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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO JONAS VIEIRA ALCÂNTARA ADEQUAÇÕES ERGONÔMICAS NOS SERVIÇOS DE ALVENARIA, UTILIZANDO EQUIPAMENTOS VERSÁTEIS, VISANDO A SAÚDE E A PRODUTIVIDADE DOS OPERÁRIOS DISSERTAÇÃO PONTA GROSSA 2009

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  • UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARANPR

    UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    JONAS VIEIRA ALCNTARA

    ADEQUAES ERGONMICAS NOS SERVIOS DE ALVENARIA, UTILIZANDO EQUIPAMENTOS VERSTEIS, VISANDO A SADE E A

    PRODUTIVIDADE DOS OPERRIOS

    DISSERTAO

    PONTA GROSSA

    2009

  • JONAS VIEIRA ALCNTARA

    ADEQUAES ERGONMICAS NOS SERVIOS DE ALVENARIA, UTILIZANDO EQUIPAMENTOS VERSTEIS, VISANDO A SADE E A

    PRODUTIVIDADE DOS OPERRIOS

    Dissertao apresentada como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia de Produo, do Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo, rea de Concentrao: Gesto Industrial, do Departamento de Pesquisa e Ps-Graduao, do Campus Ponta Grossa, da UTFPR.

    Orientador: Prof. Dr. Antnio Augusto de Paula Xavier

    PONTA GROSSA

    2009

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN Campus Ponta Grossa

    Gerncia de Pesquisa e Ps-Graduao PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

    UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARANPR

    TERMO DE APROVAO

    Ttulo de Dissertao N 125/2009

    ADEQUAES ERGONMICAS NOS SERVIOS DE ALVENARIA, UTILIZANDO EQUIPAMENTOS VERSTEIS, VISANDO A SADE E A PRODUTIVIDADE DOS

    OPERRIOS por

    Jonas Vieira Alcntara

    Esta dissertao foi apresentada s 10 horas do dia 28 de agosto de 2009 como requisito

    parcial para a obteno do ttulo de MESTRE EM ENGENHARIA DE PRODUO, com

    rea de concentrao em Gesto Industrial, linha de pesquisa em Gesto da Produo e Manuteno, Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo. O candidato foi arguido pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Aps

    deliberao, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

    _______________________________

    Prof. Dr. Luiz Bueno da Silva (UFPB) ________________________________

    Prof. Dr. Jos Adelino Kruger (UEPG)

    ____________________________ _____________________________ Prof. Dr. Antonio Carlos Frasson

    (UTFPR) Prof. Dr Antnio Augusto de Paula

    Xavier (UTFPR) - Orientador

    _________________________________

    Prof. Dr Kazuo Hatakeyama (UTFPR)

    Visto do Coordenador:

    Joo Luiz Kowaleski (UTFPR)

    Coordenador do PPGEP

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    Saudaes ergonmicas aos trabalhadores, especialmente aos operrios da Construo Civil, a quem dedico este trabalho.

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    AGRADECIMENTOS

    A todos que, de alguma forma, colaboraram para que este trabalho se

    concretizasse:

    Amigos: de quem no faltou incentivo em momento algum.

    Famlia: apoio essencial.

    A todos os professores, pela generosidade com que partilharam seus

    conhecimentos.

    Especialmente agradeo ao Professor Dr. Antnio Augusto de Paula Xavier, por me

    haver contagiado com seu entusiasmo pela pesquisa ergonmica, conquistando

    minha profunda admirao.

    Colegas de mestrado, que se tornaram grandes amigos.

    amiga Jandyra Abranches, pela assessoria permanente nesses trs anos de

    batalha, de ansiedade e de trabalho intenso at a reta final.

    Trabalhadores da construo civil, colaboradores preciosos desta pesquisa,

    protagonistas de situaes de risco, lutadores annimos de um cotidiano ainda

    adverso em que arriscam a sade, a integridade fsica e, muitas vezes, a prpria

    vida.

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    [...] a preocupao em adaptar o ambiente natural e construir objetos artificiais para atender s suas convenincias sempre esteve presente nos seres humanos desde os tempos remotos. (IIDA, Itiro, 2005).

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    RESUMO

    Tendo por objeto de observao e anlise a tarefa de levantamento de alvenaria, esta pesquisa tem por escopo analisar se a utilizao de mquinas e equipamentos versteis, por estarem mais de acordo com a anatomia e a capacidade fsica do ser humano, podendo propiciar ganhos ergonmicos significativos. Ganhos esses que se refletem no s na questo de sade do trabalhador da Construo Civil, mas influenciam positivamente diversos outros aspectos socioeconmico e ambientais. No aspecto social, quando subtrai muitos trabalhadores do afastamento por acidente de trabalho, poupando-os da condio psicologicamente indesejvel de inutilidade, mesmo que temporria, para o trabalho. No aspecto econmico, que envolve tambm o problema social, a permanncia do trabalhador no local de trabalho em condies normais de produo significa menos problemas trabalhistas e possibilidade de maior produtividade. Alm disso, analisando ainda o ganho econmico, h reduo acentuada de recursos de produo, que ser mensurada no decorrer da pesquisa, e visvel reduo de desperdcio, o que significa poupana ambiental, tendo em vista que a matria-prima utilizada e/ou refugada na produo desses insumos origina-se no meio ambiente. Considerando que a utilizao de mquinas e equipamentos versteis na Construo Civil possibilita produzir mais com menos custo e reduzir substancialmente o desperdcio, infere-se que a adoo dessa prtica ajusta-se ao conceito de Construo Enxuta.

    Palavras-chave: Ergonomia. Equipamentos versteis. Construo Enxuta. .

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    ABSTRACT

    Due to the observation and analysis of masonry production, this research aims to analyze whether the use of versatile equipment should promote significant ergonomics gains, since they must be in accordance to human anatomy and physical capacity. These gains reflect not only on the workers health issue, but also influencing positively many other social-economical-environmental aspects. On the social aspect, when subtracts many workers from working accident absence, preventing them from the undesired psychological condition of uselessness, even when temporary, towards the work. On the economical aspect, which also involves a social matter, keeping the worker at his work site, on standard conditions, means a economical gains with higher productivity. Furthermore, when analyzing the economic gains, there is also the great reduction of production resources, which was measured. Besides a visible reduction of waste, which means environmental savings, since the civil construction raw material always come from environmental sources. Therefore, considering that the use of versatile equipment in civil construction works let us produce more, with less cost, and substantially reduce the waste, it is possible to infer the adoption of this practices suits to lean construction concepts.

    Keywords: Ergonomics. Versatile Equipment. Lean Construction.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Pilares de sustentao da Produo Enxuta....................................................................... 37

    Figura 2 Dois nveis de kaizen ........................................................................................................... 40

    Figura 3 Pedreiro assentando lajota (1)............................................................................................. 69

    Figura 4 Pedreiro assentando lajota (2)............................................................................................. 69

    Figura 5 Cronmetro utilizado para mensurar tempo gasto em cada atividade ................................ 71

    Figura 6 Escantilho: Referncia para assentamento de lajota/bloco............................................... 72

    Figura 7 Facilitador de lanamento de concreto e argamassa .......................................................... 73

    Figura 8 Minibetoneira........................................................................................................................ 74

    Figura 9 Funil colocado na entrada de um tubo, no piso superior..................................................... 74

    Figura 10 Cone/saia acoplado sada do tubo, no piso inferior........................................................ 74

    Figura 11 Trs tamanhos de galgador de argamassa ....................................................................... 75

    Figura 12 Galgador de argamassa .................................................................................................... 75

    Figura 13 Andaime regulvel verstil Construo Enxuta ........................................................... 76

    Figura 14 Fio de nylon para alinhamento e nivelamento das fiadas.................................................. 79

    Figura 15 Fases do trabalho a serem analisadas para alinhamento/nivelamento ............................ 80

    Figura 16 Assenta tijolo/lajota 1 1 fiada extremidade 1.............................................................. 81

    Figura 17 Fixa o fio de nylon nas extremidades ................................................................................ 81

    Figura 18 Completa assentamento das lajotas na 1 fiada ............................................................... 82

    Figura 19 Tela Observe do WinOWAS com cdigo da Fase 1.......................................................... 82

    Figura 20 Resumo WinOWAS das posturas para alinhamento/nivelamento quando utilizado equipamento convencional.................................................................................................................... 83

    Figura 21 Quadro Resumo das recomendaes para alinhamento/nivela-mento quando utilizado equipamento convencional.................................................................................................................... 84

    Figura 22 Tela de recomendaes de aes para todas as categorias ............................................ 85

    Figura 23 Verificao da verticalidade utilizando o prumo ................................................................ 86

    Figura 24 Prumo de face.................................................................................................................... 86

    Figura 25 Fases do trabalho a serem analisadas para verificao de verticalidade......................... 87

    Figura 26 Assentamento de lajota nas extremidades 1 fiada........................................................ 88

    Figura 27 Verificao de verticalidade 1 lajota da 1 fiada............................................................ 88

    Figura 28 Assentamento da 1 lajota nas extremidades da 2 fiada ................................................. 88

    Figura 29 Verificao de verticalidade 1 lajota extremidade 2 fiada......................................... 88

    Figura 30 Assentamento de lajota nas extremidades de fiada alta ................................................... 89

    Figura 31 Verificao da verticalidade nas extremidades de fiada alta............................................. 89

    Figura 32 Resumo WinOWAS das posturas para verificao de verticalidade quando utilizado equipamento convencional.................................................................................................................... 89

    Figura 33 Quadro Resumo das recomendaes para verificao de verticalidade quando utilizado equipamento convencional.................................................................................................................... 90

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    Figura 34 Tela de recomendaes de aes para todas as categorias ............................................ 91

    Figura 35 Fases do trabalho a serem analisadas para alinhamento/ nivelamento/verticalidade na Construo Enxuta (instalao do escantilho).................................................................................... 92

    Figura 36 Pressionando haste 1 do escantilho................................................................................ 93

    Figura 37 Verificando verticalidade da haste ..................................................................................... 93

    Figura 38 Regulando anel da haste 1 para assentar 1 fiada............................................................ 93

    Figura 39 Apoiando a rgua nas hastes na altura da 1 fiada........................................................... 94

    Figura 40 Resumo WinOWAS das posturas para alinhamento/nivelamento/verticali-dade amostra B ............................................................................................................................................................ 94

    Figura 41 Quadro Resumo das recomendaes para alinhamento/ nivelamento/verticalidade utilizando equipamento verstil ............................................................................................................. 95

    Figura 42 Tela de recomendaes de aes para todas as categorias ............................................ 95

    Figura 43 Andaime convencional....................................................................................................... 96

    Figura 44 Fases do trabalho WinOWAS utilizando andaime convencional.................................... 97

    Figura 45 Pegando lajota no piso do andaime................................................................................... 98

    Figura 46 Pegando argamassa na caixa ........................................................................................... 98

    Figura 47 Colocando argamassa na lajota ........................................................................................ 98

    Figura 48 Assentando lajota sobre a lajota anterior .......................................................................... 99

    Figura 49 Batendo na lajota com a colher de pedreiro ...................................................................... 99

    Figura 50 Retirando excesso de argamassa com a colher de pedreiro ............................................ 99

    Figura 51 Resumo WinOWAS das posturas para assentamento de lajota utilizando andaime convencional........................................................................................................................................ 100

    Figura 52 Quadro de recomendaes WinOWAS ........................................................................... 101

    Figura 53 Escada de acesso ao piso do andaime regulvel ........................................................... 101

    Figura 54 Pegando lajota no andaime regulvel.............................................................................. 102

    Figura 55 Colhendo argamassa na caixa sobre o andaime regulvel............................................. 102

    Figura 56 Colocando argamassa na lajota ...................................................................................... 102

    Figura 57 Assentando lajota sobre a lajota anterior ........................................................................ 103

    Figura 58 Batendo na lajota com a colher de pedreiro .................................................................... 103

    Figura 59 Retirando excesso de argamassa com a colher de pedreiro .......................................... 103

    Figura 60 Resumo das posturas para assentamento de lajota na fiada mais alta utilizando o andaime regulvel ............................................................................................................................... 104

    Figura 61 Tela de recomendaes WinOWAS ................................................................................ 104

    Figura 62 Tonel para transporte vertical de lajota............................................................................ 105

    Figura 63 Fases para transporte vertical de lajotas......................................................................... 106

    Figura 64 Carregando lajotas para encher o tonel .......................................................................... 106

    Figura 65 Acomodando lajotas no tonel........................................................................................... 107

    Figura 66 Preparando tonel para iamento...................................................................................... 107

    Figura 67 Descarregando o tonel..................................................................................................... 107

    Figura 68 Carregando lajotas para o local da demanda.................................................................. 107

    Figura 69 Quadro Resumo das posturas para transporte vertical de lajotas .................................. 108

    Figura 70 Quadro de recomendaes WinOWAS ........................................................................... 109

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    Figura 71 Veculo para transporte vertical de materiais .................................................................. 109

    Figura 72 Fases do Trabalho no WinOWAS.................................................................................... 110

    Figura 73 Carregando veculo com lajotas ...................................................................................... 110

    Figura 74 Puxando veculo carregado ............................................................................................. 111

    Figura 75 Preparando veculo para iamento .................................................................................. 111

    Figura 76 Empurrando o veculo (no andar de cima) ...................................................................... 111

    Figura 77 Descarregando veculo .................................................................................................... 111

    Figura 78 Resumo das posturas para transporte vertical amostra B............................................ 112

    Figura 79 Resumo das posturas para transporte vertical amostra B............................................ 113

    Figura 80 Caixa de argamassa amostra A.................................................................................... 119

    Figura 81 Caixa de argamassa amostra B.................................................................................... 119

    Figura 82 Detalhe de parede sistema convencional..................................................................... 120

    Figura 83 Detalhe de parede construo enxuta.......................................................................... 120

    Figura 84 Espessura de rejunte Sistema convencional................................................................ 120

    Figura 85 Cortando lajota em parede levantada (1) ........................................................................ 121

    Figura 86 Cortando lajota em parede levantada (2) ........................................................................ 121

    Figura 87 Preparando lajota para corte na mesa prpria ................................................................ 122

    Figura 88 Encaixe de lajota em ngulo de 90 ................................................................................ 122

    Figura 89 Colocando pasta de gesso .............................................................................................. 122

    Figura 90 Embutindo a caixa na cavidade da lajota ........................................................................ 123

    Figura 91 Lajota preparada para ser assentada.............................................................................. 123

    Figura 92 Detalhe de Introduo de eletroduto sem rasgar a lajota................................................ 123

    Figura 93 Detalhe de parede com as caixas de pontos de luz embutidas na lajota antes do assentamento...................................................................................................................................... 124

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Comparativa modelo convencional e modo de construo enxuta no transporte vertical de lajotas .............................................................................................. 114

    Tabela 2 Medio de tempo quando utilizados mquinas e equipamentos convencionais............................................................................................................................ 115 114

    Tabela 3 Medio de tempo quando utilizados mquinas e equipamentos versteis ............................................................................................................ 116 115

    Tabela 4 Volume de argamassa usado quando utilizados mquinas e equipamentos convencionais .............................................................................................................. 117

    Tabela 5 Volume e argamassa usado quando utilizados mquinas e equipamentos versteis ............................................................................................................ 118 117

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Perfil da Cadeia Produtiva da Construo e da Indstria de Materiais Junho-2008.................................................................................................................... 28

    Grfico 2 Distribuio espacial no territrio nacional de empresas de Construo Civil Pesquisa Anual da Indstria da Construo...................................................... 29

    Grfico 3 Percentual dos acidentes, por tipo de leso, registrados em CATs 2006/7 ................................................................................................................................ 59

    Grfico 4 Percentual de CATs por atividade e tipo de leso ............................................................. 61

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 CATs emitidas por amputao........................................................................................... 54

    Quadro 2 CATs emitidas por contuso/traumatismo/corte ........................................................ 56 54

    Quadro 3 CATs emitidas por luxao ................................................................................................ 56

    Quadro 4 CATs emitidas por ao de corpo estranho....................................................................... 56

    Quadro 5 CATs emitidas por dorsalgia e lombalgia........................................................................... 57

    Quadro 6 CATs emitidas por fratura/toro ............................................................................... 59 57

    Quadro 7 Combinaes das posturas tpicas do Mtodo OWAS...................................................... 70

    Quadro 8 Mtodo OWAS Classe das posturas e categorias de ao............................................ 70

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABERGO Associao Brasileira de Ergonomia

    ABRAMAT Associao Brasileira de Materiais

    AEAT Anurio Estatstico de Acidentes de Trabalho

    BD Banco de Dados

    BNH Banco Nacional da Habitao

    CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

    CAT Comunicao de Acidente de Trabalho

    CBI Cmara Brasileira da Indstria da Construo

    CEE Comisso de Economia e Estatstica

    CEF Caixa Econmica Federal

    CNI Confederao Nacional da Indstria

    CPWR Center to Protect WorkersRights

    CUT Central nica dos Trabalhadores

    DAST Departamento de Acompanhamento da Sade do Trabalhador

    DORT Distrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

    FGV Fundao Getlio Vargas

    h Hora

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    ICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios

    INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

    IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

    ISS Imposto Sobre Servios

    JIT Just In Time

    l Litro

    m Metro

    m Metro quadrado

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    MS Massa Salarial

    MTE Ministrio do Trabalho e Emprego

    NIOSHI National Institute for Occupational Health and Safety

    NR Norma Regulamentadora

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

    PCMAT Programa de Condies e Meio Ambiente de Trabalho

    PCMSO Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional

    PIB Produto Interno Bruto

    PME Pesquisa Mensal de Emprego

    s Segundo

    S/A Sociedade Annima

    SESI Servio Social da Indstria

    SINTRACONST-ES Sindicato dos Trabalhadores da Construo Civil no Esprito Santo

    SPE Sociedade de Propsito Especfico

    TPS Sistema Toyota de Produo

    TR Taxa Referencial

    TRF Troca Rpida de Ferramenta

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................................20

    1.1 HIPTESE ..........................................................................................................23

    1.2 PROBLEMA DA PESQUISA ..............................................................................23

    1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA ..............................................................................23

    1.3.1 Objetivo geral ...................................................................................................24

    1.3.2 Objetivos especficos .......................................................................................24

    1.4 JUSTIFICATIVA E IMPORTNCIA DA PESQUISA ..........................................24

    1.5 DELIMITAO DA PESQUISA..........................................................................27

    2 REFERENCIAL TERICO.....................................................................................28

    2.1 PERFIL DO SETOR DA CONSTRUO CIVIL .................................................28

    2.1.1 Processo de trabalho na Construo Civil........................................................30

    2.1.2 Inovao tecnolgica na Construo Civil........................................................33

    2.2 PRODUO ENXUTA........................................................................................35

    2.2.1 Conceito e gnese ...........................................................................................36

    2.2.2 Construo Enxuta...........................................................................................41

    2.3 ERGONOMIA......................................................................................................43

    2.3.1 Conceitos e definies .....................................................................................44

    2.3.2 Estrutura da Anlise Ergonmica do Trabalho .................................................45

    2.4 ERGONOMIA NA CONSTRUO CIVIL ...........................................................48

    2.4.1 Ergonomia na Construo Civil em mbito Mundial ........................................51

    2.4.2 Ergonomia na Construo Civil no Brasil .........................................................53

    2.4.3 Ergonomia e Construo Enxuta......................................................................62

    3 METODOLOGIA ....................................................................................................65

    3.1 FORMA DE ABORDAGEM ................................................................................65

    HPHighlight

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    HPHighlight

  • PPGEP Gesto Industrial - 2009

    3.2 OBJETIVOS METODOLGICOS.......................................................................65

    3.3 CONSTRUO DO MODELO DE ANLISE .....................................................66

    3.3.1 Definies das variveis...................................................................................66

    3.3.2 Populao e amostra .......................................................................................67

    3.3.3 Tcnicas de coleta de dados............................................................................68

    3.3.4 Mquinas e equipamentos versteis utilizados na coleta de dados .................72

    4 RESULTADOS E DISCUSSES............................................................................78 4.1 ANLISE COMPARATIVA DAS AMOSTRAS A E B.........................................78

    4.1.1 Anlise de Risco Ergonmico utilizando o Mtodo OWAS com auxlio do Software WinOWAS ..................................................................................................78

    4.1.2 Anlise quantitativa ........................................................................................113

    5 CONCLUSES ....................................................................................................125

    5.1 CONTRIBUIO CIENTFICA E TCNICA .....................................................127

    5.2 SUGESTES PARA FUTUROS TRABALHOS ...............................................127

    REFERNCIAS.......................................................................................................129

    APNDICE A - Questionrio Proposto para Anlise Ergonmica ....................136

    APNDICE B - Glossrio.......................................................................................140

  • Captulo 1 Introduo

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    20

    1 INTRODUO

    A histria do progresso da humanidade, desde a criao dos primeiros

    objetos de pedra, permite inferir que a busca do bem-estar na execuo de tarefas

    no recente na histria do Homem. [...] a preocupao em adaptar o ambiente natural e construir objetos artificiais para atender s suas convenincias, sempre esteve presente nos seres humanos desde os tempos remotos (IIDA, 2005, p.5).

    H indcios, argumenta Franco (2001), de que a preocupao com aspectos

    ergonmicos seja anterior ao paleoltico superior. A constatao dessa afirmativa

    pode ser feita observando-se instrumentos primitivos em museus arqueolgicos,

    conforme a citada autora. Percebe-se a, a preocupao de adaptao desses

    instrumentos rudimentares ao manuseio mais fcil pelo homem.

    Embora se observe, conforme Meirelles (apud VIDAL, 2003), a paulatina

    adaptao daquelas ferramentas primitivas ao uso e manuseio do homem da poca,

    o que demonstra a necessidade instintiva de ajustar o trabalho ao trabalhador, a Ergonomia, isto , o estudo da relao homem/trabalho, suas caractersticas e

    consequncias, s recentemente mereceram ateno de pesquisadores e cientistas,

    afirmam Sanders e McCormick (1993). Mais precisamente, a Ergonomia, com

    caracterstica de disciplina, data da dcada de sessenta do Sculo XX.

    Apesar da divulgao das pesquisas ergonmicas, muitos trabalhadores, por

    desconhecimento de sua prpria fisiologia e dos danos que o trabalho realizado em

    condies imprprias sua estrutura fsica pode acarretar sade, incorrem em

    erros que se transformam em leses. Segundo Ribeiro (2008), isto se deve ao fato

    de estarem submetidos, muitas vezes, explorao da organizao do trabalho que

    visa unicamente ao lucro, haja vista a ocorrncia de trabalho escravo em diversas

    fazendas. Alm disto, costumam exercer atividades laborais sem os cuidados

    necessrios para preservao do seu bem-estar e integridade fsica.

    O quadro de doenas ocasionadas pelo exerccio laboral em condies

    inadequadas no incomum em nenhum segmento da atividade humana, e no

    diferente no que concerne construo civil, na qual acentuado o absentesmo em

    decorrncia de problemas de doena causados por esforos repetitivos sem a

  • Captulo 1 Introduo

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    21

    observncia das Normas Regulamentadoras, pela falta de utilizao de aparatos de

    proteo e o manuseio de mquinas e equipamentos de mdio e grande porte.

    Estes exigem dispndio excessivo de energia e de esforo fsico, postura fsica

    penosa no seu manuseio e transporte, comprometendo, dessa forma, a qualidade de

    vida do trabalhador, cada vez mais exigido a produzir quantitativa e qualitativamente.

    Ao longo do tempo muitas teorias tm sido desenvolvidas, muitos estudos,

    anlises e pesquisas tm sido feitos com o objetivo de incrementar a produo. A

    mais moderna dessas inmeras modificaes na organizao produtiva a

    Produo Enxuta, gestada na Toyota Motors, no perodo ps-Segunda Guerra

    Mundial, por injuno das dificuldades econmicas daquele perodo, que forava as

    empresas a pensar maneiras de produzir mais gastando menos, de forma a

    enfrentar a competio acirrada em um mercado cada vez mais aberto (SILVA e

    RENTES, 2004).

    Esse novo modo de organizao produtiva continua induzindo a busca de

    melhorias em ferramentas, mquinas e equipamentos utilizados nas linhas de

    produo, inclusive no segmento da construo civil.

    Adotando a filosofia da Produo Enxuta com o objetivo de produzir mais,

    com qualidade e com menos custo, a construo civil tem buscado alcanar esse

    escopo, utilizando, tambm, mquinas e equipamentos com design mais identificado

    com os parmetros ergonmicos, sem se abstrair do entendimento de que fatores

    comportamentais e pessoais representam a dinmica humana da segurana

    ocupacional, conforme Geller (apud FRANA, TOZE e QUELHAS, 2007).

    Moraes (2007) argumenta que a melhoria das condies de trabalho

    determinada pela Ergonomia reduz desconforto fsico, fadiga, doenas profissionais,

    leses temporrias ou permanentes, mutilaes, mortes, acidentes, excesso de

    erros, lentido e outros problemas de desempenho, aumentando, assim, a eficincia

    e a produo e diminuindo desperdcio de matrias-primas.

    possvel depreender-se, ento, que embora essa nova cincia no esteja

    focalizada na questo econmica e sim no bem-estar do trabalhador, a reduo dos

    problemas fsicos com a utilizao de mquinas e equipamentos versteis em

    canteiros de obras resulta em maior produo com mais qualidade, a preos

    competitivos.

    Portanto, o conceito de Construo Enxuta, que visa produtividade,

    competitividade e lucratividade, no deve ignorar a importncia da aplicao dos

  • Captulo 1 Introduo

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    22

    princpios ergonmicos para a consecuo dos seus objetivos, considerando a

    moderna viso sobre o binmio trabalho/trabalhador.

    O progresso, em todos os seus aspectos, conduz a sociedade a adotar

    novas posturas coerentes com os avanos das cincias. O setor da construo civil,

    embora ainda bastante conservador, principalmente no Brasil, d mostras dessa

    fora exercida pelo avanar do conhecimento, adotando novas tcnicas, com a

    finalidade de reduzir custos e melhorar a produtividade para alcanar melhores

    resultados, comenta Franco (2001).

    possvel observar um movimento de modernizao no setor, desde o

    projeto, abrangendo produo e planejamento. Essas inovaes compreendem a

    tecnologia, a introduo de novos equipamentos e materiais (matrias-primas e

    produtos) e mudanas nos processos produtivos, chegando informatizao no

    planejamento e controle de obras. Tal renovao se deve ao movimento de

    modernizao da economia brasileira, enfatizando a qualidade, a produtividade e

    novas tecnologias, alcanando tambm a indstria da construo civil, argumenta

    Franco (2001).

    Corroborando a afirmativa anterior, Campos (1995) informa que atualmente

    o conhecimento vem se tornando o principal fator de sobrevivncia dos indivduos,

    das empresas e da sociedade. No caso da construo civil, entretanto, constata

    Franco (2001), o aproveitamento da mo-de-obra acessvel e de pouca formao,

    com a predominncia do trabalho manual. A autora atribui o fato ao nmero reduzido

    de programas voltados qualificao de pessoal para o setor, repercutindo

    negativamente para a empresa, no que se refere produtividade, e para o

    trabalhador, que fica mais suscetvel ocorrncia de acidentes e outros agravantes

    sua sade no trabalho.

    Percebe-se, no setor, a existncia de algum avano tecnolgico, mas,

    apesar disso, h ainda muito a ser modificado, melhorado e modernizado para se

    aproximar cada vez mais do grau de excelncia que deve nortear a meta a ser

    alcanada, no que tange utilizao de matrias-primas, mquinas e equipamentos

    e fora de trabalho. Algumas mquinas e equipamentos tm sido modificados

    visando a torn-los menores, mais versteis, isto , mais fceis de manusear e

    transportar, de modo a agilizar e facilitar a execuo das tarefas.

  • Captulo 1 Introduo

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    23

    1.1 HIPTESE

    Acredita-se que a utilizao de equipamentos versteis seja fator de

    melhoria nas condies ergonmicas, diminuindo a incidncia de problemas

    decorrentes da execuo das tarefas laborais e, tambm um fator positivo na

    qualidade de vida do trabalhador, considerando a preservao da sua sade e bem-

    estar. Ainda espera-se que com este ganho ergonmico, aumente-se a

    produtividade e diminuam-se os custos dos trabalhos de alvenaria.

    o que se pretende demonstrar por meio desta pesquisa, descrita em 5

    captulos estruturados da seguinte forma: Captulo 1: Introduo, que trata da

    incluso de melhorias nas condies ergonmicas na construo civil, algumas

    teorias e suas consequncias, a hiptese, o problema, os objetivos e as justificativas

    da pesquisa; Captulo 2: Referencial Terico; Captulo 3: Metodologia; Captulo 4:

    Resultados e Discusses; Captulo 5: Concluses.

    1.2 PROBLEMA DA PESQUISA

    Pelo que foi apresentado anteriormente, problematiza-se a pesquisa, atravs

    da seguinte questo: Ao serem utilizados equipamentos versteis, quais os impactos

    ergonmicos e de produtividade verificados para o trabalhador da construo civil?

    Salienta-se que, por equipamentos versteis, entende-se equipamentos de

    fcil transporte e manuseio, bem como adaptveis a mais de uma utilizao.

    1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

    So apresentados a seguir os objetivos que se pretende atingir com a

    realizao da pesquisa.

  • Captulo 1 Introduo

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    24

    1.3.1 Objetivo geral

    Analisar o impacto ergonmico da utilizao de mquinas e equipamentos versteis na indstria da construo civil.

    1.3.2 Objetivos especficos

    verificar a existncia de melhoria ergonmica para os trabalhadores da construo civil alvenaria, com a utilizao de mquinas e equipamentos

    versteis;

    analisar quesitos de produtividade e lucratividade da empresa, com a utilizao dessas mquinas e equipamentos;

    comparar a quantidade de insumos empregados quando se utilizam e quando no se utilizam mquinas e equipamentos versteis.

    1.4 JUSTIFICATIVA E IMPORTNCIA DA PESQUISA

    A anlise sobre os avanos alcanados com o objetivo de poupar fora

    fsica, agilizar processos para produzir mais e melhor e, ao mesmo tempo, prevenir

    transtornos, preservando a integridade fsica e psicolgica do trabalhador, merece

    especial ateno.

    Dentre os segmentos produtivos da sociedade moderna, um dos mais

    afetados pelas questes de sade do trabalhador a construo civil. A natureza do

    trabalho, a utilizao de maquinrio de grande porte, equipamentos pesados e

    ferramentas, nem sempre compatveis com as configuraes e limitaes do corpo

    humano, so fatores que contribuem decisivamente para a ocorrncia de acidentes

    e o aparecimento de doenas nos trabalhadores desse setor.

    A sociedade contempornea, que tem como principais metas a produo e o

    consumo, volta-se para as questes produtivas, desenvolvendo as mais diversas

    tcnicas e elaborando estudos minuciosos sobre produo e marketing. Produzir

    mais e atrair, cada vez mais, consumidores para o mercado esse o lema. No

  • Captulo 1 Introduo

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    25

    entanto, fundamental considerar a atuao do trabalhador no contexto produtivo, o

    que nem sempre ocorre.

    o trabalhador que movimenta as mquinas que, por si s, no produziriam;

    ele quem programa sistemas, que no existiriam sem a sua inteligncia; enfim,

    nada funcionar sem que em algum lugar, remoto que seja, esteja algum pensando

    e agindo, isto , fazendo com que ideias se realizem. E, apesar disso, os estudos

    voltados para os problemas fsicos e psicolgicos que ocorrem da relao

    homem/trabalho, s comearam a ser enfatizados a partir da segunda metade do

    Sculo XX.

    H, ainda, maior preocupao com a mquina do que com o homem. Prova

    disso o alto ndice de acidentes de trabalho e de problemas de sade sofridos

    pelos trabalhadores; de absentesmo e de presentesmo situao que ocorre

    quando o trabalhador est no posto de trabalho, mas em ritmo muito lento de

    produo, devido fadiga ou outro desconforto, aumentando a possibilidade de

    acidente. Caldeira (2007) argumenta que, neste caso, o trabalhador est fisicamente

    no ambiente de trabalho, porm improdutivo. Ou por falta de engajamento ou por

    problemas de sade fsica e psquica, o trabalhador pode estar mental e

    emocionalmente ausente. Ou seja, a pessoa est ali, mas no consegue produzir

    em sua plena capacidade.

    A respeito de absentesmo, Chiavenato (apud COSTA, 2005) explica que

    esta uma expresso que designa a falta ao trabalho, sendo considerada como a

    soma dos perodos em que os empregados de determinada organizao ficam

    ausentes do trabalho, no sendo esta ausncia motivada por desemprego, doena

    prolongada ou licena legal, mas por doena comum ou de origem ocupacional.

    Chiavenato (ibid) argumenta, ainda, que as causas de absentesmo so

    complexas e, por isto, de difcil gerenciamento, e podem estar relacionadas a

    problemas pessoais, questes disciplinares, insatisfao com o trabalho e acidentes

    de trabalho. O autor destaca os principais motivos dessas ausncias: doena

    efetivamente comprovada; doena no comprovada; razes diversas de carter

    familiar; atraso involuntrio por fora maior; dificuldades e problemas financeiros;

    faltas voluntrias por motivos pessoais; problemas de transporte; baixa motivao

    para o trabalho; superviso precria da chefia; e polticas inadequadas da

    organizao. Este quadro no exclusivo do cenrio brasileiro, principalmente em

    se tratando de acidentes de trabalho.

  • Captulo 1 Introduo

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    26

    Lima (2005) informa que anualmente, no mundo, entre 1,9 e 2,3 milhes de

    pessoas perdem a vida no trabalho. So 5.500 mortes dirias, trs a cada minuto;

    destas, 360 mil so decorrentes dos acidentes de trabalho e 1,6 milho em razo de

    doenas relacionadas ao trabalho, sendo que 12 mil desses trabalhadores so

    crianas.

    Os dados do Ministrio da Sade e da Organizao Internacional do

    Trabalho (OIT), afirma Lima (2005), exibem uma realidade desconhecida para

    muitos: os acidentes de trabalho matam mais do que as guerras e o setor em que

    ocorre o maior nmero de mortes o da construo civil.

    Apesar de ser uma atividade de grande importncia econmica para o Brasil

    o setor foi responsvel por 15,6% do PIB nacional e empregou 3,63 milhes de

    trabalhadores em 2000 dados da Previdncia Social referentes a 2002 apontam

    que 363.868 trabalhadores sofreram acidentes no trabalho e doenas ocupacionais

    e foram registrados 2.557 bitos, segundo Lima (2005). O autor argumenta que o

    nmero real deve ser bem superior, porque os dados referem-se apenas aos

    trabalhadores registrados e muitas empresas descaracterizam o acidente de

    trabalho, impedindo que sejam expostos os nmeros verdadeiros.

    Diante desse quadro, importante pensar em caminhos e aes que tragam

    novas perspectivas de qualidade de vida para os trabalhadores da construo civil.

    A ergonomia pode ser um desses caminhos, porque:

    A ergonomia (sic) busca no apenas evitar aos trabalhadores os postos de trabalhos fatigantes e/ou perigosos, mas procura coloc-los nas melhores condies de trabalho possveis, de forma a melhorar o rendimento e evitar acidente ou fadiga excessiva. [...] E melhores condies de trabalho proporcionam (sic) uma melhor qualidade de vida no trabalho (SANTANA, 1996, Cap.2, Item 2.1).

    A Ergonomia, portanto, tem sua base centrada no ser humano e pode,

    inclusive, resgatar o respeito ao homem no trabalho, afirma Santana (1996), de

    forma que no apenas seja alcanada maior produtividade, mas principalmente

    melhor qualidade de vida no trabalho.

    Palmer (apud SANTANA, 1996), argumenta que a Ergonomia pode contribuir para que a indstria alcance seus objetivos de tornar homem e mquina uma

    unidade perfeita de produo. E afirma que tal contribuio comea no planejamento

    de um produto ou processo e na modificao de equipamentos j existentes.

  • Captulo 1 Introduo

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    27

    Sendo a Ergonomia um conhecimento que vem se desenvolvendo no Brasil

    h pouco mais de meio sculo, e sendo a indstria da construo civil um segmento

    que apresenta acentuada incidncia de problemas de sade do trabalhador,

    importante discutir o tema em seus variados aspectos e pesquisar os impactos

    ergonmicos sade do trabalhador e de produtividade neste setor econmico,

    em que so utilizados mquinas e equipamentos versteis, modificados e adaptados

    ergonomicamente.

    importante tambm analisar e identificar, na aplicao prtica, a

    contribuio que a utilizao dessas mquinas e equipamentos, ergonomicamente

    adequados, pode oferecer para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e

    do desempenho empresarial da construo civil.

    Ante a perspectiva de ganhos na sade e bem-estar dos trabalhadores da

    construo civil, de aumento de produtividade e de reduo de insumos com

    consequente diminuio no impacto ambiental, oportuna a pesquisa em busca de

    resposta positiva ao problema proposto.

    1.5 DELIMITAO DA PESQUISA

    O balizador desta anlise o cenrio da construo civil no Estado do

    Esprito Santo, mormente na regio metropolitana de Vitria, por ser o campo de

    atuao profissional do pesquisador e, assim, permitir observar, na prtica, o

    desenvolvimento dos processos. Os resultados sero obtidos comparando-se

    atividades de alvenaria de mesma dimenso, em duas situaes: a) com utilizao

    exclusiva de mquinas e equipamentos versteis; e b) com utilizao exclusiva de

    mquinas e equipamentos tradicionais.

  • Captulo 2 Referencial Terico

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    28

    2 REFERENCIAL TERICO 2.1 PERFIL DO SETOR DA CONSTRUO CIVIL

    A indstria da construo civil pode ser observada sob vrios ngulos, tendo

    em vista que o impacto por ela produzido na economia bem maior do que o que se

    visualiza de imediato pelas atividades ordinariamente desenvolvidas pelo setor. Isto

    significa que, alm da movimentao imediata de recursos gerados pelas atividades

    de edificaes, obras de engenharia civil, de infraestrutura e de construes

    autnomas, a construo civil causa impacto, econmica e socialmente, em outros

    grupos. Pode-se observar a composio dessa cadeia produtiva por meio do Grfico

    1, reproduzido a seguir.

    Grfico 1 Perfil da Cadeia Produtiva da Construo e da Indstria de Materiais Junho-2008 Fonte: Projetos. Elaborao: Banco de Dados - CBIC - ABRAMAT e FGV (2008)

  • Captulo 2 Referencial Terico

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    29

    Os dados do Grfico 1 possibilitam que se avalie o impacto das atividades

    da construo civil e dos demais setores a ela ligados macrossetor da construo

    sobre a cadeia produtiva nacional.

    Pode-se deduzir, portanto, que a indstria da construo civil produz efeitos

    nos ndices de gerao de renda, salrios e investimentos, de empregos e de

    tributos, considerando o envolvimento de outras reas que no somente a

    construo propriamente dita. Preparao de terreno, instalaes, acabamentos,

    obras de engenharia civil e obras de infraestrutura para engenharia eltrica e de

    telecomunicaes so importantes pontos a considerar quando se trata de identificar

    o perfil desse setor. No Brasil, em virtude da diversificao de costumes e culturas

    gerada pela extenso territorial, importante considerar-se, tambm, a construo

    civil regionalmente.

    Teixeira e Carvalho (2006) apresentam no Grfico 2, a seguir, a distribuio

    espacial, em todo o territrio nacional, da indstria da construo civil, no qual se

    percebe concentrao de empresas nas regies Sul e Sudeste, em sua maioria

    micro e pequenas empresas, considerando o porte pelo critrio do nmero de

    trabalhadores empregados por unidade econmica de produo, informam as

    autoras citadas.

    Grfico 2 Distribuio espacial no territrio nacional de empresas de Construo Civil Pesquisa Anual da Indstria da Construo Fonte: Teixeira e Carvalho (2006)

  • Captulo 2 Referencial Terico

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    30

    Essas informaes apontam para a importncia de se buscar, incessante e

    sistematicamente, meios que alavanquem o setor da construo civil, de forma a

    alcanar nvel de excelncia em produtividade, respeitando as caractersticas e

    limites do trabalhador.

    Outros aspectos fundamentais para que se delineie o perfil desse segmento,

    e que sero abordados em seguida, so o processo de trabalho e a inovao

    tecnolgica no setor.

    2.1.1 Processo de trabalho na Construo Civil

    Palloix (apud FARAH, 1992) explica que o processo de trabalho aquele

    que transforma matrias-primas e/ou insumos em produtos com valor de uso, e que

    trs fatores so essenciais para que isso ocorra: a atividade humana, que constitui a

    fora de trabalho; o objeto sobre o qual incide essa fora (matria-prima e insumos)

    e os meios disponveis (local de trabalho, os maquinrios e as ferramentas) que iro

    auxili-la. A indstria da construo civil diversificada nos trs aspectos.

    De acordo com publicao do SESI (apud FRANCO, 2001), a construo

    civil rene uma gama de atividades complexas, interligada por grande diversidade

    de produtos vinculados a demandas diversas e com processos produtivos originais.

    Essa heterogeneidade impele sua classificao considerando os seguintes

    subsetores:

    construo pesada que atende demanda de construo: de infraestrutura viria, urbana e industrial (terraplenagem, pavimentao,

    obras relacionadas construo de rodovias, de aeroportos e de

    infraestrutura ferroviria, vias urbanas etc.); de obras estruturais e de

    arte (pontes, viadutos, conteno de encostas, tneis); de obras de

    saneamento (redes de gua e esgoto); de barragens hidreltricas e

    perfurao de poos de petrleo;

    montagem industrial responsvel pela montagem: de estruturas para instalao de indstrias; de sistemas de gerao, transmisso e

    distribuio de energia eltrica; de sistemas de telecomunicaes e

    pela montagem de sistemas de explorao de recursos naturais;

  • Captulo 2 Referencial Terico

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    31

    edificaes a principal atividade desse subsetor a construo de edifcios residenciais, comerciais, institucionais e industriais; a

    construo de conjuntos habitacionais; a realizao de partes de obras,

    por especializao, a exemplo de fundaes, estruturas e instalaes;

    e, ainda, a execuo de servios complementares (reformas, por

    exemplo).

    Sobre o subsetor edificaes importante ressaltar que este marcado pela

    heterogeneidade no porte e na capacidade tecnolgica e empresarial de suas

    empresas, variando de empresas de grande porte, com estruturas administrativas

    complexas, a pequenas e microempresas, sem organizao empresarial. Dessa

    variedade de atores, 58% das empresas esto classificadas na faixa das

    microempresas, que empregam de um a nove trabalhadores, e 33% esto no grupo

    de pequenas empresas, que tm entre 10 e 99 empregados, conforme dados da

    Fundao Joo Pinheiro (apud FRANCO, 2001).

    Em qualquer dos trs segmentos o processo, embora mantenha a

    caracterstica transformadora, diferente do de outros ramos da indstria, em

    virtude do carter nmade do setor, o que lhe confere a caracterstica de

    descontinuidade em suas atividades produtivas. Em realidade, a indstria conhece o

    produto, isto , a fbrica se estabelece em determinada obra e, quando a conclui,

    muda de endereo e se fixa em outro lugar. Esse processo de trabalho, descontnuo,

    descentralizado e nmade dificulta o avano tecnolgico e a modernizao do setor,

    segundo Farah (1992).

    Outro fator a considerar na indstria da construo civil a formao

    profissional in loco. A formao do trabalhador ocorre, de acordo com Grandi (1985),

    durante a execuo das obras, por fora das relaes de trabalho entre operrios

    mais qualificados (mestres e encarregados) e aqueles menos qualificados

    (serventes e ajudantes).

    Portanto, os operrios da construo civil que detm o saber fazer, isto ,

    o sistema no tem sabido se apoderar desse processo. Isso dificulta a formao de

    outros profissionais, tendo em vista que a maioria dos operrios no busca a

    construo civil na condio de tcnicos, mas por no terem outra perspectiva.

    Trata-se de mo-de-obra sem especializao, cuja escola o prprio local de

    trabalho.

  • Captulo 2 Referencial Terico

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    32

    Considerando que a terceirizao contratao de trabalhadores por tarefa

    determinada, sem garantia de que estes sejam recontratados aps o encerramento

    dessa tarefa altamente utilizada na indstria da construo civil, principalmente

    pelas pequenas empresas que constituem a maioria desse parque industrial. Pode-

    se depreender que o trabalhador leva com ele o saber fazer adquirido no canteiro

    de obra. Isso acarreta perda de produtividade, tendo em vista que a destreza do

    aprendiz consideravelmente menor do que a do trabalhador que j ultrapassou

    essa fase.

    Ocorre ainda nesse sistema de terceirizao, segundo Barros e Mendes

    (2003), a imposio de ritmo acelerado de trabalho, vez que o trabalhador

    remunerado pelo que produz, levando-o situao de estresse e comprometimento

    da sade. Alm desse quadro trabalho/doena, h, nesse sistema, clara violao de

    direitos trabalhistas, em virtude de no se estabelecer o vnculo empregatcio,

    afirmam os autores.

    As caractersticas apontadas tornam o ambiente organizacional notada-

    mente estressante. A descontinuidade, baixos salrios, insegurana causada pela

    transitoriedade da fbrica e outros motivadores pressionam emocionalmente o

    trabalhador da construo civil.

    So os trabalhadores migrantes que encontram na construo civil campo

    propcio para vender sua fora de trabalho, tendo em vista ser uma das nicas a

    absorverem mo-de-obra com baixo nvel de escolaridade e precria formao

    profissional, argumenta Lamera (2000). Isto leva outros setores econmicos a

    classificarem a indstria da construo civil no rol de atividades atrasadas, com mo-

    de-obra pouco qualificada e procedimentos obsoletos, enfatiza Lamera (2000).

    No entanto, Vargas (1996) analisa que no Brasil ocorreram algumas

    mudanas na cultura da construo civil, iniciando-se pela modificao da lgica do

    ganho monetrio, tanto na rea imobiliria quanto na de obras pblicas. Informa o

    citado autor que entre 1950 e 1970, o BNH Banco Nacional de Habitao

    provocou um boom no setor, caracterizado por grandes obras das empresas

    estatais. Com a alta inflacionria, as empresas que conseguiam negociao

    favorvel com fornecedores ou habilidade financeira conseguiam diminuir custos de

    10 a 20%. Na atual conjuntura seria necessrio grande esforo para se alcanar tal

    percentual, argumenta Vargas (1996).

  • Captulo 2 Referencial Terico

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    33

    O fechamento do BNH, a abertura ao mercado estrangeiro, a nova lei de

    licitao baseada no preo mnimo e o fim da inflao, analisa Vargas (1996),

    conduziram o setor da construo civil a pensar em novas formas de trabalho,

    adotando a lgica da racionalizao e da produtividade, passando a gerenciar

    custos buscando reduzi-los, tendo em vista que a diminuio desses custos tornou-

    se fator imprescindvel para a sobrevivncia no contexto mercadolgico muito mais

    competitivo.

    Considerando que os setores de qualquer indstria so interdependentes, a

    inovao conceitual com relao ao modo operacional visando diminuio de

    custos e aumento de produtividade e de qualidade necessariamente se estende aos

    demais setores da construo civil, no sendo diferente no que concerne

    tecnologia.

    2.1.2 Inovao tecnolgica na Construo Civil

    Inovar um desafio permanente e tornou-se uma varivel estratgica das

    empresas brasileiras para superar as dificuldades de nuances diversas que se

    apresentam ao longo das atividades empresariais. Inovar o caminho para

    aumentar a produtividade e ampliar as oportunidades, criando novos empregos e

    remunerando melhor investidores e trabalhadores.

    A sociedade brasileira progride e vai transmutando o perfil canhestro de

    amadorismo e improvisao em arrojo que nasce do conhecimento e da capacidade

    tcnica. A adoo do novo modus operandi reflete-se em todos os segmentos

    sociais.

    A indstria da construo civil recebe diretamente esse reflexo e, tendo um

    papel estratgico nesta nova sociedade, busca tambm aumentar a produtividade e

    eficincia, binmio inseparvel na produo de resultado. Para que seja assim,

    preciso que se esteja atento s possibilidades de inovao e renovao, de

    processos, mtodos, tcnicas, mquinas e equipamentos.

    Essa ateno, que gera um processo de reinveno, precisa ser contnua,

    para que as aes em direo construo enxuta, utilizando mquinas e

    equipamentos versteis e/ou simples, no sofram soluo de continuidade.

    Isto j est acontecendo na indstria da construo civil, na regio da

    Grande Vitria, Estado do Esprito Santo, onde adaptaes e inovaes em

  • Captulo 2 Referencial Terico

    PPGEP Gesto Industrial - 2009

    34

    equipamentos pesados e/ou tradicionais tm sido feitas, e mtodos tm sido

    modificados, propiciando maior aproveitamento de tempo e melhor utilizao de

    recursos materiais e humanos, redundando em maior produtividade, competitividade

    e, via de consequncia, lucratividade, com influncia positiva tambm na questo

    ambiental, pelo reaproveitamento de materiais e diminuio de resduos.

    A CNI Confederao Nacional da Indstria (2002) afirma que a indstria

    a principal responsvel pela produo e difuso do avano tecnolgico, com impacto

    nos demais setores da economia, e contribui, de forma significativa, na gerao de

    empregos e divisas.

    falso o entendimento de que o crescimento dos servios acarretaria

    reduo irreversvel da importncia da indstria, continua argumentando a CNI, e

    nasceu, dentre outros motivos, de iluso estatstica. E explica: Com a terceirizao

    parte do emprego e valor que eram gerados diretamente pela indstria passaram a

    ser contabilizados no setor de servios. Parcela importante dos servios existentes

    nas economias desenvolvidas direta e indiretamente resultante de um setor

    industrial expressivo (Grifo nosso). Portanto, nenhum projeto de desenvolvimento

    pode prescindir da consolidao de um setor industrial dinmico.

    A indstria da construo civil, conforme exposto em captulo anterior, um

    dos segmentos que apresentam ndices significativos de crescimento, sendo,

    portanto, fomentadora de estudos e objeto de anlise dos centros de pesquisa

    empenhados em melhorar procedimentos e desenvolver novas tcnicas que levem a

    produzir mais e melhor. A reside o desafio: trazer esses recursos de conhecimento

    e se tornar mais produtiva e competitiva, agregando mais valor produo. Embora

    utilizem diferentes estratgias de gesto, este um elemento comum a pequenas ou

    grandes empresas. Da a importncia de inovar e criar, isto , ter habilidade para

    gerar e usar conhecimento e tcnicas, porque a inovao tecnolgica se tornou

    paradigma da competitividade.

    Junqueira (apud MARDEGAN et al., 2005) pondera que o processo de

    produo, ao longo da histria, conheceu diversos modos de organizao,

    respondendo a contextos especficos, conforme os fatores econmicos, sociais,

    culturais e institucionais se sucederam e que, na atualidade, a economia globalizada

    exige das organizaes habilidades para obteno de maior competitividade.

    Essas mudanas pressupem alteraes no processo de produo,

    automao, mudanas nas condies de processo (temperatura de produo,

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    35

    presso, umidade utilizada), rearranjos fsicos da produo e modificaes nos

    equipamentos, minimizando a produo de resduos e o impacto ambiental negativo.

    Inclui, tambm, a reutilizao que trata do reaproveitamento dos resduos da

    produo como matria-prima, substituindo ou complementando alguma outra no

    processo original ou em outros processos. Todas essas alteraes desembocam no

    que se denomina Produo Enxuta.

    Algumas modificaes, expostas no Captulo 3, so bastante simples e

    mostram que criatividade e inovao no necessitam apenas de conhecimento

    terico profundo, mas da observao cotidiana objetiva de processos e mtodos.

    No raras vezes essas modificaes representam a diferena entre

    sucumbir ou permanecer no contexto competitivo do mercado globalizado e so

    fundamentais na busca da Construo Enxuta.

    Outros fatores a considerar em relao inovao tecnolgica so:

    economia, emprego de mo-de-obra no especializada, contribuio para

    preservao do meio ambiente, mais limpeza e mais rapidez nos processos, e o

    atendimento a alguns objetivos bsicos da Produo Enxuta produzir mais, com

    menor custo, com qualidade e sem desperdcios.

    2.2 PRODUO ENXUTA

    A Produo Enxuta, explica Rentes (apud SILVA e RENTES, 2004), nasceu

    do Sistema Toyota de Produo (TPS) desenvolvido para a manufatura e para

    atender ao discreto e variado mercado japons aps a Segunda Guerra Mundial.

    uma filosofia de gerenciamento que visa a atender demanda no menor prazo, com

    a mxima qualidade e a custo mais baixo.

    Percebe-se que a Produo Enxuta um marco na conquista de

    competitividade pelas empresas, com foco consistente e sistemtico de reduo e

    eliminao de desperdcios dos sistemas produtivos, conforme argumentam

    Mardegan et. al. (2005). Adaptando-se essa nova viso de mercado, a construo

    civil tem buscado novos paradigmas de desempenho a partir da aplicao de

    conceitos da Produo Enxuta. Por isso importante entender a origem e os

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    36

    conceitos dessa nova ideia de produo, para melhor utilizar os recursos que

    disponibiliza.

    Segundo Ghinato (2000), a produo enxuta um termo genrico para

    definir o Sistema Toyota de Produo (TPS). Para Womarck et al. (1992),

    pesquisadores do Programa Internacional de Pesquisa sobre a Indstria

    Automobilstica IMVP (International Motor Vehicle Program), enxuta a produo

    por utilizar menores quantidades de tudo em comparao com a produo em

    massa.

    Para alcanar seus objetivos a produo enxuta est apoiada em um

    conjunto de ferramentas. Conforme destacou Coriat (1994), reunia: a produo Just

    in Time, o mtodo KanBan de gesto de pessoas pelos estoques e a prtica de

    Kaizen. Segundo o autor, a compreenso dessas ferramentas bsicas depende de

    uma viso sistmica de todas as pessoas envolvidas no processo produtivo: do

    operrio no cho de fbrica ao executivo. Assim, a produo enxuta pode ser

    entendida como um sistema integrado de princpios, prticas operacionais e

    ferramentas que tornam possvel agregar valor ao produto ou ao servio.

    A construo civil tem procurado investir na melhoria de seus processos de

    produo, devido s crescentes presses do mercado. Nesse aspecto, o emprego

    da produo enxuta nos canteiros de obra permite alcanar a reduo de custos por

    meio da melhor alocao dos recursos disponveis, da qualificao da mo-de-obra,

    da reduo de estoques e da racionalizao do tempo.

    2.2.1 Conceito e gnese

    A criao do TPS ou, conforme ficou comumente conhecido, Produo

    Enxuta traduo do termo lean manufacturing criado por John Kraficik,

    pesquisador do Massachussets Institute of Technology (Brito, 2009) se deve a trs

    pessoas: o fundador da Toyota e mestre de invenes, Toyoda Sakichi, seu filho

    Toyoda Kiichiro e o principal executivo, engenheiro Taiichi Ohno. O sistema tem por

    escopo aumentar a eficincia da produo pela eliminao contnua de

    desperdcios.

    At a dcada de 90 do Sculo XX predominou na produo industrial o

    Sistema de Produo em Massa desenvolvido por Henry Ford e Frederick Taylor, no

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    incio desse sculo. Produzir em larga escala, com diviso estanque de trabalho e

    especializao, para reduzir os custos unitrios. A filosofia do TPS, ao contrrio,

    produzir pequenos lotes, com maior variedade de produtos de alta qualidade,

    utilizando mo-de-obra multifuncional.

    Para chegar ao objetivo traado foram desenvolvidas algumas tcnicas

    bastante simples e muito eficientes, entre as quais a ferramenta kanban e a poka-

    yoke.

    Justificando a filosofia do TPS, Ohno (1988), um dos seus idealizadores,

    considera que: "os valores sociais mudaram. Agora, no podemos vender nossos produtos, a no ser que nos coloquemos dentro dos coraes de nossos consumidores, cada um dos quais tem conceitos e gostos diferentes. Hoje, o mundo industrial foi forado a dominar de verdade o sistema de produo mltiplo, em pequenas quantidades. (OHNO, 1988)."

    Eliminao absoluta de desperdcio base do TPS, e os pilares necessrios

    para sustent-lo so as suas duas principais ferramentas: o just-in-time (JIT) e a

    autonomao, cuja idia geral apresentada na Figura 1.

    Figura 1 Pilares de sustentao da Produo Enxuta Fonte: CARNEIRO, F. L. (2009).

    As fontes de desperdcio que o TPS objetiva eliminar so:

    superproduo considerada a maior delas; tempo de espera refere-se a materiais que aguardam em filas para

    serem processados;

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    transporte que no gera valor agregado ao produto; processamento muitas operaes so desnecessrias ao processo; estoque imprescindvel detectar a causa, para reduzi-lo; movimentao; defeitos implicam em desperdcio de materiais, mo-de-obra,

    movimentao de materiais defeituosos e outros.

    O termo kanban, que aparece no quadrado apontado pela seta ao lado da

    coluna JIT da Figura 1, significa registro ou placa visvel, que, em se tratando de

    administrao da produo, a sinalizao que controla os fluxos de produo de

    uma indstria. Essa sinalizao pode ser feita por meio de cartes, luzes ou outros

    sinalizadores.

    Coloca-se um kanban em peas ou partes especficas de uma linha de

    produo, para indicar a entrega de uma determinada quantidade. Quando se

    esgotarem todas as peas, o mesmo aviso levado ao seu ponto de partida, onde

    se converte num novo pedido para mais peas. Quando for recebido o carto ou

    quando no h nenhuma pea na caixa ou no local definido, ento se deve

    movimentar, produzir ou solicitar a produo da pea.

    Essa tcnica permite agilizar a entrega e a produo de peas. Pode ser

    empregada em indstrias montadoras, desde que o nvel de produo no oscile

    muito. Os kanbans fsicos (cartes ou caixas) transitam entre os locais de

    armazenagem e produo, substituindo formulrios e outras formas de solicitar

    peas, permitindo enfim que a produo se realize JIT.

    JIT o sistema de administrao da produo que determina no produzir,

    transportar ou comprar nada antes da hora exata. Pode ser aplicado em qualquer

    organizao, para reduzir estoques e os custos deles decorrentes.

    Sendo um dos pilares de sustentao da Produo Enxuta, o JIT permite

    que o produto ou a matria-prima chegue ao local de utilizao somente no

    momento exato em que for necessrio. Os produtos somente so fabricados ou

    entregues a tempo de serem vendidos ou montados. Esse um conceito de

    produo por demanda e a ideia de primeiramente vender o produto para

    posteriormente adquirir a matria-prima e depois fabric-lo ou mont-lo. Nesse caso,

    o estoque de matrias-primas mnimo, suficiente apenas para poucas horas de

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    produo. Os fornecedores devem, ento, fazer entregas de pequenos lotes, na

    frequncia desejada, o que demanda capacit-los, trein-los e mant-los conectados

    com a produo.

    Cheng e Podolsky (1996) esclarecem que necessrio selecionar

    cuidadosamente os fornecedores, de modo a assegurar a qualidade e a

    confiabilidade do fornecimento, tendo em vista que o JIT promove a sua reduo ao

    mnimo possvel, e que, embora esse seja um dos fatores que mais contribuem para

    alcanar os potenciais benefcios da poltica JIT, podem ocorrer eventuais

    problemas de fornecimento. A melhor maneira de prevenir essa situao

    selecionar cuidadosamente os fornecedores e arranjar uma forma de proporcionar

    credibilidade dos mesmos.

    Poka-yoke o conceito do STP destinado a evitar a ocorrncia de defeitos

    em processos de fabricao e/ou na utilizao de produtos e foi desenvolvido

    primeiramente por Shigeo Shingo, a partir do princpio do "no custo". De acordo

    com Shingo (1996), inspeo sucessiva, autoinspeo e inspeo da fonte podem

    ser todas alcanadas pelo uso desse mtodo, que possibilita a inspeo 100% por

    meio de controle fsico ou mecnico. O poka-yoke pode ser usado de duas maneiras

    para corrigir erros:

    mtodo de controle: quando o poka-yoke ativado, a mquina ou a linha de processamento para, de forma que o problema possa ser corrigido; e

    mtodo de advertncia: quando o poka-yoke ativado, um alarme soa ou uma luz sinaliza, visando a alertar o trabalhador.

    H, ainda, segundo Shingo (1996), trs tipos de poka-yoke de controle:

    mtodo de contato que identifica os defeitos em virtude da existncia ou no de contato entre o dispositivo e alguma caracterstica relacionada

    forma ou dimenso do produto;

    mtodo de conjunto que determina se um dado nmero de atividades previstas so executadas; e

    mtodo de etapas que determina se so seguidos os estgios ou as operaes estabelecidas por um dado procedimento.

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    O poka-yoke, em si, no um sistema de inspeo, mas um mtodo de

    detectar defeitos ou erros que pode ser usado para satisfazer uma determinada

    funo de inspeo, afirma Shingo (op. cit.). A inspeo o objetivo, enquanto o

    poka-yoke apenas o mtodo.

    A autonomao previne produtos defeituosos, elimina superproduo e

    focaliza a ateno na compreenso do problema para assegurar que no se repita.

    Tambm conhecida no STP por jidoca, a autonomao pode ser descrita como

    "automao inteligente'" ou "automao com toque humano", por implementar

    algumas funes supervisoras antes das funes de produo.

    Todo o processo de Produo Enxuta permeado pela metodologia kaizen,

    que preconiza a constante melhoria dos fluxos e processos com o objetivo de se

    agregar mais valor ao produto, com menos desperdcio.

    Rother e Shook (apud ARAJO e RENTES, 2006) explicam que a

    metodologia kaizen formada por dois nveis: o kaizen de fluxo, ou de sistema, e o

    kaizen de processo. O primeiro, que enfatiza o fluxo de valor, dirigido ao

    gerenciamento; o segundo, dirigido s equipes de trabalho e aos lderes de equipe,

    visa aos processos individuais, conforme sintetizados na Figura 2.

    Figura 2 Dois nveis de kaizen Fonte: ROTHER & SHOOK (apud ARAJO e RENTES, 2006)

    A Produo Enxuta, oriunda da Toyota japonesa, espalhou-se pelo mundo

    globalizado e tem sido adotada pela maioria das empresas de diversos portes e

    segmentos. A construo civil no ficou alheia a essa nova filosofia de organizao

    e produo e, apesar das limitaes acarretadas pelo seu perfil sui generis, tem

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    41

    evoludo paulatinamente nesse caminho, denominando de Construo Enxuta esse

    novo conceito aplicado ao setor.

    2.2.2 Construo Enxuta

    Com base na filosofia da Produo Enxuta, que preconiza aumentar a

    produtividade com custos menores e eliminao de desperdcios, a Construo

    Enxuta adota onze princpios, elencados por Koskela (1992):

    1. reduzir a parcela de atividades que no agregam valor;

    2. aumentar o valor do produto considerando as necessidades do cliente;

    3. reduzir a variabilidade;

    4. reduzir o tempo do ciclo de produo;

    5. simplificar, pela reduo do nmero de passos ou partes;

    6. aumentar a flexibilidade na execuo do produto;

    7. aumentar a transparncia do processo;

    8. controle direcionado ao processo em seu conjunto e no em subprocessos

    isoladamente;

    9. gerar melhoria contnua no processo;

    10. balancear melhorias entre os fluxos e as converses; e

    11. aplicar prticas de benchmarking.

    Considerando que a caracterstica da competio no sculo XXI, segundo

    Tsukamoto (apud CONTE, 1997), ser a presena de empresas enxutas,

    agregadoras de valores aos seus produtos com eficcia e eficincia,

    imprescindvel que as empresas do setor da construo civil, que pretendam firmar-

    se nesse novo contexto, adotem os princpios apontados por Koskela (1992).

    O mercado sem fronteiras, globalizado, trouxe para as empresas a

    possibilidade de expanso do seu crculo de negcios, mas, em contrapartida,

    forou-as a competirem entre si, de forma tal que se veem compelidas a buscar,

    incessantemente, custos menores, maior qualidade nos produtos e servios e a

    investirem em processos produtivos que se ajustem nova realidade, dizem Silva e

    Rentes (2004). Esse o grande motivador para que a construo civil seja um dos

    segmentos produtivos que tm buscado assimilar em sua linha de produo os

    conceitos e ferramentas da Produo Enxuta.

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    42

    No caso especfico da construo, os insumos representam, via de regra,

    desembolso alto. necessrio, portanto, adotando a metodologia kaizen, analisar

    criteriosamente a utilizao de cada item e os custos que representam todos os

    componentes desses recursos de produo (materiais diversos, mquinas e

    equipamentos, mo-de-obra etc.) no produto final, de forma a identificar e solucionar

    os pontos crticos do processo de produo, aumentando a produtividade e evitando

    perdas.

    O conceito de produo associado perda observado, conforme a filosofia

    da Produo Enxuta, por meio de sete itens principais: perdas por superproduo,

    perdas por transporte, perdas no processamento em si, perdas por fabricao de

    produtos defeituosos, perdas por movimento, perdas por espera e perdas por

    estoque. (WOMACK e JONES, 1996).

    So exemplos de perdas na construo civil, conforme Meira et. al. (1998):

    por superproduo uma laje executada com 0,15 m quando o projeto previa 0,12 m; a produo de argamassa em quantidades superiores

    para um determinado servio; uma alvenaria estocada aguardando

    aplicao de chapisco;

    por transporte transporte de tijolos a mais do que o necessrio (erro na programao das atividades); distncia excessiva entre o local de

    armazenagem e o posto de trabalho (perda por leiaute ineficiente);

    perdas no processamento em si execuo de contrapiso; perdas por fabricao de produtos defeituosos frma do pilar fora do

    prumo; marcao de esquadrias ou alvenarias fora da posio

    especificada;

    perdas por movimento diretamente associadas aos movimentos desnecessrios dos trabalhadores ao executarem as operaes

    principais, nos seus postos de trabalho. Essas perdas envolvem a

    considerao dos aspectos ergonmicos inseridos no processo e os

    limites de tolerncia humana (fadiga e cansao);

    perdas por espera interrupo de servio por falta de material; betoneira parada por falta de cimento, areia ou brita;

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    perda por estoque estocagem de areia feita a cu aberto, fora de caixas e sobre o prprio terreno.

    As empresas do setor da construo civil esto distantes ainda do padro de

    excelncia almejado pela filosofia de Produo Enxuta. Muitas dessas empresas, de

    portes diversos, tm buscado implantar medidas que conduzam ao padro desejado,

    reduzindo custos, eliminando desperdcio e aumentando a produtividade, atentando

    tambm para a questo ergonmica.

    2.3 ERGONOMIA

    A Produo Enxuta, conforme explicado anteriormente, tem por objetivo

    produzir em quantidade suficiente para atender demanda apresentada, com

    decrscimo de custo e acrscimo de qualidade, buscando eliminar qualquer

    desperdcio. Isso implica em gerir a produo de tal forma que insumos sejam

    totalmente aproveitados, evitando, inclusive, resduos inaproveitveis; que mquinas

    e equipamentos sejam utilizados em sua capacidade mxima e que a mo-de-obra

    seja otimizada sem comprometer a sade fsica e emocional do trabalhador.

    O trabalho tem sido objeto de debates e de conceituaes diversas ao longo

    do tempo. As transformaes vertiginosas impingidas pelo advento da eletrnica, da

    microeletrnica, da informtica, enfim, de todo esse universo de informaes contido

    em chips minsculos, por sua vez, mudaram drasticamente as relaes de trabalho.

    Assim, da necessidade de compreenso e conhecimento de uma nova

    realidade, imposta sociedade pelo desenvolvimento da tecnologia, gestada,

    conforme abordam Sanders e McCormick (1993), no incio da revoluo industrial (final do sculo XIX e incio do XX), surgiu a cincia chamada Ergonomia.

    Ideias e cincias novas necessitam de formulao de conceitos que

    conduzam melhor compreenso do seu objeto de estudo e dos objetivos que

    almeja. A Ergonomia tem em seu campo de atuao importantes mestres que sobre

    ela se debruam para enunciar conceitos e traarem diretrizes.

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    2.3.1 Conceitos e definies

    Na conceituao de Iida (2005), um dos precursores do assunto no Brasil, a

    Ergonomia um estudo aprofundado sobre a relao de trabalho do homem. Para

    Moraes e MontAlvo (2003), a Ergonomia tem por objeto de estudo o homem em

    seu trabalho realizando a sua tarefa cotidiana. Qualquer atividade realizada pelo ser

    humano, que envolva gasto de energia e em que se processem informaes,

    objeto de estudo e pode ser analisada ergonomicamente, dizem as citadas autoras.

    De acordo com estudiosos de ergonomia (IIDA, 2005; GRANDJEAN, 1998)

    observa que, tendo em vista a sua etimologia, poder-se-ia definir Ergonomia da

    seguinte forma: Ergonomia o estudo das leis do trabalho, mas que a definio

    mais aceita atualmente : Ergonomia o estudo da adaptao do trabalho ao

    homem.

    No Brasil, conforme Iida (2005), a Associao Brasileira de Ergonomia

    ABERGO adota a seguinte definio: "Entende-se por ergonomia o estudo das interaes das pessoas com a tecnologia, a organizao e o ambiente, objetivando intervenes e projetos que visem a melhorar, de forma integrada e no dissociada, a segurana, o conforto, o bem-estar e a eficcia das atividades humanas. ABERGO (apud IIDA, 2005, p.2).

    Enquanto na concepo de Wisner (1987) a ergonomia : ...o conjunto dos conhecimentos cientficos relativos ao homem e necessrios para a concepo de ferramentas, mquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o mximo de conforto, de segurana e eficcia (WISNER,1987, p. 73).

    Segundo Hollnagel (apud SARMET, 2003) o objeto da ergonomia o

    trabalho, que pode ser entendido como toda atividade fsica e cognitiva voltada para

    a produo ou realizao de algo, e seus principais objetivos so: produzir

    conhecimentos que levem compreenso do trabalho e suas relaes; e

    transformar o trabalho aplicando esses conhecimentos. Essa transformao visa

    segurana dos homens e dos equipamentos, a eficincia do processo produtivo e o

    bem-estar dos trabalhadores.

    importante compreender conceitos e enunciados, para que a ideia ou

    cincia seja assimilada e posta em prtica. possvel que o fato de gestores da

    indstria no alcanarem o entendimento do que seja interveno ergonmica leve

    empresas a no implantarem esse conceito em suas atuaes.

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    45

    o que constatam Frana, Toze e Quelhas (2007) nas execues do

    trabalho em diversos setores, principalmente no setor industrial, observando o

    envolvimento de intensos esforos fsicos, repeties posturais, riscos de exposio

    excessiva poeira e insolao, riscos acidentais de manipulao de componentes

    qumicos, dentre outros. Afirmam os citados autores que, por meio de uma

    interveno ergonmica, podem ser amenizados ou at mesmo solucionados os

    impactos desses fenmenos, depois de avaliados pela Anlise Ergonmica do

    Trabalho AET, cuja metodologia ser observada a seguir.

    2.3.2 Estrutura da Anlise Ergonmica do Trabalho

    Esclarece Iida (2005. p. 60) que o objetivo da AET aplicar os

    conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma situao real

    de trabalho. Desenvolvida por pesquisadores franceses, constitui-se, de acordo

    com o citado autor, em exemplo de ergonomia de correo.

    So cinco as etapas a serem observadas na aplicao do mtodo AET,

    ensinam Gurin et. al. (apud IIDA, 2005), quais sejam: anlise da demanda; anlise

    da tarefa; anlise da atividade; diagnstico; e recomendaes. Diagnstico e

    recomendaes originam-se das trs primeiras etapas, que, conforme argumentam

    Santos e Fialho (1995), devem ser abordadas cronologicamente de maneira a

    garantir coerncia metodolgica e evitar percalos, que so comuns nas pesquisas.

    Identificando cada uma dessas etapas, pode-se informar que a anlise da

    demanda de grande importncia e, assim sendo, necessrio analisar a

    representatividade do seu autor, da origem (formal ou real), os problemas (aparentes

    e fundamentais), as perspectivas de ao e os meios disponveis, segundo Wisner

    (1987). Tendo sido identificados esses elementos, pode-se evoluir para se

    estabelecer o objetivo da demanda, de modo a determinar a direo da anlise.

    Santos (1993) enfatiza a necessidade de que todos os envolvidos sejam

    esclarecidos dos objetivos da anlise e sejam mantidos informados em todas as

    suas fases.

    Na anlise da tarefa so utilizadas diferentes tcnicas, dentre as quais:

    observao direta do especialista, observao clnica, registro das diversas variveis

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    46

    fisiolgicas do operador, medidas do ambiente fsico (rudo, iluminao, vibrao,

    temperatura, umidade etc.) e coleta de dados relacionados a informaes gerais do

    posto em estudo. Wisner (1987) ressalta a importncia da participao efetiva dos

    trabalhadores, de modo a validar as informaes obtidas.

    A anlise das atividades identifica a atividade real, isto , aquela que , de

    fato, realizada pelo trabalhador utilizando os meios disponveis. Nessa anlise

    possvel distinguir as atividades fsicas das atividades mentais, embora sejam

    executadas simultaneamente (SANTOS, 1993).

    A legislao brasileira prev a avaliao ergonmica por meio da Norma

    Regulamentadora NR 17 (M.T.E., 1978), em seu item 17.1.2: " para avaliar a adaptao das condies de trabalho s caractersticas psicofisiolgicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a anlise ergonmica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mnimo, as condies de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.

    Esta NR est contida na Portaria 3.214, de 8 de junho de 1978, que aprova

    as Normas Regulamentadoras NR do Captulo V, Ttulo II, da Consolidao das

    Leis do Trabalho, relativas Segurana e Medicina do Trabalho. A mesma Portaria

    aprova a Norma Regulamentadora NR 7, conhecida atualmente pela sigla PCMSO

    Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional: "Esta Norma Regulamentadora estabelece a obrigatoriedade de elaborao e implementao, por parte de todos os empregadores e instituies que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional PCMSO, com o objetivo de promoo e preservao da sade do conjunto dos seus trabalhadores. (NR 7 ITEM 7.1.1).

    No que tange indstria da construo civil, a Portaria 3.214/78 estabelece

    a obrigatoriedade de elaborao e implementao do Programa de Condies e

    Meio Ambiente de Trabalho na Indstria da Construo PCMAT, por meio da

    Norma Regulamentadora NR 18.

    No entanto, para que se estabelea conforto no ambiente de trabalho,

    elevando a produtividade e diminuindo a incidncia de problemas de sade dos

    trabalhadores, preciso mais do que Normas Regulamentadoras, Programas de

    Controle Mdico de Sade e de Riscos Ambientais. necessrio, de fato, que se

    crie no mundo do trabalho a cultura ergonmica. Argumentam Frana, Toze e

    Quelhas (2007) que fundamental que o empresrio entenda que ter mais lucros e

  • Captulo 2 Referencial Terico

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    47

    menos prejuzos econmicos e sociais ao favorecer um ambiente de trabalho

    confortvel e seguro, isto , ergonmico.

    Depreende-se, assim, que a observncia do estudo e a implementao da

    anlise e da interveno ergonmica, sistematicamente, no ambiente de trabalho,

    promoveriam maior segurana e significariam menos trabalhadores afastados em

    decorrncia de problemas posturais, minimizando perdas de qualidade e de

    andamento da produo, reduzindo, inclusive, os problemas enfrentados