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EDUCAÇÃO NA IMIGRAÇÃO: A AVALIAÇÃO PREVENTIVA PROMOVENDO A INTEGRAÇÃO NOS ESPAÇOS ESCOLARES. Karla Haydê Oliveira da Fonseca 1 ; Ribamar Fonseca Júnior 2 Universidade do MINHO, Braga, Portugal [email protected] ; [email protected] RESUMO: A educação tem como papel fundamental o desenvolvimento e a formação integral do homem e da cidadania. E é na escola, durante processos de socialização, que se tem a oportunidade de desenvolver a identidade e autonomia, interagindo, ampliando laços afetivos, reconhecendo, aprendendo e crescendo com as diferenças mútuas. Neste contexto, o imigrante convive com o preconceito, tentando se integrar, lutando contra o estranho e a estranheza. No espaço escolar, lugar onde não deveria acontecer qualquer tipo de discriminação contra o imigrante, é lá que se percebe que a palavra cidadania não tem qualquer significado na prática. Nunca é levado em consideração os problemas das crianças imigrantes, que enfrentam diferenças linguísticas e culturais e vivem numa posição socioeconómica difícil. Nesta situação, temas como o ensino diferenciado através das Tics, a educação para os direitos humanos e o uso das bibliotecas, entre outros, poderão fazer toda a diferença na transformação dos espaços escolares em locais ideais para integrar a criança imigrante. Nesta comunicação, vamos fazer uma reflexão sobre a importância da avaliação preventiva feita pelos educadores, aliada ao ensino diferenciado, de modo a fazer com que os espaços escolares sejam um elo com o país de acolhimento, trabalhando pelo desenvolvimento da cidadania e respeito ao imigrante, tornando aquele espaço um lugar aprazível, onde o imigrante não tenha de perder a identidade para se sentir parte da sociedade em que vive. Introdução Vivemos num mundo cada vez mais globalizado, onde a cada crise económica crescem os movimentos migratórios internacionais, levando milhares de pessoas para lugares até então só conhecidos nos mapas e nos cartões postais. Essas pessoas, ao deixarem o seu torrão-natal à procura de novas oportunidades em terras estrangeiras, lidam com todo tipo de adversidade: discriminação, preconceito, intolerância, associados à falta de dinheiro, tentando se integrar, lutando contra o estranho e a estranheza (Lima, 2009). Justo no espaço escolar, onde não deveria acontecer qualquer tipo de discriminação contra o imigrante, é que se percebe, sem muita dificuldade, que a palavra cidadania não tem qualquer significado na prática. Nunca é levado em consideração os problemas enfrentados pelas crianças imigrantes, que se defrontam com diferenças linguísticas e culturais e vivem numa posição socioeconómica difícil. 1 Mestre em Educação, especialidade em Avaliação pela Universidade do MINHO. 2 Doutorando em Ciências Jurídicas e mestre em Direitos Humanos pela Universidade do MINHO. Bolseiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES com referência BEX 1172-12-3

Educação Na Imigração

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EDUCAÇÃO NA IMIGRAÇÃO: A AVALIAÇÃO PREVENTIVA

PROMOVENDO A INTEGRAÇÃO NOS ESPAÇOS ESCOLARES.

Karla Haydê Oliveira da Fonseca1; Ribamar Fonseca Júnior

2

Universidade do MINHO, Braga, Portugal

[email protected] ; [email protected]

RESUMO: A educação tem como papel fundamental o desenvolvimento e a formação integral do

homem e da cidadania. E é na escola, durante processos de socialização, que se tem a oportunidade

de desenvolver a identidade e autonomia, interagindo, ampliando laços afetivos, reconhecendo,

aprendendo e crescendo com as diferenças mútuas. Neste contexto, o imigrante convive com o

preconceito, tentando se integrar, lutando contra o estranho e a estranheza. No espaço escolar,

lugar onde não deveria acontecer qualquer tipo de discriminação contra o imigrante, é lá que se

percebe que a palavra cidadania não tem qualquer significado na prática. Nunca é levado em

consideração os problemas das crianças imigrantes, que enfrentam diferenças linguísticas e

culturais e vivem numa posição socioeconómica difícil. Nesta situação, temas como o ensino

diferenciado através das Tics, a educação para os direitos humanos e o uso das bibliotecas, entre

outros, poderão fazer toda a diferença na transformação dos espaços escolares em locais ideais

para integrar a criança imigrante. Nesta comunicação, vamos fazer uma reflexão sobre a

importância da avaliação preventiva feita pelos educadores, aliada ao ensino diferenciado, de

modo a fazer com que os espaços escolares sejam um elo com o país de acolhimento, trabalhando

pelo desenvolvimento da cidadania e respeito ao imigrante, tornando aquele espaço um lugar

aprazível, onde o imigrante não tenha de perder a identidade para se sentir parte da sociedade em

que vive.

Introdução

Vivemos num mundo cada vez mais globalizado, onde a cada crise económica

crescem os movimentos migratórios internacionais, levando milhares de pessoas para

lugares até então só conhecidos nos mapas e nos cartões postais. Essas pessoas, ao

deixarem o seu torrão-natal à procura de novas oportunidades em terras estrangeiras,

lidam com todo tipo de adversidade: discriminação, preconceito, intolerância,

associados à falta de dinheiro, tentando se integrar, lutando contra o estranho e a

estranheza (Lima, 2009).

Justo no espaço escolar, onde não deveria acontecer qualquer tipo de

discriminação contra o imigrante, é que se percebe, sem muita dificuldade, que a

palavra cidadania não tem qualquer significado na prática. Nunca é levado em

consideração os problemas enfrentados pelas crianças imigrantes, que se defrontam com

diferenças linguísticas e culturais e vivem numa posição socioeconómica difícil.

1 Mestre em Educação, especialidade em Avaliação pela Universidade do MINHO. 2 Doutorando em Ciências Jurídicas e mestre em Direitos Humanos pela Universidade do MINHO.

Bolseiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES com referência

BEX – 1172-12-3

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Neste contexto, temas como o ensino diferenciado através das Tics, a educação

para os direitos humanos e o uso das bibliotecas, entre outros, poderão fazer toda a

diferença na transformação dos espaços escolares em locais ideais para integrar a

criança imigrante.

Portanto, o problema ora discutido nesta comunicação tem por objetivo fazer uma

reflexão sobre a importância da avaliação preventiva pelos educadores, aliada ao ensino

diferenciado, de maneira a permitir que os espaços escolares sejam um elo com o país

de acolhimento, trabalhando pelo desenvolvimento da cidadania e respeito ao imigrante,

tornando aquele espaço um lugar aprazível, onde o imigrante não tenha de perder a

identidade para se sentir parte da sociedade em que vive. Neste trabalho, utilizamos para

a construção do referencial teórico a pesquisa documental e a pesquisa bibilografica de

autores que versam sobre o tema.

A educação e a formação integral do homem e da cidadania

O debate sobre educação tem sua origem histórica, mas só após a Declaração

Universal dos Direitos Humanos (DUDH) - que conseguiu estabelecer e codificar um

enorme espectro de direitos políticos, económicos e sociais - é que o direito à educação

passou a ser visto como um direito universal. Neste sentido, preceitua o artigo 26, in

verbis:

I) Todo o homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos

nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A

instrução técnico profissional será acessível a todos, bem como a instrução

superior, esta baseada no mérito.

II) A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da

personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e

pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a

tolerância e amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e

coadjuvará as actividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

III) Os pais têm prioridade de direito na escolha do género de instrução que será

ministrada a seus filhos.3

Em conformidade com o que preceitua a Declaração Universal dos Direitos

Humanos, as constituições dos países passaram a garantir também esse direito. É o caso,

por exemplo, da Constituição do Brasil que, em 1988, fixou um novo quadro de leis

3 Disponível em http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php

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relativas aos direitos e deveres dos cidadãos, consagrando, em seu artigo 205, o direito à

educação nos seguintes termos:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida

e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho.

A educação, para o exercício da cidadania, é aprendido na escola. Segundo

Westphal (2009, p.3), “o conhecimento adquirido nas escolas é uma ferramenta que liga

a realidade do ser humano ao seu crescimento como cidadão”. Neste sentido, Silva

(2000) acredita na educação, como um instrumento de formação da cidadania, e na

escola, como instituição social que trabalha a socialização do conhecimento, formação

de hábitos, valores e atitudes. Tal compreensão de educação se dá com a possibilidade

da integração dos saberes através de enfoques interdisciplinares e transdisciplinares,

evidenciando, sobretudo, o currículo escolar.

Para Guará (2009, p.70), as práticas educacionais devem abrir-se a experiências e

conteúdos transversais com “ênfase na articulação de conhecimentos e disciplinas que

objectivam a integralização de experiências e saberes no processo educativo”. Segundo

a autora, a interdisciplinaridade se funda na importância dada à unidade da realidade,

cuja apreensão é compartimentada dentro do modelo de desenvolvimento da ciência

moderna. Para ela, esta concepção de educação propõe uma estreita articulação

curricular que contemple o conhecimento de maneira mais abrangente, global e,

portanto, integral.

De acordo com Quevedo (2011, p.156), “a educação comprometida com a

formação de cidadãos passa necessariamente por uma prática pedagógica que

compreenda o ser humano na sua integralidade”. Não é apenas um processo

institucional e instrucional, mas, fundamentalmente, um investimento formativo da

pessoa. Portanto, educar para a cidadania significa disseminar um conjunto de valores

universais, que se manifestam em cada cultura.

Para Grossi et al (2009, p.501), o contributo desta formação se dá,

principalmente, quando se incorpora “valores essenciais para a cultura democrática,

como a participação, diálogo, igualdade, tolerância, justiça social, respeito à diversidade

e aos direitos humanos”.

Desta forma, resta claro que, além de outros meios, é na escola que o Estado

promove a educação e a cidadania, através do desenvolvimento e da formação integral

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do aluno, que precisa desenvolver a identidade e autonomia, interagindo, ampliando

laços afetivos, reconhecendo, aprendendo e crescendo com as diferenças individuais.

A escola: reconhecer, aprender e crescer com as diferenças

A escola, com seus múltiplos espaços, possibilita uma verdadeira miscelânea de

diferentes valores, culturas, crenças e condição social, onde as individualidades

reclamam seu espaço dentro dessa heterogeneidade. Para Gadotti (2007, p. 92)

A escola é um espaço de relações. Nesse sentido, cada escola é única, fruto de sua

história particular, de seu projeto e de seus agentes. Como lugar de pessoas e

relações, é também um lugar de representações sociais. Como instituição social

ela tem contribuído tanto para a manutenção quanto para a transformação social.

Numa visão transformadora, ela tem um papel essencialmente crítico e criativo.

Com efeito, a escola não é só um lugar para se buscar conhecimento, mas para se

encontrar, conversar, brincar, conhecer o outro, discutir, aprender, reflectir e crescer

com as diferenças, mas, principalmente, um lugar que possibilite a formação da

personalidade da criança e do jovem. Entretanto, é neste contexto que muitas vezes se

vê reflectida, dentro das salas de aula, as exclusões sociais e culturais existentes na

sociedade, onde as crianças não estão livres de sofrerem o racismo, as discriminações, o

preconceito e as consequências dessas concepções negativas (Ramos e Jesus, 2006).

Para Ramos e Jesus (2006, p. 3), “a falta de respeito à cultura e às diferenças do

outro geram sofrimento e marcas profundas que nem mesmo o tempo pode apagar”.

Neste sentido, os autores destacam que aqueles quesofrem algum tipo de discriminação

se isolam e evitam a convivência com o grupo, tornando-se arredios, pois “já sofreram

tanta rejeição que ficam sempre à espera que os chamem, convidem para brincar,

convidem para as atividades lúdicas e para os trabalhos escolares”.

Já para Miranda (2009, p.62), não há cuidado na escola. Com efeito, não há

reconhecimento, não há responsabilização moral e, principalmente, não há culpa pelo

que ocorre na escola e com o outro, pois não se cria vínculo. Para o autor, a “escola que

não oferece cuidado e envolvimento favorece o surgimento da violência”. Neste sentido,

assevera: “É preciso criar um ambiente bom, acolhedor, autêntico, não perseguidor, que

gere no aluno um sentimento de pertencimento e reconhecimento”.

Sobre isso, Almeida (2008, p.11) destaca que mesmo “as crianças chegando às

escolas, iguais em direitos e com idades próximas, são muito diferentes em aspectos

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culturais e socias porque vêm de experiências familiares e origens socias diversas”. Essa

“diversidade inicial é geralmente ignorada na escola que, tratando todos da mesma

maneira, reforça o processo de diferenciação, adverte o autor”. Para Silva (apud

Almeida, 2008, p.12):

A diversidade cultural existente entre os alunos e entre estes e os educadores,

longe de ser aproveitada como maior riqueza, torna-se ocasião de choque cultural

e de gerações, produzindo dificuldades de comunicação e impossibilitando a

criação de vínculos construtivos e co-responsáveis.

Reside justamente aí uma das dificuldades da escola em solucionar este problema,

pois se baseia em um modelo ultrapassado, onde não se dá a devida atenção às

diferenças dos alunos, sejam estas geográficas, étnicas, culturais, sociais, religiosas e de

género.

De forma a mudar esta realidade, urge que a escola, por ser uma instituição

educacional, chame para si a responsabilidade de resolver estas questões, envolvendo

toda a comunidade escolar, principalmente o professor, que não poderá se omitir ou

concorrer para o aumento da discriminação. Neste sentido, deve incentivar na escola

valores como a sinceridade, a amizade, o respeito aos mais velhos e ao próximo e o

respeito às diferenças, para que façam parte do dia-a-dia da instituição.

Portanto, o reconhecimento de valores, especialmente os que dizem respeito à

dignidade humana, aliado a um ensino diferenciado, utilizando a biblioteca escolar e as

tecnologias, nos coloca perante um debate sobre a questão da educação em direitos

humanos, tendo a biblioteca escolar e as tecnologias de informação e comunicação

como recursos para uma mudança de atitude quanto a todo tipo de discriminação nos

espaços escolares.

A educação em direitos humanos promovendo a integração e o sucesso educativo

através de um ensino diferenciado.

Na tentativa de promover o sucesso das aprendizagens, e dar respostas as

heterogeneidades que constituem uma classe, surge o ensino diferenciado. Não se trata

de um ensino individual, e sim de um caminho pela busca da igualdade, que consagra a

utilização de diferentes recursos na transmissão da informação que favorece o

aprendizado do aluno.

O ensino diferenciado propõe nas práticas pedagógicas do professor a utilização

de diferentes recursos de avaliação para a transmissão e recolha da informação,

possibilitando não apenas a verificação da aprendizagem dos alunos como, também, a

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sua integração no âmbito escolar. Neste particular, surge a necessidade de inserir

instrumentos avaliativos preventivos nas práticas pedagógicas que ajudem a fazer

inferências sobre o processo de integração dos alunos.

Para Smole (2012, s/p), o desafio colocado por essa forma diferenciada de olhar o

aluno propicia ao professor entendê-lo conforme suas necessidades educativas, em suas

“dimensões cognitiva, afetiva e cultural, de forma a melhor compreendê-lo em suas

diferenças, em suas crenças e em sua forma de aprender”.

Dentro deste contexto, é importante que o professor tenha aguçada percepção

quanto ao comportamento de seus alunos, principalmente em sala de aula, para detectar

possíveis desentendimentos e discriminações na turma contra o aluno imigrante. É

evidente que a partir deste diagnóstico, o professor deverá propor diretrizes e estratégias

de intervenção e de inserção na comunidade de acolhimento, desmistificando a ideia de

que o aluno calado é um bom aluno porque não traz problemas, principalmente se esse

aluno vier de outra pátria diferente daquela a qual está inserido.

Indubitavelmente, além da percepção do professor é necessário um ensino que

transcenda a sala de aula (ambientes formais), vá além do quadro negro e do giz, e tome

dimensões grandiosas, através de projectos educativos preventivos para a integração do

aluno imigrante. Para Gonçalves e Trindade (2010, p.206), o princípio fundamental da

“diferenciação é a democratização do ensino” em benefício dos alunos para a formação

e o desenvolvimento da cidadania.

Nesse mister, a biblioteca escolar como ambiente formativo por excelência

proporciona aos alunos e professores, pais e funcionários, informações e conhecimentos

fundamentais a esta realidade específica, na medida em que possibilita que sejam

supridas as deficiências da escola e do professor na efetivação da avaliação preventiva

na mediação e integração de muitas atividades, tais como: formação de professores,

funcionários, alunos e pais; palestras, utilização das TIC’s, serviços informacionais,

livros, filmes e etc, constituindo-se num centro formativo do conhecimento, onde várias

fontes de informação se interligam servindo de apoio pedagógico no processo de

integração do aluno imigrante, além de encontrar em sua coleção livros com este tema.

Quanto às tecnologias de informação e comunicação - TICs estas podem e devem

fazer toda a diferença, concorrendo para transformar a sociedade de modo a torná-la

mais inclusiva e esclarecida, seja através de formação, da colaboração ou da

disponibilização de material digital.

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Portanto, ao se tirar proveito do uso da biblioteca e das TICs nas escolas, percebe-

se logo uma mudança nas práticas pedagógicas dos professores e nas atividades em sala

de aula, uma vez que todos os intervenientes participam na construção do conhecimento

em aprender a lidar com situações adversas no âmbito escolar. Nesta perspectiva, as

bibliotecas escolares e as TICs constituem um excelente recurso de enriquecimento e

favorecimento na produção do conhecimento. Todavia, só o uso da biblioteca e das

TICs não basta, é necessário que os recursos materiais estejam disponíveis ao professor

para a concretização do seu trabalho, onde os intervenientes - sistema de ensino,

currículo, professores, alunos e pais - estejam integrados e envolvidos com a realidade

educativa através da prática reflexiva, e da (re) educação contínua para que o sucesso

educativo ocorra.

Além da integração da comunidade escolar, outro fator importante é educar para

prevenir contra a discriminação, o racismo e a intolerância, que exige que o educador se

inclua no processo para não correr o risco de apenas prescrever normas, mostrando-se

completamente comprometido enquanto executores das recomendações que fazem

(Silva, 2000). Neste sentido, a autora assevera que prevenir contra o racismo e a

intolerância requer que o trabalho educativo seja

organizado e executado coma intenção de aportar energia, firmeza para a

educação dos cidadãos, sejam eles crianças, jovens ou adultos. E exige dos

educadores permanecerem atentos, a fim de cultivar, em si próprios e em seus

alunos, confiança na capacidade própria, orgulho de pertencimento a seu grupo

étnico, seu grupo social, autonomia de pensamento e ação, controle de

preconceitos e de atitudes discriminatórias, solidariedade e colaboração,

criticidade. (2000, p.3)

No entanto, Silva (2000) chama a atenção para o que realmente é urgente ao

aconselhar os educadores a eliminar primeiro em si próprios sentimentos de

inferioridade, atitudes etnocêntricas, individualistas, comportamentos alienados e

alienantes, e depois em seus alunos. Portanto, é preciso que os professores tirem pelo

menos um minuto ao longo de um ano para que conheçam melhor seus alunos, para

entender as causas de suas limitações, angústias e dificuldades (Ramos & Jesus, 2005).

Com estas considerações ressaltamos a importância da educação para os direitos

humanos onde os alunos possam compreender que se aprende com os saberes dos

outros, quer asiáticos, africanos, americanos, europeus, etc. E que na sociedade, e em

particular nos espaços escolares, deve haver o respeito ao imigrante, pois não somos

melhores uns que os outros.

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Aparentemente simples de ser executada, a questão do combate a discriminação,

ao racismo e a intolerância nos espaços escolares só ganha impulso quando o professor

atento trabalha esse tema na sala de aula, pois como afirma Pinsk (2006, p.25) “(…)

combater a discriminação (…) é não apenas uma atitude politicamente correta, mas

racionalmente consequente e socialmente aconselhável”.

Portanto, acredita-se que a escola, espaço que hipoteticamente teria a função de

formar o aluno cidadão, possa produzir sujeitos capazes de agir de forma a exercer sua

cidadania plena e respeitar a pluralidade cultural presente em uma sala de aula. Neste

sentido, para Miranda (2000) a escola pode mudar a concepção racista assimilada pelos

alunos, que não trazem isso geneticamente, com um discurso racional e baseado em

informações concretas, justamente porque as crianças estão em formação da

personalidade e do caráter, desconstruindo as teorias sobre superioridade e inferioridade

baseadas nas diferenças étnicas, culturais, sociais e religiosas. Para a autora, as relações

que se desenvolvem na escola

poderão ser de tolerância e de respeito às diferenças étnicas e culturais se, nas

trocas e nas mediações que ocorrem nas situações de ensino-aprendizagem estes

valores forem democraticamente elaborados com o conjunto dos atores

envolvidos no processo de construção do conhecimento (Miranda, 2000, s/p).

Aí reside a importância de ser trabalhado pelos professores temas relacionados

com disciplina e resolução de conflitos, para evitar insultos, ameaças e xingamentos que

desencadeiam, na maioria das vezes, as agressões físicas. É muito importante trabalhar

nas diversas disciplinas a desconstrução das ideias prévias do imigrante, cujo aspetos

negativos, associados à imigração, encontram-se muito próximos dos estereótipos

produzidos pelos meios de comunicação e pela população em geral (Reis, Mendes &

Lopes, 2002).

Além disso, como já dito anteriormente, aumenta a responsabilidade dos

professores na identificação das agressões e dos agressores, agindo imediatamente para

que não volte a ocorrer. Para Reis, Mendes e Lopes (2002, p.20) uma forma de resolver

esse problema é desenvolvendo nos alunos “valores do respeito, tolerância, justiça,

solidariedade, que são primordiais na construção do aprender a conviver com o outro”.

Diante desse quadro, é necessário discutir algumas soluções para acabar com toda

forma de desrespeito ao imigrante nos espaços escolares, identificando pistas para a

prevenção.

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A violência contra os imigrantes nos espaços escolares: identificando pistas para a

prevenção

O ser humano, desde os primórdios da história, evoluiu bastante. Em pleno século

XXI, no entanto, apesar de todas as recomendações, normas e resoluções previstas nos

vários diplomas disponíveis, como a Declaração dos Direitos Humanos, passando pela

Declaração dos Direitos das Crianças, até as Constituições dos países, ocorrem todo tipo

de violência contra as crianças. No caso em estudo, é nos espaços escolares que estas

agressões são comumente praticadas e, em muitos casos, ignoradas pelo conjunto que

forma a escola.

Dentre vários fatores que contribuem para que as violações dos direitos humanos

sejam praticados nos espaços escolares, vale destacar a falta de educação dos alunos

quanto à noção de civilidade, solidariedade, companheirismo e respeito ao outro.

Talvez isso ocorra devido à degradação e desestrutura familiar ou a falta de tempo dos

pais na educação dos filhos, ou porque entende que cabe à escola a responsabilidade de

educá-los. Por sua vez, a escola, que deveria intervir para que não ocorresse esse tipo de

atitude, age em sentido diametralmente oposto, ou seja, segue o caminho do descaso

(Njaine & Minayo, 2003).

Todavia, existe remédio para este mal. É preciso que haja uma mudança na escola

no sentido de abrir para a comunidade a discussão dos assuntos pertinentes a temas

como racismo, intolerância, preconceito e discriminação, onde toda a comunidade

escolar possa envolver essa problemática com o currículo, proporcionando uma

compreensão do que são os direitos humanos, em que, no dizer de Boaventura Santos

(1997, p.122) “temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza, e de

sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza. As pessoas querem ser iguais,

mas querem respeitadas suas diferenças”.

Desse modo, busca-se na família e nos professores apoio e condições para que se

possa trabalhar pela formação de verdadeiros cidadãos, pois a escola é a base da

educação de crianças, adolescentes e jovens. Portanto, é necessário que a escola e a

família atuem unidas, prevenindo qualquer manifestação de conflitos, tentando

constituir uma relação respeitosa entre os seus pares.

Para Pereira (2004, p.3), algumas questões precisam ser respondidas, tais como: a

escola educa para a diversidade cultural? As crianças dessa escola reconhecem as

diferenças, aceitam essas diferenças, percebem essas diferenças? Ou ainda, os valores

e direitos fundamentais, a sua cultura, são preservados? A autora questiona ainda se os

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seus jogos, as suas danças, as suas canções, são práticas realizadas na escola pelos

próprios e com a participação das outras crianças.

Portanto, a realização de um estudo empírico, com instrumentos que permitam

diagnosticar a realidade escolar, seria um bom princípio no sentido de confirmar ou não

a avaliação baseada no quotidiano de alguns docentes, que insistem em afirmar que não

existem problemas dessa ordem na escola a não ser situações esporádicas (Pereira,

2004).

Certamente que este estudo irá apontar para algumas soluções que são fáceis de

implementar, mas que vem acrescer as tarefas dos professores. A reinvenção do recreio,

por exemplo, com a supervisão de todos os professores, seria uma das soluções, pois

vários estudos comprovam que é nesta hora que a agressão entre os alunos é mais

acentuada. Outra solução, nas escolas onde existe um número grande de raças e etnias,

seria promover o conhecimento da cultura, dos costumes, da música, uns dos outros e da

importância e do orgulho que cada um tem da sua origem. No entanto, somadas a essas

soluções é preciso ser rápido e enérgico quanto a todo tipo de desvio de conduta dos

alunos, para que o sentimento de impunidade não atrapalhe o processo de

conscientização dos demais.

Resta claro, assim, que existem caminhos percorridos e a percorrer, e que se

houver vontade e união de todos os intervenientes poderemos muito em breve fazer com

que as crianças percebam que não devemos fazer aos outros, aquilo que não gostaríamos

que fizessem conosco. Outro ponto importante para o aprendizado das crianças é sentir

que os colegas imigrantes não são uma ameaça nem insensíveis, pelo contrário, são

crianças que vieram de outros países e que podem ensinar muito de sua cultura.

Considerações finais

Apesar de todas as transformações existentes advindas do novo século nos

variados setores economicos, político e educacional, observa-se que ainda existe uma

tendência na escola atual, onde o sucesso individual está acima da convivência pacífica.

Neste sentido, o olhar atento dos intervenientes torna-se muito importante para coibir

qualquer forma de violência manifestada no dia-a-dia da escola. Constata-se que a

escola não está preparada para receber o imigrante, e solucionar os conflitos existentes

entre raças. Assim, deveria incluir no seu projeto pedagógico o ensino diferenciado

através das TICs e da biblioteca escolar, de maneira a proporcionar uma formação

Page 11: Educação Na Imigração

continuada em educação para os direitos humanos a todos os intervenientes do âmbito

escolar.

Importante ressaltar, ainda, a necessidade de identificar a escola que queremos,

pois “uma escola que se pretenda um espaço humano, que busca melhorar a qualidade

de vida humana coletiva, precisa se perguntar constantemente sobre o lugar do aluno no

espaço escolar” (Almeida, 2008, p.13).

Neste mister o professor tem o papel principal, pois quando se omite diante de

uma manifestação de falta de respeito de um aluno para com o colega está autorizando

tacitamernte, mesmo que calado, que essa falta de respeito evolua para agressões

verbais e físicas. É preciso, portanto, que a escola e, principalmente, o professor,

ampliem seu entendimento sobre violência, que vai além da agressão física ou verbal,

caracterizando-se, sobretudo como violência simbólica que, muitas vezes, é perceptível

apenas por quem a sofre.

A partir da reflexão dessas situações pretendemos lançar luzes para o debate e

para o encaminhamento de soluções relacionadas com a situação de todo tipo de

violência sofrida pelo imigrante no espaço escolar.

Entendemos, portanto, que um programa de avaliação preventiva é fundamental

num processo de socialização, pois a heterogeneidade existente na sala de aula exige

dos professores e educadores respostas adequadas à diversidade e complexidade do

mundo contemporâneo e dos problemas do âmbito escolar, em que a integração e o

acolhimento aos alunos imigrantes são pressupostos essenciais na formação humana

pelo desenvolvimento da cidadania.

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