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1 INGRID ARAÚJO DE MEDEIROS DIVISÃO DE TAREFAS EM COLÔNIAS DE Dinoponera quadriceps (HYMENOPTERA, FORMICIDAE, PONERINAE) Natal/RN 2016

DIVISÃO DE TAREFAS EM COLÔNIAS DE Dinoponera quadriceps · Divisão de tarefas em colônias de Dinoponera quadriceps (Hymenoptera, Formicidae, Ponerinae) / Ingrid Araújo de

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INGRID ARAÚJO DE MEDEIROS

DIVISÃO DE TAREFAS EM COLÔNIAS DE Dinoponera quadriceps

(HYMENOPTERA, FORMICIDAE, PONERINAE)

Natal/RN

2016

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INGRID ARAÚJO DE MEDEIROS

DIVISÃO DE TAREFAS EM COLÔNIAS DE Dinoponera quadriceps

(HYMENOPTERA, FORMICIDAE, PONERINAE)

Tese apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Psicobiologia da

Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, para obtenção do título de

Doutor.

Orientador: Prof. Arrilton Araújo.

Natal/RN

2016

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Biociências - CB

Medeiros, Ingrid Araújo de.

Divisão de tarefas em colônias de Dinoponera quadriceps

(Hymenoptera, Formicidae, Ponerinae) / Ingrid Araújo de

Medeiros. - Natal, 2016.

105 f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em

Psicobiologia.

Orientador: Prof. Dr. Arrilton Araújo.

1. Insetos sociais - Tese. 2. Divisão de trabalho - Tese. 3.

Formigas - Tese. I. Araújo, Arrilton. II. Universidade Federal

do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 565.7

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Título: Divisão de tarefas em colônias de Dinoponera quadriceps (Hymenoptera,

Formicidae, Ponerinae)

Autor (a): Ingrid Araújo de Medeiros

Data da defesa:06 de maio de 2016

Banca examinadora:

Fívia de Araújo Lopes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte- RN

Daniel Marques de Almeida Pessoa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte- RN

Omar Eduardo Bailez

Universidade Estadual do Norte Fluminense- RJ

Ronara de Souza Ferreira

Universidade Federal do Espirito Santo- ES

Arrilton Araújo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte- RN

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O essencial é invisível aos olhos”.

(Saint-Exupéry)

Aos meus maiores incentivadores:

Meus pais, João e Maria.

Meu tio, João Cecílio.

Minha cria, Heitor.

Heitor, “eu te amo até a lua...ida e volta”.

(Sam MC Bratney)

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Agradecimentos

São muitos a agradecer!

Agradeço ...

-A Ingrid Araújo que aos seis anos chorou diante de sua primeira prova, pensando que

era incapaz. Esse medo permanece, mesmo assim isso nunca fez com que desistisse dos

seus desafios;

-A minha cria, Heitor. Desde sempre soube que seria mãe de um menino, e ele sempre foi

Heitor. O menino que eu descrevia nas minhas brincadeiras de criança, hoje vive no

aconchego dos meus braços. Nada é tão perfeito quanto seu jeitinho todo imperfeito de

ser. Obrigada meu filho, sua chegada foi imprescindível para finalização dessa tese. Seus

sorrisos e bagunças diárias me torna capaz.

-Uma força que denomino Deus, porque mesmo sem nenhum artigo científico

comprovando ou refutando sua existência, eu nunca hesitei em pedir e ele nunca deixou

de atender;

-Aos meus pais (João Honório e Maria das Neves), por ser os melhores pais que eu

poderia ter. Trabalharam desde criança, e diferente de tudo que eles viram e viveram,

criaram seus filhos com a única obrigação de estudar e receber tanto cheiro sem dizer “tá

bom pai”, “ta bom mãe”! Ao meu pai Té (João Cecílio), por me amar e cuidar de mim

como uma filha. Té, como é bom o seu amor! Cheguei aqui, graças a vocês três! Nunca

serei capaz de agradecer o suficiente.

- A Guia (Maria Daguia), por ter doado sua juventude para cuidar de mim e da minha

irmã. Do seu jeitinho, me ensinou a ser responsável.

-Aos meus irmãos (Victor e Ariane), por serem do jeito que são, por sermos do jeito que

somos. Quando crianças, brincamos e brigamos muito. O tempo passou, deixamos as

brigas e continuamos brincando feito três crianças.

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-A minha prima, irmã e madrinha (Ruth), por exercer tão bem esses três papéis. Como eu

sempre digo: “Você é a melhor madrinha do mundo”. Não é à toa que escolhi para ser a

madrinha do meu filho. A minha prima irmã (Raquel), por ser tão doce, prestativa e

companheira.

-Aos meus padrinhos (Clóvis e Mariquinha), por todo o carinho e apoio, que sempre me

deram.

-As minhas sobrinhas amadas, Victória e Beatriz, por ensinar a me doar sem medidas.

-Ao meu amor lindo (Bruno), por todos os bons momentos e por continuar me fazendo

rir. Agradeço não só pelas idas ao supermercado para passar o estresse enquanto escrevia

essa tese, mas por sua companhia, cuidado e carinho desses oito anos juntos.

-Ao meu filho felino, Filho, por todo o seu carinho e companheirismo.

-A Ana Beatriz, por me ensinar que mesmo diante de uma situação ruim é possível tirar

sempre bons motivos para sorrir.

-Aos amigos que cultivei nas várias fases da minha vida e que tornaram cada fase

inesquecível: Tâmara, Kaline, Yane, Maria Aparecida, Maria Do Céu, Alcimar,

Vanderson, Nara, Gilliard, Ítala, Antônio, Elidemberg, Tamires, Jaciana, Joyce, Daniela,

Raquel, Liêvin, Maria Gracilene, Lidiana, Danieli, Isaac, Jônatas ... obrigada.

-Ao Laboratório de Biologia Comportamental, o laboratório mais legal de todos e com os

agregados mais especiais. Nele fiz amigos para a vida. Amigos que estiveram presentes

quando mais precisei. Obrigada a Jeniffer, Deyse, Maisie e Josilene. Muitíssimo obrigada

as minhas queridas, Dina e Priscila, não sei o que seria de mim sem vocês. Lorena e

Audra, obrigada. Aos três meninos mais queridos do laboratório (Waldemar, Pablo e

Terceiro), por toda a amizade e cuidado, embebidos de boas gargalhadas e conversas sem

sentido.

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-Ao meu orientador Arrilton Araújo, por seu jeito único de conduzir suas orientações,

como mencionado em outros agradecimentos. Essa característica faz com que o LBC seja

esse lugar tão aconchegante de se viver. Obrigada meu querido professor, orientador,

conselheiro e amigo.

-A todos os meus professores. Em especial, a minha primeira professora, Ana Lúcia, que

me despertou para o mundo da leitura. A Fátima Arruda e Fívia, por toda contribuição na

realização desse trabalho e na minha formação.

- A Capes.

-Ao CNPq e à FAPESB.

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RESUMO

Em insetos sociais, a divisão de trabalho é uma característica marcante, é apontada como

a chave para o sucesso ecológico desse grupo de insetos. Esse processo envolve uma

grande questão: como operárias, cognitivamente simples, podem coordenar

eficientemente o desempenho de tarefas que ocorrem em paralelo com outras operárias

ou grupos de operárias? Para contribuir na elucidação dessa questão, examinamos a

distribuição de tarefas em colônias da formiga Dinoponera quadriceps. O estudo foi

realizado no Laboratório de Biologia Comportamental na UFRN. Em todas as

observações e experimentos, as formigas foram marcadas, individualmente, com uma

etiqueta alfanumérica colada no tórax. Para todos os experimentos o método de

observação utilizado foi o focal instantâneo, com registros a cada quinze minutos para

cada indivíduo. Para testar a influência da idade, na primeira parte do estudo, observamos

três vezes por semana, quatro colônias ao longo de oito meses com duas horas por dia de

observação para cada colônia. Encontramos que indivíduos jovens realizam mais tarefas

dentro do ninho e têm como tarefa principal o cuidado com imaturos; assim D. quadriceps

atende ao polietismo temporal. Na segunda parte, investigamos se as operárias eram

comportamentalmente flexíveis, sendo capazes de responder eficientemente diante de

uma situação de estresse. Para isso, utilizamos três colônias em duas condições: (1) as

forrageadoras eram removidas e (2) as cuidadoras eram removidas. Cada condição teve

duração de nove dias, com duas horas de observação por dia para cada colônia. Como

resultado, para suprir a demanda da colônia, as operárias foram capazes de realocar-se

para as tarefas que a colônia estava necessitando, cuidado e forrageio. Na terceira e última

parte do estudo, testamos se existe variação da massa corporal entre as operárias. Durante

cinco meses seguidos quatro colônias foram observadas uma vez ao mês por um período

de uma hora. No dia seguinte a cada observação, todas as operárias eram removidas do

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ninho e pesadas. Nossos dados mostraram que a massa corporal dos indivíduos que

permanecem engajados em atividades internas ao ninho é maior, ou seja, são mais pesados

quando comparadas com aqueles indivíduos que realizam tarefas intermediárias e essas

são mais pesadas que as forrageadoras. Assim, massa corporal e idade são moduladores

da alocação de tarefas em D. quadriceps, e a flexibilidade nessas colônias as tornam aptas

a distribuir suas atividades de acordo com a demanda da colônia.

Palavras chaves: Insetos sociais, divisão de trabalho, formigas sem rainhas, inatividade,

flexibilidade comportamental.

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ABSTRACT

In social insects, the division of labor is a hallmark, being considered the key for the

ecological success of them. This process raises an important question: how can ant

workers, with their simple cognitive system, coordinate efficiently the tasks performed

by other workers or even by different group of workers. Aiming to clarify this question,

we observed the task allocation in colonies of Dinoponera quadriceps. The study was

carried out in the Behavioral Biology Lab, at UFRN. In all observations and experiments,

workers were individually marked with an alphanumeric tag glued in the thorax. We used

instantaneous focal method to observe the colonies, registering activities of each worker

every 15 minutes. In the first part of the study we investigate the effect of age on the

division of labor. We observed four colonies during eight months. Each colony was

observed two hours a day, three times a week. We found that young individuals perform

more nest work, and also have as the main task the immature care. Thus, D. quadriceps

serves a temporal polyethism flexible model. In the second part of the study, we

investigated whether the workers have behavioral flexibility, being capable of responding

efficiently to a disturbance. To answer this question, it was used three colonies in two

different conditions: (1) foragers were removed and (2) nurse were removed. Each

condition last for nine days, and colonies were observed two hours during these nine days.

As a result, colonies were capable of allocating nestmates to the task that demanded more

workers due to the removal, either foraging or nursing. In the third and last part of the

study, we tested the effect of the workers’ weight on the task allocation. During five

consecutive months four colonies were observed once a month for one hour. The next day

after the observation, we removed all workers and weighted them. Our data suggest that

workers that perform nest work are heavier than foragers and individuals that forage and

do nest work. Our data suggest that the body weight of individuals remain engaged in

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activities internal to the nest is larger, they are heavier compared to those individuals that

carry out these tasks and intermediate are heavier than foragers. Thus, body weight and

age are modulators of task allocation in D. quadriceps, and flexibility in these colonies

make them able to distribute their activities according to the demand of the colony.

Keywords: Social insects, division of labor, queenless ants, inactivity, behavioral

flexibility.

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APRESENTAÇÃO

A tese será apresentada em formato de artigo científico, distribuídos em três

estudos. Sendo que a base teórica dos artigos será apresentada na Introdução geral. Em

seguida, serão apresentados os três artigos. Posterior a isso, tem-se as considerações finais

dos três artigos.

Para finalizar, todas as citações usadas na introdução geral e nas considerações

finais serão encontradas na referencia geral, seguidas dos anexos.

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SUMÁRIO

1. Introdução Geral-------------------------------------------------------15

2. Objetivos----------------------------------------------------------------23

3. Primeiro Manuscrito---------------------------------------------------25

3.1.Introdução-------------------------------------------------------------------27

3.2.Material e métodos---------------------------------------------------------29

3.3.Resultados-------------------------------------------------------------------32

3.4.Discussão--------------------------------------------------------------------34

3.5.Referências------------------------------------------------------------------39

4. Segundo Manuscrito---------------------------------------------------43

4.1.Introdução-------------------------------------------------------------------45

4.2.Material e métodos---------------------------------------------------------48

4.3.Resultados-------------------------------------------------------------------51

4.4.Discussão--------------------------------------------------------------------55

4.5.Referências------------------------------------------------------------------59

5. Terceiro Manuscrito---------------------------------------------------63

5.1.Introdução-------------------------------------------------------------------65

5.2.Material e métodos---------------------------------------------------------68

5.3.Resultados-------------------------------------------------------------------71

5.4.Discussão--------------------------------------------------------------------72

5.5.Referências------------------------------------------------------------------76

6. Consideração Final----------------------------------------------------81

7. Referência Geral-------------------------------------------------------84

8. Anexo-------------------------------------------------------------------94

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Introdução geral

Divisão de trabalho

A classe Insecta é a mais diversa e abundante do grupo de artrópodes, existindo

mais espécies de insetos do que todas as outras classes em conjunto, sendo estimadas em

10 milhões (Hickmam, 2009). Dentro desse grupo, estão inseridos os insetos sociais que

compartilham três características: cuidado cooperativo à prole por adultos, sobreposição

de gerações e divisão de trabalho entre castas reprodutivas e não reprodutivas (Wilson,

1971; Holldobler & Wilson, 1990). Dessas três características, destaca-se a divisão de

trabalho, fenômeno complexo observado em toda a natureza, que está associado com a

transição evolutiva para níveis mais elevados de organização (Szatmary & Maynard

Smith, 1995). Em insetos sociais, essa transição pode ser exemplificada com a mudança

do estilo de vida que passou de solitário, para outro com altos níveis de socialização,

acompanhado ainda pela evolução de uma casta estéril e outra reprodutiva (Wilson, 1971;

Holldobler & Wilson, 1990).

A divisão de trabalho se refere à divisão de tarefas entre indivíduos e/ou grupos

de indivíduos, sendo apontado como determinante para o sucesso ecológico dos insetos

sociais, devido à otimização das atividades dentro da colônia, em coordenar a busca por

alimento, reprodução, limpeza, defesa do ninho contra predadores e competidores e

cuidado parental (Holldobler & Wilson, 1990; Robinson, 1992). Todos esses aspectos

contribuem para a sobrevivência e sucesso da colônia, que estão associados à capacidade

dos indivíduos de distribuir as tarefas e de responder, como um grupo, às condições

ambientais (Wilson, 1971; Osterr & Wilson, 1978; Gordon, 1996).

A divisão de trabalho pode ser conhecida ainda como a partilha de trabalho entre

especialistas em um sistema organizado (Duarte, Pen, Keller & Weissing, 2012) que

funciona como uma unidade (Gronenberg, Heeren & Holldobler, 1996; Antonialli-Junior

& Gianotti, 2002; Antonialli-Junior & Gianotti, 2003). A especialização em tarefas

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específicas geralmente acontece com rainha reproduzindo enquanto as operárias cuidam

da prole e mantêm a colônia (D’Ettore, 2007). Essa especialização em uma função ou

tarefa seria a divisão de trabalho (Robinson, 2009), na qual indivíduos especializados em

tarefas diferentes são mais eficientes do que os não especializados, pois aumentam a

produtividade da colônia (Osterr & Wilson, 1978).

Devido às mudanças que ocorrem durante a vida do indivíduo a especialização em

uma dada tarefa pode mudar, essa pode ser contínua ou discreta. Quando a especialização

é contínua, há uma sobreposição de tarefas. Grupos de tarefas vão sendo realizados, e as

tarefas seguintes vão sobrepondo às anteriores; não há uma distinção de grupos. Quando

a especialização é discreta não há sobreposição de tarefas, vão sendo divididos por

grupos, por exemplo, de acordo com a idade dos indivíduos (Calabi, Traniello & Werner,

1983; Naug & Camazine, 2002).

Surgem então questionamentos sobre como indivíduos simples, do ponto de vista

cognitivo, podem desempenhar tarefas de modo coordenado em paralelo com outras

operárias ou grupos de operárias de maneira eficiente. Acredita-se que colônias de insetos

sociais não são capazes de distribuir tarefas específicas para determinados indivíduos,

com a existência de um comando central. Essa especialização e distribuição de tarefas

surgiriam, então, da interação organizada dos indivíduos com o ambiente natural e

companheiros de ninho (Duarte et al., 2012). Buscando compreender essa organização,

alguns modelos foram propostos.

Esses modelos não são excludentes sendo possível agrupá-los em três categorias:

os modelos sobre os limiares de resposta; os que consideram a localização como

determinante para essa divisão de trabalho e aqueles que defendem a interação social

como mediador desse fenômeno (Beshers & Fewell, 2001; Duarte et al. 2012). O modelo

de limiar de resposta propõe que o indivíduo tem um limiar interno de resposta a um

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estímulo específico para uma dada tarefa (Bonabeau, Theraulaz & Deneubourg,

1996,1998; Page & Mitchell, 1998; Grahan, Myerscough, Jones, & Oldroyd, 2006;

Jeanson, Fewell, Gorelick & Bertram, 2007; Gove, Hayworth, Chhetri & Rueppell,

2009); no qual a variação de limiares entre os indivíduos é necessária para que haja

divisão de trabalho (Robinson & Page, 1988). Nesse modelo o indivíduo executa a tarefa

no momento em que o limiar é “alcançado” e vai continuar executando a tarefa até que

as pistas que ativam esse limiar se extingam (Theraulaz, Bonabeau & Deneubourg, 1998;

Wollman, Hubler, Holley, Franks & Dornhaus, 2012). Os indivíduos com limiares baixos

para uma dada tarefa tendem a se especializar nessa tarefa. Essas diferenças entre os

limiares resultam em uma variedade de tipos de comportamento dentro de uma colônia

(Wollman et al., 2012).

Diferentemente do modelo anterior, o de Transferência de informação/limiar

de resposta tem seu foco voltado para a questão de como os indivíduos recebem

informação sobre uma tarefa e como a variação para perceber esse estímulo afeta a tarefa

a ser desempenhada. Pressupondo que haja um limiar que ao ser alcançado desencadeia

uma resposta, surge a questão de como se dá a percepção do estímulo. O modelo tem

como hipótese que a percepção acontece através de encontros com as tarefas que estão

distribuídas no espaço ou via social de transferência de informação simultânea (Gordon,

Goodwin & Trainor, 1992; Fewell & Bertram, 1999). Nesse modelo é assumido que os

indivíduos, através dessas interações sociais, recebem informações sobre as tarefas que

estão sendo executadas e alocam-se para as tarefas com base nessas informações

atingindo, dessa maneira, um equilíbrio dentro da colônia (Wollman, Wollman, Grutz,

Holmes & Gordon, 2011).

Um terceiro modelo é do auto reforço, que trata do efeito que a experiência

individual tem sobre a divisão de trabalho, e tem como hipótese que o sucesso ao realizar

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uma tarefa aumenta a probabilidade de o indivíduo desempenhar essa tarefa novamente

(Deneubourg, Goss, Pasteels, Fresneau & Lachaud, 1987; Plowright & Plowright, 1988;

Theuralaz et al. 1998).

Por sua vez, o modelo do “Foraging for Work”, sugere que operárias procuram

ativamente trabalho onde elas possam encontrá-lo. Indivíduos recém-emergidos

procuram atividades na câmara onde emergiu. O afluxo de operárias jovens impulsiona

as operárias mais velhas a se mover centrifugamente para encontrar tarefas. Quando as

operárias velhas morrem, ocorre um declínio na taxa de execução de algumas tarefas nas

áreas onde elas estavam alocadas, sendo necessária sua substituição (Tofts,1993; Franks

& Tofts, 1994). Essa distribuição espacial culmina em diferenças nas tarefas que cada

grupo de operárias realizam dentro da colônia.

Por sua vez, todos esses modelos podem sofrer a influência ou ser determinado

por fatores. Atualmente já se tem evidências de alguns fatores que influenciam no

processo de divisão de trabalho em insetos sociais. Fatores genéticos vêm sendo

investigados em vespas (Polybia aequatorialis - O’Donnell, 1998), formigas

(Leptothorax rudis - Stuary & Page, 1991); Acromyrmex versiculor - Julian & Fewell,

2004; Acromyrmex echinatior - Waddington, Santorelli, Ryan & Hughes, 2010) e

principalmente em abelhas (Apis mellifera -Robinson & Page 1988; Chapman, Oldroyd

& Hughes, 2007). Os resultados evidenciam que as diferenças genéticas decorrentes, por

exemplo, da poliandria, levam os indivíduos a se especializarem em diferentes tarefas, o

que vem sendo chamado de polietismo genético. Resultados similares foram encontrados

em estudos com colônias onde existem várias rainhas (Formica argentea - Snyder, 1992;

Gnamptogenys striatula - Blatrix, Durand & Jaisson, 2000). No entanto, não há

informações sobre como a presença de vários reprodutores dentro de uma colônia afeta o

grau de especialização (Duarte, Weissing, Pen & Keller, 2011).

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Outro fator estudado são as variações morfológicas existentes entre as operárias.

Esse tipo de divisão decorrente dessa variação é conhecido como polietismo físico, sendo

encontrado principalmente em cupins e espécies de formigas com distinguíveis subcastas

dentro da casta operária. Estudos vêm apontando uma forte associação entre tamanho e a

morfologia dos indivíduos com o comportamento exibido (Solenopsis - Wilson, 1978;

Pheidole pallidula - Detrain & Pasteels, 1991). Quanto mais extremas as diferenças entre

as subcastas, quanto ao tamanho ou morfologia, mais especializado e restrito será o

repertório comportamental. As especializações mais comuns são para defesa e forrageio;

no entanto, há outras menos comuns como processamento de alimento e armazenamento

de alimentos (Solenopsis - Wilson, 1978; Cephalotes atratus - Corn, 1980; Camponotus

sericeiventres - Busher, Calabi & Traniello, 1985; Atta e Acromyrmex - Fowler, 1985).

A divisão de trabalho por variação do fator idade é denominada polietismo

temporal (Wilson, 1971; Hölldobler & Wilson, 1990). Variações nesse tipo de polietismo

refletem os diferentes níveis de organização dos insetos baseado no seu perfil

filogenético, sendo mais comum em insetos sociais particularmente entre formigas

(Wilson, 1971; Pheidole hortensis - Calabi, 1985; Ectatomma vizottoi - Vieira, Fernandes

& Antonialli-Gianotti, 2010). Segundo Wilson (1975), o polietismo temporal é menos

delimitado que o físico, pois dependendo da necessidade da colônia os indivíduos podem

especializar-se mais cedo. Nesse tipo de polietismo o perfil comportamental de indivíduos

mais jovens difere do encontrado em indivíduos mais velhos (Wilson, 1978; Herbers,

1983). Geralmente segue um padrão em que operárias jovens exercem tarefas dentro do

ninho, principalmente o cuidado com imaturos, enquanto as atividades consideradas de

maior risco como o forrageio e defesa de ninho são desempenhadas por operárias mais

velhas (Hölldobler & Wilson, 1990; Ectatomma opaciventre - Pie, 2002; Pheidole

dentata - Seid & Traniello, 2006; Apis mellifera - Jonhson, 2008). Os indivíduos que

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forrageiam enfrentam condições ambientais adversas, além dos riscos de lesões e

infecções (Helft, Tirard & Doums, 2012); sendo assim, a perda de um indivíduo mais

velho acarretaria um menor custo para colônia, do que perder um indivíduo jovem que

teria mais tempo de trabalho para oferecer. Dessa forma teria um aumento na longevidade

da colônia e consequentemente um aumento de aptidão (Jeanne, 1986; Wakano, Nakata

& Yamamura, 1998; Moron, Witec & Woyciechowski, 2008). Esses altos riscos

enfrentados por indivíduos que forrageiam possivelmente impulsionaram a evolução do

polietismo temporal, uma vez que seria menos oneroso para colônia (Tripet & Nonacs,

2004).

Fatores como expectativa de vida (Tschinkel, 1987; Munch, Amdam & Wolschim

2008) e estado nutricional (Robinson, Feinerman & Franks, 2012) também vem sendo

cotados como possíveis mecanismos reguladores da divisão de trabalho, em insetos

sociais. Há evidencias de operárias que iniciam atividades de forrageio mais

precocemente quando tem sua expectativa de vida reduzida (Moron et al., 2008) e ainda

que a diferença na taxa de gordura entre as operárias regula a tarefa a ser realizada

(Pogonomyrmex owyheei - Porter & Jorgensen, 1981; Albipennis leptothorax - Blanchard,

Orledge & Reynolds, 2000). Operárias que possuem uma taxa de gordura maior

desempenham tarefas menos custosas como o cuidado a prole, por estarem mais aptas a

competir por oportunidades reprodutivas e melhores postos hierárquicos dentro da

colônia (Dinoponera australis - Smith, Suarez, Tsutsui, Wittman, Edmonds, Freauff &

Tillberg, 2011).

Outro fator que vem sendo abordado em pesquisas recentes é o valor da

experiência na especialização para uma dada tarefa. Os resultados mostram que os

indivíduos que fracassam durante o forrageio, tem uma tendência maior a se

especializarem em tarefas dentro do ninho (Ravary, Leucotey, Kaminski, Chaline &

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Jaisson, 2007; Muscedere, Willey & Traniello, 2009; Franklin, Robinson, Marshall,

Sendova-Franks & Franks, 2012;Robinson et al. 2012).

Em Ponerinae, a maioria dos estudos sobre divisão de tarefas mostra ausência de

polimorfismo na casta de operárias e tendência ao polietismo temporal (Andrade, 2010;

Peixoto, Campiolo, Leme & Delabie, 2008). Nas formigas do gênero Dinoponera, a

divisão de trabalho reprodutivo é mantida por comportamentos de hierarquia de

dominância. Subordinadas formam uma hierarquia curta não-linear, com variações

dependendo do tamanho da colônia. Três a cinco operárias ocupam altos postos

hierárquicos, sendo a fêmea alfa a reprodutora (Monnin & Peeters, 1999; Asher,

Nascimento, Sumner & Hughes, 2013; Monnin, Ratnieks & Brandão, 2003; Aráujo,

Medeiros, Azevedo, Medeiros, Neto & Garcia, 2015).

Nesse gênero, o fator idade influencia no estabelecimento da hierarquia (Andrade,

2010; Peixoto et al., 2008), operárias jovens são mais agressivas e permanecem no topo

de hierarquia. Essas tendem a substituir as mais velhas no ranking hierárquico, com

exceção apenas da fêmea alfa (Monnin & Peeters, 1999; Peixoto et al., 2008). Operárias

de posto hierárquico inferior têm chances reduzidas de reproduzir, e realizam mais tarefas

na colônia, para aumentar a sua aptidão inclusiva (Monnin et al., 2003). Por outro lado,

operárias de posto superior despendem mais tempo próximas aos imaturos, nos possíveis

locais de conflito para estabelecer hierarquia (Asher et al., 2013). Outro fator que interfere

na distribuição de tarefas nesse gênero é o estado nutricional. Operárias com menor teor

de gordura são mais prováveis de forragear, diferentemente das operárias com um teor de

gordura alto que realizam tarefas próximo dos ovos e são capazes de disputar

oportunidades reprodutivas (Smith et al., 2011).

Dinoponera quadriceps é endêmica do nordeste do Brasil, com ocorrência

registrada principalmente em áreas de Mata Atlântica e Caatinga (Kempf, 1971; Paiva &

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Brandão, 1995). Seu forrageio é solitário sem qualquer recrutamento de companheiras de

ninho, porém toda a área ao redor do ninho é explorada pela colônia através da fidelidade

direcional de cada operária individual (Araújo & Rodrigues, 2006; Azevedo, Medeiros &

Araújo, 2014). Possuem o forrageio mais intenso no início da manhã e final de tarde,

período do dia em que as temperaturas são mais baixas comparadas àquelas do final da

manhã e início da tarde (Medeiros, Azevedo, Santana, Lopes, Araújo, 2014). As operárias

são morfologicamente semelhantes (Monnin, Malosse & Peeters, 1998), sendo todas

capazes de se reproduzir (Monnin & Peeters, 1998), porém apenas a alfa acasala (Monnin

& Peeters, 1998, Lenhart, Dash & Mackay, 2013). Para mais informações sobre o gênero

e a espécie ver Anexo A.

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Objetivo

Investigar a divisão de tarefas em colônias de D. quadriceps.

2.1. Objetivos específicos, hipóteses e predições

Avaliar se existe padrão temporal na alocação de tarefas (Manuscrito 1).

- A idade influencia a divisão de trabalho em colônias de D. quadriceps.

o Os indivíduos jovens realizam tarefas dentro do ninho, e tem como tarefa

o cuidado com imaturos, pois são tarefas de menores riscos e também tarefas realizadas

próximas ao local de emergência desses indivíduos. Já os indivíduos mais velhos realizam

tarefas fora do ninho, pois tarefas de maiores riscos são realizadas por indivíduos que têm

um menor tempo de vida, pois sua perda não seria tão custoso para colônia.

Testar a flexibilidade na alocação de tarefas em Dinoponera quadriceps

(Manuscrito 2).

- As operárias de D. quadriceps apresentam flexibilidade comportamental na

ausência de indivíduos para uma determinada tarefa.

o Operárias que realizam tarefas fora do ninho retornam para atividades

dentro do ninho, para suprir a demanda de atividade quando a colônia necessita. Assim,

a flexibilidade comportamental, proporciona a colônia uma maior capacidade de enfrentar

as condições ambientais adversas.

o Operárias que realizam tarefas ou permanecem inativas dentro do ninho

passam a realizar tarefas fora do ninho na ausência de formigas forrageadoras, pois a falta

de suprimento para colônia funciona como um estímulo que impulsiona essas operárias a

saírem da colônia.

Verificar se a massa corporal varia entre as operárias que desempenham

diferentes tarefas (Manuscrito 3).

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- As formigas de D. quadriceps diferem quanto a sua massa corporal.

o As operárias que forem mais pesadas realizam tarefas dentro do ninho.

o As formigas com menor massa corporal realizam tarefas relacionadas ao

forrageio.

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10 MANUSCRITO

O PAPEL DA IDADE NA DIVISÃO DE TAREFAS EM COLÔNIAS DE

DINOPONERA QUADRICEPS (HYMENOPTERA, FORMICIDAE)

Ingrid Araújo de Medeiros; Arrilton Araújo*

Laboratório de Biologia Comportamental, Departamento de Fisiologia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brazil

* Autor correspondente: Arrilton Araújo

Laboratório de Biologia Comportamental

Departamento de Fisiologia - Centro de Biociências

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Av. Salgado Filho, s/n - Caixa Postal 1511 - CEP 59078-970 - Natal, RN, Brazil

fax: (55) 84 3211 9206 e-mail: [email protected]

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Resumo

A divisão de trabalho é um fenômeno complexo que está associado com a transição

evolutiva para níveis mais elevados de organização. Essa divisão entre indivíduos e

grupos de indivíduos é apontada como determinante para o sucesso ecológico dos insetos

sociais. Nosso objetivo é analisar se em colônias de Dinoponera quadriceps as tarefas

desempenhadas pelos indivíduos mudam com a idade. O estudo foi realizado no

Laboratório de Biologia Comportamental na UFRN. Todas as formigas foram marcadas,

individualmente, com uma etiqueta alfanumérica colada no tórax. O método de

observação utilizado foi o focal instantâneo, com registros a cada quinze minutos para

cada indivíduo. Para testar a influência da idade, observamos três vezes por semana,

quatro colônias ao longo de oito meses com duas horas por dia de observação para cada

colônia. O cuidado de imaturos, foi realizado principalmente por indivíduos jovens.Com

isso podemos inferir que D. quadriceps apresenta polietismo temporal.

Palavras chaves: Formigas, divisão de trabalho, ponerinae, sem rainhas,

poliestismo temporal

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Introdução

A divisão de trabalho é um fenômeno complexo que está associado com a

transição evolutiva para níveis mais elevados de organização (Szatmary & Maynard

Smith, 1995). Em insetos sociais, essa transição pode ser exemplificada com a mudança

do estilo de vida de solitário para altos níveis de socialização, acompanhada pela evolução

de uma casta estéril e outra reprodutiva (Hölldobler & Wilson, 1990). A divisão de tarefas

entre indivíduos e grupos de indivíduos é apontada como determinante para o sucesso

ecológico dos insetos sociais, pois promove uma otimização das atividades dentro da

colônia (Hölldobler & Wilson, 1990; Robinson, 1992; Duarte, Wessing, Pen & Keller,

2011). No entanto, a especialização em uma função ou tarefa é classificada como flexível

em insetos sociais, pois mesmo em espécies que têm sua função designada pela estrutura

morfológica, os indivíduos são capazes de realizar outras tarefas em função da

necessidade da colônia (Wilson, 1984).

A grande questão em torno da divisão de tarefas é como operárias, cognitivamente

simples, podem coordenar eficientemente a realização de tarefas que ocorrem em paralelo

com outras operárias ou grupos de operárias (Duarte, Pen, Keller & Weissing, 2012). É

improvável que a distribuição de tarefas específicas seja pré-determinada por rainhas ou

outros indivíduos dominantes dentro da colônia, como um comando central. A

especialização e distribuição de tarefas devem surgir da interação organizada do

indivíduo com o ambiente e companheiras de ninho (Duarte et al., 2012).

Na busca para compreender essa organização, alguns modelos foram propostos.

Eles tratam as colônias de insetos sociais como auto-organizáveis, em que os

comportamentos surgem de ações e decisões individuais. Esses modelos não são

excludentes e alguns já têm evidências empíricas (Beshers & Fewell, 2001). O “Foraging

for Work” é um desses modelos e sugere que operárias jovens e velhas procuram

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ativamente trabalho onde elas possam encontrá-lo. Indivíduos recém-emergidos

procuram atividades no local onde eclodiram. O afluxo de operárias jovens impulsiona as

operárias mais velhas a se mover centrifugamente para encontrar tarefas. Quando estas

operárias morrem, um declínio na taxa de execução de algumas tarefas ocorre nas áreas

onde elas estavam alocadas, sendo necessária sua substituição (Tofts,1993; Franks &

Tofts, 1994). Nesse modelo o padrão de distribuição de tarefas assemelha-se ao

encontrado no polietismo temporal.

Para as espécies que apresentam polietismo temporal, o perfil comportamental de

indivíduos mais jovens geralmente difere do encontrado em indivíduos mais velhos. O

padrão é que operárias jovens exercem tarefas dentro do ninho, principalmente o cuidado

com imaturos, enquanto as atividades como o forrageio e defesa de ninho são

desempenhadas por operárias mais velhas (Hölldobler & Wilson, 1990; Seid & Traniello,

2006; Johnson, 2008). Os indivíduos que forrageiam enfrentam os riscos de predação,

lesões e infecções (Helft, Tirard & Doums, 2012). Consequentemente, o custo para a

colônia com a perda de um indivíduo mais velho é menor em relação ao custo da perda

de um indivíduo jovem, que tem mais tempo de trabalho para oferecer. Desta forma, essa

forma de divisão promove um aumento na longevidade da colônia e consequente aumento

de aptidão (Jeanne 1986; Wakano, Nakata & Yamamura, 1998; Moroń, Witec &

Woyciechawski, 2008).

Em representantes da subfamília Ponerinae, considerada um dos grupos mais

primitivos de formigas (Hölldobler & Wilson, 1990), é possível encontrar espécies como

Ectatomma opaciventre com divisão de tarefas estabelecida pela idade dos indivíduos

(Pie, 2002); como também espécies com completa ausência de polietismo etário como

Pachycondyla caffaria (Agbogba, 1994). Em Dinoponera quadriceps, ainda não se tem

informações da influência da idade em sua organização.

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Esta espécie está entre as maiores formigas conhecidas, sendo sua distribuição

restrita a América do Sul. Dinoponera quadriceps é endêmica da região Nordeste do

Brasil (Kempf, 1971). Como em outras poneromorfas a reprodução é realizada por meio

de uma operária reprodutora dominante, denominada gamergate (Monnin & Peeters,

1998). Os fatores que definem o status reprodutivo da gamergate são a hierarquia linear,

sinais químicos e comportamentos agonísticos (Monnin & Peeters, 1999; Nascimento,

Souza, Tannure-Nascimento, 2012; Grainger, Asher, Jones, 2014). Dinoponera

quadriceps forrageia solitariamente e não realiza recrutamento de companheiras de ninho

(Araújo & Rodrigues 2006; Azevedo, Medeiros & Araújo,. 2014). O forrageio está

positivamente relacionado com a disponibilidade de presas potenciais e é ajustado ao

longo do ano e dos dias para evitar estresse térmico, o que aumenta ainda mais sua

eficiência (Medeiros, Araújo & Araújo, 2012; Medeiros, Azevedo, Santana, Lopes &

Araújo, 2014).

Em uma espécie com características peculiares como D. quadriceps, o que

estabelece a divisão de tarefas? Na tentativa de responder essa questão, o objetivo deste

estudo foi avaliar se existe padrão temporal na alocação de tarefas. Nossa hipótese é que

D. quadriceps atende ao polietismo temporal. Assim, esperamos que à medida que elas

envelhecem mudem de tarefas de menor risco para tarefas de maior risco.

Material e métodos

Local de Estudo

O estudo foi realizado com quatro colônias de D. quadriceps coletadas no Campus

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) (5°50'21.3"S 35°12'10.3"W).

Essas foram transportadas para o laboratório e acondicionadas em ninhos artificiais de

acrílico (50 x 50 x 50 cm), com repartições internas também em acrílico, conectadas a

arenas de forrageamento (100 cm x 100 cm x 20 cm). A temperatura e a umidade do

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laboratório foram mantidas, respectivamente a 25 ± 2 º C e 65 ± 10% e o regime de luz

12:12 claro/escuro. Fontes de água foram oferecidas sem restrição em placas de Petri e a

alimentação, ofertada três vezes na semana, foi principalmente à base de larvas de

Tenebrio molitor e frutas, e eventualmente Orthoptera e Lepidoptera. Nosso estudo

utilizou 191 operárias, 45 nascidas no laboratório e 146 trazidas do campo.

Registro comportamental

Para aqueles indivíduos que eclodiam no laboratório a marcação inicialmente foi

realizada com caneta (Edding 780 Paint Marker) e após o endurecimento do exoesqueleto

foi aplicada a marcação com etiquetas numeradas coladas no tórax, como realizado nos

indivíduos que vieram do campo (Corbara, Fresneau, Lachaud, Leclerc, & Goodall,

1986).

As observações aconteceram ao longo de oito meses, sendo realizadas três vezes

por semana, com duas horas por dia de observação para cada colônia. Para definir a ordem

de observação das colônias era feito um sorteio no início de cada dia de coleta. O método

de observação utilizado foi o focal instantâneo (Altmann, 1974), com registros a cada

quinze minutos para cada indivíduo. Durante esse período de quinze minutos, era

registrada a frequência de comportamentos de todos os indivíduos da colônia, seguindo

uma sequência pré-determinada pela planilha de observação.

Baseado em Pratt (1994), Pie (2002), Vieira, Fernandes & Antonialli-Junior

(2012) e Azevedo et al. (2014) registramos cinco categorias comportamentais compostas

pelos seguintes comportamentos:

Cuidado aos imaturos: estão incluídos os comportamentos direcionados

aos imaturos (ovos, larvas e pupa):

Transporte de imaturos: a operária transporta os imaturos para

outra câmara dentro do ninho ou de um lugar para outro da câmara.

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Limpeza de imaturos: registradas todas as vezes que a operária

lambia as larvas.

Auxiliar no empupamento: a operária deposita grãos de substrato

na larva e/ou próximo a elas.

Auxiliar na saída do casulo: a operária auxilia o emergente a

romper o pupário.

Permanecer com ovos: a operária permanece parada ao lado ou

sobre os ovos ou ainda segurando-os com a mandíbula.

Antenação em imaturos: a operária toca com as antenas os

imaturos.

Alimentar larvas: a operária alimenta as larvas, seja colocando o

alimento ao lado da larva, ou prendendo o alimento na mandíbula

e por sucção a larva suga o alimento.

Manutenção do ninho: a operária transporta detritos (indivíduos mortos,

casulos vazios, restos de presas, substrato do ninho) para alguma câmara dentro do ninho.

Defesa: permanência da operária na entrada do ninho.

Forrageio: saída da operária do ninho. A formiga pode vir a realizar os

seguintes comportamentos: movimentar-se lentamente na arena de forrageio tocando as

antenas no substrato, transportar alimento da arena para o ninho, alimentar-se ou

permanecer inativa na arena.

Inatividade: a operária permanece imóvel dentro do ninho. Diferente do

comportamento defesa, o indivíduo permanece em outra câmara que não a entrada.

Para ilustrar as mudanças nos comportamentos sorteamos cinco operárias,

utilizando o site random.org, e construímos um quadro com as sequencias

comportamentais ao longo dos meses.

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Para a análise estatística utilizamos somente as operárias que eclodiram no

laboratório. Para testarmos o padrão temporal e se a presença de imaturos (ovo, pupa e

larva) influencia na divisão de tarefas usamos o modelo linear misto, utilizando como

fatores fixos a idade das operárias e a presença de imaturos. A presença de imaturos foi

categorizada em três níveis (1: presença de um tipo de imaturo, 2: presença de dois tipos

de imaturos, 3: presença de três tipos de imaturos). Utilizamos as operárias como fator

randômico. Em todos os testes consideramos o nível de significância de 5% bi-caudal.

Resultados

O comportamento mais realizado foi a inatividade, seguido dos comportamentos

de cuidar e forragear.

A tarefa de cuidar dos imaturos é realizada com maior frequência nos primeiros

meses de vida. Até o quarto mês mais de 95% das operárias realiza esse comportamento,

que tende a decrescer com o aumento da idade (F(7) = 12,020, p < 0,05) (Fig.1A) e sofre

influência da presença de imaturos (F(2) = 8,261, p < 0,05), quanto mais tipos de imaturo

presentes na câmara maior a frequência do comportamento (Fig.1B). Diferentemente, o

comportamento de defesa aumenta progressivamente até o sétimo mês de vida das

operárias (Fig. 1C). Nesse período mais de 64% das operárias realizaram essa tarefa em

algum momento (F(7) = 5,402, p < 0,05). Encontramos também que a presença de vários

tipos de imaturos estimula uma maior defesa por parte da colônia (F(2) = 5,453, p < 0,05)

(Fig.1D).

O comportamento de inatividade foi realizado em todas as idades, apresentando

uma frequência praticamente ascendente até o sétimo mês de vida da operária (F(7) =

7,325, p < 0,05 (Fig. 1E). Observamos que à medida que aumenta a diversidade de

imaturos há também um aumento de operárias inativas (F(2) = 14,660, p < 0,05) (Fig.1F).

A tarefa de manutenção é realizada com maior frequência por indivíduos mais velhos

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(F(7) = 3,824, p < 0,05 (Fig. 1G), e os tipos de imaturos presentes na colônia influenciam

esse comportamento (F(2) = 11,846, p < 0,05) (Fig.1H). A partir do sexto mês de vida

houve um aumento de forrageio, porém não houve diferença significativa entre os meses

de vida (F(7) = 1,500, p > 0,05 (Fig. 1I) e a diversidade de imaturos (F(2) = 0,873, p >

0,05) (Fig.1J).

Figura.1: Distribuição da frequência dos comportamentos de operárias de Dinoponera

quadriceps ao longo dos meses de estudo e da presença de imaturos (1: presença de um

tipo de imaturo, 2: presença de dois tipos de imaturos, 3: presença de três tipos de

imaturos).

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Ao constatarmos que os comportamentos foram executados em todas as fases do

estudo (Fig.1), utilizamos o site “randon.org” para selecionar algumas operárias e

demostrarmos o perfil comportamental desses indivíduos. Com isso, encontramos um

perfil comportamental diferente para cada operária (Quadro I). Apesar dos primeiros

meses de vida os comportamentos de cuidado e inatividade serem predominantes,

observamos que algumas operarias desempenharam atividades de forrageio e defesa.

Vimos também, que operárias que engajaram em outras atividades, à medida que se

tornavam mais velhas, adicionaram essas tarefas ao seu repertório e não deixaram de

realizar suas tarefas anteriores. Já as tarefas de forrageio e defesa são mais frequentemente

realizadas por indivíduos mais velhos.

Discussão

Em colônias de D. quadriceps existe uma dominância por hierarquia linear

(Monnin & Peeters, 1999; Nascimento et al., 2012; Asher et al., 2013), que influencia a

distribuição de tarefas dentro da colônia. Operárias de alto e médio posto hierárquico

realizam tarefas diferentes de operárias de baixa posto (Asher et al., 2013). As formigas

de hierarquia alta se dedicam quase que exclusivamente a tarefas relacionadas a cuidados

à prole, sendo esse comportamento associado ao potencial reprodutivo (Asher et al.,

2013). Nossos resultados mostraram que a tarefa de cuidar da prole é realizada com maior

frequência nos primeiros meses após a eclosão; sugerindo que essas operárias são de posto

alto, pois operárias recém-emergidas têm uma tendência a permanecerem no topo da

hierarquia (Monnin & Peeters, 1999). A diversidade de tipos de imaturos aumenta a

frequência da tarefa de cuidar da prole, uma vez que essa variedade de imaturos demanda

mais cuidado por parte das operárias.

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Operária Idade (meses)

1 2 3 4 5 6 7 8

1 ICICICI ICICICICICICI CMCMCICICICICICICI CICIDCICICIMICI CIDCIMIFDI IFIDIDIDFCIFI IMIDIFIDIDIDM IFI

2 ICICICICICICICICIC ICICICICICICIC CICICICICICICICIC CICICICICICICICICICICIC ICICICICDICICICICIDICIC CICICICICI ICICIDI ICICI

3 ICICICICD IMICICICICICIC CICICICICICICICIMIC MICICICICICICICICIMI CICICICIMCICICICICICI IDICICIMIDICDCICI IDI IDI

4 ICICIFICICIC ICICICICICIC CICICMCICICIC CICICICICICI ICIDCICICICIFICICI CIDICMIMICDICICI I CI

5 ICICICICICICICI ICICICICICICICICICICI CIDCICICICICICICICICICIC ICICDCICICICICICICICICICICI ICIFCIDICICIDICICICIDICICICICDM ICDCIMIFDICICI ICDICIDIC ICICI

Quadro I – Mudanças de comportamento de formigas operárias que eclodiram em laboratório. Comportamentos: C – cuidado aos imaturos,

D – defesa do ninho, F – forrageio, I – inatividade, M – manutenção do ninho. Em negrito, comportamentos diferentes de cuidado parental

e inatividade, comuns a todas as idades e operárias.

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Observamos também que à medida que as operárias envelhecem, elas tenderam a

realizar a atividade de defesa do ninho com maior frequência. A dominância por

hierarquia é considerada relativamente curta, exceto para a gamergate (Monnin &

Peeters, 1999). Assim, uma vez que as tarefas de dentro do ninho são preferencialmente

realizadas por indivíduos mais jovens e com um posto hierárquico alto, e que ambos os

fatores estão associados ao potencial reprodutivo é de se esperar que a eclosão de novas

operárias impulsione as mais velhas a postos mais baixos. Operárias recém-eclodidas são

consideradas mais agressivas (Monnin & Peeters, 1999), registramos durante nossa coleta

que mais de 87% das operárias no nosso estudo realizou agressão no primeiro mês;

possivelmente seja essa uma das possíveis explicações para elas ocuparem postos

hierárquicos altos, uma vez que o comportamento de agressão é realizado por operárias

de alto posto e quase ausente em operárias de médio e baixo posto (Asher et al., 2013).

Conforme se tornam mais velhos os indivíduos vão perdendo seus postos, a partir do

segundo mês de vida menos de 45% das operárias apresentou alguma agressão. Com a

perda do posto hierárquico as chances de competir para se tornar uma gamergate

diminuem (Monnin & Peeters, 1999), e isso é provável de impulsionar esses indivíduos

a realizarem tarefas de maiores riscos como a defesa do ninho. A presença de imaturos

intensificou esse comportamento. Provavelmente devido à vulnerabilidade dos imaturos,

bem como o seu valor para colônia isso estimula o comportamento de defesa por parte da

mesma.

Para a tarefa de forrageio não houve diferença significativa, porém é perceptível

um aumento crescente do comportamento ao longo dos meses de vida, apresentando um

pico de atividade no sétimo mês. Esse resultado é condizente com a literatura, sobre a

tarefa de forrageio ser realizada com mais frequência por indivíduos mais velhos

(Hölldobler & Wilson, 1990) e com posto hierárquico baixo (Asher et al., 2013). Uma

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das explicações para a mudança de tarefa em decorrência da idade são as alterações

fisiológicas que acontecem durante o amadurecimento dos indivíduos (McDonald &

Topoff, 1988). Trabalhos teóricos abordam que por aumentar indiretamente a expectativa

de vida das operárias esse tipo de organização social possui vantagens adaptativas e por

esse motivo foi selecionado ao longo da evolução ( Jeanne, 1986; Wakano et al., 1998).

Dessa maneira, os altos índices de mortalidade em forrageadoras explicaria a tendência

do polietismo etário encontrado em formigas (Jeanne, 1986).

A tarefa de manutenção do ninho variou com o tempo. O comportamento de

manutenção do ninho é visto sendo realizado principalmente por operárias mais velhas

(Pie, 2002; Vieira et al., 2010). Trabalhos com D. quadriceps mostraram que essa tarefa

é realizada por operárias de hierarquia média e que há uma tendência a serem realizadas

por operárias mais velhas (Monnin & Peeters, 1999; Asher et al., 2013). Em nosso

trabalho encontramos resultados semelhantes. A variedade de imaturos estimulou o

comportamento de manutenção, o que sugerimos ser uma estratégia para manter os

imaturos em condições adequadas e livres de parasitas.

O comportamento de inatividade foi um dos mais realizados pelas operárias. Esse

tipo de comportamento é bastante comum em estudos com formiga, havendo variação

entre as espécies. Uma das possíveis explicações para a alta frequência desse

comportamento é que em condições laboratoriais existe um controle para manutenção das

colônias (Herbers & Cunningham, 1983; Retana & Cerdá, 1991). As operárias são

alimentadas diariamente, os ninhos e arenas são mantidos sempre limpos e todo esse

processo diminui o trabalho dentro da colônia, fazendo com que as operárias permaneçam

mais tempo inativas (Schmid-Hempel, 1990). Assim, essas operárias funcionariam como

uma força de trabalho reserva para a colônia.

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Nossos resultados sugerem que D. quadriceps sofre influência do fator idade na

sua estrutura social. No entanto, quando analisamos o quadro 1 observamos que não há

um único padrão comportamental, que cada indivíduo tem o seu próprio padrão. Com

isso podemos sugerir que essa aparente influência da idade seja um “produto” do modelo

“Foraging for Work”. Teoricamente esse modelo pode gerar um padrão temporal sem

necessariamente estar relacionado com a idade, pois ao emergir, as operárias realizam

tarefas nesses locais, nos quais estão os imaturos. À medida que há necessidade da

realização de outras tarefas por parte da colônia e/ou novas operárias emergem, isso

estimula deslocamento centrífugo (Tofts,1993; Franks & Tofts, 1994). Esse modelo

promove uma flexibilidade na alocação de tarefas que varia de acordo com a necessidade

da colônia.

Concluímos que a estrutura social em colônias de D. quadriceps sofre influência

do fator idade e de fato os indivíduos jovens realizam mais tarefas dentro do ninho e tem

como tarefa principal o cuidado com imaturos. É possível que o modelo “Foraging for

Work”, seja aplicado em D. quadriceps e esse sofre influência do fator idade. Contudo,

podemos afirmar que colônias de D. quadriceps apresenta polietismo temporal, porém

esse polietismo apresenta flexibilidade.

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20 MANUSCRITO

FLEXIBILIDADE COMPORTAMENTAL EM COLÔNIAS DE DINOPONERA

QUADRICEPS (HYMENOPTERA, FORMICIDAE)

Ingrid Araújo de Medeiros; Arrilton Araújo*

Laboratório de Biologia Comportamental, Departamento de Fisiologia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brazil

* Autor correspondente: Arrilton Araújo

Laboratório de Biologia Comportamental

Departamento de Fisiologia - Centro de Biociências

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Av. Salgado Filho, s/n - Caixa Postal 1511 - CEP 59078-970 - Natal, RN, Brazil

fax: (55) 84 3211 9206 e-mail: [email protected]

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Resumo

A divisão de trabalho é uma propriedade fundamental da organização social,

observada em muitos grupos vivos. No entanto, como poderia unidades individuais

escolher qual função desempenhar? Nosso objetivo é compreender se operárias de

Dinoponera quadriceps podem assumir tarefas que não estão desempenhando em função

da necessidade da colônia. O estudo foi realizado no Laboratório de Biologia

Comportamental na UFRN. Todas as formigas foram marcadas, individualmente, com

uma etiqueta alfanumérica colada no tórax. O método de observação utilizado foi o focal

instantâneo, com registros a cada quinze minutos para cada indivíduo. Para testarmos se

as operárias eram comportamentalmente flexíveis, sendo capazes de responder

eficientemente diante de uma situação de estresse, utilizamos três colônias em duas

condições: (1) as forrageadoras eram removidas e (2) as cuidadoras eram removidas. Cada

condição teve duração de nove dias, com duas horas de observação por dia para cada

colônia. Como resultado, para suprir a demanda da colônia, as operárias foram capazes

de realocar-se para as tarefas que a colônia estava necessitando. Esse comportamento as

tornam capazes de distribuir suas atividades de acordo com a demanda da colônia e de

responderem eficientemente as mudanças ambientais.

Palavras chaves: Divisão de trabalho, alocação de tarefas, Ponerinae, formigas

sem rainhas, inatividade.

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Introdução

A divisão de trabalho é uma propriedade fundamental da organização social,

observada em muitos grupos vivos (Smith, 1776; Osterr & Wilson, 1978; Robinson,

1992). Nos insetos sociais, o grupo taxonômico mais abundante e amplamente distribuído

no mundo (Wilson, 1985), essa característica é apontada como sendo a responsável pelo

sucesso ecológico do grupo (Osterr & Wilson, 1978). Eles são os primeiros exemplos de

cooperação que exibem um complexo e sofisticado sistema de alocação de tarefas. Esses

sistemas emergem de ações e interações de unidades independentes e operam de maneira

descentralizada (Charbonneau & Dornhaus, 2015). No entanto, a alocação de tarefas

inicia-se com um problema: como poderia unidades individuais escolher qual função

desempenhar?

Buscando a solução para esse problema, o tema vem sendo alvo de vários estudos

não apenas na área de biologia comportamental, mas também nas demais áreas como

ciências da computação e robótica (Sarker, Dahl & Christenser, 2014) e continua sendo

uma área ativa para pesquisas por ser um problema desafiador em muitos diferentes

sistemas (Charbonneau & Dornhaus, 2015).

Em condições ideais, cada tarefa poderia ser desempenhada unicamente por um

grupo altamente especializado. No entanto, o ambiente é imprevisível e espera-se que

haja flexibilidade para desempenhar as tarefas. Em muitas espécies de insetos sociais,

ocorre a realocação de parte da força de trabalho para tarefas que surgem mediante

mudanças na rotina da colônia, fazendo assim com que as operárias sejam capazes de

suprir a demanda de trabalho do ninho (Apis mellifera - Johnson, 2002; Couvillon,

Robinson, Atkinson, Child, Dent & Ratnieks, 2008; Temnothorax albipennis - Robinson,

Feirneman, Franks, 2009).

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A motivação para realização dessas tarefas pode ser mediada por diferentes

mecanismos de alocação que não são mutuamente exclusivos (Gordon, 2003). Esses

mediadores podem ser modulados por um processo baseado em um limiar (Robinson,

1987a), que pode ser afetado por fatores como idade, fisiologia, experiência prévia ou até

mesmo o próprio ambiente. Uma das hipóteses para isso é que forrageadoras tendem a

ser mais velhas e que o limiar para o desempenho dessas funções mudaria com a idade

(Robinson, 1987b) ou que devido à experiência, as operárias mais velhas teriam um limiar

mais baixo para responder à demanda para a atividade de forrageio. Outros pesquisadores

defendem que o estado fisiológico pode ser mais importante que a idade para determinar

o limiar de tarefa (Robinson, 2009). Por exemplo, o estoque de gordura é um estado

fisiológico que frequentemente está associado a determinadas tarefas. Operárias com

menos reservas são propensas a forragear, enquanto as com maior estoque lipídico são

mais comumente encontradas dentro do ninho (Smith, Suarez. Tsutsui, Wittman,

Edmonds, Freauff & Tillberg, 2011).

A maioria das pesquisas sobre alocação de tarefas foca principalmente nas tarefas

de forrageio e cuidado aos imaturos. Sendo que, a maioria da colônia despende maior

parte do seu tempo permanecendo inativa. Na literatura é reportada que mais de 50% das

operárias presentes em colônia de insetos sociais, permanecem inativas (Lindauer, 1952;

Retana & Cerdá, 1990; Dornhaus, 2008). Apesar desses altos níveis de inatividade

prevalente na colônia, esse comportamento é um dos menos compreendidos. Sendo assim,

descartar o comportamento de inatividade pode distorcer nossa compreensão a respeito

da divisão de trabalho. Encontrar explicações adaptativas para esse comportamento é

relevante, porque altos níveis de inatividade podem não ser um reflexo da vida em

cativeiro como muito foi discutido na literatura (Dornhaus, 2008). Essa explicação era

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comumente usada para justificar esse comportamento em colônias de insetos sociais

(Charbonneau, Hillis & Dornhaus, 2015).

Diferentemente do que se pensava sobre a inatividade, já se tem informações que

permanecer inativa é considerada uma atividade, que operárias se especializam em

inatividade. Charbonneau & Dornhaus (2015) apresentam resultados que o tempo de

inatividade difere significativamente entre as operárias, e que esse comportamento é

estável ao longo de todo o dia, descartando assim a hipótese de que devido ao ritmo

circadiano esses indivíduos poderiam desempenhar funções em turnos diferentes.

Atualmente algumas explicações têm sido propostas para esclarecer a funcionalidade da

inatividade, mas muito pouco testadas (Charbonneau & Dornhaus, 2015). Dessas poucos

testadas, uma das mais comumente citadas é que essas operárias agem como uma força

de trabalho reserva que é “ativada” mediante uma sobrecarga de trabalho (Apis mellifera

- Lindauer, 1952). Porém, quando testadas em colônias de abelhas os dados não foram

consistentes para explicar essa hipótese (Apis mellifera - Johnson, 2002; Bombus

impatiens - Jandt; Robins, Moore & Dornhaus, 2012).

Nosso trabalho visa testar a flexibilidade na alocação de tarefas em formigas do

gênero Dinoponera tendo como principal foco a tarefa de inatividade. Essas formigas

estão entre as maiores formigas conhecidas, sendo sua distribuição restrita a América do

Sul. A espécie estudada é a Dinoponera quadriceps que é endêmica da região Nordeste

do Brasil (Kempf, 1971). Em suas colônias não há rainhas, e a reprodução é realizada por

uma operária reprodutora dominante, denominada gamergate (Monnin & Peeters, 1998).

D. quadriceps forrageia solitariamente e não realiza recrutamento de companheiras de

ninho (Araújo & Rodrigues, 2006; Azevedo, Medeiros & Araújo, 2014). O forrageio está

positivamente relacionado com a disponibilidade de presas potenciais e é ajustado ao

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longo do ano e dos dias para evitar estresse térmico, o que aumenta ainda mais sua

eficiência. (Medeiros, Azevedo, Santana, Lopes & Araújo, 2014)

O comportamento de inatividade na espécie é realizado com frequência ao longo

da vida das operárias. Em cada mês de vida, mais de 90% das operárias permanecem

inativas em algum momento (Manuscrito 1). Com isso, nossa hipótese é que D.

quadriceps é uma espécie que apresenta flexibilidade comportamental, e que em função

da necessidade da colônia, as formigas seriam capazes de realocar operárias inativas para

suprir a demanda de tarefas, as quais a colônia estaria necessitando naquele momento.

Material e métodos

Local de Estudo

O estudo foi realizado com três colônias de D. quadriceps, coletadas no Campus

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) (5°50'21.3"S 35°12'10.3"W),

as quais tinham um total de 80 indivíduos. Essas foram transportadas para o laboratório

e acondicionadas em ninhos artificiais de plástico (41 x 29 x 13 cm), inseridos dentro das

arenas de forrageio (100 cm x 50 cm x 20 cm). A temperatura e a umidade do laboratório

foram mantidas, respectivamente a 25 ± 2 º C e 65 ± 10% e o regime de luz 12:12

claro/escuro. Fontes de água foram oferecidas sem restrição em placas de Petri e a

alimentação, ofertada três vezes na semana, foi principalmente à base de larvas de

Tenebrio molitor e frutas, e eventualmente Orthoptera e Lepidoptera.

Registro comportamental

Para testarmos a flexibilidade comportamental dos indivíduos, verificando a

capacidade de alocar tarefas em resposta a perturbações na colônia, inicialmente

identificamos todas as operárias. Para aquelas que eclodiam no laboratório, a marcação

foi realizada com caneta colorida (Edding 780 Paint Marker) e após o endurecimento do

exoesqueleto foi aplicada a marcação com etiquetas numeradas coladas no tórax, como

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realizado nas operárias que vieram do campo, baseado em Corbara, Fresneau, Lachaud,

Leclerc & Goodall (1986).

O experimento foi dividido em duas condições: sem forrageadoras (condição 1) e

sem cuidadoras (condição 2). As observações para cada condição aconteceram ao longo

de nove dias, com duas horas por dia de observação para cada colônia. O método de

observação utilizado foi o focal instantâneo (Altmann, 1974), com registros a cada quinze

minutos para cada indivíduo. Durante esse período de observação foi registrado a

frequência de comportamentos de todos os indivíduos da colônia, seguindo uma

sequência pré-determinada pela planilha de observação.

As observações, em cada uma das condições, foram divididas em três fases:

Fase 1 - durante três dias consecutivos as colônias foram observadas sem

interferência.

Fase 2 – Na condição 1 foram retiradas todas as operárias que tiveram uma

frequência de forrageio igual ou superior a 25% durante a fase 1. Após a

retirada das forrageadoras, as colônias foram observadas durante três dias

consecutivos. Na condição 2, as operárias cuidadoras foram retiradas e as

colônias também observadas durante 3 dias consecutivos.

Fase 3 - Ao término da segunda fase, os indivíduos que foram removidos

retornaram para o ninho. No dia posterior, iniciou a terceira e última fase

e novamente as colônias foram observadas por três dias consecutivos. No

término desses experimentos totalizamos 36 horas de observação para

cada colônia nas duas condições.

Nossa pesquisa focou em três categorias comportamentais contendo unidades

comportamentais, que são frequentemente mais realizadas na colônia (manuscrito 1).

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Baseamo-nos nas descrições efetuadas por Pratt (1994), Pie (2002), Vieira, Fernandes &

Antonialli-Junior (2012) e Azevedo et al. (2014) para definirmos as categorias

comportamentais aqui utilizadas. Dentro dessas categorias estavam inseridos os seguintes

comportamentos:

Cuidado aos imaturos: estão incluídos os comportamentos direcionados aos imaturos

(ovos, larvas e pupa):

o Transporte de imaturos: a operária transporta os imaturos para outra câmara dentro

do ninho ou de um lugar para outro da câmara.

o Limpeza de imaturos: registradas todas as vezes que a operária lambe as larvas.

o Auxiliar no empupamento: a operária deposita grãos de substrato na larva.

o Auxiliar na saída do casulo: a operária auxilia o emergente a romper o pupário.

o Permanecer com imaturos: a operária permanece parada ao lado ou sobre os

imaturos ou ainda segurando os ovos com a mandíbula.

o Antenação em imaturos: a operária toca os imaturos com as antenas.

o Alimentar larvas: a operária alimenta as larvas, seja colocando o alimento ao lado

da larva, ou prendendo o alimento na mandíbula e por sucção a larva suga o

alimento.

Forrageio: saída da operária do ninho. A formiga pode vir a realizar os seguintes

comportamentos: movimentar-se lentamente na arena de forrageio tocando as antenas

no substrato, transportar alimento da arena para o ninho, alimentar-se ou permanecer

inativa na arena.

Inatividade: a operária permanece imóvel dentro do ninho.

Análise estatística.

Para testar se os indivíduos são comportamentalmente flexíveis mediante o

estresse causado pela retirada de operárias que realizam tarefas importantes para

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manutenção da colônia utilizamos primeiramente para todos os dados, a análise de

normalidade, através do teste de Kolmogorov-Smirnov. Após constatarmos que os dados

não apresentavam distribuição normal, aplicamos o teste não paramétrico de Friedman

para compararmos se existia diferença entre as fases. Quando encontrada diferença

estatística, utilizamos como post hoc o teste de Wilcoxon par a par. Consideramos o nível

de significância igual ou inferior a 5% bicaudal.

Resultados

Condição 1: Retirada das forrageadoras

Quando comparamos o comportamento dos indivíduos que permaneceram nas três

fases (Tabela 1), encontramos diferença significativa para duas das três categorias

testados (Forrageio: F(2) = 15,048, p < 0,001 e Inatividade: F(2) = 63,10, p < 0,001). Para

o comportamento de cuidado não houve diferença significativa (F(2) = 17,520, p > 0,001).

Quando comparamos o comportamento das operárias retiradas, na fase um e três,

novamente apenas para forrageio (F(1) = 11,51, p < 0,001) e inatividade (F(1) = 14,57, p

< 0,001) houve diferença significativa.

Com a saída das forrageadoras na segunda fase, tivemos uma diminuição do

comportamento de inatividade (F(2) = 63,10, p < 0,001) e um aumento das frequências

comportamentais de forrageio (F(2) = 15,048, p < 0,001 ) e cuidado (F(2) = 17,520, p >

0,001), bem como um maior número de operárias realizando essas tarefas. Em

contrapartida, com o retorno das operárias que foram removidas, observamos na terceira

fase que a inatividade aumentou e que os comportamentos de cuidado e forrageio foram

menos frequentes que na primeira fase (Fig. 1A). No entanto, o número de operárias

forrageando diminuiu e de cuidadoras aumentou, quando comparado com as fases 1 e 2.

O perfil comportamental das forrageadoras retiradas na fase dois variou. Comparado a

fase um, o forrageio e cuidado diminuíram e a inatividade aumentou (Fig. 1B).

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Quadro 1: Resultado do Post hoc realizado nas colônias durante a condição 1 (retirada de

forrageadoras), nas atividades de forrageio e inatividade. As formigas identificadas como

A são as operárias que permaneceram na colônia ao longo das três fases, aquelas

identificadas com B são as operárias que foram retiradas na fase 2.

Comportamento Formigas Fases Valores

Z p

Forrageio A

1x2 2,333 0,020

1x3 1,414 0,157

2x3 3,651 0,001

B 1x3 11,51 0,001

Inatividade A

1x2 2,797 0,005

1x3 7,812 0,001

2x3 5,025 0,001

B 1x3 14,57 0,001

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Figura 1: Perfil comportamental das operárias durante as três fases do experimento na

condição 1 (sem operárias forrageadoras na fase 2). A – Operárias que permaneceram na

colônia durante as três fases, B – operárias que foram retiradas na fase 2. O ponto em

negrito em cima da chave nas barras do gráfico sinaliza onde houve diferença

significativa.

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Condição dois: Retirada das cuidadoras

Encontramos diferença significativa entre as três fases para os três

comportamentos testados (Forrageio: F(2) = 31,43, p < 0,001; Cuidado aos imaturos: F(2)

= 103,29, p < 0,001 e Inatividade: F(2) = 94,132 p < 0,001). Quando comparadas, com

exceção do forrageio da segunda fase com o da primeira fase, todas as fases diferiram

significativamente entre elas (Tabela 1). Com a saída das cuidadoras na segunda fase,

mais de 94% das operárias diminuíram sua inatividade e a tarefa comportamental de

cuidar aumentou quase três vezes comparada a primeira fase enquanto que o forrageio

diminuiu. Além do que, mais de 77% das operárias passaram a cuidar dos imaturos em

algum momento. Com o retorno das operárias na terceira fase, observamos que a

inatividade voltou a aumentar, sendo maior que na segunda fase. O comportamento de

forrageio foi menos frequente que na primeira fase e o cuidado foi menos frequente que

na segunda fase (Fig. 2A).

Tabela 2: Resultado do Post hoc realizado nas colônias durante a condição 2 (retirada das

cuidadoras), nas atividades de forrageio, cuidado e inatividade. As formigas identificadas

como A são as operárias que permaneceram na colônia ao longo das três fases, aquelas

identificadas com B são as operárias que foram retiradas na fase 2.

Comportamento Formigas Fases Valores

z P

Forrageio A

1x2 0,910 0,359

1x3 5,267 0,001

2x3 4,391 0,001

B 1x3 2,668 0,008

Cuidado A

1x2 9,100 0,001

1x3 4,041 0,001

2x3 6,305 0,001

B 1x3 1,291 0,197

Inatividade A

1x2 5,607 0,001

1x3 4,180 0,001

2x3 9,295 0,001

B 1x3 2,419 0,016

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Figura 2: Perfil comportamental das operárias durante as três fases do experimento na

condição 2 (sem operárias cuidadoras na fase 2). A – Operárias que permaneceram na

colônia durante as três fases, B – operárias que foram retiradas na fase 2. O ponto em

negrito em cima da chave nas barras do gráfico sinaliza onde houve diferença

significativa.

Discussão

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Após a perturbação na colônia, causada pela retirada de operárias responsáveis

por tarefas importantes como cuidados aos imaturos e forrageio, as operárias mudaram

seu comportamento em resposta ao estresse causado pela retirada dos indivíduos, e foram

capazes de suprir as necessidades da colônia, isso mostra que Dinoponera quadriceps

apresenta flexibilidade comportamental. Essa plasticidade comportamental faz com que

esses indivíduos respondam eficientemente às mudanças, tornando-os mais aptos

(Robinson et al., 2009). Porém, apesar de parecer óbvio esse tipo de comportamento, nem

todas as formigas tem essa capacidade. Colônias de Pogonomyrmex badius, não são

capazes de realocar operárias para as tarefas necessárias, mesmo que perca metade de sua

ninhada (Kwapich & Tschinkel, 2013). Com isso podemos constatar que nem todas as

espécies são altamente flexíveis (Robinson et al., 2009).

A flexibilidade é importante em espécies que habitam ambientes que são variáveis

ou em situações nas quais a demanda por diferentes tarefas muda rapidamente

(Charbonneau & Dornhaus, 2015). Apesar da aparente flexibilidade em D. quadriceps,

constatamos que pode haver variação de estratégia, dependendo da condição que se

encontra a colônia. Quando as forrageadoras foram retiradas, mais de 50 % das operárias

diminuíram sua inatividade e dessas mais de 90% aumentaram o comportamento de

cuidado. Em contrapartida mais de 35% das operárias aumentaram o seu tempo de

inatividade. Diante de uma mesma condição observamos diferentes estratégias e

provavelmente isso acontece em decorrência das diferenças individuais entre as operárias

fazendo com que apresentem limiares diferentes para uma mesma tarefa. Essas diferenças

podem ser geradas durante o desenvolvimento larval ou decorrentes da variação genética

existente na colônia, idade, experiência (Gordon 2003, Oldroya & Thompsom, 2006).

Em ambas as condições, durante a segunda fase a inatividade diminuiu. Esse

comportamento é justificado uma vez que com a ausência de operárias que realizavam

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tarefas chave, como o cuidado e o forrageio, a demanda de trabalho aumenta. Porém na

condição 1, algumas operárias aumentaram o seu tempo de inatividade na segunda fase.

Ao adotar essa estratégia esses indivíduos conservam energia (Charbonneau & Dornhaus,

2015). Essa estratégia pode ser vantajosa, uma vez que com a retirada das forrageadoras

o estoque de alimento pode ficar reduzido. Mesmo com algumas operárias adotando essa

estratégia, a tarefa de forrageio não deixou de ser realizada e juntamente com a tarefa de

cuidado, foram mais frequentes na segunda fase que na primeira. Com a saída das

forrageadoras e correndo o risco de inanição, as operárias aumentaram o cuidado bem

como passaram a forragear, para suprir as demandas da colônia.

O investimento na prole é o caminho para a prosperidade da colônia. Sendo assim,

é de se esperar que os imaturos tenham um valor maior para colônia. Isso explicaria o

fato de que com a retirada das cuidadoras a inatividade teve uma redução de mais de 50%

na segunda fase e o cuidado por parte das operárias que permaneceram no ninho quase

triplicou. Ao adotar essa estratégia elas garantem a sobrevivência dos imaturos e

consequentemente da colônia. Vimos que em ambas as condições, as operárias de D.

quadriceps que permanecem inativas, atuam como uma força de trabalho reserva que é

ativada mediante uma carga de trabalho extra (Lindauer, 1952). Assim, elas agem

similarmente a células totipotentes, podendo assumir diversas funções na colônia. Novas

pesquisas focando o papel da inatividade serão importantes para entender melhor esse

mecanismo, principalmente em outras espécies.

Nessa espécie o fator idade influencia a alocação de tarefas, porém cada operária

segue o seu próprio padrão (Manuscrito 1). Acredita-se que espécies que se adéquam de

alguma forma ao polietismo temporal apresentam uma maior flexibilidade na alocação de

tarefas, quando comparadas àquelas com maior grau de especialização. Apesar de a

especialização aumentar a eficiência da colônia (Osterr & Wilson, 1978), ela restringe a

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capacidade de ser flexível. O fato de que operárias de D. quadriceps são capazes de

retornar a um ritmo semelhante às primeiras fases do experimento, com o retorno das

forrageadoras e cuidadoras, exemplifica mais ainda essa flexibilidade.

A flexibilidade pode variar entre as várias espécies, em que cada uma é adaptada

para lidar com um conjunto de adversidades características de cada ambiente. A variação

de flexibilidade entre as espécies pode ser gerada por diferentes estratégias de alocação

de tarefas. Os sistemas altamente flexíveis, que são capazes de se adaptar às mudanças de

demanda, exigem operárias com sistema neural mais sofisticado ou com sistema sensorial

capaz de coletar e processar informações (Charbonneau & Dornhaus, 2015). A

flexibilidade existente em D. quadriceps faz com que se distribuam em atividades de

acordo com a demanda da colônia e que respondam eficientemente as mudanças impostas

pelo ambiente as quais estão inseridas.

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30 MANUSCRITO

VARIAÇÃO DA MASSA CORPÓREA ENTRE OPERÁRIAS DE

DINOPONERA QUADRICEPS (HYMENOPTERA, FORMICIDAE)

Ingrid Araújo de Medeiros, Arrilton Araújo*

Laboratório de Biologia Comportamental, Departamento de Fisiologia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brazil

*Autor correspondente: Arrilton Araújo

Laboratório de Biologia Comportamental

Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia

Departamento de Fisiologia - Centro de Biociências

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Av. Salgado Filho, s/n - Caixa Postal 1511 - CEP 59078-970 - Natal, RN, Brazil

fax: (55) 84 3211 9206 e-mail: [email protected]

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Resumo

Em insetos sociais, a divisão de trabalho é considerada a característica chave para o

sucesso ecológico desse grupo. Para algumas espécies o estado nutricional influencia na

distribuição de tarefas dentro da colônia. Nosso objetivo foi testar se a massa corporal de

Dinoponera quadriceps, varia entre as operárias que desempenham diferentes tarefas. O

estudo foi realizado no Laboratório de Biologia Comportamental na UFRN. Todas as

formigas foram marcadas, individualmente, com uma etiqueta alfanumérica colada no

tórax. O método de observação utilizado foi o focal instantâneo, com registros a cada

quinze minutos para cada indivíduo. Para testarmos se existe variação da massa corporal

entre as operárias, durante cinco meses seguidos, quatro colônias foram observadas uma

vez ao mês por um período de uma hora. No dia seguinte a cada observação, todas as

operárias eram removidas do ninho e pesadas. Nossos dados mostraram que a massa

corporal das operárias engajadas em atividades internas ao ninho é maior do que as

operárias que realizam tarefas intermediárias e essas são mais pesadas que as

forrageadoras.

Palavra-chave: Formigas, Divisão de trabalho, Ponerinae, Formigas sem rainhas,

Assimetria nutricional

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Introdução

Em insetos sociais, a divisão de trabalho é uma característica marcante por ser

apontada como a chave para o sucesso ecológico desse grupo (Holldobler & Wilson,

1990). A primeira divisão acontece entre rainhas (indivíduos que reproduzem) e operárias

(indivíduos que não reproduzem). Entre as operárias, há uma subdivisão para realização

de uma ou várias tarefas. Essa subdivisão acontece entre as operárias sendo elas as

responsáveis por promover o desenvolvimento e o crescimento da colônia (Robinson,

1992).

A divisão do trabalho é resultante da alocação de tarefas que otimizam a

distribuição da força de trabalho e aumentam a eficiência da colônia (Osterr & Wilson,

1978). Dentro do grupo das operárias, essa divisão pode ser baseada principalmente em

especialização morfológica, mudanças comportamentais relacionadas à idade ou status

hierárquico. A divisão de trabalho decorrente da variação morfológica é conhecida como

polietismo físico ou morfológico encontrado principalmente em cupins e espécies de

formigas com distinguíveis subcastas dentro da casta operária. Quanto mais extremas as

diferenças entre as subcastas, no que se refere a tamanho ou morfologia, mais

especializado e restrito será o repertório comportamental. As especializações mais

comuns são para defesa e forrageio; no entanto, há outras menos comuns como

processamento de alimento e armazenamento de alimentos (Wilson, 1978; Corn, 1980;

Busher, Calabi & Traniello, 1985; Fowler, 1985). Na divisão de trabalho relacionado com

a idade, as operárias mais velhas tendem a realizar tarefas mais custosas, como forrageio,

e os mais jovens realizam tarefas dentro do ninho, que são menos custosas (Wilson, 1971).

No entanto, como em muitas espécies, os insetos sociais apresentam flexibilidade

comportamental, sendo capazes de variar o seu comportamento em resposta às mudanças

causadas por fatores internos e externos (Robinson, 1992; Manuscrito 2). Entre esses

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fatores estão os limiares de resposta, idade e variação nutricional, que vêm sendo

apontados como moduladores da alocação de tarefas em colônias de insetos sociais.

No modelo do limiar de resposta, a operária tem um limiar interno de resposta a

um estímulo específico para uma dada tarefa (Bonabeau, Theraulaz & Deneubourg,

1996,1998; Page & Mitchell, 1998; Grahan, Myerscough, Jones & Oldroyd, 2006;

Jeanson, Fewell, Gorelick & Bertram, 2007; Gove, Hayworth, Chhetri & Rueppell, 2009).

Nesse modelo, a existência de variação de limiares entre os indivíduos é necessária para

que haja divisão de trabalho (Robinson & Page, 1989). A operária executa a tarefa assim

que o limiar é atingido e vai continuar executando tal tarefa até as pistas que ativam esse

limiar cessem (Theraulaz, Bonabeau & Deneubourg, 1998; Wollman, Hubler, Holley,

Franks & Dornhaus, 2012).

Além disso, o estado nutricional dos indivíduos, pode provocar mudanças

comportamentais em formigas e abelhas (Blachard, 2000; Toth & Robinson, 2005).

Operárias jovens de Apis mellifera privadas de alimento, iniciam o forrageio mais

precocemente do que abelhas de uma colônia com indivíduos bem alimentados (Shulz,

Huang & Robinson, 1998). Nessa espécie o teor de gordura pode variar entre os membros

de uma mesma colônia e isso não tem associação com a idade (Toth & Robinson, 2005).

Geralmente as rainhas são mais corpulentas do que as operárias que trabalham dentro da

colônia e essas mais corpulentas que as forrageadoras (Blachard, 2000; Toth & Robinson,

2005; Smith et al., 2011). Em estudo com Apis mellifera, as forrageadoras apresentaram

níveis de gordura menores do que as operárias que cuidavam dos imaturos e mesmo as

operárias que foram induzidas a forragear precocemente diferiram em sua massa corporal

quando comparadas às cuidadoras (Toth & Robinson, 2005). Resultado semelhante é

encontrado em formigas do gênero Pogonomyrmex, em que as forrageadoras são mais

leves que operárias jovens (Porter & Jorgensen, 1981).

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Em espécies nas quais todos os indivíduos são fisiologicamente semelhantes e não

apresentam divisão de castas, o estado nutricional pode ser um mecanismo regulador da

alocação de tarefas nessas colônias. Por exemplo, na subfamília Ponerinae, todas as

formigas são capazes de reproduzir, pois não apresentam diferenciação morfológica entre

rainhas e operárias, sendo a divisão reprodutiva mantida por hierarquia de dominância

através de comportamentos agonísticos (Monnin, Malosse & Peeters, 1998). Segundo

Smith e colaboradores (2011) em Dinoponera australis, há uma associação inversamente

proporcional entre forrageio e taxa de gordura, e a alocação de tarefas dentro da colônia

pode ser organizada por status nutricional, visto que operárias que possuem uma taxa de

gordura maior, desempenham tarefas menos custosas como o cuidado à prole, por estarem

mais aptas a competir por oportunidades reprodutivas e melhores postos hierárquicos

dentro da colônia.

Dinoponera quadriceps está entre as maiores formigas catalogadas, sendo

encontradas apenas na América do Sul (Kempf, 1971). Seu forrageio é solitário e não

realiza recrutamento de outras operárias da colônia (Araújo & Rodrigues 2006; Azevedo,

Medeiros & Araújo, 2014). O forrageio está positivamente relacionado com a

disponibilidade de presas potenciais e é ajustado ao longo do ano e dos dias para evitar

estresse térmico, o que aumenta ainda mais sua eficiência (Medeiros, Araújo,

Araújo,Queiroz & Vasconcelos, 2012; Medeiros, Azevedo, Santana, Lopes & Araújo,

2014).

O fator idade é capaz de influenciar a divisão de trabalho nessa espécie, porém

cada indivíduo tem um padrão de alocação particular (Manuscrito 1). Isso acontece

provavelmente devido a flexibilidade encontrada nessa espécie, que possibilita as

operárias de ajustar-se comportamentalmente de acordo com a necessidade da colônia.

Sendo assim, juntamente com a idade, o estado nutricional pode modular a distribuição

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de tarefas realizada pelas operárias e consequentemente a divisão de trabalho nessas

colônias. Nosso objetivo foi testar se a massa corporal de Dinoponera quadriceps, varia

entre as operárias que desempenham diferentes tarefas. Nossa hipótese é que a massa

corporal das operárias de D. quadriceps varia entre as operárias que desempenham

diferentes tarefas. Portanto operárias que realizam tarefas internas ao ninho, como cuidar

da prole e inatividade, deverão ser mais pesadas do que aquelas que desempenham tarefas

internas e externas ao mesmo tempo (operárias intermediárias) e essas últimas mais

pesadas que as operárias que saem para forragear.

Material e Métodos

O estudo foi realizado com cinco colônias de D. quadriceps coletadas no Campus

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) (5°50'21.3"S 35°12'10.3"W),

as colônias continham 16, 33, 17, 37 e 82 operárias. As colônias foram transportadas para

o laboratório e acondicionadas em ninhos artificiais de plástico (41 x 29 x 13 cm),

inseridos dentro das arenas de forrageio (100 cm x 50 cm x 20 cm). A temperatura e a

umidade do laboratório foram mantidas, respectivamente a 25 ± 2 ºC e 65 ± 10% e o

regime de luz 12:12 claro/escuro. Fontes de água foram oferecidas sem restrição em

placas de Petri e a alimentação, ofertada três vezes na semana, foi principalmente à base

de larvas de Tenebrio molitor, frutas da estação e eventualmente insetos adultos de

Orthoptera e Lepidoptera.

Coleta de dados

Para testarmos se existia diferença entre os indivíduos quanto a massa corporal e

a função que desempenhava dentro da colônia, identificamos todos os indivíduos com

etiquetas colocadas no tórax. Para aqueles que eclodiam no laboratório a marcação foi

realizada com caneta (Edding 780 Paint Marker) e após o endurecimento do exoesqueleto

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foi aplicada a marcação com etiquetas numeradas coladas no tórax, como realizado nos

indivíduos que vieram do campo (Corbara, Fresneau, Lauchad, Leclerc & Goodall, 1986).

Para coleta dos dados da massa coporal utilizamos uma balança de precisão (AND

HR-200 Digital Analytical Balance, 210g X 0.1mg). No dia anterior à pesagem, cada

colônia foi acompanhada por uma hora utilizando o método focal instantâneo (Altmann,

1974) com registros a cada quinze minutos para cada indivíduo. A sequência em que cada

indivíduo era observado era pré-determinada pela ordem em que as operárias estavam

arranjadas na planilha de observação. Durante essa observação, eram registradas as

atividades que a operária estava realizando.

Baseado em Pratt (1994), Pie (2002), Vieira et al. (2012) e Azevedo et al. (2014)

registramos três categorias comportamentais compostas pelos seguintes comportamentos:

Cuidado aos imaturos: estão incluídos os comportamentos direcionados

aos imaturos (ovos, larvas e pupa):

o Transporte de imaturos: a operária transporta os imaturos para outra

câmara dentro do ninho ou de um lugar para outro da câmara.

o Limpeza de imaturos: registradas todas as vezes que a operária lambe as

larvas.

o Auxiliar no empupamento: a operária deposita grãos de substrato próximo

ou na larva.

o Auxiliar na saída do casulo: a operária auxilia o emergente a romper o

pupário.

o Permanecer com imaturos: a operária permanece parada ao lado ou sobre

os imaturos ou ainda segurando os ovos com a mandíbula.

o Antenação em imaturos: a operária toca com as antenas os imaturos.

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o Alimentar larvas: a operária alimenta as larvas, seja colocando o alimento

ao lado da larva, ou prendendo o alimento na mandíbula e por sucção a larva suga o

alimento.

Forrageio: saída da operária do ninho. A formiga pode vir a realizar os

seguintes comportamentos: movimentar-se lentamente na arena de forrageio tocando as

antenas no substrato, transportar alimento da arena para o ninho, alimentar-se ou

permanecer inativa na arena.

Inatividade: a operária permanece imóvel dentro do ninho.

No dia seguinte a observação todos os indivíduos eram retirados da colônia e

mantidos em uma caixa para o processo de pesagem. Todos os indivíduos de uma mesma

colônia eram mantidos juntos e não era ofertado nenhum alimento ou água, pois o

processo de pesagem era realizado no máximo em 30 minutos. Após a pesagem, todos os

indivíduos eram inseridos diretamente dentro do ninho. Esse processo foi repetido para

todas as colônias. Esse procedimento foi realizado uma vez por mês, ao longo de cinco

meses. Realizar a pesagem uma única vez ao mês teve o intuito de diminuir o estresse

causado pela abertura do ninho e captura de todos os indivíduos para serem pesados.

Foram utilizadas 183 operárias e totalizou-se 25 horas de observação.

Após coleta dos dados os indivíduos foram categorizados em três grupos distintos.

No primeiro grupo estavam inseridos apenas aqueles indivíduos que realizam tarefas

dentro do ninho e este se subdividia em três categorias (indivíduos que cuidavam dos

imaturos, indivíduos que permaneciam inativos e aqueles que desempenhavam essas duas

funções alternadamente). No segundo grupo estavam as operárias que realizavam tarefas

dentro e fora do ninho (intermediárias) e no terceiro grupo estavam aqueles indivíduos

que foram observados realizando somente atividade de forrageio.

Análise estatística

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Realizamos dois testes de Equações Estimativas Generalizadas (EEG). Esse teste

foi escolhido pelo fato dos dados não apresentaram normalidade após o teste de

Kolmogorov-Smirnov. Inicialmente um teste EEG foi realizado para investigar possíveis

diferenças da massa corporal entre as operárias cuidadoras e as operárias que

permaneciam inativas dentro do ninho. Apesar de serem tarefas distintas, supomos que a

massa corporal dos indivíduos que desempenham essas tarefas sejam semelhantes, e por

isso poderíamos agrupar em uma categoria de tarefa (cuidadora e inativas). Então

realizamos o teste EEG para avaliar o efeito da massa corporal nas três categorias de

tarefa (interna ao ninho x intermediária x externa ao ninho) executada pelas operárias.

Consideramos como efeito fixo no modelo a massa corporal das operárias e como efeito

randômico o indivíduo e a colônia de onde o animal pertencia. Todos os testes foram

realizados adotando um nível de significância de 5% bicaudal.

Resultados

Quando comparamos a massa corporal dos indivíduos que realizam cuidado aos

imaturos com aqueles que permaneciam inativos dentro da colônia, não encontramos

diferença significativa (p > 0,05). Por esse motivo, nosso teste final para avaliar o efeito

da massa corporal dos indivíduos na tarefa desempenhada por eles foi feito com todas as

colônias e considerando três categorias de tarefas, sendo elas: cuidadoras e inativas;

intermediárias; forrageadoras.

Quando comparadas quanto a massa corporal, as operárias que desempenham

tarefas internas (cuidado e inatividade) apresentaram massa corporal significativamente

superior (p < 0,05, média = 0,359g ± 0,023) às operárias intermediarias (p < 0,05, média

= 0,328g ± 0,032) e as forrageadoras (p < 0,05, média = 0,317g ± 0,030). Houve também

diferença significativa entre a massa corporal das operárias que realizavam tarefas

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intermediárias (média = 0,328g ± 0,032) e as forrageadoras (média = 0,317g ± 0,030) (p

< 0,05) (Fig.1).

Figura 1: Massa corporal (g) de operárias de Dinoponera quadriceps em diferentes

atividades desempenhadas.

Discussão

Nossos dados suportam nossa hipótese, que a massa corporal varia entre as

operárias de D. quadriceps. Em colônias nas quais todos são capazes de reproduzir, o

estado nutricional pode ser um indicador das condições da colônia, como também das

condições de cada operária. Os sinais fisiológicos, como massa corporal, emitidos pela

operária pode vir a reforçar a especialização para algumas tarefas, como o forrageio

(Smith et al., 2011).

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O forrageio é uma tarefa essencial para colônia, pois além de suprir as suas

próprias necessidades, as forrageadoras são responsáveis por suprir toda a demanda

energética da colônia. No entanto, o forrageio é considerado a atividade mais custosa,

devido aos riscos envolvidos durante essa tarefa (Wilson, 1971). Porém, o que leva

indivíduos a se especializarem nessa atividade? Nessas colônias, onde todos têm

capacidade de competir pelo posto de fêmea dominante, estar em boas condições físicas

pode vir a contribuir nas disputas entre esses indivíduos. Então, competir pela chance de

tornar-se dominante ou ter um posto hierárquico melhor, serviria de estímulo para os

indivíduos abaixo do peso “ideal” da colônia, sair e forragear. Ou ainda esse estímulo

pode ser desencadeado, simplesmente pelos indivíduos estarem com o nível de reserva

energético baixo (Porter & Jorgenser, 1981).

Assim, a diferença no estado nutricional seria uma possível causa para iniciar

forrageio e não uma consequência dessa tarefa custosa tanto em riscos quanto

energeticamente. Mesmo assim, caso a colônia venha perder esse indivíduo com menos

reserva energética, ela estaria perdendo menos do que perder um indivíduo com uma

maior reserva, pois indivíduos com o nível energético baixo possuem um menor valor

para a colônia (Tripet & Nonacs, 2004). Em estudo com abelhas Apis mellifera,

cuidadoras apresentaram um estoque lipídico duas vezes superior ao estoque das

forrageadoras (Toth & Robinson, 2005). Por sua vez, formigas forrageadoras do gênero

Pogonomyrmex são 40% menos corpulentas do que operárias de dentro do ninho (Porter

& Jorgenser, 1981). Já Temnothorax albipennis apresenta uma forte correlação negativa

entre peso e probabilidade de forragear (Robinson, Feirnerman & Franks, 2009a;

Robinson, Richardson, Sendova-Franks, Feirnerman & Franks, 2009b).

Enquanto os menos corpulentos são mais propensos a forragear, as operárias em

melhor estado nutricional realizam tarefas dentro do ninho, como cuidado. Nessas

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colônias todos são potenciais reprodutores (Monnin & Peeters, 1998), a permanência

dessas operárias em locais próximos a cria lhes confere mais oportunidades reprodutivas

do que indivíduos que estão envolvidos em tarefas fora da colônia.

Em D. australis o estoque de gordura é relacionado com o movimento de dentro

para fora do ninho (Smith et al., 2011) semelhante ao resultado encontrado em nosso

estudo. Entretanto, para D quadriceps não encontramos diferença significativa quanto ao

peso, entre os indivíduos próximos a ninhada e os demais que permanecem somente

dentro da colônia. Em colônias de D quadriceps as operárias são flexíveis e capazes de

realocar as tarefas dependendo da necessidade da colônia (Manuscrito 2). É provável que

o estado nutricional dos indivíduos de dentro da colônia se mantenha semelhante, uma

vez que essas operárias poderiam vir a se engajar em qualquer tarefa inclusive ao posto

de reprodutora. As forrageadoras, que apesar de teoricamente serem capazes de

reproduzir, tinham um estado nutricional que pode não favorecer esse comportamento,

como sugerido para D. australis (Smith et al., 2011).

No entanto, a relação entre menor massa corporal e forrageio não é meramente

desencadeada pela fome, pois formigas subnutridas tem acesso à comida e continuam

forrageando e mantém o peso (Robinson et al., 2009b). Assim, a decisão para forragear

pode ser desencadeada por um limiar de resposta flexível ligado ao seu nível de

corpulência, como observado em Temnothorax albipennis (Robinson et al., 2009a). Nessa

espécie, as formigas que respondem a uma demanda maior de forrageadoras são as menos

corpulentas independentemente de sua idade ou posição espacial dentro do ninho

(Robinson et al., 2009a; Robinson &t al., 2012). Essa ativação do limiar estaria assim

ligada ao estado nutricional da operária, e essa estratégia tem uma propriedade benéfica

para a colônia, como citada anteriormente, pois os indivíduos menos corpulentos tem um

valor menor para a colônia quando comparado a aqueles com massa corpórea maior, além

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do que são mais ágeis para se locomover e fugir de possíveis predadores (Porter &

Jorgenser, 1981; Blanchard et al., 2000).

Contudo, podemos inferir que a massa corporal, juntamente com a idade são

moduladores da alocação de tarefas em D. quadriceps, e que a flexibilidade existente

nessas colônias as tornam aptas a serem capazes de distribuir suas atividades de acordo

com a demanda da colônia.

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Considerações Finais

Neste estudo, avaliamos a influência da idade, se existe variação da massa

corporal, bem como a flexibilidade comportamental existente em colônias de Dinoponera

quadriceps

A divisão de trabalho é fundamental na organização social, sendo observada em

muitos grupos vivos (Osterr & Wilson, 1978; Robinson, 1992). Ela permite a

especialização em tarefas, promovendo um melhor desempenho das atividades que

ocorrem em paralelo com outras. Em insetos sociais, essa característica e tida como a

responsável pelo sucesso ecológico desse grupo (Osterr & Wilson, 1978).

Em um ambiente hipoteticamente estável, cada operária teria uma tarefa

específica, e como em uma indústria de produção, a colônia seria mais eficiente. No

entanto, o ambiente é inconstante, e para prosperar é vantajoso que os indivíduos sejam

capazes de ajustar seu comportamento para cada situação imposta.

Em D. quadriceps, não há um padrão definido para a transição das tarefas de toda

a colônia, cada operária tem seu padrão de transição. Contudo, observamos que a tarefa

de cuidar é realizada principalmente nos primeiros meses de vida enquanto que o

forrageio tem uma tendência de ser realizado por indivíduos mais velhos. Logo, a idade

é um possível modulador das tarefas com limiar diferente para cada indivíduo.

Aparentemente a divisão de tarefa em D. quadriceps é um processo baseado em limiares,

que os indivíduos vão assumir tarefas a medida que o limiar, para dada tarefa, vai sendo

alcançado e a percepção da intensidade desse sinal pode ser afetada pela localização

espacial (Robinson, Feirnerman & Franks, 2009a; Robinson, Richardson, Sendova-

Franks, Feirnerman & Franks, 2009b).

Apesar de apresentarem flexibilidade, a morfologia, a idade, o estado fisiológico

e outros fatores tornam o indivíduo mais propenso ou não para uma dada tarefa (Robinson

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et al., 2009a). Nesse estudo, nossos dados corroboraram com a nossa hipótese de um

sistema de alocação de tarefa flexível, no qual os indivíduos são capazes de responder

rapidamente à mudança na demanda para tarefas específicas. Essa capacidade de ajustar

a força de trabalho para suprir a demanda da colônia é encontrada em outras espécies de

insetos sociais (Pheidole dentata – Calabi & Traniello, 1989; Apis mellifera – Jonhnson,

2002; Couvillon, Robinson, Alkinson, Dent & Ratnieks, 2008), sendo considerada um

dos benefícios provenientes de não existir um controle central em colônias de insetos

sociais (Bourke & Franks, 1995).

Nós também demonstramos que D. quadriceps tem o peso como modulador da

distribuição de tarefas dentro da colônia. As operárias que realizam tarefas somente

dentro da colônia são mais pesadas que operárias intermediárias e essas mais pesadas do

que as forrageadoras. Essas estratégias conferem vantagens para a colônia, uma vez que

a perda dos indivíduos mais velhos e menos corpulentos é mais vantajosa do que perder

um indivíduo jovem e mais pesado (Porter & Jorgenser, 1981; Jeanne, 1986).

Ao perder forrageadores mais velhos, com menor tempo de serviço a oferecer, a

colônia aumenta sua expectativa de vida (Jeanne, 1986), e por serem leves são mais ageis

e menos atrativos para os predadores (Porter & Jorgenser, 1981; Blachard, 2000). Assim,

idade e peso, aparentemente influenciam no limiar de resposta das operárias de D.

quadriceps. Indivíduos mais novos e mais pesados apresentam limiar alto para

desempenhar atividades mais custosas, como o forrageio. Com nossos resultados, não

somos capazes de afirmar qual melhor preditor, idade ou massa corporal, da distribuição

de tarefas em colônias de D. quadriceps. Para isso, propomos que novas pesquisas sejam

feitas controlando, em um mesmo grupo, essas duas variáveis. Porém em colônias de

Temnothorax albipennis, quando comparados com outros fatores como idade, experiência

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e localização espacial, a massa corporal foi o melhor preditor da divisão de trabalho

(Robinson et al. 2009a;Robinson et al. 2009b; Robinson, Feirnerman & Franks, 2012).

Nesse estudo, nossa hipótese sobre a influência da idade foi parcialmente

corroborada, uma vez que esse padrão não é o mesmo para todos os indivíduos. O cuidado

é mais realizado no início da vida enquanto o forrageio é realizado principalmente por

indivíduos mais velhos. Apesar dessa tendência, somente o fator idade não é capaz de

prever qual tarefa a operária irá realizar. A hipótese da flexibilidade comportamental na

divisão de tarefas foi corroborada. As operárias foram capazes de se realocarem para

outras tarefas que não estavam realizando para suprir a demanda de atividade da colônia.

Quanto a nossa hipótese sobre a diferença de massa corporal entre as operárias, ela

também foi corroborada. No entanto, não podemos afirmar se o baixo peso das

forrageadoras é uma motivação para sair e forragear ou se é uma consequência dessa

atividade. Temos como perspectivas realizar novos trabalhos, onde essas variáveis serão

acompanhadas desde o início da eclosão. Com isso, concluímos que as colônias de D.

quadriceps são flexíveis em suas tarefas e, que divisão de tarefas é modulada pelo fator

idade e que a massa corporal varia entre os diferentes grupos de atividades. Por isso, as

operárias D. quadriceps são capazes de enfrentar as condições ambientais impostas pelo

meio e obterem sucesso.

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Anexo A

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Comitê de Ética