11
Empresas e direitos humanos: O elefante está finalmente saindo da sala?

Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

  • Upload
    dangdat

  • View
    224

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

22 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017

Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente saindo da sala?

Page 2: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23

Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de direitos

humanos universais inalienáveis que devem ser protegidos e respeitados.

No entanto, não há tanto consenso sobre como as empresas devem abordar

um tema que até recentemente era visto apenas como um dever do estado.

Com o aval dos Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas

e Direitos Humanos, as empresas começaram a reconhecer que elas

também têm um papel importante em assegurar que suas atividades não

impactem de forma adversa os direitos humanos. Melissa Castillo Spinoso,

Analista de Investimentos em Sustentabilidade, destaca o caso de negócios

pela proteção dos direitos humanos e explica como a RobecoSAM avalia a

abordagem das empresas com relação às questões de direitos humanos.

Há muitos anos, a responsabilidade das empresas

quanto ao respeito pelos direitos humanos tem sido

uma questão incômoda. Embora as empresas há muito

já conheçam as normas trabalhistas internacionais,

tais como a Declaração da Organização Internacional

do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais

no Trabalho (ver Quadro), até recentemente as

empresas não se davam conta da relevância de um

conceito mais amplo de direitos humanos para as

suas atividades de negócios. Tudo isso começou a

mudar após junho de 2011, quando o Conselho de

Direitos Humanos das Nações Unidas aprovou os

Princípios Orientadores para Empresas e Direitos

Humanos (“Princípios Orientadores”, ver Quadro),

que esclareceu o dever do estado de proteger os

direitos humanos e o dever corporativo de respeitá-

los. No entanto, muitas empresas ainda estão no

processo de entender como essa nova estrutura é

relevante para os resultados, e também como e

onde elas devem estar concentrando seus esforços

quando se trata de garantir que suas atividades não

tenham impacto adverso sobre os direitos humanos.

Melissa Castillo Spinoso

Analista de Investimentos

em Sustentabilidade

Page 3: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

24 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017

Estruturas de negócios e dos direitos humanosNos últimos 20 anos, foram lançados vários marcos e iniciativas nacionais e transnacionais oferecendo orientações

sobre como as empresas devem abordar questões sobre direitos humanos associadas às suas atividades de

negócios. Segue abaixo um breve resumo das iniciativas mais importantes para empresas e direitos humanos:

Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho:

Adotada em 1998, a declaração estabelece o compromisso dos membros da ONU de respeitar e

promover os quatro princípios fundamentais: o direito à liberdade de associação e acordos coletivos,

a eliminação do trabalho forçado, a abolição do trabalho infantil e a eliminação da discriminação no

local de trabalho. A Declaração garante ainda que esses direitos são universais e se aplicam a todas

as pessoas em todos os países, independentemente do nível de desenvolvimento econômico.

Abordagem Ruggie: Em 2008, o Representante Especial para Empresas e Direitos Humanos na ONU, John

Ruggie, propôs o marco “Proteger, Respeitar e Remediar” esclarecendo os papéis das empresas quando

se trata de salvaguardar os direitos humanos, estabelecendo as bases para adoção, três anos depois, dos

Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos. A abordagem é baseada

em três princípios fundamentais: o dever do estado de proteger contra violações dos direitos humanos por

parte de terceiros − incluindo empresas − através de políticas adequadas, regulamentação e adjudicação;

a responsabilidade corporativa de respeitar os direitos humanos e de abordar impactos adversos que

ocorrem; e a importância de dar soluções eficazes para as vítimas de violações dos direitos humanos.

Princípios Orientadores da ONU para Empresas e Direitos Humanos: Subscrita em 2011 pela Comissão de Direitos

Humanos das Nações Unidas e com base na Abordagem Ruggie, esses Princípios Orientadores servem de base para

o desenvolvimento de políticas e normas sobre empresas e direitos humanos. Como as diretrizes internacionais

mais respeitadas para lidar com temas de direitos humanos, os Princípios Orientadores das Nações Unidas e a

Abordagem Ruggie, na qual eles se baseiam, são frequentemente citados ou incorporados em regulamentos,

políticas e princípios adotados por governos, empresas, organizações internacionais e associações corporativas.

Planos Nacionais de Ação (NAPs): Como parte das responsabilidades do estado de implantar os “Princípios

Orientadores”, o grupo de trabalho da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos pediu a todos os países que

desenvolvam e implantem um Plano Nacional de Ação (ou National Action Plan - NAP) sobre empresas e

direitos humanos. Os NAPs foram criados para serem uma estratégia política, refletindo a responsabilidade

do estado de proteger contra violações dos direitos humanos relacionadas às empresas. Dez países já

desenvolveram NAPs, e outros 19 se comprometeram ou estão em processo de implantação de um NAP.

Princípios do Equador: Lançados em 2003, os Princípios do Equador são um marco de gestão

de riscos para ajudar instituições financeiras a avaliar e gerenciar riscos ambientais e sociais ao

decidirem sobre financiamento de projetos. Esse marco visa proporcionar um padrão mínimo de due

dilligence para tomada de decisões sobre risco. Os Princípios do Equador III, que entraram em vigor

em 2013, referiam-se especificamente à importância de respeitar os direitos humanos, com base

em itens descritos nos “Princípios Orientadores”, quando da tomada decisões sobre financiamento.

Atualmente, 85 instituições financeiras em 35 países já adotaram os Princípios do Equador1.

UK Modern Slavery Act: Promulgada em 2015, a Lei sobre Escravidão Moderna (ou Modern Slavery Act) foi

a primeira legislação nacional desse tipo. A lei exige que as empresas que operam no Reino Unido e que

tenham receita anual de pelo menos 36 milhões de libras publiquem uma “declaração sobre escravidão e

tráfico humano” como parte de seus relatórios anuais, detalhando as medidas que tomaram para assegurar

que abusos de direitos humanos e escravidão não ocorram em suas operações ou na cadeia de suprimentos.

1 http://www.equator-principles.com/

Page 4: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 25

Ao identificar por quais riscos elas podem ser responsabilizadas, as empresas obtêm uma melhor compreensão dos riscos para os negócios relacionados aos direitos humanos que sejam relevantes para os seus resultados.

Atualmente, o estudo de caso para direitos

humanos é principalmente motivado pela

mitigação de riscos ou uma abordagem de gestão

de riscos, em vez de por uma oportunidade ou

uma abordagem voltada à geração de valor.

No entanto, é importante observar que o risco de

direitos humanos significa coisas diferentes para

diferentes “players”. Do ponto de vista das Nações

Unidas, os riscos de direitos humanos para uma

empresa referem-se aos riscos que suas operações

representam aos direitos humanos: em outras

palavras, riscos para as pessoas. Do ponto de vista

da empresa, contudo, riscos de direitos humanos

têm sido tradicionalmente vistos como os riscos

que incidentes relacionados aos direitos humanos

podem representar para a própria empresa.

Obviamente, esses são dois lados da mesma moeda,

e quanto mais essas perspectivas diferentes, porém

complementares, estiverem alinhadas, maior será o

estudo de caso pelo respeito aos direitos humanos.

Ao identificar quais riscos elas podem causar às

pessoas ou por quais elas podem ser responsabilizadas,

as empresas obtêm uma melhor compreensão dos

riscos para os negócios relacionados aos direitos

humanos que sejam relevantes para os seus

resultados. Esses riscos para os negócios geralmente

se enquadram em uma de três grandes categorias:

Risco operacional: Possivelmente o mais

óbvio dos riscos para os negócios relacionados

aos direitos humanos, os riscos operacionais

incluem atrasos ou cancelamento de projetos,

reclamações da comunidade, aumento da

dificuldade para obter ou renovar licenças, ou

perda da licença de operação, entre outros.

Risco à reputação: O envolvimento das

empresas em violações dos direitos

humanos é muitas vezes acompanhado

por repercussões negativas na mídia, que

podem resultar em boicotes de consumidores,

perda de valor da marca, ou dificuldade

em atrair novos talentos, entre outros.

Adicionalmente, a reputação de uma empresa

pode ser prejudicada como resultado de

uma violação, suposta ou percebida, dos

direitos humanos, independentemente

de tal violação ter ou não ocorrido.

Riscos legais: A não observação dos direitos

humanos também pode ter implicações legais

para as empresas. Isso inclui longas ações

judiciais ou multas punitivas decorrentes da

aplicação pelo governo de leis nacionais,

tais como a Lei sobre Escravidão Moderna,

do Reino Unido (ver Caixa). Com relação à

legislação interna, é importante observar que

há discussões em andamento para introduzir

um instrumento juridicamente vinculativo

que insere a proteção dos direitos humanos

no direito internacional, responsabilizando

as empresas por suas atividades, e que

representa um possível risco regulatório novo

que as empresas devem acompanhar de perto.

Todos esses riscos podem afetar diretamente os

resultados de uma empresa ao impactarem os

principais geradores de valor, tais como lucratividade

através do aumento dos custos, gerando margens mais

baixas, ou através da perda de receita. Eles também

podem prejudicar as perspectivas de crescimento da

empresa em novos mercados ou aumentar seu perfil de

risco. Por fim, todos esses aspectos influenciarão o valor

de uma empresa e sua atratividade para investidores.

Estudo de caso para direitos humanos

Page 5: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

26 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017

Respeitar os direitos humanos pode levar a um melhor relacionamento com stakeholders, melhor reconhecimento da marca e a um ambiente de negócios que proporcione maior certeza às empresas.

Mas não se trata apenas de riscos...Embora seja mais difícil quantificar os impactos positivos

que as políticas de direitos humanos das empresas têm

sobre os lucros, é importante ter em mente que respeitar os

direitos humanos pode levar a melhores relacionamentos

com os “stakeholders”, tais como governos e comunidades,

melhor reconhecimento da marca e em médio ou

longo prazo, conseguir um ambiente de negócios

que proporcione maior segurança às empresas.

Além disso, a ascensão do consumidor socialmente

consciente que cada vez mais decide comprar produtos que

tenham sido produzidos com responsabilidade representa

uma oportunidade de mercado, favorecendo empresas

comprometidas com os direitos humanos. Alguns exemplos

disso são as práticas de comércio justo que defendem

salários justos para produtores, bem como melhores

normas sociais e ambientais. De acordo com a American

Marketing Association, a Geração Y (“Millennials”)

representa USD 2,45 trilhões em poder de compra, e

70% deles estão dispostos a gastar mais em marcas que

apoiem causas que sejam importantes para eles.2

Por fim, um dos ativos mais importantes para uma

empresa − o capital humano − também pode ser

positivamente afetado através do aumento no

envolvimento dos funcionários e da produtividade,

assim como a melhor retenção e atração de talentos,

em especial em termos da Geração Y, que busca

empregadores com foco no tripé da sustentabilidade.

De acordo com o relatório Millennial Impact Report de

2014, mais de 50% dessa geração foi influenciada

para aceitar um emprego com base no envolvimento

da empresa com as causas que eles apoiam.3

2 American Marketing Association. https://www. ama.org/publications/ MarketingNews/Pages/ millennial-demand-forsocial- responsibilitychanges- brand-strategies. Aspx

3 The 2014 Millennial Impact Report. http://fi.fudwaca. com/mi/files/2015/04/ MIR_2014.pdf

A RobecoSAM acredita que sólidas práticas de direitos

humanos contribuem para o valor em longo prazo, e

que investidores que escolherem empresas mais bem

equipadas para prevenir e gerir riscos provenientes

de impactos negativos de direitos humanos podem

maximizar o retorno em longo prazo, aproveitando

os benefícios positivos mencionados anteriormente.

Da mesma forma, investidores institucionais e

fundos de pensão em especial, começaram a aplicar

parâmetros de direitos humanos em suas carteiras. Por

exemplo, em fevereiro passado, o fundo de pensão do

governo norueguês (USD 700 bilhões) publicou uma

nova política de direitos humanos, na qual descrevia

sua expectativa para as empresas se integrarem às

políticas de direitos humanos e reportarem avanços;

o fundo também afirma sua intenção de se desfazer

de investimentos em empresas que regularmente

ignoram ou deixam de respeitar os direitos

humanos. Da mesma forma, em setembro último,

o Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB-

USD 221,1 bilhões), anunciou que havia adicionado

direitos humanos como um dos quatro focos para

se envolver com as empresas em que investe.

Nesse sentido, a RobecoSAM adotou os Princípios

Orientadores das Nações Unidas sobre Negócios

e Direitos Humanos e tem como objetivo

identificar quais empresas têm um compromisso

ativo em respeitar os direitos humanos em seus

negócios e relacionamentos de negócios.

O critério de direitos humanos na Avaliação de

Sustentabilidade Corporativa da RobecoSAM (CSA) é

composto por três componentes principais, descritos

na Figura 1: compromisso com direitos humanos,

due diligence e avaliação de direitos humanos,

e reporte sobre direitos humanos. Esse critério é

complementado pela Análise de Mídia e Stakeholders

(Media & Stakeholder Analysis - MSA), que monitora

se fontes de notícias externas ou outras organizações

reportam violações possíveis ou reais dos direitos

humanos pelas empresas que poderiam ter um

impacto negativo em sua reputação ou resultados, e

como as empresas responderam à esses incidentes.

A abordagem da RobecoSAM para avaliar direitos humanos

Sólidas práticas de direitos humanos contribuem para gerar valor no longo prazo.

Page 6: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 27

Compromisso com os direitos humanosDe acordo com a abordagempios Ruggie (ver Quadro),

um compromisso de respeitar os direitos humanos

deve estar contido na política das empresas. Portanto,

pedimos às empresas que nos enviassem suas atuais

políticas de direitos humanos, ou descrições detalhadas

de seus compromissos de respeitar os direitos humanos

e de que forma os direitos humanos estão incorporados

em suas atividades. Mencionar a participação em

iniciativas globais, tais como o Pacto Global ou outras

iniciativas específicas do setor, não foi considerada

como substituta de uma política global dos direitos

humanos. Uma política abrangente deve incluir pelo

menos os três seguintes elementos fundamentais:

• um compromisso explícito de respeitar todas

as normas de direitos humanos reconhecidas

internacionalmente − tais como a Declaração Universal

dos Direitos Humanos e a Declaração da OIT sobre

os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho

• um esboço daquilo que a empresa espera

de seus funcionários, parceiros de negócios

e outros stakeholders quando se trata

de respeito aos direitos humanos

• informações sobre como a empresa planeja

implantar seu compromisso. 4

Também avaliamos empresas em termos de

o quanto a política de direitos humanos delas

cobriam as atividades diretas da empresa, os

segmentos “downstream” e “upstream” da

cadeia de valor e joint ventures. A fim de atribuir

pontos para essa pergunta, solicitamos que as

empresas fornecessem documentação de apoio.

Due diligence e avaliação de direitos humanosA abordagem Ruggie também recomendam que as

empresas realizem uma due dilligence sobre direitos

humanos a fim de identificar, prevenir, mitigar e

assumir responsabilidade sobre como tratam seus

impactos adversos sobre os direitos humanos. Assim,

essa questão avalia como as políticas de direitos

humanos das empresas se traduzem em ações reais.

Perguntamos se, nos últimos três anos, as empresas

haviam ou não feito uma due dilligence sistemática.

Pedimos também que as empresas quantificassem o

quanto dos seus negócios haviam sido avaliados em

termos de questões de direitos humanos e divulgassem

qual percentagem das atividades da empresa foi

definida como estando em risco. Então, pedimos que as

empresas indicassem para qual percentual dessas áreas

de risco foram desenvolvidos planos de mitigação.

Por último, pedimos que as empresas informassem

quais grupos vulneráveis, tais como crianças, mão

de obra migrante ou grupos indígenas, foram

identificados através desse processo de avaliação

e que fornecessem informações corroborativas.

4 UN Global Compact, https://www.unglobalcompact.org/docs/issues_doc/human_rights/Resources/HR_Policy_Guide_2nd_Edition.pdf

Figura 1: Estrutura da RobecoSAM para avaliar políticas de direitos humanos das empresas

Fonte: RobecoSAM

MSA de Direitos Humanos

Compromisso com os Direitos Humanos

Reporte sobre Direitos Humanos

Due Diligence e Avaliação de Direitos Humanos

Um compromisso de respeitar os direitos humanos deve estar contido na política das empresas.

Page 7: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

28 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017

Os resultados descritos nas páginas seguintes baseiam-se em 867 empresas que participaram da Avaliação

de Sustentabilidade Corporativa 2016. Uma análise comparativa do critério total de pontuação por região

geográfica e por grupo setorial (usando grupos setoriais da GICs) proporciona insights interessantes

sobre como as empresas em diferentes regiões e setores abordam as questões de direitos humanos.

Conclusões a partir dos dados de 2016

Figura 2: Pontuação* média do critério de direitos humanos por região

Fonte: RobecoSAM

Região Europa África América do Norte América Latina Ásia-Pacífico *Pontuação entre 0 e 100

58

62

56

67

61

Reporte sobre direitos humanosA transparência é importante para desenvolver

confiança com clientes, investidores e comunidades.

Ajuda também os investidores a entender o avanço

dos esforços da empresa, os riscos potenciais

que enfrenta e permite-lhes responsabilizar

as empresas por seus compromissos.

Portanto, essa questão premia aquelas empresas que

têm uma abordagem transparente para comunicar seus

esforços, conquistas e resultados de sua due dilligence

sobre a questão dos direitos humanos. Comunicados

públicos das empresas não deveriam ficar limitados a

apenas mencionar grandes temas, mas deveriam sim

fornecer informações detalhadas sobre uma série de

tópicos associados à política de direitos humanos e

sua implantação. Idealmente, comunicados públicos

devem incluir o compromisso da empresa, o processo

de identificação e mitigação de riscos associados aos

direitos humanos, o número de locais com planos

de mitigação, as principais questões identificadas,

os grupos vulneráveis identificados e as medidas de

remediação em casos em que ocorram violações. A transparência é importante para desenvolver confiança com clientes, investidores e comunidades.

Pontuação Global Média:

60

Page 8: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 29

5 United Nations Human Rights Office of the High Commissioner (2016). http://www.ohchr.org/EN/ Issues/Business/Pages/ NationalActionPlans.aspx

6 Eckert, Vanina (2016). The French Attempt to Legalize Human Rights Due Diligence: Is France leading the European Union in Business and Human Rights? https://lup.lub.lu.se/ student-papers/search/ publication/8893265

7 United Nations Human Rights Office of the High Commissioner (2016). http://www.ohchr.org/EN/ Issues/Business/Pages/ NationalActionPlans.aspx

8United States Government website for human rights (2016). http://www. humanrights.gov/dyn/ issues/business-andhuman- rights/nationalaction- plan.html

Figura 3: Pontuação média do critério de direitos humanos por grupo setorial

Fonte: RobecoSAM

Concessionárias de Serviços Públicos

Produtos Domésticos e Pessoais

Serviços de Telecomunicações

Bancos

Materiais

Hardware e Equipamentos de Tecnologia

Serviços Comerciais e Profissionais

Automóveis e Peças

Semicondutores e Equipamentos Semicondutores

Seguros

Bens de Capital

Pontuação média

Energia

Serviços ao Consumidor

Alimentos, Bebidas e Tabaco

Varejo de Alimentos e Produtos Básicos de Consumo

Transportes

Bens de Consumo Duráveis e Vestuário

Software e Serviços

Farmacêutica, Biotecnologia e Ciências da Vida

Finanças Diversas

Serviços Imobiliários

Mídia

Equipamentos e Serviços de Saúde

Varejo

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Pontuação Média

62

61

61

61

60

63

64

65

65

66

58

58

57

57

57

58

59

60

60

57

56

54

54

53

53

A Europa lideraEmpresas europeias obtiveram as maiores pontuações

médias. Em nível de país, a Espanha lidera a região,

seguida pelos Países Baixos, França e Finlândia.

Isso não chega a ser uma surpresa, com a Europa

liderando na criação de Planos de Ação Nacionais

(NAP, ver Quadro). Dos dez países que desenvolveram

NAPs, nove são europeus5. Espanha, Finlândia e

Países Baixos já têm um NAP preparado, e a França

está defendendo a criação de uma due dilligenge

obrigatória de direitos humanos em nível da UE.6

A América Latina segue, com a Colômbia

ocupando o 10º lugar, com um NAP implantado,

e Argentina, Chile, Guatemala e México já

estão em processo de desenvolver o seu.7

Em nossa amostra de dados, a região da África é

basicamente composta por empresas sul-africanas. A

África do Sul é um daqueles países em que as Instituições

Nacionais de Direitos Humanos (NHRI, na sigla em inglês)

e/ou a sociedade civil já avançaram no desenvolvimento

de um NAP: em março de 2015, a Comissão Sul-Africana de

Direitos Humanos e o Instituto Dinamarquês dos Direitos

Humanos desenvolveram um Guia do País sobre Direitos

Humanos e Empresas para melhorar as práticas de direitos

humanos das empresas que operam na África do Sul.

Empresas norte-americanas estão atrasadas em

termos da integração dos direitos humanos em seus

processos e políticas corporativas. Isso poderá mudar

em breve, à medida que os Estados Unidos estão em

processo de desenvolver um NAP visando estabelecer

parcerias com empresas americanas para promover

uma conduta de negócios responsável e transparente.8

Por fim, a região Ásia-Pacífico teve a menor

pontuação média do critério, com a Tailândia

recebendo a pontuação mais alta na região, e

Qatar, China e Indonésia na extremidade oposta.

Page 9: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

30 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017

Concessionárias de serviços lideram enquanto varejistas ficam para trásEm nível de indústria, as concessionárias de serviços

lideram. Os riscos associados a direitos humanos para

as concessionárias de serviços vêm principalmente dos

direitos trabalhistas e de possíveis impactos a grupos

vulneráveis (por exemplo, populações indígenas),

uma vez que seu grande volume de ativos fixos pode

afetar grandes extensões povoadas. Além do mais, o

setor de concessionárias é altamente regulamentado,

com concessionárias do setor privado muitas vezes

competindo com concessionárias de serviços estatais

para obter licença de operação, proporcionando a

elas um incentivo importante para incorporar as

questões públicas em seus processos de gestão.

A indústria varejista está atrasado em relação às demais

indústrias. Trata-se de um setor muito diversificado,

englobando varejistas tradicionais baseados em

loja física ou on-line, lojas especializadas e lojas de

departamento e distribuidores. Muitos têm uma cadeia

de suprimentos complexa e alguns já alcançaram

excelentes progressos abordando questões da cadeia

de suprimentos, mais especificamente no setor de

vestuário (seguindo a tendência da indústria têxtil e dos

fabricantes de artigos esportivos). No entanto, muitos

varejistas não têm nem buscam contato direto com os

fabricantes originais, não aceitando a responsabilidade

por problemas relacionados à fabricação, tais como

salários e condições de trabalhadores nas fábricas

da cadeia de suprimentos e muitas vezes trocam de

fornecedores na busca constante por locais com menor

custo de produção. Algumas indústrias de produtos

têm crescente conscientização de consumidores sobre o

impacto social de mercadorias baratas – e novamente,

o setor de vestuário tem feito progressos – entretanto,

não é raro que decisões de compra sejam tomadas

exclusivamente por questão de preço e qualidade.

Com alguns poucos varejistas tentando desafiar esse

cenário e até mesmo transformar o varejo responsável

numa vantagem competitiva para a marca, esperamos

ver algum avanço em transparência e compromisso

ao abordarmos os direitos trabalhistas. Contudo,

provavelmente esse será um avanço inconsistente e lento,

a menos que haja uma grande mudança em termos da

ênfase do consumidor pelo baixo preço a qualquer custo.

Cobertura do compromisso de direitos humanosComo mostrado na Figura 4, as empresas têm

implantado, de forma proativa, políticas que cobrem

suas próprias atividades e cadeias de valor. No entanto,

a cobertura para joint-ventures continua fraca em todas

as regiões. Um total de 86% das empresas participantes

têm um compromisso com direitos humanos em vigor,

e apenas 66% têm uma política satisfatória de direitos

humanos (que contenha os três elementos-chave

descritos anteriormente) cobrindo suas atividades

diretas. 60% das empresas participantes têm políticas

de direitos humanos que cobrem a cadeia de valor,

e apenas 24% das empresas têm políticas de direitos

humanos que se estendem às suas joint-ventures.

Mais uma vez, a Europa lidera o grupo, com 93%

das empresas participantes tendo um compromisso

em vigor e com 77% das empresas tendo cobertura

satisfatória para as suas atividades diretas, 75% para

a sua cadeia de valor e 39% para as joint-ventures.

Figura 4: O que cobrem as políticas de direitos humanos das empresas?

Política em vigor Atividades Diretas Cadeia de Valor Joint Ventures

Fonte: RobecoSAM

100%

80%

60%

40%

20%

0

Mundo América do Norte Europa América Latina Ásia-Pacífico África

86

6660

24

78

61 61

16

93

77 75

39

79

6357

22

86

60

48

15

74

53

4237

Page 10: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 31

Due Diligence e AvaliaçãoUm Compromisso com Direitos Humanos é um bom

primeiro passo, mas não o suficiente para ajudar

investidores a entender o quão bem as empresas têm

incorporado práticas de direitos humanos às normas

e processos corporativos. À medida que analisamos

mais a fundo, é possível ver que 66% das empresas

realizam due dilligence e apenas 64% avaliaram,

nos últimos três anos, quais das suas atividades

de negócios estão expostas às questões de direitos

humanos. Dentre as empresas que identificaram

grupos vulneráveis a violações dos direitos humanos,

os três grupos principais citados foram: crianças

(citadas por 46% das empresas) povos indígenas

(26%), e mão de obra migratória (27%). 48% das

empresas citaram outros grupos vulneráveis, tais

como mulheres e minorias religiosas, entre outros.

A transparência nos relatórios sobre direitos humanos ainda é um desafio Das 744 empresas que têm uma política de

direitos humanos em vigor, 73% a disponibilizaram

publicamente. Ainda assim, das 575 empresas que

avançaram em due dilligence, apenas 37% divulgam

publicamente os resultados desse processo. Apenas

39% das empresas que identificaram possíveis questões

de direitos humanos e grupos vulneráveis divulgaram

publicamente essa informação, e das empresas que têm

planos de mitigação em vigor, apenas 14% reportam

o número de locais que contêm planos de mitigação.

Das 203 empresas que adotaram ações de remediação

para compensar impactos negativos de direitos

humanos, apenas 26% informaram esse fato. Por fim,

233, ou 27% das 867 empresas participantes, não

reportam questões associadas aos direitos humanos.

Um Compromisso com Direitos Humanos é um bom primeiro passo, mas não o suficiente para ajudar investidores a entender o quão bem as empresas têm incorporado práticas de direitos humanos às normas e processos corporativos.

27% das empresas participantes não divulgam publicamente nenhuma informação sobre questões relacionadas aos direitos humanos.

Figura 5: Empresas que realizam avaliações de sua exposição às questões de direitos humanos

Sim Não Nenhuma informação

25%

11%

64%

Fonte: RobecoSAM

Figura 6: Empresas reportando sobre questões de direitos humanos

100%

80%

60%

40%

20%

0

Política de direitos humanos em vigor

Realização de processo de due

diligence

Questões dedireitos humanos e grupos

vulneráveis identificados

Número de locais com planos de mitigação

Medidas de remediação tomadas

Divulgam publicamente questões associadas aos direitos

humanos

201

543

365

210

225

145

243

40

150

53

233

634

Número de empresas reportando Número de empresas não reportando

Fonte: RobecoSAM

Page 11: Empresas e direitos humanos: O elefante está fi nalmente ... · The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 23 Quase todos concordam que as pessoas nascem com uma série de

32 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017

Bancos lideram em termos de transparênciaDe acordo com dados da RobecoSAM, os bancos

são o setor que melhor reportam sobre direitos

humanos. Isso reflete os esforços dos bancos para

recuperar a confiança dos stakeholders e alcançar

as expectativas em termos de conformidade,

ética e boa governança. Isso também está em

linha com a crescente adoção dos Princípios de

Investimento Responsável e o reconhecimento

da importância de considerar os impactos do

financiamento sobre os direitos humanos, de acordo

com os Princípios do Equador III (ver Quadro).

As empresas têm enorme poder para avançar nas

questões dos direitos humanos. O estudo de caso

torna-se ainda mais atraente quando consideramos

que 69 das 100 principais entidades econômicas

do mundo são empresas, e não países, e que as

10 maiores empresas juntas faturam mais do que

a maioria dos países do mundo somados.9

A pontuação média em 2016 neste critério (60/100)

é ainda um tanto baixa, tendo, por um lado, poucas

empresas liderando e contando com processos

plenamente integrados e, por outro, muitas

empresas lutando para integrar seus mecanismos

existentes numa abordagem holística coordenada.

Todavia, se colocarmos em perspectiva, podemos dizer

que as empresas em geral adotaram rapidamente

os Princípios Orientadores desde seu endosso em

2011. A maioria já respondeu criando políticas e

compromissos, e muitas realizaram pelo menos uma

due diligence e avaliação parcial de seus impactos

potenciais ou reais sobre os direitos humanos. A

divulgação ainda é fraca, uma vez que as empresas

temem as consequências de uma maior transparência,

tais como responsabilização e danos à reputação.

Muitos desafios ainda permanecem, mas aquela

questão incômoda está lentamente sendo

abordada. O paradigma está mudando rumo a uma

estrutura bem definida que espera que as empresas

desempenhem um papel mais proativo no respeito

aos direitos humanos. Stakeholders e investidores

em particular querem entender melhor como as

empresas estão administrando e mitigando seus riscos

relacionados aos direitos humanos e, assim, exigem

maior transparência. E, por fim, as empresas agora

começam a reconhecer um caso de negócio mais

atraente para os direitos humanos - um que vai além

da conformidade com novas regulamentações, tais

como o Modern Slavery Act do Reino Unido, até uma

que reconhece os benefícios que sólidas práticas de

direitos humanos podem trazer para os resultados

financeiros de uma empresa. Isso, por sua vez, acabará

por gerar externalidades positivas que proporcionarão

às empresas um ambiente operacional mais estável.

A RobecoSAM continuará incentivando as empresas a

implantarem políticas de direitos humanos por meio

da nossa Avaliação de Sustentabilidade Corporativa.

Ao desenvolvermos perguntas que capturem os

aspectos mais relevantes de direitos humanos para

empresas e investidores, e ao nos envolvermos com

as empresas por meio de solicitações de feedback,

podemos destacar a importância e os benefícios de

termos políticas e processos de direitos humanos.

Finalmente, continuaremos a nos comunicar

com empresas sobre melhores práticas e a criar

pesquisas relevantes que proporcionem às empresas

oportunidades de aprendizagem para melhorar seu

desempenho e para melhor entender onde elas

estão posicionadas em relação aos seus pares.

Conclusões e perspectivas

As empresas têm enorme poder para avançar nas questões dos direitos humanos.

9 Global Justice Now (2016) http://www.globaljustice.org.uk/news/2016/sep/12/10-biggest-corporations-make-more-money-most-countries-world-combined