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A REALIZAÇÃO DE FRICATIVAS NO PORTUGUÊS ORAL POPULAR DE FORTALEZA: UMA ABORDAGEM VARIACIONISTA

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  • A REALIZAO DE FRICATIVAS NO PORTUGUS ORAL POPULAR DE FORTALEZA: UMA ABORDAGEM

    VARIACIONISTA

    Ana Germana P. Rodrigues (mestranda-bolsista FUNCAP)

    Dra. Aluiza A. de Arajo (orientadora)

    Universidade Estadual do Cear - UECE

  • 1. INTRODUO

    Este trabalho um projeto inserido na linha de pesquisa 2 Desenvolvimento da linguagem e ensino de lnguas do Mestrado em Lingustica Aplicada da Universidade Estadual do Cear. O projeto comeou a ser executado a partir de maro de 2011.

    Ele ser exposto neste evento com o intuito inicial de apresentar comunidade acadmica a anlise que nos propomos a fazer deste fenmeno.

    O projeto pretende descrever e analisar a realizao varivel de um fenmeno bastante comum no falar fortalezense: a aspirao e o apagamento das fricativas /v s z / . Para isso, utilizamos como modelo terico-metodolgico a sociolingustica laboviana.

  • 2. OBJETIVOS GERAL: Descrever e analisar o efeito de fatores lingusticos e sociais sobre a realizao varivel das fricativas /v s z / no falar popular fortalezense: aspirao, apagamento e manuteno. ESPECFICOS: a) Descrever e analisar as variveis lingusticas que

    condicionam o fenmeno: contextos fonolgicos antecedente e subsequente, posio/tonicidade do segmento e sua frequncia de uso, dimenso do vocbulo, classes de palavras e status morfolgico do segmento;

    b) Descrever e analisar os condicionamentos sociais que interferem na realizao do fenmeno em anlise: gnero, faixa etria, escolaridade, graus de formalidade.

    c) Interpretar, a partir dos resultados obtidos, se o fenmeno encontra-se em variao estvel.

  • 3. PROBLEMATIZAO: Esta proposta de estudo converge para os seguintes problemas:

    a) Como se d a realizao das fricativas /v s z / no portugus popular falado em Fortaleza?

    b) Qual(is) o(s) fator(es) que favorece(m) a realizao plena, a aspirao (reificao) e o apagamento desses fonemas?

    c) A realizao varivel das fricativas /v s z / no portugus falado em Fortaleza um fenmeno que reflete variao estvel?

    e) Qual o papel do fator escolaridade sobre a realizao varivel dessas fricativas? f) Qual a influncia da faixa etria para o apagamento, para a reificao e para a realizao

    plena das fricativas? g) Qual o papel da varivel sexo (gnero) para o fenmeno em anlise? h) Que influncia o grau de formalidade exerce sobre a realizao varivel desses fonemas? i) Qual o papel exercido pelo fator frequncia de uso do vocbulo na ocorrncia desse

    fenmeno? j) Qual a influncia dos contextos fonolgicos (precedente e seguinte) para a realizao

    varivel dessas fricativas? k) Qual o papel exercido pela varivel status morfolgico do segmento para a ocorrncia

    desse fenmeno? l) Qual a relevncia da posio/tonicidade do segmento para a realizao de cada variante? m) Qual a influncia da dimenso do vocbulo para a realizao do fenmeno? n) Qual o papel da varivel classes de palavras para a ocorrncia dessas variantes?

  • 4. JUSTIFICATIVA E REFERENCIAIS TERICOS: Encontramos no portugus do Brasil uma enorme diversidade de falares. Esse fato sempre instigou muitos pesquisadores a estudar fenmenos lingusticos que dele decorrem, principalmente os de natureza variacionista, colaborando para a descrio do portugus atual. O conhecimento de nossos falares e sua valorizao so de grande importncia para o estudo e ensino da lngua portuguesa na nossa regio e em todo o Pas. Alm disso, papel do linguista o registro e a sistematizao das inovaes/mudanas lingusticas para que se faa um provvel percurso da histria das lnguas que, normalmente, revela tambm a histria do seu povo.

    A presente pesquisa prope-se a descrever e analisar linguisticamente a realizao varivel das fricativas /v s z / no portugus oral popular de Fortaleza. Por isso, resolvemos adotar o modelo terico-metodolgico da sociolingustica quantitativa, procurando sistematizar os dados lingusticos, descrevendo a estrutura e a mudana da lngua dentro de um contexto social e estabelecendo relaes entre os fatores lingusticos e extralingusticos.

  • Por estarmos descrevendo a lngua em uso, este trabalho pode contribuir para o ensino de lngua materna e estrangeira. Por isso, convm lembrarmos o conceito de competncia comunicativa, desenvolvido por Hymes, essencial para a construo de metodologias para o ensino de lnguas:

    Dentro da matriz social na qual adquire um sistema gramatical, uma criana adquire tambm um sistema de seu uso com relao a pessoas, lugares, objetivos, outros modos de comunicao, etc. todos os componentes de eventos comunicativos, juntamente com atitudes e crenas em relao a eles. (HYMES, 1974, p. 75)

    esse sistema de uso que constitui a competncia comunicativa. Portanto, um programa de ensino de lnguas preocupado com as diferenas socioculturais, dentre elas a variao lingustica, deve trabalhar com essa questo da diversidade (lingustica).

  • A partir deste tipo de trabalho, professores e alunos podem conhecer melhor a diversidade lingustica brasileira e saber como lidar nas inmeras situaes de heterogeneidade lingustica com as quais se deparam. Por exemplo: o professor passa a dar mais importncia ao contexto social em que o aluno est inserido, passando a respeitar a variedade que ele aprendera com a sua famlia, sem deixar de ensin-lo a escolher o registro adequado a cada situao na qual se processa a comunicao. Essa a tarefa fundamental da pedagogia da lngua materna (CAMACHO, 2001, p. 69).

    A escola, ao propiciar aos alunos o acesso a todos os bens simblicos sendo a variedade padro um deles , cumpre um papel poltico muito importante. Alm disso, essa atitude uma oportunidade de promover a discusso acerca do eixo USO REFLEXOUSO recomendado pelos PCNs (BRASIL, 1998,a,b,c).

    Os professores podem estimular a discusso, perguntando, por exemplo: Como o uso dessa variante nesta cidade e em outros locais? Quais so as regras do uso? Por que em alguns ambientes ela existe e em outros no? Em quais contextos devemos monitorar o seu uso a fim de no sofremos preconceito?

  • O aspecto fontico um dos que mais rapidamente revelam as variaes lingusticas, tanto as diatpicas quanto as diastrticas. Isso pode ser exemplificado at mesmo na Bblia:

    O conhecimento das variaes regionais to antigo que est registrado no Velho Testamento, quando os gileaditas estavam em luta com os eframitas, no Rio Jordo. Alguns eframitas foram infiltrados no campo do inimigo, e os lderes, ao desconfiar desses suspeitos, pediram que eles pronunciassem uma palavra que os eframitas pronunciavam shibloleth e os invasores pronunciaram sibloleth e foram por isso descobertos e mortos. (ARAGO, 2011)

    Alm disso, justifica-se tambm pelo fato de a aspirao e o apagamento das fricativas /v s z / serem alguns dos fatos lingusticos estigmatizados no falar fortalezense, apesar da sua notvel ocorrncia, o que pode ser comprovado por outros autores que j falaram sobre esse fenmeno, como: Aguiar (1937), Seraine (1984), Bueno (1944), Silva Neto (1979), Macambira (1987), Roncarati (1988), Alencar (2007), Arago (2009). Em outros locais do Pas, o fenmeno j foi registrado tambm por Canovas (1991) e Marques (2001).

  • Esta pesquisa prope-se a fazer uma discusso mais aprofundada e pioneira sobre o assunto, pretendendo examinar melhor o que alguns desses autores que tambm j o mencionaram sugeriram: investigar de forma mais detida o efeito dos fatores relevncia informacional, economia lingusitica e enfraquecimento na variao das fricativas, pois supe-se que haja uma tendncia maior ao enfraquecimento em conversas espontneas. (RONCARATI, op. cit., p. 6 e ALENCAR, op. cit., p. 138).

  • 5. METODOLOGIA

    O NORPORFOR um projeto cujos inquritos foram coletados entre 2003 e 2006, sob a coordenao da prof Dr Aluiza Arajo, e cujo objetivo armazenar e disponibilizar material lingustico representativo do falar popular dos fortalezenses. Trata-se do banco de dados de fala popular fortalezense mais atual que temos. Os informantes desta pesquisa foram distribudos no quadro a seguir:

  • A partir desses inquritos, ser feito o armazenamento dos dados e das ocorrncias encontradas neles. Em seguida, partiremos para a definio operacional das variveis, em dependentes e independentes. Cada varivel ser analisada da seguinte forma:

    1) Varivel dependente: a realizao varivel das fricativas /v s z / :

    a) Manuteno. Ex.: eu ia [v]olt n? ; Ave Maria ela pa[s]ou... ; eu s di[z]eno

    a ela... ; ...fic de co[ ]ta pra gente ; ...tinha dado um [ ]ant

    b) Reificao. Ex.: amiga [ ]ai come o Fortal ; l tem nego[ ]o de ma ; amiga l em ca[ ]a... ; pelo meno ma[h]tiga ; ela [ ] termin...

    c) Apagamento. Ex.: eh:: po mai[ ] fcil ; e me[ ]mo...

  • 2) Variveis independentes: 2.1) Lingusticas: 2.1.1) Contextos fonolgicos: precedente e seguinte: a) Em ataque silbico. Ex.: [ ]ai ; nego[ ]o ; ca[ ]a ; [ ].

    b) Em coda silbica. Ex.: ...poi[ ] eu ; vei[ ] que ; ma[ ]tiga.

    2.1.2) Frequncia de uso do segmento: Ex.: mas ma[] ma[ ]; mesmo me[]mo me[ ]mo.

    2.1.3) Status morfolgico do segmento: a) Morfema lexical. Ex.: ta[ ]a desistindo b) Morfema no lexical. Ex.: eu pensa[ ]a.

    2.2) Extralingusticas: sexo (gnero), faixa etria, escolaridade e grau de formalidade.

  • Com a amostra j pronta, o passo seguinte a transcrio e armazenamento dos dados.

    Em seguida, partiremos para a codificao destes.

    Atravs da observao dos dados colhidos, sero levantados os grupos de fatores lingusticos, juntamente com os sociais, cada um ser codificado com smbolos diferentes.

    Posteriormente, os dados sero submetidos aos programas apropriados da srie VARBRUL, os quais trabalham com o modelo logstico descritivo.

    Por ltimo, ser feita a interpretao dos resultados com base na teoria da variao e mudana lingustica.

  • 6. HIPTESES: Com base na literatura e na audio de alguns inquritos, formulamos as

    seguintes hipteses: a) As fricativas /v s z / apresentam trs formas de realizao no falar

    fortalezense. So elas: aspirao, apagamento e manuteno. b) Os fatores que mais privilegiam a aspirao, o apagamento e a manuteno

    dessas fricativas so: extralingusticos escolaridade, faixa etria, grau de formalidade e lingusticos contextos fonolgicos antecedente e subsequente, frequncia de uso e status morfolgico do segmento.

    c) A realizao varivel das fricativas /v s z / no portugus popular falado em Fortaleza um fenmeno que reflete variao estvel;

    b) O fator escolaridade exerce influncia apenas no apagamento das fricativas, pois, quanto menor o grau de escolaridade, maior o apagamento de /s/ e /z/, em final de slaba;

    c) O fator faixa etria exerce influncia na realizao varivel do fenmeno, pois quanto maior a faixa etria, menor ser o apagamento. A aspirao e a manuteno dessas fricativas acontecem em todas as faixas etrias.

    d) A varivel sexo (gnero) no exerce influncia sobre o fenmeno; e) Quanto menor o grau de formalidade, maior ser a aspirao e o

    apagamento, em todos os contextos analisados, e quanto maior o grau de formalidade, maior ser a manuteno desses fonemas.

    f) Quanto maior a frequncia de uso do segmento, maior ser a sua ocorrncia na forma aspirada/apagada.

  • 7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS AGUIAR, Martins de. Fontica do portugus do Cear (1937) Revista do Instituto do Cear. Fortaleza: 51(51): 271-307. Disponvel em: < http://www.ceara.pro.br/Instituto-site/Rev-apresentacao/RevPorAno/1937/1937-FoneticadoPortuguesdoCeara.pdf ALENCAR, Maria S. M. de. Aspectos scio-dialetais da lngua falada em Fortaleza: as realizaes dos fonemas /r/ e //. Fortaleza, 2007. 184f. Tese (Doutorado em Lingustica) Centro de Humanidades, Universidade Federal do Cear. ARAGO, Maria do S. S. de; SOARES, Maria Elias. A linguagem falada em Fortaleza: dilogos entre informantes e documentadores - materiais para estudo. Fortaleza: UFC, 1996. ____________________________. A neutralizao dos fonemas /v,z,/ no falar de Fortaleza. In: RIBEIRO, Silvana; COSTA, Snia B.B.; CARDOSO, Suzana A. M. (Orgs.). (Org.). Dos sons s Palavras: Nas Trilhas da Lngua Portuguesa. Salvador - BA: EDUFBA, 2009, v. , p. 187-200. ARAJO, Aluiza A. de. A monotongao na norma culta de Fortaleza. Fortaleza, 2000. 110f. Dissertao (Mestrado em Lingustica) Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2000. ___________________. As vogais pretnicas no falar popular de Fortaleza: uma abordagem variacionista. Fortaleza, 2007. Tese (Doutorado em Lingustica) Centro de Humanidades, Universidade Federal do Cear. CAMACHO, Roberto G. Sociolingustica. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna C. (orgs.) Introduo lingustica: domnios e fronteiras. 2 ed. So Paulo: Cortez, p. 49-75, 2001. CAMPELO, Kilpatrick M. B. Um estudo fonoestilstico da cano A Rural, a Misso, de Neo Pineo. Cadernos do CNLF (CiFEFil), v. 12, p. 13, 2004. Disponvel em:

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