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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS DE DRENAGEM PLUVIAL UTILIZANDO MÉTODOS DE BAIXO IMPACTO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Lucas Camargo da Silva Tassinari Santa Maria, RS, Brasil 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS DE DRENAGEM PLUVIAL UTILIZANDO MÉTODOS DE BAIXO

IMPACTO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Lucas Camargo da Silva Tassinari

Santa Maria, RS, Brasil

2014

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DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS DE DRENAGEM PLUVIAL UTILIZANDO MÉTODOS DE BAIXO

IMPACTO

por

Lucas Camargo da Silva Tassinari

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Civil

da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para a obtenção do grau de

Engenheiro Civil

Orientadora: Profª. Drª. Rutinéia Tassi

Santa Maria, RS, Brasil 2014

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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Tecnologia

Curso de Engenharia Civil

A comissão examinadora, abaixo assinada, aprova o trabalho de conclusão de curso

Dimensionamento de Sistemas de Drenagem Pluvial Utilizando Métodos de Baixo Impacto

elaborado por Lucas Camargo da Silva Tassinari

Como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil

COMISSÃO ORGANIZADORA

_______________________________ Rutinéia Tassi, Drª.

(Presidente/Orientadora)

__________________________________ Geraldo Lopes da Silveira, Dr.

(UFSM)

___________________________________ Débora Missio Bayer, Drª.

(UFSM)

Santa Maria, junho de 2014.

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AGRADECIMENTOS

Registro aqui os meus mais sinceros agradecimento às pessoas que influenciaram

tanto neste trabalho como na minha formação profissional e pessoal ao longo dos últimos

anos. Nessas diferentes etapas percorridas, famílias foram sendo criadas e outras foram

simplesmente se aproximando, e sou muito grato por ter convivido com todas elas.

Dessa forma, agradeço às famílias Camargo e da Silva, em especial à minha mãe,

que muito me ensinou e de quem herdei amor especial pela vida.

Agradeço à família Tassinari, em especial ao meu pai, que me passou valores que

nortearam a ideia de homem que busco ser.

Agradeço à minha companheira Graziela por servir de motivação ao longo dessa

jornada, pelo abrigo nos momentos de exaustão, pelo companheirismo nos inúmeros

momentos alegres que vivemos e que virão.

Agradeço à família Tassi-Allasia pelo acolhimento e orientação, sendo esta técnica,

literária, musical, humana, dentre outros conhecimentos necessários ao sucesso de

qualquer profissional, cientista, ou qualquer pessoa de bem que busque a felicidade.

Agradeço aos amigos e colegas do curso de engenharia civil, com os quais aprendi e

errei muito, da melhor maneira possível, com aquele erro errado, que resulta num

aprendizado incrível e divertido, que me acompanhará por toda a vida. Agradeço a esses

pela convivência diária, pelos bons momentos, pelos bons sentimentos (mesmo que

sentidos à distância).

Agradeço aos amigos do Ecotecnologias pela parceria, pelos cafés, refrigerantes

com baixo teor de sódio, por terem tornado a atividade da pesquisa tão prazerosa e

recompensadora (mesmo nas ocasiões de dor física).

Agradeço aos professores da Universidade Federal de Santa Maria pelos

conhecimentos transmitidos. Todos são responsáveis pelo meu crescimento pessoal e

profissional e serão lembrados para sempre como aqueles que me ensinaram a aprender

engenharia.

Agradeço aos amigos de sempre por serem os amigos de sempre. Por mais que

passe o tempo, por mais que nos afastemos, os amigos de sempre fazem com que vejamos

o melhor de nós mesmos, a partir de um simples encontro, ou uma simples recordação.

Gostaria ainda de agradecer à equipe do Departamento de Esgotos Pluviais de Porto

Alegre, em especial à Engª Daniela Bemfica, ao Eng. Stanlei do Amaral e à Engª. Magda

Carmona, que forneceram informações que subsidiaram este trabalho.

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“Não gosto muito de definições, mas se há uma para liberdade é controlar a

realidade e modificá-la de acordo com a sua vontade. Não dá para pedir mais que

isso na vida.”

Mark Knopfler

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RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Engenharia Civil

Universidade Federal de Santa Maria

DIMENSIONAMENTO DE SISTEMAS DE DRENAGEM PLUVIAL UTILIZANDO MÉTODOS DE BAIXO IMPACTO

Autor: Lucas Camargo da Silva Tassinari

Orientadora: Rutinéia Tassi Data e local da defesa: Santa Maria, junho de 2014

As enchentes urbanas apresentam-se como grandes causadoras de prejuízos

para a sociedade, resultado da falta de planejamento urbano em relação ao uso do

solo e da água. No final dos anos 90, passou-se a reconhecer a importância do solo

e da vegetação no controle quali-quantitativo de águas pluviais e, com isso, surgiram

técnicas conhecidas como LID – Low Impact Development – e BMP – Best

Management Practices, que visam o controle do escoamento superficial junto à fonte

geradora de escoamento, diminuindo volumes e vazões a valores próximos àqueles

antes da urbanização do local. Dentro dessa ideia, este trabalho apresenta técnicas

alternativas às convencionais para a drenagem das águas pluviais, com suas

características e metodologias de dimensionamento. Para verificação da

aplicabilidade destas técnicas de baixo impacto, é apresentado um estudo de caso,

que envolveu o dimensionamento e simulação no modelo SWMM de um sistema de

drenagem pluvial para um loteamento na cidade de Porto Alegre – RS. Concluiu-se

que há grande dificuldade em utilizar dispositivos LID na cidade de Porto Alegre

devido às suas características pedológicas e geológicas. Mesmo assim, conseguiu-

se controlar toda a vazão gerada sem o uso de tubulações no sistema de

microdrenagem, transferindo a jusante apenas as vazões comportadas pelo sistema

de drenagem existente. Ao analisar o modelo SWMM, concluiu-se que este não é

recomendado para representar processos de pequena escala, pois ao realizar

simulações em pequenas áreas, as vazões resultam muito pequenas, e o modelo

produziu erros de truncamento/estabilidade numérica.

Palavras chave: LID, SWMM, drenagem na fonte.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Área de biorretenção utilizada em um estacionamento no Condado

de Stanfford, VA, EUA. Fonte: US EPA, 2010b ......................................................... 17

Figura 2. Pavimento permeável em Chicago, IL, EUA, para possibilitar a

infiltração da água no solo. Cortesia de David Leopold. Fonte: US EPA, 2010b ...... 18

Figura 3. Barril de chuva utilizado em Santa Mônica, CA, EUA, para

proporcionar o uso de água da chuva e para reduzir a poluição que é levada pelo

escoamento superficial até a praia. Fonte: US EPA, 2010b ...................................... 18

Figura 4. Trincheira de infiltração. Adaptado de: FHWA, 2001 ....................... 19

Figura 5. Detalhes do Valo de Infiltração com Trincheira de Percolação

auxiliar. Adaptado de: Urbonas e Stahre, 1993 (apud PMPA/IPH, 2005) ................. 22

Figura 6. Bacia de detenção em Porto Alegre a céu aberto com e sem

infiltração. Fonte: Allasia, Tassi e Gonçalves, 2011 .................................................. 23

Figura 7. Contorno do loteamento sobre imagem de satélite. Adaptado de:

Google Earth ............................................................................................................. 26

Figura 8. Loteamento em condição de pré-ocupação. As linhas azuis indicam

o fluxo natural de água Sem escala. ......................................................................... 30

Figura 9. Perfil viário para via local dentro do loteamento. Fonte: PMPA, 2010

.................................................................................................................................. 31

Figura 10. Perfil viário para via alternativa dentro do loteamento. Fonte:

PMPA, 2010 .............................................................................................................. 31

Figura 11. Figura meramente demonstrativa da modelagem no SWMM. As

ampulhetas representam vertedores ou orifícios, os quadrados em preto

representam o centro de massa das sub-bacias e os quadrados em preto sobre os

reservatórios de detenção e infiltração representam dispositivos de reservação de

água .......................................................................................................................... 41

Figura 12. Vista geral do loteamento (sem escala), sendo T as trincheiras de

infiltração, MR os microrreservatórios, V os valos de infiltração e BD as bacias de

detenção.................................................................................................................... 45

Figura 13. Planta baixa do quadrante superior esquerdo do loteamento........ 46

Figura 14. Planta baixa do quadrante superior direito do loteamento ............. 47

Figura 15. Planta baixa do quadrante inferior esquerdo do loteamento.......... 48

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Figura 16. Planta baixa do quadrante inferior direito do loteamento ............... 49

Figura 17. Detalhe dos obstáculos necessários aos Valos de Infiltração

quando a declividade for superior a 2%. Adaptado de: Urbonas e Stahre, 1993 (apud

PMPA/IPH, 2005) ...................................................................................................... 53

Figura 18. Esquema da simulação hidrológica das bacias de detenção no

IPHS-1 ....................................................................................................................... 57

Figura 19. Valo de Infiltração (V1), o qual manteve o caminho natural das

água (representação em planta) ............................................................................... 64

Figura 20. Perspectiva do local de implantação do valo de infiltração V1 ...... 64

Figura 21. Via sem saída com presença de trincheiras de infiltração junto ao

meio-fio...................................................................................................................... 65

Figura 22. Imagem com diferentes dispositivos em um mesmo ambiente

trabalhando de forma integrada ................................................................................ 65

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Distribuição dos Grupos Hidrológicos na cidade de Porto Alegre.

Fonte: Gonçalves, Silva e Risso, 2007 ...................................................................... 26

Tabela 2. Valores do CN determinado para cada Grupo Hidrológico. Adaptado

de: TR-55, 1986 (apud SARTORI; GENOVEZ; LOMBARDI NETO, 2005) ............... 27

Tabela 3. Valores típicos de taxa de infiltração por grupo hidrológico. Fonte:

PMPA/IPH, 2005 ....................................................................................................... 28

Tabela 4. Condutividade hidráulica saturada para diferentes tipos de solo.

Adaptado de: Urbonas e Stahre, 1993 ...................................................................... 33

Tabela 5. Porosidade específica de típicos materiais rochosos. Fonte:

Urbonas e Stahre, 1993 ............................................................................................ 33

Tabela 6. Dados das trincheiras de infiltração ................................................ 51

Tabela 7. Dados dos microrreservatórios ....................................................... 54

Tabela 8. Características das bacias de detenção implantadas no loteamento

.................................................................................................................................. 58

Tabela 9. Dados das Bacias de Detenção - eventos com 24 horas de duração

.................................................................................................................................. 59

Tabela 10. Resultados do SWMM e do IPHS-1 para as bacias de detenção . 62

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA.............................................................. 5

2 OBJETIVOS ................................................................................................ 7

2.1 Objetivo geral ............................................................................................. 7

2.2 Objetivos específicos .................................................................................. 7

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 8

3.1 Hidrologia Urbana e os Impactos da Urbanização ..................................... 8

3.2 Sistemas de Drenagem: concepção, evolução e conceitos atuais ............. 9

3.2.1 Drenagem convencional: conceito higienista ................................. 9

3.2.2 Melhores Práticas de Gestão – BMP............................................ 10

3.2.3 Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto - LID ........................ 12

3.3 Modelagem computacional como ferramenta auxiliar ao dimensionamento

de redes de drenagem – Modelo SWMM .................................................................. 15

3.4 Dispositivos LID e BMP utilizados neste trabalho..................................... 17

3.4.1 Barris de Chuva (ou Microrreservatórios) ..................................... 19

3.4.2 Trincheira de infiltração ................................................................ 20

3.4.3 Valos de Infiltração ....................................................................... 20

3.4.4 Bacias de Detenção ..................................................................... 23

4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 25

4.1 Local de estudo ........................................................................................ 25

4.2 Definição da configuração urbanística do loteamento .............................. 29

4.3 Métodos de dimensionamento dos dispositivos LID e BMP ..................... 31

4.3.1 Microrreservatório – Decreto Nº 15.371 (PMPA, 2006) ................ 34

4.3.2 Bacia de Detenção (e Infiltração) – Silveira e Goldenfum (2007) . 35

4.3.3 Bacia de Detenção – Método simulação de Puls, Tucci (2005) ... 36

4.3.4 Valo de Infiltração – CIRIA (1996) ................................................ 38

4.3.5 Trincheira de Infiltração – Urbonas e Stahre (1993) ..................... 38

4.4 Definição da máxima vazão efluente do loteamento ................................ 39

4.5 Simulação no modelo SWMM do sistema de drenagem com o uso de

técnicas de baixo impacto ......................................................................................... 40

5 RESULTADOS .......................................................................................... 44

5.1 Trincheiras de Infiltração .......................................................................... 50

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5.2 Valos de Infiltração ................................................................................... 52

5.3 Bacia de Infiltração ................................................................................... 53

5.4 Microrreservatórios ................................................................................... 54

5.5 Capacidade de drenagem a jusante do loteamento ................................. 55

5.6 Bacias de Detenção ................................................................................. 56

5.7 Resultados e análise dos resultados da modelagem no SWMM .............. 60

5.8 Projeto final............................................................................................... 63

6 CONCLUSÕES ......................................................................................... 66

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 69

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1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

As enchentes urbanas apresentam-se como grandes causadores de prejuízos

para a sociedade, resultado da falta de planejamento urbano em relação ao uso do

solo e da água. As técnicas atualmente conhecidas para projetos de estruturas de

drenagem permitem as mais diversas soluções. Tucci e Genz (1995) citam que o

controle das enchentes urbanas deve ser compreendido como uma atividade na qual

a sociedade deve agir de forma contínua visando à redução do custo social e

econômico dos impactos das inundações. Assim, tornam-se importantes os métodos

de controle de enchentes urbanas que se utilizam de uma visão onde as causas são

combatidas nas suas origens e não somente nas suas consequências (à jusante da

fonte geradora de escoamento).

O método tradicional de drenagem de águas pluviais em áreas urbanas,

seguindo a política de saneamento do início do século XX, consiste em captar e

afastar a água da maneira mais rápida possível da fonte geradora de escoamento

com sistemas de drenagem eficientes, que visam minimizar a proliferação de

doenças (SOUZA; CRUZ; TUCCI, 2012). Contudo, nos últimos anos, têm-se

questionado os impactos ambientais da rápida evacuação das águas para jusante,

uma vez que, com isso, as características quali-quantitativas dos corpos hídricos

receptores dessas águas são alteradas significativamente (URBONAS; STAHRE,

1993).

Dentro desse contexto, é essencial estudar técnicas de drenagem urbana que

minimizem o impacto ambiental e que sejam eficientes quanto ao controle de

escoamento superficial.

Assim, no final dos anos 90, passou-se a reconhecer a importância do solo e

da vegetação no controle quali-quantitativo de águas pluviais e, com isso, buscou-se

promover a infiltração, a evapotranspiração e o contato da água com bactérias e

plantas (SOUZA; CRUZ; TUCCI, 2012). Dentro dessa ideia, surgiram técnicas

conhecidas como LID – Low Impact Development – e BMP – Best Management

Practices, que visam o controle do escoamento superficial junto à fonte geradora de

escoamento, diminuindo volumes e vazões a valores próximos daqueles antes da

urbanização do local, ou, se necessário, a valores próximos a zero.

Neste contexto, este trabalho apresenta um estudo de caso com a aplicação

de técnicas alternativas às convencionais para a drenagem das águas pluviais, com

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suas características e metodologias de dimensionamento. Para verificação da

aplicabilidade destas técnicas de baixo impacto, foi realizado o dimensionamento e

simulação de um sistema de drenagem pluvial para um loteamento na cidade de

Porto Alegre – RS.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Avaliar diferentes soluções de drenagem não convencionais para uma área

real, buscando a utilização preferencial de técnicas de baixo impacto, que

contemplem uma maior responsabilidade ambiental e que sejam tecnicamente

viáveis.

2.2 Objetivos específicos

I. Estudar uma microbacia urbana real, analisando o comportamento

hidrológico desta;

II. Estudar técnicas de drenagem urbana alternativas à convencional e

reunir informações que subsidiem a sua aplicação;

III. Utilizando informações do local e regulamentação urbanística real,

projetar um loteamento fictício com definição de suas vias, áreas de

destinação pública e lotes, visando aplicar as técnicas de drenagem

estudadas;

IV. Analisar a adequabilidade das técnicas LID ao loteamento estudado;

V. Reunir informações sobre o software SWMM – Storm Water

Management Model;

VI. Aplicar as técnicas de drenagem utilizadas no loteamento criado com o

auxílio do software SWMM;

VII. Analisar a capacidade do software SWMM em representar processos

de pequena escala a exemplo daqueles envolvidos nas técnicas de

LID.

VIII. Analisar as várias metodologias de dimensionamento dos dispositivos

de controle na fonte estudados.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Hidrologia Urbana e os Impactos da Urbanização

Entende-se hidrologia urbana como o estudo da dinâmica da água no meio

urbano, ou seja, o estudo dos processos hidrológicos nos ambientes afetados pela

urbanização. Limitando-se um pouco esse estudo, analisa-se a drenagem urbana

como sendo um conjunto de medidas que busca a redução dos riscos a que a

população está submetida, a redução dos prejuízos causados pelas inundações e o

desenvolvimento urbano de forma harmônica, articulada e sustentável (PORTO et

al., 2007). Fundamental a esse estudo, busca-se compreender os processos

causadores das enchentes em áreas urbanas, suas origens e consequências.

Para tanto, Neto (2010) apresenta a diferença no comportamento da água da

chuva em cada parte do sistema de drenagem pluvial, antes e após a urbanização.

Segundo ele, o escoamento superficial da água pode ser topograficamente bem

definido ou não. Contudo, após a urbanização, o caminho percorrido pela água

passa a ser determinado pelo traçado das ruas, com o fluxo de água direcionado

através sarjetas até os bueiros. Essa vazão, somada à da rede pública, escoa pelas

tubulações que alimentam os condutos secundários, a partir dos quais se atinge o

fundo do vale, onde o caminho da água é topograficamente bem definido. Assim,

Neto (2010) define que o escoamento no fundo do vale é o que determina o sistema

de macrodrenagem, enquanto que o sistema que capta a água e a conduz até o

sistema de macrodrenagem é denominado sistema de microdrenagem.

Assim, são dois os processos que resultam em inundações em áreas

urbanas, e podem ocorrer de forma integrada ou isolada. O primeiro processo,

conhecido como Inundações em Áreas Ribeirinhas, ocorre devido à ocupação

indevida do leito maior do rio pela população, ficando esta sujeita às enchentes. O

segundo processo, devido à urbanização, resulta da impermeabilização excessiva

do solo, o que aumenta a magnitude e a frequência das cheias. A urbanização pode

ainda ser responsável por produzir obstruções ao escoamento, como, por exemplo,

através da construção de aterros, pontes, drenagem inadequada, ou ainda em

função de entupimentos de condutos e assoreamentos (PMPA/IPH, 2005).

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O segundo processo tratado, inundações devido à urbanização, é o de maior

interesse para esse trabalho e ocorre devido à excessiva impermeabilização do solo

através de telhados, de ruas e de pátios calçados, entre outros, pois a água que em

um cenário de pré-urbanização infiltrava no solo, recarregava o lençol freático ou

percolava até encontrar um corpo hídrico receptor, não mais o faz. Ainda, aquele

escoamento superficial lento, que ficava retido pelas plantas, devido à urbanização,

passa a escoar através de canais artificiais, condutos, sarjetas, entre outros. Assim,

os principais efeitos da urbanização quanto ao escoamento da água da chuva são o

aumento da vazão máxima, a antecipação do pico e o aumento do volume do

escoamento superficial. Um efeito secundário desse processo é a redução da vazão

no período de estiagem em pequenos rios em função dos aquíferos não serem

recarregados pela diminuição da infiltração da água no solo (TUCCI, 1995).

As enchentes ampliadas pelo processo de urbanização ocorrem geralmente

em bacias de pequeno porte (de alguns quilômetros quadrados). A combinação do

impacto de diferentes aglomerações urbanas produz o aumento da ocorrência de

enchentes a jusante, devido à sobrecarga da drenagem secundária (condutos) sobre

a macrodrenagem. Dessa forma, as consequências da expansão urbana sem

planejamento e regulamentação são sentidas em praticamente todas as cidades de

médio e grande porte no país (TUCCI, 1995). Villanueva et al. (2011) expõem que

um condicionante crítico no Brasil é que frequentemente a drenagem urbana procura

solucionar problemas em áreas total ou parcialmente urbanizadas, e isso limita as

medidas disponíveis, seja por questões físicas (quando não há espaço disponível

para áreas de armazenamento ou infiltração de água), legais (quando o direito

adquirido impede de modificar o que existe no local) ou sociais (quando os morados

não gostam das soluções propostas).

3.2 Sistemas de Drenagem: concepção, evolução e conceitos atuais

3.2.1 Drenagem convencional: conceito higienista

Devido ao processo de urbanização ocorrido a partir do século XIX e ao

avanço do conhecimento na área da saúde, ficou claro o papel sanitário das águas

pluviais como transmissor de doenças. Assim, criou-se o conceito higienista que

previa a rápida evacuação das águas pluviais através de áreas impermeabilizadas e

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sistemas de condutos artificiais. Ainda, quando se observou a contaminação dos

corpos receptores dessas águas, criaram-se técnicas para dar manutenção à sua

qualidade com o uso de estações de tratamento (SOUZA; CRUZ; TUCCI, 2012).

Allasia, Tassi e Gonçalves (2011) descrevem o engenheiro Saturnino de Brito

como um revolucionário no campo do saneamento dentro do conceito higienista por

apresentar argumentos sólidos a favor do sistema separador absoluto no final do

século XIX (até então, os mesmos condutos transportavam esgotos pluviais e

sanitários em um sistema combinado). Ele adaptou técnicas importadas de

drenagem ao regime pluviométrico tropical e inovou ao apresentar um projeto para a

cidade de Belo Horizonte, com a configuração da cidade respeitando o sistema

natural de drenagem. Gorski (2010, p. 57) descreve a visão abrangente e integrada

dos recursos hídricos do engenheiro Saturnino de Brito ao fazer o plano de

saneamento para a cidade de Santos, no início do século XX, “cuja meta era sanar,

embelezar e prever a expansão da cidade em um único plano”.

Conforme Tucci (1995), existe uma tendência em tentar reduzir os impactos

das cheias devido à urbanização canalizando-se os trechos críticos. Contudo, essa é

uma solução pontual que segue o conceito higienista e penaliza localidades a

jusante com aumento da magnitude e frequência das inundações nesses locais.

3.2.2 Melhores Práticas de Gestão – BMP

Nas últimas décadas, notou-se uma crescente preocupação ambiental e o

surgimento de questionamentos quanto ao impacto nos corpos receptores do

contínuo transporte a jusante das águas pluviais seguindo o conceito higienista. Em

resposta a essas preocupações, segundo Urbonas e Stahre (1993), algumas

comunidades optaram por incentivar o controle da drenagem pluvial na fonte

geradora de escoamento através de métodos compensatório de manejo de águas

pluviais (conhecido como Best Management Practices – BMP, ou Melhores Práticas

de Gestão) que visam compensar os efeitos da impermeabilização das superfícies.

Esses métodos utilizam dispositivos que têm a finalidade de armazenamento

e infiltração, e consideram a bacia hidrográfica como unidade de planejamento.

Allasia, Tassi e Gonçalves (2011) enfatizam que, dentro da abordagem de métodos

compensatórios, aplicam-se dispositivos com objetivos múltiplos, como a utilização

de bacias de detenção, que permitam lazer e recreação, e pavimentos permeáveis,

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que, além de promoverem infiltração e tratamento de escoamento superficial,

desempenham a sua função de veiculação de automóveis. Esses autores

descrevem ainda que é necessário observar alguns pontos das BMPs no que se

refere à ausência de controle adequado de resíduos sólidos urbanos, esgotos

sanitários e cargas poluidoras presentes no escoamento pluvial. A retenção de água

com qualidade degradada pelos pontos supracitados pode gerar inconvenientes, tais

como doenças de veiculação hídrica e odor desagradável, à população (SOUZA;

CRUZ; TUCCI, 2012).

Porto Alegre – Rio Grande do Sul é uma cidade pioneira na gestão das águas

pluviais (esse é um dos principais motivos da realização deste trabalho utilizando-se

um loteamento nesta localidade), sendo um dos primeiros municípios brasileiros a

implantar um plano diretor de drenagem urbana. Villanueva et al. (2011, p. 7)

registram que os Planos Diretores de Drenagem Urbana de Porto Alegre tiveram

início em 1999, quando o Departamento de Esgotos Pluviais determinou a

elaboração deles visando “definir diretrizes técnicas e ambientais para a abordagem

dos problemas de drenagem da cidade.” Os Planos basearam-se em não transferir

os efeitos da urbanização para jusante na bacia hidrográfica através do uso de

dispositivos de controle de escoamento pluvial, normalmente concebidos com obras

estruturais, sendo por essa razão conhecidos como medidas estruturais.

As medidas estruturais de controle de inundações podem ser classificadas de

acordo com a sua ação na bacia hidrográfica em: na fonte, quando o controle é

realizado no lote; na microdrenagem, quando o controle é realizado sobre o

hidrograma resultante de um ou mais loteamentos, e; na macrodrenagem, quando o

controle é feito sobre hidrogramas nos principais riachos urbanos, galerias, tubos,

entre outros.

O controle na fonte pode utilizar diferentes dispositivos que constituem

métodos compensatórios e que, de acordo com o princípio de funcionamento

(PMPA/IPH, 2005):

Aumentam a área de infiltração, a exemplo de valos, poços e bacias de

infiltração, pavimentos impermeáveis, entre outros;

Armazenam temporariamente a água, a exemplo de bacias de

detenção, captação e aproveitamento de água de chuva, entre outros.

Neste contexto de controle na fonte, um documento importante para a gestão

das águas urbanas no município de Porto Alegre é o Decreto Nº 15.371, de 17 de

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novembro de 2006, que regulamenta o controle da drenagem urbana (Prefeitura

Municipal de Porto Alegre, 2006). Este documento visa prevenir o aumento das

inundações devido à impermeabilização do solo e canalização dos arroios naturais,

e decreta, entre outros itens, que “toda a ocupação que resulte em superfície

impermeável, deverá possuir uma vazão máxima específica de saída para a rede

pública de pluviais igual a 20,8 L/(s.ha).” (Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2006,

p. 1). Ainda, são estabelecidas regras para a quantificação da área de drenagem a

ser utilizada para se calcular a vazão máxima de saída. O Decreto permite a

redução da área a ser contabilizada quando aplicadas algumas ações

compensatórias.

3.2.3 Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto - LID

Como consequência do estabelecimento de novas aglomerações urbanas,

nota-se que a magnitude das mudanças hidrológicas é amplificada conforme o

armazenamento natural de água é perdido, a quantidade de superfícies

impermeabilizadas aumenta, o tempo de concentração diminui e o grau de

canalizações aumenta. Visando reduzir os impactos da excessiva impermeabilização

do solo, surgiram as técnicas conhecidas como Low Impact Development – LID,

Sustainable Drainage Systems – SUDS, ou Desenvolvimento Urbano de Baixo

Impacto. Essas técnicas procuram alcançar o controle das águas pluviais através da

criação de paisagens hidrologicamente funcionais que imitam o regime hidrológico

natural. Esse objetivo é alcançado através de (PRINCE GEORGES COUNTY, 1999):

Redução dos impactos da água da chuva tanto quanto possível. As

técnicas apresentadas incluem a redução da impermeabilização, a

conservação dos recursos naturais, a manutenção dos cursos naturais

de drenagem e a redução do uso de canalizações;

Fornecimento de medidas de armazenamento de água pluvial

dispersas uniformemente ao longo de toda a paisagem. Isso é feito

com o uso de uma variedade de práticas de detenção, retenção e

escoamento;

Manutenção do tempo de concentração de pré-desenvolvimento. Isso é

promovido através de estratégias de encaminhamento de fluxo que

mantenham o tempo de viagem e controlem a descarga de água;

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Implementação de programas de educação efetivos que encorajem os

donos das propriedades a utilizarem medidas preventivas para a não

poluição e para a manutenção de práticas de gerenciamento na fonte

com funções hidrológicas e paisagísticas.

Assim, a principal diferença entre LID e BMP é que, enquanto as técnicas

BMP buscam compensar os efeitos da impermeabilização das superfícies com o uso

de dispositivos de infiltração e armazenamento, as técnicas LID se utilizam de

dispositivos similares, com acréscimo de vegetação diversificada, de modo a se

proporcionar maior potencial paisagístico e apelo ambiental. Assim, possibilita-se

que os processos químicos, físicos e biológicos que ocorrem nos ambientes onde os

dispositivos LID estejam inseridos, sejam similares aqueles de pré-ocupação.

Controladores LID específicos chamados Integrated Management Practices –

IMP, ou Práticas de Gerenciamento Integradas, podem reduzir o escoamento

integrando controladores de escoamento ao longo da paisagem em pequenas e

discretas unidades. IMPs são distribuídas em pequenas porções em cada lote,

próximo à fonte dos impactos, praticamente eliminando a necessidade de BMPs

centralizadas como, por exemplo, uma bacia de detenção (PRINCE GEORGES

COUNTY, 1999). Através desse processo, pode-se projetar um local integrado ao

meio ambiente e que mantém as características hidrológicas de pré-

desenvolvimento.

Alguns poucos conceitos que definem a essência das tecnologias de

desenvolvimento de baixo impacto devem ser integrados ao processo de

planejamento para que se produza um projeto bem sucedido e viável. Estes

conceitos são tão simples que tendem a ser menosprezados, mas, sua importância

não pode ser negligenciada. Esses conceitos fundamentais incluem (VILLANUEVA

et al., 2011):

Utilizar a hidrologia como um acessório de integração, sendo a bacia

hidrográfica uma unidade de planejamento;

Pensar em forma de micro gestão, agindo de modo preventivo;

Controlar a água da chuva na fonte, com transferência zero de

impactos a jusante;

Utilizar métodos simples, estruturais e não estruturais de forma

integrada;

Promover a participação pública;

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Criar uma paisagem multifuncional.

Desse modo, busca-se a redução do impacto gerado pela urbanização de

modo a manter as condições hidrológicas como sendo aquelas de pré-ocupação dos

locais urbanizados, promovendo o correto uso do solo.

Prince George’s County (1999) apresenta passos a serem seguidos no

processo de planejamento de locais com LID. Os passos são:

Passo 1: Identificar o zoneamento aplicável, o uso do solo, subdivisões

e outros reguladores locais;

Passo 2: Definir os locais a serem protegidos;

Passo 3: Utilizar a hidrologia e a drenagem natural como elementos de

projeto;

Passo 4: Reduzir ou minimizar o total de áreas impermeáveis;

Passo 5: Integrar os projetos preliminares do local;

Passo 6: Minimizar as conexões diretas entre áreas impermeáveis;

Passo 7: Modificar ou aumentar os trajetos de escoamento devido à

drenagem;

Passo 8: Comparar hidrologicamente os cenários de pré e pós

desenvolvimento;

Passo 9: Finalizar o projeto com técnicas de baixo impacto.

O uso de LID diferencia-se dos demais métodos devido à antecipação do

planejamento da drenagem pluvial ao projeto arquitetônico-estrutural de

empreendimentos, apresentando “máxima eficiência na manutenção dos processos

hidrológicos, respeitando caminhos naturais de drenagem e privilegiando a

preservação de solos mais permeáveis” (ALLASIA; TASSI; GONÇALVES, 2011, p.

59). Contudo, ainda segundo esses autores, restrições locais como altura do lençol

freático, altura do leito rochoso, espaço físico e características do solo, por exemplo,

podem limitar o uso de LID exigindo que sejam utilizadas concomitantemente

práticas compensatórias ou higienistas, como detenções e condutos,

respectivamente.

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3.3 Modelagem computacional como ferramenta auxiliar ao dimensionamento

de redes de drenagem – Modelo SWMM

Segundo US EPA (2010a), o SWMM – Storm Water Management Model é um

modelo dinâmico de simulação chuva-vazão utilizado para evento único ou para

simulação contínua de quantidade e qualidade de água principalmente em áreas

urbanas, desenvolvido e mantido pela U. S. Environmental Protection Agency. A

componente vazão do SWMM trabalha com um conjunto de sub-bacias que

recebem a precipitação e, a partir disso, geram cargas de poluentes e escoamento.

Este software considera as sub-bacias como unidades hidrológicas cujos elementos

topográficos e de drenagem direcionam o escoamento superficial para um único

ponto de descarga. Assim, o usuário é responsável por discretizar a área estudada

em um número apropriado de sub-bacias e por identificar os exutórios de cada sub-

bacia. Os exutórios podem ser tanto nós do sistema de drenagem como outras sub-

bacias.

As unidades de armazenamento são consideradas nós do sistema de

drenagem e são objetos muito importantes para esse estudo, pois fisicamente

podem representar instalações de armazenamento pequenas, como bacias de

detenção, ou grandes, como um lago. As propriedades volumétricas da unidade de

armazenamento são descritas por uma função ou tabela de área superficial por

altura.

O SWMM utiliza ainda algumas classes de objetos, os quais não podem ser

visualizados, para descrever características e processos da área em estudo. Um

exemplo disso é a temperatura do ar, que é utilizada em simulações de processos

de precipitação de neve e derretimento de gelo nos cálculos de escoamento.

Informações de temperatura também podem ser utilizadas para computar taxas de

evaporação diárias. A evaporação pode ocorrer por haver água parada na superfície

de bacias, por água subterrânea em aquíferos ou por água retida em unidades de

armazenamento. Assim, a taxa de evaporação pode ser declarada como um valor

constante, uma série de valores médios mensais, uma série de valores diários

definidos pelo usuário e valores calculados a partir de dados de temperatura.

As técnicas LID são consideradas, pelo SWMM, como propriedades das sub-

bacias, similar a como são tratados os aquíferos e os pacotes de neve. O software

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modela explicitamente cinco diferentes tipos genéricos de controladores LID, os

quais são:

Células de Biorretenção, as quais são depressões que contêm

vegetação cultivada em uma mistura de solo colocada sobre uma

camada de cascalho com função drenante. Esses dispositivos

fornecem armazenamento, infiltração e evaporação tanto da água da

chuva como do escoamento superficial capturado das áreas vizinhas.

Jardins de chuva, plantações na rua e telhados verdes são variações

das células de biorretenção;

Trincheiras de Infiltração, as quais são valas estreitas preenchidas com

material britado que recebem o escoamento. Elas proporcionam

armazenamento de água e tempo adicional para que haja infiltração no

solo, pelo fundo e paredes da mesma;

Pavimentos Permeáveis, que são áreas escavadas preenchidas com

material britado e pavimentadas, na parte superior, com material

poroso. Com isso, a água passa por entre os poros do pavimento, é

armazenada na camada de material britado e infiltra no solo;

Cisternas de Chuva (ou barris), que são recipientes que armazenam o

escoamento coletado a partir do telhado durante o evento chuvoso.

Essa água pode ser simplesmente liberada ou utilizada;

Valos de Infiltração, que são canais ou depressões com taludes

cobertos com grama ou outra vegetação. Eles retardam o escoamento

e permitem que a água tenha mais tempo para infiltrar no solo sob a

estrutura.

Células de biorretenção, trincheiras de infiltração e sistemas de pavimentos

permeáveis podem conter sistemas de drenos opcionais na sua camada de material

britado para transferir a água para fora da estrutura ao invés de deixá-la infiltrar,

atuando simplesmente como estrutura de armazenamento; esse mesmo efeito é

obtido quando o solo abaixo da estrutura for impermeabilizado ou estiver bastante

compactado.

Os dispositivos LID são representados dentro do SWMM por uma combinação

de camadas verticais cujas propriedades são definidas por unidade de área. Assim,

durante a simulação é feito um balanço entre as camadas e medido o quanto de

água é armazenado ou infiltra em cada camada (US EPA, 2010a).

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3.4 Dispositivos LID e BMP utilizados neste trabalho

Os dispositivos LID escolhidos para este trabalho foram limitados em função

do software SWMM. Este software utiliza os dispositivos Célula de Biorretenção

(Figura 1), Pavimento Permeável (Figura 2), Barril de Chuva (Figura 3), Trincheira de

Infiltração (Figura 4) e Valo de Infiltração (Figura 5) como uma forma de abranger

todos os outros dispositivos LID e BMP existentes. Assim, para se utilizarem outros

dispositivos, ter-se-ia que adaptar os cinco modelos fornecidos, agregando possíveis

erros à simulação. Nesse trabalho serão utilizadas ainda bacias de detenção (Figura

6), simuladas no SWMM como unidades de armazenamento, visando múltiplos usos.

Figura 1. Área de biorretenção utilizada em um estacionamento no Condado de Stanfford, VA, EUA. Fonte: US EPA, 2010b

Os dispositivos LID e BMP, conforme discutido, funcionam com base no

armazenamento, na infiltração ou em ambas as técnicas. De modo geral, não se

recomenda a infiltração da água no solo quando, em relação à superfície de

infiltração (URBONAS; STAHRE, 1993): a profundidade do lençol freático em

período chuvoso é menor ou igual a 1,20 m; existe uma camada impermeável a

menos de 1,20 m; os solos superficiais e subsuperficiais são classificados, segundo

o a classificação do Serviço de Conservação do Solo dos Estados Unidos (SCS),

como pertencentes ao grupo hidrológico D (quando a taxa de infiltração no solo é

inferior a 7,6 mm/h). Ainda, esses autores não recomendam a percolação no solo

nas mesmas condições em que não recomendam a infiltração com o acréscimo da

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presença de solos pertencentes ao grupo hidrológico C (pela classificação do SCS)

ou quando a condutividade hidráulica dos solos saturados for menor que

No item 3.3 já foi apresentada a descrição de US EPA (2010a) dos

dispositivos utilizados. Assim, a seguir é descrito de maneira mais abrangente como

funcionam esses dispositivos.

Figura 2. Pavimento permeável em Chicago, IL, EUA, para possibilitar a infiltração da água no solo. Cortesia de David Leopold. Fonte: US EPA, 2010b

Figura 3. Barril de chuva utilizado em Santa Mônica, CA, EUA, para proporcionar o uso de

água da chuva e para reduzir a poluição que é levada pelo escoamento superficial até a praia. Fonte:

US EPA, 2010b

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Figura 4. Trincheira de infiltração. Adaptado de: FHWA, 2001

3.4.1 Barris de Chuva (ou Microrreservatórios)

Funcionando com base no armazenamento de água, os microrreservatórios

(Figura 3) proporcionam a redução do escoamento superficial e a possibilidade de

uso da água da chuva, para, por exemplo, irrigação, limpeza de calçadas, carros,

entre outros.

Os microrreservatórios possuem suas características dimensionais

restringidas pelas cotas da rede de drenagem existente ou a ser construída. No

entanto, não há restrições fixas quanto ao seu volume e área superficial, ficando

esses valores restringidos apenas ao custo-benefício da adoção do dispositivo.

Assim, possuindo custo adequado ao seu benefício e cotas tais que

possibilitem o escoamento de água (quando necessário) para à rede de drenagem

ou para outros usos, os microrreservatórios poderão se localizar sob ou sobre a

terra. Quando sob a terra, será necessário que o dispositivo encontre-se dentro de

uma estrutura de concreto armado ou que o próprio reservatório seja em concreto

armado ou outro material adequado, sendo capaz de resistir às ações que possam a

solicitá-lo, como o peso do solo sobre o dispositivo, pessoas e carros circulando,

empuxo de terra, entre outros.

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3.4.2 Trincheira de infiltração

As trincheiras de infiltração (Figura 4) infiltram o volume de água coletado no

solo nativo através da superfície do fundo e das laterais do dispositivo. Também, são

preenchidos com cascalho, pedras, ou outro material que proporcione vazios que

drenem a água à jusante.

Os critérios de projeto, conforme CIRIA (2007), são:

As trincheiras são escavadas entre 1 e 2 m e preenchidas com

agregados;

Funcionam como pré-tratamento com a remoção de sedimentos e

outros materiais finos;

A infiltração não deve ser utilizada onde a água subterrânea é

vulnerável ou para sanar problemas de poluição;

Devem ser colocados poços de observação e acesso para manutenção

de componentes.

Um bom uso de trincheiras de infiltração é adjacente às superfícies

impermeáveis, como rodovias e ruas, por exemplo. Contudo, esses dispositivos são

de uso exclusivo para locais com pouca declividade (menor ou igual a 2%), já que

são necessárias pequenas velocidades de escoamento. CIRIA (2007) recomenda o

uso de eventos de chuva de projeto variando entre 30 e 100 anos de recorrência.

Esses dispositivos são dimensionados para vazões intermitentes e não podem ser

colocados em locais com fluxo contínuo de água. Uma boa técnica é utilizar uma

faixa de grama em ambos os lados da trincheira permitindo que sedimentos sejam

filtrados por essas faixas e não colmatem o dispositivo (URBONAS; STAHRE, 1993).

Podem ainda ser utilizadas trincheiras de percolação que são idênticas às de

infiltração sem a consideração da infiltração nas superfícies em contato com o solo

nativo. Assim, esses dispositivos funcionam armazenando parte da água do evento

e destinando-a até uma rede de drenagem ou corpo receptor.

3.4.3 Valos de Infiltração

Os valos de infiltração são usualmente colocados paralelos às ruas, estradas,

estacionamentos, entre outros. Nesses dispositivos, o fluxo das áreas adjacentes é

concentrado e se criam condições para infiltração ao longo do seu comprimento

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agindo como canais, armazenando e transportando água para outros dispositivos de

drenagem (PMPA/IPH, 2005).

A capacidade de infiltração desse dispositivo depende do nível do lençol

freático, da porosidade do solo, da carga de sólidos suspensos no escoamento

superficial da chuva e da densidade da vegetação presente na superfície.

Esses dispositivos utilizam o tempo de residência e o crescimento da

vegetação para reduzir a vazão de pico e fornecer tratamento da qualidade de água

(PRINCE GEORGES COUNTY, 1999). Assim, CIRIA (2007) recomenda como

critérios de projeto que:

Deve-se limitar a velocidade de escoamento para eventos extremos em

1 m/s, dependendo do tipo de solo, visando prevenir a erosão;

Deve-se manter a altura do escoamento em eventos frequentes abaixo

do topo da vegetação que reveste o dispositivo (próximo a 100 mm);

Declividade máxima para os taludes de 1H:3V quando o tipo de solo

apresenta condições de estabilidade;

Mínima largura de base igual a 50 cm.

Para aperfeiçoar esse processo e a infiltração da água no solo, recomenda-se

a instalação de pequenas contenções ao longo do comprimento, transversal ao

sentido do escoamento, quando a declividade for superior a 2% (URBONAS;

STAHRE, 1993).

Frequentemente não é possível infiltrar todo o escoamento utilizando-se

apenas valos e superfícies de infiltração, mesmo quando as condições geológicas e

as características do solo são favoráveis. Isso ocorre em função de a área de

contribuição de escoamento ser muito grande quando comparado com a área

disponível para infiltração. Apesar disso, mesmo que só uma pequena parte do

evento de projeto infiltre no solo, valos e superfícies de infiltração pertencem ao

grupo de BMPs que auxiliam na redução do volume de escoamento e, como

resultado, reduzem a quantidade de poluentes que seriam destinados ao corpo

hídrico receptor (URBONAS; STAHRE, 1993). Estes autores limitam um pouco mais

do que CIRIA (2007) a velocidade de escoamento para valos e superfícies de

infiltração, sugerindo que a velocidade do escoamento seja da ordem de 0,3 m/s ou

menor, facilitando a decantação dos sedimentos próximo a sua fonte.

Um caso especial de valo de infiltração apresentado por Urbonas e Stahre

(1993) é a instalação de uma trincheira de percolação junto ao valo de infiltração,

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conforme Figura 5, por todo o seu comprimento. Sugere-se a consideração de

eventos de precipitação com 2 anos de tempo de recorrência. Assim, a água entra

na trincheira pelo seu topo através da superfície de uma camada de areia que serve

como filtro. Para reduzir a chance do filtro de areia e da trincheira de percolação

colmatarem, a água deve escoar primeiro por faixas de grama, que irão reter parte

dos sedimentos.

Figura 5. Detalhes do Valo de Infiltração com Trincheira de Percolação auxiliar. Adaptado de:

Urbonas e Stahre, 1993 (apud PMPA/IPH, 2005)

Quando os valos são dimensionados para que a água seja filtrada e infiltrada,

CIRIA (2007) sugere que a lâmina de água seja mantida abaixo do nível máximo da

vegetação (entre 10 e 15 cm) e que o evento de projeto seja calculado de ano a ano

e com 30 minutos de duração. O coeficiente de rugosidade aplicado à equação de

Manning deve ser utilizado como sendo 0,25 quando o nível de água estiver abaixo

do topo da vegetação e, para eventos extremos, quando o nível da água estiver

acima do topo da vegetação, o valor do coeficiente de rugosidade pode ser utilizado

igual a 0,10 para quase todos os tipos de gramas. O critério que deve ser utilizado

para eventos extremos é tempo de recorrência entre 30 e 100 anos e drenos

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subterrâneos com capacidade em torno de 2 L.s-1.ha-1 para permitir que o sistema

suporte cenários de múltiplos eventos.

3.4.4 Bacias de Detenção

Esses dispositivos são estruturas de acumulação temporária de água (Figura

6) ou de infiltração. Baptista, Nascimento e Barraud (2005) descrevem três funções

básicas das bacias de detenção diretamente ligadas à drenagem de águas pluviais:

Amortecer as cheias geradas como forma de controle de inundações;

Reduzir volumes de escoamento superficial (no caso de bacias de

infiltração) e;

Reduzir a poluição difusa de origem pluvial.

Figura 6. Bacia de detenção em Porto Alegre a céu aberto com e sem infiltração. Fonte:

Allasia, Tassi e Gonçalves, 2011

A redução da poluição é feita de maneira muito simples nesses dispositivos.

Esta se baseia na sedimentação dos poluentes, de modo que a água, ao

permanecer estocada por certo tempo, após estar dentro da bacia, tem boa parte

dos sólidos suspensos sedimentados. Com isso, vai à rede de drenagem uma água

com qualidade muito superior àquela que escoou pela rede para dentro do

dispositivo.

As bacias de detenção, dimensionadas de acordo com suas funções básicas,

podem ser encontradas em diversas configurações, como a céu aberto (com

espelho d’água permanente, secas ou em zonas úmidas), subterrâneas ou cobertas

(BAPTISTA; NASCIMENTO; BARRAUD, 2005). Alguns autores, como Urbonas e

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Stahre (1993) diferenciam bacias de detenção de bacias de infiltração em função da

sua operação de controle de saída de água.

Qualquer tipo de reservatório, seja de detenção ou de retenção, possui seus

níveis limitados pela rede de drenagem existente ou a ser implantada. Como mostra

a Figura 6, podem ser proporcionados usos múltiplos para as bacias de detenção,

como quadras de esportes, por exemplo. Ainda, visando ao melhor aproveitamento

da área onde este dispositivo ficará inserido, pode-se construir os reservatórios sob

estacionamentos ou outras obras de grande área superficial.

As bacias de infiltração podem constituir-se de grandes áreas gramadas ou

de uma praça revestida com areia, a que possui alta taxa de permeabilidade. Dessa

forma, diz-se que os métodos construtivos variam muito em função de cada projeto.

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4 MATERIAIS E MÉTODOS

Para este trabalho, foi selecionada uma microbacia dentro do município de

Porto Alegre – Rio Grande do Sul. Nesse local, foi planejado um loteamento onde foi

avaliada a aplicabilidade de diferentes técnicas de controle do escoamento pluvial,

apresentadas nesse trabalho.

Seguindo o princípio de aplicação de técnicas de LID, foi realizada uma

revisão bibliográfica a respeito de métodos de dimensionamento, e os dispositivos

selecionados foram dimensionados. Na sequência, foi realizada uma modelagem

com a aplicação do modelo SWMM, onde o sistema de drenagem não convencional

do loteamento foi representado, a qual permitiu avaliar o comportamento hidrológico

do local em uma condição de regime de escoamento não permanente.

Optou-se por não utilizar células de biorretenção nesse trabalho pelo fato de

não se ter encontrado, nas bibliografias estudadas, metodologias de

dimensionamento que permitissem a avaliação do SWMM. Ainda, não foram

utilizados pavimentos permeáveis em função de as vias do loteamento possuírem

tráfego de caminhões (caminhões de lixo, caminhões de mudanças, entre outros) e,

portanto, serem mais facilmente danificadas durante o seu uso.

Os itens a seguir descrevem os procedimentos utilizados.

4.1 Local de estudo

O município de Porto Alegre foi escolhido como sede para o estudo pelo seu

pioneirismo no que se refere à normalização e a manuais quanto à drenagem

pluvial, conforme apresentado no item 3.2.2. O loteamento estudado (Figura 7), com

área aproximada de 4,8 ha, está localizado no bairro Aberta dos Morros, com frente

(e acesso principal) para a Estrada Gedeon Leite. O loteamento encontra-se dentro

de uma sub-bacia do Arroio do Salso, com área aproximada de 9371 ha.

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Figura 7. Contorno do loteamento sobre imagem de satélite. Adaptado de: Google Earth

O tipo de solo que prevalece no loteamento é uma associação de planossolo

hidromórfico, gleissolo hápico e plintossolo argilúvico, havendo uma pequena porção

de terra onde o solo é uma associação de gleissolo háplico e planossolo

hidromórfico (com base em dados obtidos do Laboratório de Geoprocessamento da

Universidade Federal de Porto Alegre – LABGEO/UFRGS). Gonçalves, Silva e Risso

(2007) apresentam a distribuição dos tipos de solo na cidade de Porto Alegre,

conforme Tabela 1. Com isso, percebe-se a predominância de solos pertencentes

aos Grupos Hidrológicos C e D, em especial ao Grupo D, corroborando com os

resultados apresentados do LABGEO.

Tabela 1. Distribuição dos Grupos Hidrológicos na cidade de Porto Alegre. Fonte: Gonçalves,

Silva e Risso, 2007

Tipo de Solo Área (km²) Frequência

A 0,00 0,00%

B 81,41 17,10%

C 121,03 25,43%

D 273,56 57,47%

Total 476,00 100,00%

Segundo Sartori, Lombardi Neto e Genovez (2005), esses solos enquadram-

se no Grupo Hidrológico D, conforme classificação do SCS, que corresponde aos

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solos com maior capacidade de geração de escoamento superficial. As

características apresentadas por esses autores para esse Grupo Hidrológico são:

Taxa de infiltração muito baixa e pouca resistência à erosão. A taxa

mínima de infiltração é inferior a 1,27 mm/h, segundo Mockus, (1972

apud SARTORI; GENOVEZ; LOMBARDI NETO, 2005);

Solos rasos, com profundidade menor que 50 cm;

Solos argilosos associados à argila com alto potencial de expansão;

Solos orgânicos.

Sartori, Genovez e Lombardi Neto (2005) apresentam a Tabela 2 adaptada de

TR-55 (1986), com valores de Curve Number (CN) para cada Grupo Hidrológico.

Assim, o CN médio de um local pode ser estimado relacionando os diversos

complexos hidrológicos solo-cobertura da terra presentes na bacia hidrográfica e os

valores de CN presentes na Tabela 2 (sendo esses valores referentes a condições

de umidade antecedente AMC-II). Com base na tabela apresentada, considerando-

se que a área é urbana e o Grupo Hidrológico do solo é D, classifica-se o uso do

solo como “fazendas e chácaras (área urbana)” e se chega ao valor 86 para o CN

médio.

Tabela 2. Valores do CN determinado para cada Grupo Hidrológico. Adaptado de: TR-55,

1986 (apud SARTORI; GENOVEZ; LOMBARDI NETO, 2005)

Uso do Solo Condição

Hidrológica

Grupo Hidrológico do Solo

A B C D

Plantios em linha (cana-de-açúcar) Má

Boa

66

62

74

71

80

78

82

81

Capoeira e mata ciliar Média 35 56 70 77

Plantios em linha (culturas anuais) Má

Boa

70

65

79

75

84

82

88

86

Pastagem Média 49 69 79 84

Reflorestamento Média 36 60 73 79

Fazendas e chácaras (área urbana) - 59 74 82 86

Terra arada - 77 86 91 94

Foi desconsiderado o volume de água de uma área de contribuição de

aproximadamente 221 ha em função dessa água já ser drenada através de

condutos, conforme observado em cadastro da rede de drenagem fornecido pelo

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Departamento de Esgotos Pluviais de Porto Alegre. Assim, a única área a ser

considerada para o dimensionamento da rede de drenagem é a área do próprio

loteamento.

Gonçalves, Silva e Risso (2007) produziram um mapa com os parâmetros CN

para Porto Alegre, que foi utilizado nesse trabalho para confirmar o valor estimado a

partir dos trabalhos de Sartori, Lombardi Neto e Genovez (2005), e concluíram que

aproximadamente 83% da cidade apresentam valores de CN superiores a 75, o que

caracteriza as bacias de Porto Alegre como bacias de média e alta capacidade de

geração de escoamento superficial, devido “aos percentuais de áreas

impermeabilizadas resultantes da urbanização e também à predominância de solos

com pouca capacidade de infiltração” (GONÇALVES; SILVA; RISSO, 2007, p. 9).

Como discutido no item 3.4, não é recomendada a promoção da infiltração da

água em solos do grupo D nem a percolação da água em solos dos grupos C e D.

Com isso, ao observar a Tabela 1, nota-se certa dificuldade em utilizar dispositivos

LID em Porto Alegre.

Para esse estudo, considerou-se que o solo pertence ao Grupo Hidrológico C,

já que não foi possível realizar o ensaio de infiltração de água no solo e não é

indicado utilizar infiltração de água em solos deste grupo hidrológico (Urbonas e

Stahre, 1993). Assim, assumiu-se que a taxa de infiltração é 6,35 mm.h-1, conforme

dados apresentados por PMPA/IPH (2005) (Tabela 3). Como esse valor não foi

medido, e sim, selecionado, não foi corrigido por qualquer coeficiente de segurança.

Quanto ao valor de CN, foi considerado 82, conforme a Tabela 2, para Fazendas e

chácaras (área urbana).

Tabela 3. Valores típicos de taxa de infiltração por grupo hidrológico. Fonte: PMPA/IPH, 2005

Grupo Hidrológico

do Solo

Taxa de Infiltração (mm/h)

Io (inicial) Ib (solo saturado)

A 254,0 25,4

B 203,2 12,7

C 127,0 6,35

D 76,2 2,54

A Figura 8 mostra o loteamento em estágio de pré-ocupação. Nessa figura,

observam-se 3 grandes manchas de vegetação (com predominância de eucaliptos),

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uma rua diretriz no sentido norte-sul (Diretriz 6356) e uma rua diretriz no sentido

leste-oeste (Diretriz 7182). Ao sul do loteamento em estudo, há o loteamento

Residencial Lagos de Ipanema (já executado), cuja rede de microdrenagem poderá

representar restrição à rede de drenagem do loteamento em estudo.

Na Figura 8 estão demarcados os fluxos naturais de água. Os fluxos estão

desenhados na cor azul e representam informação importante para a definição da

configuração urbanística deste loteamento, já que, ao se utilizarem as técnicas de

LID, os fluxos naturais de água devem ser respeitados.

As curvas de nível mostram que os planos de escoamento nesta área

convergem no sentido nordeste-sudoeste na maior parte da área. Diferente a isso,

ocorre uma pequena área no extremo nordeste do loteamento onde a água escoa,

naturalmente, no sentido noroeste-sudeste.

4.2 Definição da configuração urbanística do loteamento

O local de implantação do loteamento, em Porto Alegre, pertence à

Macrozona 7 – Restinga, que é um bairro residencial da Zona Sul. A Unidade de

Estruturação Urbana (UEU) onde está localizada a área em estudo é a 8 e a

Subunidade é a 1 (PMPA, 2010).

No Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA) de Porto

Alegre encontram-se os dados quanto ao regime urbanístico (anexo 1.2 do PDDUA),

de densidade bruta (anexo 4 do PDDUA), de atividade (anexo 5 do PDDUA), de

índice de aproveitamento (anexo 6 do PDDUA) e de volumetria das edificações

(anexo 7 do PDDUA). Assim, tem-se que a atividade no loteamento deve ser

predominantemente residencial, com índice de aproveitamento (IA) de 1,0, altura

máxima da edificação de 9 m e taxa de ocupação de 66,6%.

Com base no anexo 8.1 – Padrões para Loteamentos, do PDDUA, têm-se os

seguintes dados para áreas predominantemente residenciais e mistas:

Equipamentos comunitários: deverá ser destinado 18% da área total

para praças, escolas e outros, e 2% da área total para parques;

Malha viária mínima: V. 3.2; V. 3.3; V. 4.2; V. 4.3; V. 4.4 e; V. 4.5,

conforme anexo 9;

Lotes: área mínima de 150,00 m² e testada mínima de 5,00 m;

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30

Quarteirões: face máxima de 200,00 m e área máxima de 22.500,00

m².

Assim, optou-se por utilizar vias V. 4.4, conforme Figura 9. Ainda, vias

alternativas foram projetadas, conforme anexo 9.2, em ruas sem saída dentro do

loteamento (Figura 10).

Figura 8. Loteamento em condição de pré-ocupação. As linhas azuis indicam o fluxo natural de água Sem escala.

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Figura 9. Perfil viário para via local dentro do loteamento. Fonte: PMPA, 2010

Figura 10. Perfil viário para via alternativa dentro do loteamento. Fonte: PMPA, 2010

4.3 Métodos de dimensionamento dos dispositivos LID e BMP

Os métodos de dimensionamento e pré-dimensionamento dos dispositivos

LID utilizados aqui foram retirados de Silveira e Goldenfum (2007), PMPA/IPH

(2005), Urbonas e Stahre (1993) e Tucci (2005). Os passos a serem seguidos para a

quantificação hidrológica, no loteamento, sugeridos por Prince George’s County

(1999) e seguidos nesse trabalho são:

a) Delimitação das áreas das bacias hidrográficas e sub-bacias;

b) Definição da chuva de projeto;

c) Definição das técnicas de modelagem a serem empregadas;

d) Compilação das informações das condições de pré-

desenvolvimento;

e) Avaliação dos valores característicos da condição de pré-

desenvolvimento e dos valores base para o desenvolvimento do

local;

f) Avaliação dos benefícios planejados para o local e comparação

com os benefícios requeridos;

g) Avaliação das práticas de gerenciamento integrado;

h) Avaliação das necessidades suplementares.

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Assim, para definir a chuva de projeto, utilizou-se a equação Intensidade –

Duração – Frequência (IDF) do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), conforme

sugerido por PMPA/IPH (2005) (Equação 1).

(1)

sendo a intensidade em mm.h-1, o período de retorno em anos e a duração do

evento em minutos. Conforme sugerido pelo Manual de Drenagem de Porto Alegre,

o período de retorno utilizado foi 10 anos para todos os dispositivos à exceção das

Bacias de Detenção, e a distribuição temporal para o evento de projeto foi feita com

o Método dos Blocos Alternados (PILGRIM; CORDERY, 1975 apud ZAHED;

MARCELLINI, 1995) com intervalos de tempo iguais a 5 minutos (PMPA/IPH, 2005)

com a posição do pico da chuva em 50% da duração do evento.

Silveira e Goldenfum (2007) apresentam um método de pré-dimensionamento

onde adaptaram o método da curva envelope para diferentes dispositivos de

controle na fonte. Segundo esses autores, no método da curva envelope, a curva de

massa dos volumes afluentes ao dispositivo é comparada com a curva de massa de

volume de efluentes em função do tempo para, então, a máxima diferença de

volume entre as curvas ser tomada como o volume de dimensionamento. Para efeito

de cálculo, os volumes são expressos em lâminas de água equivalentes por área em

planta do dispositivo, sendo que o volume afluente é obtido a partir dos parâmetros

de uma IDF do tipo Talbot (AZZOUT et al., 1994 apud SILVEIRA; GOLDENFUM,

2007), e o volume efluente é obtido pela multiplicação do tempo da vazão de saída

constante do dispositivo.

No entanto, na metodologia apresentada, Silveira e Goldenfum (2007)

desconsideram o controle de poluição e aspectos referentes à localização do

dispositivo, como, por exemplo, as condições de solo suporte. Ainda, admite-se que

os dispositivos de infiltração promovem infiltração no solo de todo o excesso pluvial

a eles destinado (resultando em escoamento superficial nulo), os dispositivos sem

infiltração no solo são dimensionados para liberar o escoamento máximo equivalente

a uma vazão de restrição por hectare (L.s-1.ha-1) e os dispositivos de

armazenamento com infiltração no solo são dimensionados para liberar o

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escoamento máximo equivalente à vazão de restrição sendo a infiltração utilizada

para reduzir as dimensões do dispositivo.

Baptista, Nascimento e Barraud (2005) descrevem a necessidade de

utilizarem-se métodos de simulação para a definição dos hidrogramas

correspondentes aos diversos componentes do sistema e calcular as diferentes

características das estruturas tanto no diagnóstico como na concepção dos projetos.

Assim, esses autores sugerem o Método de Puls para dimensionamento de bacias

de detenção.

O Manual de Drenagem Urbana de Porto Alegre (PMPA/IPH, 2005) adota o

procedimento de CIRIA (1996) para os projetos dos sistemas de infiltração em

planos e para os pavimentos permeáveis. Este Manual e Urbonas e Stahre (1993)

apresentam parâmetros para o dimensionamento de estruturas de infiltração e

percolação em tabelas. Essas tabelas foram utilizadas para a estimativa do valor da

taxa de infiltração (Tabela 3), da condutividade hidráulica do solo (Tabela 4) e da

porosidade efetiva dos materiais da camada de armazenamento dos dispositivos

(Tabela 5).

Tabela 4. Condutividade hidráulica saturada para diferentes tipos de solo. Adaptado de:

Urbonas e Stahre, 1993

Tipo de Solo Condutividade Hidráulica

(m/s)

Cascalho 10-3 – 10-1

Areia 10-5 – 10-2

Silte 10-9 – 10-5

Argila (saturada) <10-9

Solo Cultivado 10-10 – 10-6

Tabela 5. Porosidade específica de típicos materiais rochosos. Fonte: Urbonas e Stahre, 1993

Material Porosidade Efetiva (%)

Rocha dinamitada 30

Cascalho de granulometria uniforme 40

Brita graduada (menor que ¼ pol.) 30

Areia 25

Seixo rolado 15 – 25

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A porosidade efetiva dos materiais permite a determinação do volume

disponível para o armazenamento de água. Assim, como é usual a utilização de brita

grossa para fins similares a esse no sul do Brasil, considerou-se a porosidade

efetiva da rocha dinamitada (30%).

No entanto, caso haja a possibilidade de se fazerem essas medições para a

condutividade hidráulica, Urbonas e Stahre (1993) sugerem que o menor valor de

condutividade encontrado seja o utilizado e, em função da colmatação, seja dividido

por um fator de segurança entre 2 e 3. Sabe-se que o solo do loteamento em estudo

pertence ao grupo hidrológico D devido ao trabalho Gonçalves, Silva e Risso (2007),

contudo, como não é indicado utilizar infiltração de água em solos deste grupo

hidrológico (Urbonas e Stahre, 1993), considerou-se que o loteamento em estudo

possui solo pertencente ao grupo hidrológico C, possibilitando a consideração do

valor 6,35 mm/h para a taxa de infiltração para solo saturado.

Urbonas e Stahre (1993) apresentam um método que permite a obtenção do

volume máximo a partir do método da curva envelope. Esse método se baseia na

determinação dos volumes acumulados de entrada e saída do dispositivo, sendo a

máxima diferença entre esses valores o volume que o dispositivo deverá armazenar.

Em todos os dimensionamentos aqui expostos, considerou-se ocupação dos

lotes em 66,6%, conforme permite o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

Ambiental de Porto Alegre (PMPA, 2010). Ainda, considerou-se a terraplenagem

executada de modo a não permitir que a água escoe para fora do loteamento sem

que seja pela rua principal ou pelas saídas das bacias de detenção. Quanto ao

coeficiente de escoamento, seguindo orientações de Bidone e Tucci (1995), foi

considerado 0,90 para ruas, calçadas e telhados e 0,30 para áreas permeáveis.

Dessa forma, o dimensionamento de cada dispositivo de drenagem foi feito

conforme as metodologias descritas a seguir.

4.3.1 Microrreservatório – Decreto Nº 15.371 (PMPA, 2006)

O Decreto Municipal Nº 15.271 de 2006 prevê que, para manter a vazão de

pré-desenvolvimento, pode ser utilizado um reservatório no lote com volume

calculado pela Equação 2. Essa metodologia pode ser utilizada para áreas com até

100 ha. Essa equação foi feita com base em eventos de projeto de Porto Alegre com

duração de 1 hora e tempo de retorno de 10 anos.

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35

(2)

sendo o volume do reservatório (m³); a área de contribuição (ha), e; a área

impermeável que drena a precipitação para os condutos pluviais (% da área total ).

Assim, os dispositivos de saída devem ser dimensionados hidraulicamente de modo

a esgotar o equivalente à vazão de restrição, no máximo.

Para o dimensionamento dos microrreservatórios nesse trabalho, supõe-se

que os dispositivos são estanques, a área de contribuição é equivalente a área do

lote e o lote possui 66,6% da sua área impermeabilizada.

O descarregador de fundo deve ser dimensionado como um orifício, com o

seu diâmetro definido a partir dos ábacos apresentados no Manual de Drenagem

Urbana de Porto Alegre, página 72, em função da vazão e da máxima carga

hidráulica.

4.3.2 Bacia de Detenção (e Infiltração) – Silveira e Goldenfum (2007)

A obtenção do volume de dimensionamento para a bacia de detenção difere-

se um pouco dos demais em função de considerar-se que o produto do coeficiente

de escoamento pela razão entre a área contribuinte e a área do dispositivo é igual

ao coeficiente de escoamento. Assim, tem-se que

(3)

sendo o volume de dimensionamento (m³.ha-1); , e parâmetros da equação

IDF de Talbot; o coeficiente de escoamento; é o período de retorno em anos, e;

é a vazão de saída constante do dispositivo (mm.h-1), obtido pela Equação 4.

(4)

sendo (mm.h-1) a vazão de restrição ou vazão de pré-desenvolvimento (

para bacias de infiltração); um coeficiente redutor devido à colmatação (sendo

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recomendado valores próximos a 0,5), e; (mm.h-1) a condutividade hidráulica

saturada do solo ( para bacias de detenção com leito impermeável).

Essa metodologia foi aplicada para o dimensionamento da Bacia de

Infiltração. No loteamento aqui estudado, a Bacia de Infiltração a ser implantada

permite múltiplos usos, servindo, quando sem água, como uma praça de brinquedos

para crianças. Assim, na base da Bacia, que possui área igual a 219 m², há uma

camada de areia grossa (com taxa de infiltração superior à do solo). O tempo de

concentração foi definido como sendo 10 minutos.

4.3.3 Bacia de Detenção – Método simulação de Puls, Tucci (2005)

O Método de Puls é o mais conhecido para simulação do escoamento em

reservatórios. É utilizada a equação da continuidade concentrada, sem distribuição

lateral e a relação entre armazenamento e vazão é obtida considerando o nível de

água dentro do reservatório como sendo horizontal (TUCCI, 2005). Assim, utiliza-se

a Equação 5 para simular as trocas ocorridas dentro do reservatório.

(5)

sendo e vazões de entrada no reservatório no instante e ,

respectivamente; e vazões de saída do reservatório em e , e; e

o armazenamento no reservatório.

Como são duas as incógnitas da Equação 1 ( e ), é necessária a

Equação 6 para completar o sistema.

(6)

Assim, Tucci (2005) sugere a simulação do escoamento através do

reservatório com base na Equação 5 e na Equação 6 da seguinte forma:

a. Estabelece-se o volume inicial do reservatório ( ). Assim, é possível calcular

a vazão para o instante inicial ( ) através da Equação 6;

b. Para o próximo intervalo de tempo, determinam-se os termos da direita da

Equação 5;

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c. O termo da direita da Equação 5 deve ser igual à abscissa da Equação 6.

Assim, obtêm-se a vazão ;

d. Como se conhece , é possível obter-se .

Os passos de b à d devem ser repetidos para todos os intervalos de tempo.

As Bacias de Detenção foram simuladas pelo Método de Puls através do

software IPHS-1, versão 11, que conta com esta metodologia de propagação de

vazão em reservatórios dentro da sua programação. Assim, foram feitas 4

simulações, todas com um intervalo de tempo de 5 minutos. As simulações foram as

seguintes: i) Simulação com 48 horas de duração (equivalente a 576 intervalos de

tempo) e chuva de projeto com 24 horas de duração e tempo de recorrência igual a

15 anos; ii) Simulação com 4 horas de duração (equivalente a 48 intervalos de

tempo) e chuva de projeto com 1 hora de duração e tempo de recorrência igual a 15

anos; iii) Simulação com 48 horas de duração (equivalente a 576 intervalos de

tempo) e chuva de projeto com 24 horas de duração e tempo de recorrência igual a

25 anos, e; iv) Simulação com 4 horas de duração (equivalente a 48 intervalos de

tempo) e chuva de projeto com 1 hora de duração e tempo de recorrência igual a 25

anos.

Dessa forma, as simulações “i” e “ii” visam ao dimensionamento dos

dispositivos e as simulações “iii” e “iv” visam a verificar os dispositivos para eventos

mais extremos.

O tempo de concentração, que foi igualado à duração crítica da chuva, foi

estimado pela Equação de Kirpich (SILVEIRA, 2005) considerando os valos de

infiltração como se fossem canais. Os valos foram considerados totalmente

colmatados, como medida de segurança, já que se espera que isso realmente

ocorra com o passar dos anos.

A distribuição temporal da chuva foi feita utilizando-se o Método dos Blocos

Alternados com pico em 50% da duração da chuva, conforme discutido no item 4.3.

A separação do escoamento foi feita pelo Método do Soil Conservation Service

(SCS) com CN igual a 82, como discutido no item 4.1, e a propagação do

escoamento superficial foi feita utilizando-se o Hidrograma Triangular do SCS. Tanto

as metodologias utilizadas para a definição da chuva de projeto como aquelas

utilizadas para a propagação do escoamento estão inseridas na programação do

software IPHS-1.

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38

4.3.4 Valo de Infiltração – CIRIA (1996)

Para que os valos de infiltração funcionem como canais, recomenda-se que a

declividade longitudinal seja inferior a 2% e lateralmente a declividade deve ser da

razão de 1V:4H ou mais plano (PMPA/IPH, 2005). Assim, a Equação 7, retirada de

Holz (2006), permite calcular o comprimento necessário ( ) para infiltrar a taxa

média de fluxo de projeto ( ).

(7)

sendo o comprimento necessário para infiltrar a taxa média de fluxo de projeto ;

a distância vertical da declividade lateral; a distância horizontal da declividade

lateral mais a largura de fundo; a declividade longitudinal; o coeficiente de

rugosidade de Manning; a taxa de infiltração saturada (cm.h-1); a taxa média de

fluxo de projeto (m³.s-1), e; Z é a taxa de declividade lateral (1V:ZH).

Assim, é verificado se, em planta, o comprimento disponível para o valo é

superior ao comprimento necessário calculado através da Equação 7. Sendo

superior, o valo funcionará corretamente como canal.

4.3.5 Trincheira de Infiltração – Urbonas e Stahre (1993)

Primeiro, determina-se o volume de projeto afluente à trincheira ( ) através

da Equação 8, que é obtida a partir do Método Racional. Para o dimensionamento,

consideram-se apenas as áreas impermeáveis como geradoras de escoamento.

(8)

sendo o volume de projeto afluente à trincheira (m³); o coeficiente de

escoamento; a intensidade da precipitação de projeto (L.s-1.ha-1); a duração da

precipitação (h) e; a área da bacia de contribuição (ha). O fator 1,25 acresce em

25% o volume de precipitação de forma a tornar o Método Racional mais preciso ao

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incluir as precipitações que podem ocorrer antes e após o evento de projeto

estudado.

Após, faz-se a estimativa inicial das dimensões da trincheira e se constrói a

curva de volumes acumulados de saída ( ) a partir da Equação 9.

(9)

sendo o volume de saída (m³), a condutividade hidráulica saturada (m/s), que

pode ser obtida na Tabela 4 ou com ensaios em campo e corrigida por um fator de

segurança 2 ou 3, para considerar a colmatação; é a área de infiltração ou

percolação, que é a área das paredes laterais do dispositivo (m²), e; é a duração

da precipitação (h). Essa metodologia não considera a face de fundo do dispositivo

em função da sua rápida colmatação.

Com isso, pode-se identificar a máxima diferença entre as curvas de volume

afluente ( ) e volume de saída da trincheira ( ). Para obter-se o volume mínimo da

trincheira, para então compará-lo com o pré-dimensionado, divide-se a máxima

diferença encontrada entre as curvas de volume pela porosidade do material de

enchimento.

4.4 Definição da máxima vazão efluente do loteamento

São duas as possibilidades de vazão de restrição ao loteamento: aquela

estabelecida pelo Decreto Nº 15.371 e a máxima vazão que o sistema ou corpo

receptor do escoamento suporta.

O Decreto Nº 15.371 estabelece uma vazão de restrição igual a 20,8 L.s-1.ha-

1. Assim, facilmente, multiplicando-se esse valor pela área total do loteamento, sabe-

se a máxima vazão que pode efluir do loteamento.

Jusante a área objeto deste estudo, há um sistema de drenagem já

implantado, pertencente ao Loteamento Residencial Lagos de Ipanema, conforme

plantas cedidas pelo Departamento de Esgotos Pluviais de Porto Alegre. Ainda, há

um corpo hídrico a jusante da área que poderá receber o escoamento desta.

Dessa forma, deverá ser verificada a capacidade de drenagem da estrutura

ou corpo receptor do escoamento gerado pelo Loteamento em estudo. Essa

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40

verificação deverá ser feita através da Equação de Manning (Equação 10). Assim,

deverá ser verificada a vazão máxima para que não haja falhas na recepção do

escoamento. Além disso, as condições de jusante podem interferir também na cota

da rede de drenagem a montante ou das bacias de detenção.

(10)

sendo a vazão (m³.s-1); a área da seção molhada (m²); o coeficiente de

rugosidade de Manning; o raio hidráulico, e; a declividade (m.m-1).

4.5 Simulação no modelo SWMM do sistema de drenagem com o uso de

técnicas de baixo impacto

Existe uma grande variedade de modelos disponíveis para simular processos

de chuva-vazão em bacias hidrográficas. Assim, a seleção da técnica de modelagem

apropriada dependerá do nível de detalhamento e rigor requeridos para a aplicação

e da quantidade de dados disponíveis para calibração de validação dos resultados

do modelo.

Como o SWMM considera os dispositivos de LID como sendo subunidades

das bacias hidrográficas, quando modelada a drenagem ao nível de lote, o SWMM

deverá ser capaz de representar processos bastante rápidos em intervalos de tempo

muito pequenos, já que os tempos de concentração de lotes são pequenos.

Salienta-se aqui a quase inexistência de trabalhos que avaliem o módulo LID do

SWMM, já que após extensas buscas, não foram encontrados estudos que

avaliassem essa parte específica do SWMM.

Dessa forma, tentou-se aqui analisar o comportamento do SWMM quando

utilizados os dispositivos LID Barril de Chuva, Valo de Infiltração e Trincheira de

Infiltração.

A Figura 11 mostra como foi modelado o sistema dentro do SWMM.

Basicamente, foi criada uma sub-bacia para cada dispositivo de drenagem, já que o

SWMM simula os dispositivos LID como subunidades das bacias.

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Figura 11. Figura meramente demonstrativa da modelagem no SWMM. As ampulhetas

representam vertedores ou orifícios, os quadrados em preto representam o centro de massa das sub-

bacias e os quadrados em preto sobre os reservatórios de detenção e infiltração representam

dispositivos de reservação de água

A precipitação é inserida no programa a partir de uma estação pluviométrica

(Rain Gage), a qual é a mesma para todas as sub-bacias. Nessa estação, foi então

selecionada a chuva de projeto. Nas simulações, foram utilizadas chuva de projeto

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com 24 horas de duração e 15 anos de tempo de retorno. As simulações foram

realizadas com 1 minuto de intervalo de tempo e com 48 horas de duração.

Após a inserção das séries de precipitação, foram inseridos os dispositivos de

drenagem na parte hidrológica, para posterior utilização nas sub-bacias. Dessa

forma, foi inserido um dispositivo LID (LID Controls) para cada tipologia diferente. No

caso, foram inseridas 5 trincheiras de infiltração, 2 valos de infiltração e 3

microrreservatórios.

As trincheiras de infiltração (infiltration trench) foram inseridas no modelo com

os dados expostos abaixo. Não foi considerada superfície vegetal nas trincheiras, o

índice de vazios (Void Ratio) foi definido com base na porosidade do material e não

foi considerado dreno de fundo, já que as trincheiras foram dimensionadas de forma

a esgotarem todo o volume de água através da sua infiltração no solo.

Surface: Storage Depth – 0,0; Vegetation Volume Fraction – 0,0;

Surface Roughness – 0,0; Surface Slope – 0,0;

Storage: Height – entre 1400 e 1800 mm; Void Ratio – entre

0,47 e 0,53; Conductivity – 6,35 mm.hr-1; Clogging Factor – 0,0;

Underdrain: Drain Coefficient – 0,0; Drain Exponent – 0,5; Drain

Offset Height – 0,0.

Os valos de infiltração (vegetative swale) foram inseridos no modelo com os

dados expostos abaixo. A única diferença entre os dois valos de infiltração é a

declividade longitudinal média, que no valo V1 é 2% e no valo V2 é 2,5%.

Surface: Storage Depth – 625 mm; Vegetative Volume Fraction

– 0,0; Surface Roughness – 0,1; Surface Slope – entre 2,0% e

2,5%; Swale Side Slope – 8.

Os microrreservatórios (rain barrel) foram inseridos no modelo com os dados

expostos abaixo. O dreno de fundo foi utilizado como se fosse o descarregador de

fundo dos microrreservatórios, já que, no SWMM, não é possível utilizar um orifício a

partir de um rain barrel, já que este é uma característica da sub-bacia, e não um

dispositivo propriamente dito. Dessa forma, o coeficiente de drenagem foi utilizado

como sendo 7,5 mm.hr-1, que equivale numericamente à vazão de restrição para os

lotes (20, 8 l.s-1.ha-1).

Storage: Height – entre 1300 e 1500 mm;

Underdrain: Drain Coefficient – 7,5 mm.hr-1; Drain Expoent – 0,5;

Drain Offset Height – 0,0; Drain Delay – 0,0.

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Após a inserção dos dados no modelo, simulou-se o loteamento para dois

cenários, um com valos de infiltração funcionando corretamente e outro com os

valos de infiltração totalmente colmatados. Quando simulado o segundo cenário,

simplesmente retiraram-se os valos de infiltração do modelo. Ambas as simulações

foram feitas para uma chuva de projeto com 24 horas de duração e período de

retorno de 15 anos.

Dessa forma, foi possível analisar a capacidade do software SWMM em

representar processos de pequena escala com as técnicas de LID. Essa análise

ocorreu com base nas diferenças dos resultados entre os dois cenários analisados.

Visando comparar os resultados do SWMM com aqueles obtidos utilizando-se

de todas as outras metodologias de dimensionamento de dispositivos LID onde os

dispositivos foram dimensionados individualmente, realizou-se uma última simulação

do loteamento na qual as trincheiras de infiltração e a bacia de infiltração drenaram a

água para um segundo exutório. Isso foi feito em função de os dispositivos terem

sido dimensionados para uma precipitação de projeto de 10 anos de tempo de

retorno quando do uso das metodologias individuais e, dentro do SWMM, ter sido

utilizado tempo de retorno de 15 anos para todos os dispositivos. Dessa forma, as

vazões afluentes ao poço de visita (PV) provêm dos lotes presentes a oeste da via

norte-sul do condomínio, dos lotes com microrreservatórios, dos lotes localizados

junto ao valo de infiltração V-2 e das áreas verdes cujas vazões não foram drenadas

para trincheiras de infiltração ou para a bacia de infiltração, e são amortecidas pelas

bacias de detenção BD-1 e BD-2.

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5 RESULTADOS

De acordo com a ideia de desenvolvimento de baixo impacto, seguiu-se a

recomendação de que se deve manter o traçado da drenagem natural do terreno

(PRINCE GEORGES COUNTY, 1999). Assim, primeiro, definiram-se os cursos

naturais de água e se criaram zonas de alagamento até cinco metros a partir do eixo

do curso natural de drenagem. Após, foram posicionados lotes, com dimensões

aproximadas de 10 x 30 m, e vias de acesso domiciliar a partir da rua diretriz que

passa no sentido norte-sul no centro da área loteada. Os limitadores da geometria

dos lotes e das vias foram os limites da área a ser loteada, a rua diretriz e as áreas

consideradas alagáveis que contornam os fluxos naturais de água. Com isso, muitos

lotes não possuem geometria retangular e suas dimensões ultrapassam 10 x 30 m,

visando melhor aproveitamento da área disponível para ocupação.

Há uma segunda rua diretriz sugerida transversal à que atravessa a área no

sentido norte-sul (Figura 8). Contudo, essa segunda rua diretriz corta um dos fluxos

naturais de água e passa pela área com menor cota, área está que deverá abrigar

uma bacia de detenção. Assim, sugeriu-se que essa segunda rua diretriz não seja

executada e ignorou-se a sua existência no decorrer do trabalho.

A Figura 12 permite obter uma visão ampla do loteamento. Contudo, para

proporcionar uma visão mais detalhada, produziram-se outras 4 imagens (Figuras 13

a 16). Nessas imagens, os dispositivos estão indicados, sendo T as trincheiras de

infiltração, MR os microrreservatórios, V os valos de infiltração e BD as bacias de

detenção. A Figura 13 permite observar a vala de infiltração V1 e boa parte da área

que contribui para a Bacia de Detenção BD-1. A Figura 14 permite observar a área

que contribui para a bacia de infiltração (“Área verde destinada à recreação 2” e os 6

lotes que estão no canto superior direito da imagem). A Figura 15 permite observar a

bacia de detenção BD-1 e a Figura 16 permite observar a bacia de detenção BD-2, a

vala de infiltração V2, os microrreservatórios (MR) e a forma com que estão

dispostas as vias dentro do loteamento. As curvas de nível expostas na imagem

reproduzem o relevo natural do terreno e não os níveis após a terraplenagem.

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Figura 12. Vista geral do loteamento (sem escala), sendo T as trincheiras de infiltração, MR

os microrreservatórios, V os valos de infiltração e BD as bacias de detenção.

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Figura 13. Planta baixa do quadrante superior esquerdo do loteamento

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Figura 14. Planta baixa do quadrante superior direito do loteamento

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Figura 15. Planta baixa do quadrante inferior esquerdo do loteamento

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Figura 16. Planta baixa do quadrante inferior direito do loteamento

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5.1 Trincheiras de Infiltração

A metodologia utilizada para dimensionar as trincheiras de infiltração, por ser

largamente utilizada, é a de Urbonas e Stahre (1993), descrita no item 4.3.5.

Primeiramente, supôs-se que a água gerada pelos lotes e pelas vias com um

período de retorno de 10 anos fosse drenada apenas com o uso de trincheiras de

infiltração. Contudo, no trecho considerado mais crítico (área composta por 6 lotes e

a denominada “Área Verde Destinada à Recreação 2” a qual é drenada para a

trincheira de infiltração T5, conforme Figura 14), com uma área de drenagem de

5133 m², utilizando-se 64 m de trincheira com 80 cm de largura e material de

preenchimento com porosidade de 30%, foi necessária uma profundidade de 11,36

mi. Assim, considerou-se inviável apenas o uso de trincheiras para essa área.

Na sequência, tentou-se drenar a água da Área Verde Destinada à Recreação

2 para uma área com pavimento permeável e, assim, utilizar as trincheiras para

drenar apenas a água escoada dos lotes, da via pavimentada e da calçada.

Contudo, para dimensões semelhantes de trincheira, para uma área de drenagem,

então, de 2386 m² seria necessária uma profundidade de 7,58 m, o que foi

considerado igualmente inviávelii.

Devido a inviabilidade de execução das composições acima, verificou-se a

utilização das trincheiras de modo a drenar somente a água proveniente das

calçadas e vias pavimentadas somada à vazão efluente dos lotes, sendo esta igual a

vazão de restrição de 20,8 L.s-1.ha-1. Assim, além da área de contribuição de 407 m²,

nesse trecho crítico, com coeficiente de escoamento igual a 0,90, a trincheira

recebeu uma vazão efluente dos lotes igual a 4,12 L.s-1. Com isso, foi dimensionada

uma trincheira com profundidade igual a 4,90 m, o que se julgou inviável

economicamente devido à profundidade de escavação e custos com material de

preenchimento e escoramento.

Enfim, verificou-se que é economicamente viável utilizar as trincheiras de

infiltração para controlarem apenas o escoamento gerado pelas vias pavimentadas e

pelas calçadas. Assim, em algumas partes do loteamento, cada lote deverá ter um

i com coeficiente de escoamento ponderado 0,506 e taxa de infiltração de água no solo igual a 6,35 mm.h

-1,

ii com coeficiente de escoamento ponderado de 0,735.

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microrreservatório que envie direto para uma bacia de detenção a vazão de restrição

de 20,8 L.s-1.ha-1.

A Figura 16 mostra o layout final da solução encontrada, com um

microrreservatório dentro de cada lote e com a trincheira de infiltração recebendo

água apenas proveniente da via pavimentada e da calçada. No extremo sul desta

figura, encontra-se a Bacia de Detenção (BD-2) que recebe a vazão proveniente dos

microrreservatórios que estão em cada lote. A Figura 14 mostra a praça com

brinquedos que funcionará como Bacia de Infiltração e receberá a água proveniente

dos seis lotes localizados ao extremo norte do loteamento e da “Área Verde

Destinada à Recreação 2”.

A Tabela 6 mostra a profundidade, área de contribuição e coeficiente de

escoamento ponderado para cada trincheira. A nomenclatura das trincheiras pode

ser observada na Figura 12.

Tabela 6. Dados das trincheiras de infiltração

Trincheira

de

Infiltração

Área de

Contribuição

(m²)

Coeficiente

de

Escoamento

Comprimento

da Trincheira

(m)

Largura da

Trincheira

(m)

Profundidade da

camada de

armazenamento (m)

T1 749 0,900 82,00 1,00 1,70

T2 761 0,900 78,00 1,00 1,80

T3 300 0,900 42,00 0,80 1,60

T4 300 0,900 42,00 0,80 1,60

T5 402 0,900 66,00 0,80 1,40

T6 389 0,900 59,00 0,80 1,50

T7 468 0,900 72,00 0,80 1,50

T8 557 0,900 85,00 0,80 1,50

T9 396 0,900 57,00 0,80 1,60

T10 427 0,900 62,00 0,80 1,60

T11* 638 0,900 62,00 1,00 1,70

T12 1269 0,900 132,00 1,00 1,80

T13 483 0,900 71,00 0,80 1,60

T14 486 0,900 71,00 0,80 1,60

T15* 664 0,900 63,00 1,00 1,70

* Essas trincheiras deverão ser preenchidas com material britado com 35% de porosidade.

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5.2 Valos de Infiltração

Quanto ao Valo de Infiltração 1 (V1), para a drenagem da “Área Verde

Destinada à Recreação 1” (Figura 13) mais a drenagem dos lotes junto à essa área,

utilizando-se a metodologia CIRIA (1996), descrita no 4.3.4, encontrou-se que o

comprimento necessário ( ) para infiltrar a taxa média de fluxo de 0,281 m³.s-1,

referente à área de 22170 m² (com coeficiente de escoamento de 0,511, com tempo

de concentração de aproximadamente 11 minutos e período de recorrência de 10

anos) é 193 m. Como há disponibilidade de 197 m para este valo, verificou-se não

haver problemas quanto à sua utilização como canal de escoamento com infiltração

tridimensional. Para tanto, os taludes laterais devem ter inclinação 8H:1V, o canal

deve possuir 10 m de largura e 0,625 m de profundidade. A declividade longitudinal

máxima encontrada no canal foi no trecho inicial deste, sendo esta 0,020 m/m,

correspondendo às orientações de Urbonas e Stahre (1993). O coeficiente de

rugosidade de Manning considerado foi 0,10, visando representar a alta resistência

ao escoamento provocada pela vegetação no interior do valo, conforme CIRIA

(2007) e conforme discutido em Valos de Infiltração, item 3.4.3.

Quanto ao valo que tangencia a via principal do loteamento (Valo de

Infiltração – V2), utilizando-se a metodologia CIRIA (1996), encontrou-se que o

comprimento necessário ( ) para infiltrar a taxa média de fluxo de 0,097 m³.s-1,

referente à área de 5711 m² (com coeficiente de escoamento de 0,592, com tempo

de concentração de aproximadamente 7 minutos e período de recorrência de 10

anos) é 103 m. Como há disponibilidade de 130 m para este valo, verificou-se não

haver problemas quanto à sua utilização como canal de escoamento com infiltração

tridimensional. As características geométricas deste valo de infiltração são idênticas

as do valo anterior, com exceção à máxima declividade longitudinal encontrada, que

foi 0,025 m/m, e ao seu comprimento. Assim, nesse ponto específico, deverá ser

colocado um pequeno obstáculo ao escoamento da água visando reduzir a

velocidade de escoamento tal como mostrado na Figura 17.

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Figura 17. Detalhe dos obstáculos necessários aos Valos de Infiltração quando a declividade

for superior a 2%. Adaptado de: Urbonas e Stahre, 1993 (apud PMPA/IPH, 2005)

5.3 Bacia de Infiltração

A única bacia de infiltração presente neste trabalho (Figura 14) é responsável

por drenar a água da “Área Verde destinada à Recreação 2” e dos 6 lotes que estão

junto à Estrada Gedeon Leite à leste da Rua Principal, compondo uma área de 5405

m². Visando proporcionar múltiplos usos para estruturas de combate às cheias, esta

bacia de infiltração será uma “pracinha infantil”, localizada na área destinada à

recreação 2.

O método de dimensionamento utilizado é o proposto por Silveira e

Goldenfum (2007), descrito no item 4.3.2. A área da base do dispositivo com

capacidade de infiltração é 219 m². O coeficiente de escoamento ponderado foi

calculado em 0,466, a intensidade da chuva, para 10 minutos de tempo de

concentração, foi calculada em 94,0 mm.h-1 a partir da IDF de Talbot com correção

de 2,26 para o parâmetro e, assim, a vazão máxima foi calculada em 0,066 m³.s-1.

No caso desta bacia, ela é apenas de infiltração e não mista, já que não há

nenhuma saída de água da bacia além da infiltração pela sua base. Nesse caso, foi

utilizado o fator para a colmatação e taxa de infiltração igual a 6,35 mm.h-1.

Assim, encontrou-se um volume necessário para armazenamento de água de 75,48

m³. Dividindo-se esse valor pela área superficial de infiltração de 219 m² da

pracinha, verifica-se que deve haver o armazenamento de uma lâmina d’água de 35

cm. Assim, a pracinha deverá ficar enterrada 36 cm abaixo do nível da superfície,

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permitindo a execução de 2 degraus e rampas de acesso, visando o conforto das

crianças e demais usuários.

5.4 Microrreservatórios

Os microrreservatórios foram utilizados em alguns lotes em função de as

trincheiras de infiltração não serem suficientes para drenar o escoamento das vias

públicas mais o escoamento dos lotes, nas configurações de solo utilizadas nesse

trabalho. Assim, dimensionaram-se os microrreservatórios a partir da metodologia do

Decreto Nº 15.371 de 2006 apresentada no item 4.3.1. As suposições feitas para o

dimensionamento dos microrreservatórios é que esses possuem como área de

contribuição apenas o lote em questão, o qual foi considerado 66,6%

impermeabilizado, e que os reservatórios são estanques.

A Tabela 7 apresenta as características de cada microrreservatório (MR), a

partir da sua nomenclatura, a qual pode ser observada na Figura 12.

Tabela 7. Dados dos microrreservatórios

Microrreservatório

Área de

Contribuição

(m²)

Máx. vazão

de saída

(L/s)

Vol.

(m³)

Larg.

(m)

Compr.

(m)

Prof.

(m)

Diâm. do

Orifício de

saída (mm)

MR 1 300 0,624 8,504 2,5 2,5 1,4 25

MR 2 300 0,624 8,504 2,5 2,5 1,4 25

MR 3 300 0,624 8,504 2,5 2,5 1,4 25

MR 4 300 0,624 8,504 2,5 2,5 1,4 25

MR 5 300 0,624 8,504 2,5 2,5 1,4 25

MR 6 300 0,624 8,504 2,5 2,5 1,4 25

MR 7 638 1,327 18,086 3,5 3,5 1,5 25

MR 8 449 0,934 12,728 3,0 3,0 1,4 25

MR 9 390 0,811 11,056 3,0 3,0 1,3 25

MR 10 454 0,940 12,813 3,0 3,0 1,4 25

MR 11 606 1,260 17,179 3,5 3,5 1,4 25

MR 12 300 0,624 8,504 2,5 2,5 1,4 25

MR 13 300 0,624 8,504 2,5 2,5 1,4 25

MR 14 300 0,624 8,504 2,5 2,5 1,4 25

MR 15 296 0,616 8,391 2,5 2,5 1,4 25

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O descarregador de fundo utilizado é do tipo orifício, permitindo a liberação

gradual da água armazenada. O diâmetro do orifício foi obtido a partir dos ábacos da

página 72 do Manual de Drenagem Urbana de Porto Alegre, em função da vazão e

da carga hidráulica.

5.5 Capacidade de drenagem a jusante do loteamento

A jusante do loteamento, conforme cadastro cedido pelo Departamento de

Esgotos Pluviais de Porto Alegre, encontra-se o Loteamento Residencial Lagos de

Nova Ipanema. Na extensão da rua principal do condomínio em estudo, denominada

Rua Diretriz 6356, há um poço de visita (PV) com condições de receber o efluente

dos reservatórios de detenção. A superfície desse PV encontra-se na cota 16,7 m. A

rede de drenagem, a partir desse PV, possui 300 mm de diâmetro. Como o

cobrimento é 90 cm, a cota de fundo desse PV é 15,50 m.

Assim, a partir da equação de Manning, definiu-se a vazão que é possível fluir

das bacias de detenção para a rede de drenagem existente. Para tanto, considerou-

se o coeficiente de rugosidade ( ) como sendo 0,014; a declividade do tubo como

sendo 0,0043 m.m-1 (

), e; seção totalmente preenchida.

A Equação 10 mostra o cálculo e a capacidade de transporte desta seção da

rede, como segue:

Sendo a área da seção (m²); o coeficiente de rugosidade de Manning; R

o raio hidráulico, e; a declividade (m.m-1).

Supondo-se que se possa utilizar 70% dessa capacidade para os efluentes

das bacias de detenção, permitiu-se ter como vazão produzida por todo o

loteamento o valor de 0,041 m³.s-1. Esse valor é bastante restritivo e muito menor do

que a vazão de restrição estabelecida pelo Decreto Nº 15.371 de 2006, que permite

20,8 l.s-1.ha-1, ou seja, 0,101 m³.s-1.

Outro grande fator limitante desta rede de drenagem é a cota de fundo do PV

(15,50 m). Como a saída da bacia de detenção que se encontra mais afastada deste

PV está a cerca de 40 m do poço, considerando-se uma declividade de 0,5%, a cota

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do descarregador de fundo da bacia não pode ser inferior a 15,70 m, restando

apenas 1,3 m de profundidade para o reservatório.

Existe, nos registros de altimetria fornecidos pelo DEP, um corpo hídrico que

seria uma extensão do fluxo de água presente no Valo de Infiltração 1. Contudo, nos

cadastros do DEP, esse corpo hídrico não pode ser visualizado. Com isso, optou-se

por não utilizar esse corpo hídrico como receptor das águas do loteamento.

Dessa forma, verificou-se que a restrição de vazão de saída foi estabelecida

pela rede de drenagem existente, e não pela vazão de restrição estabelecida pelo

Decreto Nº 15.371. Assim, não poderá fluir das bacias de detenção vazões,

somadas superior a 0,041 m³.s-1 e a cota da geratriz inferior dos descarregadores de

fundo das bacias não poderá ser superior a 15,70 m.

5.6 Bacias de Detenção

Para o dimensionamento das bacias de detenção foi utilizada uma simulação

pelo Método de Puls, conforme Tucci (2005), como descrito no item 4.3.3. Para isso,

foi utilizado o software IPHS-1, versão 2.11. Não foi considerado o escoamento

gerado pelas calçadas, vias e pela área composta pelos 6 lotes ao leste da via

principal que se encontram junto à Estrada Gedeon Leite e a “Área Verde destinada

à Recreação 2” (Figura 14), já que o escoamento proveniente dessas áreas deve

recarregar o solo através das trincheiras de infiltração e da bacia de infiltração.

Quanto à Bacia de Detenção 1 (BD 1), a área da bacia de contribuição é

22159 m² (ou 0,0222 km²) e o tempo de concentração foi estimado por Kirpich e

resultou em 7,1 min. O diâmetro da superfície da bacia é 40 m, resultando numa

área superficial alagada de 1256 m². Os taludes internos à bacia são de 8H:1V e a

capacidade do reservatório é 865 m³.

Quanto à Bacia de Detenção 2 (BD 2), a área da bacia de contribuição é 6960

m² (ou 0,0070 km²) e o tempo de concentração foi estimado por Kirpich e resultou

em 3,6 min. Além disso, há a entrada da vazão de restrição proveniente dos

microrreservatórios de alguns lotes (Figura 16), quantificada em 11,504 L.s-1. Para

considerar a vazão de restrição, simulou-se no IPHS-1 um reservatório

representando todos os microrreservatórios instalados. Para isso, utilizou-se área de

contribuição igual a 0,0055 km², tempo de concentração igual a 5 minutos, máxima

vazão de saída igual a 11,504 L.s-1, volume de armazenamento igual a 156,789 m³ e

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diâmetro do orifício de saída igual a 70 mm. Vale salientar que a precisão do IPHS-1

quando se trabalha com vazões é de 0,01 m³.s-1 e, assim, aproximou-se essa à

vazão de restrição, já que este é o valor possível de se considerar na simulação

mais próximo à real vazão de restrição para o caso. O diâmetro da superfície da

bacia é 13 m, resultando numa área superficial alagada de 1256 m². Os taludes

internos à bacia são de 8H:1V e a capacidade do reservatório é 279 m³.

O esquema da simulação hidrológica pode ser observado na Figura 18. A

propagação do escoamento entre os reservatórios e dos reservatórios até o Poço de

Visita (PV) foi feita pelo método Muskingum-Cunge Não Linear para Condutos

Fechados, conforme descrito por Tucci (2005).

Figura 18. Esquema da simulação hidrológica das bacias de detenção no IPHS-1

As características das tubulações e reservatórios são apresentadas na Tabela

8 para período de retorno de 15 anos.

A metodologia empregada para o dimensionamento dos microrreservatórios

(Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2006) foi criada para precipitação com

duração de 1 hora e período de recorrência de 10 anos. Assim, as características do

reservatório que representa os microrreservatórios tiveram que ser alteradas quando

foi feita a verificação dos reservatórios para período de retorno de 25 anos,

permitindo que o volume gerado pelos lotes com drenagem na fonte seja propagado

para o BD-2.

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Tabela 8. Características das bacias de detenção implantadas no loteamento

Equipamento Característica

BD-1

Curva cota-volume

Cota máxima do

reservatório (m) 1,10

Volume (m³) 864,64

Coef. descarga

vertedor 1,836

Largura vertedor (m) 7,00

Cota da crista vertedor

(m) 1,00

Coef. descarga orifício 0,62

Área do orifício (m²) 0,0078

Altura do eixo (m) 0,00

BD-2

Curva cota-volume

Cota máxima do

reservatório (m) 1,10

Volume (m³) 279,25

Coef. descarga

vertedor 1,836

Largura vertedor (m) 6,00

cota da crista vertedor

(m) 1,00

Coef. descarga orifício 0,62

Área do orifício (m²) 0,0078

Altura do eixo (m) 0,00

Trecho-1

Compr. trecho (m) 90,00

Cota de fundo de

montante (m) 15,80

Cota de fundo de

jusante (m) 15,50

Diâmetro (m) 0,50

Trecho-2

Compr. trecho (m) 70,00

Cota de fundo de

montante (m) 15,80

Cota de fundo de

jusante (m) 15,50

Diâmetro (m) 0,50

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O sistema apresentou bom funcionamento para uma chuva de projeto com

período de recorrência de 15 anos e com duração de 1 hora e 24 horas, com

máxima vazão de saída no PV sendo, respectivamente, 0,03 m³.s-1 e 0,04 m³.s-1,

respeitando a vazão restringida pela microdrenagem existente à jusante do

loteamento (0,04 m³.s-1).

Para a simulação com precipitação de 24 horas de duração e 25 anos de

tempo de retorno, houve armazenamento de água apenas no trecho a jusante do

PV. No entanto, as bacias de detenção continuaram funcionando corretamente, sem

que o nível máximo fosse excedido. A vazão máxima no PV foi de 0,08 m³.s-1, sendo

esta praticamente o dobro da suportada pelo sistema existente.

Assim, conclui-se que as bacias de detenção funcionam corretamente para

eventos de projeto com período de retorno de 15, sem apresentar vertimentos. Para

eventos com períodos de retorno de 25 anos, as bacias de detenção apresentam

vertimentos da ordem de 123 m³ (com vazão máxima 0,04 m³.s-1, para a BD-1) e 6

m³ (com vazão máxima 0,01 m³.s-1, para a BD-2) para precipitações com 24 horas

de duração.

A Tabela 9 apresenta os dados de cota máxima nos reservatórios, tempo de

esvaziamento, vazão máxima de saída e volume de vertimento para as simulações

com eventos de chuva com 24 horas de duração.

Tabela 9. Dados das Bacias de Detenção - eventos com 24 horas de duração

BD-1

(15 anos)

BD-2

(15 anos)

BD-1

(25 anos)

BD-2

(25 anos)

Cota máxima atingida (m) 0,98 0,96 1,01 1,00

Tempo de esvaziamento (horas) 32,9 23,7 33,7 24,7

Vazão máxima (m³.s-1) 0,02 0,02 0,02 0,02

Tempo de Pico do Hidrograma de

Saída (horas) 14,5 13,8 12,8 13,0

Volume de vertimento (m³) 0,0 0,0 123,0 6,0

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5.7 Resultados e análise dos resultados da modelagem no SWMM

A análise da capacidade do SWMM em modelar técnicas de LID foi feita com

base nos resultados de simulações de dois cenários: valos de infiltração funcionando

corretamente e valos de infiltração totalmente colmatados.

Ao simular o cenário com valos de infiltração funcionando, com uma

precipitação com 24 horas de duração e período de retorno de 15 anos, obtiveram-

se os resultados apresentados a seguir. Nesses resultados, volume de

transbordamento é aquele que ocorre quando o nível máximo da estrutura avaliada

é superado, e o volume de extravasamento é aquele que flui através do vertedor.

Na bacia de detenção BD-1 – máxima vazão de entrada: 0,35

m³.s-1 (em 12h10min); máxima lâmina d’água: 1,07 m (em

12h31min); não houve transbordamento; houve extravasamento

de 683 m³;

Na bacia de detenção BD-2 – máxima vazão de entrada: 0,46

m³.s-1 (em 12h07min); máxima lâmina d’água: 1,10 m (em

12h06min); houve transbordamento de 40,8 m³; houve

extravasamento de 728 m³;

Na bacia de infiltração – máxima vazão de entrada: 0,16 m³.s-1

(em 12h05min); máxima lâmina d’água: 0,34 m (em 12h04min);

não houve transbordamento; houve extravasamento de 419 m³;

No PV – máxima vazão de entrada: 0,37 m³.s-1 (em 12h29min);

máxima lâmina d’água: 1,20 m (em 12h05min e em 12h24min);

houve transbordamento de 76,8 m³.

Após, consideraram-se os valos de infiltração totalmente colmatados, da

mesma forma com que se dimensionaram as bacias de detenção com o uso do

Método de Puls. Assim, simplesmente, retiraram-se os valos de infiltração das suas

sub-bacias correspondentes. A simulação foi feita novamente com uma precipitação

de projeto com 24 horas de duração de período de retorno de 15 anos, de forma a

se obterem os seguintes resultados:

Na bacia de detenção BD-1 – máxima vazão de entrada: 0,33

m³.s-1 (em 12h10min); máxima lâmina d’água: 1,06 m (em

12h32min); não houve transbordamento; houve extravasamento

de 651 m³;

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Na bacia de detenção BD-2 – máxima vazão de entrada: 0,46

m³.s-1 (em 12h07min); máxima lâmina d’água: 1,10 m (em

12h06min); houve transbordamento de 37,8 m³; houve

extravasamento de 721 m³;

Na bacia de infiltração – máxima vazão de entrada: 0,16 m³.s-1

(em 12h05min); máxima lâmina d’água: 0,34 m (em 12h04min);

não houve transbordamento; houve extravasamento de 419 m³;

No PV – máxima vazão de entrada: 0,35 m³.s-1 (em 12h06min);

máxima lâmina d’água: 1,20 m (em 12h05min e em 12h30min);

houve transbordamento de 43,2 m³.

Esperava-se que, conforme fossem retirados os valos de infiltração, os

transbordamentos, cotas e vazões fossem aumentar e os tempos de pico fossem

diminuir. Contudo, não foi isso o que ocorreu.

Primeiramente, analisou-se a bacia de infiltração. Este dispositivo encontra-se

em local sem influência dos valos de infiltração e, assim, conforme o esperado, não

houve qualquer alteração de resultado entre os diferentes cenários. Esta análise foi

feita pretendendo observar alguma falha ocorrida no SWMM pelo simples fato de ser

utilizado o módulo LID vegetative swale. Essa falhas foram julgadas inexistentes

com base nos resultados.

Após, observam-se as diferenças ocorridas nas bacias de detenção. Ao

contrário do que se esperava, reduziram-se as vazões, o extravasamento da BD-2, o

transbordamento da BD-2 e os tempos de pico aumentaram ou permaneceram

constantes. Salienta-se aqui que houve menos mudanças nos resultadas da BD-2

do que nos resultados da BD-1. Isso pode ter ocorrido em função de a BD-1 estar

sujeita a maiores vazões.

As diferenças observadas no PV também se diferem daquelas esperadas.

Conforme o valo de infiltração perdeu sua utilidade, reduziram-se as vazões de

entrada no PV (e, portanto, as vazões de saída do loteamento) e os

transbordamentos.

A última análise que se fez quanto ao uso do SWMM foi comparar o resultado

da simulação que apresenta um segundo exutório recebendo a água proveniente

das trincheiras de infiltração e da bacia de infiltração com aquele obtido aplicando-se

diferentes metodologias de dimensionamentos individualmente aos dispositivos,

resumido pela simulação no software IPHS-1.

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Ao utilizar os métodos de dimensionamento de dispositivos LID sugeridos por

CIRIA (1996), Tucci (2005), Silveira e Goldenfum (2007) e Urbonas e Stahre (1993),

dimensionaram-se os dispositivos de modo a que todo o volume de água infiltrasse

no solo ou que a máxima vazão de saída do dispositivo fosse equivalente à vazão

de restrição. Ainda, como medida de segurança, tanto no SWMM como no IPHS-1,

os valos de infiltração foram considerados totalmente colmatados. Aplicou-se uma

precipitação de projeto com duração de 24 horas de período de retorno de 15 anos

em ambos os modelos. Assim sendo, esperava-se que a máxima vazão de entrada

no PV na simulação do SWMM fosse próxima a 0,04 m³.s-1, que foi a vazão

encontrada na simulação no IPHS-1 e está de acordo com a capacidade do sistema

de drenagem existente a jusante.

Salienta-se aqui que esta vazão é amortecida pelas bacias de detenção BD-1

e BD-2 e provém dos lotes presentes a oeste da via norte-sul do condomínio, dos

lotes com microrreservatórios, dos lotes localizados junto ao valo de infiltração V-2 e

das áreas verdes cujas vazões não foram drenadas para trincheiras de infiltração ou

para a bacia de infiltração. Contudo, observa-se que no SWMM a máxima vazão

afluente ao PV é 0,15 m³.s-1.

Comparando-se os resultados observados nas bacias de detenção, utiliza-se

a Tabela 10, com os resultados do IPHS-1 para as bacias de detenção BD-1 e BD-2

e com os dados do SWMM. Todos os resultados foram obtidos com eventos de

projeto com 24 horas de duração e período de retorno de 15 anos.

Tabela 10. Resultados do SWMM e do IPHS-1 para as bacias de detenção

BD-1

(IPHS-1)

BD-2

(IPHS-1)

BD-1

(SWMM)

BD-2

(SWMM)

Cota máxima atingida (m) 0,98 0,96 1,04 1,05

Tempo de esvaziamento (horas) 32,9 23,7 36,4 23,0

Vazão máxima (m³.s-1) 0,02 0,02 0,02 0,02

Tempo de Pico do Hidrograma de

Saída (horas) 14,5 13,8 13,3 12,2

Volume de vertimento (m³) 0,0 0,0 370 170

As diferenças observadas são proporcionais, ou seja, como há maior

propagação de vazão na simulação do SWMM, as cotas atingidas nos reservatórios

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são maiores e, portanto, surgem vertimentos. O maior escoamento verificado nas

simulações do SWMM pode ter ocorrido em virtude do LID rain barrel comportar-se

diferente do reservatório simulado no IPHS-1, conforme discutido no item 5.6.

5.8 Projeto final

O loteamento em estudo, localizado no bairro Aberta dos Morros, em Porto

Alegre, com acesso pela Estrada Gedeon Leite, teve sua configuração urbanística

definida com base nas diretrizes do município de Porto Alegre. Dessa forma,

definiram-se as vias dentro do loteamento, as áreas com diferentes ocupações e o

percentual máximo de impermeabilização do solo, sendo este último um dado de

extrema importância ao projeto de drenagem proposto ao empreendimento.

Após, definiram-se os elementos a serem utilizados para esgotar as águas

provindas das chuvas. Foram testadas diversas configurações e combinações de

dispositivos e, por fim, selecionaram-se trincheiras de infiltração, valos de infiltração,

microrreservatórios, uma bacia de infiltração e duas bacias de detenção. Esses

dispositivos, combinados, permitiram que se propagasse para jusante uma vazão tal

que a rede de drenagem existente fosse capaz de absorver e escoar, sem a

necessidade de ampliação. Ressalta-se aqui que não foram utilizados tubos na rede

de microdrenagem além daqueles que interligaram os microrreservatórios para

transferirem suas vazões até a bacia de detenção BD-2.

Os dispositivos utilizados aqui seguiram os princípios de armazenamento,

infiltração da água no solo, ou ambos, princípios esses que embasam as técnicas

BMP (Melhores Práticas de Gestão). No entanto, quando inseridos num ambiente

com o objetivo de se manterem os processos químicos, físicos e biológicos e as

características hidrológicas similares ao que se tinha antes da ocupação do local,

esses dispositivos passam a pertencer às técnicas LID, que possibilitam um

desenvolvimento de baixo impacto.

Dessa forma, procurou-se inserir os dispositivos de drenagem respeitando-se

as ideias de LID. Para tanto, definiram-se dois fluxos naturais de água como

principais e os utilizou-se para o posicionamento dos valos de infiltração. Como

exemplo, mostra-se aqui o valo de infiltração V1 (Figura 19), que manteve o caminho

natural das águas.

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Figura 19. Valo de Infiltração (V1), o qual manteve o caminho natural das água

(representação em planta)

Outro aspecto muito importante do LID é buscar a inserção da população nos

locais onde os dispositivos estão instalados. Dessa forma, busca-se um projeto de

drenagem com forte apelo estético e potencial paisagístico, transformando os locais

em áreas de recreação e lazer. Assim, criaram-se, junto aos valos de infiltração,

ambientes agradáveis aos moradores do loteamento. A Figura 20 mostra como

poderia ser definido o local de implantação do Valo de Infiltração V1, onde se nota a

presença de bancos junto às árvores, criando-se um ambiente agradável aos

usuários.

Figura 20. Perspectiva do local de implantação do valo de infiltração V1

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Para a implantação das trincheiras de infiltração, tentou-se promover a

inserção desses dispositivos como parte integrante da configuração urbanística do

loteamento. Dessa forma, esses dispositivos foram localizados junto ao meio-fio das

vias. A Figura 21 mostra as trincheiras de infiltração junto ao meio-fio nas vias sem

saída, onde se observa uma ocupação com forte apelo ambiental, utilizando-se de

árvores e áreas gramadas junto às residências. A Figura 22 mostra a inserção dos

dispositivos no ambiente de modo integrado, com grande proximidade um do outro.

Como há a presença dos dispositivos LID, o local passou a ser, também,

hidrologicamente funcional.

Figura 21. Via sem saída com presença de trincheiras de infiltração junto ao meio-fio.

Figura 22. Imagem com diferentes dispositivos em um mesmo ambiente trabalhando de forma integrada

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6 CONCLUSÕES

Para este trabalho, estudou-se uma microbacia urbana real, localizada em

Porto Alegre – RS, onde está inserida uma grande área onde se estabeleceu um

loteamento fictício. A configuração urbanística deste loteamento foi feita com base

nas normas e diretrizes municipais.

Com base nos princípios de Desenvolvimento de Baixo Impacto (LID), a

infiltração de água no solo é muito importante, pois possibilita a manutenção das

características hidrológicas de pré-ocupação da área. Assim, um parâmetro muito

importante para este tipo de projeto é a taxa básica de infiltração de água no solo.

Conforme trabalhos e materiais consultados, verificou-se que o loteamento

encontra-se em uma área com solos pertencentes ao Grupo Hidrológico D, cuja

presença impossibilita o uso de dispositivos que promovam infiltração de água no

solo, conforme Urbonas e Stahre (1993). Gonçalves, Silva e Risso (2007)

produziram um mapa com os parâmetros CN para Porto Alegre e concluíram que

aproximadamente 83% da cidade apresentam valores de CN superiores a 75 (solos

pertencentes aos Grupos Hidrológicos C e D), o que caracteriza as bacias de Porto

Alegre como bacias de média e alta capacidade de geração de escoamento

superficial. Com isso, nota-se grande dificuldade em utilizar dispositivos LID na

cidade de Porto Alegre.

Salienta-se aqui que os estudos citados como fontes de dados de solo foram

feitos em grandes áreas com precisão inadequada para a avaliação de lotes e,

quando houver a real intenção de se utilizar dispositivos LID para drenagem na

fonte, deverão ser realizados ensaios de infiltração para se definir a taxa básica de

infiltração no solo e, assim, avaliar a viabilidade dos seus usos. Sendo este um

trabalho acadêmico, a taxa básica de infiltração foi definida com base em tabelas,

cujos valores não representam necessariamente a realidade dos locais, pois sevem

apenas como estimativas.

Quando se iniciou o dimensionamento dos dispositivos, tentou-se drenar uma

área razoavelmente grande para as trincheiras de infiltração, o que as tornou

economicamente e quase que tecnicamente inviáveis. Assim, reduziu-se a área de

contribuição duas vezes até que se viabilizasse o uso de trincheiras e, dessa forma,

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as trincheiras ficaram responsáveis pelo controle de escoamento gerado pelas vias

pavimentadas e pelas calçadas.

Reafirma-se, com isso, a importância de se utilizarem diferentes dispositivos

LID combinados, de modo a cada dispositivo controlar uma pequena parte do

escoamento. A taxa de infiltração utilizada nesse trabalho foi baixa (6,35 mm.hr -1) e

conforme seja maior a taxa de infiltração, maior será a capacidade de cada

dispositivo controlar individualmente o escoamento. No entanto, a aplicação de

diversos dispositivos integrados permite projetos mais eficientes, diversificados e

ambientalmente mais adequados, devido à presença de vegetação inserida com

apelo estético e ambiental aos locais, seguindo as ideias de LID.

Neste trabalho se conseguiu controlar toda a vazão gerada sem o uso de

tubulações no sistema de microdrenagem. Isso permite uma economia bastante

grande. Como não está no escopo desse trabalho uma análise financeira, não foi

avaliada qual técnica de drenagem (LID ou convencional) apresenta o menor custo.

Contudo, segundo bibliografia especializada, muitas vezes os projetos com LID são

mais econômicos.

Ainda, os benefícios dos dispositivos LID não são apenas financeiros.

Conforme tratado em diversas partes desse trabalho, o uso de LID controla as

vazões escoadas diretamente na fonte, sem transferi-las a jusante. Dessa forma,

não há a necessidade de ampliar as redes existentes a jusante, conforme

exemplificado neste trabalho, onde a vazão máxima efluente do loteamento foi muito

similar à máxima vazão permitida pelo sistema de microdrenagem existente no

loteamento Residencial Lagos de Nova Ipanema.

Enfim, a cerca da aplicação de LID, conclui-se que as técnicas de

Desenvolvimento de Baixo Impacto apresentam muitos benefícios, os quais variam

de caso a caso. No município de Porto Alegre, devido aos solos com elevada

capacidade de geração de escoamento superficial, a aplicação de dispositivos LID

que se utilizam de infiltração de água no solo pode ser complicada tecnicamente e

cara. Dessa forma, podem ser utilizados dispositivos que se utilizam de

armazenamento de água, como microrreservatórios e bacias de detenção,

preferencialmente combinados.

O software SWMM (Storm Water Management Model) comportou-se de

maneira inesperada ao se utilizar o módulo LID. Como não se tem acesso aos dados

parciais e nem mesmo à metodologia exata utilizada pelo SWMM para modelar os

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processos envolvidos, não se sabe exatamente o motivo de alguns resultados

duvidosos.

Cabe ressaltar aqui que o SWMM trata os dispositivos LID como propriedades

das sub-bacias e, dessa forma, a consideração da posição do dispositivo na sub-

bacia só é levado em conta com uma elevada discretização espacial do problema.

No entanto, ao realizarem-se grandes discretizações, as áreas de contribuição, e

vazões, ficam muito pequenas em cada sub-bacia, produzindo erros de

truncamento/estabilidade numérica nas simulações. Assim, não se recomenda o uso

do SWMM para representar processos de pequena escala.

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