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Uma alternativa para aumentar a produtividade em sistemas de produção de bovinos é a suplementação alimentar, cuja utilização permite a correção dos pontos nutricionais limitantes dentro do sistema, através do fornecimento, direto no cocho, de suplementos (minerais, proteicos, proteico-energéticos e/ou concentrados) que permitam a adequação dos níveis dos nutrientes requeridos pelos animais e que não são atendidos exclusivamente via pastagem. Além de a suplementação alimentar atuar como um meio de suprir as deficiências de alguns elementos nutricionais é também uma eficaz ferramenta que permite ao pecuarista programar a evolução do rebanho, os ganhos de peso desejados e ainda, o perfil de desenvolvimento e composição da carcaça bovina. A escolha por diferentes estratégias de suplementação deve ser feita a partir das metas de produção de cada propriedade, definidas a partir de índices zootécnicos como, por exemplo, taxa de lotação, taxa de desfrute, taxa de reposição, peso ao abate, etc. e dos benefícios gerados pelos diferentes tipos de suplemento. Com foco no estudo e definição das melhores estratégias de suplementação para diferentes sistemas produtivos, a Bellman vem trabalhando desde 2006 via Pesquisa e Desenvolvimento em parceria com a Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA), Polo da Alta Mogiana. O atual objeto de estudo é o efeito do histórico e do tipo de suplementação sobre o desenvolvimento e composição da carcaça bovina. O histórico de suplementação trata-se do acompanhamento do tipo de suplemento fornecido aos bovinos em cada uma das fases do seu desenvolvimento, considerando que a suplementação de uma fase anterior tem efeito sobre o desempenho e o tipo de suplementação da fase seguinte. Estudos avaliando o efeito do histórico alimentar mostram que quando se impõe determinada taxa de ganho de peso em uma fase, na fase seguinte deve-se fornecer condições para que o animal mantenha ou aumente a taxa de ganho de peso, comparada a da fase anterior. Isso para que o desenvolvimento do bovino não seja prejudicado com diferentes aportes proteicos e energéticos. Segue na Figura 1, como um exemplo, o efeito da suplementação na seca (suplemento proteico ou proteico-energético - barras azuis e vermelhas) sobre a fase seguinte, nas águas, onde o eixo “x” representa o tipo de suplemento fornecido nessa fase. Figura 1. Efeito do histórico alimentar sobre o ganho em carcaça nas águas em função do tipo de suplementação na seca (Moretti et al., dados não publicados). Além da avaliação dos resultados de ganho de peso em função do tipo de suplementação, histórico de suplementação, também é possível avaliar por meio de abates experimentais comparativos no início e final de cada fase da vida do animal, em quais tecidos corporais o ganho está sendo depositado, ou seja, se o ganho é em músculo, gordura ou em crescimento do trato digestivo. Para um melhor entendimento do processo de ganho de peso divide-se o peso corporal do bovino em três partes: carcaça, componentes não carcaça e conteúdo do trato digestivo. Como ilustra a Figura 2, existe uma variação nas porcentagens de cada uma dessas partes, que possivelmente ocorre devido a estratégia alimentar utilizada. Figura 2. Divisão do peso corporal do animal e a suas respectivas variações. (Moretti et al., dados não publicados). Os abates experimentais em cada uma das fases de desenvolvimento do animal permite a observação do incremento no ganho em carcaça de acordo com o aumento do nível de suplementação. Os pesquisadores da APTA adotaram uma terminologia específica para avaliar esses dados de carcaça e chamaram de rendimento do ganho, a divisão do ganho em carcaça pelo ganho de peso corporal no período, desse modo pode-se avaliar quanto do ganho de peso é em carcaça, ou seja, tecido muscular. Uma vez determinado que o rendimento do ganho é a quantidade de carcaça produzida por quilo de peso corporal, o tipo de suplementação pode alterar essa variável de duas maneiras. A primeira delas é a alteração (redução) no conteúdo do trato digestivo dos animais e a segunda é por meio do incremento na deposição de gordura na carcaça. Ambas as mudanças resultam no aumento do rendimento de carcaça e, portanto um maior rendimento do ganho. O conteúdo do trato digestivo pode ser afetado principalmente pelo consumo de alimentos e pela taxa de passagem como exemplifica a Figura 3. Animais em pastejo, recebendo de 3 a 5 g de suplemento por kg de peso corporal podem reduzir o consumo de forragem em função do aumento do consumo de suplemento, o que geralmente é atribuído a um efeito combinado e/ou substitutivo. Uma vez que o animal reduz o consumo de forragem, alimento de menor digestibilidade e maior volume, e passa a consumir um suplemento que normalmente apresenta maior digestibilidade, tem-se o aumento da taxa de passagem em função do aumento da digestibilidade da dieta, resultando em diminuição do conteúdo (volume) do trato digestivo. Se não for considerado o efeito combinado e/ou substitutivo e sim que a suplementação apenas melhora as condições no ambiente ruminal, os microorganismos do rúmen encontrariam nesse cenário melhores condições para degradar a fibra da dieta, o que da mesma forma resultaria em aumento da taxa de passagem e 22ª edição | Agosto 2012 Informativo Bellman para Difusão de Tecnologia | bellman.com.br INFLUENCIA DO TIPO DE SUPLEMENTAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO E COMPOSIÇÃO DA CARCAÇA BOVINA me

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Uma alternativa para aumentar a produtividade em sistemas de produção de bovinos é a suplementação alimentar, cuja utilização permite a correção dos pontos nutricionais limitantes dentro do sistema, através do fornecimento, direto no cocho, de suplementos (minerais, proteicos, proteico-energéticos e/ou concentrados) que permitam a adequação dos níveis dos nutrientes requeridos pelos animais e que não são atendidos exclusivamente via pastagem. Além de a suplementação alimentar atuar como um meio de suprir as deficiências de alguns elementos nutricionais é também uma eficaz ferramenta que permite ao pecuarista programar a evolução do rebanho, os ganhos de peso desejados e ainda, o perfil de desenvolvimento e composição da carcaça bovina.

A escolha por diferentes estratégias de suplementação deve ser feita a partir das metas de produção de cada propriedade, definidas a partir de índices zootécnicos como, por exemplo, taxa de lotação, taxa de desfrute, taxa de reposição, peso ao abate, etc. e dos benefícios gerados pelos diferentes tipos de suplemento. Com foco no estudo e definição das melhores estratégias de suplementação para diferentes sistemas produtivos, a Bellman vem trabalhando desde 2006 via Pesquisa e Desenvolvimento em parceria com a Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA), Polo da Alta Mogiana. O atual objeto de estudo é o efeito do histórico e do tipo de suplementação sobre o desenvolvimento e composição da carcaça bovina.

O histórico de suplementação trata-se do acompanhamento do tipo de suplemento fornecido aos bovinos em cada uma das fases do seu desenvolvimento, considerando que a suplementação de uma fase anterior tem efeito sobre o desempenho e o tipo de suplementação da fase seguinte. Estudos avaliando o efeito do histórico alimentar mostram que quando se impõe determinada taxa de ganho de peso em uma fase, na fase seguinte deve-se fornecer condições para que o animal mantenha ou aumente a taxa de ganho de peso, comparada a da fase anterior. Isso para que o desenvolvimento do bovino não seja prejudicado com diferentes aportes proteicos e energéticos. Segue na Figura 1, como um exemplo, o efeito da suplementação na seca (suplemento proteico ou proteico-energético - barras azuis e vermelhas) sobre a fase seguinte, nas águas, onde o eixo “x” representa o tipo de suplemento fornecido nessa fase.

Figura 1. Efeito do histórico alimentar sobre o ganho em carcaça nas águas em função do tipo de suplementação na seca (Moretti et al., dados não publicados).

Além da avaliação dos resultados de ganho de peso em função do tipo de suplementação, histórico de suplementação, também é possível avaliar por meio de abates experimentais comparativos no início e final de cada fase da vida do animal, em quais tecidos corporais o ganho está sendo depositado, ou seja, se o ganho é em músculo, gordura ou em crescimento do trato digestivo.

Para um melhor entendimento do processo de ganho de peso divide-se o peso corporal do bovino em três partes: carcaça, componentes não carcaça e conteúdo do trato digestivo. Como ilustra a Figura 2, existe uma variação nas porcentagens de cada uma dessas partes, que possivelmente ocorre devido a estratégia alimentar utilizada.

Figura 2. Divisão do peso corporal do animal e a suas respectivas variações. (Moretti et al., dados não publicados).

Os abates experimentais em cada uma das fases de desenvolvimento do animal permite a observação do incremento no ganho em carcaça de acordo com o aumento do nível de suplementação. Os pesquisadores da APTA adotaram uma terminologia específica para avaliar esses dados de carcaça e chamaram de rendimento do ganho, a divisão do ganho em carcaça pelo ganho de peso corporal no período, desse modo pode-se avaliar quanto do ganho de peso é em carcaça, ou seja, tecido muscular.

Uma vez determinado que o rendimento do ganho é a quantidade de carcaça produzida por quilo de peso corporal, o tipo de suplementação pode alterar essa variável de duas maneiras. A primeira delas é a alteração (redução) no conteúdo do trato digestivo dos animais e a segunda é por meio do incremento na deposição de gordura na carcaça. Ambas as mudanças resultam no aumento do rendimento de carcaça e, portanto um maior rendimento do ganho.

O conteúdo do trato digestivo pode ser afetado principalmente pelo consumo de alimentos e pela taxa de passagem como exemplifica a Figura 3. Animais em pastejo, recebendo de 3 a 5 g de suplemento por kg de peso corporal podem reduzir o consumo de forragem em função do aumento do consumo de suplemento, o que geralmente é atribuído a um efeito combinado e/ou substitutivo. Uma vez que o animal reduz o consumo de forragem, alimento de menor digestibilidade e maior volume, e passa a consumir um suplemento que normalmente apresenta maior digestibilidade, tem-se o aumento da taxa de passagem em função do aumento da digestibilidade da dieta, resultando em diminuição do conteúdo (volume) do trato digestivo.

Se não for considerado o efeito combinado e/ou substitutivo e sim que a suplementação apenas melhora as condições no ambiente ruminal, os microorganismos do rúmen encontrariam nesse cenário melhores condições para degradar a fibra da dieta, o que da mesma forma resultaria em aumento da taxa de passagem e

22ª edição | Agosto 2012Informativo Bellman para Difusão de Tecnologia | bellman.com.br

INFLUENCIA DO TIPO DE SUPLEMENTAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO E COMPOSIÇÃO DA CARCAÇA BOVINA

do tipo de suplementação, histórico de suplementação, também é

Departamento de P&DBellman Nutrição Animal

22ª edição |Agosto 2012Informativo Bellman para Difusão de Tecnologia | bellman.com.br

redução do volume do trato digestivo.

Figura 3. Variação na porcentagem de conteúdo ruminal em função do tipo de suplementação (Moretti et al., dados não publicados).

O segundo modo de alteração do rendimento do ganho em função do tipo de suplementação é observado através do aumento da deposição de gordura na carcaça devido ao aporte energético do suplemento. As exigências nutri cionais de bovinos são determinadas pela fase de desenvolvimento corporal, portanto se os animais estiverem em fase de crescimento, será mais relevante o fornecimento de um suplemento proteico uma vez que a deposição é maior em tecido muscular. Animais em fase de terminação e que praticamente cessaram o desenvolvimento muscular precisam de mais energia para a deposição de tecido adiposo, por isso os suplementos energéticos apresentam melhores resultados nessa fase.

O aumento do aporte energético via suplemento favorece a deposição de gordura na carcaça que por sua vez aumenta o rendimento de carcaça e do ganho de peso.

Conclui-se que as estratégias alimentares podem definir o desenvolvimento e a composição da carcaça bovina e a escolha do tipo de suplementação é essencial para alcançar a meta de produção da propriedade, otimizando o investimento e priorizando o retorno.

Resultados de Pesquisa e/ou Cliente

A suplementação alimentar de bovinos pode alterar de forma positiva o rendimento do ganho através do aumento no rendimento de carcaça em função da maior deposição de músculo ou gordura corporal. Foi estudado, no período de 11/2010 a 04/2011, o efeito do tipo de suplementação (mineral, proteico-energética ou energética) na fase de terminação de novilhas Nelore no período das águas, sobre o perfil de ganho de peso e rendimento do ganho. O resultado de desempenho para os animais suplementados com proteico ou energético foram muito próximos como mostra a Figura 4, sendo diferente, portanto, apenas da suplementação mineral.

Figura 4. Desempenho de Novilhas Nelore, na fase de terminação, durante o período das águas em pastagem de capim-Marandú (Campos et al., 2012).

No entanto, quando foi avaliada a composição do ganho, ou o

rendimento do ganho em função dos diferentes suplementos, os

resultados obtidos foram um pouco diferentes (Figura 5).

Figura 5. Desempenho de Novilhas Nelore, na fase de terminação, durante o período das águas em pastagem de capim-Marandú (Campos et al., 2012).

Como apresentado na Figura 5, na fase de terminação, o suplemento energético foi mais eficiente para aumentar o ganho de carcaça, de forma significativa, em relação ao suplemento proteico-energético e suplemento mineral. Consequentemente o suplemento energético resultou em um maior rendimento do ganho, e no frigorífico seria representado pelo aumento no rendimento de carcaça.

Considerando a composição dos suplementos em proteína e energia, o suplemento proteico energético apresentava 25% de proteína bruta (PB), 60% de NDT e era fornecido na quantidade de 3 g/ kg de PC, já o suplemento energético (milho + minerais) apresentava 9,2% de PB, 87% de NDT e era fornecido na quantidade de 7 g/ kg de PC. O consumo de proteína bruta diário promovido por ambos os suplementos foi muito próximo, porém a quantidade de NDT consumido foi em torno de três vezes superior para o suplemento energético em relação aos demais.

Uma vez que os animais estavam na fase de terminação e com isso iniciando a deposição de gordura corporal, o maior aporte energético promovido pela suplementação energética favoreceu a

deposição de gordura (Figura 6) dos animais o que resultou em maior rendimento de carcaça, 55,5% dos animais que receberam suplemento energético e 54,3 dos animais que receberam suplemento proteico- energético (Campos et al., 2012).

Figura 6. Espessura de gordura mensurada por ultrassonografia em Novilhas Nelore, na fase de terminação, durante o período das águas em pastagem de capim-Marandú (Campos et al., 2012).

Assim, o incremento sobre o ganho em carcaça seria mais uma das vantagens da suplementação, pois além de promover aumento no ganho médio diário a suplementação atua sobre o rendimento do ganho, produzindo mais carcaça por quilo de peso corporal.

Matheus Henrique Moretti, Doutorando em Zootecnia pela FCAV, Unesp- Jaboticabal.

Flávio Dutra de Resende, Pesquisador na APTA.

Gustavo Rezende Siqueira, Pesquisador na APTA.