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Edição | 2º semestre 2012
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Jovem: Transformador do mundo
2º SemeStre / 2012
22 ExpedienteCombinação única de bons valores com excelência.
O Grupo Marista conta com milhares de pessoas que diariamente vivenciam e disseminam importantes valores humanos
e cristãos, com o compromisso de promover e defender os direitos das crianças e jovens.
Faz parte do jeito Marista a busca constante por excelência. Na área da educação, da escola à universidade, formamos
pessoas e trazemos resultados comprovados. Em atividades nas áreas de saúde e comunicação, levamos sempre a
melhor qualidade para públicos de diferentes condições e necessidades. Em todas essas áreas a ação social está presente
com iniciativas alinhadas ao posicionamento institucional, mas também atuamos diretamente, por meio de uma ampla
rede de solidariedade.
Bons valores com excelência. Nossa missão é proporcionar essa combinação única para a construção de um mundo melhor.
Rua Imaculada Conceição, 1155Prado Velho – Curitiba – PRPrédio Administrativo PUCPR – 8º andarCEP: 80215-901Tel.: (41)3271-6500
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BRAsílIA • Colégio Marista de Brasília - Educação Infantil e Ensino Fundamental - SGAS 609 CONJ A - Bairro Asa Sul - Brasília - DF - 70200-690 - (61) 3442-9400
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CASCAVEL • Colégio Marista de Cascavel - Rua Paraná, 2680 - Centro - Cascavel - PR - 85812-011 - (45) 3036-6000
CHAPECÓ • Colégio Marista São Francisco - Rua Marechal F. Peixoto, 550L - Chape-có - sC - 89801-500 - (49) 3322-3332
CRICIÚMA • Colégio Marista de Criciúma - Rua Antonio de Lucca, 334 - Criciúma - sC - 88811-503 - (48) 3437-9122
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St. Marista - Goiânia - GO - 74.160-010 - (62) 4009-5875
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Jornalista Responsável: Rulian Maftum / DRT Nº 4646 | supervisão: Maria Fernanda RochaRedação: Michele Bravos / Julio Cesar Glodzienski / Elizangela Jubanski | Diagramação: Julyana WerneckRevisão: Editora Champagnat | Divisão APC – Grupo MaristaR. Amauri lange silvério, 270 - Pilarzinho – Curitiba/PR – CEP: 82120-000 – Fone: (41) 3271-4700 www.grupolumen.com.br
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Y. Azuma, Silvia S. Tateiva, Alexandre L. Cardoso, Denise Neves
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Cristiane R. santos, Eros A. A. Martins, Eziquiel M. Ramos, Fábio
S. Aparício, Guilherme F. Neto, Kely C. de Souza, Luana M. D.
dos santos, luiza B. Fleury, Mateus Vitor Tadioto, Mayara A.
Haudicho, Raquel A. Bortoloso, Samira D. Dutra, Tatiane Pereira,
Mayara Gutjahr
Capa: Gabriel Cauduro, Vagner Vergara, lucas Jiang, Bruna Braga luz e Geórgia Furquim, estudantes do Colégio Marista Rosário - Porto Alegre (Rs)
Elaboração da arte realizada pela professora Maria Cristina Kersting, do Colégio Marista são Pedro - Porto Alegre (Rs)
Foto: Wesley santos
Em Família | 10ª Edição | 2º Semestre 2012
23Primeira impressão
Para abrilhantar o tema desta edi-
ção, permitam-me iniciar nossa
reflexão sobre a juventude com duas
frases instigantes, uma do escritor
francês Albert Camus: “A juventude é
sobretudo uma soma de possibilida-
des”, e a outra, de Franklin Roosevelt:
“Nem sempre podemos construir o
futuro para nossa juventude, mas
podemos construir nossa juventude
para o futuro".
Certamente, muitos de nós, assim
como os autores citados, acreditamos
que a juventude tem um potencial
enorme de transformação não só do
futuro, como de toda uma socieda-
de. Mas não há como a juventude, ou
qualquer outro grupo social, ser essa
mola propulsora de transformação,
se não estiver apoiada em valores em
que ela própria acredite.
O tempo em que vivemos hoje é de
transformações e mudanças. segun-
do alguns, não apenas uma época de
mudança, mas uma mudança de épo-
ca. A crise de muitas instituições como
a família, a escola, o Estado e a Igreja,
gerada por esse tempo de modifica-
ções, faz os jovens tentarem entrar na
sociedade, não mais por essas insti-
tuições, mas a partir das relações com
seus pares, gerando assim seus pró-
prios modelos culturais de identidade,
de formas tão originais e criativas quan-
to as realidades juvenis que existem em
cada cidade.
Quando os valores são vivos na
mente e no coração dos jovens, inde-
pendente de instituições, encontramos
uma juventude com vontade de parti-
cipar da transformação da realidade.
são jovens que procuram uma socie-
dade sustentável, baseada no respeito
à natureza, nos direitos humanos uni-
versais, na eficiência da justiça econô-
mica e em uma cultura de paz desde
uma perspectiva ecológica integral.
Muitos deles tratam de promover a
mudança a partir de seu compromisso
com organizações não governamen-
tais ou políticas, atentos para que os
temas pertinentes à juventude sejam
discutidos. Podemos dizer, além disso,
que a grande maioria dos jovens pro-
cura intensamente pela espiritualidade
hoje. são novas expressões, não neces-
sariamente ligadas às grandes religiões,
mas que manifestam de outra forma
a espiritualidade e a transcendência
latentes, de um modo que talvez não
consigamos descobrir nem entender.
Para os jovens, a fase da juventude é
uma etapa de magia, porque repleta
de alegria, liberdade, vitalidade e ener-
gia. É um tempo cheio de curiosidade,
com vontade de conhecer, provar e
sentir uma infinidade de experiências,
mas, em certos momentos, permeado
pela solidão, quando carentes de lar e
da companhia familiar.
O encontro e o protagonismo juve-
nil podem ser realizados na escola, na
rua, no bar, na balada, nas organizações
pastorais, nos movimentos sindicais,
nos fóruns de juventude e em outros
espaços públicos que propiciem o
encontro e permitam que se reconhe-
çam como jovens. Além dos lugares, há
também os espaços de encontro: fes-
tivais de música, eventos esportivos,
internet, reuniões de reflexão, experi-
ências de trabalho ou intercâmbio aca-
dêmico e cultural, bailes, expressões
culturais autóctones ou juvenis, mani-
festações em defesa dos direitos, rebe-
liões, guerras, prisões etc.
Cabe às instituições, ao poder públi-
co e aos órgãos governamentais desen-
volver nos jovens os valores essenciais
à vida humana e propiciar os espaços
adequados para que sua atuação este-
ja garantida. Garantindo formação e
espaço adequado, a juventude espon-
taneamente transformará o mundo à
sua volta. Assim, construímos nossa
juventude para o futuro, oferecendo a
ela todas as possibilidades de ser feliz e
fazer os outros felizes, como sonhava
Marcelino Champagnat, que acreditava
que, fazendo os outros felizes, encon-
trávamos nossa própria felicidade.
A transformação como possibilidade!Por Ir. Paulinho Vogel
Ir. Paulinho Vogel é Diretor Executivo da Rede Marista de Colégios
24 Entrevista
Chamado paratransformarA tarefa de contribuir para um futuro
ie um mundo melhores é respon-
sabilidade de cada um dos 7 bilhões de
habitantes do planeta. O jovem argen-
tino Juan Andrés Mussini, de 29 anos,
mestre em Ciência da Computação pela
PUCPR, tem feito sua parte a serviço
da nação do Timor leste, por meio da
Organização das Nações Unidas (ONU).
Como especialista em tecnologias
de informação e comunicação para
o Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD), Mussini
tem aprendido a lidar com frustrações
e percebido que sua missão é dar o
melhor de si, fazendo o que for possí-
vel pelo bem-estar das pessoas.
Como foi sua trajetória até chegar à ONU? Era um sonho?
Minha chegada à ONU foi resultado
de uma busca por um trabalho que
me desse um retorno moral comple-
to. sendo formado na área de Exatas/
Computação, tive dificuldade em unir,
ao mesmo tempo, um serviço que me
desse garantia econômica e um sen-
timento de estar fazendo algo que
valesse a pena. Já me sentia um pouco
assim ao trabalhar em uma faculdade,
por muitos anos. sentia que estava
ajudando os professores, estudantes e
funcionários da instituição a fazer seu
trabalho de forma eficiente. A informá-
tica é uma área que não produz nada
por si própria, ela serve de base para
outros aplicarem suas habilidades ou
seu conhecimento. Acredito que, se
cada um fizer bem seu trabalho, inicia-
-se uma reação em cadeia, na qual o
usuário do seu produto, por sua vez,
fará o mesmo, e assim por diante. Há
vários níveis de "ajuda", nenhum mais
importante que o outro, com todos tra-
balhando em harmonia até se formar
um produto final. se todos os membros
fizerem um trabalho decente, haverá
qualidade equivalente. Na ONU, con-
sigo ajudar outras pessoas mais direta-
mente, passando meu conhecimento a
pessoas que nunca tiveram condições
e nunca sonharam estar trabalhando
com informática.
De que forma você acabou sendo
enviado para o Timor Leste?
A ONU é equivalente a um órgão públi-
co, mas em âmbito mundial. Há várias
missões e agências da ONU. Cada uma
delas tem seu quadro de funcionários,
como se fossem empresas normais, e,
como tal, publicam vagas e contratam
colaboradores. Eu vi a oportunidade de
trabalhar para a ONU como voluntário
na área de informática e gostei muito
da ideia. O país era algo secundário, eu
me interessei mesmo pela proposta da
ONU. Como uma das línguas oficiais do
país é o português, já há muitos brasi-
leiros aqui. Esses brasileiros, por sua
vez, já aplicam o conhecimento que
aprenderam no Brasil desde que che-
gam aqui – entre eles, o conhecimento
sobre informática, particularmente de
linux, que é muito forte no Brasil. Ten-
do sido educado no Brasil, eu me tornei
um especialista nessa tecnologia, o que
ajudou no processo de seleção.
Como é seu dia a dia nesse país?
Meu trabalho é situado diretamente no
Ministério da Justiça do Timor leste,
especificamente voltado para os timo-
renses colaboradores da Procuradoria
Geral da República. Todos eles fazem
parte da equipe de TI da instituição.
Eu dou aula para eles duas manhãs por
semana. Depois da aula, temos treina-
mentos específicos em cada institui-
Homens trajados com vestimentas típicas timorenses.
UN
MIT
26 Entrevista
Trabalhando na ONU,
eu sou um agente de mudanças.
eu sinto que as coisas acontecem
porque nós fazemos acontecer
eu Tenho que tratar as pessoas
com respeito
eu quero ajudar da forma que
for possível
eu vou fazer muito bem feito o
que tenho que fazer
A restauração da independência do Timor leste, ocorrida em 2002, é motivo de comemoração no país.
Mar
tine
Perr
et/U
NM
IT
Um agente da paz desembarca no Timor leste, trazendo ajuda para a população.
UN
MIT
ção, atendendo a suas necessidades e
demandas. Aqui, aplica-se o conceito
de formação de capacidade, que vai
além de aulas normais. É possível se
dedicar àqueles que têm mais dificul-
dades, por exemplo.
Qual o maior desafio em estar em
missão?
Do ponto de vista profissional, é lidar
com as frustrações. Do lado pessoal,
é a saudade. sou uma pessoa muito
família, com três irmãs e, a partir de
dezembro, seis sobrinhos. Estar lon-
ge deles é difícil e ver os pequenos
crescendo e mudando, também. O
dia a dia aqui é seguro, mas instável.
No meio do ano, depois do resultado
das eleições, houve focos de revol-
tas, com muitos carros apedrejados
e queimados e até pessoas feridas e
mortas. Durante aquela semana, o cli-
ma ficou tenso, mas por sorte não se
agravou. A situação pode mudar rapi-
damente, por isso temos que sempre
estar atentos e ter um bom ponto de
segurança, como a própria casa, com
mantimentos e provisões básicas.
Como é conviver com a frustração
de que nem sempre a solução está
em suas mãos?
O maior desafio é fazer as pessoas
entenderem a importância do que
está sendo feito. Em outros luga-
res do mundo, essa formação de
capacidade diretamente aplicada ao
local de trabalho é algo raro, já que
os treinamentos tradicionais são
sempre dados em horário diferente
do horário do trabalho. As empre-
sas preferem que seus funcionários
estejam envolvidos em suas tarefas
laborais nesse horário. Aqui, a tarefa
laboral deles é aprender. Mas, mesmo
assim, muitos deles não dão valor a
isso e acabam por se interessar pou-
co, perdendo a oportunidade que
oferecemos. Para lidar com essa frus-
tração, temos que manter a meta e
nos concentrar naquelas pessoas que
apreciam isso e que estão mudando
com o que nós oferecemos. Ver que
estamos melhorando a vida de uma
pessoa é uma recompensa extrema-
mente gratificante, que nos dá força
pra seguir adiante.
Quando mais novo, de que for-
ma você fazia a diferença em sua
realidade?
Posso dizer que eu nunca fui um
rapaz extrovertido e com facilida-
des sociais, por isso não me envolvia
ativamente em causas sociais. Mas,
graças à educação que tive, gosto de
pensar que sempre diferenciei o bom
do mau. Por isso, em tudo que fazia
eu tratava de levar sempre em conta
isso, perguntando-me quais seriam
as consequências de minhas ações.
Acho que era algo simples, mas que
fazia a diferença em minha realidade.
Qual a maior recompensa que o seu
trabalho lhe proporciona?
Profissionalmente, é ver os colegas
aprendendo e mudando. Pessoal-
mente, é saber que estou fazendo
algo pra melhorar a vida de alguém.
Quais características esse trabalho
desenvolveu em você?
Trabalhar com tecnologia em um país
pós-conflito é algo muito desafiante.
Tive que aprender a lidar com situa-
ções difíceis, como falta de comuni-
cação e de energia durante quase o
dia todo. Aprendi a lidar com outras
culturas, porque cada pessoa tem
uma forma de lidar com as coisas.
Estou mais tolerante.
Hoje, trabalhando para o Timor Les-
te, qual é seu maior desejo?
Que eu consiga fazer a diferença para
mais pessoas. Quando eu for embora,
quero olhar para trás e enxergar um
trabalho bem-feito, uma diferença
clara (para melhor!) entre o momen-
to em que cheguei e o momento em
que estiver partindo.
28 Capa
Rebeldes com causaEste século é marcado por jovens transformadores e com irreverência suficiente para causar um impacto positivo no mundo
O ijeitão despojado e até blasé
iengana à primeira vista. Quem
vê pode pensar que são jovens per-
didos, que não levam nada a sério e
que vivem conectados – até demais.
O engano vai embora quando esses
jovens falam sobre o que pensam,
o que creem e como gostariam de
colocar em prática suas ideias para
melhorar o mundo.
Estamos falando dos jovens do
século XXI, as chamadas gerações
Y e Z. Jovens com causas, planos e
liberdade de sobra para transformar.
Segundo o Ir. Evilázio Teixeira, doutor
em Filosofia, Teologia e atual vice-rei-
tor da PUCRS, essa é “uma juventude
que se nega a simplesmente repetir
as gerações anteriores e que busca
afirmação”.
Diferente de décadas passadas,
o jovem da atualidade só se engaja
naquilo que realmente lhe faz sen-
tido. A vontade de ver pequenas
mudanças os move
para grandes con-
quistas. O soció-
logo Cézar Lima,
professor de Ci-
ências Sociais da
PUCPR, explica
que o jovem atual tem entendimento
de que não vai mudar o mundo, mas
sabe que tem em mãos a possibili-
dade de contribuir para um convívio
mais harmonioso.
Para os estudantes do 2º ano do
Ensino Médio, Bruna Luz, do Colé-
gio Marista Rosário (RS), e Alexan-
dre Longo Filho, do Colégio Marista
Pio XII, de Ponta Grossa (PR), ajudar
uma senhora a atravessar a rua ou
ser gentil com alguém já são atos de
grande valor. “Com certeza, pensar
nas próprias atitudes e acreditar que
elas provocam transformações é uma
combinação que mudaria o mundo”,
diz Alexandre.
Para o Ir. Evilázio Teixeira, os
jovens estão mais sensíveis por natu-
Além do voluntariado, a estudante Bruna Luz, do 2º ano
do Ensino Médio do Colégio Marista Rosário (Rs), acredita
que atitudes do cotidiano podem fazer a diferença.
“ser gentil com o porteiro ou com uma senhora são coisas que, por vezes, não são valorizadas. Mas fazem diferença na vida das pessoas.”
Além das ações voluntárias, o estudante Gabriel Cauduro,
do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Marista Rosário (RS),
realiza a doação de roupas para pessoas carentes.
“Eu gosto de me envolver com outras pessoas, de ajudar. A possibilidade de fazer isso no voluntariado me chama a atenção, por isso sou voluntário.”
reza e querem um mundo melhor
para todos. É nesse contexto que as
causas específicas ganham força. “A
juventude atual está muito sensi-
bilizada perante os problemas das
desigualdades sociais, a realidade de
marginalização, de ataque ao ecossis-
tema, da pobreza e morte que asse-
diam muitos dos países em desenvol-
vimento. Muitos deles estão dispos-
tos a dedicar parte de seu tempo, de
seu dinheiro, de suas férias e até anos
inteiros, a aliviar esses problemas”.
Mas tudo isso só dura enquanto o
jovem crê na bandeira que levantou.
A partir do momento em que ele não
acredita mais, ele não insiste e parte
para uma nova empreitada. O sociólo-
go afirma que as manifestações atuais
duram menos tempo se comparadas
às de 20 ou 30 anos atrás; no entanto,
são mais diretas e efetivas.
Minha, sua, nossa causaAtualmente, não se tem mais
a noção de mudanças grandiosas,
buscam-se mudanças pontuais. Já as
décadas de 60, 70 e 80 foram marca-
das por um anseio de grandes refor-
mulações. O contexto pedia alteração
na estrutura da sociedade, na política
ditatorial que sufocava a liberdade
dos seres humanos, na economia
que não favorecia boas condições de
vida. Quando essas conquistas foram
alcançadas, a noção de luta que havia
se construído se dispersou e um novo
molde surgiu, no formato que tem
sido apresentado hoje pelos jovens.
O estudante Heitor Fantinatti, do
3º ano do Ensino Médio do Colégio
Marista de Ribeirão Preto (sP), é um
exemplo dessa juventude. “Quando
nós falamos em mudar o mundo,
parece que é uma coisa gigantesca
e muito difícil de fazer. Isso se torna
realmente difícil se você falar em um
contexto global. Mas e se pararmos
para pensar e começarmos a mudar
o lugar onde vivemos? Primeiro, a
escola; depois, o bairro; até chegar a
uma cidade inteira”, diz.
A partir da década de 90, com o
conceito de globalização mais institu-
ído na vida das pessoas, veio também
o firmamento do multiculturalismo.
Assim, as lutas e causas também se
tornaram desterritorializa-
das, o que contribui
para o alcance de
conquistas glo-
bais. A internet
se tornou, e ain-
da é, uma forte
aliada para isso.
Das ruas para as redes socias“Revolução de verdade se faz na
rua.” Ou seria "se fez"? Os caras-pin-
tadas, os hippies ganharam a cidade
com seus gritos de revolução e pas-
seatas. Hoje, a manifestação é menos
alarmante – embora tão ou mais efe-
tiva que – e o ponto de encontro é no
mundo virtual.
O estudante Gabriel Cauduro,
do 1º ano do Ensino Médio do Colé-
gio Marista Rosário (Rs), conta que o
canal de comunicação do grupo de
voluntariado do qual participa são as
redes sociais. “Pela rede social, orga-
nizamos os grupos que vão visitar as
instituições que ajudaremos. O gru-
po da internet também é usado para
comentar outras atividades envolvi-
das com o voluntariado”.
30 CapaPara que outras gerações possam
entender essa transição de espaços,
o questionamento deve ser: as pla-
taformas já conhecidas (cartazes,
manifestos nas ruas) ainda são con-
dizentes com a forma de expressão
do jovem Y ou Z?
Vale lembrar que essa juventude
nasceu em outro contexto, cercada
pela teia da World Wide Web. logo, é
natural que seus gritos e pensamen-
tos por mudanças sejam explicita-
dos em páginas de redes sociais, por
exemplo. Para o Ir. Evilázio Teixeira,
“é incontestável que esses avanços
tenham facilitado muitos aspectos
de nossa vida diária, tornado mais
compreensível nosso mundo e apro-
ximado os problemas de todos”.
O mundo virtual oferece um espa-
ço de encontro plural para os jovens,
onde podem encontrar pessoas com
inquietações similares, o que se tor-
na um incentivo para agirem. “A
internet proporciona a mobilização
de quem nem se conhece”, completa
o sociólogo Cézar lima.
Do meu jeitoOlhando para o passado, o jovem
Y e Z reconhece as vitórias alcança-
das pelos pais e avós, mas percebe
quantas barreiras foram impostas
pelas instituições com as quais a
velha juventude estava ligada. Por
isso, hoje o jovem luta por suas cau-
sas por conta própria. Ele não está
preocupado se terá o apoio de uma
ONG ou de um partido político; pelo
contrário, ele não crê nessas insti-
tuições. sendo assim, dá o primeiro
passo. No caminho, encontra outros
jovens com interesses similares. Jun-
tos, eles vão atrás do que querem.
O desafioDiante do contexto de jovens enga-
jados em causas mais específicas e des-
crentes do sistema político e econômi-
co, é preciso encontrar formas para que
esses jovens possam tornar suas pautas
específicas potentes influenciadoras
dos direitos fundamentais. “Ainda não
vejo o jovem envolvido em lutas que
transcendam os interesses específicos.
Esse é o desafio do momento”, diz o
sociólogo.
Processo em cursosegundo Cézar lima, o que vivemos
hoje é um reflexo dos anos anteriores e
continuará sendo assim. Por isso, é pre-
ciso perceber que discussões acerca da
juventude e de seus comportamentos
não é um ciclo que se fecha, mas que se
altera com o passar do tempo. Quando
se fala em geração 2000, as percepções
são ainda mais incompletas, uma
vez que este é um processo
em curso.Por iniciativa própria, a estudante Georgia Furquim, do 2º ano do Ensino Médio do
Colégio Marista Rosário (Rs), começou a se envolver em atividades voluntárias:
“Acho que o Colégio me incentivou, trabalhando isso na minha vida desde pequenininha. Eu gosto de ajudar e quando conto histórias para a minha família, eles até sentem vontade de contribuir.”
A juventude atual me parece assim...
Lucas Jiang, estudante do 3º ano
do Ensino Médio do Colégio Marista
Rosário (Rs), pratica voluntariado
desde 2010 e conta com o apoio
dos pais nessa atividade:
“Meus pais me apoiam. Converso muito
com meu pai sobre as atividades do grupo e ele
se sente orgulhoso.”
Os pais de Vagner
Vergara, do 3º ano do
Ensino Médio do Colégio
Marista Rosário (RS), nunca
praticaram ações voluntárias, mas
isso não impediu o estudante de se engajar:
“Comecei no voluntariado por influência dos meus amigos.”
Maria Carvalho, 63 anossalgadeira“Acredito que a juventude de
hoje não está perdida, mas
falta respeito dos jovens com os
outros. Penso que os pais não
querem que os filhos passem
pelo que eles passaram e por
isso não impõem limites.”
roseli silva, 48 anosDoméstica“A educação dos jovens de
hoje é bem diferente. Acre-
dito que os pais deixam os
adolescentes e as crianças
soltas demais, e isso torna
alguns jovens rebeldes.”
euclides s. Pereira, 48 anosCabeleireiro“Em relação ao comportamento
de antigamente, a juventude de
hoje tem mais liberdade. Nos
meus 40 anos de cabeleireiro, por
exemplo, o pai escolhia o corte
do filho até os 15 anos de idade;
hoje, a criança mais nova corta
o cabelo do estilo que quer."
eloir rosa, 42 anosCinegrafista
“Está cada vez mais difícil
educar um filho. Hoje em dia
está tudo muito livre. Acredito
que um pouco de censura
não faria mal. A culpa é da
sociedade, a televisão mostra
muita coisa que não deveria."
Isaura M. oliveira, 65 anosAposentada“Os jovens têm em
mãos uma coisa muito
grande, que se chama
liberdade. Muitos deles
sabem aproveitar isso.”
Eles viram a minissaia sur-
gir, os hippies pregarem
“paz e amor”, o muro de Ber-
lim cair. Alguns participa-
ram ativamente dessas e de
outras emblemáticas situ-
ações no mundo. Outros,
simplesmente, foram espec-
tadores. As gerações nas-
cidas no fim da década de
1950 e durante a de 1960
enxergam que os jovens
da atualidade desfrutam de
muita liberdade, são mais
donos de si que seus pais e
avós, mas isso muitas vezes
se torna ausência de limites
e falta de respeito.
O sociólogo explica que
a noção de respeito que se
tinha nas décadas passadas
estava muito ligada à obedi-
ência. “As gerações anterio-
res eram mais obedientes,
por uma questão de tradi-
ção”. Atualmente, os jovens
são mais questionadores,
não seguem aquilo que não
acreditam e expõem aberta-
mente o que pensam.
32 Capa
Anos 60 l Liberdade sexual
l Filhos da geração Baby Boom (grande
crescimento populacional ocorrido após as
guerras mundiais)
l Pós-guerra
l Auge do consumismo, que, por sua vez,
é combatido fortemente pelos jovens
l liberdade na moda, na música e no com-
portamento
l Ascensão dos movimentos culturais,
como Op art, Pop art e Nouvelle Vague
l Movimentos estudantis
l Ditadura
Anos 80 l Conformismo
l Geração Y (nascidos em um momento
de grandes avanços tecnológicos. Atual-
mente, são reconhecidos como aqueles
que estão sempre em busca de inovação,
além de serem engajados em causas so-
ciais)
l Época de recente derrubada da ditadura
l Juventude mais conformista e mais po-
litizada
l Grandes conquistas políticas que in-
fluenciarão a próxima década
l sem protagonismo dos jovens
Anos 70 l Liberdade de Expressão
l Perda da inocência e das crenças nos íco-
nes dos anos 60
l Aprofundamento das discussões da dé-
cada anterior
l Combate à censura e ao racismo
l Direito das minorias
l Jovem menos ingênuo e mais cínico, mais
contestador
l Aumento da repressão
l Dúvida dessa geração: “Ficar à margem
do sistema ou entregar-se?”
O jovem na linha do tempoO tempo passou e, com ele, os jovens se trans-
formaram. Os propósitos de vida são outros, assim
como seus ídolos, seus sonhos e sua forma de
expressão. Há quem diga que são acomodados,
menos ativos que outras gerações, que lutam por
causas pequenas demais. Na verdade, são apenas
diferentes. A equipe da revista em Família, junto
com o sociólogo Cézar lima, organizaram a linha do
tempo abaixo para que você entenda a geração atual,
conhecendo mais dos antecedentes desses jovens.
Anos 90 l Defensores
l Alto engajamento político
l Proliferação de ONGs
l Há uma necessidade comum em suprir
as necessidades emergenciais da socieda-
de civil
l Jovens unidos para a defesa de uma plu-
ralidade de direitos
Anos 2000 l Individualismo
l Geração Z (nascidos no universo digital,
são indivíduos muito familiarizados com a
tecnologia, com a internet e seus recursos)
l Globalização
l Capitalismo afeta o protagonismo do
jovem
l Jovem mais individualista
Anos 2010 l Conectados
l Críticos em relação às instituições e aos
governos
l Noção de Estado, família
l Intolerante à corrupção
l Cobra com rigor, exige bons exemplos e
questiona a hierarquia convencional
l Aquilo que se pensa deve
ser aquilo que se faz
l Acredita que é preciso fazer para merecer
l Luta por causas específicas, crendo que
transformar o pouco traz reflexos para o
muito
34 Dia a dia
Filhos engajados epais preocupadosAfinal, a insegurança dos pais deve ser recompensada com a experiência dos filhos?
A criança lidera a turma em causas
sociais, promove a igualdade e
luta por justiça. Prepare-se: seu filho
é um ativista nato e o seu coração
ficará dividido entre orgulho e medo.
Eles querem conhecer cada canto do
mundo e se sujeitar às mais novas
experiências. Mas, a bandeira erguida
de que o filho deve ser criado para o
mundo logo dá espaço à proteção e
ao medo de expô-lo a uma realidade
tão dura. E aí, os pais estão preparados
para desengatar o laço de proteção?
Na tentativa de proteger os filhos,
os pais podem perder o controle da
situação. O ideal é conversar sobre
os riscos e o benefício da atividade
que será praticada. Foi assim que,
em 2006, Gabriela Howes, ex-aluna
Marista e atualmente colaboradora
no Colégio Marista Rosário (Rs), no
setor de Pastoral, conseguiu a per-
missão do pai, Mário César Howes,
para ir à África com apenas 19 anos.
“Foi um impacto muito grande esta
decisão dela. Confesso que foi difícil
para nós. Diziam que eu estava louco
em apoiá-la”, lembra Mário.
Gabriela partiu para Moçambi-
que em missão pela ONG Associação
do Voluntariado e da solidariedade
(Avesol). Ela ficou em terras africanas
durante nove meses e passou por situ-
ações com as quais jamais teria conta-
to caso não aceitasse a empreitada.
Howes sabia que a filha enfrentaria
problemas, afinal, ela se depararia com
uma realidade muito diferente da de
seu país. “Perguntei se ela sabia das
dificuldades que ia enfrentar. Vi que
estava determinada e apoiei a deci-
são”. Para a desarmonia da família, a
mãe foi totalmente avessa à viagem e
até o último instante, antes de embar-
car, pediu que a filha não fosse. “Não
queria que minha filha ficasse longe
de casa. Achava ela muito nova para
ficar num país totalmente diferente”,
apontou Ivelise Howes.
Test-drive
A vontade de ir à África teve capí-
tulos importantes a serem vencidos.
Dois anos antes, Gabriela teve a opor-
tunidade de fazer um intercâmbio – o
Rondon Internacional. lá, ela passou
três meses vivendo o desprendimento
familiar. “Quando eu voltei do Canadá,
falei aos meus pais que eu estava pre-
parada para ir a Moçambique”, conta
ExperiênciaEnfim, Gabriela pisou na África,
enquanto a mãe ainda sofria por aqui.
“Eu não acreditei, até o último ins-
tante”. lá, a ideia inicial da missão de
Gabriela tomou outras proporções, e
o que antes era um trabalho volun-
tário, acabou sendo uma experiência
pessoal e intrasferível. “Eu ia ser pro-
fessora de inglês da 6ª e 7ª série, tanto
de ensino regular como na educação
de jovens e adultos. Quando cheguei
lá, percebi que a demanda era muito
maior, eu ia ser mais que uma profes-
sora, ia ser uma pessoa de outra cultu-
ra que ia aprender muito sobre eles. A
sensação que eu tenho, hoje, é que eu
não fiz nada, quem fizeram foram eles
na minha vida”, disse.
Já para Ivelise, a sensação era outra,
e a cada dia aguardava a volta da filha.
“Durante todos os meses envelheci
50 anos. Passava noites sem dormir,
conseguia falar com ela somente por
telefone e de madrugada. Às vezes
passava 15 dias sem notícias dela”.
Gabriela conta que a comunicação
era precária e o local onde tinha acesso
à internet ficava a pelo menos 30 qui-
lômetros de onde eles estavam. “Não
sei nem com qual periodicidade falava
com meus pais”, recorda.
Realidade“Eu sentia que a morte estava sem-
pre presente comigo”, revelou Gabrie-
la, que escutava a todo o momento
sobre a naturalidade com que os afri-
canos lidavam com esse tema. “Quan-
do alguém não chegava para a aula,
eles respondiam ‘morreu, professora’,
assim, sem pudor. Diziam que mor-
riam por causa de doença. Então,
eu dava aula de inglês, mas sempre
que podia falava sobre higiene, pre-
venção, doença, até mesmo da aids.
Coisas que a demanda da realidade
faziam com que eu falasse”, revela.
Valeu?O retorno foi alegre e vigoroso. A
mãe, que tanto rejeitou a ideia, ren-
deu-se. “Ela voltou diferente, mais
madura”. Mas ressalta a importância
de se saber com quem o filho está
indo. “Antes de qualquer decisão,
verifiquem realmente o lugar para
onde irão, com quem vão morar e
que tipo de situação vão enfrentar”,
aconselha. O pai reforçou a tese do
apoio e disse: “precisamos saber
criá-los e orientá-los para vida, pois
não somos donos dos nossos filhos.
somos simplesmente pais, amigos e
companheiros”.
Hoje, Gabriela é formada em Psi-
cologia e diz que só consegue se defi-
nir e se autoconhecer depois do que
viveu em Moçambique. "Tive experi-
ência de vida goela abaixo. Conheci o
ser humano na essência, sem bens,
sem ter, sem nada. só ele”, finaliza.
Apesar de tudo isso, Gabriela e a
mãe tiveram algo bastante significa-
tivo em comum. Enquanto a viagem
durou nove meses, a sensação para
as duas foi de que esse tempo durou
anos a fio.
A grande aventuraPara tornar um sonho realidade, às vezes, pode ser preciso se desapegar
daquilo que traz segurança. e é aí que se ganha muito mais.Por roy rudnick
É agora ou nunca. Agora! Este é o
subtítulo do primeiro capítulo do
livro Mundo por Terra – uma fascinante
volta ao mundo de carro, que trata de uma
viagem, feita em um veículo automotor,
por 60 países, 5 continentes, 1.033 dias
e mais de 160 mil quilômetros.
Viajar por tanto tempo sempre foi
um paradigma para mim e para Michelle
Weiss, minha namorada e companheira
de viagem. Aliás, tudo que extrapolasse
o período de férias – 30 dias – era algo
impossível, mas bastou um “nós vamos”
e tudo mudou. Tudo passou a convergir
em favor do que havíamos decidido: ir à
busca de nosso sonho.
Por mais que essa decisão aparente-
mente tenha sido difícil, durou menos
que um segundo. Foi como num passe
de mágica. Antes dela, seguíamos uma
vida regida por rotinas e regras e, depois,
os dias passaram a ser diferentes um do
outro, com acontecimentos marcantes
que jamais experimentaríamos em casa.
Um segundo que acarretou uma grande
mudança de vida, mas que teve suces-
so por termos nos deixado levar por um
fator que é muito discutido nos dias atu-
ais: o desapego.
Saímos de uma casa confortável e
embarcamos em um veículo com um
pequeno motorhome de 4 m² para
morar nele por três anos. Ali carregáva-
mos somente o essencial – uma cozinha,
uma boa cama, espaço para se ficar em
pé e armários para os mantimentos –,
tudo feito para oferecer o mínimo de
segurança e conforto. As estradas do
mundo e os quintais de nossos acampa-
mentos passaram a ser nosso patrimô-
nio, pelo qual jamais tivemos que reco-
lher o IPTU. Éramos livres para seguir
sempre que tivéssemos vontade, livres
das atribuições que nossos próprios
bens materiais nos incumbem.
Agora, claro que adversidades tam-
bém faziam parte do nosso dia a dia e o
acúmulo delas é que era duro de suportar.
Estar em lugares desconhecidos, comuni-
cação difícil, adaptação a novas culturas,
comidas exóticas, problemas mecânicos,
lugares inóspitos, aduanas, dificuldades
para achar lugar para dormir, dias sem
banho, falta de privacidade em países
populosos, estradas ruins e saudade eram
apenas algumas delas.
Mas a recompensa era sempre supe-
rior e, percebendo isso, o ato de “desistir”
nunca foi parte de nossos planos. Além
disso, o que nos manteve foi ter metas
claras e definidas. Nós partimos, vivemos
o mundo, cumprimos o planejado e volta-
mos para casa, certamente enriquecidos
de alma. Aprendemos que a vida é muito
mais do que ter uma boa conta bancária.
Aprendemos a viver com menos e nos
tornamos muito mais simples.
O livro mundo por
terra – uma fasci-
nante volta ao mun-
do de carro é um
relato da viagem do
casal roy e michelle.
essa narrativa des-
creve com detalhes
todos os assuntos relacionados à via-
gem. As histórias seguem o itinerário
realizado e são traduzidas de forma
simples e informal – uma conversa
entre o leitor e os viajantes.
Site: www.mundoporterra.com.br
e-mail: [email protected].
Michelle Weiss e Roy Rudnick partiram para uma viagem de três anos rumo à realização de um sonho.
Olhar36
Crianças e jovens são os grandes agentes transforma-
dores do mundo. Por meio de gestos e atitudes diárias,
eles comprovam, a cada dia, que estão aptos a mudar a
realidade com vistas a futuro melhor. O protagonismo da
juventude se torna diariamente mais forte e consolidado.
E para que isso seja exercido de maneira solidária e com
valores fundamentais, a escola desempenha papel primor-
dial nesta formação de jovens engajados.
Nesta parte da em Família leia histórias, projetos e ideais
de alunos em trecho exclusivo do Colégio Maristinha de
Brasília que tiveram participação fundamental na transfor-
mação do amanhã.
38 Com a palavra Ir. Valter Pedro Zancanaro – Diretor-Geral
Construindo uma educação melhor
Comemorar as conquistas alcan-
çadas e os desafios superados é a
premissa que rege o segundo semes-
tre de 2012 no Colégio Maristinha. É
mais um ciclo que começa com novi-
dades e comemorações para encerrar
o ano letivo com competência.
A cada ano, procuramos melhorar
ainda mais nosso atendimento profis-
sional. Guiados por Maria, nossa Boa
Mãe, caminhamos por uma estrada
repleta de desafios, mas traçada com
qualidade e responsabilidade ética
e humana. Por isso, temos muito a
comemorar. são anos de trabalho
com transparência e excelência. 2012
é um momento ímpar, que deve ser
festejado, com muita alegria, pois
completamos 50 anos da Presença
Marista no Distrito Federal.
são inúmeros avanços, vitórias e
ações desenvolvidas, ao longo dessas
cinco décadas, os quais nos deixam
preparados para um próximo desafio:
uma nova escola.
O Maristinha Pio XII está sendo
construído pensando em nossos
pequenos cidadãos, ação voltada
exclusivamente para a Educação
Infantil. Com mais espaço verde e
com uma nova estrutura, a escola
deverá receber as primeiras turmas
no próximo ano.
A construção de uma nova esco-
la é o resultado do esforço conjunto
de todas as pessoas que trabalham
para que o Maristinha seja referência
em ensino e educação. ser um dos
primeiros colégios da cidade implica
uma inestimável responsabilidade,
que exercemos com primor. É por
esse motivo que a escola continua
investindo em profissionais qualifica-
dos e apostando em um novo espaço.
É pelo respeito que temos por
nossos estudantes e pais e pela
importância deles para nós que con-
vidamos todos para conhecer o Maris-
tinha Pio XII.
GUIADOs POR MARIA, NOssA BOA MãE, CAMINHAMOs POR UMA EsTRADA REPLETA DE DEsAfIOs, MAs TRAçADA COM QUALIDADE E REsPONsABILIDADE éTICA E HUMANA.
40
Quando falamos em protagonismo
infantil, estamos nos referindo a
um tipo particular de protagonismo,
que é aquele aplicado em uma fase
do desenvolvimento humano na qual
o mundo que se descortina aos olhos
precisa ser motivador e desafia-
dor, para que a formação
do sujeito autôno-
mo se efetive
de forma integral.
A proposta curricular Marista para a
Educação Infantil reconhece a criança
como ser histórico e social, produtor
e consumidor de conhecimento e cul-
tura, o qual tem voz própria, que deve
ser ouvida e considerada. Entende,
além disso, que a criança é capaz de:
produzir ideias e objetos concretos e
simbólicos; desenvolver sentimentos
que serão válidos por toda a vida; ques-
tionar a realidade que a cerca e a que
está distante no tempo e no espaço; e
produzir significados sobre si, sobre o
outro e sobre o mundo.
Assim sendo, o trabalho proposto
em sala de aula, pelo educador Maris-
ta, sempre está pautado em um olhar
sensível às produções infantis, pois per-
mite conhecer os interesses das crian-
ças, os conhecimentos que estão sendo
apropriados para elas, assim como os
elementos culturais do grupo social em
que estão imersas. Garantimos o desen-
volvimento da capacidade da criança de
intervir no mundo com liberdade, cria-
Um espaço para o protagonismo!A criança deve ser vista como produtora e consumidora de conhecimento e cultura para a formação de adultos éticos e comprometidos
Por Luciana Lopes*
*Coordenadora Psicopedagógica – Educação Infantil e 1° ano do Ensino Fundamental.
Educa� Educação Infantil
tividade, arti-
culação e coo-
peração, visando
desenvolver identi-
dade e autonomia.
A roda de conversa
é uma situação diária que
contribui para a aprendizagem
da escuta, estimula o desenvol-
vimento da linguagem e permite
que todos possam se expressar. É por
meio da conversa que as crianças bus-
cam soluções para conflitos e vi- venciam
trabalhos de oralidade, em práticas como
construção de textos coletivos, coletas de
dados e relatos individuais. Buscamos
trabalhar a escuta atenta e o respeito à
vez de falar do colega e da professora,
assim como o controle do corpo e das
ações. As crianças demonstram interes-
se e são participativas, gostam de con-
tar novidades, de mostrar os deveres
do dia e de contribuir para os assuntos
tratados.
Nos projetos de investigação, os
assuntos de estudo partem do olhar
da criança sobre o mundo que a cer-
ca, surgem da leitura de seus desejos
e interesses. Quando determinado
tema é apresentado pelos alunos, os
professores, como mediadores, estru-
turam o projeto considerando o que
as crianças já sabem e o que preten-
dem investigar. são estabelecidos os
objetivos, e as hipóteses são listadas
para futuras análises. Em seguida, a
metodologia é escolhida e a coleta de
dados inicia. Por fim, os registros das
informações são estruturados. Várias
etapas são vivenciadas para que esses
conteúdos sejam reconhecidos, refle-
tidos e escolarizados com base naquilo
que a criança traz, como protagonista
de seu processo de desenvolvimento.
As vivências motoras são motivo
de muita animação para as turmas. As
crianças apreciam correr, pular, saltar,
subir... Além dos momentos destina-
dos para atividades de movimentos e
brincadeiras dirigidas ou espontâneas,
sempre aproveitam o tempinho entre
as atividades para inventar novas for-
mas criativas de se mexerem. Elas
constantemente buscam situações
para descobrir e testar seus limites
corporais. Nas brincadeiras dirigidas,
além de desenvolver as habilidades
motoras, desenvolvemos os senti-
mentos e as percepções de coopera-
ção, lealdade, respeito e coletividade.
As crianças vivenciam não somente
aspectos vinculados ao prazer, mas,
também, formas de ressignificar o
mundo, suas ações e experiências em
relação ao outro, incorporando regras
correspondentes à organização e ao
enfrentamento de situações conflitu-
osas. O brincar também implica estar
com o outro, partilhando objetos e
espaços comuns.
Essas e outras atividades são pro-
postas com o intuito de assegurar que
o espaço da infância também seja lugar
de protagonismo. Ao crescer adotan-
do essa postura diante das situações,
a criança tem mais possibilidades de se
tornar um jovem e um adulto cientes
de seu papel como cidadão, assumindo
responsabilidades no contexto em que
está inserida.
42 Ser melhor
Práticas de solidariedade no MaristinhaAções sociais praticadas pelos alunos ultrapassam os muros do Colégio e envolvem as famílias.Por Núcleo Pastoral do maristinha
O Maristinha tem feito das práticas
solidárias um caminho sólido
para a formação dos alunos. Basea-
dos no XXI Capítulo Geral, sabemos
que ir “para a nova terra” significa
sair de nosso mundo particular e ir ao
encontro daqueles que necessitam.
A vivência de gestos concretos,
realizados pelos estudantes nas ati-
vidades do Núcleo Pastoral, tem sido
muito marcante. “Pode até parecer
um clichê, mas hoje eu vejo, real-
mente, que não é preciso ter muito
para ser feliz”, conta a aluna do 7º ano
D, Ana Júlia Naves. O depoimento foi
inspirado na experiência, vivida por
ela e pelos colegas de turma, no Dia
de Formação, com as crianças do Cen-
tro Social Santo Aníbal, creche que o
Colégio auxilia. Os alunos passaram
uma manhã na creche, participando
da rotina das crianças, por meio de
brincadeiras, e puderam dar e receber
carinho, servir o almoço aos peque-
nos e ajudar na organização e na lim-
peza da creche.
Para os alunos, o que mais os
marcou no Dia de Formação foram as
situações que lhes proporcionaram
reflexão. “Há pessoas que têm tão
pouco, mas que sabem ser felizes”,
aponta Luís Felipe Martins, aluno do
7º ano D. “Eu recebi atenção e carinho
das crianças de uma forma que, infe-
lizmente, não estamos acostumados
a receber em nosso cotidiano”, com-
pleta outra aluna da mesma turma,
Beatriz Andrade Beleza.
Motivados pelas vivências dos
filhos, os pais voltaram à creche jun-
to deles e, de alguma forma, busca-
ram colaborar voluntariamente com
a instituição. Isso nos leva a acreditar
que estamos no caminho certo, pois o
alcance dessas ações já ultrapassa os
muros da escola e envolve as famílias.
E não para por aí! Outras práticas
vêm ocorrendo na escola. As crianças
do 2° ano do Fundamental I também
exercitaram práticas solidárias na Gin-
cana Champagnat 2012.
É o Colégio Maristinha fazendo da
ação solidária mais uma lição que fica
para a vida toda.
43DestaqueMarista desde pequenoAluno marista desde o Infantil, Vinícius mendonça Costa nasceu em Brasília e tem 13 anos. O representante de turma do 8º e faz parte do Grupo de Jovens da Pastoral, o PJm. ele é um apreciador da matemática, mas descobriu que a Biologia é sua matéria preferida. Vinícius tem um irmão mais novo, também estudante marista, o Otávio, de 10 anos. Para ele, o maristinha é mais do que uma escola, é parte de sua família. Aqui, ele conta sobre a importância da Pastoral em sua vida e sobre como é estudar na escola.
Do que você mais gosta no Maristinha?Gosto das amizades, pois tenho certeza
de que as levarei para sempre. Tenho
vários amigos, alguns desde o Infantil.
são amigos de verdade que sempre
estarão comigo.
O que você gosta de fazer com os amigos?A gente sai, bate papo, brinca, joga fute-
bol e combina de um ir um à casa do
outro. É muito bom estar com eles, pra
fazer qualquer coisa.
Quem é seu maior exemplo?Meu pai. Meu pai é meu herói. Ele é jor-
nalista e um exemplo pra mim. É brinca-
lhão, carinhoso e muito engraçado. Ele é
tudo pra mim: pai, amigo e conselheiro.
sabe conversar e dar apoio.
Você já sabe para que curso vai pres-tar vestibular?Ainda é cedo, mas já estou pensando.
Economia é uma das opções. Mas estou
gostando muito de Biologia. Talvez ten-
te algo na área biológica também.
Como é ser membro da Pastoral PJM? Durante a 6ª série, comecei a me inte-
ressar pelas acolhidas e fui buscar mais
sobre o trabalho da Pastoral da escola.
Participei de um acampamento na chá-
cara, e isso me estimulou a entrar de
cabeça no projeto.
Estou aprendendo muita coisa com a
Pastoral. Ajudar o próximo, refletir sobre
a vida, coisas que considero importan-
te. Hoje, quando estou triste, começo a
pensar em coisas boas, nos projetos da
PJM de que já participei e fico feliz.
Alguns alunos não enxergam a impor-
tância de um projeto como esse, que me
faz muito bem, que me deixa contente,
além, é claro, de me divertir.
Qual a importância das ações da Pas-toral para você?Aprender a lidar com as pessoas, liderar
e pedir cooperação é ótimo! Hoje, eu sou
integrante da Comissão local da Pasto-
ral, escolhido por votação. É um papel
importante e que me deixa muito orgu-
lhoso. Mas a Pastoral é um aprendizado
para a vida. O que eu aprendo e os valo-
res que nos passam são essenciais à vida.
O que é ser Marista para você?Estudar no Marista não é apenas apren-
der matérias para passar no vestibular, é
uma lição para a vida. ser Marista, para
mim, é aprender a lidar com as diferen-
ças e traçar um caminho de solidarieda-
de e amor ao próximo.
44 Caleidoscópi�
O evento tem como foco o desenvolvimento do
protagonismo de crianças e jovens.
1º Gincana Aquática reuniu vários adeptos
da natação no Colégio Maristinha.
Camar dos Pais
Jovens da Pastoral Juvenil Marista tiveram a oportunidade de participar
do Bote Fé, evento organizado para receber a cruz peregrina da
Jornada Mundial da Juventude e o ícone de Nossa Senhora.
Quarta edição do Festimar, no colégio Marista de Brasília. Crianças no evento Nós Temos Talento.
Uma apresentação comemorou, com muito ritmo e
dança, os 40 anos da Banda Marista, contando com
a presença de muitos fãs da boa música.
Crianças visitam a casa dos Irmãos.
Grupo participante do Passeio Ciclístico Marista. Alunos envolvidos na semana Pastoral Marista.
Em 2012, aconteceu a XXXIX Olimpíada Champagnat.
Diz aí46 Diz aí
Qual é a sua causa?
Gaia sofia Bigaton Balzani
5° ano I
Eu lutaria por um mun-
do melhor! Num mundo
sem pobreza, preconceito
e violência. lutaria para que
todas as crianças pudes-
sem ter uma boa educa-
ção. Afinal, as crianças são
o futuro de nosso país.
Daniel Carmona Ferreira
4° ano A
Pelo direito das crian-
ças, para que todas tenham
uma moradia. Não concor-
do com crianças morando
nas ruas e tendo que pedir
dinheiro para sobreviver,
ou mesmo quando os pais
obrigam os filhos a traba-
lharem na rua.
Juliana do Rego Monteiro Ferreira
6° ano A
lutaria pelos direitos
das crianças. Primeiramen-
te, pela educação, para que
todas as crianças, indepen-
dentemente da classe social,
tivessem um ensino de qua-
lidade. Que o aprendizado
fosse além das disciplinas e
que elas aprendessem, prin-
cipalmente, sobre valores.
Tiffany Uchôa Jarjour
3° ano H
Eu lutaria para que prote-
gessem o meio ambiente e
que todos colaborassem para
ajudar o futuro das crianças,
para que as crianças carentes
tivessem oportunidade de
estudar em um colégio de
qualidade
Henrique Augusto Gomes Togo
7° ano C
Eu lutaria pelo meu
futuro, em especial pela
minha mãe e pelo meu
pai, pois eu os amo e devo
honrá-los. Por isso, estudo
e devo continuar lutando
para a minha felicidade e
pela felicidade das pessoas
que estiverem comigo.
Gabriela Calliari Alves
7° ano A
Eu lutaria contra o pre-
conceito, pois todos devem
ser tratados do mesmo
jeito. As pessoas tem o
direito de ser respeitadas.
Afinal, se eu julgasse todos
os livros pela capa, eu não
leria nenhum.
Beatriz Teixeira Correia
4° ano F
lutaria pelos animais
que são abandonados.
Muitos deles são sacrifi-
cados; por isso, penso em
criar um abrigo para esses
animais. Nesse abrigo, eles
ganhariam alimento, cari-
nho, família e amor.
Matheus Moreira Fermino
3° ano B
Eu lutaria para que essa
fosse a melhor escola do
mundo, mas eu não con-
seguiria fazer uma escola
melhor sozinho. Para isso,
eu precisaria da ajuda de
todo o Colégio, unindo as
forças, na busca de um clima
de fé, amizade e harmonia.
48 Educa� Ensino fundamental
Educação como presença multiplicadoraComprometimento com o ensino, zelo pela qualidade e competência, aliados ao comprometimento do aluno, garantem ensino permanente Por Angela Naves*
*Ex coordenadora do Núcleo Psicopedagógico do 6° ao 9° ano.
Nesse sentido, garantir qualidade
nas relações interpessoais, em pri-
meira instância, é cuidar para que o
óbvio e o elementar sejam cumpri-
dos: professores pontuais e assíduos
tanto na prática diária como na entre-
ga de seus produtos (planejamento,
aplicação, correção e devolução das
avaliações); competência no plane-
jamento e na aplicação das aulas,
zelando pelo conteúdo e por sua
funcionalidade na vida do estudante;
propostas de problematização (na
medida do possível) no ensino e na
aprendizagem, convergindo o con-
teúdo à contextualização na vida dos
referidos estudantes.
Acredita-se na educação pela pre-
sença multiplicadora dos valores que,
transformados em atitudes, farão a
diferença. Nessa linha, acredita-se
na contrapartida dos alunos, que,
com consciência, cumprem a parte
que lhes compete no contrato peda-
gógico: participando das aulas, rea-
lizando os estudos diários por meio
das tarefas de casa e envolvendo-se
na resolução de situações-problema
propostas nos componentes curricu-
lares e que instigam o pensar.
Posicionar-se como protagonis-
tas de processos nem sempre é pos-
sível, pois isso requer maturidade no
exercício da cidadania participativa,
singularidade a ser alcançada no
tempo certo, por cada um(a). Porém,
essa é uma prática constante do vir
a ser, e a escola deve ser o espaço-
tempo ideal para essa vivência e esse
aprendizado de ambos, discentes e
docentes. Sabe-se que é impossível
educar alguém sem se permitir ser
educado por ele. Essa relação é que
torna a escola um local privilegiado.
Portanto, tanto em Filosofia,
Matemática, História, Educação Física,
Ensino Religioso, Arte, Língua Inglesa,
História, Geografia, Língua Portugue-
sa, Ciências, quanto em momentos
como a Hora Cívica, o Dia de Forma-
ção, a Olimpíada Marista, o PJM, a Cate-
quese, o Jovemar, o Festmar, ou em
qualquer componente curricular ou
espaçotempo de ensino-aprendiza-
gem, há o diferencial do “Jeito de ser
Marista”, que valoriza o conhecimento
como conteúdo viabilizador de ações
em prol do bem comum.
Assim, estamos, a cada dia, cui-
dando para que a missão de nosso
fundador, são Marcelino Champagnat,
seja perpetuada. Queremos construir
uma civilização de amor, uma socie-
dade sustentável. Para isso, faz-se
necessário senso crítico: escolhas,
pensamento sistêmico, saídas inova-
doras para as questões emergentes,
que são várias, desde o aquecimento
global, a saúde, a segurança pública,
a qualidade na educação até a valori-
zação do ser humano... É por isso que
se propõe a Educação Marista.
BibliografiaGONÇAlVEs, A. A. de O. Projeto Marista para o ofício de aluno. São Paulo: FTD, 2010. (Currículo em Movimento, v. 7).SAVIANI, D. escola e democracia. 36. ed. Campinas: Autores Associados, 2003.UNIÃO MARISTA DO BRASIL. Projeto educativo do Brasil Marista: nosso jeito de conceber a educação básica. Brasília: UMBRASIL, 2010.
“A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode contribuir para sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em primei-ro lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prática transformadora se insere um trabalho de educação das cons-ciências, de organização dos meios materiais e planos concretos de ação; tudo isso como passagem indispensável para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse sentido, uma teoria é prática na medida em que se materializa, através de uma série de mediações, o que antes só existia idealmente, como conhecimento da realidade ou antecipação ideal de sua transformação.”
Adentrar as práticas no cotidiano
das salas de aula é, antes de tudo,
favorecer a formação continuada dos
professores, integrando os setores
Pastoral e Pedagógico, com o objeti-
vo de exercitar a ética dos “fazeres”
necessários e possíveis. No Colégio
Marista de Brasília, esse tem sido o
compromisso de todos. segundo
Vázquez apud saviani (2003, p. 73):
50 Educa�
Na atual fase de globalização, a sus-
tentabilidade ambiental ganha
cada vez mais visibilidade. O Brasil, nos
últimos anos, com sua vasta e rica bio-
diversidade, tem sido um dos principais
focos da atenção mundial. E um dos
pontos-chave de grande discussão é a
utilização sustentável da água e seu tra-
tamento para o benefício da sociedade.
Com a intencionalidade de abordar
o tema de maneira acadêmica, o Colé-
gio proporcionou, dentro do projeto
Maristão faz Ciência, uma parceria de
intercâmbio além-fronteiras para de
estudantes do Ensino Médio desenvol-
verem, de forma acadêmica, estudos
técnicos sobre a temática da água e seu
uso sustentável. O objetivo não foi ape-
nas o aprendizado do conteúdo, mas
a possibilidade de produção científica
integrada ao seu currículo ainda no
Ensino Médio, visando ao maior prepa-
ro ao ensino superior.
No primeiro semestre de 2012, o
programa de internacionalização do
ensino enviou alunos do grupo de
pesquisa e um dos orientadores para
a Nova Zelândia, país com ótimos indi-
cadores sociais e ambientais. Foram
escolhidas duas capitais de países
distintos para análise do uso susten-
tável dos recursos hídricos: Brasília e
Wellington (capital da Nova Zelândia).
Os estudantes de Brasília, orien-
tados pela coordenação do projeto
Maristão faz Ciência, realizaram em
Wellington estudos sobre a política de
recursos hídricos, as técnicas usadas,
possibilitando-lhes ferramentas que
os tornem pesquisadores. O progra-
ma de internacionalização educacio-
nal associado ao programa de produ-
ção científica criou um ambiente mais
rico de intercâmbio, ampliando o leque
de opções culturais para os nossos
estudantes.
Para complementar os objetivos do
projeto, os estudantes desenvolveram
pesquisas adicionais na cidade de Bra-
sília, visando à comparação com os
dados obtidos na Nova Zelândia. Obte-
ve-se, assim, uma visão geral do uso
dos recursos hídricos, possibilitando
aos alunos a consciência crítica de um
problema planetário numa perspectiva
de fundamentação teórico-científica.
Os estudos realizados nas capitais
servirão de base para a produção de
um artigo científico com vistas à inves-
tigação do estágio atual do uso dos
recursos hídricos. Baseado na com-
paração de duas capitais distintas, o
estudo tem o propósito de apresentar
medidas para o uso mais eficaz desse
recurso. A execução da pesquisa e a
produção do artigo são de responsa-
bilidade dos alunos, com orientação
metodológica dos professores de Geo-
grafia e Biologia.
MARIsTãO E NEWLANDs COLLEGE: PROJETO RECURsOs HÍDRICOsestudo além das fronteiras e salas de aula dá ao aluno maior preparo para a vida acadêmicaPor prof. Nilson Caetano e prof. Lúcio Bravin*
* Nilson (Geografia) e Lúcio (Biologia) são orientadores do projeto Recursos Hídricos.
52 Gente noss�
DAs sALAs DE AULA PARA As QUADRAsPrática de esporte que começou no Colégio marista virou profissão para ex-aluno
O basquete faz parte da história do
piauiense Ismar do Vale Neto desde
criança. Com 1,90 m de altura, o joga-
dor profissional de basquete começou
a praticar o esporte no Colégio Marista,
aos 8 anos de idade.
A primeira experiência internacional
do atleta foi em um campeonato estu-
dantil realizado em santiago (Chile).
De 2004 a 2005, jogou pelo Universo
(antigo nome do UniCeub-BRB), mas foi
em 2006 que Ismar se mudou para os
Estados Unidos e jogou no campeonato
universitário, até se formar em Adminis-
tração. De volta ao Brasil, o jogador, hoje
com 25 anos, coleciona títulos – o últi-
mo deles foi o de campeão brasileiro de
basquete, pelo UniCeub-BRB (Brasília).
Entre um treino e outro, o ex-aluno
Marista concedeu esta entrevista para a
Revista em Família, contando um pouco
de sua história.
Quando estudou no Marista e quais lições tirou do convívio escolar?Entrei em 1992 e me formei em 2004.
Tirei várias lições do convívio escolar
no Marista, mas as mais importantes
são respeito ao outro, disciplina e tra-
balhar duro.
Você acredita que se tornou joga-dor profissional por incentivo do Marista?Eu comecei a jogar basquete no Maris-
ta, com o professor Marcão. Além dos
meus familiares e dos amigos mais
próximos, quem mais me incentivou
e mostrou que eu tinha chance de me
tornar um atleta profissional foi o pro-
fessor Marcão. Devo muito a ele o fato
de ter me tornado o atleta que sou.
Qual a importância do esporte para você? E qual a importância de se praticar uma atividade física?O esporte é muito importante para
mim. Ensinou-me muita coisa que
tenho certeza de que vou levar para a
vida toda, além de me manter saudá-
vel, o que é uma das principais razões
para se praticar uma atividade física.
Tem lembrança(s) da época de escola? Do que sente mais falta?Tenho muitas lembranças da época de
escola; foram muitos e bons anos que
passei no Marista. sinto falta das ami-
zades, das salas de aula, dos recreios
e, claro, dos meus treinos de basquete
com o Marcão. E também dos outros
esportes que pratiquei no Marista.
O que é ser um ex-Marista para você?ser ex-aluno Marista é uma coisa muito
boa, pois tive um ótimo ensino, com
ótimos professores, num ambiente
muito bom, o que me proporcionou
aprender e aproveitar bastante, além
de fazer amizades que até hoje estão
presentes em minha vida
Tem algum recado para a garo-tada que está estudando no Marista?Aproveitem esses anos, porque sen-
tirão falta deles depois. Eu pensava
que não sentiria falta e não via a hora
de sair da escola, porém, agora, vejo
como sinto falta de meus dias de
Marista, da diversão que era.
O esporte atrapalha no rendi-mento acadêmico?Não, basta você saber administrar
seu tempo e saber a hora de treinar
e a hora de estudar. ser atleta não é
desculpa para não estudar, e sim um
incentivo para mostrar a todos que
você consegue ser, ao mesmo tempo,
um bom atleta e um bom aluno.
Acesse: www.grupolumen.com.br
54
Nos últimos anos temos visto uma
variedade de estudos e pesquisas
sobre o fenômeno juvenil. Muitas des-
sas pesquisas objetivam apenas avaliar
padrões de comportamento e consumo.
Outras são extraordinariamente inusita-
das e esclarecedoras, como os estudos
geracionais comparativos, os estudos
sobre protagonismo juvenil, as experi-
ências de voluntariado juvenil, os mapas
da violência, as escutas abertas sobre as
expectativas e sonhos dos adolescentes
e jovens da geração atual. O Grupo Maris-
ta − cujo carisma é o trabalho e a presença
evangelizadora entre crianças e jovens −
não poderia perder esse bonde da histó-
ria. sendo assim, em 2010 decidimos efe-
tuar uma ampla pesquisa denominada
Aspectos Culturais e Crenças da Juventude
Marista, abrangendo jovens com mais
de 13 anos, representativos de todos os
colégios e centros sociais Maristas do Bra-
sil. No total, foram 11.509 respondentes
que opinaram sobre afetividade, rela-
cionamentos, família, educação, visão
de sociedade, consumo, mídias, reli-
gião, valores pessoais e outros assuntos
importantes. O resultado foi compilado
no vídeo Dossiê da Juventude Marista, já
disponibilizado no YouTube (em cinco
blocos, iniciados a partir de (www.you-
tube.com/watch?v=v9fphYI5H9M). O
material vem servindo como um recur-
so importante para revermos concep-
ções enraizadas e nos reposicionarmos
em alguns processos pedagógicos,
sociais e de evangelização – sem dizer
dos inúmeros insights e provocações
oriundas dessa experiência. Pois bem,
fechado esse parêntesis, merece um
destaque elogioso a pesquisa realizada
pela agência BOX 1824: O Sonho Brasilei-
ro Manifesto (osonhobrasileiro.com.br).
Quem ainda não viu nem participou,
está perdendo a chance de conhecer
um novo Brasil e uma nova geração de
jovens protagonistas.
Num mundo em constantes mudan-
ças, nossos jovens passam a questionar
e ressignificar muitos modelos até então
estabelecidos. Os jovens atuais avaliam
que os sonhos de seus pais foram gran-
des e ideológicos demais, que por isso
acabaram nunca acontecendo e gera-
ram frustração. sendo assim, preferem
sonhar com os pés no chão, operando
microrrevoluções a partir daquilo que é
possível ser realizado. Noventa e dois por
cento dos jovens brasileiros concordam
que a soma das pequenas ações do dia a
dia pode melhorar a sociedade.
Quem está agindo pelo sonho cole-
tivo? são jovens anônimos, porém
influentes, que a pesquisa da Box con-
vencionou chamar de “jovens-ponte”.
É possível reconhecê-los atuando em
vários espaços com características bem
interessantes: é o jovem com bom rela-
cionamento interpessoal, que, ao invés
de fechar-se num grupo de identidade
homogênea, prefere transitar por muitos
grupos. O jovem-ponte funciona como
um catalisador de ideias, gerando um
novo tipo de influência, que se dá pela
transversalidade e pelo contágio das
pessoas por causas altruístas. A partici-
pação cidadã ganha novos significados
a partir do jovem-ponte, pois na medida
em que esse conecta e promove a troca
com otimismo pragmático, esses jovens
promovem a construção do novo Brasil
e, por que não, de um novo mundo. Esse
jovem-ponte é simultaneamente local e
global, conectado a novas maneiras de
pensar, agir e se localizar no mundo.
Mais do que um meio de entreteni-
mento, os jovens usam a internet para
mobilizar as pessoas e fazer política. As
manifestações no mundo árabe iniciadas
na Tunísia em 2010, também conheci-
das como “Primavera Árabe”, são prova
irrefutável disso. Os protestos que se
espalharam pelo Oriente Médio têm
compartilhado técnicas de resistência
civil, envolvendo greves, manifestações,
passeatas e comícios, mas, sobretudo, a
articulação com o uso das mídias sociais,
como Facebook, Twitter e YouTube. A
internet tem sido utilizada para organi-
zar, comunicar e sensibilizar as pessoas.
A maioria dos manifestantes é jovem
– o que fez com que os protestos no
Egito recebessem também o nome de
“Revolução da Juventude”. Com telefo-
nes celulares e computadores, os jovens
protagonistas da Primavera Árabe muda-
ram a maneira como a história falará das
mobilizações populares e da mobilização
juvenil. É fato que as macrorrevoluções
nascem da soma dessas microrrevolu-
ções cotidianas.
Num mundo tão plural como o nos-
so, somos desafiados a derrubar “muros
de preconceito” para construir “pontes de
diálogo”. E se, em nosso trabalho, em nos-
sa Igreja, no dia a dia, agíssemos como os
jovens-ponte? Essas são algumas, dentre
tantas outras coisas boas, que podemos
aprender com as juventudes que nos
cercam em toda a sua diversidade.
Toda geração de jovens encontra seu modo de
mudar o mundoPor Ir. Adriano Brollo
Essência
Ao vivermos uma mudança de época, com influ-
ências das mídias e da interatividade, resultados
do avanço científico e tecnológico, encontramo-nos
num mundo caracterizado pela multiculturalidade e
por diferentes formas de compartilhar este mundo.
Nesse universo de possibilidades, as Juventudes,
organizadas por grupos, redes ou tribos, encontram-
-se marcadas pelo dinamismo, pelo acesso variado às
informações, pela comunicação e pela exposição de
si com inúmeras possibilidades de (re)inventar-se.
Consequentemente, as mudanças nas relações
interpessoais compuseram uma realidade que vai
além das tradicionais fronteiras de espaço/tempo.
As manifestações públicas, paralisações, greves
dão espaço e lugar a manifestações livres nas redes
sociais, com posicionamentos que, em pouco tem-
po, atraem adeptos, consolidam pontos de vista e
interesses comuns.
Para tanto, os diálogos, as imagens, os recados,
os depoimentos, as interações entre os sujeitos,
as comunidades e as metrópoles são aspectos que
manifestam múltiplos posicionamentos, seguidos,
na maioria das vezes, pela adesão por reconheci-
mento, identificação com as mais diferentes causas
nas quais as Juventudes se sintam engajadas. Na
interação com os outros, constroem-se saberes que
dão sentido às múltiplas expressões do sentimento
coletivo.
Tendemos para um mundo em rede. Por mais
que pertençamos a grupos diferentes na sociedade,
compartilhamos algo em comum com ela, sendo
essa a forma, o modo, a maneira como interagimos
com o outro.
Juventudes: “Curtir e Compartilhar”Por Ir. Manuir José Mentges
Jovens reinventados, engajados com causas que nem
faziam sentido algumas décadas atrás. A juventude atu-
al ressignifica a própria realidade e os sonhos de gerações
passadas. Para se aprender com as gerações Y e Z, é preci-
so parar e refletir sobre o que eles pensam e como têm se
expressado. Os Irmãos Manuir Mentges, diretor do Instituto
Marista Graças, e Adriano Brollo, diretor do setor de Pasto-
ral do Grupo Marista, compartilharam aqui suas reflexões
sobre a temática.
Uma nova geração
Ir. Manuir Mentges
Ir. Adriano Brollo
56 Como fazer
E stimular as crianças para que
sejam voluntárias, mostrando a
importância disso para elas e para
quem recebe a ação, não é uma mis-
são fácil. É importante que, entre os
afazeres do dia a dia, os pais incen-
tivem os pequenos, de algum modo,
a praticarem alguma ação social,
desenvolvendo nos filhos essa capa-
cidade, para que eles, futuramente,
tornem-se cidadãos ativos.
Mas nem tudo é um mar de rosas,
e as crianças preferem cuidar dos
seus games e redes sociais, a desen-
volver alguma atividade para bene-
fício de um terceiro. E que desafio:
como ensinar uma criança quanto à
importância da sua participação em
atividades voluntárias e fazê-la enten-
der que toda a carga de conhecimen-
to e estudos que ela adquire na escola
é aplicável, muitas vezes, às comuni-
dades, e que esse envolvimento con-
tribui para o seu desenvolvimento e
formação humana?
A missão é árdua para os pais:
mostrar para os pequeninos que a
vivência de gestos concretos e a prá-
tica da solidariedade é o termômetro
para a boa vivência cidadã. É o traba-
lho voluntário que vai possibilitar esse
contato com a realidade, e ele tem
muito a ver com os valores. A psicope-
dagoga e professora de Pedagogia da
PUCPR Evelise Portilho aponta que é
em casa que tudo começa: “exemplos
que a família pode e deve dar, viven-
ciando no seu dia a dia o voluntariado,
por que, como valor, não é do dia para
noite que a criança vai perceber essa
prática em casa. Com essa prática, ao
longo do tempo ela vai efetivamente
valorizar isso”.
quAL A IMPorTânCIA Do InCenTIvo FAMILIAr?
A própria ação em si é a razão de
ser do propósito. logo isso não pode
ser algo mecânico, e nem isso pode
ser feito por moda, muito menos a
criança deve fazê-lo por obrigação ou
para ganhar status de boa gente. “Essa
é uma ação para as pessoas que que-
rem viver numa sociedade mais justa,
mais ética, mais sustentável, é preciso
trabalhar com isso”, aponta o antropó-
logo, educador popular, idealizador e
presidente do Centro Popular de Cul-
tura e Desenvolvimento, Tião Rocha,
ao expor que a criança deve estar
ciente de que não receberá nenhum
prêmio pelo ato, mas sim de que pro-
porcionará o benefício a alguém.
Portanto, os pais têm que ser
também parte importante na vida
do próprio filho, que se integra nes-
se processo de missão, pois o que
se vive na escola não é toda a reali-
dade. “Os pais, juntamente com as
crianças, devem ter a humildade de
reconhecer que a própria escola não é
todo mundo, mas todo mundo pode
aproveitar aquilo que se aprende na
escola”, como explica o responsável
Pequenos gestos, grandes mudançasComo os pais podem incentivar os pequenos a desenvolver o voluntariado, e como essa ação pode contribuir para o desenvolvimento da criança
pelo secretariado de Colaboração
Missionária Internacional (CMI), Ir.
Chris Wills.
Além dos benefícios éticos e
morais que a criança desenvolve, há
um benefício no seu desenvolvimen-
to pessoal, uma formação integral. A
criança passa a desenvolver a aquisi-
ção de um conhecimento quando ela
começa a problematizar a realidade,
relacionando os conteúdos que a
escola passa, ou seja, ela passa a ser
alguém que já interfere, de algum
modo, mesmo que em pequenos
gestos, na sociedade. Além da rela-
ção emocional, pois a proximidade de
realidades que não necessariamente
comunguem com as mesmas ques-
tões que ela vive provoca a reflexão.
“É muito importante ela ir se dando
conta, desde muito cedo, de que ela
vive em uma realidade diferente de
muitas outras”, explica a psicope-
dagoga Evelise, ao indicar que essa
aprendizagem envolve a questão
sociocultural.
Desse modo, existe um favoreci-
mento para que os pequenos tenham
esse desenvolvimento e percebam a
sociedade do jeito que ela é, e não do
modo que um livro aponta ou como
as experiências que a família lhe pro-
porcionam. “são práticas que ajudam
sem sombra de dúvidas, mas sempre
tendo um ambiente que potencialize
isso, que evidencie e que faça inter-
venções em relação a isso”, completa
Evelise.
A criAnçA pAssA
A desenvolver A
Aquisição de um
conhecimento
quAndo elA começA
A problemAtizAr A
reAlidAde.
58
"A criança não tem
condições de, por ela
mesma, tomar posição
e sair a fazer coisas,
mas ela tem que ter o
adulto que a leve. Desde
pequenininha ela vendo um
pai e uma mãe atendendo
bem essas pessoas que
estão ao seu redor,
isso já faz parte das
primeiras noções da
prática social."
MIssão: CoMo InCenTIvAr?É claro que o incentivo é impor-
tante, que o desenvolvimento de
ações voluntárias vai ajudar a criança
a construir um senso crítico, e ela será
um cidadão mais comprometido. Mas
como fazer isso?
segundo Tião, “ela tem, como
criança, no seu ritmo, na sua idade,
um monte de possibilidades de ações
umas com as outras, de brincar, de
construir, sempre em grupo”. Para os
educadores, uma atividade possível
que as crianças podem realizar é um
bazar no próprio condomínio, ven-
dendo objetos para ajudar outras pes-
soas. Outros simples gestos são funda-
mentais. As crianças pequenas podem
começar a aprender e saber fazer coi-
sas do voluntariado, por exemplo, em
contato com os estudantes maiores,
com os adultos que já tiveram essa
experiência. “Ao haver essa transmis-
são, nasce na criança a vontade justa-
mente de fazer qualquer coisa”, com-
pleta o Ir. Chris Wills.
A imagem dos pais é extrema-
mente importante nessa fase. Como
a criança não tem autonomia para
ir e vir, ela vai ter que estar junto de
alguém, e é alguém que já tenha isso
como uma prática e que acredita nisso.
“A criança não tem condições de, por
ela mesma, tomar posição e sair a fazer
coisas, mas ela tem que ter o adulto
que a leve. Desde pequenininha ela
vendo um pai e uma mãe atendendo
bem essas pessoas que estão ao seu
redor, isso já faz parte das primeiras
noções da prática social”, pontua Eve-
lise, ao revelar que a melhor receita
está dentro de casa. Por fim, o melhor
exemplo ao incentivo é mais simples
do que parecem: “o que os pais podem
dar para os filhos é serem uma referên-
cia”, conta Tião. Afinal, os filhos olham
para os pais como um espelho e eles
refletem atitudes dos pais. se os pais
têm uma atitude de solidariedade, de
desenvolver ações voluntárias, se tive-
rem compromisso social, os filhos vão
observar, acompanhar e vão aprender.
Vão assimilar primeiro pela observa-
ção, pela imitação, pelo reconheci-
mento e pelo exemplo. Isso incorpora
como valor; o que é valor para o pai vai
passar a ser valor para o filho.
Como fazer
Compartilhar60
A correria e as preocupações do dia a dia por vezes impedem muitas pessoas de serem voluntárias, e isso não significa apenas plantar árvores, coletar lixo ou contar histórias. Atualmente, existem várias formas de desenvolvimento das mais diferentes atividades para ajudar o próximo.
VoLuntárIo onLInE
Essa opção permite que aqueles que não têm tempo
de sair de casa para praticar uma boa ação coloquem
em prática seus conhecimentos, em qualquer hora do
dia ou da noite, em qualquer local. Isso facilita a partici-
pação, como voluntário, em diferentes organizações,
de qualquer Estado.
Onde: voluntariosonline.org.br
LIVros E JogosVocê pode ajudar as organizações pesquisando e pro-
pondo livros para leitura, auxiliando na implementação
de oficinas, jogos e dinâmicas, que podem contribuir
para a formação de crianças e/ou adolescentes. são
vários temas de estímulo, como educação ambiental,
cidadania e respeito.
DoE uMA árVorE
A Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Vidágua
possuem o clikarvore, site por meio do qual qual-
quer pessoa pode doar árvores para recuperar a
Mata Atlântica. O programa só funciona se as pessoas
plantarem as árvores com seus clicks, e o internauta
pode fazer uma nova doação a cada 24 horas.
Onde: clickarvore.com.br
Logo Ao LADo
Que tal ir até o orfanato mais próximo, ou ao asilo, ou
a qualquer outro lugar que necessite de ajuda, e saber
de que forma você pode ajudá-los? se você possui
habilidades de trabalho online, a construção de sites
de divulgação e campanhas é uma boa pedida. Mas, se
você gosta de ler, quem sabe pode ajudar a construir
uma minibiblioteca. Ou, então, se faz algum trabalho
artesanal, que tal dedicar parte de seu tempo, em casa
mesmo, para a confecção de produtos que possam
ser vendidos, revertendo o lucro em benefício da
instituição? Fica a dica.
AJuDE o MunDo
Já pensou em ajudar o mundo com um clique? Você
pode apoiar a causa do Greenpeace como ciberativista.
Essa participação online é uma forma de mobilizar
empresas e governantes a protegerem o planeta.
Onde: greenpeace.org
ser voluntário é fácilser voluntário é fácilCompartilhar
Prateleira
lIVRO
o guArAnI
José de Alencar, Editora ática, 2011
Os clássicos da literatura brasileira agora podem ser encontrados no formato de
histórias em quadrinhos. A linguagem é adequada aos estudantes, e as ilustrações
são bem divertidas. Pela arte dos quadrinhos, os livros dessa série levam o leitor
a se envolver com os grandes clássicos brasileiros.
Quem indica: Roberta Dannemann, bibliotecária do Colégio Marista João
Paulo II, Distrito Federal
MÚsICA
CAPItAL InICIAL Ao VIVo MuLtIshow
Capital Inicial, sonY BMg, 2008
Mesmo com anos de estrada, a banda Capital Inicial conquista novos fãs
a todo momento. Isso acontece por conta das músicas empolgantes e do
carisma de seus integrantes, principalmente do vocalista Dinho Ouro Pre-
to. Esse álbum se destaca por reunir as melhores músicas da carreira do
grupo, incluindo "Não olhe pra trás" e "Natasha". Vale a pena conferir!
Quem indica: sandra Inês limberger, auxiliar de biblioteca do Colégio
Marista São Luís, de Santa Cruz do Sul
VÍDEO
CYBErBuLLY
Charles Binamé, 2011
Recomendo o filme Cyberbully para ser assistido com toda a família, pois ele mostra
que o cyberbullying está presente em nosso cotidiano mais do que podemos imagi-
nar. Esse longa-metragem, se trabalhado nas séries finais do Ensino Fundamental,
pode alertar sobre como as ferramentas da internet e de outras tecnologias de
comunicação e informação podem ser utilizadas com o propósito de maltratar,
humilhar, ofender, constranger, intimidar e até excluir pessoas inocentes.
Quem indica: Idonês Rossin Lucatelli, professora de Língua Portuguesa e
literatura do Colégio Marista Aparecida, de Bento Gonçalves
62 SolidariedadeSolidariedade
Crianças brincam o tempo todo,
com o que estiver a seu alcance. No
início da vida, o brinquedo é o próprio
corpo; depois, elas se divertem com
o esconde-esconde de tecidos, com
o abrir e fechar de gavetas, jogando
tudo no chão, com vassouras que
viram cavalos ou com batuques em
panelas, que ganham das mais baru-
lhentas baterias de bandas de rock.
No início, achamos tudo lindo e até
brincamos junto, mas, com as ocupa-
ções do dia a dia, o tempo de brincar
junto vai ficando escasso, e a sofistica-
ção do brinquedo eletrônico compra-
do vai ocupando o lugar dos objetos
criativos que estão à disposição da
criança, em qualquer lugar. O brinque-
do torna-se o objeto de consumo, até
que o próximo lançamento seja ainda
mais atrativo, com uma propaganda
mais convincente.
Nesse jogo do desejo instantâneo,
onde fica o lugar do brincar junto, do
construir uma cabana de panos que
daqui a pouco vira barco, para, depois,
virar uma ilha deserta? Onde fica o
espaço para ensinar as gerações mais
novas a brincar com brincadeiras de
nossa infância? E o tempo de conviver
com a criança que cresce tão rápido?
Em uma sociedade consumista
como a nossa, é preciso resgatar a
importância do brincar espontâneo
na infância, com materiais não estru-
turados pelo adulto.
O brincar é uma atividade humana
imprescindível. Ao brincar, a criança
faz uma elaboração cognitiva e psico-
lógica profunda, além de representar
as situações sociais em que vive, dan-
do a elas novo significado. Ao brincar,
a criança também produz a cultura
infantil, construindo significados e
interpretando sua existência no mun-
do. O brincar facilita uma criatividade
que pode se desenvolver sem obstá-
culos, por causa do estado de espírito
com que se brinca. Deve ser por isso
que brincar é um direito da criança,
garantido na Convenção da ONU sobre
os Direitos da Criança (1989).
Desenvolvido pela Rede Marista de
solidariedade, com parceiros como a
Rede Nacional Primeira Infância, o
Direito ao Brincar é um programa que
busca disseminar e fortalecer o tema
por meio da mobilização da sociedade
e do poder público.
Você brinca com seu filho?Por Viviane Aparecida da silva
Conheça as 10 iniciativas pelo Direito ao Brincar.
Acesse solmarista.org.br/brincar
64 Solidariedade
Resultado do Programa de Forma-
ção Contínua e das ações desen-
volvidas na Rede Marista de solida-
riedade, o livro educação Infantil:
reflexões e práticas para a produ-
ção de sentidos apresenta experi-
ências e estudos de educadores rela-
cionados às suas iniciativas diárias na
Educação Infantil Marista, tendo como
ponto de referência aspectos funda-
mentais da atualidade.
Publicada pela Editora Universitária
Champagnat e lançada no dia 11 de
agosto, na 22ª Bienal Internacional do
livro de são Paulo, a obra reúne mate-
rial elaborado por 32 educadores e visa
dialogar com outros atores da socieda-
de sobre o papel da educação na defe-
sa e na promoção dos direitos da crian-
ça. “É o resultado do que pensamos
como proposta de Educação Infantil,
não só para a Rede Marista, mas tam-
bém para a escola pública. Defende-
mos que toda criança tem o direito
de estudar em uma boa instituição de
ensino, com professores que primam
pela excelência e com uma proposta
pedagógica que atenda às necessida-
des de hoje e de amanhã”, enfatiza
Viviane Aparecida da silva, uma das
organizadoras do título e assessora da
Rede Marista de solidariedade.
Composta de relatos de práticas
desenvolvidas nas Unidades sociais
e nos Colégios Maristas, a publicação
provoca a reflexão do leitor ao abordar
temas como formação de professores,
participação infantil, inclusão, transi-
ção para o Ensino Fundamental, entre
outros. Além de contar com ilustrações
e frases das crianças, há também o pre-
fácio escrito por Vital Didonet, profes-
sor e especialista em Educação Infan-
til. segundo ele, “Crianças são livres.
Dançam a liberdade de seus corpos e
a leveza de suas mentes, em busca de
sentidos para o mundo que as cerca.
Crianças têm ritmos – não um, mas tão
vários quanto é o número delas. Cada
uma é única, não repetível, original. Por
isso, crianças são diversas” (p. 11).
A pedagoga e educadora social
infantil do Centro social Marista Ita-
quera, Cristiane de Novais, foi uma
das colaboradoras do livro. Ela conta a
trajetória de Gabriel, uma criança com
encefalopatia crônica não progressiva
(ECNP) que ensinou a todos sobre soli-
dariedade, espera e compreensão da
diversidade. “A obra é importante, pois
ajuda a capturar um universo único e
nos traz o desafio de nos aprimorar”,
afirma Cristiane.
Reflexões e práticas para a produção de sentidosObra traz a imagem de criança ativa, competente, capaz de participar ativamente na construção de sua vida e na produção de cultura
Por Cíntia Gomes
Interessados na obra podem adquiri-la pelo e-mail [email protected]
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Diversão em famíliaÉ hora de soltar a criatividadePor Paulo Zaniol
O que era bom, vai ficar ain-da melhor. se passar o fim
de semana em família é motivo de diversão, agora a festa está completa. O professor Paulo d’Assumpção Zaniol, do curso de Design da PUCPR, preparou um passo a passo de três instrumen-tos para serem confeccionados por toda a família. A criatividade é a peça-chave para a produção. Inclusive, o professor deixa claro que o material e a quantidade usada para preencher os potes são fatores que diferenciam o som de cada um deles. A diver-são será em dose dupla – a pre-paração e a brincadeira.
Diversão
De que precisa:
• 1 garrafa pet
• 5 tampinhas plásticas
• Fita crepe para acabamento
• Fitas adesivas coloridas
• Tesoura
Como faz:
• Corte o fundo e a parte superior da garrafa pet
• Coloque as tampas plásticas
• Encaixe a parte debaixo dentro da parte de cima
• Coloque fita colorida na junção dos potes
Chocalho
De que precisa:
• Cano conduíte de 26 cm para ins-
talação elétrica ou mangueira
• Lixa para usar no corte onde vai
colocar a boca
• Tesoura
• 1 bexiga
• Fita adesiva colorida
• Grão (arroz, sagu, feijão)
Como faz:
• Tirar as rebarbas das pontas cortadas
e lixar bem a borda para não machucar a
boca
sopro D´água
De que precisa:
• 6 copinhos de iogurte
• 1 copo de grão (sagu, arroz, feijão)
• Tesoura
• Alicate
• Arame
• Fita adesiva
• Fita crepe
Como faz:
• Cortar o fundo de 4 copos e um arame
de 60 cm
• Torcer o arame enrolando até formar uma
bola de arame com vãos, colocar 6 bolinhas
uma para cada pote
• Colocar os potes fechados nas pontas, para
evitar que os grãos caiam para fora. Colocar
fita crepe na borda
• Colocar as bolinhas de arame em cada
pote, ocupando o espaço vazio entre eles;
eles não podem ficar soltos
• Montar 3 pares
Pau de Chuva
68 Inspiração
Ninguém melhor para ensinar algo
senão aquele bom e velho amigo
da escola. Ele conhece e entende as
dúvidas em particular e pode usar
de exemplos próprios para ajudar o
colega com dificuldade. Essa facilida-
de em entender as matérias quando
explicadas por quem está no mesmo
nível hierárquico se deve à comunica-
ção horizontal, na qual é empregada
uma mesma linguagem e existe troca
mútua de conhecimento.
Ainda quando pequeno, leonir
João lavratti Marcon, 14 anos, alu-
no do 9º ano do Colégio Marista Frei
Rogério, de santa Catarina, percebeu
que era importante ajudar aos outros.
Diante do incentivo dos pais, e como
tinha facilidade em aprender, leonir
passou a ajudar os colegas, ensinando
a eles os assuntos em que apresen-
tavam dificuldades de aprendizado.
Para o sempre solícito aluno, a
caridade e a amizade que desenvolve
são virtudes básicas do bom conví-
vio. “Percebi que queria ser diferente
dos outros; algumas pessoas apenas
falam que é preciso ser solidário e não
fazem nada, mas, para mim, é preciso
ação”, afirma. Para a assistente psico-
pedagógica do Colégio, Ivete Rosso,
leonir “tem um grau de solidariedade
que é fabuloso”, pois, quando alguém
solicita sua ajuda, ele dificilmente
nega.
“ser solidário não é necessaria-
mente dar dinheiro, mas, sim, aju-
dar como se pode”, conta o aluno, ao
afirmar que ajudar outros estudantes
o faz se sentir melhor, pois “o conhe-
cimento foi feito para todo mundo”,
completa.
sua busca é pelo aprendizado
efetivo. Para o jovem solidário, “se a
pessoa não absorver o conhecimen-
to, é importante que depois absorva,
pois o que se aprende na escola se
leva a vida toda”. O aluno dedicado,
que realiza monitoria em Matemáti-
ca e Inglês, “tem paixão por ajudar os
colegas”, afirma Ivete, e “se relaciona
bem com os colegas”, completa ela.
Para ele, o prazer em ajudar, e ver que
aqueles que ajuda realmente apren-
deram, é uma realização, além de
um aprendizado mútuo. “Para mim,
é um bônus duplo: ajudo os outros
e aprendo junto, acabo estudando
e aprendendo ainda mais”, explica o
estudante sempre pronto a ajudar.
é possível ser solidário no colégio?Aluno marista mostra que, para ajudar quem precisa, basta fazer uso de suas próprias habilidades
"PERCEBI QUE QUERIA sER DIfERENTE DOs OUTROs; ALGUMAs PEssOAs APENAs fALAM QUE é PRECIsO sER sOLIDáRIO E NãO fAZEM NADA, MAs, PARA MIM, é PRECIsO AçãO."Leonir João Lavratti Marcon