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Universidade Estadual de Maringá 02 a 04 de Dezembro de 2015
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EDUCAÇÃO NÃO FORMAR COMO PROPOSIÇÃO DE REINSERÇÃO SOCIAL DO APENADO
GARUTTI, Selson (1º Autor) 1.
OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva (2º Autor) 2.
RESUMO: Esta pesquisa objetivou analisar as ações educativas não formais implementadas na Penitenciária Estadual de Maringá - Paraná, entre os anos de 1999 a 2010, enquanto política pública como possibilidade de reinserção social dos apenados. Pesquisa qualitativa-documental oriundo da Divisão Ocupacional e de Qualificação da Penitenciária Estadual de Maringá (DIOQ-PEM-PR). Tem como referencial teórico o Modelo de Ciclos de Políticas, constituído por Howlett; Ramesh; Perl (2013). Os resultados foram que as Políticas Públicas implementadas na Penitenciária Estadual de Maringá foram classificadas como política distributiva, beneficiando um grande número de destinatários, todavia em escala relativamente pequena. Visou distribuir benefícios individuais, instrumentalizada pelo clientelismo, houve multiplicidade de interesses e de possibilidades de acesso, o que reduziu as chances de conflito. Portanto, serviu como mecanismo remissório para diminuição da população carcerária e não como política pública emancipatória dos sujeitos apenados em condições de vulnerabilidade social. PALAVRAS CHAVES: Educação, Políticas Públicas, Reinserção Social.
INTRODUÇÃO
A educação tanto formal quanto não formal se estabelece na sociedade
como meio legítimo de transmissão de conhecimento adquirido historicamente,
disseminado posteriormente por meio de todas as instituições. O meio de transmissão
desse conhecimento acumulado historicamente dá-se por dois meios, ou pela educação
formal ou pela educação não formal. Não existe dicotomia ou divergência entre os dois
espaços, sendo espaços concomitantes que convergem para formar e informar o sujeito,
preparando-os para a vida como um todo.
Embora a legislação de suporte para que a educação seja uma realidade na
vida de todos, existem diversos fatores que destoam dessa realidade, entre os quais,
podem-se elencar as adversidades da vida, os percalços econômicos, as frustrações
psicológicas e todas as contradições cabíveis nesse espaço incontável.
1 Licenciado em Filosofia pela USC e História pela UEM, Especialista em Pesquisa Educacional pela
UEM e Mestre em Ciências da Religião pela PUCSP. Professor de Filosofia pelo Estado do Paraná. [email protected]
2 Doutora em Filosofia e Ciências da Educação pela Universidade de Santiago de Compostela, Espanha. Professora do Programa de Doutorado em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa, E-mail: [email protected]
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Considerando a população geral, em suas dificuldades, pode-se perceber que
nem tudo acontece como deveria ser. Infelizmente existe uma grande disparidade entre
o ideal e o real e, como a vida é real e não ideal, nem sempre as pessoas se enveredam
pelos mesmos caminhos. Com isso, cada sujeito vai construindo a sua história,
aprendendo e ensinando ao mesmo tempo.
Algumas pessoas se enveredam por caminhos tortuosos dando mais valor a
um tipo de educação em detrimento a outro, descompasso que acaba gerando
ignorância, fome, miséria, desemprego, violência e etc. Tendo como consequência
direta o enfrentamento com a justiça e, por conseguinte, a penalização, passando a
serem recolhidos para cumprirem pena em alguma penitenciária.
Assim, em um dado momento, a penalização deixou de ser aplicada como
forma de castigo violento por meritocracia criminal e passou a ser espiada pela privação
de liberdade. Com o passar do tempo, essa lógica foi se cristalizando ao ponto de
constituir conceitos que passaram a se sedimentarem, entre os quais, pode-se citar a
completude institucional, lógica pela qual se acreditava que o então sistema penal teria
plena condição de constituir ressocialização. Essa lógica institucional foi se tornando
cada vez mais autossuficiente e fechando-se em seus conceitos, atraindo para dentro do
seu sistema todas as necessidades que o apenado precisasse. Durante muito tempo esse
paradigma da institucionalização deu conta de resolver proposição da ressocialização,
visto que, era um conceito hermético e inquestionável.
Com o avanço das ciências, devido aos avanços nas pesquisas sobre o
sistema penal, passou-se a perceber que o sistema prisional como tal, não dava mais
contas de atender às novas demandas sociais existentes. Não só porque o sistema
prisional estava um caos, mas também, porque não atendia mais as exigências
contemporâneas da globalização.
Advindo dessa necessidade, constitui-se a proposição de estabelecer a
obrigação do Estado, a propiciar condições necessárias e adequadas para a reinserção
social dos apenados, constituindo o direito à educativa como meio mais adequado de
reinserção social dos apenados. A qualificação profissional como educação não formal e
a escola como educação formal na prisão.
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MATERIAL
A elaboração dos objetivos desta proposta parte da análise do material
existente na Unidade Penal de Maringá, onde foram levantadas as fontes de pesquisa,
permitindo o acesso a diversas informações históricas. As fontes de pesquisa são
oriundas da Divisão Ocupacional de Qualificação da Penitenciária Estadual de Maringá
(DIOQ-PEM-PR), tratando dos cursos de educação não formal ofertados aos penados
entre os anos de 1999 e 2010. Este espaço constitui-se em importante fonte documental
por explicitar o cotidiano de uma determinada penitenciária. Além das fontes
documentais, levou-se em consideração a bibliografia já produzida sobre o tema,
buscando subsídios para uma maior compreensão analítica do processo.
PROPOSTA DE ANÁLISE
Este estudo analisou o processo de montagem da agenda e formação das
políticas públicas educacionais implementadas na Penitenciária Estadual de Maringá-PR
(PEM-PR), tomada pela direção da Penitenciária Estadual de Maringá-Paraná, como
uma conquista, proposição calcada referindo-se ao histórico descaso com que são
tratadas as questões pertinentes ao sistema penitenciário brasileiro. Essa escolha se
constitui como tentativa de compreensão tanto da participação dos atores sociais, quanto
pelos conceitos empregados pela instituição durante o processo de formulação das
políticas públicas realizadas.
Partindo do pressuposto de que as políticas não são formulações a esmo,
mas sim, formulações consequentes dos processos oriundos da conjuntura existente,
resultantes das complexas interações de interesses envolvidos, bem como, das
possibilidades existentes (ao acaso) fundidos aos consensos estabelecidos ao longo dos
processos decisórios. Para tanto, estudar esse processo requer fazê-lo através de uma
metodologia que apreenda significativamente todo o processo da política. Com isso,
torna-se fundamental explicitar a complexidade do processo de formulação das
políticas.
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Qualquer campo científico requer um rigoroso procedimento teórico-
metodológico, o qual viabilize tanto no avanço da produção de conhecimento, quanto
orientar as próximas tomadas de decisões das próximas políticas a serem praticadas pelo
Estado. A atual dificuldade de formulação de políticas que sejam realmente efetivas na
sua implementação, fizeram com que fosse adotado o modelo de ciclo de políticas como
sendo uma das formas mais viáveis para a compreensão do processo como um todo.
A formulação política constitui-se por um processo complexo, através das
decisões tomadas pela confluência de diversos interesses, atores e instituições.
Compilados em determinada conjuntura, delineando a montagem de uma agenda
específica para determinado problema. Por isso, a analise das políticas pela teoria dos
ciclos, modelo produzido por Howlett; Ramesh; Perl (2003) parece ser bem adequado,
pois colocam em pé de igualdade tanto os atores e suas concepções, quanto às
instituições, constituindo um ciclo de intenções e interações com seus respectivos
desdobramentos.
Figura 01 - Ciclo de Política Pública de Howlett e Ramesh.
Fonte: REIS, 2010, p.49.
O modelo de analise de ciclo das políticas descreve o desenvolvimento da
política como um processo, constituído em etapas, podendo ser, tanto alterado quando
interrompido em qualquer parte do processo. Entre as vantagens deste modelo analítico
está a possibilidade de analise por meio de qualquer parte do processo, possibilitando a
investigação do processo de forma sistemática por meio de qualquer fase do processo,
haja vista ser o ciclo contínuo e ininterrupto, facilitando tanto a analise da parte quanto
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do todo da política. Com isso, o conceito empregado na análise das políticas é definido
pelo conceito cíclico, o qual não precisa ter necessariamente uma referência de início ou
meio ou fim, esses pontos cronológicos retilíneos, embora também importantes, mas
tornam-se elementos secundários no processo de análise. Assim, foi desenvolvido um
quadro cronológico como apoio referencial de sistematização dos principais eventos
pertinentes. Incluindo-se nessa analise, tanto as concepções políticas quanto os atores e
as instituições, identificando três ciclos de políticas públicas para a segurança pública.
Esses três ciclos de políticas são constituídos tanto pela atuação integrada dos três entes
federativos de governo (federal, estadual e municipal), com distribuição das devidas
atribuições e competências, com direção única em cada nível de governo, quanto pela
alternância de gestores.
Segundo o conceito de ciclo formulado por Howlet et al (2013), o contexto
político é constituído por um conjunto de subsistemas, de onde confluem atores,
concepções e instituições, alocados no mesmo espaço onde se dão os problemas, sendo
também o mesmo espaço de onde deverão sair as possíveis soluções. Dai a necessidade
de mapear os subsistemas para compreensão da montagem da agenda e,
consequentemente, a formulação das políticas,
A - MONTAGEM OU DEFINIÇÃO DA AGENDA (Agenda-Setting)
A partir de 1988, pós Constituição Federal, abrem-se espaços dialógicos entre
governo e movimentos sociais sobre a urgente necessidade na formulação e
implementação de políticas públicas no sistema penitenciário. Sendo a adoção de
práticas participativas da sociedade civil que vão conduzir à emergência do que Avritzer
e Pereira (2005, p. 18) classificam de formas híbridas, conjugando “[em] parte
representantes do Estado, [em] parte representantes da sociedade civil, [e que] reúnem,
ao mesmo tempo, elementos da democracia representativa e da democracia direta”,
sendo esse processo de participação, atualmente classificado por “cidadania ativa”, para
definir o processo de participação da sociedade civil (BENEVIDES, 1991).
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B - FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS (Policy Formulation)
As políticas de assistência ao apenado no Brasil é um campo marcado
historicamente, por ações governamentais sempre fragmentadas, descontínuas com
desperdício de recursos e baixa eficácia das ações implantadas, caracterizadas muito
mais pelo reforço da marginalidade e invisibilidade do que por ações educativas
efetivas. Em muitos casos, as tecnológicas adotadas não são compatíveis com as
condições socioeconômicas e culturais do público-alvo. E, ainda, os processos de
tomada de decisão, quanta às políticas, têm sido formuladas segundo uma lógica tecno-
burocrática, sem a participação da sociedade civil organizada, refletindo assim,
diretamente sobre a situação de vulnerabilidade social da população.
Nesse sentido, a vulnerabilidade social compreende um conjunto de fatores
concatenados entre si, desde a economia até a cultura, formulando uma conjuntura
política, conformando os sujeitos a uma incapacidade de terem acesso aos bens
produzidos. Havendo ai uma estreita relação com a atual configuração neoliberal do
“Estado Mínimo” que transforma as políticas sociais em ações pontuais, emergenciais e
compensatórias. Nessa perspectiva, Oliveira (1995) relaciona vulnerabilidade social de
forma perversa à dependência econômica, social, cultural, intelectual, afetando
diretamente aos mais pobres.
C - TOMADA DE DECISÃO (Decision Making)
A tomada de decisão das políticas públicas se efetivou muito por causa das
pressões dos organismos internacionais e dos movimentos sociais, junto ao Brasil, para
incluírem em suas agendas políticas a discussão de temas relativos aos problemas no
sistema prisional. Instituições como a Organização das Nações unidas (ONU), a
Comissão Econômica para América latina e Caribe (CEPAL), Organização das Nações
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Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), esses organismos foram
imprescindíveis para a efetivação de políticas.
A partir destas pressões foi possível estabelecer uma referência sobre o
tratamento penal, o qual consistiu na formulação da Lei de Execução Penal (LEP) nº
7.210 de 1984, a qual versa sobre os direitos e deveres atribuídos aos apenados, sendo a
qual também, consiste na base de formulação de políticas públicas voltadas para as
demandas no sistema penitenciário. Bem como, a Lei nº 12.245, de 24 de maio de 2010,
a qual acrescentou um 4º parágrafo ao artigo nº 83 da LEP, dispondo que nos
estabelecimentos penais, conforme a sua natureza, serão instaladas salas de aulas
destinadas a cursos de ensino básico e profissionalizante. Ainda, a Lei de Remição pelo
trabalho e estudo, nº 12.433, de 29 de junho de 2011, pela qual altera os artigos 126,
127, 128 e 129 da LEP.
Como para Caldas (2008, p.13), “a fase de tomada de decisão pode ser
definida como o momento onde se escolhe alternativas de ação / intervenção, em
respostas aos problemas definidos na Agenda”. Sendo que essas duas últimas leis foram
posteriores à fundação da PEM e, como a tomada de decisão é o momento de definir a
mais apropriada dentre as alternativas apresentadas, bem como, a forma em que se dará
o processo, levando-se em consideração os atores participantes.
D - IMPLEMENTACAO (Policy Implementation)
A implementação é a fase caracterizada pela transformação das intenções em
ações, o “[...] momento onde o planejamento e a escolha são transformados em atos”
(CALDAS, 2008, p. 15). Com isso, a implementação tem por característica o
monitoramento e o controle das ações para visualizar obstáculos e falhas que possam
acontecer, a fim de detectar problemas mal formulados, objetivos distorcidos e/ou
otimismo exacerbado. Para Jannuzzi (2001, p. 45), essa fase “[...] corresponde aos
esforços de implementação de ação governamental na alocação de recursos e
desenvolvimentos dos processos previstos nas alternativas e programas escolhidos
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anteriormente”. Já para Secchi (2011) essa é a fase de transformar intenções políticas
em ações concretas, na qual entram em ação atores estatais e não estatais.
E - AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS (Policy Evaluation).
Todas as fases são fundamentais e de igual valor, mas, se tivesse que escolher
entre as cinco fases a mais importante, com certeza, seria a avaliação (CALDAS, 2008).
A avaliação é um processo sistemático de análise das ações praticadas efetivamente,
pela qual e dentro da conjuntura deve ser verificada, qual deva ser o rumo empreendido,
ou continuação, ou reorientação ou extinção das políticas.
Faz-se necessário analisar a constituição do empreendimento como um todo e,
principalmente, seus resultados a fim de verificar se atingiu ou não os objetivos iniciais?
Resolveu ou não os problemas iniciais? Esse exame garantirá qualquer correção,
cancelamento ou continuidade do programa. Outro aspecto importante é analisar se a
conjuntura se reorganizou sob outra perspectiva, necessitando também a reformulação
das políticas implementadas, reiniciando o ciclo (JANNUZZI, 2011).
A DEFINIÇÃO DO CORTE TEMPORAL COMO PROCESSO DE ANÁLISE
A escolha desse período pesquisado (1999 a 2010) se justifica por ser o
período em que os arquivos da DIOQ da PEM-PR estão mais bem servidos. Por isso, da
adoção cronológica da alternância de governo como critério para estabelecer o início e o
fim cronológico da pesquisa. Portanto, Ciclo 01 do Presidente FHC: vai de 1999 a 2002.
O Ciclo 02 do Presidente Lula, vai de 2003 a 2006. E o Ciclo 03 também do Presidente
Lula, vai de 2007 a 2010.
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Figura 02: Ciclos de Políticas sobre segurança Pública
Fonte: Elaborado pelo autor.
A partir dos três ciclos identificados, o corte temporal desta pesquisa fica
delimitado a partir do ciclo 02. Os eventos ocorridos no ciclo 01 ficam considerados
como antecedentes históricos para a formulação da concepção política analisada. O
terceiro Ciclo fica como referência atual de política, pós-implantação do Sistema Único
de Segurança Pública (SUSP), pelo qual propicia um novo contorno na Segurança
Pública do País.
A PENITENCIÁRIA ESTADUAL DE MARINGA: O LÓCUS DESTA
PESQUISA
A Penitenciária Estadual de Maringá (PEM) Unidade Penal do Paraná está
localizada em Maringá. Inaugurada em 10 de abril de 1996, localizada na área agrícola
de Maringá-PR, no limite entre os Municípios de Maringá e Paiçandu. Construída numa
área de 5.800 metros quadrados, em um terreno de 24 mil metros quadrados, possuindo
60 celas com capacidade para seis presos cada, num total de 360 vagas. Dotada de
completa infraestrutura com guaritas, galerias, solários, refeitórios, salas de aula, salas
de atendimento, cozinha, panificadora, lavanderia, consultório médico, odontológico e
área íntima.
Sua construção teve um custo de R$ 3 milhões e possui o mesmo projeto da
Penitenciária Estadual de Londrina, sendo similar na estrutura de segurança e na
capacidade de lotação. A sua instalação proporcionou à cidade 202 novos empregos
diretos e atende a região Noroeste do Estado, servindo a 30 cidades.
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Caracteriza-se como estabelecimento de segurança máxima, destinada aos
presos do sexo masculino que cumprem pena de regime fechado. Embora possua uma
capacidade de lotação para 360 presos, mantém uma média populacional de 345, sendo
que, destes, 55% da população carcerária emprega sua mão-de-obra em 24 canteiros de
trabalho nas áreas de manutenção, artesanato, agricultura, fábrica de bolas de futebol,
marcenaria, dentre outros. Ainda destes apenados, 55% estudam no Centro de Estudos
Supletivos, Professora Tomires Moreira de Carvalho, localizado no interior da própria
instituição penal. Aos detentos são oferecidos os cursos de Alfabetização, Ensino
Fundamental e Médio, seguindo, os dois últimos, o sistema supletivo de ensino da
Secretaria de Educação do Estado.
Aos apenados empregados, a cada três dias de trabalho são comutados um
dia na pena; aos que estudam a cada dezoito horas é compensado um dia na pena. A
escola funciona no período das 8h às 17h e, a biblioteca das 8h às 11h e das 14h às
16horas.
O espaço físico destinado à escola é cabível. Não há paredes separando as
turmas, o espaço da cela de aula é aberto isto é, cada professor possui um pequeno local
com cadeiras e carteiras compatíveis com o número de alunos matriculados, variando
muito o número de alunos por turma. O curso com maior índice de frequentadores é o
de alfabetização. Trabalham, concomitantemente, todos os professores e, dentro desse
espaço, somando-se todas as turmas, há uma média de quarenta a sessenta alunos
detentos, com um agente penitenciário diretamente controlando o local.
O único espaço dotado de paredes e portas, localizados dentro dessa mesma
cela, é uma pequena sala, com determinado número de carteiras e cadeiras, destinadas à
oferta de alguma aula que requeira uma ação diferente, como por exemplo, assistir
algum filme. Nessa sala também fica a biblioteca, com espaço reduzido: há três
prateleiras e um conjunto de cadeira e mesa pertencentes ao atendente da biblioteca.
Não é possível a leitura dentro desse ambiente, por ser restrito e também porque uma
possível reunião de detentos em um local limitado dificultaria o trabalho dos agentes
penitenciários.
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Há na biblioteca obras que congregam desde textos literários, políticos,
filosóficos, de autoajuda, de religião, até obras de cunho didático - apostilas, livros
didáticos, entre outros temas. As obras foram constituídas ou por meio de doações ou
por aquisição da própria escola.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Gráfico 01: Cursos (1999 a 2010)
4%
6%13%
11%
14%19%
13%
4%3% 4%
5% 4%
CURSO 1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Elaborado pelos autores a partir dos dados coletados na DIOQ-PEM-PR. Gráfico 02: Carga Horária (2002 a 2010)
5%16%
28%17%
12%
1%6%
4%11%
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Elaborado pelos autores a partir dos dados coletados na DIOQ-PEM-PR.
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Vale ressaltar que especificamente no caso específico do gráfico de frequência, não
constavam nas planilhas os três primeiros anos.
Gráfico 03: Frequência (1999 a 2010)
3% 8%
10%
11%
14%20%
12%
4%4%
4%6% 4% 1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Elaborado pelos autores a partir dos dados coletados na DIOQ-PEM-PR
ANALISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
No Brasil, as esferas governamentais, tanto federal quanto estadual,
enfatizam que o processo de ressocialização do preso deve ser efetivado por meio tanto
do trabalho quanto da educação. Em cima desse argumento foi construído todo um
discurso que considera o trabalho como fator fundamental de sustentação tanto da
recuperação, quanto das políticas públicas de qualificação profissional implantadas no
sistema penitenciário como sendo mecanismo de redução penal e tentativa de inserção
do egresso na sociedade.
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Gráfico 04: Quadro Comparativo dos cursos constituídos na PEM
Elaborado pelos autores a partir dos dados coletados na DIOQ-PEM-PR.
Essa constatação se faz presente devido ao fato de que os cursos dados no
sistema penal nem de longe tem condições estruturais para qualificação do apenado para
o emprego formal como um todo. O sistema prioriza trabalhos e cursos
profissionalizantes que mais se parecem com terapia ocupacional para ocupar o tempo
dos alunos de que necessariamente prepará-los para o mercado de trabalho.
Os cursos geralmente tem uma equivalência de quinze a vinte horas e são
quase sempre frequentados por um total de quinze alunos por curso. São cursos de
trabalhos artesanais, bordado a mão, além de cursos dedicados ao plantio e cultivo de
hortaliças e jardinagem. Esses cursos, elevados ao status de “qualificação”,
desenvolvidos dentro do sistema prisional se constituem em uma reprodução de
conhecimentos meramente técnicos, o que não garante a inserção nem do apenado e
nem do egresso ao mercado de trabalho formal, tão pouco a geração de renda e menos
ainda, a possibilidade de ressocialização.
O discurso dominante do Estado sempre enfatizou a qualificação
profissional como sendo uma complexa construção social de qualificação estrutural não
se restringindo apenas por cursos de terapia ocupacional. No entanto, a realidade
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constatada é bem diferente, uma situação reveladora que apresenta mais que um
adestramento, do que desenvolvimento de habilidades empregatícias.
Uma das críticas válidas para esse quadro reside no fato de que essa
produção de terapia ocupacional não tem em seus procedimentos operacionais quase
nada que possa vir a desenvolver as competências e as habilidades complexas que
configuram nas reais condições de efetivação do trabalho intelectual, fruto de um
exercício político de crítica tão necessário para dar conta dos desafios configurados pela
sociedade contemporânea.
As qualificações profissionais advindas desses cursos se pautam em critérios
de reflexo condicionado para aquisição de condicionamento disciplinar mais do que no
desenvolvimento de habilidades profissionais. O trabalho, com sua grande
potencialidade de ressocialização, passou a ser instrumento de novas formas de exclusão
social ensejada pela precarização do trabalho e pelo desemprego. A falta de emprego ou
as parcas condições do trabalho existente acabam por configurar as modernas formas de
exclusão social atuais.
O trabalho pode ser configurado tanto como fator de inclusão, quanto fator
de exclusão. Isso acaba sendo um marco regulatório no processo de ressocialização.
Assim, os apenados são incluídos em Políticas de Qualificação Profissional que
focalizam o trabalho como elemento de ressocialização e, por conseguinte, a produção,
sendo que os interesses acabam por se confundirem, ora como discurso para a
ressocialização, ora como discurso do pleno emprego, sendo efetivada a real
preocupação apenas com a produção.
A que constituir uma crítica às políticas públicas desenvolvidas no sistema
penal por muitas vezes não potencializarem a possibilidade das vias da empregabilidade
apenas compilarem meios parcos para transferência de conhecimentos que direcionam o
sujeito para a execução de trabalhos que exijam apenas habilidades técnicas.
Dos cursos ministrados nos estabelecimentos penais poucos contribuem
para que os apenados se profissionalizem, inviabilizando assim, as chances de inserção
do apenado ao mercado de trabalho, impossibilitando a geração de renda, empurrando
os egressos para o subemprego ou para a informalidade, quando não, para o
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desemprego. O que acaba corroborando diretamente o aumento da reincidência
criminal.
O quadro conjuntural que o apenado enfrenta consiste em um tecido social
dado tanto pelas modernas técnicas de produção quanto pela precarização do trabalho,
acrescido a isso o fato de serem ex-sentenciados, estigma que significa pertencer ao
universo do crime. Nesse sentido, o discurso das políticas públicas constitui-se muito
mais em uma falácia do que ressocialização efetiva, constituindo um discurso de
culpabilização individualizada mais do que uma situação social.
A partir disso, a empregabilidade assume uma configuração individualizante
pelo qual transfere toda a responsabilidade social para o sujeito, indivíduo fracassado
pela sua própria incapacidade e inoperância, justificada inclusive pelas teorias
lambrozianas, certificadas pelos conceitos constituídos pelo Médico Sanitarista
Raymundo Nina Rodrigues ([1938] 2009), como sendo o pertencimento ao mundo do
crime a justificativa para promulgar a nova forma de culpabilização do indivíduo pela
situação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Penitenciária Estadual de Maringá esteve no caminho de efetivação do
processo de qualificação dos apenados, propiciando cursos durante anos, os mais
vaiados possíveis. Sendo esse o pomo da questão. Os cursos foram muito expressivos,
mas indicativo de um caminho a ser seguido. Tanto os trabalhos realizados, quanto os
cursos ministrados, propiciaram uma razoável condição, servido tanto para qualificação
quanto para remissão.
Nessa perspectiva a participação da sociedade civil foi condição sine qua
nom para a efetivação destas ações significativas, propiciando oportunidades, as quais, a
maioria dos apenados nunca teve, haja vista ser a penitenciaria cheia de pessoas
marcadas pela violência, pobreza e marginalização.
A participação dos apenados sempre foi grande. Nem que fosse apenas para
obter certificação, preocupados em deixar transparecer que já haviam se regenerado
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porque participavam da igreja, da escola e dos canteiros de trabalho, além de fazer todos
os cursos possíveis.
Através da Divisão Ocupacional de Qualificação (DIOQ), a PEM sempre
propiciou os mais diversos cursos, os quais sempre emitindo certificação, pois era a
efetivação da certificação que proporcionava condições para efetivação da remissão da
pena.
Houve inúmeros percalços, mas, em uma seara tão causticante quanto o
sistema prisional, a experiência praticada na Penitenciária Estadual de Maringá,
expressa mais ainda que para haver resultados a contento para a ressocialização, tal
sucesso só se efetivará na medida em que as políticas públicas se efetivarem como meio
de ação efetiva do Estado, atendendo as demandas reais dos apenados, efetivando o
conceito de rede como relação basilar das políticas públicas praticadas nesse contesto.
Ainda os percalços serviram de exemplo para não cometerem os mesmos erros
posteriormente.
Apesar de que muitos cursos serviram mais como terapia ocupacional do
que qualificação profissional propriamente dito, serviram também como discurso
político para justificar a ausência do Estado no sistema penitenciário. Também produzir
um processo remissório.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
AVRITZER, L.; PEREIRA, M. L. Democracia, participação e instituições híbridas. Teoria & Sociedade, Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2005, p. 16-41. BENEVIDES, M. V. A cidadania ativa: referendo, plebiscito e iniciativa popular. São Paulo: Ática, 1991. CALDAS, Ricardo Wahrendorff. (Org.) Políticas Públicas: conceitos e práticas. Série Políticas Públicas, v. 07. Belo Horizonte: SEBRAE, 2008. Disponível em: <http://www.agenda21comperj.com.br/sites/localhost/files/MANUAL%20DE%20POLITICAS%20P%C3%9ABLICAS.pdf>. Acesso em 15 nov. 2014. HOWLETT, Michael; RAMESH, M; PERL, Anthony. Política Pública: seus ciclos e subsistemas: uma abordagem integral. Tradução de Francisco G. Heidemann. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
Universidade Estadual de Maringá 02 a 04 de Dezembro de 2015
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