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- 1 - Foto 1 LEVANTAMENTO DAS EMBARCAÇÕES ABANDONADAS NA BAÍA DE GUANABARA Alberto Fioravante Frega (Eng° Naval) Gerson Luiz de Barros Muniz (Eng° Naval) Introdução O Plano de Gestão Costeira para a Baía de Guanabara (PGCBG), foi executado no âmbito do Convênio nº 02000.005004/2000- 18, firmado entre o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Terra de Preservação Ambiental – ITPA, com a supervisão da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMADS e a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente – FEEMA. O Projeto de Gerenciamento Costeiro no Estado do Rio de Janeiro é integrante do processo de execução do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro - PNGC, instituído através da Lei Nº 7.661, de 16/05/88 - compreendendo os 17 estados litorâneos da União. Consiste basicamente de um levantamento das condições físicas, sócio-culturais e econômicas do espaço costeiro, correspondente a uma faixa com aproximadamente 40 Km de largura, limite que abrange a área marinha e a continental, com vistas à sistematização e ao armazenamento das informações em Banco de Dados, além de subsidiar a definição do zoneamento e estabelecer normas e diretrizes para uso e ocupação numa concepção ambientalmente sustentável. O Plano de Gestão Costeira para a Baía de Guanabara é parte deste processo, tendo a faixa costeira do entorno imediato e o espelho d’água da baía como área-objeto de projeto. O Levantamento das Embarcações Abandonadas na Baía de Guanabara surge como parte do Plano de Gestão Costeira, é um trabalho inédito, onde apresenta uma avaliação destas embarcações, analisando suas condições e seus respectivos riscos de possíveis impactos ambientais decorrentes destas condições, sob o prisma das normas marítimas e da legislação ambiental vigente. 1 - Objetivo muito que as embarcações são abandonadas na Baía de Guanabara, seja ao largo ou no seu entorno, representando risco à navegação e potencializando as ameaças ao seu meio ambiente. A recente criação do Conselho Gestor da Baía de Guanabara, pelo Decreto Estadual nº 26.174 de 14 de abril de 2000, vem contribuir no processo de recuperação do ecossistema desta, quando propõe, dentre outros, o ordenamento para a Baía, quanto ao destino final das embarcações fora de uso e abandonadas em seu interior”. Portanto, o levantamento das embarcações abandonadas, em operação ou fora de uso, a sistematização de seus dados e a sua integração em um banco de dados, subsidiará o planejamento e a gestão costeira na região da Baía de Guanabara. Para tal, destaca-se os seguintes objetivos: i. Levantamento das embarcações abandonadas, em estado de abandono ou fora de uso, que oferecem risco ambiental à Baía de Guanabara, representando ameaças de possíveis vazamentos de cargas poluidoras, contribuindo para a deterioração ou degradação da paisagem, comprometendo a circulação das águas e favorecendo a proliferação de vetores.

Embarcacoes Abandonadas na Baia de Guanabara SOBENA

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O Levantamento das Embarcações Abandonadas na Baía de Guanabara surge como parte do Plano de Gestão Costeira, é um trabalho inédito, onde apresenta uma avaliação destas embarcações, analisando suas condições e seus respectivos riscos de possíveis impactos ambientais decorrentes destas condições, sob o prisma das normas marítimas e da legislação ambiental vigente. Apresentado no 19º CONGRESSO NACIONAL DE TRANSPORTES MARÍTIMOS, CONSTRUÇÃO NAVAL E OFFSHORE - SOBENA.

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LEVANTAMENTO DAS EMBARCAÇÕES ABANDONADAS NA BAÍA DEGUANABARA

Alberto Fioravante Frega (Eng° Naval)Gerson Luiz de Barros Muniz (Eng° Naval)

Introdução

O Plano de Gestão Costeira para a Baía deGuanabara (PGCBG), foi executado noâmbito do Convênio nº 02000.005004/2000-18, firmado entre o Ministério do MeioAmbiente e o Instituto Terra dePreservação Ambiental – ITPA, com asupervisão da Secretaria de Estado de MeioAmbiente e Desenvolvimento Sustentável –SEMADS e a Fundação Estadual deEngenharia do Meio Ambiente – FEEMA.O Projeto de Gerenciamento Costeiro no Estadodo Rio de Janeiro é integrante do processo deexecução do Plano Nacional de GerenciamentoCosteiro - PNGC, instituído através da Lei Nº7.661, de 16/05/88 - compreendendo os 17estados litorâneos da União. Consistebasicamente de um levantamento dascondições físicas, sócio-culturais e econômicasdo espaço costeiro, correspondente a uma faixacom aproximadamente 40 Km de largura, limiteque abrange a área marinha e a continental,com vistas à sistematização e aoarmazenamento das informações em Banco deDados, além de subsidiar a definição dozoneamento e estabelecer normas e diretrizespara uso e ocupação numa concepçãoambientalmente sustentável.O Plano de Gestão Costeira para a Baía deGuanabara é parte deste processo, tendo afaixa costeira do entorno imediato e o espelhod’água da baía como área-objeto de projeto.O Levantamento das EmbarcaçõesAbandonadas na Baía de Guanabara surgecomo parte do Plano de Gestão Costeira, éum trabalho inédito, onde apresenta umaavaliação destas embarcações, analisandosuas condições e seus respectivos riscos depossíveis impactos ambientais decorrentesdestas condições, sob o prisma das normasmarítimas e da legislação ambiental vigente.

1 - Objetivo

Há muito que as embarcações sãoabandonadas na Baía de Guanabara, seja aolargo ou no seu entorno, representando risco ànavegação e potencializando as ameaças aoseu meio ambiente.A recente criação do Conselho Gestor daBaía de Guanabara, pelo Decreto Estadual nº26.174 de 14 de abril de 2000, vem contribuirno processo de recuperação do ecossistemadesta, quando propõe, dentre outros, o“ordenamento para a Baía, quanto ao destinofinal das embarcações fora de uso eabandonadas em seu interior”.Portanto, o levantamento das embarcaçõesabandonadas, em operação ou fora de uso, asistematização de seus dados e a suaintegração em um banco de dados, subsidiaráo planejamento e a gestão costeira na regiãoda Baía de Guanabara.Para tal, destaca-se os seguintes objetivos:

i. Levantamento das embarcaçõesabandonadas, em estado de abandonoou fora de uso, que oferecem riscoambiental à Baía de Guanabara,representando ameaças de possíveisvazamentos de cargas poluidoras,contribuindo para a deterioração oudegradação da paisagem,comprometendo a circulação das águase favorecendo a proliferação de vetores.

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ii. Propor soluções para as embarcaçõescontemplando as diversas alternativas.

iii. Subsidiar a formulação de estratégias demonitoramento e controle permanentedas embarcações.

2 – Breve Histórico da Indústria deConstrução Naval na Baía deGuanabara

A indústria da construção naval é muito antigano Brasil, vindo dos remotos tempos coloniais.Os portugueses, que na época da Descobertaeram grandes construtores navais, logoperceberam as vantagens de construir naviosaqui, aproveitando a abundância e excelênciadas madeiras e a mão-de-obra indígena eescrava.Na primeira metade do Século XIX, o Arsenalda Bahia foi o maior estaleiro construtor,sendo o Arsenal do Rio de Janeiroprincipalmente um centro de reparos navais,circunstância essa que forçou a modernizaçãodesse Arsenal para poder atender osprimeiros navios a vapor que começavam achegar.Outro centro de importância na construçãonaval brasileira no Século XIX, foi o estaleiroda Ponta d´Areia, do Visconde de Mauá, queconstruiu mais de uma centena de navios.Onde, mais tarde, se transformou no EstaleiroMauá – Cia. Comércio e Navegação,atualmente Estaleiro Mauá Jurong S/A.

No final do século XIX e início do século XX,foram anos de decadência e quase totalparalisação da construção naval brasileira.Em 1949, teve início às atividades do EstaleiroEMAQ, com a construção de pequenas chatase dragas. Na época, o Estaleiro operava emuma área na Praia de Ramos. Em 1961, anecessidade de expandir-se levou a mudançado Estaleiro para a Ilha do Governador, ondehoje se encontra como Estaleiro Ilha SA.

O progresso da construção naval foi contínuoe notável até início dos anos 80, com aconstrução de um número cada vez maior denavios, não só de maior porte, como tambémmais diversificados e mais sofisticados.Ao longo da década de 80 e 90 a atividadefundamental era reparo naval. Enquanto naconstrução de novas embarcações era poucoencomendada e, em geral, de embarcaçõesde médio porte.Atualmente, com o advento da prospeção,produção, refinamento e distribuição depetróleo extraído da costa brasileira, nota-seuma retomada do crescimento da indústria deconstrução naval.

3 – Embarcações e seu Processo deAbandono na Baía de Guanabara

É importante tecer algumas consideraçõesrelativas aos aspectos observados para asegurança ambiental no que tange àsembarcações de uma forma genérica.Uma embarcação é um corpo composto devários sistemas que devem atuar em conjuntoe em harmonia para que ela possa cumprir asua função, como uma pequena cidade.Estes sistemas fazem uso de uma grandequantidade de produtos, sejam elesconsumíveis ou não, que representam sempreuma ameaça ao meio ambiente e que devemestar submetidos a uma gestão adequadaambientalmente.Pode-se afirmar, com segurança, que aprobabilidade de presença de óleo e outrassubstâncias perigosas a bordo de umaembarcação é sempre alta, em particular nasembarcações de grande e médio porte.Tais produtos e substâncias podem estarpresentes em diversos locais a bordo, taiscomo: em tanques de carga ou de operaçãoda embarcação, que podem estar carregados,e com resíduos no fundo e na estrutura dotanque; em tubulações de alimentação, desuspiro ou de sondagem, que possuemresíduos em redes, válvulas e acessórios; emmotores, máquinas, equipamentos eacessórios, que operam utilizando estesprodutos e substâncias; em áreas como Praçade Máquinas ou de Bombas, onde seencontram resíduos de mistura de água e óleosob o estrado, causados por pequenosvazamentos de motores, máquinas,equipamentos e acessórios; e emcompartimentos diversos, presentes em panose trapos contaminados ou oleosos, ou emrecipientes.Uma embarcação que se encontraabandonada ou fora de uso não costuma

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receber o tratamento apropriado deconservação que permitiria uma redução deriscos ou ameaças ao meio ambiente.Assim, o risco de contaminação do meioambiente, por óleo e outras substânciasperigosas, se faz evidente devido à condiçãode má conservação geral da embarcaçãoabandonada.Uma embarcação em estado de abandonopode apresentar muitos problemas, tais quais:sua estrutura, em particular as anteparas detanques, pode se encontrar em estadoavançado de corrosão, levando a vazamentosou a contaminação devido a alagamentosindesejáveis de tanques diversos; suas redes,tubulação, válvulas e acessórios, podem estarcomprometidas, o que também pode causarvazamentos; e sua pouca garantia deintegridade estrutural, torna toda e qualqueroperação requerida de transbordo de óleo ousubstância perigosa, uma manobra delicada earriscada sob o ponto de vista da segurançaambiental.Além destas questões, as embarcações quese encontram fora de operação não estãosujeitas a exigências normativas que poderiamassegurar uma redução do risco ou ameaçade possíveis acidentes poluidores. Taisrequisitos de baixa operacional poderiamexigir a execução de limpeza de tanques,equipamentos ou redes, e a remoção deprodutos ou substâncias perigosas de bordo.Algumas diferenças devem ser observadaspara as embarcações de pequeno porte, poisestas possuem sistemas e equipamentossimples, com tanques e redes de pequenasdimensões. Apresentando riscos ambientaisbem menores que àqueles proporcionados poruma embarcação de médio ou grande porte.Quanto ao prejuízo à circulação das águas, asembarcações somente podem serconsideradas como ameaça ambiental se vêmcausar o assoreamento, provocado pelo efeitode armadilha de sedimentos, quando seuscascos se assentam ao fundo. A suaconsideração deve ser abalizada numapercepção frente à condição específica decada embarcação, ponderando-se sobre ascondições de fluxo das correntes no local deabandono, sua posição relativa ao localquanto à sua proximidade da praia, seu portedevido ao efeito de águas rasas, a ocorrênciade uma dada composição com outrasembarcações, e até mesmo sobre aconjugação destes fatores.É importante salientar que muitas vezes umaembarcação que se encontra flutuando, numadada condição de maré, pode apresentar umassentamento temporário ao fundo sob

condições adversas de maré. É o efeito deáguas rasas que provoca esse assentamentotemporário ao fundo, e pode ser descrito comouma redução da pressão hidrostática no fundodo casco da embarcação devido ao aumentode velocidade da corrente, causado pelaredução da área transversal da lâmina d’águaexistente sob o casco.Uma embarcação abandonada poderepresentar um grande atrativo turístico,quando não representa uma ameaçaambiental sob outros critérios, tais comopotencial poluidor por substâncias nocivas aomeio ambiente ou proliferação de vetores.

Entretanto, na maioria dos casos estudados, aembarcação abandonada significa umaagressão à integridade dos ecossistemas e àharmonia da paisagem, ou seja, ao patrimônionatural e às paisagens notáveis. Concorrendopara o comprometimento dos interessesturísticos, particularmente em localidades eacidentes naturais adequados ao repouso e àprática de atividades recreativas, desportivasou de lazer, como é o caso da Baía deGuanabara.Com relação à prevenção contra a proliferaçãode vetores, muitos cuidados especiais sãotomados quando se elabora umaespecificação para a construção de umaembarcação. Todos os compartimentos econveses devem possuir drenos ou outro meiode esgoto para evitar o acúmulo de água, e osvolumes vazios devem ter seus acessosprotegidos por telas contra roedores e insetos.Além uma vasta relação de outros requisitoscom o fim de evitar a proliferação de vetores abordo.Uma embarcação qualquer, mesmo que emcondições normais de operação emanutenção, sempre representará um risco ouameaça ao meio ambiente, seja qual for oparâmetro ou critério observado.A Baía de Guanabara apresenta muitasatividades propiciadoras de presença e

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movimentação de embarcações no seuinterior, e que podem ser consideradas comode risco ambiental, tais atividades são:portuárias; naval militar; construção e reparosnavais; terminais de petróleo e seusderivados; pesca artesanal e industrial; etransporte marítimo de passageiros, inclusivede turismo e de recreação. Entretanto, estasatividades não podem ser vistas como fatorescausadores de abandono de embarcações naBaía de Guanabara. Mas devem serconsideradas como identificadores dossetores a serem motivados e conscientizadosda problemática que as embarcaçõesabandonadas, em estado de abandono ou forade uso, representam enquanto risco para omeio ambiente. A Baía apresenta em suaregião costeira cerca de: 2 portos; 1 basenaval militar; 18 empresas de porte quedesenvolvem atividades de construção ereparo navais; 4 terminais de petróleo ederivados; 6 colônias de pesca; 42 pontos dedesembarque de pescado; 4 terminais detransporte marítimo de passageiros; 16 clubesnáuticos e marinas; e outras atividades afins.Durante o período de grande produção denavios em aço, o consumo de aço naval eraalto. Assim, durante muito tempo, esteconsumo contribuiu para que as embarcaçõesque deixassem de operar viessem a serdesmontadas, para o reaproveitamento de seumaterial em reparo e manutenção de naviosou para construção de pequenasembarcações. A oferta de aço passou a sermaior que a demanda, levando à diminuiçãodo desmonte de embarcações com o objetivode reaproveitamento de material e,conseqüentemente, ao aumento deembarcações abandonadas.A falta de competividade da indústria de

construção naval nacional no mercadointernacional, devido à política voltada aomercado interno, tornou críticas asencomendas de novos navios aos estaleiros.O que levou vários armadores à falência, eoutros tendo de fazer composições que

possibilitassem sua sobrevivência. A falta depagamento aos credores, pendências jurídicase má administração fizeram com quearmadores deixassem de operar suasembarcações, acarretando a estiva destas nosmais diversos locais da Baía de Guanabara,sem manutenção adequada e em situação deabandono.É importante esclarecer que o termo“embarcações abandonadas” diz respeitoneste contexto ao estado em que se encontraa embarcação, em operação ou desativadas,sem manutenção e com a presença deresíduos de produtos ou de substânciasperigosas a bordo. Visto que muitas dasembarcações nestas condições possuemproprietário definido.O alto custo de manutenção de umaembarcação, que se encontra fora deoperação, é um dos principais motivos para oseu abandono. “Só no último ano e meio, oMinistério do Planejamento, responsável peloacervo da Lloyd, gastou mais de R$ 2,5milhões com o serviço de manutenção epatrulha dos cinco navios que pertenciam àextinta Lloyd.”(Folha de São Paulo-2001).Outro fato causador do abandono dasembarcações em seus locais de atracação oufundeio, é a impossibilidade de movimentaçãoem virtude de sua situação jurídica, já quemuitas destas são garantia de financiamentosobtidos e se encontram com pendênciasjudiciais.O risco ou ameaça ambiental proveniente doabandono de embarcações surgiu como umelemento importante a ser tratado na GestãoAmbiental, a partir da atividade de vistoriadesenvolvida pela FEEMA e pelo MinistérioPúblico Federal, no ano de 2000, nas 21embarcações levantadas pela Marinha doBrasil. Até então, não havia uma atitude firmedos órgãos fiscalizadores responsáveis pelocontrole de embarcações abandonadas emáguas territoriais brasileiras, no que dizrespeito a sua ameaça ao meio ambiente.Salienta-se que as Normas MarítimasBrasileiras e a legislação ambiental, em vigor,não apresentam requisitos ou exigênciasquanto ao destino final de embarcaçõesdesativadas, bem como dos resíduos desubstâncias perigosas encontradas a bordo.

4 – Metodologia

4.1 - Métodos Operacionais

O trabalho desenvolvido pode ser dividido emdois campos de atividades, atividade depesquisa em gabinete e em campo.

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Figura 1Áreas de Fundeio

Baía de Guanabara

A pesquisa em gabinete foi desenvolvidaatravés das seguintes atividades:

Levantamento de informações e registrosdisponíveis sobre embarcaçõesabandonadas;

Levantamento da legislação ambiental emvigor (federal e estadual) pertinente aosaspectos relativos a uma embarcação esua condição de abandono, e das Normasda Autoridade Marítima Brasileira,relacionadas à questão;

Estruturação de banco de dados paracadastro das informações obtidas sobre asembarcações abandonadas;

Elaboração de modelo de estrutura debanco de dados sobre as embarcaçõesabandonadas;

Estabelecimento de parâmetros e critériosde classificação das embarcaçõesabandonadas;

Identificação e demarcação das áreas deconcentração de embarcações levantadas;

Processamento e análise das informaçõeslevantadas nas diversas etapas;

Elaboração de procedimento para oestabelecimento de uma estratégia deação para a solução de casos deembarcações abandonadas.

A pesquisa em campo foi desenvolvidaatravés das seguintes atividades:

Levantamento para a identificação ecaracterização das embarcaçõesabandonadas, executado através da visitapor água aos locais/áreas onde háincidência de casos, com o objetivo deobter as informações sobre o tipo; o nome;a localização geográfica com uso de umaparelho de GPS (Global Position System)modelo GARMIN II PLUS; o proprietário ouresponsável; o porto de registro; o materialadotado na construção do casco; e acondição de flutuabilidade de cadaelemento;

Levantamento por área de concentraçãode embarcações para a obtenção dosdados de classificação dos elementosidentificados como abandonados, deacordo com o item 4.3 deste trabalho.

Apoio técnico ao Serviço de Controle dePoluição Acidental da FEEMA, nasvistorias executadas para atendimento aoMinistério Público Federal no Rio deJaneiro.

4.2 - Principais Áreas de Concentração deEmbarcações Abandonadas

O fundeio de uma embarcação pode sermotivado pela sua necessidade de aguardarpermissão tanto para atracação ao Cais doPorto ou no Terminal Marítima AlmiranteTamandaré, adotado para carga e descargade petróleo e seus derivados, como para saídada área do Porto do Rio de Janeiro.Uma embarcação de grande porte que preciseaguardar disponibilidade dos estaleirosexistentes na região, para executar reparo oumanutenção, deverá lançar ancora no“Fundeadouro 6”, que é a área estabelecidapara tal e está localizada a leste do “CanalVarrido a 17 metros” e a norte da Ilha doViana, conforme informações do ComandanteCastro Freire da Capitania do Porto do Rio deJaneiro.A Autoridade Marítima Brasileira estabeleceuáreas específicas para o fundeio deembarcações na Baía de Guanabara,conforme apresentado na Carta Náutica denúmero 1501, atualizada com as correções atéo ano de 2000.A Figura 1 ilustra o espelho d’água da Baía deGuanabara, com suas áreas de fundeio e oCanal Varrido a 17 metros.

A área do Fundeadouro 6, especificada paraembarcações que entrarão em reparo, estárepresentada pela pequena ancora emvermelho. As demais áreas estãorepresentadas pelas pequenas ancoras emnegro.O Canal Varrido está representado pela linhaque vai da entrada da Baía de Guanabara atéo Terminal Marítimo Almirante Tamandaré.No levantamento preliminar realizado nosmeses de Março a Setembro de 2001, foramidentificadas 205 embarcações abandonadas

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Caju

I. da Conceição eBarreto

Ramos

I Governador

Ponta D’Areia

São Gonçalo

Figura 2Incidência de Embarcações Abandonadas

na Baía de Guanabara

Fund. 06

Ilha deSanta Cruz

Ilha daConceição

Santana

Barreto

Figura 4Área 02: Niterói – Ilha da

Área 01

Área 02

Área 03

Área 04

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Figura 3Distribuição das Áreas de Concentração de

Embarcações Abandonadas

por todo o entorno da baía, tanto na área doFundeadouro 6, como também em diversasáreas próximas a empresas de construção ereparos navais.Na Figura 02 estão indicados os locais ondese encontram as maiores incidências deembarcações abandonadas são:

No Rio de Janeiro: os bairros do Caju,Ramos e Ilha do Governador;

Em Niterói: os bairros da Ponta D’Areia,Ilha do Caju, Ilha da Conceição, Santana eBarreto;

Em São Gonçalo: o bairro de Gradim, naslocalidades de Cassinu e Porto Novo; e

No espelho d’água: o Fundeadouro 06.

Para o desenvolvimento das atividades delevantamento das embarcações abandonadas,com vistas a sua classificação dentro dosParâmetros Gerais e de Segurança Ambiental,optou-se pela divisão da baía em áreas,considerando o número de incidência decasos e a sua localização geográfica.A Figura 3 apresenta a distribuição das áreasde concentração de embarcaçõesabandonadas, que estão classificadas daseguinte maneira:

Área 01: Niterói – Ponta D’Areia, Ilha doCaju e Enseada de SãoLourenço.

Área 02: Niterói – Ilha da Conceição,Santana e Barreto.

Área 03: Rio de Janeiro – Caju e Ilha doFundão.

Área 04: Rio de Janeiro – Ilha doGovernador e Ramos.

Área 05: São Gonçalo – Gradim; e RegiãoCentral do Espelho D’Água –Fundeadouro 6 e Ilhas dePaquetá, Itapacis e BraçoForte.

A título de exemplo apresentamos a descriçãoda Área 02, onde foi identificada a incidênciade 97 casos de embarcações abandonadas,localizada em Niterói, abrangendo a Ilha daConceição e os bairros de Santana e Barreto(Figura 4).Estende-se pela região costeira, a partir daponta norte da Ilha da Conceição,contornando-se a enseada formada peloaterro daquela ilha ao continente, costeando-se os bairros de Santana e Barreto, até afronteira com o município de São Gonçalo.

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Esta área apresenta um panoramacaracterístico de industrias do setor naval,com a presença de diversas empresas deconstrução e reparo navais e de apoiomarítimo.Embora não seja uma região de atraçãoturística, não deixa de estar presente umaameaça de deterioração de paisagem com apresença de embarcações abandonadas nolocal. Esta degradação paisagística é vista porquem passa na Ponte Rio-Niterói ou naestrada Niterói-Manilha, e por aquele quenavega ao largo da área.A circulação das águas está condicionada aomovimento da maré, em virtude do aterro deligação da ilha da Conceição ao continente.Apesar de ser uma área industrial típica dosetor naval, é composta pelos bairros da Ilhada Conceição, Santana e Barreto, queapresentam suas características próprias deárea residencial.Assim, há uma ameaça à população local,seja residente ou trabalhadora, causada pelorisco de proliferação de vetores, em particularroedores e insetos diversos, com a presençade embarcações abandonadas e com o frágiltratamento dado aos resíduos sólidos deempresas ali instaladas.Apresenta classificação de sensibilidade local“8 - encosta de rocha lisa abrigada, encosta derocha não lisa abrigada e enroncamentos” noentorno da Ilha da Conceição e na costa dosbairros de Santana e Barreto (até a área doEstaleiro Ebin), e “10 - terrenos alagadiços,banhados, brejos, margens de rios e lagoas;marismas e manguezais” na costa do bairro doBarreto (acima do Estaleiro Ebin até o limitecom São Gonçalo), conforme indicado noMapa de Sensibilidade Ambiental a Derramesde Óleo – Baía de Guanabara – FolhaRio/Niterói, da Petrobrás.

4.3 - Definição para a Classificação deEmbarcações Abandonadas

As leis ambientais e as normas marítimasbrasileiras, em vigor, não determinam osrequisitos a serem adotados noestabelecimento dos parâmetros e de seusníveis de aplicação na classificação dasembarcações abandonadas. A identificação,

localização e condição das embarcaçõesclassificadas apresentam os seguintescampos conforme os critérios de definição dosparâmetros.

4.3.1 - Parâmetros Administrativos e Gerais

São dados necessários à identificação daembarcação abandonada.i. Tipo da Embarcação – indicado pela

aplicação e/ou tipo daembarcação, conformedefinido pelo item 0215.d, doCapítulo 2 das Normas daAutoridade Marítima paraEmbarcações Empregadasna Navegação de MarAberto - NORMAM-01/2000.

ii. Nome da Embarcação – identifica aembarcação segundo seunome.

iii. Localização Geográfica – indica aposição georreferenciada daembarcação.

iv. Proprietário/Responsável – identifica oproprietário ou responsávelpela embarcação, com seusdados pertinentes, taiscomo: nome da empresa,nome do proprietário ouresponsável, endereço,telefone, etc.

v. Porto de Registro – indica o porto deregistro da embarcação.

vi. Classificação/SociedadeClassificadora – indica aclassificação da embarcaçãoe/ou a entidade responsávelpor esta classificação.

vii. Condições de Operação – indica se aembarcação se encontra emoperação ou fora deoperação.

viii. Condições de Flutuabilidade – indica sea embarcação está flutuandoou assentada ao fundo.

ix. Atracação e fundeio – indica se aembarcação está fundeadaou atracada ao cais.

x. Dimensional – indica o porte daembarcação.

xi. Material do Casco – indica o tipo dematerial adotado na suaconstrução.

4.3.2 - Parâmetros de Segurança Ambiental

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Os aspectos relativos à segurança ambientalpermitem a classificação da embarcaçãoatravés dos riscos ambientais existentes oupassíveis de ocorrência. Estes riscos foramestabelecidos durante as reuniões desteprojeto com a FEEMA, com vistas aodesenvolvimento de uma metodologia devistoria e fiscalização das embarcaçõesabandonadas na Baía de Guanabara, ematendimento a solicitação do Ministério PúblicoFederal.Podem ser definidos pelos seguinteselementos:i. Potencial Poluidor devido a Presença

de Substâncias Perigosas– indica o nível de potencialpoluidor de uma dadaembarcação devido àpresença de substanciasperigosas. Algumassubstâncias perigosaspassíveis de seremencontradas a bordo dequalquer embarcação: óleo,querosene, tintas, acetileno,mercúrio, etc.

ii. Deterioração da Paisagem – indica onível de deterioraçãopaisagística causada poruma embarcaçãoabandonada ou fora de uso.

iii. Prejuízo da Circulação – indica o nívelde prejuízo da circulaçãodas águas, causado pelaembarcação numadeterminada área.

iv. Proliferação de Vetores – indica o nívelde risco de possíveisproliferações de vetorescausadores de doenças.

v. Destino Final da Embarcação – sugerequal deverá ser o destinofinal de uma dadaembarcação, ao se levar emconta sua situação geralquanto aos aspectosambientais e navais.

vi. Procedimentos para Remoção deResíduos encontrados abordo – sugere o tipoadequado de procedimentopara a remoção dosresíduos.

vii. Destinação dos Resíduos encontradosa bordo – sugere o tipo dedestinação dos resíduosencontrados a bordo.

4.3.3 - Situação de Segurança Marítima

A segurança marítima é de responsabilidadeda Marinha do Brasil, conforme estabelecidonas Normas da Autoridade Marítima Brasileirae na legislação federal em vigor.A embarcação pode ser classificada de acordocom os critérios de segurança marítima, queprevêem a ocorrência de acidentes marítimosou mesmo dos seus possíveis riscos.Neste contexto, podem ser avaliadas asseguintes situações: Navegabilidade,Estrutural, Sinalização, Comunicação,Segurança e Conservação.

4.4 - Situação Legal / Judicial

São aqueles que possibilitam a avaliação daembarcação através de sua conjunturajudicial, segundo medidas tomadas pelosórgãos responsáveis, a saber: Marinha doBrasil (Diretoria de Portos e Costas Capitaniado Porto), SEMADS, FEEMA e MinistérioPúblico Federal, ou no que concerne apendências judiciais de teor privado inerente àembarcação.Estas informações irão compor o banco dedados, a ser fornecido pelo Plano de GestãoCosteira para a Baía de Guanabara, epermitirão que o Conselho Gestor os utilize nocontrole e ordenamento das embarcaçõesabandonadas na baía.

5 – Conclusões e Propostas sobre asEmbarcações Abandonadas na Baíade Guanabara

5.1 - Conclusões

O levantamento registrou um total de 232embarcações identificadas comoabandonadas na Baía de Guanabara.A remoção de 59 embarcações foi observadapelo projeto, durante suas atividades decampo e as vistorias promovidas pela FEEMA,com o apoio técnico do Engenheiro Naval

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Alberto Fioravante Frega, em atendimento àsolicitação do Ministério Público Federal.O Levantamento das EmbarcaçõesAbandonadas na Baía de Guanabaraidentificou que 173 embarcações ainda seencontram abandonadas.A distribuição por tipo pode ser examinada naFigura 5.Analisando-se os dados administrativos egerais, apresentados neste trabalho, percebe-se que as embarcações abandonadas seencontram distribuídas e classificadas daseguinte forma:

quanto à Condição de Operação: 88 %estão fora de operação e 12 % emoperação;

quanto à Condição de Flutuabilidade: 71% das embarcações estão assentadas aofundo, 18 % flutuando e 11 % emcondição de não identificada; e

quanto à Condição de Atracação eFundeio: 28 % estão atracadas, 4 %fundeadas e 68 % em condição de nãoaplicável.

Estes valores mostram a deficiência dosistema de manutenção de embarcações, emoperação ou desativadas, adotado pelos

armadores que atuam na Baía de Guanabara,além de indicar a falta de diretrizes nalegislação marítima brasileira quanto aodestino final das embarcações que sãodesativadas.Há necessidade de se desenvolver futurosestudos para o estabelecimento de normas dedesativação de uma embarcação, definindo-sedeterminados de modo a diminuir este quadro.Quanto ao aspecto dimensional, asembarcações abandonadas encontram-sedistribuídas em18 % de grande porte, 15 % de médio porte,66 % de pequeno porte e 1 % em condição deporte não identificado.Em vista deste quadro, é imperativo seressalvar a importância de dar tratamentoprioritário às embarcações de grande e médioporte, tanto pelo seu número total de 57 itens,quanto pelo conjunto de 42 embarcações (74% destas) apresentarem de alto a médiopotencial poluidor por presença a bordo desubstâncias perigosas.A figura 6 ilustra a distribuição dasembarcações abandonadas de grande emédio porte na Baía de Guanabara, dentrodos parâmetros de segurança ambiental.

Cabe salientar que 16 casos já possuemsolução encaminhada pela FEEMA e 10relatórios destes casos já foramencaminhados ao Ministério Público Federal,Dr. Luiz Roberto Guedes Bevenuto, para asmedidas judiciais cabíveis. Restando 26 casosque deverão receber prioridade de tratamentopara emissão de relatórios da FEEMA, comvistas a sua solução.Ainda avaliando-se a relevância de priorizaçãode solução dos casos de embarcações degrande e médio porte, com alto e médiopotencial poluidor, assinala-se que 55 %

7,51%

0,58%

0,58%

1,16%

13,87%

4,05%

0,58%

0,58%

3,47%

10,98%

6,36%

0,58%

8,67%

5,20%

1,16%

14,45%

1,16%

18,50%0,58%

Barcaça

Barco

Bote

Cabrea

Carga Geral

Chata

Draga

Escuna

Flutuante

Lancha

Passageiros

Pesqueiros

Petroleiro

Plataforma Petrolífera

Rebocador

Sem Classificação

Supply Boat

Traineira

Veleiro

Figura 05 – Distribuição por Tipo

Alto

Médio

Baixo

Não ap

licáv

el

0%10%20%30%40%50%60%70%

PotencialPoluidor

Deterioração daPaisagem

Prejuízo daCirculação

Proliferação deVetores

Figura 6Segurança Ambiental Embarcações

de Grande e Médio Porte

Page 10: Embarcacoes Abandonadas na Baia de Guanabara SOBENA

- 10 -

Figura 7 – Áreas de Concentração

causam de médio a alto prejuízo à circulaçãodas águas e que 38 % destas estãoassentadas ao fundo.

Para uma melhor visualização da situação dasegurança ambiental das embarcaçõesabandonadas de grande e médio porte, aFigura 7 esboça as quantidades e suadistribuição por área de concentração.A título de exemplo apresentamos osresultados do levantamento da Área 01,localizada em Niterói - Ponta D’Areia, Enseadade São Lourenço e Ilha do Caju, conta com apresença de 14 embarcações de grande emédio porte abandonadas, representando umasituação perigosa do ponto de vista dasegurança ambiental.

A Figura 8 apresenta a distribuição percentualdos aspectos de segurança ambiental da área01, relativa às embarcações abandonadas quepossuem grande e médio porte.

A área apresenta uma classificação dasensibilidade local “8 - encosta de rocha lisaabrigada, encosta de rocha não lisa abrigada eentroncamentos” no entorno da Ilha daConceição, nas proximidades da Ilha do Caju,e “concentração de multigrupos de espéciesbiológicas” na Região da Ponta da Armação,no Bairro da Ponta D’Areia, conforme indicadono Mapa de Sensibilidade Ambiental aDerrames de Óleo – Baía de Guanabara –Folha Rio/Niterói, da Petrobrás.Cerca de 93 % das embarcações de grande emédio porte nesta área, possuem um potencialpoluidor de alto a médio, e sua presençarepresenta uma ameaça a estes multigruposde espécies biológicas.Cerca de 60 % delas apresentam alto e médioprejuízo à circulação das águas, causando oefeito de armadilha de sedimentos eprovocando assoreamento na região.Do ponto de vista da circulação das águas naárea 01, é necessário se estabelecer duasregiões críticas e que devem receber umcuidado especial do ponto de vista doZoneamento Ambiental.Tais regiões devem ser consideradas como derestrição à atracação de embarcações degrande porte somente durante o serviço dereparo naval, e sem permissão para estiva deembarcações fora de operação.

A Figura 9 ilustra tais regiões, que podem serdefinidas como:i) Região A, localizada ao fundo e à sudoeste

da Enseada de São Lourenço ecompreendida pelo quadrilátero formadopelas coordenadas geográficas (UTM):(S7468771,90;W692715,63), (S7468831,90;W692864,94), (S7468234,40; W692915,25)e (S7468324,40; W693113,32).

Região A

Região B

PontaD’Areia

Figura 9 - Área 01 Regiões de restrição àEstiva de Embarcações

Alto

Baixo

0%10%20%30%40%50%60%70%

PotencialPoluidorDeterioraçãoda PaisagemPrejuízo daCirculaçãoProliferação deVetores

Figura 8Segurança Ambiental – Área 01

Page 11: Embarcacoes Abandonadas na Baia de Guanabara SOBENA

- 11 -

ii) Região B, que se estende do canalexistente entre a Ilha da Conceição e a Ilhado Caju até a pequena enseada formadapelo aterramento de ligação da Ilha daConceição ao continente, e que se encontracompreendida pelo quadrilátero formadopelas coordenadas geográficas (UTM):(S7469357,90;W692634,38), (S7469232,97;W692585,37), (S7468869,36; W693298,57)e (S7468994,89; W693394,76).

A área 02, situada em Niterói – Ilha daConceição, Santana e Barreto, tambémapresenta uma situação crítica com relação àcirculação das águas, condicionada aomovimento da maré, em virtude do aterro deligação da ilha da Conceição ao continente eda ocupação desordenada da orla, em virtudedesta situação, a área deve receber umcuidado especial no Zoneamento Ambiental.Sendo imperativa a definição da região C, quevenha a ser considerada como de restrição àatracação de embarcações de grande portesomente durante o serviço de reparo naval, esem permissão para estiva de embarcaçõesfora de operação.

A região C, Figura 10, está localizada naenseada formada pela região costeira a lesteda Ilha da Conceição e oeste dos bairros doSantana e Barreto, compreendida peloquadrilátero formado pelas coordenadasgeográficas (UTM): (S7470288,77;W693555,38), (S7468805,89; W693549,67),(S7468805,94; W693767,63) e (S7470323,41;W694002,01).A área 03, situada na região do bairro do Cajue Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro,apresenta a mesma situação crítica quanto ao

prejuízo à circulação das águas, em virtude dopróprio contexto local, uma região de pequenalâmina d’água devido ao assoreamento local eà presença de embarcações abandonadas,com cerca de 77 % delas apresentando alto emédio prejuízo à circulação das águas. Estaregião deve receber um atenção especial doponto de vista do Zoneamento Ambiental.É necessário se estabelecer a região D,localizada no Caju, conforme ilustra a Figura11, como de restrição à atracação deembarcações de grande porte somentedurante o serviço de reparo naval, e sempermissão para estiva de embarcações fora deoperação.Esta região estaria compreendida peloquadrilátero formado pelas coordenadasgeográficas (UTM): (S7469844,63;W681957,75), (S7469844,90; W682186,13),(S7469294,60; W681928,82) e (S7469258,31;W682249,07).

A área 4 localizada no Rio de Janeiro,compreendendo a Ilha do Governador e obairro Ramos, não apresenta a necessidadedas demais áreas.A área 05, no Porto da Madame, Gradim, emSão Gonçalo, apresenta cerca de 40 % dasembarcações com alto prejuízo à circulaçãodas águas, causando o efeito de armadilha desedimentos e provocando assoreamento naregião. Esta região deve receber também umcuidado especial do ponto de vista doZoneamento Ambiental.Em virtude desta situação, é importante adefinição da região E, que venha a serconsiderada como de restrição à atracação deembarcações de grande porte somentedurante o serviço de reparo naval, e sempermissão para estiva de embarcações fora deoperação.

Região C

Ilha daConceição

Barreto

Santana

Figura 10 - Área 02Região de restrição à

estiva de Embarcações

Ponta doCaju

Caju

Região D

Figura 11- Área 03Região de restrição à

estiva de Embarcações

Ilha doFundão

Quintado Caju

Page 12: Embarcacoes Abandonadas na Baia de Guanabara SOBENA

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Ilha doTavares

Porto daMadame

Gradim

SãoGonçalo

Região E

Figura 12 - Área 05Região de restrição à

estiva de Embarcações

A região E está localizada no Porto daMadame, região costeira do bairro do Gradim,em São Gonçalo, ilustrada pela Figura 12 aolado, e está compreendida pelo quadriláteroformado pelas coordenadas geográficas(UTM): (S7473892,92; W694782,38),(S7473603,92; W695141,82), (S7474826,39;W696080,37) e (S7474938,93; W695920,63).Examinada a situação das áreas deconcentração de embarcações abandonadasna Baía de Guanabara, é importante verificarquais os setores envolvidos neste quadro.Ponderando-se sobre os tipos de embarcaçãoencontrados em estado de abandono, Figura5, os seguintes setores empresariaisresponsáveis pela sua presença podem seridentificados: Carga Geral, Apoio Marítimo,Pesqueiro e de Transporte de Passageiros. AFigura 13 apresenta a distribuição percentualdas embarcações abandonadas por setorempresarial.Cabe salientar que muitas embarcaçõesabandonadas estão sob a responsabilidade deempresas de construção e reparo navais, porali se encontrarem estivadas.Com base nesta identificação de setores,identificamos quais seriam os atores comresponsabilidade neste cenário. Os atoresseriam: Secretaria de Estado de Energia, daIndústria Naval e Petróleo – SEINPE; Diretoriade Portos e Costas – Marinha do Brasil;Capitania do Porto do Rio de Janeiro;Federação das Indústrias do Rio de Janeiro –FIRJAN; Sindicato Nacional da Indústria deConstrução Naval – SINAVAL;SindicatoNacional das Empresas de NavegaçãoMarítima – SYNDARMA; Sindicato dasAgências de Navegação Marítima e Atividades

Afins do Estado do Rio de Janeiro; SociedadeBrasileira de Engenharia Naval – SOBENA;Federação dos Pescadores do Estado do Riode Janeiro – FEPERJ; Confederação Nacionaldo Transporte; Associação Brasileira dosArmadores de Cabotagem – ABAC;Associação Brasileira das Empresas de ApoioMarítimo – ABEAM; e Associação Brasileira deMovimentação e Logística – ABML.A estes atores caberia estabelecer edesenvolver uma política da própria instituiçãoe outra conjunta com os demais atores, comatividades voltadas para a questão doabandono de embarcações na Baía deGuanabara.

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente eDesenvolvimento Sustentável – SEMADS,vem desenvolvendo, ao longo dos últimosanos, um trabalho de controle emonitoramento das embarcaçõesabandonadas na Baía de Guanabara, atravésda Fundação Estadual de Engenharia de MeioAmbiente. Já tendo encaminhado a solução de16 casos, em ação conjunta com o MinistérioPúblico Federal.Foram realizadas reuniões para oestabelecimento de uma estratégia de açãopara a solução de casos, que fornecesse ummaior embasamento técnico aos processosjurídicos do Ministério Público, relativo àquelasembarcações abandonadas. A estratégiaadotada foi de vistoria e emissão de relatóriostécnicos para encaminhamento ao MinistérioPúblico Federal, com vistas a sustentabilidadejurídica dos processos.Como resultado da vistoria das embarcaçõesabandonadas, executada em conjunto pelaFEEMA e Plano de Gestão Costeira no ano de

34%

15%

33%

3%15%

Apoio Marítimo

Pesqueiro

Carga Geral

Transporte de Passageiros

Não Identificado

Figura 13Distribuição de Embarcações

Abandonadas por Setor Empresarial

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- 13 -

2001, recomenda-se adotar um procedimentometodológico composto das seguintesatividades: Identificação da embarcação –Identificar a embarcação através dolevantamento de seus dados administrativos egerais; Medidas administrativas I – Atividadecom o objetivo de encaminhar notificação aosproprietários ou responsáveis pelaembarcação, solicitando informaçõescompletas sobre a presença de resíduos esubstâncias perigosas; Vistoria daembarcação – Atividade com o objetivo deidentificar os riscos ambientais gerados pelaembarcação, relativos à presença desubstâncias poluidoras a bordo, ao prejuízo decirculação das águas, à deterioração dapaisagem e à proliferação de vetorescausadores de doenças; Medidasadministrativas II – Atividade com afinalidade de notificar o proprietário ouresponsável sobre as ameaças ambientaiscausadas pela embarcação; Medidasjudiciais cabíveis – Atividade com o objetivode ultimar soluções de casos em que asmedidas administrativas tomadas nãosolucionaram o caso; e Atualização doBanco de Dados – Atividade a ser praticadacom base nos relatórios de segurançaambiental, segurança marítima, conjunturajudicial e informações fornecidas peloproprietário ou responsável em cada caso.A atualização deste banco de dados permitiráao Conselho Gestor da Baía de Guanabarapromover o monitoramento, controle eordenamento das embarcações abandonadasna região.Não se pode deixar de citar a existência de66 % das embarcações abandonadasapresentando um porte pequeno, perfazendoum total de 115 embarcações. Ainda que nãocheguem a atingir o mesmo nível de ameaçaao meio ambiente que as embarcações degrande a médio porte examinadas acima.As embarcações abandonadas de pequenoporte têm apenas 2 com alto potencial poluidore 16 com médio potencial. Estes valorespodem ser considerados desprezíveis frente àquantidade de embarcações de alto a médioporte com estes níveis de potencial poluidor.A Figura 14 apresenta a situação daspequenas embarcações relativa à segurançaambiental.Quanto ao critério de deterioração dapaisagem, as embarcações de pequeno portesão uma ameaça significativa ao meioambiente se observado que cerca de 95 %destas, num total de 110 itens, apresentam dealto a médio degradação paisagística. Esse

impacto na paisagem da Baía de Guanabararepresenta um prejuízo no turismo.O prejuízo à circulação das águas tambémpode ser considerado como uma situaçãocrítica das embarcações de pequeno porte, jáque cerca de 72 % delas causam de grande amédio prejuízo, contribuindo para oassoreamento na região onde se encontramabandonadas.Outro parâmetro de ameaça à segurançaambiental que pode ser considerado emsituação de gravidade, é quanto à proliferaçãode vetores. Pois, cerca de 80 % dasembarcações de pequeno porte apresentamalgum risco.

É importante ressaltar que os casos dasembarcações de pequeno porte, podem serresolvidos com certa facilidade através da suaremoção, cerca de 73 % dos itens estão assimclassificados como alternativa de seu destinofinal. Esta facilidade ocorre em virtude do seuporte e do material adotado na construção, emgeral madeira. Cabe salientar a exceção a serfeita para embarcação de construção em ferro-cimento, esta traz uma grande dificuldade demanuseio para sua remoção e seu destinofinal, em particular se estiver com suaestanqueidade comprometida.Assim, tomando-se como base os riscos eameaças à segurança ambiental dasembarcações abandonadas na Baía deGuanabara, e considerando a sua distribuiçãopor tipo, pode-se deduzir que:

1) Os navios de Carga Geral e aPlataforma Petrolífera, do setor decarga geral, são embarcações degrandes impactos ambientais, já quepossuem grande porte, apresentando

Alto

Médio

Baixo

Não aplicáve

l

0%

20%

40%

60%

80% PotencialPoluidorDeterioração daPaisagemPrejuízo daCirculaçãoProliferação deVetores

Figura 14Segurança Ambiental

Embarcações de Pequeno

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Foto 6

a bordo grandes quantidades deprodutos e substâncias perigosas,com grande prejuízo à circulação daságuas, com grande propensão àproliferação de vetores e causandouma alta deterioração paisagística porsuas dimensões.

2) As embarcações dos tipos comorebocadores, barcaças, chatas eoutros utilizados pelo setor de apoio ànavegação, também são embarcaçõespropiciadoras de grandes riscos eameaças ao meio ambiente, já que seenquadram nas mesmas condições desegurança ambiental do setor decarga geral. A exceção deve ser feitaquanto ao porte, já que mais seenquadram como de médio porte.

3) As embarcações classificadas comodo tipo pesqueiro e traineira, queatuam no setor pesqueiro, são asembarcações que menos oferecemameaças e riscos ambientais, uma vezque em sua maioria são de pequenoporte, possuindo a bordo muito poucode produtos e substâncias perigosas,e têm em geral sua construção demadeira, o que leva a ter suaintegridade deteriorada com rapidez.Muito embora representem umpercentual da ordem de 33 % dasembarcações abandonadas na baía ecausem uma consideráveldeterioração da paisagem, prejuízo àcirculação das águas e proliferação devetores.

4) As lanchas, escunas, saveiros eoutros, adotados pelo setor detransporte passageiro, já seassemelham à situação apresentadapelo setor pesqueiro, ou seja de baixorisco quanto ao potencial poluidor,com exceção àquelas que sãoadotadas no transporte de massa eque possuem grande porte.

Considerando-se:

O panorama relativo às ameaças ao meioambiente devido ao potencial poluidor dasembarcações abandonadas na Baía deGuanabara, onde cerca de 75 %apresentam algum tipo de substânciaperigosa a bordo e cerca de 35 % foramclassificadas como de grande a médiopotencial poluidor.

A deterioração da paisagemproporcionada por tais embarcações, queem 99 % dos casos apresentam alguma

degradação paisagística e em 90 % seencontram classificadas como de alta amédia deterioração.

A situação de risco ambiental quanto aoprejuízo à circulação das águas,provocada por estas embarcações, comcerca de 73 % causando algum dano ecom 69 % provocando de grande a médioprejuízo à circulação.

O quadro de ameaça à segurançaambiental no que diz respeito ao risco deproliferação de vetores, quando se verificaque 84 % das embarcações apresentamcondições propícias à proliferação devetores e que 73 % destas contribuem aníveis alto e médio.

O percentual apresentado pelasembarcações abandonadas que estão forade operação chega a 88 %.

O número de embarcações abandonadase assentadas ao fundo atinge os71 %.

Conclui-se que a conjuntura causada pelaatual presença de embarcações abandonadasna Baía de Guanabara, se apresenta comoameaçadora para o meio ambiente e de altorisco para a população que vive na região.

5.2 − Propostas

Em vista das conclusões apresentadas noitem anterior algumas ações se colocam.O Conselho Gestor deverá solicitar aos órgãosresponsáveis, a execução de levantamentosperiódicos para controle e monitoramento dasembarcações em estado de abandono na Baíade Guanabara. Estes levantamentos futurosservirão à atualização do banco de dadosfornecido pelo Plano de Gestão Costeira paraa Baía de Guanabara.A SEMADS e a SEINPE, apoiando o ConselhoGestor da Baía de Guanabara, deverãopromover uma política participativa dediscussão com os setores responsáveis pela

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- 15 -

Foto 7

presença de embarcações na Baía deGuanabara, através de palestras e semináriosde divulgação dos resultados obtidos nestelevantamento, buscando-se conscientizar eorientar estes setores pelo diálogo.A FEEMA, em conjunto com a Capitania doPorto do Rio de Janeiro, deve fortalecer a suaatual prática de fiscalização, com a suapolítica de gestão ambiental atualizada e,agora, tecnicamente embasada no Plano deGestão Costeira da Baía de Guanabara,ampliando suas ações até agoraempreendidas, através da adoção doprocedimento descrito no item anterior.Termos de conduta adotados pelosproprietários ou responsáveis dasembarcações abandonadas, podem ter o seuestabelecimento feito de forma clara quanto aodestino pretendido com suas embarcações,assim como quanto à definição de seucronograma de ações.Novos estudos deverão ser desenvolvidos,para a atualização e melhoria da legislaçãoambiental em vigor, estadual e federal. Estesestudos necessitam enquadrar o destino dasembarcações desativadas; a destinação dosresíduos encontrados a bordo; omonitoramento e controle permanente dasembarcações, sob a ótica da gestãoambiental; e as condições de assoreamento esedimentação nas áreas de concentraçãodestas.Deverão ser estabelecidas áreas específicaspara estiva ou fundeio de embarcações queestejam fora de operação, ou sujeitas a longosperíodos na condição de fora de operação,atendendo ao planejamento ambiental dabaía. Esta definição cabe à Diretoria de Portose Costas, da Marinha do Brasil, que deverábuscar uma atualização das NormasMarítimas, enquadrando-as no Plano deGestão Costeira para a Baía de Guanabara.Em princípio as Regiões de A ate’ E, citadasno item 4.2 deste trabalho, podem serconsideradas como áreas restritas à atracaçãode embarcações de grande porte somentedurante o serviço de reparo naval, com prazosprogramados de permanência no local e

outros requisitos para atendimento ao padrãode qualidade ambiental estabelecido para aárea.Há necessidade de se desenvolver futurosestudos para o estabelecimento de normas dedesativação de uma embarcação, definindo-seos seus requisitos de estiva e outros a seremdeterminados de modo a diminuir este quadro.Os proprietários ou responsáveis pelasembarcações desativadas, deverão pesquisarmeios que permitam diminuir o quadro deameaça ou risco ao meio ambiente,melhorando o seu sistema de manutenção deembarcação, em operação ou desativada.Cada embarcação deverá ter seu destinoestabelecido em conformidade com a intençãodo seu proprietário, mas nunca a mercê doprejuízo e deterioração do meio ambientecomo acontece em nosso país, em particularna Baía de Guanabara.

“Todos tem direito ao meio ambienteecologicamente saudável e equilibrado,bem de uso comum do povo e essencial aqualidade de vida, impondo-se a todos, eem especial ao Poder Público, o dever dedefendê-lo, zelar por sua recuperação eproteção em benefício das gerações atuaise futuras.” (Art. 261 da ConstituiçãoEstadual, TÍTULO VII - DA ORDEMECONÔMICA, FINANCEIRA E DO MEIOAMBIENTE, CAPITULO VIII - DO MEIOAMBIENTE).

Fotos: Calico e Maurício