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Direito Constitucional – FUB Aula 01 Conceito de Constituição; Classificação da Constituição; Princípios Fundamentais. 1. Conceito de Constituição O Conceito mais simples de Constituição está relacionado à forma de Organização do Estado. O estudo sistemático da Constituição passa a se desenvolver a partir do fim do séc. XVIII, após a revolução burguesa com ideais iluministas e liberais – Limitar o poder do Estado; Garantia dos Direitos Fundamentais, Estabelecer Normas de Funcionamento do Estado. 1.1 Conceito Sociológico (Ferdinand Lassalle) A constituição é conceituada como a soma dos fatores reais de poder que regem um país em determinado momento histórico, isto é, a constituição efetiva é um equilíbrio de forças econômicas, sociais, religiosas, culturais etc. A Constituição verdadeira deve ser estudada por um ponto de vista sociológico: como as coisas são na prática. Lassalle defende que a Constituição escrita não passa de uma folha de papel. No conflito entre os fatos e a norma, os fatos prevalecem. Ou seja, não crê na Constituição escrita (a Constituição real seria a soma dos fatores reais de poder). 1.2 Conceito Político (Carl Schmitt) Para Schmitt, A Constituição deve ser conceituada por meio de uma visão política: A constituição efetiva é a decisão política fundamental de um povo. O povo (titular do poder constituinte), ao elaborar uma Constituição, faz opções (diretamente ou por meio de representantes): qual será a forma de governo, a forma de Estado, o sistema de governo? Essas decisões políticas fundamentais forma a Constituição. Não crê na Constituição escrita, pois valem mais as decisões políticas tomadas pelo povo. Sua teoria é conhecida como decisionismo ou teoria decisionista. A principal consequência de sua teoria é a possibilidade de uma

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Direito Constitucional FUBAula 01Conceito de Constituio; Classificao da Constituio; Princpios Fundamentais.

1. Conceito de ConstituioO Conceito mais simples de Constituio est relacionado forma de Organizao do Estado. O estudo sistemtico da Constituio passa a se desenvolver a partir do fim do sc. XVIII, aps a revoluo burguesa com ideais iluministas e liberais Limitar o poder do Estado; Garantia dos Direitos Fundamentais, Estabelecer Normas de Funcionamento do Estado.

1.1 Conceito Sociolgico (Ferdinand Lassalle)A constituio conceituada como a soma dos fatores reais de poder que regem um pas em determinado momento histrico, isto , a constituio efetiva um equilbrio de foras econmicas, sociais, religiosas, culturais etc. A Constituio verdadeira deve ser estudada por um ponto de vista sociolgico: como as coisas so na prtica. Lassalle defende que a Constituio escrita no passa de uma folha de papel. No conflito entre os fatos e a norma, os fatos prevalecem. Ou seja, no cr na Constituio escrita (a Constituio real seria a soma dos fatores reais de poder). 1.2 Conceito Poltico (Carl Schmitt)Para Schmitt, A Constituio deve ser conceituada por meio de uma viso poltica: A constituio efetiva a deciso poltica fundamental de um povo. O povo (titular do poder constituinte), ao elaborar uma Constituio, faz opes (diretamente ou por meio de representantes): qual ser a forma de governo, a forma de Estado, o sistema de governo? Essas decises polticas fundamentais forma a Constituio. No cr na Constituio escrita, pois valem mais as decises polticas tomadas pelo povo. Sua teoria conhecida como decisionismo ou teoria decisionista. A principal consequncia de sua teoria a possibilidade de uma ditadura da maioria, como aconteceu no nazismo regime apoiado por Schmitt. Sua teoria faz a distino entre Constituio propriamente dita (decises fundamentais) e meras leis constitucionais (decises secundrias, ainda que estejam contidas na Constituio escrita). 1.3 Conceito Jurdico (Hans Kelsen)Terico do Positivismo Jurdico, corrente segundo a qual todas as normas jurdicas so postas (=criadas) pelo Estado. Assim, a Constituio , para Kelsen, a norma jurdica fundamental e suprema de um Estado. Fundamental porque confere o fundamento de validade das demais normas (=leis, atos administrativos), suprema porque ocupa a mais alta hierarquia do ordenamento jurdico. Sua teoria possui dois desdobramentos: Constituio em sentido lgico-jurdico (a norma fundamental, hipottica, pressuposta que manda respeitar todo o ordenamento jurdico pressuposto de que devemos seguir a Constituio); Constituio em sentido jurdico-positivo (a Constituio especfica do pas em vigor em determinado momento). 1.4 Conceito Ps-Positivista (Konrad Hesse)Hesse inspirou uma nova corrente, intitulada de neoconstitucionalismo ou ps-positivismo. Busca superar os problemas do positivismo de Kelsen e aperfeio-lo. Tenta superar a ideia de uma Constituio fechada em si mesma. A Constituio est em dilogo com a sociedade, modificando-a e sendo modificada. A Constituio ps-positivista um sistema aberto de regras e princpios (jurdicos). Assim a realidade social influencia a Constituio, mas a Constituio tambm altera a realidade social (fora normativa da Constituio).

2. Classificao da Constituio 2.1 Quanto ao Contedo Constituio Material aquela que trata apenas da matria tipicamente constitucional (direitos fundamentais, separao dos Poderes e organizao do Estado). Ex. Constituio Americana.Constituio Formal Trata tambm de vrios outras matrias, alm dos temas tradicionalmente constitucionais. Ex. Constituio Alem, que cuida tambm de ordem econmica, tributria, financeira, etc. A Constituio do Brasil formal. 2.2 Quanto formaConstituio Escrita Est contida em um nico documento formal e solene (escrito), chamado de Constituio. Ex. A CF de 1988. Constituio no escrita (=costumeira =consuetudinria) Est contida em vrios documentos esparsos (=espalhados) e tambm em jurisprudncias (decises dos tribunais) e costumes no escrito. So tradies polticas que, escritas ou no, formam, em conjunto, o que se chama de Constituio. Ex. Constituio Inglesa.2.3 Quanto ao modo de Elaborao Constituio Dogmtica Elaborada de uma s vez (de um s jato) em um momento histrico determinado. Resume os pensamentos (dogmas) do momento histrico em que foi elaborada. a constituio com data de nascimento. Ex. Constituio portuguesa de 1976. Sabe-se quem a fez (rgo) e quando. Constituio Histrica Formada gradativamente, ao longo do tempo, pelo lento evoluir das tradies polticas, pela solidificao dos costumes. No se pode precisar quem a fez nem em que momento. Ex. Constituio Inglesa. 2.4 Quanto Extenso Constituio Sinttica (= concisa = resumida) Trata apenas das matrias principais, e, ainda assim, somente em linhas gerais; possui poucos artigos. Ex. Constituio Americana. Constituio Analtica (prolixa) = Trata de vrios assuntos, nos seus mnimos detalhes; possui muitos artigos. Ex. CF de 1988.2.5 Quanto OrigemConstituio Promulgada (= popular = democrtica) Elaborada por representantes do povo legitimamente eleitos. Ex. CF de 1988.Constituio Outorgada Imposta (unilateralmente) por um poder ditatorial. Ex. Constituies brasileiras de 1824 (Imposta por D. Pedro I), de 1937 (Imposta por Getlio Vargas) e de 1967 (Ditadura Militar).Constituio cesarista (= plebiscitria) uma espcie de meio termo: imposta, mas submetida aprovao popular. Exemplo histrico: as Constituies de Napoleo, na Frana. 2.6 Quanto Estabilidade Constituio imutvel No pode sofrer alterao de espcie alguma. Atualmente esse tipo de Constituio praticamente desapareceu.Constituio Rgida Pode ser alterada, porm apenas por um procedimento especial e mais difcil que o de aprovao de leis ordinrias (emendas constitucionais).Constituio Flexvel Pode ser modificada sem nenhum procedimento especial: pode ser alterada por meras leis ordinrias (= leis comuns). Ex. Constituio inglesa (como no escrita pode ser alterada por qualquer lei escrita).Constituio Semiflexvel (semirrgida) Possui parte rgida (que s pode ser alterada por emendas constitucionais) e outra flexvel. Ex. CF de 1824.2.7 Quanto IdeologiaSocialista Adota socialismo como meio de produo. Pilares: a) propriedade coletiva dos meios de produo; b) economia planificada (planejada pelo Estado); c) busca igualdade real entre as pessoas. Ex. Constituies de Cuba, China e da Coreia do Norte. Capitalista Adota o capitalismo como meio de produo. Pilares: a) propriedade privada; b) livre iniciativa; c) busca da liberdade do indivduo. Capitalista Liberal (= negativa) O Estado no deve intervir na economia, que assunto do mercado. Ex. Constituio Americana. Capitalista socialdemocrata (=positiva = intervencionista) O Estado deve intervir na economia para dar bem-estar aos cidados (Estado de bem-estar social). Ex. CF de 1988. 2.8 Quantos aos Objetivos (Finalidade)Constituio-garantia Apenas limita e legitima o poder do Estado, sem estabelecer metas para o futuro. Tem natureza retrospectiva: apenas garante os direitos j conquistados. Ex. Constituio Americana. Constituio dirigente Alm de limitar e legitimar o poder do Estado, ainda prev objetivos e metas a serem alcanados no futuro, vinculando os poderes pblicos a atingir esses objetivos. Contm as chamadas normas programticas. Dirige a atuao do poder pblico no futuro. Tem natureza prospectiva. Ex. CF de 1988. 2.9 Quanto Correspondncia com a Realidade ( = efetividade = classificao de Karl Loewenstein)Constituio Normativa Possui efetividade mxima: todas as suas disposies so respeitadas. totalmente respeitada na prtica. Todo o processo de poder obedece aos mandamentos da Constituio. Ex. Constituio alem. A CF de 1988 Normativa (CESPE).Constituio Nominalista (=nominativa) Possui efetividade mdia. parcialmente respeitada na prtica. elaborada com a melhor das intenes, mas no consegue se impor na vida prtica. Ex. Constituio da Angola ( o pas vive h dcadas em guerra civil). Constituio Semntica Possui efetividade mnima. No respeitada na prtica. No cumprida, pois feita para ser descumprida. Feita por um poder ditatorial para fingir que o pas tem uma Constituio. Ex. CF de 1967.Classificao da CF Brasileira de 1988 formal, escrita, dogmtica, promulgada (=popular = democrtica), rgida (superrgida para alguns autores), capitalista socialdemocrata, dirigente e normativa. 3. Supremacia da ConstituioNossa CF formal, pois engloba, alm dos temas tradicionalmente constitucionais, outros temas, e rgida (precisa de emendas constitucionais para ser alterada). A rigidez da nossa Constituio, que formal, pois engloba vrios temas, coloca-a no topo do ordenamento jurdico. Assim, as demais leis devem estar de acordo com a Constituio Federal. Da decorre a Supremacia Formal. Supremacia Formal Relaciona-se ao processo de elaborao (S se pode falar em supremacia formal das normas constitucionais em um sistema de Constituio Rgida);Supremacia Material Relaciona-se dignidade do contedo (temas tradicionalmente constitucionais). Tambm existe nas Constituies flexveis, no escritas, histricas e costumeiras. RELAES Rigidez Constitucional -> Supremacia Constitucional -> Controle de Constitucionalidade.4. Elementos das Constituies Nossa Constituio trata das matrias mais variadas. Jos Afonso da Silva agrupa as normas da CF em cinco categorias de elementos constitucionais:I Elementos orgnicos Engloba os dispositivos constitucionais relacionados organizao, ao funcionamento e estrutura do poder e do Estado. II Elementos Limitativos So os direitos e garantias fundamentais (com exceo dos direitos sociais), que como se sabe, visam limitar o poder do Estado. III Elementos Scio-ideolgicos Normas relacionadas ao Estado de bem-estar social, ao carter intervencionista e social das constituies modernas. So os direitos sociais, etc.IV Elementos de Estabilizao Constitucional Normas destinadas a solucionar conflitos constitucionais, defesa da Constituio, do Estado e das instituies democrticas. V Elementos formais de aplicabilidade Normas que estatuem regras de aplicao das constituies.

5. Princpios Fundamentais da Constituio de 1988Esses princpios se relacionam s decises polticas fundamentais da nossa ordem constitucional. Assim, os princpios fundamentais constituem nos valores mximos, as diretrizes, os fins mais gerais orientadores de toda a nossa ordem constitucional. Eles que definiro e caracterizaro o Estado, por isso, sero a matriz da qual decorrem todas as demais normas constitucionais.

Os princpios fundamentais esto apresentados logo no incio da Constituio Federal de 1988 (arts. 1 ao 4). Digamos que esse Ttulo I da CF/88 apresenta as caractersticas mais essenciais do nosso Estado. Logo de incio, j no caput do art. 1, a Constituio j estabelece a forma de Estado (Federao) e a forma de Governo (Repblica), alm de enunciar nosso regime poltico como sendo um Estado democrtico de Direito.Art. 1 - A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito (...)

Observe que nosso regime poltico democrtico, em que prevalece a soberania popular, como se observa no pargrafo nico: Par. nico - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituio.Um detalhe importante: observe que, na nossa democracia, o poder exercido no s por meio de representantes (eleitos pelo povo), como tambm diretamente (como disposto no art. 14 da CF/88, so exemplos o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular).

FORMA DE GOVERNO MONARQUIA X REPBLICA (GOVERNADOR ELEITO DE FORMA TEMPORRIA);SISTEMA DE GOVERNO PARLAMENTARISTA X PRESIDENCIALISTA (Equilbrio entre poderes, Chefe do Executivo = Presidente, Chefia de Estado e Governo exercida pela mesma pessoa);FORMA DE ESTADO ESTADO UNITRIO X FEDERAO (PODER POLTICO TERRITORIALMENTE DESCENTRALIZADO Unio, Estados, DF e Municpios); REGIME POLTICO - ESTADO DE DIREITO >BRASIL - ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO

Art. 2 - So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio.

Dentro dos princpios fundamentais, a Constituio diferencia:I os fundamentos;II os objetivos fundamentais; eIII os princpios que regem as relaes internacionais.

I - Os fundamentos esto expressos no art. 1 e podem ser considerados os alicerces, as vigas mestras da nossa repblica. Dada a sua importncia, elaboramos um esquema que sintetiza as principais informaes do art. 1, incluindo os 5 fundamentos: SO-CI-DI-VA-PLU

SOBERANIA CIDADANIA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA PLURALISMO POLTICO.

II - Os objetivos fundamentais esto expressos no art. 3 da CF/88 e visam a assegurar a igualdade material aos brasileiros, possibilitando iguais oportunidades a fim de concretizar a democracia econmica, social e cultural e tornar efetivo o fundamento da dignidade da pessoa humana.CONSTRUIR UMA SOCIEDADE LIVRE; JUSTA E SOLIDRIA; GARANTIR O DESENVOLVIMENTO NACIONAL; ERRADICAR A POBREZA E A MARGINALIZAO E REDUZIR AS DESIGUALDADES SOCIAIS E REGIONAIS; PROMOVER O BEM DE TODOS, SEM PRECONCEITO DE ORIGEM, RAA, SEXO, COR, IDADE E QUAISQUER OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAO.

FundamentosObjetivos Fundamentais

Previso Art. 1, I a VArt. 3, I a IV

EnumeraoSoberania; cidadania; dignidade da pessoa humana; valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; pluralismo poltico.Construir uma sociedade livre; justa e solidria; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.

Contedo Valores que o Brasil tem que ter agora, imediatamente, pois sem eles no existir o Estado, tal como imaginado pelo constituinte. Metas que o Brasil um dia quer alcanar, que devendo lutar para poder consegui-las no futuro.

Aplicabilidade Normas de eficcia plena e aplicabilidade imediata.Normas de eficcia limitada e de aplicabilidade mediata.

Estrutura NormativaPrevistos na CF na forma de substantivos (valores)Previstos na CF na forma de verbos (aes)

III Os 10 princpios que regem o Brasil em suas relaes internacionais (CF, art. 4) podem ser subdivididos em 3 grupos:1 Princpios ligados independncia nacional:- Independncia nacional (inc. I);- Autodeterminao dos povos (inc. III);- No-Interveno (inc. IV);- Igualdade entre os Estados (inc. V);- Cooperao dos povos para o progresso da humanidade (inc. IX);2 Princpios ligados pessoa humana:- Prevalncia dos direitos humanos (inc. II);- Concesso de asilo poltico (inc. X);3 Princpios ligados paz:- Defesa da paz (inc. VI);- Soluo pacfica dos conflitos (inc. VII);- Repdio ao terrorismo e ao racismo (inc. VIII);Por fim, tenha em mente o teor do pargrafo nico do art. 4 da CF/88, segundo o qual, a Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma comunidade latino-americana de naes (MERCOSUL).