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Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 3 Q uando o secretÆrio da Receita Federal, Everardo Maciel, revelou à CPI dos Bancos que o País perde anualmente cerca de R$ 825 bilhıes por conta da sonegaçªo e da elisªo fiscais, seu depoimento causou estarrecimento geral na sociedade brasileira. Mas, passa- do o choque, a Naçªo nªo pode esmorecer na busca das causas e no combate a essa situaçªo que deixa ir pelo ralo praticamente um Produto Interno Bruto (PIB) por ano, hoje, ao redor de R$ 800 bilhıes. Seria uma omissªo im- perdoÆvel relegar ao esquecimento o vazamento para a economia subterrânea aquela a que se destina o dinheiro surrupiado pela sonegaçªo de uma soma tªo expressiva. Principalmente num país com tantas carŒncias sociais e que ainda agora debate alternativas de promoçªo para suas camadas populacionais secularmente miserÆ- veis. Sem dœvida que a apropriaçªo desses recursos pelos cofres pœblicos, se bem administrados, fiscalizados e direcionados, propiciaria um salto significativo na distri- buiçªo de renda e na melhoria de vida dos segmentos mais pobres da populaçªo, que englobariam cerca de 50 milhıes de pessoas. Mas sªo inequivocamente diversas as faces do proble- ma quando se analisa o que pode ser feito para um comba- te mais efetivo à sonegaçªo no País. E uma das principais e mais explícitas Ø o reforço à fiscalizaçªo do Estado, por meio de seus corpos de auditoria e de fiscais competen- tes, tanto da Receita Federal quanto das Contribuiçıes PrevidenciÆrias e os do Trabalho. Esses mesmos princípios sªo vÆlidos para os fiscos estaduais e municipais, que ade- mais deveriam trabalhar articuladamente com a esfera fe- deral. O próprio Everardo Maciel, em seu depoimento à CPI, reclamou do reduzido nœmero de fiscais para fazer fren- te ao fenômeno da sonegaçªo. O presidente da Anfip, An- tonio Rodrigues de Sousa Neto, em entrevista nesta edi- çªo, vai na mesma linha: só Ø possível combater a sone- gaçªo reforçando a fiscalizaçªo, estabelecendo metas, criando mecanismos para que a açªo fiscal seja mais efe- tiva. Sem esquecer de aumentar o contingente de fiscais, acrescenta, pois, hoje, hÆ necessidade de 7,5 mil FCPs, quando existem algo em torno de 3 mil. E nªo se trata de uma questªo que se resolva apenas quantitativamente. Sªo necessÆrias tambØm melhores con- diçıes de trabalho para o fiscal, como equipamentos de informÆtica eficientes, treinamento, uma legislaçªo atuali- zada etc. Estudioso dessa problemÆtica, o professor e con- sultor de empresas Stephen Kanitz vai mais alØm ao afir- mar (veja matØria nesta ediçªo) que o Brasil esqueceu seus auditores e fiscais, profissıes que deveriam estar no topo da política de recursos humanos governamental. O Brasil nªo Ø um país corrupto, Ø apenas um país pouco auditado, diz. Com esse bordªo, o especialista resume o contex- to em que se encontram os profissionais que devem estar na linha de frente das carreiras típicas de Estado, para barrar o avanço desse verdadeiro sorvedouro de recursos via ralo da sonegaçªo. AlØm da falta de maior estímulo aos profissionais da fiscalizaçªo, outra face motivadora da so- negaçªo Ø representada pela economia informal um pro- blema que tem crescido rapidamente, na mesma propor- çªo do avanço da retraçªo da economia brasileira. O de- semprego, hoje, o grande flagelo social no País, Ø a alavan- ca propulsora da informalidade, levando a que a popula- çªo se defenda como pode, partindo, inclusive, para a ile- galidade e o primeiro passo Ø nªo pagar qualquer tipo de imposto ou contribuiçªo. Portanto, urge a necessidade de mecanismos de estimu- lo às carreiras de fiscais, ao lado de uma política maior de retomada do crescimento econômico e, com ela, a geraçªo de postos de trabalho para as levas que perderam emprego nos œltimos tempos e para aqueles jovens que anualmente precisam ingressar no mercado de trabalho. A par dessas providŒncias, Ø necessÆrio tambØm que a reforma TributÆ- ria, em anÆlise no Congresso, seja capaz de fechar o vaza- mento de tributos representado por esse fenômeno novo, e em moda, denominado elisªo fiscal e que sirva ao relançamento de uma política de crescimento econômico, capaz nªo só de melhorar o perfil da arrecadaçªo, mas tam- bØm de gerar novos empregos e renda para a populaçªo. Editorial Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 3 Todas as faces da sonegaçªo Todas as faces da sonegaçªo Sªo diversas as faces do problema que pode ser combatido a partir do reforço na fiscalizaçªo do Estado, por meio de seus corpos de auditoria e de fiscais

Editorial - Fundação ANFIP De Estudos Tributários e ...€¦ · de imposto ou contribuiçªo. Portanto, urge a necessidade de mecanismos de estimu-lo às carreiras de fiscais,

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Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 3

Q uando o secretário da Receita Federal, EverardoMaciel, revelou à CPI dos Bancos que o País perdeanualmente cerca de R$ 825 bilhões por conta da

sonegação e da elisão fiscais, seu depoimento causouestarrecimento geral na sociedade brasileira. Mas, passa-do o choque, a Nação não pode esmorecer na busca dascausas e no combate a essa situação que deixa ir peloralo praticamente um Produto Interno Bruto (PIB) por ano,hoje, ao redor de R$ 800 bilhões. Seria uma omissão im-perdoável relegar ao esquecimento o vazamento para aeconomia subterrânea � aquela a que se destina o dinheirosurrupiado pela sonegação � de umasoma tão expressiva. Principalmentenum país com tantas carências sociaise que ainda agora debate alternativasde promoção para suas camadaspopulacionais secularmente miserá-veis. Sem dúvida que a apropriaçãodesses recursos pelos cofres públicos,se bem administrados, fiscalizados edirecionados, propiciaria um salto significativo na distri-buição de renda e na melhoria de vida dos segmentosmais pobres da população, que englobariam cerca de 50milhões de pessoas.

Mas são inequivocamente diversas as faces do proble-ma quando se analisa o que pode ser feito para um comba-te mais efetivo à sonegação no País. E uma das principais emais explícitas é o reforço à fiscalização do Estado, pormeio de seus corpos de auditoria e de fiscais competen-tes, tanto da Receita Federal quanto das ContribuiçõesPrevidenciárias e os do Trabalho. Esses mesmos princípiossão válidos para os fiscos estaduais e municipais, que ade-mais deveriam trabalhar articuladamente com a esfera fe-deral.

O próprio Everardo Maciel, em seu depoimento à CPI,reclamou do reduzido número de fiscais para fazer fren-te ao fenômeno da sonegação. O presidente da Anfip, An-tonio Rodrigues de Sousa Neto, em entrevista nesta edi-ção, vai na mesma linha: só é possível combater a sone-gação reforçando a fiscalização, estabelecendo metas,criando mecanismos para que a ação fiscal seja mais efe-tiva. Sem esquecer de aumentar o contingente de fiscais,

acrescenta, pois, hoje, há necessidade de 7,5 mil FCPs,quando existem algo em torno de 3 mil.

E não se trata de uma questão que se resolva apenasquantitativamente. São necessárias também melhores con-dições de trabalho para o fiscal, como equipamentos deinformática eficientes, treinamento, uma legislação atuali-zada etc. Estudioso dessa problemática, o professor e con-sultor de empresas Stephen Kanitz vai mais além ao afir-mar (veja matéria nesta edição) que o Brasil esqueceu seusauditores e fiscais, profissões que deveriam estar no topoda política de recursos humanos governamental. �O Brasil

não é um país corrupto, é apenas umpaís pouco auditado�, diz. Com essebordão, o especialista resume o contex-to em que se encontram os profissionaisque devem estar na linha de frente dascarreiras típicas de Estado, para barraro avanço desse verdadeiro sorvedourode recursos via ralo da sonegação.

Além da falta de maior estímulo aosprofissionais da fiscalização, outra face motivadora da so-negação é representada pela economia informal � um pro-blema que tem crescido rapidamente, na mesma propor-ção do avanço da retração da economia brasileira. O de-semprego, hoje, o grande flagelo social no País, é a alavan-ca propulsora da informalidade, levando a que a popula-ção se defenda como pode, partindo, inclusive, para a ile-galidade � e o primeiro passo é não pagar qualquer tipode imposto ou contribuição.

Portanto, urge a necessidade de mecanismos de estimu-lo às carreiras de fiscais, ao lado de uma política maior deretomada do crescimento econômico e, com ela, a geraçãode postos de trabalho para as levas que perderam empregonos últimos tempos e para aqueles jovens que anualmenteprecisam ingressar no mercado de trabalho. A par dessasprovidências, é necessário também que a reforma Tributá-ria, em análise no Congresso, seja capaz de fechar o vaza-mento de tributos representado por esse fenômeno novo, eem moda, denominado elisão fiscal e que sirva aorelançamento de uma política de crescimento econômico,capaz não só de melhorar o perfil da arrecadação, mas tam-bém de gerar novos empregos e renda para a população.

Editorial○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 3

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Todas as faces da sonegaçãoTodas as faces da sonegação

São diversas as faces doproblema que pode ser

combatido a partir do reforçona fiscalização do Estado, por

meio de seus corpos deauditoria e de fiscais

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4 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

u s t u s t

Sou estudantede comunicação evenho acompanhan-do os trabalhos de-senvolvidos pela Re-vista de SeguridadeSocial. Gostaria de cha-mar a atenção para aspropostas do deputadoEduardo Jorge (PT-SP),que vêm passando despercebidas peloCongresso Nacional justamente agora,quando se reforma a Previdência. O de-putado propôs reunir as três políticasde seguridade social (saúde, previdên-cia e assistência social) em um único Mi-nistério de Defesa Popular. O assunto,infelizmente, ficou restrito a uma repor-tagem desta revista.

Ana Luíza BarretoRio de Janeiro/RJ

Acusamos o recebimento na data daesplêndida revista da entidade, exem-plar nº 61, bem como do informativoLinha Direta. Preliminarmente, augura-mos sucesso à recém-empossada dire-toria de nossa Associação.

Amaury Moraes AlvesBrasília/DF

Car tas○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Saúdo o novo Conselho Exe-cutivo da Associação Nacionaldos Fiscais de ContribuiçõesPrevidenciárias (Anfip), dese-jando uma gestão de realiza-ções. Neste momento parti-cularmente difícil da históriado nosso povo, mais aumen-ta a responsabilidade dasociedade organizada para

a construção de um País mais justo,erigido em respeito aos direitos huma-nos e sociais. Congratulo os novos con-selheiros com os votos de sucesso e for-talecimento da luta e da solidariedade.

Deputado José DirceuBrasília/ DF

Em nome do senador Amir Lando(PMDB-RO), agradecemos a remessa daRevista de Seguridade Social, cujo con-teúdo nos auxilia na compreensão dasatividades do setor de fiscalização decontribuições previdenciárias. Ressalta-mos a qualidade gráfica e editorial dapublicação.

Montezuma CruzAssessor de Imprensa

Brasília/DF

ANFIPAssociação Nacional dos Fiscaisde Contribuições Previdenciárias

SBN, Ed. ANFIP, Quadra 1, Bloco H,Projeção 27 - CEP 70040-907

Brasília, DFFone: (0--61) 225-8113Fax: (0--61) 225-6083

Telex: 61-1452E-mail: [email protected]

Home page: http//www.anfip.org.br

CONSELHO EXECUTIVOAntônio Rodrigues de Sousa Neto

PRESIDENTE

Nildo Manoel de SouzaVICE-PRESIDENTE

Carlos Roberto BispoASSUNTOS FISCAIS

Maria Erbênia Ribas CamargoPOLÍTICA DE CLASSE

Marcelo OliveiraPOLÍTICA SALARIAL

José Avelino da Silva NetoSEGURIDADE SOCIAL

Maruchia MialikAPOSENTADOS E PENSIONISTAS

Rosana Escudero de AlmeidaCULTURA PROFISSIONAL

Roswílcio José Moreira GóisSERVIÇOS ASSISTENCIAIS

Margarida Lopes de AraújoASSUNTOS JURÍDICOS

Misma Rosa SuhettADMINISTRAÇÃO

Maria Salete PazPATRIMÔNIO E CADASTRO

Durval Azevedo SousaFINANÇAS

Luiz Mendes BezerraPLANEJAMENTO E CONTROLE ORÇAMENTÁRIO

Floriano Martins de Sá NetoCOMUNICAÇÃO SOCIAL

Maria Aparecida F. Paes LemeRELAÇÕES PÚBLICAS

Rodolfo Fonseca dos SantosASSUNTOS PARLAMENTARES

Aurora Maria Miranda BorgesINTERASSOCIATIVA

CONSELHO FISCALLuiz Gonzaga de Souza - (SC)

Maria Oneyde Santos - (PA)Ronald Ferreira de Aguiar - (DF)

CONSELHO DE REPRESENTANTESSérgio Luís Braga Pinto – AC

Francisco de Carvalho Melo – ALEmir Cavalcanti Furtado – AP

Miguel Arcanjo Simas Novo – AMLuiz Antônio Gitirana – BA

Gilson Ferreira de Mattos – DFFrancisco de Assis Bastos Castro – CE

Nicéa Bof de Andrade – ESDalva Pimenta de Souza e Silva – GO

Raymundo Luiz de Barros – MAFernando Marques Fontes – MTCarlos Graciano da Silva – MS

Marcos Borbonaglia da Silva – MGÊnnio Magalhães S. Câmara – PA

Dijanete de Souza Lima – PBClea Maria da Silveira Caldas – PEJoão Soares da Silva Sobrinho – PI

Reinoldo Bento dos Santos - PRLizanias Tavares – RJ

Jonilson Carvalho de Oliveira – RNVilson Antonio Romero – RS

Merian Corrêa Brasiliense – ROEzio Luiz Isoppo – RR

Pedro Dittrich Júnior – SCAssunta Di Dea Bergamasco – SP

Jorge Lourenço Barros – SEValter Rodrigues de Oliveira – TO

Publicação da Associação Nacionaldos Fiscais de Contribuições

Previdenciárias.

CONSELHO EDITORIALFloriano Martins de Sá Neto

Carlos Roberto BispoMaria Erbênia Ribas Camargo

José Avelino da Silva Neto

Permitida a reprodução total ou parcial dos textos. Pede-se citar a fonte. As matérias e artigos publi-cados não refletem, necessariamente, a opinião do Conselho Executivo da Anfip.

DIRETOR RESPONSÁVEL:Floriano Martins de Sá Neto

Esta edição: 16.000 exemplares Distribuição gratuita.

EDITOR:Bartolomeu Rodrigues

REVISÃO:Nadja Lidia da Rocha

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA:Licurgo S. Botelho

FOTOGRAFIA: Projeto Luz

IMPRESSÃO: Gráfica Brasil

SAPIENS SAPIENS SAPIENS SAPIENS SAPIENS COMUNICAÇÃO

Fone: (0--61) 327-1319 Fax: (0--61) 328-3532

E-mail: [email protected]

u s t u s t

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Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 5

Ao LeitorAntes de se comprar como verdades incontestáveis todas as afirmações

correntes sobre as maravilhas da previdência privada, verdadeira panacéia paradéficits públicos, convém refletir sobre as falhas de sistemas adotados em outrospaíses da América Latina.

Mesmo o regime chileno, paradigma para outras nações, passa pordificuldades: há milhares de trabalhadores sem cobertura. Na Argentina, o sistemaprivado corre o risco de ficar com o déficit do qual se livrou o setor público. Valelembrar o que diz o intelectual norte-americano Noam Chomsky. Ele sustenta quehá muita fraude na discussão sobre previdência privada. O verdadeiro objetivo daprivatização é acabar com a solidariedade e fazer com que cada um cuide de seuativo, ou seja, vale aquela máxima segundo a qual �se o vizinho passa fome navelhice, o problema não é meu�. Precisa ser assim? Por essas e outras, nesta edição,procuramos mostrar os dois lados da moeda: o que é mesmo previdênciacomplementar, atualmente em discussão no Congresso, e os rumos que tudo issopode tomar se, no final das contas, o objetivo for destruir a previdência pública. Oponto de partida foi recolher informações dos nossos vizinhos latino-americanos.

Não poderíamos, também, deixar de comentar a nossa reportagem decapa, que trata de um velho assunto conhecido dos fiscais: a sonegação. Pode parecerexagero, mas o equivalente a um Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é sonegadode impostos a cada ano. Nada menos do que R$ 826 bilhões. Em recente estudo, oInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) conclui que com 5% desse dinheiroas desigualdades e a pobreza no Brasil poderiam ser erradicadas.

A Anfip, por intermédio de seminários e ciclos de estudos, vem chamandoa atenção da sociedade para esse grave problema � gravíssimo, em se tratando deum país tão carente de investimentos sociais como o nosso. Várias palestras forampublicadas e estão à disposição dos interessados. Nesta edição, porém, procuramosaprofundar um pouco mais o tema visando não apenas identificar a origem doproblema, mas entender as razões por que, entra governo e sai governo, ele persistecom tanta tenacidade.

Boa leitura!

Sumário○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ÍNDICE Quando aquantidade importaQuando o FMI apresentou seurelatório sobre a Previdência noBrasil, registrou, alarmado, umadívida em cobrança judicial peloINSS de R$ 54 bilhões. O que oFundo não viu, porém, foi queessa dívida cresceu graças a um trabalhoarticulado da fiscalização. Agora, o 22

Entrevista: as idéias donovo presidente daAnfip

6

Os resultados daConvenção dos FCPs

10

Geap prometemodernizar plano desaúde

12

O que aconteceu com aeconomia, de 1975 atéhoje

14

Panorama: a Previdênciaestá preparada para o�bug�?

17

Matéria de capa: Otamanho da sonegação

18

Congresso retomadiscussão daaposentadoriacomplementar

24

Cristovam Buarque:as dívidas que o Brasilprecisa pagar

34

Procurador-Geral do INSS,José Weber Holanda(foto), defendemecanismos que tornemmais agéis a cobrançadesses débitos e anecessidade de secontratar mais fiscaise procuradores. �Com

mais pessoal, nossa arrecadaçãopode dobrar�, diz ele.

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Entrevis taEntrevis taEntrevis taEntrevis taEntrevis ta○ ○ ○ ○ ○

autor da proposta é o novo presi-dente da Associação Nacional dosFiscais de Contribuições Previden-ciárias (Anfip), Antonio Rodrigues

de Sousa Neto. Eleito em maio, ele de-fende uma agenda positiva para que oserviço público seja reconhecido pelasociedade e os servidores dêem uma efe-tiva contribuição na formulação de pro-postas visando combater as injustiçassociais no País. A partir dessa agenda,ele acredita ser possível consolidar opapel da Previdência como o mais am-plo e, mais do que isso, necessário e in-dispensável programa social brasileiro,distribuindo renda e promovendo cida-dania Brasil afora.

Piauiense de Teresina, 43 anos, casa-do com a economista Rosário e pai de doisadolescentes � Marina, de 16 anos, eMoisés, de 15 �, Antonio Sousa Neto ain-da estranha o frio seco desta época do anoem Brasília, mas começa o expedientecedo, preocupado em estabelecer estraté-gias com os Estados e acompanhar pes-soalmente, no Congresso, a apresentaçãode emendas que preservem os pensionis-tas e aposentados. Nos últimos dias, temdedicado boa parte do tempo nas articu-lações em torno da Medida Provisória quecria a carreira de Auditor Fiscal da Previ-dência. É uma preocupação corporativa,ele reconhece, mas a Anfip está empenha-da em alargar seus horizontes na defesade um sistema de proteção social que sebaseie no princípio da solidariedade.

�No futuro, a entidade de classe quenão tiver um projeto estratégico de mé-dio e longo prazos vai perder espaço nasociedade e se transformar em algo me-ramente corporativo�, diz Neto, preo-cupado com o imobilismo e a falta deperspectiva dos servidores públicos dian-te do ataque promovido pelo Governo.Para ele, as reações esboçadas pelos ser-vidores até o momento foram tímidas esó encorajaram o Governo a levar adian-te a reforma. Agora, Neto está empenha-

Antonio Rodrigues de Sousa Neto

Uma agenda positivapara o servidor público

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Uma agenda positivapara o servidor público6 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

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do em tocar adiante o projeto de criaçãode uma escola de formação de lideran-ças para estimular sua categoria a mos-trar a importância do servidor público econseguir o apoio da sociedade. �Não po-demos ficar só brigando por salários, semdefender a melhoria da prestação do ser-viço público�, defende. Ele está à vonta-de para tocar o projeto. Formado em Le-tras, foi como professor que iniciou suasatividades associativas, participando dosmovimentos pastorais da Igreja nos anos80. Neto é Fiscal de ContribuiçõesPrevidenciárias desde 1987 e concedeu aseguinte entrevista ao jornalistaBartolomeu Rodrigues.

Revista de Seguridade Social � O senhorassumiu a nova diretoria da Anfip em meioa um clima de mudanças, tanto no que serefere à regulamentação da Reforma da Pre-vidência, à estrutura do INSS, como à car-reira do Fiscal de Contribuições Previden-ciárias. Que diretrizes a entidade estabele-ceu para esse período de turbulências?

Antonio Rodrigues de Sousa Neto �Essas diretrizes foram estabelecidas naConvenção Nacional realizada em maio.Podemos destacar, inicialmente, a lutapara a criação da carreira de Auditor Fis-cal de Contribuições Previdenciárias, in-cluída na Medida Provisória nº 1.915, queé uma conquista de toda a classe. Deve-mos chamar a atenção para alguns aspec-tos positivos da medida: conseguimos,pela primeira vez, estabelecer as atribui-ções do cargo de Auditor Fiscal e criarcondições para que possamos desenvol-ver nossas funções com o devido respal-do legal. Temos, também, a possibilida-de concreta de estabelecer um mecanis-mo de ascensão no que se refere aos ven-cimentos a partir de uma carreira com iní-cio, meio e fim. Mas é óbvio que isso, porsi só, não basta. Temos outras prioridades,como, por exemplo, a luta pela garantiada paridade do servidor ativo com o inati-vo, infelizmente não contemplada pela MP.Se o Governo quebrar a paridade estare-

mos abrindo um grande flanco e perden-do um direito conquistado tanto durantea Constituinte quanto durante a reformada Previdência. Essa é uma questão gravedo nosso ponto de vista.

É nossa obrigação, também, prosse-guir com a luta, deflagrada pela gestãoanterior, visando à inclusão dos Fiscais deContribuições Previdenciárias nas carrei-ras típicas de Estado para que, com isso,possamos garantir, no exercício de fun-ção, as prerrogativas e as garantias ine-rentes ao servidor de Estado. O que seobjetiva com isso? Evitar perseguiçõespolíticas e a instabilidade no desempenhoda atividade.

Outro ponto importante diz respeitoà Previdência Complementar. Queremosque a Anfip participe da discussão, poisentendemos que a Previdência Comple-mentar, nos moldes como foi concebidapela Emenda nº 20, representará um novocampo de trabalho para o Auditor Fiscalda Previdência. A Anfip tem propostas tan-to para os projetos relacionados com asentidades fechadas � os fundos de pen-são � quanto para os relacionados aos re-gimes próprios de Previdência. Nossa idéiaé proporcionar um caráter público, detransparência, pois com o Estado pre-sente deverá haver um controle social maisefetivo. Não podemos aceitar que esse as-sunto seja levado para outro órgão que nãoseja o Ministério da Previdência. Só assimimpediremos que, no futuro, todos essesinstitutos sejam instrumento do capital pri-vado, ao invés de servirem de instrumen-to de proteção social.

Finalmente, consideramos inadiável atransformação do Centro de Estudos daAnfip em uma Fundação que, além de con-tinuar o trabalho de publicações de estu-dos, possa ampliar o processo de organi-zar congressos, seminários e eventos � to-dos voltados para a Seguridade Social.Nosso objetivo é que a Anfip se torne, cadavez mais, uma referência nacional nos es-tudos dos problemas relacionados com aSeguridade. E, paralelo a isso, estamospreocupados com a formação de lideran-ças no setor público. A Anfip sempre pau-tou a sua atuação pela renovação. Inter-namente, por exemplo, ela não permite areeleição da presidência. Precisamos, por-tanto, criar uma espécie de escola de for-mação de lideranças para engajar os cole-gas egressos dos concursos de 1997 e1998, bem como os que estão aí há maistempo à espera de estímulo. No futuro, aentidade de classe que não tiver um pro-jeto estratégico de médio e longo prazosvai perder espaço na sociedade e se trans-formar em algo meramente corporativo.

Revista de Seguridade Social � O Gover-no conseguiu acuar o servidor público?

Antonio Sousa Neto � O fato é que oservidor público está numa encruzilhadae os cenários não são nada alvissareiros.Com a reforma administrativa, o Governoestabeleceu seu projeto de forma muitoclara: levantou a bandeira do fim doclientelismo, do patrimonialismo, da bu-rocracia e apresentou como alternativapara esses males o modelo gerencial. Sóque esse modelo, implementado a passoslargos, não permitiu a participação dasentidades de classe e de outras entidadesrepresentativas nas discussões, ou seja:não valorizou o principal ator desse pro-cesso, que é o servidor. Enquanto as em-presas privadas investem cada vez mais emseus quadros, o Governo fez o caminhoinverso. A resposta dos servidores me pa-receu muito tímida e com alguns equívo-cos. Por exemplo, de nada adianta ser con-tra e dizer não apenas por dizer. Não

Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 7

“ Nosso objetivo é que aAnfip se torne, cada vez

mais, uma referêncianacional nos estudos e

diagnósticos dos problemasrelacionados com aSeguridade Social”

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8 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-998

adianta fazer mobilizações sem nenhumaalternativa a apresentar. São manifestaçõesdescoladas da sociedade e o Governo tiraproveito da situação apresentando o ser-vidor público como bode expiatório detoda crise social. Estamos sem clareza po-lítica para responder a essa provocação,por isso penso que as entidades de classedevem se articular para mostrar a impor-tância do servidor público e conseguir oapoio da sociedade. Não podemos ficar sóbrigando por salários, sem defender amelhoria da prestação do serviço público.

Seguridade Social � Os aposentados epensionistas também são um alvo fácil quan-do está em discussão o propalado déficit daPrevidência. Afinal de contas, o estouro dascontas é verdadeiro e vai quebrar a Previ-dência a curto prazo?

Antonio Sousa Neto � É uma mistifi-cação, uma falácia. Primeiro porque oservidor sempre contribuiu para a suaaposentadoria. Com um detalhe: sobre ototal da sua remuneração. Enquanto otrabalhador do setor privado tem um li-mite para contribuir, o servidor públicoé obrigado a contribuir sobre o valor to-tal do que ganha. Portanto, não se podetentar confundir a aposentadoria de ser-vidor como se fosse um prêmio. Ele pa-gou por isso. O Governo diz que gastaalgo em torno de R$ 30 bilhões por anopara cobrir o déficit da Previdência, prin-cipalmente no setor público. Esse dadoé manco. O Governo mostra um lado daconta, mas esconde o outro. Quando, apartir de 1990, foi criado o Regime Jurí-dico Único, transformando o servidorceletista (regime subordinado à Consoli-dação das Leis do Trabalho � CLT) emestatutário, o governo deixou de pagar aparte patronal do Fundo de Garantia doTempo de Serviço (FGTS) e da PrevidênciaSocial, embora o servidor passasse a des-contar para a Previdência. As empresas re-passam a sua cota-parte, mas o Governo,não. Além disso, não criou um plano deSeguridade Social para os servidores. É

preciso analisar a questão do déficit olhan-do para esse aspecto. O Governo alega quegasta R$ 30 bilhões, mas esquece que de-sembolsa R$ 100 bilhões por ano só comos juros da dívida. É preciso lembrar tam-bém que dinheiro repassado para o servi-dor público é aplicado aqui mesmo. É dis-tribuição de renda, gera empregos. Achouma tremenda injustiça jogar toda a res-ponsabilidade pela exclusão social, pelodéficit, em cima do servidor público.

Seguridade Social � A arrecadaçãoprevidenciária poderia aumentar?

Antonio Sousa Neto � Sem dúvida.Basta proporcionar melhores condições detrabalho para o fiscal. Leiam-se notebooks,legislação atualizada, treinamento, umbom planejamento fiscal, convênios etc,

sem falar em um mecanismo de troca deinformações com os fiscos federal, esta-dual e municipal. Outro aspecto importan-te dessa questão está na forma como deveser atacado o problema da informalidadena economia. Não é possível se pensar emaumento de tributos sem antes resolveresse problema. E ele só se resolve à me-dida que houver uma efetiva promoçãode geração de empregos.

Seguridade Social � Na opinião de mui-tos economistas, a burocracia oficial acabase constituindo no principal entrave àformalização...

Antonio Sousa Neto � Na verdade,seria necessário, de um lado, aproveitara Reforma Tributária para eliminar os en-traves burocráticos e, de outro, adotaruma política de ampla geração de empre-go e renda. Uma política econômica vol-

tada para a pequena e mé-dia empresas. Eu me refi-ro a algo em torno de 18milhões de pessoas ousegmentos que poderiampagar a Previdência. Essaspessoas ficam à margem,mas quando chegam aofinal da vida acabam re-correndo à Previdência.Infelizmente, não vejo ne-nhuma política de atra-ção. Pelo contrário. A con-tribuição que se estabele-ceu para o autônomo, porexemplo, em torno de 20%do salário-mínimo, é alta.Muitos não podem pagar.O gráfico da Previdênciaespelha a nossa realidade: se a economiavai bem, a Previdência vai bem; se vai mal,a Previdência também vai mal.

Seguridade Social � Esse é um lado daquestão. E aqueles que podem pagar massonegam?

Antonio Sousa Neto � Isso é possí-vel combater reforçando a fiscalização,estabelecendo metas, criando mecanis-mos para que a ação fiscal seja mais efe-tiva. Sem esquecer de aumentar o con-tingente de fiscais, que hoje é pequeno.Precisaríamos de, no mínimo, 7.500 fis-cais. Hoje, temos algo inferior a quatromil. Mesmo assim, em 1998, arrecadamosalgo em torno de R$ 11 bilhões prove-nientes da ação fiscal.

Seguridade Social � O governo diz queestá aperfeiçoando a fiscalização e quemudou o sistema de cobrança para tornarmais ágil a ação do fiscal...

Antonio Sousa Neto � Na realidade,isso nos trouxe alguns problemas. O fis-cal continua perdendo um tempo exces-sivo na parte burocrática. Ele tem quecobrir todas as deficiências do sistema,faz as vezes de digitador, de secretária eainda trabalha com ferramentas antiqua-das. Na linguagem da informática, os sis-

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“ O gráfico da PrevidênciaSocial espelha a nossa

realidade: se a economiavai bem, a Previdência vai

bem; se vai mal, aPrevidência também

vai mal”

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Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 99

temas de operação não são nada amigá-veis. Este ano nós passamos três mesessem fazer nenhum tipo de lançamentopor conta disso.

Seguridade Social � Quanto à nova es-trutura do INSS, também anunciada peloGoverno, ela correspondeu à expectativa daAnfip?

Antonio Sousa Neto � Ainda não ti-vemos tempo para uma avaliação maisprofunda. O nosso questionamento serefere à não-participação dos servidoresnesse projeto. Ele foi concebido de cimapara baixo, por um grupo de técnicos quenão tiveram a sensibilidade de ouvir seuscolegas. Em alguns municípios, foramcriadas gerências que os próprios servi-dores locais estranharam. Além disso,exonerou milhares de funções de confi-ança de servidores de nível médio, pro-vocando insegurança e inquietação. Bemou mal, o INSS vinha funcionando e nos-so temor é que essa nova estrutura pro-voque uma paralisia.

Seguridade Social � Segundo o Gover-no, isso foi feito para acabar com oclientelismo...

Antonio Sousa Neto � Quanto a isso,acho positivo. As gerências executivas,

por exemplo, serão agora exercidas porservidores de carreira. O que defendemosé um INSS de qualidade, sem filas, com oservidor valorizado e interagindo com asautoridades administrativas na busca daeficiência para a prestação dos serviços.

Seguridade Social � Já que a pobrezaentrou na pauta nacional e o senhor se refe-riu há pouco à distribuição de renda, a Pre-vidência Social, de uma certa forma, nãovem cumprindo esse papel no Brasil?

Antonio Sousa Neto � Há mais de 75anos, a Previdência pública vem promo-vendo o combate à pobreza. É estranhoque a imprensa até hoje não tenha dadodestaque para isso. Recentemente, aAnfip publicou um trabalho do colegaÁlvaro Sólon de França que demonstra,com muita clareza, como isso se dá. APrevidência tem um componente não

apenas de distribuição de renda, comotambém de geração de cidadania que su-pera qualquer programa de renda míni-ma. São 18 milhões de pessoas que rece-bem, em dia, os recursos sociais geradospela Previdência. Antes, imaginava-se queisso acontecia apenas nos Estados nor-destinos, mas o trabalho demonstrou quenão. A cidade de Feliz, no Rio Grande doSul, classificada pelas Nações Unidas como melhor índice de qualidade de vida,possui um Fundo de Participação dosMunicípios (FPM) inferior ao volume querecebe com pagamentos dos benefíciosprevidenciários. Muitas famílias sãomantidas graças aos R$ 136,00 que rece-bem por mês. Por isso, a Anfip vem lu-tando, há anos, pela manutenção e pelamelhoria do sistema de proteção social,que é a Previdência pública. Se esses be-nefícios fossem ampliados, substituiriamqualquer projeto de combate à pobreza,embora não queira, com isso, excluir ou-tros projetos.

Seguridade Social � Até agora não setem notícia de algum político lançandoessa discussão para valer dentro do Con-gresso, embora tenha surgido alguém de-fendendo um imposto para acabar com apobreza...

Antonio Sousa Neto � Talvez porquea Previdência sempre foi vista como ins-trumento de clientelismo, nunca comesse enfoque. Só recentemente, a partirde alguns estudos, é que as pessoas co-meçaram a ver esse lado social. É precisodivulgar mais a Previdência. Nas univer-sidades, por exemplo, a disciplina Direi-to Previdenciário não é obrigatória. Pou-cas teses de mestrado acontecem nessaárea. A própria reforma da Previdência,da maneira como foi encaminhada, nãoteve participação, foi marcada por essepreconceito, pelo estigma de ser defici-tária, que é um engodo. O que queremosé estabelecer uma agenda positiva para aPrevidência. Só assim o Brasil descobriráa sua face social.

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“ Há mais de 75 anos, aPrevidência pública vem

promovendo o combate àpobreza no Brasil. Ela

supera qualquer programade renda mínima

existente”

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10 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

Convenção

XVII Convenção Nacional daAnfip, realizada de 16 a 19 demaio último, em Brasília, pro-duziu resultados que vão

muito além da simples discussão de te-mas palpitantes, como reforma fiscal etributária, globalização e reforma da Pre-vidência. Poucas horas depois de eleito onovo Conselho Executivo da Anfip (vejaquadro), a categoria dos fiscais de contri-buições previdenciárias já se mobilizavapara destrinchar o projeto da nova es-trutura do INSS, o que resultou na cria-ção do Coprev, após reunião na própriasede da Anfip. Estava claro que o objeti-vo da Convenção é produzir resultadosconcretos, e um deles será a vigilânciaconstante da implantação da nova estru-tura pelo autodenominado Comitê Na-cional das Entidades em Defesa da Pre-vidência Social, integrado ainda pelaAnprev, Anasps e Fenafisp.

Quem conhece os fiscais da Previdên-cia não se surpreendeu com os desdo-bramentos da Convenção, pois sabe queeles não brincam em serviço. O presiden-te eleito da entidade, Antonio Rodriguesde Sousa Neto, deu o tom da disposiçãodo novo Conselho, ao enfatizar em seudiscurso de posse que a Anfip, �com aluminosidade que representa, continua-rá cada vez mais unida e organizada, como intuito de defender a Seguridade So-cial, de defender um sistema de prote-ção social que se baseia no princípio dasolidariedade�. E advertiu, logo em segui-da: �A entidade com certeza, não vai seromissa, como nunca foi�.

Durante a convenção ficou claro tam-bém que já está passando a hora de dar

um basta a situações que extrapolam to-dos os limites da paciência. Foram apro-vadas moções de repúdio ao arrocho sa-larial dos servidores públicos federais eà política econômica brasileira. �Os ser-vidores � diz uma dessas moções � jáperderam neste governo a data-base, aisonomia, a licença-prêmio, o direito aoabono de férias, à aposentadoria portempo de serviço. A XVII Convenção Na-cional deve repudiar a crueldade quevem sendo perpetrada há mais de qua-tro anos contra os abnegados servido-res públicos, que este governo quermatar à míngua�.

de Abreu Machado Dersi, deixou claroque a opção pela política econômicarecessiva é que leva a Previdência a en-frentar tantas dificuldades. Ela não hesi-tou em receitar �desenvolvimento� parase obter o saneamento das contas, lem-brando que a própria Constituição brasi-leira prescreve o mesmo remédio, masnão é seguida pelos governantes.

Até mesmo o líder do Governo noCongresso, deputado Luiz Carlos Hauly,manifestou sua adesão à tese dos quedefendem a previdência pública até pelomenos 10 salários-mínimos, algo que �sóuma revolução capitalista selvagem� podederrubar, segundo as próprias palavras dodeputado governista. A economista daUniversidade Estadual do Rio de Janeiro,Sulamis Dain, por sua vez, manifestoupreocupação com os rumos da reformafiscal e tributária e com a dimensão queas contribuições sociais ganharam após1988. �O Brasil é muito moderno �ironizou � porque desde 1988 nós temosum orçamento virtual, que é o orçamen-to da Seguridade Social, frustrado,contingenciado�.

O então presidente da Anfip, SeverinoCavalcante de Souza, marcou sua despe-dida ao advertir que a Previdência Social

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Na Convenção realizada em maio, os fiscais arregaçaram asmangas e definiram o plano de ação para o novo Conselho da Anfip

Diagnósticosda crise

Teses defendidas pela Anfip acabaramse confirmando nas palavras dos

palestrantes que abrilhantaram a conven-ção com debates de alto nível. O psiquia-tra Eduardo Andrade Aquino mostrou quea solidariedade � um bem muito raro hojeem dia � é um dos elementos fundamen-tais para o Terceiro Milênio. A procura-dora do Estado de Minas Gerais, Mizabel

“ A XVII ConvençãoNacional repudia a

crueldade que vem sendoperpetrada há mais dequatro anos contra osabnegados servidores

públicos”

Muito trabalho à vistaMuito trabalho à vista

ANo Centro de Convenções, em Brasília, fiscais de...

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não deve ceder à pressão da tecnocraciamonetarista, �que levará à exclusão so-cial de milhões de miseráveis em todo oBrasil�. O papel da Previdência � frisou �é oferecer cidadania e proporcionar dis-tribuição de renda por meio da Segu-ridade Social, uma missão aparentemen-te negligenciada num país �que vive aangústia de reconstruir-se para que suapopulação tenha voz e vez�, na visão dodeputado Waldir Pires, que ressaltou apostura �vigilante, estudiosa e estimu-ladora do debate�, exercida pela Anfip aolongo de tantos anos de dificuldades,marcados por políticas que �determinama paralisia da economia brasileira�, coma redução do desenvolvimento nacionale a geração de �um clima de desempregocrescente e avassalador�.

O papel da imprensa num País de con-tradições e de tantas versões mal expli-cadas foi analisado pelo jornalista AloísioBiondi. Ele foi taxativo ao dizer que �aimprensa mente�. Mentiu, segundo ele,antes da reeleição de Fernando HenriqueCardoso e continua mentindo agora, parasimular que a situação econômica do Paísestá melhorando, quando o quadro eco-nômico aponta ainda para indicadores al-tamente negativos e preocupantes.

Outro jornalista � Carlos Chagas �que atuou como mediador, mas deu seurecado � fez um resumo das perdas dotrabalhador ao longo dos anos de sacrifí-cio que marcam os sucessivos governosde �arrocho�. Ele citou a deterioração dovalor do salário-mínimo, a dificuldade dese manter a jornada de oito horas pela ur-gência de trabalhar cada vez mais na ten-tativa de sobreviver e a circunstância quese impõe a grande parte dos trabalhado-res, obrigados a vender até suas própriasférias para enfrentar os baixos salários. Sãoconquistas que se anulam � observou �,em razão de uma ótica governista que nãovaloriza o ser humano e que tira do servi-dor público a estabilidade e tenta lhe sub-trair também a dignidade.

Antônio Rodrigues de Sousa Neto (PI) PresidenteNildo Manoel de Souza (SC) Vice-presidenteCarlos Roberto Bispo (MG) Assuntos FiscaisMaria Erbenia Ribas Camargo (RS) Política de ClasseMarcelo Oliveira (RO) Política SalarialJosé Avelino da Silva Neto (PB) Assuntos de Seguridade SocialMaruchia Mialik (PR) Aposentados e PensionistasRosana Escudero de Almeida (RJ) Cultura ProfissionalRoswílcio José Moreira Góis (BA) Serviços AssistenciaisMargarida Lopes de Araújo (SP) Assuntos JurídicosMisma Rosa Suhett (ES) AdministraçãoMaria Salete Paz (MT) Patrimônio e CadastroDurval Azevedo Souza (MA) FinançasLuiz Mendes Bezerra (PE) Planej. e Controle OrçamentárioFloriano Martins de Sá Neto (DF) Comunicação SocialMaria Aparecida Fernandes Paes Leme (RN) Relações PúblicasRodolfo Fonseca dos Santos (SP) Assuntos ParlamentaresAurora Maria Miranda Borges (GO) Relações Interassociativas

Onovo Conselho Executivo da Anfipfoi eleito, como de praxe, no últi-

mo dia da Convenção Nacional, dia 19de maio. No mesmo dia, os integrantesdo novo Conselho reuniram-se e elege-ram por unanimidade o novo presiden-te, Antônio Rodrigues de Sousa Neto,

representante do Piauí. A composiçãodos cargos foi feita na quarta-feira se-guinte à da convenção, dia 26 de maio.A seguir, a composição completa donovo Conselho Executivo, o Estado peloqual cada representante se elegeu e asrespectivas áreas de atuação:

O novo Conselho

... todo o País discutiram os problemas nacionais e aprovaram as novas diretrizes para a Anfip

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ara alguém que sempre associouo INSS a filas, conhecer uma mo-derna agência dentro do melhorshopping-center da cidade e, de

quebra, ser atendido por funcionários ri-sonhos, uniformizados e bem treinados,vai concluir que ou tudo o que se dizia arespeito era uma grande mentira ou in-gressamos, sem aviso, no Primeiro Mun-do. Nem uma coisa nem outra.

O fato é que o Instituto Nacional doSeguro Social mudou, e, para que essamudança se materializasse aos olhos dasociedade, o Governo montou algumasagências-modelos como uma espécie devitrine para reconquistar uma populaçãohistoricamente ressabiada com a presta-ção dos serviços públicos nessa área. Ali,o padrão de atendimento é impecável:tanto faz entrar no Mac Donald�s ao ladocomo numa agência do INSS. A diferençaé o hamburger.

Como o Brasil não é feito só deshoppings-centers, na vida real a histó-ria é outra. A reestruturação do INSS, quechegou meio sem aviso por decreto �principalmente para os servidores quesempre levam a culpa pelas deficiênciasdo órgão �, se por um lado tenta apre-sentar um verniz de modernidade em umsetor que realmente precisa de uma mai-or atenção do Governo, por outro come-teu o pecado de deixar seus melhoresquadros mergulhados na incerteza.

Para destrinchar a reestruturação, foicriado o Comitê Nacional das Entidades em

As principais mudançasanunciadas peloMinistério daPrevidência

u A qualidade do atendimento vaiser expressa no tratamento digno aaposentados e pensionistas e na pres-tação de serviços ágeis e eficientes aoscontribuintes e ao conjunto da socie-dade.

u Na nova estrutura do INSS a redede atendimento será redimensionadatomando como ponto de partida a atu-al rede de Postos do Seguro Social -

PSS, uma vez que, o número de PSS�s écerca de 60% superior ao de PAF�s e a redede PSS�s existe em 100% dos municípiosonde existem PAF�s. Logo, vê-se que háuma expressiva possibilidade de amplia-ção da oferta de serviços de arrecadaçãona nova filosofia de unidades integradasde atendimento.

u A nova rede de atendimento aos se-gurados e contribuintes contará com 1. 125pontos de atendimento, sendo: 800 Agên-cias da Previdência Social e 325 UnidadesAvançadas de Atendimento, resultantes dafusão dos atuais Postos do Seguro Social(PSS) e de Arrecadação e Fiscalização (PAF).Além de manter a quase totalidade dos

A nova estrutura do INSS édiscutida por entidades quedefendem qualidade deatendimento não apenas emshopping-centers

Os ventos da mudança

Defesa da Previdência (Coprev) � formadopela Anfip, Fenafisp, Anasps, Anprev eCobap � que, em pouco tempo, reuniu ele-mentos para apresentar uma chamada �crí-tica construtiva� do projeto. Segundo osrepresentantes do comitê, o mesmo trata-mento dado a uma agência de shopping,inclusive no que se refere a equipamen-

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tos, precisa ser extensivo às agências dasmuitas baixadas fluminenses espalhadaspelo País. De nada adiantam sorrisos e fra-ses decoradas se o funcionário não apre-sentar ao cidadão-cliente a solução para oseu problema. Na prática, o verdadeiroatendimento acontece fora da vitrine, ouseja, nas agências que ainda padecem comas deficiências estruturais.

Velhinhos � Quando divulgou o De-creto 3.081/99, o ministro da Previdên-cia, Waldeck Ornélas, disse que areestruturação representava, para os se-gurados, a fusão entre os antigos Iapas eINPS, extintos desde 1990, mas que, naprática, continuavam divididos para o pú-blico. �A essência da reestruturação é adescentralização dos serviços com ênfa-se para a melhoria do atendimento aossegurados da Previdência Social. Não po-

demos aceitar ver nossos ve-lhinhos penando nas filas doINSS. A reestruturação doInstituto reflete a preocupa-ção direta com as pessosas�,disse.

Pelo decreto, os 1.047 postos do Segu-ro Social serão transformados em 1.135novas agências da Previdência Social, total-mente informatizadas. Atualmente, existem20 novas agências em dez Estados. Até 31de dezembro de 2000, segundo o projeto,toda a rede de atendimento do INSS estarátransformada em modernas agências.

O decreto prevê, ainda, a melhoria daremuneração dos cargos de chefia paraquem trabalha voltado para o atendimen-to ao público. Para isso, as antigas gerên-cias do Seguro Social, as de Arrecadação eFiscalização e a estrutura da Procuradoriaforam unificadas em 100 Gerências Exe-cutivas Regionais, as quais ficarão vincu-ladas às novas agências da Previdência.

Para os servidores, segundo o minis-tro, a reestruturação representará umaampla requalificação profissional. Os ge-rentes serão selecionados entre os servi-dores ativos do INSS, por princípios téc-nicos, e a adesão aos cargos será espon-tânea. Os servidores que desejarem secandidatar à função de gerente poderãose inscrever pela Internet ou por carta eos melhores serão selecionados. Em se-guida, os escolhidos receberão treina-mento focados em novos princípios degerência administrativa. Foi inaugurado,

também, um Banco de Talentos em queos servidores expressarão suas preferên-cias profissionais, passando a possuir pre-cedência para trabalhar em missões téc-nicas ou administrativas especiais, coin-cidentes com a sua predileção.

O ministro Waldeck Ornélas acrescen-tou que a fusão das estruturas do SeguroSocial e de Arrecadação e Fiscalização re-presentará maior eficiência e menor cus-to de manutenção, uma vez que permitiráa racionalização das estruturas físicas doInstituto. �Estamos fazendo toda a trans-formação sem recursos adicionais e den-tro dos limites dos cortes orçamentáriosefetuados na área de custeio�, explicou.

No entanto, nas pesquisas realizadaspelo Coprev em vários Estados, o impac-to que a reestruturação provocou nosservidores foi de preocupação, intran-qüilidade e apreensão. Preocupação, porexemplo, com a possibilidade de as ge-rências-executivas sobrecarregarem a di-reção central, em Brasília, que já tem di-ficuldades para atender as 27 superinten-dências. Intranqüilidade, diante da des-tituição de alguns chefes, o que causainsegurança. E, finalmente, apreensãodiante da falta de critérios para remane-jamentos de muitos servidores.

cargos e funções existentes, a estruturaeleva o nível e a remuneração dos mesmos.

u As Gerências-Executivas passam a sera expressão máxima da unificação dos ex-tintos IAPAS e INPS. Atuando de formaintegrada no gerenciamento das ativida-des de benefícios, arrecadação e procu-radoria, essas gerências serão estruturasdescentralizadas, com poder decisórionas áreas técnicas e com autonomia noplano administrativo, em serviços gerais,recursos humanos, orçamento e finanças.

u Estarão subordinadas diretamente àDiretoria Colegiada e serão estruturadasa partir das atuais Gerências Regionais doSeguro Social (GRSS) e de Arrecadação e

Fiscalização (GRAF). Em razão da comple-xidade das atribuições, as Gerências-Exe-cutivas serão ocupadas exclusivamentepor servidores efetivos do INSS, por meiode processo de seleção. Os cargos e fun-ções existentes serão ampliados, pelanova estrutura, em 50%, e terão o nível ea remuneração elevados.

u O INSS passa a ser administrado poruma Diretoria Colegiada composta peloDiretor-Presidente, Procurador-Geral eDiretores de Benefícios, de Arrecadaçãoe de Administração. Essa direção cole-giada será instalada num espaço físicoúnico, o que possibilitará maior entrosa-mento entre as áreas, compromisso, agi-

lidade, clareza e transparência nas de-cisões estratégicas da gestão dos ser-viços e recursos do INSS.

u A Diretoria Colegiada contará coma assistência direta e imediata de qua-tro órgãos: a Controladoria, a Coorde-nação-Geral de Acompanhamento dosCréditos Previdenciários, a Coordena-ção de Informações Institucionais e aCoordenação de Apoio.

u Os atos da Diretoria Colegiada edas demais instâncias terão sua legali-dade controlada pela Auditoria-Geralque, reestruturada e fortalecida, atua-rá de forma autônoma, independentee regionalizada.

Agências do INSS noShoppings Flamboyant, emGoiânia, e Pinheirinho, emCuritiba: primeiro mundo

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14 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

BLOCOS DE CAPITALE A POSIÇÃO DOGOVERNO1975 A 1998

(Participação percentual dos tipos deempresas no conjunto dos maioresempreendimentos no Brasil)

(1) Tendência de queda de participaçãodo capital estrangeiro; estabilização da parti-cipação do capital privado nacional; aumentoda participação do capital estatal; orientaçãonacionalista de governo pró-estatização.

(2) Tendência de queda de participação docapital estrangeiro; aumento da participação docapital privado nacional: estabilização da partici-pação do capital estatal; orientação nacionalistade governo pró-setor privado.

(3) Tendência de aumento de participação docapital estrangeiro; aumento da participação docapital privado nacional; queda da participação docapital estatal; orientação desnacionalizante pró-setor privado nacional e antiestatal.

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GOVERNO GEISEL (1) GOVERNO FIGUEIREDO (2)

ORIGEM DO CAPITAL 19751975197519751975 19761976197619761976 19771977197719771977 19781978197819781978 19791979197919791979 19801980198019801980 19811981198119811981 19821982198219821982 19831983198319831983 19841984198419841984

a) ESTRANGEIRO 41,8 40,8 38,5 35,4 34,5 32,5 31,2 30,9 29,7 27,2

b) PRIVADO NACIONAL 34,8 34,6 36,1 34,9 34,2 35,9 35,5 36,1 39,1 39,9

c) ESTATAL 23,4 24,6 25,3 29,7 31,3 31,6 33,6 33,0 31,2 32,9

Economia○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Por intermédio de dados obtidosjunto ao Banco Central, Fundação Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatísti-ca (FIBGE) e Federação das Indústrias deSão Paulo (Fiesp), poderemos analisar astendências e orientações de cada Go-verno citado quanto às opções econô-micas adotadas. O Quadro acima infor-ma a participação percentual das empre-sas, por origem de capital, no conjuntodas maiores empresas existentes no Bra-sil no período considerado.

Governo GeiselIniciamos nossa análise com o Go-

verno Geisel, com informações que vãode 1975 a 1979.

presente estudo tem por obje-tivo analisar o comportamen-to dos governos brasileiros emrelação aos blocos de capital

hegemônicos vis à vis ao desenvolvimen-to econômico do País. As orientaçõesassumidas e as tomadas de posiçãoquanto à predominância de um ou deoutro tipo de capital, e suas respectivasorigens, são fundamentais para a carac-terização do tipo de modelo de cresci-mento econômico adotado.

Nesse sentido, foram tomados comobase os últimos cinco governos � de1975 a 1998 � que compreendem duasfases distintas da política brasileira: oregime militar (governos Geisel eFigueiredo) e o regime civil (governosSarney, Collor, Itamar e FHC).

A dinâmica econômica noEstudo preparado pela

Assessoria Econômica da Anfip Opções econômicasde governo

Politicamente, esse Governo carac-terizou-se pelo abrandamento do auto-ritarismo político reinante e pelo iníciodaquilo que ficou conhecido como aber-tura lenta, gradual e segura.

No campo econômico, esse Gover-no pautou o desenvolvimento econômi-co numa política nacionalista estati-zante, onde o capital produtivo estatalfoi claramente dominante nas políticasdesenvolvimentistas. A participaçãodesse capital aumentou de 23,4% em1975 para 31,3% em 1979 no conjuntodas empresas componentes de nossaeconomia.

Em conseqüência dessa opção pelaliderança do Estado no setor produtivo,a participação do capital estrangeiro caiude 41,8% em 1975 para 34,5% em 1979.

Já em relação ao capital privado na-cional, seu comportamento mostrou

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Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 15

(4) Tendência de estabilização da participa-ção do capital estrangeiro; estabilização da parti-cipação do capital privado nacional; estabilizaçãoda participação do capital estatal; orientação neu-tra.

(5) Tendência de queda da participação docapital estrangeiro; aumento da participação docapital privado nacional; estabilização da partici-pação do capital estatal; orientação pró-setor pri-vado nacional.

(6) Tendência de aumento da participaçãodo capital estrangeiro; queda da participaçãodo capital privado nacional; queda da partici-pação do capital estatal; orientação desnacio-nalizante de governo anticapital nacional.

GOVERNO SARNEY (3) GOVERNO COLLOR (4) GOVERNO ITAMAR (5) GOVERNO FHC (6)

19851985198519851985 19861986198619861986 19871987198719871987 19881988198819881988 19891989198919891989 19901990199019901990 19911991199119911991 19921992199219921992 19931993199319931993 19941994199419941994 19951995199519951995 19961996199619961996 19971997199719971997 19981998199819981998

28,5 28,7 30,7 31,6 30,8 31,0 31,0 31,3 35,0 32,0 33,3 34,1 36,3 42,0

40,7 42,4 41,0 42,4 44,0 42,7 42,4 41,7 42,4 44,0 43,6 42,1 40,4 41,9

30,8 28,9 28,3 26,0 25,2 26,2 26,6 27,0 24,8 24,0 23,1 23,8 23,3 16,1

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

informações que vão de 1985 a 1989.Esse Governo, de caráter civil, deu

início ao processo de redemocra-tização do País que culminaria com areconquista das eleições diretas parapresidente da República no final de seuperíodo.

As opções econômicas, no entanto,foram nitidamente antiestatais, inver-tendo o quadro nacionalista anterior, ve-rificado nos dois últimos governos mi-litares. A participação do capital estatalcaiu de 30,8% em 1985 para 25,2% em1989.

Como resultado dessa nova estra-tégia, a participação do capital estran-geiro cresceu de 28,5% em 1985 para30,8% em 1989. Entretanto, a hegemo-nia, em termos de bloco de capital, fi-cou com o setor privado nacional quecresceu de 40,7% em 1985 para 44,0%em 1989. Foi no Governo Sarney que obloco de capital, de caráter privado na-cional, teve sua maior supremacia.

A dinâmica econômica nesse primei-ro Governo civil foi ditada por um mix,

uma tendência praticamente constantenesse Governo, ou seja, passou de 34,8%em 1975 para 34,2% em 1979.

A dinâmica econômica no períodofoi ditada, principalmente, pela arran-cada do setor petroquímico comanda-da pelo Estado.

Governo FigueiredoO segundo Governo contemplado na

presente análise é o de Figueiredo, cominformações que vão de 1980 a 1984.

No aspecto político, esse Governofoi o último da era militar, que teve iní-cio com o golpe de 1964 e se caracteri-zou pela preparação do terreno para oretorno dos civis ao poder, ainda de for-ma indireta.

Quanto às opções econômicas, aorientação foi nacionalizante, principal-mente de incentivo ao capital privado

nacional, que cresceu de 35,9% em 1980para 39,9% em 1984 no conjunto do par-que produtivo total.

Também nesse Governo, a tendên-cia de queda da participação do capitalestrangeiro foi mantida, caindo aindamais em relação ao Governo Geisel:32,5% em 1980 para 27,2% em 1984.

Quanto ao papel do Estado no se-tor produtivo, ele apresentou uma ten-dência de estabilização percentual, jáque cresceu e caiu no mesmo período:31,6% em 1980, com um pequenoaumento para 32,9% em 1984, e comênfase nos investimentos em infra-es-trutura, principalmente no setor deenergia.

A dinâmica econômica nesse Gover-no foi ditada, principalmente, pelas in-dústrias de base lideradas pelas empre-sas nacionais.

Governo SarneyO terceiro Governo a ser apreciado

no nosso estudo foi o de Sarney, se-guindo a ordem cronológica, e com

Brasil

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16 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

das empresas privadas nacionais com asempresas privadas estrangeiras, princi-palmente na indústria de transformaçãoe na indústria de ponta. A orientação doGoverno era, portanto, dar início a umprocesso de desnacionalização de nos-sa economia.

Governo CollorO quarto Governo da nossa análise

é o de Fernando Collor, com informa-ções que vão de 1990 a 1992, quandoentão sofreu o processo de impeachment.

Em termos institucionais, foi o pri-meiro Governo eleito pelo povo desdeo golpe militar de 1964, consolidandonosso processo político em prol da de-mocracia.

Na área econômica, esse Governodeu início à abertura externa de nossaeconomia e também ao programa dasprivatizações. No entanto, foi uma ges-

tão extremamente conturbada em ter-mos políticos e complexa no aspectoda inserção do Brasil no mundo daglobalização econômica que, então, seiniciava.

Apesar da estratégia governamentalde abertura internacional, os blocos decapital se mantiveram praticamente es-táveis em termos de participaçãopercentual no conjunto da produção. Ocapital estrangeiro se manteve constan-te: 31,0% em 1990 para 31,3% em 1992.O capital privado nacional teve uma levequeda: 42,7% em 1990 para 41,7% em1992, enquanto que o capital produti-vo estatal apresentou uma pequena ele-vação em sua participação: 26,2% em1990 para 27,0% em 1992.

Por se tratar de um período que secaracterizou, ao mesmo tempo, peloinício do processo de reestruturaçãoprodutiva das empresas e pela crise

institucional com interrupção de man-dato, estabeleceu-se um quadro deimpasse político e de indefinições quan-to aos rumos da economia brasileira.

Governo ItamarO Governo Itamar foi curto e atípico.

Assumiu a presidência num quadro po-lítico transitório. As informações obti-das cobrem os anos de 1993 e 1994.

Nesse curto mandato, pode-se cons-tatar uma retomada da hegemonia docapital privado nacional, que cresceusua participação de 42,4% em 1993 para44,0% em 1994. Houve também um freionas privatizações e uma queda no avan-ço do capital estrangeiro, que teve suaparticipação reduzida de 35,0% em 1993para 32,0% em 1994.

Quanto ao capital estatal, que já vi-nha perdendo terreno de 1992 para1993 (quando caiu de 27,0% para 24,8%),

Otipo de inserção do Brasil no pro-cesso da globalização econômi-

ca, por intermédio de políticas deliberalização cambial, comercial, fi-nanceira e produtiva, vem agravan-do um quadro de vulnerabilidadeexterna e criando uma trajetória deinstabilidade e crise como há muitotempo não se via.

Sob o manto de uma globalizaçãodesequilibrada, a nossa economiavem sofrendo a mais forte desna-cionalização de sua história. Issosignifica dizer que uma parcela cres-cente da produção e da renda inter-na vai sendo cada vez mais controla-da por não-residentes. Dessa maneira,

esse tipo de política aumenta a nos-sa dependência e reduz a capacida-de de manobra do Estado nacional nadefinição de suas estratégias e na im-plantação de suas políticas de desenvol-vimento sustentado.

Enquanto os governos militares pos-suíam uma forte orientação nacionalis-ta, que incentivava o capital privadonacional e fortalecia o capital estatal,apesar do autoritarismo político domi-nante, os governos civis, num ambiente

de democracia,prepararam e de-

pois consolidaram o cami-nho da hegemonia do capital estran-geiro e da desnacionalização da eco-nomia brasileira.

Os resultados sociais alcançadospor esses governos, a partir de suasrespectivas opções econômicas porum ou outro bloco de capitalhegemônico, serão motivo de análi-se posterior.

Economia○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Globalização oudesnacionalização?

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PPPPPanoramaanoramaanoramaanoramaanorama○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

portanto, no fim do Governo Collor,manteve-se praticamente estável em24,0% no fim do mandato de Itamar.

De resto, o Governo Itamar prepa-rou as condições para um duro comba-te contra a inflação, por intermédio doPlano Real, e encaminhou sem sobres-saltos a sucessão presidencial.

Governo FHCPara fechar a análise histórica sobre

as orientações estratégicas de Governofrente aos blocos de capital dominantese ao desenvolvimento econômico, vamosnos ater ao primeiro Governo FHC, cominformações que vão de 1995 a 1998.

Em termos políticos, caracterizou-sepor costurar uma aliança duradoura comos partidos mais conservadores do País,o que consolidou sua base parlamentarpara implantar um programa de inserçãopassiva do Brasil no processo daglobalização econômica.

No campo econômico, essa opçãosignificou um processo acelerado dedesnacionalização do nosso parqueprodutivo, com ênfase no aumentoininterrupto da participação do capi-tal estrangeiro, que cresceu de 33,3%em 1995 para 42,0% em 1998, partici-pação essa que se configurou como amaior dos últimos 24 anos, desde o fimdo Governo Médici e início do Gover-no Geisel.

Essa nova orientação, de avanço docapital estrangeiro justificada por umasuposta imposição da conjuntura inter-nacional, resultou em detrimento do ca-pital privado nacional, que caiu sua par-ticipação de 43,6% em 1995 para 41,9%em 1998, e, principalmente, do capitalprodutivo estatal que sofreu a maior bai-xa das últimas décadas, reduzindo dras-ticamente sua participação na economiade 23,1% em 1995 para 16,1% em 1998,com tendência a cair ainda mais no se-gundo mandato de FHC.

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Depois de longo debate, a Comissãode Constituição, Justiça e Cidadania

Senado (CCJ) aprovou parecer favorávelà proposta de emenda à Constituição,de autoria do senador Ademir Andrade(PSB-PA), que determina que homens emulheres devem ocupar, alternadamen-te, as vagas abertas no Supremo Tribu-nal Federal (STF). A emenda estabeleceque não deverão ocorrer três nomeaçõesseguidas de pessoas do mesmo sexo. Amatéria segue agora para o plenário.

Relator na CCJ, o senador LúcioAlcântara (PSDB-CE), entende que, ape-sar de polêmica, a proposta é justa,pois, em mais de um século de histó-ria, o STF jamais teve uma mulher comoministra. Para ele, esse fato se dá pordiscriminação e não por falta de juris-tas competentes.

Depois do eclipse, que não trouxe ofim do mundo, resta agora o �bug�

do milênio, o apocalipse cibernéticoaguardado com muita apreensão pe-los usuários de computadores. Umadas conseqüências dessa ca-tástrofe seria o colapso dossistemas que operam dados doGoverno como, por exemplo,aqueles relativos às contribui-ções previdenciárias.Mas, segundo aDataprev, a PrevidênciaSocial está pronta para en-frentar o �bug�. Segundoa direção do órgão, já foi finalizado otrabalho de alteração e homologação das3.016.045 linhas de código que precisa-vam ser convertidas. Agora, só falta fa-zer a verificação de outras 6.027.849 li-nhas que já estavam adequadas à novaleitura de datas feita pelos computado-res. Segundo a Dataprev, isso estará con-cluído até o dia 15 de setembro.

A Previdência Social dispõe de359 sistemas, 21.926 programas e12.110.894 linhas de código. Dessas,

3.067.000 foram desativadas por fal-ta de uso, pois compunham sistemas

antigos, obsoletos. Outras3.016.045 passaram peloprocesso de conversão e

já estão devidamente testadas.Resta, agora, verificar as de-

mais.�Bug� do milênio foi

a denominação dada portécnicos da área de

informática para o fato deque computadores e sistemas produzi-dos na década de 80 ignoram os doisprimeiros dígitos do ano. Dessa forma,no lugar de 1999, a leitura feita é 99.Com a chegada do ano 2000, isso po-deria causar alguns transtornos. A so-lução é adaptar máquinas e sistemaspara que sejam capazes de fazer a lei-tura com os quatro dígitos.

O segundo apocalipse

Em defesa de sua proposta, Ademiresclareceu que ela combate a discrimi-nação, mas não privilegia nem mulhe-res nem homens, apenas busca um equi-líbrio, ao proporcionar igualdade narepresentação entre os sexos. Mesmoreconhecendo que as mulheres, a cadadia, ocupam mais espaço em funçõesimportantes, o senador acredita queesse processo tem se verificado lentoe acredita que sua proposta amplia asconquistas das mulheres e auxilia naluta contra a discriminação a que elassão vítimas. �As mulheres estão deixan-do de ocupar um espaço que é seu.Hoje, o Brasil tem mais mulheres quehomens, mas a representação femini-na em cargos públicos de alto nível éinsignificante�, argumentou o autor daproposta.

Mulheres no STF

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Sonegação

por Antônio Carlos Campos

valor de praticamente umProduto Interno Bruto(PIB) brasileiro � cons-tituído pela soma de toda

produção da indústria, agricultura, co-mércio e dos serviços � é surrupiadoanualmente pela ação delituosa de pes-soas e empresas que driblam o Fisco. Sãonada menos que R$ 826 bilhões que es-capam por ano à malha da arrecadação,por conta da informalidade na economia,da sonegação e da elisão fiscais � a últi-ma moda em artifícios para se livrar dopagamento de tributos. Uma quantia as-tronômica que simplesmente deixa de in-gressar nos cofres públicos.

A revelação sobre a existência e o ta-manho desse rombo, com detalhes, foifeita pelo secretário da Receita, EverardoMaciel, em seu bombástico depoimento à

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)dos Bancos, em maio último, paraestarrecimento do Congresso Nacional edo País inteiro. �É um escândalo�, �umverdadeiro absurdo�, �é muita corrupção,quando o social tanto precisa de recursos�.Foram algumas das exclamações indigna-das dos senadores que integram a CPI edos editoriais da imprensa brasileira.

A revelação de Everardo Macielreacendeu uma velha questão: o Brasil éum país essencialmente corrupto? Parao consultor de empresas Stephen Kanitz,da Kanitz & Associados, a resposta é não.�O Brasil não é um país corrupto; é ape-nas um país pouco auditado�, sustenta oconsultor. Para ele, a grande causa daexistência de um buraco na arrecadaçãode impostos como o revelado pelo secre-tário da Receita, bem como de outrosproblemas da mesma natureza, é a baixadensidade de auditores e fiscais no Bra-

sil, aliado à faltade incentivos àformação dessestécnicos e à valori-

zação profissional.Segundo o consul-

tor, que tem analisado aquestão em seus artigos e pales-

tras, as nações com menor índice decorrupção ou sonegação são aque-

las que têm maior número de au-ditores e fiscais formados e trei-nados. Ele lembra que a Dina-marca e a Holanda possuem 100auditores por 100 mil habitantes,

ou seja, um auditor para cada milhabitantes. Esses países, segundoo World Economic Forum, estãoentre os menores índices decorrupção do mundo. O Brasil, ci-

tado entre os maiores, tem somen-te oito auditores para cada 100 mil ha-

bitantes, ou seja, um auditor para cada12,5 mil habitantes.

Quando se compara então o númerode fiscais com o de empresas, a relação édas mais desfavoráveis no caso brasilei-ro, fato que ajuda também a explicar ovolume assustador de recursos anualmen-te sonegados ou que vão pelo ralo daelisão fiscal � brechas legais ou não queempresas usam para contornar impostosou contribuições obrigatórias. O Minis-tério da Previdência e Assistência Social,por exemplo, conta com apenas 3.800 fis-cais de contribuições previdenciárias(FCPs) para um universo de 3,5 milhõesde empresas. O INSS tem uma receitaanual de cerca de R$ 50 bilhões.

No caso da Receita Federal, o próprioMaciel, em seu depoimento à CPI, quei-xou-se do fato de contar apenas com7.500 mil fiscais, sendo que na esfera dosassuntos financeiros � principal área deelisão e sonegação fiscais, segundo seudepoimento � dispõe de apenas 120 au-ditores. Esse diminuto quadro para fisca-lizar cerca de 40 mil instituições finan-

Para evitar a escandalosa eimoral sangria de dinheiro quepoderia ser aplicado emprogramas sociais, o Governoprecisa valorizar seus fiscais eauditores

18 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

Um PIBpeloralo

Um PIBpeloralo

O

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ceiras e cerca de três milhões de contri-buintes, segundo observou.

�Conheço poucas administrações tri-butárias do mundo que exerçam funçõesdessa natureza � de abrangência e com-plexidade � que tenham um quadro tãopequeno para enfrentar essas questões.Posso até dizer, na condição de presiden-te do Centro Internacional de Adminis-trações Tributárias, que o nosso é um dosmenores quadros (de fiscais) do mundopara enfrentar essas questões�, disseEverardo Maciel.

Engenheirização � A principal funçãodo auditor nem é fiscalizar depois do fatoconsumado, mas criar controles internospara que a fraude e a corrupção não pos-sam sequer ser praticadas, ensina o pro-fessor Kanitz. Ele observa também que,como o custo da auditoria é muito altopara ser pago pelo cidadão, individualmen-te, essa é uma das poucas funções pró-prias ou típicas do Estado moderno � tan-to a auditoria como a fiscalização.

O consultor reclama ainda do fato deque no Brasil o contador público, princi-pal profissão ligada à auditoria e à fisca-lização, foi substituído, nos últimos anos,

FMI elogia esforçoda fiscalização

Apesar das limitações de várias ordensenfrentadas pelos fiscais no Brasil

e dos elevados índices de evasão fiscalvividos no País, no que se refere à Pre-vidência Social, a fiscalização ganhouelogios até do Fundo Monetário Inter-nacional (FMI). Em recente avaliação doDepartamento de Finanças Públicas,daquele organismo, que produziu o do-cumento intitulado �Brasil: Contribui-ção Previdenciária � Estimativa da Eva-são e Fortalecimento da Administra-ção�, a missão técnica afirma que a fis-

pelo engenheiro. De fato, a �engenheiri-zação� da profissão de auditor ou de fis-cal é uma realidade no País, onde a maio-ria das vagas para essas áreas � ofereci-das nos concursos atualmente suspensos,o que é mais um agravante � é conquis-tada por engenheiros. Antigamente, amaioria era formada por contadores, ad-vogados e economistas.

Além das questões numérica e da for-mação � que, em comparação a paísesmais desenvolvidos, é extremamente des-favorável ao Brasil �, a auditoria e a fisca-lização no País enfrentam ainda a falta devalorização. Segundo Everardo Maciel, osgastos com a Receita Federal, que no Bra-sil equivalem a menos de 1% da arrecada-ção tributária, em outras partes do mun-

do civilizado situam-se em 1,5% a 2%. �Aremuneração dos funcionários fiscaistambém tem sido um problema ao nos-so trabalho�, disse o secretário, referin-do-se à necessidade de recomposição sa-larial desse segmento para que a efi-ciência do sistema arrecadador melho-re também.

No dia 30 de junho, às vésperas dorecesso do Congresso, o Governo editoua Medida Provisória nº 1.915, que reestru-tura o quadro de auditores fiscais. Mas amedida, inicialmente, deixava de fora osfiscais de contribuições previdenciárias,que por intermédio da Anfip saíram acampo para cobrar do ministro da Previ-dência, Waldeck Ornélas, o compromis-so do governo de que as medidas (inclu-sive, salariais) na área fiscal envolveriamsempre as três atividades do Estado nafiscalização: Receita, Previdência e Traba-lho. O movimento surtiu efeito.

Como se vê, ainda é longo o caminhoque a sociedade brasileira precisa percor-rer para conseguir um combate efetivo àevasão e à sonegação, que tantos recur-sos lhe têm subtraído quando é gritantea necessidade de investimentos sociais.Esse caminho, fatalmente, passa pelaampliação de quadros e por uma maiorvalorização dos seus fiscais e auditores.

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Com o dedo na ferida: Everardo Maciel expõe as deficiências na estrutura de fiscalização

Quando se compara o númerode fiscais com o de empresas, arelação é das mais desfavoráveis

no caso brasileiro, fato queajuda também a explicar o

volume assustador de recursosanualmente sonegados

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20 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-9920 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

Brasil é 17° noíndice de corrupção

O Brasil, que dispõe de apenas oitoauditores por 100 mil habitantes, está

em 17° lugar num levantamento sobre o�índice de percepção de corrupção�, rea-lizado em 52 países, efetuado pelaTransparency International (TI), uma orga-nização não-governamental com sede emBerlim, na Alemanha. A pesquisa foi con-cluída em meados de 1997. A Dinamarca,que exibe 100 auditores por 100 mil habi-tantes, foi o país que obteve a melhor co-locação, o 1° lugar, com o menor índicemundial de corrupção. O pior colocado foia Nigéria, pelo segundo ano consecutivo.

A pesquisa, segundo a TI, reflete apercepção dos entrevistados da existên-cia de maior ou menor prática decorrupção em cada um dos 52 países in-cluídos e pretende fortalecer os sistemasde integridade e de combate à corrupçãonesses países. Para chegar ao índice depercepção de corrupção, a organizaçãofez o cruzamento de sete pesquisas rea-lizadas com empresários, analistas polí-

calização do INSS �apre-senta bons índices deperformance, mas aindahá bastante espaço para melhoras emsua atuação�.

�Cerca de 110 mil contribuintes sãovisitados anualmente e outros 100 mil sãofiscalizados. Os lançamentos de fiscaliza-ção chegam a quase R$ 14 bilhões porano (aproximadamente, 30% da arrecada-ção anual do INSS)�, afirma o relatório damissão do FMI. Ele observa que a cobran-ça administrativa vem apresentando re-sultados bastante positivos ultimamente.�O saldo da dívida vem decrescendo anoa ano. O total de débitos pendentes em30.06.98 correspondia a 56,76% do totaldevido em 31.12.97�.

Outro levantamento também recen-te, encomendado pela Assessoria de Co-municação do Ministério da Previdênciaao Instituto de Pesquisas Sociais, Políti-cas e Econômicas (Ipespe) constatou que,num universo de 300 grandes empresasouvidas nas diversas regiões do País, 90%fizeram referências elogiosas aos Fiscaisde Contribuições Previdenciárias. Dos

O s R$ 826 bilhões que escaparamda cobrança de tributos no ano

passado, segundo Everardo Maciel,podem ser classificados como produ-to da sonegação, elisão fiscal, lavagemde dinheiro e da economia informal.�A última moda é a elisão fiscal�, afir-ma o secretário da Receita Federal. Eleexplica que esse artifício não é pro-priamente uma ilegalidade passível depenalidades como a sonegação, masresulta da utilização de brechas na le-gislação pelas empresas, queembasam, inclusive, os pedidos deliminares. Ele acusou a existência deuma �indústria de liminares� como

sendo o maior negócio para se driblar,hoje, as obrigações com o Fisco. E apon-tou a Lei nº 8.200/91 como a maior válvu-la utilizada pelas empresas � que permiteque elas deduzam do Imposto de Rendadiferença dos índices de inflação dos pla-nos econômicos.

Maciel disse que chegou a esse nú-mero ao levantar a base de cálculo daCPMF, que foi de R$ 4,1 trilhões no anopassado, dos quais R$ 2,4 trilhões cons-tituem os chamados pagamentos � queefetivamente são a base da tributação.Mas, ao verificar quanto a receita arreca-dou, concluiu que lhe escaparam R$ 826bilhões. E mais: nesse levantamento, des-

cobriu que das 530 maiores empresasatuantes no País metade não paga umcentavo de Imposto de Renda. Entre as66 maiores instituições financeiras emoperação no País, ainda segundo ele afir-mou à CPI, 42% nada pagaram de Impos-to de Renda no ano passado. �Grandeparte disso se constitui em elisão, resul-tado das brechas que corroem a base decálculo dos tributos�, disse Everardo.

Informalidade � A economia infor-mal, outra parte do ralo por onde escoaos tributos que fogem à arrecadação, se-gundo dados extra-oficiais, responde porpraticamente um PIB por ano, recursosque não entram nas estatísticas oficiais.

entrevistados, 78% consideram o FCP �umprofissional sério no cumprimento de suamissão�.

Além da avaliação do FMI e da pes-quisa do Ipespe, vários outros indicado-res depõem a favor do desempenho dafiscalização do INSS, no que pesem ospercalços que tem enfrentado. Dados doMinistério da Previdência, por exemplo,indicam que a arrecadação de contribui-ções previdenciárias teve um incremen-to de 2,49% em 1998, ano em que o de-semprego disparou e o PIB dos setoresde serviços e industrial caiu, respectiva-mente, em 3,39% e 0,98%. Também no anopassado, os 2.227 fiscais da Previdênciaem atividade externa bateram às portasde 161.716 empresas em missão de visi-ta e fiscalização.

Esses dados, que reforçam a impor-tância do trabalho dos fiscais em contras-te com as dificuldades operacionais, fo-ram expostos pela Anfip ao ministroWaldeck Ornélas quando da discussão daMedida Provisória nº 1.915 que reestru-turou as carreiras de fiscais da Receita ede auditores do Tesouro Nacional.

Elisão, sonegação e informalidade: os ingredientes do rombo

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Sonegação

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Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 21

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Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 21

Mas segundo a primeira pesquisa demercado informal no País, realizada peloIBGE e divulgada recentemente, essa eco-nomia movimentou em outubro de 1997um valor de R$ 12,89 bilhões � ou 8% doPIB naquele mês. Aparentemente, esse re-sultado contradiz informações correntesde que o �Brasil Informal� seria responsá-vel pelo valor equivalente a um PIB oficialpor ano. Mas não é bem assim: como in-formaram técnicos do IBGE responsáveispela pesquisa, o levantamento seguiu cri-térios da Organização Internacional doTrabalho e deixou de fora diversos aspec-tos do mundo informal na economia.

O levantamento levou em considera-ção empreendimentos com até cinco em-pregados, em que a economia da empre-

sa e a economia familiar se confundem.Não se levantou o número de empresas �e empregados � irregulares em relação àsexigências legais. Além disso, comoironizou o presidente do IBGE, SérgioBesserman Vianna, �atividades criminosascomo sonegação, o chamado caixa dois,prostituição e tráfico de drogas não estãoincluídas�.

Mas até ocupações como os trabalha-dores agrícolas e empregados domésti-cos sem carteira assinada não entraramno levantamento, que considerou apenasos aspectos empresariais dos pesqui-sados. Os pesquisados como trabalhado-res informais pelo IBGE respondem, se-gundo o levantamento, por 25% da Popu-lação Economicamente Ativa (PEA) do País

ou 12,87 milhões de pessoas. Quandosão somados os empregados domés-ticos, a participação do segmento in-formal na PEA sobe para 32%.

Sonegação � A sonegação propria-mente dita, no Brasil,também não écientificamente quantificada. Mas háestimativas � inclusive, as publicadasrecentemente pela Revita de Seguridade Social - de que somente na esferado INSS, para ficar em um único exem-plo, ela teria atingido R$ 11 bilhõesem 1997, segundo um levantamentoda DAF/INSS. Somada a outras formassutis de fugir aos impostos, como arenúncia fiscal (regimes especiais paraentidades filantrópicas, clubes de fu-tebol etc.), ela sobe a R$ 18 bilhões.

ticos e cidadãos de 52 países, além dedados obtidos na Internet.

Ao divulgar o trabalho, o presidenteda TI, Peter Eigen, afirmou que a entida-de não está dizendo que um país é maiscorrupto do que o outro. Segundo ele,�é preciso ter em mente que muitos ho-mens de negócio que responderam à pes-quisa são parte do problema, à medidaque as corporações multinacionais,sediadas nos principais países industria-lizados, usam suborno e comissões paraganhar contratos em países em desenvol-vimento e em transição�.

Nenhum 10 � No sistema de avalia-ção do índice da TI, os países recebemnotas que variam de 0 a 10. Quanto maisalta a nota de um país, mais limpo ele évisto pelos pesquisados. Nenhum país ob-

teve 10 no índice. A Dinamar-ca chegou perto (9,94), segui-da da Finlândia (9,48) e da Sué-

cia (9,35). Os Estados Unidos re-ceberam 7,61.

Na América do Sul, o Chile(nota 6,05) e o Uruguai (4,14)

estão em situação mais confor-tável do que o Brasil ( 3,56). Mesmo as-sim, o País melhorou sua nota em rela-ção a 1996, quando obteve 2,96. Pior queo Brasil em níveis de percepção decorrupção no continente estão Argenti-na (nota 2,81), Venezuela (2,77), Colôm-bia (2,23) e Bolívia (2,05).

Os dados inferidos para chegar aoíndice TI são de pesquisas realizadas peloinstituto Gallup International, o WorldCompetitiveness Yearbook, a Consultoriade Riscos Políticos e Econômicos, deHong Kong, o DRI/McGraw Hill Serviçode Risco Global, o Serviço de Riscos Polí-ticos, de Syracuse, Estados Unidos, e dedados obtidos com consultas via Internetpelo economista que dirigiu a pesquisapara a TI, Johann Lambsdorff, da Univer-sidade de Gottingen (Alemanha).

Deficiências na áreade informática

Uma das principais dificuldades enfren-tadas ultimamente pelos Fiscais de

Contribuições Previdenciárias para o de-sempenho de suas tarefas, principal-mente no combate à sonegação e à frau-de, situa-se na área de informática. Aobsolescência dos sistemas utilizados ea demora na modernização de seus equi-pamentos são questões que preocupam,além dos profissionais da fiscalização, atéo Fundo Monetário Internacional. Em seurelatório sobre os pontos essenciais parao fortalecimento da administração na Pre-vidência, quando enfoca a fiscalização doINSS, o Fundo aponta a necessidade dereaparelhamento do órgão na área deinformática, depois de tecer elogios àatuação dos fiscais.

O documento de avaliação da missãodo FMI assinala: �Com respeito aos recur-sos disponíveis para apoiar o trabalho dosfiscais, há alguns sistemas que produzeminformações (em papel) sobre os contri-buintes a ser fiscalizados. Essas informa-

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Sonegação

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Adívida em cobrança judicial peloINSS � também chamada dívida

ativa � atinge atualmente R$ 54 bi-lhões, sendo R$ 21 bilhões de princi-pal, R$ 22 bilhões somente de juros eR$ 11 bilhões de multas. Para o FMI,que fez um relatório sobre a Previdên-cia Social quando negociava o emprés-timo ao Brasil no final do ano passa-do, esse número é preocupante. �Adívida alcançou patamares alarman-tes�, diz o documento.

Mas não é bem assim. A dívidacresceu induzida por um trabalho di-nâmico da fiscalização e da Procura-doria do INSS, como explica o Procu-rador-Geral daquele órgão, José WeberHolanda Alves, em entrevista à Revis-ta de Seguridade Social. De forma in-tegrada, a área de Arrecadação e Fis-calização do INSS e a Procuradoria tra-çaram uma meta: num prazo de 180dias, são transcorridos todos os trâ-mites de um processo administrativopara que, então, a dívida chegue àmesa da Procuradoria. Dessa forma,segundo ele, o devedor pode ser exe-cutado, evitando-se erros do passado,quando a dívida levava anos e anospara chegar à Procuradoria, muitasvezes, com o sumiço dos devedores.O problema que existe, o FMI não re-latou: a falta de aparelhamento, sobre-

ções constituem o chama-do kit fiscalização. Encon-tra-se disponível ao siste-ma de apoio ao fiscal para cálculos das di-ferenças a pagar (sistema PIAF) somenteum pequeno número de notebooks�. O re-latório observa que, embora os resultadosda fiscalização sejam satisfatórios, aindahá margem para melhorá-los.

De fato, há especialistas de dentro dopróprio Ministério da Previdência preven-do que um verdadeiro caos se avizinhana área dos sistemas de informática daDiretoria de Arrecadação e Fiscalização(DAF) do INSS, caso não sejam tomadasprovidências enérgicas para modernizaros sistemas e equipamentos. O Fiscal deContribuições Previdenciárias no RioGrande do Sul, especialista em infor-mática, Álvaro Vianna da Silva, é um dosque têm feito advertências nesse senti-do. �A situação de uso de sistemas e equi-pamentos se apresenta crítica em muitoscasos�, diz ele, acrescentando que �al-guns sistemas desenvolvidos pelaDataprev, como o SICAD, por exemplo,têm apresentado muitos problemas, oque é comum até acontecer nos novossistemas e versões, só que no caso temocorrido com grande freqüência�.

Segundo Vianna da Silva, esse acúmu-lo de problemas com os sistemas daDataprev está levando constantementeinsatisfação e descrédito no atendimen-to e suporte, no que tange à implantaçãoe ao desenvolvimento desses sistemas.�Isso vem agravando e ampliando os pro-blemas, gerando estresse desnecessáriodos servidores nas suas tarefas diárias eimpondo dificuldades para atender a con-tento o contribuinte naquilo que compe-te aos servidores de ponta junto ao pú-blico�, afirma.

Como prova dessas dificuldades, quesão, sobretudo, de ordem burocrática, elecita o fato de que, somente na regionalda DAF do Rio Grande do Sul, 170microcomputadores estão à espera de

upgrade (melhora de seu hardware), desdejunho de 1998. �Estamos assim diante deuma situação grave que, aliada à implan-tação de uma nova estrutura que nãocontempla o setor de informática em ní-vel regional e a proximidade do �bug� domilênio, tem todos os ingredientes parase tornar um verdadeiro caos�.

O relatório do FMI sobre a situaçãodo INSS, no que se refere à área de infor-mática, corrobora as críticas do FCPVianna da Silva. �Os sistemas de informa-ção que apóiam a arrecadação das con-tribuições previdenciárias são inadequa-dos e apresentam diversos tipos de pro-blemas�, avalia o documento.

tudo de pessoal, para tocar essa tarefa �problema que afeta tanto a Procuradoriaquanto a Arrecadação e Fiscalização doINSS.

É claro que se houvesse mais procu-radores e fiscais no País, a dívida seriamenor. Nesta entrevista, José Weber es-clarece a situação da cobrança de dívi-das judiciais do INSS e diz que a Procura-doria vai abrir concurso para 230 novosprocuradores da Previdência:

Revista de Seguridade Social � Qual é asituação atual da dívida de empresas paracom o INSS, aquela em cobrança judicial?

José Weber � A dívida ativa cresceubastante nos últimos cinco anos. Mas umaatuação relâmpago da área de fiscalizaçãoe dos procuradores fez um grande traba-lho para levantar essa dívida. No final de1994 tínhamos uma dívida ativa de R$ 17bilhões e hoje estamos com R$ 54 bilhões.Foi um trabalho integrado com a área deArrecadação e Fiscalização. Essa área tra-çou uma meta para que, num prazo de seismeses, 180 dias, houvesse todas as fasesdo processo administrativo, ou seja, domomento da fiscalização até que chegueà dívida ativa a meta é que isso se faça em180 dias. Para que isso? Para que não secometam os mesmos erros do passado,quando um processo levava anos e anospara chegar à Procuradoria. Quando osprocuradores iam fazer a execução fiscal,

�É preciso fortalecera cobrança judicial�

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tulo foi criado no final de 1997 e nãohouve a divulgação necessária. Hoje,criamos um setor conjunto entre a Pro-curadoria e Arrecadação para divulgaro CDP e melhor operacionalizá-lo. Nes-te segundo semestre, esperamos recu-perar, com o CDP, R$ 1,5 bilhão, o queé uma meta audaciosa considerandoque em todo o ano de 1998 recupera-mos apenas R$ 600 milhões. O uso doCDP é vantajoso para o devedor, por-que pode pagar seus débitos comdeságio, e é bom também para a Previ-dência e para a União, de modo geral.

Seguridade Social � O FMI sugeriunum relatório recente a terceirização dacobrança da dívida do INSS. Isso é viá-vel?

José Weber � A terceirização já exis-te. Temos quase 500 advogados contra-tados pela Procuradoria do INSS e nãotemos bons resultados. Estamos estu-dando uma forma de implementar es-sas medidas da melhor forma. As dívi-das de até R$ 100 mil são as mais fá-ceis ou menos difíceis de ser recupera-das, ou seja, quanto maior a dívida,mais difícil de se receber. E ainda exis-te um chavão no mercado, difundidosobretudo pelos maus empresários, quediz: �As dívidas velhas eu não pago;as novas, deixo envelhecer�. Hoje, es-tão sendo criados grupos de grandesdevedores, para as dívidas acima deR$ 1 milhão, e estamos acompanhan-do, passo a passo, os procedimentosem torno de todas elas.

Acrescenta o trabalho que umdiagnóstico efetuado em 1995 pela pró-pria Dataprev enumera uma série de de-ficiências, entre as quais: sistemas cen-tralizados; atraso tecnológico nos ambi-entes operacionais e de desenvolvimen-to; rede de telecomunicações limitada,defasada tecnologicamente e de alto cus-

to; e segurança de sistemas deficiente.�Apesar dos avanços tecnológicos alcan-çados no projeto de rearquitetura orga-nizacional e na ação estratégica daDataprev desde 1995, muitas dessas de-ficiências ainda subsistem�, sustenta.

O relatório do FMI prega a extinçãodo monopólio da Dataprev na prestação

de serviços de informática à Previdência.Sugere também que esses serviços sejamterceirizados, ou seja, privatizados. Masserá que não haveria outras alternativas,como a desburocratização e o provimen-to de recursos ministeriais para essa área,capazes de modernizá-la e torná-la maiseficiente?

as empresas devedoras já não existiammais, haviam se desfeito de seus bens, e aProcuradoria ficasse de mãos atadas, sempoder cobrar. Isso fez com que tenhamoshoje no banco de débitos várias dívidas�incobráveis�. Não se localiza mais a em-presa nem seus sócios para que se possafazer a cobrança fiscal. Esse trabalho, de1995 até hoje, fez com que praticamentetodos os processos administrativos não re-solvidos viessem a desaguar na mesa daProcuradoria num tempo recorde.

Seguridade Social � Quais as principaisdificuldades que a Procuradoria enfrentahoje para cobrar essa dívida?

José Weber � As procuradorias doINSS ainda estão desaparelhadas, por fal-ta de pessoal. Nós temos hoje 850 pro-

curadores da Previdência em ati-vidade, dos quais apenas 30%atuam na área de promoção co-brança da dívida ativa. Pleitea-mos um concurso para este anoao ministro Waldeck Ornélas,que já assinou, inclusive, a ex-posição de motivos ao presiden-te da República. Estamos aguar-dando a autorização do concur-

so. Vamos ver se épossível colocar aindaeste ano, através des-se concurso, mais230 novos procura-dores para atuar ex-clusivamente na áreade dívida ativa. Isso

pode fazer com quenossa arrecadação, em relação ao anopassado, praticamente dobre.

Seguridade Social � Além da fiscaliza-ção e da Procuradoria, que outros mecanis-mos estão sendo utilizados para acelerar acobrança dessa dívida?

José Weber � Acho que o incentivo àutilização do CDP (Certificado da DívidaPública Federal) pode ajudar. Estamos fa-zendo uma campanha bastante agressivapara sua divulgação. Estamos visitando osEstados com grande potencial de arreca-dação, como São Paulo, Paraná, Rio Gran-de do Sul, Minas, Bahia, Pernambuco,Ceará e outros. Esse certificado é a me-lhor forma para quem é devedor da Pre-vidência pagá-la. Pode-se conseguir umbom deságio para quitar dívidas. Esse tí-

José Weber Holanda Alves, Procurador-Geral do INSS

Foto: Bernadete Brasiliense/Projeto Luz

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Projeto de previdênciacomplementar para quemquer se aposentar com valoracima de R$ 1.200 abrepossibilidade para queentidades de classe criemseus próprios fundos

por Miriam Moura

Congresso retomou a dis-cussão do projeto de leique dispõe sobre o regimede planos de previdência

privada de caráter complementar (PLCnº 10/99), em regulamentação à refor-ma da Previdência, aprovada em dezem-bro de 1998. Esses planos, como o pró-prio nome diz, têm por objetivo com-plementar os proventos dos assalariadosque desejarem ganhar acima de R$1.200,00, valor-teto do benefício obri-gatório coberto pela Previdência Social.Essa previdência, portanto, é facultati-va, inclusive nas entidades fechadas.

O relator do projeto na comissãoespecial da Câmara, deputado ManoelCastro (PFL-BA), adiantou para a Revis-

ta de Seguridade Social os pontos po-lêmicos que ainda vão demandar muitanegociação antes da aprovação da pro-posta. Um dos itens controversos é acriação de uma agência regulatória úni-ca para fiscalizar e normatizar o novosistema ou se as funções deverão serexercidas por órgãos distintos.

O relator explica que os adeptos àcriação de um órgão único, como induza proposta do Governo, argumentamque, se houver separação entre o regula-mentador e o fiscalizador, ocorrerá umpotencial permanente de conflito entreos dois organismos. �A argumentaçãobásica de quem se posiciona contra umúnico órgão é a idéia de que quem de-termina a norma não deve fiscalizar paraevitar concentração de poder, com suasconseqüências�, diz Manoel Castro. Amaioria dos depoentes na ComissãoEspecial foi contrária à duplicidade dopapel da agência.

Para o Governo, a modernização doregime de previdência complementarpassa pelo caminho da flexibilização.Por essa razão, a proposta permite aportabilidade � a possibilidade de o par-ticipante de uma entidade de previdên-cia complementar, em razão do térmi-no de seu vínculo com o patrocinador

ou instituidor, transferir sua poupançaacumulada para o plano de benefíciosde outra entidade. A portabilidade nãocaracteriza o resgate da poupança, nema sua conversão em liquidez, �mas umatransferência interinstitucional de ati-vos, evitando que haja perdas súbitas desolvência no regime de previdênciacomplementar�, segundo justifica o mi-nistro da Previdência, Waldeck Ornélas,na exposição de motivos.

O relator do projeto na Câmara tam-bém é favorável à instituição da porta-bilidade, por considerá-la indispensávelnuma visão moderna e atualizada dosistema previdenciário. Mas ManoelCastro defende que o instrumento deveser regulamentado e que se indiquem�com clareza as condições exigidas parasua utilização efetiva�.

A proposta em exame na Câmaraprevê também o benefício proporcio-nal diferido, chamado no mercado devesting - a possibilidade de o partici-pante poder optar pelo recebimentofuturo de um benefício, proporcionalàs suas contribuições, em razão do tér-mino do vínculo empregatício com opatrocinador ou instituidor antes daaquisição do direito ao benefício ple-no. Uma das questões em debate no

Previdência○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Alémdoteto

Alémdoteto

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Congresso é em relação ao texto deregulamentação do vesting e daportabilidade: se na lei complementarou na lei ordinária regulamentadora.Discute-se também se a normatizaçãodesses benefícios poderá ser feita nosestatutos de cada entidade.

Objetivos � O princípio geral quenorteia a proposta do Governo é de do-tar o regime de previdência complemen-tar de flexibilidade, criando condiçõespara uma expansão sustentada da pou-pança coletiva. O Executivo aposta quea modernização do regime terá reflexospositivos no aumento da poupança, tra-rá estímulos aos investimentos que de-mandam financiamentos de médio elongo prazos e contribuirá para melho-rar o nível de emprego.

As entidades de previdência fecha-da são criadas por algum �patrocina-dor�, no caso empresa ou grupo deempresas, a União, os Estados, o Distri-to Federal ou os municípios, cujo aces-so fica restrito aos seus funcionários, ouconstituídas por �instituidores�, no casopessoa jurídica de caráter profissional,classista ou setorial (inclusive, entida-des sindicais).

Na proposta encaminhada ao Con-gresso, o Governo ressalta que a expan-

são da previdência complementar sóocorrerá se o Estado contar com osmeios suficientes para assegurar a efi-cácia do sistema. Para tanto, enumeraseis pilares a serem perseguidos: flexi-bilidade de criação e organizaçãode planos e de entidades, credibilidadedo regime, profissionalização dosgestores das entidades, transparênciajunto aos participantes, prudência nagestão de ativos e fortalecimento dacapacidade de regulação e fiscalizaçãodo Estado.

Em comparação com países desen-volvidos, a participação da previdênciacomplementar no Produto Interno Bru-to (PIB) brasileiro é ainda muito peque-na. Em relação às entidades fechadas,existem 353 fundos de pensão, com ati-vos da ordem de 10% do PIB, e um totalde 6.408.373 beneficiários (entre parti-

cipantes e dependentes). Na Holanda,os ativos das entidades de previdênciacomplementar alcançam o valor de 120%do PIB, 100% na Suíça, 78% nos EstadosUnidos e 40% no Japão.

O potencial de crescimento da pre-vidência complementar no Brasil podeser avaliado ainda se for levado em con-ta que existem cerca de 48 milhões debrasileiros, integrantes da PopulaçãoEconomicamente Ativa (PEA), que nãoestão vinculados a nenhum sistema fe-chado de poupança previdenciária, sen-do, portanto, uma população-alvo paraa previdência complementar. Dados daúltima Pesquisa Nacional por Amostra-gem de Domicílios (PNAD), elaboradapelo Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE), revelam que há trêsmilhões de pessoas do PEA que possuemaltas faixas salariais e bons níveis dequalificação profissional: são potenciaisparticipantes da previdência comple-mentar.

Facultativo � O Governo gosta deenfatizar que o projeto de previdênciacomplementar brasileiro, ao contráriodo que ocorreu em outros países lati-no-americanos, preserva �o caráter fa-cultativo da previdência complemen-tar�. A previdência social é mantida - emregime obrigatório e solidário - �comopilar central do sistema�, ressalta o mi-nistro Ornélas na exposição de motivos.As entidades, como já acontece na atuallegislação, são classificadas em fecha-das (participação depende de um vín-culo prévio entre as pessoas físicas ejurídicas que as capitalizam) e abertas(a participação não é condicionada pornenhum tipo de vínculo).

Mas não será mais admitida a exis-tência de entidades abertas sem finslucrativos - elas terão de ser constituí-das sob a forma de sociedades anôni-mas. Acredita o Governo que o dispo-sitivo permitirá um avanço no contro-

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Segundo o Governo, aocontrário do que ocorreu em

outros países latino-americanos, o projeto

preserva �o caráter facultativoda previdênciacomplementar�

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le e na transparência das entida-des abertas, pois sua motivaçãoprincipal será o lucro.

A proposta governamental pre-vê também a criação da figura doinstituidor como forma de consti-tuição de entidades fechadas deprevidência complementar. Dessaforma, pessoas jurídicas de cará-ter profissional, classista ousetorial, terão a opção de instituirpara seus associados ou membrosuma entidade fechada de previ-dência complementar e estarãocontribuindo para a extensão dosistema. É o caso da Anfip, Ordemde Advogados, sindicatos e outrasassociações de classe.

A constituição de entidades fecha-das será sob a forma de multiplano: en-tidades que oferecem planos de benefí-cios diferenciados, com independênciapatrimonial. A entidade multipatrocina-dora será regulamentada na mesma li-nha - aquela que congrega mais de um

� profissionaliza a gerência dos regimes de previdênciacomplementar, enfocando a noção de prudência nagestão dos ativos;

� permite a existência de entidades multipatrocinadorase multiplanos, preservando o caráter facultativo daprevidência complementar;

� as entidades de previdência complementar terão queser organizadas sob forma de sociedades anônimas,estabelecendo, dessa forma, que seu objetivo final é olucro;

� institui a noção de portabilidade (relacionadadiretamente à noção de contas individuais, permitindoque o segurado transfira seus fundos previdenciáriosde uma entidade para outra, não sendo facultada apossibilidade de resgate na transferência).

fechadas, por meio da contratação deresseguro. Com esse dispositivo, o Go-verno espera dar ao regime de previdên-cia complementar os requisitos neces-sários de segurança e de credibilidade.

Para estimular a poupança de longoprazo que será incrementada com a pre-vidência complementar, o projeto doGoverno não prevê incidência de tribu-tação sobre as contribuições aportadaspara as entidades, mas o pagamento deresgate e dos benefícios fica sujeito aoimposto de renda.

O projeto prevê a criação de um ór-gão regulador único, com as funções denormatizar e fiscalizar as entidades, nosmoldes das atuais agências regulatóriasnas áreas de telecomunicações, energiaelétrica, petróleo e vigilância sanitária.As penalidades às infrações ao regimede previdência complementar tambémforam revistas: a maior multa por infra-ção passará dos atuais R$ 6.500,00 paraR$ 1 milhão, em função da gravidade doato cometido.

� propicia maior flexibilidade na criação e na organizaçãodos planos e entidades de previdência complementar,desvinculadas em relação ao regime geral daPrevidência Social;

� institui órgão regulador e fiscalizador para asatividades exercidas pelas entidades de previdênciacomplementar (agência reguladora);

� confere maior credibilidade ao regime de previdênciacomplementar por meio da instituição de garantiasobrigatórias aos benefícios assumidos;

� as contribuições aportadas pelas entidades deprevidência complementar não serão objeto detributação, sendo somente sujeito à incidência doimposto de renda o pagamento de resgate e dosrespectivos benefícios;

patrocinador ou instituidor e executaplanos de benefícios acessíveis a todosos participantes, �com ou sem solida-riedade patrimonial�, diz a exposição demotivos.

Garantia � Será obrigatória a garan-tia dos benefícios assumidos, junto aparticipantes e assistidos de entidades

Principais pontos do PLC nº 10/99Que cria regras gerais para os regimes abertos e fechados de previdência complementar

Deputado Manoel Castro: espaço para negociação

Previdência○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Foto: Arquivo Câmara dos Deputados

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E nquanto no Brasil se discute aregulamentação do sistema deprevidência privada, os modelos

adotados pelos vizinhos latino-america-nos frustram as expectativas e mostramque ainda estão longe de substituir osistema público.

A situação dos fundos de pensãoprivados no Chile, país que até poucotempo era considerado modelo paraoutras nações, pode servir para enfra-quecer o argumento segundo o qual aprevidência privada alavanca investi-mentos com o aumento da poupançainterna. No caso chileno, as poupançascompulsórias dos trabalhadores há 18anos não resultam em produção. E hámilhares de pessoas sem cobertura atéhoje. �O modelo chileno foi rejeitadoaqui no Brasil�, admite o relator do pro-jeto que regulamenta a previdência pri-vada complementar, Manoel Castro (PFL-BA). �Lá se tentou substituir toda a pre-

vidência pública por uma privada, o go-verno assumiu todos os direitos adqui-ridos e não havia opção, todos tinhamque ir para a previdência privada�.

Na Argentina, a situação não é mui-to diferente. Ao ser criado, em 1994,pelo presidente Carlos Menem, o siste-ma de segurança social misto teve o mé-rito de limitar o crescimento da dívidaque o Estado via crescer assustadora-mente com os futuros aposentados.Mas, aos cinco anos, o sistema mistopode acabar ficando com o déficit doqual livrou o setor público, porque cres-

ce o desequilíbrio entre ingressos e re-tiradas do regime. Há outros problemasgraves no modelo argentino, como ofato de 12 milhões de trabalhadores cor-rerem sérios riscos de ficar sem cober-tura no futuro e a inadimplência de qua-se 50% nas contribuições. Na avaliaçãode um dos principais ideólogos da re-forma do regime previdenciário argen-tino, Daniel Marcu, a reforma portenha�não cumpriu as expectativas de gran-de parte da população, que contribuicom o sistema e espera estar protegidano futuro�.

Ao contrário do modelo chileno, queobrigou todos os trabalhadores a sefiliarem ao sistema privado (depositan-do 10% do salário em uma conta junto auma Administradora de Fundo de Pen-são - AFP), a reforma argentina prevê umsistema opcional. Menem criou um sis-tema misto pelo qual os trabalhadorespodem optar por aposentadoria peloregime de distribuição de contribuiçõesadministradas pelo Estado ou pelo decapitalização, mediante o qual cada um

poupa em uma conta individual con-trolada por uma Administrado-

ra de Fundos de Aposentado-rias e Pensões (AFJP).

No Uruguai, vigora hátrês anos um sistematambém misto. De umlado, mantém os direi-

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O fim dasolidariedadeO Brasil tem muito a aprender com os países vizinhos que, ao tentarem substituir osistema previdenciário público pelo privado, aprofundaram as injustiças sociais

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tos dos aposentados e pensionistasatuais, que continuam recebendo suascontribuições regularmente. Estão ga-rantidos também os direitos das pessoasque já possuem condições para se apo-sentar e dos maiores de 40 anos que op-taram por permanecer sob o sistema an-tigo. De outro lado, a legislação criouum sistema de contas individuais, depoupança obrigatória, que assegura opagamento de uma aposentadoria aopoupador desde que ele atinja 60 anos.Se desejar, a pessoa pode se aposentarmais tarde ou obter pensão para herdei-ros, em caso de morte.

Há também o caso do México. Comapenas dois anos de fundação, o siste-ma mexicano logrou algum êxito. É omaior da América Latina em número defiliados (mais de 14 milhões de traba-lhadores) e, para muitos analistas dosetor, é o mais dinâmico. Mas há um

dado preocupante: o governo não temidéia do montante de recursos previden-ciários dos fundos de pensão fechados.No México, não há lei que obrigue fun-dos de funcionários de empresas, comoestatais do porte de uma Pemex (aPetrobrás mexicana) ou montadoras es-trangeiras, a sofrerem qualquer tipo defiscalização ou terem que prestar infor-mações ao público.

O modelo mexicano teve tambémoutro revés: a baixa rentabilidade de seu

Em recente entre-vista publicada na re-vista Z, o intelectualn o r t e - a m e r i c a n oNoam Chomsky (FOTO)afirma que muito doque se tem falado arespeito de segurida-de social e da previ-dência é fraudulento.Segundo ele, privatizá-la é uma falsa questão. Se alguém achamelhor para a seguridade social inves-tir os recursos no mercado de açõesem vez de títulos do Tesouro, é bomlembrar que essa opção existe tantopara gestores públicos como privados.

De acordo com Chomsky, o prin-cipal objetivo é privatizar para fazer

patrimônio. Em 1998, foi em média de5,62%. As causas vão desde o perfil con-servador dos investimentos até o im-pacto das crises asiáticas e da Rússia,que provocaram perdas com as desva-lorizações dos papéis. No caso dos re-cém-criados fundos mexicanos, comoainda não tinham necessidade de ven-der papéis para pagar benefícios, opatrimônio dos trabalhadores não che-gou a ser afetado.

Aposta � O Governo brasileiro querexpandir a indústria de fundos de pen-são e incentivar a aplicação de seus re-cursos em investimentos, seja através dabolsa de valores, seja financiando obrassociais com aquisição de títulos. Em1998, os ativos dos 335 fundos fecha-dos brasileiros somavam R$ 90,7 bi-lhões, cerca de 10% do PIB. Da popula-ção economicamente ativa de 45 mi-lhões de pessoas, apenas dois milhõesde trabalhadores, entre ativos e inati-vos, integram algum fundo.

A regulamentação prevê uma flexi-bilização nos limites de aplicação dosinvestimentos dos fundos de pensão,mas eles também serão mais fiscaliza-dos, submetendo-se a auditorias semes-trais e sendo obrigadas a ressegurar seupatrimônio ou constituir um fundo desolvência contra quebras.

Os fundos fechados brasileiros en-frentam hoje uma dura realidade: aos 32anos, assistem agora a uma expansão donúmero de aposentadorias. Até aqui,viveram uma época de ouro: o dinheiroentrava e saía muito pouco para pagaraposentadorias. Isso possibilitou quefundos de estatais investissem por dé-cadas recursos baratos em projetos deretorno duvidoso: se houvesse rombo,era coberto pelos patrocinadores. A gi-gante Previ, do Banco do Brasil, comUS$ 17,7 bilhões de ativos, perdeu13,4% em 1998. É o maior fundo lati-no-americano.

Os fundos fechados brasileirosenfrentam hoje uma durarealidade: aos 32 anos,assistem agora a uma

expansão do número deaposentadorias. Até aqui,

viveram uma época de ouro.

as pessoas se encarre-garem dos seus ativosindividuais e não parater a solidariedade defazer algo juntas. �Éextremamente im-portante quebrar anoção de que alguémtem responsabilida-de em relação ao pró-ximo�, argumenta.O

que esse modelo objetiva é uma so-ciedade baseada numa unidade so-cial que consiste no indivíduo e o seuaparelho de televisão. Nada a vercom qualquer outra pessoa. �Se o vi-zinho ao lado investiu mal as suaseconomias e agora passa fome navelhice, o problema é só dele�.

Coitado do vizinho

Previdência○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Foto: Arquivo

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Bibl ioteca

SonegaçãoTema central de capa desta revista, �Sonega-

ção, Fraude e Evasão Fiscal�, Volume V (83 pági-nas), já está disponível, como parte de um ciclo depalestras e seminários realizados pela Anfip paradiscutir o assunto. Esses seminários reúnem fiscaisfederais, estaduais e municipais, além de procura-dores, delegados de Polícia Federal, Ministério Pú-blico e juízes federais. Tem-se, assim, um apanhadoimportante sobre as várias faces da sonegação fiscal no Brasil e, o que émais importante, uma rica troca de experiências para reforçar o cerco aossonegadores. A publicação pode ser solicitada diretamente à Anfip.

PrevidênciaA Anfip coloca à disposição dos

interessados a íntegra do Decretonº 3.048, que consolidou aslegislações de benefícios e custeioda Previdência Social (Brasília, 273páginas). Com isso, a entidademantém o compromisso dedivulgar a legislação que normatizao custeio e os benefícios previden-ciários e já está desenvolvido ocomparativoentre oDecretonº 3.048com osdecretosanteriores,comlançamentoprevistopara breve.

ODepartamento Intersindicalde Assessoria Parlamentar

(Diap) acaba de atualizar a série �OsCabeças do Congresso�, uma pes-quisa sobre os 100 parlamentaresmais influentes do Poder Legislativo.O levantamento, feito a partir de cri-térios quantitativos e qualitativos,apurados segundo a metodologia con-vencional da ciência política, identifi-ca os líderes do processo decisório no âmbito do Legislativo.

Desprovido de qualquer vício ideológico, regional, profis-sional ou partidário, o trabalho é um guia seguro dos reaisinterlocutores do Congresso Nacional. Os parlamentares estãoclassificados como debatedor, articulador, negociador, líder deopinião e negociador. Entre os 100 parlamentares mais influen-tes, 75 são deputados e 25 senadores.

Um fenômeno se repete desde o primeiro número da série�Os Cabeças� do Congresso: a prevalência das regiões ricas,urbanizadas e industrializadas ou dos Estados ricos das regiões

pobres na elite do Poder Legislativo.Assim, ao contrário da representaçãotradicional no Congresso, onde as re-

giões menos desenvolvidas possuemproporcionalmente a maioria

dos deputados, os líderesdo processo decisório nãolhes pertencem, mas às re-giões ricas ou desenvolvi-das do País.

A região com maior nú-mero de parlamentares en-

tre os mais influentes do Congresso é a região Sudeste, com 46nomes, seguida da região Nordeste, com 25. A região Sul estápresente na elite parlamentar com 13 parlamentares, enquantoas regiões Centro-Oeste e Norte estão representadas respecti-vamente por 5 e 11 nomes. Portanto, pelo menos do ponto devista de quem decide e negocia no Congresso, quem dá as car-tas são os Estados ricos da Federação.

Os interessados em adquirir a publicação �Os Cabeças doCongresso Nacional� devem entrar em contato com o Diap pe-los fones (0--61) 225-9744/225-9704, fax (0--61) 225-9150 ou e-mail [email protected]

As cabeças do Congresso

GíriaJá em sua quinta edição, o Dicionário de Gírias (Brasília,

471 páginas), do jornalista J. B. Serra e Gurgel, disponívelnas livrarias, é um excelente manual para compreender a lin-guagem das ruas. Segundo o próprio autor, �é a linguagempopular ou popularesca das gentes, a voz do povo, a pala-vra do homem comum, a linguagem simples e rudimentardo homem da rua�. Vale conferir.

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30 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

ANÁLISE DA AÇÃO FISCAL � Janeiro a maio de 1999

30

O Resultado da Ação Fiscal(RAF) nos cinco primeiros me-ses de 1999 totalizou R$ 3,071bilhões, correspondendo a15,61% do total da arrecadaçãobancária + Simples que foi deR$ 19,671 bilhões, de acordocom o Fluxo de Caixa do INSS.Se comparado com o mesmoperíodo de 1998, quandototalizou R$ 4,313 bilhões, ve-rificou-se queda significativa noRAF.

É importante frisar que talqueda ainda é uma decorrên-cia direta da troca de sistema de arre-cadação e cobrança do INSS, ocorridaem dezembro último. A partir daí pas-saram a se verificar problemas admi-nistrativos decorrentes dessa transi-ção, tais como o congestionamento delinhas resultante da falta de treina-mento adequado e de adaptação aonovo sistema.

Os fiscais de contribuições previ-denciárias fiscalizaram em todo o ter-ritório nacional 26.734 empresas e vi-sitaram outras 27.197. Foram emiti-das 4.068 Notificações Fiscais de Lan-çamento de Débito (NFLD), que totali-zaram R$ 2,00 bilhões e representa-ram 65,12% do total do RAF, com li-geira queda no volume monetário emrelação a mesmo período de 1998.

Quanto aos recolhimentos, totali-zaram R$ 332,20 milhões, represen-

Resultado da ação fiscal noscinco primeiros meses de 1999atinge R$ 3,071 bilhões

tando 10,82% do total do RAF e apre-sentando uma pequena queda em re-lação ao cinco primeiros meses de1998, quando somaram R$ 353,94milhões.

Já com relação aos parcelamentos,foram emitidas 5.499 Confissões deDívida Fiscal (CDF), que totalizaram R$738,88 milhões, 24,06% do total doRAF, e apresentando queda em rela-ção a mesmo período de 1998, quan-do então somaram R$ 1,668 bilhão.

Compondo os dados agregados, onúmero de empresas visitadas e fisca-lizadas chegou a um total de 53.931,inferior ao verificado nos cinco primei-ros meses de 1998, que foi de 60.659.Entretanto, mesmo com a redução donúmero de empresas, está havendouma melhoria na qualidade da açãofiscal.

Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

Analisando o ranking das regiõesdo País, verifica-se que o Sudeste re-presentou nos cinco primeiros me-ses de 1999 66,25% do Resultado daAção Fiscal. Ela é seguida de longepela região Sul, 14,65%; Nordeste,10,78%; Centro Oeste, 3,12%; e Nor-te, 2,19%.

Quanto aos Estados da Federação,São Paulo foi responsável por 46,40%do RAF, seguido pelo Rio de Janeiro,com 8,90%; por Minas Gerais, com5,29%; Rio Grande do Sul, 5,19%;Paraná, 4,85%; Santa Catarina, 4,61%;Bahia, 2,67%; e Espírito Santo,2,16%.Esses oito estados totalizaram 80,07%do RAF no período de janeiro a maiode 1999.

Assessoria Econômica da ANFIPJulho de 1999

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Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 31

RESULTADO DA AÇÃO FISCAL (RAF)Janeiro a maio de 1999

UF EMPRESAS RECOLH. CDF NFLD RAF (%)FISCAL. VISIT. VALOR QTDE. VALOR QTDE. VALOR VALOR

A M 434 79 1.742 44 5.403 36 10.564 17.709 0,58PA 12 183 574 104 14.673 47 14.881 30.128 0,98AC 1 10 27 12 76 2 31 133 0,00AP 14 28 1 6 1.345 8 12.106 13.451 0,44RO 0 20 4 3 54 6 122 180 0,01RR 1 29 67 3 55 1 355 477 0,02TO 4 104 245 33 3.799 8 1.264 5.308 0,17

NORTE 466 453 2.659 205 25.404 108 39.324 67.387 2,19

AL 209 236 396 23 2.213 65 29.397 32.006 1,04B A 1.244 584 5.735 273 31.535 136 44.632 81.902 2,67CE 344 241 1.440 45 9.112 26 13.956 24.507 0,80M A 252 245 2.736 49 8.255 99 23.326 34.317 1,12PB 387 348 1.238 65 4.747 186 26.930 32.915 1,07PE 103 127 3.867 22 14.874 31 21.607 40.348 1,31PI 0 506 272 64 9.493 70 11.861 21.627 0,70RN 90 156 1.364 24 8.812 13 13.383 23.559 0,77SE 36 126 130 12 5.735 154 34.176 40.041 1,30

NORDESTE 2.665 2.569 17.178 577 94.776 780 219.268 331.222 10,78

ES 492 461 13.386 101 21.852 172 31.154 66.392 2,16MG 5.454 3.105 40.595 472 62.530 314 59.410 162.536 5,29RJ 2.734 1.046 14.169 119 46.730 267 212.394 273.292 8,90SP 11.145 9.924 197.783 2.424 304.840 1.436 1.122.396 1.625.019 46,40

SUDESTE 19.825 14.536 265.934 3.116 435.952 2.189 1.425.354 2.127.240 66,25

PR 1.654 2.096 15.905 731 67.256 176 65.800 148.961 4,85RS 1.024 4.816 11.373 349 43.467 301 104.738 159.578 5,19SC 864 1.230 11.958 442 34.618 246 95.051 141.626 4,61

SUL 3.542 8.142 39.236 1.522 145.341 723 265.588 450.166 14,65

M S 232 210 3.827 25 5.771 196 16.707 26.305 0,86GO 362 281 1.820 40 13.371 45 4.838 20.028 0,65M T 80 141 1.487 14 18.271 27 29.725 49.483 1,61DF 25 402 66 0 0 0 0 66 0,00

C.OESTE 699 1.034 7.200 79 37.413 268 51.269 95.882 3,12

BRASIL 27.197 26.734 332.206 5.499 738.886 4.068 2.000.804 3.071.897 100,00

Fonte: MPAS/INSS /DAFNotas:Recolh. = RecolhimentoCDF = Confissão de Dívida Fiscal (parcelamentos)NFLD = Notificação Fiscal de Lançamento de DébitoRAF = Resultado da Ação Fiscal = Recolh. + CDF + NFLD

(R$ milhares)

31Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

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32 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

FLUXO DE CAIXA - Janeiro a junho de 1999

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Analisando o comportamento daprincipal fonte de receita da Previdên-cia Social, qual seja, a ArrecadaçãoBancária + Simples (advindas do re-colhimento de empregadores e em-pregados), e com dados consolidadosdo Fluxo de Caixa do INSS do primei-ro semestre de 1999,observou-se que hou-ve um incremento no-minal de 2,50% em re-lação ao mesmo pe-ríodo de 1998. Em ter-mos monetários, hou-ve um acréscimo no-minal de R$ 579,00milhões para os cofresdo INSS, ou seja, pas-sou de R$ 23,163 bi-lhões nos seis primeiros meses de1998 para R$ 23,742 bilhões no mes-mo período de 1999.

Já a performance da Receita To-tal (que inclui aplicações, antecipa-ções e outras receitas) verificou-seum incremento nominal de 18,65%no total dos recebimentos em com-paração com igual período de 1998.Em termos monetários, essa receitasubiu de R$ 25,785 bilhões para R$30,593 bilhões, ou seja, um acrésci-mo de R$ 4,808 bilhões. Esse fatose deve à ocorrência de antecipaçãode receita da ordem de R$ 2,314 bi-

Arrecadação bancáriacresce no primeirosemestre de 1999

lhões no período considerado.Quanto aos repasses constitucio-

nais do Tesouro Nacional, observou-se uma significativa queda na rubri-ca Contribuição sobre o Lucro Líqui-do, já que o valor repassado nos seisprimeiros meses de 1998 foi de R$

696,15 milhões, enquanto que nomesmo período do corrente ano orepasse foi de apenas R$ 187,58 mi-lhões. Quanto à rubrica Cofins acon-teceu o inverso, ou seja, teve um sal-to no repasse no período de janeiroa junho de 1998 de R$ 39,86 milhõespara R$ 2,448 bilhões no mesmo pe-ríodo de 1999. O comportamento dosrepasses da rubrica Cofins/Loas tam-bém melhorou, uma vez que estaaumentou de R$ 474,82 milhões noprimeiro semestre de 1998 para R$720,66 milhões no mesmo períodode 1999.

Em seu conjunto, os repasses daUnião aumentaram de R$ 1,032 bilhãono primeiro semestre de 1998 paraR$ 3,566 bilhões no mesmo períodode 1999, evidenciando uma melhoriana sensibilidade do Tesouro Nacionalpara com a devida alocação dos recur-sos orçamentários destinados aofinanciamento da Seguridade Social.

Se analisarmos o comportamentoda arrecadação/Simples, verificou-seuma ligeira queda nominal de -0,55%no primeiro semestre de 1999 emcomparação ao mesmo período de1998. Em termos monetários, isso re-presentou uma queda de apenas R$

3,86 milhões, passandode R$ 703,83 milhõespara R$ 699,97 milhões.

Sob a ótica das despe-sas e analisando especifi-camente o comportamen-to da principal rubrica,qual seja a de Benefícios,observou-se um aumentomonetário nominal de9,34% no período de ja-neiro a junho de 1999 em

relação aos mesmos meses de 1998.Em termos gerais, o Fluxo de Cai-

xa Consolidado do Instituto Nacionaldo Seguro Social (INSS) no primeirosemestre de 1999 apresentou um de-sempenho mais favorável em relaçãoa igual período do ano passado, o queconfirma mais uma vez o esforçoarrecadador dos fiscais de contribui-ções previdenciárias, bem como tam-bém do conjunto dos servidores daPrevidência.

Assessoria Econômica da AnfipJulho de 1999

Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

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Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99 33

Fluxo de caixa consolidado do INSS - Janeiro a junho de 1999(R$ milhares)

33Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

DISCRIMINAÇÃODISCRIMINAÇÃODISCRIMINAÇÃODISCRIMINAÇÃODISCRIMINAÇÃO JANEIROJANEIROJANEIROJANEIROJANEIRO FEVEREIROFEVEREIROFEVEREIROFEVEREIROFEVEREIRO M A R Ç OM A R Ç OM A R Ç OM A R Ç OM A R Ç O ABRILABRILABRILABRILABRIL MAIOMAIOMAIOMAIOMAIO J U N H OJ U N H OJ U N H OJ U N H OJ U N H O ACUMUL.ACUMUL.ACUMUL.ACUMUL.ACUMUL.

1 - SALDO INICIAL1 - SALDO INICIAL1 - SALDO INICIAL1 - SALDO INICIAL1 - SALDO INICIAL 464.910464.910464.910464.910464.910 299.758299.758299.758299.758299.758 179.144179.144179.144179.144179.144 259.925259.925259.925259.925259.925 505.459505.459505.459505.459505.459 297.072297.072297.072297.072297.072 464.910464.910464.910464.910464.910

2 - TOTAL RECEBIMENTOS (A+B)2 - TOTAL RECEBIMENTOS (A+B)2 - TOTAL RECEBIMENTOS (A+B)2 - TOTAL RECEBIMENTOS (A+B)2 - TOTAL RECEBIMENTOS (A+B) 5.056.0815.056.0815.056.0815.056.0815.056.081 4.918.8344.918.8344.918.8344.918.8344.918.834 5.188.6565.188.6565.188.6565.188.6565.188.656 8.786.9098.786.9098.786.9098.786.9098.786.909 1.400.7951.400.7951.400.7951.400.7951.400.795 5.242.3155.242.3155.242.3155.242.3155.242.315 30.593.59030.593.59030.593.59030.593.59030.593.590

Arrecadação Bancária 3.711.314 3.730.924 3.838.881 3.945.264 3.871.893 3.943.924 23.042.200

Depósitos Judiciais 0 0 0 0 0 302.968 302.968

Remuneração s/ Arrecadação Bancária 389 441 548 467 448 270 2.293

Rendimento Aplicações Financeiras 4.129 4.973 4.924 5.079 4.202 3.139 23.307

Resgate de Títulos e Bonificações 4 2 0 0 0 0 6

Outros 40.036 32.608 37.624 21.440 43.699 32.846 208.253

Antecipação de Receita 615.173 489.468 509.003 4.026.445 -3.325.900 102.723 2.314.189

SUBTOTAL ASUBTOTAL ASUBTOTAL ASUBTOTAL ASUBTOTAL A 4.371.0454.371.0454.371.0454.371.0454.371.045 4.258.4164.258.4164.258.4164.258.4164.258.416 4.390.9804.390.9804.390.9804.390.9804.390.980 7.998.6957.998.6957.998.6957.998.6957.998.695 594.342594.342594.342594.342594.342 4.385.8704.385.8704.385.8704.385.8704.385.870 25.999.34825.999.34825.999.34825.999.34825.999.348

Arrecadação / SIMPLES 118.309 104.125 111.673 119.793 118.809 127.272 699.981

Recursos Ordinários 90.000 238.472 114.871 16.918 18.673 17.751 496.685

Cota de Previdência 0 0 0 0 0 0 0

COFINS 166.371 93.501 269.351 362.875 390.288 445.037 1.727.423

COFINS/LOAS 111.135 113.036 114.569 127.330 122.890 131.700 720.660

Contribuição Plano Seguridade Social 0 0 0 0 0 0 0

Fundo de Estabilização Fiscal 90.000 92.000 90.000 75.900 71.000 15.480 434.338

Fundo de Estabilização Fiscal / EPU 108.358 12.184 56.862 57.084 56.627 56.543 347.658

Contribuição Social Sobre o Lucro 0 7.100 40.350 29.314 28.166 82.654 187.584

Concurso Prognóstico 0 0 0 0 0 0 0

SUBTOTAL BSUBTOTAL BSUBTOTAL BSUBTOTAL BSUBTOTAL B 684.173 684.173 684.173 684.173 684.173 660.418660.418660.418660.418660.418 797.676797.676797.676797.676797.676 789.214789.214789.214789.214789.214 806.453806.453806.453806.453806.453 876.437876.437876.437876.437876.437 4.614.3294.614.3294.614.3294.614.3294.614.329

3 - TOTAL DE PAGAMENTOS3 - TOTAL DE PAGAMENTOS3 - TOTAL DE PAGAMENTOS3 - TOTAL DE PAGAMENTOS3 - TOTAL DE PAGAMENTOS 5.220.2135.220.2135.220.2135.220.2135.220.213 5.039.4485.039.4485.039.4485.039.4485.039.448 5.097.8755.097.8755.097.8755.097.8755.097.875 5.070.3855.070.3855.070.3855.070.3855.070.385 5.090.1725.090.1725.090.1725.090.1725.090.172 5.262.3075.262.3075.262.3075.262.3075.262.307 30.780.40030.780.40030.780.40030.780.40030.780.400

Benefícios 4.521.413 4.471.371 4.518.760 4.538.367 4.581.594 4.644.218 27.275.723

Custeio 232.518 70.985 163.812 61.782 98.542 66.973 627.639

Pessoal 151.022 214.649 149.515 207.989 142.676 192.303 865.851

Restituições 2.494 3.157 4.220 4.692 3.978 4.016 18.541

Transferência a Terceiros 312.766 279.286 261.568 257.555 263.382 259.857 1.374.557

FNDE - Salário-Educação 103.667 93.983 85.072 70.141 88.370 87.086 441.233

INCRA 20.282 17.611 16.500 17.853 16.374 16.692 88.620

DPC/FDEP - Marítimo 1.544 1.374 1.351 1.544 1.110 1.641 6.923

SEFA - Fundo Aeroviário 3.254 2.799 2.895 2.943 2.509 2.413 14.400

SDR/MAARA 3.630 3.088 2.847 3.185 2.991 2.895 15.741

SENAI 18.630 17.129 14.572 16.309 16.585 13.896 83.225

SESI 23.512 21.905 19.397 21.423 20.245 19.589 106.482

SENAC 25.825 23.932 22.774 22.436 20.024 21.230 114.991

SESC 51.955 45.355 45.450 45.452 40.530 44.472 228.742

SEBRAE 48.421 42.219 40.819 41.736 40.749 37.246 213.944

SENAR 2.917 2.316 2.123 2.654 3.908 3.957 13.918

SEST 5.512 4.535 4.632 4.680 5.211 4.246 24.570

SENAT 3.617 3.040 3.136 3.136 3.377 2.095 16.306

SESCOOP 0 0 0 4.063 1.399 1.399 5.462

6 - SALDO NOMINAL (1+2-3)6 - SALDO NOMINAL (1+2-3)6 - SALDO NOMINAL (1+2-3)6 - SALDO NOMINAL (1+2-3)6 - SALDO NOMINAL (1+2-3) 299.758299.758299.758299.758299.758 179.144179.144179.144179.144179.144 269.925269.925269.925269.925269.925 3.986.4493.986.4493.986.4493.986.4493.986.449 297.072297.072297.072297.072297.072 372.220372.220372.220372.220372.220 297.072297.072297.072297.072297.072

7 - SALDO OPERACIONAL (2-3)7 - SALDO OPERACIONAL (2-3)7 - SALDO OPERACIONAL (2-3)7 - SALDO OPERACIONAL (2-3)7 - SALDO OPERACIONAL (2-3) -165.162-165.162-165.162-165.162-165.162 -120.614-120.614-120.614-120.614-120.614 90.78190.78190.78190.78190.781 3.716.5243.716.5243.716.5243.716.5243.716.524 -3.689.377-3.689.377-3.689.377-3.689.377-3.689.377 75.14875.14875.14875.14875.148 -92.700-92.700-92.700-92.700-92.700

Page 32: Editorial - Fundação ANFIP De Estudos Tributários e ...€¦ · de imposto ou contribuiçªo. Portanto, urge a necessidade de mecanismos de estimu-lo às carreiras de fiscais,

34 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

Cristovam BuarqueAutor do livro �O Colapso da Modernidade Brasileira�,1991, professor da UnB, ex-governador do DF, pelo PT

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34 Revista de Seguridade Social - Agosto/Setembro-99

A sociedade que não paga suas dívidas énecessariamente caótica. Todas elas de-vem ser pagas, e não apenas algumas.

Há 500 anos o Brasil vem contraindo dívidas eadiando o compromisso de saldá-las.

Temos uma dívida de cinco séculos comnossos índios e, no lugar de resgatá-la, toma-mos, a cada dia, mais um pedaço de suas ter-ras, destruímos mais um pouco do que restade suas culturas. Deixamos que morram suascrianças, hoje, com a mesma indiferença quehá séculos nossos antepassados matavam seusadultos.

Temos uma dívida secular com nossos ne-gros. Retiramos seus antepassados da terraafricana para explorá-los como escravos. For-çados pela pressão internacional, terminamosabolindo a escravidão, mas não lhes demosterra, escola, não lhes oferecemos empregos.Mantivemos maldisfarçados preconceitos, poisa quase totalidade de pobres excluídos é de negros.

Temos uma terrível dívida com nossas crianças. A cadadia morrem milhares delas antes de completarem o quintoano de vida. Entre as que sobrevivem, mais de dez por centotrabalham, em vez de ir à escola; noventa por cento não ter-minarão o segundo grau e, das que concluem, poucas terãotido uma educação satisfatória. A violência se encarrega dematar muitas das que sobrevivem, mas também essas têmsuas infâncias roubadas, pela falta de escola e de brinquedo.Esta é uma dívida que não se paga atrasada, porque a infân-cia não retorna.

Temos uma dívida com os doentes mentais depositadosem manicômios desumanos, doentes crônicos renais sem di-reito à hemodiálise competente, portadores de deficiência semacompanhamento especial, milhões de mulheres sem atendi-mento pré-natal e prematuros sem lugar em incubadoras. Te-mos, ainda, uma dívida com os que sofrem de dengue, de le-pra, de esquistossomose, de tuberculose e outras doençasendêmicas, contraídas por um desprezo secular às necessida-des sanitárias da população.

Temos uma dívida com as vítimas da violência urbana,fabricada pelo desenvolvimento, e com os criminosos jogadosem cadeias vergonhosas, incompatíveis com os direitos hu-manos do final do século.

Temos uma dívida com milhões de brasi-leiros sem terra, impedidos de trabalhar naterra que sobra por todos os lados, cercadapara que não seja usada pelos que dela ne-cessitam para comer, para criar os filhos.

Temos uma dívida com os milhões dedeserdados expulsos do campo, atraídos paraas cidades pelas mentirosas ilusões do desen-volvimento, mas se transformando em excluí-dos, sem-teto, miseráveis, nômades urbanos,trabalhadores em lixões, pedintes, flanelinhas,pivetes, meninos e meninas de rua, prostitu-tas, jovens e até infantis.

Temos uma dívida com nossas matas, nos-sas minas, florestas, ar, mares e rios de nossaterra, depredada, poluída por um processo eco-nômico que, de estúpido e egoísta, saqueia enão devolve, servindo apenas para o enrique-cimento de alguns, muitas vezes estrangeiros.

Temos uma forte dívida com nossa juven-tude. Sem a educação compatível para enfrentar o mundo doséculo XXI, sem perspectiva de emprego e promoção pessoal,sem uma mística em nome do País, sem bandeiras específicas.E também com nossos velhos sem aposentadoria, nem direitoa um final tranqüilo nos últimos anos de suas vidas.

Temos também uma dívida com alguns banqueiros, nacio-nais e estrangeiros. Uma dívida contraída por ditadores,governantes irresponsáveis, ministros sem compromisso, quenos endividavam para executar projetos sem alcance social,ou corruptos que faziam as dívidas em troca de comissõesdos bancos. Outros, ainda, que nos endividaram por incompe-tência, por subserviência aos banqueiros ou falta de vontadepara enfrentar o problema. Mas, mesmo assim, uma dívida quetemos a obrigação de não esquecer, porque é uma realidade.

Temos uma dívida com a História por não definirmos ahierarquia das dívidas. Quando pagas com atraso, constran-gem o devedor. Mas, talvez, nenhuma nos envergonhe tantoquanto a que estamos contraindo com a História: a de expli-car, no futuro, como um Governo e um Congresso eleitos de-mocraticamente, pelo voto da maioria do povo brasileiro, sãocapazes de um saldo de R$ 30 bilhões para pagar uma partedo compromisso com os banqueiros e não destinam um pou-co desse dinheiro para saldar cada uma das outras dívidas se-culares com o povo que os elegeu.

“ ...nos endividaram porincompetência, por

subserviência aos banqueirosou falta de vontade para

enfrentar o problema. Mas,mesmo assim, é uma dívidaque temos a obrigação de

não esquecer, porque é umarealidade”

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Foto: Luís Neto/Ag. Brasília

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