DIPRI UNISUL

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  • Universidade do Sul de Santa Catarina

    Palhoa

    UnisulVirtual

    2006

    Direito Internacional

    Disciplina na modalidade a distncia

    2a Edio revista e atualizada

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  • Apresentao

    Este livro didtico corresponde disciplina Direito Internacional.O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autnoma, abordando contedos especialmente selecionados e adotando uma linguagem que facilite seu estudo a distncia. Por falar em distncia, isso no signi ca que voc estar sozinho. No esquea que sua caminhada nesta disciplina tambm ser acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Ambiente Virtual de Aprendizagem. Nossa equipe ter o maior prazer em atend-lo, pois sua aprendizagem nosso principal objetivo.

    Bom estudo e sucesso!

    Equipe UnisulVirtual.

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  • Milene Pacheco Kindermann

    Palhoa

    UnisulVirtual

    2006

    Design Instrucional

    Carolina Hoeller da Silva Boeing

    Direito Internacional

    Livro didtico

    2a Edio revista e atualizada

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  • Copyright UnisulVirtual 2006 Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prvia autorizao desta instituio.

    342.12 G53 Kindermann, Milene Pacheco

    Direito internacional : livro didtico / Milene Pacheco Kindermann ; design instrucional Carolina Hoeller da Silva Boeing. 2. ed. rev. e atual. Palhoa : UnisulVirtual, 2006.

    168 p. : il.; 28 cm.

    Inclui bibliografia. ISBN 85-7817-072-5 ISBN 978-85-7817-072-1

    1. Direito internacional pblico. I. Boeing, Carolina Hoeller da Silva. II. Ttulo.

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Universitria da Unisul

    Crditos Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina

    UnisulVirtual - Educao Superior a Distncia Campus UnisulVirtual Rua Joo Pereira dos Santos, 303 Palhoa - SC - 88130-475 Fone/fax: (48) 3279-1541 e 3279-1542 E-mail: [email protected] Site: www.virtual.unisul.br Reitor Unisul Gerson Luiz Joner da Silveira

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    Acadmico Sebastio Salsio Heerdt

    Pr-Reitor Administrativo Marcus Vincius Antoles da Silva Ferreira Campus Tubaro e Ararangu Diretor: Valter Alves Schmitz Neto Diretora adjunta: Alexandra Orseni Campus Grande Florianpolis e

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    Equipe UnisulVirtual

    Administrao Renato Andr Luz Valmir Vencio Incio

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    Soraya Arruda Waltrick

    Coordenao dos Cursos Adriano Srgio da Cunha Ana Luisa Mlbert Ana Paula Reusing Pacheco Diva Marlia Flemming Elisa Flemming Luz Itamar Pedro Bevilaqua Janete Elza Felisbino Jucimara Roesler Lauro Jos Ballock Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Marcelo Cavalcanti Mauri Luiz Heerdt Mauro Faccioni Filho Mauro Pacheco Ferreira Nlio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrcia Alberton Patrcia Pozza Rafael Pete. da Silva Raulino Jac Brning Design Grfico Cristiano Neri Gonalves Ribeiro (coordenador) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro Xavier Fernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi Luciano Pedro Paulo Alves Teixeira Rafael Pessi Vilson Martins Filho

    Equipe Didtico-Pedaggica Angelita Maral Flores Carmen Maria Cipriani Pandini Caroline Batista Carolina Hoeller da Silva Boeing

    Cristina Klipp de Oliveira Dalva Maria Alves Godoy Daniela Erani Monteiro Will Dnia Falco de Bittencourt Elisa Flemming Luz Enzo de Oliveira Moreira Flvia Lumi Matuzawa Karla Leonora Dahse Nunes Mrcia Loch Patrcia Meneghel Silvana Denise Guimares Tade-Ane de Amorim Vanessa de Andrade Manuel Viviane Bastos Viviani Poyer Monitoria e Suporte Harrison Laske (coordenador) Alessandro Rosa Caroline Mendona Edison Rodrigo Valim Gislane Frasson de Souza Josiane Conceio Leal Rafael da Cunha Lara Vincius Maycot Sera. m Produo Industrial e

    Logstica Arthur Emmanuel F. Silveira Eduardo Kraus Francisco Asp Jeferson Cassiano Almeida da Costa

    Projetos Corporativos Diane Dalmago Vanderlei Brasil Secretaria de Ensino a

    Distncia Karine Augusta Zanoni (secretria de ensino)

    Djeime Sammer Bortolotti Carla Cristina Sbardella Grasiela Martins James Marcel Silva Ribeiro Lamuni Souza Liana Pamplona Maira Marina Martins Godinho Marcelo Pereira Marcos Alcides Medeiros Junior Maria Isabel Aragon Olavo Lajs Priscilla Geovana Pagani Ricardo Alexandre Bianchini Silvana Henrique Silva Secretria Executiva Viviane Schalata Martins Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Jnior (coordenador) Giorgio Massignani Rodrigo de Barcelos Martins Sidnei Rodrigo Basei Edio --- Livro Didtico

    Professor Conteudista Milene Pacheco Kindermann Design Instrucional Carolina Hoeller da Silva Boeing Projeto Grfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramao Higor Ghisi Luciano Vilson Martins Filho (2a Edio)

    Reviso Ortogrfica Simone Rejane Martins

  • Apresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

    Palavras da professora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

    Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    UNIDADE 1 Noes de Direito Internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    UNIDADE 2 Fontes do Direito Internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    UNIDADE 3 Sujeitos do Direito Internacional Pblico. . . . . . . . . . . . . . . . 49

    UNIDADE 4 Con itos internacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

    UNIDADE 5 Direitos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

    UNIDADE 6 Con itos de leis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

    Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155

    Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

    Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159

    Respostas e comentrios das atividades de auto-avaliao . . . . . . . . . . . . 161

    Sumrio

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  • Palavras da professora

    Caro aluno,Seja bem-vindo disciplina de Direito Internacional!Nosso compromisso, a partir de agora, o de buscar entender como acontecem, sob a tica do Direito, os movimentos da sociedade internacional, sempre fazendo um link com a sociedade nacional. Os contedos da disciplina Direito Internacional sero abordados de forma progressiva, permitindo que, ao longo da jornada, voc faa algumas discusses sobre acontecimentos da atualidade e sua repercusso na sociedade internacional, uns de acordo com o Direito Internacional posto, outros nem tanto...Voc ver que vai ser muito gostoso aprender os conceitos de Direito Internacional e aplic-los na formao do gestor em comrcio exterior.

    J pensou voc visitando outro pas, ou recebendo um cliente de outro pas, e podendo discutir os temas internacionais com conhecimento de causa?

    Ingresse no contedo da disciplina e bons estudos!

    Prof Milene Pacheco Kindermann.

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  • Plano de estudo

    O plano de estudos visa orientar voc no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudaro a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

    Ementa

    Noes gerais. Sujeitos de Direito Internacional. Tratados internacionais. Nacionalidade. Direitos humanos. Soluo de con itos internacionais. Con itos de leis. Globalizao.

    Objetivos

    Geral

    O objetivo maior desta disciplina possibilitar ao aluno o conhecimento dos principais institutos do Direito Internacional, para que, a partir desses, possa entender como funcionam as questes jurdicas dentro da sociedade internacional.

    Espec cos

    Compreender o signi cado dos principais conceitos jurdicos (noes gerais) utilizados nas relaes de carter internacional (globalizadas).Realizar anlises sobre as inter-relaes existentes entre os institutos da esfera jurdica internacional.

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    Depreender das fontes do Direito Internacional (especialmente os tratados) temas e condutas legais que, no seu futuro cotidiano pro ssional, in uenciaro a prtica pro ssional. Entender como a sociedade internacional se organiza, por meio do conhecimento das peculiaridades dos seus principais sujeitos (Estados e organizaes internacionais governamentais e suas relaes com o indivduo nacionalidade, direitos humanos).Estudar as formas de solucionar, amigavelmente ou no, os con itos entre os Estados. Conhecer como os pases se utilizam de elementos de conexo para evitar ou resolver possveis con itos de aplicao das suas legislaes em situaes da vida pblica ou privada.

    Contedo programtico/objetivos

    Veja, a seguir, as unidades que compem o livro didtico desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Esses se referem aos resultados que voc dever alcanar ao nal de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade de nem o conjunto de conhecimentos que voc dever possuir para o desenvolvimento de habilidades e competncias necessrias sua formao.

    Carga horria

    A carga horria total da disciplina 60 horas-aula.

    Unidades de estudo: 6

    Unidade 1 Noes de Direito Internacional

    Nesta unidade voc vai aprender os conceitos e caractersticas do Direito Internacional, as relaes entre o Direito Internacional e o Direito Nacional e os princpios do Direito Internacional.

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    Como objetivos de aprendizagem desta unidade espera-se que voc possa compreender como se organiza a sociedade internacional, na tica jurdica, e qual o papel do Direito nesta sociedade; entender como o Direito Internacional se inter-relaciona com o Direito interno dos pases; e conhecer quais so os princpios basilares desta disciplina em constante construo.

    Unidade 2 Fontes do Direito Internacional

    Nesta unidade voc vai aprender quais so as fontes do Direito Internacional Pblico e do Direito Internacional Privado, e realizar um estudo dos tratados: conceito, condies de validade, processo de elaborao, efeitos, interpretao, extino, tratamento brasileiro dos tratados internacionais.O objetivo desta unidade possibilitar a voc compreender como so as fontes do Direito Internacional Pblico e do Direito Internacional Privado, estudar os tratados e identi car a partir desse estudo como os pases passam a adotar condutas legais no plano internacional.

    Unidade 3 Sujeitos do Direito Internacional Pblico

    Nesta unidade voc vai aprender sobre o Estado e suas caractersticas no plano poltico, fsico e pessoal, as caractersticas da Santa S e os conceitos e caractersticas das organizaes internacionais.Os objetivos desta unidade so os de possibilitar o seu conhecimento dos sujeitos do Direito Internacional Pblico, que so os Estados (incluindo-se a a Santa S) e as organizaes internacionais. E, ainda, compreender o Estado, que o principal sujeito do DIP, e suas vertentes poltica, pessoal e fsica.

    Unidade 4 Con itos internacionais

    Nesta unidade voc conhecer as causas dos con itos internacionais, os meios pac cos e os meios blicos para soluo desses con itos.O objetivo desta aprendizagem o de conhecer como so tratados os casos de con itos entre os pases e quais so os possveis meios utilizados para a soluo desses con itos, como esses so utilizados e as diferenas entre cada um deles.

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    Unidade 5 Direitos humanos

    Na Unidade 5 voc estudar sobre a classi cao dos direitos humanos e a proteo internacional desses direitos.O objetivo o de compreender a proteo internacional dos direitos humanos, trazendo para a discusso um histrico das principais convenes internacionais de proteo aos direitos humanos e como as principais organizaes internacionais atuam no sentido de garantir a proteo a esses direitos.

    Unidade 6 Con itos de leis

    Na ltima unidade de estudo voc ver os con itos de leis e as formas de soluo, e conhecer os principais elementos de conexo utilizados em questes civis, comerciais e processuais, presentes na legislao brasileira.Como objetivos de aprendizagem esto: conhecer os con itos de normas existentes nas relaes internacionais de carter privado, alm das solues encontradas pelos sistemas jurdicos para evitar, minimizar ou resolver esses possveis con itos; compreender o Direito Internacional Privado brasileiro, ou seja, como o Direito brasileiro resolve os con itos de normas nas relaes privadas internacionais; compreender como se aplicam as teorias de remessa e os elementos de conexo, decifrando que legislao nacional ser aplicada num caso privado de relaes internacionais. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construo de competncias se d sobre a organizao de metodologias e por meio das diversas formas de ao/mediao.So elementos desse processo:

    o livro didtico; o AVA (Ambiente virtual de Aprendizagem); eas atividades de avaliao (complementares, a distncia e presenciais).

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    Agenda de atividades/cronograma

    Agenda de atividades/ Cronograma

    Veri que com ateno o AVA, organize-se para acessar periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorizao do tempo para a leitura, da realizao de anlises e snteses do contedo e da interao com os seus colegas e tutor.

    No perca os prazos das atividades. Registre no espao a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no AVA.

    Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina.

    Atividades obrigatrias

    Avaliao a Distncia 1Avaliao PresencialAvaliao Presencial (2 chamada)Avaliao Final (caso necessrio)Demais atividades (registro pessoal)

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  • UNIDADE 1

    Noes de Direito Internacional

    Objetivos de aprendizagem

    Compreender como se organiza a sociedade internacional na tica jurdica e qual o papel do Direito nessa sociedade.

    Entender como o Direito Internacional se inter-relaciona com o direito interno dos pases.

    Conhecer quais so os princpios basilares desta disciplina em constante construo.

    Sees de estudo

    Seo 1 Conceitos e caractersticas do Direito Internacional.

    Seo 2 Relaes entre o Direito Internacional e o Direito Nacional.

    Seo 3 Princpios do Direito Internacional Pblico.

    1

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Para incio de estudo

    Para comear a entender porque se estuda o Direito Internacional e porque ele foi criado, vale a pena perguntar: estamos sozinhos no planeta?A resposta parece bvia... Claro que no! Basta olhar o mapa-mndi ou um globo terrestre que voc ver um aglomerado de pases, pintados em cores diferentes, sinalizando que cada unidade daquelas composta de um territrio, pessoas que ali habitam e um Governo que lhes organiza. Voc sabe tambm que cada unidade dessas constitui-se num pas diferente. Essas diferenas que tornam o mundo interessante! Olhos puxados, cabelos crespos, peles brancas como o leite, negras como chocolate, comidas diferentes, bebidas malucas, hbitos... Quanta diversidade! No meio de tudo isso, h o relacionamento entre os Governos e entre as pessoas desses pases. Com tanta diversidade, como garantir que os relacionamentos dem certo? No fcil!Pense em voc e em seu crculo de parentes, amigos, colegas e companheiros de trabalho... Vocs sempre concordam em tudo, ou h divergncias? E como resolvem tais divergncias? Amigavelmente? Entram num acordo? Um cede para o outro? Brigam? Discutem? Rompem a amizade? Ficam meses sem se falar? Pois , l no mundo exterior os relacionamentos tambm passam por essas situaes.Em razo disso, por meio das normas do Direito Internacional, a comunidade de naes procura se organizar, usando regras jurdicas para criar um ambiente favorvel s boas relaes internacionais, tentando organizar a sociedade (se auto-organizar) e criar meios pac cos de resolver as divergncias (nem sempre se consegue isso, mas se tenta).Bom, nesta unidade voc ir estudar os conceitos iniciais para tentar entender como funciona este nosso mundo!

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    Direito Internacional

    Unidade 1

    SEO 1 - Conceito e caractersticas do Direito Internacional

    Conceito do Direito Internacional

    O Direito Internacional a parte do Direito que cuida (busca disciplinar) das relaes internacionais existentes entre pases ou entre pessoas de nacionalidades diferentes.

    O Direito Internacional tem profunda relao com a rea das Relaes Internacionais, servindo de instrumento dessas. por meio do Direito Internacional que as relaes internacionais entre os Estados acontecem com maior segurana, e as relaes privadas de carter internacional so facilitadas.O Direito Internacional divide-se em duas reas de estudo: a pblica e a privada.

    O Direito Internacional Pblico trata dos interesses internacionais pblicos, regulando os direitos e deveres internacionais dos Estados, dos organismos internacionais e dos indivduos perante os Estados.

    O objetivo do Direito Internacional Pblico o de regular os interesses dos pases, objetivando a diminuio de con itos e o alcance da paz mundial.

    Os pases do Mercosul chegam a um acordo sobre a tarifa de imposto de importao e exportao de carnes. Isso vai facilitar (ou, dependendo, pode di cultar) o comrcio de carnes entre os pases que fazem parte do bloco.

    Compreendeu o que o Direito Internacional Pblico? Ento observe agora o que o Direito Internacional Privado.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    J o Direito Internacional Privado pode ser conceituado como o conjunto de normas reguladoras das relaes de ordem privada da sociedade internacional, conjugando leis de ordenamentos jurdicos distintos e indicando a lei competente a ser aplicada.

    O objetivo do Direito Internacional Privado decidir qual lei ser aplicada quando houver divergncias entre as leis internas de dois pases em questes de interesse privado.

    Aproveitando a situao do comrcio de carnes do Mercosul, citada anteriormente, quando duas empresas vo realizar um contrato internacional de compra e venda (importao e exportao), a lei de que pas ser aplicada nesse contrato? A do pas exportador ou a do pas importador?

    O Direito Internacional Pblico auxilia, por meio de tratados, a formao do Direito Internacional Privado. Assim, dois ou mais pases rmam um tratado de comrcio (DIPubl) e, com base nesse tratado, as empresas dos pases envolvidos assinam contratos e realizam negcios (DIPriv).

    Caractersticas do Direito Internacional Pblico

    No plano internacional no existe autoridade superior nem milcia (fora militar) permanente. Os Estados se organizam horizontalmente e pronti cam-se a proceder de acordo com as normas jurdicas na exata medida em que essas tenham constitudo objeto de seu consentimento.Os Estados possuem direitos formalmente iguais (igualdade soberana) e devem fazer suas prprias leis.

    A coordenao o princpio que preside a convivncia organizada de tantas soberanias.

    Ordenamento jurdico o conjunto de normas jurdicas existentes dentro de um pas. O Brasil, por exemplo, tem uma in nidade de normas jurdicas de diferentes assuntos: penais, civis, constitucionais, administrativas, comerciais, tributrias, processuais, trabalhistas, previdencirias, etc. Todas essas normas compem o ordenamento jurdico interno do pas. Cada pas tem o direito de de nir suas normas internas como lhes convier, de acordo com os valores de sua sociedade, seus costumes e necessidades. Chama-se ordenamento porque as normas seguem uma ordem entre si, evitando que uma no se sobreponha outra.

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    Direito Internacional

    Unidade 1

    O Estado soberano no originalmente submetido a uma jurisdio internacional diante de Corte de Justia Internacional alguma. Sua concordncia em ser julgado por uma Corte que con rma a autoridade dessa, de modo que a sentena (deciso da Corte) se torne obrigatria e que seu eventual descumprimento con gure um ato ilcito.Para que voc possa observar como a sociedade internacional se organiza de forma diferente da sociedade nacional, observe as duas guras apresentadas a seguir. Para a sociedade internacional, costuma-se, em razo do princpio da coordenao, usar uma linha reta, na qual um Estado instala-se ao lado do outro, nem acima, nem abaixo, observe:

    Figura 1.1 - Horizontalidade de Estados.

    Isso encontra-se con rmado na Carta da ONU (Carta de So Francisco), que criou a organizao, no que diz respeito composio da Assemblia Geral das naes unidas, rgo de carter decisrio, no qual todos os pases membros da entidade, independente de seu tamanho territorial, potncia nanceira ou blica, populao, ou outro fator, tm o mesmo voto igualitrio. Cada pas vale um voto!

    J no plano interno dos Estados, nota-se uma outra gura, uma pirmide, sendo que no seu topo est o Estado e na sua base os cidados ( a sociedade de pessoas fsicas e jurdicas do pas).

    Figura 1.2 - Pirmide de relacionamento Estado-cidado.

    Poder de julgar de um tribunal ou de uma autoridade. Por exemplo, no seu municpio, o juiz local tem o poder de julgar os casos que acontecem na cidade. Esse poder chamado de jurisdio.

    Que se ope ao princpio da subordinao, no qual um Estado manda no outro.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Isso signi ca que o Estado tem poder sobre os seus subordinados, gerando uma relao de poder em que os indivduos se submetem ao poder exercido pelo Governo que ele mesmo elegeu.As regras do Direito Internacional so obrigatrias. No se trata de cortesia internacional, de convenincia ou comodidade. As normas no so apenas uma espcie de moral internacional e, h muito tempo, ultrapassaram a condio de meros enunciados de direito natural. Entretanto elas no compem um direito homogneo. O carter jurdico de uma regra internacional decorre da objetividade do seu enunciado, da generalidade de sua aplicao e de sua compatibilidade com o conjunto de regras j admitidas no sistema (SEITENFUS; VENTURA, 1999, p. 23).O Direito Internacional histrico e conjuntural, vindo a desenvolver-se de acordo com a conjuntura poltica da poca. Ele acompanha a sociedade internacional nos seus movimentos.

    Quando acabou a Segunda Guerra Mundial, aps todos os horrores sofridos na Europa, os pases resolveram criar a ONU Organizao das Naes Unidas, com a nalidade de estabelecer um sistema que evitasse, no futuro, uma nova guerra mundial, criando um Conselho de Segurana, que, embora as crticas sua atuao (ou falta dela), at o momento conseguiu evit-la.

    SEO 2 - Relao entre o Direito Internacional e o Direito Nacional

    Enquanto o direito interno subordina os sujeitos de direito a um poder central que estabelece a lei e os faz respeit-la, graas a um aparelho institucional, que pode recorrer fora, o Direito Internacional pressupe a promulgao em comum, por meio de acordo, de uma regulamentao, cabendo a cada Estado avaliar a dimenso do dever que lhe incumbe e as condies de sua execuo (SEITENFUS; VENTURA, 1999, p. 25).

    um direito inerente ao ser humano, naturalmente estabelecido por Deus ou pela natureza humana.

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    Direito Internacional

    Unidade 1

    O mbito de aplicao do Direito Internacional no outro que no o territrio dos Estados. O Direito Internacional no celebrado para execuo somente nos espaos internacionais (alto-mar, plo antrtico, espao ultraterrestre). Pelo contrrio, nos limites territoriais de cada Estado que a aplicao das normas internacionais se torna mais importante, permitindo a harmonizao da sociedade.

    O problema surge, muitas vezes, quando h divergncia entre as normas criadas internacionalmente e as normas do plano interno do Estado. H nessa situao um con ito de normas (entre o internacional e o nacional), que pode gerar duas possibilidades:

    seguir o Direito Internacional e estar de acordo com a comunidade internacional;observar apenas o Direito Interno.

    Para estudar os efeitos desse embate entre normas de diferentes origens, foram estabelecidas algumas teorias.Dualismo segundo Rezek (1994, p. 4), para os dualistas (Carl Heinrich Triepel, na Alemanha, e Dionzio Anzilotti, na Itlia), o Direito Internacional e o Direito Interno so sistemas rigorosamente independentes e distintos, de tal modo que a validade jurdica de uma norma interna no se condiciona sua sintonia com a ordem internacional. Essa teoria lembra dos limites de validade das normas jurdicas no Direito Nacional e que as normas do Direito Externo somente so aceitas internamente quando introduzidas no plano domstico. Ou seja, no caso de igualdade entre as normas internacionais e nacionais, aplicam-se ambas, mas no caso de desigualdade, h a prevalncia da norma interna, at que essa mude o su ciente para permitir a aplicao da norma internacional. Ainda, para os dualistas, no h a necessidade premente de harmonizar os dois Direitos, porque acreditam na possibilidade de haver a dualidade de ambientes de aplicao das normas.Monismo conforme apregoa Seitenfus (1999, p. 26), prev uma unidade lgica e sistemtica das regras internas e internacionais, o que implica em um imperativo de subordinao entre uma e outra. O monismo se manifesta pela introduo, geralmente

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    nos textos constitucionais dos Estados, de uma clusula que estipula a supremacia de um direito sobre o outro, hierarquizando suas fontes. Para os monistas importante a harmonizao das normas, pois compem um nico ordenamento jurdico. O que se prope a eliminao da dualidade de regras, evitando o con ito de normas. E, em razo dessa caracterstica, a corrente dividiu-se em duas:

    monista internacionalista prev a unicidade da ordem jurdica sob o primado do Direito Internacional, a que se ajustariam todas as ordens internas (Hans Kelsen o maior expoente dessa corrente). Pregam a ordem jurdica nica e a impossibilidade de o Estado sobreviver em clima de hostilidade com a comunidade internacional em razo da no aceitao interna do direito externo (REZEK, 1996);monista nacionalista prev o primado do Direito Nacional de cada Estado soberano, sob cuja tica a adoo dos preceitos de Direito Internacional reponta como faculdade discricionria. Pregam a soberania dos Estados sobre a da comunidade internacional e a supremacia da Constituio de cada pas (SEITENFUS; VENTURA, 1999). Nesse caso, cada Estado possui a soberania de de nir qual aplicao ter a norma internacional dentro do seu ordenamento jurdico interno (se ser lei ordinria, lei complementar, status constitucional).

    O predomnio do dualismo ou do monismo repercute em solues prticas exigidas pelo convvio internacional. No tratamento constitucional dado aos tratados internacionais, veri cam-se trs possibilidades: a) h clusulas que conferem aos tratados o valor de Direito Interno; b) h clusulas determinando a supremacia dos tratados sobre o Direito Interno, podendo haver prevalncia sobre a Constituio, sobre as demais leis ou sobre outros tratados; c) h clusulas que prevem a necessidade de incorporao do

    texto do tratado ao ordenamento interno, logo a internalizao

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    Direito Internacional

    Unidade 1

    do acordo, para que ele encontre sua vigncia equiparao dos tratados lei ordinria. (SEITENFUS; VENTURA, 1999).

    SEO 3 - Princpios do Direito Internacional Pblico

    Os princpios do DIP so divididos em trs grupos (MONSERRAT FILHO, 1986), de acordo com seus objetivos, e servem para guiar as aes dos Estados no plano internacional. 1) Princpios relativos defesa da paz mundial:

    renncia ameaa ou uso da fora;soluo pac ca das controvrsias;segurana coletiva;busca do desarmamento;proibio de propaganda de guerra.

    2) Princpios relativos cooperao entre todos os Estados e povos, independente de qualquer diferena:

    respeito soberania e igualdade de direitos de todos os Estados;no-interveno nos assuntos internos;obrigao de cooperar com todos os Estados em base eqitativa;cumprimento de boa-f das obrigaes assumidas.

    3) Princpios relativos ao livre desenvolvimento de todos os povos:

    igualdade de direitos e autodeterminao dos povos;respeito aos direitos humanos.

    Sntese

    Nesta unidade voc aprendeu que o Direito Internacional disciplina as relaes internacionais. Se essas relaes acontecerem no mbito dos Estados e das Organizaes

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    Internacionais Governamentais, ser usado o Direito Internacional Pblico. Se essas relaes acontecerem no mbito privado, entre pessoas de diferentes nacionalidades, elas usaro o Direito Internacional Privado.Voc viu que a sociedade internacional se organiza de forma horizontal, baseada no princpio da cooperao entre os Estados, sendo que nenhum Estado naturalmente submetido jurisdio de outro ou de alguma Corte Internacional de Justia. Assim, o Direito Internacional tem caracterstica obrigatria em razo da fora dos pactos assumidos pelos Estados, e histrico e conjuntural, pois acompanha os movimentos da sociedade internacional.Voc estudou, tambm, como se relacionam o Direito Internacional Pblico e o Direito Interno por meio da aplicao das teorias dualista e monista nacionalista e internacionalista.E, por ltimo, foram listados os princpios utilizados pelo Direito Internacional.

    Atividades de auto-avaliao

    Vamos exercitar o raciocnio?Voc viu que o Direito Internacional disciplina as relaes internacionais entre Estados. Quando esse aplicado, ele funciona dentro do territrio dos Estados, se relacionando com o Direito Interno, chegando ao dia-a-dia do cidado, das empresas e de toda a organizao do pas. Ento, vamos imaginar como a relao desses dois Direitos (interno e internacional), na prtica. O Estado assina um tratado de proibio de uso de armas de fogo pelo cidado comum. S os agentes de segurana do pas que podem us-las. Dentro do

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    Direito Internacional

    Unidade 1

    pas h uma legislao de permite o uso de armas de fogo pelo cidado comum, desde que esse solicite uma autorizao junto ao Governo.Indique e justi que a sua escolha de qual dos direitos ser aplicado no pas (Direito Internacional tratado ou Direito Nacional lei interna), no caso de uso das seguintes teorias:1) da teoria dualista;

    2) da teoria monista internacionalista;

    3) da teoria monista nacionalista.

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    Saiba mais

    Para saber mais, voc pode ler:SEITENFUS, R.; VENTURA, D. Introduo ao Direito Internacional Pblico. Porto Alegre: Livraria do Advogado.

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    Fontes do Direito Internacional

    Objetivos de aprendizagem

    Compreender as fontes do Direito Internacional Pblico e do Direito Internacional Privado.

    Veri car o estudo dos tratados, que a principal fonte do Direito Internacional.

    Identi car a partir das fontes do Direito Internacional (especialmente os tratados) temas e condutas legais.

    Sees de estudo

    Seo 1 Fontes do Direito Internacional Pblico e do Direito Internacional Privado.

    Seo 2 Estudo dos tratados.

    2

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    Para incio de estudo

    Agora que voc j sabe para que serve o Direito Internacional e como ele interage com o Direito interno dos pases, voc vai estudar as fontes do DI.Este estudo importante, talvez at mesmo um dos mais importantes dentro da disciplina, uma vez que justamente por meio do entendimento dessas fontes que voc ir perceber como o Direito Internacional nasce e aplicado, como os Estados compem as regras internacionais de convivncia e em que nvel elas so cumpridas pelos pases, quando passam a fazer parte do ordenamento jurdico do Estado.Por exemplo, se o Brasil assina um tratado no mbito da OMC Organizao Mundial do Comrcio ir causar um grande benefcio para a empresa em que voc trabalha, porque vai facilitar a exportao dos produtos que ela produz para um determinado grupo de pases. Mas a partir de quando esse tratado pode ser aplicado? Ser que no dia seguinte sua assinatura pelo Presidente da Repblica voc j pode usar os benefcios deste tratado para exportar os produtos da sua empresa para um dos pases que fazem parte do tratado?

    Isto o que voc vai descobrir a partir de agora... Bom estudo!

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    Direito Internacional

    Unidade 2

    SEO 1 - Fontes do Direito Internacional Pblico e do Direito Internacional Privado

    Imagine-se fazendo um contrato internacional. Voc representa os interesses de uma empresa brasileira e a outra pessoa com quem voc est negociando representa os interesses de uma empresa canadense. Voc descobriu esse contato via internet. Agora, voc quer saber se possvel realizar tal contrato com a empresa canadense. Voc vai se perguntar: o Brasil e o Canad tm relaes diplomticas e comerciais? O produto, objeto desse contrato, pode ser vendido no Canad e no Brasil? Que legislao voc deve usar para realizar o contrato, a brasileira ou a canadense? E se esse contrato gerar algum problema depois, ser resolvido via justia brasileira ou canadense? Voc ter muito que pesquisar antes de fechar o contrato, no mesmo? Mas para isso voc vai buscar uma fonte de consulta.Primeiramente necessrio que voc saiba o conceito de fonte, observe!

    Considera-se fonte do direito o lugar de onde o direito nasce.

    No entanto, observe que importa para esse estudo tambm a forma como esse direito nasce.O primeiro tipo de fonte chamado de fonte material ou primria. Dela sai a matria do Direito Internacional, isto , do que ele feito. So os movimentos da sociedade internacional. Esses movimentos histricos, sociais, religiosos, culturais, blicos, entre outros, so a matria-prima do Direito Internacional.

    Por exemplo, se o assunto meio ambiente, cada pas vai expor a sua posio quanto ao tema, negociando um meio termo, que resuma o acordo de vontades das partes envolvidas. Se o planeta est precisando de mais proteo ao meio ambiente, essa ser a tnica do Direito Internacional a ser convencionada pelos pases que esto discutindo o tema.

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    O segundo tipo de fonte chamado de fonte formal ou secundria. Ela indica a forma como foi feito o direito. A matria discutida pelos Estados (a questo de meio ambiente, por exemplo) pode ser apresentada por meio das fontes formais do Direito Internacional, que so os tratados e convenes internacionais, o costume, os atos unilaterais, os princpios gerais do Direito e as resolues das organizaes internacionais.

    Os tratados e convenes internacionais so as manifestaes expressas (escritas) dos acordos de vontades (consenso) entre Estados.

    Essas manifestaes surgem de duas formas: a de tratados especiais ou tratados-contratos, que estipulam as regras, uma a uma, de como se deve cumprir a obrigao; e a de tratados gerais ou tratados-lei (tambm chamados normativos), que estipulam as normas gerais e os princpios que devem seguir os pases sobre determinado assunto.

    Por exemplo, se os pases que compem a Floresta Amaznica fazem um tratado dizendo que o uso dos recursos da Amaznia ser feito de forma sustentvel, mantendo o equilbrio do ecossistema, esse tratado ter um princpio normativo, ser um tratado-lei. Mas se, alm disso, os Estados estabelecem tambm clusulas dizendo que os pases devero proibir o uso de queimadas para limitar a extrao de madeira somente quando houver um programa de re orestamento e estabelecer normas quanto pesca nos rios da regio, estabelecendo tambm prazos para cumprimento dessas regras e penalidades no caso de seu descumprimento, a estaro fazendo, tambm, um tratado-contrato.

    Atualmente, muito comum que sejam construdos tratados que tragam esses dois tipos em seu texto, gerando, assim, uma norma e um contrato.

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    Direito Internacional

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    O costume o conjunto de normas consagradas por longo uso e observadas nas relaes internacionais como obrigatrias.

    Distingue-se do uso pela idia de obrigao. Sua fora obrigatria procede, antes de tudo, de uma prtica geral, admitida como lei.

    Por exemplo, um Chefe de Estado quando visita outro pas deve ser recebido com honras, pompas e com toda a proteo diplomtica cabvel. Isso decorre de um costume internacional.

    Compreendeu? Ento prossiga e observe agora o que so os atos unilaterais.

    Os atos unilaterais so aqueles atos em que a manifestao da vontade de um sujeito de direito (nesse caso do Estado) su ciente para produzir efeito jurdico, no necessitando do consentimento do outro sujeito envolvido.

    Tais atos so assumidos pelo sujeito do DIP, restringindo sua prpria competncia ou assumindo obrigaes de carter jurdico. So atos unilaterais:

    o reconhecimento que a admisso de um direito ou pretenso de outro sujeito. Por exemplo, quando um Estado reconhece o nascimento de um novo Estado;o protesto que a negao de um direito ou pretenso de outro sujeito. A reclamao feita por um Estado a outro, que infringiu uma norma de Direito Internacional, no reconhecendo determinado direito que o Estado infrator imagina ter um exemplo. Por exemplo, quando o Governo americano declarou guerra ao Iraque, o Governo brasileiro manifestou-se de forma contrria a essa atitude. Isso um protesto;

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    a noti cao que a manifestao da vontade ou do posicionamento de um sujeito perante outro. A ttulo de exemplo, a carta de rati cao, que uma informao remetida s partes envolvidas no tratado, de que o pas j con rmou no plano interno (no seu territrio) o texto do tratado;a renncia que o abandono a um direito. Por exemplo, um Estado que renncia ao direito de cobrar as dvidas do Estado devedor, perdoando-as;a denncia que o desligamento de um sujeito de um acordo ou tratado. O Tratado de Assuno, por exemplo, permite a denncia do tratado, possibilitando aos Estados se desligarem do Mercosul; a adeso que aderncia a um pacto j formulado por outros sujeitos do DIP. O Tratado de Assuno permite a terceiros pases integrantes da ALADI a entrada no Mercosul.

    Os Princpios Gerais do Direito so as normas de justia objetiva (valores obrigatrios para a convivncia em sociedade) de onde o direito tira o seu fundamento.

    Esses princpios so inmeros e apontados como j consagrados na jurisprudncia internacional:

    proibio do abuso do direito; pacta sun servanda, que signi ca o respeito boa f nas obrigaes internacionais, a responsabilidade internacional pela prtica de ato ilcito e restituio do que foi obtido por enriquecimento ilcito; a obrigao de reparar no apenas o dano emergente, mas tambm o lucro cessante; a exceo da prescrio liberatria, etc.

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    Direito Internacional

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    Voc pode observar que a origem de tais princpios est no Direito Civil e no Direito Processual Civil. Recentemente foi incorporada a essa lista de princpios a noo de patrimnio comum da humanidade (MELLO, 1996, p. 54).

    As resolues internacionais so resolues (decises) de organizaes internacionais, obrigatrias para os Estados-membros da organizao, como o caso das resolues do Conselho de Segurana da ONU.

    So, ainda, fontes de integrao, interpretao ou aplicao do DIP, que venham a suprir lacunas deixadas pelas outras fontes formais, a doutrina, a jurisprudncia internacional e a eqidade.Na rea do Direito Internacional Privado, alm das fontes citadas acima, tambm so usadas a legislao interna dos pases, que sero aplicadas de forma comparada com a legislao do outro pas envolvido, e a jurisprudncia dos Estados, ou seja, as decises dadas nos tribunais dos pases.

    SEO 2 - Estudo dos tratados

    A principal fonte formal do DIP so os tratados. Nesta seo voc vai aprender a de nir esse instrumento jurdico, as condies que ele deve preencher para que possa ter validade e o passo-a-passo para a elaborao de um tratado. Aproveite para observar os efeitos dos tratados junto aos Estados envolvidos e junto a terceiros, saber como so interpretados e quais so as causas de extino de um pacto. Siga em frente!

    A doutrina o posicionamento sobre os assuntos jurdicos escritos em livros e artigos por estudiosos da rea (juristas).

    J a jurisprudncia internacional a deciso dada pelos juzes das Cortes Internacionais de Justia, que vira sentena judicial e serve de base para novas decises de casos semelhantes.

    A eqidade o uso do senso comum na busca do que for mais prximo da justia (no sentido de justo) para o caso.

    Um exemplo comparar a legislao do Brasil e do Canad, como no caso do contrato que mencionamos no incio desta unidade

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    Conceito

    Os tratados so atos jurdicos, por meio dos quais se manifesta o acordo de vontades entre duas ou mais pessoas internacionais (ACCIOLY ; SILVA, 1996). De acordo com Rezek (1996) tratado todo ato formal concludo entre sujeitos de Direito Internacional Pblico, e destinado a produzir efeitos jurdicos.

    No artigo 2 da Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio de 1969, consta como conceito de tratado:

    [...] um acordo internacional celebrado por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento nico, quer conste de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja a sua denominao particular. (RANGEL, 1993, p. 243).

    Sendo assim, o tratado um acordo produzido por Estados (inclui-se a a Santa S) ou por organizaes internacionais governamentais, gerando efeitos de ato jurdico e de norma, celebrado por escrito, alm de ser regido pelo Direito Internacional Pblico.As normas que estabelecem as regras sobre a elaborao, efeitos e validade dos tratados so as Convenes de Havana (CH), de 1928 (rati cada pelo Brasil), e Conveno de Viena (CV), de 1969 (no-rati cada), ambas sobre direito dos tratados.Os tratados podem ser convencionados por dois sujeitos (tratados bilaterais) ou por mais de dois sujeitos (multilaterais). Segundo a sua natureza jurdica podem ser tratados-lei, que xam normas gerais de Direito Internacional ou tratados-contrato, que procuram regular os interesses recprocos dos Estados. Podem dividir-se ainda em executados (quando a execuo se d de uma

    s vez) e executrios (quando a execuo se d sempre que ocorre uma situao).

    Os tratados podem receber vrias denominaes, que nem sempre indicam diferenas entre um e outro, pois o uso dessas

    denominaes no padro no mundo todo. Assim, podemos

    A Conveno de Havana foi celebrada da VI Conferncia Interamericana, em Havana, Cuba, em 20 de fevereiro de 1928, congregando somente Estados do continente americano.

    A Conveno de Viena foi celebrada em 23 de maio de 1969, em Viena, ustria, e tem carter universal, podendo ser aplicada a pases de todos os continentes.

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    Direito Internacional

    Unidade 2

    encontrar tratados que se chamam: conveno (Conveno de Viena), declarao (Declarao Universal dos Direitos Humanos), protocolo (Protocolo de Kyoto), carta (Carta da ONU), tratado (Tratado de Assuno), acordo (Acordo Quadro entre Unio Europia e Mercosul), concordata (esse utilizado para ns religiosos), pacto (Pacto da Liga das Naes), e outras nomenclaturas possveis, mas todas consideradas tratados.

    Condio de validade dos tratados

    Para que um tratado possa produzir todos os efeitos desejados, h que se observar a presena de condies de validade (requisitos que no podem faltar), que so:

    capacidade das partes so capazes os Estados (art. 1 da Conveno de Havana CH, e art. 6 da Conveno de Viena CV) e os organismos internacionais, ambos sujeitos de Direito Internacional Pblico (art. 3 da CV);habilitao dos agentes signatrios representada pela apresentao dos plenos poderes. Os Chefes de Estado e respectivos Ministros de Relaes Exteriores geralmente tm reconhecida a sua competncia originria por meio das Constituies dos pases. E deles dispensvel a apresentao de credenciais (carta de plenos poderes). No entanto, no caso de no serem eles os agentes a rmarem os tratados, exige-se a apresentao da carta de plenos poderes, que dever ser rmada pelo Chefe de Estado ou pelo Ministro das Relaes Exteriores dos pases. A pessoa designada na carta de chancelaria para representar o pas recebe o nome de plenipotencirio (arts. 2 e 7 da CV); objeto lcito e possvel o objeto do tratado deve visar uma coisa materialmente possvel e permitida pelo Direito e pela moral internacional;consentimento mtuo a expresso do acordo de vontades. Nos tratados multilaterais, vale a vontade da maioria de dois teros dos Estados contratantes. No caso de vcio de consentimento (erro, dolo, corrupo do representante do Estado, coero exercida sobre o referido representante e coero decorrente de ameaa ou emprego de fora, alm de adoo de tratado com desconhecimento de direitos obrigatrios) pode o tratado

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    ser anulado ou simplesmente no ser rati cado. A CV prev a manifestao da vontade nos artigos 9 a 17, e no caso de vcio de consentimento que cause a anulao aplicam-se as regras contidas nos arts. 42 a 53;forma e redao dos tratados (art. 3 da CH e art. 2 da CV) a redao de um tratado pode ocorrer em tantas lnguas, quanto forem os idiomas o ciais dos signatrios, ou pode ser lavrado em apenas um idioma, a critrio das partes. O formato de um tratado baseia-se nos seguintes itens:- prembulo introduo ao tratado, que segue logo

    abaixo do ttulo do mesmo, com a indicao das partes contratantes e dos motivos ou objetivos do tratado;

    - articulado as disposies do tratado, convencionadas entre as partes e apresentadas em forma de clusulas ou artigos;

    - declarao as partes declaram que assinam o tratado, assumindo o pacto (pode ser feita de forma expressa, por meio de um artigo especfico, ou implcita, pela simples presena das palavras acordam, concordam, convencionam ou declaram geralmente escritas no final do prembulo);

    - indicao do lugar e da data em que est sendo escrito o tratado;

    - assinaturas dos agentes habilitados representantes dos Estados que fazem parte do tratado, sendo que a ordem de assinaturas pode ser lado a lado, alfabtica ou por sorteio, o que no indica qualquer grau ou ordem de importncia de um Estado sobre o outro (princpio da coordenao).

    Ao nal do tratado podem ser feitas as reservas ou ressalvas, que so as declaraes unilaterais dos Estados signatrios se desobrigando de alguma clusula do tratado. Esto previstas nos arts. 6 e 7 da CH e nos arts. 2, 19 a 23 da CV.

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    Direito Internacional

    Unidade 2

    Processo de elaborao dos tratados

    Os tratados obedecem um processo de elaborao que segue (em sua maioria) os determinados passos.

    Negociao a fase em que os sujeitos interessados discutem o tema do tratado, chegando a um consenso. Geralmente so utilizados nas negociaes protocolos de intenes, nos quais os Estados ou a organizao internacional de nem seus interesses a respeito daquele tema.

    As negociaes podem se dar de forma bilateral ou por assemblia (organismos internacionais). Encerram com a lavratura do texto nal do tratado e sua assinatura pelo representante do Estado ou da organizao internacional.

    Rati cao o ato administrativo mediante o qual um Chefe de Estado con rma um tratado rmado em seu nome ou em nome de Estado, declarando aceito o que foi convencionado pelo agente signatrio.

    Geralmente s ocorre a rati cao depois que o tratado foi devidamente aprovado pelo Parlamento (referendado). Essa rati cao (con rmao) que faz com que o tratado passe a valer plenamente.No Brasil cabe ao Congresso Nacional aprovar internamente um tratado. O Chefe de Estado (Presidente da Repblica), por meio de seu Ministrio de Relaes Exteriores, encaminha Cmara dos Deputados um pedido de referendo do tratado. Analisado o tratado e aprovado pela Cmara, segue o texto do tratado para o Senado. L, uma vez aprovado o texto, ser emitido um decreto legislativo.

    Convm salientar que por ser um tratado o procedimento de referendo no admite mudanas, supresses ou acrscimos ao seu texto. Ele deve ser aprovado ou reprovado na sua totalidade. O qurum exigido s duas casas legislativas (Cmara dos Deputados e Senado Federal) para a aprovao de tratados o da maioria simples, utilizando o mesmo procedimento de lei ordinria, com exceo dos tratados sobre direitos humanos, cujo quorum exigido de trs quintos dos votos.

    Referendo um ato do Congresso Nacional em que o texto de lei ser integralmente aprovado ou integralmente rejeitado, no cabendo modi car o texto que est sendo votado. No caso dos tratados, o texto no pode ser modi cado porque foi assinado em consenso com os demais pases, na fase da negociao.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    O Estado deve abster-se de atos contrrios ao tratado mesmo antes de sua rati cao. Aprovado o tratado pelo legislativo, por meio de referendo, o Chefe de Estado pode emitir a rati cao. Em geral, a rati cao feita por meio de um documento, a que se d o nome de carta de rati cao, assinado pelo Chefe do Estado e pelo Ministro das Relaes Exteriores. Com a troca de cartas (tratados bilaterais) ou o depsito das mesmas em um depositrio, se o cializa o pacto. A CH prev a rati cao nos arts. 5 e 6. J a CV prev este instituto nos arts. 2 e 14.

    O registro e a publicao do tratado acontecem aps a rati cao. Implicam no registro do texto do tratado pelo depositrio e das cartas de rati cao dos pases que o con rmam. A publicao a notcia de que houveram rati caes ao tratado, dada pelo depositrio aos demais Estados participantes do pacto.

    Se o tratado acontece no mbito de uma organizao internacional, como a ONU, por exemplo, o registro dever ser feito perante a sua Secretaria, que se encarrega da publicao do tratado. Se no envolve uma OIG, o registro e a publicao sero feitos pelo depositrio. A publicao dar efeito internacional ao tratado (arts. 4o. e 8o. da CH, e art. 24 da CV). Internamente, a publicao segue as regras do Direito de cada pas e implica na produo de efeitos internos. No Brasil esta publicao ocorre atravs de decreto do Presidente da Repblica, no Dirio O cial da Unio (DOU). Aps esta publicao interna, o tratado (agora decreto presidencial) passa a valer no territrio nacional.No caso da adeso a um tratado, o Estado no participa da negociao do seu texto, mas quer fazer parte do tratado, mesmo posteriormente, porque esse tratado est correspondendo aos seus interesses. Tal adeso um ato unilateral do Estado e consiste na emisso da carta de adeso ao depositrio do tratado, pelo Chefe de Estado do pas aderente, uma vez j aprovado o texto do tratado internamente pelo seu Parlamento (arts. 9 e 19 da CH e art. 15 da CV). No momento da adeso cabe fazer reservas ou ressalvas.

    Nos tratados multilaterais, se escolhe um dos pases para guardar o original do tratado e receber as cartas de rati cao.

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    Direito Internacional

    Unidade 2

    Competncias constitucionais brasileiras

    O procedimento brasileiro quanto aos tratados no claro e direto. No h uma de nio expressa de qual posio os tratados assumem na hierarquia de normas brasileira e nem como o procedimento que devem utilizar para sua insero interna. Na Constituio Brasileira de 1988 veri cam-se as atribuies do Chefe de Estado.

    Das atribuies do Presidente da Repblica

    Art. 84 - Compete privativamente ao Presidente da Repblica:[]

    IV - sancionar, p romulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua el execuo;[]

    VII - manter relaes com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomticos; (BRASIL,CF,2006)

    Das atribuies do congresso nacional

    Quanto ao Congresso Nacional, veri ca-se na Constituio:

    Art. 49 - da competncia exclusiva do Congresso Nacional:

    I - resolver de nitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimnio nacional;

    II - autorizar o Presidente da Repblica a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que foras estrangeiras transitem pelo territrio nacional ou nele permaneam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar. (BRASIL,CF,2006)

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Efeitos dos tratados

    Um tratado passa a gerar efeitos no mbito internacional a partir de sua rati cao pelos membros envolvidos. A regra geral de que os efeitos dos tratados devem ser produzidos somente entre as partes envolvidas (arts. 10, 11 e 13 da CH, e arts. 26 a 30 da CV).

    No caso de atingirem um terceiro pas, seguem-se regras diferentes, conforme o seu efeito. Assim, se o tratado causa prejuzo aos interesses de outro Estado, deve-se proceder reparao, no caso de danos, ou ao pedido formal de desculpas, se no houver danos. J se h o benefcio de terceiro pas, esse pode usufruir do benefcio enquanto durar, mas no tem o poder de executar o tratado. Isso somente poder ocorrer se o Estado vier a fazer parte do tratado por adeso (art. 9 da CH, e arts. 34 a 38 da CV).

    Posio dos tratados na legislao brasileira

    A Constituio Federal totalmente omissa quanto ao tratamento que deva ser dado aos tratados. Assim, a jurisprudncia do STF Surpremo Tribunal Federal criou a regra de que os tratados, por passarem pelo mesmo procedimento da lei ordinria, devem receber o status desse tipo legal.Dessa forma, os tratados em geral aparecem no mesmo patamar das leis ordinrias, devendo obedecer a hierarquia de nida no artigo 59 da Constituio Federal (BRASIL,CF,2006):

    Art. 59 - O processo legislativo compreende a elaborao de:

    I - emendas Constituio;

    II - leis complementares;

    III - leis ordinrias;

    IV - leis delegadas;

    V - medidas provisrias;

    VI - decretos legislativos;

    VII - resolues.

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    Direito Internacional

    Unidade 2

    Esse artigo legal remete a uma pirmide de normas, que estabelece a relao de hierarquia entre elas, sendo que o topo da pirmide indica a lei mais importante e a base da pirmide a lei de menor fora legal.

    Os tratados, transformados em leis ordinrias, obedecem as normas constitucionais e as leis complementares, e revogam (derrubam) as leis ordinrias de mesmo patamar, as leis delegadas, as medidas provisrias, os decretos legislativos e as resolues.Excees a essa regra aparecem no caso do Direito Tributrio, sendo que o Cdigo Tributrio Nacional xou uma regra de obedincia aos tratados em matria tributria, conforme segue (BRASIL,CF,2006):

    Art. 96 - A expresso legislao tributria compreende as leis, os tratados e as convenes internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relaes jurdicas a eles pertinentes.

    Art. 98 - Os tratados e as convenes internacionais revogam ou modi cam a legislao tributria interna, e sero observados pela que lhes sobrevenha.

    H, ainda, o tratamento diferenciado que a Constituio Federal aponta para os tratados de direitos humanos, que venham a acrescentar novos direitos, dando o mesmo status de norma constitucional. Os pargrafos do art. 5 da CF/88 assim dispem (BRASIL,CF,2006):

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Art. 5 [...]

    2 Os direitos e garantias expressos nesta Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte. 3 Os tratados e convenes internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, sero equivalentes s emendas constitucionais. 4 O Brasil se submete jurisdio de Tribunal Penal Internacional a cuja criao tenha manifestado adeso. (acrscimo da Emenda Constitucional n 45/2004).

    Interpretao dos tratados

    So utilizadas as seguintes regras para a interpretao dos tratados:

    a interpretao autntica (art. 3 da CH e art. 33 da CV), utilizando como critrios a interpretao das palavras em sentido prprio e usual, estas palavras devem possuir o sentido da poca da celebrao do tratado, devem ser interpretadas conforme o seu uso no Estado, apresentam-se contrrias a todo o tratado, deve-se optar pela interpretao mais ampla. Quando redigido em duas lnguas, e havendo discrepncia no contedo, cada Estado se obriga pelo texto em sua lngua, se feito numa terceira lngua, deve-se buscar o signi cado do termo nessa lngua;a relevncia do princpio da boa-f (art. 31 da CV), no qual deve-se buscar a verdadeira inteno das partes poca da celebrao dos tratados, podendo ser consultados os trabalhos preparatrios para solucionar as obscuridades (arts. 31 e 32 da CV);deve-se buscar o procedimento costumeiro das partes no cumprimento de um tratado;as clusulas ambguas devem ser interpretadas de acordo com seu efeito til;as estipulaes especiais prevalecem sobre as gerais;

    a)

    b)

    c)

    d)

    e)

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    Direito Internacional

    Unidade 2

    a clusula proibitiva prevalece sobre a imperativa, que prevalece sobre a permissiva;a analogia.

    Extino dos tratados

    So causas de extino dos tratados:

    execuo integral do tratado;

    expirao do prazo convencionado;

    verificao de uma condio resolutiva prevista no tratado;

    acordo mtuo entre as partes; renncia unilateral por parte de Estado ao qual o

    tratado beneficia de modo exclusivo; denncia admitida expressa ou tacitamente pelo

    prprio tratado; impossibilidade de execuo; inexecuo do tratado por uma das partes contratantes; a guerra sobrevinda entre as partes contratantes; prescrio liberatria.

    As causas de extino de um tratado podem ser analisadas luz dos arts. 14 a 17 da CH e arts. 54 a 64 da CV.

    Sntese

    Nesta unidade voc aprendeu que o Direito Internacional proveniente do movimento da sociedade internacional, acompanhando a sua evoluo e o seu cenrio. As normas de DIP

    f)

    g)

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    se materializam sob diversas maneiras (fontes materiais), mas a principal delas o tratado.Voc aprendeu que o tratado um instrumento escrito e assinado pelos sujeitos do DIP (Estados e organizaes internacionais). Aprendeu que eles podem ser bilaterais ou multilaterais e receber vrias denominaes. Voc viu que para ter validade o tratado tem que preencher certas condies, que so a capacidade das partes, a habilitao dos agentes signatrios, um objeto lcito e possvel, obedecer uma forma e ter presente a manifestao do consentimento das partes envolvidas. Acompanhou tambm o processo de elaborao de um tratado, divido em trs fases: negociao, rati cao e registro e publicao. Alm de ter estudado quais so as competncias do Presidente da Repblica e do Congresso Nacional na elaborao do tratado. Nesta unidade foi possvel observar como devem ser produzidos os efeitos de um tratado, como devem ser interpretados e as causas de sua extino, e, ainda, a controversa posio dos tratados dentro do ordenamento jurdico brasileiro (posio na esfera constitucional, como lei complementar ou como lei ordinria).De posse de todos esses conhecimentos, voc agora deve fazer um exerccio de re exo, respondendo as atividades de auto-avaliao. Com o estudo feito nesta unidade em mente, voc j pode passar para a prxima unidade, na qual estudaremos

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    Direito Internacional

    Unidade 2

    os sujeitos de DIP (aqueles que elaboram os tratados que voc estudou aqui).

    Atividades de auto-avaliao

    Agora que voc est no nal do captulo, vamos exercitar o que aprendeu.1) O tratado um ato bilateral ou multilateral. Relacione como os atos unilaterais podem incidir num tratado.

    2) Analisando as fases de elaborao de um tratado, a partir de qual fase (negociao, rati cao ou publicao) esse tratado passa a vigorar dentro do territrio nacional brasileiro?

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    3) A partir do momento que o tratado entra em vigor no territrio nacional, ele passa a conviver com as demais leis aqui existentes, podendo revog-las, complement-las, alter-las ou simplesmente criar um novo direito. Como os tratados se posicionam perante as leis do ordenamento jurdico brasileiro?

    Saiba mais

    Sobre o processo legislativo brasileiro, visite o site da Cmara dos Deputados no endereo . Sobre os tratados que o Brasil assinou com outros pases, visite o site do Ministrio das Relaes Exteriores no endereo .Conhea tambm as convenes de Havana: e Viena: .

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  • UNIDADE 3

    Sujeitos do Direito Internacional Pblico

    Objetivos de aprendizagem

    Conhecer os sujeitos do Direito Internacional Pblico: Estados (incluindo-se a a Santa S) e organizaes internacionais.

    Compreender o Estado, que o principal sujeito do DIP, e suas vertentes poltica, pessoal e fsica.

    Sees de estudo

    Seo 1 O Estado e suas caractersticas.

    Seo 2 O Estado no plano fsico.

    Seo 3 O Estado no plano pessoal.

    Seo 4 As caractersticas da Santa S.

    Seo 5 As organizaes internacionais: conceitos e caractersticas.

    3

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Para incio de estudo

    - Voc j sabe quais so as fontes que criam o Direito Internacional Pblico no mesmo? Nas unidades anteriores voc estudou que os tratados so a principal fonte do DIP, estudou tambm que esses tratados so elaborados pelos sujeitos do DIP.Nesta unidade voc vai conhecer mais sobre os sujeitos do DIP, ou seja: os Estados e as organizaes internacionais.O Estado o principal sujeito do DIP. E, em razo disso, voc ir explor-lo sob trs nfases: a poltica, a pessoal e a fsica. Trocando em midos, como o Estado se comporta nas relaes com outros membros da sociedade internacional, na nfase poltica. Na nfase pessoal, voc vai estudar como o Estado se relaciona com as pessoas (nacionais e estrangeiros). Por ltimo, na nfase fsica, voc vai descobrir como o Estado exerce seu poder sobre o territrio. As organizaes internacionais, por sua vez, s existem em razo da vontade dos Estados de fundarem entidades que agrupem a si prprias, mediante objetivos comuns. Os Estados, por co jurdica, conferem a essas entidades uma personalidade jurdica prpria, diferente das personalidades jurdicas dos Estados. Essas organizaes internacionais desempenham um importante papel na sociedade internacional, tentando aproximar mais os Estados e evitar con itos.Passe, agora, a estudar esses sujeitos.

    Como se fosse um clube, uma fundao ou mesmo uma empresa, que tem personalidade jurdica diferente de seus fundadores.

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    Direito Internacional

    Unidade 3

    SEO 1 - O Estado e suas caractersticas

    O principal sujeito das relaes internacionais pblicas (e, por conseqncia, do DIP) o Estado. Para melhor estud-lo, vamos dissec-lo em trs partes: o Estado no plano poltico, o Estado no plano fsico e o Estado no plano pessoal. Assim, voc vai estudar como o Estado se relaciona com os outros Estados da comunidade internacional, como exerce poderes sobre um territrio e como se relaciona com as pessoas fsicas que entram e saem de seu territrio. Inicie agora o estudo. Voc vai gostar de entender como o Estado funciona.

    O Estado no plano poltico

    Constituio do Estado (requisitos, modelos e formas de nascimento)

    Conforme estabelece a Conveno Interamericana sobre os Direitos e Deveres dos Estados, rmada em Montevidu, em 1933, so elementos constitutivos de um Estado:

    uma populao permanente massa de indivduos, nacionais e estrangeiros, que habitam o territrio em determinado momento histrico;um territrio determinado com fronteiras de nidas e devidamente ocupado;um Governo prprio com poder interno (autonomia) e poder externo (independncia); capacidade de entrar em relao com os demais Estados reconhecida pelos demais membros da comunidade internacional.

    A existncia desses elementos, e de todos eles em conjunto, de suma importncia, uma vez que se no estiverem todos presentes, no se considerar um Estado plenamente. Veja o caso da Palestina, em que se discute se ou no um Estado.

    So os requisitos para que o Estado seja considerado como um Estado pela comunidade internacional.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Possui um Governo (autoridade palestina), possui uma populao permanente (as pessoas que residem no territrio desenhado da Palestina), mas lhe falta o domnio sobre o territrio (situao que parece estar sendo equacionada neste nosso momento histrico), o que faz com que muitos pases no reconheam a Palestina como um Estado. Em razo da capacidade de exercer seus direitos e obrigaes os Estados classi cam-se em razo de diferentes modelos de organizao de poder:

    Simples ou unitrios so os Estados plenamente soberanos em relao aos negcios externos e sem diviso de autonomias no tocante aos internos. Ex.: a maioria dos Estados europeus.Compostos so entidades estatais que se agrupam por vontade (coordenao) ou por fora de um Estado mais poderoso sobre outro (subordinao):

    por coordenao associao de Estados soberanos ou de unidades estatais que, em p de igualdade, conservam apenas uma autonomia de ordem interna, enquanto o poder externo investido num rgo central. Existiam vrios modelos de Estados compostos, como a unio real, a unio pessoal e a confederao de Estados, mas atualmente s existe o modelo federao. Na Federao de Estados a personalidade externa existe somente no superestado, o Estado Federal. Os seus membros, ou seja, os Estados Federados, possuem simplesmente a autonomia interna, sujeita essa, entretanto, s restries que forem impostas pela Constituio Federal. Brasil, Argentina, Estados Unidos so exemplos de Estados Federados;por subordinao atualmente no existem mais Estados compostos por subordinao. Tratavam-se de unies em que os integrantes no se achavam em p de igualdade, ou no possuam plena autonomia, ou se achavam despidos do gozo de determinados direitos, entregues a outros. Eram os Estados vassalos,

    a)

    b)

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    Direito Internacional

    Unidade 3

    protetorados ou Estados clientes, pases satlites (o caso da ex-URSS), e pases sob tutela (colnias). No momento, podemos indicar como uma situao de subordinao a interveno norte-americana no Iraque.

    A Comunidade Britnica de Naes uma associao de Estados que no se inclui em nenhuma dessas categorias. Trata-se de livre associao, que mantm a plena soberania dos Estados membros e a igualdade de posio.Quando os elementos constitutivos se agrupam, ocorre o nascimento de um novo Estado. Como atualmente os territrios do globo j se encontram ocupados, o nascimento de um Estado novo pode acontecer em razo dos seguintes fatos:

    separao de parte da populao e do territrio de um Estado, subsistindo a personalidade internacional da ptria-me. Foi o caso do Brasil, quando tornou-se independente de Portugal. A ptria-me (Portugal) continuou a existir no cenrio internacional, mas nasceu uma nova personalidade jurdica (o Brasil), com territrio de nido, uma populao permanente, um Governo prprio (autnomo e autoproclamado independente), sendo que nos faltava o reconhecimento internacional, que foi comprado da Inglaterra. Mais recentemente vimos o caso do Timor Leste, que se separou da Indonsia;dissoluo total de um Estado, no subsistindo a personalidade do antigo Estado. o caso da Tchecoslovquia, que deu origem Repblica Tcheca e Eslovquia;fuso, que a juno de dois ou mais pases sob uma nova personalidade. o caso da Alemanha, que fundiu a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental, divididas no ps-Segunda Guerra em torno de um Estado novo, a Alemanha (lembre-se da diviso com a construo do muro de Berlim e da uni cao com a queda do muro).

    a)

    b)

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Reconhecimento (de Governo, de beligerncia e de Estado)

    Apenas para relembrar, voc j estudou o reconhecimento na Unidade 2, como um ato unilateral praticado por um Estado. Esse reconhecimento pode ser de diversas situaes. Interessa-nos, neste momento, o reconhecimento de um Estado. Isso signi ca a deciso do Governo de um outro Estado j existente de aceitar uma nova entidade como um Estado. O reconhecimento pode ter efeito declaratrio (apenas reconhecendo uma situao j existente) ou constitutivo (criando um novo Estado), podendo ser feito de forma expressa (formalmente por meio de ato escrito) ou tcita (de forma indireta, por exemplo, recebendo o Chefe do Estado novo com honras e pompas de Chefe de Estado dentro do territrio do pas), individual (de pas para pas) ou coletiva (vrios Estados declaram o reconhecimento do novo Estado por meio de um tratado multilateral), condicionada (ao pagamento de certo valor, por exemplo) ou sem a imposio de condies.No entanto, nos casos de separao, nem sempre o reconhecimento de um novo Estado se d de forma tranqila pela ptria-me. Se est havendo um problema interno (tumulto, situao de beligerncia, motim, guerra civil), pode acontecer de a ptria-me valer-se (ou receber) de uma declarao de cunho internacional, que se chama reconhecimento de beligerncia.

    O reconhecimento de beligerncia ocorre quando uma parte da populao se subleva (revolta) para criar novo Estado, ou ento para modi car a forma de governo existente, ou quando os demais Estados resolvem tratar ambas as partes como beligerantes num con ito, aplicando as regras de Direito Internacional a respeito.

    Se a luta atinge vastas propores, de tal sorte que o grupo sublevado se mostra su cientemente forte para possuir e exercer de fato poderes comparados aos do Governo do Estado, constitui-se um Governo responsvel, que mantm sua autoridade sobre uma parte de nida do territrio do Estado, possui uma fora armada regularmente organizada, submetida disciplina militar, e se mostra disposto a

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    Direito Internacional

    Unidade 3

    Estes so direitos provenientes de convenes internacionais que disciplinam a guerra, punindo com regras especiais os infratores das normas de guerra.

    respeitar os direitos e deveres de neutralidade, os Governos estrangeiros podero pr as duas partes em luta no mesmo p de igualdade jurdica, reconhecendo-lhes a qualidade de beligerantes.

    Disso decorre a conferncia das responsabilidades ao grupo insurreto de um Estado, no tocante ao direito da guerra. Tambm exonera a ptria-me de suas responsabilidades quanto ao grupo insurreto e passa a no trat-lo como rebelde. O que signi ca que o grupo insurreto pode sofrer as sanes espec cas para os casos de guerra (mesmo o Estado no estando numa guerra).

    Perante outros Estados, a ptria-me no responde pelos atos do grupo insurreto (seqestro de estrangeiros, seqestro de cargas e transportes, por exemplo). Atualmente, temos um caso, aqui na Amrica do Sul, com a Colmbia, em que est constitudo um grupo paramilitar que domina determinada regio territorial (as FARC Foras Armadas Revolucionrias Colombianas), pleiteando o reconhecimento de beligerncia como o passo inicial para constituir-se em um novo pas.

    Uma vez reconhecido um Estado, a regra que seja reconhecido o seu Governo quando ele mude.

    O reconhecimento de um novo Governo ocorre em razo das modi caes da organizao poltica de um Estado e so da alada do Direito Interno (autonomia). No entanto, quando a modi cao se d em razo da violao da Constituio, por um golpe de Estado, necessrio o reconhecimento do novo Governo pela comunidade internacional, e isso se d em razo exclusivamente de convenincias polticas.

    - Sobre a questo do reconhecimento surgiram duas doutrinas, observe!

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    A doutrina Tobar (Ministro das Relaes Exteriores do Equador) prega que s deve ser reconhecido o novo Governo aps ter o povo escolhido livremente seus representantes, ou, no caso de revoluo (tomada de poder pela fora), a populao j tenha aceitado o novo Governo. A doutrina formulada em Cannes, em 1922, que diz que o novo Governo deveria aceitar a proteo da propriedade individual, o reconhecimento das dvidas do Estado, a garantia de execuo dos contratos e o compromisso da absteno de propaganda subversiva contra outros pases, para s ento ser aceito. Na maioria dos casos, ca valendo a regra de que nos assuntos internos do Estado esse tem autonomia e que a comunidade internacional deve reconhecer o novo governante.

    Voc j deve ter visto que quando h a posse de um novo (ou mesmo reempossado) Presidente da Repblica aqui no Brasil (ou em qualquer parte do mundo), feita uma solenidade de posse e uma festa comemorativa, em que participam os representantes de outros pases (Chefes de Estados ou diplomatas).

    Esta uma forma de se fazer o reconhecimento de um novo Governo.

    Sucesso de Estados

    - Voc j percebeu que quando surge um novo pas devem acontecer efeitos dessa novidade?Esses efeitos que nos levam a estudar a sucesso de Estados.

    Sucesso o conjunto de efeitos que decorrem da morte de um pas.

    No caso da separao de Estados, esse fato gera efeitos para a ptria-me e para o Estado novo. Os tratados assumidos pela ptria-me no so transmitidos para o Estado novo, que dever contratar seus prprios tratados.

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    Direito Internacional

    Unidade 3

    O Estado novo receber da ptria-me os bens pblicos existentes na parte do seu territrio (ruas, rios, solo, subsolo, escolas, etc.). Mas nas questes nanceiras o Estado novo assumir as dvidas contradas sobre a razo de seu territrio (por exemplo, um emprstimo feito para construir uma represa na regio que agora pertence ao Estado novo). Quanto legislao, o Estado novo criar a sua prpria lei, assim como a ptria-me continuar exigindo, no seu territrio, a legislao at ento em vigor. Quanto nacionalidade, as pessoas que residirem no territrio do Estado novo devero receber uma nova nacionalidade, ou podero permanecer como nacionais da ptria-me, ou, ainda, podero ter dupla nacionalidade.

    Um exemplo de separao de Estados o caso da Indonsia e do Timor Leste.

    Para ver o mapa da Indonsia e do Timor Leste acesse o site .

    No caso de dissoluo de Estados, como a ptria-me deixa de existir, somente haver efeitos para os Estados novos, que contrataro novos tratados, pagaro as dvidas contradas pela ptria-me, recebero as partes do patrimnio da ptria-me, conferiro novas nacionalidades e comporo novas leis internas.

    Um exemplo de dissoluo de Estados o caso da Tchecoslovquia, que deu origem a dois novos pases: a Repblica Tcheca e a Eslovquia.

    Para ver o mapa da Tchecoslovquia, da Repblica Tcheca e da Eslovquia acesse o site .

    No caso de fuso de Estados, ao contrrio da dissoluo, os Estados antigos deixaro de existir, criando um novo, que adotar uma nova nacionalidade, novas leis internas, novos tratados e absorver as dvidas e o patrimnio dos Estados antigos.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Exemplo de fuso o caso da Alemanha, que fundiu as duas Alemanhas numa s.

    Para estudar um pouco sobre a histria desse pas, sobre a sua separao e a sua reuni cao acesse o site: .

    Por m, h, ainda, uma situao que merece ser estudada, a da anexao de territrio de um Estado.

    Essa anexao pode se dar de forma total, quando um pas anexa para si o territrio completo de outro Estado, como foi o caso do Tibet, que foi anexado pela China. Nesse caso, o Estado anexante (China) assume todos os bens e as dvidas do Estado anexado (Tibet), impe ao anexado a sua legislao, os seus tratados e a sua nacionalidade (a nacionalidade do Estado anexado deixa de existir).

    No caso de anexao parcial (como o caso do Acre, que foi anexado pelo Brasil, da Bolvia), os bens e dvidas pblicos referentes quele territrio passam para o Estado anexante (Brasil), os tratados do anexante se estendem sobre o territrio anexado, bem como a legislao interna. Com relao nacionalidade, a populao pode ser bene ciada com a nacionalidade do anexante, em substituio nacionalidade do Estado anexado, ou pode ser concomitante a essa, criando a situao de dupla nacionalidade, uma vez que a ptria de onde foi retirada a parcela do territrio continua existindo.

    Para estudar um pouco sobre a histria do Tibet acesse o site: .

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    Direito Internacional

    Unidade 3

    Direitos e deveres dos Estados

    Como cada Estado uma pea dentro da sociedade internacional, as suas relaes internacionais so relaes de direitos e de deveres. Alm do que consta nos tratados, que geram direitos e deveres entre as partes contratantes, existem direitos e deveres universais dos Estados, e que podem ser resumidos nos itens que seguem. So direitos dos Estados:

    o direito existncia e igualdade formal, que consiste no direito que tm os Estados soberanos de serem iguais perante a lei internacional. Isso signi ca que cada Estado ter direito igualitrio de voto e um no poder reclamar jurisdio (poder) sobre o outro;o direito ao respeito mtuo, que o direito de ser tratado com considerao e reconhecido como pessoa internacional;o direito liberdade, que compreende a soberania externa (independncia) e interna (autonomia). A soberania interna compreende os direitos de organizao poltica, de legislao e de jurisdio sobre as pessoas, e de domnio sobre o territrio. A soberania externa compreende os direitos de ajustar tratados, de representao, de fazer a guerra e a paz;o direito de defesa e conservao, que consiste na prtica de todos os atos necessrios defesa do Estado contra os inimigos externos ou internos.

    So deveres dos Estados:o dever moral de assistncia mtua, por exemplo nos casos de calamidades e catstrofes;o dever jurdico de respeitar os direitos fundamentais dos outros Estados (tratados, soberania, etc.);

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    o dever de no-interveno, pois a interveno um ato abusivo, visando a imposio de uma vontade estranha ao Estado. Esse dever admite excees, como a interveno em nome do direito de defesa e conservao, para preservar os direitos humanos e, em caso de guerra civil, para proteo dos nacionais.

    o caso da interveno coletiva, prevista na Carta da ONU, que promovida pelo seu Conselho de Segurana, em casos de ameaa paz ou outros atos de agresso. Veja o caso do Haiti, em que est sendo feita uma interveno coletiva, comandada pelo exrcito brasileiro, por designao do Conselho de Segurana da ONU.

    Responsabilidades dos Estados

    Todo Estado, como membro da comunidade internacional, ao se relacionar responsvel pelos seus atos, tantos os positivos, que causem bons efeitos, quanto os negativos, atos que causem danos a outros pases.

    Na situao de dano, cabe responsabilidade do Estado reparar o mal causado, tenha ele efeito moral (desrespeito ao Chefe de Estado de outro pas, por exemplo) ou patrimonial (destruir a sede da Embaixada de outro pas, por exemplo).

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    Direito Internacional

    Unidade 3

    Voc sabia?

    No Direito chama-se de responsabilidade objetiva a obrigao do Estado de manter os compromissos assumidos e reparar o mal injustamente causado a outrem, seja ele praticado por vontade do Estado ou no. O simples fato de um ato do Estado ter gerado um dano a outrem su ciente para que se caracterize a responsabilidade do Estado.

    Esse ato pode ser por parte do Poder Executivo, quando decide, por exemplo, no cumprir um tratado; por parte do Poder Legislativo, quando edita uma nova lei que derruba (revoga) um tratado; ou, ento, por parte do Poder Judicirio, quando se recusa a decidir conforme um tratado assinado pelo pas. O ato lesivo, ainda, pode ser praticado pelos funcionrios do Estado, por atos de indivduos nacionais, mas de natureza internacional (atentado contra Chefes de Estado, por exemplo).

    A regra geral para cobrar a responsabilidade de um Estado que, antes de esgotados todos os meios internos para reparao do dano, no seja feita a reclamao diplomtica, que poder ser feita em favor de um Estado, de seu nacional ou de pessoa que se encontre sob proteo diplomtica. Os Estados possuem a obrigao de reparar os danos causados e de dar uma satisfao adequada (pedido formal de desculpas, manifestao de pesar). No entanto, existem circunstncias que excluem a responsabilidade, como a legtima defesa, as represlias (atos ilcitos, mas que justi cam o combate a outros atos ilcitos), a prescrio liberatria (levou tanto tempo para exercer o direito que o perdeu), a culpa do prprio lesado, a renncia do indivduo lesado, e o estado de necessidade, em nome do direito de conservao.

    rgos da representao internacional dos Estados

    Quando os Estados se relacionam, fazem isto por meio de seus rgos de relaes internacionais, que so o Chefe de Estado, o Ministro de Relaes Exteriores e os rgos da diplomacia do pas.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    - A partir de agora voc agora vai estudar um pouco sobre esses rgos. Siga em frente!

    Chefe de Estado

    o rgo encarregado das relaes internacionais dos Estados (art. 84, VII e VIII, Constituio Federal Brasileira). As Constituies dos pases xam os poderes dos Chefes de Estado, que podem estar vinculados ao Parlamento (Congresso).

    Para que o Chefe de Estado possa desempenhar bem as suas funes de representante maior do pas, ele recebe tratamento diferenciado, com prerrogativas e imunidades, entre elas a inviolabilidade da pessoa, de sua residncia, seu carro, seus papis, a iseno de impostos diretos nos pases onde se encontra, e a iseno da jurisdio territorial (ser julgado no seu pas de origem) que poder ser renunciada.

    Ministros das Relaes Exteriores (Chanceler)

    So auxiliares dos Chefes de Estado na formulao e na execuo da poltica exterior do pas. o chefe hierrquico dos funcionrios diplomticos e consulares do pas.

    As funes do chanceler so de natureza interna e de carter internacional. No caso do Brasil, cabe ao chanceler referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da Repblica junto ao Congresso. Possui atribuies especiais d