D.H. Lawrence - Amor No Feno e Outros Contos

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    grandes figuras  l iterár ias do  século XX. Nascido em Eastwood Nottinghamshire

    em 1885

      D.H. Law

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    iversidade

     de No tting

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    1911

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     Peacock.

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    publ

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    1931. A mo r no

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    ros Contos

    reúne

     histórias

    sobre o am

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    tar contrastavam tanto com o formato d s feições que metiam dó. Geoffrey aper

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    editores I ndependentes

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    D.H. Lawrence

    AMOR NO FENO

    E OUTROS CONTOS

    M G

    Biblotecadirs npn

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    ©.9- Sociedade Edioa de Livros de Bolso Ldapaado 7 Lisboa Codex©Assírio & lvim (00)

    Tulo r n Fen e Outros ontosuo D.H awence

    Fooafa da capa Anónimo (Membro da Amaeu Phooaphic ssociaion)

    Pisgem l ingles c 860

    unho de 00SBN 97898983

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    ÍNDICE

    A F

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    9

    7

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    AMOR NO FENO

    A encosta virada a sul estava dividida em dois grndes campos. Como o feno acabara de ser cortado, eram de cor verde-ouro e, com o sol, brilhavam tanto que deslumbravam A meioda encosta corria uma sebe alta que projectava uma sombrana sobre o brilho líquido da ea. Do lado de cima da sebe

    empilhavam uma meda de feno: imensa, maciça, mas tão prateada e de tom tão leve e delicado que parecia não ter peso. rguia-se irreguar e radiante no brilho constante, verde-ouro docampo. Um pouco mas atrás estava outra meda terminada.

    A crroça via ia mesmo a passar pela abertura da sebeDo to mais distate do mpo de baixo, onde a erva tinha

    ainda sucos cinzentos da lavra, a crroça carregada avançavapra a encosta, em direcção à meda. Viam-se distintamenteuns pontos brancos no feno os ceifeiros.

    Os dois iãos dessavam enquanto a ga não chegava láa cima. De pés ndos no no, eugavam s testas com os braços, bufando do co e do rço dpenddo com a tima

    rada Iam no topo de uma plha de feno ms alta do que a sebe emuto lga, como uma bar va onde o sol batia em cheio ecujo cheio a feno adoccado e quente e suonte s irmãospeci pequenos e ines, meioenterados na gande pihasota, eldos como s estivsem sobre um altar eriido ao sol.

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    Maurice, o irmão mais novo, era um rapaz jovem e bem-paecido de vinte e um anos, despreocupado, descontraído echeio de vigor. Qundo se metia com o irmão, os olos cinzentos brihavam perpasados de uma rte emoção. O rosto trigueiro trzia o sorriso pecui, cheio de expectatia e alegria eneroso de um joem desertado pela primeira ez pela pxão.

    «Nã vês», disse ele, aoiando-se no cabo da rquiha, «nã

     ês que me pregate uma partida atão nã pregate?» Falava asorrir e depois, deixou-se tombar de novo no agadável tormentode meditar.

    «Nã julgaa ... tu sabes tudo», retorquiu Geoe com umtoque de sacamo. O irmão lara a melhor. Geo era um rapaz pesado, de ombros lrgos, um ano ms velho do que Mau

    rice. Os seus olhos zuis eram gids, desviavam-se com rapidez; a boca era sensível ao ponto da morbidez. Sentia-se queestremecia interiormente em todo o enorme corpo. A consciência de si era nele aguda como a doen.

    «Ah, eu cá sei que tu sabia», troçou Maurice. «as-t' aesgueirar» Georey estremeceu convulsivmente «a pens qu' era a última noite qu' a gente tinha qu' aqui c e ia-me' adeixar cr a mim a dormir embora te casse a vez a ti».

    Sorriu para consigo, a pensar nos resultados da espertezde Georey.

    «Nã ia nada a esgueir-me», etorquiu Geoey à sua maneira esada, esastrada, estremecendo ao ouvr a pavra.

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    e o céu em chms Fechou os pnhos, cru os brços sobre

    cr e conru de novo os músculos Er evdene que esv comovdo, ão comovdo que nem se seni bem, embor connsse sorrr Geoey, de pé rá dele, v-lhe pens bo vermelh, o bigode jovem como penugem negr e os denes regnhdos num sorrso O irmão ms velho poiou o quexono cbo rquh e ebço-se olh pr o po

    O gregdo zul e ndisno, lá o longe, er NonghmPr cv um cpo envolo num neblin de clor, ondese dsng, q e l, m colun onlne de mo dsmn Ms pero nd, no sopé d coln, à beir d esrdlded por sebes ls, cv pens o slênco d velh greje d quin do cselo enre s ávores O plo pnorm u

    menv o enjoo de Geoey Desvou os olhos p s crroçsque se crzvm no cmpo bxo dele, croç vz comoum grnde nseco descendo encos e d crg sbndo bloçr coo m nvo, pxd por um cvlo de cbeç csnh verg e joelhos csnhos que se lçvm e ncvmesrçdmene Geoey nsv por que se pressse

    «Nã pense»Georey eve sobresslo, encolhe-se por denro e

    bxou os olhos sobre os lábos bem delnedos que rmvmplvrs so os brços morenos do rmão

    «Nã pensse q' el i lá esr comigo senã nã me de xvs à  vone», dsse Murce, conclundo com um grg

    lhdnh excid de recordo Geoey corou de rv e seniu o impulso de esper o pé nqel boc móvel e rocs queesv debo dele Fez-se um slêncio; depos, nquele ompróprio de elee, ouvu-se our vez voz de Murce pronncindo, clene, s plvr:

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    h bin kin, mein Herz ist rein,st niemand d'n a Chst alin. »

    Maurice eu uma gargaaa e epois com uma etaa na memória agua como uma or eu uma volta e eterrou-se no o

    Sabes re em aemo? pergutou com uma voz aba

    N quero rosou GeoreyMaurice eu outra gargaaa ia a cara esconia e

    fecao em escurio recorava e novo as experiêcias aoite aterior

    E que tal ar-um beijio ebaixo a oreha pá? ssecom um tom curioso inquieto Espojou-se o no aa so

    bresstao e iamao o seu primeiro coacto com o amorO coraço e Georey icou-le o peito e tuo escure

    ceu à sua vota Nem via a paisagemE os peitinos ea cabem mesmo em uas mos ouviu

    os tos baixos provocaores e Maurice que parecia faarconsigo próprio

    Os ois irmos eram proamte tímios em reação amueres e até esta cei too o sexo femiio estava paraeles ecrao na me a preseça e outras muleres portavam-se como saoios muos ém isso criaos por umame orguosa estrageira cosieravam as raparigas ormaisiferiores a ees por serem iferiores à mãe que fava igês

    peritamete e era muito caa & rapaigas ormas avamas vistas e faavam alto e mais &sim estes ois irmos tam crescio virges mas atormetaos

    ora Maurice aiatara-se mais uma v a Geoy e o irmo ms veo estava proamete miao Corra o pe-

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    igo de se de ca num estado móbido, simplesmente po

    a de vive, ta de interesse governanta estngeia do vicaiato, cujo jadim dava paa o po de cima, ara com os rapaz à sebe e cina-os esva o grande sabugueio com s lg oes cemoss, ue se eseavam com o caeio do jdim ecaíam paa o campo Geoy nun mais cheia oes de sabugueiro sem pestanej sobessaltado, a pensa na estanha voz

    estrgeia ue tanto o aba enunto segva o no encostadoà sebe Uma ciancia atavsara a abea da sebe a corer e a

     ulein, a cham em aemão, vie atrs dea ondo s oesSobessalta-se tanto ao ve um homem paado à somba ue,por uns momentos, caa imóvel; e, depos, tropeça na ruih ue estva pousad o lado dele Geo esuecendo-se ue

    se tratava de uma me, ao vê-a pecipit-se pa a ente e r,peg-le delidamente e pegunta

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    querda e a mão direita erguida, a pensar Bem via, na indolência do aceno, que ela estava à espera de Maurice Que pensaiadele? Por que é que não queria a ele?

    o ouvir a voz do crroceiro que tria a caga, Maurice le vantou-se Georey continuava na mesma postura, ma estavade má cara e tinha a mão erguida oa de pensar Maurice le

     vantou os olhos para a encosta O rosto iluminou-se-lhe e riu

    Georey deixou cair o braço e pôs-se a observa«Eh pá!» riu-se Maurice «Nã sabia qu elàtava lá» cenou

    desastradamente Nesta questões Georey portava-se melhorO irmão mais velho observou a rapariga Ela veio a correr até aom do reiro, escondeu-se do ângulo de visão da casa atrás dosarbustos Depois acenou eneticamente com o lencinho Mau

    rice não repou na manobra Ouviu-se grito de criança gura da rapaiga desapaeceu e tornou a apaecer agarrada a acriança entrouxada Desceu o reiro, pousou a criança, largoua correr pela encosta acima até um grande eixo, trepou rapidamente ara ua tábua horizont que rmava a vedação e, jáem posição, começou a atirar beijos com amba a mãos, à ma

    neira estrangeira que tanto excitava os irmãos Maurice riu alto,enquanto acenava com o lenço vermelho

    ão ond é que tá o perigo?», gritou a voz tcista vindade baixo Maurice deixou cair o braço, cordo riosamente

    «Parte nenhuma» berrouDe bxo veio ua risada

    ga chegou ao topo da encosta, roçou com silvo deencontro à meda e, depois, encarrilou outra vez nos sulcos

    Os irmãos enam pela masa de feno com as rquilhasLogo a seguir, um homem grande e pesado, vermelho e coberto de suor, trepou ao cimo da caga Depois voltou-se e ob-

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    servo atenamente a encosta de sob as sobrancelas rlhda. Repro na rapriga debaixo do eio.

    «Ah, é ela» e rise. «Também me parecia era maave dessas, mas nã via.»

    O p rise ao se modo co e gahofeiro, depois começo a despejar a carga. Geoey, na meda, recebia as grandesmoadas e atiravaas a Marice, e as aparav e pna no sítio,

    rmdo a meda. Sob a lz intensa do sol, os três trabahavamem silêncio, nidos nma breve paixão pelo trabalho. O paiabrdo por m momento, tirando o no debaixo dos pés.Geoey co espera. Os dentes zlados da rilha cintila vm na expectativa a masa ergiase, a rilha cortava o ardebao dea, oviase o impaco do metal e, depois, o no era

    arrebatado para a meda e apanhado por Marice, e o colocavametodicente. Uns pós otros, os ombros dos três homenscrvavase e retesavamse. Todos esavam vestidos de azlclaro, com as camiss empapadas de sor coadas costas. O paimovimenavase mecanimente, com os ombros pesados e arredondados vergando e endireitando a m ritmo reglar: traba

    lhava monotonamene. Gorey libertavase da energia: os ombros imensos giravm e arremessavm o feno extravantemente.

    «Qeres airar comigo?» pergno Marice, ngado. Tina e se ncar bem para agenar o impacto. Os três homenstrabalhavam intensamente, como e impelidos por ma rçainterior. Marice rabalhava com leveza e rapidez, mas tinha

    e sar de discrição. ém disso, ando tinha e colocar ofeno nas extremidades, tinha e cobrir com ele ma certa distância. Portanto, era lento de mais para Geoey. Normalmente,o irmão ms velho colova o feno tão perto anto possível dosítio onde o irmão eria. Ms, desta vez, atirava com os mo

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    hos para o meo da meda. arce andava de para sobreos montes de no mas mesmo assm não consegia acompanar o rtmo do rmão. s otros dos homens, embaados no jogo de da e receber, mantinham a na em crso rpido.arce esava aagado em sor do cor e esrço e começavaa preocpado. De qando em qando, Geoey enxgavameicamente a testa a m braço como anma. Deposoava satsito para o estado exasto de arce e agarava apha de feno segnte.

    «as pr' onde é qe jgs qe o 'ts a mdar, me paro?»ogava arce, ao ver o irmão atrar com o no para ra dose acnce.

    «Pr' onde m' apetece», responda Geoey.

    arce abtava j mto zngado. Senta o sor a escorrer-he peo corpo; cam-e gos sobre as ongs pesanas negras cegando-o de modo qe tnha qe parar e esegr osohos rosamente. o pescoço re saenavam-se s veasnchads. Senta qe a rebentar o car redondo, se o trabhonão abrandasse depressa. v a rqha do pa rap o

    ndo da carroça.« va a útma», ofego o p. Geoey atro-se ao acaso

    tro o chapé e, rodeado de vapor na cdade do so enxgo-se e pôs-se a obsear com ar de sperordade o rmão qese esrçava por acab de compor a meda.

    «ã ach qe o to de baixo est bocadinho sado?»

     veo a voz do pa em baxo. «ã era mehor emprro bodnho para dentro?»

    «Pense qe tna dto na prxma responde arce sombramente.

    «Disse! 'T bem. Mas este cnto de baxo?»

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    M O R N O F E N O 17

    aurice, impaciene, ignorouo.Geoey veio aé à meda e espeou a ruilha no cano

    deiuoso.«Ü uê aui?» berrou com a sua voz de esenor. 

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    «ã te mexes daí?» perguntou Maurice em tom ameaça

    dor ão eio resposta nenhuma da grade massa Maurice arreganhou o lábio superior como um cão Depois, espetou umcotoelo e tentou empurrar o irmão para a meda, para o irardo cinho

    «A quem a acotoelar?» soou a oz nda, perigosa«A ti mesmo», ripostou Maurice com escárnio; e logo os

    irmãos estaam pegados como dois touros em combate, Maurice fazendo toda a rça para obrigar o irmão a perder o equilíbrio, Georey pondo todo o seu peso na resistência Mauice,m assente nos pés, cabaleou um pouco e o peso de Georey

     eio arás dele Escorregou e precipitou-se da meda a baioGeorey empalideceu até aos lábios e cou de pé, à escuta

    Ouiu o baque da queda Depois, i tomado de um afronamento e só se aguentou de pé porque tinha as pernas bem ncadas no solo ão tinha rça para se mexer ão ouia ruídonenhum lá em baixo, estaa apenas agaente consciente deum grio agudo indo de muito longe Escutou de noo Depois, encheuse de um pânico súbito

    «Üh p!» berrou com a sua poerosíssima oz «Pai! Ohpai!»

    O ale ecoou O gado que estaa na encosta olhou paraele Apeceram guras de homem a correr no campo de bxoe, muito mais perto, iuse uma gura de mulher galgano ocampo acima Georey cou numa expectatia terríel

    «Aaah!» ouiu a estranha oz braia da rapariga, aos gritos«Aaah!» e, depois, lamenações em língua estrangeira Então: «Aaah!» ou «Está? Moro!»

    Continuou obstinadamente especado na meda, sem seatreer a descer, desejoso de se esconder no feno, mas dea

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    M O N O F N O 19

    siado obstinado paa desapaee da ena Ouviu o imão mais velho a subi a enosta, ofegante:

    «Qu'é que i» depois o tabahado e, depois, o pai«Qu'é que voês andaram a zer?» ouviu o pai pegunta,

    tes de a volta à meda E depois, num tom baixo e amgo:«Eh, 'tá arumado Eu nã devia te posto aquilo tudo na

    mesma meda»

    Fez-se silênio po uns momentos depois, a voz de Heno imão mais velho, disse busente:

    «Nã está morto já vola a si»Geoey ouviu, mas não se alegou tes queia que

    Maurie tivesse moido Pelo menos abava ali: ea melhodo que te que enea as ausações do imão e te que ve a

    mãe a pasa paa o quarto dos doentes Se Mauie tivessemoido, ele não havia de da expliações nenhuma, não, nãodiria nem uma palava que o enasem, se quisessemMa, se Mauie estivesse apenas lesionado, então oda a genearia a saber e Georey nuna mais seia apaz de levanta aabeça Mas que oua, te que passa pelo meio de toda

    auela gente que viria a saber Queia qualquer oisa em que sepudesse apoia, algo bem denido, nem que sse só a etezade que tinha morto o imão nha que te uma oisa me emqu s apoiar, senão ava doido Estava tão só, ele que, maisdo que todos, preisava de simpatia e ompão

    «Nã, tá a vr a si, 'tou- a dir que disse o tbaado

    «Não está morto, não está morto», veio a entoação veemente e estra da rapaiga estangeira «Não está morrtonaão»

    «Preisa de bady olha p' a o da boa dele», disse aoz ia e brusa de eny «É apaz de i busa um gole?»

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    20 A W R E N C E

    Ü quê? Um gole?» rulein não perceber.

    Brndy», disse Henry distintmente.Brrndy?» petiu el.Vi tu, Bill», gemeu o pi.'Tá bem, eu vou», rpondeu Bi e lrgou correr pelo m

    po r.Murice não estv morto nem morrer. Isto vi Geoey

    clmente. o ndo, egv-se po o stigo n ter sido re vogdo. as odiv pensr no que viri seir. Hvi sempre dese encoer. Ti esperdo e nsido po tempo em que se tornri despreocupdo, trvido como Murice, sem nun mispestnejr nem se encolher. go, nunc mis hvi de mud,cri pr semp metido n conch como

    Ah stá cr meor» er voz brvi d rin,que começou chorr um som esquisito, que sobresstouos homens e despertou nees o niml. Georey estrmeceu oouvir, por entre os soços de, os gemidos impcientes do irmão quem voltv respirção.

    trbhdor voltou correr, seguido peo vigário. Depois

    de engolir o brndy, Murice deu mis gemidos, que precimsoluços. Georey escutv num tormento. uviu o vigário pedir epicções. Todas o msmo tempo, s vozes nsiosas rsponderm com es curts.

    oi o outro», gritou rein. Deul um gnde encontrão h»

    r estridente e vingtiv.ã me prec», disse o pi o gio, n tom udível mas

    privdo, como se rulein não percebesse íngu que v. vgário diriguse govent dos os em mu emão.

    l responde com u torrente d plvrs que er de mis

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    M O R N O F E N O 21

    paa o vigio emoa o não onfessasse. auie exalava suspios e gemios.

    Üne é que e ói apaz ahn?» pegnou o pai paeiamene.

    Deixeo em pa um oo» veio a voz ia e Heny.Falalhe o a mais naa.»

    É meo ve se pau oisa isse o viio sioso.

    Foi uma soe e aío naquele mone e feno aolá»isse o aalhao. Se inha aio o a aeça nese ononã se inha so.»

    Geoey omeçou a pensa quano é que eia oagempaa i aé lá a ao. Psavamle pela aeça esvaios: poiase ai a mea e eça paa aixo se onseguisse aaa

    onsigo ao menos esaia a salvo. Desejava eneiamene nãoexisi. A ieia e i pela via a meio em si mesmo numaaoonsiênia móia sempe só malhumoao infelizquase o faia gia. ue haviam oos e pensa quano souessem que inha empao aie da gade mea axo?

    em aio favm om auie. O apaz já eupeaamuio e onseguia espone em voz aa.

    ué que esavas a fe?» pegunou o pai enamene.savas na inaeia o nosso Geoey ? É  veae eone á ele?»

    O oação e Geoey esaou.Sei lá» isse Heny num om iónio e uioso.Vai lá ve» peiu o pai senino ívio innio em ela

    ção a os lhos m já peoupao po ausa o ouo.Geoey não aguenava que o imão mais velo viesse po iaima felhe pegunas naquele om aguo e uiosiae.O lpao omeçou a ese a esaa osinaamene. oas aaas esoegaam num egau.

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    «em cuidado» gritou o pai enervadíssimo.Geoey parou como um criminoso ao pé da escada dei

    tando olhadelas rtias ao grupo. Maurice estaa deitado pálido e um pouco trémulo num monte de feno. A rulein estaa ajoelhada à cbeça dele. O igário tinha desabotoado acamisa e descoberto o eito do rap e estaa a palp a er seencontraa costelas partidas. O pai estaa ajoelhado do outro

    lado o trabahador e enry de pé um pouco à parte.«Não tem nada partido» disse o igário com um ar um

    tanto ou quanto desapontado.«Nã tenho nada partido não» murmurou Maurice a sorrir.O pai tee um sobressalto. «Eh?» disse ele. «Eh?» e debru

    çou-se sobre o inálido.

    «ou-lh'a dizer que nã i nada» repetiu Maurice.«ue 'taam ocês a fazer?» perguntou a oz ia e irónicade eny. Georey irou a cara ainda não tinha leantado acabeça.

    «Nada que eu saiba» murmurou de mau modo.«Ü quê!» gritou a rulein num to� acusador.

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    dum gato selvagem O cabelo era louro e cheio de vida, todo isado em acóis crespos de vitalidade que palpitavam em redordo rosto Os lindos olhos azuis tinham pápebras singulares e ela parecia ohar penetrantemente, deois com langor, comoum gato selvem maçãs do rosto tinam uma conguraçãoalgo eslava e tinha a pele coberta de sardas Era evidente que ovigário, um homem pido e bastte io, a odiava

    Maurice continuava deitado, páido e sorridente, co acabeça ousada no colo dela; e ela colava-se-lhe como ao companheiro Sentia-se instintivamente que estavam acasaladosEla estava pronta a lutar ferozmente em defesa dele, sse comosse, agora que estava ferido Olhava para Georey com ferocidade Debruçada sobre Maurice acariciava-o, murmurando

    ases em inglês com pronúncia estrangeira«Diz-me o que querres, disse a rir, fendo-o senhor do

    seu ser«ão era melhor ir ver o que se assa com a menina Mar

    ge? erguntou o vigário em tom de reprimenda«Está com a mãe eu ouvi-a Vou daqui a um instanti

    nho, disse a rapariga com um sorriso io«Achas que te consegues levantar?, perguntou o pai, ainda

    ansoso«Já me levanto , respondeu Maurice, a sorrir«Querres-te levtar?» perguntou a rapariga, acariciando-o,

    debruçado-se sobre ele até os dois rostos carem próximos

    «ã tenho pressa, respondeu ele, sorrindo deslumbrantemente

    Este acidente dera-lhe um novo à-vontade singul, umaespécie de autoridade Sentia-se extraordinariamente contenteDe reente, adquirira um poder novo

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    «Tu sem pressa», repetiu ela, absed lentamet sigicad Srriu teramnte: estava a seiç dle

    «la já se vai mbra paa mês qu vem a miha spsa já ã csgue ará-la», disse vigri para pai tm bai de quem pedia desculpa

    «as prquê, é »«É com um slvagm desbedite e islete»

    «!»O pai parecia distrad«baram-se gveratas estrageiras em minha sa»aurice mexeu-se e levatu s lhs para a rapariga«Tu levatas?» pergutu ela vivamete «u setes bem?»le riu-se de v, arreganhad s dets tds la lev-

    tu a cabeça, pôs-se de pé de um salt cm as mãs aida a segurar-le a beça e, depis, agarru- pls svacs e pô-l depé, ates que alguém tivesse tid tmp para ajudar le eramuit mais t d que ela. rru-se cm rça as mbrsrtes da rapiga, apiu-s ela , setid-lhe peit redde rme de enctr a crp, srriu, preded a respiraçã

    «Nã vê que 'tu bem?» arqueju «ra só atar-me ar»«Tu bem?» exclamu ela, exultate« 'Tu, 'tu bem»Passad um mmet, deu us passs«Já ã teh ada, pai» , disse ele a rir«Setes mesm bem?» gritu ela em tm de súplica. le

    riu-se abertamet, baixu s lhs paa ela, tcu-lhe a ce

    cm s deds«É iss msm se assim queres »«Se eu qurr!» rpetiu ela, radiat«Vai-se embra daqui a três smaas» , diss vigári para

      endeir, cm que a cslá-l

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    quato alavam, ouviram a siree de uma mia a distcia

    «Olha prás hor», disse Hery iamete no vamoslevatar aquele to hoje »

    O pai olhou asiosamete em redor

    «Oa lá, aurice, tes a certeza que ' bem?», pergutou«'Tou bem, 'tou Atão ã lhe disse?»«Atão setate ali e, daqui a bocadiho, podes tratar de ti

    rar o comer da cesta Hery, vai lá tratar da meda Od' é que'tá o Jim? ! 'tá a tomar cota dos cavalos Bill e Georey, vocês levantam e o Jim carrega»

    aurice setouse à sombra do olmo escocês, a recuperA Frulei rase embora a correr O rap tiha decidido perlhe que sasse com ele Tia ciqueta libr arrecadadas e amãe havia de o ajudar Ficou setado a medit durate muitotempo, a pesar o que ia er Depois, tirou do carro umagrande cesta coberta com uma toalha e dispôs o almoço Havia

    um eorme empadão de coeo, uma travessa de batatas cozidas,muito pão e um aco de queijo e um prato de arrozdoce

    stes dois campos cavam a seis quilómetros da casa daquita Mas estavam a amília Wookey havia várias geraçõese, portato, o pai coservavaos; e toda a gete gostava da ceide feo em Greasley era uma espécie de piqueique Tra

    ziam o moço e o lache no carro do leite que o pai levava demahã Os moços e os trabalhadores trabalhavam à vez Comas parages, a cei durava uma quizea Como a estradapricipal de Aleto para Nottigham passava mesmo beirada encosta, havia ormalmete um que dormia o eno, no

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    aacão, de guada aos utensílios. Os lhos cavam à vez. enum gostava gande coisa de ca e, po isso mesmo, estavamansiosos po temina a cei desse dia. M o tabho pedeao itmo e a oientação depois do acidente de Mauice.

    Despejada a caga, euniamse em edo da toala ancaque estaa estendida à soma de uma ávoe, ente a see e ameda e, sentados no cão, começaam a come. A S.ª Wookey

    mandava sempe ua toa limpa e cas, gs e patos paacada um. A S.ª Wooey tina sempe um ceto ogulo nestaefeição : tudo tão coecto.

    «Ola pa isto, disse, sentandose jovilmente. «ã tátudo tão onito, en?

    Sentaamse todos à vota da toala ca, à soma da á

    oe e da meda e, enquanto comiam, contemplavam os campos.Da soma esca onde estavam sentados, a eva douada paecia líquida, deetida ao calo. O cavalo com a caoça vazia vagueou uns tantos metos e, depois, paou a past. Tudo estavamo, como num tanse. De quando em quando, o cavalo ente os aais da coça caegada que estava à beia da meda,

    aanava a cina solta enquanto pastava. Os homens comeam eee em silêncio, o pai a e o jonal, Mauice encostado auma sela, eny a le o Naon e os outos ataedos a come.

    De epente, «Olá! Cá tá ela outa vez! exclamou Bill. Leantaam todos as caeças. aula vina pelo campo a comum pato na mão.

    «T uma coisina pa tai o apetite, Mauice, disse oimão mais velo ionicamente. Mauice estava a meio de umagande tia de empadão de coelo e batatas cozidas.

    «Üa, eu seja ceguinho se nã vem mesmo, iuse o pai.«Laga isso, Mauice, é uma pena desapontála.

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    Maurice olhou em redor com ar muito evergonhado,sem saber o que er ao prato.

    «Dê cá, disse Bil. «Eu limpo já isso tudo.«Traz uma coisinha para o invido? riuse o pai para a

    Fruein.«Ele tá com bom aspecto. «Trago a ele galinha, a ele! Acenou com a beça para Mau

    rice, como uma crianç. Ele corou e sorriu.«ã é preciso arrebentar co'ele, disse Bill.ram todos à gargahada. A rapariga não percebeu, por

    isso riu também. Maurice comeu o seu quinhão com extremoembaraço.

    O pai apiedouse da timidez do lho.

    «Venhase aqui sentar à minha beira, disse ele. «Ahn,Frulein! ã é assim que lhe chamam?«Eu sento-me à sua beira, pai , isse ela, inocentemente.enr atiru a beça para trás e largou a rir senciosamente.Ela sentouse ao pé do grande homem bem-parecido.«Ü meu nome, disse ela, «é Paula Jablonos.«É o quê?, disse o pai; e os outros homens largaram à gar

    galhada.«Diga lá, disse o pai. «Ü seu nome «Paula.«Paula? Ah, bom, é um nome esquisito, nã é? Ele chama

    -se e acenou em direcção ao lho.«Maurice eu sei . Pronunciou o nome com doçura, e

    pois riuse tando o pai bem nos olhos. Maurice corou até àraiz dos cabelos .

    Fizeram perguntas sobre a vida dela e descobriram que vina de anôver, que o pai tinha uma loja e que ela gira ecaa porque não gostava do pai. Tinha ido para Paris.

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    «», disse o pai , já com dúvid «E o qu' é que lá ia?»«Andava na escola numa escola de meninas»«E gostava?»«, não era mora sem vida!»«Ü quê?»«Quando saímos a du e duas todas juntas e pronto

    , sem vida, sem vida.»

    «Homessa! É boa!» exclamou o pai «Paris, sem vida! E to-pou com muita vida em Inglaterra?»

    «Não ai não. Não gosto.» F uma eta para o viiato«Há quanto tempo está em Inglaterra?»«Do Natale aqui »«E o qu é que vai er?»

    «Vou para Londres, ou para Paris. , Paris! Ou cao-me!» Riu-se tando os olhos do pai.

    O pai riu-se com vontade.«Casa-se, ehn? E com quem?»«Não sei. Voume embora»«Ü campo é morto demais para si ?» perguntou o pai

    «orrto demais hum!» Fez que sim com a cabeça«ã gostava de azer manteiga e queijo?»«Fer manteiga hum!» Virou-se para ele com um gesto

    alegre e amplo «Gosto.»«», riu-se o pai. «Gostava, nã gostava?»Ela z que sim com a cabeça veementemente, com os

    ohos a brilhar«Ela gosta de qualquer coisa, desde que seja dierente»,

    disse Henry acertadamente«Também me parece», concordou o pai Não lhes ocorreu

    que ela pudesse compreender pereitamente o que diziam

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    Olhou para eles atentamente e, depois, pôsse a pensar com acabeça inclinada

    «Olá», eclamou Henry, alerta Um vagabundo vina descontraidamente em direcção a eles, da abertura na sebe Eraum homenzinho rtivo, com mau aspecto e um ar de gabarolice cavalar Pequeno, magro e com de inha, com barbaruiva de uma semana no queo pontiagudo, lá vinha ele, descontraidamente

    «ã tem um empregozito vago, não?» perguntou«Um empregozito», repetiu o pai «Atão nã vê que 'amos

    quase a abar?»«Vejo, mas reparei que lhe altava um e lembreime que me

    podia um meidia »

    «Mas você percebe alguma coisa de ceias?» perguntouHenry com um esgar trocista

    O homem encostouse à sebe descontraidamente Os outros estavam todos sentados no chão Tinha a vantagem

    «Podia trabalhar tã bem como vo'mecês todos», gabouse« 'Táse mesmo a ver», riuse Bill

    «E que ocio é o seu?» perguntou o pai«Eu sou jock M um trabhinho sujo a patrão

    e quei arrumado Ele é que s' aproveitou, a mim puserammena rua Foi ele e, depois, i como se nu me tinha visto »

    «Ah, i!» eclamou o pai, condoído«Foi mesmo!» armou o homem

    «Mas a gente não tem nada pra si», disse Henry iamente«E o patrão, qu' é que diz?» perguntou o homem, atrevido«ã, a gente nã tem trabalho pra si», disse o pai «Mas pode

    comer qualquer coisita, se quiser»«Sabiame bem», disse o homem

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    Deramlhe o resto do empadão de coelho Comeu-o vorazmente aia nele algo de degradado, parasitário, que repugnava a enry Os outros consideravam-no uma curiosidade

    «'Tava bem bom, saboroso, disse o vagabundo com convicção

    «Quer um naco de pão e queijo? perguntou o pai«Ajudaa a encher, i a respostaO homem comeu isso mais devagar O grupo sentia-se

    embaraçado pela sua presença e não conseguia conversarOs homens acenderam os cachimbos, terminada a refeição

    «Atão nã quer uma mãozinha? disse o vabundo, por m«Nã a gente governa-se bem sozinhos«Nã tem, por acaso, um bocadito de tabaco que nã precise,

    não?O pai deu-lhe um bocado 

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    «Nã queres, nã ques. Podias ir andando.»

    «nal, vens ou nã vens?» perguntou ela com desprezo.Ele pôsse de pé debilmente.

    «Nã é preciso tanta pressa», disse ele. «Se esperavas um bocadinho, ainda podias levar qualquer coisa.»

    Ela mirou os homens ela primeira vez. Era muito nova eteria sido bonita, se não tivesse um ar tão duro e calejado.

    «Já almoçou?» perguntou o pai.Olhou para ele com um ar zgado e virouse. O rosto ti

    nha contornos infantis, que contrastavam estranhamente coma expressão que tria.

    «Vens ou não?» disse ela para o homem.«le já deve ter o seu quinhão. Coma qualquer coisita, se

    quer» , disse o pai em tons ersuasivos.«Qu é que comeste?» atirou ela para o homem.«Comeu o que sobrava do empadão de coelho», disse

    Georey em tom indignado e trocista, «e um grandessssimonaco de pão e queijo.»

    «Eles é que mo deram», disse o homem.

    A jovem mulher olhou para Geoey e ele para ela. aviaentre os dois uma espécie de nidade. Ambos se davam malcom o resto do mundo Georey sorriu satiricamente. Ela erademasiado grave e estava irritada demais para sequer sorrir.

    «Mas há aqui um boo que um bocadinho?» disseMaurice jovialmente.

    Ela mirouo com desprezo.Olhou de novo ara Georey. Ele arecia compreendêa.

    Virouse e ise embora em silêncio. O homem cou a tirarmaças do cachimbo obstinadamente. Puseramse todos aohar ara ele com hostilidade.

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    «A gente nã é melhor pôrse ao trabho? » disse Henry, levantndose e tirndo o caco. Paula pôsse de pé. Estava umpouco consa com a presença do vagabundo.

    «Eu vou», disse, sorrindo alegremente. Maurice levantouse e seguiua com um ar acnhado.

    «É boona, ehn?» disse o vagabundo, acenando com a cbeça na direcção de Frulein. Os homens não perceberam bem,

    mas ganharlhe asco.«Nã é melhor pôrse a andar?» disse Henry.O homem ergueuse obedientemente. Todo ele era des

    contracção, parasitismo, insolência. Georey tinhalhe nojo,apetecialhe exterminálo. Era exactmente o pior inimigo dohipersensvel: insolência sem sensibilidade, à ta da sensibili

    dade dos outros.«Atão nã me dão q'alquer coisita pra ela? Nã comeu nada o

    dia todo, qu'eu saiba. S'eu lhe levar q'lquer coisa, é capaz decomer mas tmém apanha mais do que chego a saber», istocom uma piscadela de olhos lúbrica, de rancor ciumento. «Edepois querme ter à trela», acrescentou com sacasmo, en

    quanto metia no bolso o pão e o queijo

    3

    Geore ahou de mau humor toda a tarde e Maurice

    gu o cvao peo campo, limpandoo dos restos do feno. Estava mutíssmo cor. sim se passou o dia; e a atmosfera tornuse pesada e a luz do sol mais sa. Geoey estava na apana com Bi, a ajuda a cregar as crroçs dos regos. Estavahumoado mas, ao mesmo tempo, extraordinaamente i

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    viado: Maurice não diria nada. Desde a discussão, nenw deles tinha ado com o outro. Mas o silêncio que reinava entreeles era inteiramente amigável, quase de eição. Ambos tinamdo prondamente abalados, tanto que a sua relação normalra interrompida; m, no ndo, ambos tinam prondo respeito wn pelo outro. Maurice estava intensamente liz, comwa sensação de afeição que se sobrepunha a tudo o resto. M

    Georey continuava completamente hostil para com quasetudo e todos. Sentia-se isolado. A comunicao simples e cilentre os outros trabalhadores deiava-o nitidamente só. E eraum homem que não aguentava estar sozinho, porque tinhamuito medo da vasta consão da vida que o rodeava, na qual sesentia desprotegido. Georey não se ava em ninguém.

    O trabalho prosseguia lentamente. O cor era insuportável e todos estavam desanimados.

    « 'Inda temos pra mais um dia» , disse o pai à hora do lanche, estavam todos sentados à sombra da árvore.

    «Mas que dia!» disse Henry.«Atão alguém tem de car», disse Georey. «É melhor

    ser eu.»«ão, pá, co eu», disse Maurice e escondeu a cara emba

    raçado.«Ficas aqui outra vez esta noite?!» exclamou o pai. «Antes

    queria que sses para casa.»«ã, eu co», protestou Maurice.

    «Quer ir namorar», esclareceu Henry.O pai pensou seriamente na questão«ã sei . . . », disse, com um ar pensativo e perturbado.Mas Maurice cou. Por volta das oito horas, depois do

    pôr do sol, os homens montaram nas bicicletas, o pai pôs o ca-

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    valo no carro e todos se ram embora. aurice cou aradona abertura da sebe a vê-los ir, a carroç rolando e balouçandoela colina abo, sobre a erva curta, os ciclist assando velozmente como sombras à ente. Passaram todos o ortão, ouvindo-se o bater ritmado dos cascos na estrada, sob as limeiras;e desaareceram. O jovem estava extremamente excitado quase receoso or se encontrar sozinho.

    A escuridão subia do vale. Pela íngreme colina viam-se jáindecisas as luzes da carroça e as janelas da casa estavam iluminadas A aurice tudo arecia estranho, como se nunca o tivesse visto. Para bao da sebe, uma limeira exalava um aromaque era quase como uma voz a falar. Sobresstou-se. Inalou aagrância extremamente doce e, deois, quedou-se a escutar

    com exectativa.Do alto da colina veio um relincho. ra a égua nova. Os

    cavos esados trotavam ruidosamente, afastando-se ao longoda sebe.

    aurice ôs-se a ensar no que havia de zer. Vagueouimacientemente em redor das medas desertas. O lor vinha

    em baforadas, em torrentes densas. A noite demorava muito aarrecer. Pensou que o melhor era ir lavar-se. Havia uma tinade a lima ao ndo da sebe. A água vinha de uma nteminúscua, que gotejav sobre a borda da tina ara a e luxuriante do camo de bo à beira da sebe. m redor da tina,no cmo de cima, a terra era um charco e as rainhas-dos-ra

    dos areciam bolas de bruma, com um cheiro muito enjoativono creúsculo A noite não escureceu, orque estava lua cheia;e a cor lva destacava os céus que continuavam álidos, comuma lua velada. camainhas cor de úrura da sebe tornaram-se negras, a lor de cuco assou de cor-de-rosa a branco

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    desbotado, as rnhas-dos-prados ganharam luz como se ssemsrescentes e tornaram o ar doloroso de aromas.

    Maurice ajoelhou-se na laje, lavando as mãos e os braços e,depois, a ca. A ága estava esca e sabia bem. Tinha aindauma hora até Paula vir: tinha combinado nove. sim, decidiu toma banho à noite, em vez de esperar pela manã. Estavapegajoso de suor e Paula vinha ar com ele. Ficou deleitadoquando isto lhe veio à ideia. Enquanto mergulhava a cabeça natina, pôs-se a pens no que as criaturinhas que viviam no lodoaveludado, ali em baio, achariam do gosto do sabão. A rirpara consigo, torceu o pano para dentro da tina. Lavou-se dacabeça aos pés, de pé no canto esco e esquecido do campo,onde ninguém o veria nem de dia de modo que, agora, no tom

    cinzento do luar, não era mais conspícuo do que os montes deores. A noite paecia-lhe nova e diferente: não se lembrava dealguma vez ter visto o brilho cinzento lustroso, nem de ter reparado em como as luzes pareciam vitais, como gente viva habitando os espaços de prata. E as árvores altas, obscuramenteenvoltas nos seus matos, não o teriam surpreendido se tives

    sem começado a conversar umas com as outras. Enquanto seenxugava, descobriu movimentos no ar, sentiu toques ao deleve dos lados e carícias particularmente deliciosas vezes, sobresstavam-no e ria-se como se não estivesse só. As lores,particularmente as rainhas-dos-prados, perseguiam-no. Estendeu o braço e pousou a mão nas ores lanzudas. Tocaram-lhe

    nas coxas. A rir, juntou um molhe, e cobriu-se todo do pó cremoso e agrante das ores ms a incandescência subtil danoite de sombrs negras sossegou-o. coisas nun lhe tinhampaecido tão pessoais nem tão cheias de beleza, nunca tinhavisto o mistério em si.

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    nove horas, esperava encostado ao sabugueiro num estado de grande trepidação, mas sentindo-se digno , conscientedo seu próprio mistério Ela estava atrasada nove e umquarto apareceu, movendo-se com ligeireza e rapdez, à suamaneira ávida

    «Não, ela no queria dormr», disse Paula, um tom quetransmtia um mundo de raiva Ele riuse anhadamente Caminharam devagar para o cpo escuro da encosta

    «Fiquei com ela naquele quarto uma hora, horas» ,exclamou indignada Respirou ndo:

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    «Aqui cachopa!» disse ele para a égua; e, num instante,agarrara-a pea crina e guiava-a para as medas, onde lhe pôs umbresto Era uma égua grande e rte aurice ajudou Frulein a montar, depois escarranchou-se à ente dea, servindosede uma roda de carroça como degrau e, juntos, trotaram pelaencosta acima, ela agarrada com jeito à cintura dele Do topoda colina olharam para bo

    O céu escurecia com um mto de nuvens A esquerda, acona erguia-se negra e coberta de bosques, com um ar abrigadoque e vinha de umas pous luzes ns sas que ladeavam a estrada A colina estendia-se pa a direita cm árvores agrupadasem crcuos as, à ente, cava o grde panorama da noite,uns spicos de velas das casas, um grupo cintilante de luzes

    como uma feira de elfos em pleno movimeto, ns minas umapamento de luzes em redor do deamento, um co vermeho o céu à stcia, sobre a ndição e, á mesmo ao ndo,o pulsar diso ds les da cidade Enquanto obseavam o espraiar da noite, os braços dela estreitaram-lhe a cintura e elecomprimiu-lhos com os cotovelos de encotro ao corpo A égua

    sacudiu-se impacientemente Eles estreitar mais o contacto«Tu nã queres mesmo abalar?» perguntou à rapariga mon

    tada atrás de si«Eu co contigo» , respondeu ela docemente; e ee sentiu-a

    aconchegar-se mais a si Riu curiosente Tinha medo de abeijar, embora se sentisse impelido a fazê-lo Firam quietos

    na égua impaciente, observando as luzinhas merguhadas naprondeza da noite, na distância innita

    «Nã me que embora», sse ele num tom se-supteEla não respondeu A égua sacudiu-se impacientemente«Deixa-a correr», gritou Paula, «depressa!»

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    Rompera a magia, impelirao a uma espécie de ria Deucom os calcanares na égua, bateulhe e ela largou a lopar pelaencosta abaixo A rapi rrouse com rça ao jovem Cavalgavam em pêlo pela encos ngreme e irregular Maurice rava-se bem com as mãos e os joelhos aa prendiaselhe cintura,com a cabeça pousada no ombr dele e vibrante de excitação

    «Vamos cair, vamos cair», gritava ele, rindo excitado; masela apenas se aconchegava mais a ele, apertado-o com rçaA égua galopava pelo campo ra Maurice estava certo de que,mais tarde ou mais cedo, acabava estendido na erva Fincou-secom toda a rça que tinha nos joelhos Paula aconchegava-se aele e, vezes, quase o ia perder o equilíbrio Rapaz e rapariga estavam tensos do esrço

    or m, a égua estacou, reslegando aula desmontou e,num instante, Maurice estava a seu lado Ambos estavam altamente excitados Sem se dar tempo a pesar, Maurice tomou-a nos braços com rmeza e beijou-a rindo Ficaram assim durante um tempo, sem se mexerem Depois, em silêncio,caminharam em direcção medas Escurecera muito e a noite

    estava densa de nuvens Ele caminhava com o braço em redorda cintura de aula, ela com o braço volta dele Já estavaperto das medas, quando Maurice sentiu um pingo de chuva

    «Vai chover», disse ele«Chover!» repetiu ela, como se sse uma coisa trivial«Vou ter que estender a sarapilheira», disse ele com gravi-

    dade Ela não percebeuQuando chegaram medas, ram ao barracão e voltaram

    cbeando na escuridão sob o peso da enorme sarapilheira nda não tinha sido usada, nem uma vez, durate a ceido feno

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    «Ü que vas fer tu?» perguntou Paula, apromandosedele na escurdão

    «Tapar a parte de cima da meda com sto», respondeu ele«Vou pôla por cma da meda para a tapar da chuva»

    «Ah!» eclamou ela «Lá em cma!» Ele largou o rdo«Sim senhora», respondeu

    Com dculdade, apoou a longa escada ao lado da meda

    Não consegua ver o topo«Espero que 'teja segura», dsse bnhoUns pngos de chuva tamborilavam energicamente no

    pano Peciam outra presença Estava muito escuro entre osgrandes edfícos de feno Ela levantou os olhos para a paredenegra e chegouse a ele

    «Consegues levar lá acima?» perguntou«Consigo», respondeu ele«Eu ajudote», dsse elaE ajudou Desdobrar o po le trepou prmero a es

    cada íngreme, carregando a parte de cma, ela seguuo deperto, cregdo a parte que lhe cabia Trepar a escada va

    clante em slênco, rtvamente

    4

    nquanto trepavam a escada, uma luz estacou ao portão

    da estrada Era Geoey, que tnha vindo ajudar o irmão a estender a saraplera Com medo da sua própra intrusão, levara a bccleta mão, em slênco, para o barracão de chapa derro ondulado que cava do outro lado da sebe Georey deiou que a luz o precedesse, m não hava snal dos namorados

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    Pensou ver uma sombra a esgueirarse luz amarelada do candeeiro da bicicleta rasgava o escuro, apanhado o cintilar dospingos de chuva, uma bruma de escuridão, sombras de lhas etus de erva comprida Georey entrou no barracão nãoestava lá ninguém Caminhou lenta e obstinadamente em redor as medas Tinha acabado de passa pela carro, quandoouviu qualquer coisa a escorregar lá de cima Deu um salto

    para tr, encostando-se ao paredão de feno e viu a longa escada escorregar pela meda abaio e ir com um baque surdo

    «Qu' é que i?» ouviu a voz de Maurice utelosa, vinda decma

    «ma coisa cai», veio a voz curiosa, quase satisita, daFrulein

    «Nã podia ser a escada», disse Maurice spreitou parabaio Ficou deitado a olhar

    «Diabo, i mesmo!» eclamou «Demos-lh'um encontrãoco'a sarapilheira, quando a 'távamos a estender»

    «qui em cima estamos fechados?» eclamou ela com vozvibrante

    «E é que 'tamos só se eu gritar até eles ouvirem no vicariato»

    «Ai, não», disse ela rapidamente«Nã é qu'eu queira», responeu ele com uma risada Ou

    viuse o tamborila mais equente da chuva na sarapilheiraGeorey agachou-se encostado outra meda

    «Vê lá onde pões os pés 'pera deia-me esticar estaponta», disse Maurice com um tom singularmente íntimouma ordem e uma rícia «Temos que nos pôr debo delaPelo menos nã nos molhamos »

    «Não molamos!» repetiu a rapariga, contente mas agitada

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    Georey ouviu o deslizar e restolhar da sarapilheira por

    cia da eda, ouviu aurice dizerlhe: «Cautela!»

    «Cautela!» repetiu ela «Cautela! Tu dizes "cautel'!»

    «E atão?» riuse ele «Nã quer que cais a bao, pois não?»O tom era doinador, ele não estava uito seguro de si

    Fezse u silêncio

    «Maurice!» disse ela queixosa«'Tou aqui», respondeu ele ternente, com a voz a tremer

    de uma excitação já uito próxia da aição «Pronto, acabei

    ora vaos poonos debaixo desta ponta»

    «Maurice!» era quase u lamento

    «Que i? Nã t'acontece mal», repreendeua co ua in

    dignação terna«Não 'acontece ale», repetiu ela «Não 'acontece

    ale aurice?» > Ela riuseGeorey afastouse co estas últias palavr Depois, a

    chuva coeçou a car co rça O irmão solitário artouse

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    para o barracão prondamente infeliz a chuva batia nachapa como um percursionista doido. Sentia-se muito infeliz etinha ciúmes de aurice.

    O cdeeiro da bicicleta, voltado para bao, projectavauma luz amarelada sobre o chão nu do abrigo com três paredes.Iluminava a terra batida, as caixas de utenslios empilhadas sobre a viga, encostadas chapa cinzenta-baça do barracão. Pegouno candeeiro e inspeccionou o resto do abrigo. Havia pilhas decabrestos, ferramentas , uma grande caia de açúc, uma cmaespessa de feno depois as vigas cruzadas sob o telhado dechapa, tudo muito nu e sombrio. Apontou a luz lá paa ra:via apenas o cintilar rtivo da chuva por entre a névoa da escuridão e sombras negras a pairar.

    Georey apagou a luz e atirou-se para o feno Da a poucodevolvia-les a escada, quando comessem a querê-la. Entretanto, cou sentado a invejar a felicidade de aurice. Tinhamuita imaginação e, agora, estava de posse de go de concretosobre que fantasiar. Não havia nada no mundo que o agitassetão completa e prondamente como a imagem dessa mher.

    Paula era estranha, estrangeira, diferente das outras raparigas:nela, a excitante qualidade feminina paecia concentrada, maisviva, mais fcinante do que em todas as outras que conecia, demaneira que se sentia quase como uma borboleta atrada pelachama. Tê-la-ia amado desvairadamente mas ra auriceque a apanara. Os seus pensamentos seguiam o mesmo curso,

    repetindo-se incessantemente. Como seria beijá-la, senti-laprender-se cintura, que sentiria ela por aurice, gostava delhe tocar, achava-o no e atraente; que pensaria dele limitava-se a ignorá-lo como quem ignora um cavalo num campo;mas porquê, por que é que não tinha conseguido que ela o es-

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    imasse, em vez de auice: nunca conseguria a estima de umamulher, cedia sempre cedo de mais, se ao menos encontrasseuma mulher que o quisesse pelo que era, apes de ser tão destrado e cheio de pontos acos, que bom seria como abeijaria! Depois, voltou ao mesmo circuito, empreendendoquase como um louco Entretto, a chuva batia com rça nobracão; mas tornouse progressivamente mais leve e suave

    Ouvia o pingar d got de chuva lá raO coração de Geoey caiulhe aos pés e contraiuse, ao

    ver uma sombra negra passar rtivamente pelo poste do barracão e, vergandose, entrar em silêncio O coração do jovemgalopava tanto, que não conseguia sequer tomar fôlego para l Era mais choque do que medo A rma apalpou na sua di

    recção Ele levantouse de um sto, agarrou a sombra com amanápula, ofegando: «Atão, atão!

    ão sentiu resistência, só um gemido de desespero«Largueme , disse uma voz de mulher«Qu é que quer? perguntou em tom cavo e áspero«Pensava qu ele tava aqui ela chorava num desespero,

    com breves sluços temosos«E topou c o que nã esperava, i?Ao ouvir a voz ameaçadora, ela tentou soltarse dele«Largueme , disse«Do qu é que vinha procura? perguntou ele, já mais

    natural

    «Do meu mido aquele que você viu ao almoço Largueme

    «Ai, atão é você, exclamou Geoey «Ele deixoua?«Largueme, disse a mulher obstinadamente, tentando

    soltarse Ele sentiu que a manga estava completamente enchar

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    cada e que o braço que agarrava era magro De repente, encheu-se de vergonha com certea tinha-a aleijado de a apertar com tnta rça Abrandou, mas não a largou de mão

    «E anda procura daquele velhaco qu' aqui 'teve ao almoço?»perguntou ele

    Ela não respondeu«Quand' é qu' ele a deiou?»

    «Eu é qu'o deiei aqui Depois nunca mais o vi»«Eu acho que i por Deus», disse ele Ela não respondeu

    Ele deu uma risada e disse:«Cá por mim, acho que você deve 'tar morta d' o ver pelas

    costas»«É meu marido e só se põe a meer se eu deiar»

    Georey cou calado, sem saber o que dizer«Você tem um casaco?» perguntou, por m«Qu' é que julga? Está agarrado a ele »« 'Tá toda enchrcada, nã 'tá?»«Com' é que podia 'tar seca, 'tá a chover a potes as ee nã

    'tá aqui e eu vou abalar»

    «Quer dizer», disse ele com humidade, «'tá toda enchar-cada?»

    Ela não respondeu Ele sentiua tiritar«Tem io?» perguntou, surpreso e preocupadoEla não respondeu Ele não sabia o que dizer«Fique um bocadino», disse ele; e começou a remeer no

    bolso procura de sros scou um e abrigou-o com apalma da mão grande e lejada Era um homem grande e estava ito Quando a luz iluminou, viu que estava muito pálidae com um ar esgotado O velo chaéu de maineiro estavaencharcado e mole da chuva Trazia um casaco de pano acasta-

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    hado co achas scuras da chuva ua saia u pigavasr as otas O sro apagous

    «as você 'tá toda charcada!» diss a ão rspodu«ã ur car aui até parar d chovr?» prgutou a

    ão rspodu«S ur car, é hor tirar a roupa brulhars uma

    ata Há ua ata dos cavaos a arca»Ficou spra, as a ão rspodia tão acdu o

    diro da icicta coçou a rxr a arca, d od tirou ua grd ata castaha co riscas scarats aarls a cotiuava d pé, iv l apotou a luz para astava uito páida, a tiritar covusivt

    «Qu é u t?» prgutou «Fui a pé até u voti pra trás», diss a, a tiritar, «

    procura d dsd ahã u ã coo ada» ão chorava, stava diado pdrida para chorar Ohou paraa, horrorido, co a oca ioarta auric trhiachaado «apvo»

    «tão ã cou ada?», diss pois, votous para a arca ra ali u guardava o pão

    u sorava u grad aco d uijo, aé d coisas cooaçúcar s, co todos os tars aé havia atiga

    a stous co dsâio a caa d fo cortouu aco d pão, arrouo co atiga pgou u pdaço

    d uio Lvouhos, as la cou s votad«ho sd», dss«ã tho crvja hua», rspodu «Ü ê pai

    ã gta crvja »«Quro água», diss la

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    Ele pegou numa lata e embrenhouse na escuridão húmida, passou pela grande sebe negra e i tina Ao voltar, viuasentada toda encoida na penumbra do barrao A ea encharcada molhoulhe os pés pensou ms nela Quando lhedeu uma malga de água, tocoulhe na mão e sentiu os dedosquentes e suados Ela tremia tanto que entornou a água

    «Sentese mal?» perguntou ele

    «ã consigo parar quieta mas é por causa de 'tar cansada e nã ter comido nada»

    Ele coçou a beça, meditabundo; e cou pera que ela abse de comer o pão com mtei Depois, ofereceulhe mais

    «Agora já nã quero», disse ela«Mas tem que comer q'alquer coisa» , disse ele

    «Já nã consigo comer mais nada»Hesitante, ele pôs o bocado de pão na arca Fezse mais uma

    longa pausa Ele levantouse cabisbaixo A bicicleta, como umanimal em repouso, briava por detrás dele, virada para a parede A mulher estava sentada no feno toda encolhida, a tiritar

    «ã se consegue aquecer?» perguntou ele

    «Devagarinho nã s'aija Tireilhe o lugar ca aquitoda a noite?»

    «Fico»«Já abo», disse ela«ã, nã quero qu' abale Estou a pensar com'é que você há

    de aquecer»

    «ã s'incomode comigo», protestou ela em tom quase deirritação

    «Só quero ir ver se as medas 'tá seguras Tire o sapatos e asmeias e a roupa molhada toda conseguese embrulhar toda namanta, que você é pequenita»

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    «'Tá a chover já pssa já abalo»«Teho que ir ver se s medas 'tá segur Tire a roupa

    mohada»«Você nã volta?» pergutou ea«Se cahar não, só de mah㻫Atão abo daqui a dez miutos Nã teho direito d'aqui

    't e ã vou agora tirar o lugar a ninguém »«Você ã me tira o ugar»«Tire ou ã tire, vou abalar»«Atão e se eu votar, tmém abala?» perguntou ele Ela ão

    respodeu i Passados us mometos, ela apagou a uz A chuva

    caa persistetemete; a noite era um gol egro Tudo estavaitesamete cmo Georey pôsse à escuta: só ouvia a chuvaParou etre as medas, mas ão ouvia mais do que o pigar daágua, s chicotads igeiras da chuva Tudo estava perdido a escuidão Imagiou que a morte haveria de ser assim, muits coiss dissovidas no silêcio e egrura, apagadas, ms em estência Na desa negrura, setiuse quase extito Receava não

    encotrar as coisas como as deiara Quse num eesim, aostropeços, aos apapões, regressou e só paou quado tocou achapa ia a procura de um raio de uz

    «Apagou a luz?» perguntou, com medo de só ter o silênciopor resposta

    «Apaguei», respodeu ela humidemete Ficou contente

    por lhe ouvir a voz Aos apapões no barracão escuro comobreu, topou com a arca, cuja tampa servia de mesa Ouviuse estrépito e um baque

    «É o cadeeiro e a e a malga», disse ele Riscou umfósro

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    «A mga nã e partiu. Pô-la na arca«M o azeite entornoue do deeiro Tmém já 'tava

    podre de velho. Apreoue a apagar o fóro, que lhe etavaa queima o dedo. Depoi, ricou outro fóro.

    «Você nã quer luz, que eu ei, e eu 'tou de abalada; venhae deitar e decanar. Eu nã lhe tirei o luga.

    Ele olhou para ela luz doutro fóro. Era um molheinho e gente catanho, com a orla de cor viva toda dobra euma carinha ta nele. te de o fóro e apag, ela viuocomeçar a orr.

    «Eu entome aqui neta ponta, die ela. «Você deite-e. Ele i-e ent no feno a uma certa ditcia dela. Depoi

    de um ilêncio:

    «Ele é memo eu marido? perguntou.«Poi é! repondeu ela amargamente.«Hum! novo ilêncio.Paado um bocado: «Já 'tá mai quentinha?«Pr' a qu' é que e incomoda?«ã é que m'incomode você vai atrá dele por got

    dele? Fez a pernta de um modo muto tmido. uera aber.«ão goto quem me dera que morrese dise-o com

    azedo deprezo. Depoi, teimoamente: «M é mê mido.Ele lagou uma riada.«Valha-no Deu! die.E depoi, pado um bodo: «Já 'tão ado há muito

    tempo?«Quatro ano. «Quatro ano atão quanto o tem você?«Vinte e trê. «Acabado d e fazer?

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    «Fiz em o.»«Atão é quatro meses ms velha do qu'eu.» Pôsse a pen

    . Havia só duas vozes na noite escura como breu. De novoum silêncio estranho.

    «E andam sempre itos vagabundos?» perguntou ele.«Ele acha qu' anda procura de trabao. Mas nã gosta de

    nada que cheire a trabalho. Era moço de estábulos quando ca

    sei com ele nos Greenhalgh, os criadores de cavalos de Chestereld, onde eu era criada. gou o trabalo tinha o bebédois meses e eu ando de Herodes para Pilatos desd' Dizemque pedra que rola nã gha musgo . . . »

     

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    «Já 'tá quente? » perguntou ele a medo.«Um bocadinho mais mas tenho os pés . . . !» metia dó.«Deieme aquecerlhos co'as mãos», pediu ele. «Eu 'tou

    quente.»«ã, muito obrigada», disse ela iamente.Então, na escuridão, sentiu que o tinha magoado. Ele en

    colhiase sob o efeito da repreensão, porque tinha oferecido

    por bondade.«É que 'tão todos sujos» , disse ela, meiotrocista.«Üra ta 'mém os meus e eu tomo banho quase todos os

    dias» , respondeu ele.«ã sei se chegam a aquecer», gemeu ela para consigo.«Üra pouseos aqui nas minhas mãos. »

    Ela ouviuo meer na caia de sros devagarinho; depois, uma chama srescete começou a brilhar direito a ela.Detro em pouco, ele tinha dois borrões de luz azulesverdeada, a deitar mo, direitos aos pés dela. Ela teve medo. Masdoíamlhe tanto os pés . . . levada por um impuso, pousou as solas dos pés, ao do leve, sobre os dois borrões de mo. mãos

    grandes dele agarraramlhe os peitos dos pés, duras e quentes.«M 'tão como gelo!» disse ele, prondamente preocupado.Aqueceulhe os pés tão be quanto podia, aproimando

    os do corpo. De quado em quando, tremores convulsivospercorriamna toda. Ela sentia o ba quente nas solas dos péscobertas pelas grandes mãos. Inclinandose para a ente tocou

    lhe delicadamente o cabelo com os dedos. Ele vibrou. Ela deuem aiciarlhe docemente o cabelo, com as pontas dos dedostímidas, suplicantes.

    «Já se sente melhor?» perguntou ele num tom de voz baio,levantado subitaente o rosto para ela. Isto fez com que a

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    mão dela deslizasse suavemente sobre o seu rosto e as pontasdos dedos tocaram-le na bo. Ela tirou a mão de repente. Eleestendeu a mão procura da dela, segurando ambos os pés naoutra mão. A mão estendida encontrou a cra dela. Tocou-acom curiosidade. Estava molhada. Ee pôs os grndes dedosgentilente sobre os olhos dela, duas lagoas de lágrimas.

    «Qu'é que i?» perguntou em voz baixa, estragulada.

    Ela baixou-se para ee e agarrou-se-he ao pescoço, apertando-o ao seio num enesim de dor. A amarga desilusão vida, a vergonha e degradação contínua dos timos quatro ostinham-na empurrado para a solidão e endurecido até grandeparte do seu ser empedernida e estéril. ora, abrdava denovo e despontava nela a promessa de uma Primavera inda. Es

    tivera a cinho de vir a tornar-se numa veha ia.Apertou a cabeça de Georey de encontro ao peito, que

    arquejava e arquejava. Ele estava perplexo, prondamenteconso. Deixava a mulher fazer dele o que quisesse. lágrimas tombavam-lhe sobre o cabeo, ela chorava em siêncio; eee respirava ndo com ela. Por m, ela largou-o. Ele pôs os

    braços em redor dela.«Ande lá, deixe-me aquecê-la», disse, pondo-se de joelhos

    e puxando-a a si com os braços rtes. Ela era pequena e câlineEle segurou-a de encontro ao seu corpo quente. Psado umbocadinho, ela pôs os braços volta dele.

    «M que a que és», murmurou.

    Ele apertou-a de encontro a si num sobressalto e baixou abo tentativamente, buscando a dela. Os lábios tocar-lhe aonte. Ela virou a boc lenta e deliberadamente para a dele e,com os lábios abertos, reuniu-se-lhe num beijo para Georeyo primeiro beijo de aor.

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    Despotava a ia madrugada quado Geory acordou.A mulher dormia aida os seus braços. O rosto adormecidodespertou ele uma imesa oda de terura: os lábios comprimidos, como que decididos a suportar o que custava muito asuportar, cotrastava tato com o rmato das ições, que

    metiam dó. Georey apertoua ao peito: por possula, setiaque podia vigarse dos sorrisos de escário, passar pelos outros de cabeça levatada, ivecvel Com ela completadoo,constituido o seu cere, setiase rme e completo. Precisavatanto dela que a amava fervorosamete.

    Etretato a madrugada veio como a morte, uma daquel

    manh lvidas e let que parecem vir em suores ios. Letae dolorosamete, o ar começou a clarear. Equato observavaa terrvel trsrmação que ia lá ra, deuse cota de qualquer coisa. Olhou para bo: ela tiha os olhos abertos e miravao; os olhos eram castahodourado, calmos; e sorriramlogo que ecotraram os dele. le sorriu também, vergouseteramete e beijoua. Durate um tempo ão falaram. Então:

    «Com' é que te cham? pergutou, curioso«Lydia , disse ela.«Lydia!» repetiu ele, esativo. Setiase bastate tmido.«Eu chamome Geoey Wookey>>, disse ele.Ela limitouse a sorrirFicaram em silêcio durte bastate tempo. luz da ma

    hã, as coisas peciam pequeas. árvores imesas da oiteaterior tiham ecolido e apresetavamse agora peque,esbraquiçadas, icertas, rompedo a palid ormal da atmosfera. Havia uma desa évoa em que a uz mal erpassava.Tudo parecia tiritar de io e efermidade.

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    «Já dorist uitas vzs ao ar ivr?» prgutou .«uitas, ão», rspodu a.«ã vais atrás ?» prgutou.

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    «ho u'ir», rspodu a, acochgous a of. stiu pâico súito.

    «ã pods», xcaou; a viu u tia por si prprio.ão dss ada cou caada.

    « gt ã s podia sar?» prgutou psativat.«ão.» podrou sor isto. or « vihas pr' Caadá coigo?»«Vaos a vr coo t sts daui a dois ss» , rspo

    du a radat, s du.

    «Co crt a sa», protstou , agoado.la ão rspodu cou a osrváo s dsviar osohos. stava ai podia fr dla o u uisss; as ãoo uria prjudicar, u ss para lh svar a aa.

    «ã ts faia?» prgutou .«Ua irã casada Crick.»«ua uita?»«ão, é cada co u trahador as ão h fata

    ada. S uisrs, vou para casa da até arrajar ua casa parasrvr.»

    cosidrou isto.«avt ua uita?» prgutou asiost. 

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    «Quando chegar a altura», disse elaA falta de conança dela fê-lo baar a cbeça ela tinha

    rão ara tal«Vais a é ara Crick, ou vais de Langley Mill ara

    bergate? Pode-se ir a é, são só quinze quilómetros Podemos irjuntos elo Monte unt temos que assar elo nosso ortão e, então, eu vou a correr buscar-te dinheiro» , disse ele, comhuidade

    «Eu tenho aqui meio soberano e nem reciso de tanto »«Deixa ver», disse eleEla remexeu debaixo do cobertor e, assado um bocado,

    encontrou a moeda Ele sentia-a indeendente de si A ensaramargamente nisso, disse ara consigo que se ia esquecer dele.

    A ria que sentiu deu-he coragem ara erguntar:«Vais servir com o teu nome de solteira?»«ão»Ficou azedamente irado com ela, cheio de essentimento«Aosto que nunca mais te vejo», disse com um riso breve

    e duro Ela ôs os braços ao escoço dele, aertou-o de encon

    tro ao eito e vieram-lhe as lágrimas aos olhos Ele cou maissossegado, mas não comletamente

    «Escreves-me esta noite?»«Escrevo, se queres »«Eu osso-te escrever como é que onho o nome?»«Srª D Lydia Bredon»

    «Bredon!» reetiu ele amargamenteSentia-se extremamente inquieto·A madrugada tornara-se imensamente álida Ele viu as

    sebes molhadas endentes na névoa cinzenta Deois, contoue de Maurice

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    «Tu dizesme metir zesme r aqui dizesmemetiras» ostrava idigação tão itesa como uma pão

    «É verdade como eu 'tar aqui» , começou ele«etiras! metiras! metiras!» gritava ela «Não

    acredito em ti, uca É mau, és muito mau, mau, mau!»«Atão 'tá bem!» também ele estava já irritado«És mau, és muito mau, mau, mau»

    «Desces ou ão?»«Não, ão quero»«Atão ã queiras »Geore, espreitado do azevinho, viu aurice chegse

    à escada com cuidado O degrau superior estava debo daborda da meda, apoiado na saca; era perigoso chegarlhe ao pé

    A Frulei obseavao do topo da meda, ode a sa levatadamostrava o eo claro e seco le escorregou um pouco, ela deuum grito Quado alcçou a escada, aurice atou a saca demodo a cilitar a descida dela

    «Agora já ves?» pergutou«Não!» abaou a cabeça violetamete uma birraGeore setiu um certo desprezo por ela as aurice

    cou à espera«Ves ou não?» pergutou de novo«Não», buu ela como um gato selvagem«Atão 'tá bem, vou eu »Desceu Quado chegou ao do, cou a segurar a cada«Ada lá, equato eu a seguro», disse ele

    Não houve respsta Durate us miutos, ele deousecar pacietemete com um pé o primeiro degrau stavapido, com um ar um tato svad e eclhid de o

    «Atão ves ou ã ves?» , perguntou, por m otiuou aão ter resposta

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    «Aão ca aé e arares» resmngo; e fi-se emboraDo oro lado med enconro Georey

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    «Olá! ã vinha à espera d'a encontrar aqui, disse Mauriceatabalhoadaente, a sorrir. Ela observou-o com gravidade,se dar resposa. «Ficavase melhor a coberto do que lá ra, nanoite psada, acrescentou ele.

    «Ficava, respondeu ela.«És capaz de ir buscar uns galhos? pediu Georey ao ir

    ão. ara Georey, dar ordens era coisa nova. Maurice obede

    ceu lá saiu para a manhã ia e húmida. ão passou ao pé dameda, porque não lhe apetecia ver aula.

    À entrada do barracão, Georey acendia uma gueira.A ulher tirou café da arca Georey pôs a lata ao lue paraferver. Estavam a preparar o pequeno-almoço, quando aulaapareceu. Vinha sem chapéu. Tinha bocados de feno presos ao

    cabelo e a cara pida em resuo, não vinha no seu melhor.« tu! exclamou, ao ver Georey.«Olá! respondeu ele. «Você saiu cedo hoje.«Onde é que está Maurice?«ã sei, as deve esar a volar. aula cou cada.

    «Quando é que chegase? perguntou.«Cheguei onte à noite, mas nã vi ninguém. Levantei-me

    há uma meia hora e pus a escada na meda para ir buscar a sarapilheira.

    aula percebeu e cou calada. Quando aurice voltouco os galhos, ea esava acocorada a aquecer mãos. Levan

    tou os olhos para ele, m ele não olhou para ela. Georeyolhou para Lydia e sorriu. Maurice chegou as mãos ao go.

    «Tens io ? pergnou aula ternamente.«Um bocado , respondeu ele com ar amigável, mas reser

    vado. E, urane odo o tepo que estiveram sentados à volta

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    da gueira, a beber cé e a comer cada um uma tia de bacon

    assado, Paula buscava ansiosamente os olhos de Maurice; eleevitavaa. Não era brusco, mas também não lhe oerecia oolhar. E Georey sorria constantemente para Lydia, que observava tudo com gravidade.

    A rapariga alemã conseguiu voltar ao vicariato sem problemas. Ninguém veio a saber da escapada, a não ser a criada.

    tes do mdesemana, estava ocimente noiva de Maurice e,terminado o mês de serviço, viver para a quinta.

    Georey e Lydia permaneceram éis um ao outro.

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    A A FRMA

    Paline Atenborogh inha seena e dois anos mas, à méa-lz, parecia vees er rina ra, de co, ma mlherespanosamene bem conseada, de m chi pereio É evidene qe er a consiião ideal ajda mio ria a ser mesqeleo reqinado, com a caveira igalmene reqinada dema mlher esca, qe maném nos conornos dos ossos enos dentes inocenes e bonios odo o chae minino

    roso de Paline era do ipo pereamene oval e mpoco seco qe melhor resise ao passar do empo: como não écheio, não se pode ornar ácido s conornos do nariz eramserenos, a sa linha era ma ca save Só os grandes olhoscinzenos se desacavam m poco da spercie do roso eeram eles qe mais rvelav pálpebras aladas eram pesa

    das como se, por vees, se doessem do esfro de maner sob sios olhos vos e brianes; e, aos nos dos olhos, as g nssimas raav, por vezes, slcos de cansao, mas logo se reesavam compondo a expressão alegre e cheia de vivacidade dema mer de Vinci cap, remene, de m riso anco

    A sobrina, Ceclia, era vez a úica pessoa qe sabia do

    o invisível qe ligava os pés-de-galinha à fra de vonade dePaline Só Cecília obseava, conscenente o declínio dosolhos para o esado de esvaimeno, velhice e nsao em qe vam drane horas, aé Rober chegar a casa ntão, ! oo miserioso qe ligava a fra de vonade ao roso de Paline

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    retesavase, os olos cansados, esvaídos e proeminentes começavam, de repente, a cintilar, as pápebras subiam, as sobrancelsingularmente arquead, pousadas em curvas tão ágeis sobrea testa de Pauine, começavam a recuperar a expressão trocista eali estava a senora rmosa em pessoa, toda ela chae

    Possuía, reamente, o segredo da juventude eterna queristo dizer, recobrava a juventude como uma águia. as usava

    a com economia. Tina a sensatez de não tentar ser jovem pamuita gente para o o, Robert, noitina e, vezes, pa Sirled Knipe,  ora do cá; aos domingos, quando Robert estava em casa, viam, vezes, visitas e, para estas, ela permanecia rmosa e inalterável, sem que a idade conseguisse desgastála, nem o ábito vulgarizála. ostravase tão alegre e

    amável m, ao mesmo tempo, subtilmente trocista, que fazialembrar a ona Lisa, de posse de ou dois segredos. Pauline possuía mais não precisava de lsas delides, podia rir com aquele riso trocista de bacate que era, ao mesmotempo, isento de maldade e sempre brandamente tolerante, emrelação tanto a vides como a víios É claro que virtudes exi

    giam muito mais tolercia, observava ela atrevidamenteSó para a sobrina, Cecília, é que Pauine não se incomo

    dava a manter o chae. nal, a Ciss não era muito perspice, mais , era baça. ais ainda, estava apaionada por Robert; e,pior de tudo, estava nos trinta e dependia da Tia Pauine Oraa Cecília! Valia lá a pena maçarse com ela!

    Cecília, a quem a tia e o primo Robert camavam somenteCiss como se sse um gato a bufar era uma jovem muler de tez escura e cara de bull-dog que pouco lava e,quando falava, não conseguia dizer o que queria Era la deum sacerdote congregacional pobre que, enquanto era vivo,

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    era irmão de Rnd, o marido da Tia Pauline. Rnald e o sacerdote congregacional estavam ambos bem mortos; e a TiaPauline tinha Ciss a seu cargo havia cinco aos.

    Viviam todos numa caa ao estilo Queen Anne, requintada mas bastante pequena, que cava a uns quarenta quilómetros da cidade, inhada num pequeno vale, no meio de umterreno escasso mas bonitinho e agradável: o lugar ideal e a

    vida ideal para a Tia Pauline, aos setenta e dois anos. Qudoos verdilhões reluziam na ribeira do jardim, sob os amieiros,algo reluzia, ainda, no coração dela. Era assim, aquela mulher.

    Robert, dois anos ms velho do que Ciss, ia todos os diaspara o escritório num dos tribunais da cidade. Era advogado egahava, com vergonha secreta mas prondíssima, cerca de

    cem libras por o. o conseia pura e simplesmente, ganhmais, embora gahar menos sse fácil. É claro que não fia dirença. Pauline tinha dinheiro. as, bem vistas as coisas, asposses de Pauline eram dela e, embora soubesse dar quase comextravagância, havia sempre a sensação de receber presentessimpcos e imeres sabia sempre melhor receber presentes

    qudo nada se zera para os merecer, dizia a Tia Pauline.Também Robert era feio e não dizia, praticamente, pala

    vra. De estatura mediana, era largo e rte, embora não ssegordo. Só a cra rapada e algo patosa era gorda vezes, zia lembrar a de um padre italiano, guardando segredos e silêncio. Da mãe, tina os olhos cinzentos, mas eram muito tímidos

    e inquietos, nada ousados como os dela. Talvez sse Ciss aúnica pessoa cap de pressentir a sua terrível timidez e maea sensação habitual de estar no sítio errado, quase como umama que tivesse entrado num corpo errado. as Robert nadafazia paa o corrigir. a para o escritório e estudava Direito.

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    Eram, no entto, os processos jurdicos antigos e invulgaresque lhe interessav Sem que ninguém, a não ser a mãe, soubesse, Robert tinha em seu poder uma colecção etraordiniade documentos jurdicos do velho Méico, act de processos ejulgamentos, defesas, acusações a estraha e terrvel misturade Direito canónico e Direito ordinário do Méico do séculoXI Tinha começado um estudo virado para ao encontrar,por aco, as actas de dois marinheiros ingleses acusados dehomicdio no Méico, em 1620; e continuara quando constatou que o documento seguinte era o processo de acusação contra um tal Don iguel Estrada, que seduzira uma eira doConvento do Sagrado Coração em Oaca, em 1680

    Pauline e o o Robert passavam noites deliciosas com es

    tes veos documentos A senora rmosa percebia um poucode espanhol a verdade, ela própria tinha ares de espanhola, detravessa no belo e aile castanho-escuro bordado a os grossosde seda prateada Sentava-se à belssima mesa antiga, cujo tampoespesso era macio como veludo, de travessa no belo e brincoscompridos, com os braços nus e ainda belos, algumas vols de

    pérolas ao pescoço, vestido de veludo roo e um aile, aquele ououtro À luz das velas pecia, sim, uma aristocrata espaola detrinta e dois ou trinta e três anos Dispuna as velas de modo aenquadrem-lhe o rsto no claro-escuro que lhe ia bem; o espaldar da cadeira, que se e erguia por detrás da cabeça, era rrado de brocado antigo verde e proporcionava um ndo sobre o

    qual o rosto dela se destacava como uma rosa de NatalEram sempre três à mesa; e bebiam sempre uma gra de

    champa Pauline duas taç, Ciss duas taças e Robert o restoA senhora rmosa resplandecia e mostrava-se dite Ciss, como cabelo negro apertado n rrapito e os ombros largos en-

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    qadrados num vestido bonito, qe e va bem e que a TiaPaine a ajudara a er, tava a tia, depois o primo e, de novo,a ia, com os olhos de avelã mdos e conos; e desemenavao papel de a adiência bem impressionada. eva pressionada, sempre, ngma região do seu ser. Mesmo ao bo decinco anos, o brilhantismo de Pauline ainda a deixava sem palavra. s, lá no ndo do seu consciente, jiam dados tão esqui

    sios como os de qalqer m dos documentos de Robert: tudoo qe sabia sobre a tia e o primo.

    Robert sempre fra um cavalheiro, dotado de ma cortesiamincosa e fra de moda, que disarçava qe por completoa timidez Rober era mais conso do que tímido e Ciss sabao. Ana era por do qe ela. A consão de Cecília vinha só

    de há cinco anos; a de Robert devia ter começado mesmo antesde nascer. No ventre da senora frmosa deva ter-se sentidomuito conso.

    Prestava à mãe total atenço, atraído para ela como maor humilde para o sol. Ms, apesar do se ar de padre, Robertestava constantemente consciente, nalgu canto remoto do

    seu ser, da presença de Ciss, do isolamento parcial qe lhe eraimposto e de qe algo não estava bem. Senia a presença na salae uma terceira conscência, ao pso que, pa Pauline, a sobrinha Ciss era apenas uma parcela do ambiente que a rodeavae não ma consciênca de pleno direito

    Robet tomava cé com a mãe e Ciss na agradável saa de

    estar, cuja mobília era ão bela, inteiramente composta de peçse coleccionador Palne Atenborou era frtna negociando em quados, mobíla e peçs rars de países bbaros eos três conversavam voluvelmente até oito ou oito e mea. Obiente era conotável, simpático, mesmo amiiar Pauine

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    conseguia tanst a tods ess peçs eegantes o confto deum a A convesa ea spes e, use sepe, lgea Pauineeveavase tal como a eanava ua toça gáve e ua jovdade ónca, ms estha M, depos, zase uma pausa

    Nessa atua, Css evantavase sempe, dava a boanote eevava consgo o tabueo do caé, paa evta as ntossões de Bunett

    E então! Oh, então, oesca a bea ntmdade da noteente ãe e o, absotos a deca os anusctos e a debatecets passagens, Paune co a avdez nant ue, segundouta gente, a caactezava Ea ua avdez genuína Consegua, po eos nepcáves, conseva a capacdade de vbana pesença de um hom obet, sódo, cado e conto

    ado, paeca o as veho: use coo se fsse um pade coua jovem dscípua E ea assm esmo ue ele se senta

    Css tnha u apataento p s do outo ado do páto,po ca da antga cochea e dos estábuos Não hava cavaosobet guadava o cao na cochea Css tnha tês bos ssoahads no pmeo da, dsposts ua a se outa e

    nha ecta e habtuaase ao tuetue do eógo dos estábuosMs, vezes, não a ogo pa o apataento No Veão,

    sentavase na eva e, da janea abeta da saa de esta no peo da, chegavae o so avhoso e pondo de Paune E, no Inveno, a jove muhe vesta u saco gosso, camnhava lentaente até baaustada da ponteznha ue

    atavessava o acho e punhase a oha paa s tês janeas comuz dauea sa e ue ãe e ho se senta tão ezes juntos

    Css amava obet e estava e ce ue Paulne os ueacados, s só depos de moe E o pobe do obet, já de sto ceo de tdez, fsse com hoens ou co uhees

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    Qe restaria dele qando a mãe morresse . . . dali a gns dozeanos? Uma concha, a concha de homem qe nnca vivera.

    A estranha simpatia mda qe se estabelece entre jovensdominados por velhos era m dos laços qe niam Robert eCiss. otro laço, qe Ciss não sabia como estreitar, era apaixão. O pobre Robert era, por natreza, m homem de paixes frte. O slêncio e a timidez angstiada se bem qe es

    condida eram prodtos de ma secreta paixão sica. Ecomo Paline sabia jogr com isso , Ciss bem via os olhosqe ele posava na mãe, olhos ascinados e, ao mesmo tempo,hmilhados, cheios de vergonha. Envergonhavase de não serm homem. E não tinha amor à mãe. Ela scinavao. Fascinavao por completo. O resto estava paralizado na consão de

    ma vida.Ciss cava nos jardins até as lzes se acenderem no qarto

    de Paine, por volta das dez hor. A senhora frmosa recolhia. Robert cava mais ma hora, o coisa assim, sozinho.Depois, também ele recolia. Ciss, lá fra no meio da escridão, tinha vezes u anseio de ir ter com ele e dizer: «Üh,

    Robert! Está tdo mal» as a Tia Paline oviria. E, fssecomo fsse, Ciss não era cap. voltava, mais ma vez, parao apartamento como sempre.

    De mhã, vina m tableiro de caé a cada m dos trêsqartos. Ciss tinha qe estar em casa de Sir Wiled Knipe nove horas, para das hors de lição à netinha dele. Era esta

    a sa úni ocpação séria, com excepção do piano qe tocavaporqe gostava. Robert partia para a cidade cerca das nove.Normmente, a Tia Paline aparecia ao almoço embora, porvezes, não se mostrasse antes do chá. Qando aparecia, vinhaes e jovem as, de dia, tendia a mrchar muito depressa,

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    cm se fsse uma r sem áua sua hra cmeçava cm aluz d velas

    rtat descasava sempre de tarde uad estava mtemp tmava rmalmete ahs de sl Era u ds segreds dela Cmia muit puc a almç e tmava seu ahde sl e ar ates u depis d meidia cfrme lhe apruvesse Nrmalmete era de tarde uad sl atia um pa

    tizih uadrad e murad pr tes mesm pr trás ds estáuls Ciss aria uma cadeira de epus estedia mat epuha peue guardasl recitzih silecis cm sdesas cercaias de teixs escurs ue ecri s paredesvermelhas ds estáuls descupads E para ia a sehrafrmsa cm um livr Ciss tiha ue se pôr de setiela

    apartamet cas de a tia ue tiha muit m uviddar pr um pss ue fsse

    m dia Cecília pesu ue lhe aria em passar a tardecisa a tmar ah de s Estava a impaciete imgemd telhad pl ds estáuls de pdia chegar pela aela dsót ue cava uma pta desua a uma va avetura

    Ia euetemete a telhad tiha mesm ue ir para crda a relógi d estául tare ue impuera a si própriaesta vez levu uma mta trepu até só ver céu aert upara céu e para tp ds lms imess ctemplu sldepis despiuse e deituse pereitamete serea um t dtelhad eia de um parapeit tda epsta a sl

    ue m ue era epr assim crp itei a calr dsl e d a! Ea mesm m! té parecia ue derretia parte ddu zedume ue lhe tmara craç parte d d ressetimet mud ue uca se dissipara Esteeuse maisvupusamete para ue sl lhe ahasse cp itei

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    Já que não tinha outro amante, tinha o sol! Rolou com volúpia.

    E, de repente, o coração parou-lhe num sobressalto e o cabeloquase que se lhe pôs em pé, ao ouvir uma voz muito branda,pensativa, a murmura-lhe ao ouvido:

    Não, meu querido Henry! Não fi por minha culpa quemorreste em vez de csa com a Cláudia. Não, amor. Eu estavadisposta a aceitar que casasses com ela, muito embora não fsse

    mulher para ti .»Cecília andou-se na manta, sem frças, a transpirar de

    pavor. Que voz terrível, tão branda, tão pensativa e, contudo,tão pouco natur. Não era nada uma voz humana. No entanto, estava com certeza tinha que estar alguém no telhado. Oh! Mas que horror, que horror!

    Levantou a cabeça débil e espreitou para as chapas inclinadas. Ninguém! chaminés eram estreitas de mais para esconder quem quer que fsse. Não estava ninguém