DIAGNÓSTICO DA MANUTENÇÃO DE EMBARCAÇÕES …abepro.org.br/biblioteca/TN_STP_228_331_29868.pdf · O Estaleiro Municipal de Conceição da Barra, norte do Espirito Santo, desenvolve

DIAGNÓSTICO DA MANUTENÇÃO DE

EMBARCAÇÕES ARTESANAIS NO

NORTE DO ESPÍRITO SANTO A PARTIR

DO MÉTODO DE CUSTEIO VARIÁVEL

Romero Oliveira (UFES )

[email protected]

Marielce de Cassia Ribeiro Tosta (UFES )

[email protected]

Yuri Walter (UFES )

[email protected]

O Estaleiro Municipal de Conceição da Barra, norte do Espirito Santo,

desenvolve atividades de manutenção das embarcações da frota

camaroeira da região. No entanto, o mesmo não dispõe de ferramentas

financeiras, tecnológicas e de gestão parra acompanhar e analisar

suas atividades. Desta forma, a fim de minimizar este problema este

estudo realizou um levantamento dos custos dos processos de

manutenções no período de julho a dezembro de 2013, sendo

analisadas 10 embarcações. Foram descritos os conjuntos de

processos dispostos em forma de fluxograma e levantados dados

referentes às quantidades e preços das matérias prima consumidas em

cada processo e os tempos de execuções dos mesmos. Uma vez obtidos

os dados estes foram trabalhados por meio do método de Custeio

Variável, onde se analisou a Margem de Contribuição, o Ponto de

Equilíbrio e a Margem de Segurança de cada tipo de manutenção

prestada. Assim sendo, obteve-se que a Fabricação/Montagem de

Tabuado possui a maior Margem de Contribuição Total (43,15%),

seguido da Pintura (23,76%), Aplicação de revestimento (19,27%) e

Raspagem (7,85%) ressaltando serem estes os processos com maior

margem de rentabilidade na atividade de manutenção de embarcações.

A Retirada de Calafeto gerou prejuízo. No entanto, ficou evidenciado

que há necessidade de revisão dos preços e processos de manutenção

com o objetivo de garantir a rentabilidade do estaleiro de Conceição

da Barra. Ressalta-se ainda a importância de análises semelhantes em

outros estaleiros para fomentar a gestão desta atividade na cadeia da

pesca.

Palavras-chave: Custos Gerenciais; Embarcações; Manutenção

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.


João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

2

1. Introdução

Segundo Slack (2000), manutenção é o termo usado para abordar a forma pela qual as

organizações buscam evitar as falhas ao cuidar de suas instalações físicas. É uma parte

importante da maioria das atividades de produção, em especial atividades em que instalações

físicas e equipamentos têm papel fundamental na produção de seus bens e serviços.

Segundo Martins (2010) a manutenção busca garantir maior disponibilidade dos

equipamentos e, ou instalações, aliado ao baixo custo. Porém, em alguns casos, o aumento da

confiabilidade do equipamento é atingido com diminuição da disponibilidade, como em

sistemas de alta complexidade e risco, onde a tendência é a segurança do equipamento.

Segundo a ReliaSoft Brasil (2006) apud Souza, (2008), a manutenção está relacionada com a

rentabilidade das empresas na medida em que influência na capacidade de produção, na

qualidade do produto e no custo operacional dos equipamentos. Os trabalhos de manutenção

elevam o desempenho e disponibilidade dos equipamentos para a produção, mas ao mesmo

tempo contribuem para acrescer os custos de operação.

Segundo Mendes et. al (2012) a atividade pesqueira utiliza diferentes tipos de embarcações,

onde há necessidade de manutenção periódica de seus equipamentos, combinadas com ações

técnicas e administrativas, incluindo as ações de supervisão, destinadas a manter ou restaurar

um item a um estado no qual ele possa realizar uma função requerida. Este trabalho é grande

importância uma vez que as embarcações operam em meio corrosivo, sujeito às vibrações e às

intempéries naturais, com reduzido número de pessoal para operação e manutenção de seus

equipamentos.

Cardoso e Freitas (2006) ressaltaram que os principais custos de manutenção associados a

embarcações foram à manutenção do motor de propulsão, calafeto (vedação dos interstícios

existentes entre a madeira usada para confecção do barco ou da canoa), pintura e apetrechos.

Souza (2007), por sua vez, retrata que um sistema de controle e análise de custos é muito

importante para mostrar à empresa o que está acontecendo, servindo de base para a

administração tomar decisões sobre como alocar melhor os recursos disponíveis, com o

objetivo de otimizar os resultados.

Apesar da importância intrínseca a esse tipo de informação, a pouca utilização de controle de

custos é uma realidade facilmente percebida em grande parte dos estaleiros de embarcações



3

artesanais. Em grande parte isso se justifica por, de acordo com Silveira (2013) o ofício do

carpinteiro artesanal não é aprendido a partir de estudos acadêmicos, ele é adquirido na

prática, pela experiência e convivência com outros mestres.

Fica evidenciada a necessidade de adequado detalhamento de seus custos em todos os níveis,

obtendo informações relevantes que auxiliem na avaliação de desempenho dos processos,

atividades e produtos. O pleno domínio de informações relativas ao custo das manutenções

em embarcações assume papel fundamental como instrumento de gestão, sendo decisiva para

a sobrevivência do estaleiro e melhoria da rentabilidade dos agentes envolvidos.

Assim sendo, o objetivo deste trabalho foi levantar e diagnosticar os custos de manutenção

das embarcações artesanais no Estaleiro Municipal de Conceição da Barra. Especificamente,

pretendeu-se: descrever os processos envolvidos na manutenção das embarcações; investigar

os custos incorridos em cada processo de manutenção; e determinar o ponto de equilíbrio e a

margem de segurança.

2. Manutenção e custos

Segundo Marcorin & Lima (2003) nenhum estudo de implantação de programas de

manutenção, em qualquer empresa, pode ser devidamente efetuado sem se considerar os

custos envolvidos pois eles são, na verdade, os fatores mais importantes a serem examinados

para se decidir entre diferentes programas de manutenção. Portanto os custos envolvidos são

fundamentais para a decisão de realizar, ou não, atividades de manutenção.

Segundo Mirshawa & Olmedo (1993) apud Marcorin & Lima (2003), os custos gerados pela

função manutenção são apenas a ponta do iceberg. Essa ponta visível corresponde aos custos

com mão-de-obra, ferramentas e instrumentos, material aplicado nos reparos, custo com

subcontratação e outros referentes à instalação ocupada pela equipe de manutenção. Abaixo

dessa parte visível, estão os maiores custos, invisíveis, que são os decorrentes da

indisponibilidade do equipamento.

Essa relação entre custo de manutenção, custo da indisponibilidade e produtividade foi

encontrada em modelo matemático apresentado por Chiu & Huang (1996) apud Ribeiro

(2011), cuja conclusão aponta para melhor relação custo-benefício quando a manutenção é

tratada de forma preventiva, em vez de situações de descontrole do processo produtivo pela

falta de manutenção. Tomando a manutenção como premissa para a redução dos custos da



4

produção, deve-se definir a melhor política a ser adotada para a otimização dos custos (Figura

1).

Figura 1: Custos versus nível de manutenção

Fonte:Chiu & Huang, 1993 apud Ribeiro, 2011.

A Figura 1 relaciona custos e nível de manutenção, nota-se que os investimentos crescentes

em manutenção preventiva reduzem os custos relativo das falhas, consequentemente,

diminuem o custo total da manutenção. Porém, a partir do ponto ótimo em investimento com

manutenção preventiva, mais investimentos trazem poucos benefícios para a redução dos

custos da falha e acabam elevando o custo total.

Murty & Naikan (1995) apud Ribeiro (2011), estudaram a relação entre lucro, custos

dispendidos com manutenção e disponibilidade e apresentam modelo matemático para

o cálculo do ponto ótimo de disponibilidade (Figura 2).

Figura 2: Lucro versus disponibilidade

Fonte: Murty & Naikan, 1995 apud Ribeiro, 2011.



5

A Figura 2 mostra que a busca por falha zero (100% de disponibilidade) requer gastos cada

vez maiores com manutenção, o que acarreta consequente redução do lucro da operação,

assim, a manutenção deve garantir a produtividade e o lucro dos negócios da empresa com o

menor custo possível.

De acordo com Marcorin e Lima (2003) é muito importante observar, na busca do ponto

ótimo, que a política de manutenção a ser adotada deve levar em consideração aspectos como

a importância do equipamento para o processo, o custo do equipamento e de sua reposição, as

consequências da falha do equipamento, o ritmo de produção e outros fatores que indicam que

a política de manutenção não pode ser a mesma para todos os equipamentos, mas deve ser

diferenciada para cada um deles, na busca do ponto ótimo entre disponibilidade e custo.

Uma forma de alcançar esse objetivo, de acordo com Carvalho (2002), é a implantação de

sistemas de contabilidade. As informações geradas pelo controle dos custos, principalmente

os de manutenção, podem criar valores consideráveis, e fornecer informações rápidas e

precisas sobre as atividades requeridas facilitando a tomada de decisão e o gerenciamento das

empresas.

3. Sistema de custeio variável

O custeio variável pressupõe que, para as organizações funcionarem, elas já devem estar

comprometidas com os custos fixos, os quais não serão alterados, ou, ainda, caso não haja

produção. Assim, uma vez que a estrutura fixa da organização já está preparada para atender

aos clientes, a decisão relevante está relacionada com os custos variáveis (ABRAS,

GONÇALVES e LEONCINE, 2012).

Segunda Silva et. al (2006) em razão da obrigatoriedade legal de uso do custeio por absorção,

o custeio variável é geralmente utilizado para fins gerenciais, como ferramenta de auxílio a

administração para tomada de decisões. Carvalho (2002), ressalta esta importância ao dizer

que o custeio variável é uma das melhores técnicas disponíveis para fins de avaliação e

controle.

De acordo Matos (2002) apud Bonelli & Domingues (2008), uma análise de extrema

relevância no âmbito dessa abordagem é o ponto de equilíbrio, cuja informação é fundamental

ao planejamento das atividades que venham assegurar a viabilidade econômica e financeira da

empresa. Segundo Atkinson (2000) apud Custodio & Wernker (2006), a margem de



6

contribuição unitária (MCU) em valor monetário é a diferença entre o preço unitário e o custo

e despesa variável unitário do produto (Equação 1). Ou seja, é o valor que cada unidade

efetivamente traz à empresa de sobra entre a sua receita e o custo. Em relação ao índice da

margem de contribuição, aduzem que é “a margem de contribuição expressa como

porcentagem das vendas”.

O Ponto de Equilíbrio (PE), pode ser definido de acordo com Cardoso et al. (2007) como o

nível de atividade em que as receitas totais e os custos totais se igualam; ou seja, é o nível de

atividade no qual o lucro é igual à zero. Pode-se calcular o Ponto de Equilíbrio Contábil

(PEC) em quantidade unidades a serem produzidas e vendidas dividindo os gastos fixos pela

margem de contribuição monetária, e em termos monetários, multiplicando o PEC pelo preço

do produto ou serviço (Equações 2 e 3).

A partir da determinação do Ponto de Equilíbrio, pode-se calcular a Margem de Segurança

(MS), que corresponde à redução das vendas que determinada entidade pode sofrer, sem

apurar o prejuízo (Equação 4). Em outras palavras, Margem de Segurança é a diferença entre

o nível efetivo de atividade e o nível de atividade do ponto de equilíbrio (CARDOSO et al.,

2007).

Em termos operacionais, quanto maior for a margem de segurança operacional, maiores serão

as possibilidades de negociação de preços envolvendo as relações custo, volume e lucro,

principalmente quando a empresa participa de um mercado altamente competitivo

(CUSTODIO & WERNKER, 2006).

4. Metodologia



7

O presente estudo é uma pesquisa exploratória de caráter quantitativo. Os dados utilizados

foram obtidos no estaleiro Municipal de Conceição da Barra (Figura 3), no período de julho a

dezembro de 2013, onde foram efetuadas a manutenção de 10 embarcações medindo em

média 9 metros de comprimento, 2 metros de largura e 1 metro de calado (distância entre

linha d’agua e fundo da embarcação). A Tabela 1 explicita a quantidade de cada tipo de

manutenção efetuada no período do estudo.

Figura 3: Estaleiro Municipal de Conceição da Barra

Fonte: própria

Tabela 1 - Manutenções efetuadas



8

Fonte: Dados da pesquisa

O trabalho de campo baseou-se na aplicação de questionário semi estruturado, além de

conversas informais a fim de criar relação de respeito e confiança com os carpinteiros,

mecânicos e armadores de embarcação. Neste questionário haviam perguntas relacionadas as

matérias-primas e suas respectivas quantidades incorridas e os custos relativos a mão de obra

em cada processo, assim como o tempo despendido para a conclusão desses.

O custo de mão de obra é estabelecido pelo carpinteiro de acordo com o serviço, sem a

separação em relação ao preço, ou seja, o carpinteiro não estabelece objetivamente o

percentual de lucro do serviço prestado. Para efeito de análise, foi fixado o piso salarial de R$

1.233,68 (um mil, trinta e três reais) determinado pela Convenção Coletiva de Trabalho

2013/2015, ou R$ 61,68/dia considerando 5 dias por semana trabalhados.

O estaleiro é subsidiado pela prefeitura, com isso os custos indiretos relacionados a energia,

água, impostos manutenção e outros ficam a cargo da prefeitura enquanto os pescadores,

carpinteiros, mecânicos e torneiros mecânicos podem usar a estrutura física e equipamentos

gratuitamente. Assim não foi possível levantar estes dados diretamente do estaleiro analisado.

Como forma de suprir estes valores utilizou-se os dados do estudo de Casagrande (2015)

(Tabela 2), que foi realizado no mesmo período em um estaleiro de proporções similares e

também localizado no TPA Norte-ES e Extremo Sul-BA, especificamente na cidade de

Alcobaça/BA.

Tabela 2 - Custo indireto de fabricação do estaleiro do extremo sul da Bahia



9

Fonte: Casagrande (2015).

A fim de minimizar algumas dúvidas serão introduzidos alguns conceitos importantes:

Boca: largura da embarcação na seção transversal;

Calado: distância vertical entre a parte extrema inferior da embarcação e linha

d’água quando está em deslocamento normal;

Comprimento (Comprimento Total): comprimento máximo da embarcação;

Calafetagem: segundo Silveira (2012) calafetagem consiste em preencher a abertura

entre as tábuas com um fio de Nylon, algodão, corda de seda ou estopa de biriba, com um

martelo e lâminas sem afilamento; e

Casco: é o corpo do navio sem mastreação, ou aparelhos acessórios, ou qualquer

outro arranjo. O casco não possui uma forma geométrica definida, e a principal característica

de sua forma é ter um plano de simetria (plano diametral) que se imagina passar pelo eixo da

quilha (REOCITIES, 2009).

5. Análise de resultados

5.1. Processo de manutenção

A Figura 4 descreve as possíveis manutenções de acordo com o estado de cada embarcação. O

primeiro processo que acontece de forma obrigatória é a raspagem, pois se constitui de

preparação para os outros processos e também possibilita encontrar outros defeitos que não

podem ser observados devido ao limo e encrostamento de organismos marinhos.

Após a realização da raspagem verifica-se a necessidade de trocar o tabuado, os motivos

podem ser variados, mas em grande parte ocorrem devido a madeira desgastada, acidentes ou

penetração de buzano (Teredo navalis), molusco que ataca madeiras submersas. Em caso



10

positivo, será necessário verificar as condições da caverna. Se esta estiver deteriorada será

removida para que outra seja montada. Se a caverna estiver em bom estado às tábuas serão

fabricadas, montadas e calafetadas para posterior aplicação do revestimento (composto por

argamassa, cola epóxi e massa corrida) por fim será realizada a pintura. Caso não seja

necessário trocar o tabuado, verifica-se se é necessário trocar o calafeto e o revestimento e por

fim é realizada a pintura.

Uma vez levantado os processos de manutenção pode-se perceber que estes estão associados a

diferentes tipos. Em relação ao casco é realizada a manutenção preventiva e preditiva.

Preventiva em relação à raspagem e pintura do casco e preditiva em relação à necessidade de

troca da massa. No caso do casario e caverna é realizada a manutenção corretiva vista a baixa

ocorrência de falhas.



11

Figura 4 - Fluxograma de decisão da manutenção de casco

INÍCIO

Raspagem

Necessidade de trocar tabuado ?

S N

Trocar Cavernas Trocar ColafetoS N S N

Remover Cavernas

Fabricar novas Cavernas

Montar novas Cavernas

Fabricar Tabuado

Montar Tabuado

Calafetagem

Calafeto

Trocar Revestimento

S N

Aplicar Revestimento

Pintar

FIM

Fonte: Resultados da pesquisa



12

5.2. Custos envolvidos na manutenção dos cascos

Como cada barco estudado pode apresentar combinações diferentes de manutenção foi

aplicado neste estudo o conceito de centro de custos, considerando cada etapa do processo de

manutenção como função isolada. Os centros de custos considerados para efeito da análise

foram: raspagem, fabricação e montagem do tabuado; calafetagem; retirada do revestimento;

aplicação de revestimento e pintura. A Tabela 3 apresenta os resultados dos custos relativos a

estes centros.

Tabela 3 - Custos de manutenção de embarcação em Reais (R$) de 2013


O preço da raspagem é R$ 280,00 e os custos com matéria prima incluem 22 discos de lixa ao

custo unitário de R$ 6,00. O tempo necessário para conclusão é de um dia, incorrendo em R$

61,68 com mão de obra. A margem de contribuição unitária (MCU) foi de R$ 86,32 ((índice

de 30,8%). O preço da fabricação e montagem do tabuado para 1 m³ de madeira foi R$

4.150,00 com custo da matéria prima de R$ 2.500,00/m³ e 15 kg pregos galvanizados (R$

17,00/kg). O processo é concluído em 5 dias e totaliza R$ 308,40 de mão de obra. A MCU foi

de R$ 1.186,60 (índice de 28,59%) (Tabela 3).

A calafetagem custa R$ 130,00, para o serviço são consumidos 4 rolos de fio de nylon ao

custo unitário de R$ 6,00 sendo necessário um dia para a conclusão. A MCU foi de R$ 44,32

e 34,09 % de índice. Para efetuar a retirada do revestimento é cobrado R$ 190,00 e para



13

executar esse serviço é necessário um botijão de gás GLP ao custo de R$ 42,00 visto que o

revestimento antigo precisa ser queimado. Esse processo tem a duração de um dia sendo

assim incorridos R$ 61,68 com mão de obra. Apresenta MCU de R$ 86,32 (índice de 45,

43%) (Tabela 3).

O preço cobrado para aplicação do revestimento é R$ 1.080. Para a execução do serviço são

consumidos 3 dias de mão de obra (R$ 185,04). A MCU em unidades monetárias foi de

R$264,96, representando 24,53% (Tabela 3). O revestimento em questão é formado por uma

mistura de 12 kg cola epóxi, 20 kg argamassa e 60 kg massa corrida com preços descritos na

Tabela 4.

Tabela 4 - Matérias prima consumida na aplicação de revestimento


São cobrados R$ 1.000,00 pela pintura do casco a duração do processo são de 3 dias sendo

gastos R$ 185,04 com mão de obra. A MCU é de R$ 261, 36 e o índice é de 26,14% (Tabela

3). O custo com material prima foi de R$ 553,60, sendo: 2 latas de tinta esmalte sintético e de

tinta marítima antiincrustante além de rolos, aguarrás, espátulas plásticas e fitas para

marcação (Tabela 5).

Tabela 5 - Quantidade e preço de matéria prima para o processo de pintura



14


Na Tabela 6 estão representados os valores da margem de contribuição total (R$) dos

produtos, levando-se em conta as quantidades de manutenções executadas no período.

Tabela 6 - Representatividade da Margem de Contribuição


A margem de contribuição total, computando-se todas as manutenções prestadas pelo

estaleiro no período de estudo, foi de R$ 11.000,72. Para tanto, o volume total de vendas na

época pesquisada foi de 44 manutenções. Na última coluna da Tabela 6 estão expressos os

percentuais de participação de cada manutenção no valor total da margem de contribuição

conseguida pelo Estaleiro no lapso de tempo abordado. Esse dado evidencia quais serviços

contribuíram mais com a geração de caixa se considerados os volumes vendidos. Por

exemplo: a fabricação e ou montagem de tabuado corresponde a 43,15% da margem de

contribuição total, enquanto que a retirada de revestimento proporciona apenas 2,35%.



15

5.3. Ponto de Equilíbrio

No caso específico do estaleiro Municipal de Conceição da Barra os Custos fixos

correspondem diretamente aos Custos Indiretos de Fabricação (CIF), custo esse

correspondente a R$ 74,00/dia como ressaltado na metodologia. Para obtenção do ponto de

equilíbrio determinou-se o valor do Custo Indireto de Fabricação Total (CIF) de acordo com a

Tabela 7.

Tabela 7 - Custo Indireto de Fabricação total


O ponto de equilíbrio em unidades para cada etapa do processo de manutenção de

embarcações está descritos na Tabela 8. De acordo com valores encontrados, para que o

Estaleiro não tenha prejuízo são necessários que sejam realizados: 9 raspagens, 15 trocas de

calafeto, 2 montagens ou fabricação de tabuado, 3 retiradas de revestimento, 7 aplicações de

revestimento e 9 pinturas ao longo do semestre.

Tabela 8- Ponto de equilíbrio para cada etapa do processo de manutenção de embarcação



16


O ponto de equilíbrio em termos monetários, por sua vez, foi de R$ 2.520,00 com raspagens,

R$ 1.950,00 com troca de calafeto, R$ 8.300,00 com montagens ou fabricação de tabuado, R$

570,00 com retiradas de revestimento, R$ 7.560,00 com aplicações de revestimento e R$

8.000,00 pinturas ao longo do semestre (Tabela 9).

Tabela 9 - Ponto de equilíbrio contábil em Reais de 2013

Fonte: Resultados da pesquisa.

5.4. Margens de Segurança

Ao analisar a margem de segurança em unidades percebeu-se que a raspagem, a montagem do

tabuado, a aplicação do revestimento e a pintura possuíram valores positivos iguais ou

maiores que um. No entanto, o valor encontrado para a retirada do revestimento indicou que o

mesmo não gerou lucro positivo ao Estaleiro e a troca de Calafeto gerou prejuízo pois o ponto



17

de equilíbrio encontrado foi superior ao total de manutenções realizadas no período (Tabela

10).

Tabela 10 - Margem de segurança


Já a margem de segurança em valor financeiro (Tabela 10) mostrou que a raspagem pode

apresentar uma redução de R$ 2.800,00 em sua receita que mesmo assim não irá gerar

prejuízo, o mesmo se pode dizer da Montagem de Tabuado (R$ 8.300,00), Aplicação de

Revestimento (R$ 1.080,00) e Pintura (R$ 1.080,00). No caso da Retirada de Revestimento

não existe margem para a redução de receita.

6. Conclusões

A partir dos resultados encontrados neste trabalho foi possível chegar a importantes

conclusões gerenciais. A Fabricação/Montagem de Tabuado possui Margem de Contribuição

Total igual a 43,15%, seguido da Pintura (23,76%) e Aplicação de revestimento (19,27%),

ressaltando serem estes os processos com maior margem de rentabilidade na atividade de

manutenção de embarcações.

Já os valores encontrados para o Ponto de Equilíbrio mostraram que a Retirada de Calafeto

gera prejuízo de R$ 444,00, isto devido especialmente a sua margem de contribuição

extremamente baixa (R$ 44,32) e a diferença entre o Ponto de Equilíbrio igual a 15 e o

número atual de vezes que o serviço foi prestado, 9 vezes. Ressalta-se que este é um processo

de apoio, relativamente simples e com pouca matéria prima envolvida em sua execução,



18

tornando assim qualquer melhoria significativa em seu processo inviável. O mesmo pode ser

dito quanto a Retirada de Revestimento que apesar de não gerar prejuízo, não gerou lucro.

Assim é necessário rever a política de preço desses serviços.

Os processos de Raspagem, Aplicação de Revestimento e Pintura apresentaram Margem de

Segurança igual a um, aliado com a Margem de Contribuição Unitária de R$ 863,20 (8%), R$

2.119,68 (19%) e R$ 2.613,6 (24%), comprovando sua participação na lucratividade do

Estaleiro.

O método de custeio utilizado para obtenção de resultados se mostrou eficaz e confiável. Essa

ferramenta pode ser aplicada em outros estaleiros, de modo a melhorar e aumentar a troca de

conhecimento e aprimoramento da CNA. No entanto, ressalta-se a necessidade de se ficar

atento a obtenção dos custos indiretos, pois estes são subsidiados pela Prefeitura Municipal de

Conceição da Barra e podem ter comportamentos semelhantes em outros estaleiros.

O desenvolvimento e continuidade deste trabalho de certa maneira poderão contribuir não só

para o meio acadêmico, mas para todos agentes envolvidos na pesca visto que a frota

camaroeira de Conceição da Barra se encontra sucateada e defasada e que outros estaleiros

podem estar em situações semelhantes. Análises desta natureza podem auxiliar na gestão da

construção naval artesanal.

REFERÊNCIAS

ABRAS, K.; GONÇALVES, M. N.; LEONCINE, M. Os métodos de custeio: vantagens, desvantagens e sua

aplicabilidade nos diversos tipos de organizações apresentadas pela literatura. Contexto. Porto Alegre, v. 12, n.

22, p. 145-159, 2. sem 2012.

BONELLI, G. G.; DOMINGUES, M. J. C. S. Métodos de custeio utilizados nas instituições de ensino

superior de Blumenau e suas finalidades. São Paulo, 2008.Disponível em:<

https://repositorio.ufsc.br/bitstream>. Acesso em: 8 fevereiro 2014.

CARDOSO, R. L.; MÁRIO, P. C.; AQUINO, A. C. B. Contabilidade Gerencial: Mensuração, Monitoramento

e Incentivos. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2007

CARDOSO, R. S.; FREITAS, C.E.D. A composição dos custos de armação e a renda das expedições de pesca da

frota pesqueira artesanal da região do Médio rio Madeira, Amazonas, Brasil. Acta Amazônica. Manaus, vol.36

no.4 Oct./Dec. 2006.



19

CARVALHO, Dalmy Freitas de. A contabilidade de custos e os métodos de custeio: uma análise da utilização

gerencial da informação da contabilidade de custos pelas indústrias de autopeças da região metropolitana de Belo

Horizonte. 2002. Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.

CUSTÓDIO, Aline A. G.; WERNKE Rodney. Análise Custo/Volume/Lucro Aplicada em Laboratório de

Próteses Dentárias. Contabilidade Vista e Revista. Minas Gerais. V.17, n.3, p. 115-134, setembro de 2006.

MARCORIN. W. R; LIMA, C. R. C. Análise dos Custos de Manutenção e de Não-manutenção de Equipamentos

Produtivos. Revista De Ciência & Tecnologia, São Paulo. v. 11, n 22, p. 35-42, 2003.

MARTINS, José Nivaldo. Terceirização da Manutenção. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdade

de Agudos, Agudos.

MENDES. L. N. et al. Indicadores de manutenção em embarcações de pesca artesanal em Macau e seus distritos.

In: Congresso Norte e Nordeste de Pesquisa e Inovação, 7, 2012, Palmas. Anais eletrônicos. Disponível em: <

http://propi.ifto.edu.br/ocs/index.php/connepi/vii/schedConf/presentations>. Acesso em: 15 Novembro de 2013.

REOCITES. Nomenclatura do Navio. 2009. DISPONÍVEL EM: <

http://www.reocities.com/Pentagon/base/2844/constemb.htm >. Acesso em: 14 de Out. 2012.

RIBEIRO, Rodrigo de Almeida. Analise dos custos de Manutenção em equipamentos produtivos. 2011.

Disponível em:< http://pcmusina.wordpress.com/2011/04/07/analise-dos-custos-de-manutencao-em-

equipamentos-produtivos/>. Acesso em: 10 Dezembro 2013

SILVA, A. P. F.et.al. Estudo dos métodos de custeio mais utilizados pelos hospitais de recife. Pernambuco.

Disponível em: <http://www.gea.org.br/scf/Anapaula.pdf>. Acesso em: 27 novembro 2013.

SILVEIRA, Sara Batista. Descrição geral de processos de fabricação da construção naval artesanal nos

territórios prioritários da pesca e aquicultura norte/ES e extremo sul/BA. 2013. Trabalho de Conclusão de

Curso – Universidade Federal do Espírito Santo, São Mateus.

SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Robert. Administração da Produção. 2. ed. São Paulo:

Atlas, 2000. 747 p

SOUZA. Rafael Doro. Análise da gestão da manutenção focando a manutenção centrada na confiabilidade:

estudo de caso Mrs logística. 2008. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal de Juiz de Fora,

Juiz de Fora, 2008.

SOUZA, Rogerio Mariano de. Avaliação de custo, volume e lucro em micro e pequenas empresas

comerciais: um estudo de caso. 2007 Dissertação – Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, 2007.

Documents

DIAGNÓSTICO DA MANUTENÇÃO DE EMBARCAÇÕES …abepro.org.br/biblioteca/TN_STP_228_331_29868.pdf · O Estaleiro Municipal de Conceição da Barra, norte do Espirito Santo, desenvolve