nacionalidades, eram
contrários ao envolvimento dos seus próprios países na guerra. Os Dadaístas
propunham que a arte não fosse racional, combinada a elementos por acaso: a
incoerência, a desordem, e o caos. Ela se apresenta como um protesto contra
a civilização que não conseguiu evitar a guerra. (LICEU NOBEL, 2003, p. 86).
Desta forma, os Dadaístas propunham que a criação artística se libertasse das
amarras do pensamento racionalista e sugeriam que ela fosse apenas o
resultado do automatismo psíquico, selecionando e combinando elementos do
acaso. O desprezo pelos valores humanos, demonstrado pela guerra
suscitavam em alguns artistas uma reação de protesto que tinham a intenção
de provocar, ironizar e negar os conhecimentos e habilidades da estética
tradicionalmente aceita e admirada. É a própria anti arte que suscita valores
novos. A arte dada se caracteriza pela extravagância, quebra do convencional,
espontaneidade, absurdo estético. O Dadaísmo é a arte de protesto contra a
destruição do homem de sua cultura pela guerra. O dadaísmo e principalmente
o seu principio do automatismo psicológico, propiciou o aparecimento do
Surrealismo, na Franca 1924. (SOUSA, 2005, p. 110). O movimento Dadaísta
pregava, neste clima histórico de desanimo o desejo que a arte seria:
anarquista, destruidora, explosiva desordem, injustiça, contínua injuria para os
princípios estabelecidos, fúria agressora contra qualquer tipo de sensatez.
Estavam representados no estado de uma sociedade de pós guerra, mas
Breton percebe que o Dadaísmo era e podia ser mais que demolição. “O
Dadaísmo, as teorias psicanalíticas de Freud e as incitantes incoerências da
arte dos loucos, das crianças o afã revolucionário é a grande mistura do
Surrealismo” (SOUSA, 2005, p.112). O fim do movimento Dadaísta deu-se em
1923, com as profundas desavenças entre Tristan Tzara e André Breton. O
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Dadaísmo foi mais um estado de espírito gerado pela 1ª Guerra Mundial, do
que propriamente um movimento com leis e estruturas próprias, e sobre seus
escombros ergueu-se o Surrealismo na França. O movimento Surrealista
surgiu no momento em que se findava a Primeira Guerra Mundial e se
expandiu ganhando adeptos em vários países. (PROENÇA, 1990, p.166). A
vanguarda Surrealista surgiu como reflexo da busca pelo imaginário, pelo novo,
pelo irreal indo contra qualquer regra social ou religiosa, chocando uma
sociedade conformada e adaptada a padrões pré - estabelecidos, produzindo
obras que mostravam cenas interessantes, diferentes, ilógicas e, às vezes
amedrontadoras. As obras produzidas permitiam que o inconsciente
expressasse contradições ocorridas entre sonho e realidade (SOSSAI, 2006,
p.18).
1.4 Manifesto Surrealista.
O manifesto surrealista é definido em 1924, por André Breton (apud Anderson, 2004, p, 20) como: “[...]. Puro automatismo psíquico através do qual se deseja exprimir, verbalmente ou por escrito, a verdadeira função do pensamento”. Também pode ser entendido como pensamento ditado da ausência de qualquer controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral [...] (André Breton, um Manifesto Surrealista, 1924 e o segundo em 1930) (LOPERA; ANDRADE, 1997, p. 31).
Segundo Breton, deu o nome de Surrealismo ao novo modo de expressão que
tinha a seu alcance, em homenagem a Guillaume Apollinaire 1917. Neste
manifesto, os princípios surrealistas são declarados, tais como: a isenção da
lógica, a adoção de uma realidade superior, chamada "maravilhosa". Como
11
podemos perceber, o termo Surrealismo tal como entendemos hoje, foi
empregado por André Breton, envolvendo não somente as artes plásticas, mas
o cinema, a fotografia, a literatura e o teatro. André Breton, foi um dos
principais fundadores do Surrealismo, escreveu, além do manifesto, muitos
livros e artigos sobre o movimento. Fazia composições poéticas a partir de
objetos do cotidiano, as quais chamaram de “poemobjetos”. Chilvers, (1996,
p.120). Segundo Ostrower (1991, p.328, 329) o movimento Surrealista e o
manifesto Surrealista de André Breton constitui a base do Surrealismo que se
propunha a reapuração dos sentimentos e do instinto como ponto de partida
para uma nova linguagem artística, trazendo para o mundo um novo modo de
encarar a Arte, que segundo ele não é produto de gênios, mas de cidadãos
comuns. Para essa autora, as características do Surrealismo devem dar
expressão plástica as imagens do subconsciente isto é, o artista busca nos
sonhos as imagens para sua obra. São influenciados pelos estudos da
psicanalise de Freud, negando os valores da realidade e da natureza como
conteúdo para a obra de arte e se aprofunda nas imagens do subconsciente.
Conforme Gombrich, suas características são:
- Pintura com elementos surreais - Formas baseadas na fantasia (sonhos, inconsciente)- Busca da perfeição do desenho e das cores, dentro da dimensão do imaginário - Impressão espacial, possuindo ilusões ópticas - Dissociação entre imagens e legendas, conjugadas para construção de cenas de sonho ou de ironia.-Valoriza a intervenção fantasiosa na realidade; -Ressalta o automatismo contra o domínio da consciência; -As formas da realidade são completamente abandonadas.-Explorar o inconsciente, o sonho, a loucura; aproximar-se de tudo que fosse antagônico à lógica e estivesse fora do controle da consciência (GOMBRICH, 2009, p. 593).
12
Como se observa pelos autores as obras surrealistas tem características muito
particulares e únicas. A arte surrealista possui sempre elementos irreais que a
tornam, por vezes, bizarra. Esses elementos podem ser fruto dos sonhos ou do
inconsciente do autor. No entanto a arte surrealista procura sempre imitar a
perfeição nas suas cores e desenhos (dentro da dimensão do imaginário). Por
vezes contém ilusões de óptica que evocam o sonho ou até a ironia. Vale
lembrar que nesse momento de sua contribuição o pensamento do psicanalista
Sigmund Freud trazia inovações ao revelar que muitos dos atos humanos não
estão ligados ao encadeamento lógico. A ausência de controle exercido pela
razão e o "automatismo psíquico puro" indicavam os novos rumos da arte. Este
movimento foi significativamente influenciado pelas teses psicanalíticas de
Sigmund Freud, que mostram a importância do inconsciente na criatividade do
ser humano. De acordo com Freud, o homem deve libertar sua mente da lógica
imposta pelos padrões comportamentais e morais estabelecidos pela
sociedade e dar vazão aos sonhos e as informações do inconsciente.
1.5 A importância da arte para a formação humana
Para o aluno entender a Arte é necessário instrumentaliza-lo para a leitura e
interpretação das obras. Em nosso caso propusemo-nos a instrumentalizá-los
para entender a arte do movimento Surrealista, e a irracionalidade contida nas
obras. Para SOUSSA (2005, p.23) o ato de conhecer relaciona percepção
memoria e associação, acionando nossos sentimentos percebendo os sinais do
mundo onde as nossas funções cerebrais que registram e relacionam essas
percepções. O conhecimento estético é de prioridade por associar livremente
as percepções cotidianas aos sentimentos e intuições propostas a
subjetividade, expressando essas associações de modo lúdico e criativo em
manifestações estéticas ou artísticas presentes nas obras de Dalí.
13
A abordagem do surrealismo se deu em busca de propiciar elementos
para que os alunos do ensino médio pudessem compreender a si mesmos e o
mundo contemporâneo. A Arte é privilegiada pela expressão de processos
intuitivos, possibilitando que os sentimentos internalizados, passam a se
manifestar promovendo novos conhecimentos. O desenvolvimento humano, já
foi apontado como um processo longo por onde o homem deixa de ser um
animal e pelo processo de trabalho e a relação com os outros homens de
humanizar. Aos poucos, devido as interações sociais com o seu grupo e com
os objetos da sua cultura adquiriu controle sobre seu comportamento e seu
pensamento.
Conforme outro autor da psicologia Histórico cultural
A hominização dos antepassados animais do homem deve-se ao aparecimento do trabalho e, portanto da sociedade. Engels escreve que o trabalho criou o próprio homem e sua consciência. O desenvolvimento do trabalho é a primeira e fundamental condição da existência do homem, acarretando a transformação e o hominização do cérebro, dos órgãos de atividades externas e dos órgãos dos sentidos. O trabalho e a linguagem são os estímulos essenciais sob a influência dos quais o cérebro de um macaco e transformou pouco a pouco num cérebro humano (LEONTIEV, 2004, p.164).
Esta transformação do animal para o homem pelo trabalho foi um processo
lento, por isso é de fundamental importância à questão do trabalho e dos
instrumentos criados por ele. Pela criação, uso e cooperação ou coletivo,
concluímos que ele progride tanto no trabalho como na produção, usando os
órgãos externos e os sentidos. No processo de trabalho coletivo cada um tem
relação origina-se a forma de trabalho especificamente humana, a reflexão
entre o motivo e o objeto resulta no desenvolvimento do psiquismo humano e
da consciência. À medida que o homem transforma o seu meio para atender
suas necessidades, o coletivo também é transformado por ele, isto é o que o
torna um animal diferente dos outros, quando ele produz seus próprios meios
de sobrevivência.
14
Desta forma Vigotsky, Luria e Leontiev e outros estudiosos soviéticos buscaram desvendar o homem social, a formação das suas funções psicológicas e a relação entre aprendizagem e desenvolvimento, sob a ótica história da vida humana (GOULART, MORI, BULLA E HIROTSU, 2005, p. 86).
Desta forma afirma que o trabalho é, portanto desde sua origem mediatizado
simultaneamente pelo instrumento e pela sociedade. Por meio da produção e
do trabalho e do uso criativo dos objetos, desenvolveu-se a consciência, o
pensamento e a linguagem (signos) que são os recursos utilizados pelos
homens como mediadores de suas atividades psíquicas (palavra, imagens,
sinais). As transformações dos processos psíquicos (cultura) distinguem-se
pelas condições sociais, a época em que cada indivíduo vivencia.
A abordagem do surrealismo e a sua irracionalidade se deu em busca
de propiciar elementos para que os alunos do ensino médio pudessem
compreender a si mesmos e ao mundo contemporâneo. Todas estas funções
constituem o fundamento dos fenômenos subjetivos correspondentes da
consciência: as sensações, as impressões emocionais, sensibilidade e
memória. As capacidades naturais (visão, audição, olfato, tato, paladar) devido
a um processo de mudanças passam para estágios cada vez mais elevados de
desenvolvimento, ou seja, se tornam mais perfeitas (Vigotsky, 1984, p. 86).
O homem durante a sua evolução passou por várias etapas, o pensamento e
as falas foram importantes instrumentos mediadores do seu desenvolvimento
por este motivo achamos por bem pesquisá-los.
Como o pensamento e a fala se desenvolveram:
A linguagem torna-se o instrumento do pensamento e, mais ainda, um instrumento de reforço, um instrumento mnemotécnico (a associação daquilo que deve ser memorizado com dados já conhecidos ou vividos) [...] A fala assume o comando: torna-se a ferramenta cultural mais utilizada: enriquece estimula o pensamento também, como acreditam vários autores, lançando os alicerces para o desenvolvimento da consciência (VIGOTSKY, LURIA, 1996, p. 207).
15
Por meio da fala, o homem constrói seus conceitos, associações de acordo
com o que já vivenciou e pensamentos, isso lhe dá maior liberdade de
expressão e comunicação. A conquista da fala ou linguagem representa um
marco muito importante no desenvolvimento humano. Esta função
comunicativa enriquece suas relações e torna o aprendizado mais significativo,
principalmente no trabalho por meio da ação da relação homem/trabalho. As
palavras e signos (sinais, símbolos e imagem) são meios de contato social com
outras pessoas. Marx (1818 – 1883) MARX, 1984, p. 20, chama de “consciência
prática dos homens”.
1.6 Mediação
A importância da mediação no processo de ensino vem sendo discutida desde
o início do século passado por representantes de diferentes teorias, mas os
psicólogos russos dão-lhe uma ênfase diferenciada:
Todo conhecimento do homem só é possível por via mediação. [...] Na medida em que a atividade é mediatizada por estes fenômenos particulares e (reflexo do mundo) e comporta de certa maneira em si, ela torna-se uma atividade mentalizada (LEONTIEV, 2004, p. 76).
Para Leontiev (1996, p. 207), a mediação é a fonte de todo conhecimento: “[...]
o segundo estágio do desenvolvimento cultural caracteriza-se pelo surgimento
de processos mediados no comportamento da criança. Esses processos
reconstroem o comportamento com base no uso de signos como estímulos.
Segundo Lima (2008, p. 27) a humanização se da por meio do acesso a todos
os bens culturais, como a literatura e a atualização científica, e a produção
artística. Para se promover a formação humana de todos os educandos é
16
necessário oferecer conhecimentos os quais são imprescindíveis para
responder os desafios de uma escola que possa ampliar a experiência
humana, com conhecimento em psicologia, antropologia, linguística e Arte. O
processo de mediação é de extrema importância visto que o professor já se
apropriou do conhecimento formal que o educando deverá adquirir e a
interação entre ambos deve ser tal que permita e promova a aprendizagem
deste conhecimento. A partir da sua ação e interação com o mundo e das
práticas culturais, o homem constitui o que chamamos de função simbólica,
que é a possibilidade de representar por meio de símbolos toda sua
experiência, sensivelmente no real. As funções psicológicas superiores como
cognição, memoria, percepção, imaginação, atenção. A prática artística
mostrou-se muito importante para o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores, desenvolvimento da coordenação do pensamento e raciocínio. A
Arte como forma de conhecimento relaciona a percepção, memória e
associação pondo em ação os nossos sentidos, os quais percebem os sinais
do mundo e as nossas funções cerebrais registram e relacionam essas
percepções. A percepção é estabelecida na relação entre os estímulos
percebidos pelos sentidos e as respostas próprias do sujeito sensível. A
percepção resulta dos cinco sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar em
conjunto ou separadamente. Coube a nos professores estimular esses sentidos
para que o aluno produzisse suas atividades artísticas. Essas atividades
artísticas são respostas aos estímulos compondo sensações (resposta física),
sentimento (respostas afetivas), e idéias (respostas cognitivas). A interação
entre a Arte e o conhecimento é porque todo o conhecimento nasce de uma
relação estética com o mundo, já que precisamos sentir o mundo para
conhecê-lo. O que nos interessa é a expressão do aluno em suas atividades
artística nas suas atitudes e produções revelando de maneira sincera ou
simulada suas idéias ou sentimentos. As possibilidades de aproximação
emocional ou de distanciamento racional tanto por parte daquele que produz
quando do público. Isto determina dois campos de estudo e discernimento do
fenômeno artístico: o emocional é o campo filosófico e psicológico, que
considera os valores simbólicos afetivos, subjetivos e intersubjetivos da Arte.
17
1.7 A arte no ensino médio: relato do trabalho com o surrealismo
A aplicação do projeto. “O Estudo da Irracionalidade do Surrealismo: uma
proposta do desenvolvimento da consciência no Ensino Médio”, usando a
metodologia embasada na Teoria Histórico Cultural e também contemplada na
DCE do Paraná pode contribuir para o desenvolvimento da capacidade
reflexiva e criativa dos alunos, pela apropriação do conhecimento.
O projeto foi aplicado no período de 18/08/2010 a 01/12/2010 no
período diurno (vespertino), com 16 encontros de 2 horas diárias semanais
envolvendo 18 alunos.
Foram trabalhados:
18/08/2010 – apresentação do projeto, a finalidade o objetivo e o tema a ser
estudado;
25/08/2010 – Pesquisa no laboratório de informática sobre o surrealismo e as
principais obras de Salvador Dalí;
01/09/2010 – Debate sobre o tema pesquisado (Surrealismo);
08/09/2010 – Filme “Um Cão Andaluz” (Apresentação e discussão);
15/09/2010 – Os alunos usaram o recorte de uma obra de Dalí (Girafas em
chamas);
22/09/2010 – Recorte de palavras para criar poesias Surrealistas;
18
29/09/2010 – Composição Surrealista através de recorte e colagem de diversas
imagens e materiais;
06/10/2010 – Estudo e análise das propagandas Surrealistas atuais, vistas
através das multimídias;
13/10/2010 – Criação em grupo de novas propagandas com o tema
Surrealismo;
20/10/2010 – PowerPoint em ordem cronológica das obras de Salvador Dalí;
27/10/2010 – Discussão nas criações, estilos, irreverência, e simbologias
presentes nas obras de Dalí;
03/11/2010 – Formação de grupos de alunos para criarem suas próprias obras
Surrealistas;
10/11/2010 – Pinturas das obras desenvolvidas pelos grupos;
17/11/2010 – Continuação das pinturas;
24/11/2010 – Montagem dos painéis e exposição na escola;
01/12/2010 – Auto – avaliação dos trabalhos realizados durante todo o projeto.
Neste momento surgiram várias indagações como:
- Qual o motivo da pintura fugir do convencional?
- Salvador Dali era louco?
- Porque tanta referência ao sexo?
- Como a Obra de Dali e os Surrealistas, de uma forma em geral, são
inconfundíveis no seu estilo?
A maneira diferente de se apresentar revela alguma coisa de seu caráter?
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Estas questões foram debatidas dando oportunidade e liberdade para que cada
aluno demonstrasse seus saberes e suas dúvidas perante o assunto em
questão. Todas essas indagações foram sendo respondidas durante o
desenvolvimento do projeto. Isto deixou bem claras as ideias de Barbosa
(2003, p.31), que o homem em sua totalidade de emoção razão, de afetividade
e cognição, de intuição e racionalidade e de uma subjetividade que não pode
ser ignorada no processo de ensino e aprendizagem. O homem cria, não
apenas porque quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode
crescer enquanto ser humano, coerentemente, ordenando, dando forma,
criando OSTROWER (2009, p.10).
Relatamos que a Arte seria dificilmente explicada e entendida sem ajuda da
psicologia e também da psiquiatria por envolver muito as emoções. Quando
dizemos que a arte seria difícil de ser explicada, é porque lida com emoções e
cada pessoa vê e sente de acordo com seus conhecimentos adquiridos
formalmente e o espectador pela sua percepção irá obter experiências
sensoriais, a vivência das sensações provocadas pela obra. Neste contexto
cabe ao professor explicar os elementos estruturais elementos intelectuais as
simbologias e o momento histórico das obras estudadas. Na atividade sobre o
filme Um Cão Andaluz de 1929 durante o debate percebemos que houve o
desenvolvimento da aprendizagem pelos questionamentos e que as vezes os
próprios colegas da turma respondiam as questões que surgiam. O debate
instigou estimulou perguntas e respostas entre eles acrescentando uma melhor
interpretação das cenas do filme. A atividade sobre a releitura do recorte da
telas “Girafas em chamas” os alunos tiveram a oportunidade de exercer a sua
criatividade levando o recorte da obra para outro contexto. Apesar da
dificuldade do desenho livre, percebemos o entendimento do surrealismo, o
processo da irracionalidade e uma visão distorcida dos objetos criando um
clima irreal. O mesmo aconteceu na montagem com recorte e colagem onde
criaram uma montagem onde representassem a irracionalidade proposta pelo
movimento. (figura - 1, 2, 3)
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Figura 1: Montagem surrealista
Fonte: Acervo da professora
Figura 2: Montagem surrealista
Fonte: Acervo da professora
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Figura 3: Montagem surrealista
Fonte: Acervo da professora
Figura 4: Montagem surrealista
Fonte: Acervo da professora
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Constatamos o desenvolvimento da interpretação, da sensibilidade, da
criatividade dos grupos pela qualidade da participação e da criação dos
trabalhos desenvolvidos pelos alunos. Nos textos poéticos apreciaram as
poesias Surrealistas, interpretaram e recriaram com recortes de palavras
retiradas de jornais e revistas, montaram a sua poesia. Ao final cada aluno leu
em voz alta a sua criação poética. Dentro do movimento Surrealista
escolhemos o artista plástico Salvador Dali, por ser este o representante mais
consagrado e que sua própria figura representa a excentricidade do
Surrealismo. A vida e a obra de Dalí foram estudadas e pesquisadas e os
alunos fizeram uma síntese da sua biografia e de suas obras. Após essas
atividades passamos um PowerPoint com as obras em ordem cronológica de
produção com o objetivo de que o aluno percebesse as mudanças que
aconteceram desde o início até o final da sua carreira. Conheceram melhor o
estilo, as características, o histórico, e as simbologias contidas em cada obra.
Neste momento percebemos uma mudança na maneira de ver e sentir dos
alunos em relação à análise mais profunda de cada obra. Este momento foi
magico porque percebemos a mudança da reação dos alunos ao analisar a
presença dos símbolos fálicos quase que constante nas obras de Dalí. A
mudança na maneira de ver a sexualidade pura e simplesmente como normal,
a simbologia foi desvendada clareando a interpretação a leitura reflexiva e
compreendendo melhor as idéias do artista, surgindo neste momento vários
tipos de comentários ligando a obra, a vida pessoal do artista e a estética dos
alunos. Após esses comentários, os alunos em grupos criaram, por meio de
todo entendimento sobre o Surrealismo, obras as quais foram selecionadas
pelas professoras e devolvidas ao grupo com a finalidade de montar um único
desenho com aquelas imagens pré - escolhidas. Após a montagem do desenho
em papel Paraná (80 x 100 cm) os alunos pintaram e expuseram o trabalho.
Nesta atividade o envolvimento dos alunos e de toda a comunidade escolar nos
surpreendeu (Figuras 1, 2, 3 e 4). Foi muito gratificante ver a participação e o
envolvimento demonstrando, desenvolvimento cognitivo e social dos alunos e a
participação de alguns professores os quais mostraram gostar tanto dos
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trabalhos que acabaram nos ajundando a concluir a realização dos mesmos,
por achá-los muito criativo, interessante e significativo.
Figura 1: Pintura surrealista
Fonte: Acervo da professora
Figura 2: Pintura surrealista
Fonte: Acervo da professora
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Figura 3: Pintura surrealista
Fonte: Acervo da professora
Figura 4: Pintura surrealista
Fonte: Acervo da professora
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1.8 A formação do jovem e a busca pela consciência
No início deste milênio a sociedade passa por momentos angustiantes como:
grande tensões políticas e religiosas entre países de muita influência, o avanço
tecnológico, as grandes descobertas da medicina, da ciência, os grandes
desastres ambientais e a humanidade vive uma crise de desalinho. O sonho
desenfreado do homem moderno da sociedade capitalista, onde impera o
consumismo o ter e não o ser, vencer a qualquer custo a racionalidade
imperante ficando a sensibilidade o emocional em segundo plano. As maquinas
substituem os homens e estes lutando pela sua sobrevivência no mundo cada
vez mais com características surrealistas. Nós como educadores trabalhamos
no sentido da humanização do sujeito, por meio da arte, conscientizando pela
historia retratada e vivenciada anteriormente em que o homem passou por
condições degradantes e humilhantes. Refletindo sobre o passado ainda
recente, que a vida, neste momento, exige da sociedade em geral, novas
tomadas de posições revisões de princípios éticos, morais e sociais. As
instituições de ensino têm como dever orientar, quando sabemos que o homem
é um ser inacabado e dia a dia ele se transforma e nesta transformação se
forma. No caminhar por meio da educação pensamos numa mudança da
consciência e da nossa condição de homem gerador de transformações. Nas
atividades realizadas pelos alunos, demonstraram muito interesse e
participação, desde filme, debates, recorte em tela, poesias, análise
comparativa das obras, leituras de obras, propagandas e PowerPoint. Estas
idéias de trabalho e transformação são compartilhadas como podemos ver
abaixo:
Como a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens [...]
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quanto mais o trabalhador se esgota a si mesmo, tanto mais poderoso se torna o mundo dos objetos que ele cria perante si, tanto mais pobre fica em sua vida interior, tanto menos pertence a si próprio [...]. As necessidades do trabalhador reduzem-se assim á necessidade de manter durante o trabalho e de maneira a que a raça dos trabalhadores não se extinga (PEIXOTO, 2003, p.13).
O homem não deve adquirir riquezas criadas exclusivamente como uma
mercadoria, mas uma riqueza cultural, não somente o homem produtor de bens
materiais, mas ferramentas as quais possam diferenciá-lo dos outros homens
pelo conhecimento adquirido por meio do trabalho. Pelo relato dos alunos
percebemos que as atividades realizadas com as, pinturas foram
definitivamente muito decisivas para compreensão das obras surrealistas
mostradas no PowerPoint. Os educandos adquiriram uma profunda consciência
do mundo onírico de Salvador Dalí, sabiam o que o artista queria representar
em sua criações. Os comentários foram inesperados, deixando claro o
conhecimento das obras deste artista. Outro aluno comentou que: Salvador
Dalí representava muitas coisas ao mesmo tempo, em uma só obra podíamos
ver várias formas. Coisas que antes nos passavam despercebidas. Nas obras
de Dalí refletem os sonhos, mas a chave para decifrá-lo são muitas. Pouco a
pouco, esse mundo de sonhos e de segredos deste artista, foram sendo
familiarizados e cada qual dava sua opinião sobre as obras. Apesar de serem
obras cheias de simbologias explicadas pela psicologia em muitas vezes
complexas entre o consciente e o inconsciente deixando dúvidas em relação a
algumas simbologias para o aluno. Com essas observações notamos que a
arte humaniza o sujeito conforme citação abaixo:
...a consciência do homem depende do seu modo de vida, da sua existência. Como se formam as relações vitais do homem em tais ou tais condições sociais históricas e que estrutura particular engendra dadas as relações. Estrutura da
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consciência do homem se transforma com a estrutura da sua atividade (LEONTIEV, 1979, p.98).
Que toda atividade trabalhada com os alunos e que por meio dos seus
depoimentos percebemos mudanças fundamentais na sua maneira de ver e
perceber as obras e construindo seu conhecimento e estimulando o trabalho
em grupo. O homem que se tornou homem pelo trabalho superou os limites da
animalidade transformou, criou pelo processo de humanização, usando da
consciência a sensibilidade apropriando-se de formas humanas de
comunicação desenvolvendo sistemas simbólicos, os movimentos corporais
suas ações e suas práticas culturais. Todas as atividades envolviam muito o
diálogo, eles mesmos deduziam ou lembravam das aulas teóricas sobre as
obras de Dalí e a afirmação:
...pensar como os homens educam e são educados, como processam estas transformações que nem sempre aprovam, mas que reproduzem, está na pauta do dia do psicólogo educacional e do educador (BARROCO 2005, p.55).
Pensando desta forma, e pelas ações desenvolvidas por meio da arte,
conhecer o homem com o qual estamos trabalhando e as suas produções ou
ações nos indicam caminhos para entender este homem que nas relações
sociais se tornam mais complexas e conflituosas. Conhecendo-o tornou-se
mais fácil a convivência, o desenvolvimento da criatividade, da sensibilidade,
mediação, ordenações perceptivas, liberdade, o nível interativo e a própria
educação social pelos propósitos de conhecer e criar por meio da obras de
Dalí. Discutindo as obras, por meio de regras pré - estabelecidas cada um
opinava respeitando os colegas mesmo havendo divergências nas
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interpretações e nas opiniões, sensibilizando- os e fazendo analogias com a
sociedade atual, onde os meios midiáticos estão usando muito nas
propagandas nos filmes o mundo dos sonhos e o surrealismo. São as nuvens
que se transformam em animais, nuvens que são levadas por um carro, sofás
transformando-se em ser humano e... Na sociedade capitalista tudo é possível,
tendo isso como recurso para uma educação diferenciada, em que possuímos
estes elementos os quais nos baseamos para uma educação mais crítica, mais
sensível para o ver e fazer e principalmente compreender os homens e as suas
relações sociais. Durante a evolução do homem ele se deparou com diferentes
necessidades e desafios, e desta forma as relações sociais lhes permitiram
revelar suas potencialidades transpondo os obstáculos por eles encontrados
enfrentando assim o dia a dia. O homem contemporâneo também encontra
desafios retratando em telas esculturas arquiteturas na dança e na musica
todos os problemas sociais pelos quais o processo histórico natural nos coloca
e ele como um ser criador é capaz de reelaborar e criar elementos das
experiências passadas, novas normas e posições. Isso acontece na arte
contemporânea surrealista onde a irracionalidade prevalece, e também quando
o homem tenta decifrar os códigos presentes nas obras do movimento
surrealista. O jovem tem passado por momentos individualistas, irracionais,
drogas, violência, falta de ética, miséria, depressão... isto tudo é retratado nas
obras, a irracionalidade os sonhos e o mundo mágico onde tudo pode
acontecer. A inexistência deste mundo acaba levando-os as drogas e até
suicídios, é a fuga do mundo que não existe, onde tudo é belo, bom e que dá
certo. Entendendo a sociedade ou grupo da qual faz parte suas dúvidas, seus
anseios, suas relações ficou mais fácil trabalhar com estes jovens e envolve-los
no conteúdo abordado transformando-o em pessoas mais críticas e com outra
visão sobre as produções artísticas, portanto, o seu desenvolvimento. De todos
os trabalhos apresentados pelos alunos os objetivos propostos foram
alcançados, em alguns parcialmente e em outros totalmente. A promoção da
expressão verbal oportunizou o desabafo, favoreceu a descontração e o
autoconhecimento, estimulando a desinibição e expressar-se livremente
através de suas ideias defende-las e encarar os desafios. No inicio o receio dos
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alunos em falar dos seus sonhos, frustrações e ideais foi um desafio até
sentirem-se seguros e ver que os outros alunos também passavam pelos
mesmos conflitos. A partir do momento em que perceberam a segurança na
proposta do trabalho apresentado pela professora sentiram-se mais seguros e
começaram a expressar-se livremente defendendo suas ideias. Nos debates
percebemos confiança, as suas determinações clareza nas ideias e cada qual
defendia suas convicções sobre as obras com muita clareza, demonstrando e
ter entendido a proposta do trabalho. Na apresentação do PowerPoint a partir
do momento que conheceram as obras os desafios dos símbolos ficaram
encantados por serem obras diferentes dos outros movimentos artísticos.
Passaram a apreciar a irracionalidade nas obras, o onírico e a diferença entre
racional e irracional. O mundo dos sonhos passou a ser o assunto do
momento, percebemos por vários instantes brincadeiras em que se referiam a
irracionalidade das obras. Nos desenhos apresentados pelos alunos
percebemos o desenvolvimento e o entendimento do trabalho proposto que era
o estudo e a compreensão das obras de Salvador Dalí. No final durante a
exposição fizemos uma auto avaliação em que cada aluno discorreu sobre o
que entendeu e a sua participação nas atividades. Neste momento entendemos
que houve um desenvolvimento significativo na aprendizagem e na
socialização destes alunos com outros grupos de alunos da mesma escola.
1.9 Conclusão
A arte em especial, movimento surrealista razão da nossa pesquisa para o
programa de Desenvolvimento Educacional a qual foi fundamentada na
proposta Histórico Critica, na qual encontramos sustentação para o estudo,
aplicação e resultados. O importante neste estudo foi levar a arte propriamente
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dita para a sala de aula iniciando o diálogo. Pensamos em uma pedagogia
centrada no aluno e direcionamos o ensino da arte como conhecimento e
humanização do sujeito. Fischer (1976, p. 12) diz que “o homem quer ser mais
que ele mesmo. Quer ser um homem total”. Pelo estudo das obras surrealistas
conheceram obras dos pintores Bosch e Goya e suas obras para entrar no
mundo de Salvador Dalí. Buscamos pelas obras um mundo mais compreensivo
e mais justo, o mundo que tenha significados. Pelas atividades desenvolvidas
percebemos que distinguiam bem a irracionalidade que povoava o mundo dos
sonhos de Dalí, dando outra interpretação, trabalhando e desenvolvendo o
sensível, o imaginário com o prazer de desenvolver uma identidade simbólica e
transformadora. As habilidades e as leituras das obras foram fruindo com mais
facilidade, as perguntas sempre mais profundas e significativas desenvolvendo
as possibilidades de amplitude nas leituras de mundo. Cada qual foi
construindo seu conhecimento com os trabalhos feitos no individual ou em
grupo. As habilidades e criatividades influenciaram na maneira de expressar e
os dados nos reforçam a proposta da pesquisa, sua implementação e o
desenvolvimento humano dos alunos.
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