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UNIVERSIDADE PAULISTA PROGRAMA DE DOUTORADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO NO CLUSTER DE SAÚDE NA CIDADE DE TERESINA Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Paulista UNIP, para obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção. REINALDO DE ARAUJO LOPES SÃO PAULO 2016

Dissertação - unip.br · da Universidade Paulista – UNIP, para ... formatação e revisão do texto, ... 3.1 Definição de turismo

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UNIVERSIDADE PAULISTA

PROGRAMA DE DOUTORADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO

NO CLUSTER DE SAÚDE NA

CIDADE DE TERESINA

Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção.

REINALDO DE ARAUJO LOPES

SÃO PAULO

2016

UNIVERSIDADE PAULISTA

PROGRAMA DE DOUTORADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO

NO CLUSTER DE SAÚDE NA

CIDADE DE TERESINA

Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção.

Orientador: Prof. Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto.

Área de Concentração: Gestão de Sistemas de Operação.

Linha de Pesquisa: Redes de empresas e planejamento da produção.

Projeto de Pesquisa: Melhoria contínua da qualidade e produtividade.

REINALDO DE ARAUJO LOPES

SÃO PAULO

2016

Lopes, Reinaldo de Araújo. Um estudo sobre empreendedorismo no cluster de saúde na cidade de Teresina / Reinaldo de Araújo Lopes. - 2016. 112 f. : il. + CD-ROM.

Tese de Doutorado Apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Paulista, São Paulo, 2016.

Área de Concentração: Gestão de Sistemas de Operação.

Orientador: Prof. Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto.

1. Turismo. 2. Polo de saúde. 3. Desenvolvimento sustentável. I. Costa Neto, Pedro Luiz de Oliveira (orientador). II. Título.

REINALDO DE ARAUJO LOPES

UM ESTUDO SOBRE EMPREENDEDORISMO

NO CLUSTER DE SAÚDE NA

CIDADE DE TERESINA

Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção.

Aprovado em: ____/____/_______.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Prof. Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto (Orientador)

Universidade Paulista – UNIP

_____________________________________________

Prof. Dr. José Benedito Sacomano

Universidade Paulista – UNIP

_____________________________________________

Prof. Dr. Oduvaldo Vendrametto

Universidade Paulista – UNIP

_____________________________________________

Prof. Dr. Paulo Borges da Cunha

Instituto Federal do Piauí – IFPI

_____________________________________________

Prof. Dr. Osvaldo Elias Farah

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Clea de Araujo Lopes, minha querida mãe que, tenho certeza, está vibrando por mais esta conquista. A meu pai, Reinaldo Lopes, sempre presente e grande parceiro. A eles minha gratidão pelo carinho, amor e dedicação.

Dedico também à minha filha, Leticia Lopes, fonte de inspiração e alegria.

AGRADECIMENTOS

Meu especial agradecimento ao Prof. Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto,

não apenas pela orientação, apoio e motivação, mas principalmente pelo incentivo

para que eu conseguisse chegar ao término deste trabalho. Mais do que orientador,

um grande amigo.

A todos os entrevistados, cujos nomes não posso citar, que me receberam e

transmitiram conhecimentos e experiências muito importantes para a realização

deste trabalho.

À Profa. Yara Lira e Atila Melo Lira, da Faculdade Santo Agostinho, pela

confiança e pelo apoio depositados em minha pessoa e em meu trabalho.

Ao Instituto Federal do Piauí e à CAPES pela confiança e apoio em todas as

horas para a conclusão deste doutorado.

À minha filha, Leticia Lopes, grande parceira. Obrigada por sempre me

incentivar a seguir em frente e pelo orgulho que demonstra sentir pelo meu trabalho.

Ao meu pai, Reinaldo Lopes, meu melhor amigo. Sempre presente,

principalmente nos momentos mais difíceis da caminhada. Obrigada pela dedicação,

pelo amor e pelo exemplo de vida.

À minha mãe, Clea de Araújo Lopes, que me transmitiu importantes valores.

Minha eterna fonte de inspiração.

Aos amigos que sempre estiveram presentes torcendo e dando força para a

realização deste trabalho, mesmo quando a jornada parecia árdua demais. Em

especial à Atila de Melo Lira e Jair Junior, que me ajudaram na editoração,

formatação e revisão do texto, e a Srta. Marcia Nunes, sempre pronta a auxiliar.

Enfim, obrigado a todos que de alguma forma me auxiliaram não apenas na

conclusão deste trabalho, mas na caminhada da vida.

RESUMO

Nos últimos anos o aquecimento da economia mundial contribuiu para o crescimento expressivo do turismo no mundo, onde o movimento da receita cambial mais que dobrou nos últimos dez anos, difundindo melhor seu conceito no Brasil. Crescem também as pesquisas relacionadas ao setor no meio acadêmico, bem como a preocupação com empresas duradouras, o crescimento da Região Nordeste, a globalização e outras transformações ocorridas em curto prazo. O turismo, entretanto, engloba diversas possíveis motivações para sua realização, entre as quais o turismo de saúde, pano de fundo para o surgimento do Polo de Saúde de Teresina, objeto da presente pesquisa. Nesse sentido, este trabalho objetiva demonstrar como um dos estados de menor renda per capita da federação, como o Piauí, tem um sistema de saúde em sua capital que é referência no nordeste do Brasil, tendo como suas variáveis de influência positiva o turismo de saúde. O trabalho tem como foco as questões que envolvem o turismo como um produto e um serviço, que, por consequência, tem a construção da existência de um cluster de saúde na cidade de Teresina, representando uma expressão econômica que justifica sua importância como gerador de renda, emprego, ciência e tecnologia, e como indutor de um desenvolvimento sustentável naquela cidade. O desenvolvimento do trabalho envolveu a realização de um amplo levantamento referencial e a realização de uma pesquisa qualitativa por amostragem estratificada no universo de instituições públicas e privadas, que constituem o Polo de Saúde de Teresina. Resultou numa caracterização do polo em seus diversos aspectos, sendo o fator empreendedorismo dos principais líderes empresariais locais um elemento fundamental para o seu surgimento, crescimento e perenização, como um melhor atendimento à população local e regional devido a criação de infraestrutura necessária. Acredita-se que a discussão apresentada nesta tese possa contribuir para o desenvolvimento de outros polos assemelhados em locais estratégicos de regiões carentes de serviços médicos de qualidade em outros pontos do território brasileiro. Palavras-chave: Turismo. Polo de saúde. Desenvolvimento sustentável.

ABSTRACT

In recent years, the warming of the global economy contributed to the significant growth of tourism in the world, where the movement of foreign exchange earnings more than doubled in the last ten years, better spreading its concept in Brazil. also growing research related to the sector in academia, and the concern with durable companies, the growth of the Northeast region, globalization and other short-term changes that have occurred. Tourism has now encompasses several possible motives for the meeting, including health tourism, backdrop for the emergence for the Teresina Health Pole, the subject of this research. In this sense, this work aims to show how one of the states of the lowest per capita income of the federation, as Piaui, has a health care system in its capital which is a reference in northeastern Brazil, having as its positive influence variables the health tourism. The work focuses on the issues surrounding tourism as a product and a service, which therefore has the construction of the existence of a health cluster in the city of Teresina, representing an economic expression that justifies its importance as a generator of income, employment , science and technology and as an inducer of sustainable development in the city. The development work involved the completion of a broad benchmark survey and conducting a qualitative survey by stratified sampling in the universe of public and private institutions, which are the Teresina Health Pole. Resulting in a characterization of the pole in its various aspects, and entrepreneurship factor leading local business leaders a key to its emergence, growth and perpetuation as a better service to local and regional population due to creation of necessary infrastructure. It is believed that the discussion presented in this thesis can contribute to the development of other the like poles in strategic locations in underserved areas of quality medical services in other parts of Brazil. Keywords: Tourism. Public health. Sustainable development.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Teresina: Crescimento da População 1970-2010 .................................. 13

Quadro 2 – População em 2010 de Teresina, São Luís e Fortaleza ......................... 14

Quadro 3 – Teresina em seu Contexto ..................................................................... 16

Quadro 4 – Estabelecimentos no Polo de Saúde por Subárea ................................. 17

Quadro 5 – Características dos Empreendedores na Ótica de Diversos Autores ..... 36

Quadro 6 – Estilos para Resolver Problemas............................................................ 43

Quadro 7 – Tipos de Estratégias ............................................................................... 48

Quadro 8 – Classificação do Turismo Quanto à Modalidade .................................... 57

Quadro 9 – Classificação do Turismo Quanto ao Tipo .............................................. 57

Quadro 10 – Classificação do Turismo Quanto à Forma .......................................... 58

Quadro 11 – População da Amostra ......................................................................... 78

Quadro 12 – Características Empreendedoras ......................................................... 89

Quadro 13 – Características dos Gestores ............................................................... 90

Quadro 14 – Procedimentos de Alta Complexidade .................................................. 92

Quadro 15 – Características das Empresas Pesquisadas ........................................ 97

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Índice Desenvolvimento Humano Piauí .................................................... 15

Figura 2 – Localização das áreas de concentração de estabelecimentos de saúde . 18

Figura 3 – Condição de Submetrópole Regional, Situada em Importante

Entroncamento Rodoviário Regional e Nacional ....................................................... 20

Figura 4 – Pirâmide da Necessidades de Maslow ..................................................... 35

Figura 5 – Formulação e Implementação de Estratégias .......................................... 45

Figura 6 – Qualidade, Produtividade e Competitividade ........................................... 50

Figura 7 – Melhorias Continuas e Radicais ............................................................... 51

Figura 8 – Mapa Rodoviário do Estado do Piauí ....................................................... 85

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Relação Médico Paciente ........................................................................ 81

Tabela 2 – Relação Médico Paciente por Estado ...................................................... 82

LISTA DE ABREVIATURAS

APL Arranjo Produtivo Local

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CELN Comissão Econômica da Liga das Nações

CRM-PI Conselho Regional de Medicina

Embratur Empresa Brasileira de Turismo

Facid Centro Universitário de Saúde, Ciências Humanas e Tecnologia do Piauí

Famepi Faculdade de Medicina do Estado do Piauí

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

Inamps Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social

Ipea Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada

ISSO International Organization for Standardization

OMS Organização Mundial de Saúde

ONG Organizações não governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

PIB Produto Interno Bruto

Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Organização

Sebrae Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas

SUS Sistema Único de Saúde

SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats

UDO Centro de Diagnóstico Odontológico

Uespi Universidade Estadual do Piauí

UFPI Universidade Federal do Estado do Piauí

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÂO ...................................................................................................... 13

1.1 Considerações Iniciais .................................................................................. 13

1.2 Justificativa ................................................................................................... 19

1.3 Hipótese ....................................................................................................... 22

1.4 Questão norteadora ...................................................................................... 22

1.5 Objetivos do trabalho .................................................................................... 22

1.5.1 Objetivo geral ..................................................................................... 22

1.5.2 Objetivos específicos ......................................................................... 22

1.6 Metodologia .................................................................................................. 22

1.7 Delimitação do estudo .................................................................................. 23

1.8 Estrutura do trabalho .................................................................................... 23

2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 26

2.1 Empreendedorismo ...................................................................................... 26

2.1.1 Perfil e característica dos empreendedores ....................................... 29

2.1.2 Habilidades ........................................................................................ 31

2.1.3 Conhecimento .................................................................................... 33

2.1.4 Necessidade ...................................................................................... 34

2.1.5 Valores ............................................................................................... 35

2.2 Estratégia como padrão de decisão ............................................................. 44

2.2.1 Tipos de estratégias ........................................................................... 46

2.2.2 A qualidade como estratégia para a competitividade ......................... 49

3 DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO TURISMO E DE UM CLUSTER ........... 52

3.1 Definição de turismo ..................................................................................... 53

3.2 Fatores que influenciam as decisões turísticas ............................................ 54

3.3 Classificação do turismo ............................................................................... 55

3.4 Indústria do turismo ...................................................................................... 57

3.5 Conceitos econômicos .................................................................................. 58

3.6 Implicações econômicas e sociais do turismo .............................................. 59

3.7 Desenvolvimento sustentável e intervenção pública .................................... 61

3.8 Definição de cluster ...................................................................................... 63

3.9 Diferenciação entre clusters e APLS ............................................................ 69

4 METODOLOGIA ................................................................................................... 75

4.1 Construção dos instrumentos de coleta de dados ........................................ 76

5 RESULTADOS ..................................................................................................... 78

5.1 Pesquisa prévia existente ............................................................................. 78

5.2 Descrição e análise das entrevistas ............................................................. 83

5.3 Síntese e conclusão da pesquisa ................................................................. 92

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 96

6.1 Sugestões para trabalhos futuros ................................................................. 99

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 101

APÊNDICE A – Roteiro das perguntas semi Estruturado .................................. 107

ANEXOS ................................................................................................................. 108

Anexo 1 – Imagens Ilustrativas do clusters de saúde em Teresina (PI) .............. 108

Anexo 2 – Parecer consusbistanciado do Comitê de Ética.................................. 111

13

1 INTRODUÇÂO

1.1 Considerações Iniciais

Teresina constitui um centro político e de serviços situado na confluência dos

eixos de circulação que ligam as metrópoles do Nordeste (Salvador, Recife e

Fortaleza) com a capital do estado do Pará, Belém.

Em estudo conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) na Região Nordeste do país hierarquizado sobre a renda das cidades, além

de educação, população e condições de vida, a cidade de Teresina foi classificada

como um dos 24 centros submetropolitanos do país.

No que diz respeito à área de abrangência de prestação de serviços, Teresina

alcança as regiões dos estados do Maranhão, Ceará e Tocantins e ainda parte do

Pará. Sua influência mais direta, além do Piauí, estende-se às regiões de Balsas,

Caxias e Bacabal, no Maranhão.

Os fatores que impulsionam sua economia estão determinados basicamente

por três características da cidade, a saber:

Capital do estado, e, portanto, centro político – administrativo, sediando

instituições de todos os níveis de governo;

Entroncamento rodoviário regional e nacional, que torna a cidade um

importante elo na cadeia de distribuição e comercialização de

mercadorias; e

Submetrópole regional, fornecendo produtos e serviços para sua área de

influência.

O quadro abaixo mostra que a população da cidade vem crescendo em uma

porcentagem maior que a média do estado conforme o comentário discriminado.

Quadro 1 – Teresina: Crescimento da população 1970-2010

Ano Taxa média a. a

1970-1980 5,4

1980-1991 4,4

1991-2000 2,0

2000-2010 2,4

Fonte: IBGE (2013).

14

Conforme verificado no quadro anterior, ao contrário do Piauí, que se

caracteriza como fonte de movimento emigratórios, Teresina ainda se mantém como

receptiva de fluxos populacionais mesmo apresentando um crescimento menos

acentuado do número de habitantes. Entre 1991 e 2000, a população do estado

cresceu a uma taxa média de 1,08% a.a., enquanto a do Brasil cresceu 1,63 % a.a.

Apenas 244,2 mil habitantes são provenientes de outros estados e 786,4 mil naturais

residem fora de seu território.

Quadro 2 – População em 2010 de Teresina, São Luís e Fortaleza

Municípios População 2000-2010% a.a.

Teresina 813.583 2,0

São Luís 1.064.047 2,5

Fortaleza 2.538.234 2,2

Fonte: IBGE, Censo Demográfico (2010).

Como se pode observar acima, no município de Teresina a população

residente cresceu a média de 2% a.a, e na última década, alcançando 813.583

habitantes no ano de 2010, 95% com domicílio urbano. A redução da taxa de

crescimento da população é extremamente benéfica, uma vez que ameniza a

pressão sobre os equipamentos urbanos e sociais, bem como sobre o meio

ambiente e os recursos naturais.

A qualidade de vida do piauiense conferiu ao Estado, em 1996, o mais baixo

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, conforme calculado pelo Instituto

de Pesquisa de Economia Aplicada (Ipea) com metodologia do Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que considera três componentes

básicos: longevidade (expectativa de vida ao nascer), educação (taxa de

alfabetização de adultos e taxa de matrículas) e renda (produto interno per capita).

Entre 1991 e 2010, o Brasil cresceu seu IDHM de 0,493 para 0,727, uma

elevação de 47,8%. No mesmo período, o Piauí elevou seu índice de 0,362 para

0,646, sendo o 24º entre as unidades federativas. O melhor desempenho do Estado

é no índice de longevidade (0,777), seguido de renda (0,635) e educação (0,547).

Municípios

Apenas 40 municípios brasileiros estão com IDHM considerado muito alto

(0,800 a 1). Dos municípios com índice apenas alto (0,700 a 0,799) estão Teresina

(0,751) e Floriano (0,700).

15

No comparativo com as capitais, Teresina aparece na 21ª posição, estando a

frente de Maceió (AL), que obteve IDHM igual a 0,721. Mas o município piauiense

ainda aparece melhor que Belém (PA), que teve IDHM 0,746, e Manaus (AM), com

índice 0,737.

Figura 1 – Índice Desenvolvimento Humano Piauí

Fonte: PNUD / Atlas Brasil

Em sua área de influência, Teresina tem relações de complementariedade

com cidades vizinhas, e compete na atração de investimentos e na oferta de bens e

serviços principalmente com as capitais São Luís e Fortaleza; esta última a maior

das três cidades, com mais de 2,5 milhões de habitantes em 2010, enquanto São

Luís tem 1.069 mil e Teresina 813 mil.

Polarizadora em relação ao estado, Teresina concentra fortemente a atividade

econômica piauiense, abrigando 43% das empresas e 71% das pessoas

empregadas formalmente (IBGE, 1999). Entretanto, algumas outras atividades

começam a surgir em outras áreas do estado, como a agricultura da soja, a criação

de camarões, apicultura, fruticultura e ovinopricultura.

Para articular as ações do poder público na área de influência da capital, em

2001, foi criada a região Integrada de desenvolvimento da grande Teresina,

abrangendo 13 municípios de sua microrregião, acrescido do município de Timon, no

Maranhão, cuja sede forma uma conurbação com a capital do Piauí. Em 2000, a

população residente na Grande Teresina superava um milhão de habitantes, 87,3 %

residindo em áreas urbanas.

Existem diversas questões que necessitam ser enfrentadas

consideravelmente, dentre as quais, o transporte, os problemas ambientais como o

desmatamento, extração mineral predatória, uso descontrolado de agrotóxicos,

16

ocupação de áreas inadequadas; e questões institucionais complexas, entre elas a

do setor de saneamento, referente à concessão e controle de serviços e à cobrança

pelo uso da água e outras.

O Quadro 3 a seguir apresenta Teresina em seu contexto, na visão de seus

administradores públicos, de acordo com uma análise de forças, fraquezas,

oportunidades e ameaças (SWOT – strengths and weaknesses, opportunities and

threats) realizada:

Quadro 3 – Teresina em seu Contexto

Pontos Fortes – A condição de submetrópole regional, situada em importante

entroncamento rodoviário regional e nacional, caracterizada como centro

político, de comércio e serviços para uma grande área de influência nas

regiões Nordeste e Norte do país.

Pontos Fracos – Pobreza da região onde Teresina se insere, com alto grau de

desemprego e informalidade no mercado de trabalho.

Ameaças – Perda de competitividade em relação às cidades concorrentes de

atividades em que Teresina é polo regional.

Oportunidades – Formação de cluster de saúde, com investimentos no setor

e, em especial, nos elos faltantes e incipientes; Turismo de eventos, ligado

principalmente às atividades de saúde e educação; e condição de porta de

entrada para o turismo de negócios e lazer no estado.

Fonte: Prefeitura de Teresina, Agenda 2015.

Pode-se observar a preocupação dos administradores públicos locais, quando

mencionada por eles as oportunidades e ameaças, que o item que mais os preocupa

é a consolidação do polo de saúde da cidade, tanto no que se refere às suas

ameaças como a preocupação da perda de competitividade. Eles vêem também

como grande oportunidade de geração de emprego e renda a consolidação dos

polos em que Teresina é centro de referência, como saúde e educação.

A economia do município de Teresina está fortemente concentrada no setor

terciário, que compreende as atividades de governo, comércio e de prestação de

serviços. Segundo o IBGE (2001), 85% do emprego formal e 92% dos rendimentos

do município foram registrados no setor terciário. O governo tem um peso

excepcionalmente importante, empregando 41% do total e gerando 54% do

17

rendimento da população empregada. Os setores de saúde e educação

correspondem a 7,5% dos empregos formais, totalizando 20,6% dos rendimentos, só

perdendo em número de empregos para o comércio com 18 % dos trabalhadores

formais, com 7% dos rendimentos da população local.

Em Teresina, os pequenos negócios constituem a base empresarial por

excelência, e tem papel econômico muito relevante. Alguns pequenos negócios

competitivos constituem arranjos econômicos, como é o caso do Polo de Saúde. Há

também atividades de expressão regional e geradora de renda para o município no

setor educacional, da moda, na indústria de cerâmica e no turismo de eventos.

O Quadro 4 mostra a importância do Polo de Saúde na cidade, como gerador

de emprego e renda, pois em uma capital de 813 mil habitantes, tem-se ligado a um

só setor de serviços 633 empreendimentos, em sua maioria pequenas e médias

empresas, assunto discutido e detalhado no Capítulo 3.

Quadro 4 – Estabelecimentos no Polo de Saúde por Subárea

Discriminação

I II III Total

Mafuá e Marquês Centro Piçarra e Ilhotas

Hospitais 1 5 2 8

Clínicas 14 163 4 181

Consultórios 36 133 1 170

Laboratórios 3 24 - 27

Bancos de sangue - 1 - 1

Ambulatórios - 1 - 1

Maternidades 1 - 1 2

Atividades Diretas Subtotal 55 327 8 390

Com. Material Méd./Hosp. 2 3 - 5

Escolas de Medicina - 2 - 2

Com. de medicamentos 15 39 7 61

Adm. Planos de Saúde 2 4 - 6

Pensões e Hotéis - 28 9 37

Comércio de Alimentos 23 108 - 131

Unid. De Ass. Social - 1 - 1

Atividades Indiretas 43 185 17 245

Sub Total

TOTAL 97 512 24 633

Fonte: Prefeitura de Teresina, Teresina, Agenda 2015.

O Quadro 4 mostra como o Polo de Saúde em Teresina tem um expressivo

número de atividades diretas e indiretas ligadas ao setor de saúde na cidade.

Observa-se o início do desenvolvimento de um clusters de saúde com a formação de

uma cadeia produtiva e de serviços interligados, proporcionando vários benefícios

em termos de redução de custos, melhoria da qualidade, formação de mão de obra

qualificada, atração de capitais e geração de emprego e renda, que segundo a

18

delegacia regional do trabalho no Piauí são gerados 15 mil empregos diretos na

saúde em Teresina.

Figura 2 – Localização das áreas de concentração de estabelecimentos de saúde

Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina (PMT).

A Área 1 (um) localiza-se na zona norte, onde se destacam o Hospital de

Terapia Intensiva, a Clínica e Maternidade Santa Fé, o Hospital das Clínicas de

Teresina, o Sanatório Meduna, o Hospital Areolino de Abreu e o Hospital Sepam

Ltda.

A Área 2 (dois) localiza-se na zona central da cidade, de maior concentração

de estabelecimentos e convergência de pessoas. Nela encontram-se instalados os

Hospitais Getúlio Vargas, Natan Portela, Infantil Lucídio Portela, São Marcos, Santa

Maria e Clínicas São Lucas, Procardíaco, Itacor, Med Imagem, Lucídio Portela, Max

Imagem, Instituto Lívio Parente, Radimagem, Clinefro, Santa Clara, Centro

Ortopédico de Teresina (COT), Dr. Vilar, Centro de Catarata, Santa Luzia, Centro

Piauiense de Oftalmologia (CPO), Santo Antônio e Unidade de Diagnóstico por

Imagem (UDI) e os Centros Comerciais de Saúde Medical Center e Dirceu

Arcoverde.

A Área 3 (três), localizada na zona Sul, abrange os bairros Ilhotas, Piçarra e

entorno, onde estão implantados os Hospitais da Polícia Militar, Maternidade

Evangelina Rosa, Aliança Casamater, Samiu Ltda e a Clínica Prontocor.

A Área 4 (quatro) abrange os bairros São Cristóvão, Fátima e entorno. A

aglutinação de empresas nessa área é recente, portanto ainda está em fase de

19

expansão como aglomeração de estabelecimentos de saúde. Todavia, é onde estão

instalados os hospitais Universitário e São Paulo e o Espaço Saúde do Teresina

Shopping.

O complexo de saúde instalado no conjunto das áreas, desde o início de

2003, era constituído de 633 instituições, representando 64,1% dos

estabelecimentos do Estado, e 3,6% da Região Nordeste.

Em Teresina estão instaladas duas fábricas de medicamentos e materiais

médico-hospitalares, uma de soros; e outra de máscaras, gorros e aventais.

Outro fator que transformou a capital piauiense em um Centro de Referência

em Saúde foi o desenvolvimento dos recursos humanos em todos os níveis:

superior, técnico, auxiliar e administrativo. Em nível superior são oferecidos os

cursos de Medicina, Odontologia, Enfermagem, Nutrição, Serviço Social,

Fisioterapia, Farmácia, Psicologia, Fonoaudiologia, Tecnologia de Radiologia e

Tecnologia de Alimentos. Em nível médio técnico, as opções são de Auxiliar e

Técnico de Enfermagem, Técnico em Radiologia, Técnico de Higiene Dental e

Atendente de Consultório Odontológico.

Pode-se apontar, porém, pontos fracos específicos levantados pela Prefeitura

de Teresina em um estudo para a melhora dos serviços na área que abrange o Polo

de Saúde: a gestão deficiente da disposição do lixo hospitalar e outros aspectos

relacionados às áreas próximas aos hospitais e clínicas do centro da cidade, quais

sejam, limpeza, vigilância sanitária, pavimentação, saneamento, paisagismo, tráfego,

transporte coletivo, estacionamento, locomoção de deficientes físicos, policiamento e

iluminação pública.

Citados tais aspectos, verifica-se que o setor de saúde representa uma

oportunidade para Teresina, podendo transformá-la em um Centro de Excelência, e,

pela implantação de elos faltantes ou incipientes na cadeia produtiva como exposto

no último parágrafo, para um melhor desenvolvimento do cluster de saúde no

município. Por outro lado, a concorrência externa exercida pelas cidades de

Imperatriz, Fortaleza e Recife representam uma ameaça a ser enfrentada.

1.2 Justificativa

Este trabalho também se justifica para demonstrar como o desenvolvimento

da rede hospitalar e dos demais estabelecimentos de serviços de saúde nos últimos

20

sessenta anos, acompanhado pelo crescimento tecnológico de engenharia médico-

hospitalar, dos recursos humanos em todos os níveis e profissões, quer superior,

técnico, auxiliar e administrativo, possibilitou que Teresina se tornasse um Centro de

Referência em Saúde.

Percebe-se que a capital, com uma população de 813 mil habitantes em

2010, tem uma influência médica e de saúde que alcança, aproximadamente, 5

milhões de habitantes em sete estados, oferecendo opções concretas de

investimento e de desenvolvimento (PREFEITURA DE TERESINA, 2012).

Figura 3 – Condição de Submetrópole Regional, Situada em Importante Entroncamento Rodoviário Regional e Nacional

Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina (PMT).

Como Centro de Referência em Saúde, apresenta-se com as seguintes

características: 15 mil empregos diretos; movimentação em torno de R$ 120

milhões/mês; atendimento à aproximadamente 48.924 pacientes de outros estados

(jan./out. 2010); representa 5,5% do PIB de Teresina; 633 empresas distribuídas nos

setores de saúde e turismo, entre elas: clínicas, hospitais, laboratórios, ambulatórios,

pensões, hotéis. Além disso, a rede hospitalar tanto pública como privada conta com

as mais diversas especialidades.

Por essas características, para Teresina se deslocam pessoas vindas de

diversos Estados do Norte e Nordeste em busca de serviços de saúde, chegando a

representar 40% do atendimento médico dos hospitais públicos da capital.

21

Este trabalho se justifica pelo fato de estudos sobre projeto e

desenvolvimento de serviços (intangíveis) serem bem mais recentes do que os

estudos semelhantes relativos a bens (tangíveis), mesmo considerando que o

projeto e a produção de um bem envolvem a prestação de um serviço (por exemplo,

quando se projeta, produz-se e vende-se um carro; a assistência técnica oferecida

pelas concessionárias é um serviço que completa o pacote deste produto) e que o

projeto e consumo de um serviço podem envolver a entrega de um produto (por

exemplo, durante a prestação de um serviço de viagem aérea, a comissão de bordo

serve refeições e bebidas aos clientes). Durante muitos anos a preocupação em se

tratando de projeto e desenvolvimento era com bens tangíveis, sendo que em

relação aos serviços este tema demorou a ser estudado. Bitran Pedrosa (1998, p.

94) complementa esta ideia ao afirmar que apesar de produtos e serviços possuírem

elementos tangíveis e intangíveis, a maioria da literatura sobre o desenvolvimento de

produtos lida, principalmente, com as características tangíveis de ambos. De acordo

com Kelly e Storey (2000, p. 97), a literatura sobre inovação e administração indica

que o desenvolvimento de um novo serviço (intangível) é diferente do

desenvolvimento de um produto (tangível) devido às características de

intangibilidade, heterogeneidade e simultaneidade dos serviços. Essas

características podem indicar que as estratégias de iniciação empregadas pelas

organizações prestadoras de serviços poderiam diferir de alguma forma daquelas

adotadas pelos projetistas de produtos (tangíveis).

Desta forma, as estratégias de iniciação, para fins desta pesquisa, podem ser

definidas como os métodos e abordagens adotadas pelas organizações prestadoras

de serviço para gerar e selecionar ideias para o projeto e desenvolvimento de novos

trabalhos. A pesquisa está particularmente interessada no grau em que essas

estratégias apoiam o processo geral de desenvolvimento dessas novas demandas.

Essa é uma tendência crescente da cidade de Teresina, sobretudo pela

excelente qualidade dos serviços prestados pelos profissionais de saúde. Hoje são

feitas cirurgias cardíacas, transplantes de órgãos a cirurgias neurológicas, entre

outras.

Pelos motivos elencados evidencia-se como este trabalho como melhorar

pontos estratégicos em um cluster de saúde na grande Teresina, almejando se

tornar uma referência local.

22

1.3 Hipótese

É possível viabilizar com sucesso a construção de um polo de saúde regional,

tendo como uma base o empreendedorismo dos agentes envolvidos.

1.4 Questão norteadora

Diante de condições adversas caracterizadas por baixos resultados de

indicadores sociais, como renda per capita e alfabetização, em uma cidade como

Teresina, de que forma as variáveis que norteiam o perfil empreendedor contribuem

para a qualidade da oferta de serviços de saúde?

1.5 Objetivos do trabalho

1.5.1 Objetivo geral

Analisar o papel do empreendedorismo e sua influência na qualidade da

oferta de serviços de saúde no município de Teresina, visando fornecer

subsídios para o aprimoramento do processo de atendimento das

necessidades da sociedade.

1.5.2 Objetivos específicos

Analisar o impacto do perfil do profissional de saúde para a composição

do cluster.

Avaliar os aspectos inerentes à evolução da oferta de serviços de saúde.

Discutir a existência de infraestrutura para o fortalecimento do turismo de

saúde.

Oferecer subsídios para a formação de outros pólos de saúde em

desenvolvimento em lugares estratégicos no Brasil.

1.6 Metodologia

A metodologia aplicada neste trabalho tem caráter exploratório, como

explicitado no Capítulo 4. Configurou-se primeiramente uma pesquisa bibliográfica

23

onde foram abordados temas e assuntos que influenciam direta ou indiretamente

quando o objetivo é identificar e analisar os principais itens influenciadores na

formação do perfil empreendedor e na formação de um cluster de serviços a serem

ofertados a uma determinada população.

Em seguida, foi proposta uma metodologia ideal para a identificação das

características empreendedoras de um cluster.

Posteriormente, aplicou-se esta metodologia na prática em uma pesquisa de

campo nas atividades diretas, em hospitais, consultórios, clínicas e laboratórios; bem

como nas atividades indiretas, como uma escola de medicina, hotéis e pensões da

cidade que hospedam os pacientes em trânsito de outras cidades. Deve-se ressaltar

que foram analisadas diversas situações macro e microeconômicas, bem como suas

variações, identificando-se a situação mais apropriada para o bom funcionamento do

polo de saúde.

1.7 Delimitação do estudo

No decorrer do desenvolvimento da pesquisa buscou-se fontes em obras

nacionais e internacionais e artigos publicados para resultar em objetivos mais

claros. Acredita-se que esta tese contribui para a consolidação do

empreendedorismo identificação de um cluster no Brasil.

Porém, o limite adotado ocorreu em vista de o foco a ser estudado, ou seja, o

empreendedorismo no cluster de saúde; por uma dimensão espacial definida a partir

dos limites do polo de saúde de Teresina, e por uma limitação temporal

compreendendo o período de 1998 até a atualidade, tendo em vista que, a partir

deste ano, se observa o crescimento acentuado do cluster em questão.

1.8 Estrutura do trabalho

Este trabalho foi estruturado com o Capítulo 1 com suas considerações

iniciais, justificativa, hipótese, questão norteadora, objetivos, um resumo da

metodologia e delimitação do estudo.

No Capítulo 2 abordou-se a revisão da literatura, onde foi enfatizado

primeiramente o empreendedorismo e cluster de forma genérica, enfocando

principalmente os conceitos de diversos autores, bem como suas características,

24

vantagens e desvantagens para a atuação em cada mercado existente.

Posteriormente abordou-se a estratégia de negócios, destacando-se os principais

aspectos relevantes e que influenciam direta ou indiretamente para a decisão de um

empreendedor e que devem ser considerados quando da abertura ou

desenvolvimento de um empresa. Enfocou-se em seguida os métodos existentes e

mais utilizados para a formação da decisão estratégica, contando com o aporte dos

principais conceitos de diversos autores, características e benefícios pertinentes a

cada método. Em seguida relatou-se as principais características e o perfil do

empreendedor, o qual foi ponto de partida para atingir o objetivo do trabalho.

No Capítulo 3 foi descrita a definição e as características de turismo por

diversos autores e suas classificações, e por final, a definição de cluster, enfocando

suas características e benefícios para uma determinada região.

Esses dois capítulos elencados por último foram de fundamental importância

para fornecer ao pesquisador o embasamento teórico para melhor poder organizar

sua pesquisa, e posteriormente, a discussão dos resultados obtidos.

O Capítulo 4 refere-se à proposta do trabalho onde destaca-se a metodologia

utilizada para a identificação do perfil empreendedor partindo-se da metodologia de

Lezana (1996). Neste capítulo foi feito primeiramente uma análise de como se

processa a formação do perfil e as características empreendedoras dentro das

organizações. Também analisamos quais as suas principais deficiências e

carências, sendo posteriormente feita a proposta destacando os principais passos

que devem ser observados para que se visualize amplamente esse perfil e suas

características.

Em seguida analisou-se os dados levantados na pesquisa de campo,

realizada em 15 atividades diretas, e quatro atividades indiretas de saúde,

identificando-se e analisando-se seus empreendedores, suas características e seus

posicionamentos sobre a composição de um cluster de saúde na cidade e seus

conceitos sobre a importância do turismo de saúde. Buscou-se, enfim, perceber tudo

o que relaciona-se diretamente com o empreendedorismo, bem como a análise

mercadológica e as estratégias adotadas pelos empreendedores e o governo local

em relação ao assunto em pauta.

As considerações finais estudo permitiram que os objetivos fossem atingidos,

terminando com algumas sugestões que são consideradas importantes para futuros

trabalhos que poderão ser desenvolvidos nesta área que ainda tem muito para ser

25

explorada com o intuito de tornar a cidade de Teresina e seus empreendedores mais

fortes e competitivos no mercado em que atuam.

26

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Empreendedorismo

A palavra empreendedor é de origem francesa e significa aquele que assume

riscos e começa algo novo. Marco Polo pode ser citado como um primeiro exemplo

de empreendedor por buscar estabelecer uma rota comercial para o Oriente, em

uma época onde empreender era assumir o papel ativo de correr riscos físicos e

emocionais. Já na Idade Média, pessoas com essas características não assumiam

grandes riscos, apenas gerenciavam projetos utilizando os recursos disponíveis.

Richard Cantillon, no século XVII, foi considerado um dos criadores do termo

empreendedorismo, diferenciando o empreendedor, daquele que assumia riscos, do

capitalista, aquele que fornecia o capital. No século XVIII, capitalista e

empreendedor finalmente foram diferenciados, e no séculos XIX e XX, as pessoas

que empreendem, que assumem riscos, foram confundidas com gerentes e

administradores, fato este que ainda ocorre nos dias atuais.

Uma das definições mais completas e clássicas sobre empreendedorismo é

de Schumpeter que afirma:

O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais, ou seja, o empreendedor é visionário, tem habilidade para implementar os seus sonhos, tomar a decisão certa na hora certa e implementar suas ações rapidamente. (1949, p. 23).

O empreendedor, pelo exposto acima, é uma pessoa dinâmica e visionária,

que nunca está satisfeita com o que já existe, e tem que buscar sempre melhores

alternativas para futuras ações para si ou para a empresa.

Vivemos numa época em que ser empreendedor é quase uma obrigação, pois

a sociedade moderna exige de cada um, novas ideias planejadas estrategicamente,

sendo a capacidade das pessoas em seus respectivos lugares de implementar

essas ideias de extrema importância para o sucesso de novos empreendimentos.

Como afirma Dornelas, “o empreendedor é aquele que faz as coisas

acontecerem, se antecipa aos fatos e tem uma visão futura da organização” (2007,

p. 27).

27

Podemos afirmar com a citação acima descrita, que os profissionais de

saúde, que têm visão empreendedora, têm mais chances de crescer no mercado de

trabalho, e a sociedade tem dado sinais de que é preciso saber empreender. De

fato, há algum tempo, para os profissionais das ciências de saúde, o que se

vislumbrava era estudar e fazer carreira em uma empresa, uma faculdade ou mesmo

em um hospital. Hoje o quadro é diferente e é necessário refletir sobre as tendências

atuais e o que pode acontecer no futuro tendo uma visão estratégica do negócio,

sabendo interpretar o ambiente para detectar oportunidades.

A formação dos profissionais de saúde é ainda muito voltada aos

conhecimentos acadêmicos e não há, na maioria das faculdades, uma formação

para que esses alunos aprendam a ser empreendedores. Tanto a Fonoaudiologia

quanto a Medicina, assim como outras áreas da saúde, ainda são vistas como

dons/sacerdócios que exigem habilidades como paciência, afetividade e gosto por

crianças, mas nada é dito sobre as habilidades de se compreender o mercado de

trabalho, traçar estratégias de marketing ou se ter um perfil empreendedor.

Fernando Dolabela, em seu livro O segredo de Luísa, fornece uma definição

bem abrangente do que é o empreendedorismo, afirmando que:

Os empreendedores são pessoas diferenciadas, que possuem motivação singular, apaixonadas pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidas e admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado. Uma vez que os empreendedores estão revolucionando o mundo, seu comportamento e o próprio processo empreendedor devem ser estudados e entendidos. (2008).

Como se pode observar pelo exposto acima, o empreendedorismo deve ser

estudado não só como um simples fenômeno de características transitórias, mas

também de características efetivas, pois a economia mundial está cada vez mais em

busca de pessoas dinâmicas, ágeis e com iniciativa, não só para abertura de uma

empresa, mas também para suas tarefas diárias.

Pode-se dizer que o momento atual é definido pela era do

empreendedorismo, pois é ele que está eliminado as barreiras comerciais e

culturais, encurtando distâncias, globalizando e renovando conceitos, criando novas

relações de trabalho e criando formas de como ele é realizado, quebrando

paradigmas e gerando renda para uma sociedade como a teresinense, e

28

contribuindo para uma melhor qualidade de vida. Schumpeter (1934, p. 69), associa

o empreendedor ao desenvolvimento econômico, à inovação e ao aproveitamento

de oportunidades em negócios. Rodrigues afirma que:

Na perspectiva schumpteriana, o empreendedor traz a ideia de liberdade e criatividade, tendo como função primordial reforçar e revolucionar o sistema de produção e distribuição de bens e serviços, explorando um invento ou uma possibilidade técnica não experimentada, revelando uma capacidade para inovar. (1996, p. 81).

Verificou-se que o empreendedor se caracteriza por estar no mercado não

para ser mais um, e sim para ser diferenciado e tentar revolucionar com novos

métodos de trabalho, o que já existe, com isso ganhando tempo e dinheiro com suas

atitudes empreendedoras.

No empreendedorismo, as ideias surgem diariamente, tornando-se necessário

saber desenvolvê-las e implementá-las para criar um negócio de sucesso. Aplicado

à área médica e, de acordo com cada especialidade, surge uma variedade de

oportunidades que poderão ser exploradas desde que esses profissionais procurem

se especializar no assunto ou no ramo de atividade em que a oportunidade está

inserida. Identificar e aproveitar tal oportunidade é a grande virtude do

empreendedor bem sucedido. De acordo com Shuartz:

O conhecimento do ramo que o empresário ou empreendedor pretende atuar é fator primordial para o sucesso do negócio. Se você tem grande experiência no setor, ótimo. Se não tiver é preciso apreender, o que pode ser feito pela leitura de livros e revistas especializadas, em centros de tecnologia, em cursos e mesmo em conversas com outros empresários ou empreendedores. (1949, p. 19).

Como se pode verificar, o sucesso do empreendimento, seja ele qual for,

dependerá primordialmente da experiência anterior de seus gestores, mas isso não

é uma visão futura do fracasso do empreendimento, pois hoje, tem-se vários centros

de aperfeiçoamento como universidades, centros tecnológicos e instituições como o

Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae) que estão

capacitados a fornecer uma formação teórica a um empreendedor que deseja

trabalhar em uma área em que nunca atuou mas, visualizou um nicho de mercado e

como consequência uma oportunidade de sucesso.

29

A seguir tem-se um conceito mais abrangente de empreendedorismo que

envolve todas as variáveis de um negócio que servirá de aporte teórico ao trabalho

sobre a palavra empreendedorismo.

Porto de Ameida; Morioka; Breternitz (2010, p. 4) apresentam um painel sobre

o empreendedorismo ressaltando que um dos primeiros autores a se preocupar

especificamente com esse assunto foi Robert Cole, que definiu o comportamento

empreendedor como atividade voltada a propósitos, composta por um indivíduo ou

um grupo associado de indivíduos comprometidos em iniciar, manter ou expandir

uma unidade de negócio, orientada para o lucro, produção ou para distribuição de

bens e serviços com o atingimento e medida do sucesso, em interação com a

situação interna da unidade e com circunstâncias econômicas, políticas e sociais,

em um ambiente que permita uma apreciável medida de liberdade de decisão

estratégica. O ambiente refere-se a um mercado competitivo, pois segundo Cole, um

ambiente de monopólio não é empreendedorial.

Em uma outra definição, Carlton indica que empreendedorismo “é a busca por

oportunidades descontínuas envolvendo a criação de uma organização (ou sub-

organização) com expectativa de criação de valor a seus participantes através de um

planejamento estratégico inicial” (1998, p. 25).

De fato, é difícil encontrarmos uma única e precisa forma de explicar o que é

empreendedorismo. Ainda citado pelos autores, Anderson define que “embora possa

não haver consenso na sua exata definição, o que não pode ser negado é o poder

econômico do empreendedorismo e sua contribuição ao inspirar indivíduos criativos

na busca de oportunidades e na disposição de assumir riscos” (1994, p. 32).

Como se vê exposto acima, os próprios autores ainda divergem entre si sobre

uma definição exata da palavra empreendedorismo, aonde verificamos que todos

têm um consenso que uma pessoa ou um grupo de pessoas é um empreendedor

quando arrisca-se em um novo negócio em busca de outros horizontes e

oportunidades novas para si e suas organizações, trazendo com isso renda, novas

tecnologias e emprego para uma determinada sociedade.

2.1.1 Perfil e característica dos empreendedores

Devido à imensa variedade de aspectos que envolvem a pessoa do

empreendedor e sua relação com a empresa, pode-se afirmar que não existe um

protótipo de empreendedor ou de personalidade empreendedora.

30

Entretanto, a partir de pesquisas realizadas por diversos autores, como será

citado posteriormente, torna-se evidente que os empreendedores de sucesso

possuem algumas características comuns. Nesta seção, são apresentadas algumas

delas levantadas por estudos desenvolvidos na área.

Os estudos sobre empreendedores têm sido direcionado por três caminhos.

Primeiramente, pela contribuição econômica gerada através da criação de novas

empresas por estes indivíduos; pela identificação de características de

personalidade comuns aos empreendedores; e, por último, pela diferenciação entre

os atributos natos e os desenvolvidos através de treinamentos ou pela experiência

com negócios.

É possível encontrar uma definição de empreendedor a partir da concepção

de diferentes autores. Alguns mais contemporâneos abordam prioritariamente

aspectos comportamentais, e outros, que desenvolveram seus estudos ainda no

início do século passado, enfatizam a questão do lucro.

Segundo Deakins (2006, p. 88), o termo empreendedor teve sua origem na

França e, em uma tradução literal, significa alguém que se sobressai na sociedade,

conforme destacado anteriormente.

Adam Smith (1937, p. 14) definiu o empreendedor como um proprietário

capitalista, um fornecedor de capital e, ao mesmo tempo, um administrador que

interpõe-se entre o trabalhador e o consumidor.

Para Peter Drucker, os empreendedores são indivíduos inovadores. “A

inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles

exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio ou serviço diferente”

(1987, p. 25). Segundo Demac:

o empreendedor tende a ser um indivíduo independente e autônomo. Sente a necessidade de ser seu próprio patrão, porque é difícil submeter-se a modelos e procedimentos rígidos, tem certa aversão a estrutura hierárquica. Experimenta uma grande necessidade de realizar-se, isto é, de afirmar-se, de vencer os obstáculos, de romper o círculo da rotina, de alcançar objetivos com seu próprio esforço. Por este motivo, pode se dedicar por conta própria a resolver um problema. Sem dúvida reconhece a necessidade de buscar ajuda exterior. (1990, p. 10).

Na visão de Amit, os empreendedores podem ser definidos como: “indivíduos

que inovam, identificam e criam oportunidades de negócios, montam e coordenam

novas combinações de recursos (funções de produção), para extrair os melhores

benefícios de suas inovações” (2009, p. 86).

31

Baty (2008) apresenta uma evolução da concepção de empreendedor perante

a sociedade: nos anos 1980, ele ainda era considerado como uma pessoa

desajustada, um lunático atrás de benefícios. Hoje, ele é visto como alguém que fez

uma escolha de carreira, tanto nas universidades, como na sociedade como um

todo.

Como já destacado, podemos verificar com essas novas citações descritas,

que ainda não temos uma definição única da palavra empreendedor. Podemos,

então, perceber a importância de novos trabalhos nesta área afim de enriquecer a

literatura em voga.

Para fins deste estudo, utiliza-se uma concepção de empreendedor ligada à

criação e desenvolvimento de uma empresa. Embora possa haver pessoas

empreendedoras que ocupem cargos em organizações, as características descritas

a seguir dizem respeito àqueles que possuem suas próprias empresas ou trabalham

nelas.

Como já exposto, dificilmente consegue-se afirmar com precisão quais são as

características comuns a todo empreendedor. Neste estudo, parte-se da premissa

de que as características de personalidade que determinam o comportamento dos

indivíduos são habilidades, conhecimentos, necessidades e os valores.

Para um melhor entendimento dessas características, apresenta-se a seguir

uma descrição do que elas representam.

2.1.2 Habilidades

As habilidades correspondem à facilidade para utilizar as capacidades físicas

e intelectuais. São trechos e partes do comportamento adaptativo, que se tornam

integrados em sequências e padrões de realização, executados corretamente e que,

geralmente, apresentam uma padronização temporal sistemática e flexível

(RODRIGUES, 1992).

Segundo o autor, quando se desenvolve uma habilidade, acrescenta-se

alguma coisa nova a novos trechos da estratégia e de partes do comportamento.

Embora uma habilidade seja composta de reações condicionadas, memorizações e

respostas selecionadas, cada uma delas, quando integrada, adquire características

próprias e inconfundíveis.

Katz emrpega o termo habilitação como sinônimo de habilidade e o conceitua

como: “o termo habilitação implica na capacidade que pode ser desenvolvida, e não

32

necessariamente inata, que se manifesta no desempenho e não apenas em

potencial” (1986, p. 122).

O autor nos quer mostrar com essa afirmação que as habilidades podem ser

desenvolvidas em uma pessoa empreendedora através de uma capacitação técnica

direcionada a seus objetivos.

A partir desta conceituação, o autor apresenta três habilitações básicas

direcionadas a um bom desempenho gerencial:

Habilitação técnica: consiste na compreensão e proficiência num

determinado tipo de atividade, especialmente naquela que envolva

métodos, processos e procedimentos ou técnicas;

Habilitação humana: é a facilidade para trabalhar como integrante de um

grupo e de realizar um esforço conjunto com os demais componentes na

equipe; e

Habilitação conceitual: é a forma como se compreende e reage ao sentido

em que os negócios devem desenvolver-se, os objetivos e políticas da

empresa etc.

Embora as três sejam importantes em qualquer nível administrativo, as

aptidões técnica, humana e conceitual do administrador variam em importância

relativa em diferentes níveis de responsabilidade.

Como se pode perceber, as habilidades humanas são necessárias nos três

níveis e as conceituais aumentam conforme se eleva o nível administrativo, ao passo

que as técnicas vão se tornando menos necessárias.

McClelland apresenta uma boa descrição da aplicação da habilidade humana

por parte de gerentes e que pode ser direcionada para o estudo dos

empreendedores, ao afirmar que:

Quase que por definição, um bom gerente é aquele que, entre outras coisas, ajuda seus subordinados a se sentirem fortes e responsáveis, que os gratifica oportunamente por bom desempenho e que zela para que as coisas sejam organizadas de tal forma que os subordinados sintam que sabem o que devem estar fazendo. Acima de tudo, os gerentes devem criar entre os subordinados um sólido espírito de equipe, de orgulho em trabalhar como parte de uma determinada equipe. Se um gerente cria e estimula este espírito, seus subordinados certamente apresentarão um melhor desempenho. (2009, p. 11).

33

Podemos, com a afirmação acima descrita, entender que uma das habilidades

mais importantes é a humana, pois uma das coisas mais difíceis hoje em dia é lidar

com pessoas em um ambiente de trabalho agradável e ordenado, coordenado por

um administrador com habilidade centrada nos objetivos da empresa. Como

consequência teremos uma melhor produtividade na organização.

O desenvolvimento de habilidades depende da capacidade individual de

alguns autores de acreditar que ela é determinada geneticamente. Desta forma, um

indivíduo só desenvolve as habilidades até o limite que sua capacidade possibilita.

Piaget (1996, p. 306), um dos grandes estudiosos da temática, compartilha a

ideia de que cada indivíduo nasce com uma determinada capacidade e só vai

desenvolver as habilidades que seu poder de assimilação permitir. O autor considera

a inteligência como um produto da maturidade biológica do ser humano combinada

com sua interação ao ambiente, e se a criança não atingiu a estrutura de

desenvolvimento mental, não adianta estudar porque não vai aprender.

Outros autores como Reuven, defendem a ideia de que se pode desenvolver

não só as habilidades, mas também a capacidade.

Reuven (apud VITÓRIA, 2012) discípulo de Piaget, discorda da sua teoria, e

desenvolveu um método chamado Programa de Enriquecimento Instrumental, que

parte do princípio de que a inteligência se aprende. Na sua visão, qualquer indivíduo

pode aumentar sua capacidade intelectual (potencial de inteligência) e até crianças

deficientes são capazes de se tornarem normais.

Independentemente da discussão sobre a possibilidade de se desenvolver a

capacidade intelectual, acredita-se que as habilidades podem facilmente se

desenvolver através de diversas formas, como em um programa de capacitação.

2.1.3 Conhecimento

O conhecimento representa aquilo que as pessoas sabem a respeito de si

mesmas e do que as rodeia, sendo profundamente influenciado por seu ambiente

físico e social, por sua estrutura e processos fisiológicos, por suas necessidades e

experiências anteriores (CHIAVENATO, 1994).

Inclui-se neste grupo a experiência, que é o conhecimento estruturado através

da observação e da prática, que constituem um conjunto resultante de processos

organizados de aprendizagem, que ocorrem através do tempo sob determinadas

condições, proporcionando o surgimento de novas estruturas cognitivas e

34

emocionais, que não existiam anteriormente, provocando deste modo, modificações

no comportamento do indivíduo (LEZANA, 2010).

Piaget faz uma distinção entre três formas de conhecimento:

Em primeiro lugar, há uma imensa categoria dos conhecimentos adquiridos graças à experiência física em todas as suas formas, isto é, a experiência dos objetos e de suas relações, mas com abstração a partir dos objetos como tais. Vê-se imediatamente que se trata neste caso, da extensão indefinida das condutas de aprendizagem ou de inteligência prática, porém com todos os tipos de novidades que devem ser explicadas. Em segundo lugar, há a categoria, notavelmente estreita, e mesmo de extensão real muito discutível, dos conhecimentos estruturados por uma programação hereditária, como é talvez o caso de certas estruturas perceptivas (visão das cores, duas ou três dimensões de espaço etc). O caráter restrito dessa segunda categoria levanta imediatamente um grande problema biológico pelo contraste com a riqueza dos instintos dos animais. Em terceiro lugar, há a categoria, pelo menos tão extensa quanto a primeira, dos conhecimentos lógico-matemáticos, que se tornam rapidamente independentes da experiência e que, se no início procedem dela, não parecem tirados dos objetos como tais, mas das coordenações gerais das ações exercidas pelo sujeito sobre os objetos. (1996, p. 306)

Podemos concluir após a citação acima, quanto à aquisição de conhecimento,

que é necessário esclarecer que os seres humanos não aprendem da mesma

maneira. Tanto fatores fisiológicos como sociais direcionam o estilo de

aprendizagem individual.

A partir da conceituação desta característica e das formas existentes de

conhecimento pode-se perceber sua importância no comportamento das pessoas.

Todos os atos são determinados entre outros fatores, pelo conhecimento, e este,

pela sua própria definição é adquirido.

2.1.4 Necessidade

A necessidade representa um déficit ou a manifestação de um desequilíbrio

interno do indivíduo, podendo ser satisfeita, frustrada (permanece no organismo) ou

compensada (transferida para outro objeto). Surge quando se rompe o estado de

equilíbrio do organismo, causando um estado de tensão, insatisfação, desconforto e

desequilíbrio.

Abrahan Maslow (1987) classifica as necessidades humanas em primárias

(fisiológicas e de segurança) e secundárias (sociais, de estima e autorrealização).

35

Essas necessidades costumam ser representadas em uma pirâmide, conforme a

Figura 4.

As necessidades fisiológicas são as necessidades humanas básicas para a

própria subsistência, isto é, alimento, sono, higiene.

As de segurança são essencialmente a necessidade de estar livre de perigos,

em outras palavras, constitui-se na auto-preservação.

A social consiste na necessidade de se pertencer a vários grupos e de ser

aceito por estes.

A de autoestima envolve tanto a auto-estima como a necessidade de

reconhecimento por parte dos outros. A obtenção desses dois itens ao mesmo

tempo produz sentimentos de confiança em si mesmo, de prestígio, de poder e de

controle.

A escala de autorrealização culmina com a necessidade que as pessoas

sentem de maximizar seu próprio potencial, seja ele qual for. É o desejo de tornar-se

aquilo de que se é capaz.

Figura 4 – Pirâmide da Necessidades de Maslow

Fonte: Administração Geral, Chiavenato (2010).

2.1.5 Valores

Os valores são entendidos como um conjunto de crenças, preferências,

aversões, predisposições internas e julgamentos que caracterizam a visão de mundo

de um indivíduo. Constituem-se em um dos aspectos que mais contribuem para o

desenvolvimento das características individuais (EMPINOTTI, 2010).

36

Katz, ao estudar a questão da capacitação de administradores, faz uma

referência em relação aos valores, destacando, que:

Uma parte importante do processo é o autoexame quanto aos seus próprios conceitos e valores, que pode capacitá-lo a desenvolver conceitos mais úteis a seu respeito e acerca dos outros. Com a mudança de atitude, espera-se que também ocorra um aprimoramento no trato com problemas humanos. (2004, p. 82).

Como podemos verificar na citação acima, as pessoas que administram uma

organização, em certos momentos têm que parar e fazer uma autoavaliação de seus

conceitos sobre determinadas situações e avaliar se esses conceitos ainda são

válidos para o momento atual, se não aprimorar esses conceitos para a atualidade

em que vivemos para a própria existência da organização.

Direcionando as quatro características acima descritas para o estudo dos

empreendedores apresenta-se a seguir, no Quadro 5, o resultado de algumas

pesquisas realizadas por diferentes autores. Estes estudos demonstram eles

possuem necessidades, habilidades, valores e conhecimentos comuns

independentemente da situação geográfica, política, social e econômica.

Quadro 5 – Características Dos Empreendedores na Ótica de Diversos Autores

CARACTERÍSTICA ESPECIFICAÇÃO REFERÊNCIA

Necessidades

Aprovação Birley & Westhead

Independência (1992)

Desenvolvimento pessoal

Segurança

Autorrealização

Conhecimento

Aspectos técnicos relacionados com o negócio

Lezana (1995)

Experiência na área comercial

Escolaridade

Experiência em empresas

Formação complementar

Vivência com situações novas

Habilidades

Identificação de novas oportunidades

Ray (1993)

Valoração de oportunidades e pensamento criativo

Comunicação persuasiva

Negociação

Aquisição de informações

Resolução de problemas

Valores

Existenciais

Empinotti (2010)

Estéticos

Intelectuais

Morais

Religiosos

Fonte: Lezana (2010).

37

Em um estudo desenvolvido por Longen (1997), as características dos

empreendedores foram utilizadas como referencial para a realização de uma

pesquisa no Estado de Santa Catarina, com objetivo de verificar a influência das

características dos empreendedores no êxito das empresas.

Foram entrevistados 600 empreendedores dos ramos moveleiro e têxtil, dos

quais 300 não têm mais a empresa e 300 ainda a mantêm em funcionamento.

Longen constatou que algumas das características “são importantes na hora

de abrir uma empresa, porém não são suficientes para obter o êxito do

empreendimento” (1997, p. 103).

Como citado, ter uma única característica forte como valores pessoais não

habilita esse empreendedor a dizer que vai ter o sucesso garantido de seu negócio

por muito tempo. A constante melhoria dos seus pontos fracos e até de seus pontos

fortes vai ajudar a diminuir o grau de insucesso de seu negócio.

As características dos empreendedores da pesquisa acima descrita que se

apresentaram mais significativas foram: independência/autonomia, poder/status,

segurança, inovação, organização, identificação de novas oportunidades,

flexibilidade, criatividade, controle racional dos impulsos, ambição, disposição ao

risco e perseverança.

As necessidades dos empreendedores são descritas a partir dos estudos

desenvolvidos por Birley e Westhead (1992). Segundo estes autores, as

necessidades mais comuns entre os empreendedores são as descritas no Quadro 5,

e serão conceituadas a seguir:

Necessidade de aprovação: envolve aspectos como a possibilidade de se

alcançar uma alta posição na sociedade, ser respeitado por amigos e ser

reconhecido por suas conquistas. Praticamente todas as pessoas

possuem necessidade de aprovação, sendo que em algumas, esta

característica é mais evidente. No caso do empreendedor, o sucesso da

empresa constitui-se em uma forma de satisfação desta necessidade, a

partir da aprovação pela sociedade;

Necessidade de independência: o empreendedor necessita de liberdade

para trabalhar, para controlar o seu tempo e construir sua vida do modo

que lhe convém. Esta necessidade pode evidenciar uma certa dificuldade

na obediência de regras e normas impostas por outras pessoas.

Caracteriza também a questão financeira, sendo que a independência

38

depende do retorno do investimento feito pelo empreendedor. Apesar de

importante em um certo nível, esta necessidade geralmente não é

satisfeita nos primeiros anos de existência da empresa. Ao invés do

empreendedor dedicar algum tempo para obter um retorno financeiro

ideal, ele necessitará de abdicar de algumas despesas pessoais, pois no

início, toda empresa precisa de investimento pessoal e financeiro;

Necessidade de desenvolvimento pessoal: significa uma busca constante

por novos conhecimentos, habilidades e também por modificações

comportamentais. Esta necessidade é facilmente identificável em

indivíduos que estão sempre buscando experiências novas em suas

vidas, seja mudando de emprego ou através de hobbies, viagens, leitura

etc. Em geral, tal necessidade se apresenta em maior grau em pessoas

bem informadas e com amplos conhecimentos gerais;

A evolução da empresa exige modificações do comportamento

desafiando o empreendedor a se aperfeiçoar conforme a etapa de

desenvolvimento que ela se encontra. Cada fase exige diferentes

habilidades e conhecimentos e o empreendedor deve buscá-las com o

intuito de alcançar o sucesso pessoal e organizacional;

Necessidade de segurança: consiste na necessidade de proteger-se de

perigos físicos ou psicológicos, reais ou imaginários (Lezana, 1996).

Relaciona-se com a autopreservação, envolvendo a questão financeira.

Um bom emprego ou, no caso dos empreendedores, o sucesso da própria

empresa, são os principais responsáveis pela satisfação desta

necessidade; e

O poder que a empresa proporciona ao empreendedor pode ser outra

forma de manifestação da necessidade de segurança.

Sobre a necessidade de autorrealização, Corrêa afirma que:

os indivíduos, quando movidos pela necessidade de realização, buscam objetivos que envolvem atividades desafiantes. Preocupam-se em realizar suas atividades da melhor maneira possível, o que nem sempre é determinado pelas prováveis recompensas em prestígio e dinheiro. Assim, pessoas movidas pela necessidade de realização procuram constantemente, aperfeiçoar seus desempenhos e realizações, gostam de resolver situações que signifiquem desafios à sua capacidade, sentindo-se recompensadas intimamente quando obtêm sucesso. (1995, p. 151).

39

Esta característica foi descrita também por David McClelland (1987), que a

identificou em empreendedores bem-sucedidos, na década de 1960.

É importante ressaltar que o empreendedor tem na empresa um instrumento

para satisfazer suas necessidades, e caso não atinja o seu objetivo, obterá seu

próprio fracasso. Como efeito, caso a satisfação das suas necessidades através do

exercício empresarial sejam frustradas, não haverá motivo para que ele busque o

sucesso.

Os conhecimentos e a competência dos empreendedores destacada pelas

variáveis do Quadro 5 foram descritos por Lezana (2010) em estudos desenvolvidos

na área. A seguir, apresenta-se as conceituações dos tipos de conhecimento,

elaboradas a partir da concepção deste autor.

Conhecimentos técnicos relacionados com o negócio – estão

inseridos neste grupo, os conhecimentos sobre produto, qualidade,

controle do processo de fabricação, entre outros;

Experiência na área comercial – envolve informações sobre definição

de novos produtos, publicidade, pesquisa de mercado, distribuição do

produto etc. Com a atual tendência de atendimento direcionado às

necessidades do cliente, os conhecimentos nesta área passam a ser cada

vez mais valorizados; e

Escolaridade – refere-se aos conhecimentos adquiridos no sistema

formal de ensino. Lezana afirma que:

O empreendedor deve possuir um nível mínimo de escolaridade, que lhe possibilite lidar de modo satisfatório com as pessoas. Por outro lado, uma elevada auto-suficiência pode surgir a partir de sua instrução e prejudicar seu trabalho. Isto não significa que conhecimentos demais prejudiquem. É necessário dosá-los e utilizá-los de forma equilibrada. (2010, p. 42).

Além do equilíbrio na quantidade de conhecimentos, é importante observar a

qualificação dos empreendedores que devem possuir uma certa escolaridade para

cada tipo de negócio, ou seja, seu conhecimento deve ser direcionado à área em

que atuam.

40

Experiência em empresas – este item é bastante valorizado,

principalmente no mundo empresarial. Diferentemente dos

conhecimentos, que podem ser transmitidos, eles têm que ser

vivenciados. Cada indivíduo é responsável por sua aquisição nos diversos

aspectos de sua vida. A experiência em empresas que podem influenciar

no sucesso de um empreendedor é a que se pode chamar de uma visão

global, ou seja, o conhecimento do funcionamento de uma organização

como um todo;

Formação complementar – se relaciona com a aquisição de novos

aprendizados ou com a atualização dos que já possui. Não diz respeito

apenas a fatores relacionados com a empresa, mas também com

conhecimentos gerais. Envolve o conhecimento de outras culturas,

esportes, história etc. Dependendo do tipo de negócio, o empreendedor

pode direcionar a escolha da complementação de sua formação; e

Vivência com situações novas – ele a adquire por meio de viagens,

mudanças de cidade, início de um novo emprego etc. Estas experiências

geralmente permitem que o empreendedor enfrente os fatos inesperados

com mais segurança, de modo a facilitar a superação de novos problemas

pela ampla vivência já experenciada.

Como surgem novidades a cada dia na empresa, o empreendedor não pode

se curvar diante das dificuldades.

As habilidades dos empreendedores são as características mais citadas por

estudiosos da área. Entre eles, o estudo de Ray (1993) abarca praticamente todas

as descritas por outros autores, destacado a seguir. Elas envolvem:

Identificação de novas oportunidades – característica facilmente

encontrada entre os empreendedores. Esses têm facilidade para

identificar novas oportunidades de produtos e serviços. Essa habilidade

está relacionada com a capacidade de pensar de forma inovadora e com

a criatividade. A própria definição de empreendedor de Peter Drucker

(1987) já citada enfatiza a inovação como um instrumento específico

deles. Oportunidades como o surgimento de novas tecnologias e novos

negócios devem ser facilmente identificadas pelo empreendedor, pois,

caso contrário, ele corre o risco de ficar desatualizado perante sua

concorrência;

41

Valoração de oportunidades e pensamento criativo – o sucesso de um

empreendedor depende desses dois fatores-chave. Uma avaliação crítica

é essencial na distinção entre uma real oportunidade e uma simples ideia.

O sistema educativo formal geralmente atua de forma contrária ao

desenvolvimento dessas características, o que gera escassez de

iniciativas inovadoras na sociedade. Os indivíduos que fogem à regra,

conseguem se sobressair com seus empreendimentos;

Comunicação persuasiva – a habilidade de persuasão envolve a

comunicação oral, escrita e outras formas. Os empreendedores

desenvolvem essa habilidade porque, em geral, precisam persuadir

muitas pessoas até colocarem em prática seus empreendimentos, o que

implica transformar sua ideia em uma oportunidade de negócio;

Negociação – a facilidade para conduzir uma negociação é adquirida

com a experiência e envolve outras características da personalidade. Ao

conhecer a pessoa com quem se negocia, é possível tirar proveito de

suas características, para obter um bom resultado no processo de

negociação;

Aquisição de informações – a informação é um instrumento

diferenciador no desempenho das empresas. Cabe ao empreendedor a

habilidade de adquirir as informações necessárias à adoção das

modificações exigidas pelo mercado. Entre as informações mais

relevantes, pode-se citar as referentes aos avanços tecnológicos e ao

mercado competitivo; e

Resolução de problemas: para utilizar esta habilidade, o empreendedor

necessita saber fazer a identificação apropriada do problema.

Há várias formas de explicar a resolução de problemas. Uma é apresentada

por Buttner e Gryskiewicz (1993), que definem dois estilos básicos, conhecidos

como adaptadores e inovadores, abordados segundo aspectos facilmente

percebidos. Portanto, toma-se como referência os itens citados no Quadro 6,

conceituados a seguir.

A estratégia é a forma usada para perceber e enfrentar o problema. Trata-se

do modo como as pessoas estabelecem mecanismos para resolver o problema,

42

empregando seu conhecimento e habilidades. Os resultados são os tipos de solução

gerados de acordo com as estratégias adotadas.

As preferências referem-se ao tipo de situações com as quais os indivíduos

estão mais motivados a se envolver. A adaptação se relaciona com a maneira com

que as pessoas se comportam em determinada situação, em relação às normas e

aos procedimentos estabelecidos.

Quadro 6 – Estilos para Resolver Problemas

Fonte: Buttner e Gryskiewicz (1993).

Pode-se verificar pelo exposto que os empreendedores demandam por saber

mesclar a utilização destes dois estilos do quadro. O empreendedor tem que ser

inovador quando se trata de definir novos produtos, novas tecnologias ou novas

formas de organização. Entretanto, muitas vezes, tem que atuar como adaptador,

sobretudo quando se trata de questões que não dependem unicamente dele, como

por exemplo, o trato com fornecedores e clientes, o pagamento de impostos etc.

Características Adaptadores Inovadores

Estratégia

Tornam os problemas como dados e

geram formas para desenvolver soluções

melhores, buscando alta eficiência

imediata.

Redefinem o problema relatando as

restrições previamente definidas,

inventando soluções que lhes

pareçam melhores.

Resultados

Geram boas ideias que são suficientes

para resolver o problema estabelecido,

porém, às vezes erram por usar

inadequadamente os modelos

existentes.

Produzem múltiplas ideias triviais e

que parecem inadequadas para

outros, porém frequentemente

contém enfoques para resolver

problemas anteriormente não

tratados.

Preferências

Preferem situações bem estruturadas e

são melhores para incorporar novos

elementos para a política existente.

Preferem situações não

estruturadas para usar novos dados

na restruturação das políticas e

estão dispostos a enfrentar grandes

riscos.

Adaptação

Melhoram o que está funcionando,

porém, em tempos de mudança, tem

dificuldade para fugir dos papéis

estabelecidos.

Aumentam a flexibilidade em

tempos de mudança, porém têm

dificuldade para trabalhar com

formas organizacionais rotineiras.

Imagem

Visto pelos inovadores como confiáveis,

rotineiros, previsíveis, e restritos pelo

sistema.

Considerados pelos adaptadores

pouco confiáveis, pouco práticos,

arriscados, criadores de discórdias

e agressivos.

43

Apesar de ser necessário que o empreendedor atue tanto de forma inovadora

quanto adaptadora, é mais indicado que seu perfil seja inovador, pois é favorável

uma transformação de inovador para adaptador, que o contrário.

Entre os diversos autores que abordam a questão do empreendedorismo, não

se encontra referência aos valores dos empreendedores citados no Quadro 6. Neste

estudo, se utiliza uma classificação feita por Empinotti (1994), que descreve esta

característica de personalidade direcionada aos padrões sociais vigentes.

Valores existenciais – são todos os aspectos que se referem à vida,

como a saúde, a alimentação, o lazer e o trabalho. Por serem mais

abrangentes, constituem-se em um dos principais referenciais na

construção da visão de mundo das pessoas;

Valores estéticos – são formas de expressão dos sentimentos presentes

na sociedade, como a música, a pintura e a arquitetura. A organização, o

modo de vestir e a limpeza são consequência destes valores;

Valores intelectuais – Lezana afirma que são aqueles ligados à

intelectualidade humana ao apontar que:

Os valores intelectuais do empreendedor ajudarão, entre outras coisas, a imprimir o ritmo da inovação tecnológica da empresa, a definir o papel da criatividade na empresa e a postura em relação a algumas normas da sociedade, como a proteção do meio ambiente. (1996, p. 53);

Valores morais – relacionam-se às normas, princípios e padrões

orientadores do procedimento humano. As relações sociais e a vida em

sociedade são baseadas principalmente neste tipo de valor. O

empreendedor, como qualquer cidadão que se enquadre nos padrões

sociais estabelecidos por estes valores, reconhece que tem uma função

social a cumprir;

Valores religiosos – dizem respeito à religiosidade presente na

sociedade. Exemplos são as manifestações culturais como as procissões,

as romarias e os sacrifícios. Entre os valores descritos por Empinotti, cabe

ressaltar que os religiosos são os que apresentam maior diversidade entre

a população.

44

Em suma, pode-se afirmar que as quatro características determinantes do

comportamento humano e, portanto, dos empreendedores, são: necessidades,

conhecimentos, habilidades e valores. Isso significa que, toda vez que se altera uma

delas (aquisição de conhecimento, surgimento de uma nova necessidade,

desenvolvimento de habilidades ou modificação de valores) se estará modificando o

comportamento.

O próximo tópcio mostrará os primeiros passos para o sucesso de um

negócio, seja de que tipo for, em que a estratégia determina o que um

empreendedor ou uma organização deverá fazer para alcançar os objetivos

propostos.

2.2 Estratégia como padrão de decisão

Segundo Kenneth citado por Mintizberg e Quinn (2008, p. 58-59), a estratégia

empresarial é o padrão de decisões em uma empresa que determina e revela seus

objetivos, propósitos ou metas, e produz as principais políticas e planos para a

obtenção dessas metas além de definir a escala de negócios que a empresa deve

se envolver, o tipo de organização econômica e humana que pretende ser, e a

natureza de contribuição, econômica ou não, que pretende proporcionar a seus

acionistas, funcionários e comunidades.

A estratégia empresarial é um processo organizacional, de várias maneiras

inseparável da estrutura, do comportamento e da cultura da instituição na qual é

realizada. Não obstante, pode-se extrair desse processo dois aspectos importantes

interrelacionados na vida real, mas separáveis para efeito de análise O primeiro

chama-se de formulação e o segundo, de implementação.

As principais subatividades da formulação de uma estratégia, como atividade

lógica de qualquer empreendedor, incluem a identificação de oportunidades e

ameaças no ambiente da empresa, adicionando alguma estimativa ou risco às

alternativas discerníveis. Antes de ser feito um delineamento, os pontos fortes e

fracos devem ser analisados juntamente com os recursos disponíveis da empresa.

A Figura 5 mostra os passos detalhados para sua implantação:

45

Figura 5 – Formulação e Implementação de Estratégias

1. Identificação de 1. Estrutura organizacional,

Oportunidade e risco divisão de mão-de-obra,

Coordenação de

Determinando os recursos Responsabilidade

Materiais, técnicos, financeiros

e Gerenciais da empresa 2. Processos organizacionais

e comportamentos de

Valores pessoais aspirações padrões e medidas

e aspirações da cúpula

3. Liderança superior

Reconhecimento de pessoal estratégico

Responsabilidades organizacional

não-econômicas a sociedade

Fonte: Kenneth apud Mintzberg e Quinn (2008).

A Figura 5 mostra que, primeiro, temos que nos preocupar com a formulação

da estratégia, ou seja, primeiro devemos saber o que realmente queremos,

avaliando todos os riscos, as oportunidades e as ameaças que o mercado poderá

oferecer, bem como pontos fortes e fracos que a organização ou o empreendedor

tem em relação a seus concorrentes e, principalmente, qual a aspiração principal

dos seus dirigentes, para em seguida formular a estratégia que atenda as suas

ambições e partir para sua implantação de forma ordenada e contínua em todos os

níveis da organização.

Ansoff, citando autor desconhecido, afirma que: “estratégia é quando a

munição acaba, mas continua-se atirando para que o inimigo não descubra que a

munição acabou” (1977, p. 87). O autor ainda propõe que a finalidade das

estratégias é estabelecer quais serão os caminhos, os cursos e os programas de

ação que devem ser seguidos para serem alcançados os objetivos e desafios

estabelecidos. Depois dessas definições acima descritas, podemos dizer que o

conceito básico de estratégia está relacionado à ligação da empresa e seu ambiente

e as características e o perfil de seus empreendedores, pois está associada a arte

de empregar adequadamente os recursos físicos, financeiros e, principalmente, os

Formulação

(decidindo o que fazer)

Implementação

(alcançando resultados)

Estratégia

Empresarial

Padrão de

Propósitos e

política

definindo

a organização

e seus

negócios

46

humanos, tendo em vista a minimização dos problemas e a maximização das

oportunidades.

Ansoff (1977, p. 95) ainda afirma que a avaliação do caminho a ser seguido

por uma empresa deve ser feita através do confronto entre pontos fortes, fracos e

neutros, de um lado, e das suas oportunidades e ameaças perante o seu ambiente,

de outro. Dessa avaliação devem resultar a missão, os propósitos e a atitude

estratégica de seu empreendedor, que é o ponto de partida para traçar o caminho

voltado aos futuros objetivos e desafios escolhidos entre as opções estratégicas que

a empresa deve identificar como preferenciais ou mais adequadas em determinado

momento.

Sejam quais forem os objetivos e desafios obedecidos, as empresas

formulam dispositivos para seu alcance. Ansoff (1977, p. 99), citando Katz e Kant,

afirma que os dispositivos podem ser:

Políticos – Procedimentos que orientam a empresa nos seus

relacionamentos internos e com o seu ambiente;

Técnicos-econômicos – Onde são empregados na transformação dos

insumos em produtos ou serviços;

Organizacionais - Baseado na estruturação das atividades internas,

através da estrutura organizacional, bem como na elaboração de normas,

rotinas e procedimentos; e

Tecnológicos – Baseado na evolução tecnológica ambiental, bem como

nas tecnologias mais adequadas para as operações da empresa.

Analisando os tópicos citados acima pelo autor, podemos concluir que o

interrelacionamento desses dispositivos de uma maneira ordenada é uma das

chaves para ajudar o empreendedor ou uma organização nos dias atuais a realizar a

formulação e implementação da estratégia de um negócio, pois, o ambiente atual é

de alta competitividade e tecnologia de ponta, seja no comércio, indústria ou serviço.

A seguir serão abordardos os tipos de estratégias usadas nas empresas atuais.

2.2.1 Tipos de estratégias

Oliveira (1996, p. 98) apresenta o Quadro 7 com os tipos de estratégia e suas

adequaçõeà em relação a situação interna e externa da empresa que, para ele, são

47

as medidas que as empresas devem tomar de acordo com o posicionamento que

queiram assumir diante do mercado.

Quadro 7 – Tipos de Estratégias

Tipo Subtipo Aplicação

Sobrevivência (predominância de ameaças e pontos

fracos)

Redução de custos Usada em períodos de recessão

Desinvestimento Linhas de produtos que se tornam desinteressantes para a empresa

Liquidação do negócio

Aplica-se só em ultima instância

Manutenção (predominância de

pontos fortes e ameaças)

Estabilidade Quando espera encontrar dificuldades e prefere

então tomar atitudes defensivas

Nicho Manutenção de estágio de equilíbrio

Especialização Conquistar ou manter liderança do mercado

através da concentração de esforços numa única ou poucas atividades

Crescimento (predominância de

pontos fracos e oportunidades)

Inovação Procura por produtos inéditos ou milagrosos

antecipando-se a concorrência

Internacionalização Adequado para empresas de maior porte, processo

interessante, porém lento e arriscado

Joint ventures Normalmente associação de duas empresas, uma

com tecnologia e outra com capital

Expansão Processo deve ser bem planejado, evitar expansões que coincidam com de outras

empresas.

Desenvolvimento (predominância de

oportunidades e pontos fortes)

De mercado Quando procura maiores vendas, pode ser

geográfica ou atuação em outros segmentos.

Produtos ou serviços

Variações da qualidade ou de novas características dos produtos

Financeiro Associação de duas empresas: uma forte

financeiramente a outra forte ambientalmente, criando nova empresa

Desenvolvimento (predominância de

oportunidades e pontos fortes)

Capacidades Associação de uma forte em tecnologia com outra

forte em oportunidades ambientais

Estabilidade Associação em que duas empresas procuram tornar sua evolução uniforme, sobretudo no

aspecto mercadológico

Diversificação horizontal

Compra ou associação com empresas similares

Diversificação vertical

Passa a produzir novo produto que está entre seu mercado de matérias-primas e o consumidor final

Diversificação concêntrica

Diversificação de linhas de produtos, com aproveitamento da mesma tecnologia ou força de

vendas

Diversificação conglomerativa

Diversificação de negócios sem aproveitamento da mesma tecnologia ou força de vendas

Diversificação interna

Diversificação gerada basicamente por fatores internos

Diversificação mista Combinação de tipos anteriores

Fonte: Oliveira (1996).

48

O Quadro 7 nos mostra os mais diversos tipos de estratégias que estão à

disposição dos administradores atuais. Podemos observar que os itens citados

acima são apenas um norte que o empreendedor deve tomar para cada situação

que ele se encontrar, pois as mudanças de estratégias de uma organização

dependem exclusivamente de questões inovadoras e vontade de arriscar de seus

gerentes e administradores.

Corroborando com a afirmação do Quadro 7, Bosco comenta:

De início, há alguns mal entendidos por esclarecer. Em primeiro lugar, quando se constrói uma estratégia não se pretende tomar hoje decisões sôbre o futuro, mas tomar hoje decisões tendo em mente o futuro. Veja-se o que o planejamento não representa o domínio mental do futuro. Qualquer tentativa nesse sentido é insensatez. As criaturas humanas não podem prever nem controlar o futuro. A pretensão de assenhorear-se do futuro é infantilidade e nossos esforços nesse sentido só podem desacreditar o nosso trabalho. Pode-se partir logo da conclusão de que a previsão, além dos prazos mais curtos, não merece respeito nem vale a pena. O planejamento a longo prazo é necessário justamente em virtude da nossa incapacidade de prever. Existe, porém, outra razão mais poderosa que faz constatar qual será o mais provável curso dos acontecimentos ou, no máximo, apurar uma série de probabilidades. Todavia, o problema empresarial é o único capaz de modificar as possibilidades, uma vez que o universo da empresa não é composto de matéria, mas de valor. Com efeito, a principal contribuição da empresa, aliás a única que tem como recompensa o lucro, é fazer com que haja uma ocorrência exclusiva, a inovação que altera as probabilidades.(2015,p23)

Em segundo lugar, a estratégia não deve ser confundida com um de seus

planos táticos; estratégia não é só inovação, ou só diversificação ou planejamento

financeiro, mas um conjunto de todos esses itens dirigidos a objetivos em longo

prazo que se pretende atingir. Em terceiro lugar, a estratégia não é um fim em si

mesmo, porém, apenas um meio. Um plano a longo prazo pode ficar obsoleto na

semana seguinte; o processo mental que criou esse plano e o reavalia em cada

ocasião significativa é que não se obsoleta. Em quarto lugar, a estratégia não dá

certeza, mas apenas probabilidade. Quem busca certeza não pode pensar no

amanhã. Só ontem e hoje são certos. Queixava-se um gerente: "eles não entendem

a natureza da estimativa, eles querem respostas". Kenneth E. Bouding, professor de

Economia da Universidade de Michigan, em resposta a uma pesquisa de Stewart T.

para a AMA, diz:

49

Um dos aspectos do planejamento de uma firma que eu considero interessante é a sua relação com todo o futuro da sociedade a longo prazo, a que chamo de a dinâmica da sociedade a longo prazo. Em primeiro lugar, temos as projeções simples, ou seja, se a pessoa está indo para os andares superiores, vai continuar subindo. As projeções lineares são convenientes para indicar o que poderá acontecer se o que é feito agora continuar a ser processado da mesma forma, como por exemplo, se o ritmo das alterações se mantiver. Penso que a dificuldade das predições em Ciências Sociais está no fato de encontrarmos sistemas que estão sujeitos a acentuadas inconstâncias, ao contrário dos sistemas astronômicos que nos permitem predizer com segurança diferenciais muito simples que

esperamos se mantenham inalteradas. (2013,p 34)

2.2.2 A qualidade como estratégia para a competitividade

Segundo Costa Neto e Canuto (2010), hoje se tem plena consciência de que

qualidade e produtividade são dois pilares básicos para a competitividade das

empresas, que pode ser vista como sua capacidade de conservar ou ampliar a fatia

de mercado para seus produtos ou serviços, estando apta a enfrentar com sucesso

a atuação dos seus concorrentes.

O conceito de qualidade pode ser entendido de várias maneiras, tais como

excelência, adequação ao uso, conformidade com as especificações, mas pode

também ser associado ao ato de “fazer as coisas certas” diretamente ligado à ideia

de eficácia. O conceito de produtividade, por usa vez, admite diversas variantes do

quociente resultados/insumos e pode ser associado ao ato de “fazer certo as

coisas”, diretamente ligado à ideia de eficiência, ou bom uso dos recursos

disponíveis. A Figura 6 oferece uma visão de como a qualidade e a produtividade

podem interagir proporcionando a competitividade.

Evidentemente, outros fatores podem ser invocados como elementos para a

competitividade, como disponibilidade, ações de marketing e diversas outras

condições abrigadas sob o conceito de vantagem competitiva, amplamente discutido

por Porter (2005). Nesse contexto, a existência das inovações pode ser de decisiva

importância.

Uma das formas de se aprimorar a qualidade de produto e serviços

amplamente difundida pelas empresas japonesas, que para tanto se valem de um

extenso arsenal de ferramentas e princípios, é a busca por melhorias contínuas,

muitas vezes obtidas com o uso de técnicas simples, ao alcance dos operadores de

processos, e análises online. Segundo Vasconcellos (2015, p. 38), estas melhorias

50

são ditas incrementos. A Figura 3 ilustra a oferta dos melhores conceitos e redução

na flexibilidade de condutor de processos. Em contrapartida, há as melhorias

radicais, em geral obtidas por métodos mais sofisticados, uso intensivo de técnicas

estatísticas poderosas, participação de especialistas e análises offline. Outra forma

de se conseguirem melhorias radicais é mediante o aporte de inovações

tecnológicas.

Figura 6 – Qualidade, Produtividade e Competitividade

Fonte: Costa Neto e Canuto (2010).

51

O efeito dos dois tipos de melhorias citadas pode ser observada na Figura 7.

Figura 7 – Melhorias Continuas e Radicais

Fonte: Costa Neto e Canuto (2010).

Inovar não é simplesmente introduzir algo novo. É preciso também que esse

algo novo gere valor adicional. Assim, uma invenção não implica necessariamente

inovação, somente será se servir para alguma finalidade que crie ou acrescente

valor.

É claro que a questão da geração de valor é relativa, depende de quem a

interprete. Uma novidade pode gerar valor adicional para certas aplicações (para as

quais representará uma inovação) e não para outras. Voltando à Figura 3, esta

conceituação leva à consideração de que deve haver algum tipo de inovação tanto

nas providências que resultaram em melhoria contínua quanto naquelas que

produziram melhoria radical. A diferença é que os efeitos das melhorias incrementais

são mais fortes, mais visíveis, muito provavelmente devido à introdução de

procedimentos diferenciados ou ao aporte de nova tecnologia. (COSTA NETO e

CANUTO, 2010).

52

3 DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO TURISMO E DE UM CLUSTER

O turismo pode ser focalizado como um fenômeno que se refere ao

movimento de pessoas dentro de seu próprio país (turismo doméstico) ou cruzando

as fronteiras nacionais (turismo internacional). Este movimento revela elementos tais

como interações e relacionamentos individuais e grupais, compreensão humana,

sentimentos, percepções, motivações, pressões, satisfação, a noção de prazer etc.

(SALAH e ABDEL, 1991).

De acordo com Castelli (1990), a compreensão do fenômeno turístico atual

deve necessariamente passar por uma análise sobre o significado das viagens no

decorrer da história. Estas, quase sempre, foram movidas por interesses

econômicos, políticos e militares. Viagens com estes mesmos objetivos continuam

hoje a movimentar pessoas de uma região para outra.

No entanto, ao longo da história, paralelamente às viagens realizadas com os

objetivos anteriormente mencionados, registram-se também aquelas movidas por

outros interesses como: curiosidade, saúde, cultura, religião, descanso e finalmente,

viagens verdadeiramente turísticas.

A viagem turística tornou-se, na era moderna, uma realidade econômica,

social, cultural e política incontestável. O aparecimento, no século XX, de inúmeras

organizações de turismo, decorre do surgimento e prática das viagens em grande

escala que são consequência das necessidades geradas pela sociedade industrial.

A viagem é uma ação decorrente de um contexto dentro do qual está inserida

a sociedade em um determinado momento da história. A ela sempre foi um dos

elementos componentes da vida econômica e social e, sobretudo, do mundo dentro

do qual está inserida. Cada tipo de civilização ou sociedade corresponde a uma

maneira de se viajar ou acolher o viajante.

Conforme Salah e Abdel (1991), a anatomia do fenômeno turístico seria

basicamente composta de três elementos, a saber: o homem (elemento humano

como autor do ato de turismo), o espaço (elemento físico, coberto pelo próprio ato) e

o tempo (elemento temporal que é consumido pela própria viagem e pela estada no

local de destino) sendo eles representativos das condições de existência do

fenômeno.

Todavia, outros fatores caracterizantes distinguem turismo do simples ato de

viajar. Tais fatores relacionam-se principalmente aos objetivos: a natureza

temporária do deslocamento, o uso dos serviços e equipamentos turísticos e, o que

53

seria o mais importante dentre eles, a noção de prazer e recreação como

fundamental.

Para Bonald (2004), uma revolução nos conceitos tradicionais de viagens foi

realizada pelo fenômeno do turismo a partir de meados do século XIX quando o

pastor protestante Thomas Cook inaugurou a primeira agência de turismo na

Inglaterra.

Países como Itália, França e Espanha, antigas potências militares e

colonialistas, conseguiram estabilizar suas balanças de pagamento no pós-guerra

graças ao turismo, chegando ao ponto dessa atividade se constituir em verdadeira

indústria, com órgão público próprio, legislação específica, que visa regulamentar os

diversos aspectos sociais, econômicos, comerciais e culturais do turismo, sempre

objetivando melhor rendimento e maior expansão da indústria turística.

3.1 Definição de turismo

A primeira definição da palavra turismo foi dada, possivelmente, pelo

economista austríaco Herman, sendo ela: “a soma das operações, principalmente de

natureza econômica, que estão diretamente relacionadas com a entrada,

permanência e deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um país,

cidade ou região” (1910, p 18). Esta definição focaliza dois princípios:

O turismo se caracteriza por várias operações, principalmente de natureza

econômica; estando relacionado ao movimento de pessoas dentro e fora de um

determinado país.

A Comissão Econômica da Liga das Nações (1937) definiu o turista para fins

de estatísticas internacionais de viagens como: "qualquer pessoa que viaje por um

período de 24 horas ou mais em um país que não seja o de sua residência."

Como descrito acima, podemos fazer uma comparação com o trabalho atual,

pois as pessoas que vêm de outras localidades a tratamento de saúde em Teresina

passam em média mais de 48 horas na cidade, conforme dados da prefeitura local.

Por volta de 1942, p. 32, Hunziker & Kraper completaram definições

anteriores conceituando o turismo como “o complexo de relações e fenômenos

relacionados com a permanência de estrangeiros em uma localidade, pressupondo-

se que estes não exerçam uma atividade principal, permanente, ou temporária

remunerada”.

54

Relacionando novamente com o fluxo de pessoas em Teresina para

tratamento de saúde, esses movimentos migratórios do caso em questão são de

uma determinada abrangência geográfica no mesmo país, gerando com isso divisas

e empregos para a cidade receptora desse fluxo populacional em trânsito.

3.2 Fatores que influenciam as decisões turísticas

Toda pessoa é um turista em potencial, sendo preciso, porém, a ação da

viagem turística para haver o turismo e, para isso, há alguns condicionantes, como:

a vontade (animus) e a possibilidade (BONALD, 1984). A vontade pode ter diferentes

causas, como: a propaganda, o status, o hábito, a conveniência física, moral ou

intelectual, a sedução ou o interesse comercial ou de lucro e a saúde. A segunda

envolve fatores que fogem ao controle do homem, como: tempo vago, dinheiro e

meio de transporte, entre outros.

Como a possibilidade sempre esteve mais ao alcance das classes mais

privilegiadas, costuma-se vincular o conceito de turismo ao luxo. Todavia,

atualmente, com as férias remuneradas, tornou-se mais fácil o turismo social e

popular.

De tal modo, diversas são as razões que levam uma pessoa a ser turista,

como: negócios, religião, saúde, cultura, educação e prazer.

Segundo Arrillaga (1976), as necessidades que o turismo procura satisfazer

podem ser muito variadas, pois as causas subjetivas que determinam as viagens

turísticas são tão diversas como as necessidades que o corpo ou a alma humana

podem ter. As motivações turísticas ou causas subjetivas do turismo podem ser

classificadas em: causas principais e secundárias; diretas e indiretas; próximas e

remotas; individuais e sociais.

Causas Principais e Secundárias – O turista, ao decidir viajar,

geralmente possui mais de uma causa. Porém, existe uma que é principal

ou determinante, sendo que as demais, apesar de importantes, são

secundárias. Por exemplo, uma pessoa que realiza uma peregrinação tem

como causa principal a obtenção de uma graça de ordem espiritual,

porém, também pesa em sua decisão a possibilidade de conhecer lugares

novos, visitar monumentos famosos, descansar, entre outros;

55

Causas Diretas e Causas Indiretas – A realização de determinada

viagem pode ocorrer devido a um convite ou a vontade de conhecer

determinada localidade. Contudo, pode envolver causas indiretas como o

hábito de viajar ou o nível sócioeconômico do viajante;

Causas Próximas e Causas Remotas – Como exemplo de causa

próxima de uma viagem pode-se ter a propaganda de um agente de

viagens e, como causa remota, a recordação de uma viagem anterior; e

Causas Individuais e Causas Sociais – As individuais atuam na decisão

de uma pessoa para viajar e as sociais influem por igual em setores da

população. Como exemplo da primeira pode-se citar a prática de um

esporte e, da segunda, a moda ou afinidades ideológicas.

No caso do fluxo migratório para tratamento de saúde em uma determinada

localidade, depois do exposto, podemos considerar a falta de saúde de uma

determinada pessoa e a procura de pronto restabelecimento como uma causa

individual, verificando que o turismo de saúde é algo que existe e é viável para uma

determinada localidade.

3.3 Classificação do turismo

A seguir será apresentada uma classificação detalhada do Turismo em

relação a fatores interno, externo, receptivo, intermediário e quantitativo.

Quadro 8 – Classificação do Turismo Quanto à Modalidade

Classificação Descrição

Interno Conjunto de atividades especializadas de natureza turística de que

os habitantes de um país usufruem sem deixar o território nacional

Conjunto de atividades turísticas além do território do país de

residência do turista, onde temporariamente são consumidos bens

e serviços

Externo

Receptivo

Turismo interno e externo: dizem respeito ao núcleo emissor de

turistas, porém, quando esteo núcleo emissor é um país

estrangeiro, o país que acolhe o visitante é chamado de receptivo

Intermediário Manifesta-se de forma sistemática e permanente nos logradouros

existentes entre polos emissores e receptores

Quantitativo Trata o turismo em suas dimensões numérica, quantitativa ou

volumétrica

Fonte: Andrade (2005).

56

Em relação à cidade de Teresina e ao seu polo de saúde em questão, pode-

se classificar quanto à sua modalidade de acordo com o quadro acima como um

núcleo regional receptivo de pessoas para tratamento de saúde e, interno, pois o

fluxo populacional temporário é tipicamente regional dentro do próprio país.

Quanto ao tipo, o Quadro 9 expõe de uma forma bem objetiva todos os

tópicos e, para fins deste trabalho utilizaremos a tipologia do turismo de saúde, pois

é o que acontece em alguns polos de saúde como por exemplo, o de Teresina.

Quadro 9 – Classificação do Turismo Quanto ao Tipo

Classificação Descrição

De férias

As férias configuram garantia de um turismo intensivo, devido à

sequência de dias disponíveis ao lazer e ao repouso. Constituem-se

um dos pontos mais altos da lucratividade turística.

Cultural

Abrange as atividades resultantes de deslocamentos para a

satisfação de objetivos com relação a emoções artísticas,

científicas, de formação e de informação nos vários ramos

existentes.

De negócios

É o conjunto de atividades de viagem, hospedagem, alimentação e

lazer praticado por aquele que viaja a negócios, referentes tanto a

atividades comerciais quanto industriais.

Desportivo Referem-se a todas as atividades de viagens com vistas à

participação em eventos desportivos, no país ou no exterior.

De saúde

Também conhecido como turismo terapêutico ou de tratamento,

refere-se ao conjunto de atividades turísticas que as pessoas

exercem para adquirir boa saúde física e psíquica.

Religioso

Conjunto de atividades que envolvem visitas a receptivos que

expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a

caridade aos crentes.

Fonte: Andrade (2005).

57

Quadro 10 – Classificação do Turismo Quanto à Forma

Classificação Descrição

Individual

Também conhecido como turismo particular ou autofinanciado,

refere-se ao conjunto de atividades necessárias ao planejamento e

à execução de viagens, sem o intermédio de agências de viagem

ou entidades turísticas.

Organizado

É o conjunto de atividades turísticas programado, administrado e

executado por agências de turismo, associações, entidades de

classe, clubes ou outra organização envolvendo um grupo de

pessoas.

Social

Tipo de turismo organizado para pessoas de camadas sociais cuja

renda, sem a ajuda de terceiros, não lhes permitiria a programação

de viagens. Em geral, diz respeito a colônias de férias de

associações, entidades de classe, empresas ou albergues que

funcionam com recursos governamentais ou fundos especiais.

Intensivo

Refere-se ao conjunto de programas turísticos em que as pessoas

ficam hospedadas em um único local, mesmo que façam excursões

e passeios a outros locais.

Extensivo

Refere-se à hospedagem e ao conjunto de atividades em um

mesmo núcleo, com a duração de pelo menos três semanas. Essa

modalidade exclui excursões e passeios a outros receptivos.

Itinerante

Envolve uma série de permanências em lugares diversos, ou seja,

compõe-se de visitas ao maior número possível de núcleos

receptivos, em uma única viagem, com estada curta nos locais

visitados.

Fonte: Andrade (1996).

E quanto à forma, podemos classificar as pessoas que migram a Teresina

para tratamento de saúde em individual, pois na maioria das vezes se deslocam à

cidade por conta de seus próprios recursos, pelos ônibus regionais e interestaduais

que cortam a cidade através das várias rodovias que cortam o estado.

No próximo tópico será observada a importância do turismo para a economia

de uma determinada região como geradora de emprego e renda.

3.4 Indústria do turismo

O relacionamento interno existente entre turismo e ciência econômica é

sempre expresso em termos da contribuição turística ao desenvolvimento

econômico. Salah e Abdel afirmam que:

58

O turismo é um fenômeno que acarreta a transferência de capital de um país para outro através do movimento de turistas que vão a um certo "produto" turístico e o consomem. São consumidores em potencial do complexo de bens e serviços que é oferecido com um objetivo específico. O turismo, através dos seus aspectos de consumo e investimento, afeta diversos setores do sistema econômico de um determinado país, e acredita-se que seu efeito multiplicador seja mais alto do que o observado em outros setores da economia tais como a indústria (...).(1991, p.152).

O turismo é produtivo, preciso e determinado com características próprias.

Incorporou-se ao campo do desenvolvimento e do comércio e, dependendo do

estágio de desenvolvimento de um país ou de uma região, pode ser considerado a

primeira força, à frente da indústria e da agricultura.

De acordo com dados da Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR,1991),

o setor turístico nas últimas décadas tem apresentado valor econômico

representativo em termos mundiais, o que ppode ser constatado pelo volume de

transações feitas como consequência do aumento da demanda por viagens e

turismo.

3.5 Conceitos econômicos

Alguns conceitos econômicos que influenciam o estudo do turismo como

indústria são: bem econômico, utilidade, agentes econômicos, produto turístico,

demanda e oferta turística.

Conforme Lage (1991), tudo o que é raro e existe em menor quantidade do

que as necessidades é um bem econômico. Assim, em virtude dessa carência,

necessitam ser produzidos, tomando a forma de bens (materiais) ou de serviços

(materiais).

Produzir, no sentido econômico, significa criar ou aumentar a utilidade dos

bens econômicos. Utilidade é definida por Samuelson apud Lage (1991) como a

qualidade que os bens econômicos têm de satisfazer as necessidades humanas.

Ttambém é considerada como o grau de satisfação que os consumidores atribuem a

bens e serviços.

Como o consumidor não pode obter tudo o que deseja, é obrigado a fazer

escolhas. Portanto, se preferir mais de um determinado bem e serviço, deve aceitar

menor quantidade de outro. No entanto, em qualquer situação, o consumidor age

racionalmente para obter a máxima satisfação de seus gastos.

59

No que tange ao turismo, Lage (1991) aponta alguns grupos que participam e

afetam diretamente a produção e o consumo turístico de qualquer país. São eles:

Os turistas – grupo que procura experiências psíquicas e físicas na

expectativa de maximizar a utilidade (satisfação) de suas viagens;

As empresas turísticas – grupo que tem no turismo a oportunidade de

aumentar seus lucros, mediante a oferta de vários tipos de bens e

serviços demandados pelo mercado turístico;

O governo – grupo que assume o turismo como fator econômico.

Relaciona-se com as entradas de receita que os cidadãos obtêm dessa

indústria, com as divisas geradas pelo turismo internacional e com o

aumento de arrecadação de impostos devido aos gastos turísticos na

localidade; e

A comunidade anfitriã – grupo representado pelos nativos da região

turística que veem o turismo como um fator cultural.

Cabe ressaltar que os objetivos e os esforços combinados desses quatro

grupos de agentes influenciam a determinação das atividades turísticas.

Em função das várias necessidades dos consumidores e das alternativas de

produção das empresas, Lage (1991) destaca um tipo específico de bem e serviço

econômico que tem como qualidade a satisfação de algumas das necessidades de

lazer do consumidor. Esses são os bens e serviços turísticos, também chamados

produtos turísticos, que podem ser definidos como um composto, sendo formado

pelos seguintes componentes: transporte, alimentação, acomodação,

entretenimento. Como qualquer outro bem ou serviço, encontram-se de forma

limitada na natureza, sendo considerados uma riqueza social.

3.6 Implicações econômicas e sociais do turismo

Conforme Baptista (1990), as vantagens do turismo para um país ou um

estado receptor, são:

Aumento de receitas, em divisas, advindas da venda de serviços e bens;

Criação de novas fontes de receitas em vários setores econômicos;

Investimentos baixos, se comparados ao fluxo de rendimentos que geram;

e

Integração entre povos de regiões, línguas, hábitos e gostos diferentes.

60

Pode-se verificar com a citação acima que o turismo não propicia apenas

divisas financeiras para uma região ou país, mas a integração entre os povos e a

troca de informações tanto na área econômica quanto em uma das mais importantes

áreas de uma sociedade moderna, o intercâmbio cultural no mundo civilizado atual.

Os impactos econômicos gerados por uma atividade turística podem ser

classificados, segundo Gunn (apud LAGE, 1991, p. 153), em:

Impactos diretos – o total de renda criada nos setores turísticos como

resultante direta da variação dos gastos com esses produtos;

Impactos indiretos – o total de renda criada pelos gastos dos setores do

turismo em bens e serviços ofertados na economia; e

Impactos induzidos – como resultado dos impactos diretos e indiretos do

turismo, os níveis de renda aumentam em toda a economia, sendo que,

parte dessa renda adicional será gasta em bens e serviços produzidos

internamente; representam o chamado impacto induzido.

Como consequência desses impactos referentes ao turismo de saúde na

capital piauiense, pode-se explicitar, de uma forma objetiva, como um conjunto

integrado desses impactos na economia local, a criação de 15 mil empregos diretos

e um investimento médio anual da ordem de R$ 80 milhões dos setores ligados

diretos e indiretos à área em questão.

A indústria turística tem como impacto positivo sobre a economia de uma

localidade, segundo Andrade (1996):

Aumento da renda do lugar visitado pela entrada de divisas;

Estímulo dos investimentos e geração de novos empregos; e

Redistribuição de riqueza entre as localidades de origem e destino.

Como impactos negativos do exposto acima, tem-se:

Pressão inflacionária, sendo prejudicial às populações das regiões

turísticas, porque a alta dos preços no geral atinge também bens e

serviços de primeira necessidade;

Grande dependência com relação ao turismo, tornando a economia da

região vulnerável às flutuações sazonais da demanda de produtos

turísticos; e

Os custos sociais e ambientais às regiões turísticas e aos residentes.

61

Com essas definições e características do turismo, a importância e a

complexidade do setor de turismo em um determinado país ou região não propicia

só divisas de capital, mas também prosperidade a uma determinada comunidade no

que tange à qualificação profissional, melhor qualidade de vida e melhor

desempenho dos serviços oferecidos a sua população.

3.7 Desenvolvimento sustentável e intervenção pública

Segundo Beni (2012), o conceito de desenvolvimento tem mudado através do

tempo. Primeiro, falou-se apenas de desenvolvimento econômico, privilegiando-se

os indicadores de crescimento como medida desse desenvolvimento, entre os quais

a acumulação de capital e a poupança, quantidade e tipo de investimento industrial

ou em cadeias produtivas e variações do Produto Interno Bruto (PIB).

Posteriormente, falou-se de desenvolvimento econômico e social, assinalando-se

que o desenvolvimento requer mudanças quantitativas e qualitativas, ou seja,

crescimento com justa distribuição dos frutos desse crescimento, seja de uma

comunidade, área geográfica ou país. Neste caso, além dos indicadores anteriores,

são privilegiados a distribuição de renda, o Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH), a taxa de analfabetismo, a taxa de mortalidade infantil e, ultimamente, o grau

de organização e de participação da sociedade civil e o denominado capital social,

entre outros.

Contudo, observou-se que o desenvolvimento das economias de mercado

acarretou uma série de externalidades negativas, como a deterioração do meio

ambiente, expressa em poluição de terras, mar, águas fluentes e subterrâneas, além

de desmatamento, erosão, perda da biodiversidade e aumento do número de

pessoas com problemas de saúde, devido à contaminação do meio ambiente, entre

outros fatores.

Na Conferência das Nações Unidas em Estocolmo, 1972, incorporou-se aos

temas de trabalho a relação entre desenvolvimento econômico e degradação

ambiental, e salientou-se o conceito de desenvolvimento sustentável, que implica

desenvolvimento que não só satisfaça as necessidades do presente, mas que não

coloque em perigo a capacidade das gerações futuras de atender as suas próprias

necessidades. Hoje, muitas são as pessoas e instituições que acham que o

desenvolvimento não é possível sem o respeito aos recursos naturais do meio, ou

seja, os aspectos econômicos, sociais e ambientais devem ser tratados de forma

62

conjunta na formulação seja de políticas, de planos, de programas ou de projetos.

Qualquer desequilíbrio ou ênfase em alguma dessas variáveis, sem levar em conta

as outras, afetará a eficiência e a eficácia das intervenções e, seguramente, a

qualidade de vida da população. Isso implica que as instituições governamentais

devem redefinir suas políticas e liderar as mudanças ou transformações da

comunidade para uma sociedade sustentável.

As instituições públicas intervêm na realidade social em razão, em grande

parte, do caráter desigual do desenvolvimento resultante de um sistema de mercado.

Assim, o setor público deve intervir para corrigir as desigualdades existentes,

sobretudo dos grupos mais vulneráveis e/ou mais carentes da sociedade, além de

solucionar problemas básicos no campo da infraestrutura, do meio ambiente, da

educação, da saúde e da segurança, entre outros.

Mário Carlos Beni cita ainda em seu livro em 2012 que o objetivo de uma

intervenção pública é mudar a qualidade de vida da população beneficiária, desde

uma situação ou estado inicial (situação-problema) a uma situação desejada

(situação melhorada). O processo de planejamento permite orientar, racionalizar e

acelerar esse processo de mudança social, que é complexo, porque, além de

realizar ações voltadas à solução de problemas, também precisa mudar estruturas e

modos de atuar.

Assim, uma intervenção pressupõe uma ação ou prática transformadora, e

não mantenedora da situação da realidade social. Uma intervenção pública será

ineficaz se não mudar a situação-problema que a gerou, o modo tradicional de agir

da população-alvo. Inclusive, deve permitir a sustentabilidade ou continuidade dos

resultados do processo realizado, quando o setor público se retirar.

A participação organizada da população-alvo em todas as etapas do processo

de planejamento é a forma ideal para que a intervenção tenha maior probabilidade

de sustentabilidade e sucesso. Nesse sentido, a intervenção pública deve ser uma

intervenção social participativa, ou seja, com a participação organizada das

comunidades beneficiárias e outros atores sociais pertinentes. Logo, entre outros, a

organização da comunidade é um requisito para a participação e a sustentabilidade

do processo.

A intervenção pública, por definição, é uma ação planejada, que envolve

desde a identificação do problema até a avaliação dessa intervenção, seja por meio

de um plano, programa ou projeto e, conforme assinalado, cujo propósito final é a

transformação ou mudança da qualidade de vida dos beneficiários, objeto da

63

intervenção. Na situação inicial, ou situação de partida, é onde se pesquisa e se

identifica a situação-problema da comunidade. Tal pesquisa é conhecida como

diagnóstico da situação inicial ou linha de base (denominada também marco zero), o

que implica analisar a situação anterior e a presente da comunidade, a fim de

identificar o perfil do problema e suas causas, quantificar variáveis relevantes de tipo

econômico, produtivo, tecnológico, social, ambiental ou organizacional relativas aos

beneficiários e seu entorno. A quantificação dessas variáveis permite,

posteriormente, comparar a situação de partida dos beneficiários com os avanços da

intervenção. Esta seria uma das formas mais simples e básicas de avaliar o plano,

programa ou projeto. Conhecida a situação-problema, define-se a situação desejada

ou ponto de chegada, estabelecendo-se objetivos e metas, ou seja, o estado ou

situação que se espera alcançar ao término do plano, programa ou projeto. Essa

"situação de chegada" se denomina, também, imagem-objetivo da intervenção.

3.8 Definição de cluster

Cluster é uma palavra de origem inglesa, sem tradução precisa em português.

Os sistemas produtivos locais têm um importante papel no crescimento econômico e

no desenvolvimento de um país. Entre vários tipos de sistemas locais de produção,

os cluster são uma forma de concentração geográfica e setorial geralmente de

pequenas e médias empresas que mantêm um relacionamento sistêmico entre si

que possibilitam que sejam mais competitivas. Os cluster podem ser tanto de

empresas que fabricam ou comercializam produtos tradicionais de baixo nível

tecnológico como daquelas de base tecnológica, como as empresas de

eletroeletrônicos e até mesmo as ligadas ao setor de saúde, pois, atualmente,

demandam equipamentos de tecnologia avançada para uma base sustentável de

permanência no mercado.

Alguns autores consideram a definição de cluster segundo uma concepção

mais ampla, contando apenas a aglomeração geográfica e setorial das empresas

sem que ocorram especialização e cooperação por definição (ALTENBURG e

MEYER-STAMER, 1999).

Do ponto de vista conceitual, em uma definição genérica, um cluster é um

grupo de coisas ou de atividades semelhantes que se desenvolvem conjuntamente.

Assim sendo, o conceito sugere a ideia de junção, união, agregação, integração.

64

Para Santos:

A literatura econômica vem destacando a importância de uma nova forma de organização da produção, os chamados clusters, reconhece-se com este conceito a relevância da proximidade física entre empresas na geração de externalidades ou economia de aglomeração, na resolução de problemas comuns através de interação cooperativas e em última instância, na criação da eficiência coletiva. (2001, p. 30).

Segundo o autor, cluster é um conceito puramente espacial, uma

concentração de empresas no espaço, ao passo que rede descreve relações de

cooperação formais ou informais entre empresas.

Os aglomerados ou arranjos produtivos locais são definidos, segundo Brito

(2000, p. 85), como concentrações geográficas de atividades econômicas similares

e/ou fortemente interrelacionadas ou interdependentes.

Um cluster pode ser comparado a uma colmeia por ser sugestivo de

cooperação, colaboração, especialização, divisão do trabalho ou o conjunto de

equipamentos de lazer de um condomínio de edifício, como a piscina, a

churrasqueira, a quadra poliesportiva, o playground, o que sugere integração,

entrelaçamento, afinidades etc. Na atividade econômica, pode ser considerado a

reunião de pequenas ou médias empresas, por vezes até mesmo as de maior porte,

situadas em um mesmo local e que apresentam grandes níveis de entrosamento

entre si e constituem a oferta atualizada de um modelo de desenvolvimento local.

O mais importante para a caracterização do que se denomina cluster é a

relação entre as empresas, entre elas e o governo, a universidade e outras

instituições relacionadas. São essas possibilidades de estratégias conjuntas que

podem aumentar consideravelmente a produtividade das empresas em um cluster,

por gerar o que se chama de eficiência coletiva.

O conceito de eficiência coletiva, desenvolvido inicialmente por Schmitz

(1997) é muito esclarecedor para distinguir os diversos tipos de arranjos: a eficiência

coletiva é a vantagem competitiva que vem da soma das externalidades e da ação

conjunta. Se as externalidades ou economias externas surgem como um subproduto

não intencional da concentração, a ação conjunta é a organização intencional entre

as empresas, seja entre as individuais, como a de grupos organizados em

associações, consórcios produtivos etc. A ação conjunta pode promover um grande

diferencial de competitividade entre os clusters e as empresas que estão fora dele.

65

Porter no artigo Location, Competition, and Economic Development: Local

Clusters in a Global Economy Development Quarterly, relata que:

A geografia econômica durante uma era de concorrência global envolve um paradoxo. É amplamente reconhecido que as mudanças na tecnologia e da concorrência têm diminuído muitos dos papéis tradicionais de localização. No entanto, clusters ou concentrações geográficas de empresas interligadas, são uma característica marcante de praticamente todas nacional, regional, estadual e até mesmo economia metropolitana, especialmente nas nações mais avançadas. A prevalência de clusters revela insights importantes sobre a microeconomia da concorrência e o papel da localização em vantagem competitiva. Mesmo como razões de idade para o agrupamento ter diminuído em importância com a globalização, novas influências de aglomerados de concorrência têm assumido importância crescente em uma baseada no conhecimento e economia cada vez mais complexo e dinâmico. Clusters representam uma nova maneira de pensar sobre as economias nacionais, estaduais e locais, e eles necessitam de novos papéis para empresas, governo e outras instituições no aumento da competitividade. (2000, p. 15-34).ok

Os principais elementos inerentes ao conceito de cluster segundo Meyer e

Stamer (1999) são:

Aglomeração – ideia de conjunto inter-relacionado e espacialmente

concentrado, ensejando a troca de sinergia e a prática de cooperação e

de alianças estratégicas, inclusive para neutralizar limitações relacionadas

a economias de escala, como processos tecnológicos, aquisições de

insumos, assistência técnica, tratamento pós-colheita, comercialização

etc.;

Afinidade – empresas voltadas para o mesmo ramo de negócio (atividade

principal do cluster), embora cada uma ou um conjunto delas se

especialize em tarefas específicas (fornecimento de insumos e serviços,

produção, comercialização, pesquisa, desenvolvimento de novos

mercados etc.), como exemplifica o próprio Polo de Saúde de Teresina,

onde tem-se organizações que tratam da fabricação de medicamentos e

hospitais que fazem internações para operações da alta complexidade,

como transplante de fígado e rins, todos voltados para o mesmo ramo de

atividade que é a prestação do serviço de saúde a uma determinada

sociedade;

66

Articulação – relacionamento próximo, intensivo e permanente entre as

empresas, propiciando, por um lado, a troca de sinergia e a prática da

colaboração e, por outro, estimulando a rivalidade e a competição;

Ambiente de negócios positivo – relações comerciais apoiadas na

confiança recíproca, condição favorável à formação de parcerias e de

alianças estratégicas, por meio das quais as partes envolvidas, mesmo os

concorrentes, unem-se para enfrentar problemas comuns de logística,

assistência técnica, comercialização, suprimento de matérias-primas e

insumos etc., e organizam-se para negociar, com o governo e com

instituições públicas e privadas, ações consideradas importantes para o

fortalecimento e a consolidação do cluster; e

Apoio Institucional – rede de instituições públicas, privadas e até ONG,

que atuam em torno do cluster como estimuladoras e catalisadoras da

integração e da colaboração dos atores (governo em todos os níveis e

iniciativa privada), inclusive mediando eventuais conflitos de interesses

entre as instituições, tendo em vista a sustentabilidade do processo.

Apesar da vulnerabilidade que pode representar para uma economia regional,

por concentrar a produção em alguns produtos e serviços, são muitas as vantagens

potenciais dos clusters, motivo que os torna tão atrativos como objeto de efetivação

uma política pública, tornando-os alvos de atenção de governos de vários países e

organizações mundiais, principalmente a partir das últimas três décadas.

Entretanto, reforçando o que foi dito anteriormente, deve-se sempre levar em

consideração que o sucesso dos clusters depende, em grande parte, da cultura

empresarial local e da capacidade dos empresários de trabalharem em conjunto.

Quanto a esse aspecto, Altenburg (1998) destaca que os fatores qualitativos podem

aumentar consideravelmente o desempenho dos clusters e que a falta de espírito

empreendedor de parcerias e de confiança são geralmente os maiores obstáculos

para o seu desenvolvimento.

Marshall (1925), no seu livro Princípios de economia, identificou três fontes de

economias externas que seriam a consequência do crescimento industrial como um

todo, não sendo obrigatoriamente relacionadas ao tamanho de empresa advindas da

concentração geográfica das organizações, que são:

67

a) A localização de empresas em um mesmo local possibilita uma maior

concentração de mão de obra especializada, o que beneficia tanto os

empresários como os trabalhadores que migram para esta região,

atraídos pela quantidade de firmas;

b) O desenvolvimento de um mercado fornecedor, devido a uma maior

demanda para estas empresas de insumos e serviços especializados,

possibilita a oferta de maiores quantidades e variedades a menores

custos; e

c) A criação de condições para o desenvolvimento tecnológico também pode

ser um dos resultados benéficos da concentração geográfica e setorial

das empresas devido ao fato das informações e das invenções fluírem

mais facilmente em uma velocidade maior que em grandes distâncias,

proporcionando saltos tecnológicos.

Desse modo, as vantagens da concentração geográfica podem ser explicadas

a partir das medias de diferentes fatores de acordo com o tipo característico da

indústria ou do serviço que está ofertado. Entre eles estão a proximidade do

mercado consumidor, a facilidade de acesso a matéria-prima, o desenvolvimento do

sistema de transporte e, em alguns tipos de indústria ou serviço e a existência do

aparato científico das universidades entre outros.

Do ponto de vista operacional, o cluster é a nova forma que o esforço pelo

desenvolvimento econômico e social vem assumindo no mundo inteiro, tanto nos

países industrializados, como naqueles países em fase de industrialização. Muitos

países e regiões estão promovendo o desenvolvimento de clusters em resposta à

economia globalizada em mutação. Bons resultados têm sido obtidos em um grande

número de países, incluindo Escócia, México, Marrocos, Irlanda, Peru, El Salvador,

Malásia, Nova Zelândia e vários estados dos Estados Unidos, que iniciram projetos

de desenvolvimento local liderados pela iniciativa privada, sendo a experiência

Italiana a mais antiga e bem-sucedida de todas.

Uma iniciativa de cluster deve incluir todos os jogadores e parceiros que

contribuem para a plataforma competitiva de determinada atividade econômica. Em

geral, os participantes são oriundos de pequenas, médias e grandes empresas,

associações de classe (indústria, trabalhadores, serviços), governo e instituições de

68

apoio envolvidos em todas as etapas da cadeia produtiva da indústria, desde a da

matéria-prima até a do consumidor final.

Os papéis apropriados do governo, segundo Altenburg (1998) são:

Apoiar as iniciativas de identificação das manifestações espontâneas

embrionárias de clusters;

Estabelecer um ambiente econômico e político estável e previsível;

Aumentar a disponibilidade, a qualidade e a eficiência de inputs de caráter

geral e das instituições;

Criar um contexto que incentive inovações e avanços;

Reforçar a formação de cluster e sua constante melhoria e avanços na

economia; e

Criar e comunicar uma visão econômica nacional, positiva, distinta e

atuante que possibilite mobilizar os cidadãos para a ação.

De acordo com o exposto, pode-se inferir que nenhuma empresa é

competitiva isoladamente. O que acontece em unidade produtiva é importante, mas

está comprovado que o ambiente empresarial no qual a empresa está inserida

também desempenha papel vital para a competitividade. Um excelente hotel, bem

estruturado e com bons serviços, terá grande dificuldade de viabilizar-se, se a cidade

onde se situa padecer de problemas de segurança, se os serviços locais de

aeroporto, táxi e restaurantes funcionarem precariamente, se os serviços de apoio à

promoção de eventos forem deficientes, as atrações turísticas da cidade forem

poucas ou o artesanato regional for deficitário. Em contrapartida, o bom

desempenho de um membro ou de um segmento de um cluster pode aumentar o

sucesso dos demais.

Após esse último item que foi a conceituação de cluster e suas implicações

em uma determinada região e sociedade, abordamos todos os temas relevantes ao

trabalho em curso como consequência do espírito empreendedor de seus dirigentes.

A seguir serão apresentados dois artigos internacionais que corroboram a

tese sobre a importância de um determinado cluster para a economia e o

desenvolvimento regional de uma localidade.

Cooke (2001) apresetna em seu artigo um relato sistemático da ideia e do

conteúdo de sistemas regionais de inovação com as seguintes descobertas feitas

por cientistas regionais, geógrafos, economistas e analistas de inovação. Ele

69

considera as condições e os critérios para o reconhecimento empírico e julgar se

cientificamente determinados casos concretos da atividade de inovação garantem a

designação de sistema de inovação regional.

O artigo conclui que a fonte de déficit de inovação da Europa e dos Estados

Unidos repousa sobre o excesso de dependência da intervenção pública, o que

significa maior falha de mercado. O futuro exigirá evolução generalizada de inovação

pública, sistemas de apoio, com o apoio institucional e organizacional mais forte do

setor privado, concluindo com isso a organização das empresas em forma de

clusters ou APLS para maior potencialidade de inovação tecnológica.

Segundo Gordon, McCann:

O conceito de clusters industriais tem atraído muita atenção durante a última década, tanto como descritivo de um fenômeno cada vez mais importante e como base para a intervenção pública eficaz nas economias de atraso de cidades-regiões. No entanto, há muita ambiguidade na maneira em que este conceito é utilizado, apresentando um obstáculo tanto para testes empíricos e avaliações realistas de relevância política. Neste trabalho, é possível distinguir três modelos ideal-típicos de processos que podem fundamentar concentrações espaciais de atividades relacionadas, com implicações muito diferentes tanto em termos de elementos de prova relevantes e as possibilidades de políticas promocionais. Os dados da pesquisa para a conurbação de Londres são usados para explorar a relação entre concentração e diferentes formas de ligação, com resultados que apontam para o domínio dos efeitos de aglomeração puros neste contexto, pelo menos. (2015, p 76).

Pelo exposto, este artigo relaciona muito bem o APL de Londres com o APL da

cidade de Teresina em função da importância da gestão pública na construção de

um cluster e sua relevância econômica e política que os referidos APS têm para sua

região.

3.9 Diferenciação entre clusters e APLS

As primeiras noções sobre concentração territorial de empresas surgiram

embrionariamente nos estudos do economista clássico Alfred Marshall, que, em

1925, publicou o livro Principles of Economics relatando a existência de pequenas

empresas que formaram um conglomerado territorial em âmbito local na Inglaterra.

Através de um sistema de complementaridade de operações, esse sistema de

produção criou também um ambiente propício para o desenvolvimento de novos

70

negócios e ampliação da atuação do conglomerado (HOFFMANN e MORALES,

2006).

A noção de cluster apresentada no tópico anterior surge como uma forma

proveitosa de se analisar a questão do desenvolvimento turístico, visto que cria

potencial para identificação de áreas em que a ação governamental pode melhorar,

gerar e aumentar a competitividade e o valor econômico das atividades em

determinada região onde ambiente regional para é propício aos negócios. Tal como

aplicado às atividades industriais, o cluster turístico existe como uma maneira de

agrupamento de agentes econômicos, políticos e sociais relacionados ao turismo,

baseados num mesmo território com foco num conjunto específico de atividades

turísticas, que se reúnem para interagir, cooperar, aprender, trocar e obter input,

garantir e conquistar mercados e promover capacidade inovadora, competitividade e

desenvolvimento local.

Segundo Toledo (2012), o alcance da competitividade dos agentes é

proporcional ao vetor resultante das estratégias competitivas, estratégias

cooperativas e de relacionamento com os turistas. De acordo com o autor, a ideia de

polo turístico leva ao conceito errôneo de relacionar a competitividade turística

somente com as características geográficas, com os recursos naturais e turísticos de

uma determinada região. O êxito dos clusters em outros setores da economia vem

suplantando o conceito de polo no setor turístico como uma forma de melhor

aproveitar o potencial dessa atividade econômica.

Ainda de acordo com Toledo a estratégia de relacionamento com o turista não

existe, individual para alguns agentes.Ela é integrada para o cluster. Planejada para

cada agente e sociedade local. Relação dos setores público, privado e não

governamental, poucos agentes o realizam. É obrigatório para o cluster e para

alguns agentes. Imagem De cada agente. Do cluster em conjunto. Regional e

mundial. Ciclo da atividade turística Fragmentada Produtos integrados e

diversificados Definição das políticas de ação e marco legal Não há Indispensável.

Empresas e governos aliados nos objetivos. Educação, Capacitação e Cultura

Alguns individualmente. Em conjunto e individual. Execução e Promoção Individual

Em conjunto e individual Etiquetas Ecológicas Indiferente Incentivo no âmbito dos

clusters e de empresas. TOLEDO, 2012

De acordo com Beni, o turista tema um comportamento como consumidor

diferente do passado: “o consumidor de hoje não será o cliente de ontem. Ele

71

buscará a qualidade mais que a forma” ((2011, p. 215). Ainda, tendo como referência

esse autor, tem-se que a demanda em turismo é um conjunto de bens e serviços e

não demanda de simples elementos ou de serviços específicos isoladamente

considerados. Em resumo, são demandados bens e serviços que se complementam

entre si. A partir dessas mudanças, comprova-se que o consumidor turístico percebe

como melhor destino aquele que lhe proporciona uma oferta integrada de produtos e

serviços. Essa noção vai de encontro ao conceito de cluster anteriormente

analisado. Cabe ressaltar que deve existir uma boa administração das relações do

cluster com a sociedade e com o ambiente, lembrando que isso é uma questão de

extrema relevância se considerarmos os aspectos da exploração do setor turístico.

Magalhães (2002) destaca que se deve estruturar uma base de convergência dos

interesses públicos e privados com o critério de sustentabilidade no plano

estratégico do destino turístico no intuito de conservar o meio físico, as formas de

organização das comunidades receptoras, seus usos, costumes e tradições que

agregam valor ao espaço regional, bem como a sua participação nas fases de

planejamento. E ainda, o sistema de turismo deve ser configurado a partir do

relacionamento com o cliente (turista) que é o centro de funcionamento do cluster. E,

para poder atingir a fidelização do cliente, sua gestão deve ser competitiva,

cooperativa e proativa, exercida por todos seus integrantes (BENI, 2011).

A partir da década de 1970, a concentração de empresas de pequeno porte

em uma determinada região começou a ser identificada e estudada na Europa,

especialmente na Itália, com o surgimento de aglomerações de empresas de um

único produto, denominadas de distritos industriais, que chamaram a atenção de

pesquisadores pela alta eficiência demonstrada (GOLDSTEIN e TOLEDO, 2006). O

modelo implantado na Itália, por exemplo, e que foi denominado Terceira Itália,

tornou-se conhecido como uma das experiências bem sucedidas por ter consolidado

o exemplo mais paradigmático e frequentemente recorrido como modelo de sucesso

deste novo padrão de organização espacial de atividades produtivas. Este tipo de

análise ressalta os possíveis ganhos de eficiência proporcionados pela

especialização produtiva de empresas localizadas em uma mesma região

geográfica, atribuindo particular importância à institucionalidades subjacentes às

relações entre agentes econômicos e indutores de colaboração implícita e explícita

entre elas (GURISATTI, 1999). Posteriormente, na década de 1980, ocorreu a

concentração de empresas de alta tecnologia no Vale do Silício, Califórnia, EUA,

72

que consolidou a utilização do modelo como uma estratégia adequada para

pequenos empreendimentos, mas de elevada capacidade tecnológica.

Nesse mesmo período, o interesse para a formação de redes

interorganizacionais de cooperação técnica e gerencial no Brasil. Foi estimulado pelo

Governo Federal, principalmente através dos programas de apoio à Pequena e

Média Empresa (PME), administrados pelo Sebrae e conveniados com órgãos

financiadores e de pesquisa.

O Sebrae considera que Arranjo Produtivo Local (APL) é um aglomerado de

empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização

produtiva e que mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação e

aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como governo, associações

empresariais, instituições de crédito e instituições de ensino e pesquisa,

principalmente universidades. Segundo Suffi (2002), a experiência de diversos

clusters bem sucedidos, como o Silicon Valley, na Califórnia, e a Terceira Itália,

demonstram que, geralmente, estes clusters têm surgido espontaneamente e que, à

medida que os mesmos evoluem e se fortalecem, é comum o surgimento de

instituições responsáveis pela estruturação de mecanismos de suporte e pela

definição de diretrizes para o desenvolvimento comum das atividades.

Para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),

um dos agentes envolvidos no processo, APL é uma concentração geográfica de

empresas e instituições que se relacionam em um setor particular e que inclui, em

geral, fornecedores especializados, universidades, associações de classe,

instituições governamentais e outras organizações que provêm educação,

informação, conhecimento e ou apoio técnico e entretenimento (BNDES, 2003).

APL também é entendido e classificad como um cluster por diversos autores,

uma vez que a conceituação de cluster encontrada na literatura (SANTOS;

CROCCO; LEMOS, 2002; LASTRES; CASSIOLATO; MACIEL, 2003; KREUZ;

SOUZA; CUNHA, 2003) se refere a uma aglomeração de empresas de pequeno

porte numa determinada região geográfica, organizadas para obter vantagem

competitiva frente às corporações de maior porte ou a dos concorrentes diretos que

atuam individualmente. Apesar da semelhança na conceituação de APL e cluster,

existe uma diferenciação entre esses dois modelos de rede, a qual pode ser

encontrada na própria finalidade de um APL, que é a de produção, ao passo que um

73

cluster pode estar voltado para outro tipo de negócio, como o comércio ou prestação

de serviços, como é o caso do Cluster de Saúde de Teresina.

No âmbito do conceito de Rede de Negócios, a existência de um APL também

é considerado, para alguns autores, um cluster industrial. Goldstein e Toledo (2006),

ao discutir a formação de cluster, consideram que:

Trata-se de um aglomerado de empresas, de um modo geral de pequeno e médio porte, situadas em uma mesma região geográfica e com a mesma especialização setorial, organizadas de modo a obter vantagens competitivas em comparação aos seus concorrentes que atuam individualmente. Há outras denominações que costumam ser usadas para definir clusters, como arranjos produtivos locais e distritos industriais. Alguns autores não diferenciam clusters de APLs. (2006,p. 68).

O conceito de cluster de negócios, defendido por Zaccarelli, trata de

entidades supra-empresariais que têm como primeira característica a proximidade

geográfica e compatibilidade de produtos. Conforme os autores:

entidade supra-empresarial se constitui em um sistema instituído pela inter-relação de um conjunto de negócios relacionados a determinado produto, linha, categoria ou mercado, em que o processo de integração e a dinâmica das relações entre as organizações implicam efeitos sistêmicos de amplificação da capacidade competitiva do sistema e de seus componentes em relação a empresas situadas externa a ele (ZACCARELLI et al., 2012, p. 44).

A performance competitiva de clusters de negócios, segundo Zaccarelli et al.

(2012, p. 73) é dada pelos seguintes fundamentos: 1) Concentração geográfica em

área reduzida; 2) Abrangência de negócios viáveis e relevantes; 3) Especialização

das empresas; 4) Equilíbrio com ausência de posições privilegiadas; 5)

Complementaridade por utilização de subprodutos; 6) Cooperação entre empresas;

7) Substituição seletiva de negócios; 8) Uniformidade de nível tecnológico; 9) Cultura

da comunidade adaptada ao cluster; 10) Caráter evolucionário por introdução de

(novas) tecnologias; e 11) Estratégia de resultado orientada para o cluster.

Segundo o autor, esses aglomerados podem auferir ganhos de eficiência que

as empresas raramente poderiam atingir isoladamente, ganhos esses que podem

ser compreendidos como a vantagem competitiva obtida pelas externalidades e ação

conjunta das mesmas.

74

Portanto, um APL somente poderá ser caracterizado pela identificação ou

existência de um expressivo número de empresas que exercem uma atividade

produtiva principal numa região delimitada geograficamente e que apresentem

alguma característica relacionada ao propósito da existência do arranjo. Além disso,

se faz necessário observar o potencial sócioeconômico dessa região, procurando-se

avaliar pontos importantes como postos de trabalho, geração de renda, perspectivas

e potencial de crescimento, diversificação ou concentração de atividades fabris e

comerciais e prestação de serviços acessórios e de apoio às atividades-fins do

arranjo.

O APL é uma das formas encontradas por pequenas organizações para

enfrentar a concorrência, organizando-se em comunidades empresariais e,

consequentemente, expandindo suas fronteiras, tanto do ponto de vista territorial

quanto econômico de negócios. Visam maior competitividade mediante a agregação

de valor aos produtos e a criação de uma base sólida de inovação e

desenvolvimento produtivo que permita a todos os envolvidos participarem do

crescimento e da expansão dos negócios, inclusive com a exportação consorciada

da produção de cada participante.

75

4 METODOLOGIA

Usando a proposição de Vergara (1998), é possível classificar esta pesquisa

em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quantos aos meios de investigação.

Quanto aos fins, a pesquisa é exploratória, descritiva e aplicada. Exploratória

em razão do pouco conhecimento acumulado e sistematizado sobre o

empreendedorismo influenciando um determinado setor, como em Teresina, ligado à

saúde. Há poucos trabalhos divulgados sobre a identificação das variáveis do perfil

empreendedor e da composição de cluster na cidade.

Esta pesquisa é também descritiva, à medida que compreende a obtenção e

exposição de dados representativos de determinada situação ou fenômeno.

Segundo Rudio (apud OLIVEIRA, 1998, p. 69), o propósito desse tipo de pesquisa é

“descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e

interpretá-los”. Neste caso, descrevem-se as características empreendedoras dos

gestores ligados à área de saúde de Teresina e suas perspectivas para o

fortalecimento e a firmação do cluster de saúde na capital piauiense.

Ainda quanto aos fins, a pesquisa pode ser classificada como aplicada, uma

vez que tem finalidade prática e é motivada pela necessidade de demonstrar como o

perfil empreendedor de um gestor e a composição de clusters em uma determinada

área geográfica do país pode gerar emprego e renda.

Quanto aos meios de investigação, esta pesquisa é bibliográfica e de campo.

A primeira construção compreende uma revisão da literatura disponível sobre o

tema, ou seja, um levantamento sistematizado de livros, artigos em revistas, teses e

dissertações e outras publicações sobre o assunto, visando fundamentar

teoricamente o trabalho e subsidiar a análise dos dados coletados. A segunda,

assume tal característica por ter sido feita uma investigação empírica juntos aos

gestores dos empreendimentos ligados à saúde na cidade, visando obter dados

sobre a sua percepção acerca do perfil empreendedor, suas características e a

composição e consolidação de um cluster em Teresina.

Finalmente, quanto à natureza das variáveis estudadas, esta pesquisa pode

ser classificada como qualitativa, pois foram conduzidas entrevistas com

questionários semiestruturados com os gestores e proprietários das empresas

ligadas ao serviço de saúde na cidade, oportunidade em que eles tiveram liberdade

76

para expor, de maneira singular, descrições detalhadas, atitudes, crenças e seus

pensamentos sobre o assunto.

4.1 Construção dos instrumentos de coleta de dados

Para a elaboração das questões para entrevista, foram consideradas cinco

características relevantes apontadas pela literatura para a composição de um perfil

empreendedor, e os aspectos técnicos essenciais para a constituição de um cluster

e do turismo de saúde: visão de negócio, habilidades, valores, persistência e

visão para barrar novos entrantes, verificando sempre evitar perguntas

consideradas ambíguas, duplicadas e irrelevantes para a composição do mesmo,

conforme sugerido por Mattar (1996).

Todas as questões da entrevista aberta foram semiestruturadas e flexíveis, de

acordo com os respondentes que estavam no momento sendo entrevistados.

Foram os seguintes tópicos abordados em entrevistas realizadas na pesquisa:

surgimento do polo; desenvolvimento do polo; melhoria da infraestrutura do polo;

visão de negócio em relação a um cluster; estrutura, tecnologia e perspectivas

futuras.

A entrevista foi aplicada a uma amostra de 3,5% dos setores envolvidos com

o Polo de Saúde em Teresina, onde foram escolhidos para a pesquisa em pauta

organizações de confiança e reputação consolidada junto a sociedade teresinense,

distribuídas conforme o Quadro 11.

Quadro 11 – População da Amostra

DESCRIÇÃO DA AMOSTRA QUANTIDADE PESQUISADA

Hospitais particulares 3

Clínicas particulares 5

Consultórios 5

Laboratórios 1

Escola de medicina 1

Planos de saúde 2

Meios de hospedagens 2

Total 19

Fonte: Elaborado pelo autor.

77

Essa amostra foi retirada de um efetivo total 633 atividades diretas e indiretas

ligadas ao setor de saúde conforme o Quadro 4.

A relação de entidades pesquisadas e sua estratificação podem ser

observadas no Quadro 15, página 98.

Da população da amostra, 83% são do sexo masculino e 17% do sexo

feminino, 82% são casados. Quanto à idade, o maior quantitativo (78%) situa-se na

faixa etária de 32 a 49 anos. Mais da metade tem entre 5 e 20 anos de profissão. No

que diz respeito ao grau de instrução, 78% têm curso superior. Entre os gestores

desta pesquisa, os cursos superiores mais comuns são Medicina (80%) e

Farmácia/Bioquímica, com 5%. Todos os respondentes eram proprietários ou

diretores-administrativos das organizações da amostra.

Pode-se verificar a predominância do sexo masculino nas administrações

ligadas ao setor de saúde, e atuando em profissões altamente técnicas e muito

direcionadas para o objetivo a que se destinam desde suas vidas acadêmicas nas

universidades, e estão atualmente como proprietários e administradores de

empresas públicas e privadas, alguns se destacando pelo seu espírito

empreendedor.

A amostra usada na presente pesquisa foi escolhida pelo critério de

acessibilidade, ou seja, foram entrevistadas pessoas as quais o pesquisador tinha

possibilidade de alcance, sem que isto significasse intencionalidade de influenciar os

resultados da pesquisa.

A amostra tem também a característica de ser estratificada, sendo

aproximadamente proporcional aos segmentos existentes na população, pois foram

previamente estabelecidas quantas entrevistas seriam realizadas em cada estrato.

Não se trata de uma amostra probabilística, conforme definida por Costa Neto

(2002) como aquela em que todos elementos da população têm probabilidade

conhecida e diferente de zero de pertencer à amostra.

Entretanto, não se possa garantir teoricamente a perfeita representatividade

da amostra, devido a não ser rigorosamente probabilística, acredita-se que essa

representatividade possa ser assumida, ao menos com boa aproximação, conforme

o julgamento do autor, por não haver razões aparentes para isso não acontecer.

Ao fazer essa consideração apoia-se essa afirmação em Costa Neto segundo

qual: “em muitos casos os efeitos de uma amostragem não probabilística pode ser

considerado equivalente ao de uma amostragem probabilística” (2002, p. 41).

78

5 RESULTADOS

Neste capítulo apresenta-se uma pesquisa prévia de interesse do trabalho

conduzida pelo pesquisador antes da realização da pesquisa de campo principal

desta tese, em seguida apresenta-se item a item os resultados da pesquisa de

campo, concluindo com uma síntese dos resultados alcançados.

5.1 Pesquisa prévia existente

Para iniciar a descrição e análise das entrevistas foi realizado um estudo

bibliográfico sobre uma pesquisa contínua do Sebrae. O órgão vem trabalhando um

Plano Estratégico do Polo Empresarial de Saúde de Teresina, que estabelece

estratégias para serem executadas até o final de 2015. De acordo com o plano, “a

consolidação do setor como referência regional teve como vetor de sucesso a

formação do polo de saúde e o início do desenvolvimento de um cluster de saúde

em Teresina, em cujo projeto, profissionais e empresas públicas e privadas, em uma

área geográfica determinada, formam uma cadeia produtiva responsável pela

geração cada vez maior de emprego e renda para o município” (SEBRAE, 2010).

O plano foi elaborado de forma participativa com as empresas e, desde 2010,

80 deles já passaram pelo projeto. Hoje, 28 estão sendo trabalhados para que

aumentem seus padrões de qualidade e atendimento e consigam certificações como

a ISO 9001. O objetivo é que as micro e pequenas empresas da área de saúde

tenham um referencial de patamar diferenciado e competitivo junto ao mercado,

além de fortalecer o polo de saúde. Entre os objetivos, está o aumento do número

de clientes, retenção dos talentos humanos, além da redução dos custos

operacionais e melhores níveis de satisfação dos clientes.

O empresário e cirurgião-dentista Antônio Francisco Costa, do Centro de

Diagnóstico Odontológico (UDO) foi um dos que participou do projeto e,

entrevistado, afirma que a mudança no gerenciamento de sua empresa foi muito

grande e envolveu gestão de pessoas, controles financeiros e melhorias nos

serviços prestados. A UDO, uma clínica odontológica especializada em radiologia e

cirurgias, tem 15 anos de mercado e tem três espaços: no Polo de Saúde, na Zona

Leste da capital, e na cidade de Floriano (PI). “Antes, a minha gestão era muito

amadora, e o Sebrae me deu ferramentas para que eu gerisse melhor a minha

79

empresa e pensasse em indicativos, em resultados, em uma gestão para o futuro”,

afirma. Em 2011, a UDO atendia cerca de mil pessoas/mês. Em 2012, o número de

atendimentos saltou para mais de dois mil. Com a melhoria dos processos, a

empresa passou a economizar cerca de R$ 20 mil mensalmente.

Outro ponto que o empresário afirma ter melhorado foi a relação com outras

empresas concorrentes. “Percebi que preciso encarar os colegas empresários como

uma oportunidade de associação para o crescimento, e não com rivalidade. Com a

parceria, crescemos e ganhamos muito mais”, esclarece o proprietário da clínica

UDO.

Para a elaboração do plano, o Sebrae fez em 2010 um diagnóstico do Polo de

Saúde, que mostrou, entre outras coisas, os motivos da procura pelo atendimento

em Teresina.

Do total de entrevistados, 41,26% apontaram como motivo principal não ter

serviço de saúde em sua cidade, 37,16% disseram que em sua cidade não

resolveria o problema e 16,12% declararam ter familiares em Teresina e que

costumam ir à cidade fazer exames preventivos anual ou semestralmente. A

pesquisa também revelou que mais de 69,95% dos pacientes que buscam o Polo de

Saúde fazem isso mais de uma vez por ano.

Mais de 70% dos pacientes entrevistados declararam que consideram boas

as instalações das clínicas e hospitais, e 67,6% avaliaram como boa ou muito boa a

qualidade dos serviços oferecidos. O percentual de aceitação é ainda maior quando

perguntados sobre o nível de satisfação em relação às consultas e exames, 94,4%

afirmaram terem ficado satisfeitos ou muito satisfeitos.

A pesquisa ouviu 366 pacientes de estabelecimentos como centros de saúde,

clínicas, hospitais, clínicas radiológicas e de reabilitação e laboratórios de análises

clínicas.

População x Médicos

A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza como parâmetro ideal de

atenção à saúde da população a relação de um médico para cada mil habitantes.

Para centros com uma rede de serviços bem estruturada, os técnicos defendem a

ampliação deste parâmetro. De qualquer forma, a definição desta relação torna-se

um importante recurso de mapeamento da distribuição de médicos no país.

80

No Brasil, a relação média observada de a um médico para cada 622

habitantes está muito abaixo deste parâmetro. Além disso, há grande concentração

de médicos ativos nas regiões Sudeste (1/455 hab.), Sul (1/615 hab.) e Centro-

Oeste (1/640 hab.). Só as regiões Nordeste e Norte estão acima deste parâmetro,

apresentando relação média de 1/1.063 e de 1/1.345 habitantes, respectivamente.

No Norte, apenas Roraima (1/762 hab.) apresenta uma relação média abaixo

de 1/1.000 habitantes; o que também ocorre em cinco dos estados do Nordeste.

Uma análise comparativa dos estados indica que 16 deles (59,3%) apresentam uma

relação abaixo de 1/1.000 hab., sendo que o Rio de Janeiro (1/302 hab.) e o Distrito

Federal (1/309 hab.) são os que apresentam a maior concentração de médico por

habitante, ultrapassando, inclusive, São Paulo (1/471 hab.).

Em sentido inverso, destacam-se o Maranhão (1/1.917 hab.), seguido de Pará

(1/1.500 hab.), Amapá (1/1.484 hab.), Rondônia (1/1.450 hab.), Piauí (1/1.420 hab.),

Acre (1/1.374 hab.), Tocantins (1/1.329 hab.), Ceará (1/1.161 hab.), Amazonas

(1/1.132 hab.), Bahia (1/1.116 hab.) e Mato Grosso (1/1.041hab.). Destes, somente

Acre e Amapá mantém esta relação média acima de 1/1.000 habitantes, também,

em suas capitais e regiões interioranas.

Não obstante Tocantins (1/959 hab.) e Rondônia (1/968 hab.) estarem no

limite em suas capitais, merecem destaque pelo fato de apresentarem elevada

relação média em suas regiões interioranas (1/1.413 hab. e 1/1.725 hab.,

respectivamente), justamente onde está concentrada a maioria da população e dos

médicos ativos. Este desempenho foge à regra, evidenciando falta de médicos no

interior desses estados, sem que se configure concentração de médicos nas suas

capitais.

Das seis capitais da região Norte, Rio Branco (AC), Macapá (AP) e Boa Vista

(RR) apresentam relação superior a 1/1.000 hab., fato que não se observa nas

demais capitais do país. Roraima apresenta um desempenho excepcional, em razão

de sua capital Boa Vista destacar-se como a única exceção à tendência brasileira de

maior concentração de médicos nas capitais, apresentando a mais alta relação

média observada no país (1/1.737 hab.), enquanto no interior do estado esta relação

cai para (1/419 hab.), igualmente a mais baixa do país. Esse desempenho, no

entanto, necessita ser confrontado com o fato de que no interior estão concentrados

só 30,4% da população do estado e 69,5% dos médicos de Roraima. Em outras

palavras, cerca de 70% da população estadual, que está concentrada na capital Boa

81

Vista, tem carência de médicos, sem que haja carência desses profissionais no

estado (1/762 hab.)

Em sentido contrário, no interior do Pará, observa-se a maior relação média

do país (1/4.466 hab.), desempenho que resulta do fato de 73,3% dos médicos

ativos do estado estarem concentrados na capital Belém, que reúne apenas 20,4%

da população do estado.

No Nordeste, destaca-se a relação média observada no Maranhão (1/1.917

hab.), a mais alta do país. A capital São Luís, com apenas 15,6% da população do

estado e concentrando 52,5% dos médicos ativos, apresenta uma relação média de

1/570 hab., contra 1/3.403 hab. no interior.

Da mesma forma, merecem destaque nacional as altas relações

médico/habitantes observadas no interior dos estados nordestinos, chegando a

oscilar entre 1/1.691 hab. na Paraíba e de 1/4.108 hab. no Sergipe; o que resulta do

fato de todas as capitais nordestinas apresentarem relação média bem inferior a

1/1.000 hab. Esse desempenho, comparado às demais regiões, evidencia que o

Nordeste apresenta a maior concentração de médicos em capitais brasileiras.

Tabela 1 – Relação Médico Paciente

Fonte: Ministério da Saúde (2003).

82

Tabela 2 – Relação Médico Paciente por Estado

Fonte: Ministério da Saúde (2003).

A capital de Sergipe, por exemplo, com 25,7% da população estadual, tem à

sua disposição 82,9% do médicos ativos no estado. Não obstante todas as relações

médias apresentadas pelos estados do Centro-Oeste serem bastante baixas, com

exceção do Mato Grosso (1/1.041), chama a atenção a do Distrito Federal (1/309

hab.), por ser a segunda menor do país, abaixo apenas da observada no Rio de

83

Janeiro (1/302 hab.). As capitais da Região Centro-Oeste também apresentam

relação média bem abaixo do parâmetro da OMS, o que não ocorre no interior onde

esta relação está um pouco acima.

Os estados do Sudeste e Sul destacam-se por apresentarem todos, sem

exceção, relações médias bem abaixo de 1/1.000 habitantes, tanto nas capitais

como no interior. Pode-se observar com essas análises feitas, que todos os estados

dos quais são oriundos os pacientes de Teresina, como o Maranhão e o Tocantins,

tem-se uma relação Médico/Paciente acima de 1/1300 habitantes; relação essa que

mostra a total falta de médicos e infraestrutura hospitalar no interior desses estados,

o que acarreta a vinda desses pacientes para Teresina em decorrência de sua

localização geográfica privilegiada, como já relatado, e a qualidade já comprovada

de sua rede médico hospitalar da cidade de Teresina e tendo Teresina uma das

relações mais baixa do Brasil.

5.2 Descrição e análise das entrevistas

Segue uma abordagem das entrevistas realizada pelo autor, com autorização

prévia do Comitê de Ética da Universidade Paulista, apresentada no Anexo 2.

Surgimento do Polo

Os gestores da atividade direta ligada ao polo de saúde apontaram que os

primeiros fluxos migratórios de pessoas para Teresina tiveram início nos anos 1950,

com a implantação do Hospital Estadual Getúlio Vargas, pelo interventor da época

no estado do Piauí, o Barão Leão de Caxumé.

Construído nos moldes do Hospital das Clínicas de São Paulo, com a maioria

das especialidades existentes na época, obteve-se como consequência uma oferta

maior de serviços que a demanda local, ocasionando com isso um fluxo migratório

de pessoas advindas principalmente do interior do Piauí e Maranhão, em busca de

um serviço médico de melhor qualidade através da ferrovia Transnordestina que

transpõe os dois estados e que, na época, era muito utilizada em decorrência das

incipientes rodovias existentes nos anos 1950.

Já de início, pode-se observar que o polo de saúde começou com uma ação

direta governamental através da construção de um hospital de referência regional

84

para o meio norte brasileiro, gerando emprego e renda naquela época com a

utilização dos táxis da cidade e a construção de pensões para atender os pacientes

e familiares em trânsito na cidade ao redor da estação ferroviária, que pode-se

afirmar ser também uma outra ação governamental indireta para a consolidação do

Polo com a construção da ferrovia transnordestina.

Segundo o médico Zenon Rocha, um dos participantes há mais de 40 anos na

construção e evolução do Polo de Saúde, outro fator preponderante foi a criação

pelo Governo do Estado do Piauí, em 1967, da Faculdade de Medicina do Estado do

Piauí (Famepi) quando na época ainda nem existia a Universidade Federal do

Estado do Piauí (UFPI). Segundo ainda Zenon Rocha, outra ação realizada pelo

Governo do Estado foi a construção do Hospital Estadual Getúlio Vargas que, pela

sua imponência da época, servia como hotel quando grandes autoridades vinham a

Teresina. Concluindo, o entrevistado disse que sem a participação efetiva do Estado

com essas ações, o Polo não seria o que é hoje, uma referência regional e nacional.

Desenvolvimento do Polo

Indicado por 88% dos entrevistados, o fator mais preponderante para o

desenvolvimento do Polo de Saúde em Teresina foi a criação dos institutos de

previdência nos diversos órgãos públicos no início dos anos 1970, como os institutos

previdenciários, Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado

Ipasee) etc. ocasionando uma demanda maior por serviços de melhor qualidade e a

consequência natural da saturação do Hospital Getúlio Vargas. Alguns médicos, à

época, tiveram a percepção e visão de negócio, e implantaram hospitais e

laboratórios privados que se associaram a esses institutos através de

credenciamento para atender seus usuários.

Ademais, 12% dos entrevistados afirmam que além do exposto acima, outro

fator importante para o crescimento mais acentuado do Polo foi a construção das

rodovias federais nas décadas de 1960 e 1970 pelos governos militares, e Teresina,

por se localizar em um ponto estratégico no contexto geográfico, foi beneficiada

tendo em vista ser ela um elo terrestre necessário entre a Região Norte e Nordeste

oferecendo, como consequência, acesso da cidade para qualquer região do país.

Conforme pode ser visto na Figura 8.

85

Figura 8 – Mapa Rodoviário do Estado do Piauí

Fonte: Ministério dos Transportes (2012).

Com as questões pontuadas pelos entrevistados, é possível inferir que o

governo, direta ou indiretamente, contribuiu para a composição do desenvolvimento

regional de forma ampla. Contudo, a composição do cluster de saúde ocorreu

diretamente pelo espírito empreendedor dos médicos da região.

Características empreendedoras

O Quadro 12 mostra as características empreendedoras mencionadas pelos

entrevistados.

Quadro 12 – Características Empreendedoras

CARACTERÍSTICA % de Atuação

Visão de negócio 82%

Habilidades 75%

Valores 73%

Persistência 64%

Visão para barrar novos entrantes 40%

Fonte: Pesquisa de Campo do Pesquisador (2015).

86

Cabe destacar que como as entrevistas foram diretas e a questões

semiestruturadas, o quadro acima é resultante da manifestação dos entrevistados,

sendo a mais enfatizada aquela referente à visão de negócio pelos médicos e donos

da época, conforme exposto acima, que identificaram um nicho de mercado aberto

com a implementação dos institutos previdenciários.

Outras duas consequências subsequentes tiveram um percentual elevado de

citação, pois os respondentes acreditam até hoje e, o poder persuasão é uma das

facilidades de negociação que um empreendedor de sucesso tem que ter, fruto para

muitos uma característica do próprio nordestino e, em uma capital de estado onde

até hoje os valores morais, familiares e intelectuais são muito valorizados.ok pode

deixar assim

A composição do Polo de Saúde de Teresina

Para a maioria dos gestores, por ser Teresina a capital com o mais baixo

índice de renda per capita do país, a população médica aprendeu a trabalhar com os

recursos advindos da época dos institutos previdenciários, pois a consulta e a

internação particular eram incipientes, e até hoje são insignificantes em termos de

faturamento para o segmento.

Com a unificação desses institutos em 1975 e a criação do Instituto Nacional

de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps), os empreendedores passaram

a vislumbrar os ganhos a partir das oportunidades liberadas pela legislação em

vigor. Por exemplo, nos casos de internação, o Inamps oferecia para o paciente a

enfermaria, e se desejasse ir para o apartamento, o paciente assumiria a diferença

diretamente no hospital. Como consequência, os honorários médicos passavam a

ser diferenciados.

Com isso, houve um incentivo para a profissionalização da gestão hospitalar,

ou seja, de como os administradores hospitalar tratavam e tratam atualmente seus

empreendimentos, gerenciando os hospitais privados com uma administração

financeira de cunho também privado e com atendimento com uma conotação

administrativa de hospital público.

De acordo com o médico Aloisio Luz, diretor médico do maior plano de saúde

do Piauí, e o médico Paulo Cortelaze, diretor médico do Hospital São Paulo, são

elementos do quadro algumas atividades preponderantes para a composição do que

é hoje o Polo de Saúde em Teresina.

87

Quadro 13 – Características dos Gestores

Fonte: Pesquisa de Campo Do Pesquisador (2015).

O papel dos Planos de Saúde na composição do Polo de Teresina

As respostas apontadas a este item da análise por todos os pesquisados

destacam que os planos de saúde começaram a surgir mais fortemente no início dos

anos 1990. Com a conotação dos antigos institutos previdenciários e a criação do

SUS, em 1998, suprimiram-se as oportunidades da lei anterior que regia o Inamps.

Isso deu surgimento a uma nova demanda de pessoas com um poder aquisitivo

melhor e que poderiam pagar uma mensalidade a uma determinada empresa para

ter mais comodidade em suas consultas médicas e internações.

Os planos de saúde pagam aos hospitais credenciados os seguintes itens:

Diárias;

Taxa de uso do espaço físico;

Materiais de consumo e medicamentos; e

Procedimento clínico e cirúrgico.

Os entrevistados foram explícitos em informar que dos itens acima

relacionados, atualmente o único item em que os hospitais e clínicas ainda auferem

lucro é o de materiais de consumo e medicamentos. Os hospitais conseguem

comprar esses itens a um custo inferior da tabela de pagamentos dos planos de

saúde.

DADOS TEMPORAIS

GESTOR RESPONSÁVEL

ATIVIDADE REALIZADA

1978 Dr. Dib Tajra

Primeiro serviço de hemodinâmica do Nordeste.

Procedimentos de Transplantes Cardíacos com médicos que vinham do Incor em São Paulo.

1985 Prefeito de

Teresina Wal Ferraz

Criação de um modelo de estrutura de construções hospitais de bairro de baixa e média complexidade nos

bairros periféricos da cidade.

2003 Dr. Paulo

Cortelaze Hospital São Paulo

Descentralização da unidade em uma nova zona da cidade, mais perto de seus clientes e melhor locomoção.

2005 Grupo Med

Imagem

Laboratórios dentro dos próprios hospitais – Chamado Serviços Shopping e fornecimento completo de sua linha

de produção desde a indústria própria de material descartável.

2005 Hospitais e

Clinicas em Geral

Criação dos Planos dos próprios hospitais e clínicas chamados planos econômicos, para a população que

não tem nenhum plano de saúde.

88

No parágrafo acima, visualiza-se uma característica do empreendedor que é o

poder de negociação em relação a compra desses materiais. Esse poder vislumbra,

em um único item, um lucro que possa manter os hospitais em funcionamento, pois

alegam que as tabelas dos planos de saúde estão sem reajuste há mais de 10 anos.

Atualmente, os serviços efetivados pelos planos de saúde correspondem a

70% do faturamento, e os 30% restantes são oriundos do SUS, dos hospitais,

clínicas e laboratórios da cidade.

Diante do exposto, é possível afirmar que os planos de saúde contribuem

fortemente na composição e manutenção do cluster na cidade, pois são eles

atualmente que sustentam praticamente toda a rede privada de Teresina.

Melhoria da infraestrutura do Polo de Saúde

Para 40% dos entrevistados, a Prefeitura, com o Governo do Estado, deveria

investir na construção de uma identidade visual para o Polo de Saúde, colocando

portais nas entradas e saídas, melhorando o paisagismo, a sinalização dos

logradouros, a iluminação pública e padronização dos hotéis e pensões da cidade.

Outros 30% indicaram como melhoramento o alargamento das calçadas em

torno do Polo de Saúde, reformulação do trânsito e criação de alternativas de

estacionamentos para facilitar o deslocamento de usuários, inclusive dos deficientes

físicos, priorizando as ruas que são as principais do polo.

No que tange a infraestrutura, o mais importante é a higienização e limpeza,

cabendo à Prefeitura ações de conservação permanente e o planejamento e

execução de um sistema de saneamento, segundo 30% dos entrevistados.

Pode-se observar uma preocupação muito acentuada com as obrigações

mínimas da gestão pública no que tange um melhor atendimento nas partes

estruturais da cidade que não acompanharam o crescimento vertiginoso do cluster,

gerando um ponto fraco considerável do polo em relação a outras cidades que vêm

se destacando na área de Saúdes como Recife (PE) e Imperatriz (MA).

Outra preocupação dos respondentes, principalmente diretores e proprietários

de clínicas e hospitais, é o caso de agenciamento realizado por pensões e hotéis do

entorno do Polo de Saúde, que direcionam os clientes para hospitais e clínicas que

pagam comissões a esses gestores dos hotéis e das pensões. Na visão dos

entrevistados, o governo deveria agir no sentido de coibir essas práticas, pois podem

ser lesivas a qualidade dos serviços de saúde oferecidos atualmente.

89

Visão de negócio em relação a um cluster

Os respondentes caracterizam Teresina como um cluster pelos

procedimentos de alta complexidade que são realizados na cidade, relacionados no

quadro 14.

Quadro 14 – Procedimentos de Alta Complexidade

Nº VARIÁVEIS

1 Transplante renal, córnea, coração e pâncreas

2 Cirurgia cardíaca, marca passo e hemodinâmica

3 Neurocirurgia Avançada

4 Cirurgia de fissuras lábio-palatinais

5 Oncologia: Cirurgia, quimioterapia e radioterapia

6 Nefrologia: Terapia renal substitutiva

7 Cirurgia endoscópica e vídeo cirurgia

8 Cirurgia torácica

9 Cirurgia Oftálmica

10 Urologia, uroginecologia, cirurgia endoscópica e por vídeo

11 Cirurgia da obesidade

12 Cirurgia ortopédica e traumatologia

13 Ginecologia e obstetrícia

14 Pediatria e cirurgia pediátrica

15 UTI

Fonte: Elaborada pelo Autor (2015).

Para uma cidade ou região ser considerada um centro de referência em um

determinado nicho de mercado, conforme já citado e comentado na revisão da

literatura, ela tem que oferecer todos os produtos e serviços que variam entre o

básico até o de alta tecnologia em um determinado mercado, e ser acessível a toda

aquela sociedade que está em torno do cluster.

Como observado no caso do Polo de Saúde de Teresina, as variáveis

consideradas para a determinação do cluster foram as condições de transporte,

acomodação e até mesmo a localização geográfica da cidade.

Pode-se concluir que a capital piauiense tem um conjunto de organizações

diretas e indiretas interligadas ao setor de saúde da cidade, promovendo com isso

geração de emprego, renda e bem-estar à sociedade que reside em torno de

Teresina.

Não é novidade para os teresinenses que a capital do Piauí está se

consolidando como polo regional de saúde. A localização privilegiada da cidade, a

maior do Nordeste fora do litoral, contribui para um fluxo natural de moradores de

estados como Tocantins, Pará, Maranhão e Ceará, dentre outros, que vêm à capital

90

piauiense em busca de tratamento. E os médicos estão entre os principais

personagens desta nova realidade da cidade.

Para adquirir a atual relevância no cenário regional, o setor de saúde de

Teresina teve de passar por grande evolução ao longo dos últimos 40 anos. Afinal,

apenas em 1966 foi criada na cidade a Faculdade de Medicina do Piauí, iniciando a

formação local de médicos, profissionais indispensáveis para impulsionar o setor no

estado. Para se ter uma ideia, Recife já formava médicos desde 1920. Fortaleza, no

Ceará, também inaugurou seu curso com quase duas décadas de antecedência, em

1948. Mas o atraso inicial não impediu o crescimento e a especialização da medicina

no Piauí.

Atualmente, Teresina já dispõe de quatro faculdades de medicina. Além da

primeira, que foi incorporada à Universidade Federal do Piauí (UFPI), surgiram a

Faculdade de Ciências Médicas, que integra a Universidade Estadual do Piauí

(UESPI), e os cursos de medicina privados da Faculdade Integral diferencial – Piauí

(Facid), e Centro Universitário de Saúde, Ciências Humanas e Tecnologia do Piauí

(Novafai). Anualmente, estas quatro instituições abrem um total de 300 vagas para

estudantes interessados em iniciar os estudos na área médica.

Além disso, também têm surgido na cidade cursos para formação de

fonoaudiólogos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos em radiologia,

dentre outros profissionais.

Em relação à visão de clusters no setor de saúde teresinense, segundo dados

do Conselho Regional de Medicina (CRM-PI), existem 2.605 médicos com registro

ativo no estado do Piauí. Desse total, 1.974 estão concentrados na capital. O mais

comum atualmente é o médico ter sua formação nas faculdades de Teresina, buscar

especialização fora, e voltar ainda mais capacitado para atuar na cidade, destaca

Aloísio Luz, diretor médico do Prontomed, o maior hospital privado do Piauí.

Ainda segundo dados colhidosno CRM-PI, os médicos que atuam em

Teresina têm preferência por especialidades como pediatria, cirurgia geral,

oftalmologia e ginecologia e obstetrícia. De acordo com Aloísio Luz, a dificuldade

aumenta quando a procura é por médicos especializados em áreas como

Neurocirurgia Intervencionista e Oncologia Pediátrica. Mas são áreas pontuais. No

geral, Teresina tem uma reserva boa de profissionais, ressalta o entrevistado.

Estrutura e Tecnologia

Além de uma equipe capacitada para formar um polo de saúde em Teresina,

também são necessários investimentos em estrutura física e tecnologia. De acordo

91

com dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, em 2008, a capital

piauiense já contava com 25 hospitais.

As clínicas existentes também investiram na compra de equipamentos que

auxiliam o diagnóstico médico. Neste cenário, ganha destaque os equipamentos de

imagem, como ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magnética.

Com todo este panorama propício, a expectativa é de que a medicina

teresinense se desenvolva ainda mais. Uma das preocupações no momento está em

melhorar a distribuição desse potencial para outros pontos do estado.

Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, a capital piauiense tem uma

média de 482 habitantes por médico, um número considerado positivo pelos

especialistas. Porém, quando a média é feita em todo o estado do Piauí, tem-se uma

distribuição de 1.282 habitantes por médico. Os números mostram que, com todos

os seus pontos positivos, o Polo de Saúde também gera pelo menos um efeito

preocupante, a concentração da força de trabalho apenas na capital.

Perspectivas futuras

A educação dos futuros profissionais que atuam no Polo de Saúde é a maior

preocupação entre os gestores diretos das organizações de saúde, além da

constante queda do poder aquisitivo da classe média, pois a inadimplência das

mensalidades dos planos vem crescendo a cada dia, preocupando muito em relação

à capacidade financeira dos mesmos, uma vez que a maioria dos clientes advindos

da classe média estão a cada dia com os seus orçamentos familiares mais restritos.

Para os empreendedores dos meios de hospedagens, o futuro para eles está

na criação de microcrédito para melhorias nas pensões, hotéis e atividades afins,

bem como na implementação de programas de educação em higiene, administração

e primeiros socorros para as pessoas que neles trabalham.

No contexto turístico, a hospitalidade tem sido uma das principais forças que

atraem e fideliza clientes, oferecendo bem-estar e conforto, resgatando as origens e

a essência da assistência hoteleira e até na assistência hospitalar. O hospital se

insere na atividade turística de duas diferentes maneiras: como destino de pessoas

que se deslocam à procura de manutenção ou resgate da saúde ou como

infraestrutura de apoio turístico, atendendo a turistas que necessitem de seus

serviços durante a realização da atividade turística.

Apesar do hospital e do hotel possuírem estruturas semelhantes, o primeiro é

considerado por muitos como um local frio e impessoal. Essa realidade prevalecia

92

até algum tempo atrás, mas, atualmente, os clientes de saúde estão mais exigentes

quanto, inclusive, aos aspectos da qualidade na prestação dos serviços. A

instituição hospitalar tem como objetivo produzir bens e serviços visando auxiliar as

pessoas em suas necessidades, e, antes de tudo, têm uma missão nobre a cumprir,

e não simplesmente transações comerciais a realizar.

O cliente de saúde não procura mais somente pelos benefícios dos serviços

de saúde, ele prima também pelo respeito e solidariedade a seu aspecto físico e

emocional, ou seja, os clientes de saúde precisam ser tratados, prioritariamente,

como seres humanos. Em virtude desse e de outros aspectos, o desempenho da

instituição hospitalar que preze pela qualidade e humanização em seus serviços

constitui um fator determinante para o sucesso da organização. Assim, a Hotelaria

Hospitalar surge como uma tendência que veio para livrar os hospitais da “cara de

hospital” trazer em sua essência uma proposta de adaptação a essa nova realidade

do mercado, modificando e introduzindo novos processos, serviços e condutas

(TARABOULSI, 2003).

5.3 Síntese e conclusão da pesquisa

Após os resultados apontados pela pesquisa, é possível afirmar que o

empreendedorismo dos profissionais ligados, direta e indiretamente ao setor de

saúde em Teresina, é um dos fatores determinantes para a criação,

desenvolvimento e consolidação do cluster através das variáveis empreendedoras

identificadas durante a pesquisa.

Vale também considerar o que foi apontado nos resultados da pesquisa de

campo e bibliográfica, ou seja, que um dos fatores que mais influenciaram os

empreendedores no início da composição do cluster, e agora pode-se afirmar, foi a

criação dos institutos previdenciários, com o financiamento do setor pelos governos,

seja federal, estadual ou municipal, e até hoje com as verbas do SUS, que ainda tem

grande participação no faturamento das organizações de saúde em Teresina, em

torno de 30%.

O Quadro 15 foi elaborado segundo as entrevistas feitas com os empresários,

mostrando fatores importantes de cada consultório, clínica, hospital, plano de saúde,

instituição de ensino, laboratório e meios de hospedagem.

93

Quadro 15 – Características das Empresas Pesquisadas

Fonte: Pesquisa de campo do pesquisador (2015).

TIPO DE ESTABELECIMENTO

NOME DA ORGANIZAÇÃO

SURGIMENTO NO

MERCADO

DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL

FATOR PRIMORDIAL PARA SUA ABERTURA

PRINCIPAIS CLIENTES

PONTOS POSITIVOS

PONTOS NEGATIVOS

HOSPITAIS

Hospital Med Imagem

1986 De forma rápida Visão de

oportunidade local

Todas as classes

Credibilidade forte

Dificuldade em realizar

muitas parcerias

Hospital Otorrinos

2002 De forma rápida

Ser umas das primeiras

especialistas na área

Classes A, B e C.

Bem estruturada e

bem localizada

Necessidade de mais filiais

Hospital São Paulo

1977 Com pioneirismo de

muitos setores Pioneirismo na

capital Todas as classes

Pioneirismo e carreira de credibilidade

adquirida

Demora no atendimento

CLÍNICAS

Clinica Respirar 2005 De forma lenta

Conhecimento do ramo e

necessidade do mercado

Classes B e C

Localização privilegiada na cidade

Pouca divulgação

Clinica Otorrinos

2002 De forma rápida

Ser umas das primeiras

especialistas na área

Classes A, B e C.

Bem estruturada e

bem localizada

Necessidade de mais filiais

Clinica Uros 2014 Ainda em fase de

conquistar o mercado

Oportunidade de negocio

Todas as classes

Inovação na área

Ainda não estar

conhecido no mercado

Clinica São Paulo

1977 Com pioneirismo de

muitos setores Pioneirismo na

capital Todas as classes

Pioneirismo e carreira de credibilidade

adquirida

Demora no atendimento

Clínica Lucídio Portela

1996 Conquistando aos poucos os clientes

Oportunidade de negocio

novo na época

Todas as classes

Qualidade

Falta de divulgação de

algumas filiais

CONSULTÓRIOS

Consultório Otorrinos

2002 De forma rápida

Ser umas das primeiras

especialistas na área

Classes A, B e C.

Bem estruturada e

bem localizada

Necessidade de mais filiais

Consultório Uros

2014 Ainda em fase de

conquistar o mercado

Oportunidade de negocio

Todas as classes

Inovação na área

Ainda não

estar conhecido no

mercado

Consultório Med Imagem

2000 De forma gradativa Ampliar mais os

setores oferecidos

Todas as classes

Credibilidade forte que já existia com

hospital

Concorrência muito

agressiva

Consultório São Paulo

1977 Com pioneirismo de

muitos setores Pioneirismo na

capital Todas as classes

Pioneirismo e carreira de credibilidade

adquirida

Demora no atendimento

Consultório Respirar

2005 De forma lenta

Conhecimento do ramo e

necessidade do mercado

Classes B e C

Localização privilegiada na cidade

Pouca divulgação

PLANOS DE SAÚDE

Unimed Federação

Piauí 1990 De forma gradativa

Necessidade de mercado

Classes A, B e C.

Credibilidade Localização

Plano de Saúde Medplan

1990 De forma rápida Visão de mercado

Todas as classes

Um dos primeiros da

capital

Concorrência desleal

INSTITUIÇÃO DE ENSINO

Universidade Federal do

Piauí 1980 De forma rápida

Necessidade de mercado

Todas as classes

Qualidade de ensino

Localização

LABORATÓRIO Laboratório

Lúcidio Portela 1996 De forma bem lenta

Oportunidade de negocio

novo na época

Classes B e C

Agilidade Ampliação do

negocio

MEIOS DE HOSPEDAGENS

Gran Hotel Arrey

2012 De forma gradativa Expansão do

grupo Classes A e

B Estrutura

privilegiada Falta mais divulgação

Metropolitan Hotel

2000 Expansão de um

grupo forte da capital

Visão de oportunidade

local

Classes A e B

Localização privilegiada na cidade

Na sede atual não tem mais espaço para crescimento

94

Pode-se observar nas respostas do Quadro 15 a necessidade de ampliação

dos negócios dos empreendedores, pois eles avaliam a demora no atendimento

como um fator negativo em seus negócios.

Com isso, está ocorrendo em Teresina uma descentralização do Polo de

Saúde de Teresina para a zona leste da cidade. De acordo com Henrique e Jesuita

publicada são 2 pessoas na revista científica da Universidade Estadual da

Paraíba,em 2015, detalhes estatísticos demonstram a forma como essa

descentralização na cidade ocorre.

O artigo cita a centralidade como condição e expressão que uma dada área

pode exercer e representar (SPÓSITO, 2013). Sustenta-se na constituição de uma

área central, no caso o centro de serviços de saúde, o qual se territorializou e

(re)produziu (re)territorializações, cotidianamente, no centro da cidade, a partir da

década de 1940. No bojo da instalação desses serviços que se concentram

principalmente no centro da cidade, tem-se que eles vêm passando por

transformações, principalmente ao longo dos anos 2000, com a territorialização para

outros bairros, notadamente na zona leste. Esse novo movimento provoca uma

descentralização desses serviços, particularmente para os bairros em que se

localizam os estratos de mais alta renda da cidade, como Fátima, Jóquei e São

Cristóvão.

Ainda cita que, na verdade, oito dos dez bairros com habitantes com maiores

rendas se localizam na zona leste, território da nova configuração da produção

espacial dos serviços de saúde, sendo dois, zona centro. É pertinente, pois, atentar

para o fato de que esses bairros têm contiguidade geográfica, o que revela a

constituição de um espaço concentrador de riqueza, diferenciando-se da própria

zona leste como um todo.

Além disso, as áreas que detêm os grupos sociais de alta renda tiveram

incrementos importantes na produção espacial, principalmente no que se refere ao

número de domicílios, o que influi em sua dinâmica demográfica. Nessa direção, o

bairro Jóquei, principal bairro da Zona Leste de Teresina, saiu de uma população de

3.108 habitantes em 2000, para 5.967 em 2010 (aumento de 91,9%), com o número

de domicílios subindo de 773 em 2000, para 2.085 em 2010 (aumento de 169,7%),

embora a média de morador por domicílio tenha caído. O Horto Florestal detinha

4.091 habitantes em 2000 e passou a ter 5.889 em 2010 (aumento de 43,9%), com o

número de domicílios indo de 918 em 2000 para 2.025 em 2010 (aumento de

95

120,5%), embora decresça a quantidade de morador por domicilío. O Santa Isabel

foi de 3.679 habitantes em 2000 para 6.675 em 2010 (aumento de 81,4%), saindo de

811 em 2000 para 2.363 em 2010 (aumento de 191,3%). Esses números refletem o

crescimento do processo de verticalização nesses espaços, fato analisado por

Castelo Branco (2013) e Reis Filho (2012).

96

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depois de concluída esta pesquisa, pode-se fazer uma análise mais criteriosa

e detalhada, enfatizando que os objetivos estipulados anteriormente foram

plenamente alcançados.

Considerando-se que o objetivo principal do trabalho foi analisar o papel do

empreendedorismo e sua influência na qualidade da oferta de serviços de saúde no

município de Teresina, pode-se dizer que o empreendedorismo de seus dirigentes

foi fator determinante para a composição do cluster. Com visão de negócio e

vislumbrando a oportunidade de auferir receitas com a criação dos primeiros

institutos previdenciários e, consequentemente, a inauguração dos primeiros

hospitais e clínicas privados do Piauí, gerou atualmente um serviço de qualidade à

população local, constituindo uma rede complexa de organizações em todas as

áreas da saúde, tendo ainda a comunidade de menor poder aquisitivo acesso a

serviços de qualidade através do SUS, que corresponde a 30% do faturamento das

instituições privadas da cidade.

Foi também observado o desenvolvimento de um cluster de saúde na cidade

onde há uma relação direta entre empresas de diversos segmentos, como hospitais,

laboratórios, indústria farmacêutica etc em uma mesma área da ciência e

concentração geográfica bem determinada, que se pode chamar de eficiência

coletiva, uma característica tipicamente empreendedora, segundo visto na revisão

da literatura. Este fato responde a questão norteadora por indicar a principal variável

que foi a formação do cluster que contribuiu para o aumento da qualidade de seus

serviços oferecidos.

Foi de extrema importância também a identificação e a análise de outras

variáveis que tornam Teresina um centro de referência em saúde, segundo os

gestores de saúde entrevistados partindo-se dos dados obtidos e apresentados no

Quadro 14, que apresentam os procedimentos de alta complexidade que são

realizados na cidade. Observou-se que realmente a capital piauiense é um cluster

em saúde e referência para todo meio norte do Brasil, pois a cidade oferece, desde

a medicina básica até a de alta tecnologia, em seus hospitais, clínicas e laboratórios.

Após a análise, é importante observar o papel do governo na composição,

manutenção e desenvolvimento do Polo de Saúde, que contribui para a manutenção

não só da rede privada de saúde de Teresina, beneficiando com isso a população

97

mais carente da cidade, cujos pacientes são atendidos e internados em hospitais

particulares com uma completa gama de recursos, como também oferecendo a

infraestrutura de acesso do Polo, essencial para sua consolidação.

De fato, é necessário refletir sobre a relação governo e iniciativa privada que

quando bem administrada, é de grande importância para o desenvolvimento da

localidade e, em especial, como é o caso, do Polo de Saúde de Teresina.

Ainda pode se concluir de acordo com os respondentes da pesquisa que o

Polo de Saúde tem seus aspectos competitivos que precisam ser devidamente

administrados pelas partes para se tornar ainda mais atraente para a oferta de novos

investimentos e competitividade em nível regional e nacional; aqueles aspectos nos

quais a saúde privada de Teresina está pior que suas concorrentes ou apresenta

deficiências importantes, entre os quais:

Os·estabelecimentos de hospedagem aos que vêm a Teresina para

tratamento de saúde, onde há insuficiência quantitativa e qualitativa,

além da falta de formalização do setor;

Aperfeiçoamento dos profissionais de saúde no que se refere fomento

à contínua promoção de cursos, graduação, pós-graduação, pesquisa

e educação continuada;

Estabelecimentos privados de ensino superior em aumento do

número de cursos e integração à rede de estabelecimentos de saúde

privada; Integração dos estabelecimentos de ensino, em especial as

Universidades Federal e Estadual, com a rede de saúde privada;

Coleta, transporte e tratamento do lixo hospitalar;

Concessão de incentivos à instalação de empresas relacionadas à

fabricação e esterilização de material descartável, roupas

profissionais, gases medicinais e medicamentos;

Organização de calendário de eventos científico-culturais, que reúnam

e promovam, simultaneamente, a produção científica em Saúde e a

cultura de Teresina;

Aspectos administrativo-financeiros dos estabelecimentos de saúde

que carece de modernização, especialmente na determinação de

custos;

98

Aspectos de estrutura física e tecnológica dos estabelecimentos de

saúde, onde é necessário dar continuidade à modernização, com

construções, reformas, informatização e aquisição de novos

equipamentos;

Relacionamento com Instituições financeiras e acesso a recursos

financeiros para a racionalização e direcionamento ao setor de saúde;

Áreas estruturadas do Polo de Saúde, onde há necessidade de

modernização, urbanização e segurança (limpeza, vigilância sanitária,

pavimentação, saneamento, paisagismo, telefones e banheiros

públicos, tráfego, transporte coletivo, táxis, sinalização,

estacionamento, atenção à locomoção de deficientes físicos,

policiamento e iluminação);

Cooperação entre as empresas e profissionais de saúde privada; é

necessário assimilar que o nosso concorrente encontra-se fora de

Teresina;

Divulgação externa de Teresina como Centro de Referência em

Saúde; e

Baixa remuneração praticada pelas Operadoras Privadas de Plano de

Saúde e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), relativo ao pagamento

dos diversos procedimentos médicos e cirúrgicos realizados pelos

hospitais particulares.

Enfim, pode-se concluir que a metodologia utilizada mostrou-se bastante

simples e eficaz em relação à identificação das variáveis empreendedoras em um

determinado segmento de mercado e à própria identificação e características da

formação de um cluster em uma determinada cidade ou região como foi proposta

nos seus objetivos específicos.

Considerando a continuidade das políticas de saúde privada atuais e a

estimativa da população de Teresina em 900 mil habitantes para 2016 (prevê-se

para a Grande Teresina um contingente de 1,3 milhão de pessoas e para sua área

de influência, um total de 5,5 milhões de habitantes), infere-se que será possível a

manutenção do atendimento da população com a qualidade, resolutividade e na

extensão dos moldes atuais.

99

A falta de recursos financeiros e a ausência de apoio governamental, a serem

mantidos tal como hoje ocorre em função da grave crise econômica no ano de 2016

enfrentada pelos entes públicos, acarretará, no futuro, desgastes não

adequadamente repostos na estrutura física e obsolescência dos equipamentos e

tecnologia da rede hospitalar e demais serviços de saúde de Teresina. Com isso, os

demais concorrentes externos aumentarão seu poder de atração e redirecionarão a

demanda atendida por nossa cidade, segundo opinião de alguns pesquisados.

Com o necessário apoio, o setor constitui-se âncora do desenvolvimento

socioeconômico de Teresina, a ameaça representada pela concorrência externa fica

minimizada e o atendimento à grande demanda das demais cidades do Piauí e de

outros estados fica garantida, também exemplo para cidades do porte de Teresina

se espelhar em seus empreendedores de sucesso como modelo a ser seguido de

acordo com as variáveis identificadas na pesquisa realizada.

Cidades como Imperatriz no Maranhão, distante cerca de 600 km de Teresina

e Juazeiro do Norte no vale do Canindé no estado do Ceará também distante cerca

de 630 km, tem buscado informações de como Teresina se consolidou como um

importante centro de saúde.

Não obstante com a ajuda do Governo do estado do Maranhão para fortalecer

o Cluster de Saúde de Imperatriz o governo vem investindo mais de 30 milhões de

reais em infra estrutura urbana e hospitalar para a cidade de Imperatriz atender mais

de 400 mil pessoas do entorno de 50 cidades ao seu redor, vindo técnicos do

governo do estado do Maranhão para Teresina estudar como está estruturado o

referido polo.

6.1 Sugestões para trabalhos futuros

Algumas sugestões e recomendações para trabalhos e pesquisas a serem

desenvolvidos futuramente, em nível de mestrado ou doutorado, poderão contribuir

em grande escala para incrementar e agregar maior valor quando se trata do

aspecto de formação do perfil empreendedor e variáveis que compõe um cluster.

Isso envolve um estudo detalhado voltado a questão financeira das instituições que

compõe o Polo de Saúde, visando verificar como está se comportando a gestão

financeira das instituições que compõe o Polo de Saúde, pois, na pesquisa de

campo, percebeu-se uma grande preocupação por parte dos gestores, tanto dos

100

hospitais e clínicas, quanto dos planos de saúde em relação à não atualização da

tabela de procedimentos médico-hospitalares, à renda da classe média do país

respectivamente.

Essa preocupação, no caso de Teresina, é realmente muito preocupante,

porque como já foi descrito nessa tese o faturamento do Polo de Saúde se restringe

a 70% dos planos de saúde e 30% dos recursos advindos do SUS.

101

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A – Roteiro das perguntas semi Estruturado

(Clínicas, Hospitais, Consultórios, Cursos e Hotéis envolvidos na pesquisa) UNIP Doutorado Engenharia de produção Acadêmico: Reinaldo de Araujo Lopes A entrevista busca orientar o doutorando em vários setores do trabalho.

1) Qual ano de nascimento do negócio?

2) Qual o principal fator que gerou interesse ao ramo?

3) Como foi a fase de desenvolvimento do negocio?

4) Qual o público-alvo atingido pela empresa

5) Há pontos fortes que já tornam o negocio consolidado?

6) Quais os pontos a serem trabalhados?

7) Como você analise o ramo da saúde na capital estudada?

8) De que forma foi estruturado o polo de saúde em Teresina?

9) È importante para seu negocio a consolidação do cluster de saúde?

10) Qual sua visão sobre o desenvolvimento do polo?

11) No seu entendimento quais são sua principais características

empreendedoras que ajudaram no desenvolvimento do polo?

12) O papel dos planos de saúde na composição dos polos em Teresina

13) Melhoria da infraestrutura dos polos

14) Visão de negocio em relação ao cluster

15) Estrutura e tecnologia

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ANEXOS

Anexo 1 – Imagens Ilustrativas do clusters de saúde em Teresina (PI)

Imagem 1 – Totem de identificação visual e geográfica do polo de saúde de Teresina

Imagem 2 – Hospital Estadual Getúlio Vargas – Precursor do polo de saúde de Teresina

Imagem 3 – Hospital São Marcos – Referencia em Oncologia em toda a Região Norte e Nordeste

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Imagem 4 – Hospital Ottorinos – Exemplo de descentralização do polo de saúde de Teresina para zona leste da cidade

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Imagem 5 – Projeto de mobilidade urbana desenvolvido pela Prefeitura para atender os usuários do polo de saúde em Teresina – agenda 2030 Prefeitura de Teresina

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Anexo 2 – PARECER CONSUSBISTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA

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