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Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
APÊNDICES E ANEXOS
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
ÍNDICE DE APÊNDICES E ANEXOS
Apêndice I – Descrição biomédica da Doença de Machado-Joseph ............................................. I
Apêndice II – Legislação ......................................................................................................... XIX
Apêndice III – Caraterização dos portadores de DMJ entrevistados ...................................... XXXI
Apêndice IV – Caraterização dos filhos dos portadores entrevistados.................................. XLVII
Apêndice V – Caraterização dos inquiridos através de questionário ........................................ LV
Apêndice VI – Caraterização das instituições de apoio aos DMJ ........................................... LXXIII
Anexo 1 – Guião temático de entrevista a portadores de DMJ............................................. LXXXI
Anexo 2 – Questionário online .......................................................................................... LXXXIX
Anexo 3 – Consentimento informado ..................................................................................... CIX
Anexo 4 – Notícia da ABAHE................................................................................................. CXIII
Anexo 5 – Grelha de caraterização dos entrevistados .......................................................... CXVII
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
I
APÊNDICE I – DESCRIÇÃO BIOMÉDICA DA DOENÇA DE MACHADO-JOSEPH
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
III
Para melhor compreender as implicações individuais, familiares e sociais que esta
doença provoca e sendo uma ataxia ainda bastante desconhecida, considerou-se importante
apresentar, as explicações biomédicas da Doença de Machado-Joseph (DMJ) também
conhecida como SCA3 (Spinocerebellar Ataxia Type 3).
1. Definição e sintomatologia
A DMJ é uma neuropatologia herdada geneticamente que afeta o sistema nervoso
central. É uma doença autossómica dominante, pertencendo ao grupo das ataxias neuro-
degenerativas de início tardio. Assim, são raros os “saltos de gerações” (explicados pela morte
prematura do portador afetado ou pela impossibilidade de confirmar a presença de um
transmissor afetado, por exemplo, devido à emigração).
A mutação genética é dominante e o gene responsável pela doença localiza-se no gene
ATX3, situado na parte longa do cromossoma 14q, que é um cromossoma autossómico1. A
anomalia traduz-se na codificação de uma forma anormal da proteína nuclear ataxina-3,
codificado pelo gene ATX3 e consiste numa expansão instável de tripletos na região 14q32.1
(Lima, Mayer, Coutinho, e Abade, 1997, p. 384), traduzindo-se em repetições longas e
irregulares do trinucleótido “CAG” 2, apresentando entre 61 e 87 cópias (Maciel, Costa, Ferro,
Rousseau, Santos, Gaspar, Barros, Rouleau, Coutinho, e Sequeiros, 2001), com a produção da
proteína mutante ataxina-3 (Lima, Costa, Montiel, Ferro, Santos, Silva, Bettencourt, Sousa,
Sequeiros, Coutinho e Maciel, 2005).
Cada irmão de um indivíduo afetado, ou um portador assintomático, tem um risco a
priori de 50% de ser ele próprio um portador, tendo ambos os sexos igual
probabilidade de receber/transmitir o alelo mutado e manifestar a doença. São
conhecidos muito poucos casos (2%) de não-penetrância [Sequeiros, 1989], e, por
conseguinte, no contexto de aconselhamento genético (GC), a DMJ é considerada
totalmente penetrante. No entanto, dado o facto da penetrância da DMJ exibir um
padrão dependente da idade, a probabilidade de ser um portador de mutação, e,
consequentemente, o risco a posteriori, em indivíduos assintomáticos diminui com a
1 Autossoma - é um cromossoma somático, ou seja, não depende do sexo. Faz parte do património genético. 2 É consensual que os indivíduos que não são portadores possuem entre 12 e 44 repetições (Maciel et al., 2001).
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
IV
idade, atingindo aproximadamente zero na idade de 70 anos [Bettencourt, 2008].
(Bettencourt e Lima, 2011, s.p.)
No entanto, de acordo com estudos realizados pela professora Laura Jardim
(comunicação pessoal), 68% dos indivíduos em risco eram portadores de DMJ.
A severidade da doença depende do número de repetições anómalas. Se o intervalo
do número de repetições se inserir entre 45 e 60, não é possível afirmar se o individuo é ou
não portador de DMJ.
A idade média de início varia de acordo com a população. Nos Açores, a doença
manifesta-se, em média, por volta dos 40 anos, sendo a manifestação mais precoce nos
homens (37,3 anos) do que nas mulheres (43,7 anos), embora existam casos de manifestação
precoce (6 anos) e tardios (aos 70 anos) (Coutinho, 1994, p. 53-54).
Ao contrário de Portugal, em que os estudos estimam a idade média de início da DMJ
entre os 38 e os 40 anos, no Brasil, a idade média de início é entre os 32 e os 35 anos (Donis,
2015, p. 23).
Segundo Jorge Sequeiros, diretor da Unidade de Investigação Genética e
Epidemiológica de Doenças Neurológicas (UnIGENE), do Instituto de Biologia Molecular e
Celular do Porto, ainda não está comprovada a origem da doença numa só mutação genética,
existindo duas perspetivas que dividem as equipas de investigadores da DMJ: por um lado,
existe um mesmo haplótipo presente nos Açores, em Portugal continental, Japão, Espanha,
Brasil, EUA; por outro lado, podem ter existido dois haplótipos diferentes, resultantes de dois
acontecimentos mutacionais diferentes, que correspondem ao haplótipo existente em S.
Miguel (que só existe nos Açores, Portugal continental e Brasil) e outro haplótipo existente
nas Flores, que está disseminado pelo resto mundo (Sequeiros, 1989).
Esta é uma doença muito incapacitante, que afeta principalmente os sistemas
motores. Manifesta-se por uma progressiva ataxia cerebelar, que se traduz na progressiva
perda de controlo muscular e da coordenação motora, dificultando a articulação da fala
(afasia), a deglutição (disfasia), o controle dos movimentos dos membros superiores e
inferiores. As perturbações no equilíbrio vão-se agravando progressivamente, provocando no
portador desequilíbrios e uma marcha descompassada, semelhante ao cambalear de uma
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
V
pessoa alcoolizada. Com o passar do tempo, provoca cada vez maior dificuldade em caminhar
e em segurar objetos. Verifica-se também ofltalmoplegia, com a progressiva paralisia dos
músculos do olho, limitando, portanto, os movimentos oculares e ocorrendo, muitas vezes,
mudanças no olhar com perturbações oculares (olhos mais abertos, mais parados ou fixos) e
a retração palpebral (Sequeiros, 1989; Coutinho, 1994). Por vezes, é também confundida com
a Doença de Parkinson, pois a evolução da doença provoca alterações na fala e na deglutição,
visão dupla e um quadro parkinsónico. A doença também provoca distúrbios do sono e
síndrome das pernas inquietas (necessidade involuntária de movimentar as pernas durante o
sono) embora estas não sejam as manifestações mais graves da doença.
A partir do quinto ano de evolução associam-se outras perturbações, tais como
posições anormais das extremidades dos membros, agravadas pelo movimento (síndrome
piramidal e síndrome extrapiramidal) e, por outro lado, um quadro parkinsónico que se
manifesta por rigidez e cada vez maior lentidão (bradicinésia) na realização de todos os
movimentos da face, fala, mãos e marcha (Coutinho, 1994).
Com o passar dos anos e a evolução da doença, a intensificação dos sintomas, que
pode ser muito severa e rápida dependendo do seu tipo, pode levar à paralisia total do seu
portador.
Esta doença tem a particularidade de ser uma doença hereditária do foro neurológico
que não implica a demência dos seus portadores, o que significa que, na maioria das vezes, o
portador sintomático apresenta uma perfeita integridade mental e das suas funções
intelectuais até ao final da vida (Coutinho, 1994).
A sobrevida após a manifestação da doença depende de ser uma forma mais suave
numa faixa etária mais elevada ou, por outro lado, de ser uma forma mais severa e precoce
da doença. Nos casos mais suaves em que os portadores são idosos, a esperança de vida do
portador é a normal para o seu grupo etário, podendo morrer de outro problema de saúde,
sendo a sobrevida máxima conhecida de 29 anos (Coutinho, 1994; Kieling, Prestes, Saraiva-
Pereira e Jardim, 2007). Nos casos em que os portadores são muito jovens e a doença é mais
severa, a esperança de vida reduz-se ao máximo de 35 anos de idade3, sendo a sobrevida
3 National Institute of Neurological Disorder & Stroke. Machado-Joseph Disease Fact Sheet. [Online]. Acedido em 10 de março de 2016, em http://www.ninds.nih.gov/disorders/machado_joseph/detail_machado_joseph.htm.
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VI
máxima conhecida, após o início de manifestação da doença, de 7 anos. Neste caso, a causa
de morte é, geralmente, broncopneumonia ou pneumonia (Coutinho, 1994; Kieling et al.,
2007). A sobrevida média após a manifestação dos primeiros sintomas é, segundo Paula
Coutinho, de 21,4 anos (Coutinho, 1994, p. 20).
Alguns autores consideram a existência de três subtipos (variações da doença)
(Coutinho, 1994, pp. 84-86). Outros acrescentaram-lhes mais dois subtipos e há, inclusive,
autores que ainda referem um sexto subtipo. Como se percebe a variabilidade fenotípica
presente na DMJ não gera consensos. Os subtipos descritos são:
O tipo I é o mais grave, manifestando-se entre os 10 e os 30 anos (idade média de
início: 24,3 anos) (Coutinho, 1994), sendo de progressão rápida (Coutinho, 1994).
Carateriza-se por espasticidade e rigidez (sinais piramidais), lentidão anormal dos
movimentos (bradicinésia) e espasmos involuntários dos membros superiores e
inferiores (distonia). Este tipo corresponde a cerca de 13% dos casos de DMJ
(Paulson, 2011; Costa e Paulson, 2012);
O tipo II tem uma progressão intermédia, iniciando-se entre os 20 e os 50 anos
(idade média de início: 40,5 anos) (Coutinho, 1994). É o mais comum,
caraterizando-se por perda de coordenação motora (ataxia cerebelar), limitação
dos movimentos oculares (oftalmoplegia externa progressiva) e fraqueza
relacionada com os sinais piramidais. Corresponde a cerca de 57% dos casos
(Paulson, 2011; Costa e Paulson, 2012);
O tipo III desenvolve-se de forma mais lenta, iniciando-se entre os 40 e 70 anos de
idade (idade média de início: 46,8 anos), existindo a possibilidade do portador
atingir uma idade avançada (Coutinho, 1994). Carateriza-se por atrofia muscular
associada a sinais periféricos e problemas no controlo dos movimentos voluntários
(neuropatia motora). Enquadram-se neste subtipo cerca de 30% dos doentes
(Paulson, 2011; Costa e Paulson, 2012);
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
VII
O tipo IV é bastante raro, caraterizando-se pela presença de tremor, rigidez,
lentidão (bradicinésia) e redução da amplitude dos movimentos (hipocinesia), ou
seja, por alterações do movimento resultantes de parkinsonismo, respondendo
bem ao tratamento com Levodopa (Suite, Sequeiros e McKhann, 1986; Costa e
Paulson, 2012);
O tipo V foi apresentado recentemente para casos raros de sintomatologia muito
semelhante à paraplegia espástica hereditária, embora não existam provas que
relacionem este subtipo com a referida doença. Carateriza-se, principalmente, pela
espasticidade e fraqueza severa dos membros inferiores, reflexos excessivamente
ativos (hiperreflexia), extensão anormal do 1.º dedo do pé (sinais de Babinski). Este
é considerado o extremo do tipo I (Sakai e Kawakami, 1996; Costa & Paulson,
2012);
O tipo VI é identificado por neuropatia periférica, caraterizando-se por uma
disfunção dos nervos periféricos, com a perda da sensibilidade, atrofias
musculares, formigueiro. É considerado uma variante do tipo III (Van Schaik et al.,
1997 cit in Donis, 2015, p. 24).
A perda de peso e a síndrome das pernas inquietas são caraterísticas comuns a todos
os tipos, sendo menos frequente os problemas cognitivos e comportamentais leves (Costa &
Paulson, 2012).
2. Breve história da identificação da doença
Entre 1972 e 1976, foram descritas três doenças neurológicas “novas”, identificadas
em três famílias de ascendência açoriana residentes nos Estados Unidos da América. Uma
dessas famílias residia em Fall River (Massachusetts) e descendia de Guilherme (William)
Machado (da Bretanha, em São Miguel). Ainda em 1972, outros investigadores descreveram
outra ataxia hereditária que também se manifestava numa grande família açoriana
descendente de José Tomás (Thomas), proveniente da ilha das Flores (residentes em
Massachusetts). Por fim, a terceira doença foi descoberta numa família açoriana descendente
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
VIII
de António Jacinto (Antone Joseph), que tinha emigrado por volta de 1845 e era proveniente
das Flores (Coutinho, 1994).
Estas novas doenças apresentavam alguns aspetos comuns, tais como a origem
açoriana dos seus portadores e serem de transmissão hereditária. No entanto, as suas
expressões clínicas não apresentavam um padrão definido (variabilidade fenotípica),
motivando a “guerra das três doenças” (Coutinho, 1994). A investigadora Paula Coutinho
afirma a importância de ter participado no processo de descoberta e definição desta nova
doença. “Assistir ao nascimento de uma nova doença neurológica do adulto é quase um
privilégio nos tempos atuais (...). Eu tive esse privilégio: presenciei os primeiros passos de
exploração da Doença de Machado-Joseph, colaborei na sua definição clínica, genética e
patológica, ajudei a batizá-la, acompanhei a sua identificação noutras partes do mundo,
participei nas primeiras tentativas de a estabelecer como entidade nosológica distinta”
(Coutinho, 1994, p. 21). A busca pelo prestígio da descoberta de uma nova doença também
levou a que alguns investigadores, médicos, tentassem apresentar variações na definição dos
tipos.
Entre 1976 e 1978, o Professor Corino de Andrade e a sua equipa de investigadores,
estudam as primeiras 15 famílias de portadores, nas Flores e em S. Miguel, que partilhavam
muitas das caraterísticas destas “doenças” descritas em açorianos nos EUA, concluindo que a
doença era a mesma mas que apresentava uma grande variabilidade clínica.
É apenas em 1980, durante o “International Symposium on Autosomal Dominant
Motor System Disorders in Persons of Portuguese Ancestry”, que decorreu na Fundação
Calouste Gulbenkian, que a comunidade científica internacional aceita a proposta de Corino
de Andrade e Paula Coutinho (1978) de unicidade da doença com a designação Doença de
Machado-Joseph.
Ao longo de quase duas décadas, várias foram as designações para a doença. As
primeiras foram Doença de Machado (1972); Doença açoriana do sistema nervoso (1977);
Doença de Joseph (1977). Posteriormente, surgem designações que a identificavam como
doença dos açorianos: Portuguese Autosomal Dominant Hereditary Ataxia of Unknown Cause
(1980); Doença motora autossómica dominante dos portugueses (1981). Atualmente, as
designações mais frequentemente utilizadas são Doença de Machado-Joseph (Machado-
Joseph Disease) e Ataxia Espinocerebelosa Tipo 3 (SCA3) (Spinocerebellar Ataxia Type 3).
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
IX
Atualmente, já se conhecem famílias portadoras de DMJ sem qualquer ligação aos
Açores, sabendo-se também que foi com o povoamento, por famílias vindas de Portugal
continental, que a mutação genética chegou aos Açores. A mutação que originou a DMJ é
anterior ao século XVI, sendo provavelmente do séc. XV. Embora a doença tenha sido
inicialmente identificada em descendentes de açorianos emigrados nos EUA, já foi
comprovado que esta doença não surgiu nos Açores (Coutinho, 1994, pp. 38 e 154). Porém, a
ligação estabelecida foi de tal modo forte que, até nas designações eram identificados os
Açores. Verificou-se ainda que durante a pesquisa de terreno no Brasil, grande parte dos
portadores identificavam os Açores como a origem da doença, existindo várias páginas online
que enfatizam a origem açoriana da DMJ. Entre a população, existem outras designações para
a DMJ que também são (re)conhecidas pelos portadores como “doença da espinha”, “doença
da Ponta Ruiva” ou “doença do diabo”. Todas estas designações atribuem aos açorianos a
origem do “mal”.
3. Risco genético: a prevalência em Portugal, no Brasil e no Mundo
As ataxias espinocerebelosas (SCAs) são consideradas doenças raras a nível mundial,
variando entre 0,3 e 2,0 por 100.000 pessoas (Van de Warrenburg, Sinke, Verschuuren-
Bemelmans, Scheffer, Brunt, Ippel, Maat-Kievit, Dooijes, Notermans, Lindhout, Knoers, e
Kremer, 2002), sendo a Ataxia Espinocerebelosa do Tipo 3 (SCA3) ou DMJ, o subtipo mais
frequente. Estima-se que a DMJ represente cerca de 15% a 45% da totalidade das SCAs em
diversas populações e etnias mundiais (Costa & Paulson, 2012).
Vários têm sido os investigadores, em muitos países do mundo, que se têm interessado
sobre o estudo desta doença. Como sintetizam Bettencourt e Lima (2011), as percentagens de
DMJ entre as SCAs variam em função do país e da etnia:
De entre as SCAs, a frequência relativa de DMJ é mais elevada em países como o Brasil
(69-92%) [Teive et al., 2008; Jardim et al., 2001], Portugal (58-74%) [Vale et al., 2010;
Silveira et al., 1998], Singapura (53%) [Zhao et al., 2002], China (48-49%) [Tang et al.,
2000; Jiang et al., 2005], Holanda (44%) [van de Warrenburg et al., 2002], Alemanha
(42%) [Schols et al., 1997] e Japão (28-63%) [Maruyama et al., 2002; Shibata-
Hamaguchi et al., 2009]. É relativamente menos frequente no Canadá (24%) [Kraft et
al., 2005], Estados Unidos (21%) [Moseley et al., 1998], México (12%) [Alonso et al.,
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X
2007], Austrália (12%) [Storey et al., 2000] e Índia (5-14%) [Saleem et al., 2000; Krishna
et al., 2007], e é considerada relativamente rara na África do Sul (4%) [Bryer, 2003] e
Itália (1%) [Brusco, 2004]. (Bettencourt e Lima, 2011, s.p.)
Dentro de cada país a distribuição da DMJ também não é homogénea verificando-se
que, por exemplo, a SCA3 é relativamente rara em Portugal continental (1:100.000), com
exceção para uma pequena área no vale do rio Tejo (1:1.000), e muito elevada no Arquipélago
dos Açores (Coutinho, 1994), apresentando em São Miguel 1:2.928 (Lima et al., 1998) e
verificando-se, no caso da ilha das Flores, a mais elevada prevalência4 a nível mundial para
uma ataxia dominante (1:239) (Bettencourt & Lima, 2011). Compreende-se, deste modo, que
muitos médicos afirmem que as Flores são uma ilha “em risco”, pois os valores de incidência
são muito elevados (Lima, 1996, p. XI).
No Brasil, a prevalência estimada é de 1 caso em cada 100.000 habitantes, o que
significa que é uma baixa prevalência, mesmo sendo a ataxia brasileira mais frequente (Wolf,
2008, pp. 50). A prevalência é mais elevada na região sul (cerca de 1,8:100.000), tendo, de
acordo com Karina Donis, uma prevalência estimada mais elevada em Rio Grande do Sul
(3:100.000). Em algumas cidades deste estado brasileiro, por exemplo São Jerónimo e General
Câmara, a prevalência estimada é de 100 casos para 100.000 habitantes (Donis, 2015, p. 19).
4. O teste preditivo
Existe um teste genético, habitualmente chamado Teste Preditivo, disponível desde
1995, que permite a deteção do número de repetições do tripleto “CAG” na região do
cromossoma 14, que codifica o gene ATX3, ou seja, permite detetar a mutação genética.
O teste preditivo também é possível para os membros da família considerados em
risco, proporcionando uma confirmação precisa do estado de portador/não-portador
em indivíduos assintomáticos. A análise de mutação do gene ATXN3 também é
utilizada para o Diagnóstico Pré-Natal (DPN) desta doença [Sequeiros et al., 1998]. No
entanto, uma vez que um resultado positivo para a mutação DMJ levanta questões
relativas à interrupção da gravidez, emergem várias questões psicológicas e éticas.
4 A prevalência é calculada através do número de casos a dividir pela população sendo, por esse motivo, uma medida dinâmica que varia em função do número de pessoas afetadas num dado momento.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XI
Uma alternativa para o DPN, o Diagnóstico Genético Pré-Implantação (DGPI), também
está atualmente disponível [Drusedau et al., 2004]. Os níveis de adesão a estes testes
genéticos continuam a ter que ser determinados em grande escala. Nos Açores, a
participação no Teste Preditivo foi estimada como sendo de cerca de 21%. No entanto,
apenas na pequena ilha açoriana das Flores os níveis de adesão chegam a quase 36%
[Gonzalez et al.]. Noutra comunidade pequena, a região rural do Vale do Tejo (Portugal
continental), os níveis de adesão ao programa do Teste Preditivo também foram
elevados (acima de 80%) [Paúl et al., 1999]. Estes altos níveis de adesão em
comunidades pequenas e isoladas levantam questões interessantes uma vez que, em
tais populações, doenças genéticas podem representar uma fonte de estigmatização
para as famílias afetadas [Gonzalez, 2004]. (Bettencourt e Lima, 2011)
A realização deste tipo de teste, quando não existe uma terapia eficaz para prevenir o
aparecimento da doença, tem suscitado alguma discussão de foro ético, pois as consequências
de conhecer antecipadamente que se é portador de DMJ podem ser profundamente negativas
e implicar a incapacidade de lidar com essa informação. Por outro lado, a vantagem de
eliminar a incerteza e reduzir a ansiedade possibilitando que o individuo planeie o seu futuro
é a justificação que apoia a realização do teste preditivo.
Segundo o Protocolo Geral do Programa Nacional de Teste Preditivo e
Aconselhamento Genético na Doença de Machado-Joseph (Sequeiros, 1996a, 1996b), os
candidatos ao programa são aqueles que possuem 50% de probabilidade de ser portadores
(história familiar de DMJ confirmada) e querem receber essa informação genética; têm mais
de 18 anos de idade e são capazes de facultar um consentimento informado; não têm
sintomas da doença.
De acordo com Bettencourt e Lima, um estudo com famílias DMJ dos Açores (Lima et
al., 2001 cit in Bettencourt e Lima, 2011) realizado antes da aplicação do Teste Preditivo
mostrou que “uma grande percentagem de indivíduos eram incapazes de compreender a
noção de ‘portador pré-sintomático’ e, consequentemente, não conseguiam quantificar o
risco objetivo de herdar/transmitir a doença” (Bettencourt e Lima, 2011). Ainda de acordo
com estas investigadoras, a análise dos motivos apresentados para a realização do Teste
Preditivo e do impacte do teste no bem-estar psicológico das pessoas testadas é fundamental
para a conceção de programas de aconselhamento genético eficazes. Na sua publicação de
2011, explanam que são vários os estudos para avaliar o bem-estar psicológico em pessoas
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XII
que realizam testes pré-sintomáticos e, ao contrário do que era esperado, os indicadores de
bem-estar psicológico dos indivíduos em situação de risco apresentavam-se com valores iguais
ou superiores aos do grupo de controlo. Bettencourt e Lima referem que, segundo vários
estudos, os motivos para isso acontecer poderão estar relacionados com uma atitude
defensiva e de negação dos indivíduos em situação de risco e/ou esses indivíduos em situação
de risco serem psicologicamente mais resistentes, visto que se auto selecionaram para realizar
o Teste Preditivo. Por outro lado, os estudos realizados também demonstraram que os níveis
de ansiedade são significativamente reduzidos nos indivíduos que receberam um resultado de
não portador (Bettencourt e Lima, 2011).
5. O alívio da sintomatologia
Esta é uma doença sem cura e sem tratamento mas na década de 90 já se tentavam
controlar alguns dos sintomas da doença, recorrendo a “precursores serotoninérgicos”.
Porém, Paula Coutinho destacava que não surtiam grandes resultados, pois “a maior parte
dos doentes volta ao estado inicial de antes do tratamento, por abandono, razões económicas,
impossibilidade de fisioterapia, entre outros motivos” (Coutinho, 1994, p. 210).
Atualmente, em alguns países, como o Brasil, são utilizados vários tratamentos que
aliviam a sintomatologia parkinsoniana mais grave, caso do Levodopa. Para a redução da
espasticidade recorrem a Baclofen (relaxante muscular) e, em alguns casos, a toxina botulínica
auxilia na redução da espasticidade severa. Nos distúrbios visuais, a cirurgia oftálmica oferece
benefícios temporários, sendo a visão dupla atenuada com recurso a lentes prismáticas5.
Nos casos com caraterísticas parkinsonianas, utiliza-se terapia com Levodopa. A toxina
botulínica tem sido utilizada quando há espasticidade severa, assim como para aliviar
consequências de distonia nas regiões da face e do pescoço. As alterações de fala e de
deglutição podem ser tratadas com terapia fonoaudiológica. (…) O tratamento
fonoaudiológico na disfagia é importante, pois na maioria dos casos, a dificuldade em
deglutir pode causar pneumonia aspirativa. (Wolf, 2008, p. 4) 6
5 National Institute of Neurological Disorder & Stroke. Machado-Joseph Disease Fact Sheet. [Online]. Acedido em 10 de março de 2016 em http://www.ninds.nih.gov/disorders/machado_joseph/detail_machado_joseph.htm. 6 Idem.
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Já existem estudos que realçam a importância da fisioterapia para a manutenção da
mobilidade e melhorar a condição física como forma de prevenir quedas e outro tipo de
acidentes, podendo, inclusive, ajudar no atraso da progressão da doença (Menezes, Flores,
Medeiros, Wiest, Trevisan, Mota e Copetti, 2015, p. 117). A terapia de fala e a fonoaudiologia
são fundamentais para a manutenção da capacidade de articulação da fala e para a
deglutição7. A terapia ocupacional, a intervenção psicológica e os grupos de suporte também
já se demonstraram fundamentais no combate aos sintomas depressivos que afetam um
número significativo de doentes e para a minimização do impacte psicossocial da DMJ (Jardim,
Rodrigues, Prieb e Osório, 2009).
Investigadores do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde da
Universidade do Minho identificaram o fármaco Citalopram como tendo melhorado
significativamente a coordenação de movimentos e equilíbrio em ratinhos. O estudo clínico
em humanos é a etapa que se prevê em seguida, tendo, inclusive, já sido solicitado que
doentes de Machado-Joseph, residentes em Portugal continental, que ainda são capazes de
se locomover, manifestassem a sua vontade e interesse em participar no estudo.
Segundo os informantes privilegiados que entrevistámos, atualmente a questão
central no estudo desta mutação é a compreensão da sua instabilidade e do comportamento
do gene, de modo a ser encontrada uma terapia eficaz para a DMJ. Uma grande dificuldade
que os investigadores enfrentam é o facto de a DMJ ser uma ataxia considerada muito rara a
nível mundial, embora seja o subtipo de ataxia mais frequente.
7 Idem.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XIV
6. Fotografias
Fontes: Rosenberg (1994, p.195); Coutinho (1992, pp.59-60)
Fonte: Coutinho (1994, p. 80)
Fonte: Grupo da Escola Secundária D. Pedro V, in portal Ciência Viva. Consultado em 15 de junho de 2016, em
http://www.cienciaviva.pt/healthxxi/pedrov_dmj/dmj.asp
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XV
Referências bibliográficas
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perspectives. In Orphanet Journal of Rare Diseases, 6 (p. 35). Consultado em 25 de junho de
2016, em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3123549/.
Bettencourt, C., Santos, C., Kay, T., Vasconcelos, J. & Lima, M. (2008). Analysis of segregation patterns
in Machado-Joseph disease pedigrees. In Journal of Human Genetics, 53(10) (pp. 920-923).
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Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XVIII
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XIX
APÊNDICE II – LEGISLAÇÃO
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XXI
1. Açores e Portugal
Na década de 90, a Doença de Machado-Joseph começa a ter lugar na agenda pública
e passa a ser vista pelos agentes políticos como um problema social e de saúde que implica
uma intervenção política. O Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores
confere poder à Assembleia Legislativa Regional para legislar sobre matérias que digam
respeito ao arquipélago e é nesse âmbito que a Assembleia recomenda ao Governo Regional,
através da Resolução n.º 5/90/A, de 21 de março, “que, através do departamento
competente, atue no sentido de colher os elementos necessários à determinação do grupo de
indivíduos atingidos pela doença do machado e subsequentemente tome as medidas
adequadas ao aconselhamento tendente à sua prevenção, bem como ao melhor
acompanhamento dos portadores da doença quer no aspeto do tratamento quer no dos
problemas sociais dela decorrentes”.
Posteriormente, o Decreto Legislativo Regional n.º 21/92/A, de 21 de outubro,
estabelece medidas especiais de apoio aos doentes portadores da Doença de Machado-
Joseph desde que estejam recenseados nos centros de saúde da Região Autónoma dos Açores.
Nesse sentido, este diploma define que
Artigo 2.º – Pensão de invalidez
Aos cidadãos acometidos pela doença do machado (ou de Joseph) é garantido o acesso
a uma pensão de invalidez, no âmbito do regime geral da segurança social, desde que
reúnam cumulativamente as seguintes condições:
a) Estejam recenseados nos centros de saúde da Região;
b) Sofram de uma incapacidade funcional igual ou superior a 70%, nos termos da
Tabela Nacional de Incapacidades.
(…)
Artigo 4.º – Subsídio de acompanhante
1 – Aos doentes que se encontrem nas condições descritas no artigo anterior é
atribuído um subsídio de acompanhante.
2 – Têm igualmente direito a este subsídio os doentes que, independentemente do
grau de incapacidade, deixem de ter, em consequência da doença do machado (ou de
Joseph), a possibilidade de locomoção.
3 – A impossibilidade de locomoção é atestada e certificada nos termos do artigo
anterior.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XXII
4 – O montante do subsídio de acompanhante será definido no âmbito da
regulamentação prevista no artigo 6.º do presente diploma8.
Artigo 5.º – Material clínico de apoio
1 – Aos doentes será concedido todo o material clínico de apoio para compensar as
desvantagens motoras, designadamente cadeiras de rodas, canadianas, calçado
ortopédico, almofadas antiescaras, algálias, sacos para recolha de urina e fraldas.
2 – O material clínico de apoio referido no número anterior é concedido gratuitamente
pelos centros de saúde e, no caso de ser recuperável, a título devolutivo.
Artigo 6.º – Outro material clínico
A prescrição médica aos doentes, nomeadamente de analgésicos, antiespásticos,
vitaminas e todo o material de planeamento familiar, será fornecida gratuitamente
pelos centros de saúde.
Como se depreende da leitura do excerto acima, são vários os apoios criados pelo
decreto supracitado. No entanto, alguns deles, como é o caso do subsídio de acompanhante,
abrangem apenas os cidadãos que beneficiem do regime geral da Segurança Social
(contributivo e não contributivo). Já no caso dos beneficiários do regime de proteção social
aos trabalhadores em funções públicas (ADSE) e outros regimes não são abrangidos por este
tipo de apoio.
Dependendo do centro de saúde no qual o portador está inscrito poder-lhe-á ser
cedido o material clínico de apoio ou, reembolsado do seu valor mediante a apresentação do
comprovativo de prescrição médica e do recibo de pagamento. Neste caso, não existe prejuízo
para os utentes desde que tenham disponibilidade financeira para efetuar a despesa e
posteriormente serem reembolsados desse valor. Por outro lado, a interpretação que é feita
pelos centros de saúde também não é uniformizada no que toca aos materiais de apoio (alínea
1 do Art.º 5.º), pois, em alguns casos, é subsidiado todo o material clínico e, noutros, o apoio
restringe-se apenas ao material designado na suprarreferida alínea.
O Decreto Regulamentar Regional n.º 9/93/A, de 6 de abril, visa “garantir a criação de
esquemas especiais de proteção social para os cidadãos” portadores da Doença de Machado-
8 O montante do subsídio de acompanhante corresponde ao montante do complemento por dependência do regime geral.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XXIII
Joseph. Este diploma define como modalidades de prestações de proteção especial para
doentes DMJ as seguintes:
a) Pensão de invalidez, atribuível aos beneficiários dos regimes contributivos;
b) Pensão social de invalidez, atribuível aos beneficiários do regime não contributivo;
c) Subsídio de acompanhante, atribuível aos beneficiários de qualquer dos regimes de
segurança social. (Artigo 3.º)
A pensão de invalidez [alínea a)] e a pensão social de invalidez [alínea b)] dependem
de uma “avaliação da incapacidade igual ou superior a 70%, nos termos da Tabela Nacional de
Incapacidades” e “o prazo de garantia para a atribuição da pensão de invalidez do regime
contributivo é de 36 meses com registo de remunerações” (Artigo 4.º). No que toca ao
montante a atribuir é calculado através da soma de 3% da remuneração média por cada ano
civil com registo de remunerações, não podendo ser “inferior a 30% nem superior a 80% da
remuneração média considerada para o cálculo” (Artigo 4.º e Artigo 6.º).
É ainda o Decreto Regulamentar Regional n.º 9/93/A, de 6 de abril, que define as
condições e requisitos de atribuição e o respetivo montante do subsídio de acompanhante.
Para que este subsídio seja atribuído é necessário que o portador deixe de ter capacidade de
locomoção devido à DMJ, devidamente atestada por informação médica do seu centro de
saúde.
No que toca aos requisitos do acompanhante, pode ser um familiar do portador
requerente do subsídio; podem ser várias pessoas, pois o subsídio é atribuído ao portador e
não a quem apoia; e tem que existir um mínimo de seis horas diárias de acompanhamento. O
montante atribuído “é igual ao estabelecido para o suplemento de grande invalidez do regime
geral de segurança social” (Artigo 9.º).
Na sequência da Resolução da Assembleia Legislativa Regional 1/2003/A, de 26 de
fevereiro, em que a Assembleia Legislativa Regional (ALRA) encarrega a sua Comissão
Permanente de Assuntos Sociais de elaborar um relatório, é publicada a Resolução n.º
14/2003/A, de 17 de novembro, que propõe uma série de recomendações e procedimentos a
adotar pelo Governo Regional para melhorar os apoios aos doentes DMJ, nomeadamente no
que toca a facilitar a aquisição, recuperação e adaptação de habitação; assegurar o acesso a
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XXIV
fisioterapia e psicologia; sensibilizar e divulgar os testes preditivo e pré-natal e assegurar o
acompanhamento posterior à sua realização; “estudar modalidades de remuneração do
acompanhante por forma a assegurar-lhe uma situação profissional e contributiva estável,
bem como uma remuneração mais compatível com as tarefas que desempenha”; manter e
disponibilizar modalidades alternativas de ocupação e emprego; “sensibilizar os serviços de
saúde no sentido de serem implementados mecanismos que visem facilitar o acesso dos
doentes Machado-Joseph às consultas de especialidade e tratamentos específicos”; assegurar
o acesso a uma forma de telecomunicação; incentivar uma articulação mais eficaz entre os
investigadores e profissionais do terreno; promover um modelo de funcionamento em
equipas pluridisciplinares de modo a assegurar uma resposta global e integrada.
Em 2009, foi aprovada pela Assembleia da República a Lei 90/2009, de 31 de agosto,
que revoga o Decreto Legislativo Regional 21/92/A e o Decreto Regulamentar Regional
9/93/A, definindo o regime especial de proteção na invalidez que passa a abranger, a nível
nacional, as pessoas em situação de invalidez por paramiloidose familiar, DMJ, HIV, esclerose
múltipla, doença oncológica, esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença de Parkinson e
doença de Alzheimer. Esta lei define também a possibilidade de um complemento por
dependência remetendo para o Decreto-lei 309-A/2000, de 30 de novembro, os pormenores
do cálculo do montante e o escalonamento em função do grau de dependência do portador.
Posteriormente, a Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores
1/2010/A, de 9 de março, requer a declaração de inconstitucionalidade das alíneas c) e d) do
Artigo 13.º da Lei n.º 90/2009, de 31 de agosto, que aprova o regime especial de proteção na
invalidez, em virtude de a lei em causa ser mais gravosa para os doentes portadores de DMJ
nos Açores que, no Decreto Legislativo Regional n.º 21/92/A, de 21 de outubro, eram
contemplados com outros benefícios, como o fornecimento de certos materiais clínicos que
deixam de estar previstos9. O Acórdão do Tribunal Constitucional 304/2011 declara a
inconstitucionalidade, com força obrigatória geral: da alínea c) do artigo 13.º da Lei n.º
90/2009, de 31 de agosto, na parte em que procede à revogação dos artigos 1.º, 5.º e 6.º do
9 O Despacho n.º 19 972/99 (2.ª Série), da ministra da Saúde, com efeitos a partir de 1 de janeiro de 2000, determina apenas que “os custos com o fornecimento da medicação antiespástica, antidepressiva, indutora do sono e vitamínica necessária aos doentes portadores de paraplegias espásticas familiares e de ataxia cerebelosa hereditárias, nomeadamente da doença de Machado-Joseph, são integralmente suportados pelo Serviço Nacional de Saúde desde que seja prescrita em consulta de neurologia dos hospitais de rede oficial e dispensada pelos mesmos hospitais” (n.º 1).
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XXV
Decreto Legislativo Regional n.º 21/92/A, de 21 de outubro; da alínea c) do artigo 13.º da Lei
n.º 90/2009, de 31 de agosto, na parte em que revoga os artigos 2.º a 4.º do Decreto
Legislativo Regional n.º 21/92/A; da alínea d) do artigo 13.º da Lei n.º 90/2009, de 31 de
agosto, que revoga o Decreto Regulamentar Regional n.º 9/93/A, de 6 de abril”, em virtude
de considerar que retira benefícios aos portadores de DMJ e esta é uma matéria de
competência legislativa da Região Autónoma dos Açores.
Já em 2015, o Decreto-Lei 246/2015, do Ministério da Solidariedade, Emprego e
Segurança Social, faz a “primeira alteração à Lei n.º 90/2009, de 31 de agosto, que institui o
regime especial de proteção na invalidez, e terceira alteração do Decreto-Lei n.º 265/99, de
14 de julho, que cria o complemento por dependência” ampliando a abrangência da Lei n.º
90/2009, “passando o acesso à proteção especial na invalidez a depender da verificação de
condições objetivas especiais de incapacidade permanente para o trabalho,
independentemente da doença causadora da situação de incapacidade. Por outro lado, no
relatório apresentado, a comissão propôs que os serviços de avaliação de incapacidade
permanente para o trabalho, deficiência e dependência, passassem a utilizar,
complementarmente, na peritagem médica, a Tabela Nacional de Funcionalidades, como
suporte da fundamentação das suas decisões.”
Podemos verificar que, embora exista um esforço legislativo que é significativo,
persistem diferenças que dependem do regime contributivo do portador e, por outro lado, os
apoios são diferenciados em função de ser residente nos Açores ou no resto do País. Os
portadores são necessariamente penalizados do ponto de vista económico sempre que
necessitem de pensão ou pensão social de invalidez.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XXVI
2. Brasil
No Brasil não existe legislação específica para a DMJ nem de apoio a portadores de
ataxia. Os portadores e as associações que os representam sempre se basearam na
Constituição da República Brasileira para reivindicar apoios. Nesse sentido, e visto que
fundamentam as suas reivindicações no facto de considerarem que os portadores de DMJ
possuem uma deficiência motora, a Lei n.º 13.146, de 6 de julho de 2015, é aplicável a estes
casos. Este diploma define pessoa com deficiência como “aquela que tem impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma
ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas”.
A Lei n.º 13.146, de 6 de julho de 2015, institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) e destina-se a assegurar e promover, em
condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais das pessoas
com deficiência. Baseia-se na “Convenção sobre os Direitos das pessoas com Deficiência e o
seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo
n.º 186, de 9 de julho de 2008”.
As reivindicações de apoios dos portadores e das associações que defendem os seus
interesses fundamentam as suas reivindicações em tribunal em artigos como o 8.º da
suprarreferida lei, que afirma que “é dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à
pessoa com deficiência, com prioridade a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde
(…) e de outras que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico”.
O capítulo III (Do Direito à Saúde) da Lei n.º 13.146 define, ao longo de 18 artigos, uma
série de direitos da pessoa com deficiência, como é exemplo o Art.º 18, que prevê que seja
“assegurada atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os níveis de
complexidade, por intermédio do SUS, garantindo acesso universal e igualitário”,
especificando, no n.º 4, que “as ações e os serviços de saúde pública destinados à pessoa com
deficiência devem assegurar: (…) II – serviços de habilitação e de reabilitação sempre que
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XXVII
necessários, para qualquer tipo de deficiência, inclusive para a manutenção da melhor
condição de saúde e qualidade de vida”. O Art.º 21.º prevê que, “quando esgotados os meios
de atenção à saúde da pessoa com deficiência no local de residência, será prestado
atendimento fora do domicílio, para fins de diagnóstico e de tratamento, garantidos o
transporte e a acomodação da pessoa com deficiência e de seu acompanhante”. Poderíamos
citar muitos outros artigos a que os advogados recorrem quando apresentam a sua
fundamentação em tribunal.
Por outro lado, o n.º 2 do Art.º 39.º e o Art.º 40.º do capítulo VII (Do Direito à
Assistência Social) preveem que “os serviços socio assistenciais destinados à pessoa com
deficiência em situação de dependência deverão contar com cuidadores sociais para prestar-
lhes cuidados básicos e instrumentais” (Art.º 39.º, n.º 2) e “é assegurado à pessoa com
deficiência que não possua meios para prover a sua subsistência nem de tê-la provida por sua
família o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei n.º 8.742, de 7 de
dezembro de 1993”.
Esta Lei n.º 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da
Assistência Social, define no Artigo 20.º que “o benefício de prestação continuada é a garantia
de 1 (um) salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 70
(setenta) anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção
e nem de tê-la provida por sua família”, sendo necessário que as pessoas da família, para que
sejam consideradas para efeitos de cálculo, vivam sobre o mesmo teto (n.º 1 do Art.º 20.º) e
que a família tenha uma renda mensal per capita inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo
(n.º 3 do Art.º 20.º).
No que respeita à aposentadoria por invalidez e benefícios de auxílio-doença (que, na
prática, são equivalentes à baixa médica em Portugal), a Lei n.º 8.213/91, de 24 de julho de
1991, dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social.
De acordo com esta lei, “a concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de
Previdência Social depende dos seguintes períodos de carência (...): I - auxílio-doença e
aposentadoria por invalidez: 12 (doze) contribuições mensais; II - aposentadoria por idade,
aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial: 180 contribuições mensais”
(Art.º 25.º). Além disso, é necessário que o portador não perca a qualidade de segurado, como
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XXVIII
definido no Artigo 15.º, por falta de contribuição nos períodos definidos nessa mesma lei e
que, no caso de doença, é de 12 meses.
Art.º 15.º – Mantém a qualidade de segurado: (…)
III - até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença
de segregação compulsória; (…)
O prazo do inciso II será prorrogado para até 24 (vinte e quatro) meses se o segurado
já tiver pago mais de 120 (cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que
acarrete a perda da qualidade de segurado.
Além disso, é também necessário que o portador esteja em perfeito gozo de saúde
quando se inscreve na Previdência Social (Art.º 42.º e Art.º 59.º), e que esteja
temporariamente inválido para o trabalho quando solicita o benefício auxílio-doença (Art.º
59.º), e definitivamente inválido para o trabalho no caso da solicitação de aposentadoria por
invalidez (Art.º 42.º).
Deste modo se percebe que é a situação do portador no momento da inscrição no
sistema de Previdência Social que define se terá ou não direito ao benefício. Se o portador
estiver apto para o trabalho no momento da inscrição, mesmo que seja portador de uma
doença genética, ele terá direito a usufruir do benefício. Se o portador se inscrever no sistema
de previdência social já apresentando problemas de saúde, considera-se que se está a
inscrever com o objetivo de receber os benefícios inerentes à sua filiação, pelo que é
considerado que não tem direito a eles.
A doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de
Previdência Social não lhe conferirá direito à aposentadoria por invalidez, salvo
quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa
doença ou lesão. (Art.º 42.º, n.º 2)
O Art.º 42.º da secção V, subsecção I (Da Aposentadoria por Invalidez), define ainda
que “a concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da verificação da condição de
incapacidade mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social, podendo o
segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança” (1.º).
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XXIX
Esta lei define que a aposentadoria por invalidez é recebida no dia seguinte ao termo
do auxílio-doença (Art.º 43.º) acrescentando, ainda, que
Art.º 44.º – A aposentadoria por invalidez, inclusive a decorrente de acidente do
trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 100% (cem por cento) do
salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no Artigo 33.º
desta Lei. (…)
Art.º 45.º – O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da
assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por
cento).
Parágrafo único. O acréscimo de que trata este artigo:
a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal;
b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado;
c) cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporável ao valor da pensão.
De acordo com o site da AAPPAD10, existem alguns benefícios que os portadores do
Estado de Rio Grande do Sul podem requerer mediante o cumprimento de alguns requisitos,
em função do apoio solicitado, nomeadamente, no que respeita ao pedido do cartão que
permite estacionar em vagas para pessoas com deficiências; ao acesso a fraldas gratuitas
fornecidas às pessoas com necessidades especiais11; à isenção de Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) na compra de automóveis novos12, passe livre interestadual; passe livre
intermunicipal.
10 http://www.aappad.com.br/beneficios-da-lei/. 11 Desde fevereiro de 2014 que a Secretaria Estadual da Saúde criou uma Política Estadual de Cofinanciamento de Insumos de Saúde para Tratamento Domiciliar, principalmente fraldas e sondas. 12 Lei n.º 10.754, de 31 de outubro de 2003.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XXX
Referências bibliográficas
Legislação Portuguesa
Acórdão do Tribunal Constitucional 304/2011.
Decreto Legislativo Regional n.º 21/92/A, de 21 de outubro.
Decreto Regulamentar Regional n.º 9/93/A, de 6 de abril.
Decreto-Lei 246/2015, do Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social.
Decreto-lei 309-A/2000, de 30 de novembro.
Despacho da ministra da Saúde n.º 5411/97. Diário da República, II Série, n.º 180, de 6 de agosto de
1997.
Lei 90/2009, de 31 de agosto.
Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores 1/2003/A, de 26 de fevereiro.
Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores 1/2010/A, de 9 de março.
Resolução n.º 14/2003/A, de 17 de novembro.
Resolução n.º 5/90/A, de 21 de março.
Legislação Brasileira
Decreto Legislativo n.º 186, de 9 de julho de 2008.
Lei n.º 13.146, de 6 de julho de 2015.
Lei n.º 8.213/91, de 24 de julho de 1991.
Lei n.º 8.742, de 7 de dezembro de 1993.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XXXI
APÊNDICE III – CARATERIZAÇÃO DOS PORTADORES DE DMJ ENTREVISTADOS
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XXXIII
Por motivos éticos e devido à garantia que se fez de anonimato aos participantes, não
será possível apresentar os dados de caraterização de cada participante, individualmente. Se
fossem criados retratos dos participantes numa ilha como as Flores, dada a sua dimensão
territorial e populacional, dificilmente seria mantido o anonimato.
Como podemos ver nos dados apresentados na Figura 1, “Características das regiões
em análise”, este estudo diz respeito a regiões e países com caraterísticas demográficas e
geográficas muito díspares13.
FIGURA III.1 – CARATERÍSTICAS DAS REGIÕES EM ANÁLISE
LOCAL INFORMAÇÕES
Ilha das Flores Ilha
de S. Miguel Estado de Mato
Grosso do Sul Estado de Rio Grande do Sul
Capital ou principal localidade Santa Cruz das Flores
Ponta Delgada Campo Grande Porto Alegre
População em 2011 3.793 137.836 2.449.024 10.693.929
Área territorial (km2) 140,96 744,57 357.145,53 281.730,22
Densidade demográfica (hab/km2)
32,2 178,6 6,86 37,96
Número de municípios 2 6 79 497
Fontes: Instituto Nacional de Estatística, Censos de 2011; Serviço Regional de Estatística dos Açores; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Censo de 2010.
Na Figura III.1 é bastante evidente que não existe qualquer possibilidade de
comparação entre os territórios, nem das suas densidades populacionais. Esse não era o
objetivo, nem esta pesquisa pretendia extrapolar os resultados para a população. No Capítulo
3 (referente à metodologia) estão esclarecidos todos os critérios de seleção dos locais e dos
participantes envolvidos nesta pesquisa pelo que, aqui, apenas se pretende destacar que, no
que respeita à garantia do anonimato dos participantes, em particular no caso da ilha das
Flores, houve dificuldades acrescidas.
13 O Censo de 2010 apresentava 190.755.799 de habitantes no Brasil, distribuídos por uma área territorial de 8.515.767,049 km2. Os Censos de 2011 indicam que a população residente em Portugal era de 10.562.178 habitantes, distribuídos por 92.212,02 km2. Nos Açores, segundo os mesmos censos de 2011, a população residente era de 246.772 habitantes, distribuídos por 2.321,97 km2.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XXXIV
É possível ver na Figura III.2 a distribuição, em percentagem, do total de entrevistas
realizadas a portadores.
Foram realizadas 68 entrevistas a portadores, sendo 20 na ilha de São Miguel (29,4%),
13 na ilha das Flores (19,1%), 21 no Estado de Mato Grosso do Sul (30,9%) e 14 no Estado de
Rio Grande do Sul (20,6%). Tal como também foi referido no capítulo XX (metodologia, a
decisão do número total de entrevistas foi tomada pelo critério de contraste-saturação
(Guerra, 2006).
FIGURA III.2 – PORTADORES ENTREVISTADOS, POR LOCAL DE REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS (%)
De modo a possibilitar uma visão do conjunto das categorias com maiores e menores
percentagens, além de se poder perceber as diferenças e/ou semelhanças entre as quatro
zonas onde se realizou pesquisa de terreno, optou-se por criar algumas representações
gráficas, com uma ou mais variáveis, nas quais cada variável é apresentada numa coluna
vertical, em função do local de realização da entrevista. Este tipo de apresentação tem ainda
a vantagem de concentrar muita informação em pouco espaço, sendo, no entanto,
representações gráficas relativamente complexas.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XXXV
Salientamos que a caraterização dos inquiridos com recurso a gráficos não é a ideal
mas permite a garantia de anonimato dos participantes.
Na Figura III.3 é apresentado o cruzamento das variáveis sexo, grupo etário, estado
civil dos portadores entrevistados e se vivem sós, com o local de realização das entrevistas.
No que toca a estas variáveis, apercebemo-nos de que, em termos percentuais, não existem
grandes variações de um local para outro.
Foram entrevistados um total de 33 homens e 35 mulheres (68 participantes), com
idades compreendidas entre os 24 e os 78 anos, situando-se a média de idades nos 51 anos.
Embora tenha sido entrevistado um portador com idade inferior a 28 anos e cinco com idade
superior a 67 anos, a maioria tinha entre 28 e 67 anos (91,1%).
No que concerne ao estado civil, mais de metade dos participantes são casados
(66,2%), 5,9% são divorciados e 11,8% são solteiros. Podemos ainda realçar que a ilha das
Flores apresenta a percentagem mais baixa de portadores casados, com 46,2% e, a
percentagem mais elevada de solteiros (15,4%).
Considerou-se que era importante saber se o portador vivia só, referindo-se a última
barra dos gráficos a essa variável. Os valores de pessoas que vivem sós são muito baixos em
todas as zonas e, inclusive, no caso de Rio Grande do Sul, todos os portadores vivem
acompanhados.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XXXVI
FIGURA III.3 – GÉNERO, GRUPO ETÁRIO, ESTADO CIVIL DOS PORTADORES ENTREVISTADOS E SE VIVEM SÓS, POR LOCAL DE REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS (%)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XXXVII
Do conjunto de participantes entrevistados e no que diz respeito às habilitações
literárias (ver Figura III.4), verificamos que os dos Açores apresentam graus de escolaridade
mais baixos: no caso das Flores não ultrapassam o 3.º ciclo do ensino básico (9 anos de
escolaridade) e 61,5% apenas possuem o 1.º ciclo do ensino básico completo. Em São Miguel
não ultrapassam o ensino secundário completo ou profissional equivalente, tendo 80% dos
entrevistados no máximo o 2.º ciclo do ensino básico completo.
A realidade no Brasil é diferente, apresentando os entrevistados de Rio Grande do Sul
a escolaridade mais elevada, com 57,1% de licenciados. No caso de Mato Grosso do Sul, 61,9%
possuem até ao ensino fundamental II completo (9 anos), 19% o ensino médio e 19% a
licenciatura.
A divisão dos graus de ensino em Portugal e no Brasil, embora semelhante, não é igual.
As diferenças estão nos primeiros graus de escolaridade, no ensino básico (Portugal) e no
ensino fundamental (Brasil). No caso português, o primeiro nível é a educação pré-escolar,
com uma duração de 3 anos, seguindo-se o ensino básico, composto por três ciclos de,
respetivamente, 4 anos (1.º ciclo), 2 anos (2.º ciclo) e 3 anos (3.º ciclo), seguindo-se o ensino
secundário (3 anos) e, por fim, o ensino superior, também composto por três ciclos
(licenciatura, mestrado e doutoramento). No caso brasileiro, o primeiro nível é o
berçário/educação infantil, durante 3 anos, seguindo-se o ensino fundamental, que se divide
em ensino fundamental I (5 anos) e fundamental II (4 anos), o ensino médio (3 anos) e, por
fim, o ensino superior (licenciatura, mestrado e doutoramento).
Como podemos perceber, o ensino básico português e o ensino fundamental brasileiro
não têm uma divisão equivalente, compartimentando-se o primeiro em três ciclos e o segundo
em dois. No entanto, ambos são compostos por um total de nove anos.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XXXVIII
FIGURA III.4 – HABILITAÇÕES LITERÁRIAS DOS PORTADORES, POR LOCAL DE REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS (%)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XXXIX
No que se refere aos meios de vida, mais de metade do total de entrevistados (54,4%)
selecionou a opção outros subsídios ou pensões (recebem pensão ou aposentadoria por
invalidez), seguindo-se o trabalho (22,1%), a reforma ou aposentadoria por tempo de serviço
ou idade (18,2%) e, por fim, aqueles que não têm quaisquer rendimentos e estão a cargo da
família (7,4%).
A condição atual perante o trabalho de 41,2% dos entrevistados é de incapacidade,
seguindo-se, com 23,5%, aqueles que ainda exercem um trabalho remunerado, os 22,1% que
estão aposentados por invalidez, os 10,3% que se aposentaram por tempo de serviço ou por
idade e, por fim, aqueles que se ocupam das tarefas do lar ou outras situações14, ambas as
parcelas com 1,5%.
Em relação à profissão atual ou última, optou-se por recodificar a variável, que era uma
pergunta aberta, e torná-la uma variável fechada, criada a partir dos grandes grupos definidos
na Classificação Portuguesa das Profissões (CPP)15 de 2010 e da Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO)16 de 2010. Embora existam algumas profissões classificadas em grupos
diferentes, considerou-se que deste modo se conseguia ter uma imagem das profissões, mais
ou menos qualificadas, dos entrevistados. Podemos verificar na Figura III.5 que em Portugal
mais de metade dos entrevistados possui ou possuía profissões menos qualificadas (63,3%),
enquadradas entre o grupo 6 e o grupo 9. No Brasil mais de metade dos entrevistados têm
profissões mais qualificadas (61,8%), enquadrando-se entre o grupo 1 e o grupo 3.
Quanto à situação na profissão principal verificamos que a grande maioria dos
participantes neste estudo é assalariado/trabalhador por conta de outrem (81%), seguindo-
se aqueles que trabalham por conta própria (11,1%) e aqueles que são patrões com 7,9%. É
de referir que 5 dos 68 participantes nunca tiveram trabalho remunerado, sendo estudantes
ou ocupando-se das tarefas do lar. Portanto, para o cálculo das variáveis profissão e situação
na profissão foram considerados 63 casos válidos.
14 Refira-se que, devido aos arredondamentos à décima efetuados pelo SPSS, a soma das percentagens poderá ser, em alguns dos gráficos apresentados, de 99,9%, 100% ou 100,1%. 15 Pdf disponível online na página do Instituto Nacional de Estatística, em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=107961853&PUBLICACOESmodo=2&xlang=pt. Consultado em 21 de dezembro de 2014. 16 Pdf disponível na página web do Ministério do Trabalho e do Emprego do Brasil, em http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/downloads.jsf. Consultado em 21 de dezembro de 2014.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
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FIGURA III.5 – MEIOS DE VIDA (ATUAIS), CONDIÇÃO PERANTE O TRABALHO (ATUAL), PROFISSÃO ENQUADRADA NOS GRANDES GRUPOS DA CPP17 E CBO18
(ATUAL OU ÚLTIMA) E SITUAÇÃO NA PROFISSÃO (ATUAL OU ÚLTIMA) DOS PORTADORES, POR LOCAL DE REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS (%)
17 Classificação Portuguesa das Profissões 18 Classificação Brasileira de Ocupações
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XLI
Apenas quatro dos portadores entrevistados viviam sós, existindo outro portador que,
embora não vivesse só, dada a especificidade da situação, foi contabilizado na variável o
número de elementos do agregado familiar como sendo de apenas um elemento.
É possível observar na Figura III.6 que o número de elemento do agregado familiar
oscila entre 1 e 6 elementos, tendo, na sua maioria, um grau de parentesco próximo, sendo a
família nuclear composta por cônjuges/companheiros, filhos e/ou pais. No entanto, também
surgiram casos de famílias alargadas, cujo parentesco não era tão próximo, com a presença
de sogros, noras/genros, tios, cunhados, primos e/ou sem qualquer parentesco e que eram
cuidadores remunerados para o efeito (apenas no caso brasileiro).
Efetuou-se também o cálculo da média de elementos do agregado familiar,
verificando-se que o valor médio é de 3 residentes por habitação, existindo pequenas
diferenças de local para local. Se no caso dos participantes brasileiros a média é semelhante,
apresentando Rio Grande do Sul uma média de 3 pessoas no agregado familiar e Mato Grosso
do Sul de 3,2 pessoas, no caso dos Açores o valor é bastante diferente, verificando-se uma
média de 3,5 residentes em São Miguel e apenas de 2,2 pessoas na ilha das Flores.
Olhando para a Figura III.6, verificamos que os valores percentuais oscilam entre 1 e 5
elementos no agregado familiar em Mato Grosso do Sul, entre os 2 e os 4 elementos em Rio
Grande do Sul, entre 1 e 3 elementos nas Flores e, por fim, com uma maior oscilação em São
Miguel, que apresenta entre 1 e 6 elementos.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XLII
FIGURA III.6 – NÚMERO DE ELEMENTOS DO AGREGADO FAMILIAR DOS ENTREVISTADOS, POR LOCAL DE REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS (%)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XLIII
No que respeita aos filhos dos portadores, verificamos que o total é de 181, dos quais
174 são biológicos. Foi calculada a média aritmética de filhos biológicos que é de 2,6, existindo
pequenas diferenças entre os locais: em São Miguel é de 2,8 filhos; nas Flores de 2,2 filhos;
em Mato Grosso do Sul de 2,8 filhos; e em Rio Grande do Sul de 2,2 filhos.
O número de filhos por portador entrevistado varia em função do local, sendo a ilha
das Flores que apresenta maiores discrepâncias. Se, por um lado, é a ilha que apresenta a
maior percentagem de portadores de DMJ entrevistados sem filhos (30,8%), é também a ilha
que apresenta portadores que têm entre 4 e 7 filhos e, tal como em São Miguel, as
percentagens estão distribuídas, sendo os casos de 2 filhos e 3 filhos que apresentam maior
incidência.
No Brasil é menor a percentagem de portadores que não têm filhos, oscilando o
número de filhos entre 1 e 4. Só em Mato Grosso do Sul existem portadores com 5 filhos
(9,5%).
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XLIV
FIGURA III.7 – NÚMERO DE FILHOS BIOLÓGICOS DO PORTADOR,
POR LOCAL DE REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS (%)
O local que apresenta a percentagem mais baixa de filhos que residem com os
portadores é a ilha das Flores (20% dos filhos), enquanto a ilha de São Miguel apresenta a
percentagem mais elevada (55,4%).
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XLV
FIGURA III.8 – FILHOS RESIDEM COM O PORTADOR,
POR LOCAL DE REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS (%)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XLVII
APÊNDICE IV – CARATERIZAÇÃO DOS FILHOS DOS PORTADORES ENTREVISTADOS
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XLIX
A secção de perguntas fechadas aplicada aos portadores continha várias perguntas
sobre os filhos que com eles residem e outras sobre aqueles filhos que deixaram de residir.
Como seria expectável, os filhos que residem com os portadores são, na grande
maioria, solteiros, sendo os 83,3% das Flores a percentagem mais baixa.
A Figura IV.1 ilustra que esses filhos são maioritariamente jovens, realçando-se as
percentagens acumuladas de São Miguel (67,7%) e Flores (50%) relativas a filhos menores de
idade. No caso de Rio Grande do Sul e de Mato Grosso do Sul, o grupo etário dos 18 aos 27
anos representa 50% em ambos os locais, seguindo-se os filhos com idade inferior a 18 anos,
com uma percentagem acumulada de 33,4% em Rio Grande do Sul e de 42,8% em Mato
Grosso do Sul.
As habilitações literárias dos filhos de portadores dos Açores entrevistados são mais
baixas mas é de realçar que esses filhos também são mais jovens.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
L
FIGURA IV.1 – GRUPO ETÁRIO, ESTADO CIVIL E HABILITAÇÕES LITERÁRIAS DOS FILHOS DOS PORTADORES ENTREVISTADOS
QUE RESIDEM COM OS PORTADORES, POR LOCAL DE REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS (%)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
LI
No gráfico dos filhos que não residem com os portadores (Figura IV.2), destacam-se,
em São Miguel a percentagem dos filhos com idade entre 28 e 37 anos (64%); em Rio Grande
do Sul os que têm entre 18 e 27 anos (47,1%); e os filhos entre os 38 e os 47 anos nas Flores
(41,7%) e em Mato Grosso de Sul (34,2%). Apenas em São Miguel todos os filhos menores
residem com os portadores. Nos restantes locais existem filhos menores que já não residem
com os portadores devido a separações ou divórcios.
Como seria de esperar, os filhos que não residem com os portadores são, na grande
maioria, casados. São Miguel apresenta a percentagem mais elevada, com 84%, seguindo-se
Mato Grosso do Sul, com 65,8%, e Flores, com 58,3%. Rio Grande do Sul é uma exceção, sendo
a categoria solteiro a que se apresenta com a percentagem mais elevada no estado civil
(63,2%).
Quando comparadas as habilitações literárias, facilmente nos apercebemos que os
filhos que não residem com os portadores nos dois estados brasileiros são mais escolarizados
do que os filhos de portadores nas duas ilhas açorianas. As percentagens de filhos que
cumpriram 9 anos de escolaridade, ou seja, o 3º ciclo do ensino básico em Portugal e o
correspondente ensino fundamental II no Brasil, é de 76% em São Miguel, 75% nas Flores,
35,1% em Mato Grosso do Sul e 21,1% em Rio Grande do Sul. Em relação à licenciatura,
podemos observar que a percentagem de filhos que atingiu esta escolaridade foi de 42,1% em
Rio Grande do Sul, 35,1% em Mato Grosso do Sul, 12% em São Miguel, não existindo filhos de
portadores entrevistados nas Flores que sejam licenciados.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
LII
FIGURA IV.2 – GRUPO ETÁRIO, ESTADO CIVIL E HABILITAÇÕES LITERÁRIAS DOS FILHOS DOS PORTADORES ENTREVISTADOS QUE NÃO RESIDEM
COM OS PORTADORES ENTREVISTADOS, POR LOCAL DE REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS (%)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
LIII
Na Figura IV.3 procurou-se apresentar uma panorâmica das condições face ao
trabalho, da situação na profissão e das profissões por grandes grupos de todos os filhos dos
portadores entrevistados.
No que concerne ao grande grupo profissional, à semelhança do que acontecia em
relação aos portadores entrevistados, é nas duas ilhas açorianas que se verificam valores
percentuais mais elevados do grupo 5 em diante, ou seja, desempenhando profissões menos
qualificadas, apresentando um total de 70,3% em São Miguel e 81% nas Flores.
No Brasil, as percentagens nestes grandes grupos profissionais/ocupacionais são muito
mais baixas, sendo que em Mato Grosso do Sul o valor registado é de 29,3% e em Rio Grande
do Sul é de 29,5%. Podemos destacar que, neste último estado, a percentagem de filhos cujas
ocupações se enquadram nos grupos 1 e 2 atingem os 64,7% e no Mato Grosso do Sul atingem
os 53%. Nestes dois grandes grupos, no caso açoriano, não ultrapassam os 14,8%, registados
em São Miguel.
As condições perante o trabalho dos filhos dos portadores são muito semelhantes no
caso de Flores, Mato Grosso do Sul e São Miguel, com valores percentuais entre os 81% e os
88,5% de assalariados/trabalhadores por conta de outrem. Em Rio Grande do Sul, embora a
percentagem desta categoria também se destaque, o valor é mais baixo (44,4%) do que nos
restantes locais.
Por último, no que respeita à situação face ao trabalho (atual ou última), o trabalho
remunerado é a categoria que se apresenta com percentagens mais elevadas em São Miguel,
Mato Grosso do Sul e Flores (entre 48,1% e 56,7%). No caso de Rio Grande do Sul a
percentagem nesta categoria é de 45,5%, sendo ultrapassada pela categoria estudante, que
surge com 48,5%. Nas restantes regiões a percentagem de estudantes varia entre os 16,7%,
nas Flores, e os 32,7%, em São Miguel.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
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FIGURA IV.3 – PROFISSÃO ENQUADRADA NOS GRANDES GRUPOS DA CPP19 E CBO20 (ATUAL OU ÚLTIMA), CONDIÇÃO PERANTE O TRABALHO (ATUAL)
E SITUAÇÃO NA PROFISSÃO (ATUAL OU ÚLTIMA) DOS FILHOS QUE NÃO RESIDEM COM OS PORTADORES ENTREVISTADOS, POR LOCAL DAS ENTREVISTAS (%)
19 Grandes Grupos da Classificação Portuguesa das Profissões: 0. Profissões das Forças Armadas; 1. Representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos; 2. Especialistas das atividades intelectuais e científicas; 3. Técnicos e profissionais de nível intermédio; 4. Pessoal administrativo; 5. Trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores; 6. Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e da floresta; 7. Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices; 8. Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem; 9. Trabalhadores não qualificados 20 Grandes Grupos da Classificação Brasileira de Ocupações: 0. Forças Armadas, policiais e bombeiros militares; 1. Membros superiores do poder público, dirigentes de organização de interesse público e de empresa e gerentes; 2. Profissionais das ciências e das artes; 3. Técnico de nível médio; 4. Trabalhadores de serviços administrativos; 5. Trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
LV
APÊNDICE V – CARATERIZAÇÃO DOS INQUIRIDOS ATRAVÉS DE QUESTIONÁRIO
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
LVII
O segundo momento da recolha de dados, como referido anteriormente, foi através
de inquérito por questionário, colocado online, com o objetivo de se compreender os
conhecimentos e a visão que os indivíduos não portadores de Doença de Machado-Joseph
têm acerca desta doença, dos seus portadores e dos apoios existentes.
As últimas respostas ao questionário foram exportadas em agosto de 2013, totalizando
1033 questionários submetidos. É de frisar que se optou por uma amostragem não aleatória
voluntária, ou seja, por autosseleção, sendo os resultados da análise quantitativa
complementares à análise dos dados qualitativos.
Neste apêndice pretende-se apenas caraterizar esta amostra não aleatória,
recorrendo à apresentação das distribuições de frequências. As tabelas do SPSS foram
exportadas para o Excel, de modo a conseguir criar representações que apresentam dados de
mais do que uma variável.
Se, inicialmente, apenas se pretendiam respostas aos questionários provenientes de
residentes nos Açores (São Miguel e Flores) e de residentes em Rio Grande do Sul e Mato
Grosso do Sul, apercebemo-nos que a facilidade de recolha de respostas em São Miguel era
uma realidade mas que nos outros locais era bastante difícil essa adesão.
Após ter pedido a divulgação por correio eletrónico (dirigido às IPSS, ONG e
universidades) e colocado o questionário a circular nas redes sociais no final de 2011, pedindo
para que fizessem reencaminhamento (amostragem por bola de neve), em meados de 2012
a estratégia foi alterada e abriu-se a possibilidade de resposta a todos os residentes no Brasil
e em Portugal. Como foi referido, esta alteração coincidiu com o ataque de hackers ao site no
qual estava alojado o formulário e a criação de um novo formulário noutro site permitiu
alargar a recolha a todas as regiões e estados dos dois países.
Optou-se por apresentar parte da informação recolhida por local de residência do
inquirido, realçando as respostas dos locais onde foi realizada recolha de entrevistas (São
Miguel, Flores, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul) e agrupar as restantes respostas em
apenas três categorias: outra ilha dos Açores, outra região portuguesa e outro Estado
brasileiro. Há outras variáveis, como veremos adiante, cujas respostas foram agrupadas por
país (Portugal ou Brasil), em virtude do número de respostas válidas não ser muito significativo
(devido às perguntas-filtro anteriormente aplicadas).
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
LVIII
De modo a fornecer uma visão do conjunto e a permitir uma melhor visualização das
diferenças e/ou semelhanças entre as quatro zonas onde se realizou pesquisa de terreno,
optou-se por criar representações gráficas que, por vezes, contêm quatro variáveis, nas quais
está concentrada muita informação que é apresentada em função do local de residência dos
inquiridos.
No gráfico da Figura V.1, “Inquiridos por local de residência (%)”, pode-se observar a
distribuição, em percentagem, do total de questionários recolhidos.
O local com maior número de questionários submetidos foi a ilha de São Miguel, com
387 respostas (37,5%), seguindo-se, com 311 questionários (30,1%), as respostas de outros
estados brasileiros, maioritariamente de residentes em São Paulo e Rio de Janeiro. Em Rio
Grande do Sul foram obtidos 147 questionários (14,2%), seguindo-se outras ilhas dos Açores
com 100 respostas (9,7%), Mato Grosso do Sul com apenas 35 questionários submetidos
(3,4%) e a ilha das Flores, com 32 questionários (3,1%) e, por fim, as respostas de outras
regiões portuguesas (apenas 21, correspondendo a apenas 2% do total de respostas). Sempre
que possível, optou-se por juntar as respostas dos inquiridos residentes noutras regiões
portuguesas às respostas de outras ilhas açorianas passando a apresentar 11,7% do total, que
correspondem a 121 respostas.
Em síntese, do total de respostas obtidas, 540 são de residentes em Portugal (52,3%)
e 493 de residentes no Brasil (47,7%).
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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FIGURA V.1 – INQUIRIDOS POR LOCAL DE RESIDÊNCIA (%)
Em virtude de os valores por local serem muito díspares, considerou-se mais adequado
fazer o cruzamento de variáveis solicitando sempre a percentagem em função do local, para
melhor poder identificar as diferenças existentes. Assim, para que os valores percentuais
fossem comparáveis, considerou-se cada local como 100%, independentemente do número
de questionários submetidos em cada local de residência (São Miguel, Flores, Rio Grande do
Sul, Mato Grosso do Sul, Outra ilha dos Açores ou Outra região portuguesa e Outro estado
brasileiro)21. Este foi o procedimento adotado para a análise de dados dos questionários
aplicados. Deste modo, todos os gráficos apresentados resultam de cruzamentos de duas ou
mais variáveis, permitindo a análise das percentagens em função da zona de residência.
Optou-se por expor os dados por local de residência, apresentando duas ou mais
variáveis numa única figura, o que permite, por um lado, uma melhor visualização do perfil e
das respostas dos inquiridos às perguntas colocadas e, por outro, uma comparação mais
visível e imediata das diferenças e semelhanças existentes, no que respeita aos locais em
análise. Além disso, optou-se também por apenas utilizar as percentagens válidas para as
21 Refira-se que, devido aos arredondamentos à décima efetuados pelo SPSS, a soma das percentagens poderá ser, em alguns dos gráficos apresentados, de 99,9% ou 100,1%.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
LX
representações gráficas, e utilizando, sempre que necessário, comentários no texto referindo
a percentagem de não respostas.
Na Figura V.2 é apresentada a caraterização dos inquiridos em função do sexo, grupo
etário (em 2013), estado civil e habilitações literárias.
No que se refere ao sexo, do total de respostas obtidas, 65,5% provieram de mulheres
estando as idades dos inquiridos, maioritariamente, compreendidas entre os 18 e os 47 anos
(73,1%).
Os solteiros e casados totalizam 80,7% das respostas, sendo de, respetivamente, 42,1%
e 38,6%.
As habilitações literárias dos respondentes concentram-se maioritariamente no ensino
secundário/médio e bacharelato/licenciatura, totalizando 83,9% das respostas de residentes
em Portugal e 80,6% de residentes no Brasil.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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FIGURA V.2 (PARTE 1/2) – SEXO, GRUPO ETÁRIO, ESTADO CIVIL E HABILITAÇÕES LITERÁRIAS DOS INQUIRIDOS POR LOCAL DE RESIDÊNCIA (%)
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
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FIGURA V.2 (PARTE 2/2) – SEXO, GRUPO ETÁRIO, ESTADO CIVIL E HABILITAÇÕES LITERÁRIAS DOS
INQUIRIDOS POR LOCAL DE RESIDÊNCIA (%)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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Em relação aos meios de vida atuais, grande parte dos respondentes tem como fonte
de rendimento atual o trabalho, sendo a percentagem mais baixa de 47,6%, em Rio Grande
do Sul, e a mais alta de 59,9%, em São Miguel. Neste caso, a pergunta era de resposta múltipla,
podendo existir mais do que uma fonte de rendimento selecionada (por exemplo, conjugando
“a cargo da família” com “outros subsídios ou pensões”). Muitas das respostas obtidas foram
de estudantes, contabilizados como estando a cargo da família, sendo o valor percentual mais
baixo nesta categoria de 2,9%, em Mato Grosso do Sul e o mais elevado de 33,8%, em São
Miguel.
Os inquiridos que já estão aposentados por tempo de serviço ou por idade destacam-
se em Mato Grosso do Sul (29,4%), Outro Estado brasileiro (23,1%) e em Rio Grande do Sul
(21,7%), sendo as percentagens muito mais baixas no caso português, com 6,1% de respostas
nas Flores, 5,7% nas categorias (aglutinadas) Outra ilha ou Região Portuguesa e de 1,8% em
São Miguel. A categoria “Outros subsídios ou pensões” implicava uma pergunta aberta na qual
os inquiridos deviam indicar que tipo de subsídio ou pensão recebiam, referindo-se,
principalmente, no caso de inquiridos brasileiros, ao benefício assistencial à pessoa com
deficiência (BPC/LOAS)22, à aposentadoria por invalidez23, ao auxílio-doença24 e a bolsas de
doutoramento. No caso dos inquiridos portugueses, as respostas a esta pergunta aberta
foram, maioritariamente, de inquiridos que recebiam pensão de invalidez, bolsa de
doutoramento e de estágio no âmbito do programa açoriano Estagiar L. Os residentes em Rio
Grande do Sul foram os que mais selecionaram a opção “Outro subsídio ou pensão”, com
15,4%, seguindo-se os de Outro estado brasileiro (11,9%), de Mato Grosso do Sul (11,8%), de
Outra ilha ou Região portuguesa (8,9%) e, por fim, São Miguel (4,5%) e as Flores (3%).
Refira-se que 69 dos 1033 inquiridos (6,7%) não responderam à pergunta sobre os
meios de vida.
22 O benefício assistencial à pessoa com deficiência (BPC/LOAS) garante um salário mínimo mensal às pessoas com deficiência que comprovem não possuir meios de sobrevivência. Cf. Ministério da Previdência Social do Brasil, http://agencia.previdencia.gov.br/e-aps/servico/355). 23 A aposentadoria por invalidez implica a incapacidade permanente para o trabalho, para trabalhadores que tenham contribuído um mínimo de 12 meses, sendo que não podem apresentar a doença aquando da inscrição no INSS. Cf. Ministério da Previdência Social do Brasil, http://agencia.previdencia.gov.br/e-aps/servico/355). 24 O auxílio-doença implica incapacidade temporária para o trabalho superior a 15 dias, devidamente comprovada através de perícia médica, para quem apresente 12 ou mais meses de contribuições para o INSS, podendo ser renovada. Cf. Ministério da Previdência Social do Brasil, http://agencia.previdencia.gov.br/e-aps/servico/355).
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
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A pergunta sobre as condições atuais perante o trabalho também era de resposta
múltipla, percebendo-se facilmente que os inquiridos se podem encontrar em mais do que
uma situação, como é o caso dos trabalhadores-estudantes. Obtiveram-se 995 respostas
válidas neste cruzamento.
Cerca de metade dos inquiridos possui um trabalho remunerado, oscilando os valores
percentuais entre os 46,4% nas categorias (aglutinadas) Outra ilha ou Região portuguesa e os
65,5% em Mato Grosso do Sul. A opção Estudante surge em seguida, com uma variação
bastante significativa, existindo 3,4% de inquiridos estudantes de outros estados brasileiros,
10,3% de Mato Grosso do Sul, 20,2% de Rio Grande do Sul e, no caso português, de 25% da
ilha das Flores, 38,3% de São Miguel e 39,2% de outra ilha ou região. Esta é a categoria que
apresenta uma variação mais acentuada. Os inquiridos de outros estados brasileiros são,
portanto, maioritariamente trabalhadores remunerados (58,9%), seguindo-se os aposentados
por tempo de contribuição ou por idade (11%) e quem se ocupa das tarefas do lar (10,6%). Os
valores percentuais nas restantes categorias e locais não atingem os 10%.
É importante referir que a pergunta sobre as condições perante o trabalho também
funcionou como pergunta filtro, remetendo quem nunca teve um trabalho remunerado para
o bloco de questões sobre os conhecimentos acerca da doença de Machado-Joseph (consultar
o formulário do questionário no Anexo 2), dispensando-os da questão sobre a profissão e a
situação na profissão.
No que toca à situação na profissão (atual ou última), obtiveram-se 799 respostas
válidas, verificando-se pequenas diferenças de um local para outro. A categoria
assalariado/trabalhador por conta de outrem é a que se destaca, com valores bastante
significativos, que variam entre os 69,7% de inquiridos de outros estados brasileiros e os
83,7% de São Miguel. Seguem-se os questionários submetidos de trabalhadores por conta
própria, sendo o valor percentual mais baixo de 7,6%, de inquiridos de outras ilhas ou regiões
portuguesas, e o mais elevado de 20,8%, nas Flores. Os valores nas restantes categorias de
resposta são residuais atingindo um máximo de 7,6% de inquiridos de outras ilhas ou regiões
portuguesas que selecionaram outra situação, sendo maioritariamente bolseiros ou
estagiários remunerados.
Por fim, a profissão era uma pergunta de resposta aberta que também deveria ser
respondida apenas por quem possui ou já possuiu um trabalho remunerado e na qual se pedia
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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uma descrição o mais completa possível. Esta foi uma das perguntas que mais tempo implicou
para a recodificação e correção das respostas, porque era uma pergunta de resposta aberta e
foi necessário recodificar de acordo com os grandes grupos profissionais das Classificação
Portuguesa das Profissões (CPP-2010) para os casos portugueses e da Classificação Brasileira
das Ocupações (CBO-2010) para os casos brasileiros e, também, porque se verificou que,
principalmente no caso dos inquiridos portugueses, muitas pessoas não sabem ou não
querem indicar a sua profissão e/ou categoria profissional. A este respeito, muitos foram os
inquiridos que indicaram como profissão “funcionário público”, não permitindo a sua
posterior recodificação pela CPP-2010. Do cruzamento entre a profissão e a zona de residência
apenas foram obtidas 695 respostas válidas, menos 104 do que em relação à situação na
profissão.
Ao observar os valores dos gráficos facilmente nos apercebemos que existem
diferenças muito significativas no que respeita à profissão por grandes grupos.
Aproximadamente metade dos respondentes são profissionais que se enquadram no grande
grupo 2, denominados especialistas das atividades intelectuais e científicas na CPP e
profissionais das ciências e das artes na CBO, como é o caso dos licenciados que são técnicos
superiores. Os valores percentuais variam entre os 46,2% em Rio Grande do Sul e os 69% em
Mato Grosso do Sul de inquiridos que se enquadram no grande grupo 2. Podemos ainda referir
que as profissões menos qualificadas que se enquadram entre o grande grupo 6 e o grande
grupo 9 apresentam valores percentuais que não ultrapassam os 10%.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
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FIGURA V.3 (PARTE 1/2) – MEIOS DE VIDA (ATUAIS), CONDIÇÃO PERANTE O TRABALHO (ATUAL), PROFISSÃO (ATUAL OU ÚLTIMA) ENQUADRADA NOS GRANDES GRUPOS
DA CPP OU CBO E SITUAÇÃO NA PROFISSÃO (ATUAL OU ÚLTIMA) DOS INQUIRIDOS, POR LOCAL DE RESIDÊNCIA (%)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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FIGURA V.3 (PARTE 2/2) – MEIOS DE VIDA (ATUAIS), CONDIÇÃO PERANTE O TRABALHO (ATUAL), PROFISSÃO (ATUAL OU ÚLTIMA) ENQUADRADA NOS GRANDES GRUPOS
DA CPP OU CBO E SITUAÇÃO NA PROFISSÃO (ATUAL OU ÚLTIMA) DOS INQUIRIDOS, POR LOCAL DE RESIDÊNCIA (%)
Antes de entrar no conjunto de questões relacionadas com a DMJ considerou-se
importante saber se o inquirido já tinha ouvido falar em Doença de Machado-Joseph/SCA3
antes do questionário ao qual estava a responder. Esta pergunta funcionou como filtro,
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
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remetendo os desconhecedores para as perguntas de opinião apresentadas no final do
questionário.
Foram 912 (88,3%) os inquiridos que responderam conhecer anteriormente a DMJ e
121 os que não tinham qualquer conhecimento sobre a DMJ (11,7%). Assim, foram
considerados válidos 912 casos, que responderam às perguntas da secção sobre os
conhecimentos sobre a DMJ e os apoios do Estado aos seus portadores.
Conseguem identificar-se diferenças aquando da observação do cruzamento com a
zona de residência. Na ilha das Flores (96,9%) e em outros estados brasileiros (96,1%)
observam-se as mais elevadas percentagens de inquiridos que já conheciam a DMJ. Na ilha de
São Miguel a percentagem de conhecedores é de 89,1%, existindo 10,9% que desconhecem a
doença. Em Rio Grande do Sul, em Mato Grosso do Sul e em outras ilhas dos Açores ou regiões
portuguesas as percentagens de desconhecimento são mais acentuadas, com
respetivamente, 19,7%, 22,9% e 24%.
É conveniente relembrar que o processo de amostragem utilizado para a recolha deste
questionário foi por autosseleção.
FIGURA V.4 – CONHECIMENTO PRÉVIO DA EXISTÊNCIA DA DMJ, POR LOCAL DE RESIDÊNCIA (%)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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Também se considerou importante saber se o inquirido era portador de DMJ, pois esse
facto, efetivamente, pode ter influência nas suas opiniões. Nesta pergunta de resposta
fechada, eram fornecidas três opções de resposta: “Sim”, “Não” e “Tenho pelo menos um
familiar mas não fiz o exame genético (teste preditivo)”.
Dos 912 casos válidos, 29,7% são portadores de DMJ e 61,4% não. Se observarmos o
cruzamento zona de residência com a variável ser portador de DMJ, apercebemo-nos que
existem diferenças muito significativas. Logo para começar, em Portugal são poucos os
portadores que respondem ao questionário (3,4% portadores e 2,4% que têm pelo menos um
familiar mas não fizeram o exame genético) ao contrário do que acontece no Brasil (57,4% de
portadores e 15,8% que têm pelo menos um familiar mas não fizeram o exame genético).
Se observarmos a Figura V.5, na ilha das Flores só existem questionários submetidos
de pessoas que não são portadoras de DMJ (96,8%), existindo 3,2% de pessoas que têm pelo
menos um familiar portador mas não fizeram o exame genético (uma pessoa). Seguem-se os
respondentes de outras ilhas dos Açores, com 1,3% de portadores e 1,3% que têm pelo menos
um familiar portador mas não fizeram o exame genético. Em São Miguel, 2,6% dos inquiridos
são portadores e 1,7% são pessoas que têm pelo menos um familiar portador mas não fizeram
o exame genético. Por fim, nas outras regiões portuguesas, temos o valor percentual mais
díspar, de 37,5% de respondentes portadores e de 18,8% que não sabem se o são. Os valores
no Brasil são próximos destes últimos dados apresentados: 51,9% de portadores em Mato
Grosso do Sul e 3,7% que desconhecem se o são; 55,1% de portadores e 14,4% que
desconhecem se o são em Rio Grande do Sul; e 58,9% de portadores e 17,4% que
desconhecem se o são de residentes em outros estados brasileiros.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
LXX
FIGURA V.5 – PORTADOR DE DMJ, POR LOCAL DE RESIDÊNCIA (%)
Também se considerou relevante saber se o inquirido, além de poder ser portador, é
cuidador ou tem familiares portadores de DMJ, pois a proximidade com pessoas afetadas por
esta doença influencia seus os conhecimentos e pode influenciar as suas opiniões no que
concerne, por exemplo, aos apoios existentes.
Na Figura V.6 é possível verificar que a percentagem de respostas positivas é muito
significativa no caso dos residentes no Brasil, com 79,8% de respondentes de outros estados
brasileiros, 71,2% de Rio Grande do Sul e de 63% de Mato Grosso do Sul. No caso português
destaca-se a disparidade de valores. Se entre os residentes em outras regiões do País se
destacam as respostas de portadores, cuidadores ou de familiares de portadores de DMJ
(68,8%), nos Açores estes valores percentuais caem para os 5,3% em São Miguel, 3,3% nas
Flores e 2,6% em outras ilhas açorianas. A este respeito, é relevante relembrar que a
divulgação foi solicitada tanto pela via das associações de portadores como pelas
universidades das regiões em análise e, também, através das redes sociais. Se nos Açores a
dificuldade foi na obtenção de respostas de portadores, cuidadores e familiares de
portadores, no Brasil a grande dificuldade esteve na obtenção de respostas de pessoas que
não estivessem de algum modo relacionadas com os portadores de DMJ.
Nesta pergunta foram considerados 906 inquéritos válidos, existindo 6 inquiridos que
não responderam.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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FIGURA V.6 – PORTADOR, CUIDADOR OU FAMILIAR DE PORTADORES DE DMJ, POR LOCAL DE RESIDÊNCIA (%)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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APÊNDICE VI – CARATERIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE APOIO AOS DMJ
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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1. Nos Açores
A Associação Atlântica de Apoio ao Doente de Machado-Joseph (AAADMJ) surgiu em
1996 fruto de uma necessidade, identificada por profissionais de saúde, de criação de um
espaço que permitisse o convívio entre os doentes de Machado-Joseph.
O projeto Rede de Suporte Social Machado-Joseph (duração entre outubro de 1999 e
dezembro de 2001), promovido pelo Instituto de Ação Social e financiado pela Direção
Regional da Solidariedade e Segurança Social e pelo Comissariado Regional do Sul da Luta
Contra a Pobreza, foi criado com a finalidade de apoiar e melhorar a qualidade de vida dos
doentes e dos seus familiares (“riscos” ou não). Este projeto foi implementado na ilha de São
Miguel e na ilha das Flores e envolveu várias entidades parceiras.
Os objetivos do projeto foram no sentido de criar uma equipa multidisciplinar de
diagnóstico e intervenção especializada, que abrangesse as áreas clínica, fisiátrica, psicológica,
terapêutica e de ação social; fomentar o planeamento regional e a criação de um sistema de
suporte social com uma intervenção rápida nas áreas do acompanhamento técnico, apoio
domiciliário, gabinete de apoio à mobilidade e adaptação da habitação e centro de ocupação
de tempos livres e trabalho.
Após o termo do projeto, foi assinado um acordo de cooperação entre a AAADMJ e o
Instituto de Ação Social (IAS) que permitiram a criação e manutenção de atividades de
combate ao isolamento destes doentes em São Miguel.
A AAADMJ é uma instituição particular de solidariedade social (IPSS), sediada em Ponta
Delgada, “que tem por missão a representação e defesa dos interesses gerais e coletivos dos
portadores da Doença de Machado-Joseph e seus familiares”25 e, de acordo com a
coordenação da associação, a AAADMJ oferece aos seus utentes, cuidadores e familiares
vários serviços, nomeadamente no que respeita a apoio psicoterapêutico, a apoio social
25 Cf. site da Associação Atlântica de Apoio ao Doente de Machado-Joseph, em http://www.aaadmj.com/a-associacao/
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
LXXVI
(informação sobre a legislação, apoios e direitos), a classes de motricidade e de hidroginástica
e, também, um centro de atividades.
Uma das principais críticas apontadas por alguns portadores à associação micaelense
está relacionada com a sua localização e com o facto de apenas ter uma unidade móvel, o que
dificulta o acesso a quem reside longe desta cidade.
A associação das Flores foi criada no âmbito do mesmo projeto Rede de Suporte Social
Machado-Joseph, através do Comissariado Regional do Sul da Luta Contra a Pobreza, projeto
este gerido pela Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz das Flores.
Embora a associação de São Miguel tenha tido algumas dificuldades iniciais, devido ao
isolamento e desconfiança dos próprios doentes, o projeto nas Flores teve dificuldades
acrescidas em alicerçar-se por não ter contado com o apoio dos doentes e dos seus familiares.
Durante alguns anos, não havia adesão dos doentes e famílias às ações e atividades propostas,
denotando-se o fechamento e isolamento dos doentes das Flores.
“A Prof. Doutora Manuela Lima afirmou que tem-se feito uma mobilização em especial
junto dos familiares. Com a Dra. Teresa Kay foram às Flores na última reunião mas
apareceram muitas poucas pessoas. O estigma social poderá ter levado à sua não
comparência.” (Relatório referente à Resolução n.º 1/2003, 2003, p. 12)
Desde a criação da associação em São Miguel que, inúmeras vezes, o único elo de
ligação dos portadores com outros portadores e com o “exterior” se resume à AAADMJ.
Muitas destas pessoas evitam sair de casa, por variados motivos, como o medo de se
desequilibrarem e caírem, vergonha e receio de humilhação pública (devido a confusão com
estarem alcoolizados) ou, até, porque a própria família não quer que se “mostrem”.
As associações são fundamentais para o convívio e a criação de laços extrafamiliares e
para uma maior aproximação com a comunidade (Soares, 2004). Verificamos que, no caso da
associação de São Miguel, comparando o número inicial de utentes e o atual e comparando
as atividades que eram realizadas no início e atualmente dentro do espaço da associação e no
espaço público, a adesão dos doentes e dos seus familiares é evidente. De acordo com a
coordenação desta associação, foi muito o trabalho realizado e o esforço no sentido de
consolidar a importância dada pelos utentes ao trabalho realizado pela associação.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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Porque, aqui, a nível de valência, o que é que eles têm? Têm duas vezes por semana
fisioterapia. Têm o apoio a nível administrativo, se precisam de preencher alguns
documentos, alguma coisa, o pessoal dá-lhes o apoio. Marcação de consultas, se for
necessário, para algum especialista, ou ao Centro de Saúde, fazer marcações, também
se faz. Depois, a parte da informação em termos daquilo que eles têm direito, também
é feito. A partir daí, é os conviviozinhos, que eles são convidados, de Natal, de Carnaval,
de… de montes de coisas por aí adiante, da nossa matança do porco, do Espírito Santo,
essas coisas todas. Eles são convidados e vêm. Vamos buscá-los e vamos levá-los. Mais
do que isso a gente, também, não tem que lhes faça.
(Dirigente, E1, PT)
A “Rede de Suporte Social Machado-Joseph” nas Flores também surgiu em 1999,
partindo de um projeto promovido pelo Instituto de Ação Social, candidatado ao Comissariado
Regional do Sul da Luta contra a Pobreza. A gestão deste projeto é da Santa Casa da
Misericórdia de Santa Cruz das Flores que, posteriormente, em 2004, passou a ser financiado
através de protocolo de cooperação com o Instituto de Ação Social. Foi também criada a
Associação Mão Amiga, com o objetivo de defender os interesses dos doentes da DMJ,
embora, de acordo com todos os entrevistados, a associação esteja totalmente inativa.
Segundo muitos dos profissionais entrevistados e dos informantes privilegiados, a valência
que se dedica à DMJ nas Flores não funciona tão bem como a associação em São Miguel e,
afirmam, o apoio psicossocial dado pela Santa Casa é insuficiente, não havendo articulação
com o Centro de Saúde, com os serviços da Habitação nem com a Segurança Social.
Também existem protocolos entre a Direção Regional da Habitação e a AAADMJ e a
SCMSCF celebrados com o objetivo de melhorar as condições de habitabilidade e as
acessibilidades, subsidiando a recuperação e adaptação de habitações degradadas de famílias
com doentes DMJ.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
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2. No Brasil
A Associação dos Amigos, Parentes e Portadores de Ataxias Dominantes (AAPPAD)26 é
uma sociedade sem fins lucrativos que tem como objetivo defender a qualidade de vida dos
portadores de todos os tipos de ataxia no Brasil, que foi oficialmente registada em 8 de
dezembro de 2004. De acordo com as entrevistas realizadas, a associação nasceu da vontade
de profissionais de saúde e de portadores e seus familiares criarem um espaço de reunião
que, como é afirmado nos estatutos, permitisse “oferecer suporte e lutar para a melhoria de
vida das pessoas portadoras de ataxias dominantes”.
Como consta no site27, a missão da AAPPAD consiste em:
“- Auxiliar portadores de todos os tipos de Ataxias (sobretudo as hereditárias
dominantes);
- Cadastrar portadores de Ataxias de todo o Brasil, a fim de localizá-los, quantificá-los
e ter uma ideia da qualidade de vida deles;
- Congregar e promover trocas de experiências entre portadores, parentes e amigos;
- Divulgar a Ataxia perante a sociedade;
- Lutar pelos direitos dos portadores.”
Um dos objetivos previstos nos estatutos é a promoção de “encontros de familiares e
de caráter científico para promover a integração e troca de experiências” (Art.º 5.º, III). Nesse
sentido, desde a sua fundação que a AAPPAD organiza anualmente um encontro de ataxias,
para o qual convida investigadores de várias áreas, pretendendo fornecer informações aos
doentes, aos seus familiares e cuidadores e, por outro lado, esclarecer a comunidade, dando
visibilidade às ataxias, de entre as quais a DMJ, que é, na realidade, a que tem maior
prevalência em Rio Grande do Sul.
Aquando da nossa visita, em 2008, a sede da associação era em casa do presidente da
direção. Entretanto, a sede foi alterada para o edifício de uma imobiliária, que cedeu um
espaço para as reuniões da AAPPAD.
26 Cf. http://www.aappad.com.br/ 27 Cf. http://www.aappad.com.br/quem-somos/nossa-missao/
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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Atualmente, a associação disponibiliza fisioterapia gratuita para os associados, através
de um convénio com o Instituto Porto-Alegrense (IPA), além de assessoria jurídica gratuita
que, aquando da nossa visita, já era um serviço disponibilizado.
O Centro de Referência em Distúrbios do Movimento foi inaugurado em 12 de
novembro de 2006 e é uma unidade integrante da UNEPE-Rede Brasileira de Cooperação ao
Desenvolvimento, que teve início na década de 80 como um movimento de eliminação do
trabalho infantil e das favelas. A UNEPE tem três grandes áreas de intervenção: assistência
social, saúde e educação. O Programa de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras que
está integrado no Centro de Referência em Distúrbios do Movimento atende, de acordo com
o site28, “pessoas com deficiência que foram acometidas por doenças neuro degenerativas
raras que provocam distúrbios do movimento (Ataxia Cerebelar, Distrofia Muscular, Doença
de Huntington, Esclerose Múltipla, Esclerose Lateral Amiotrófica, Miastenia Gravis,
Distonias)”. Segundo as entrevistas realizadas aquando da visita ao centro, também procuram
defender e garantir os direitos dos deficientes/portadores de doença e dos seus familiares,
interpondo por exemplo, processos na Justiça, para obter direitos que consideram
assegurados pela Constituição da República Brasileira.
Existem profissionais de várias áreas neste centro, nomeadamente médicos,
psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, nutricionistas, que
atendem atualmente cerca de 800 pessoas29 com doenças que provocam distúrbios do
movimento, provenientes de 15 estados do Brasil. À data da visita ao Centro, quase todos os
profissionais eram voluntários, embora a UNEPE estivesse a tentar obter financiamento do
Governo Brasileiro, pois o apoio financeiro que tinham era dado pelo Governo Estadual,
apenas para a manutenção do espaço físico.
28 http://www.unepe.org.br/programas-e-projetos 29 Na altura da entrevista, em 2008, eram cerca de 600 as pessoas atendidas por ano neste centro.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
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Referências bibliográficas
Comissão Permanente de Assuntos Sociais da ALR (2003). Relatório referente à Resolução n.º 1/2003.
Soares, D. (2006). Os Doentes de Machado-Joseph dos Açores num contexto de estigmatização social.
Diferentes realidades sociais da mesma doença (Tese de Mestrado). Lisboa: Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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ANEXO 1 – GUIÃO TEMÁTICO DE ENTREVISTA A PORTADORES DE DMJ
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
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(Parte inicial, dedicada à caraterização sociofamiliar, tratada com recurso ao SPSS)
I. Configurações e recursos familiares
1.1 Condições económicas e disposições sociais familiares
1.1.1. Posição social do agregado doméstico
Meios de vida, fontes de rendimento, habilitações literárias, percurso profissional,
número de filhos, profissão e habilitações literárias dos filhos.
1.1.2. Mobilidade social e familiar
Habilitações literárias, profissão e situação na profissão do doente/portador, do cônjuge
e dos pais
(Restante entrevista, composta por perguntas abertas, tratadas com recurso a análise de conteúdo)
II. Práticas (re)afetação de papéis, de recursos e de oportunidades
[(Re)conversão do quotidiano]
2.1. Sociabilidades
2.1.1. Interação com outros doentes da DMJ
Amizades com outros portadores que têm a mesma doença. Tipo de relacionamento
com outros doentes da DMJ.
2.1.2. Relações extrafamiliares e de vizinhança e alterações com a visibilidade da DMJ
Opinião e expectativas dos “não doentes” sobre si. Alterações com a visibilidade da DMJ
e motivos dessas alterações. Exemplos de alterações e razões da mudança.
2.1.3. Consequências da visibilidade da DMJ
Alterações nas redes de sociabilidades. Implicações no quotidiano.
2.2. Conhecimentos, experimentação e vivência DMJ
2.2.1. Início da manifestação da DMJ e duração.
Descrição da forma como descobriu ser portador/a. Número de anos após a
manifestação dos sintomas.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
LXXXIV
2.2.2. Ocupação do dia
Atividades de ocupação do dia. Companhia diária.
2.2.3. Alteração do modo de vida com a manifestação da DMJ
Tarefas e atividades desempenhadas apenas pelo inquirido. Alterações na forma de
desempenho dessas atividades.
Consequências da doença (alteração do quotidiano) na vida do inquirido (deixar de
trabalhar, não haver tratamento nem cura) e dos seus familiares. Exemplos de
alterações e limitações sentidas.
2.2.4. Domínio da informação sobre a DMJ
Conhecimentos que detém atualmente sobre a DMJ. Momento de diagnóstico da DMJ.
Tipo de diagnóstico realizado (diagnóstico através da sintomatologia ou teste preditivo).
Conhecimentos aquando do diagnóstico da doença do progenitor. Nome dado à doença
aquando do diagnóstico do progenitor e do avô/avó afetado. Explicações acerca do
surgimento da doença na família.
III. Modos familiares de gestão da doença
3.1. Relações familiares
3.1.1. Relações familiares com a visibilidade da DMJ (família nuclear e família
alargada)
Avaliação do relacionamento com os familiares não doentes. Alterações identificadas e
razões.
3.1.2. Vivências dos familiares perante a situação de DMJ
Vivências dos familiares/filhos com o facto de ser portador sintomático de DMJ.
Satisfação do inquirido com o apoio familiar. Razões.
3.1.3: Alterações económico-financeiras familiares
Alterações no orçamento familiar com a manifestação da DMJ relacionadas com o/a
portador/a e o/a cuidador/a. Estratégias.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
LXXXV
3.1.4: Apoios sociais recebidos e carências familiares atuais
Apoios estatais/governamentais de que usufrui específicos por ser portador de DMJ.
Necessidades atuais do doente e da família.
3.2. Conhecimentos e práticas socializadoras face aos filhos
3.2.1. Domínio da informação sobre a transmissão familiar da DMJ
Conhecimentos sobre a transmissão da DMJ.
3.2.2. Tipo de informações transmitidas aos filhos acerca da DMJ
Conhecimento dos descendentes sobre a DMJ.
Tipo e conteúdo do diálogo familiar acerca da doença. Razões.
3.2.3. Posição perante a situação de risco dos filhos
Perceção do “risco” de transmissão da DMJ aos seus filhos e avaliação dessa
possibilidade. Razões apresentadas.
3.2.4. Opiniões acerca da procriação dos seus filhos e dos outros portadores/doentes
Perceção do “risco” de transmissão da DMJ e posição acerca da procriação dos
portadores de DMJ. Razões apresentadas.
IV. Conflitualidade, críticas e divergências
4.1. Interação com os profissionais e com as organizações
4.1. Posição e expectativas acerca dos profissionais, das medidas, serviços e apoios
governamentais e não governamentais existentes
4.1.1. Conhecimentos e avaliação dos recursos e apoios disponíveis
Conhecimento sobre as medidas de apoio disponíveis. Frequência do recurso a esses
apoios. Grau de satisfação com as medidas de apoio existentes. Razões e exemplos.
Acesso a consultas médicas especializadas, a medicamentos e a equipamentos.
Avaliação.
4.1.2. Satisfação e relacionamento com as equipas técnicas
Satisfação com o modo de transmissão da notícia de ser portador de DMJ. Razões.
Satisfação com o desempenho das equipas das associações. Razões.
Tipo de relacionamento com as equipas.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
LXXXVI
4.1.3. Dificuldades, constrangimentos e obstáculos sentidos no relacionamento com
os profissionais
Situações exemplificativas de dificuldades, constrangimentos, obstáculos e desacordo
identificadas na relação com as equipas médicas e as equipas das associações. Exemplos
e razões.
Perceção e avaliação sobre o aconselhamento e as recomendações sugeridas.
4.1.4. Negociação e sugestão de estratégias de melhoria
Perceção e avaliação da atuação das equipas. Carências e sugestões do inquirido.
Exemplos e razões.
4.1.5. Opiniões sobre o teste preditivo de diagnóstico
Posição perante a realização de teste preditivo de diagnóstico da DMJ. Avaliação e
razões.
V. (Re)conversão identitária, estigmatização e/ou luta pelo reconhecimento
5.1. Representações
5.1.1. Saúde e doença
Definição de doença e avaliação da importância da saúde
5.1.2. DMJ
Definição de DMJ e gravidade face a outras doenças.
Reação aquando do diagnóstico positivo de DMJ. Razões.
Crenças e opiniões sobre a DMJ. Razões apresentadas para ser portador da DMJ. Razões.
5.1.3. Religião e fé
Procura de apoio espiritual. Razões. Avaliação do apoio recebido e da importância da
religião.
5.1.4. Trabalho
Atividade profissional exercida aquando do diagnóstico de DMJ.
Duração do desempenho da atividade após o diagnóstico. Estratégias utilizadas.
Avaliação da importância do trabalho.
Motivação para o trabalho. Razões. Alterações na relação com os colegas. Avaliação do
apoio recebido.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
LXXXVII
5.1.2. Corpo
Importância do exercício físico e da fisioterapia.
Crenças e opiniões sobre as alterações corporais provocadas pela DMJ.
Relação entre a imagem corporal e as identidades virtual e real.
5.2. Identidade real
5.2.1. Autoimagem
O que pensa de si. Alterações na autoimagem.
5.3. Identidade virtual
5.3.2. Imagem imputada ao indivíduo
Como pensa que os outros o/a veem. Alterações ocorridas devido à visibilidade da DMJ.
Imagem que procura transmitir aos outros.
5.4. Estigma individual
5.4.1. Situações de estigmatização face a atributos desacreditados (caso dos
portadores)
Situações exemplificativas de estigmatização sofrida pelos portadores.
Confusão com outras doenças ou situações face à visibilidade dos sintomas dos
portadores.
Estratégias para ultrapassar potenciais situações de estigmatização.
5.5. Estigma familiar
5.5.2. Situações de estigmatização face a atributos desacreditáveis (filhos e familiares
de portadores)
Situações exemplificativas de estigmatização sofrida pelos filhos e familiares.
Estratégias para ultrapassar potenciais situações de estigmatização dos filhos.
5.6. Reconhecimento nas relações primárias (amor, amizade)
5.6.1. Formas de reconhecimento ou de desrespeito à integridade física
Situações exemplificativas de dedicação emocional ou, por outro lado, de maus tratos e
violação ameaçando a integridade física.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
LXXXVIII
5.7. Reconhecimento nas relações jurídicas (direito)
5.7.1. Formas de reconhecimento ou de desrespeito à integridade social
Situações exemplificativas de respeito cognitivo ou, pelo contrário, de privação de
direitos e exclusão ameaçando a integridade social.
5.8. Reconhecimento na comunidade de valores (solidariedade)
5.8.1. Formas de reconhecimento ou de desrespeito à dignidade
Situações exemplificativas de valorização social ou, pelo contrário, de degradação e
ofensa ameaçando a dignidade.
VI. Futuro
6.1. Dimensão prospetiva
6.1.1. Projetos de vida, expectativas e estratégias
Projetos. Projetos não realizados devido à manifestação da DMJ. Expectativas para o
futuro. Razões.
6.1.2. Aspirações e expectativas em relação aos filhos
Expectativas e aspirações dos filhos. Razões.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
LXXXIX
ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO ONLINE30
30 https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd-HFuHYQ4Te4pmchOauLbQ7cUWIBlMNXEHDCHxKK9EgoZCGw/viewform, convertido para MS Word
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XCI
Estudo sobre a situação social dos portadores
de Doença de Machado-Joseph
Este questionário online pretende recolher dados para um estudo académico de
doutoramento na área da sociologia sobre a situação social dos portadores de Doença de
Machado-Joseph (Região Autónoma dos Açores e Brasil) e, para tal, é fundamental a sua
opinião acerca dos apoios governamentais e dos cuidados médicos prestados aos portadores
de doenças crónicas neurodegenerativas, em particular no caso da Doença de Machado-
Joseph (SCA3).
Este questionário pode ser respondido por qualquer pessoa residente em Portugal ou
no Brasil independentemente de se considerar muito ou pouco informada sobre o tema em
questão.
Agradeço a sua sinceridade e o maior rigor possível nas respostas e garanto que está
assegurado o seu anonimato e a confidencialidade das suas respostas.
A sua opinião é importante e o preenchimento do questionário demora apenas alguns
minutos.
Muito obrigada pela sua colaboração!
A Autora do estudo,
Daniela Soares
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
CESNOVA – Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa
FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
*Required
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XCII
I - CARACTERIZAÇÃO
Assinale a opção de resposta que melhor se adequa à sua situação.
1. Local de Residência *
Assinale a opção que melhor corresponde à sua situação
Mark only one oval.
Santa Maria (Açores)
São Miguel (Açores)
Terceira (Açores)
Graciosa (Açores)
São Jorge (Açores)
Pico (Açores)
Faial (Açores)
Flores (Açores)
Corvo (Açores)
Porto Alegre (Brasil)
Campo Grande (Brasil)
Estado de Rio Grande do Sul (Brasil)
Estado de Mato Grosso do Sul (Brasil)
Outra região portuguesa ou Estado brasileiro
Se escolheu "OUTRA REGIÃO PORTUGUESA OU ESTADO BRASILEIRO", indique qual:
2. Sexo *
Mark only one oval.
Masculino
Feminino
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XCIII
3. Indique o seu ano de nascimento *
4. Estado Civil *
Mark only one oval.
Solteiro/a
União de facto
Casado/a
Divorciado/a
Viúvo/a
5. Habilitações Literárias
Se for residente nos Açores responda à questão 5a. Se for residente no Brasil, passe à
5b.
5a. Escolaridade (apenas para as pessoas residentes nos Açores)
Apenas responda a esta questão se for residente nos Açores
Mark only one oval.
Sabe ler e escrever
1.º Ciclo do Ensino Básico completo ou equivalente
2.º Ciclo do Ensino Básico completo ou equivalente
3.º ciclo do Ensino Básico completo ou equivalente
Ensino Secundário completo ou Profissional equivalente
Bacharelato/Licenciatura completa
Mestrado completo
Doutoramento completo
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XCIV
5b. Escolaridade (apenas para as pessoas residentes no Brasil)
Responda a esta questão apenas se for residente no Brasil
Mark only one oval.
Sabe ler e escrever
Ensino Fundamental I completo ou equivalente
Ensino fundamental II completo ou equivalente
Ensino Médio completo ou equivalente
Ensino Secundário completo ou Profissional equivalente
Bacharelato/Licenciatura completa
Mestrado completo
Doutoramento completo
6. Meios de vida *
(Indique o seu meio ou meios de vida, caso tenha mais do que um)
Mark only one oval.
Trabalho
Reforma ou Aposentadoria
A cargo da família
Outros subsídios ou pensões
Se selecionou OUTROS SUBSÍDIOS OU PENSÕES indique qual ou quais:
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XCV
7. Condição perante o trabalho *
(Indique a sua condição ou condições atuais, caso se identifique com mais do que uma)
Mark only one oval.
Possui um trabalho remunerado
Reforma ou Aposentadoria por tempo de contribuição ou por idade
Aposentadoria por Invalidez/Doença
Pensão de Invalidez/Doença
Ocupa-se das tarefas do lar
Estudante
Desempregado(a)
Não trabalha nem procura emprego
Outra situação
Se selecionou OUTRA SITUAÇÃO indique qual:
8. Profissão
Se NUNCA TEVE UM TRABALHO REMUNERADO passe à pergunta 9.
8.1. Profissão Principal (Atual ou última no caso de não exercer atualmente uma
profissão)
(Descrição o mais completa possível)
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XCVI
8.2. Situação na Profissão Principal (atual ou última)
Mark only one oval.
Patrão
Trabalhador por conta própria
Trabalhador em empreendimento familiar
Assalariado/Trabalhador por conta de outrem (ex.: funcionário público)
Membro ativo de cooperativa
Outra situação
Se selecionou OUTRA SITUAÇÃO indique qual:
II - CONHECIMENTOS SOBRE A DOENÇA DE MACHADO-JOSEPH (SCA3)
9. Antes deste questionário já tinha ouvido falar na Doença de Machado- Joseph
ou em SCA3? *
Se responder NÃO passe à pergunta 17.
Mark only one oval.
Sim
Não
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XCVII
10. É portador de Doença de Machado-Joseph (também denominada MJD ou
SCA3)?
Mark only one oval.
Sim
Não
Tenho pelo menos um familiar direto portador, no entanto, não sei se sou porque não fiz o exame genético (teste preditivo)
11. Tem familiares, pessoas amigas ou conhecidas que sejam portadoras
sintomáticas ou assintomáticas de DMJ (SCA3)?
Mark only one oval.
Sim
Não
12. Na escala apresentada em seguida, como classifica o seu grau de
conhecimentos sobre a DMJ?
Mark only one oval.
1 – Nulo
2 – Mau
3 – Razoável
4 – Bom
5 – Elevado
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
XCVIII
13. Como teve conhecimento da existência da DMJ?
Pode assinalar mais do que uma opção.
Tick all that apply.
Canais de televisão
Jornais e revistas
Livros e revistas científicas
Rádio
Internet
Unidades de saúde (Postos de Saúde, Centros de Saúde ou Hospitais)
Associações de apoio a portadores e doentes e familiares
Professores
Amigos/as
Familiares
Outros
Se selecionou OUTROS indique quais:
13.1. De que forma os seus conhecimentos sobre a DMJ foram inicialmente adquiridos?
Pode selecionar mais do que uma opção.
Tick all that apply.
Por pesquisa da sua parte (Ex.: pesquisa na internet)
A informação foi disponibilizada sem ser solicitada (Ex.: notícias, ações de informação e sensibilização, etc.)
Outras fontes de informação (Ex.: Consulta médica)
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
XCIX
14. Qual a avaliação que faz da informação disponível sobre a DMJ?
Mark only one oval.
Totalmente esclarecedora
Suficientemente esclarecedora
Pouco esclarecedora
Nada esclarecedora
15. Independentemente de as considerar corretas, indique, das opções
apresentadas em seguida, as que são utilizadas na sua comunidade para
designar a Doença de Machado-Joseph.
Pode assinalar mais do que uma opção.
Tick all that apply.
SCA3
Ataxia
Doença dos açorianos
Doença do Diabo
Labirintite
Doença da espinha
Doença das Flores
Doença neurodegenerativa hereditária dominante
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
C
16. De acordo com as informações que possui, de que modo a DMJ poderá ser
transmitida?
Pode selecionar mais do que uma opção.
Tick all that apply.
Pelo ar ou água
Através de troca de fluidos
Através de relações sexuais
De pais ou mães para filhos/as
Como complicação de outra doença
III - CONHECIMENTOS SOBRE OS APOIOS DO ESTADO AOS PORTADORES DE DOENÇA DE
MACHADO- JOSEPH (SCA3)
17. Conhece os apoios que o Governo do seu País proporciona aos DMJ e seus
familiares? *
Mark only one oval.
Sim
Não
18. Qual a sua opinião sobre esses apoios?
Mark only one oval.
Insuficientes
Aceitáveis
Bons
Muito Bons
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
CI
IV – OPINIÕES
19. Ordene de acordo com a importância que pessoalmente atribui aos seguintes
aspetos nos serviços de saúde públicos do seu País *
Atribua um número a cada aspeto apresentado em seguida (em que o 1º é o aspeto
mais importante e o 8º o aspeto menos importante) de modo que não exista repetição
numérica (cada número só pode ser escolhido uma vez).
Mark only one oval per row.
1 2 3 4 5 6 7 8
19.1. Proximidade física dos serviços de saúde
19.2. Rapidez no acesso aos cuidados de saúde públicos
19.3. Igualdade no acesso aos cuidados de saúde públicos
19.4. Eficácia no alívio dos sintomas e no tratamento
19.5. Competência dos profissionais de saúde
19.6. Gratuitidade dos serviços e tratamentos prestados
19.7. Proximidade entre prestadores de cuidados e os doentes alvo de cuidados
19.8. Humanização dos cuidados de saúde
Nas três próximas questões (20, 21 e 22), por favor selecione o grau de concordância
que melhor se adequa à sua opinião em cada uma das situações apresentadas.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
CII
20. Tendo em conta que a DMJ (SCA3) é uma doença neurológica degenerativa
mortal e sem cura, com uma sobrevida média dos seus portadores de
aproximadamente 20 anos, em que os últimos anos são passados numa
situação de acamado/a sem poder desempenhar qualquer tipo de atividade
inclusive de comunicar com outras pessoas: *
Mark only one oval per row.
20.1. Os serviços de saúde não devem despender tratamentos e cuidados de saúde caros pois estarão apenas a gastar o meu dinheiro
Discordo totalmente
Discordo parcialmente
Concordo parcialmente
Concordo totalmente
Não sei responder
20.2. Os médicos devem dedicar menos tempo a estes doentes pois já não existe a possibilidade de os curar e são precisos para tratar outros doentes.
20.3. Estes doentes devem ser tratados pois têm os mesmos direitos de acesso à saúde que qualquer outro cidadão.
20.4. Os médicos devem obrigar os doentes a fazer um determinado tratamento se servir para lhe prolongar a vida.
20.5. Os médicos não devem atuar contra a vontade do doente mesmo sabendo que isso pode prejudicá-lo.
20.6. Os médicos devem poder experimentar tratamentos nestes doentes, mesmo que não lhes traga qualquer benefício, se for com o objetivo de encontrar uma cura.
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
CIII
21. Tendo em conta que a DMJ (SCA3) é uma doença hereditária autossómica
dominante, significando que pode ser transmitida de pais/mães para filhos,
com uma probabilidade de transmissão de 50% e que não existe tratamento
nem cura: *
Mark only one oval per row.
21.1. Os doentes não devem ter filhos porque existe a possibilidade de 50% de transmissão da doença
Discordo totalmente
Discordo parcialmente
Concordo parcialmente
Concordo totalmente
Não sei responder
21.2. Quando homens ou mulheres descobrem que são portadores desta doença devem ser incentivados a fazer laqueação/vasectomia para não ter mais filhos.
21.3. Os médicos devem poder obrigar os doentes a não ter filhos pois o custo financeiro destas doenças é muito elevado para o Estado.
21.4. Os médicos devem insistir para as mulheres grávidas fazerem exame pré- natal e em caso de diagnóstico positivo devem convencê-las a interromper a gravidez, mesmo que não seja no seu País.
21.5. Os médicos devem informar e consciencializar os doentes da probabilidade de transmissão da doença e não ter qualquer influência na sua decisão.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
CIV
22. Tendo em conta que a DMJ (SCA3) se manifesta normalmente por volta dos
40 anos e que o seu portador sintomático a partir de algum momento
apresenta um elevado grau de invalidez necessitando por esse motivo de
cuidador a tempo inteiro: *
Mark only one oval per row.
22.1. As reformas e aposentadorias por invalidez devem ser mais elevadas no caso dos doentes que precisam de cuidador.
22.2. Devem existir lares ou casas financiadas pelo Estado com profissionais especializados na prestação de cuidados a estes doentes
Discordo totalmente
Discordo parcialmente
Concordo parcialmente
Concordo totalmente
Não sei responder
23.3. O Estado deve criar lares ou casas com profissionais especializados na prestação de cuidados a estes doentes mesmo que os doentes paguem com as suas reformas/aposentadorias.
23.4. O Estado deve dar a reforma/aposentadoria completa a estes doentes independentemente do número de anos que descontaram para a segurança social.
23.5. O Estado deve fornecer gratuitamente toda a medicação e equipamentos de apoio para melhorar a vida destes doentes.
23. 6. O Estado deve financiar instituições sem fins lucrativos (IPSS/ONG) especializadas no apoio a estes doentes e familiares
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
CV
Se considera que devem existir outros tipos de apoios importantes não mencionados
anteriormente, indique quais:
23. É cuidador, ,portador ou tem familiares portadores de DMJ/SCA3?
Mark only one oval.
Sim
Não Skip to question 41.
ÚLTIMA SECÇÃO
Se é portador/a ou cuidador/a de um portador de DMJ por favor continue a responder
a estas últimas questões.
O seu questionário está quase a terminar.
24. Recebeu informações sobre a DMJ provenientes de alguém pertencente ao
serviço de saúde público (Ex.: Médicos ou Enfermeiros do hospital público)?
Mark only one oval.
Sim
Não
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
CVI
24.a. Se é portador/a de DMJ e respondeu NÃO na questão anterior, explique porquê e
passe à pergunta 25:
24.b. Se é portador/a de DMJ e respondeu SIM na questão anterior, o que pensa da
forma como lhe foi explicada a doença?
Mark only one oval.
Não me explicaram devidamente e continuo com dúvidas
Deram-me um panfleto e disseram-me para ler
Explicaram-me tudo mas não percebi bem algumas partes
Percebi a maioria das explicações que me deram
Fiquei totalmente esclarecido/a
25. Numa escala de 1 a 10 (em que o 1 é insuficiente e o 10 é excelente) indique a sua
opinião em relação aos apoios dados pelo Estado aos portadores de DMJ?
26. Tem ou teve apoios específicos por ser portador de DMJ?
Mark only one oval.
Sim
Não
26.a. Se respondeu SIM na questão anterior, indique que apoios:
26.b. Se respondeu NÃO na questão anterior, indique o motivo:
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
CVII
27. Na sua opinião, o que deveria ser alterado em relação aos apoios dados pelo
Estado aos portadores de DMJ?
O SEU QUESTIONÁRIO TERMINOU, POR FAVOR AVANCE PARA A PRÓXIMA PÁGINA E SELECIONE
SUBMETER. OBRIGADA.
Se desejar acrescentar alguma informação ou comentário pode utilizar este espaço
para esse efeito (opcional):
POR FAVOR SELECIONE “SUBMIT” PARA SUBMETER O SEU QUESTIONÁRIO. MUITO OBRIGADA PELA SUA
COLABORAÇÃO!
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
CIX
ANEXO 3 – CONSENTIMENTO INFORMADO
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
CXI
A presente pesquisa destina-se à realização de uma tese de doutoramento em
Sociologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Nova de Lisboa e
é financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, na linha de investigação da Sociologia
da Saúde, bolsa de doutoramento n.º SFRH/BD/37267/2007.
Neste estudo pretende-se compreender a construção social do estigma associado à
Doença de Machado-Joseph, circunscrevendo-se o estudo a duas dimensões que se julgam
articuladas: de um lado o trabalho de investimento realizado pelos investigadores e técnicos
de saúde que contribuíram para a definição da Doença de Machado-Joseph, mas, do outro
lado, os efeitos sociais sentidos pelos doentes e familiares. A natureza e as características da
doença para além dos problemas e limitações que provocam nos seus portadores e familiares
também são fundamentais para a compreensão das questões de carácter moral e ético uma
vez que a sua transmissão é de natureza genética e é de transmissão autossómica dominante
sem cura. Assim, esta análise não pode deixar de atribuir importância aos debates e
controvérsias entre médicos, doentes e familiares e Estado.
É importante salientar que, sendo membro da Associação Portuguesa de Sociologia,
todos os procedimentos metodológicos relativos a este estudo estão totalmente em
consonância com o Código Deontológico desta Associação. Deste modo, o anonimato de todos
os intervenientes está garantido, não existindo qualquer possibilidade de identificação dos
doentes/portadores, dos seus familiares e cuidadores. Relativamente aos médicos, técnicos
de saúde e outros técnicos superiores e dirigentes associativos, apenas serão referidas as suas
profissões e os anos de serviço de modo a distinguir os vários profissionais entrevistados.
Assim sendo, a não aceitação em participar neste estudo será naturalmente aceite pela
entrevistadora, não tendo quaisquer implicações negativas enquanto funcionário/a da
instituição ou enquanto utente no que respeita aos serviços de que usufrui.
Agradece-se a sua colaboração nesta investigação, salientando novamente que a
mesma é anónima, totalmente voluntária, opcional e sujeita ao código deontológico e ético
dos sociólogos.
Daniela Almeida de Medeiros de Sousa Soares
CXII
Eu, abaixo assinado, declaro que tomei conhecimento das condições de colaboração
no estudo acima descritas, declarando ainda que aceito colaborar de livre e espontânea
vontade na investigação sobre “A construção social do estigma dos doentes de Machado-
Joseph: os dilemas científicos, morais e sociais”.
O/A Entrevistado/a A Investigadora
_____________________________ ____________________________
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
CXIII
ANEXO 4 – NOTÍCIA DA ABAHE
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
CXV
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
CXVII
ANEXO 5 – GRELHA DE CARATERIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS
Dilemas e tensões entre atores vinculados aos “mundos” da Doença de Machado-Joseph
CXIX
Por motivos éticos e de modo a garantir o anonimato dos portadores e dos
profissionais que acederam participar nesta pesquisa, optou-se por eliminar a grelha de
caracterização individual dos entrevistados, e tal como já foi referido, por dar o mínimo
possível de informações, tentando excluir tudo o que os possa, eventualmente, identificar os
participantes, nomeadamente sexo, idade, profissão, anos de serviço, local onde
desempenham atividade, etc.