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Demografi a médicaEstudo mostra desigualdade no paísCFM mapeia postos de trabalho e aponta acesso desigual entre pacientes do setor público e privado. Págs. 6 e 7
ANO XXV • Nº 191 • DEZEMBRO/2010ANO XXVI • Nº 202• NOVEMBRO/2011
Ensino médico: exame do MEC confi rma quadro crítico. Pág. 9
Profi ssionais querem valorização da área
Pág. 10
Urgências e emergências Família e ComunidadeAto em Brasília
Conselhos e Câmara avaliam serviços
Pág. 4
Lideranças defendem regulamentação da EC 29
Pág. 3
2
MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009
EDITORIAL
A demografi a médica
Desiré Carlos CallegariDiretor executivo do jornal Medicina
A divulgação dos re-sultados da pesquisa “De-mografi a médica no Brasil: dados gerais e descrições de desigualdades” inaugu-ra nova etapa na estratégia implementada pelos conse-lhos de medicina em prol da valorização da catego-ria que representam e da defesa de uma assistência em saúde efi ciente e quali-fi cada nos setores público e privado.
O estudo – fruto de mais uma parceria entre o Con-selho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Re-gional de Medicina do Esta-do de São Paulo (Cremesp) – cumpre desafi o inédito e ousado. Apresenta argu-mentos técnicos e científi cos que respondem matemati-camente à equivocada tese de que basta aumentar o número de médicos no país para eliminar os problemas de acesso ao atendimento – de Norte a Sul.
Mais que isso: o relató-rio, apresentado em parte nesta edição e na íntegra no site do CFM (www.cfm.org.br), expõe as fragilida-des relacionadas ao traba-lho médico, das quais signi-fi cativo número decorre da falta de investimentos em saúde, da ausência de in-fraestrutura adequada e de políticas públicas efi cazes.
Esperamos que as con-clusões apresentadas sejam entendidas pela sociedade e pelos gestores – do Siste-ma Único de Saúde (SUS)e das operadoras do setor suplementar – como um diagnóstico sufi ciente para orientar a tomada de deci-sões que benefi ciará a to-dos. É tempo de rever dis-cursos simplistas e admitir a complexidade de um proble-ma incompatível com o mo-mento atual da nação, cujo governo alardeia sucessivos avanços econômicos, mas ainda titubeia na ampliação das políticas públicas na área social.
Também nesta edição 202 do jornal Medicina, o leitor poderá acompanhar parte do trabalho desen-volvido pelo CFM e pelos CRMs. Cientes da relevân-cia estratégica da 14ª Con-ferência Nacional de Saúde, realizada em Brasília, essas entidades acompanharão os debates, mas não esque-cerão de voltar o olhar para o que ocorre nos hospitais e nos ambulatórios.
A participação nas ações de fi scalização em conjunto com os parlamen-tares da Comissão de Di-reitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados é prova disso. Ela agregou à luta em defesa do SUS
novo ingrediente. Nas visi-tas já realizadas na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, a constatação dos velhos e variáveis problemas conhe-cidos dos médicos da rede pública reforça os argumen-tos da crise na assistência.
Enfi m, nas nossas pá-ginas, confi rmamos que nosso radar está conecta-do e pronto a oferecer aos leitores informações sobre estes temas e outros tão importantes quanto, como a luta para assegurar rigor ao processo de validação de diplomas médicos obtidos no exterior; a má qualidade do ensino médico brasileiro; e os desafi os da Estratégia Saúde da Família (ESF).
Este giro sobre temas tão pertinentes para o exer-cício da medicina tem con-tribuído para fazer com que cada médico perceba que os novos e esperados tempos virão. Contudo, a chegada deste período de valoriza-ção de nossa profi ssão de-penderá, antes, da mobili-zação de cada um dos 371 mil profi ssionais em ativi-dade. Somente conscientes e informados poderemos buscar as mudanças que tanto almejamos.
Conselheiros titulares
Abdon José Murad Neto (Maranhão), Aloísio Tibiriçá
Miranda (Rio de Janeiro), Antônio Gonçalves Pinheiro
(Pará), Cacilda Pedrosa de Oliveira (Goiás), Carlos
Vital Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), Celso Murad
(Espírito Santo), Cláudio Balduíno Souto Franzen (Rio Grande do Sul), Dalvélio de Paiva Madruga (Paraíba),
Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Edevard José de
Araújo (AMB), Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti
(Alagoas), Frederico Henrique de Melo (Tocantins),
Gerson Zafalon Martins (Paraná), Henrique Batista
e Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Vivacqua Von
Tiesenhausen (Minas Gerais), Jecé Freitas Brandão
(Bahia), José Albertino Souza (Ceará), José Antonio
Ribeiro Filho (Distrito Federal), José Fernando Maia
Vinagre (Mato Grosso), José Hiran da Silva Gallo
(Rondônia), Júlio Rufi no Torres (Amazonas), Luiz
Nódgi Nogueira Filho (Piauí), Maria das Graças Creão
Salgado (Amapá), Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso do Sul), Paulo Ernesto Coelho de Oliveira
(Roraima), Renato Moreira Fonseca (Acre), Roberto
Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos Santos
Silva (Rio Grande do Norte)
Ademar Carlos Augusto (Amazonas), Aldemir
Humberto Soares (AMB), Alberto Carvalho de
Almeida (Mato Grosso), Alceu José Peixoto Pimentel
(Alagoas), Aldair Novato Silva (Goiás), Alexandre de
Menezes Rodrigues (Minas Gerais), Ana Maria Vieira
Rizzo (Mato Grosso do Sul), André Longo Araújo de
Melo (Pernambuco), Antônio Celso Koehler Ayub
(Rio Grande do Sul), Antônio de Pádua Silva Sousa
(Maranhão), Ceuci de Lima Xavier Nunes (Bahia),
Dílson Ferreira da Silva (Amapá), Elias Fernando
Miziara (Distrito Federal), Glória Tereza Lima Barreto
Lopes (Sergipe), Jailson Luiz Tótola (Espírito Santo),
Jeancarlo Fernandes Cavalcante (Rio Grande do Norte), Lisete Rosa e Silva Benzoni (Paraná), Lúcio
Flávio Gonzaga Silva (Ceará), Luiz Carlos Beyruth
Borges (Acre), Makhoul Moussallem (Rio de Janeiro),
Manuel Lopes Lamego (Rondônia), Marta Rinaldi
Muller (Santa Catarina), Mauro Shosuka Asato
(Roraima), Norberto José da Silva Neto (Paraíba),
Pedro Eduardo Nader Ferreira (Tocantins), Renato
Françoso Filho (São Paulo), Waldir Araújo Cardoso
(Pará), Wilton Mendes da Silva (Piauí)
Conselheiros suplentes
Mudanças de en de re ço de vem ser co mu ni cadas di re ta men te ao CFM
Os ar ti gos as si na dos são de in tei ra res pon sa bi li da de dos au to res, não re pre sen-tan do, ne ces sa ria men te, a opi nião do CFM
Os artigos enviados ao conselho editorial para avaliação devem ter,
em média, 4.100 caracteres
Diretoria
Presidente:1º vice-presidente:2º vice-presidente:3º vice-presidente:
Secretário-geral:1º secretário:2º secretário:
Tesoureiro:2º tesoureiro:
Corregedor:Vice-corregedor:
Roberto Luiz d’ Avila
Carlos Vital Tavares Corrêa Lima
Aloísio Tibiriçá Miranda
Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti
Henrique Batista e Silva
Desiré Carlos Callegari
Gerson Zafalon Martins
José Hiran da Silva Gallo
Frederico Henrique de Melo
José Fernando Maia Vinagre
José Albertino Souza
Diretor-executivo:Editor:
Editora-executiva:Redação:
Copidesque e revisor:Secretária:
Apoio:Fotos:
Impressão:
Projeto gráfi coe diagramação:
Tiragem desta edição:Jornalista responsável:
Desiré Carlos Callegari
Paulo Henrique de Souza
Vevila Junqueira
Ana Isabel de Aquino Corrêa
Nathália Siqueira
Thiago de Sousa Brandão
Napoleão Marcos de Aquino
Amanda Ferreira
Amilton Itacaramby
Márcio Arruda - MTb 530/04/58/DF
Gráfi ca e Editora Posigraf S.A.
Lavínia Design e Publicidade
350.000 exemplares
Paulo Henrique de Souza
RP GO-0008609
Publicação ofi cial doConselho Federal de Medicina
SGAS 915, Lote 72, Brasília-DF, CEP 70 390-150Telefone: (61) 3445 5900 • Fax: (61) 3346 0231
http://www.portalmedico.org.br • e- mail: jor [email protected]
Abdon José Murad Neto, Aloísio Tibiriçá Miranda,
Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari,
Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro,
Paulo Ernesto Coelho de Oliveira, Roberto Luiz d’Avila
Conselho editorial
A chegada
deste período
de valorização
de nossa
profi ssão
dependerá,
antes, da
mobilização
de cada um
dos 371 mil
profi ssionais
em atividade
“
“
Querem culpar a medicina pela incompe-
tência política de uma má gestão. Então,
devemos responder no mesmo timbre!
Não permitiremos revalidações arbitrá-
rias de diplomas. Não permitiremos novos
cursos de medicina enquanto não forem
regularizados os existentes. Exigimos a
criação de novas vagas de residência mé-
dica e a aprovação imediata do Plano de
Carreira dos Médicos.
Rodrigo Roberto SchuwrnamAluno do 5º ano de [email protected]
Gostaria de saber o que o CFM tem
feito quanto à entrada de médicos for-
mados no exterior, mais precisamente
na América Latina? Sei que não pode-
mos generalizar, mas tenho vergonha
ao ver uma instituição de ensino pú-
blica facilitando a atuação desses indi-
víduos no país, sem ao menos realizar
prova para revalidação, propondo ape-
nas complementação de carga horária...
Rafael Zago BragaCRM-MG 51284
A situação é preocupante com respei-
to ao ensino médico no país. Em Belo
Horizonte, Minas Gerais, há uns 10
anos abriram cinco faculdades de me-
dicina. Como não se formam profes-
sores de uma hora para outra, é certo
que esses alunos não estão recebendo
formação adequada. Eu, que sou médi-
ca, receio ficar doente e acabar caindo
nas mãos desses profissionais.
Clarissa Horta VieiraCRM-MG 23.283
Divulgação de e-mail não autorizada
* Por motivo de espaço, as mensagens poderão ser editadas sem prejuízo de seu conteúdo
Cartas* Comentários podem ser enviados para [email protected]
Resposta do CFM: O Conselho Federal de Medicina compartilha essas preocupações e tem tomado providências para qualifi car o ensino médico
no país e garantir mecanismos justos e criteriosos para a revalidação dos diplomas obtidos no exterior. As ações implementadas incluem, inclusive,
a denúncia de abusos e irregularidades. Este tema estará na pauta do II Fórum de Ensino Médico, com cobertura completa na próxima edição.
3POLÍTICA E SAÚDE
JORNAL MEDICINA - NOV/2011
Médicos marcaram
presença no Ato em
Defesa do SUS durante a
abertura da 14ª Conferência
Nacional de Saúde, evento
que aconteceu de 30 de no-
vembro a 4 de dezembro, em
Brasília (DF).
A categoria defendeu a
regulamentação da Emen-
da Constitucional 29, que
tramita no Senado Federal
e obriga a União gastar o
equivalente a 10% de suas
receitas correntes brutas
com a saúde.
Durante a conferência,
o Conselho Federal de Me-
dicina (CFM) distribuiu o
documento “SUS igual para
todos: agenda estratégica
para a saúde no Brasil”. O
material, com tiragem de 10
mil exemplares, resulta de
parceria com a Associação
Brasileira de Pós-Graduação
em Saúde Coletiva (Abras-
co), Centro Brasileiro de
Estudos de Saúde (Cebes),
Conselho Nacional de Se-
cretarias Municipais de
Saúde (Conasems), Socie-
dade Brasileira de Medicina
de Família e Comunidade
(SBMFC) e outras entidades.
Trata-se de um conjun-
to de diretrizes nas áreas de
saúde, meio ambiente, cres-
cimento econômico e de-
senvolvimento social; acesso
a serviços de saúde, investi-
mentos; institucionalização e
gestão do sistema de serviços
de saúde; e complexo econô-
mico e industrial da saúde.
No evento, o CFM tam-
bém fi rmou sua postura con-
trária às terceirizações no
SUS, que ameaçam os princí-
pios fundamentais delineados
na 8ª Conferência Nacional
(1986). Para a entidade, a má
gestão administrativa – parti-
cularmente no que se refere
aos seus recursos humanos,
caracterizada por ampla pre-
carização das relações de
trabalho, baixos salários e fal-
ta de qualifi cação profi ssional
– pode comprometer ainda
mais o sistema.
O conselheiro suplente
Alceu Pimentel aponta que,
segundo dados de 2006, dos
2 milhões de trabalhadores
na área, 800 mil estão em
condição precária (40% do
total): “Esperamos que a
conferência possa contribuir
para ‘humanizar’ os traba-
lhadores do sistema”.
Além de Pimentel, partici-
param das atividades o 2º vi-
ce-presidente Aloísio Tibiriçá
e o diretor Frederico de Melo,
além da conselheira suplente
Glória Tereza Lopes.
3
Roberto Luiz d’Avila
PALAVRA DO PRESIDENTE
Médicos participam de ato público pela saúde
Conferência Nacional de Saúde
Duas mil pessoas mobilizaram-se, em Brasília, pela regulamentação da Emenda Constitucional 29 Os médicos brasileiros passaram a ser apontados
como culpados pelo estrangulamento da assis-
tência oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
De repente, a abertura de novas escolas médicas e o
aumento do número de vagas nas já em funcionamen-
to ganharam defesa feroz de setores da gestão. O pro-
cesso de revalidação dos diplomas de Medicina obtidos
em outros países – por brasileiros ou não – passou a
ser pintado com tons dramáticos e a produzir mártires.
Mitos ou verdades? Afi nal, o que há por trás de
cada uma dessas afi rmações que, vez por outra, sal-
tam aos nossos olhos nas manchetes dos jornais ou
aparecem furtivamente nos debates organizados no
Congresso Nacional? Com certeza, podemos afi rmar
que nada existe de real nessas hipóteses, pois os que
realmente entendem do funcionamento do setor saúde
sabem que nos movemos sobre terreno nada favorável
à simplifi cação dos fatos.
A pesquisa Demografi a médica no Brasil chega em
boa hora para nos ajudar a responder a esses e outros
questionamentos, pelo menos em parte. Feito com ri-
gor e critério metodológico, o estudo põe por terra es-
ses argumentos e, em seu lugar, planta a semente da
dúvida. Isso exigirá dos médicos, dos gestores e da so-
ciedade o necessário discernimento para entender, no
diagnóstico apresentado, pistas para o tratamento fu-
turo a ser prescrito.
A síntese das conclusões pode ser resumida em
uma única palavra que afl ige a população: desigual-
dade. No exercício da medicina, esse termo traduz o
peso da balança que faz a diferença entre a saúde e a
doença, a vida e a morte. E mais: se contrapõe à pro-
messa constitucional de tratar a todos como se fossem
um, garantindo-lhes os direitos previstos em lei.
Sem o enfrentamento da desigualdade, a socie-
dade assistirá a permanência da má distribuição
dos médicos pelo território nacional, continuará a
ver o setor público da saúde encolhido diante das
demandas populacionais e testemunhará a manu-
tenção da crise que tem colocado em risco a sobre-
vivência do SUS.
Os médicos brasileiros não podem ser tratados
como bodes expiatórios de gargalos que assolam,
especialmente, as urgências e emergências da rede
pública. Também podemos refutar com veemência
a matemática intuitiva que prega o aumento de
profissionais como o caminho mais fácil de levar
atendimento às áreas remotas. Muito menos po-
demos aceitar a transformação da revalidação do
diploma estrangeiro de Medicina numa trinchei-
ra que privilegie este ou aquele, sem considerar o
que realmente importa: a qualidade do atendimen-
to oferecido.
Bem-vindos ao mundo real, no qual problemas e
soluções exigem raciocínio complexo, que considere
distintas possibilidades. Agir de outra forma é des-
respeitar o cidadão, demonstrando mais apreço às
questões ideológicas ou partidárias que aos interesses
coletivos. Os mitos não podem determinar políticas
públicas. Cabe às verdades atestadas cientifi camente
e à vivência de cada brasileiro apontar o norte para
onde seguir. Somente assim teremos, hoje, o tão so-
nhado país do futuro.
O quadro crônico de
subfinanciamento do SUS
foi apontado, pelos princi-
pais especialistas do país,
como o principal entrave
para que a população brasi-
leira possa ter acesso a um
serviço de saúde razoável.
Reunidos no seminário
“Impasses e Alternativas
para o Financiamento do
SUS Universal”, eles de-
monstraram que o Brasil
gasta 11 vezes mais com o
pagamento de juros, amor-
tizações e refinanciamento
da dívida pública do que em
saúde pública.
Aloísio Tibiriçá, 2° vice-
presidente do CFM, avalia
que os números revelam
as distorções: “Enquanto
os investimentos destina-
dos pelo governo federal
ao setor de saúde pública
– para o atendimento de
toda a população brasileira
(mais de 190 milhões, se-
gundo o IBGE) – não pas-
saram de R$ 72 bilhões, os
planos de saúde privados
faturaram praticamente a
mesma coisa para atender
menos de um quarto desse
número de pessoas: 46 mi-
lhões (segundo estimativas
da ANS)”.
Os deputados federais
Pepe Vargas (PT-RS) e Sa-
raiva Felipe (PMDB-MG)
apontaram como urgente a
identificação de fontes para
o financiamento do SUS.
Para Vargas, a regulação
da EC 29 ajudará a supe-
rar esse quadro. Segundo
Felipe, entre as propostas
que regulamentam a área,
a apresentada pelo sena-
dor Tião Viana (PT-AC),
que propõe 10% da recei-
ta líquida da União para o
setor, é bem-vinda: “Se-
riam R$ 37 bilhões a mais
por ano, impedindo o des-
manche nacional do SUS”.
O evento foi promovi-
do no dia 4 de novembro
pela Abrasco, CFM e Uni-
versidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). Dos
debates também partici-
param o presidente da Fio-
cruz, Paulo Gadelha, e o
economista Luiz Gonzaga
Belluzzo, da Universida-
de Estadual de Campinas
(Unicamp), e diversos ou-
tros especialistas.
Subfi nanciamento é desafi o para o sistema
Engajamento: CFM marcou presença e pediu recursos para o setor
4 POLÍTICA E SAÚDE
JORNAL MEDICINA - NOV/2011
Demora no atendimento,
internação nos corre-
dores, falta de médicos. Este
quadro é a realidade de quase
todas as emergências públicas
do país. A precariedade da
atenção à saúde é um dos mo-
tivos que levam a Comissão de
Direitos Humanos e Minorias
(CDHM) da Câmara dos De-
putados a percorrer hospitais
de emergência em nove capi-
tais do país.
A indicação dos hospitais
teve participação da Comissão
de Urgência e Emergência do
Conselho Federal de Medicina
(CFM). Três estados já foram
fi scalizados: Rio de Janeiro,
São Paulo e Bahia. As outras
seis visitas estão previstas para
o início de 2012. As ações estão
sendo feitas em parceria com a
Comissão Nacional Pró-SUS
– AMB, CFM e Fenam –,
Ministério Público Federal, Or-
dem dos Advogados do Brasil
(OAB) e outras entidades.
De acordo com o deputado
federal Arnaldo Jordy (PPS-
PA), a situação constatada é
mais grave do que se esperava.
“Pelo que vimos, podemos pe-
dir a abertura de uma CPI”, ex-
plicou. Após as vistorias, a co-
missão se reunirá para discutir
quais medidas serão tomadas.
O Hospital Arthur Sa-
boya, na capital paulista, foi vis-
toriado em 19 de setembro pe-
los deputados e representantes
do CFM e do Conselho Regio-
nal de Medicina do Estado de
São Paulo (Cremesp). No Rio
de Janeiro, em 20 de setembro,
a comissão esteve no Hospital
Municipal Souza Aguiar, consi-
derado uma das maiores emer-
gências da América Latina. No
dia 18 de novembro foi a vez do
Hospital Geral Roberto Santos
(HGRS), em Salvador (BA).
Nos três casos, problemas
de superlotação foram cons-
tatados. Também fi caram
evidentes a falta de qualidade
de atendimento, bem como o
número reduzido de proce-
dimentos realizados e leitos.
Outro problema recorrente é
a quantidade insufi ciente de
profi ssionais disponíveis.
Uma das situações mais gra-
ves foi encontrada no Hospital
Municipal Souza Aguiar (RJ):
na sala amarela, 35 pacientes,
homens e mulheres, dividiam um
espaço planejado para 14, com
quatro casos confi rmados de
tuberculose e um caso
suspeito de meningite sem
qualquer isolamento.
O deputado Domingos
Dutra (PT-MA) relatou, ain-
da, problemas relacionados a
regimes diferenciados de con-
tratação de pessoal. “Cons-
tatamos que há uma terceiri-
zação dos serviços de saúde,
criando confl itos, uma vez
que os médicos contratados
por associações ganham três
vezes mais do que o médico
estatutário da rede pública”.
Para o coordenador da
Comissão Nacional Pró-
-SUS, conselheiro federal
Aloísio Tibiriçá, a iniciativa
é fundamental para gerar
um debate sobre a humani-
zação do atendimento em
âmbito nacional. “A falta de
leitos e de médicos é crônica
em todo o país e quem so-
fre as consequências deste
descaso é a população. Pro-
pomos um novo enfoque so-
bre esta crise permanente e
faremos os desdobramentos
necessários ”, ressaltou.
Direitos humanos são violadosConselhos e CDHM da Câmara dos Deputados avaliam realidade de urgências e emergências de capitais brasileiras
Caos: visita ao Hospital Geral Roberto Santos (BA) expõe fragilidade
Fiscalização nas emergências
Odor de fezes, urina e secre-
ções. No mesmo lugar, um mor-
to dividia espaço com pacientes
acomodados no chão da unidade
à espera de atendimento. Este
triste retrato não é novidade na
saúde pública brasileira, mas para
o Conselho Federal de Medicina
(CFM) a situação dos hospitais de
Rondônia é gravíssima.
No dia 8 de novembro, a di-
retoria executiva do CFM, acom-
panhada de representantes das
entidades médicas locais (conselho
regional de medicina, sindicato
médico do estado e Associação
Médica de Rondônia), visitou os
hospitais Doutor Ary Pinheiro
(Hospital de Base) e o pronto-
socorro João Paulo II, em Porto
Velho, para avaliar as condições
da assistência pública em saúde no
estado. “Em fevereiro visitamos
esses mesmos hospitais e, infeliz-
mente, a situação piorou”, avaliou
o presidente do CFM, Roberto
Luiz d’Avila.
“É certamente o pior hospital
do país. Cobriram o morto com
um lençol quando passamos. É
um ambiente realmente de guer-
ra. Não se pode avaliar de outra
maneira a total insensibilidade do
poder público em permitir que as
pessoas sejam tratadas daquela
forma”, retrata o tesoureiro José
Hiran Gallo, que representa o
estado no CFM. A entidade vai
denunciar a situação do sistema
público de saúde de Rondônia a
organismos internacionais e à Co-
missão dos Direitos Humanos da
Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) e da Câmara Federal.
Descaso – A situação local é
tão grave que o CFM levou ao Mi-
nistério da Saúde as informações
com imagens dos hospitais. Carlos
Vital, 1º vice-presidente do CFM,
também mostrou decepção ante o
quadro por ele classifi cado como
“desumano”, sobretudo o encon-
trado no João Paulo II. “Permane-
ce a situação, eu diria, inaceitável
em termos de assistência à saúde
pública. Há carência, não só de
recursos humanos, mas de espaço
físico e de materiais. Em síntese,
não há como se compreender
um atendimento de emergência
naquelas circunstâncias. Perma-
nece o status quo de incapacidade
de atendimento de emergência”.
A visita do CFM decorreu
de solicitação do Conselho Re-
gional de Medicina do Estado
de Rondônia (Cremero). A ex-
pectativa, segundo informou
a presidente Maria do Carmo
Demasi Wanssa, é de que o go-
verno reabra o diálogo com as
entidades médicas em busca de
uma resposta para o problema
da saúde. “A resolução passa por
um processo de determinação
política”, acentua.
Situação está pior, avalia CFM
Saúde pública de Rondônia
João Paulo II: CFM informou situação “desumana” ao Ministério da Saúde
FISCALIZAÇÃO DE FÉRIAS NO RS
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) fez dez visitas de fiscalização da Operação Veraneio – Férias com Saúde. A ação dá continuidade à inicia-tiva criada no ano passado para fiscalizar o trabalho médico e as condições de atendimento nas estradas, clínicas e hospitais do litoral gaúcho. A diretoria do conselho avaliará o relatório produzido pela equipe de fiscalização e determinará as medi-das a serem tomadas.
MÉDICOS DO PIAUÍ PARAM POR CINCO DIAS
Os médicos vinculados à Secretaria de Estado da Saúde do Piauí decidiram, por unanimidade, paralisar as atividades por cinco dias – de 28 de novembro a 2 de dezembro. De acordo com o conselheiro federal Luiz Nódgi Nogueira Filho, que representa o estado no CFM, diversas mobilizações estão sendo feitas pelos médicos no sentido de chamar a atenção das autoridades para a precariedade dos serviços, a necessidade de reajuste salarial e de cumprimento das leis que tratam da progressão da carreira e insalubridade. Manifestações foram feitas em frente ao Hos-pital Getúlio Vargas, à Maternidade Dona Evangelina Rosa, ao Hospital Areolino de Abreu e ao Hospital Infantil Lucídio Portela.
EM MG, ATENDIMENTO SUSPENSO POR 24HPor falta de condições, os médicos das quatro unida-
des de atendimento imediato de Betim (MG) paralisaram os atendimentos por 24 horas – a partir de 7h do dia 30 de novembro até 7h de 1º de dezembro. Atualmente, es-sas unidades funcionam de forma precária, superlotadas, com vários buracos nas escalas por falta de médicos, com estrutura inadequada, falta de equipamentos e medica-mentos. A categoria ainda está exposta ao risco de furtos, agressões e condições mínimas de segurança.
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5POLÍTICA E SAÚDE
JORNAL MEDICINA - NOV/2011
As operadoras de pla-
nos de saúde devem
se reunir com a Agência
Nacional de Saúde Su-
plementar (ANS) e com
representantes da cate-
goria médica para buscar
resolver a demanda dos
médicos por reajuste de
honorários. A proposta foi
apontada pelos senadores
durante audiência pública
da Comissão de Assuntos
Sociais (CAS), no dia 22
de novembro, que discutiu
o assunto.
Vários parlamentares
presentes fizeram comen-
tários sobre as condições
dos médicos. O senador
Paulo Davim (PV-RN) in-
formou que nos últimos
dez anos as operadoras
reajustaram as mensalida-
des dos planos de saúde
em cerca de 160%, en-
quanto os honorários dos
médicos, no período, au-
mentaram cerca de 40%.
Na avaliação do senador,
o sistema suplementar de
saúde é “importante e es-
tratégico”, haja vista que o
Estado não tem condições
de atender a toda a deman-
da de saúde do país. Por
sua vez, o senador Moza-
rildo Cavalcanti (PTB-RR)
informou que os valores
configuram “mercantiliza-
ção” da saúde.
As entidades médicas
foram representadas na
audiência por lideranças
do CFM, AMB e Fe-
nam. “Até agora não foi
possível um acordo que
contemplasse verdadei-
ramente nossas reivindi-
cações com os planos de
saúde. Por isso, a catego-
ria vem se movimentando
e realizou as paralisações
de 7 de abril e 21 de se-
tembro”, disse o secretá-
rio de saúde suplementar
da Fenam, Márcio Costa
Bichara.
O Conselho Federal
de Medicina (CFM) foi
representado pela presi-
dente do Conselho Re-
gional de Medicina do
Estado do Rio de Janeiro
(Cremerj), Márcia Rosa
Araújo, e a ANS, por seu
diretor presidente, Maurí-
cio Ceschin.
Em audiência pública, senadores defendem que médicos, operadoras e ANS resolvam demanda por reajuste
Saúde suplementar
CAS apoia aumento nos honorários
A proposta de criação
de um Conselho Nacio-
nal de Saúde Suplementar
vem sendo monitorada
pelo Conselho Federal
de Medicina (CFM), por
meio de sua Comissão
de Saúde Suplementar
(Comsu). A ideia é oriun-
da dos trabalhos da Sub-
comissão Especial Desti-
nada a Avaliar o Sistema
de Saúde Complementar,
vinculada à Comissão de
Seguridade Social e Famí-
lia (CSSF) da Câmara dos
Deputados.
No texto sob análise,
o relator da subcomis-
são, deputado Mandet-
ta (DEM-MS), propôs
a criação de um Conse-
lho Nacional de Saúde
Suplementar, com par-
ticipação dos segmen-
tos formadores do setor
(governo, prestadores de
serviço, profi ssionais de
saúde, operadoras) – es-
paço onde possam ser
mediados confl itos e pac-
tuados avanços.
O CFM quer contri-
buir para que esta comis-
são venha a ter um papel
importante e isento, tra-
zendo benefícios para a
saúde suplementar e, so-
bretudo, para a socieda-
de. Para tanto, quer ter o
balizamento dos estados
e promete acompanhar o
projeto com o senso críti-
co necessário.
De acordo com o rela-
tor da subcomissão, “o sis-
tema de saúde suplemen-
tar projeta um cenário de
extrema concentração de
poder fi nanceiro e barga-
nha por parte das grandes
operadoras”. O objetivo
do conselho nacional se-
ria, portanto, cumprir o
papel de uma mesa nacio-
nal de negociação onde
a mediação de confl itos
possa ser empreendida,
com competência para
defi nir diretrizes e contro-
lar a execução da política
no setor de saúde suple-
mentar – com as decisões
homologadas pela Direto-
ria Colegiada da ANS.
A proposta alteraria
as Leis 9.656/98 (sobre os
planos e seguros privados
de assistência à saúde) e
9.961/00 (que cria a Agên-
cia Nacional de Saúde
Suplementar), elaborando
a competência, a com-
posição e a organização
do Conselho Nacional de
Saúde Suplementar, um
órgão colegiado, integran-
te da estrutura regimental
do Ministério da Saúde,
de caráter permanente e
deliberativo.
Deputados propõem Conselho Nacional
O conselheiro federal
suplente no CFM e vice-
corregedor do Conselho Re-
gional de Medicina do Esta-
do de Pernambuco (Creme-
pe), André Longo Araújo de
Melo, teve seu nome aprova-
do para exercer o cargo de di-
retor da Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS).
A sabatina, no dia 30 de
novembro, foi feita pela Co-
missão de Assuntos Sociais
(CAS) do Senado Federal,
com arguição pública do
indicado e votação em
escrutínio secreto.
Para a apreciação no Se-
nado, o nome do conselheiro
foi encaminhado pela presi-
dente Dilma Rousseff, com
publicação no Diário Ofi cial
da União em 17 de novembro.
Saiba mais – Após a
sabatina, a escolha deve ser
também referendada pelo
plenário do Senado. Longo
deve ingressar na diretoria
colegiada da agência, com-
posta por até cinco diretores
com mandatos não coin-
cidentes de três anos, com
possibilidade de prorrogação
por mais três.
Conselheiro é indicado para diretoria da ANS
Cenário ruim: parlamentares mostraram-se solidários aos médicos
Agê
ncia
Sen
ado
A troca de experiências
com especialistas e o apri-
moramento do trabalho
das assessorias de impren-
sa das entidades médicas
foram o ponto alto do III
Encontro de Comunicação
das Entidades Médicas –
organizado pela Federação
Nacional dos Médicos (Fe-
nam) e Conselho Federal
de Medicina (CFM), com
o apoio do Sindicato dos
Médicos do Estado de San-
ta Catarina (Simesc). O
encontro aconteceu na pri-
meira semana de outubro,
em Florianópolis (SC).
Um dos temas deba-
tidos foi a importância
de maior integração das
entidades médicas nas
ações nacionais de comu-
nicação. Exemplos desse
tipo de parceria ocorreram
durante as mobilizações
nacionais este ano. Nes-
tas ações, as assessorias
de imprensa das três en-
tidades (CFM, Fenam e
Associação Médica Bra-
sileira) organizaram um
planejamento onde as ta-
refas foram divididas.
O resultado foi a am-
pla cobertura pela impren-
sa, inclusive nos veículos
nacionais de referência –
como os jornais O Globo,
Correio Braziliense, O
Estado de S. Paulo e Fo-
lha de S. Paulo; e os sites
R7, G1, Veja e Uol, além
de cobertura regional. Por
exemplo, a repercussão
das paralisações na saú-
de suplementar (em 7 de
abril e 21 de setembro)
geraram, juntas, cerca de
1.000 reportagens em 155
veículos de comunicação
das mídias impressa e
online. Nesta conta, não
aparecem as inserções em
rádio e TV.
A importância de si-
nergia no trabalho em co-
municação foi abordada
em vários momentos do
encontro. O presidente do
CFM, Roberto d’Avila,
apontou a necessidade
de as entidades juntarem
forças. O conselheiro
Desiré Carlos Callegari
(1º secretário do CFM e
diretor de Comunicação)
diz que a convergência
dos discursos deve pas-
sar por um entendimento
prévio. “As alianças de-
vem permitir o fortaleci-
mento das ações que são
comuns, respeitando a
individualidade de cada
entidade”, ressaltou.
Dirigentes defendem integração
Encontro de comunicação
PLENÁRIO E COMISSÕES 6
JORNAL MEDICINA - NOV/2011
O Brasil é um país marcado
pela desigualdade no que
se refere ao acesso à assistên-
cia médica. Uma conjunção de
fatores – como a ausência de
políticas públicas efetivas e in-
vestimentos insufi cientes – tem
contribuído para que a popu-
lação médica brasileira, apesar
de apresentar curva constante
de crescimento, permaneça mal
distribuída pelo território nacio-
nal (veja gráfi co abaixo), com
vinculação cada vez maior jun-
to aos serviços prestados por
planos de saúde e menos afeita
ao trabalho na rede do Sistema
Único de Saúde (SUS).
Estas são algumas das con-
clusões da pesquisa “Demo-
grafi a médica no Brasil: dados
gerais e descrições de desi-
gualdades” – uma parceria do
Conselho Federal de Medicina
(CFM) com o Conselho Regio-
nal de Medicina do Estado de
São Paulo (Cremesp). O estudo
– coordenado pelo pesquisador
Mario Scheffer – traça o perfi l
desse segmento e desnuda as
tendências que apontam dis-
torções que afetam todo o país.
“Numa nação onde são
anunciados avanços econômicos
e o combate à pobreza toma ares
de programa de governo, torna-
se imperioso que a saúde ocupe
o centro da cena. Para tanto, te-
mos reiterado a necessidade de
mais recursos e o estabelecimen-
to de políticas públicas justas para
o médico e todos os profi ssionais
da área”, ressalta o presidente do
CFM, Roberto Luiz d’Avila.
O trabalho inédito foi apre-
sentado na abertura do II Fórum
de Ensino Médico (dia 1º de de-
zembro – veja cobertura completa
na próxima edição) e responde
cientifi camente a questões-cha-
ve para o futuro da medicina no
Brasil. Disponível no site www.
cfm.org.br, será encaminhado a
lideranças do movimento médico,
parlamentares, gestores e espe-
cialistas em ensino. Também será
entregue aos ministros da Edu-
cação, Fernando Haddad, e da
Saúde, Alexandre Padilha.
“Tendo em vista o debate
atual sobre a necessidade de médi-
cos, nosso compromisso é produzir
um conhecimento sistemático,
objetivo e preciso sobre a demo-
grafi a médica brasileira. A publica-
ção coincide com o surgimento de
propostas do governo federal e do
Poder Legislativo para o enfrenta-
mento da escassez, provimento e
fi xação de médicos em áreas desas-
sistidas”, salientou o presidente do
Cremesp, Renato Azevedo Junior.
Levantamento do CFM/Cremesp pontua os principais desafi os para o trabalho médico no Brasil
Demografi a médica
Estudo confi rma assistência desigual
Atualmente, o Brasil conta
com uma razão de 1,95 médico
por grupo de 1.000 habitantes.
Contudo, esse índice fl utua nas
diferentes regiões. O Sudeste,
com 2,61 médicos por 1.000
habitantes, tem concentração
2,6 vezes maior que o Norte
(0,98). O resultado do Sul (2,03)
fi ca bem próximo do alcança-
do pelo Centro-Oeste (1,99).
Ambos têm quase o dobro da
concentração de médicos por
habitantes do Nordeste (1,19).
Quando se considera por
unidade da Federação, no topo
do ranking fi ca o Distrito Federal
(4,02 médicos por 1.000 habi-
tantes). Na outra ponta, estão
estados do Norte (Amapá e
Pará) e Nordeste (Maranhão)
com menos de um médico por
1.000 habitantes, índices com-
paráveis aos países africanos.
Postos de trabalho – O
levantamento elaborado pelos
conselhos de medicina propõe
o parâmetro “posto de trabalho
médico ocupado” como com-
plemento ao critério “médico
registrado”. Esta abordagem
tem como objetivo superar a
simples divisão da população
médica pela geral, passando
a considerar a realidade da
distribuição. Por este cálculo
proposto, a razão de médicos
disponíveis para o atendimen-
to da população é quase duas
vezes maior do que quando se
considera a razão de médicos
por habitantes.
O número de postos ocu-
pados por médicos em estabe-
lecimentos de saúde chega a
636.017, enquanto o país tem
371.788 profi ssionais registrados
nos CRMs. Assim, o número
de postos ocupados por médico
é de 3,33 por 1.000 habitantes.
As informações sobre postos
de trabalho médico ocupados
no Brasil compõem a base de
dados da pesquisa Assistência
Médico-Sanitária (AMS), do
IBGE, de caráter censitário.
O uso desse parâmetro
apresenta algumas diferenças
entre as unidades federativas
quando comparado com os
dados de médicos registra-
dos (veja mais na página 7).
Nas capitais, o fenômeno da
desigualdade se acirra ainda
mais: com relação aos postos
de trabalho ocupados, contam
com 5,89 postos por 1.000
habitantes, contra 3,33 no
conjunto do país.
Posto de trabalho deve ser considerado
CONFIRA OS DESTAQUES DA PESQUISA
Predominância de mulheres• Há tendência a uma maior presença de mulheres.
Em 2009, pela primeira vez, entraram no mercado mais mulheres que homens.
• Em 2011, dos 48.569 médicos com 29 anos ou menos, 53,31% são mulheres e 46,69% são homens.
• Nas faixas mais avançadas, o cenário permanece predominantemente masculino.
Médicos jovens• O grupo de médicos de até 39 anos representa
42,5% do total de profissionais na ativa.• A pirâmide etária do médico em atividade no
Brasil mostra uma grande concentração, tantode homens como mulheres, na base (24 a 40 anos).
Reserva crescente• O número de médicos que deixam a atividade
é inferior ao dos que ingressam. Essa diferença mantém a tendência de crescimento do grupo.
• O resultado será uma reserva de médicos crescente, especialmente nos centros mais procurados, o que pode acirrar as desigualdadesem termos de distribuição de profissionais.
Abertura de escolas• O país tem um total de 185 escolas médicas.
Nos últimos doze anos, foram criadas 87 novas escolas – 71,23% delas, privadas.
• Nessa última década, o número de médicos subiu 21,3%, e deverá crescer mais, porque pelo menos um terço das escolas abertas nesse período ainda não formaram suas turmas.
O estudo divulgado
mostra que, em outubro de
2011, os conselhos de medi-
cina registravam a existência
de 371.788 médicos em ati-
vidade no Brasil. O número
confi rma uma tendência de
crescimento exponencial da
categoria que já perdura há
40 anos. De 1970 – quando
havia 58.994 médicos – até
o momento, o número de
médicos teve um salto de
530%. O percentual é mais
que cinco vezes maior que o
do crescimento da popula-
ção, que em cinco décadas
aumentou 104,8%.
A perspectiva atual é de
manutenção dessa curva as-
cendente. Enquanto a taxa
de crescimento populacio-
nal reduz sua velocidade, a
abertura de escolas médicas
e de vagas em cursos exis-
tentes vive um novo boom.
A estimativa é de cerca de
16.800 novos profi ssionais
injetados anualmente no
mercado de trabalho a partir
de 2011.
De acordo com o estu-
do apresentado, de 1940 a
1970, enquanto a popula-
ção cresceu 126,2%, o nú-
mero de médicos passou de
20.745 para 58.994 (au-
mento de 184,4%). Nos 30
anos seguintes, o total de
médicos chegou a 291.926
(salto de 394,8%), contra
um crescimento populacio-
nal de 82,3%. Na última
década, o efetivo de mé-
dicos chegou a 364.757
(alta de 21,3%), enquanto
o aumento populacional foi
de 12,3%.
Brasil tem quase 400 mil médicos
Distribuição de médicos registrados por 1.000 habitantes, segundo grandes regiões – Brasil, 2011
Fonte: CFM; Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2011
PLENÁRIO E COMISSÕES 7
JORNAL MEDICINA - NOV/2011
Demografi a médica
Os usuários do Sistema
Único de Saúde (SUS)
contam com quatro vezes me-
nos médicos que os usuários
do setor privado para atender
suas necessidades de assistên-
cia. O cálculo levou em consi-
deração que o total de postos
de trabalho médico ocupados,
disponíveis para a clientela dos
planos de saúde, em números
absolutos, é 26% maior que o
número dos postos em estabe-
lecimentos públicos.
Quando se considera a di-
mensão da população que de-
pende exclusivamente do SUS
(3,25 vezes maior que a dos pla-
nos), constata-se que a clientela
da saúde privada conta com 3,9
vezes mais postos de trabalho
médico disponíveis que os usuá-
rios da rede pública.
Ao mapear postos de trabalho
ocupados por médicos nos esta-
belecimentos de saúde públicos e
privados, estamos diante de uma
demografi a médica ainda mais ex-
cludente que a verifi cada nas desi-
gualdades regionais. No conjunto
do país, são 46.634.678 usuários
de planos de saúde, segundo dados
de 2011 da Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS).
A pesquisa AMS-IBGE, por
sua vez, contou 354.536 postos
de trabalho médico em estabele-
cimentos privados que, em tese,
prestam serviços às operadoras
de planos de saúde. Isso signifi -
ca que para cada 1.000 usuários
de planos no país, há 7,60 pos-
tos de trabalho médico ocupa-
dos. Esse índice salta de 3,17 no
Amazonas – estado com pior
colocação – para entre 12 e 15
postos ocupados por 1.000 usu-
ários privados, em estados como
Sergipe, Piauí, Acre e Bahia, e no
Distrito Federal.
Setor público – Esse índi-
ce cai para 1,95 quando se faz a
razão entre postos ocupados nos
estabelecimentos públicos – que
são 281.481 – e a população que
depende exclusivamente do SUS
(144.098.016 habitantes). Para o
IBGE, são considerados postos
de trabalho com vínculos públicos
aqueles mantidos com estabele-
cimentos que recebem recursos
do governo, quer eles instituições
públicas, da administração direta
ou que prestam serviços ao SUS
– no caso de serviços particulares
e fi lantrópicos conveniados.
O quadro de penúria e de-
sigualdade é ainda maior em es-
tados como Maranhão e Pará,
que contam com menos de um
posto de trabalho médico ocupa-
do por 1.000 habitantes/SUS. Em
Roraima, a razão é de 2,13 pos-
tos ocupados por 1.000 usuários/
SUS. No Rio Grande do Norte
(1,89), Amazonas (1,88), Per-
nambuco e Paraíba (1,77) exis-
tem mais postos por habitantes
que em Santa Catarina (1,71),
Paraná (1,63) e Rio Grande
do Sul (1,57).
SUS conta com menos médicosPacientes da saúde privada contam com 3,9 vezes mais postos de trabalho médico ocupados que os da rede pública
A desigualdade na distribuição
dos postos de trabalho entre os
setores público e privado se acirra
nas capitais, onde a razão de posto
de trabalho médico ocupado em
estabelecimentos privados é de
7,81 por 1.000 habitantes usuários
de planos, mais que duas vezes o
índice encontrado entre médicos
e usuários do SUS (4,30 médicos
por 1.000 habitantes).
É no universo dos planos de
saúde, tanto nas capitais como
nos estados, que se observa as
maiores distorções na demografi a
médica. A razão da maior “densi-
dade médica privada” em estados
economicamente pobres pode ser
explicada pela presença frágil do
Estado. E pelos bolsões de riqueza
e concentração de renda (onde es-
tão os clientes de planos de saúde),
o que acentua a desigualdade na
distribuição de médicos.
Indicador IDPP – Para lidar
com as diferenças na oferta de
médicos entre usuários do SUS
e os clientes de planos de saúde,
o estudo do CFM desenvolveu o
Indicador de Desigualdade Públi-
co/Privado (IDPP). Trata-se da
razão entre posto de trabalho mé-
dico ocupado em estabelecimento
privado por 1.000 habitantes sobre
a razão posto de trabalho médico
ocupado em estabelecimento pú-
blico por 1.000 habitantes.
Quando o resultado for me-
nor que 1 signifi ca que há mais
postos de trabalho médico ocu-
pados no setor público propor-
cionalmente a seus usuários que
no segmento privado, em relação
a seus benefi ciários. Se for igual a
1 indica que a relação é a mesma.
Se o indicador for maior que 1
signifi ca que existem mais pos-
tos ocupados no setor privado,
sempre em relação à população
coberta (confi ra, abaixo, os esta-
dos com maior desigualdade).
Desnível público-privado se acentua nas capitais
Profi ssionais buscamsetor privado
A população médica
brasileira busca cada vez
mais atuar no setor privado
ao invés do serviço público.
A conclusão do levanta-
mento realizado pelos con-
selhos de medicina levou
em consideração dados de
três anos distintos – 2002,
2005 e 2009, – para os
quais há informações dis-
poníveis sobre postos de
trabalho médico ocupados
(série histórica da pesquisa
AMS-IBGE).
Nos anos selecionados,
o número de médicos em
geral cresceu 14,8%. Foi de
305.934 médicos, em 2002,
para 330.381, em 2005, e
359.254, em 2009. Mas ao
analisar, nos mesmos anos,
o crescimento dos postos de
trabalho médico ocupados,
observa-se uma evolução
diferenciada nos setores
público (72.156 postos a
mais) e privado (98.350
postos). A diferença a fa-
vor do privado é potencial-
mente maior, considerando
o tamanho das populações
cobertas pelo SUS e pelos
planos privados.
Além da distribuição
injusta de médicos, são
inúmeras as desigualdades
geradas por uma estru-
tura de fi nanciamento e
de oferta de serviços que
privilegia o privado no sis-
tema de saúde brasileiro.
Nos países com sistemas
de saúde universais con-
solidados, mais de 65%
dos gastos com saúde
são públicos, a exemplo
do Reino Unido (83,6%),
França (76,7%), Alema-
nha (75,7%), Espanha
(72,1%), Portugal (69,9%)
e Canadá (68,7%). No
Brasil, o total de gastos
públicos atinge apenas
45,7% do total destinado
à saúde, situação agrava-
da pelo subfi nanciamento
crônico e pela não regu-
lamentação da Emenda
Constitucional 29.
Postos de trabalho médico ocupados nos setores público e privado, segundo grandes regiões – Brasil, 2011
Indicador de desigualdade público/privado segundo as capitais - Brasil, 2011 (os seis maiores indicadores)
Fonte: IBGE (ANS)/AMS; Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2011.
* Razão posto de trabalho médico ocupado em estabelecimento privados/habitante usuário de planos e seguros de saúde (1.000 habitantes);** Razão posto de trabalho médico ocupado em estabelecimento de saúde pública/habitante usuário do “SUS” (1.000 habitantes);*** Indicador de desigualdade público privado - Razão*/Razão**”
Fonte: Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2011.
PLENÁRIO E COMISSÕES 8
JORNAL MEDICINA - NOV/2011
O Superior Tribunal de
Justiça (STJ) reafi r-
mou sua jurisprudência no
sentido de não ser cabível
atribuir toda a responsabili-
dade solidária ao cirurgião-
chefe por tudo o que ocorre
na sala de cirurgia.
A decisão – relativa a
ação de indenização por da-
nos materiais e morais por
erro do anestesista durante
cirurgia plástica – afastou a
responsabilidade solidária do
cirurgião-chefe, “especial-
mente quando comprovado,
como no caso, que as com-
plicações foram motivadas
por erro exclusivo do anes-
tesista, em relação às quais
não competia ao cirurgião
intervir”.
Considerações – Mi-
guel Kfouri Neto, presidente
do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná e autor
do livro Responsabilidade ci-
vil do médico, avalia que as
especialidades de cirurgia
plástica e anestesiologia de-
mandam especial atenção
quando o assunto é a res-
ponsabilidade civil do médi-
co. “Em ambas, a repercus-
são de eventuais insucessos
revela-se intensa”, explica,
salientando que há alguns
quadros de difícil análise,
pois as competências do ci-
rurgião e do anestesista se
interferem e se sobrepõem.
Em sua mais recente obra
Responsabilidade civil dos
hospitais, Kfouri esclarece
que, quando o anestesiolo-
gista atua em equipe, a di-
visão do trabalho é horizon-
tal, não há subordinação ou
sujeição hierárquica ao ci-
rurgião. Somente em casos
excepcionais poderá haver
responsabilidade solidária do
cirurgião-chefe por culpa do
anestesiologista. Exemplifi -
ca-se com a realização de ci-
rurgia sem que o anestesista
disponha de medicação ou
aparelho cuja falta exponha
o paciente a risco.
Embora existam regras
consideradas elementares a
serem seguidas a fi m de que
os profi ssionais possam pre-
servar sua responsabilidade
– cuja violação pressupõe
atos positivos de imperícia,
negligência, imprudência e
até torpeza –, haverá casos
em que a urgência da in-
tervenção e o concurso de
outras circunstâncias não
permitam a observância ri-
gorosa desses princípios.
“Só o exame do caso con-
creto indicará as conclusões
apropriadas”, avalia Kfouri.
STJ trata de responsabilidade civilHá quadros de difícil análise, pois as competências desses especialistas se interferem e se sobrepõem
Cirurgia plástica e anestesiologia
Giro médico
Antimicrobianos – Foi adiada a publicação do cronogra-
ma de escrituração eletrônica de medicamentos antimicro-
bianos pela Anvisa, previsto para ocorrer em 1º de novem-
bro. Permanece a obrigatoriedade de retenção da receita.
Mais informações: http://bit.ly/vtZMvb.
Residentes – A Associação Nacional dos Médicos Resi-
dentes (ANMR) está realizando um cadastro de médicos
residentes brasileiros. O objetivo da entidade é se aproxi-
mar de seus representados. Para participar, basta acessar
https://bitly.com/sZqgHw.
Confemel – A XIV Assembleia Geral Ordinária da Con-
federação Médica Latino-Americana e do Caribe (Confe-
mel), realizada de 21 a 25 de novembro, no Panamá, con-
tou com a presença do CFM e a participação de países
como Venezuela, Argentina, Peru, Panamá, Costa Rica,
Uruguai, Honduras e Guatemala.
Psiquiatria – O presidente do CFM, Roberto d’Avila, o 3º
vice-presidente, Emmanuel Fortes, e o conselheiro Rubens
dos Santos Silva participaram do XXIX Congresso Brasileiro
de Psiquiatria, ocorrido no período de 2 a 5 de novembro, no
Rio de Janeiro. Veja mais: http://bit.ly/uvNhVc.
Conduta antiética – O Conselho Regional de Medicina
do Estado de São Paulo (Cremesp) identifi cou 18 empresas
funerárias que atuam em 95 cidades comercializando cartões
de descontos em consultas médicas. O CFM considera a
conduta antiética. Foram notifi cados 575 médicos e 100 es-
tabelecimentos de saúde. Segundo o presidente do Cremesp,
Renato Azevedo Júnior, a ação educativa já surtiu efeito.
Assistência jurídica – O Conselho Regional de Medici-
na do Rio Grande do Norte e a OAB/RN assinaram con-
vênio que permitirá assistência jurídica integral aos médicos
que não apresentarem defesa prévia perante os processos
ético-profi ssionais. O convênio vai permitir a nomeação de
defensor dativo, com assistência totalmente gratuita.
O CFM ingressou
com ação civil pública
contra a Portaria 85/07
da Secretaria de Saúde
do Município de Fortale-
za (CE), que normatiza a
consulta de enfermagem,
admitindo que enfermeiros
realizem a prescrição de
medicamentos.
Para o Conselho Federal,
não há dúvidas de que a por-
taria “é ilegal, especialmente
porque amplia indevidamente
atribuições dos enfermeiros”
– os documentos que ratifi -
cam essa afi rmação podem
ser acessados em www.jfdf.
jus.br, inserindo o n° do pro-
cesso 566950820114013400.
Ainda de acordo com o
CFM, o objetivo da ação
é preservar e resguardar
a sociedade, impedindo
a prática de atos ilegais
(emissão de diagnóstico
de doenças, prescrição de
medicamentos e requisi-
ção de exames por pessoas
não habilitadas).
CFM quer impedir prescrição indevida
Defesa da medicina
A necessidade de eleição
do diretor clínico, pelo corpo
clínico, é um procedimento
legal e justo, referendado pelo
Poder Judiciário. A 1ª Vara
Federal de Sorocaba publicou
sentença em favor do corpo
clínico de hospital em Cer-
quilho, São Paulo, a esse res-
peito. Estava em discussão a
obrigatoriedade ou não de se
seguir a orientação do CFM
de eleição do diretor clínico
pelo corpo clínico da própria
instituição hospitalar.
Na sentença, o juízo fe-
deral de Sorocaba deixou
claro que o diretor clínico
tem por função a supervisão
da prática médica, a fim de
fazer cumprir os preceitos
éticos da profissão, sendo re-
presentante do corpo clínico,
e não da instituição. Deve
possuir autonomia para o de-
sempenho de sua função, o
que se mostra coerente com
a necessidade de eleição, na
medida em que a nomeação
pela diretoria, se verificada a
existência de conflito de in-
teresses entre esta e o corpo
clínico, macularia a impar-
cialidade necessária à repre-
sentação dos interesses da
classe médica.
Segundo o 3º vice-presi-
dente do CFM, conselheiro
Emmanuel Fortes, a decisão
reforça as diretrizes da enti-
dade para o assunto. O art. 4º
da Resolução CFM 1.342/91
determina que “o diretor clí-
nico será eleito pelo corpo
clínico, sendo-lhe assegurada
total autonomia no desempe-
nho de suas atribuições”. O
documento também lista as
atribuições do diretor clíni-
co, entre as quais está dirigir
e coordenar o corpo clínico
da instituição, supervisionar
a execução das atividades
de assistência médica e zelar
pelo cumprimento do regi-
mento interno.
Fortes explica que, de ma-
neira diferente, o diretor técni-
co, este sim, pode ser indicado
pela administração do hospital.
Entre suas atribuições estão
as de zelar pelo cumprimento
das disposições legais e regu-
lamentares, assegurar condi-
ções dignas de trabalho e os
meios indispensáveis à prática
médica, e garantir o pleno e
autônomo funcionamento das
comissões de ética médica.
Escolha para o cargo deve ser por eleição
Diretor clínico
Conduta: violação de regras elementares pressupõe culpa médica
Elz
a Fi
úza
- A
Br
PLENÁRIO E COMISSÕES 9
JORNAL MEDICINA - NOV/2011
9
Dos 677 inscritos no Revali-
da 2011, Exame Nacional de Re-
validação de Diplomas Médicos
Expedidos por Instituições de
Educação Superior Estrangeiras,
65 médicos poderão revalidar o
seu diploma no Brasil.
Este ano, o percentual dos
considerados aptos subiu para
12,13% dos que fi zeram as pro-
vas escritas (no ano passado,
quando foi aplicado o projeto-
piloto, eram apenas 0,71% dos
candidatos). “Esse resultado
está dentro de um parâmetro
razoavelmente compatível
com uma avaliação criteriosa
baseada em provas cognitivas,
de competências e habilidades,
resultante de esforços das enti-
dades médicas para a elaboração
desse projeto que hoje é lei”,
avalia o 1º vice-presidente do
CFM, Carlos Vital.
Sobre o amadurecimento
do processo de implantação do
Revalida no Brasil, o conselheiro
avalia, no entanto, que a propos-
ta “precisa ser revigorada com
a revisão da permissão ainda
oferecida a escolas médicas de
fazerem a revalidação dos di-
plomas de médicos formados
no exterior sem participação no
Revalida. Tal fato traz uma série
de difi culdades para que se tenha
segurança na avaliação desses
egressos de escolas fora do país”.
Entre os aprovados estão
31 brasileiros, seis colombia-
nos, seis argentinos e qua-
tro bolivianos, além de três
peruanos, três cubanos, três
equatorianos, três venezuela-
nos e dois nicaraguenses. Tam-
bém estão aptos a ingressar no
país candidatos da Alemanha,
Cabo Verde, França e Repú-
blica Dominicana (um de cada
país). O CFM continuará
acompanhando o desenvolvi-
mento do modelo proposto.
Ensino médico
O Conselho Federal de Me-
dicina (CFM) considera um
alerta as medidas cautelares que
suspenderam 514 vagas de 16
cursos de Medicina que tiveram
nota 1 ou 2 no Conceito Prelimi-
nar de Curso (CPC), do Ministé-
rio da Educação.
Para o CFM, o resultado do
CPC é consequência da abertura
indiscriminada de novos cursos de
Medicina em território nacional
(veja box ao lado). “Ao fazer este
alerta, ressaltamos que a situação
atual do ensino médico não condiz
com as preocupações humanitá-
rias e sociais pertinentes à saúde e
à medicina”, manifesta a entidade,
em nota aprovada no dia 18 de
novembro pela plenária e encami-
nhada ao Ministério da Educação.
Ainda de acordo com o Con-
selho Federal, o quadro descorti-
nado pelo conceito aponta a pre-
valência de interesses econômicos
e políticos sobre a preocupação
legítima com a qualidade da for-
mação de futuros médicos.
O documento, referendado
pelo corpo de conselheiros, con-
sidera oportuna a decisão de o
MEC supervisionar o ensino ofe-
recido por algumas escolas médi-
cas, o que implicará, de imediato,
no corte de 514 vagas em cur-
sos com notas ruins. “Por outro
lado, fi camos preocupados com
o anúncio do próprio MEC de
abertura de outras 320 vagas em
algumas escolas, o que, no míni-
mo, indica que alunos e professo-
res destas instituições terão que
dividir os parcos recursos que têm,
fragilizando ainda mais as condi-
ções de ensino”, manifesta a nota.
Desdobramentos – As insti-
tuições responderão a processo de
supervisão e terão prazo de doze
meses para cumprir o termo de
saneamento de defi ciências. A res-
tituição das vagas fi cará condicio-
nada à verifi cação do cumprimento
das medidas de supervisão. Caso
as exigências de qualidade não se-
jam atendidas, poderá ser aberto
processo administrativo para en-
cerramento da oferta dos cursos.
Exame comprova criseMais de 20 instituições tiraram notas baixas em conceito do MEC e nenhuma das avaliadas conseguiu atingir o nível máximo
Revalida
Coordenadores de cursos de
Medicina e reitores de institui-
ções de ensino superior recebe-
rão dos conselhos regionais de
medicina um ofício solicitando
que o setor responsável dessas
instituições passe a expedir os
novos diplomas com a expressão
“Diploma de médico”.
A iniciativa tem como obje-
tivo esclarecer recentes questio-
namentos quanto à regularidade
da denominação “Bacharel em
Medicina”, disposta em diplomas
expedidos por algumas faculda-
des e universidades de Medicina.
O documento, assinado pelo
presidente do CFM, Roberto
Luiz d’Avila, esclarece: “Apesar
de a Portaria 33/78 do MEC/
DAU não fazer nenhuma restri-
ção quanto à utilização do termo
‘bacharel’, acreditamos que o uso
do termo ‘diploma de médico’ é
uma forma de fazer prevalecer
a tradição e de evitar embates
jurídicos desnecessários”.
Diploma de médico
Uso do termo atende tradição
Resultados atingem parâmetrosUFPB adota processo após denúncia
A Universidade Federal
da Paraíba (UFPB) decidiu
adotar o processo Revalida
para convalidar os diplo-
mas de médicos formados
no exterior. A medida foi
tomada após denúncias do
Conselho Regional de Me-
dicina da Paraíba (CRM-
PB) ao Ministério Públi-
co Federal (MPF) sobre o
mecanismo de validação da
UFPB, considerado falho
para avaliar a qualifi cação
e a habilidade dos profi ssio-
nais formados em institui-
ções estrangeiras.
Com a decisão da
UFPB, a documentação
dos 563 médicos formados
no exterior e que se inscre-
veram para o processo de
revalidação da universidade
este ano será analisada e, a
seguir, será divulgada uma
relação dos convocados
para participar do exame
Revalida, o que para o pre-
sidente do CRM-PB, João
Medeiros, é uma forma
adequada de avaliar se os
médicos tiveram formação
de qualidade, com provas
escritas – objetivas e dis-
cursivas – e provas de habi-
lidades clínicas.
Segundo Medeiros, a
universidade havia ado-
tado, no ano passado,
apenas a equiparação da
grade curricular para re-
validação de diplomas.
“Aqueles que apresen-
tassem um currículo com
até 85% de equivalência
com a UFPB fi cavam dis-
pensados das outras eta-
pas. Mas acredito que
desta forma não é pos-
sível avaliar se o médi-
co teve uma boa forma-
ção, se passou por aulas
práticas, entre outras aferi-
ções”, avalia.
Ainda em seu enten-
dimento, após a adoção,
pela UFPB, do modelo
de equiparação da grade
curricular, o número de
inscritos neste processo
subiu consideravelmente,
em função da facilidade
do mecanismo. “Para se
ter uma ideia, este ano o
exame nacional Revalida
recebeu 677 inscrições em
todo o país. Destes, apenas
65 foram aprovados. Já
a UFPB teve 563 inscri-
tos”, comenta. (O texto é
do CRM-PB, com edição
do CFM).
Confira os principais números Número de universidades com corte de vagas por estado
Maranhão 1
Minas Gerais 8
Mato Grosso 1
Rio de Janeiro 1
Rondônia 2
São Paulo 1
Tocantins 1Fonte: Diário Oficial da União nº 220, de 17/11/11, Seção 1, Págs. 14 a 60
Notas dos cursos de medicina brasileiros
Cursos de excelência nenhum
Conceito 4 34 cursos
Conceito 3 (mínimo para funcionar)
83 cursos
Conceitos 2 ou 1 (insuficiente) 23 cursosFonte: Diário Oficial da União nº 220, de 17/11/11, Seção 1, Págs. 14 a 60
Escolas médicas criadas nos últimos anos (total no país: 185)
Ano Públicas Privadas Total Privados (%)
2000 3 2 5 40%
2001 4 4 8 50%
2002 4 6 10 60%
2003 1 7 8 87,50%
2004 2 11 13 84,62%
2005 0 10 10 100%
2006 0 6 6 100%
2007 3 9 12 75%
2008 0 2 2 100%
2009 3 0 3 0%
2010 4 1 5 20%
2011 1 5 6 83,33%
Total 25 63 88 71,59%Fonte: www.escolasmedicas.com.br (dados de novembro de 2011)
PLENÁRIO E COMISSÕES 10
JORNAL MEDICINA - NOV/2011
Os médicos estão preo-
cupados com os inú-
meros problemas que afetam
o exercício da medicina e a
qualidade da assistência. “A
Saúde da Família tem que
ser repensada. Precisamos
dar a resposta que a saúde
deste país precisa”, ressaltou
o coordenador da Câmara
Técnica de Medicina de Fa-
mília e Comunidade do Con-
selho Federal de Medicina
(CFM), Celso Murad (veja
entrevista completa abaixo).
O assunto foi tema de
debate durante o II Fórum
de Medicina de Família e
Comunidade do CFM e I
Encontro das Câmaras Téc-
nicas de Medicina de Família
e Comunidade. Os eventos
aconteceram simultanea-
mente no dia 25 de novem-
bro, em Brasília (DF).
O diretor do Departa-
mento de Atenção Bási-
ca do Ministério da Saúde
(DAB/MS), Hêider Pinto,
apresentou um conjunto de
estratégias políticas com o
“compromisso de ampliar a
saúde básica do país”. Ele
defendeu a importância de
ações de provimento e fi xa-
ção do médico. “Queremos
garantir o benefício destes
médicos e estimular as equi-
pes. Temos que empreender
todas as medidas possíveis
para garantir a qualidade da
assistência”, destacou.
O presidente da Fede-
ração Nacional dos Médi-
cos (Fenam), Cid Carva-
lhaes, cobrou a garantia de
efi ciência de acompanha-
mento deste pessoal com
treinamento adequado. “Pre-
cisamos de algo consistente.
Não deve haver precarização
do trabalho em nenhum mo-
mento”, defendeu.
O grupo salientou a
necessidade de ampliação
da residência médica, a im-
plantação de um Plano de
Cargos, Carreiras e Venci-
mentos (PCCV), a criação
da carreira de Estado, a ga-
rantia de educação médica
continuada e a extinção de
contratos precários.
Medicina de Família e Comunidade
Médicos traçam propostas para o setorDurante fórum em Brasília, lideranças e profi ssionais que atuam na atenção básica pediram o fi m da precarização
Políticas: participantes querem que especialidade seja valorizada
Num país continental, com enormes problemas na área da saúde, o investimento na prevenção é uma saída defendida pelo conselheiro Celso Murad, representante do Espírito Santo no CFM. Coordenador da Câmara Técnica de Saúde da Família e Comunidade, nesta entrevista ele revela sua aposta nesta estratégia, inclusive para a formação dos futuros médicos.
Jornal Medicina – É impor-tante fortalecer a Estratégia Saúde da Família?Celso Murad – Considero fundamental. Em termos de atenção básica, ela tem uma abrangência muito impor-tante por fazer a interme-diação entre as necessidades da comunidade assistida e a atenção hospitalar. Na mi-nha opinião, é um dos pro-gramas mais importantes da assistência à saúde no país.
JM – E quais são os princi-pais problemas que afetam essa prática?CM – Um dos que mais
chama a atenção é o fato de que, em inúmeros mu-nicípios, as equipes de Saúde da Família estão incompletas e os contratos de trabalho, por serem pre-cários, não as fi delizam às comunidades, tornando-as transitórias, muitas vezes dependentes dos interesses políticos locais. Em alguns estados e municípios, o in-gresso para as equipes já ocorre por meio de concur-so, o que tem gerado bons resultados. Outro proble-ma é a ausência de um plano de carreira para as equipes. É necessário ofe-
recer aos profi ssionais que apostam nesta estratégia condições de enxergar seu horizonte de vida. Sem isso, o médico, o enfermei-ro, o dentista permanecem sem perspectivas de futuro e, ao receberem proposta melhor, deixam seus pos-tos.
JM – Qual é o papel do médico dentro da ESF?CM – Não vejo como uma equipe de Saúde da Fa-mília possa existir sem o médico. É ele que dará as diretrizes científi ca e téc-nica para o tipo de assis-tência oferecida; decidirá sobre os encaminhamen-tos necessários, para onde e como os pacientes serão referenciados para servi-ços de maior complexida-de; defi nirá as prioridades em saúde na comunidade.
Ele não é melhor ou pior; é apenas o profi ssional mais qualifi cado tecnica-mente para exercer esse papel.
JM – E essa posição preci-sa ser fortalecida?CM – Em alguns casos, o espaço não tem sido res-peitado. Há equipes que atuam sem a presença do médico. Isso é uma dis-torção, onde quem perde é a sociedade. Mas o que reconforta é que essas si-tuações acontecem em número cada vez menor, pois já existe a conscien-tização do gestor público com relação à formação das equipes.
JM – O que a aposta no Saúde da Família, na atenção básica, traz para os jovens médicos?
CM – A ESF ensina – de maneira muito mais rá-pida – o recém-formado a ser médico de fato, a ter exata noção do pa-pel social cumprido pela Medicina. Eles também aprendem o valor da in-teração com outras equi-pes e outros profi ssionais dentro de sua própria equipe. Isso signifi ca con-viver com ideias diferen-tes, experiências diferen-tes, técnicas diferentes. Além disso, conhecerão pacientes. Neste conta-to, descobrirão culturas diferentes, costumes di-ferentes, formas de agir diferentes. Tudo isso os fará tirar benefício dessa relação entre desiguais para chegar a resulta-dos iguais, reconhecen-do nos assistidos sujeitos de direitos.
“Não vejo como uma equipe de Saúde da Família possa existir sem o médico”
Entrevista Celso Murad
PRÓXIMOS EVENTOS NO JORNAL
Divulgação de assuntos médicos, ensino e fiscalização são temas de eventos realizados pelo CFM no final de novem-bro e início de dezembro. No dia 30 de novembro, o Conselho promove o Fórum da Codame, para discutir temas como es-tratégias de divulgação de assuntos médicos.
No mês de dezembro, estão previstos os fóruns de Ensino Médico, nos dias 1 e 2, e o de Fiscalização, no dia 14. Confira na próxima edição do jornal MedicinaMedicina a cobertura completa.
As consequências da fal-
ta de exigência do título de
especialista na Estratégia de
Medicina de Família foram
levantadas pelo diretor de ti-
tulação da Sociedade Brasi-
leira de Medicina de Família
e Comunidade (SBMFC),
Emílio Rosetti. “Há prejuízo
considerável para o paciente:
médicos menos preparados”.
Do total de vagas em
residência médica no país,
somente 7% são para a
Medicina de Família e Co-
munidade. Este percentual
é considerado, pelo diretor
de graduação da SBMFC,
Thiago Trindade, um proble-
ma a ser encarado: “Nossos
desafi os são expandir, ocupar
e qualifi car as residências”.
O coordenador do De-
partamento de Educação
Permanente da SBMFC, Eno
Castro, destacou o papel das
teleconsultorias e apresentou
uma pesquisa que revela: de
um universo de 226 médicos,
71% as utilizaram como meio
para diagnóstico. Destes, 84%
consideraram que resolveram a
questão e evitou-se referência
em 44% dos casos.
Especialização é essencial
JORNAL MEDICINA - NOV/2011
11ÉTICA MÉDICA
“Não há que existir incom-
patibilidades entre a fé e a
razão, entre a crença e o co-
nhecimento científi co no ensino,
nem no exercício da profi ssão
médica, desde que respeitados
os princípios básicos irrefutáveis
da boa prática médica”. Esta é
a recomendação do Conselho
Federal de Medicina (CFM) –
expressa no Parecer 2/11 – quan-
do o assunto é a religiosidade
dos médicos.
O conselheiro federal Júlio
Rufi no Torres, relator do docu-
mento, destaca que o CFM é
uma entidade laica, mas que, na
perspectiva dos direitos huma-
nos, reconhece a espiritualidade
como direito cultural garantido.
Torres alerta que é fundamental
adotar sempre práticas pruden-
tes e reconhecidas: “Conside-
rando-se que a medicina apoia-
se em parâmetros científi cos,
é importante delinear os limi-
tes do reconhecimento desses
fatores subjetivos e se ater ao
conhecimento comprovado”,
recomenda.
Novas interfaces – A re-
ligiosidade assume papel impor-
tante para a maioria dos médicos
brasileiros. O livro O médico e o
seu trabalho, publicado em 2004
pelo CFM, aponta que, entre os
valores humanos que guiam a
vida dos médicos que atuam no
Brasil, a religiosidade foi consi-
derada “extremamente impor-
tante”, “muito importante” ou
“mais ou menos importante”
por 82,6% dos 8.980 entrevis-
tados. Apenas para 17,4% deles
a religiosidade aparece como
“pouco importante”, “não im-
portante” ou “decididamente
não importante”.
“A tendência da medicina
hoje é olhar o ser na sua integra-
lidade, com o reconhecimento
de que ele não é só razão; é
emoção, convicção e a dimen-
são da espiritualidade assume
importante papel nesse cenário”,
avalia Márcio Fabri, doutor em
Teologia pela Pontifícia Uni-
versidade Gregoriana (Roma)
e vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Bioética.
Entendimento – O
Conselho Regional de Medi-
cina do Estado de São Paulo
(Cremesp) também publicou
um parecer – 80.135/10 – sobre
o tema, uma produção coleti-
va multidisciplinar da entidade,
elaborada pela Câmara Técnica
de Bioética.
O relator do documento,
conselheiro Reinaldo Ayer de
Oliveira, cita a bioeticista Elma
Zoboli, segundo a qual a relação
médico-paciente pressupõe “dois
iguais em situações distintas, que
em um encontro intersubjetivo
têm a corresponsabilidade de
construir o cuidado, trocando
fatos, emoções, sentimentos,
crenças, enfi m, muito mais que
apenas os dados dos sinais, sin-
tomas e resultados de exames”.
“Temos discutido no âmbi-
to da medicina – ou da saúde,
mais amplamente – questões
relacionadas ao envolvimento
entre paciente e médico nessa
ambiência de espiritualidade.
Acreditamos que esse envol-
vimento tem trazido resultados
positivos no sentido de uma me-
lhoria nessa relação, não só do
ponto de vista do tratamento
como, fundamentalmente, no
caráter humanitário”, explica
Oliveira, destacando que nesse
percurso o profi ssional precisa
estar atento para “não ser in-
vasivo à autonomia do paciente
sobre suas convicções e para
evitar uma doutrinação”.
NA FASE TERMINAL, VONTADE DO PACIENTE SERÁ CONSIDERADA
Os dilemas éticos que surgem nas decisões no final da vida são complexos, carregados de emo-ções para familiares e profissio-nais de saúde e merecem desta-ques nos capítulos de discussões bioéticas em todo o mundo. Aceitar a morte como processo natural da vida, por mais difícil seja, pode evitar dores ainda maiores. “Na fase terminal de enfermidades graves e incurá-veis é permitido ao médico limi-tar ou suspender procedimentos
e tratamentos que prolonguem a vida do doente, garantindo-lhe os cuidados necessários para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na perspectiva de uma assistência integral, res-peitada a vontade do paciente ou de seu representante legal”. Este texto pertence à Resolução CFM 1.805/06, que permite a prática da ortotanásia.O Conselho ainda estuda uma resolução sobre testamento vital, o que contemplaria as diretivas
antecipadas da vontade. Este instrumento, existente em países como Espanha e Holanda, permi-te ao paciente deixar registrado, por exemplo, que em caso de agravamento de seu quadro de saúde não quer ser mantido vivo com a ajuda de aparelhos, nem ser submetido a procedimentos invasivos ou dolorosos. “Pensa-mos que em poucos anos o país estará evoluindo para o respeito integral à vontade do paciente”, concluiu d’Avila.
Direitos humanos: CFM reconhece a espiritualidade como direito cultural
Medicina busca novas interfacesNo entendimento do CFM, fé e razão não confl itam, desde que observados os princípios éticos e da prática médica
Religiosidade
O Código de Ética Médi-
ca, revisado em 2009, reafi r-
ma alguns consensos: é dever
do médico fornecer as infor-
mações necessárias à toma-
da de decisão pelos pacientes
e respeitar sua vontade.
O presidente do CFM,
Roberto d’Avila, defende o
exercício pleno da autono-
mia. “Precisamos de uma
análise profunda e sem pre-
conceitos”, entretanto, se-
gundo ele, quando há a ris-
co de vida o médico precisa
intervir. “Depois de esgota-
das todas as possibilidades
de tratamento, o médico
precisa optar pela vida do
seu paciente. É uma condu-
ta moral necessária”.
Um dos casos mais ex-
pressivos é a recusa de alguns
procedimentos pelas Teste-
munhas de Jeová. O assunto
foi ponto de discussão duran-
te o II Congresso Brasileiro
de Direito Médico do CFM,
realizado em agosto.
Na ocasião, o presiden-
te do Conselho Executivo
da Associação de Juízes
para a Democracia (AJD),
José Henrique Torres, in-
formou que se o médico
optar por não fazer a trans-
fusão respeitando a vonta-
de do paciente e ele morrer,
o profi ssional não respon-
derá por homicídio “porque
ele não tem o dever de fa-
zer a transfusão”.
Contudo, explicou que,
em paralelo, se o médico o
fi zer para salvar a vida do
paciente também não res-
ponderá por crime. “Seria
um constrangimento legal,
mas o próprio dispositi-
vo do Código Penal traz
a ressalva de que se for
eminente o risco de vida
a intervenção médica não
é criminosa”.
Intervenção médica pode ser um dilema
Ricardo de Albuquerque
Paiva foi um dos agracia-
dos 2011 no Prêmio Per-
sonalidade Profi ssional da
Confederação Nacional
dos Trabalhadores Liberais
Universitários Regulamen-
tados (CNTU). O Con-
selho Federal de Medicina
(CFM), representado pelo 1º
vice-presidente, Carlos Vital,
participou da solenidade de
entrega, em 18 de novembro,
no auditório do Sindicato dos
Engenheiros do Estado de
São Paulo (SEESP).
Em sua primeira edição, a
premiação agraciou sete per-
sonalidades de destaque nas
áreas abrangidas pela CNTU
– economia, engenharia, far-
mácia, medicina, nutrição e
odontologia –, bem como o
profi ssional da excelência na
gestão pública. Paiva foi agra-
ciado na categoria medicina.
A premiação aconteceu
durante o I Encontro Nacio-
nal da CNTU, que discutiu
a relação da classe média
com o desenvolvimento eco-
nômico e com a democracia
brasileira. Também foi dis-
cutida e aprovada a Carta
de São Paulo e o Manifesto
da CNTU. No manifesto, as
lideranças sindicais de todo o
país apresentaram o ideário
do CNTU e suas propostas
em favor do alargamento do
desenvolvimento econômico,
social e político do país e de
melhoria da qualidade de
vida para os brasileiros.
Perfi l – Ricardo Paiva
nasceu em Fortaleza, no
Ceará, em 21 de maio de
1953. Formado pela Facul-
dade de Ciências Médicas da
Universidade de Pernambuco
(UPE), em 1979, com resi-
dência e especialização em
clínica médica e cardiologia,
Paiva se destacou, no início
da carreira, em atividades
institucionais como presiden-
te e integrante da diretoria de
diversas entidades médicas
consagradas – pernambu-
canas e nacionais. Desen-
volveu, ainda, atividades
voltadas ao bem-estar social
com o uso da arte e da cria-
tividade para empreender
transformações e superar
conjunturas desfavoráveis.
Ricardo Paiva é homenageado
Personalidade profi ssional
JORNAL MEDICINA - NOV/2011
ÉTICA MÉDICA12
Duas novas publicações
do Conselho Federal
de Medicina estarão dispo-
níveis aos médicos a partir
de dezembro: o Manual
de orientações básicas para
prescrição médica, reedição
da obra lançada pelo Con-
selho Regional de Medici-
na do Estado da Paraíba
(CRM-PB) em 2009; e o
Manual de atendimento às
crianças e adolescentes ví-
timas de violência, editado
pela Sociedade de Pediatria
de São Paulo (SPSP).
O manual destinado
aos prescritores foi pro-
duzido pelos conselhei-
ros do regional paraiba-
no Célia Dias Madruga
e Eurípedes Mendonça
de Souza. A edição está
em harmonia com orien-
tações do Código de
Ética Médica e com
recentes resoluções da
Agência Nacional de Vigi-
lância Sanitária (Anvisa).
Indica, por exemplo, etapas
para terapêutica efetiva e
modelos de receita médica.
O Manual de atendimen-
to às crianças e adolescentes
vítimas de violência, obra
coordenada por Renata
Dejtiar Waksman e Má-
rio Hirschheimer, aborda a
negligência e a omissão do
cuidar, a síndrome de Mun-
chausen por transferência,
o roteiro de atendimento e
notifi cação dos casos, além
de aspectos éticos e legais
do atendimento às vítimas.
De acordo com o pr
sidente da SPSP, Clóvis
Constantino, o manual de
atendimento visa suprir
lacuna existente nos cur-
sos de medicina. “Tanto
as escolas médicas como
os serviços de residência
em pediatria não ofere-
cem, de modo geral, uma
formação adequada ao
tema”, aponta.
Os manuais serão en-
viados aos conselhos de
medicina e entidades mé-
dicas. O CFM também
os disponibiliza em seu
portal (www.cfm.org.br).
O interessado deve aces-
sar o menu “Comunica-
ção”, clicar em “Bibliote-
ca” e selecionar a opção
“Livros on-line”.
Publicações do CFM
Manuais orientam atividade médica
Sessenta e sete anos de
dedicação intensa à medi-
cina em atividades huma-
nitárias, científicas, do-
centes, sindicais; confiança
no ensino que o estimulou
a formar nada menos que
8.400 médicos. Este é
Antônio Jesuíno dos San-
tos Netto, que imprimiu a
sua marca como uma das
maiores expressões da me-
dicina baiana.
Nos deixou no dia 1º
de setembro último, em
vias de completar 91 anos.
Conservava uma persona-
lidade ativa, propensa a
questionar e com ousadia
para reivindicar a reno-
vação, quando esta fosse
necessária para obter me-
lhorias para a categoria e a
sociedade.
Este médico e profes-
sor, que recebe a nossa
homenagem por meio desta
seção, foi conselheiro do
Conselho Regional de Me-
dicina do Estado da Bahia
(Cremeb) por mais de 10
anos e membro – ativo,
como ele mesmo gostava
de frisar – de mais de 30
entidades das áreas de
saúde, educação, bioética,
sindicalismo, direitos hu-
manos etc.
Defendia a formação
de qualidade para médicos
e lutava contra o comércio
do ensino da medicina e
contra a abertura de cursos
norteados pelo lucro e sem
infraestrutura.
“Ao invés de abrir no-
vas escolas, nós devíamos
tomar a atitude de fechar
algumas, as chamadas
‘fabriquetas’ em nosso
jargão, fábricas de diplo-
mas”, declarou à revista
Luta Médica, do Sindicato
dos Médicos do Estado da
Bahia, em 2006. Naquele
ano, já era perceptível o
processo desproporcional
de multiplicação de escolas
médicas assistido na última
década – foram criadas, no
país, 80 novas escolas en-
tre 2000 e 2010; 60 des-
tas já estavam instaladas
em 2006.
As atividades institu-
cionais eram vistas como
desafiadoras. Revelava
simpatia ao provérbio “a
união faz a força” ao con-
clamar os colegas a aderi-
rem às lutas da categoria.
Sobre a sua atuação – e
missão – como conselhei-
ro, que envolvia promover
juízos e julgamentos, afir-
mou que “o ato de julgar
é duro”, especialmente
considerando que a “pre-
cariedade das condições de
trabalho muitas vezes está
subjacente ao chamado
erro médico”.
A Academia de Letras
da Bahia também mani-
festou pesar por sua per-
da. Consuelo Pondé de
Sena, que ocupa a cadeira
n° 28 desde 2002, decla-
rou: “Não consigo enten-
der como dr. Jesuíno se
multiplicava por mil e um
afazeres e sempre manti-
nha o ânimo para incur-
sionar em outras esferas.
Bom humor e simpatia
eram as marcas da sua
personalidade”.
Sena menciona as
várias atividades de
Jesuíno – na Santa Casa
de Misericórdia da Bahia,
no Hospital Santa Izabel
e na Escola Bahiana de
Medicina e Saúde Públi-
ca, além da Universida-
de Católica de Salvador
–, lembrando que ele foi
sempre muito ativo em re-
lação ao Cremeb, dele re-
cebendo o título de “Alto
Mérito - Grande Honra
ao Médico”.
A acadêmica ressalta
que o falecimento do mé-
dico causou comoção em
todo o Estado da Bahia e
classifica-o como um ami-
go presente e dedicado:
“Sabia ser estimado por
todos que o conheciam.
Era simples e correto a
toda prova e seu rosto
sereno transmitia a gran-
deza do seu caráter” – ra-
tificando a marca por ele
deixada na comunidade
médica baiana e brasileira
com sua atitude congre-
gadora e humanitária pe-
rante a vida e a profissão.
Personagem médico
Atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência e prescrição médica são temas de novos livros
“Sabia ser estimado por todos que o conheciam”
Jesuíno: se multiplicava por mil e um afazeres e sempre mantinha o ânimo
Asc
om C
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Chico Passeata – O artigo publicado na seção Personagem Médico do jornal MedicinaMedicina 199, em homenagem ao médico, líder e poeta Chico Passeata, foi transcrito nos Anais da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. O requerimento para o registro foi feito pelo deputado estadual Fernando Hugo (PSDB-CE).
Atendimento às crianças: obra será importante instrumento para médicos
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