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EDUCAÇÃO NA IMIGRAÇÃO: A AVALIAÇÃO PREVENTIVA
PROMOVENDO A INTEGRAÇÃO NOS ESPAÇOS ESCOLARES.
Karla Haydê Oliveira da Fonseca1; Ribamar Fonseca Júnior
2
Universidade do MINHO, Braga, Portugal
[email protected] ; [email protected]
RESUMO: A educação tem como papel fundamental o desenvolvimento e a formação integral do
homem e da cidadania. E é na escola, durante processos de socialização, que se tem a oportunidade
de desenvolver a identidade e autonomia, interagindo, ampliando laços afetivos, reconhecendo,
aprendendo e crescendo com as diferenças mútuas. Neste contexto, o imigrante convive com o
preconceito, tentando se integrar, lutando contra o estranho e a estranheza. No espaço escolar,
lugar onde não deveria acontecer qualquer tipo de discriminação contra o imigrante, é lá que se
percebe que a palavra cidadania não tem qualquer significado na prática. Nunca é levado em
consideração os problemas das crianças imigrantes, que enfrentam diferenças linguísticas e
culturais e vivem numa posição socioeconómica difícil. Nesta situação, temas como o ensino
diferenciado através das Tics, a educação para os direitos humanos e o uso das bibliotecas, entre
outros, poderão fazer toda a diferença na transformação dos espaços escolares em locais ideais
para integrar a criança imigrante. Nesta comunicação, vamos fazer uma reflexão sobre a
importância da avaliação preventiva feita pelos educadores, aliada ao ensino diferenciado, de
modo a fazer com que os espaços escolares sejam um elo com o país de acolhimento, trabalhando
pelo desenvolvimento da cidadania e respeito ao imigrante, tornando aquele espaço um lugar
aprazível, onde o imigrante não tenha de perder a identidade para se sentir parte da sociedade em
que vive.
Introdução
Vivemos num mundo cada vez mais globalizado, onde a cada crise económica
crescem os movimentos migratórios internacionais, levando milhares de pessoas para
lugares até então só conhecidos nos mapas e nos cartões postais. Essas pessoas, ao
deixarem o seu torrão-natal à procura de novas oportunidades em terras estrangeiras,
lidam com todo tipo de adversidade: discriminação, preconceito, intolerância,
associados à falta de dinheiro, tentando se integrar, lutando contra o estranho e a
estranheza (Lima, 2009).
Justo no espaço escolar, onde não deveria acontecer qualquer tipo de
discriminação contra o imigrante, é que se percebe, sem muita dificuldade, que a
palavra cidadania não tem qualquer significado na prática. Nunca é levado em
consideração os problemas enfrentados pelas crianças imigrantes, que se defrontam com
diferenças linguísticas e culturais e vivem numa posição socioeconómica difícil.
1 Mestre em Educação, especialidade em Avaliação pela Universidade do MINHO. 2 Doutorando em Ciências Jurídicas e mestre em Direitos Humanos pela Universidade do MINHO.
Bolseiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES com referência
BEX – 1172-12-3
Neste contexto, temas como o ensino diferenciado através das Tics, a educação
para os direitos humanos e o uso das bibliotecas, entre outros, poderão fazer toda a
diferença na transformação dos espaços escolares em locais ideais para integrar a
criança imigrante.
Portanto, o problema ora discutido nesta comunicação tem por objetivo fazer uma
reflexão sobre a importância da avaliação preventiva pelos educadores, aliada ao ensino
diferenciado, de maneira a permitir que os espaços escolares sejam um elo com o país
de acolhimento, trabalhando pelo desenvolvimento da cidadania e respeito ao imigrante,
tornando aquele espaço um lugar aprazível, onde o imigrante não tenha de perder a
identidade para se sentir parte da sociedade em que vive. Neste trabalho, utilizamos para
a construção do referencial teórico a pesquisa documental e a pesquisa bibilografica de
autores que versam sobre o tema.
A educação e a formação integral do homem e da cidadania
O debate sobre educação tem sua origem histórica, mas só após a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) - que conseguiu estabelecer e codificar um
enorme espectro de direitos políticos, económicos e sociais - é que o direito à educação
passou a ser visto como um direito universal. Neste sentido, preceitua o artigo 26, in
verbis:
I) Todo o homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos
nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A
instrução técnico profissional será acessível a todos, bem como a instrução
superior, esta baseada no mérito.
II) A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e
pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a
tolerância e amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e
coadjuvará as actividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
III) Os pais têm prioridade de direito na escolha do género de instrução que será
ministrada a seus filhos.3
Em conformidade com o que preceitua a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, as constituições dos países passaram a garantir também esse direito. É o caso,
por exemplo, da Constituição do Brasil que, em 1988, fixou um novo quadro de leis
3 Disponível em http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php
relativas aos direitos e deveres dos cidadãos, consagrando, em seu artigo 205, o direito à
educação nos seguintes termos:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
A educação, para o exercício da cidadania, é aprendido na escola. Segundo
Westphal (2009, p.3), “o conhecimento adquirido nas escolas é uma ferramenta que liga
a realidade do ser humano ao seu crescimento como cidadão”. Neste sentido, Silva
(2000) acredita na educação, como um instrumento de formação da cidadania, e na
escola, como instituição social que trabalha a socialização do conhecimento, formação
de hábitos, valores e atitudes. Tal compreensão de educação se dá com a possibilidade
da integração dos saberes através de enfoques interdisciplinares e transdisciplinares,
evidenciando, sobretudo, o currículo escolar.
Para Guará (2009, p.70), as práticas educacionais devem abrir-se a experiências e
conteúdos transversais com “ênfase na articulação de conhecimentos e disciplinas que
objectivam a integralização de experiências e saberes no processo educativo”. Segundo
a autora, a interdisciplinaridade se funda na importância dada à unidade da realidade,
cuja apreensão é compartimentada dentro do modelo de desenvolvimento da ciência
moderna. Para ela, esta concepção de educação propõe uma estreita articulação
curricular que contemple o conhecimento de maneira mais abrangente, global e,
portanto, integral.
De acordo com Quevedo (2011, p.156), “a educação comprometida com a
formação de cidadãos passa necessariamente por uma prática pedagógica que
compreenda o ser humano na sua integralidade”. Não é apenas um processo
institucional e instrucional, mas, fundamentalmente, um investimento formativo da
pessoa. Portanto, educar para a cidadania significa disseminar um conjunto de valores
universais, que se manifestam em cada cultura.
Para Grossi et al (2009, p.501), o contributo desta formação se dá,
principalmente, quando se incorpora “valores essenciais para a cultura democrática,
como a participação, diálogo, igualdade, tolerância, justiça social, respeito à diversidade
e aos direitos humanos”.
Desta forma, resta claro que, além de outros meios, é na escola que o Estado
promove a educação e a cidadania, através do desenvolvimento e da formação integral
do aluno, que precisa desenvolver a identidade e autonomia, interagindo, ampliando
laços afetivos, reconhecendo, aprendendo e crescendo com as diferenças individuais.
A escola: reconhecer, aprender e crescer com as diferenças
A escola, com seus múltiplos espaços, possibilita uma verdadeira miscelânea de
diferentes valores, culturas, crenças e condição social, onde as individualidades
reclamam seu espaço dentro dessa heterogeneidade. Para Gadotti (2007, p. 92)
A escola é um espaço de relações. Nesse sentido, cada escola é única, fruto de sua
história particular, de seu projeto e de seus agentes. Como lugar de pessoas e
relações, é também um lugar de representações sociais. Como instituição social
ela tem contribuído tanto para a manutenção quanto para a transformação social.
Numa visão transformadora, ela tem um papel essencialmente crítico e criativo.
Com efeito, a escola não é só um lugar para se buscar conhecimento, mas para se
encontrar, conversar, brincar, conhecer o outro, discutir, aprender, reflectir e crescer
com as diferenças, mas, principalmente, um lugar que possibilite a formação da
personalidade da criança e do jovem. Entretanto, é neste contexto que muitas vezes se
vê reflectida, dentro das salas de aula, as exclusões sociais e culturais existentes na
sociedade, onde as crianças não estão livres de sofrerem o racismo, as discriminações, o
preconceito e as consequências dessas concepções negativas (Ramos e Jesus, 2006).
Para Ramos e Jesus (2006, p. 3), “a falta de respeito à cultura e às diferenças do
outro geram sofrimento e marcas profundas que nem mesmo o tempo pode apagar”.
Neste sentido, os autores destacam que aqueles quesofrem algum tipo de discriminação
se isolam e evitam a convivência com o grupo, tornando-se arredios, pois “já sofreram
tanta rejeição que ficam sempre à espera que os chamem, convidem para brincar,
convidem para as atividades lúdicas e para os trabalhos escolares”.
Já para Miranda (2009, p.62), não há cuidado na escola. Com efeito, não há
reconhecimento, não há responsabilização moral e, principalmente, não há culpa pelo
que ocorre na escola e com o outro, pois não se cria vínculo. Para o autor, a “escola que
não oferece cuidado e envolvimento favorece o surgimento da violência”. Neste sentido,
assevera: “É preciso criar um ambiente bom, acolhedor, autêntico, não perseguidor, que
gere no aluno um sentimento de pertencimento e reconhecimento”.
Sobre isso, Almeida (2008, p.11) destaca que mesmo “as crianças chegando às
escolas, iguais em direitos e com idades próximas, são muito diferentes em aspectos
culturais e socias porque vêm de experiências familiares e origens socias diversas”. Essa
“diversidade inicial é geralmente ignorada na escola que, tratando todos da mesma
maneira, reforça o processo de diferenciação, adverte o autor”. Para Silva (apud
Almeida, 2008, p.12):
A diversidade cultural existente entre os alunos e entre estes e os educadores,
longe de ser aproveitada como maior riqueza, torna-se ocasião de choque cultural
e de gerações, produzindo dificuldades de comunicação e impossibilitando a
criação de vínculos construtivos e co-responsáveis.
Reside justamente aí uma das dificuldades da escola em solucionar este problema,
pois se baseia em um modelo ultrapassado, onde não se dá a devida atenção às
diferenças dos alunos, sejam estas geográficas, étnicas, culturais, sociais, religiosas e de
género.
De forma a mudar esta realidade, urge que a escola, por ser uma instituição
educacional, chame para si a responsabilidade de resolver estas questões, envolvendo
toda a comunidade escolar, principalmente o professor, que não poderá se omitir ou
concorrer para o aumento da discriminação. Neste sentido, deve incentivar na escola
valores como a sinceridade, a amizade, o respeito aos mais velhos e ao próximo e o
respeito às diferenças, para que façam parte do dia-a-dia da instituição.
Portanto, o reconhecimento de valores, especialmente os que dizem respeito à
dignidade humana, aliado a um ensino diferenciado, utilizando a biblioteca escolar e as
tecnologias, nos coloca perante um debate sobre a questão da educação em direitos
humanos, tendo a biblioteca escolar e as tecnologias de informação e comunicação
como recursos para uma mudança de atitude quanto a todo tipo de discriminação nos
espaços escolares.
A educação em direitos humanos promovendo a integração e o sucesso educativo
através de um ensino diferenciado.
Na tentativa de promover o sucesso das aprendizagens, e dar respostas as
heterogeneidades que constituem uma classe, surge o ensino diferenciado. Não se trata
de um ensino individual, e sim de um caminho pela busca da igualdade, que consagra a
utilização de diferentes recursos na transmissão da informação que favorece o
aprendizado do aluno.
O ensino diferenciado propõe nas práticas pedagógicas do professor a utilização
de diferentes recursos de avaliação para a transmissão e recolha da informação,
possibilitando não apenas a verificação da aprendizagem dos alunos como, também, a
sua integração no âmbito escolar. Neste particular, surge a necessidade de inserir
instrumentos avaliativos preventivos nas práticas pedagógicas que ajudem a fazer
inferências sobre o processo de integração dos alunos.
Para Smole (2012, s/p), o desafio colocado por essa forma diferenciada de olhar o
aluno propicia ao professor entendê-lo conforme suas necessidades educativas, em suas
“dimensões cognitiva, afetiva e cultural, de forma a melhor compreendê-lo em suas
diferenças, em suas crenças e em sua forma de aprender”.
Dentro deste contexto, é importante que o professor tenha aguçada percepção
quanto ao comportamento de seus alunos, principalmente em sala de aula, para detectar
possíveis desentendimentos e discriminações na turma contra o aluno imigrante. É
evidente que a partir deste diagnóstico, o professor deverá propor diretrizes e estratégias
de intervenção e de inserção na comunidade de acolhimento, desmistificando a ideia de
que o aluno calado é um bom aluno porque não traz problemas, principalmente se esse
aluno vier de outra pátria diferente daquela a qual está inserido.
Indubitavelmente, além da percepção do professor é necessário um ensino que
transcenda a sala de aula (ambientes formais), vá além do quadro negro e do giz, e tome
dimensões grandiosas, através de projectos educativos preventivos para a integração do
aluno imigrante. Para Gonçalves e Trindade (2010, p.206), o princípio fundamental da
“diferenciação é a democratização do ensino” em benefício dos alunos para a formação
e o desenvolvimento da cidadania.
Nesse mister, a biblioteca escolar como ambiente formativo por excelência
proporciona aos alunos e professores, pais e funcionários, informações e conhecimentos
fundamentais a esta realidade específica, na medida em que possibilita que sejam
supridas as deficiências da escola e do professor na efetivação da avaliação preventiva
na mediação e integração de muitas atividades, tais como: formação de professores,
funcionários, alunos e pais; palestras, utilização das TIC’s, serviços informacionais,
livros, filmes e etc, constituindo-se num centro formativo do conhecimento, onde várias
fontes de informação se interligam servindo de apoio pedagógico no processo de
integração do aluno imigrante, além de encontrar em sua coleção livros com este tema.
Quanto às tecnologias de informação e comunicação - TICs estas podem e devem
fazer toda a diferença, concorrendo para transformar a sociedade de modo a torná-la
mais inclusiva e esclarecida, seja através de formação, da colaboração ou da
disponibilização de material digital.
Portanto, ao se tirar proveito do uso da biblioteca e das TICs nas escolas, percebe-
se logo uma mudança nas práticas pedagógicas dos professores e nas atividades em sala
de aula, uma vez que todos os intervenientes participam na construção do conhecimento
em aprender a lidar com situações adversas no âmbito escolar. Nesta perspectiva, as
bibliotecas escolares e as TICs constituem um excelente recurso de enriquecimento e
favorecimento na produção do conhecimento. Todavia, só o uso da biblioteca e das
TICs não basta, é necessário que os recursos materiais estejam disponíveis ao professor
para a concretização do seu trabalho, onde os intervenientes - sistema de ensino,
currículo, professores, alunos e pais - estejam integrados e envolvidos com a realidade
educativa através da prática reflexiva, e da (re) educação contínua para que o sucesso
educativo ocorra.
Além da integração da comunidade escolar, outro fator importante é educar para
prevenir contra a discriminação, o racismo e a intolerância, que exige que o educador se
inclua no processo para não correr o risco de apenas prescrever normas, mostrando-se
completamente comprometido enquanto executores das recomendações que fazem
(Silva, 2000). Neste sentido, a autora assevera que prevenir contra o racismo e a
intolerância requer que o trabalho educativo seja
organizado e executado coma intenção de aportar energia, firmeza para a
educação dos cidadãos, sejam eles crianças, jovens ou adultos. E exige dos
educadores permanecerem atentos, a fim de cultivar, em si próprios e em seus
alunos, confiança na capacidade própria, orgulho de pertencimento a seu grupo
étnico, seu grupo social, autonomia de pensamento e ação, controle de
preconceitos e de atitudes discriminatórias, solidariedade e colaboração,
criticidade. (2000, p.3)
No entanto, Silva (2000) chama a atenção para o que realmente é urgente ao
aconselhar os educadores a eliminar primeiro em si próprios sentimentos de
inferioridade, atitudes etnocêntricas, individualistas, comportamentos alienados e
alienantes, e depois em seus alunos. Portanto, é preciso que os professores tirem pelo
menos um minuto ao longo de um ano para que conheçam melhor seus alunos, para
entender as causas de suas limitações, angústias e dificuldades (Ramos & Jesus, 2005).
Com estas considerações ressaltamos a importância da educação para os direitos
humanos onde os alunos possam compreender que se aprende com os saberes dos
outros, quer asiáticos, africanos, americanos, europeus, etc. E que na sociedade, e em
particular nos espaços escolares, deve haver o respeito ao imigrante, pois não somos
melhores uns que os outros.
Aparentemente simples de ser executada, a questão do combate a discriminação,
ao racismo e a intolerância nos espaços escolares só ganha impulso quando o professor
atento trabalha esse tema na sala de aula, pois como afirma Pinsk (2006, p.25) “(…)
combater a discriminação (…) é não apenas uma atitude politicamente correta, mas
racionalmente consequente e socialmente aconselhável”.
Portanto, acredita-se que a escola, espaço que hipoteticamente teria a função de
formar o aluno cidadão, possa produzir sujeitos capazes de agir de forma a exercer sua
cidadania plena e respeitar a pluralidade cultural presente em uma sala de aula. Neste
sentido, para Miranda (2000) a escola pode mudar a concepção racista assimilada pelos
alunos, que não trazem isso geneticamente, com um discurso racional e baseado em
informações concretas, justamente porque as crianças estão em formação da
personalidade e do caráter, desconstruindo as teorias sobre superioridade e inferioridade
baseadas nas diferenças étnicas, culturais, sociais e religiosas. Para a autora, as relações
que se desenvolvem na escola
poderão ser de tolerância e de respeito às diferenças étnicas e culturais se, nas
trocas e nas mediações que ocorrem nas situações de ensino-aprendizagem estes
valores forem democraticamente elaborados com o conjunto dos atores
envolvidos no processo de construção do conhecimento (Miranda, 2000, s/p).
Aí reside a importância de ser trabalhado pelos professores temas relacionados
com disciplina e resolução de conflitos, para evitar insultos, ameaças e xingamentos que
desencadeiam, na maioria das vezes, as agressões físicas. É muito importante trabalhar
nas diversas disciplinas a desconstrução das ideias prévias do imigrante, cujo aspetos
negativos, associados à imigração, encontram-se muito próximos dos estereótipos
produzidos pelos meios de comunicação e pela população em geral (Reis, Mendes &
Lopes, 2002).
Além disso, como já dito anteriormente, aumenta a responsabilidade dos
professores na identificação das agressões e dos agressores, agindo imediatamente para
que não volte a ocorrer. Para Reis, Mendes e Lopes (2002, p.20) uma forma de resolver
esse problema é desenvolvendo nos alunos “valores do respeito, tolerância, justiça,
solidariedade, que são primordiais na construção do aprender a conviver com o outro”.
Diante desse quadro, é necessário discutir algumas soluções para acabar com toda
forma de desrespeito ao imigrante nos espaços escolares, identificando pistas para a
prevenção.
A violência contra os imigrantes nos espaços escolares: identificando pistas para a
prevenção
O ser humano, desde os primórdios da história, evoluiu bastante. Em pleno século
XXI, no entanto, apesar de todas as recomendações, normas e resoluções previstas nos
vários diplomas disponíveis, como a Declaração dos Direitos Humanos, passando pela
Declaração dos Direitos das Crianças, até as Constituições dos países, ocorrem todo tipo
de violência contra as crianças. No caso em estudo, é nos espaços escolares que estas
agressões são comumente praticadas e, em muitos casos, ignoradas pelo conjunto que
forma a escola.
Dentre vários fatores que contribuem para que as violações dos direitos humanos
sejam praticados nos espaços escolares, vale destacar a falta de educação dos alunos
quanto à noção de civilidade, solidariedade, companheirismo e respeito ao outro.
Talvez isso ocorra devido à degradação e desestrutura familiar ou a falta de tempo dos
pais na educação dos filhos, ou porque entende que cabe à escola a responsabilidade de
educá-los. Por sua vez, a escola, que deveria intervir para que não ocorresse esse tipo de
atitude, age em sentido diametralmente oposto, ou seja, segue o caminho do descaso
(Njaine & Minayo, 2003).
Todavia, existe remédio para este mal. É preciso que haja uma mudança na escola
no sentido de abrir para a comunidade a discussão dos assuntos pertinentes a temas
como racismo, intolerância, preconceito e discriminação, onde toda a comunidade
escolar possa envolver essa problemática com o currículo, proporcionando uma
compreensão do que são os direitos humanos, em que, no dizer de Boaventura Santos
(1997, p.122) “temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza, e de
sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza. As pessoas querem ser iguais,
mas querem respeitadas suas diferenças”.
Desse modo, busca-se na família e nos professores apoio e condições para que se
possa trabalhar pela formação de verdadeiros cidadãos, pois a escola é a base da
educação de crianças, adolescentes e jovens. Portanto, é necessário que a escola e a
família atuem unidas, prevenindo qualquer manifestação de conflitos, tentando
constituir uma relação respeitosa entre os seus pares.
Para Pereira (2004, p.3), algumas questões precisam ser respondidas, tais como: a
escola educa para a diversidade cultural? As crianças dessa escola reconhecem as
diferenças, aceitam essas diferenças, percebem essas diferenças? Ou ainda, os valores
e direitos fundamentais, a sua cultura, são preservados? A autora questiona ainda se os
seus jogos, as suas danças, as suas canções, são práticas realizadas na escola pelos
próprios e com a participação das outras crianças.
Portanto, a realização de um estudo empírico, com instrumentos que permitam
diagnosticar a realidade escolar, seria um bom princípio no sentido de confirmar ou não
a avaliação baseada no quotidiano de alguns docentes, que insistem em afirmar que não
existem problemas dessa ordem na escola a não ser situações esporádicas (Pereira,
2004).
Certamente que este estudo irá apontar para algumas soluções que são fáceis de
implementar, mas que vem acrescer as tarefas dos professores. A reinvenção do recreio,
por exemplo, com a supervisão de todos os professores, seria uma das soluções, pois
vários estudos comprovam que é nesta hora que a agressão entre os alunos é mais
acentuada. Outra solução, nas escolas onde existe um número grande de raças e etnias,
seria promover o conhecimento da cultura, dos costumes, da música, uns dos outros e da
importância e do orgulho que cada um tem da sua origem. No entanto, somadas a essas
soluções é preciso ser rápido e enérgico quanto a todo tipo de desvio de conduta dos
alunos, para que o sentimento de impunidade não atrapalhe o processo de
conscientização dos demais.
Resta claro, assim, que existem caminhos percorridos e a percorrer, e que se
houver vontade e união de todos os intervenientes poderemos muito em breve fazer com
que as crianças percebam que não devemos fazer aos outros, aquilo que não gostaríamos
que fizessem conosco. Outro ponto importante para o aprendizado das crianças é sentir
que os colegas imigrantes não são uma ameaça nem insensíveis, pelo contrário, são
crianças que vieram de outros países e que podem ensinar muito de sua cultura.
Considerações finais
Apesar de todas as transformações existentes advindas do novo século nos
variados setores economicos, político e educacional, observa-se que ainda existe uma
tendência na escola atual, onde o sucesso individual está acima da convivência pacífica.
Neste sentido, o olhar atento dos intervenientes torna-se muito importante para coibir
qualquer forma de violência manifestada no dia-a-dia da escola. Constata-se que a
escola não está preparada para receber o imigrante, e solucionar os conflitos existentes
entre raças. Assim, deveria incluir no seu projeto pedagógico o ensino diferenciado
através das TICs e da biblioteca escolar, de maneira a proporcionar uma formação
continuada em educação para os direitos humanos a todos os intervenientes do âmbito
escolar.
Importante ressaltar, ainda, a necessidade de identificar a escola que queremos,
pois “uma escola que se pretenda um espaço humano, que busca melhorar a qualidade
de vida humana coletiva, precisa se perguntar constantemente sobre o lugar do aluno no
espaço escolar” (Almeida, 2008, p.13).
Neste mister o professor tem o papel principal, pois quando se omite diante de
uma manifestação de falta de respeito de um aluno para com o colega está autorizando
tacitamernte, mesmo que calado, que essa falta de respeito evolua para agressões
verbais e físicas. É preciso, portanto, que a escola e, principalmente, o professor,
ampliem seu entendimento sobre violência, que vai além da agressão física ou verbal,
caracterizando-se, sobretudo como violência simbólica que, muitas vezes, é perceptível
apenas por quem a sofre.
A partir da reflexão dessas situações pretendemos lançar luzes para o debate e
para o encaminhamento de soluções relacionadas com a situação de todo tipo de
violência sofrida pelo imigrante no espaço escolar.
Entendemos, portanto, que um programa de avaliação preventiva é fundamental
num processo de socialização, pois a heterogeneidade existente na sala de aula exige
dos professores e educadores respostas adequadas à diversidade e complexidade do
mundo contemporâneo e dos problemas do âmbito escolar, em que a integração e o
acolhimento aos alunos imigrantes são pressupostos essenciais na formação humana
pelo desenvolvimento da cidadania.
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