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COMANDO - GERAL ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS SEGUNDO A FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS JANEIRO/2.004 DIRETRIZ PARA A PRODUÇÃO DE SERVIÇOS DE SEGURANÇA PÚBLICA Nº 08/2.004 - CG

Diretriz 08 direitos_humanos

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COMANDO - GERAL

ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS SEGUNDO A FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS

JANEIRO/2.004

DIRETRIZ PARA A PRODUÇÃO DE SERVIÇOS DE

SEGURANÇA PÚBLICA Nº 08/2.004 - CG

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GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS

AÉCIO NEVES

COMANDANTE-GERAL DA PMMG

Cel PM Sócrates Edgard dos Anjos

CHEFE DO ESTADO-MAIOR

Cel PM Hélio dos Santos Júnior

Coordenação:

Apoio Técnico:

Chefe da Seção de Emprego Operacional/ PM3 Ten-Cel PM Renato Vieira de Souza Especialista em Estudos da Criminalidade e Segurança Pública (UFMG) e Mestre em Administração Pública (FJP)

Assessoria de Doutrina e Pesquisa/PM3 Cap PM Paulo da Costa Júnior – Chefe

Bacharel em Direito (FADOM) e Especialista em Segurança Pública (FJP).

Assessoria de Direitos Humanos/PM3 Cap PM Sílvio José de Sousa Filho – Chefe Especialista em Segurança Pública (FJP), Especialista em Ciências Políticas e Estratégias Nacionais (UEMG)

3o Sgt PM José Geraldo dos Reis – Auxiliar da Assessoria de Direitos Humanos

REDAÇÃO DA DIRETRIZ:

Ten Cel PM Jovino César Cardoso

Maj PM Marcelo Vladimir Corrêa

Cap PM Marcelo Martins Resende

Cap PM Alexandre Antônio Alves

Cap PM Sílvio José de Sousa Filho

Cap PM Paulo da Costa Júnior

Cap PM Argemiro Martins de Lima

Cap PM Luiz Henrique Ribeiro Moreira

Cap PM Welerson Conceição Silva

1º Ten PM Cláudio Duani Martins

REVISÃO DA DIRETRIZ:

Ten-Cel PM Renato Vieira de Souza

Cap PM Sílvio José de Sousa Filho

Cap PM Paulo da Costa Júnior

3° Sgt PM José Geraldo dos Reis

REVISÃO ORTOGRÁFICA:

Ten Cel QOR João Bosco de Castro

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Seção de Emprego Operacional. Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública nº 08 – Atuação da Polícia Militar de Minas Gerais

segundo a filosofia dos Direitos Humanos. Belo Horizonte, 2004. 57p. CDU (em protocolo de registro junto à Fundação Biblioteca Nacional)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 6

1.1 Finalidade ....................................................................................................... 6

1.2 Objetivos ........................................................................................................ 7

2 CONCEITUAÇÕES BÁSICAS ............................................................................. 8

3 PRESSUPOSTOS DA FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS NA PMMG.......... 9

3.1 Filosofia institucional dos Direitos Humanos.................................................. 9

3.1.1 Para quem são os Direitos Humanos? ............................................................ 9

3.1.2 Quem deve proteger os Direitos Humanos? ................................................... 10

3.1.3 A validade dos Direitos Humanos no mundo .................................................. 10

3.2 Categorização dos professores de Direitos Humanos..................................... 10

3.3 Relacionamento da Polícia com as Organizações de Direitos Humanos ........ 12

3.4 Treinamento Básico do Policial....................................................................... 12

3.5 Sensibilização dos Comandantes.................................................................... 13

4 CONDUTA ÉTICA E LEGAL DO POLICIAL ....................................................... 14

4.1 Introdução ..................................................................................................... 14

4.2 O policial no cumprimento do dever legal ...................................................... 14

4.3 O policial defensor da dignidade humana ...................................................... 14

4.4 O policial e o emprego da força ...................................................................... 15

4.4.1 Princípios para o uso da força e da arma de fogo ......................................... 15

4.4.2 O escalonamento do uso da força pelo policial .............................................. 16

4.4.3 O uso da arma de fogo pelo policial ............................................................... 16

4.5 Policial mantenedor em assuntos confidenciais ............................................ 17

4.6 Policial contra a tortura e o tratamento cruel, desumano ou degradante ..... 18

4.6.1 Policial inibidor da tortura .............................................................................. 18

4.6.2 A responsabilidade do policial contra a tortura ............................................. 18

4.6.3 A conduta do policial contra a tortura ........................................................... 19

4.7 Policial protetor da saúde das pessoas privadas da liberdade......................................................................................................... 19

4.8 Policial inibidor da corrupção ......................................................................... 19

4.8.1 Policial inibidor dos atos de corrupção na busca de informações .................. 19

4.8.2 Policial inibidor da corrupção no desempenho da atividade operacional ...... 20

4.9 Policial e o respeito à lei ................................................................................ 20

4.10 O reflexo da violação dos Direitos Humanos pelo Policial.............................. 21

5 DEVERES E FUNÇÕES DO POLICIAL .............................................................. 21

5.1 Introdução ...................................................................................................... 21

5.2 Princípios da ação policial ............................................................................. 22

5.3 Comportamento policial durante o rastreamento .......................................... 22

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5.4 Presunção de inocência em relação às pessoas capturadas pela polícia ....... 22

5.5 Deveres do policial ......................................................................................... 23

5.6 Interferência policial na privatividade ........................................................... 23

5.7 Como lidar com informantes confidenciais .................................................... 24

5.8 Vítimas de crimes e abuso de poder................................................................ 25

5.9 Princípios dos Direitos Humanos na captura e detenção............................... 25

5.10 Gerência, supervisão e coordenação pela Polícia Militar ............................... 26

6 PROCEDIMENTO POLICIAL- MILITAR............................................................. 26

6.1 Introdução ...................................................................................................... 26

6.2 Detalhamento do comportamento policial...................................................... 27

6.2.1 Procedimentos na intervenção policial........................................................... 28

6.2.2 Importância do conhecimento e conjugação de esforços............................... 29

6.3 Comportamento policial em face de grupos vulneráveis e minorias.............. 30

6.4 Minorias .......................................................................................................... 31

6.4.1 Minorias étnicas ............................................................................................. 31

6.4.2 Minorias lingüísticas ....................................................................................... 31

6.4.3 Minorias religiosas ......................................................................................... 31

6.4.4 Diferença entre grupos vulneráveis e minorias ............................................. 31

6.5 Atuação policial em face de grupos vulneráveis ............................................ 31

6.5.1 Mulheres ......................................................................................................... 31

6.5.2 Violência contra a mulher ............................................................................... 32

6.5.3 Mulher capturada ........................................................................................... 33

6.5.4 Mulher detida ................................................................................................. 33

6.5.5 A Mulher vítima de criminalidade e de abuso de poder ................................. 33

6.6 Crianças e adolescentes ................................................................................. 34

6.6.1 Ato infracional ................................................................................................ 34

6.6.2 Apreensão de adolescente infrator ................................................................ 34

6.6.3 Medidas aplicadas aos adolescentes .............................................................. 35

6.7 Homossexuais ................................................................................................ 35

6.7.1 Definições dos homossexuais ......................................................................... 35

6.8 Pessoas com deficiência física e sofrimento mental....................................... 37

6.8.1 Deficiência ...................................................................................................... 37

6.8.2 Doença ............................................................................................................ 37

6.8.3 Incapacidade .................................................................................................. 37

6.8.4 Impedimento .................................................................................................. 37

6.8.5 Cuidados no trato com pessoa deficiente...................................................... 37

6.9 Terceira idade ................................................................................................. 41

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6.10 Atuação policial em face de minorias ............................................................. 42

6.10.1 Discriminação ................................................................................................. 42

6.11 Ações dos Comandantes de Unidade .............................................................. 42

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 42

8 RECOMENDAÇÕES FINAIS .............................................................................. 45

ANEXO “ÚNICO” ......................................................................................................... 46

I Instrumentos Internacionais de Direitos Humanos ....................................... 46

1 Declaração Universal dos Direitos Humanos .................................................. 46

2 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos .......................................... 47

II Instrumentos Regionais de Direitos Humanos .............................................. 51

1 Declaração Americana dos Direitos Humanos ................................................ 51

III Instrumentos Nacionais de Direitos Humanos ............................................... 52

1 Constituição da República Federativa do Brasil ............................................. 52

IV Direito Constitucional Brasileiro e Direito Internacional............................... 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 57

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CAPÍTULO I

1. Introdução

É fundamental para o Policial Militar, como profissional responsável pela promoção da paz social, saber que sua profissão lhe dá condições de oferecer o melhor à pessoa humana, para ela exercer sua cidadania - a proteção dos direitos. Os fatos contemporâneos, vistos sob dimensão planetária, apresentam um quadro de miséria, fome e desigualdade social, no qual a violência representa a principal preocupação na agenda do cidadão. O resultado desses fatos é a trágica violação dos mais elementares dos direitos humanos: o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Tais fatos refletem na paz social e abalam a confiança que os cidadãos têm nas instituições policiais, em sua capacidade para pacificar e resolver os conflitos do Estado Democrático de Direito.

Neste ambiente de conflito, o policial percebe, em seu dia-a-dia, como os meios de comunicação de massa conduzem as pessoas, principalmente os jovens, ao individualismo e à compulsão para o consumo que, muitas vezes, banalizam os valores morais, desvalorizam o direito à vida e negligenciam a segurança pessoal.

Para compreender, de maneira bem sintética, o que leva as pessoas à prática de atos violentos e ao cometimento do crime, é preciso analisar os aspectos sociais, culturais, conjunturais e psicológicos que fazem parte da vida pregressa do agressor da sociedade. Sob esse aspecto e como integrante deste ambiente, o policial é um profissional capaz de proteger direitos do cidadão de bem, mas também aos agressores sociais no ato da captura. A justiça se encarregará de julgá-lo, e se considerado infrator ele tem capacidade e direito de regenerar e reintegrar-se à sociedade.

No contato com as pessoas, esta Diretriz orienta o procedimento do policial militar e adapta-o à filosofia dos Direitos Humanos, facilitando o exercício de suas atribuições constitucionais, como a aplicação da lei em defesa da sociedade e a proteção dos direitos humanos e liberdades constitucionais.

1.1 Finalidade

Fortalecer e consolidar o comportamento de integrantes da Polícia Militar de Minas Gerais para aplicação da filosofia dos Direitos Humanos.

1.2 Objetivos

1.2.1 Oferecer aos integrantes da Instituição os padrões necessários à promoção e difusão dos Direitos Humanos.

1.2.2 Conhecer as conceituações necessárias à assimilação dos princípios de Direitos Humanos.

1.2.3 Consolidar os pressupostos básicos dos Direitos Humanos para atuação da Polícia Militar.

1.2.4 Nortear procedimentos, deveres e funções policiais-militares segundo a filosofia dos Direitos Humanos, com base na conduta ética e legal.

1.2.5 Conhecer os instrumentos internacionais, nacionais e regionais de Direitos Humanos.

1.2.6 Conscientizar os policiais militares a evitar a violação dos Direitos Humanos em intervenções policiais.

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CAPÍTULO II

2. CONCEITUAÇÕES BÁSICAS

Autoridade – pessoa que exerce cargo, encargo ou emprego público, ou detém função pública, de natureza civil ou militar, investida de poder em consonância com as normas legais.

Autoridade Policial – pessoa na condição de agente da administração pública que exerce o poder de polícia.

Autoridade de Polícia Judiciária – pessoa na condição de agente da administração pública com o poder de polícia de promover a investigação criminal e realizar a polícia judiciária.

Autoridade Policial-Militar – pessoa na condição de agente da administração pública, integrante da Organização Policial-Militar, com o poder de polícia de preservação da ordem pública e defesa social, e de polícia ostensiva.

Poder de Polícia – é a capacidade legítima que o agente da administração pública, devidamente constituída, tem para limitar direitos individuais em prol da coletividade.

Captura – ação policial consistente em privar uma pessoa de sua liberdade de locomoção, em virtude de suspeição da prática de delito, ou de mandado de prisão.

Pessoa Detida – é aquela pessoa privada de sua liberdade, na aguarda de julgamento.

Pessoa Presa – pessoa privada de sua liberdade, como resultado da condenação pelo cometimento de delito.

Tortura – ato de constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; em razão de discriminação racial ou religiosa. Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Dignidade Humana – é valor espiritual e moral inerente à pessoa, o qual se manifesta na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e traz consigo a pretensão ao respeito das demais pessoas. Constitui-se um mínimo invulnerável que todo estudo jurídico deve assegurar, de modo que, só excepcionalmente, possam ser feitas limitações do exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todos as pessoas como seres humanos.

Direitos Humanos – são títulos legais que toda pessoa tem como ser humano. São universais e pertencem a todos. Esses direitos, embora violáveis, não podem jamais ser retirados de alguém.

Direitos Fundamentais – são prerrogativas fundamentalmente importantes e iguais para todos os seres humanos, cujo principal escopo é assegurar-lhes convivência social digna e livre de privações.

Violação dos Direitos Humanos – atos e omissões imputáveis ao Estado, os quais constituem desrespeito às leis e normas nacionais e internacionais reconhecidamente inerentes aos direitos humanos.

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Violência Policial – ato praticado por agente da administração pública, pertencente a organização policial, que se excede no uso da força, sem observar os princípios da legalidade, necessidade e proporcionalidade, nem os preceitos éticos que regem a atividade policial.

Vítimas – pessoas que, individual ou coletivamente, sofreram danos, inclusive sofrimento físico, mental ou emocional, perdas econômicas ou violações substanciais de seus direitos fundamentais, mediante atos ou omissões que constituem transgressão das leis criminais e das que proíbem o abuso criminoso de poder.

Encarregado da Aplicação da Lei – é o agente público, civil ou militar, integrante das instituições policiais , nacionais ou internacionais, com poderes especiais de captura, detenção , uso de força e investigação criminal, para servir a sociedade e protegê-la contra atos ilegais.

Equipamento de Proteção Individual – EPI – é o conjunto de equipamentos e armamentos necessários ao policial, para proteger a si mesmo e desenvolver suas atividades com segurança.

Ética Pessoal – é o conjunto de valores morais, questões culturais, crenças na distinção entre o bem e o mal, o certo e o errado, relativamente ao indivíduo.

Ética – é o conjunto de princípios morais ou valores que governam uma instituição, um grupo ou um indivíduo no grupo. São princípios axioteleológicos acerca do ser-com-o-outro ou do ser-em-situação: indivíduo-com-outro-indivíduo, indivíduo-em-situação.

Ética de Grupo – é a Ética destinada a influenciar a conduta pessoal mediante padrão subcultural (linguagem grupal, rituais, nós-contra-eles, costumes, tradições), em busca de conseqüente mudança individual coerente com a cultura do grupo. Isso pode implicar aceitação ou rejeição.

Ética Profissional – é o conjunto de normas codificadas do comportamento dos praticantes de determinada profissão, com vistas ao melhoramento qualitativo da classe, medido pelo índice de autenticidade (confiança e credibilidade) e legitimidade (consagração, renome, fama, aceitação). Ética profissional é o nome popularesco da Deontologia: tratado dos direitos, prerrogativas, atribuições, deveres, obrigações e competências do grupo profissional e da respectiva profissão. Trata-se da codificação dos direitos e deveres, prerrogativas e necessidades eticomorais e socioculturais de uma profissão e respectiva categoria profissional.

Ética Policial Militar – é a Ética regente da classe policial-militar, com base na deontologia policial-militar.

Voz de Prisão em Flagrante Delito – é a ação verbal imperativa do Encarregado da aplicação da lei que determina o momento da privação temporária da liberdade de alguém que tenha cometido ato delituoso em estado de flagrância, mediante suas garantias e direitos.

Organização Encarregada da Aplicação da Lei – para esta Diretriz, é o órgão público civil ou militar, nacional ou internacional, responsável pela preservação da ordem pública, exercício da polícia ostensiva, investigação criminal, exercício da polícia judiciária ou desempenho de qualquer outra forma de poder de polícia.

Auto de Resistência – é o documento formal em que o Encarregado da aplicação da lei narra, de forma clara e minuciosa, as circunstâncias do fato que o levaram ao emprego da força, por ocasião de resistência à sua atuação legal.

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CAPÍTULO III

3 PRESSUPOSTOS DA FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS NA PMMG

Para a melhor compreensão da filosofia dos Direitos Humanos, e para efeito de padronização de alguns procedimentos relativos à categorização dos professores de Direitos Humanos , relacionamento da Polícia Militar com as organizações de Direitos Humanos, treinamento policial básico e sensibilização de comandantes, estão estabelecidos os pressupostos que doravante farão parte da rotina administrativa e operacional da Instituição, os quais serão implementados e difundidos nos diversos níveis da Polícia Militar.

3.1 Filosofia Institucional dos Direitos Humanos

Para sistematização didático-pedagógica da filosofia de Direitos Humanos, foi adotada a metodologia do TRIÂNGULO DOS DIREITOS HUMANOS. Tal metodologia estrutura-se em duas perguntas e uma reflexão sobre Direitos Humanos, conforme sugere a figura a seguir:

3.1.1 Para quem são os Direitos Humanos?

Esta pergunta remete-nos a várias respostas tais como: “para todos, mas só alguns os têm”, “para todos, mas não passam do papel”, “Direitos Humanos para humanos direitos”, “para proteger marginais” ou a uma simples e direta “são para todos os cidadãos”. Esse tipo de manifestação demonstra claramente que grande parte das pessoas não está sensibilizada para o tema Direitos Humanos, faltando-lhe uma visão mais clara sobre o que é ter direito .

Na verdade, as normas de Direitos Humanos foram criadas para dar garantias de direitos a todas as pessoas. Essa resposta conduz-nos a outra pergunta: quem realmente acredita que os Direitos Humanos foram criados para todas as pessoas? Muitos não acreditam totalmente, ou em parte, que os Direitos Humanos foram criados para todas as pessoas. O policial é um promotor dos Direitos Humanos e, por isso, deve acreditar, sem nenhuma sombra de dúvida, que esses Direitos foram criados para todas as pessoas.

Direitos Humanos não são algo abstrato. São algo perceptível que está no dia-a-dia das pessoas, como o direito à vida, à propriedade, e o de constituir uma família.

DIREITOS

HUMANOS

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Os direitos das pessoas estão garantidos na Constituição da República Federativa do Brasil, nos art. 5º, 6º e 7º, mais especificamente no art. 5º, o qual elenca direitos e liberdades individuais, fundados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Os Direitos Humanos são para todos, integram o cotidiano de todos os cidadãos e principalmente do cidadão policial, que tem a nobre missão de servir e proteger a sociedade da qual ele faz parte.

3.1.2 Quem deve proteger os Direitos Humanos?

Se os Direitos Humanos são de todos e para todos, quem deve protegê-los? Sem dúvida, por nossa Constituição Federal, a segurança pública é responsabilidade de todos e dever do Estado. O policial tem papel fundamental na proteção dos Direitos Humanos , pois ele é a autoridade mais comumente encontrada nas ruas e emblematiza o Estado. As pessoas têm o policial como alguém em quem cofiam e trazem a perspectiva de que ele irá solucionar seus problemas. Por isso, o policial deve estar preparado tecnicamente para agir com imparcialidade e humanismo, em todos os seus contatos com o público.

As entidades de defesa dos Direitos Humanos, governamentais ou não, contribuem para que o papel do Estado se materialize, completando sua ação de proteção. No momento atual , quando se evidencia o recrudescimento da violência no País, principalmente nos grandes centros urbanos, é imprescindível que façamos um mutirão da paz, congregando esforços e trabalhando junto a essas entidades de Direitos Humanos, por meio de parcerias, abrindo portas para um conhecimento mútuo, trabalhando não apenas com a denúncia de ações policiais incorretas, mas dando ênfase ao anúncio de ações integradas em prol da construção da cidadania e da paz social.

3.1.3 A validade dos Direitos Humanos no mundo

Agora, que foram respondidas as duas perguntas, será feita uma análise global dos Direitos Humanos. Podemos nos perguntar por que existe então tanta miséria, fome e guerras no mundo? Por que não há uma efetividade dos Direitos Humanos no mundo? Pode-se responder a essas perguntas, estudando-se a diversidade cultural e religiosa dos países, suas diferenças geográficas, seus costumes e normas , suas desigualdades sociais, os governos ditatoriais, e as conseqüências da economia globalizada, entre outros aspectos que interferem diretamente na plenitude dos Direitos Humanos para toda a humanidade.

Um aspecto fundamental é que o policial deve ser um pedagogo da cidadania. Ele deverá, sempre que possível, mediante orientações ou palestras, informar as pessoas corretamente sobre seus direitos para que possam desenvolver-se por meio de uma cooperação mútua em rumo da construção de uma sociedade consciente de seus direitos.

3.2 Categorização dos professores de Direitos Humanos

3.2.1 Com a finalidade de escalonar os níveis de professores em relação às atividades já desenvolvidas, tendo como base a participação dos policiais militares nos cursos, seminários, palestras e treinamento de Direitos Humanos em nível municipal, estadual, federal e internacional, estes serão categorizados de acordo com os cursos de que são detentores e devem ser aproveitados como integrantes do corpo docente dos diversos cursos relativos aos Direitos Humanos.

3.2.1.1 Promotor de Direitos Humanos – Policial com habilitação para proferir palestras e auxiliar os professores em aulas no curso de Promotores de Direitos Humanos.

3.2.1.2 Professor de Direitos Humanos - Professor com habilitação para ministrar aulas nos cursos de Promotores de Direitos Humanos.

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3.2.1.3 Professor Multiplicador - Professor com habilitação para formar professores de Direitos Humanos, planejar cursos de Promotor de Direitos Humanos e de Professor de Direitos Humanos, e atuar na docência da disciplina de Direitos Humanos nos cursos de formação da Instituição.

3.2.1.4 Professor Coordenador - Professor com habilitação para formar professores de Direitos Humanos e professores multiplicadores, planejar e coordenar cursos e seminários, nacionais e internacionais, de Direitos Humanos, e planejar e coordenar cursos de professores de Direitos Humanos e de atualização em Direitos Humanos.

3.2.2 Pré-requisitos que devem ser preenchidos pelo professor militar, a fim de ser incluído em diversos níveis do corpo docente da Polícia Militar de Minas Gerais.

3.2.2.1 Promotor de Direitos Humanos

Ter concluído o curso de promotores de Direitos Humanos.

3.2.2.2 Professor de Direitos Humanos

Ter concluído o curso de Professor de Direitos Humanos.

3.2.2.3 Professor Multiplicador:

Ter experiência de docência em, no mínimo cinco cursos de Promotores de Direitos Humanos, com o mínimo de 60 horas-aula em cada um.

Ter realizado o curso de reforço ou atualização em Direitos Humanos

3.2.2.4 Professor Coordenador

Ter experiência de docência em, no mínimo, cinco cursos de Professor de Direitos Humanos, com o mínimo de 120 horas-aula em cada um. Ter participado de, pelo menos, um Seminário Latino-Americano de Direitos Humanos para forças policiais.

3.2.3 Para a docência das disciplinas de Direitos Humanos, Técnica Policial e Tiro Policial nos cursos de formação da Instituição, será obrigatório ao Professor ser portador do título de Professor de Direitos Humanos.

3.2.4 Os conteúdos programáticos, o plano de matéria da disciplina de Direitos Humanos dos cursos de formação e o planejamento de palestras e seminários de Direitos Humanos devem ser orientados pelo disposto nesta Diretriz.

3.2.5 A participação na docência definida nos itens 3.2.2.3 e 3.2.2.4 deverá ser comprovada por documento assinado pelo Comandante da Unidade em que o professor ministrou as aulas.

3.2.6 O funcionamento do curso de promotor de Direitos Humanos, professor de Direitos Humanos, professor multiplicador e de reforço/atualização ficará a cargo da APM, sob coordenação do CTP.

3.2.7 A categorização dos professores será formalizada por certificado a ser conferido pelo Comandante da APM.

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3.3 Relacionamento da Polícia com as Organizações de Direitos Humanos

O policial em sua missão de proteger o direito das pessoas deve sempre ter em mente que ele não está sozinho. Outras pessoas estão envolvidas na busca de soluções dos problemas que afligem a sociedade.

Essas pessoas compõem órgãos municipais, estaduais e nacionais ou organizações não-governamentais (ONG) que trabalham na elaboração e execução de projetos, diretrizes e outras atividades que estão relacionadas com a promoção dos Direitos Humanos. O Policial, sempre que possível, deve estabelecer contatos com essas pessoas, para formar rede de intercâmbio.

A postura de cada policial influenciará na imagem institucional, formulada por nossos parceiros. Há de se frisar que a iniciativa do policial em interagir com os diversos órgãos de Direitos Humanos é louvável, devendo ter ele o cuidado de cientificar os comandos nos diversos níveis, para o apoio e as orientações adequadas, pois o policial representa toda a Instituição e emblematiza o Estado.

Lembrem-se, policiais, de que ONGs, e outros órgãos ligados a Direitos Humanos estão todos direcionados para o mesmo objetivo: proteger os direitos das pessoas. Por isto, devemos evitar críticas e nos empenhar-nos em na busca conjunta de soluções.

3.4 Treinamento Básico do Policial

O treinamento básico do policial será desenvolvido, para mantê-lo devidamente habilitado para atuar no policiamento. O treinamento deve contemplar os conhecimentos básicos ligados à atividade operacional, sob as seguintes exigências:

a) o respeito e obediência à lei;

b) o respeito à dignidade da pessoa humana;

c) o respeito aos Direitos Humanos.

O treinamento será contínuo e sério para todos os policiais, seguindo o que estabelecem as Diretrizes para a Educação Profissional de Segurança Pública da Polícia Militar de Minas Gerais.

3.4.1 Aplicação prática dos Direitos Humanos no treinamento

O policial será treinado na aplicação prática dos padrões humanitários e de Direitos Humanos, para condicioná-lo à capacidade de desenvolver suas atividades operacionais eficazmente, em consonância com esses padrões.

No treinamento básico do policial os temas de Ética Policial e Direitos Humanos devem ser tratados com atenção especial, como forma de conscientizar o policial quanto das alternativas de resolução pacífica de conflitos que antecedem ao uso da força e das armas de fogo.

A proibição da tortura e do tratamento desumano, cruel ou degradante será enfatizada em todas as modalidades de treinamento.

3.4.2 Treinamento com arma de fogo

O treinamento com arma de fogo será desenvolvido para aperfeiçoar o policial militar na execução correta e segura do tiro, além de aprimorar seu domínio técnico do manejo e emprego do armamento no serviço policial, voltado para o tiro defensivo de preservação da vida.

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O policial que portar arma de fogo somente poderá utilizá-la, depois de ter completado o treinamento sobre seu uso.

3.4.3 Treinamento para o emprego da força

O treinamento para o emprego da força será desenvolvido para praticar técnicas de defesa pessoal policial. Essas técnicas contemplarão o uso progressivo da força, condicionando o policial a usá-la, quando estritamente necessária e na medida exigida pelo desempenho de sua missão.

O treinamento será prático. As técnicas a serem treinadas devem remeter o policial à compreensão dos métodos de persuasão, negociação e mediação, que visam a limitar o emprego da força como um todo.

3.4.4 Treinamento físico do policial

O treinamento físico do policial será desenvolvido de acordo com as normas em vigor na Instituição, para manutenção e aprimoramento do vigor físico necessário ao desempenho da atividade policial.

A saúde e o condicionamento físico do policial são imprescindíveis ao desempenho das atividades diárias de polícia. A preocupação em estar saudável e em melhores condições físicas para o trabalho deve compor a consciência do próprio policial.

3.5 Sensibilização dos Comandantes

Para alcançar o êxito em relação à implementação desta Diretriz, segundo as políticas e orientações práticas emanadas da cúpula da Instituição, é necessária a conscientização e a sensibilização dos ocupantes dos cargos estratégicos e intermediários, para conduzir o nível operacional a contribuir com a efetividade do respeito ao direito do cidadão e da promoção de Direitos Humanos. O profissional que desempenha suas atividades na lida diária deve saber que seus comandantes comungam no pensamento de servir e proteger o cidadão, mediante a difusão dos direitos humanos e o respeito a sua dignidade em prol do bom serviço policial prestado.

Uma vez os níveis estratégico e intermediário sensibilizados para a importância das medidas de Direitos Humanos, em consonância com a prática de melhor fazer polícia, o policial saberá que tal aspecto não é sinônimo de polícia fraca, mas de uma polícia respeitadora dos direitos fundamentais, com técnicas e táticas policiais.

O envolvimento dos gerentes maiores ratifica a importância de assegurar o bom comando e a boa administração da Instituição. O compromisso dos comandantes favorece a boa supervisão e coordenação no âmbito interno e contribui para a melhor execução do serviço por nosso policial, até mesmo por saber exatamente o que vai ser verificado diante de cada conduta individual. Tal certeza, somada ao respeito aos Direitos Humanos, reflete exatamente a imagem da Instituição em que serve o policial.

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CAPÍTULO IV

4 CONDUTA ÉTICA E LEGAL DO POLICIAL

4.1 Introdução

A Organização Policial existe para zelar pelo cumprimento das leis que foram instituídas a fim de efetivar a garantia dos direitos fundamentais do ser humano, possibilitando a ele condições básicas de sobrevivência e convivência harmônica e pacífica, imprescindíveis ao desenvolvimento do homem em relação a seu semelhante.

A polícia tem a obrigação de obedecer à lei, inclusive as leis promulgada para a promoção e proteção dos Direitos Humanos. Agindo assim, o policial estará não somente cumprindo seu dever legal, mas também respeitando e protegendo a dignidade da pessoa humana, mesmo que para isso tenha de usar a coerção e empregar a força, nos casos estritamente necessários e na medida exata, para o cumprimento do dever legal.

O uso da força policial não deve ser indiscriminado, pois, ao contrário, pode abalar as bases da conduta ética e legal do Policial, as quais são: a obediência às leis, o respeito à dignidade humana e a proteção dos Direitos Humanos. A legalidade, a necessidade e a proporcionalidade, além da conveniência, devem estar internalizadas no policial, para que sua ação não colida com os propósitos que deve defender. A comunicação deve ser a principal e a primeira arma do policial.

O respeito à dignidade humana pelo policial conta também com sua qualificação eticoprofissional que o capacita a manter em sigilo as informações de caráter confidencial, manifestando-se contundentemente contrário à tortura e ao tratamento desumano, cruel ou degradante, e cuidadoso para com a saúde das pessoas privadas da liberdade que estejam sob sua custódia, contrapondo-se aos atos de corrupção que difamam o organismo policial e denigrem a imagem institucional perante a sociedade.

Com suas qualidades morais, psíquicas e físicas, além do adequado treinamento, o policial terá habilidade técnica para raciocinar e atuar acertadamente, preservando vidas e cumprindo seu papel social.

4.2 Policial no cumprimento do dever legal

Os Direitos Humanos estão protegidos por leis internacionais e nacionais, e esses instrumentos relacionam-se com a atividade policial, fornecendo insistente direcionamento para o desenvolvimento de um policiamento ético e legal. Nem mesmos as normas e regulamentos internos podem ser descumpridos, já que estão em consonância com os Direitos Humanos e as leis internas e externas que garantem a efetividade desses direitos.

A polícia, que é o organismo social incumbido de zelar pelo cumprimento e aplicação da lei, tem a obrigação de obedecer aos limites que ela mesma impõe, inclusive a lei promulgada para a promoção e a proteção dos Direitos Humanos. Agindo assim, o policial reconhece que os Direitos Humanos são invioláveis, sem desrespeitar atos das autoridades públicas, sob pena de responsabilização administrativa, civil e criminal.

4.3 Policial defensor da dignidade humana

Os Direitos Humanos são fundamentos do respeito à dignidade da pessoa humana, e esses direitos são inalienáveis, ninguém pode transferi-los nem barganha-los.

Quando o policial comete qualquer ato contra a dignidade da pessoa humana, responde por sanções nas esferas administrativa, civil e penal. Individualmente, o policial é

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o responsável pelo dano, mas toda a Instituição fica maculada perante a sociedade. Isso refletirá negativamente no trabalho dos outros policiais.

Não basta que o policial respeite e proteja a dignidade humana, mas que mantenha e defenda os Direitos Humanos. Os Direitos Humanos tëm as características de irrenunciabilidade e imprescritibilidade, e não serão objeto de desistência, pois ninguém poderá renunciar à vida, à liberdade, à dignidade. São conquistas que não poderão retroagir. Os Direitos Humanos não perderão seu valor com o passar do tempo. O tempo não será motivo para que os Direitos Humanos sejam extintos.

A importância do policial não está somente no cumprimento do dever legal, mas na conduta ética de aplicar a lei na construção da paz social e defesa dos Direitos Humanos de todas as pessoas, independentemente de nacionalidade, sexo, raça, credo, convicção política, religiosa ou filosófica.

4.4 Policial e emprego de força

Outra característica dos direitos humanos é a efetividade. Nenhum efeito ou valor terão os direitos humanos, se não garantirem a materialização de seus propósitos. Há necessidade de meios efetivos para fazer valer o respeito aos direitos humanos. O emprego da força será utilizado no cumprimento do dever legal para manter, defender e garantir os direitos de todas pessoas.

A polícia é dotada de poderes, com o objetivo de fazer cumprir a lei e manter a ordem. Os poderes que o policial tem de capturar, deter e prender alcançam efeitos imediatos e diretos nos direitos das pessoas.

O uso da força pela polícia sob circunstâncias claramente definidas e controladas por lei é aceitável pela sociedade como legítima. O abuso de poder com o uso da força vai de encontro aos princípios em que se baseiam os direitos humanos e o respeito à dignidade da pessoa humana.

Para prevenir os abusos, é necessária a adoção de medidas eficazes, quanto à investigação e sanções proporcionais ao uso excessivo da força. Os princípios e padrões internacionais que se referem ao comportamento da polícia em relação ao uso da força são iniciativas importantes que direcionam para a construção da paz social, priorizando a segurança pessoal dos policiais e a proteção dos direitos humanos.

4.4.1 Princípios para o uso da força e da arma de fogo

O Código de Ética Disciplinar da Instituição, em conformidade com o Código de Conduta Ética para os Encarregados da Aplicação da Lei, afirma que “os policiais só podem usar a força quando estritamente necessário e na proporção exigida pelo desempenho de suas funções (sic)”. Os princípios básicos sobre o uso da força e da arma de fogo pelos policiais, instrumento internacional adotado pela ONU, fazem os seguintes reconhecimentos:

a) o trabalho dos policiais é um serviço social de grande importância;

b) a ameaça à vida à e segurança dos policiais deve ser encarada como ameaça à estabilidade da sociedade como um todo;

c) os policiais exercem papel vital na proteção do direito à vida, à liberdade e à segurança da pessoa, na forma garantida pela Declaração dos Direitos Humanos.

Os princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade e ética estão por trás de todas as disposições detalhadas que regulam o uso da força pela polícia. Esses princípios exigem respectivamente que a força somente seja usada pela polícia dentro dos

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parâmetros da lei, quando estritamente necessária a seu atingimento e preservação da paz social, sendo usada de forma proporcional, na medida exata do cumprimento da lei e restabelecimento da ordem pública.

4.4.2 O escalonamento do uso da força pelo policial

Com a intenção de restringir o uso da força, na aplicação dos meios capazes de causar morte ou ferimentos às pessoas, a polícia deve tornar disponível toda uma gama de recursos para o uso diferenciado da força.

Os meios não-violentos devem ser empregados, antes do uso da força e da arma de fogo.

4.4.3 O uso da arma de fogo pelo policial

O uso da arma de fogo é permitido para autodefesa e defesa de terceiros, contra risco iminente de morte ou ferimento grave, ou para captura de pessoa que represente esse tipo de ameaça, quando os meios menos extremos forem insuficientes.

O uso letal intencional de armas de fogo é proibido, exceto quando estritamente inevitável para proteger a vida.

4.4.3.1 O que o policial deve fazer antes de usar a arma

Antes de usar a arma de fogo contra pessoas, é imprescindível que o policial:

a) identifique-se como tal;

b) avise, prévia e claramente, sua intenção de usar a arma de fogo, com tempo suficiente para que o aviso seja levado em consideração, a não ser que tal procedimento represente risco aos policiais, ou acarrete risco de morte ou dano grave, ou seja claramente inadequado ou inútil, dadas as circunstâncias do caso.

4.4.3.2 O que o policial deve fazer depois de usar a arma de fogo

Toda a vez que o uso legal da força ou da arma de fogo for inevitável, é imprescindível que o policial:

a) modere o uso da força ou arma de fogo, minimizando o dano e o sofrimento, para respeitar e preservar a vida humana;

b) assegure a assistência médica o mais cedo possível a qualquer pessoa ferida ou atingida;

c) notifique os parentes ou amigos da pessoa ferida ou atingida.

Caso haja, por terceiros, resistência à captura, detenção ou prisão, em flagrante delito ou por ordem judicial, os policiais poderão usar dos meios necessários para se defenderem ou para vencer resistência, devendo lavrar um auto subscrito de tudo que ocorrer, devidamente testemunhado por duas pessoas de maioridade e responsáveis.

A morte e ferimentos resultantes do uso da força devem ser comunicados aos superiores, e qualquer uso arbitrário e abusivo de força deve ser tratado como crime.

4.4.3.3 O emprego da força em reuniões públicas pelo policial

Todas as pessoas têm direito de participar de reuniões legítimas e pacíficas. O emprego da força e da arma de fogo no policiamento de reuniões públicas somente será permitido, nos casos extremos e nos termos minimamente necessários, previstos em lei.

Via de regra, as manifestações, mesmo ilegais, quando tomam caráter violento, não seguem um planejamento, tornando a ação repentina, desordenada e sem

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continuidade. Daí, a importância de o policial manter-se sereno diante dos fatos, e sua ação ser pautada no estrito cumprimento do dever legal.

O uso da força e da arma de fogo deve ser evitado, sempre que possível. Se impossível, o uso da força deve ser restrito ao mínimo necessário. Os meios não-letais no uso progressivo da força, devem ser priorizados. A comunicação deve ser o ponto de partida para alcançar os objetivos propostos na lei, mediante negociação, mediação, persuasão e resolução de conflitos.

O disparo de arma de fogo contra grupo de manifestantes ilegais violentos não é, em hipótese alguma, considerado tática aceitável para dispersar multidão. O policial que assim agir não estará preservando a vida, tampouco obedecendo as leis que deve cumprir. Conseqüentemente, estará denegrindo a imagem institucional e contribuindo para o descrédito do serviço policial perante a sociedade.

4.4.3.4 Treinamento e habilitação do policial para uso da arma de fogo

O treinamento policial com arma de fogo na Polícia Militar de Minas Gerais estará direcionado para o tiro defensivo de preservação da vida, baseado na realidade do cotidiano policial, com vistas em:

a) a preservação da vida , priorizando a segurança do público, do policial e do cidadão infrator;

b) a obediência às leis;

c) a preservação da imagem Institucional.

O treinamento terá a maior parte de sua carga horária prática, para condicionamento do policial a agir segundo os princípios do uso da força e da arma de fogo, estimulado sempre pela razão na avaliação dos riscos no local de atuação.

A sociedade e a justiça compreendem a legitimidade do uso da arma de fogo, nos casos estipulados em lei, porém não admitem os excessos nem seu emprego inadequado. A idéia é de que todo policial tem preparo adequado para utilizar a arma de fogo de forma acertada.

Não é suficiente saber atirar, mas saber quando atirar e onde acertar, avaliando sempre a conveniência do uso da arma. O uso da arma poderá ser desnecessário, caso o policial o julgue inoportuno. Normalmente, as vidas são preservadas e os problemas resolvidos com atitudes e não com tiros. O maior desafio ao policial, durante o treinamento não será atingir mortalmente o alvo, mas raciocinar rapidamente, decidir acertadamente e efetuar o disparo de qualidade para preservar a vida, se for necessário.

O policial que tenha de portar arma de fogo para o pleno desempenho da atividade operacional somente estará em condições de portá-la, depois de completar o treinamento necessário e relativo ao uso da arma que manuseará.

4.5 Policial mantenedor de sigilo em assuntos confidenciais

Os assuntos de natureza confidencial em poder do policial devem ser mantidos em sigilo, a menos que, em razão do dever legal ou necessidade de justiça exijam atitude contrária.

Pela natureza da atividade, o policial acaba obtendo informações variadas que podem prejudicar a reputação do acusado, o que torna necessária a devida cautela com o manuseio de tais informações, para que elas não sejam reveladas com objetivos diferentes do cumprimento do dever ou da necessidade de justiça.

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4.6 Policial contra a tortura e o tratamento cruel, desumano ou degradante

A sociedade reconhece como inteiramente legítimo o uso da força pela polícia para manter e defender o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Para tanto, o policial foi investido de autoridade e poderes como o de dar buscas, deter, capturar e prender.

Quando as pessoas têm sua liberdade cerceada, elas crêem que sua integridade física será preservada. A mesma sociedade que reconhece a necessidade do uso da força pelo policial espera que não haja abuso praticado por ele. As pessoas capturadas, detidas ou presas beneficiam-se de formas específicas de proteção, com base nos seguintes princípios:

a) ninguém será submetido à tortura ou a quaisquer outros maus-tratos;

b) todos os presos fazem jus a tratamento humano e respeito a sua inerente dignidade humana;

c) todas as pessoas são presumidas inocentes, até prova contrária de acordo com a lei.

4.6.1 Policial inibidor da tortura

Não existe nenhuma situação em que a tortura possa ser infligida legalmente. Nenhum policial, seja qual for seu posto ou graduação, tem justificativa ou defesa por ter cometido tortura.

Em alguns casos, pode-se entender como correto e oportuno restringir alguns direitos individuais em benefício do interesse público mais amplo para garantir outros benefícios, tais como a ordem civil e a segurança pública. Mesmo assim, existem alguns direitos que não são derrogáveis, e permanecem protegidos em qualquer circunstância. Estes direitos variam ligeiramente de acordo com as disposições de cada tratado, mas incluem sempre:

a) o direito à vida;

b) a proibição da tortura;

c) a proibição da escravidão.

A tortura foi obviamente tornada ilegal pela comunidade internacional e é definida na Declaração sobre a proteção de todas as pessoas contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, como “forte dor ou sofrimento, seja físico ou mental, infligidos a uma pessoa por um servidor público, ou através de sua instigação, como os objetivos de obter, desta ou de outra pessoa, informações ou confissão, castigando-a por um ato que tenha cometido ou seja suspeita de haver cometido, ou intimidando esta ou outras pessoas”. A responsabilidade pela tortura inclui policiais de todos os níveis, que possam ser responsabilizados por não ter conseguido preveni-la e ou reprimi-la.

4.6.2 A responsabilidade do policial contra a tortura

A convenção contra a tortura estipula que uma ordem de um policial na função de comando não pode ser invocada como justificativa para a tortura.

Tal situação é ratificada no Código de Conduta dos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, no qual se afirma que “nenhum policial poderá invocar ordens superiores como justificativa para praticar tortura”.

A obediência a ordens superiores não constituirá defesa eficaz para o policial que sabia ser ilegal uma ordem para emprego de força ou arma de fogo, causadora de morte

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ou sério dano à pessoa, tendo possibilidade razoável de desobedecer a tal ordem. Tal responsabilidade recai também no superior que emitiu a ordem ilegal.

4.6.3 A conduta do policial contra a tortura

Os princípios para uso da força e arma de fogo afirmam que “nenhuma sanção criminal ou disciplinar será imposta àqueles policiais que, seguindo o Código de Conduta dos Policiais, se recusem a cumprir uma ordem para usar abusivamente força ou arma de fogo, ou relatem que há esse costume por outros policiais”.

O policial tem enorme proteção para resistir a ordens ilegais que visem a prática de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. É, portanto, definitivamente proibida ordem de policial que exerce comando sobre os demais, para autorizar ou incitar outros policiais a realizar execuções extrajudiciais, sumárias e arbitrárias. Nesse caso, o policial comandado terá o direito e a obrigação de desafiar tais ordens. Tal procedimento deve ser enfatizado obrigatoriamente nos ensinamentos dos cursos e treinamentos realizados na Corporação.

A exigência de conduta policial ética e legal significa que os policiais, como indivíduos, devem procurar a eficácia, ao mesmo tempo respeitando a lei, a dignidade humana e os direitos humanos.

4.7 Policial protetor da saúde das pessoas privadas da liberdade

O cuidado e a custódia de pessoas capturadas, detidas ou presas é aspecto extremamente importante para o policial. Apesar de o tratamento dessas pessoas estar regulamentado, tanto por leis internacionais quanto por leis nacionais, continuam a ocorrer abusos.

O tratamento humano das pessoas privadas da liberdade não exige alto grau de habilidade técnica policial, mas requer o respeito pela dignidade da pessoa humana e o cumprimento de algumas regras básicas de conduta.

A maneira como uma instituição policial trata as pessoas privadas da liberdade é um índice do profissionalismo de seus integrantes, dos padrões éticos que ela é capaz de manter e demonstra até que ponto ela pode ser vista como um serviço para a comunidade, mais do que instrumento de repressão. Esses fatores, em longo prazo, determinarão a eficácia da instituição policial.

4.8 Policial inibidor da corrupção

4.8.1 Policial inibidor dos atos de corrupção na busca de informações

Nenhuma polícia trabalha com êxito sem o mapeamento de informações por sua equipe de inteligência. A busca de informações é extremamente importante e tem de contar com informantes confidenciais, às vezes os únicos meios pelos quais alguns criminosos, podem ser trazidos perante a Justiça.

A busca de tais informações acarreta sérios perigos à Instituição e ao policial, pelos seguintes motivos:

a) os próprios informantes confidenciais são, muitas vezes, criminosos estreitamente associados a outros criminosos;

b) as informações são geralmente trocadas por dinheiro ou favores;

c) os entendimentos entre os policiais e os informantes são necessariamente conduzidos de maneira secreta.

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A falta de procedimento policial eficaz sobre as maneiras de lidar com tal assunto pode acarretar corrupção de policiais e, consequentemente, o desrespeito e abuso dos direitos humanos.

Dessa forma, é imprescindível a adoção de medidas que visem a:

a) formular política clara para a fundamentação de procedimentos e orientações, e maximização de benefícios com o recebimento de informações confidenciais sobre crimes e criminosos;

b) estabelecer procedimentos rígidos e orientações explícitas para os policiais subordinados entenderem exatamente a forma de conduzir o relacionamento com informantes confidenciais, e a extensão em que esse relacionamento é monitorado.

4.8.2 Policial inibidor da corrupção no desempenho da atividade operacional

No desempenho da construção da paz social, o policial deparará com situações em que estará do lado oposto ao do cidadão. Nesse caso, ele será obrigado a atuar contra aquele que infringir a lei. Para isso, atuará sempre respaldado pela lei, sem abusos nem arbitrariedades. Quando o policial recorre a práticas contrárias à lei ou atua além do poder e autoridade concedidos por lei, a distinção entre o suspeito e o policial já não pode ser feita.

O desenvolvimento de atitudes e comportamentos pessoais pelo policial faze com que ele desempenhe sua atividade de forma correta. Cada cidadão coloca seu bem-estar nas mãos de outros seres humanos, necessitando de garantia e proteção para fazê-lo com confiança.

Escândalos de corrupção, envolvimento em grande escala com o crime organizado e outros desvios de conduta relacionados com policiais abalam profundamente as fundações da Instituição, a qual almejará níveis de ética prontos para efetivamente erradicar esse tipo de comportamento indesejável.

Vale ressaltar que não é suficiente que o policial saiba que sua ação deve ser pautada na lei e não na arbitrariedade. A ética pessoal do policial é que vai decidir o tipo de ação a ser tomada em dada situação.

Em razão da natureza do trabalho, o policial estará atuando sempre em grupo. Trabalhar com colegas em situações difíceis e perigosas, durante grande parte do dia, pode levar ao surgimento de comportamentos típicos de grupos caracterizados por padrões subculturais. O policial terá sua ética pessoal confrontada com a ética de grupo, cabendo a esse indivíduo aceitar ou não a pressão que lhe foi imposta.

Quando nos consultamos com um médico, psicólogo ou advogado, acreditamos e esperamos que nossa privacidade seja respeitada e nosso caso seja tratado confidencialmente. A bem da verdade, confiamos na existência e no respeito de um código de ética profissional, visto que a natureza da atividade possui um impacto direto na qualidade de vida dos cidadãos como também da sociedade com um todo.

4.9 Policial no respeito à lei

Os policiais que tiverem motivos para acreditar que houve ou que está para haver uma violação dos direitos humanos, do Código de Ética para O Encarregado da Aplicação da Lei, ou outra lei, deverá comunicar o fato aos seus superiores e outras autoridades competentes ou órgãos com autoridade de revisão e reparação.

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O policial não sofrerá nenhuma sanção administrativa ou de qualquer outra natureza, pelo fato de ter comunicado que houve, ou que está prestes a haver, violação da lei.

4.10 O reflexo da violação dos Direitos Humanos pelo Policial

A atividade policial é um componente visível da prática do Estado na construção da paz social. As ações dos policiais não são vistas nem avaliadas pela sociedade como individuais. Pelo contrário, são vistas como indicador do comportamento da Instituição Policial como um todo. O policial age sob a autoridade direta do Estado que lhe conferiu poderes especiais. Por esse motivo as ações individuais do Policial, como o abuso de autoridade, o uso excessivo da força, corrupção e tortura, podem ter um efeito devastador na imagem de toda a Instituição, gerando traumas que nem sempre o tempo poderá superar.

As decisões e práticas tomadas pelo Policial devem ser vistas e aceitas como ações e decisões do Estado, que é responsável em prestar contas à sociedade de seus atos. As práticas do Policial Militar devem estar fundamentadas no respeito e obediência às leis do Estado. Conseqüentemente, o que se espera do Policial é que ele respeite, proteja e promova os direitos humanos de todas as pessoas sem nenhuma distinção.

O Policial Militar tem a capacidade individual e coletiva de influenciar a opinião pública. Quando a ação do Policial Militar viola os direitos e liberdades dos cidadãos a aceitação da autoridade do Estado é questionada e desacreditada. E sempre que o violador desses direitos não for responsabilizado, não será somente a credibilidade do Estado, com respeito as obrigações internacionais em direitos humanos, que estará em risco, mas o próprio conceito e qualidade dos direitos e liberdades individuais defendidos pela Instituição Policial.

O ato individualizado do policial na violação dos direitos humanos poderá acarretar em responsabilidades ao Estado Brasileiro perante a Comunidade Internacional.

CAPÍTULO V

5 DEVERES E FUNÇÕES DO POLICIAL

5.1 Introdução

Em defesa de uma sociedade que adota, promove e aplica a paz social, envolvida em aspectos de solidariedade entre as pessoas, na busca contínua de uma nova consciência sobre o real significado de direitos humanos para os profissionais que trabalham na esfera policial da segurança pública, deve a polícia pontuar quais sãos seus deveres e sua função, para contribuir para o quadro social cada vez mais justo.

Dentro da esfera legal da polícia, é necessário conhecer seu exato dever que é a obrigação ética e moral de fazer ou deixar de fazer algo, orientada e tutelada por leis, convenções socioculturais e preceitos deontológicos.

O policial, diante da função que lhe reserva o Estado, tem o dever legal de respeito e promoção dos direitos humanos do cidadão.

Não basta ser teórico em matéria de direitos humanos, prioritariamente na atividade policial. É indispensável ser prático, preocupado sempre em servir e proteger a sociedade, observados os deveres e a função atribuídos ao policial.

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5.2 Princípios da ação policial

O policial deve ter sempre em mente que sua presença, principalmente de forma ostensiva, inibe a ocorrência de infração penal. A experiência prática mostra-nos que o primeiro a chegar ao local da ocorrência é o policial. Assim, é fundamental sua ação inicial, pois será suporte dos passos seguintes das investigações. É imprescindível que essa providência inicial seja conduzida de forma ética e legal.

Durante a fase de rastreamento policial no levantamento de dados, padrões internacionais e nacionais de direitos humanos são de especial relevância.

Para que os princípios éticos sejam acatados em todos os procedimentos policiais do ciclo completo de polícia, deve haver obediência às leis e respeito aos direitos humanos pelo policial.

Todas as informações levantadas pelo policial militar devem ser redigidas no boletim de ocorrência, o que será útil à polícia judiciária no que tange aos aspectos investigativos e subsidiará todo o processo desencadeado, até a esfera judiciária de julgamento e solução.

5.3 Comportamento policial durante o rastreamento

Deve-se ressaltar que o serviço policial-militar, competente para o exercício da polícia ostensiva e preservação da ordem pública, tem atuação eminentemente preventiva.

Uma vez rompida essa ordem, devem ser adotadas medidas que restaurem os direitos da sociedade e socorram o cidadão. Se ocorrer a ruptura da ordem pública, a perseguição criminal deve ser desencadeada imediatamente, com ou sem a presença da polícia judiciária. Assim, a Polícia Militar não interrompe nem cessa o cumprimento de seu dever de polícia administrativa em favor de outro órgão, em busca da defesa e promoção dos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana. A polícia persiste, enquanto durar o estado de flagrância delituosa.

O rastreamento é a primeira ação de resposta a ser dada para localizar o suspeito, logo após o fato delituoso.

O cidadão capturado terá seus direitos e garantias preservados pelo policial.

Dentro da concepção sistêmica de defesa social, deve-se buscar a participação de outros órgãos. É prudente que a polícia judiciária esteja ciente da ocorrência e alongamento da intervenção do policial militar na realização do rastreamento.

A resposta eficiente e rápida pela polícia contribui para o aumento da sensação de segurança do cidadão que teve seus direitos desrespeitados. Para o melhor aproveitamento do aparato policial, deve ser levado em conta o tempo decorrido entre o fato e o início do atendimento policial.

A guarnição policial, durante sua atuação, deve adotar os cuidados necessários para não causar, em detrimento de resposta imediata, um mal maior à integridade física do próprio militar e dos demais cidadãos.

5.4 Presunção de inocência das pessoas capturadas pela Polícia

Toda e qualquer pessoa no ato de sua captura, detenção ou prisão tem direitos que lhe assistem e devem ser respeitados. Dentre eles, a presunção de inocência, que é uma garantia pertencente ao ser humano: “toda pessoa acusada de um delito tem o direito de ser presumida inocente, até que a sua culpabilidade seja provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à

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sua defesa”. A culpa ou inocência pode ser determinada somente por tribunal constituído de forma apropriada, após processo conduzido adequadamente, em que o acusado tenha todas as garantias necessárias à sua defesa. O direito de ser presumida inocente, até ser considerada culpada, é fundamental para assegurar à pessoa julgamento justo.

5.5 Deveres do policial

O policial, no uso de suas atribuições legais, deve estar atento a cumprir e fazer cumprir o direito à liberdade e segurança pessoal do cidadão. Ninguém pode ter sua liberdade cerceada, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos nela estabelecidos. A pessoa, ao ser capturada, deve ser prontamente avisada das acusações contra ela.

Para transparência da conduta do policial, é prudente que ele, na execução dos procedimentos, conte com a presença de testemunhas a fim de evidenciar a lisura e cristalinidade de seus atos.

Nenhuma pessoa é obrigada a constituir prova contra si mesma nem confessar culpa, o que lhe dá o direito a permanecer calada no ato da captura e posterior detenção, se assim for o caso, sem violência nem tortura, com direito a tratamento humano, especialmente pelo policial, e consultar a um advogado, mesmo no local de sua captura, mediante observância das regras mínimas de segurança.

Após ter passado da captura para a detenção, o detido tem direito de avisar sua família, ou pessoa por ele escolhida, acerca desta sua situação. Ele pode, para isso, usar telefone ou qualquer outro meio de comunicação.

Para conhecimento do policial militar, no momento da ratificação da detenção pela polícia judiciária, alguns direitos devem ser preservados ao detido. Cabe ao policial que lida com a comunidade assegurá-los e comunicá-los ao detido, naquele momento, como promoção dos direitos humanos. A preservação desses direitos impõe deveres ao policial como agente do Estado. Diante de tal postura profissional o policial deve ter em mente que, em nenhum momento, essa conduta não lhe causa descrédito nem desconforto, no que tange à ameaça de perda de autoridade. Ao contrário, o próprio detido passa a respeitá-lo, em razão de seu comportamento ético, motivo da autenticidade e legitimidade da Polícia Militar.

O policial deve saber que a detenção antes do julgamento é exceção, ao invés de regra. As pessoas detidas devem ser mantidas somente em locais oficialmente reconhecidos e apropriados para detenção, e sua família e representantes legais devem sobre isso receber todas as informações. A detenção de uma pessoa deve ser confirmada por uma autoridade judicial. Ao detido informa-se a razão de sua detenção e qualquer acusação contra ele, e faculta-se-lhe comunicar-se, reservada e pessoalmente, com seu representante legal.

5.6 Interferência policial na privatividade

Todas as pessoas, independentemente do sexo, raça, cor, língua, idade, crença religiosa e opinião política, devem ter sua honra e reputação protegidas e preservadas.

Ninguém pode sofrer interferência em sua vida privada, em seu lar, em sua família, respeitado o rigor do sigilo de correspondência.

Nem mesmo a autoridade pública exercida pela polícia pode intervir em tal privatividade que é garantida às pessoas. O policial só pode interferir nesse direito em concordância com a lei, e, assim mesmo, em prol dos interesses de segurança nacional, e

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segurança pública, para a prevenção da ordem e do crime, proteção da saúde ou da moral, em favor da coletividade, em busca da paz social.

O policial deve pautar sua conduta por não violar o lar, residência, veículos nem outras propriedades, nem interceptar correspondência, mensagens telefônicas ou outras comunicações, a não ser em cumprimento legítimo do que a lei permite, como flagrante delito ou execução de mandado judicial.

O fato é que o policial, dentro da postura ética, deve se auto-policiar para o não-cometimento de atos contrários à lei, aos aspectos morais e à honra das pessoas.

5.7 Como lidar com informantes confidenciais

O policial deve ter habilidade individual para lidar com informantes confidenciais, haja vista o nível de importância que a informação cedida pelo informante confidencial pode representar para a justiça. A ética, inteligência policial, discrição e conduta profissional do policial, o qual passa a ser o vetor de tais informações, devem ser adotadas em virtude de poder ser o informante até mesmo alguém integrante do crime organizado ou nele envolvido.

É importante lembrar que tais informações podem ser as únicas a contribuir com a descoberta da veracidade, alcançando a legalidade. O policial deve estar preparado para lidar com todos os tipos de situação, sem se envolver. Ao contrário, cometerá atos que contribuirão para a falta de ética e desabonarão sua conduta como policial. Tal atitude pode ser tal como a troca de favores dos mais diversos possíveis, a qual, muitas vezes, foge da alçada e competência do policial, até mesmo porque tal situação ocorre de forma secreta e pode acarretar inclusive atos de corrupção pelo policial que lida diretamente com esse tipo de caso.

Para evitar esse caso que pode afetar a credibilidade da Instituição em decorrência de ações isoladas, alguns procedimentos nesse tipo de relacionamento devem ser levados em consideração, como direcionar para o mesmo policial os reiterados contatos para melhor acompanhamento, dando-lhe a responsabilidade de conduzir a troca de informações para o alcance da justiça. Embora seja uma premissa a ausência de identidade desses informantes, são necessários para a segurança do próprio policial e conseqüentemente da Instituição, seus dados em registro oficial, e que estes estejam acessíveis a uma pessoa específica na estrutura de comando. Tais dados devem ser verdadeiros, até mesmo para a própria segurança do informante, que deles deve ter conhecimento.

Não deve ser desprezado pelo policial o fato de o próprio informante ser o responsável pelo planejamento das informações prestadas. Isso deve ser cautelosamente monitorado.

O relacionamento entre a polícia e informantes transporta-nos à esfera de corrupção. Isso implica que o controle e supervisão devem ser tratados com o mais alto grau de profissionalismo, ética e moralidade, sem deixar que a subcultura policial permeie tais situações. As políticas internas da Instituição, tratadas com bastante rigidez e lisura, devem deixar claro ao policial que não é aceitável nenhum tipo de comportamento que possa contribuir para o mínimo ato de corrupção ou desonestidade, durante o trato com as informações de caráter confidencial.

A prevenção para não ocorrerem atos contrários aos aspectos legais, éticos e morais tem de ser clara e constante, inclusive para não contribuir para o desrespeito aos Direitos Humanos.

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5.8 Vítimas de crimes e abuso de poder

Mais importante que saber o tratamento e como atuar no atendimento à vítima é prevenir para ninguém cometer atos que contribuam para a vitimização. Em contrapartida, a pessoa deve ser orientada sobre como proceder e adotar posturas que possam diminuir fatos que avolumem o quadro de ocorrências policiais.

Qualquer cidadão pode ser vítima, independente de o agressor ser preso, processado, condenado ou identificado, irrelevante sua condição de familiar, amigo ou inimigo da vítima.

O relacionamento entre o policial e a vítima deve ser respeitoso, pois esta pode fornecer-lhe dados de suma importância para a elucidação de fatos decorrentes do acontecimento principal. No instante prático de auxílio à vítima, é o policial que vai desempenhar papel de extrema importância quanto aos aspectos psicológicos, em virtude de atos delituosos cometidos por pessoas que utilizam métodos e meios, dos mais simples aos mais aterrorizantes, para alcançar o intento contrário à lei, aos costumes e à segurança do cidadão.

As próprias pessoas que facilitam a solução dos fatos e auxiliam as vítimas podem tornar-se vítimas, inclusive o próprio policial defensor do cidadão cujos direitos foram violados.

Em contrapartida, o policial que atuar por dever nos casos em que direitos foram desrespeitados, jamais deve esquecer que, ao intervir em qualquer que seja o caso, pode, em razão de sua conduta e atos, aumentar a lesão sofrida por aquela pessoa que foi vítima, bem como provocar outras vítimas com sua inadequada atuação policial, desrespeitando direitos, ao invés de garanti-los. O policial tem de pautar-se em comportamento ético, levar em consideração os aspectos legais, respeitar e promover os direitos da pessoa humana. A vítima tem o direito de pronta reparação dos danos que tiver sofrido. Para que tais direitos lhe sejam assegurados em plenitude, a vítima tem de ser orientada e pelo próprio policial.

A rapidez e a cordialidade no atendimento de vítimas, a disponibilidade em ouvi-las, deixá-las apresentar seus pontos de vista e preocupações, proteger-lhes a privacidade e garantir-lhes a própria segurança e a de sua família e testemunhas são papéis que devem ser desempenhados pelo policial, com vistas no bom desempenho de seu trabalho e no cumprimento de seus deveres em prol do cidadão e da comunidade.

5.9 Princípios dos Direitos Humanos na captura e detenção

Durante a prevenção e detecção do crime, a captura e detenção exigem do policial alto padrão de moralidade e ética. Durante os contatos policiais, fica evidente que sempre haverá oportunidade para violação dos direitos e liberdades individuais das pessoas capturadas ou detidas. Somente a ética e o profissionalismo impedem a transformação dessa oportunidade em execução do mal.

Um fator indispensável para salvaguarda dos direitos das pessoas, como garantia mínima exigida, é a atitude impecável do policial conjugada com seu comportamento e postura ética e moral, mediante mecanismos de supervisão interna pela própria Organização.

Nos momentos de maior susceptibilidade de desrespeito aos direitos humanos das pessoas, é que há a intervenção do policial. Uma questão importante é este profissional saber a real dimensão de sua função aliada a seu dever de polícia. Como profissional, ele

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deve saber mensurar seu valor individual e sua contribuição para os resultados individuais e coletivos, e, conseqüentemente, para o melhoramento da imagem da Instituição.

5.10 Gerência, supervisão e coordenação pela Polícia Militar

Para a eficiência e efetividade das providências policiais, a Polícia Militar, no que tange à proteção eficaz dos direitos humanos, precisa formular políticas e práticas, e estabelecer minuciosos aspectos de comando: circuito gerencial e administrativo para exercício do controle interno, e sistema de fiscalização e supervisão para prestação de contas, por ser órgão público em estado democrático de direito.

Para o êxito da execução do policiamento com o devido respeito aos direitos humanos, é de fundamental importância que os níveis estratégico e intermediário da Corporação estejam em sintonia com o respeito aos mesmos direitos.

A supervisão deve ocorrer em caráter periódico e contínuo, com emissão de relatório de conduta individual dos policiais. Tal aspecto deve ser objeto de implementação perene e pode gerar outros prejuízos de caráter administrativo em função da atividade operacional. A qualidade do serviço prestado pelo policial militar à comunidade é de vital importância para o Estado, no desempenho da preservação da ordem pública e defesa social.

A supervisão e a coordenação são imprescindíveis para que a violação dos direitos não ocorra, pois minimizam os possíveis excessos e abusos do policial. Ao mesmo tempo, deve ser disseminada a idéia de que o papel da supervisão e coordenação é contribuir para a melhor conduta do policial e o diagnóstico do real serviço que está sendo prestado ao Povo, com análise crítica e construtiva das dificuldades encontradas e aspectos positivos do desempenho do policial.

Com fulcro no apoio contido na supervisão, esta atividade é importante para a manutenção do grau de respeitabilidade da Instituição, especialmente por orientar e avaliar seus talentos humanos. O objetivo precípuo para estabelecer medidas de supervisão e coordenação é assegurar a qualidade dos produtos e serviços prestados pelo policial militar, por meio dos quais a Polícia Militar alcança mais credibilidade e maior consagração. Tal aspecto é crucial para o sucesso da execução das medidas de implementação das políticas de comando.

CAPÍTULO VI

6 PROCEDIMENTO POLICIAL-MILITAR

6.1 Introdução

A consolidação da democracia brasileira pressupõe o amplo exercício da cidadania para todos. Nessa filosofia é que o policial deve se embasar para o trato diário com as pessoas. A sociedade brasileira é plural, formada por diversidade de raças e credos, e por infinidade de diferenças.

Vários procedimentos policiais devem ser feitos na chegada do policial ao local de atendimento a uma ocorrência. Há providências deste profissional que exigem seqüência lógica de idéias e atitudes, durante a atuação em local de infração penal.

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Diante de tantas providências que o policial deve adotar na intervenção policial, vale ressaltar que, em qualquer nível de procedimentos técnicos e táticos, os Direitos Humanos devem permear todas as ações e atitudes policiais.

Assim, antes, durante e depois da atuação propriamente dita, o policial deve levar em consideração a prioridade de segurança na intervenção, observando esta ordem de importância: primeira, a segurança do público; segunda, a segurança dos policiais; terceira, a segurança do cidadão infrator ou suspeito.

Todos esses cuidados são recomendados, a fim de que o público, no geral, não seja exposto a riscos, pois nós, como profissionais que somos, devemos tecnicamente tratar dos fatos, servindo e protegendo a comunidade.

É de fundamental importância que possamos embasar todos os procedimentos em documentos nacionais e internacionais relativos aos direitos humanos de todas as pessoas com as quais trabalhamos em nosso dia-a-dia.

O policial deve, no uso de suas atribuições legais, respeitar, garantir, preservar e proteger os direitos humanos de todos os cidadãos, como veículo pleno de promoção desses direitos, no momento em que o policial atua no atendimento a ocorrências nas ruas ou qualquer outro lugar, quando e onde o cidadão lesado encontra-se mais vulnerável.

Nesse instante, é que atua o policial, que tem de pautar seu trabalho na legalidade, necessidade, proporcionalidade e postura ética, sem nenhuma violação dos direitos humanos.

Vários documentos omitem a especificação do local de atuação policial em relação às pessoas envolvidas, quer sejam vítimas, suspeitos, cidadãos infratores, testemunhas ou informantes. Tal omissão não impede o desempenho do policial em favor de todas as pessoas, às quais ele tem de preservar direitos que devem ser levados em conta a todo tempo.

6.2 Detalhamento do comportamento policial

Algumas considerações de ordem geral e específica precisam ser vistas, com o objetivo de contribuir com o policial e aumentar-lhe os conhecimentos sobre direitos humanos, em benefício de sua conduta operacional. A ética profissional na aplicação da lei, em seu aspecto teórico, tem de permear a conduta de cada policial, durante a garantia da aplicação da lei.

6.2.1 Procedimentos na intervenção policial

6.2.1.1 Aproximação mediante técnicas e táticas policiais para a segurança do policial

O policial, ao aproximar-se do local onde sua intervenção é necessária, deve ter em mente: como, de que forma, com que técnica, em que formação tática, entre outros procedimentos indispensáveis sua segurança e a de sua equipe. Utilizar cobertas e abrigos durante a aproximação é de vital importância para a vida do policial. Os primeiros minutos de qualquer fato em que houve a quebra da ordem pública são o instante em que o profissional deve adotar medidas para minimizar as causas geradoras do problema. O policial, em local seguro e com técnicas e formação tática adequadas, poderá utilizar a força mais razoável a aplacar a forma de agir do suspeito, sem atentar contra sua integridade física e moral.

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6.2.1.2 Auto-identificação

A auto-identificação deve ser feita, de modo que o policial sempre esteja praticando procedimentos de auto-salvaguarda, auto-defesa e auto-segurança, quando se identificar a si mesmo como policial ao cidadão. Demonstrar clareza, falando seu nome e posto ou graduação, não obscurecerá, em momento algum, sua autoridade de policial, mas enfatizará sua postura ética e humana. Cabe ao policial saber que sua identidade profissional deve ser pública diante de sua função revestida pelo Estado, e não pode confundir-se com sua identidade pessoal, cujos registros não podem ser expostos aleatória e indiscriminadamente.

6.2.1.3 Tratamento da pessoa pelo nome

Tratar a pessoa pelo nome demonstra respeito e automaticamente possibilita o surgimento de empatia entre as partes. Essa conduta humana, ética e respeitadora gera reciprocidade.

6.2.1.4 Tratamento respeitoso para com as pessoas

O policial deve tratar as pessoas, com respeito e cordialidade. O discernimento aliado ao tirocínio deve ser inerente ao policial, especialmente para utilização de técnicas e atitudes, entre as quais a forma de falar para facilitar o entendimento e cumprimento de ordens emanadas do policial.

Tratar as pessoas com respeito à dignidade humana gera cordialidade e pronto acatamento às ordens e orientações oriundas do policial, a quem cabe enunciar os direitos que devem ser assegurados às pessoas, segundo sua situação: o nível de responsabilidade a ela inerente, se suspeita, ou alguém sobre quem se atribui a responsabilidade por ato contrário à lei. A tal pessoa o policial declara a infração a ela imputada e os direitos a ela garantidos.

6.2.1.5 Valorização da vida acima de qualquer bem

Em todos os momentos, o bem maior de todas as pessoas é a vida, que deve ser preservada. Para isso, o policial emprega todos os recursos disponíveis. O direito à vida tem de ser respeitado e garantido pelo policial. Há momentos em que esse profissional dotado de poderes especiais pode usar a força letal como seu último recurso. O policial precisa usar meios menos ofensivos para alcançar seu intento, mas não pode menosprezar o uso da letalidade. A postura ética, a experiência de vida e o treinamento profissional são imprescindíveis em momentos cruciais da atuação policial.

6.2.1.6 Preservação da integridade física e moral

A integridade física e moral da pessoa tem de ser respeitada e preservada, em todas as atitudes do policial, desde a aproximação até o ultimo ato do atendimento a uma ocorrência.

6.2.1.7 Advertência ao abordado sobre o possível uso da força

Quanto ao uso gradativo da força, cabe ao policial, diante do quadro de sua atuação, discernir, à medida que forem sendo adotados os procedimentos policiais com elevação da intensidade do uso da força, para cada circunstância, a intensidade de força justificada e proporcionalmente necessária. Sempre que possível, o policial deve advertir o abordado sobre a possibilidade de contra ele aumentar a intensidade de força proporcionalmente compatível com o grau de sua reação ou resistência ilegal ao desempenho dos atos policiais.

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6.2.1.8 Tratamento das vítimas e testemunhas com cuidado, sensibilidade e profissionalismo

Como a presunção da inocência é direito do acusado que lhe deve ser garantido, o policial tem de tratar com cuidado, profissionalismo e sensibilidade as vítimas e testemunhas, tomadas de natural e compreensível estado de vulnerabilidade afetiva e psicológica, em razão da gravidade dos fatos por elas sofridos ou presenciados. Em tal situação, o policial deve tratá-las com brandura, respeito, consideração e palavras tranqüilizadoras, sem submetê-las ao desconforto de interrogatório inoportuno e antecipado.

6.2.1.9 Relacionamento adequado com a imprensa

Preservar às pessoas a veiculação, ou não, de sua imagem é responsabilidade do policial, quando estas estiverem sob sua custódia. O policial deve saber que não tem o direito de expor ninguém, independentemente do nível de seu envolvimento, a vexame ou constrangimento. Exposição da própria imagem, só se a pessoa o quiser e permitir. O policial tem o dever de assegurar a todos o direito de não se exporem à câmera, nem à maquina de fotografia, nem ao assédio ou interrogatório por repórteres, sem ferir a integridade física ou moral dos profissionais da imprensa. O policial não pode desrespeitar direitos de pessoas em nenhuma hipótese, nem em razão do direito de outras. Ele deve oferecer tratamento polido, ético e profissional a ambas as partes.

6.2.1.10 Esclarecimento sobre os motivos de uma abordagem

O policial deve esclarecer seus atos às partes interessadas e envolvidas, e expor-lhes o porquê da abordagem, como forma de respeitar o direito de saberem o motivo da intervenção policial e seu possível desdobramento. Desta forma, o policial está, mais uma vez, criando clima de respeito, cortesia e credibilidade, para aumentar às pessoas a sensação de segurança, seja o atendimento originado pela Central de Operações, por solicitantes durante o radiopatrulhamento ou por iniciativa do próprio policial.

6.2.2 Importância do conhecimento e conjugação de esforços

Quando o policial aborda uma pessoa, tudo pode acontecer. Por isso, ele deve conhecer e saber utilizar o uso progressivo da força, que é a seleção adequada de opções de força em resposta ao nível de reação do indivíduo suspeito ou infrator a ser controlado.

A progressão do nível de força deve ser ajustada à resistência enfrentada pelo policial e adequada ao tipo de ação do suspeito. Se um nível falha ou a reação aumenta ou diminui, o policial adota outra ação proporcional, necessária e conveniente a cada reação, tudo de acordo com a lei.

Se o cidadão está em situação de normalidade, a presença policial é rotineira. Se o cidadão é cooperativo, o policial utiliza-se da verbalização. Se há resistência passiva, o policial pode usar os controles de contato. Se há uma postura de resistência ativa, utiliza-se do controle físico. Para agressão não-letal, o policial utiliza-se de táticas defensivas não-letais. Para agressão letal, cabe ao policial utilizar a força letal. Tal quadro sistêmico auxilia o policial, durante sua atuação, e contribui para seu equilíbrio tático.

Com a finalidade de esclarecer os níveis de força, é preciso definir cada procedimento policial: a presença policial e a mera presença do policial. Verbalização é o uso da comunicação pelo policial, mediante palavras claras e de fácil entendimento. Quanto aos controles de contato, trata-se do emprego de talentos táticos pelo policial em defesa pessoal, para assegurar o controle e ganhar a cooperação do suspeito, podendo ser utilizadas inclusive as algemas. Na fase de controle físico, o policial emprega força

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suficiente para superar a resistência, vigilante a um comportamento mais agressivo, e pode utilizar, nesse nível, técnicas de forçamento, agentes químicos e cães. Quanto a táticas defensivas não-letais, cabe ao policial utilizar os métodos não-letais disponíveis, por meio de gases fortes, forçamento de articulações e uso de equipamentos de impacto (cassetetes, bastão tonfa). Neste caso, é possível a utilização da arma de fogo, desde que excluídos os casos de disparo com intenção letal (sacar e apontar a arma com finalidade de controle intimidatório do suspeito, dentro dos procedimentos de verbalização). Na iminência de agressão letal contra o policial ou terceiros, compete a esse defensor da sociedade utilizar força proporcional que é a força letal, em defesa dos direitos fundamentais de todo o ser humano, como último recurso e medida extrema, após experimentados todos os outros recursos disponíveis.

Os direitos essenciais do homem não derivam do fato de ser ele cidadão de determinado Estado, mas do fato de os direitos terem como base os atributos da pessoa humana. As condutas operacionais vigentes na Polícia Militar de Minas Gerais fundamentam-se em atos normativos e documentos nacionais e internacionais relativos aos direitos humanos.

6.3 Procedimento policial com grupos vulneráveis e minorias

O policial, em sua rotina de trabalho, está habituado a procedimento-padrão com pessoas que podem locomover-se normalmente e entender o que lhes é solicitado. Quando depara com uma pessoa com característica que a torna diferente das demais, como deficiência física, orientação sexual, idade avançada, entre outras, o policial encontra, por vezes, dificuldades no trato com elas.

A atividade de polícia exige um profissional que saiba lidar com as pessoas, sem discriminá-las nem privilegiá-las, de forma imparcial, com habilidade para garantir-lhes direitos e resolver conflitos, serena e indiscriminadamente.

A pessoa com característica que a diferencia das demais espera ser tratada não como inútil, desprezível ou como alguém que necessita tão somente de assistencialismo e piedade, mas como um cidadão cumpridor de seus deveres para com a sociedade e dono de direitos e respeito à respectiva dignidade. É imprescindível que o policial conheça um pouco sobre as diferenças e procure sempre respeitá-las. O policial deve conhecer os procedimentos que fogem aos padrões, contemplando questões sobre Minorias e Grupos Vulneráveis, para nortear sua atuação no trato adequado com tais pessoas.

6.3.1 Grupos vulneráveis

Grupo Vulnerável é um conjunto de pessoas com características especiais, em decorrência das quais podem tornar-se mais suscetíveis à violação de direitos.

Os cinco principais grupos são:

a) mulheres;

b) crianças e adolescentes;

c) idosos;

d) homossexuais;

e) pessoas com deficiência física ou sofrimento mental.

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6.4 Minorias

“Um grupo de cidadãos de um Estado, constituindo minoria numérica e em posição não-dominante no Estado, dotada de características étnicas, religiosas ou lingüísticas que diferem daquelas da maioria da população, tendo um senso de solidariedade um para com o outro, motivado, senão apenas implicitamente, por vontade coletiva de sobreviver e cujo objetivo é conquistar igualdade com a maioria, nos fatos e na lei” (sic).

6.4.1 Minorias étnicas

“São grupos que apresentam fatores distinguíveis em termos de experiências históricas compartilhadas e sua adesão a certas tradições e significantes tratos culturais, que são diferentes dos apresentados pela maioria” ( Pouter, 1986, sic).

6.4.2 Minorias lingüísticas

“São grupos que usam uma língua, quer entre os membros do grupo, quer em público, que claramente se diferencia daquela utilizada pela maioria, bem como da adotada oficialmente pelo Estado. Não há necessidade de ser uma língua escrita. Entretanto, meros dialetos que se desviam ligeiramente da língua da maioria não gozam do mesmo modo que religião, e, a seguir, etnia, precisam ser definidas,o mesmo se dá com a expressão língua, e minorias lingüísticas. Língua é utilizada como sinônimo de linguagem, querendo significar ‘método humano e não instintivo de comunicar idéias, sentimentos e desejos, por meio de um sistema de sons e símbolos sonoros’” (Hornby, 1974, sic).

6.4.3 Minorias religiosas

“São grupos que professam e praticam uma religião (não simplesmente uma outra crença, como o ateísmo, e.g.) Dienstein (1992:156) que se diferencia daquela praticada pela maioria da população”. Esse é outro aspecto de relevo, a conceituação de religião, para fins de proteção. Walker aponta que “ religião envolve crença em, e conciliação de, poderes considerados superiores ao homem os quais são acreditados como reguladores e controladores do curso da natureza, e da vida humana. Envolve elementos de crença, um corpo de dogma, atos de profissão de fé, e ritual” (Dinstein, Yoram e M.Tobory, 1992).

No Brasil, existem as seguintes minorias: judeus, budistas, muçulmanos, espíritas, praticantes de candomblé (religião jeje-nagô ou ioruba), entre outras.

6.4.4 Diferença entre grupos vulneráveis e minorias

Os Grupos Vulneráveis são pessoas que podem fazer parte de uma minoria étnica, mas, dentro dessa minoria, têm uma característica que as difere das demais e as torna parte de um outro grupo. Por exemplo: uma pessoa que faz parte de um pequeno grupo islâmico, num país católico, e também portadora de deficiência física. Ela pertence a uma minoria religiosa (islã) e integra outro grupo vulnerável por ter deficiência física.

A diferença básica é que as minorias estão limitadas aos aspectos étnicos, lingüísticos e religiosos. Os grupos vulneráveis estão relacionados com as características especiais que as pessoas adquirem em razão de tenra idade, gênero, idade avançada, orientação sexual e deficiência física ou sofrimento mental.

6.5 Atuação policial relativa aos grupos vulneráveis

6.5.1 Mulheres

A igualdade é a essência de toda a sociedade democrática comprometida com a justiça e os direitos humanos. Em praticamente todas as atividades e esferas sociais, a mulher é alvo de desigualdades, por lei e de fato. Essa situação é causada e agravada pela

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existência de discriminação na família, na comunidade e no local de trabalho. A discriminação contra a mulher mantém-se na sobrevivência de estereótipos (do homem e da mulher), de culturas tradicionais e crenças prejudiciais às mulheres.

Entende-se por discriminação contra mulheres qualquer distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo que tenha como objetivo ou efeito comprometer ou destruir o gozo ou o exercício pelas mulheres, seja qual for seu estado civil, com base na igualdade garantida a homens e mulheres, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais no campo político, econômico, social, cultural, civil ou de qualquer outra natureza ou espécie.

6.5.2 Violência contra a mulher

O Comitê da Mulher (CEDM) definiu a violência contra a mulher como:

“... violência que é dirigida à mulher pelo fato dela ser mulher ou que atinge a mulher desproporcionalmente. Inclui atos que infrinjam sofrimento ou dano físico, mental ou sexual, ameaças de tais atos e outras privações da liberdade...”(sic).

A violência contra a mulher é um fenômeno antigo, ao longo da história, a qual não era notada nem contestada. Após pressão internacional muito recente, para que se considere a violência contra a mulher como questão internacional de direitos humanos, a CEDM respondeu com a declaração específica de que a proibição geral da discriminação contra a mulher que consta na Convenção sobre a Mulher inclui a violência contra a mulher. O Comitê afirma ainda que a violência contra a mulher constitui uma violação de seus direitos humanos reconhecidos internacionalmente e considera irrelevante haver sido cometida a violação por um policial ou cidadão comum. A responsabilidade do Estado pela violência contra a mulher pode ser invocada, quando um policial está envolvido em ato de violência contra a mulher ou quando o Estado deixa de agir com a devida diligência, para evitar a violação desses direitos cometida por particulares ou investigar e punir tais atos de violência, mediante compensação ética e sociojurídica.

A violência doméstica é outra violação dos direitos humanos e crime (na maioria dos países) que os policiais podem ajudar a prevenir. Os homens que batem em suas mulheres ou companheiras estão normalmente confiantes em que o podem fazer com impunidade − de que não serão denunciados à polícia e, mesmo que o sejam, conseguirão escapar da punição. As autoridades policiais, de uma forma geral, contribuíram para tal situação, ao se recusarem não só a tratar a violência doméstica como crime, mas a intervir para acabar com a violência, baseados supostamente na errônea noção de que isso fosse um problema de família.

A violência doméstica não é um problema só de família − é um problema da comunidade, e esta, em sua quase-totalidade, é responsável pela continuação desse delito. São os amigos e vizinhos que ignoram ou encontram desculpas para as provas evidentes de violência. É o médico que apenas cuida dos ossos quebrados e machucados. São a polícia e o tribunal que se recusam a intervir em assunto particular. Os policiais podem ajudar a prevenir a violência doméstica, ao tratá-la como crime. Eles são responsáveis por assegurar e proteger o direito da mulher à vida, à segurança e à integridade corporal, e incorrem em evidente abdicação dessa responsabilidade, quando falham de preservar a mulher da violência no lar.

Na maioria dos países do mundo, os crimes contra a mulher são quantitativamente insignificantes. É dever de toda instituição policial analisar esses crimes, para evitá-los o máximo possível, e tratar a respectivas vítimas com cuidado, sensibilidade e profissionalismo.

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6.5.3 Mulher capturada

A não-discriminação rege que a mulher tem os mesmos direitos que o homem no ato da captura. Também existem outras formas adicionais de proteção e consideração a serem oferecidas à mulher durante a captura. Tais medidas incluem as garantias de que:

a) a captura das mulheres seja feita por uma policiala ou pessoa do sexo feminino, devidamente orientada (sempre que possível);

b) as mulheres e suas vestimentas sejam revistadas por uma policiala (em todas as circunstâncias);

c) as mulheres capturadas sejam mantidas separadas dos homens capturados (quando, para isso, houver condições de segurança e logística).

Deve-se observar que a proteção e consideração adicionais à mulher em situação de captura não devem ser tidas como discriminatórias, porque se visa à garantia plena de a mulher gozar seus direitos igualitariamente ao homem.

6.5.4 Mulher detida

À mulher detida asseguram-se procedimentos destinados a proteger seus direitos e sua condição especial (particularmente os da grávida e da lactante). Entre tais medidas, incluem-se instalações médicas especializadas, pois a denegação de tratamento médico adequado a mulheres detidas constitui maus-tratos, proibidos por leis nacionais e internacionais, e alojamento separado para mulheres detidas, com disponibilidade de pessoal do sexo feminino na justiça penal. Outras medidas especiais podem ser oferecidas à mulher detida, para a melhor criação de seus filhos e tratamento de saúde durante a gravidez.

6.5.5 Mulher vítima da criminalidade e do abuso de poder

Verifica-se que a Declaração das Vítimas e as outras disposições importantes de tratados sobre maus-tratos contra a mulher são neutras. Não chegam nem perto de reconhecer que as necessidades das mulheres vítimas da criminalidade e abuso de poder são, muitas vezes, muito diferentes das necessidades das vítimas do sexo masculino, não somente em termos físicos e psicológicos, mas também porque a vítima feminina provavelmente sofreu um tipo de violação que é peculiar a seu sexo. Em muitos casos, os policiais serão o primeiro contato que vítima do sexo feminino terá. O bem-estar dessa vítima deve ser da mais alta prioridade. Não se pode desfazer o crime cometido, mas o auxílio e a assistência adequados a tal vítima farão com que as conseqüências negativas desse mal sejam definitivamente limitadas.

Se o incidente for de natureza doméstica ou a vítima conhecer seu agressor, ela poderá relutar em contra ele apresentar queixa, com medo de represálias. O cuidado e a assistência adequados para as mulheres vítimas de crime podem fazer com que sejam necessárias medidas especiais, inclusive a proteção contra vitimização posterior, o encaminhamento a abrigos e a prestação de serviços médicos especializados, o respeito pelo direito à privatividade e à dignidade pessoal da mulher vítima, e a disponibilidade de policialas para conduzir a investigação e providenciar instalações especiais dentro das delegacias, para conforto e bem-estar da vítima.

As mulheres vítimas de abuso de poder necessitarão também de proteção especial para assegurar que seus direitos não sejam ainda mais violados. Há uma preocupação particular com a situação das mulheres vítimas de violência nas mãos dos policiais e funcionários do Estado − vítimas que incluem as mulheres que sofrem agressões enquanto capturadas. É nítido o dever das organizações de aplicação da lei de se assegurarem de

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que qualquer alegação de violência desse tipo tenha sido imediatamente levada à presença da autoridade policial , a assistência médica, aconselhamento e outro serviço de apoio tenham sido oferecidos às vítimas, a quem a implementação do direito à compensação tem de ser facilitado.

6.6 Crianças e adolescentes

Crianças e adolescentes têm direitos próprios que estão previstos em diversos instrumentos internacionais e na legislação brasileira. A Constituição Federal relaciona em seu art. 227 direitos destinados a garantir às crianças e adolescentes absoluta prioridade no atendimento ao direito à vida, saúde, educação, convivência familiar e comunitária, lazer, profissionalização, liberdade e integridade. Além disso, é dever de todos (Estado, família e sociedade) livrar a criança e adolescente de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Crianças e adolescentes têm primazia em receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias, precedência no atendimento por serviços públicos ou de relevância pública, destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e juventude, programas de prevenção e atendimento especializado aos jovens dependentes de entorpecentes e drogas afins.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece um rol de direitos exclusivos dessas pessoas, bem como regras especiais para o adolescente infrator. Considera-se criança a pessoa de até doze anos de idade, e adolescente aquela de entre doze e dezoito anos. O ECA também regula casos excepcionais de jovens que receberam medidas que se esgotarão até depois dos dezoito anos, como no caso do prolongamento da medida de internação e no caso de assistência judicial.

6.6.1 Ato infracional

Ato infracional é a ação tipificada como contrária à lei que tenha sido praticada pela criança ou adolescente. São inimputáveis todos os menores de dezoito anos e não poderão ser condenados a nenhuma pena. Recebem, portanto, tratamento legal diferente dos réus imputáveis (maiores de dezoito anos) a quem cabe a penalização.

A criança acusada de crime deverá ser encaminhada à presença do Conselho Tutelar ou Juiz da Infância e da Juventude. Se efetivamente praticou ato infracional, ser-lhe-á aplicada medida especial de proteção como orientação, apoio e acompanhamento temporário, freqüência obrigatória a ensino fundamental, requisição de tratamento médico e psicológico, entre outras medidas.

Adolescente em caso de flagrância de ato infracional será levado à autoridade policial especializada. Os adolescentes não são igualados a réus ou indiciados nem são condenados a nenhuma pena (reclusão e detenção), como ocorre com os maiores de dezoito anos. Recebem medidas socioeducativas, sem caráter de apenação. É ilegal a apreensão do adolescente para averiguação. Fica apreendido, e não preso. A apreensão somente ocorrerá, quando for em flagrância ou por ordem judicial, e, em qualquer das hipóteses, esta apreensão será comunicada, de imediato, ao juiz competente, bem como à família do adolescente.

6.6.2 Apreensão do adolescente infrator

A autoridade policial deverá averiguar a possibilidade de liberar imediatamente o adolescente. Caso a detenção seja justificada como imprescindível a investigações e manutenção da ordem pública, a autoridade policial deverá comunicar aos responsáveis pelo adolescente, assim como informá-lo de seus direitos, como o de ficar calado se quiser,

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ter advogado, ser acompanhado pelos pais ou responsáveis. Após a apreensão, o adolescente será imediatamente conduzido à presença do promotor de justiça, que poderá promover o arquivamento da denúncia, conceder remissão-perdão ou representar ao juiz para aplicação de medida socioeducativa.

6.6.3 Medidas aplicadas aos adolescentes

O adolescente que cometer ato infracional estará sujeito às seguintes medidas socioeducativas: advertência, liberdade assistida, obrigação de reparação do dano, prestação de serviços à comunidade, internação em estabelecimento especial, entre outras.

6.7 Homossexuais

O termo homossexual foi criado por um médico húngaro , Karoly Kertbeny, ao saber que, em 1869, o código penal da Prússia criou alguns artigos que criminalizavam o sexo praticado entre homens. O médico, insatisfeito com a nova lei , enviou uma carta ao Ministro da Justiça prussiano, argumentando que a homossexualidade era uma propensão inata, uma tendência com a qual uma parte dos seres nascia. Essa propensão era incapaz de seduzir a maioria dos homens, porque era considerada naturalmente estranha a eles, presumindo que a atração pelo sexo oposto era a sexualidade normal. A partir de então, passou-se a designar como homossexuais as pessoas do mesmo sexo que sentiam atração entre si.

Em 1974, a Associação Americana de Psiquiatria (AAP) deixou de considerar a homossexualidade uma doença. Dezenove anos depois , em 1993, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retira a homossexualidade da categoria das doenças mentais. Em 1985, o Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhece que a homossexualidade não é um desvio nem transtorno mental.

6.7.1 Definições dos homossexuais

a) Gay - Homossexual Masculino:

Não- necessariamente afeminado.

Barbie – Gay/homossexual masculino fisiculturista/malhador ou praticante de artes marciais. Ex.: Jiu-Jitsu

Gay afeminado – usa artifícios femininos como peças do vestuário, brincos e anéis, e tem trejeitos ao andar e ao expressar-se.

b) Lésbica - Homossexual Feminino:

Não- necessariamente masculinizada.

Quando profissional do sexo – trabalha em prostíbulos, boates de “strip-tease”, etc.

Quando masculinizada – usa artifícios masculinos, como peças do vestuário (pochete, camisa esporte ou social, camiseta regata) e tem trejeitos ao andar e ao expressar-se.

c) Homossexual masculino que se traveste de mulher: “Travesti”

Estão travestidos geralmente vinte e quatro horas por dia, transitam mais durante à noite e, em sua maioria, moram em casas de diárias e são “cafetinados” por outro travesti ou mulher. Noventa por cento vivem exclusivamente do mercado do sexo nas vias públicas ou negociam por telefone dessas “agências” de programa.

d) Transexual – “clinicamente” é heterossexual e, só após análise por equipe multidisciplinar de psicólogos, psiquiatras, médicos de diferentes áreas, pode-se

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diagnosticá-lo. Mesmo identificado, existe a dificuldade de atrelá-lo à nova identificação (quando adequado sexualmente) no jurídico. Fica a critério do Jurista a análise e aprovação de nova identidade adequada ao sexo transmutado.

Transexual masculino: adequação da genitália masculina ao sexo feminino

Transexual feminino: adequação da genitália feminina ao sexo masculino.

Obs.: A transexualidade é psíquica, e não genital. Existem transexuais que ainda não foram operados ou aguardam a possibilidade da cirurgia.

e) Bissexuais – Pesquisas demonstram que parte da heterossexualidade tende à bissexualidade, em algum ou todo o tempo da vida.

Exemplos são homens heterossexuais que procuram realizar “fantasias sexuais” com travestis, garotos de programa ou mulheres que atuam como homens (usando próteses artificiais para penetração).

A diversidade sexual é uma realidade em nossa sociedade. O cidadão, muitas vezes, tem seus direitos desrespeitados pelo fato de ser homossexual. A falta de informação da sociedade, que em sua maioria é homofóbica (discrimina e não gosta do homossexual), o preconceito e o despreparo dos policiais que compõem o sistema de segurança e outros setores públicos e privados, tornam a vida do cidadão homossexual extremamente penosa.

O policial, como promotor dos diretos humanos e pedagogo da cidadania, deve lidar com o cidadão, respeitando sua orientação sexual e dando-lhe a atenção devida, especialmente quando se fizer necessária a intervenção policial em seu cotidiano.

O cidadão homossexual ordeiro deve ser tratado de forma respeitosa, sem gracejos nem críticas, pelos policiais que o abordam ou são acionados por ele, em situação de vítima da criminalidade e abuso de poder.

Em abordagens a homossexuais do sexo masculino ou feminino, o policial deve conduzir-se de acordo com as seguintes orientações contidas na lei estadual número 14.170, de 15/01/02 (determina a imposição de sanções à pessoa jurídica por ato discriminatório praticado contra a pessoa, em virtude de sua orientação sexual):

a) se o cidadão homossexual teve um direito seu desrespeitado como vítima de crimes diversos, o policial que por ele for procurado deve tratá-lo com respeito, sem constrangê-lo, ainda mais, com gracejos ou descrédito de seus apelos;

b) ao suspeitar de homossexual masculino, o policial deverá, da maneira menos constrangedora possível, proceder à revista evitando apertar-lhe os “seios”, se este os tiver, podendo realizar uma vistoria entre os mamilos como é procedida em mulher; no restante do corpo a busca se procede normalmente;

c) no caso de busca em homossexual feminino (lésbica), evitar apalpar seios e partes íntimas;

d) ao detectar homossexual feminino (lésbica), travesti ou transexual, evitar o constrangedor preconceito social, exemplo: ao ler o nome de registro na Carteira de Identidade, não o fazer em voz alta a outros policiais nem ao público presente, com zombaria;

e) não cabe ao policial externar o que pensa, com posições pessoais, religiosas e morais sobre a homossexualidade, e sim advertir, orientar e cumprir aquilo que por lei lhe for exigido, aplicando assim os devidos procedimentos;

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f) o policial não deve coibir manifestações de afeto entre homossexuais (mãos dadas, beijo na boca, abraços, entre outros), em logradouro público, estabelecimento público ou estabelecimento aberto ao público (se solicitado a coibir, deve orientar o solicitante que a manifestação de afeto não é crime, mas sua coibição, sim; sexo explícito é diferente de manifestação de afeto; no primeiro caso, é necessária a providência policial).

6.8 Pessoas com deficiência física e sofrimento mental

6.8.1 Deficiência

É toda a perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica.

Modalidades:

a) lingüística: mudo;

b) sensorial: auditiva, visual;

c) mental: síndrome de down, oligofrenias, síndrome de autismo, algumas psicoses;

d) física: hemiplegia (paralisia de um dos lados do corpo), paraplegia, amputações de membros ou partes do corpo;

e) neurológica: paralisia cerebral;

f) alterações do sistema nervoso central;

g) psicológicas: distúrbios comportamentais do aprendizado e da sociabilidade;

h) múltipla: tetraplegia+cegueira+surdez.

6.8.2 Doença

É toda a perturbação da saúde, moléstia, mal, enfermidade, temporária ou definitiva.

6.8.3 Incapacidade

Toda a restrição ou falta (por uma deficiência) da capacidade de realizar uma atividade, na forma ou na medida que se considera normal a um ser humano.

6.8.4 Impedimento

Situação desvantajosa para determinado indivíduo, em conseqüência de deficiência ou de incapacidade que limita ou impede o desempenho de papel que é normal em seu caso ( em função de idade, sexo e fatores sociais e culturais).

6.8.5 Cuidados no trato com pessoa deficiente

“Existe atualmente um grande número, que aumenta dia a dia, de pessoas com deficiência. Está confirmada, pelos resultados de pesquisas com segmentos da população e por investigações de respeitados pesquisadores, a estimativa de 500 milhões”.

As causas das deficiências variam em todo o mundo: o mesmo acontece com a predominância e as conseqüências das deficiências. Essas variações são conseqüências das diferentes circunstâncias socioeconômicas e das diferentes disposições que cada sociedade adota para alcançar o bem-estar de seus membros.

Segundo estudo realizado por peritos, estima-se que pelo menos 350 milhões de pessoas com deficiência vivem em regiões onde não há disponibilidade de serviços

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necessários para ajudá-las a superar suas limitações. Grande parte dessas pessoas está sujeita a barreiras físicas, culturais e sociais que dificultam sua vida, mesmo quando há ajuda para sua reabilitação.

Para alcançar os objetivos de “igualdade” e “plena participação”, não bastam medidas de reabilitação voltadas para o indivíduo com deficiência. A experiência tem demonstrado que é o meio que determina, em grande parte, o efeito de uma deficiência ou incapacidade na vida diária da pessoa. Uma pessoa torna-se vítima do impedimento, quando lhe são necessários aos aspectos fundamentais da vida, inclusive, a vida familiar, a educação, o emprego, a moradia, a segurança econômica e pessoal, a participação em grupos sociais e políticos, nas atividades religiosas, nas relações afetivas e sexuais, no acesso a instalações públicas, na liberdade de movimentos e no sistema geral da vida diária.

O policial atua como agente da cidadania e, como tal, deve saber comportar-se adequadamente em ocorrência que envolva pessoas deficientes físicas e com sofrimento mental, dando-lhes tratamento digno, encaminhando-as corretamente e solucionando seus problemas. Cuidados que o policial deve ter ao abordar ou auxiliar uma pessoa deficiente:

6.8.5.1 Pessoa que usa cadeira de rodas

a) não segure nem toque na cadeira de rodas. Ela é considerada como se fosse parte do corpo da pessoa. Apoiar-se ou encostar-se na cadeira é o mesmo que se apoiar-se ou encostar-se na pessoa;

b) se desejar, ofereça ajuda, mas não insista. Se precisar de ajuda, ele(a) aceitará seu oferecimento e lhe dirá o que fazer. Se você forçar esta ajuda, isso pode, às vezes, até mesmo, causar insegurança;

c) não tenha receio de usar palavras como "caminho" ou "correr". As pessoas com deficiência também as usam;

d) se a conversa durar mais do que alguns minutos, sente-se, se possível, de modo que fique no mesmo nível do olhar do interlocutor. Para uma pessoa sentada, não é confortável ficar olhando para cima, durante um período relativamente longo;

e) não estacione viatura em lugares reservados às pessoas com deficiência física. Tais lugares são reservados por necessidade, não por conveniência. O espaço reservado é mais largo do que o usual, a fim de permitir que a cadeira de rodas fique ao lado do automóvel e a pessoa com deficiência física possa sair e sentar-se na cadeira de rodas, e vice-versa. Além disso, o lugar reservado é próximo à entrada de prédios, para facilitar o acesso dessas pessoas;

f) ao ajudar uma pessoa com deficiência física a descer uma rampa inclinada ou degraus altos, é preferível usar a marcha a ré para evitar que, pela excessiva inclinação, a pessoa perca o equilíbrio e caia para frente;

g) quando se tratar de pessoa suspeita, deverão ser seguidos todos os procedimentos acima, e efetuada a busca pessoal e na cadeira de rodas.

6.8.5.2 Pessoa que usa muletas

a) acompanhe o ritmo de sua marcha;

b) tome cuidados necessários para que ele(a) não tropece;

c) deixe as muletas sempre ao alcance das suas mãos;

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d) quando se tratar de pessoa suspeita, deverão ser seguidos todos os procedimentos acima, e efetuada a busca pessoal , tomando-se cuidado com possíveis golpes de muleta do suspeito e com pontas ou lâminas que possam estar escondidas no interior da muleta.

6.8.5.3 Pessoa com deficiência visual

a) ofereça sua ajuda, sempre que um(a) cego(a) parecer necessitar;

b) mas não ajude, sem que ele(a) concorde. Sempre pergunte, antes de agir. Se você não souber em que e como ajudar, peça explicações de como fazê-lo;

c) para guiar uma pessoa cega, segure-a pelo braço, de preferência no cotovelo ou no ombro. Não a pegue pelo braço. Além de perigoso, isso pode assustá-la. À medida que encontrar degraus, meios-fios e outros obstáculos, vá orientando-a. Em lugares muito estreitos para duas pessoas caminharem lado a lado, ponha seu braço para trás, de modo que a pessoa cega possa segui-lo. Ao sair de uma sala, informe-o ao cego(a), pois é desagradável para qualquer pessoa falar para o vazio. Não se preocupe ao usar palavras como "cego", "olhar" ou "ver": os(as) cegos(as) também as usam;

d) ao explicitar direções a uma pessoa cega, seja o mais claro e específico possível. Não se esqueça de indicar os obstáculos que existem no caminho que ela vai seguir. Como algumas pessoas cegas não têm memória visual, não se esqueça de indicar as distâncias em metros (p.ex.: "uns vinte metros para frente"). Mas, se você não sabe corretamente como direcionar uma pessoa cega, diga algo como "eu gostaria de ajudá-lo. Mas como é que devo descrever as coisas?" Ele (ela) lhe dirá;

e) ao guiar um(a) cego(a) para uma cadeira, guie sua mão para o encosto da cadeira e verifique se a cadeira tem braços ou não. Num restaurante, é de boa educação que você leia o cardápio e os preços;

f) uma pessoa cega é como outra qualquer, só que não enxerga. Trate-a com o mesmo respeito com que trata uma pessoa que enxerga;

g) quando estiver em contato social ou trabalhando com pessoas com deficiência visual, não pense que a cegueira possa vir a ser problema. Por isso, nunca as exclua de participar plenamente nem procure minimizar tal participação. Deixe que decidam como participar. Proporcione à pessoa cega a chance de ter sucesso e de falhar, tal como qualquer outra pessoa;

h) quando são pessoas com visão subnormal (alguém com sérias dificuldades visuais), proceda com o mesmo respeito, perguntando-lhes se precisam de ajuda, quando notar que elas estão em dificuldade;

i) quando se tratar de pessoa suspeita, deverão ser seguidos todos os procedimentos acima, e efetuada a busca pessoal , tomando-se cuidado de avisar ao suspeito que será procedida uma busca por outro policial, e que ele fique calmo.

6.8.5.4 Pessoa com deficiência auditiva

a) fale claramente, distinguindo palavra por palavra, mas não exagere. Fale com velocidade normal, salvo quando lhe for pedido para falar mais devagar;

b) cuide para que o (a) surdo(a) enxergue sua boca. A leitura dos lábios fica impossível, se você gesticula, segura alguma coisa na frente de seus próprios lábios, ou fica contra a luz;

c) fale com tom normal de voz, a não ser que lhe peçam para levantar a voz;

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d) gritar nunca adianta;

e) seja expressivo. Como os surdos não podem ouvir as mudanças sutis do tom de sua voz, indicando sarcasmo ou seriedade, a maioria deles(as) lerá suas expressões faciais, seus gestos ou os movimentos de corpo, para entender o que você quer comunicar;

f) se você quer falar com uma pessoa surda, chame a atenção dela, sinalizando com a mão ou tocando em seu braço. Enquanto estiverem conversando, mantenha contato visual. Se você olhar para outro lado, enquanto está conversando, o(a) surdo(a) pode pensar que a conversa terminou;

g) se você tiver dificuldades para entender o que uma pessoa surda está falando, sinta-se à vontade para pedir que ela repita o que falou. Se você ainda não entender, peça-lhe para escrever. O que interessa é comunicar-se com a pessoa surda. O método não é o que importa;

h) se o(a) surdo(a) está acompanhado(a) por um intérprete, fale diretamente à pessoa surda, não ao intérprete;

i) ao planejar um encontro, lembre-se de que os avisos visuais são úteis aos participantes surdos. Se estiver previsto um filme, providencie uma narração por escrito, ou um resumo do conteúdo do filme, se não houver legenda;

j) quando se tratar de pessoa suspeita, deverão ser seguidos todos os procedimentos acima, e efetuada a busca pessoal.

6.8.5.5 Pessoa com paralisia cerebral

a) a pessoa com paralisia cerebral anda com dificuldade ou não anda, podendo ter problemas de fala. Seus movimentos podem ser estranhos ou descontrolados. Ela pode, involuntariamente, apresentar gestos faciais incomuns, sob a forma de caretas. Geralmente, porém, trata-se de pessoa inteligente e sempre muito sensível – ela sabe e compreende que não é como os outros;

b) para ajudá-la, não a trate bruscamente. Adapte-se a seu ritmo. Se não compreende o que ela diz, peça-lhe que repita: ELA O COMPREENDERÁ. Não se deixe impressionar por seu aspecto. Aja de forma natural... sorria...é uma pessoa igual a você.

6.8.5.6 Pessoa com deficiência mental

a) cumprimente a pessoa com deficiência mental de maneira normal e respeitosa, não se esquecendo de fazer a mesma coisa, ao despedir-se. A pessoa com deficiência mental é, no geral, bem disposta, carinhosa e gosta de comunicar-se;

b) dê-lhe atenção, dirigindo-lhe palavras como: "que bom que você veio", "gostamos quando você vem nos visitar", tentando manter a conversa até quando for possível;

c) seja natural. Evite a superproteção. A pessoa com deficiência mental deve fazer sozinha tudo o que puder. Ajude-a, quando realmente for necessário;

d) deficiência mental pode ser conseqüência de uma doença, mas não é uma doença. É uma "condição de ser". Nunca use a expressão "doentinho(a)" ou "bobinho(a)" ,quando se dirigir ou referir a uma pessoa com deficiência mental;

e) deficiência mental não é doença mental;

f) pessoa portadora de deficiência mental é, em primeiro lugar, uma pessoa;

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g) enquanto for criança, trate-a como criança. Quando for adolescente ou adulto, trate-a como tal.

6.8.5.7 Deficiência mental severa

Existem deficiências mais graves; como o Autismo e outras , em que o indivíduo não interage com o mundo de forma adequada, apresenta sinais de agitação, não consegue comunicar-se, não tem noção de perigo e, apesar de ser dócil, é arredio e reage com agressividade em situações adversas.

a) o policial não poderá subestimar tais indivíduos e deverá ter total atenção na condução deles , para evitar que se machuquem ou causem acidente;

b) ao conduzir essas pessoas a pé, o policial deve ter cuidados, ao atravessar ruas, pois elas poderão lançar-se na frente de veículos em movimento;

c) essas pessoas deverão ser conduzidas a um centro neuropsiquiátrico, até que seus parentes sejam encontrados.

6.9 Terceira Idade

Uma das principais causas que levam as pessoas da terceira idade ao abandono ou descrédito é a situação de relaxamento e falta de execução de normas. Assim, o afastamento da família, o internamento dessas pessoas em locais inadequados a seu completo restabelecimento, manutenção de seu estado físico e mental, o abandono pela sociedade, a começar pela própria família, caracterizam situação que coloca em risco sua garantia e proteção integral, nos termos da Constituição, desprezando, desta forma, todos aqueles que deram sua vida em prol de nossa nação e aqueles que lutam para vencer o preconceito e ser integrados à sociedade.

A pessoa idosa deve ter tratamento que lhe garanta o direito à vida e participação na comunidade, como defesa de sua dignidade e bem-estar. É bom deixar claro que na Lei Magna é declarado que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar os idosos.

É necessário o engajamento de todos nessa causa, para que esse fundamento seja implementado e torne-se realidade.

O policial deve estar ciente dessas premissas, quando, em sua rotina operacional, deparar com situação que envolva pessoa de terceira idade. Na atuação do policial em relação à pessoa idosa, ele, sempre que possível, tomará os seguintes cuidados:

a) o idoso deve ter tratamento especial. Dentro de uma delegacia, será convidado a assentar-se;

b) também será ótimo oferecer-lhe um cafezinho e água. Com isso, o policial estabelecerá clima de confiança e respeito;

c) se o idoso for suspeito, o policial deve respeitar sua idade e condições de saúde, e manter com ele prévia conversa sobre o ato cometido, para que ele comece a refletir sobre as conseqüências e esteja preparado para assumi-las, resguardados os aspectos de segurança do policial;

d) será esclarecida ao idoso a ajuda jurídica que ele receberá do Estado, com outras informações acerca da trâmite da investigação ou processo;

e) o idoso, sempre que possível, será acompanhado por algum membro familiar;

f) o policial deverá evitar agressão verbal ou física aos familiares do idoso, vítima de crime, para não causar-lhe problemas sérios ou até complicações à saúde.

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6.10 Atuação policial diante das minorias

6.10.1 Discriminação

Discriminação é a política que objetiva separar ou isolar no seio de uma sociedade as minorias raciais, sociais, religiosas, culturais e ideológicas.

O racismo e a segregação social existem em nossa sociedade. A todo o momento, deparamos com fatos que revelam a triste face do preconceito.

O policial deve pautar seu desempenho sempre nos princípios do bom- senso e profissionalismo, ao lidar com situações nas quais uma pessoa se sinta discriminada por sua cor, religião, etnia, língua ou procedência nacional, demonstrar sempre respeito pela crença e cultura das pessoas envolvidas e deixar de lado suas convicções culturais e religiosas, em busca da melhor solução do problema.

A lei nº 9.459,de 13/05/1997, tipifica o crime de racismo, com três importantes verbos: obstar, recusar e impedir alguém de exercer seus direitos previstos pela lei: em decorrência de sua cor, religião, etnia, língua ou procedência nacional. O cuidado que o policial deve ter é de não enquadrar incorretamente uma pessoa no crime de racismo, pois algumas condutas estão tipificadas como crime de injúria e não de racismo. Apesar de as duas condutas serem crime, a diferença é que a primeira, o crime de racismo é inafiançável.

Condição social ou étnica não se confunde com índole criminosa. Pessoas que se trajam bem também podem ser suspeitas de algum crime. Não se pode suspeitar das pessoas, somente porque são negras ou pobres.

Em ocorrências que envolvam pessoas de cor negra, o policial deve, resguardados os aspectos de fundada suspeita e segurança, agir da seguinte forma:

a) não considerar de antemão que os negros são suspeitos (preconceito);

b) não tratar os cidadãos negros, mesmo em caso suspeito, por apelidos ofensivos à pertinência racial. O descumprimento da lei não é uma característica de nenhuma raça ou etnia;

c) quando houver negros e não-negros; nunca revistar apenas os primeiros;

d) não agir preconceituosamente contra jovens vestidos de acordo com seu grupo cultural (calças largas, bonés, cabelos descoloridos ou pintados, tranças, “rastafari”...) Em toda a abordagem, considerar que todos os cidadãos têm seus direitos assegurados por lei.

6.11 Ações dos Comandantes de Unidade

Os Comandantes de Unidade deverão, nas respectivas áreas de atuação:

a) realizar capacitação periódica, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo de otimizar o atendimento de ocorrências nas quais co-participem pessoas dotadas de deficiência e sofrimento mental;

b) realizar capacitação periódica, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo de otimizar o atendimento de ocorrências nas quais se envolvam minorias;

c) interagir com os conselhos tutelares e com eles manter um intercâmbio de informações e apoio;

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d) realizar capacitação periódica sobre o direito da criança e do adolescente para policiais, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo de otimizar o atendimento de ocorrências nas quais se envolvam crianças e adolescentes;

e) realizar capacitação periódica, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo de otimizar o atendimento de ocorrências nas quais se envolvam pessoas de terceira idade;

f) realizar capacitação periódica, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo de otimizar o atendimento de ocorrências nas quais se envolvam homossexuais;

g) realizar capacitação periódica, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo de otimizar o atendimento de ocorrências nas quais se envolvam mulheres.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O papel da Polícia Militar de Minas Gerais na defesa social consiste em preservar a ordem pública, por meio da prevenção e inibição dos atos anti-sociais. O policial militar atua, preventiva e repressivamente, para promover a paz social por meio de procedimentos policiais de proteção e socorro comunitário. Preventivamente, atua na defesa comunitária, executando o policiamento, mediante presença ostensiva, principalmente em locais de risco, a qualquer hora, inibindo ações delituosas dos que optaram por viver à margem da lei. Para o atingimento desse papel social, é necessário que os policiais militares sejam capacitados e treinados para lidar com as mais diversas situações adversas, em ocorrências policiais deparadas no dia-a-dia.

Haverá um lugar para o policial profissional que busca atualizar-se e aperfeiçoar-se nas mais modernas técnicas e táticas policiais. Cabe à Instituição proporcionar treinamento de qualidade e adequado ao policial voltado às novas realidades do ambiente no qual ele trabalha em seu dia-a-dia, promovendo a proteção e a segurança das pessoas.

Ao policial cabe garantir aos cidadãos as liberdades asseguradas na Constituição Federal e evitar o cometimento de crime. Na captura e detenção do agressor da sociedade, agir sem violência nem abuso de poder. Impor sua autoridade, pelo exemplo moral. Cumprir seu dever legal, de forma honesta e extensiva a todos. Usar sua arma, nos casos de legalidade, necessidade, proporcionalidade e conveniência. Promover os direitos humanos.

É importante que o policial cumpra e faça cumprir o conjunto dos direitos que os cidadãos têm assegurados na Constituição Federal, especialmente em seu art. 5º, como também em outras legislações especiais, a exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Contra a Tortura e Lei nº 4.898 (que regula a responsabilidade nos casos de abuso de autoridade).

O art. 5o da Constituição Federal apresenta setenta e sete direitos e liberdades individuais os quais o policial deverá garantir em seu contato com o civil, durante o empenho nas mais diversas ações e operações policiais-militares. Dentre esses direitos, como são em grande número, abordaremos apenas alguns que consideramos essenciais ao cotidiano do policial em contato com os cidadãos, exatamente os setenta e sete mais sujeitos a ser desrespeitados ou violados.

1) Todos são iguais perante a lei

Significa que ninguém poderá sofrer nenhum tipo de discriminação em razão do sexo, raça, cor, por ser pobre, pelas preferências sexuais ou crenças religiosas.

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2) Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei

Isto significa que as pessoas somente estão obrigadas a fazer ou deixar de fazer aquilo que a lei determinar.

3) Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento humano degradante

A tortura praticada pelo policial é crime, considerado, inclusive, hediondo, dos mais cruéis. As pessoas capturadas ou detidas não podem ser submetidas a tortura nem a nenhum outro tratamento desumano ou cruel.

4) São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação

Esse direito não pode ser violado. A intimidade da pessoa é o direito relativo às questões da vida privada de cada cidadão. O direito à honra é o sentimento da própria dignidade e reputação. A ofensa à honra das pessoas é crime, que pode resultar em condenação a quem ofende, além de indenização por danos materiais ou morais. O direito à imagem é a representação que as pessoas têm perante si mesmas ou outras pessoas, como, por exemplo, um cargo ou uma função.

5) A casa é o asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.

Esse artigo protege a casa da pessoa, a qual é considerada sagrada. A polícia ou qualquer outra autoridade não pode nela entrar , sem o consentimento do morador, a não ser nos casos de flagrante delito (quando um crime ali está sendo cometido), desastre (incêndio, desabamento, etc.), para prestar socorro a alguém (em risco de morte ou ameaçado de sofrer violência física, lesão corporal ou constrangimento), ou, durante o dia, por ordem escrita do juiz.

6) É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar

A polícia não pode impedir que as pessoas se reúnam, a não ser que a reunião tenha por finalidade planejar ou realizar algum crime, ou formar organização proibida por lei, ou tenha caráter paramilitar.

7) A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei

Quem comete crime de racismo não tem direito a pagar fiança para ser solto.

8) É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral

Os presos não podem sofrer tratamento desumano ou cruel. A pena para qualquer pessoa que tenha cometido esse crime é a privação da própria liberdade, quando ela perde o contato com a família, amigos e a sociedade, e o direito à livre locomoção.

9) Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judicial competente.

Ninguém pode ser preso para investigação nem por suspeita. Só é cabível a prisão, em caso de flagrante delito ou mediante ordem escrita e fundamentada de juiz.

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A pessoa presa/apreendida pela Polícia Militar tem direito a permanecer calada e ser assistida pela família.

8 RECOMENDAÇÕES FINAIS

Esta Diretriz será desdobrada pelas RPMs em Instruções, Planos ou Ordens para as Unidades e Frações subordinadas.

Esta Diretriz entra em vigor a partir da data da sua publicação.

Revogam-se as disposições contrárias.

QCG, em Belo Horizonte, 19 de janeiro de 2004.

(a) SÓCRATES EDGAR DOS ANJOS, Coronel PM

Comandante-Geral

ANEXO “ÚNICO”: (ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO CORRELATOS AO TEMA)

Distribuição: todas as Unidades da Corporação.

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DIRETRIZ PARA A PRODUÇÃO DE SERVIÇOS DE SEGURANÇA PÚBLICA

DPSSP Nº 08/2.004 - CG

ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS SEGUNDO A FILOSOFIA DOS

DIREITOS HUMANOS

ANEXO “ÚNICO” (ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO CORRELATOS AO TEMA)

À DPSSP Nº 08/2.004-CG

I INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

1) Declaração Universal dos Direitos Humanos

Direitos

Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Não será tampouco feita qualquer distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V - Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

COMANDO - GERAL

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Artigo IX - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo XI

1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo XII - Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

Artigo XVII

1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

Artigo XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XX

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.

Artigo XXIX

1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas por lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

2) Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966)

Artigo 5º

§1 Nenhuma disposição do presente Pacto poderá ser interpretada no sentido de reconhecer a um Estado, grupo ou indivíduo qualquer direito de deixar-se a quaisquer atividades ou de praticar quaisquer atos que tenham por objetivo destruir os direitos ou

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liberdades reconhecidos no presente Pacto por ou impor-lhes limitações mais amplas do que aquelas nele previstas.

§2. Não se admitirá qualquer restrição ou suspensão dos direitos humanos fundamentais reconhecidos ou vigentes em qualquer Estado-parte no presente Pacto em virtude de leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob pretexto de que o presente Pacto não os reconheça ou nos reconheça em menos grau.

Artigo 6º

§ 1. O direito à vida é inerente à pessoal humana. Este direito deverá ser protegido pela Leis. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.

§2. Nos países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade coma legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em conflito com as disposições do presente Pacto, nem com a Convenção sobre a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa pena em decorrência de uma sentença transitada em julgado e proferida por tribunal competente.

§3. Quando a privação da vida constituir crime de genocídio, entende-se que nenhuma disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado-parte no presente Pacto s eximir-se, de modo algum, do cumprimento de qualquer das obrigações que tenham assumido, em virtude das disposições da Convenção sobre a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio.

§4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena. A anistia, o indulto ou a comutação da pena poderão ser concedidos em todos os casos.

§5. Uma pena de morte não poderá ser imposta em casos de crimes por pessoas menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em caso de gravidez,

§6. Não se poderá invocar disposição alguma de presente artigo para retardar ou impedir a abolição da pena de morte por um Estado-parte no presente Pacto.

Artigo 7º

Ninguém poderá ser submetido a tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas.

Artigo 8º

§1. Ninguém poderá ser submetido à escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos, em todas as suas formas, ficam proibidos.

§2. Ninguém poderá ser submetido à servidão.

a) ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou obrigatórios;

b) a alínea "a" do presente parágrafo não poderá ser interpretada no sentido de proibir, nos países em que certos crimes sejam punidos com prisão e trabalhos forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos forçados, imposta por um tribunal competente;

c) para os efeitos do presente parágrafo, não serão considerados "trabalhos forçados ou obrigatórios":

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1. qualquer trabalho ou serviço, não previsto na alínea "b", normalmente exigido de um indivíduo que tenha sido encarcerado em cumprimento de decisão judicial ou que, tendo sido objeto de tal decisão, ache-se em liberdade condicional;

2. qualquer serviço de caráter militar e, nos países em que se admite a ...menção por motivo de consciência, qualquer serviço nacional que a lei venha a exigir daqueles que se oponham ao serviço militar por motivo de consciência;

3. qualquer serviço exigido em casos de emergência ou de calamidade que ameacem o bem-estar da comunidade:

4. qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.

Artigo 9º

§1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos nela estabelecidos.

§2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela.

§3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência e a todos os atos do processo, se necessário for, para a execução da sentença.

§4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade, por prisão ou encarceramento, terá o direito de recorrer a um tribunal para que este decida sobre a legalidade de seu encarceramento e ordene a soltura, caso a prisão tenha sido ilegal.

§5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegal terá direito à reparação.

Artigo 10

§1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade inerente à pessoa humana.

a) As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto, condizente com sua condição de pessoas não condenadas.

b) As pessoas jovens processadas deverão ser separadas das adultas e julgadas o mais rápido possível.

§2. O regime penitenciário consistirá em um tratamento cujo objetivo principal seja a reforma e reabilitação moral dos prisioneiros. Os delinqüentes juvenis deverão ser separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e condição jurídica.

Artigo 11

Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual.

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Artigo 12

§1. Toda pessoa que se encontre legalmente no território de um Estado terá o direito de nele livremente circular e escolher sua residência.

§2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio país.

§3. Os direitos supracitados não poderão constituir objeto de restrições, a menos que estejam previstas em lei e no intuito de proteger a segurança nacional e a ordem, saúde ou moral públicas, bem como os direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam compatíveis com os outros direitos reconhecidos no presente Pacto.

§4. Ninguém poderá ser privado arbitrariamente do direito de entrar em seu próprio país.

Artigo 13

Um estrangeiro que se encontre legalmente no território de um Estado-parte no presente Pacto só poderá dele ser expulso em decorrência de decisão adotada em conformidade com a lei e, a menos que razões imperativas de segurança nacional a isso se oponham, terá a possibilidade de expor as razões que militem contra a sua expulsão e de ter seu caso reexaminado pelas autoridades competentes, ou por uma ou várias pessoas especialmente designadas pelas referidas autoridades, e de fazer-se representar com este objetivo.

Artigo 15

§1. Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que não constituam delito de acordo com o direito nacional ou internacional, no momento em que foram cometidos. Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o delinqüente deverá dela beneficiar-se.

§2. Nenhuma disposição do presente Pacto impedirá o julgamento ou a condenação de qualquer indivíduo por atos ou omissões que, no momento em que foram cometidos, eram considerados delituosos de acordo com os princípios gerais de direito reconhecidos pela comunidade das nações.

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II INSTRUMENTOS REGIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

1. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem

Artigo I. Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança de sus pessoa.

Artigo II. Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm os direitos e deveres consagrados nesta Declaração, sem distinção de raça, língua, crença, ou qualquer outra.

Artigo III. Toda pessoa tem o direito de professar livremente uma crença religiosa e de manifestá-la e praticá-la pública e particularmente.

Artigo V. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra os ataques abusivos à sua honra, à sua reputação e à sua vida particular e familiar.

Artigo VI. Toda pessoa tem direito a constituir família, elemento fundamental da sociedade e a receber proteção para ela.

Artigo VII. Toda mulher em estado de gravidez ou em época de lactação, assim como toda criança, têm direito à proteção, cuidados e auxílios especiais.

Artigo VIII. Toda pessoa tem direito de fixar sua residência no território do Estado de que é nacional, de transitar por ele livremente e de não abandoná-lo senão por sua própria vontade.

Artigo IX. Toda pessoa tem direito à inviolabilidade do seu domicílio.

Artigo X. Toda pessoa tem direito à inviolabilidade e circulação da sua correspondência.

Artigo XXI. Toda pessoa tem o direito de se reunir pacificamente com outras, em manifestação pública, ou em assembléia transitória, em relação com seus interesses comuns, de qualquer natureza que sejam.

Artigo XXII. Toda pessoa tem o direito de se associar com outras a fim de promover, exercer e proteger os seus interesses legítimos, de ordem política, econômica, religiosa, social, cultural, profissional, sindical ou de qualquer outra natureza.

Artigo XXIII. Toda pessoa tem direito à propriedade particular correspondente às necessidades essenciais de uma vida decente, e que contribua a manter a dignidade da pessoa e do lar.

Artigo XXV. Ninguém pode ser privado da sua liberdade, a não ser nos casos previstos pelas leis e segundo as praxes estabelecidas pelas leis já existentes.

Ninguém pode ser preso por deixar de cumprir obrigações de natureza claramente civil.

Todo indivíduo, que tenha sido privado da sua liberdade, tem o direito de que o juiz verifique sem demora a legalidade da medida, e de que o julgue sem protelação injustificada, ou, no caso contrário, de ser posto em liberdade. Tem também direito a um tratamento humano durante o tempo em que o privarem da sua liberdade.

Artigo XXVI. Parte-se do princípio de que todo acusado é inocente, até provar-se-lhe a culpabilidade.

Toda pessoa acusada de um delito tem direito de ser ouvida em uma forma imparcial e pública, de ser julgada por tribunais já estabelecidos de acordo com leis preexistentes, e de que se lhe não inflijam penas cruéis, infamantes ou inusitadas.

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Deveres

Artigo XXXIII. Toda pessoa tem o dever de obedecer à Lei e aos demais mandamentos legítimos das autoridades do país onde se encontrar.

III INSTRUMENTOS NACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

1. Constituição da República Federativa do Brasil

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;

XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

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XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos;

XLVII – não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento;

e) cruéis;

XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;

LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;

LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;

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IV DIREITO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO E DIREITO INTERNACIONAL

DIREITO

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS

DIREITOS HUMANOS (v. nota 1)

PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS

CIVIS POLÍTICOS (v. nota 2)

PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS,

SOCIAIS E CULTURAIS (v. nota 3)

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE OS DIREITOS HUMANOS (v. nota 4)

CONSTITUIÇAO DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL

(v. nota 5)

VIDA Art. 3º Art. 6º * art. 4º * art. 5º, caput

INTEGRIDADE PESSOAL art. 3º e 5º art. 7º * e 10 art. 5º * art. 5º, III

PROIBIÇÃO DA ESCRAVIDÃO art. 4º art. 8º (1-2)* art. 6º * art. 1º, II e art. 5º,

XLVII PROTEÇÃO À FAMÍLIA E À CRIANÇA

art. 16 art. 23, 24 e 25 art. 10 art. 17 * e 19* Art. 5º, LXXVI; 6º, 226, 227 e 229

GARANTIAS JUDICIAIS art. 10 e 11 art. 14 e 15 * art. 8º, 9º * e 10

Art. 5º, incisos XXXV, XXXVIII, XXXIX, LIII, LV, LVII, LXXIV

IGUALDADE PERANTE A LEI art. 7º art. 14 e 26 art. 24 art. 3º, IV e 5º, caput

e inciso I ACESSO AO JUDICIÁRIO art. 8º e 10 art. 14 e 26 art. 8.1 e 25 art. 5º, XLI, XXXV

LIBERDADE PESSOAL art. 3º, 9º e 11.2 art. 9º, 11 * , 14.6 e 15* art. 7º, 9º e 10 art. 5º, caput, incisos

LXI, LXVII e LXXV LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA art. 18 art. 18 * e 27 art. 12 * art. 5º, VI e VIII

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CRENÇA

LIBERDADE DE PENSAMENTO E EXPRESSÃO

art. 19 art. 19 art. 13 art. 5º, incisos IV, VII e IX

DIREITO DE RESPOSTA art. 19.3 (a) art. 14 art. 5º, inciso V

LIBERDADE DE REUNIÃO art. 20 art. 21 art. 15 art. 5º, XVI

DIREITO DE PETIÇÃO art. 5º, XXXIV (a)

LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO art. 20 art. 22 art. 16 art. 5º, incisos XVII a

XX DIREITOS POLÍTICOS art. 20 e 21 art. 25 art. 23 * art. 1º, § único, 5º,

LXXIII, 14, 15 e 37, I DIREITO À HONRA E DIGNIDADE PESSOAL art. 12 art. 17 art. 11 art. 1º, III e 5º, X

LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO art. 9 e 13 art. 12, 13 e 24.3 art. 22 art. 5º, XV e LXVIII

INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO art. 12 art. 17 art. 11 art. 5º, XI

INVIOLABILIDADE DE CORRESPONÊNCIA E COMUNICAÇÃO

art. 12 art. 17 art. 11 art. 5º, inciso XII

PROTEÇÃO DA MATERNIDADE E INFÂNCIA

art. 25.2 art. 24 art. 19 art. 5º, I, 6º, 227, § 1º, inciso I

LIBERDADE DE TRABALHO art. 23 art. 6º, 7º e 8º art. 26 art. 5º, XIII, 7º , 8º e

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DIREITOS SOCIAIS

DIREITO À SEGURIDADE SOCIAL art. 22 e 25 art. 9º art. 26 art. 3º, I a IV, 4º, IX,

194 a 204 DIREITO À SAÚDE art. 25 art. 12 art. 26 art. 196 DIREITO À MORADIA art. 25 art. 11 art. 26 art. 7º, IV DIREITO À EDUCAÇÃO art. 26 e 27 art. 13 e 15 art. 26 art. 205

AMBIENTE SAUDÁVEL art. 25 art. 12 art. 26 art. 5º, LXXIII, 225,

170, VI DIREITO DOS ÍNDIOS art. 27 art. 231

(*) Esses direitos não podem ser derrogados sob nenhuma circunstância, mesmo em estado de exceção. NOTAS: 1. Adotada e proclamada pela Resolução nº 217 A (III) da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, e assinada pelo Brasil, em 10 de dezembro de 1948. 2. Adotado pela Resolução nº 2200-A (XXI) da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, e ratificada pelo Brasil, em 24 de janeiro de 1992. 3. Adotado pela Resolução nº 2200-A (XXI) da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, e ratificada pelo Brasil, em 24 de janeiro de 1992. 4. Adotada e aberta à assinatura na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José de la Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, e ratificada pelo Brasil, em 25 de setembro de 1992 (Pacto de San José de la Costa Rica). 5. Promulgada pela Assembléia Nacional Constituinte, em 05 de outubro de 1988.

(a) SÓCRATES EDGAR DOS ANJOS, Coronel PM

Comandante-Geral

Distribuição: a mesma da DPSSP nº 08/2004-CG

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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4. MINAS GERAIS, Polícia Militar. Comando Geral. Manual de Prática Policial. Belo Horizonte, 2002.

5. MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: Teoria Geral, Comentários dos Artigos 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, Doutrina e Jurisprudência. 3ª edição São Paulo: Atlas, 2000.

6. Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em Paris, em 10 de dezembro de 1948.

7. SABÓIA, Gilberto Vergne, org. Anais de Seminários Regionais Preparatórios para Conferência Mundial contra Racismo, Discriminação racial, Xenofobia e Intolerância Correlata/ organizadores Gilberto Vergne Sabóia, Samuel Pinheiro Guimarães. Brasília, Ministério da Justiça, 2001.

8. CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth; DORNELLES, João Ricardo Vanderley: A polícia e os direitos humanos/,. – 2. Ed. – Rio de Janeiro: F. Bastos,2001.

9. NORMAS e recomendações internacionais sobre deficiência/Tradução de Edílson Alkmin da Cunha.-2.ed. – Brasília:CORDE,2001.

10. Revista Todos, Grupo de Convivência para Homossexuais-GAPA/MG - Ano01 – 2002.

11. ROVER,Cees de. Para Servir e Proteger. Direitos Humanos e direito internacional humanitário para forças policiais e de segurança: manual para instrutores. – C. de Rover. Trad. de Sílvia Backes e Ernani S. Pilla – Genebra:Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 1998.