Diferenca Entre Medias

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  • 8/16/2019 Diferenca Entre Medias

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     AS MÉDIAS NUNCA EXPLICADAS (E OUTRAS MEDIDAS DE POSIÇÃO)

    Artigo extraído da Revista Engenharia/437 de autoria do Eng. Manoel Henrique CamposBotelho.

     Nunca fui de entender facilmente as coisas, mas sempre houve coisas que não entendinunca. Para mim, entender é algo mais complexo e exigente que saber calcular. Mas o quenunca entendi na cadeira de Estatística de meu curso de engenharia foi a questão dasmédias. Média aritmética, média geométrica, mediana e moda. Calculá-las eu sabia, mascomo usá-las, quando usá-las e, principalmente, porque usar uma e não as outras, eu nuncasoube.Um dia, já formado, perguntei a um dos professores dessa cadeira, se ele conhecia um casoreal, simples, prático e “chão-chão” de uso da média geométrica. O dito cujo falou que erafácil, bastava estar diante de casos de qualidades multiplicativas. Continuei, decididamente,sem conhecer o que era média geométrica.Eis que um dia tive que fazer uma inspeção em uma cidade do interior. Como tinha tempolivre decidi fazer uma coisa que nunca tinha feito em minha vida, fazer a barba em um barbeiro. Na cidade havia dois barbeiros e indaguei qual era o melhor. No hotel meinformaram que o barbeiro A é asseado, barateiro, bem educado e rápido, só que é nervoso,costumando, de ano em ano, cortar o pescoço de um de seus clientes. Não era sempre, éclaro, só de ano em ano. O barbeiro B, ao contrário, é sujo, careiro, mal educado e lento,mas como única compensação não tem nenhuma baixa no seu longo currículo. Tudoindicava que eu devia ir ao barbeiro B, mas como sou engenheiro, decidi submetê-los a prova das médias. Saquei minha indefectível HP 108 (trinta passos, dez memóriasflutuantes e que calcula até arco de tangente hiperbólico) e apliquei notas aos váriosdesempenhos de cada um dos dois barbeiros. Pela média aritmética dava o barbeiro A, masalgo sutil dizia-me que era o B o mais indicado. Só a média geométrica o recomendava, jáque atribuí (discricionariamente é verdade) nota zero ao evento morte por degolação. Optei,orientado pela média geométrica, pelo barbeiro B. Aí cheguei a conclusão: a médiageométrica é a média que procura estigmatizar eventos indesejáveis e que não sejamobrigatórios de ocorrer. Um colega meu que precisava escolher uma secretária e, segundoatributos igualmente necessários e imprescindíveis, a saber: apresentação, datilografia eredação, recebeu minha consultoria para usar a média geométrica como a mais indicada para balancear sua escolha. Usou e gostou (da média, é claro). Fiquei empolgado com amédia geométrica e sai a recomendá-la a torto e direito. Outro amigo, sabedor da minha propaganda dessa média, precisava fazer delicadíssima operação do coração e aplicou essamédia na escolha de dois cirurgiões cardíacos, dando nota dez a seus paciente operadoscom mais de cinco anos de sobrevida, nota sete a pacientes operados com mais de 2 anos desobrevida e nota zero a pacientes mortos na mesa de operação. Aplicada a médiageométrica aos dois cirurgiões, meu amigo decidiu não fazer a operação. O erro foi dele.Sem dúvida que a morte cirúrgica de pacientes era indesejável, mas é um evento que ocorrecom alguma frequência nesse tipo de cirurgia delicadíssima. Revisto o conceito, meu amigoaplicou a média aritmética, escolheu o cirurgião e está agora só esperando coragem paratentar, na prática, essa média.

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    Resolvida a questão da compreensão da média geométrica (quando usá-la e não usá-la),fiquei a matutar a questão do uso da medida de posição “moda”. Voltei a consultar o

     professor de Estatística e ele respondeu-me que a moda é o evento que mais ocorre, nãohavendo critérios maiores para seu uso. Não entendi, até que saindo de uma obra deconstrução de um prédio durante o dia de pagamento dos peões, vi os arredores da

    construção do prédio cercado de vendedores ambulantes de tudo, doces, camisas de seda,sapatos, etc. Ocorreu-me uma dúvida. Como o vendedor de sapatos podia escolher ostamanhos de sapatos que devia trazer no seu minúsculo estoque dentro da perua Kombi,que era sua loja e depósito ambulante? O vendedor (nortista sabido) respondeu-mefilosoficamente;-Doutor, eu não posso brincar em serviço. Como o meu estoque é pequeno só trago onúmero 39 que é o mais comum. Quem tiver pé com número maior ou menor não compracomigo. Mas a maioria tem pé 39. Eureka!!! O sabido, sem saber, usara com maestria a“moda”. Afinal, além de descobrir o uso da “moda”, descobri porque nos Shopping Centersnunca tem o meu número 43. É pouco comum e o aluguel do box do Shopping é carodemais para estocar números pouco procurados.