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eisFluências Fevereiro de 2013 Ano III - Número 21

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eisFluênciasFevereiro de 2013

Ano III - Número 21

FICHA TÉCNICA

DirectorVictor Jerónimo(Portugal/Brasil)

Directora CulturalCarmo Vasconcelos(Portugal)

Web DesignerHenrique Lacerda Ramalho(Portugal)

Composição e diagramação da revista eisFluênciasVictor Jerónimo(Brasil)

ProprietáriaMercêdes Pordeus(Brasil)

Conselho de Redação

Carlos Lúcio Gontijo (Brasil)

Humberto Rodrigues Neto (Brasil)

Luiz Gilberto de Barros (Brasil)

Marco Bastos (Brasil)

Correspondentes

António da Cunha Duarte Justo (Alemanha)

María Cristina Garay Andrade (Argentina)

Nuno Rebocho (Cabo Verde)

María Sánchez Fernández (Espanha)

Oleg Almeida (Bielorussia)

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____________________três anos 2009 - 2012

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Pág. 02 | eisFluências | Fevereiro de 2013

Antônio Campos é pernambucano do Recife. Nasceu em 25 de julho de 1968. É sócio titular da Campos Advogados empresa associada à Noronha Advogados, com atuação em diversos países, preside o Instituto Maximiano Campos e a Carpe Diem Edições e Produções e é curador da Fliporto - Festa Literária Internacional de Pernambuco. Pertence à Academia Pernambucana de Letras e outras importantes organizações literárias.

eisFluências | Fevereiro de 2013 | Pág. 03

OURO EM VEZ DE NOTAS - UM AVISO E UM ALERTARepatriação do Ouro – A Alemanha dá o Exemplo

por António Justo

OURO NO MUNDO

Entre os países com maior reserva de ouro encontra-se, em primeiro lugar os USA com uma reserva de 8.133,5 toneladas de ouro; segue-se-lhe a Alemanha com 3.398,3 toneladas; a Itália com 2.451,8 toneladas; a França com 2.435,4 toneladas, a China com 1.054,1 toneladas; a Suíça com 1.040,1 toneladas; Japão com 765,2 toneladas. Portugal encontra-se em 13° lugar com 382,5 toneladas (Fonte: World Gold Council – Junho 2009).

Nos últimos cinco anos, a onça de ouro (31,1 gramas) passou de 600 para 1266 euros; no ano 2.000 a onça tinha um valor pouco superior a 200 euros. O ouro e a prata são muito procurados para investimento financeiro devido à inflação da moeda e para precaver bancarrotas. Também a China procura arrecadar a maior quantidade possível de Ouro para poder intervir melhor nos mercados financeiros e dar confiança à própria moeda.

No mundo há uma produção anual de ouro de 2.400 toneladas. Avalia-se que o ouro, até hoje promovido no mudo, é de 165.000 toneladas; deste encontram-se cerca de 79.000 toneladas aplicadas em jóias, uma outra parte em bancos centrais e no Fundo Monetário Internacional, uma outra, com mais de 18.000 toneladas, encontra-se aplicada em objectos de arte e cerca de 25 mil toneladas na mão de particulares sob a forma de barras, moedas e medalhas (cf. Goldankauf123.de).

Repatriação do Ouro alemão como medida inteligente de segurança

O povo alemão, que ainda tem peso nas decisões das suas elites, exigiu ao Banco Central Alemão, através do Tribunal de Contas, que fizesse um inventário do ouro que possui, uma análise da autenticidade das barras de ouro e o seu paradeiro. Os banqueiros mostraram-se incomodados com a exigência mas tiveram que começar a satisfazê-la.

O Banco Alemão tenciona transferir para a Alemanha, até 2020, o correspondente a 27 mil milhões de euros. A repatriação custa 7,5 milhões de euros.As reservas alemãs (3.398,3 toneladas) correspondem a um valor superior a 137 mil milhões de Euros. 45% dessas reservas encontram-se armazenadas no banco central dos USA (1.500 toneladas); 13% no Banco de Inglaterra em Londres; 11% em Paris (300 toneladas) e o resto no Banco Alemão em Frankfurt. Só a Inglaterra exige dinheiro pela guarda do dinheiro. O ouro repatriado, depois de examinado da sua autenticidade, é derretido para ser guardado em barras de 12,44 kg. Esta medida também poderá ser, indirectamente, um aviso às instituições bancárias para não passarem créditos de posse de ouro que não exista. Parte do ouro alemão foi colocado no estrangeiro, por razões de segurança, na altura da guerra fria entre ao Ocidente e a União Soviética e a outra parte provém da troca de dólares por ouro devida a excedentes comerciais adquiridos fora da Alemanha.

Pág. 04 | eisFluências | Fevereiro de 2013

OURO NO MUNDO | António Justo

Portugal vende a “Prata da Casa” e com ela o Futuro

Numa altura em que os bancos centrais criam toneladas de dinheiro sem cobertura, a partir do nada, quem pode investe nos metais nobres. (Os que apostam na riqueza recomendam a quem tem dinheiro, que pelo menos um terço do capital deve ser investido em ouro/prata). Também os Estados deveriam fazer tudo por tudo para ter uma grande reserva de ouro.

No caso de bancarrota ou de problemas de balança comercial, um Estado necessita de reservas em ouro para suportar a moeda nacional em caso de desequilíbrio orçamental. A insegurança do dinheiro virtual (fala-se que uma nota de cem Euros/Dólares tem apenas um valor base de 5 a 10 Euros/Dólares) e a crise internacional levou a China e comerciantes a procurarem assegurar o seu futuro com a compra de ouro, prata e outros produtos não virtuais. O mercado de prata oferece grandes potencialidades de subida.

Em questões de dinheiro a Corporação de Londres (City of London Corporation), um Estado dentro do Estado, com leis próprias, é o maior mercado financeiro do mundo, que alberga os maiores “cavaleiros” do dinheiro. Também o Goldman Sachs, banco de investimento e aconselhador de governos, está interessado na recolha de ouro e em acalmar o público para que este não compre ouro. Mais fica para o seu negócio especulativo. Um dos objectivos dos banqueiros da Goldman Sachs será conseguir um estoque de ouro correspondente ao dos USA; então poderão intervir no mercado de maneira a provocar uma explosão ainda maior do preço do ouro. Por isso abastecem discretamente os seus estoques de ouro. A China pretende conseguir que a sua moeda se torne em moeda de reserva para melhor poder ser comercializada internacionalmente, como acontece com o Euro e com o Dólar.

O povo português possuía imenso ouro em mãos privadas (joias) e em reservas. Com a política inflacionária do regime do 25 de Abril, Portugal tem descurado esta tradição, esbanjando as reservas. Também tem aumentado a exportação do ouro do povo português (joias) de ano para ano; em 2009 exportou 102 milhões de euros em ouro e em 2011 exportou 520 milhões de euros. Devido ao sobre-endividamento dos portugueses estes continuam a vender o seu ouro. Vêem-se lojas e anúncios de compra de ouro por todo o lado. Portugal possuía uma das maiores reservas de ouro da europa; em relação a outos bancos centrais Portugal ainda é dos que possui, em proporção à sua economia, mais reserva acumulada durante o regime de Salazar. É triste verificar como o povo se vê obrigado dos seus bens (joias) para subsistir enquanto outros se assenhoreiam delas para ganharem rios de dinheiro com a especulação.O mercado de metais preciosos continuará a revelar-se muito lucrativo para os especuladores. Embora os bancos centrais tenham de manter os juros das divisas baixos para que os Estados se financiem a créditos de juros acessíveis, os riscos de inflação e de bancarrota crescem devido às dívidas impagáveis. O valor de uma moeda é determinado pela oferta e procura, pela confiança que se deposita nela e que se reduz a um valor estimativo, a um valor virtual. Por isso haverá sempre um risco na comercialização da moeda, menos nos metais nobres. Diz-se que o franco suíço é talvez a única moeda que tem um valor que corresponderia ao padrão de ouro.Os Bancos Centrais asseguram o financiamento das finanças públicas dos Estados imprimindo notas promissórias com juros de quase 0% e por seu lado os Estados procuram controlar as suas dívidas através da inflação. Uma manipulação que torna o jogo dos especuladores financeiros mais atentos.A fraqueza da economia portuguesa é proporciona à democracia. Quanto mais a oligarquia arrecada mais fraco é o povo! O trabalho mais urgente seria o da ressocialização das elites.

António da Cunha Duarte Justo www.antonio-justo.eu

Painéis de São Vicente de Forano Museu Nacional de Arte

Antiga em LisboaFonte:

Gravura do site:

eisFluências | Fevereiro de 2013 | Pág. 05

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pain%C3%A9is_de_S%C3%A3o_Vicente_de_Fora

http://guardiaesdosegredo.blogspot.com.br/2008/04/curiosidades-pictricas-as-variaes-de.html

MINHA SANTA MARIA !por Carlos Lúcio Gontijo

Venho de muitos anos de redação de jornal e nunca vi com bons olhos o noticiário sensacionalista por que se faz guiar a imprensa brasileira, onde o comum é os fotógrafos e cinegrafistas apresentarem para o público a mancha de sangue no chão, como se tal comportamento não fizesse parte tanto da crescente banalização da violência quanto alimentador do desapreço pela vida. Em síntese, toda e qualquer catástrofe é jogada no ventilador de todos os lares, numa verdadeira disseminação do sangramento, da morte, da dor e do sofrimento coletivo.

Não há sequer espaço para a divulgação de poesia no mundo jornalístico, apesar de a poesia ser fator de sensibilização do ânimo humano. Recentemente, movendo-se contra aqueles que menosprezam a arte poética, especialistas em ciência, psicologia e literatura inglesa concluíram que a poesia é mais eficaz que livro de autoajuda, segundo estudo da Universidade de Liverpool. Revela-nos os pesquisadores ingleses que palavras incomuns ou utilizadas em estrutura semântica (e metafórica) complexa levam o leitor a refletir sobre si mesmo, dentro de outra perspectiva. Ou seja, a poesia não é só uma questão de estilo: a descrição profunda de experiências acrescenta elementos emocionais e biográficos ao conhecimento de cada leitor.

Nossos meios de comunicação estão por demais envolvidos em cuidar de seus interesses políticos e comerciais para se preocupar com a implantação de jornalismo mais reflexivo, no qual a opinião inaugurasse um novo tempo para o segmento impresso da comunicação, que se perdeu ao se encaminhar para a opção de competir com a internet e sua característica de acompanhar os acontecimentos em tempo real, com muita imagem e pouco texto, o que levou os jornais a se encherem de fotos coloridas e notícias rápidas, numa espécie de fast-food noticioso.

Difundir de maneira maciça a tragédia que se abateu sobre as famílias dos jovens mortos em boate de Santa Maria (no Rio Grande do Sul), hoje um perfeito sinônimo de “minha nossa ou Nossa Senhora”, em nada ajuda na conscientização da sociedade brasileira em relação à implementação de rigorosa normatização para a indústria de entretenimento, que só tem pensado na promoção de grandes eventos sem o devido cuidado com a segurança.

É bom que se diga e se enfatize que houve um tempo no qual a qualidade das composições musicais, que se nos apresentavam acompanhadas de letras bem elaboradas, chegavam até a amenizar a constatação do baixo índice de leitura existente no Brasil. Ou seja, assistimos ao surgimento de uma arte musical inteiramente descartável e direcionada tão-somente a atender aos apelos momentâneos de uma estação ou mesmo de um período como o Carnaval, quando somos constantemente surpreendidos pela veiculação de músicas apelativas e de duplo sentido.

Contudo, se não nos bastasse ter os nossos filhos e netos entregues a uma cultura recheada de falsos valores, ainda nos deparamos com os riscos derivados da ganância dos tais empresários da indústria de entretenimento, que desabridamente assumem riscos descabidos a cada montagem de show, nos quais aos sons dissonantes se mistura a extrema necessidade de chamar a atenção a qualquer custo, inclusive com o despropósito de soltar fogos de artifício em ambiente fechado e repleto de material reconhecidamente inflamável.

Pág. 06 | eisFluências | Fevereiro de 2013

MINHA SANTA MARIA | Carlos Lúcio Gontijo

Para nosso azar, não há quem possa colocar um paradeiro no avanço do mau gosto patrocinado pela indústria de entretenimento, pois alicerçamos nossa democracia pós ditadura militar num desastroso “é proibido proibir”, do qual toda bandidagem tira proveito, ganhando vez e voz em nome da liberdade de expressão e do ir e vir, ainda que seja com uma metralhadora nas mãos. O fogo que consumiu a boate em Santa Maria estendeu sua língua incendiária Brasil afora, inquietando ainda mais os lares de todos os brasileiros, onde pais e avós passam noites e madrugadas sob o signo da insônia, à espera de jovens que são convidados, sistemática e diariamente, a se entregar a versos de valor pra lá de duvidosos, além de alienantes, capazes de levar a menina de 12 anos a se pintar com sensualidade de mulher feita.Talvez eu seja antiquado, pois venho de um tempo em que o errado era errado e o certo era certo, ao contrário dos dias de agora, nos quais a libertinagem é confundida com liberdade, com todos agindo como se não existisse o bem e o mal; com os cidadãos, indistintamente, obrigados a viver atrelados uns aos outros, numa democracia fundamentada na balbúrdia, na anarquia e na impunidade. Na realidade, poucas são as boates e casas noturnas abarrotadas de jovens brasileiros que podem ou conseguiriam escapar do fogaréu invisível em que arde o dístico "ordem e progresso" de nossa bandeira verde-amarela. Pelo andar da carruagem, diante de um modelo capitalista vampiresco em busca de lucro e acompanhado por um jornalismo embebido em sangue, só nos resta dependurar réstia de alho na entrada de nossas casas e, agarrados a um crucifixo, pedirmos para que Santa Maria nos ajude e nos proteja! Carlos Lúcio GontijoPoeta, escritor e jornalistaSecretário de Cultura de Santo Antônio do Monte/MG

FESTIVAL SETE SÓIS SETE LUAS INVADE CABO VERDENuno Rebocho

Jorge Carlos Fonseca deu nos jardins do Palácio da Presidência da República um cocktail seguido de espetáculo - com Tcheka e Tété Alhinho, os portugueses do grupo Melech Mechaia, entre outros - o pontapé de saída para a vigésima edição do Festival Sete Sóis Sete Luas (SSSL). O Presidente de Cabo Verde, que é advogado e poeta (o único surrealista do País) foi nomeado Presidente Honorário, sucedendo no cargo aos Prémios Nobel português José Saramago e italiano Dario Fó.O Sete Sóis Sete Luas (nome que invoca um romance do autor de “Memorial do Convento”) transporta este ano, em que a Europa do sul atravessa gravíssima crise económica, muitas novidades para Cabo Verde: desde logo, incluindo o teatro de rua evidenciado por uma companhia basca (Deabru Bletzak), que se junta aos grupos musicais – como os portugueses Melech Mechaia e Moody ou o bom forró do brasileiro Culé de Xá -, ou estendendo a novas localidades (Praia e Nova Sintra) a receção do Festival, que deste modo se associam a Ribeira Grande de Santo Antão, onde o SSSL acontece desde 1998, a Cidade Velha (Ribeira Grande de Santiago), a Tarrafal de Santiago e a S. Filipe do Fogo, que o apresentam desde o ano passado.Nascido do entrosamento cultural havido entre Itália e Portugal em 1993, este importante Festival internacional, que mescla Cultura e Turismo, envolve hoje mais de 30 cidades de onze países (Portugal, Espanha, França, Itália, Roménia, Croácia, Israel, Marrocos, Eslovénia, Grécia e Brasil). Como disse Jorge Carlos Fonseca, nele ganha aspeto importante o desenvolvimento do Poder Local. E os cabo-verdianos ganham papel cada vez mais relevante: já aqui atuaram Cesária Évora, Bana, Tito Paris, Nancy Vieira, Tété Alhinho, Mário Lúcio…Marco Abbundanza, diretor do Festival, referiu que se pretende criar Centros SSSL (espécie de residências artísticas) em Ribeira Grande de Santo Antão e em Cidade Velha, devendo este ano avançar-se neste sentido.Este Festival traz também consigo a ideia de um Prémio Revelação - escolhido um grupo em cada localidade e depois disputando uma final a realizar-se num certame público na cidade da Praia -, o qual representará internacionalmente Cabo Verde. E ainda a de um laboratório de música que será ministrado, durante dois dias, por Melach Mechaia em Cidade Velha.Diversos intérpretes, designados pelas diferentes cidades cabo-verdianas, fazem (como é tradicional) uma feliz conjugação entre o aspeto internacional do Sete Sóis Sete Luas e a participação local. Esta é uma das caraterísticas de um Festival que aporta todos os anos a Cabo Verde no mês de novembro.Antes disso, em início de outubro, Cabo Verde entrou na lista das Casas da Lusofonia, uma vez que foi assinado protocolo nesse sentido entre a Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago e a ONG Etnia. Deste modo, Cidade Velha adere a um projeto para um empreendimento que está em curso em Fortaleza e Cuiabá (Brasil), pelo menos.

Nuno RebochoPraia/Cabo Verde

eisFluências | Fevereiro de 2013 | Pág. 07

www.carlosluciogontijo.jor.br

LER MUITO PODE SER UM MALpor Humberto Pinho da Silva

O célebre Bispo de Nova Iorque, Fulton Sheen, recomendava: “ Livros, revistas, jornais - são como inúmeras pessoas que encontramos nos carros elétricos, nos cinemas, nas feiras e nas festas mundanas. Como é evidentemente impossível travar relações com essa gente toda, procedemos a uma seleção.” -“ Os Problemas da Vida”Se é mister selecionar amigos é, igualmente necessário, escolher na multidão que enxameia os escaparates do livreiro, obras que, pelo conteúdo e valor literário, servem para a formação, não só moral, mas também intelectual.Muitas vezes o livro que agrada na juventude, não é apreciado em idade adulta. Gostos, interesses, alteram-se, consoante, idade, educação e desenvolvimento intelectual.Nem sempre os mestres de literatura, pelo facto de o serem, devem ser lidos.

Platão, avisa na “República”-Livro lll:“ Pediremos a Homero e aos outros poetas que não levem a mal que apaguemos estas passagens, e todas do mesmo género” - e explica a razão, - “ não porque lhes falte poesia e não soem aos ouvidos da maioria; mas quanto mais poética são menos convêm deixar que sejam ouvidas por crianças e homens.”O bom escritor, pode ser mau conselheiro. Ninguém se encontra imune. Não é verdade que Cervantes declara que Don Quixote, por ler muitos livros de cavalaria “ se enfracó tanto en su lectura, que se le pasabom las noches leyendo de claro en claro, y los dias de turbio em turbio.” “Del poco dormir y del mucho leer se le secó el cerebro de manera que vino a perder el juicio.”Perderam, também, o juízo, os pais, que inadvertidamente, metem nas mãos dos filhos, livros malsãos, por estarem na moda e terem sido premiados, sabe Deus como, e porquê.

É que o livro tanto pode perturbar a mente, como modificar o carácter. Santo Agostinho, após ler obra de Cícero, converteu-se ao cristianismo ao analisar textos de S. Paulo.Há livros que elevam. Há livros que podem ser manuseados desde a infância. Há livros que formam e informam; e há livros que melhor fora não terem saído do prelo.Durante anos, meu pai, que era jornalista, foi adquirindo imensa biblioteca, livros que, segundo confessava, raras vezes os lia.

Comprara-os, seduzido pelo nome do autor e opinião da crítica.No andar dos anos, amadureceu. Escolheu na “floresta”, duas dúzias de “ amigos mudos”, como dizia Padre Manuel Bernardes, e lia-os e relia-os; e sempre que os abria, encontrava, segundo afirmava, pensamentos, frases, pareceres, que lhe tinham escapado.

Peneirar o trigo da ervilhaca, limpar o grão que vai para a eira, não é fácil; por isso é que professor responsável ou sacerdote culto, pelo menos na adolescência, devem ser consultados, se não se quiser andar à deriva, comprando obras, que em vez de instruírem e formarem, pervertem a alma e cavam perniciosas marcas, que podem durar uma vida.

Humberto Pinho da SilvaPorto/PortugalBlogue luso-brasileiro: "PAZ»

Humberto Pinho da Silva é português, jornalista e colaborador de vários jornais portugueses e brasileiros. É responsável pelo Blogue Luso-Brasileiro “PAZ”.

Pág. 08 | eisFluências | Fevereiro de 2013

http://solpaz.blogs.sapo.pt/

LER MUITO PODE SER UM MAL

SONHO DE CRIANÇApor Humberto Rodrigues Neto

Após o término da aula de Evangelização Infantil, no Centro Espírita, Raquel, uma das meninas conversa com sua coleguinha Márcia, que se encontra algo triste:

— Marcinha... Está havendo algum problema com você?— Não... Por que você está me perguntando isso?— Porque hoje, na classe, achei que você estava um pouco triste...— É... Ando um pouco chateada. São os meus pais, sabe? — Que é que têm os seus pais? — Sei lá... às vezes fico pensando que eles gostam mais da televisão do que de mim.— Que é isso? Mas que bobagem!— Bobagem? Olha: quando a minha mãe está vendo a novela eu não posso dar um pio. Não permite que eu abra a boca! Isso é vida? — Mas, Raquel... Não pense que a minha mãe seja muito diferente. É claro que às vezes, durante o intervalo, por exemplo, me ajuda em alguma dúvida nas lições da escola. — Ah, então sua mãe é um pouco mais legal que a minha. E o seu pai? — Bem... aí a coisa fica um pouco mais difícil. Mesmo assim, uma vez ou outra ele me dá um pouco de atenção enquanto está assistindo ao futebol. — Pois com meu pai a coisa já complica. — É mesmo? Como, assim? — Ah... ele chega em casa, joga a pasta e o paletó numa cadeira e nem sequer me dá um beijo. Liga a televisão no futebol ou no noticiário e não quer nem saber de nada. Só me dá algum atenção nos intervalos, e mesmo assim, ó... bem rapidinho, sabe?— Eu entendo, Marcinha... Mas, quantas vezes a D.ª Izabel, nossa Evangelizadora, não nos disse para termos paciência com nossos pais? Às vezes sua mãe pode estar cansada, e... — Cansada? Cansada disso tudo ando eu, Raquel! — Calma, amiguinha... Calma... Vamos devagar, porque... — E se a televisão queima... Ah... não dá outra: Eles correm como uns loucos e mandam consertá-la num instantinho. Não conseguem passar nem um dia sem ela! — E quem é que passa sem televisão? O conserto tem que ser rápido, mesmo!— Só que lá em casa, o conserto da TV é “vapt-vupt”! Mas quando é para me comprar um vestido novo... Chiii... Aquilo demora séculos! — Mas, isso são provas que temos de sofrer nesta encarnação, conforme ouvi numa palestra. — Eu sei disso, Raquel. Eu também aprendi numa palestra que a gente pode escolher o tipo de vida que deseja ter na outra encarnação. Só assim é que eu vou conseguir acabar com essa falta de atenção do meu pai e da minha mãe. — Já sei. Você vai pedir para nascer em outro lar, como filha de outros pais, que sejam mais compreensivos. É isso?— Não, Raquel! Não é, não... Eu gosto muito deles dois. Vou pedir para tornar a nascer na mesma casa, no mesmo lar. — Espere um pouco, Marcinha! Não entendi Desse jeito os seus problemas vão continuar. — Não vão, não, Raquel. Já pensei em tudo, amiguinha! Nessa nova casa meus pais de hoje vão me adorar!— Mas, de que forma você vai conseguir isso? — Eu vou pedir para ser a televisão!

Humberto Rodrigues NetoSão Paulo/Brasil

eisFluências | Fevereiro de 2013 | Pág. 09

RESENHApor Isabel Cristina Vargas

É SAGRADO VIVERAUTOR: FÁBIO DE MELOEDITORA: PLANETA

Padre Fábio de Melo tem formação acadêmica em Teologia, Filosofia, com Pós-Graduação em Educação. Dedica-se, entre outras atividades, ao magistério superior. É mestre em Teologia sistemática. Seu trabalho de evangelização ocorre de diversas maneiras, além de seu trabalho vocacional sistemático, passando por diversas mídias (programa de televisão, gravação de cds, dvds com palestras )além de composições das músicas que canta , atingindo, com estas atividades, público de todas as faixas etárias.

É escritor com diversos livros escritos- alguns em parceria- com textos primorosos versando sobre os conflitos, as perdas, as superações enfrentadas pelo homem em seu processo de nascimento, crescimento, morte, etapas essas entremeadas pelo amor e desamor.Seus textos, além de serem pedagógicos, estão inundados, sem serem exagerados, de ensinamentos de alguém que vivencia o amor pelo ser humano, a

fé, os questionamentos e as certezas do processo Divino na vida de cada ser. Assume sua humanidade, suas imperfeições e sua sacralidade.

Sua escrita é sucesso. É um instrumento de evangelização. Atrevo-me a dizer que falta um reconhecimento maior de seu valor como exímio escritor, transbordante de sensibilidade, de figuras de linguagem que enriquece seu texto. Escreve crônicas com poesia e um mistério intrínseco ao conto, descoberto no cotidiano com olhos de quem vê mais do que a realidade crua.

Enxerga a presença de Deus e a poesia andando juntas no simples ato de uma mulher –sua mãe- plantar como a mãe lhe ensinara, no ato de alimentar os filhos ,pois na perpetuação da conduta está a perpetuidade dos ensinamentos , a presença invisível de quem já partiu , a presença do Divino no amor, no cuidado, na semeadura , na colheita e na partilha.Para exemplificar o que digo retiro de seu livro É sagrado Viver, trechos da mais pura poesia em sua tocante prosa, ao falar sobre o poeta e o poder de poetizar.

O poeta “fica nas esquinas lendo as palavras alojadas nos corpos que passam, identificando a linguagem não conceitual dos olhares solitários e das bocas emudecidas”.“ Olha-nos e disseca-nos. Depois nos descreve, nos revela e nos emociona.”“ Sulca com propriedade os mais recônditos e obscuros espaços do olhar alheio.“ Anda pelas ruas da cidade recolhendo falas não ditas, recolhendo as saudades não sofridas e depois volta para casa para chorar as dores que não são suas e rir os risos que não são seus.”Fecho este texto com suas palavras desejando ter despertado a vontade da leitura da obra em questão para o leitor penetrar na alma deste escritor ímpar que diz:“ Sofro de poesia. Sou arauto do Verbo que recebeu na carne, o dolorimento da existência.”“É necessário viver.”“...fomentar o sorriso dos que passam por mim. O esquartejamento das alegrias potencializa sua permanência.”“ Dou-me aos outros sem prejuízo.” Isabel C. S. VargasPelotas/Rio Grande do Sul/BR

Pág. 10 | eisFluências | Fevereiro de 2013

www.isabelcsvargas.com

DEPRESSÃOpor Ivan Jubert Guimarães

O autoconhecimento proporciona grandes mudanças na gente.Desde que o mundo é mundo, o homem tem-se preocupado em responder quatro perguntas básicas:"Quem sou?""Onde estou?""De onde vim?""Para onde vou?" (Se é que vou)O grande filósofo Sócrates já dizia: "Conhece-te a ti mesmo!" E não é fácil o processo do autoconhecimento. Você tem que baixar a guarda e reconhecer não apenas suas eventuais virtudes, mas também, e principalmente, os seus defeitos.

Quando você, finalmente, conseguir o autoconhecimento você se tornará senhor de si. O caminho, no entanto, é difícil e árduo e cansativo. Só os fortes conseguem. É muito mais fácil deixar a vida nos levar sem nos preocuparmos com o Universo, com o Todo, do qual somos apenas uma parte.Quando você se conhece, automaticamente você começa a conhecer os outros. Basta olhar, ou ouvir o que dizem, e você terá a imagem perfeita da pessoa e, acredite, não errará em seu sentimento.Com o tempo você vai mudando e vendo o mundo com outros olhos. Basta para isso entender que tudo o que acontece tem que acontecer, pois é disso que precisamos.

Muitas vezes criticamos a mídia por mostrar apenas notícias ruins, mas no fundo é o que gostamos de ver. Basta ver o número de pessoas que se juntam para ver um corpo estendido no chão, um atropelamento, um acidente de carro que provoca grandes congestionamentos nas ruas e avenidas e estradas apenas pela curiosidade.Grandes catástrofes que acontecem não te atingem mais, seja na região serrana do Rio de Janeiro, seja no Haiti, na Tailândia, no Japão, na Líbia ou qualquer outro lugar do mundo. Isto acontece porque você já entendeu que é necessário.

O homem é egoísta por natureza, é vaidoso, é ciumento e quer tudo para ele. Muitos homens não se preocupam em ter as respostas daquelas perguntas acima, porque elas trazem sofrimento e mostram a insignificância de seu tamanho.Chega uma hora em que você começa a sentir um desânimo muito grande e acha que nada mais vale a pena. Você se pergunta pra quê? Muitos se deixam cair em uma profunda depressão. E você, está deprimido? Coitadinho! Saiba que depressão é falta de objetivo. E por falar nisso, você tem algum? Está indo atrás ou esperando que caia do céu?

Quando você se conhece, e conhece os outros, você começa a se sentir sozinho. A solidão passar a ser sua companheira. E aí a coisa pega. Além do desânimo, ainda vem uma solidão? Pois é, são os riscos do viver. É o preço que se tem que pagar pela evolução.Isso acontece comigo algumas vezes e confesso que não é fácil lidar com essas coisas. Aprendi, no entanto, que a cada vez que eu me sentir assim, eu devo mergulhar no desânimo, ir até o fundo e entender a causa ou o efeito. Na verdade, tudo é efeito e só existe uma causa. Conhecendo isso eu não sofrerei mais e entenderei que sempre é entre mim e Deus. Entenderei que eu não preciso de ninguém para viver, porque sou eu comigo mesmo. Ninguém irá querer morrer em meu lugar.

Ivan Jubert Guimarães

eisFluências | Fevereiro de 2013 | Pág. 11

http://www.pensamentoliberal.com.br

PROJÉTIL PEDAGÓGICOLuiz Poeta - Luiz Gilberto de BarrosTexto premiado pela Academia Brasileira de Letrasem parceria com a Folha Dirigida,componente da Antologia Poética 2004 “ Poesias em tempo de indigência.”

Obs.: participaram do concurso mais de 13 mil escritores de todo o Brasil.

O professor está assumindo sua primeira turma numa escola municipal. São alunos repetentes, de uma sexta série complicada, oriunda de áreas de risco.Ele é novo naquela unidade, mas já dá aula há bastante tempo e acredita que não terá nenhuma dificuldade em ministrar o seu trabalho e passar suas experiências para o seu corpo discente; procura ser simpático, brinca com sua clientela didático-pedagógica, elogia a beleza das meninas e a simpatia dos garotos. A algazarra é inevitável. Eles se divertem e até exageram nos gestos e movimentos buliçosos. O professor pede silêncio. Repete a solicitação com a energia da autoridade. Eles se aquietam gradativamente. Alguns o olham desconfiados, outros parecem ignorá-lo, mas os sorrisos que recebe do restante da turma sinalizam para uma relação empática com o grupo. O mestre precisa conquistá-los. A primeira aula é decisiva. Inicia seu discurso e fala do mundo, da dificuldade de sobrevivência no planeta, da necessidade que as pessoas têm de se sentirem protegidas e da importância da união entre elas. – Eu sou como vocês – diz ele – posso rir, chorar, ficar feliz ou me entristecer com determinado fato... Nossos uniformes não são necessariamente nossas identidades, porque nós temos capacidade de amar e de ser amados uns pelos outros... Os alunos, a princípio arredios, parecem magnetizados. Sorriem, divertem-se, dão opiniões, sentem-se livres, à vontade para falarem de suas vidas, dos seus sentimentos, dos seus desejos. Contam histórias, mostram-se personagens importantes de cada uma delas, fazem um teatro espontâneo de suas próprias alegrias. O professor sente-se efetivamente um deles, é o mais feliz de todos eles, entende suas alegrias, senta-se alegremente no meio deles. Num determinado momento, no clima da evidente euforia coletiva gerada pela aceitação mútua, ele vira-se para a turma e diz: - Eu adoro balas. Alguém aí tem uma para me dar?Um aluno sentado numa das últimas carteiras, chama o professor, observado atentamente pelos colegas.-O senhor gosta de balas?-Adoro. -Que tal esta aqui?Trata-se de uma bala de escopeta (não deflagrada, intacta!).O professor está perplexo, visivelmente abatido. Pega a o pesado projétil numa das mãos, hesita e percebe que toda a turma silencia. Somando-se ao primeiro, mais dois alunos levantam-se e se colocam ao lado do professor. Sorridentes, insistem:-E aí, mestre, gostou da bala?A pausa é pesada e inevitável. Parece eterna, mas a resposta é intuitiva e inespontânea.-Prefiro halls.A inércia é quebrada, todos riem, a turma se alvoroça. Nem o professor esperava sua própria reação. A custo, ele indaga, misturando solenidade com simpatia:-Querido, posso continuar o meu trabalho?-Claro, professor – o aluno senta-se desconfortavelmente.A aula é reiniciada. A bala de escopeta está na mão do professor. O silêncio é tumular. Em sua boca, as palavras esgueiram-se. Tentando aparentar naturalidade, ele usa o quadro-de-giz e começa a ministrar o conteúdo. A sirene toca, todos se retiram ruidosamente, cumprimentando o professor com gestos típicos de estudantes de uma comunidade carente:-Aí, professor, o senhor é maneiro! -Professor, até amanhã! -Valeu, professor! -Tchau, mestre, sangue-bom!-...Professor... e a minha bala ?

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-Ah, tinha me esquecido. O professor olha fixamente para o aluno. Há no seu olhar um misto de desapontamento, tristeza e extrema afeição. No seu coração, a sensibilidade mescla a necessidade da manifestação do amor de um pai com a necessária atitude de um educador em exercício.-Você já pensou na possibilidade de a diretora da escola pegar essa bala ?-Já.-Se ela pega, o que acontece com você?-Sou expulso da escola.-Você acha isso legal? O aluno abaixa a cabeça.-Não.O professor insiste. Em cada palavra, a sinceridade evoca a idéia permanente da confiança:-Meu filho, esta vida tem dois lados: o seu e o do mundo. O seu é de sonhos, de realizações, de conquistas... o outro é o do poder, do medo, da hipocrisia, da covardia... Crie seu território, delimite-o; mostre o que você pode fazer de bom para sua própria sobrevivência e liberdade... Seja feliz, querido... Você é um vencedor! Você não precisa provar isto pra ninguém! Prove para você mesmo! Pausa.-...o senhor vai me devolver?- Ah, sim, a bala. Vou. Toma.- Valeu, professor, o senhor é sangue-bom. O menino sorri e se retira, deixando no ar uma nervosa sensação de impotência e medo. Há, entretanto, um silencioso pacto entre eles, marcado pela tímida iminência de uma lágrima e pelo poder de um sorriso que se dilui volátil, dentro dela.Na semana seguinte, mais uma aula. O professor reinicia suas atividades, mas percebe uma inquietação diferente. Está absorto no seu trabalho, quando alguém o chama lá do fundo sala. É o mesmo aluno que lhe oferecera a bala de escopeta.

-Professor... Quer bala?Um calafrio percorre cada poro, mas a inicial estupefação cede gradativamente.-Depende da bala.A turma ri. O professor sente-se seguro com a espontaneidade coletiva dos sorrisos.-Vem aqui pegar. Pode confiar na gente.O professor caminha na direção dos alunos. Os mesmos três que lhe ofereceram a bala de escopeta.Eles entregam três sacos de balas ao professor. Hortelã, tamarindo, mel, coco... uma infinidade delas.O coração se abre como um botão numa flor.Todos aplaudem a cena. As balas são distribuídas. A alegria é geral.Os alunos cumprimentam o professor. Alguém escreve uma frase com letra bonita no quadro: “Nós amamos o senhor.”A lágrima agora é inevitável. Desliza sem pudor pelo rosto num riso sublime que mistura surpresa com euforia. Eles a percebem. Choram e riem com o professor. Que aula!O sinal toca. Todos se despedem e saem. O aluno da bala de escopeta fica.

-Gostou das balas, professor?-Claro.Pausa.-...mas ficaria mais feliz se...- Se eu jogasse aquela bala fora?-É.-Eu já me desfiz dela, professor.-Por quê?-Porque descobri que sou uma criança ainda, professor. Prefiro balas de hortelã.

Luiz Poeta - Luiz Gilberto de Barros( SBACEM – RJ )

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EVOLUÇÃO DO HOMEMpor Marcelo Sguassábia

A ciência acaba de comprovar, agora oficialmente, aquilo que todas as evidências demonstravam: o homem não é o macho da mulher, da mesma forma que a

mulher não é a fêmea do homem.Passado o espanto inicial da descoberta, é preciso reconhecer que isso explica muita coisa. Para começo de conversa, chegou-se à conclusão de que o que ocorreu na verdade foi a extinção ou o não-desenvolvimento, ao longo da escala evolutiva, do macho da mulher moderna. Um descompasso onde notou-se fantástica evolução do gênero feminino, num dado período de tempo, concomitantemente a uma inexplicável involução do bicho homem.Trocando um pouco mais em miúdos e em linguagem leiga o longo e minucioso estudo, podemos dizer que o homem das cavernas teve a sua mulher das cavernas, o pitecantropo teve a sua pitecantropa, o neanderthal teve a sua neanderthala, o homo sapiens teve a sua fêmea sapiens e daí em diante deu-se o surgimento da espécie que o estudo denomina mulieris modernensis - que continuou se acasalando com o velho homo sapiens por absoluta falta de opção, já que este ficou marcando passo física e intelectualmente. A causa do ocorrido, entretanto, ainda é um mistério para os cientistas.Daí tantos divórcios e casamentos fracassados, a ponto da separação tornar-se praticamente a regra dos matrimônios. O que leva a crer que os raríssimos casamentos que dão certo se devem a um destes fatores: ou homens um pouco mais evoluídos que a média, ou mulheres menos.Algumas peculiaridades nos caracteres sexuais secundários e nos hábitos observados ofereceram valiosos subsídios para que a ciência chegasse à conclusão ora divulgada. A densa pelagem masculina, a maior truculência nos gestos e atitudes, a proeminência do pomo-de-adão, a rudimentar mania de deixar toalhas de banho molhadas sobre a cama e o fanatismo por esportes violentos são alguns dos indícios a sustentar a tese de que o homem está mais próximo do orangotango do que de sua própria esposa. Uma vez que estes e outros fatos e comportamentos não encontram correspondência na fêmea humana, a óbvia conclusão é de que homens e mulheres são espécies diferentes.Mantida em sigilo até o momento pela comunidade científica, a pesquisa antropológica e seu contundente resultado pode determinar uma convulsão social sem precedentes. Alguns grandes expoentes do meio acadêmico sugerem que dificilmente o documento será visto com apatia ou indiferença, especialmente pelos movimentos feministas. As mulheres podem reivindicar - e com abalizada razão - a soberania sobre os desígnios do mundo e o domínio sobre o sexo masculino, mantendo os homens cativos ou na condição de animais domésticos. Já os homo sapiens, que de sapiens têm na realidade muito menos do que supunham, provavelmente se organizarão num grande levante mundial contra a dominação feminina, lançando mão de tudo o que estiver ao seu alcance - de armas bélicas as mais diversas até esquecimentos coletivos de aniversários de casamento.

Marcelo Sguassábia

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TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (56)Por Walter da Silva

“Nunca ouvi falar de uma guerra que tivesse começado num salão de baile”.Bertrand Russell

Quando um homem confere importância recíproca tanto a um poema de Shelley, quanto à matemática, ele terá atingido sua completa maturidade intelectual. Refiro-me ao filósofo e matemático galês Bertrand Arthur William Russell (1872/1970), para mim, o mais influente filósofo do século vinte. Essa frase acima foi dita durante a entrega do prêmio Nobel de literatura, no discurso que proferiu. Oponente do idealismo reinante no final do século dezenove, ele restabelece a tradição empirista desde os tempos de David Hume, filósofo inglês. “Seu método de construção lógica visava detalhar a complexa relação que os objetos abstratos ou teóricos têm com a experiência sensorial, legitimando assim o lugar da experiência como base adequada para todo o conhecimento”. Parece um tanto complicado, não? Nem tanto. Essa análise enciclopédica de certo modo, distancia o leitor comum do especializado. Aprecio Bertrand Russell não somente por esse viés, mas por causa de sua clareza ao expor um pensamento durável, sustentável. Um mergulho na filosofia central de Aristóteles, conferirá certa legitimidade à frase, na medida em que acreditamos desde o grego de Estagira, que “nada vai ao intelecto sem antes passar pelo sentidos”. A vasta obra de Russell, que aos noventa anos ainda estava lúcido e comprometido com seu tempo, dá-nos uma ideia de quanto foi útil e quantas encrencas político-intelectuais enfrentou, pagando com sua prisão durante a primeira guerra mundial. Acusado por muitos de excessivamente racionalista, isso seria o mínimo, haja vista ninguém o poder acusar de apático e ausente da crítica acirrada aos grandes conflitos do seu tempo, incluindo as duas grandes guerras mundiais. Assombroso saber que Russell durante muitos anos de sua longa vida, escrevia diariamente cerca de três mil palavras, sobre os mais diversos assuntos, incluindo moral. De sua extensa produção li várias vezes “Porque não sou cristão”, “O casamento e a moral” e “A conquista da felicidade”, que muitos imaginam ser um tratado de autoajuda. Que fosse, ora! No primeiro, ele consegue desmistificar as falsas virtudes contidas no seio das religiões; no segundo, pontifica com luminosidade, qual o papel do homem e da mulher, numa relação interdependente chamada matrimônio e no terceiro, com sua íntima exemplificação, “pensei apenas em reunir alguns comentários inspirados, segundo acredito, pelo senso comum”, diz ele no prefácio da 3ª edição da “Conquista.” Ediouro, 2002. Possuidor de um talento extremo na compreensão holística da filosofia e da matemática e seu lugar na realidade, Russell foi um crítico ferrenho do comunismo, embora não odioso, mas alguém que utiliza o poder de argumentação para provar e às vezes comprovar o quanto uma teoria pode se tornar danosa em sua aparência contrária. Eu que fui durante muito tempo um apreciador de Trotsky e por ele talvez pusesse a mão no fogo, tempos depois me dei conta de que poderia estar enganado. Mas estamos todos de acordo em que a derrocada do socialismo real se deu com o peso ignóbil do poder burocrático. Dono de uma erudição rara, Russell esteve durante cinco anos na China e, se não aprendeu o mandarim, teria compreendido e nos ofertado com uma lição pormenorizada do confucionismo, matéria que dominou muito bem. Felizmente, sua obra-prima é “História da filosofia ocidental”, da qual ainda não tive oportunidade de obter os cinco volumes, provavelmente esgotados. Aluno de Alfred North Whitehead, escreveu com o mestre os “Principia mathematica”, tratado complexo e profundo das origens, princípios e aplicação da matemática no mundo conhecido. Essa é uma obra para especialistas. Criou nos anos setenta o “Tribunal dos crimes de guerra no Vietnam”, em parceria com seu amigo o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, de quem discordava em muitos aspectos.A contribuição de Russell se instala principalmente no que tange à busca perene da paz mundial e como atingi-la, num período de eterna transição. Humanista, estaria ele hoje (pre)ocupado com o estancamento das vaidades do poder e suas consequências na harmonia das nações.

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Tanto que sobre o tema escreveu dois ensaios intitulados “Tem futuro o homem?” e “O poder”- uma nova análise social - no qual constrói um conjunto de cenários do que viria ocorrer nos anos seguintes. Se Karl Marx errou quando se supôs profeta, Russell acertou quando previu a queda do stalinismo e o fim hegemônico do açodamento das ditaduras no mundo. Escreveu um livro de contos “Satã nos subúrbios” que não teve quase nenhuma repercussão entre os leitores. Isso é o de somenos a julgar pela importância de seu ecletismo e sua visão mais que tridimensional das agruras peculiares à condição humana.Nesta data, há quarenta e três anos, amanheceu morto, supostamente de uma gripe que contraíra, no mesmo ano em que morria também, em Londres, por outros motivos, Jimi Hendrix, exímio guitarrista e filósofo de uma determinada rebeldia.

Walter da SilvaCamaragibe-PE02.02.2013

Walter da Silva - Nasceu em 4/2/44, em Recife-Pernambuco, profissão: Administrador de Empresas (UFPE), Professor licenciado (UFPE). Mantém desde 2002, 321 textos na www.usinadeletras.com.br. Tem uma tese acadêmica publicada no circuito universitário. Publicou vários artigos no JORNAL DE LETRAS, Recife-PE. Tem um poema POEMA ANDARILHO com menção honrosa em CASTELO BRANCO-PT. «ESCREVO TODOS OS DIAS, MAS NÃO O DIA TODO. ACREDITO QUE A SOLIDARIEDADE, NO MEU CASO, JUSTIFICA MUITO BEM A EXISTÊNCIA HUMANA. SOU TRICOLOR, SANTACRUZENSE E NÃO TENHO CULPA NENHUMA, AO CONTRÁRIO, MUITA HONRA.»

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SobreSanta Cruz Futebol Clube

Descrição

Santa Cruz Futebol Clube é uma agremiação esportiva da cidade de Recife, do estado de Pernambuco, fundada a 3 de fevereiro de 1914.O Santa, como é chamado, ostenta entre as suas principais conquistas, 27 títulos estaduais e também o prêmio de Fita Azul do Brasil em 1980, já tendo sido semifinalista do Campeonato Brasileiro na década de 1970, sua fase áurea. Também é conhecido por ser proprietário do segundo maior estádio particular do Brasil, o Arruda, palco de diversas partidas da seleção brasileira. Possui rivais históricos, dentre eles, o Sport a qual protagoniza o Clássico das Multidões, o Clássico das Emoções contra o Náutico, e o Clássico da Amizade com outro rival, o América.

Prêmios

Internacional: Fita Azul Internacional: 1 (1980), Regional: Torneio Hexagonal do Norte-Nordeste: 1 (1967), Estaduais: Campeonato Pernambucano: 24 Titulos, Torneio Início: 12 Títulos, Copa Pernambuco: 3, Taça Recife: 1, Taça Refinaria: (1995)., Torneio de Verão Cidade do Recife: (1997). e Campeonato Pernambucano de Juniores: 7

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MÚSICA Y POESÍA, LOS ESLABONES DEL ALMApor María Sánchez Fernández

¿Tiene cuerpo la música?No. La música es sentimiento, pero también es sonido, vibración, movimiento.¿Tiene cuerpo la poesía?No. La poesía es sentimiento, pero también es grito, vibración, movimiento.Tiene cuerpo el alma? No. El alma es sentimiento, pero también es elevación, vibración, movimiento.Tres enigmáticos enlaces:Sonido, grito, elevación. Tres enlaces que se funden en el sentimiento, la vibración y el movimiento. Tres enlaces que van siempre unidos como tres invisibles eslabones de una recia cadena que no aprisiona, sino que libera.

¿Qué origen tiene la música?

Teorías pitagóricas afirman que la música nace en el cosmos. Cada cuerpo esférico que se mueve en el infinito emite su propio sonido según volumen y densidad. Es decir, emite una nota de la escala musical que se expande uniéndose a otra… y a otra…, y a otra…, conforme a la proximidad de los cuerpos hasta formar perfectos acordes. Por lo tanto el cosmos está saturado de melodías perfectamente armonizadas desde el mismo principio del principio.Por eso siento en el silencio que LA INFINITUD DEL COSMOS / PONE VUELOS DE MÚSICA EN MI ALMA.También hay música en el agua, calmada y dulce en la lluvia que cae; fuerte y temperamental en las cascadas que se lanzan gritando hacia el vacío haciendo percusión con el suelo en su caída abismal; y en el viento que afina sus flautines acompañando la danza de las ramas; y en el fuego que se alza en lúdicas figuras crepitando, imponente, en su abrazo apasionado con el aire; y en el lamento callado de la tierra cuando sangra amapolas mientras está pariendo trigales.Y hay música en los vuelos; y en el silencio de las hojas que caen; y en el chocar de las ramas; y en el bramar del trueno; y en el suspiro tenue de la rosa que expira.Y hay música que brota del llanto y de la risa. Del amor y del desamor. De la esperanza y del desánimo. Y un día le canté:

NACISTE DEL PRINCIPIO DE LA VIDACUANDO EL VIENTO RUGÍA TEMPESTADES,EL FUEGO LAMENTABA SOLEDADES Y LA LLUVIA REÍA EN SU CAÍDA.

EL RUISEÑOR TRINÓ EN LA AMANECIDAY EN LOS BOSQUES SONARON LOS CANTARESDE RAMAJES REPLETOS DE PIARESY ALETEOS BATIENTES EN LA HUÍDA.

MAS TARDE FUISTE DULCE MELODÍAQUE EL PASTOR DERRAMABA POR EL PRADOCON DULZAINAS FUNDIDAS EN CASCADA.

HOY TE ELEVAS EN BELLA FANTASÍA,Y REMONTAS EL CÉNIT CONQUISTADO,Y DESMAYAS DE GOZOS EMBRIAGADA

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Y la poesía…, ¿qué origen tiene la poesía?

Si nos atenemos a las teorías pitagóricas antes citadas en las que la música nace del sonido físico que emiten los cuerpos del espacio, la poesía ha de ser el grito callado, el cantar contemplativo que envuelve la enorme infinitud, el sueño despertado de las esferas cósmicas. Hay en ella un eterno nacer y un eterno no morir. Así pues, la poesía tiene también su origen en el principio del principio.Poesía es grito, es canto, es lamento, es explosión de colores, es vibración del alma, es gozo, es la expresión nacida en la palabra. La poesía nunca ofende, siempre dulcifica y hace que broten sonrisas donde hubo lágrimas y hace que broten lágrimas donde hubo sonrisas, porque libera emociones y transmite sentimientos. La poesía es libre como el viento y como el agua, como la llama que tiembla de amor y como las altas cimas que quieren tocar el cielo.Y en mis hondas meditaciones está la eterna pregunta y la eterna respuesta:

PREGUNTO EN MIS SILENCIOS ¿QUÉ POESÍA?¿ES BELLEZA ESCONDIDA EN SENTIMIENTO?,Y ESCUCHO LA RESPUESTA EN UN ALIENTOQUE DESHACE MI NOCHE EN CLARO DÍA.

- “ES VIBRACIÓN ENVUELTA EN FANTASÍA.ES CARICIA, QUEJIDO, RÍO Y VIENTO.ES AMOR, DESAMOR Y DESALIENTO.ES DELÉITE Y DOLOR EN ARMONÍA.

POESÍA ES EL ÉXTASIS DIVINOQUE ILUMINA DE CÁNTICOS EL ALMAY EN TORRENTES DERRAMA SUS LATIDOS.

PESÍA ES SONRISA, ES DULCE VINO,ES MÚSICA CANTADA EN SUEVE CALMAQUE PERFUMA DE GRACIA LOS SENTIDOS”.

Y el alma…, ¿Cuál es el origen del alma?

Siempre sabremos que el alma está ahí. La atesoramos muy dentro porque la sentimos; porque la palpamos; porque nos hace ser libres y también nos hace prisioneros; porque entró en nuestros cuerpos y en nuestras mentes cuando nos hicimos seres que viven.¿Qué es el alma que nos hace vibrar…, reír…, llorar…, amar…, odiar...? ¿Surgió también del infinito cósmico como la música y la poesía?. ¿Es un trío que no tiene medida? Alma – Música - Poesía ¿ Es un todo sublime que nos eleva a las cúpulas de la pureza ilimitada? Es hermoso pensar en estos tres eslabones tan fuertemente enlazados de esta invisible y sólida cadena que nos ata a la grandeza y nos devuelve a la libertad.Y termino y medito:

MÚSICA Y POESÍAFORMAN UN TODO INMENSOQUE REDIME AL ALMA.

Poemas “La Música”, “La Poesía” y aforismoDel libro de poemas “Pintar Palabras” 2001

María Sánchez FernándezEnero de 2013- Úbeda –España

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CONTRASSENSOHumberto Rodrigues Neto

Quem dera, oh... Deus, o ser humano fossemais fraternal e mais cristão, de sorteque não herdasse o instinto de Mavorte,contrário à vida, que é tão bela e doce!

Quanta alma pura fez de Ti o suporte,e ao mal que nos judia contrapôs-se!Quanta alma vil, de Ti distante, pôs-sea criar engenhos de tortura e morte!

Estranha grei de gênios e estafermos,num conúbio de crentes com pagãos,eis o que é o homem nos exatos termos!

Sujeito a instintos nobres ou malsãos,concebe a Ciência pra salvar enfermose inventa a Guerra pra matar os sãos!

Humberto Rodrigues Neto1º lugar no 3o. Concurso Nacional de Sonetos.Promovido recentemente pela Estância da Poesia Crioula, do Rio Grande do Sul, Brasil.

RESPOSTA A UM SONETOHumberto Rodrigues Neto

Esse chamar-me de teu mestre sem o seré o que me deixa assim feliz e venturoso,haurindo rimas de um soneto tão garbosocomo esse agora, que te deste a me escrever.

É uma delícia o teu poema... é quase um gozoter ante os olhos tais momentos de prazer;é ter comigo esse tiquinho do teu serpulsando vivo num poema tão charmoso!

as tuas palavras já nem sei quais sobreleve,pois delas faço o meu fanal, “Eire”, porquantovem da tua alma o que a tua mão gentil me escreve!

E quando o leio embevecido em pleno encanto,sinto invadir-me aquele enleio bom e leve,qual se estivesse, as Escrituras, lendo um santo!

Humberto Rodrigues Neto

CARNAV...ÂNSIASLuiz Poeta - Luiz Gilberto de BarrosEspecialmente para Revista eisFluências

Quando os carnavais do amor se dissiparemSob a luz do Sol... sem luz... de um novo dia...Quando as notas das marchinhas ecoarem...sem rumor... na tua dor...sem fantasia...

Quando os rastros dos confetes conduziremTeu olhar para o olhar que se perdeuNo olhar de um arlequim... quando fugiremOs teus sonhos...quando te fugir Orfeu...

Quando os nós das coloridas serpentinas,Na mudez mais solitária do salão,Misturarem as imagens bailarinas,Coloridas... dentro do teu coração....

Quando as máscaras do amor denunciaremOutras máscaras em rostos desiguais,E no espelho em que os rostos se mirarem,Rebrotarem outros tantos carnavais...

Tu serás um rosto nu, sem maquiagem,Refletindo, dentro do teu próprio olhar,A mais nova dimensão da nova imagemQue o teu rosto for capaz de revelar.

Teu olhar há de aceitar que o teu passistaSe perdeu, seguindo um bloco sedutorE em teu coração, um novo ritmistaVai te dar o novo tom do teu amor.

Carnavais são sempre assim: são só três diasDe folia, alegria e sedução,Mas na quarta-feira, as velhas utopiasRevigoram o poder da solidão.

Entretanto, enquanto o toque de um tamborCelebrar um novo tempo de folia,O teu sonho há-de vestir a tua dorCom o amor da tua nova fantasia.

Luiz Poeta

eisFluências | Fevereiro de 2013 | Pág. 19

amor é desassossegocomo sei, ela sabiaao se ir, aceso apego,ao chover lá vem Maria.

vim falar as coisas certasdo alicate e dos espinhosse te abraço e tu me apertasvou voar pra outros ninhos.

beijo na nuca ciciouni duni duni têfogo afago, arrepiobom saber seu ponto gê.

duas trovas no Domingoe nas duas abro o peito.nessa voo qual flamingoe na outra por seu jeito.

pareces maria-fumaçaque só sabe andar nos trilhosmarquei o encontro na praçaescreveste uns trocadilhos.

essa tal de transparênciame parece coisa loucacomo ter toda ciênciae a ciência coisa pouca.

ela fagulha e faíscaparece pedra de isqueirose pisca arisca se arrisca a se acender num luzeiro...

coração é muito estranhono senhor e na senhoraquer amor deste tamanho- ainda a paz, boca-pra-fora.

às vezes contos de reisoutras vezes da raínhame encanta toda vezmesmo a mesma ladaínha

eu que tanto trovo quantoescrevo em tinta azulpra quem veste rosa-encantovai blue-blue no vento-sul.

uma trova bem nos trilhosluz e som, e toda certa.vem de ti em brilho e brilhos- vem de bonde, mais liberta.

cuidaste tão bem em vidados jardins e das tuas rosasque não era despedida- eram noites mais formosas.

belos tempos de outrora quem já foi já foi embora quem voltou voltou agora não achou quem já não mora.

vou ser franco e ai de mim terno escuro, cravo branco quero a flor, quero o jardim mas só vou se for no tranco.

pra colher felicidadeé preciso paciênciana ausência é a saudadea beldade da imprudência

coração é mar bravioqualquer luta, calmariaiço as velas no vaziosó naufrago na poesia.

as mãos em tua cinturateus passinhos peneirando meu benzinho que quentura- tu voaste estou voando..

é você, meu bem-quererfaça chuva, faça solquando venho pra te vergira aqui um girassol.

ontem me vi em apurosah! muros da minha oca!porque vi, como pipoca,- grão de milho virar flor!

vira-mundo de mansinhocomo quem passa num crivo se eu fosse um passarinhoescrevia noutro livro.

no xadrez grande da vidanão ser rei nem ser peão.sendo torre resolvida- grão-vizir nem grão nem grão.

COLECIONANDO ALGUMAS TROVAS PARA A EISFLUÊNCIASMarco Bastos

fios de prata, são de prata os de ouro, ouro puro a loirinha, branca nata me encontra no escuro.

no outro dia tão sem graça eu pintei os meus cabelos ela então só de pirraça me mandou raspar os pelos.

fui pelado como um rato que nasceu em um buraco - ficou louro e insensato, dá o pé meu curupaco!...

bela trova e é assimquando vem mensagem abro vem na luz do teu jasmim luz carmim pro candelabro

é melhor ficar sem vozque falar com quem só pensaem dar laços - bem dá nós -sem nenhuma recompensa

ouve a brisa na bigornaaraponga nos martelosolha a onda que retornasem molhar os teus chinelos

é tão bom sentir a vidalatejando em cada veiasó conversa repetidaé maré em maré cheia

Sem te ver eu sofri tantoE há tanto não te via.De sofrer, eu tonto e santoFiz de ti musa e poesia.

Marco BastosSalvador/Bahia

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POEMAS NOTURNOSOleg Almeida

I

Vem a noite friasemear as sombras,reduzir as coresà monocromia.Depravar as almas,evocar os demos,acender as luzesvem a noite negra.

Luzes movediças,luzes irrequietas,que radiam pelosquatro cantos, luzessímeis aos fogachosdum braseiro tendopor castanhas lusasnossos sentimentos.

Pois não é verdadeque de noite fluadevagar o sangue,adormeça a mente!Ao contrário, traemos humanos suasconvicções diurnasao cair da treva.

E loquazes ficamas caladas bocas,e os dedos lerdosdobram de presteza.Fazem-se loucuras,umas mais ousadasque as outras; ardem,sem queimar, as chamas.

E a vida, cujasdecisões são fáceis,joga-se no poçode luar e néon,e contrai-se, comose coubesse todanumas horas faltasde civilidade.

Ama-se de noite,mata-se de noite,foge-se do tempoe de si bem longe.Pardos são os gatos,falsas, as promessas.Deus não vê ou nossasvistas se turvaram?

No entanto, nadaisso tem que saiados padrões, em suma,míticos ainda.Foi criada a noitepara recordar-nosque, do caos provindo,dele não distamos.

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II

Todas as noites –lá pelas sete e meia –,pulando do noticiário ao reggae são-luisense,volto eu para casa.Meu Palio cinza, cercado por outros carros,avança a passo de tartaruga,e uma fadiga amorfa me pesa,como uma giba, nas costas.Pautada por blitze, semáforos, obras intermitentes,a rodovia é limbo de quem dirige,arranca e freia, tudo ao mesmo tempo,enclausurado num labirinto de linhas brancas.Porém nada tenho a ver com isto,que tu me aguardas, impaciente(roupão de seda,shortinho e camiseta,pijama de que mais gostas?),na sala do nosso apartamento,e, para mim, o caminho é meramente caminho.Tu me aguardas,atenta ao tinido das chaves tiradas do bolso,e contagias com tua impaciência o tráfego lento;faróis e postes borrifam o para-brisa de pó dourado,e meu regresso a casa é, dessa forma,um dos maiores progressosde que jamais se teve notícia,embora nenhuma das rádios o notifique.

III

O pôr do sol, leão vermelho,passeia pachorrentamentepor entre as ovelhas-nuvensque nem um pouco o temem, levespremonições do novo dia.... Como se sabe, o futuroa Deus pertence. Da sacadacom tela revestida, vejo,sem precisar de aparelhoalgum, metade da cidadetelúrica. Iguais às negrasestalagmites apontadaspara o teto da cavernaetérea, erguem-se os prédios:metal, concreto, vidro, formasquadrangulares. Já não lembroa quem devemos a ideiade que não passa duma furnaimensurável nosso mundoe tem o céu abobadadopor cúpula (um sábio grego,talvez: os gregos não gostavamde meios-termos!); furna, criptaou calabouço, cujas celassão mais ou menos, eu diria,simpáticas, mas nem por issode terem suas grades deixam.E como se não nos bastassevivermos num espaço muitorestrito, a nictofobiatorná-lo-á, daqui a poucosminutos, bem menor. Aindaque fiquem todos os detalhesdo bairro pela classe médiaprezado – misto pitorescode lojas, orelhões, agênciasbancárias, carros a pararem,corteses, no sinal fechado –em seu lugar, não é sensatoverificá-lo nesta horade mediar um metro entreo Aqueronte e a soleira.E mesmo das voragens suasa salvo, dentro das muralhasdo condomínio, eu me sintoinerme, pois do frio cortante,que vem de fora, nem a telanem minha malha me protegem.

Porém há luz atrás da portae dois talheres finos, ladoa lado, na redonda mesada sala. Mãos de fada, minhamulher prepara um risotode camarão para jantarmos,

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enquanto suas reportagensnoturnas exibir a Globo,na sólida privacidadedo nosso lar. A certa altura,num verdadeiro microcosmotransforma-se a sala cujasparedes meigas nos abrigam;e, confinados nele, temosa impressão de que nenhuresa paz verídica subsiste,senão no íntimo isentoda emblemática tristezade quem os paradoxos gregosa sério leva. Trogloditasda era nuclear, chegamosa duvidar da existênciados verbos que não se conjuguemsó no presente da primeirapessoa e descrevam algodinâmico, versátil, livre:circuito de sensores, cercaelétrica ao redor da casae similares atributoscondizem com a paz, contudocontrários são à liberdade.Mas se a Deus pertence nossofuturo, não será blasfemopedirmos, em bisonhas rezas,que nos permita, condoído,a nós, ao filho, quando elenascer, ou neto, numa noitetão gélida quão a de hoje,trocar o micro pelo macro,saindo voluntariamente –não por dever! – portão afora,ir degustar o tal risotonum dos vizinhos restaurantese descobrir que ressecaramas águas infernais ao longoda rua cheia de felizescasais e crédulos pedestres,e, lá em cima, infinito,expõe o firmamento suasestrelas, nada parecidocom um tampão de pedra? Claroque não, mas (conjunção teimosaque sempre nos baralha as cartas!)é preferível, diz a mídia,não demorar no sinaleiro...E a comida tem melhoressabor e cheiro, se servidapor meu amor aprisionadoe não por uma garçonete.

Oleg AlmeidaBrasília/DF, Brasil

Ilustrações de Eduardo Schloesserwww.olegalmeida.com

Sumário AUTOR/TÍTULO

António Campos “A Esperança Vem dos Jovens”António Justo “Ouro em vez de notas – Um Aviso, e Um Alerta”Carlos Lúcio Gontijo “Minha Santa Maria”

Humberto Pinho da Silva “Ler muito pode ser um mal”Humberto Rodrigues Neto “Sonho de Criança” Isabel Cristina Vargas Resenha de “É Sagrado Viver”, do Pe. Fábio de MeloIvan Jubert Guimarães “Depressão”Luiz Gilberto de Barros “Projéctil Pedagógico” e 1 PoemaMarcelo Sguassábia “A Evolução do Homem”

Marco Bastos “Trovas”Oleg Almeida “Poemas Nocturnos”

Nuno Rebocho “Festival Sete Sóis Sete Luas invade Cabo Verde”

Walter Silva “Tradições, Contradições”María Sánchez Fernández “Música y Poesía, los Eslabones del Alma”

Espaço Poesia

Humberto Rodrigues Neto “Sonetos”

N e s s e a n o , e m c o n s e q ü ê n c i a d e desentendimento com o governador, é afastado do cargo de professor do Liceu Paraibano. Muda-se para o Rio de Janeiro e dedica-se ao magistério. Lecionou geografia na Escola Normal, depois Instituto de Educação, e no Ginásio Nacional, depois Colégio Pedro II, sem conseguir ser efetivado como professor. Em 1911, morre prematuramente seu primeiro filho. Em fins de 1913 mudou-se para Leopoldina MG, onde assumiu a direção do grupo escolar e continuou a dar aulas particulares. Seu único livro, "Eu", foi publicado em 1912. Surgido em momento de transição, pouco antes da virada modernista de 1922, é bem representativo do espírito sincrético que prevalecia na época, parnasianismo por alguns aspectos e simbolista por outros. Praticamente ignorado a princípio, quer pelo público, quer pela crítica, esse livro que canta a degenerescência da carne e os limites do humano só alcançou novas edições graças ao empenho de Órris Soares (1884-1964), amigo e biógrafo do autor.Vitimado pela pneumonia aos trinta anos de idade, morreu em Leopoldina em 12 de novembro de 1914.

http://www.releituras.com

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Versos ÍntimosAugusto dos Anjos

Vês! Ninguém assistiu ao formidávelEnterro de tua última quimera.Somente a Ingratidão - esta pantera -Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!O Homem, que, nesta terra miserável,Mora, entre feras, sente inevitávelNecessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!O beijo, amigo, é a véspera do escarro,A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,Apedreja essa mão vil que te afaga,Escarra nessa boca que te beija!

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, Paraíba, no dia 20 de abril de 1884. Aprendeu com seu pai, bacharel, as primeiras letras. Fez o curso secundário no Liceu Paraibano, já sendo dado como doentio e nervoso por testemunhos da época. De uma família de proprietários de engenhos, assiste, nos primeiros anos do século XX, à decadência da antiga estrutura latifundiária, substituída pelas grandes usinas. Em 1903, matricula-se na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1907. Ali teve contato com o trabalho "A Poesia Científica", do professor Martins Junior. Formado em direito, não advogou; vivia de ensinar português. Casou-se, em 04 de julho de 1910, com Ester Fialho.

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