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João Alexandre Netto Bittencourt
Felipe Bonoto Fortes
Organizadores
ENSAIOS DE CRIMINOLOGIA
3ª Edição
São Paulo
Editora Perse
2016
Título
Ensaios de Criminologia
Todos os direitos reservados aos organizadores. Proibida a reprodução no todo ou em parte, salvo em citações com a indicação da fonte.
Printed in Brazil/Impresso no Brasil
ISBN 9788546402496
Organização e diagramação: Organizadores
Designer de capa: Felipe Bonoto Fortes
Autoria e revisão: Autores
É de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos e
opiniões, bem como a originalidade dos respectivos textos.
Ficha Catalográfica:
A866e Bittencourt, João Alexandre Netto; Fortes, Felipe Bonoto.
(Orgs.)
Ensaios de Criminologia / João Alexandre Netto Bittencourt;
Felipe Bonoto Fortes. São Paulo: Perse, 2016.
95 p.; 14x21 cm
ISBN 9788546402496
1 Keen J. e o Direito Contemporâneo. 2 O Voto do Ministro
Foster em o Caso dos Exploradores de Caverna à Luz do Direito
Brasileiro. 3 Abstenção no Voto do Ministro Tatting. 4 O Caso dos
Exploradores de Caverna Analisado Perante a Ótica dos Intitutos do
Estado de Necessidade e da Inexigibilidade de Conduta Diversa como
Causa Supralegal de Exclusão da Culpabilidade, Conforme o Direito
Brasileiro. 5 Do Processo a que Foram Submetidos os Espeleologos.
CDD: 342
Índice para catálogo sistemático:
Apresentação
A presente obra, denominada Ensaios de Criminologia, produzida
pelo Grupo de Estudos do Curso de Direito da Universidade
Luterana do Brasil, denominado Criminologia e Transmutação,
cadastrado no CNPQ, link
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=5016
60109LU2BN tem o escopo de fomentar os acadêmicos a perquirir os
conhecimentos humanos na área psico-criminal, buscando,
sobretudo, motivá-los à iniciação científica.
Constitui-se a pesquisa em importante meio de construção do
conhecimento, pois, não resta dúvida que o conhecimento adquirido
através de atos de iniciação científica está em posição superior aos
atos cognitivos de sala de aula.
A pesquisa na Universidade está ligada diretamente ao
comprometimento com a educação, como motor do progresso dos
povos, alinhando-se, assim, com os ditames constitucionais de nosso
sistema educacional.
A necessidade da pesquisa visa fomentar os alunos na busca
de novos conceitos humanos, um ser complexo e sempre em
evolução, já, a publicação, esta estreitamente ligada à extensão, ou
seja, a obrigação de entregar para quem queira dela se beneficiar, os
conhecimentos perquiridos, fechando-se, desta forma, o ciclo da
educação universitária, previsto na Carga Magna, que é a interligação
direta do ensino, pesquisa e extensão.
Nesta linha, a Universidade Luterana do Brasil, campus
Cachoeira do Sul e seu curso de Direito, preocupados na produção do
conhecimento e do aperfeçiçoamento dos acadêmicos do curso,
sempre incentivaram a pesquisa e a publicação, instituindo, para tanto,
além das Mostras de Conhecimento Científico, o livro do Curso de
Direito, agora, com um ângulo dirigido à violência, sua contenção e
direitos humanos, o Grupo de Estudos sobre Criminologia, começa
aprofundar o conhecimento dos acadêmicos nesta ciência humana,
tão instigante quanto misteriosa. Ainda é um começo, são pesquisas
ainda inicais, mas, certamente, já frutificaram e instigaram diversas
mentes, principalmente dos próprios jovens pesquisadores.
Nesta terceira edição os jovens pesquisadores debruçaram-se
sobre o famoso livro intulado “O caso dos Exploradores de
Cavernas”. Nos conta o autor desta obra que 5 espeleólogos, quando
no interior de uma caverna, são surpreendidos com um
desmoronamento, impedindo a saída, os quais, apesar de conseguirem
comunicação com o mundo exterior, não tinham expectativa de
sobrevivência, pois, até o socorro chegar, estariam mortos por
inanição.
Diante da má perspectiva um dos amigos propõe um sorteiro,
o “privilegiado” seria morto para servir de alimento aos demais.
Relatada tal proposião, nem mesmo os juristas chamados a discutir a
situação sabiam se seria legal tal situação.
Independentemente da legalidade e já contra a vontade do
proponente do jogo da “vida ou da morte”, foi realizada a aposta,
recaindo o “prêmio” justamente sobre o seu idealizador, que antes, já
havia se arrependido de sua proposição. Por fim, houve a morte e os
demais sobreviveram e foram levados a julgamento.
O fictício caso se passa nos EUA, onde ocorreram os
trabalhos processuais e penais. Após os julgamentos em primeira e
segunda instâncias subsiste a condenaçaõ dos espeleólogos pela morte
do companheiro.
Esta famosa obra de ficção é muito debatida nas faculdades de
direito no momento em que se estuda a teoria do crime, a fim de se
discutir se seria ou não um crime de homicídio se se os espeleólogos
deveriam ser condenados ou estariam albergados por alguma
excludente.
Diante disso a pesquisa do grupo resumiu-se em propor uma
comparação entre o direito aplicado ao caso fictício e o direito
brasileiro, principalmente discutir se a condenação dos exploradores
seria sustentada pela lei brasileira.
A fim de complementar o trabalho foram pesquisados e
discutidos todos os conteúdos penais e processuais penais
identificados na obra, fazendo-se um compartivo com a lei brasileira,
como a forma de julgamento, o tribunal julgador, o estado de
necessidade, etc. Nesta edição obtivemos, em busca da excelência, a
agregação do conhecimento psicológico, pois, em nome da
transdisciplinariedade, em um dos textos, que trata da imputabilidade,
foi pesquisado e redigido pelos alunos da graduação em direito com a
colaboração de uma, também jovem pesquisadora, da área da
psicologia.
Conscientes de que a investigação científica é imprescindível
para manter o nível acadêmico do ensino, está-se entregando ao
público ótimos trabalhos, fundados em pesquisa metodológica, fruto
do esforço de um grupo de acadêmicos, ávidos pelo conhecimento e
pela possibilidade de transformar realidades em seu entorno.
Sumário
KEEN, J. E O DIREITO CONTEMPORÂNEO..............................9
Felipe Bonoto Fortes
Ricardo Aires Costa
Vinicius Brum Barbosa
O VOTO DO MINISTRO FOSTER EM O CASO DOS
EXPLORADORES DE CAVERNA À LUZ DO DIREITO
BRASILEIRO.........................................................................................33 Natalia Schwalm Trescastro
João Alexandre Netto Bittencourt
ABSTENÇÃO NO VOTO DO MINISTRO
TATTING...............................................................................................47 Camila Peres de Athayde Teixeira Ferreira
Chistian Hellen da Rosa Pedroso Vanessa Nogueira
O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS
ANALISADO PERANTE A ÓTICA DOS INSTITUTOS DO
ESTADO DE NECESSIDADE E DA INEXIGIBILIDADE
DE CONDUTA DIVERSA COMO CAUSA SUPRALEGAL DE
EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE, CONFORME O
DIREITO BRASILEIRO....................................................................59
Carolina da Silva Pedroso
Felipe Grings Dias
Jéssica Vivian Martins
João Alexandre Netto Bittencourt
Jonathas Teixeira Cezaro
DO PROCESSO A QUE FORAM SUBMETIDOS OS
ESPELEOLOGOS................................................................................79
Jéssica Lidiane da Silva Morais Luiz Rogério Rodrigues de Matos Júnior
Renata Dutra da Silva
Criminologia e Transmutação
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KEEN, J. E O DIREITO CONTEMPORÂNEO
Felipe Bonoto Fortes1
Ricardo Aires Costa2
Vinicius Brum3
RESUMO – Na concepção deste trabalho buscamos realizar
uma análise ao voto deferido por Keen J., magistrado de segundo
grau, apresentado na obra do autor estadunidense Lon Fuller “O
Caso dos Exploradores de Caverna”, assim identificando os
principais aspectos jurídicos e suas aplicabilidades em referências
forenses da atualidade. Os principais temas abordados serão: o
indulto, apresentado na obra como clemência executiva; a legítima
defesa, se poderia ser aplicada tanto na história fictícia como se o caso
tivesse realmente ocorrido na vigência do ordenamento jurídico
brasileiro; e por fim o conflito entre o direito natural e o direito
positivo, abordando ainda neste tópico a importância e não
interferência das convicções pessoais do magistrado ao tomar sua
decisão. O caso narrado por Lon Fuller, embora seja fictício, ajuda a
refletir sobre diversos temas relacionados ao Direito. E um estudo de
caso sobre esta obra é de suma importância, pois, além de elucidar os
1 Acadêmico de Direito, 9º Semestre, Ulbra – Universidade Luterana do Brasil Campus Cachoeira do Sul, pesquisa realizada no grupo de Criminologia e Transmutação, cadastrado no CNPq; 2 Acadêmico de Direito, 7º Semestre, Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Campus Cachoeira do Sul, pesquisa realizada no grupo de Criminologia e Transmutação, cadastrado no CNPq; 3 Acadêmico de Direito, 9º Semestre, Ulbra - Universidade Luterana do Brasil Campus Cachoeira do Sul, pesquisa realizada no grupo de Criminologia e Transmutação, cadastrado no CNPq.
Ensaios de Criminologia
9
fundamentos que levaram o magistrado a votar desta determinada
maneira, poderá contribuir para diversas aplicações futuras que
envolvam os temas desenvolvidos nesta análise.
PALAVRAS-CHAVES – Criminologia; Filosofia; Direito.
ABSTRACT – In designing this work we perform an analysis
to vote granted by J. Keen, second degree magistrate, presented at the
American author's work Lon Fuller "The Case of Cave Explorers",
thus identifying the main legal aspects and their applicability in
forensic references today. The main topics covered will be: pardon,
presented the work as executive clemency; self-defense, could be
applied in both the fictional story as if the case had actually occurred
in the presence of Brazilian law; and finally the conflict between
natural law and positive law, still addressing this topic and the
importance of non-interference of the magistrate personal beliefs
when making your decision. The case narrated by Lon Fuller,
although fictional, it helps to reflect on various topics related to law.
And a case study of this work is very important because, in addition
to elucidate the reasons which led the magistrate to vote this certain
way, can contribute to a number of future applications involving the
themes developed in this analysis.
KEYWORDS: Criminology; Philosophy; Right.
SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. A Sentença de KEEN, J.; 3.
Excludente de legítima defesa; 4. Direito Natural x Direito Positivo;
4.1. O voto de KEEN, J. em face do Jusnaturalismo e do
Positivismo Jurídico; 5. Competência sobre a Clemência Executiva;
5.1. Graça ou Indulto individual; 5.2. Indulto Coletivo; 5.3.
Avaliação Judicial; 5.4. Vedações aos perdões judiciais; 5.5.
Aplicação dos institutos aos exploradores; 6. Considerações Finais;
7. Referencial Teórico.
Criminologia e Transmutação
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1. Introdução
A obra de Lon Fuller "O Caso dos Exploradores de Caverna"
aborda diversos tópicos relacionados ao direito e à criminologia. O
livro apresenta um julgamento proferido por cinco juízes de segunda
instância, nela os magistrados votam e fundamentam se mantêm ou
reformam a sentença condenatória proferida em primeiro grau.
O juiz Keen J., um dos magistrados de segunda instância, vota
por manter a condenação, porém é importante salientar que a
fundamentação dada por este julgador é a parte mais importante do
voto, pois apresenta ao leitor vários conflitos enfrentados pelo
direito.
Keen J., inicialmente, fala sobre a clemência, e como ela não é
de sua competência. Após isso deixa claro que se fosse julgar com
base nas suas convicções pessoais, iria votar contra a condenação dos
acusados pois entende que os réus já sofreram muito e que não
poderia ser exigido outro caminho sem ser o que foi tomado pelos
réus.
Entretanto, em sua decisão definitiva, ele segue a teoria do
positivismo estrito, e aplica a lei pura ao caso, deixando de ser
influenciado pela dúvida pessoal de que se os atos dos acusados
foram certos ou errados, aplicando apenas o que a lei diz se é certo
ou errado.
Com base nisto, a presente pesquisa tem por objetivo analisar
os fatores que influenciaram o voto do juiz Keen J., a clemência, a
ausência de legitima defesa e o conflito entre o direito positivo e o
direito natural, além de correlacionar de estas teorias com as utilizadas
atualmente no nosso ordenamento jurídico.
Ensaios de Criminologia
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2. A sentença de Keen, J.
KEEN, J. é o magistrado responsável pelo quarto voto
proferido no julgamento dos exploradores de caverna, voto em que
fez jus ao positivismo jurídico, decidindo estritamente conforme
prevê o enunciado do N.C.S.A. §12-A, o que resultou na condenação
dos exploradores.
Atribuído no exercício legal de sua função, KEEN, J. entendia
que ao aplicar sua moralidade subjetiva estaria obedecendo a um
clamor próprio, então ao proferir sua sentença, seguiu a forma jus
positivista em votar pela condenação dos réus, uma vez que, ambos
praticaram o fato previsto em lei e não se adequavam a nenhuma
espécie de exclusão de culpabilidade.
Durante seu relato, foram observados diversos pontos, em
questão as decisões aplicadas utilizando-se da moralidade para
interpretação da norma penal o que muitas vezes resultava em
lacunas na lei, deixando de seguir o que lhe era atribuído em razão da
função.
Salientou ainda a questão da não aplicabilidade do instituto da
legítima defesa, tendo em vista que em momento algum o de cujus
representou ameaça aos exploradores, sendo que o ato de ceifar o
mesmo foi atuado por livre espontânea vontade dos acusados,
deixando assim de atender o requisito material do dispositivo.
Muito embutido na função a qual lhe pertencia, KEEN, J.
votou pela procedencia da execução dos réus, mesmo que no seu
intímo ainda lhe sugerisse o contrário por questões morais, o mesmo
não restou vício em aplicar o que lhe era devido.
3. Excludente de legítima defesa
Agora, o âmbito da exceção em favor da legítima
defesa, tal como tem sido aplicada por este Tribunal,