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ENSINAR E APRENDER GEOGRAFIA COM ALUNOS SURDOS: ALGUMAS ATIVIDADES NO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Dirlene A. Costa Gonçalves Professora Escola para Surdos Dulce de Oliveira, Uberaba-MG. [email protected] Filipe Neri Estudante Geografia. GPEEE- UFTM [email protected] Fabiana Elias Marquez Professora Escola para Surdos Dulce de Oliveira, Uberaba-MG. Adriany de Ávila Melo Sampaio Professora Geografia. GPEEE- LEGEO- IG- UFU [email protected] Antônio Carlos Freire Sampaio Professor Geografia. GPEEE- UFTM [email protected] INTRODUÇÃO Este trabalho foi realizado em uma escola de surdos com a presença de uma professora ouvinte, uma professora de Geografia surda, um estudante do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro UFTM, a colaboração de uma Professora Surda, e a orientação de dois professores universitários, que trabalham com a formação docente. Todos tinham a preocupação de ensinar e aprender Geografia com os alunos surdos de forma interessante e maior compreensão. A presença das Professoras Ouvinte e Surda permitiu ao aluno surdo uma aprendizagem geográfica bilíngue. Essa atividade permitiu ao aluno surdo uma melhor compreensão da localização por meio dos sinais de cada continente, oceanos, paralelos e meridianos no globo terrestre.

ENSINAR E APRENDER GEOGRAFIA COM ALUNOS … E APRENDER GEOGRAFIA COM ALUNOS SURDOS: ALGUMAS ATIVIDADES NO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Dirlene A. Costa Gonçalves Professora Escola

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ENSINAR E APRENDER GEOGRAFIA COM ALUNOS SURDOS:

ALGUMAS ATIVIDADES NO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Dirlene A. Costa Gonçalves

Professora Escola para Surdos Dulce de Oliveira, Uberaba-MG.

[email protected]

Filipe Neri Estudante Geografia. GPEEE- UFTM

[email protected]

Fabiana Elias Marquez Professora Escola para Surdos Dulce de Oliveira, Uberaba-MG.

Adriany de Ávila Melo Sampaio Professora Geografia. GPEEE- LEGEO- IG- UFU

[email protected]

Antônio Carlos Freire Sampaio Professor Geografia. GPEEE- UFTM

[email protected]

INTRODUÇÃO

Este trabalho foi realizado em uma escola de surdos com a presença de uma professora

ouvinte, uma professora de Geografia surda, um estudante do curso de Licenciatura em

Geografia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, a colaboração de uma

Professora Surda, e a orientação de dois professores universitários, que trabalham com a

formação docente. Todos tinham a preocupação de ensinar e aprender Geografia com os

alunos surdos de forma interessante e maior compreensão. A presença das Professoras

Ouvinte e Surda permitiu ao aluno surdo uma aprendizagem geográfica bilíngue. Essa

atividade permitiu ao aluno surdo uma melhor compreensão da localização por meio dos

sinais de cada continente, oceanos, paralelos e meridianos no globo terrestre.

UMA ESCOLA PARA SURDOS

A Escola para Surdos Dulce de Oliveira foi criada por sua idealizadora Dulce de Oliveira em

15 de Janeiro de 1956, com a finalidade de promover o ensino e a educação das pessoas

surdas a partir da educação infantil ao ensino fundamental. Nesse sentido, a Escola Dulce de

Oliveira durante 50 anos sempre buscou a qualidade na educação das pessoas surdas. Por se

tratar da educação de estudantes surdos, o currículo parte de uma perspectiva visual-espacial.

Os conteúdos curriculares são apresentados aos alunos (pelos professores surdos e ouvintes)

por meio da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – a língua natural do surdo.

Nesse sentido, citam-se a experiência linguística e as peculiaridades da cultura surda, que de

acordo com Quadros (2006) é específica, pois se traduz de forma visual. Para o currículo

sugere-se que: garanta a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, como instrumento formal do

ensino, entendida como meio e fim da interação social, política e científica, já que o processo

educacional ocorre mediante interação linguística; favoreça o aprendizado da língua

portuguesa oficial do país – como segunda língua (leitura e escrita); inclua a Língua de Sinais

como disciplina curricular desde a Educação Infantil até o Fundamental; valorize a arte surda

como patrimônio histórico, científico, cultural e artístico. Acredita-se em um currículo aberto

às reflexões, por meio do diálogo que instiga e suscita aprendizagens evidenciando o que o

aluno surdo gostaria de realizar para sua satisfação pessoal e ascensão social e econômica e

assim, possa participar da sociedade cada vez mais competitiva e excludente.

O ENSINO DE GEOGRAFIA EM LIBRAS

Para os estudantes surdos aprenderem Geografia é preciso um trabalho em que se valorize a

memória visual, com diversos recursos, como: figuras, imagens de diferentes paisagens, fotos,

revistas, jornais, livros com sinais em LIBRAS e também com o auxílio de uma professor/a

surdo/a para que o entendimento seja melhor e mais amplo.

Outro obstáculo que atrapalha o aprendizado da Geografia pelos alunos surdos, é a falta de

domínio da Língua Portuguesa e também da língua natural dos mesmos, a LIBRAS. Uma das

alternativas para driblar essas é durante a aprendizagem de Geografia, o professor explorar, de

todas as maneiras, os conceitos geográficos e fazer uma ligação com a realidade dos alunos

surdos. Ou seja, a aula de Geografia para os alunos tem que ser o mais visual possível, o que

de fato é interessante para qualquer aluno, porque quando a pessoa vê a imagem de um

determinado conceito, ela aprende muito mais do que só repetir palavras. Trazer para as aulas

dos alunos surdos, mapas conceituais, fluxogramas, organogramas, fotos, gravuras, desenhos,

maquetes, entre outros, a aula torna-se mais interessante para eles, assim, com esses recursos

visuais a percepção dos alunos surdos é maior e o seu entendimento da matéria também é

melhor.

Uma das atividades realizadas com o 6o ano do Ensino fundamental foi a Localização

Geográfica abrangendo Pontos Cardeais, Pontos Colaterais, Paralelos, Meridianos e Oceanos;

juntamente com a professora surda fazendo os sinais e localizando no globo cada continente,

oceanos, ilhas, principais paralelos e meridianos.

Todos os alunos da graduação do curso de Licenciatura em Geografia têm noção do tanto que

é importante os trabalhos de campo, então, os professores de Geografia dos alunos surdos

também sabem disso, e o trabalho de campo poderia ser utilizado sempre que for possível.

ATIVIDADES DE GEOGRAFIA DESENVOLVIDAS COM OS ALUNOS SURDOS

Em onze aulas, sendo três aulas semanais, na turma de 6o ano, foram trabalhados temas como:

Paralelos e Meridianos, Latitudes e Longitudes, Coordenadas Geográficas, os nomes dos

continentes e suas localidades e as principais zonas climáticas de todo o mundo.Nesse tempo

foram realizadas seis atividades para melhor entendimento das crianças: Confecção do

Globinho, Mapa Mundi, Latitude e Longitude, Zonas Térmicas e Quebra-cabeça Geográfico.

Atividade 1: Confecção do Globinho

Para a organização do Globinho foram usados: uma bola de isopor de 7,5 mm, cola,

tesoura, lápis de cor, e a folha com o Mapa do Mundi. O primeiro passo foi colorir o mapa e

recortá-lo, para que fosse colado na bola de isopor. Os continentes, presentes no mapa foram

coloridos de verde, as águas dos continentes e dos rios foram coloridos de azul. Após essa

colagem, os alunos tiveram que passar com canetinhas coloridas, as principais linhas

imaginárias, que são os paralelos e os meridianos. Essa atividade foi o início das outras

atividades que seriam trabalhadas, com o objetivo de que os alunos surdos tivessem uma

melhor compreensão do espaço mundial, por meio da localização dos continentes, e oceanos.

Figura 1: Alunos segurando seus globinhos depois de pronto. Fonte: NERI, Filipe, 2011.

Atividade 2: Mapa Mundi

Nessa atividade foi apresentado aos alunos outro Mapa Mundi, o qual eles deveriam colorir os

continentes e todas as porções de terra de verde, e tudo que era água seria colorido de azul,

esse foi o primeiro passo da atividade. Na segunda etapa pediu-se para que escrevessem em

seus devidos lugares os nomes dos principais meridianos e dos paralelos.

Figura 2: Mapa Mundi trabalhado com os alunos surdos. Fonte: Adaptado de Bigotto (2009)

Figura 3: Mapa trabalhado com as Latitudes e as Longitudes.

Fonte: Adaptado de Bigotto (2009)

Atividade 3: Latitude e Longitude

Com o auxílio do computador e do Data show foi mostrado um novo mapa, onde estavam

marcados oito pontos, que podiam ser países ou continentes. Assim, os alunos foram

identificando cada latitude e cada longitude de cada ponto. Paralelamente foram apresentados

aos alunos surdos fotos dos locais localizados no mapa.

Atividade 4: Zonas Térmicas

Após a explicação sobre as Zonas Térmicas da Terra, foi solicitado aos alunos surdos que

colocassem as três Zonas Térmicas presentes na terra, de acordo com a legenda, na qual em

vermelho seriam as Zonas Tropicais, em amarelo as Zonas Temperadas, e em verde as Zonas

Frias. Para os alunos surdos, esse tópico que há na Geografia, não foi tão difícil, eles sabem

bem onde fica cada Zona Térmica da Terra.

Figura 4: Mapa utilizado na Atividade de localização das Zonas Térmicas.

Fonte: Adaptado de Bigotto (2009)

Atividade 5: Quebra-cabeça Geográfico

Ao observar que os alunos ainda estavam com dificuldades para aprender as

localidades corretas, foi proposto a atividade do Quebra-cabeça Geográfico, onde cada aluno

recebeu em uma folha o desenho de um continente, que ele deveria colorir e recortar para que

fosse possível colar em uma grande cartolina. Após todos os continentes em seus devidos

lugares, foram marcados os principais Paralelos e os Meridianos e revisto os sinais

correspondentes.

Atividade 6: Atividade de fixação de toda a matéria

Essa atividade foi elaborada para ver se os alunos surdos conseguiram fixar toda a matéria

trabalhada durante esse período. Nela havia quatro questões, que abordava os Pontos Cardeais

na Rosa dos Ventos, todos os nomes dos Meridianos, Paralelos, Oceanos e Continentes, uma

questão somente de Latitude e Longitude, e a última que era para colorir em um determinado

mapa, as Zonas Térmicas do mundo. Essa atividade foi avaliada em cinco pontos, onde cada

aluno errou pouco. Com essa atividade pode-se concluir que todos eles compreenderam bem a

matéria trabalhada.

Figura 5: Quebra-cabeça geográfico. Fonte: Adaptado de Bigotto (2009)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Presenciar durante esse tempo as aulas de Geografia do 6o ano do Ensino Fundamental foi de

grande importância para que todos pudessem aprender a como ensinar Geografia para alunos

surdos, a como preparar material para eles e a como se portar na da sala de aula própria para

surdos. Ver o crescimento desses alunos foi de grande satisfação, onde pode-se observar que

os alunos aprenderam o conteúdo ministrado durante esse tempo.

REFERÊNCIAS

INES, Instituto Nacional de Educação de Surdos. Atlas Geográfico Interativo Bilíngue –

LIBRAS / Português. Rio de Janeiro: INES, MEC, 2008.

BIGOTTO, José Francisco. Geografia sociedade e cotidiano: fundamentos do espaço

geográfico. 6o ano / José Francisco Bigotto, Márcio Abondanza Vitiello, Maria Adailza

Martins de Alburquerque. 2ª edição. São Paulo: Escala Educacional, 2009.

SAMPAIO, Adriany de Ávila Melo. SAMPAIO, Antônio Carlos Freire. Ler o mundo com

as mãos e ouvir com os olhos. Reflexões sobre o Ensino de Geografia em tempos de

inclusão. Uberaba: Vitória. 2011.

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