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Desenvolvimento territorial e agroecologia
Desenvolvimento territorial e agroecologia
Adilson FrAncelino AlvesBeAtriz rodrigues cArrijo
luciAno zAnetti PessA cAndiotto[orgAnizAdores]
Copyright Grupo de Estudos Territoriais GETERR
Reviso grfica Slvia Regina PereiraReviso de lngua portuguesa Silvana SpedoCapa Marcos CartumProjeto grfico e diagramao Maria Rosa Juliani
Impresso Cromosete
Tiragem
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorizao da editora.
Editora Expresso Popular Ltda.Rua Abolio, 197 | Bela Vista | 01319-010 | So Paulo - SPTel [11] 3105 9500 | Fax [11] 3112 0941 | [email protected] | www.expressaopopular.com.br
apresentao | 7
reflexes sobre o Desenvolvimento luz Do enfoque territorial
TerriTrio,TerriTorialidadeedesenvolvimenTo:diferenTesperspecTivasnonvelinTernacionalenoBrasil | 15marcos aurlio saquet | eliseu savrio sposito
sisTemalocalTerriTorial(sloT):uminsTrumenTopararepresenTar,lereTransformaroTerriTrio | 33giuseppe Dematteis
desenvolvimenToTerriTorial:algumasreflexesTerico-conceiTuaisderivadasdeesTudomonogrfico | 47luiz alexanDre gonalves cunha
conhecimenTosconvencionaisesusTenTveis:umavisoderedesinTerconecTadas | 63aDilson francelino alves
desafiosdageraoderendaempequenaspropriedadeseaquesTododesenvolvimenToruralsusTenTvelnoBrasil | 81antonio nivalDo hespanhol
idenTidadeTerriTorialedesenvolvimenTo:aformulaodeumplanoTerriTorialdedesenvolvimenToruralsusTenTveldoTerriTriosudoesTedoparan | 95rosel alves Dos santos | Walter marschner
perspectivas Da agroecologia e experincias no estaDo Do paran
agroecologia:limiTeseperspecTivas | 117rosngela ap. De meDeiros hespanhol
reflexessoBreaagroecologianoBrasil | 137aDriano arriel saquet
ndice
agroecologia:desafiosparaumacondiodeinTeraoposiTivaeco-evoluohumanananaTureza | 155valDemar arl
agroecologianoparan:evoluoedesafios | 169antonio carlos picinatto
agroecologia:odesenvolvimenTonosudoesTedoparan | 185nilton luiz fritz
aagroecologiaeasagrofloresTasnoconTexTodeumaagriculTurasusTenTvel | 213luciano zanetti pessa canDiotto | beatriz roDrigues carrijo | jackson alano De oliveira
cenTrodeapoioaopequenoagriculTor:experinciasedesafiosemagroecologia | 233valDir luchman
refernciasemagroecologia:umolharsoBrearendaeoscaminhosTrilhadospelaagriculTurafamiliardosudoesTedoparan | 243serinei csar grgolo
Emsuatrajetriadecincoanos,oGETERR(GrupodeEstudosTerritoriais)daUNIOESTE,campusFranciscoBeltro-PR,vemsepreocupandocomodebateemtornododesenvolvimento,apartirdeabordagensquepermitamavanarcomrelaoantigaeultrapassadaconcepoeconomicistadede-senvolvimento. Atravs da utilizao dos termos/conceitos de desenvolvi-mentodelocal,sustentveleterritorial,governos,rgospblicos,polticos,empresasecientistas,passamareconheceranecessidadedesebuscarumdesenvolvimentomultidimensional,queincorporeparaalmdadimensoeconmica,questessocioculturais,polticaseambientais.Apesardepossu-remobjetivosdistintos,essesatoresvmcontribuindocomodebateecons-truodereflexeseexperinciasempricasemtornodenovasperspectivasparaodesenvolvimento.Dentrodessecomplexocontextoterico,conceitualemetodolgico,aagroecologia,nosltimosanos,vemganhandoadeptosentrecientistasepesquisadores,bemcomoentreosmovimentossociaisdocampo,poisbuscaaglutinaraproduodealimentossemousodeagro-qumicos,oequilbriodeecossistemaspormeiodeaesdeconservaoambiental,aseguranaalimentar,areproduosocialdasfamliasrurais,apartirdeumaorganizaopolticaeideolgicadeagricultoresetcnicos,contrrialgicadedesenvolvimentoprodutivista.
Nessesentido,aagroecologiaseapresentacomoumacinciaeummovimentopoltico,quetemsuasbasesemusosmaisracionaisdosrecur-sosnaturais,enaqualidadedevidadasfamliasquevivemedependemda
APresentAo
desenvolvimento territoriAl e AgroecologiA
agriculturaedoespaorural.Noentanto,elatambmpossuiseuslimites,demodoquesurgemdiversosquestionamentosemtornodesuaviabilida-decomoalternativadedesenvolvimento.
Estelivrotraztonaodebateemtornododesenvolvimentoterri-torial, tendocomofocoaagroecologiacomoumadasestratgiasdede-senvolvimento, sobretudo da agricultura familiar. A partir do III SEET(SeminrioEstadual deEstudosTerritoriais), promovidopeloGETERRemmaiode2007,organizamosestelivro,compostoporumacoletneadetextos,queapresentamresultadosdepesquisastericasedeexperinciasempricas realizadas por profissionais ligados aos temas agroecologia edesenvolvimento.Olivrofoidivididoemduaspartes,sendoqueaprimei-ra,tratadealgumasreflexessobreoDesenvolvimentoluzdoenfoqueterritorial, ea segunda,dasPerspectivasdaagroecologia,bemcomodeexperinciasnoestadodoParan,comdestaqueparaaregioSudoeste,ondeseconcentramimportantesinstituiesrepresentativasdaagricultu-rafamiliar.
Noprimeirocaptulodolivro,denominadoTerritrio,territoriali-dadeedesenvolvimento:diferentesperspectivasnonvel internacionalenoBrasil,MarcosA.SaqueteEliseuS.Spsitofazemumareflexoemtornodosconceitosdeterritrio,territorialidadeedesenvolvimento,uti-lizandoobrasdeautoresfranceses,italianosebrasileiros,especialmentedageografia,dasociologiaedaeconomia.Elesrevelamalgunscaminhosconstrudosnosltimos30anos,direcionadosincorporaodaproble-mticadodesenvolvimentoedaquestoambientalnodebateacadmicoecientfico,subsidiandoaefetivaodeabordagensdeumaprxistransfor-madoradarealidadecentradanaconquistademelhorescondiesdevida,tantonocampocomonacidade.
GiuseppeDematteis,professordaUniversidadedeTurimItliaere-fernciamundialnoestudodetemasrelativosaodesenvolvimentoterrito-rial,abordaaspectosdaaplicabilidadedoSistemaLocalTerritorial[SloT],desenvolvidodeformainterdisciplinarentrepesquisadores italianos.NotextoSistemaLocalTerritorial(SLoT):uminstrumentopararepresentar,leretransformaroterritrio,suapropostaapresentadadeformaclaraedidtica,ondepesquisadoreseestudantesencontraroumricoreferencialparaaprofundarasdiscussesrelativasaosestudosterritoriais.
No texto Desenvolvimento Territorial: algumas reflexes teorico-conceituaisderivadasdeestudodecaso,LuizA.GonalvesCunhaapre-sentaumaconcepodedesenvolvimentoterritorial,inspiradanoestudodastrajetriasregionaisdedesenvolvimentoruralqueforamidentificadasnoEstadodoParan,comnfasenocasodoParanTradicional.Oautoriniciacomadiscussosobreoprpriosentidodanoodedesenvolvimen-to,ebuscadiscutircomoumdeterminadoconceitodeterritriobsiconacomposiodestanovaconcepodedesenvolvimento,inserindoum
PreFcio
slidovisespacialnatentativaderenovaranlisesregionaisepropostasdecarterdesenvolvimentistas.
AdilsonFrancelinoAlveslanaumolharmetodolgicosobreaques-todaformaoderedesdeconhecimento.Nessetexto,oautorproble-matizaaexistnciadeduasredesdeconhecimentoeaprendizagemquemoldamformasdecompreenderodesenvolvimentoterritorial:aredecon-vencional,densamentetcnicaqueexigedoagricultoraaplicaodepaco-testecnolgicosquerequerempoucoconhecimentosobreofazeragrcola;earedeagroecolgicaquenecessitadeumaintensificaodossaberesdosagricultores.Suaanliseapontaparaanecessidadedeaprofundarosestu-dosnoentrecruzamentodessesdoissistemasdeconhecimento.
NotextoDesafiosdageraoderendaempequenaspropriedadeseaquestododesenvolvimentoruralsustentvelnoBrasilogegrafoAn-tonioNivaldoHespanholdiscuteatrajetriadaidiadedesenvolvimentoruralsustentvel,osproblemasdegeraoderendanaagriculturafami-liar,aheterogeneidadedocampoearevitalizaodorural,bemcomo,osdesafiosparaasustentabilidadenaagricultura.
Partindodeumavisomultidimensionaldedesenvolvimento,Wal-terMarschnereRoselA.dosSantosquestionamaspolticaspblicasdedesenvolvimento territorial e suaaplicabilidadenoSudoestedoParan,protagonizadapeloMDA(MinistriodoDesenvolvimentoAgrrio)comoformadepromoverodesenvolvimento.NotextoIdentidadeterritorialedesenvolvimento:aformulaodeumplanoterritorialdedesenvolvimen-toruralsustentveldoTerritrioSudoestedoParan,osautoresrealizamumaleituracrticadaconstruodoPlanodeDesenvolvimentoTerritorialRuralSustentveldoSudoestedoParan,enfatizandoanecessidadederespeitarosritmosetemposdoterritrio,edesuperarumaabordagemestritamenteeconmicaesetorial.
Iniciandoasegundapartedolivro,ocaptuloAgroecologia:limi-teseperspectivas,dagegrafaRosangelaHespanhol,abordaoprocessodeincorporaotecnolgicaocorridonaagriculturaaolongodahistriadahumanidade,destacandoadifusodaRevoluoVerdeesuasimplica-essocioambientais.Emseguida,discuteoprocessodeecologizaodaagriculturaeascorrentesdaAgriculturaAlternativa,comespecialatenoparaaAgroecologia;ediscorresobreasperspectivaseosdesafiosdossis-temasdeproduoconsideradossustentveis.
EmseutextoReflexessobreaAgroecologianoBrasil,oagrno-moAdrianoSaquet,discutea situaoatualdaagriculturaorgnicanoBrasilenaAmricaLatina;fazumcomparativoentreosistemaconven-cionaleoorgnico,comfoconoltimo;eapresentaoqueconsideraseremosprincipaislimitesepotencialidadesdeumaagriculturafundamentadaemprincpiosecolgicos.Adrianoelaboraumtextodidtico,mostrandoosprincipaiselementosdaproduoorgnicadealimentos.
desenvolvimento territoriAl e AgroecologiA
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OagrnomoeconsultordaredeEcovidaedaSDT/MDA,ValdemarArl,apresentaumareflexosobreaagroecologiaenfocandosuadimensopoltica, e, a partir da constatao das conseqncias damodernizaoagrcolaedaRevoluoVerde,clamaporumareorientaodaagricultu-raembuscadasustentabilidade.Paraoautor,aagroecologiaconsisteemquatrograndesdesafiosquesodiscutidosnotexto,sendoumdesafioso-ciopolticoeeconmico;umdesafiocientfico;umdesafioeducacional;eumdesafioorganizacional.
CombaseemsuaexperincianaformulaoeexecuodeprojetosemagriculturaorgnicaeagroecologiapeloInstitutoMaytenus,oagrno-moAntonioCarlosPicinattoapresentaemAgroecologianoParan:evolu-oedesafios,umpanoramadarealidadedaagriculturaorgnicaeagro-ecolgicanoEstadodoParan,passandopelaproduo,comercializaoeorganizaodeentidadeseprodutores,apontandoaindaalgunsdesafiosqueestopresentesnavidacotidianadeagricultoresfamiliaresdoSudo-estedoParan.
O tcnico daEMATER e engenheiro agrnomoNilton Luiz FritzabordaemseutextoAgoecologiaodesenvolvimentonoSudoestedoPa-ran,opapeldaEMATERnoincentivoagriculturaorgnicaeagroeco-lgicanoSudoestedoParan.Traztambmdepoimentosdeagricultores,tcnicoseentidadessobreosimpactosdaRevoluoVerde,opapeldaex-tensoruraleasituaodaproduoedacomercializaodeorgnicoseagroecolgicosnoSudoestedoParan.
Os gegrafos emembros doGETERR, LucianoZ. P. Candiotto eBeatrizR.Carrijo,juntamentecomJacksonA.deOliveira,procuramemAagroecologiaeasagroflorestasnocontextodeumaagriculturasusten-tveldiscorrersobreosfundamentostericosdaidiadeumaagriculturasustentvel,comdestaqueparaaagroecologiaeparaossistemasagroflo-restais.OsautorestambmapresentamalgunsresultadosdeumprojetosobreagroflorestasnoSudoestedoParan,indicandoosavanoseasdifi-culdadesencontradas.
ValdirLuchmanntcnicoemagropecuriacomnfaseemagroe-cologia,eseutextoapresentaosprincpioseopapeldoCAPA(CentrodeApoioaoPequenoAgricultor),apartirdesuaexperinciaprofissionalnoncleodomunicpiodeVer-PR.NotextoCAPAexperinciasedesafiosemagroecologia,Valdirdiscutetambmaassessoriadadapelaentidadeparaosprodutoresorgnicoseagroecolgicos,tantonoquesereferestcnicasdeproduoemmanejocomosmetodologiaseequipamentosalternativosparaaagriculturafamiliar.
Serinei Csar Grgolo, tcnico da ASSESOAR (Associao de Es-tudos,OrientaoeAssistnciaRural)e tambmengenheiroagrnomo,apresenta o textoproduzido apartir das reflexes feitas pela equipedaASSESOARapartirdeumestudodoDESER(DepartamentodeEstudos
PreFcio
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Scio-econmicosrurais).OtextoRefernciasemAgroecologia:umolharsobrearendaeoscaminhostrilhadospelaAgriculturaFamiliarnoSudo-estedoParan,partedeumestudodarendaedoscaminhostrilhadospelaagriculturafamiliardoSudoestedoParan,trazendoreflexessobreousodaterra,otrabalho,oautoconsumo,oscustosdeproduo,entreoutrosindicadores,apartirdosdepoimentosdeumgrupodeprodutoressobresuasUPVFsUnidadesdeProduoeVidaFamiliares,noSudoestedoParan.
Ressaltamosqueasreflexeseexperinciastratadasnesselivro,socompostaspordiferentesvivncias,formaeseformasdeatuaodosau-toresdoscaptulos,queapesardesetraduzirememtextosredigidoscomlinguagensheterogneas,demonstramadiversidadedeatoressociaisedeinstituiespreocupadoscomaquestodaagroecologiacomoestratgiadedesenvolvimentoparaterritrioscompresenadeagricultoresfamilia-res.Buscamosassim,modestamentecontribuirparaodesafiodediminuiraslacunasexistentesentreaacademiaeasexperinciasempricas,nosen-tidodepromoverodilogointerdisciplinaremtornodaagroecologia.
Osorganizadores
parte i
reflexes sobre o Desenvolvimento luz Do enfoque territorial
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territrio, territoriAlidAde e desenvolvimento: diFerentes PersPectivAs no nvel internAcionAl e no BrAsil
marcos aurlio saquetGegrafo,ProfessordoscursosdeGraduaoePs-graduaoemGeografiadaUNIOESTEFranciscoBeltro-PR,PesquisadordoCnpq|[email protected]
eliseu savrio spositoGegrafo,ProfessordoscursosdeGraduaoePs-GraduaoemGeografiadaFCT/UNESPPresidentePrudente-SP,PesquisadordoCnpq|[email protected]
Ascontrovrsias,osdebateseosestudossobreodesenvolvimentotmseacentuadobastanteapartirdosanos1990,emvirtudedevriosfatores,especialmentedoagravamentodadegradaoambiental.Oscilam-seentreumaperspectivamaisradical,quedefendeoretornoatcnicasprodutivasmaisrudimentares,compatamaresdeproduomaisreduzidosesimplifi-cadosevidenciandoolugareaintensidadedeaceleraoefortalecimentodaproduotipicamentecapitalista,centradanoavanotecnolgico,naprodutividade,naacumulaodecapital,noagravamentodadegradaoambientalenaeconomiacadavezmaisglobal.
Aomesmo tempo, substantiva-se uma perspectiva de desenvolvi-mentonaqualtenta-seconciliaraproduodemercadoriascomarecu-peraoeapreservaodoambiente,valorizando-seolugar;pormnodemaneiradesarticuladadeprocessosmaisgeraiseamplosefetivadosemescalascomoanacionale/ouinternacional.Paratanto,aorganizaopo-lticaeoenvolvimentodossujeitos,aformao/educao,oplanejamentoegesto,asredesdecooperao,avalorizaodasidentidades,entreou-trosprocessos,sofundamentaisnaredefiniodaproduoedeoutrosaspectosdavidacotidiana,numaconcepodedesenvolvimentoqueen-volve,necessariamente,orearranjodasrelaesdepoder.
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desenvolvimento territoriAl e AgroecologiA
nesse sentido emovimento que ganha centralidade, em pasescomoaFrana,aSuaeaItlia,apartirdosanos1970,adiscussosobreoterritrioeaterritorialidade,efetivando-seoqueseconvencionoudeno-minardeabordagemterritorial.umanovaformadeverecompreenderoespao,asociedadeeanatureza,ouadinmicasocioespacial,destacando-seasredesdecirculaoecomunicao,ascaractersticaseaimportnciadanaturezaexterioraohomem,asrelaesdepodereasidentidadeshis-toricamenteconstitudas.
Essaconcepo,elaboradaporpesquisadoresdediferentesreasdoconhecimento,comodageografia,dasociologiaedaeconomia,incorporalentamenteumcarterpolticomuitofortee,simultaneamente,umapers-pectivadedesenvolvimentoemrede,emfavordousomaisapropriadodanatureza,depequenasemdiasempresas,dacooperao,das identida-deslocais,entreoutros,oquesubstantivaoqueestamosdenominandodedesenvolvimentoterritorial.
Humaconcepo renovadado territrio,da territorialidadeedodesenvolvimento,reconhecendo-seascontradiessociais,omovimento,adialticasocioespacial,aprocessualidadehistrica,aimportnciadosluga-resedossujeitoslocais,danaturezaexterioraohomemeanecessidadedeorganizaoeatuaopoltica,numaespciedeprxisrevistaerenovadaapartirdeexperinciasefetivadas,sobretudoduranteosculoXX.H,su-cintamente,umafortetentativadesuperarasconcepesarealesetorialdeanlisedoterritrioedodesenvolvimento,combinando-searelaorea-redeourea-rede-lugar,tantonoqueserefereaosinstrumentaisdapesquisacientficaquantonaelaboraodepolticaseprojetosdedesenvolvimento.
territrio e territoriAlidAde
Parece-nosquenohdvidas,nomeioacadmico,sobreaimportnciadarenovaodecinciascomoageografia,asociologiaeaeconomia,naefe-tivaodenovosarranjosparaaprpriacinciae,aomesmotempo,paraacompreensodarelaosociedade-natureza.Humainteraoentreaproduodoconhecimentocientficoeavidaemsociedade(paraalmdes-saproduo)eissoestnabasedareelaboraodeconcepes,polticaseprojetos,apartirdosanos1960-70,empasescomoaFranaeaItlia.
A incorporao,por exemplo, de aspectosdo ideriomarxista emcinciascomoasociologia,ageografiaeaeconomia,possibilitaodesven-damentodeprocessoseconflitosatentoescondidos,possibilitandono-vasleiturasdomundodavida.Humamaiorpreocupaoeconseqenteintensificaodosestudos,apartirdosanos1970,porpartedepesquisa-doresdenominadosmarxistasouanarquistasouaindademocrticos,comascondiesdanaturezaedasociedade,enfim,comascondiesdevidanoplanetae,demaneiraespecial,comosgrupossociaisexcludos,tendo
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mArcos Aurlio sAquet | eliseu sAvrio sPosito
comotemticacentralajustiasocialjuntamentecomprocessoscorrelatos,comoaatuaodoEstado,ofortalecimentodaeconomianonvelinterna-cional,ousocapitalistadoespao,ametropolizaoeassimpordiante.
Aconjugaodefatoresmateriaiseimateriais,nomundodavida,condiciona a revisodasmetodologiasutilizadasnas cincias sociais, acompreensomaiscoerenteecompletadaatuaodoEstadoedosagen-tesdocapital,deprocessosidentitrios,dasredesdecirculaoecomuni-caoedadinmicadanatureza.Esseprocessoperpassa,aomesmotem-po,acinciaeafilosofia,aarte,apolticaeosmovimentossociais,comoresultadoecondiodenovosarranjoseredefiniessocietrias.
nessesentidoquesesubstantivamasconcepespioneirasereno-vadasdoterritrioedaterritorialidade,naFrana,naItlia,naSuaenosEUA.Evidentemente,essesconceitosnosofundamentaisparatodosospesquisadoreseparatodasascincias,pormassumemcentralidadeemalgumasdelas,comoageografia,asociologiaeaeconomia.Destacam-se,inicialmente,autorescomoJeanGottmann,GillesDeleuze,FlixGuattari,ArnaldoBagnasco, Francesco Indovina, Donatella Calabi, GiuseppeDe-matteis,MassimoQuaini,ClaudeRaffestin,entreoutros,e,posteriormen-te,pesquisadorescomoRobertSack.
Nestetexto,notemoscomopropsitotratardetodosessesautoresedesuasconcepes.Consideramosalgumasabordagensmaisdiretamen-tevinculadassperspectivasdodesenvolvimentoterritorial,elaboradasapartirdosanos1970-80.Evidenciamosduasperspectivasdistintas:umainerenteaopensamentoeaosestudosefetivadosporpesquisadoresdeln-guainglesae,outra,vinculadaescolafranco-italiana,comdestaqueparaClaudeRaffestin,naSuaeparaGiuseppeDematteis,naItlia.
Nachamadaescolaanglo-saxnica,umdosestudosprincipaisodeSack(1986),quetemsidoamplamenteutilizadoemvriospases,in-clusivenoBrasil,sobretudoporsuaconcepodegeografiaedeterrito-rialidade humana,considerandoasrelaesdepoderqueocorremtantoemnvelpessoaledegrupoquantointernacional.Aterritorialidadecor-respondeaocontrolesobreumareaouespao;umaestratgiaparain-fluenciaroucontrolarrecursos,fenmenos,relaesepessoaseestinti-mamenterelacionadaaomodocomoaspessoasusamaterra,organizamoespaoedosignificadosaolugar.
Aterritorialidadeumaexpressodopodersocial,conformandooterritrio.Esteentendidocomoumareacontroladaedelimitadaporal-gumaautoridade,resultadodeestratgiasdeinflunciasocial.Hcontrolesocial:algumaspessoasatuamcontrolandooutras.Aterritorialidadecon-sideradacomoumcomponentedepodersignificaumaformadecontroledoespao.ParaSack(1986),assim,oterritriocontmdemarcaes,cor-respondeaumareadecontroleeestdiretamenterelacionadoaoexer-cciodepoder.
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desenvolvimento territoriAl e AgroecologiA
Elefazumaabordagemrelacionaldoterritrio,contribuindoparaoentendimentodasdimensessociaisdesuaconstituio,ouseja,deas-pectosdaeconomia,dapolticaedacultura,pormsubsidiaaelaboraodeumaconcepoconservadoradeterritorialidade,oqueGoverna(2005)denominade territorialidade passiva. Para esta autora, adefiniodeterritorialidadepropostaporRobertSackextremamentergida,poisin-dividuaerecorta,respectivamente,tendnciaseefeitos,limitandoaabor-dagemacertasreasdecontrole.Aterritorialidade,paraSack(1986),vistacomocapacidadedeseparareexcluir,queseexprimedeacordocomasestratgiasdecontrole,coeroeexercciodopoder.
J na outra ponta da discusso, um autor considerado clssicopelaimportnciadesuaabordagememrelaoaoterritrioeterritoria-lidade,ClaudeRaffestin,quetemsededicadoaessatemticadesdeosanos1970,naSua,cujaobrabasilara Porumageografiadopoder,publicadaoriginalmenteem1980,naFrana.Suaatenotemseconcen-tradonaselaboraesterico-metodolgicas,pormcomdiferentesapli-caesempasescomoaSua,oBrasil,aItlia,dentreoutros.
Raffestin(1993[1980]),comosabemos,destacaocarterpolticodoterritrio,destacando,aomesmotempo,aspectoseprocessoseconmicose simblicosemsuaconstituioena territorialidade,comfortenfaseparaas relaesdepodereparaas redesdecirculaoecomunicao.Eessanfaseumadesuasprincipaiscontribuies,subsidiandonovasabordagensdoterritrio,dasrelaessociaisedodesenvolvimento.
Emsuaconcepo,oterritrioobjetivadoporrelaessociaiscon-cretaeabstratamente,relaesdepoderedominao,oqueimplicaacris-talizaodeumaterritorialidadeoudeterritorialidadesnoespao,apartirdasdiferentesatividadescotidianas.Isso,deacordocomRaffestin,assen-ta-senaconstruodemalhas,nseredes,delimitandocamposdeaes,depoder,nasprticasespaciaisqueconstituemoterritrio.
Destaca tambm o que denomina de sistema territorial, resultadodasrelaesdepoderdoEstado,dasempresaseoutrasorganizaesedosindivduos.Essesatoresgeramastessituras,maisoumenosdelimitveiseasterritorialidadesqueseinscrevemnasdinmicaspolticas,econmi-caseculturais.Emboratratededelimitaes,Raffestin(1993)reconheceeindicaumatransposiodoslimitespolticoseadministrativosatravsdeatividadeseconmicasedeviasemeiosdecirculaoecomunicao.
Sucintamente,fazumaabordagemmltipladoterritrioedaterri-torialidade,relacionalehistrica,simultaneamente.Issotemsidoconside-rado,nomeioacadmico,umainovaomuitoimportanteparaapoca,subsidiandomuitaspesquisas,debatese interpretaes,nosomentenageografia,mastambmemcinciascomoasociologia.
Destacamosduas contribuiesdeClaudeRaffestin, que conside-ramosmais relevantesparanossa reflexo: a) a importnciadanature-
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mArcos Aurlio sAquet | eliseu sAvrio sPosito
za(recursosnaturais)comoelementopresentenoterritrio.Emboranoaprofundeoestudodessaquesto,enfatizaousoeatransformaodosrecursosnaturaiscomoinstrumentosdepoder;b)aimportnciaecentra-lidadeda territorialidadenavidacotidiana,comombitode tomadadedecisesedeorganizaopoltica,oqueinspirarconcepescomoadaterritorialidade ativa,descritaerefletidaporGoverna(2005),porexem-plo.ParaFrancescaGoverna,aposiodeC.Raffestincompreendeater-ritorialidadecomorelaessociaisefetivadasparaasatisfaodeneces-sidadescomoauxliodemediadores(mdiateurs),nointuitodeseobtermaiorautonomia possvel.
AconcepodeRaffestin(1993[1980])sobreterritrioeterritoria-lidade processual, relacional emltipla, subsidiando a elaborao deidiasemfavordaorganizaopolticaedodesenvolvimento local.Deacordo comGoverna (2005), o que tambm fora observado por Saquet(2003[2001],2004e2006),aconcepodeClaudeRaffestinsobreopodersubstancialmentedistintadadeRobertSack,ouseja,paraRaffestin,asrelaesdepodersomultidimensionaiseefetivammalhas,nseredes.Aterritorialidade,nessesentido,significaacapacidadedevalorizaodosatoresedosrecursosdeumcertolugar,atravsdeaesdeinclusoenodeexcluso:Essaumaconcepoativadeterritorialidade,resultadodeumprocessodeconstruodasaesedoscomportamentosquedefinemasprticas(tambmdeconhecimento)doshomensemrelaorealidadematerial(GOVERNA,2005,p.57).
Aomesmotempo,naItlia,GiuseppeDematteis,desdeosanos1970,argumentaemfavordoterritrioconstrudohistoricamenteporsujeitosso-ciais que se relacionamentre si.Essa compreenso tambm inovadora epioneiraaparecemaisdetalhadamenteemsuaobrade1985,posteriormenteratificadaemDematteis(2001),naqualoterritrioeaterritorialidadesocompreendidoscomoprodutosdoentrelaamentoentreossujeitosdecadalugar,dessessujeitoscomoambienteedessessujeitoscomindivduosdeoutroslugares,efetivandotramastransescalaresentrediferentesnveisterri-toriais.Oterritrioumaconstruocoletivaemultidimensional,comml-tiplas territorialidades interagidas (poderes, comportamentos, aes) quepodemserpotencializadasatravsdeestratgiasdedesenvolvimentolocal.
Esta abordagem tem algumas similaridades quela de Raffestin(1993[1980]),quetambminspirouaelaboraodeconcepesrenovadasdoterritrio,daterritorialidadeedodesenvolvimento,subsidiandoade-finiodeplanoseprojetosdedesenvolvimento,comoocorreapartirdosanos1990e,sobretudo,apartirde2000,naItlia,atravsdaelaboraoterico-metodolgicadoSistema Local Territorial(Slot),oqualabordare-mosnoitemsobreodesenvolvimento territorial.Humaoperacionalidadedosconceitosdeterritrioeterritorialidade,oquevemocorrendonoBra-silapenasmaisrecentemente.
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desenvolvimento territoriAl e AgroecologiA
desenvolvimento locAl
Vamosacrescentarmaisalgunsargumentosparatornarmaisabrangenteestetexto.Primeiramente,apresentamosalgumasidiassobredesenvolvi-mento,partindodanovaordemqueseinstauranaescalamundiale,numsegundoplano,dasidiasdealgunsautoresqueabordaramotemadema-neirapositiva,paraposteriormentetrabalharmoscomodesenvolvimentolocalmaisespecificamente.
Iniciamoscomaconstataodequeasatividadeseconmicasain-dasoproeminentesnaconstituiodanovaordemmundialque,porsuavez,rebate-senoslugarescomsuasformasdecentralizaodegestodocapital,resultadodacombinaodediferentesarranjosinstitucionaisedaforadedeterminadasreasgeogrficas, cujas formasdeapropriaoetransformaodanaturezasetornaramhegemnicas.
Pelanovalgicaqueseinstauranosterritrios,nohuniformidadenadistribuiodasriquezasemesmodoacessosnovastecnologias,por-quea intensidadedecoordenaoserealizaemreasbemdemarcadasedefinidaspelaforadasatividadeseconmicas,gerandoreasexcludas.Odescompassoentreaexistnciadatecnologiaedoacessoaelapodesercon-siderado,agrossomodoesempretensesdesermosconclusivos,comoumestmuloaosmovimentosdepopulao,stensesentregrupossociais,disputapelacompetitividadee,enfim,pelodes-controledosterritrios.
Continuandonestemomento, trabalharemos comas idias de al-gunsautoresquetrataramdanoodedesenvolvimento,comoAlainLi-pietz(1988),queprocuroucompreenderasdesigualdadesespaciaisdode-senvolvimento a partir da diviso social e territorial do trabalho, tendocomobaseanoodeformaoeconmico-socialdeKarlMarx.
Paraexplicarsuanoodedesenvolvimento,eleenumeratrstiposderegies:
1) regies fortes em tecnologialigadasaoscentrosdenegciose/oudeengenharia,aoscentrosdepesquisaeensinotecnolgicoecientfi-co,destacandocomoimportantesasrelaesentreosramosdeati-vidadeseovaloreaqualificaodamo-de-obra;
2) regiesqueapresentamdensidade de mo-de-obra qualificada(tcni-coseoperriosqualificados)quetenhamcomobaseumatradioindustrial,ouseja,quecontamcomapresenadagrandeindstriaecomvalormdiodaforadetrabalho;
3) regiescomreservademo-de-obracombaixa qualificaoebaixovalordeproduo, sendo, emalgunscasos,derivadasdodeclniodasindstrias.
Essesdiferentestiposderegiesestariam,emtese,aptosaalavan-carodesenvolvimentoemdiferentesmagnitudes,dependendonosdes-
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sascaractersticas,mas,tambm,desuacombinaocomoutrosfatores,conformandoaformaoeconmico-social.
Outroautor,NeilSmith(1988),afirmaqueastendnciascontra-ditriasparaadiferenciaoeparaaigualizaodeterminamaprodu-odoespao.Emoutraspalavras,ascontradiesdovaivmdo capital,aose inscreveremnapaisagem,provocamodesenvolvimentodesigual,diferenciandoasreascomaltastaxasdelucro,deumlado,eosurgi-mento de reas que podem ser consideradas subdesenvolvidas porqueseapropriamdebaixastaxasdelucro.Odesenvolvimentoeosubdesen-volvimento,nessesentido,ocorrememtodasasescalasespaciais(dain-ternacionalurbana),eovaivmdocapitalprocurasempreasmaiorestaxasdelucronasdiferentesescalas,aproveitando-sedadesigualdadededesenvolvimento.
Noqueserefereanlisedasescalas,oautorexemplificaequalifi-casuaargumentaoapartirdoexemplodasuburbanizaoquesecon-solidouapsaIIGuerraMundial,sobretudonosEstadosUnidos.Essefe-nmenoseexplicaporqueaclassemdiaprocurousedeslocardasreascentraisdascidadesparareasperifricasemaisdistantes(oschamadossubrbios),fazendocomqueasreascentraissetornassemdeterioradasetivessemdiminuiodopreodosolourbano.Comisso,asnovasreas,aquelas procuradas pelas pessoas para fixarem residncia, tornaram-se(metaforicamente) desenvolvidas, propiciando altas taxas de retorno decapitalporcausadosinvestimentosimobilirios.
Porm,comadesvalorizaodosolourbanodessasreasapontodarendapotencialsetornarmaiordoquearendareal,tem-seumretor-nodocapitalaelas,ouseja,surgeumprocessoqueSmithchamade re-desenvolvimento.Assim,pode-seconcluirqueodesenvolvimentodesigualprodutododesenvolvimentocapitalista(nasmaisdiferentesescalas)e,aomesmotempo,premissaparaaexploraodasdesigualdadesgeogr-ficasparadeterminadosfinseconmicosesociais.Enfim,aacumulaodecapitale,porconseqncia,suaexpansogeogrfica,engendramumambienteconstrudoparaaproduoqueocorredemaneiradesiguales-pacialetemporalmente.
Outroautor,EdwardSoja(1993),defendeaidiadequeoslucrosauferidospeloscapitalistassedevem,emprimeirainstncia,sdesigual-dadesregionaiseespaciais,elementosnevrlgicosparaasobrevivnciadocapitalismo.Astaxasdelucro,aprodutividadedotrabalho,osndicessa-lariaisso,dessemodo,distribudosdemaneirageograficamentedesigual.Ditodemaneiradiferente,apermannciaeametamorfosedocapitalismodevemserentendidas,acimadetudo,apartirdaproduoedaocupaodeumespaoque,fatalmente,levamexistnciadeespaosdesenvolvidose subdesenvolvidos. Isto , o desenvolvimento geograficamente desigualadvmdadinmicadediferenciaoeigualizaoespaciaisnoprocesso
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deinternacionalizao,jquenoprocessodeexpansouniformedocapi-talsetem,sincronicamente,umprocessodediferenciao.
Frentepolarizaododebateentreoestruturalismoglobaleateo-riadasetapasdedesenvolvimento,surgeateoriadodesenvolvimentoen-dgenoafirmandoque,emprimeirainstncia,odesenvolvimentoeocres-cimentodasregies industriaissedevemaaspectos internos.As teoriasdodesenvolvimentoregionalendgenoedodesenvolvimentosustentvelsurgemnumcontextodecriseeconmicamundialnadcadade1980,mo-mentoemquehfortesmudanasnasregiesindustrializadas.Comode-clnioderegiesindustriaistradicionais,tem-seaemergnciaderegiesportadorasdenovosparadigmas(BENKO;LIPIETZ,1994).
H semelhanas entre o desenvolvimento regional endgeno e odesenvolvimentolocal,sendoesteltimocompreendido,sobretudo,numcontexto de globalizao e descentralizao: o desenvolvimento localpode ser conceituado como um processo endgeno de mudana, quelevaaodinamismoeconmicoemelhoriadaqualidadedevidadapo-pulao empequenasunidades territoriais e agrupamentoshumanos.(BUARQUE,2002,p.25).
Odesenvolvimento,nessalinhaderaciocnio,estligadotantoexploraodaspotencialidades locaisparaseualcancesocialquantoconservaodosrecursosnaturais.Porisso,pens-lorequer:a)valorizarosenraizamentos social, econmicoe culturalda sociedade local, indoalmdeanlisesestritamenteeconmicas;b)priorizarasinstituiesp-blicaslocais,aautonomiadasfinanaspblicaseoinvestimentodeex-cedentes emsetores sociais estratgicos.Emoutraspalavras,pensarodesenvolvimento local requernosomenteolharparaaeficinciaeco-nmica(agregaodevalor),mas,tambm,procurarcontribuirparaamelhoriadaqualidadedevidadaspessoas,diminuindoapobreza,porexemplo(BUARQUE,2002).
Emresumo,osestudosacercadodesenvolvimentolocalpriorizama importncia dos agentes locais como as instituies especficas cujainterveno visa ao apoio s empresas (centros tecnolgicos, escolas deformao profissional etc.). Por isso, o desenvolvimento deriva de umacombinaode fatores favorveis a algumas atividades especficas numdeterminadotempoenumdeterminadoterritrio,ouseja,ossucessosal-canadosemumdeterminadoterritrionopodemserreproduzidospelaspolticasdedesenvolvimento.
Juntamentecomaidiadedesenvolvimentolocal,tmsurgidotra-balhosdefendendoodesenvolvimentoapartirdaliberdade,daexpansodas capacidades humanas (SEN, 1993, 2000) e da autonomia (SOUZA,1997,2000,2003;CASTORIADIS,1983,1987).AmartyaSen(2000)defen-deaidiadedesenvolvimento associadoexpansodasliberdadesreaisdaspessoasaoassociarliberdadeecapacidadecomosendomeiosposterio-
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ressnecessidades,isto,anecessidadealgoaparentementetemporrionaspessoaseascapacidades/liberdadesrepresentamoqueelaspodemviraser(estadoresultantedeumaefetivao).
Emoutraspalavras,aefetivaoumaconquistadaspessoas.Aoes-tabelecerumaanlisehumanista,compreendeodesenvolvimentocomoumprocessodeexpansodasliberdadese,porisso,defendeaparticipaopol-ticaealiberdadedeexpresso,almdeoutrascapacidadesessenciaisparaodesenvolvimentosocial.Aomesmotempo,criticaavisodedesenvolvimen-toassociadariqueza,ouseja,aocrescimentodoPIBedarendaper capita,poisumapessoapodeserdemasiadorica,mas,aomesmotempo,privadadapossibilidadedeseexpressarlivrementeoudeparticipardedebatesede-cisespolticas.Emsuma:aliberdadenosomenteoobjetivoprimordialparasechegaraodesenvolvimento,mastambmoseuprincipalmeio.
Outros dois pontos favorveis ao desenvolvimento com liberdademerecemdestaque:1)areduodamortalidadeeamelhoriadaqualidadedevidaque,naperspectivadoautor,seroatingidassomenteseoEstadopriorizarosgastoscomserviossociais,sadeeeducaobsica;2)aim-portnciadaseliteslocaisnapromoodosdireitosbsicosdecadacida-do(sadeeeducao)enadifusodoacessoaosaspectospositivosdodesenvolvimentoeconmico.
Umoutroautor,Souza(2000,1997),defendequeodesenvolvimen-tosocioespacialdevesercompreendidoapartirdaautonomia individualecoletiva,envolvendoastomadasdedeciseseaparticipaoefetivadaspessoasnuma sociedademarcadapelaheteronomia, por sua vez, visvelnosLebenswelts urbanos (favelas, periferias etc.).O desenvolvimento seconcretizarcomaminimizaoda injustiasocialedasdesigualdadesnoacessoaoportunidadesaosmeiosdesatisfaodasnecessidades.Paratanto,necessriocompreenderoespaoemsuacomplexidadeparaevi-tarapriorismosereducionismos.
Nestemomentodotexto,vamosconfrontardoispontosdevistaparacompletarnossaargumentaosobreodesenvolvimentolocal.Dopontodevistadomercadodetrabalhoedacapacidadeprodutivadasociedade,algumascaractersticasdevemserlevadasemconta:
Incorporaotecnolgicaemsetoresdeponta;
Aumentodonmerodeempresas;
Variaodacapacidadeociosadasempresascomofatordedescom-pressodastensespolticasrelacionadasaomercadodetrabalho;
Diminuio do tamanhomdio das empresas, considerando-se onmerodeempregados;
Diminuiodonmerodeempregoscomcapacitaosofisticadaeaumentodonmerodeempregossemgrandesespecializaesouprecrios;
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Formaoderedesdearticulaoentrediferentessetores(empresasebancos,indstriaseserviosetc.);
Localizaodasempresasemeixosdecirculaodepessoasedemercadoriasdefinidosporestruturaslogsticassofisticadas.
Dopontodevistadomercadoconsumidore levando-seemcontaopapeldaredeurbana,deve-selevaremconsideraoosdeslocamentosparaaaquisiodebense servios tantomontante,quando se consi-deramascidadesmaiores(metrpoles,reasmetropolizadasougrandesaglomeraes),quanto jusante,quandosedestacaopapeldascidadesmdiasquedesempenhamopapeldeplosparaosquaismoradoresdeci-dadesmenoresedereasruraisestodispostosasedeslocarpararealizaroconsumodebenseserviosmaissofisticadosdoqueaquelesaquetmacessoemsuasreasderesidncia.
Aproximidadetemrelevncia,mesmoconsiderando-sequeasdis-tnciasdedeslocamentopodemseampliaroudiminuir,dependendodasformas de transportes e da situao da rea de realizao do consumoemrelaoaosprincipaiseixosdecirculaodemercadoriasepessoas,almdeseconsideraremaspossibilidadesindividuaisecoletivas(dispo-nibilidade,freqncia,poderaquisitivoetc.)dedeslocamento.Nestecaso,osfluxosdefinem-senombitoterritorialmaisprximoesomarcadospelacontinuidadeterritorial,cujaconfigurao,emalgunscasos,deumarea e,emoutroscasos,deumeixo.
Oeixo,entendidoaquicomoumparadigmacadavezmaismarcantenasdinmicasterritoriais,facilitaoconsumodebensdistncia,tornan-docomplexaarelaoentreascidadesdediferentesportesnaredeurba-na,relacionando-asnomaisdeformahierrquica,mascomumacombi-naohierrquico-horizontal,oquepermitequeosfluxosseestabeleamentreametrpoleeascidadespequenas,entreascidadesmdiaseasci-dadespequenas,ouentreascidadesmdiaseasmetrpoles,seconside-rarmosumterritrionacional.Issopode,noentanto,ultrapassarfrontei-ras,fazendocomqueosfluxosdepessoas,mercadoriaseinformaessefaamentrecidadesdediferentesportesecomdiferentesposiesnaredeurbana,consubstanciandoaquiloquejbemconhecidodosgegrafos,ouseja,anoodeglobalizao.
Essadinmicaterritorialdefinidapelalgicadasredesquepodemsubverterarelaoordem-tamanhoeasrelaesmontanteoujusante,gerandorelaesdeconcorrnciaecomplementaridadeentrecidadesdemesmaimportncia.Enfim,aconfiguraoseestabeleceemformadere-deseconformadapeladescontinuidade territorial caracterizadapelafluidezepelavelocidadenasrespostasaosimpactosexternoseinternos.
Asdinmicasterritoriaisdefinidasporessalgicadependemdain-fra-estruturaedasestratgiasespaciaisorganizadassegundoaspossibi-
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lidades de localizao industrial e de servios, reforando as diferentespossibilidadesdedesenvolvimentolocalembasadonacombinaodaca-pacidadedearticulaointernadasforaslocais,dasuacapacidadederecebimento e de utilizao dos impactos externos e das combinaespossveisentreospadresdelocalizaodasatividadesemreaseeixos considerando-se, logicamente, os vrios aspectos dacontinuidade e dadescontinuidade territorial.
Paracompletar,mesmoquenodeformadefinitiva,aexposiodosaspectosqueconsideramosfundamentaisparaacompreensodaspossi-bilidadesdeseconceberoconceitodedesenvolvimento,precisamoslevaremconsiderao,ainda,quehoutrascaractersticasdasdinmicasterri-toriais.Inicialmente,atendnciaampliaoterritorialdacompetitivida-depodeserconsideradacomoumacaractersticaatualecomoumaten-dncia,incorporadacomoleiuniversalecomoideologia.
Poroutrolado,aseletividadedoslugaresprovocaosurgimentodeambientes especializados por causa de sua capacidade de competncia,criatividadeecompetitividade,associadaaoprivilegiamentodasativida-descomgrandecapacidadedecriaoeincorporaotecnolgica,prin-cipalmente aquelas exercidas pelas grandes empresas mundiais que secapilarizam para outros nveis de competio ao se colocarem na proadastransformaesterritoriaisprovocadaspelaincorporaotecnolgica.Essatendnciaseconsolidacomopapeldalogstica(quecongregaainfra-estruturaeasformasdegestodasprticasdedeslocamentodepessoasemercadoriasenatransmissodeinformaes)quetransformaanaturezaeacapacidadedosterritriossedefiniremporsuacapacidadededesen-volvimentolocal.
No item seguinte, enfocaremos outra noo de desenvolvimento,tratandomaisespecificamentedoterritrioeseuscomponenteseproces-sosmateriais-imateriais.
desenvolvimento territoriAl
NaEuropa, desdeos anos 1970, deu-seum fortemovimentodireciona-doaoentendimentodosprocessosdedesenvolvimentolocalouregional,principalmenteempasescomoaFranaeaItlia.NaItlia,porexem-plo,hconcepeselaboradasporpesquisadorescomoCalgeroMusca-r,GiuseppeDematteis,GiacomoBecattini,GioachinoGarofoli,ArnaldoBagnasco,AlbertoMagnaghi,entreoutros,destacando-se,desdeosanos1960-70,aimportnciadolugaredoterritrioparaadefiniodeestrat-giasdedesenvolvimento.
Humarelaomuitosignificativaentreodesenvolvimentoecon-micodoCentro-Norte-Nordesteitalianoeestudosfeitosporesseseoutrospesquisadores,queelaboramoqueosocilogoArnaldoBagnascodenomi-
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desenvolvimento territoriAl e AgroecologiA
nou,nofinaldadcadade1970,deabordagemterritorial.NaItlia,defato,diferentementedoqueocorreunoBrasil,oconceitodeterritriotevecen-tralidadenomovimentoderenovaodecinciassociaiscomoasociologia,aeconomiaeageografia,inspirandoestudossobreaorganizaoeousodoterritrioeaconstruodepropostaseprojetosdedesenvolvimentolocal.
Como no nosso propsito abordar todas as concepes elabo-radasnaItliaenaFrana,destacamosaspectosdaconstituiodoSlot(Sistema Local Territorial),pelochamadogrupodeTurimItlia.Ocoor-denadordessegrupodeestudosfoiepermaneceGiuseppeDematteis,en-volvendopesquisadoresimportantescomoSrgioConti,AnaSegre,Fran-cescaGoverna,EgidioDansero,CarloSalone,entreoutros,doPolitcnicoeUniversidadedeTurimedeoutrasuniversidades,comoVincenzoGuar-rasi,BrunoVecchioePaolaBonora.Evidenciamosessaexperincia,porsuaimportncianomeioacadmico,tantonaItliacomoempasescomoaEspanha,aFranaeoBrasil.
Umadasobrasclssicasnesseprocesso,emboraoautornotenhaparticipadodiretamentedaconstruodoSlot,adeBagnasco(1977).emseuTrsItliasqueArnaldoBagnascoelaboraasbasesdeumateori-zaoquemarcouefetivamenteosestudosregionaisrealizadosemdife-rentespases,especialmentenaeconomia,nageografiaenasociologia.
Bagnasco(1977)compreendeoterritriocomorea,comcaracte-rsticaseconmicas,polticaseculturaisespecficas,naqualseusagentessociaismantmrelaescomagentesdeoutrasreas.Essaconexoentrediferentesterritriosumacontribuiomuitoimportantedoautor,queadenominadearticulaoterritorial,ouseja,umacombinaoentredi-ferentesclassessociaisqueseterritorializam.Tratam-sederelaesqueocorremtantononvelinternocomoexternamenteacadapas,emvirtu-de,especialmente,dacirandamercantil.Oautor,coerentemente,tambmabordaelementospolticoseculturaisdaconstituiodosterritriosedassuasarticulaes,destacandoosprocessoseconmicosepolticos.
Osterritrios,emsuaconcepopioneira,tmcaractersticasespe-cficasqueosdiferenciamunsdosoutros,comoprodutosdadinmicaso-cioeconmica,sendoqueelesestoemarticulaoeconexonomercadonoqualtambmexistemrelaespolticaseculturaisqueseefetivamnotempoenoespao.Essaarticulaoassumeumcartercentralnaabor-dagemdesseautor,apontodeserconsiderada,elamesma,umadasmlti-plasdeterminaesdeumarealidadeconcreta.
Oterritrio,assim,almdereaeformasespaciais,significacone-xo,articulao,resultadoecondiodadinmicasocioespacial.Eode-senvolvimentomarcadopelaespecializao produtiva locale,aomesmotempo,pelaagregao territorial,pormudanas/inovaeseporpermann-ciassociaiseterritoriais.Ditodeoutramaneirah,noterritrio,umde-senvolvimentodesigualecombinado.
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Posteriormente,emAconstruosocialdomercado,obrapublica-daem1988,ArnaldoBagnascoreforasuaabordagemmltipladodesen-volvimentoregional,ouseja,consideraaspectospolticos,econmicoseculturaisecontinuareconhecendodiferentesrecortesregionaiscomofor-maes sociaisdistintas,coexistentesearticuladasemtramassociais.Bag-nasco(1988)evidenciaquatromecanismosprincipaisderegulaoecon-mica,presentesnaterritorializao:a)areciprocidadeentreosindivduosouinstituies;b)omercado,criadorderelaeseaessociais;c)aor-ganizao,internaeexternaacadaempresa;d)asrelaespolticas,comoformadeintervenoetutelamentodeinteressesdedeterminadosgrupossociais.Essesmecanismosestosemprepresentes.Oquemudanoespaoenotempososuascombinaes.Ficaclaro,dessamaneira,suaaborda-gemprocessualerelacionaldeterritrioededesenvolvimentoeanfaseparaosfatoreseconmicosepolticos.
NoqueserefereespecificamenteelaboraodoSlot,pelogrupodeTurim,ressaltamosumtextopublicadoporGiuseppeDematteisem2001,porresumirmuitobemsuaargumentaoparaoentendimentodo territrio e da territorialidade, atravs dos sistemas locais territo-riais.OSlot,paraesseautor,deveser,aomesmotempo,uminstrumen-to de poltica territorialeumaformaanalticae,porisso,construdoapartirdarealidade.
Dessa forma, Dematteis (2001) prope os seguintes componentesanalticosparaoSlot:a)arede local de sujeitos,quecorrespondesinte-raesentreindivduosemumterritrio local,ondehrelaesdeproxi-midade ereciprocidadeentreossujeitosdolocaledeoutroslugares.Haconstruodeumator coletivo;b)omilieu local,entendidocomoumcon-juntodecondies ambientais locaisnasquaisoperamossujeitoscoletivaehistoricamente;c)ainteraodarede localcomomilieu localecomoecossistema,deformatantocognitiva(simblica)quantomaterial.Hin-teraesentreosdomniosdosocialedoambiente;d)arelao interativadarede localcomredes extralocais,emdistintasescalas:regional,nacionaleglobal.Hinflunciasmtuasentreolocaleoglobal.
CadaSistema Local Territorial, dessamaneira, paraGiuseppeDe-matteis,temaspectosambientaiseumaconstruosocialhistrica,pro-cessualerelacional,naqualsedumaorganizaopolticanosentidodacoesoedaprojeodofuturo.E,comohpreocupaoeintencionali-dadecomaprojeoecomoplanejamento, importantequecadaSlottenhacapacidadedeseauto-representareseauto-projetar,sendooestudo(anlisee interpretao)ummeioparaaconquistadeautonomia, lem-brandoalgunsprincpiosdaargumentaodeAmartyaSen.Daoconcei-todeterritorialidade ativa,comoformadedesenvolvimentoeconquistadeautonomia.Istosignificaque,nessaconcepo,optarporumageografia da territorialidade implicaumamudanadeparadigmadeabordagemdos
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desenvolvimento territoriAl e AgroecologiA
processosgeogrficosedeatuaonavidapoltica(paradetalhamentodaproposta,verotextodeG.Dematteis,publicadonestelivro).
nessesentidoecontextoqueseelaboraoconceitodedesenvolvi-mento territorial, compreendido levando-se emconsideraoos compo-nentesde cada territrio, ou seja, tantoos econmicos, comopolticos,culturaiseambientais.Aterritorialidade,apartirdoconceito(ounoo)elaboradoporClaudeRaffestin,vistacomoumapossibilidadedemedia-oparaaconstruodenovosprojetosdedesenvolvimentoeaconquistademelhorescondiesdevida,comautonomia.
Aautonomianosignifica,deformaalguma,umaespciedefecha-mentodolugarcomrelaoaorestantedomundo.Aocontrrio,signifi-caacapacidadedecontroleegestodedeterminadosprocessospolticos,econmicos,culturaiseambientais,demaneiraqueossujeitosenvolvidosdiretamenteemcadaprocessopossamdefinirosplanoseprojetosemcon-sonnciacomatoreseprocessosdeoutroslugares.Humarelaodeuni-dadenadiversidadequeprecisasergeridacomvistasaodesenvolvimentocommaisjustiasocial.
EmconsonnciacomArnaldoBagnascoeGiuseppeDematteis,duasdasprincipaisrefernciasnombitointernacionalsobreasquestesdoter-ritrio e do desenvolvimento, podemos afirmar que as interpretaes doterritrioe/ouasiniciativasdedesenvolvimento territorialprecisamcon-siderar,necessariamente,osseguinteselementos/componenteseprocessos:
Aarticulaodeclasseseaconstituioderedesetramaslocaiseextralocais,quesignificamrelaesdepoder,efetivadasemcadalu-gareentreoslugares,emvirtudedesuasdesigualdades,diferenaseespecificidades.
Ocarter (i)material, conciliando-seos fatoreseelementoscultu-rais,polticos,econmicosenaturais,emunidade.
Aproduodemercadorias(ouexcedentes),arecuperaoeapre-servaodanaturezaexterioraohomem.
Avalorizaodaspequenasemdiasiniciativasprodutivas.
Avalorizaodossabereslocaisedasidentidades.
Aconsideraodoprocessohistricoedopatrimniodecadalugar.
Aproduoecolgicadealimentos.
Aorganizaopolticalocal,comvistasconquistadeautonomia.
Adiminuiodasinjustiasedasdesigualdadessociais,dentreoutros.
Esseselementossoconsiderados,porexemplo,noBrasil,emobrascomoasdeSaquet(2003[2001]e2006),naanlisedoterritrio,daterri-torialidadeedodesenvolvimento,nointuitodesubsidiareorientaraela-boraodeplanoseprojetosespecficosdedesenvolvimento,quevisem
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conquistadeautonomia.Attulodeilustrao,podemosmencionarduasexperinciasconstrudasnoSudoestedoParan,apartirdosanos1990,comessainspirao.
Asexperinciassoasseguintes:a)oProjeto Vida na Roa,pensadoeefetivadoatravsdaatuaoconjuntadevriasinstituies(pblicaseumaONG,aAssesoar),entreosanos1996e1998,considerandoaintera-odeaesvoltadasparaasatividadeseconmicas,polticaseculturaisdeumgrupodemaisde100famliasdeagricultoresfamiliareseprimandopelarecuperaoepreservaodoambientee,b)oProjeto Vida no Bairro,construdotambmemparceriaedeformaparticipativa,envolvendodi-ferentesinstituies.Nesseprojeto(SAQUET;PACFICO;FLVIO,2005)tambmtrabalhamoscommaisde100famliasmoradorasemumbair-roperifricodacidadedeFranciscoBeltro(PR).Nasuaelaboraoenaconcretizaodas aes, entre2001 e 2005, tentamos estabelecernovasrelaeseatividades,emtramasterritoriaiscentradasnaformao/edu-caodos sujeitosenvolvidos,naorganizaoeparticipaopolticanatomadadedecises,napreservaodoambiente,navalorizaodaidenti-dadejexistenteentreosmoradoresdobairro,enfim,tentamosviabilizaratividadesquepossibilitassemmelhoriasnascondiesdevidadaquelaspessoas,comumcertonveldeautonomiadiantedeprocessospolticosconservadoreseinerentesdominaosocial.
Sucintamente, pensar, discutir e estabelecer aes de desenvolvi-mentoterritorialsignifica,numprimeiromomento,terumacompreensorenovadaecrticadoterritrio,daterritorialidadeedodesenvolvimento.Nobastasubstituiroconceitoderegiopelodeterritrio,comocomu-menteocorrenoBrasil.necessrioconhecer,comclareza,suasdiferen-tesabordagensassimcomoasdeterritorialidadeedesenvolvimento,comoorientaoinicialparaareuniodaspessoasquedesejamrearranjarsuaformadevida.
Apartirda,fundamentalconsideraroselementosqueestopre-sentesemcadaterritrioquedescrevemosanteriormentee,acimadetudo,ossujeitosqueefetivamessesterritrios,suasnecessidades,seusvaloresepatrimnios,ascondiesdanaturezaexterioraohomem,enfim,suasrelaeseseuslugaresdevidacotidiana,historicamenteconstitudosdemaneiraimaterial-material.Emvezdecondicionaroslugaresstcnicasestecnologiasdochamadomundomoderno,necessrio,maisdoqueemoutrosmomentosdahistriadahumanidade,ajustarastcnicaseastecnologiasaoslugares,suasespecificidadeshistrico-geogrficas,ouseja,territoriais,nointuitodeconcretizaraesdedesenvolvimentoterritorialcomautonomia.Podemoscompreender,nessesentido,odesenvolvimentocomoaorganizaoealutapelaliberdade,pelajustiaepeloconhecimen-to.Quantomaisconhecimento,maiscondiesteremosparanossaorga-nizaopolticaelutapelaautonomia.
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sistemA locAl territoriAl (slot): um instrumento PArA rePresentAr, ler e trAnsFormAr o territrio
giuseppe DematteisGegrafo,ProfessordeGeografiadoPolitcnicoeUniversidadedeTurim-Itlia|[email protected]
Seguidamente se faz um uso excessivamente retrico da palavra terri-trio, sugerindo-se visesparciais oudistorcidasda realidade.Parciaisquandoopensamoscomoumconjuntomaterialdecoisassematores,ouquandocremos,aocontrrio,queoagirpoltico,social,culturaleecon-micopossaserdesligadodesuamaterialidade.Ou,ainda,quandooter-ritriopensadocomosimplesreceptorpassivodeefeitosderivadosdeumagirsocial,econmicoepolticoqueoperariaemumaesferaautno-maedistintadarealidadematerialdoslugares.
Sefosseassim,isto,seoterritriofossesomenteasuperfcieso-breaqualseprojetaalgumaatividade,noserianecessrioneleintervir:aspolticasterritoriaisnoprecisariamexistir,ouseja,bastariampolticaseconmicasesociaisque,regulandorelaesintersubjetivaseabstratas,regulariamosefeitoseosimpactossobreele,dando-lheaformaeaorga-nizaodesejada.
Seria,certamente,umagrandefacilidade,pormessavisodesma-terializadadoagirhumanocontrastacomofatodequetodasascoisasquefazemos,comoindivduosecomosociedade,devemserefetivadasconsi-derandoosbenseosrecursosnaturaisprimrios,osequilbrioshidrogeo-
1 Traduo:ProfessorDr.MarcosAurelioSaquet.
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lgicoseecossistmicos,ossolosprpriosparaasedificaes,opatrim-niohistricoeartstico,ocapitalfixoexistente(infra-estruturas,edifcios,construesetc.).Sotodosesseselementos,solidamenteligadosaosoloedistribudosnoespaogeogrficodemaneiravariadaque,combinando-secomasnossasexignciasdeviver,habitar,produziresonhar,modelam,notempo,asociedadeeaeconomia.Podeacontecer,tambm,queoproces-soco-evolutivodelongaduraopassedesapercebidoeanossapercepoimediatasejaqueasociedademodelaoterritrio,semseconsiderar,tam-bm,queocontrrioocorre.
Poressemotivo,qualquerpolticaeconmica,socialecultural,queobjetivasereficazdeveocupar-sedo territrio,vistonosomentecomoprodutodoagirhumano,mastambmesobretudo,comomeioematrizdeumfuturo,visandoproteodoconjuntodecondiesnecessriasvida.Issoequivaleadizerque,paramelhoraraqualidadedoambienteedasociedade,paraproduzirculturaedesenvolvimentoeconmico,preci-samosagirconsiderandoaterritorialidade,entendidacomoasrelaesdi-nmicasexistentesentreoscomponentessociais(economia,cultura,ins-tituies,poder)eoselementosmateriaiseimateriais,vivoseinertes,quesoprpriosdosterritriosondesehabita,seviveeseproduz.
territoriAlidAde AtivA e PAssivA
Parasecompreenderopapeldaterritorialidadenosprocessosdedesenvol-vimentonecessrioesclarecerosprincipaissignificadosassumidosporessetermoesuasdiferenasessenciais.
Deacordocomalgunsautores,comoR.D.Sack,aterritorialidadepodeserdefinidacomoatentativadeumindivduooudeumgrupodeinfluenciaroucontrolaraspessoas,osfenmenoseasrelaes,delimitan-doeexercitandoumcontrolesobreumareageogrfica.Essareaserchamadaterritrio.
Bemdiferenteaposiodeoutrosautoresque,juntamentecomC.Raffestin,definematerritorialidadecomoumconjuntoderelaesquenascememumsistematridimensionalsociedade-espao-tempo,comvis-tasmaiorconquistapossveldeautonomia,compatvelcomosrecursosdeumsistema.Eainda:conjuntoderelaesqueumasociedade,eporissoosindivduos,tmcomaexterioridadeecomaalteridadeparasatisfa-zerosprpriosdesejoscomaajudademediadores,naperspectivadeobteramaiorautonomiapossvel,tendoemcontaosrecursosdeumsistema.Nessecaso,aterritorialidadenooresultadodocomportamentohuma-nosobreoterritrio,masoprocessodeconstruodetaiscomportamen-tos,oconjuntodasprticasedosconhecimentosdoshomensemrelaorealidadematerial,asomadasrelaesestabelecidasporumsujeitocomoterritrio(aexterioridade)ecomosoutrossujeitos(aalteridade).
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Essas duas abordagens, diferentes em relao territorialidade,indicamdoismodosdiversosde considerar o local e as relaes comoterritriodossujeitos.possvel,assim,distinguir-seuma territorialida-de passivaenegativaque,comestratgiasdecontroleecomosistemanormativoassociado,objetivaexcluirsujeitoserecursos,eumaterritoria-lidade ativaepositiva,quederivadasaescoletivasterritorializadaseterritorializantesdossujeitoslocaiseobjetivaaconstruodeestratgiasdeincluso.Nestesterritrios,vistoscomoativos,aterritorialidadecor-respondeamediaessimblicas,cognitivaseprticasentreamateriali-dadedoslugareseoagirsocialnosprocessosdetransformaoterritorialededesenvolvimentolocal.
Cabedestacar queno sempre que a territorialidadepassiva serealiza comprticas de coero e comobjetivos negativos. Antes disso,ocontrole seexercita coma finalidadedobem.Este bem,porm,definidopelosdominadores,enquantoosdominadosnotmapossibili-dadeautnomadejuzoedeagirparafazervalerseusinteresses.Essaumaformadetratamentoedomododesatisfazerasnecessidadestpicadatradioadministrativaedoplanejamentoterritorial,entendidocomoregulao autoritria das decises e como estruturao hierrquica dosconflitos.Naconstruodasformaspassivasdaterritorialidade,defato,aossujeitos(locais)sotransferidoscomportamentospr-definidospelasestruturasdecontrole,deacordocomexpectativasexternas,semsepreverquepossamagirdemaneiraprpria,comaesautnomas.Jnaterrito-rialidadeativaossujeitoslocaisefetivampapiseaesconfigurando,des-semodo,estratgiasderesposta/resistnciacomrelaosimposiesdecontrole,contribuindopararealizarmudanaseinovaes.
os sistemAs locAis territoriAis (slots)
Paraqueaconcepoativaepositivadaterritorialidadepossaser,defato,operativanosprocessosdedesenvolvimento,precisamostraduzi-laemummodeloconceitual,quesirvaantesdequalquercoisa,analiseedescriodarealidadeedaspotencialidadessociaiseterritoriaisjexistentesparaseconstruir,apartirdisso,ossistemas,aomesmotempo,territoriaisesociais,destinadosaseconfigurarematoresdedesenvolvimentolocalnombitodaspolticasmunicipais,estaduaisenacionais.Pesquisasempricasapli-cadasaproblemasdedesenvolvimentolocaledeprojeointegradaporcontadeentidadespblicas(municpios,provncias,regies,ministrios),juntamentecomestudosdecasoecomreflexes terico-conceituais re-centementedesenvolvidasemumapesquisanacionalPRIN-MIUR,permi-tiramgerarummodelosimplificadodesistemalocalterritorial(SloT),aomesmotempo,analticoecomomeioparaoplanejamentoeconcretizaodeprojetosdedesenvolvimento.Umsistemalocalterritorialconstrudo
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apartirdoquejexisteeissopodegarantiraeficciadeprojeodoqueseredificado.
Comoinstrumentoanaltico,omodeloconceitualSloTcompostopelosseguinteselementos:
i) A rede local de sujeitos:formadapeloconjuntoderelaeseintera-esentreossujeitos(individuaisecoletivos,pblicoseprivados,locaiseglobais),presentesouativveisemumcertoterritrio local.Aqui,porlocal,entende-seaescalageogrficaquepermiteintera-es tpicas de proximidade fsica: relaes baseadas no conheci-mentoenacomunicaodireta(face-to-face),naconfiana,nare-ciprocidade,naexperinciacomumeprticadeumcertocontextooumilieuterritorialetc.Porisso,considera-setantoadimensodeuma vila ou de um pequeno bairro como uma provncia italiananomuitogrande,quetambmadimensonormaldeumsistematerritorialurbanodetamanhomediano.Comea-seafalardoSloTquandoesseagregadodesujeitosagedealgummodoeemalgumaocasiocomoumatorcoletivo,isto,quandoseempenhanaelabo-raoenarealizaodeprojetoscomunsdetransformao,desen-volvimentoerequalificaodoprprioterritrio.
ii) O milieu local:indicaoconjuntodecondiesfavorveisaodesen-volvimentoespecficodocontextoterritorialnoqualoperaumacer-taredelocaldesujeitos,da forma como estes percebem estas condi-es.Humreferimentoobjetivoaosrecursospotenciaisimveis(ocapitalterritorial)prpriosdoterritriolocal,isto,aoconjun-toderecursosmateriaiseimateriais,queestosedimentadoslocal-mente comoresultadodeum longoprocessoco-evolutivoentreasociedadelocaleoterritrio.Ocapitalterritorialnoconsiste,po-rm,simplesmentenoconjuntoobjetivoderecursos (assimcomoopoderiadescrevereavaliarumpesquisadorexterno).Eletemumladosubjetivoquecompreendeas representaeseasatribuiesdevalorefetivadaspelossujeitoslocais.Correspondeaoconjuntodepropriedadesquearedelocaldossujeitosconsideracomoprises(ex-pressodogegrafofrancsA.Berque)paratransformaremelhoraroseuambientedevida.
iii) A relao de interao da rede local com o milieu e com os ecossiste-mas locais:consistenatraduodaspotencialidadesdomilieuemvaloresdo tipoambiental, cultural, esttico, social e econmico atravs de processos de transformao simblica ematerial doambiente.
iv) A relao interativa da rede local com redes globais(redeslongas;tendencialmenteglobais):soasaesquemodificamtantoacom-posioda rede local, comoomilieu, as relaes cognitivas, sim-
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blicasetecnolgicascomoambientelocaleosvaloresexgenos(cognitivos,culturais,sociais,econmicos).Humainteraoentreosvaloreslocaiseglobais.
Essaformadedefinirossistemaslocaistemalgumasimplicaesrelevantes.Antesdetudo,aidentidadedoSloTdefinidanosomentecomrelaoaosentidodepertencimentoememriadopassado,mastam-bm,esobretudo,emtermosdeorganizao do sistema,isto,comocoe-soparaoplanejamentodofuturo.CadaSloT,pelofatodeterumaorgani-zaoespecficaeumdomnio cognitivoprprio,reconhecidocomosededeelaborao (tambmconflitual)de racionalidades locais que se expli-camatravsdeprincpioseregrasespecficasdeusoedeorganizaodoterritrio.Comoconseqncia,paracadaSloTseatribuiumacapacidade(maisoumenosexplcita)deauto-representaoedeauto-projeo;capa-cidadequeinteragecomaquelasanlogasdonvelglobalnasformasdecooperao,deconflitoedenegociao.
Enfim,aauto-organizaodosistemalocalconsideradaumrecur-soendgenoqueaspolticasgeraisdedesenvolvimentodevemconhecer,orientaregovernar.Esserecursooverdadeiroobjetodeanliseparacadasistematerritoriallocal.Aindividualizaodossistemaslocais,dasredesedosambientescomoentidadesterritoriaissomenteuminstrumentoparasedescobriredescreverasformaslocaisdeterritorialidadeativa,ouseja,asmodalidadesdeorganizaolocal,comoobjetivodeativareorientarprocessosdedesenvolvimento.
Cabedestacarque, referindo-seaentidades territoriais (comcon-tornosvariveis),onossosistemalocalterritorialsediferenciaconceitual-mentedacategoriasimilarutilizadaanteriormenteporgegrafos,plane-jadoreseoutrosestudiosos,comoopaysdageografiavidaliana,asregieshomogneasefuncionais,ossistemasurbanos,osdistritosindustriaisetc.Defato,nossosistemalocalterritorialnoumsistemajexistentequefuncionacomatorescoletivosterritoriais,masumasriedeindcios(atitu-des,experinciasetc.)edepr-condiessubjetivaseobjetivasque,comaintervenodeestmulosoportunosecomaesdegovernana,poderen-deraconstruo,emcertareageogrfica,deumsistematerritorialcapazdecontribuirautonomamenteparaodesenvolvimento.Enfim,osistematerritorialmaisapropriadoumterritrioondesejapossvel fazerboaspolticaseaeseficazesparaodesenvolvimento.
ComoSloTseindicaumapotencialidaderealizvelnarelaoentrecertoscomponentesobjetivosesubjetivos,quesoanalisadoscasoacaso,comxitosomenteemparteprevisvel.AanliseSloTnodarjamaiscer-tezasabsolutassobrearealidadeenemsobreaprojeodofuturoedodesenvolvimento.Elaindica,porm,umapossvelarticulaodoterrit-rio,apartirdosindciosestudados,sendoqueagovernanadirecionadaao
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desenvolvimentoterritorialsermaiseficazemrelaoaoutrosencami-nhamentosquenoconsideramadistribuioterritorialdascapacidadesauto-organizativasdossujeitoseassuasinteraescomocapitalterrito-riallocal.
Concluindo,oSloTpermite:
i) Delinearageografiadaprojeoedoagircoletivoemumterritrio(regional,nacional,transnacional)combasenasrelaessociaiseterritoriaisexistentes;
ii) Individuaroestadoatualdestasrelaesque,normalmente,soin-completas;
iii) Avaliarapossibilidadedeativarasrelaesquefaltameosproces-sosdedesenvolvimentoautocentrados;
iv) Avaliaraexistnciaeascaractersticasdosvaloresterritoriaispro-duzidos;
v) Sugeriraarquiteturamaisapropriadaparaconstruir,casoacaso,umsistemadegovernanaeficazparaaimplementaodepolticaseparaarealizaodeprogramaseprojetos;
vi) Avaliarasustentabilidadeterritorialdodesenvolvimento,compreen-didacomocapacidadedereproduzireenriquecerocapitalterrito-riallocalsemempobrecerodeoutrosterritrios;
vii)Oferecerumasustentaocognitivaparaplanosepolticasdevastasreasbaseadosnaarticulao,emrede,dossistemaslocaisterrito-riais.
Alguns ProBlemAs
AaplicaodomodeloSloTanlisedeumterritriodenotaalgunspro-blemasmetodolgicosquemerecemserilustradosbrevemente,tendopre-senteasexperinciasdepesquisadecamporealizadasnocursodenossosestudos.
A individuAlizAo dos possveis sloTsnecessrioteremmentequeonossomodelonoserveparaestudarasubdivisoracionaldeumterritrioemunidadegeogrficadenvellocal,masparaexploraredescreverageografiareferenteaumrecursoparticu-lar,quecorrespondecapacidadedeauto-organizaolocaledeagrega-oterritorialvoluntria,vistacomointerfacenecessriaparaativar,eemumacertamedidatambmproduzirrecursosespecficosnosprocessosdedesenvolvimento.Diantedoprocessodefragmentaoeglobalizaoeco-nmica,essesrecursosnosodistribudosuniformementeetambmnoexistememtodososlugares.Ento,comopodemosindividualiz-los?
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Tratando-se de recursos prprios das sociedades locais, amelhormaneiraparadescobri-lospareceseraquepartedeumaanlisedasagre-gaes territoriaisdesujeitosprivadosepblicos,quegeraramprojetoseaesdirecionadosaodesenvolvimentolocal(nosomenteeconmico,mastambmsocial,culturaletc.).Porexemplo:nasnossaspesquisasem-pricasforamanalisadasredescomoasdospactosterritoriais.Cadaagre-gaomaisoumenosvoluntriacorrespondeaumarededesujeitoslocais(eglobaiscomancoragenslocais)quepodesercartografada.Sobrepondoasvriasconfiguraesespaciaisderedesqueemergemdosadensamentosemcertasreas,podemosdefinirumaprimeirageografiadastendnciasauto-organizativas locais etc.Tais adensamentosdeprojeo e ao co-letivasoindciosdepossveisSloTs.Numsegundomomento,asuacor-respondnciaaomodeloeosseuslimitesaproximadospodemsermelhordefinidosexaminandoacomposiodasredes,opapelefetivodossujeitosparticipantes, os objetivos e os resultados esperados, a estabilidade dasagregaes,osmbitosterritoriaisdosprojetosedasaes,eadistribui-oespacialdocapitalterritorialativado.
Nestafasedeanlise,umtemaparticularmenteimportanteodacongruncia da agregao territorial definida pelos projetos. Tal questorequer,deumlado,adefiniodosparmetrosque fazemcomqueumagregadodesujeitossecomportecomoumsistemalocal;dooutrolado,aindividualizaoedelimitaodombitoterritorialnoqualagemossu-jeitoslocais.Estesdoisaspectosestoestreitamentecoligados:emefeito,somentesee quandooagregadodesujeitossecomportareagircomoumsujeitocoletivo,osistemalocalterritorialpodersergeograficamentedelimitado.Noexisteumterritrioperfeitoeadimensotimaparaodesenvolvimentolocal,porm,existemterritriosparasereminterpreta-dosapartirdoscomponentesdecadamilieulocal.Osterritriosnosorigidamentepr-determinados,massodefinidosduranteoprocessodeconstruodoatorcoletivolocal,apartirdeumahipteseinicialdeagre-gaoterritorialdossujeitosparticipantes.
Aspr-condiessubjetivassoconfrontadascomoutrasdetipoob-jetivo,nointuitodeseverificaraestabilidadeeafuncionalidadedasagrega-esprecedentes(envolvidasnosprojetos).Nestecaso,deve-seconsiderar:
i) Asdivisesadministrativasatuais.
ii) Aquelasque,nocursodahistria,podemtercontribudoparacriarreasdeparticularcoesocultural.
iii) Asreasdecontenodosfluxoslocais(mobilidadeporserviosepelotrabalho,input-outputentreunidadesdossistemasprodutivoslocais).
iv) Osfluxoscorrespondentes,rodovirioseferrovirios(inclusasasre-deslocaisdostransportes).
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Asanlisesobjetivaspermitemtraaroslimites(comgeometriava-rivel)dohipotticoSloT.nessafasequeapareceoproblemadadimen-sogeogrficadosistemalocal.Essadimensopodevariarentreummxi-moeummnimo,aserdeterminadocasoacasoapartirdanossadefiniodomodelo.Adimensomximacompatvelcomtaldefiniorequerqueserespeitemascondiesnecessriasdeproximidadegeogrfica,porqueasredeslocaisdesujeitoscapazesdeaescoletivasseformamsobreabasederelaesqueimplicamconhecimentodireto,confiana,interessescomunseprojetosligadosaumcapitalterritorialtambmcomumequegarantaumalargaparticipao.
Trata-sedembitosterritoriaiscorrespondentesaoraiodasrelaesedamobilidadecotidiana,comumadimensomximaquecertamentesub-regional.Adimensomnima,verificadapornsnombitourbano,aqueladeumbairronomuitogrande,mascapazdeelaborareexprimirprojetosautnomos.AfortediferenaentreestesdoisextremosfazcomqueonvellocalpossasearticularemumahierarquiadeSloT;hsistemasarticuladosunsnosoutros.Nadelimitaodenvelsuperiorserespeitam,normalmente,oslimitesdosmunicpios,noentantoosprovinciais,regio-naiseestaduaispodemsertranspostos.
A vAlorizAo do cApiTAl TerriToriAl e o vAlor AgregAdo TerriToriAl como criTrio de AvAliAo do TerriTrioArelaoqueaterritorialidadeativainstituicomosrecursosespecficosincorporadosestavelmentenoespaolocaldaaocoletivaacondionecessriaparaquesepossafalardedesenvolvimentolocalterritorialemsentidoprprio,etambmomotivoparaoqualonvellocalconverge,reforadopelaglobalizao.Resumindo,podemosdizerqueodesenvol-vimentolocalocorrequandoasuper-mobilidadeemnvelglobalinterageecombinacomafixidezdonvellocal.Defato,olocal,comonveldeor-ganizaoautnoma,interessaaoglobalnamedidaemquesabeprodu-zirvaloresreferentesquiloqueprpriodeseuterritrio.Atualmente,aglobalizaoguiadaprincipalmenteporforaseporobjetivosecon-mico-financeiros,porisso,tendemosapensarestesvaloresemtermosdemercado,masestaumadistorohistricacontingentedeumprocessoquepodeedeveconsiderartambmoutrosgnerosdevalores(culturais,sociais,simblicos,estticos),capazestambmdederivardasespecificida-deslocaisedeassumirsignificadosefruiesuniversais.
O valor que se obtm combinando aes coletivas autnomas,recursosimveislocaiseinteraesglobais,constitui-senovalor agre-gado territorial do desenvolvimento.oquesepodeobteralm,arespei-todeprocessosdevalorizaosimplesquenomobilizamnematoresnemrecursoslocais,masselimitamadesfrutardeexternalidadesedecertosrecursosterritoriais,comintervenesexgenasdiretas.
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Oconjuntodosrecursosimveislocaispodeserconsideradocomoumcapital territorial quesetornageradordevaloresdeusoedemercadonasrelaesdeterritorialidadeativa.Ocapital territorialumconceitoaomesmotemporelacionalefuncional,quecompreendecoisasmuitodiver-sasentresi,masque tmemcomumascaractersticasquedestacamosaseguir:soestavelmente incorporadasaos lugares(soimveis);sodificilmenterepetveisemoutroslugarescomasmesmasqualidades(soespecficas);nosoproduzveisemespaoscurtosdetempo(sopatri-mnios).Podemosagrup-lasdaseguintemaneira:
i) Condieserecursosdoambientenatural(renovveisenorenov-veis).
ii) Patrimniohistricomaterialeimaterial(noreproduzvelenquan-total,masquepodeserincrementadonotempo).
iii) Capitalfixoacumuladoeminfra-estruturaeconstrues(quepodeserincrementado,adaptado,porm,noconjunto,nopodeserpro-duzidonumperodobreveoumdio);
iv) Bensrelacionais,emparte incorporadosnocapitalhumanolocal:capitalcognitivolocal,capitalsocial,heterogeneidadecultural,ca-pacidadeinstitucional(recursosrenovveisequepodemserincre-mentados,masquepodemserreproduzidossomenteemmdiooulongoprazos).
Comosepercebenessarelaodecaractersticas,todastmdiferen-tesgrausdeestabilidade,temposdeformaoeacessibilidade.Osrecur-sosreferentesaostrsprimeirositensso,pelomenosemparte,conheci-doseacessveistambmporpartedeumatorexterno;osbensrelacionaisimplicam,necessariamente,namediaodaaocoletivalocaleemboaparteseformameseincrementamcomessamesmaao.
Oconceitodevaloragregadoterritorial,sejareferenteaumproje-tosingular,aumaaocoletivaoumodalidadegeraldeplanejamentoedeaesdeumsistemalocal,temumcarterprticorelevante,enquantopodeserassumidocomocritriocrucialparaseentenderseestamosounonapresenadedesenvolvimentolocale,seafirmativamente,emquemedidaissoocorre.
Trata-sedeavaliaronveldeativaodosrecursospotenciaisespe-cficosdoterritriolocal,oumesmoovaloragregadoterritorialemrela-otantoaovalorgeralproduzidonoprocessocomoaocapitalterritoriallocaldisponvel.Apartir,porexemplo,daindstrialocaltradicional,pode-seiniciarumprocessodereconversoprodutivaecompetitiva.Nestecaso,aspossibilidadessomaioresdoquenocasodatransformaodeativida-descomoasdemuseusoutursticas.Outroexemplo:sesemobilizaape-nasumadaspotencialidadesespecficasdoterritrio(comoopatrimnio
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arqueolgico),hmenoschancesdeseobterumasoluoalternativaqueenvolvaoutrosrecursosinerentesaodesenvolvimento(comoopatrimniopaisagsticoouatividadesprodutivaslocaisouocapitalsocial).
Essas avaliaes exigem um reconhecimento analtico do capitalterritoriallocaledassuasmodalidades.Paraalgunsdoscomponentesdes-critosanteriormente,bastaaanlisedeumobservador externo,porm,paraoutroselementoseemparticularparaosbensrelacionais,opontodevistadeveserinterno,oumelhor,dialgicointerno-externo.Tudoexige,aomesmotempo,mesmonocasomaissimplesdeavaliaodeumprojetosingular,arefernciaaumterritrio,quepossaserindividualizado/anali-sadocomomodeloSloT.
vAlor AgregAdo TerriToriAl e susTenTAbilidAdeConsiderando-sequeodesenvolvimentolocalatingetodososrecursospo-tenciais de um territrio, a sustentabilidade no pode ser somente am-biental.Almdaconservaodocapital natural,necessrioconsiderarareproduoeoincrementodetodocapital territorial,inclusiveoscompo-nentesquenoapresentamcaractersticassustentveisemcurtoprazo.
fundamentalqueseconsidereasustentabilidade territorialdode-senvolvimento,naqualsepodedistinguirosvriostiposdesustentabili-dade.Dentreelas,almdasustentabilidadeambiental,ganhaimportncia,parans,asustentabilidadepoltica,queA.Magnaghichamadeauto-sus-tentabilidade,porquecomportaprocessosauto-organizativosnossistemaslocais.Delapodederivarnosomenteacapacidadedereproduodocapi-talterritorial,mastambmesobretudo,aauto-reproduodosistemater-ritorialemsi,ouseja,acapacidadedeconservaodaprpriaidentidade(nosentidodeorganizaointerna)notempoatravsdeumatransforma-ocontnuaderivadadeinovaeslocais.
Asustentabilidadeterritorialdodesenvolvimentopodeserdefinidacomoacapacidadeautnomadecriarvalor agregado territorial(vat)emumduplosentido:odatransformaodosrecursospotenciais(imveiseespe-cficos)deumterritrioemvalor(deusooudetroca)eodaincorporaoaoterritriodenovosvaloressobaformadeincrementodocapitalterrito-rial.Teramos,assim,auto-reproduosustentveldeumsistematerritorialquandooprocessodedesenvolvimentoauto-governadoetemcomoresul-tadofinaldemdiooulongoperodoumvatdeprimeirotipopositivoeumvatdesegundotipononegativo.Ouainda,quandooatorcoletivoterrito-rial,interagindocomonvelglobal,criavalormobilizandoopotencialderecursosespecficosdoprprioterritrio,semreduzirocapitalterritorial:nemolocal,nemodeoutrosterritriosexternosenvolvidosnoprocesso.
Oclculodasustentabilidade territorialmaiscomplexoedifcilqueodasustentabilidadeambiental.Nosetrata,portanto,somentedeavaliarseoprojeto,osistemaouoprocessoreproduzemocapitalterrito-
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riallocal,mastambmsenodestroemocapitalterritorialdeoutrossis-temaslocaisligadosporinteraesmateriaiseimateriaisaoqueestsen-doestudado.Oproblemasecomplicase,comoindicamosanteriormente,consideramosasustentabilidadee,porisso,acapacidadeauto-reproduti-vadosistemalocal.Nestecaso,asmedidassemprereferidasaumdeter-minadosistema,processoouprojetodedesenvolvimentodeveriamcon-siderar: i)ograu de autonomiadosistematerritorialeopesocognitivo,deplanejamento/projeo,dedeciso,definanciamentoedeatuaodossujeitoslocaisnointeriordoprocessooudoprojeto;ii)acapacidade de in-clusodoatorcoletivolocal(umauniorestritadeatoresfortesoudvozepoderaumamultiplicidadedeinteresses,redesdesujeitos,fracos,marginaiseconflituais?).Estaltima,ouseja,acapacidadedeincluso,tambmsignifica,indiretamente,acapacidadeinovativadosistemalocal,umavezquerequerumcertonveldediversificaoeconfronto.
A diversificAo TerriToriAl como recursoDeumpontodevistanosomentelocal,mastambmuniversal,adiver-sificao do territrio por sistemas locais (cultural, social, institucional eprodutivo),comoresultadodeprocessosco-evolutivosde longaduraodassociedadeslocaiscomoseuterritrioeambiente,consideradacomoumariquezacoletivapordiversosmotivos.Dentreeles,omaisgeral,queasdiversidades,noseuconjunto,desenvolvemopapeldepoolgentico-cultural,cujatransmissoacresceacapacidadeinovativaeaautonomiadossistemasterritoriaisnasdiversasescalas.Nesseaspecto,onossopro-blemaapresentasemelhanacomodabiodiversidade.Defato,htambmosque,apropsitodaextinodelnguas,dialetosepatrimniocultural,falamdeconservarereproduzirabiodiversidadecultural.
Outrosmotivosparaprotegerereproduziradiversidadeterritorialso:i)ofatodequeelaalimentaosistemaeconmicoglobalque,porsuavez,utilizaaspotencialidadesespecficaslocaiscomovantagenscompeti-tivas; ii)aescalalocalreproduzsaberescontextuaisambientaisqueper-manecemteisnoquesereferesformasprodutivaslocais;iii)tende-seamaximizarousodosrecursosnaturais,humanoseascapacidadesprodu-tivasglobais,diminuindo,aomesmotempo,asdesigualdades;iv)ofatodeacentuaronveldefechamentodoscircuitoslocais,reduzindoasmarcas/efeitosecolgicos;v)respondeaumademandadeusoseconsumosdiver-sificados(comodemonstraosucessodasproduestpicaslocais).
Atualmente,ocarterprodutivodosrecursosculturaislocaisedosprprios sistemas locais comosistemas territorialmentediversificados umaquestoproblemtica.Demaneiraparticular,questiona-seseaindapossvelexistirrelaesco-evolutivasnaescalalocal.Comaafirmaopro-gressivadoconhecimentotcnico-cientfico,incorporadoemumprocessodeacumulaocapitalistatendencialmenteglobal,ainteraoco-evoluti-
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vaentresociedadehumanaeambientefoitransferidagradualmentedon-vellocalparaoglobal.Diminuiuoprincipalmecanismoque,nopassado,gerouadiversificaoterritorialdassociedades,dasculturasedocapitalterritorialsedimentado.Permanecemsimulacrossobaformadefolcloreedepatrimniomuseificado,conservadosemfunodeumusotursticoespetacularsimilaraodosparquestemticos,oudousosimblico-identi-trioouainda,domarketingterritorial.Ondenohmudanasprodutivasabruptas,permaneceousoreprodutivodosbensrelacionaisacumuladosnopassado.H,aomesmotempo,umatendnciaperdagradualdessasespecificidades,comosepercebeemmuitosdistritosindustriaisesistemaslocaisagrcolasquepermanecemcompetitivos.
Umsinalquevaicontraestatendnciaverificadoondehafirma-odeproduestpicasqueexigemareproduoinovativadetecnologiasapropriadasacertascondieseexperinciaslocais.Porm,perguntamos:atquepontoesteltimomodelopodesergeneralizadocomoperspectivadeconservaoereproduodadiversidadeterritorial,inovando,conside-rando-seosobjetivosanteriormenteindicados?
Deumlado,essaperspectivanoumcontrasteemrelaoevoluodoconhecimentocientfico.Estepodesercombinadocomosconhecimentoscontextuais,permitindoaevoluodetecnologiaseadefiniodegestesapropriadasaosdiversosambienteslocais.Istocomportaria,tambm,efeitosderetornopositivosobreoconhecimentogeral.Defato,ahistriadasino-vaestecnolgicasnosensinaqueelasnascemcomoinovaeslocaisparadepoissedifundiremesegeneralizarememescalamundial.Deoutrolado,hoobstculoconstitudopelaseleoefetivadasobreambientesnaturaiseculturaisporumacompetioeconmicaglobalnoreguladaque,emvezdeadaptaraosambienteslocaisoconhecimentoeastcnicasdisponveis,tendeaadaptaroslugaresstcnicas,nivelando-osstecnologiasque,noatualsis-temademercadocapitalista,sorotuladasdemaisprodutivas.
Narealidade,sabemosquese tratadeumaconcepomuitopar-cialdaprodutividade,entendidacomocapacidadedos investimentosdeaumentararendafinanceiraemcurtoprazo,mesmoquediminuamapro-dutividadedeenergia,decapitalnaturaledecapitalterritorial.Estmuitoclaroqueosinvestimentosfeitosnapesquisaseconcentramcadavezmaisnasreastecnolgicas,quegarantem,porsuavez,aplicaesuniversais,negligenciando-seosconhecimentosetecnologiasparaagestodiversifi-cadadosambientesedosrecursosterritoriaisporquegerariamenorretor-nofinanceiroe,sobretudo,umaestruturaprodutivamaisdistribudaede-mocrtica,capazdesecontraporaocontroleeaosprivilgiosdosgrandesgruposdepoderpoltico-financeiro.
Nesseaspecto,omodeloSloTpode,tambm,resultaremummode-loderesistnciademocrticacontraasformasdistorcidasdaglobalizaoeconmicadominadapelonovototalitarismoeconmico-financeiro.
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desenvolvimento territoriAl: AlgumAs reFlexes terico-conceituAis derivAdAs de estudo monogrFico1
luiz alexanDre gonalves cunhaGegrafo,ProfessorAdjuntodocursodeGeografiadaUniversidadeEstadualdePontaGrossa|[email protected]
Oobjetivodestetextodiscutiraconcepodedesenvolvimentoterrito-rial,inspiradanoestudodastrajetriasregionaisdedesenvolvimentoru-ralqueforamidentificadasnoEstadodoParan,comnfasenocasodoParanTradicional(CUNHA,2003).Nessestermos,inicia-secomadiscus-sosobreoprpriosentidodanoodedesenvolvimento,noemtermosgerais,mas,principalmenteemrelaoaoquestionamentodoenfoqueho-mogeneizadorpresentenasconcepestradicionaisdedesenvolvimento.Emseguida,busca-sediscutircomoumdeterminadoconceitodeterritriobsiconacomposiodestanovaconcepodedesenvolvimento,inse-rindoumslidovisespacialnatentativaderenovaranlisesregionaisepropostasdecarterdesenvolvimentista.Aconcepodedesenvolvimentoterritorialinsere-senumquadronoqualtambmaparecemasconcepesde desenvolvimento local (CAMPANHOLA;SILVA, 1999) e socioespacial(SOUZA,1996), formandoumconjuntodiversodeconcepes,masqueapresentamumeixobalizadorcomum,quecorresponderevalorizaodoespaonasteoriassociais,comojhaviadestacadoSoja,oquepermiteresgataraGeografiacomocinciacentralnestasreflexeseacabacriando
1 TextobaseadoempartedocaptuloIdatesededoutoramentodoautor,defendidaem2003,noCursodeDoutoradoemDesenvolvimento,AgriculturaeSociedade,daUFRRJ.
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umsegmentonovonatemticadesenvolvimentista,oumesmonessadisci-plina,aoqualsepropeadenominaodegeodesenvolvimento.
Noquadroterico-conceitualdestetexto,arejeiodefesadaho-mogeneizaosocialcomopressupostododesenvolvimentoumpontobsicodevidoaumadesconsideraocomqualquervisoetapistadode-senvolvimento.Assim,nosepretendetrabalharcomanoodesubde-senvolvimento,nosentidodequesetratadeumaetapaemdireoaou-tradedesenvolvimentopleno,muitoemboraotermopossaataparecernotexto,massemumaconotaoetapista.Essaobservao,decertafor-ma,relaciona-secomapreocupaodeMaluf,segundoaqual,rejeitaraperspectivadahomogeneizaonoimplicadesconhecerqueacriaodeespaosdesiguaiseapermanentegeraodepobrezatmdeterminantesprincipalmentegeraisnosentidodequesocomunscomoaquelesquederivamdanaturezadesigualdodesenvolvimentocapitalistaequeestesfenmenossoumaexpressodeinjustiasocial(MALUF,2000,p.77).Oimportante,ento,que,aoseabordarumaregio,[...]possveleneces-sriomensuraradesigualdadeeapobreza[...]valendo-sequasequesem-predeindicadorescomuns[...]semcomistoassociar-seaalgumconjuntodevaloresnicoeespecfico(MALUF,2000,p.77).Essepontofoicon-sideradoquandoseabordouoEstadodoParanapartirdaconsideraodasuaregionalizaomaistradicional(CUNHA,2003),quedivideoEsta-doemtrsgrandesregies(ParanTradicional;Norte;Sudoeste).Pde-severificarquepartedaprimeiraregioapresentaodiagnsticodequadroshistrico-econmicos de pobreza e desigualdade, que levaram-na a serclassificadacomosubdesenvolvida.Arejeioaotermoinclui,portanto,umadesaprovaoaoconceitocomoetapa,masnoimpededeconsiderarasrelaesquepossamexistirentreosproblemas relacionadospobre-za edesigualdadeeaquestoregional.Adiferenaqueessesproblemassovistoscomoinfluenciadosdecisivamenteporumprocessohistrico-geogrficoespecfico.Assim,apreocupaocentralnosearegioounosubdesenvolvida.Oqueimportaefetivamentequeelaapresenteumprocesso endgenodedesenvolvimentoquedeve ser compreendidonosseusaspectosdefinidores,paraqueaessociaisfuturasnocarreguemosmesmosvciosdasqueforamimplementadasnopassado.
No,porm,objetivodestetextoaprofundaradiscussosobreasteoriasdosubdesenvolvimento,muitoemboraasituaosocialdoParanTradicional,inclusiveapsosmovimentosmodernizadoresdasestruturasprodutivasagropecuriasrecentementeocorridaseasdiferentesconjun-turasdeaceleraodaindustrializaoqueenvolveramaregio,indiquemumagravamentodadiferenciaosocialdosprodutoresruraiseaelevaodosnveisdedesigualdadesocial,contrariandoaquiloqueseriaumpres-suposto do desenvolvimento numa viso tradicional: a homogeneizaosocial.Asintervenesgovernamentais,territoriaisouno,diretasouindi-
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luiz AlexAndre gonAlves cunhA
retas,queatingiramoParanTradicionalparticiparam,ento,dosproces-sosquenolevaramhomogeneizaosocial,aindaquetenhamcausadoelevaononvelmdiodevida(MALUF,2000,p.58).Dessaforma,estaregioapresentadinmicassociaisqueatjustificariamumaabordagemvinculadasteoriasdosubdesenvolvimento,masnoseconsideradef-cilsoluousaranoodesubdesenvolvimentonumcontextoderejeiodosenfoqueslinearesemevoluosocial.EaquinecessriorepetirMalufquandoafirmaquesubdesenvolvimentoeatraso[...]pordefinio[...]su-peapossibilidade(ouapretenso)deconvergiraumacondiojulgadasuperior(2000,p.75).
Asabordagensrenovadas,centradasemprocessosendgenos,bus-camescapardessaarmadilhaterica.Comonestetextooqueinteressaodesenvolvimentoregionalmenteconsiderado,avariantedarenovaoqueimportaaqueincorporaumaperspectivaespacialnessasconcepes.Aconcepoescolhidaparaajudaraformaroquadroterico-metodolgicodadiscussoadedesenvolvimentoterritorial.Porexemplo,essaconcep-ohojeabasedaspolticaspblicasqueemanamdaSecretariadeDe-senvolvimentoTerritorialdoMinistriodoDesenvolvimentoAgrriovolta-dasparaoespaoruraleaagriculturafamiliar.Veiga,porm,preocupa-secomesseusocadavezmaisfreqentedaexpressodesenvolvimento territo-rial.Oqueelequersaberseissorealmente[...]indicaumarevalorizaodadimensoespacialdaeconomia,ouse,aocontrrio,nopassademaisumprolongamentodainfindvelmaniadeacrescentaradjetivosaosubstantivodesenvolvimento(VEIGA,1999,p.1).
Suapreocupaopodesersuperadaaoseconstatarqueaincorpo-raodeumvisespacialemconcepesdedesenvolvimentorelaciona-seaumaquestomaisampla,queareafirmaodeumaperspectivaes-pacialcrticanateoriaenaanlisesocialcontempornea(SOJA,1993,p.7).SegundoSoja,essareafirmaosurgedepoisdeumlongoperododesubmerso[...]doespaonopensamentosocialcrtico,perodonoqualprevaleceuumhistoricismodesespacializante, iniciadoapsaquedadaComunadeParis,equesapartirdofinaldadcadade1960comeouaserrevertido(SOJA,1993,p.10-11).Nesseperodo,asteoriassociaisnocon-sideravamoespaocomoumacategoriadecisiva,porquepartiamdeumaidiadeexistnciadealgumaordemespacialpr-existentenaqualope-ramprocessostemporaisouqueasbarreirasespaciaisforamreduzidasatalpontoquetornaramoespaoumaspectocontingente,emvezdefun-damental,daaohumana(HARVEY,1993,p.190).
Arevisodesseposicionamento,percebidaporSoja,explicadaporCardoso como uma tomada de conscincia, pois o que teve demudarcomo tempo,ajustando-senovas realidades,decorreudanecessidadedelevaremcontaasmaiorescomplexidades,heterogeneidadeetalvezvolatilidadedasconstruesespaciaiseosseusrecortespossveisneste
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fimdesculo,postoquenovosfatores,anteriormentemenosvisveiscomoelementosdecisivos,passaramaincidircommuitomaisforasnestaslti-masdcadas(CARDOSO,1998,p.22).Benko,porm,queexpeoqueestaria fundamentando tal tomadade conscincia, em termosde foraseconmicasobjetivas,aoafirmar,quandoanalisaocapitalismocontem-porneoeasuadinmicaespacial,queaexploraodoespaoestardenovonaorigemdeumafaseascendente[docapitalismo](1996,p.39).Ressaltaaindaessaimportnciadoespaoafirmandoqueamaterializa-odasatividades[econmicas]noespaoaprimeiraformaderegula-oeconmicanocapitalismo(BENKO,1996,p.59).
NapesquisarealizadasobreoParanTradicional, tendoclarasaspossibilidadesadvindasdaconscinciacrescentesobreaimportnciadoespao, considerou-se indispensvel buscar incorporar uma perspectivaespacialnumenfoquededesenvolvimentoregional.Arefernciaregio,aoregionalouaoterritorialnogaranteadoodovisespacial,comosepretendediscutirnestetexto.Acredita-se,ento,quetalenfoquerenovadodoespacialpodesergarantidopelaviadaconcepodedesenvolvimentoterritorial.Ento, sustenta-seque,comoquadroconceitualdessaconcep-o,possvelconstruirumreferencialterico-metodolgicoecltico,quepermite umnovoenfoqu