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EDUCAÇÃO E PERPLEXIDADE1
DANIEL SOTELO2
GOIANIA, 2014
1 Estudos já publicados em algumas revistas eletrônicas2 Dr. em Ciências da Religião e pós-doutor em Educação
1
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
1.1 Concepções da Educação
1.2 Os ensinos na Ilíada e Odisseia
1.3 A educação em Homero
1.4 A educação em Esparta
1.5 A ordem da Sociedade
1.6 A educação dos Jovens
1.7 A educação das mulheres
1.8 A virtude Espartana
1.9 A educação Ateniense
1.10 Estado/Cultura
1.11 Características da educação em Atenas
1.12 A educação Grega e os Sofistas
1.13 Protágoras e Górgias
CAPÍTULO II A FILOSOFIA E A EDUCAÇÃO
2.1 Sócrates e a pedagogia da maiêutica
2.2 A dialética de Sócrates
2.3 O idealismo socrático
2.4 A educação nas castas sociais
CAPÍTULO III A CONCEPÇÃO GREGA DE EDUCAÇÃO
3.1 Os ideais gregos a educação e a realidade
3.2 Sócrates
3.3 A Grécia no século V a.C.
3.4 O ensino dos sofistas
3.5 A crise da filosofia
3.6 Sócrates e os sofistas
2
3.7 A personalidade de Sócrates
3.8 Sócrates: educador e moralista
3.8.1 A educação
3.8.2 O método de Sócrates
3.8.3 A moral em Sócrates
3.8.4 O paradoxo
3.8.5 A felicidade
3.8.6 A influência de Sócrates
3.9 Platão
3.9.1 Vida
3.9.2 A Obra
3.9.3 As Ideias
3.9.4 Platão, educação e a vida virtuosa
3.9.5 Platão e a pedagogia
CAPÍTULO IV ARISTÓTELES E A EDUCAÇÃO
4.1 Aristóteles e a Educação
4.2 A educação e a Psicologia
4.3 A educação integral
CAPÍTULO V SANTO AGOSTINHO E A EDUCAÇÃO
5.1 Santo Agostinho um filósofo adiante de seu tempo
5.2 Santo Agostinho e eu tempo
5.3 Os pensamentos mais importantes de Santo Agostinho
CAPÍTULO VI O CONHECIMENTO RACIONAL E TEOLÓGICO EM
MAIMÔNIDES
6.1 Moses Maimônides e o conhecimento
6.2 A lei como conhecimento
6.3 Outras formas de Conhecimento
CAPÍTULO VII ROUSSEAU E O CONCEITO DE HOMEM EM EDUCAÇÃO
7.1 Jean Jacques Rousseau e os seus interpretes
7.2 Jean Jacques Rousseau e o homem
7.3 Emílio
3
7.4 O homem
7.5 A pureza
7.6 Perfectível
CAPÍTULO VIII APLICAÇÃO DA TEORIA DE JEAN PIAGET À EDUCAÇÃO
CAPÍTULO IX A PROPOSTA PEDAGÓGICA DE FREINET
9.1 Em busca de equilíbrio – a escola
9.2 A motivação – a vida da criança
9.3 Sensibilidades do educador
9.4 As fases da escrita
9.5 A escrita pessoal livre
9.6 A aula viva – um sonho a ser realizado
CAPÍTULO X EDUCAÇÃO E TEORIA CRÍTICA
10.1 A educação sob a ótica da Teoria Crítica da sociedade
10.2 Educação e Emancipação
10.3 A Educação Hoje
10.4 Grupo e preconceito em Adorno e Habermas
CAPÍTULO XI PEDAGOGIA E CONSCIENTIZAÇÃO DE PAULO FREIRE
CAPÍTULO XII “CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ENSINAR”, RUBEM
ALVES
4
Dedicatórias
Dedico este trabalho aos alunos que durante três décadas fizeram parte de minha
vida em sala de aula, exigiram que eu estudasse mais, pesquisasse, buscando
nos livros, na internet, nos estudos de mestrado, de doutorado e pós-doutorado
uma melhor performance. Escrevendo ou lendo, traduzindo num sistema de
verdade e certeza, de erro e tentativa de acerto chegamos a esta pesquisa.
Dedico a quem fez parte de minha vida de trabalho e de estudo.
Dedico a companheira que me ajudou quando quase morri cuidando de mim como
uma enfermeira, pacientemente cuidando e me dando remédio.
Gabriela este estudo é para você.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a algumas pessoas que anonimamente fizeram parte das discussões
sobre assuntos educacionais.
6
PREFÁCIO
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CAPÍTULO I HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO3
1.1Concepção de Educação
A formação do indivíduo tem o caráter dos guerreiros nas lutas neste
período. Cultivavam o corpo, exercitavam a mente, competiam em corridas. Era a
Grécia das Olimpíadas. Nas relações humanas: os homens com os seus
oponentes provocam um ideal de formação: era uma formação mais livre e
intelectual. A Ilíada de Homero mostra como o antigo conceito guerreiro da Aretê
(acordo, decreto, verdade) já não satisfazia mais.
O domínio da palavra significa a cultura do espírito, a pratica das ações, o
cultivo do corpo.
“Não foi em vão que os gregos viram nestes versos da Ilíada
a mais antiga formulação do ideal grego de Educação. Que
era o esforço de alcançar o ser humano em sua totalidade.
Assim, esta era forma em que fora citada num período de
cultura refinado e de retórica que elogia a alegria e as ações
dos tempos heróicos e assim se opõe ao presente, presente
este que era pobre em atos, mas rico em palavras. Mas
também pode ser citado no universo que demonstra o
préstimo espiritual da antiga cultura aristocrática. O domínio
da palavra significa a soberania do espírito. Assim, Fênix
pronuncia a sentença quando o colérico Aquiles recebe a
delegação dos chefes gregos. O poeta opõe Odisseu, que
era mestre das palavras contra Ájax, que era o homem das
ações... Mediante o contraste de modo mais claro, este era o
ideal do mais nobre dos heróis. Aquiles, educado por Fênix
era mediador e terceiro membro da embaixada. Daí, conclui-
se de modo bem claro, que a palavra Aretê, era o que
equivale a concepção original e a forma tradicional a
3 Curso dado em Pedagogia em várias Faculdades e em pós-graduação: 2003-2004.
8
destreza guerreira, não encontrou obstáculo para
transformar-se no conceito da nobreza, que se formou de
acordo com suas mais altas exigências espirituais, tal como
ocorreu na evolução posterior de seu significado”. (Werner
Jaeger - Paideia)
1.2Os ensinos na Ilíada e Odisseia
Homero foi o primeiro educador dos gregos devido aos seus poemas que
tem importância excepcional na formação da cultura e educação na Grécia. A
Ilíada é para os gregos um poema nacional, uma epopéia da pratica helênica onde
são cantados os costumes guerreiros e os feitos dos gregos contra os povos do
Oriente, pela conquista de Tróia. Nela os gregos não somente viam na sua
historia, mas também seu código religioso e moral, seu guia na guerra. Esse
código representava o Livro Sagrado para o mundo helênico, a Odisséia
representa as tradições familiares e os costumes domésticos.
Dentro do fundamento helênico é que são buscados e os seus justificativos
filosóficos morais, suas genealogias e seus conhecimentos geográficos. O que
mais tarde, esse mesmo poema serviu para os fundamentos da filosofia e da
gramática grega.
Esses dois poemas forneceram, ainda, aos gregos o seu ideal educativo, na
formação de cada criança em homem de ação e em cada homem de sabedoria,
que são encontrados na figura de Ulisses e Aquiles. Pela sua bravura, respeito
aos deuses tem domínio sobre si mesmo. Ulisses é aquele que representa a ação
e a prudência e a reflexão e Aquiles, por outro lado, é o que concretizava o tipo de
homem de sabedoria.
Dentro dos poemas de Homero encontra-se a exploração do sentido da
Educação grega, que caracteriza a distinção da Educação no Oriente. Esta
educação teve, para o período de Homero um caráter sagrado e material,
enquanto que a educação helênica teve um caráter humano e formal.
Do ponto de vista religioso, a união das divindades, mediante o
conhecimento das doutrinas reveladas, os gregos, se aproxima dos atributos de
perfeição de seus deuses, por meio do cultivo de suas virtudes físicas e
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espirituais. Daí resulta o desabrochar da educação helênica, da liberdade civil e a
afirmação da personificação individual. Ao contrario dos educadores orientais que
continua predominando a idéia da centralização do absolutismo político.
Apesar de se diferenciar da educação Oriental, a educação Helênica não se
elevou da oriental. A liberdade civil e a dignidade pessoal só eram reconhecidas,
na Grécia, nos homens livres. O mundo dos escravos era incomparavelmente
maior em quantidade de pessoas do que o mundo dos homens livres. A situação
social da mulher era, mais ou menos, idêntica à da mulher Oriental. O culto aos
deuses humanizados não foi suficiente para impedir a imoralidade e a devassidão
que imperavam, em certas épocas, na sociedade grega.
1.3A Educação em Homero
A educação no mundo de Homero foi com razão um período profundamente
culto, talvez o mais alto expoente de uma civilização de livros. Valentia,
prudência, lealdade, hospitalidade, castidade, etc; foram estas virtudes praticadas
pelos gregos, que mais tarde os tornará admirados por todos os povos. Até
mesmo a eloqüência e a genealogia eram extraídas dos poemas de Homero.
Ainda na época de Alexandria (séculos IV a. C. a I a. C.) tiveram importância
central para as obras de Homero, que constituíram a pedra de toque para
fundamentar a filosofia, a gramática e a crítica literária.
“Os poemas de Homero falam do que era a educação
naqueles tempos e lugares. Ao se referirem aos heróis, não
se esquecem de sublinhar os traços mais salientes de sua
formação e de seus mestres. O centauro Quiron, primeiro
mestre de Aquiles, instruiu a este na musica e na caça.
Fênix, seu segundo mestre, inculcou-lhe a sabedoria e as
virtudes heróicas da época. Deves dizer quanto deve ser dito
e fazer quanto deve ser feito. Telêmaco, filho de Ulisses, foi
educador de mentor. Este fez de Telêmaco, débil e distraído,
um homem cheio de vigor, valoroso e circunspeto. Assim, a
valentia foi-se transformando numa virtude a serviço da
honra. Fénelon, em sua celebrada novela de aventuras de
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Telêmaco, fez de Mentor o tipo humano de preceptor,
mestre, e conselheiro. A prática da educação no mundo de
Homero repousa no exemplo (a educação pelo exemplo). O
comportamento dos deuses e dos heróis oferece o modelo
de vida. E cavalheiresco o ideal educativo de Homero”.
(Werner Jaeger – Paideia).
A história da educação grega pode ser dividida em dois grandes períodos: o
antigo e o recente são separados pelos séculos de Péricles. O antigo, por sua vez,
abrange a época de Homero ou a pré-história e a história em que se distingue a
educação Espartana e a educação Ateniense. O período recente é respeitado por
uma época de transição em que desabrocha o pensamento filosófico e por uma
época de decadência, na qual florescem as escolas retóricas. A época pré-
histórica ou de Homero, em que a Ilíada e a Odisseia constituíram as únicas
fontes da cultura e da educação.
1.4 A educação em Esparta
A educação Espartana revela, nos meios e fins, a influência da cultura da
Ásia. A educação de Atenas foi à única que realizou, em sua plenitude, as ideias
do humanismo grego.
Os traços fundamentais da educação Espartana foram os de caráter militar
e de subordinação integral aos interesses do estado. Tendo conquistado pelas
armas a Lacônia, os povos Dóricos tiveram de manter o seu domínio pela força e
daí sua preocupação absorvente pela formação física e militar das gerações. A
educação espartana recebeu formação definitiva com a ligação com Licurgo, que
fez dos povos Macedônios essencialmente guerreiro, imprimindo as instituições
políticas e sociais uma rude autoridade.
Como política da educação, Licurgo intensificou um ideal pedagógico: formar
cidadãos respeitosos como os deuses, patriotas, bravos e fortes, pelo Estado e
para o Estado.
1.4A ordem na Sociedade
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A sociedade de Esparta possuía uma organização rígida e heterogênea,
onde uma minoria guerreira vivia à custa de uma maioria dominada pela força. A
estrutura social de Esparta era entendida em três classes:
A – Os Espartanos formavam a aristocracia militar, colocada no
vértice da pirâmide social, e estes representavam os descendentes
dos antigos conquistadores Dóricos.
B – Periecos eram descendentes dos antigos habitantes que, sem
dificuldade, tinham submetido os invasores, a proteção à cidade e a
propriedade civil, isolando-se dos povos inimigos e dos povos do
mar. Dedicavam-se a indústria e ao comércio e, em menor numero, à
agricultura. Eram livres, tinham direitos civis, pagavam impostos
prestavam serviços militares, mas não gozavam de direitos políticos
e, por isso, não tomavam parte nas assembleias.
C – Os Ilotas eram descendentes dos antigos habitantes que tinham
reagido contra os invasores e por isso, foram reduzidos a escravos
da comunidade. Tinham por obrigação a casa, constituíam família e
serviam no exercito. Sua situação moral e política eram precárias,
pois, não gozavam de direitos civis e não podiam contar com a
proteção da lei. Eram castigados e mortos pela simples falha que
cometiam.
Os periecos e os ilotas eram em grande numero maior que os espartanos em
população, mas que viviam submetidos pelos poderes os homens de armas. Os
espartanos, por sua vez reuniam em acampamentos longe de casa. Sua única
preparação para a guerra, uma vez que toda atividade produtiva e econômica
ficava a cargo dos periecos e dos ilotas.
O que se pode perceber é que as consequências dessa situação foram,
naturalmente, a ausência de uma cultura nacional e o caráter predominantemente
físico e militar da educação. O interesse pela eficiência física das novas gerações
chegava a ponto de recusar o direito de vida às crianças que nasciam defeituosas.
A educação intelectual e moral possuía valor secundário e reduzia-se ao
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conhecimento e respeito às leis, à obediência abstrata, ao estado e ao espírito
guerreiro.
1.6 A educação dos Jovens
A primeira educação do jovem espartano era realizada pela família, sob a
orientação do Estado, desde muito cedo era ministrado o ensino para a obediência
as autoridades, o respeito aos mais velhos, e a mística da pátria e a coragem
diante do perigo. A partir dos sete anos, iniciava-se a educação publica,
obrigatória para todos e ministradas em estabelecimentos comuns de estilo militar.
Jovens de vinte a trinta anos de idade, eram dirigidos, por sua vez por um
instrutor, lecionavam para os meninos. A direção geral ficava a cargo de um
superintendente e um auxiliar. Nas festas consagradas à deusa Diana era
premiada os que suportavam impassivelmente os golpes mais violentos.
A cultura musical era menos apreciada. A escrita e a literatura eram
ensinadas em extensão limitada. Meninos e jovens aprendiam a tocar citara e a
cantar. Os ritmos dóricos eram viris. O poeta Tirteu com seus hinos marciais era o
autor preferido. A formação, especialmente moral, nunca foi descuidada; o
respeito aos mais velhos, e a obediência, o sentimento de honra foi virtudes
comuns dos espartanos. A educação dos jovens se dava dos 20 aos 30 anos,
residiam em academias militares. Ao termino deste período de sua educação
eram considerados completos.
O que se pode perceber é que na educação espartana o que ficou e
predominou foi à ginástica sobre a forma de musica.
“Mesmo que respeite a arte e a musica, a antiga Esparta não
se opôs a vida alegre do restante das cidades gregas com o
gesto de vida espartana. As escavações têm revelado a
existência de uma arquitetura ativa e animada, fortemente
influenciada pelos modelos da Grécia oriental. Isto coincide
com a introdução da alegria Jônica por Tirteu. Ao mesmo
tempo, foi chamado o grande músico Terpandro de Lesbos, o
invento da citara de sete cordas, para dirigir o coro das festas
religiosas e organiza-la de acordo com o sentido de suas
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invasões. A Esparta dos tempos posteriores adotou,
rigorosamente, os módulos de Terpandro e considerou toda
a inovação ulterior como uma revolução contra o estado. Mas
esta mesma rigidez mostrou até que ponto a antiga Esparta
considerou a educação musical como algo essencial à
formação do ethos humano em sua totalidade. E fácil de
imaginar o influxo desta força artística numa época em que
pode desenvolver-se com a plenitude de sua vitalidade
originária”.
1.7 A Educação das Mulheres
O sistema obrigatório de ensino entendia-se a educação das mulheres, as
quais se atribuía, entre outros fins, o de dar a luz meninos sadios e úteis ao
estado. Em locais adequados, as meninas e as moças exercitavam-se em salto,
na corrida, no lançamento de disco. Mas a dança era a atividade mais apreciada
entre elas. Seu vestido, que nunca ia abaixo dos joelhos, era muito propicio para
toda sorte de movimentos. Em algumas festividades as donzelas apareciam nuas.
Essa nudez nada significava de lesivo à disciplina, e convertida em inocente
costume, despertava a emulação no cuidado da saúde, da beleza do corpo, e
dava ao sexo feminino a lisonjeira convicção de que tinha o mesmo direito de
participar da glória e do valor que o mesmo do sexo masculino.
Este adestramento corporal produzia benéfico resultado: as mulheres
espartanas chegaram a ser grandemente admiradas por seu vigor e beleza. A
disciplina, por sua vez, fomentava nelas os sentimentos de honra e valentia. As
mães espartanas não se abalavam ao ouvir que seus filhos tinham sucumbido na
batalha, desde que houvesse caído frente o inimigo.
1.8 A virtude espartana
A educação entre os espartanos foi se formando no decorrer do tempo. As
vantagens e deficiências de seu sistema público de ensino começaram a ser
objeto de reflexão dos filósofos, iniciando-se, com isso, uma rudimentar teoria
pedagógica, que, incidentemente, influiu na pratica educativa posterior. Mas houve
uma constante nessa evolução, o que se chamou de: “A virtude Espartana”.
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Consistiu no amor à pátria, elevando o grau do heroísmo. O espartano
manifestava esta meta quando dava a vida em defesa de sua “Polis”. Foi essa
virtude que exaltou sem sombra de duvida, a fé cívica dos combates de Maratona
e de Salamina.
1.9 A educação ateniense
Ao contrario da sociedade espartana que é violenta essencialmente ao
preparo do próprio corpo para a guerra, a sociedade ateniense volta-se,
principalmente, para os aspectos intelectuais.
1.10 O Estado/cultura
A educação difere profundamente da educação espartana, quer pela sua
organização, quer pelo seu espírito. Atenas foi uma cidade inclinada para o
comercio, a indústria, a marinha, as letras e artes. Seu governo, de início
monárquico, mais tarde adquiriu a forma popular. Ainda na época do grande
legislador Sólon, e do tirano Pisitriato, o regime político tinha muito de oligarquia.
Foi até Clístenes, quando irrompeu a democracia, a base da organização política.
Em Atenas, conformou-se que a educação de um povo se encontrava
determinada pela vida nacional. Enquanto em Esparta se encareceu a educação,
em consonância com os fins do estado, no seu aspecto ginástico a serviço da
guerra, em Atenas surgiu, imediatamente, o ideal da formação completa do
homem: foram colocadas, no mesmo nível, a educação física e a educação
intelectual.
Duas circunstancias, intimamente vinculadas, determinaram tão notável
mudança. De um lado, a nova maneira de compreender a estrutura e finalidade do
Estado. Em Atenas, via-se o Estado como um meio de assegurar a liberdade
pessoal, criando as condições vantajosas para a sua educação. Sólon
considerava a instrução da juventude como missão essencial do Estado, mas não
se coagia o individuo nesta empresa; desejava-se que, por convicção própria, as
classes fizessem sua tarefa de formação das gerações.
Assim, apesar de ver-se no Estado o titular da vida do cidadão, jamais se
teve o monopólio educacional. Os pais tinham a obrigação e o dever de cuidar dos
filhos preparando-os eficazmente para a vida, mas dentro de um ambiente de
15
liberdade. Tratava-se de um Estado de cultura, de uma organização política atenta
sempre ao desenvolvimento harmônico da personalidade.
De outro lado, a própria vocação cultural de Atenas era tão permeável à
revolução da ciência e da filosofia ocorrida no século VI a. C. e que, de modo tão
natural, elevou o nível intelectual de seus cidadãos, convertendo-o no centro
cultural helênico, “a escola de toda a Grécia”.
A educação em Atenas não foi obra de uma legislação, nem resultado público
de educação. Toda a organização educacional de Atenas foi da iniciativa particular
e a irradiação florescente originou-se do povo grego e do seu amor ardente pelas
ciências e pelas artes. Naturalmente, isso se tornou possível graças à absoluta
liberdade de ensinar e aprender que reinava em Atenas. O Estado chamava a si
somente o encargo de instalar e manter os institutos de educação física, cuja
organização dispendiosa ultrapassava as possibilidades da iniciativa privada.
1.11 Características da educação em Atenas
A educação em Atenas compreendia a educação intelectual (ou musical) e
a educação física (ou a ginástica). A música abrangia todas as disciplinas que
eram subordinadas às ciências particulares. Nos primeiros tempos predominou em
Atenas, a educação física, mas a partir das guerras persas, a educação intelectual
assumiu grande importância, igualando-se a ginástica. A educação em Atenas
diferenciava-se, ainda, de acordo com a idade dos educadores, dividindo-se, por
isso em dois ciclos: a educação na infância, que se estendem até os quinze anos,
e a educação da juventude, que se prolongava até aos vintes anos de idade.
A mais antiga educação em Atenas colocou sua meta na habilidade desportiva
e na formação moral do cidadão. O belo e o bom, em unidade equilibrada, foram
seus valores por excelência. Com o decorrer do tempo, como já se disse,
introduziu-se na educação, como ingrediente essencial, o cultivo da filosofia, o que
significou todo o conteúdo de saber. Não bastava possuir um corpo belo e levar
um comportamento moral para chegar a “kalokagathia” (o corpo ideal grego da
perfeita de personalidade humana); para isso requeria-se também alcançar a
sabedoria.
1.12 A educação Grega e os sofistas
16
As novas relações sociais da educação têm um novo tipo de instituição. A
forma democrática do Estado fez com que os políticos tivessem dificuldades para
discorrer em publico, a eloqüência para convencer as massas. Nas assembléias
populares, nos tribunais e até nos postos administrativos menos importantes,
exigia-se a arte do discurso, que se chamou de retórica.
Deste modo, foi surgindo um novo tipo de mestre que tratavam de
satisfazer, do melhor modo, as exigências da época: os Sofistas. Primitivamente, a
expressão Sofista tinha o mesmo significado de sofos: sábio, isto é, quem se
distinguia em alguma atividade espiritual. Mais tarde, o vocábulo aplicou-se ao
homem capaz de compor um discurso sobre algum tema. Só na época do
Iluminismo é que esse termo foi usado para designar esta época e esta espécie de
mestres.
Os sofistas eram professores ambulantes; que percorriam as grandes
cidades, ensinando as Ciências e as artes, com finalidades práticas,
particularmente a eloquência, em troca de uma elevada retribuição pecuniária.
Neste seu oficio alcançaram invejável perícia na dicção; e chegaram, assim, a
descobrir as formas da gramática e da retórica. Porém, como os discursos deviam
ser vistos de verdade, viram-se obrigados a ser flexíveis sobre temas de lógica.
Por este motivo, os Sofistas eram, em grande medida, os criadores destas
disciplinas.
Embora seja inegável que os Sofistas tiveram influência
predominantemente literária, isto é, em suas atividades pedagógicas, o que fez
surgir às escolas de retóricas da antiguidade, sua repercussão não se esgotou
com a arte retórica do “dizer corretamente”.
Com efeito, diante das convicções do homem fundadas na tradição e na fé,
os Sofistas trataram de chegar a conclusões racionais aceitos, duvidando das
crenças e costumes morais de seus concidadãos (ceticismo). Aqui o “Iluminismo”
era a tentativa de formular e resolver os problemas de valores da vida e das
instituições sociais, recorrendo unicamente à luz da razão. Podia-se fundamentar.
De modo racional, a existência de valores universalmente reconhecidos. Assim se
formulava a atitude “iluminista” da época.
17
Considerando a sofistica como fenômeno pedagógico que este representou
como um processo na educação grega nestes aspectos:
- Imediatamente superaram o ensino de tipo secundário das escolas
que era introduzida matérias como: lógica, retórica, política, ciências
naturais, que, até então, só tinham sido cultivadas por pessoas
isoladas, ou por círculos fechados. Com isso promoveu uma espécie
de “formação terciária”, “universitária”, que se manteve desde aquela
época, com diversas variedades;
- Os Sofistas praticaram interessantes observações psicológicas. Ao
pretenderem influir na vontade de seu auditório, viram-se
impulsionados a decifrar a vida anímica e, em geral, a natureza
humana, iniciando o período antropológico da filosofia, isto é, o que
faz objeto de reflexão não o mundo (cosmos), mas o próprio homem
(antropos).
- Ressaltaram a importância da atividade pedagógica na vida da
comunidade. Embora, a princípio, se exagerasse o êxito dos
ensinamentos dos Sofistas, que se achavam com desdém as
exigências moderadas do mestre de musica, eles observavam que a
arte de ensinar era uma função tão delicada que devia ser exercida
por um círculo de profissionais.
1.13 Protágoras e Górgias
Como pedagogos e teóricos da educação, os Sofistas tiveram memoráveis
acertos. Na historia da pedagogia, como na historia da filosofia, praticava-se na
atualidade, uma justa valorização em favor dos Sofistas. Protágoras foi principal
expoente espiritual dos Sofistas. Sua doutrina filosófica recebeu o nome de
Relativismo, pó considerar a verdade como relativa a algo que depende de quem
emite sua opinião em cada caso. Disse: “o homem é a medida de todas as
coisas”.
O que pode ser bom para um, pode ser mau para outro. O relativismo de
Protágoras foi mais radical do que pareceu à primeira vista, pois para ele, o critério
de verdade, até mesmo em cada homem, variava segundo o tempo e o lugar em
18
que se achava, e o que ontem parecia verdadeiro, hoje poderia ser falso. A base
desta teoria é a mutante situação psicológica do homem. Com esse resultado,
Protágoras ressaltou a subjetividade humana, ao qual pode descobrir o aspecto
mutável do homem, o que inaugura a teoria do otimismo educativo.
De ágil e espetacular imaginação, com fino sentido do humor e do gracejo,
Górgias, o retórico, aprofundou a tese de Protágoras. Sua doutrina tornou-se
conhecida pelo nome de Niilismo. Para Górgias:
- O ser, invariável e imutável, não existe;
- Ainda que existisse, não podia conhecer-se;
- Admitindo que se conhecesse, não seria possível comunicar-se de
um homem para o outro homem.
Esta doutrina teve uma repercussão pedagógica, de si mesma, importante.
Além da formulação do problema da comunicação docente, como se transmite o
saber. O conhecimento é um ato pessoal, disse Górgias, que cada qual obtém em
seu faro intimo. Na educação não há um translado, ou entrega de um objeto da
parte de quem fala (o mestre) para quem ouve (o aluno). O aprender é um esforço
individual.
19
CAPÍTULO II A FILOSOFIA E A EDUCAÇÃO4
2.1 Sócrates e a pedagogia da maiêutica
Completando algumas ideias por um lado, e por outro debatendo a
atividade devastadora dos Sofistas, Sócrates conservou a fé na razão e na
convicção de que existia uma verdade universalmente aceita e válida. O que se
pode perceber é que tal convicção era nele, de natureza prática, uma espécie de
sentimento moral: não obstante, levou-o a investigar o problema da verdade que,
de novo, como os antigos filósofos, a opinião subjetiva, e cuja essência descobriu
no pensar conceitual.
“Sócrates nasceu em Atenas, primeiro foi escultor como era
o seu pai, depois começou a estudar filosofia e se educou na
moral da juventude da época. A censura que fazia para toda
ação indigna levou ao ódio de muitos. Acusado por Melito de
criticar a religião popular e de corromper os costumes teve
que fugir e depois teve de tomar cicuta”.
Sócrates e os sofistas encontraram-se na mesma verdade espiritual de sua
época e manipularam os mesmos problemas; mas, enquanto os sofistas
permaneciam com sua arte e sua sabedoria popular no labirinto cotidiano das
opiniões, chegando às vezes, a resultados negativos, o claro e o sadio sentido e a
nobre e pura personalidade de Sócrates voltavam-se aos ideais da ciência e da
moralidade.
Sócrates, com sua máxima, “conhece-te a ti mesmo”, fez um exame de si
mesmo, um método filosófico, que é o seu princípio. O exame de casos concretos,
de cada um, dentro de sua vivência é o meio para descobrir as idéias gerais, os
conceitos, o que faz procurar e determinar os elementos que serão guiados por
suas idéias de valor universal. Mas, para Sócrates, os conceitos que interessavam
eram os da virtude humana. Por isso é que se diz o “logos socrático” e o “logos do
bem”, isto é, as idéias das normas edificadoras do comportamento. Para Sócrates,
4 Curso de filosofia da educação no curso de Pedagogia em várias faculdades, 22003-2004.
20
o fim da filosofia é a educação moral do homem. Daí, as idéias gerais que o
preocupavam eram as virtudes éticas.
“Na base desta convicção aparece-nos a promessa evidente
de que a ética é a expressão da natureza humana bem
entendida. Esta se distingue radicalmente da existência
animal pelos dotes racionais do homem, que são os que
tornam o ethos possível. E a formação da alma nesse ethos
é precisamente o caminho natural do homem, o caminho
pelo qual pode chegar a uma venturosa harmonia com a
natureza do universo ou, para dizer em grego, eudamonia. A
nota trazida por Sócrates é a de que não é através da
expressão e satisfação da natureza física por mais restrita
que seja por vínculos e exigências sociais, que o homem
pode alcançar esta harmonia com o ser, mas sim pelo
domínio completo sobre si próprio, de acordo com a lei que
ele descobriu no exame da própria alma”.
Para Sócrates, quem sabe o que é bom também o pratica. Nenhum sábio erra.
A maldade só provém da ignorância e, posto que a virtude repouse no saber, pode
ser ensinada; mas, a virtude é a própria felicidade do homem.
2.2 A didática de Sócrates
Como os sofistas, Sócrates ia à praça pública ensinar a seus concidadãos.
Diferenciava-se daqueles por que não era um mercador de sabedoria. Não
conversava como homem que ocultava sua ignorância com frases sedutoras:
queria em comunhão de trabalho descobrir a verdade, pois estava cônscio de que
ignorava em demasia, diferentemente dos sofistas que, crendo saber tudo, nem
sequer percebiam sua ignorância.
Antes de tudo, Sócrates cuidava de interessar vivamente o ouvinte ao tema.
Para tanto, exortava-o, mediante apóstrofes oportunas. Esta foi a primeira etapa
de seu método o qual chamou de protréptica (pro - primeiro, trepo - trocar, mudar),
pois, se tratava de fazer variar a conversação, tirando o homem de sua
vulgaridade cotidiana para introduzi-lo num diálogo pedagógico.
21
Na segunda etapa inicia-se a indagação, requerendo do interlocutor às
respostas que este julgasse corretas, porém, que a miúde, eram equivocadas.
Para tomar notório o erro dessas soluções e convencer os ouvintes de sua
ignorância, Sócrates servia-se de perguntas hábeis, destinadas a confundi-los. O
escritor servia-se de perguntas hábeis, destinadas a confundi-los. Esta era a ironia
socrática (ironia significa em grego: interrogação).
Esta segunda parte do método, que conseguia tais propósitos, constava, por
sua vez, de duas partes, uma destrutiva e negativa, e outra, criadora e positiva. A
ironia socrática tornou-se a arte de rebater, de exibir a ignorância do aparente
sábio e se chamou elêntica (elenchus – objeção); a segunda era a arte de fazer
com que cada um desse a luz sua própria idéia e descobrir a verdade que devia
orientar a vida e se chamou maiêutica (parteira).
Sócrates percebeu, com profundidade, que o fenômeno educativo era a sua
auto-atividade. Mediante perguntas, no dialogo, o mestre levava os alunos a
encontrarem, por si mesmos, a resposta. Tudo isso ocorria por um processo que
partia da experiência concreta e singular, para elevar-se às idéias gerais.
2.3 A relação entre Filosofia e Pedagogia
A filosofia conservou, em Sócrates, seu antigo sentido: era uma aspiração ao
saber, uma vontade de conhecimento. A maiêutica, como arte de dar à luz as
ideias, era o método do filosofo. Deste modo, porem, que a conduta moral devia
fluir de uma compreensão racional da vida, a pedagogia lançou mão do próprio
método pedagógico, a maiêutica.
O filósofo que chegou a resultados certos, que se elevou às idéias do bem e do
belo, do justo e do verdadeiro, outra coisa não fez senão tornar-se culto,
enriquecer o caudal de sua sabedoria pratica. Sua influencia, sua intervenção no
aperfeiçoamento dos demais, consistia em exercitar os discípulos para que, por si
mesmos, descobrissem o mundo das próprias idéias. A filosofia e a pedagogia, em
Sócrates, encontram-se no mesmo caminho.
2.3O idealismo Socrático
Sócrates criou o método para descobrir os conhecimentos, de preferência na
esfera da moral. Platão esforçou-se por explicar, filosoficamente, todos os ideais
22
da vida, assim como todo o universo. Denominou de Idéias aos princípios
supremos da existência; daí, o nome de seu sistema, “Dialética”, a ciência que as
estuda.
A dialética hierarquizava as idéias da vida, que não são outra coisa senão os
excelentes valores da cultura humana: Beleza, verdade, santidade, etc. Neste
ornamento das idéias mais caras surge a dignidade humana das idéias do bom,
no vértice do sistema; que o valor que outorga a todos os objetos da sua relativa
dignidade, que é o fim ultimo, o telos que pode explicar todas as aspirações. Então
a idéia do bom se equipara, em Platão, com a divindade.
O meio para chegar a ser participante deste mundo das idéias é a educação:
como para seu mestre, Sócrates, em Platão a educação é a sua auto-atividade,
isto é, um processo do próprio educando, mediante ao qual sejam dadas à luz as
idéias que fecundam sua alma; atividade que cada homem desenvolve para
conquistar as idéias e viver de acordo com elas. O conhecimento não vem de fora
para o homem; é um esforço da alma por assemelhar-se na verdade. O papel do
educador reside em promover, no educando, este processo de interiorização,
graças ao qual o sentir a presença das ideias.
Platão serviu-se de uma metáfora para descobrir a atitude do homem que
busca, na intimidade de sua alma, as formas supremas do espírito, os valores
mais altos da vida. Conta que o espírito, em sua existência, contemplou as idéias
em um reino celeste.
O despertar para o mundo das idéias é um processo gradual. Na educação
deve-se ter em conta tanto o corpo estético e moral, quanto à formação
cientificam. Tudo isso constitui a matéria de seu plano educativo. Platão, como
Sócrates, via o fim da educação em formar homens plenos e virtuosos, porem,
ficava admirado ao dar um passo para frente, e perceber as inseparáveis relações
entre o indivíduo e a sociedade.
2.4A educação das castas sociais
As ideias que individuo tinham de realizar eram, definitivamente, os grandes
valores culturais, com os quais o Estado devia se se preocupar, assim como o
mundo se encontrava estruturado de acordo com leis naturais que fazia dele um
23
cosmos, ou seja, um mundo ordenado, o homem de Estado devia criar uma
“Polis”, sociedade ordenada, um cosmo político. O Estado era um homem em
formação, e nele deveriam realizar-se as virtudes. Na Republica, o estado é de
cultura, sobre esta base Platão formulou um sistema de educação:
“Recusou o sistema existente de ensino privado e aderiu,
quanto a isso, às organizações de Creta e de Esparta. Esta
era a conseqüência necessária de sua oposição ao “deixar
fazer”, a luta e perdas pelos interesses públicos em todo
sentido. A arriscada grandeza do ideal platônico do Estado
consistia em ter submetido todos os interesses privados aos
da totalidade”.
O sistema de educação das classes sociais conduziu a certo tipo de
formação profissional; porém, supôs uma educação comum na infância, por reger
o principio das vocações. Até os 16 anos, a educação era igual para todos os
cidadãos livres; até os 20, eram comuns para as duas classes superiores de
“Guerreiros e Magistrados”.
a) - Dos 3 aos 6 anos, os meninos eram submetidos a treinamentos físicos,
estéticos e moral; praticava, no seio do lar, os exercícios mais simples
do Pentathlon, aprendiam a dança e poemas edificantes.
“O início é tudo, diz o filosofo, numa natureza tenra, pois
todas as partes desta conservam as marcas nela impressa”.
b) - Dos 7 aos 13 anos, introduzia-se, aos poucos a cultura intelectual, mas
acentuado, cada vez mais, o cultivo do corpo. Até os 10 anos, os meninos e as
meninas aprendiam a leitura e a escrita. Neste ponto, Platão afastou-se do
costume que iniciava o aprendizado destas noções desde os 7 anos.
c) - Dos 13 anos aos 16 anos, o rapaz já recebia uma franca educação
musical. O programa dividiu-se em duas seções: uma forma literária, que
compreendia a gramática e a aritmética; e a outra, estritamente musical, que
ensinava a poesia, o conto e a orquestra. Também se adestrava o educador para
tocar citara, e, para isso, deve-se preferência a musica dórica, energia e viril.
24
d) - Dos 17 aos 20 anos, verificava a formação militar, tendo em vista que
os jovens adquirissem resistência e saúde a todas as provas. Era preciso
harmonizar a musica e a ginástica. Unicamente, a ginástica tornava mais
saudável.
e) - Dos 21 anos em diante, só deviam entregar-se a uma instituição
sistemática e especial os alunos bem mais dotados, isto é, os que posteriormente
iriam integrar a classe dos governadores. Sua educação compreendia dois
períodos:
f) - dos 21 aos 30 anos, em que o ensino tinha o caráter preferentemente
cientifico. Estudava-se, em toda sua profundidade, a Aritmética, Geometria, e a
Astronomia. Quanto ao ensino especificamente musical. Os jovens aprendiam
harmonia, ciência abstrata das proporções rítmicas.
g) - Dos 31 aos 35 anos, em que predominava a formação filosófica, sem
prejuízo da seqüência dos estudos matemáticos. A dialética, clímax do saber
humano, ensinava a elevada forma e única do uso da razão, ao mundo das idéias,
e tinha, por sua vez, como termo final, a Ideia do Bem.
h) - A partir dos 36 anos, o magistrado estava incumbido de uma função
pública e era consagrado à vida de prosperidade do Estado.
Como se pode perceber, Platão já projetou, no dialogo “A Republica”, um
sistema de educação gradual. O que se dava início com o cultivo do corpo, isto é,
nos primeiros anos da infância, o que aos poucos surgiria uma inspiração
intelectual no primeiro período da educação dos magistrados, que, afinal, com a
formação superior filosófica, que os tornam verdadeiramente capacitados para a
condução filosófica da alma.
25
CAPÍTULO III A CONCEPÇÃO GREGA DE EDUCAÇÃO5
O que se pode perceber, que o desenvolvimento de um povo que consegue
atingir certo grau no seu estado natural, inclina-se ele a pratica educacional. A
compreensão grega de educação está ligada as supremacias do estado,
especialmente nos primeiros tempos, consideravam-se de fundamental
importância às relações entre o individuo e a cidade-estado.
“Todo povo que atinge certo grau de desenvolvimento sente-
se naturalmente inclinado para a prática da educação. Ela é
o principio por meio do qual a comunidade humana conserva
e transmite a sua peculiaridade física e espiritual. Com a
mudança das coisas, mudam os indivíduos; o tipo
permanece o mesmo. Homem e animais, na sua qualidade
de seres físicos, consolidam a sua espécie pela procriação
natural. Só o homem, porem, consegue conservar e propagar
a sua forma de existência social por meio das forças quais
dizer, por meio da vontade consciente e da razão. O seu
desenvolvimento ganha por elas certo jogo livre de que
carece o resto dos seres vivos, se pusermos de parte a
hipótese de transformação pré-histórica das espécies e nos
ativermos ao mundo da experiência dada”.
A educação visava, sobretudo, a preparação dos jovens, tendo em vista tais
relações. Mas cada Estado tem sua própria característica peculiar no sistema
educacional, deviam adaptar-se a essa característica para se tornar um
instrumento afetivo na preparação da juventude. Daí entra as concepções de
Platão a Aristóteles de que a educação deveria ser regulamentada, em seus
mínimos detalhes, pela autoridade estatal, ser para todos os homens livres, e
uniformes para todos.
Platão mostra a que extremos pode ser levado o conceito de educação
quando não se restringe a alguns aspectos da vida. Para o cidadão-guarda do
5 Disciplina ministrada no curso de Pedagogia, 2004.
26
Estado ideal, a doméstica não pode ser dos laços familiares: Aristóteles não
chegava a tanto exagero, embora considerasse a educação como, de certo modo,
prejudicial à criança.
“Com efeito, todo espartano pertencia ao Estado, que o
educava num sistema de escolas publicas. Uma vez dado à
luz um menino observava-se sua constituição física. Se fosse
débil ou disforme, era lançado nos abismos dos Montes
Taigueta”.
Os instrumentos de educação mais em harmonia com a concepção e a
cultura grega eram a música, ou a cultura literária e artística para o espírito, e a
ginástica para o corpo. Segundo o que diz Platão, ambas as disciplinas afetavam
o caráter. Mas a ginástica era, na realidade, uma educação individual e, portanto,
só indiretamente visava ao estreitamento dos laços sociais entre os cidadãos.
A instrução musical consistia, essencialmente, no ensino da literatura e da
música nacional, o que proporcionava o desenvolvimento do espírito de lealdade à
pátria. Na medida em que a cultura ateniense avançava, os estudos de natureza
intelectual assumiam maior importância. Daí surge às críticas de alguns filósofos,
como Aristóteles, de que a mocidade estava sendo minada pela efeminação e
pelo excesso de conforto.
Todavia, uma força desintegradora já comprometia o sistema educacional
helênico, a que se opuseram inutilmente Platão e Aristóteles: era a educação
retórica dos Sofistas. O que se vê que numa cidade-estado de democracia o
orador pode facilmente se tornar um demagogo. A oratória era fascinante e abria,
assim, o caminho para os jovens que, com grande ambição pessoal e movida pela
paixão, freqüentavam as escolas dos Sofistas.
Com as relações cada vez mais estreitas entre os Estados gregos leva a
diminuir as diferentes idéias cívicas e conseqüentemente, a uma concepção mais
cosmopolita da educação. O que fez com que esse processo, completasse a
perda da independência política das cidades-estados.
As universidades, por exemplo, foram uns resultados de fusão das escolas
filosóficas privadas com a organização estatal. Existiram outros centros de
27
cultura, onde os contatos do pensamento gregos com as religiões e as filosofias
do Egito originaram as filosofias místicas, que culminaram no Neoplatonismo. Mas
em Atenas mesmo, a educação transforma-se mais numa retórica vazia, até a
demolição da Universidade por Justino, no ano 529 d.C.
A educação pode mudar o homem dentro das suas qualidades e
capacidades, levando-o a um nível superior. Com um espírito de descoberta de si
próprio ele tem conhecimento do mundo exterior e interior que está formando o
seu ser dentro da existência humana. Dentro da sua estrutura corpórea espiritual o
homem cria conjuntos, que irão organizar a estrutura física, a qual lhe da o nome
de educação. Começa o homem na sua pratica, atuar na mesma força vital do
homem dentro das espécies viva na propagação do seu tipo. E nessa propagação,
ele atinge um alto grau de intensidade, no espaço do conhecimento e da vontade
para chegar a um fim.
O que se pode perceber que a educação não pode ser propriedade só de
um individuo, mas por excelência para a comunidade. Isso porque o homem é a
fonte de toda a vida da própria comunidade, na qual ele atua e faz parte. Para
esse homem a educação trata da consciência que foi atingida e que rege o seu
caminho dentro do vasto grupo ético-comunitário.
A educação tem que ser parte do crescimento da sociedade: no exterior
como no interior e no desenvolvimento particular de cada um, uma vez que o
desenvolvimento da classe social vai constituído a historia do educar,
transformando os valores que são validos para a comunidade. Mas a estabilidade
de normas e a solidez fazem com que os fundamentos da educação sejam cada
vez mais sólidos, dentro do propósito que se tem quando se diz segurança e até
mesmo a impossibilidade de qualquer tipo de ação educadora que possa exercer.
Isto pode ocorrer quando, internamente, a estrutura da tradição violentada e
destruída, ocasionando a decadência.
Dentro das civilizações antigas a Grécia representa um “processo” em tudo
que se refere à vida do homem e da comunidade, pois se fundamenta em valores
novos: político, religiosos e artísticos das comunidades anteriores. Então o que se
pode dizer que a cultura começa mesmo com os Gregos.
28
“Falamos que a importância dos Gregos como educadores
deriva da sua nova concepção do lugar do individuo na
sociedade”.
Para os Gregos, a educação é uma função universal da comunidade, que
se faz naturalmente pela própria evidência humana. Para tanto necessário dispor
de tempo, até que o homem atinja a plena consciência na tradição literária, o
conteúdo exigido, e aproximadamente para todos os povos da Grécia. Um grande
respeito e honra aos deuses, honrar pai e mãe, e respeito aos estrangeiros são
preceitos externos da moralidade, que são transmitidos pelos séculos. Esses
preceitos foram incorporados mais tarde pelas leis que regem os estados Gregos,
onde não teria distinto de moral e direito; e o rico conceito nas superstições
populares.
A educação que se fez neste sentido, vem distinguir-se da formação do
homem, claramente, por meio da criação de certo tipo de ideal. Formação
concebida desta forma não é possível, sem conceder ao espírito do homem como
de fato ele deve ser. A sua utilidade é o que menos importa, mas a sua beleza, em
sentido normativo, é que irá dar o sentido do homem ideal.
3.1 Os ideais gregos e a educação e realidade
Há sempre certa distancia entre as idéias e as praticas pedagógicas, no
sentido de que as primeiras tendem a indicar o que deveria ser a educação, ao
passo que as segundas são propriamente a educação institucionalizada, como
ente real, que se pode perceber, nas civilizações que organizou, em virtude da
própria vida social e que as concretizou, tal distancia era muito menor. Pode se
aprecia-lo, entretanto, em proporções bem maiores na Grécia, onde as idéias
educacionais organizavam-se numa doutrina cujo objetivo não era justificar a
pratica, mas transforma-la, dando-lhe outro sentido e outra orientação.
Vários fatores foram apontados para uma explicação do novo fato da
antiguidade: a pedagogia nasceu na Grécia ao mesmo tempo em que a filosofia,
ou seja, com um aspecto de filosofia. Entre os pensadores Gregos, os pré-
socráticos. Eles teriam sido ao mesmo tempo, uma especulação e uma educação
ou quem sabe uma iniciação, do pensar e do educar. Com Sócrates a educação
29
se constitui em objeto da filosofia. Estabelecendo assim, a educação e a origem
da pedagogia como um sistema de idéias e teorias educacionais, explica-se o
milagre grego da razão especulativa e lógica.
Como numa evolução, em que as ideias desse mesmo pensamento
despojaram de seus aspectos afetivo e religioso, para se submeterem a um
processo crítico-lógico. O nascimento da filosofia helênica coincide com a grande
crise provocada por causas demográficas, o que seria a colonização e emigração,
econômicas, o enriquecimento pelo comercio e pela produção e política, esforço
de sistematização lógica das crenças em que se apoiava o poder das grandes
famílias, sempre ameaçadas em seus supostos direitos de classe dominante,
pelas tiranias demagógicas.
A partir desse processo de racionalização da situação social, conseguiram
os filósofos gregos ultrapassar a fase oriental das doutrinas teológicas, para a
realização a metafísica sistemática e a ética e dialética. Depositaram as maiores
esperanças na educação, que consideravam o recurso para resolver problemas
morais, políticos aprofundavam em contradições e exacerbavam em conflitos.
Propuseram esses filósofos, com muita clareza, meios e fins educacionais,
foram eles compreendidos e admirados por muitos de seus contemporâneos e,
sendo que um deles Sócrates, foi condenado, outros como: Platão e Aristóteles
foram amados e admirados, porém, suas idéias pedagógicas foram admiradas
esteticamente, não tiveram qualquer resultado pratico, isto é, não foram colocados
à prova em suas consequências ativas e concretas. “O conhecimento é uma
virtude”, a qual pregara Sócrates, e assim, fazia do sábio um homem virtuoso por
que conhecia e sabia o que era virtude, e esta, uma vez conhecida, resultaria
como necessidade certa.
3.2SÓCRATES
Tendo uma inquietação sobre a educação, Sócrates em sua pedagogia e
métodos, em considerando uma pessoa comprometida com a tarefa educativa,
com: os menores, a juventude e a educação popular nas comunidades. Ele é
justamente um protótipo de filosofo e educador. Sócrates favoreceu a educação
30
oral, sem escrever nada, de tal maneira que o seu contato com as pessoas era
direto e vivencial.
O método empregado por ele encerra uma riquíssima sabedoria: fazer
explicitar do interior da pessoa aquilo que é melhor. O educando se faz a si
mesmo e o educador não é mais que um pretexto, um estímulo ou uma causa
motivadora.
O conteúdo doutrinário sobre o homem, sobre a moral e as virtudes é de
profunda aplicação, até os modos de influência que ele teve na Grécia daquela
época e para a cultura ocidental, influenciando até os nossos dias.
3.3 A Grécia no século V a. C.
A sofística tem origem no seu sentido histórico é uma forma filosófica usada
pelos mestres da retórica ou de cultura geral. Homens inteligentes de destaque na
Grécia, entre os séculos V e IV a. C. Os sofistas e Sócrates centraram os mesmos
interesses filosóficos sobre o homem e seus problemas. A sofística apareceu pela
influencia filosófica e política. Os pensadores desta época projetaram suas
pesquisas e achara mais interessante antes da metafísica estudar o homem em
profundidade. Determinar os seus valores e alcance de sua capacidade cognitiva,
dos seus conhecimentos.
Nasceu no inicio do estudo da metafísica e a partir da duvida. Se isto seria
melhor primeiro estudar o homem e a sua capacidade de conhecimento. A
sofística emergiu com a finalidade de averiguar a capacidade cognitiva do homem
na Filosofia e na Política e contribuiu fornecendo elementos para a realização da
investigação sobre o homem e suas capacidades de conhecer.
A política ao dar a sua contribuição interessante desenvolver os aspectos:
humanístico e gnóstico, o conhecimento como tal. No aspecto político, me revela a
vida na polis – exigiram dos cidadãos comprometidos com as decisões políticas,
um conhecimento cultural e facilidade na eloqüência. Exigência, causada pelo fato
de nas Assembleias públicas tratarem de diversos assuntos de conteúdo elevado
como: a guerra, a paz, o direito e o conceito, o governo, a religião.
Portanto, os seus membros deveriam estar capacitados para o estudo e
desenvolvimento de trabalho a este nível. Mas acontece que a educação
31
tradicional estava em dificuldades, limitado a realização de inovações de tais
assuntos que eram rotineiros. Eles eram responsáveis pelos avanços das áreas
especializadas.
A sofística nasceu mesmo da inquietação sobre o conhecimento da
capacidade humana, da falta de realização de um estudo aprimorado sobre o
homem. Daí que a novidade da sofística, e era o despertar de um interesse geral
nas colônias e na mãe pátria, Atenas. Esta se tornou importante depois de ter
recebido toda a atenção com as vitórias de Maratona sobre os Persas nos anos
490 a 475 a. C., Ela se tornou o maior centro político e cultural da Grécia.
Os filhos da aristocracia eram os primeiros destinatários da sofistica. A sua
principal função foi instrui-los na Filosofia, na religião e na retórica, sendo esta
ultima a mais importante. Platão já dizia:
“É o entendimento das coisas, da família, de modo que se
possa administrar otimamente a própria casa, e das coisas
da cidade, de modo que se alcance, na cidade o poder tanto
de realizar como de discorrer” (Platão, Protágoras, 318).
3.4 O Ensino nos Sofistas
Em primeiro lugar os Sofistas ensinaram os assuntos que favoreciam o
aprofundamento da teoria do conhecimento. O grande destaque na matéria de
ensinamento para eles era o homem em sua capacidade intelectual. Não podiam
pensar e estudar outro assunto antes de um autodomínio sobre o homem. Não
tinha escolas ou universidades, faculdades, eles precisavam de mestres, a
juventude não tinha que freqüentar as aulas, pois faltava quem os ensinassem.
3.5 A crise da Filosofia
No inicio do século V a. C. a filosofia se encontra em crise. Por todos os
lados circulava a grande pergunta: “Se o homem é realmente capaz de conhecer a
natureza intima das coisas e a lei moral absoluta?”. Dúvida, inquietação, que os
sofistas queriam responder argumentando, que a realidade e a lei moral estão
alem da capacidade do conhecimento de si próprio. Portanto a razão possibilita o
filosofo a fazer certas afirmações como esta: “o homem é a medida de todas as
coisas?”.
32
Na unidade com este pensamento os sofistas estavam procurando
reafirmar a impossibilidade da concretização de um conhecimento verdadeiro. É
possível sim, quando surge do lado sensitivo do ser humano. Também quando as
leis convencionadas causam prazer, ou seja, cria uma condição particular de
satisfação. O prazer é a meta final da vida humana.
Na unidade o que levou mesmo a filosofia entrar em crise foram as
contradições dos pré-socráticos, que colocaram diferentes elementos constitutivos
do mundo físico. Uns diziam que era a água, e outros diziam que era o fogo. Este
desacordo levou a desvalorização da eficácia da inteligência. De outro modo,
fecharam na consideração do mundo físico, esquecendo o homem e suas
condições existenciais. Sendo que neste momento o Estado estava se
organizando e precisava de lideranças políticas.
3.6 Sócrates e os Sofistas
Sócrates e os Sofistas eram contemporâneos. Ele era um adversário dos
mais enérgicos dos sofistas. O método de ensino dos Sofistas e Sócrates e a sua
doutrina são opostas. Eles divergem em:
a. Os sofistas têm como objetivo o sucesso e passam para os outros a
maneira de alcançá-lo. Já Sócrates procura somente a verdade e
motiva os seus discípulos a descobri-la.
b. Os sofistas pensavam que para ter sucesso era preciso seguir
carreira. Sócrates pensava o contrário, expressando que para se
chegar a verdade é necessário desprender-se das riquezas, das
honras, dos prazeres, entrar no próprio espírito, conhecer-se a si
mesmo, reconhecer a própria ignorância.
c. Os sofistas se dizem saber tudo e capazes de ensinarem a todos. Já
Sócrates é convicto em dizer que ninguém pode ser mestre dos
outros. Ele se considera um maieuta. Portanto, ajuda a seus
discípulos a descobrirem a verdade neles mesma. Não dá aula para
os discípulos, mas o que acontece é um relacionamento de
proximidade com as pessoas. Com quem conversa, discute, guia-os
33
em suas discussões, orienta-os para com a autonomia chegarem a
descobrir a verdade.
d. Para os sofistas aprender é coisa fácil. Com pouco dinheiro podem
manter o conhecimento da retórica e da arte de governar os
discípulos.
e. Para Sócrates é o contrário. Primeiro aprender não é coisa fácil. Ele
diz que é preciso muito tempo para se chegar ao conhecimento da
verdade, e definição das questões com bastante precisão.
f. Os sofistas, afirmam que o valor de qualquer conhecimento e de
qualquer lei moral é relativo, subjetivo. Já Sócrates, afirma que
existem conhecimentos e leis morais de valores absolutos, objetivo e
universal.
g. Tanto para Sócrates como para os Sofistas a concentração está no
campo crítico do que no ontológico. Interessa-se pelos valores do
conhecimento humano.
h. Os ensinamentos mais importantes de Sócrates encontram-se no
âmbito da psicologia, da epistemologia, e da moral.
i. Na psicologia o centro doutrinário geral sobre a imortalidade da
alma. Pois esta é para Sócrates superior ao corpo, o qual é visto
como a cadeia da alma. A morte é que libera a alma da prisão
corporal, coloca-a rumo à porta da vida.
Sócrates é uma figura imortal da história e no decorrer do tempo tornou-se
um herói, e um símbolo. Sócrates nasceu em 469 a. C. em Atenas, a cidade nesta
época tinha o seu apogeu artístico e econômico. Filho de Sofronisco, escultor e de
Fenareta, parteira. Quando ele nasceu era forte e robusto de aparência, mas não
era belo.
Sempre foi um homem de muita resistência física, estável mesmo no
período de trabalho e de dificuldades. Vivia descalço em qualquer época e para
não fugir o estilo, vestia a mesma roupa em todas as estações do ano. Estilo
moderado, tanto no comer quanto no beber, mas quando tinha que apostar com
alguém terminava sempre com a vitória.
34
Quando jovem iniciou seus estudos de Filosofia. Estudou Anaxágoras, e
que depois se desiludiu por sua inabilidade ao aplicar a doutrina da mente
Suprema à explicação do universo. O que levou a abandonar a filosofia de
Anaxágoras e dos outros pré-socráticos. Na sua vida o maior acontecimento e
decisivo foram quando o oráculo de Delfos revelou a um amigo que nenhum
homem era mais sábio do que ele. Ele procurou entender o que significava tal
oráculo e a conclusão é que era ele o homem mais sábio, porque era consciente
do grau de sua ignorância.
Sócrates com esta conclusão encontra clareza diante de sua vocação que
seria ensinar a verdade aos homens. Ele casou-se com Xantipa, mulher não
extravagante, mesmo que parecia ser. Participou de varias campanhas militares,
com coragem e heroísmo. Foi um exemplo na batalha de Potidéia, que ficava no
norte da Grécia. Homem moralmente íntegro, em 406 a. C. recusou-se a dar o seu
voto pela condenação de oito comandantes derrotados em Arginusa, aí foi um ato
de honestidade e personalidade firme. Como se existissem vários outros exemplos
que poderiam ser enumerados, descritos ali.
Em 400 a. C. foi acusado de incrédulo e impiedoso, atitudes que na época
levava a pessoa à pena de morte. Outra acusação grave para a sua época foi de
ser ele que corrompia a juventude. Contam os filósofos que quando os acusadores
pediram a pena de morte, para Sócrates eles pensavam que fosse levado ao exílio
no inicio de seu processo. Só que ele quis enfrentar o processo e fazer a sua
própria defesa.
Ele mesmo propôs uma pequena quantia em dinheiro para pagar a fiança.
Isto indignou o tribunal e confirmaram a sentença de morte. Foi ele mesmo que
executou a sentença, bebendo cicuta, veneno que aos poucos vai paralisando a
pessoa, o processo de paralisação inicia a partir dos pés e dentro de uma hora
invade todo o corpo do individuo e esta morre. Sócrates por todo este período fez
um discurso sobre a imortalidade da alma.
3.7 A Personalidade de Sócrates
Ele pode ser declarado como: “Mártir pré-cristão e o grande humanista da
época da reforma” (Werner Jaeger. Paidéia). Na Idade Media, Sócrates foi tido
35
como um filósofo famoso, personagem lembrado por todos os tempos. Aristóteles
e Cícero foram os seus tempos grandes divulgadores de Sócrates. Porem quando
Aristóteles entra em declínio de carreira, a imagem de Sócrates torna-se o modelo
do iluminismo e de toda a filosofia moderna. Passa a ser a voz apostólica da
liberdade moral, guiado unicamente pelo interior de sua consciência.
O renascimento de Sócrates aconteceu graças ao entusiasmo constante de
sua personalidade espiritual, causado pelas fontes gregas, descobertas na época.
Entre elas a mais importante era a de Xenofonte, que mostrava a riqueza, que
deveria registrar a historia da ressonância da vida de Sócrates, seria coisa
grandiosa.
Sócrates guardou a fé na razão e a convicção na certeza da existência da
verdade valida, em todos os recantos do mundo. Tal convicção era de natureza
prática, vista como uma forma de sentimento moral, o que o conduziu à
investigação da problemática da verdade. Assunto este que não era novidade para
os filósofos, seus antecessores, eles já tinham descoberto sua essência no pensar
conceitual.
Sócrates e os Sofistas, como vimos foram contemporâneos, tiveram as
mesmas experiências quanto à verdade espiritual da época deles. Manipulam os
mesmos problemas. Mas Sócrates, sendo um homem de lucidez, claro, nobre e de
personalidade sadia, firme, voltou-se por inteiro aos ideais da ciência e da
moralidade; enquanto os Sofistas não abriam mão da sua arte e sabedoria
popular, mas permaneciam emaranhados em sua opinião cotidiana.
Sócrates, com seu belo pensamento: “Conhece-te a ti mesmo”, como ele se
auto avaliou. Atitude que se tornou um método filosófico, visto como o seu
principio, o exame de fatos concretos, individual ou pessoal. No contexto da vida,
ele é o meio para descobrir as idéias gerais e os conceitos. É isto o que dá
condições de procurar e determinar os elementos, que irão ser movidos por idéias
de valor universal. Mas Sócrates se prendia interessadamente nas virtudes
humanas.
3.8 Sócrates: Educador e moralista
36
Sócrates tinha uma finalidade ética e educativa. A maieutica (parteira) das
idéias era o processo de fazer o homem pensar. O ato de dar a luz às idéias.
Sócrates ia à praça publica ensinar os seus cidadãos. Diferenciava-se dos
Sofistas de não ser mercadores de sabedoria, como foi dito. Não conversava
como homem que ocultava sua ignorância com frases sedutoras, como faziam os
sofistas. Mas queria em comunhão de trabalho descobrir a verdade, pois estava
consciente de que ignorava em demasia. Ao contrario dos Sofistas que queriam
saber tudo, mas não sabiam de sua própria ignorância.
Sócrates procurava interessar com vivacidade o ouvinte sobre vários temas.
Exortava-o mediante frases oportunas e formava-o e exigia dele a concentração,
pedia que deixasse de lado as preocupações cotidianas. Outra forma requeria dos
discípulos cada vez mais apurados conhecimentos de tornar notável o erro e
convencer os ouvintes de sua ignorância. Esta forma de interrogatório era a ironia.
Assim até aqui a estrutura do dialogo é negativo e destrutivo. Aqui ele retoma a
fase construtivista de elaboração pessoal. O que devia dar a luz de sua própria
idéia e descobrir a verdade orientadora para a sua própria vida.
3.8.1 A educação
Sócrates percebeu com maestria que o fenômeno educativo era a auto-
atividade, cada um se educa a si mesmo. A educação é um movimento que nasce
do interior da pessoa e o interlocutor é um elemento estimulador para acorda-lo
para as verdadeiras respostas. A estratégia de Sócrates era motivar a encontrar
mediante o dialogo as respostas elaboradas por si mesmo. O processo era da
experiência concreta e singular a uma elevação do plano nas idéias gerais.
3.8.2 O método de Sócrates
A maiêutica de Sócrates supõe uma visão profunda da vida intelectual,
dessa operação vital e pessoal em que o mestre apenas desempenha funções
instrumentais, enquanto a inteligência do discípulo continua a ser a causa
principal.
Do mesmo modo a procura das essências e das definições é um dos
princípios mais fecundos para atingir a verdadeira ciência humana. Não existe
ciência sem conceitos universais. A indução para este filósofo era concebida em
37
função da moral e serve para proporcionar a nossa inteligência abstrata para
atingir a unidade.
3.8.3 A moral em Sócrates
A obra de Sócrates não foi constituir um sistema, mas para despertar nas
almas o gosto pela ciência. Assim as doutrinas dos diálogos são sempre
analíticas. Então a sua orientação converge para obter a síntese dominada por
este principio fundamental: todo homem quer e precisa de sua felicidade que
consiste na posse do verdadeiro bem, ou do bem conhecido pela inteligência.
Este princípio é formulado de maneira explicita pelo filósofo o que está
implícito em todas as interpretações e discussões dos diálogos. O bem do homem
como a sua felicidade é formada de múltiplos elementos, entre os quais há que
estabelecer a hierarquia:
j. Vantagens exteriores, cujo valor real é o lado acidental que se pode
passar por eles. E o outro é o condicional que é preciso saber servir-
se deles;
k. Os prazeres do corpo e da sensibilidade: são apreciáveis, mas
relativos por que exigem uma regra para impedir os excessos muitos
fáceis;
l. O domínio de si, que liberta o homem do jugo, das paixões e dos
instintos levado-os a razão. O verdadeiro bem por que regula a
sensibilidade e prepara a alma para o bem supremo;
m. A sabedoria ou virtude é o bem maior, absoluto e supremo.
n. A virtude é reduzida a ciência. O sábio é o homem virtuoso que
possui a perfeita ciência do bem moral.
A primeira coisa que Sócrates faz é clarear a virtude que não pode ser o
acaso da natureza. Ela depende de a possuirmos, como que a perfeição humana
é suprema; tem que ter a firmeza e a independência dominadora da razão: numa
palavra, a virtude é o reino da razão.
Para este autor, a ciência do bem moral é só a condição primordial para
estabelecer o pleno domínio da razão na vida, é a causa suficiente e adequada.
Não é ainda um simples corolário do principio fundamental? Se todo homem quer
38
o bem, é impossível que o vendo com clareza rejeite-o; de outra forma, agiria
como louco e não como homem razoável. Ninguém faz o mal voluntariamente. O
pecado é a ignorância.
Há que concluir, que, a virtude é essencialmente a ciência do bem: é a
sabedoria, fim da filosofia. Ela toma vários nomes segundo os objetos a que se
aplica: coragem e temperança se dirigem à vontade ou a sensibilidade; justiça e
piedade, quando regula as nossas relações com os homens ou com os deuses.
3.8.4 O paradoxo
Esta doutrina refere à ciência com a virtude de que não é qualquer
conhecimento do bem, mas verdadeira ciência, racionada e mediada: convicção
firme de que o nosso verdadeiro bem está na conformidade com a razão e esta
convicção é baseada em cultura intelectual proporcionada. A boa direção da vida,
a razão há de fortalecer-se, exercitando-se a propósito de tudo; daí a
perseverança admirável de Sócrates em dialogar com os seus cidadãos para lhes
ensinar a virtude sempre com a reflexão. Nada é tão forte como a razão para
moralizar a humanidade.
O justo é que a virtude estabelece a independência e a firmeza como da
ciência. Mas subsistem entre estas duas formas de virtude, as intelectuais, outras
morais, diferença que não permitem reduzir as segundas nas primeiras. O
paradoxo de Sócrates é a análise feita de São Tomas de Aquino sobre as relações
delicadas entre o conhecimento intelectual e a vontade livre. É o bem moral que é
buscado pelo individuo, conhecido como fim útil universal.
Existe uma forma de conhecer: há a ciência especulativa do sábio, ou a
ciência especulativa pratica do moralista; e isto não basta para se chegar à boa
ação; e há o conhecimento prático, a prudência, e esta leva à boa ação. A
soberania da razão é o mistério de nossa liberdade. O paradoxo que tende ao
determinismo, Sócrates negou.
3.8.5 A felicidade
Todo homem quer ser feliz, e enquanto estiver na terra procura a felicidade,
esta é a virtude mais procurada. A virtude é um bem supremo e sendo assim é
suficiente, e isto leva a perfeita felicidade. Ele propõe aos pagãos a moral da vida
39
presente; neste mundo pensa-se que todo justo fica recompensado com a virtude,
o mau será punido por causa de seus vícios, a nobreza da razão e a excelência
dos prazeres espirituais.
O ideal magnífico que contem a grande parcela de unidade, mas é realizável
em virtude da natureza decaída, sem o auxilio da graça. Alguns apenas são
recompensados com a felicidade, outros não são capazes de chegar a tal
conquista.
3.8.6 Influência de Sócrates
A sua influencia é sentida até hoje, na Grécia ele foi um dos maiores
filósofos. Ele era tranqüilo, insinuante e agrupava em torno de si um grande
numero de discípulos jovens. Ele pregava a democracia, a moral, e criticava a
rotina da cidade pagã. Ele foi confundido com os sofistas, mas ele tinha idéias
novas, pregava as tradições familiares, a política e a religião. Ele era diferente de
todos.
o. Nas tradições familiares ele falava da amizade;
p. Na política criticava os negócios públicos, os magistrados, os
partidos políticos, o governo deveria ser dos sábios e quem
governava era os ignorantes;
q. Na religião criticava os muitos deuses gregos, e era um monoteísta;
r. A sua doutrina era coerente e completa, mesmo em moral: é uma
iniciação genial, rica em verdades, mas esta verdade é apenas um
germe. Ele afirma que as ciências são universais, descobre o
verdadeiro método cientifico, a indução e dedução são os métodos, e
a moral deve ser praticada com excelência. A moral tem que ter uma
finalidade, é um bem supremo, está fora do homem, está em Deus.
Conclusão
Sócrates era um educador por excelência. A sua personalidade é marcante,
ele delimita a filosofia antes e depois dele. Ele organiza a filosofia: o
conhecimento, o ser, e a moral. O homem tem o primórdio no pensamento, a
organização social é vital para uma sociedade. A polis (cidade) deve ser dirigida
por um sábio. Ele acaba com o ceticismo dos sofistas, ele afirma que é possível
40
conhecer a verdade, definir os conceitos, construir a síntese. A moral é uma
virtude. Na educação ele afirma que o homem é capaz de conhecer, organizar,
saber.
3.9 PLATÃO E A EDUCAÇÃO
3.9.1 Vida
Ele nasceu em 427 a. C. em Atenas e morreu em 347 a. C. com 80 anos.
Era de família nobre, aristocrata, parente por parte de mãe de Sólon, o grande juiz
Grego, ele tinha ambições políticas, seu tio Carmide e o primo Crítias eram um
dos trinta nobres da cidade de Atenas, eles fizeram parte dos 404 na revolução
Ateniense. Sobre a educação Platão era mais cuidadoso que Sócrates.
As influências sofridas por Platão era a política justa e moral, sem injustiças
e violências. Ele viajou muito depois da morte de seu líder Sócrates, quando ele
foi condenado à morte, dizem que ele foi para o Egito, Cirene, Atenas. Encontra
seu amigo Árquitos de Tarento. A influência de Pitágoras em sua vida é muito
grande, esta influencia pode ser vista em sua obra: Fédon. Chegando a Sicília
conhece Díon, cunhado de Dionísio e este vai ser seu discípulo e amigo de Platão.
Com este homem ele conhece a política, a tirania, e procura fazer da democracia
e republica ideal, que depois fracassa ao criticar a corte dos reis, onde propõe a
idéia de que o governador deve ser o filósofo - rei. Voltando para Atenas criou a
academia.
Esta é uma escola que hoje seria as grandes universidades, onde a
pesquisa, o ensino superior, o estudo das diversas ciências, a predominância da
matemática, nisto vão dar nos novos sábios e filósofos da época. Nesta época ele
escreve: As Leis, Platão se torna mais realista e vêem na política a justiça, as leis:
não é mais um indivíduo que vai realizar a justiça, mas a lei. É a lei justa que
estabelece um governo justo.
3.9.2 A Obra
São apenas diálogos, menos Apologia e as cartas. As Leis é a ultima obra,
as primeiras são: Apologia, Críton, Eutifron que são diálogos referentes à memória
de Sócrates; Hípias, o Menor, Íon, Carmides, Lasques, e Lísis, que são obras de
método Socrático. Outro tipo de obra mais com aspecto de doutrina: Hípias, o
41
Maior, Protágoras, Górgias, Ménon, Menexeno, Eutidemo, Crátilo, que são obras
da maturidade: Fédon, Banquete, A República, Fedro, estes fazem parte dos
diálogos da maturidade. Na velhice ele escreve sobre: Parmênides, Teeteto,
Sofista, Política, Timeu, Crítias, Filebo, e as Leis.
3.9.3 Ideias
Platão adota as ideias de seu mestre Sócrates. A sua obra é marcada pela
alegoria da caverna, o mito da transmigração das almas, as fábulas, histórias,
imagens e alegorias, a doutrina da tripartição da alma (Timeu e República). O
platonismo é um conhecimento dialético, que nos leva a rememorar as idéias das
coisas; não é um conhecimento puramente racional, especulativo, mas moral. O
homem é capaz de conhecer e transformar este conhecimento em ação.
Ele formulou a teoria do ser e do conhecimento. Do lado do objeto
enunciamos verdades, fazemos ciência. O objeto é estável, deve ser uma idéia. O
objeto deve ser estável, isto é, não pode ser sensível; deve ser uma idéia. O
sensível participa do mundo das idéias. As idéias devem ser estruturadas. Acima
das idéias estruturadas encontramos a idéia suprema que é o Bem. Do lado do
sujeito: as condições de possibilidades eram para se atingir a verdade.
Daí surge às teorias: anamnese ou da reminiscência. A alma lembra-se do
mundo das idéias. Para Platão conhecer é reconhecer. Platão imagina aqui o
seguinte: antes de estar unida ao corpo, nossa alma tinha contemplado o mundo
das idéias, ela vivia no mundo das idéias e via face à face as idéias puras. A alma
encarnou-se no corpo. Depois de encarnada no corpo perdeu a liberdade e o
mundo das idéias. A alma tem que se livrar do corpo vai acordar e não negar o
corpo, mas ir alem do corpo, transmigrar. Por isso deve se purificar.
s. Ignorar significa ter esquecido;
t. Aprender significa lembrar-se.
u. O corpo é a dispersão.
v. O mal é a ausência de unidade.
x. A alma é a unidade.
Na filosofia platônica é a dialética. De idéia em idéia, na reminiscência é
progressiva, precisa-se chegar à idéia suprema do Bem:
42
a. As idéias matemáticas;
b. A geometria;
c. A astronomia;
d. A música;
e. Filosofia.
Assim o homem adquire as idéias morais, a idéia de ser e não-ser, e assim
a idéia de Bem. Filosofia é subir degrau por degrau até chegar ao degrau do Bem.
A moral é muito importante, é uma virtude que deve ser adquirida sempre. A alma
é sinônima de inteligência, de vontade, de amor. O bem sozinho ilumina o mundo
das ideias.
A filosofia de Platão pode assim ser resumida:
f. A política: o estado deve ser governado pelos filósofos, os
reis filósofos.
g. A antropologia: o homem é um ser que busca a felicidade;
precisa do conhecimento; prazer e saber.
h. A educação: é a obra do amor, o que implica numa relação
pessoal entre o mestre e o discípulo.
3.9.4 PLATÃO, A EDUCAÇÃO E A VIDA VIRTUOSA
A educação na atualidade precisa de uma maior reflexão filosófica. A
interdisciplinaridade se torna o ponto fundamental desta reflexão filosófica e da
educação. Platão, educação e vida virtuosa passam a ser um paradigma para tal
reflexão. Muitos defendem a educação tradicional realizada por Anito, o acusador
de Sócrates. No Menon de Platão há um diálogo quando Sócrates lhe indaga
quem é que educa o jovem ateniense:
“Mas por que dar o nome de um homem só? Qualquer
ateniense de boa família que encontre o melhorará se seguir
seus conselhos, mais que os sofistas”. (Menon 92e).
Sabemos que na Grécia antiga no século V a C havia um movimento
denominado de sofista: que questionava, problematizava a prática e a teoria da
educação. No discurso escrito por Platão sobre Protágoras mostra que: a ama, a
43
mãe, o tutor e o pai inculcam nas crianças bons hábitos e a condicionam para
desempenhar um papel social na polis. A virtude humana e política são
transmitidas de geração em geração por meio de uma aprendizagem puramente
não intelectual, mas pela prática social.
Os cidadãos são levados a guardar leis que devem ser obedecidas quando
forem vantajosas pelo indivíduo e que deve ser bom para a ordem social. Platão
talvez ao recriar Protágoras e Górgias reduzisse os problemas educacionais:
epistemológicos, didáticos, morais, psicológicos e sociais – de forma que foi
acusado de perverter a ordem social. Ele poderia ser considerado um anarquista
na atualidade, mas que na realidade ele foi um simples baluarte da política
democrática que ele queria.
O problema platônico na educação é como definir o sofista e como
perguntar pela virtude a ser ensinada? Para Platão a única virtude era a virtude
moral, toda a Arete, toda excelência: técnica, intelectual, moral e política. No
grego, arte (técne) era não só construir bem casas ou a arte de manter a saúde ou
de restaurar a saúde, a arte de bem falar, essas artes são ensinadas de mestre a
discípulo, por que não ensinar a arte de viver bem? Se as várias atividades do
homem podem ser através da razão que foram ensinadas e aperfeiçoadas, porque
não ensinar a perfeição humana?
Esta é a pergunta de Menon no início do diálogo: a perfeição humana é
ensinável ou é natural ou é adquirida pelos homens de qualquer forma? A
educação, tentar aperfeiçoar homem é futilidade. Resta-nos ver os homens bons
e virtuosos e guardá-los bem guardados, como um tesouro raro. Esta é a ironia do
Menon.
Por outro lado Protágoras mostra a importância da persuasão. Deste modo um
homem é persuadido pela verdade e levados a agir conforme a sua razão. A
verdade não é valorada pelo psicológico ou social, a questão não é só ética, mas
semântica e ontológica. O homem é medido por suas percepções. A virtude é
ensinada não porque ela pode ser apreendida intelectualmente, mas porque ela
não é igual para todos.
44
Se fosse igual teríamos um problema insolúvel. Como poderia a verdade (bem
e belo) exercer uma atração sobre o homem. Protágoras responde que a verdade
e o bem são motivos de ação porque é ação, na sua própria essência relações:
são somente em relação a algo ou alguém.
Em Górgias 521 d Sócrates declara-se o único homem político em Atenas:
“Creio que sou um dos poucos atenienses desta época para
não dizer o único a se ocupar da verdadeira arte política”.
Aqui encontramos o pensamento grego clássico que reconhece na comunidade
política uma função educativa. Não se trata do dever do estado de dar uma
educação pública para os jovens, mas de uma concepção e uma vida em comum,
a qual só se tem um efeito educativo sobre os jovens os quais nela participam.
Platão começa a educação pela música e pela ginástica. A filosofia é a última. As
etapas iniciais da educação reforçam o hábito e a formação do caráter, e estas é a
base moral da educação.
Das virtudes da música e da ginástica, a razão será enfatizada. A educação
platônica não é indiferente ao prazer. Platão, no seu escrito o Filebo mostra que
há prazeres verdadeiros e falsos, não porque a sensação é negada por alguém
que tenha prazer que é prazeroso, mas que esta ou aquela percepção de prazer
leva ao sonho ou delírio. No banquete Platão mostra que a emoção não é nada
mais que um grau menos nítido a razão. O verdadeiro objeto de todo desejo é a
razão.
Górgias 503e:
“Se queres exemplos, considera os pintores, os arquitetos,
os construtores de navios e qualquer um dos artesãos. Cada
um deles organiza os vários componentes que ele utiliza em
certa estrutura e os faz ajustarem-se uns aos outros até que
consiga acomoda-los em um complexo inteiro e ordenado”.
Aqui Platão modifica o conceito de razão e passa para a teleologia, isto é não é
a razão, mas o fim das coisas.
45
Fédon 97d:
“Um dia ouvi alguém lendo de um livro que disse ser de
Anaxágoras, e, de acordo com ele, a razão é que ordena e
explica tudo. E isto me agradou porque me parecia bom, de
algum modo, que a razão fosse a explicação de todas as
coisas. E eu pensei que, se é assim, então a razão deveria
ordenar as coisas e dispor cada coisa da melhor maneira
possível”.
Para ele a arte, a técne é um bom exemplo de racionalidade porque tem
uma finalidade.
A virtude inconsciente não basta. A razão como organização teleológica
está sempre presente. A educação e a sua finalidade é a razão. A educação não
elimina nem recalca as emoções, mas agrega-as no conhecimento. A verdadeira
educação não é para todos ou par a maioria das pessoas. Em Platão, na
República é um ideal que têm alternativas, numa cidade organizada e bem
governada, os seus habitantes passam por vários processos de reflexão. A
verdadeira virtude surge então depois da reflexão, o que dá à educação um
grande caráter moral.
3.9.5 Platão e a Pedagogia
A influência de Platão (no mesmo ano da morte de Péricles, nasceu Platão
em Atenas. Crátilo o iniciou na filosofia Jônica, aos vinte anos já era discípulo de
Sócrates. Depois de breve estadia de Megara, viajou para Cicília e Egito. Sempre
cultivou relações com os Pitagóricos, com Arquitas de Terento. Com 40 anos
fundou a academia, que em pouco tempo se tornou celebre) já se fazia sentir em
meados do século IV a. C. numa época, na verdade, de extraordinária atividade
política e cultural. A guerra de Peloponeso, pela qual Atenas perdeu sua posição
controladora no mundo helênico, veio ressaltar, uma vez mais, a importância da
força político-militar de Esparta, e, com isso, as deficiências do sistema ateniense
da educação privada.
46
Mas, ao mesmo tempo se revelou o préstimo deste tipo de ensino em fase
das limitações da formação espartana. Esparta só produziu grandes estrategistas
e heróis. No primeiro terço do século IV a. C intensificou-se grandemente a crítica
pedagógica; discutiam-se os sistemas mais diversos e adotavam-se soluções
conciliadoras. A historiografia deu numerosas sugestões para este período de
crítica construtivo: Heródoto, narrador pitoresco e dedicado, a Tucídides, autor da
“Guerra de Peloponeso”, o qual se interessou por explicar os fatos, buscar causas
e sublinhar a importância das instituições sociais.
47
CAPITULO IV ARISTÓTELES E A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO6
4.1 Aristóteles e a Educação
Aristóteles foi preceptor de Alexandre Magno. Ele foi acusado de
menosprezar a religião, teve que fugir para a cidade de Cálcis no final de sua vida
onde lá morreu. Compreendeu e toda a sua plenitude a luta das orientações
pedagógicas de se tempo. Ponderou em formar igualmente as pretensões de
cada escola filosófica e embora sua filiação filosófica o colocasse ao lado de
Platão na deixou de reconhecer a parte de verdade que assistia aos opositores.
Seu temperamento era conciliador e o seu tato histórico o levará a formular
um sistema de filosofia que tomou em consideração as grandes produções do
passado e em relação inseparável com este filósofo um sistema de educação que,
ao mesmo tempo, liquidou, numa grande proporção, o debate pedagógico de sua
época e criou novas bases para a educação superior.
A filosofia de Aristóteles é o sistema de evolução do pensamento e do
próprio homem. Para ele, todas as coisas se encontram em constante mudança,
em perene devir. Os seres que atualmente envelhecem antes de nasceram e se
desenvolveram. Os que nascem também indefectivelmente morrerão. Porém, a
mudança das coisas que obedecem a certo ritmo e acontece de acordo com
determinados princípios. Aristóteles serviu-se de duas expressões para mostrar o
processo de formação dos seres.
Uma coisa que é suscetível de transformar-se em outra se acha em
potencia; uma é transformada e encontra-se em ato. O ovo se transforma em
filhote e este numa ave adulta. O menino se transforma em adolescente e este em
jovem e adulto. O pintainho em elação ao ovo se encontra em ato. Por parte, o
pintainho é uma ave em potencia capaz de converter-se em galináceo.
A lei por meio da qual uma coisa em potencia se transforma em ato é maior,
composta de quatro princípios: a causa material, a causa eficiente, causa formal e
causa final. O que faz da natureza dos objetos providos de matéria e forma, e em
continuo movimento. Encontra-se dotada de finalidade. A força da vida no sentido
amplo da palavra é a alma, a inteligência do corpo. Este princípio metafísico se
6 Trabalho feito para conclusão de curso em Filosofia II, 2006
48
reduz a uma força nas plantas. O animal possui também a capacidade de sentir,
querer e mudar de lugar. No homem estas qualidades se encontram unidas com a
capacidade racional.
O homem necessita do homem para obtenção de seus fins práticos.
Somente no estado é possível resolver o problema moral. O homem, por natureza,
é um ser politico. O fim do Estado é a educação dos cidadãos.
4.2 A educação e a Psicologia
Aristóteles forjou seu conceito de educação partindo da ideia de imitação. O
que no homem bruto é a mera capacidade imitativa, no homem se converte numa
arte. Este se educa à medida que copia a forma de vida dos adultos. Tal imitação
traz consigo um acréscimo anímico, pois os hábitos adquiridos vão formando uma
espécie de segunda natureza no educando. Mas a educação é possível porque
existe disposição a desenvolver e meios para realizá-los.
O homem se educa porque atualiza suas energias. Esta é a doutrina de
Aristóteles da potencialidade e do ato levadas para o campo da educação. O
educando é potencialmente um sábio – com a educação atualiza e converte em
ato o que é susceptível de desenvolver-se.
Três são os fatores humanos – a disposição natural, de meios para
aprender a prática ou o hábito par afirmar processo psíquico de conhecimento se
realiza em três fases – percepção do objeto; memorização do percebido; e a
aplicação dos conteúdos memorizados. Relacionando-se entre si sempre. A estes
processos naturais da alma humana deve corresponder um plano metódico de
ensinar.
O mestre deve em primeiro lugar expor a matéria do conhecimento. Em
seguida te de cuidar que se imprima ou retenha o exposto na mente do plano. Por
fim, tem de buscar que o educando relacione a diversas representações mediante
o exercido.
Aristóteles recorre à psicologia para explicar o processo da educação, e o
que dá origem a normas técnicas do aprendizado. Estes filósofos foi um dos
primeiros pedagogos que tratou de estudar como se produz na psique o fenômeno
educativo.
49
4.3 A educação integral
A antropologia de Aristóteles ensina que o homem é um ser cuja essência é
a razão, porém, participa de funções vegetativas e instintivas. É preciso, pois,
desenvolver e cultivar todas as partes que integram a natureza humana, não se
descuidando de nenhuma energia do homem – sua educação deve ser educação
integral.
A palavra “razão” em Aristóteles possui um sentido muito amplo. Pois, isto é
o que distingue o homem dos demais seres. Nela se baseia a vida moral e politica
da pessoa. O homem, por natureza busca a felicidade, a qual reside num
comportamento que se mantem no justo meio de toda virtude. Aqui a educação da
vontade é recurso adequado para aperfeiçoar o homem.
Na relação com a educação, Aristóteles formulou um plano mais moderado,
do que as ideias de Platão. Os valores morais, os quais são altos, só poderiam ser
desenvolvidas através do Estado, que na verdade tinha o proposito supremo de
moralizar os cidadãos. Por esta razão, a educação deve ter o caráter politico e
comum.
Concluímos que a palavra educação no sentido que possuímos atualmente
não aparece no filosofo Aristóteles. O termo Paideia em grego tem uma conotação
abrangente diferente da que temos hoje. Aristóteles não menciona educação, mas
ele faz educação, relacionando-a com vários tipos de conhecimento. A educação é
o ato de conhecer. Ele faz do conhecimento, da ciência uma forma de educação,
de aprendizado.
Na sua academia para se conhecer alguma coisa deveria começar a
aprender- astronomia, matemática, metafisica, e outras ciências da mente, do
corpo e do espirito. A educação aristotélica parte dos valores morais, do caráter
politico. A ideia de mimeses ou a ideia de imitação é para Aristóteles um conceito
fundamental de educação. A arte de imitar leva o individuo a produzir um
conhecimento. E este conhecimento é educação. Por fim, Aristóteles mostra que a
educação integral se dá pela metafísica, pela antropologia.
Referencias
ALLAN, D J. A filosofia de Aristóteles, Presença, Lisboa, 1983.
50
BARNES, J. Aristóteles, Loyola, São Paulo, 2001.
HOURDAKIS, A. Aristóteles e a educação. Loyola, São Paulo, 2001.
WOLFF, F. Aristóteles e a Política. Discurso, São Paulo, 1999.
51
CAPÍTULO V SANTO AGOSTINHO E A EDUCAÇÃO7
5.1 SANTO AGOSTINHO – Um filósofo adiante de seu tempo
Pretendemos neste trabalho mostrar alguns aspectos da vida, obra e do
pensamento de Santo Agostinho. Temas inseridos em sua obra, idéias que nos
leva a pensar como este filósofo e teólogo eram e como os conflitos de sua época
influenciaram o seu pensamento.
O autor começa como um filósofo cético que se converte ao catolicismo.
Faz da linguagem uma preocupação filosófica e educacional de seu filho
Adeodato. Poderíamos dizer que Santo Agostinho é como o filósofo Descartes
antecipado com o pensar sobre o cogito. Mas a sua preocupação fundamental é
com o dualismo. Ele antecipa à disputa medieval da fé a disputa da fé versus a
razão.
Depende de Platão para formular a sua filosofia. Preocupa-se agora com a
teologia e o livre arbítrio. O mal faz parte de sua vida e obra. Esta é uma
preocupação teológica com o pecado original que conforme nosso autor é a
origem de todo mal. A teodiceia em Agostinho vai influenciar a teologia e a filosofia
até nossos dias. Ele ainda se preocupa com o desejo humano. Conforme o autor o
desejar coisas más faz parte do ser humano, do homem decaído.
Para ele o mentir leva o homem ao mal e isso deixa a divindade triste e o
homem infeliz. Ele ainda é um filósofo platônico que quer mostrar que a verdadeira
felicidade é o conhecer a Deus e praticar as coisas boas. Isto leva nosso autor a
antecipar muitas idéias. Podemos denominá-lo de um pensador adiante de sua
época e o coloca na atualidade.
5.2 Santo Agostinho e seu tempo
Aurélio Agostinho, Agostinho de Hipona ou simplesmente Santo Agostinho,
foi um bispo católico, teólogo e filósofo que nasceu em 13 de novembro de 354 em
Tagaste (hoje Souk-ahras, na atual Argélia). Ele morreu em 28 de agosto de 430
em Hipona (hoje Annaba, na Argélia). Ele é considerado pelos católicos um santo
e doutor da doutrina da Igreja.
7 Trabalho de conclusão de curso em Filosofia I, 2006.
52
Santo Agostinho cresceu no norte da África colonizada por Roma. Foi
educado em Cartago e depois professor de retórica em Milão em 383. Seguiu o
maniqueísmo quando era estudante depois se converteu ao cristianismo através
da pregação de Ambrósio de Milão.
Foi batizado na páscoa do ano 387 retornando ao norte da África onde com
seus amigos fundou um mosteiro. Em 391 foi ordenado sacerdote em Hipona.
Tornou-se o maior pregador de sua época, existem mais de 350 sermões
preservados e escritos e depois combateu o maniqueísmo. Defendeu também o
uso da força contra os hereges, principalmente os donatistas.
Ele é um africano e negro. Estudou em Cartago e no período dos estudos
de retórica tornou-se um devasso com seus “amores ilícitos”. Foi para a Itália para
ensinar retórica. Em Milão conheceu o bispo Ambrósio que foi seu mestre e sob
sua influência se converteu ao cristianismo, tornou-se bispo e depois santo. Em
sua vida religiosa escreveu mais de uma centena de livros e pregou muito.
Foi denominado de primeiro pensador ocidental, romano, latino. Filósofo
que se tornou um grande pensador confessional: filósofo, teólogo e grande
hermeneuta. Criou uma metodologia para interpretar os textos bíblicos: a exegese,
alegoria e tipologia. Foi antes de tudo um filósofo e o primeiro a escrever uma
autobiografia: Confissões.
Em 396 d. C. foi eleito bispo assistente de Hipona com direito a sucessão
do bispo da época. Assumiu o cargo de bispo de Hipona até a sua morte em 430.
Deixou seu mosteiro, mas manteve uma vida monástica em sua residência
episcopal. Deixou um a Regra para o seu mosteiro o que o levou a ser
denominado de “santo patrono do clero regular”. Esta é uma ordem religiosa
denominada de agostinianos que vivem sob uma regra monástica.
Ele morreu em 430 durante a guerra da cidade de Hipona contra o cerco
feito pelos vândalos. Ele encorajou os cidadãos a resistirem aos ataques destes
invasores. Porque estes invasores eram tidos doutrinariamente adeptos de Ário,
que ele considerava uma heresia chamada arianismo. Ele escreveu centenas de
obras. Mencionaremos alguns mais importantes: Da doutrina cristã, Confissões,
Cidade de Deus, Trindade, De Magistro, etc.
53
Agostinho foi um autor prolífico, escrevendo de vários gêneros: sermões,
comentários, tratados teológicos, autobiografia, confissões. Suas confissões são
também consideradas uma autobiografia. Ele descreve sua vida desde a sua
concepção até pouco antes de morrer, de sua relação com Deus e termina com
um comentário ao livro de Gênesis, onde ele cria a hermenêutica das escrituras. A
consciência que ele possuía e a inspiração que tinha para escrever as suas obras
impressionam ainda hoje os seus leitores.
Assim ele escreveu as: Confissões e a Cidade de Deus. Agostinho desiste
do maniqueísmo e do Bispo Fausto que ensinava este tipo de filosofia e que
depois foi condenada como heresia. Segue Cícero e o ceticismo e também mais
tarde deixa o ceticismo e se converte à doutrina cristã. Deixa Plotino e Porfírio e
suas filosofias que o torna um místico, intérprete das Escrituras Sagradas. Morre a
sua mãe Mônica e o filho Adeodato (dado a Deus) e depois se torna bispo.
Começa a escrever abundantemente e condena as heresias que ele próprio
seguia: donatismo, maniqueísmo e o pelagianismo. Ele se torna o defensor da fé
cristã e assim a ortodoxia cristã. Agostinho se torna um dos maiores filósofos de
sua época e também um dos maiores teólogos do começo do Cristianismo. A sua
influência foi tal que Lutero elabora a reforma protestante como monge
agostiniano. Ele influenciou os tomistas: Tomás de Aquino e também os
racionalistas: Descartes e o iluminista Kant.
5.3 Pensamentos mais importantes de Santo Agostinho
A. O ceticismo
Agostinho descobriu o ceticismo na juventude quando começou a questionar a
existência de Deus e o livre-arbítrio. O ceticismo não tratava de colocar em dúvida
as questões vitais. Agostinho adota o amor à filosofia e ambiciona a sabedoria. A
sua obra dedicada ao ceticismo é: Contra os Acadêmicos. Esta obra menciona
Cícero, esta é uma obra bem esotérica e difícil de ser entendida. Esta obra sofre
influencia de Zenon. O pensamento central desta obra é: alguma coisa pode ser
conhecida.
O critério para se conhecer algo ficou conhecida e denominada de: definição
de Zenon. Isto é uma forma de ceticismo. Se há possibilidade de se conhecer
54
algo. O que é verdadeiro e falso, apeíron: aparência, o que parece, mas não é.
Esta é a essência do ceticismo agostiniano.
B. A linguagem
A questão da linguagem tem vários aspectos importantes no pensamento de
Agostinho. Em Contra os Acadêmicos ele declara que quando fala mundo o que
parece ser mundo, então se pode saber que o mundo existe. O outro aspecto da
linguagem em seu pensar refere ao diálogo dele com Adeodato. Isto trata dos
sinais, signos, do pensar e raciocinar antes de adquirir a linguagem. Mas também
existem sinais não linguísticos que se referem aos desejos, satisfação dos
desejos.
A outra questão da linguagem se refere à hermenêutica de Agostinho. A
interpretação que ele elabora da: filosofia, teologia e da Bíblia. Conforme o nosso
autor a criança antes de adquirir a linguagem ela se expressa: por choro, se
comunica com gestos e desejos diferentes. Agostinho trabalha a questão da
linguagem. Pergunta a Adeodato: “que te parece que queremos fazer quando
falamos:”. E ele responde: “quando falamos queremos ensinar ou aprender algo”.
A obra fundamental de Agostinho sobre a questão da linguagem é do “Mestre”.
A obra é um diálogo com Adeodato. Qualquer palavra significante significa algo.
Seu significado é o que ela representa ou significa. A palavra foi instituída para
ensinar ou lembrar alguma coisa. Agostinho demonstra que ensinamos quando
lembramos alguma coisa a alguém. Ao cantar estamos nos ensinando a relembrar
algo que já sabemos. “A palavra foi instituída para ensinar ou recordar alguma
coisa”.
O uso da linguagem também serve como informação. O diálogo vai para uma
consideração dos significados das palavras. As palavras são signos e um signo
não pode ser um signo a não ser que signifique alguma coisa. O que significa
nada. Significa aquilo que não existe. O nada significa nada e se nada não
significasse nada poderíamos dizer então que a palavra nada é destituída de
sentidos. Isto seria um absurdo, pois nada significa alguma coisa. Nada significa
aquilo que não existe. É a ideia que tais palavras como: se, nada não significam
coisa alguma por si mesmas, mas em relação com alguma coisa. A discussão de
55
Agostinho acerca de sentidos, significados em Do Mestre com Adeodato mostra
que uma palavra tem várias espécies de significados.
O próprio Agostinho aprendeu em suas Confissões que o significado das
palavras fazem lembrar ou recordar as conversas dos adultos e que serviu de
aprendizagem. Agostinho desta forma antecipa Ludwig Wittgenstein e os
estruturalistas sobre a questão dos sentidos, significados e a própria linguagem. A
aprendizagem da linguagem se faz pelo caminhar que difere do andar depressa.
Às vezes a ambiguidade das palavras é entendida depois e não no momento do
diálogo. A aquisição da linguagem se dá não na teoria, mas na prática. São os
atos de andar e caminhar, tempo que adquirimos a linguagem.
C. O Cogito em Santo Agostinho
Muito antes de Descartes, Agostinho possuía a ideia de cogito. Na obra Contra
os Acadêmicos ele estabelece o que podemos saber como nos parecem o mundo
perceptível e as coisas existentes dentro dele, mesmo que se nunca pudermos
saber como é que realmente são. A ideia de que “eu sei que existo”. Eu existo e
eu sei são afirmações do conhecimento. Na Cidade de Deus ele também afirma
“eu existo” e “eu sei que existi” como fazendo parte do conhecimento.
O cogito de Agostinho é, pois diferente do cogito de Descartes. Para Agostinho
ainda depende da definição que Zenon dá e que ele considerava como itens
genuínos de conhecimento o pensar e existir. O cogito de Agostinho enfatiza a
similaridade entre o pensar e o existir. Para Descartes é uma lógica e uma
matemática: penso, logo existo. Descartes na 2ª Meditação afirma que estava
convencido de que nada existia no mundo. “Eu existo, uma vez que ele me
engana”. Será que Descartes depende do cogito de Agostinho?
Ou Agostinho influenciou Descartes sobre o modo de pensar cogito? Sem
dúvida ele influenciou o pensamento de Descartes. Agostinho acha que o
conhecimento tem um papel importante no pensamento de cada um de nós e que
descobrimos a existência. Mais importante não é a influência de um sobre o outro.
Para Agostinho a prova era uma teoria de dados sensoriais. Agostinho está
preocupado a nos ajudar a entender como deus pode se três em um como em Da
56
Trindade. Para Descartes que nos mostra a dúvida categórica não vale para
provar a existência de Deus. Porque Deus existe por si só.
Para Agostinho a mente é memória e é ideia, entendimento e vontade de um
modo análogo àquele em que Deus é Pai, é Filho e Espírito Santo. A memória não
é apenas uma parte da mente, uma caixa ou uma faculdade da mente. O
entendimento ou vontade são apenas compartimentos ou faculdades. A memória
é a mente reunindo e armazenando coisas. O entendimento é a mente
entendendo as coisas. A vontade é a mente selecionando estas coisas e as
colocando em ação.
D. O dualismo
Agostinho herda dos filósofos gregos o conceito de dualismo. Dualismo: bem e
mal, mente e corpo. A mente é imaterial e o corpo material. Depende da teoria
platônica de incorporeidade da alma. Diferente de Descartes que afirma a real
distinção entre mente e corpo. Agostinho pensa como se processa e se
desenvolve a atividade característica da mente. Como a inteligência existe e vive
parece ser o modo como o pensamento consciente existe e vive. Para Agostinho
os materialistas pensam que o entendimento é produzido por algum tipo de
matéria. Ele critica os filósofos materialistas: Demócrito e Epicuro.
Para Agostinho as funções mentais convertem-se em sua mente. A mente é
algo que vive, lembra, recorda, entende, deseja, pensa, conhece e julga. A mente
sabe que existe, vive e entende. Aqui entra a grande discussão de essência e de
substância. A substância que não podemos conhecer alguma coisa sem sermos
aptos, ou identificar a sua substância. Substância material: qualidades e
propriedades do material. A essência em Agostinho é mais que substância. O
próprio termo mostra o que ele significa. Enquanto que substância são partes de
algo, a essência é o todo.
A discussão agostiniana sobre essência e substância é elaborada na lógica,
mas que tem uma preocupação teológica. Na época deste autor discutia-se a
pessoa de Cristo, se Cristo era essência ou substância de Deus. Os teólogos
traduziram o termo grego homoousios para o latim como essentia e o homoiousios
57
como substantia. Cristo era entendido como o próprio Deus, então essência de
Deus e não substância.
E. Tempo e Criação – Fé e Razão
Tempo e criação são termos teológicos e filosóficos encontrados nos escritos
de Agostinho. Ele menciona tempo não cronológico (em grego chronos), mas
tempo – eternidade (aionas). Este tempo refere-se à criação e a Deus, criador de
todas as coisas temporais e mutáveis e que o próprio Deus criou o tempo
(chronos) e ele é o eterno (aionas). Nas Confissões XI. 13.15, Agostinho fala:
“Fostes vós o criador do próprio tempo. O tempo não poderia decorrer antes de ter
sido por vós criado”.
A questão fundamental da filosofia e da teologia de Agostinho acerca do tempo
e da criação é a concepção ainda retirada do Judaísmo, Cristianismo, permeada
do Helenismo. Para Agostinho Deus é antes do tempo e da criação e depois das
mesmas. Não existe um tempo cíclico ao estilo maniqueísta, mas um tempo linear
do tipo do Judaísmo com começo e fim das coisas. Não existia nada antes do
tempo porque o tempo não existia. Para ele “o tempo existiu o tempo todo”, mas
não estava disponível à compreensão do homem (Cidade de Deus, XII.16).
O tempo foi criado por Deus antes de criar as criaturas. Então as criaturas
conheceram o tempo em suas vidas. O dia, a noite, a luz e as trevas foram criadas
num tempo antes de se criar o homem. Agostinho está na verdade interpretando
Gen 1. Em Gen 1 fala do tempo e de sua criação e da criação de todas as coisas
antes da criação do homem. O tempo não foi criado em tempo, mas com tempo
(Cidade de Deus, II, 6).
A criação de Deus não foi temporal, Ele simplesmente criou as coisas. O ato
de criação de Deus é um ato de eternidade (aionas) no sentido de ser um ato não
temporal. A ideia do ato de criação de Deus ser um ato não temporal abre
caminho de resposta para a velha pergunta de Parmênides sobre como, a partir
do nada, qualquer coisa podia vir a ser.
Parmênides perguntou, retoricamente, pois considerava absurda a ideia de um
principio de existência a partir do nada: “Que necessidade teria sido atiçada para
crescer mais tarde e não antes, começando do Nada”. Agostinho responderia que
58
nenhuma causa era requerida para dar existência ao mundo, visto que não existia
tempo antes de Deus ter criado o mundo com tempo. Ele próprio pergunta: porque
o mundo teria sido criado aqui em vez de outro lugar? Em Cidade de Deus XI. 5
ele responde que “uma infinidade na qual não podem conceber que Deus
estivesse inativo, imagina-se, na mesma ordem de idéias, infinitas extensões de
espaço e se alguma coisa existia em qualquer parte nesta infinidade”.
Na visão de Agostinho não haveria tempo nem espaço. O tempo para ele
começou com a criação dos anjos, os únicos que estavam em movimento desde o
momento da criação. Mas o movimento dos anjos produzia somente um tempo
não medido. O tempo medido só teve origem quando foram criados os corpos
celestes – moventes. Um tempo não medido antes de ter um tempo medido
(Cidade de Deus XII. 16; XI. 5; III. 8).
Fé e Razão. Estes dois termos são decorrentes dos anteriores e de sua
concepção filosófica da religião. Antes de Agostinho os filósofos gregos tinham
várias concepções sobre as crenças nos deuses. Xenófanes fez críticas às
religiões populares, ao politeísmo e ao antropomorfismo religioso. Este filósofo é o
primeiro século V a. C. (570 a. C) a ter uma ideia monoteísta. Platão falou muito
sobre deuses e as crenças em deuses.
No dialogo com Eutífron ele desenvolve a ideias sobre a moralidade e sobre o
beneplácito dos deuses para com os homens. Se os deuses aprovam ou reprovam
o comportamento humano. Que eles fazem ou tem que fazer para agradar aos
deuses. Eutífron nunca foi lido nesta perspectiva religiosa e como uma crítica a
todo tipo de crença prática religiosa. Platão apresenta uma história da criação
divina no Timeu. No Sofista fala sobre a crença e em Teeteto responde: a que
crença se refere? (265 c d). Aristóteles falou do primeiro motor, motor imóvel,
como um tipo de divindade.
Agostinho em Do Livre-arbítrio pergunta a Evódio se ele tem certeza de que
Deus existe (II 2.12). Evódio o responde a Agostinho que isto ele aceita pela fé, e
não pela razão. Agostinho afirma que: “queremos saber e entender (nosse et
intellegere) aquilo em que cremos” (II. 2. 5. 16). Foi Agostinho o primeiro filósofo e
teólogo a tornar claro qual era o papel da razão na vida de um crente propenso à
59
reflexão filosófica. A existência de Deus é um argumento de filósofos cristãos e
Agostinho tem uma lista enorme de provas oferecidas por pensadores cristãos,
judeus e muçulmanos. Esta ideia de Agostinho influenciou Santo Tomás de
Aquino na Idade Média.
Esta discussão foi vulgarizada e equacionada de várias formas: fé x razão, fé
acima da ração, fé igual razão, e razão acima da fé. Assim a influência de
Agostinho sobre os filósofos e teólogos Medievais sobre a discussão da existência
de Deus, as provas desta existência tiveram momentos marcantes. Para
Agostinho a fé explicada a razão e a razão explica a fé. A fé em busca de
entendimento, a fé em busca de meios racionais para remover os obstáculos à fé.
É a fé em Deus que procura obter um conhecer apropriado de Deus.
Os crentes em Deus supuseram com frequência que poderiam adquirir o
conhecimento de Deus por meio da experiência religiosa. Agostinho tinha visões
místicas e numa destas visões que foi escrita em Confissões ele falado
aparecimento de Deus em sua vida (VII. 10. 16. e XI. 24. 25). Para o nosso autor a
reflexão filosófica pode nos ajudar a conhecer a Deus. A fé em busca de eficácia,
em busca de conhecimento pode incluir a fé em busca de reflexões filosóficas
sobre o que deve ser a natureza de Deus. Para ele as escrituras Sagradas são as
palavras reveladas de Deus.
CONCLUSÃO
Agostinho pensou várias coisas como: ceticismo, linguística, dualismo, fé e
razão, origem do mal, teodiceia e felicidade. Foi influenciado pela ética estoica.
Como filósofo romano e sob a influência do filósofo Simplício recebeu também a
influência de filósofos gregos, céticos e estoicos. Os filósofos neoplatônicos
traduzidos para o latim foram a sua leitura preferida.
Ele mesmo diz isto em suas Confissões VII, 9,13. Estes filósofos influenciaram
até na sua conversão ao cristianismo. Ele não é um filósofo helenístico, mas
filósofo e teólogo cristão. Ele antecipa a Idade Média. Pode-se dizer que a filosofia
de Agostinho é a filosofia antiga cristianizada, com roupagem teológica, bíblica,
greco-romana. Agostinho era um pensador moderno, versado em literatura e
60
retórica latinas, sempre questionando e envolvido com questões teológicas deste
período. Era um apologeta e defensor da fé cristã.
O que mais o provocava eram as heresias e a questão do mal. Ele combate
severamente aquilo que fez parte de sua vida: o maniqueísmo. Para o
maniqueísmo existe um princípio cósmico de trevas, como um princípio de luz. O
que experimentamos nas nossas vidas é a luta das trevas contra a luz, do reino
das trevas contra o reino da luz. Por isso ele compara o reino terreno com as
trevas e o reino celestial com a luz.
Agostinho refez vários escritos seus anteriores e no final da sua vida tentou
colocar as suas obras em ordem cronológica. Ele escreveu uma obra intitulada
Retratações na qual ele sugere que teria escrito tudo de forma diferente, dando
assim uma imagem considerável de seu desenvolvimento como intelectual e
escritor, além de se arrepender de ter usado demais os filósofos pagãos.
Na sua obra A Cidade de Deus, livro 18 capítulos 46 ele escreve sobre os
judeus. Onde critica os judeus sobre a morte de Jesus. Escreveu uma obra
importantíssima chamada de Trindade onde é o primeiro teólogo a criar a palavra
e a teologia do: Pai, Filho e Espírito Santo. Agostinho considerou a dispersão dos
judeus muito importantes porque acreditava que isto era um cumprimento das
profecias. Assim ele prova que Jesus era o Messias. Agostinho acreditava que os
judeus dispersados eram inimigos da Igreja cristã. Posteriormente teólogos e
políticos usaram as palavras de Agostinho para atacar os judeus e outros para
atacar os cristãos.
Agostinho influenciou e continua influenciando o pensamento ocidental. Mas
ele foi influenciado pelo platonismo e neoplatonismo, principalmente por Plotino.
Agostinho foi muito importante para o pensamento grego e latino e para a tradição
cristã, posteriormente para a tradição intelectual europeia. Os seus escritos
influenciaram a ética ocidental, principalmente o voluntarismo de Schopenhauer e
Nietzsche. A influência de Agostinho no cristianismo ocidental refere-se à doutrina
do pecado original, do batismo, ordenações que para a Igreja católica sustenta as
suas doutrinas. Os teólogos católicos concordam com a crença de Agostinho de
61
que Deus existe fora do tempo e no “presente eterno”. O tempo só existe dentro
do universo criado.
O pensamento do nosso autor é fundamental para orientar a visão do homem
medieval sobre a relação entre a fé cristã e a natureza. Ele reconhecia a
importância do conhecimento. Entendia que a fé em Cristo vinha restaurar a
condição decaída da razão humana. Sendo assim Agostinho afirmava que a
interpretação das escrituras deveria ser feita de acordo com os conhecimentos
disponíveis de cada época e do mundo natural. Na interpretação que ele elabora
no comentário do livro de Gênesis, até hoje denominamos de alegoria. Esta forma
de interpretar influenciou demasiadamente a Igreja medieval. Esta forma de
interpretar dá uma visão mais alegórica e menos literal dos textos bíblicos.
Este autor influenciou na Idade Média Tomás de Aquino. Mas ele também
influenciou Lutero e Calvino. O Calvinismo se desenvolveu como parte da teologia
da Reforma enquanto que o Jansenismo foi uma heresia dentro da Igreja católica.
Depois estes jansenistas saíram da Igreja católica e formaram a sua própria Igreja.
Agostinho foi canonizado por reconhecimento popular e como doutor da Igreja.
O dia 28 de agosto é o dia de Santo Agostinho. Ele é considerado o santo
padroeiro dos cervejeiros, impressores, teólogos e várias cidades.
Agostinho escreveu muito e elaborou vários conceitos de teologia e de filosofia
que serão fundamentais na Idade Média. A ética de Agostinho não está
sistematizada em suas obras. Os filósofos falam da moral como um conjunto de
normas cujas funções ajudam os seres humanos a encontrar a vida feliz. Porém,
os homens na souberam encontrar a chave da felicidade. Para Agostinho a
felicidade está no encontro amoroso como Deus Pai que Cristo anunciou nos
Evangelhos. A felicidade não é uma questão principal desta ética medieval, mas o
fundamento é a liberdade.
A moral de Agostinho está na “A Cidade de Deus”, onde ele critica as
tentações egoístas. Deus em sua infinita bondade, e toma a iniciativa de nos dar:
a sabedoria, feita carne em seu próprio filho e que sua graça (dom) é para acabar
com a nossa vontade débil. A moral aqui é o ensinamento da palavra e a obra de
Jesus, ensinamento que está no mandamento: “Amar a Deus sobre todas as
62
coisas e ao próximo com a si mesmo”. A moral é o único caminho da felicidade
verdadeira, mas o caminho para todo o ser humano e não só para os inteligentes
privilegiados.
A ética medieval introduz o conceito religioso e pergunta as crenças religiosas
têm um sistema de filosofia moral? Esta ética é uma ética de máximas e mínimas.
Referencias
AGOSTINHO, Santo. Confissões, Petrópolis, Vozes, 2002.
AGOSTINHO, Santo. A Cidade de Deus, Petrópolis, Vozes, 2000.
AGOSTINHO, Santo. Do Livre Arbítrio, São Paulo, Paulus, 1998.
AGOSTINHO, Santo. Da Trindade. São Paulo, Paulus, 1996.
AGOSTINHO, Santo. Do Mestre. São Paulo, Paulus, 1994.
BROWN, Peter. Agostinho - uma biografia, São Paulo, Companhia das Letras,
2006.
63
CAPÍTULO VI O CONHECIMENTO RACIONAL E TEOLÓGICO COMO
APRENDIZADO EM MAIMÔNIDES8
O médico, cientista e grande filósofo judeu Moses Maimônides ou
simplesmente Moses ben Maimon ou como em outras denominações Rabenu
Moses Maimônides que foi abreviado por Rambam, foi um filósofo Medieval, do
século XII d. C. foi esquecido por muitos séculos e agora está sendo reabilitado
como um grande pensador. Ele influenciou São Tomás de Aquino em sua filosofia
e teologia e em Suma Teológica.
Em 1984 na Espanha os judeus, católicos e árabes comemoraram 780
anos de sua morte e houve colóquios sobre a sua importância de sua obra que
passou a serem exigidos estudos mais acurados. A cidade de Córdoba, a sua
cidade natal comemorou e expos sua vida, obra e pensamento. Moses
Maimônides foi ressuscitado das cinzas e de seu ostracismo intelectual, e a sua
influência ultrapassou as barreiras ideológicas, raciais e religiosas.
Este intelectual da Idade Média influenciou muitos pensadores, católicos e
árabes. Na medicina moderna não pode esquecê-lo. E pensamento ultrapassa os
limites e as fronteiras de seu pensamento e se insere no pensar coletivo medieval
e vai culminar na confluência da cultura – judaica, cristã e árabe. Este seu
pensamento vai ultrapassar e traspor os limites do judaísmo e vai influenciar os
teólogos e filósofos cristãos medievais, os islâmicos também são seu interlocutor
de seu pensamento.
O seu pensamento é único no gênero que transpõe os limites culturais,
religiosos, raciais e racionais de um povo. Sendo judeu, pensando como judeu,
sendo diferente, vivendo entre árabes, pensando como árabe, sofrendo
perseguição religiosa, cultural, racial dos cristãos consegue ser ecumênico na
filosofia, ciência e religião. Escreve em árabe e hebraico mesmo sendo judeu,
para ser entendido por árabes e judeus. Pena em categorias orientais as
categorias racionais gregas.
Transforma o pensamento aristotélico em pensamento judaico e islâmico.
Foi condenado por ser diferente dos judeus e se misturar com cristãos e árabes,
8 Trabalho de conclusão de curso em Filosofia IV, 2009.
64
por pensar de forma racional a categorias teológicas judaicas e falar de um Deus
qe pode ser professado por judeus, árabes e cristãos. Além de marginalizado por
seus seguidores e esquecido pelos intelectuais da época e posteriormente.
Mesmo que fosse influenciador do tomismo e do escolasticismo e em São Tomas
de Aquino e outros filósofos medievais.
Sua obra e seu pensamento são fascinantes, influencia cientistas e
pesquisadores do pensamento eclético, transcultural e transdisciplinar.
Maimônides ele é um leitor e um tradutor de Aristóteles para o árabe, divulgador
das ideias aristotélicas e leva para a filosofia judaica estas ideias gregas e árabes.
Amigo de Averrois e Avicena pensadores árabe e determinante na filosofia de
Tomas de Aquino no catolicismo. Também influenciou Baruch Spinoza, Leibniz e
outros.
Maimônides viveu numa época conturbada intelectual e social, era um
peregrino por causa das perseguições movidas por cristãos e os próprios judeus.
Ele escreveu em árabe e hebraico, viveu em dois continentes, voltou para
Jerusalém e teve que sair de lá por causa de suas ideias. Ele era um judeu
filósofo, médico, que influencia os filósofos, teólogos e cientistas. Foi um medico
muito capaz, viveu na Espanha em Córdoba, cidade opulenta, rica, filho de rabino,
com uma inteligência superior, formação espetacular, formação ética e moral,
filosóficas e científicas enormes.
6.1 Moses Maimônides e o conhecimento
Ele escreveu um livro denominado de “Guia dos perplexos”. Ele era um guia
para os perplexos. O pensador que congrega tanto a “ciência árabe, a filosofia
grega, e a teologia judaica”. Nesta obra mostra um individuo perplexo com sua
ignorância de não saber e que não sabia tudo e se descobre que deixou de saber.
Reconhece em si o quanto ainda devia ter estudado, pesquisado para chegar à
sabedoria. Isso se aproxima dos filósofos gregos e de seu mestre Aristóteles no
descobrir e conhecer, como conhecer para se chegar a um conhecimento total das
coisas.
Tanto por filósofos gregos como para Maimônides existem vários m´todos
para se chegar ao pelo saber das coisas. Para este autor estudar os filósofos,
65
pesquisar as ciências existentes, a ética e Deus (a religião) é condições
primordiais para se chegar ao conhecimento de todas as coisas. Essas condições
são as condições tanto para os sábios como para os tolos e os indecisos,
ignorantes.
Virtude é o conhecer completo das coisas tanto para os que não sabem
como para os que já têm um conhecimento científico. Tanto para os que estão
dispostos e preparados para utilizar a razão. “Os perplexos são aqueles que...
sabem que a razão discursiva não abrange todos os mistérios do homem e
também os que se negam a renunciar aos recursos inesgotáveis da razão”.
Para Maimônides ao utilizar a razão deve demonstrar o que está sendo
conhecido com a ajuda da logica, atemática e ciência. Tanto que ao ler e
interpretar as escrituras judaicas é necessário o domínio das ciências
demonstrativas. Maimônides era uma pessoa inteligente, racionalista,
pesquisador, influenciado por Aristóteles e Averrois, mas que influencia Tomás de
Aquino, os árabes, judeus, Mestre Eckhart, Spinoza e Leibniz.
Em Maimônides e Averrois as dependências e semelhanças são enormes.
Os problemas destes dois filósofos são através de seus pensamentos e
concepções de seus povos de origem. Eles foram condenados por heresias:
“Averrois e seu pensamento para os árabes e Maimônides para os judeus”. Seus
pensamentos eram enciclopédicos. Ele pregava que era descendente da casa de
Davi, a promessa de YHWH seria estendida a demais povos, inclusive aos árabes.
Ele era um judeu universal. Ele foi entendido e suas intenções e razões –
Maimônides foi glorificado por seus pensamentos, por sua medicina difundida
tanto no mundo árabe e judeu.
A comparação a Averrois e Maimônides parte da mediação do pensar
judaico e árabe como comentadores de Aristóteles e pela religião. São
pensadores e intelectuais de primeira categoria e seguidores de uma tradição
filosófica grega. Eles também são cientistas e médicos, racionalistas comparados
a filósofos anteriores gregos que acabaram fundando uma escola filosófica. Eram
pensadores humanistas. “Maimônides quer ajudar os contemporâneos a se
livrarem de suas perplexidades e de todas as superstições que os sujeitam e
66
também das paixões que os subjugares, impedindo-os de serem plenamente
humanos”.
“O homem não chega ao amor divino por meio de uma falsa mística, por
uma via irracional que disfarce sua ignorância e sim pelo caminho do
conhecimento, da sabedoria, do aprendizado das Ciências Humanas
complementadas pela ciência divina (a teologia)”. “Assim Maimônides instaura um
tipo de humanismo que permanecendo religioso, é antes de tudo humano”. “Tal
humanismo levou-o a combater a alienação do homem e tudo que o afaste de sua
verdadeira função da sociedade”.
Maimônides era um profeta, sábio, politico, profeta por romper com a
profecia tradicional de Moisés e dos demais profetas e se transformando no
próprio profeta judeu, pregando, anunciando e prevendo coisas e acontecimentos.
Sábio porque foi um grande estudioso, inteligente, pesquisador e cientista. Politico
por saber governar e ensinar a governar seus conterrâneos judeus, como também
aos próprios árabes.
O conhecimento em Maimônides vem do hebraico yada que tem o
significado de reconhecer. O termo ocorre na Bíblia Hebraica 947 vezes e no livro
do profeta Ezequiel em 99 vezes, nos Salmos 93 vezes, em Jó 71 vezes.
Conhecer e reconhecer são o sentido mais amplo deste termo. Este termo é bem
mais especifico e se refere o conhecimento verdadeiro, pode ter o sentido de :
notar, observar, perceber, descobrir, saber, conhecer, compreender. Pode
significar revelar, informar, ensinar.
Outro termo é raah que tem o sentido de conhecer e vem o verbo roeh ver,
o vidente que ocorre no profeta Amós. Mas ainda pode significar olhar, ver, ter a
visão de, perceber, conhecer e prover, deixar-se ver, mostrar-se, tornar-se visível,
aparecer.
Outro termo é daat que tem o sentido de conhecimento e saber, pode ainda
ser buscar e procurar, conhecimento e sabedoria, habilidade, reconhecimento.
Conhecer no Talmude tem o sentido de interpretação, leitura e tradição. Pode ser
ainda leitura e conhecimento das realidades exteriores do homem e conhecimento
de Deus. Este conhecimento das realidades humanas é o conhecer o homem pelo
67
homem e do homem em relação à natureza. Conhecer o homem para com Deus s
manifesta através da atuação divina na história do povo eleito.
YHWH ele é o autor e o consumador das ações do povo, o povo em
retribuição adora YHWH através do culto, das orações, dos sacrifícios em relação
à divindade. O conhecimento se torna viável pela obediência e cumprimento da
Torah, na relação do homem para com o homem e nos cumprimentos das leis
divinas em relação ao seu próximo. Existe uma ética de relacionamento esta
forma está tanto o conhecimento do homem pelo homem e para com Deus. O não
cumprimento dos mandamentos significa o desconhecimento total das coisas
exteriores do homem para com o homem, a natureza e Deus.
6.2. A lei como conhecimento
O Talmude nos mostra como se dá estas formas de conhecimento – o
cumprimento de normas legais. Os autores mostram esta obra do Talmude não é
um livro dogmático, mas sim um “livro com um grande depósito de sabedoria e de
sensibilidade e se preocupa om a urgente necessidade de saber e reconhecer as
forças ativas da vida social e individual do homem”. Ele “sintetiza a lei e a ética, o
moral e o social, o universal e o particular, podem ser sumamente ricos em sugerir
e inspirar, ainda que de uma cultura e uma época tão longínqua do Talmude”.
No Talmude é mostrado que a sua leitura e da Torah significa a aquisição
do conhecimento. Maimônides mostra que esta aquisição de saber está ligada à
moral e a ética que serve para todos no aperfeiçoamento da vida. A sua filosofia é
o conhecimento ou uma teoria do saber ligada às leituras dos filósofos gregos, dos
estoicos, epicuristas e de Aristóteles.
O conhecimento no Talmude pode ser diferenciado dos outros tipos de
conhecimento, ele parte do homem para com Deus, depois para o homem, para
as leituras dos livros da Torah, do Talmude e da Mishnah, das interpretações da
Halakah, e da Agadah onde se mostram o conhecimento racional e o
conhecimento de Deus e espiritual.
Estes tipos de conhecimento têm como uma maneira de fé racionalizada.
Em hebraico emunah wedeoth – fé e saber. O conhecimento de Deus é uma
bem-aventurança para o homem enquanto que o conhecimento natural das coisas
68
é conhecimento intelectual que inclui as ciências físicas e as metafisicas como a
logica, filosofia, medicina, matemática e astronomia sendo as ciências da época.
O conhecimento na Mishnah parte da codificação da lei oral pós-bíblica.
Esta obra foi elaborada por sábios ou rabinos aos a queda de Jerusalém. Mishnah
vem do hebraico sheni (segunda lei) e é a base fundamental de toda a literatura
talmúdica. Estes mestres codificaram esta lei oral em forma escrita são chamados
de tanaim que em aramaico significa professores. Estes comentadores da
Mishnah abrangem partes, facetas da vida do homem e de seu comportamento,
referente à família, trabalho, individuo, grupo social, comunidade religiosa,
casamento, patrão e empregado como de toda a existência humana.
A conclusão é que o conhecimento racional é um conhecimento vital para a
vida do homem. Mas o conhecimento sobre Deus é muito importante para
Maimônides.
Havra Mishnayim eram grupos pequenos de indivíduos de homens
(mulheres não podiam participar) assentados ao redor de uma mesa muito simples
e debruçavam e liam profundamente sobre os livros da Mishnah para estuda-los.
Sempre tinha um explicador, um rabino eu os ajudava a ler e a interpretar. Estes
era o método pedagógico dos rabinos e era semelhante ao método de Sócrates na
maiêutica: entre as perguntas e as respostas que eram feitas aos mestres. Este
método era um trabalho de conhecimento, pois a própria palavra em hebraico
Mishnah significa tanto ensino como repetição, memorização de palavras e textos
como forma de conhecimento. O estudo dos textos significava também o
aprofundamento do conhecimento e muitas coisas. O receber a educação desta
maneira era simples tornar-se um profundo conhecedor das leis, dos
mandamentos, da religião e, assim sendo, tornar-se um rabino, mestre, professor,
estudioso, livre pensador, um verdadeiro mestre.
A Mishnah é dividida em seis partes, ou seja, são seis formas de
conhecimento. A primeira se refere à natureza, o zeraiym ou sementes. O ensino
como semente plantada nos alunos. Ela fala das leis sobre a natureza, a
agricultura. A segunda fala sobre as festas, e hebraico é moed. As leis sabáticas e
as festas religiosas. A terceira fala sobre as mulheres nashiym, que tratam do
69
casamento e do divorcio e da família. A quarta parte trata do relacionamento dos
homens com o seu próximo, sobre os danos provocados de um sobre os outros.
Neziliym fala da legislação civil e criminal. A quinta parte fala das oferendas,
sacrifícios ou kodashiym, oferendas sagradas que tratam das leis dos sacrifícios
e do culto especificamente. E finalmente, a sexta são as tohorot, purificações nos
rituais de pureza.
A Mishnah trata do conhecimento relacionado com a vontade divina,
quando da interpretação correta dos textos da Torah. Assim sendo o
conhecimento de Deus está também relacionada com o comportamento ético, a
perfeição religiosa. Porém, o conhecimento humano das coisas que se referem à
natureza está marcado pelo saber inteligente que o próprio Deus dá ao homem.
6.3. Outras formas de conhecimento
Os seis temas sobre o conhecimento em Maimônides que deve ser
discutido e pesquisado é o conhecimento de Deus. O conhecimento do bem e do
mal faz parte de outras formas de conhecimento. Fazem parte e complemento do
conhecimento racional e intelectual. A perplexidade, a ignorância, são modos de
se conhecer. O individuo mesmo sabendo das coisas e conhecendo-as é ainda
um ignorante. A perplexidade onde o individuo a conhecer algo se torna perplexo
com a sua ignorância e conhecimento ou falta dele. Desta forma o conhecimento e
Maimônides a Torah como conhecimento educativo se torna a melhor forma de
conhecer todas as coisas. Este aspecto fala da sua leitura como método educativo
e como modo de conhecer.
Este modo de conhecer é essencial para uma visão geral e aprofundada
deste filosofo medieval que marcou vários pensadores e pensamentos. O
conhecimento de Deus na obra de Maimônides é marcado por dois significados
profundos. No sentido este conhecimento de Deus no judaísmo adquire uma
forma especial, misto de racional e místico em Maimônides. O conhecimento
racional da divindade, conhecimento de Deus a partir a Torah e das leituras onde
a divindade se manifesta para o homem. Este conhecimento passa a ter uma
compreensão, conhecimento intelectual de Deus na lei oral e escrita. O outro tipo
de conhecimento de Deus é mais espiritual, em que Deus se manifesta para o
70
homem através de seus atributos. Esta forma de conhecimento está ligada à
criação, a existência do próprio Deus, aos predicados divinos e a sua atividade no
mundo e com o próprio homem, o cumprimento dos mandamentos escritos na
Torah, no Talmude, nos Midrashim e na Mishnah.
O conhecimento de Deus na forma intelectual vem das ideias aristotélicas,
de seus laços filosóficos e passa a ter os aspectos fundamentais no judaísmo em
sua melhor concepção da imitatio dei (imitação de deus). Este conhecimento
maior e mais excelente que o ser humano pode alcançar e atingir. O
conhecimento intelectual passa para o conhecimento teológico um sem eliminar o
outro e sem eixar de ser e existir para que o outro conhecimento sobreviva.
Conforme Maimônides o conhecimento de Deus e o intelectual são importantes
para a vida prática, para o cumprimento das leis judaicas.
O conhecimento de Deus leva ao conhecimento do bem e do mal. Em
Maimônides estes conhecimentos levam ao conhecimento do bem e do mal. O
conhecimento racional objetivo o homem deve almejar e procurar a virtude para
alcança-la. O conhecimento do bem e do mal se adquire através da leitura das
Sagradas Escrituras judaicas (Tanach) e se refere a um comportamento moral e
ético, ao comportamento do homem para com o homem. Estes conhecimentos
estão ligados à lei e aos mandamentos e é de suma importância para alcançar a
sabedoria.
Conforme Karl Marx o conhecimento só é conhecimento quando colocado
em prática. A práxis é o que importa: a teoria deve ser colocada na prática. Para
Maimônides amaneira de se conhecer o Bem, a coisas boas que estão tanto
relacionadas com Deus para se conhecer a Torah e os mandamentos têm
aspectos sociais. O aspecto social deste conhecimento está relacionado com a
moral e à religião e que um homem não deve oprimir o outro. Este dualismo faz
parte das religiões orientais, mas no judaísmo isto não ocorre.
Referencias
MAIMÔNIDES, Moses. Guia dos perplexos, Editora Nacional, Madrid, 1984.
BARYLKO, Jaime. La filosofia de Maimônides, Marymar, Buenos Aires,
1985.
71
HESCHEL, Abraham. Maimônides, Muchnik, Barcelona, 1984.
ORIAN, Meir. Maimônides, Muchnik, Barcelona, 1984.
72
CAPÍTULO VII ROUSSEAU E O CONCEITO DE HOMEM NA EDUCAÇÃO9
Dividimos o trabalho em duas partes: a primeira parte refere-se às reflexões
sobre o pensamento de Jean Jacques Rousseau; o que os autores e
comentadores falam deste filósofo. A segunda parte trata de reflexões sobre
alguns pensamentos escolhidos de nosso autor. Na primeira parte analisaremos
as concepções que autores transmitiram sobre Rousseau, concepções estas que
beiram o absurdo, não conseguindo separar a obra do autor, de sua vida e seu
pensamento. E de reflexões interessantes que mostram a atualidade e a sua
importância para os dias de hoje. Na outra parte refletiremos sobre o que ele
pensa de si mesmo e o que pensamos sobre este interessante autor.
7.1JEAN JACQUES ROUSSEAU E OS SEUS INTÉRPRETES
1. O Homem Rousseau e a filosofia do Homem em Rousseau
Henri Bérgson nega chamar a Rousseau de pré-romântico antes que existisse
o próprio romantismo. A obra literária de Rousseau no final do século XVIII e
começo do século XIX é uma fortuna literária. Para uns o autor Rousseau é
jacobino, outros pensam dele e o denominam de girondino e ainda alguns o
apelidarão de aristocrata conservador. Tudo isto depende da visão de cada leitor.
Um Rousseau revolucionário, marxista ou um homem que antecede e prepara a
Revolução Francesa.
Tudo ilusão! O próprio Bonaparte se iludiu. Fazer identificações retrospectivas
nem pensar. A obra de Rousseau não pode ser comparada num espelho da
realidade e nem sua obra pode ser narcisista ou uma projeção de qualquer
realidade. Pessoas que querem se apropriar ideologicamente de pensamentos de
Rousseau ou de rejeitar a sua obra está fadado ao fracasso. Rousseau é um
revolucionário não no sentido marxista ou petista. Ele é um revolucionário no
sentido de dizer coisas que não eram vistas e ditas.
Bernhard Groethuysen declara que Rousseau é um revolucionário, ou melhor,
o seu pensamento é revolucionário. O seu pensamento dá sentido e possibilidade
de revolução. Este autor alemão enfatiza que a originalidade e a solidão de
Rousseau são muito fortes para o século das luzes. Original aqui é o olhar
9 Trabalho de conclusão de curso em filosofia da Educação, 2008.
73
genebrino sobre a França. O que Rousseau considera a França como se a
distancia fosse a condição da proximidade. A França na época de Rousseau não
se imaginava uma República.
O autor está à frente de seu tempo. Esta ideia de república se exclui
totalmente. Rousseau tem um olhar externo e etnográfico. Ele é um teórico e a
sua teoria sobre a sociedade e a história tem como fundo a luz da Filosofia das
Luzes. A política em Rousseau se desloca do saber para o poder, da razão para a
paixão, do Discurso para a Força. Rousseau fala muito em: vontade, paixão,
direitos, economia, a dinâmica que opõe os donos e os oprimidos, os fortes e
fracos, dominantes e dominados. Para o nosso autor a questão não é o saber e o
conhecer, mas, como organizar forças dadas ou como neutralizar o conflito entre
as forças humanas, as diferenças sociais entre os homens.
Nas suas obras: Segundo Discurso, O Contrato Social, onde o autor mostra a
arqueologia da desigualdade entre os homens (Olgária Matos). Na obra “O
Contrato Social” tem um desenho de uma organização que quer reverter o
movimento que levou à criação das instituições políticas. A questão fundamental é
que o interesse e os homens são colocados acima da lei. Quando for invertida
essa situação e a lei for colocada acima dos interesses tudo vai se resolver: ser
servo da lei é não ser servo de ninguém.
Para Rousseau é bem clara a perspectiva que nas sociedades políticas as
instituições recobrem, legitimam, obscurecem o império da violência, trata-se de
dar poder e força á lei, retirar a lei dos grupos e indivíduos e dar força às
estruturas e à natureza da sociedade. Rousseau descreve de forma impiedosa
como a sociedade funciona. O pensar do autor abre uma cratera enorme entre o
ser e o dever-ser e este sempre aparece como exigência de realização do próprio
homem.
Bernhard Groethuysen afirma que: “os filósofos eram mais evolucionistas, em
matéria de política, e revolucionários em matéria de religião. Com Rousseau, se
tirarmos as consequências de suas teorias, dá-se o inverso”. O pensamento de
Rousseau era revolucionário, mas ele mesmo não era diz Bernhard Groethuysen.
Em Confissões, V, 1, Rousseau declara:
74
“Assim que ocorreu o levante em 1937, estando em
Genebra, vi pai e filho saírem armados de uma mesma casa,
um para se dirigir ao hotel da Vila, o outro para se dirigir à
sua caserna, na certeza de se encontrarem duas horas mais
tarde um frente ao outro para se matarem. Esse espetáculo
desagradável me causou uma impressão tão forte, que jurei
nunca participar de uma guerra civil ou defender a liberdade
pelas armas, nem a minha nem a de meu mestre, mesmo
que jamais recuperasse meus direitos de cidadão”.
No terceiro diálogo de Rousseau ao juiz de Jean Jacques declara:
“O homem do mundo tem o mais verdadeiro respeito pelas
leis, pelas constituições nacionais, e que tem a maior
aversão pelas revoluções e pelos militantes de toda espécie”.
Pensamos um pouco de outra forma. Se Rousseau não é um
revolucionário, pelo menos ele antecipa a Revolução, e que jamais ele pensou ou
refletiu sobre esse assunto. Em Emílio ele fala:
“Da ordem atual da sociedade sem suspeitar que esta ordem
é sujeita a revoluções que são puramente inevitáveis”
(paráfrase minha). “Mas que é impossível prever e evitar o
que acontecerá nas gerações futuras” (paráfrase). “O grande
torna-se pequeno, o rico pobre, o rei um súdito” (paráfrase).
“O que os homens construíram, agora estão destruindo. A
natureza não faz príncipes, nem ricos, nem grandes
senhores” (Emile Garnier, p. 224,225).
Rousseau não é revolucionário, mas um visionário. Ele anteviu, profetizou a
crise e a revolução. Mas isto é apenas uma interpretação, hermenêutico mal feita.
Rousseau declara:
“Acredito impossível que as grandes Monarquias da Europa
tenham ainda muito tempo de duração: todas brilharam, e
tudo que brilha está em seu declínio. Em minha opinião, há
75
pensamentos mais sábios que essa máxima, mas não é o
momento de dizê-los, e cada um só vê o que lhe interessa”.
Aqui temos uma ideia, um texto profético, uma pedagogia com a preocupação
essencial com o homem. A educação de Emílio é para garantir-lhe a defesa contra
a sociedade corrupta à qual ele será devolvido. Adequar a educação ao homem é
o caminhar do homem ao homem, do homem à natureza. Ele ensina Emílio a
conservar sua vida é torná-lo indiferente à sua sorte social, à riqueza como à
pobreza.
2. Rousseau Intérprete de si mesmo e os Intérpretes de Rousseau como
intérpretes de si próprios.
O maior intérprete de Rousseau foi ele mesmo. Em seu escrito Confissões ele
próprio enfatiza que:
“Tudo o que é ousado no Contrato Social havia
desaparecido previamente no Discurso Sobre a Origem da
Desigualdade; tudo que é ousado no Emílio havia aparecido
antes em Julia” (Confissões, Livro IX).
Os críticos de Rousseau têm-se enganado a seu respeito. Outros leram mal a
sua obra e o interpretaram conforme a sua autocompreensão. Ou poderíamos ou
não levar a sério estas interpretações acerca de Rousseau. Vários críticos
procuram e afirmam que encontraram a essência de Rousseau. Mas a maioria dos
intérpretes deste nosso autor infere que ele era confuso, contraditório e que seus
escritos inspiram a divergência e que a maioria de seus intérpretes distorce a sua
filosofia.
Os filósofos sofrem com a variação e a discordância de seus pensamentos
pelos seus comentadores. Mas o que mais sofreu até hoje através das críticas foi
o próprio Rousseau. A questão fundamental na discussão do pensamento deste
autor refere-se à integridade de sua obra. Peter Gay e Ernest Cassirer tentam
mostrar que a obra de Rousseau tem que ser vista como um todo. Alguém sugeriu
que deveria ser criado um método para interpretar a obra dele:
“Ponderar seriamente o significado e o teor dos textos, e
levar em consideração mais que o espírito que a letra... não
76
substituir pelo pensamento (do autor) as consequências que
dele tem sido deduzida... atribuir as suas ideias a relevância
cabível” (Peter Gay).
As doutrinas ou pensamento de Rousseau influenciaram e influencia muitos
pensadores. Marcam profundamente espíritos e pensamentos, uns dizem que ele
encarna a Idade da Razão ou que ele foi um advogado do individualismo, foi um
filósofo da desordem, ou que ele foi um déspota como aquele que ele criticava ou
dá o direito de Deus para os reis. Vemos por essas ideias que não há um
denominador comum nos próprios críticos ou de seus discípulos.
Os jacobinos montam um império do terror em nome das ideias de Rousseau.
Os românticos o saúdam como seu libertador. Schiller o denomina de mártir sábio.
“Como, pelos sofistas foi Sócrates desgraçado. Assim os cristãos torturaram e
arruinaram Rousseau. Rousseau, que conclamava os cristãos a serem homens”,
dizia Schiller.
Edmund Burke um dos maiores críticos de Rousseau dizia certa vez: “Se
Rousseau estivesse vivo, e um de seus intervalos de lucidez, ter-se-ia chocado
com o efetivo frenesi de seus estudiosos”. Isso sim nós podemos denominar de
“Conflito de Interpretações”. Rousseau foi denominado por uns de racionalista e
por outros de irracionalista. Sua análise da economia de sua época muito tempo
depois foi descrita como economia socialista.
A sua teologia era deísta para católicos e protestantes. O seu moralismo foi
enquadrado como puritano, calvinista, emocional e permissivo. Outros viram em
Rousseau um teórico da política, o seu pensamento serve de base para uma
filosofia política. Ele foi visto como individualista, coletivista, doutrinas
contraditórias entre teoria e a prática. Hölderlin em Hino à Liberdade descreve
Rousseau como:
“A sua mensagem para o homem é uma revelação que um
semideus transmite ao homem”. Outros autores o
denominaram de: “o homem é bom, mas a sociedade o
corrompe”.
77
Na realidade aqui possuímos interpretações sobre a teoria política de
Rousseau. Mas a visão que esses autores têm sobre a crítica sobre o Estado, a
Política não são na verdade as interpretações que o próprio autor fazia dessas
situações do governo civil, do contrato social e da economia política. O que os
comentadores pensam dele nada mais é do que um anacronismo, fora de época,
ou ver em Rousseau um totalitário em política, e isto é um absurdo.
A tentativa que alguns autores fazem é reconciliar o seu pensamento com a
época de cada intérprete. As contradições são várias nessas interpretações: de
individualista a coletivista, de totalitário a libertário. Então podemos imaginar que
fazem de Rousseau e seu pensamento a sua imagem e semelhança. Alguns
podem achar que Rousseau é um esquerdista ou direitista, democrata ou
republicano. Alguns ainda podem achar em Rousseau um escolástico ou marxista,
iluminista ou romântico.
Rousseau confuso? Interpretar Rousseau é uma tarefa ingrata e difícil ou
mesmo impossível. Os trabalhos intelectuais de Rousseau têm que ser entendidos
como uma jornada, caminhada do individual a coletivo. Ele era um grande teórico
político, um grande educador. Os autores que examinam a sua obra não devem
olhar as discrepâncias, mas ver e considerar a sua obra como um todo. Não ver
as diferenças de sua vida com seus escritos. Há uma unidade de pensamento de
Rousseau, diz Ernest Cassirer.
Cassirer o denominou de “Apóstolo da aflição”. Assim os leitores o
interpretavam erroneamente. Alguém chegou a classificar Rousseau da seguinte
maneira: o menino indisciplinado, o andarilho, o homem imperfeito, o maníaco
inspirado, o fugitivo cassado. São cinco fases da vida de Rousseau. Outros dizem
que ele na conseguiu criar os filhos, que os abandonou num orfanato. Mas temos
que ver outro lado da moeda: o grande escritor, o filósofo que viu a realidade do
mundo, a realidade da vida e da natureza, o grande educador.
Não é a biografia que o deteriora, mas o pensamento que nos cativa. Os
valores éticos, a filosofia da igualdade entre os homens e a natureza. A crença no
homem e na natureza, o bom cidadão e a boa sociedade. A vida e a doutrina nada
têm a ver com a biografia que querem elaborar de Rousseau. A educação natural,
78
o homem natural são temas centrais de seu pensamento. Eis aqui as coisas
positivas sobre educação, filosofia e pensamento de Rousseau.
7.2Rousseau e o Homem
1. Aprendizes de Homens
“Nós somos aprendizes de trabalhadores, somos aprendizes
de homens, e o aprendizado deste último ofício é mais difícil
e mais longo do que o outro” (Emilio, III, p 259).
Aprendizes somos todos nós. Em toda a nossa vida. Aprendizes é um termo
muito caro para a Educação. Somos aprendizes de tudo. Aprendemos com tudo e
com todos. Para Rousseau “somos aprendizes de trabalhadores”. O homem
primitivo aprendeu a caçar, a buscar o seu alimento. O homem aprendeu a
conviver com outros homens. Ele se associou com outros homens para caçar e se
alimentar. Trabalhar em conjunto e equipe facilitando a conquista da caça, a luta
contra os animais ferozes e inimigos mais fortes de outras tribos.
Aprender a se organizar em grupos de defesa, de busca de alimentação. Antes
de ir para um lugar muito longe para caçar, pescar, buscar frutas, domesticou os
animais. Ele plantou árvores frutíferas e alimentícias que conhecia, cercou suas
posses, criou a propriedade privada. Depois de descobrir tantas coisas, a dominar
as coisas começou a desaprender de ser homem.
O texto citado de Rousseau fala que o homem é aprendiz de homem. O
homem mudou. Aquele que era o homem natural passou a ser o homo faber.
Agora que desaprendeu de ser homem, precisa reaprender a ser homem. O
homem aprendeu muita coisa em pouco tempo, agora tem que aprender com
dificuldade a ser homem de novo. Conforme Rousseau “ao aprendizado deste
último oficio é mais difícil e mais longo do que o outro”. Aprender a ser homem
depois que deixou de ser homem é bem mais complicado. Este aprendizado leva
para outras situações: homo ludens, homo religiosus, homo economicus, homo
utópico, homo falível, homo hermenêutico, homo cultural. Homem aprendiz de
homem esta é a questão principal.
A onda é falar de cidadão. O homem como cidadão. Cidadania é viver em
sociedade de forma responsável. Aprender a viver feliz. O homem deve se
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conservar como homem natural, conservar a sua natureza inicial, sua qualidade
originaria. Isto significa aprender, reaprender a ser homem. O homem feliz é
aquele que é integro, com sua bondade natural. A boa sociedade é composta de
homens cidadãos. E uma boa sociedade é aquela que garante a liberdade e
igualdade.
Isto só aconteceu na sociedade grega, na democracia grega, onde a vontade
geral, de todo povo era cumprida. A sociedade atual é opressora, dominadora. A
pergunta é: como reaprender a viver a aprender a ser homem numa sociedade
como essa? Este aprendizado é o mais difícil. Conforme o próprio Rousseau não é
possível ocorrer tal coisa. Por isso é muito importante buscar a felicidade. O
homem natural é feliz, o homem moderno é opressor e oprimido.
2. O Homem e a Vida Feliz
“A Natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade o
deprava e o torna miserável”.
A felicidade é um tema forte na Grécia Antiga. Aristóteles fala da vida feliz, de
viver a vida intensamente. O grego tem uma terminologia variada para denominar
a vida feliz. Aristóteles liga a vida feliz a polis e chama de zoe kalós: viver bem.
Isto ocorreu há muito tempo. O homem se associou, fez grupos e isto foi a sua
própria perdição. Rousseau critica a ideia do homem ao procurar a felicidade nas
coisas, nas propriedades, nos bens de consumo.
Como um bom calvinista ele está preocupado com a felicidade do outro e não
de si próprio. Muito se tem escrito sobre a felicidade, mas não como faz
Rousseau. A felicidade conforme nosso autor é o homem natural, o homem
primitivo. Este homem mudou com o passar do tempo. Criou muitas facilidades
como: caçar mais eficaz, plantar, domesticar animais, criar a propriedade privada.
Conforme o próprio Rousseau tudo isto ocorreu pela própria natureza do
homem. A história mostra isto e que tudo foi naturalmente. O que ocorreu o que
temos hoje, em dia ocorreria. Isto foi um processo natural e o homem se
beneficiou com isto. Mas aquilo que foi criado pelo homem para facilitar a sua vida
o desumanizou. O que ele criou se voltou contra ele, a criatura se revoltou contra
o seu criador. Aquilo que no início era para felicidade geral se transformou num
80
grande problema. Aquilo que era para seu benefício o depravou e o tornou
miserável.
Um exemplo disto nós podemos ver nos inventos: o inventor da pólvora, o
inventou do revólver. Ele inventou para facilitar a sua vida, mas viu sua invenção
ser usada para matar, roubar. Isto mostra que a vida, a natureza fez o homem
feliz, mas o homem, a sociedade o fez triste, egoísta, individualista. O que ele fez
o depravou, o que ele fez para facilitar a sua vida o deixou miserável. O homem
depravado, o homem miserável, eis a situação atual do homem. Estas colocações
não nos tornam pessimistas, mas nos mostra a realidade. Realidade esta que
Rousseau anteviu, presenciou e profetizou. Realidade esta que se torna patente
na atualidade.
Felicidade para Rousseau nada mais é que a característica do ser humano
sempre a busca. O amor de si mesmo é uma explicação que Rousseau elabora
para explicar o desejo de autopreservação e de automanutenção, esta é a
preocupação de todos em serem felizes. A felicidade é mais do que qualquer
coisa: bens, dinheiro. A felicidade é a fruição que o homem mais deseja ter, o
maior bem que deseja possuir.
O homem social ou civilizado conforme nosso autor quer poder e distinção
pessoal, mas o que ele mais deseja é a felicidade. Todo ser que comportar-se
conforme a justiça deseja ser feliz, mesmo que tenha que praticar a injustiça para
conseguir estas coisas. A satisfação suprema é uma falsidade da consciência
humana. O homem jamais será completo em seu desejo de satisfação. Os maus e
os perversos prosperam e os bons e justos se consomem. Com esta frase vemos
que Rousseau lia a Bíblia sempre.
Conforme nosso autor tudo isto faz parte do plano providencial de Deus
(Calvino) que aqueles que são justos e virtuosos também desfrutem a felicidade.
Nem que seja na vida além da morte. O bem do individuo é promovido, mas é
duvidoso que isto produza, de fato, uma coincidência entre justiça e felicidade,
porque é mais exigido para a felicidade do que apenas isto. No pensamento de
Rousseau há um conflito insuperável entre dever e interesse pessoal.
81
Deus ordena a natureza humana de tal modo que as exigências da consciência
(dever) e as necessidades de bem individual entrarão em harmonias. As
exigências da justiça e o próprio bem do homem só são obtidas pelo Estado ideal.
Neste Estado o princípio de justiça, de direitos de todos é deste modo que o
individuo tem o reconhecimento e o respeito como portador da dignidade humana.
O bem do indivíduo será promovido, mas é duvidoso que isso seja produzido. Há
coincidência entre justiça e felicidade.
Em sua obra “Emilio”, Livro V, Rousseau mostra que o amor íntimo e recíproco
leva à felicidade. Esta felicidade dá à vida o seu completo valor. Mas Rousseau
viu nisto uma complicada situação de vida. Ao contrário ele levou uma vida aos
prazeres. Isto fez com que se descobrissem à importância da natureza, as alegrias
simples, os jogos e brincadeiras de crianças e dos camponeses. Ai ele contemplou
a felicidade, a felicidade está além de nós, e melhor contentar com a que temos: a
paz de espírito, a tranquilidade interior e exterior.
O rir, o brincar está entre os melhores meios de encontrarmos a felicidade. O
homem tenta adquirir a felicidade. O homem tenta ao tentar adquirir a felicidade,
mas o que ocorre é a abertura do caminho para a dor e o desapontamento, o
homem se torna pior do que já era. O azedume pessoal leva ao acomodamento,
leva à imobilidade interior e a satisfação como pouco (Rousseau. Devaneios de
um Caminhante Solitário).
A noção de felicidade: teoria e prática não são encontradas nas obras de
nosso autor. Mas a ideia de felicidade sim. Felicidade para este autor não é moral
nem social como é encontrada nos filósofos utilitaristas. A felicidade de que
falamos em Rousseau é a que encontramos em Platão, Sócrates e Aristóteles. Ele
não fala das fontes da felicidade, de seu caráter temporal. Ele fala que o homem
primitivo/natural era mais feliz que o homem moderno.
A busca dos direitos, da dignidade, igualdade dos indivíduos é a busca pela
felicidade. Ele não fala de uma promoção da felicidade geral como a política,
economia e a religião pregam, mas da busca da alegria, da brincadeira, do retorno
ao estado natural do homem. A sua teoria social se encontra nos direitos e na
dignidade humana. Mas o homem que domina outro homem, não poderá ser feliz.
82
Muito menos o homem que é dominado pelos homens, prazeres, a vida poderá
ser feliz.
A felicidade está além de nós, ela é preferível buscar um contentamento,
buscar a paz de espírito, a tranquilidade do que lutar contra a natureza, o homem,
a sociedade, a propriedade privada. O homem nasce livre, mas em toda parte está
o homem preso a certas situações: escravidão social, política, econômica,
religiosa. O homem está com grilhões nos pés e nas mãos.
3. A Liberdade do Homem
“O Homem nasce livre, mas por toda a parte encontra-se a
ferros” (Jean Jacques Rousseau. Contrato Social, Presença
Lisboa, 1977; CS, I, Cap. 165 e O C, III, 351).
Essa é uma frase lapidar de Rousseau. O conceito de liberdade em Rousseau
é fundamental, essencial. A noção de liberdade é central tanto no pensamento
social como no pensamento político de nosso autor. A liberdade é mais importante
de todo aspecto da vida humana que Rousseau confere como gozo do homem.
No “Contrato Social” ele declara: “renunciar à liberdade é renunciar à qualidade do
homem, aos direitos da humanidade” (CS, Cap. II, 170; O C III, 356).
Rousseau aplica ao termo liberdade vários significados. O primeiro significado
é a noção de liberdade que é aplicado aos contextos sociais e políticos. Na Obra
“Discurso sobre a Origem da desigualdade dos Homens” afirma que os seres
humanos têm a capacidade (que o distingue dos animais) de brecar os impulsos
ou de praticar a ação deliberada, não impulsiva a um bem futuro:
“O homem tem alguma participação em suas próprias
operações, em seu caráter como agente livre. Um (uma
besta) a partir de um ato de livre-arbítrio; logo, aberta não
pode desviar-se da regra que lhe foi prescrita, mesmo
quando lhe seria vantajoso faze-lo” (DD 53, O C III 141).
Para Rousseau o mal (bem) moral é imputável ao homem porque é a fonte de
suas próprias ações. O homem “é livre em suas ações e como tal está animado
por uma substancia imaterial” (E IV 280-1; O C IV, 587). Mas o mal praticado pelos
homens é de sua própria responsabilidade, não se pode atribuir a Deus ou se
83
queixar a Ele. Temos aqui duas noções iniciais sobre a essência da liberdade do
homem e de modo controversos e problemáticos no pensar de Rousseau.
A outra concepção de liberdade em Rousseau refere-se à capacidade do
homem e a sua oportunidade de executar atos que podem ser reprimidos pos tais
obstáculos externos. Existem muitas coisas que limitam a liberdade do homem, o
que agrada ou não, o que aumenta ou limita a nossa liberdade. O que o homem
faz para eliminar as barreiras, que ampliam recursos, os conhecimentos e
qualidade ajudam a ter maior liberdade.
Vários tipos de liberdade: negativa e positiva, que elimina as restrições ou
limitações (negações da liberdade) e assim dá ao homem como modo a expressar
com sucesso os seus desejos e intenções e suas ações. A perda de liberdade só
é notada e deplorada quando o homem não a possui mais. Aí o homem luta por
uma liberdade mais ampla. A liberdade humana tem várias dimensões.
Rousseau se preocupava mais em suas obras com os padrões de controle,
comando e poder entre as pessoas e assim se preocupam de fato com a
liberdade. A sua observação sobre: “o homem nasceu livre e por toda a parte
encontra-se a ferros”. Que liberdade e que escravidão Rousseau fala? A liberdade
do homem natural. Conforme o nosso autor ninguém nasce numa situação pela
qual está obrigado a obedecer a vontade de outro homem. Ninguém quer estar
nesta situação, nesta condição humana, seja moral, civil ou qualquer outro tipo de
obediência ou de controle que esteja em questão. Só deve obedecer a Deus, mas
Deus dá liberdade ao homem. Nenhum homem é Deus e nenhum homem tem a
autoridade de Deus para controlar outros homens.
Deste modo Rousseau dramatiza a concepção da liberdade original ou natural
e a liberdade do homem social atual. Para este autor cada homem é o seu próprio
juiz e único senhor. Para ele não existe nenhum outro juiz ou senhor humano que
tenha que prestar contas e submeter-se. Para ele a liberdade natural é a que
caracteriza todos os homens sem distinções.
Todos podem desfrutar da perfeita liberdade dessa espécie, mas sofrer ainda
de restrições à sua liberdade de ação em consequências de reveses naturais ou
dificuldades (caso seja produzida pelo poder ou negligência do homem) em
84
ganhar a vida. As limitações à liberdade desta última espécie as que forçam as
pessoas conforme o autor (C S I, Cap. 6, e O C III, 360) a agruparem-se em
reuniões, grupos materiais e civis para que a captem forças para superar os
obstáculos.
E ao reunirem, criam um problema de soberania, de liberdade natural. Outro
tipo de liberdade é a moral. A liberdade moral é uma liberdade diminuída, que leva
o indivíduo a tirania e controle dos outros. Mas há uma liberdade alternativa e
positiva, que leva o indivíduo à verdadeira libertação. Rousseau objeta as técnicas
de controle social, de imposição da subserviência, como as condições de
liberdade. Aqueles que querem reconhecer os direitos humanos de outros
representa uma restrição à sua própria liberdade pessoal acham que a própria
existência de outras pessoas um estorvo, uma imposição que leva a uma restrição
indesejável.
4. O Homem Natural
“O homem natural não pode escapar à sociedade, mas pode recriá-la para assim
recriar-se” (Ernest Cassirer. A questão de Jean Jacques Rousseau, p 22).
“O homem natural é desprovido de todas as características do homem social”
“O Homem é naturalmente bom, o mal é consequência”.
“O homem natural é superior ao animal apenas por sua nulidade, por sua
ausência de determinações”.
“O homem natural é perfectível, mas não se transformaria se as circunstâncias
não mudassem. Ele não tem em si um principio interno de transformação”.
“O homem está desfigurado. O estado de guerra vai tornar necessária a
instituição da sociedade e das leis por um pacto de associação. Mas esse
pacto será feito em favor dos riscos”.
“Se o homem selvagem que nos descreveu não é o homem primitivo, ele pode,
contudo ajudar-nos a conhecê-lo, pois está, lógica e cronologicamente, menos
distante do que nós”.
“Partindo do homem social, que se tornou escravo, eles não essencial ao
homem quanto à sua própria vida. E assim como o individuo não pode alienar
85
a sua soberania. O poder político reside no povo, o qual deve exercer sua
soberania diretamente”.
7.3 O EMÍLIO
Estas frases pensamentos foram retiradas da obra de Rousseau “Emílio”.
Começando com a primeira um comentário especial podemos fazer deste
pensamento. Uma reflexão sobre “o homem natural não pode escapar à
sociedade” mostra que Rousseau sempre esteve preocupado em mostrar a
diferença do homem primitivo, natural com o homem de sua época, o homem
moderno já corrompido pela sociedade, economia, política e religioso.
O homem era puro, mas a sociedade o transformou em egoísta, individualista,
dominador. Ele fala que isto ocorreria de uma forma ou de outra. Que a sociedade
tomaria este rumo de uma forma ou de outra. O homem não poderia escapar a
esta realidade. O homem deveria ou teria de recriar a sociedade para recriar-se. O
homem tem que se refazer. Assim entrarmos numa forma de pensamento utópico
do autor. Ele mesmo não acredita que isto seja possível. Não que Rousseau seja
pessimista, mas que o homem mudou com suas transformações. A sociedade se
corrompeu juntamente com o homem. Se o homem quiser mudar a sociedade,
tem que mudar-se, para recriar a sociedade tem que recriar-se.
Para Rousseau o homem é um animal depravado. Diz ele: “O homem que
medita é um animal depravado” (D. D I, 87). O homem é corrupto, não só é o
político é corrupto, o homem em geral o é. Basta refletir sobre o homem e a
“condição humana” (Hannah Arendt) nós veremos que o homem não tem mais
salvação.
7.4 O HOMEM
Continuando esta reflexão sobre o homem natural, Rousseau declara de forma
veemente que: “O homem natural é desprovido de todas as características do
homem social”. Aqui está a diferença entre o homem natural e o homem social.
Rousseau fala do homem natural como aquele homem sem mancha, mácula da
sociedade. O homem que vivia antes do estabelecimento da sociedade, da polis,
do oikós. Este homem que vivia antes do estabelecimento da sociedade em
perfeição, o qual o autor o denomina de homem perfectível.
86
Esta expressão de Rousseau de perfectível mostra que há uma profunda
diferença entre o homem em seu inicio, o homem primitivo, sem ser contaminado
com a política, com as reuniões. O homem em estado perfeito, não foi corrompido
com as situações sociais. O homem natural é como o homem antes do pecado
original. Mesmo que este termo seja teológico, mas serve para explicar este
conceito de homem puro, perfectível. Diferentemente o homem social é aquele
que se corrompeu. O homem que domina seu semelhante de forma política e
economicamente. Este homem social é corrupto. Não por natureza, mas por uma
transformação da natureza física, humana e social.
7.5 A PUREZA
Para Rousseau o homem é bom. A bondade da pureza da criança. Emílio é
bom e puro por que é inocente, porque é criança. Ele ainda não cresceu e não
sofreu a interferência social. Este homem bom é o homem primitivo. Para o autor a
elaboração deste conceito está ligada ao bom selvagem. Bom selvagem ou
simplesmente selvagem é o homem no Estado de Natureza. Este homem é um
ser pacifico e inocente e sereno que ocupa o lugar principal em sua imaginação e
teoria.
No Segundo Discurso este autor sugere que os orangotangos habitantes das
florestas deveriam ser considerados como homens selvagens. Em outro lugar ele
fala de que esses animais recebam o nome de homens selvagens. É que o ser
natural é este homem bom selvagem (D.D 157 e O C III 210, nota 10). Rousseau
neste aspecto era um evolucionista. Ele não acreditava na rigidez e fixidez das
espécies, mas sustentava que as mudanças na vida produzem não só mudanças
em aptidões, mas na aparência e formas corporais. Essas mudanças
transformaram em vampiro o homem civilizado (Origens das línguas).
Emilio não é um selvagem que deve ser levado ao deserto. Emilio é um
selvagem para morar em cidades (Emilio III, 205 e O C IV 483-4). Assim
Rousseau lembra com nostalgia o homem bom e puro antes de se contaminar
pelo mal. Quando ele se refere ao homem natural e o bom selvagem, de um
paraíso perdido, claro é que ele não está pensando que este estado seria viável
para o homem de sua época.
87
O nosso autor alimentava uma ideia de nostalgia condicional favorável à
reversão a algum primitivismo idealizado e que foi dissipado. Há uma dicotomia
que não se pode transpor entre o homem natural, pré-social, mau e corrupto.
Rousseau imaginava que o bom selvagem pode viver em sociedade e permanecer
como ele era na natureza humana.
“O homem natural é superior ao animal apenas por sua nulidade, por sua
ausência de determinações”. Para Rousseau há uma bondade natural, “o homem
nasce livre e por toda a parte encontra-se a ferros” (CS, I, Cap. 1, 165; O C III,
351). O homem é por natureza seres bons, mas pervertido e corrompido pela
sociedade. Por isso ele é um pouco superior ao animal. Os homens nascem,
virtuosos, isto se deve ao conhecimento que ele possui do bem e a vontade de
praticar o bem. Estes homens são virtuosos, benignos, afetuosos e ternos nos
seus sentimentos e disposições inatos. Eles são naturalmente levados a tratar
com carinho e magnanimidade.
Por outro lado, agressividade, malícia, rancor, despeito e inveja são estranhos
ao coração humano imaculado que sai de Deus. O homem pode se tornar mau e
essa maldade se instalar porque os que o cercam pervertem e destroem a
inocência e integridade naturais do individuo. Quando o homem pratica todo tipo
de mal, ele se torna vitima de suas atitudes da má vontade dos outros, e estes
transformam este indivíduo num monstro e depois o expulsam com grande horror.
A inocência primitiva é parte da própria ira, da inveja e da índole vingativa do
próprio Rousseau. Ele sempre se achou como vitima ferida, mas bem
intencionada da maldade dos outros. Aqui encontramos uma incoerência. Se o
homem é bom como pode a sociedade corrompê-lo? A sociedade é composta de
grupos sociais, e estes grupos sociais são formados por pessoas. Dentro dos
grupos e pessoas alguém sempre está propenso a praticar o mal. Então quem
gera a corrupção?
O próprio homem. Ele acredita que possa existir uma boa sociedade e um
estado bom. O seu trabalho Contrato Social é uma forma idealizada e uma utopia
deste estado. Na obra Emilio (E IV 212-3) ele trata das paixões naturais do
homem e de suas paixões exóticas. As paixões naturais são aquelas que nascem
88
conosco, ela é parte de nossa herança. A paixão natural é aquela que é
instrumento de nossa liberdade, ela nos preserva de muitas coisas. As paixões
exóticas nos subjugam e nos destroem; estas são contrarias à nossa natureza e
quando nos apossamos dela em detrimento na natureza.
Isto que Rousseau fala já era encontrada no pensamento de Aristóteles antes
da era de cristo. Conforme o filósofo grego o homem tende a preservar e manter,
promover o bem e buscar a felicidade. A promoção do bem, da vida e do bem
estar são inatas ao próprio homem. Esta é a forma do homem natural e que ocorre
ao contrario danifica e destrói a natureza humana. Coisas que eram inatas e
naturais desviaram das tendências naturais. O homem pode ter disposições que
são inatas e naturais nesse sentido, mas foram desviadas de suas tendências
naturais e que acabaram sendo prejudicadas e nocivas para o próprio homem.
O homem que é natural é bom e é superior aos animais. O bom significa que a
vida fecunda e autopreservação do próprio homem. O natural são as paixões,
ações que conduzem o homem a esse bem. O homem natural e bom é aquele que
tem o amor a si mesmo como “a fonte de nossas paixões, a origem e o principio
de todos os outros, o único nascido como homem e que nunca o abandona
enquanto ele viver”.
O amor a nós mesmos vem da forma de amar que nos preserva. O homem
natural é aquele que ama, é natural no homem amar com o amor “da ama e da
governanta”. Da mesma forma que o sentido do que é natural, a nossa afeição
que nos ajudam e nos mantém e a nossa gratidão por sua ajuda também são
sentimentos naturais: a com-paixão. Tudo isto provê, ajuda e favorece nossa
autopreservação e a plenitude de nossa vida.
O amor de si mesmo é a fonte de todas as paixões. As outras paixões são de
certa forma mudanças desse amor principal. Tudo isto significa que as paixões
perniciosas e extravagantes, escravizadoras são também naturais. Mas as
mudanças interferem no modo inicial e chocam com o seu próprio começo. Assim
o homem se acha na natureza à margem e está sempre em contradição. Quando
uma criança faz birra por não conseguir algo, ou a criança fica irada isto não
significa que ela seja má por natureza. Isto significa que ela já luta contra as
89
ameaças e medos, mas não tem o sentido de maldade. Ela ainda não tem o
controle de suas paixões e sempre está lutando para dominar a vontade, o querer
e o amor de si mesmo.
Rousseau diz que o amor, a gentileza e a beneficência constituem disposições
naturais; e a crueldade, o rancor, o ódio, e a cobiça são antinaturais. Não que os
homens nasceram santos e que depois de perverteram. Mas porque as primeiras
formas harmonizam e conflitam com a busca do bem estar e a felicidade que as
outras são deformadoras, é danosa que acabam com o principio primordial. No
Emilio as paixões têm um peso fundamental. A maldade moral é antinatural e tem
origens nas influências externas. As paixões são conforme Descartes um grande
problema para o conhecimento. Para Rousseau elas são boas ou más. As boas
contribuem para o bem estar e a felicidade do homem. As más só prejudicam e
atrapalham o homem natural. A crueldade, a perversidade é oposta ao bem
pessoal.
7.6 O PERFECTÍVEL
O homem perfectível é um tema central no pensamento de Rousseau. Ele
afirma que o homem em sua condição natural ou primitiva possui duas faculdades
que os distinguem definitivamente dos animais. O livre arbítrio e o
aperfeiçoamento pessoal são estas duas características. A esta última Rousseau
denomina de perfectibilidade. Ele é superior aos animais, o comportamento e ação
dos animais são limitados e fixos, com o homem não.
Os pássaros ao fazerem seus ninhos se comportam por instintos e não há
variações para este comportamento. Os homens têm táticas que os tornam
superiores a estes animais. Estas variações que os homens praticam são
fundamentais, os homens são mais variados em suas ações; os animais são mais
rotineiros e previsíveis: a mesma árvore, mesmo oco de madeira, etc. O homem
não é rotineiro, os desejos levam os homens a uma grande variação para se
satisfizer.
O homem pode aprender com o meio ambiente e modifica-lo para sua própria
vontade e vantagem, o modificar o meio ambiente é para obter mais vantagem. O
comportamento do homem leva-o a aprender, adquirir os melhores meios para
90
suprir as suas necessidades e seus gostos. A flexibilidade e a adaptação, a
aptidão permite ao homem acumular aprendizado e aplica-lo para obter mais
vantagens (lucros). Isto tudo Rousseau denomina de perfectibilidade.
Rousseau no Segundo Discurso fala da capacidade que o homem possui:
perfectibilidade. Essa capacidade dos seres humanos como benção e como
maldição. Os homens são capazes para: a agricultura, construção, ciência, letras,
manufaturas e a sociedade. O homem sem a perfectibilidade a sua vida se
tornaria menos sustentável, mais difícil.
“Mas a capacidade leva o individuo a ter dias tranquilos e
inocentes, mas que o leva com o passar do tempo o tirano de
si mesmo e da natureza” (DD 54, O C III 142).
O homem pode transformar-se e mudar o seu meio. O homem é capaz de
levantar e sustentar as condições sociais que são nocivas para si mês mo. A
perfectibilidade do homem é a fonte de todas as suas virtudes como de seus
vícios. A perfectibilidade abre caminho para o vicio e o erro, mas leva também à
virtude e à sabedoria.
CONCLUSÃO
O nosso trabalho é apenas uma reflexão sobre Rousseau e sobre o seu
pensamento. A atualidade do pensamento de Rousseau é bem vasta, apesar de
se passar vários séculos. O conceito de homem neste autor é fantástico. Não
existe um trabalho mais sério sobre a sua antropologia e sobre a religião em
Rousseau. Os autores que analisaram a sua obra estão mais preocupados com as
contradições de sua vida com sua obra. Mas alguns autores e comentadores se
preocupam com a denúncia econômica, social, política e religiosa que o nosso
autor elabora. A preocupação de outros autores refere-se com a Educação. A
nossa preocupação é apenas sobre o que ele tem de melhor: o conhecimento, a
educação, a crítica social e política que são bem atuais. Rousseau vê o homem
diferentemente dos escritores de sua época e de autores de hoje. Ele vê que é
possível mudar a ordem social mudando o próprio homem.
Referencias
91
CASSIRER, Ernest. A questão Jean Jacque Rousseau, São Paulo, UNESP,
1997, 141 p.
DENT, N.J.H. Dicionário Rousseau, Rio de janeiro, Zahar, 1996, 249 p.
DOZOL, Marlene de Souza. Rousseau, Petrópolis, Vozes, 2006, 102 p.
FORTES, Luís Roberto Salinas. Rousseau, da teoria à prática, São Paulo,
Ática, 1976.
FORTES, Luís. Paradoxo do espetáculo, São Paulo, Discurso/USP, 1997.
MATOS, Olgária. Rousseau. São Paulo, MC editores, 1978.
PISSARRA, Maria Constança. Rousseau, São Paulo, Moderna, 2005.
ROUSSEAU, Jean Jacques. Escritos Políticos. Petrópolis, Vozes, 1996.
_____________________. Emilio ou da educação, São Paulo, DIFEL, 1976.
_____________________. Emilio ou da educação. São Paulo, Martins Fontes.
1999.
_____________________. Escritos. São Paulo, Abril Cultural, 2 vols, 2006.
ULHOA, Joel Pimentel. Rousseau e a utopia da soberania popular, Goiânia,
UFG, 1996.
VIEIRA, Luís Vicente. A Democracia em Rousseau, Porto Alegre, Edipucrs,
1997.
92
CAPÍTULO VIII A APLICAÇÃO DA TEORIA DE JEAN PIAGET À EDUCAÇÃO10
Podemos especificar quatro formas de aplicação dos princípios teóricos de
Jean Piaget na pratica de ensino.
- A primeira refere-se à utilização das provas como instrumentos de
avaliação do desenvolvimento intelectual da criança e de sua prontidão
para a aprendizagem. É importante salientar que Jean Piaget não se
interessou em transformar suas provas em uma escala de inteligência,
porém alguns de seus colaboradores desenvolvem estes estudos. Por isso,
estas aplicações requerem grandes cuidados e questionamentos, no que se
refere à sua validade preditiva quanto à prontidão para a aprendizagem e
quanto à prescrição de programas de recuperação.
- Uma segunda aplicação se relaciona ao planejamento de currículos. Em um
primeiro momento, diz respeito à distribuição dos diversos conteúdos nos
diferentes graus de escolaridade. Por exemplo, os resultados dos estudos
de Piaget indicam que o melhor período para a aprendizagem de conceitos
abstratos é a adolescência, quando as estruturas formais do pensamento
estão se consolidando. Assim, o grau de abstração dos diversos conteúdos
deve adequar-se ao nível de desenvolvimento da criança, orientando o que
especificamente deve ser ensinado, considerando as diversas áreas do
conhecimento.
- Em um segundo momento, se relaciona à seqüência do ensino de um
conteúdo, considerando a organização dos conceitos conforme os pré-
requisitos necessários para maior facilidade na aprendizagem. Por
exemplo, quais seriam os pré-requisitos para a aprendizagem dos
números? As noções numéricas de cardinalidade e ordenação deveriam ser
ensinadas junto ou separadamente? Os pesquisadores que procuram
responder a tais questões geralmente dizem estar fundamentados nas
descobertas de Jean Piaget. No entanto, há muitas interpretações errôneas
10 Trabalho de conclusão de curso em Educação, 2005.
93
ou peculiares dos dados de Jean Piaget. Por isso, o professor deve estar
alerta para analisar os dados de tais pesquisas.
- A terceira possibilidade de aplicação se refere à questão do seu tratamento
didático. A questão pesquisada vem a ser quais as condições mais
favoráveis à aprendizagem. Um dos princípios da teoria de Piaget é que as
condições estáveis e duradouras da realidade que nos cercam ocorrem por
meio de um intercambio entre o sujeito e o mundo. Esse princípio, aplicado
ao ensino, implica que é preciso levar o aluno a experienciar situações
concretas, através do método da descoberta.
- Estas experiências constituem a base da aprendizagem e deve envolver
material concreto tanto quanto a noção a ser ensinada ao permitir. As
experiências devem ainda ser repetidas e variadas, pois assim começarão
a ser interiorizadas pelas crianças e coordenadas de acordo com seus
esquemas mentais. O pensamento só está adaptado a uma realidade
particular quando conseguiu assimilá-la aos seus quadros, ao mesmo
tempo em que os acomoda às novas circunstâncias apresentadas por tal
realidade.
- Nesse sentido, a tarefa do professor, que requer muita engenhosidade,
seria primeiramente a de analisar o conteúdo a ser ensinado em termos das
operações nele implícitas. Depois, organizar a seqüência, as experiências
concretas e os conceitos formais. A prática deve servir de base ao
conhecimento conceitual. Portanto, a prática, longe de ser uma aplicação
do conhecimento conceitual, deve ser o ponto de partida do próprio
conhecimento conceitual e a condição necessária para qualquer reflexão
posterior.
- O trabalho didático deve ser organizado de forma a constituir um convite ao
raciocínio dos alunos. O importante é encontrar formas desafiadoras que
estejam dentro das possibilidades da criança para superar as dificuldades e
que ao mesmo tempo, coloquem problemas ao pensamento, conduzindo a
uma reorganização das estruturas mentais. Nas situações didáticas,
portanto, deve haver uma discrepância, dentro de certos limites, entre a
94
assimilação de que o aluno é capaz num dado momento e a acomodação
subsequente.
- A quarta possibilidade de aplicação de teoria de Piaget se refere à ênfase à
interação com os companheiros, pois ela é instrumento formador. A
objetividade só pode ser adquirida se percebermos a relatividade dos fatos,
se compararmos os nossos pontos de vista com os de outras pessoas e
notarmos diferenças e semelhanças entre os dois pólos.
- A cooperação dos alunos entre si tem, neste sentido, uma importância tão
grande quanto a ação do professor. Do ponto de vista intelectual, é ela que
mais favorece o intercâmbio entre o pensamento e a realidade, por isso, é
imperativo que a educação moderna dê lugar de destaque às atividades
grupais, pois a discussão é a melhor forma de educar o espírito crítico, a
objetividade e a reflexão discursiva.
(SABINI, M. A Cória. Psicologia aplicada à educação, São Paulo, EPU,
1986).
Referencias
ABAGNANO, Nicola. História da Filosofia, Lisboa, 5 volumes, Editorial Presença,
1991.
CHATELET, François. História da Filosofia, Rio de Janeiro, Zahar, 5 volumes,
1981.
COPLESTON, Frederick. Historia de la Filosofia, Barcelona, Herder, 5 volumes,
1969.
JAGGER, Werner, Paidéia, São Paulo, Martins Fontes, 1989.
MONDIN, Batista, Curso de Filosofia, São Paulo, Paulus, 2000.
95
CAPÍTULO IX A PROPOSTA PEDAGÓGICA DE FREINET11
Freinet chama seu método de natural, livre do artificialismo imposto
pelos métodos tradicionais: uma vez que têm como partida o interesse e a livre
expressão da criança. Para ele qualquer criança, mesmo as da periferia e da
classe trabalhadora, pode retirar do meio natural, meus ensinamentos. A criança
segundo Freinet que a todo instante das provas de suas aptidões criadoras,
imagina, inventa e cria.
Freinet propõe uma metodologia da ação totalmente diferente da
utilizada na época, deixando de lado os manuais escolares, símbolos da
pedagogia opressiva. Eram considerados por Freinet, como pelares na construção
de uma escola viva: os conhecimentos das crianças, relacionados uns com os
outros nas trocas e cooperação mútua. E a questão metodológica é de inteira
responsabilidade, com equilíbrio, domínio e autoridade. Até sem preparação pode
obter resultados satisfatórios, desde que saiba coordenar, organizar os interesses
das crianças, incentivarem a descoberta e aguçar a curiosidade.
Freinet dez que dependendo dos procedimentos que utiliza, o professor
pode gerar desprazer pode gerar desprazer e desatenção nas crianças; é o caso
das longas exposições orais.
A sua proposta pedagógica exige uma postura diante da vida que difere
de tudo o que se ensinava nas escolas. Freinet anotava diariamente os pontos
positivos e negativos do desenvolvimento dos seus alunos se era capaz de
apontar o que lhe era necessário.
Ele começou pesquisar e destacar em seus alunos as novas técnicas de
ensino, e foi assim que descobriu o uso da imprensa na escola e lança-se à
execução de um projeto interdisciplinar. “No projeto interdisciplinar não se ensina,
nem se aprende: viver-se, exerce-se”. (pg. 112).
Sobre a escola, Freinet diz:
A escola deve colocar à disposição das crianças
os meios para, depois, organizar, sistematizar,
11 Trabalho de conclusão de curso em Educação, 2006.
96
enriquecer ou ampliar as suas experiências; deve
criar situações desafiadoras que, despertando a
curiosidade, as levem a pensar, mas não sem
antes querer resolvê-las. (p. 109)
9.1 EM BUSCA DO EQUILÍBRIO: A ESCOLA DO TRABALHO E DO
PENSAMENTO
O trabalho, por envolver integralmente o ser, fornece abertura para a
sua realização psicológica. Logo o trabalho pedagógico deve ser dinâmico, deve
partir da base, do conhecimento que a criança já domina, e respeitando o seu
ritmo, proceder de forma que a leve à plena realização do sue potencial, da
adaptação à ação.
Ele comparou o ritmo de vida da criança de hoje com as crianças de
outras décadas. E percebe-se que essa criança, habitava, alimentava, trabalhava
da mesma maneira das gerações anteriores. Era um ritmo de vida quase perfeito.
A criança herdava naturalmente os conhecimentos, reflexões e o bom senso das
gerações que estavam próximas dela. Nos tempos atuais, a vida da criança é
alterada pela tecnologia que ao inovar, desequilibra e modifica o homem e o meio.
O individuo necessita se equilibrar, e avançar, realizar, ultrapassar a si
mesmo e dominar os obstáculos.
O educador deve conhecer as tendências naturais da criança para
orientar sua intervenção, para não atrapalhar o seu sentido e ritmo, no sentido sua
construção. As regras não devem ser impostas pelos adultos, mas é a criança que
deve criar essas regras para a sua construção, e se isso não acontecer,
estaremos no campo da domesticação e “domesticação não é educação”.
Para Freinet, a escola do futuro será a escola do trabalho e do
pensamento, integrada no processo feral da vida: a criança torna-se sujeito, e o
professor, aquele que orienta, estimula e facilita sua aprendizagem.
Os jogos devem ligar o interesse da criança às tendências vitais do ser.
9.2 A MOTIVAÇÃO: A VIDA DA CRIANÇA
Exigindo atividades vivas ou relacionadas com a vida da criança. Ela
deve trabalhar com prazer, e o interesse que a faz avançar. O controle e a
97
autoridade do adulto devem reduzir-se a fornecer os meios, despertar o interesse
e orientar a criança, que por si só vai querer criar, agir e realizar.
Os conhecimentos, as explicações, as lições só têm valor se ligados às
experiências pessoais. Para Freinet, a escola e o educador tradicionais têm
demasiado pressa. Em vez de buscar enriquecer o ser humano, os conteúdos que
transmitem são alienados da vida; há preocupação apenas com a quantidade,
enchem-se cadernos, expõe-se a memorização.
Na escola, a criança precisa encontrar a continuação da vida, no lar e
não ser transportada para outro mundo.
9.3 A SENSIBILIDADE DO EDUCADOR
O desafio é o professor ser formado para entender que a criança,
quando chega à escola, já interage ou tenta compreender que espécies de sinais
são aqueles que se utilizam para ler e escrever.
O verdadeiro educador deve ser sensível para acompanhar a
construção do conhecimento por parte da criança. Mas, para isso, não pode
esquecer as riquezas da infância, que, segundo Bachelard e os artistas e poetas
citados por Freinet, duram toda a vida.
Todos somos pesquisadores: pesquisar é um processo instintivo do qual
o homem busca o próprio crescimento
Energia vital ↔ Pesquisa ↔ Conquista ↔ Recarregamento de energia
↨
Permeabilidade à experiencia ↔ Regra de Vida
9. 4 AS FASES DA ESCRITA
Para Freinet toda tentativa da criança possui um objetivo e uma
finalidade, sendo ela imediata ou não. É o indivíduo que deverá construir seu
conhecimento, e esse conhecimento é presenciado na linguagem aprendida na
escola.
98
E como pesquisador, Freinet observou o processo do conhecimento de
sua filha Balowette (Ball) atribuindo que esta nunca conheceu o método
tradicional. Nessa observação lê classificou a escrita em cinco fases:
A primeira fase – atribuiu como Grafismo simples. Nesse processo a
criança usa grafismos separados com linhas, curvas e quebradas.
A segunda fase - grafismo diferenciado ou justaposto. Começa a
aproximação das formas das letras e numerais, diferenciando desenho e escrita.
Terceira fase – começa a imitação da escrita utilizando as letras do
próprio nome. Pelo método natural a criança interpreta seus desenhos e escrita.
Quarta fase – da utilização dos sinais convencionais (letras e números),
com ou sem valor sonoro. A criança já percebe que há regras e formação fixas a
imitar. Começa a interpretar os adultos.
Quinta fase - da escrita alfabética. A criança domina e identifica um
número razoável e palavras e sabe se comunicar pela escrita. É o começo da
escrita consciente, da qual a criança não se separará mais.
A criança sempre se utiliza uma etapa anterior para avançar. Aos
poucos, assim como a criança que sai da fase de engatinhar, par caminhar
percebe que, para cada letra do alfabeto, há uma representação dos sons, que
formação as palavras.
Quando a criança consegue dominar e identificar um número razoável
de palavras, conseguirá ler o texto. É o começo da escrita consciente e da qual
ela não se separará mais.
A criança constrói, pelo processo de tentativa experimental, por atos
conseguidos, sucessivamente encadeados e subordinados a uma visão central
que dominou ao mesmo tempo o todo e a parte.
Freinet propõe partir não do texto do adulto, mais da vida da criança, da
sua expressão oral e escrita, do seu texto livre. Ele diz que as experiências que
nós mesmos construímos são como degraus sólidos de uma escada que nos
conduzirá aos andares superiores. O importante é o educador saber que todos
chegam lá, que tudo é importante é o educador saber que todos chegam lá, que
tudo é questão de temo. E que não devemos apressar, mas estimular o processo.
99
Comenta Freinet, “Nossa criança saberá ler e para sempre, porque esta
aprendizagem natural fará corpo com a própria vida e o processo de evolução do
indivíduo”.
O Trabalho do professor é acompanhar essa evolução em seus
diferentes estágios e registrá-la.
O melhor que Freinet nos deixa é a possibilidade de buscar e encontrar
novos caminhos, compartilhando com os outros, nosso desejo e esperança por
uma vida melhor, mais fraterna e com diretos semelhantes para todos os
indivíduos.
“Se um dia os homens souberem racionar sobre a formação dos seus
filhos como o bom jardineiro, ao raciocinar sobre a riqueza do seu pomar nos
deixarão de seguir como os eruditos que, nos seus anexos, produzem frutos
envenenados que matam ao mesmo tempo quem os produziu”.
Este pensamento de Freinet encerra esta reflexão, para que pensemos
em nosso papel de professores e no nosso compromisso social de educadores.
9. 5 A ESCRITA PESSOAL E LIVRE
Freinet se indignou com questões sociais, e procurou fazer dessa
indignação uma ponte para transformar a realidade social.
Para realizar seu trabalho leram Montaigne e Rousseau, Pestalozzi,
educadores com os quais sentiu enorme afinidade.
Freinet valorizava e apostava com muita segurança no poder criador da
criança, no seu modo de pensar, de ser e de ver o mundo e principalmente o seu.
Para ele é necessário que o aluno inicie a ler textos curtos, ou melhor,
textos simples, pois ele servira o como suporte para a criança produzir o seu
próprio texto. Freinet denomina o texto da criança de “texto vivo”.
De acordo com o pensamento de Freinet, não existe idade especifica
para a criança aprender a ler, isso acontecerá naturalmente no tempo certo, ou
seja, no tempo da criança.
Para ele é fundamental que o professor seja fiel àquilo que a criança
relata sobre a sua escrita, ou seja, o professor funciona como intérprete.
100
Para se chegar ao conhecimento torna-se necessário propor à criança
atividades diversificadas, que possam ser desenvolvidas tanto na coletividade
quanto na individualidade.
Freinet acredita na democracia como exercício para a cidadania, por
isso insere as crianças nas discussões em sala, promove eleições do que foi mais
bem produzido pelo grupo sem desvalorizar o dos demais. Todos os trabalhos
devem ser afixados em local de destaque.
Para ele é necessário que haja troca de valores, gentilezas e atenção,
pois, isso auxilia a aprendizagem. Para ela a escrita, precisa expressar
exatamente o que se pretende dizer, facilitando a compreensão. Afirma ainda que
a expressão do pensamento através da escrita só deve acontecer, quando a
criança dominar a escrita com total segurança. E isso só é possível de forma
natural, com o adulto respeitando o ritmo da criança. Para ele não se aprende
nada mediante exercícios e lições controladas. É preciso criar. Ele diz que
“quando a criança cria algo, nasce um gênio”, e que elas criam, a partir da
naturalidade sem a intervenção do adulto para corrigir seus erros.
9.6 A AULA VIVA: UM SONHO A SER REALIZADO (Freinet)
Sonho → escola → magnífica continuação
Infância (desenvolvimento)
Futuro (frutificação)
Criação do ser • espontaneidade
Poesia → pela palavra a criança exprime: • fantasia
• sentimentos • próprios passos
• Sonho → mundo das primeiras palavras
• Uma palavra arrasta a outra
• palavra → frases
Poesia → palavra -- • avalanche de palavras
101
• palavras se atraem
• liberdade com as palavras
Questionamentos → “Quando os adultos consentirão que as crianças
Caminhem com os próprios passos infantis?".
Quando verão a vida das crianças com olhos de
crianças?
Sala de aula → ambiente → • professor e alunos vivam juntos a
Mesma aventura
• oportunidades de vivenciar uma
Pedagogia libertadora
(Que favoreça a exploração de talentos)
• fundamento, teorias e • ambiente rico inovador.
Experimentos científicos • acolhedor.
Propostas ensino: incluir Arte e cultura • propício, que dê exemplo
De amor de Freinet
• prática e naturais:
• contínua construção do conhecimento
• desenvolvido segundo os modelos de
Vida e de trabalho no meio. (Meio)
• Texto livre
Popular de linguagem bastante) • Jornal
Pobres • Correspondência
• imprensa
• aulas – asseio
Erros
Freinet → acredita que os erros que a criança comete serão corrigidos
Por ela mesma, mediante experiências e tentativas,
Por isso descarta a cópia e a regra como forma de correção.
• compreender o significado
102
Ambiente Social e → estímulos
das histórias
→ Televisão • Palavras ex.: Coca-Cola
• cartazes
• Rua • paredes
• outdoors
Metodologia
Aprendizagem da • nova
Leitura realidade
Conduz → educador a rever suas hipóteses
Metodológicas
• a escola e a busca das primeiras leituras são
Decisivas
• canções
• histórias • a criança
Freinet • adivinhas aprendia a
utiliza • cantos populares → ler de forma
fichas de • parlendas natural não
leitura p/ • receitas se detendo
trabalhar apenas
num processo
estritamente global
103
• global →familiariza com a figura
gráfica de palavras e frases que
são de seu conhecimento.
Freinet → frases na • reconstituição ativa → sinais fonéticos
aquisição das palavras e
da leitura expressões que ela
própria criou e
quer aperfeiçoar
• Identificação global → em que a
criança, quando lê,
não balbucia (gagueja, defeito)
isto é, não procura decifrar a palavra.
Caso contrário
• palavras conhecidas conduzam a uma
Técnica falsa
Método global
• valoriza a leitura, pesquisa
e descobertas das crianças
Freinet → aprofunda o conhecimento
da criança por meio de
investigação coletiva • levantam e discutem
os problemas dos alunos
104
CAPITULO X EDUCAÇÃO E TEORIA CRÍTICA12
O presente estudo pretende contribuir para uma reflexão sobre a
importância do ato de refletir e de se educar criticamente. Estudaremos o texto de
Adorno sobre: “Educação após Auschwitz”. A ideia é pensar não a escola, mas a
educação mais ampla à luz da teoria crítica da sociedade. Não que ele tivesse
formulado propostas pedagógicas de educação, mas propostas de uma educação
viva que vise o educador. É uma tentativa de exercitar um tipo de pensamento
reflexivo no âmbito educacional, na esperança de ampliar a compreensão da
educação hoje e apreender o pensar criticamente.
A educação exerce funções fundamentais em todas as sociedades,
auxiliando os homens na aquisição de um conhecimento e um saber ordenado e
sistemático a respeito da natureza e do modo social em que estão situados. Ela
transmite tudo àquilo que a humanidade acumulou na história e, em particular,
oferece conhecimentos para que cada um se insira em sua sociedade.
Segundo Moacir Gadotti (1998) não é possível alcançar a compreensão da
educação sem a compreensão dessa sociedade na modernidade, sem o que não
é possível chegar-se muito longe. Pois não se compreende os nexos existentes
entre organização social e organização econômica, cultural e política, nem as
ligações de tudo isso com a educação.
10.1 A EDUCAÇÃO SOB A ÓTICA DA TEORIA CRITICA DA SOCIEDADE
Para a teoria crítica da sociedade, os problemas teóricos começam com a
apreensão das relações existentes na sociedade entre o todo e o particular, o
específico e o universal. Seu raio de ação dá-se no limiar das manifestações dos
homens, na dinamicidade de sua vida no mundo que o cerca. Em seu elemento
constitutivo a teoria move-se além da neutralidade positivista que ela define, em
seu sentido amplo: como soma de diversas doutrinas filosóficas que incluíram
desde o trabalho de Saint-Simon e Augusto Comte até as mais recentes formas de
pragmatismo e empirismo lógico que dominam as ciências sociais na civilização
ocidental.
12 Trabalho de conclusão de curso “Teoria Crítica” no curso de doutorado em educação, 2008.
105
Na ótica da teoria crítica da sociedade, guardadas as diferenças de cada
doutrina todas elas têm sustentado o objetivo de desenvolver formas de
investigação social que sigam o modelo das ciências naturais. Estas formas foram
baseadas em princípios metodológicos que privilegiam a observação empírica e a
quantificação. A visão de conhecimento e de ciência do positivismo é despida de
suas possibilidades críticas.
O conhecimento foi reduzido a dominação exclusiva da ciência. A própria
ciência foi submetida a uma metodologia que limita a atividade científica à
descrição, à classificação e à generalização de fenômenos. Opondo-se a isso, a
teoria deve explicitar os interesses que representa e pensa-los criticamente,
sabendo que não existem garantias de verdade únicas.
Por isso a autocrítica lhe é imprescindível. Em última instância, a teoria deve
ser crítica, dialética e primar pelo pensamento negativo diante de tudo aquilo que
é tido como pronto e estabelecido. Torna-se a teoria uma atividade transformadora
cujo elemento transcendental, associa-se ao pensamento crítico como pré-
condição para a liberdade. Ao invés de consubstanciar uma noção positivista de
neutralidade, a teoria posiciona-se ao lado da luta por um mundo mais digno ao
ser humano, a partir da teoria crítica da sociedade se consegue estabelecer o
diálogo da negação do que parece estático, na existência humana, no mundo
moderno. Um diálogo de esperança, a partir do pensamento, e da teoria, de seu
elemento de prática; deve haver um diálogo preocupado em contribuir para a
emancipação do homem.
Conforme Theodor Adorno (1995), a teoria crítica da sociedade é um símbolo
de solidez e de força independente de que um dia, pudesse, na aparência, fazer
parte no mundo do esquecimento, das coisas que vão sendo suprimidas.
Para pensar a educação sob a base da teoria crítica da sociedade, é
fundamental compreender como ela se refere à necessidade de desenvolver-se
numa teoria/prática de transformação social. E assim esta transformação e
emancipação não sejam fechadas em relação aos seus próprios princípios e às
conquistas que ela almeja.
106
A teoria crítica da sociedade enfatiza tanto uma escola de pensamento quanto
um processo de crítica. Sua dimensão global e sua dimensão fragmentada
tornam-se úteis para a educação. Apontando para uma educação que, tanto pode
exigir uma crítica contínua – nas quais as condições educacionais devam ser
confrontadas com um mundo que essa crítica examina e descreve o mundo como
realmente é – como poderia ser com base nessa crítica.
Theodor Adorno (1995) inicia seu texto “Educação após Auschwitz” com uma
frase significativa: para a educação a exigência que Auschwitz não se repita é
primordial.
Após analisar as possibilidades de retorno da barbárie a partir da
permanência das condições que a geraram, Adorno (1985) afirma: “a educação só
terá pleno sentido como educação para a autorreflexão crítica”.
A educação é, antes de tudo, esclarecimento (Aufklärung). Para Theodor
Adorno, as medidas educativas, por mais abrangentes que sejam dificilmente
poderão evitar o aparecimento de construtores e ideólogos da barbárie. Mas a
educação pelo esclarecimento pode fazer alguma coisa no sentido de modificar a
atitude dos que praticam os atos bárbaros. Para os componentes da escola de
Frankfurt o ato de refletir criticamente representa um elemento fundamental na luta
pela emancipação.
A obra enfatiza o tema da educação, mas, o autor não tem escrito sobre este
assunto especificamente. Ele aborda este tema considerando que tudo explicita a
educação como alicerce da condição existencial humana em toda a sua
complexidade.
Podemos ler a educação sob o prisma da teoria crítica da sociedade. Uma
vez que a educação faz parte desta sociedade e compõe a complexidade dos
temas do mundo. Estes temas do mundo irrompem de uma interpretação que
possuímos nesta ótica. É necessário, muito mais do que qualquer outra coisa,
passar a conceber a educação, suas bases e fundamentos dentro de um enfoque
mais amplo.
Assim a visão de mundo proposto na teoria crítica, sem querer, dizer que essa
visão de mundo seja única e verdadeira. Não se pode reduzir a leitura da
107
educação apenas num aspecto, qualquer que seja o que chamamos de educação.
Precisamos despertar educação para a tarefa que Herbert Marcuse chamou
atenção: desenvolver nos explorados a consciência e o inconsciente que
afrouxaria as amarras das necessidades escravizantes. Sem isso é impossível
que a educação contribua muito mais para a contra revolução do que para a
emancipação.
No trabalho de Adorno que estamos analisando, ele frisa a necessidade de ter
uma educação contra Auschwitz. Este autor é um dos poucos pensadores que
tenta ler Freud à luz da grande tradição filosófica do ocidente. Ele entende a
educação na perspectiva da civilização ocidental como plena compreensão de um
indivíduo completo. Conforme Adorno, Freud numa de suas intuições, afirmava
que a civilização produz uma anti-civilização e a reforça progressivamente. O
comportamento do homem, na civilização ocidental esta recheado de um
embrutecimento que extrapola as condições econômicas e de classes. Está
imanente no homem, no mundo administrado, um vazio diante de tudo o que
ocorre na sociedade.
A própria vida social é um ajuntamento coletivo de seres isolados que tem
ancorado-se uns aos outros para persistirem no ciclo vital. O homem não tem
mostrado sensibilidade diante da preservação da vida. A sociedade e a natureza
lhes são indiferentes. Tudo e todos se misturam transformando-se em coisas e
constituindo uma sociedade reificada viva. Conforme o nosso autor, a humanidade
vive uma pressão civilizatória que tem se multiplicado até ao mal estar de uma
claustrofobia.
10.2 EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO
Theodor Adorno (1995) fala em Educação e Emancipação:
“Pode-se falar de uma claustrofobia da humanidade no
mundo administrado, uma sensação de clausura em um
contexto mais e mais socializado, densamente estruturado.
Quanto mais apertada a rede, mais quer-se sair dela, muito
embora sua própria estreiteza o impeça. Isso aumenta a
108
raiva contra a civilização. A revolta contra ela é brutal e
irracional”.
A humanidade tende a sucumbir, vivendo essas condições. A capacidade do
homem de raciocinar, de enxergar, de pensar, foi atrofiada: a atividade de criação
tem sido mutilada, em lugar dela, assimila-se, adapta-se, repete-se. A humanidade
está assim, redigida por uma miopia nos olhos e na mente que esquece, distorce,
confunde, mistura, deturpa e cega diante de si própria e de seus rumos. Os
homens estão perdidos frente à produção de sua própria vida. A sociedade
administrativa é composta não de indivíduos, mas de individualismos que vivem a
coletividade, negando a singularidade.
O nosso autor continua analisando a sociedade, a civilização e os indivíduos.
Ele afirma que: “nossa sociedade, embora se integre cada vez mais, incumba
simultaneamente tendências desagregadoras. Essas tendências desagregadas
sob a superfície da vida organizada têm progredido extremamente. A pressão do
geral predomina sob a particularidade. Os indivíduos e as instituições individuais
tende a desintegrar o particular e o individual juntamente com sua capacidade de
resistência, os homens perdem também as qualidades graças às quais ser lhes ia
possível opor-se àquilo que, a qualquer momento, possa novamente atraí-los para
o crime. Talvez sem querer consigam resistir, quando lhes é ordenado pelos
poderes constituídos que voltem a praticar a mesma ação, desde que tal aconteça
em nome de quaisquer ideais, nos quais nem precisam acreditar”.
Para Adorno, a educação deve ter a ousadia de não só desmistificar a
realidade que circunda a sociedade moderna, mas também revelar os meandros
que a permeiam: um amontoado de catástrofes e ruínas que não tem parado de
crescer aliada às conquistas humanas. Assim como a educação não deve
desmerecer essas conquistas e tampouco permitir que parta apenas dela a
formação humana.
Não deve também contribuir, de alguma forma, para o esquecimento da
história e da vida humanas construídas com suor, sangue e emoções dos mesmos
homens que também a destroem. A educação há que assumir o compromisso de
contribuir para o resgate do homem dos escombros e ruínas que tem sido autor
109
sem, contudo, apaga-lo da memória humana. É preciso lembrar-se de Auschwitz
para que se possa superá-lo. O trabalho da educação é ser mediadora entre o
velho e o novo, sendo essa uma função que lhes exige um respeito e uma
compreensão do passado.
10.3 EDUCAÇÃO HOJE
Assim a educação hoje, ao contrário de Auschwitz, deve conhecer e trabalhar
contra a inconsciência dos mecanismos que tornam os homens capazes de atos
tais como os de atacarem e matarem, subjugarem e sacrificarem os outros. Penso
que assim como a educação deve conhecer esse tipo de caráter, assim também
deve ela entender o tipo de caráter daqueles que – em todos os sentidos
permitem-se ser mortos, subjugados, sacrificados, feitos escravos.
Conforme Adorno (1995): “A educação só terá pleno sentido como educação
para a autorreflexão crítica. Dado, todavia, que, como mostra a psicologia
profunda, os caracteres em geral, mesmo os que no decorrer da existência
chegam a perpetrar os crimes, já se tornaram na primeira infância, uma educação
que queira evitar a reincidência, haverá de concentrar-se na primeira infância”.
Uma educação após Auschwitz dar-se-ia conforme nosso autor, primeiro no
âmbito da educação infantil, sobretudo na primeira infância. Depois no
esclarecimento geral, criando um clima espiritual, cultural e social que não dê
margem a uma reincidência, através da conscientização dos motivos que levaria
ao horror.
O nosso autor fala que: “Crê-se que quanto mais bem forem tratadas as
crianças, quanto menos forem negadas na infância, mais chances elas terão”.
A educação para Adorno tem uma importância primordial na formação das
gerações atuais para a construção de uma sociedade que se guie pela razão, na
luta pela autonomia, pela emancipação.
O processo de “desbarbarização”, ou seja, uma educação após Auschwitz é
global e apresenta ênfases peculiares. Como desenvolver a educação através do
processo de desbarbarização? As propostas que Adorno apresenta possuem três
vias complementares: a passagem do inconsciente para o consciente, a
passagem do não ciente para o ciente; a passagem do pseudociente para o
110
ciente. No primeiro caso, passagem do irracional para o racional, a psicologia
profunda presta colaborações inestimáveis, ajudando os sujeitos a entenderem
melhor a dimensão subjetiva da dominação e da liberação, a captarem os
mecanismos da manipulação pela ideologia dominante, a formarem reações
psíquicas novas, mais humanas, em contra posição à situação repressiva.
Nesse sentido é fundamental desenvolver pela educação as possibilidades
de conscientização da frieza em si e apurar os motivos que a ela levaram. A
passagem do não ciente significa passagem da dimensão da ignorância para o
conhecimento através do esclarecimento crítico. A ignorância socrática sempre
mostrou sua disponibilidade e potencialidade para o saber. Ela gera não apenas
admiração ingênua, mas também a curiosidade infantil de quem quer saber o que
não sabe. Adorno tenta demonstrar que a não cultura e o não saber permitem uma
relação mais direta com os objetivos do conhecimento e possibilita uma passagem
mais consequente e lúcida à consciência crítica.
Os valores do senso comum ideologizados pela indústria cultural e
sedimentam suas representações conceituais. A terceira via da educação, a
passagem do pseudociente ao ciente, apesar das dificuldades geradas pelas
mediações da ideologia onipresente e onipotente, também se fazem pelo
esclarecimento crítico sobre a semi-cultura.
O nosso autor afirma que: “A cultura não tem nenhuma outra possibilidade
de sobreviver senão pela autorreflexão crítica sobre a semi-cultura”. Portanto, a
educação para Adorno tem uma importância fundamental na questão da formação
das gerações atuais no sentido de uma sociedade que se guie mais pela razão na
luta pela autonomia, pela emancipação.
É preciso identificar o que tem permitido que a conduta autoritária perdure
numa democracia formal. O autor afirma que o potencial autoritário continua bem
mais forte do que se supõe. Ele diz: “Antes, é de supor que o fascismo e o horror,
embora as antigas autoridades constituídas do Império, já em plena decadência,
houvessem sido derrubadas, os homens ainda não estavam psicologicamente
preparados para a autodeterminação. Eles não se mostraram à altura, da
liberdade que caira do céu. Por isso, as estruturas de autoridade assumiram
111
aquelas dimensões destrutivas e.... desvairadas, que não tinham, ou pelo menos
não revelou anteriormente”.
O autoritarismo está entranhado na personalidade do homem moderno que
vive a sociedade organizada no mundo administrado. Quanto mais progresso e
evolução conquistam o homem, mais sutis vão se tornando os seus mecanismos
de sustentação de uma personalidade autoritária que corrobora para a
manutenção de formas também sutis de, autoritariamente, Auschwitz permanecer
entre os feitos históricos que sustentam a modernidade.
Adorno destaca em as preocupações a supressão da não identidade, ou
seja, a singularidade, assim também faz parte de suas preocupações a
coletivização. As pessoas que se enquadram compulsivamente em coletividade e
omitem-se como seres autodeterminantes transformando-se em massa bruta e,
consequentemente, tratam os demais como massa amorfa. Adorno denomina
essas pessoas possuidoras de caráter manipulativo. Esse caráter manipulativo
evidencia-se pela mania de organização, pela incapacidade de vivenciar
experiências humanas de modo geral, em certo tipo de ausência de emotividade e
num realismo exagerado.
A pessoa possuidora de caráter manipulativo “não concebe nem deseja por
um segundo sequer que o mundo seja diferente daquilo que é, possuído pelo
desejo de fazer coisas... indiferente ao conteúdo de tais ações. Ele faz da
atividade, da chamada efficiency, um credo que soa como propaganda ao homem
ativo. Esse tipo, entretanto... está muito mais disseminado do que se poderia
acreditar. Aquilo que exemplificava apenas alguns monstros nazistas poderão ser
observados hoje em grande número de pessoas”.
Adorno utiliza para exemplificar a ausência de amor nas pessoas, o estado
de fuga e de indiferença perante o mundo. São pessoas que recusam a
possibilidade de amar e, além disso, repelem essa possibilidade, antes que ela
floresça em outras pessoas, que se não fossem profundamente diferentes,
Auschwitz não teria sido possível. Pois as pessoas não o teriam aceitado.
Quando nosso autor fala que par a educação, Auschwitz não mais deveria existir,
o que ele quer dizer é que tudo o que hoje tem de Auschwitz como estrutura não
112
deveria existir. A educação, sem dúvida, pode e deve contribuir para que tudo que
tem de Auschwitz como estrutura, de fato, não mais exista.
O autor continua: “... Receio que através das medidas educativas, por mais
abrangente que seja, será difícil evitar que assassinos de escrivaninha tornem a
aparecer. Mas que existem pessoas que lá embaixo, como servos, portanto,
praticam atos que se destinam a perpetuar a sua própria servidão e se despem de
toda a dignidade humana: ... contra isso se pode fazer alguma coisa, pela
educação, pelo esclarecimento”.
Toda educação deveria ter como fim, centralizar-se no impedimento de uma
reincidência de Auschwitz. E isso só será possível se esta educação, conforme o
nosso autor, sem medo do choque com quaisquer poderes, pudesse ocupar-se
dessa tarefa. Seria preciso um esclarecimento sobre o jogo dos poderes na
sociedade conforme ele mesmo diz: “contra todo tipo de servidão pode-se fazer
algo pela educação, pelo esclarecimento”.
CONCLUSÃO
É tarefa de o educador pensar a reconstrução da educação como um todo.
Pensar mesmo que utopicamente, um projeto de educação que ajude a repensar a
sociedade.
Educação na concepção desta filosofia é a arte da rememoração aliada ao
exercício reflexivo de um pensamento esclarecido que conhece e sabe-se
conhecedor de sua potencialidade. Compreende sua singularidade na pluralidade
e entende sua vida social porque, não somente concebe, mas compreende o
tempo de sua trajetória no mundo.
O objetivo desse trabalho foi fazer uma leitura do escrito de Adorno sobre
“Educação após Auschwitz”. A educação após Auschwitz – campo de
concentração nazista – deve ser uma educação contra Auschwitz. A educação
tem de assumir um compromisso de contribuir para o resgate do homem dos
escombros e ruínas de que tem sido autor, sem, contudo apaga-los da memória
humanas. É preciso rememorar Auschwitz para superá-lo.
A educação deve conhecer e trabalhar contra a inconsciência dos
mecanismos que tornam os homens capazes de atacarem, matarem, subjugarem
113
e se sacrificarem. O homem enquanto sábio se torna cidadão do mundo, supera a
dimensão do privado, do doméstico, das normas e de todo tipo de imposição. A
educação pelo esclarecimento pode faze alguma coisa no sentido de modificar a
atitude dos que praticam a barbárie. O nosso autor tem a coragem de propor o
resgate do amor, ao mesmo tempo em que nega intencionalmente essa
possibilidade ao continuar suas reflexões tratando da conscientização da frieza em
si e de desvendar os motivos que a ela levaram. É necessário trabalhar o medo
que impede o esclarecimento e o crescimento dos indivíduos.
GRUPO E PRECONCEITOS EM ADORNO E HORKHEIMER
Não se pode falar de grupo sem falar de indivíduo, individualismo,
sociedade e preconceito. Adorno e Horkheimer pertencentes à escola de
Frankfurt. O autor faz uma crítica à sociologia de Emile Durkheim que é positivista
e funcionalista. Mas também critica a sociologia de Max Weber e do próprio Karl
Marx. Tanto a linguística como a Sociologia ainda não terminou de conceber o
significado adequado de grupo. Ao falar de grupo entra em conflito a questão do
preconceito que se formam dentro dos grupos ou que o preconceito está inserido
nos próprios indivíduos.
Conceitos de grupos em Adorno e Horkheimer.
Há vários tipos de grupos sociais. Mas os autores fazem uma conceituação
diferente baseada na dialética da escola de Frankfurt. O conceito de grupo nestes
autores parte da ideia de que o homem primitivo organizou os grupos e depois
criou o individualismo. O grupo se reúne em vários lugares diferentes, assim se
torna o espaço vazio e conforme o contexto, a ocasião em que se reúne – este
será o local de um grande sentido e significado.
Grupo é uma comunidade de interesses, aglomeração casual de indivíduos,
saberes é a localização de cada grupo é um círculo de pessoas – duradouro ou
não. O grupo é formado por vários indivíduos vinculados entre si de tal forma que
o indivíduo sente-se integrante de todo. Há que diferenciar as classificações de
massas, grupos, entidades.
114
As massas são compostas de muitos grupos, com vários processos sociais
em movimento que tem relações próprias do indivíduo. Massa é coletividade de
indivíduo. O coletivo é pensado e sentido como portador de valores duradouros,
não vinculados ao transcurso do prazo da vida do indivíduo. Dividiram-se os
grupos de várias formas por causa de suas formações sociais.
Os grupos não são só transitórios, efêmeros ou duradouros. Os grupos
podem ser abertos e exclusivos, organizados ou não, voluntários ou compulsórios,
psicológicos e institucionais. Os grupos institucionais são – igrejas, família, e
religião. Os grupos também são micro grupos compostas de pessoas que se ligam
temporariamente, de forma direta ou pessoal, sem influência de terceiros.
Dentro dos micros grupos podem ser compostos de família, diversão,
vizinhanças. Os grupos podem ser também secundários e primários. Outra
conceituação é que os grupos são unidades da vida societária que tem uma
dinâmica social de composição e decomposição do grupo social. Assim falamos
da dinâmica do grupo a integração social é grande tanto do grupo como do
indivíduo. Kurt Lewin fala que esta dinâmica está associada à Gestalt. A tendência
de pertença de micros grupos e se tornar anônimo em grupos maiores.
Conceitos de preconceito.
Ao falar de preconceito pensamos em racismo, grupo, sociedade, cultura e
indivíduo. Preconceitos étnicos e nacionalistas são duas variantes que tem origens
em condições sociais e psicológicas da moderna loucura totalitárias. Há uma
ligação entre a ideologia política e as formas psíquicas dos que se convertem em
seus adeptos. As ideologias autoritárias estão ligadas à propaganda do nacional
socialismo. O caráter autoritário e o seu preconceito e o seu oposto é o homem
livre.
O preconceito está ligado às tendências e modos de comportamento dos
tipos psicológicos que compõem a matéria prima para a formação do preconceito.
O preconceito refere-se a um sadismo encoberto, a um tipo de personalidade
autoritária, a adoração da força, o reconhecer cegamente tudo que é eficaz, o
pensar estereotipado. O caráter totalitário é assim a personalidade autoritária e a
partir disto se tem o preconceito.
115
O preconceito está ainda ligado às atitudes dos sujeitos sobre as minorias
étnicas, religiosas, políticas, econômicas, opiniões e opções sexuais. Os
preconceitos de forma racial, étnico, religioso podem ter reações na política, na
economia, na propaganda do ódio.
O estudo do caráter totalitário representa uma tentativa de contribuir para a
superação dessa dificuldade. Mostramos estudos que os próprios indivíduos
dividem a humanidade em salvadores e os condenados.
A formação de juízos estereotipados não é um privilégio nos caracteres
livres de preconceitos, entre os quais também se configurou nitidamente a
existência de um tipo rígido.
Concluindo, fazemos parte de grupos sociais. O homem é homo
sociologicus. Ele vive em grupos desde os tempos primitivos. Entram e saem de
grupos dependendo de situações históricas. Estamos numa época de barbárie.
Onde os grupos sociais se digladiam entre si. Torcedores de futebol, renascimento
de grupos de intolerantes marcam os grupos sociais de nossa época.
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CAPITULO XI PEDAGOGIA DA CONSCIENTIZAÇÃO DE PAULO FREIRE13
13 Resenha não publicada, 2006.
117
FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.
Este livro de Paulo Freire trata de vários assuntos sobre a educação e que esta
educação deve partir de uma extensão e de uma comunicação: para este autor o
ensino é uma estrutura vertical. A educação constitui um quadro das relações de
transformações homem – mundo, criando o mundo da cultura que se prolonga no
mundo da história do próprio homem.
No ensino existe uma estrutura horizontal – intersubjetividade; e uma
intercomunicação; um mundo da comunicação. A gnose – conhecimento,
sabedoria; gnosiologia – teoria do conhecimento; cognição – aquisição de
conhecimento são conceitos básicos de uma verdadeira educação.
Sujeito cognoscente e sujeitos cognoscentes são objetos e comunicação.
Objetos da comunicação. Estes conceitos nós encontramos bem evidentes em
sua obra ora analisada. Onde mostra claramente a intenção do autor sobre o que
significa ensino.
O ato cognoscitivo é conforme Eduard Nicol educador de idioma espanhol
aspectos do conhecimento. Para este autor são três as relações constitutivas do
conhecimento - a gnosiologia; a lógica e a história e conforme Paulo Freire a
existe outro meio de conhecer que é o dialógico.
Não há um penso, mas pensamos. Este estabelece o diálogo, fruto da
relação dialógica. E que o ato de comunicar é comunicar-se em torno do
significado significante.
Não existem sujeitos passivos, pois estes sujeitos são co-intencionados em
relação ao objeto de seu pensar que se comunicam em seu conteúdo. E que o
ato de comunicar – comunicando-se, assim como este é comunicação e diálogo,
assim sendo, atos de conhecimentos e aprendizado.
O ato comunicativo eficiente – acordo entre sujeitos reciprocamente.
Diminuindo as distâncias – comunicantes – expressões verbais que sejam
percebidas por ambos. Diálogo problematizador.
Os Sujeitos pensantes – pensar - a propósito do pensado – e não como
extensão de quem pensa. Enquanto a significação não for compreensível, não
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haverá comunicação. Equivocada está a concepção segundo a qual o que fazer –
educativo é um ato de transmissão ou de extensão, sistemática de um saber.
A educação, em lugar de ser transferência de saber é a situação
gnosiológica – sabedoria – comunicação – dialogo. A tarefa do educador – não é
ser sujeito pensante, cujo objeto pensado possa ser transmitido a outro sujeito
pensante, que será arquivo de comunicados.
A educação, então, é comunicação – dialogo – promoção da sabedoria e
não é transferência de saber, mas comunicação – promoção de sabedoria porque
é o encontro de sujeitos, e de interlocutores que buscam a significação dos
significados.
A classificação dos Atos Comunicativos conforme o teórico Urban – são
dois planos: Objeto da comunicação pertence ao domínio do emocional; ato
comunica conhecimento ou estado mental.
A comunicação nesse nível opera por contagio; suscito certo estado
emocional no outro; não há aqui a admiração do objeto por parte dos sujeitos. A
admiração – comunicação se verifica, entre sujeitos, sobre algo que os mediatiza
e que se oferece a eles como um fato cognoscível. Fato concreto – concepção
sujeito – transferência ou transmissão.
Esta é a comunicação que se faz criticamente – coparticipação no ato de
compreender a significação do significado - admiração sobre o mesmo objeto.
Relação: pensamento – linguagem – contexto ou realidade.
Ou o signo tem o mesmo significado para os sujeitos que se comunicam ou
a comunicação se torna inviável entre ambos por falta da compreensão que é
indispensável.
Adam Schaff classifica dois aspectos distintos de comunicação: a – a
comunicação centrada nos significados; b – e aquela comunicação cujo conteúdo
compõe-se de convicções. Adesão ou não de significados ou de convicções.
Os sujeitos são capazes de reconstituírem, em si mesmos, o processo
dinâmico em que se constitui a convicção expressa por ambos através dos signos
linguísticos. Na comunicação deve ter entendimento e não concordância, desta
forma ela tem de ser fruto de uma situação - gnosiológica; dialógica; comunicativa.
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O processo de comunicação humana não pode estar isento dos
conhecimentos socioculturais e não pode ser simplificado ou concluído na
incapacidade dialógica de um dos sujeitos – neste caso o aluno. Trabalho do
educador – perceber e trabalhar as manifestações de: caráter natural e de caráter
sociocultural onde se dá o processo comunicativo.
Comunicação Humanista – caráter concreto, científico e não abstrato – não
há homem ideal, assim como não há aluno ideal; fora do mundo, fabricado pela
imaginação, num modelo atemporal cujas ideias e mito alienam o homem
concreto. Humanismo que impõe ao trabalho de comunicação ser ciência e não
dogma.
O Humanismo que rejeita a manipulação da libertação. Humanismo
transformador de estruturas coisificadas e critico por que os homens podem fazer
e refazer as coisas, transformando o mundo. Humanismo que favoreça superar a
situação de “estão sendo um quase não ser” para o homem “passar a ser um estar
sendo em busca de ser mais”. Humanismo científico e amoroso, visando a
comunicação. Humanismo que questione: “extensão ou comunicação?” e
responda “negativamente à extensão e afirmativamente à comunicação”.
CAPÍTULO XII “CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ENSINAR” - RUBEM
ALVES14
14 Resenha publicada na Revista “Sexo, Saúde e Educação”, 1999.
120
Rubem Alves mostra em quatro capítulos o seu livro de forma
paradigmática o ensino como sendo uma dialética de – amar, acordar, libertar e
agir. Esta dialética está implícita também a obre de Paulo Freire, quando aponta a
educação como forma de conscientização e de libertação do oprimido da
dominação e da domesticação do amo.
À primeira vista, podemos ter a impressão de que os títulos dos capítulos
nada têm a ver com o assunto tratado, pela forma poética descrita pelo autor.
Entretanto, no decorrer da leitura aprofundada, deparamos cm a realidade que se
nos apresenta da atualidade estas metáforas empregadas pelo autor. Os títulos
são, por assim dizer, poeticamente determinadas verdades.
Na introdução, Rubem Alves ala que as conversas ou diálogos não devem
ser prefaciados, mas devem partir d ato de que a forma e conteúdo não são uma
boa conversa, pois, esta delimitação é forma explicita àquilo que se vai conversar
ou dialogar. Mesmo ao nosso dialogo cotidiano, às vezes, são colocadas barreiras
e estas são delimitações ou prefácios, prejudicando com delimitações e que o
dialogo se encarrega de mostrar este imite. Notamos que a dialogicidade as torna
mais evidente.
Alguns cientistas acham que a ciência deva ser limitada ou prefaciada com
frases e citações bibliográficas, desta forma limitam a própria ciência e o seu
campo de atuação. Por isso, Rubem Alves cita Otavio Paz, onde este escritor
conta um paradigma do sábio e do humorista – o sábio é aquele que faz pensar
com seus chistes e o humorista é aquele que faz rir com seus pensamentos. Para
Nietzsche, outro autor citado por suas críticas aos falsos sábios que sempre são
treinados a buscar o conhecimento, como fazem os especialistas em rachar fios
de cabelo ao meio ou como descobrir o sexo dos anjos, ou quantos anjos cabem
na cabeça de alfinete.
Muitos diálogos são estéreis como a própria ciência. Este cientista está
mais preocupado em determinar qual é o falso ou qual é verdadeiro, qual o
método e a distancia do pesquisador para com a sua ciência. Querer explicar o
que não se explica como diz o filósofo polonês Leszek Kolakowski que denomina
o filósofo de bufão. Bufão é aquele que em sua filosofia e em qualquer época
121
denuncia como duvidoso aquilo que os cientistas têm por certo e outros tornaram
a ciência inabalável.
Exatamente como na estória de Christian Andersen sobre a famosa
vestimenta do rei para quem o costureiro fez um vestido invisível e todos
acreditavam piamente ser uma veste real. Mas esqueceram de uma criança que
brincava na hora do desfile das vestes reais e notou e gritou “o rei está nu”.
Em “Eucaliptos e Jequitibás” o autor fala que as arvores seculares são
derrubadas para serem substituídas por outras que crescem rapidamente e m
grande lucro imediato par fazer carvão, cerca, papel, lenha. Enquanto as arvores
seculares, serviram reis e pobres com camas, residências, ataúdes, estas
demoram dezenas de anos, as outras pelo contrario, crescem depressa – uma
representa aquilo que foi ensinado por longo tempo e guardado até hoje e a outra
representa o ensino no país que apenas um X denota o conhecimento no lugar
das respostas. A ânsia e fome de lucro levam ao problema do desmatamento, da
ecologia, do ecossistema – pois somente pensam no presente e não no futuro. No
ensino, a pressa gera a estupidez e burrice dos tecnocratas, na qual se tornam
mais fácil a domesticação e dominação daqueles que não aprenderam nada,
provocando assim a alienação.
O autor mostra que as grandes ideias, a educação verdadeira em da
tranquilidade da sombra de arvores seculares, enquanto que a tecnologia e a
ganancia provoca a destruição e a exploração. Depois Rubem Alves, tece
comentário sobre a situação ideológica da politica e da educação, e da economia.
Fala também das profissões.
Não muito longe no tempo, existiram várias profissões que não eram
profissões (Beruf) e sim vocações (Amt) na linguagem de Max Weber. Hoje
existem profissionais, burocratas e tecnologias. A diferença entre estas duas está
em que a profissão visa somente o salario, a troca de mercadorias. É a troca de
trabalho, força por dinheiro. Enquanto que a vocação é fazer aquilo de que se
gosta e fazê-lo com amor e dedicação. Por isso, muitas vocações acabaram com
a chegada da profissão e burocracia; as vocações extintas eram o boticário que se
findou com as indústrias farmacêuticas; o bacharel com o professor; o sacerdote
122
com a politica; o mestre-escola com o especialista em educação; o realejo com os
conjuntos musicais; o caixeiro-viajante com os supermercados; o tropeiro com os
latifundiários e fazendeiros. Rubem Alves utiliza estes paradigmas ara mostrar a
diferença entre o professor e o educador, o segundo é aquele que tem a vocação
e o primeiro é o que faz a troca, o salario do lucro. Um visa a si mesmo e o outro
visa ao grupo social, o individuo.
Nesta situação, o que aconteceu foi uma inversão de valores - artesão deu
lugar para o operário, o criador para o autônomo. O milagre técnico acaba com as
coisas duradouras, substituindo-as por descartáveis. Na educação, ocorre o
mesmo, as coisas furáveis e aprendidas por longos anos e se nunca esquecê-las
passam por valores descartáveis como no ensino dos Xs que substituem a
dissertação. O professor é aquele que se relaciona com a técnica, o credito
cultural; isto passa a ser uma função social e este trabalha para uma empresa
educacional como se fosse uma indústria a fabricar técnicas e reproduzir
especialistas, tem a função de medir, controlar e racionalizar o produto semi-
pronto, acabado.
O educador é uma pessoa que trabalha na construção do individuo, tem
uma vocação, tem visão de profeta que prevê o futuro, tem a esperança do longe
e descortina o horizonte. No capitalismo, o educador se torna ausente para dar
lugar ao que produz o imediato. O professor trabalha o aparelho ideológico do
estado; ele é um burocrata, sempre em rotina. O educador é um utópico.
Professor domestica e castra; o educador forma, ele fala, reprende a falar; o outro
vomita e dá o assunto empacotado, tudo pronto. O educador utiliza a palavra que
tem o poder de criar e recriar; o outro utiliza a produção de asa, traz embrulhos
para serem abertos.
Por isso o jequitibá é uma obra do amor, o eucalipto do desamor; o
educador é o fundador de mundos, um mediador de esperanças, um pastor e
condutor d e projetos. A sua é, portanto, acordar a toupeira dorminhoca aturdida
pela alienação e despertá-la. Isto é um ato de coragem e de amor. Ele participa
integralmente na vida do outro, enquanto que a função do profissional é fazer
dormir, para poder melhor domesticar e dominar.
123
Em “Dizer honesto-acordar”, o autor conta uma historia das rãs que
viviam no fundo de um poço. Elas pensavam em ser as únicas rãs no mundo,
quando se perceberam que voava um sabia intruso, que foi ao fundo do poço.
Elas estranharam o fato de um ser penado aparecer por lá, estando livre no reino
das rãs presas. Pegaram-no e levaram-no à presença da rainha rã. Esta rã
conversa com ele. Ele lhes fala de outro mundo existente lá fora, cheio de flores e
outros animais. As rãs pensavam ser as únicas como seres no mundo,
prenderam-no como subversivo e conspirador, porque estava subvertendo a
ordem das rãs presas. Assim ocorre na politica, na economia, na sociedade e na
educação. Existem muitas rãs e alguns sabiás - umas são as mantenedoras da
ordem e do status quo; os outros são os subversivos que tentam mudar as coisas.
Quando o autor fala da ideologia na educação, mostra que esta educação
tem a função de domesticar o corpo; esta é um produto acabado, com Xs pra
responder perguntas e preencher quadrinhos em vestibulares, ocupando o lugar
da criatividade. Rubem Alves ostra quanto se faz para alienar, subjugar os
educandos; porem, tudo aquilo que é novo deve ser condenado como subversivo.
“Não se pode aposentar o corpo depois de se fazer amor por várias décadas”.
O corpo depois e fazer amor por mais de várias décadas não pode ser
desprezado. O corpo tem uma função política e pedagógica, tem uma vida social e
uma prática de ensino. O corpo é um discurso, uma linguagem e esta linguagem é
uma forma de educação. A educação verdadeira ou pedagogia verdadeira é
aquela linguagem que devemos falar daquele que quer aprender, é falar a
linguagem do outro – o Tu fala ao Eu, não é a verborragia característica de
políticos ou de muitos professores que querem mostrar que sabem muito e, na
realidade, não sabem nada. O acordar está relacionado com o corpo, para quem
o amor é como o despertar para conhecer. A ligação destes dois capítulos e faz de
maneira a encaixar-se perfeitamente quando um é o amar e outro é o despertar. O
amar e despertar relacionam-se cm o fazer amor e aprender.
Em “Palavras e redes - libertar”, o autor conta a estória de uma vespa
que se reproduz através do seu instinto. Após travar uma luta de vida e morte cm
uma aranha a captura-la, injeta-lhe um veneno que a deixa paralisada, porém, não
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morta, deposita-a em sua casa construída num buraco no chão e sai para o voo
nupcial. O macho fecunda-a e logo, após o amor, a fêmea mata o macho e o
devora. A fêmea volta para seu ninho, deposita seus ovos na aranha adormecida,
fecha a casa e morre. Os filhotes se desenvolvem e após todas as etapas de
metamorfoses tornam-se vespas adultas e vão praticar exatamente o que sempre
fizeram os seus antepassados, sem nunca ter com quem aprender.
Rubem Alves mostra que esta é uma educação perfeita, se mestre e sem
consciência, mas é uma mera repetição do ensino do corpo, cada um reproduz a
outra geração. A reprodução da vida é possível. Na educação de hoje, em nosso
país, é mera repetição e reprodução e outras culturas e sociedades. Reproduz-se
a ideologia dominante do primeiro mundo.
A verdadeira educação é o processo pelo qual aprendemos uma forma de
humanidade e humanização. Esta é mediada pela linguagem e pela palavra que
criam e recriam e não repetem ou reproduzem. Aprender o mundo é apender a
linguagem e vice-versa. Outras vezes, as palavras são redes e ideologias que
servem par complicar e não explicar; que não criam, mas reproduzem; não
recriam, mas repetem. A ideologia é um acordo silencioso, uma rede tecida para
apanhar, na alienação, os indefesos e subjuga-los.
A educação se torna o aparelho ideológico do estado (na linguagem
althusseriana) que sempre reproduz e desemboca na repetição. Para Paulo Freire
toda esta rede técnica é usada pelo opressor, faz do educando um autômato. Para
Jean Paul Sartre, esta subjugação provoca o medo d se pronunciar, de falar. O
corpo é um produto da educação, é repressivo; o corpo é reprimido; se o corpo é
repetição, a educação foi também repetição. Se a educação for libertadora, o
corpo será livre.
Para haver libertação deve-se libertar das redes e das palavras; libertando-
se da reprodução e da repetição, o corpo estará livre. A sequência e evidente ere
o amar, acordar e libertar. Só se liberta quem é amado e sempre estará acordado.
Em “Remadores e professores – agir”, Rubem Alves analisa a educação
e faz uma critica sobre a precisão e método característico dos cientistas que estão
preocupados com os critérios de verdade. Os cientistas que estão preocupados
125
com os critérios da verdade. Os cientistas acham que um trabalho somente é
cientifico, quando tem o rigor e a distancia da pesquisa ao pesquisador. Para este
cientista, o método serve para uma construção teórica; enquanto que a melhor
construção serve para derrotar a outra construção.
O rigor metódico tem que ser criticado. O rigor é salutar, somente quando
auxilia o pesquisador com sua tarefa. “A minha linguagem denota a minha
delimitação”, dizia Ludwig Wittgenstein de outra maneira. Tudo o que produz é
uma extensão daquilo que entendo. Toda pesquisa e todo pesquisador
entrelaçam-se numa reciprocidade, fazendo parte um do outro. A pesquisa é a
extensão do corpo do pesquisador. O rigor é um mito do cientista.
Concluindo, na educação isto ocorre semelhantemente, quanto mais o
pesquisador se aproxima do objeto da pesquisa, ou quanto mais o educador se
aproxima do educando, haverá maior apreensão e socialização de ambos.
Quanto mais o educador penetrar no mundo do educando oprimido, tanto
mais se assemelha ao educador que é vocacionado. Muitas vezes, a função
ideológica da educação, da política, do Estado e também do opressor são as
mesmas – reprimir, controlar o comportamento na educação do aprendizado.
Nesta função ideológica da educação, busca-se levar o individuo a aceitar
voluntariamente as regras do jogo social, instruindo-o no conhecimento que o
tornará um cidadão útil e utilizável como manipulação do poder. No caso de a
ideologia manipulada falhar, aparece o aparelho ideológico do estado com a
coerção voluntaria não conseguir o seu objetivo, a coerção dá força e fará
alcançar seu objetivo. Ao contrario disto, na educação real e consciente, que é a
base de uma sociedade democrática, a educação tanto pode produzir e reproduzir
como também transformar a sociedade. O importante é transformar (Karl Marx).
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