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DO CONFESSIONAL AO INTERRELIGIOSO: O SAGRADO E A
DIVERSIDADE RELIGIOSA, NOVAS PERSPECTIVAS
SANTOS, Elói Corrêa dos1 - ASSINTEC/SEED - PR
NIZER, Carolina do Rocio2 - DEB/SEED - PR
Grupo de Trabalho - Ensino Religioso
Agência Financiadora: Secretaria de Estado da Educação do Paraná Resumo O objetivo deste trabalho é apresentar um relato da experiência pedagógica nas Escolas Públicas do Estado do Paraná com a disciplina de Ensino Religioso, discutindo as nuanças da passagem epistemológica do modelo confessional para a nova perspectiva inter-religiosa. Neste sentido, o presente texto está divido em dois momentos. O primeiro trata da ruptura na legislação com a proposta proselitista e a possibilidade de superação deste modelo pelo enfoque inter-religioso onde a disciplina de Ensino Religioso passa a ter um caráter de área de conhecimento que tem como objetivo fomentar o conhecimento que favoreça o repúdio a toda forma de discriminação e o respeito à diversidade cultura e religiosa, definindo, no caso do Estado do Paraná, como objeto de estudo o Sagrado, pois o mesmo contempla o trabalho com as diversas tradições religiosas nas instituições escolares. No segundo momento apresentaremos as ações realizadas pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná por meio da sua equipe pedagógica, tais como: produção de diretrizes curriculares, material didático, formação continuada de professores que atuam na disciplina de Ensino Religioso nas Escolas Públicas do Estado, bem como demais eventos que compõem a formação do professor, na busca pela implementação e efetivação do Ensino Religioso como disciplina escolar conforme propõe o artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96). Assim, os principais desafios da disciplinas de Ensino Religioso é superar as tradicionais aulas de religião e de valores e inserir conteúdos que tratem da rica diversidade cultural e religiosa do Brasil e do Mundo contribuindo desta maneira com a formação da básica do cidadão e o exercício da cidadania. Palavras-chave: Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso. Sagrado. Respeito à Diversidade.
1 Mestrando em Geografia da Religião e pesquisador do Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião (NUPPER)– UFPR. Especialista em Filosofia – PUC/PR. Formado em Filosofia – Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO) . Técnico pedagógico da Associação Inter-religiosa de Educação (ASSINTEC). E-mail: [email protected] 2 Especialista em Psicopedagogia - Faculdades Curitiba. Formada em História – Universidade Tuiuti do Paraná. Técnica da Educação Básica na disciplina de Ensino Religioso na Secretaria de Estado da Educação do Paraná. E-mail: [email protected]
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Introdução
A disciplina de Ensino Religioso no Brasil em seu processo histórico é marcada pela
forte influência colonizadora. Neste sentido, nas diversas legislações e abordagens
metodológicas que regeram a disciplina esteve se pautado em um modelo confessional e
proselitista. Embora no período do Brasil colônia não se identifique a nomenclatura de Ensino
Religioso, a inclusão deste tema na educação brasileira e que se perpetuou até a Constituição
da República de 1891, é possível identificar atividades de evangelização que tinha como meta
da educação aulas voltadas para o ensino da doutrina católica com o objetivo de induzir os
povos indígenas ao abandono das suas crenças e dos seus costumes, levando-os a submissão
dos preceitos e sacramentos da Igreja Católica Apostólica Romana, como podemos identificar
no documento Ratio Studiorum que diz:
Cada um dos ministérios mais importantes da nossa Companhia é ensinar ao próximo todas as disciplinas convenientes ao nosso Instituto, de modo a levá-lo ao conhecimento e amor do Criador e Redentor nosso, tenha o Provincial como dever seu zelar com todo empenho para que aos nossos esforços tão multiformes no campo escolar corresponda plenamente o fruto que exige a graça da nossa vocação. (FRANÇA, 1952, p. 15).
Essa proposição foi alterada sob influência do positivismo no Brasil República,
buscando neutralidade religiosa, mas que já denotava um impulso contrário ao proselitismo
catequética. Estabeleceu-se um debate entre os defensores do ensino confessional e os
partidários do princípio republicano da educação laica. Esta questão foi parcialmente
resolvida na Constituição da Era Vargas ao propor: “O Ensino Religioso será de matrícula
facultativa e ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno
manifestada pelos pais e responsáveis e constituirá matéria dos horários normais das escolas
públicas” (BRASIL, 1934).
Desta forma procurou-se por meio do caráter facultativo salvaguardar o direito de
liberdade de crença para estudantes não católicos e por outro lado garantiu-se a permanência
da disciplina na educação pública ainda que de maneira confessional. Visto que, aqueles
indivíduos que não eram adeptos da religião hegemônica do momento histórico, participando
ou não das aulas de Ensino Religioso não tinham sua opção religiosa contemplada nas
instituições escolares que frequentavam.
Os primeiros fôlegos da ruptura entre o modelo confessional e a possibilidade do
modelo inter-religioso começam a aparecer na década de 60, quando o caráter confessional foi
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suprimido da Constituição de 1967, ainda que apenas na legislação porque na prática as aulas
continuavam sendo confessionais e relegadas a diletantes voluntários oriundos das igrejas
cristãs.
A possibilidade de uma virada epistemológica, metodológica e pedagógica se
concretizou com a nova redação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e
na correção de sua redação, em 1997, pela Lei 9.475 em seu artigo 33 da LDBEN que
prescreve:
Art. 33 – O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de Educação Básica assegurado o respeito à diversidade religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§1º – Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do Ensino Religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão de professores.
§2º – Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso.
A legislação aponta para a necessidade de se substituir o modelo confessional pelo
método inter-religioso e aconfessional, onde a disciplina de Ensino Religioso é tratada como
área de conhecimento e adota práticas e metodologias escolarizantes, ou seja, seus conteúdos
e métodos desenvolvem-se no sentido da escolarização do Ensino Religioso.
A mudança na lei subtraiu os aspectos confessionais da disciplina rompendo com o
modelo que a vinculava a catequese, cristianização ou quaisquer tipos de doutrinação religiosa
e ou ideologização. Com essa mudança legal, os profissionais da educação e gestores se
colocaram a tarefa e desafio de repensar os paradigmas que regulavam o Ensino Religioso até
então.
A experiência pedagógica do Ensino Religioso no Estado do Paraná
A partir das questões apontadas anteriormente, surgiram grandes debates no meio
acadêmico e educacional, retomando o problema da liberdade religiosa devido à pressão das
tradições religiosas e da sociedade civil organizada. Nesse contexto, e com a nova redação da
LDB, o Ensino Religioso perdeu sua função catequética, pois com a manifestação do
pluralismo religioso na sociedade brasileira, o modelo curricular, centrado na doutrinação
passou a ser intensamente questionado.
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Um momento marcante na história do Ensino Religioso no Paraná aconteceu com a
fundação da “Associação Inter-religiosa de educação e cultura” (ASSINTEC), nos anos de 71
e 72 por um pequeno grupo de caráter ecumênico3. Em 2013 a instituição faz quarenta anos de
existência a percorreu uma trajetória paralela às transformações legais e pedagógicas que
organizaram a disciplina de Ensino Religioso nas escolas do Paraná. Algumas vezes a
instituição esteve na vanguarda se antecipando à demanda didático pedagógicas da disciplina
e em outras vezes teve que se adequar as alterações legais.
Assim como o Ensino Religioso no Brasil passou por etapas confessionais,
multiconfessionais, leigo e por fim torna-se inter-religioso, a ASSINTEC também se
transformou neste percurso, passando da confessionalidade a inter-religiosidade. Neste
sentido, mesmo no período de sua criação, a instituição rompeu com paradigmas ao propor
um diálogo entre as tradições religiosas cristãs, o que foi um grande avanço para época.
É importante ressaltar que, atualmente, a ASSINTEC é uma entidade civil, livre,
equitativa, democrática e aberta a todas as manifestações culturais, religiosas, espirituais e
místicas. Está organizada em uma diretoria composta de membros de diversas tradições
religiosas e, também, de uma equipe pedagógica constituída por professores com formação na
área do Ensino Religioso.
Sua finalidade é colaborar com as secretarias estadual e municipal de educação na
efetivação do Ensino Religioso Escolar de acordo com a legislação vigente, bem como,
promover o diálogo inter-religioso e a mobilização das diversas tradições religiosas, místicas
e filosóficas na disponibilização de informações sobre o sagrado como foco do fenômeno
religioso, contribuindo, assim, para a organização dos conteúdos do Ensino Religioso.
No final de 2005, a Secretaria de Estado da Educação (SEED), movida pelos
questionamentos oriundos deste processo de discussão realizada entre a SEED, Núcleos
Regionais de Ensino (NRE), Escolas e Professores, encaminhou os questionamentos ao
Conselho Estadual de Educação (CEE), que em 10/02/2006 aprovou a Deliberação n.º 01/06,
que visa instituir novas normas para o Ensino Religioso no Sistema Estadual de Ensino do
Paraná.
3 Ecumênico: adj. Relativo a toda a terra habitada ou habitável; universal. Este termo comumente é usado para se referir a atos que reúnem lideranças Católicas e Evangélicas, contudo, na etimologia da palavra significa toda e qualquer área habitada por humanos, ou seja, faz referência a todos os seres humanos, conceito muito próximo ao termo laico (ver informático 33).
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Os avanços delineados a partir desta Deliberação são notáveis, como o repensar do
objeto da área, o compromisso com a formação docente, a consideração da diversidade
religiosa no Estado, a necessidade do diálogo/estudo na escola sobre as diferentes leituras do
Sagrado na sociedade. Cumpre destacar que essa disciplina de ensino tem por base a
diversidade expressa nas diferentes expressões religiosas. Assim sendo, o foco no Sagrado e
em diferentes manifestações, possibilitam a reflexão sobre a realidade contida na pluralidade
desse assunto, numa perspectiva de compreensão sobre si (sua religiosidade) e a do outro, na
diversidade universal do conhecimento humano e de suas diferentes formas de ver o Sagrado.
“Etimologicamente, o termo Sagrado se origina do termo latim sacrátus e do ato
sagrar. Como adjetivo, refere-se ao atributo de algo venerável, sublime inviolável e puro”
(DCE, 2008, p. 47). Para Eliade (2001, p. 17), que fundamenta teoricamente as Diretrizes
Curriculares de Ensino Religioso, o Sagrado é uma experiência denominada de hierofania, ou
seja, “a manifestação de algo ‘diferente’ – de uma realidade que não pertence ao nosso mundo
– em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo ‘natural’, ‘profano’”.
O homem ocidental moderno experimenta um certo mal-estar diante de inúmeras formas de manifestações do sagrado: é difícil para ele aceitar que, para certos seres humanos, o sagrado possa manifesta-se em pedras ou árvores, por exemplo. Mas, como não tardaremos a ver, não se trata de uma veneração da pedra como pedra, de um culto da árvore como árvore. A pedra sagrada, a árvore sagrada não são adoradas como pedra ou como árvore, mas justamente porque são hierofanias, porque ‘revelam’ algo que já não é nem pedra, nem árvore, mas o sagrado. (ELIADE, 2001, p. 18).
Assim, para a DCE de Ensino Religioso (2008) as formas de interpretar o Sagrado são
entendidas como resultado das representações construídas historicamente no âmbito das
diversas culturas e tradições religiosas e filosóficas. Ou seja, nas instituições escolares não se
pretende vivenciar a manifestação do Sagrado e nem aceitar os ensinamentos das tradições
religiosas, trata-se de conhecer e problematizar.
Para auxiliar na compreensão do objeto de estudo da disciplina foi definido para as
instituições escolares, três conteúdos basilares, conhecidos como conteúdos estruturantes que
são: Paisagem Religiosa, Universo Simbólico Religioso e Texto Sagrado, os mesmos não
devem ser entendidos isoladamente, uma vez que estão relacionados.
Cumpri observar que tais conteúdos estruturantes não têm tradição no currículo de Ensino Religioso e o que se pretende é romper com os conteúdos que, historicamente, têm sido tratados nesta disciplina, já que esses não mais contemplam as especificidades da disciplina, pondo em risco o sentindo fundamental da educação (BIACA, 2006).
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Os conteúdos estruturantes são referencias para compreensão do Sagrado e são eles
que orientaram na organização dos conteúdos básicos da disciplina. Para melhor compreensão
de como está estruturado os conteúdos da disciplina de Ensino Religioso para as escolas
públicas do estado, apresenta-se o seguinte esquema:
SAGRADO
Conteúdos Estruturantes
Paisagem Religiosa
Universo Simbólico Religioso Texto Sagrado
Conteúdos Básicos
6º anoOrganização Religiosa
Lugares SagradosTextos Sagrados orais
ou escritosSímbolos Religiosos
7º anoTemporalidade Sagrada
Festas ReligiosasRitos
Vida e Morte
Figura 1 - Conteúdos da disciplina de Ensino Religioso.
Fonte: Organizado pelos autores, com base em Biaca (2006).
Com isso, a disciplina pretende contribuir para o reconhecimento e respeito às
diferentes expressões religiosas advindas da elaboração cultural dos povos, bem como
possibilitar o acesso às diferentes fontes da cultura sobre o fenômeno religioso.
O Ensino Religioso e o processo de escolarização
Não se pode negar a trajetória histórica do Ensino Religioso no Brasil, mas diante da
sociedade atual, esta disciplina requer uma nova forma de ser vista e compreendida no
currículo escolar.
Tendo em vista que o conhecimento religioso insere-se como patrimônio da
humanidade, e em conformidade com a legislação brasileira que trata do assunto, o Ensino
Religioso. Em seu currículo pressupõe promover aos educandos a oportunidade de processo
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de escolarização fundamental para se tornarem capazes de entender os movimentos religiosos
específicos de cada cultura, possuir o substrato religioso, de modo a colaborar com a
formação da pessoa. A sociedade civil, hoje, reconhece como direito os pressupostos desse
conhecimento no espaço escolar, bem como a valorização da diversidade em todas as suas
formas, pois a sociedade brasileira é composta por grupos muito diferentes.
O Ensino Religioso, tratado nesta perspectiva, contribuiu também para superar a
desigualdade étnico-religiosa e garantir o direito Constitucional de liberdade de crença e
expressão, conforme Art. 5º, inciso VI, da Constituição Brasileira. Porém, isso se deu na
medida em que a disciplina de Ensino Religioso e o corpo docente também contribuíram para
que, no dia-a-dia da escola, o respeito à diversidade fosse construído.
É certo que não se pode negar que as relações de convivência entre grupos diferentes é
marcada pelo preconceito, sendo esse um dos grandes desafios da escola. Segundo Costella
(2004, p. 101), “uma das tarefas da escola é fornecer instrumentos de leitura da realidade e
criar as condições para melhorar a convivência entre as pessoas pelo conhecimento, isto é,
construir os pressupostos para o diálogo”, neste sentido a disciplina de Ensino Religioso tem
muito a contribuir.
Portanto, o Ensino Religioso visa a propiciar aos educandos a oportunidade de
identificação, de entendimento, de conhecimento, de aprendizagem em relação às diferentes
manifestações religiosas presentes na sociedade, de tal forma que tenham a amplitude da
própria cultura em que se insere. Essa compreensão deve favorecer o respeito à diversidade
cultural religiosa, em suas relações éticas e sociais diante da sociedade, fomentando medidas
de repúdio a toda e qualquer forma de preconceito e discriminação e o reconhecimento de
que, todos nós, somos portadores de singularidade.
Para Costella (2004, p. 104), o Ensino Religioso
[...] não pode prescindir da sua vocação de realidade institucional aberta ao universo da cultura, ao integral acontecimento de pensamento e da ação do homem: a experiência religiosa faz parte desse acontecimento, com os fatos e sinais que a expressam. O fato religioso, como todos os fatos humanos, pertencem ao universo da cultura e, portanto, tem uma relevância cultural, tem uma relevância em sede cognitiva.
Assim, o Ensino Religioso permitirá que os educandos possam refletir e entender
como os grupos sociais se constituem culturalmente e como se relacionam com o Sagrado. E,
ainda, compreender suas trajetórias, suas manifestações no espaço escolar, estabelecendo
relações entre culturas, espaços e diferenças, para que no entendimento destes elementos o
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educando possa elaborar o seu saber, passando a entender a diversidade de nossa cultura,
marcada pela religiosidade.
A formação continuada para os professores que atuam na disciplina de Ensino Religioso
A partir da elaboração da DCE de Ensino Religioso a SEED vem promovendo a
formação continuada de professores da disciplina com o intuito instrumentalizar a escola
pública para o fomento ao respeito à diversidade cultural e religiosa, distanciando-se cada vez
mais do proselitismo em sala de aula.
Pois entende-se que não basta somente definir conteúdos a serem trabalhados em sala
de aula com a disciplina de Ensino Religioso e que a alteração da prática docente não depende
somente da aceitação de uma sociedade pluralista e legislações que assegurem a disciplina nos
horários escolares. É preciso ir além e contribuir no processo do conhecimento por meio da
formação continuada e incentivo para a produção de materiais didático-pedagógicos que
venham auxiliar o professor na sua prática diária.
Neste sentido, elencamos algumas das ações implementadas no Estado do Paraná:
Simpósio de Ensino Religioso, Visita Técnica em Lugares Sagrados, Jornada de Ensino
Religioso, Formação em Ação e a Contação de História.
Desta forma, os simpósios são eventos de formação continuada ofertados pela SEED
que visam a valorização dos professores da rede estadual pública. Este momento são espaços
de encontro presencial nos quais os professores têm a oportunidade de participar de cursos
com docentes das Instituições Superiores para aprofundar seus conhecimentos sobre os
conteúdos da disciplina.
As Visitas Técnicas em Lugares Sagrados são aulas de campo, que segundo Stefanello
(2009) permitem a expansão da capacidade de construção do conhecimento, uma vez que
percebe o espaço. Possibilitando assim sair da rotina de estudos, o que estimula o
aprendizado, a criatividade e o raciocínio.
Os lugares sagrados construídos possuem uma significação simbólica da presença do
sagrado é a instância da experiência com as tradições religiosas, expressas na paisagem dos
templos, santuários, casa de oração, mesquita, sinagoga. Segundo Gil Filho (2008), o espaço
sagrado se apresenta como palco privilegiado das práticas religiosas. Por ser o próprio mundo
da percepção, ele carrega marcas distintivas da religião, conferindo singularidades peculiares
aos mundos religiosos. Assim, propor uma prática de Visita Técnica em Lugares Sagrados é
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oportunizar os professores o contato com este mundo próprio das religiões e conhecer os
diversos lugares sagrados para uma melhor fundamentação, como também, superar qualquer
forma de preconceito, pois a metodologia de visitação contribui para uma melhor dimensão e
fundamentação dos conteúdos a serem tratados em sala de aula, definidos nas Diretrizes
Curriculares de Ensino Religioso.
A Jornada de Ensino Religioso aconteceu nos dias 20 e 21 de agosto de 2012 foi um
evento que possibilitou o encontro entre professores da Secretaria de Estado da Educação do
Paraná (SEED), da Secretaria Municipal de Educação (SME), com pesquisadores das
Instituições Superiores do Paraná (IES) e com a equipe pedagógica da Associação Inter-
Religiosa de Educação (ASSINTEC). O evento possibilitou a discussão e a reflexão sobre a
proposta do currículo adotado no Paraná e o trabalho realizado nas escolas do Paraná.
Em 2013 a Jornada de Ensino Religioso acontecerá nos dias 21 e 22 de outubro na
UFPR e terá como tema central a importância do modelo inter-religioso consequência da
virada epistemológica ocorrida com a disciplina e a escolarização da mesma. Nesta Jornada
ocorrerão momentos culturais com apresentação artísticas de várias tradições religiosas,
contação de história, apresentação de práticas pedagógicas de professores da rede Estadual e
Municipal e o relato da experiência das Técnicas responsáveis pelo Ensino Religioso na
Secretaria Estadual de Educação do Paraná e Secretaria Municipal de Educação de Curitiba,
bem como oficinas com pesquisadores e doutores na área.
Todas as ações aqui apresentadas visam a superação das tradicionais aulas de religião
e de valores por meio do trabalho com o objeto de estudo o Sagrado e o tratamento da
disciplina com conteúdos básicos definidos na DCE de Ensino Religioso que são:
Organizações Religiosas, Lugares Sagrados, Textos Sagrados orais ou escritos, Símbolos
Religioso, Temporalidade Sagrada, Ritos, Vida e Morte.
Produção de material didático - Caderno Pedagógico e o Informativo da Assintec
Levando em consideração que o conhecimento religioso é importante para a sociedade
e a necessidade de materiais didáticos que auxiliem na prática docente e oportunizem
conhecimentos sobre o conteúdo da disciplina definidos nas DCE, a SEED elaborou um
caderno pedagógico intitulado “O Sagrado no Ensino Religioso”2.
2 Disponível em: <http://www.diaadia.pr.gov.br/deb/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=61>.
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A construção do caderno pedagógico parte dos conteúdos definidos nas DCE de
Ensino Religioso com o “objetivo de analisar e compreender o sagrado enquanto o cerne da
experiência religiosa do universo cultural, que se contextualiza no cotidiano social de inter-
relação dos diversos sujeitos” (BIACA, 2006, p. 14).
O caderno está estruturado didaticamente, com uma apresentação geral do Ensino Religioso na Escola Pública. Encaminha orientações legais, objetivos e também as principais diferenças entre as ‘aulas de religião’ e o Ensino Religioso como disciplina escolar. Está dividido em 8 unidades temáticas. Já as unidades estão divididas em fundamentação sobre o conteúdo abordado, texto destinado aos professores e encaminhamento metodológico, destinado aos educandos. (BIACA, 2006, p. 11).
O caderno é material didático que auxilia o planejamento do professor nas aulas de
Ensino Religioso. Além dele, o professor tem a autonomia de utilizar outros materiais (textos
e atividades para o aluno) como por exemplo o Informativo da Assintec. Esses materiais estão
em consonância com as Diretrizes da Educação Básica de Ensino Religioso.
REFERÊNCIAS
BIACA, V. O sagrado no ensino religioso. Curitiba: SEED, 2006.
BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro: Assembleia Nacional Constituinte, 1934.
______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
COSTELLA, D. O fundamento epistemológico do ensino religioso. In: JUNQUEIRA, S.; WAGNER, R. (Orgs.). O ensino religioso no Brasil. Curitiba: Champagnat, 2004.
ELIADE, M. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
FRANÇA, L. O método pedagógico jesuítico: o Ratio Studiorium. Rio de Janeiro: Agir, 1952.
GIL FILHO, S. F. Espaço sagrado: estudos em geografia da religião. Curitiba: Ibpex, 2008.
PARANÁ. Conselho Estadual de Educação. Deliberação nº 03/02. Diário Oficial do Estado, Curitiba, 2002.
______. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Ensino Religioso. Curitiba: SEED, 2008.
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STEFANELLO, A. C. Didática e avaliação da aprendizagem no ensino de geografia. São Paulo: Saraiva, 2009.