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Direito Internacional

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IntroduçãoA sociedade internacional, ao contrário do que sucede com os Estados, ainda seapresenta descentralizada e por isso, diferente do direito interno, não se verifica, facilmente, apresença da objetividade e de valores absolutos.

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  • CD-ROM APOSTILAS PARA CONCURSOS - 400 Apostilas especficas e genricas. (PDF e Word)

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  • DIREITO INTERNACIONAL

  • NDICE

    DIREITO INTERNACIONAL PBLICO ............................................................................................... 5

    Introduo ..................................................................................................................................... 5

    Captulo 1- Fontes do Direito Internacional Pblico ..................................................................... 6

    1.1 Tratado Internacional ......................................................................................................... 6

    1.2- Costume Internacional .................................................................................................... 15

    1.3- Princpios Gerais do Direito ............................................................................................ 17

    1.4- Atos Unilaterais ............................................................................................................... 18

    1.5- Decises das Organizaes Internacionais ..................................................................... 19

    1.6- Jurisprudncia e Doutrina ............................................................................................... 19

    1.7- Analogia e Eqidade ........................................................................................................ 20

    Captulo 2- ESTADO ..................................................................................................................... 20

    2.1- Territrio do Estado ........................................................................................................ 21

    2.2- Imunidade jurisdio estatal ........................................................................................ 22

    2.2.1- Privilgios diplomticos ............................................................................................ 23

    2.2.2- Privilgios consulares ................................................................................................ 24

    2.2.3- Aspectos da imunidade penal ................................................................................... 25

    2.2.4- Renncia imunidade ............................................................................................... 25

    2.3- Dimenso Pessoal do Estado .......................................................................................... 26

    2.3.1- Populao e Comunidade Nacional .......................................................................... 26

    2.3.2- Nacionalidade ........................................................................................................... 26

    Captulo 3- Condio Jurdica do Estrangeiro ............................................................................. 30

    3.1- Admisso de Estrangeiros ............................................................................................... 30

    3.2- Direitos dos Estrangeiros ................................................................................................ 36

    3.3- Excluso do estrangeiro .................................................................................................. 37

    3.4 Asilo Poltico e Asilo Diplomtico .................................................................................... 41

  • 2

    Captulo 4- Soberania .................................................................................................................. 42

    4.1- Reconhecimento de Estado e de Governo ..................................................................... 42

    4.1.1- Reconhecimento de Estado ...................................................................................... 42

    4.1.2- Reconhecimento de Beligerncia e de Insurgncia .................................................. 44

    4.1.3- Reconhecimento de Governo ................................................................................... 46

    Captulo 5- Organizaes Internacionais ..................................................................................... 47

    5.1- Estrutura Orgnica .......................................................................................................... 47

    5.1.1- Assemblia Geral....................................................................................................... 47

    5.1.2- Secretaria .................................................................................................................. 48

    5.1.3- Conselho Permanente (encontrvel nas organizaes de vocao poltica) ............ 48

    5.2- Classificao ..................................................................................................................... 49

    5.2.1- Organizaes internacionais identificadas pela natureza de seus propsitos,

    atividades e resultados........................................................................................................ 49

    5.2.2 - Organizaes identificadas pelo tipo de funes que elas se atribuem .................. 49

    5.3- Estrutura de poder decisrio .......................................................................................... 50

    5.4- Admisso de novos membros ......................................................................................... 51

    5.5- Retirada de Estados-membros ........................................................................................ 52

    5.6- ONU (Organizao das Naes Unidas) .......................................................................... 52

    5.7- A Corte Internacional de Justia ..................................................................................... 54

    5.8- Tribunal Penal Internacional ........................................................................................... 56

    Captulo 6- Direito de Integrao ................................................................................................ 59

    6.1. Fases da integrao ......................................................................................................... 61

    Captulo 7- Proteo Internacional dos Direitos Humanos ......................................................... 63

    Captulo 8- Domnio Pblico Internacional ................................................................................. 73

    8.1- Domnio fluvial ................................................................................................................ 73

    8.2- Domnio martimo ........................................................................................................... 73

    8.3- Domnio areo ................................................................................................................. 76

  • 3

    8.4- Direito de navegao ...................................................................................................... 77

    DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ............................................................................................ 79

    Captulo 1- Domnio do Direito Internacional Privado ................................................................ 79

    1.1 - Objeto ....................................................................................................................... 79

    1.2- Conflitos interespaciais ................................................................................................... 80

    Captulo 2- Normas de Direito Internacional Privado ................................................................. 82

    Captulo 3- Fontes do Direito Internacional Privado ................................................................... 83

    3.1- Lei ..................................................................................................................................... 84

    3.2- Doutrina ........................................................................................................................... 84

    3.3- Jurisprudncia ................................................................................................................. 85

    3.4- Fontes Internacionais do Direito Internacional Privado ................................................ 85

    3.5- Conflito entre Fontes ...................................................................................................... 87

    3.5.1- Lei versus Tratado ..................................................................................................... 87

    3.5.2- Constituio versus Tratado...................................................................................... 88

    Captulo 4- Direito Intertemporal e Direito Internacional Privado ............................................. 89

    4.1- Conflito temporal de normas de Direito Internacional Privado .................................... 89

    4.2- Conflito espacial das normas temporais ........................................................................ 90

    Captulo 5- Qualificao .............................................................................................................. 90

    Captulo 6- Regras de conexo .................................................................................................... 92

    Captulo 7- Lei determinadora do Estatuto Pessoal .................................................................... 96

    7.1- Estatuto Pessoal da pessoa fsica.................................................................................... 96

    7.2- Estatuto Pessoal da pessoa jurdica ................................................................................ 99

    Captulo 8- Autonomia da vontade ........................................................................................... 102

    Captulo 9- Ordem Pblica ........................................................................................................ 104

    Captulo 10- Fraude Lei ........................................................................................................... 106

    10.1- Fundamentos da Fraude Lei no Direito Internacional Privado ............................... 106

    Captulo 11- Reenvio ................................................................................................................. 108

  • 4

    11.1- Jurisprudncia do Reenvio .......................................................................................... 110

    11.2- Teorias conducentes ao reenvio ................................................................................. 111

    11.2.1 Teoria da subsidiariedade ................................................................................... 111

    11.2.2- Teoria da delegao .............................................................................................. 112

    11.2.3- Teoria da ordem pblica ....................................................................................... 112

    11.2.4- Teoria da coordenao dos sistemas .................................................................... 112

    11.3- Excees aceitao do reenvio (no se aceita qualquer remisso a outra lei): ..... 113

    Captulo 12- Questo Prvia...................................................................................................... 113

    Captulo 13- Jurisdio e Competncia Internacional ............................................................... 114

    13.1- Classificao das normas de competncia internacional .......................................... 115

    13.2- Competncia internacional no direito internacional privado brasileiro ................... 116

    Captulo 14- Homologao de sentena estrangeira ................................................................ 119

    14.1- Homologao de sentena estrangeira no direito brasileiro .................................... 120

    14.1.1- Pr-requisito executoriedade destes instrumentos: Apreciao pelo STJ ......... 121

    Captulo 15- Arbitragem Internacional ..................................................................................... 123

    15.1- Mediao, Conciliao e Bons Ofcios ........................................................................ 123

    15.2- Sentena arbitral estrangeira ..................................................................................... 126

    15.3- Homologao e execuo de sentena arbitral estrangeira no Brasil....................... 128

    15.4 Clusula compromissria e Compromisso arbitral...................................................... 130

    15.5- Arbitragem no Mercosul: Protocolo de Olivos ........................................................... 133

    Captulo 16- A Lex Mercatoria e os Incoterms .......................................................................... 134

    Captulo 17- Cooperao Judiciria Internacional .................................................................... 137

    17.1- Cooperao judiciria internacional no Direito Brasileiro ......................................... 138

    Captulo 18- EXERCCIOS ........................................................................................................... 141

    BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................ 167

  • 5

    DIREITO INTERNACIONAL PBLICO

    Introduo

    A sociedade internacional, ao contrrio do que sucede com os Estados, ainda se

    apresenta descentralizada e por isso, diferente do direito interno, no se verifica, facilmente, a

    presena da objetividade e de valores absolutos.

    O Direito Internacional Pblico caracteriza-se como o conjunto de normas jurdicas que

    regulam as relaes mtuas dos Estados soberanos e das demais pessoas internacionais, como

    determinadas organizaes de cunho internacional.

    Podemos traar algumas diferenas relevantes entre o direito interno e o direito

    internacional. No plano interno, a autoridade superior do Estado garante a vigncia da ordem

    jurdica. No plano internacional no existe autoridade superior. Os Estados se organizam

    horizontalmente e prontificam-se a proceder em consonncia com normas jurdicas na exata

    medida em que estas tenham constitudo objeto de seu consentimento; trata-se, portanto, de

    uma relao de coordenao entre os mesmos.

    Em direito interno, as normas so hierarquizadas como se se inscrevessem,

    graficamente, numa pirmide cujo vrtice a Lei Fundamental. Dentro da ordem jurdica

    estatal, somos todos jurisdicionveis.

    Por outro lado, no h hierarquia entre as normas de direito internacional pblico; a

    coordenao o princpio que preside a convivncia organizada de tantas soberanias.

    Ademais, o Estado soberano, no plano internacional, no originalmente jurisdicionvel

    perante corte alguma.

    O Direito Internacional Pblico, por ser um sistema jurdico autnomo onde se

    ordenam as relaes entre Estados soberanos tem como fundamento o consentimento, isto ,

    os estados no se subordinam seno ao direito que livremente reconheceram ou construram.

  • 6

    Captulo 1- Fontes do Direito Internacional Pblico

    O Estatuto da Corte de Haia, primeiro tribunal vocacionado para solucionar conflitos

    entre Estados, sem qualquer limitao de ordem geogrfica ou temtica, relacionou como

    fontes do DIP os tratados internacionais, o costume internacional e os princpios gerais de

    direito e fez referncia jurisprudncia, doutrina, equidade. H que se ressaltar tambm o

    uso dos atos unilaterais dos Estados e das decises tomadas pelas organizaes internacionais

    como meios auxiliares na determinao das regras jurdicas internacionais.

    1.1 Tratado Internacional Conceito

    Podemos conceituar tratado como todo acordo formal concludo entre sujeitos de

    direito internacional pblico e destinado a produzir efeitos jurdicos. (REZEK, Francisco, pg.

    14) O tratado internacional por si s um instrumento, podendo ser identificado por seu

    processo de produo e pela forma final, no pelo contedo, que, como o da lei ordinria num

    ordenamento jurdico interno, sofre grande variao.

    Terminologia

    Tratado o nome que se consagra na literatura jurdica. Porm, outros so usados,

    sem qualquer rigor cientfico; como: conveno, capitulao, carta, pacto, modus vivendi, ato,

    estatuto, declarao, protocolo, acordo, ajuste, compromisso, convnio; memorando,

    regulamento, concordata etc.

    A verdade que a variedade de nomes no guarda relao com o teor substancial do

    tratado, visto que pode ele referir-se a uma gama imensa de assuntos.

    Algumas tentativas tm sido feitas no sentido de vincular os termos ao tipo de tratado,

    sem xito. Contudo, a prtica, muitas vezes, leva-nos a fixar nomes mais aplicveis em um ou

    em outro caso. Alguns exemplos sobressaem:

  • 7

    a) compromisso arbitral, que o tratado em que os Estados submetem arbitragem

    certo litgio em que so partes;

    b) acordo de sede, que significa um tratado bilateral em que uma das partes

    organizao internacional e a outra um Estado, cujo teor o regime jurdico da instalao fsica

    daquela no territrio deste;

    c) carta, normalmente reservado para os tratados institucionais, como a Carta da ONU,

    a Carta da OIT, a Carta da OEA;

    d) concordata, nome normalmente reservado ao tratado bilateral em que uma das

    partes a Santa S, tendo por objeto as relaes entre a Igreja Catlica local e um Estado.

    Como se observa, no h qualquer lgica: apenas a prtica e a adaptao do nomem

    iuris noo de compromisso de teor cientfico.

    Formalidade

    Como vimos no conceito supracitado, o tratado um acordo formal, ele se exprime

    com preciso, em determinado momento histrico, e seu teor tem contornos bem definidos.

    Essa formalidade implica a escritura, no prescinde da forma escrita, do feitio documental.

    Atores

    As partes, em todo tratado, so necessariamente pessoas jurdicas de DIP, ou seja, os

    Estados soberanos, as organizaes internacionais e a Santa S.

    Portanto, no tm personalidade jurdica de direito das gentes e carecem de

    capacidade para celebrar tratados as empresas privadas, pouco importando sua dimenso

    econmica e sua eventual multinacionalidade.

    Efeitos Jurdicos

  • 8

    Um tratado constitudo com a finalidade de produzir efeitos jurdicos entre as partes,

    j que reflete a manifestao da vontade das mesmas, ou seja, fundamenta-se no

    consentimento das partes.

    Contudo, h que se fazer distino entre tratado e gentlemens agreement. Este, ao

    contrrio do primeiro, no gera vnculo jurdico para os Estados, mas um compromisso moral

    que se opera enquanto os mesmos se encontrem sob o governo dos responsveis pela

    manifestao conjunta.

    O gentlemens agreement no se destina a produzir efeitos jurdicos, a estabelecer

    normas cogentes para as partes; so acordos de princpios comuns s polticas nacionais de

    seus pases, trata-se de uma declarao de intenes.

    Classificao dos Tratados

    Vrias so as classificaes dos tratados luz da doutrina do Direito Internacional

    devido aos diversos critrios, tanto de ndole formal quanto material, utilizados para tal.

    Contudo, vamos atentar a dois principais critrios dos quais decorrem a classificao

    dos tratados quanto ao nmero de partes contratantes e natureza do ato.

    No que diz respeito ao nmero de partes contratantes, os tratados podem ser bilateral

    quando celebrado somente entre duas pessoas jurdicas de DIP, e multilateral ou coletivo, se

    firmado por nmero igual ou superior a trs pactuantes.

    Vale ressaltar o carter bilateral de todo tratado celebrado entre um Estado e uma

    organizao internacional, ou entre duas organizaes, qualquer que seja o nmero de seus

    membros. A organizao, nessas hipteses, ostenta sua personalidade singular, distinta

    daquela dos Estados que a compem.

    No que concerne natureza jurdica do ato, tem-se os tratados-normativos, tambm

    denominados tratados-leis, geralmente celebrados entre muitos Estados com o objetivo de

    fixar as normas de Direito Internacional Pblico. Como exemplo de tratados-normativos

  • 9

    podemos citar as convenes multilaterais como a Conveno de Viena, a criao de unies

    internacionais administrativas que exercem relevante papel na vida internacional como a OMS,

    a Unio Postal Internacional; e os tratados-contratos, que procuram regular interesses

    recprocos dos Estados.

    Os tratados-contratos so geralmente de natureza bilateral, mas nada impede que

    sejam multilaterais como no caso de tratados de paz ou fronteira. Eles podem ser executados

    ou executrios.

    Os tratados-contratos executados, tambm chamados transitrios ou de efeitos

    limitados, so aqueles que devem ser logo executados e que, levados a efeito, dispem sobre

    a matria permanentemente, uma vez por todas, como por exemplo, os tratados de cesso ou

    de permuta de territrio. J os executrios, denominados permanentes ou de efeitos

    sucessivos, so os que prevem atos a serem executados regularmente, toda vez que se

    apresentem as condies necessrias para tal, como os tratados de comrcio e de extradio.

    Condio de validade dos tratados

    Para que um tratado seja considerado vlido, necessrio que as partes contratantes

    possuam capacidade para tal; que os agentes estejam habilitados; que haja o consentimento

    mtuo; e que o objeto do tratado seja lcito e possvel.

    Como dito anteriormente, os Estados soberanos, as organizaes internacionais e a

    Santa S so os sujeitos de Direito Internacional Pblico e, portanto, capazes para firmar um

    tratado. Cuida-se agora determinar quem est habilitado a agir em nome daquelas

    personalidades jurdicas, ou seja, quem possui competncia negocial para tal ato.

    a) Chefes de Estado e de governo: O chefe de Estado, em todos os atos relacionados com

    o comprometimento internacional, dispe da autoridade decorrente de seu cargo,

    nada se lhe exigindo de semelhante apresentao de uma carta de plenos poderes.

    Essa prtica internacional atribui idntico estatuto de representatividade ao chefe de

    governo, quando essa funo seja distinta da precedente.

    b) Plenipotencirios: Considera-se plenipotencirio terceiro dignitrio que possui essa

    qualidade representativa que poder ser ampla como no caso do ministro de Estado

  • 10

    responsvel pelas relaes exteriores, em qualquer sistema de governo, ou restrita, no

    caso do chefe de misso diplomtica - o embaixador ou encarregado cuja

    representao se d apenas para a negociao de tratados bilaterais entre o Estado

    acreditante e o Estado acreditado. Contudo, em ambas as situaes no necessria a

    apresentao de carta de plenos poderes. Os demais plenipotencirios demonstram

    semelhante qualidade por meio da apresentao da carta de plenos poderes cuja

    expedio feita pelo chefe de Estado e tem como destinatrio o governo co-

    pactuante. Vale ressaltar que a entrega desse documento deve preceder o incio da

    negociao, ou a prtica do ato ulterior a que se habilita o plenipotencirio.

    c) Delegaes nacionais: A delegao est ligada fase negocial de um tratado visto que,

    nesta etapa, a individualidade do plenipotencirio costuma no bastar completa e

    adequada colocao dos desgnios do Estado. Entretanto, a hierarquia apresenta-se

    indissocivel na delegao, pois seu chefe, e somente ele, possui a carta de plenos

    poderes, ficando os demais membros incumbidos de dar-lhe suporte, se necessrio.

    No se concebem conflitos dentro da delegao, em face de eventual divergncia de

    opinies prevalece a vontade do chefe.

    A terceira condio para a validade dos tratados o consentimento mtuo. O tratado

    um acordo de vontades e, como tal, a adoo de seu texto efetua-se pelo consentimento de

    todos os Estados que participaram na sua elaborao.

    No caso dos tratados multilaterais, negociados numa conferncia internacional, a

    adoo do texto efetua-se pela maioria de dois teros dos Estados presentes e votantes, salvo

    se, pela mesma maioria, decidam adotar uma regra diversa.

    A quarta, e ltima, condio refere-se ao objeto licito e possvel do tratado, isto , o

    acordo de vontades em Direito internacional Pblico s deve visar a uma coisa materialmente

    possvel e permitida pelo direito e pela moral.

    Efeitos dos tratados sobre terceiros Estados

  • 11

    Os tratados, em princpio, apenas produzem efeitos entre as partes contratantes,

    possuem vnculo jurdico e, portanto, cumprimento obrigatrio, bastando sua entrada em

    vigor.

    Essa regra, contudo, comporta algumas excees reconhecidas pela Conveno de

    Viena. So elas:

    1) evidente que um tratado no pode ser fonte de obrigaes para terceiros, contudo,

    isto no impossibilita que o mesmo no venha acarretar conseqncias nocivas a

    Estados no pactuantes. Diante desta situao, o Estado lesado possui o direito de

    protestar e de procurar assegurar os seus direitos, bem como o de pedir reparaes.

    Contudo, cabe salientar que, se o tratado no viola os direitos de um terceiro Estado,

    sendo to somente prejudicial a seus interesses, este poder reclamar

    diplomaticamente contra o fato, mas contra o mesmo no ter recurso jurdico.

    2) Quando de um tratado possam resultar conseqncias favorveis para Estados que

    dele no participam ou que os contratantes, por manifestao expressa, concedam um

    direito ou privilgio a terceiros. Temos como exemplo a Clusula da Nao mais

    Favorecida, bastante comum em tratado comerciais bilaterais.

    Ratificao, Adeso e Aceitao dos Tratados

    O art. 11 da Conveno sobre o Direito dos Tratados estabelece que o consentimento

    de um Estado em obrigar-se por um tratado pode manifestar-se pela assinatura, troca de

    instrumentos constitutivos do tratado, ratificao, aceitao, aprovao ou adeso, ou por

    quaisquer outros meios, se assim for acordado.

    Ratificao

    A ratificao o ato administrativo no qual o chefe de Estado confirma um tratado

    firmado em seu nome ou em nome do Estado, declarando aceito o que foi convencionado pelo

    agente signatrio.

  • 12

    Em geral, a ratificao ocorre aps a aprovao do tratado pelo parlamento do Estado.

    No Brasil, o tratado deve ser aprovado pelo Congresso Nacional atravs de um decreto

    legislativo promulgado pelo presidente do senado.

    Se o tratado prev sua prpria ratificao, ele deve ser submetido s formalidades

    constitucionais estabelecidas para esse fim. Isto no impede, entretanto, que qualquer dos

    signatrios se recuse, por qualquer motivo, a ratific-lo, ainda que para tanto tenha sido

    autorizado pelo rgo competente.

    A ratificao concedida por meio de um documento a carta de ratificao

    assinado pelo chefe de Estado e referendado pelo Ministro das Relaes Exteriores. A carta de

    ratificao contm a promessa de que o tratado ser cumprido inviolavelmente e, quase

    sempre, nele transcrito o texto integral do acordo.

    O ato de firmar e selar a carta de ratificao no d vigor ao tratado. O que o torna

    perfeito e acabado a troca de tal instrumento contra outro idntico da outra parte

    contratante, ou o seu depsito no lugar para isto indicado no prprio tratado.

    Cabe ressaltar que nos tratados bilaterais geralmente ocorre a troca de ratificaes,

    isto , a permuta das respectivas cartas de ratificao de cada parte contratante. J no caso de

    tratados multilaterais se d o depsito das ratificaes, ou seja, as cartas so enviadas ao

    governo de um Estado previamente determinado, que normalmente o do Estado onde o

    acordo foi assinado. Depois de reunido certo nmero de depsitos, ou de todas as partes

    contratantes, o tratado comea a vigorar.

    Adeso e Aceitao

    Fala-se em ratificao apenas para aqueles pases que originariamente firmaram o

    tratado. No caso de Estados que posteriormente desejarem ser parte em um tratado

    multilateral, o recurso a adeso ou aceitao que feita junto organizao ou ao Estado

    depositrio.

    Registro e Publicao

  • 13

    A carta das Naes Unidas determina, em seu art. 102, que todo tratado internacional

    concludo por qualquer membro dever, assim que possvel, ser registrado no secretariado e

    por este publicado, acrescentando que um tratado no registrado no poder ser invocado,

    por qualquer membro, perante qualquer rgo das Naes Unidas.

    Interpretao dos Tratados

    A regra bsica de interpretao de tratados que um tratado deve ser interpretado

    de boa-f, segundo o sentido comum atribuvel aos termos do tratado em seu contexto e luz

    de seu objeto e finalidade. (art. 31 da Conveno de Viena de 1969)

    Na interpretao considera-se no s o texto, mas o prembulo e os anexos, bem

    como qualquer acordo feito entre as partes, por ocasio da concluso do tratado ou

    posteriormente, quanto a sua interpretao.

    Tambm se pode recorrer aos trabalhos preparatrios da elaborao dos tratados,

    pois so considerados meios suplementares de interpretao.

    Vale ressaltar que se num tratado bilateral redigido em duas lnguas houver

    discrepncia entre os dois textos que fazem f, cada parte contratante obrigada apenas pelo

    texto sem sua prpria lngua, salvo disposio expressa em contrrio. Nesse sentido, comum

    a escolha de uma terceira lngua, que far f, a fim de evitar semelhantes discrepncias.

    Extino dos tratados

    A Conveno de Viena prev as causas de extino de um tratado em seus arts. 42 a

    72. De modo geral, um tratado pode ser extinto:

    a) por execuo integral do tratado

  • 14

    b) vontade comum: um tratado extinto por ab-rogao sempre que o intento terminativo

    comum s partes por ele obrigadas.

    b.1) predeterminao ab-rogatria: O acordo internacional pode conter, em seu texto,

    um termo cronolgico de vigncia, tratando-se, portanto, de uma forma de predeterminao

    ab-rogatria pelas partes pactuantes. O trmino desse prazo caracteriza-se por ser uma

    condio resolutiva de cunho estritamente temporal.

    b.2) Deciso ab-rogatria superveniente: no existe compromisso internacional imune

    perspectiva de extino pela vontade de todas as partes. Neste caso, no necessrio que o

    tratado disponha a respeito em seu texto. No tratado bilateral, a vontade de ambas as partes

    poder sempre desfaz-lo, ainda que interrompa o curso de um prazo certo de vigncia. No

    caso dos tratados multilaterais, essa hiptese menos comum, mas no impossvel.

    c) vontade unilateral ou denncia: pela denncia, o Estado manifesta sua vontade de deixar de

    ser parte no tratado. Contudo, a denncia somente encerra na extino de um acordo

    bilateral, sendo inofensiva continuidade da vigncia dos tratados multilaterais. Ela se

    exprime por escrito numa notificao, carta ou instrumento. Trata-se de uma mensagem de

    governo, cujo destinatrio, nos acordos bilaterais, o governo do Estado co-pactuante. Se o

    compromisso for coletivo, a carta de denncia dirige-se ao depositrio, que dela se far saber

    s demais partes.

    O tratado ainda pode ser extinto quando as partes se reduzem a ponto de no igualar

    ao nmero mnimo de Estados para garantir a vigncia do mesmo, a menos que o acordo

    disponha o contrrio, ou na hiptese de conflito com outro tratado, no momento da concluso

    de um tratado posterior, firmado por todas as partes do tratado anterior, seja por

    determinao expressa ou tcita.

    Um acordo tambm pode ser extinto ou suspenso em virtude da violao do mesmo,

    pela impossibilidade superveniente de cumprimento ou mudana fundamental de

    circunstncias. E, por fim, se sobrevier uma norma imperativa de Direito Internacional geral,

    qualquer tratado existente que estiver em conflito com essa norma torna-se nulo e extingue-

  • 15

    se. (art. 64 da Conveno) Essa norma seria o jus cogens, normas que se sobrepem

    vontade dos Estados, e no podem ser modificadas por dispositivos oriundos de tratados ou

    convenes internacionais.

    1.2- Costume Internacional

    A prtica reiterada de certas condutas na convivncia entre os Estados d origem ao

    costume internacional. Seu surgimento se d de forma espontnea, em resposta a anseios e

    necessidades dos diversos povos existentes no mundo.

    No h uma modalidade, no que diz respeito forma, para determinar sua existncia,

    mas sim a ocorrncia de uma situao que demanda uma resposta imediata aceitvel

    sociedade internacional, e que, quando incorporada e replicada sem restries ou protestos,

    passa a fazer parte do Direito Internacional.

    De acordo com o Estatuto da Corte de Haia, a norma jurdica costumeira resulta de

    uma prtica geral aceita como sendo direito.

    Elementos do costume internacional

    Do conceito de costume internacional podemos abstrair dois elementos essenciais

    sua configurao, um elemento material e outro subjetivo.

    O elemento material trata-se da prtica, isto , a repetio, ao longo do tempo, de

    um certo modo de proceder perante determinado quadro ftico.

    O procedimento cuja repetio regular constitui o aspecto material da norma

    costumeira no necessariamente positivo, podendo ser uma omisso, uma absteno, um

    no fazer, frente a determinado contexto.

    Contudo, h que se ressaltar que ao ou omisso, os respectivos sujeitos ho de ser

    sempre pessoas jurdicas de Direito Internacional Pblico.

  • 16

    No que tange expresso ao longo do tempo, questiona-se por quanto tempo?

    Diante da impreciso da expresso supracitada, a Corte Internacional de Justia estatuiu que

    ... o transcurso de um perodo reduzido no necessariamente, ou no constitui em si

    mesmo, um impedimento formao de uma nova norma de direito internacional

    consuetudinrio....

    O elemento subjetivo do costume trata-se da opinio juris. Pode-se, ao longo do

    tempo, repetir determinado procedimento por mero hbito ou praxe. O elemento material

    no seria suficiente para dar ensejo norma costumeira. necessrio, para tanto, que a

    prtica seja determinada pela opinio juris, isto , pelo entendimento, pela convico de que

    assim se procede por ser necessrio, correto, justo, e, pois, de bom direito.

    Prova do costume

    A parte que alega determinada norma costumeira deve provar a sua existncia e sua

    oponibilidade parte diversa perante a Corte Internacional de Justia.

    Busca-se a prova do costume em atos estatais, no s executivos, ou seja, atos que

    compem a prtica diplomtica, mas tambm nos textos legais e nas decises judiciais que

    disponham sobre temas de interesse do Direito Internacional Pblico. Muitas vezes no

    possvel contar com a existncia de manifestaes diplomticas dos Estados sobre certos

    temas, constituindo assim as legislaes internas a melhor evidncia da opinio geral.

    No que tange ao plano internacional, a prova da norma costumeira pode ser

    encontrada na jurisprudncia internacional e at mesmo no contedo dos tratados e nos

    respectivos trabalhos preparatrios.

    Hierarquia dos costumes e tratados

    No Direito Internacional Pblico inexiste hierarquia entre as normas costumeiras e as

    normas convencionais.

  • 17

    Nesse sentido, podemos afirmar que um tratado idneo para derrogar, entre as

    partes contratantes, certa norma costumeira. Da mesma forma, pode o costume derrogar a

    norma expressa em tratado: nesse caso comum dizer que o tratado quedou extinto por

    desuso.

    Fundamento da validade do costume

    A validade da norma costumeira est fundada no consentimento, o qual no h de ser

    necessariamente expresso. Pode aparecer na forma de silncio ou de ingresso em relaes

    oficiais com outros Estados, admitindo-se, portanto, a concordncia tcita.

    Em resumo, verifica-se a presuno do assentimento de uma norma costumeira caso

    no haja rejeio manifesta da mesma.

    1.3- Princpios Gerais do Direito

    A Corte de Haia, em seu art. 38, inciso 3, refere-se aos princpios gerais de direito

    como aqueles reconhecidos pelas naes civilizadas. Estes princpios seriam aqueles no

    contidos nos tratados ou que no necessitariam ser consagrados pelo costume.

    A desastrada insero da expresso naes civilizadas no artigo supracitado retratou

    uma tendncia da Corte de prevalncia europia na redao do Estatuto, da cultura ocidental

    em detrimento das noes jurdicas do oriente mdio, mas como bem retratou Resek (2005,

    p.133) trazendo o depoimento de Philimore para contemporizar a discusso e reinterpretar o

    conceito, a idia de que onde existe ordem jurdica da qual se possam depreender

    princpios existe civilizao.

    Os grandes princpios gerais do prprio Direito Internacional Pblico na era atual so:

    - princpio da no agresso

    - princpio da soluo pacfica dos litgios entre os Estados

    - princpio da autodeterminao dos povos

  • 18

    - princpio da coexistncia pacfica

    - princpio do desarmamento

    - princpio da proibio da propaganda de guerra

    Pela existncia e fora de muitas antigas jurisdies comunistas, princpios como o do

    respeito aos direitos adquiridos e justa indenizao por nacionalizao de bens poca da

    redao do estatuto no foram inteiramente incorporados aos princpios gerais do direito

    internacional, mas hoje j os integram.

    A finalidade dos princpios preencher lacunas do direito internacional e evitar a no

    apreciao de demandas apresentadas Corte nos casos em que no houvesse previso de

    matria em tratados e costumes internacionais.

    Por fim, ressalta-se que a validade dos princpios gerais de direito, assim como do

    costume internacional, encontra-se fundado no consentimento dos Estados.

    1.4- Atos Unilaterais

    O Estatuto da Corte, em seu art. 38, no menciona os atos unilaterais entre as

    possveis fontes de Direito Internacional Pblico. Alguns autores no conferem essa qualidade

    aos mesmos j que, na maioria das vezes, eles no representam normas, apenas atos jurdicos,

    como nos casos de notificao, protesto, renncia ou reconhecimento. Contudo, esses atos

    produzem conseqncias jurdicas, criando, eventualmente, obrigaes, como nas hipteses

    de ratificao, adeso ou denncia de tratado.

    Entretanto, podemos verificar que um Estado pode produzir um ato unilateral de

    natureza normativa, cuja abstrao e generalidade so utilizadas para diferenci-lo do ato

    jurdico simples e avulso.

    O ato normativo unilateral aquele que emana da vontade de uma nica soberania e

    pode voltar-se para o exterior, em seu objeto, assumindo qualidade de fonte de Direito

    Internacional Pblico na medida em que possa ser invocado por outros Estados em abono de

    uma reivindicao qualquer ou como fundamento da licitude de certo procedimento. Temos

  • 19

    como exemplo o decreto com que cada Estado determina a extenso de seu mar territorial ou

    zona econmica exclusiva, ou regime de seus portos.

    1.5- Decises das Organizaes Internacionais

    As decises das organizaes internacionais chamadas resolues, recomendaes,

    declaraes, diretrizes, obrigam, muitas vezes, a totalidade dos membros da organizao,

    ainda que adotadas por rgo sem representao do conjunto, ou por votao no unnime

    em plenrio.

    Cabe ressaltar que esse fenmeno apenas ocorre no mbito das decises

    procedimentais, e outras de menor relevncia. No que concerne s decises importantes,

    estas s obrigam quando tomadas por unanimidade, e, se majoritrias, obrigam apenas os

    integrantes da corrente vitoriosa.

    1.6- Jurisprudncia e Doutrina

    Dentre o rol das fontes de Direito Internacional, o Estatuto da Corte de Haia menciona

    as decises judicirias e a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes naes,

    como meio auxiliar para a determinao das regras de direito.

    Contudo, a jurisprudncia e a doutrina no so formas de expresso do direito, mas

    instrumentos teis ao seu correto entendimento e aplicao.

    Vale ressaltar que, como instrumento de boa interpretao da norma jurdica a

    jurisprudncia e a doutrina tm, no plano internacional, importncia bem maior que no direito

    nacional de qualquer Estado.

    As decises judicirias a que se refere o art. 38 da Corte so aquelas que compem a

    jurisprudncia internacional, seja o conjunto das decises arbitrais proferidas na soluo de

    controvrsias entre Estados, seja o conjunto das decises judicirias proferidas pelas cortes

    internacionais, como a Corte de Haia.

  • 20

    Como doutrina entende-se toda tese que obtenha consenso doutrinrio, vista como

    segura, seja no domnio da interpretao de uma regra convencional, seja naquele da deduo

    de uma norma costumeira ou de um princpio geral do direito.

    1.7- Analogia e Eqidade

    A analogia e eqidade so mtodos de raciocnio jurdico, meios para enfrentar tanto a

    inexistncia da norma como sua falta de prstimo para proporcionar ao caso concreto uma

    soluo justa.

    O uso da analogia consiste em fazer valer, para determinada situao ftica, a norma

    jurdica concebida para aplicar-se a uma situao semelhante, na falta de regramento que se

    ajuste ao exato contorno do caso posto ante o intrprete. O mtodo compensao

    integrativa, e seu uso encontra certas limitaes no direito internacional.

    Em direito das gentes no se podem construir, pelo mtodo analgico, restries

    soberania, nem hipteses de submisso do Estado ao juzo exterior, arbitral ou judicirio.

    No que concerne eqidade, o direito aplicvel a um caso tambm pode ser atribudo

    pela mesma, se houver concordncia expressa pelas partes, ou seja, o recurso eqidade

    depende da aquiescncia das partes em litgio.

    Neste caso, o julgador valer-se- no necessariamente do direito positivo ou

    costumeiro, mas de uma convico sua que considera justa e adequada ao caso concreto.

    Contudo, a Corte no poder decidir luz da eqidade por seu prprio alvitre; a autorizao

    das partes imprescindvel.

    Captulo 2- ESTADO

    O Estado como sujeito originrio de Direito Internacional Pblico constitudo por trs

    elementos conjugados: um territrio delimitado, uma comunidade humana estabelecida sobre

    essa rea e um poder soberano, ou seja, uma forma de governo no subordinado a qualquer

    outra autoridade exterior.

  • 21

    2.1- Territrio do Estado

    O Estado exerce jurisdio sobre seu territrio, ou seja, ele detm uma srie de

    competncias para atuar com autoridade. Tal territrio compreende a rea terrestre do

    Estado, acrescida dos espaos hdricos de interesse puramente interno, como os rios e lagos

    no interior do territrio. Sobre o mesmo, o Estado soberano possui jurisdio geral e exclusiva.

    A generalidade da jurisdio significa que o Estado exerce no seu domnio territorial

    todas as competncias de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional.

    A exclusividade significa que, no exerccio dessas competncias, o Estado no enfrenta

    a concorrncia de qualquer outra soberania. Dessa forma, apenas o estado pode tomar

    medidas restritivas contra pessoas, pois detentor do monoplio do uso legtimo da fora

    pblica.

    Aquisio e perda do territrio

    Estuda-se a aquisio e perda da sociedade conjuntamente, pois, por vrias vezes, a

    aquisio de territrio por um Estado soberano implica na perda por outro.

    Antigamente, a aquisio de territrio poderia se dar por descoberta, seguida de

    ocupao efetiva ou presumida, ou por conquista.

    A aquisio por descoberta tinha como objeto a terra nullius, no necessariamente

    inabitada, mas que no havia resistncia. Operava-se ento o princpio da contigidade: a

    pretenso ocupacionista do descobridor avana pelo territrio adentro at quando possvel,

    em geral, at encontrar a resistncia de uma pretenso alheia congnere.

    A aquisio de territrio por conquista era aquela obtida mediante emprego da fora

    unilateral, ou como resultado do triunfo em campo de batalha.

    Hoje, tem-se a aquisio ou perda de territrio mediante cesso onerosa, do tipo

    compra e venda ou permuta como no caso do Brasil que adquiriu o Acre da Bolvia, em 1903,

    mediante o pagamento de dois milhes de libras esterlinas e a prestao de determinados

    servios; e a aquisio mediante cesso gratuita, um instrumento tpico dos tratados de paz.

  • 22

    A atribuio de territrio por deciso poltica de uma organizao internacional

    ocorreu no mbito da ONU em 1947, a propsito da partilha da Palestina. Vale ressaltar que a

    Corte de Haia no atribui territrio, apenas limita-se a dizer a quem certa rea pertence, ou

    como os contendores devero proceder para a correta partilha da regio controvertida.

    Delimitao territorial

    O estabelecimento das linhas limtrofes entre os territrios de dois ou mais Estados,

    em geral, resulta de tratados bilaterais, firmados desde o momento em que os pases vizinhos

    tm noo da fronteira e pretendem conferir-lhe, formalmente, o exato traado.

    Os Estados vizinhos podem optar por linhas limtrofes artificiais ou naturais.

    As linhas artificiais compreendem as linhas geodsicas, ou seja, os paralelos e os

    meridianos, ou qualquer combinao realizada base delas para o estabelecimento, por

    exemplo, de diagonais. Ex.: A fronteira entre os Estados Unidos e o Canad , em grande parte,

    constituda por um paralelo.

    As linhas naturais so os rios e cordilheiras. No caso destas, a linha pode correr ao

    longo da base da cadeia montanhosa, assim ela pertencer a um s Estado. Pode-se tambm

    optar pela linha das cumeeiras que liga pontos de altitude ou pelo divortium aquarum, isto , a

    linha onde se repartem as guas da chuva, escorrendo por uma ou outra das vertentes da

    cordilheira. Ex.: a fronteira argentino-chilena dos Andes e divisas montanhosas do Brasil com a

    Venezuela, Colmbia e Peru.

    No caso dos rios, opta-se por dois sistemas: o da linha da eqidistncia das margens

    que passa pela superfcie do rio, estando sempre no ponto central de sua largura por

    exemplo, Brasil e Bolvia a propsito dos rios Guapor, Mamor e Madeira; ou da linha do

    talvegue, ou seja, a linha de maior profundidade que toma em considerao o leito do rio, e

    passa por suas estrias mais profundas, como a fronteira Brasil Argentina no que tange os rios

    Uruguai e Iguau.

    2.2- Imunidade jurisdio estatal

  • 23

    No que diz respeito ao direito diplomtico, especialmente, questo dos privilgios e

    garantias dos representantes de determinado Estado soberano junto ao governo de outro,

    existem duas convenes (Conveno de Viena sobre relaes diplomticas de 1961 e

    Conveno de Viena sobre relaes consulares de 1963) que dispem sobre normas de

    administrao e protocolo diplomticos e consulares, dizendo da necessidade de que o

    governo do Estado local, por meio de seu ministrio responsvel pelas relaes exteriores,

    tenha exata notcia da nomeao de agentes estrangeiros de qualquer natureza ou nvel para

    exercer funes em seu territrio, da respectiva chegada ao seu pas, e da de seus familiares,

    bem como da retirada; e do recrutamento de cidados ou residentes locais para prestar

    servios misso.

    Tal informao completa se faz necessria para que a chancelaria fixe a lista de

    agentes estrangeiros beneficiados por privilgio diplomtico ou consular e a mantenha

    atualizada, j que apenas o chefe da misso diplomtica, o embaixador, apresenta suas

    credenciais solenemente ao chefe de Estado, e deste se despede ao trmino de seu perodo

    representativo.

    Vale ressaltar que, em conformidade com as convenes, o Estado local pode impor a

    retirada de um agente estrangeiro, sem a necessidade de fundamentar seu gesto. O Estado

    local pode declarar persona non grata o agente inaceitvel, devendo o Estado acreditante

    (Estado de origem) cham-lo de volta imediatamente.

    Trata-se de duas convenes em virtude da natureza diversa das instituies: servio

    diplomtico e servio consular. O diplomata representa o Estado de origem (Estado

    Acreditante) junto soberania local, e para o trato bilateral dos assuntos de Estado. O cnsul

    representa o Estado de origem com a finalidade de cuidar, no territrio onde atua, de

    interesses privados, seja os interesses de seus concidados, seja no que concerne ao comrcio

    exterior (exportao/importao).

    2.2.1- Privilgios diplomticos

    Os membros do quadro diplomtico de carreira (do embaixador ao terceiro

    secretrio), bem como os membros do quadro administrativo e tcnico (tradutores,

    contabilistas, etc.), estes ltimos desde que oriundos do Estado acreditante e no recrutados

  • 24

    em loco gozam de ampla imunidade de jurisdio civil e penal. So fisicamente inviolveis e,

    em caso algum, podem ser obrigados a depor como testemunhas.

    Alm disso, possuem imunidade tributria, exceto no que concerne a impostos

    indiretos, normalmente includos no preo de bens e servios, tarifas correspondentes a

    servios que tenha efetivamente utilizado; e possuindo imvel particular no territrio local,

    pagar os impostos sobre eles incidentes.

    Em matria civil, penal e tributria, os privilgios dessas duas categorias estendem-se

    aos membros das famlias, desde que vivam sob sua dependncia e tenham, por isto, sido

    includos na lista diplomtica.

    Os funcionrios da terceira categoria, pessoal de servios da misso diplomtica,

    custeado pelo Estado acreditante, somente goza de imunidade no que concerne a seus atos de

    ofcio, estrita atividade funcional e tal privilgio no se estende famlia.

    J os criados particulares, pagos pelo prprio diplomata, no possuem qualquer

    privilgio garantido pela Conveno.

    Tambm so fisicamente inviolveis os locais da misso diplomtica com todos os bens

    ali situados, assim como os locais residenciais utilizados pelo quadro diplomtico e pelo

    quadro tcnico-administrativo. Esses imveis e os valores mobilirios neles encontrveis no

    podem ser objeto de busca, requisio, penhora ou qualquer outra medida de execuo.

    Cabe ainda ressaltar que os arquivos e documentos da misso diplomtica so

    inviolveis onde quer que se encontrem.

    2.2.2- Privilgios consulares

    Os privilgios consulares se assemelhem queles que cobrem o pessoal de servios da

    misso diplomtica. Os cnsules e funcionrios consulares gozam de inviolabilidade fsica e

    imunidade ao processo, penal ou civil, apenas no tocante aos atos de ofcio.

    No h distino entre os cnsules de carreira diplomtica, ou originrios do Estado

    acreditante, e os cnsules honorrios, recrutados no prprio pas onde vo exercer a atividade.

  • 25

    Os locais consulares so inviolveis na medida estrita de sua utilizao funcional e

    gozam de imunidade tributria. J os arquivos e documentos consulares tm garantidos sua

    inviolabilidade em qualquer circunstncia e onde quer que se encontrem.

    Salienta-se que a priso preventiva pode ser decretada, desde que autorizada por juiz,

    e em caso de crime grave, bem como o testemunho obrigatrio.

    2.2.3- Aspectos da imunidade penal

    Como afirmado anteriormente, os diplomatas e integrantes do pessoal tcnico-

    administrativo da misso gozam de imunidade penal ilimitada que se projeta sobre os

    membros de suas famlias. At mesmo um homicdio passional, uma agresso, um furto

    comum estaro isentos de processo local. Mas isso no livra o agente do crime praticado da

    jurisdio de seu estado de origem, ou seja, retornando origem, o diplomata responde ali

    pelo crime cometido.

    Contudo, a imunidade no impede a polcia local de investigar o crime, preparando a

    informao sobre a qual se presume que a justia do Estado acreditante processar o agente

    beneficiado pelo privilgio diplomtico.

    No caso dos cnsules, os crimes comuns podem ser processados e punidos in loco,

    salvo aqueles diretamente relacionados com a funo consular, como a outorga fraudulenta

    de passaportes e a falsidade na lavratura de guias de exportao.

    2.2.4- Renncia imunidade

    O Estado acreditante, e somente ele, pode renunciar, se entender conveniente, s

    imunidades de ndole penal e civil de que gozam seus representantes diplomticos e

    consulares.

    Em caso algum, o prprio beneficirio da imunidade dispe do direito de renncia.

  • 26

    2.3- Dimenso Pessoal do Estado

    2.3.1- Populao e Comunidade Nacional

    A populao de um Estado soberano caracteriza-se pelo conjunto de pessoas

    estabelecidas sobre seu territrio em carter permanente. Contudo, a dimenso pessoal do

    Estado no a respectiva populao, mas a comunidade nacional, isto , o conjunto de seus

    sditos, incluindo aqueles, minoritrios, que tenham se fixado no exterior.

    O Estado exerce tanto uma jurisdio pessoal, quanto uma territorial. Sobre seus

    cidados residentes no exterior, ele exerce jurisdio pessoal, fundada no vnculo de

    nacionalidade, e independente do territrio onde se encontrem. J sobre os estrangeiros

    residentes, o Estado exerce inmeras competncias inerentes sua jurisdio territorial.

    2.3.2- Nacionalidade

    A nacionalidade um vnculo poltico entre o Estado soberano e o indivduo, que faz

    deste um membro da comunidade constitutiva da dimenso pessoal do Estado.

    A cada Estado incumbe legislar sobre sua prpria nacionalidade, desde que

    respeitadas, no direito internacional, as regras gerais, assim como as normas particulares

    derivadas de tratados firmados.

    A nacionalidade pode ser originria ou adquirida, sendo a primeira a que resulta do

    nascimento e a segunda a que provm de uma mudana da nacionalidade anterior.

    Todo indivduo, ao nascer, adquire uma nacionalidade, que poder ser a de seus pais

    (jus sanguinis) ou do Estado de nascimento (jus soli).

    2.3.2.1- Nacionalidade em Direito Internacional

  • 27

    Na ordem jurdica internacional, a nacionalidade objeto de princpios gerais, normas

    costumeiras e tratados multilaterais que visam acabar com possveis problemas acerca da

    matria.

    Princpios Gerais:

    - O Estado soberano no pode privar-se de uma dimenso pessoal, ou seja, ele est obrigado a

    estabelecer distino entre seus nacionais e os estrangeiros.

    - O Estado no pode arbitrariamente privar o indivduo de sua nacionalidade, nem do direito

    de mudar de nacionalidade.

    - Princpio da efetividade: o vnculo patrial no deve fundar-se na pura formalidade ou no

    artifcio, mas na existncia de laos sociais consistentes entre o indivduo e o Estado.

    Normas costumeiras:

    - prtica generalizada exclurem-se da atribuio de nacionalidade jus soli os filhos de

    agentes de Estados estrangeiros (diplomatas, cnsules, membros de misses especiais). Essa

    prtica vem acompanhada pela opinio juris: os Estados a prestigiam na convico de sua

    necessidade e justia. A presuno de ndole social que sustenta essa regra a de que o filho

    de agentes estrangeiros ter por certo outro vnculo patrial resultante da nacionalidade dos

    pais (jus sanguinis) e da respectiva funo pblica - , tendente a merecer sua preferncia.

    - Proibio do banimento: nenhum Estado pode expulsar um sdito seu, com destino a

    territrio estrangeiro ou a espao de uso comum. Pelo contrrio, h uma obrigao para o

    Estado, de acolher seus nacionais em qualquer circunstncia, inclusive na hiptese de que

    tenham sido expulsos de onde se encontravam.

    Tratados multilaterais:

    Os tratados multilaterais visam reduzir os problemas da apatria e da polipatria.

  • 28

    - Conveno de Haia (1930): condena a repercusso de pleno direito sobre a mulher, na

    constncia do casamento, da eventual mudana de nacionalidade do marido, e a determinar

    aos Estados, cuja lei subtrai a nacionalidade mulher em razo do casamento com estrangeiro,

    que se certifiquem da aquisio, por aquela, da nacionalidade do marido, prevenindo a perda

    no compensada, isto , a apatria.

    - Conveno de Nova York (1957): imuniza a nacionalidade da mulher contra todo efeito

    automtico do casamento, do divrcio, ou das alteraes da nacionalidade do marido na

    constncia do vnculo.

    - Assemblia Geral das Naes Unidas (1948): trouxe a nacionalidade rea dos direitos

    fundamentais da pessoa humana, quando afirma que todo homem tem direito a uma

    nacionalidade no art.15 da Declarao Universal dos Direitos Humanos.

    - Conveno Americana sobre Direitos Humanos (1969 So Jos da Costa Rica): Toda pessoa

    tem direito nacionalidade do Estado em cujo territrio houver nascido, se no tiver direito a

    outra.

    2.3.2.2- Nacionalidade Brasileira

    A nacionalidade brasileira configura matria constitucional disposta no art. 12 e da

    Constituio Federal de 1988.

    A nacionalidade originria brasileira est disposta no referido artigo, em seu inciso I,

    sob a expresso brasileiros natos. Nesse sentido, qualifica-se como brasileiro nato aquele

    que ao nascer geralmente no Brasil, mas eventualmente no exterior viu-se atribuir a

    nacionalidade brasileira ou, quando menos, a perspectiva de consolid-la mediante opo, de

    efeitos retroativos.

    O art. 12, inc. I, a, prev a adoo do jus soli ao afirmar que so considerados

    brasileiros natos os nascidos na Repblica Federativa do Brasil, ainda que de pais

    estrangeiros, desde que estes no estejam a servio de seu pas.

    Contudo, o mesmo inciso comporta uma exceo ao critrio do jus soli, no

    considerando brasileiros, embora nascidos no Brasil, os filhos de pais estrangeiros, que aqui se

  • 29

    encontrem a servio de seu pas. importante ressaltar que considera-se a servio de nao

    estrangeira ambos os componentes do casal, ainda que apenas um deles detenha o cargo, na

    medida que o outro no faa mais que acompanh-lo.

    Por outro lado, temos a adoo do jus sanguinis ao dispor no artigo 12, inc. I, b que

    so brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de me brasileira, desde

    que qualquer deles esteja a servio da Repblica Federativa do Brasil. Dessa maneira, no

    importa que o co-genitor seja estrangeiro, muito menos que ele pertena ao quadro de servio

    pblico de seu pas. Salienta-se que o servio no Brasil no apenas o servio diplomtico

    ordinrio pertencente ao Executivo Federal, compreende todo encargo derivado dos poderes

    da Unio, dos estados-membros e municpios, as autarquias e o servio de organizao

    internacional de que o Brasil faa parte.

    Em ltima anlise do art. 12, inc.I, temos o disposto na alnea c, que considera

    brasileiros natos os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de me brasileira, desde que

    sejam registrados em repartio brasileira competente ou venham a residir na Repblica

    Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela

    nacionalidade brasileira. Trata-se da adoo do jus sanguinis, onde a nacionalidade originria

    brasileira decorre da nacionalidade dos pais conjugada com a manifestao da vontade.

    J no que concerne nacionalidade derivada ou adquirida, a mesma est prevista no

    art. 12, inc. II, da CR/88. O referido inciso favorece a naturalizao aos originrios de pases de

    lngua portuguesa, aos quais se exige como prazo de residncia no Brasil apenas um ano

    ininterrupto e idoneidade moral, bem como possibilita a naturalizao aos estrangeiros que se

    fixaram no Brasil h mais de quinze anos, sem quebra de continuidade e sem condenao

    penal.

    Por fim, cumpre ressaltar que o estrangeiro uma vez naturalizado brasileiro possui

    todos os direitos concedidos ao brasileiro nato, salvo o acesso a certas funes pblicas, como:

    Presidente e Vice-Presidente da Repblica, Presidente da Cmara dos Deputados, Presidente

    do Senado Federal, Ministro do Supremo Tribunal Federal, carreira diplomtica, oficial das

    Foras Armadas e Ministro de Estado da Defesa, conforme disposto no art. 12 2 e 3 da

    Constituio.

    2.3.2.3- Perda da Nacionalidade Brasileira

  • 30

    A perda da nacionalidade pode atingir tanto o brasileiro nato quanto o naturalizado,

    conforme dispe o art. 12, 4, incisos I e II.

    No caso de brasileiro naturalizado, a hiptese de perda decorre, necessariamente, de

    sentena judicial, em virtude de conduta nociva ao interesse nacional.

    No que diz respeito ao brasileiro nato, este perder sua nacionalidade mediante

    aquisio de outra nacionalidade, por naturalizao voluntria. Nesse sentido, podemos

    afirmar que a aquisio de outra nacionalidade no acarretar a perda da brasileira se ao

    brasileiro for reconhecido o direito nacionalidade originria por lei estrangeira, ou se tratar

    de imposio de naturalizao, por norma estrangeira, para que o mesmo possa residir no

    Estado estrangeiro, permanecer e exercer seus direitos civis neste territrio.

    Em suma, para que acarrete a perda da nacionalidade originria brasileira, a

    naturalizao voluntria no exterior deve, necessariamente, envolver uma conduta ativa e

    especfica.

    Por fim, o Presidente da Repblica, em face da prova da naturalizao concedida por

    outro pas, se limita a declarar a perda da nacionalidade brasileira.

    Captulo 3- Condio Jurdica do Estrangeiro

    3.1- Admisso de Estrangeiros

    A admisso de estrangeiros no Estado um ato discricionrio. Nenhum Estado

    soberano obrigado a admitir estrangeiros em seu territrio, seja em definitivo, seja a ttulo

    temporrio.

    No que se refere questo imigratria, necessrio que haja uma conciliao entre os

    interesses dos Estados e os da comunidade internacional. Apesar da imigrao ser matria de

    competncia interna, ela possui importncia universal.

  • 31

    Um Estado pode decidir no admitir estrangeiros ou pode impor condies a sua

    entrada. Nesse sentido, Kelsen formulou o mesmo princpio afirmando que segundo o direito

    internacional, nenhum Estado tem obrigao de admitir estrangeiros em seu territrio.

    No Brasil, a Carta Rgia (1808), a Constituio Imperial (1824) e a Constituio

    Republicana (1891) concederam a abertura dos portos, estimulando a imigrao. Contudo, no

    sculo XX, influenciada pela legislao americana, esta liberalidade foi minguando. A

    Constituio de 1934 criou um sistema de quotas, pelo qual s seria permitida a entrada de

    grupos humanos discriminados por nacionalidade, isto , a corrente imigratria de cada pas

    no podia exceder o limite de 2% sob o nmero total dos respectivos nacionais fixados no

    Brasil durante os ltimos 50 anos. Esse sistema foi mantido na Constituio de 1937, sendo

    abolido apenas com a Carta de 1946 que restabeleceu a norma da liberdade de entrada e

    determinou a instituio de um rgo federal para a coordenao da poltica imigratria. A

    Constituio de 1988 prev em seu art. 5, inc. XV, que livre a locomoo no territrio

    nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar,

    permanecer ou dele sair com seus bens e repete no art. 23, inc. XV, a competncia da Unio

    para legislar sobre emigrao e imigrao, entrada, extradio e expulso de estrangeiro.

    Na ordem internacional, os principais diplomas so a Conveno de Havana de 1928

    sobre a condio do estrangeiro dispondo, em seu art. 1, que os Estados tm o direito de

    estabelecer, por meio de leis, as condies de entrada e residncia dos estrangeiros em seus

    territrios; e a Conveno sobre Asilo Diplomtico (1954) estabelece que Todo Estado tem o

    direito de conceder asilo, mas no se acha obrigado a conced-lo, nem a declarar por que o

    nega.

    Atualmente, a lei n. 6.815/80, tambm denominada Estatuto do Estrangeiro, regula

    os institutos da admisso e entrada do estrangeiro no territrio nacional, os vrios tipos de

    visto, a transformao dos mesmos, a prorrogao do prazo de estada, a condio do asilado,

    o registro do estrangeiro, sua sada e seu retorno ao territrio nacional, sua documentao

    para viagem, a deportao, a expulso, a extradio, os direitos e deveres do estrangeiro, a

    naturalizao e a criao do Conselho Nacional de Imigrao.

    O Conselho Nacional de Imigrao tem como objetivo orientar e coordenar as

    atividades de imigrao, formular objetivos para elaborao da poltica imigratria,

    estabelecer normas de seleo de imigrantes, visando proporcionar mo de obra especializada

    aos vrios setores da economia nacional e captao de recursos para setores especficos,

  • 32

    dirimir as dvidas e solucionar os casos omissos no que respeita a admisso de imigrantes e

    opinar sobre alterao da legislao relativa imigrao.

    A atual legislao brasileira sobre a entrada e permanncia de estrangeiro no Brasil

    inspira-se no atendimento segurana nacional, organizao institucional e nos interesses

    polticos, socioeconmicos e culturais do Brasil, inclusive na defesa do trabalhador nacional.

    proibido conceder visto ao estrangeiro (art. 7 do Estatuto):

    - menor de 18 anos desacompanhado de responsvel legal ou sem sua autorizao expressa

    - considerado nocivo ordem pblica ou aos interesses nacionais

    - pessoa anteriormente expulsa do pas

    - a quem tiver sido condenado ou processado, em outro pas, por crime doloso

    - passvel de extradio segundo a lei brasileira

    - que no satisfaa as condies de sade estabelecidas pelo Ministrio da sade

    O visto concedido pela autoridade consular brasileira configura mera expectativa de

    direito, podendo a entrada, estada ou o registro do estrangeiro ser obstado caso ocorra

    qualquer dos casos previstos no art. 7 supramencionado ou a inconvenincia de sua presena

    no Brasil.

    De acordo com a legislao brasileira (art. 26, 2), o impedimento entrada de

    qualquer dos integrantes da famlia poder estender-se a todo o grupo familiar.

    Cabe ainda ressaltar que o impedimento entrada do estrangeiro que no atende as

    condies fixadas pela legislao ptria no representa pena. A proibio sua entrada ou

    estada no pas questo atinente proteo de nossa segurana interna, da ordem pblica,

    configurando uma natural manifestao do poder soberano, sem qualquer caracterstica de

    pena.

    Visto de Entrada

    Em matria de visto de entrada para o estrangeiro, o governo brasileiro segue a

    poltica de reciprocidade: As autorizaes de vistos de entrada de estrangeiros no Brasil e as

  • 33

    isenes e dispensas de visto para todas as categorias somente podero ser concedidas se

    houver reciprocidade de tratamento para brasileiros (Decreto 82.307 de 1978). A

    reciprocidade verifica-se atravs de acordo internacional.

    Em suma, o estrangeiro, antes de sair de seu pas de origem, necessita de uma

    autorizao, o visto, para que seja possvel a sua entrada no Brasil. Contudo, em alguns pases

    essa prerrogativa no persistir devido s estritas relaes diplomticas dos mesmos com o

    Brasil.

    Vrios so os vistos de entrada que podem ser concedidos ao estrangeiro,

    especificados na lei como: trnsito, turista, temporrio, permanente, cortesia, oficial e

    diplomtico.

    Visto de Trnsito: visto concedido ao estrangeiro que, para atingir o pas de destino,

    tenha de entrar em outro territrio. Pela lei brasileira, o visto de trnsito vlido para uma

    estada de at dez dias improrrogveis e uma s entrada. Contudo, no exigido visto de

    trnsito ao estrangeiro em viagem contnua que s se interrompa para as escalas obrigatrias

    do meio de transporte utilizado. (art. 8 do estatuto do Estrangeiro)

    Visto de Turista: visto concedido ao estrangeiro que venha ao pas em carter

    recreativo ou de visita, assim considerado aquele que no tenha finalidade imigratria, nem

    intuito de exerccio de atividade remunerada. De acordo com a legislao brasileira, vedado

    o trabalho e o estudo (art. 9). O prazo de estada do turista de noventa dias, o mesmo

    podendo ser reduzido a critrio do Ministrio da Justia.

    Visto temporrio: visto concedido ao estrangeiro que pretenda permanecer no pas

    por perodo e finalidade pr-determinada. Com base no Estatuto, poder ser concedido ao

    estrangeiro que pretenda vir ao Brasil:

    - em viagem cultural ou misso de estudos

    - em viagem de negcios

    - na condio de artista ou desportista

    - na condio de estudante

    - na condio de cientista, professor, tcnico ou profissional de outra categoria, sob regime de

    contrato ou a servio do governo

  • 34

    O prazo de estada de noventa dias ou correspondente durao da misso, do

    contrato, ou da prestao de servios. Para o estudante, o prazo ser de at um ano, podendo

    ser prorrogvel mediante prova do aproveitamento escolar e da matrcula.

    Visto permanente: visto concedido ao estrangeiro que pretenda se fixar

    definitivamente no pas. O estrangeiro dever satisfazer, no caso brasileiro, alm dos

    requisitos referidos no art. 5, as exigncias de carter especial previstas nas normas de

    seleo de imigrantes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Imigrao.

    O visto permanente poder ser concedido nos seguintes casos:

    Chefes de empresas tendo contrato de trabalho aprovado pela Coordenao-Geral de

    Imigrao do Ministrio do Trabalho do Brasil (RN62/04).

    O estrangeiro que dever representar uma instituio financeira, ou equivalente,

    situada no Brasil, aps o acordo da Coordenao-Geral de Imigrao (RN63/04).

    Investidores apresentando a prova de seus investimentos, antecipadamente

    aprovados pelo Ministrio do Trabalho no Brasil, altura de US$ 50 000,00 - cinqenta

    mil dlares norte-americanos, e aps o acordo da Coordenao-Geral de Imigrao

    (RN60/04).

    O estrangeiro que ir exercer a funo de diretor administrativo junto instituies

    sem fins lucrativos, com ou sem remunerao proveniente do Brasil. (RN70/06).

    Esposo ou esposa de cidado brasileiro residentes no Brasil, ou de estrangeiros

    titulares de um visto permanente no Brasil. (RN36/99).

    Filhos ou filhas de estrangeiro titulares de visto permanente no Brasil, menores de 21

    anos de idade. (RN36/99) .

    Ascendentes diretos de cidados brasileiros ou de estrangeiros titulares de visto

    permanente, condio de comprovarem sua dependncia financeira. (RN36/99).

    Irmo (irm), neto(a), bis neto(a) se rfos, solteiros e menores de 21 anos que no

    possam prover as suas prprias necessidades. (RN36/99).

    Aposentado estrangeiro comprovando a transferncia de aposentadoria no valor de

    US$ 2.000,00 por ms e por pessoa, podendo ser acompanhado por at dois membros

    de sua famlia. (RN45/00).

  • 35

    Companheiro (a) de cidado(a) brasileiro(a) em unio estvel de mais de 5 anos,

    podem solicitar junto ao "Conselho Nacional de Imigrao", um acordo para visto de

    reagrupamento familiar.

    O pedido de visto permanente pode ser estendido aos seus dependentes legais para

    reunio familiar. O pedido de visto permanente de pais estrangeiros de um menor

    brasileiro, dever ser solicitado diretamente no Brasil, Polcia Federal local.

    O pedido de visto para aquele que vive maritalmente h 5 anos, sem distino de sexo, poder

    ser solicitado junto Coordenao-Geral de Imigrao, no Brasil,a residncia permanente ou

    temporria.

    A aquisio de bem imvel ou promessa de emprego, por si s, no d direito ao pedido de

    visto permanente.

    Imigrao dirigida: a concesso do visto permanente poder ficar condicionada, por

    prazo no superior a 5 anos, ao exerccio de atividade certa e fixao em regio determinada

    do territrio brasileiro. Nesta hiptese, o estrangeiro no poder, dentro do prazo

    determinado na oportunidade da concesso do visto, mudar de domiclio nem de atividade

    profissional ou exerc-la fora daquela regio, salvo mediante autorizao do Ministrio da

    Justia. Vale ressaltar, que no proibido a locomoo, somente a mudana de domiclio.

    Os vistos diplomticos, oficiais e de cortesia so, via de regra, emitidos pelos Postos do

    Governo brasileiro no exterior, mediante solicitao formulada por Nota da Chancelaria local,

    da Misso Diplomtica estrangeira, organismo ou agncia internacional, pela qual explicite

    claramente os objetivos, o local e a durao da misso.

    O visto diplomtico poder ser concedido a autoridades e funcionrios estrangeiros e

    de organismos internacionais que tenham status diplomtico e estejam em misso oficial no

    Brasil.

    O visto oficial poder ser concedido a autoridades e funcionrios estrangeiros e de

    organismos internacionais que estejam no Brasil em misso oficial de carter transitrio ou

    permanente, includas nessa definio as misses de cunho cientfico-cultural e a assistncia

    tcnica prestada no mbito de acordos que contemplem expressamente a concesso de VISOF

    a tcnicos, peritos e cooperantes.

  • 36

    O visto de cortesia poder ser concedido a personalidades e autoridades estrangeiras

    que estejam no Brasil em viagem no oficial, para estadas por prazo no superior a noventa

    dias.

    O visto de cortesia poder igualmente ser concedido aos dependentes maiores de 18

    anos e a servial de funcionrio diplomtico, administrativo ou tcnico estrangeiro, designado

    para misso de carter permanente no Brasil, bem como para o servial de funcionrio do

    quadro do MRE, de regresso de misso oficial permanente no exterior.

    A concesso, excepcional, em territrio nacional de VIDIP, VISOF e VICOR ou a

    eventual transformao de outros tipos de visto em diplomtico ou oficial, ficar condicionada

    prvia autorizao da Diviso de Imigrao.

    3.2- Direitos dos Estrangeiros

    O Estado deve proporcionar ao estrangeiro encontrvel em seu territrio, a garantia

    de alguns direitos elementares da pessoa humana, como: direito vida, integridade fsica,

    direito de requerer em juzo, dentre outros.

    Ao estrangeiro assegurado o gozo dos direitos civis ressalvadas poucas excees,

    como, por exemplo, o trabalho remunerado restrito ao estrangeiro residente no pas.

    A Constituio Federal dispe, em seu art. 5, que todos so iguais perante a lei, sem

    distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no pas

    a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade.

    Contudo, salienta-se que a residncia no pas no condio para o recurso ao Poder

    judicirio, que d sua prestao jurisdicional mesmo aos estrangeiros residentes no exterior.

    Por outro lado, o estrangeiro no possui direitos polticos, mesmo estando ele

    instalado definitivamente no territrio: no pode votar ou ser votado, prestar concurso

    pblico, propor ao popular.

    Algumas restries aos estrangeiros esto presentes na legislao infraconstitucional e

    no prprio texto constitucional.

  • 37

    No que concerne ao exerccio das atividades polticas, o art. 107 da lei n. 6.815/80

    veda ao estrangeiro o exerccio de atividades de natureza poltica relacionadas a outro pas e a

    obteno de adeso de terceiros a idias polticas por meio de coao ou constrangimento.

    Alm disso, os estrangeiros no votam em eleio alguma no Brasil, excetuados os

    portugueses (art.14 2 da CR/88).

    Outras restries:

    art. 170, inc.IX da CR/88: tratamento favorecido para as empresas brasileiras de

    capital nacional de pequeno porte, alterado pela emenda n. 6 de 1995 que agora se

    refere a empresas de pequeno porte constitudas sob as leis brasileiras e que tenham

    sua sede e administrao no pas.

    art. 176, 1 da CR/88: restringia a pesquisa e a lavra de recursos minerais e o

    aproveitamento de potenciais de energia hidrulica a brasileiros ou empresa

    brasileira de capital nacional, alterado pela emenda n. 6 de 1995 referindo-se, agora,

    a brasileiros ou empresa brasileira constituda sob as leis brasileiras e que tenha sua

    sede e administrao no pas.

    3.3- Excluso do estrangeiro

    A excluso do estrangeiro do territrio de um Estado pode ocorrer por iniciativa local,

    hipteses de deportao e expulso; ou atravs de solicitao de outro pas, no caso da

    extradio.

    A) Deportao

    a forma de excluso, do territrio nacional, do estrangeiro que aqui se encontre aps

    uma entrada irregular, ou cuja estada tenha se tornado irregular.

    Trata-se de uma excluso por iniciativa das autoridades locais, sem o envolvimento da

    cpula do governo.

    No Brasil, a polcia federal tem competncia para promover a deportao quando

    entendam que no o caso de regular a sua documentao.

  • 38

    Contudo, possvel o retorno do estrangeiro deportado ao pas, sendo suficiente a

    obteno da documentao regular para o ingresso.

    B) Expulso

    Trata-se do processo pelo qual um pas expulsa de seu territrio um estrangeiro

    residente, em razo de ter cometido um crime (condenao criminal) ou de comportamento

    nocivo convenincia e aos interesses nacionais.

    Pressupe inqurito pelo Ministrio da Justia, ao longo do qual ao estrangeiro

    assegurado o direito de defesa. Contudo, cabe ao Presidente decidir sobre a expulso que a

    materializa atravs de um decreto.

    Contudo, a expulso vedada em algumas hipteses previstas pela lei n. 6.815/80,

    alterada pela lei n. 6.964/81. So os casos:

    - a expulso implica extradio inadmitida pela lei brasileira

    - quando o estrangeiro tiver:

    a) cnjuge brasileiro do qual no esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde

    que o casamento tenha sido celebrado h mais de 5 anos; ou

    b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa

    economicamente.

    Cabe ressaltar, que no constituem impedimento expulso a adoo ou o

    reconhecimento de filho brasileiro supervenientes ao fato que o motivar e, se verificados, a

    qualquer tempo, o abandono do filho, o divrcio ou a separao, de fato ou direito.

    Vale ressaltar que, a princpio, o estrangeiro expulso no pode retornar ao pas. Isso

    somente ser possvel com a edio de um decreto futuro revogando o primeiro.

    C) Extradio

    a entrega, por um Estado a outro, a pedido deste, de indivduo que em seu territrio

    deva responder a processo penal ou cumprir pena.

  • 39

    H uma relao executiva com o envolvimento judicirio de ambos os lados: o governo

    requerente da extradio s toma essa iniciativa em razo da existncia de um processo penal

    na sua justia e o governo requerido s pode decidir sobre o atendimento do pedido aps um

    pronunciamento da justia local.

    Em regra, o fundamento jurdico de todo pedido de extradio um tratado entre os

    dois pases envolvidos; na falta deste, o pedido apenas poder ser atendido mediante uma

    promessa de reciprocidade que tanto pode ser acolhida como rejeitada, sem fundamentao,

    pelo governo, no estando sujeita aprovao do Congresso.

    O tratado de extradio apenas priva o governo de qualquer arbtrio, determinando-

    lhe que submeta ao STF a demanda. Se este entender que a extradio legtima, o governo

    dever efetiv-la.

    Para que ocorra o processo de extradio no STF, necessrio o encarceramento do

    extraditando. Recebendo do governo o pedido de extradio e peas anexas, o presidente do

    Supremo o faz autuar e distribuir, e o ministro-relator determina a priso do extraditando.

    O extraditando, por sua vez, possui direito a defesa, mas essa no pode adentrar o

    mrito da acusao. A defesa ser impertinente em tudo quanto no diga respeito sua

    identidade, instruo do pedido ou ilegalidade da extradio.

    - Legalidade da extradio

    O exame judicirio da extradio o apurar da presena de seus pressupostos,

    arrolados na lei interna e no tratado.

    No Brasil, o nico pressuposto que diz respeito condio pessoal do estrangeiro a

    sua nacionalidade, pois, conforme dispositivo constitucional, vedada a extradio de

    nacional.

    No que concerne aos fatos, os pressupostos so:

    crime comum: no pode ser poltico

    crime de direito comum: deve ser considerado crime nas legislaes dos dois pases

    crime de certa gravidade: a lei brasileira deve punir o crime com pena privativa de

    liberdade e de no mnimo um ano

  • 40

    crime sujeito jurisdio do requerente e estranho jurisdio brasileira

    punibilidade no extinta por decurso de tempo, nem no Estado requerente, nem

    conforme a lei brasileira

    no se extradita se, no Estado requerente, o extraditando deva se sujeitar a tribunal

    ou juzo de exceo

    - Efetivao da entrega do extraditando

    Negada a extradio pelo STF, o extraditando libertado e o Executivo comunica esse

    desfecho ao Estado requerente.

    Deferida a extradio, incumbe ao Executivo efetiv-la, mas antes exigir a aceitao

    de alguns compromissos. O Estado requerente deve prometer ao governo local:

    a) que no punir o extraditando por fatos anteriores ao pedido e dele no constante

    (princpio da especialidade da extradio)

    b) que descontar, na pena, o perodo de priso no Brasil em funo da medida

    (detrao)

    c) que transformar em pena privativa de liberdade uma eventual pena de morte

    d) que no entregar o extraditando a outro pas que o reclame, sem prvia autorizao

    do Brasil

    e) que no levar em conta possvel motivao poltica do crime para agravar a pena.

    A sonegao do compromisso pelo Estado requerente hora da efetivao da entrega

    do extraditando implica no indeferimento da extradio pelo STF.

    Contudo, formado o compromisso, o governo coloca o extraditando disposio do

    Estado requerente, que dispe de 60 dias, salvo disposio diversa em tratado, para retir-

    lo, a suas expensas, do seu pas. Caso contrrio, ele ser solto, no podendo haver

    renovao do processo.

  • 41

    3.4 Asilo Poltico e Asilo Diplomtico

    O Asilo Poltico o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido por outro

    Estado, geralmente pelo seu pas patrial, por causa de dissidncia poltica, delitos de opinio,

    ou por crimes que, relacionados com a segurana do Estado, no quebram o direito penal

    comum crimes polticos.

    O asilo poltico territorial, isto , o Estado concede-o quele estrangeiro que,

    havendo cruzado a fronteira, colocou-se no mbito espacial de sua soberania, e ento,

    requereu o benefcio.

    Vale ressaltar que nenhum Estado obrigado a conceder asilo poltico, trata-se de um

    poder discricionrio do mesmo.

    Observa-se que candidato ao asilo nem sempre estar provido de documentao

    prpria para um ingresso regular no pas. Sem visto, ou mesmo sem passaporte, ele aparece,

    formalmente, como um deportando em potencial quando faz o pedido de asilo autoridade

    local. Nesse sentido, o Estado territorial, decidindo conceder o asilo, cuidar da

    documentao.

    A legislao brasileira prev at mesmo a expedio de um passaporte especial para os

    asilados polticos.

    O Asilo Diplomtico a forma provisria do asilo poltico s praticada regularmente na

    Amrica Latina. Trata-se de um estgio provisrio, uma ponte para o asilo territorial, onde o

    procurado se refugia em uma embaixada localizada em seu pas de origem, por exemplo.

    Com efeito, nos pases que no reconhecem essa modalidade de asilo, toda pessoa

    procurada pela autoridade local que adentre o recinto de misso diplomtica estrangeira deve

    ser imediatamente restituda, pouco importando saber se se cuida de delinqente poltico ou

    comum. As regras do direito diplomtico fariam apenas com que a polcia local no se

    introduzisse naquele recinto inviolvel sem autorizao, mas de nenhum modo abonariam

    qualquer forma de asilo.

    Os pressupostos do asilo so:

    - a natureza poltica dos delitos atribudos ao fugitivo

  • 42

    - a atualidade da persecuo: estado de urgncia

    Os locais onde esse asilo pode ocorrer so as misses diplomticas, no considerando

    as reparties consulares, e, por extenso, os imveis residenciais cobertos pela

    inviolabilidade, podendo ainda se dar nos navios de guerra porventura acostados ao litoral.

    A autoridade asilante (embaixador) examinar a ocorrncia dos dois pressupostos

    referidos e reclamar da autoridade local a expedio de um salvo-conduto, com que o asilado

    possa deixar em condies de segurana o Estado territorial para encontrar abrigo definitivo

    no Estado que se dispe a receb-lo.

    Por fim, cabe ressaltar que o asilo uma instituio humanitria e no exige

    reciprocidade.

    Captulo 4- Soberania

    A soberania, numa concepo jurdico-poltica, o incontrastvel poder de mando de

    ltima instncia, ou seja, aquele que no pode ser negado por foras exteriores.

    A soberania um atributo do Estado, que autoriza o uso da fora e possibilita intervir

    em quaisquer domnios a si subordinados, legitima a capacidade de legislar e impor sanes.

    A definio de soberania, preconizada por Jean Bodin como summa potestas, j

    vivenciou mudanas e desenvolveu-se de forma a adaptar-se s necessidades modernas,

    especialmente frente globalizao e integrao regional, fato este aceito pela comunidade

    jurdica internacional.

    4.1- Reconhecimento de Estado e de Governo

    4.1.1- Reconhecimento de Estado

    Reunidos os elementos que constituem um Estado,