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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR
A INFLUÊNCIA DA FAMILIA E DA ESCOLA NA DISCIPLINA DO
EDUCANDO
Por: Maria Aparecida Jatobá Salame Maximo Castro
Orientador:
Professor: Carlos Alberto Cereja de Barros
Rio de Janeiro
2004
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR
A INFLUENCIA DA FAMILIA E DA ESCOLA NA DISCIPLINA DO
EDUCANDO
Apresentação Monográfica à Universidade Cândido
Mendes como condição prévia para conclusão do curso
de Pós-Graduação “Latu Sensu”em Docência do Ensino
Superior.
Por: Maria Aparecida Jatobá Salame Maximo Castro
3
AGRADECIMENTOS
A Deus que iluminou minha
caminhada para que eu pudesse
concluir mais uma etapa em
minha jornada acadêmica.
4
DEDICATÓRIA
Dedico a minha família,
principalmente a meu marido
Geraldo e a minha filha Isis
que sempre me incentivaram
mesmo sabendo que iriam passar
sem minha companhia durante os
períodos em que me dedicava aos
estudos.
5
RESUMO
Toda proposta educacional visa o crescimento do
indivíduo, a formação de um ser social e uma sociedade
igualitária.
Durante muito tempo as respostas educacionais visavam o
ensinar a “ fazer” e não o ensinar a “ pensar” . Na ótica
tradicional o educar seria formar todos os tipos de
indivíduos que a sociedade necessitasse.
Ante as grandes mudanças ocorridas na estrutura
social – inclusive familiar – não podemos esperar que a
educação faça milagres visto que a mesma se insere neste meio
e conseqüentemente sofre com a crise.
Diante dos fatos sociais, a escola necessitou deslocar
conteúdos de ensino para a formação de atitudes. Se o aluno
sem disciplina ou desmotivado, é necessário estudá-lo para
encontrar suas necessidades.
Disciplinar por esta ótica, não é colocar “ arreios” ,
mas orientar numa conduta que o auxiliará em sua vida futura.
Por conta de regimes autoritários, fazemos parte de um
povo não acostumado a opinar. Ao deparar-se com esta
oportunidade, fica difícil traçar metas, objetivos... Sem
dúvidas ocorreram erros, como o excesso de liberdade sem
6
responsabilidades levando ao desrespeito, confusão e a
indisciplina.
Tanto o autoritarismo como o “ pseudocrativismo”
são negativos. O autoritarismo nega a participação e o “
pseudocrativismo” com o intuito de consultar a todos, mostra-
se inseguro.
Ao transportarmos todas estas considerações para o
contexto escolar, vemos uma grande maioria no autoritarismo
mesclando-se de “ pseudocrativismo” . Se o aluno é o sujeito
da ação, porque não deixá-lo participar das decisões?
É necessário ao educador, seja pai, mãe, parente ou
professor, ajudar ao educando a estrutura seu caráter em
conformidade com o seu temperamento.
Se da parte dos adultos ocorre medo e comodismo, dos
jovens ocorrem diversos motivos que explicam a rebeldia.
Não há soluções prontas, mas, sem dúvida existem
atitudes que podem melhorar e até mesmo sanar tais problemas
disciplinares. Fazer com que o aluno sinta-se estimulado, que
sinta-se livre e acima de tudo sinta-se amado.
7
METODOLOGIA
A escolha do tema Disciplina x Indisciplina: Uma
questão apenas da escola? Consiste na reflexão dos papéis da
escola, além de refletir constantemente sobre as regras
presentes nas instituições de ensino (São coerentes? São
justas? São necessárias?), buscando uma coerência entre a
conduta escolar, a família e a escola. Por outro lado,
pretendemos com a pesquisa rever o conceito de disciplina
escolar e dos comportamentos indisciplinados verificando se
estes estão relacionados diretamente com a escola ou com a
família. Limite e disciplina são questões não apenas da
escola, mas sim, da família e com habilidades básicas e
essenciais para quem deseja criar cidadãos, seres capazes de
praticar o humanismo com naturalidade.
Nosso estudo situa-se na linha de Pesquisa Gestão
Pedagógica e cotidiano da escola e consistirá em pesquisa
bibliografia onde pretendemos ampliar nossa compreensão sobre
o tema proposto.
A metodologia usada constitui-se da pesquisa
bibliográfica, constando das seguintes etapas:
a) relação das fontes bibliográficas e secundárias;
b) plano inicial do estudo;
c) fichamento e anotações;
d) redação provisória;
8
e)releitura das anotações;
f)redação definitiva.
Quatro categorias principais serão levantadas
nesta pesquisa: disciplina, limite, família e escola.
É a família como primeiro grupo social do
indivíduo, competindo fornece-lhe instrumentos para que possa
desenvolver seus hábitos, atitudes e valores. Cada família é
uma célula, com sua própria identidade.
A questão é bem complexa, porque muitas vezes
fica difícil estabelecer a linha divisória entre o que é
público e o que é privado. A escola é um espaço público, a
família é um espaço privado. A escola não deve invadir o
espaço da família, mas o contrário também não pode acontecer.
A família é o lugar da unidade, da continuidade; a escola, o
lugar da diversidade, da diferença.
Quando falarmos da (in)disciplina, limites dentro
do contexto escolar não pode ser entendido como um vetor e
sim como um fator educativo.
Durante o desenvolvimento, o limite é saudável e
imprescindível, pois a partir de certas limitações que a
criança aprenderá a conviver com um mundo legislado. Limites
estabelecem parâmetros de conduta para a criança. As crianças
9
nem sempre podem controlar seus próprios impulsos e
necessitam do adulto para ajudá-las a lidar com eles.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
CAPÍTULO I 16
O PROBLEMA 17
CAPÍTULO II 22
O SENTIDO POLÍTICO DA EDUCAÇÃO 23
O QUE SE ESPERA DA EDUCAÇÃO ATUAL 27
CAPÍTULO III 28
ENSINO,ESCOLA E SOCIEDADE 29
DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO 31
ABORDAGEM PRISMÁTICA DO COMPORTAMENTO 35
CAPÍTULO IV 38
DISCIPLINA E ANTIDISCIPLINA 39
AUTORIDADE X AUTORITARISMO 41
PODER E COMPETÊNCIA 43
ABORDAGEM DIDÁTICA DA AUTORIDADE 45
CAPÍTULO V 48
DISCIPLINAR OU ORIENTAR CONDUTA? 49
CONSIDERAÇÕES SOBRE CONDUTA E CARÁTER 51
SER E ESTAR NO MUNDO – DIFICULDADES DO EDUCANDO NA
ATUALIDADE 55
CONCLUSÃO 57
BIBLIOGRAFIA 60
ÍNDICE 61
11
INTRODUÇÃO
A sociedade de hoje exige uma instituição de
ensino que com ela se sintonize para que ambas possam se
beneficiar desta sintonia e crescer juntas.
A instituição de ensino é o ambiente privilegiado
para a constituição de conhecimentos, conceitos e valores.
Sem desconsiderar as diferentes tendências que vêm orientando
a escola ao longo de sua história, sua função estará sempre
identificada ao ato de ensinar, formar. Ensinar o que? Formar
o que?
Articular escola, vida e família, numa relação de
reciprocidade, implica em construir uma ligação estreita
entre o cotidiano vivido e o saber escolarizado, levando em
consideração que a escola está situada num espaço sócio-
cultural onde convivem alunos, família e professores. A
família, entendida como o primeiro contexto de socialização,
exerce, indubitamente, grande influência sobre a criança e o
adolescente. A atitude dos pais e suas práticas de criação e
educação são aspectos que interferem no desenvolvimento
individual e, conseqüentemente, influenciam o comportamento
da criança na escola.
Para Zagury (2000), é fundamental acreditar que
dar limites aos filhos é iniciar o processo de compreensão e
12
apreensão do outro. Ninguém pode respeitar seus semelhantes,
senão aprender quais são os seus limites. Porque, afinal, nem
sempre o que se deseja é útil e correto socialmente.
A vida em sociedade pressupõe a criação e o
cumprimento de regras e preceitos capazes de nortear as
relações, possibilitar diálogos, a cooperação e a troca entre
membros deste grupo social, sobretudo numa sociedade
complexa. A escola, por sua vez, também precisa de regras e
normas orientadoras do seu funcionamento e da convivência
entre os diferentes elementos que nela atuam. Nesse sentido,
as normas deixam de ser castradoras e passam a ser
compreendidas como condição necessária ao convívio social.
A questão da indisciplina / disciplina nas salas
de aula é um dos temas que mais mobilizam professores,
escolas (públicas e particulares) e famílias inseridas em
contextos distintos. Entretanto, apesar de ser objeto de
crescente preocupação no meio educacional, estes temas são de
um modo geral superficialmente debatidos. Isto se agrava na
medida em que os estudos e pesquisas, sobre a indisciplina
(natureza, características, identificação de possíveis
causas, o papel da escola e da família na produção da
indisciplina, a questão da indisciplina na sociedade
contemporânea etc) além de parciais, ainda são relativamente
escassos.
É possível observar que o lugar ocupado por cada
um destes elementos no sistema educacional parece alterar as
razões da incidência da indisciplina na escola. As complexas
relações entre o indivíduo, a escola, a família e a sociedade
13
não parecem suficientemente aprofundadas. As justificativas,
além de pouco críticas e abrangentes, se mostram impregnadas
de meias verdades, de explicações do senso comum.
Outro aspecto é o fato de que na busca dos
determinantes da indisciplina, a influência de fatores extra-
escolares no comportamento dos alunos, na visão de muitos
educadores, parece ocupar o primeiro plano. O comportamento,
os limites, a disciplina ou, a indisciplina não têm nenhuma
relação com o que é vivido na escola, já que as
características individuais (rebeldia, passividade,
intransigência, agressividade) são vistas como resultado de
fatores inerentes à cada aluno ou das pressões recebidas no
universo social (família, televisão etc). Deste modo, a
solução para o problema da indisciplina não estaria ao
alcance dos educadores da escola.
As concepções a cerca do desenvolvimento humano
predominantes no meio educacional trazem sérias conseqüências
a prática pedagógica, pois reforçam a idéia de um
determinismo prévio e por razões inatas ou adquiridas, que
acarreta uma espécie de perplexidade e imobilismo do sistema
educacional.
A escola se vê assim, desvalorizada e isenta de
cumprir o seu papel de possibilitadora e desafiadora no
processo de constituição do sujeito, do ponto de vista de seu
comportamento geral, o que justifica a importância do tema de
nosso estudo.
14
Muitas vezes, os pais apresentam muita
dificuldade em entender o papel educativo da família.
É bastante comum delegarem à escola,
especialmente ao professor, uma série de responsabilidades e
anseios quanto à educação de seus filhos, não somente
relacionados à questão da (in)disciplina: Tudo parece
depender única e exclusivamente da autoridade do professor.
Por outro olhar, reconhecemos que a escola não pode se eximir
de sua tarefa educativa no que se refere à disciplina. Se uma
das suas metas é que os alunos aprendam as posturas
consideradas corretas na nossa cultura (como por exemplo,
apresentar atitudes de solidariedade, cooperação e respeito
aos seus colegas e professores), a prática escolar cotidiana
deve dar condições para que as crianças não somente conheçam
estas expectativas, mas também construam e interiorizem estes
valores, e, principalmente, desenvolvam mecanismo de controle
de sua conduta.
Sendo assim, justifica-se como fundamental, o estudo da
relação da disciplina e limite dentro do contexto escolar. E
suas possibilidades e implicações com o papel do professor,
com a família, sinalizando a importância do limite dentro da
socialização do indivíduo num todo. Tem como objetivo geral
identificar a relação entre disciplina, limite, família,
aluno e escola, refletindo a influência das relações
familiares sobre o comportamento e a conduta do aluno na
15
escola: Sua pergunta chave é: A Disciplina e o Limite
são questões apenas da escola ?
Muitos tópicos envolvem o tema em foco e que poderiam
ser tratados com maior ou menor profundidade. Desta forma
decidimos limitar o trabalho na seguinte forma: o primeiro
capítulo trata do problema, onde buscamos refletir sobre a
influência da escola e da família na disciplina escolar; o
segundo capítulo abordou o sentido político da educação e o
que esperamos da educação atual; o terceiro capítulo, o
ensino, a escola e a sociedade , além da democratização do
ensino e a abordagem prismática do comportamento, foram os
temas que destacamos; o quarto capítulo, destacou os temas
,disciplina e antidisciplina, autoridade X autoritarismo,
poder e competência e a abordagem didática da autoridade; por
fim, o quinto e último capítulo,tratou da diferença entre
disciplinar e orientar a conduta e suas considerações e para
finalizar , ainda no quinto capítulo e último
capítulo,destacamos a questão de ser e estar no mundo
apontando as dificuldades do educando na atualidade.
16
CAPÍTULO I
O PROBLEMA
“Combinar várias formas de trabalhar é
a essência da arte de ensinar.”
Paulo Freire
17
1.0- O PROBLEMA
1.1 Apresentação Do Problema
O desenvolvimento científico e tecnológico provocaram
grandes mudanças na estrutura social. Entre as ciências da
natureza e a dos homens, alteraram as formas de convívio.
Ambas, em conjunto, ou isoladas, trouxeram abalos profundos
nas realizações de trabalho, na vida familiar, no âmbito da
religião, instituições políticas, relações internacionais –
enfim – É o momento da crise.
Nesse contexto sócio-econômico não se pode exigir que a
escola seja fonte de milagre ou que milagre seja a própria
Educação, porquanto ela também sofre essa crise.
Hoje, o poder da vida, ou de destruição colocado nas
mãos dos homens tornou-se tão irascível, tão temeroso que
tanto poder-se-á criar um mundo melhor, como também destruí-
lo por completo.
18
Assim sendo a escola tomará um novo rumo, se deslocará
do conteúdo de ensino para a formação de atitudes, o que
aliás já tem feito a algum tempo.
A escola atual está se dedicando a formar pessoas que
apreciem os estudos ( porque sabem estudar ) ou que possuam
habilidades capazes de transferir de uma a outra área.
Todas as teses que apresentaremos nesse trabalho não são
“ fechadas” e estarão sem um grande envolvimento, o que não
nos impede de constatar certas perplexidades diante da
diversidade de pensadores em suas afirmações ou pesquisas, ou
ainda na formulação de seus preceitos.
A formação científica, por exemplo, não é necessária
para o aperfeiçoamento das máquinas? E conseqüentemente essa
formação não irá desenvolver atitudes objetivas,
interpretando fenômenos e acontecimentos, e mesmo do próprio
fenômeno ser humano?
A formação ética de alguns pensadores, pautados nos
fundamentos puramente religiosos, dependerá somente do
19
desenvolvimento intelectual? – Não teremos de atuar também
sobre a afetividade? A liberdade de pensar, do questionar
para que o educando tenha um referencial a ser adotado
moralmente?
Procuraremos traçar algumas, das tantas justificativas
para o problema de disciplina e seu antagônico, repassando
pelos fatores biológicos, sociológicos e psicológicos da
motivação, prontidão, família, frustração, desejos.
Não queremos sublimar os problemas que são reais, mas se
há crise inclusive nas escolas, precisamos levantar todas as
hipóteses – nenhuma é descartável – precisamos melhorar o
processo pedagógico. As leis de ensino, seus postulados,
também precisam ser questionados quanto à realidade de sua
aplicação. A operacionalização de objetivos precisa de mais
atenção.
Se o discente, a cada dia, se torna menos “disciplinado”
ou talvez desmotivado, precisamos estudá-lo com mais
paciência e tolerância, descobrindo seus motivos, detectando
suas necessidades, adequando a linguagem para o mundo que ele
agora vivencia, e por “tabela”, a família e o seu papel de
educador máster.
20
Essa máxima: “Se não houve aprendizagem é porque não
houve ensino”, é muito questionável, porquanto levamos em
conta uma série de fatores de nossos discentes.
Uma das maiores indisciplinas na escola hoje, é o fato
dos pais se engajarem na processo ensino-aprendizagem.
Atribuem a escola o ensino que deveria ter sido dado em casa;
em outras palavras é a terceirização da educação, tão
divulgada hoje em dia em outros setores de trabalho com a
globalização. Quando observamos num escolar um mau
comportamento e já, previamente tendo analisado sua ficha
dados e, sendo ele remanescente de outros problemas
disciplinares, é de praxe convocarmos os pais a comparecerem
à escola para esclarecimentos e detecção de possíveis
problemas de origem adversa, nos deparamos com pessoas,
atenciosas e preocupadas, outras que encaram o fato com
veemência como se estivessem sendo preocupadas, outras com o
senso de superproteção aguçado que por vezes levantam
hipóteses de veracidade e inobservância da escola em relação
a seu filho. Porém falta pré-requisito para o aproveitamento
escolar, é encarada como resultado da prática educativa
realizada pela escola.
21
Disciplinar não é colocar “arreios”, mas orientar uma
conduta que o auxiliará em sua vida futura.
Quem caminha precisa saber para onde e para quê;
Melhorar nosso comportamento e personalidade depende na
maioria das vezes da referência da qual tomamos desde a
infância.
O nosso aluno, assim como nosso professor precisa saber
“quem é ” e o “seu estar no mundo”.
Segundo Confúncio que atravessou os séculos.(1977,
p.112)
“Aquele que for realmente bom,jamais será infeliz.
O que for realmente sábio, nunca ficará confuso.
O que for realmente corajoso,jamais sentirá medo.”
22
Portanto, o problema objeto do estudo é:
Até que ponto a relação familiar e a escola influenciam
na disciplina do aluno?
23
CAPÍTULO II
O SENTIDO POLÍTICO DA EDUCAÇÃO
“A escola é o lugar onde a criança deve aprender as
coisas importantes da vida, os elementos essenciais
da verdade, da justiça, da responsabilidade, da
iniciativa das relações causais e outras
semelhantes, não as estudando, mas vivenciando-as.”
Froebel
24
2– SENTIDO POLÍTICO DA EDUCAÇÃO
2.1 – Perspectivas Pedagógicas
A educação é uma tarefa realizadora, com um
direcionamento adequado às necessidades e exigências sociais,
morais, culturais, intelectuais, religiosas, enfim, a toda
uma gama de expectativas do patrimônio cultural.
Toda e qualquer proposta educacional visa o crescimento
do homem, e isto significa torná-lo conhecedor de sua
situação de “SER ” e ESTAR no mundo ”. A partir daí, o
processo educativo deverá prepará-lo para plena cidadania,
cujos atos como cidadão, influirá nas decisões da sociedade,
que contribuam para melhoria social.
Há de se notar, no entanto, que as propostas
educacionais, objetiva promover o homem e se tal não acontece
em sua totalidade universal, é porque diferem nas
complexidades ideológicas que as determina.
25
Assim por exemplo, se uma proposta educacional dos anos
30, entendia que a promoção do homem rural, mas integrante da
Elite Rural, deveria possuir conhecimentos de Filosofia,
Artes, Ciências e Línguas Estrangeiras, porque seriam homens
“pensantes ” no futuro, enquanto o trabalhador rural
precisaria então aprender técnicas para lidar com a terra; a
conclusão que se chegava era de: ensina-se a Fazer e não a
Pensar.
São estas “configurações” ideológicas, afinal,
determinando como ocorrerá a relação pedagógica entre o ato
de ensinar e os resultados da aprendizagem que caracterizam
as intenções.
Na história do pensamento educacional encontramos estas
diferentes intenções.
• Na perspectiva da Pedagogia Tradicional, educar é
formar todos os tipos de indivíduos necessários à
sociedade;
• Na perspectiva Pedagógica Escolanovista, educar é
controlar e filtrar a influência Social sobre o
indivíduo;
26
• Na perspectiva Tecnicista, educar é o adestramento
de habilidades específicas;
• Na perspectiva reprodutiva, educar é impor uma
ideologia dominante;
• Na perspectiva não-diretiva, educar é preparar o
indivíduo para sua auto-realização;
• Na perspectiva da pedagogia transformadora, educar
é formar o indivíduo político, apto a intervir na
sociedade, convivendo com ela, entendêndo-la e
interagindo.
Desta feita, entendemos que tanto as instituições
escolares quanto os educadores necessitam ter a consciência
do significado,direção e intenção existente nas práticas
educativas a fim de explicitar o sentido e o valor da
educação que será oferecida.
- E qual será ela?
A teoria pedagógica é conhecimento da educação para a
educação: Analisa a prática educativa na medida que explicita
o contexto sócio-político com a qual se relaciona; quais os
objetivos a que se dirige e a quais interesses ela pretende
atender.
27
Os últimos cinqüenta (50) anos, as teorias ou tendências
pedagógicas, podem ser arrumadas em dois grupos: As
tendências liberais e as progressistas.
• As tendências liberais, estão relacionadas ao
Liberalismo, - a doutrina liberal – ( que não significa
“avançado”, “moderno”, “democrático”ou “aberto” ). A doutrina
advém do Liberalismo que justifica o Capitalismo em sustentar
a propriedade privada, o que reflete uma sociedade demarcada
por classes sociais bem distintas e por conseguinte uma
educação privilegiada e diferenciada.
• As tendências progressistas, ao contrário, são as que
entendem a educação vinculada ao mundo social. Ela se
fundamenta na preparação do indivíduo, que usando como
instrumento o saber, adquirido na escola, movimentar-se-á
para a verdadeira democratização da sociedade.
28
2.2 – O Que Se Espera Da Escola Atual
Cabe à escola fornecer este conhecimento; as condições
necessárias ao aprendiz, de forma a levá-lo à conscientização
de sua própria realidade e situação social, podendo escolher
como agir sobre ela.
Assim, todos têm o direito ao mesmo ensino, ainda que
haja diversas diferenças entre eles, reconhece portanto, a
escola, que os indivíduos são socialmente desiguais,todavia
esta desigualdade não determina o apto ou não-apto no
convívio social, ou numa função por exemplo. As práticas
educativas absorvem aí, o papel orientador de que há entre os
homens direito à justiça e a prática da cidadania.
Como vimos, tanto na progressista, como na liberal as
formas das manifestações diferem muito, mas cada uma
encontrará um tipo de professor, um modo de pensar o
conteúdo, e, logicamente a metodologia usada. Nos resta
apenas saber qual a educação queremos.
29
CAPÍTULO III
ENSINO, ESCOLA E SOCIEDADE
“A educação promovida
naturalmente, segundo o desenvolvimento
das crianças é o principal meio de
transformação social.”
Johann Pestalozzi
30
3 – ENSINO, ESCOLA E SOCIEDADE
3.1 – A Democratização Do Estudo
As novas gerações necessitam de uma educação
voltada para o seu crescimento intelectual, moral,
social e sobretudo de um caráter firme.
Não restam dúvidas de que na história da educação o
objetivo sempre foi o de preparar o jovem para a prática
de seus conhecimentos cognitivos e afetivos. Todavia
vemos uma série de impasses a nos levar aos
questionamentos mais profundos:
• Os objetivos estão sendo alcançado?
• Por que a juventude está sempre insatisfeita?
• Por que os nossos alunos estão tão aquém de
conhecimentos que lhes formem caráter, opinião
própria e até mesmo segurança?
• Como explicar-se-ia a evasão escolar e o fracasso tão
numeroso ainda?
31
E são tantos os outros questionamentos que nos obriga a
pensar, com certeza, de que não basta apenas, no ensino-
aprendizagem um planejamento; intenção e etc... para tal
binômio ocorrer. A máxima vai se repetir sempre. “Se não
houve ensino, não houve aprendizagem”.
Não há fórmulas milagrosas na educação do Brasil,
porquanto são muitas as causas trabalhadas primeiro, que vai
da marginalidade ao fracasso. Já vimos e revimos as diversas
leis de ensino, procurando cada uma tentar solucionar o
problema da repetência escolar, evasão, qualificação para o
trabalho, especificação do professor, gratuidade escolar e
etc... e ainda não encontramos soluções.
A nós, nos parece ser, democratização do ensino,
iniciado pela própria linguagem do professor, tornando-a mais
acessível, mais adequada ao grupo com o qual trabalha e a
proximidade do educador em conhecer o seu objeto de
transformação, penetrando em seu meio familiar, em suas
aflições, medos, angustias, enfim, conhecendo o seu aluno
como ser humano provido de falhas e acertos, completo de
todas as nuances possíveis do crescimento e formação da
personalidade: um possível caminho, entre outros é claro de
minorar as dificuldades de Ensino na atualidade.
32
3.2 – Relações Familiares
• O que esperamos da família?
Para que nosso trabalho se solidifique é mister
entrarmos na questão familiar, porquanto como cédula máster
da sociedade ela já estabelece a nosso fonte de pesquisa
quanto ao comportamento da indivíduo, visto que, um dos
maiores problemas da indisciplina na escola hoje, é o fato
dos pais não se engajarem no processo ensina-aprendizagem.
Atribuem à escola o ensino que deveria ter sido dado em casa;
em outras palavras é a terceirização da educação.
Há duas imagens opostas nas relações familiares. De um
lado há aquela idealizada, como um conto de fadas “e foram
felizes para sempre”, e de tal idéia utópica espera-se um
ninho de amor, compreensão, concessões intermináveis, apoio
nos momentos difíceis, etc... Ao lado dessa imagem aparece
aquela oposta da família “sede do mal” , ninho de ódio. “O
casamento é uma instituição falida ” e conseqüentemente ela é
o berço das experiências negativas: muita frustração; muitos
“nãos”, raiva, inveja, ciúmes, rivalidades, etc... . Com
certeza a maior parte dos terapeutas acusam o ódio, a
33
frustração e até mesmo a questão disciplinar que o ser humano
vive, conseqüências das experiências no início familiar.
É comum encontrar pais aflitos e desorientados frente às
socializações continuadas e inesgotáveis de seus filhos,
assim como as mais variadas estratégias que eles usam para
obter aquilo que demandam. Além disso, é preciso lembrar que
não são só os pais que põem limites aos filhos; também estes
o fazem em relação aos pais, sendo necessário dar conta e
lidar com esses momentos em que seus filhos limitam suas
ações, desejos e possibilidades.
Segundo Montoro para nos ajudar(1977,p.135)
“Neste artigo gostaria de discutir o “feijão com
arroz” (...) que consiste de queixas: tais como:
desobediência, rebeldia, teimosia, ciúmes, inveja,
medos, dependência excessiva, raiva e
agressividade e outras coisas que pertencem à
nossa coleção de misérias diárias (...) minha
experiência como terapeuta que lida com relações
familiares revela com clareza a existência de dois
assuntos básicos que quando bem resolvidos
diminuem muito a intensidade e a freqüência dos
problemas mais comuns. Por outro lado, os pais não
34
estão sendo capazes de lidar bem com esses dois
tópicos, esses problemas se tornam mais intensos,
e o nível de sofrimento na convivência familiar
aumenta muito. Os dois tópicos a que me refiro
são: 1) segurança afetiva e 2) consistência de
disciplina acompanhada de reforço positivo para o
comportamento adequado”.
Para a terapeuta, a segurança afetiva consiste em ter a
sensação básica de ser amado, percepção inconsciente de que
quando houver necessidade, alguém estará disponível e pronto
para ajudar; a certeza de ter carinho, “colo”, elogio, agrado
e sobretudo orientação.
Por consistência de disciplina, a terapeuta nos explica
que a repetição de atitudes previsíveis frente as mesma
situações, ou seja, se a criança pede bala sempre antes das
refeições por exemplo, e a mãe, ou pai diz “está bem”, eles
estão sendo consistentes, tendo a mesma reação sempre, diante
da mesma situação; mas se ao contrário, ela pede ; os pais
reclamam três, quatro vezes, mas depois, por sentir dó da
35
criança, ou porque ela chorou, cede e dá as balas, eles estão
sendo inconstantes.
As dificuldades intransponíveis em dar limites aos
filhos refletem uma questão problemática, primeiro nos pais
em relação a si mesmos, depois em relação aos filhos. A
dificuldade extrema de barrar uma criança em certas ações
pode refletir o desejo infantil dos pais de nunca ter que
defrontar com limites, de não viver frustrações, , de não
poder também mostrar em falta, eles mesmos, ou de defrontar-
se com essa, ou seja, um desejo velado de onipotência, de
poder tudo sem nunca passar por cortes. Sem cortes mergulham-
se num mundo de capricho, de contato imperiosa. Com cortes,
com Nãos, perder-se em caprichos, mas ganha-se em
humanização.
Colocar limites nas crianças é uma ação que contribui
para o seu bom desenvolvimento. Ao mesmo tempo isso não deve
acontecer de qualquer forma. O não absoluto tem caráter bem
obstrutivo, pois só resta ao limitado posicionar-se frente a
isto como impotente ou buscar um caminho marginal para a sua
realização.
36
A indisciplina portanto deve apontar os limites – como
se faz – mas também as possibilidades – geralmente
esquecidas.
3.3 – Abordagem Prismática De Comportamento
De fato, o problema da inconsistência individual geram
problemas sérios de indisciplina. Ser inconsistente é ensinar
insegurança, teimosia, chatice, já que ele percebe se teimar,
chorar, se bater etc, vai receber o que quer, mas como
adultos, essa insegurança é mais séria, pois não vê na vida
com esforço próprio, disciplina e previsibilidade.
Se desde a mais tenra infância, a criança for criada em
um ambiente seguro, de satisfações, de sim e de nãos , de uma
“lei de amor”, ajustada às necessidades de idade, sexo,
personalidade, de atos e gestos de respeito mútuo,etc, ter-
se-á um adulto disciplinado, educado, conhecedor de seus
limites e dos outros, respeitador das culturas e religiões
diferentes, sensor de uma realidade não individualizada,
questionador sensato, o que tem direitos, mas reconhece seus
deveres.
37
Numa educação excessivamente permissiva, a criança
cresce desprotegida e sem capacidade para lidar com fracassos
e frustrações.
Numa educação repressora, por sua vez, ela se sente
sufocada, não respeitada em suas opiniões e pode reagir com
rebeldia ou submissão.
OSÓRIO (1992) afirma que a repressão e a permissividade
expressam falência no exercício adequado da autoridade. Faz-
se necessário o território da colocação do limite e este só
acontece pelo exercício de uma autoridade saudável,
equilibrada e coerente. Simplesmente conquista-se, e o limite
é condição que leva o indivíduo a se superar, sair de sua
condição instintiva e biológica para ser psicológico e
social.
Acredita-se que restrições e tolerância excessivas,
incoerência ou ambivalência demasiadas induzem à
desobediência e a indisciplina. Por outro lado, a coerência
na atitude dos pais leva a criança a ser confiante e assumir
normas mais facilmente, adotando comportamentos e atitudes
desejadas. Deixar claro à criança aquilo que se espera dela,
38
o que é de sua livre escolha e o que seria de obediência
opcional é fundamental.
A questão da disciplina vem através de todo um
desenvolvimento em conjunto à educação geral, quer em casa,
na escola,nos grupos, nos cursos,etc. Ela desenvolve no
aluno, no filho, sua capacidade de lidar com os limites da
realidade, de se ajustar as problemáticas existentes no seu
dia à dia. O objetivo de toda educação é preparar os filhos,
os alunos, os estudantes, a serem capazes de caminhar
sozinhos, traçarem a rota de sua vida, construírem seu
destino.
39
CAPÍTULO IV
DISCIPLINA E ANTIDISCIPLINA
“A firmar o direito da pessoa humana à
educação é pois assumir uma responsabilidade
muito mais pesada do que assegurar a cada um a
possibilidade da leitura e da escrita e do
cálculo... .”
Piajet
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4 – DISCIPLINA E ANTIDISCIPLINA
4.1 – O Objetivo Central Da Democracia Política
O princípio básico de uma democracia é preparar o
indivíduo para colaborar e respeitar as opiniões alheias, e
não para obedecer ou desobedecer as regras autoritárias.
Ainda temos o ranço da ditadura onde não havia espaço para
debates e inovações.
Com a chegada da democracia os caminhos para pô-la em
prática estão sendo árduos e nesse parecer é preciso
vivenciar, experiência e até mesmo paciência. Foram anos de
autoritarismo, de repressões, o que tolhem a todos, ou ele se
viu “acostumado” a não questionar, opinar, ter opções.
Com a democracia em mãos, o elemento precisa preparar
caminhos, porquanto ela não tem prontos, não há soluções
imediatista neste regime.
Se um passarinho após anos de gaiola, ao se ver livre,
tem muito mais chances de ser abocanhado pelas feras, imagine
todo um povo, não preparado para ter tal liberdade de traçar
41
metas, objetivos, caminhos etc , para ele e para os outros
(?). Sem dúvida alguma teremos erros para chegar aos acertos,
erros até graves; como excesso de liberdade sem
responsabilidade levando ao desrespeito, a confusão e
indisciplina, confundindo-se os papéis da autoridade e
autoritarismo.
Numa visão dialética-libertadora, compreende-se que a
disciplina se constrói pela interação do sujeito com outros e
com a realidade, até chegar ao autodomínio; podemos afirmar,
parafraseando Paulo Freire: “Ninguém disciplina ninguém.
Ninguém se disciplina sozinho. Os homens se disciplinam em
comunhão, mediados pela realidade.”
“A disciplina(...) significa a capacidade de
comandar a si mesmo, de se impor aos caprichos
individuais, às veleidades desordenadas,
significa, enfim, uma regra de vida. Além disso,
significa a consciência da necessidade livremente
aceita, na medida em que é reconhecida como
necessária para que um organismo social qualquer
atinja o fim proposto.” ( L. A. C. FRANCO,
Problemas de Educação Escolar, p. 40.)
42
4.2- Autoridade X Autoritarismo
No afã desesperado de romper com o autoritarismo, vemos
as escolas, os grupos, os educadores, os pais, etc, usarem
uma forma que chamaremos de “pseudocratismo” , ou seja,
transferem decisões, a qual cabia em um grupo, ou uma pessoa,
para todos a que se consideram interessados.
Ao nosso ver ambas as formas, autoritarismo, ou
“pseudodemocrativismo” são negativos. O autoritarismo nega a
participação nas decisões dos que serão atingidos e o
pseudodemocrativismo no desejo de consultar a todos para
todas as decisões, de denuncia inseguro e até mesmo
incompetente para a realização de ações.
Freqüentemente, trabalha-se a disciplina de forma
restritiva: dá-se muita ênfase aos limites, ao que “não
pode”, em detrimento das possibilidades, do que se espera. É
a disciplina do “Não” , “Não” e “Não”.
“Esta é a moral que consagra o que não deve
fazer-se. Chamo a isto de disciplina da abstenção
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ou da inibição. Considero que a disciplina na
coletividade infantil deve ter um caráter: o
impulso de avançar. Esta é a disciplina da
superação.(...) Podemos nos orgulhar da disciplina
que chama adiante, que algo do homem, algo maior
que a inibição”. ( A. MAKARENKO, op.cit., p. 172.)
Como vemos, só seremos democráticos se vivenciar a
democracia na sua forma mais coerente e sensata possível,
porque ainda que seja fundamental o diálogo, a toca de
experiências entre todos, de suas vivências, experiências
acumuladas pelo tempo, levando aos extremos esta conversação,
pode ser desastrosa a reunião e improfícua ao final.
4.3 – Poder E Competência
Transpondo todas essas considerações para o contexto
escolar vemos ainda uma grande maioria no autoritarismo
mesclando-se de “pseudo democrativismo”. É uma relação de
poder hierárquico e sem “aberturas”: O aluno depende das
decisões do professor, que depende do coordenador, que por
sua vez depende do diretor e este ao supervisor, que depende
44
dos órgãos, que dependem das secretarias, que dependem do
ministério; em suma, o aluno depende de todos que estão
hierarquicamente acima deles.
Paramos e refletimos: - Se os alunos são sujeitos para
quem toda a ação escolar se destina, por que não deixá-los
tomar parte nas decisões?
• Não se quer preparar alunos com senso crítico?
• Não se destina a educação a dar oportunidades para
a prática da cidadania e auto-disciplina?
Nesse ponto vemos a chance ímpar de primeiros passos à
educação saudável, solidária, disposta a incentivar o saber,
a intelectualidade, moralidade, caráter, sensatez e coerência
e conseqüentemente disciplina, respeito, saber ouvir, saber
falar, ser ponderado, ser seguro, enfim, as possibilidades
desse intercâmbio, deveras para a formação das atitudes
positivas do educando.
Voltamos dessa forma a questão do poder, autoridade e
autoritarismo.
45
4.4 – Abordagem Didática Da Autoridade
A sala-de-aula, até que se prove ao contrário, é o
núcleo mais importante para o desenvolvimento de atividades
escolares.
Tem-se a idéia de que o professor, é o único que tem
poder de competência para decidir o que é melhor para os
alunos “na minha aula quem manda sou eu”- a autoritário
conhecedor de todas as verdades, esquecendo no entanto que
competência é o que cada um faz dentro de seus limites e
realidade, de forma correta, bem feita. Com essa idéia de
poder errônea oferecem aulas didaticamente cansativas.
X Aulas longas, expositivas, cujo trabalho do aluno é
copiar;
X O conteúdo trabalhado não corresponde à realidade do
aluno;
X O professor exige silêncio absoluto e considera
qualquer manifestação;
X O aluno só pode e deve responder ao que o professor
pergunta;
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X Obedecer às ordens é disciplina.
E tantos outros itens que escreveríamos um compêndio
didático ( o que não é nosso projeto).Limitemo-nos agora a
terminar as nossas ponderações sobre o problema da
disciplina.
A resposta dada ao aluno, das reações adversas,
apresentadas no parágrafo anterior sobre o funcionamento
adequado destro da sala- de- aula é o da punição. A função da
punição, portanto não é a de “resolver o problema”, mas
tentar que o aluno “indisciplinado” não incomode mais; tantas
são as punições, e mais rigorosas para chegar ao lema “ou o
aluno se adapta as leis da escola ou ele é retirado dela”.
Ora nesse ponto fica claro o poder e o autoritarismo
imperando e com certeza a escola está longe de ser um lugar
agradável e produtivamente satisfatório.
Que fique claro, não ser o clima democrático na escola a
transformar o professor e aluno em “iguais”. – Não, o
professor é mais velho, é mais experiente, enfim é o educador
isso não se pode nivelar.
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“... o professor com autoridade é também aquele
que deixa transparecer as razões pelas quais a
exerce: não por prazer, não por capricho, nem
mesmo por interesses pessoais, mas por um
compromisso genuíno com o processo pedagógico, ou
seja, com a construção de sujeitos que, conhecendo
a realidade, disponham-se a modificá-la em
consonância com um projeto comum”.
Entre os dois precisa haver diálogo, compreensão,
direcionamento e participação.
“é impossível ensinar participação SEM participação” (FREIRE e SHOR , 1986, p. 114)
A autoridade deve ser a de dirigir a classe com
confiança e segurança . Enquanto autoridade a dirigir um
grupo produtivo, ou torná-lo produtivo, com destreza,
sensatez, equilíbrio emocional, domínio de conhecimento;
dessa feita, mais confiança os alunos terão e as intervenções
que o professor vier a fazer, no que concerne à disciplina,
será muito mais aquiesciva. “A autoridade do professor deve
estar sempre presente, porém, sua forma deve mudar quando os
alunos mudam, ou seja, recriar-se a cada situação” (grifo
nosso) ( Freire e Shor, 1986,p.117).
48
CAPÍTULO V
DISCIPLINAR OU ORIENTAR A CONDUTA?
“ A educação é o que sobrevive daquilo que foi apreddido e esquecido.” B. F. Skinner
49
5 – DISCIPLINAR OU ORIENTAR A CONDUTA?
5.1 – Breve Enfoque Da Disciplina Rígida
Vimos nos parágrafos anteriores que a idéia dominante
de disciplina era a da coerção ou punição; o professor
deveria “manejar”a classe para que houvesse um bom ambiente
disciplinar, mantendo as atividades bem ordenadas.
No momento que novas visões, idéias, no campo de estudo
do comportamento e de relações humanas apareceram,alterando
os velhos conceitos que nos lares, com a atuação dos pais,
quer nas escolas, com a atuação de todos ali envolvidos, em
uma perspectiva mais democrática, libertadora, todos esses
organismos se vêem agora rumando para entender melhor o
problema da disciplina.
A finalidade então para todos estes novos de estudos das
ciências humanas é que o educador esteja com olhos e ouvidos
alertas para todos os acontecimentos surgidos em nossa
realidade dia após dia. Caso contrário, não poderá dialogar
com os educadores, visto a sua linguagem estar diferente, e
50
não visualizará o novo aluno, se afastando de sua realidade e
experiências – cumpre ressaltar que cada aluno já carrega
dentro de si, experiências diferentes a serem respeitadas e
trabalhadas do seu convívio familiar. Com a incompreensão
atrás de incompreensões esse educador estará cada vez mais
distante do educando, achando que o mundo está perdido, que
não há mais soluções, que é impossível reverter o quadro;
enfim um educador pessimista, ríspido, grosseiro, sofrendo
seus fracassos e fazendo aos outros sofrerem.
Se todas estas premissas forem consideradas verdadeiras
então cabe abolir a disciplina rígida e tradicional e
implantar, em seu lugar, um trabalho de orientação da
conduta.
5.2 – Considerações Sobre Conduta E Caráter
A conduta, ao nosso sentido, não é sinônimo perfeito de
comportamento ( de ações e reações esperadas e previsível ).
Ela é sim um comportamento, mas com implicações de valores;
está ligada ao caráter, tanto no sentido ético e moral como
no psicológico, e nesse, corresponde a um conjunto infinito
de reações adquiridas através da experiência do viver, do
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estar no mundo, um contato com o mundo e com os seres que
nele habitam.
Na conotação psicológica, o caráter, é ainda uma faceta
da personalidade. Todo educador – seja pai, mãe, parente ou
professor – deve ajudar ao educando a estruturar seu caráter
em conformidade com o seu temperamento. Forçar uma criança
introvertida a ser extrovertida é ponto para seu
desequilíbrio psíquico. O que se deve fazer é ajudá-la a
conviver bem, amenizar sim, alterá-la em sua essência não. -
Quantos cientistas, poetas, músicos precisam dessa
introversão?
Neste contexto, as crianças vão responder de maneira
adaptada àquilo que acontece em torno. Assim, a criança que
vive pedindo, por exemplo, não está necessariamente
inadequada e não deve ser considerada como apresentando uma
patologia qualquer. Simplesmente ela se revela como produto
de seu meio social-familiar e revela, como numa denúncia,
características importantes que podem estar passando
despercebidas no corre-corre do dia-a-dia. Ela retrata assim
o momento histórico-cultural em que vive, onde se valoriza o
ser humano basicamente em função daquilo que pode adquirir
sob forma de bens materiais, aquilo que tem. Ela vive sua
vaidade e suas rivalidades com colegas a partir daquilo que
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materialmente possui – é exibição, ou, como dizem os
adolescentes, é show!
Todavia, tudo que extremado é também perigoso. Entender
orientação de conduta com liberdade total e individual é
radical e muito pernicioso, pois por um lado, acreditam que
podem traumatizar, anular a personalidade, cercear a
criatividade e assim por diante se não permitir ao educando a
sua expressão livre, sem fundamentos ou coerência; por outro
lado, por comodismo, prefere-se não interferir e viver
tranqüilamente, não vendo a realidade aceitando, como
inevitáveis, os desacertos dos filhos dos educandos.
LOBATA ( 1994 ) comentando uma pesquisa de Tânia Zagury,
através da reportagem sobre Filhos Tiranos, diz que os pais
se mostram inseguros e acabam abandonando a ética e
preparando seus filhos para levar vantagem em tudo a qualquer
preço. Os pais estão duvidando se vale a pena ou não passar
conceitos éticos aos filhos, com medo de criar “ingênuos”
para uma sociedade que premeia corruptos e considera vencedor
aquele que é esperto.
Na outra ponta estão os jovens, sentindo-se soltos,
abandonados e entregues as suas próprias impulsões.
Logicamente irão romper agressivamente com os padrões,
53
criando uma realidade totalmente utópica, com ausência de
compromissos para com todos que os cercam.
Se da parte dos adultos ocorre o medo ou o comodismo,
da parte dos jovens ocorrem muitos motivos que explicam suas
atitudes de rebeldia, como por exemplo, ao considerar
“largado”, ( e estão perdidos mesmo) , desamparado neste
mundo complexo e áspero que vivem, ao perceberem sua
incapacidade de lidar com dificuldades, ou de enfrentar esta
mundo criado pela civilização contemporânea se juntam aos
demais tendo um desfecho triste: marginalização, suicídio,
álcool, drogas, excessos sexuais, fanatismo religioso ou
político.
Não faltam pessoas que tentam justificar o quadro acima
traçado com sendo resultado de uma resposta certa à sociedade
que cultiva falso valores, onde a máquina supera ou
sobrepõem-se ao homem, e a pessoa humana está sendo
coisificada. Paramos aqui e fazemos apenas dois
questionamentos.
- A fuga, a alienação é a terapêutica aconselhável?
- Por que, na época de tanta comunicação, as
gerações não conseguem se comunicar?
54
5.3 – “Ser” E “Estar No Mundo” – Dificuldades Do
Educando Na Atualidade
Ao nosso ver, há equívocos a serem considerados e
repensados, Se o jovem que liberdade, ele quer também amor,
compreensão, orientação, sem que esta seja ditada pelo
autoritarismo, mas com afeto, carinho e boa vontade. Com
certeza, cremos, que tal atitude não permitirá que o aluno se
sinta dominado.
O importante é educar sem ansiedades, fobias. Se o aluno
ou o filho desejarem realizar algo que de fato pode ou vai
prejudicá-los, deve haver a interferência sim - é nosso
dever - e eles saberão distinguir o NÃO originário de uma
atitude sadia em protegê-los e orientá-los, e o NÃO
encoberto por uma atitude de preconceito, “horror do
falatório”; do medo afinal “que não soube educar”.
Para o bom sucesso de uma orientação de conduta, levamos
em consideração dois aspectos:10) que o educando perceba que
é realmente estimado; 20) que o educando sinta-se o mais
livre possível, proibindo-se o mínimo indispensável. É
preciso amar sem egoísmo e ser o máximo objetivo ( para
distinguir entre o que não convém aos educadores, e o que de
fato não convém ao educando ).
55
A escola por sua vez precisa estar atenta no cumprimento
de seu papel, oferecendo meios para a realização de todos os
objetivos psicopedagógicos a que se propôs.
Não serão regulamentos, regras sem democraticamente
discutí-las com todos os interessados no crescimento desse
jovem, ou sanções e punições a solução para a disciplina, ou
aquisição de responsabilidades.
Na escola pública, sabemos da grande dificuldade em
vencer o desafio pela sua democratização, ( dada as
diferenças regionais em suas condições sociais e culturais )
e termos uma escola de todos, para todos e com todos , mas se
o túnel é longo, e o leque possui várias falhetas, são
caminhos e opções que ainda temos e devemos aproveitar.
Em suma, sabemos hoje, mais do que nunca, da existência
de uma consciência global entre educadores, instituições
educativas e família com um objetivo que deve ser único: o de
preparar nossos educandos de forma tal, que ele tenha
condições em escolher o melhor caminho a trilhar; em ter
opções certas e seguras dentro do que lhe for solicitado; de
ter consciência de seu “estar no mundo”e “para quê”.
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CONCLUSÕES
Diante dos acontecimentos nas últimas décadas, podemos
perceber as transformações ocorridas na âmbito familiar.
Atualmente a sociedade apresenta duas visões distintas
quanto as relações familiares. Se por um lado temos a imagem
de uma família idealizada como “um conto de fadas”, por outro
lado, o casamento é apresentado como uma instituição falida.
De acordo com as visões citadas acima surgem as relações
entre pais e filhos.
Uma estrutura familiar consistente tem maiores
possibilidades de oferecer a criança uma educação
disciplinada e coerente. Em contra partida a falta desta
estrutura acaba por negar ao indivíduo uma educação
consistente.
Cabe a família direcionar e orientar seus filhos
colocando limites, pois desta forma estará contribuindo para
seu desenvolvimento. Esses não podem ser impostos de qualquer
forma, pois acarretará em limitações ao indivíduo.
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Como o oposto disso, o excesso de liberdade causará ao
indivíduo a inconsistência de disciplina.
Os pais tentando evitar o confronto com os filhos acabam
por transferir sua responsabilidade para a escola. Esta por
sua vez tem um papel importante no crescimento e na formação
do caráter do indivíduo.
O educador precisa ter sensibilidade para achegar-se ao
seu aluno e perceber suas necessidades. Este relacionamento
porém, não deve caracterizar o nivelamento entre professor e
o aluno. Visto que, o professor é mais velho, mais
experiente, e isto não pode ser ignorado.
A autoridade deve ser de conduzir o grupo com confiança
e segurança, mantendo sempre um diálogo entre amboS.
Se um dos objetivos da educação é o de auxiliar o
sujeito a construir uma autonomia do pensamento que “obrigue
sua consciência” a respeitar as regras do grupo depois de
raciocinar com base em princípios de reciprocidade se aquela
regra é justa ou não, isto deverá ser alcançado por meio das
relações que não envolvam a coação e o respeito unilateral.
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Portanto, somente uma transformação no tipo das relações
estabelecidas dentro das escolas, famílias e da sociedade
poderá fazer com que o problema da indisciplina seja encarado
sobre uma perspectiva diferente. Nesse sentido, deve-se
objetivar que os princípios subjacentes às regras a serem
cumpridas pelo sujeito tenham como pressuposto os ideais
democráticos de justiça e igualdade, bem como a construção de
relações que auxiliem esse sujeito a “obrigar sua
consciência” a agir com base no respeito a esses princípios e
não por obediência.
A fim de prevenir certos problemas de comportamento, o
professor deve estar apto a reconhecer as necessidades que
levam o educando ao mau comportamento. O mau comportamento é
sintomático das insatisfação ou de traumas que atinjam
profundamente vários aspectos da personalidade. E sua
observação se deve a compreensão de forças motivadoras e para
os fatores de desenvolvimento e de ambiente que promovam essa
indisciplina.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ADAMS, Harold P. ; DICKEY, Frank G. Princípios Básicos da Prática de Ensino: Rio de Janeiro: USAID, 1965. AGUAIYO, A. M. Didática na Escola Nova: São Paulo: Editora Nacional, 1966. ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. RJ, 4ª ed., Ed. Vozes, 1981.
AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na Escola: Alternativas Teóricas e Práticas: São Paulo: Summus, 1996. DELDIM, R. e DEMOULIN, R. Introdução à Psicologia do Desenvolvimento da Criança: São Paulo: Editora Atlas, 1978. DORIN, Lanoy. Psicologia da Educação: Editora do Brasil: São Paulo, 1972. FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade: Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1974. GUAPYASSE, Zilda et alli. Didática Geral e Fundamentos da Educação: Rio de Janeiro: Editora Degrau Cultural, 1998. GONÇALVES, Romanda. Didática Geral: Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1978.
HOFFMANN, Jussara. O Desafio da Aprendizagem, da Formação
Moral e da Avaliação. Porto Alegre, 2ª ed., Ed. Mediação,
1999.
KNOBEL, Maurício. Orientação Familiar. São Paulo 1ª ed., Ed.
Papirus, 1996.
NOVAES, Maria Helena. Psicologia do Ensino – Aprendizagem: São Paulo: Editora Atlas, 1977. REVISTA PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO. MKM Editores, 1984.
60
INDICE
INTRODUÇÃO 11
CAPÍTULO I 16
1.0 - O PROBLEMA 17
1.1 –APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
CAPÍTULO II 22
2.O - O SENTIDO POLÍTICO DA EDUCAÇÃO 23
2.1 – PERSPECTIVAS PEDAGÓGICAS
2.2 - O QUE SE ESPERA DA EDUCAÇÃO ATUAL 27
CAPÍTULO III 28
3.O - ENSINO,ESCOLA E SOCIEDADE 29
3.1 - DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO
3.2 – RELAÇÕES FAMILIARES 31
3.3 - ABORDAGEM PRISMÁTICA DO COMPORTAMENTO 35
CAPÍTULO IV 38
4.0 - DISCIPLINA E ANTIDISCIPLINA 39
4.1 – O OBJETIVO CENTRAL DA DEMOCRECIA POLÍTICA
4.2 - AUTORIDADE X AUTORITARISMO 41
4.3 - PODER E COMPETÊNCIA 43
4.4- ABORDAGEM DIDÁTICA DA AUTORIDADE 45
CAPÍTULO V 48
5.0 - DISCIPLINAR OU ORIENTAR CONDUTA? 49
5.1 – BREVE ENFOQUE DA DISCIPLINA RIGIDA
5.2 - CONSIDERAÇÕES SOBRE CONDUTA E CARÁTER 51
5.3 - SER E ESTAR NO MUNDO – DIFICULDADES DO
EDUCANDO NA ATUALIDADE 55
CONCLUSÃO 57
BIBLIOGRAFIA 60
ÍNDICE 61
61
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Título da Monografia: A influência da relação familiar e da
escola na disciplina do educando.
Autor: Maria Aparecida Jatobá Salame Maximo Castro
Data da entrega: 22 de janeiro de 2005
Avaliado por: Carlos Alberto Cereja de Barros
Conceito:
Conceito Final: