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Cefapro de Rondonópolis Mato Grosso 14, 15 e 16 de dezembro de 2020 http://semfor.cefaprorondonopolis.com.br/ ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA POR MEIO DO LIVRO DIDÁTICO PORTUGUÊS CONEXÕES E USO Ana Patrícia dos Santos 1 Káthia dos Santos Rocha 2 Sandra Regina Franciscatto Bertoldo 3 Eixo temático: Práticas Pedagógicas e Avaliação das aprendizagens Resumo: O conceito de gênero defendido pelo Círculo Bakhtiniano está presente na descrição da maioria dos materiais didáticos e, por isso, dedicamo-nos, neste artigo, a analisar o 1º capítulo do LD ―Português- Conexões e Uso‖ (7º ano. E.F./PNLD, 2019), para identificar se há uma proposta de ensino dos gêneros textuais que evidencie essa concepção. Para tal, realizamos uma análise descritivo- interpretativa das atividades de leitura e interpretação propostas na unidade, tendo como perspectiva metodológica a pesquisa do tipo qualitativa. Bakhtin e Marcuschi contribuem na constituição do arcabouço teórico. Destacamos a importância da prática pedagógica que considera o ensino dos gêneros textuais na escola, pois ela conduz à produção de saberes ao tempo que promove a compreensão dos elementos da língua. Palavras-chave: Gêneros textuais. Livro didático. Ensino de Língua Portuguesa. INTRODUÇÃO O presente artigo apresenta uma reflexão acerca do conceito de gênero adotado no livro didático ―Português Conexões e Uso‖ para o ensino de língua Portuguesa, no início do terceiro ciclo, 7º ano do Ensino Fundamental, considerando nesse contexto, as práticas pedagógicas propostas a partir das atividades com os gêneros. Dessa maneira, o aluno pode estabelecer um sentido no seu estudo, visto que há na esfera humana muitos gêneros. 1 Mestranda PPGEDU/UFMT/CUR, e-mail: [email protected] 2 Mestranda PPGEDU/UFMT/CUR, e-mail: [email protected] 3 Docente do PPGEDU/UFMT/CUR, e-mail: [email protected]

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Cefapro de Rondonópolis – Mato Grosso

14, 15 e 16 de dezembro de 2020

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ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA POR MEIO DO LIVRO DIDÁTICO

PORTUGUÊS CONEXÕES E USO

Ana Patrícia dos Santos1

Káthia dos Santos Rocha2

Sandra Regina Franciscatto Bertoldo3

Eixo temático: Práticas Pedagógicas e Avaliação das aprendizagens

Resumo: O conceito de gênero defendido pelo Círculo Bakhtiniano está presente na descrição da maioria dos materiais didáticos e, por isso, dedicamo-nos, neste artigo, a analisar o 1º capítulo do LD

―Português- Conexões e Uso‖ (7º ano. E.F./PNLD, 2019), para identificar se há uma proposta de

ensino dos gêneros textuais que evidencie essa concepção. Para tal, realizamos uma análise descritivo-interpretativa das atividades de leitura e interpretação propostas na unidade, tendo como perspectiva

metodológica a pesquisa do tipo qualitativa. Bakhtin e Marcuschi contribuem na constituição do

arcabouço teórico. Destacamos a importância da prática pedagógica que considera o ensino dos gêneros textuais na escola, pois ela conduz à produção de saberes ao tempo que promove a

compreensão dos elementos da língua.

Palavras-chave: Gêneros textuais. Livro didático. Ensino de Língua Portuguesa.

INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta uma reflexão acerca do conceito de gênero adotado no

livro didático ―Português Conexões e Uso‖ para o ensino de língua Portuguesa, no início do

terceiro ciclo, 7º ano do Ensino Fundamental, considerando nesse contexto, as práticas

pedagógicas propostas a partir das atividades com os gêneros. Dessa maneira, o aluno pode

estabelecer um sentido no seu estudo, visto que há na esfera humana muitos gêneros.

1 Mestranda PPGEDU/UFMT/CUR, e-mail: [email protected]

2 Mestranda PPGEDU/UFMT/CUR, e-mail: [email protected] 3 Docente do PPGEDU/UFMT/CUR, e-mail: [email protected]

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O ato comunicativo pode se dar por meio da escrita, da oralidade, dos sons, dos gestos

e por outras manifestações linguísticas diversas. Assim, ao considerar o ensino de Língua

Portuguesa é importante entender que:

Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o

caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias

esferas da atividade humana […] A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos

integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete

as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas […] cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis

de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso.

(BAKHTIN 1997, p. 290)

Neste sentido, tem-se claro que língua, enunciado e gêneros do discurso estão

profundamente relacionados.

Bakhtin (1997, p. 293) define o enunciado como:

Unidade real da comunicação verbal: o enunciado. A fala só existe, na

realidade, na forma concreta dos enunciados de um indivíduo: do sujeito de

um discurso-fala. O discurso se molda sempre à forma do enunciado que pertence a um sujeito falante e não pode existir fora dessa forma. Quaisquer

que sejam o volume, o conteúdo, a composição, os enunciados sempre

possuem, como unidades da comunicação verbal, características estruturais que lhes são comuns e acima de tudo, fronteiras claramente delimitadas. […]

As fronteiras do enunciado compreendido como uma unidade da

comunicação verbal, são determinadas pela alternância de sujeitos falantes

ou de interlocutores.

Seguindo esse raciocínio, o autor (1997) afirma que o ato comunicativo se dá por meio

de gêneros do discurso, que fazem parte do cotidiano dos falantes, constituindo, assim,

enunciados determinados sócio-historicamente.

Desse modo, o gênero se relaciona com aspectos culturais, sociais e, ao mesmo tempo,

ao espaço e ao tempo, tendo em vista, que ele se apropria à sua especificidade, sua finalidade

discursiva, se constituindo socialmente.

Diante do exposto, lançar o olhar para os gêneros textuais se tornou primordial no

ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, pois apresenta, no contexto histórico, um objeto

de estudo fecundo e produtivo como aponta Marcuschi (2003).

Para Bakthin (1997)

A ampliação da língua escrita que incorpora diversas camadas da língua popular acarreta em todos os gêneros (literários, científicos, ideológicos,

familiares, etc.) a aplicação de um novo procedimento na organização e na

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conclusão do todo verbal e uma modificação do lugar que será reservado ao

ouvinte ou ao parceiro, etc., o que leva a uma maior ou menor reestruturação

e renovação dos gêneros do discurso. (BAKTHIN, 1997, p. 285-286)

Nesse horizonte, Marcuschi (2003) defende que o trabalho com os gêneros pode

promover a conscientização e fortalecimento das identidades dos estudantes, visto que

objetivam a finalidade social.

O ensino de Língua Portuguesa baseado no trabalho com gêneros, portanto, permite a

leitura e a interpretação de textos de diversas estruturas, linguagens e leva o discente a

efetivar o uso da linguagem, situando-a no contexto histórico-social do qual participa.

Para realizar a pesquisa que resultou nesse artigo, seguimos por um estudo qualitativo

que tem por base a investigação interpretativa, considerando que: ―As escolas, e

especialmente as salas de aula, provaram ser espaços privilegiados para a condução de

pesquisa qualitativa, que constrói com base no interpretativismo‖ (BORTONI-RICARDO

2008, p. 32). Assim, cabe ao pesquisador delimitar o problema da investigação partindo de

indagações norteadoras. Aqui, buscamos refletir se há no livro didático ―Português Conexão e

Uso‖ (2019), do 7º ano do ensino fundamental, elementos que sugerem a finalidade desse

ensino/aprendizagem na escola.

Dessa maneira, este artigo analisará a primeira unidade do livro didático de Língua

Portuguesa descrito acima, material aprovado pelo PNLD 2019 e destinado às escolas

estaduais de Mato Grosso.

LIVRO DIDÁTICO E ENSINO APRENDIZAGEM

O ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa deve contemplar a dinâmica entre a

linguagem e o contexto. Como afirmam os PCN (1997, p. 48) o objetivo geral do ensino

fundamental é ―utilizar diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica, corporal

— como meio para expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções da

cultura‖

Nota-se a evidência que a interação sociocultural, a histórica do sujeito no processo é

fundamental para o ensino-aprendizagem e com a utilização de práticas socioculturais

contextualizadas esse ensino pode se efetivar.

Para o Plano Estadual de Educação (PEE, 2014) assegura como uma das estratégias

para que uma educação de qualidade ter ―o desenvolvimento de projetos curriculares

articulados coma base nacional comum, relacionados à Educação Ambiental, à

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Educação das Relações Étnico-Raciais e dos direitos humanos, gêneros, sexualidade e

música‖ (PEE, 2014, p. 02).

Diante do exposto, ressalta ser considerável a discussão de temáticas no ambiente

escolar que envolvem os sujeitos no contexto do qual participa.

O PNE instrui, ainda, que o ensino-aprendizagem deve trabalhar a diversidade cultural

com o intuito de provocar nos alunos reflexões sobre temáticas do contexto social,

objetivando sensibilizá-los e favorecer o compromisso do exercício da cidadania.

Seguindo esse pensamento, o guia PNLD 2020 ressalta que:

caberá aos(às) professores (as) a importante tarefa de provocar nos (nas)

estudantes o interesse pela leitura e pela participação consciente e crítica nas interações sociais e escolares como forma de reconhecimento do mundo e de

si mesmo, por meio de atividades mais condizentes com as demandas sociais

contemporâneas. (BRASIL, 2020, p.26).

A partir dessa afirmação podemos dizer que o livro representa uma importante

ferramenta do ensino/aprendizagem. No entanto, seu uso sem finalidade reflexiva não leva o

aluno a entender o mundo criticamente, problemática essa destoante ao que propõe o livro

didático como principal foco.

Assim, a partir das questões apresentadas do PEE (2014) e PNLD (2019), podemos

concordar que o ensino-aprendizagem de língua portuguesa na educação básica deve percorrer

os caminhos metodológicos ao abarcar aspectos da cultura contemporânea ao incita o ensino

dos gêneros discursivos/textuais na escola.

Segundo Bakhtin (1997), isso é necessário, pois o sujeito é envolto por gêneros nas

suas práticas sociais, ele se comunica por meio deles, assim, faz parte de toda sua formação

discursiva.

Daí a importância de que no ensino de Língua Portuguesa, quando for utilizado o livro

didático, ele seja mais um recurso pedagógico para que considere essa finalidade.

Segundo os PCN (1997, p. 67),

O livro didático é um material de forte influência na prática de ensino

brasileira. É preciso que os professores estejam atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições que apresentem em relação aos objetivos

educacionais propostos. Além disso, é importante considerar que o livro

didático não deve ser o único material a ser utilizado, pois a variedade de

fontes de informação é que contribuirá para o aluno ter uma visão ampla do conhecimento.

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Tendo em vista tal apontamento, é importante ressaltar que em sala é o professor que

traça o percurso metodológico a seguir e o livro didático será só mais um recurso didático à

sua disposição. Porém, ao planejar suas aulas mediante a utilização das atividades do manual

didático, o professor necessita se preocupar com a seleção da unidade ou o capítulo que mais

visa o estudo dos gêneros, e ou até mesmo complementá-lo caso não esteja de acordo com

que considera que considera como necessidades formativas do momento vivido.

O CERNE DA INVESTIGAÇÃO

As análises apresentadas a seguir são sustentadas pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais-PCN, Plano Estadual da Educação-PEE e do Programa Nacional do Livro

Didático-PNLD, bem como, na perspectiva de gêneros discursivos/textuais, abordados na

sessão anterior, da fundamentação teórica.

O ensino aprendizagem da língua portuguesa que valoriza as vivências sociais e os

sujeitos envolvidos nesse ensino tende a colaborar para uma formação da educação básica

significativa, sólida, e de qualidade. Assim, trazer para o contexto escolar discussões que

abordam temáticas contemporâneas se fazem urgentes.

Nesse contexto, o livro didático, cujas atividades e diversidades de gêneros propiciam

o entendimento do mundo vivido, poderá contribuir para a formação de sujeitos críticos e

dispostos a transformar a realidade ao qual participa.

O livro da coleção ―Português Conexão e Uso‖, selecionado para o presente estudo faz

parte do material de escolha do livro didático em 2019, e se constitui por oito (8) unidades.

O trabalho com os gêneros é distribuído em dois tópicos por unidade, conforme tabela

abaixo.

Quadro 1- Gêneros textuais presentes no Livro ―Português Conexão e Uso‖ 7º Ano

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras a partir das informações do LD (2019)

Unidades Gêneros Textuais

1 Peça Teatral e a Reportagem

2 Memórias Literárias e Biografia.

3 Lendas e artigo de Divulgação Científica.

4 Cordel e Poema

5 Conto popular e Crônica

6 Conto e Guia de Viagem

7 Abaixo-assinado e Carta aberta

8 Propaganda e Notícia

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A análise aqui exposta foi gerada de forma qualitativa interpretativa, sob a perspectiva

de Bortoni-Ricardo (2008), e busca, dessa forma, a discutir e interpretar atividades e os

elementos que compõem a unidade, a fim de constatar se eles favorecem o ensino dos gêneros

discursivos/textuais em língua portuguesa.

Primeiramente, constatou-se um padrão sequencial para a organização das atividades.

Assim, a unidade analisada já serve de elemento para compreender como se organiza todo o

livro didático tomado nessa discussão.

A unidade 1 é composta por nove seções e oito subseções sendo elas:

Seção 1- ―Leitura de imagem‖ - introdução ao tema da unidade. Dentro dessa

seção há a subseção: ―Nesta unidade você vai‖ e visa resumir os conteúdos a serem

trabalhados na unidade; e ―Trocando ideias‖, composta de atividades que contextualizam a

imagem a ser interpretada na unidade;

Seção 2-―Leitura 1/ Leitura 2‖- que traz um texto para leitura e interpretação

ligado ao tema; aparece nessa seção a subseção ―Antes de ler‖, traz atividades relacionadas a

algumas estratégias de antecipação da leitura, e a subseção ―Boxe do autor‖ que menciona

informações sobre o autor do texto da unidade.

Na seção 3- ―Exploração do texto‖ - podemos destacar a primeira das

atividades propostas, visto que pede ao discente a ideia principal do trecho lido com a

elaboração de tópicos nessa escrita. Em ―Recursos expressivos‖ - parte destinada à parte de

análise discursiva e estrutura linguística e ―Para lembrar‖ que sintetiza as características do

gênero estudado na seção;

Seção 4- ―Do texto para o cotidiano‖ são propostas no livro didático atividades

ligadas ao contexto social, abordando a temática ética;

Seção 5- ―Diálogo entre textos‖ - expõe atividades de intertextualidade a partir

da temática selecionada;

Seção 6 - ―Atividade de escuta‖- as atividades dessa seção propiciam práticas

de ouvir e ver.

Seção 7- ―Produção oral/Produção escrita‖- traz a proposição de produções

orais e escritas, suas subseções são: ―Antes de ler‖- reflexões sobre a temática são

trabalhadas, ―Planejando o texto‖- propõe a elaboração de roteiro e produção textual e ou oral;

―Avaliação e reescrita‖- momento de avaliar se as produções atenderam as propostas

estabelecidas,

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Seção 8- ―Oralidade‖- apresenta atividades que envolvem as modalidades da

oralidade; e a

Seção 9-―Aprender a aprender‖- propõe atividades como tomar nota, resumir,

pesquisar, exposição oral, leitura de gráficos.

Na parte inicial – leitura de imagens - da unidade selecionada, as atividades aparecem

contextualizadas com o tema ―crítica em cena‖. Os textos são apresentados por meio do

gênero peça teatral, ―Os Miseráveis‖, encenada a partir de um musical. A foto de uma criança

que aparenta ter a idade do público-alvo do livro, alunos de 7ºano do ensino fundamental, é

um dos pontos que podem prender a atenção do estudante/leitor.

Imagem 1- Cena da peça teatral ―Os Miseráveis‖

Fonte: Delmanto; Carvalho (2019, p. 10)

Na seção ―leitura 1‖ é possível perceber que o texto dramático de O avarento dá

continuidade à apresentação do gênero peça teatral. Os alunos com essas atividades podem

entender como está disposto o gênero estudado, suas características estéticas, discursivas

sobre questões presentes no dia a dia. A leitura nessa seção é iniciada pela ativação dos

conhecimentos prévios, uma das estratégias de leitura existentes e tida por muitos autores

como importante no processo de ensino de leitura.

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Imagem 2 - Leitura

Fonte: Delmanto; Carvalho (2019, p. 12)

O gênero peça teatral é explorado textualmente em ―Leitura 1‖ a partir de trechos de

―O avarento‖, de Molière, considerando os aspectos discursivos como a temática ao qual foi

iniciada a unidade. No item ―Exploração do texto‖ há atividades de interpretação do gênero

peça teatral que contemplam o implícito e explícito. Em ―Recursos expressivos‖, há recortes

no texto que a gramática é trazida sem contextualização. O livro traz a expressão ―Para

lembrar‖ como retomada do gênero trabalhado. O ―Diálogo entre textos‖ é formado por uma

intertextualidade entre o poema Humanidade de Carolina Maria de Jesus e a peça teatral ―O

avarento‖ de Molière.

Na seção ―Do texto para o cotidiano‖ a temática ética é desenvolvida partindo da

campanha publicitária do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU)

dando significado a partir de exemplo do cotidiano do aluno.

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Imagem 3- Atividade sobre Campanha publicitária

Fonte: Delmanto; Carvalho (2019, p. 20)

Em ―Produção escrita‖ a sugestão do trabalho parte de uma notícia ―Ensemble estreia,

no Porto, O Avarento, de Molière‖, a imagem a seguir demonstra uma crítica da

contemporaneidade, a falta da cultura do teatro.

Imagem 4- Produção escrita

Fonte: Delmanto; Carvalho (2019, p. 22)

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O livro propõe uma atividade que contempla a temática abordada na peça teatral,

baseado no gênero oral causo, propondo adaptação e a encenação do texto ―Dois caboclos na

enfermaria‖. O acompanhamento do professor na elaboração dessa atividade é muito

importante, pois visa o entendimento do gênero estudado.

Imagem 5 - Produção escrita

Fonte: Delmanto; Carvalho (2019, p. 23)

Diante das figuras, no manual didático, entendemos que o aluno a partir dos

conhecimentos prévios acerca do tema ética e o gênero consiga estabelecer relações com suas

vivências de mundo pelo teatro, arte de importante conhecimento e propagação.

Ao analisarmos a unidade observamos que a os gêneros propostos na primeira

unidade-Peça teatral e Reportagem- são entrelaçados à temática social ética. Nesse sentido, as

atividades conseguem demonstrar ter relação com as afirmações que Marcuschi (2008) sobre

a presença dos gêneros nas vivências dos sujeitos.

Diante do apontado, podemos dizer que na unidade há apenas a proposição de uma

produção final para apreensão do gênero peça teatral, de reprodução. Nesse ponto, o professor

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pode como mediador do conhecimento, possibilitar outras experiências como a produção

autoral de uma peça teatral por parte dos alunos.

Dos gêneros elencados na primeira unidade é importante dizer que o manual do

professor analisado propicia o ensino dos gêneros literários para outros da vivência do aluno,

fazendo com que o aluno entenda a aplicabilidade de cada gênero em suas vivências e

direcione a sua aprendizagem para a consolidação e assimilação para o reconhecimento desses

gêneros e outros em estudos futuros.

Nesse sentido, ressalta-se nesse processo a importância do papel do professor em

acompanhar o direcionamento dessa produção, garantindo a efetivação de uma das funções do

PNE (2014) que é a conscientização dos alunos diante dos problemas vividos, a fim de

constituir o seu pensamento crítico para a superação ou minimização deles.

Dessa forma, é fundamental no ensino aprendizagem dos gêneros que o docente tenha

claro o que pretende trabalhar, não se condicionando, apenas, a seguir o roteiro proposto no

manual didático, tendo em vista, que essa aprendizagem quando se efetiva pode perpassar

várias outras disciplinas, além da língua portuguesa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo realizado a partir da primeira unidade do livro ―Português Conexão e Uso‖

(2019), do 7° ano do ensino fundamental, favorece o processo de ensino-aprendizagem de

gêneros discursivos/textuais, pois considera o contexto social e histórico ao qual o

sujeito/estudante participa, trazendo temáticas de sua vivência.

As atividades propostas privilegiam o uso de diversos gêneros discursivos/textuais

presentes nas esferas sócias dos estudantes. Essas atividades contemplam os direcionamentos

conceituais dos gêneros, possibilitando o discente reconhecer e apreender os gêneros e seus

suportes.

Contudo, destacamos ser primordial a mediação/intervenção do professor no sentido

de gerar discussões críticas sobre as temáticas tratadas sugeridas no manual didático.

Dessa forma o livro didático seria mais um recurso metodológico que ora precisa ser

aprimorado, ora não. No que tange ao ensino dos gêneros discursivos/textuais, por exemplo, o

uso da sequência didática, defendida por Schneuwly e Dolz (2004), poderia se dar de forma

organizada, já que os conteúdos abordados no material didático de estudos parecem pela

análise seguir as orientações dos PCN e dos critérios do PNLD. Cabe, ainda, dizer que os

manuais didáticos e os livros didáticos são apoios metodológicos consideráveis tanto ao

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professor quanto ao aluno, mas o professor pode explorar seu uso de forma a efetivar a

aprendizagem dos gêneros a serem estudados.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal: Os gêneros do discurso. 2ª ed. São Paulo:

Martins Fontes, 1997.

BORTINI-RICARDO, S. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São

Paulo: Parábola Editorial, 2008.

BRASIL. Ministério da Educação. PNLD 2020: língua portuguesa–guia de livros

didáticos/ Ministério da Educação –Secretaria de Educação Básica –Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação. Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretaria de Educação

Básica, 2019.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental.

Brasília: MEC/SEF, 1997.

DELMANTO, Dileta, CARVALHO, Laiz B, de. Português: conexão e uso, 7º ano: Ensino

Fundamental, anos finais, Manual do Professor. São Paulo: Saraiva, 2018.

DOLZ, J. & SCHNEUWLY, B. Os Gêneros Escolares – Das práticas de linguagem aos

objetos de ensino. In: Gêneros Orais e Escritos na escola. Tradução e organização Roxane

Rojo e Glaís Sales. – Campinas, SP: Mercado das Letras, 2004.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A.P;

MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs.) Gêneros Textuais e Ensino. Rio de Janeiro:

Editora Lucerna, 2008.

MATO GROSSO. Lei nº 10.111 de 06 de junho de 2014. Dispõe sobre a revisão e alteração

do Plano Estadual de Educação, instituído pela Lei nº 8.806, de 10 de janeiro de 2008.

Disponível em: http://www2.seduc.mt.gov.br/pde/plano-estadual-de-educacao.