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Terça, 14 de abril de 2009 Entrevistas Neopentencostais e religiões afro-brasileiras. Uma guerra instituída? Entrevista especial com Vagner Gonçalves da Silva A uma plateia de estudiosos da religião vindos de mais de trinta países para a Conferência sobre o Cristianismo na América Latina e no Caribe, realizada em São Paulo em 2003, o padre e escritor José Oscar Beozzo [1] afirmou: “O crescimento das igrejas pentecostais é o fenômeno mais espetacular no panorama religioso da América Latina nas últimas décadas”. A face verde-amarela do fenômeno se traduz em dados como os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta que o total de evangélicos no país – incluídos aí todos os ramos, desde os protestantes históricos, como luteranos e presbiterianos, até os neopentecostais – passou de 9,05% da população em 1991 para 15,45% no ano 2000. Um salto, em números absolutos, de cerca de 13 milhões para aproximadamente 26 milhões de pessoas. O estudo Economia das religiões: mudanças recentes, publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2007, mostra que pela primeira vez, em mais de um século, a taxa de participação dos católicos deixou de cair e manteve-se “estável no primeiro quarto de década, com 73,79% em 2003”. Os evangélicos seguem crescendo, mas agora angariando seu público no segmento dos sem-religião – grupo que caiu de 7,4% para 5,1%. Para os autores, os dados demonstram claramente que “a velha pobreza brasileira” (por exemplo, a das áreas rurais do Nordeste) continua católica, enquanto “a nova pobreza” (na periferia das grandes cidades) “estaria migrando para as novas igrejas pentecostais e para os chamados segmentos sem-religião”. Tamanhas migrações não ocorrem – e na verdade nunca ocorreram – de forma tão pacífica quanto se poderia imaginar numa seara que lida com o espiritual. “Sempre houve uma disputa de religiosidades no campo religioso brasileiro”, diz Vagner Gonçalves da Silva, professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. “O que é característico, porém, é que as religiões dialogam, mesmo sob o contexto da disputa.” A entrevista foi produzida por Paulo Hebmüller, jornalista, que nos enviou gentilmente para que fosse publicada pela IHU On-Line. A ele nossos agradecimentos. Silva é o organizador do livro Intolerância religiosa – Impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro (São Paulo: Edusp, 2008), em que estudiosos de diversas instituições analisam algumas das facetas dessa realidade complexa. Um dos focos principais é o acirramento da disputa religiosa nas últimas décadas. De uma parte, porque a luta para conquistar novos adeptos não se restringe mais a púlpitos e altares: a eles se agregaram as tribunas e palanques da política e as luzes dos auditórios e palcos da mídia. De outra, porque o segmento evangélico neopentecostal – o que mais cresce no País, representado por denominações como a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), a Igreja Internacional da Graça e a Igreja Renascer em Compartilhar Imprimir Enviar por e-mail Diminuir / Aumentar a letra Página 1 de 9 Neopentencostais e religiões afro-brasileiras. Uma guerra instituída? Entrevista espe... 04/06/2015 http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/21274-neopentencostais-e-religioes-afro-brasil...

Entrevista Neopentecostais

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Entrevista com Vagner Gonçalves da Silva

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  • Tera, 14 de abril de 2009

    Entrevistas

    Neopentencostais e religies afro-brasileiras. Uma guerra

    instituda? Entrevista especial com Vagner Gonalves da

    Silva

    A uma plateia de estudiosos da religio vindos de mais de trinta pases para a Conferncia sobre o

    Cristianismo na Amrica Latina e no Caribe, realizada em So Paulo em 2003, o padre e escritor Jos Oscar Beozzo [1] afirmou: O crescimento das igrejas pentecostais o fenmeno mais

    espetacular no panorama religioso da Amrica Latina nas ltimas dcadas. A face verde-amarela do fenmeno se traduz em dados como os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), que aponta que o total de evanglicos no pas includos a todos os ramos, desde os

    protestantes histricos, como luteranos e presbiterianos, at os neopentecostais passou de 9,05% da populao em 1991 para 15,45% no ano 2000. Um salto, em nmeros absolutos, de cerca de 13

    milhes para aproximadamente 26 milhes de pessoas.

    O estudo Economia das religies: mudanas recentes, publicado pela Fundao Getlio Vargas (FGV) em 2007, mostra que pela primeira vez, em mais de um sculo, a taxa de participao dos

    catlicos deixou de cair e manteve-se estvel no primeiro quarto de dcada, com 73,79% em 2003. Os evanglicos seguem crescendo, mas agora angariando seu pblico no segmento dos

    sem-religio grupo que caiu de 7,4% para 5,1%. Para os autores, os dados demonstram claramente que a velha pobreza brasileira (por exemplo, a das reas rurais do Nordeste) continua catlica, enquanto a nova pobreza (na periferia das grandes cidades) estaria migrando para as

    novas igrejas pentecostais e para os chamados segmentos sem-religio.

    Tamanhas migraes no ocorrem e na verdade nunca ocorreram de forma to pacfica quanto se poderia imaginar numa seara que lida com o espiritual. Sempre houve uma disputa de

    religiosidades no campo religioso brasileiro, diz Vagner Gonalves da Silva, professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da

    Universidade de So Paulo. O que caracterstico, porm, que as religies dialogam, mesmo sob o contexto da disputa.

    A entrevista foi produzida por Paulo Hebmller, jornalista, que nos enviou gentilmente para que

    fosse publicada pela IHU On-Line. A ele nossos agradecimentos.

    Silva o organizador do livro Intolerncia religiosa Impactos do neopentecostalismo no

    campo religioso afro-brasileiro (So Paulo: Edusp, 2008), em que estudiosos de diversas instituies analisam algumas das facetas dessa realidade complexa. Um dos focos principais o acirramento da disputa religiosa nas ltimas dcadas. De uma parte, porque a luta para conquistar

    novos adeptos no se restringe mais a plpitos e altares: a eles se agregaram as tribunas e palanques da poltica e as luzes dos auditrios e palcos da mdia. De outra, porque o segmento

    evanglico neopentecostal o que mais cresce no Pas, representado por denominaes como a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), a Igreja Internacional da Graa e a Igreja Renascer em

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  • Cristo encontrou no ataque aos cultos afro-brasileiros um diferencial de mercado para fazer

    seu proselitismo.

    Num dos artigos, Ari Pedro Oro [2], professor de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, qualifica a Iurd como neopentecostal macumbeira e igreja religiofgica por

    incorporar em seu repertrio termos do vocabulrio das religies afro, como descarrego, encosto, trabalho, amarrar etc. Por sua vez, Ricardo Mariano, professor da ps-graduao

    em Cincias Sociais da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, salienta que a tolerncia religiosa pode conviver com a discriminao religiosa e que esta pode ocorrer, no importa se com mais ou menos frequncia, num contexto de liberdade religiosa.

    A escolha do ttulo do livro no foi ingnua, foi pensada, diz o antroplogo Silva. Se nunca houve uma aceitao plena das religies de herana africana, considera, pelo menos no se criava

    em plano nacional uma viso to negativizada do sistema afro-brasileiro. A introduo do volume, assinada pelo organizador, levanta alguns casos que atestam a nova realidade da intolerncia, mas ao mesmo tempo registra vitrias na Justia obtidas por adeptos que se sentem

    atingidos por discriminao religiosa. A mais emblemtica delas foi o da indenizao famlia de Me Gilda, me-de-santo cuja foto apareceu numa edio do jornal Folha Universal, da Iurd, em

    1999, numa matria intitulada Macumbeiros charlates lesam o bolso e a vida dos clientes. A foto foi reproduzida de uma edio da revista Veja de 1992, em que Me Gilda aparecia numa manifestao pelo impeachment de Fernando Collor. Em 2004, o juiz da 17 Vara Cvel de

    Salvador assinou sentena que obrigava a Iurd a indenizar os familiares em R$ 1,372 milho por danos morais (o equivalente a R$ 1,00 para cada exemplar da edio, valor que acabou reduzido posteriormente). De acordo com a famlia, Me Gilda faleceu de tristeza trs meses depois da

    difuso do texto no jornal da Universal.

    Acredito que o caminho (para o segmento afro-brasileiro) realmente se expor, ir cena pblica

    sempre que possvel das mais diferentes formas para mostrar o que est ocorrendo: na Justia, na poltica e na mdia, mas sabendo das dificuldades nas trs reas, diz Vagner na entrevista a seguir, em que comenta algumas das realidades que chacoalham o rico e multifacetado universo

    religioso brasileiro:

    Confira a entrevista.

    Paulo Hebmller Estamos vivendo uma guerra religiosa ou guerra santa no Brasil?

    Vagner Gonalves da Silva Obviamente est havendo uma disputa entre dois campos de uma forma mais acirrada, mas temos que colocar isso num contexto histrico. Na formao da

    sociedade brasileira, o catolicismo dominante foi uma religio imposta para outras. Ou seja, sempre houve uma disputa de religiosidades no campo religioso brasileiro. O que caracterstico,

    porm, que as religies dialogam, mesmo sob o contexto da disputa. A maneira como se d essa imposio no numa direo nica: o catolicismo tpico brasileiro absorveu fortes influncias das culturas e religies indgenas e africanas. Houve sim uma dominao, mas ela tambm se faz

    sob a troca de elementos de um sistema para o outro. A partir dos anos 1970 e 1980, h um processo um pouco mais acirrado, porque est ocorrendo uma desqualificao sistemtica de um

    segmento cristo, o neopentecostal, contra um outro, que afro-brasileiro, e esses campos esto na cena religiosa como verdadeiramente antagnicos.

    Paulo Hebmller Cada lado, porm, vendo a situao de uma forma diferente, no ?

    Vagner Gonalves da Silva Exato. Numa guerra, os dois lados brigam. Mas os afro-brasileiros no esto necessariamente guerreando contra um sistema. Esto apenas reagindo ao ataque que sofrem. O termo ataque tambm relativo, porque do seu ponto de vista os neopentecostais no

    esto atacando, mas evangelizando e libertando as pessoas do jugo do demnio. Do ponto de vista

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  • dos afro-brasileiros, h uma deturpao do que so as religies da umbanda e do candombl. J a Igreja Catlica fica com um p atrs porque essa guerra respinga nela prpria, na medida em que os neopentecostais tambm atacam o catolicismo. Todo mundo fica em alerta em relao s consequncias dessa situao.

    Paulo Hebmller Esses ataques s religies afro-brasileiras so de certa forma mais tolerados em funo tambm de um aspecto de racismo na sociedade brasileira?

    Vagner Gonalves da Silva Existe sim uma dimenso racial que envolve o debate. Porm, isso muito complexo, em primeiro lugar porque no podemos correr o risco de dizer que as religies afro-brasileiras so apenas de negros. J foram, mas no so mais. O problema no de quantificao, mas de representao. Essas religies so vistas como de tradio africana. medida que se combatem a religio e a tradio, se combate tambm uma herana que foi fundamental para constituir a identidade da populao negra no Brasil, e essa herana e sua histria so de origem africana. difcil separar nesse pacote o que s o fenmeno religioso e o que a cultura. O que est acontecendo agora que, por conta do ataque a essas religies, as pessoas comeam de novo a associar o mal ao negro. No discurso do pastor, as religies so ms porque nelas existe um demnio, e o nome desse demnio exu, uma entidade africana. Poucas vezes a gente v nas sesses de descarrego das igrejas neopentecostais demnios que no sejam da tradio africana, ou vistos como tal. Nunca se v, por exemplo, o demnio europeu da bruxaria da Idade Mdia. Mas l esto exus, pombagiras, Maria Padilha. Ruins ou no, so deuses de um sistema.

    Paulo Hebmller Um sistema que vem sendo visto de forma cada vez mais negativa, no ?

    Vagner Gonalves da Silva Sim. Hoje h um preconceito crescente nas escolas contra as religies afro-brasileiras por conta de alunos que so de famlia evanglica, seus pais, coordenadores pedaggicos e diretores que no esto sequer interessados em colocar as coisas em termos mais neutros em relao prpria cultura. Se voc tiver aula sobre a cultura da Grcia, vai aprender sobre os seus deuses. Mas nenhum professor, ao ensinar mitologia grega, dir aos seus alunos para acreditar em Zeus ou Apolo. Quando se trata de falar sobre as culturas e heranas africanas, h professores se negando a ensinar questes relativas aos orixs. Eles perguntam: Como vamos ensinar o que so os orixs, suas cores e domnios, se os orixs so demnios?. Existe uma confuso entre o que ensinar para fazer proselitismo e o que ensinar para a diversidade. A sim est ocorrendo uma mistura. O preconceito, a discriminao e o racismo que so tpicos da sociedade brasileira afloram de outra maneira: no mais no discurso do negro em si, mas sim dizendo que os elementos que essa herana trouxe no so elementos positivos. No sculo XIX, o que levou o mdico Nina Rodrigues a estudar o candombl foi o intuito de provar que os africanos e negros eram inferiores e por isso adotavam um sistema religioso animista. Hoje, a histria se repete em outro contexto: reafirma-se pela religio um valor negativo associado a um grupo social que faz parte da prpria histria do Brasil.

    Paulo Hebmller Isso contribui para criar um quadro de intolerncia que seria a novidade do cenrio atual?

    Vagner Gonalves da Silva Acho que sim. A escolha do ttulo do livro no foi ingnua, mas pensada. Cria-se um quadro de intolerncia no sentido de que, se nunca houve uma aceitao plena, ao menos no se criava em plano nacional uma viso to negativizada do sistema afro-brasileiro. Na introduo, levantei alguns casos de intolerncia e fiquei impressionado porque as coisas acontecem em cidades grandes e pequenas. Para citar apenas um deles: uma criana desaparece num bairro de periferia em So Lus (MA). Sua famlia evanglica e vive prxima de um terreiro. Imediatamente chama-se a polcia, denuncia-se o terreiro, que acusado de ter raptado a criana para fazer rituais macabros. A polcia entra no terreiro, interrompe a sesso que

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  • est acontecendo e vasculha o local sem mandado. Obviamente a criana no foi encontrada l, ao que parece estava na casa de parentes. H casos de invaso ou depredao de terreiros, de expulso de mulheres de um nibus porque estavam com roupas tpicas das religies afro-brasileiras e assim por diante. Essa batalha nunca ganhava a cena civil. Ela existia, mas sempre no plano domstico. Hoje est havendo um retrocesso e infelizmente as pessoas comeam novamente a ter vergonha de pertencer a essas religies.

    Paulo Hebmller O livro chama a ateno para a fragmentao das entidades que representam as religies afro-brasileiras. Com esse quadro, como fica a resposta pblica aos

    ataques?

    Vagner Gonalves da Silva Fica complicada. O segmento que ataca muito bem organizado, tem aliados muito poderosos e algumas dcadas atrs descobriu que os meios de comunicao so extremamente importantes no processo de proselitismo. As igrejas depois foram para a poltica, tomaram gosto por ela, formaram bancadas e perceberam que podiam se articular muito alm da conquista de concesses de rdio e televiso. A partir da, comearam a entrar em outras reas, e essa orquestrao estratgica faz com que os ataques tenham um efeito muito forte. Por exemplo: possvel que um vereador ou deputado, aproveitando as leis de proteo aos animais, apresente um projeto que proba o sacrifcio de animais no contexto religioso. Isso aconteceu em Porto Alegre. Por sua vez, o segmento afro-brasileiro historicamente bastante seccionado. So dois grandes grupos: o de candombl e o de umbanda, que normalmente tm muitos antagonismos.

    Paulo Hebmller Quais so eles?

    Vagner Gonalves da Silva O candombl se acha mais puro, mais prximo das heranas africanas originais, e a umbanda seria mais misturada, porque pega influncias indgenas, kardecistas etc. Quando os ataques comearam, dirigiam-se basicamente a exus e pombagiras, e a verdade que o segmento do candombl no se importou muito, porque essas so entidades mais da umbanda. Mas como as coisas foram atingindo propores cada vez maiores, a comunidade tentou se organizar melhor. Isso tem dado algum resultado. Os terreiros, as pessoas ou as organizaes tm entrado na Justia e conseguido alguns ganhos, o que mostra que de fato os juzes tm considerado esses ataques como contraveno ou crime.

    Paulo Hebmller Por que existe essa fragmentao?

    Vagner Gonalves da Silva Historicamente o segmento no organizado. Os terreiros so instituies autnomas, e cada pai-de-santo tem sua famlia de santo e seu parentesco religioso. Cada um constitui a sua legitimidade e vive do prestgio e da fama como bom resolvedor de problemas. Mas no h uma estrutura hierarquizada, e portanto no so religies burocraticamente organizadas. Isso enfraquece a capacidade de resposta, o que tem sido um grande empecilho para a reao. Os afro-brasileiros no tm muita familiaridade com a demanda por seus direitos, como alis todos os segmentos populares no Brasil.

    Paulo Hebmller A questo complexa porque no envolve s o aspecto religioso, mas

    entra pela mdia e pela poltica. Qual a arena mais adequada para se dar essa resposta

    pblica?

    Vagner Gonalves da Silva Deveria haver uma resposta em vrios planos. No plano jurdico, porque a lei garante liberdade religiosa. A Justia tem sido bastante adequada nos julgamentos, mas vai coibir na medida em que h um reclamante. A condenao no caso da Me Gilda foi exemplar. Se uma religio ataca outra publicamente, a atacada tem todo o direito de recorrer Justia, sobretudo quando se trata de vilipndio de smbolos religiosos. Se algum chuta a imagem de uma santa catlica na televiso, a Igreja tem o direito de recorrer Justia porque se trata de algo pblico e inclusive envolve uma concesso do Estado. bvio que a coisa se complica

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  • quando o ataque se d dentro dos templos. Tambm existe a liberdade do pastor de expressar sua opinio, e quem est l dentro est porque quer. Quando os ataques ocorrem na televiso e nos espaos pblicos, preciso julgar at que ponto no est sendo ferido o direito que o outro tem de professar a sua f e no ser discriminado por isso. Por exemplo: voc est numa festa de Iemanj numa praia e de repente para um caminho de som com alto-falante e surgem pessoas distribuindo folhetos e pregando contra aquilo. Ora, um direito das pessoas celebrar suas divindades sem serem perturbadas. O mesmo acontece quando se est fazendo um ritual dentro de um terreiro e um carro de som tambm para na frente e fica anunciando uma igreja. Quando a coisa chega nesse cenrio, de fato h um ataque ao direito da pessoa de professar a sua f.

    Paulo Hebmller O livro cita exemplos de grupos que esto utilizando estratgias de legitimao pblica inspirados no que a prpria Iurd fez, pela via poltica e pela mdia. Esse

    um caminho?

    Vagner Gonalves da Silva difcil eleger candidatos identificados com o segmento porque eles no tm por trs uma estrutura ou apoio em termos financeiros que essas igrejas tm. Acredito que o caminho realmente se expor, ir cena pblica sempre que possvel das mais diferentes formas para mostrar o que est ocorrendo: na Justia, na poltica e na mdia, mas sabendo das dificuldades nas trs reas. Em Porto Alegre, se no fosse a mobilizao, no teria sido revertida a proibio do sacrifcio de animais. Alis, no so s os afro-brasileiros que fazem esses sacrifcios. Outras religies tambm fazem, como a islmica e a judaica. Por que a lei vai s contra os afro-brasileiros?

    Paulo Hebmller A Rede Globo passou a prestar mais ateno na Iurd e a fazer

    reportagens crticas em relao a ela quando Edir Macedo comprou a TV Record, em 1989.

    Como analisar essa briga religiosa invadindo a seara da mdia?

    Vagner Gonalves da Silva So campos que se sobrepem. O neopentecostal atualmente tem como centro a TV Record, que pertence a um sistema religioso. H uma oposio Record, que a Globo, e h uma disputa entre as emissoras. Juntando a arrecadao entre os fiis nos templos da Iurd e a publicidade na Record, h um poder muito grande. A Globo, que tradicionalmente procurou se associar imagem da Igreja Catlica, percebe que isso tem consequncia em termos de audincia. Some-se tudo com a poltica e o quadro vai ficando cada vez mais complicado. O que curioso a lgica dos prprios campos, ou seja, o religioso, o poltico e o televisivo. Um age em funo do outro: o religioso no age s em funo do proselitismo, mas se alia televiso, porque ela pode atingir milhes de pessoas, e a televiso enxerga nesse rebanho mais espectadores e, portanto, a oportunidade de vender mais publicidade. J a poltica percebe que tanto o rebanho de fiis quanto os telespectadores tambm so eleitores. Ento todos esses segmentos, de telespectadores, de rebanho de fiis e de eleitores, participam de uma engrenagem bastante interessante.

    Paulo Hebmller A Iurd entrou com uma enxurrada de processos contra rgos de

    imprensa, especialmente a Folha de S. Paulo, alegando que a liberdade religiosa dos seus

    fiis tem sido atacada na imprensa. No uma situao curiosa, na medida em que ela

    costuma bater nos outros, mas demonstra no admitir a crtica?

    Vagner Gonalves da Silva O que achei curioso nesse caso da Folha a ao ter ocorrido em vrios pontos do Brasil com a mesma formatao, e os juzes tm percebido como a Iurd consegue orquestrar uma ao em plano nacional. A h de fato uma questo de liberdade de imprensa misturada com a liberdade religiosa. A Iurd no estaria sendo coibida na sua liberdade religiosa, como acusa, se no avanasse sobre outro campo. Isso problema para ela porque, quando avana sobre outra denominao, a Iurd avana exatamente como forma de proselitismo e acaba vivendo simbioticamente com ela. Hoje em dia difcil pensar em culto da Iurd sem descarrego e sem todo

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  • aquele aparato que ela retira do afro-brasileiro e que o que lhe d movimento. A Iurd precisa e vive de quem ataca.

    Paulo Hebmller Nos seus ataques, a Iurd diferencia o que de umbanda ou candombl?

    Vagner Gonalves da Silva No h grande cuidado de diferenciar. Tudo demnio, ou as vrias faces do demnio. Claro que o Edir Macedo [3], a considerar pelas suas publicaes, tem conhecimento grande do sistema. Ele pega as entidades mais polmicas, que so os exus e pombagiras, porque elas j tinham sido demonizadas anteriormente pelo cristianismo. Exu est associado sexualidade e cultuado em altar na forma de falo. Quando os colonialistas europeus chegaram na frica e depararam com esse tipo de entidade, logo a associaram ao demnio. Sobretudo nos terreiros de umbanda, porm, voc encontra a ideia do exu como um sujeito que trabalha para o bem e para o mal, que negocivel, enquanto o demnio cristo no algum com quem voc negocia. Voc no vai pedir coisas boas, porque ele o mal absoluto. Quando se fala que houve uma demonizao do exu, digo que houve tambm uma exuzizao do demnio. Se a pessoa d a comida e a bebida, o exu faz tanto o bem como o mal. No sistema afro-brasileiro, as pessoas at que deixaram esse demnio com essa aparncia, porque sabem que no o demnio cristo: um exu mesmo, na aparncia de um demnio cristo. Quando esse demnio vai para o sistema neopentecostal, no mais o ser da negociao: volta a ser o demnio absoluto, mas com o nome daquele demnio da negociao. Causa confuso, porque a pessoa que trabalhou vinte anos com seu exu na umbanda, quando vai para a igreja neopentecostal, convencida pelo pastor que durante aqueles anos todos a entidade s fez o mal dizendo que estava fazendo o bem. Ela se sente enganada por sua prpria entidade.

    Paulo Hebmller Como se d essa relao simbitica entre o neopentecostal e o afro-

    brasileiro?

    Vagner Gonalves da Silva A igreja neopentecostal precisa a toda hora desmascarar esse demnio para prosseguir no seu proselitismo. O neopentecostalismo absorve um conjunto de prticas dos terreiros, como as entidades, o uso de velas coloridas, as rosas vermelhas e brancas, aparatos como sabonete do descarrego ou leo da purificao. A diferena que na igreja voc compra o sabonete do descarrego e nele est escrito um versculo (como: Vai, lava-te sete vezes no Jordo, e a tua carne ser restaurada, e ficars limpo, de 2 Reis 5.10). Todo esse arsenal de elementos trazido para o campo neopentecostal e usado no sentido que ele quer dar. O Edir Macedo diz que na verdade esses so elementos bblicos que o demnio levou para o campo afro-brasileiro e que agora a Iurd est recuperando. Trazida para o campo cristo, essa magia fica muito mais legitimada. Posso ter at receio de usar um sabonete que o pai-de-santo me recomendou, mas se vou na igreja e o pastor diz que posso usar porque est na Bblia, fico mais confortvel. No preciso ter vergonha de usar roupa branca, porque o prprio pastor se apresenta de branco, e assim por diante.

    Paulo Hebmller O diferencial da Iurd em relao s outras igrejas evanglicas e

    prpria Igreja Catlica foi ter reconhecido e legitimado o poder das entidades das religies

    afro-brasileiras?

    Vagner Gonalves da Silva Assim como o catolicismo, as igrejas pentecostais batiam, mas no lidavam com as entidades trazendo esse poder para o seu prprio campo, como fazem as denominaes neopentecostais do tipo da Iurd. Obviamente a Igreja Catlica nunca aceitou prticas que no fossem as suas, mas a bem da verdade por baixo da batina ocorriam sincretismos e associaes para os quais muitas vezes a Igreja fazia vista grossa. A Igreja sabia que todo esse catolicismo popular, como a Congada, as festas do Divino Esprito Santo, as Folias de Reis, muitas vezes tinha um p no terreiro e na herana africana, mas sempre deixou que isso tambm fizesse parte da constituio dessa vivncia, embora a atacasse no discurso oficial. Os protestantes

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  • j rompem com essa herana e tm uma viso teolgica mais enxuta em relao a isso. O pentecostalismo traz novamente um avivamento que reativa uma certa experincia religiosa que o protestantismo j tinha deixado de lado e que o catolicismo tinha nos setores mais populares. Quando o neopentecostalismo surge, a experincia do avivamento se aproxima muito mais da tradio afro-brasileira. Esses evanglicos percebem que ali existe uma fora e puxam-na para o campo neopentecostal. Por isso o dilogo to intenso e eu digo dilogo porque ao mesmo tempo ataque e uso desses elementos. Os trnsitos so bastante complexos, mas de qualquer maneira todos esto dialogando.

    Paulo Hebmller O neopentecostalismo trocou o sacrifcio de Cristo, que na teologia crist tradicional selou a reconciliao entre Deus e o homem, por um sacrifcio dirio do Anticristo no plpito. Como se d essa inverso?

    Vagner Gonalves da Silva Nessa teologia, o tempo todo as coisas trocam de lugar. Na viso catlica, o fiel pede ao santo e se o santo atende o pedido paga-se um ex-voto. Ou seja, primeiro o santo cristo tem que fazer a sua parte para que o homem pague a promessa. No neopentecostalismo, primeiro o homem que d e coloca Deus na posio de devedor. E como, segundo a teologia desses pastores, Deus criou tudo para o homem e tudo est sua disposio, o que o homem precisa para ter essas coisas? Apenas mostrar a sua f, e ele a mostra dando tudo o que tem. Essa moeda de troca no plano simblico, a f, se traduz numa moeda de troca efetiva de mercado. por isso que o pastor diz: coloque a mo no bolso, tire tudo o que voc tem e mostre o tamanho da sua f. Ele no diz: coloque a mo no corao e mostre a sua f. A f no se expressa mais em termos de atos, mas sim em termos do dinheiro que voc d para a igreja. E no a quantidade em si que importa, mas sim a relao do que voc d em relao ao que tem. Se voc tem mil e d cem, e outra pessoa que tem cem d cinquenta, ela tem uma f maior. Esse mecanismo foi um achado bastante grande na Teologia da Prosperidade: as igrejas enriquecem e ao mesmo tempo os fiis colocam o divino na posio de ter que retribuir o que foi dado. uma inverso bastante significativa nos fluxos de dar, receber e retribuir.

    Paulo Hebmller o que se chama de protagonismo do demnio no neopentecostalismo?

    Vagner Gonalves da Silva Nas religies afro-brasileiras, o grande manipulador o pai-de-santo que trabalha com exu, que o mensageiro e mobilizador do sistema. A pessoa pede para o pai-de-santo, ele faz o sacrifcio para exu, que leva o pedido para o orix e este d o retorno. Quando o pastor subjuga o exu no plpito, coloca-se no lugar desse intermedirio e acaba sendo por excelncia o sujeito da intermediao. Ou seja, derruba de uma vez s o pai-de-santo e o exu. Quando coloca para trabalhar para ele um ex-pai-de-encosto, prova duplamente o seu poder como intermedirio. No mais o exu, no mais o pai-de-santo, mas ele, pastor, que est na verdade fazendo o sistema circular. claro que o pastor diz que no tem poder por conta dele e que o poder vem de Deus, mas quem est no plpito ele. Quando ele se veste de branco e assume aparncia de pai-de-santo, as pessoas se identificam porque j conhecem essa linguagem e esses ritos. Se no conhecem, esto aprendendo ali. Tanto que o Ronaldo Almeida [4] diz que essa igreja est produzindo os seus prprios exus.

    Paulo Hebmller A Iurd tambm usa citaes e referncias bblicas fora de contexto para motivar os fiis em suas campanhas.

    Vagner Gonalves da Silva A Iurd bastante inventiva e dinmica no sentido de trabalhar com os smbolos que esto presentes no imaginrio e us-los na igreja. Fiquei impressionado quando fiz uma tabela dessas correspondncias para o livro. Por exemplo: na Sexta-Feira Santa, a Iurd tem ritos com flores, perfumes, banhos de gua fortificada, sabonetes abenoados de descarrego. o que fazem as religies afro-brasileiras, porque para elas esse considerado um dia de fechamento

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  • de corpo. Em setembro a Festa de Cosme e Damio no catolicismo e festa de Ers para os afro-brasileiros. A Iurd faz distribuio de balas e doces sagrados e alerta para que os pais no deixem as crianas aceitarem balas de outros, porque elas podem estar amaldioadas. Em junho, os catlicos tm as festas de So Joo, com suas fogueiras, e os afro-brasileiros fazem a fogueira de Xang. A Iurd ento promove a Fogueira Santa de Israel. E assim por diante. Eles trabalham com o imaginrio do povo, mas invertendo o sinal. Ou seja, pegam um sincretismo j constitudo historicamente na sociedade brasileira entre catolicismo e religies afro e fazem com que ele desgue no sistema neopentecostal.

    Paulo Hebmller Ser a igreja sincrtica por excelncia quando se afirma contrria ao sincretismo e at ao ecumenismo (dilogo com outras igrejas crists) no uma contradio

    com o discurso da prpria Iurd?

    Vagner Gonalves da Silva De fato, ela uma igreja crist, s que refm dessa populao de exus e pombagiras e de todos esses sincretismos, e no pode abrir mo disso exatamente porque abriria mo do que a sua fora. Outras igrejas neopentecostais esto adotando esse modelo e acirrando o seu discurso. A Igreja Internacional da Graa, de R. R. Soares [5], um bom exemplo. Mas h tambm igrejas crists, inclusive pentecostais, que condenam a Iurd por ser sincrtica e dizendo que o que ela faz no tem sustentao teolgica ou doutrinria.

    Paulo Hebmller At que ponto se pode dizer que os transes nessas religies so

    experincias reais ou no? A pesquisa acadmica se ocupa dessa questo?

    Vagner Gonalves da Silva No costumamos nos perguntar sobre essa realidade no sentido mais objetivo. O transe uma experincia muito particular do sujeito dentro do sistema religioso, e as pessoas do sistema que vo julgar. No candombl h uma categoria chamada de ek, que o transe de mentira. O grupo diz que existem os transes verdadeiros e os falsos. Ns, da antropologia, nos baseamos no que eles dizem. No caso do neopentecostalismo, as pessoas que incorporam usam a atitude de transe tpica dessas entidades quando esto incorporadas nos terreiros. Do ponto de vista da aparncia e da postura, so iguais aos que ocorrem no terreiro de umbanda com exu e pombagira. A questo : essas entidades vm no templo da igreja por qu? Porque elas so chamadas a comparecer. Aquelas pessoas foram membros de terreiros e, portanto conviveram com aquelas entidades. O fluxo e o acesso a elas esto dados em outro sistema. Por isso, o pastor consegue chamar essas entidades na cabea das pessoas e de fato elas vm. Agora: uma pessoa que nunca frequentou terreiro receberia essas entidades na igreja? Sim, porque ela est vendo aqueles outros transes e sendo socializada naquela experincia. Todo transe uma socializao. Quando uma pessoa v o transe em outra, deve imaginar que, se um dia receber aquela entidade, muito provavelmente ela vai se comportar daquela maneira. o que o Almeida diz quando afirma que a Iurd produz os seus prprios exus e pombagiras. Mesmo a pessoa que nunca foi num terreiro, se incorporar um exu ou uma pombagira, provavelmente vai faz-lo naqueles termos, porque est vendo como essas entidades se portam, como falam, que expresses usam etc. uma questo complicada porque no um processo consciente: envolve uma expresso inconsciente que vai aflorar dessa maneira. Porm, no muito comum haver transe de orixs do candombl na igreja neopentecostal. Podem ser vistos exus e pombagiras, mas eu nunca vi um orix ser incorporado numa igreja. O sistema tambm tem as suas prprias preferncias em relao ao que incorpora ou no.

    Paulo Hebmller O neopentecostalismo e as religies afro-brasileiras se aproximam

    tambm na dimenso do corpo?

    Vagner Gonalves da Silva O neopentecostalismo, de forma interessante, reintroduz a experincia do transe e do corpo na religio crist. Sobretudo depois da Reforma e da Contra-Reforma, o cristianismo tem sido, em graus diferentes, uma religio de converso racional. Ou

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  • seja, a pessoa ouve a Palavra, medita sobre ela e age em funo de uma atitude da razo. No neopentecostalismo, se reintroduz a mediao do sagrado pelo corpo, o que o prprio pentecostalismo de certa forma j fazia. Quem tinha essa experincia era muito mais o campo afro-brasileiro, porque as entidades baixavam. Mesmo que a gente no pense no transe dos exus e pombagiras, mas pense no Esprito Santo, a prpria terceira pessoa da Trindade que est baixando num corpo humano. Isso no pouca coisa. Se no imaginrio cristo Deus, Jesus Cristo e o Esprito Santo esto l em cima e uma das pessoas da Trindade vem ao corpo humano (o batismo no Esprito Santo), essa uma experincia fundamental. Porm, para o neopentecostalismo h o transe positivo, da grande divindade, e o transe negativo, das demonacas.

    Notas:

    [1] Jos Oscar Beozzo padre e telogo, com mestrado em Sociologia da Religio, pela Universit Catholique de Louvain (Blgica) e doutorado em Histria Social, pela Universidade de So Paulo (USP). Faz parte do Centro de Estudos de Histria da Igreja na Amrica Latina (CEHILA-Brasil), filiado Comisso de Estudos de Histria da Igreja na Amrica Latina e no Caribe (CEHILA). Tambm scio fundador da Agncia de Informao Frei Tito para a Amrica Latina (Adital).

    [2] Ari Pedro Oro mestre em Filosofia pela PUS-RS e doutor em Estudos da Amrica Latina pela Universite de Paris III. Atualmente membro da Universit de Quebec Montreal, colaborador da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais, diretor da Associao Brasileira de Antropologia e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    [3] Edir Macedo um empresrio e religioso brasileiro, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), e proprietrio da Rede Record de Televiso. Promotora e defensora da Teologia da Prosperidade, a IURD cresceu e tornou-se a quarta maior corrente religiosa do pas, segundo o Censo de 2000. Numa famlia catlica praticante, cultivou esta f e, posteriormente, frequentou terreiros de umbanda antes de se tornar evanglico. No incio dos anos 1960, era membro da Igreja de Nova Vida. Iniciou seu trabalho evangelstico como pastor em 1974. Em 1977, fundou a Igreja Universal do

    Reino de Deus e em 1989 comprou a Rede Record. Atualmente, tambm proprietrio da Rede Famlia, Record News, Line Records, Rede Aleluia. Autor de vrios livros de carter religioso, e do polmico best-seller "Orixs, Caboclos e Guias, Deuses ou Demnios", detm tambm doutoramentos em Teologia e em Filosofia Crist, e Honoris Causa em Divindade.

    [4] Ronaldo Romulo Machado de Almeida Mestre em Antropologia social pela Universidade Estadual de Campinas e doctor em Cincia social pela Universidade de So Paulo, com ps-doutorado pela cole des Hautes tudes en Sciences Sociales. Atualmente, professor da Unicamp e pesquisador no Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento.

    [5] Romildo Ribeiro Soares, conhecido como Missionrio R.R. Soares, um tele-evangelista brasileiro, fundou, em 1980, a Igreja Internacional da Graa de Deus. Apresenta o programa Show da F pelas redes Bandeirantes e CNT no perodo da noite. Embora casado com a irm do atual dono da Rede Record, Magdalena, h 28 anos, a relao com Edir Macedo anterior. Tendo se conhecido em 1968 na Nova Vida, os dois fundaram A Cruzada do Caminho Eterno sete anos apse. Em 1977, criaram a Igreja Universal do Reino de Deus. Em 2006, lanou uma operadora evanglica de TV paga, que pretende atingir

    cem mil assinantes.

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