Desenv. e Estado Desenvolvimentista - Eli Diniz 2013 - TEXTO I 1ª Aula-2014

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    Red de Revistas Cientficas de Amrica Latina, el Caribe, Espaa y Portugal

    Sistema de Informacin Cientfica

    Diniz, EliDESENVOLVIMENTO E ESTADO DESENVOLVIMENTISTA: TENSES E DESAFIOS DA CONSTRUO

    DE UM NOVO MODELO PARA O BRASIL DO SCULO XXI

    Revista de Sociologia e Poltica, vol. 21, nm. 47, septiembre, 2013, pp. 9-20

    Universidade Federal do Paran

    Curitiba, Brasil

    Como citar este artigo Nmero completo Mais informaes do artigo Site da revista

    Revista de Sociologia e Poltica,

    ISSN (Verso impressa): 0104-4478

    [email protected]

    Universidade Federal do Paran

    Brasil

    www.redalyc.orgProjeto acadmico no lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA V. 21, N 47: 09-20 SET. 2013

    RESUMO

    DESENVOLVIMENTO E ESTADO DESENVOLVIMENTISTA:TENSES E DESAFIOS DA CONSTRUO DE UM NOVO

    MODELO PARA O BRASIL DO SCULO XXI

    Eli Diniz

    DOSSIS

    Rev. Sociol. Polt., Curitiba, v.21, n.47, p. 09-20, set. 2013Recebido em 09 de fevereiro de 2013.Aprovado em 12 de maro de 2013.

    I. INTRODUO1

    Tomo, como ponto de partida das reflexes a seremaqui desenvolvidas, as palavras de dois autores que

    O presente artigo tem por objetivo analisar a estreita relao entre desenvolvimento e Estado desenvolvimentista

    como requisito para a formulao de uma agenda desenvolvimentista no sculo XXI. Partindo do argumento de

    Peter Evans de que no h desenvolvimento sem Estado desenvolvimentista, faz-se um balano da literatura acadmica

    internacional, destacando-se, em primeiro lugar, a complexidade crescente do conceito de desenvolvimento, dando

    nfase contribuio de Armatya Sen. Em seguida, discute-se a relevncia da criao de novas capacidades

    estatais para a construo do Estado desenvolvimentista no sculo XXI, focalizando as contribuies mais recentesda abordagem institucionalista do Estado. Finalmente, faz-se a avaliao das tenses e desafios para a construo

    do Estado desenvolvimentista no Brasil, nas primeiras dcadas do sculo XXI, atribuindo-se particular nfase

    debilidade crnica do poder infraestrutural do Estado brasileiro. Este constitui o maior entrave para a elaborao

    e execuo de um projeto desenvolvimentista no pas. Outro fator inibidor consiste na dificuldade de formao de

    uma ampla coalizo envolvendo empresrios e trabalhadores em torno de uma proposta de concertao voltada

    para uma nova conveno desenvolvimentista.

    PALAVRAS-CHAVE:Estado desenvolvimentista; desenvolvimento; institucionalismo ; empresrios; trabalhadores.

    integram uma importante coletnea sobre a frica doSul publicada recentemente, Constructing aDemocratic Developmental State in South Africa

    (EDIGHEJI, 2010). Peter Evans, logo no inicio deseu artigo (EVANS, 2010, p. 37), ressalta que nem ostericos, nem ospolicy-makerspodem ignorar o papelcrucial das instituies estatais para o xito dodesenvolvimento. Ao resumir seu argumento central,afirma que a histria e a teoria do desenvolvimentoapoiam a proposio de que sem estadodesenvolvimentista, no h desenvolvimento.Mkandawire (2010, p. 71), por sua vez, chama aateno para o fato de que desenvolvimento um

    processo altamente poltico, na medida em que requerdistribuio intra e intertemporal de tarefas e recursos.Consequentemente, mesmo em contextos autoritrios,requer coalizes desenvolvimentistas para alcanarsustentabilidade poltica. No caso de regimesdemocrticos, a amplitude e flexibilidade das alianasimplicam parcerias com mltiplos interesses urbanose rurais, entre os quais operrios e trabalhadores rurais,interesses que se tornam coesos em torno de metascomuns, porm sem perda de autonomia do Estado.

    Para a compreenso adequada de tais afirmativas,quatro pontos devem ser desde logo salientados. Emprimeiro lugar, no h uma frmula fixa universal paraconstruir-se um estado desenvolvimentista.

    1 A primeira verso do presente texto foi produzida para amesa do Painel III (Fortalecimento do Estado, das Instituiese da Democracia) como parte da programao da II Confernciado Desenvolvimentopromovida pelo Instituto de PesquisaEconmica Aplicada (IPEA), realizada em Braslia em 23 denovembro de 2011. Posteriormente a palestra foi publicada noBoletim de Anlise Poltico-Institucional, n 2, IPEA, Braslia,2012, p. 17-21. Agradeo a Alexandre de vila Gomide, Diretorde Estudos e Polticas do Estado, das Instituies e da

    Democracia, pelo convite para participar do referido evento.Em um segundo momento, o texto foi reformulado para a palestraque proferi na Mesa Injunes polticas, econmicas e sociaisdo desenvolvimento, como parte do VIII Workshop Empresa,Empresrios e Sociedade, realizado em Curitiba entre os dias29 e 31 de maio de 2012. Agradeo a Paulo Roberto NevesCosta pelo convite para participar da Mesa e escrever sob aforma de artigo a referida palestra. Finalmente, o argumentocentral foi reformulado para atender aos objetivos do SeminrioInternacional A crise mundial e os desafios de um novo padrode desenvolvimento. Organizado pelo Centro de Gesto eEstudos Estratgicos (CGEE) em colaborao com o Institutode Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),o seminrio foi realizado nos dias 26 e 27 de setembro de 2012,

    no Auditrio Pedro Calmon do IE/UFRJ. Agradeo ao professorMariano Laplane, presidente do CGEE, o convite paraparticipar deste evento.

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    DESENVOLVIMENTO E ESTADO DESENVOLVIMENTISTA

    Transposies mecnicas a partir de estudos de casobem sucedidos ou de momentos histricos distintosesto fadadas ao fracasso. A construo de um estadodesenvolvimentista deriva de um processo deexperimentao e aprendizado constantes, que pode

    beneficiar-se de anlises comparativas, mas no podedeixar de levar em conta a trajetria de cada pas esuas condies institucionais peculiares. Em segundolugar, desenvolvimento e estado desenvolvimentistaesto estreitamente interligados no processo deproduo de novas rotas desenvolvimentistas. Eisporque no podem ser analiticamente separados. Emterceiro lugar, somente uma abordagem multidisciplinarcapaz de conjugar os aportes da moderna teoria dodesenvolvimento, com as anlises do papel dasinstituies e da poltica pode responder aos desafiosde interpretar essa nova construo. Finalmente, um

    Estado desenvolvimentista vai alm de polticasgovernamentais pr-desenvolvimento; portanto no redutvel aos indicadores de xito de suas polticaseconmicas. Em uma linha convergente, como ressaltaWeiss (2003), desenvolvimento e Estadodesenvolvimentista so duas faces de um projetotransformativo amplamente compartilhado, nosomente pelas elites polticas e governamentais, maspelos diferentes atores econmicos e sociais. Eisporque a noo de conveno do desenvolvimentoatende melhor aos imperativos de mudana deestratgias desenvolvimentistas na atual etapa do

    processo de globalizao. Tal noo, diferena daideia de modelo, traz implcita a busca de adeso pelocompartilhamento no s de metas econmicas, masde crenas, ideias e valores inovadores.

    Embora a temtica aqui proposta implique umadiscusso terico-conceitual de certo nvel deabstrao, tarefa que exigiria uma anlise a partir deuma perspectiva comparada, dar-se- nfase aosdilemas e desafios enfrentados pelo Brasil para atingiras metas requeridas de forma a alcanar um novopatamar de desenvolvimento no decorrer das primeiras

    dcadas do sculo XXI.II. DESENVOLVIMENTO: A COMPLEXIDADE

    CRESCENTE DO CONCEITO

    A principal questo desta seo pode sersinteticamente formulada nos seguintes termos: aotrmino da primeira dcada do terceiro milnio, poss vel di zer que ex is te um novo modelo dedesenvolvimento no Brasil?

    Uma resposta afirmativa a tal pergunta seriaprematura. Podemos, sim, identificar nitidamente umaagenda pblica mais complexa. Tal agenda estcaracterizada pela coexistncia de pontos decontinuidade em relao ltima dcada do sculo

    pa ssado (sob re tudo na es fe ra da po l ti camacroeconmica) e pontos de mudana(representados pela nfase em polticas de teordesenvolvimentista), o que pode ser constatadoprincipalmente a par tir do segundo mandato do

    presidente Lula, quando se d uma inflexo maisclaramente pr-desenvolvimento.

    Porm, no se delineou um modelodesenvolvimentista no sentido forte desse termo. Emoutras palavras, no possvel identificar um projetode longo prazo aglutinando de maneira consistente asdiversas dimenses de uma nova estratgia dedesenvolvimento, com a complexidade que alcanoucontemporaneamente esse conceito. Alm docrescimento econmico sustentado, so igualmenterelevantes, nessa nova acepo, as dimenses deequidade, bem-estar dos vrios segmentos da populao,bem como o alargamento das oportunidades sociais.

    Sob esse aspecto, cabe destacar a contribuio deArmatya Sen, vencedor do prmio Nobel de Economiade 1998. Em dois de seus mais conhecidos livros, OnEthics & Economics(SEN, 1987)eDevelopment asFreedom(SEN, 1999),o autorrompe com uma visounidimensional da economia, ao enfatizar a dimensotica e poltica de problemas econmicos prementesde nosso tempo, colocando em xeque a concepoconvencional de desenvolvimento. Efetivamente, asvises mais restritas de desenvolvimento como

    crescimento do PIB, aprofundamento daindustrializao ou expanso das exportaes passamao largo da importante concepo de que liberdadessubstantivas, como a liberdade de participao poltica,a oportunidade de receber educao bsica ouassistncia mdica, esto entre os elementosconstitutivos do desenvolvimento2. Segundo Sen,desenvolvimento deve ser interpretado como umprocesso de expanso das liberdades reais de quedesfrutam os cidados de um pas. Como tal requer,antes de tudo, que se removam as principais fontes deprivao de liberdade, tais como a tirania e a pobreza, a

    carncia de oportunidades econmicas, a destituiosocial sistemtica, a escassez da oferta de serviospblicos essenciais nas reas de sade, educaofundamental, saneamento bsico, habitao e seguranapblica. Tais direitos e oportunidades contribuem parapromover a capacidade geral de cada pessoa.

    O crescimento econmico constitui, sem dvida,um componente importante, pois contribui no selevando rendas privadas, mas tambm possibilitando

    2 Para uma interessante discusso sobre a argumentao deSen no contexto do liberalismo igualitrio, ver Vita (2008;

    especialmente cap. 3.

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    ao Estado financiar a seguridade social e a intervenogovernamental ativa. Entretanto, condio necessria,mas no suficiente. A contribuio do crescimentoeconmico tem que ser avaliada no apenas peloaumento da renda, mas tambm e, sobretudo, pela

    expanso dos servios sociais bsicos que ocrescimento pode viabilizar (SEN, 1999; especialmentecap. 2), tais como o acesso universal ao conhecimentoe sade pblica3. Assim, a teoria da expanso dascapacidades conecta efeitos agregados ao bem-estarindividual. Os desafios ticos passam para o centrodo debate sobre o desenvolvimento, no s aquelesligados equidade, como tambm aqueles relativos institucionalizao dos princpios republicanos, quedizem respeito primazia do interesse pblico.

    Finalmente, no se pode desconsiderar a dimensoda sustentabilidade, que, no Brasil, s muitorecentemente entrou na agenda pblica. Para tanto, aao dos movimentos ambientalistas em escala mundiale a realizao das vrias reunies de cpula dedesenvolvimento sustentvel foram fundamentais paraconscientizar a populao de cada pas e difundir taisvalores entre as diferentes camadas da sociedade.

    Por outro lado, como j ressaltado, no Brasil, naprimeira dcada do sculo XXI, possvel detectarclaramente a existncia de uma agendadesenvolvimentista, cujas diretrizes delineiam-se entre2004 e 2006, ganhando fora a partir do segundo

    mandato do presidente Lula. Tal agenda pautou-se poruma nfase na incluso social e por uma visoestratgica sobre a expanso do mercado interno deconsumo de massas como elemento propulsor de umanova modalidade de crescimento, tal como estexpresso no Plano Plurianual (PPA/2004-2007)4. Umnovo leque de polticas pblicas, envolvendo expansodo crdito, aumento do salrio mnimo, expanso do

    emprego formal, polticas sociais abrangentes comoo Programa de Transferncia de Renda Condicionada,Bolsa Famlia alm do crdito consignado e daretomada de uma poltica industrial mais assertiva, soos aspectos que caracterizam essa nova agenda

    desenvolvimentista. Trata-se certamente de um novoconjunto de polticas pblicas que se tornaramprioritrias entre os anos de 2004 e 2010.

    Nesse sentido, segundo alguns analistas e elites daalta burocracia governamental (DINIZ & BOSCHI,2012) torna-se possvel identificar, ao longo da ltimadcada, a configurao de uma nova perspectiva dedesenvolvimento. Esta consiste na articulao docrescimento com distribuio de renda, destacando-se ainda a reduo da vulnerabilidade externa, oequilbrio macroeconmico, a democracia e a inserointernacional competitiva sob o primado de uma novaviso da soberania nacional.

    Entretanto, no se trata propriamente de um novomodelo de desenvolvimento, capaz, por exemplo, derealizar uma ruptura com um padro superado deexpanso industrial capitaneado pelo fortalecimentoda indstria automobilstica, de efeitos nefastos paracriar-se uma economia sustentvel e metrpolesdotadas de infraestrutura eficiente de transportecoletivo e de nveis tolerveis de poluio. O que setem , ao contrrio, o reforo de um paradigmaprodutivo do passado que deveria perder fora

    paulatinamente com a mudana da matriz energticade acordo com as novas exigncias de reduo dosndices das emisses de CO2 (dixido de carbono).

    III. O ESTADO DESENVOLVIMENTISTA NO S-CULO XXI: CRIANDO NOVAS CAPACIDADES

    Cabe, a seguir, passar para uma segunda questono menos relevante: possvel afirmar-se que setem um Estado desenvolvimentista no Brasil? Entende-se que a resposta seja negativa. Entretanto, pode-sedizer que esse tipo de Estado est em construo. Suasbases foram lanadas como resultado do conjunto de

    polticas acima referido.

    Quais so os fatores indicativos desse processo?Em primeiro lugar, a partir da Constituio Federal de1988, observou-se no Brasil a construo da democraciasustentada que se caracteriza fundamentalmente pelaestabilidade do regime. A democracia fortaleceu-se, asregras do jogo democrtico adquiriram primazia paraos diferentes atores sociais, incluindo as eliteseconmicas, que passaram por um processo desocializao poltica no tocante administrao dosconflitos de interesse de acordo com as normas e

    princpios da democracia (DINIZ, 2010, p. 125-135).Alm das liberdades clssicas de participao, deorganizao, de expresso e a universalizao do direito

    3 Nas palavras de Sen: Talvez o impacto mais importante dotipo de xito alcanado pelas economias do Leste Asitico [...]

    seja ter solapado esse preconceito tcito [o de que somente aseconomias ricas poderiam alcanar o Bem-Estar]. As economiasasiticas buscaram comparativamente mais cedo a expansoem massa da educao e, mais tarde, tambm dos servios desade, e o fizeram, em muitos casos antes de romper os grilhesda pobreza generalizada (SEN, 1999, p. 58).

    4 Veja-se o seguinte trecho: No longo prazo, objetiva-se como PPA 2004-2007, inaugurar um processo de crescimento pelaexpanso do mercado de consumo de massa e com base naincorporao progressiva das famlias trabalhadoras ao mercadoconsumidor das empresas modernas. O modelo vivel, jque est inscrito na lgica de operao da economia brasileira:toda a vez que ocorre aumento do poder aquisitivo das famlias

    trabalhadoras, o que se amplia a demanda por bens e serviosproduzidos pela estrutura produtiva moderna da economia[...] (BRASIL. MPOG, 2003, p. 19).

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    DESENVOLVIMENTO E ESTADO DESENVOLVIMENTISTA

    de voto, o princpio da alternncia do poder passou ater vigncia na democracia brasileira. Novas elitesascendem ao poder, apoiadas por um tipo de coalizoeleitoral de centro-esquerda, a qual se consolida emtorno de forte aspirao por mudana no estado de coisas

    em vigor. Novas opes tornam-se possveis,caracterizando uma inflexo poltica que daria vez mudana nas escolhas de polticas pblicas.

    Alm da mudana poltica, a construo do Estadodesenvolvimentista requer, porm, outras condiesde natureza institucional que ainda no esto dadas.Sob esse aspecto, torna-se necessrio considerar asinterconexes entre Estado, democracia edesenvolvimento.

    Considerando-se a produo acadmicacontempornea, observa-se pronunciada mudana no

    que se refere s concepes sobre o papel do Estado.Verificou-se o abandono do pressuposto neoclssicoda ineficincia intrnseca da interveno do Estado,vista essencialmente sob a ptica do incentivo expanso das prticas de rent-seeking, corrupo edilapidao dos recursos pblicos. Segundo essaforma de anlise, o que se enfatiza a figura doburocrata tpico como maximizador do interesseprprio (KRUEGER, 1974). Mais recentemente, essetipo de interpretao tornou-se dominante. Entremeados da dcada de 1980 e durante toda a dcada de1990, sob a primazia da viso liberal, reforada com a

    vigncia das reformas orientadas para o mercado,ganhou realce a noo de que a expanso do Estadoconstituiria aumento suprfluo do gasto pblico, cominchao da burocracia e consequente desperdcio derecursos.

    IV. AS CONTRIBUIES MAIS RECENTES DAABORDAGEM INSTITUCIONALISTA DOESTADO

    A abordagem liberal ortodoxa acima referida temsido recentemente refutada luz da contribuio dealguns autores que se destacam na produo acadmica

    internacional. Entre eles, cabe mencionar Evans (1995;1997; 2005; 2010), Weiss (2003; 2006; 20095),Schmidt (2006) e Chang (2010), cujos trabalhosaprofundam alguns conceitos bsicos que interessamao argumento aqui desenvolvido. Entre taisconcepes deve-se ressaltar a j clssica noo deautonomia inserida (EVANS, 1995), cujo cerne a

    insero do Estado na sociedade, mantendosimultaneamente uma burocracia em moldesweberianos, centrada no mrito e no universalismode procedimentos; o papel das instituies domsticasna mediao entre o contexto internacional e a realidade

    interna de cada pas, alm da relevncia dascapacidades estatais para o sucesso de estratgias deinsero externa maximizando, ao mesmo tempo, ascondies de desenvolvimento nacional so outrosaspectos igualmente relevantes6.

    Evans (1997) chama a ateno para os diferentesgraus de stateness, caractersticos das trajetriasnacionais de desenvolvimento de economias demercado. O termo stateness, que, utilizando umneologismo poderia ser traduzido por estatalidade,significa a centralidade institucional do Estado7, aexpanso de suas capacidades para atender s novasexigncias da ordem internacional contempornea.Segundo o argumento de Evans, a observao dasdiferentes trajetrias de crescimento regional, emescala mundial, ao longo dos ltimos 30 anos, comdestaque para os pases do leste Asitico (Japo, Coriado Sul, Cingapura e Taiwan) e, mais recentemente,na sia Central, a Repblica Popular da China, reveladora do peso das instituies. Os estudos decaso demonstram que uma alta estatalidadepode serfonte de vantagem institucional comparativa nopercurso de um pas para alcanar condies mais

    favorveis no contexto internacional. Os pasesanalisados empregaram distintas estratgias dedesenvolvimento, mas, em todos os casos conhecidos,o Estado desempenhou papel fundamental para quese produzisse radical modificao de sua posiorelativa na diviso internacional do trabalho,conquistando maior poder de barganha (idem, p. 69).

    Em artigo mais recente (EVANS, 2005), o autordefende a abordagem ou perspectiva do hibridismo,que consiste em combinar trs aspectos que devemser mantidos em relativo equilbrio. Em outros termos,a efetividade das instituies pblicas dependeria do

    hibridismo institucional, um equilbrio integrado entreos componentes do trip em que se fundamenta acapacidade estatal. Em primeiro lugar, Evans pe emrelevo a clssica capacidade burocrtica weberiana,incluindo o recrutamento baseado no mrito, a

    5Outra verso do referido trabalho foi apresentada no SeminrioInternacional INCT-PPED/MINDS, Reposicionamentos

    Estratgicos, Polticas e Inovao em Tempos de Crise,realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 1 a 3 desetembro de 2009.

    6 Este ltimo ponto tambm enfatizado por Bresser-Pareirae Furquim (2012).

    7 Ver Evans (1997). Este, alm de vrios outros artigos doautor, foram republicados em Evans (2007), importante obra

    de consulta para se acompanhar a evoluo dos principaisconceitos relativos ao papel do Estado no desenvolvimentodas vrias modalidades de capitalismo.

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    prevalncia de normas profissionais, expectativas decarreira definidas por regras claras, diviso racionaldo trabalho, primazia dos procedimentosuniversalistas, estruturas organizacionais coordenadas,enfim, uma armadura institucional que gere incentivos

    para o compromisso do servi do r com os finsinstitucionais e capacite o Estado a perseguir metascoletivas. Em seguida, destaca o atributo deresponsividade aos sinais de mercado, que forneceinformaes sobre custos e benefcios, facilita aalocao eficiente de recursos, proporcionando asbases para a disciplina fiscal (assegurando que os finsda administrao sejam consistentes com os meiosdisponveis). Em terceiro lugar, ressalta a participaodemocrtica de base, que assegura que os finsadministrativos reflitam as necessidades e aspreferncias dos cidados comuns. Os trs referidos

    suportes contribuem para que o processoadministrativo seja transparente e esteja submetido aocontrole pblico, garantindo a eficcia dosprocedimentos de accountability e de governanaeconmica.

    Na j referida coletnea editada por Edigheji, Evans(2010), salienta que a discusso terica recenteestabelece o que o Estado do sculo XXI deve estarcapacitado a fazer para alcanar o statusdesenvolvimentista. O cerne destes requisitos simples: o Estado desenvolvimentista do sculo XXI

    deve ser um Estado aperfeioador de capacidades.Expandir as capacidades do cidado, ressalta, ofundamento do crescimento sustentado. A expansode capacidades est estreitamente relacionada eficiente proviso de bens coletivos, sobretudo nasreas de sade e educao. Garantir infraestrutura,como os servios de abastecimento de gua,intrinsecamente conectados com a questo da sade,pr over sane amento bsi co , tr anspor te pbl icoeficiente, entre outros, so atributos e ao mesmo tempoindicadores da eficcia da estatal. A capacidadeadministrativa para prover de forma eficiente bens

    coletivos e infraestrutura requer, por sua vez,fundamentos polticos. Finalmente, instituiesdemocrticas ativas constituem a necessria fundaoda ao econmica efetiva. Dessa forma, a teoria dodesenvolvimento pode definir uma agenda, masreconstruir aparatos administrativos um processopolticopath-dependent, mas tambm criativo (idem,p. 38). Fortalecer e ampliar as estruturas do Estado eas relaes Estado-sociedade so, portanto, desafioscentrais.

    Nessa li nha de reflexo , cabe mencionar acontribuio de Weiss (2003, p. 247-249), que ressaltao que considera os trs ingredientes essenciais dequalquer Estado desenvolvimentista: a formulao de

    metas de transformao, a existncia de uma agncia-pi loto relativamente insulada, responsvel pelaexecuo do projeto transformador, alm de relaesinstitucionalizadas de cooperao entre governo e setorprivado. A autora designa esse arranjo institucional por

    interdependncia governada, propiciando um estilonegociado de formulao de polticas sob a direo deum Estado aberto interlocuo.

    Focalizando o caso da frica do Sul, em artigosobre as possibilidades de construo do Estadodesenvolvimentista capaz de enfrentar os desafios dosculo XXI, Chang (2010, p. 82-96), comea pordistinguir a definio restrita de Estadodesenvolvimentista que baseia sua legitimidade naconsecuo de altos ndices de desenvolvimentoeconmico da concepo ampla que envolvemltiplas dimenses e que pode ser aplicada a distintospases em diferentes graus de desenvolvimento. Oautor parte dos estudos de caso do Leste Asitico edos caminhos percorridos pelos pases capitalistasavanados, no sculo passado, salientando as distintasvariedades de Estado desenvolvimentista, para, emseguida, analisar as condies polticas,organizacionais e relativas aos recursos humanossubjacentes construo do Estado desenvolvimentistano momento atual. No que se refere s condiespolticas, a frica do Sul, nas palavras do autor, dispede um forte partido de massa, o Congresso Nacional

    Africano, capaz de executar de forma cabal polticasdesenvolvimentistas, desde que haja vontade polticapara gerar um projeto desse tipo. Autonomia do Estado,acatamento das regras do jogo democrtico e habilidadede articular pactos sociais so condies favorveis,que, porm, no so fixas, podendo flutuar de acordocom a conjuntura poltica. A frica do Sul dispetambm de instrumentos organizacionais altamentedesenvolvidos, capacitados a executar um projetodesenvolvimentista, tais como o Banco deDesenvolvimento da frica do Sul (BDAS), aCorporao de Desenvolvimento Industrial (CDI) e

    fortes empresas estatais, dotadas de capacidade depesquisa e desenvolvimento tecnolgico de padrointernacional. Ademais, o Departamento de Comrcioe Indstria tem condies de desempenhar o papel deagncia piloto. H tambm recursos financeiros ecapacidades tcnicas de anlise no BDAS e na CDI.Portanto, segundo o autor, existiriam condiespolticas, recursos financeiros e organizacionais, almde recursos humanos treinados em aes e iniciativasinovadoras. Trata-se de um potencial que pode sertil para a construo de um Estadodesenvolvimentista, em uma linha convergente com

    os demais autores aqui referidos. Por outro lado,esclarece Chang (idem), a dupla fragilidade das

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    DESENVOLVIMENTO E ESTADO DESENVOLVIMENTISTA

    agncias de promoo de P&D, bem como a forados lobbies dos conglomerados de minerao e energia,constituem obstculos a serem enfrentados.

    Sintetizando as anlises at aqui discutidas, consensual a nfase na competncia da burocracia

    como aspecto essencial dos estadosdesenvolvimentistas: recrutamento baseado no mrito,um sistema claro de regras de ascenso na carreira,primazia dos procedimentos universalistas, enfim ascaractersticas do tipo ideal weberiano correspondente administrao racional-legal. Outro fator fundamental a existncia de uma agncia central de planejamentonos moldes do Departamento de PlanejamentoEconmico da Coria do Sul, ou do Conselho dePlanejamento e Desenvolvimento Econmico, deTaiwan. No menos crucial o papel de uma agnciapiloto, capaz de liderar um projeto de desenvolvimentotransformador. Uma vantagem de tais arranjosinstitucionais que eles capacitam o Estado a ter osinstrumentos para dar forma e contedo viso delongo prazo de maneira a garantir sustentabilidade aoprocesso de desenvolvimento. Finalmente, se necessrio preservar uma burocracia autnoma e deteor meritocrtico para assegurar o alcance das metasde longo prazo, bem como a execuo das polticasdesenvolvimentistas, no menos relevante aconstruo de slidas conexes com os atorespr iva do s es tra t gi cos e demai s segmentos da

    sociedade civil de forma a garantir o respaldo sociale poltico necessrios para alcanar os objetivosalmejados. Em outros termos, o Estado devecapacitar-se a ter uma agenda compartilhada, j queesta no fruto do acaso, expressando, ao contrrio,uma construo poltica.

    Nesse ponto da argumentao cabe retomar oimportante argumento de Evans (2010) sobre aindissociabilidade de desenvolvimento e Estadodesenvolvimentista. O autor toma como ponto depart ida as trs vertentes da moderna teor ia dodesenvolvimento - a abordagem da expanso das

    capacidades de Sen (1999), a nova teoria docrescimento que enfatiza a centralidade do capitalhumano e das ideias, alm das teorias institucionalistasque atribuem primazia aos efeitos deletrios dadespossesso e/ou das diferentes formas de privaode capacidades como fatores fortemente inibidoresdo desenvolvimento. Mostra a seguir que, apesar departirem de fundamentos tericos e metodolgicosdistintos, as trs correntes chegam a concluses muitosemelhantes no que se refere construo do Estadodesenvolvimentista do sculo XXI: a centralidade dosservios coletivos, da expanso do conhecimento ehabilidades humanas, do complexo de instituies,organizaes e redes necessrias para gestar as novas

    habilidades. Alm da expanso do acesso ao estoquede ideias existentes, gerar novos conhecimentos eideias, de forma a difundir e tirar proveito desses ativosintangveis. interessante notar que Evans (2010)caracteriza o Estado desenvolvimentista do sculo XXI

    de forma convergente com os argumentos ressaltadosao longo deste artigo. Em primeiro lugar, salienta quedesenvolvimento no pode ser dissociado da produodo bem-estar dos cidados. Cabe ao Estado o papelcentral na proviso de bens pblicos como sade eeducao. Sem burocracias pblicas eficientes, coesas,coerentes e qualificadas, vale dizer, caracterizadas porrecrutamento e sistema de promoo baseados nomrito, a proviso dos servios pblicos destinados expanso das capacidades no se concretizar. OEstado desenvolvimentista do sculo XXI, alm deburocracias estatais com alto desempenho, requer,

    ainda, novos tipos de capacidades, notadamente emtermos da habilidade de promover formas maisabrangentes de enraizamento social ou parcerias comdiversos segmentos da sociedade. Em outros termos,a utilidade da ao estatal depende da medida em queseus resultados correspondam s preferncias coletivasdas comunidades atendidas (idem, p. 49). Para tanto,necessita de informao precisa sobre as prioridadescoletivas na esfera comunitria. A relevncia desse tipode informao para a eficincia da ao estatal, porsua vez, requer o reforo das instituies deliberativase participativas. Estas ltimas, ao lado das instituies

    representativas, representam as duas faces dofortalecimento do regime democrtico, compondo aarmadura institucional adequada ao novo momentohistrico. Longe de serem aspectos antagnicos doprocesso democrtico, so complementares. Assim,o engajamento dos atores sociais no processo deexecuo das polticas crucial para as estratgias deexpanso das capacidades implicadas na nova acepode desenvolvimento.

    Finalmente, a anlise remete-nos forte conexoentre projeto desenvolvimentista e a capacidade

    mobilizadora do Estado desenvolvimentista a que nosreferimos na abertura deste trabalho. Trata-se danoo abrangente de compartilhamento de metas ecrenas por parte de um amplo conjunto de atores,para alm das elites governamentais e tecnocrticas,bem como dos agentes econmicos privados. A essepropsito cabe lembrar a linha de reflexo desenvolvidapor Vivien Schmidt, em vrios de seus trabalhos(SCHMIDT, 2006). Em suas palavras: podemos dizerque a ao do Estado pode ser diferenciada por trsaspectos:policies, polity and politics.Policy remetes polticas pblicas substantivas afetando as

    diferentes esferas da economia e da sociedade.Polityrefere-se a como as polticas pblicas, bem como as

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    interaes entre atores econmicos e polticos, somoldadas pelo contexto poltico institucional vigentee, finalmente, politics significa no somente asinteraes estratgicas entre atores polticos, mastambm como as ideias substantivas dos atores

    polticos e as interaes discursivas entre eles se do.Trata-se da perspectiva doinstitucionalismo discursivo,cuja nfase nas dimenses das ideias e discursospermite explicar a dinmica da mudana na economiapoltica.

    V. TENSES E DESAFIOS PARA A CONSTRUODO ESTADO DESENVOLVIMENTISTA NOBRASIL DO SCULO XXI

    No Brasil, a viso alternativa que marcou o debatepoltico na ltima dcada, poster ior s reformasorientadas ao mercado, foi a nfase na necessidade

    de reestruturar o Estado, com o recrutamento denovos quadros pela via do concurso pblico, bemcomo fortalecer a capacidade de interveno estatal,de forma a viabilizar o enfrentamento das novasprioridades da agenda pblica. Um exemplo, segundodados levantados por Souza (2010), refere-se aonmero de servidores com nvel superior deescolaridade, em que se verificou expressivocrescimento de 182 303, em 1997, para 223 404 em2009, representando, assim, 45% dos servidores civisativos da Unio (SOUZA, 2014, p. 14). A nfasedesloca-se para a importncia da coordenao estatal

    para administrar de maneira equilibrada o aumento docrescimento e da competitividade das economiasnacionais no contexto atual do capitalismocrescentemente globalizado. Recupera-se, portanto,a legitimidade do ativismo estatal, destacando-se opapel de alguns rgos que se revelaram capazes deexercer uma funo estratgica na execuo de umarota desenvolvimentista, como o Ministrio da Fazenda aps a crise de 2005 e da substituio do MinistroAntonio Palocci pelo Ministro Guido Mantega , a CasaCivil, o Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao,e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico

    e Social (BNDES). Este ltimo destaca-se em funode seu papel indutor do desenvolvimento e formuladorda poltica industrial, semelhana das agncias-pilotodos pases asiticos dinmicos. Esse tambm o casode algumas empresas estatais, como a Petrobras e aEmbrapa. A capitalizao de bancos pblicos, como oBanco do Brasil e a Caixa Econmica, foi uma iniciativaimportante, j que forneceu o respaldo necessrio paraa expanso de um modelo ancorado na formao deum forte mercado interno de consumo de massas. Acentralidade das polticas sociais, como o Programade Transferncia Condicionada de Renda, o Benefciode Prestao Continuada, entre outros, manifestou-sedesde o incio do governo Lula, vindo a ocupar um

    espao destacado, com a criao, em 2004, doMinistrio de Desenvolvimento Social e de Combate Fome (MDS). Este apresentou uma trajetriaascendente com o crescimento absoluto e relativo deseus servidores: entre 2004 e 2009, houve um aumento

    de 78 de seu quadro funcional. Ressalte-se ainda queo BNDES e o Itamaraty reafirmam-se como agnciasde excelncia dentro do aparato estatal, responsveisque foram pela conduo e articulao de doisimportantes pilares da agenda desenvolvimentista dogoverno, quais sejam, os planos interno e externo,reforando-se mutuamente na busca de viabilizar umprojeto de pas dotado de uma estratgia de inserointernacional mais assertiva. Por outro lado, no seobservou um processo coerente de reforma ereestruturao da mquina estatal. Esse esforo dequalificao e de profissionalizao no se estendeu

    ao conjunto da burocracia pblica. Ainda existemexpressivas lacunas que dificultam a ao coesa,coordenada e consistente do aparato governamentalno que se refere a setores primordiais das polticaspblicas, nas esferas econmicas, sociais e ambientais.Ademais, no se pode dizer que temos um Estado forte,a despeito da amplitude dos poderes concentrados noExecutivo e da recuperao da capacidadeintervencionista estatal.

    VI. A DEBILIDADE HISTRICA DO PODERINFRAESTRUTURAL DO ESTADO E SUAS

    IMPLICAESNeste ponto da argumentao, cabe destacar um

    importante desafio que ainda persiste a despeito dasvrias experincias de reforma do Estado levadas aefeito ao longo das diferentes fases do antigo nacional-desenvolvimentismo. Refiro-me debilidade crnicado poder infraestrutural do Estado, no sentido de Mann(1986). Aqui preciso fazer a distino entre solidezda democracia e capacidade do Estado. Trata-se depr oc es sos in ter lig ados, po r m di st in tos .Frequentemente tal distino obscurecida dada adificuldade de perceber-se a diferenciao de fronteiras

    tericas entre regime poltico e natureza do Estado, oque trouxe a implicao de que quanto mais slida ademocracia, maior o vigor do Estado. Entretanto, deve-se salientar que democracia no se traduzautomaticamente em maior capacidade do Estado. Noh dvida de que o aperfeioamento da democracia fundamental para a construo de um Estadodesenvolvimentista no sentido aqui explicitado.Entretanto, pode haver, e ocorre com frequncia, umdescompasso entre, por um lado, o robustecimentoda democracia, e por outro, a debilidade do Estadocomo instituio pblica capaz de prover e universalizaro acesso a bens pblicos essenciais, nas reas desegurana pblica, sade, educao, habitao e

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    saneamento bsico, o que se traduz em baixo poderinfraestrutural do Estado8.

    Cabe aprofundar esse tpico, j que converge coma concepo de desenvolvimento proposta por AmartyaSen (1999) ressaltada anteriormente, cujo cerne ,

    como se viu, a consecuo das metas de liberdade ebem-estar. Em seu percurso histrico, o Estadobrasileiro apresenta um dficit pronunciado em termosde seu poder infraestrutural, trao que se agravoudurante a primazia da agenda neoliberal na dcada de1990. Segundo Mann, o poder infraestrutural traduz-se pela capacidade do Estado de penetrar na sociedadee implementar logisticamente suas decises, abarcando,em seu mbito de ao, todo o territrio nacional e osdiferentes segmentos da populao que se querbeneficiar com a execuo das polticas pblicas. Talobjetivo requer que os estados tenham infraestruturasque penetrem universalmente em toda a sociedadecivil, de modo a que as elites polticas possam extrairrecursos e fornecer servios para todos os cidadosque fazem parte do territrio nacional. Logsticasignifica, para Mann, a existncia de tcnicas erecursos que permitam ao Estado penetrar na sociedadee exercer o seu poder, reforando a capacidade deformulao e de execuo de polticas. Traduz-se,enfim, pelo alcance territorial da ao do Estado, oque, por sua vez, fundamenta a sua habilidade depersuadir os jogadores-chave a aderir sua agenda

    desenvolvimentista. Portanto, pode-se dizer quemodernizar o Estado implica, em parte, o aumento deseu poder infraestrutural9. Esse aspecto no pode sermenosprezado, j que indispensvel para viabilizar aconcepo multidimensional do desenvolvimento aquisalientada, indo muito alm dos indicadoreseconmicos e abarcando de forma interligada asdimenses da equidade, da tica (no sentido de atenderao interesse pblico) e da sustentabilidade. De formasimilar, pode-se argumentar que um dos legados maisinibidores de uma concepo de Estado socialabrangente e pblico foi exatamente essa debilidade

    do poder estrutural na formao do Estado-Nao nos no Brasil, mas na Amrica Latina em geral.

    Analisando a trajetria desse processo na regiolatino-americana, Mann (2006, p. 165-166) ressaltouque os mais eficazes dos estados modernos so aquelescaracterizados por sociedades suficientementeigualitrias, de modo a permitir o desenvolvimento de

    um senso comum de cidadania nacional, o que, porsua vez, permitiria aos estados desenvolverem poderesinfraestruturais efetivos para mobilizar recursos e,assim, promoverem o desenvolvimento. Em longoprazo, esses estados tenderiam a implantar regimesdemocrticos. Entretanto, adverte, somente os estadoscom infraestruturas eficientes alcanaro a plenitudedemocrtica. Sob esse aspecto, os estados latino-americanos apresentam grandes lacunas, o queconfiguraria a crise estrutural dos estados-nao docontinente.

    Em outro veio analtico, ODonnell tambmenfatizou as peculiaridades da formao histrica dasnovas democracias, no perodo ps-autoritrio, aincluindo o Brasil, o que gerou uma fragilidadeinstitucional que sobreviveria s tentativas de mudanaao longo do tempo (ODONNELL, 1993; 1998; 1999;2002). Entre tais debilidades, o autor destaca: aincompletude do processo de constituio dacidadania, resultando importantes lacunas quanto aosdireitos civis e sociais (cidadania de baixa intensidade),o estreitamento dos espaos pblicos, alm de sriasdeficincias quanto efetividade da lei. Esta estende-

    se de forma pronunciadamente irregular sobre oconjunto do territrio nacional e sobre as diferentescamadas da populao, resultando um amplocontingente que se situa fora da cobertura legal e doalcance das polticas pblicas em diferentes reas. Nasnovas democracias, regies inteiras permanecem margem do sistema legal sancionado pelo Estado, noapenas nas reas rurais, mas tambm nas periferiasdas grandes metrpoles. Alm disso, no caso de certossetores sociais discriminados, em todas as regies,mesmo nas mais desenvolvidas, a legalidade estatal tambm pouco efetiva. Tal particularidade traduz-se

    na ampliao das chamadas reas marrons, onde acapacidade de penetrao do Estado muito baixa ouquase nula (ODONNELL, 1993, p. 129-130). Afragilidade do sistema legal tem ainda outrasconsequncias que no podem ser minimizadas. Adimenso republicana, que se refere credibilidadedo Estado como instituio que opera em nome dointeresse pblico e que essencial para a preservaoda confiabilidade da democracia, torna-seextremamente debilitada. Em contraposio, umEstado forte caracterizar-se-ia pela capacidade deestabelecer a legalidade por todo o seu territrio e de

    formular polticas de teor universalista para o conjuntodos cidados da comunidade nacional.

    8Aplicando Amrica Latina sua j clssica distino entre ospoderes desptico e infraestrutural do Estado, Mann destaca:Poder desptico a capacidade das elites do Estado de tomardecises sem uma rotineira negociao com os grupos dasociedade civil. Em princpio, democracia no envolve nenhumaforma de poder desptico, embora no mundo real todos osEstados de alguma forma o pratiquem.Poder infra-estruturala capacidade do Estado de efetivamente implementar decisesem todo o seu territrio, no importa quem tome as decises.Isso tambm pode ser chamado de capacidade ou eficincia do

    Estado (MANN, 2006, p. 166-167; grifos no original).9 Esse argumento converge com a viso de Souza (2010).

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    Considerando o caso brasileiro, pode-se constatarque, nas duas ltimas dcadas, houve avanos no quese refere s polticas pblicas voltadas para direitossociais constitucionalizados (artigo 6 da ConstituioFederal de 1988), como a educao fundamental, a

    sade bsica e assistncia aos segmentos maisdesvalidos da populao. Assim, alargou-sesubstancialmente o alcance territorial das polticasrelativas educao e sade bsicas com auniversalizao do acesso dos diferentes segmentosda populao em todo o territrio nacional ao ensinofundamental e rede pblica de sade. De formasimilar, vasto o alcance territorial das polticas detransferncia de renda condicionada, como o programaBolsa Famlia, atingindo, segundo dados de 2010 doMinistrio do Desenvolvimento Social (MDS), 12,4milhes de famlias, perfazendo o total de 49 milhes

    de beneficiados.Entretanto, se houve, indubitavelmente, substancial

    aumento dos nveis de escolaridade do ensino pblicofundamental, observou-se paralelamente uma fortedeteriorao de sua qualidade, aumentando a proporode analfabetos funcionais (alcanando cerca de 20,3%,dos que terminaram o ensino fundamental, segundodados de 2010)10. O mesmo acontece com a qualidadedo atendimento sade, apesar do aumento dopercentual destinado ateno bsica que passou de10,82% em 1995 para 18,34% em 2004 (SOUZA,

    2010, p. 11). De forma ainda mais pronunciada, nasreas de habitao, saneamento bsico e seguranapblica, o que se observa a persistncia de umagrande lacuna no que diz respeito ao do Estado.Nessas reas predominam a omisso, ineficincia eineficcia das polticas pblicas. Assim, segundo dadosextrados do Censo 2010, a proporo da populaosem acesso rede de esgoto ou de drenagem pluvial de 47,2% (IBGE, 2010). Segundo o Atlas doSaneamento 2011 (BRASIL. MD, 2011), apenas 19%das residncias tm o esgoto tratado. De acordo comdados do Sistema Nacional de Informaes sobre

    Saneamento Bsico do Ministrio das Cidades, 54%da populao brasileira ainda no tem servio de coletade esgoto. Ademais, apenas cerca de 40% do esgotocoletado no pas tratado (idem).

    VII. DEMOCRACIA, GOVERNANA,ACCOUNTA-BLITYE RESPONSIVINESS

    Nesse contexto, torna-se relevante discutir tambma questo de que o Estado desenvolvimentista a ser

    construdo necessita levar em conta as condies deum regime caracterizado pela democracia sustentada,vale dizer, um regime que alcanou a capacidade deconsolidao de seus princpios bsicos, inclusive oda alternncia do poder, mas ainda necessita aumentar

    a eficcia de alguns importantes mecanismos. Nessesentido, trs aspectos da construo de um regimedemocrtico pleno devem ser ressaltados. Refiro-me articulao entre as dimenses de accountability,governana e responsiviness.

    O termo accountabilityno tem traduo exata parao portugus. Refere-se ao conjunto de mecanismos ede instituies de cobrana e de prestao de contas.Permite viabilizar a responsabilizao pblica dosocupantes de cargos governamentais, quer sejameleitos, nomeados ou efetivos. Desse ponto de vista,houve, nas duas ltimas dcadas, avanos dignos denota no Brasil. A accountability vertical fortaleceu-secom a consolidao do processo eleitoral a partir daqueda do regime militar. Quanto accountabilityhorizontal, observou-se o aprimoramento do controleexterno e interno da administrao pblica. Antigasinstituies foram reformadas e profissionalizadas,como os Tribunais de Conta da Unio e dos estados ea Polcia Federal; outras foram fortalecidas, como aSecretaria do Tesouro Nacional; outras ainda foramcriadas, como a Controladoria Geral da Unio (CGU)e, finalmente, outras, como o Ministrio Pblico

    Federal e os estaduais, tiveram seu papel ampliado.Governana, por outro lado, admite diferentes

    interpretaes. Como utilizo o conceito, refiro-me sformas de gesto caracterizadas pela capacidade deconstruir instncias de interlocuo com a sociedade,voltadas para definir as prioridades da agenda pblica,abrindo espao para a consecuo das metas coletivase a sustentao poltica das decises tomadas. Dessaforma, governabilidade e governana so consideradasdo ponto de vista analtico como aspectos distintos ecomplementares que configuram a ao estatal.Governabilidade refere-se s condies sistmicas mais

    gerais, sob as quais se d o exerccio do poder emuma dada sociedade. Nesse sentido, as variaes nosgraus de governabilidade sofrem o impacto dascaractersticas do sistema poltico, tais como a formade governo se parlamentarismo ou presidencialismo, as relaes entre os poderes maior ou menorassimetria, maior ou menor autonomia, por exemplo, o tipo de sistema partidrio multipartidarismo oubipartidarismo , o sis tema de intermediao deinteresses se corporativista ou pluralista , entreoutros traos relevantes. Em outros termos,governabilidade compatvel com distintosarcabouos institucionais. Governana, comosalientado acima, refere-se ao conjunto dos

    10 Segundo a Sntese dos Indicadores Sociais (IBGE, 2010).Existem dados mais recentes do Instituto Paulo Montenegro,

    que estima em 27% a taxa de analfabetos funcionais entre 15 e60 anos de idade, para o ano de 2011. Para mais detalhes, cf.Lima (2011).

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    mecanismos e procedimentos para lidar com adimenso participativa e plural da sociedade, o queimplica expandir e aperfeioar os meios de conexo ede administrao do complexo jogo de interesses deuma sociedade moderna. Dessa forma, cabe viabilizar

    a insero do Estado na sociedade, sem enfraquecer aautoridade estatal e seus meios de coordenao e deexecuo das polticas (DINIZ, 1994; 1995a; 1995b;1998).

    Entre 2003 e 2010, foram criados ou fortalecidos,no Brasil, inmeros conselhos comunitrios e frunsde participao, como o oramento participativo,institudo pela primeira vez, em 1989, em Porto Alegre,expandindo-se posteriormente por vrias cidades dopas, alm dos conselhos de participao socia lgradualmente criados em todos os ministrios.Ademais foram realizadas inmeras confernciasnacionais de polticas pblicas11.

    Igualmente de difcil traduo, responsiviness acapacidade dos governos de responder s prefernciasdos cidados por meio das polticas pblicas postasem prtica. Nos termos de Dahl (1972; especialmentecaps. 1, 2 e 3), uma caracterstica da democracia acontnua responsividade do governo s prefernciasde seus cidados, considerados como politicamenteiguais, embora nenhum sistema real corresponda aesse ideal. Em seu j clssico livro,Poliarquia (idem),o autor salienta que reserva o termo democracia

    para um sistema poltico que tenha, como uma desuas caractersticas, a qualidade de ser inteiramente,ou quase inteiramente, responsivo a todos os seuscidados, o que requer que todos os cidados tenhamoportunidades plenas de formular suas preferncias,de express-las livremente atravs da ao individualou coletiva e de ter a garantia de que suas prefernciassejam igualmente consideradas na conduta do governo.Em sntese, tal requisito implica a diversificao dosmecanismos de vocalizao e de transmisso dasdemandas. Sob esse aspecto, tivemos tambm avanosexpressivos com o aprofundamento da

    democratizao da sociedade, bem como do sistemapoltico brasileiro, atravs da complexidade crescentede seu aparato institucional.

    VIII. CONCLUSES

    Em concluso, podemos considerar que, nosentido forte do termo, no temos ainda um Estadodesenvolvimentista, no Brasil na primeira dcada dosculo XXI. Entretanto, apesar das lacunas apontadas,

    o balano positivo. Podemos considerar que estamosem um processo de transio. Os alicerces foramlanados, tanto no sentido do aperfeioamento doregime democrtico, com a crescente aceitao dasregras do jogo, quanto no que se refere elaborao

    de uma nova agenda desenvolvimentista (BRESSER-PEREIRA, 2007; DINIZ, 2011).

    Sob esse aspecto, apesar dos bices referidos,observa-se o avano de polticas que reforam atendncia construo do Estado desenvolvimentistado sculo XXI, tal como problematizado pela literaturainternacional, rompendo com o legado do passadotpico da construo do capitalismo industrial no Brasil.Trata-se de um modelo distinto do nacionaldesenvolvimentismo do passado (que no tinhapreocupao com equidade e sustentabilidade), bemcomo em relao ao desenvolvimentismo ligado doutrina da segurana nacional imposto pelo Estadofortemente coercitivo dos governos militares.Distingue-se tambm, cabe lembrar, do modelocalcado na dicotomia Estado-mercado, baseado naprimazia do paradigma neoclssico, dominante nasdcadas de 1980 e 1990 do sculo passado.

    Entretanto, retomando o argumento central desteartigo, um dos grandes desafios, ainda presentes,refere-se ao descompasso entre o revigoramento dademocracia, de um lado, e a debilidade crnica dopoder infraestrutural do Estado brasileiro. Nesse

    particular, os avanos revelaram-se muito aqum doque seria necessrio para alcanar as metas dedesenvolvimento associado conquista de maior bem-estar para amplas camadas da populao brasileira,excludas do acesso a bens pblicos essenciais, nasreas de educao, sade, segurana e habitao.

    Outra dificuldade igualmente relevante diz respeito perspectiva de formao de uma ampla coalizo desustentao em torno de um novo projetodesenvolvimentista, envolvendo alianas entreempresrios e trabalhadores dos diferentes setores da

    economia. Como ressaltado em trabalho anterior(DINIZ, 2010), nas duas ltimas dcadas,considerando-se o empresariado industrial, observou-se uma importante mudana com relao ao perodonacional-desenvolvimentista: seu processo desocializao poltica no tocante s regras do jogodemocrtico. Os empresrios industriaisaperfeioaram seus mecanismos de participao noCongresso e suas relaes com as instncias derepresentao poltica. A prtica do lobby assumiu umadimenso at ento inusitada. Ademais, retomaram aprt ica da in terlocuo inst itucionalizada com

    importantes segmentos das elites da alta burocraciagovernamental. Por outro lado, a viso do empresariado

    11Para uma anlise aprofundada do significado das conferncias

    nacionais de polticas pblicas no Brasil contemporneo, verPogrebinschi e Santos (2011).

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    em geral acerca da poltica econmica permaneceuessencialmente pragmtica, fechada em torno dequestes diretamente ligadas aos seus prpriosinteresses. Este representa certamente outro fator

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    DESENVOLVIMENTO E ESTADO DESENVOLVIMENTISTA

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    REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA V. 21, N 47: 157-160 SET. 2013

    ABSTRACTS

    DEVELOPMENT AND DEVELOPMENTAL STATE: TENSIONS AND CHALLENGES OF BUILDINGA NEW MODEL FOR THE 21ST CENTURY BRAZIL.

    Eli Diniz

    This article aims to analyze the close relationship between development and the developmental state as aprerequisite for the formulation of a development agenda in the XXI century. Based on the argument ofEvans (2010) that there is no development without developmental state, it is a balance of the internationalacademic literature, especially, first, the increasing complexity of the concept of development, emphasizingthe contribution of Sen Armatya . then discusses the importance of creating new state capacities to build thedevelopmental state in the twenty-first century, focusing on the most recent contributions of institutionalistapproach of the state. Finally, it is the evaluation of the stresses and challenges to building the developmentalstate in Brazil in the first decades of the century, attributing particular emphasis on the chronic weakness ofthe power infrastructure of the Brazilian state. This is the biggest obstacle to the development andimplementation of a development project in the country. Another inhibiting factor is the difficulty in forminga broad coalition involving employers and employees around a proposed conciliation toward a newdevelopmental convention.

    KEYWORDS: development; developmentalist state; state capabilities; institutionalist approach theState; coalition entrepreneurs and workers.