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CURITIBA
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
RAQUELL DA SILVA LIMA
EFEITO DO CICLO DE MOLHAGEM E SECAGEM NA RESISTIVIDADE
ELÉTRICA SUPERFICIAL E NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DO
CONCRETO: SIMULAÇÃO DA AGRESSIVIDADE MARINHA
CURITIBA
2017
RAQUELL DA SILVA LIMA
EFEITO DO CICLO DE MOLHAGEM E SECAGEM NA RESISTIVIDADE
ELÉTRICA SUPERFICIAL E NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DO
CONCRETO: SIMULAÇÃO DA AGRESSIVIDADE MARINHA
Trabalho de conclusão de curso
apresentado à disciplina de Trabalho
de Final de Curso de Engenharia Civil,
Setor de Tecnologia da Universidade
Federal do Paraná.
Orientador: Prof. ° Dr. Ronaldo A. de
Medeiros Junior.
AGRADECIMENTOS
Ao longo da vida passamos por diversos momentos em que temos que fazer
escolhas, decisões, as quais podem mudar por completo o rumo de tudo. No entanto
a certas escolhas que somos guiadas a elas e por mais difíceis e confusas que elas
possam parecer, podemos descobrir muitas coisas valiosas que até então não se
enxergava.
Escolhendo o curso de Engenharia Civil, consegui descobrir muito mais do
que aquelas perguntas que me incomodavam, descobri pessoas, muitas conheci
muito bem ao longo dos anos em que passei na faculdade, outras rapidamente e
outras que sempre estiveram presentes na minha vida.
Por isso venho a agradecer a possibilidade de ter conhecido pessoas
maravilhosas dentro da universidade, amigos queridos, que tenho orgulho de
compartilhar a amizade. Os quais que mesmo nos piores momentos estavam ao
meu lado para me dar suporte, que por mais rápido que fosse o momento, ou mais
banal, me faziam rir e mais no que tudo por me ensinarem a dar valor a amizade.
Agradeço os meus pais, José e Rosa, que com todas as felicidades, tristezas,
certezas e incertezas, sempre me apoiaram em meus sonhos e minhas realizações,
e que me ensinaram a dar valor a tudo que tenho, e que me ensinaram a ter força e
nunca desistir. As minhas irmãs pelo apoio, e pelos momentos de descontração, que
tornaram muitos mais leves na minha vida.
Ao Cleverson, que me ensinou a ter fé e esperança, que tudo é possível
quando acreditamos em nós mesmos.
Ao professor Ronaldo pela paciência, dedicação e brilhante orientação deste
trabalho.
Agradeço a Universidade Federal do Paraná, por me tornar humana, e me
fazer perceber que como humanos possuímos falhas, mas que nem sempre essas
falhas se tornam defeitos, mas sim qualidades que nos diferenciam dos demais.
E por fim agradeço a Deus por me proporcionar ter conhecido todas essas
pessoas, e por iluminar a minha vida.
5
RESUMO
Para uma análise eficiente de uma estrutura de concreto, deve-se considerar, além da resistência e da estabilidade, aspectos de durabilidade, principalmente quando exposta a presença de agentes agressivos, como os íons sulfatos e cloretos, pois a presença destes modifica as propriedades e a microestrutura do concreto e acarreta em gastos com reparos. Portanto, há uma necessidade de se criar parâmetros para melhor compreender e quantificar os aspectos da durabilidade e vida útil do concreto. Sendo assim, a resistividade elétrica superficial (RES) vem como um dos principais parâmetros para se quantificar e monitorar a durabilidade do concreto, sendo um ensaio não destrutivo e de fácil execução. A correlação entre os ensaios de resistência à compressão e RES são importantes, pois, proporcionam ao fabricante estimar a resistência mecânica do concreto nas primeiras idades. O presente trabalho visa dar continuidade ao estudo de Medeiros Junior et al. (2014), o qual analisou a influência da RES para diferentes tipos de cimento. No entanto, para este trabalho será analisada a influência de ciclos de molhagem e secagem com água e solução combinada de cloreto de sódio e sulfato de sódio, comparando esses resultados com a condição de imersão em água, simulando a zona de respingos e variação de maré. Para isto, foram moldados corpos de prova utilizando CP IV 32 RS, traço 1:1,4:2,1 (cimento:areia:brita) em materiais secos e 4 (quatro) relações água/cimento: 0,42, 0,48, 0,54 e 0,60 para cada condição de exposição. Realizaram-se ensaios de resistência à compressão e resistividade elétrica aos 28 dias na condição de cura em câmara úmida, e para as idades de 42, 91 e 140 dias as demais condições. Os resultados permitiram observar que a resistência à compressão e a resistividade elétrica possuem boa correlação. Conforme os resultados obtidos, para o ciclo de molhagem e secagem com solução combinada de cloreto de sódio e sulfato de sódio, a RES pouco varia ao longo do tempo, denotando que a redução está relacionada com o aumento de íons e da umidade. Portanto, através destes resultados e outras analises, é possível obter uma estimativa de resistência à compressão para as primeiras idades utilizando-se o ensaio de resistividade elétrica, para as condições analisadas no presente estudo.
Palavras – chave: durabilidade, ciclos de molhagem e secagem, agressividade marinha, ataque por cloretos, ataque por sulfatos.
6
ABSTRACT
For an efficient analysis of a concrete structure, it is necessary to consider, in addition to compressive strength and stability, durability aspects, especially when exposed to the presence of aggressive agents, such as sulfate ions and chlorides, since the presence of these ions modifies the properties and the microstructure of concrete. Therefore, there is a need to create parameters to better understand and quantify aspects of the durability and service life of the concrete. Thus, surface electrical resistivity (SER) comes as one of the main parameters to quantify and monitor the durability of the concrete, being a non destructive test. The correlation between compressive strength and SER tests is important because they allow the manufacturer to estimate the mechanical strength of the concrete at the earliest ages. The present work aims to continue the study of Medeiros Junior et al. (2014), which analyzed the influence of SER for different types of cement. However, for this work the influence of wetting and drying cycles with water and combined solution of sodium chloride and sodium sulfate will be analyzed, comparing these results with the condition of immersion in water, simulating the splashes and variation of tide zones. For this, samples were prepared using CP IV 32 RS, 1: 1.4: 2.1 (cement: sand: crushed) in dry materials and 4 (four) water / cement ratios: 0.42, 0, 48, 0,54 and 0,60, for each exposure condition. Tests of compressive strength and electrical resistivity were carried out at 28 days in the wet chamber cure condition, and at the ages of 42, 91 and 140 days in the other conditions. The results allowed to observe that the compressive strength and the electrical resistivity have a good correlation. According to the results obtained, for the wetting and drying cycle with a combined solution of sodium chloride and sodium sulfate, the SER does not change over time, indicating that the reduction is related to the increase of ions and humidity. Therefore, through these results and other analyzes, it is possible to obtain an estimate of compressive strength for the first ages using the electrical resistivity test, for the conditions analyzed in the present study.
Key words: durability, wetting and drying cycles, marine aggressiveness, chloride attack, sulfate attack.
7
LISTA DE TABELAS
TABELA 2.1 - PRINCIPAIS MECANISMOS DE DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE
CONCRETO ARMADO .............................................................................................................. 19
TABELA 2.2 - RELAÇÃO ENTRE PERMEABILIDADE E RELAÇÃO ÁGUA/CIMENTO PARA
PASTAS COM 93% DO CIMENTO HIDRATADO ...................................................................... 28
TABELA 3.1 - CLASSES DE AGRESSIVIDADE AMBIENTAL PARA ESTRUTURAS DE
CONCRETO ...............................................................................................................................35
TABELA 3.2 - CORRELAÇÃO DA CLASSE DE AGRESSIVIDADE AMBIENTAL E O
COBRIMENTO NOMINAL ......................................................................................................... 48
TABELA 3.3 - FRENTE DE PENETRAÇÃO DOS ÍONS CLORETO DOS CONCRETOS
EXPOSTOS A UMA SOLUÇÃO DE 3, 5% DE NACL ................................................................. 49
TABELA 3.4 - FRENTE DE PENETRAÇÃO DOS ÍONS CLORETO DOS CONCRETOS
EXPOSTOS A UMA SOLUÇÃO DE 10% DE NACL ................................................................... 50
TABELA 3.5 - REQUISITOS PARA O CONCRETO EXPOSTO À SOLUÇÕES CONTENDO
SULFATOS ................................................................................................................................ 52
TABELA 3.6 - GRAU DE AGRESSIVIDADE DA ÁGUA CONTENDO SULFATOS ................... 53
TABELA 3.7 - MUDANÇA DO PH EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA ..................................... 53
TABELA 3.8 – COEFICIENTES DE PENETRAÇÃO DOS ÍONS SULFATO PARA OS
CONCRETOS E MICRO AMBIENTES PESQUISADOS ............................................................ 56
TABELA 4.1 - CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO CONCRETO
.................................................................................................................................................... 58
TABELA 4.2 - INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO ÁGUA/CIMENTO E DA DURAÇÃO DA CURA ÚMIDA
SOBRE A RESISTIVIDADE DA PASTA DE CIMENTO ............................................................. 64
TABELA 4.3 - TRAÇOS UNITÁRIOS EM MASSA ..................................................................... 68
TABELA 4.4 - PROBABILIDADE DE PENETRAÇÃO DE ÍONS CLORETO NO CONCRETO
.................................................................................................................................................... 75
TABELA 4.5 - RELAÇÕES ÁGUA/AGLOMERANTE E RESISTIVIDADES ELÉTRICAS OBTIDAS
.................................................................................................................................................... 77
TABELA 5.1 - PROPRIEDADES QÚIMICAS DO CPIV 32 RS.................................................... 82
TABELA 5.2 - PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DO CP IV 32 RS ............................ 82
TABELA 5.3 - RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO DO AGREGADO MIÚDO
.................................................................................................................................................... 83
TABELA 5.4 - DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA DOS AGREGADOS MIÚDOS ................ 83
TABELA 5.5 - RESULTADOS ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO AGREGADO GRAÚDO ..... 85
TABELA 5.6 - CONSUMO DE CIMENTO, AREIA E BRITA EM KG/M³ E FCK
.................................................................................................................................................... 87
TABELA 5.7 - ABATIMENTO DO CONCRETO PARA CADA RELAÇÃO A/C ANALISADA
.................................................................................................................................................... 88
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 2.1 – MODELO DE EQUILÍBRIO DE UMA ESTRUTURA EM QUE ATUAM OS
FATORES RELATIVOS À DURABILIDADE ............................................................................... 18
FIGURA 2.2 – CONDIÇÕES PARA A OCORRÊNCIA DA CORROSÃO.................................... 22
FIGURA 2.3 – ESQUEMA DE CORROSÃO ELETROQUÍMICA EM CONCRETO ARMADO
.................................................................................................................................................... 22
FIGURA 2.4 – ESFORÇOS PRODUZIDOS QUE LEVAM À FISSURAÇÃO DO CONCRETO
DEVIDO À CORROSÃO DA ARMADURA.................................................................................. 23
FIGURA 2.5 – EVOLUÇÃO ESQUEMÁTICA DA DETERIORAÇÃO DE ESTRUTURAS DE
CONCRETO POR CORROSÃO DE ARMADURA ..................................................................... 24
FIGURA 2.6 – CONCEITUAÇÃO DE VIDA ÚTIL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO
TOMANDO POR REFERÊNCIA O FENÔMENO DE CORROSÃO DE ARMADURAS ............. 24
FIGURA 2.7 – FORMAS DE PENETRAÇÃO DE CLORETOS EM CONCRETO ...................... 33
FIGURA 3.1 – ZONAS DE AGRESSIVIDADE ÀS ESTRUTURAS DE CONCRETO
ARMADO.................................................................................................................................... 38
FIGURA 3.2 – TEOR DE CLORETOS NA ZONA DE VARIAÇÃO DE MARÉ – COMPARAÇÃO
ENTRE COSTADOS .................................................................................................................. 39
FIGURA 3.3 - TEOR DE CLORETOS NA ZONA DE RESPINGOS – COMPARAÇÃO ENTRE
COSTADOS ............................................................................................................................... 39
FIGURA 3.4 - TEOR DE CLORETOS NA ZONA DE RESPINGOS – COMPARAÇÃO ENTRE
COSTADOS ............................................................................................................................... 40
FIGURA 3.5 - GRÁFICO DOS COEFICIENTES DE PENETRAÇÃO DE ÍONS CLORETO NAS
ZONAS DE AGRESSIVIDADE MARINHA ................................................................................. 41
FIGURA 3.6 - EFEITOS ISOLADOS DA RELAÇÃO A/C E DO TIPO DE CIMENTO SOBRE O
COEFICIENTE EFETIVO DE DIFUSÃO DE CLORETOS ......................................................... 43
FIGURA 3.7 - INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO A/AGL NO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE
DOS CONCRETOS ................................................................................................................... 43
FIGURA 3.8 - INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO A/C NO TEOR DE CLORETOS TOTAIS
.................................................................................................................................................... 44
FIGURA 3.9 - EFEITO DO CONTEÚDO DE (C3A) DO CIMENTO NO TEMPO DE INICIAÇÃO DA
CORROSÃO DA ARMADURA DO CONCRETO ....................................................................... 45
FIGURA 3.10 - INFLUÊNCIA DO TIPO DE CIMENTO NA PROFUNDIDADE DE PENETRAÇÃO
DE CLORETOS NO CONCRETO CONSIDERANDO UM FCK = 30 MPa ................................ 46
FIGURA 3.11 - PROFUNDIDADE DE PENETRAÇÃO DE CLORETOS PARA 120 CICLOS DE
MOLHAGEM E SECAGEM ........................................................................................................ 51
FIGURA 3.12 - ESTRUTURA DO CAIS E LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS PESQUISADOS .... 55
9
FIGURA 3.13 - PERFIS DOS TEORES DE ÍONS SULFATO SOLÚVEIS EM ÁGUA EM
RELAÇÃO AO PESO DE CONCRETO PARA FCK DE 23,5 MPA (PS E PI) E 19 MPA (ES E EI)
.................................................................................................................................................... 55
FIGURA 3.14 - ESTIMATIVA DA EVOLUÇÃO DA FRENTE DE CONTAMINAÇÃO DE
SULFATOS EM FUNÇÃO DO TEMPO DE EXPOSIÇÃO (T) PARA OS PONTOS ES E EI ...... 56
FIGURA 4.1 - ESQUEMA DO MÉTODO DOS 4 ELETRODOS PARA A MEDIDA DE
RESISTIVIDADE ELÉTRICA: I – AMPERÍMETRO, V- VOLTÍMETRO DE ALTA IMPEDÂNCIA
DE ENTRADA, E a – DISTANCIA ENTRE OS ELETRODOS .................................................... 60
FIGURA 4.2 - INFLUÊNCIA DAS DIMENSÕES DO CORPO-DE-PROVA SOBRE A
RESISTIVIDADE ELÉTRICA ..................................................................................................... 61
FIGURA 4.3 - RESISTIVIDADE SUPERFICIAL EM FUNÇÃO DA CORRENTE (µA) ............... 62
FIGURA 4.4 - RESISTIVIDADE SUPERFICIAL EM FUNÇÃO DA FREQUENCIA (Hz) ............ 62
FIGURA 4.5 - RESISTIVIDADE ELÉTRICA DE PASTAS DE DIFERENTES TIPOS DE
CIMENTOS, À TEMPERATURA DE 22º C E UMIDADE RELATIVA DE 100% ......................... 65
FIGURA 4.6 - RELAÇÃO ENTRE A RESISTIVIDADE ELÉTRICA E A RELAÇÃO
ÁGUA/CIMENTO E TEOR DE CIMENTO .................................................................................. 65
FIGURA 4.7 - VALORES DE RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO CONCRETO PARA DIFERENTES
TIPOS DE CIMENTO ................................................................................................................. 66
FIGURA 4.8 - RESULTADOS MÉDIOS DE RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL PARA
DIFERENTES TEORES DE ADITIVO SUPERPLASTIFICANTE ............................................... 68
FIGURA 4.9 - CORRELAÇÃO ENTRE TEOR DE ADITIVOS E RESISTIVIDADE ELÉTRICA
.................................................................................................................................................... 69
FIGURA 4.10 – EVOLUÇÃO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO CONCRETO COM RELAÇÃO
A/CCORRELAÇÃO ENTRE TEOR DE ADITIVOS E RESISTIVIDADE ELÉTRICA ................... 70
FIGURA 4.11 - RESISTIVIDADE ELÉTRICA VERSUS TEMPERATURA .................................. 71
FIGURA 4.12 - RESISTIVIDADE ELÉTRICA EM FUNÇÃO DA UMIDADE E CONCENTRAÇÃO
DE CL−......................................................................................................................................... 73
FIGURA 4.13 - RESISTIVIDADE ELÉTRICA EM FUNÇÃO DA UMIDADE E CONCENTRAÇÃO
DE CL− PARA UM TEOR DE SO4− DE 7,2 KG/M³ NO CONCRETO ........................................... 74
FIGURA 4.14 - DESENVOLVIMENTO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DURANTE O
PROCESSO DE ENDURECIMENTO ........................................................................................ 76
FIGURA 4.15 - RELAÇÃO DA RESISTÊNCIA Á COMPRESSÃO E RESISTIVADE ELÉTRICA
PARA UM DADO TIPO DE CIMENTO ....................................................................................... 76
FIGURA 4.16 - RESISTIVIDADE ELÉTRICA VERSUS RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AOS
91 DIAS ...................................................................................................................................... 77
FIGURA 4.17 - CORRELAÇÃO DA RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE
ELÉTRICA – CP IV 32 ................................................................................................................ 78
FIGURA 4.18 - CORRELAÇÃO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE
ELÉTRICA – CP III 40 RS ........................................................................................................... 79
10
FIGURA 5.1 - CURVA GRANULOMÉTRICA DO AGREGADO MIÚDO .................................... 84
FIGURA 5.2 - CURVA GRANULOMÉTRICA DO AGREGADO GRAÚDO ................................. 85
FIGURA 5.3 - MISTURA DOS MATERIAS NA BETONEIRA E PREPARAÇÃO DOS MOLDES
.................................................................................................................................................... 89
FIGURA 5.4 - MISTURA DOS MATERIAS NA BETONEIRA E PREPARAÇÃO DOS MOLDES
.................................................................................................................................................... 90
FIGURA 5.5 - CORPOS-DE PROVA APÓS A MOLDAGEM E ENVOLTOS POR FILME
PLÁSTICO ................................................................................................................................. 89
FIGURA 5.6 - CORPOS-DE-PROVA NA CÂMARA ÚMIDA ...................................................... 89
FIGURA 5.7 - CORPOS-DE-PROVA EM IMERSÃO EM SOLUÇÃO AGRESSIVA ................. 90
FIGURA 5.8 - FLUXOGRAMA DAS CONDIÇÕES E ENSAIOS ANALISADOS ........................ 91
FIGURA 5.9 - ENSAIO DE COMPRESSÃO AXIAL NA PRENSA HIDRÁULICA ....................... 92
FIGURA 5.10 - ENSAIO DE RESISTIVIDAADE ELÉTRICA COM O APARELHO RESIPOD .... 93
FIGURA 6.1 - RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO PARA A CONDIÇÃO DE IMERSÃO EM
ÁGUA.......................................................................................................................................... 94
FIGURA 6.2 - RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO PARA CICLO DE M/S COM
ÁGUA.......................................................................................................................................... 95
FIGURA 6.3 - RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO PARA CICLO DE M/S COM SOLUÇÃO
COMBINADA DE CLORETO DE SÓDIO E SULFATO DE SÓDIO ........................................... 95
FIGURA 6.4 - RESISTIVIDADE ELÉTRICA PARA CONDIÇÃO DE IMERSÃO
.................................................................................................................................................... 97
FIGURA 6.5 - RESISTIVIDADE ELÉTRICA PARA CICLO DE M/S COM ÁGUA .................... 97
FIGURA 6.6 - RESISTIVIDADE ELÉTRICA PARA CICLO DE M/S COM SOLUÇÃO
COMBINADA DE CLORETO DE SÓDIO E SULFATO DE SÓDIO ........................................... 98
FIGURA 6.7 - RESISTIVIDADE ELÉTRICA AOS 42 DIAS PARA AS CONDIÇÕES ANALISADAS
.................................................................................................................................................... 98
FIGURA 6.8 - CORRELAÇÃO ENTRE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE
ELÉTRICA AOS 42 DIAS PARA TODAS AS CONDIÇÕES ANALISADAS
.................................................................................................................................................. 100
FIGURA 6.9 - CORRELAÇÃO ENTRE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE
ELÉTRICA AOS 91 DIAS PARA TODAS AS CONDIÇÕES ANALISADAS ........................... 101
FIGURA 6.10 - CORRELAÇÃO ENTRE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE
ELÉTRICA AOS 140 DIAS PARA TODAS AS CONDIÇÕES ANALISADAS
................................................................................................................................................. 101
FIGURA 6.11 - CORRELAÇÃO ENTRE A RESISTIVIDADE ELÉTRICA E A RESISTÊNCIA À
COMPRESSÃO PARA A CONDIÇÃO DE IMERSÃO .............................................................. 102
FIGURA 6.12 - CORRELAÇÃO ENTRE A RESISTIVIDADE ELÉTRICA E A RESISTÊNCIA À
COMPRESSÃO PARA A CONDIÇÃO DE CICLO DE M/S COM ÁGUA
.................................................................................................................................................. 102
11
FIGURA 6.13 - CORRELAÇÃO ENTRE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE
ELÉTRICA PARA A CONDIÇÃO DE M/S COM SOLUÇÃO COMBINADA DE CLORETO E
SULFATO ................................................................................................................................ 103
12
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 14
1.1 OBJETIVO ........................................................................................................................... 15
1.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................... 15
2. DURABILIDADE E VIDA ÚTIL DE ESTRUTURAS DE CONCRETO ................................................. 17
2.1 CONCEITOS DE DURABILIDADE E VIDA ÚTIL ............................................................... 17
2.2 CORROSÃO DAS ARMADURAS DO CONCRETO ........................................................... 19
2.3 MECANISMOS DE TRANSPORTE NO CONCRETO ........................................................ 27
2.3.1 Permeabilidade .......................................................................................................... 28
2.3.2 Absorção capilar ......................................................................................................... 30
2.3.3 Difusão de íons ........................................................................................................... 31
2.3.4 Migração de íons ........................................................................................................ 32
2.3.5 Mecanismos combinados ........................................................................................... 33
3. AGRESSIVIDADE DO AMBIENTE MARINHO E AÇÃO DOS ÍONS CLORETO ............................... 35
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA AGRESSIVIDADE DO MEIO AMBIENTE ............................................... 35
3.2 ZONAS DE AGRESSIVIDADE MARINHA .............................................................................. 36
3.3 AÇÃO DA PRESENÇA DE CLORETOS ................................................................................... 42
3.3.1 Fatores que influenciam o ingresso de cloretos no concreto .................................... 43
3.3.2 Concentração de cloretos .......................................................................................... 50
3.4 AÇÃO DOS SULFATOS ........................................................................................................ 52
4. RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL E RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO ................................ 58
4.1 RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL ............................................................................. 58
4.1.1 Medida da Resistividade ............................................................................................ 59
4.1.2 Propriedades do concreto relacionadas à resistividade ............................................ 64
4.1.3 Efeitos da Exposição sobre a resistividade ................................................................. 71
4.2 RESISTENCIA À COMPRESSÃO ........................................................................................... 75
4.3 CORRELAÇÕES ENTRE RESISTIVIDADE ELÉTRICA E RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DO
CONCRETO............................................................................................................................... 76
5 METODOLOGIA EXPERIMENTAL ............................................................................................... 81
5.1. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS ............................................................. 82
5.1.1 Cimento ...................................................................................................................... 82
5.1.2. Agregado miúdo ........................................................................................................ 84
13
5.1.3 Agregado graúdo ........................................................................................................ 85
5.1.4 Água ............................................................................................................................ 87
5.2 DEFINIÇÃO DO TRAÇO ....................................................................................................... 87
5.3 MOLDAGEM E CURA DOS CORPOS DE PROVA .................................................................. 87
5.4 CICLOS DE MOLHAGEM E SECAGEM ................................................................................. 91
5.5 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO ........................................................................................... 93
5.6 RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL ............................................................................. 95
6. RESULTADOS ........................................................................................................................... 96
6.1 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO ........................................................................................... 96
6.2 RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL ............................................................................. 99
6.3 CORRELAÇÕES ENTRE A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E A RESISTIVIDADE ELÉTRICA
SUPERFICIAL .......................................................................................................................... 102
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 107
8. REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 109
14
1. INTRODUÇÃO
A escolha do concreto ao invés de aço e madeira, como material para a
construção, é notória, isto devido a este material proporcionar benefícios, tanto
econômicos, técnicos e ambientais. (MEHTA E MONTEIRO, 2006). Com o intuito
de proteger o aço, em estruturas de concreto armado, o concreto passa a
desempenhar dupla função, ou seja, atua tanto como barreira física (impactos)
quanto barreira química para impedir o ingresso de agentes agressivos e garantir
a durabilidade das estruturas. (CASCUDO, 1997).
Um dos principais problemas das estruturas de concreto armado, é a falta
de monitoramento da durabilidade, constituindo um assunto de grande interesse
para a construção civil, pois, as normas e práticas atuais adotadas, têm
apresentado dificuldade em garantir a durabilidade principalmente em relação a
ambientes agressivos. (ANDRADRE E D’ANDREA, 2010; GJØRV, 2013).
A corrosão das armaduras presentes nas estruturas de concreto armado,
é a manifestação patológica mais comum e ao longo tempo compromete a
segurança estrutural e em significativo impacto econômico. (HELENE, 1997). O
processo de deterioração, pela corrosão, em ambiente marinho é acelerado pela
presença de agentes agressivos como íons cloreto e sulfato, os quais agem
como desencadeadores deste processo. (COSTA, 2001).
De acordo com a localização da obra o processo de deterioração varia,
por exemplo, em estruturas expostas ao processo de ciclo de molhagem e
secagem alternados, há acúmulo de sais nos poros do concreto devido ao
ingresso da água do mar, constituindo uma condição agressiva, pois, a água
evapora e os sais fixam-se e reidratam-se no próximo processo de molhagem e
exercem expansão, este processo ocorre nas zonas de respingo e variação de
maré. (BRANDÃO, 1999; NEVILLE, 2015).
Portanto, além da resistência à compressão é necessário inserir o
elemento de durabilidade no projeto de estruturas de concreto, estimulado o
desenvolvimento de novos métodos para previsão e monitoramento da vida útil
(ANDRADE, 2004). Deste modo ensaios não destrutivos tornam-se atrativos,
como por exemplo, o ensaio de resistividade elétrica, ensaio não destrutivo e de
15
fácil execução, o qual possibilita um monitoramento da qualidade do concreto e
consequentemente inferir na durabilidade.
A correlação entre os ensaios de resistência à compressão e resistividade
elétrica superficial, além da possibilidade de controle da qualidade do concreto,
como para ambientes agressivos, proporciona ao fabricante estimar a resistência
mecânica do concreto nas primeiras idades. (ROSA, 2005; ANDRADE E
D’ANDREA, 2011).
1.1 OBJETIVO
O objetivo do presente trabalho é estudar a correlação entre a resistência
à compressão e a resistividade superficial do concreto para corpos de prova com
diferentes relações a/c, 0,42, 0,48, 0,54 e 0,60, submetidos a condições de
imersão em água e ciclos de molhagem e secagem com água e solução
combinada de cloreto de sódio e sulfato de sódio, para as idades de 28 dias a
140 dias. Deste modo, analisar a possibilidade de se estimar a resistência a
compressão através da inferência da resistividade elétrica superficial.
1.2 JUSTIFICATIVA
Devido a sua multifuncionalidade e baixo custo, em relação ao demais
materiais utilizados na construção civil, o concreto se tornou amplamente
utilizado. No entanto, frequentemente as estruturas de concreto estão sujeitas a
condições de agressividade, seja urbana, marinha, comprometendo a
durabilidade e a funcionalidade deste. Recorrentemente os gastos com reparos
tornam-se dispendiosos em relação ao custo total da construção. (MEHTA e
MONTEIRO, 2006; SANTOS, 2006).
Para se garantir critérios de durabilidade e resistência à compressão são
necessários estudos que visem satisfazer tanto uma quanto a outra propriedade.
A integração dos resultados pode demonstrar que nem sempre a durabilidade
está ligada a concretos com grandes resistências à compressão, por isso a
relação entre as propriedades de durabilidade e resistência, como a resistividade
16
elétrica superficial vêm sendo um tema de diversos estudos realizados. (ROSA,
2005).
Portanto, ao analisar e obter a correlação entre os ensaios de resistência
à compressão e a resistividade elétrica superficial, pode-se estimar a resistência
à compressão do concreto através do resultado de sua resistividade elétrica.
Assim, através de um método fácil e rápido é possível colaborar no
monitoramento da qualidade do concreto. Medeiros-Junior et al. (2014) também
estudaram a correlação entre resistividade elétrica e resistência à compressão
e, concluíram que ambas as propriedades crescem com a idade do concreto e
possuem correlação do tipo logarítmica, com R² próximos a 1, constituindo uma
boa correlação. Embora no estudo de Medeiros-Junior et al. (2014) tenha-se
analisado esta correlação para diferentes tipos de cimento, o presente estudo, o
qual analisa o efeito dos ciclos de molhagem e secagem na resistência à
compressão e na resistividade elétrica do concreto, simulando condições de
agressividade marinha, busca alcançar resultados similares para corroborar a
correlação entre os ensaios, ampliando e complementando os estudos destes
autores.
.
17
2. DURABILIDADE E VIDA ÚTIL DE ESTRUTURAS DE CONCRETO
2.1 CONCEITOS DE DURABILIDADE E VIDA ÚTIL
O concreto é um material amplamente utilizado, devido a sua
multifuncionalidade e baixo custo, se comparado aos demais materiais de
construção. Um concreto durável é aquele que mantém a sua forma original, sua
qualidade e facilidade de manutenção quando exposto ao ambiente para o qual
foi projetado. (MEHTA e MONTEIRO, 2006).
No entanto, segundo Mehta e Monteiro (2006), muitos problemas
relacionados à durabilidade vêm sendo detectados. Assim, há uma crescente
necessidade de que os profissionais envolvidos no processo de elaboração e
execução de uma estrutura de concreto tenham uma consciência geral para
avaliar as características de durabilidade, pois cada vez mais os gastos com
reparos tornam-se parte significativa do orçamento total da construção.
Devido a um conjunto de fatores, nos quais se incluem a falta de
conhecimento sobre as condições em que a estrutura ficará exposta,
inadequadas especificações e má interpretação das normas técnicas, há um
aparecimento ainda maior de problemas de durabilidade. (PEREIRA, 2001).
O conceito de durabilidade é a consequência da combinação entre o
ambiente, as condições de uso, de operação e manutenção, e a estrutura de
concreto. Ou seja, dependendo da forma de utilização, essa estrutura pode
apresentar diferentes comportamentos, resultando numa variação de
durabilidade ao longo do tempo. (MEDEIROS et al., 2011).
Para que uma estrutura em concreto alcance a sua capacidade funcional
de maneira qualitativa é imprescindível que se adote medidas que garantam a
durabilidade. (ROQUE, et al., 2005). A qualidade do concreto está atrelada a
fatores como a relação água/cimento, cura e hidratação adequada do concreto,
indicadores que fundamentam as propriedades de absorção capilar,
permeabilidade, movimentação de íons e difusividade de gases e água, além
das propriedades mecânicas, como a resistência a compressão, à tração, o
módulo de elasticidade, entre outras. (HELENE, 1997).
18
A ABNT NBR 6118:2014, item 5.1.2.3, define que a durabilidade é a
capacidade da estrutura resistir a condições previstas e definidas pelo autor do
projeto e o contratante, no início da elaboração do projeto. E ainda, o item 6.1
preconiza que as estruturas, ao serem projetadas e construídas, devem manter
as condições de segurança, estabilidade e aptidão durante a vida útil.
Segundo Silva (2001), devido a certa proximidade, o conceito de
durabilidade e vida útil são utilizados de maneira errônea, sendo que a vida útil
é a quantificação da durabilidade.
Conforme a ABNT NBR 6118:2014, por vida útil, entende-se como o
período de tempo no qual a estrutura é capaz de desempenhar a função para a
qual foi projetada.
Em síntese, para a análise da vida útil de uma estrutura, deve-se avaliar
o projeto, execução, materiais, uso, operação e manutenção, qualidade,
sustentabilidade e desempenho. E a aplicação destes conceitos ainda está
sujeita ao subjetivismo de cada um dos intervenientes. (MEDEIROS, et al.,
2011).
Segundo Cascudo (2001), para uma completa análise de uma estrutura
de concreto, devem-se considerar aspectos de durabilidade, além da resistência
e estabilidade. As investigações devem contemplar as condições em que a
armadura se encontra passivada ou não, a presença de agentes agressivos,
como sulfatos e cloretos, condições de carbonatação, entre outros.
O concreto está submetido a um conjunto de agentes agressivos e
diferentes fatores destrutivos, dependendo das condições climáticas e
ambientais em que se encontra. Estes agentes podem atuar isoladamente ou em
conjunto, sendo que o resultado destas interações modifica as propriedades e a
microestrutura do concreto. (SILVA e DJANIKIAN, 1993).
Na Figura 2.1 apresenta-se um modelo de uma estrutura em equilíbrio, na
qual atuam os diversos fatores relacionados à durabilidade.
19
FIGURA 2.1 – MODELO DE EQUILÍBRIO DE UMA ESTRUTURA EM QUE ATUAM OS
FATORES RELATIVOS À DURABILIDADE.
FONTE: SILINGER (1992). ADAPTADO PELA AUTORA.
2.2 CORROSÃO DAS ARMADURAS DO CONCRETO
As normas ABNT NBR 6118:2014 e ABNT NBR 12655:2015 descrevem
os principais mecanismos de envelhecimento e degradação das estruturas de
concreto, apresentados a seguir.
- Mecanismos preponderantes de degradação relativos ao concreto:
lixiviação (águas puras e ácidas); expansão (sulfatos, magnésio, reação
álcali-agregado); reações deletérias (superficial, tipo eflorescências).
- Mecanismos de degradação da estrutura: ações mecânicas,
movimentação de origem térmica, impactos, ações cíclicas (fadiga),
deformação lenta (fluência), relaxação, e outros.
- Mecanismos preponderantes de degradação relativos à armadura:
corrosão devido à carbonatação; corrosão por elevado teor de íon
cloreto.
Segundo Brandão (1999), a degradação do concreto começa com a
degradação da pasta, do agregado ou de ambos. Na prática a degradação na
20
pasta é mais severa do que no agregado, pois o agregado possui maior
resistência ao ataque químico.
Geralmente os processos de degradação começam através dos
processos químicos ou pela combinação de fatores mecânicos e físicos. Há
vários tipos de degradação, como, por exemplo, a corrosão de armaduras no
interior do concreto. (BRANDÃO, 1999).
A Tabela 2.1, apresenta uma síntese dos principais mecanismos físico-
químicos de degradação das estruturas de concreto armado.
TABELA 2.1 – PRINCIPAIS MECANISMOS DE DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE
CONCRETO ARMADO. continua
Agressividade do ambiente Consequências sobre a estrutura
Natureza do
processo
Condições
particulares
Alterações
iniciais na
superfície do
concreto
Efeitos a longo prazo
Lixiviação Atmosfera ácida,
águas puras
Eflorescências,
manchas brancas.
Redução do pH,
corrosão de armaduras,
desagregação superficial
Carbonatação UR 60% a 85% Imperceptível Redução do pH,
corrosão da armadura,
fissuração superficial
Retração Umedecimento e
secagem.
Ausência de cura
UR baixa (< 50%)
Fissuras Fissuração, corrosão de
armaduras
Fuligem Partículas em
suspensão na
atmosfera urbana e
industrial
Manchas escuras Redução do pH,
corrosão da armadura
Fungos e
mofo
Temperaturas altas
(> 20°C e < 50°C)
com UR > 75%
Manchas escuras e
esverdeadas
Redução do pH,
desagregação
superficial, corrosão das
armaduras
21
TABELA 2.1 – PRINCIPAIS MECANISMOS DE DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE
CONCRETO ARMADO. conclusão
Agressividade do ambiente Consequências sobre a estrutura
Concentração
salina, 𝑪𝒍−
Atmosfera marinha
e industrial
Imperceptível Despassivação e
corrosão de armaduras
Sulfatos Esgotos e águas
servidas
Fissuras Expansão – fissuras,
desagregação do
concreto, corrosão de
armaduras
Álcali-agregado
Composição do concreto, UR >
95%
Fissuras, gel ao redor do agregado
graúdo
Expansão – fissuras, desagregação do
concreto, corrosão de armaduras
FONTE: MEDEIROS, et al. (2011).
Dentre os diversos processos de degradação ao qual a estrutura de
concreto pode estar exposta, conforme apresentado na Tabela 2.1, a corrosão
das armaduras é um dos processos mais agressivos para as estruturas de
concreto armado.
Gentil (2007) define a corrosão como um processo no qual, devido a
ações químicas ou eletroquímicas do meio ambiente, associado a esforços
mecânicos ou não, é provoca a deterioração de um material, comumente
metálico.
Helene (1993) define ainda que a corrosão é uma interação do material
com o meio ambiente de maneira destrutiva, tanto por ação eletroquímica, física,
química ou a combinação destes.
Para as armaduras do concreto armado, de maneira geral, pode-se definir
corrosão como um processo eletroquímico que resulta na deterioração do aço,
tendo como consequência a perda da funcionalidade da estrutura. (TORRES,
2011).
Portanto, o estudo da corrosão é fundamental devido a relação com
aspectos econômicos, pois as perdas econômicas são grandes. Há perdas
diretas relacionadas ao custo de substituição de peças ou equipamentos, custos
de manutenção dos processos de proteção catódica, recobrimentos e pinturas.
As perdas indiretas são difíceis de quantificar, pois são perdas de produto, perda
22
de eficiência, contaminação de produtos, questões de segurança e preservação
de monumentos. (PEREIRA, 2001; GENTIL, 2007).
Segundo Gentil (2007), com o avanço tecnológico, os custos do processo
de corrosão se elevam, sendo um fator fundamental na concepção de projetos
de grandes instalações industriais, evitando ou minimizando futuras corrosões.
A manifestação da corrosão nas estruturas de concreto se dá através de
manchas superficiais, fissuras e destacamentos do concreto de cobrimento,
redução e perda da aderência, redução da seção resistente da armadura e
sucessivo seccionamento de estribos, comprometendo a segurança da
estrutura. (HELENE, 1993).
A corrosão ocorre devido a vários fatores simultâneos que devem ser
analisados com uma visão ampla, sendo que somente com estudo e
entendimento destes fatores será possível reduzir a ocorrência deste fenômeno
em obras novas e também corrigir em estruturas já realizadas. (HELENE, 1993).
No interior do concreto ocorrem reações químicas que envolvem o
transporte de elétrons entre regiões diferentes de um mesmo metal. Numa dada
região há o ganho de elétrons, chamada de região catódica e na outra perda de
elétrons, região anódica. Na solução presente nos poros do concreto há a
movimentação de íons, caracterizando o eletrólito. (GENTIL, 2007).
De acordo com Bohni (2005), para que ocorra o processo de corrosão, é
essencial a diferença de potencial entre dois pontos da armadura, pois possibilita
o fluxo de elétrons. É necessária também uma umidade no concreto para a
formação de um eletrólito, a presença de oxigênio para as reações e o
rompimento da camada passivante da armadura, pela ação da carbonatação ou
de íons cloreto, por exemplo. A Figura 2.2 representa tais fatores.
23
FIGURA 2.2 – CONDIÇÕES PARA A OCORRÊNCIA DA CORROSÃO.
FONTE: BOHNI (2005). ADAPTADO PELA AUTORA.
Em suma, a corrosão é um processo no qual o metal tende a voltar a sua
forma original, a sua forma estável de óxido. (HELENE, 1993).
Segundo Helene (1993), o processo de corrosão pode ser acelerado pela
absorção de agentes agressivos ou os já existentes, destacando-se os íons
cloretos (𝐶𝑙−), o gás sulfídrico (𝐻2𝑆), os sulfetos (𝑆−), os nitritos (𝑁𝑂3−), o cátion
amônio (𝑁𝐻4−), entre outros. Esses agentes despassivam o aço e aceleram a
corrosão na estrutura de concreto armado.
A Figura 2.3 apresenta como ocorre o processo de corrosão no interior do
concreto armado.
FIGURA 2.3 – ESQUEMA DE CORROSÃO ELETROQUÍMICA EM CONCRETO ARMADO.
FONTE: HELENE (1986).
24
Na região anódica, os íons de ferro (𝐹𝑒++), com carga elétrica positiva, se
dissociam na solução e há liberação de elétrons (𝑒−), assim estabelecendo um
fluxo que passa para a região catódica. Os elétrons são absorvidos e se
combinam com a água e o oxigênio, formando o íon hidroxila (O𝐻−). (HELENE,
1993; GENTIL, 2007).
Na região anódica, ocorre a dissolução do ferro, a chamada oxidação,
conforme a Equação 2.1. (ANDRADE, 1992).
𝐹𝑒 → 𝐹𝑒+2 + 2𝑒− 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2.1
De acordo com o pH próximo a superfície do metal e da presença de
oxigênio, ocorrerá a reação catódica. A Equação 2.2 demonstra a redução do
oxigênio e a Equação 2.3 a formação da ferrugem. (ANDRADE, 1992).
𝐻2𝑂 + 1/2𝑂2 + 2𝑒− → 2𝑂𝐻 𝑒− 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2.2
2𝐹𝑒 + 𝑂2 + 2𝐻2𝑂 → 2𝐹𝑒(𝑂𝐻2) 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2.3
A corrosão eletroquímica forma óxidos/hidróxidos de ferro, de coloração
amarronzada, denominada ferrugem, de caráter expansivo. (HELENE, 1993).
Mehta e Monteiro (2006) dizem que a transformação do aço metálico em
ferrugem ocasiona um aumento em sua seção, que, dependendo do estado de
oxidação, pode chegar a seis vezes do volume original. (Figura 2.4).
FIGURA 2.4 – ESFORÇOS PRODUZIDOS QUE LEVAM À FISSURAÇÃO DO CONCRETO DEVIDO À CORROSÃO DA ARMADURA.
FONTE: CASCUDO (1997).
25
Há uma definição limitada ao processo de corrosão das armaduras a
respeito da vida útil (HELENE, 1993), conforme apresentado nas Figuras 2.5 e
2.6.
FIGURA 2.5 – EVOLUÇÃO ESQUEMÁTICA DA DETERIORAÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO POR CORROSÃO DE ARMADURA.
FONTE: HELENE (1986).
FIGURA 2.6 – CONCEITUAÇÃO DE VIDA ÚTIL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO TOMANDO POR REFERÊNCIA O FENÔMENO DE CORROSÃO DE ARMADURAS.
FONTE: HELENE (1997).
Conforme a Figura 2.6, tem-se:
26
Vida útil de projeto: período que deve ser utilizado no projeto,
normalmente adotado até a despassivação da armadura, ou seja, o tempo
necessário para que os agentes agressivos atinjam a armadura.
Vida útil de serviço: período no qual há visível manifestação de
degradação no concreto, como destacamentos, manchas e fissuras. Este
período é variável, pois em alguns casos se considera terminada a vida
útil de serviço somente quando a estrutura cede, perdendo suas
propriedades, e o deterioramento chega ao ponto que seu uso contínuo
compromete bens, tornando-se antieconômico e colocando em risco o
bem estar das pessoas. (METHA e MONTEIRO, 2006).
Vida útil última ou total: período em que há uma perda considerável da
seção resistente da armadura ou a redução da aderência entre a
armadura e o concreto, acarretando na ruptura ou colapso da estrutura.
Vida útil residual: esse período pode ser classificado em três
possibilidades: uma longa, contada da perda da capacidade resistente até
o colapso; outra até o aparecimento da degradação no concreto; e uma
mais curta, que é contada até a despassivação da armadura.
(MEDEIROS, et al. 2011).
Desde que o concreto seja de qualidade e não apresente fissuras, e que
não tenha suas características modificadas pela ação de agentes agressivos, a
armadura no interior do concreto estará protegida. No entanto, a estrutura do
concreto é porosa, o que propicia a penetração dos agentes agressivos,
desencadeando o processo da corrosão. Portanto o concreto não constitui uma
barreira impenetrável de agentes agressivos. (ANDRADE, 1992).
Segundo Cascudo (2001), para uma avaliação sistemática da corrosão de
armaduras, são necessárias inspeções: uma preliminar e outra detalhada. A
inspeção preliminar é realizada a partir de um exame visual para se caracterizar
todos os sintomas. Com auxílio de ensaios é possível entender melhor o
problema e desenvolver um plano para a inspeção detalhada. O objetivo desta
última é quantificar a degradação, exigindo a realização de mais ensaios. Da
análise visual é possível detectar a presença de manchas dos produtos de
corrosão, aspectos morfológicos (tipo da corrosão, se generalizada ou
27
localizada), a coloração dos produtos, presença de fissuras, entre outros.
Os métodos gravimétricos, segundo Cascudo (2001), são utilizados em
laboratórios para quantificar o processo corrosivo através da perda de massa
dos metais após a corrosão. Constitui uma técnica segura para se obter a
velocidade de corrosão, sendo um parâmetro de referência para outros métodos.
No entanto, este método é destrutivo, pois são extraídos corpos de prova da
estrutura para a obtenção da medida.
Por último, há os métodos eletroquímicos, que são vantajosos devido ao
caráter não destrutivo, sensibilidade e rapidez. Normalmente utilizados em
campo, estes ensaios podem fornecer dados sobre o estado superficial do aço
e das taxas de corrosão. Uma das técnicas, a qual será abordada com maior
profundidade nos capítulos em sequência, é a resistividade elétrica. A
resistividade elétrica é uma característica fundamental no processo
eletroquímico no concreto armado. (CASCUDO, 2001).
Salienta-se a importância do controle da corrosão, pois a resistência de
uma estrutura devido às condições do meio ambiente dependerá da resistência
da armadura e da resistência do concreto, portanto aquele que se deteriorar
primeiro irá comprometer a estrutura como um todo. (HELENE, 1997).
2.3 MECANISMOS DE TRANSPORTE NO CONCRETO
Uma vez analisado o processo de corrosão das estruturas de concreto
armado, é importante compreender como os agentes agressivos podem penetrar
através da rede de poros do concreto.
A interação entre o meio ambiente e as estruturas de concreto armado é
a principal causa da degradação do concreto, sendo que esta se dá através da
penetração de agentes agressivos nos poros do concreto. (NEPOMUCENO,
1992).
Segundo Neville (2015), o que define o mecanismo de transporte de
agentes agressivos no concreto é a maneira em que a água preenche os poros,
dependendo do tipo e distribuição do tamanho dos poros ou microfissuras.
28
A conexão entre os poros determina a porosidade do concreto; se aberta,
permite o transporte dos agentes agressivos. A distribuição dos tamanhos dos
poros por sua vez determina a velocidade do transporte. (CASCUDO, 1997).
A maior parte dos problemas que estão associados à ausência da
durabilidade das estruturas mais novas está na mudança das propriedades do
cimento, os quais são mais finos para proporcionarem maior resistência com
pouca idade e, consequentemente, a retirada precoce das formas, propiciando
a exposição das faces do concreto ao meio ambiente. Somado a esta situação,
há a falta de cura nas faces verticais, tornando a estrutura mais porosa e mais
suscetível à penetração de agentes agressivos. (NEVILLE, 2015).
Segundo Nepomuceno (1992), os mecanismos de transporte dependem
das características físicas e químicas, das condições do meio ambiente, da
concentração superficial dos agentes, da temperatura e do grau de umidificação
do concreto. Na sequência, serão descritos os principais mecanismos de
transporte no concreto.
2.3.1 Permeabilidade
Segundo Mehta e Monteiro (2006), o coeficiente de permeabilidade K, ou
simplesmente permeabilidade, pode ser definido como a facilidade com que um
fluido transcorre um sólido sob pressão externa, sendo determinada pela
continuidade e tamanho dos poros na estrutura do sólido.
A permeabilidade do concreto, tanto para regime estacionário não
turbulento e laminar, pode ser exemplificada pela lei de Darcy, de acordo com a
Equação 2.4 (MEHTA e MONTEIRO, 2006).
𝑑𝑞
𝑑𝑡= 𝐾
𝛥𝐻𝐴
𝐿µ 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2.4
onde:
dq/dt= taxa de fluxo do fluido
µ = viscosidade do fluido
ΔH= gradiente de pressão da água, em m.c.a
A= área da superfície confinada por onde percola a água em m²
29
L= espessura do sólido
A permeabilidade do concreto para misturas corretamente lançadas,
curadas e adensadas, e preparadas com agregados sãos é definida pela
permeabilidade da pasta de cimento. (HELENE, 1993).
A Tabela 2.2 mostra valores do coeficiente de permeabilidade em diversas
idades de uma pasta de cimento. (MEHTA e MONTEIRO, 2006).
TABELA 2.2 – RELAÇÃO ENTRE PERMEABILIDADE E RELAÇÃO ÁGUA/CIMENTO PARA PASTAS COM 93% DO CIMENTO HIDRATADO.
Idade (dias) Coeficiente de Permeabilidade K (m/s)
Fresco 2.10−6
5 4. 10−10
6 1. 10−10
8 4. 10−11
13 5. 10−12
24 1. 10−12
Final 6. 10−13
FONTE: MEHTA E MONTEIRO (2006).
Durante o processo de hidratação, a continuidade e tamanho dos poros
controlam o coeficiente de permeabilidade, pois há uma pequena redução na
porosidade capilar total associada à distribuição dos poros, reduzindo, portanto,
o tamanho e número de canais de fluxo no interior da pasta (Tabela 2.1). A água
de amassamento é indiretamente responsável pela permeabilidade, pois
determina o espaço total e, posteriormente, o espaço em que água foi consumida
pelas reações de hidratação ou pela evaporação para o meio ambiente. (MEHTA
e MONTEIRO, 2006).
Segundo Helene (1993), o coeficiente de permeabilidade da pasta a 1 dia
de idade é cerca de 104 vezes superior ao valor dos 7 dias, sendo 106 vezes
maior aos 28 dias de idade da pasta sob cura adequada. Em questão de
durabilidade a relação água/cimento é essencial.
De maneira geral, quando a relação água/cimento é elevada e o grau de
hidratação é baixo, a pasta de cimento tem uma porosidade capilar elevada. A
30
descontinuidade da rede capilar é geralmente alcançada quando a porosidade é
cerca de 30%. Em misturas bem curadas, a pasta de cimento não deve ser o
principal fator que contribui para o coeficiente de permeabilidade do concreto.
(MEHTA e MONTEIRO, 2006).
2.3.2 Absorção capilar
Segundo Cascudo (1997), mediante o contato superficial do líquido com
o substrato, há o surgimento de tensões capilares e de absorção pelo concreto
de soluções líquidas e, consequentemente, de agentes agressivos. Portanto, a
absorção capilar está atrelada a porosidade do concreto e se esses poros estão
conectados e permitem o transporte das substâncias para o interior do concreto.
Contudo, a absorção depende ainda das características do líquido, como
viscosidade e tensão superficial, e do tamanho do diâmetro dos poros, pois a
sucção capilar é maior quanto menor o diâmetro dos poros, e,
consequentemente maior a profundidade de concreto alcançada pela água
absorvida. (CASCUDO, 1997; HELENE, 1993).
A Absorção capilar pode ser exemplificada pela lei de Jurin, na qual a
altura de ascensão capilar está relacionada ao tempo de contato com a água
(Equação 2.5). (HELENE, 1993).
ℎ =1
2√
𝑣. 𝑟. 𝑡
𝜂 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2.5
onde:
h = altura ou penetração da água no capilar, em metros
v = tensão superficial da água, em kg/m (≈ 75.10−4)
r = raio do capilar, em metros
η= viscosidade de água, em kg.s/𝑚2 (≈ 13.10−5)
t = período de tempo para atingir a penetração h, em segundos.
Aos 28 dias de idade, de acordo com determinações experimentais,
observou-se em concretos de cimento Portland comum, alturas ou
31
profundidades de penetração de água por absorção capilar de 2 (dois) cm para
uma relação água/cimento de 0,40 e uma altura de 6 (seis) cm para uma relação
água/cimento de 0,60, em um intervalo de 24 horas. (HELENE, 1993).
2.3.3 Difusão de íons
Segundo Cascudo (1997), a difusão iônica ocorre a partir da absorção
capilar, com o movimento dos cloretos no interior do concreto, onde o teor de
umidade é mais elevado. Este fenômeno ocorre devido a gradientes de
concentração, entre o meio interno, externo do concreto ou dentro do concreto.
A difusão de íons, como cloretos e sulfatos, ocorre pela água contida nos poros
do concreto. (NEVILLE, 2015).
As diferenças de concentração de cloretos provocam o movimento dos
íons em busca do equilíbrio. Portanto, este mecanismo é o principal meio de
transporte dos cloretos no interior do concreto, em que as diferenças de
concentração fundamentam a durabilidade um pouco mais que a
permeabilidade. (CASCUDO, 1997).
A difusão iônica pode ser modelada através das leis de Fick, que definem
que um fluxo de uma substância através do meio pode ser diretamente
proporcional ao produto da difusividade pelo gradiente de concentração,
mensurado na direção perpendicular à seção do fluxo. (TUUTTI, 1982; HELENE,
1993). A primeira lei de Fick está apresentada na Equação 2.6.
𝐽 = −𝐷𝑒𝑓𝑓.𝜕𝑐
𝜕𝑥 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2. 6
onde:
J = fluxo da substancia, em mol/(𝑐𝑚2. 𝑠)
𝐷𝑒𝑓𝑓 = coeficiente efetivo de difusão, em 𝑐𝑚2/𝑠
𝜕𝑐
𝜕𝑥 = gradiente de concentração na direção do fluxo, em mol/𝑐𝑚4
Na equação 2.6, o sinal negativo se refere ao sentido oposto do fluxo,
conforme o aumento da concentração, e se aplica a estados estacionários, para
o cálculo do coeficiente efetivo de difusão ( 𝐷𝑒𝑓𝑓). Quando esta condição não se
32
aplica adota-se a segunda lei de Fick, para fluxo variável com o tempo e
profundidade de penetração, sendo agora utilizado o coeficiente aparente de
difusão (𝐷𝑎), Equação 2.7.
𝜕𝑐
𝜕𝑥= 𝐷𝑎.
𝜕2𝑐
𝜕𝑥2 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2.7
Sendo a solução para a Equação 2.7 apresentada pela Equação 2.8.
𝐶 − 𝐶𝑜
𝐶𝑠 − 𝐶𝑜= 1 − 𝑒𝑟𝑓. (
𝑥
2. √𝐷𝑎. 𝑡) 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2.8
onde:
C = concentração na profundidade considerada
𝐶𝑜 = concentração inicial do agente agressivo que penetrou no interior
do concreto
𝐶𝑠= concentração do agente agressivo na superfície do concreto,
admitida constante
erf = função do erro de Gauss
x = profundidade considerada, geralmente em metros
𝐷𝑎 = coeficiente aparente de difusão, geralmente em 𝑚2/𝑠
t = tempo considerado, geralmente em segundos
2.3.4 Migração de íons
O mecanismo de migração de íons é um processo no qual os íons sofrem
ação de um campo elétrico, o qual é resultante do surgimento de pilhas de
corrosão eletroquímicas ou de uma diferença de potencial produzida por uma
fonte externa. (HELENE, 1993).
O transporte deste mecanismo obedece a lei de Faraday (Equação 2.9).
(HELENE, 1993).
𝑚 = 𝑖. 𝑡. 𝑎
𝑛. 𝐹 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2.9
33
onde:
m = massa do metal corroído, em g
i = corrente elétrica em A
t = tempo em segundos
a = massa atômica
n = Valencia dos íons do metal
F = constante de Faraday (96.493C)
Segundo Helene (1993), a menor ou maior resistência à movimentação
de íons cloretos está atrelada a fatores que influem na penetração de cloretos.
Como por exemplo, a profundidade de penetração e o teor de cloretos estão
vinculados às condições ambientais onde a estrutura está exposta.
Normalmente as regiões de respingos e variação da maré são as mais
afetadas, pois há água e oxigênio para o início do processo de corrosão.
(HELENE, 1993). Essas zonas serão melhor esclarecidas nos capítulos em
sequência.
2.3.5 Mecanismos combinados
A penetração de agentes agressivos, como íons cloreto, é constatada
onde há maiores concentrações, ou seja, na forma dissolvida em água na
natureza. Portanto, neste meio, os mecanismos clássicos de penetração podem
atuar simultaneamente na estrutura de concreto. Os mecanismos são a
absorção capilar, difusão, permeabilidade e movimentação de íons por campo
elétricos, já mencionados. Cada um destes mecanismos varia de acordo com a
distribuição e tamanho dos poros do concreto. (HELENE, 1993).
A Figura 2.7 demonstra os processos de penetração de íons cloreto de
acordo com a profundidade na estrutura.
34
FIGURA 2.7 – FORMAS DE PENETRAÇÃO DE CLORETOS EM CONCRETO.
FONTE: ADAPTADO DE BARBUDO (1992) E BORGES et al., (1998).
De acordo com Helene (1993), a ação simultânea destes mecanismos é
complexa, portanto prever com margem de segurança até que ponto ocorrerá a
penetração dos cloretos no concreto se torna difícil.
Por exemplo, em pilares de sustentação de uma ponte em região
litorânea, em contato com o solo e lençol freático contaminado por íons cloreto,
a penetração será maior onde todos os mecanismos possam atuar.
Normalmente, a difusão pura ou a permeabilidade ocorrem em estruturas
saturadas, pois as forças capilares não conseguem atuar. No entanto, para o
concreto não saturado, a sucção capilar se sobressai. (GUIMARÃES, 1997).
35
3. AGRESSIVIDADE DO AMBIENTE MARINHO E AÇÃO DOS ÍONS
CLORETO
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA AGRESSIVIDADE DO MEIO AMBIENTE
O tipo e intensidade das manifestações patológicas dependem da
condição ao qual a estrutura está exposta. Como se referem a natureza, é
possível determinar os mecanismos e fenômenos envolvidos no processo de
degradação e envelhecimento da estrutura. (HELENE, 1997; COSTA 2001).
Desta forma, as ações físicas e químicas que agem na estrutura de
concreto estão vinculadas a potencialidade da agressividade do meio ambiente.
A classificação da agressividade deve estar baseada no micro e macroclima
atuantes. Na Tabela 3.1 apresenta-se a classificação da agressividade de
acordo com a ABNT NBR 6118:2014.
TABELA 3.1 – CLASSES DE AGRESSIVIDADE AMBIENTAL PARA ESTRUTURAS DE
CONCRETO.
Classe de Agressividade
Ambiental
Agressividade Classificação geral do tipo de ambiente para efeito de
projeto
Risco de deterioração da
estrutura
I Fraca Rural Insignificante
Submersa
II Moderada Urbana (1,2) Pequeno
III Forte Marinha (1) Grande
Industrial (1,2)
Industrial (1,2)
IV Muito Forte Industrial (1, 3) Elevado
Respingos de maré
(1) Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura). (2) Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) em: obras em regiões de clima seco, com umidade média relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos, ou regiões onde raramente chove. (3) Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas.
FONTE: ABNT NBR 6118: 2014 – PROJETO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO. (2014).
36
Portanto, de acordo com a tabela 3.1, e os autores Warneck (1988) e
Romano (2009), a durabilidade das estruturas é afetada principalmente quando
as estruturas estão inseridas em um ambiente industrial-marinho, com um clima
de alta umidade e são afetadas não apenas pelo contato direto com o mar, mas
também pela névoa e o transporte dos cloretos.
O potencial de corrosão na atmosfera marinha é cerca de 30 a 40 vezes
mais danosa às estruturas se comparada a outros ambientes agressivos, como
por exemplo, ambientes rurais. Portanto, construções realizadas em ambientes
rurais não são convenientes para ambientes marinhos, pois em 2 a 3 meses
pode ocorrer o processo de corrosão, mesmo antes de a obra estar concluída.
(HELENE, 1986).
Os íons cloretos e os sulfatos presentes na água do mar agem como
desencadeadores e aceleradores do processo de degradação das estruturas de
concreto e como causadores do início do processo de corrosão da armadura;
devido a este fato, é necessária atenção a estes agentes agressivos. (COSTA,
2001).
As estruturas, bem como o material que as compõem são destrutíveis, e
a relação entre o ambiente e a microestrutura da pasta de cimento hidratada traz
de maneira progressiva, mudanças nas suas propriedades. (COSTA, 2001).
3.2 ZONAS DE AGRESSIVIDADE MARINHA
Os oceanos compõem cerca de 80% da superfície da Terra, sendo que
grande parte das estruturas estão expostas à água do mar, diretamente ou
indiretamente. (MEHTA e MONTEIRO, 2006).
Devido a vários motivos, as estruturas expostas ao ambiente marinho
merecem certa atenção, visto que estão expostas ao ataque simultâneo de
múltiplos processos de degradação, os quais propiciam um maior entendimento
da complexidade dos problemas relativos à durabilidade do concreto. (MEHTA e
MONTEIRO, 2006).
Neville (2015) complementa dizendo que a água do mar contém diversos
sais dissolvidos, e estes têm ação química no concreto, visto que a salinidade
normal da água do mar é de 3,5%. Para o Oceano Atlântico, as concentrações
37
de íons são: 2% de cloretos; 0,28% de sulfato; 1,11% de sódio; 0,14% de
magnésio; 0,05% de cálcio; e 0,04% de potássio. Há também parcela de CO2
dissolvido na água do mar. (LIMA et al., 2004).
A presença e intensidade dos processos de degradação variam conforme
a localização das estruturas de concreto em relação ao nível da água do mar.
Em regiões de clima quente, esses processos podem ser muito severos.
(BRANDÃO, 1999).
O ataque por sulfatos também pode ocorrer, pois esses íons reagem com
o C3A e CH, tendo como produto a etringita. No entanto, tanto a etringita quanto
a gipsita se dissolvem na presença de cloretos, podendo ser lixiviadas pela água
do mar. Embora a utilização de cimento resistente a sulfatos em condições
marinhas não seja obrigatória, é recomendado o limite de 8% de C3A quando o
teor de SO3 for menor que 3%. Cimentos com um teor de até 10% de C3A podem
ser utilizados somente se o teor de SO3 não for maior que 2,5%. Portanto, em
cimentos com menor teor de C3A, a expansão produzida é menor. (NEVILLE,
2015; BRANDÃO, 1999).
Em suma, a rapidez do ataque por sulfatos está relacionada a vários
fatores, como a permeabilidade do concreto, a concentração de sulfatos na
solução, o tipo de cimento e a quantidade de água disponível para que ocorram
as reações. (BRANDÃO, 1999).
As estruturas de concreto imersas constituem uma exposição
praticamente protegida, pois as condições de saturação e concentração de sais
foram alcançadas; desta forma, a difusão de íons é baixa. O processo de
molhagem e secagem alternados é uma condição muito mais agressiva, pois há
possibilidade de acúmulo de sais no interior do concreto devido ao ingresso da
água do mar, e consequentemente, a evaporação da água pura. (NEVILLE,
2015).
Há outros processos de degradação do concreto, além de ataques por
sulfatos e cloretos, como ações deletérias resultantes de congelamento, ataque
biológico, impacto e abrasão, e corrosão dos metais inseridos no concreto.
(BRANDÃO, 1999). No entanto, este trabalho se restringe ao ataque por cloretos
e sulfatos.
38
Nas regiões marinhas, as estruturas de concreto estão sujeitas à corrosão
através da penetração de agentes agressivos, como os íons cloreto. A névoa
marinha, presente nestas regiões, penetra no concreto de cobrimento,
constituindo assim uma condição característica do ataque de cloretos. Além
desta exposição, há o contato direto das estruturas com a água do mar, ondas e
respingos de maré (PANASSIAN. et. al., 2010)
O ambiente marinho pode ser classificado em quatro zonas de exposição,
sendo que para cada zona há diferentes processos de degradação; a zona
submersa, de variação de maré, respingo, e a zona de atmosfera marinha, as
quais serão apresentadas na sequência. (MEIRA, 2004; MEHTA E MONTEIRO,
2006).
Na Zona Atmosférica, os sais são transportados pelo vento como
partículas ou gotas de solução até chegarem às estruturas de concreto, ou seja,
não há um contato direto destas estruturas com a água do mar. No entanto, a
quantidade de sais se reduz conforme a distância do mar. Para esta zona, os
processos de degradação mais comuns são a corrosão da armadura e
congelamento. (BRANDÃO, 1999; LIMA et al. 2004).
A Zona de Respingos de Maré está imediatamente acima do nível da maré
alta; este trecho é sujeito à molhagem direta e respingos de ondas. Podem
ocorrer nesta zona corrosão do concreto armado, abrasão e congelamento.
(MEDEIROS - JUNIOR e LIMA, 2015).
Entre os níveis de maré encontra-se a Zona de Variação da Maré. Nesta
zona, o concreto fica submerso durante alguns intervalos de tempo. As
degradações mais contínuas são a abrasão, corrosão, congelamento, ataque
químico e biológico. (MEIRA, 2004).
Na Zona Submersa o concreto está abaixo do nível da maré baixa, ficando
totalmente submerso, sendo que as formas de degradação são os ataques
químicos e biológicos. (MEHTA E MONTEIRO, 2006).
A Figura 3.1, demonstra os tipos de exposição marinha.
39
FIGURA 3.1 – ZONAS DE AGRESSIVIDADE ÀS ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO.
FONTE: LIMA et al. (2004). Adaptado de DURACRETE. (1999).
De acordo com Lima et al. (2004), as zonas possuem características
específicas, dependendo de diversos fatores. Na Zona Atmosférica e Zona de
Respingos de Maré, por exemplo, há maior probabilidade de ocorrer corrosão
das armaduras inseridas no concreto. No entanto, esta probabilidade diminui na
Zona Submersa, pois o concreto está abaixo da linha de maré baixa e há
pequena concentração de oxigênio presente na água. (BRANDÃO, 1999).
Ao ser repetidamente submetido à molhagem pela água do mar, com
períodos alternados de secagem, a água presente nos poros do concreto
evapora e partes dos sais dissolvidos fixam-se na forma de cristais, os quais se
reidratam e aumentam de tamanho com o próximo processo de molhagem,
exercendo uma expansão na pasta. Esse fato ocorre principalmente quando a
temperatura é alta, tornando este ciclo rápido, ou seja, a área de respingos de
maré e na linha da maré são vulneráveis a este ciclo. (NEVILLE, 2015).
Lima et al. (2004) apresentaram uma análise do comportamento das
zonas de agressividade ambiental, denotando a relação do microclima com a
degradação da estrutura exposta a este meio. Realizaram-se estudos e ensaios
para correlacionar a degradação com o teor de cloretos totais na massa de
concreto.
O local estudado apresentou como temperatura média 27° C, incidência
solar elevada, umidade relativa do ar média anual de 70,8%. Alguns resultados
podem ser observados nas Figuras 3.2, 3.3 e 3.4, sendo que S se refere a costa
40
sul, O costa oeste e S13.1, O19.1, O19.2, O20.1, S13.2, S11.1, L5.1, L6.1, N16.1
e O20.2 são os pontos onde foram realizadas as coletas.
FIGURA 3.2 – TEOR DE CLORETOS NA ZONA DE VARIAÇÃO DE MARÉ – COMPARAÇÃO ENTRE COSTADOS.
FONTE: LIMA et al. (2004).
FIGURA 3.3 - TEOR DE CLORETOS NA ZONA DE RESPINGOS – COMPARAÇÃO ENTRE COSTADOS.
FONTE: LIMA et al. (2004).
41
FIGURA 3.4 - TEOR DE CLORETOS NA ZONA DE RESPINGOS – COMPARAÇÃO ENTRE COSTADOS.
FONTE: LIMA et al. (2004).
Conforme os gráficos apresentados, os valores de 𝐶𝑙− (%) apresentam
variação entre os costados e as zonas de agressividade, observando-se uma
tendência de redução de 𝐶𝑙− (%) com a profundidade; considerando a posição
das coletas na estrutura, demonstrando a influência do microclima na
degradação da estrutura. Lima et al (2004) ainda destacam que esta análise
possibilitou visualizar a interferência apenas dos parâmetros ambientais, sendo
que não há estruturas ao redor da analisada. Outras estruturas geram caminhos
de vento, sombras, aquecimentos, entre outros aspectos.
Na Figura 3.5, Guimarães (2000) apresenta um gráfico que relaciona o
coeficiente de penetração de cloretos para as zonas de agressividade citadas.
Sendo ZTN, Zona totalmente de névoa; ZPN, Zona predominante de névoa, com
percentual pequeno de respingos ao longo do tempo; ZPR, Zona
predominantemente de respingos; ZPRM, Zona predominantemente de
respingos e maré; DHN, nível do mar e 𝑘𝐶𝑙−, coeficiente de penetração de íons
cloreto.
Os dados apresentados caracterizam a maior penetração de cloretos nas
regiões com ciclos de molhagem e secagem, logo, zonas de respingo (ZPR) e
de variação de maré (ZPRM). (GUIMARÃES, 2000).
42
FIGURA 3.5 – GRÁFICO DOS COEFICIENTES DE PENETRAÇÃO DE ÍONS CLORETO NAS
ZONAS DE AGRESSIVIDADE MARINHA.
FONTE: GUIMARÃES. (2000).
3.3 AÇÃO DA PRESENÇA DE CLORETOS
A degradação das estruturas de concreto em ambiente marinho ocorre
principalmente pela ação dos cloretos, os quais desencadeiam o processo de
corrosão; para esse caso, a armadura pode ser despassivada mesmo com pH
elevado. Devido a este fato, há diversos estudos acerca da potenciabilidade de
agressão dos íons cloretos e diversos autores concordam que o cloreto é o
agente mais agressor a estrutura. (HELENE, 1993; CASCUDO 1997).
Segundo Andrade (1992), o cloreto pode estar presente nos concretos e
argamassas, nos componentes, seja no agregado, aditivos, água, ou devido ao
meio ambiente a qual a estrutura está exposta; desta forma, esses íons podem
penetrar através da rede de poros do concreto, como é o caso dos ambientes
marinhos.
Os íons cloreto têm a capacidade de degenerar, de maneira localizada, a
película passivante da armadura, e com a presença de água e oxigênio, surge
uma corrosão por pite. Nestes locais há a formação do ânodo da pilha de
corrosão e, dependendo do grau de progressão, pode levar a ruptura da barra
43
de aço. No restante da barra há o catódo e pela relação da área anódica/catódica
ser relativamente pequena, pode ocorrer o início de uma intensa corrosão.
(FORTES, 1995; CASCUDO, 1997; NEVILLE, 2015).
Para Fortes (1995), os cloretos que são considerados potencialmente
danosos as estruturas de concreto armado são aqueles que permanecem livres
na solução dos poros, pois ao se cristalizar geram grandes pressões internas.
Segundo Neville (2015), nenhum material contaminado por cloretos deve
ser incorporado ao concreto armado, sendo que há normas que delimitam o teor
de cloreto no concreto advindos de qualquer fonte. A BS 8110-1:1997 delimita
que o teor total de cloreto presente no concreto armado seja de 0,40% em
relação à massa de cimento, sendo o mesmo limite estabelecido também pela
norma europeia BS EM 206:2000, atualmente chamada de BS EM 1992:2004.
No Brasil, a ABNT NBR 12655:2015 limita a 0,15% da massa de cimento. Não
há diferença nas abordagens, pois os cloretos solúveis são uma parcela do teor
total de cloretos.
3.3.1 Fatores que influenciam o ingresso de cloretos no concreto
Segundo Pereira (2001), há diversos fatores que influenciam na
capacidade do concreto resistir à penetração dos íons cloretos, alguns serão
abordados na sequência.
3.3.1.1 Relação água/cimento
Para Pereira (2001), a relação água/cimento tem influência direta sobre a
microestrutura e distribuição dos poros, e tanto o tamanho quanto a
interconectividade dos poros controlam a penetração dos íons cloreto, e podem
facilitar ou dificultar o transporte de cloretos no interior do concreto.
Há diversos fatores que influenciam na capacidade do concreto resistir a
penetração dos íons cloretos. Estudando o coeficiente de difusão de cloretos
com cimentos CP II F e CP IV, Pereira (2001) observou que conforme a relação
a/c aumenta com o coeficiente efetivo de difusão de cloretos, o que pode ser
observado na Figura 3.6.
44
FIGURA 3.6 – EFEITOS ISOLADOS DA RELAÇÃO A/C E DO TIPO DE CIMENTO SOBRE O COEFICIENTE EFETIVO DE DIFUSÃO DE CLORETOS.
FONTE: PEREIRA. (2001).
Alves (2007) analisou a utilização da relação a/c acima de 0,6 para a
elaboração do concreto e notou que há um aumento nos valores do coeficiente
de permeabilidade, o que caracteriza um concreto com maior porosidade, Figura
3.7.
FIGURA 3.7 – INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO A/C NO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE DOS CONCRETOS.
FONTE: ALVES. (2007).
45
O estudo de Moreira (2004) também compara a influência da relação a/c
no teor de cloretos totais, e para esta comparação, utilizou o cimento CP V-ARI,
com relações a/c 0,40 e 0,75 e penetração de cloretos em 3 camadas de
profundidade, a primeira camada com 1 cm, a segunda camada de 2,5 a 3,5 cm
e a terceira de 5 cm. Esse estudo chegou à conclusão de que quanto menor a
relação a/c, menor é concentração de cloretos, de acordo com a Figura 3.8.
FIGURA 3.8 – INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO A/C NO TEOR DE CLORETOS TOTAIS.
FONTE: MOREIRA. (2004).
3.3.1.2 Teor de cimento, composição e adições
De acordo com Mehta e Monteiro (2006), as diferenças das composições
do cimento são para se adequarem aos requisitos da indústria da construção,
sendo que uma destas modificações é a adição de minerais. As adições quando
misturadas por alguma necessidade específica ou na fabricação do cimento,
contribuem para as propriedades físicas e químicas do concreto.
Pereira (2001) complementa dizendo que as adições são positivas, pois
aumentam a quantidade de aluminatos disponíveis, refinam os poros do concreto
e aumentam a resistência à penetração dos agentes agressivos.
Há relação entre a penetração dos íons e a composição química do
cimento, pois o silicato tricálcio (C3A) e o ferro aluminato de tetracálcio (C4AF)
combinam-se com os cloretos e formam os cloroaluminatos. Essa reação diminui
o trânsito dos íons cloreto, pois há redução da concentração de íons livres na
solução presente nos poros do concreto. Portanto quanto maior a quantidade de
(C3A) no cimento, em geral, mais tempo será necessário para se iniciar o
46
processo da corrosão. (PAGE et al., 1986; RASHEEDUZZAFAR et al., 1990). Os
resultados da correlação do teor de (C3A) e o início da corrosão estão
apresentados na Figura 3.9. (RASHEEDUZZAFAR et al., 1990).
FIGURA 3.9 – EFEITO DO CONTEÚDO DE (C3A) DO CIMENTO NO TEMPO DE INICIAÇÃO DA CORROSÃO DA ARMADURA DO CONCRETO.
FONTE: RASHEEDUZZAFAR et al. (1990).
De acordo com Monteiro et al. (1999), a relação do tipo de cimento no
controle de penetração de cloretos para altas relações água/cimento, entre 0,8
e 0,9, se evidencia ao longo do tempo. Este fato ocorre devido à reação
pozolânica, reação que lentamente refina os poros do concreto devido a
formação de mais gel C-S-H.
O estudo de Monteiro et al. (1999) utilizou cimentos nacionais (CP II F,
CP II Z e CPV) e verificou que o cimento CP II Z obteve as menores
concentrações de cloretos livres aos 56 dias de idade e mostrou grande
desempenho se comparado aos demais cimentos.
Outro estudo comparando os cimentos CP II F 32, CP II Z 32 e CPIV 32
RS, em relação ao nível de proteção contra a corrosão, obteve como resultado
um bom desempenho do CPIV, pois este cimento apresentou altos teores de
aluminatos e uma melhor capacidade de fixação dos íons cloreto. (MEDEIROS
et al., 1999).
A escolha de um cimento adequado é fundamental, pois, para um
ambiente agressivo, o cimento influencia na menor ou maior capacidade de
fixação dos cloretos. Para Helene (1999), os cimentos mais adequados para este
47
caso são os do tipo CP III, com escória de alto forno e o CP IV, com cinza volante.
Na figura 3.10 pode-se observar o fato destacado.
FIGURA 3.10 – INFLUÊNCIA DO TIPO DE CIMENTO NA PROFUNDIDADE DE PENETRAÇÃO DE CLORETOS NO CONCRETO CONSIDERANDO UM FCK = 30 MPa.
FONTE: ANDRADE. (2001).
Portanto, as adições minerais têm a capacidade de fixarem os íons
cloretos devido ao aumento da quantidade de aluminatos presentes na pasta.
Além disso, a redução do tamanho e da intercomunicação dos poros dificulta a
penetração dos agentes agressivos no concreto. A proteção contra os cloretos
depende da cura, do grau de agressividade do meio ao qual está exposto o
concreto, da idade do concreto, entre outros fatores. (BASHEER, 2002).
3.3.1.3 Temperatura
Segundo Neville (2015), a temperatura é fundamental no processo de
penetração de cloretos no concreto, pois nos processos naturais atua
aumentando a cinética. Este fato confirma-se ao serem observadas estruturas
em regiões quentes, as quais se degradam mais rápido do que estruturas
localizadas em ambientes temperados e frios.
Conforme a temperatura aumenta, o fluxo molecular também aumenta, e
isto favorece o movimento dos íons no interior do concreto. No entanto, quando
a temperatura é reduzida, a condensação e elevação da umidade do material
pode ocorrer. (POLITO, 2006).
48
3.3.1.4 Tempo e cura
De acordo com Neville (2015), conforme o concreto hidrata, a porosidade
diminui, pois, o volume do cimento anidro é 2,1 vezes menor que o volume de
gel formado, e este preenche os espaços onde havia água.
Um estudo realizado por Mota et al. (2010) analisou a penetração de íons
cloretos, submetendo os corpos de prova a um ciclo de molhagem e secagem
na região litorânea do Porto de Galinhas –PE, por cerca de 24 meses. Esse
estudo constatou que há uma influência do tempo de cura do concreto com a
penetração de cloretos.
A idade influencia diretamente na concentração dos íons cloretos no
concreto, pois está intimamente ligada a matriz de cimento hidratada. Portanto,
conforme o concreto hidrata, os vazios são preenchidos pelos compostos,
diminuindo a porosidade. (PEREIRA, 2001).
3.3.1.5 Umidade relativa
Conforme Andrade (1992), quanto menor a umidade presente nos poros
há um aumento da resistividade e o processo eletroquímico será ainda mais
difícil de ocorrer, mesmo o concreto estando carbonatado ou contaminado por
cloretos. De maneira complementar, a água presente nos poros afeta o eletrólito,
bem como a difusão dos gases e íons no concreto.
Nos poros saturados há pouca disponibilidade de oxigênio, minimizando
a ocorrência de corrosão. No entanto, na etapa de iniciação, quanto mais alta a
concentração de umidade do ambiente maior será a quantidade de água no
concreto e mais fácil será o transporte dos cloretos através do cobrimento até as
armaduras inseridas no concreto. (ANDRADE, 1992).
3.3.1.5 Fissuras e Cobrimento
De acordo com Franco (2011), uma parcela da resistência à penetração
de cloretos está relacionada diretamente com a durabilidade do concreto de
cobrimento e a compacidade.
49
A ABNT NBR 6118:2014 estabelece limites para as fissuras em relação a
classe ambiental de agressividade, o tipo de estrutura e estado limites de serviço
e utilização para que a haja proteção contra a corrosão da armadura.
De acordo com Marino (2015), a durabilidade da estrutura de concreto
armado está atrelada as características do concreto e da espessura do concreto
de cobrimento.
Os íons cloretos livres na solução dos poros do concreto podem penetrar
pelo cobrimento sem agir nos compostos de hidratação do cimento, sendo a pior
forma de ação dos cloretos. (ROMANO, 2009). Segundo a ABNT NBR
6118:2014, é necessário garantir o cobrimento mínimo para cada elemento
construtivo inserido em ambientes agressivos para se garantir a durabilidade. Os
valores mínimos são apresentados na Tabela 3.2.
TABELA 3.2 – CORRELAÇÃO DA CLASSE DE AGRESSIVIDADE AMBIENTAL E O COBRIMENTO NOMINAL.
Componente ou elemento Classe de agressividade ambiental
I II III IV²
Cobrimento nominal (𝐜𝐧𝐨𝐦)
Laje¹ 20 mm 25 mm 35 mm 45 mm
Viga/Pilar 25 mm 30 mm 40 mm 50 mm
Contato com o solo ³ 30 mm 30 mm 40 mm 50 mm
(1) Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento, como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos e outros, as exigências desta tabela podem ser substituídas pelo cobrimento nominal referente à barra ou feixe (cnom ³ fbarra ou cnom ³ ffeixe), respeitado um cobrimento nominal maior ou igual a 15 mm (cnom ³ 15 mm). (2) Nas superfícies expostas a ambientes agressivos, como reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e intensamente agressivos, devem ser atendidos os cobrimentos da classe de agressividade IV. (3) No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a armadura deve ter cobrimento nominal maior ou igual a 45 mm (cnom ³ 45 mm).
FONTE: ABNT NBR 6118:2014.
Uma execução adequada do cobrimento, tanto realizando a espessura
prevista em projeto quanto se preocupando com a qualidade ocasiona em uma
proteção física e química das armaduras inseridas no concreto, contribui para
uma maior proteção contra a corrosão. (SILVA, 2006).
50
3.3.2 Concentração de cloretos
Silva (2006) utilizou 3,5 % de solução de NaCl até 19° mês de exposição,
objetivando reproduzir a concentração do íon presente na água do mar, porém
aumentou essa porcentagem, pois não ocorreram mudanças significativas com
essa concentração, passando para 10%, a partir do 19° mês. Para o estudo
utilizou 4 ciclos de molhagem e secagem.
Na tabela 3.3 e 3.4 pode-se observar os resultados da frente de
penetração dos íons cloreto para a solução de 3,5 % e 10% de NaCl. (SILVA.
2006).
TABELA 3.3 – FRENTE DE PENETRAÇÃO DOS ÍONS CLORETO DOS CONCRETOS EXPOSTOS A UMA SOLUÇÃO DE 3, 5% DE NACL.
Cimento Concretos Frente de penetração (mm)
1 mês 2 meses 5 meses 15 meses 27 meses
CP V ARI
Plus
Sem sílica 3,6 4,3 6,5 12,4 22,1
5% SFS 2,7 3,0 5,2 10,1 133
10% SFS 2,1 2,2 3,9 6,0 8,7
5% SCA 3,1 3,6 6,0 12,5 18,5
10% SCA 2,8 2,9 5,1 11,3 15,7
CP V ARI
RS
Sem sílica 3,1 4,4 6,3 10,6 15,5
5% SFS 2,5 3,1 4,9 8,6 8,6
10% SFS 2,0 2,8 3,4 5,4 7,8
5% SCA 2,6 3,8 5,6 11,4 13,7
10% SCA 2,6 3,1 5,2 10,5 12,4
FONTE: SILVA. (2006).
Portanto, é possível observar que para o acréscimo de cloretos de 3,5 %
para 10 % ocorreu uma maior penetração dos íons cloretos. Ao completar 2
meses, a profundidade atingida, por exemplo para o CP V ARI e sem sílica, foi
de 5,7 mm; para o mesmo concreto exposto a solução de 3,5 % de NaCl foi de
4,3 mm.
51
TABELA 3.4 – FRENTE DE PENETRAÇÃO DOS ÍONS CLORETO DOS CONCRETOS EXPOSTOS A UMA SOLUÇÃO DE 10% DE NACL.
Cimento Concretos Frente de penetração (mm)
1 mês 2 meses
CP V ARI Sem sílica 4,1 5,7
5% SFS 2,9 3,8
10% SFS 2,2 2,7
5% SCA 4,4 5,6
10% SCA 3,8 4,0
CP V ARI RS Sem sílica 4,0 5,5
5% SFS 2,7 3,2
10% SFS 2,2 2,4
5% SCA 3,4 3,9
10% SCA 3,1 3,4
FONTE: SILVA. (2006).
Vasconcelos e Akasaki (2010), através da conclusão de Silva (2006),
optaram por realizar um estudo utilizando a concentração de 10% de cloretos.
Neste estudo, os autores procuraram analisar a durabilidade de concretos de
alto desempenho com a substituição de componentes no concreto por cinza de
casca de arroz, resíduo de borracha e pneu, frente a processos de degradação,
como a ação da temperatura, da água, de soluções ácidas e de sais. De acordo
com os autores, os corpos de prova após o período de cura foram expostos a
umidade ambiente por 4 dias. Logo após, foram imersos com metade da altura
em uma solução de 0,1 M de NaCl por 3 dias, e após esse período os corpos de
prova passaram por 4 dias de secagem, completando um ciclo. (VASCONCELO
E AKASAKI, 2010).
Na Figura 3.11, são apresentados os resultados para o ensaio de
penetração de cloretos.
52
FIGURA 3.11 – PROFUNDIDADE DE PENETRAÇÃO DE CLORETOS PARA 120 CICLOS DE
MOLHAGEM E SECAGEM.
FONTE: VASCONCELO E AKASAKI. (2010).
Vasconcelos e Akasaki (2010) concluíram que a penetração de cloretos
pode ter sido caracterizada pela transformação da microestrutura do concreto
pela adição de borracha, o que ocasionou caminhos preferenciais da água e
assim os íons se movimentaram com facilidade, embora destaquem que a
diferença é em torno de 2 mm para os traços com e sem borracha.
No estudo de Figueiredo et al. (2014), foram realizadas analises do papel
do metacaulim na proteção dos concretos contra a ação deletéria de cloretos;
utilizou-se 8 ciclos semanais de molhagem e secagem, sendo 3 dias de imersão
e 4 dias de secagem ao ar, com umidade relativa de 10% a 30% e solução de
NaCl de 10%. Este estudo teve como resultado que a resistência a penetração
de cloretos foi superior para concretos com metacaulim podendo ser observado
grande redução da penetração. (FIGUEIREDO et al., 2014).
3.4 AÇÃO DOS SULFATOS
De acordo com Costa (2001), os íons cloretos são muito mais agressivos
que os sulfatos. No entanto, os sulfatos são responsáveis por diversos
mecanismos de degradação que afetam as estruturas de concreto. Neville
(2015) destaca que em alguns ambientes a concentração de sulfatos na água é
realçada pela evaporação, como exemplo a Zona de respingo da água do mar,
sendo fundamental a velocidade com que o concreto é atacado.
53
A ABNT NBR 12.655:2015 apresenta alguns requisitos para o concreto
exposto a soluções de sulfato, como apresentado na Tabela 3.5.
TABELA 3.5 – REQUISITOS PARA O CONCRETO EXPOSTO À SOLUÇÕES CONTENDO SULFATOS.
Condições de exposição em
função da agressividade
Sulfato solúvel em água (SO4) presente no solo (% em
massa)
Sulfato solúvel (SO4) presente na água (ppm)
Máxima relação A/C, em massa, para concreto com agregado
normal*
Mínimo fck (para concreto com
agregado normal ou leve) (Mpa)
Fraca 0,00 a 0,10 0 a 150 - -
Moderada** 0,10 a 0,20 150 a 1500 0,50 35
Severa*** Acima de 0,20 Acima de 1500 0,45 40
*Baixa relação água-cimento ou elevada resistência podem ser necessárias para a obtenção de baixa permeabilidade do concreto, proteção contra a corrosão da armadura ou proteção a processos de congelamento e degelo. **Água do mar. ***Para condições severas de agressividade, devem ser obrigatoriamente usados cimentos resistentes a sulfatos.
FONTE: ABNT NBR 12.655:2015.
Para Lacerda (1988), a principal problemática dos sulfatos é que eles são
higroscópicos e em temperatura ambiente variam entre a solubilidade e a
cristalização. Por exemplo, cristaliza-se a 32,7°C a uma umidade relativa de 75%
e aumenta cerca de 40% de volume. Ciclos de molhagem e secagem com
concentração de sulfatos também resultam em uma rápida degradação, pois
aceleram a cristalização dos sais nos poros do concreto. (NEVILLE, 2015).
Segundo Moura (2000), a degradação ocorre pela formação de
sulfoaluminatos de cálcio e trisulfoaluminato, etringita, pois estes compostos
geram grandes expansões ocasionando fissuras, lascamentos no concreto, de
maneira progressiva até a total degradação da estrutura.
As principais reações de sulfatos com a pasta hidratada de cimento são o
ataque do sulfato de sódio ao Ca(OH)2 do cimento, a reação do sulfato de cálcio
com o C3A , formando a etringita; o ataque do magnésio ao Ca(OH)2; ataque do
sulfato de magnésio ao C-S-H; e, ataque do sulfato de magnésio ao C3A . As
reações dos ataques de sulfatos estão apresentadas nas Equações 3.1, 3.2, 3.3,
3.4 e 3.5. (MOURA, 2000; NEVILLE, 2015).
Na2SO4 + Ca(OH)2 + 2 H2O → CaSO4. 2H2O + NaOH Equação 3.1
54
3CaO. Al2O3. 12H2O + 3CaSO4. 2H2O + 14H2O → 3CaO. Al2O3. 32H2O4
Equação 3.2
MgSO4 + Ca(OH)2 + 2 H2O → CaSO4. H2O + Mg(OH)2 Equação 3.3
3MgSO4 + 3CaO. 2SiO2. 3H2O + 8H2O → 3(CaSO4. 2H2) + 3Mg(OH)2 +
2SiO2. H2O Equação 3.4
3MgSO4 + 3CaO. Al2O3 → 3CaSO4. H2O + 2Al(OH)3 + 3Mg(OH)2 Equação 3.5
Na maioria das equações apresentadas há um aumento do volume, o que
causa expansão e desagregação da parte sólida dos hidratos de silicato e
aluminatos de cálcio do cimento. (GENTIL, 1980).
A norma DIN 4030, segundo Cánovas (1988), apresenta o grau de
agressividade da água contendo sulfatos como apresentado na Tabela 3.6, e o
autor destaca que é fundamental conhecer a temperatura, pois a variação desta
pode modificar os valores do pH, conforme apresentado na Tabela 3.7.
TABELA 3.6 – GRAU DE AGRESSIVIDADE DA ÁGUA CONTENDO SULFATOS.
GRAU DE
AGRESSIVIDADE
pH
𝐍𝐇𝟒− (mg/L) 𝐌𝐠++ (mg/L) 𝐒𝐎𝟒
𝟐− (mg/L)
Fraco 6,5 – 5,5 15 - 30 100 - 300 200 - 600
Forte 5,5 – 4,5 30 - 60 300 - 1500 600 - 3000
Muito Forte 4,5 60 1500 3000
FONTE: CÁNOVAS. (1988).
TABELA 3.7 – MUDANÇA DO PH EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA.
Temperatura °C 0 20 30 100
PH 7,44 7,03 6,86 6,07
FONTE: CÁNOVAS. (1988).
55
De acordo com Costa (2001), os sulfatos podem ser encontrados em
diversos ambientes. No entanto, são encontrados em grande quantidade em
atmosferas urbanas, água subterrânea, esgoto, devido as emissões industriais
e advindas de veículos, e são encontrados nas regiões litorâneas, devido a
presença da névoa marinha.
Em laboratórios pode-se analisar a resistência do concreto frente a ação
de sulfatos, através de corpos de prova submetidos a uma solução de sulfatos
de sódio ou magnésio, ou ainda mistura de ambos, sendo que os efeitos podem
ser estimados pelas alterações no módulo de elasticidade dinâmico, pela
expansão, pela perda de massa e até em inspeção visual. (NEVILLE, 2015).
Guimarães et al. (2000) estudaram a durabilidade de estruturas de
concreto armado inseridas em ambientes marinhos com idade avançada de
construção, sendo que a partir da profundidade de ação dos agentes agressivos,
anidrido carbônico, cloreto e sulfato, elaboram modelos em forma de ábacos
para se obter cobrimentos das barras de aço em função da vida útil da estrutura
para as zonas de névoa, respingo e maré.
Os elementos estruturais são a viga PS e a face vertical da laje PI, dois
pontos do mesmo nível das estacas pranchas, um na face externa ES e outra na
face interna ESF e um nível inferior EI do cais, Figura 3.12.
FIGURA 3.12 – ESTRUTURA DO CAIS E LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS PESQUISADOS.
FONTE: GUIMARÃES et al. (2000).
56
Na Figura 3.13 são apresentados os perfis de sulfatos livres no concreto,
que segundo Guimarães et al. (2000), pode-se perceber uma diminuição das
concentrações até o teor de 0,14%, em relação ao peso de concreto. Na Figura
3.14 apresenta-se a estimativa da evolução da frente de contaminação de
sulfatos em função do tempo de exposição para os pontos ES e EI.
As zonas de agressividade analisadas foram: ZTN, zona totalmente de
névoa; ZPN, zona predominantemente de névoa; ZPR, zona
predominantemente de respingo; e ZPRM, zona predominantemente de
respingo e maré. (GUIMARÃES et al. 2000).
FIGURA 3.13 – PERFIS DOS TEORES DE ÍONS SULFATO SOLÚVEIS EM ÁGUA EM
RELAÇÃO AO PESO DE CONCRETO PARA FCK DE 23,5 MPA (PS E PI) E 19 MPA (ES E EI).
FONTE: GUIMARÃES et al. (2000).
FIGURA 3.14 – ESTIMATIVA DA EVOLUÇÃO DA FRENTE DE CONTAMINAÇÃO DE SULFATOS EM FUNÇÃO DO TEMPO DE EXPOSIÇÃO (T) PARA OS PONTOS ES E EI.
FONTE: GUIMARÃES et al. (2000).
57
Utilizando o modelo 𝑐𝑠𝑜4 = 𝑘𝑠𝑜4. 𝑡5, Guimarães et a. (2000), obtiveram
coeficientes de penetração de sulfatos, como apresentado na Tabela 3.8. SL e
ST são as superfícies laterais e topo em relação à concretagem.
TABELA 3.8 – COEFICIENTES DE PENETRAÇÃO DOS ÍONS SULFATO PARA OS
CONCRETOS E MICRO AMBIENTES PESQUISADOS.
Pontos Cota DHN (cm)
Micro ambientes
fck (MPa) 𝐂𝐬𝐨𝟒 (mm) t (anos) 𝐤𝐬𝐨𝟒
(mm. 𝐚𝐧𝐨−𝟏/𝟐)
PI 210 ZPN - SL 23 36,3 22 0,8
ES 170 ZPR - ST 19 43,8 22 1,6
EI 140 SPRM - ST 19 35,0 22 2,5
FONTE: GUIMARÃES et al. (2000).
Guimarães et al. (2000), obtiveram resultados consistentes e dizem que a
aplicação do método é válida para outros ambientes litorâneos e ressaltam a
necessidade de mais estudos de penetração de sulfatos.
58
4. RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL E RESISTÊNCIA À
COMPRESSÃO
4.1 RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL
Barrow (1976) definiu a resistividade elétrica como uma propriedade que
indica o grau de dificuldade dos íons se transportarem no interior do concreto,
podendo ser chamada de resistência específica, na qual, a resistência entre as
faces opostas de um cubo de certo material é igual ao inverso da condutividade
elétrica.
Para Cascudo (1997), a resistividade elétrica do concreto com a presença
de oxigênio determina a rapidez com que a corrosão se propaga na armadura
inserida no concreto. Para Andrade (1992), a velocidade do processo
eletroquímico é determinada pelo teor de umidade, pois este comanda o grau de
oxigênio disponível e, consequentemente, a resistividade elétrica do concreto.
Segundo Helene (1993), a resistividade elétrica do concreto constitui um
dos principais parâmetros para o controle da velocidade do fluxo de íons que são
transmitidos no concreto pela solução aquosa existente nos poros, sendo esta
suscetível ao teor de umidade e à temperatura.
A resistividade elétrica é determinada medindo-se as diferenças de
potencial no concreto, sendo uma propriedade do material a qual indica a
resistência à passagem de cargas elétricas, tal como é apresentada na Lei de
Ohm, Equação 4.1. (MEHTA E MONTEIRO, 2006; ANDRADE E D’ANDREA,
2011).
𝑅 = 𝑉
𝐼= 𝜌
𝐿
𝐴 Equaçã𝑜 4.1
onde:
R: resistência elétrica (V);
i : corrente elétrica (A);
L: distancia entre os eletrodos (cm); e
A: área transversal (cm²).
59
De acordo com Andrade e D’Andrea (2011), o concreto não estando
saturado, a resistividade aumenta, constituindo também uma medida para a
determinação do grau de saturação do concreto.
Segundo Neville (2015), o efeito eletroquímico que o concreto exerce
sobre o aço da armadura advém da alcalinidade do eletrólito no interior do
concreto, sendo que o concreto exposto a condições normais oferece certa
resistência à passagem de corrente elétrica para a armadura.
A análise das propriedades elétricas do concreto é importante para
diversas aplicações, uma delas é a influência desta no desenvolvimento do
processo de corrosão nas armaduras inseridas no concreto, sendo de grande
interesse também nos estudos para o concreto fresco e endurecido. (NEVILLE,
2015).
Cascudo (1997) afirma que para uma resistividade entre 5.000 e 60.000
Ωcm, o processo de corrosão é pequeno e muitas vezes não ocorre. Segundo
Gentil (2007), há critérios de avaliação da resistividade fundamentados pelo CEB
– 192.
4.1.1 Medida da Resistividade
O método mais empregado para medir a resistividade elétrica do concreto
é o método de Wenner ou método dos quatro eletrodos. Este método foi
desenvolvido para se avaliar a resistividade elétrica de solos descrito na norma
ASTM G57- Standard Method for Field Measurement of Soil Resistivity Using the
Wenner Four- Electrode Method (ASTM INTERNACIONAL, 2006). No Brasil,
este ensaio é normatizado pela norma ABNT NBR 7117:1981 – Medição da
resistividade do solo pelo método dos quatro pontos (Wenner). (LUBECK, 2008;
LENCIONI, 2011).
A aplicação deste método tornou-se uma forma fácil para mensurar a
resistividade em concretos de maneira não destrutiva; no entanto, não há
normatização para o uso em concretos no Brasil. (LUBECK, 2008; LENCIONI,
2011).
Segundo Cascudo (2005), esse método foi adaptado para o uso em
concreto através de equipamentos que podem ser utilizados no local de análise.
60
O ensaio é totalmente não destrutivo, pois, o equipamento encosta-se à
superfície do concreto, e ainda oferece de forma rápida as medidas.
O método de Wenner, segundo Gowers e Millard (1999), é aplicado
através de quatro eletrodos espaçados com distancias iguais e posicionados na
superfície do concreto, aplicando-se uma corrente alternada (i) entre os contatos
externos, sendo que a diferença de potencial (V) é medida pelo equipamento. A
resistividade elétrica pode ser medida de acordo com a equação 4.2.
𝜌 =2. 𝜋. 𝑎. 𝑉
𝑖𝑘 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 4.2
onde:
ρ = resistividade elétrica (Ωcm);;
a = distância entre os eletrodos (cm);
V = diferença de potencial (V);
K = parâmetro de correção e,
i = corrente elétrica (A).
Há uma adaptação desta equação realizada por Medeiros Filho (1979),
apresentada na Equação 4.3. No entanto, comumente é utilizada a equação 4.2,
uma vez que o contato elétrico é feito na superfície do concreto. (ABREU, 1998).
A Figura 4.1 apresenta um esquema do método dos quatro pontos.
𝜌 =4. 𝜋. 𝑑. 𝑉
𝑖. 1 + [
2. 𝑑
√𝑑2 + 4. 𝑏2) − [
𝑑
√𝑑2 + 𝑏2] 𝑘 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 4.3
onde:
ρ = resistividade elétrica (Ωcm);
d = distância média entre o eixo dos eletrodos (cm);
b = profundidade de embutimento dos eletrodos no concreto (cm);
V = diferença de potencial medida (V);
K = parâmetro de correção e,
i = corrente elétrica (A).
61
FIGURA 4.1 – ESQUEMA DO MÉTODO DOS 4 ELETRODOS PARA A MEDIDA DE RESISTIVIDADE ELÉTRICA: I – AMPERÍMETRO, V- VOLTÍMETRO DE ALTA IMPEDÂNCIA
DE ENTRADA, E a – DISTÂNCIA ENTRE OS ELETRODOS.
FONTE: GOWERS E MILLARD (1999). ADAPTADO POR LENCIONI (2011).
Apesar de ser de fácil aplicação, o método dos quatro eletrodos está
sujeito a vários erros e má interpretação, devido à geometria do conjunto,
características do concreto ou mesmo a presença de armaduras. (LUBECK,
2008). Alguns destes aspectos serão abordados brevemente a seguir.
4.1.1.1 Geometria do corpo de prova
De acordo com Gowers e Millard (1999), as medidas de diferença de
potencial e corrente elétrica medidas pelo método dos quatro eletrodos só é
confiável quando se assume que as dimensões da peça de concreto são maiores
se comparada ao espaçamento entre os eletrodos, sendo o concreto de volume
semi-infinito.
A corrente percorre uma região diferente quando as dimensões da peça
de concreto são delgadas ou próximas ao extremo, ocasionando em uma
resistividade elétrica superestimada. (GOWERS E MILLARD, 1999).
4.1.1.2 Contato dos eletrodos com o concreto
Gowers e Millard (1999) dizem que é necessário que ocorra um contato
entre os eletrodos e o concreto para se obter uma medida confiável da
62
resistividade elétrica, pois caso contrário o ensaio pode resultar em análises
errôneas.
A utilização de correntes alternadas de baixa frequência pode reduzir a
polarização do contato entre o eletrodo e o concreto, e assim, reduzir as
distorções encontradas para a medida da resistividade elétrica. (GOWERS E
MILLARD, 1999; WHITING E NAGI, 2003).
4.1.1.3 Presença de armaduras
Segundo Gowers e Millard (1999), as armaduras paralelas ao eixo dos
quatro eletrodos podem resultar na distorção do campo da corrente elétrica,
sendo que para minimizar o efeito que as armaduras provocam é necessário
posicionar o eixo dos eletrodos de maneira perpendicular. Desse modo, pode-se
manter um afastamento lateral entre o eixo e as armaduras.
4.1.3.4 Intensidade de corrente, frequência e tipo de onda
A influência da intensidade da corrente e frequência da onda sobre a
resistividade elétrica é demonstrada nas Figuras 4.2 e 4.3. (MILLARD et al.,
1989).
FIGURA 4.2 – RESISTIVIDADE SUPERFICIAL EM FUNÇÃO DA CORRENTE (µA).
FONTE: MILLARD et al. (1989).
63
FIGURA 4.3 – RESISTIVIDADE SUPERFICIAL EM FUNÇÃO DA FREQUENCIA (Hz).
FONTE: MILLARD et al. (1989).
Millard et al. (1989) concluíram que correntes inferiores a 200 µA e altos
valores de corrente devem ser evitados, pois tendem a erros. Isto devido à
resistência de contato entre o eletrólito e o eletrodo.
Segundo Gentil (2007), em regiões mais porosas e permeáveis ocorrerá
penetração de íons e gases como CO2 e O2, diminuindo a resistividade do
concreto; portanto, um concreto com alta resistividade elétrica pode ser obtido
com uma baixa porosidade.
Em suma, a grande sensibilidade da resistividade elétrica está associada
a diversos fatores intrínsecos e extrínsecos ao concreto, como a relação
água/cimento, o agregado utilizado, o consumo e tipo de cimento, as adições
minerais e aditivos, a temperatura e, se o concreto está submetido a um
ambiente agressivo. Tais fatores interferem na distribuição e tamanho dos poros,
na composição aquosa da solução dos poros, no teor de umidade, no pH, entre
outros fatores. (HOPPE, 2005). Alguns destes fatores serão apresentados
brevemente a seguir.
64
4.1.2 Propriedades do concreto relacionadas à resistividade
4.1.2.1 Relação água/cimento
Segundo Abreu (1998) e Santos (2006), a relação água/cimento afeta
diretamente a porosidade do concreto e, consequentemente, a sua resistência.
Quanto maior esta relação, maior será o volume total de vazios e a quantidade
de poros com grandes diâmetros, a permeabilidade, e menor será a resistividade
elétrica do concreto.
A relação água/cimento rege a maioria das propriedades do concreto, tais
como a trabalhabilidade no estado fresco, a permeabilidade e a resistência
mecânica no estado endurecido. Em relação à resistividade elétrica, a relação
água/cimento age indiretamente, pois as propriedades que são utilizadas para
caracterizar a resistividade são alteradas, como a estrutura e a composição da
solução contida nos poros. (HOPPE, 2005; LUBECK, 2008).
De acordo com Neville (2015), um eventual acréscimo no volume de água
e na parcela de íons contida nos poros do concreto pode diminuir a resistividade
da pasta de cimento, ou seja, há um grande aumento da resistividade do
concreto como a remoção da água. Isto pode ser observado na Tabela 4.1.
TABELA 4.1 – INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO ÁGUA/CIMENTO E DA DURAÇÃO DA CURA ÚMIDA SOBRE A RESISTIVIDADE DA PASTA DE CIMENTO.
Resistividade (a 1.000 Hz, 4V; Ωm) na idade de:
Tipo de cimento
Teor equivalente de
𝐍𝐚𝟐𝐎 (%)
Relação água/cimento
7 dias 28 dias 90 dias
Portland Comum
0,19 0,4 10,3 11,7 15,7
0,5 7,9 8,8 10,9
0,6 5,3 7,0 7,6
Portland Comum
1,01 0,4 12,3 13,6 16,6
0,5 8,2 9,5 12,0
0,6 5,7 7,3 7,9
FONTE: NEVILLE. (2015).
Portanto, a influência da concentração de íons na água de amassamento
na resistividade elétrica é maior em relações de água/cimento altas e
65
relativamente menor em concretos de alta resistência. Por exemplo, nas
primeiras horas após a mistura do concreto, a resistividade aumenta
gradualmente, logo após aumenta rapidamente até a idade de um dia. (NEVILLE,
2015).
4.1.2.2 Composição e consumo de cimento
Segundo Hansson e Hansson (1983), pode-se atribuir a resistividade
elétrica do concreto ao quão intercomunicável é a rede de poros e ao grau de
concentração de íons, Na−, K+, Ca++, OH− e Cl−. Em amplo estudo, tais autores
concluíram que em pasta com cimento resistente a sulfatos e cimentos comuns,
a resistividade é mais baixa se comparada a de pastas com cimento de alto
forno, como aponta a Figura 4.4.
A Figura 4.5 apresenta a relação entre a resistividade elétrica e a relação
água/cimento para concretos com agregado de dimensão máxima igual a 40 mm,
produzidos com cimento portland comum (TIPO I), ensaiado aos 28 dias.
FIGURA 4.4 – RESISTIVIDADE ELÉTRICA DE PASTAS DE DIFERENTES TIPOS DE
CIMENTOS, À TEMPERATURA DE 22º C E UMIDADE RELATIVA DE 100%.
FONTE: HANSSON E HANSSON (1983).
66
FIGURA 4.5 – RELAÇÃO ENTRE A RESISTIVIDADE ELÉTRICA E A RELAÇÃO ÁGUA/CIMENTO E TEOR DE CIMENTO.
FONTE: NEVILLE. (2015).
Comparando a resistividade elétrica para quatro tipos de cimento, CP IV
32, CP III 40 RS, CP II F e CP V ARI, Medeiros Junior et al. (2014) notaram que
para o cimento CP III 40 RS, com alto teor de escória de alto forno, os valores
de resistividade elétrica são superiores em relação aos demais cimentos, Figura
4.6.
Pode-se notar na Figura 4.6 que conforme o tempo de cura aumenta, esta
influencia na resistividade elétrica do concreto. Por exemplo, para o CP III 40
RS, a adição de escória de alto forno auxilia no refinamento dos poros do
concreto e, consequentemente reduz, a condutividade elétrica e assim, maiores
valores de resistividade são encontrados. (SANTOR, 2011; MEDEIROS JUNIOR
et al., 2014).
67
FIGURA 4.6 – VALORES DE RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO CONCRETO PARA DIFERENTES TIPOS DE CIMENTO.
FONTE: MEDEIROS JUNIOR et al. (2014).
4.1.2.3 Tipo e teor de agregados
Algumas vezes a resistividade elétrica da pasta de cimento é menor do
que a resistividade encontrada no concreto, isto devido ao tipo de agregado
utilizado. Por exemplo, ao variar o tipo de agregado graúdo e seu teor na mistura,
ocorrerá uma variação da resistividade do concreto; quanto maior o teor maior a
resistividade elétrica. (WHITING E NAGI, 2003).
Segundo Gowers e Millard (1999), ao se empregar o método dos quatro
eletrodos para se analisar a resistividade elétrica se pressupõe que o material
seja homogêneo. No entanto, a resistividade elétrica do agregado é maior do
que a pasta de cimento; portanto, a resistividade sofre alterações conforme o
teor e tipo agregado.
Princigallo et al. (2003) dizem que os agregados influenciam a
condutividade elétrica do concreto. Esses autores variaram a porcentagem total
68
de agregados e mantiveram a relação do agregado graúdo e miúdo, em peso,
de 1,2 e 0,37 para a relação água/ aglomerante, utilizando-se sílica ativa ao invés
de cimento. A condutividade elétrica do concreto diminui com o aumento do teor
de agregado utilizado na mistura.
4.1.2.4 Aditivos
Segundo Lubeck (2008), utilizam-se aditivos para aperfeiçoar as
propriedades do concreto, seja no estado fresco ou endurecido para se alcançar
uma maior durabilidade e resistência. Não há relação direta dos aditivos com a
resistividade elétrica do concreto, segundo Whiting e Nagi (2003) e Neville
(2015), no entanto, como os aditivos mudam a microestrutura da pasta e a
solução aquosa dos poros, há uma interferência indireta.
A utilização de plastificantes e superplastificantes reduz a relação
água/cimento e proporcionam uma boa trabalhabilidade, porém a redução da
relação a/c faz com que o concreto seja mais denso e menos permeável, assim
aumentando a resistividade elétrica do concreto. (WHITING E NAGI, 2003).
Real (2015), estudando o efeito de adições pozolânica em concretos
expostos a íons cloretos, utilizou teores diferentes de aditivo superplastificante
para os traços TCPV, TCPII, TCPIV, TSA, TSCA, TM, TCV10, TCV30, para
manter a trabalhabilidade constante. Os traços unitários em massa estão
apresentados na Tabela 4.2.
Na Figura 4.7 apresenta-se para os diferentes teores de aditivos, os
resultados médios de resistividade elétrica e na Figura 4.8 a correlação entre o
teor de aditivo e a resistividade elétrica.
69
TABELA 4.2 – TRAÇOS UNITÁRIOS EM MASSA.
Traço CPV CPII-
Z CPIV AS CCA M CV Areia Brita
1 a/a (1)
Aditivo
TCPV 1,00 - - - - - - 2,25 3,00 0,45 0,018
TCPII - Z - 1,00 - - - - - 2,25 3,00 0,45 0,013
TCPIV - - 1,00 - - - - 2,25 3,00 0,45 0,012
TSA 0,90 - - 0,10 - - - 2,25 3,00 0,45 0,018
TSCA 0,90 - - - 0,10 - - 2,25 3,00 0,45 0,013
TM 0,90 - - - - 0,10 - 2,25 3,00 0,45 0,019
TCV10 0,90 - - - - - 0,10 2,25 3,00 0,45 0,017
TCV30 0,70 - - - - - 0,30 2,25 3,00 0,45 0,020
(1) Relação água/aglomerante (cimento+adições). FONTE: REAL. (2015).
FIGURA 4.7 – RESULTADOS MÉDIOS DE RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL PARA
DIFERENTES TEORES DE ADITIVO SUPERPLASTIFICANTE.
FONTE: REAL (2015).
70
FIGURA 4.8 – CORRELAÇÃO ENTRE TEOR DE ADITIVOS E RESISTIVIDADE ELÉTRICA.
FONTE: REAL (2015).
Conforme as Figuras 4.7 e 4.8, nota-se na variância a influência do teor
de aditivo na resistividade elétrica. No entanto, não foi encontrada uma tendência
de comportamento. Real (2015) constatou através da correlação entre o teor de
aditivos e resistividade elétrica que não é possível identificar um efeito do aditivo
em relação a resistividade elétrica.
4.1.2.5 Adições Minerais
Segundo Lubeck (2008), para melhorar as propriedades mecânicas e a
durabilidade do concreto, além de aditivos pode-se utilizar adições minerais, pois
apresentam um benefício a mais na redução do impacto ambiental gerado pela
fabricação de concreto. Destaca-se o uso da escória de alto forno, cinza volante,
sílica ativa, metacaulim e cinza de casca de arroz.
Para Neville (2015), quando bem empregadas, as adições minerais
aumentam a resistividade elétrica do concreto, podendo diminuir a velocidade do
processo eletroquímico.
A utilização de escória de alto forno faz com que ocorra um aumento
gradativo da resistividade elétrica, em uma ordem maior a de cimento Portland
comum. A escória de alto forno em conjunto à sílica ativa e cinza volante,
conforme já citado, mudam a microestrutura da mistura e assim diminuem a
concentração iônica desta. (WHITING E NAGI, 2003).
71
4.1.3 Efeitos da Exposição sobre a resistividade
4.1.3.1 Cura
A cura do concreto é necessária para garantir a hidratação do cimento.
Para que isso ocorra deve-se controlar a temperatura, o tempo e as condições
de umidade logo após o lançamento do concreto. (MEHTA E MONTEIRO, 2006).
Segundo Whiting e Nagi (2003), conforme há a hidratação do concreto, a
resistividade aumenta gradativamente com esta; no entanto, deve-se garantir a
cura adequada. Por exemplo, para um concreto curado a vapor por cerca de 120
dias, aos 30 dias a resistividade era cerca 90% igual da medida observada aos
120 dias.
Silva (2016), estudando a resistividade elétrica do concreto e a influência
da cura para relação a/c de 0,81, 0,50 e 0,35 (C-0,81, C-0,50 e C-0,35),
constatou que quanto maior a relação a/c, maior será a porosidade do concreto
e assim maior a resistividade elétrica. Na Figura 4.9 apresenta-se os resultados
da evolução da resistividade elétrica do concreto para as três relações a/c em
condições sem cura (SC), cura 7 dias (7d) e 14 dias (14d).
FIGURA 4.9 – EVOLUÇÃO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO CONCRETO COM RELAÇÃO A/C CORRELAÇÃO ENTRE TEOR DE ADITIVOS E RESISTIVIDADE ELÉTRICA.
FONTE: SILVA (2016).
72
4.1.3.2 Temperatura
A temperatura influência diretamente na solução aquosa dos poros e
consequentemente na resistividade elétrica do concreto; conforme o aumento da
temperatura a viscosidade da solução diminui, acarretando na maior mobilidade
dos íons e assim na condutividade elétrica. (HELENE, 1993; NEVILLE, 2015).
A resistividade elétrica do concreto depende da temperatura, pois, esta
influência na solução nos poros. Na Figura 4.10 apresenta-se a resistividade
conforme a temperatura. Pode-se notar que a resistividade diminui com o
aumento da temperatura. (WHITING e NAGI, 2003).
FIGURA 4.10 – RESISTIVIDADE ELÉTRICA VERSUS TEMPERATURA.
FONTE: WHITING e NAGI (2003).
4.1.3.3 Teor de umidade e saturação
A variação do teor de umidade do concreto é o que mais influencia a
resistividade elétrica, pois quanto maior a umidade, maior é a quantidade de
solução nos poros, servindo de caminho para a corrente elétrica. (WHITING e
NAGI, 2003; HOPPE, 2005).
O concreto fresco comporta-se como um semicondutor, pois atua
basicamente como um eletrólito de até 100 Ωm, e no estado endurecido tem uma
resistividade cerca de 104 Ωm, e em estufa cerca de 109 Ωm, configurando um
ótimo isolante. Esta característica é em função dos íons presentes na solução
73
dos poros e sua transmissibilidade, pois quando não há conexão entre os
capilares, a corrente passa a ser transmitida pela água do gel. (NEVILLE, 2015).
4.1.3.4 Agentes agressivos - íons cloretos
Segundo Lencioni e Lima (2010), é contraditória a relação dos íons
cloretos com a resistividade elétrica, pois, enquanto alguns autores afirmam que
há diminuição da resistividade elétrica com a elevação do teor dos íons cloretos,
outros, afirmam ser insignificante esta alteração.
Hunkeler (1996) e Andrade (2005) discutem que conforme o aumento da
concentração de cloretos, não há alteração significativa da resistividade elétrica
do concreto, pois para os autores o que mais influencia a resistividade é o teor
de umidade do concreto.
O método AASTHO (Washington/EUA) – American Association of State
Highway and Transportation Officials, chamado de “Standard method of test for
surface resistivity indication of concrete’s ability to resist choride íon penetration”
(AASHTO, 2008), é utilizado para medir a resistividade elétrica superficial
através de uma sonda aplicada a corpos de prova cilíndricos de concreto,
relacionando os valores encontrados com o nível de penetrabilidade dos íons
cloreto no concreto. (LENCIONI, 2011).
Na Tabela 4.3, é indicada a probabilidade de penetração de íons cloreto
para cada dimensão de corpo de prova.
A influência da concentração de cloretos e do teor de umidade sobre a
resistividade elétrica foi objeto de estudo de Sallem et al. (1996), sendo que estes
autores concordam que a diminuição da resistividade está relacionada com o
aumento da concentração de íons e do teor de umidade, sendo observado na
Figura 4.12
74
TABELA 4.3 – PROBABILIDADE DE PENETRAÇÃO DE ÍONS CLORETO NO CONCRETO.
Probabilidade de
penetração dos íons
cloreto
Resistividade elétrica superficial do
concreto (kΩ.cm)
CP’s de 10x20
cm; a=3,81 cm
CP’s de 15x30
cm; a=3,81 cm
Alta < 12 < 9,5
Moderada 12 – 21 9,5 – 16,5
Baixa 21 – 37 16,5 - 29
Muito baixa 37 - 254 29N- 199
Desprezível > 254 >199
a = espaçamento entre as pontas de prova da sonda Wenner.
FONTE: AASHTO. (2008).
FIGURA 4.12 – RESISTIVIDADE ELÉTRICA EM FUNÇÃO DA UMIDADE E CONCENTRAÇÃO DE CL−.
FONTE: SALLEM et al. (1996).
Segundo Sallem et al. (1996), a ação de cloretos e sulfatos resultaram em
uma grande queda da resistividade elétrica quando comparados a misturas
isoladas. Isso pode ser observado na Figura 4.13.
75
FIGURA 4.13 – RESISTIVIDADE ELÉTRICA EM FUNÇÃO DA UMIDADE E CONCENTRAÇÃO DE CL− PARA UM TEOR DE SO4
− DE 7,2 KG/M³ NO CONCRETO.
FONTE: SALLEM et al. (1996).
Conclui-se que para um teor de 1,5% de umidade, o concreto consegue
proteger as armaduras, sendo o critério da resistividade mínima de 10 kohm.cm,
para uma concentração de Cl− de até 19,2 kg/m³. No entanto para a presença
de cloreto e sulfato, o teor passa para 4,8 kg/m³. (SALLEM et al., 1996).
4.2 RESISTENCIA À COMPRESSÃO
Segundo Neville (2015), normalmente considera-se a resistência do
concreto a propriedade de mais valia. No entanto, a durabilidade e a
permeabilidade em certos casos podem ser mais importantes. A resistência
oferece uma ideia global da qualidade do concreto, pois está relacionada
diretamente a matriz da pasta de cimento hidratada.
O concreto é considerado um material frágil, embora tenha um leve
comportamento plástico, pois a ruptura sob a carga estática ocorre com uma
deformação total pequena, sendo que como limite do comportamento frágil pode-
se considerar uma deformação entre 0,001 e 0,005 na ruptura. (NEVILLE, 2015).
A relação água/cimento e as propriedades do cimento influenciam no
aumento da resistência à compressão do concreto. Por exemplo, para misturas
de baixa relação água/cimento, há um aumento da resistência. Isto ocorre, pois
os grãos de cimento estão próximos uns dos outros, sendo a relação de
76
gel/espaço estabelecida rapidamente. Para climas quentes a resistência nas
primeiras idades é mais alta do que se comparado a climas frios. (NEVILLE,
2015).
De acordo com Neville (2015), é comumente utilizado o ensaio à
compressão do concreto, pois é de fácil execução. Além disso, a maioria das
propriedades estão relacionadas à resistência. Essa propriedade é importante
para o projeto estrutural.
Os resultados dos ensaios podem sofrer variações de acordo com o tipo
e dimensões do corpo de prova, pela cura, pelo molde, pelo capeamento
executado, pela rigidez da máquina e da velocidade da aplicação da carga.
Devido a estas e outras razões, o ensaio deve atender a requisitos de norma,
sem nenhuma alteração na metodologia descrita. (NEVILLE, 2015).
A resistência à compressão do concreto pode ser obtida mediante ensaios
em corpos de prova ou em testemunhos extraídos dos elementos estruturais. A
Norma Brasileira ABNT NBR 6118:2014 se refere à resistência à compressão
obtida através de ensaios de corpo de prova cilíndricos moldados segundo a
ABNT NBR 5738:2015 e rompidos como estabelece a ABNT NBR 5739:2007.
Não sendo indicada a idade, as resistências se referem à idade de 28 dias.
4.3 CORRELAÇÕES ENTRE RESISTIVIDADE ELÉTRICA E RESISTÊNCIA À
COMPRESSÃO DO CONCRETO
Segundo Andrade e D’Andrea (2011), a pasta de cimento recém-
misturada apresenta uma resistividade baixa, no entanto, ao endurecer, a
resistividade aumenta. Isto pode ser observado na Figura 4.14, na qual
apresenta a curva de resistividade de uma amostra nas primeiras 24 horas.
77
FIGURA 4.14 – DESENVOLVIMENTO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DURANTE O PROCESSO DE ENDURECIMENTO.
FONTE: ANDRADE E D’ANDREA. (2011). TRADUZIDO PELA AUTORA.
Como demonstrado na Figura 4.15 a evolução da resistividade é paralela
a resistência mecânica. (ANDRADE E D’ANDREA, 2011).
FIGURA 4.15 – RELAÇÃO DA RESISTÊNCIA Á COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE ELÉTRICA PARA UM DADO TIPO DE CIMENTO.
FONTE: ANDRADE E D’ANDREA. (2011).
O estudo de Lubeck (2008) mostra a relação da resistividade elétrica e a
resistência à compressão, sendo que a resistividade cresce conforme a
resistência mecânica cresce, Figura 4.15. Uma explicação para este resultado é
que tanto a resistividade quanto a resistência dependem da relação
água/aglomerante e da configuração dos poros. Com isso, pode-se concluir que
quanto menor a relação água/cimento maior será a resistividade e a resistência.
78
Na Figura 4.16 pode-se observar que as resistividades são diferentes para
cada mistura; portanto a durabilidade de uma estrutura não pode ser avaliada
simplesmente pela resistência a compressão. (LUBECK, 2008).
FIGURA 4.16 – RESISTIVIDADE ELÉTRICA VERSUS RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AOS 91 DIAS.
FONTE: LUBECK. (2008).
Segundo Lubeck (2008), os estabelecimentos de patamares de
resistência tiveram como resultado valores diferenciados para a resistividade
elétrica. Por exemplo, para 35 MPa, aos 28 dias, obteve-se uma variação de
7383 ohm.cm para a mistura REF e 6167 ohm.cm para a mistura 70E, podendo-
se concluir que para o traço com 70% de escória de alto forno a resistividade é
8,35 vezes maior que o traço contendo apenas cimento Portland Comum. Os
demais resultados para outros traços e outras idades pode ser observado na
Tabela 4.4.
TABELA 4.4 – RELAÇÕES ÁGUA/AGLOMERANTE E RESISTIVIDADES ELÉTRICAS
OBTIDAS. Traço a/c ρ
(Ω.cm)
Risco a/c ρ (Ω.cm
)
Risco a/c ρ (Ω.cm)
Risco
REF 0,59 7383 Alto 0,39 15894 Baixo 0,40 20572 Desprezível
50E 0,46 44940 Desprezível 0,31 56674 Desprezível 0,35 80457 Desprezível
50A 0,60 40883 Desprezível 0,36 59333 Desprezível 0,33 77148 Desprezível
70E 0,46 61671 Desprezível 0,30 70428 Desprezível 0,29 81231 Desprezível
FONTE: LUBECK. (2008).
79
Como conclusão, Lubeck (2008) obteve que a resistividade elétrica é
dependente da relação água/aglomerante, assim como a resistência à
compressão, seguindo de maneira aproximada uma lei exponencial.
No estudo de Rosa (2005), demonstra-se a correlação da resistividade e
resistência para as idades de 3, 7, 28 e 91 dias. Rosa (2005) também identificou
um aumento da resistividade com a resistência; isso ficou evidente nas idades
de 28 e 91 dias, sendo que, segundo o autor, nas idades iniciais de 3 e 7 dias
não há acréscimo de resistividade elétrica aparente a não ser que a mistura seja
ativada quimicamente.
Medeiros-Junior et al. (2014), também observaram que há uma correlação
da resistência mecânica do concreto à compressão com a resistividade elétrica
superficial. Esses autores mostraram que há alteração nos valores obtidos para
a resistividade de acordo com o tipo de cimento e a idade com que o ensaio foi
realizado. Pode-se observar na Figura 4.16 a correlação da resistência a
compressão e a resistividade elétrica para um cimento CP IV 32, que segundo o
autor foi o que obteve o segundo melhor resultado em termos de resistividade
elétrica, sendo o melhor resultado atribuído ao CP III 40 RS, demonstrado na
Figura 4.17.
FIGURA 4.16 - CORRELAÇÃO DA RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE ELÉTRICA – CP IV 32.
FONTE: MEDEIROS – JUNIOR et al.. (2014).
80
FIGURA 4.17 - CORRELAÇÃO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE ELÉTRICA – CP III 40 RS.
FONTE: MEDEIROS – JUNIOR et al. (2014).
Em todos os estudos apresentados, Rosa (2005), Lubeck (2008), Andrade
e D’Andrea (2011) e Medeiros - Junior et al. (2014) concluíram que a
resistividade elétrica superficial aumenta de maneira proporcional ao
crescimento da resistência mecânica a compressão, sendo que isto ocorre
devido ao progresso da hidratação da pasta.
Em suma, a correlação destes dois ensaios é fundamental para se
determinar a durabilidade das estruturas de concreto, facilitando também ao
fabricante prever a resistência mecânica do concreto nas primeiras idades.
(ROSA, 2005; ANDRADE E D’ANDREA, 2011).
81
5 METODOLOGIA EXPERIMENTAL
Este trabalho tem como objetivo analisar a durabilidade do concreto frente
à ação de agentes agressivos marinhos, no qual foi desenvolvido um estudo
experimental que possibilitou a correlação dos ensaios de resistência à
compressão e a resistividade elétrica.
O estudo experimental consiste na análise de 4 (quatro) relações
água/cimento: 0,42, 0,48, 0,54 e 0,60, com a utilização do cimento CPIV 32 RS,
sendo os corpos de prova submetidos a ciclos de molhagem e secagem em
solução combinada de cloreto de sódio e sulfato de sódio, simulando as
condições de agressividade marinha. Além dessa condição agressiva, tendo em
vista obter referências para avaliar o efeito dos agentes agressivos, também
foram estudadas a condições de saturação em água e ciclo de molhagem e
secagem em água.
O planejamento deste estudo foi baseado na bibliografia de referência,
como o trabalho de Medeiros Junior. et al. (2014), de forma a dar continuidade e
complementar estes estudos. A seguir são apresentadas as variáveis
independentes e dependentes deste estudo.
Variáveis independentes
As variáveis independentes são fixas, e influenciam nas variáveis
dependentes. As variáveis independentes são as seguintes:
Cimento CPIV 32 RS;
Diâmetro máximo do agregado graúdo (19 mm);
Diâmetro máximo do agregado miúdo (9,5 mm);
Relações água/cimento em 4 níveis: 0,42, 0,48, 0,54 e 0,60;
Ciclo de molhagem/secagem (4 dias submerso e 3 dias seco);
Geometria dos corpos de prova (cilíndrico Ø 100mmx200mm);
Condições de cura (câmara úmida com 95 % de umidade relativa e 25 ±
2ºC de temperatura por 28 dias).
82
Variáveis dependentes
As variáveis dependentes são influenciadas pelas variáveis
independentes, representado as características do concreto. Para esta pesquisa,
as variáveis dependentes analisadas são:
Resistência à compressão axial,
Resistividade elétrica superficial.
5.1. ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS
Anteriormente à moldagem dos corpos de prova, realizou-se o ensaio de
caracterização dos materiais a serem utilizados no estudo. Estes processos
preliminares são fundamentais para conhecer as propriedades destes materiais.
Com o objetivo de retirar eventuais impurezas e umidade, o agregado
graúdo foi lavado e posteriormente seco em estufa a 105º C. O agregado miúdo
foi comprado e passou somente pelo processo de secagem em estufa.
Portanto, na sequência, serão apresentadas as tabelas e gráficos obtidos
pelos ensaios e as características físicas e químicas dos materiais fornecidas
pelos fabricantes, sendo todos os procedimentos de acordo com as normas
vigentes.
5.1.1 Cimento
Como o estudo foi realizado na região sul, utilizou-se o CPIV 32 RS, pois
é o tipo de cimento mais comum comercializado na região, em comparação ao
CP III. Atrelado a este fato, a utilização deste cimento é ideal para ambientes
agressivos, como é o foco deste trabalho (classe de agressividade ambiental IV
– muito forte), pois a adição pozolânica proporciona maior durabilidade às
estruturas.
Conforme já abordado neste trabalho no Capítulo 3, a escolha de um
cimento adequado é fundamental para a resistência a um ambiente agressivo. A
83
escolha de um cimento do tipo RS foi baseada no fato de o estudo em questão
utilizar solução de sulfato de sódio (NaSO4).
As características físicas, químicas e mecânicas do cimento CP IV 32 RS
estão apresentadas nas Tabelas 5.1 e 5.2, respectivamente.
TABELA 5.1 – PROPRIEDADES QÚIMICAS DO CPIV 32 RS.
Componente Faixa de concentração (%)
Silicato tricálcico 20-70
Silicato dicálcico 10-60
Ferro-aluminato de cálcio 5-15
Sulfato de cálcio 2-10
Aluminato tricálcico 1-15
Carbonato de cálcio 0-5
Óxido de magnésio 0-4
Óxido de cálcio 0-0,2
FONTE: FICHA DE INFORMAÇÕES – FISPQ (NBR14725-4:2012). FORNECIDA PELO FABRICANTE E NBR 5736:1991.
TABELA 5.2 – PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DO CP IV 32 RS.
Características Unidades Limites
Finura (resíduo na peneira 75 µm) % retida > 8,0
Massa específica Absoluta g/cm³ a 20 °C 2,8 – 3,2
Massa específica Aparente g/cm³ a 20 °C 0,9 – 1,2
Tempo de início de pega H 5
Perda ao fogo % > 4,5
Resistência à Compressão
axial
3 dias MPa 10,0
7 dias MPa 20,0
28 dias MPa 32,0
FONTE: FICHA DE INFORMAÇÕES – FISPQ (NBR14725-4:2012). FORNECIDA PELO FABRICANTE E NBR 5736:1991.
84
5.1.2. Agregado miúdo
O agregado miúdo utilizado no estudo foi uma areia natural. Os resultados
dos ensaios de caracterização são apresentados na Tabela 5.3.
TABELA 5.3 – RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO DO AGREGADO MIÚDO.
Ensaio Resultado Norma (NBR)
Massa específica do
agregado 2,470 g/cm³ NBR NM 52:2009
Massa específica aparente
do agregado seco 2,535 g/cm³ NBR NM 52:2009
Massa específica do
agregado saturado
superfície seca
2,508 g/cm³ NBR NM 52:2009
Massa unitária 1,477 g/cm³ NBR NM 45:2006
Teor de material
pulverulento 3,15 % NBR NM 46:2003
FONTE: AUTORA.
A distribuição do tamanho dos grãos do agregado miúdo está apresentada
na Tabela 5.4 e a curva granulométrica na Figura 5.1, conforme NBR NM
248:2003.
TABELA 5.4 – DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA DOS AGREGADOS MIÚDOS.
Peneiras Massa Porcentagem Retida
% Retida Acumulada
(mm) (g) (%) (%)
6,35 0,92 0,184 0,184
4,76 0,58 0,116 0,116
2,36 7,37 1,478 1,594
1,18 34,79 6,975 8,569
0,6 126,41 25,345 33,914
0,3 142,12 28,495 62,409
0,15 170,61 34,207 96,616
0,01 16,81 3,370 99,986
Total 498,69 99,986 99,986
FONTE: AUTORA.
85
FIGURA 5.1 – CURVA GRANULOMÉTRICA DO AGREGADO MIÚDO.
FONTE: AUTORA.
De acordo coma a Tabela 5.4 e a Figura 5.1, pode-se notar que curva
granulométrica se encaixa na zona utilizável, sendo classificada como areia fina,
com módulo de finura de 2,21 e diâmetro máximo de 9,5 mm.
5.1.3 Agregado graúdo
O agregado graúdo utilizado neste estudo foi pedra britada, lavada e
posteriormente, seca em estufa.
As características físicas e a curva granulométrica são demonstradas na
Tabela 5.5 e Figura 5.2, respectivamente.
86
TABELA 5.5 – RESULTADOS ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO AGREGADO GRAÚDO. continua
Ensaio Resultado Norma (NBR)
Massa específica
aparente do agregado
seco
2,714 g/cm³ ABNT NBR NM 53:2009
Massa específica do
agregado saturado
superfície seca
2,720 g/cm³ ABNT NBR NM 53:2009
Massa específica
aparente 2,730 g/cm³ ABNT NBR NM 53:2009
FONTE: AUTORA.
FIGURA 5.2 – CURVA GRANULOMÉTRICA DO AGREGADO GRAÚDO.
FONTE: AUTORA.
87
Os ensaios de granulometria foram realizados de acordo com a NBR NM
248:2003, e conforme a Figura 5.1, pode-se concluir que o diâmetro máximo
para o agregado graúdo é de 19 mm.
5.1.4 Água
A água utilizada para o estudo foi fornecida pelo abastecimento público
efetuado pela Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR), não sendo
feito tratamento para o uso.
5.2 DEFINIÇÃO DO TRAÇO
O traço 1:1,4:2,1(cimento:areia:brita) em materiais secos foi utilizado com
o objetivo de dar continuidade ao estudo de Medeiros Junior et al. (2014), que
também investigou a relação entre a resistência à compressão e a resistividade
elétrica. A escolha deste traço justifica-se pelo fato de não precisar utilizar
aditivos para a relação a/c mais baixa selecionada neste estudo. A utilização de
aditivos poderia implicar em divergências nos resultados, uma vez que se
desconhece em parte a interferência destes na leitura da resistividade elétrica
superficial.
Utilizou-se para este traço 4 (quatro) relações a/c: 0,42, 0,48, 0,54 e 0,60.
Optou-se pela utilização de 4 (quatro) relações a fim de se variar a porosidade e
a resistência à compressão dos concretos. Além disso, as quatro relações a/c
vão constituir diferentes pontos da curva de correlação entre a resistividade
elétrica e a resistência à compressão. Sendo assim, quanto mais pontos uma
curva possui mais precisa será. Limitou-se a 4 (quatro), pois, mais relações
implicaria em mais corpos de prova e mais recursos a serem utilizados.
5.3 MOLDAGEM E CURA DOS CORPOS DE PROVA
Para o estudo foram moldados 120 corpos de prova cilíndricos
(Ø100mmx200mm), divididos conforme as 4 (quatro) relações água/cimento já
88
mencionadas, 0,42, 0,48, 0,54 e 0,60, sendo 30 corpos de prova para cada
relação.
Para cada relação água/cimento, obteve-se os consumos de cimento em
quilograma por metro cúbico, sendo calculado a partir da Lei de Molinari. Os
valores para cimento, areia e brita em quilograma por metro cúbico para a
moldagem dos corpos de prova são apresentados na Tabelas 5.6.
TABELA 5.6 – CONSUMO DE CIMENTO, AREIA E BRITA EM KG/M³ E FCK.
Relação
água/cimento
Consumo de cimento
(kg/m³) Areia (kg) Brita (kg) fck
0,42 484,9 678,9 1.018,3 49,3
0,48 471,2 659,7 989,5 41,3
0,54 458,3 641,5 962,3 33,9
0,60 445,98 624,4 936,6 27,9
FONTE: AUTORA.
Após o pré-tratamento dos materiais (lavagem e secagem em estufa a
105 °C), realizou-se a imprimação da betoneira, que consiste em colocar uma
nata de cimento no equipamento para evitar que o concreto perca umidade.
Logo após a imprimação, os materiais foram colocados na betoneira em
duas etapas. Na primeira, foram colocados os agregados e metade da
quantidade de água; na segunda, após breve mistura, o cimento e o restante da
água. Na sequência, os materiais foram misturados durante aproximadamente 6
(seis) minutos, conforme Figura 5.3 - a.
Nos moldes, aplicou-se um desmoldante para facilitar o processo de
desmoldagem dos corpos de prova, conforme a Figura 5.3 - b.
89
FIGURA 5.3 – MISTURA DOS MATERIAS NA BETONEIRA E PREPARAÇÃO DOS MOLDES.
(a) (b)
FONTE: AUTORA.
Para o ensaio do abatimento do tronco de cone (Slump Test) e
espalhamento (Flow Test), foi utilizado o tronco de cone padronizado pela NBR
NM 67:1998. O tronco de cone foi preenchido com amostra de concreto em três
camadas de mesma altura, sendo aplicados 25 golpes com haste metálica
padronizada, em cada camada e de forma uniforme. Por fim, é retirado o molde
e o concreto sem suporte abate-se pelo seu próprio peso. O abatimento do
concreto é então medido. Para cada relação água/cimento, obteve-se um
abatimento, conforme Tabela 5.7 e Figuras 5.4 – a e 5.4 - b.
TABELA 5.7 – ABATIMENTO E ESPALHAMENTO DO CONCRETO PARA CADA RELAÇÃO
A/C ANALISADA.
Relação a/c Abatimento (mm) Espalhamento (mm)
0,42 100 -
0,48 210
0,54 - 55
0,60 - 68
FONTE: AUTORA.
90
FIGURA 5.4 – MISTURA DOS MATERIAS NA BETONEIRA E PREPARAÇÃO DOS MOLDES.
(a) (b)
FONTE: AUTORA.
Após o Slump Test e Flow Test, realizou-se a moldagem dos corpos de
prova cilíndricos com as dimensões de 100 mm de diâmetro por 200 mm de
altura.
Os corpos de prova foram moldados em duas camadas, sendo o
adensamento feito com haste metálica. Os corpos de prova foram envoltos por
filme plástico, para evitar a saída da água do concreto durante as primeiras 24
horas, Figura 5.5.
FIGURA 5.5 – CORPOS-DE PROVA APÓS A MOLDAGEM E ENVOLTOS POR FILME PLÁSTICO.
FONTE: AUTORA.
91
Após 24 horas, os corpos de prova (CPs) foram desmoldados e colocados
em câmara úmida com 95 % de umidade relativa e 25 ± 2ºC de temperatura.
Esses CPs permaneceram na câmara úmida em cura, até a data da realização
dos primeiros ensaios de resistência à compressão e resistividade elétrica, ou
seja, por 28 dias. (Figura 5.6).
FIGURA 5.6 – CORPOS DE PROVA NA CÂMARA ÚMIDA.
FONTE: AUTORA.
5.4 CICLOS DE MOLHAGEM E SECAGEM
Com o intuito de simular as zonas de agressividade marinha, variação e
respingos de maré, conforme descrito neste trabalho no capítulo 3, realizou-se o
ciclo de molhagem e secagem nos corpos de prova.
Após o período de cura, os corpos de prova foram expostos a umidade
ambiente por 4 dias e logo após foram imersos em solução combinada de 3,5 %
de cloreto de sódio (NaCl−) e 5% de sulfato de sódio (NaSO4) por 3 dias. Esses 7
dias (4 dias seco e 3 dias submerso) constituíram um ciclo. A escolha dessa
metodologia para os ciclos de molhagem e secagem foi baseada nos estudos de
Figueiredo et al. (2014), Otieno et al. (2016) e Fioriti et al. (2016), quanto que
para a porcentagem utilizada de cloreto de sódio e sulfato de sódio, Gao et al.
(2013), Gong, Cao e Wang (2016) e Chen et al. (2016), 5 % de sulfato de sódio;
Malheiro et al. (2014), Wang e Gao (2016) e Jiang e Niu (2016), 3,5 % de cloreto
92
de sódio. Estes íons foram escolhidos pois possuem maior representatividade
na água do mar.
A Figura 5.7 demonstra os corpos de prova em imersão na solução
agressiva.
FIGURA 5.7 – CORPOS DE PROVA IMERSOS EM SOLUÇÃO AGRESSIVA.
FONTE: AUTORA.
Além do estudo do concreto para condição agressiva, parte dos corpos de
prova de todas as relações a/c analisadas foram expostas a condições de
imersão permanente em água potável e em ciclos de molhagem e secagem
apenas com água.
Sendo assim, para cada condição e para cada idade, 28 dias (câmara
úmida), 42 dias (2 ciclos), 91 dias (9 ciclos) e 140 dias (16 ciclos), foram
realizados os ensaios de resistência à compressão axial e resistividade elétrica,
os quais os resultados serão discutidos no próximo capítulo deste trabalho.
A Figura 5.8 demonstra um fluxograma para melhor compreensão da
movimentação dos corpos de prova durante os ciclos e para cada condição.
93
FIGURA 5.8 – FLUXOGRAMA DAS CONDIÇÕES E ENSAIOS ANALISADOS.
FONTE: AUTORA.
De acordo com a Figura 5.8, para cada idade, foram realizados os ensaios
de compressão e resistividade elétrica superficial (RES), sendo que para cada
condição foram rompidos 3 (três) corpos de prova.
5.5 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
Os ensaios de resistência à compressão simples foram realizados
segundo a ABNT NBR 5739: 2007 para as idades de 28, 42, 91 e 140 dias.
O ensaio de rompimento de corpos de prova de concreto tem como
principal objetivo a determinação da resistência à compressão, sendo que o
ensaio consiste na utilização de corpos de prova na condição saturada, que
simula a pior condição do concreto em obra, onde os poros estão completamente
94
preenchidos por água. Para a preparação de todos os CPs, foram utilizados
discos de neopreme, com o intuito de nivelar os corpos de prova. A nivelação
dos corpos de prova é fundamental, pois evita que durante a ruptura, a prensa
encoste apenas em parte da face superior do corpo de prova levando a
concentração de tensões.
Logo após, aplicou-se a força axial com velocidade de carregamento
controlada pela prensa com capacidade de 1000 kN. O controle do carregamento
é fundamental, pois pode interferir nos resultados.
A Figura 5.9 demonstra o ensaio de resistência à compressão e o
rompimento dos corpos de prova para a relação de a/c de 0,42 aos 28 dias, ou
seja, após a retirada da câmara úmida.
FIGURA 5.9 – ENSAIO DE COMPRESSÃO AXIAL NA PRENSA HIDRÁULICA.
FONTE: AUTORA.
95
5.6 RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL
O ensaio de Resistividade Elétrica Superficial (RES) foi realizado pelo
método de Wenner ou dos quatro eletrodos para as idades de 28, 42, 91 e 140
dias, de acordo com a UNE 83988 (2012).
A aplicação deste método tornou-se uma forma fácil para mensurar a
resistividade em concretos de maneira não destrutiva. O aparelho de medição
Resipod foi utilizado e possui quatro eletrodos igualmente espaçados em 50 mm,
os eletrodod são pressionados contra o corpo de prova e é aplicada uma corrente
elétrica nos eletrodos mais externos e a medida da tensão resultante é feita pelos
eletrodos internos.
Portanto, a resistividade elétrica é determinada medindo-se as diferenças
de potencial no concreto, sendo uma propriedade do material a qual indica a
resistência à passagem de cargas elétricas.
Para todos os corpos de prova, foram executadas 3 (três) leituras no
aparelho, com ângulo de aproximadamente 120°. Na Figura 5.10 é demonstrada
uma das leituras de resistividade elétrica superficial realizada em corpo de prova.
A condição adotada é a recomendada pela norma UNE 83988 (2012), saturado
superfície seca. Ainda de acordo com a mesma norma, devido à dimensão
limitada dos CPs, é necessário aplicar um fator de correção de forma de 0,377
nas leituras de RES.
FIGURA 5.10 – ENSAIO DE RESISTIVIDADE ELÉTRICA COM O APARELHO RESIPOD.
FONTE: AUTORA.
96
6. RESULTADOS
Neste capítulo são abordados e discutidos os resultados dos ensaios
realizados conforme a metodologia descrita no capítulo anterior. O objetivo
principal é estabelecer uma correlação entre os ensaios de resistência à
compressão e a resistividade elétrica do concreto submetido a solução
combinada de cloreto de sódio e sulfato de sódio, simulando uma condição de
agressividade que ocorrem nas zonas de variação e respingos de maré.
6.1 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
O ensaio de resistência à compressão foi realizado em 3 corpos de prova
para cada relação água/cimento, nas idades de 28, 42, 91 e 140 dias. O
resultado médio de resistência à compressão para a condição de imersão nas
idades de 28 dias, 42 dias, 91 dias e 140 dias está apresentada na Figura 6.1.
Pela similaridade da condição de exposição, a Figura 6.1 também revela os
resultados para os CPs aos 28 dias após a câmara úmida.
A Figura 6.2 apresenta valores da resistência à compressão para ciclo de
molhagem e secagem com água para as relações analisadas,0,42, 0,48, 0,54 e
0,60 e, para todas as idades. Do mesmo modo, a Figura 6.3 apresenta os valores
da resistência à compressão para ciclo de molhagem e secagem com solução
combinada de cloreto de sódio e sulfato de sódio.
FIGURA 6.1 – RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO NA CONDIÇÃO DE IMERSÃO EM ÁGUA.
FONTE: AUTORA.
97
FIGURA 6.2 – RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO PARA A CONDIÇÃO DE CICLO DE M/S COM ÁGUA.
FONTE: AUTORA
FIGURA 6.3 – RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO PARA A CONDIÇÃO DE CICLO DE M/S COM SOLUÇÃO COMBINADA DE CLORETO DE SÓDIO E SULFATO DE SÓDIO.
FONTE: AUTORA
Como já mencionado, as propriedades ligadas a durabilidade dependem
do tipo de relação a/c, adição, condição ao qual a estrutura está exposta e
principalmente a condições de cura. A norma ABNT NBR 6118:2014, estabelece
para o concreto uma relação a/c menor ou igual a 0,40 e resistência à
compressão igual ou superior a 40 MPa, isto para ambiente industrial-marinho
com classe de agressividade elevada (IV). A partir disto, pode-se notar que para
98
relação 0,42 os valores obtidos para a resistência a compressão são maiores do
que os estabelecidos por norma, ressaltando esta determinação.
Observa-se nos gráficos apresentados que, conforme a relação a/c
aumenta, menor são os valores obtidos para a resistência à compressão, como
por exemplo, para a relação a/c de 0,42, aos 42 dias a resistência à compressão
é de 55,2 MPa, e para a relação a/c de 0,60 de 29,9 MPa, representando um
decréscimo de 54,1 % para este exemplo. Os resultados foram esperados, pois
o consumo de cimento está atrelado a porosidade do concreto, ou seja, quanto
maior a relação a/c, maior será a porosidade do concreto afetando diretamente
na resistência à compressão. Esse comportamento também foi observado para
as demais condições de agressividade analisadas. Autores, como Metha e
Monteiro (2006) e Medeiros Junior et al. (2014), constataram o mesmo
comportamento.
A resistência à compressão aumenta ao longo do tempo, como pode-se
notar nos gráficos, para o exemplo mencionado, a resistência à compressão para
a relação a/c 0,42 passa de 55,2 MPa para 56,9 MPa, para 42 dias e 140 dias
respectivamente. Isto ocorre devido às reações de hidratação do cimento e às
reações pozolânicas, fato observado por diversos autores na literatura, como
Mehta e Monteiro (2006).
Constatou-se que os resultados da resistência à compressão para os
corpos de prova submetidos a ciclos de molhagem e secagem com solução
combinada de cloreto de sódio (NaCl−) e sulfato de sódio (NaSO4), obtiveram
pouco acréscimo de resistência com o tempo. Por exemplo, para a relação a/c
de 0,42, a resistência à compressão passou de 54, 3 MPa, aos 42 dias, para
56,5 MPa, aos 140 dias.
Uma hipótese para a pouca variação na resistência à compressão para
esta condição, seria de que a ação do cloreto de sódio influência no ataque do
sulfato de sódio, pois de acordo com Silveira (1996), o concreto exposto ao
sulfato, a resistência à compressão pode crescer nas primeiras idades, pois, as
reações entre os íons sulfato e os compostos hidratados do cimento transformam
os cristais de monosulfatoaluminato de cálcio em etringita, produto que densifica
a microestrutura do concreto, acarretando em maior ganho de resistência,
99
quanto que analisando somente a penetração de cloretos no concreto, o ganho
de resistência à compressão ao longo do tempo tende a diminuir.
O presente estudo trata da solução combinada com cloreto e sulfato, não
da ação isolada de ambos, portanto como citado acima, o ataque por sulfato
isoladamente tende a aumentar a resistência; No entanto conforme os resultados
obtidos para esta condição, não há grande acréscimo de resistência, reforçando
a hipótese de que a presença de cloretos pode inibir o ataque por sulfatos, Maes
e De Belie (2014) encontraram resultados similares aos analisar a ação de
ambos os íons.
6.2 RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL
A medida da resistividade elétrica superficial foi obtida pelo método de
Wennner, ou quatro pontos, para cada relação água/cimento e idades de 28, 42,
91 e 140 dias. Os resultados estão indicados nas Figuras 6.4, 6.5, 6.6 e 6,7,
sendo que os ensaios foram realizados para os corpos de prova saturados com
superfície seca.
FIGURA 6.4 – RESISTIVIDADE ELÉTRICA PARA CONDIÇÃO DE IMERSÃO.
FONTE: AUTORA
100
FIGURA 6.5 – RESISTIVIDADE ELÉTRICA PARA CICLO DE M/S COM ÁGUA.
FONTE: AUTORA
FIGURA 6.6 – RESISTIVIDADE ELÉTRICA PARA CICLO DE M/S COM SOLUÇÃO COMBINADA DE CLORETO DE SÓDIO E SULFATO DE SÓDIO.
FONTE: AUTORA
101
FIGURA 6.7 – RESISTIVIDADE ELÉTRICA AOS 42 DIAS PARA AS CONDIÇÕES ANALISADAS.
FONTE: AUTORA
Conforme apresentado nos gráficos, é possível observar o aumento da
RES ao longo do tempo, sendo que para a condição de imersão e para o ciclo
de molhagem e secagem com água, os valores de resistividade praticamente
dobraram dos 42 aos 140 dias. Por exemplo, para a relação a/c 0,42 para ciclo
de molhagem e secagem com água, a resistividade passou de 23,1 kΩ.cm para
2 ciclos (42 dias), para 53,6 kΩ.cm para 16 ciclos (140 dias). Este fato ocorre,
pois, ao longo do tempo há um preenchimento e refinamento dos poros do
concreto devido a hidratação do cimento e das reações pozolânica, fato já
observado por alguns autores como: Santos (2006) e Real (2015).
De acordo com Whiting e Nagi (2003), conforme ocorre a hidratação do
concreto, a resistividade aumenta gradativamente; no entanto, deve-se garantir
a cura adequada.
Observa-se ainda que o concreto com relação a/c de 0,42 possui maiores
valores de resistividade elétrica, aos 140 dias (16 ciclos), em comparação com
as demais relações a/c analisadas, para uma mesma condição de exposição. No
estudo de Medeiros Junior et al. (2014), onde foram utilizadas as relações a/c de
102
0,4, 0,5 e 0,6, os resultados apresentaram a mesma tendência. O aumento da
porosidade é obtido através do aumento da relação a/c, reduzindo a resistividade
elétrica.
Sallem et al. (1996) concordam que a diminuição da resistividade está
relacionada com o aumento da concentração de íons cloretos e sulfatos, fato
observado também no presente trabalho para a solução combinada de 3,5 % de
cloreto e 5% de sulfato, Figura 6.7.
No estudo de Sallem et al. (1996), a comparação dos resultados da ação
de cloretos e sulfatos na queda da resistividade elétrica é feita para misturas
isoladas. Real (2015), analisando somente o efeito dos íons cloretos, obteve 95%
de confiabilidade que tanto a idade quanto o teor de cloretos foram fatores
significativamente influentes na resistividade elétrica.
Analisando os valores de RES, aos 28 dias, e após 2 ciclos de molhagem
e secagem em solução combinada de cloreto de sódio e sulfato de sódio, notou-
se uma redução. Isto ocorre devido ao aumento da concentração de íons
presentes nos poros do concreto, aumentando o fluxo de corrente elétrica. Fato
já observado por Baweja et al. (1997) e Sallem et al. (1996).
6.3 CORRELAÇÕES ENTRE A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E A
RESISTIVIDADE ELÉTRICA SUPERFICIAL
Neste item serão apresentadas as possíveis correlações entre a
resistência à compressão e a resistividade para todas a relações a/c e as
condições analisadas.
As relações a/c oferecem quatro pontos no gráfico de correlações. Assim
é possível construir linhas de tendência para todas as condições analisadas,
sendo que o R², coeficiente de determinação, auxilia na interpretação dos
resultados. Este pode variar de 0 a 1, onde 1 seria a correlação perfeita.
Nas Figuras 6.8 a 6.10, são apresentados gráficos de correlação entre a
resistência à compressão e a resistividade elétrica para todas as condições.
Nota-se que o menor R², relativo a primeira idade, é para a condição de
molhagem e secagem com solução combinada de cloreto de sódio e sulfato de
sódio. Para a última idade analisada, 140 dias, há redução do R² para esta
103
condição. Como analisado, no item anterior, a RES reduz, comparando com o
valor de referência de 28 dias, estabilizando com o tempo.
FIGURA 6.8 – CORRELAÇÃO ENTRE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE
ELÉTRICA AOS 42 DIAS PARA TODAS AS CONDIÇÕES ANALISADAS.
FONTE: AUTORA
FIGURA 6.9 – CORRELAÇÃO ENTRE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE ELÉTRICA AOS 91 DIAS PARA TODAS AS CONDIÇÕES ANALISADAS.
FONTE: AUTORA.
104
FIGURA 6.10 - CORRELAÇÃO ENTRE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E RESISTIVIDADE ELÉTRICA AOS 140 DIAS PARA TODAS AS CONDIÇÕES ANALISADAS.
FONTE: AUTORA
Nas Figuras 6.11 a 6.13, apresenta-se curvas de correlação entre a
resistência à compressão e a resistividade elétrica superficial para as condições
analisadas, no entanto, separando-as para as diferentes relações a/c,
constituindo uma outra análise.
FIGURA 6.11 - CORRELAÇÃO ENTRE A RESISTIVIDADE ELÉTRICA E A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO PARA A CONDIÇÃO DE IMERSÃO.
FONTE: AUTORA
105
FIGURA 6.12 - CORRELAÇÃO ENTRE A RESISTIVIDADE ELÉTRICA E A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO PARA A CONDIÇÃO DE CICLO DE M/S COM ÁGUA.
FONTE: AUTORA
FIGURA 6.13 - CORRELAÇÃO ENTRE A RESISTIVIDADE ELÉTRICA E A RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO PARA A CONDIÇÃO DE CICLO DE M/S COM SOLUÇÃO COMBINADA DE
CLORETO E SULFATO.
FONTE: AUTORA
106
Conforme os gráficos apresentados, e as linhas de tendência obtidas, é
possível concluir que a resistência à compressão e a resistividade elétrica
possuem boa correlação. Nota-se que o melhor ajuste, o qual possui o maior
valor para R², foi o logarítmico, assim como também encontrado no estudo de
Medeiros Junior et al. (2014). Para a correlação por condição de agressividade,
o melhor ajuste é o linear, como observado também por Ferreiro e Jalali (2010).
Observa-se que para a condição de imersão e ciclo de molhagem e
secagem com água, a correlação que melhor se ajusta é a por idade, a qual
obteve o maior R².
Com o uso de resultados semelhantes de outros estudos, como o de
Medeiros Junior et al. (2014) e Real (2015), fica evidente a possibilidade da
utilização de ensaios de resistividade elétrica para se estimar a resistência à
compressão para o concreto, ou seja, através da estimativa da RES pode-se ter
uma ideia da faixa de valores de resistência à compressão esperada, e
consequentemente facilitar o monitoramento contínuo do concreto, visto que
este ensaio é de fácil execução e não destrutivo.
107
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As principais conclusões obtidas com esse estudo são citadas a seguir:
A resistência à compressão e RES aumentam ao longo do tempo, para
as condições analisadas. Uma possível explicação para os resultados
obtidos, é que tanto a resistência quanto à resistividade, dependem da
relação a/c e da distribuição dos poros, portanto, quanto menor a relação
a/c maior será a RES e a resistência, como Lubeck (2008) também
observou.
A resistência à compressão diminui com o aumento da relação a/c;
Há possibilidade dos íons cloretos influenciarem nos resultados obtidos
para a condição de molhagem e secagem com solução combinada de
cloreto e sulfato, pois, como apresentado, há o estudo de Silveira (1996),
que relaciona o ataque de sulfatos com o ganho de resistência à
compressão nos primeiros estágios de ataque.
Os maiores valores de RES são para a relação a/c de 0,42, para todas as
condições analisadas;
A resistência à compressão e a RES diminuem conforme a relação a/c
aumenta. Isto porque, a relação a/c está diretamente relacionada a
porosidade do concreto, portanto, quanto maior esta relação, maior será
a quantidade de vazios e de poros, a permeabilidade, conforme Abreu
(1998) e Santos (2006) também observaram;
Para o ciclo de molhagem e secagem com solução combinada de cloreto
de sódio e sulfato de sódio, a RES pouco varia ao longo do tempo. Sallem
et al. (1996), também observou este aspecto. A diminuição da RES está
relacionada ao aumento de íons e da umidade.
Os valores obtidos para a resistência à compressão e a resistividade
elétrica superficial para a condição de ciclos de molhagem e secagem
com água são superiores aos valores encontrados para a condição de
imersão.
Para a condição de imersão e ciclo de molhagem e secagem com água
obteve-se o melhor valor para R² de 0,9423, aos 42 dias, constituindo a
correlação por idade que melhor se ajustou.
108
O estudo possibilitou ter uma ideia da faixa de valores de resistência à
compressão esperada através da estimativa da RES, deste modo, facilitar
o monitoramento do concreto.
Sugestões para outros trabalhos
Sugere-se realizar:
O monitoramento da resistividade elétrica, por exemplo para corpos de
prova submetidos a diferentes ciclos de molhagem;
Analisara o efeito das adições minerais e aditivos;
Inferir em maiores idades, e diferentes idades os ensaios de resistência à
compressão e resistividade elétrica;
Analisar o efeito de outras condições de agressividades para os ensaios;
Realizar os ensaios para outras soluções agressivas.
109
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