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Esforço máximo e supramáximo na hidroginástica. Caracterização e avaliação do risco de acidente
cardiovascular
Inês Oliveira Gonçalves
Porto, 2008
Orientador: Prof. Doutora Susana SoaresCo-Orientador: Prof. Doutora Paula SantosInês Oliveira Gonçalves
Porto, 2008
Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Recreação e Lazer, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Esforço máximo e supramáximo na hidroginástica. Caracterização e avaliação do risco de acidente
cardiovascular
Gonçalves, I. (2008). Esforço máximo e supramáximo na hidroginástica. Caracterização e avaliação do risco de acidente cardiovascular. Porto: I. Gonçalves. Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Palavras-chave: hidroginástica, capacidade anaeróbia, factores de risco cardiovascular
III
Muito obrigada às minhas estrelas….
aos meus pais
à avó Inês
ao André
“ Se as coisas são inatingíveis…ora! Não é motivo para não querê-las… Que tristes os caminhos se não fora A mágica presença das estrelas!” (Mário Quintana, 1951)
V
Agradecimentos “ Para ser grande, ser inteiro; nada teu exagera ou exclui; ser todo em cada
coisa; põe quanto és no mínimo que fazes; assim em cada lago, a lua toda
brilha porque alta vive.” (Fernando Pessoa)
Com este poema exprimo o meu profundo, sincero e sentido agradecimento,
à minha MESTRE, Professora Doutora Susana Soares, que me ensinou tudo
sobre hidroginástica e me tem ensinado muito sobre a vida. Um OBRIGADO
do “tamanho” da sua pessoa.
Ao Professor Doutor Ricardo Fernandes agradeço a amabilidade e a
simpatia com que sempre me recebeu no gabinete de natação e a
disponibilidade manifestada para a utilização do material necessário à
execução deste trabalho.
À professora Paula Santos agradeço a disponibilidade para abraçar a co-
orientação este trabalho.
À Roberta Bgeginski agradeço os preciosos ensinamentos sobre a escala de
Borg e a rapidez de resposta e auxílio, enviados directamente do outro lado
do Atlântico, a cada “grito de socorro”.
À Mestre Suzana Pereira um muito obrigado pela prontidão e paciência no
ensino do manuseamento das câmaras terrestres e subaquáticas.
Aos Professores Doutores José Alberto Duarte, José Magalhães e Alberto
Silva agradeço a disponibilidade e orientação para a interpretação de alguns
resultados referentes às questões fisiológicas.
Um agradecimento especial pela colaboração e paciência EXTRA nos
momentos da recolha de dados: ao Pedro Figueiredo, à Inês Aleixo, ao
Pedro Soares, ao Raul e às minhas enfermeiras e médicas Diana Mota,
Maria José, Patrícia Rosas, Bianca, Margarida Moreira e Marta Freitas.
VI
Ao Solmaia Health Club, mais especificamente ao professor Carlos Ministro,
um muito obrigado pela confiança e por acreditar neste trabalho,
disponibilizando por completo as instalações do club para a sua realização.
Às minhas amigas Diana Mota, Liane Guedes e Diana Sousa um profundo
agradecimento pela amizade, apoio, cumplicidade e companheirismo que
sempre demonstraram ao longo do curso. Agradeço ainda a grande…
enorme…gigante paciência com que sempre me ouviram. MUITO
OBRIGADA!!!
Às minhas “cobaias”, as meninas desta amostra, a minha eterna gratidão
pela colaboração e amizade, pois sem vocês este trabalho não seria
possível.
A todos os funcionários da biblioteca da FADEUP, em especial à Mafalda
Pereira, à Virgínia Pinheiro e ao Pedro Novais agradeço a simpatia e ajuda
inqualificáveis.
Por fim, expresso um sentimento de especial gratidão àqueles que mais
amo, à mãe Lina, ao Pai Ilídio e ao André Conceição pelo seu apoio e
paciência nos momentos de angústia, mau humor e tristeza. Perdoem-me
pelas tantas semanas e fins-de-semana de ausência...
VII
Resumo A Literatura na hidroginástica é escassa e tem-se situado predominantemente na
estimação de indicadores da performance aeróbia, embora nesta actividade
também se utilizem tipos de trabalho que solicitam a capacidade anaeróbia (e.g.
treino intervalo e em pirâmide). Aparentemente, o desenvolvimento desta última
capacidade, ao contrário da capacidade aeróbia, tem sido descrito,
dominantemente para o desporto de alto rendimento. Parece-nos, assim, que
esforços de intensidades elevadas e que solicitam a capacidade anaeróbia
necessitam ainda de ser estudados, assim como os riscos associados à sua
execução. Foi objectivo deste estudo caracterizar a resposta fisiológica a dois picos
de esforço de hidroginástica de intensidade distinta associando-os à possibilidade
de ocorrência de acidente cardiovascular. A amostra deste estudo foi constituída
por dez mulheres saudáveis, experientes na hidroginástica, com 38.3 ± 9.4 anos.
Este trabalho comportou dois protocolos de avaliação constituídos por 3 min de
aquecimento, por 5 min de exercícios de intensidade moderada e por um pico de
intensidade máxima com 7 min de duração, no primeiro protocolo, e um pico de
intensidade supramáxima induzido por um exercício aquático intermitente de curta
duração, no segundo protocolo. Os parâmetros avaliados foram o lactato sanguíneo
(La-), a frequência cardíaca (FC), a tensão arterial (TA) sistólica (TAS) e diastólica
(TAD) e a percepção subjectiva de esforço (EPSE). Os principais resultados
relativos à FC, La- e EPSE mostraram que os picos de intensidade correspondentes
aos dois protocolos foram efectivamente máximo e supramáximo, respectivamente.
As concentrações de La- foram superiores no pós-esforço, demonstrando a elevada
participação do metabolismo anaeróbio durante os dois picos. Os valores de TAS
foram superiores enquanto os valores da TAD foram inferiores no pós-esforço.
Como tal a, TA média calculada para repouso e pós-esforço foi a mesma,
mostrando um baixo risco cardiovascular associado à prática dos exercícios
realizados nos dois protocolos. O duplo produto calculado foi superior no pós-
esforço para o pico máximo, demonstrando um maior esforço cardíaco associado a
este exercício. Os resultados da TA e do La- sanguíneo permitiram-nos, concluir
que os exercícios de carácter anaeróbio parecem poder ser realizados, com
segurança, em classes de hidroginástica com praticantes saudáveis.
Palavras-chave: hidroginástica, capacidade anaeróbia, factores de risco
cardiovascular.
IX
Abstract
Literature in hydrogymnastics is scarce and is mainly focused on the estimation of
aerobic performance indicators, although types of work requiring the anaerobic
capacity (interval and pyramid training) are involved in this activity as well. It
appears that the development of the latter capacity, in contrast to the aerobic
capacity, has been described, mostly connected to the high performance sport. In
our opinion, it is essential to study efforts of high intensities that involve the
anaerobic capacity as well as the risks associated to its carrying out. This study
aims to describe the physiological response to two peaks of effort of distinct intensity
in hydrogymnastics in association with the possibility of occurrence of
cardiovascular accident. The sample of this study consisted of ten healthy women,
with experience in hydrogymnastics, at the age 38.3 ± 9.4 years old. This work held
two protocols of assessment. The former consisted of a 3 min warm-up, 5 min of
moderate intensity exercises and a peak of maximal intensity of 7 min long. The
latter consisted of a peak of supramaximal intensity induced by a short duration
intermittent exercise. The evaluated parameters were blood lactate (La-), heart rate
(HR), blood pressure (BP), systolic (SBP) and diastolic (DBP), and the Rate of
Perceived Exertion Scale (RPE). The main results regarding the HR, and RPE
revealed that the peaks of intensity in both protocols were in fact maximal and
supramaximal, respectively. The blood La- concentration was higher in after
exercise indicating the high participation of the anaerobic metabolism during the two
peaks. The values of the SBP were higher whereas the values of the DBP were
lower in after effort. Thus the mean BP at rest and after exercise was the same,
which is an evidence for the existence of a low cardiovascular risk associated to the
exercises carried out in both protocols. The double product calculated was higher in
after exercise for the maximal peak, demonstrating a higher cardiac effort
associated to this exercise. The results of BP and of the La- allowed us to conclude
that anaerobic exercise could be safely used in hydrogymnastic classes with healthy
subjects.
Keywords: hydrogymnastics, anaerobic capacity, cardiovascular risk factors
XI
Résumé
La bibliographie concernant l’aquagym est peu nombreuse. Celle qui existe
se rapporte surtout à l’estimation des indicateurs de performance aérobie, bien que
l’aquagym puisse impliquer des activités exigeant des capacités anaérobies (ex.
entraînement en intervalle et en pyramide). Apparemment, le développement de
cette capacité, contrairement à ce que l’on constate pour la capacité aérobie, est
seulement objet d’étude dans le sport de haute performance. Il nous semble, donc,
qu’il faut focaliser l’attention sur des exercices impliquant la capacité anaérobie,
ainsi que sur les risques associés à leur pratique. Le but de ce travail est donc
caractériser la réponse physiologique à deux moments d’effort d’intensité variable et
leur possible rapport avec l’accident cardiovasculaire. L’échantillon de cette étude
est constitué par dix femmes en bonne santé et expérimentées en aquagym, âgées
de 38.3 ± 9.4 ans. Ce travail a respecté deux protocoles d’évaluation, le premier
constitué par 3 min d’échauffement, 5 min d’exercices d’intensité modérée suivi d’
un pic d’intensité maximum de 7 min de durée et le deuxième incluant un pic
d’intensité supra maximum entraîné par un exercice intermittent de courte durée.
Les items observés ont été le lactate sanguin (La-), la fréquence cardiaque (FC), la
tension artérielle (TA) systolique (TAS) et diastolique (TAD) ainsi que la perception
subjective de l’effort dépensé (EPSE). Les résultats concernant la FC, le La- et la
EPSE montrent que les pics d’intensité de l’effort correspondants aux protocoles en
question ont été, en effet, maximum et supramaximum respectivement. La
concentration de La- a été plus élevée après l’effort, attestant la participation active
du métabolisme anaérobie pendant les deux pics d’effort. Les valeurs de TAS ont
été plus élevées tandis que les niveaux de TAD ont été inférieurs dans la période
après l’effort. Ainsi la TA moyenne calculée en période de détente et après l’effort a
présenté la même valeur, indiquant qu’il y a un risque très bas de problèmes
cardiovasculaires durant les protocoles. Cependant, le produit obtenu après l’effort
exigé au pic maximum a été supérieur, dénotant une surcharge cardiaque
associée à cet effort. Les résultats de la TA e du La- permettent conclure que les
exercices anaérobies semblent pouvoir être réalisés, en conditions de sécurité, par
des pratiquants sains des classes d’aquagym.
Mots-clés : aquagym, capacité anaérobie, facteurs de risque cardiovasculaire.
XIII
Índice Geral Agradecimentos .............................................................................................V Resumo........................................................................................................VII Abstract ......................................................................................................... IX Résumé.........................................................................................................XI Índice Geral.................................................................................................XIII Lista de abreviaturas................................................................................. XVII Índice de Figuras........................................................................................ XIX Índice de Quadros..................................................................................... XXII Índice de Equações................................................................................... XXV 1. Introdução .................................................................................................. 1 2. Revisão da literatura .................................................................................. 5
2.1. Origem da hidroginástica..................................................................... 5 2.2. Conceito de hidroginástica .................................................................. 6
2.2.1. Hidroginástica, hidroterapia e exercício aquático terapêutico ....... 7 2.3. “Métodos” de hidroginástica ................................................................ 9
2.3.1. Aquatic Exercise Association ........................................................ 9 2.3.2. Aquatic Fitness System............................................................... 12
2.4. Variantes da hidroginástica. .............................................................. 13 2.5. Investigação na hidroginástica .......................................................... 19 2.6. Benefícios da hidroginástica.............................................................. 31
2.6.1.Aptidão física................................................................................ 34 2.6.1.1. Desenvolvimento da capacidade aeróbia............................ 35 2.6.1.2. Desenvolvimento da capacidade anaeróbia........................ 37
2.7. Controlo e avaliação na hidroginástica.............................................. 38 2.7.1. Controlo da intensidade .............................................................. 38
2.7.1.1. Escala de Borg ..................................................................... 39 2.7.1.2. Frequência cardíaca ........................................................... 45
2.8. Avaliação cardiorrespiratória ............................................................. 49 2.9. Avaliação da capacidade anaeróbia.................................................. 51
2.9.1.Avaliação da capacidade anaeróbia em praticantes de hidroginástica........................................................................................ 52
2.10.Factores de risco associados à pratica da hidroginástica e seu controlo 53
2.10.1.Controlo da tensão arterial ......................................................... 54 2.10.2.O Duplo produto como indicador do esforço cardiovascular ...... 58
3.Objectivos e hipóteses .............................................................................. 61 4.Metodologia............................................................................................... 65
4.1. Amostra ............................................................................................. 65
XIV
4.2. Instrumentos e procedimentos .......................................................... 65 4.2.1. Registo da altura, peso e composição corporal .......................... 66 4.2.2. Determinação da tensão arterial sistólica e diastólica de repouso e pós-esforço ........................................................................................... 67 4.2.3. Determinação da lactatemia de repouso e pós-esforço .............. 69 4.2.4. Determinação da frequência cardíaca de repouso (com e sem imersão do corpo) e da frequência cardíaca de esforço ....................... 70 4.2.5. Determinação da Percepção Subjectiva de Esforço ................... 71
4.3. Procedimentos estatísticos................................................................ 72 5.Resultados ................................................................................................ 73
5.1. Resposta fisiológica e factores de risco associados a um pico de intensidade máxima com a duração de 7 minutos.................................... 73
5.1.1. Percepção Subjectiva de Esforço ............................................... 73 5.1.2.Lactatemia de repouso e pós-esforço .......................................... 74 5.1.3. Frequência cardíaca de repouso, esforço e pós-esforço ............ 74
5.1.3.1. Frequência cardíaca de repouso .......................................... 74 5.1.3.2. Frequência cardíaca média e máxima de esforço ................ 75 5.1.3.3. Resposta cardíaca ao esforço em percentagem de frequência cardíaca máxima estimada................................................................ 76
5.1.4. Tensão arterial sistólica, diastólica e média de repouso e pós-esforço .................................................................................................. 77
5.2. Resposta fisiológica e factores de risco associados a um pico de intensidade supramáxima induzido através de um exercício aquático intermitente de curta duração ................................................................... 78
5.2.1. Percepção Subjectiva de Esforço ............................................... 78 5.2.2. Lactatemia de repouso e pós-esforço ......................................... 79 5.2.3. Frequência cardíaca de repouso, esforço e pós-esforço ............ 80
5.2.3.1. Frequência cardíaca de repouso .......................................... 80 5.2.3.2. Frequência cardíaca média e máxima de esforço ................ 80 5.2.3.3. Resposta cardíaca ao esforço em percentagem de frequência cardíaca máxima estimada................................................................ 81
5.2.4. Tensão arterial sistólica, diastólica e tensão média de repouso e pós-esforço. .......................................................................................... 82 5.2.5. Estimativa do esforço cardíaco durante os exercícios ................ 83
5.3. Comparação da resposta fisiológica e factores de risco associados a um pico de intensidade máxima, com a duração de 7 minutos e a um pico de intensidade supramáxima induzido através de um exercício aquático intermitente de curta duração ................................................................... 84
5.3.1. Percepção subjectiva de esforço ................................................ 84 5.3.2. Lactatemia de repouso e pós-esforço ......................................... 85 5.3.3. Frequência cardíaca de repouso, esforço e pós-esforço ............ 86
5.3.3.1. Frequência cardíaca de repouso .......................................... 86 5.3.3.2. Frequência cardíaca média e máxima de esforço ................ 87 5.3.3.3. Frequência cardíaca máxima de esforço e frequência cardíaca máxima estimada................................................................ 87 5.3.3.4. Resposta cardíaca ao esforço em percentagem de frequência cardíaca máxima ............................................................................... 88
XV
5.3.4. Tensão arterial sistólica, diastólica e média de repouso e pós-esforço...................................................................................................... 88
6. Discussão dos resultados ........................................................................ 91 6.1. Características da amostra................................................................ 91 6.2. Percepção Subjectiva de Esforço...................................................... 92 6.3. Lactatemia ......................................................................................... 93 6.4. Frequência cardíaca.......................................................................... 97 6.5. Tensão arterial e duplo produto......................................................... 99
7. Conclusões ............................................................................................ 103 8. Perspectivas futuras............................................................................... 105 Bibliografia ................................................................................................. 107
XVII
Lista de abreviaturas Abreviatura Descrição
AEA Aquatic Exercise Association
ATP Adenosina-trifosfato
(a – v) O2max Diferença artério-venosa
bpm Batimentos por minuto
cm Centímetros
CO2 Dióxido de carbono
DC Débito cardíaco
DP Duplo produto
EPSE Escala de Percepção Subjectiva de Esforço
E.U.A. Estados Unidos da América
FC Frequência cardíaca
FCmax Frequência cardíaca máxima
FCmaxT Frequência cardíaca máxima teórica
%FCmax Percentagem da frequência cardíaca máxima
FCmed Frequência cardíaca média
HTA Hipertensão arterial
Kcal Quilocalorias
La- Lactato
La Lactatemia
LAN Limiar anaeróbio
MI Membros inferiores
min Minutos
mmHg Milímetros de mercúrio
mmol.l-1 Milimoles por litro
MS Membros superiores
MVO2 Consumo de oxigénio do miocárdio
O2 Oxigénio
P1 Primeiro protocolo de avaliação
P2 Segundo protocolo de avaliação
QR Quociente respiratório
SPEEDO Aquatic Fitness System
TA Tensão arterial
TAS Tensão arterial sistólica
TAD Tensão arterial diastólica
XVIII
TAM Tensão arterial média
μL Microlitros
VO2 Consumo de oxigénio
VO2max Consumo máximo de oxigénio
VS Volume sistólico
XIX
Índice de Figuras
Figura 1. Representação gráfica do treino aeróbio contínuo (AEA, 2001). .. 36
Figura 2. Representação gráfica do treino aeróbio intervalado (AEA, 2001)...................................................................................................................... 37
Figura 3. EPSE escalonada de 6 a 20, proposta por Borg na Suécia em 1966 (Borg, 2000). ................................................................................................ 41
Figura 4. Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg, com 15 índices de esforço percebido (Borg, 2000)................................................... 43
Figura 5. Escala de Percepção Subjectiva de Esforço para Crianças (Williams et al. 1994).................................................................................... 44
Figura 6. Escala de Categoria-Relação, com 10 índices (Robertson et al., 1998) ............................................................................................................ 44
Figura 7.Medição da tensão arterial através do esfigmomanómetro de mercúrio (Powers & Howley, 2007). ............................................................. 56
Figura 8. Picos de intensidade realizados nos dois protocolos; a) polichinelo saltado; b) batimento alternado de membros inferiores; c) estimulo da equipa de investigação. ........................................................................................... 66
Figura 9. Recolha de dados para a caracterização da amostra; a) realização do questionário sobre a saúde e prática desportiva; b) medição da altura; c) determinação do peso e da composição corporal. ....................................... 67
Figura 10. Técnica de medição da tensão arterial em repouso (Carmona, 2006) ............................................................................................................ 68
Figura 11. Recolha dos valores de repouso da TAS e TAD através de um esfigmomanómetro de mercúrio Erka e de um estetoscópio Littman a) ajuste da braçadeira ao perímetro do braço do praticante; b) apoio do antebraço sobre uma mesa; c) coluna de mercúrio do esfigmomanómetro.................. 68
Figura 12. Recolha dos valores pós-esforço da TAS e da TAD através de um esfigmomanómetro de mercúrio Erka e de um estetoscópio Littman a) colocação do antebraço sobre a plataforma, constituída por um step e uma placa de natação; b) compressão da bomba de ar. ..................................... 69
Figura 13. Recolha de sangue para a determinação da lactatemia por punção do lóbulo da orelha; a) limpeza da superfície de análise; b) punção do lóbulo da orelha; c) obtenção da gota de sangue; d) análise com Lactate Pro. .............................................................................................................. 69
Figura 14. Constituintes do cardiofrequêncimetro: a) cinto emissor; b) relógio receptor ........................................................................................................ 70
XX
Figura 15. Escala de Percepção Subjectiva de Esforço, escalonada de 6 a 20 (Borg, 2000). ........................................................................................... 72
Figura 16. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos no momento inicial, intermédio e final do pico de intensidade máxima com a duração de 7 min. ................................ 73
Figura 17. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da lactatemia.................................................................................... 74
Figura 18. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm), determinada em terra e na água...................................................................................................................... 75
Figura 19. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm) registada em intervalos de 5 s para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) 7 min de exercícios de intensidade máxima; c) período de recuperação de 30 s........................ 76
Figura 20. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da percentagem da frequência cardíaca máxima (%FCmax) estimada para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) 7 min de exercícios de intensidade máxima; c) período de recuperação de 30 s........................ 77
Figura 21. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM), referentes ao repouso e pós-esforço................................................ 78
Figura 22. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos no final de cada repetição (rep) de 30 s de batimento alternado de membros inferiores. ................................................ 79
Figura 23. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da lactatemia (La, mmol. l-1) de repouso e pós-esforço. .................. 79
Figura 24. Representação gráfica dos valores médios respectivos desvios padrão da frequência cardíaca de repouso (FC, bpm) determinada em terra e na água. .................................................................................................... 80
Figura 25. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm) registada para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercício de intensidade supramáxima, constituído por 3 repetições de 30 s de batimento alternando de membros inferiores intervaladas com 30 s de recuperação; c) período de recuperação de 30 s. ................................................................................... 81
Figura 26. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da percentagem da frequência cardíaca estimada (%FCmax) para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercício de intensidade supramáxima, constituído por 3 repetições de 30 s de batimento alternado de
XXI
membros inferiores intervaladas com 30 s de recuperação; c) período de recuperação de 30 s. ................................................................................... 82
Figura 27. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM) registados em repouso e pós-esforço. .............................................. 83
Figura 28. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão do duplo produto (DP, bpm. mmHg) referentes ao repouso e ao pós-esforço, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação.............. 84
Figura 29. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos no momento inicial, intermédio e final do pico de intensidade máxima de 7min, realizado no primeiro protocolo (P1), e no final de cada repetição (rep) de batimento alternado de membros inferiores, realizado no segundo protocolo (P2)........................................... 85
Figura 30. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão das lactatemias (La, mmol.l-1) de repouso e pós-esforço, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação. ............................................. 86
Figura 31. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm), obtida em terra e na água, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação. ............................... 87
Figura 32. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM) registados em repouso e pós-esforço. .............................................. 89
XXII
Índice de Quadros
Quadro 1. Quadro sinóptico das diferentes variantes da hidroginástica propostas pela AEA e por diferentes autores............................................... 19
Quadro 2. Quadro sinóptico, cronológico, de estudos realizados na área da hidroginástica. .............................................................................................. 22
Quadro 3. Quadro sinóptico da diminuição da frequência cardíaca (FC) durante a imersão, em exercício. ................................................................. 48
Quadro 4. Relação entre o nível de imersão corporal e a diminuição da frequência cardíaca (FC, bpm) relativamente à condição fora de água. ...... 48
Quadro 5. Relação entre a temperatura da água (ºC) e o decréscimo da frequência cardíaca (FC, bpm)..................................................................... 49
Quadro 6. Quadro de classificação dos valores da tensão arterial sistólica e diastólica, em mmHg, segundo a European Society of Hypertension-European Society of Cardiology (2003). ...................................................... 57
Quadro 7. Quadro de classificação dos valores da tensão arterial sistólica (TAS) e diastólica (TAD), em mmHg, com outros factores de risco de acidente cardiovascular para determinação do nível de risco, segundo European Society of Hypertension-European Society of Cardiology (2003).57
Quadro 8. Resposta cardiovascular, mmHg) num exercício máximo em tapete rolante, em diferentes escalões etários (Daida et al., 1996). ............ 58
Quadro 9. Alterações no duplo produto (bpm. mmHg) durante um teste de exercício incremental, em mulheres saudáveis com 21 anos de idade (Powers & Howley, 2007)............................................................................. 59
Quadro 10. Valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos no momento inicial, intermédio e final do pico de intensidade máxima com a duração de 7 min............................................................................... 73
Quadro 11. Valores médios e respectivos desvios padrão da lactatemia (La, mmol.l-1) de repouso e pós-esforço.............................................................. 74
Quadro 12.Valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm) de repouso, determinada em terra e na água. ............. 74
Quadro 13. Frequência cardíaca média (FCmed), frequência cardíaca máxima (FCmax) e respectivos desvios padrão registados em bpm para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) 7 min de exercícios de intensidade máxima; c) período de recuperação de 30 s............................. 75
Quadro 14. Valores médios e respectivos desvios padrão da percentagem da frequência cardíaca máxima (%FCmax) estimada calculada para: a) 5
XXIII
min de exercícios de intensidade moderada; b) 7 min de exercícios de intensidade máxima; c) período de recuperação de 30 s............................. 76
Quadro 15. Valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM), referentes ao repouso e pós-esforço.................................................................................. 77
Quadro 16. Valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos nos momentos finais de cada repetição (rep) de 30 s de batimento alternado de membros inferiores.................................................................. 78
Quadro 17. Valores médios e respectivos desvios padrão da lactatemia (La, mmol.l-1) de repouso e pós-esforço.............................................................. 79
Quadro 18. Valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm) de repouso, determinada em terra e na água. ............. 80
Quadro 19.Frequência cardíaca média (FCmed), frequência cardíaca máxima (FCmax) e respectivos desvios padrão registados em bpm para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercício de intensidade supramáxima, constituído pelas 3 repetições de 30 s de batimento alternado de membros inferiores intervaladas com 30 s de recuperação; c) período de recuperação de 30 s. ................................................................................... 81
Quadro 20. Valores médios e respectivos desvios padrão da percentagem da frequência cardíaca máxima (%FCmax) estimada para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercício de intensidade supramáxima, constituído por 3 repetições de 30 s de batimento alternado de membros inferiores intervaladas com 30 s de recuperação; c) período de recuperação de 30 s. ................................................................................... 82
Quadro 21.Valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM) registados em repouso e pós-esforço.................................................................................. 82
Quadro 22. Valores médios e respectivos desvios padrão do duplo produto (DP, mmHg. bpm) referentes ao repouso e ao pós-esforço, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação. ..................................................... 83
Quadro 23. Valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos no momento inicial, intermédio e final do pico de intensidade máxima de 7 min, realizado no primeiro protocolo (P1) e no final de cada repetição (rep) de batimento alternado de membros inferiores, realizado no segundo protocolo (P2)............................................................................................... 85
Quadro 24. Valores médios e respectivos desvios padrão das lactatemias (La, mmol.l-1) de repouso e pós-esforço, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolo de avaliação. ................................................................................ 85
XXIV
Quadro 25. Valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca de repouso (FC, bpm), obtida em terra e na água, no primeiro (P1) e no segundo (P2) protocolos de avaliação. ................................................ 86
Quadro 26. Frequência cardíaca média (FCmed) e máxima (FCmax) e respectivos desvios padrão registados em bpm, no primeiro (P1) e no segundo (P2) protocolos de avaliação, para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercícios de intensidade máxima e supramáxima; c) período de recuperação de 30 s. ............................................................. 87
Quadro 27. Valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca máxima de esforço (FCmax), registada em bpm, durante o primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação e frequência cardíaca máxima teórica (FCmaxT), estimada pela equação de Tanaka (2001) ..................... 88
Quadro 28. Valores médios e respectivos desvios padrão da percentagem da frequência cardíaca máxima (%FCmax) estimada, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação, para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercícios de intensidade máxima e supramáxima; c) período de recuperação de 30 s. ............................................................. 88
Quadro 29. Valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM), no primeiro (P1) e segundo protocolos de avaliação (P2), em repouso e pós-esforço.............. 89
XXV
Índice de Equações VO2max = DC x (a-v) O2max FCmax = 208 – 0,7 * idade TAM = [0,33 (TAS - TAD)] + TAD
1
1. Introdução
A hidroginástica foi definida por alguns autores como uma actividade
aquática constituída por exercícios que utilizam a resistência da água,
utilizando posições do corpo e dos segmentos corporais que o tornam muito
pouco hidrodinâmico (1989; Sanders & Rippe, 2001). No entanto, as aulas de
hidroginástica têm sido conotadas, de forma sistemática, como “aulas para
velhinhos”, aulas de baixa intensidade e, portanto, algo desmotivantes para a
população mais jovem e mais activa que, de um modo geral, procura aulas
fisicamente mais desafiantes. Esta falta de intensidade nas aulas de
hidroginástica poderá ter diferentes causas, nomeadamente a falta de força
aplicada pelos praticantes nos movimentos ou alguma(s) falha(s)
metodológica(s) do professor que retiram eficiência à própria aula. Tal vez por
esta razão, as aulas de hidroginástica sejam, de uma forma geral, preferencial
e predominantemente, frequentadas por pessoas pertencentes a grupos que
vulgarmente designamos como populações especiais (e.g. idosos, grávidas ou
indivíduos com problemas a nível do aparelho locomotor). Por sua vez, os
professores, perante este tipo de populações, por receio ou desconhecimento
dos limites de intensidade a aplicar tendem, regra geral, a balizar a intensidade
das suas aulas num nível muito baixo. Apesar da tendência anterior, parece
claro que na hidroginástica é possível trabalhar com intensidades elevadas,
desde que as opções metodológicas do professor e a execução dos alunos
sejam correctas. Na verdade, na hidroginástica existem tipologias de trabalho
tão intenso, como o treino em pirâmide e o treino intervalado, que requerem
inclusive uma importante participação do metabolismo anaeróbio. Todavia, em
termos da investigação científica verificamos que os estudos realizados na
hidroginástica têm-se situado predominantemente na estimação de indicadores
de desempenho aeróbio. Na hidroginástica, tal como nas restantes actividades
que visam a saúde, o desenvolvimento da capacidade anaeróbia parece ser
negligenciado, ao contrário dos desportos de alto rendimento (e.g. natação,
remo, atletismo, futebol etc.) nos quais são planeados exercícios de treino
específicos para esta capacidade. Contudo, a solicitação do metabolismo
anaeróbio não é exclusiva do treino ou das provas típicas dos atletas de alta
competição. Nas tarefas do quotidiano, por vezes, são também realizados
2
esforços de curta duração e máxima intensidade, nomeadamente em situação
de stress ou lazer onde, subitamente é necessário fazer uma corrida curta e
rápida. Neste sentido, parece legítimo que esta capacidade sejam desenvolvida
à semelhança de todas as outras.
Estudos recentes têm demonstrado a importância do exercício vigoroso
para saúde, afirmando inclusive que as actividades físicas vigorosas possuem
mais benefícios para a saúde do que as actividades de intensidade moderada
(Jjogaard et al., 2008; Swain & Franklin, 2006). Não raro, este denominado
exercício vigoroso (ACSM, 2006) comporta repetições ou séries de trabalho
anaeróbio.
Um dos problemas que se coloca à utilização de trabalhos de intensidade
máxima advém da heterogeneidade das classes de hidroginástica e
principalmente do desconhecimento relativo à possível falta de aptidão de
alguns dos sujeitos para a prática de exercício intenso. Sabe-se que a
hipertensão arterial (HTA) é considerada um dos maiores factores de risco de
doença cardiovascular e de mortalidade nos países desenvolvidos (Hagberg et
al., 2000; Penco et al., 2006; Pescatello et al., 2004). Em Portugal, a doença
vascular cerebral com a sua expressão mais grave, o acidente agudo, é a
maior causa de morte e um dos maiores causadores de incapacidade e
deterioração da qualidade de vida (Ramalhinho, 2006). Segundo Lewington et
al. (2002), a relação entre os valores de tensão arterial e o risco cardiovascular
é contínua, gradual, consistente e independente de outros factores de risco,
estendendo-se até valores de normotensão. De acordo com os dados da WHO
(2002), 62% dos acidentes vasculares cerebrais e 49% da doença cardíaca
esquémica são atribuíveis a valores tensionais sub-óptimos (tensão arterial
sistólica > 115 mmHg). Todavia, a HTA é tipicamente assintomática e como tal
a maioria dos indivíduos desconhece a sua existência. Este facto salienta a
importância da sensibilidade do professor de hidroginástica para a regulação
da intensidade do exercício.
Com o presente estudo pretendemos concretizar dois grandes objectivos.
Primeiro, caracterizar, do ponto de vista da resposta fisiológica, dois picos de
intensidade distinta, um máximo e um supramáximo, induzidos por exercícios
de hidroginástica. Segundo, despistar a possibilidade de ocorrência de acidente
3
cardiovascular em indivíduos aparentemente saudáveis, na sequência da
realização dos referidos picos.
5
2. Revisão da literatura “A multireferêncialidade é uma pluralidade de olhares dirigidos a uma realidade e, em segundo lugar, uma pluralidade de linguagens para traduzir esta mesma realidade e os olhares dirigidos a ela”
(Barbosa, 1998)
A presente revisão foi organizada em dez grandes sub-capítulos. Nos
primeiros quatro procuramos, de forma mais generalista, caracterizar a
hidroginástica em termos da sua história, conceito, variantes e metodologias.
Os sub-capítulos subsequentes foram desenvolvidos de forma mais
aprofundada, já que da sua análise surge a fundamentação para os fenómenos
que nos propusemos observar.
2.1. Origem da hidroginástica
Os motivos da procura do meio líquido pelos seres humanos não parecem
ser arbitrários. O homem procura a água, porque através dela revive a sua
origem (Lopes et al., 1997). Considerando a primordial interacção do homem
com a água, podemos entender que as actividades aquáticas não possuem um
passado recente, sendo difícil indicar, de forma precisa, uma data para o seu
começo. Segundo alguns autores (Figueiredo, 1996; Morgado, 2003) a
modalidade hidroginástica terá surgido de um conjunto de actividades com
finalidades terapêuticas, hoje designadas por hidroterapia. O início da utilização
da água com fins terapêuticos data, do período de 430 a 375 A.C., tendo sido
empregada pela primeira vez por Hipócrates (Figueiredo, 1996; Gonçalves,
1996; Skinner & Thompson, 1985). A civilização romana utilizava a água, das
termas e banhos, para fins curativos e recreativos. Estes banhos subdividiam-
se em quatro categorias, de acordo com a sua temperatura, humidade e
objectivos: Frigidarium – banho frio direccionado para as actividades
recreativas; Trepidarium – banho tépido num recinto com ar aquecido;
Caldarium – banho quente; Sudatorium – recinto de ar húmido e quente
vocacionado para o aumento da sudação (Gonçalves, 1996; Skinner &
Thompson, 1985). Em 1697, Sir John Flyer pública um tratado intitulado “An
Inquiry into the right use and abuse of hot, cold and temperature bath”, que
constitui um mote para estudos e publicações subsequentes (Weir et al., 1997).
6
Em 1830, o salesiano Vincent Prassnitz criou um centro onde usava a água fria
conjugada com o exercício físico vigoroso, acreditando nos seus benefícios
para o corpo (Gonçalves, 1996; Skinner & Thompson, 1985). Mais tarde, em
1903, surgiu nos Estados Unidos da América (E.U.A.) um centro de reabilitação
na água (Gonçalves, 1996). Kruel (1994) refere que a hidroterapia adquiriu um
maior relevo após a segunda guerra mundial.
De acordo com Mendes (1991), a hidroginástica ter-se-á desenvolvido, de
forma mais vincada, no início do século XX nos spas da Inglaterra e terá sido
levada para os E.U.A., há mais de 30 anos através da Mocidade. A
hidroginástica ter-se-á difundido pelos diversos países e locais de prática, isto
é, terá abandonado a exclusividade dos spas, expandindo-se para locais como
Hotéis, Health Clubs, Ginásios e Academias, de tal modo que, hoje, parece
difícil encontrar uma piscina que não ofereça a hidroginástica como uma
alternativa às tradicionais aulas de natação. A atribuição da origem da
hidroginástica à hidroterapia, parece contudo ser um assunto que merece
alguma discussão. Se, por um lado, do ponto de vista histórico parece ser
relativamente fácil encontrar entre elas alguma relação, por outro lado a
comprovação da veracidade dessa mesma relação não é fácil. De um modo
particular, parece ser mais ou menos legítimo pensar que a hidroginástica é
simplesmente uma nova modalidade aquática que nasceu com expansão do
fenómeno do fitness, que busca, dia a dia, novas formas de expansão do
exercício físico, seja ele aquático ou terrestre. Analisando com algum cuidado
aquilo que são as origens da hidroterapia, nomeadamente a balneário terapia
dos romanos e as características actuais da hidroginástica parece existir uma
linha divergente entre ambas. No fundo, parece existir uma necessidade de
justificar a origem desta actividade relativamente recente através de outra com
um passado verdadeiramente remoto.
2.2. Conceito de hidroginástica
Os autores Gonçalves (1996) e Yázigi (2000) referem que a palavra
hidroginástica possui uma origem grega, significando “ginástica/exercícios na
água”. Segundo Yázigi (2000) esta definição deve ser delimitada através do
7
acréscimo da palavra “verticais” (exercícios verticais na água), evitando assim
a inclusão da natação. Autores como Grimes e Krasevec (s/d) definem-na
como uma actividade física que alia o trabalho aeróbio e a musculação com a
massagem. De acordo com Koszuta (1989), a hidroginástica pode ser
entendida como uma forma alternativa de condicionamento físico, constituída
por exercícios aquáticos específicos, baseados no aproveitamento da
resistência da água como sobrecarga. Sanders e Rippe (2001) referem-se à
hidroginástica, como uma actividade de fitness aquático, constituída por
conjuntos de exercícios realizados fundamentalmente com orientação vertical,
em águas profundas ou rasas. Ainda segundo os mesmos autores, este género
de programas normalmente não requer aptidão para a natação pura, que se
baseia numa eficiente propulsão horizontal na água. Pelo contrário, a
hidroginástica baseia-se em movimentos em que a resistência da água é
amplificada através de posicionamentos pouco hidrodinâmicos do corpo e dos
segmentos corporais.
2.2.1. Hidroginástica, hidroterapia e exercício aquático terapêutico
Nas pesquisas efectuadas em várias bases de dados internacionais, como
a Pubmed, Ebsco, Scopus, ProQuest e a Scielo, verificamos que não existe
uma uniformização relativamente à terminologia utilizada para definir a
hidroginástica. Assim, quando procuramos informação acerca desta
modalidade, são enumeras as palavras-chave utilizadas para a designar:
hydrogymnastic; hydroaerobic; aqua aerobics; water aerobics; aquatic exercise;
water exercise; aquatic fitness; aquatic training program; aqua running; shallow
water exercise; deep water exercise. Atendendo a esta pluralidade de
designações, consideramos fundamental distinguir, sobretudo, hidroginástica,
hidroterapia e exercício aquático terapêutico, de forma a evitar algumas
confusões conceptuais. Como anteriormente mencionado, a hidroginástica é
uma actividade aquática que conjuga exercícios com uma orientação
fundamentalmente vertical, aproveitando as propriedades físicas do meio para
criar resistência ao movimento. Kosonen et al. (2006) referem também que as
metas da hidroginástica poderão ser entendidas como próximas das restantes
8
“ginásticas” (leia-se ginásticas de academia ou ginásticas de grupo), isto é a
recreação, socialização e a melhoria e manutenção das capacidades físicas e
mentais.
Segundo Skinner e Thompson (1985) e Cunha et al. (1998), o termo
hidroterapia é derivado das palavras gregas hydro – água e therapia – cura.
Para Yázigi (2000) a hidroterapia, também denominada fisioterapia em meio
aquático, envolve um programa de exercícios na água direccionados para uma
reabilitação específica, sob prescrição médica, em casos de pós-operatório,
pós traumático, ou de determinadas patologias que necessitem de um trabalho
específico individualizado. De acordo com Caromano e Candeloro (2001), a
hidroterapia constitui um recurso fisioterapêutico que utiliza os efeitos físicos,
fisiológicos e cinésiológicos advindos da imersão do corpo em água quente,
como recurso auxiliar da reabilitação ou prevenção de alterações funcionais.
O exercício aquático terapêutico, segundo Bates e Hanson (1998) ,
consiste na união dos exercícios aquáticos com a terapia física, ou seja, é uma
abordagem abrangente que utiliza os exercícios aquáticos para ajudar na
reabilitação de várias patologias. A definição realizada por Bates e Hanson
(1998) e as definições de hidroterapia citadas anteriormente parecem
convergentes, pelo que em nossa opinião hidroterapia e exercício aquático
terapêutico são equivalentes. Gimenes et al. (2005) referem a ausência de um
consenso sobre a terminologia mais adequada para denominar o procedimento
fisioterapêutico, quando executado no meio aquático. Entre os vários termos
utilizados (reabilitação aquática, hidrocinésioterapia, exercícios aquáticos)
estes autores salientam o termo “fisioterapia aquática” como mais adequado.
Quanto às definições de hidroginástica e hidroterapia expostas estas
permitem identificar duas linhas divergentes, em termos dos objectivos e da
formação dos profissionais envolvidos nestas duas actividades. Assim
enquanto a hidroginástica envolve um conjunto de objectivos mais
abrangentes, como a melhoria da aptidão física, devendo ser orientada por um
professor de hidroginástica, a hidroterapia possui objectivos muito específicos e
sobretudo individualizados, devendo o programa ser aplicado por um
fisioterapeuta/cinesiologista. Com a distinção de ambos os conceitos, é
9
possível compreender com maior clareza os limites de actuação do profissional
de hidroginástica e de hidroterapia.
2.3. “Métodos” de hidroginástica
A distinção dos conceitos de método, programa e variante da
hidroginástica parece pouco clara, havendo autores que utilizam o termo
método, ou programa para se referirem, na verdade, a uma variante. Deste
modo, consideramos que será fundamental entender, em primeiro lugar o
significado destas palavras. De acordo com Almeida e Melo (1998) o método,
derivado da palavra latina methodu, significa estratégia, modo de proceder. O
programa, do latim programma, refere-se a um plano, projecto ou actividade ou
conjunto de actividades planeadas para um dado período. Enquanto a variante,
do latim variante, significa modificação, diversidade, algo que se desvia de um
modelo ou padrão estabelecido. Partindo destas definições podemos entender
a existência de diferentes métodos de abordagem da hidroginástica, em termos
daqueles que são os princípios fundamentais a respeitar na estruturação de
uma aula, sendo que a partir desta base, as aulas poderão ser apresentadas
sob diversas formas, denominadas variantes, como referem Barbosa e Queirós
(2005).
Centrando-nos nos métodos de abordagem da hidroginástica, podemos
distinguir duas metodologias amplamente divulgadas e bastante reconhecidas
entre os profissionais de hidroginástica: Aquatic Exercise Association (AEA), e
Aquatic Fitness System (SPEEDO). Importa sublinhar que as metodologias
anteriormente referidas possuem uma origem comercial.
2.3.1. Aquatic Exercise Association
Esta metodologia terá herdado seu nome de uma associação sedeada
nos E.U.A., a AEA. No manual da AEA (2001) podemos encontrar alguns dos
princípios defendidos para a estruturação de uma aula de hidroginástica.
Segundo esta metodologia, a música constitui uma forma de motivação,
de estímulo e até mesmo um meio para alcançar a intensidade objectivada,
embora a utilização da música não seja obrigatória. No caso da opção pela
10
utilização de música, sugere-se para as tradicionais actividades aeróbias em
água rasa a utilização de um ritmo de aproximadamente 125 a 150 batimentos
por minuto (bpm). No que se refere à velocidade de execução do movimento,
este método salienta que a água é um ambiente com propriedades únicas e,
como tal, é necessário que o profissional conheça os princípios que o regem
respeitando-os aquando da selecção dos exercícios. Assim a escolha do ritmo
do exercício deverá ser realizada em função dos tipos de movimentos, da
forma da aula, da idade, do nível dos alunos e da utilização ou não de
equipamentos resistivos. O método considera dois ritmos essenciais do
movimento o tempo de água e o meio tempo de água, cuja alternância e
combinação permitirá a realização de movimentos amplos e completos
garantindo, assim, a manutenção de uma intensidade adequada ao longo da
parte aeróbia da aula. Para a AEA (2001) uma “instrução com segurança”
implica que o professor deverá evitar a tentação de, ao conduzir a aula no cais,
utilize movimentos em ritmo de terra esperando que os alunos realizem os
ajustes necessários. Neste ponto, este método sublinha ainda a importância do
professor utilizar palavras de ordem e focalizar a direcção do movimento
pretendido, de forma a alternar a incidência dos grupos musculares e instruir os
alunos sobre o tipo de trabalho pretendido. De acordo com AEA (2001),
existem poucos movimentos contra-indicados para as aulas de fitness aquático,
mas vários de alto risco que devem ser cuidadosamente avaliados antes da
sua utilização numa aula: os exercícios de alto impacto – que impulsionam o
corpo para cima e para fora da água; os movimentos muito rápidos (tempo de
terra) – que devem apenas ser utilizados em movimentos que utilizam
pequenas alavancas; a utilização prolongada dos exercícios acima da cabeça –
que conduzem a uma falsa percepção da intensidade aeróbia; o desequilíbrio
muscular – utilizar sempre a mesma direcção na marcha, realizar apenas
trabalho de força negligenciando a flexibilidade e as aulas aeróbias que utilizam
a flexão da anca e o movimento dos membros superiores (MS) para a frente
conduzindo a uma postura incorrecta; o batimento de membros inferiores (MI)
em decúbito ventral com apoio na parede – provoca hiperextensão das
vértebras lombares e/ou cervicais; os exercícios que utilizam a parede como
apoio – o apoio prolongado das costas contra a parede pode constituir uma
11
sobrecarga para as articulações dos ombros, dos pulsos e dos dedos; o
trabalho abdominal versus flexão da anca – a maioria dos exercícios utilizados
trabalham os abdominais apenas como estabilizadores ou assistentes, ou seja
o movimento principal é realizado pelo flexor da anca; hiperextensão dos
joelhos – o alongamento do quadricipte que comprime a articulação do joelho,
devido a uma flexão exagerada (acima dos 90º) poderá originar uma lesão – e
por fim exercícios que comprometem a integridade da coluna, como
movimentos circulares do pescoço. Por outras palavras, existem movimentos
cujos benefícios são tão específicos, que devem ser considerados de alto risco,
se incluídos numa aula para alunos comuns. Da mesma forma, um movimento
novo deverá ser sempre analisado sobre o seu nível segurança, antes de ser
introduzido numa aula.
De acordo com a AEA (2001) há cinco estilos ou tipos de coreografia: a
progressão linear ou estilo livre – em que uma série de movimentos é
executada sem um padrão definido; em pirâmide – em que o número de
repetições para cada movimento de uma combinação é gradativamente
diminuído ou aumentado; a inclusão – a construção gradual de padrões,
havendo um reforço da aprendizagem através da repetição das sequências
apreendidas; a pura repetição ou padronizada – em que se ensina um padrão
de movimentos desde o início; a técnica de sobreposição – em que se começa
com um padrão e se sobrepõe alterações gradualmente, sendo alguns
movimentos substituídos por outros, um de cada vez, podendo ser retirados
todos de novo e retornar ao padrão inicial. Estes cinco estilos coreográficos
não devem ser entendidos, segundo a AEA (2001), como uma limitação mas
como uma proposta.
Segundo a AEA (2001) a utilização de material aquático permite tornar a
aula mais atractiva, aumentando a resistência, flutuabilidade e a variedade,
sendo que a selecção dos materiais deverá sempre ser feita tendo como
horizonte os objectivos pretendidos.
No que respeita às populações especiais, a AEA (2001) inclui neste grupo
indivíduos idosos, obesos, gestantes, portadores de deficiência ou de doenças
respiratórias (e.g. asma, doença pulmonar obstrutiva crónica), cardiovasculares
(e.g. HTA, arteriosclerose), articulares (e.g. artrite, síndrome da fibromialgia) e
12
ortopédicas (e.g. anormalidades anatómicas e funcionais dos sistemas
músculo-esqueléticos). De acordo com esta metodologia se nas populações
“ditas normais” o respeito pela individualidade biológica do aluno é
fundamental, nas populações especiais este princípio ganha ainda mais relevo.
Nesta medida, o processo de individualização do trabalho requer um
conhecimento aprofundado do historial médico do aluno, podendo ser
necessário um trabalho conjunto com o médico ou terapeuta do próprio
praticante.
2.3.2. Aquatic Fitness System
O método SPEEDO foi elaborado por Mary Sanders, professora na
Universidade de Nevada (Reno), sob o patrocínio da empresa internacional de
equipamentos aquáticos – SPEEDO – a qual deu o nome ao referido método.
Segundo o método da SPEEDO (2001), a utilização de música nas aulas
permite criar uma atmosfera agradável e divertida envolvendo professor e
alunos. Para tal, a escolha do ritmo musical deverá situar-se entre os 110 e 160
bpm. Em termos da velocidade de execução dos movimentos, a SPEEDO
(2001) considera que deverá existir uma sincronização entre a velocidade da
demonstração do exercício no cais e o exercício executado pelos alunos dentro
de água, defendendo que o professor deverá optar preferencialmente por uma
demonstração do exercício em tempo de água. No que respeita aos exercícios
utilizados na aula esta metodologia, propõe que a sua selecção deverá
responder aos objectivos pretendidos, considerando as propriedades físicas da
água e a segurança dos praticantes. Relativamente a este ponto, é ainda
mencionado que a variação da intensidade e impacto do exercício poderá ser
realizada através da modificação de seis movimentos básicos, em substituição
de uma coreografia complexa, propondo uma fórmula cujas siglas estão
relacionadas com as variáveis combináveis para a criação de um novo
movimento. Assim na fórmula S.W.E.A.T., o “S” – speed e surface – significa
velocidade e área de superfície, o “W” – working position – refere-se às três
posições corporais básicas (deslize, salto e suspensão), o “E” – enlarge –
indica a passagem de movimentos restritos para maiores amplitudes, o “A” –
13
around – significa o trabalho em diferentes planos e por fim o “T” – travelling –
indica o deslocamento nos exercícios.
Entre o material aquático desenhado para proporcionar fluatuabilidade,
resistência ou ambas, a SPEEDO (2001) recomenda a utilização de luvas,
calçado específico, steps e cintos flutuadores.
Quanto ao termo populações especiais a SPEEDO (2001) ressalva que
cada indivíduo deve ser considerado como uma entidade única.
2.4. Variantes da hidroginástica.
Consequência das muitas possibilidades de trabalho na água, fruto da
multiplicidade de variáveis a combinar, vários autores têm indicado propostas
de aula diferenciadas em número, terminologia e objectivos. Estas diferentes
formas de propor uma aula de hidroginástica são, usualmente, designadas
como variantes (Barbosa & Queirós, 2005).
Segundo Sánchez et al. (s/d) existem onze variantes para a
hidroginástica: cardio-aguagym, aquabuilding, aquastretching, andar en el
agua, carrera en agua poco profunda, aeróbico acuático de potência, aeróbic
com step, hip-hop aquático, aquagym, gymswin, aquafic e aquaerobic. O
cardio-aguagym consiste numa continuidade de deslocamentos, combinando a
marcha e a corrida clássicas com outro tipo de actividades. Para além disto,
realizam-se, em simultâneo, movimentos de MI e MS, conseguindo-se, assim,
uma maior solicitação do aparelho cardiorrespiratório, graças à utilização de
grandes grupos musculares. O autor refere-se ao aquabuilding como um
trabalho dominantemente muscular de carácter localizado. O aquastretching é
descrito por Cabello e Navacerra (citado por Sánchez et al., s/d) como um
conjunto de técnicas que visam o alongamento muscular e uma melhoria da
mobilidade articular. As variantes andar en el agua e carrera en agua poco
profunda, consistem na realização de caminhadas ou corridas dentro de água,
diferindo apenas no saltitar introduzido no movimento da segunda variante. O
aeróbico acuático de potência, descrito por Piget (citado por Sánchez et al.,
s/d) baseia-se na conjugação de dois tipos de trabalho o
cardiorrespiratório/aeróbio e a força. O aeróbic com step é um trabalho que se
14
caracteriza pela utilização de uma plataforma elevada no fundo da piscina, para
onde se sobe e desce alternadamente. O aquagym consiste na exercitação de
um grupo muscular específico através da realização de 15 a 60 repetições de
um movimento. Os exercícios direccionados para a parte superior e inferior do
corpo são alternados com exercícios da parte média do corpo. O gymswin, de
acordo com o autor, é uma nova variante composta por partes de outras
modalidades como o judo, boxe, a ginástica, a dança, a natação, o streching, o
yoga, utilizando um fundo musical concordante com o tipo de aula. O hip-hop
acuático é desenvolvido em piscinas rasas através de um ritmo dançado
alicerçado no rap. A penúltima variante apresentada é o aquafic, cujas aulas
são organizadas por níveis de condição física, sendo cada aluno sujeito a uma
avaliação antes do ingresso na prática. Este é um tipo de aula localizada, onde
é utilizada a exercitação intervalada, ou seja, são combinados segmentos de
alta, média e baixa intensidade. Por último o aquaerobic é formado por um
conjunto de actividades aeróbias realizadas na água e acompanhadas por
música.
A autora Yázigi (2000) refere que o sucesso das aulas dependente do
grau de conhecimento e criatividade do professor, aliado à capacidade de
adaptar cada uma das variantes às necessidades dos seus alunos. Neste
sentido, a autora apresenta 17 variantes da hidroginástica: hidrosport,
hidroaeróbica, hidro-step, jogging/water walking, deep water, deepwater
running, water kickboxing, workout com equipamentos adicionais, interval
trainning, cross training, circuit training, strech e relaxation, watsu, water dance,
aichi, water tai-chi, water ioga. A water dance, descrito por Georgeakopoulos
(citado por Yázigi, 2000), contrariamente ao que a designação parece
significar, refere-se não à aplicação de movimentos de dança dentro de água,
mas a uma técnica de movimento dinâmico de aplicação individual, alternando-
se entre posições de superfície e imersão). A variante de deep water é descrita
por Ivens (citado por Yázigi, 2000) como a execução de exercícios verticais
suspensos com auxílio de equipamento de flutuação. As variantes de
jogging/water walking, deep water running referem-se à realização de
movimentos de marcha ou corrida, em apoio ou suspensão, respectivamente.
No circuit trainning a classe é dividida em grupos por estações, onde são
15
realizados exercícios específicos. Os alunos passam por todas as estações do
circuito, o qual pode ter um carácter aeróbio ou de força. A variante de hidro-
step, apresentada por Yázigi (2000) é semelhante à descrita por Sánchez et al.
(s/d), baseando-se nos princípios do step training. O strech e relaxation é
descrito pela autora como um programa de relaxamento análogo ao
aquastretching descrito por Cabello e Navacerra (citado por Sánchez et al.,
s/d). A hidroaeróbica, ou a aquaerobic de Sánchez et al. (s/d), é definida como
uma aula coreografada realizada ao ritmo da música. O hidrosport é descrito
por Aborrage (citado por Yázigi, 2000) como uma modalidade de treino
complementar para atletas, com o objectivo de reduzir o volume de treino de
campo. O interval training é caracterizado pela alternância da intensidade de
esforço, a qual poderá oscilar dentro de uma zona alvo de trabalho aeróbio, até
séries anaeróbias alternadas com séries aeróbias. Esta descrição é congruente
com a apresentada por Sánchez et al. (s/d), podendo estabelecer-se uma
correspondência entre as variantes interval training e aquafic. As variantes de
ai-chi, water tai-chi, water yoga, watsu, water kickboxing e workout-
equipamentos adicionais (Yázigi, 2000) são todas englobadas por uma variante
anteriormente mencionada por Sánchez et al. (s/d) denominada gymswim. O
cross training é descrito como alternância de técnicas de diferentes
modalidades, com o intuito de variar os sistemas energéticos solicitados
(Yázigi, 2000) e não apresenta semelhanças com as variantes já referidas.
A AEA (2001) define doze variantes da hidroginástica: treino em circuito,
treino intervalado, coreografia aquática, condicionamento em profundidade,
step aquático, caminhada em passos largos, condicionamento muscular,
kickboxing aquático, tai-chi aquático, ai-chi e programas para gestantes e para
indivíduos com artrite. O treino em circuito referido pela AEA (2001), consiste
na alternância de etapas de condicionamento muscular e aeróbio,
apresentando semelhanças com a actividade de o circuit training referida por
Yázigi (2000). A coreografia aquática incorpora movimentos das danças e
aproxima-se do hip-hop aquático descrito por Sánchez et al. (s/d).
Relativamente ao condicionamento em água profunda a AEA (2001) refere que
a sua prática decorre em águas profundas com o auxilio de variados
equipamentos de flutuação. Esta descrição é semelhante à realizada para o
16
deepwater por Ivens (citado por Yázigi, 2000). A caminhada em passos largos,
proposta pela AEA (2001), apresenta uma correspondência em termos da sua
descrição com o carrera en aqua poco profunda, andar en el agua e o
jogging/water walking, referidas por Sánchez et al. (s/d) e Yázigi (2000),
respectivamente. No que respeita ao condicionamento muscular, este privilegia
as actividades de força e/ou resistência muscular, podendo recorrer-se a
equipamentos auxiliares para aumentar sobrecarga muscular, tal como
acontece no aquabuilding descrito por Sánchez et al. (s/d). A AEA (2001)
descreve a variante de step aquático da mesma forma que Sánchez et al. (s/d)
e Yázigi (2000). No treino intervalado a AEA (2001) refere, mais uma vez, a
alternância de exercícios de alta e baixa intensidade, também mencionados no
interval training de Yázigi (2000) e no aquafic de Sánchez et al. (s/d). O
kickboxing aquático, corresponde a uma transferência dos padrões de
movimento da modalidade de kickboxing para a água, aproximando-se da
variante de water kickboxing descrita por Yázigi (2000). O ai-chi, corresponde a
um grupo de exercícios simples de relaxamento aquático, que combinam a
respiração profunda com movimentos amplos de MS e MI. O tai-chi aquático,
realizado através de movimentos lentos envolve equilibrio, coordenação,
agilidade, flexibilidade e coordenação mental. As duas últimas variantes
mencionadas pela AEA (2001) apresentam aspectos comuns com o ai-chi e
water tai-chi referidos por Yázigi (2000). Relativamente à variante de gestantes
a AEA (2001) refere que as etapas de aquecimento e de relaxamento devem
ser mais longas e as mudanças de intensidade realizadas de forma mais
gradual. Para além disto, a coreografia deve ser simples permitindo manter o
equilíbrio e a postura. Por último, na variante para indivíduos portadores de
artrite o objectivo é recuperar e manter a amplitude dos movimentos e a
capacidade funcional do corpo. Para esta variante a AEA (2001) sugere um
aquecimento mais prolongado, uma limitação do número de repetições para
cada grupo muscular e a imersão da articulação lesionada durante o
movimento.
Para Barbosa e Queirós (2005), existem dezassete variantes possíveis
para uma aula de hidroginástica: dança aquática, deepwater, jogging aquático,
step aquático, localizada, actividades em estações, técnicas de relaxamento,
17
aqua-sport, aqua-combat e aqua-bike, hidro-kids, gestantes, Idosos, treino
pliométrico, hip-hop aquático e aqua-gym. Relativamente às variantes dança
aquática/hip-hop aquático estas são similares a uma aula tradicional de
hidroginástica, com a diferença de serem realizadas sequências coreografias
mais complexas, podendo incorporar movimentos que têm por base os
movimentos característicos das diversas expressões da dança (e.g. hip-hop) e
da aeróbica. A descrição desta variante apresenta alguma similaridade com o
hip-hop aquático e coreografia aquática referidas por Sánchez et al. (s/d) e pela
AEA (2001), respectivamente. A aula de deepwater proposta por Barbosa e
Queirós (2005), apresenta uma correspondência, em termos de descrição, com
o deep water de Yázigi (2000) e o condicionamento em água profunda da AEA
(2001). No jogging aquático, tal como no andar en el agua, carrera em agua
poco profunda (Sánchez et al., s/d), jogging/water walking, deepwater running
(Yázigi, 2000) e caminhada em passos largos (AEA, 2001) são realizadas
caminhas ou corridas, em piscinas rasas ou profundas, estando o praticante
sujeito a uma carga susceptível de produzir benefícios, principalmente a nível
cardiorrespiratório. A variante de step aquático, descrita pelos autores Barbosa
e Queirós (2005) como a execução de movimentos de subida e descida dos MI
relativamente a uma plataforma localizada no fundo da piscina, converge, no
seu significado, com as variantes de aeróbic com step, hidro-step e step
aquático, apresentadas por Sánchez et al. (s/d), Yázigi (2000) e AEA (2001),
respectivamente. Na aula de localizada pretende-se trabalhar especificamente
um determinado grupo muscular, sendo que o trabalho deverá basear-se
essencialmente no desenvolvimento de capacidades motoras como a força
resistente e a flexibilidade. Nestas aulas é recorrente a utilização de diversos
materiais auxiliares (e.g. esparguetes, caneleiras, halteres etc.). A variante
anteriormente descrita apresenta aspectos comuns com o aquabuilding de
Sánchez et al. (s/d) e o condicionamento muscular referido pela AEA (2001).
Nas actividades em estações organiza-se um circuito com diferentes etapas
distribuídas, por toda a piscina, cada uma poderá ter por objectivo desenvolver
a capacidade cardiorrespiratória ou a força resistente. Existem três formas de
organização das actividades por estações: (1) alternadamente em cada
estação (30 a 60 s) trabalha a capacidade cardiorrespiratória e a força
18
resistente; (2) alternadamente em cada estação (30 a 60 s) trabalha a força
resistente em diferentes segmentos corporais e; (3) em períodos de tempo pré-
definidos (3 min) alternam-se os exercícios aeróbios com exercícios de força
resistente. Esta forma de exercitação aproxima-se da descrita para o circuit
training e treino em circuito descritas por Yázigi (2000) e pela AEA (2001)
respectivamente.
As técnicas de relaxamento referem-se a várias técnicas de massagem
relaxante no meio aquático, inspiradas no ai-chi, shiatsu e outras actividades
similares. Nestas aulas, de uma forma geral, o praticante é sustentado pelo
professor ou por um colega que realiza movimentos lentos e fluidos. No aqua-
sport, ou hidro-sport de Yázigi (2000), o objectivo é o treino de habilidades
motoras específicas de determinadas modalidades no meio aquático,
sobretudo como forma de recuperação activa das cargas de treino. O aqua-
combat consiste na realização de um trabalho aeróbio através da utilização de
várias técnicas das diversas artes marciais (e.g. boxe, karaté, kickboxing, etc.).
Esta variante aproxima-se do water kickboxing e o kickboxing aquático descrito
por Yázigi (2000) e pela AEA (2001) respectivamente. A aqua-bike, realizada
com o cicloergómetro aquático, consiste em pedalar a diferentes ritmos com
posições corporais variadas. Quanto à variante de hidro-kids, tal como o nome
indica, a sua população alvo são as crianças e jovens. Nestas aulas existe um
maior predomínio do trabalho intervalado e tal como em todas as aulas deve
existir uma grande preocupação com a selecção musical e coreográfica. Na
variante de gestantes o tipo de trabalho proposto é similar ao anteriormente
descrito pela AEA (2001). A variante de idosos privilegia, para além das
componentes principais da aptidão física (e.g. resistência, força, flexibilidade e
composição corporal) as suas componentes secundárias (e.g. equilíbrio,
coordenação, velocidade, potência, agilidade e tempo de reacção). O treino
pliométrico, baseia-se num trabalho de potência muscular, velocidade e
impulsão através da realização de saltos e multi-saltos no meio aquático. Por
fim, a variante aqua-gym, também descrita por Sánchez et al. (s/d), consiste
num trabalho da condição física (semelhante à “ginástica de manutenção”) no
meio aquático.
19
Como pode ser observado no Quadro 1, os vários autores sugerem
variantes de aula semelhantes, diferindo, maioritariamente, na sua subdivisão e
na nomenclatura utilizada para as designar.
Quadro 1. Quadro sinóptico das diferentes variantes da hidroginástica propostas pela AEA e por diferentes autores.
AEA (2001) Barbosa e Queirós (2005) Yázigi (2000) Sánchez et al. (s/d) coreografia
aquática dança aquática/hip-hop aquático --- hip-hop aquático
condicionamento em água profunda deepwater deep water ---
caminhada em passos largos jogging aquático jogging/water walking
deep water running
carrera en agua poco profunda
andar en el agua step aquático step aquático hidro-step aeróbic com step
condicionamento muscular localizada --- aquabuilding
treino em circuito actividades em estações circuit training --- treino intervalado --- interval trainning aquafic
aichi técnicas de relaxamento aichi tai chi aquático --- water tai-chi
kickboxing aquático aqua-combat water kickboxing --- --- water yoga --- --- watsu
--- --- workout-equipamentos adicionais
gymswin
gestantes gestantes --- --- artrite --- --- ---
--- aqua-sport hidrosport --- --- aqua gym --- aqua gym; --- aqua-bike --- --- --- --- water dance --- --- --- strech e relaxation aquastretching --- --- hidroaeróbica aquaerobic. --- --- --- --- --- --- cross training --- --- --- --- cardio-aquagym
--- --- --- aeróbico acuático de potência;
2.5. Investigação na hidroginástica
Quando concentramos a nossa atenção nos estudos científicos realizados
no âmbito da hidroginástica verificamos que a literatura referente a esta área é
relativamente escassa. Após um levantamento exaustivo dos diversos estudos
realizados sobre esta modalidade (Quadro 2), observamos uma tendência nas
linhas de investigação para a análise dos efeitos prática da hidroginástica na
aptidão física relacionada com a saúde (Alves, 2001; Hanai et al., 2006;
Saavedra et al., 2007; Saavedra et al., 2006; Takeshima et al., 2002). Sobre
esta temática foram realizadas várias pesquisas que procuraram avaliar as
alterações da força (Cardoso et al., 2004; Fontes, 2004; Kruel et al., 2005;
20
MacDougall et al., 1985; Muller et al., 2002; Puhlmann et al., 2002; Taunton et
al., 1996), da flexibilidade (Puhlmann et al., 2002; Tauton et al., 1996), da
composição corporal (Gubiani et al., 2001; Melo & Giovani, 2004; Pereira,
1999) e da capacidade cardiorrespiratória (Bedford et al., 1996; Kaneda et al.,
2008; Pariser et al., 2006; Pereira, 1999; Taunton et al., 1996) em praticantes
de hidroginástica. Pela revisão realizada constatamos, ainda, que os estudos
realizados no âmbito da hidroginástica têm utilizado, predominantemente,
indicadores de estimação do desempenho aeróbio, como o consumo de
oxigénio (VO2) (Cassady & Nielsen, 1992; Kosonen et al., 2006; Nagle et al.,
2007; Ono et al., 2006; Pariser et al., 2006; Pinto et al., 2006; Pinto et al., 2007;
Pohl & McNaughton, 2003; Silvers et al., 2007) o consumo máximo de oxigénio
(VO2max) (Barbosa et al., 2007; Bedford et al., 1996; Broman et al., 2006;
Dowzer et al., 1999; Pereira, 1999; Saavedra et al., 2007; Saavedra et al.,
2006) e a frequência respiratória (Scartoni et al., 1998; Silvers et al., 2007).
Dentro da revisão realizada, apenas nove estudos recorreram a um indicador
usualmente utilizado para a avaliação da participação do sistema anaeróbio
num dado esforço, o lactato (La-) sanguíneo (Barbosa et al., 2007; Benelli et al.,
2004; Colado et al., 2006; Costa et al., 2008; Kosonen et al., 2006; Nakanishi et
al., 1999; Silvers & Dolny, 2008; Svedenhag & Seger, 1992). Todavia nenhum
destes estudos teve por objectivo analisar parâmetros anaeróbios em
hidroginástica. Pelo contrário os exercícios realizados nos diferentes protocolos
foram de carácter aeróbio.
Benelli et al. (2004) procuraram comparar as respostas fisiológicas de
frequência cardíaca (FC) e La- em exercícios aeróbios realizados em terra e em
água a diferentes profundidades (em águas rasas e profundas). Estes autores
concluíram que o exercício aeróbio realizado dentro de água induz menores
valores de FC e La- . Colado et al. (2006) procuraram comparar as exigências
cardiovasculares e metabólicas de exercícios de resistência muscular
localizada, realizados em água e em terra. No final deste estudo concluíram
que as respostas fisiológicas (FC e La-) nos dois meios são semelhantes.
Kosonen et al. (2006) caracterizaram, em termos cardiorrespiratórios e
metabólicos (FC, VO2 e La-), seis exercícios aquáticos básicos para indivíduos
saudáveis e portadores de doenças pulmonares. Os autores deste estudo
21
concluíram que os exercícios seleccionados e aplicados parecem ser de
carácter aeróbio com uma intensidade moderada/elevada para ambos os
grupos. Num estudo de caso Pariser et al. (2006) procuraram estudar o efeito
de um programa de hidroginástica, com 8 semanas, na aptidão cardiovascular
e na fadiga de duas pessoas portadoras de esclerose múltipla. Para a
avaliação dos referidos efeitos foi aplicado um teste incremental máximo,
através do qual foram mensurados os valores de VO2 e La-, foi ainda utilizada
uma escala de fadiga, antes e pós a realização do programa. No final deste
estudo os autores concluíram que a hidroginástica contribuiu para a melhoria
da aptidão cardiorrespiratória em portadores de esclerose múltipla.
Relativamente à fadiga apenas um dos indivíduos apresentou melhorias neste
parâmetro. Barbosa et al. (2007) procuraram comparar as adaptações
fisiológicas agudas, VO2max, a FC máxima (FCmax) e La-, a um exercício
básico de hidroginástica realizado a diferentes profundidades (imersão ao nível
do apêndice xifóide versus ao nível da articulação coxo-femoral). Estes
autores, concluíram que as adaptações fisiológicas agudas observadas durante
a exercitação em imersão ao nível da articulação coxo-femoral são mais
próximas das verificadas no meio terrestre do que à profundidade usualmente
adoptada nas sessões de hidroginástica, ou seja, ao nível do apêndice xifóide.
Costa et al. (2008) procuraram comparar as adaptações fisiológicas agudas de
três variantes do mesmo exercício básico de hidroginástica (acção exclusiva
dos MI, acção simultânea dos MI e dos MS, acção simultânea MI e dos MS
usando halteres flutuantes). Com este estudo, concluíram que o incremento do
número de segmentos em acção simultânea, assim como a utilização de
halteres flutuantes, tendem a aumentar significativamente a resposta fisiológica
aguda em hidroginástica. Para além disto, estes autores referem ainda que
prática de exercícios básicos de hidroginástica sem a utilização de materiais
auxiliares será um meio óptimo de promover o desenvolvimento de
componentes da aptidão física associada ao estímulo do sistema oxidativo.
Com a inclusão dos halteres flutuantes parece que o sistema aeróbio não
consegue suprir completamente as necessidades de ressíntese da adenosina-
trifosfato (ATP), pelo que o sistema anaeróbio intervirá de forma a fornecer a
energia suplementar exigida. Nakanishi et al. (1999) compararam as respostas
22
metabólicas de um teste de corrida máximo realizado em tapete rolante (em
terra) e em águas profundas. Os resultados obtidos, em termos de FC, VO2,
ventilação máxima por minuto, quociente respiratório (QR) e La- foram
significativamente mais baixos no teste máximo de corrida em águas
profundas. Como tal, a exigência metabólica deste exercício aquático parece
ser menor em relação ao seu equivalente em terra. Svedenhag e Seger (1992)
elaboraram um estudo sobre as respostas cardiorrespiratórias e lactatemias,
em imersão, em corrida submáxima (em quatro intensidades diferentes) e
máxima, tendo concluído que, além das alterações cardíacas agudas
provocadas pela imersão, existe um aumento a participação do metabolismo
anaeróbio na corrida aquática. Por fim, Silvers e Dolny (2008) procuraram
determinar a validade de um protocolo de máximo esforço em tapete rolante
aquático, tendo concluído que este protocolo parece ser equivalente ao
protocolo de tapete rolante realizado em terra. Estes autores acrescentam
ainda que o tapete rolante aquático poderá ser um meio alternativo para manter
e melhorar os níveis de aptidão física de atletas lesionados. Atendendo aos
estudos desenvolvidos, parece-nos que a avaliação do desenvolvimento da
capacidade anaeróbia tem sido negligenciada na área do “fitness” aquático,
assim como a sua investigação.
Para além das tendências nas linhas de investigação evidenciadas
anteriormente, importa também salientar as tendências metodológicas
verificadas nos diferentes estudos, nomeadamente no que se refere às
características da amostra. Em geral, os estudos realizados no âmbito da
hidroginástica parecem utilizar, predominantemente, sujeitos do sexo feminino
numa elevada faixa etária (próxima dos 50-60 anos de idade).
Quadro 2. Quadro sinóptico, cronológico, de estudos realizados na área da hidroginástica. Legenda: ♂ sexo masculino; ♀ sexo feminino;
Autor (ano) Amostra Objectivo Conclusões Cassady e Nielsen (1992)
20 ♂ e 20 ♀ 25.0 ± 3.6 anos
Comparar as respostas fisiológicas (consumo de oxigénio e da frequência cardíaca máxima) de exercícios com diferentes cadências (60, 80 e 100 contagens por minuto), para membros superiores e inferiores, realizados na água e em terra
O incremento da cadência do movimento e a realização de exercícios direccionados para os membros inferiores determinaram um aumento do consumo de oxigénio e da frequência cardíaca máxima. Relativamente ao meio de exercitação, o consumo de oxigénio foi superior na água, comparativamente com o meio terrestre, e a frequência cardíaca máxima foi inferior.
23
Svedenhag e Seger (1992)
10 ♂ corredores 26 anos ( x )
Investigar o efeito da imersão nas respostas cardiorrespiratórias e de lactatemia durante a corrida, em quatro níveis de intensidade submaximais diferentes e num nível de intensidade máxima
A corrida em imersão induz respostas cardiorrespiratórias inferiores e respostas lactatemias superiores, que se mantêm até ao nível máximo do exercício
Wilder et al. (1993)
10 ♂ e 10 ♀ Investigar a relação entre a frequência cardíaca e a cadência do movimento, num teste incremental de corrida aquática
A cadência do movimento pode ser usada como uma medida de intensidade para a prescrição da corrida aquática
Capela (1996) 40 ♂ ♀ 25 a 45 anos
Conhecer os motivos que levam as pessoas a praticar hidroginástica
O motivo mais valorizado para a prática da hidroginástica foi o “Aumentar do bem-estar geral”
Bedford et al. (1996)
2 ♂ 16 ♀ Grupo de terra 28 anos ( x ) Grupo de água 33 anos ( x )
Compara a eficácia de um programa de hidroginástica e de um programa de dança, com 8 semanas, na melhoria da capacidade aeróbia (consumo máximo de oxigénio)
Os programas de hidroginástica e dança, com 8 semanas, mostraram ser igualmente eficazes no desenvolvimento da capacidade aeróbia em adultos sedentários
Taunton et al. (1996)
41 ♀ 70.0 ± 3.2 anos
Comparar a eficácia de um programa de exercícios aquáticos com um programa de exercícios de terra na melhoria da aptidão cardiorrespiratória, força, flexibilidade e composição corporal em idosos
Os programas de exercícios realizados em terra e na água tiveram efeitos semelhantes na força, flexibilidade, composição corporal e aptidão cardiorrespiratória dos idosos
Santos (1997) 5 ♂ (32.5 ± 5.6 anos) 4 ♀ (33.8 ± 1.3 anos)
Avaliar a intensidade do exercício numa aula de hidroginástica
Na aula de hidroginástica realizada foram encontrados valores de frequência cardíaca compatíveis com as recomendações do ACSM em 1990 para o desenvolvimento da aptidão física e fisiológica dos indivíduos saudáveis. Foi também observada uma forte correlação entre a frequência cardíaca e escala de percepção subjectiva de esforço.
Scartoni et al. (1998)
10 ♀ 15 a 30 anos
Comparar a frequência cardíaca e respiratória numa aula de ginástica aeróbica e numa aula de hidroginástica
Os valores de frequência cardíaca e respiratória são semelhantes nas duas aulas (hidroginástica e ginástica aeróbia), exceptuando intervalo de 15-20 min de exercitação, onde foram encontrados valores de frequência respiratória significativamente superiores na hidroginástica
Dowzer et al. (1999)
15 ♂ Comparar respostas fisiológicas máximas (consumo máximo de oxigénio e frequência cardíaca) na corrida
Os valores de frequência cardíaca e de consumo máximo de oxigénio são superiores na corrida em tapete rolante (terra) comparativamente com a corrida
24
realizada em tapete rolante (terra) e em águas rasas e profundas
em águas rasas e profundas.
Kent et al. (1999)
18 ♀ 21 a 36 anos
Comparar os efeitos da imersão estática e da hidroginástica na diminuição do edema provocado pela gestação
A hidroginástica possui um efeito semelhante à imersão estática na diminuição do edema provocado pela gestação, pelo que a hidroginástica poderá ser utilizada para o seu tratamento.
Nakanishi et al. (1999)
20♂ 28.0 ± 9.2 anos
Comparar as respostas metabólicas (consumo de oxigénio, quociente respiratório e frequência cardíaca) de um teste de corrida máximo em tapete rolante (terra) e em águas profundas
As respostas metabólicas (consumo de oxigénio, quociente respiratório e frequência cardíaca) ao teste de corrida máximo realizado em águas profundas foram menores, comparativamente com a corrida realizada em tapete rolante (terra)
Pereira (1999) 11♀ 42.4 ± 5.9 anos
Avaliar os benefícios da prática de um programa de 12 semanas de hidroginástica na promoção da saúde (aptidão cardiorrespiratória, composição corporal e perfil sanguíneo.
O programa de hidroginástica, com 12 semanas, induziu melhorias significativas na aptidão cardiorrespiratória e na composição corporal dos sujeitos. No perfil lipídico sanguíneo não foram observadas diferenças significativas. Em suma, a pratica regular hidroginástica poderá auxiliar na promoção da saúde.
Alves (2001) 74 ♀ Grupo controlo 78.0 ± 3.0 anos Grupo experimental 79.0 ± 5.0 anos
Verificar o efeito de um programa de hidroginástica na aptidão física associada à saúde
A prática de um programa de hidroginástica, com 12 semanas, contribui para a melhoria da aptidão física associada à saúde (força, resistência, flexibilidade dos membros superiores e inferiores, agilidade e equilibrio)
Gubiani et al. (2001)
62 ♀ 60 a 80 anos
Analisar os efeitos de um programa de hidroginástica, com 32 semanas, sobre indicadores antropométricos de idosas
O programa de hidroginástica, com 32 semanas, proporcionou reduções significativas na massa corporal e nos perímetros da cintura, glúteos e gémeos das idosas
Silva (2001) 48 ♀ > 54 anos
Analisar os resultados de um programa de hidroginástica, com 12 meses, na massa mineral óssea, de portadores de osteopenia ou osteoporose
O programa de hidroginástica de 12 meses permitiu equilibrar a diminuição de massa óssea. Com efeito, apesar da hidroginástica ser uma actividade de baixo impacto possui efeito osteogénico.
Heithold e Glass (2002)
7 ♀ 61.0 ± 3.2 anos
Comparar a frequência cardíaca e a percepção subjectiva de esforço em exercícios aeróbios, standard, realizados na água e em terra.
A frequência cardíaca foi mais elevada em todos os exercícios terrestres comparativamente com os exercícios realizados em meio aquático. Na percepção subjectiva de esforço não foram observadas diferenças entre os dois meios.
Muller et al. (2002)
27 ♀ Idosas
Analisar os efeitos de um programa de treino de força muscular realizado na hidroginástica
A hidroginástica possibilita um aumento da força máxima dinâmica dos flexores horizontais do ombro, em idosas, após um treino específico
25
Puhlmann et al. (2002)
5 ♀ (65.4 ± 2.9 anos) 5 ♀ (66.0 ± 1.9 anos)
Comparar a flexibilidade e a força muscular dos flexores horizontais do ombro de idosas praticantes de hidroginástica e de outras actividades (caminhada e ginástica)
A hidroginástica parece proporcionar um aumento da força máxima dos flexores horizontais do ombro. Enquanto os valores de flexibilidade encontrados são similares para os praticantes de hidroginástica e de outras modalidades (caminhada e ginástica)
Soares e Nasser (2002)
51 ♀ 30 a 60 anos
Identificar factores de risco para o desenvolvimento da doença arterial coronária em praticantes de hidroginástica de águas profundas
Foram identificados como factores risco da doença arterial coronária, o colesterol, a tensão arterial, o peso, o stress, a ansiedade e os hábitos tabágicos, em praticantes de hidroginástica de águas profundas
Sugano et al. (2002)
4 ♂ e 11 ♀ 61.8 ± 9.5 anos
Investigar os efeitos fisiológicos e psicológicos de um programa exercício aquático, com 8 semanas, em indivíduos com dor crónica lombar, averiguando a manutenção dos efeitos com a continuidade ou descontinuidade da prática
Os efeitos psicológicos e fisiológicos resultantes da participação num programa de hidroginástica, com 8 semanas, tendem manter-se se o exercício for realizado de forma continua
Takeshima et al. (2002)
30 ♀ 60 a 75 anos
Determinar o efeito de um programa de exercícios aquáticos na força, flexibilidade, aptidão cardiorrespiratória, gordura corporal e colesterol de um grupo de idosas
O programa de exercícios aquáticos aplicado melhorou significativamente a força, a aptidão cardiorrespiratória e permitiu reduzir os níveis de gordura corporal e o colesterol das idosas
Wininger (2002)
29 ♀ 66.4 anos ( x )
Estudar os efeitos da prática de hidroginástica na ansiedade
A prática hidroginástica contribuiu para uma redução significativa dos níveis de ansiedade dos praticantes
Nunes (2003) 12 ♀ 66.2 ± 1.5 anos
Caracterizar as respostas agudas ao exercício aquático, realizado em diferentes profundidades
A intensidade do esforço, nas aulas de hidroginástica, relaciona-se inversamente com a altura do nível da água. Neste sentido, aconselha-se a realização das aulas com água o nível das axilas
Morgado (2003)
3 ♂ 5 ♀ Grupo controlo 52.0 ± 7.2 anos Grupo experimental 45.0 ± 7.3 anos
Efeito de um programa aeróbio de hidroginástica, com 12 semanas, na redução dos níveis tensionais de indivíduos hipertensos
Não foram encontradas evidências significativas de que o programa de hidroginástica realizado possa reduzir os níveis tensionais de indivíduos hipertensos
Pohl e McNaughton (2003)
6 23.2 ± 2.9 anos
Comparar as respostas fisiológicas (consumo de oxigénio, quociente respiratório e frequência
Os valores de consumo de oxigénio e frequência cardíaca foram superiores na marcha e na corrida em água, nas duas
26
cardíaca) na marcha e na corrida realizada em tapete rolante (terra) e na água em duas profundidades diferentes (ao nível da cintura e coxa)
profundidades (ao nível da cintura e coxa), comparativamente com os valores obtidos na corrida em tapete rolante (terra).
Reilly et al. (2003)
---
Respostas fisiológicas na corrida em águas profundas
Artigo de revisão
Benelli et al. (2004)
10 ♀ 27.4 ± 3.6 anos
Comparar as respostas fisiológicas (frequência cardíaca e lactatemia) em exercícios aeróbios realizados em terra e em água (rasa e profunda)
Nos exercícios aeróbios realizados em água (rasa ou profunda) os valores de frequência cardíaca e lactato foram significativamente inferiores aos obtidos em terra.
Cardoso et al. (2004)
34 ♀ 35 a 75 anos
Analisar o efeito de um programa de exercícios em águas profundas, com e sem ênfase trabalho de força muscular e com e sem equipamento resistivo, nos flexores e extensores do cotovelo e adutores da anca
O programa de exercícios aquáticos em águas profundas, com ênfase no trabalho de força e com a utilização de equipamento resistivo permitiu melhorar significativamente a força nos flexores e extensores do cotovelo e adutores da anca
Fontes (2004) 34 ♀ ♂ Grupo de hidroginástica 66.0 ± 2.8 anos Grupo de ginástica de manutenção 68.0 ± 5.4 anos Grupo controlo 69.0 ± 4.9 anos
Determinar e comparar os efeitos de dois programas (ginástica de manutenção e hidroginástica) nos índices de força isocinética dos músculos quadrícípedes e isquiotibiais
Os programas de ginástica de manutenção e hidroginástica parecem não ser suficientes para induzir alterações significativas na força isocinética dos músculos flexores do idoso
Melo e Giovan (2004)
63♀ 65.8 ± 5.2 anos
Comparar os efeitos da prática de ginástica aeróbia e de hidroginástica na composição corporal
A prática de ginástica aeróbia, durante 12 semanas, produziu resultados mais positivos na composição corporal (redução do peso e percentagem de gordura dos membros inferiores e aumento da massa magra) do que a hidroginástica
Fontes (2005) 14 ♀ 54.3 ± 5.5 anos
Investigar a influência de um programa de hidroginástica, com seis meses, no comportamento motor e psicológico de mulheres mastectomizadas
O programa de hidroginástica, de 6 meses, contribuiu para melhorar alguns aspectos do comportamento motor (destreza manual e sensibilidade proprioceptiva) e do comportamento psicológico (satisfação com a imagem corporal e auto-estima) de mulheres mastectomizadas, elevando o seu bem-estar e qualidade de vida.
Kruel et al. (2005)
34 ♀ 38 a 67 anos
Averiguar os efeitos do trabalho de força na
O trabalho de força realizado nas aulas de hidroginástica permitiu
27
hidroginástica
aumentar significativamente os níveis desta capacidade em todos os grupos musculares avaliados, com e sem uso de equipamento resistivo. Em suma, a hidroginástica com ênfase no trabalho de força permite melhorar esta capacidade motora.
Broman et al. (2006)
29 ♀ 69.0 ± 4.0 anos
Verificar os efeitos do exercício aquático intervalado de alta intensidade, em águas profundas com cinto flutuador, na potência aeróbia.
O treino intervalado de alta intensidade em águas profundas, com cinto flutuador, promoveu um aumento da capacidade submáxima de trabalho, da potência aeróbia máxima e da ventilação máxima.
Colado et al. (2006)
5 ♂ 25.7 ± 1.5 anos
Comparar as respostas cardiovasculares e metabólicas (frequência cardíaca e lactatemia) em exercícios de força resistente realizados em água e em terra.
As respostas cardiovasculares e metabólicas (frequência cardíaca e lactatemia) foram semelhantes para os exercícios de força resistente realizados em água e em terra.
Finkelstein et al. (2006)
7 ♀ 29.9 ± 3.1 anos
Avaliar o comportamento da frequência cardíaca ao longo da gestação, antes, durante e após as aulas de hidroginástica, e da tensão arterial antes e após exercício.
As gestantes submetidas a aulas de hidroginástica apresentaram um comportamento constante da frequência cardíaca e da tensão arterial ao longo dos três trimestres gestacionais (11ª/13ª até 38ª semana de gestação)
Hanai et al. (2006)
19 Grupo controlo 62.1 ± 8.5 anos Grupo experimental 59.4 ± 9.2 anos
Investigar os efeitos de um programa de exercícios aquáticos de curta duração, na tensão arterial, força, flexibilidade e tempo de reacção de idosos de uma região gelada
O programa de exercícios aquáticos, de curta duração, teve efeitos positivos na tensão arterial sistólica, flexibilidade e tempo de reacção dos idosos. A força e o equilibrio não revelaram aumentos significativos
Kosonen et al. (2006)
20 ♀ 52.7 ± 5.9 anos
Caracterizar em termos cardiorrespiratórios e metabólicos (frequência cardíaca, consumo de oxigénio e lactatemias) seis exercícios aquáticos básicos em sujeitos saudáveis e portadores de doenças cardiopulmonares.
Os seis exercícios aquáticos seleccionados e aplicados parecem ser de carácter aeróbio e em termos de esforço foram classificados com uma intensidade moderada/elevada para ambos os grupos.
Ono et al. (2006)
10 ♂ (22.6 ± 1.1 anos) 8 ♀ (61.8 ± 4.3 anos)
Comparar o tempo necessário para gastar 80 Kcal durante a caminhada em tapete rolante na água, em jovens e idosos
Os indivíduos jovens e idosos apresentam semelhanças no tempo necessário para gastar 80 Kcal, tornando possível a prescrição de exercícios aquáticos para indivíduos idosos diabéticos através da unidade dos jovens (80 Kcal)
Pariser et al. (2006)
2 ♀ 40 e 51 anos
Descrever o efeito de um programa de hidroginástica, com 8 semanas, na aptidão
O programa de hidroginástica, com 8 semanas, produziu efeitos positivos na aptidão cardiovascular dos sujeitos portadores de
28
cardiovascular e na fadiga de duas pessoas portadoras de esclerose múltipla
esclerose múltipla. Na fadiga apenas houve melhorias num dos sujeitos.
Pinto et al. (2006)
10 ♀ 21.9 ± 1.0 anos
Comparar a frequência cardíaca e o consumo máximo de oxigénio em exercícios de hidroginástica com e sem uso de equipamento resistivo
O uso do equipamento resistivo poderá ser eficaz para ampliar as respostas cardiorrespiratórias (frequência cardíaca e consumo máximo de oxigénio) associadas ao exercício realizado em meio aquático
Saavedra et al. (2006)
22 ♀ 20.6 ± 1.0 anos
Conhecer a influência de um programa de hidroginástica, de curta duração, na aptidão física associada à saúde
O programa de hidroginástica, de curta duração, demonstrou ser eficaz na melhoria de algumas componentes da aptidão física associada à saúde, nomeadamente a redução da massa gorda, a melhoria da flexibilidade, a força manual e abdominal, o equilibrio e a potência aeróbia
Silva e Maranhão (2006)
135 ♀ 49.5 ± 15.1 anos
Propor um teste de corrida com 12 minutos, em água rasa, que permita classificar os indivíduos de acordo com a distância percorrida e verificar a validade do mesmo
O teste de corrida com 12 minutos em água rasa, proposto é valido para aferir a capacidade aeróbia dos praticantes de hidroginástica
Tartaruga e Kruel (2006)
---
Limites e possibilidades da utilização da corrida, realizada em águas profundas, no treino de corredores de alto rendimento
Artigo de revisão
Vicentin et al. (2006)
30 ♀ 43.4 ± 7.8 anos
Analisar os efeitos fisiológicos e psicológicos de um programa de 13 semanas de hidroginástica
O programa de 13 semanas de hidroginástica induziu, apenas, alterações na flexibilidade e nos aspectos psicológicos dos sujeitos, como a inclusão social e as acções individuais e colectivas
Wei et al. (2006)
26 ♀ e 11 ♂ 3.7 ± 1.0 anos
Comparar os efeitos psicológicos de um programa de caminhada, de hidroginástica e de yoga em estudantes
A caminhada, a hidroginástica e o yoga possuem efeitos psicológicos similarmente benéficos, nomeadamente na ansiedade
Barbosa et al. (2007)
14 ♀ ♂ 23.8 ± 2.5 anos
Comparar as adaptações fisiológicas agudas a um exercício básico de hidroginástica a diferentes profundidades (apêndice xifóide e articulação coxo-femoral)
As adaptações fisiológicas agudas (frequência cardíaca máxima, consumo de oxigénio e lactatemia), durante a exercitação com imersão ao nível da coxo-femoral, são mais próximas das verificadas em meio terrestre do que durante a exercitação com imersão ao nível do apêndice xifóide
29
Kaneda et al. (2007, in press)
9 ♂ 24.9 ± 2.2 anos
Caracterizar a actividade muscular dos membros inferiores (através da electromiografia) durante a corrida em águas profundas e a caminhada em terra e na água, a diferentes velocidades de passada (lenta, moderada e rápida)
A corrida em águas profundas, a diferentes velocidades de passada (lenta, moderada e rápida) estimulou os músculos flexores e extensores da anca.
Nagle et al. (2007)
44 ♀ 40.3 ± 6.8 anos
Comparar o efeito de um programa combinado de caminhada e exercício aquático, com um programa de caminhada isolado, no peso de obesas
A combinação do exercício aquático e da caminhada constitui uma alternativa eficaz à caminhada realizada de forma isolada, por obesas durante períodos de perda de peso
Neves e Doimo (2007)
12 ♀ 51.1 ± 1.6 anos
Comparar a percepção subjectiva de esforço e a frequência cardíaca durante as aulas de hidroginástica, em três momentos diferentes (10, 20 e 30 min)
Nas três aulas de hidroginástica realizadas observou-se apenas uma relação entre a frequência cardíaca e a percepção subjectiva de esforço nas duas primeiras aulas aos 30 min. Com efeito, a escala de percepção subjectiva de esforço de Borg não foi um bom método para o controlo da intensidade durante as aulas de hidroginástica para o grupo estudado.
Reis et al. (2007)
1 ♀ 68 anos
Verificar os efeitos de um programa de hidroginástica, com 4 meses, nas variáveis espaço-temporais da marcha de uma portadora de Parkinson
O programa de hidroginástica de 4 meses, de uma maneira geral, parece não ter sortido efeitos na alteração da marcha da portadora de Parkinson
Saavedra et al. (2007)
20 ♀ 43.1 ± 9.7 anos
Analisar o efeito de um programa de hidroginástica, de médio impacto na qualidade de vida e aptidão física associada à saúde
O programa de hidroginástica de médio impacto contribuiu para uma melhoria da qualidade de vida (vitalidade e dor corporal) e da aptidão física associada à saúde (redução da massa corporal total, da percentagem de massa gorda e melhoria da aptidão cardiorrespiratória)
Silvers et al. (2007)
23 ♂ Comprar a resposta cardiorrespiratória num protocolo de esforço máximo em tapete rolante, realizado na água e em terra
Os dois protocolos de esforço máximos em tapete rolante realizados em terra e na água tiveram efeitos positivos na aptidão cardiorrespiratória de indivíduos treinados, apresentando semelhanças no consumo de oxigénio, frequência cardíaca, lactato, volume de ar e percepção subjectiva de esforço
Pinto et al. (2007)
7 ♀ 22.3 ± 1.4 anos
Comparar a frequência cardíaca, consumo de oxigénio e ventilação em exercícios de hidroginástica, realizados
A utilização de equipamento resistivo na hidroginástica aumentou significativamente a resposta cardiorrespiratória para as situações nas quais o
30
com e sem uso de equipamento resistivo (aquaffins TM)
equipamento é colocado só nos membros inferiores e nos membros superiores e inferiores. O mesmo não se verificou para a exercitação com o equipamento nos membros superiores.
Aoba et al. (2008)
130 ♀ ♂ Grupo controlo 57.0 ± 12.5 anos Grupo experimental 59.1 ± 10.0 anos
Observar o efeito de um programa de exercícios aquáticos de curta duração (8 semanas) na tensão arterial
O programa de curta duração (8 semanas) de exercícios aquáticos permitiu reduzir os níveis de tensão arterial do grupo de idosos
Costa et al. (2008)
16 ♀ 23.3 ± 2.4 anos
Comparar as adaptações fisiológicas agudas de variantes do mesmo exercício de hidroginástica
O incremento do número de segmentos em acção simultânea, assim como a utilização de halteres flutuantes, tendem a aumentar significativamente a resposta fisiológica aguda em hidroginástica
Hanai et al. (2008)
19 Grupo controlo 62.1 ± 8.5 anos Grupo experimental 59.4 ± 9.2 anos
Analisar os efeitos de um programa de exercícios aquáticos de curta duração (6 semanas) no perfil sanguíneo de idosos de regiões geladas
O programa de curta duração (6 semanas) parece não ter efeitos marcados no perfil sanguíneo dos idosos de uma região gelada
Kaneda et al. (2008)
46 ♀ ♂ Grupo de corrida em águas profundas 60.7 ± 4.1 anos Grupo de caminhada na água 60.8 ± 5.3 anos
Analisar os efeitos de um programa de corrida em águas profundas e de um programa de caminhada na água e em terra
O programa de corrida em águas profundas permitiu aumentar a aptidão cardiorrespiratória e o equilibrio dinâmico dos idosos.
Silvers e Dolny (2008)
13 ♂ 11 ♀ 25.0 ± 3.0 anos
Determinar a validade de um protocolo de máximo esforço em tapete rolante aquático
O protocolo de máximo esforço em tapete rolante aquático parece ser equivalente ao protocolo de tapete rolante realizado em terra. Com efeito, a utilização de um tapete rolante aquático poderá ser um meio de treino alternativo para manter e melhorar a aptidão física de atletas lesionados.
Yoshioka et al. (2008)
7 ♂ 24.6 ± 1.5 anos
Analisar a influência do exercício aeróbio aquático realizado em duas profundidades diferentes (110 e 150 cm) na velocidade da onda de pulso
Os efeitos do exercício aquático, na velocidade da onda de pulso, dependem não só da intensidade do exercício mas também profundidade da água.
31
2.6. Benefícios da hidroginástica
Vários autores afirmam que a expressividade do número de praticantes de
actividades físicas aquáticas tem-se tornado cada vez mais relevante, fruto dos
benefícios que lhes são habitualmente associados e da possibilidade da sua
adequabilidade aos diferentes tipos de população (Costa et al., 2008; Eckerson
& Anderson, 1992; Frangolias & Rhodes, 1996; Graef et al., 2005; Kruel, 2000;
L. Kruel et al., 2002; Silva & Maranhão, 2006). Todavia a tendência defendida
não é justificada por estudos específicos que permitam fundamentar tais
conclusões.
Relativamente aos benefícios da hidroginástica, importa distinguir aquilo
que são as alterações fisiológicas, psicossomáticas e sociais pela exercitação
no meio aquático, daquilo que são as vantagens inerentes à exercitação neste
meio específico. A este respeito, Morgado (2003) refere que quando
investigamos os efeitos fisiológicos da hidroginástica devemos compreender o
meio aquático como detentor de um conjunto de características específicas
relacionadas com a imersão do corpo, como a pressão hidrostática, a força de
impulsão hidrostática, a densidade da água e a temperatura. Pois, a acção da
água sobre o corpo humano conduzirá a algumas alterações fisiológicas que
podem, apenas, ser entendidas como uma consequência da imersão corporal e
não como um benefício. A pressão hidrostática, definida como a pressão
exercida pelas moléculas da água sobre um corpo submerso, contribui para um
retorno venoso facilitado e para a uma redução do edema, através de uma
melhoria da circulação periférica (AEA, 2001; Barbosa & Queirós, 2005;
Gonçalves, 1996; Sanders e Rippe, 2001). Esta pressão constitui, também,
uma resistência aos movimentos respiratórios, que poderá contribuir para um
fortalecimento dos músculos inspiratórios e expiratórios e para a maximização
do volume pulmonar (AEA, 2001; Barbosa & Queirós, 2005; Gonçalves, 1996;
Sanders e Rippe, 2001). A resultante vectorial de todas as forças de pressão
hidrostática, produz uma outra força – a força de impulsão hidrostática. No
meio aquático o Homem está sob acção do peso, assim como no meio
terrestre, todavia dado que esta força tem a mesma direcção e sentido oposto
à impulsão hidrostática, a intensidade das cargas mecânicas sob o aparelho
locomotor é menor (Adami, 2003; Barbosa & Queirós, 2005; Gonçalves, 1996).
32
Para além, das referidas características o meio aquático apresenta ainda uma
densidade superior à do ar. Esta densidade é um factor que influencia a
intensidade da força de arrasto o que se repercute numa maior resistência ao
deslocamento no meio aquático e consequentemente num aumento do
dispêndio energético (Barbosa & Queirós, 2005).
Vários autores apontam como benefícios, resultantes da prática de
exercícios aquáticos, a redução da carga mecânica sobre a estrutura
locomotora (Adami, 2003; Barbosa & Queirós, 2005; Bonachela, 1994), a
tonificação rápida e efectiva devido à resistência oferecida pela água (Barbosa
& Queirós, 2005), o aumento do consumo calórico (Barbosa & Queirós, 2005;
Figueiredo, 1996), o “prolongamento da sensação de frescura” e conforto
(Adami, 2003; Barbosa & Queirós, 2005), a atenuação das dores musculares
resultantes do suposto “efeito massajador” da água (Adami, 2003; Bonachela,
1994; Figueiredo, 1996) e a promoção do estabelecimento de relações
interpessoais em indivíduos com um baixo nível de auto-estima, devido à
insatisfação com o seu corpo, uma vez que o corpo imerso não está sujeito à
exposição a terceiros (Adami, 2003; Barbosa & Queirós, 2005). Importa no
entanto, salientar que todos os benefícios anteriormente descritos consistem
apenas em afirmações de carácter especulativo, dada ausência de
fundamentação científica. Para além disto, alguns dos benefícios indicados não
resultam de alterações fisiológicas, psicossomáticas ou sociais decorrentes da
exercitação em si, mas das características do próprio meio. Assim para alguns
dos benefícios apontados, parece mais sensato falar de vantagens que a
prática no meio aquático oferece (e.g. o estabelecimento relações
interpessoais). A natureza especulativa dos benefícios apontados pelos
anteriores autores parece ter contribuído para o aparecimento algumas
indicações, em nossa opinião, caricatas e desprovidas de rigor científico,
referindo-se como benefícios “não precisar de molhar o cabelo”; “o exercício na
água está na moda” e “trabalha músculos que raramente são usados fora de
água e que, consequentemente, são flácidos” (Adami, 2003); “ melhora e até
elimina os problemas cardiorrespiratórios”, “retarda o envelhecimento”, “reduz a
flacidez e as gorduras, portanto ajuda a regular o patamar dos colesteróis” e “
possui exercícios que melhoram a flexibilidade e força nas regiões do corpo
33
mais usados durante a actividade sexual, dando melhores condições de
desempenho” (Figueiredo, 1996).
No que respeita a possíveis contra-indicações para a prática do
exercício aquático dentro da revisão realizada, apenas a AEA (2001) e dois
autores, reflectiram sobre este aspecto. De acordo com a AEA (2001) existe
um conjunto de nove exercícios considerados de alto risco nas aulas de
hidroginástica: os exercícios de alto impacto – que impulsionam o corpo para
cima e para fora de água; os movimentos muito rápidos (tempo de terra) – que
devem apenas ser utilizados em movimentos que utilizam pequenas alavancas;
a utilização prolongada dos exercícios acima da cabeça – que conduzem a
uma falsa percepção da intensidade aeróbia; desequilíbrio muscular – utilizar
sempre a mesma direcção na marcha, realizar apenas trabalho de força
negligenciando a flexibilidade e as aulas aeróbias que utilizam a flexão da anca
e o movimento de MS para a frente conduzindo a uma postura incorrecta; o
batimento de MI em decúbito ventral com apoio na parede – provoca
hiperextensão das vértebras lombares e/ou cervicais; exercícios que utilizam a
parede como apoio – o apoio prolongado das costas contra a parede pode
constituir uma sobrecarga para as articulações dos ombros, dos pulsos e dos
dedos; o trabalho abdominal versus flexão da anca – a maioria dos exercícios
utilizados trabalham os abdominais apenas como estabilizadores ou
assistentes, ou seja o movimento principal é realizado pelo flexor da anca; a
hiperextensão dos joelhos – o alongamento do quadricipte que comprime a
articulação do joelho, devido a uma flexão exagerada (acima dos 90º) poderá
originar uma lesão – e por fim exercícios que comprometem a integridade da
coluna, como movimentos circulares do pescoço. Para Figueiredo (1996) a
prática de hidroginástica deve ser contra-indicada para indivíduos portadores
de infecções de pele, gastrointestinais, febre tifóide, cólera, poliomielite,
desinteria, doenças renais ou vasculares periféricas, epilepsia, incontinência
urinária ou fecal. À semelhança dos benefícios, também as contra-indicações
apontadas parecem não ser satisfatoriamente fundamentadas por estudos com
suporte científico reconhecido. Consequentemente as contra-indicações
apresentadas parecem ter um carácter muito subjectivo e levantam algumas
dúvidas quanto à sua credibilidade. Por exemplo, não parece fazer muito
34
sentido que um sujeito com epilepsia deva ser inibido da prática desta
modalidade se não tiver crises na sequência da prática de exercício físico e se
não estiver em fase aguda da doença. Segundo Sanders e Rippe (2001) a
prática exercício aquático é contra-indicado para indivíduos com uma
capacidade respiratória diminuída, infecções da bexiga ou vaginais, HTA ou
hipotensão severa, doenças infecciosas, alergias conhecidas como doenças
infecciosas e feridas abertas pós-operatório.
2.6.1.Aptidão física
Muller et al. (2005) justificam o aumento da prática de actividades
aquáticas apontando-as como a resposta a uma necessidade manifesta do
homem em melhorar a sua aptidão física e assim garantir uma vida com
qualidade. Segundo Maia (2001), em termos genéricos, a aptidão física pode
ser entendida como o ajustamento dos sujeitos ao meio físico e social,
subdividindo-se em duas vertentes, uma associada ao rendimento e outra à
saúde. O mesmo autor refere que a aptidão física associada à saúde é
geralmente definida como a capacidade de realizar tarefas diárias com vigor e
caracterizada por traços de capacidades que estão associados a um baixo
risco de desenvolvimento de doenças hipocinéticas. Entre as capacidades
motoras habitualmente mais avaliadas na vertente da aptidão física associada
à saúde, Maia (2001) salienta a flexibilidade, a força, a resistência
cardiorrespiratória e a composição corporal. Maia (1999) refere que existem
dois tipos de avaliação da aptidão física associada à saúde, uma referenciada
à norma utilizada para classificar os indivíduos em relação aos pares e outra
referenciada ao critério utilizada para identificar o estado ou nível em relação a
um critério anteriormente estabelecido, considerado fundamental para
expressar um estado de saúde.
Investigações realizadas por vários autores sobre as respostas do
organismo aos exercícios aquáticos comprovam uma melhoria das diferentes
componentes da aptidão física associada à saúde, como a força (Alves, 2001;
Cardoso et al., 2004; Kruel et al., 2005; Muller et al., 2002; Puhlmann et al.,
2002; Takeshima et al., 2002), a flexibilidade (Alves, 2001; Hanai et al., 2006;
35
Vicentin et al., 2006), a composição corporal (Gubiani et al., 2001; Melo &
Giovani, 2004; Pereira, 1999; Takeshima et al., 2002) e a aptidão
cardiorrespiratória (Alves, 2001; Bedford et al., 1996; Kaneda et al., 2008;
Pariser et al., 2006; Pereira, 1999; Takeshima et al., 2002; Taunton et al.,
1996). Outros autores relatam também a ausência de melhorias significativas
em algumas componentes como a força (Fontes, 2004; Taunton et al., 1996) a
flexibilidade (Taunton et al., 1996) e a composição corporal (Taunton et al.,
1996).
2.6.1.1. Desenvolvimento da capacidade aeróbia
O desenvolvimento da capacidade aeróbia, componente da aptidão física
associada à saúde, tem sido indicado não só para atletas, cujas modalidades a
solicitam (Santos, 2002b), mas também para a população em geral. Os
resultados das investigações sobre exercício e saúde têm-se traduzido em
recomendações específicas para as diferentes populações. Assim, segundo
Haskell et al. (2007) para o desenvolvimento da capacidade aeróbia em
indivíduos saudáveis com idades compreendidos entre os 18 e os 65 anos é
recomendável uma prática de intensidade moderada, com a duração mínima
30 min, 5 vezes por semana ou uma actividade de intensidade vigorosa com
uma duração mínima de 20 min, 3 vezes por semana. Alguns autores referem
que as actividades de intensidade vigorosa, comparativamente com as de
intensidade moderada possuem mais benefícios na redução de doenças
cardiovasculares e na mortalidade prematura (Lee et al., 1995; Slattery et al.,
1989; Swain & Franklin, 2006). Outros autores, porém, referem que o risco de
ocorrência de acidentes cardiovasculares ou enfartes do miocárdio é muito
reduzido, em adultos saudáveis, durante actividades de intensidade moderada
(Vuori, 1986; Whang et al., 2006). Neste sentido, alguns autores têm
demonstrado que o risco de complicações cardiovasculares aumenta durante
esforços físicos vigorosos em pessoas sedentárias e com doenças arteriais
coronárias latentes ou conhecidas (AHA & ACSM, 2007).
36
Segundo Balady et al. (1998), o esforço físico moderadamente extenuante
( ≥ 94% da FCmax) poderá desencadear situações de isquemia cardíaca,
especialmente em indivíduos que não realizam uma prática física regular.
As recomendações do ACSM para sujeitos clinicamente saudáveis, em
2006, apontam para actividades que promovam esforços cardíacos entre os
70% e os 94% da FCmax.
O desenvolvimento da capacidade aeróbia pode ser realizado recorrendo
a diferentes metodologias (AEA, 2001). Estas metodologias são o treino
contínuo (Figura 1), em intervalo (Figura 2) e em circuito (AEA, 2001; Tavares
& Marques, 2003). O treino contínuo refere-se à manutenção relativamente
constante da intensidade de uma série de exercícios durante um determinado
período de tempo (AEA, 2001) e é utilizado em actividades como caminhadas,
jogging, aeróbica, step e hidroginástica (Tavares & Marques, 2003). O treino
intervalado, sobretudo popular entre os atletas, caracteriza-se pela alternância
de esforços fortes com intervalos de recuperação, classificados como treinos
muito intensos para o sistema cardiovascular (AEA, 2001; Tavares & Marques,
2003). O treino em circuito é geralmente realizado por estações que podem ser
constituídas por exercícios unicamente aeróbios, de força ou resistência
muscular, ou a combinação de ambas (AEA, 2001).
Figura 1. Representação gráfica do treino aeróbio contínuo (AEA, 2001).
85%
Frequência cardíaca de
reserva
50%
Descanso Tempo Fim da sessão
37
Figura 2. Representação gráfica do treino aeróbio intervalado (AEA, 2001).
2.6.1.2. Desenvolvimento da capacidade anaeróbia
O desenvolvimento da capacidade anaeróbia, ao contrário da capacidade
aeróbia, tem sido descrito, aparentemente, apenas para o desporto de alto
rendimento (natação, remo, atletismo, futebol, etc.). Na natação, várias
propostas têm sido apresentadas para elaboração de séries de treino da
potência anaeróbia láctica e aláctica (Maglischo, 1986; Olbrecht & Mader,
2006; Troup & Trappe, 1994; Vilas-Boas, 2000). No atletismo, Colaço (2002)
refere que as competições de velocidade (sobretudo na de 400 m) e as provas
de meio-fundo curto possuem uma grande dependência do sistema anaeróbio
láctico, o responsável pela obtenção de boas marcas nas referidas distâncias.
De acordo com Medbo e Burgers (1990), a capacidade de rendimento dos
atletas não está apenas dependente de reservas energéticas e mecanismos de
compensação metabólica, mas também da sua capacidade de produzir e
tolerar grandes concentrações de La-. Nesta medida, a planificação do
treinador assume-se como uma tarefa difícil, assim como a avaliação da
capacidade anaeróbia como indicador do sucesso do treino (Colaço, 2002). Em
consequência, muitos estudos têm sido desenvolvidos nesta área (Housh et al.,
1992; Nummela et al., 1996; Vuorimaa et al., 1996). Nas actividades que
objectivam a saúde, como a hidroginástica, o desenvolvimento da capacidade
anaeróbia não parece ser contemplado. A este respeito Barbosa et al. (2007)
referem mesmo que solicitação de vias metabólicas anaeróbias, em
hidroginástica, terá um contributo percentual muito reduzido. Os mesmos
Treino intervalado aeróbio
Calma Aquecimento
LIMIAR ANAERÓBIO
Descanso Tempo em minutos Fim da sessão
38
autores sublinham, ainda, que este é um facto desejável para uma actividade
marcadamente aeróbia, no âmbito da prevenção primária da saúde. No
entanto, não raras vezes estas aulas apresentam uma estrutura de trabalho em
pirâmide, indicado pela AEA (2001) como um possível estilo coreográfico.
Segundo Tavares (2003a), o treino em pirâmide, na musculação, é uma
metodologia de desenvolvimento da força muscular que pode ter um sentido
ascendente ou descendente. Numa pirâmide ascendente, ao longo das séries a
carga aumenta e o número de repetições diminui, podendo ser realizada até
uma repetição máxima. O mesmo parece acontecer com trabalho em pirâmide
ascendente na hidroginástica na medida em que, partimos de um grupo de
exercícios com uma intensidade baixa e um tempo de exercitação maior e ao
longo da pirâmide vamos aumentando o nível de intensidade e reduzindo o
tempo de exercitação. No final, desta pirâmide os sujeitos poderão alcançar o
nível 20 da escala de percepção subjectiva de esforço (EPSE) de Borg. Um
esforço com esta intensidade e duração conduzirá, provavelmente, a uma
maior solicitação do metabolismo anaeróbio para a ressíntese do ATP. No
trabalho intervalado realizado nas aulas de hidroginástica é também descrita
uma maior solicitação do metabolismo anaeróbio. Segundo a AEA (2001) o
trabalho intervalado baseia-se na alternância de ciclos de baixa e alta
intensidade. No caso dos alunos avançados é referida a possibilidade de
trabalhar aerobiamente durante ciclos de curta duração.
2.7. Controlo e avaliação na hidroginástica
2.7.1. Controlo da intensidade
A actividade física, quando devidamente estruturada, conduz a alterações
anatómicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas (Tavares, 2003b) . Com
efeito, no momento da prescrição do exercício existe um conjunto de
componentes a serem consideradas como o volume, a duração, a frequência, a
densidade, o modo, a progressão e a intensidade do exercício (ACSM, 2006),
que devem ser combinadas e aplicadas de acordo com as características e
necessidades dos praticantes. Entre as referidas componentes, a intensidade
tem sido apontada como a mais importante para a prescrição do exercício
39
(Evans, 1999; Fletcher et al., 1996). Segundo Tavares (2003b), a intensidade é
uma variável qualitativa que expressa a exigência com que um exercício ou
série de exercícios são executados em relação ao máximo de possibilidades do
praticante nesse exercício. As directrizes do ACSM (2006), como anteriormente
mencionado, recomendam a utilização de intensidades de exercício entre 70%
a 94% da FCmax.
A mensuração da intensidade do esforço pode ser realizada de diferentes
formas, de acordo com a tipologia dos exercícios, utilizando-se, para tal,
diversos indicadores fisiológicos. Entre os métodos de quantificação da
intensidade do exercício encontramos a monitorização da FC e VO2, a
aplicação da EPSE e lactatemia (La) (Benelli et al., 2004; Graef & Kruel, 2006;
Tavares, 2003b; Wilmore & Costill, 2001).
Quando estabelecemos uma comparação entre os exercícios realizados
em terra e na água podemos perceber uma diferenciação das respostas
fisiológicas (VO2, FC, La-) para os dois meios (Nakanishi et al., 1999;
Svedenhag & Seger, 1992). Esta diferença deverá ser considerada no
momento do planeamento da aula, repercutindo-se na determinação da
intensidade do esforço. Desta forma, o controlo da intensidade de esforço
realizado apenas a partir de simples extrapolações dos indicadores fisiológicos
obtidos em terra deverá ser evitado, pois conduzirá a erros grosseiros em
termos da prescrição do exercício aquático (AEA, 2001).
Entre os métodos referidos para a avaliação da intensidade de esforço a
FC e a EPSE apresentam-se como os mais utilizados pelos profissionais que
prescrevem exercício aquático. Alguns dos motivos apontados para este facto
são o baixo custo e facilidade de aplicação (AEA, 2001; Graef & Kruel, 2006;
Tavares, 2003b) em comparação com outros indicadores, como por exemplo o
La- sanguíneo e o VO2 (Svedenhag & Seger, 1992; Town & Bradley, 1991).
2.7.1.1. Escala de Borg
A individualização da prescrição do exercício é realizada, muitas vezes,
com o auxílio da EPSE de Borg. Em primeiro lugar, com o objectivo definir as
zonas alvo de trabalho e, em segundo lugar com o objectivo de regular ou
40
manter a intensidade estabelecida para uma dada sessão de exercícios
(Robertson et al., 1998). A percepção subjectiva de esforço é uma das
variáveis psico-fisiológicas mais avaliadas nas actividades aquáticas,
especialmente em hidroginástica (Barker et al., 2003; Melton-Rogers et al.,
1996; Shono et al., 2001)
Quando Borg, em 1940, inicia o seu estudo na psicológica, lança a ideia
de utilizar o sistema sensitivo do Homem como instrumento para a mensuração
dos sintomas somáticos, algo até ai inexistente, assim como as teorias,
métodos e aplicações da classificação progressiva que então criou. O conceito
de esforço percebido foi apenas introduzido na década de 50, surgindo, pela
primeira vez, nos estudos piloto realizados por Borg e Dahlstrom em 1958.
(Borg, 2000). Desde então a EPSE tem sido aplicada a diferentes populações e
tipos de exercícios (Taylor & Maclaren, 1998). Inicialmente as EPSE foram
criadas com o objectivo de establecer relações entre a percepção subjectiva de
esforço e os dados objectivos da carga externa, ou de stress fisiológico (Borg,
1982), considerando-se que esta percepção resulta da integração de sinais
aferentes (periféricos e centrais) provenientes dos músculos esqueléticos e do
sistema cardiorrespiratório (Borg, 2000). Segundo Robertson et al. (1986) a
percepção de esforço físico é definida como a intensidade de esforço e ou
desconforto sentido durante o exercício por cada sujeito. Para Borg (2000), o
conceito de esforço percebido refere-se ao trabalho muscular que envolve uma
tensão relativamente grande sobre os sistemas músculo-esquelético,
cardiovascular e respiratório estando, assim, intimamente associado ao
conceito de intensidade do exercício. Este autor sublinha ainda que a
percepção do esforço está dependente de vários factores, em interacção, como
sintomas somáticos, emocionais, indícios sensoriais, avaliações de
comportamento etc. A primeira EPSE criada, foi uma escala de classificação
constituída por 7 índices ligados a expressões verbais simples (1- muito muito
leve até 7 - muito muito intenso). Nos estudos de validação da escala foram
encontradas fortes correlações entre os referidos índices e os valores da FC
(Borg, 2000). Todavia, os investigadores entenderam que o número de índices
era muito reduzido para a classificação da intensidade pelo que propuseram
uma escala com 21 índices, utilizada durante vários anos na década de 60.
41
Apesar de possuir um maior número de índices, esta escala, não possuía uma
relação linear com os índices e a intensidade do exercício. Atendendo a este
facto Borg criou uma nova escala (Figura 3) relacionada com a intensidade do
trabalho e com os valores da FC.
Figura 3. EPSE escalonada de 6 a 20, proposta por Borg na Suécia em 1966 (Borg, 2000).
Segundo Williams et al. (1994) multiplicando os valores de cada índice
por uma constante 10, obteremos valores aproximados da FC para um
determinado esforço, ou seja os valores da escalda de 6 a 20 “correspondem”
à variação da FC de 60 a 200 bpm. O número 6 foi escolhido como o ponto de
partida por ser considerado o valor mais baixo da FC em adultos (Borg, 2000).
Segundo Russell (1997), apesar de terem sido encontradas correlações
elevadas entre os índices da escala e a FC, a sua relação é pouco clara,
atendendo à diversidade de factores que condicionam a FC, como a idade, o
tipo de exercício, a temperatura, a ingestão medicamentosa e a ansiedade.
Num estudo realizado, em hidroginástica, por Neves e Doimo (2007) a relação
entre FC e EPSE foi apenas verificada durante os primeiros 30 min de aula. De
facto, sabe-se que a FC, enquanto indicador da intensidade de esforço, parece
estar limitada pela sua sensibilidade aos factores anteriormente descritos,
assim como a EPSE, uma vez que construção desta escala tem como
6 7 Muito, Muito leve 8 9 Muito leve 10 11 Razoavelmente leve 12 13 Um pouco intenso 14 15 Intenso 16 17 Muito intenso 18 19 Muito, Muito intenso 20
42
referência a FC. Apesar das limitações apontadas à FC, estes continuam a ser
os indicadores de intensidade do esforço mais facilmente aplicados, tal vez por
isso a sua utilização continue a ser muito frequente em estudos na área da
hidroginástica. Além da FC, tem sido investigada a relação da EPSE de Borg
com outros indicadores fisiológicos, como por exemplo a La, tendo sido
observada forte correlação entre ambas (Li, 2005; Satchidanand et al., 2007;
Steed et al., 1994; Taylor & Maclaren, 1998). Vários estudos têm demonstrado
esta forte relação entre a EPSE e a resposta láctica ao exercício, não
parecendo esta relação ser afectada pelo género, nível de treino, tipo de
exercício, especificidade do treino ou intensidade (Boutcher et al., 1989;
Demello et al., 1987; Hetzler et al., 1991; Seip et al., 1991; Steed et al., 1994).
Boutcher et al. (1989) procuraram investigar os efeitos da especificidade do
treino na relação da EPSE com as concentrações de La-, não tendo sido
observadas diferenças entre os valores de La- e os índices indicados na escala.
Seip et al. (1991) estudaram a relação entre o nível de treino, a resposta láctica
ao exercício e a EPSE, tendo concluído que, independentemente do nível de
treino as concentrações de La- estavam associadas aos valores da escala.
Outro estudo, realizado por Hetzler et al. (1991), procurou analisar os efeitos do
tipo de exercício na relação entre a EPSE e as concentrações de La-, tendo-se
observado que o tipo de exercício não afecta a relação entre a EPSE e as
concentrações de La-. Também Haskvitz et al. (1992) realizaram pesquisas
nesta área com o intuito de perceber os efeitos da intensidade do treino na
relação entre a EPSE e o La-. Estes autores à semelhança dos anteriores,
concluíram que apesar de existirem diferenças entre as várias intensidades e
os valores de La- obtidos, não foram encontradas diferenças entre grupos para
os valores de La- em determinados índices da escala. À semelhança da FC foi
também evidenciada, ainda que de forma indirecta, uma boa relação de
correspondência entre o VO2 e a EPSE, num estudo desenvolvido por Gearhart
(2008).
No sentido de melhorar a precisão das expressões verbais em meados
da década de 80, Borg introduz algumas alterações à escala anteriormente
apresentada (Figura 4). Foi introduzido no índice 6 a designação “sem nenhum
esforço”, foi substituído o termo “muito muito intenso” por “extremamente
43
intenso” e o termo “razoavelmente leve” pelo “leve”. Ao índice 20 foi atribuída a
expressão verbal de “máximo esforço”. Este último patamar refere-se a um
género de “máximo absoluto”, uma intensidade que a maioria das pessoas
jamais terá atingido. No fundo, este índice constitui um patamar hipotético.
Deste modo, de acordo com a definição e instruções fornecidas, o 19 deve ser
o índice mais elevado que o indivíduo experimenta (Borg, 2000).
Figura 4. Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg, com 15 índices de esforço percebido
(Borg, 2000).
Williams et al. (1994) referem, que a EPSE de Borg de 6 a 20 foi
desenhada para indivíduos do sexo masculino e de meia-idade, pelo que
propuseram a elaboração de uma nova escala que consideraram mais
apropriada para as crianças. Esta escala, que pode ser observada na Figura 5,
foi denominada Escala de Percepção Subjectiva de Esforço para Crianças.
6 Sem nenhum esforço 7 Extremamente leve 8 9 Muito leve 10 11 Leve 12 13 Um pouco intenso 14 15 Intenso (pesado) 16 17 Muito intenso 18 19 Extremamente intenso
20 Máximo esforço Gunar Borg, 1970, 1985,
1998
44
Figura 5. Escala de Percepção Subjectiva de Esforço para Crianças (Williams et al. 1994)
Para além das referidas escalas, Borg, elaborou ainda a designada Escala
de Categoria-Relação (Figura 6), constituída por 10 índices Borg (citado por
Russel, 1997).
Figura 6. Escala de Categoria-Relação, com 10 índices (Robertson et al., 1998)
Borg (citado por Williams et al., 1994) refere que a EPSE de 6 a 20 é a
mais utilizada e a mais conhecida de todas. Independentemente da escala
seleccionada, importa sublinhar a sensibilidade deste método de avaliação,
uma vez que os avaliados, por várias razões (como, por exemplo, alterações
emocionais) poderão fornecer informações inválidas. Para evitar interferências
externas que coloquem em causa a fiabilidade do método, é fundamental
respeitar as regras estabelecidas para a sua aplicação. Em primeiro lugar, o
1 Muito, muito fácil 2 Muito fácil 3 Fácil 4 Algum esforço
5 Inicio do Forte 6 Um pouco mais Forte 7 Forte
8 Muito Forte 9 Muito, muito forte
10 Tão forte que vou parar
0 Absolutamente nada “Nehuma intensidade” 0,5 Extremamente fraca Apenas perceptível 1 Muito fraca 2 Fraca Leve 3 Modera 4 5 Forte Pesada 6 7 Muito forte 8 9 10 Extremamente forte “mais intensa” • Máximo A mais alta possível
45
avaliado deverá ser informado sobre o porquê da sua aplicação, quando e
como decorrerá. As informações dadas sobre o funcionamento da escala
devem ser simples, claras e de fácil interpretação (Borg, 2000). Podem ser
utilizados dois protocolos para a EPSE, o protocolo de resposta e o protocolo
de reprodução. No primeiro o investigador coloca o sujeito perante vários
exercícios e pede para que este atribuía um índice da escala ao esforço
percebido. No segundo protocolo o investigador propõe um dado índice da
escala e o sujeito ajusta o exercício para atingir a intensidade proposta
(Russell, 1997).
Um estudo desenvolvido por Robertson et al. (1996) procurou verificar a
validade da EPSE de Borg (6 a 20) na exercitação em ergómetro de MS e MI
em meio aquático. Após a sua concretização os autores concluíram que a
escala de EPSE de Borg (6 a 20) é válida para medir a percepção de esforço
nos referidos exercícios realizados no meio aquático. Na revisão de literatura
realizada verificamos que esta escala tem sido frequentemente utilizada em
exercícios aquáticos para avaliação da intensidade de esforço (Barbosa et al.,
2007; Costa et al., 2008; Dowzer et al., 1999; Finkelstein et al., 2006; Graef &
Kruel, 2006; Grebe, 1994; Heithold & Glass, 2002; Nakanishi et al., 1999;
Neves & Doimo, 2007; Nunes, 2003; Rutledge et al., 2007; Scartoni et al.,
1998; Shono et al., 2000; Silva et al., 2007; Silvers et al., 2007; Svedenhag &
Seger, 1992) . De acordo com o ACSM (2000) para sujeitos jovens e
clinicamente saudáveis, durante um programa de actividade física orientada
para a saúde, a percepção subjectiva de esforço deve variar entre os 14 e os
16 valores.
2.7.1.2. Frequência cardíaca
A FC pode ser definida como o número de contracções ventriculares do
coração por minuto (ACSM, 2005; Astrand & Rodahl, 1987). A sua medição
poderá ser realizada por diferentes técnicas, que incluem a palpação arterial, a
auscultação com estetoscópio, a realização de electrocardiogramas e ainda a
medição por sistemas de telemetria, ou seja, por cardiofrequêncimetros
(ACSM, 1998, 2005, 2006; Astrand & Rodahl, 1987; Magel, 1970). Como
46
referimos anteriormente, numa aula podem ser utilizados vários indicadores
fisiológicos para avaliar a intensidade do esforço. A FC surge como um dos
indicadores mais utilizados e mais descritos, facto que poderá ser justificado
pela facilidade e reduzido custo da sua medição, comparativamente com outros
métodos (Barbosa et al., 2007; Graef & Kruel, 2006). A sua relação directa com
a intensidade do exercício tem sido descrita por inúmeros autores (Gastin,
1994; Holmer & Bergh, 1974; Wilmore & Costill, 2001). Segundo o ACSM
(2006), a FC tem sido utilizada como um indicador da intensidade do exercício
devido à sua relativa relação de linearidade com VO2max. Esta relação foi
observada por Bell e Bassey (1994), num estudo realizado, com dez mulheres,
em diferentes estilos de dança e num teste de step. Outro estudo desenvolvido
Berry et al. (1992), comparou a dança aeróbica e a corrida em tapete rolante,
tendo sido observada uma relação de linearidade entre a FC e VO2max.
Segundo Thomsen e Ballor (1991) a referida linearidade é comprometida para
valores de FC superiores a 90% da FCmax. Relativamente ao exercício
aquático, McArdel et al. (1971) referem a existência de uma relação de
linearidade entre FC e VO2max em água, á semelhança do que acontece em
terra. Em estudos realizados Sheldahl et al. (1984) concluíram que, em
repouso, a relação entre VO2 e FC é semelhante na água e em terra. Eckerson
e Anderson (1992), realizaram um estudo com 60 mulheres, comparando a FC
e o VO2max obtido em exercício aquático aeróbio e um teste incremental em
tapete rolante. Os resultados deste estudo demonstram a inexistência de uma
relação de linearidade entre a FC e o VO2max. Segundo Gastin (1994) a
relação de linearidade da FC com a intensidade do exercício só é mantida para
esforços, com uma intensidade compreendida entre 45-90% do esforço
máximo.
Actualmente, a utilização da FC enquanto indicador de intensidade de
esforço, parece estar limitada pela sua sensibilidade a factores como a idade, a
posição corporal, o nível de aptidão cardiorrespiratória, os estados emocionais
e as influências ambientais (Kruel, 1994). Em termos ambientais, sabe-se que
o sistema cardiorrespiratório reage de forma diferenciada em situação de
imersão, de repouso ou exercício resultado da especificidade das propriedades
físicas da água, como por exemplo a força hidrostática (Avellini et al., 1983;
47
Barbosa & Queirós, 2005; Kruel, 2000; Reilly et al., 2003), de tal modo que a
imersão de seres humanos constitui uma área de estudo da fisiologia
cardiovascular (Begin et al., 1976; Epstein et al., 1976). Entre as alterações
sofridas pelo sistema cardiovascular aquando da imersão, a FC tem sido alvo
de varias pesquisas, existindo alguma controvérsia nos resultados encontrados
por diferentes autores. Enquanto alguns estudos relatam a existência de uma
diminuição da FC em imersão, também denominada bradicardia reflexa de
mergulho (Epstein et al., 1976; Heigenhauser et al., 1977; Holmer & Bergh,
1974; Irving, 1963; Kruel, 2000; L. F. M. Kruel et al., 2002; Magel & Faulkner,
1967; McArdle et al., 1971; Olsen et al., 1962; Scholander et al., 1962;
Svedenhag & Seger, 1992; Town & Bradley, 1991) outros estudos relatam
valores de FC superiores em imersão, denominada taquicardia, (Denison et al.,
1972; Johnson et al., 1977; Kenny et al., 1996) ou nenhuma alteração (Begin et
al., 1976). Apesar das diferenças nas conclusões dos diferentes autores, a
maioria dos estudos parece tender para a existência de uma bradicardia reflexa
de mergulho. Este efeito é explicado pelo aumento do volume sanguíneo
central, devido a um aumento do retorno venoso (dos MI para a região central),
induzido pela acção da pressão hidrostática sobre as regiões do corpo imerso
(Avellini et al., 1983; Barbosa & Queirós, 2005; Kruel, 2000; Reilly et al., 2003)
e pela vasoconstrição periférica decorrente da reduzida temperatura da água
(McArdle et al., 1976). Com o aumento do volume plasmático central, ocorre
um aumento do débito cardíaco (DC) que, por sua vez leva, à estimulação dos
baroreceptores que determinam uma diminuição das resistências periféricas e
consequentemente uma diminuição da FC (Watenpaugh et al., 2000). Em
alguns estudos onde foi verificada uma redução da FC em imersão (Holmer,
Lundin et al., 1974; Holmer, Stein et al., 1974; Kruel, 2000; Magel & Faulkner,
1967; McArdle et al., 1971; Ritchie & Hopkins, 1991), foram observadas
diferentes magnitudes desta redução em exercício (Quadro 3), a diferentes
profundidades (Quadro 4) e a diferentes temperaturas da água (Quadro 5).
48
Quadro 3. Quadro sinóptico da diminuição da frequência cardíaca (FC) durante a imersão, em exercício. Autor e Ano Área de estudo
McArdel et al. (1971)
FC média inferior 9 a 13 bpm na natação comparativamente com a caminhada em tapete rolante FCmax inferior 22 bpm na natação comparativamente com a caminhada em tapete rolante
Dixon e Faulkner (1971)
FCmax inferior 12 bpm para atletas e 22 bpm para não atletas, no nado amarrado comparativamente com a corrida em tapete rolante
Holmer et al. (1974)
FCmax inferior 15 bpm num teste de esforço máximo na natação em piscina de fluxo (swimming flume) comparativamente com um teste de esforço máximo de corrida em tapete rolante
Holmer et al. (1974)
FC inferior a 12 bpm em testes submáximos e máximos na natação em piscina de fluxo (swimming flume) comparativamente com testes submáximos e máximos realizados na corrida em tapete rolante
Ritchie e Hopkins (1991)
FC media inferior 17 bpm durante a corrida em águas profundas comparativamente com a corrida em tapete rolante
Kruel (2000)
FC inferior 9 a 25 bpm para os exercícios de hidroginástica com imersão até à cicatriz umbilical e ombro comparativamente com os mesmos exercícios realizados fora de água
Quadro 4. Relação entre o nível de imersão corporal e a diminuição da frequência cardíaca (FC, bpm) relativamente à condição fora de água.
Pescoço Ombro com membros superiores fora de água Ombro Apêndice
xifóide Cicatriz umbilical Anca Joelho
Kruel (1994)
16 12 17 16 13 9 2
Coertijens et al. (2000) 13 13 13 13 11 8 0
Kruel et al. (2002)
14 13 13 14 11 8 1
49
Quadro 5. Relação entre a temperatura da água (ºC) e o decréscimo da frequência cardíaca (FC, bpm).
Autor e ano Área de estudo Temperatura de água Diminuição da FC
Holmer e Bergh (1974) Natação De 34 para 26 De 26 para 18 De 34 para 18
7 8
15
McArdel et al. (1976) Cicloergômetro De 33 para 25 De 25 para 18 De 33 para 18
10 5
15
McMurray e Horvath (1979) Cicloergômetro
De 35 para 30 De 30 para 25 De 25 para 20 De 35 para 20 De 30 para 20
6 11 2
19 13
2.8. Avaliação cardiorrespiratória
Do ponto de vista da fisiologia, todas as actividades físicas com duração
superior a 2 min estão dependentes da presença de oxigénio (O2) no músculo
activo, uma vez que a produção de energia é maioritariamente assegurada pela
mitocôndria. Deste modo, a capacidade de transporte de O2 para o músculo
activo e a sua extracção nesse tecido, constituem-se como factores limitativos
do sistema oxidativo (Brooks et al., 2000). De acordo com Santos (2002a), a
capacidade humana para desenvolver esforços prolongados esta directamente
relacionada com a potência do metabolismo oxidativo, cujo conceito chave é o
VO2max. Vários autores têm defendido a utilização do VO2max, como o melhor
indicador da capacidade cardiorrespiratória de um sujeito (ACSM, 2005; Brooks
et al., 2000; Shephard, 1987; Taylor et al., 1955; Wilmore & Costill, 2001). Para
Ekblom (1986), o VO2max corresponde ao mais alto pico de consumo de
oxigénio que um sujeito pode obter durante um exercício dinâmico, solicitando
grandes massas musculares, durante alguns minutos, em condições normais
ao nível do mar. Santos (2002a) define o VO2max, como a taxa máxima de
captação e utilização do O2 durante um exercício, que se prolongue mais ou
menos no tempo. De acordo com o mesmo autor, o VO2max está directamente
relacionado com o DC, que é, por sua vez, função do volume sistólico (VS) e
da FC, e com a diferença artério-venosa (a - v O2max) [VO2max = DC x (a - v)
O2max]. Quando comparamos as definições apresentadas sobre VO2max e a
proposta pelo ACSM (2006) e por Marques (2003) para a capacidade
cardiorrespiratória parecem existir semelhanças entre ambas. Segundo o
50
ACSM (2006) e Marques (2003), a capacidade cardiorrespiratória pode ser
definida como a capacidade de realizar exercício, dinâmico, de intensidade
moderada, com a solicitação de grandes massas musculares, durante um
período de tempo prolongado. A capacidade cardiorrespiratória é,
simultaneamente, uma componente da aptidão física associada à saúde e ao
rendimento, como tal parece fazer sentido que a sua avaliação seja feita tanto
para exercícios que visam a saúde como para aqueles que objectivam a
performance. Pois, em ambos os casos será permitida uma prescrição mais
precisa e individualizada do exercício (Shephard, 1987). Brooks et al. (2000)
referem que o VO2max representa, não só um importante parâmetro do
metabolismo aeróbio, mas também uma boa medida da aptidão física na
sociedade contemporânea, na qual as doenças cardiovasculares constituem a
maior ameaça a saúde dos indivíduos. A este respeito o ACSM (2005)
apresenta três razões que justificam a avaliação da capacidade
cardiorrespiratória, nomeadamente a sua importância na prescrição e
programação do exercícios, na motivação induzida aos praticantes através dos
feedbacks acerca do seu estado inicial e evolução e ainda na prevenção de
eventuais problemas de saúde (e.g. doenças cardiovasculares).
A estimação do VO2max poderá ser realizada de forma directa ou
indirecta. A avaliação directa do VO2max é realizada através de ergómetros
variados e espirómetros com sensores electrónicos de gases determinando,
em intervalos regulares, os volumes ventilatórios, O2 consumido e o dióxido de
carbono (CO2) produzido, entre outros factores dependentes destes
parâmetros respiratórios. Esta avaliação é processada em ambiente
laboratorial, solicitando, como tal, a presença de profissionais especializados
(Brooks et al., 2000). Os resultados obtidos podem ser analisados em termos
qualitativos, com base em tabelas de valores normativos de VO2max para as
diferentes idades. No entanto, atendendo ao elevado custo e dificuldade de
aplicação, da ergoespirometria, os testes indirectos são, habitualmente, mais
utilizados (Brooks et al., 2000; Fletcher et al., 1996; Powers & Howley, 2007;
Rondon et al., 1998; Wilmore & Costill, 2001).
51
2.9. Avaliação da capacidade anaeróbia
De uma forma geral, a investigação com vista à melhoria da saúde e
aptidão física revela uma orientação tendencial para a avaliação da capacidade
aeróbia. Segundo Ribeiro (2007), o principal motivo para a escassez de
estudos sobre a resposta a esforços de natureza anaeróbia parece dever-se à
natureza invasiva das metodologias mais directas (ressonância magnética
nuclear e análises histoquímicas e bioquímicas de amostras musculares
recolhidas por biopsia) e à dificuldade de validação das metodologias
indirectas, sejam elas laboratoriais ou de terreno. A mesma autora refere que
estas avaliações tornam-se ainda mais difíceis no meio aquático, devido às
suas características específicas e à necessidade de adaptação de
equipamentos e instrumentos desenvolvidos para aplicação em seco e em
situações laboratoriais. Entre os problemas apontados à avaliação da
capacidade anaeróbia Inbar e Bar-Or (1986) relatam a falta de critérios
aceitáveis que permitam definir o que constituem os vários tipos de habilidade
anaeróbia e as diferenças existentes entre os vários instrumentos de medida,
tornando mais difícil a comparação de resultados. Medbo e Tabata (1989)
acrescentam ainda as dificuldades relacionadas com a forte participação
aeróbia em esforços intensos, que pode atingir até 70% ou 80% em esforços
contínuos de 2 min de duração ou em esforços repetidos. A descrição dos
principais métodos directos e indirectos de medição da capacidade anaeróbia
tem sido realizada por vários autores (Green, 1995; Malina et al., 2004;
Rowland, 1996; Van Praagh & Dore, 2002). Entre os métodos mais directos,
anteriormente referidos, a biopsia muscular e a ressonância têm sido utilizadas
em estudos sobre a capacidade anaeróbia em vários escalões etários, não só
em desportistas mas também em sedentários (Bell et al., 1980; Hancock et al.,
2005; Inbar et al., 1983; Jacobs et al., 1982; Miller et al., 1988; Zanconato et al.,
1993). Os marcadores utilizados para a avaliação da capacidade anaeróbia
habitualmente mensurados são os substratos deplecionados e os produtos
intermédios ou finais das cadeias metabólica, enzimas alostéricas e o equilibrio
àcido-base do meio ambiente intra-celular (Ribeiro, 2007). Segundo Shephard
(1987) a capacidade anaeróbia pode ser determinada pela acumulação dentro
do músculo activo de uma metabolito denominado La-. A produção de La-
52
resulta da degradação de um substrato energético, a glicose, em hipoxia, daí
que as suas concentrações máximas pós-exercício sejam utilizadas como
indicadores da participação do metabolismo anaeróbio na produção de energia
para a contracção. No entanto, importa sublinhar que, as concentrações de La-
sanguíneo medidas não são apenas o reflexo da sua produção no músculo,
mas o resultado de três processos, a produção de La- no músculo, o seu
transporte para a corrente sanguínea e a sua remoção sanguínea ou clearence
(Weltman, 1995). Assim, o La- pode ser entendido, apenas, como uma medida
parcial da quantidade de trabalho anaeróbio realizado, podendo ainda ser
afectado por factores que contribuem para a desvalorização da informação
dada por este metabolito. Entre os diversos factores mencionados, podemos
destacar a dieta alimentar (consumo de café e hidratos de carbono), factores
ambientais (temperatura, altitude) e o nível de treino (Weltman, 1995). Ribeiro
(2007) refere ainda que o La- é uma medida global, ou seja, não existe uma
distinção entre a produção realizada nas diferentes partes do corpo, mas
apenas o seu somatório. Esta informação diferenciada sobre a produção de La-
poderá ser importante, sobretudo em modalidades onde a fadiga localizada é
permanente.
Apesar de todas as limitações apresentadas relativamente à utilização do
La- como indicador, ele constitui o metabolito resultante do metabolismo
anaeróbio, mais facilmente doseável. E tal vez por esse motivo, muito dos
estudos, até hoje, continuem a utilizá-lo com esta função.
2.9.1. Avaliação da capacidade anaeróbia em praticantes de hidroginástica
Nos anos 90 as guidelines sobre a actividade física atribuíram maior
relevo às actividades de intensidade moderada, em detrimento das actividades
vigorosas (Pate et al., 1995). Estudos mais recentes têm demonstrado a
importância das actividades vigorosas na redução incidência de acidentes
cardiovasculares (Manson et al., 2002) assim como redução do índice de
mortalidade (Lee & Paffenbarger Jr., 2000). O'Donovan et al. num estudo,
realizado em 2005, demonstram que o exercício de intensidade elevada parece
ser mais eficaz no desenvolvimento da capacidade cardiorrespiratória do que o
53
exercício moderado, para o mesmo custo energético. Todos os autores
anteriormente referidos apresentaram dados que justificam a possibilidade e a
importância da prática de exercícios vigorosos. Todavia, é necessário algum
cuidado na interpretação do termo vigoroso, pois por vezes é utilizado para
definir um esforço aeróbio de intensidade elevada e não um esforço anaeróbio.
De facto, na literatura parece existir um vazio referente ao desenvolvimento e
avaliação da capacidade anaeróbia na área do exercício para a saúde. Por
conseguinte, na investigação realizada em hidroginástica a estimação de
indicadores de desempenho anaeróbio é, de igual forma, escassa.
2.10. Factores de risco associados à pratica da hidroginástica e seu
controlo
Do ponto de vista do exercício em geral, o ACSM (2003) refere alguns
riscos associados à prática de exercício vigoroso, nomeadamente a ocorrência
de eventos cardiovasculares em pessoas com cardiopatia conhecida ou oculta.
Segundo Thompson (1996), os aumentos bruscos da FC e da tensão arterial
(TA), o espasmo induzido das artérias coronárias em segmentos arteriais
enfermos e o acotovelamento das artérias coronárias epicárdias, induzidos pelo
exercício físico vigoroso, poderão desencadear a ruptura da placa
aterosclerótica vulnerável e oclusão trombótica de um vaso coronário. O
aumento da activação das plaquetas, que poderá desencadear uma trombose
coronária, foi também relatado em indivíduos sedentários que realizam de
forma esporádica exercício de alta intensidade (Kestin et al., 1993). Segundo o
ACSM (2006) o risco da prática de exercício para qualquer população depende
da prevalência de doenças cardiovasculares dos sujeitos.
Neste sentido, a medição da TA e a estimação do duplo produto (DP)
parecem ser dois métodos importantes no controlo da intensidade do exercício
físico e de eventuais riscos associados a sua prática. Segundo o ACSM (2003),
é considerada uma resposta normal ao exercício a elevação progressiva da
tensão sanguínea, tipicamente de 10 ± 2 mmHg por equivalente metabólico,
com um possível platô durante o exercício máximo. Num teste de esforço, o
seu término deverá ocorrer quando os valores de TA sistólica (TAS) forem >
250 mmHg. A ocorrência de uma hipotensão durante o esforço (TAS não sobe
54
nem desce [> 10 mmHg ]) pode significar isquemia do miocárdio e/ou na
disfunção ventricular esquerda. Quanto à TA diastólica (TAD) a sua resposta
normal ao exercício consiste numa ausência de mudança ou queda. Num teste
de esforço uma TAD > 115 mmHg representa o término do mesmo. Um
aumento da TAD > 15 mmHg durante um teste em tapete rolante poderá
sugerir uma doença arterial coronária grave. Segundo White (1999), a
ocorrência de eventos cardiovasculares como a isquemia miocárdia transitória,
o enfarte agudo do miocárdio parecem estar relacionados com o insuficiente
fornecimento de O2 ao miocárdio, em situações de grande solicitação deste
músculo. O mesmo autor refere, ainda, que o consumo de oxigénio pelo
miocárdio (MVO2) tem uma correlação positiva com o DP.
De acordo com a revisão da literatura realizada e como mencionado sub-
capítulo 2.6. referente aos benefícios da hidroginástica, poucos autores
parecem ter reflectido a cerca dos factores de risco associados à prática desta
actividade. Aparentemente apenas, AEA (2001), Figueiredo (1996) e Sanders e
Rippe (2001) referiram-se a alguns exercícios menos aconselhados e a contra-
indicações para a prática da hidroginástica.
2.10.1.Controlo da tensão arterial
A TA é definida como a força exercida pelo sangue, por unidade de
superfície da parede vascular, traduzindo a interacção do DC com a resistência
periférica sistémica. A TA é expressa pela TAS e pela TAD, enquanto a
primeira se refere à mais alta tensão nas artérias, intimamente associada à
sístole ventricular, a segunda reflecte a menor tensão nas artérias, resultado da
diástole ventricular cardíaca (Powers & Howley, 2007; Wilmore & Costill, 2001).
A TA média (TAM) representa a tensão média exercida pelo sangue, quando
este percorre as artérias, podendo ser calculada através da seguinte equação
matemática: TAM = [0,33 (TAS – TAD)] + TAD. A medição da TA é
fundamental, uma vez que doenças como a HTA são verdadeiros “assassinos
silenciosos”, ou seja, como a HTA é tipicamente assintomática, a maioria dos
indivíduos desconhece a sua existência. Para além disto, esta doença constitui
um dos mais importantes problemas actuais de saúde pública sendo, a doença
55
cardiovascular mais comum e o factor de risco quantitativamente mais influente
no desenvolvimento da doença coronária e da insuficiência cardíaca (Polónia et
al., 2006). Segundo Chobanian et al.(2003), a HTA constitui a forma mais
prevalente da doença cardiovascular, afectando aproximadamente um bilião de
pessoas em todo o mundo.
Em Portugal a prevalência da HTA na população adulta ultrapassa os
40% e o acidente vascular cerebral, relacionado com a mesma, constitui a
principal causa de morte (Polónia et al., 2006). A avaliação da TA pode ser
realizada de forma indirecta através do método auscultatório, sendo a sua
fiabilidade cerca de 10%, por comparação com a avaliação directa realizada
por introdução de cateter de pressão na artéria (ACSM, 2005). A avaliação
indirecta é realizada com recurso a um esfigmomanómetro e a um estetoscópio
(Figura 7). O esfigmomanómetro é constituído por uma braçadeira e um
manómetro, de mercúrio ou aneróide (ACSM, 2005; Carmona, 2006). Devido à
toxicidade ambiental do mercúrio, os esfigmomanómetros deste tipo têm sido
substituídos por esfigmomanómetros aneróides ou digitais (ACSM, 2005;
Carmona, 2006). Os esfigmomanómetros de mercúrio são utilizados mais em
exercício, enquanto os aneróides são utilizados sobretudo em repouso (ACSM,
2005). Os dois aparelhos estão sujeitos a erros de medição, associados ao
aparelho em si e ao observador. Todavia os esfigmomanómetros de mercúrio,
comparativamente com os aneróides, têm sido apontados como mais fiáveis
(Carmona, 2006). Aquando de uma avaliação é necessário considerar alguns
aspectos que poderão influenciar os resultados da TA obtidos, nomeadamente
a temperatura da sala que deve estar entre os 21 e 23 ºC, a posição corporal
do indivíduo (MI descruzados e MS relaxado), o consumo de estimulantes nos
30 min anteriores à avaliação (café, álcool, tabaco etc.) e a realização de
exercício extenuante nos 60 min anteriores à medição (ACSM, 2005; Carmona,
2006).
56
Figura 7.Medição da tensão arterial através do esfigmomanómetro de mercúrio (Powers & Howley, 2007).
No momento da medição da TA, o avaliador coloca a braçadeira na zona
superior do MS, ao nível do bicípite. Posteriormente, o avaliador faz insuflar a
braçadeira através da compressão da bomba de ar, de tal modo que a pressão
dentro da braçadeira bloqueia a circulação de sangue na artéria braquial.
Assim que a pressão na braçadeira é superior à TAS, a artéria mantém-se
fechada (não passando nenhum sangue no local do seu fecho) e nenhum som
é ouvido através do estetoscópio, colocado sobre a fossa anterocubital.
Quando a pressão da braçadeira (por saída do ar) diminui e iguala a pressão
na artéria, ouve-se um primeiro som através do estetoscópio, que corresponde
à TAS. O som de Korotkoff, ouvido através do estetoscópio durante a medição
da TA deriva da turbulência do sangue na artéria, causada pelo movimento do
sangue de uma zona de alta pressão para uma zona de baixa pressão. Quando
o som de Korotkoff desaparece significa que a artéria está completamente
aberta e nesse momento encontramos a TAD (ACSM, 2005). Para interpretar
os valores obtidos na avaliação da TA é possível recorrer a diferentes tabelas,
as quais permitem classificar dos valores obtidos (Quadro 6), ou que conjugam
a classificação destes valores com outros factores de risco cardiovascular
indicando o respectivo nível (Quadro 7).
Braçadeira insuflável
Válvula de controlo do ar
Bomba de ar com válvula
Coluna de mercúrio
57
Quadro 6. Quadro de classificação dos valores da tensão arterial sistólica e diastólica, em mmHg, segundo a European Society of Hypertension-European Society of Cardiology (2003).
Quando os valores da tensão arterial sistólica e diastólica de um indivíduo se situam em diferentes escalões, atribui-se a classificação de hipertensão correspondente ao escalão mais elevado. A tensão arterial sistólica isolada também pode ser graduada (grau 1,2,3) de acordo com os valores da tensão arterial sistólica nos limites indicados, sendo os valores diastólicos fornecidos < 90. Quadro 7. Quadro de classificação dos valores da tensão arterial sistólica (TAS) e diastólica (TAD), em mmHg, com outros factores de risco de acidente cardiovascular para determinação do nível de risco, segundo European Society of Hypertension-European Society of Cardiology (2003).
Outros factores de risco e história de doença prévia
Normal (TAS* 120-129 ou TAD** 80 –
84)
Normal Alta (TAS 130-139 ou TAD 85-89)
Grau 1 (TAS 140-159 ou TAD 90-99)
Grau 2 (TAS 160-179 ou TAD 100-
109)
Grau 3 (TAS ≥ 180 ou
TAD ≥ 110)
Sem outros factores de risco
Risco na média
Risco na média
Baixo risco acrescido
Moderado risco acrescido
Alto risco acrescido
1-2 factores de risco
Baixo risco acrescido
Baixo risco acrescido
Moderado risco acrescido
Moderado risco acrescido
Muito alto risco acrescido
2 ou mais factores de risco ou lesão do órgão alvo ou diabetes
Moderado risco acrescido
Alto risco acrescido
Alto risco acrescido
Alto risco acrescido
Muito alto risco acrescido
Doenças associadas com manifestações clínica
Alto risco acrescido
Muito alto risco acrescido
Muito alto risco acrescido
Muito alto risco acrescido
Muito alto risco acrescido
A medição da TA torna-se mais difícil quando realizada durante o
exercício (ACSM, 2005), sobretudo em água devido, à dificuldade de
impermeabilização do material. De acordo com ACSM (2005) os valores da
TAS deverão aumentar durante o exercício aeróbio enquanto, os valores da
TAD deverão manter-se ou diminuir ligeiramente. Uma resposta anormal da
TAS durante o exercício poderá predizer uma futura HTA de repouso. Daida et
al. (1996) apresentam uma tabela detalhada sobre a resposta cardiovascular
(FC e TA) a um exercício máximo em tapete rolante (Quadro 8).
Escala Sistólica (mmHg) Diastólica (mmHg) Óptima <120 <80 Normal 120-129 80-84 Normal – alta 130 – 139 85 - 89 Grau 1 – Hipertensão ligeira 140 – 159 90 – 99 Grau 2 – Hipertensão moderada 160 – 179 100 – 109 Grau 3 – Hipertensão severa ≥180 ≥110 Tensão arterial sistólica isolada > 140 <90
58
Quadro 8. Resposta cardiovascular, mmHg) num exercício máximo em tapete rolante, em diferentes escalões etários (Daida et al., 1996). Legenda: TAS – tensão arterial sistólica; TAD – tensão arterial diastólica. Homens Mulheres Idades TAS TAD TAS TAD 18-29 182 ± 22 69 ± 13 155 ± 19 67 ± 12 30-39 182 ± 20 76 ± 12 158 ± 20 72 ± 12 40-49 186 ± 22 78 ± 12 165± 22 76 ± 12 50-59 192 ± 22 82 ± 12 175± 23 78 ± 11 60-69 195 ± 23 83 ± 12 181± 23 79 ± 11 70-79 191± 27 81 ± 13 196± 23 83 ± 11
De acordo com Wilmore e Costill (2001), nas actividades de resistência
que envolvem todo o corpo, a TAS aumenta proporcionalmente com a
intensidade do exercício, de tal modo que, TAS de repouso de 120 mmHg
poderão ultrapassar os 200 mmHg. Em desportistas saudáveis, com a
realização de exercícios máximos, foram já registrados valores de TAS de 240
e 250 mmHg. A variação da TAD em exercício é reduzida quando comparada
com a TAS e a FC (Pollock et al., 2000) de tal forma que, incrementos da TAD
iguais ou superiores 15 mmHg são consideradas respostas anormais ao
exercício, sendo uma das várias indicações de que é necessário cessar o
mesmo (Wilmore & Costill, 2001). Segundo pesquisas realizadas por
MacDougall et al. (1985) em exercícios de levantamento de pesos, a TA poderá
atingir valores superiores às registradas em actividades aeróbias, tendo sido
obtidos valores de 480/350 mmHg, numa amostra onde o valor médio foi de
320/250 mmHg. Os mesmos autores observaram ainda que durante os
exercícios de força tanto a TAS como a TAD tendem aumentar, provocando um
aumento expressivo da TAM, ainda que por pouco tempo. Este estudo
demonstrou, ainda, uma resposta tensional superior nos exercícios realizados
com os MS, para o mesmo VO2. Este facto dever-se-á, provavelmente, a uma
menor massa muscular, um menor número de vasos, uma maior resistência e
consequentemente, a um aumento da TA para vencer esta resistência (Daida
et al., 1996).
2.10.2.O Duplo produto como indicador do esforço cardiovascular
Powers e Howley (2007) referem que o aumento da FC e da TAS, que
ocorre durante o exercício provoca um aumento do trabalho cardíaco. Este
59
aumento da exigência cardíaca, durante o exercício, poderá ser estimado
através do DP. Assim sendo, o DP constitui-se como o produto da FC e da TAS
(DP = FC x TAS x 10 -2)(ACSM, 2005; Hermida et al., 2001; Powers & Howley,
2007). A literatura parece consensual relativamente à positiva correlação
existente entre o DP e o MVO2, podendo o DP ser interpretado como a
expressão da potência do coração (ACSM, 2005; Globel et al., 1978; Hermida
et al., 2001; Katz & Feinberg, 1958; Wilmore & Costill, 2001). O DP tem sido,
assim, considerado o melhor indicador não invasivo de avaliação do trabalho
do miocárdio, durante o repouso ou o exercício, podendo ser também utilizado
como indicador da sobrecarga cardíaca em exercícios de força (McCartney,
1999; Polito et al., 2004). Observando o Quadro 9 apresentado por Powers e
Howley (2007), podemos verificar que aumentando a intensidade do exercício,
e consequentemente, a FC e a TAS, o trabalho do coração também aumenta,
de tal forma que, em repouso, o valor do DP é cinco vezes menor do que em
exercício.
Quadro 9. Alterações no duplo produto (bpm. mmHg) durante um teste de exercício incremental, em mulheres saudáveis com 21 anos de idade (Powers & Howley, 2007).
Condições Frequência cardíaca (bpm)
Tensão arterial sistólica (mmHg) Duplo Produto
Repouso 75 110 8.250 Exercício 25% VO2max 100 130 13.000 50% VO2max 140 160 22.400 75% VO2max 170 180 30.600 100% VO2max 200 210 42.000
O cálculo do DP, como medida do esforço cardíaco, pode ser utilizado
como uma guideline para o acompanhamento e prescrição do exercício em
populações de risco (Powers & Howley, 2007). Contudo, o comportamento do
DP não depende apenas da intensidade, mas também do tipo e duração do
esforço (Polito et al., 2004). A ideia de que as actividades aeróbias são mais
seguras para indivíduos com problemas cardíacos foi sendo consolidada ao
longo dos tempos, de tal forma que os exercícios de força chegavam a ser
contra-indicados (ACSM, 1993). Contudo segundo Pollock et al. (2000) a taxa
de trabalho imposta ao miocárdio é menor em exercícios resistivos do que nos
aeróbios, representada por um menor DP. Benn et al. (1996) num estudo
realizado com homens idosos observaram que o DP correspondente a tarefas
60
realizadas em escadas foi cerca do dobro do valor obtido no exercício de flexão
do cotovelo, com 70% da carga máxima. Do mesmo modo, Bermon et al.
(2000), num estudo realizado com idosos, corroboram esta ideia concluindo
que idosos saudáveis, toleram exercícios com pesos sem sinais de isquemia
cardíaca. Outros autores relatam, ainda, que o DP será menor em contracções
estáticas máximas e em exercícios dinâmicos resistidos, em comparação com
actividades aeróbias de intensidade moderada (DeBusk et al., 1978; Pollock et
al., 2000). A este respeito Wilmore e Costill (2001) referem também que em
exercícios estáticos ou dinâmicos de levantamento de pesos, ou utilizando a
parte superior do corpo, o DP é mais elevado, o que indica um esforço cardíaco
superior.
61
3. Objectivos e hipóteses
Com este trabalho pretendemos caracterizar a resposta fisiológica a dois
picos de exercício aquático de intensidade distinta, associando-os à
possibilidade de ocorrência de acidente cardiovascular em indivíduos
aparentemente saudáveis. A partir da revisão da literatura realizada
estabelecemos os seguintes objectivos:
i) Caracterizar a resposta láctica a um pico de intensidade máxima, com
a duração de 7 min, e a um pico de intensidade supramáxima induzido
através de um exercício aquático intermitente de curta duração;
ii) Caracterizar a FC de esforço correspondente a um pico de
intensidade máxima, com a duração de 7 min, e a um pico de
intensidade supramáxima induzido através de um exercício aquático
intermitente de curta duração;
iii) Caracterizar a resposta tensional a um pico de intensidade máxima,
com a duração de 7 min, e a um pico de intensidade supramáxima
induzido através de um exercício aquático intermitente de curta
duração e associá-la ao risco de ocorrência de acidente
cardiovascular;
iv) Determinar o esforço percepcionado subjectivamente durante um pico
de intensidade máxima, com a duração de 7 min, e durante um pico
de intensidade supramáxima induzido através de um exercício
aquático intermitente de curta duração;
v) Comparar a resposta láctica observada a um pico de intensidade
máxima, com a duração de 7 min e a um pico de intensidade
supramáxima induzido através de um exercício aquático intermitente
de curta duração;
62
vi) Comparar a FC de esforço correspondente a um pico de intensidade
máxima, com a duração de 7 min e a um pico de intensidade
supramáxima induzido através de um exercício aquático intermitente
de curta duração;
vii) Comparar a respostas tensionais a um pico de intensidade máxima,
com a duração de 7 min, e a um pico de intensidade supramáxima
induzido através de um exercício aquático intermitente de curta
duração;
viii) Comparar o esforço percepcionado subjectivamente durante um
pico de intensidade máxima de 7 min, e durante pico de intensidade
supramáxima induzido através de um exercício aquático intermitente
de curta duração;
Considerando a revisão de literatura realizada, a partir do conjunto de
objectivos anteriores geraram-se as seguintes hipóteses:
1: O esforço de intensidade máxima com a duração de 7 min e o esforço de
intensidade supramáxima de curta duração realizados induzem respostas
lácticas elevadas.
Tendo em conta que a participação relativa de cada sistema metabólico
depende da duração e intensidade do esforço espera-se, após realização do
pico de intensidade máxima, uma acumulação de La- próxima ou coincidente
com as concentrações lácticas ao V02max. No pico de intensidade
supramáxima induzido através de um exercício aquático intermitente de
curta duração espera-se que os valores de La- sejam superiores às
concentrações correspondentes ao limiar anaeróbio (LAN).
2: O esforço de intensidade máxima com a duração de 7 min e o esforço de
intensidade supramáxima de curta duração realizados induzem respostas da
FC muito elevadas ou próximas do máximo.
63
3: A resposta da TAS e da TAD após a realização do pico de intensidade
máxima, com a duração de 7 min e do pico de intensidade supramáxima
induzido através de um exercício aquático intermitente de curta duração, é
inversa.
Espera-se que após a realização do pico de intensidade máxima, com a
duração de 7 min e do pico de intensidade supramáxima induzido através de
um exercício aquático intermitente de curta duração que os valores da TAS
aumentem e os valores de TAD diminuam. Tendo em conta esta relação
compensatória entre a TAD e TAS espera-se que o risco de ocorrência de
acidentes cardiovascular nesta amostra seja reduzido.
4: O pico de intensidade supramáxima com 7 min de duração é
percepcionado como máximo e o pico de intensidade máxima induzido
através de um exercício aquático intermitente de curta duração é
percepcionado como extremamente intenso.
Espera-se a relação descrita atendendo ao tempo total de esforço realizado.
5: As concentrações de La- obtidas no pico de intensidade máxima com a
duração de 7 min são superiores às registadas no pico de intensidade
supramáxima induzido através de um exercício aquático intermitente de
curta duração
Prevê-se que no pico intermitente de intensidade supramáxima a duração do
esforço não seja suficiente para o esgotamento do sistema anaeróbio e é
provável que os momentos de pausa permitam a remetabolização de parte
do La- produzido. Por outro lado, prevêem-se concentrações de La- inferiores
no pico intermitente pela aparentemente menor quantidade de massa
muscular envolvida no movimento.
6: Os valores de FC obtidos no pico de intensidade máxima com a duração
de 7 min são superiores aos valores correspondentes ao pico de intensidade
supramáxima induzido através de um exercício aquático intermitente de
curta duração.
De acordo com a literatura os valores de FC são menores na posição
corporal horizontal comparativamente com a vertical e diminuem com a
64
redução da quantidade de massa muscular envolvida no movimento. Como
tal, considerando que o pico de intensidade supramáxima de curta duração
será realizado na posição horizontal e com acção exclusiva dos MI, espera-
se que os valores de FC registados sejam inferiores.
7: Os valores de TA obtidos após o pico de intensidade máxima com a
duração de 7 min são superiores aos valores obtidos após o pico de
intensidade supramáxima induzido através de um exercício aquático
intermitente de curta duração.
À semelhança da FC, a TA é igualmente sensível a variações da posição
corporal e à quantidade de massa muscular envolvida no movimento. Tendo
em conta que o pico intermitente de intensidade supramáxima de curta
duração será realizado na posição horizontal e com acção exclusiva dos MI,
espera-se que os valores de TA registados sejam inferiores. Como tal,
espera-se que o esforço cardiovascular e o risco cardíaco associado sejam
superiores no esforço de intensidade máxima.
8: O pico de intensidade máxima com a duração de 7 min é percepcionado
pelos sujeitos como mais intenso do que o pico de intensidade supramáxima
induzido através de um exercício aquático intermitente de curta duração.
Espera-se a relação descrita atendendo ao tempo total de esforço realizado.
65
4. Metodologia 4.1. Amostra
Para a realização do presente estudo foi utilizada uma amostra de 10
indivíduos adultos saudáveis, do sexo feminino, com uma média de 38.3 ±
9.4 anos. O grupo amostral, em termos antropométricos, apresentou em
média 160.2 ± 6.2 cm de altura e 50.0 ± 8.5 kg de peso. Todos os elementos
da amostra eram praticantes regulares de hidroginástica, apresentando uma
boa capacidade de execução dos movimentos. O grupo participou
voluntariamente no estudo, tendo-se informado e solicitado o consentimento
dos mesmos por escrito. Toda a amostra foi informada sobre a necessidade
de evitar a prática de actividade física intensa nas 24 horas anteriores à
recolha de dados.
4.2. Instrumentos e procedimentos
O presente estudo comportou dois protocolos de avaliação. No primeiro
e no segundo protocolos os indivíduos foram submetidos, durante 15 min, a
vários exercícios, distribuídos por três partes distintas. Na primeira parte foi
realizado um aquecimento, com 3 min de duração e numa intensidade
correspondente ao índice 11 da EPSE de Borg. De seguida foram realizados
5 min de exercícios de intensidade moderada, correspondentes aos índices
13 a 15 da EPSE de Borg. Na terceira parte, no primeiro protocolo foi
realizado um pico de esforço, com 7 min de duração a uma intensidade
correspondente aos índices 18 a 20 da EPSE de Borg. Este pico foi
constituído por um grupo de quatro exercícios caracterizados por uma
grande amplitude do movimento de MS e MI e saltos. Os quatro exercícios
foram: sky saltado, com MS realizando movimentos de ante e retropulsão
com as palmas das mãos em supinação; chuto alto saltado, com MS
executando movimentos frontais alternados; polichinelo saltado e salto com
elevação simultânea dos joelhos, com MS em movimento descendente com
as palmas das mãos em pronação. A terceira parte do segundo protocolo foi
constituída por três repetições de batimento alternados de MI, com a
duração de 30 s alternadas com um intervalo de recuperação com a mesma
66
duração (Figura 8). Durante os dois protocolos os alunos estiveram sujeitos
a uma forte estimulação verbal por parte da equipa de investigação. Todos
os exercícios foram realizados em tempo de água com um ritmo musical de
132 bpm.
Figura 8. Picos de intensidade realizados nos dois protocolos; a) polichinelo saltado; b) batimento alternado de membros inferiores; c) estimulo da equipa de investigação.
Antes da realização dos exercícios foi medida a TA, o La- sanguíneo de
repouso e a FC de repouso em terra e com os sujeitos imersos. Durante a
realização dos exercícios foi registada a FC e os índices da EPSE atribuídos
pelos sujeitos imediatamente após o pico de intensidade máxima e após
cada repetição do exercício aquático intermitente. No final dos exercícios
foram novamente avaliados os níveis de TA e La- sanguíneo.
Os testes foram realizados numa piscina de 25 m de comprimento por
10 m de largura e com uma profundidade, no local onde foi realizada a
avaliação, de 1.10 m (sensivelmente ao nível do apêndice xifóide dos
sujeitos da amostra). A água encontrava-se entre os 30 e os 31ºC.
4.2.1. Registo da altura, peso e composição corporal
Na primeira sessão de avaliação foi realizado o registo das medidas do
peso, altura e composição corporal. A recolha de dados de saúde e prática
desportiva foi feita através de um questionário, cujo preenchimento foi
realizado por um dos membros da equipa de investigação (Figura 9). A
altura (distância, em cm, entre o solo e o ponto anatómico mais elevado –
vértex) foi medida com os praticantes descalços utilizando uma régua
a c b
67
marcada (Figura 9). A determinação da composição corporal foi realizada
pelo método da bioimpedância, utilizando uma balança da marca Tanita-
Inner Scan™, modelo BC531 (Figura 9). O peso dos sujeitos foi determinado
usando a mesma balança.
Figura 9. Recolha de dados para a caracterização da amostra; a) realização do questionário sobre a saúde e prática desportiva; b) medição da altura; c) determinação do peso e da composição corporal.
4.2.2. Determinação da tensão arterial sistólica e diastólica de repouso e pós-esforço
A medição dos valores da TAS e da TAD foi realizada indirectamente,
em repouso e pós-esforço, por dois profissionais de saúde. Para a
determinação dos referidos valores foi utilizado um esfigmomanómetro de
mercúrio Erka, modelo D-83646, por ser considerado mais fiável que o
aneróide (Carmona, 2006), e um estetoscópio Littman Quality ™ (Figura 10).
No repouso foi utilizado o método de medição indicado por Carmona
(2006) para a prática de consultório (Figura 11). Atendendo a estas normas,
os praticantes permaneceram sentados, em repouso, pelo menos durante 5
min. De seguida, o antebraço foi apoiado sobre uma mesa, evitando
esforços isométricos responsáveis pelo aumento significativo dos níveis
tensionais. Para além disto, foi requerido a todos os avaliados que não
falassem aquando da medição, uma vez que este factor influencia os valores
da TA. Os profissionais ajustaram as braçadeiras ao perímetro do braço de
cada praticante com a extremidade inferior acima da fossa anterocubital e
a c b
68
com o seu centro na artéria umeral. Procedeu-se também à colocação do
estetoscópio sobre a artéria umeral, na fossa anterocubital.
Em virtude da impossibilidade de medição da TA em contínuo durante o
exercício, a recolha dos seus valores foi realizada imediatamente após o
esforço (Figura 12). Os sujeitos, no final do esforço máximo de 7 min e da
terceira repetição do exercício aquático intermitente, deslocaram-se
rapidamente para o bordo, colocando o antebraço de medição sobre um step
e uma placa de natação, procurando, deste modo, colocar o braço numa
posição “neutra”, evitando possíveis alterações da TA.
Figura 10. Técnica de medição da tensão arterial em repouso (Carmona, 2006)
Figura 11. Recolha dos valores de repouso da TAS e TAD através de um esfigmomanómetro de mercúrio Erka e de um estetoscópio Littman a) ajuste da braçadeira ao perímetro do braço do praticante; b) apoio do antebraço sobre uma mesa; c) coluna de mercúrio do esfigmomanómetro
a b c
Sentado numa cadeira encostado
Antebraço pousado numa mesa
Centro da braçadeira ao nível do coração
Pés apoiados no solo
69
Figura 12. Recolha dos valores pós-esforço da TAS e da TAD através de um esfigmomanómetro de mercúrio Erka e de um estetoscópio Littman a) colocação do antebraço sobre a plataforma, constituída por um step e uma placa de natação; b) compressão da bomba de ar. 4.2.3. Determinação da lactatemia de repouso e pós-esforço
Os valores de La de repouso e pós-esforço foram determinados
utilizando os mesmos procedimentos para ambos. Os valores de La- foram
determinados pelo método de química seca, utilizando um analisador e La-
da marca Lactate Pro (Arkay, Inc.) e respectivas tiras reactivas. As tiras
reactivas funcionam por meio de uma reacção enzimática. A recolha de
sangue capilar (5 μL) realizou-se através da punção do lóbulo da orelha com
uma lanceta (Heinz Herenz, Germany). A determinação da La pós-esforço
foi realizada imediatamente após o esforço e aos 1 e 3 min de recuperação.
Após os 3 min foram recolhidas amostras de sangue de 2 em 2 min, até ser
encontrado o valor máximo (Figura 13).
Figura 13. Recolha de sangue para a determinação da lactatemia por punção do lóbulo da orelha; a) limpeza da superfície de análise; b) punção do lóbulo da orelha; c) obtenção da gota de sangue; d) análise com Lactate Pro.
a b
b a c d
70
4.2.4. Determinação da frequência cardíaca de repouso (com e sem imersão do corpo) e da frequência cardíaca de esforço
As frequências cardíacas de repouso (com e sem imersão do corpo) e
de exercício foram registadas com um cardiofrequêncimetro da marca Polar,
modelo Vantage NVTM (Finland). Este aparelho é constituído por um cinto
emissor, que é colocado à volta do peito dos indivíduos, sensivelmente ao
nível do apêndice xifóide, e por um relógio receptor, colocado no pulso dos
mesmos (Figura 14).
Figura 14. Constituintes do cardiofrequêncimetro: a) cinto emissor; b) relógio receptor
A FC de repouso foi registada, em terra, com os praticantes sentados
em ambiente calmo após um período de repouso de 5 min. A FC de
repouso, com imersão do corpo, foi registada com os praticantes colocados
de pé, com apoio no bordo, após um período de repouso de 5 min. A
frequência cardíaca de exercício foi registrada de 5 em 5 s. Para análise
gráfica dos registos da FC foram cronometrados os tempos de começo e
término do pico de intensidade de 7 min e do início e término de cada uma
das repetições do exercício aquático intermitente.
No final dos protocolos, os dados armazenados no receptor foram
transferidos para um computador por meio de uma unidade de interface
(Polar Advantage Interfac TM), ligada ao primeiro por meio de um cabo de
conexão. Posteriormente, os dados foram analisados utilizando o software
a b
71
da Polar Precision Performance (Polar Sports Diary e Polar HR Analysis
SW).
A FCmax teórica de cada indivíduo foi estimada de forma a calcular a
percentagem de variação da FC de esforço em relação à FCmax. Para tal foi
utilizada a equação de Tanaka et al. (2001) (FCmax = 208 – 0,7 * idade).
4.2.5. Determinação da Percepção Subjectiva de Esforço A EPSE foi utilizada como forma complementar de determinação da
intensidade do exercício, tendo sido adoptada a escala de Borg, de 6 a 20
(Figura 15). A aquisição da capacidade de utilização desta escala necessita
de um período de aprendizagem e de adaptação à tabela, para que os
indivíduos sejam capazes de classificar a intensidade do esforço de acordo
com cada um dos índices. Neste sentido, sujeitos desta amostra foram
“treinados” em cerca de 8 sessões com a EPSE de Borg, tendo sido utilizado
primeiramente o protocolo de reprodução, ou seja o investigador propôs aos
sujeitos exercícios em diferentes índices da escala e pediu para que os
mesmos sujeitos mantivessem a intensidade do esforço indicada pelo
respectivo índice. Posteriormente, a partir da sexta sessão, foi requerido aos
sujeitos que indicassem a intensidade do esforço percebido, para os
diferentes exercícios propostos. No dia da aplicação dos protocolos foi
requerido aos sujeitos que no momento, inicial, intermédio e final do pico de
intensidade máxima de 7 min e no final de cada repetição do exercício
aquático intermitente classificassem, sem verbalizar, a intensidade do
esforço percebido.
72
Figura 15. Escala de Percepção Subjectiva de Esforço, escalonada de 6 a 20 (Borg, 2000).
4.3. Procedimentos estatísticos
Para caracterização da amostra, relativamente à idade, peso, altura e
ao tempo de prática de hidroginástica, foi utilizada estatística descritiva com
recurso à média e ao desvio padrão.
A análise exploratória dos dados da amostra precedeu a realização de
todos os testes comparativos de médias. As distribuições foram
consideradas normais quando os valores de prova do teste Shapiro-Wilk
foram superiores a 0.05. Nos casos que obrigaram à comparação de mais
do que dois grupos, foram testados, ainda, os pressupostos de esfericidade.
Nos testes para comparação de médias foram utilizados a priori os
testes não-paramétricos de Wilcoxon e Friedman, uma vez que, a amostra
possui um n <30. Contudo, verificamos que aplicando os testes paramétricos
Paired Sample t-test e ANOVA de medidas repetidas, o significado dos
resultados obtidos era o mesmo. Este facto levou-nos a recorrer,
preferencialmente, aos resultados da estatística paramétrica, o que nos
permitiu obter resultados de leitura mais fácil, baseados em valores médios.
Em ambos os testes o nível de significância foi estabelecido em 5%.
6 Sem nenhum esforço
7 Extremamente leve
8
9 Muito leve
10
11 Leve
12
13 Um pouco intenso
14
15 Intenso (pesado)
16
17 Muito intenso
18
19 Extremamente intenso
20 Máximo esforço
Gunar Borg, 1970, 1985, 1998
73
5. Resultados 5.1. Resposta fisiológica e factores de risco associados a um pico de
intensidade máxima com a duração de 7 minutos
5.1.1. Percepção Subjectiva de Esforço
No Quadro 10 podem ser observados os valores médios referentes aos
índices da EPSE atribuídos pelos sujeitos, no momento inicial, intermédio e
final do pico de intensidade. Os mesmos valores encontram-se expressos
graficamente na Figura 16. Entre o momento inicial e o momento final do
esforço observou-se um aumento significativo do esforço percebido pelos
sujeitos. Este aumento da percepção de esforço foi mais acentuado entre a
fase inicial e a fase intermédia do pico de intensidade (Figura 16). Como se
pode observar pela proximidade existente entre os valores dos desvios
padrão também apresentados no Quadro 10, a percepção de esforço entre
os sujeitos foi muito similar, sobretudo no final do pico de intensidade.
Quadro 10. Valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos no momento inicial, intermédio e final do pico de intensidade máxima com a duração de 7 min.
Significativamente diferente, para p ≤ 0.05, de: afim; bmeio
Figura 16. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos no momento inicial, intermédio e final do pico de intensidade máxima com a duração de 7 min. *Significativamente diferente para p ≤ 0.05
Início Meio Fim
EPSE 15.4 ± 1.8a,b 18.7 ± 0.7a 19.8 ± 0.4
6789
1011121314151617181920
Inicio Meio Fim
EPSE
***
74
5.1.2.Lactatemia de repouso e pós-esforço
No Quadro 11 e na Figura 17 encontram-se representados os valores
médios da La de repouso e pós-esforço dos sujeitos da amostra. A La
máxima pós-esforço foi significativamente mais elevada que a de repouso,
sendo a dispersão, relativamente à média, reduzida.
Quadro 11. Valores médios e respectivos desvios padrão da lactatemia (La, mmol.l-1) de repouso e pós-esforço.
Repouso Pós-esforço
La 0.8 ± 0.1* 12.0 ± 3.4
*Significativamente diferente, para p ≤ 0.05 Figura 17. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da lactatemia (La, mmol.l-1) de repouso e pós-esforço. *Significativamente diferente para p ≤ 0.05 5.1.3. Frequência cardíaca de repouso, esforço e pós-esforço 5.1.3.1. Frequência cardíaca de repouso
O Quadro 12 e a Figura 18 apresentam a variação da FC de repouso
com o meio, ou seja, quando a sua medição é realizada em terra ou em
água. A inspecção visual da Figura 18 permite observar valores de repouso
em água significativamente inferiores aos obtidos em terra. A variação
interindividual foi similar nos dois meios.
Quadro 12.Valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm) de repouso, determinada em terra e na água.
Terra Água FC 75.7 ± 11.6* 69.9 ± 11.6
*Significativamente diferente para, p ≤ 0.05
0
2
4
6
8
10
12
14
Repouso Pós-esforço
La (m
mol
.l-1)
*
75
Figura 18. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm), determinada em terra e na água. *Significativamente diferente, para p ≤ 0.05 5.1.3.2. Frequência cardíaca média e máxima de esforço
A Figura 19 ilustra o perfil de variação da FC correspondente aos 5 min
de exercícios de intensidade moderada (a), aos 7 min de exercícios de
intensidade máxima (b) e aos 30 s de recuperação (c). Na Figura 19 são
apresentados os valores de FC para uma frequência de aquisição de 5 em 5
s. Os resultados apresentados no Quadro 13 permitem observar valores de
frequência cardíaca média (FCmed) significativamente superiores durante o
pico de intensidade (b). O mesmo padrão de resposta é observado para os
valores de FCmax, também expressos no referido quadro.
Quadro 13. Frequência cardíaca média (FCmed), frequência cardíaca máxima (FCmax) e respectivos desvios padrão registados em bpm para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) 7 min de exercícios de intensidade máxima; c) período de recuperação de 30 s.
Exercícios de intensidade moderada (a)
Exercícios de intensidade máxima (b) Recuperação (c)
FCmed (bpm) 159.4 ± 16.8ª,b 179.3 ± 12.1 180.9 ± 13.2 FCmax (bpm) 171.0 ± 15.2ª,b 184.9 ± 11.4b 182.6 ± 13.5
Significativamente diferente, para p≤0.05, de: aexercícios de intensidade máxima; brecuperação.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Terra Água
FC (b
pm)
*
76
Figura 19. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm) registada em intervalos de 5 s para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) 7 min de exercícios de intensidade máxima; c) período de recuperação de 30 s. 5.1.3.3. Resposta cardíaca ao esforço em percentagem de frequência cardíaca máxima estimada
No Quadro 14 encontram-se expressos os valores da percentagem de
frequência cardíaca máxima (%FCmax) estimados para cada momento de
exercitação, sendo a respectiva representação gráfica apresentada na
Figura 20. O momento de realização do pico de intensidade parece ter sido
aquele em que as repercussões cardíacas do esforço foram superiores,
tendo-se encontrado diferenças com significado estatístico.
Quadro 14. Valores médios e respectivos desvios padrão da percentagem da frequência cardíaca máxima (%FCmax) estimada calculada para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) 7 min de exercícios de intensidade máxima; c) período de recuperação de 30 s. Exercícios de intensidade
moderada (a) Exercícios de intensidade
máxima (b) Recuperação (c)
%FCmax 88.1 ± 9.3ª,b 99.0 ± 5.3 99.8 ± 5.6 Significativamente diferente, para p ≤ 0.05, de: aexercícios de intensidade máxima; brecuperação.
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
5 55 105 155 205 255 305 355 405 455 505 555 605 655 705
Tempo (s)
FC (b
pm)
b c a
77
Figura 20. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da percentagem da frequência cardíaca máxima (%FCmax) estimada para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) 7 min de exercícios de intensidade máxima; c) período de recuperação de 30 s. 5.1.4. Tensão arterial sistólica, diastólica e média de repouso e pós-
esforço
Os resultados apresentados no Quadro 15 referem-se à TAS e TAD,
medidas em repouso e após esforço, e à TAM calculada a partir dos seus
valores. A representação gráfica correspondente é apresentada na Figura
21. Como se pode observar, os valores mais elevados de TA obtidos pelos
sujeitos reportaram-se à TAS pós-esforço, enquanto os valores mais baixos
de TA obtidos remetem-se à TAD pós-esforço. Os valores de TA pós-esforço
foram significativamente diferentes dos de repouso, excepto a TAM, cujos
valores de repouso e pós-esforço foram similares.
Quadro 15. Valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM), referentes ao repouso e pós-esforço.
Repouso Pós-esforço TAS 119.9 ± 19.2* 146.3 ± 20.7 TAD 73.3 ± 10.1* 52.0 ± 13.4 TAM 88.8 ± 12.2 83.4 ± 14.4
*Significativamente diferente, para p ≤ 0.05
60
70
80
90
100
110
5 55 105 155 205 255 305 355 405 455 505 555 605 655 705Tempo (s)
%Fc
max
a b c
78
Figura 21. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM), referentes ao repouso e pós-esforço. *Significativamente diferente para p ≤ 0.05
5.2. Resposta fisiológica e factores de risco associados a um pico de intensidade supramáxima induzido através de um exercício aquático intermitente de curta duração 5.2.1. Percepção Subjectiva de Esforço
No Quadro 16 e na Figura 22 encontram-se expressos os valores
médios dos índices de esforço percepcionado pelos sujeitos no final de cada
repetição da série de batimento alternado de MI. Observou-se, um aumento
significativo do esforço percebido pelos sujeitos no decurso das três
repetições. A proximidade existente entre os valores dos desvios padrão,
apresentados no Quadro 16, permite verificar uma similaridade entre sujeitos
na percepção de esforço, sobretudo no final da última repetição.
Quadro 16. Valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos nos momentos finais de cada repetição (rep) de 30 s de batimento alternado de membros inferiores.
Significativamente diferente, para p ≤ 0.05, de: afinal da 2ª rep; b final da 3ª rep.
Final da 1ª rep Final da 2ª rep Final da 3ª rep EPSE 16.7 ± 2.6a 18.1 ± 1.7a,b 19.4 ± 1.0
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
TAS TAD TAM
mm
Hg
Repouso Pós-esforço *
*
79
Figura 22. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos no final de cada repetição (rep) de 30 s de batimento alternado de membros inferiores. *Significativamente diferente para p ≤ 0.05 5.2.2. Lactatemia de repouso e pós-esforço
Os valores médios de La- sanguíneo obtidos em repouso e pós-esforço
encontram-se no Quadro 17. A representação gráfica correspondente pode
ser visualizada na Figura 23. Os valores máximos de La- obtidos pós-esforço
foram significativamente superiores aos de repouso. A observação dos
valores da medida de dispersão, permite verificar uma menor variação
interindividual do La- de repouso, comparativamente com os valores de pós-
esforço.
Quadro 17. Valores médios e respectivos desvios padrão da lactatemia (La, mmol.l-1) de repouso e pós-esforço.
Repouso Pós-esforço
La- 0.9 ± 0.1* 10.7 ± 2.7
*Significativamente diferente para, p ≤ 0.05
Figura 23. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da lactatemia (La, mmol. l-1) de repouso e pós-esforço. *Significativamente diferente para p ≤ 0.05
02468
101214
Repouso Pós-esforço
La(m
mol
.l-1)
*
6789
1011121314151617181920
1º rep 2º rep 3º repEP
SE
*
* *
80
5.2.3. Frequência cardíaca de repouso, esforço e pós-esforço 5.2.3.1. Frequência cardíaca de repouso
A alteração da FC de repouso de acordo com o meio em que o sujeito
se encontra (terra e água) é apresentada no Quadro 18 e na Figura 24. A
observação da Figura 24 permite verificar a tendência para encontrar valores
inferiores de FC quando o sujeito se encontra em meio aquático. Esta
tendência é comprovada pelos testes estatísticos, que mostram que os
valores médios de FC obtidos com os sujeitos imersos, em repouso no meio
líquido, foram significativamente inferiores aos obtidos para os mesmos
sujeitos em terra. A variação interindividual foi similar nos dois meios.
Quadro 18. Valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm) de repouso, determinada em terra e na água.
Terra Água FC 74.6 ± 6.5 * 70.8 ± 5.9
*Significativamente diferente, para p ≤ 0,05
Figura 24. Representação gráfica dos valores médios respectivos desvios padrão da frequência cardíaca de repouso (FC, bpm) determinada em terra e na água. *Significativamente diferente, para p ≤ 0.05 5.2.3.2. Frequência cardíaca média e máxima de esforço
Na Figura 25 estão representados os perfis de variação da FC
correspondentes aos 5 min de exercícios de intensidade moderada (a), ao
exercício de intensidade supramáxima, constituído por três repetições de 30
s de batimento alternado de MI intervalado com 30 s de recuperação (b) e ao
período de recuperação de 30 s (c). A inspecção visual dos traçados e os
resultados apresentados no Quadro 19 permitem observar valores médios
*
64
66
68
70
72
74
76
78
80
82
Terra Água
FC(b
pm)
81
de FC significativamente superiores durante o exercício intermitente (b),
quando incluídos os intervalos de recuperação de 30 s. Observa-se o
mesmo padrão de resposta para a FCmax, expressa no mesmo Quadro.
Quadro 19.Frequência cardíaca média (FCmed), frequência cardíaca máxima (FCmax) e respectivos desvios padrão registados em bpm para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercício de intensidade supramáxima, constituído pelas 3 repetições de 30 s de batimento alternado de membros inferiores intervaladas com 30 s de recuperação; c) período de recuperação de 30 s.
Exercícios de intensidade moderada (a)
Exercício de intensidade supramáxima (b) Recuperação (c)
FCmed 152.7 ± 14.4ª,b 169.1 ± 10.2b 165.3 ± 12.6 FCmax 163.1 ± 14.9ª,b 178.2 ± 10.4b 171.6 ± 11.4 Significativamente diferente, para p ≤ 0.05, de: aexercício de intensidade supramáxima; brecuperação. Figura 25. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm) registada para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercício de intensidade supramáxima, constituído por 3 repetições de 30 s de batimento alternando de membros inferiores intervaladas com 30 s de recuperação; c) período de recuperação de 30 s. 5.2.3.3. Resposta cardíaca ao esforço em percentagem de frequência cardíaca máxima estimada
No
Quadro 20 e na Figura 26 é observada a %FCmax tradutora das
repercussões cardíacas do esforço exigido aos sujeitos em cada momento
de exercitação. O intervalo temporal correspondente à realização das três
repetições de batimento alternado de MI parece ter sido aquele em que as
110
120
130
140
150
160
170
180
190
5 55 105 155 205 255 305 355 405 455 505Tempo (s)
FC (b
pm)
a b c
82
repercussões cardíacas do esforço foram superiores, tendo a diferença sido
estatisticamente significativa. Quadro 20. Valores médios e respectivos desvios padrão da percentagem da frequência cardíaca máxima (%FCmax) estimada para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercício de intensidade supramáxima, constituído por 3 repetições de 30 s de batimento alternado de membros inferiores intervaladas com 30 s de recuperação; c) período de recuperação de 30 s. Exercícios de intensidade
moderada (a) Exercício de intensidade
supramáxima (b) Recuperação (c)
%FCmax 84.7 ± 8.9a,b 93.8 ± 6.0b 91.7 ± 7.4 Significativamente diferente, para p ≤ 0.05, de: aexercício de intensidade supramáxima; brecuperação. Figura 26. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da percentagem da frequência cardíaca estimada (%FCmax) para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercício de intensidade supramáxima, constituído por 3 repetições de 30 s de batimento alternado de membros inferiores intervaladas com 30 s de recuperação; c) período de recuperação de 30 s. 5.2.4. Tensão arterial sistólica, diastólica e tensão média de repouso e
pós-esforço.
Os valores médios e respectivos desvios padrão da TAS e TAD
(Quadro 21), expressos graficamente na Figura 27, foram significativamente
diferentes em repouso e pós-esforço. A TAS apresentou valores no pós-
esforço significativamente superiores aos de repouso, enquanto os valores
de TAD pós-esforço foram significativamente inferiores. O mesmo não se
verificou para a TAM, cujos valores de repouso e pós-esforço foram
similares.
Quadro 21.Valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM) registados em repouso e pós-esforço.
60
65
70
75
80
85
90
95
100
105
5 55 105 155 205 255 305 355 405 455 505
Tempo (s)
%FC
max
a b c
83
Repouso Pós-esforço TAS 111.1 ± 14.5* 138.7 ± 15.5 TAD 63.3 ± 7.1* 47.8 ± 9.7 TAM 79.3 ± 8.1 78.1 ± 9.8
*Significativamente diferente, para p ≤ 0.05
Figura 27. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM) registados em repouso e pós-esforço. *Significativamente diferente para p ≤ 0.05 5.2.5. Estimativa do esforço cardíaco durante os exercícios
No Quadro 22 e na Figura 28 encontram-se expressos os valores
médios do DP, que representam uma estimativa do esforço cardíaco
realizado, nos momentos de repouso e pós-esforço em cada protocolo de
avaliação. Quer no primeiro (P1), quer no segundo protocolo (P2) os valores
do DP referentes ao pós-esforço foram significativamente superiores aos de
repouso. Os resultados permitem ainda observar que os valores de DP pós-
esforço referentes ao P1, foram significativamente superiores aos do P2.
Quadro 22. Valores médios e respectivos desvios padrão do duplo produto (DP, mmHg. bpm) referentes ao repouso e ao pós-esforço, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação.
DP repouso DP pós-esforço P1 9113.1 ± 2248.4*a 26188.2 ± 3955.1 P2 8278.9 ± 1227.7* 21899.1 ± 2696.4
Significativamente diferente, para p ≤ 0.05, de: *pós-esforço; aP2
0
20
40
60
80
100
120
140
160
TAS TAD TAM
mm
Hg
Repouso Pós-esforço
*
*
84
Figura 28. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão do duplo produto (DP, bpm. mmHg) referentes ao repouso e ao pós-esforço, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação. *Significativamente diferente para p ≤ 0.05 5.3. Comparação da resposta fisiológica e factores de risco associados a um pico de intensidade máxima, com a duração de 7 minutos e a um pico de intensidade supramáxima induzido através de um exercício aquático intermitente de curta duração 5.3.1. Percepção subjectiva de esforço
Os valores médios do índice de esforço percepcionado pelos sujeitos
nos momentos inicial, intermédio e final do pico de intensidade máxima com
a duração de 7 min, realizado no P1, e no final de cada repetição de
batimento alternado de MI, realizado no P2, encontram-se expressos no
Quadro 23 e na Figura 29. Não se observaram diferenças significativas entre
os índices da EPSE registados nos momentos inicial, intermédio e final do
P1 e no fim de cada repetição do P2, apesar das diferenças no tempo de
duração dos exercícios. Para além disto, importa sublinhar que os valores do
índice de esforço percepcionado pelos sujeitos, em cada momento do pico
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
P1 P2
DP
(mm
Hg.
bpm
)
Repouso Pós-esforço
*
*
*
85
de intensidade, estão de acordo com o intervalo de valores estabelecido no
protocolo.
Quadro 23. Valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos no momento inicial, intermédio e final do pico de intensidade máxima de 7 min, realizado no primeiro protocolo (P1) e no final de cada repetição (rep) de batimento alternado de membros inferiores, realizado no segundo protocolo (P2).
Figura 29. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão dos índices da Escala de Percepção Subjectiva de Esforço de Borg (EPSE) atribuídos pelos sujeitos no momento inicial, intermédio e final do pico de intensidade máxima de 7min, realizado no primeiro protocolo (P1), e no final de cada repetição (rep) de batimento alternado de membros inferiores, realizado no segundo protocolo (P2). 5.3.2. Lactatemia de repouso e pós-esforço
No Quadro 24 e na Figura 30 podem ser visualizados os valores
médios de La- sanguíneo obtidos em repouso e pós-esforço, no P1 e no P2.
Os valores de La- obtidos em repouso e pós-esforço foram semelhantes nos
dois protocolos.
Quadro 24. Valores médios e respectivos desvios padrão das lactatemias (La, mmol.l-1) de repouso e pós-esforço, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolo de avaliação.
La Repouso Pós-esforço P1 0.8 ± 0.1 12.0 ± 3.4 P2 0.9 ± 0.1 10.7 ± 2.7
EPSE Início/1ª rep Meio/2ª rep Fim/3ª rep P1 15.4 ± 1.8 18.7 ± 0.7 19.8 ± 0.4 P2 16.7 ± 2.6 18.1 ± 1.7 19.4 ± 1.0
6789
1011121314151617181920
Inicio/1ªrep Meio/2ªrep Fim/3ªrep
EPSE
P1 P2
86
Figura 30. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão das lactatemias (La, mmol.l-1) de repouso e pós-esforço, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação. 5.3.3. Frequência cardíaca de repouso, esforço e pós-esforço 5.3.3.1. Frequência cardíaca de repouso
No Quadro 25 e na Figura 31 é apresentada a FC de repouso
determinada com os sujeitos em terra e na água, no P1 e no P2. De acordo
com os resultados apresentados, os valores de FC obtidos com os sujeitos
em terra e na água nos dois protocolos parecem ser semelhantes em ambos
os protocolos.
Quadro 25. Valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca de repouso (FC, bpm), obtida em terra e na água, no primeiro (P1) e no segundo (P2) protocolos de avaliação.
FC Terra Água P1 75.7 ± 11.6 69.9 ± 11.6 P2 74.6 ± 6.5 70.8 ± 5.9
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Repouso Pós-esforço
La- (
mm
ol.l-
1 )P1 P2
0102030405060708090
100
Terra Água
FC (b
pm)
P1 P2
87
Figura 31. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca (FC, bpm), obtida em terra e na água, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação. 5.3.3.2. Frequência cardíaca média e máxima de esforço
No Quadro 26 são apresentados os valores da FCmed e da FCmax
correspondentes aos 5 min de exercícios de intensidade moderada (a), aos
exercícios de intensidade máxima e supramáxima (b) e ao período de
recuperação de 30 s (c), correspondentes aos P1 e P2. Os resultados
apresentados permitem observar valores de FCmed significativamente
superiores no P1, durante o esforço de intensidade elevada e a recuperação.
Relativamente à FCmax, foram observados valores significativamente
superiores no P1, nos três momentos de avaliação.
Quadro 26. Frequência cardíaca média (FCmed) e máxima (FCmax) e respectivos desvios padrão registados em bpm, no primeiro (P1) e no segundo (P2) protocolos de avaliação, para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercícios de intensidade máxima e supramáxima; c) período de recuperação de 30 s. Exercícios de intensidade
moderada (a) Exercícios de intensidade
máxima e supramáxima (b) Recuperação (c)
FCmed (P1) 159.4 ± 16.8 179.3 ± 12.1 a 180.9 ± 13.2a FCmed (P2) 152.7 ± 14.4 169.1 ± 10.2 165.3 ± 12.6 FCmax (P1) 171.0 ± 15.2b 184.9 ± 11.4b 182.6 ± 13.5b FCmax (P2) 163.1 ± 14.9 178.2 ± 10.4 171.6 ± 11.4 Significativamente diferente, para p ≤ 0.05, de: aFCmed (P2); bFCmax (P2) 5.3.3.3. Frequência cardíaca máxima de esforço e frequência cardíaca máxima estimada
No Quadro 27 são apresentados os valores da FCmax de esforço e da
FCmax de estimada pela equação de Tanaka (2001), para o P1 e P2. Não
se verificaram diferenças significativas entre a FCmax de esforço e a FCmax
estimada pela equação de Tanaka (2001), demonstrando que em ambos os
protocolos os sujeitos realizaram o exercício a uma intensidade muito
próxima da máxima. É contudo, de evidenciar que o valor médio da FCmax
de esforço correspondente ao P1 é superior ao valor médio da FCmax
estimada, mostrando que houveram sujeitos para os quais o valor da FCmax
88
de exercício foi superior ao teórico, o que indica que a equação de Tanaka
(2001) poderá, nalguns casos, subestimar o valor real da FCmax.
Quadro 27. Valores médios e respectivos desvios padrão da frequência cardíaca máxima de esforço (FCmax), registada em bpm, durante o primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação e frequência cardíaca máxima teórica (FCmaxT), estimada pela equação de Tanaka (2001) 5.3.3.4. Resposta cardíaca ao esforço em percentagem de frequência
cardíaca máxima
A %FCmax, reflectora das repercussões cardíacas do esforço exigido
aos sujeitos em cada momento de exercitação e em cada protocolo de
avaliação é apresentada no Quadro 28. O P1 parece ter sido aquele em que
as repercussões cardíacas, durante o esforço de intensidade elevada, foram
superiores, tendo-se encontrado diferenças com significado estatístico. O
mesmo padrão de resposta foi observado para o momento seguinte, ou seja,
para recuperação. No esforço de intensidade moderada a %FCmax parece
ter sido semelhante nos dois protocolos.
Quadro 28. Valores médios e respectivos desvios padrão da percentagem da frequência cardíaca máxima (%FCmax) estimada, no primeiro (P1) e segundo (P2) protocolos de avaliação, para: a) 5 min de exercícios de intensidade moderada; b) exercícios de intensidade máxima e supramáxima; c) período de recuperação de 30 s.
%FCmax Exercícios de intensidade moderada (a)
Exercícios de intensidade máxima e supramáxima (b) Recuperação (c)
P1 88.1 ± 9.3 99.0 ± 5.3a 99.8 ± 5.6a P2 84.7 ± 8.9 93.8 ± 6.0 91.7 ± 7.4
Significativamente diferente, para p ≤ 0.05, de: aP2 5.3.4. Tensão arterial sistólica, diastólica e média de repouso e pós-esforço
Os valores médios e respectivos desvios padrão da TAS, TAD e TAM
de repouso e pós-esforço, no P1 e no P2, estão expressos no Quadro 29 e
na Figura 32. Observou-se que os valores da TAS, TAD e TAM no repouso
foram significativamente superiores no P1. No pós-esforço as respostas
tensionais são semelhantes nos dois protocolos.
FCmax P1 FCmax P2 FCmaxT 184.9 ± 11.4 178.2 ± 10.4 181.1 ± 6.7
89
Quadro 29. Valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM), no primeiro (P1) e segundo protocolos de avaliação (P2), em repouso e pós-esforço.
Significativamente diferente, para p ≤ 0.05, de: aTAS (P2); bTAD (P2); cTAM (P2). Figura 32. Representação gráfica dos valores médios e respectivos desvios padrão da tensão arterial (mmHg) sistólica (TAS), diastólica (TAD) e média (TAM) registados em repouso e pós-esforço. *Significativamente diferentes para p ≤ 0.05.
Repouso Pós-esforço TAS (P1) 119.9 ± 19.2a 146.3 ± 20.7 TAS (P2) 111.1 ± 14.5 138.7 ± 15.5 TAD (P1) 73.3 ± 10.1b 52.0 ± 13.4 TAD (P2) 63.3 ± 7.1 47.8 ± 9.7 TAM (P1) 88.8 ± 12.2c 83.4 ± 14.4 TAM (P2) 79.3 ± 8.1 78.1 ± 9.8
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
TAS repouso TAS pós-esforço
TAD repouso TAD pós-esforço
TAMrepouso
TAM pósesforço
mm
Hg
P1 P2 *
* *
91
6. Discussão dos resultados
A discussão dos resultados, propriamente dita, será precedida de uma
justificação de algumas das opções metodológicas, nomeadamente no que
se refere à dimensão e características da amostra.
6.1. Características da amostra
Nos estudos de carácter científico, um dos factores limitativos,
particularmente quando se pretendem realizar comparações é, sem dúvida,
a variabilidade inter e intraindividual dos sujeitos da amostra. De uma forma
geral, esta limitação é ultrapassada através da utilização de amostras com
um número elevado de sujeitos, uma vez que um maior número de
respostas permite minimizar o erro e, consequentemente, aumentar a
probabilidade de melhor explicar o fenómeno estudado. No presente estudo
não foi possível reunir uma amostra superior a dez indivíduos, por motivos
relacionados com a disponibilidade individual ou por incumprimento de
alguma das exigências protocolares.
Um dos aspectos condicionantes da constituição da amostra, com
consequente influência no reduzido número final de sujeitos, foi a
necessidade dos sujeitos serem capazes de realizar os movimentos
aquáticos de forma correcta. Esta exigência prende-se com o facto de, na
hidroginástica, a intensidade dos exercícios ser condicionada pela amplitude
do movimento e pelo posicionamento dos segmentos, corporais que se
repercutem na produção de força nos movimentos.
Em termos das exigências protocolares, foram ainda despistados,
através da informação fornecida em questionário, eventuais problemas de
saúde (e.g. a HTA) e a ingestão crónica de medicamentos (e.g.
betabloqueadores) que pudessem enviesar os resultados do estudo,
nomeadamente ao nível da TA e FC.
92
6.2. Percepção Subjectiva de Esforço
Entre os diversos indicadores fisiológicos que podem ser usados no
controlo da intensidade de esforço, a EPSE de Borg constitui um meio
prático e económico (AEA, 2001; Graef & Kruel, 2006; Tavares, 2003b),
apresentando uma correlação positiva com outros indicadores como a FC,
La- e VO2max (Boutcher et al., 1989; Demello et al., 1987; Gearhart, 2008;
Hetzler et al., 1991; Seip et al., 1991; Steed et al., 1994). A EPSE reúne uma
considerável popularidade na hidroginástica, enquanto indicador da
intensidade do exercício, algo que pode ser observado pela sua frequente
utilização nos diversos estudos realizados no âmbito do exercício aquático.
Apesar da relação descrita entre os índices da EPSE e alguns parâmetros
indicadores da intensidade do exercício, como o La- e o VO2max, a escala
deve ser considerada com algum cuidado, por motivos de labilidade. A sua
construção baseia-se num outro indicador fisiológico, a FC, que, por sua vez,
é sensível a múltiplos factores extrínsecos e intrínsecos ao próprio indivíduo.
No primeiro protocolo de avaliação, durante o pico de intensidade
máxima, com a duração de 7 min, a percepção dos sujeitos ao exercício foi
muito similar, ou seja houve uma reduzida variação interindividual. Estes
resultados, parecem demonstrar que os sujeitos conseguiram um bom
domínio da utilização da EPSE, não comprometendo, deste modo, os
resultados da avaliação. Para além disto, durante o pico de intensidade
máxima os sujeitos percepcionaram um aumento significativo da intensidade
do esforço, tendo terminado o exercício muito próximo do índice máximo
(20), que corresponde, teoricamente a 200 bpm.
No segundo protocolo de avaliação a variação interindividual na
percepção da intensidade do esforço foi reduzida, após cada repetição de
batimento alternado de MI. No decurso das três repetições, à semelhança do
pico de intensidade máxima realizado no primeiro protocolo, os sujeitos
percepcionaram um aumento significativo da intensidade do esforço. No final
da última repetição o índice indicado pelos sujeitos foi igualmente próximo
do máximo.
Em síntese, o pico de intensidade máxima, com a duração de 7 min, e o
pico de intensidade supramáxima induzido através de um exercício aquático
93
intermitente de curta duração foram percepcionados pelos sujeitos
similarmente como dois esforços de intensidade máxima. Neste sentido,
parece-nos que a percepção da intensidade do esforço é independente do
tempo de duração desse mesmo esforço, sendo ele máximo.
6.3. Lactatemia
Ascensão e Santos (2002) referem que o La- é um metabolito dinâmico
que em repouso e em exercício moderado é produzido e removido em
quantidades similares, mantendo nestas circunstâncias uma concentração
sanguínea estável. Contudo à medida que a intensidade do exercício
aumenta, a produção e a remoção deste metabolito também aumentam,
ainda que o equilibrio produção/remoção vá sendo cada vez menor, na
medida em que o valor do La- acumulado no sangue vai aumentando até um
determinado limiar, denominado LAN. A partir deste ponto a produção é tal
que se observa um incremento evidente das concentrações sanguíneas de
La-. O valor médio das concentrações de La- do limiar de transição da
predominância de regime metabólico aeróbio para o anaeróbio, situa-se,
para adultos, em torno das 4 mmol.l-1 (Heck et al., 1985; Mader, 1991). Este
valor deve, contudo, ser entendido com alguma reserva, dado que cada
indivíduo possui características muito distintas (e.g. aptidão física, tipo de
fibras musculares, nível de treino), que se repercutem no valor do LAN,
desviando as 4 mmol.l-1 para valores que lhe são mais ou menos próximos.
Segundo Maughan et al. (1997), a intensidade do exercício é o factor mais
decisivo na selecção dos substratos energéticos responsáveis pelo trabalho
muscular. Como tal, incrementos nas concentrações de La- estão
associados a uma maior participação do metabolismo anaeróbio (Bogdanis
et al., 1996). Em resumo, quanto maior a concentração sanguínea de La- ,
maior terá sido a intensidade do exercício, e assim, a intervenção do
metabolismo anaeróbio. No entanto, importar sublinhar que cargas pouco
intensas também induzem uma pequena formação de La-, uma vez que os
sistemas energéticos funcionam de forma integrada e nunca de forma
isolada. Withers et al. (1991) referem que, mesmo em esforços máximos de
94
curta duração (30 s), o metabolismo aeróbio participa na produção de
energia.
Neste estudo o La-, assim como a EPSE, foram recolhidos com vista à
melhor aferição da intensidade do exercício. Segundo Maglischo (1993), a
determinação do La- máximo após a competição constituí o melhor método
para controlar a participação do metabolismo anaeróbio na natação. Madsen
e Lohberg (1987) para as diferentes provas de natação apresentam as
seguintes La- máximas pós-competitivas: 12-14 mmol.l-1 para provas de 50
m, 16-18 mmol.l-1 para 100 m, 16-20 mmol.l-1 para os 200 m, 12-14 mmol.l-1
para 400 m e 10-12 mmol.l-1 para 1500 m. Deste conjunto de provas de
natação, os 400 m parecem ser aqueles cuja duração se aproxima mais do
pico de intensidade máxima realizado no primeiro protocolo de avaliação.
Segundo Maglischo (2003), Rodriguez e Mader (2003), e Troup (1984), as
provas de 400 m apresentam uma duração de 4-6 min, com uma
participação de 35 a 55% do metabolismo anaeróbio.
No primeiro protocolo de avaliação, após o esforço máximo, foi
encontrado o valor médio de 12 mmol.l-1 de La- nos sujeitos avaliados,
observando-se um aumento exponencial deste metabolito relativamente ao
repouso. Apesar das diferentes evidencias entre o nado e o exercício
aquático da hidroginástica, estas concentrações de La- estão próximas do
intervalo referido por Madsen e Lohberg (1987) para as provas de 400 m
natação. Todavia, considerando que a nossa amostra foi constituída por
indivíduos não atletas, a elevada intensidade do esforço induzido torna-se
ainda mais evidente, pois, segundo a literatura, o La- é sensível a um
conjunto de factores, entre os quais o nível de treino. Brooks et al. (2000)
referem que indivíduos treinados possuem uma maior capacidade
produção/remoção deste metabolito. Para além disto, considerando que as
concentrações de La- correspondentes ao limiar de transição da
predominância do metabolismo aeróbio para o anaeróbio equivalem a cerca
de 4 mmol.l-1, parece claro que os valores de 12 mmol.l-1 encontrados
traduzem uma elevada participação do metabolismo anaeróbio. Apesar da
distância entre os valores ser pouco expressiva, esperava-se que um
esforço com esta intensidade e duração produzisse concentrações de La-
próximas do V02max, ou seja, entre as 4.5 e 10 mmol.l-1 (Alves, 2000).
95
Segundo Alves (2000), na natação, as concentrações de La- ao
VO2max correspondem a uma zona de intensidade correspondente à
potência aeróbia. Bouchard et al. (1991) referem que quando se avalia o
desempenho dos vários sistemas de produção de energia, é importante
distinguir a capacidade da potência do sistema. Assim, a maior ou menor
quantidade de energia disponível para o trabalho muscular é designada por
capacidade dos sistemas fornecedores de energia, enquanto que a
respectiva velocidade de produção é normalmente designada por potência
dos sistemas. Assim, de uma forma genérica, a potência refere-se à
velocidade de produção de energia de origem oxidativa, disponível para o
trabalho muscular (Balonas, 2006). Para Alves (2000), em termos
metabólicos a zona de intensidade referida anteriormente é mista, ou seja,
possui um carácter aeróbio intensivo próximo ou coincidente com a
intensidade de esforço correspondente ao VO2max, o que significa que uma
importante percentagem de energia utilizada será proveniente da via
glicolítica anaeróbia. Os resultados encontrados no primeiro protocolo
permitem-nos, no entanto, observar que as concentrações de La- obtidas
foram superiores ao intervalo de valores apresentado por Alves (2000) para
a zona de intensidade correspondente à potência aeróbia. Este facto poderá
eventualmente ser justificado pela duração do esforço induzido.
Considerando que o tempo limite, definido como tempo durante o qual a
intensidade do exercício correspondente ao VO2max pode ser mantida (Billat
& Koralsztein, 1996), para nadadores assume valores de 4.8 ± 2.7 min
(Billat et al., 1996), 5.0 ± 2.3 min (Faina et al., 1997), 6.3 ± 0.6 min (Demarie
et al., 2001) e de 5.4 ± 1.3 min (Fernandes et al., 2003), parece claro que os
sujeitos da amostra do presente estudo não terão, durante os 7 min,
alcançado o VO2max e cumprido o tempo limite. Possivelmente, nos
momentos finais do pico de intensidade, terá ocorrido uma maior solicitação
do metabolismo anaeróbio, de forma a suprir as necessidades energéticas
para a sustentação do exercício. Esta parece ser uma das justificações
plausíveis para os valores de La- encontrados se situarem acima dos
apontados por Alves (2000) para uma intensidade de exercício
correspondente ao VO2max.
96
Em suma, face aos resultados encontrados, confirma-se que, no
primeiro protocolo, os sujeitos da amostra realizaram efectivamente um
esforço máximo, com uma forte componente anaeróbia.
No segundo protocolo, apesar das características dos exercícios e da
sua duração serem diferentes, as respostas lácticas observadas foram
similares. Estes resultados convergem com a similaridade obtida na
percepção subjectiva de esforço dos sujeitos para ambos os esforços.
Entre as diferentes provas de natação, a de 50 m, parece ser a mais
semelhante, em termos de duração e posição corporal, ao exercício
realizado no segundo protocolo. Segundo Gastin (2001), na natação a prova
de 50 m conta com uma participação de cerca de 73% do metabolismo
anaeróbio. Maglisho (2003) refere, para a mesma prova uma participação do
metabolismo anaeróbio de apenas 70%. Madsen e Lohberg (1987), como já
anteriormente referido, propõe para a prova de 50 m La- máximas pós-
competitivas entre 12 e 14 mmol.l-1. No nosso estudo, as concentrações
deste metabolito foram sensivelmente mais baixas, 10.7 mmol.l-1 . Contudo,
importa salientar que, no presente estudo, o exercício foi repetido três vezes
com intervalos de recuperação de igual duração (30 s) e que, contrariamente
à natação, não houve acção dos MS. Assim, se por um lado, os momentos
de pausa poderão ter permitido uma ressíntese do La- e consequentemente
a sua remoção da corrente sanguínea, por outro lado, a redução da massa
muscular envolvida no exercício poderá ter determinado uma diminuição do
número de unidades motoras recrutadas e de fibras musculares envolvidas,
nomeadamente do Tipo II (glicolíticas), e por conseguinte uma redução da
quantidade de lactato produzido. Para além disto, não nos podemos alienar
do facto deste estudo ter sido realizado com uma população não atleta.
Em suma, face às concentrações de La- encontradas e à duração do
exercício confirma-se, que os sujeitos realizaram, no segundo protocolo um
esforço de domínio anaeróbio. As concentrações obtidas estão longe da
acumulação máxima de La-, uma vez que o tempo de exercício não foi
suficiente para esgotar o sistema anaeróbio, mas a sobrecarga anaeróbia foi
muito grande.
97
6.4. Frequência cardíaca
De acordo com a literatura a FC tem sido um dos indicadores de
intensidade de esforço, conjuntamente com a EPSE, mais utilizados na
investigação em hidroginástica. Contudo, a FC apresenta alguma
sensibilidade a factores intrínsecos (e.g. a idade, estados emocionais, nível
de aptidão cardiorrespiratória, posição corporal) e extrínsecos (e.g.
influências ambientais) aos sujeitos. Clapp e Little (1994) afirmam que a
intensidade da resposta fisiológica ao exercício está dependente das
características individuais de cada um. Relativamente aos factores
intrínsecos, sabe-se que a FCmax tende a diminuir com idade (ACSM, 2006;
Brooks et al., 2000), algo que é vísivel pelas próprias equações matemáticas
de estimação da FCmax teórica, como por exemplo a de Tanaka (2001). Ao
nível dos estados emocionais, vários autores têm verificado que o mesmo
exercício realizado em situações de elevada carga emocional produz valores
de FC e TA mais elevados do que quando realizado em situações
emocionalmente estáveis (Astrand & Rodahl, 1987; Hainsworth, 1991).
Segundo Kruel (2000), a posição corporal constitui também um factor
determinante da alteração da FC. Na natação os valores de FC são
geralmente menores, devido a um aumento do volume sistólico ocasionado
pela posição corporal de decúbito ventral (Dixon & Faulkner, 1971). Quanto
aos factores extrínsecos, mais especificamente na hidroginástica, a FC é
influenciada pela temperatura da água e pela acção da pressão hidrostática
(Sheldahl, 1986).
A maioria dos autores (Epstein et al., 1976; Heigenhauser et al., 1977;
Holmer & Bergh, 1974; Irving, 1963; Kruel, 2000; L. F. M. Kruel et al., 2002;
Magel & Faulkner, 1967; McArdle et al., 1971; Olsen et al., 1962; Scholander
et al., 1962; Svedenhag & Seger, 1992; Town & Bradley, 1991) da revisão,
parece estar de acordo com a existência de uma bradicardia reflexa de
mergulho, ou seja, uma diminuição da FC em imersão. Os resultados do
nosso estudo, nos dois protocolos, relativamente à alteração da FC repouso
em imersão são congruentes com os dados da literatura.
Em exercício, os valores de FCmed e FCmax referentes ao primeiro
protocolo foram significativamente superiores no pico de intensidade máxima
98
de 7 min, tendo sido registados valores médios de 179 bpm. A comparação
dos valores de FC encontrados com a média de idades desta amostra
parece mostrar a elevada intensidade do esforço produzido, uma vez que os
valores de FC de esforço foram próximos do máximo estimado para o grupo.
Para além disto, considerando que os valores de FC de repouso ou exercício
em imersão são menores (Green et al., 1990; Scartoni et al., 1998; Sheldahl
et al., 1987; Shono et al., 2001; Yamaji et al., 1990), os resultados obtidos
evidenciaram uma intensidade de esforço efectivamente elevada. Segundo
Alves (2000), enquanto a zona de potência aeróbia se caracteriza por
valores de FC superiores a 180 bpm, a zona de acumulação láctica máxima
caracteriza-se por valores de FC máximos. Tendo em conta que os valores
médios de FC obtidos foram de 179 bpm e a FCmax teórica estimada para o
grupo foi de 181 bpm, parece legitimo localizar este esforço numa zona
próxima da potência aeróbia.
A %FCmax observada durante o esforço de 7 min variou entre os 94 e
os 104% da FCmax que os sujeitos são capazes de atingir e que foi
estimada através da equação de Tanaka et al. (2001). De acordo com estes
valores parece que alguns dos sujeitos fizeram o exercício proposto com
uma FC acima da sua FCmax teórica. Este facto poderá ser justificado pela
labilidade imputada às equações matemáticas utilizadas para a estimação
da FCmax. Na nossa amostra, a equação de Tanaka (2001) subestimou o
valor da FCmax de alguns sujeitos.
Os valores da FC de esforço encontrados foram superiores aos
prescritos pelo ACSM (2006) para a intensidade do exercício (70 a 94% da
FCmax). De acordo com ACSM (2006) um esforço com uma %FCmax entre
94 e 100% é classificado como máximo, pelo que parece legítimo afirmar
que o pico de intensidade realizado no primeiro protocolo foi realmente
máximo, induzindo como tal uma elevada sobrecarga cardíaca.
No segundo protocolo, os valores de FCmed, FCmax e %FCmax foram
significativamente inferiores aos obtidos no primeiro protocolo. Este facto
poderá ter resultado das características específicas do exercício
intermitente, da posição corporal adoptada e da utilização exclusiva dos MI.
Segundo a literatura, existem reduções da FC entre 9 e 22 bpm em
exercícios realizados na posição horizontal, comparativamente com
99
exercícios realizados na posição vertical (Dixon & Faulkner, 1971; Holmer,
Stein et al., 1974; McArdle et al., 1971; Ritchie & Hopkins, 1991). Para além
disto, nalguns estudos realizados em hidroginástica e em terra (Butts et al.,
1995; Costa et al., 2008; Darby & Yaekle, 2000) foi observado que a acção
isolada dos MI está associada a menores valores de FC, comparativamente
com acção simultânea dos MS e dos MI. A explicação para este facto parece
residir no aumento da percentagem de tecido músculo-esquelético
metabolicamente activo, pela inclusão dos MS, e portanto um maior aporte
de oxigénio que se traduzirá num incremento do esforço cardíaco.
Acrescentamos, ainda, que existe uma clara tendência para a continuação
da aceleração do ritmo cardíaco logo após o término do esforço, mais
especificamente nos 5 a 10 s seguintes, uma vez que não há nenhum tipo
de bloqueio do funcionamento cardíaco que faça desacelerar o seu
funcionamento de forma abrupta.
Relativamente à %FCmax importa sublinhar que apesar dos valores
serem significativamente inferiores no esforço intermitente,
comparativamente com o esforço de 7 min, ultrapassam também as
directrizes do ACSM (2006) para a intensidade do exercício, situando-se
entre os 88 e os 100% da FCmax. Parece, assim, claro que a sobrecarga
cardíaca foi superior no pico de intensidade máxima com a duração de 7
min.
6.5. Tensão arterial e duplo produto Os problemas imputáveis à utilização da FC como indicador isolado da
intensidade de esforço ou da funcionalidade cardiovascular levaram-nos a
analisar, também, as respostas tensionais induzidas pelo exercício. Por um
lado, porque através os valores da TAS poderemos especular as possíveis
variações que ocorrem no DC. Por outro lado, através do cálculo da TAM é
possível diagnosticar se os exercícios realizados constituem algum tipo de
sobrecarga para a actividade cardíaca, possivelmente perigosa, em casos
de pessoas com história clínica de debilidade cardiovascular. A estes
indicadores da funcionalidade cardiovascular acrescentamos, ainda, o
cálculo do DP, que representa uma medida do esforço cardiovascular,
100
conjugando os valores da TAS e da FC para um determinado esforço e
espaço temporal.
De acordo com a literatura, a HTA é a doença cardiovascular mais
comum e o factor de risco quantitativamente mais influente no
desenvolvimento da doença coronária e da insuficiência cardíaca. Segundo
Pickering et al. (2005), nos vários estudos desenvolvidos sobre HTA têm
sido encontradas correlações fortes e directas entre a TAM e a morte por
acidente vascular em adultos. De facto, o perigo do aumento da TA advém
da sua relação directa com a ocorrência de acidentes cerebrais ou
cardiovasculares, particularmente em indivíduos de risco. Todavia, nem
sempre a HTA ou a propensão para o desenvolvimento desta doença está
diagnosticada. Segundo Miura et al. (2001), 15% das mortes ocasionadas
por acidentes coronários relacionados com a TA ocorrem em indivíduos com
pré-hipertensão (TAS de 120 a139 mmHg e TAD de 80 a 89 mmHg). Um
dos problemas que se coloca, aos indivíduos não atletas, que vão praticar
actividade física pela primeira vez advém do desconhecimento da sua
aptidão para realização de exercício físico. Este desconhecimento associado
a um estilo de vida que promove o desenvolvimento de doenças do foro
cardiovascular, sublinha a importância da sensibilidade dos professores de
Educação Física, que trabalham com actividades de fitness, para o
doseamento da intensidade do exercício. Vários autores descrevem que, em
situação de esforço, a TAS aumenta e a TAD tende a diminuir (ACSM, 2005;
Brooks et al., 2000; Polito, 2003). O incremento da TAS resulta do aumento
do DC e, consequentemente, do aumento da pressão sanguínea exercida
sobre as paredes das artérias, induzindo uma resposta tensional mais
elevada por parte das mesmas (Guyton, 1992). Brooks et al. (2000) referem
que resposta da TAD está preferencialmente dependente das resistências
vasculares periféricas, as quais por sua vez são condicionadas pela massa
muscular activa, pela intensidade da força desenvolvida por unidade de
tempo e pelo tipo de contracção muscular realizada (isométrica/dinâmica).
Nos exercícios dinâmicos quanto maior a quantidade de massa muscular
solicitada, menores as resistências periféricas e, consequentemente, maior
facilidade do sangue ejectado pelo coração percorrer os diferentes vasos
sanguíneos.
101
Os resultados dos dois protocolos do presente estudo estão de
acordo com os descritos na literatura para a situação de exercício, ou seja,
houve um aumento da TAS e uma diminuição da TAD. Esta alteração
proporcionalmente inversa das duas expressões da TA determinou a
obtenção de uma TAM em repouso e pós-exercício similar. Na literatura, a
TAM tem sido descrita como um indicador de risco para a ocorrência de
acidentes cardiovasculares, pelo que o facto dos exercícios realizados de
acordo com os protocolos descritos, por não terem induzido alterações da
TAM, parece ser indicador da ausência de perigo para praticantes saudáveis
de hidroginástica. Contudo, não nos podemos alienar do facto de, por
exemplo, em indivíduos hipertensos, não medicados, a TA de repouso ser
superior e, consequentemente, o “disparo” agudo da TA pós-esforço ser
igualmente mais elevado. Acrescentamos também que, indivíduos com uma
história de hipertensão relativamente longa desenvolvem alterações dos
vasos sanguíneos, ou seja, ocorre uma fragilização da sua estrutura. Esta
alteração estrutural associada a um esforço de elevada intensidade (indutora
de um aumento pronunciado da TAS), como o realizado neste estudo,
poderá eventualmente desencadear a ocorrência um acidente
cardiovascular.
Na comparação dos dois protocolos constituídos por exercícios
indutores de elevada intensidade de esforço, verificamos que as respostas
tensionais pós-exercício foram semelhantes. No entanto, importa salientar
que no primeiro protocolo os valores tensionais de partida, isto é de repouso,
foram superiores, o que poderá ter determinado o aparecimento de valores
tensionais pós-esforço igualmente mais elevados. As variações observadas
na TA de repouso podem ser explicados pelos inúmeros factores que
condicionam este parâmetro fisiológico, como por exemplo as alterações
psicológicas/emocionais induzidas pela própria situação de avaliação.
Os resultados do cálculo do duplo produto permitiram observar um
aumento significativo do MVO2. Estes resultados eram esperados, uma vez
que a FC aumenta em resposta ao aumento da intensidade do exercício
aumentando também, consequentemente, a necessidade de melhor irrigar o
músculo cardíaco. Segundo Polito (2003), existe uma relação entre MVO2 e
o fluxo coronário sanguíneo, pois, em exercício o aumento MVO2 é
102
compensado por um aumento do fluxo coronário sanguíneo. O mesmo autor
salienta, no entanto, que um sujeito que possua uma doença obstrutiva
coronária provavelmente não consegue manter o fluxo sanguíneo necessário
às exigências metabólicas do miocárdio, nomeadamente em actividades de
intensidade crescente, ocorrendo isquemia cardíaca. Tendo em conta a
correlação positiva descrita na literatura entre o DP e o MVO2, vários autores
têm considerado o DP como um indicador da sobrecarga cardíaca.
A comparação dos valores do DP, calculados para os dois protocolos,
permitem-nos concluir que do ponto de vista do esforço cardíaco, o pico de
intensidade máxima de 7 min realizado no primeiro protocolo é mais
exigente e, como tal, eventualmente mais perigoso para sujeitos com alguma
debilidade cardíaca.
103
7. Conclusões
Com base nas hipóteses formulas e nos resultados encontrados,
concluímos que:
1: O pico de intensidade máxima, com a duração de 7 min, induziu uma
resposta láctica superior à indicada na literatura para esforços realizados ao
VO2max. O pico de intensidade supramáxima induzido através do exercício
aquático intermitente de curta duração gerou concentrações lácticas
superiores ao LAN, caracterizando-o assim como um esforço anaeróbio.
Concluímos que o fornecimento energético necessário aos dois esforços
inclui uma forte componente anaeróbia.
2: O pico de intensidade máxima, com a duração de 7 min, induziu uma FC
próxima do máximo e, em alguns casos, acima da FC máxima teórica
estimada. No pico de intensidade supramáxima, induzido através do
exercício aquático intermitente de curta duração os valores da FC
encontrados foram igualmente próximos do máximo estimado.
3: Após a realização do pico de intensidade máxima, com a duração de 7
min, e do pico de intensidade supramáxima induzido através do exercício
aquático intermitente de curta duração, os valores da TAS aumentaram e os
valores da TAD diminuíram proporcionalmente. Por conseguinte, os valores
da TAM calculada mantiveram-se semelhantes ao repouso, evidenciando um
baixo risco de ocorrência de acidentes cardiovasculares nesta amostra.
4: O pico de intensidade máxima, com a duração de 7 min, e o pico de
intensidade supramáxima induzido através de exercício aquático intermitente
de curta duração, foram percepcionados pelos sujeitos da amostra como
dois esforços máximos.
5: A resposta láctica ao exercício foi inferior no pico de intensidade
supramáxima induzido através de exercício aquático intermitente de curta
104
duração comparativamente com o pico de intensidade máxima, com a
duração de 7 min.
6: Os valores de FC encontrados foram inferiores no pico de intensidade
supramáxima, induzido através de exercício aquático intermitente de curta
duração, comparativamente com o pico de intensidade máxima, com a
duração de 7min.
7: Os valores da TAS e TAD obtidos após o pico de intensidade máxima,
com a duração de 7 min, e o pico de intensidade supramáxima induzido
através de exercício aquático intermitente de curta duração são
semelhantes. Contudo, após o cálculo do DP, observamos que o esforço
cardiovascular é superior no pico de intensidade máxima e
consequentemente, também o eventual risco cardíaco.
105
8. Perspectivas futuras
Do ponto de vista metodológico, poderíamos complementar este estudo
com a utilização de outros instrumentos, no sentido de avaliar novos
parâmetros fisiológicos. Entre os referidos instrumentos sugerimos a
utilização de um oxímetro (e.g. K4).
Ainda sob a perspectiva metodológica, parece-nos importante o estudo
de amostras com outros tipos de características, como por exemplo
portadores de doenças cardiovasculares, ainda que com uma adaptação dos
protocolos realizados, pois só assim poderemos encontrar resultados que
nos permitam concluir sobre a aplicabilidade deste género de esforços a
pessoas com alguma debilidade do foro cardiovascular.
A aparente novidade da utilização esforços anaeróbios no exercício
físico para a saúde abre um vasto leque de possibilidades para estudos
futuros a realizar neste âmbito, nomeadamente no que se refere aos
benefícios associados ao trabalho nestas intensidades e à importância do
desenvolvimento da capacidade anaeróbia em indivíduos não atletas.
107
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