Desafios Da Educação Popular

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  • 7/21/2019 Desafios Da Educao Popular

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    DESAFIOS DA EDUCAO POPULARAs Esferas Sociais e os Novos Paradigmas da Educao Popular

    Frei Betto

    NDICE

    APRESENTAO.........................................................03

    I -ABERTURA ..............................................................04

    II -AS ESFERAS SOCIAIS ...........................................051) Desafios das esferas sociais .....................................072) A interao entre as Esferas Sociais .........................08

    a) A Autonomia..........................................................08b) Evitar a Absoro ..................................................09

    III -NOVO DESAFIOS DA EDUCAO POPULAR ................. 101) A Deshistorizao do Tempo.....................................102) A TV e a Deshistorizao ..........................................133) Novos Paradigmas da Educao Popular ................. 14

    4) A Educao Popular deve trabalhar com NovosParadigmas ...............................................................16a) Dimenso holstica da realidade ...........................16b) Dimenso ecolgica ..............................................17c) Outros acenos... ...................................................18d) A relao do micro com o macro ...........................19

    IV -PERGUNTAS EDUCAO POPULAR ............. 201) Educao Popular e Educao Formal .....................202) Educao Popular e Excludos ..................................243) Educao Popular e Eleies....................................254) Educao Popular e Oramento Participativo ........... 275) Movimento Popular e Movimento Social ...................286) Educao Popular e Administrao Popular ............. 307) Educao Popular e Trabalho de Base .....................318) Educao Popular e Afetividade................................329) Educao Popular e a Crtica ....................................34

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    APRESENTAO

    Gostaramos de iniciar a apresentao deste texto, recuperando umafa la do Fr ei Bett o: A Ed u ca o Popu lar a gin st ica do es prito ped a ggico.

    Parou de fazer engorda, parou de fazer fica acomodado.Para a Equipe do CEPIS, retomar as publicaes sobre Educao Popular um esforo para manter o esprito poltico pedaggico de milhares de educadores eeducadoras, annimos, ou no, animados e comprometidos com os processos de luta donosso povo.

    Frei Betto recupera a importncia para a Educao Popular da existnciadas Esferas Sociais, por onde o movimento popular se articula. Ele situa o papelestratgico que estas Esferas ocupam num processo de transformao social. Oseducadores e educadoras populares so desafiados a: reconhecer, pesquisar,aprofundar, entender as interelaes e as potencialidades das mesmas.

    Outro elemento que o texto recupera o da historicidade tempo histria, algo to caro a todos os que se envolvem na luta popular. Ao propor novos

    paradigmas para a Educao Popular trabalhar, ele nos instiga a romper comconcepes, verdades e prticas j cristalizadas. Se o novo j se faz agora no adiantaapenas esperar que o velho desabe, ao falar sobre isto ele nos provoca a dar passos, atomariniciativas, que tal como num processo contagioso, v contaminando toda a clulasocial. De modo que as contradies sejam explicitadas e combatidas, possibilitando-nosuma mudana profunda em nosso pas.

    Equipe do CEPIS

    I - ABERTURA

    Quero manifestar a minha alegria de estar aqui, hoje, nos vinte anos doCEPIS. raro alguma coisa completar vinte anos: precisa ter muita sustentao, muitoamparo, para no cair na institucionalidade. Essa lembrana me causa enorme emooporque comear o CEPIS, em 1978, foi um desafio difcil. Fica, mais uma vez, provadoque primeiro devemos acreditar nas idias, depois buscar os meios.Se fssemos pensarem ter os meios e depois realizar as idias, o CEPIS no teria acontecido.

    Havia uma srie de barreiras e dificuldades, em 1978, quando iniciamosesse processo. ramos um grupo que saa da priso e ainda vivamos sob aditadura. Graas Madre Crist ina Sodr, cuja transvivenciao comemoramosum ano hoje, foi possvel o espao para criar o CEPIS. Na poca, eu morava emVitria e o que me trouxe, de volta a So Paulo, foi o CEPIS.

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    II -AS ESFERAS SOCIAIS

    Na educao popular, sempre trabalhamos com o esquema dasesferas sociais. Fizemos isto para visualizar o papel da Educao Popular naformao da sociedade civil. Mas tambm para ter a viso do que seria o

    estratgico, num processo de transformao social. Dizamos que a organizaodo povo, dos oprim idos, divide- se em cinc o es fera s de orga n iza o socia l. Aordem adotada foi a ordem histrica, a ordem de organizao das esferas, de1964 para c.

    Podemos dizer que quem no est numa dessas cinco esferas noest na luta. Elas so as esferas de articulao do movimento social brasileiro.No h como articul-lo fora dessas cinco esferas.

    1. A primeira esfera social Historicamente a primeira esfera foi a esferapastoral. Foram as Comunidades de Base que, primeiro, se reorganizaram no mundo

    popular brasileiro, no ps-64.Havia grupos de esquerda, uns na luta armada, outros no. Mas todos, nanossa avaliao, com perfil elitista. Mesmo que tivessem a presena de camponeses eoperrios, a concepo e desempenho revelava um perfil elitista. Durante a luta armadatinha-se coragem, armas, dinheiro, ideologia, concepo estratgica, s faltava umdetalhe: apoio popular.

    S que esse detalhe era fundamental. No se tinha enraizamento nopopular. Tanto que, para se esconder, dependia-se de aluguel de apartamentos. No setinha povo, para ir para a casa do povo. Hoje, algum que tem atuao na esfera populardaria mais trabalho para ser encontrado. Naquela poca, quase no se tinha esse tipo deinsero.

    Quando samos da cadeia, em meados dos anos 70, encontramos umasrie de movimentos populares espalhados pelo Brasil afora. A pergunta foi:Como possvel esses movimentos, se a esquerda no estava l para fazer isso?Foi a que entendemos o trabalho da pastoral popular. A partir daquele ver, julgare agir - o fato da vida e o fato da Bblia - a pastoral suscitava na reflexo daspessoas que freqentavam a Comunidade Eclesial de Base, a necessidade da lutapor gua, passarela, farmcia comunitria, centro de sade, etc.

    2. A segunda esfera social a esfera do movimento popular. O compromissosocial das Comunidades Eclesiais de Base promoveu e incentivou o aparecimento, nametade dos anos 70, de uma malha de movimentos populares (O Brasil, o pas domundo, depois dos Estados Unidos, que mais tem movimentos sociais. Com a diferenade que aqui eles tm um corte popular).

    3. A terceira esfera social- a esfera do movimento sindical. Ainda nos anos 70,os movimentos populares comearam a ganhar um carter de classe. Atravs dasoposies sindicais, contriburam para o ressurgimento do movimento sindical. A greve de

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    78, na Scnia, em So Bernardo do Campo, ilustra o processo que levou novareafirmao do sindicalismo brasileiro culminando, em 1983, com a fundao da CUT.

    4. A quarta es fera so cial - a esfera dos grupos e partidos polticos.O movimento social popular, por seu carter de classe, adquiriu uma formatao

    prpria. A, seesboaram projetos de sociedade, que se consubstanciaram em partidos polticos.

    5. A quinta esfera Os partidos, por sua vez, decidiram disputar espaos na esferado poder estatal. Com isso, conseguiram chegar quinta esfera: as administraespopulares.

    Diz-se que quem no est numa dessas cinco esferas, no est naluta. Elas so as esferas de articulao do movimento social brasileiro. No hcomo articul-lo fora dessas esferas.

    1) Desafios das Esferas Sociais

    No incio do CEPIS, sonhvamos em fazer uma revoluo no Brasil(Continuo sonhando, embora admita que a atual conjuntura no nos favorea. Por isso,sou considerado tetrassauro). Creio que esse pas no tem soluo, a no ser por umamudana radical. Naquela poca, perguntvamos: possvel fazer revoluo sem umadessas esferas? Se algum dissesse que sim, teria que dizer qual delas seriadispensvel. Significava dizer que havia esferas estratgicas e esferas tticas. Hoje, oconsenso que no possvel fazer qualquer mudana ou transformao social, nestepas, dispensando uma dessas esferas. Quer dizer que todas so estratgicas.

    Boa parcela da esquerda mexicana se diz agnstica, atia e anti-clerical.Por razes histricas, a revoluo mexicana de 1912, se fez contra a Igreja. Brincamos

    com os companheiros do Mxico dizendo: enquanto a companheira Guadalupe no aderir proposta de vocs, aqui no vai ter mudana!

    Acredito que, no Brasil, a mesma coisa: enquanto a companheiraAparecida no aderir, no tem jeito. No d para fazer mudana social com acompanheira Aparecida falando contra. A Igreja um setor estratgico nocontexto lat ino-americano, como mostra a experincia, sobretudo na Nicargua.No Brasil, isso muito mais acentuado.

    2) A Interao entreas Esferas Sociais

    Como as esferas desenvolvem, entre si, uma relao que possibilite umainterao e evite excluso?

    mantendo vnculos, de tal maneira que haja uma interao e preservandodois fatores:

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    a) A Autonomia de cada esfera - A Igreja no pode querer tutelar o movimentopopular. H quem considere que a CPT teve uma tendncia tuteladora, por exemplo, emrelao luta da terra, at que o MST surgiu e se destacou da Igreja.

    Com o MST acontece uma coisa curiosa: todo o pessoal da direonacional, sem exceo, veio da Comunidade Eclesial de Base. Como se diz por a,

    tudo igrejeiro. Hoje, difcil encontrar uma liderana popular, no Brasil, que no tenhainiciado sua militncia na pastoral. At lideranas das quais quase ningum desconfia.Quem antigo como eu, mas no velho, conheceu muita gente rezando na Igreja: JosGenono, Luiza Erundina, Vicentinho, Meneguelli, entre outros. Lula uma exceo, poiscomeou pelo sindicalismo. A grande maioria das lideranas populares comeou naspastorais.

    O desafio como manter a autonomia. O partido no pode querer tutelar omovimento popular e sindical. O movimento popular e sindical no pode atrelar-se oumanter uma relao utilitarista com o partido.

    Aparecida falando contra. A Igreja um setor estratgico no contextolatino-americano, como mostra a experincia, sobretudo na Nicargua. No Brasil,isso muito mais acentuado.

    2) A Interao entre as Esferas Sociais

    Como as esferas desenvolvem, entre si, uma relao que possibilite umainterao e evite excluso?

    mantendo vnculos, de tal maneira que haja uma interao e preservandodois fatores:

    a) A Autonomia de cada esfera - A Igreja no pode querer tutelar o movimentopopular. H quem considere que a CPT teve uma tendncia tuteladora, por exemplo, emrelao luta da terra, at que o MST surgiu e se destacou da Igreja.

    Com o MST acontece uma coisa curiosa: todo o pessoal da direonacional, sem exceo, veio da Comunidade Eclesial de Base. Como se diz por a, tudo igrejeiro. Hoje, difcil encontrar uma liderana popular, no Brasil, que no tenhainiciado sua militncia na pastoral. At lideranas das quais quase ningum desconfia.Quem antigo como eu, mas no velho, conheceu muita gente rezando na Igreja: JosGenono, Luiza Erundina, Vicentinho, Meneguelli, entre outros. Lula uma exceo, poiscomeou pelo sindicalismo. A grande maioria das lideranas populares comeou naspastorais.

    O desafio como manter a autonomia. O partido no pode querer tutelar omovimento popular e sindical. O movimento popular e sindical no pode atrelar-se oumanter uma relao utilitarista com o partido.

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    b) Evitar a Absoro de uma esfera pela outra e/ou que uma esfera queira excluir aoutra. A administrao popular, por exemplo, no pode absorver os movimentospopulares.

    Brizola, no seu primeiro governo do Rio, matou parcela considervel dosmovimentos populares, nas favelas do Rio. Ele estatizou, institucionalizou o movimento

    popular. Cometeu o erro da absoro. F H C faz o contrrio: tem uma poltica de exclusodo movimento popular. o exemplo da administrao pblica que exclui o popular, no oreconhece e procura deslegitim-lo.

    O projeto de base que norteava nosso trabalho era conduzir a EducaoPopular em funo da articulao e do fortalecimento das esferas, bem como odesenvolvimento dessa inter-relao. Evitando a excluso, fortalecendo a autonomia eimpedindo a absoro.

    III -NOVOS DESAFIOS DAEDUCAO POPULAR

    Fazer Educao Popular, hoje, difcil. Do relato do primeiro dia daJornada, deu para sentir algumas dificuldades mais perceptveis e explcitas, como aligao entre o micro e o macro. Vale a pena trabalhar com meia dzia de pessoas, sendoque, de repente, vem o Ratinho e faz um sucesso danado, ou vem o Padre Marcelo e seapropria da nossa linguagem e promove a missa da Libertao? Qual libertao? A quequer mudar o Pas ou a libertao que fica s no subjetivo, a do consolo?

    Gostaria de compartilhar com vocs algumas inquietaes frente conjuntura. So hipteses de reflexo sobre o trabalho de Educao Popular, dialogadascom Paulo Freire, nos seus ltimos tempos de vida.

    1) A Deshistorizao do Tempo

    Na Educao Popular temos que aprender a colocar os conceitos emlinguagem plstica. Existe um princpio sagrado: o povo no tem que entender o que eudigo, o povo tem que ver o que eu digo. Se no conseguimos transformar o conceito em

    metfora, ou em imagem, continuamos falando em linguagem estranha. Corremos o riscode puxar o povo para uma linguagem intelectualista. Da mesma forma que o carcereiroque lia nossas cartas na priso para fazer censura. Ele no tinha nenhuma instruo. Umdia chegou na cela e perguntamos: E a Antnio? (Ele vivia contando os dramas com anoiva: brigava, reatava - no desatava, nem chegava ao casamento). Como vai com tuanoiva? Ah frei, o negcio t difcil, agora ns estamos num antagonismo danado.

    Ele tinha lido em nossas cartas antagonismo, achou bonito e aplicou narelao deles.

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    A Educao Popular afirma: preciso ter um varal, onde se possadependurar os conceitos e analisar a realidade. O varal a percepo do tempo comohistria. Isso um dado cultural. Existem civilizaes, tribos, grupos, que no tm a idiado tempo como histria. Os gregos antigos, por exemplo, no tinham - o tempo para elesera cclico. Mesmo na cultura ilustrada, hoje, o tempo cclico est voltando, atravs do

    esoterismo. Muita gente acredita na reencarnao, vida aps a morte, etc.A essncia do neoliberalismo a deshistorizao do tempo. Quando

    Fukuiama declara que a histria acabou, expressa aquilo que o neoliberalismo querincutir: Chegamos plenitude do tempo, o modo neoliberal de produo capitalista, omercado! Poucos so os escolhidos e muitos os excludos e no adianta mais querer lutar

    por uma sociedade alternativa!

    difcil, hoje, falar em sociedade alternativa. Socialismo, nem pensar;criou-se um pudor, um bloqueio emocional... como? Falar em socialismo? Socialismoacabou, desabou, ruiu, foi enterrado! As alternativas que aparecem, em geral, so intra-sistmicas, no conseguem passar disso.

    A idia de que o tempo histria dos persas, repassada aos hebreus e

    acentuada pela tradio judaica. Curioso que os trs grandes paradigmas de nossacultura so judeus (Jesus, Marx e Freud) e, portanto, trabalharam com a categoria: tempo histria.

    No se consegue estudar o Marxismo sem aprofundar os modos deproduo anteriores,para entender como se chegou ao modo de produo capitalista. Eentender como suas contradies podem levar ao modo de produo socialista ecomunista. A anlise Marxista supe o resgate do tempo como histria.

    Se algum faz anlise, o psicanalista logo pergunta sobre seu passado,sua infncia, sua criao. Toda a psicologia de Freud um resgate de nossatemporalidade como indivduos.

    A perspectiva de Jesus histrica. O Deus de Jesus se apresenta comcurrculum vitae: no um deus qualquer - Deus de Abrao, Isaac e Jac, ou seja, umDeus que faz histria. A categoria principal da pregao de Jesus histrica: o Reino deDeus. Embora colocado l em cima pelo discurso eclesistico, teologicamente no sesitua l em cima. O Reino algo l na frente, a culminncia do processo histrico.

    curioso que, na Bblia, a histria, como fator de identificao do tempo, to forte que, no relato do Gnesis, a criao do mundo j aparece marcada por essahistoricidade do tempo, antes do aparecimento do ser humano.

    Na nossa cabea, histria aquilo que homens e mulheres fazem. Ento,no haveria histria antes dos homens e mulheres, tanto que se fala em pr-histria. Paraa Bblia, j h histria antes do aparecimento do ser humano. Tanto que os gregos

    consideravam o deus dos hebreus um deus muito incompetente, de quinta categoria. Umverdadeiro deus, segundo os hebreus, cria como o Nescaf: instantneo, no a prazo,como mostra o relato bblico. No relato da Criao, em sete dias, j h uma historicidade.

    O neoliberalismo est detonando essa perspectiva. Por isso, estamoscorrendo o risco de fazer Educao Popular querendo dependurar a roupa sem ter varal.Esse varal, por trs da cabea, do tempo enquanto histria, fundamental para quealgum possa visualizar o processo. Isso acontece tambm na dimenso micro da nossavida. Por que, hoje, as pessoas tm dificuldade de ter projetos de vida? Por que os jovens

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    chegam ao terceiro colegial e no tm a menor idia do que vo ser, que vestibular vofazer, que pretendem da vida? Cada vez saem mais tarde da casa dos pais. Pela perdada dimenso histrica, tudo aqui e agora.

    Quem mais favorece isto a televiso. Nossa gerao a ltima geraoliterria. Porque literatura narrativa. E narrativa tem comeo, meio e fim.

    Imprime nas pessoas um certo senso de historicidade.

    2) A TV e a Deshistorizao

    O livro induz historicidade, a TV incute circularidade. Ela detona a idiade passado, presente e futuro, comeo, meio e fim. Na mesma tela, voc v o AyrtonSenna sendo enterrado e o Senna recebendo prmio ou tomando banho de champanheno fim da corrida.

    Isso cria na cabea das novas geraes, a idia de circularidade, nunca detemporalidade, muito menos de historicidade. O que foi pode ser; o que pode ser j foi;

    o que agora volta depois a no ser. Porque as coisas circulam, as coisas no tm umaprogresso.

    O grande fator de mudana dessa mentalidade a televiso. A TV umdesafio para a Educao Popular. Como trabalhar o ver TV?

    Todo o sistema escolar trabalha o ler livro. O sistema escolar brasileirotrabalha a leitura de textos. um trabalho importante, mas de certa forma anacrnico.Porque no basta que as pessoas sejam educadas para ler textos; precisam sereducadas para ver TV.

    No Brasil, a mdia diria de um aluno do curso secundrio, dequatro horas na escola e quatro horas emeia diante da TV. A mdiaeuropia deoito horas por dia na escola e, no mximo, trs horas diante da TV. Ento, noBrasil, a TV tem uma fora muito grande na formao das pessoas.

    Precisaramos introduzir a educao para ver TV. No basta falar que o Ratinhono presta, nem apelar para censura. A questo no essa. A questo como educarpara ver TV, de tal maneira que as pessoas tenham discernimento crtico. Antigamentehavia cine-clubes no Brasil. Assistia-se a um filme, debatia-se e, com isso, as pessoasaprendiam a decifrar o cdigo do cinema. Precisamos fazer isso, hoje, com a televiso.Para que as pessoas tenham um distanciamento, uma percepo crtica da televiso.

    3) Novos Paradigmas da Educao Popular

    Outro fator de desafio para a Educao Popular, so os novos paradigmas.A Educao Popular, tal como foi desenvolvida na obra do Paulo Freire e, porconseqncia, no CEPIS, estava muito calcada em dois paradigmas: o do Personalismo Cristo e oMarxista.Os dois paradigmas cunharam a expresso, hoje no to em modaconscientizao.

    Havia quase a crena de que a conscincia o determinante na nossavida. Bastava algum fazer a sua cabea e, pronto, voc aceitaria uma nova viso.

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    Bastava uns novos conceitos e voc teria mudado sua vida. A experincia mostrou queno bem assim.

    O paradigma da conscientizao era um paradigma cartesiano e, de certaforma, idealista. Porque supunha que a pessoa um sujeito histrico do pescoo paracima.

    Isto levava e, ainda leva, a contradies absurdas no processo derealizao da Educao Popular. Minha palestra aqui com vocs, por exemplo, anti-Educao Popular. S que no tem outro jeito quando h duas palestras na mesmamanh. No possvel realizar aqui um workshopnem um trabalho mais a longo prazo.No tendo outro jeito, vai na base da palestra. Mas, isso educao bancria.

    O problema que na prtica da Educao Popular, em nome de umaeducao e de uma metodologia libertadoras, continuamos fazendo prticas bancria ecolonizadora. Achamos, na prtica, que vamos fazer a cabea do educando: nopartimos do educando.

    O difcil na Educao Popular, como enfatizava Paulo Freire, comopermanentemente educar o educando e educar o educador. O educador se educa

    a part ir do educando. Como educador posso ou no me deixar reeducar, tenhoesse poder. Em geral, nossa tendncia no deixar, no ser questionado.O processo de Educao Popular tem que ser indutivo e no dedutivo.

    Devemos partir do educando porque a nica maneira de partir da experincia do grupo,seno vamos continuar partindo da idia dos educadores. E isto Educao Popular,conceitualmente libertadora, com uma prtica colonizadora.

    O paradigma da conscientizao precisa ser melhor discutido. Descobrimosque as pessoas, incluindo todos ns, no fazem exatamente o que julgam certo, nem oque pensam. Fazem o que gostam e, muitas vezes, gostam do que no pensam oupensam uma coisa e fazem outra. At So Paulo, numa de suas cartas fala eu pensouma coisa e fao outra.

    Isso no significa que corremos o risco de jamais acertar. O problema que, com muita freqncia, formamos liderana conscientizada. Porm, sua relao, nasinstncias de poder, opressiva e burguesa como qualquer poltico inimigo. Por isso, difcil ter verdadeiras lideranas.

    A Educao Popular tem esse poder no Brasil, formou muitas lideranas,formou um poder popular. O Brasil um pas notoriamente permeado por um poderpopular. Isso raro, mas ocorreu entre ns. Basta olhar o nmero de deputados esenadores que, no Brasil, vieram da base. Gente que era colono, campons, operrio.Isso raro, na Amrica Latina.

    O Presidente da Repblica no pode tomar uma medida econmica, semperguntar o que a CUT pensa. O Vicentinho deu uma entrevista ontem(25.11.98), falando

    do risco de convulso no ano que vem. Hoje, j tem uma resposta oficial porque opresidente no pode dizer: A CUT e Vicentinho no tem a menor importncia. No pode,porque h um poder popular que incomoda, que mobiliza. Com toda precariedade,conseguimos avanos: Administraes Populares, mudanas na legislao, conquistassociais e at Governo de Estados.

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    4) A Educao Popular deve trabalhar com Novos Paradigmas:

    a) Dimenso Holstica da realidade.Holos, palavra grega, em ingls whole, quer dizer totalidade; da a

    palavra holofote = luz que abrange todo o campo. preciso ter presente que o educando,

    assim como o educador um ser em totalidade, em relao, em contradio, dotado derazo e emoo. um ser que, na hora das compras, no est pensando, est sentindo. um ser que tem uma srie de relaes que ultrapassam a anlise poltica, cartesiana,explcita, conceitualmente correta e definida. Essa teia de relaes precisa ser levada emconta no processo educativo. H um vnculo indestrutvel entre os seres humanos, entrens e a natureza, entre ns a natureza e o cosmo.b) Dimenso ecolgica.

    A questo ecolgica uma faca de dois gumes. Existe a maneira idealista,burguesa de encarar a questo ecolgica. Mas, existe a maneira libertadora erevolucionria de encar-la.

    O grande legado do Chico Mendes foi ter entendido que no h nada queacontea na natureza que no interfira na nossa vida humana, e no h nada que ocorrana nossa vida humana que no interfira na natureza.

    O desafio estudar como se d a relao com a ecologia. Pois, nose trata apenas da luta pelos golfinhos do Golfo Prsico e pelas baleias do Alasca,esquecendo as crianas do Nordeste e da frica. At porque o bicho maisameaado de extino o Ser humano.

    Levar em conta dimenso ecolgica considerar as relaes, ampli-lapara a relao com a natureza. A Educao Popular acentuou a relao com a sociedade.A bandeira da ecologia tambm revolucionria. Porque ecologia como avio: emborahaja diviso de primeira classe, classe executiva e classe turstica, na hora que cai, no

    h distino de mortos, morrem todos iguais.A questo ecolgica atinge indistintamente a todos. Isso nos faz reformular

    tambm, a idia de aliados. Ns tnhamos uma idia de classe, (as classes continuam nasociedade) muito permeada pelo econmico. s vezes, deixvamos de ampliar o leque dealiados por no perceber que h demandas que dizem respeito vida das classesdominantes, tanto quanto nossa vida, como a questo do meio ambiente.

    No h distino. O meio ambiente afeta igualmente ricos e pobres. Por a, possvel mobilizar todo um setor da sociedade que, por nossos preconceitos, estosendo mobilizados por nossos inimigos de classe. Por preconceito paradigmticodeixamos setores expressivos da

    sociedade em mos daqueles que querem perpetuar o sistema e no daqueles que

    querem mudar, porque no trabalhamos a dimenso libertadora dos paradigmas.

    c) Outros ace no s - rela es de gn ero, se xu alidade, afet ividade e

    subjetividade.Acompanhamos l ideranas populares, em cursos de Educao

    Popular que no sabiam falar nem o prprio nome. Da a alguns meses, estavamfazendo comcio, em porta de fbrica. A valorizao das potencialidades doedu can do fu nd am ent al . Como, no process o edu cativo, m an teve-se o

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    preconceito burgus de que o afetivo e o sexual so privados, a coisa comeou adesandar. Muitas crises ocorriam na esfera afetivo-sexual. Isso teve ressonnciabrutal no trabalho, na liderana, no sindicato, no partido, no grupo poltico.Muitas vezes perde-se militantes por fora do tabu de manter silncio quanto aessa esfera.

    Hoje, nos processos de Educao Popular, j se discutesubjetividade e sexualidade. Ainda no tanto quanto se deveria. Est provado quetemas sobre os quais pouco se fala, mais besteira se comete. Nas escolas no sefalava de sexo, no se falava de poltica e, por isso, muita bobagem se fez e se faz.

    No momento, a discusso saber quais so os novos paradigmas daEducao Popular. O que seria uma Educao Popular ps-paulofreiriana? O que PauloFreire desenvolveu foi muito importante para o contexto em que viveu. Como as teoriasde Marx foram importante para entender a sociedade capitalista, nos tempos darevoluo industrial. Contribuio que continua vlida, ainda hoje. Mas, h toda umacrtica teoria do Marx porque, em muitos aspectos, j no corresponde realidadeglobalizada em que vivemos. Isso vale para as teorias pedaggicas de Paulo Freire.

    Como desenvolver uma metodologia, uma teoria de Educao Popular incorporando olegado de Paulo Freire e fazendo-o avanar? um desafio que se apresenta a todos ns.

    d) A relao do micro com o macro.

    No podemos pensar em Educao Popular como um processo s de base. Tem os qu epensar em Educao Popular como um processo de base e de quem tambm jno est na base.

    Educao Popular no um processo que s usa instrumentos ourecursos, na base do workshop, do pessoal , do trabalho no bairro. necessrioutilizar a metodologia de Educao Popular em vdeo, em cinema, em televiso,em administrao pblica. O desafio fazer administrao pblica dentro da

    dinmica da Educao Popular.A questo do pessoal e social, do micro e do macro, do particular e do

    geral, do local e do global so novos paradigmas sobre os quais temos que pensar noquadro de Educao Popular. Seno, corremos o risco de estar certinhos no mido,enquanto o geralzosegue noutra direo e acabamos atropelados por essa enchente. importante repensar os paradigmas e conseguir criar uma nova cultura pedaggica dentrode novos parmetros, novas referncias e nova viso.

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    IV -PERGUNTAS EDUCAO POPULAR

    1) Educao Popular e Educao Formal

    - possvel, na escola formal, adotar a metodologia de EducaoPopular? S se a escola formal deixar de ser formal. possvel levar para a escola formalalgumas pedagogias da Educao Popular. No possvel adotar, na escola formal, ametodologia da Educao Popular (a menos que se abandone a metodologia nopopular). A institucionalizao da escola brasileira muito forte: comea do currculo queno definido pela prpria escola.

    possvel criar uma escola com a metodologia da Educao Popular. Seriauma escola alternativa como as escolas de formao de lideranas populares, comoCajamar, em SP; Equip no NE; Sete de Outubro, em MG. Mas nunca ser uma escola

    formal -tal escola no d diploma de ensino fundamental, colegial, no tem como.A impossibilidade de adotar a metodologia popular vale para outrosespaos institucionais criados por quem tem a lgica de reproduo do sistema. Em geral,so espaos positivos nos seus objetivos imediatos e at necessrios (Conselho tutelar,ateno s crianas, projetos de sade, etc). Como j abandonamos a viso apocalpticada sociedade, no vamos entrar nessade no fazer nada disso porque isso s na novasociedade.

    Descobrimos que o novo se faz agora e, atravs dessa acumulao donovo, vamos conseguir detonar o velho. No adianta esperar que o velho desabe. Atravsde passos e iniciativas novas temos que criar um cncer ao revs que contamine a clulasocial, de tal maneira, que acentue as contradies e possibilite, no futuro, a mudana da

    sociedade. No se pode ter a iluso de um espao previamente institucionalizado espera de nossa entrada ou da entrada de uma concepo de metodologia de EducaoPopular, onde se possa fazer um trabalho, com toda liberdade. Haver sempre tenses,contradies e, como diria o Gramsci, guerra de posies pela conquista de espaos.

    A escola uma das quatro instituies paradigmticas da modernidade. Sea modernidade est em crise, as suas quatro principais instituies esto em crise: aFamlia, o Estado, a Escola e a Igreja. Em Minas, se diz que o sujeito louco quando nose enquadra em uma dessas instituies. Que acontece se as quatro instituies estoem crise: os perfis esto embaralhados, confusos e precisam ser novamente delineados.

    O problema da escola que tem que ter um quadro curricular - escrava

    de uma cronologia curricular e, no fim do ano, os alunos devem ser promovidos srieseguinte.A Educao Popular, incompatvel com a cronologia curricular porque

    depende do tempo dos educandos e no do tempo do currculo. Uma coisaimpressionante na Educao Popular a diferena de tempo de uma turma para outra.Uma turma avana em determinados temas, enquanto outra demanda muito mais tempo.O desafio conseguir inventar uma escola que no se enrosque no controle do Ministrioda Educao. Desafio que o MST est tentando enfrentar com as escolas do campo.

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    Colocar toda uma outra dinmica na escola formal possvel, embora noseja fcil. Ernesto Cardenal, Ministro da Educao da Nicargua Sandinista, tinha umaproposta de reforma educacional interessante, que no foi efetivada, por causa daagresso americana. Acabava com o currculo. No existia mais a coincidncia entre

    progresso escolar e cronologia anual. Um campons poderia fazer a 6 srie, em seismeses ou em seis anos, dependendo do tempo dele. A proposta superava esse negciode vencedor e de vencidos. Ningum teria que fazer prova no fim do ano para poderpassar para 7 srie.

    Um campons quer trabalhar a terra e quer estudar. Ele tem um tempo, edentro dele v se pode fazer a 6 srie, em trs ou quatro anos. Sabe que no estcompetindo com ningum, no vai fazer prova no fim do ano, no vai ter que adivinhar,mltipla escolha, etc.

    Geraldo Frana de Lima era meu professor de histria. No dia da provadava as questes, mandava os alunos trazer livros, enciclopdias, bibliografia pertinente edepois saa da classe dizendo: - consultem-se e consultem a bibliografia, vontade. Os

    alunos achavam um barato porque era o nico professor no mundo que deixava colar.Muitos levaram anos para ter conscincia que foi o nico professor da poca que nosensinou no ser preciso adivinhar nada, mas consultar e pesquisar.

    Existe uma srie de inovaes por a. Mas ainda so uma gota dgua, nooceano de um sistema escolar preso ao currculo, tradio e mentalidade pedaggicaque perdura na escola brasileira. No Qunia, frica, existe uma experincia de educaoque impressiona: ela tenta uma adequao entre o pensar e o fazer. No pretende serEducao Popular, educao burguesa. Mas um passo do qual nossa educao esta mil anos luz. Uma das exigncias da escola que cada aluno passe uma semana doano convivendo com

    trabalhadores, para permitir ao aluno entender como a cidade se articula

    por baixo. Alguns saem de madrugada com os lixeiros da cidade, na coleta de lixo; outros,uma semana de estgio como auxiliar de enfermeiro, no hospital pblico, etc.Na nossa escola, as pessoas passam vinte e dois anos nos bancos

    escolares, saem com diploma, mas no sabem cozinhar, costurar, consertar umeletrodomstico, entender de mecnica de automvel, passar roupas. Na escola, nuncase debate coisas como perda, ruptura, afetividade, sexualidade, morte, dor,espiritualidade. Nossa escola ainda no chegou em coisas elementares.

    Uma escola, dentro do modelo de Educao Popular, teria que discutirmatemtica a partir da feira e do supermercado ou discutir geografia a partir da queda domuro de Berlim e das mudanas do mapa em funo das recentes guerras nos Blcs.

    A interdisciplinaridade, que j passou para multidisciplinaridade e j est na

    transdisciplinaridade seria a primeira condio para a escola funcionar. E no estamosfalando em Educao Popular, onde o quadro docente deveria ter a mesma perspectivaestratgica, sem o disparate de ter um professor que fantico do PFL e, outro, queacha que a salvao do Brasil est no PT.

    Se um aluno vai para o colgio batista, a primeira coisa que o diretor diz :a regra do jogo aqui ditada pela Igreja Batista, voc aceita?Se aceita, tudo bem. Seno,existem centenas de escolas, pode procurar outra!

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    Nenhuma escola ousa dizer que a regra do jogo seguir a tradio dasociedade. Nenhuma ousa dizer: seu filho vai fazer estgio num assentamento dos SemTerra, vai participar da coleta de lixo, vai sair com a polcia durante uma semana, vocaceita?Nem dizer: nossa perspectiva da educao dar uma viso crtica, aceita?

    Hoje, o aluno, em geral, matricula-se numa escola onde cada professorpensa uma coisa. Pode-se dizer que, no Brasil, as coisas esto engatinhando. Existeminiciativas onde os municpios tm uma liberdade maior. Mas, reforma educacional,estamos distantes dela. No conjunto das reformas brasileiras no se fala em reforma daeducao, ou se fala muito pouco. Ainda no chegou mdia, como chegaram a reformaagrria, a reforma fiscal, a reforma tributria.

    2) Educao Popular e Excludos

    uma questo sria. Cada vez mais os setores populares esto

    premidos pela sobrevivncia imediata. E quando a pessoa est muito angustiadapela sobrevivncia imediata, no tem tempo nem cabea para participar dereunies, treinamentos, encontros.

    Isso um fator complicador para o nosso trabalho. No adianta trabalharcom pessoas que esto na misria, mas sim com o trabalhador profissionalizado.Ningum consegue mobilizar um sujeito que t lascado, preocupado com a comida decada dia. As mobilizaes, no Brasil, surgiram no setor mais elitizado dooperariado brasileiro que eram os metalrgicos. A luta pela terra por que acontece?Porque o agricultor tem um espao de ociosidade no seu calendrio anual que permite aele se mobilizar. Porque ele se adequa ao tempo da natureza, que no o tempo dorelgio nem o tempo do trabalho urbano. outra dinmica de tempo.

    importante procurar setores onde, estrategicamente, compensa investirnosso trabalho. Isso no significa que vamos deixar de trabalhar com os sofredores derua, com quem mora debaixo da ponte ou a criana com AIDS. Temos que ter clareza,dentro de um processo social mais amplo, onde investir na formao de novas lideranaspopulares.

    Os trabalhos de atendimento so importantes, urgentes. Porm, a dinmicada Educao Popular tem que visar a mudana social. E ao visar a mudana social, temque saber investir nos setores ou pessoas que tm o potencial de multiplicadores. Esses,por sua vez, vo ajudar na formao daqueles que trabalham diretamente com setoresexcludos, a nvel emergencial.

    O trabalho do padre Jlio Lanceloti, em So Paulo, com crianas rfs,aidticas, sem famlia, abandonadas pelos pais, muito importante. At porque umtrabalho que tem ressonncia poltica. Graas a esse trabalho o Estado ainda no ousoudizer que a verba para portadores de HIV est suprimida. At agora, j cortou um bilho emeio da sade, mas no cortou ainda a assistncia aos portadores de HIV. O trabalho dopadre Jlio tem muito a ver com isso porque uma pessoa muito consciente. Quando ogoverno ameaa cortar o abastecimento para o tratamento das crianas, ele transformaisso num fato poltico e o governo recua.Os trabalhos emergenciais so importantes. Mas, a Educao Popular tem que secentrar nas lideranas e em monitores, tipo padre Jlio, que fazem trabalhos

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    emergenciais numa costura com o trabalho poltico. No o fato dele cuidar decrianas que seu trabalho seja caracterizado como meramente assistencialista.Seria injusto em se tratando do trabalho dele. Ele tem viso de comoseu trabalhoespecfico se articula com o macro, com a situao poltica.

    3) Educao Popular e EleiesNa teoria as coisas so claras e distintas; na prtica so complexas - na

    prtica a teoria outra. Um movimento popular ou pastoral deve ter a preocupao denunca dizer vote nesse ou naquele candidatopara vereador ou presidente do sindicato.As pessoas, quando entram num movimento, seus objetivos no so prioritariamentepartidrias ou eleitorais. No momento em que o educador leva o movimento para umaquesto partidria ou eleitoral, corre o risco de constranger pessoas do movimento.

    O educador no pode omitir-se de debater a questo poltica, sindical oupartidria, desde que cada pessoa possa fazer sua opo. Ningum no movimento podese sentir constrangido a votar nesse ou naquele candidato. O desafio do educador possibilitar aos militantes o discernimento pelo qual eles possam chegar a essa opo.

    Quando um movimento popular, como fez o MST nas eleies presidenciais de 1998,adota oficialmente umacandidatura, pode criar um constrangimento para muitos que esto no mesmo movimento,mas no tm a mesma simpatia por uma candidatura.

    Isso se torna mais melindroso quando o processo que adotamos em favordo nossocandidato, no um processo que passa por ampla discusso. O caso concretode So Paulo - o mapa eleitoral mostra que nos assentamentos do Pontal, Maluf e Oscartiveram mais votos que Marta e Suplicy. Isso j , em si, um dado extremamenteinquietante. O educador imagina que h todo um trabalho e, de repente... Na FazendaPrimavera, regio de Lins, fez-se uma das primeiras e mais organizadas lutas dos semterra pela expropriao da fazenda, ainda no tempo ditadura. Na eleio seguinte, aARENA ganhou dentro da Fazenda Primavera: os agricultores agradeceram ao governo

    as terras conquistadas.A mobilizao do MST favorece uma maioria de acampados que est aliem funo da obteno da terra. Como precisam da terra, as pessoas resistemheroicamente, s vezes quatro anos, num acampamento de beira de estrada. Noquerem virar favelados, no sabem fazer nada na cidade, no querem migrar para cidadeporque ser uma desgraa maior. Preferem resistir, espera de uma possibilidade. Apergunta : como o MST deveria desenvolver o trabalho com os assentados eacampados? Muitas vezes, o MST prioriza as mobilizaes de massa, a

    formao escolar formal, dentro de uma nova concepo, mas aindaescolar formal.

    Um dos trabalhos mais positivos do MST o trabalho das escolasrurais - escolas do campo, educao do campo. Mas, falta ainda aprofundar a

    qu est o da Ed u ca o Popu lar. O des afio do m ovimen to cons eguir criarsua equipe interna, nacional, de Educao Popular. Poderia cri-la, a partir dosseus educadores, que so muitos, uma equipe volante, a nvel nacional , queform ar ia equ ipes region ais e, dep ois, equ ipes locais voltada s pa ra a Ed u ca oPopular. Talvez essa seria a maneira de superar algumas contradies que estoocorrendo dentro da esferapoltica.

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    O resultado eleitoral do MST preocupante. Apoiou muitos candidatos queno se elegeram. A direo nacional est avaliando esse fato. difcil fazer discussestericas em situaes emergenciais.

    4) Educao Popular e Oramento ParticipativoO oramento participativo pode ser, em si, um grande avano. O

    problema est na metodologia desse processo. De que adianta um oramentoparticipativo se o oramento j est decidido? Se j est decidido uma contradio coma proposta do oramento participativo.

    Diante disso, pode-se ter duas posturas: a) uma no educativa - isso temque ir nesse bairro para sade; b) outra educativa, vocs, do bairro, decidam o que fazercom esses recursos pblicos. O prefeito pode at saber que, naquele bairro, no temsequer um posto de sade. Mas, se o bairro decidiu fazer um campo de futebol, que sefaa o diabo do campo de futebol.

    O problema achar que o povo deve ser educado no popular, enquanto vaina nossa. Por isso, ficamos sumamente irritados quando o povo toma uma deciso queno coincide com aquela que espervamos. Isso mostra o quanto ainda somoscolonizadores.

    Numa favela em Vitria, tivemos uma experincia muito rica. Commeu companheiro de comunidade fizemos um voto de silncio, durante seismeses. Havia um centro comunitrio bem organizado na favela. O silncio foi anossa salvao. Se tivssemos aberto a boca o pessoal perceberia que ramos deoutra classe social, de outro nvel. E, nas discusses, iriam logo perguntar o quens achvamos disso ou daquilo!

    Quanta besteira teramos dito se entrssemos naquela de querer ajudaralegando que temos mais cultura, sabemos mais...Um dia, o Secretrio de Obras foi falar

    que a favela seria urbanizada atravs do sistema de mutiro. Um morador, l no fundo dosalo, levantou o brao - eu queria falar, -no, reagiu o secretrio, deixa eu explicar comovai funcionar o mutiro,depois dou a palavra para o senhor. A o secretrio ficou meiahora explicando o que mutiro. Bem, no fim, perguntou: o senhor queria falar o qu? -Eu s queria contar pro senhor- disse o homem- que este centro comunitrio a genteconstruiu em mutiro.

    Temos o vcio de ser direcionista, em nome da Educao Popular. Aquesto no est no conselho, a questo est em como fazer, com osagentes populares,treinamentos permanentes de Educao Popular. Educao Popular como ginstica,parou de fazer engorda, parou de fazer fica acomodado. No existe eu j fiz e agora estoudiplomado vou ser um super educador popular o resto da vida. Educao Popular aginstica do esprito pedaggico, no tem jeito, no se pode parar.

    5) Movimento Popular e Movimento Social

    Existe uma distino entre movimento popular e movimento social. Omovimento social o movimento global das entidades (ONGs, grupos organizados,cooperativas, etc.) que trabalham em funo de demandas especficas. Movimento

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    popular o que congrega e mobiliza o mundo popular - assalariados, desempregados,excludos e marginalizados. O movimento popular se caracteriza pela particularidade deser centrado numa demanda, que pode ser material ou simblica.

    So populares os movimentos de conquistas de direi tos, ( humanos,m u lher es, negros, etc.); de resistn cia, (n u m a rea amea ada de ser despejada ,

    escola a ser tirada, ou centro de sade a ser fechado); de solidariedade (aos semterra, ao Timor Leste); de protesto (contra o presidente, a empresa, em defesa domeio ambiente, etc.).

    No existe movimento popular confessional. Na fundao da Centralde Movimen tos Popu lares u m dos critrios foi qu e as Comu n idad es Eclesiais deBas e n o podiam s e filiar a ela. Em bora as CEBs faa m par te do m ovimen tosocial, elas no so movimento popular, na medida em que so movimentos

    pastorais confessionalizadas.Quem no catlico no deveria ter razo para entrar na CEB, que

    um movimento apartidrio. O movimento popular no pode ser atrelado a um

    determinado partido poltico. As pessoas esto ali para lutar por gua, sade,escola, terra, independentemente de preferncias part idrias, elei torais ouconfessionais.

    Eis algumas caractersticas dos movim entos populares: podem se r movimentos ldicos

    (c irco, teatro, arte, estticos); movimentos de produo (atender a sobrevivncia imediata: costura, horta,

    farmcia comunitria); movimentos de organizao (para trazer maior esclarecimento a respeito dascoisas, cursos de atualizao); movimentos de qualificao profissional (tipo computao). Tudo issopode estar na l inha do m ovimento popular, desde que aberto a uma p erspect iva mais ampla do ponto de

    vista estratgico.Essa caracterstica fundamental. O trabalho de Educao Popular e o movimento

    popular tm que estar abertos a uma perspectiva estratgica. Em outras palavras: dinmica de grupo,qualquer oficina da IMB ou da Coca-cola tem. Nem por isso as pessoas a l i prat icam a Educao Popular .

    Muita gente confunde fazer grupo (roda, exerccio corporal) com EducaoPopular. O que caracteriza a Educao Popular dinmica , em parte a aplicao dametodologia. Mas, o que caracteriza a metodologia da Educao Popular estar aberta auma viso estratgica, segundo uma concepo de sociedade embutida nessametodologia, como a crtica sociedade atual, capitalista neoliberal..

    6) Educao Popular e Administrao Popular

    A maioria dos funcionrios de uma administrao popular no passam por umtreinamento de Educao Popular. Ento, no se pode exigir delas o que no tm e nemsabem.

    Se algum perguntar a um prefeito do PT (governador mais difcil): Comoso as reunies com o secretariado?O prefeito ou governador dir: No temos pauta dereunio ,nem fazemos autocrtica entre ns. Nos reunimos para resolver casos imediatos,com todo mundo apertado de horrio, e acabou.

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    Assim, melhor desistir da Educao Popular. A primeira condio paraEducao Popular criar uma equipe de trabalho que se submeta a determinadoscritrios, como: aprofundamento, crtica e autocrtica, avaliao, planejamentoestratgico, discusso da concepo de cidade. O que pretendem como administradores,alm de resolver os problema de gua, esgoto, escola, estrada, etc.. Quando um

    secretrio faz isso, ele tem uma concepo de sociedade na cabea e preciso tocarnela.No CEPIS sempre se reafirmou que toda a Educao Popular se resume

    em duas ferramentas; saca-rolha e chave de fenda. Primeiro, extrair do pessoal o que sevivncia na prtica. Segundo, pegar a chave de fenda, apertar um parafuso ou afrouxaroutro. Sem isso corre-se o risco de cair no ativismo, no empirismo, na improvisao eacabar virando uma administrao como outra qualquer.

    Uma das contradies que um partido de esquerda carrega de, na hora dacampanha poltica, entregar a publicidade para algum que pensa com a cabea do PFL. muito complicado: na hora de projetar a imagem do partido, quem faz isso o cara do PFL, o

    publicitrio que tem outra lgica na cabea. (Isso sem falar na suspeita de a equipe de TV estar

    sendo subornada pelo candidato adversrio para minar a campanha entregue a seuscuidados).

    7) Educao Popular e Trabalho de base

    Trabalh o de bas e, h oje, cons eguir pegar os setores excludos e da ra eles u m m nimo de organ iza o. A pa rt ir des sa organ iza o poss ibilita r amobilizao. O desafio maior hoje, como organizar os desempregados. Ningumdescobriu a frmula ainda. Tende a crescer o nmero de desempregados: um

    fenmeno que ultrapassa os setores populares, atinge cada vez mais fortemente aclass e m dia. Nisto h cons en so: n ingu m est a favor do des em pr ego, n em osem pr es rios. Mas ta m bm n o sa bem como res olver o pr oblema . N o est o afavor porque sabem o custo social que isso representa.

    Em meus tempos de CEPIS, havia um critrio: ainda que a gente corra oBrasil inteiro fazendo assessorias, cada educador tem que ter seu trabalho de base. Isso educativo para o (a) educador(a). fcil ficar pulando de palestra em palestra, sem ternenhum trabalho de base!

    Deveria ser critrio para todo educador ter um trabalho de base. Comearde novo, reencontrar os que voltam, ver os que vo embora, tudo isso pode sersumamente educativo. Porque d realismo para o educador: ele pode sentir onde a coisa

    t pegando, onde no est pegando, e quais as contradies dos processos.

    8)Educao Popular e Afetividade

    Agora, discute-se mais esse assunto (questo dos filhos, por exemplo),porque as lideranas formadas pela Educao Popular, nesse Brasil, esto mostrando,por sua prtica, como o afetivo influi no desempenho poltico. Enquanto no eram

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    lideranas, no tinham responsabilidade pblica, podiam viver seus problemas afetivos,porque isso afetava, no mximo, a famlia dele. Agora no, agora isso afeta estruturas einstituies.

    Numa certa regio do Brasil, havia trs dirigentes dos sem-terra: um casale um rapaz solteiro. Moravam num assentamento. O solteiro sabia dirigir e o casal no, e

    havia um s veculo. O solteiro se apaixonou pela mulher casada e vice-versa. O marido,por razes de seu compromisso com o movimento, no pde deixar o assentamento.Ento, teve que suportar uma situao profundamente constrangedora, e ainda dependiado outro para se mobilizar.

    Situaes complicadas como aquela fazem parar todo um trabalho. Oassentamento inteiro assistia quele drama e ningum sabia quando e como ele seriaresolvido. Alis, ningum vai acabar com esse tipo de acontecimento; isso faz parte dacondio humana. A pergunta : como reduzir esse tipo de impacto, como trabalharessas questes mais explicitamente? Existem muitas lideranas revolucionrias, nodiscurso e na rua. Mas, em casa, reproduzem exatamente o modelo patriarcal, burgus,colonialista. Acham timo a esposa ficar em casa cuidando dos filhos.

    J houve casos de protestos de sindicalistas para que suasmulheres no viessem a cursos de formao. Diziam eles: Ante s d o curso, elasn o pen s av am certas cois as , agora es to en chen d o o s aco l em cas a, e eu

    no quero. A resposta de um educador foi: esse problema no do educador; vai eres olve iss o l com a s u a m u lher. Meu critrio como ed ucad or colocar como

    condio o seguinte: cursos s para o casal. Se um no quiser participar, o

    problema de vocs dois.

    Mas, existe uma mentalidade muito entranhada na gente. O que se v noscursos? O pessoal vem para os cursos, os cursos so srios. Porm, na psicologia dealguns, os cursos se tornam frias conjugais. A moa do Norte encontra o rapaz do Sul, e

    os dois, sem parceiros, vo passar quinze dias juntos -por que no curtir uma relao?Isso torna-se complicado, porque mina a confiabilidade dessas lideranas.Entra-se no terreno da intimidade e, quando a coisa extrapola, muito difcil manter adinmica de trabalho e da equipe dentro desse clima. uma questo moral a serdiscutida. No existe sada: nem se pode querer acabar com isso. No se pode cair nomoralismo, trata-se de desclandestinizar uma dimenso fundamental das nossas vidas.Com isso, as pessoas vo ter critrios, discernimento, parmetros e talvez reduzir umpouco mais os problemas.

    possvel estabelecer um calendrio de encontros que considere osassuntos na base da Educao Popular.Existe umexemplo na vida religiosa, comdois encontros por ano. A se discute conjuntura nacional, trabalho pastoral e, e

    tambm afetividade e sexualidade. Porque so problemas que afetam a vida dem u itos fra des. In clu in do o as su nt o n esses encontros, as ten ses e desistn ciasse redu zem. Qua n do n o se tocava no as su n to, os problema s acon teciam comfreqncia. Na medida em que a subjetividade comea a ser debatida e sedes clan des tiniza, o discu rs o e a s pes soa s ten dem a ter m elhor critrio n aprtica. Mais maturidade na prtica, menos envolvimento em situaesepisdicas que acabam sendo determinantes (o afetivo sempre determinante). iluso achar que as coisas so meramente episdicas. Vive-se isso porque a

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    ideologia, o cinema, as telenovelas apresentam-nos como episdicos. Na novela timo: ningum trabalha, casam e recasam, no sofrem, no tm choro, no tmfilho, enfim, novela fantstico. S que as pessoas transportam isso para a vidareal.

    Discutir a questo do amor, na sua dimenso pessoal e social quebrar

    um tabu. Queremos criar uma sociedade amorizada e amorizante. Quebrar esse tabu,trabalhar essa dimenso, significa colocar o amor como a condio para se viver numasociedade onde as pessoas so diferentes, sem serem necessariamente divergentes.

    9) Educao Popular e a Crtica

    Uma das marcas histricas do CEPIS, foi a transparncia, em termos deentrosamento de membros da equipe. Isso difcil encontrar numa equipe de trabalho.No se pode falar em Educao Popular sem falar disso.

    Desde o incio do CEPIS em 19 78 , a cad a trs me se s, fa zia-s e u m

    encontro de um dia, para avaliar o trimestre. Essa avaliao se iniciava pelacrtica e autocrtica, que consistia no seguinte: cada um da equipe ficava naberlinda e toda a equipe fazia uma avaliao crtica do seu trabalho nos aspectospositivos e negativos.

    E o critrio era o seguinte, ningum podia defender-se, tinha queescu ta r. No fim da roda da , cad a pes soa fazia su a au tocrtica. No setr at a va de ju st ificar os err os, os equ vocos. A pa rt ir do qu e fora dito n u m tomcrtico, cad a um fazia, em equipe, su a avalia o, e da pa ss ava par a o segu inte.Dois critrios norteavam a crtica e autocrtica:

    1) No tinha direito de falar quem sentisse que ia sair em tom emocional. Se algumtinha uma crtica a algum e a coisa ainda estava engasgada na garganta, deixavapassar. Era um problema da pessoa: preciso ter condies de serenidade para criticar ooutro.

    2) Nas crticas negativas ningum podia justificar-se. Em seguida as duas pessoasdeviam conversar, a ss, para resolver seus problemas.

    Essa prtica trouxe uma grande transparncia. Quem sabe, por isso, oCEPIS tem durado tanto. Porque, muitas vezes, nas equipes, acontecem competies,

    concorrncias, disputa de espao, e as coisas vo ficando entaladas, e quando estouramj no tm remendo.O mtodo de crtica e autocrtica um fator importante, difcil de se

    encontrar em qualquer equipe de trabalho. Do sindicato ao governo da prefeitura, sepoderia adotar a metodologia de Educao Popular que Jesus adotou. Um dia eleperguntou equipe dele: O que o povo pensa de mim? E, em seguida: O quevocs pensam de mim?

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    Se nunca fazemos tal pergunta porque no queremos ouvir. MasEducao Popular isso: ousar ouvir dos educandos, e da equipe o que pensam doeducador, o que as pessoas acham do seu desempenho. Todo mundo sempre acha queest abafando, que est indo bem, timo e vai empurrando com a barriga. a que ascoisas desandam.

    As tenses vividas depois no CEPIS, podem ter nascido do descuidodesse processo. Houve momentos em que foi difcil sair e ficar um dia inteiro fora,nos anos 80. Principalmente na fase final da ditadura, no perodo daredemocratizao do Pas. Havia trabalho dia e noite, o CEPIS virou uma oficinade atendimento. No incio era s So Paulo, depois passou a ser o Brasil. Talvez,isso tenha levado ao relaxamento no aspecto da crtica e da auto crtica.

    Em suma, o CEPIS tem sido uma escola de educadores e educandos. Alim u ito ap ren di. No vejo com o o m ovimen to social br as ileiro poss a crescer semequipes como a do CEPIS.

    Frei Betto assessor da Pastoral Operria do ABC e da Central dos Movimentos

    Populares, consultor do MST e escritor. Autor, em parceria com Paulo Freire e

    Ricardo Kotscho,de Essa escola chamada vida(tica), entre outros livros.

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