Desafio - A Marca Do Chicote - Henry Keystone

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  • 7/23/2019 Desafio - A Marca Do Chicote - Henry Keystone

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    A Marca do

    Chicote

    Henry

    Keystone

    Naquela noite de muita dor,Keit leit, tinha apenas uma certeza,iria voltar a Rio Muerto paraconcretizar a sua vingana. Tinhaapenas um objectivo matar: matarDextor Clinton, um poderosorancheiro do Novo Mxico e cincodos seus vaqueiros, queobedecendo s ordens do seu

    patro controlavam a maioria dosranchos vizinhos. Quando Keitvoltou a Rio Muerto, foi-lheatribuido o cargo de agente federal,e com todos os poderes que lhe soinerentes conseguiu, fazer cumprira lei, no se tornando umassassino apenas um homem da lei

    que a respeitava e fazia respeitar: A violncia nuncase justifica, e nem a vingana, so dignas de um

    homem honrado. sempre repetindo estas palavras deseu pai, na hora do seu ultimo suspiro.

    Ttulo original:

    "LATIGAZOS"

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    Disponibilizao: LukaDigitalizao: Marina

    Revisora: Ana MarquesFormatao: Edina

    PRIMEIRA PARTE

    RIO MUERTO - Territrio do Novo Mxico

    ANO 1860

    Aiken Clark tinha quarenta anos e era capataz do Crculo Barrado,um pequeno rancho de propriedade de Dexter Clinton. E foi DexterClinton que falou a Aiken, secamente:

    - Prepare a corda.Ele se afastou do grupo e tirou uma corda grossa de cnhamo que

    pendia da sela de seu cavalo. Voltou com passos lentos para o grupoformado por outros cinco vaqueiros do Crculo Barrado, o dono do

    rancho, um homem de uns cinquenta anos e um rapazola de quatorze.- Acho que vai cometer um engano, patro - disse o capataz,colocando-se esquerda de Dexter Clinton.

    - Cale-se, Aiken! Voc sabe que nessa regio, os ladres de gadoso enforcados.

    Dexter Clinton tinha vinte e sete anos, ombros largos e msculosfortes. Suas feies eram bem feitas, curtidas pelo sol do Novo Mxico erefletiam grande frieza.

    Ele era um homem cruel e selvagem, com uma ambio semlimites.

    S conhecia a lei ditada por ele mesmo, imposta por sua fora esuas armas. Uma vida humana nada valia para Dexter Clinton. E nacategoria de humanos no inclua mexicanos, peles-vermelhas ouchineses.

    O capataz sabia que nada era capaz de deter seu patro. Ele nodesperdiaria uma ocasio para usar sua crueldade. Apesar disso, feznova tentativa,

    - No acho que sejam ladres, patro.Tanto o homem como o menino parecemmesmo ter passado fome.

    - So ladres de gado. Mataram uma das

    minhas reses - respondeu Clinton secamente.

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    Aiken calou-se. Contemplou o homem que ia ser enforcado.Ele estava em p ao lado de uma carroa velha, puxada por dois

    cavalos esquelticos, com as mos amarradas nas costas e cabeaerguida, como se fitasse os galhos do frondoso olmo.

    Desviou o olhar da rvore e fixou-o em Dexter Clinton. Era um

    olhar calmo e sereno como se a ideia de morrer no lhe desse nenhumaemoo.

    Tambm a voz era pausada e tranquila quando se dirigiu aorancheiro.

    - J lhe disse que a rs estava morta quando a encontramos. Oanimal tinha quebrado o pescoo ao cair na ribanceira. Alm disso, notinha qualquer marca.

    - Essas terras as minhas e tudo o que h nelas me pertence. Noestou disposto a me deixar roubar pelo primeiro par de vagabundos.

    - No sabia que a estrada passava por terras particulares. Meufilho Keit e eu samos de Kansas porque aquele territrio est sacudidopor violentas lutas entre os partidrios da abolio e os escravagistas,amos para a fronteira do Sul mas nos extraviamos nos Black Rangers enossas provises terminaram.

    - Uma boa histria e voc a decorou bem. J me contou trs vezesa mesma coisa - troou Clinton.

    - Nunca menti, nem jamais matei ningum. Odeio a violncia e porisso abandonei Kansas com meu filho. No quero que ele veja oshomens se matando - disse o acusado, olhando para o menino.

    O menino estava a pouca distncia de seu pai, imobilizado pelosbraos fortes de um vaqueiro chamado Alvin Peach que se divertia com

    os seus desesperados esforos para se soltar.O menino no gritava nem pedia nada mas seus olhos cinzentosfaiscavam de raiva.

    - J falmos demais. Prepare o n corredio, Aiken - falou Clinton.O capataz no se moveu. Apesar de conhecer a falta de

    sentimentos de seu patro, ainda tinha ousado pensar que no ltimoinstante ele no teria coragem para enforcar um homem pelo simplesfato de ter comido carne de uma rs que tinha encontrado morta.

    Tinha passado a maior parte da vida vendo coisas desagradveis eat horrveis.

    Tinha visto o enforcamento de mais de vinte homens e ele mesmotinha mandado meia dzia deles para o inferno mas sempre emigualdade de condies.

    Sempre frente a frente, com armas nas mos. Tinha tido sorte e osmortos eram sempre seus inimigos. Entretanto, tinha dado a elesoportunidade de tentar o contrrio.

    Aiken Clark tinha vivido muitos anos como foragido da lei. No eranenhum santo. No havia santos no Novo Mxico. Mas havia mrtires.

    Mrtires da violncia, do dio, da ambio e de um desejo insanode destruir pelo simples prazer da destruio.

    Dexter Clinton alm de ambicioso era destruidor. Recordava uma

    raposa. Uma raposa no se contentava em entrar num galinheiro e

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    matar os animais necessrios para saciar sua fome, dava dentadas direita e esquerda, semeando destruio.

    - O n, Aiken! - repetiu o rancheiro com impacincia.O capataz sentiu a intensidade dos olhares do pai e do filho. Suas

    mos suaram apesar da brisa fresca que vinha dos lados do rio Gila.

    O homem que ia morrer tinha dito que se chamava Jeff Leit e eraum agricultor - Aiken sabia que ele falava a verdade porque tinha vistosuas mos cheias de calos.

    Tambm tinha examinado o interior da carroa. Tinha visto umarado, ancinho, ps e sacos de sementes. Mas no tinha encontradovveres nem fumo apesar de Jeff Leit ter um cachimbo bem usado.

    Sem dvida tinham cruzado os Black Rangers e se perdido e ficadosem previses. Nenhum fumante ficava sem fumo no ser por motivosmuito importantes.

    - Estou esperando, Aiken - disse Dexter Clinton.- No sei atar um n corredio, patro. No sou carrasco. Sou

    vaqueiro.O rancheiro arrancou a corda das mos dele.- Eu mesmo fao.- Aiken Clark est muito velho - disse um dos vaqueiros chamado

    Bud Stern, em tom de troa.O capataz lanou um olhar cheio de indiferena a Stern. Sabia que

    ele queria ocupar seu lugar. Pouco lhe importava pois estava ficandocansado daquilo tudo.

    Jeff Leit ficou quieto quando o rancheiro enfiou o n em suacabea.

    - Voc mesmo vai me enforcar? - perguntou com calma.- No. S me encarrego dos preparativos e darei a ordem -respondeu Clinton, ajustando o n sob a orelha esquerda de Leit.

    - Voc um desses homens que destroem tudo. Como se chama?- Dexter Clinton. Mande minhas lembranas ao diabo.- Pode me matar, Clinton. Mas antes quero fazer dois pedidos.

    Tenho direito ou no?- Pode falar - disse Clinton querendo demonstrar aos vaqueiros que

    podia ser to calmo como o condenado.- No maltrate meu filho. Quando um homem morre bom saber

    que sua vida no foi infrutfera. Um filho a continuao de nsmesmos, no acha?

    - No tenho filhos.- Mas ter um dia... embora seja difcil - Jeff Leit deu um meio

    sorrisoO sorriso irritou Dexter Clinton mas ele se conteve e perguntou.- Qual o segundo pedido?- Deixe eu falar com meu filho. No quero que se transforme num

    assassino. A violncia nunca se justifica. Nem a vingana, so dignas deum homem honrado.

    - Traga o garoto, Alvin - ordenou o rancheiro.

    Jeff estava com o lao no pescoo mas as botas grossas decampons continuavam firmes no cho mido da pradaria..

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    No outro extremo da corda estavam as mos de Clinton e Aikentinha recuado um pouco, observando a cena. Receava alguma crueldadedo patro.

    No se enganou. Quando Alvin Peach empurrou o pequeno Keitpara diante, Clinton deu um puxo na corda e Jeff Leit caiu ao cho

    sobre o ombro direito. Seu rosto se contorceu de dor.Alvin Peach desatou a rir e afrouxou suas mos sobre o menino.

    Keit aproveitou para desvencilhar-se dele e correu para perto do pai,ajoelhando-se junto dele, tentando desamarr-lo.

    - Lembre-se que a vingana no prpria dos homens honrados,meu filho - disse Jeff Leit.

    Alvin Peach tirou o revlver do coldre e desfechou um golpe com acoronha na cabea de Keit. O menino deu um salto para trs e caiupesadamente no cho.

    - Menino imbecil! - xingou Alvin. Jeff Leit conseguiu se levantar epela primeira vez perdeu a serenidade. Seu rosto empalideceu e olhouAlvin com dio. Sua perna direita foi impulsionada com fora e atingiu ovaqueiro no baixo ventre.

    Alvin Peach se dobrou mas no chegou a cair. Clinton deu outropuxo na corda e Jeff Leit caiu de costas.

    - Vamos acabar logo com isso! - gritou o rancheiro.Alvin, j recuperado do golpe, foi o primeiro a aproximar-se de Jeff

    para levant-lo. Os outros vaqueiros do Crculo Barrado foram ajud-lo.S Aiken Clark ficou onde estava.

    Os cinco homens empurraram Jeff Leit para a rvore que serviriade forca.

    Clinton entregou a corda a Stern e ele a jogou habilmente por cimade um galho alto e forte, recuperando a ponta livre.- Boa viagem, ladro - disse o rancheiro.Jeff Leit no disse nada. Seus olhos percorreram a extensa plancie

    coberta de relva, a impressionante Meseta de Mongollon, esquerda, ascolinas de San Agustin direita e depois pousaram no corpo do filhocado de bruos no cho mido e verde.

    - Adeus, filho - murmurou.- Puxe! - gritou Clinton.Um forte puxo e a corda se retezou. Os cincos vaqueiros ficaram

    sustentando a corda at que as botas de Jeff Leit ficaram no ar, a cercade meio metro do cho.

    Leit contorceu-se violentamente agitando as pernas, procurandoum ponto de apoio. Aps algum tempo, ficou imvel.

    Alvin Peach e Bud Stern amarraram a corda ao tronco da rvore,deixando o corpo pendurado.

    - Um ladro a menos - comentou friamente Dexter Clinton.O capataz no disse nada. Apenas imaginava o que seu patro

    faria com o menino.- Destruam a carroa e matem os cavalos - falou Clinton.Os homens obedeceram prontamente porque tambm gostavam de

    destruir.

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    Aiken Clark no se movia. Contemplava a sombra negra do cadversobre o solo.

    - E o garoto? - quis saber Bud Stern.- muito pequeno para ser enforcado - falou o capataz. - Em Rio

    Muerto ningum nos perdoaria o enforcamento de um menino.

    - No me importa a opinio dos cidados de Rio Muerto - disseClinton.

    Mas, no ntimo, sabia que Aiken Clark tinha sua razo. Rio Muertoera a capital da provncia de Medina e tinha um xerife e um juiz. Novalia a pena arranjar complicaes com eles.

    O rancheiro tinha seus planos e para alcanar xito precisavamanter uma fachada de homem honrado e virtuoso.

    - Voc tem razo, Aiken. Ele no tem idade para ser enforcado -falou Clinton. - Mas deve ser castigado. Vai saber que gosto tem umchicote de couro traado.

    - No acha que ele j recebeu um castigo bem grande? - ponderouAiken, apontando o cadver.

    - No. Ele tem que sentir a dor na prpria carne - disse Clintonexibindo uma fileira de dentes brancos.

    - No conte comigo para esse trabalho sujo - falou Aiken,afastando-se.

    - Ele est se transformando num velho sentimental, patro - disseBud Stern. - No serve mais para nada.

    - Voc se sairia melhor que ele? - falou Clinton.- Pode tirar a prova - disse o vaqueiro.Dexter Clinton pensou consigo mesmo que Aiken Clark estava se

    transformando num srio problema. Um homem com escrpulos podiarepresentar um grande perigo.- Farei a prova com voc no dia em que Aiken sofrer um lamentvel

    acidente.Stern compreendeu rapidamente o desejo do patro. Em outras

    palavras ele tinha dito: "Acabe com Aiken e ser o capataz do CrculoBarrado".

    Clinton chegou perto do menino e rodou seu corpo com a ponta dabota.

    - Joguem gua nele para que acorde de uma vez!Outro vaqueiro, chamado Amos Waltis encheu um balde com gua

    barrenta e jogou-a no rosto de Keit.O menino estremeceu e deu um leve gemido. Seu aspecto era

    deplorvel. As pernas de suas calas estavam esfarrapadas, as botas jno tinham mais forma e a camisa era um punhados de tiras presas nafrente por dois botes. O rosto estava plido, os olhos fundos. O golpedesfechado por Alvin Peach tinha aberto um sulco em sua fronte e osangue escorria para o cho.

    - Levante-se, ladro - disse Clinton.O rapaz sacudiu a cabea e levantou-se com esforo. A primeira

    coisa que viu foi o corpo do pai pendurado na corda. Um sofrimento

    intenso ensombreou seu rosto e nos olhos cinzentos no apareceu

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    nenhuma lgrima. Ele apenas apertou os punhos at os ns dos dedosficarem brancos.

    Olhou em volta e viu que estava rodeado de homens sujos,suarentos e de rostos selvagens.

    - Comeou cedo a roubar, garoto miservel - falou Clinton. - Mas

    vou ensinar voc a ser honesto. Tire a camisa dele, Bud!Keit sentiu nojo daquele homem de olhos frios. Seu aspecto lhe

    recordava uma serpente. Sentia nojo e dio. Bud Stern arrancou suacamisa com um puxo fazendo saltar os dois nicos botes. Keit sentiuum frio no estmago e empalideceu mais ainda. Estava com medo.

    Clinton sorriu satisfeito. Gostava de aterrorizar seus inimigos,mesmo que tivessem apenas quatorze anos. Tinha sentido uma grandedecepo quando Jeff Leit tinha morrido sem pedir clemncia nemdemonstrar pnico.

    Felizmente ainda restava o menino.- Sabe o que um chicote? Sabe para que serve?Keit balanou a cabea afirmativamente.- Seu pai usava chicote para fazer o qu? - insistiu.O rancheiro adorava ver o pnico nos olhos de Keit.- Para... fazer andar... os cavalos - respondeu o menino, tremendo!- Isso seria no Kansas, garoto. No Novo Mxico, usamos o chicote

    para castigar ladres que no tm idade para ser enforcados.Ele estendeu a mo direita e Bud Stern entregou a ele um chicote

    de couro tranado.Keit estremeceu ainda mais subitamente o pnico sumiu de seus

    olhos e s o dio transparecia neles. Levou a mo cintura e tirou uma

    pequena faca. Seu gesto arrancou uma gargalhada geral dos vaqueirosdo Crculo Barrado.- O ladrozinho quer lutar - troou Clinton.- melhor enforcar ele - disse Maike Kendall.- Como o ladro de seu pai - concordou Bud Stern.Keit, empunhando a faca, olhou fixamente o vaqueiro.- Como se chama?- Bud Stern. Por qu?- Porque vou voltar um dia e matar todos os assassinos de meu

    pai. Quero saber os nomes de todos!- ele j no sentia nenhum medo.Os vaqueiros deram novas gargalhadas.- Meu nome Alvin Peach - disse o vaqueiro que o tinha segurado.- Eu sou Amos Waltis e este Alec Dodds.- Meu nome Maike Kendall, valento - riu o outro.Keit olhou os cinco vaqueiros demoradamente como se quisesse

    gravar seus rostos em sua mente.- Eu sou... - ia dizendo Aiken Clark mas o menino o interrompeu.- Voc no. Voc no assassino como os outros.O capataz se afastou novamente e ficou observando de longe.- O meu nome voc j sabe? - zombou Dexter Clinton.- No vou esquecer nunca. Um dia voltarei a Rio Muerto para

    matar voc.

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    Todos riram novamente, menos Aiken Clark. O capataz tinhacerteza de que o menino falava srio.

    - O melhor amarrar o menino na rvore, patro - disse Bud Stem.- Na mesma rvore onde est enforcado o ladro do pai dele -

    acrescentou Clinton.

    - Se chamar meu pai de ladro novamente eu vou matar voc -avisou o menino.

    - Trinta chicotadas tiraro dele a vontade de roubar reses e de sefazer de valente - troou Clinton.

    Aiken Clark estremeceu. Trinta chicotadas matariam o garoto!Resolveu se aproximar e intervir

    - Patro... trinta chicotadas mataro o menino.- Pior para ele.- Ser um assassinato. Teremos complicaes com o xerife e com o

    juiz. Logan Ring severo quando se trata de respeitar a lei.Quem vai contar a Ring o que se passou aqui? Essas terras so

    minhas e eu mando nelas.- Eu sei, patro. Mas no deve matar o menino com chicotadas.Olhou em volta para ver se tinha algum apoio dos companheiros

    mas s encontrou indiferena.- Tem mais alguma coisa a dizer, Aiken? - disse Clinton, apoiando

    a mo na culatra do revlver.- No.Aiken Clark sabia que se dissesse alguma coisa mais, Clinton

    meteria uma bala nele. Ficou atrs do rancheiro e esperou o desenrolardos acontecimentos. S lamentava no ser mais to rpido como era h

    dez anos.- No me toque com esse chicote sujo, Clinton... ou mato voc! -seu corpo magro se curvou como um arco apache.

    Um violento bofeto de Clinton jogou-o no cho, de bruos, sobre olugar onde os vaqueiros costumavam marcar reses. Seu rosto caiusobre terra e pedras.

    - Coma terra, maldito filho do diabo!Aiken Clark levou a mo ao revlver. Mas deu com o olhar atento

    de Bud Stern. Compreendeu que se segurasse a culatra do revlver, nochegaria a sac-lo do coldre. Ficou imvel, o gesto parado no ar,considerando-se um dos homens mais covardes do territrio do NovoMxico.

    Dexter Clinton, no entanto, estava muito satisfeito naquela manhde primavera. Tinha enforcado um homem, seus vaqueiros tinhamdestrudo uma carreta e matado dois cavalos e ele agora se divertia como menino imbecil a quem acabava de esbofetear.

    S que ele no contava com a coragem de Keit Leit. O menino erato valente como seu pai. Sabia dominar o medo. Clinton no sabiadisso e virou-se um pouco para dar uma ordem a Bud Stern. Mas nochegou a dizer nada.

    Keit se ergueu de um salto e avanou para o rancheiro com a faca

    na mo. Sua cabea atingiu o peito do inimigo com foraimpressionante.

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    A fome, o sangue escorrendo da testa e dos lbios, o peso leve e apouca idade perderam seu valor. Naquele momento, Keit tirava suafora do dio e do nojo.

    Clinton recebeu o golpe e caiu de costas. Keit Leit caiu sobre ele eenfiou a faca em seu rosto.

    Quando Bud Stern conseguiu separar o menino do patro, esteestava com um corte profundo na face esquerda.

    - uma pena - murmurou Keit, louco de raiva. - Eu queria matarvoc!

    - Eu que vou matar voc, diabo! - gritou Clinton, procurandoconter a hemorragia do rosto com um leno.

    - Enforcamos ele, patro? - falou Bud.- A forca seria boa demais para ele.- Ento que vamos fazer? - perguntou Alvin Peach.- Vamos mat-lo a chicotadas! Amarrem o menino na rvore!Os dois arrastaram o menino e as cordas que sustentavam ainda o

    cadver de seu pai.- Sou perito no chicote - falou Clinton. - Vou levar mais de uma

    hora para matar voc;O primeiro golpe arrancou uma tira de pele das costas magras de

    Keit... mas nenhum grito de sua garganta.O segundo, o terceiro, o quarto e o quinto golpe tiveram o mesmo

    resultado. Os outros, at o dcimo, abriram novos sulcos sem arrancarum s gemido do menino.

    Clinton estava morto de raiva. Keit Leit resistia com os lbiosapertados e quando Clinton fez uma pausa ainda conseguiu balbuciar:

    - No poder me matar, Dexter Clinton. E eu vou voltar a RioMuerto e acabar com voc... e com seus ces tambm. .. todosmorrero... todos...

    O menino no gritou nem gemeu mais perdeu os sentidos porcausa da dor em suas costas transformadas em chaga viva.

    Dexter Clinton secou o suor da testa e entregou o chicote a BudStern.

    - Ser um bom aviso para todos os ladres de gado.- Que fazemos com ele?- Jogue ele num charco qualquer para que se refresque.- Eu cuido dele - disse Aiken Clark. - No perca muito tempo.

    Temos muitas reses para marcar ainda - disse Clinton.O capataz cortou as cordas que prendiam o corpo do menino ao

    tronco da rvore. Depois colocou o frgil corpo ensanguentado sobre asela de seu cavalo. Deixou-o uns duzentos metros adiante, perto deuma poa de gua porque sabia que ele teria muita sede ao acordar, se que ia acordar.

    - Espero que saia dessa com vida, menino. Deixo voc perto dagua mas no posso fazer mais nada alm disso - murmurou.

    Montou no cavalo e afastou-se.Keit Leit recobrou a conscincia pouco depois da meia-noite. Abriu

    os olhos e viu acima de sua cabea um grande galho de uma rvore.Nos primeiros momentos pensou que era o brao de Dexter Clinton

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    empunhando um chicote. sua mente atormentada pela febre, o galhose transformou numa gigantesca mo prestes a sufoc-lo para terminara obra destrutiva de Clinton.

    O cu estava cheio de nuvens mas quando uma rajada de ventoempurrou-as para o Sul, Keit viu as folhas e um pedao de cu com

    estrelas.- apenas um galho de rvore - murmurou.O corpo ardia como brasa e ele sentia arrepios da cabea aos ps.

    Os lbios estavam ressecados e a lngua inchada.Tentou se levantar e comeou a se arrastar para dentro da gua.

    Afundou o rosto na poa e bebeu o lquido refrescante at que seusouvidos comearam a zumbir.

    Aps uns momentos de descanso reuniu todas as suas foras elevantou-se, caminhando aos tropees para o local onde o pai tinhasido assassinado.

    - Tenho que enterrar voc, pai... tenho que cortar a corda...No sabia calcular quanto tempo tinha andado. Ofegava,

    cambaleava. Finalmente tropeou numa raiz e caiu de braos. Ficou alidurante bastante tempo. Quando se levantou viu os restos da carroa acurta distncia. Viu o olmo e o cadver oscilante de seu pai.

    - Papai!Arrastou-se at a carroa e achou entre os destroos a p e a

    picareta. Dali foi at a rvore. Levou um tempo enorme para desfazer on na rvore. O corpo caiu com um baque. Ele se ajoelhou e com asmos trmulas, acariciou o rosto do pai.

    - No poderei obedecer voc desta vez, meu pai. Um dia eu voltarei

    a Rio Muerto e matarei os homens que tiraram sua vida sem motivo...perdoe-me, pai, mas no vou obedecer voc.Levantou-se, pegou a picareta e comeou a cavar uma sepultura,

    ali mesmo ao p da rvore.Pouco depois, completamente, esgotado, sentido calafrios nas

    costas, caiu de bruos sobre a terra que ele mesmo tinha removido.No chegou a desmaiar mas os rudos da noite chegavam at ele

    como se atravessassem uma densa nvoa.Ouviu o uivo doloroso de um coiote, o pio assustador de uma

    coruja, o relincho de um cavalo, a tosse seca de um homem e o rudodas rodas de uma carroa.

    Imaginou que Dexter Clinton voltava para mat-lo e o terror seapoderou dele. Tinha aprendido a temer os homens qu habitavamaquelas terras.

    Quis se levantar novamente mas o corpo esgotado no obedecia aoseu comando. De repente todos os sons desapareceram e ele mergulhounum abenoado silncio.

    - um menino - disse algum a seu lado.Quis gritar quando sentiu as mos virando seu corpo mas no saiu

    nenhum som de sua garganta.Entre sombras que se moviam como loucas, viu a luz de um

    lampio.- um menino. E foi chicoteado como um co danado.

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    - Pai! Aqui h um homem morto! - falou a primeira voz.- Virgem de Guadalupe! - disse a voz rouca.- O menino vai morrer? - perguntou uma terceira voz.O crebro de Keit, mesmo nublado, raciocinou que no eram os

    vaqueiros de Clinton. Pelas vozes, pareciam mexicanos. Um rosto

    chegou bem perto dele.- Ele no vai morrer, minha filha.- Pai, acho que ele queria enterrar o enforcado.- Ningum poder dizer que Antnio Hidalgo deixou um homem

    morto na pradaria. Vamos continuar o trabalho do menino, Pedro.Mercedes! Voc fica cuidando dele.

    A famlia Hidalgo, constituda do pai e dois filhos, voltava parasuas terras quando encontrou Keit Leit.

    Eram mexicanos, nascidos no Novo Mxico quando aqueleterritrio ainda pertencia ao Mxico.

    Keit Leit ouviu o rudo das ferramentas e tentou erguer a cabeapara ver o que estava acontecendo mas uma pequena e delicada moapoiou em seu ombro.

    - No se mexa, menino. Meu pai e meu irmo esto cavando asepultura.

    - Ele... era... meu pai - murmurou fracamente Keit.Fechou os olhos e deixou-se levar pela febre. Tinha impresso de

    flutuar num mar espesso e negro.Algum tempo depois, ouvia a voz de Antnio Hidalgo.- Outro dia viremos at aqui para colocar uma cruz na tumba.

    Agora vamos voltar para casa e cuidar desse menino.

    - Vamos logo, pai - concordou Pedro.Keit sentiu que o levantavam e o colocavam sobre mantas grossas.As mos de Mercedes acariciaram seu rosto. Ele ouviu o relincho docavalo, a tosse seca de Antnio e o matraquear da carroa.

    Antes de perder novamente a conscincia, ouviu o uivo doloroso docoiote. Mas o uivo estava to longe... to longe... talvez fosse o uivo deDexter Clinton.

    Quando voltou a si estava num aposento de pequenas dimensessobre uma cama limpa, rodeado de paredes de barro caiado de branco.

    - Que aconteceu a voc, menino? - indagou a voz de AntnioHidalgo.

    - Dexter Clinton... Ele enforcou meu pai e me castigou comchicotadas. Encontramos uma rs morta... e comemos sua carne - falouKeit com voz insegura.

    - Clinton um selvagem que finge ser um homem honrado - dissePedro.

    - melhor que no se depare com ele de novo - ponderouMercedes. - Suas costas so uma ferida s.

    - Tem razo, filha. Ficar aqui em nossa casa at melhorar - disseAntnio, inclinando-se sobre o rosto de Keit. - Aqui voc estar seguro.Mas depois ser melhor sair da provncia de Medina.

    - No quero... ser... um peso... para vocs - balbuciou Keit.

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    - Sou pobre, tenho dois filhos, mas sou honrado e cristo. Nasminhas terras h muita gua e podemos ganhar o sustento para todos.Voc ficar aqui at que possa andar novamente.

    Keit fechou os olhos e a febre tomou conta dele. Durante dois dias,Antnio, Pedro e Mercedes Hidalgo, trataram dele como se fosse um

    membro da famlia e estremeciam temerosos sempre que, em seusdelrios, Keit gritava:

    - Vou matar voc, Clinton!- Esse menino pode fazer uma tolice quando se sentir mais forte -

    ponderou Antnio. - Ele jamais conseguiria chegar a Clinton. Osvaqueiros dele o matariam quando pisasse em terras do CrculoBarrado. Pobre menino.

    - Ele tem a mesma idade que eu - falou Pedro.- O melhor que fazemos tir-lo daqui o mais depressa possvel.

    Dentro de uma semana Manuel passar por aqui a caminho de Socorroe poder lev-lo dentro da carroa.

    - Acho que tem razo, pai - disse Pedro.Enquanto Antnio e Mercedes mudavam as gases dos ferimentos,

    Pedro pensava consigo mesmo que aquele menino teria que carregarpara sempre aquelas cicatrizes.

    Uma semana depois, Manuel, um mexicano velho e sem dentes,parou sua carroa nas terras dos Hidalgo e Antnio explicou a ele o queestava acontecendo.

    - Leve o menino para Socorro - pediu Antnio.A pequena Mercedes, com doze anos, acomodou um colcho dentro

    da carreta e Keit foi levado para l por Antnio e Pedro.

    -No estar muito confortvel mas estar seguro - disse Antnio.Manuel vai deixar voc em Socorro, margem do Rio Grande... l estarlonge deste lugar e de Dexter Clinton.

    - Vou deixar o menino na casa de um irmo que tem um bar. Elepode trabalhar l - explicou Manuel.

    - Muito obrigado - disse Keit aos dois.- No sabemos seu nome, amigo - sorriu Antnio.- Keit Leit... um dia eu vou voltar para matar Clinton.- No vale a pena alimentar o dio, menino. A vingana no leva a

    nada.- No ser vingana. Ser justia.- Est pronto, menino? - perguntou Manuel, sentando-se na

    carroa.- Estou... Senhor Antnio, gostaria de pagar por tudo o que fez por

    mim.- Talvez um dia nos encontremos, garoto - disse Antnio. O mundo

    pequeno. Hoje eu ajudo voc, amanh voc me ajuda.Os trs ficaram vendo a carroa se afastar. Depois de algum

    tempo, Antnio comentou:- Keit Leit voltar a Rio Muerto. Ele matar Dexter Clinton.O velho mexicano apoiou as mos nos ombros de seus filhos e os

    trs entraram na singela casa branca enquanto a carroa continuavaseu lento avano na direo de Socorro.

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    Deitado nas mantas, com os olhos fechados, Keit ia murmurandocomo se recitasse uma ladainha:

    Eu vou voltar, Clinton. Vou matar voc como se fosse umcachorro danado. Voc vai maldizer a hora em que enforcou meu paie me aoitou com o chicote.

    SEGUNDA PARTE

    RIO MUERTO Territrio do Novo Mxico

    ANO 1876

    O juiz Logan Ring morava h vinte e cinco anos na cidade de RioMuerto, capital da provncia de Medina.

    Estava j com setenta anos e imobilizado numa cadeira de rodas.Mas no era a idade nem a doena que o mantinha imvel.

    Era a bala de chumbo alojada em sua coluna vertebral.Logan Ring tinha chegado a Rio Muerto acompanhando as tropas

    do General Kearney e quando se fez o tratado de Guadalupe Hidalgo,

    ficou no Novo Mxico.Organizou a provncia de Medina e com todas as foras tentoudefender as vidas e fazendas dos homens que em pouco tempo tinhamconhecido trs bandeiras diferentes.

    A da Espanha, a do Mxico e finalmente a dos Estados Unidos daAmrica do Norte.

    Depois de vinte e cinco anos de lutas defendendo a justia, o juizRing comeava a crer que tinha fracassado completamente.

    Anos antes, um atirador emboscado tinha acertado duas balas emsuas costas e s vivia ainda devido percia do Doutor Bryan Hardison.

    Naquela tarde de vero de 1876, o juiz e o mdico estavamsentados na varanda da casa.

    - A cidade mudou muito nesses ltimos dez anos - comentouHardison, tragando a fumaa no seu cachimbo.

    - verdade. Agora temos um banco dos criadores de gado, umapriso ladrilhada e um juiz invlido - disse Ring sem esconder suaamargura.

    Ele sempre tinha sido um homem conciso, duro e fantico defensorda lei, da ordem e da justia. E naquele momento, tinha que admitirque nenhuma das trs coisas existia em Rio Muerto.

    - A provncia pode vir a ser uma das mais ricas do territrio. Tem

    pastos abundantes para o gado.

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    Hardison fez o comentrio sem ligar para a amargura do juiz. Elescostumavam se reunir no final da tarde, ria varanda ou dentro de casaquando o tempo estava ruim.

    E a conversa de cada dia era mais ou menos a mesma.- Uma regio rica, sem dvida. Mas s um homem manda nela,

    Hardison. E Dexter Clinton.- Bem, ele um rancheiro importante e o dono do banco do gado.- ... e um perfeito canalha.- Se acha isso, podia mandar que o prendessem - disse Hardison.O mdico no tinha dvidas sobre o verdadeiro carter de Clinton

    mas gostava de irritar o velho amigo. Achava que assim contribua paraestimular sua circulao sangunea.

    - Como quer que eu prenda esse sujeito? O "xerife" amigo dele,comprado naturalmente. Est sempre do lado dele. Alm disso, estsempre cercado por cinco vaqueiros fortemente armados. Sabe o queest fazendo agora?

    - Contratando pistoleiros profissionais - respondeu Hardison.- Isso mesmo! - exclamou Logan Ring, batendo com a mo direita

    na roda da sua cadeira.- Acho at que j temos alguns andando aqui por Rio Muerto.- Tem idia de qual o plano dele? Hardison negou com um

    movimento de cabea. No queria tirar do amigo o prazer de explicar...embora tivesse feito isso na vspera.

    - Fara expulsar dos mananciais as poucas famlias que ainda tmsuas terras, entre elas, os Hidalgos e os Salinas - disse o juiz.

    Quando Ring tinha chegado a Rio Muerto, a cidade contava com

    quinhentas famlias mexicanas que se dedicavam ao cultivo da terra e criao de gado em pequena escala.Mas com os soldados de Kearney tinham chegado tambm os

    homens do Norte, ansiosos para se estabelecer nas terras recm-conquistadas ao Mxico.

    Os mexicanos foram expulsos de suas terras, as melhores daregio, e lentamente foram surgindo ranchos de propriedade doshomens do norte.

    Os mexicanos, em sua maior parte, tinham abandonado RioMuerto e a provncia de Medina para voltar ao Mxico. Compreenderamrapidamente que a justia dos vencedores no era justa com eles.

    Os que ficaram dedicaram-se criao de ovelhas e alguns, dentreeles os Hidalgo e os Salinas, conseguiram conservar suas terras.

    O Doutor Hardison tinha razo ao dizer que a cidade tinha mudadomuito nos ltimos dez anos.

    Dexter Clinton, o dono do pequeno Crculo Barrado, tinha setransformado no homem mais rico e importante da provncia. Suasterras, pastos e gado aumentavam constantemente.

    Durante a guerra entre o Norte e o Sul, Clinton tinha vendido gadoaos dois lados e Logan Ring tinha certeza de que a maior parte do gadotinha sido roubada.

    Mas ele no podia provar nada porque Dexter Clinton sabia comofazer as coisas.

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    Dois xerifes que no quiseram apoiar seus planos, tinham sofridolamentveis acidentes.

    Rio Muerto tinha crescido e tambm seu cemitrio. Tinha agoramais largura e comprimento e muito mais tmulos.

    Os dois xerifes estavam em duas delas. Em outra estava o corpo de

    um homem chamado Aiken Clark e na pedra estava gravado quemorrera no ano de 1860, embora no dissesse o motivo.

    Mas Aiken Clark tinha sido enterrado com duas balas nas costas.Tambm havia mais sete tumbas pertencentes a outros tantos

    mexicanos cujas terras faziam limite com as do Crculo Barrado e ondehavia importantes nascentes.

    Os mexicanos tinham morrido e suas terras e nascentes tinhampassado para Dexter Clinton.

    O rancheiro aumentara ainda mais sua fortuna vendendo armasaos homens de Benito Juarez que lutavam contra o ImperadorMaximiliano... embora tivesse vendido tambm armas ao ltimo.

    O Juiz Logan Ring sabia disso tudo mas estava de mos atadasporque no tinha provas. Quando comeou a procur-las, no asencontrou mas levou duas balas calibre 44 nas costas.

    O terceiro xerife de Rio Muerto chamava-se Lew Ramsay e comoera homem esperto, compreendeu que se queria poupar trabalho aocoveiro, era melhor obedecer as ordens de Clinton.

    - Das quinhentas famlias de Rio Muerto que estavam aqui quandocheguei, restam apenas cem... e receio que Clinton esteja se preparandopara extermin-las ou expuls-las de suas terras - comentou o juiz.

    O Doutor Bardison acendeu seu cachimbo e depois de lanar

    algumas baforadas de fumo, respondeu:- Estou de acordo com voc.- fcil adivinhar o plano dele. Contratou pistoleiros profissionais

    porque, em caso de encrenca, poder sempre afirmar que no pode serresponsabilizado por atos de homens que no pertencem a seu rancho.

    - Mas voc pode ordenar ao xerife que expulse esses pistoleiros dacidade.

    - Ele no far isso. Ramsay obedece as ordens de Clinton.- Voc pode telegrafar ao governador do territrio e pedir a

    demisso dele - disse o mdico.Logan Ring moveu a cabea negativamente.- No adiantaria. Clinton o dono do banco e tem sob seu controle

    a maior parte da populao da provncia. Alm disso, o afastamento deRamsay no seria soluo.

    - Por qu?- Nenhum homem ousaria ocupar seu lugar. Todos se lembram

    perfeitamente do que aconteceu aos xerifes anteriores.- Pode pedir a interveno do exrcito.- Em todo o territrio h apenas meia dzia de companhias de

    cavalaria e esto todas no sul, patrulhando e vigiando os apaches.- Ah! Ento o que pensa fazer? - quis saber Hardison, sem largar o

    cachimbo da boca.

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    - S posso esperar. Talvez os mexicanos decidam se unir para lutarcontra Clinton... e teriam ento todo o apoio da lei.

    Dois dias depois daquela conversa morria um dos homens deconfiana de Dexter Clinton.

    Sua morte tinha sido natural... o mais natural que podia ser em

    Rio Muerto.Alec Dodds morreu com um punhal enfiado no ventre, manejado

    pela mo perita de um mexicano.O coveiro e mesmo o Doutor Hardison, consideravam que morrer

    de uma punhalada era morte natural. Quando algum morria dedogolado, diziam que se tratava de um acidente.

    Essa idia tinha seu fundamento porque nos anos em quetrabalhavam ali como coveiro e como mdico, os dois tinham visto maiscadveres com furos de balas e de punhais do que homens falecidoscalmamente em suas camas.

    Uma mulher tinha sido a causa da morte de Alec Dodds. que ovaqueiro de confiana de Clinton, achando-se dono da cidade, tinhaabusado de uma jovem mexicana. O pai e seus dois irmos trataram defazer justia por sua prpria conta.

    Justia rpida e certeira.O Xerife Lew Ramsay ficou plido de terror ao ver o cadver de

    Dodds na sarjeta.- Clinton vai ficar furioso - murmurou.Mandou um menino ao Crculo Barrado e mandou o coveiro cuidar

    do cadver.Depois foi at seu escritrio. Ao passar diante do banco viu Herbert

    Pearson, o testa-de-ferro que Clinton tinha frente do estabelecimentobancrio.- Alguma novidade? - disse Pearson.- Assassinaram Dodds - respondeu Ramsay.- Hum! Dexter vai ficar furioso. No queria estar no seu lugar.Ramsay se afastou sem dizer mais nada. Achava que Pearson

    estava se divertindo com o apuro dele. Foi esperar a chegada de DexterClinton em seu escritrio.

    Quando o viu chegar com seus quatro vaqueiros, murmurou parasi mesmo:

    - Vou ter que suportar uma tempestade de raios, troves e chuvade pedra.

    - Mas estava enganado.Clinton, acompanhado de Bud Stern, Alvin Peach, Amos Waltis e

    Make Ken-dall, entrou na oficina com atitude serena.- Quer dizer que finalmente Dodds se deixou matar como o que

    era, um perfeito idiota - foi seu comentrio.Haviam se passado dezesseis anos desde o dia em que Clinton

    tinha mandado enforcar Jeff Leit e ele prprio tinha aoitado o pequenoKeit. Naqueles anos todos, o ranchehceiro no tinha sofrido grandestransformaes fsicas. Notava-se apenas entradas mais pronunciadas

    na testa, umas poucas rugas ao redor dos olhos e um trao mais cruel

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    nos lbios. Continuava forte e musculoso e tinha prosperado depressamas sua ambio no tinha limites.

    Queria se transformar no dono absoluto de toda a provncia deMedina.

    - Foi morto traio, Senhor Clinton - falou Ramsay.

    - Certo. Agora quero saber o que voc fez para achar os assassinosdele. Pago quinhentos dlares a voc por ms para velar pelos meusinteresses. uma quantia bem alta... tendo-se em conta que umsimples vaqueiro cobra apenas trinta dlares.

    - At agora s sei que foram trs mexicanos. Disseram-me que elesesperavam Dodds sada do saloon e deram apenas uma punhalada -explicou o xerife.

    - Dodds se meteu com uma garota mexicana, patro - disse BudStern, que desde a morte de Aiken Clark era o capataz do CrculoBarrado.

    - Era filha de Juan Martinez - revelou Make Kendall.- Muito bem, Ramsay. H uns duzentos mexicanos na provncia e

    voc s precisa localizar trs. Quando encontrar esses trs, trate deenforc-los.

    - E o juiz Ring? - perguntou Ramsay, assustado.- Diga a ele que foram linchados... o que ser verdade. Meus

    homens ajudaro voc. Logan Ring no vai abrir o bico, um velho quej est com um p na sepultura.

    - Alguma coisa mais, Senhor Clinton? - indagou Ramsay,servilmente.

    - Quero que deixe os corpos pendurados na rua central da cidade.

    Voc e Make Kendall cuidaro para que ningum os tire de l. Queroque todos os mexicanos da provncia vejam eles.- Certo - disse Ramsay.- Vamos sair de uma vez? - convidou Bud Stern.- Imediatamente - ordenou Dexter Clinton.- Estamos todos prontos - falou Stern.- Eu tambm - concordou Ramsay.- Enquanto vocs capturam os assassinos do idiota do Dodds, eu

    vou at o banco. Tenho que falar com Pearson porque a hipoteca sobreo rancho dos Hidalgo est para vencer - disse Clinton.

    - Duvido que o velho Antnio possa pag-la - comentou Stern.- Engana-se. Soube que desde o incio da semana os mexicanos

    andam se reunindo e est havendo uma coleta. Mas vou tomar minhasprecaues - disse Clinton.

    - Parece que os mexicanos esto querendo fazer frente a ns - disseStern.

    - Alguma coisa est havendo. Falarei com vocs depois - disseClinton, saindo para o banco.

    De uma das janelas de sua casa, Logan Ring viu Clintonatravessando a rua para entrar no banco. Depois viu o xerife e osquatro homens do Crculo Barrado montando em seus cavalos e saindo

    da cidade.Rodou a cadeira at seu gabinete, murmurando.

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    - Malditas balas que me deixam sem capacidade para impor a lei.Tenho que achar depressa uma soluo ou essa provncia vai setransformar num campo de batalha...

    No gabinete, ajeitou a cadeira de forma que pudesse consultar oslivros sobre a mesa. Enquanto os manuseava, ia murmurando:

    - Se encontrasse um homem de verdade que no temesse DexterClinton, teria a soluo perfeita. Este um territrio e tenho podereslegais que num estado me seriam negados.

    O juiz Logan Ring passou trs horas no gabinete, estudando leis.Quando terminou, tinha um sorriso de satisfao no rosto

    enrugado.S ento percebeu que reinava estranho silncio l fora, muito

    imprprio de uma cidade agitada como era Rio Muerto.Rodou a cadeira para fora do escritrio e com grande habilidade,

    abriu a porta para a rua. Saiu na varanda coberta e lanou umamaldio ao ver o espetculo deprimente.

    No centro da rua principal da cidade reunia-se um grupo decuriosos contemplando silenciosamente trs homens pendurados emcordas que pendiam de uma viga que sobressaa da fachada de um ar-mazm de cereais.

    - Agora est explicada a sada de Ramsay com os amigos doCrculo Barrado - murmurou Ring.

    Rodou a cadeira at diante dos trs degraus que separavam avaranda da rua poeirenta e quando um homem passou, pediu:

    -Desa-me daqui, Sam. Sam era o ferreiro de Rio Muerto e tinhabraos fortes.

    - Acho melhor ficar a mesmo, juiz. As coisas no andam muitoboas na cidade esta manh.- Desa-me ou mandarei prender voc por desobedecer uma

    ordem! - irritou-se Ring.Sam obedeceu. Conhecia o mau gnio do juiz e no queria

    enfurec-lo. Quando o deixou na rua, perguntou ainda:- Quer que o empurre? V para o inferno! Minhas pernas esto inteis mas meus

    braos ainda funcionam!Agilmente ele rodou a cadeira para o centro da rua.- Com licena! - gritou para o grupo de curiosos, para que

    abrissem caminho.Vrios homens se afastaram e Ring chegou perto dos trs

    enforcados.- Juan Martinez e seus dois filhos - murmurou ao reconhec-los.Olhou em volta e suas mos crisparam ao ver Lew Ramsay

    encostado num poste com o chapu tombado sobre os olhos paradefender-se do sol causticante.

    Adiante viu Make Kendall. O vaqueiro do Crculo Barrado estavasob a varanda, com os polegares metidos no cinto, olhando o juiz comar de troa.

    - Ramsay! - chamou o juiz.- Que diabo quer de mim agora? O sol est forte demais aqui.

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    Naqueles momentos ele se sentia seguro. s suas costas estavaKendall e Clinton estava no banco.

    Lew Ramsay s temia o juiz quando estava a ss com ele.- Que aconteceu com os Martinez? - perguntou Ring, tentando

    dominar a ira.

    Ramsay deu de ombros e largou uma cusparada no cho.- Assassinaram um homem chamado Alec Dodds e os vaqueiros

    seus amigos resolveram fazer justia pelas prprias mos.- A lei sou eu! Eu devo dar a sentena aos homens!- verdade mas todos acham que voc est muito velho e muito

    lento e alm disso um invlido - respondeu Ramsay com indiferena,dando outra cusparada no cho.

    Logan Ring ficou vermelho. As veias cresceram em seu pescooparecendo que iam explodir.

    - Quem fez isso? - perguntou finalmente, apontando os cadveres.- Todos e ningum. O senhor sabe como nesses linchamentos.

    Algum d um grito, outro traz a corda e muitas mos puxam -respondeu Ramsay.

    Make Kendall deixou escapar uma risada e o juiz o olhou comdesprezo.

    - Falaremos mais tarde, Ramsay. Agora tire esses cadveres da.O xerife no se moveu. Kendall deixou de rir e falou:- Ningum vai tirar os cadveres enquanto eu estiver aqui. Eles

    assassinaram meu amigo Dodds e devem pagar pelo seu crime. Vouatirar no primeiro que tentar cortar essas cordas.

    As palavras de Make Kendall surpreenderam o juiz.

    No esperava que os homens do Crculo Barrado se atrevessem aenfrentar abertamente a lei da provncia.Desconfiava que o homem que pusera duas balas em sua espinha

    era um dos vaqueiros de Dexter Clinton mas jamais tinha conseguidoachar uma prova que fosse.

    Clinton sempre fazia as coisas por baixo do pano... e tambm seushomens.

    At aquela manh em que Make Kendall o desafiava abertamente.O juiz calculou que Clinton estava se sentindo bastante forte para

    no tentar esconder que tinham sido seus homens os linchadores dafamlia Martinez.

    - Tire os corpos da, Ramsay. uma ordem - o juiz repetiu,cerrando os punhos.

    O xerife no se moveu.- Est querendo que o Kendall me mate? - falou em tom calmo.- Voc o xerife. Sua obrigao fazer com que a lei seja

    respeitada e um dos seus deveres tirar os corpos desses homens queforam assassinados para que sejam devidamente enterrados.

    - Voc o juiz. Tambm representa a lei. Voc mesmo pode tirar oscorpos... porque eu no vou fazer isso. No quero que Kendall me metauma bala.

    - Maldito covarde! - exclamou Ring. - Vou pedir sua demisso aogoverno do territrio.

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    - Pode pedir... mas eu no vou tirar os corpos. E acho que no vaiachar ningum que queira fazer isso para voc.

    - Ento eu mesmo fao! - o velho juiz empurrou a cadeira at aspilastras que sustentavam a varanda.

    O valente defensor da lei queria se apoiar numa delas para ficar de

    p mas antes que pudesse faz-lo, Make Kendall avanou uns passos eficou diante dele.

    - No tente, velho intil. Nunca matei um juiz mas bem quegostaria da experincia.

    Na rua reinava silncio impressionante. Ningum falava e algunshomens mal se atreviam a respirar.

    Apesar de entre os curiosos haver vrios mexicanos e muitoshomens honrados, nenhum deles tinha coragem de intervir.

    Todos sabiam que Dexter Clinton estava na cidade acompanhadode vrios vaqueiros e que tambm tinha contratado pistoleiros.

    - Voc um bandido, Kendall - disse o juiz, tentando se levantar.Mas a bota de Kendall apoiou-se numa das rodas da cadeira e

    derrubou-a.Logan Ring caiu no cho e o rosto afundou na camada de terra

    solta. Suas pernas, sem movimento, ficaram tragicamente dobradascomo se os ossos estivesse moles.

    Cado de bruos, com a boca e o nariz cheio de terra, os cabelosbrancos sujes e as pernas retorcidas, o juiz era uma figura pattica.

    Parecia um recm-nascido, incapaz de se mover sozinho. Ou umboneco velho e rasgado jogado na rua.

    Entre os curiosos havia uma expresso de incredulidade e espanto.

    Todos os cidados de Rio Muerto estavam acostumados a ver o juiz nacidade desde o tempo em que o Novo Mxico tinha passado para osEstados Unidos.

    Primeiro tinham visto o juiz andando e montando como cavaleirogil e depois sentado na cadeira de rodas, sem se dar por vencido.

    Agora um homem forte do Crculo Barrado o tinha derrubado aocho.

    Make Kendall deu uma gargalhada grosseira ao ver os esforosdesesperados do juiz para se levantar. Lew Ramsay estava plido masno deu um passo sequer para aproximar-se do juiz.

    - Acho que agora se convenceu que no passa de um velho intil eque um peso para os habitantes da provncia - disse o vaqueiro.

    Ring olhou atentamente os homens que estavam sua volta. Osolhos penetrantes examinaram cada rosto. Ele se negava a continuar nocho e, apoiando-se nas mos, conseguir se levantar embora nopudesse se manter assim por muito tempo porque j estava com setentaanos e no tinha muita fora.

    Ele olhava aqueles homens sem pedir nada mas nenhumconseguiu resistir intensidade de seu olhar.

    Suas cabeas e olhos baixaram para as pontas de suas botaspoeirentas.

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    Dexter Clinton tinha tido grande xito em semear o terror em RioMuerto. Ningum tinha coragem de ajudar o juiz embora muitos tivessevontade de faz-lo.

    - Ningum vai ajudar voc, juiz... nem ningum vai se atrever abaixar os corpos desses homens - falou Kendall.

    Um homem alto de ombros largos, musculosos, de calas escuras ecamisa azul afastou um par de curiosos e colocou-se na primeira fila.

    Logan Ring destacou-o imediatamente e ao ver o duplo cinturocom os coldres baixos, presos s coxas e imaginou que se tratava de umdos pistoleiros contratados por Clinton.

    O homem da camisa azul avanou e suas grandes esporasmexicanas de Sonora tilintaram alegremente. Parou ao lado da cadeirade rodas tombada e os olhos cinzentos examinaram Make Kendall.

    Kendall tambm examinou o recm-chegado. Bastou um olharpara compreender que aquele homem estava acostumando a manejararmas e podia ser perigoso.

    - Forasteiro? - perguntou Kendall.- Talvez - disse o recm-chegado.Com grande calma inclinou-se um pouco e com uma s mo

    levantou a cadeira de rodas.- Assim est bem melhor, no acha?O vaqueiro do Crculo Barrado no esperava nada parecido. Estava

    convencido que ningum se atreveria a mover-se e achou que oforasteiro ignorava certas coisas. Decidiu esclarec-lo.

    - Sou Make Kendall e trabalho para Dexter Clinton. Conhece meupatro?

    O vaqueiro continuava com os polegares metidos no cinturo e coma atitude de desafio mas, na verdade, estava desconcertado. O forasteirono parecia impressionado com sua atitude, nem com a presena dosenforcados e muitos menos com o que acontecera ao juiz.

    Kendall sabia que alguns dos pistoleiros contratados por Clinton jestavam em Rio Muerto mas no conhecia nenhum porque o patro noqueria que fossem ao rancho. Aqueles pistoleiros deviam cumprir umoutro tipo de misso: exterminar os mexicanos que se negassem avender suas terras e nascentes.

    Tal como o juiz, calculou que ele era um daqueles pistoleirosprofissionais.

    Mas em breve os dois teriam que reconhecer o engano.- Conheo seu patro e conheo voc tambm - disse o forasteiro.Sem esperar qualquer resposta de Kendall deu-lhe as costas e

    como o xerife se achava entre ele e o juiz, empurrou-o para o lado semse dar ao trabalho de pedir licena.

    - No me lembro de ter visto voc - disse Kendall, cada vez maisintrigado.

    - Certos homens tm pssima memria - disse o forasteiro,inclinando-se para o juiz.

    - Que vai fazer? - alarmou-se Kendall.

    - J ver. Tenha pacincia.

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    O forasteiro levantou Logan Ring com grande facilidade e commuito cuidado acomodou-o na cadeira de rodas. Sua atitude arrancouum murmrio de surpresa dos curiosos e uma imprecao de Kendall.

    - Espero que esteja se sentindo perfeitamente bem, juiz - disse oforasteiro, sem deixar de vigiar Kendall.

    - Obrigado... muito obrigado - disse Ring, satisfeito.- Agora viu o que eu fiz, Kendall - disse o forasteiro, afastando-se

    da cadeira de rodas.Lew Ramsay foi o primeiro a compreender que o desconhecido no

    estava disposto a obedecer ordens de Clinton Kendall levou algumtempo mais para entender isso.

    - O patro ficar furioso quando souber o que fez - disse ovaqueiro, achando ainda que ele era um dos pistoleiros contratados.

    - Tambm acho e no me interessam os sentimentos de um sujeitocomo Dexter Clinton. Como os cadveres me incomodam, vou baix-losdessas cordas - disse o desconhecido.

    Kendall tirou os dedos do cinturo e manteve as mos perto dasculatras dos revlveres. Dexter Clinton tinha ordenado que osenforcados permanecessem ali para que todos os mexicanos daprovncia pudessem v-los. E Make Kendall era um co fiel ao seupatro.

    Lew Ramsay era um co, mas no to fiel. Tambm tinha recebidoa ordem de vigiar os cadveres, mas no estava disposto a se deixarmatar por quinhentos dlares mensais.

    Ramsay era mais esperto que Kendall, o suficiente para perceberque o forasteiro era perigoso e que, por uma razo desconhecida, estava

    disposto a matar.Por isso mesmo, ficou imvel, com as mos bem afastadas dosrevlveres e afastou-se de Kendall, certo de que Dexter Clinton tinhaum inimigo de grande porte.

    - Ouviu o que eu disse antes? - falou Kendall.- Voc disse um monto de besteiras. Qual delas?- Vou matar quem se atrever a tirar os corpos da.- Certo - disse o forasteiro, tirando uma faca de caa do cano da

    bota direita.- E mato voc tambm ainda que trabalhe para o patro - falou

    Kendall apoiando a mo direita na culatra do revlver.- No seja imbecil, Make Kendall. Eu no trabalharia para Clinton

    nem que ele me pagasse mil dlares por dia. No gosto dos assassinos...por isso tambm no gosto de voc.

    Enquanto falava, o desconhecido deu uma cortada na primeiracorda. Um dos cadveres caiu na terra levantando uma pequena nuvemde p vermelho.

    Kendall ficou vendo a corda deslizando pela viga como umaserpente de cnhamo. Quando o corpo caiu ele reagiu imediatamente,puxando o revlver e fixando os olhos no inimigo.

    Sorriu satisfeito quando viu que o forasteiro no tinha se movido.

    Com o polegar levantou o co e com o indicador comeou a apertar ogatilho.

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    O tiro pegou-o de surpresa. No tinha apertado at o fim. Afrouxoua presso do dedo e um segundo tiro fez com que seu corpo sacudisse.No entendia absolutamente nada. J no via o forasteiro diante dele.Um terceiro tiro provocou uma dor aguda em seu ventre. Dobrou-sesobre si mesmo, largou o revlver e caiu. A boca se encheu de terra e

    quando ergueu a cabea viu o par de botas com esporas de prata, deSonora.

    Uma das botas tocou seu corpo e virou-o de barriga para cima. Viuento o rosto do forasteiro.

    - Que est acontecendo? - falou ofegante, com as mos no ventre.- Voc est morrendo, Make Kendall. Voc lento demais e no

    chegou a atirar. Lento como todos os canalhas.Kendall se retorcia como um verme.- Eu no... conheo voc.- Conhece, Kendall. H dezesseis anos, um homem e um menino

    acharam uma rs morta. Como tinham fome, comeram um pouco desua carne. Voc tomou parte do assassinato do homem e no castigo domenino. Lembra-se?

    - Lembro... o patro tem uma cicatriz no rosto... feita pelomenino... - ofegou Kendall.

    - Fui eu quem feriu seu patro. Sou Keit Leit e voltei para cumprirminha promessa. Matarei vocs todos um a um. Voc teve a m sorte deser o primeiro.

    Make Kendall arregalou os olhos e olhou Keit Leit... e assimmorreu.

    Keit se levantou. Pegou a faca que tinha deixado cair ao sacar o

    colt e, roando o ventre de Ramsay, com a ponta, perguntou:- Vai tirar os cadveres ou quer que eu mesmo o faa?O juiz Ring, compreendendo que o forasteiro queria humilhar o

    covarde xerife, apressou-se a falar:- Baixe os corpos. Ramsay.- Sim, senhor juiz - disse o xerife mais que depressa.Enquanto Ramsay cortava as cordas, Keit se colocou direita do

    juiz e lanou um olhar cheio de desprezo aos que estavam presentes eque continuavam observando o desenrolar dos acontecimentos.

    - Como se chama? - perguntou Ring.- Keit Leit, senhor.- Leit... Leit... repetiu o juiz como se o sobrenome no fosse

    desconhecido.Keit sorriu. Era impossvel que o juiz recordasse alguma coisa.

    Nem ele nem o pai tinham chegado a entrar em Rio Muerto. Tinhamtropeado em Dexter Clinton a dez quilmetros da cidade.

    - Pronto - disse Ramsay quando acabou de tirar os cadveres.O juiz esqueceu Leit e virou-se para Ramsay.- Quem enforcou os Martinez?- No sei, senhor juiz. No tive nada que ver com o assunto.- Dou uma hora para achar os linchadores e prend-los - disse

    Logan Ring.

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    - No posso prend-los... no sei quem so... quando cheguei, osMartinez estavam enforcados.

    - Vou dizer algo importante a voc para que repita para DexterClinton. Como o Novo Mxico um territrio e no um estado eu, comojuiz e presidente de um Tribunal Federal, tenho um grande nmero de

    poderes.Logan Ring olhou em, volta para certificar-se de que havia muita

    gente ouvindo.- Tenho poderes para designar um delegado federal e tantos

    ajudantes quantos desejar. Quando os representantes da lei local sointeis, o juiz territorial pode designar um homem e eu vou fazer isso.Voc ter que obedecer s ordens dele. Um delegado federal no temlimitaes.

    Lew Ramsay j no se sentia to senhor de si como antes. Nosabia que o juiz podia nomear um delegado federal.

    - Leit! - chamou o juiz.- Senhor? - atendeu-o Keit Leit.- Voc ser o delegado federal.Keit Leit ficou surpreendido. Levou uns segundos para responder.- Sou um estranho aqui, Senhor juiz. Deve haver outros homens

    mais indicados que eu... alm disso, eu vim a Rio Muerto resolver umassunto pessoal.

    - No h homens em Rio Muerto, Keit Leit... voc mesmo deve terpercebido. No vou pedir a voc que faa nada que no sejaestritamente legal. Nossa provncia precisa de um delegado federal quesaiba usar as armas e seja homem honrado.

    - Talvez eu no o seja - respondeu Keit.- S um homem honrado capaz de ajudar um velho cado sobre aterra da rua - disse o juiz.

    Keit olhou atentamente para Logan Ring e notou em seus olhosuma grande angustia. Compreendeu que se no aceitasse o cargo, ovelho sofreria uma grande decepo.

    Logan Ring estava convencido de que ele, Keit Leit, seria capaz derestabelecer a ordem e a justia naquela provncia turbulenta, agitadapela ambio desmedida de Dexter Clinton.

    - Tentarei fazer o melhor possvel mas ter que me ajudar -respondeu finalmente.

    Entre os curiosos correu um rumor que parecia um suspiro dealvio.

    E o alvio transpareceu nos olhos de Logan Ring. Ele estendeu amo direita para Keit.

    - Vamos a meu escritrio. Entregarei a voc a insgnia de delegadofederal.

    Olhou ento para Lew Ramsay, parado, branco como uma folha depapel.

    - Diga ao coveiro que cuide dos corpos dos Martinez e que vpreparando tumbas para seus assassinos.

    Iam entrar na casa quando o juiz parou a cadeira e olhou paraKeit.

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    - Voc o filho do homem que Dexter Clinton mandou enforcar adezesseis anos atrs. o menino que Glinton aoitou com o chicotetraado.

    - Como sabe?- Aiken Clark, o capataz, me contou.

    - E onde est ele agora? Era o nico homem daquele grupo comsentimentos humanos.

    - Est morto. Foi assassinado e sempre suspeitei de Bud Stern.Entre - disse o juiz, abrindo a porta.

    Quando eles entraram na casa, Lew Ramsay correu para o banco afim de falar com Dexter Clinton que tinha presenciado tudo de dentrodo escritrio de Herbert Pearson.

    Uma furiosa tempestade de chumbo e violncia estava se formandopara desabar em Rio Muerto, territrio de Novo Mxico.

    No inteiror da casa confortvel do juiz, Keit Leit contou toda a suahistria a Logan Ring.

    O velho mexicano Manuel tinha deixado o menino em Socorro, nobar-restaurante de seu irmo. Ele ficou ali vrios anos e o prprioManuel tinha ensinado Keit a usar os colts, a faca e a seguir um rastrocom a habilidade de um apache.

    Aos vinte anos comprou seu primeiro cavalo e saiu de Socorro,aps a morte de Manuel e seu irmo.

    Tinha trabalhado para uma companhia de diligncias e matado oprimeiro homem. Depois tinha sido ajudante do xerife de Ls Animas equando este foi morto pelas costas, Keit tinha perseguido os assassinosdurante um ms inteiro.

    Quando voltou a Las Animas, tinha quatro cadveres atrs de si.Tinha ocupado ento o cargo de xerife e os habitantes de Las Animasnunca mais se esqueceriam da feroz luta que ele sustentou entre asnvoas do amanhecer, contra bandidos pistoleiros.

    Terminada a luta, as ruas de Las Animas estavam com trscadveres e Keit Leit foi recolhido com quatro balas no corpo.

    Depois de Las Animas, tinha acontecido o mesmo em Laredo, EaglePass, Mason e El Llano. Sem querer, ele tinha se transformado numdefensor da lei.

    Mas nunca tinha esquecido a conta pendente com Dexter Clinton eseus selvagens vaqueiros. Em suas estadias pelas diversas cidades iarecolhendo informaes sobre ele.

    - Estou a par das atividades de Clinton e sei que ele pretendetornar-se dono da provncia de Medina.

    - Por que s voltou agora? Se queria vingar seu pai, podia ter vindoantes - disse o juiz.

    - Achei melhor esperar para castigar esse canalha quando estivessecerto de que j no corria qualquer perigo. Queria destrui-lo quando seachasse no auge de sua ambio.

    - Mas veio antes - ponderou o juiz.- que eu estava em El Paso, Texas, trabalhando para a Welss

    Fargo, quando um pistoleiro chamado Bret Younger assassinou umamigo meu pelas costas. Younger saiu de El Paso contratado por Dexter

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    Clinton. Achei que se Clinton estava contratando profissionais era por-que estava disposto a abrir uma luta sangrenta na provncia.

    - No se enganou, Keit. Que acha dos mexicanos?- Foram enganados tristemente quando concordaram em fazer

    parte dos Estados Unidos.

    - Mas a culpa no do governo mas de homens como Clinton. Ogoverno no contava com a ambio e a maldade de homens assim quecaram sobre essas terras como abutres famintos. Mas a verdadeira Leiexiste para proteger esses homens honrados, confiantes e trabalhado-res.

    - Ns cuidaremos para que isso acontea - disse Keit.- No ser fcil. Em primeiro lugar temos que prender os

    linchadores da famlia Martinez, vivos ou mortos. Se chegarem vivos, euos julgarei e mandarei enforcar.

    - Pode me dar alguma indicao?- Esta manh vi Ramsay sair de seu escritrio com Bud Stern,

    Alvin Peach, Make Kendall e Amos Waltis. Pouco depois os Martinezeram enforcados. Tenho certeza de que Clinton deu a ordem mais eleficou no banco para ter justificativa se alguma coisa sasse errada.

    Keit Leit sorriu com amargura ao ouvir os nomes dos assassinos deseu pai. A histria se repetia. Naqueles dezesseis anos, aqueles homensno tinham melhorado em nada, talvez fossem hoje mais cruis e friosainda.

    - O mais fraco deles o xerife. Vou falar com ele - disse Keit.- melhor porque os outros parecem estar saindo da cidade - disse

    o juiz apontando para a janela.

    Pela vidraa, Keit viu Clinton, Stern, Peach e Waltis abandonandoa cidade, levando o corpo de Kendall sobre um cavalo.- No entendo por que no apareceram quando matei o

    companheiro deles - disse Keit.- Havia muita gente e Clinton sabe que odiado pela maior parte

    da populao. Eles nunca reagiram porque no apareceu ningum comcoragem para enfrent-lo. Mas hoje a situao mudou.

    - Ento Clinton receou que eu fizesse explodir uma reao entre oshabitantes de Rio Muerto?

    - Sem dvida.Logan Ring entregou a Keit a chapa de delegado federal e o rapaz

    contemplou a estrela de lato de seis pontas com a inscrio "U.S.Marshal" no centro.

    - Voc vai almoar comigo hoje. Temos muito que conversar e, dequalquer forma, no vai achar Leiw Ramsay agora. Nosso valentedefensor da lei ave noturna.

    - Est certo. Depois vou pegar meu cavalo para deix-lo nacavalaria - disse Keit

    Enquanto almoavam, o juiz explicou a situao da provncia.- Na verdade, o rancho de Clinton o de maior extenso na

    provncia. Mas na parte sul a gua escassa. As nicas nascentes

    daquela regio pertencem aos Hidalgo, Salinas e Escobar. Clinton vaifazer alguma coisa para apoderar-se de suas terras.

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    - No se esquea de falar em Laze Weiner - disse Jessie, a mulherde meia idade que cuidava da casa para o juiz.

    - Quem Laze Weiner? - quis saber Keit.- a dona do rancho W.W. Os pastos de seu rancho se limitam

    com os de Clinton na parte norte do Crculo Barrado.

    - Ela corre perigo?- No. Laze vai se casar com Clinton.Keit achou que o rancheiro ia casar-se bem tarde, com quarenta e

    dois anos para ser exato. Tambm imaginou que sua futura esposaseria uma mulher desagradvel, com bastante idade e de moralduvidosa uma vez que ia casar-se com um bandido daqueles.

    Quando terminou a segunda chcara de caf, levantou-se.- Vou pegar meu cavalo para lev-lo a uma cavalaria. Depois irei a

    uma barbearia e a uma casa de banhos. Preciso me livrar do p davigem.

    - Os pistoleiros de Clinton esto hospedados no Navajo Hotel -avisou o juiz.

    - No me esquecerei. Por enquanto s quero falar com Ramsay.- Sem dvida, nesse momento, Dexter Clinton est tramando

    alguma coisa para acabar com voc. Fique de olhos abertos as mosperto dos colts.

    - Obrigado, juiz - respondeu Keit, sorrindo.Usou o resto da tarde em vrias coisas. Deixou o cavalo na

    cavalaria com ordens para trocar as ferraduras. Depois foi barbeariae fez barba e cabelo. Depois tomou banho e trocou de roupa. Mais tardeprocurou um hotel e alugou um quarto no New Mxico Palace.

    Era noite quando finalmente saiu do hotel para caminhar pelacidade. Havia pouco movimento nas ruas de Rio Muerto. Osacontecimentos do dia certamente tinham assustado seus habitantes.

    Keit Leit atravessou a rua e entrou no primeiro saloon. Bastouuma rpida olhadela para ver que Lew Ramsay no estava l. Tomouum caf e saiu novamente.

    Sabia que o xerife de Rio Muerto no devia estar muito satisfeitonaquela noite. Deixara de ser o homem temido e respeitado para setransformar num sujeito assustado e sem vontade prpria.

    Keit foi a mais dois saloons sem encontrar o xerife. Quando saa doltimo, ouviu um grito angustiado de mulher.

    Parou e apurou o ouvido.O grito se repetiu e Keit descobriu que vinha de uma ruela estreita

    que comeava no outro lado da rua, iluminada por duas lamparinas deazeite, uma de cada lado. Pode ver os vultos de dois homens agarrandouma mulher que lutava desesperadamente.

    Keit sacou um dos revlveres e com dois ou trs saltos alcanou aruela. Com a coronha do colt deu um golpe na nuca de um deles quecaiu sem um gemido si-quer.

    O outro se voltou depressa e a mo direita foi ao revlver mas Keitno lhe deu tempo para sacar. O cano do colt atingiu com fora o rosto

    do bandido.

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    Ele foi lanado contra a parede e caiu para a frente, com o rostomolhado de sangue.

    Keit se inclinou sobre os dois cados e depois de desarm-los, jogouseus revlveres bem longe.

    - Sem dentes, no podero morder.

    Segurou ento a mulher que cambaleava e sentiu nas mos ocontato da pele de seu brao, suave e perfumada. Experimentouestranho e agradvel estremecimento.

    - Como est? - perguntou, segurando-a.- Bem... graas a voc - murmurou ela, afastando os cabelos ruivos

    que cobriam seu rosto.Keit viu primeiro um par de olhos grandes e lindos pois eles

    estavam na parte mais escura da ruela.Ele a ajudou a caminhar para a rua e pararam sob as lamparinas.

    Ali, ele viu o resto.A mulher era muito bonita, apesar de algumas sardas no nariz.

    Suas feies eram corretas e bem proporcionadas. Os lbios, plidosnaquele momento, formavam uma curva que convidava ao beijo. Osolhos eram verdes.

    - Que aconteceu? - perguntou Keit depois de olhar a bela silhuetada moa.

    - Ia pegar minha charrete quando esses homens apareceram naboca dessa ruela e me puxaram para o escuro. Estavam bbados e nosei se queriam me roubar... ou alguma coisa pior.

    Keit calculou que a segunda alternativa era a mais acertada porquea blusa estava rasgada e o ombro direito dela estava desnudo. Tambm

    a saia estava rasgada e quando ela andava, ele podia ver uma pernamuito bem feita vestida com meia negra.- Tem parentes em Rio Muerto?- No - respondeu ela, sem maiores explicaes.- Posso ajud-la em alguma coisa mais?- Pode me levar at a charrete. Posso voltar sozinha para meu

    rancho.- Seu rancho?- O W.W. - esclareceu ela. - Meu nome Laze Weiner.Keit levou um choque. Aquela mulher linda ia se casar com Dexter

    Clinton, o assassino de seu pai e o responsvel pelas cicatrizes de suascostas.

    - Posso oferecer um lugar de vaqueiro no meu rancho - continuouela.

    - No sou vaqueiro - respondeu Keit.- comprador de gado, ento?- No.- Procura ouro?- No.- Ento s pode ser parente de algum rancheiro da provncia.- Enganou-se de novo, senhorita Weiner. Onde est sua charrete?

    - Em frente ao banco. Queria saber o que est fazendo aqui nacidade. No costumamos receber forasteiros.

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    Keit Leit estava de costas para o lampio e ela no podia ver suaestrela de delegado federal. Por isso, intrigada, ela tentava descobrir oque aquele homem, queria em Rio Muerto.

    - A senhorita pode andar? - indagou Keit.- Acho que sim. Embora tenha recebido uma pancada muito forte

    no joelho esquerdo.Laze deu um passo adiante e Keit teve que esticar o brao depressa

    para sustentar o corpo escultural.- Ai! - disse Laze, passando o brao pelo pescoo de Keit para no

    cair.Ele sentiu no rosto a carcia perfumada de seus longos cabelos

    ruivos.- Apie-se na parede. Vou examinar seu joelho.Laze no protestou. Tambm no demonstrou qualquer embarao

    quando Keit afastou a saia rasgada e seus dedos geis tocaram seujoelho. Conteve um gemido e o delegado se levantou.

    - O joelho est muito inchado, Senhorita Weiner.- Nada mais?- Bem... devo dizer tambm que possui umas pernas maravilhosas

    - sorriu Keit.- muito amvel... mas acho que devo revelar que tenho um noivo

    e devo me casar em breve - sorriu Laze.- O que, sem dvida, uma notcia muito triste - respondeu Keit.- Por que triste? - ela arregalou os olhos verdes.- triste para mim, senhorita Weiner.- Quer parar de me chamar de senhorita? Meu nome Laze e no

    um nome assim to feio.- No, no ... bem bonito, como voc.- Obrigada... por tudo - ela sussurrou.No era uma mulher insensvel nem tinha preconceitos tolos. No

    escondia que a presena de Keit lhe era agradvel e, apesar dos mausmomentos que acabava de passar, ainda era capaz de um galanteioinofensivo.

    - Vou ter que levar voc at a charrete - disse ele.- No peso muito - sorriu Laze. Keit ergueu-a nos braos e ela

    passou um dos braos pelo pescoo do delegado.- Vai embora de Rio Muerto em breve? - perguntou, quando saam

    da ruela.- No... e bem possvel que fique aqui para sempre.- Suas palavras parecem fnebres - comentou Laze.- Pode ser.Quando chegaram perto da charrete, ele a pousou no cho e

    durante uns segundos seus rostos ficaram muito prximos. Keit sentiuo roar de seus cabelos e o hlito morno de sua boca em seu rosto.

    Aqueles lbios hmidos e rosados estavam to perto dos seus queele s teve que inclinar-se um pouquinho para beij-los.

    Decidiu beijar aquela mulher porque ela era a noiva de Dexfer

    Clinton e isso o aborreceria... mas no instante em que seus lbios se

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    apoderaram dos dela, esqueceu-se de tudo para pensar somente emLaze Weiner.

    Era maravilhoso, apert-la contra seu peito.Laze no resistiu mas tambm no correspondeu ao beijo. Quando

    Keit se afastou dela. ela franziu levemente a testa e perguntou

    - sempre assim to impulsivo?- No. Acho que foi a primeira vez que beijei uma mulher sem que

    ela me desse permisso.- E quem disse que no dei? - ela disse, subindo na charrete com a

    ajuda de Keit.S ento viu a placa na camisa de Keit.Com gestos lentos cobriu a perna que a saia rasgada revelava e

    pegando as rdeas, inclinou-se para ele.- Que est fazendo um delegado federal em Rio Muerto?- Procuro um homem, Laze.- Negcios?- No. Procuro para matar.A resposta foi to seca que Laze compreendeu que o delegado ia

    cumprir o que dizia. No havia nas palavras dele qualquerconvencimento, apenas segurana e determinao.

    - Desejo-lhe sorte... acho que a merece - disse ela, fitando Keit comseus olhos grandes e verdes.

    Durante uns momentos pareceu que seus lbios iam unir-senovamente, desta vez por iniciativa dela... mas o delegado se afastou,dizendo:

    - Obrigado... por tudo.

    Tinha beijado Laze seguindo um impulso idiota. Sabia que o fatodesagradaria Clinton, se ele viesse a saber.O problema era que ao sentir a proximidade morna do corpo

    daquela mulher e o contato de seus lbios midos em seus lbios tinhaachado que se compor tava como um atrevido.

    Depois compreendeu uma coisa mais: que estava se enganandopois tinha beijado Laze Weiner simplesmente porque tinha sentido forteatrao por ela e por achar que era uma mulher que merecia ser beijadacom paixo.

    - Vamos nos ver de novo? - Laze indagou.- possvel... ainda que talvez fosse melhor que no.- Adeus, delegado - ela sacudiu as rdeas.Enquanto se afastava da cidade com sua charrete, Laze tinha mil

    dvidas. Que est acontecendo comigo? No sou uma mulher tola eimpressionvel e, no entanto, se ele tivesse me beijado de novo, eu teriadevolvido seus beijos. ..

    Sacudiu a cabea, querendo afastar aqueles pensamentos. Estavanoiva de Dexter Clinton... teria que se casar com ele e no com odelegado...

    Deu uma chicotada mais forte no cavalo da charrete e ele, com umrelincho de dor, moveu as patas com mais rapidez.

    Keit Leit teve que percorrer vrios saloons at achar o xerife LewRamsay.

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    Meia hora depois de ter se despedido de Laze Weiner, Keit o achouem um saloon com os cotovelos apoiados no balco e um copo deusque pela metade sua frente.

    Estava s e tinha os olhos injetados pelo excesso de lcool.- Uma dose, delegado? - ele perguntou, dando um tom de troa

    ltima palavra.- No bebo quando estou em servio.- Pois eu nunca tenho nada a fazer - disse Ramsay, bebendo o

    resto do copo.- o que pensa. Numa ruela perto daqui h dois sujeitos que

    precisam ser detidos e presos.- Por qu? Que fizeram? Alm disso, voc o delegado.Keit queria tirar Ramsay do saloon para interrog-lo. Tinha

    impresso de que se desse as costas para a freguesia, receberia vriasbalas nas costas.

    Por isso, deu a Ramsay uma resposta que o tiraria dali depressa.- Os dois atacaram Laze Weiner, a noiva de Dexter CLinton.Lew Ramsay botou o copo sobre o balco, espantado.- Fala srio?- Pode perguntar prpria Senhorita Weiner, Ramsay.O xerife calculou que Clinton ia se enfurecer ainda mais se

    soubesse disso. Resolveu ir imediatamente prender os assaltantes.- Vamos! - falou, levantando-se do banco alto.Keit o seguiu, saindo pelas portinho-las de molas, sem dar as

    costas aos fregueses do saloon. No podia relaxar em seus cuidados.Na rua, Keit mostrou a Ramsay a ruela estreita onde Laze Weiner

    tinha sido atacada. Quando chegaram, no encontraram ningum ali.- Que brincadeira essa. delegado? - aborreceu-se Ramsay. - Nosou mole como o Kendall. Posso ser perigoso quando me enfureo...

    - Sei que pode ser perigoso, Ramsay. Mas no comigo.Provavelmente os dois sujeitos, recuperando os sentidos em sua

    ausncia, tinham fugido para evitar maiores complicaes.Ali na ruela, estavam apenas ele e Ramsay.- V para o inferno, delegado, com sua estrela e seu amigo juiz -

    disse Ramsay, mostrando disposio para voltar ao saloon.A mo de Keit o segurou com fora pela camisa, sacudindo-o sem

    qualquer delicadeza.- No vai a lugar nenhum. Vamos conversar sobre certas coisas -

    empurrou-o para a parede.- No temos nada para conversar. Solte-me- Quem linchou os Martinez? - perguntou Keit secamente.- No sei. J disse isso ao juiz esta manh.Keit sabia lidar com tipos como Lew Ramsay. Eram covardes e sua

    covardia obrigava-os a manter a boca fechada, no para proteger seuscmplices mas para eles mesmos se protegerem.

    O delegado largou a camisa de Ramsay, recuou dois passos eacertou-lhe duas sonoras bofetadas. No silncio da ruela, os tapas

    soaram como dois tiros de colt.

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    A primeira rebentou os lbios de Ramsay e a segunda deixou seuouvido cheio de estranhos zumbidos.

    - Quem linchou os Martinez?- No sei!Um bofeto mais forte ainda atingiu em cheio o rosto de Ramsay.

    Ele caiu ao cho mas levantou-se depressa tentando sacar o revlver.Keit deixou que ele tirasse o revlver do coldre e aplicou-lhe um

    quarto bofeto com o dorso da mo.Atingido na boca, Ramsay cuspiu sangue e a cabea dobrou-se

    para trs, estalando as cervicais... Um quinto bofeto o atingiu atrs daorelha direita.

    Caiu ao cho pela segunda vez e tentou abrir fogo com o revlverque ainda tinha na mo mas Keit deu um chute na mo armada. Osdedos se abriram, deixando cair o revlver. Um segundo pontapquebrou alguns ossos de sua mo.

    - Quem linchou os Martinez?- No sei! No sei!A ponta da bota de Keit atingiu o queixo de Ramsay.- Fale, Ramsay, ou vou matar voc de pancada. Quero a verdade.

    Por todos os demnios do inferno, eu vou saber a verdade!- No... no posso falar - disse o xerife.- Levante-se, porco! - ordenou Keit.- No posso, delegado... no posso...Keit viu que ele estava beira da confisso. Nenhum homem como

    Ramsay podia resistir a um castigo daqueles. Para resistir era precisoacreditar em alguma coisa: na honra, na justia, na famlia, na

    honestidade, no amor...Leito Ramsay no acreditava em nada daquilo.Levantou-se cambaleante e procurou o apoio da parede. Os olhos

    se arregalaram ao ver Keit sacar um dos colts.- Vai...?O delegado no o deixou terminar.- Quem linchou os Martinez? a ltima vez que pergunto.- No sei!A negativa de Ramsay era como um grito de desespero. Ele estava

    entre dois terrores: Dexter Clinton e Keit Leit.O ltimo comeava a superar o primeiro. O novo delegado estava

    demonstrando ser um homem to duro e cruel como o rancheiro.Keit ergueu o revlver e virou-o para que o ponto de mira voltasse

    para baixo. O brao do delegado baixou na direo do rosto de Ramsayabrindo um sulco que comeava na tmpora esquerda e terminava noqueixo.

    Ramsay gemeu mas sua covardia ainda era maior.- No sei... nada... sobre o linchamento.Keit apertou os dentes e ergueu o brao para dar outro golpe no

    xerife.No gostava do que estava fazendo. Ms tambm no gostava de

    ver corpos de mexicanos pendurados em cordas... nem um velhoinvlido jogado na terra como um monto de lixo.

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    Tambm no gostava de ver a lei se vender a bandidos.Homens como Clinton, Ramsay e seus capangas arruinavam

    completamente todos os esforos e sacrifcios de homens honradoscomo o juiz Logan Ring.

    A ponta de mira rasgou a carne de Ramsay num risco enviezado. O

    corte comeou na sobrancelha direita, cortou a plpebra, dividiu o narize levou parte de seus lbios.

    - Vai ser uma carnificina, Ramsay... O prximo golpe vai arrancarseus olhos. J viu um cego?

    - Bud Stern, Alvin Peach, Amos Waltis e... e Kendall - disseofegante Ramsay, em p porque Keit o segurava contra a parede.

    - Falta mais um...- ... e eu.- Quem deu a ordem?- Dexter Clinton. Foi ele...- Sabe escrever?- Sei...Keit guardou o revlver e deu um soco no queixo de Ramsay. Ele

    caiu desfaleci-do.Antes que chegasse ao cho, Keit o segurou com o ombro. Com

    passos rpidos dirigiu-se casa do juiz Ring, levando seu fardohumano.

    Meia dzia de cidados de Rio Muerto passaram por ele mas todosse apressaram a enfiaram-se em suas casas. Ningum ia tomar partidode ningum at a situao ficar bem clara.

    - Quem ? - perguntou o juiz, quando Keit bateu na porta de sua

    casa com a ponta da bota.- O delegado!O juiz abriu a porta rapidamente e ao ver o corpo que Keit trazia no

    ombro, indagou:- Outro assassinato?- Quase. Esse Lew Ramsay, ou o que resta dele. H mdico em

    Rio Muerto?- H, claro - disse o juiz. - Entre.- No. Prefiro ir logo casa do mdico e levar testemunhas que

    meream crdito. Gente que possa testemunhar no tribunal. Ramsayconfessou que participou do linchamento dos Martinez, deu o nome deseus cmplices e do homem que ordenou o enforcamento.

    - Clinton?- Lgico.- Vou com voc casa do doutor Hardisan. Ele mesmo pode ser

    uma das testemunhas - disse o juiz, empurrando a cadeira de rodas nadireo dos trs degraus.

    - Quem ser a outra?- Sam, o ferreiro. Ajude-me a descer os degraus. Quando tiver

    dinheiro, vou mandar tir-los e fazer uma rampa - murmurou o juizenquanto Keit o ajudava a descer usando apenas uma das mos.

    - Quando eu era jovem tambm fazia coisas assim - disse LoganRing ao ver a grande fora de Keit.

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    - No se aborrea, juiz, mas gostaria de dizer uma coisa.- No me aborreo. Diga.- Voc um velho... mas, com mil demnios, tem mais fora que

    muitos jovens! E no falo de fora fsica, as mulas tambm so fortes,mas...

    - Entendi, amigo. Sei que tenho muita fora. Toda a fora que a leie uma vida dedicada justia poderia me dar. Essa a minha fora eser tambm a sua - disse o juiz cheio de orgulho.

    Sam ainda no tinha ido dormir. Estava trabalhando uma barra deferro em brasa quando Logan Ring entrou na ferraria. Um gigante commentalidade de criana, ele apenas pousou o martelo e perguntou comespanto:

    - Quem ajudou voc a descer os degraus?A pergunta tinha sua razo porque Sam era o vizinho mais

    prximo de Ringe era sempre ele que o ajudava a descer para a rua.- Foi o diabo! - disse, acionando as rodas at que o fogo iluminou

    suas feies enrugadas.Sam era um bom homem e tambm tinha senso de humor.- O diabo podia ter chegado um pouco antes a Rio Muerto -

    comentou, limpando as mos num pedao de pano. - Assim eu teria melivrado de muitos xingamentos.

    - Est disposto a ser um homem honrado? - perguntou o juiz.Keit, porta da ferraria, com o corpo de Ramsay no ombro, achou

    a pergunta mal colocada.- Sam, ns estamos precisando de um homem decente e o juiz

    pensou em voc. Quer nos ajudar? - falou com suavidade.

    - Claro! Que que eu preciso fazer?- Assinar uma confisso que Lew Ramsay vai fazer. Voc ser umadas testemunhas.

    - Assino qualquer coisa que quiserem - disse Sam.- No, Sam. Primeiro deve ler e depois assinar.- Para qu? O juiz nunca mentiu em sua vida. Assino tudo.Keit lanou um olhar a Ring e o velho sorriu feliz.- Vamos logo - disse Sam, apagando as brasas com gua.Colocou-se atrs da cadeira de rodas e como sempre, perguntou:- Quer que empurre, juiz? Esperava a resposta de sempre: "v para

    o inferno, Sam! Ainda tenho fora nas mos!" Mas, naquela noite LoganRing responde de maneira diferente.

    - Quero, Sam. Obrigado.O ferreiro ficou to estupefato que no se moveu do lugar.- Mas meto voc na cadeia se as rodas passarem numa pedra! -

    acrescentou, gritando.Sam ficou aliviado e comeou a empurrar a cadeira. Se o juiz no

    gritasse, ia achar que ele estava muito doente.Bryan Hardison abriu a porta da casa e espantou-se ao ver a

    estranha comitiva. O juiz na cadeira de rodas, o delegado com umhomem no ombro e um gigante sujo, suarento e sem camisa.

    - Quem bateu em Ramsay desse jeito? - perguntou Hardison,quando terminou de examinar o xerife.

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    - Eu, doutor... tinha que obrigar esse bandido a falar - disse Keit.Bryan Hardison examinou Keit como se ele fosse um mdico

    recm-sado da faculdade e o delegado o seu primeiro paciente.- Foi violento demais, amigo. No sei se vai voltar a si. Est com o

    maxilar inferior fraturado, os dedos da mo direita arrebentados,

    perder um olho, se viver: alm disso, parte do parietal est adescoberto...

    - Chega, Hardison - disse secamente o juiz.- Est bem. Mas tenho o direito de saber o que espera desse porco,

    j que no me atrevo a cham-lo de homem.- Queremos que ele assine uma confisso - explicou o juiz.- Para mim, nem preciso. J sei de tudo - falou Keit.- Um momento, Keit Leit - disse o juiz, rodando a cadeira para

    diante do delegado. - Voc no mais um homem sedento de vingana,morte e destruio.

    um delegado federal, a verdadeira lei. Entendeu?- Entendi.- Sua vingana no tem mais sentido. A lei deve estar acima de

    tudo. Lei e Justia. Lei e Justia, Keit!- Sei o que quer dizer, juiz. Pode ter certeza de que vou defender a

    lei, mesmo com o custo de minha prpria vida.- A lei no violenta..,. embora muitos homens meream violncia.

    A lei uma balana perfeitamente equilibrada onde. ..- H equilbrio quando Ramsay lincha gente come os Martinez?

    Onde estava a lei quando Clinton enforcou meu pai? Quando Clintonme aoitou?

    - Ficar equilibrada quando os assassinos forem julgados. A lei soberana, Keit, embora muitas vezes doa ter que respeit-la.O delegado fitou longamente o velho juiz.- Acho que tem razo - respondeu finalmente. - A lei deve ser

    respeitada embora certos homens no meream tratamento humano.- Bem, agora, Hardison, trate de fazer esse crpula despertar.

    Enquanto isso,Keit e eu vamos redigir a declarao. Ramsay ter de assin-la,

    mesmo que seja com a mo esquerda.- No ser fcil, mas vou tentar - disse o mdico.Uma hora depois, Leiw Ramsay abria o olho que tinha escapado ao

    duro castigo do delegado.- Nosso xerife acordou - avisou o mdico.O juiz Ring colocou sua cadeira ao lado da mesa de operaes e

    arrancou a estrela de Ramsay de sua camisa.- Voc no mais xerife. Se viver, ir para a cadeia e ser julgado

    pela morte dos Martinez. O mesmo acontecer aos outros linchadores ea Clinton que deu a ordem.

    Ramsay viu Keit direita do juiz e deixou escapar um gemido desusto.

    Com a ajuda de Sam e do mdico, conseguiu sentar-se na mesa e

    assinou com a mo esquerda a declarao de culpa. No quis ler nada.A presena de Keit causava-lhe pnico.

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    - Isso o bastante para prender Dexter Clinton - disse Ring,guardando a declarao j assinada tambm por Hardison e Sam.

    - Vou at a cadeia. Posso levar Ramsay deix-lo numa cela? -perguntou Keit ao mdico.

    Hardison moveu a cabea negativamente.

    - Ainda no, delegado. Talvez possa lev-lo pela manh depois queeu tratar melhor dele. Eu nem esperava que ele recuperasse ossentidos, um homem muito forte.

    - Viver para ser julgado e enforcado? - perguntou o juiz.- Pode ser.Keit pegou as chaves da cadeia e pouco depois ele, o juiz e Sam

    saam da casa do mdico.- melhor descansarmos algumas horas. Nos prximos dias

    vamos ter trabalho demais para dormir tranqiuilos - falou o juiz.- Boa noite - disse Sam, afastando-se para sua ferraria.- Vou dormir no prdio da cadeia - disse Keit, despedindo-se do

    juiz, diante da casa dele.- Tenho uma coisa importante para dizer a voc, Keit. Sei que esta

    noite teve um encontro com Laze Weiner...- Como soube? - surpreendeu-se Keit.- A velha Jessie sabe de tudo - sorriu o juiz.- No duvido.- Laze Weiner no gosta de Clinton. inteligente e j ouviu muitas

    coisas. Embora no saiba de todos os crimes de Clinton, adivinhagrande parte deles.

    - Ento por que vai se casar com ele?

    - Foi coisa do pai dela, o velho Weiner. Clinton e ele eram scios.Certamente Weiner achou que o melhor era que sua filha se casassecom Clinton e ao morrer pediu isso moa.

    - E ela concordou.- Concordou. Naquela poca poucos sabiam da roubalheiras de

    Clinton e o velho Weiner confiava nele.- Por que me conta isso?- Hum! - foi a resposta do juiz, dando de ombros. - Achei que voc

    se interessaria em saber.- Acertou - disse Keit.- Eu sabia! - murmurou ele, com ar malicioso.- Vou prender Clinton amanh. A declarao de Ramsay ser

    suficiente para mand-lo para a forca juntamente com mais algumasdeclaraes de outros vaqueiros.

    - O rancho dele uma verdadeira fortaleza, voc nunca chegaria casa principal. bem possvel que Clinton v amanh ao rancho W.W.

    - Que vai fazer ali?- Ele administrador de Laze.. seu noivo. Acho bom voc fazer

    uma visita ao W.W. Pode conseguir bons resultados.- Ento eu vou.- Mas fique longe do Crculo Barrado. Para vencer Clinton, temos

    de tir-lo de sua fortaleza. Boa noite, Keit.- At amanh.