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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NÚCLEO DE TEORIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO TALITA MARIA SILVA ESPAÇO ESCOLAR, ARQUITETURA E PEDAGOGIA NO RECIFE: NOTAS PARA UMA MODERNIZAÇÃO SEM MUDANÇA. Recife 2012

ESPAÇO ESCOLAR, ARQUITETURA E PEDAGOGIA …...Catalogação na fonte Bibliotecária Andréia Alcântara, CRB-4/1460 S586e Silva, Talita Maria. Espaço escolar, arquitetura e pedagogia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

NÚCLEO DE TEORIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

TALITA MARIA SILVA

ESPAÇO ESCOLAR, ARQUITETURA E PEDAGOGIA NO RECIFE:

NOTAS PARA UMA MODERNIZAÇÃO SEM MUDANÇA.

Recife

2012

TALITA MARIA SILVA

ESPAÇO ESCOLAR, ARQUITETURA E PEDAGOGIA NO RECIFE:

NOTAS PARA UMA MODERNIZAÇÃO SEM MUDANÇA.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação, como requisito parcial

para a obtenção do titulo de mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Flávio Henrique Albert

Brayner.

Recife

2012

Catalogação na fonte

Bibliotecária Andréia Alcântara, CRB-4/1460

S586e Silva, Talita Maria.

Espaço escolar, arquitetura e pedagogia no Recife: notas para uma modernização sem mudança / Talita Maria Silva. – Recife: O autor,

2012.

160 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Flávio Henrique Albert Brayner.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, CE.

Programa de Pós-graduação em Educação, 2012.

Inclui Referências.

1. Arquitetura moderna. 2. Projeto pedagógico moderno. 3. Anísio

Teixeira. 4. UFPE - Pós-graduação. I. Brayner, Flávio Henrique Albert.

II. Título.

CDD 724 (22. ed.) UFPE (CE2012-82)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ESPAÇO ESCOLAR, ARQUITETURA E PEDAGOGIA NO RECIFE:

NOTAS PARA UMA MODERNIZAÇÃO SEM MUDANÇA.

COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________________________

Prof.Dr. Flávio Henrique Albert Brayner

1º Examinador/ Presidente

______________________________________________

Profª. Drª. Telma Cristina Delgado Dias Fernandes

2ª examinadora

Profª. Drª. Maria Thereza Didier de Moraes

3ª examinadora

AGRADECIMENTOS

A perda, a queda, a catástrofe, os fracassos, a exposição cotidiana aos pequenos

traumas, apesar de serem inerentes à condição humana, são capazes de, a qualquer momento,

abalar o nosso mundo. O contato com o outro pode ajudar-nos a nos recompor, reconstituir ou

até mesmo levitar, como sugere José Miguel Wisnik. Faço esses agradecimentos aos “outros”

que contribuíram para essa minha “reconstituição” diária, e que me ajudaram a chamar o meu

“êxtimo” (emprestando o termo de Lacan) de meu íntimo.

Gostaria de agradecer em primeiro lugar ao meu orientador Flávio Brayner que, de

modo muito sutil e singular, conseguiu conduzir-me até este momento, sendo capaz de ler e

interpretar ideias que ainda se distanciavam do pretendido rigor acadêmico. Sua contribuição

foi imensurável e, sem ela, seria impossível a condução do trabalho até o fim.

Um reconhecimento especial a Evson Malaquias, pelo acompanhamento ininterrupto

do trabalho – no almoço, no jantar, nas férias –, não demonstrando cansaço ao ouvir falar

sobre arquitetura escolar. Suas contribuições teóricas foram muito importantes, mesmo que

não acatadas em alguns momentos. Apesar das divergências, contei com seu apoio em todas

as esferas. Sem esse suporte, este trabalho não teria chegado ao fim.

Obrigado a minha família: Diva, Almir, Rebeca, Dudinha e Tutuca, cujo afeto foi

fundamental.

Quero agradecer também à professora Myrtha Carvalho pela revisão do texto.

Aproveito para agradecer a Wilton Pontes pelo projeto gráfico e a Marta Praxedes pela

normalização de acordo com as normas da ABNT.

Agradeço aos meus amigos Francisco Carlos Figueiredo Mendes, Luiza Mendes,

Flávia Carvalho, Kelma Beltrão e Carolina Lopes pela amizade e pelas conversas

intensamente produtivas, e aos meus colegas de mestrado Nielson Bezerra e Paulo Oliveira

pelo monitoramento constante da escrita da dissertação de mestrado.

Quero agradecer a minha amiga Samanth pelo companheirismo e pela participação

ativa na minha vida.

Agradeço especialmente à direção do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão, pelo

acolhimento e disponibilização de materiais que foram fundamentais para a minha pesquisa.

Aos funcionários do Arquivo Público Estadual Jordão Emereciano (APEJE), entre eles

Freud, que, mesmo em condições de trabalho nada favoráveis, sempre se esforçaram por

atender as minhas inúmeras solicitações.

Aos funcionários da Biblioteca da Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco

(ALEPE), pela mobilização à procura de documentos para esta pesquisa.

Aos funcionários da Biblioteca do Centro de Artes e Educação, da Biblioteca do

Centro de Educação e da Biblioteca Central da UFPE, pela inestimável ajuda na localização

de materiais para pesquisa.

Às funcionárias da Biblioteca Central da Universidade Católica de Pernambuco

(UNICAP), por permitir a fotografia de alguns materiais.

À Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE), por

facilitar o acesso aos materiais de pesquisa.

Às funcionárias da Biblioteca Pública do Estado, que me ajudaram a encontrar

materiais valiosos para a pesquisa.

Aos funcionários da Gerência de Projetos Executivos da Secretaria de Educação do

Estado de Pernambuco, em especial a Eduardo Costa, pelo fornecimento de plantas do IEP.

Finalmente, agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente, colaboraram

comigo.

RESUMO

O objeto de estudo desta investigação histórica é a relação existente entre a arquitetura

moderna, de princípios corbusianos, e sua influência na educação do Jardim de Infância Ana

Rosa Falcão (um dos blocos do Instituto de Educação de Pernambuco), e abrange o período

de construção e inauguração do prédio, de 1956 a 1958. Neste trabalho, buscou-se

compreender a relação e a tensão entre um projeto arquitetônico moderno e um projeto

pedagógico moderno. O projeto pedagógico, influenciado pelos ideais de Anísio Teixeira,

propunha uma escola para todos, numa sociedade que manifestava, preponderantemente,

relações coronelistas, patriarcais e hierarquizadas, contrastantes com os ideais modernos. A

investigação histórica dos aspectos políticos, sociais e educacionais apoiou-se em fontes de

pesquisa diferenciadas – jornais locais do período de 1956 a 1958; revistas de estudos

pedagógicos do INEP de 1955 a 1960; fotografias da fachada, do prédio e dos alunos,

fornecidas pelo Jardim de Infância Ana Rosa Falcão, além de uma entrevista com o arquiteto

Marcos Domingues, autor do projeto para a construção da nova sede do Instituto de Educação

de Pernambuco. Essas fontes, analisadas em conjunto, possibilitaram a percepção e a

compreensão das relações entre uma arquitetura moderna, aberta, que se propõe a favorecer

relações dialogais, com uma ideia de educação que valoriza a vida e a experiência, e contribui

para relações mais democráticas, alimentando a crença de que a escola é capaz de transformar

a sociedade e inaugurar novas relações entre os homens.

Palavras chave: Arquitetura moderna. Projeto pedagógico moderno. Anísio Teixeira.

RÉSUMÉ

La relation existante entre l’architecture moderne des théories de Le Corbusier et son

influence dans l’education du Jardin d’Enfance Ana Rosa Falcão (un des blocs de l’Institut

d’Éducation de Pernambuco) est l’objet d’étude de cette recherche historique que vi de la

période de 1956-1958. Cette période est caracterisée par la construction et l’inauguration du

Jardin d’Enfance Ana Rosa Falcão. L’objectif de ce travail est de cherche à comprende la

relation entre projet architectural moderne avec un projet pédagogique moderne influencé par

lês idéaux d’Anísio Teixeira qui propose une école pour tous dans une societé qui manifeste

prépondérament des relations coronelistes, patriarches et hierarchisées contrastant avec les

idéaux modernes. La recherche historique des aspects politiques sociaux et scolaires s’est

soutenue dans des sources de recherche différenciées – des journaux locaux de la période de

1956-1958, révues d’études pédagogiques de INEP de 1955-1960, photos de la façade de

l’immeuble et des élèves, fournis par le Jardin d’Enfance Ana Rosa Falcão, entretien avec

l’architecte Marcos Domingues auteur du projet pour la construction du noveau siège de

l’Institut d’Éducacion de Pernambuco, les quelles, analysée conjointement rendent possible la

perception et la compréhension des relations entre une architecture moderne, ouverte, qui

propose de favoriser les relations de dialogue avec une idée d’éducation qui valorise la vie,

l’expérience et contribue à des relations plus démocratiques, en nourrisant la croyance que

l’école est capable de transformer la société et d’inaugurer de nouvelles relations entre les

hommes.

Mots-clés: Architecture moderne. Projet architectural moderne. Anísio Teixeira.

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 - Fachada do Ginásio Pernambucano ............................................................... 43

Ilustração 2 – Corredor de salas de aula do Ginásio Pernambucano .................................... 45

Ilustração 3 - Edifício da Escola Normal em 1926 .............................................................. 91

Ilustração 4 - Grande festa escolar em homenagem ao exmo. Sr. Sérgio Loreto –

Outubro/1925 ....................................................................................................................... 92

Ilustração 5 - Jardim de Infância da Escola Normal ............................................................ 93

Ilustração 6 - Uma visão do grupo escolar do Jardim São Paulo, construído sob a direção

administrativa do DOFSP .................................................................................................... 96

Ilustração 7 - Quadra coberta do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão ................................ 97

Ilustração 8 - Maquete da futura sede do Instituto de Educação de Pernambuco .................. 98

Ilustração 9 - Inauguração da Escola 1958 ........................................................................ 101

Ilustração 10 - Espaço interno do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão 2011 .................... 102

Ilustração 11 - Visão panorâmica do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão ........................ 103

Ilustração 12 - Sala de aula do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão 2011 ......................... 103

Ilustração 13 - Área externa do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão 2011........................ 104

Ilustração 14 - Atividade na quadra coberta ...................................................................... 105

Ilustração 15 - Atividade na quadra coberta ...................................................................... 106

Ilustração 16 - Atividade na quadra coberta ...................................................................... 106

Ilustração 17 - Festa Junina do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão 1959 ........................ 108

Ilustração 18 - Festa Junina do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão 1959 ........................ 108

Ilustração 19 - Comemoração do 1º aniversário do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão –

1959 ................................................................................................................................... 109

Ilustração 20 - Comemoração do 3º aniversário do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão –

1961 ................................................................................................................................... 110

Ilustração 21 - Primeira Comunhão dos alunos do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão –

1960 ................................................................................................................................... 111

Ilustração 22 - Primeira Comunhão dos alunos do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão –

1960 ................................................................................................................................... 111

Ilustração 23 - Cortes e fachadas do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão ......................... 112

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Conclusões de curso no Ensino Primário (cursos de 3 e de 4 séries) .................... 51

Tabela 2 - Escola Secundária brasileira - Número mínimo de horas semanais de cada

disciplina Curso Ginasial ..................................................................................................... 53

Tabela 3 - Quadriênio 1954-1957 (em milhares de cruzeiros) .............................................. 55

LISTA DE SIGLAS

CIAM Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna

CONSITRA Conselho Sindical dos Trabalhadores de Pernambuco

DAC Diretoria de Arquitetura e Construção

DAU Diretoria de Arquitetura e Urbanismo

DOFSP Departamento de Obras e Fiscalização do Serviço Público

IAB Instituto de Arquitetos do Brasil

IAB-PE Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento de Pernambuco

IAPs Instituto de Aposentadoria e Pensões

IEP Instituto de Educação de Pernambuco

INEP Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos

ONU Organização das Nações Unidas

PCB Partido Comunista Brasileiro

PSB Partido Socialista Brasileiro

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

UDN União Democrática Nacional

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10

2 ARQUITETURA MODERNA ...................................................................................... 19

2.1 ARQUITETURA MODERNA NO BRASIL ..................................................................................... 22

2.2 DEBATE ENTRE OS ARQUITETOS RECIFENSES ATRAVÉS DOS JORNAIS .......................... 28

3 ARQUITETURA ESCOLAR REPUBLICANA ......................................................... 37

4 EDUCAÇÃO NOS ANOS 1950 ..................................................................................... 49

4.1 RUY BELLO ......................................................................................................................................... 57

4.2 ANÍSIO TEIXEIRA ................................................................................................................................ 64

4.3 O PROCESSO DEMOCRÁTICO DE EDUCAÇÃO ........................................................................................ 66

5 RECIFE NOS ANOS 1950 E 1960 ................................................................................ 71

6 O IEP: EXPRESSÃO ARQUITETÔNICA DA ESCOLA NOVA ............................ 83

6.1 SURGIMENTO DO ENSINO NORMAL ..................................................................................................... 84

6.2 ESCOLAS NORMAIS BRASILEIRAS ........................................................................................................ 85

6.3 ESCOLA NORMAL OFICIAL DE PERNAMBUCO ...................................................................................... 88

6.4 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE PERNAMBUCO ....................................................................................... 94

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 114

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 118

INTRODUÇÃO

O presente estudo visa a uma análise da relação existente entre a arquitetura moderna

de princípios corbusianos e sua influência na educação do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão (um dos blocos do IEP). Qual a relação e tensão entre projeto arquitetônico moderno

com um projeto pedagógico moderno que propõe uma escola para todos numa sociedade que

manifesta preponderantemente relações coronelistas, patriarcais e hierarquizadas contrastando

com os ideais modernos?

Esta pesquisa busca responder a um conjunto de questionamentos que pode ser

resumido em quatro perguntas:

a) A arquitetura do IEP que se propunha moderna, expressava os ideais renovadores da

educação?

b) A pedagogia nova, defendida pelos educadores brasileiros, inclusive Ruy Bello e Anísio

Teixeira, marcaram a arquitetura escolar do Jardim de Infância Ana Rosa?

c) Como se dá a relação entre uma arquitetura moderna escolar, que se propõe favorecer os

laços sociais, em uma sociedade patrimonialista e extremamente hierarquizada?

d) A dimensão utopista pedagógica da época apontou indícios de mudança na relação

escola/sociedade, como os utopistas esperavam?

Acredita-se que a arquitetura das construções escolares pode ajudar a ler e interpretar

as atividades educativas e a sociedade, de um determinado tempo histórico. A periodização

deste trabalho se estende desde a autorização para a construção da nova sede do Instituto de

Educação de Pernambuco em 1955 até a inauguração em 1958 dos dois primeiros blocos: o

Jardim de Infância Ana Rosa Falcão e a Escola de Aplicação Cônego Rochael de Medeiros.

Para tanto, esse estudo constitui-se de quatro partes, em que a primeira parte é

subdivida em três fases; na primeira fase traz-se uma introdutória discussão acerca das

“arquiteturas modernas” no ocidente a partir da visão de Kenneth no seu livro Historia Crítica

da Arquitetura moderna no qual o autor faz uma análise das origens da arquitetura moderna e

sua relação com a tecnologia, o crescimento das cidades e a urbanização.

Em seguida na segunda fase, foi utilizada a interpretação de Segawa com o livro

arquiteturas do Brasil, fazendo um recorte no período de 1943 a 1960, momento de grande

efervescência cultural e da realização de importantes obras como o Ministério da Educação e

11

Saúde, a criação do Museu de Arte de São Paulo, a criação do Museu de Arte Moderna do Rio

de Janeiro que algumas vezes eram financiadas por governos autoritários e populistas. No

Brasil, temos Getúlio Vargas como grande incentivador da política de habitação baseada na

modernidade arquitetônica; toda essa movimentação econômica e construtiva não pode deixar

de ser notada pelos olhares estrangeiros e algumas vezes receberam comentários contundentes

principalmente de Max Bill e Walter Gropius.

E por fim, na terceira fase foi realizado um levantamento nos jornais locais que tinham

páginas especificas para tratar temas relacionados à arquitetura que eram Folha da Manhã e

Jornal do Commercio. Também foi utilizado o livro “Modulando”, de Edilson Lima, que traz

as principais notícias publicadas na imprensa local relacionadas ao ensino de arquitetura, à

profissão do arquiteto, aos principais concursos de arquitetura, às homenagens.

Percebe-se que os temas relacionados à arquitetura moderna têm um grande peso no

trabalho; sentiu-se a necessidade desse levantamento bibliográfico porque a edificação escolar

que analisamos é uma construção dita “moderna”; para isso precisava-se entender o que

significava essa tipologia construtiva, seu surgimento, seus princípios, e sua relação com um

projeto de sociedade e de homem.

As construções escolares, o investimento do setor público na construção de espaços

específicos para a educação, surgem no período republicano e por isso na segunda parte do

trabalho se traz uma breve discussão acerca da arquitetura escolar republicana. Recorreu-se a

Wolff no seu trabalho Escolas para a República (2010) e ao trabalho de Ester Buffa e Paolo

Nosella (2002) sobre as edificações paulistas. Apesar de não existir uma tipologia construtiva

dita republicana, no trabalho de Wolff “Escolas para a República”, a autora faz um estudo da

arquitetura dos prédios e da contribuição das edificações escolares para entender a história da

arquitetura paulista que, em alguns momentos, chama de arquitetura escolar republicana.

As construções escolares desse período deveriam demonstrar a força de seus governos;

prédios imponentes que em alguns momentos se assemelhavam aos claustros medievais e que

incutiam em seus frequentadores ou até mesmo transeuntes, já que o prédio se destacava das

outras construções ao seu redor quando existiam, sentimentos de devoção e respeito.

A arquitetura monumental com longos corredores, grandes portas e janelas pode

despertar sentimentos de submissão em seus ocupantes, quando não se respeita a escala da

criança, e os indivíduos não podem ter sequer controle sobre a questão térmica, já que o ato de

abrir ou fechar uma janela a fim de controlar a temperatura não depende dos alunos.

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Dessa forma, a arquitetura escolar pode ser vista como um programa educador, ou

seja, como um elemento do currículo invisível ou silencioso que algumas vezes não está

explícita na proposta pedagógica, mas que dita as formas em que os indivíduos ocuparão o

espaço, onde e como sentarão, se vão ou não se encontrar, se haverá atividades coletivas

envolvendo toda a comunidade escolar ou, apenas, eventos isolados porque não há espaço

para todos se encontrarem.

Além da arquitetura, a localização da escola também é um elemento que vai interferir

no processo educativo; sua proximidade ou afastamento dos núcleos urbanos nos traz

elementos para entender sua relação com a comunidade. O traçado arquitetônico do edifício

demonstra a importância dada ao prédio escolar, às tendências arquitetônicas vigentes, quanto

o poder público está disposto a gastar para erguer um prédio escolar. As decorações exteriores

e interiores respondem a padrões culturais e pedagógicos que a criança internaliza e aprende.

Na segunda parte do trabalho se utilizaram as Revistas Brasileiras de Estudos

Pedagógicas publicadas pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP do Ministério

da Educação e Cultura do período de 1955 a 1960 para tentar-se aproximar do que era a

educação brasileira na década de 50, a partir das lentes dos “renovadores” da educação, entre

eles, Fernando de Azevedo, Francisco Venâncio Filho, Lourenço Filho e Anísio Teixeira.

Apesar das tentativas de renovação o ensino brasileiro ainda nutria um forte caráter

intelectualista, um ensino arcaico, em que os procedimentos didáticos se resumiam ao método

expositivo.

No que se refere à formação do professorado, em muitas situações não havia

professores qualificados, mas um grupo de professores denominados de “professorado de

urgência”. Eram profissionais vindos de outras profissões que assumiam o papel de professor.

Anísio Teixeira chega a comparar nossa educação com a teoria medieval do conhecimento.

Mas como não se pode dissociar a educação de um povo e do seu ideal de homem que

se quer formar, da sociedade na qual esta inserida, através do levantamento de jornais,

buscou-se tentar interpretar o Recife com ênfase nas questões sociais. Como alimentar um

ideal democrático moderno numa sociedade coronelista? Para isso fizemos levantamento dos

jornais locais, Folha da Manhã, Diário de Pernambuco, Jornal do Commercio, Folha da

Manhã Vespertino, Folha da Manhã Matutino; selecionamos esses jornais porque eram os

únicos do período que queríamos analisar que estavam disponíveis para consulta local.

13

Nessa análise, depara-se com um Recife policialesco, fraudulento, com indicadores

sociais alarmantes, com uma população miserável que sofre com a falta de serviços públicos

básicos como iluminação elétrica, transporte público, telefone, abastecimento de água, onde

mais da metade da população era constituída de analfabetos que na época das eleições podiam

votar graças às “escolas eleitorais”. Apesar de nossas construções modernas notáveis como a

Caixa d’água de Olinda, o Pavilhão de Óbitos do Derby, a Escola Rural Alberto Torres, uma

parcela significativa da população ainda vivia nos mocambos e o regente dessa ópera de

horror era Cordeiro de Farias, então governador de Pernambuco, que governava com a

“ajuda” dos coronéis e do jogo do bicho.

Mas nessa vida seca, lembrando Graciliano Ramos, há as tentativas de renovação.

Mesmo com Chico Romão, Zé Abilio, Chico Heráclito, Veremundo Soares havia as Ligas

Camponesas, Julião; mesmo com a “indústria da seca” se tem a criação da SUDENE, nutria-

se a esperança de mudança com a Frente do Recife, a eleição de Cid Sampaio, o Congresso de

Salvação do Nordeste, Arraes.

No Recife de Cordeiro de Farias, Chico Romão, Cid Sampaio, Pelópidas Silveira,

Jarbas Maranhão, Aníbal Fernandes, Aderbal Jurema, Ruy Bello e um Centro Regional de

pesquisa do INEP criam-se as condições para a construção de vários grupos escolares

condizentes com as modernas técnicas pedagógicas e entre eles se destaca o nosso objeto de

estudo, o Jardim de Infância Ana Rosa Falcão.

Projeto de autoria dos arquitetos vencedores do concurso para a construção do prédio,

Marcos Domingues e Carlos Falcão, foi construído e inaugurado parcialmente na

administração de Cordeiro de Farias, então governador de Pernambuco, e fazia parte de um

projeto de modernização e embelezamento da cidade do Recife através da arquitetura. Há a

necessidade de construção de uma nova sede para a antiga Escola Normal condigna com os

métodos modernos de educação, alimenta-se a ideia de que a partir de um prédio com

características modernas poderia modernizar-se a educação.

Anísio Teixeira, um grande admirador e financiador do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão e de outros grupos escolares em Pernambuco como os de Nova Descoberta, Jardim

São Paulo, Tejipió, Poção, Triunfo, Vicência, Orobó, Nazaré da Mata, São Vicente Ferrer,

Panelas, Águas Belas, Buíque, Carnaíba, através do INEP, defendia a necessidade de um

ensino primário de qualidade que além de se expandir quantitativamente precisava de

instalações adequadas e professores qualificados, uma educação capaz de possibilitar a

14

igualdade de oportunidade a todos sem preconceitos de classe. A principal função da

educação seria a aproximação social e a diluição dos preconceitos.

Uma educação que valoriza a vida, onde os alunos são capazes de aprender através da

experiência, em que as matérias de ensino não são impostas, mas construídas coletivamente;

esse tipo de escola seria uma possibilidade para a construção de uma sociedade democrática,

as relações que seriam estabelecidas entre “os muros da escola” seriam transplantadas para

fora dela e contagiariam a sociedade. Essa escola não era a garantia de uma sociedade

democrática, mas nutria a esperança de transformá-la nesse projeto.

O projeto de modernização e embelezamento da cidade através da arquitetura vai

além da construção dos modernos grupos escolares e se estende à criação da Faculdade de

Arquitetura, em 1960, no reitorado de João Alfredo; a criação de Brasília, um sonho antigo

que nutria a esperança da construção de uma sociedade mais igualitária, os jardins de Burle

Marx, as páginas sobre arquitetura moderna nos jornais locais, Jornal do Commércio e Folha

da Manhã que tentavam esclarecer a sociedade sobre a importância dos arquitetos e aproximar

a sociedade dos conceitos modernos de construção.

Por se estar no campo da educação, é uma empreitada difícil nos aproximarmos dos

conceitos arquitetônicos, mas acreditamos que é possível, sim, “um educador entender de

arquitetura”. No entanto, nosso objetivo não é dominar as ferramentas para calcular volumes,

traçar planos ou desenhar plantas baixas, mas utilizar alguns conceitos arquitetônicos para

entender de que forma a educação influencia ou é influenciada por uma determinada tipologia

construtiva, se um determinado tipo de construção pode ou não favorecer práticas/atividades

que contribuem para uma sociedade mais democrática.

Apesar de não ser uma discussão recente, o tema da arquitetura escolar ainda é pouco

explorado e muitas vezes as análises dos prédios escolares se baseiam apenas no traçado

arquitetônico do prédio e nas técnicas construtivas, sem uma maior relação com a proposta de

educação a ser adotada. Neste trabalho não pretendemos trazer uma visão totalizadora da

educação escolar, nem tampouco esgotar o tema, mas tentar fazer uma interlocução entre

áreas tão distintas e ao mesmo tempo complementares como arquitetura e educação.

No Brasil, há algumas pesquisas sobre arquitetura escolar sob as denominações de

arquitetura escolar; espaços (e tempo) escolares; edificações, construções e prédios escolares

que trazem ricas informações sobre prédios escolares e cultura escolar e nos ajudaram a tecer

esse trabalho.

15

Loureiro (2000) analisa a edificação escolar pública em Recife como veículo para

análise da natureza das relações entre organização social e configuração espacial; Bencostta

(2001) discute o processo de implantação dos primeiros grupos escolares em Curitiba (1903-

1928); Zarankin (2001) analisa a relação existente entre as transformações na arquitetura das

escolas primárias da cidade de Buenos Aires (desde seu surgimento em meados do século

XIX até o final do século XX) e as transformações no sistema capitalista, enxergando a

arquitetura, conforme Foucault, como uma tecnologia do poder; Fonseca (2004) analisa a

arquitetura das escolas primárias em Belo Horizonte, projetadas ou construídas de acordo com

as reformas educacionais mineiras implantadas no período que vai de 1892 até 1930;

Gonçalves (2004) analisa o processo de produção da escola primária em Minas Gerais, que se

configurou na passagem da organização do modelo escolar das escolas isoladas para o modelo

escolar dos grupos escolares; Pereira (2007) verifica como propostas pedagógicas podem

colaborar para o projeto arquitetônico de edifícios escolares e, ao mesmo tempo, qual a

contribuição do espaço construído para o aprendizado da criança e suas relações com seu

desenvolvimento social; Rocha (2008) discute a implementação da Reforma João Pinheiro e

as práticas escolares da escola primária mineira; Castro (2009) investiga a implementação dos

Centros Integrados de Educação Pública no Estado do Rio de Janeiro, estudando a relação

entre escola e cidade através de sua arquitetura.

Na falta de regimentos, projeto político pedagógico, cadernetas de alunos, diários de

classe recorremos às fotografias do prédio, dos alunos, das atividades escolares a fim de tentar

recompor alguns elementos que nos ajudassem a entender o Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão. “As imagens fotográficas da fachada principal da escola, da turma diante da escada,

da classe, do pátio, da professora e de seus alunos, da coleção de livros e da aula de ginástica

são documentos da história da arquitetura escolar e de seus personagens [...]” (WOLFF, 2010,

p.30). Os jornais também foram muito importantes para apreender o significado dessa

construção escolar.

Esta dissertação recorreu ao método histórico, entrevista e de análise bibliográfica para

análise do contexto sócio-histórico-pedagógico-educacional. Para a análise da arquitetura

moderna escolar no IEP, fizemos interpretação transversal que articulava as categorias da

arquitetura de espaço, mobiliário, clima, com algumas características da pedagogia adotada

pela escola nova – entre eles, Anísio Teixeira e Ruy Bello – esse último que, apesar de não

pertencer efetivamente ao grupo dos “renovadores da educação”, tentava renovar a educação

com princípios que se aproximavam dos escolanovistas.

16

Portanto, a fonte do jornal com finalidade de contextualização sócio-histórico-

educacional foi fundamental. Outras fontes foram as fotografias do Jardim de Infância Ana

Rosa Falcão; oriundos desse estabelecimento, também se estudaram bibliografias que

focavam a arquitetura escolar. A primeira, visando identificar as categorias chaves e a

caracterização da arquitetura escolar. A segunda, identificar e conhecer mais os autores, tanto

em sua narrativa de história institucional na educação, como seus postulados e conceitos

educacionais. Além disso, foi feita entrevistas com o senhor Marcos Domingues da Silva, um

dos arquitetos vencedores no concurso para a construção do IEP.

Para o estudo do projeto pedagógico, da ideia de criança, de infância e de homem que

aquela escola queria forjar, recorremos aos jornais, às fotos fornecidas pelo Jardim de Infância

Ana Rosa Falcão, e às Revistas Brasileiras de Estudos Pedagógicos publicadas pelo Instituto

Nacional de Estudos Pedagógicos- INEP do qual Anísio Teixeira era diretor.

Todas as fotografias fornecidas pelo Jardim de Infância Ana Rosa Falcão do período

pretendido foram digitalizadas, colocadas em CD e entregues à diretoria da Escola como

agradecimento pelo acolhimento na Instituição.

Infelizmente, o Jardim de Infância Ana Rosa Falcão não dispunha de nomes de

professores, cadernetas escolares, projeto pedagógico, normas, regimentos, diários de classe

do período pretendido; fomos informados pela diretoria da instituição que a cada 5 anos os

documentos são incinerados porque não existe espaço físico para guardar esses documentos.

Também se realizou uma leitura do projeto arquitetônico levando em conta elementos

como ventilação, iluminação, conforto, insolação, circulação, período histórico de construção,

articulação dos espaços internos, técnicas construtivas, materiais utilizados. Para essa leitura

recorremos aos jornais, fotos da fachada, das dependências, da utilização pelos alunos dos

espaços, de plantas e de entrevista com um dos autores do projeto, o arquiteto Marcos

Domingues. Tomou-se contato com 260 fotos do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão. Dessas

utilizaram-se 12 para análise do material. Além dessas fotos também foram utilizadas fotos de

jornais e fotos tiradas pelo próprio autor. As fotos foram agrupadas de acordo com a estrutura

física do prédio e as atividades educativas da escola buscando-se estabelecer as relações entre

o prédio de características modernas e os preceitos escolanovistas.

Foi feito levantamento dos jornais no período de 1955 a 1958, período de autorização,

da abertura do concurso, construção e inauguração da nova sede para o IEP; o critério para a

seleção dos jornais foi a disponibilidade dos mesmos para a consulta local, já que muitos

17

estão deteriorados e por isso indisponível para consulta. O levantamento foi realizado no

Arquivo Público Estadual Jordão Emereciano (APEJE) instituição que possuía os jornais do

período pretendido na íntegra sem serem videofilmados e que o pesquisador julgou ser mais

fácil de serem manipulados; Tivemos acesso ao: Jornal do Commercio, Folha da Manhã

Vespertino, Folha da Manhã Matutino e Diário de Pernambuco.

Depois de verificada a disponibilidade dos jornais do período pretendido, os mesmos

foram fotografados e em seguida foi elaborado um quadro com os principais temas, como

mostra a tabela a seguir:

TÍTULO DA

NOTÍCIA CONTEÚDO AUTOR JORNAL FOTO DATA PÁGINA

Só por milagre

Compra de

votos;

corrupção.

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 3449 03/09/1958 4

Desse quadro surgiram outros, um primeiro para as noticias relacionadas à arquitetura,

a fim de entender quais eram as preocupações dos arquitetos, o que se falava sobre arquitetura

nos jornais. O levantamento sobre as questões arquitetônicas nos levaram a perceber que a

construção do IEP não foi um evento isolado, mas fazia parte de um momento de

efervescência cultural e construtiva na capital pernambucana.

Em seguida, montou-se um segundo quadro com as notícias sobre os aspectos

econômicos e sociais de Pernambuco que ajudaram a entender o que estava acontecendo na

sociedade naquela época, quais as principais reivindicações. Em seguida, foi feito um terceiro

quadro com as noticias sobre a construção para a nova sede do IEP, que podem ser agrupadas

da seguinte forma: os jornais de 1956 falam sobre o concurso de arquitetura para a nova sede,

os jornais de 1957 falam sobre a construção do prédio e os jornais de 1958 relatam a

inauguração.

A entrevista com o senhor Domingues foi realizada em 05 de setembro de 2011,

juntamente, com o orientador, em que se utilizou o gravador digital e durou aproximadamente

40 minutos. Foi realizada apenas uma entrevista, cuja transcrição literal da fala do

entrevistado foi feita pelo próprio autor desse trabalho. Recorreu-se ao método semi-

estruturado. As questões concentraram-se em torno do concurso para construção da nova sede

do IEP, das influências arquitetônicas do autor do projeto, da repercussão do projeto. Na

entrevista, interessaram-nos informações históricas, concepção de arquitetura da época e a

relação da arquitetura com os ideais educacionais.

18

Arquitetura

Moderna

19

1 ARQUITETURA MODERNA

Não se pretende aqui contar a “história da arquitetura moderna”, mas apenas

concisamente, introduzir breves aspectos que nos forneçam elementos histórico-econômicos

articulados com os saberes e papel da arquitetura. Para isso, recorremos aos estudos de

Kenneth Frampton, “História crítica da arquitetura moderna”.

A localização histórica da arquitetura moderna não é fácil, assim pensa Frampton.

Conforme ele, “quanto mais rigorosamente se procura a origem da modernidade, mais atrás

ela pode estar”. Possivelmente, vamos encontrá-la no meado do século XVIII, quando os

arquitetos, influenciados pelo pensamento dos historiadores, “questionaram os cânones

clássicos de Vitrúvio e começaram a documentar os vestígios do mundo antigo a fim de

estabelecer uma base mais objetiva sobre a qual trabalhar” (FRAMPTON, 2008, p. ix).

A arquitetura moderna, certamente, desempenhou um papel de empobrecimento do

ambiente com suas lógicas racionalizadoras dos tipos e métodos de construção. A arquitetura

adotou uma linguagem em que a expressão reside quase inteiramente em

componentes secundários, técnicos, como rampas, caminhos, elevadores,

escadas, escadas rolantes, chaminés, tubulações e lixeiras. Nada poderia

estar mais distante da linguagem da arquitetura, na qual essas características

ficavam invariavelmente ocultas, atrás da fachada, e em que o corpo

principal do edifício tinha liberdade de se exprimir (FRAMPTON, 2008, p.

xi).

A arquitetura moderna se contrapôs aos excessos arquitetônicos do Antigo Regime e

buscou “um estilo autêntico por meio de uma reavaliação precisa da antiguidade” (p. 4).

Contudo, os arquitetos iluministas, ou precisamente Boullé, apesar de ser defensor do

republicanismo, obsessivamente, imaginava “monumentos de um Estado onipotente,

dedicados à adoração do Ser Supremo”, e ressaltava, intensamente, a capacidade “que tinha a

luz de evocar a presença do divino”. Além disso, explorou os “vastos volumes platônicos”

como meio de obter “uma representação apropriada a um custo razoável” (p.6, 7).

Há duas classificações de arquitetura clássica que aponta Frampton: uma estruturalista

e, outra, romântica. A primeira dava ênfase à estrutura e se concentrou nas obras de prisões,

hospitais e estações ferroviárias. A segunda valorizava o “caráter fisionômico da própria

forma” e concentrou-se em museu e biblioteca universitários.

20

Os determinantes da tecnologia, do crescimento das cidades, concentração de riqueza

mudaram a fisionomia da cidade. As inovações da agricultura e da indústria têxtil foram

fundamentais: a manufatura, abandonando o meio rural e concentrando o trabalho, e a fábrica,

utilizou a força motriz a vapor com recurso de carvão. A utilização de barco a vapor

contribuiu, também, para essa modificação, perfazendo caminhos longos, transportando

milhares de pessoas nas migrações.

As cidades sofriam esses efeitos através da arquitetura quando o urbanismo

representava essa temporalidade material e imaginária. Construíam-se “fábrica modelo” e

“cidades ferroviárias” às comunidades “utópicas projetadas como protótipos de um futuro

Estado esclarecido”, expõe Frampton, exemplificando com a cidade de Yorkshire (fundada

em 1850), que era uma “cidade fabril paternalista, completada por instituições urbanas

tradicionais, como a igreja, enfermaria, escola secundária, banhos públicos, asilos e o parque”

(p. 15).

Já na França aristocrática, que considerava “o verde como outra ordem arquitetônica”,

Paris foi convertida, no século XIX, à “metrópole regional”, “abrindo na malha existente ruas

cuja finalidade era ligada por ponto e bairros opostos [criando eixos norte-sul] cruzando as

tradicionais barreiras do Sena” – que estava bastante poluído, pois servia de esgoto. Havia a

percepção de que Paris era “enorme fábrica de consumidor” (p.18).

“Já a arquitetura espanhola, (de Artur Soria y Mata), era ‘inerentemente regional,

indeterminada e continental” (ruas largas), a cidade linear; a versão inglesa (de Ebenezer

Howard) era autônoma, limitada e provinciana – era rodeada por vias férreas e a média

populacional era delimitada. Assim, “a Rurisville de Howard tinha por meta eliminar o trajeto

casa-trabalho – a ferrovia era reservada muito mais a objetos do que a pessoas -, a ciudad

lineal era expressamente projetada para facilitar a comunicação” (p. 22).

Ao final da década de 20 e início de 30, com Le Corbusier, o ambiente será importante

na sua arquitetura: abandona e desilude-se da crença na “civilização da era da máquina” e é

influenciado pelo “brutalismo” do pintor Fernand Légel. Recorre ao surrealismo da

imaginação (o gramado do solário parecia um tapete vivo). A bricollage caracteriza suas

linhas e formas: “a justaposição de materiais contrastantes tornou-se um aspecto fundamental

do estilo de Le Corbusier (...). Essa adesão a materiais naturais e métodos primitivos teve

consequências que extrapolaram a mera mudança técnica ou de estilo de superfície”; o

modelo clássico foi abandonado por completo, investindo “na força expressiva de um único

21

elemento arquitetônico, fosse um telhado de uma água, suportada por paredes cruzadas, ou

um megaron coberto por uma abóboda” (p. 272-3).

A arquitetura iluminista – e, portanto, moderna – em busca de uma “contínua inovação

técnica e do desenvolvimento” – chega ao absurdo de criar uma cidade na Índia, Chandigarh,

“projetada para automóveis num País em que muitos, como acontece ainda hoje, não têm

sequer uma bicicleta” (p.279).

Em 1928, no Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), um grupo de

arquitetos

enfatizou a construção, e não a arquitetura, como a ‘atividade elementar do

homem, intimamente ligada à evolução e a o desenvolvimento da vida

humana’. [O CIAM afirmou], de modo explícito, que a arquitetura estava

inevitavelmente ligada sujeita às necessidades mais amplas da política e da

economia, e que , longe de estar distante das realidades do mundo

industrializado, teria que depender, em termos de seu nível geral de

qualidade, não do trabalho artesanal, mas da adoção universal de métodos

racionais (...) [o CIAM enfatizou] a necessidade da economia e da

industrialização planejadas, denunciando, ao fazê-lo, a eficiência como um

meio de maximizar os lucros (p. 327)

Em 1951, o CIAM opta pelo tema “O coração da cidade”, quando se afirmou: “as

pessoas querem que os edifícios que representam sua vida social e comunitária possam dar-

lhes uma satisfação funcional maior. Querem satisfazer sua aspiração à monumentalidade, à

alegria, ao orgulho e à comoção” (p.329).

Em 1953, o CIAM rejeitava o “sentimentalismo sittesco da velha guarda como

também o racionalismo da ‘cidade funcional’”. Buscou-se encontrar “uma relação mais

precisa entre a forma física e a necessidade psicológica”. (p.329).

A Inglaterra, após a segunda guerra mundial, investe na construção e reforma de duas

mil e quinhentas escolas em uma década. Recorre ao estabelecimento da Lei da Educação

(1944) e a Lei das Novas Cidades (1946) para implementar mudanças na ordem educacional e

urbanística.

Em 1953, na Exposição Paralelo, no Instituto de Artes Contemporâneas, conforme o

autor utilizado aqui, “havia algo decididamente existencial numa exposição que insistia em

ver o mundo como uma paisagem . ameaçada pela guerra, pela decadência e pela doença –

por baixo de cujos destroços queimados ainda seria possível encontrar vestígios de vida, ainda

que microscópica, pulsando no interior das ruínas” (p. 322).

22

Surgiu um movimento marginal na arquitetura denominado “regionalismo crítico” que

valorizava os aspectos locais, mas negava a “ingênua utopia dos primórdios dos modernos”.

Defendia a planta pequena e não a de grandes dimensões. Enfatizava a “forma do lugar”,

reconhecendo o limite de sua obra. Enfatizava “certos fatores específicos do lugar, que variam

desde a topografia, vista como uma matriz tridimensional à qual a estrutura se amolda até o

jogo variado da luz local que sobre ela incide” – a luz é sempre vista como agente básico. É

contrário ao recurso do ar condicionado, valorizando os espaços de transição. Valoriza mais a

experiência em detrimento da informação. Assim, “é sensível a percepções complementares

como os ambientes de calor, frio, umidade e deslocamento do ar, bem como à diversidade dos

aromas e sons produzidos por materiais diferentes em diferentes volumes”. Empenha-se em

cultivar “uma cultura contemporânea voltada para o lugar sem tornar-se, por isso,

excessivamente hermética, tanto no nível da referência formal quanto no da tecnologia”.

Tende assim, à criação de uma “cultura mundial” (p.397).

A partir desse autor, podemos situar a arquitetura moderna como uma contraposição à

concepção clássica, com perspectivas racionalizantes, objetivas e utilização de recursos

técnicos disponíveis (cimento, ferro). Na verdade, podemos falar em arquiteturas modernas,

pois havia diversas concepções arquitetônicas que se inspiravam na criação do autor, no

tempo histórico e na sociedade que os acolhia com suas singularidades.

1.1 ARQUITETURA MODERNA NO BRASIL

Nessa parte do texto se utilizou a periodização utilizada por Segawa (1956) no livro

“arquiteturas no Brasil” 1900 a 1990 fazendo recorte no período de 1943 a 1960 em que o

autor enfoca aspectos como as condições sociais em que aflora a arquitetura desse período, a

repercussão das formas de construir, as situações de conflito e a culminância de um novo

projeto de sociedade com a construção de Brasília.

Para Segawa (1956), Mario de Andrade parece ter sido o primeiro intelectual a chamar

o grupo carioca de arquitetos de uma escola, a escola carioca. Um movimento formado por

arquitetos da Escola Nacional de Belas Artes, liderado por Lúcio Costa no Rio de Janeiro que

vai da década de 30 até a construção de Brasília na década de 50. Também chamada de

Brazilian School, Cariocan School, First National Style in Modern Architecture representada

por Reydi, Niemeyer, Sergio Bernardes e os irmãos MMM Roberto.

23

A arquitetura feita no Brasil, aproximadamente entre as décadas de 30 até a construção

de Brasília, convencionou-se chamar de arquitetura moderna brasileira, decorrente da

arquitetura praticada no segundo pós-guerra. Internacionalmente até o inicio dos anos 70, o

período do pós-guerra recebeu vários nomes: Goff (1904-1982), Sakakura (1904-1968),

O’Gorman (1905-1982), Maekawa (1905-1986), Johnson, Niemeyer, Eames (1907-1978),

Rogers (1909-1969), Bunschaft (1909-1990), Saarinen (1910-1961), Zerfuss (1911-1996),

Stubbins (n.em 1912), Yamasaki (1912-1986), Tange (n.em 1913), Candillis (1913-1995),

Bakema (1914-1981), Johansen (n.1916), Utzon (n.1918), Van Eyck (n.1918), Rudolph

(1918-1998), Vigano (1919-1996), Smithson (1918-1993), Mies (1886-1969), Groupis, Le

Corbusier e Wright (Segawa 1956, p.104); tínhamos ainda o Bay Region Style norte-

americano, o neo-empirismo escandinavo, o New Brutalism de Bahaus 91922-1988), o neo

realismo italiano, o Neoliberty de Paolo Portoghesi (n. em 1931), Bruno Zevi com uma versão

italiana da arquitetura wrightiana. (Segawa 1956, p.104)

Essa diversidade de estilos é uma herança dos movimentos iniciados ainda no século

XX até o início dos anos 30. Com o pós-guerra há uma reorganização da “geografia

arquitetônica”; o que antes se concentrava na França, na Itália, na Alemanha e na Holanda

agora se estende aos Estados Unidos, Japão, países escandinavos, México, Venezuela e Brasil.

Na internacionalização da arte destacam-se o pintor Cândido Portinari com os painéis do

Ministério de Saúde e Educação e no Edifício sede da ONU em Nova York (1957) e o músico

Heitor Vila Lobos (1887-1859).

Para alguns intelectuais, nesse momento, o fato mais importante foi à presença de Le

Corbusier pela América do Sul, em 1929 tendo bastante influência em Lúcio Costa. Em 1936,

Le Courbusier retorna ao Brasil a convite de Capanema, então ministro da Educação e Saúde

de Getúlio Vargas (1934 a 1945), e, em pleno Estado Novo, é convidado para ser consultor do

Projeto do Ministério da Educação e Saúde (1936-1942) que além de simbolizar uma reforma

da educação à altura dos novos tempos, deveria expressar um caráter nacional que só foi

alcançado devido à incorporação das artes plásticas ao projeto como o Mural de Portinari.

Sabe-se que essa construção não foi um fato isolado, mas a afirmação de um movimento que

já se tinha iniciado com Warchavchik e Flávio de Carvalho.

A tarefa do projeto inicialmente foi entregue a Lúcio Costa e, juntamente com Oscar

Niemeyer, Carlos Leão, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos e Afonso Eduardo Reidy,

realizou-se o projeto do Ministério da Educação e Saúde.

24

A política do governo visava a uma modernização conservadora do país, em

que indústria, cultura e tecnologia desenvolver-se-iam sob a égide de uma

autoridade central. A ambivalência do regime autoritário revela-se pelas

realizações de Capanema. De um lado ele era o responsável pelo

florescimento da arte moderna, construção de universidades e por programas

revolucionários no campo de atendimento sanitário e de ensino. Por outro,

ele era quem respondia pela censura, pela propaganda política, pelos

movimentos juvenis nacionalistas e pelo fechamento de organizações de

oposição (MEURS, 2010, p.75).

O desenvolvimento econômico do Brasil se tornou um ambiente fértil para a

propagação das artes plásticas internacionais, e a sede para eventos importantes para a

arquitetura, com a criação do Museu de Arte de São Paulo (MASP)1947, a vinda de Lina Bo

(1914-1992) e Pietro Maria Bardi (n.100), a criação do Museu de Arte Moderna no Rio de

Janeiro (MAM/RJ), a Bienal Internacional de Artes plásticas de São Paulo (1951)”. Esses

eventos propiciaram a divulgação da arquitetura brasileira na qual se destacavam Oscar

Niemeyer, Lúcio Costa, Afonso Reidy, os irmãos Robertos, Rino Levi, Burle Marx, Sergio

Bernardes, Oswaldo Bratke, Jorge Moreira, Gregorio Warchavckik. (Segawa 1956, p.105).

Segawa (1956, p.107) destaca que entre 1943 e 1973 Alberto Xavier realizou um

levantamento bibliográfico sobre periódicos brasileiros utilizados fora do Brasil e registrou

137 referências tratando da arquitetura brasileira e 170 referências sobre Brasília. Entre elas,

destacam-se : L’Architecture d’aujourd’hui (1947, 1952, 1960, 1964), Architectural Forum

(1947), Progressive Architecture (1947), Architetuctural Review (1954), Arquitetura México

(1958), Nuestra Arcquitectura (1960) e Zodiac (1960), Revistas como Architetuctural Review,

Techniques et architecture, Architectural Record, Architectural Design,Riba Journal,

Arkitektur,Architecture/formes/fonctions, Domus,Werk, The Architect’s Journal, Ekistiks,

Casabella,Landscape Arquitecture, Cronache di architecttura , AIA Journal.

Em relação à opinião estrangeira sobre a arquitetura brasileira, conforme Segawa, vale

destacar Henry- Russel Hitchcock idealizador do manifesto “internacional style” de 1932 que

fez elogios à arquitetura brasileira, Leonardo Benévolo (1974), Kenneth Frampton (1981),

Bruno Zevi, Nikolaus Pevsner, Walter Gropius e Max Bill; esses dois últimos apontam

formalismos das construções e a negligência dos aspectos sociais. “Gropius afirma que,

embora muito bonita, a casa de Niemeyer não era multiplicável. O brasileiro responde com

uma indagação: como multiplicar algo tão adaptado à topografia local e a circunstâncias tão

únicas?” (PETIT, 1988 apud LOPES. p.2).

Muitas das críticas à arquitetura brasileira podem ter sido geradas pelo fato de a

arquitetura brasileira ser analisada a partir do “Internacional Style” dos nos 20 na Europa.

25

Mas no Brasil nunca existiu um “Internacional Style”, (Segawa 1956); apesar de nossa

arquitetura ter influência internacional ela se daria pelo diálogo entre os elementos

construtivos modernos e a manutenção de nossas características naturais e espontâneas, tanto

pelas características locais quanto as dificuldades da indústria de construção em atender às

exigências das novas soluções e materiais adotadas, que foram muito bem utilizadas por

Lúcio Costa que aliava as conveniências funcionais, à procura deliberada e constante da

forma plástica.

O movimento moderno latino americano estava repleto de contradições ideológicas em

que governos populistas e autoritários contribuíam para o desenvolvimento da arquitetura

moderna. No Brasil temos Getúlio Vargas, no México, Juan O’ Gorman, Juan Legorreta,

Álvaro Arbuto, José Villagrán Garcia (1901-1982), na Venezuela, Carlos Raúl Villanueva

(1900-1972).

Oscar Niemeyer sofreu retaliações pela sua postura comunista, tendo seu visto de

entrada negado pelo Departamento do Estado norte americano; em 1946, para uma

conferência em Yale; foi impedido de assumir o cargo de professor na Universidade de São

Paulo em 1951. Contudo não deixou de participar de eventos importantes como o grupo de

estudos para a sede das Nações Unidas em Nova York em 1947, e projetou uma unidade

habitacional em Berlim, em 1955.

A contradição entre o movimento arquitetônico moderno e os governos totalitários

contrários ao sistema socialista era latente. Mario Pedrosa um dos críticos ferrenhos da

arquitetura moderna é um dos defensores da Bienal em São Paulo, mesmo sabendo que um

evento exclusivamente de cunho capitalista é a oportunidade de se mostrar a arte brasileira

para o mundo.

Os estudos de Segawa (1956) apontam que as principais críticas da “esquerda

brasileira” pertencente ao Partido Comunista Brasileiro eram a o distanciamento entre a

linguagem estética do moderno e o repertório formal de domínio popular. Entre seus

representantes estão Demétrio Ribeiro; Nelson Souza, e Enilda Ribeiro esses dois últimos

publicam uma proposta de moção ao IV Congresso dos Arquitetos, quando afirma que a

arquitetura brasileira é isolada do povo; a única possibilidade de desenvolvimento da

arquitetura será através de sua redemocratização, para o desenvolvimento da arquitetura

contribui o conhecimento sobre os problemas sociais, históricos e estéticos que devem ser

debatidos no IAB, nas organizações estudantis e nas escolas. Outro membro importante desse

movimento foi Vila Nova Artigas (1915-1985) que afirmava a arquitetura moderna ser uma

26

forma de dominação do capitalismo. Uma crítica bastante pertinente à arquitetura moderna e

alimentada por Max Bill e Henrique Mindlin era a sua pouca expressão em obras de cunho

social como o “Pedregulho” de Reidy.

Nessa conjuntura histórica, a moradia popular ganha fôlego e representa a

modernidade arquitetônica vigente. Getúlio Vargas foi um grande patrocinador da política

habitacional no Brasil; apesar de tomar a moradia social como plataforma de governo, ele não

consegue alcançar as metas defendidas em seu discurso populista. Getúlio Vargas, em seu

governo, promoveu financiamento e construção para habitações populares recorrendo às

carteiras prediais estabelecidas na estrutura previdenciária dos vários Institutos de

Aposentadoria e Pensões- IAPs criados durante o Estado Novo. Também merece destaque a

Fundação da Casa Popular- FCP, em 1946 que, apesar de não ter conseguido se estabelecer,

era um organismo federal dedicado exclusivamente ao problema da habitação econômica.

(Segawa 1956, p.115)

As referências urbanísticas do período estavam ligadas ao CIAM, Le Corbusier e

Rubens Porto (funcionário do Serviço de Engenharia do Conselho Nacional do Trabalho). A

proposta de habitação de Rubem Porto era a síntese dos ideais racionalistas. A habitação era

construída pensando-se na questão regional, levando em conta a questão geográfica, os

recursos naturais disponíveis, a oferta de transporte público, a autonomia dos conjuntos

habitacionais compostos por igreja, comércio e área de lazer, a utilização de materiais pré-

fabricados, o emprego de pilotis para favorecer o encontro das pessoas e um maior contato

com a natureza.

Trocavam-se as moradias individuais por áreas coletivas, introduzindo novas

tipologias de ocupação urbana, de edificações e de modos de morar. Desse novo modo de

morar como afirma (BONDUKI, 2010), surgia um novo modo de vida operário, moderno,

coletivo, adequado ao modelo de desenvolvimento nacional imposto por Vargas, imbuídos de

controle, subordinação, reeducação e massificação próprias do estado-novo e que são

materializados através da arquitetura moderna por arquitetos que defendiam a construção de

uma sociedade menos desigual e na valorização do espaço público. Assim, “ao novo homem

que se buscava forjar, era necessário moldar um novo espaço, uma nova concepção de morar,

uma nova arquitetura: a moderna” (BONDUKI, 2010, p.108).

Segawa (1956) afirma que não se sabe se as propostas de Rubem Porto foram

implementadas. No entanto, correspondiam a uma política habitacional de alguns IAPs. As

mais significativas realizações de caráter moderno do IAPs foram desenvolvidas pelo Instituto

27

de Aposentadoria e Pensão dos Industriais- IAPI. Entre elas destacam-se: um edifício para

rendas em São Paulo de Rino Levi, estudo de Restaurante Popular de ‘arquitetura racional’

desenvolvido por Rubem Porto, Jaime Fonseca Rodrigues, Agostinho Sá e Paulo Sá; Edifício

Anchieta, em São Paulo dos irmãos Robertos; Conjunto Residencial da Penha, no Rio de

Janeiro dos irmãos Robertos; o Conjunto Residencial Várzea do Carmo, em São Paulo de

Alberto de Melo Flôres; Attilio Correia Lima, Hélio Uchôa Cavalcanti e José Theodulo da

Silva, o Conjunto Residencial do Realengo, no Rio de Janeiro.

De acordo com Segawa (1956), a mais notória experiência de habitação popular da

arquitetura moderna brasileira foi realizada pelo Departamento de Habitação Popular da

Prefeitura do Distrito Federal, criado em 1946, inspirado nas cidades britânicas e trazia o

conceito de “unidades de vizinhança”. Esse conceito foi aplicado ao Conjunto Residencial

Prefeito Mendes de Moraes- o Pedregulho de Affonso Eduardo Reidy (1947) e outros

conjuntos que não chegaram a ser concluídos como o Conjunto Habitacional da Gávea (1954)

de Reidy,o Conjunto Residencial de Vila Isabel (1955), de Francisco Bolonha.

Esses conjuntos residenciais desenvolvidos pelos IAPs na década de 40, conforme

Segawa (1956, p.121), trazem em seu bojo um urbanismo racionalista, a ideia de um modelo

completo de cidade capaz de diminuir o caos urbano. Faz criticas à “cidade tradicional que

privilegia os espaços de produção (trabalho, comércio, circulação) e almejava a organização

da cidade moderna preconizadas na Carta de Atenas; trabalhar, circular, habitar e cultivar o

corpo e o espírito”.

O projeto moderno que tinha sido iniciado com a construção do Ministério da

Educação e Saúde é culminado com a construção de Brasília ou Planaltina como era chamada

inicialmente Brasília por Le Corbusier. Pereira (2010) entende que a aceitação das ideias de

Le Corbusier no Brasil estava ligada a retomada das grandes narrativas fundadoras da cultura

brasileira:

De fato, se os postulados corbusianos foram tão bem assimilados no Brasil,

foi porque, antes de trazer ideias novas, eles retomaram as grandes narrativas

fundadoras da cultura brasileira, dando-lhes uma formulação que parecia,

enfim, ser capaz de transformar mitos em realidade. Mitos que

impulsionaram os colonizadores a identificar na paisagem brasileira os

signos da proximidade de um paraíso sobre a Terra, ou ainda acalentar a

promessa secular de se construir, nesse quadro natural, uma utopia.

(PEREIRA, 2010, p.23).

A pluralidade dos projetos para construção da nova capital demonstra as diferentes

influências dos arquitetos brasileiros que iam desde “(Le Corbusier do pré-guerra, escola

28

carioca), à obra de arquitetos que buscavam outras influências internacionais (Aalto, Le

Corbusier do pós-guerra, Mies Van der Rohe, etc.)”; apesar da diversidade de estilos

“arquitetos e suas arquiteturas estão todos convencidos das bondades da cidade moderna para

o caos urbano [...]” aliando-se as condições ideais de Brasília à aspiração do urbanismo

moderno poderia se construir uma cidade com condições ideais. (Bastos, 2010, p. 63).

Brasília era um sonho que vinha desde o século XIX e encontra na década de 50/60

condições favoráveis para sua construção; Juscelino Kubitschek, o período democrático, os

movimentos de renovação com a Bossa Nova, o Cinema Novo, Teatro de Arena e Oficio

Movimento Concreto e Neoconcreto, entre outros, alimentam os ideais progressistas dos anos

60 e em pleno cerrado brasileiro, no interior do país, se propõe a construção de uma cidade

capaz de desenhar uma nova configuração social, uma sociedade sem contradições sociais e

econômicas. No entanto, Brasília demonstra que só o ambiente construído não é capaz de ser

um instrumento de mudança social como entendia Le Corbusier. “Daí sua ambiguidade:

prometia desenvolvimento, isto é, homogeneização social num país dualizado, quando na

verdade só fazia aprofundar uma modernização restringida, sublinhando ainda mais o

desajuste do enxerto [...]” (GUERRA, 2010, p.266).

1.2 DEBATE ENTRE OS ARQUITETOS RECIFENSES ATRAVÉS DOS JORNAIS

Para composição desta seção se recorreu a algumas matérias de arquitetura publicadas

nos Jornais Folha da Manhã e Jornal do Commercio, do período de 1956 a 1958, e do livro de

Edilson Lima “Modulando” (1985).

O ensino oficial de arquitetura em Pernambuco teve inicio em 1932, atrelado à Escola

de Belas Artes. Nessa época, a instituição passava por problemas financeiros e recebia ajuda

de comerciantes e industriais; o curso de arquitetura contava com o menor número de alunos

matriculados e a receita arrecadada não dava nem para cobrir os custos.

Nesse contexto surge um movimento ou ações de docentes e discentes defendendo a

separação do curso de arquitetura da Escola de Belas Artes. Esse movimento durou

aproximadamente dez anos; somente em Recife e Salvador ainda havia cursos de arquitetura

atrelados às Escolas de Belas Artes. Desde 1954 de acordo com a lei 2.337, a Universidade do

Recife estava autorizada a fazer o desmembramento do curso e constituir a Faculdade de

Arquitetura, mas só em 1958 começou o processo de separação, dos futuros arquitetos que se

sentiam prejudicados com tal situação. De acordo com a nova regulamentação da profissão de

29

arquiteto, só poderiam exercer a profissão os diplomados de uma escola superior de

arquitetura, por isso o curso de arquitetura não poderia mais estar ligado à Escola de Belas

Artes.

Em 1959 os estudantes de arquitetura resolveram fazer greve e só assistir às aulas de

arquitetura na nova Faculdade de arquitetura (LIMA, 1985); ainda em 1959, no reitorado de

João Alfredo, enfim, a Faculdade de arquitetura foi criada e instalada numa sede provisória no

antigo Seminário de Olinda, logo depois sendo transferida para a sede própria na Conde da

Boa Vista que teve como primeiro diretor o professor Evaldo Coutinho, até 1963.

Em relação à organização curricular o currículo era composto pelas seguintes

disciplinas: Desenho Artístico, Modelagem, História da Arte, Matemática Superior,

Geometria Descritiva, Perspectiva, Estereotomia e Sombra, Teoria e Filosofia da Arquitetura,

Pequenas Composições da Arquitetura, Arquitetura Analítica, Topografia, Materiais de

Construção,, Composições Decorativas, Resistência dos Materiais, Física, Concreto Armado,

Grandes Composições de Arquitetura, Higiene das Habitações, Urbanismo, Organização

Racional do Trabalho, Sistemas Estruturais e Legislação Profissional. (BORBA, 199, p.140).

Em 1960, foi criado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Recife o

Centro de Estudos dos Monumentos Históricos e Artísticos Nacionais (CEMHAN) dirigido

pelo professor Ayrton Carvalho, tendo como principal objetivo “promover o interesse pelos

valores culturais vinculados a arquitetura passada e a arquitetura contemporânea”. Também

houve a criação da Fundação de um Centro de Estudos Cinematográficos, lançamento da

Revista da Escola de Belas Artes lançada no 25º aniversário da Escola e o lançamento do

Caderno de Artes do Nordeste sob a responsabilidade de Ayrton Carvalho.

A criação de Brasília também teve grande destaque nas páginas dos jornais; para

Bruno Zevi “a arquitetura de Niemeyer era mais formal e tem mais preocupações de escultura

que de habitação”. Na visão desse arquiteto tratava-se de uma arquitetura monumental que só

teria duas saídas: ou modificar-se, ou ser destruída. Já para William Holford depois de

conhecer Brasília afirma (...) “estou mais do que nunca convencido de que isso é verdade”

(LIMA, 1985, p.43).

Devido às preocupações em manter a estética de Brasília, Niemeyer foi nomeado

conselheiro geral de arquitetura do Distrito Federal para que futuras construções não

interferissem na estética da cidade, propondo dessa forma um censura estética das

30

construções. No entanto, os arquitetos não acreditam que essa medida consiga se sobrepor aos

interesses particulares e políticos da construção.

O Instituto de Arquitetos do Brasil-PE teve grande importância na formação e

esclarecimento do público acerca do que era a “nova arquitetura”; inaugurado em 20 de junho

de 1951, através do jornal da Folha da Manhã, na coluna, “arquitetando”, e no Jornal do

Commercio na coluna “modulando”, tratava de concursos de arquitetura, oportunizava espaço

para a produção dos alunos da Escola de Belas Artes da Universidade do Recife, os artigos

tentavam esclarecer a opinião pública sobre a função do arquiteto, acreditava-se que o IAB

podia influir nas soluções para os problemas da cidade. A sede do IAB muitas vezes servia

para a exposição de projetos como o IEP, a exposição da construção arquitetônica alemã no

pós-guerra, apresentada pelo consulado alemão.

Em 1956, sob a direção de Florismundo Lins, o IAB-PE estava em evidência, seja pela

realização do I Curso de projeto e Organização de Hospitais que contou com o apoio da

Universidade do Recife e representava o progresso com inovações no setor da técnica

hospitalar seja pelo concurso de projetos para o novo edifício do IEP. Havia uma

reivindicação constante dos arquitetos pela abertura de concursos públicos para a construção

dos prédios públicos, entre eles a construção do IEP, o Colégio Militar do Recife, Brasília.

Um evento muito importante no cenário pernambucano foi a realização do V

Congresso Brasileiro de Arquitetura1

2, entre 28 de julho e 4 de agosto de 1957. “Não há

dúvida de que esse se constituirá no maior acontecimento da vida artística e cultural do

Nordeste nesse ano”. (LIMA, 1985, p.34-35), que marcaria as comemorações das bodas de

prata, 25º aniversário de fundação da Escola de Belas Artes da Universidade do Recife.

O Congresso trouxe para o Recife arquitetos de relevância nacional, tais como: Oscar

Niemeyer, Nestor de Figueiredo, Rino Levi, Silvio de Vasconcelos, o engenheiro Joaquim

Cardoso, o diretor do Serviço Patrimônio Histórico Nacional, Dr. Rodrigo de Melo Franco, o

senador Apolônio Sales representando o presidente da república, o presidente da Companhia

Urbanizadora, Dr. Israel Pinheiro, o reitor Joaquim Amazonas, o secretário de Educação

Aderbal Jurema, Mies Van der Rohe.

1 NOTÍCIAS relacionadas Hoje na Escola de Belas Artes, o encerramento do Congresso. Folha da Manhã 4 ago

1957.

2 ECOS do V Congresso Brasileiros de Arquitetos, 11 ago. 1957.

31

Nesse congresso além da exposição dos projetos premiados para o plano piloto de

Brasília seriam discutidos temas ligados à arquitetura brasileira, à arquitetura popular, à

relação entre cultura popular, tradições brasileiras e arquitetura popular nacional. Entre as

exposições do Congresso destaca-se a Exposição da construção arquitetônica alemã no pós-

guerra, apresentada pelo consulado alemão.

Em relação aos concursos mereceu destaque o Concurso Internacional realizado no

Paraguai para a construção de um hotel e um centro turístico em Assunção que contou com a

disputa entre 8 países: Argentina, Bolívia, Chile, Brasil, Uruguai, Peru, Paraguai e Hungria. O

Brasil se destacava pela quantidade de projetos enviados, ficando o 1º lugar com três

paulistas: Adolpho Rúbio Morales, Rubens G. Carneiro Viana, Ricardo Sievers, e o concurso

para a construção da nova sede do IEP que teve como ganhadores os arquitetos Marcos

Domingues e Carlos Falcão.

É notória a preocupação com as condições urbanísticas da cidade3. Com a mudança da

Casa de Detenção para outro local, nas páginas de arquitetura, falava-se em utilizar as

propostas de Gildo Montenegro para aproveitar o espaço com a construção de um jardim,

estacionamento e um pequeno hotel de luxo que resolveriam os problemas de falta de

estacionamento no centro, devido ao alto número de carros que transitam na cidade, a falta de

zonas verdes e a escassez de bons hotéis.

O problema do Rio Capibaribe também merece destaque. Havia a preocupação com

um melhor aproveitamento do rio que poderia até ser utilizado para navegação ou até para o

turismo, como se fazia em Miami. A denúncia e o apelo dos arquitetos ao poder público

quanto ao descaso com obras importantes da arquitetura moderna por todo o país eram

constantes; em Pernambuco, o Pavilhão do Derby, a Caixa d’ água de Olinda; em Minas, a

Pampulha, em São Paulo, o Parque Ibirapuera eram obras importantes do ponto de vista

arquitetônico, mas que estavam em estado de má conservação.

Em relação aos melhoramentos urbanísticos vale destacar o empenho de Pelópidas

Silveira, que convida o paisagista Roberto Burle Marx para recuperar alguns parques e

construir outros como o da Estação de Passageiros no Ibura e o da Praça de Dois Irmãos. É de

sua autoria o Jardim da Praça de Casa Forte e o da Praça Euclides da Cunha, no Benfica.

Criticam-se os “arranha - céus” que não visavam à harmonia ou à estética, mas apenas à

especulação imobiliária, em que “a preocupação não reside numa boa solução arquitetônica,

3 FERNANDES, Aníbal. Urbanismo. Diário de Pernambuco.

32

mas sim na busca por um espaço onde se pudesse construir o maior número de cômodos para

o maior número de pessoas em um pequeno espaço, onde não há preocupação com o sentido

social da arquitetura”. (LIMA, 185, p.41).

A arquitetura escolar também merece destaque; o jornal comenta o concurso do

professor Durval Lucena para a cátedra de Higiene do Instituto de Educação de Pernambuco

cujo trabalho era: “O Edifício Escolar –Tipos de Escolas, Salas de aula- Anexos da Escola-

Luz Ar e Asseio- Regime Escolar” e Lima (1985) complementa que as questões

arquitetônicas escolares são complexas e vão alem da escolha de um terreno ou da topografia,

tendo que levar em conta a filosofia educacional e as características do aluno que vai ocupar

aquele espaço: “PARA QUE tipo de ensino deve ser planejada a Escola e PARA QUEM deve

ser feita a Escola” (LIMA, 1985, p.26).

Também havia um forte debate acerca das questões da arquitetura moderna, mesmo

com as produções modernas e inusitadas de Luiz Nunes. Ainda na década de 30, Lima fala de

um visitante do sul do país que critica a ausência de arquitetura moderna no Recife, com

poucos exemplos de casas residenciais, edifícios comerciais e apartamentos modernos,

ignorando dessa forma nossa produção arquitetônica moderna com Marcos Domingues e

Carlos Correia Lima, autores do Instituto de Educação de Pernambuco; Waldecy Fernando

Pinto, vencedor do concurso da Bolsa de Valores; Heitor Maia Netto, autor dos novos

edifícios da Universidade Católica de Pernambuco e da Escola Politécnica de Campina

Grande, Acácio Borsoi com o novo edifício do Pronto Socorro, Augusto Reynaldo, Dilson

Mota neves, Fernando Menezes, Reginaldo Estêves, Mauricio Castro, Delfim Amorim.

(LIMA, 1985, p.48).

E ainda os inúmeros projetos modernos publicados nos jornais, o Edifício de

apartamentos na Boa Viagem- Everaldo da Rocha Gadelha; Residência em Casa Amarela, -

Marcos Domingues da Silva; Uma residência no Rosarinho, Residência do Eng. Fernando M.

Matos, Residencia do dr. Thomas Edilson - Edilson R. Lima; Residência nos Aflitos- Projeto

Waldecy F.Pinto ( vencedor do concurso da bolsa de valores), Colaborador Lúcio Estelita;

Residência do arquiteto- Rodolpho Ortenblad Filho; Plano de residências- Florismundo M.

Lins Sobrinho; Conjunto residencial em Boa Viagem- Florismundo Lins e Heleny Lins;

Residência do arquiteto- Ibsen Pivatelli; Residência no Pacaembú- Juvenal Waetge JR;

Edifícios Finusa e Dna.Fátima- MM. Roberto; Residência na Casa Forte- Waldecy Pinto;

residência em dois pavimentos- Paulo Gondim Vaz de Oliveira e Eduardo Burle Gomes

33

Ferreira; Edifícios de apartamentos na Boa Viagem- Hélio Moreira da Silva e Ana Regina

Moreira.

O apelo ao arquiteto nas construções era pequeno já que se tinha a falsa ideia de que o

mesmo onerava a construção. Em relação a essa questão as campanhas do IAB, as

publicações nos jornais, as exposições de arquitetura, o exemplo dos trabalhos já executados,

o Congresso de arquitetos, a fundação da Faculdade de Arquitetura foram fundamentais para

esclarecer a população em relação à função do arquiteto.

Os debates travados nos jornais não só levam em conta as questões atuais, mas

também a preocupação com a arquitetura residencial do “futuro”; a casa do ano 2000 proposta

pelos londrinos teriam suas paredes pintadas de amarelo cor de mel, pelos sentimentos de

otimismo que essa cor despertaria em seus usuários, cobertas de matéria plástica, os móveis

também sofreriam mudanças, as mesas seriam hexagonais, e as cadeiras, profundas e com

inclinação especial, botões seriam espalhados pela casa e se acionados poderiam modificar o

tom da parede, a decoração, surgem ou desaparecem mesas, camas, armários, uma casa sem

portas, jardins com aquecimento e casas “higienicamente purificadas” (LIMA, 1985, p.42)

Também se divulga nos jornais o falecimento de personagens importantes da cultura

pernambucana e internacional como o arquiteto pernambucano Augusto Reynaldo, a morte de

Frank Lloyd Wright um dos fundadores da arquitetura moderna, a morte de Joaquim

Amazonas, reitor que teve bastante representatividade para o IAB, dando apoio moral e

material ao V Congresso Brasileiro de Arquitetos realizado em 1957.

Pernambuco foi palco de movimentos culturais, políticos e artísticos importantes, em

relação à arquitetura moderna não podemos deixar de destacar o pioneirismo de Pernambuco

no cenário nacional com Luis Nunes, Atílio Correia Lima, Ayrton Carvalho, Joaquim

Cardoso, Antônio Baltar, Burle Marx, a DAU, a Escola de Belas Artes.

Em Pernambuco, a modernização industrial antecedeu a modernização arquitetônica.

No entanto, há registros de que na década de 20, já existia uma consciência por parte da elite

local acerca do movimento moderno. Alguns exemplos são Cícero Dias com seu painel “eu vi

o mundo, ele começava no Recife” (1927-1928), o Congresso Regionalista (1926), os salões

de Belas Artes de Pernambuco (1929, 1930), a 1º exposição de Arte Moderna no Recife

(1933), a criação dos cursos livres como a Escola de Engenharia e a fundação da Escola de

Belas Artes (1932). (MARQUES; NASLAVSKY, 2011, p.3).

34

A tese defendida no Rio de Janeiro pelo médico pernambucano Aluisio Bezerra

Coutinho (1930) intitulada “o problema da habitação higiênica nos países quentes em face da

arquitetura viva” demonstram os conhecimentos das ideias de Le Corbusier mesmo antes de

sua vinda ao Brasil que foi bastante noticiada nos jornais locais, como no Jornal “A

Província” onde Manuel Bandeira faz comentários elogiosos sobre as ideias de Le Corbusier.

(MARQUES; NASLAVSKY, 2011)

Luiz Nunes nasceu em 1909, ingressou na Escola de Belas Artes; em 1926 e liderou

junto com Jorge Moreira a greve contra a demissão de Lucio Costa, apoiando uma frustrada

tentativa de reforma do ensino de Belas Artes, em 1934 foi contratado para chefiar o setor de

obras públicas do Estado de Pernambuco e contou com a colaboração de Joaquim Cardoso.

Luiz Nunes enquanto estudante de arquitetura no Rio de Janeiro viveu o clima de

efervescência cultural proporcionado pela visita de Le Corbusier em 1929 e Frank Wright em

1931. Acredita-se que esse foi um fator importante para a recepção das ideais de Corbusier

em Pernambuco.

No Recife, em 1934, foi criada a Diretoria de Arquitetura e Construção - DAC

liderada por Nunes juntamente com Hélio Feijó, José Norberto e Gauss Estelita destinada à

construção de obras publicas dentro dos preceitos da moderna arquitetura para o setor da

educação, abastecimento, saúde, lazer. A primeira construção foi a Usina Higienizadora do

Leite (1934), em seguida o Hospital da Brigada Militar do Derby (1934), postos policiais para

bancos (1934), Escola para doentes mentais (1934), restaurantes populares (1935).

Em 1935 a DAC fica inativa por suspeita de envolvimento em atividades comunistas e

Nunes pede demissão do cargo, assumindo o cargo o arquiteto Aurélio Lopes. Em 1936,

Nunes retorna e a DAC transforma-se em DAU- Diretoria de Arquitetura e Urbanismo e

convida os arquitetos João Correia Lima e Fernando Saturnino de Brito e as construções

continuam com a Escola Rural Alberto Torres4 (1936), Pavilhão de óbitos (1936), Caixa de

água de Olinda (1936), Leprosário da Mirueira (1937). Esses projetos tinham todos os

critérios adotados pela modernidade arquitetônica como a racionalização estrutural, plantas,

fachadas livres, atenção aos detalhes construtivos, aberturas para a circulação de ar, fachadas

com cobogós5·. Procurava-se um estilo arquitetônico que fosse contemporâneo às tendências

4 A Escola Rural Alberto Torres, no bairro de Tejipió, projeto percussor quanto à concepção estrutural e no uso,

pela primeira vez no Brasil, de rampas de acesso em lugar de escadas convencionais- prédio hoje tombado em

nível estadual.

5 Invenção recifense dos engenheiros Amadeu de Oliveira Coimbra, Ernest A. Boekmann e Antônio de Góis,

que o batizaram com as primeiras letras de seus últimos nomes.

35

mundiais (linhas racionalistas e organicistas), mas que preservasse a identidade local,

considerando os aspectos geográficos da região.

Cardoso afirma que o movimento de arte moderna de 22, exceto as obras de Flávio de

Carvalho, G. Warchavchik e Lúcio Costa, teve pouca repercussão para o movimento

arquitetônico moderno e não acredita que merece o titulo de pioneiro. O pioneirismo se daria

pelo grupo da escola de arquitetura por Luiz Nunes e Jorge Moreira, ‘Cardoso sugere que

Nunes tenha encontrado no Recife um ambiente bem avisado e favorável à adoção dos

princípios modernistas Corbuserianos’. (MARQUES; NASLAVSKY, 2011).

Gregory Warchavchik construiu as primeiras casas modernas no Brasil, Flávio de

Carvalho implantando a arquitetura moderna também no Brasil, os congressos internacionais

de arquitetura moderna CIAM influenciaram a produção arquitetônica moderna não só aqui

como em outros países; segundo Lucio Costa, “não adianta, portanto, perderem tempo à

procura de pioneiros- arquitetura não é ‘Fast-West’; há precursores, há influências, há artistas

maiores ou menores [...]” (LIMA, 1985, p.53).

A arquitetura brasileira estava ligada à questão da criação de uma identidade nacional.

Os Estados Unidos ou a América poderiam desconhecer a cultura brasileira, mas não

poderiam ignorar sua arquitetura, seja pelo Ministério da Saúde e da Educação no Rio de

Janeiro, seja a Pampulha, o Pavilhão para verificação de óbitos no Derby, ou a Caixa d’Água

de Olinda. (LIMA, 1985, p.31).

36

Arquitetura

Escolar Republicana

37

2 ARQUITETURA ESCOLAR REPUBLICANA

Acreditamos que a arquitetura das construções escolares pode- nos ajuda a ler e

interpretar as atividades educativas e a sociedade de um determinado tempo histórico. Ao

exame dos múltiplos significados políticos e simbólicos dos edifícios escolares inscritos nos

estilos arquitetônicos, acrescenta-se a análise da distribuição dos espaços e das relações entre

projetos pedagógicos e políticos de construções escolares e entre espaço escolar e espaço

urbano.

Na Inglaterra do século XV, as tipologias construtivas quando existentes resumiam-se

às escolas de sala única ou à casa dos professores. O professor dava aula em cima do tablado

para que pudesse se comunicar com todos os alunos em manter todos sob vigilância e os

alunos sentados em bancos. “Cada banco tinha a sua especificidade de aprendizado. Assim,

um banco era reservado para o ensino do Novo Testamento, outro para o catecismo e outro

para treinar a escrita”. (KOWALTOWSKI, 2011, p.65).

No século XVI, Comenius defende a divisão das escolas em sala de aula, e essa nova

organização escolar é largamente utilizada pelos jesuítas no século XVII.

No século XIX devido à intensa atividade industrial na Inglaterra, em 1833 o Factory

Art introduziu a obrigatoriedade de 2 horas de ensino por dia para as crianças das fábricas.

Em 1847, publica-se o livro de Henry Kendall, Design for schools and school houses, sobre

arquitetura na Inglaterra que recomendava o estilo gótico para as construções escolares.

Kendall demonstrava preocupação com as questões de “saúde das crianças e para isso

recomendava salas de aula com grandes janelas para ventilação e iluminação”.

(KOWALTOWSKI, 2011, p.67) Após 1870, a Inglaterra investe maciçamente na “educação

pública ou para ‘crianças pobres’ e conta com a colaboração do arquiteto E. R. Robson; seus

projetos tinham um estilo “austero” “com plantas baixas simétricas, com pé-direito alto,

janelas do alto das paredes externas sem permitir aos alunos olhar para o exterior”.

(KOWALTOWSKI, 2011, p.68).

Na Alemanha, utiliza-se o sistema prussiano de salas de aula, as quais eram divididas

por um vestíbulo ou hall de entrada. O tamanho das salas era determinado pela quantidade de

alunos que podia variar de 40 a 300. Em relação ao mobiliário escolar, a carteira dos alunos

era ortogonal; dessa forma permitia que um aluno pudesse se levantar sem incomodar o outro.

Entre os alunos e o professor havia um espaço que servia para demonstrações. Em relação à

38

área externa, havia espaços assombreados para a recreação das crianças. (KOWALTOWSKI,

2011, p.68).

Na Escócia, as primeiras pré- escolas são estabelecidas com Robert Owen em 1816, as

salas de aula se abrem para “jardins de contemplação e autocontrole da tentação (não era

permitido tocar nas flores ou nas frutas)”. (KOWALTOWSKI, 2011, p.68).

Com a obrigatoriedade do ensino na maioria dos países da Europa e dos Estados

Unidos, vários educadores se pronunciam a fim de adequar a arquitetura escolar à população

carente, entre eles Margareth Mac Millan, em Londres e Maria Montessori, em Roma, esta

última com a proposta de adequação dos ambientes para a escala da criança, movimento que é

interrompido com a Primeira Guerra Mundial. No pós-guerra há a influência dos movimentos

modernistas sobre a educação e a arquitetura escolar. Há a substituição da figura do professor

pela professora já que muitos homens morreram na guerra. Alguns autores acreditam que a

figura feminina tenha modificado os objetivos do ensino. Na Primeira Guerra Mundial, ficam

evidentes as diferenças qualitativas nos métodos de ensino e a Europa segue rumo a uma

reorganização dos seus sistemas escolares. Na Alemanha e na Áustria surgem as escolas

experimentais a fim de questionar o modelo de educação tradicional vigente, como exemplo o

Karl Marx Holf.

Em 1930, a influência de Bauhaus, de Walter Gropius se fez presente na arquitetura

escolar, quando ele projetou a School and Community College em Impington, na Inglaterra.

(KOWALTOWSKI, 2011, p.70). As salas de aula eram voltadas para um pátio central com

exposição de alunos em reuniões; a escola busca integrar o ensino artístico, cientifico,

trabalhos manuais, agrícolas, físicos com grandes janelas com vista para o exterior, projeto

que é interrompido pelo nazismo. Com essa nova proposta na França destacam-se Tony

Garnier, August Perret, Le Corbusier e Erno Goldfinger.

A Alemanha, ao final da segunda Guerra, precisa reconstruir-se e isso inclui as

construções escolares. O espaço escolar é tido como um 3º educador; o 1º seria o professor, o

2º o material didático e o 3º o ambiente escolar. Procura-se a construção de projetos

inovadores que estimulem os alunos e a sociedade a participar. Uma dessas tendências foi

projetada pelo arquiteto Hans Schoroum autor do Geschwister-School-Gesamtschule na

Alemanha, construída entre 1956 e 1962. A arquitetura de Schoroum é classificada como

orgânica,

O que se entende por arquitetura orgânica, natural? Entende-se uma

arquitetura não limitada a priori, uma arquitetura ‘aberta’, que aceita a

39

natureza, que se acomoda a ela, busca mimetizar-se a ela, como um

organismo vivo que chega a assumir às vezes formas de quase um

mimetismo, como um lagarto sobre as pedras do sol. (KOWALTOWSKI

apud BARDI 1958, p.2, 2011, p.70).

Como representantes temos Antoni Gaudí, Alvar Alto, Frank Lloyd Wright. Nos

Estados Unidos, John Dewey influencia alguns prédios de Chicago projetados por Frank

Lloyd no começo do século XX. Dewey traz a concepção de democracia para o ambiente

escolar por isso a escola precisa ser aberta para a comunidade e favorecer atividades coletivas.

Em 1902, Frank Lloyd projeta o Hillside Home School nos Estados Unidos baseado nas

ideais de Dewey.

Com a depressão econômica dos anos 20 a arquitetura escolar nos Estados Unidos é

interrompida. Após a segunda guerra mundial, as construções escolares precisam atender ao

grande contingente populacional e para isso adotam-se os princípios da arquitetura moderna, a

fim de reduzir os custos da construção. Podemos destacar os projetos de Richad Neutra em

Los Angeles que valorizam a circulação dos alunos que antes ficavam confinados.

O ensino público esta legalmente implantado em grande parte da Europa, a educação

oficial está muito adiantada e bem estruturada na Alemanha e na Suíça; já em Portugal e na

Itália, as leis que estabelecem a obrigatoriedade do ensino são desrespeitadas, nos Estados

Unidos há um sistema educacional efetivo que remonta a década de 1830. Na França, o ensino

não se efetivara plenamente até 1870. As ideias do mundo europeu vão estabelecer analogias

com o pensamento educacional brasileiro.

No Brasil do império, havia a herança das escolas de ler e escrever que era uma

extensão da casa do professor. Funcionavam em condições precárias, o programa educacional

era preponderantemente literário, e os professores não tinham nenhum preparo especifico para

exercer o magistério. Apesar da precariedade educacional no Império, ao final da guerra do

Paraguai, surgem tentativas, tanto oficiais quanto particulares para o setor da educação

popular; são as exceções arquitetônicas. No Rio de Janeiro, entre 1870 e 1877 constroem-se 8

prédios para escolas primárias para ambos os sexos, algumas financiadas pelo governo e

outras doadas por particulares; em Pernambuco, em 1866, cria-se a sede própria para o

Ginásio Pernambucano, em São Paulo em 1874 fundam-se dois institutos para a educação de

meninos carentes: o Instituto de Educação Ana Rosa e o Instituto de Educando Artífices.

Temos ainda o funcionamento do Colégio Culto a Ciência em Campinas, e a fundação da

Sociedade Propagadora de Instrução Popular que, em 1872, transforma-se no Liceu de Artes e

Ofício.

40

No final do século XIX no Brasil há a preocupação com a necessidade de se

construírem espaços específicos para serem escolas, prédios grandes, arejados, bonitos

(BUFFA; PINTO, 2002) que, além de demonstrar a valorização do estado para o setor

educacional, eram capazes de incutir em quem os olhasse sentimentos de respeito e

admiração. Destacando-se das outras edificações em seu entorno, eram estrategicamente

construídos ao lado de importantes prédios públicos. A Escola Normal oficial de Pernambuco

tinha no seu entorno o Parque 13 de maio, a Biblioteca Pública Estadual, a Assembleia

Legislativa, o Ginásio Pernambucano, a Faculdade de Direito.

A arquitetura escolar pode ser vista como um programa educador, ou seja, como um

elemento do currículo invisível ou silencioso, ainda que ela seja por si mesma bem explícita

ou manifesta. A localização da escola e suas relações com a ordem urbana das populações, o

traçado arquitetônico do edifício, seus elementos simbólicos, próprios ou incorporados, e a

decoração exterior e interior respondem a padrões culturais e pedagógicos que a criança

internaliza e apreende.

Para Loureiro (2000), a teoria arquitetônica tem como foco central a maneira pela qual

ambientes interiores e exteriores – o edifício ou o espaço público – devem refletir valores

sociais, religiosos, espirituais e tecnológicos da sociedade que os produz. Dessa forma, os

edifícios são considerados, primariamente, objetos sociais.

Nessa conjuntura o ambiente escolar está relacionado com o sistema educacional

vigente, a pedagogia adotada, os objetivos propostos, a dinâmica da sociedade, os avanços

científicos e tecnológicos. Nesse sentido, podemos destacar os aspectos humanos

personificados nos profissionais da educação e nos alunos, que são diretamente influenciados

por configurações espaciais específicas como a distribuição da luz no ambiente (relação entre

aberturas e espaço físico), intensidade de cores, texturas, elementos esses que podem

promover uma humanização do ambiente. (KOWALTOWSKI, 1980).

O espaço comunica, mostra a quem sabe ler o emprego que o ser humano faz dele

mesmo. Um emprego que varia em cada cultura, que é um produto cultural específico, que diz

respeito, não só às relações interpessoais – distância, território pessoal, contatos,

comunicação, conflitos de poder –, mas também à liturgia e ritos sociais, à simbologia das

disposições dos objetos e dos corpos – localização e posturas –, à sua hierarquia e relações

(ESCOLANO, 1998, p.64).

41

Podemos analisar essas questões, não só apenas através da configuração arquitetônica,

mas também através da ordenação espacial das pessoas e objetos, seus usos e funções. Dessa

forma, a escola procura criar um mundo artificial, um mundo que gera um controle sobre os

indivíduos que estão sob sua influência. Os espaços, os objetos, os tempos, os movimentos, as

imagens, os sons, os currículos são pensados e organizados visando à construção de uma

realidade escolar diferente do mundo exterior. A escola fundamenta-se em variáveis

temporais e espaciais; o relógio, ao ser introduzido na escola, transforma-se num dispositivo

que regulamenta e organiza o funcionamento do aparelho escolar (ZARANKIN, 2001, P.70).

Ao mesmo tempo, garante a internalização das estruturas mentais de temporalidade,

defendidas como naturais. Há também um espaço interno que é subdividido em tempos fixos,

de duração variável, vinculados a espaços físicos, como, por exemplo, à formação das aulas,

intervalos, entre outros. Dessa forma, espaço escolar é um espaço disciplinar. Separação,

vigilância e disciplina são os principais eixos sobre os quais se estrutura o edifício escolar,

através de um sistema que organiza as crianças por idade, grau de conhecimento, aplicação

nos estudos, entre outros, como afirma Giddens (1979 apud ZARANKIN, 2001, p.71).

A quantidade de alunos por curso, assim como sua distribuição física, estão

especialmente pensadas para garantir uma vigilância de maneira mais efetiva. O ingresso na

escola é precedido de uma série de rituais, tais como formações, cantos, hasteamento de

bandeiras, discursos de autoridades, entre outros, que anunciam a passagem de um “mundo” a

outro. A escola funciona num lugar em que está fisicamente circunscrita. Paralelamente

organizada por meio de estruturas arquitetônicas.

As primeiras construções escolares tinham como ponto inicial, para estruturar sua

morfologia, um princípio de vigilância visual onipresente. Essas escolas disciplinares

promoviam o controle direto de todas as pessoas dentro dela. Dessa forma, aulas, corredor,

pátio eram objetos de vigilância constante e ininterrupta. Mais precisamente o pátio e as salas

de aula – concebidas como recintos fechados e isolados – eram os elementos centrais no

desenho e na organização do espaço, conforme esclarece Querrien (1979 apud ZARANKIN,

2001, p.80).

O estilo clássico era a referência estética para a construção de edifícios públicos que

deveriam transmitir a força das instituições e a integridade dos administradores; tratava-se de

“uma arquitetura de princípios masculinos” (WOLLF, 2010), os espaços concebidos para as

escolas muito se inspiravam nos conventos religiosos medievais. A arquitetura escolar

42

predominantemente é composta por salas de aula em torno de um ou mais eixos de circulação,

por espaços administrativos, áreas para recreio e exercícios físicos.

Essas construções escolares, classificadas por Zarankin (2001, p.211) de escolas com

esquema tipo “U”, são organizações bastante simples, com um espaço central (pátio) que se

conecta a um hall de acesso ao edifício e a todos os demais espaços da escola (aqueles que

não apresentam conexões entre si). Os deslocamentos dentro da escola obrigatoriamente

implicam circuitos através do pátio. O centro da vida escolar também está diretamente

relacionado a esse espaço central. Como exemplo disso, podemos citar as formações dos

alunos no pátio, diariamente, ao início ou término do período, assim como os recreios e as

solenidades que eram realizados naquele local.

Tanto sua organização espacial quanto suas características físicas fazem da escola

uma estrutura eminentemente disciplinar. Esse modelo de instituição inaugura uma estrutura

morfológica denominada de “forma pan-óptica”. Podemos classificar, por exemplo, o Ginásio

Pernambucano como uma escola do tipo “U”, no qual predomina a fachada que, com sua

ostentação e sentido de espetáculo, busca impressionar aquele que o contempla, enquanto que

oculta o seu interior. Um interior no qual se penetra sem transição, diretamente a partir do

exterior (ESCOLANO, 1998, p.97).

Na imagem a seguir podemos notar que a fachada do Ginásio Pernambuco é composta

por grandes janelas, um pórtico central e uma entrada lateral. O pavimento superior contribui

para a imagem imponente do prédio perante os outros estabelecimentos. Apesar de a

construção ser rente à rua, o edifício não procura dialogar com o entorno, e o seu interior é

totalmente ocultado.

43

Ilustração 1 - Fachada do Ginásio Pernambucano

FONTE: Secretaria de Educação de Pernambuco

Nesse modelo de escola, as classes são, em geral, espaços rígidos e uniformes,

incomunicáveis entre si, rodeando um pátio central. As cadeiras são fixas em fileiras

orientadas em direção à mesa do professor, localizada sobre um tablado que garante uma

visão de todos os alunos, com a lousa por detrás. Os alunos são distribuídos segundo a idade,

capacidade, sexo e atitudes, e as aulas são organizadas em tempos de longa duração, com

intervalos de campainha. Em geral é obrigatório o uso de uniformes. Rituais de entrada e

saída, formações militares, códigos de disciplina que controlam a circulação, o movimento, o

comportamento dos alunos, entre outros, são frequentes nesse tipo de escola. (ZARANKIN,

2001, p.82).

Apesar dessa função de confinamento temporal, o aspecto físico da escola procura

ocultar ao máximo essa finalidade. Dessa maneira, as fachadas das escolas são projetadas

seguindo o mesmo estilo que a elite utiliza para construir suas casas. Mesmo diante das

propostas teóricas e dos desenhos arquitetônicos, não é fácil conhecer a realidade educativa,

porque os usuários dos edifícios escolares podem modificar a distribuição e atribuições de uso

efetuadas pelos teóricos e pelos arquitetos, uma vez que as pessoas ressignificam os espaços.

O espaço escola tornar-se, assim, no seu desenvolvimento interno, um espaço

segmentado, no qual o ocultamento e o aprisionamento lutam com a visibilidade, a abertura e

a transparência. A racionalização democrática, a divisão do tempo e dos trabalhos escolares, a

44

gestão racional do espaço coletivo e individual fazem da escola um lugar em que adquirem

importância especial á localização e a posição, o deslocamento e o encontro dos corpos, assim

como o ritual e o simbólico.

Foucault fala de uma arquitetura que não é mais feita simplesmente para ser vista ou

para vigiar o espaço exterior, mas para permitir um controle interior, articulado e detalhado,

para tornar visíveis os que nela se encontram; mais geralmente, uma arquitetura que seria um

operador para a transformação dos indivíduos, agir sobre aquele que abriga, dar domínio

sobre seu comportamento, reconduzir até eles os efeitos do poder, oferecê-los a um

conhecimento, modificá-los. As pedras podem tornar-se dóceis e conhecíveis (FOUCAULT,

1983, p.197).

Para esse autor, a punição na disciplina não passa de um elemento duplo: gratificação-

sanção. É um sistema que se torna operante no processo de treinamento e correção. Os

aparelhos disciplinares hierarquizam os bons e os maus indivíduos, há uma diferenciação que

não é a de atos, mas dos próprios indivíduos, de sua natureza, de suas virtualidades, de seu

nível, de seu valor. Dessa forma, o espaço também serve para punir os indivíduos

(FOUCAULT, 1983, p.205).

A divisão, segundo as classificações ou os graus, tem um duplo papel: marcar os

desvios, hierarquizar as qualidades, as competências e as aptidões, mas também castigar e

recompensar. A disciplina recompensa pelas promoções através dos bancos de honra, dos

lugares especiais; o espaço não é neutro.

Apesar de reformas de cunho democrático o que se almejava era a reverência, o

respeito e a evidência alcançados nas igrejas e conventos por meio da monumentalidade; a

escola pública e leiga tipologicamente se aproxima das construções religiosas.

Através da arquitetura escolar pública podia-se propagar a ação dos governos, “o

prédio público deveria divulgar uma imagem de estabilidade e nobreza das administrações”

(WOLFF, 2010, p.59), através da monumentalidade podia-se dar visibilidade ao edifício

público e ao mesmo despertar admiração e até sentimentos de devoção aos que o

contemplassem. A crença no poder da escola de instruir e de, ao mesmo tempo, moralizar,

civilizar e consolidar a ordem social difundiu-se a ponto de tornar-se a principal justificativa

ideológica para a constituição dos sistemas públicos de ensino.

Dessa forma, o convívio com a arquitetura monumental, os longos corredores, a altura

do pé-direito, as dimensões grandiosas de janelas e portas, a racionalização, a higienização

45

dos espaços e o destaque do prédio escolar com relação à cidade que o cercava visavam

incutir nos alunos o apreço pela educação racional e científica, valorizando uma simbologia

estética, cultural e ideológica constituída pelas luzes da república (CORREIA, 2005 apud

BENCOSTTA, 2005, p.75).

Ilustração 2 – Corredor de salas de aula do Ginásio Pernambucano

FONTE: Tirada pelo autor

A escola republicana caracteriza-se por fachada grandiosa, entrada monumental e

evidente, janelas verticais grandes e pesadas, relógio redondo com algarismo romano e

pêndulo, festas cívicas com hino nacional, hasteamento de bandeiras e declamação de poesias,

uniforme, caixa escolar, orfeão, cartilha, livro de leitura, brincadeiras, quadro negro. Na

escola republicana, inicialmente eclética e neoclássica, vigorava uma concepção tradicional

de educação (BUFFA; PINTO, 2002).

46

Com o advento da república passa-se a defender um projeto de educação popular,

entende-se que a consolidação da república esta intimamente ligada à difusão do ensino

primário. Dessa forma, há a formação de escolas primárias graduadas, com várias classes,

vários professores e Escolas Normais para a formação desses professores. Os programas

arquitetônicos passam a obedecer a uma nova ordem educacional, classes seqüenciais,

ambiente administrativo, valorização do professor, novas relações entre os alunos.

A construção dos grupos escolares e das escolas normais aparece como fatores de

modernização, importam-se estilos arquitetônicos europeus, o neoclássico, o eclético, as

primeiras construções escolares utilizavam o projeto piloto, modelos de projetos que

poderiam ser implementados em larga escala num curto período de tempo e com baixos

custos.

A maioria dos edifícios eram térreos, divididos em duas alas, uma para meninos e

outra para meninas, entradas independentes e muros que cercavam todo o prédio, outros

possuíam dois pavimentos, onde um era destinado para os meninos e outro pra as meninas, o

galpão servia para o recreio coberto, as ginásticas, as festas cívicas aconteciam isoladamente

ou nos fundos do terreno ou nas laterais, baseados nos princípios de salubridade e

higiene,utilizava-se o uso intensivo do vidro,grandes janelas permitiam boa luminosidade e ao

mesmo tempo ventilação controlada.

O ensino enciclopédico abrangia noções sobre o homem, a sociedade e o mundo:

aritmética e geometria, linguagem, leitura, gramática, escrita, caligrafia, historia e geografia,

ciências físicas, químicas e naturais, higiene, exercícios ginásticos trabalhos manuais

(BUFFA; PINTO, 2002) esse ensino não quer só ensinar as primeiras letras, pretende uma

educação integral, física, intelectual e moral dos alunos no qual há uma nova sistematização

do uso do tempo.

A renovação do ensino na república se daria pela adoção do método intuitivo ou lição

de coisas e o investimento na formação dos professores. O método intuitivo surgiu na

Alemanha no final do século XVIII, com Pestalozzi e das ideias de Bacon, Locke, Hume,

Rousseau, Comenius, Froebel, e a aquisição do conhecimento se faziam por meio dos sentidos

e da observação, a escola valorizava a observação e a experiência. A avaliação da

aprendizagem se dá através dos exames, compostos por provas escritas, práticas e orais,

através de um sistema avaliativo normatizado, padronizado e ritualizado; a República quer

uma escola primária de prestígio, de qualidade e rigorosa. Os grupos escolares eram

47

frequentados por crianças de classe média, filhos de profissionais liberais, de imigrantes e de

trabalhadores urbanos.

Nas décadas de 30, 40 e 50 há novas exigências da sociedade industrializada, a escola

precisa atender a um número muito maior de alunos e, por isso, os prédios precisam ser mais

simples, mais baratos e modernos. Os princípios da arquitetura moderna se aliam aos

interesses da cidade moderna e aos novos ideais educacionais. Esta arquitetura deveria ser

subordinada à criança, é para a criança que se faz uma escola, não para o professor. As

escolas deveriam ser alegres e acolhedoras; jamais assemelhar-se a prisões com muros altos e

janelas inacessíveis como o Ginásio Pernambucano, mencionado anteriormente.

48

Educação

nos Anos 1950

49

3 EDUCAÇÃO NOS ANOS 1950

Nessa primeira parte pretende-se analisar a situação educacional brasileira a partir do

texto de Anísio Teixeira “Educação não é privilégio” (1956), do texto de Jayme de Abreu

“Educação secundária no Brasil” (1955), do texto de Fernando Azevedo “Mais uma vez

convocados (manifesto ao povo e ao governo)”. Esses textos trazem os olhares não muito

otimistas dos chamados “renovadores da educação” e notícias dos jornais, Diário de

Pernambuco e Folha da Manhã.

Ao analisar-se a educação escolar antes da aspiração moderna de uma escola universal

para todos proclamada pela Convenção Francesa, encontra-se uma educação escolar

extremamente especializada, em que os indivíduos já tinham sido educados previamente em

suas casas e só iam para a escola para aprender ofícios intelectuais e sociais.

Na Convenção Francesa, apesar de se querer universalizar o ensino, não se propunha a

universalização do modelo de escola existente, mas uma nova concepção de sociedade, onde

as diferenças sociais e econômicas não existissem e a escola independente da família, da

classe e da religião iria desenvolver as características inatas de cada individuo.

Nesse contexto, a educação escolar não visa à especialização, mas à formação comum

dos indivíduos. A especialização ocorreria mais tarde de acordo com os interesses individuais

de cada indivíduo. Essa nova escola, composta por diferentes classes sociais, visa a formar a

inteligência, a vontade, o caráter, hábitos de pensar, de agir e de conviver socialmente.

(TEIXEIRA nº 63, jul/set.1956).

No entanto, a transição da escola tradicional para a escola moderna de ideais

democráticos, iniciados ainda no século XIX, não se dá de forma automática e encontra

muitos entraves para sua efetivação. A escola tradicional de caráter intelectualista é

especializada, visa à formação de escolásticos, alheia aos interesses do aluno, “daí a

pedagogia, os pedagogos, os didatas, gente de ofícios rebarbativos, que só eles entendiam e só

eles cultivavam” (TEIXEIRA nº 63, p.7, jul/set.1956), onde prevalece o dualismo entre o

conhecimento prático e o conhecimento intelectual que só vão se aproximar mais tarde, com a

ciência experimental.

Com a unificação do conhecimento intelectual e o conhecimento prático herdado da

ciência experimental “a escola teria de deixar de ser a instituição especial de preparo daqueles

‘homens racionais ou escolásticos’, devotados à atividade do espírito, para se constituir em

50

agência de educação do novo homem comum [...]” (TEIXEIRA. nº 63, p.7, jul/set.1956). A

escola pública que visa à formação do homem comum não pode mais ser extremamente

especializada, destinada ao preparo dos escolásticos. Na escola que se propõe a educar a

“todos”, o trabalho prático e a atividade intelectual se complementam, o método expositivo do

ensino não mais atende às necessidades da escola moderna.

Anísio nos alfineta quando pergunta até que ponto a escola brasileira se aproxima da

proposta de escola moderna iniciada ainda no século XIX. (TEIXEIRA. nº 63, jul/set.1956)

Apesar de ter exemplos positivos ou até episódicos, o ensino brasileiro da década de 50 se

revela arcaico, de exposição oral e reprodução verbal. A atividade escolar se resume a aulas

onde os alunos são expectadores passivos e a verificação da aprendizagem ainda é medida

através dos exames.

Anísio afirma ainda que a pedagogia adotada pela educação brasileira poderia

facilmente funcionar numa escola da Idade Média em que a “filosofia do conhecimento é a de

que o conhecimento é um corpo de informações sistematizadas sobre as coisas, que se

aprendem, compreendendo-as e decorando-as para a reprodução nos exames”. (TEIXEIRA nº

63, p.9, jul/set.1956). A esse tipo de educação dá-se o nome de cultura geral ou humanística.

O método expositivo era largamente aplicado às situações didáticas desde o ensino da

língua vernácula até o ensino de música ou trabalhos manuais; em algumas situações, se

convidado, o aluno poderia até declamar a obra de Camões, mas era incapaz de produzir de

forma autônoma alguma coisa sobre as matérias dadas. O conhecimento é utilizado apenas

para ser expelido na época dos exames. Anísio acredita que esse ensino nem sequer se

aproxima da escola medieval, mas traz consigo a influência da teoria medieval do

conhecimento.

Aprender essa ‘cultura’ consistia em compreender e fixar suas categorias,

suas classificações, suas distinções e habilitar-se alguém a poder falar sobre

o mundo e nós mesmos, com erudição e elegância, e contemplar as belezas

desse conhecimento, belezas que se encontravam nas obras dos grandes

mestres. Todo esse saber se achava em livros definitivos, cuja leitura daria

toda a cultura possível. O ‘lente’ era o leitor. Os alunos ouviam e aprendiam.

(TEIXEIRA, 1956, Nº 63, p. 10)

Anísio afirma ainda que é nessa teoria medieval do conhecimento que vai ser formada

a educação escolar brasileira com seus curtos períodos de aula, seus pobres livros

esquemáticos e seus exames para reprodução do aprendido nas aulas. (TEIXEIRA, nº 63,

jul/set.1956). Mas a educação brasileira, é claro, distingue-se da teoria medieval do

conhecimento; enquanto nesta última existia o “lente” um especialista para os assuntos

51

educacionais, entre nós o professor pode ser qualquer um que saiba ler e escrever

minimamente. “Encurtamos o período de aula, encurtamos os professores, tudo é dispensável,

prédio, instalações, bibliotecas, professores, a única coisa que não pode ser dispensada é a

lista completa de matérias” (TEIXEIRA nº 63, p.10, jul/set.1956).

Anísio acredita que essa forma de lidar com o conhecimento vai além da herança

medieval e culmina com o medo dos professores no que se refere à diminuição do currículo

que acarretará em menos matérias a serem dadas e consequentemente menos retorno

financeiro. Além disso, tem-se uma visão racional de que a cultura é algo completo, acabado e

por isso o saber não pode ser suprimido, isto é, eliminadas matérias.

Para Anísio a cultura geral pode ser tida como a “mais alta expressão da cultura”, ou

uma “cultura geral popularizada”. (TEIXEIRA, nº 63, p.11, jul/set.1956). No entanto, no que

se refere ao Brasil, afirma:

as nossas escolas não são nem uma coisa nem outra. Arcaicas nos seus

métodos e seletivas nos currículos, não são de preparo verdadeiramente

intelectual, não são praticas, não são técnicos - profissionais, nem são de

cultura geral, seja lá em que sentido tomarmos o termo. (TEIXEIRA nº 63,

p.11, jul/set.1956)

Em relação ao corpo docente em 1933 havia 53000, 57,8% desses docentes eram

diplomados pelas escolas normais; em 1953, há 134000 docentes, dos quais apenas 53% são

diplomados pelas escolas normais. Diante do “aparente crescimento vegetativo das escolas”,

termo usado por (TEIXEIRA, nº 63, p.13, jul/set.1956) tudo leva a crer que não se está

diminuindo o analfabetismo mas, pelo contrário, está-se aumentando cada vez mais e o ensino

primário está estacionado, como mostra a tabela a seguir:

Tabela 1 - Conclusões de curso no Ensino Primário (cursos de 3 e de 4 séries)

1933 1940 1950 1953

1.794.335 2.555.191 3.709.887 4.142.318

Conclusões de curso 124.208 202.603 283.874 316.986

% s/ matrícula na 1º série ± 7% ± 8% ± 1% ± 7%

FONTE: TEIXEIRA, nº 63, p.13, jul/set.1956.

O ideal francês de uma escola comum ou pública, de uma educação para todos, só foi

alcançado na França mediante o estabelecimento de acordos. Por um lado, criou-se o sistema

popular de educação constituído pela escola primária, escola primária superior, escolas

normais e escolas profissionais. E por outro, estabeleceu-se o sistema de educação de classes

52

com os liceus, as grandes escolas e a universidade se efetivando dessa forma, um sistema dual

de ensino no qual se baseou o sistema educacional do Brasil.

A escola comum, a escola para todos, nunca chegou, entre nós, a se

caracterizar, ou a ser fato para todos. A escola era para a chamada elite. O

seu programa, o seu currículo, mesmo na escola pública, era um currículo e

um programa para ‘privilegiados’, toda a democracia da escola pública

consistiu em permitir ao ‘pobre’ uma educação pela qual pudesse ele

participar da elite. (TEIXEIRA, nº 63, p.17, jul/set. 1956).

A ideia de educação comum americana ou francesa não era a de dar a educação das

elites para os pobres, mas era uma ideia de educação comum sem privilégios, visando à

formação para o trabalho, em que todos tivessem as mesmas condições e de acordo com o seu

mérito pessoal ocupariam as funções na sociedade. Apesar do sistema dual de educação

brasileiro, a classe dominante também se apropriou da escola pública primária e dos outros

níveis de educação, exceto as escolas profissionais. Todo o nosso sistema de ensino estava

imbuído do espírito elitista.

Mesmo depois da existência de uma consciência educacional, do reconhecimento da

necessidade da escola e disso advém o elevado numero de matrículas, da multiplicação dos

turnos escolares, ainda é baixo o número de alunos que conseguia concluir o ensino primário

na década de 50. Além do aligeiramento na qualidade do ensino com as reduções dos horários

de aula, a escola também era afetada pela administração centralizadora do Estado.

Dessa forma, a função da escola primária sofre mudanças; no lugar de ser “a grande

escola comum da nação, a escola de base, em que se educa a grande maioria dos seus filhos,

para se constituir em simples escola de acesso, preparatória ao ginásio [...]” (TEIXEIRA,

1956, Nº 63, p. 21). Esse modelo de educação se adequaria perfeitamente a um sistema de

mandarinato, mas não serve para a formação de todos os brasileiros para os diversos níveis de

ocupação de uma democracia moderna.

Anísio alerta que uma educação primária, destinada à formação do povo, deve ter seu

turno integral; para que a escola seja transmissora de padrões de hábito, atitude, práticas e

modos de sentir e julgar ela precisa de tempo. O programa escolar deve contar com atividades

práticas que favoreçam a aprendizagem por participação, oportunizando hábitos da vida real.

Ler, escrever, contar e desenhar devem ser ensinados de acordo com o contexto social do

aluno e não desconectados da realidade. O programa escolar é a própria vida da comunidade,

do trabalho, das tradições.

53

Dessa forma, a escola primária cria vínculos muito fortes com a comunidade local e

transforma-se numa “escola regional”, mas essa regionalização da escola só será dada com a

municipalização do ensino, com uma administração local que favoreça a construção de um

programa escolar que faça sentido para os indivíduos, em que o corpo docente é composto por

membros da própria comunidade ou que estejam próximos a ela de alguma forma, que tenham

com ela um vínculo afetivo. Essa escola é comum porque tem objetivos comuns para todos os

homens, mas ela varia de região para região de acordo com a cultura local.

No que se refere ao ensino secundário, seu objetivo era “a formação da personalidade

integral do adolescente a fim de desenvolver a consciência patriótica e humanista,

proporcionando-lhe uma cultura geral, com base para os estudos posteriores” (ABREU. nº 58,

p.27, abr/jun.1955). No entanto, o desejo de formação integral esbarrava-se nos curtos

períodos letivos, nas salas numerosas e na preocupação quase que exclusiva em preparação

para os exames. Uma educação de caráter propedêutico e verbalista. Essa afirmativa se

respalda na análise da tabela abaixo, que mostra as disciplinas do curso secundário.

Tabela 2 - Escola Secundária brasileira - Número mínimo de horas semanais de cada disciplina6

Curso Ginasial

SÉRIES I II III IV

I. Línguas 1. Português 3 3 3 3 2. Latim 2 2 2 2 3. Francês 3 2 2 2 4. Inglês - 3 3 3

II. Ciências 5. Matemática 3 3 3 3 6. Ciências Naturais - - 2 3 7. História do Brasil 2 - - - 8. História Geral - 2 2 - 9. História do Brasil e História Geral - - - 2 10. Geografia Geral 2 2 - - 11. Geografia do Brasil - - 2 2

III. Artes 12. Trabalhos manuais 3 2 - - 13. Desenho 1 2 2 1 14. Canto Orfeônico 2 1 1 1

IV. Educação Física 2 2 2 2

Total de horas semanais 23 24 24 24

FONTE: ABREU, J. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. A educação secundária no

Brasil. Rio de Janeiro, v. xxiii, nº 58, p.100, abr/jun. 1955.

6 Fixado pela portaria nº 966, de 2 de outubro de 1951.

54

Mesmo que historicamente a escola secundária tenha sido destinada à formação das

elites, na década de 50 há a tentativa de atrelar o ensino secundário ao ensino agrícola e ao

ensino comercial. Há a formação de um corpo discente heterogêneo, constituído além do

patriarcado rural pelas classes média urbana. A gramática escolar brasileira ainda destoava

dos princípios de Dewey, a escola era alheia à realidade social do aluno, a verificação da

aprendizagem ainda se baseava em saber o assunto de cor e era medida através dos exames

orais e escritos. Apesar das discussões para tentar flexibilizar e repensar o currículo, os

professores não participavam de sua elaboração, sendo determinado por lei ou decreto-lei.

Os programas de ensino eram elaborados por uma comissão e implantados em todo o

país, não havia articulação da escola secundária com a escola primária, as condições locais e

as diferenças regionais não eram valorizadas, em muitas situações não havia a

correspondência entre as diretrizes nacionais e as necessidades pedagógicas dos alunos.

Apesar de um grande controle sobre o ensino secundário como currículo, programa, número

de alunos nas salas, na prática as exigências mínimas do prédio ou equipamentos não eram

respeitadas, a maioria dos prédios estavam em situação precária, eram raras arquiteturas

funcionalmente pedagógicas e na grande maioria das situações não havia equipamento escolar

adequado.

Em relação ao corpo docente, havia a formação de um professorado desqualificado

com profissionais vindos de outras profissões, médicos, advogados ou até mesmo sem

profissão, a grande maioria não possuía uma formação cientifico- profissional. Quanto às

instalações, as escolas normais brasileiras na maioria das vezes não funcionavam em um

ambiente próprio com instalações adequadas.

Pernambuco destacava-se em 14º lugar na alfabetização nacional, mais da metade da

população era de analfabetos. Nos “74 dos municípios de Pernambuco a percentagem de

analfabetos é de mais de 80 %.” 7. Embora muitos estabelecimentos de ensino não possuíssem

instalações satisfatórias para o seu funcionamento, como a sede da escola normal oficial e

outros prédios estivessem em ruínas, Pernambuco era o Estado que menos gastava com

educação e cultura8, como se pode observar na tabela abaixo:

7 FERNANDES, Aníbal. Os que falharam e os que vão continuando. Diário de Pernambuco, Recife 10 set 1958,

p.4.

8 8% PARA o ensino em Pernambuco. Diário de Pernambuco, Recife 03 fev 1959.

55

Tabela 3 - Quadriênio 1954-1957 (em milhares de cruzeiros)

Estado Despesas

Educacionais

Despesa Total

Realizada

% das Despesas

Educacionais sobre o Total

Rio Grande do Norte 193.023 957.459 20%

Paraíba 275.849 1.696.037 16%

Piauí 117.280 697.181 16%

Ceará 353.874 2.215.250 15%

Alagoas 169.558 1.108.362 15%

PERNAMBUCO 530.165 6.194.821 8%

FONTE: PE estado que menos gasta em educação e cultura.

Diário de Pernambuco, Recife 2 fev 1959, capa.

Apesar da precariedade de nossa educação, noticiam-se grandes investimentos no setor

educacional em Pernambuco e o INEP contribuía para a construção de grupos escolares por

todo o Brasil. No Jornal Folha da Manhã é noticiado um convênio entre Pernambuco e a

União através do INEP, em que o governo se compromete a fornecer 12 milhões de cruzeiros

para a construção de grupos escolares na capital pernambucana9 10

.

O Instituto Nacional de Estudos pedagógicos- INEP era composto por um centro

nacional de aperfeiçoamento do magistério no Rio de Janeiro e 5 centros regionais em Recife,

Bahia, Belo Horizonte e Porto Alegre que visavam a uma revisão e renovação da educação

brasileira. Os conteúdos educacionais, nos diferentes níveis, deveriam adaptar-se as

necessidades e exigências do povo brasileiro; para isso era traçado um mapa educacional e um

mapa cultural do Brasil. (SEM AUTOR REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS

PEDAGÓGICOS. Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Rio de janeiro, v.xxiv, nº 59,

p. 18-36, jul/set. 1955).

O mapa cultural do Brasil era um estudo aprofundado sobre a cultura brasileira

contemporânea, a vida familiar, a criação dos filhos, as atividades econômicas e sociais, como

se dava o uso do tempo de lazer, atenção à herança ética e religiosa do povo. Traçava-se,

dessa forma, um mapa das evoluções sociais.

Esse estudo apontava como estava a educação brasileira nos diferentes níveis de

ensino e nas diferentes regiões brasileiras. Apesar da unificação do currículo através de um

9 Convênio com o INEP 12 milhões de cruzeiros para construção de grupos e escolas em Pernambuco. Folha da

Manhã, Recife, 04 jun.1957, p.s/n.

10 Conseguiu Pernambuco junto ao INEP 14 milhões de cruzeiros para a construção de grupos escolares e

escolas profissionais. Folha da manhã, Recife, 23 jun 1957, p.8.

56

sistema nacional educacional comum, havia variáveis no que se refere à preparação dos

professores, tamanho das salas, materiais disponíveis para o ensino, acessibilidade da escola,

meios de transporte, existência ou não de bibliotecas, frequência dos alunos, origem da

população escolar, grau de cooperação da comunidade, a questão da língua (já que em

algumas regiões havia imigrantes e populações indígenas), contato com outras influências

educacionais como jornais, cinema, rádio, atitudes do povo em relação à escola, o nível de

satisfação ou descontentamento das pessoas em relação ao sistema educacional. (SEM

AUTOR REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS. Centro Brasileiro de

Pesquisas Educacionais. Rio de janeiro, v.xxiv, nº 59, p. 18-36, jul/set. 1955).

A partir da fusão dos mapas educacionais e culturais poderia refletir-se sobre até que

ponto a organização educacional nacional, regional ou local correspondia à realidade social e

cultural do país e realizar possíveis mudanças visando à adaptação dos métodos e conteúdos

escolares, a necessidade da comunidade a partir dos dados apresentados pelos mapas. Essas

mudanças antes de serem implementadas em larga escala seriam experimentadas em projetos

pilotos, em que aconteciam estudos periódicos anteriores e posteriores às novas

implementações; as técnicas de avaliação dos projetos eram feitas pelo departamento de

Ciências Sociais da UNESCO.

Partindo-se do princípio de que alguns problemas educacionais não são exclusivos do

Brasil, as pesquisas estrangeiras também poderiam ser incorporadas às ideias do centro,

realizando-se as adaptações necessárias à educação brasileira.

Mesmo com a influência dos ideais escolanovistas e das modernas técnicas

pedagógicas, tanto a escola primária quanto a secundária sofrem com a redução da carga

horária; alguns estabelecimentos funcionavam em até quatro turnos, a má formação e

remuneração dos professores, a organização arcaica do ensino em que as técnicas de ensino se

dividiam entre a exposição e a recitação, o problema das edificações escolares. Com um forte

caráter disciplinar a renovação pedagógica dá lugar à improvisação no ato de ensinar.

Apesar do quadro agonizante mostrado até agora, corroborado por Anísio Teixeira,

julga-se pertinente trazer a visão/proposta de educação desse educador que foi diretor do

INEP, instituição financiadora de grupos escolares em Pernambuco, e Ruy Bello, professor do

IEP; e que fez parte da comissão responsável por escolher o projeto vencedor do concurso

para a nova sede do IEP; dois educadores que foram importantes para a educação brasileira e

pernambucana e que contribuíram para a construção de prédios de acordo com os preceitos

das modernas técnicas pedagógicas no Recife.

57

3.1 RUY BELLO

Não se alimenta a ilusão de conseguir trazer nesse texto todas as considerações sobre o

pensamento de Ruy Bello, mas apenas destacar alguns elementos como o papel do professor,

instalações físicas, o mobiliário escolar, o material didático que o autor julgava interferir na

qualidade do ensino presentes em sua obra “Princípios e Normas da Administração Escolar”

de 1956, na qual o autor traz considerações acerca dos problemas da organização e da

administração escolar, que se julga importante para entender a visão de educação desse

educador.

Ruy Bello, além de professor do Instituto de Educação de Pernambuco, assumiu o

cargo de diretor entre os anos de 1938 e 1973 por um período superior a quinze anos e junto

com outros educadores estava fazendo parte da comissão para construção da nova sede do

Instituto de Educação de Pernambuco. Aos 16 anos foi professor primário na Escola Paroquial

dirigida pelo padre Júlio de Siqueira, também ensinou na Escola Normal Pinto Junior do qual

foi diretor, no Nóbrega, no Eucarístico, no São José e Nossa Senhora do Carmo. Além de

professor fazia parte da Congregação Mariana que defendia, dentre outras causas, a volta do

ensino religioso às escolas; foi eleito em 1934, deputado estadual na legenda pelo

Cristianismo Social.

Para Bello os conteúdos educacionais estavam ligados à filosofia da educação

proposta, à proposta de educação que se queria adotar para um determinado sistema de

ensino. Dessa forma, a organização do currículo estaria atrelada a uma ideia de educação, em

que a matéria de estudo é constituída pelo currículo e pelos programas escolares.

Deveria haver critérios para a seleção da matéria de estudo vinculados à formação

humana na qual a escola é tida como um meio de desenvolver as faculdades humanas

mediante o exercício, aliando os estudos teóricos às atividades práticas. A aprendizagem não é

tida como simples prática de memorização, mas capaz de possibilitar modificações da mente e

da conduta humana, por isso a escola deve estimular atividades que auxiliem o

desenvolvimento humano. Qualidades como unidade, continuidade, simplicidade,

flexibilidade, integridade deveriam nortear todo o currículo.

Entende-se por unidade a possibilidade de correspondência entre as matérias, a fim de

se organizarem de forma harmônica. Em relação à continuidade, serve para que o currículo

não seja organizado de forma estanque, mas que haja articulação entre os diferentes níveis de

58

ensino. Quanto à simplicidade, trata-se de um currículo sem rebuscamento ou erudições

desnecessárias que não contribuem para uma educação que vise à formação humana.

Dando continuidade às outras qualidades, no que se refere à flexibilidade trata-se de

abrir espaço para mudanças, aconselha-se que haja uma parte fixa com os conteúdos

indispensáveis e uma parte flexível que possa ser modificada de acordo com as necessidades

dos alunos; essa parte flexível não é eletiva, não é o aluno que escolhe o que quer estudar,

mas é o professor que vai determinar o que é mais conveniente de acordo com as

características do aluno e, por último, pontua-se a integridade; as matérias de estudo não

devem abranger só os trabalhos de exercício intelectual, mas também as atividades práticas,

manuais, que favoreçam os objetivos educacionais a serem alcançados por um determinado

sistema de ensino.

A partir dessa visão de educação, o professor faz parte do centro do sistema escolar,

questões como edificação, equipamento e material didático se tornam secundárias se

comparadas com a importância do professor,

Será melhor para a criança freqüentar uma escola funcionando numa choça,

desde que haja aí o mínimo de conforto e de condições sanitárias, mas que

disponha de um professor capaz, do que frequentar escola instalada em

palácio de milhões de dólares, mas a cargo de professor incompetente.

(BELLO, 1956, p.156).

Um bom professor, um professor eficiente é aquele que tem vocação e formação

profissional, “entende-se a vocação naquele sentido de Claparéde, isto é, como a coexistência,

no mesmo indivíduo, dos interesses, aptidões e capacidades naturais relacionadas com

determinada atividade profissional” (BELLO, 1956, p.157). A vocação é composta pelos

atributos espirituais e pelas condições orgânicas.

Dentre os atributos espirituais pode-se destacar: a capacidade de compreensão da alma

infantil, o reconhecimento do valor da dignidade humana, a capacidade de intuição, o bom

humor, uma inteligência mais inventiva, a religiosidade. No que se refere às condições

orgânicas compreende-se “a saúde orgânica, a fortaleza, a capacidade de resistência à fadiga,

a integridade das funções sensoriais, principalmente da visão e audição, a voz, o domínio do

sistema nervoso, etc.”. (KERSCHENSTEINER apud BELLO, 1956, p.157-158).

O educador fala da importância das pesquisas educacionais sobre as condições de

eficiência do professor e destaca as realizadas por Littler e Buellesfield que fala dos motivos

mais frequentes do fracasso do professor, entre eles:

59

Insuficiente domínio da técnica pedagógica, falta de habilidade para manter

a ordem e a disciplina, insuficiente domínio da matéria de ensino, falta de

inteligência, falta de esforço, falta de iniciativa, incapacidade física, falta de

método, inabilidade para exercer autoridade, falta de simplicidade,

incapacidade de compreender e sentir a alma infantil, falta de senso de

sociabilidade, incapacidade de avaliar as possibilidades da criança, falta de

personalidade, falta de moralidade (BELLO, 1956, p.159).

Essas pesquisas poderiam ajudar a entender o problema da ineficiência do professor.

Para os norte-americanos a maneira para se medir a capacidade profissional do professor se

dava através da observação sistemática e continuada da atividade docente e seus respectivos

resultados. Por isso, os professores eram contratados para um estágio probatório que variava

de 1 a 3 anos podendo ser efetivados, ou não, sem qualquer estabilidade.

Ainda segundo o autor, essa forma de contratação do professor não era a mais

adequada; acredita-se que a mesma pode admitir professores em nível precário, sem uma

formação adequada refletindo negativamente na formação de seus alunos. Além de violar os

direitos do professor, esse tipo de contratação pode torná-lo uma figura passiva dentro do

ambiente escolar que apenas visa a sua própria efetivação no sistema de ensino. “[...] não

podem constituir um todo orgânico e harmonioso, mas formam, apenas, uma aglomeração

transitória de indivíduos sem outras afinidades senão a dos próprios interesses imediatos”

(BELLO, 1956, p.163), gerando um corpo docente diluído e com grande rotatividade.

Apesar de julgar importante a observação sistemática e continuada da atividade do

professor e seus respectivos resultados defende que o estágio probatório não pode ser

utilizado como o único critério válido para seleção do professor. A seleção deve começar pelo

concurso de títulos e provas. No entanto, a prova também não pode ser a parte definidora, os

títulos e a experiência do professor também devem ser relevantes.

No que se refere à contratação de professores primários além do concurso de títulos e

provas sugere-se que se utilizem testes pedagógicos e psicológicos para avaliar “com o fim de

apurarem não só os conhecimentos profissionais do candidato, como certas características

mentais relacionadas com o exercício dessa profissão”. (BELLO, 1956, p.165).

Ainda de acordo com o autor, o magistério não estava diretamente ligado às

características biológicas ou psicológicas de um determinado sexo, mas fatores como sexo,

idade e naturalidade poderiam ter influência sobre a eficácia do trabalho do professor. Em

relação ao curso primário relata que inicialmente seu corpo docente era composto por

membros do sexo masculino, só depois com a entrada das mulheres nas atividades educativas

60

essa situação inverte-se e talvez pela presença massiva das mulheres no magistério, o salário

do professor não tenha acompanhado a elevação dos salários das outras profissões.

No entanto, discorda que o ensino primário seja mais adequado às mulheres, exceto

nas séries iniciais, nos jardins de infância “onde o trato com as crianças pequenas requer do

professor qualidades quase maternais” (BELLO, 1956, p.166-167). No que se refere ao ensino

secundário aconselha que o mais adequado seja a figura masculina devido às questões de

disciplina.

Em relação à questão da idade do professor afirma: “o magistério exige, para ser

convenientemente exercitado, um certo grau de maturidade mental, que não pode ser

realizado nas pessoas demasiado jovens, como exige, também, certas condições psicológicas,

e até mesmo biológicas, incompatíveis coma senilidade”. (BELLO, 1956, p.167).

De acordo com a lei orgânica do ensino primário (Decreto-lei nº 8529, de 2/1/1946), o

magistério só poderia ser exercido por maiores de 18 anos; quanto à idade máxima em que se

poderia atuar no magistério não havia qualquer exigência na lei. Quanto ao ensino secundário

a lei orgânica não faz qualquer menção à questão da idade do professor. No entanto, o

decreto-lei 8777, de 22/01/1946 estabelece que à idade mínima para ingressar no magistério

secundário é vinte e um anos, também não há menção a idade máxima (BELLO, 1956, p.168).

Entretanto, o autor não julga suficiente para a qualificação profissional apenas atingir-se a

idade necessária; a experiência de vida faz parte da complementação da formação escolar.

Dessa forma, um professor só chegaria a ser responsável por uma classe depois de ter passado

por outras funções relacionadas ao ensino.

Em relação à naturalidade do professor, a lei orgânica anteriormente citada já defende

que o magistério deve ser exercido por professores brasileiros ou naturalizados, mas Bello

(1956) acredita que além dessa naturalização obrigatória, quando possível, existindo

profissionais qualificados deva-se dar prioridade à seleção de professores próprios da região

onde se localiza a escola, profissionais que tenham alguma relação com a comunidade local.

No que se refere ao salário do professor, todo professor tem direito a um salário digno;

trata-se de um problema de “justiça social” e um “problema pedagógico” já que a “eficácia”

do trabalho do professor estaria atrelada a sua remuneração (BELLO, 1956, p.170). As

condições de vida em que vive o professor vão repercutir no seu desempenho profissional;

além das aulas, somam-se os planejamentos, a aquisição de livros de estudos, revistas

especializadas e tudo isso requer condições materiais e físicas adequadas. Bello (1956 apud

61

Cubberley, 1930) cita ainda algumas exigências formuladas por Cubberley que ele acredita

serem aplicáveis a nossa realidade educacional, as quais favorecem a formação de um

magistério capaz e eficiente, e que são:

O salário do professor deve ser elevado ainda no início da carreira para que possa

atrair profissionais qualificados, mas também não pode ser muito alto porque dessa forma

atrairia “aventureiros”; também deveria ser aumentado periodicamente de acordo com a

produtividade do professor; dever-se-ia proporcionar vantagens para os professores que

exercem sua função longe de suas residências; o salário deveria ser igual para qualquer

modalidade de trabalho, dessa forma o profissional vai escolher sua função de acordo com sua

vocação sem infringir seus interesses; o salário deve ser proporcional à quantidade, qualidade

e dificuldade do trabalho; deveriam existir possibilidades de aumento do salário mediante

promoção (BELLO, 1956, p.171).

Depois de falar-se sobre a importância dos conteúdos educacionais e do professor

passa-se agora as características de uma escola adequada às novas exigências pedagógicas.

A escola deve ser acessível à população a qual esta atendendo, tanto em relação a

distância que os alunos devem percorrer até chegar a escola quanto em relação à oferta de

transporte público; o ideal seria que os alunos pudessem chegar à escola a pé; ao mesmo

tempo em que a escola deve ser instalada num local afastado das perturbações urbanas onde

não haja elementos de “ordem moral, física ou higiênica” que perturbem o seu funcionamento

ou o alcance dos seus objetivos como mostra o trecho a seguir:

Desse modo deve a escola evitar a vizinhança de taberna, cabaré, casas de

jogo, fábricas, estradas de ferro, praças públicas, mercados, hospitais,

cemitérios, cursos d’água perigosos, artérias ou estradas carroçáveis de

transito intenso, em suma, tudo aquilo que possa produzir excessivo ruído,

poeira, odores desagradáveis ou nocivos e principalmente, que possa ser

motivo de desedificação ou escândalo para as crianças. (BELLO, 1956,

p.206).

Além de ser construída longe de grandes edificações deve a escola estar próxima a

áreas verdes que contribuem para manter as condições de salubridade. Em relação às

dimensões do terreno, além de comportar o edifício e suas dependências, deve haver

possibilidades de expansão da construção, caso haja necessidade; também é importante que

haja água abundante de boa qualidade e que o edifício receba luz e ventilação adequadas.

Bello (1956) reconhece que há dificuldades em se conciliarem algumas exigências

como o acesso dos alunos com um lugar bem servido de transporte público e que ao mesmo

62

tempo seja construído num local longe das perturbações urbanas propício ao trabalho

pedagógico, como sugerido pelos escolanovistas, e por isso em relação a essa questão o autor

sugere que se utilize de transporte privado mantido pela administração do ensino ou pela

escola para deslocar os alunos até a escola.

No tocante à arquitetura escolar, em alguns sistemas escolares mais avançados existem

órgãos especializados em gerir as construções escolares. No entanto, essa medida gera custos

altos para as finanças públicas; mesmo que um sistema escolar não possua esses órgãos ele

precisa estar atento à questão da arquitetura escolar, uma arquitetura “[...] um problema não

de simples arquitetura, mas de arquitetura rigorosamente especializada, interessando ainda a

pedagogia, higiene e as finanças escolares”. (BELLO, 1956, p.209).

Bello se reporta a Reeder que afirma que “não se pode resolver satisfatoriamente essa

questão sem o esforço conjugado de um educador, um artista, um engenheiro, um higienista e

um economista, pois, nesse particular, as possibilidades de erro são inumeráveis [...]”

(BELLO, 1956, p.209 apud Reeder, 1929) Ballesteros e Sáinz afirmam: [...] o problema da

edificação escolar não será devidamente solucionado enquanto não cessar a ‘ditadura dos

arquitetos [...]’ (BELLO, 1956, p.209 apud BALLESTEROS; SÁINZ 1952).

A primeira questão que Bello (1956) nos traz referente à edificação escolar é a questão

das proporções da escola que vai variar de acordo com o nível de ensino, o número e as

proporções das salas de aula. Mas de maneira geral Bello (1956, p.209) alerta:

“o prédio escolar deve ser de proporções reduzidas, muito longe do

monumental ou do grandioso, desde que o seu destino não é abrigar uma

multidão amorfa, mas servir de ambiente de estudo e de trabalho a uma

pequena comunidade humana, que nunca deverá exceder, segundo os mais

bem avisados tratadistas, de quinhentos (500) indivíduos”.

De acordo com (Bello, 1956, p.211 apud BALLESTEROS; SÁINZ 1952) ‘não é

possível construir edifícios escolares de proporções excessivas e de muito custo’ isso porque

‘a rápida evolução das ideias pedagógicas os tornará inadequados, em futuro próximo, para as

necessidades pedagógicas que vão sendo criadas’. Esses educadores afirmam ainda que as

construções devem ser renovadas a cada dez anos para que possam adaptar-se as novas

necessidades educacionais.

Bello (1956, p.214-215) nos traz exigências fundamentais da Comissão de Construção,

da Associação Nacional de Educação norte-americana para a construção dos edifícios

escolares. São elas: adaptação às necessidades educacionais; segurança; higiene;

conveniência; expansão, flexibilidade; estética; economia. Em relação ao estilo arquitetônico

63

sugere a utilização do estilo moderno, além de mais econômico, os “estilos mais singelos,

despidos de decorações excessivas, cuja beleza ressalte apenas das suas próprias linhas

fundamentais, é o que mais convém à arquitetura escolar”. (BELLO, 1956, p.215).

Quanto ao mobiliário escolar, mais especificamente a carteira e o assento do aluno, o

autor é contra “certos pedagogos extremados da escola nova” (Bello, 1956, p.216) que não

acham relevante essa questão; o mobiliário escolar está atrelado a uma ideia de educação, por

isso quando se utilizava os” velhos métodos de ensino”, nos quais imperava o silêncio como

forma de disciplina o mobiliário escolar era fixo, sem grande movimentação; com as novas

técnicas de ensino, o aluno ganha mais mobilidade e o mobiliário escolar deve se adequar a

esse novo método de ensino.

As carteiras e os bancos para 8, 10 ou até 12 alunos eram considerados inadequados

por serem anti-higiênicos, não se adaptam à anatomia individual dos alunos e são

antipedagógicos. Apesar das carteiras bipessoais não serem as ideais, o ideal seriam carteiras

unipessoais, “não fixadas no solo, mas móveis, e, se possível, graduáveis para se poder

adaptar à estatura dos alunos” (Bello, 1956, p.219), mas infelizmente essas cadeiras ocupam

grande espaço e não são econômicas. Portanto, as cadeiras bipessoais, são as que conseguem

conciliar os interesses da pedagogia e da economia escolar.

Bello (1956) também faz referências à professora Montessori no que se refere ao

mobiliário escolar “constante de mesinhas de tampo horizontal, uma quadradas, para quatro,

seis ou oito alunos, e outras ovais, destinadas para as crianças menores” (BELLO, 1956,

p.219) que são adequados ao jardim e infância, mas que são inadequados aos outros níveis de

ensino.

As preocupações do autor não são apenas com o mobiliário dos alunos, mas também

com o mobiliário do professor que deve ser composto por mesa ou escrivaninha, cadeira e

estrato; o estrato “permite ao educador e aos alunos uma visibilidade recíproca mais fácil e

mais completa, contribui para facilitar, não apenas a vigilância do mestre sobre a classe, mas,

igualmente a intercomunicação constante e efetiva entre um e outro” [...] (BELLO, 1956,

p.221), o estrato seria diferente da cátedra utilizada pelos professores para manter distância e

demonstrar superioridade diante de seus alunos.

Em relação aos materiais didáticos não deveriam se reduzir apenas ao quadro negro e

ao giz, mas ser incorporado grande quantidade e variedade dos materiais. No entanto, Bello

(1956) afirma que a variedade de materiais didáticos não está necessariamente relacionada

64

com a qualidade do ensino e se reporta a Ballesteros “em suma, o material esta mais fora da

escola do que dentro dela. Está na natureza, na rua, no campo. O ideal seria buscá-lo aí, onde

ele se encontra, e não tentar reproduzi-lo, de modo quase sempre mistificado dentro da

escola”, ( BALLESTEROS apud BELLO, 1956, p.222).

Apesar de a escola poder utilizar materiais pré-fabricados, também era importante que

se trabalhasse o mais próximo possível dos recursos da natureza; a função da administração

escolar seria estimular a produção do material de ensino pela própria escola e fornecer o

material necessário para o funcionamento da mesma. Esse material deveria estar guardado e

só ser exposto no momento de seu uso o que permitiria boas condições do mesmo.

3.2 ANÍSIO TEIXEIRA

No que se refere a Anísio Teixeira, também não se trata de uma sistematização

completa do pensamento do autor como dito antes sobre Ruy Bello, mas trata-se de

considerações sobre dois textos seus de 1956 publicados na Revista Brasileira de Estudos

Pedagógicos. Primeiro será tratado o texto “A escola pública universal e gratuita” que versa

sobre concepções de escola pública e necessidade de uma escola primária para todos. Em

seguida “O processo democrático de Educação” no qual o autor traz a concepção de uma

escola democrática ou que pelo menos favoreça relações mais democráticas.

Anísio Spíndola Teixeira pertenceu a uma geração de intelectuais que institucionalizou

o campo educacional, enquanto área de saber específico e campo de legitimidade política, no

debate sobre o papel da educação na construção de uma sociedade democrática. Esse grupo,

formado ainda por Fernando Azevedo, Lourenço Filho, Paschoal Lemme, Carneiro Leão e

muito outros, conhecidos como os renovadores da educação ou como os pioneiros da escola

nova, acreditavam numa reforma social através de uma reforma da educação e do ensino.

Depositava-se uma enorme confiança no poder da educação de modificar a sociedade

brasileira.

A influência de Dewey no pensamento pedagógico de Anísio Teixeira é marcante e

reconhecida. Anísio entende que a educação é um processo de contínua reorganização e

reconstrução da experiência. A escola não seria uma preparação para a vida, mas a própria

vida. O papel da escola seria recrutar e preparar indivíduos capacitados à vida democrática.

Daí a defesa de uma escola pública universal, gratuita, leiga, aberta a todos os grupos que

compõem a sociedade.

65

Para Anísio o ensino primário deveria possibilitar a igualdade de oportunidades que

seria condição para integração social. Desde o século XIX as “nações desenvolvidas” já

tinham uma preocupação com a educação universal e gratuita, enquanto nós, em meados da

década de 50, ainda não tínhamos conseguido assegurá-la. “Porque aparentemente lhe parece

bastar a simulação educacional de das escolas de faz de conta e os sindicatos de cabresto”.

(ANISIO, T. REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS. A escola pública,

universal e gratuita. Rio de Janeiro, v. xxvi, nº 64, p.7, out/dez.1956). Apesar da elevação do

número de matrículas nas escolas primárias brasileiras não havia instalações adequadas nem

tão pouco professores qualificados.

“Ainda de acordo com o autor, o ato educativo não poderia simplesmente ser

expandido como se fosse um “espetáculo”,” [...] não se pode expandir, somente pelo número

de participantes, um processo temporal e espacial, longo e complexo de preparo individual,

como é o ato educativo. Deveria resolver-se os problemas reais como problemas no ato da

matrícula, a redução dos horários das aulas e a situação precária das escolas. (TEIXEIRA, nº

64, p.8, out/dez.1956).

De acordo com suas teorias era preciso estabelecer o conceito de educação retirando

dele todo o formalismo excessivo que sempre esteve presente na educação para as elites e

entender a educação como

um processo de cultivo e amadurecimento individual, insuscetível de ser

burlado, pois corresponde a um crescimento orgânico, humano, governado

por normas científicas e técnicas, e não jurídicas, e a ser julgado sempre a

‘posteriori’ e não pelo cumprimento formal de condições estabelecidas a

‘priori’. (TEIXEIRA, nº 64, p.19, out/dez.1956).

Anísio alerta que a educação não pode continuar sendo regida por decreto, por normas

legais e depender exclusivamente dela; a educação é um processo especializado, profissional,

variado e como tal deve ser medida por outros processos igualmente especializados. Dessa

forma, cabe ao estado assegurar o direito à educação pública para todos. A legislação deve

recomendar e não fixar condições gerais para o seu funcionamento. “[...] Somente a escola

pública será verdadeiramente democrática e somente ela poderá ter um programa de formação

comum, sem os preconceitos sobre certas formas de trabalho essenciais à democracia”.

(TEIXEIRA, nº 64, p.21, out/dez.1956).

Assim a escola seria um lugar comum onde os preconceitos e as diferenças de classe

dariam lugar a um espírito de camaradagem e amizade, independente de qualidades

profissionais ou técnicas; a principal função da escola pública seria a de aproximação social e

66

diluição dos preconceitos, não necessariamente uma visão socialista ou comunista, mas um

desejo capitalista ainda do século XIX. (TEIXEIRA, nº 64, p.21, out/dez.1956).

Anísio defende ainda a administração autônoma das escolas de nível médio e superior;

apenas as escolas elementares estariam sob o poder da administração central, através da

municipalização do ensino. Dessa forma, haveria um aumento por oportunidades educacionais

locais que seriam julgadas pelo seu mérito, mediante sistema de classificação anterior, o

sistema educacional se afastaria das constantes fraudes para torná-lo oficial, as escolas seriam

baseadas nos anos de estudo e nos resultados obtidos, não haveria modelos rígidos e

uniformes, as escolas seriam ajustadas às condições locais aumentando a aliança entre escola

e comunidade.

Através da descentralização e da autonomia administrativa estimulava-se o trabalho

eficiente dos professores; agora eles não estariam apenas cumprindo ordens superiores, mas

estariam trabalhando de acordo com sua filosofia educacional. A flexibilidade no ensino além

de favorecer o atendimento às necessidades individuais dos alunos repercutiria na

aprendizagem dos mesmos.

3.3 O PROCESSO DEMOCRÁTICO DE EDUCAÇÃO

Para Anísio a democracia não se daria naturalmente e sim através de uma educação

intencional e organizada. A partir da escola se teria a possibilidade de uma educação

democrática, apesar de a escola nem sempre ser um instrumento da democracia pelo contrário

era onde muitas vezes se perpetuam as desigualdades sociais. No entanto, não é qualquer

educação que produz democracia, tem de ser uma educação com a finalidade especifica de

formar o regime democrático.

A sociedade democrática é a sociedade em que haja o máximo de comum

entre todos os grupos e, por isto, todos se entrelacem com idêntico respeito

mutuo e idêntico interesse. As relações entre todos os grupos e o sentimento

de que todos têm algo a receber e algo a dar emprestam a grande sociedade o

sentido democrático e lhe permitem fazer-se o meio do desenvolvimento de

cada um e de todos ( TEIXEIRA nº 62, p.7, abril/jun.1956).

A escola democrática é aquela que põe em prática o ideal democrático e tem atitudes

democráticas entre professores, alunos, administração, na elaboração dos currículos, nos

métodos de ensino, na organização das atividades. Se o modo de governar da escola não for

democrático ela não pode governar para a democracia. Anísio nos alerta que a experiência

democrática não é fácil, “porque a própria escola não surgiu com a democracia, mas com e

67

para a aristocracia, e está (ainda está) muito mais apta a formar aristocratas do que

democratas”. (TEIXEIRA, nº 62, p.7, abril/jun.1956).

Historicamente a escola média e superior sempre tinha sido destinada para as classes

dominantes, enquanto que a escola primária de constituição mais recente buscava a formação

do cidadão comum com orientações democráticas. No entanto, como a escola não pode ser

deslocada de seu contexto social, o autor afirma que a escola primária sofreu duas

deformações: uma social e outra pedagógica.

No que se refere à deformação social, a escola primária brasileira se fez uma escola

paternalista destinada à educação dos governados em oposição à educação que era destinada

aos governantes, ferindo dessa forma seu ideal democrático de educação para formação de um

povo. Em relação à deformação pedagógica, a escola primária implantou modelos europeus

que não resolviam os problemas educacionais brasileiros e tornaram a escola intelectualista

apesar das tentativas constantes de renovação de sua pedagogia.

para se fazer uma escola de formação humana, em que o indivíduo aprenda

a afirmar sua individualidade numa sociedade de classes abertas, em que a

aptidão e o êxito lhe determinem o status- mais dependente de condições

pessoais do que propriamente de hierarquia social pré-

estabelecida.(TEIXEIRA, nº 62, p.8, abril/jun.1956).

A escola democrática não visa a uma formação complementar, mas a uma formação

comum, uma sociedade de todos e para todos onde o respeito ultrapassa a hierarquia social,

onde o prestigio de um determinado segmento social dar lugar a déia de pertencimento a uma

comunidade, um país ou até mesmo a humanidade. Esse modelo de escola valoriza a vida, a

aprendizagem se dá através da experiência, das atividades próprias da vida, extraindo delas

seu potencial educativo, oportunizando situações que estimulem a reflexão do aluno. Nesse

ambiente não se levam em conta as diferenças sociais e sim as individuais, a história de vida

de cada um que pode ser somada ao processo educativo, “[...] em que se destruam os

isolamentos artificiais e as prevenções segregadoras, visando o estabelecimento de uma

verdadeira fraternidade humana”. (TEIXEIRA, nº 62, p.9, abril/jun.1956).

Anísio faz uma distinção entre o “saber das coisas” herança da escola tradicional, de

cunho aristocrático onde na melhor das hipóteses o aluno consegue falar sobre as coisas, e o

“saber sobre as coisas” estimulado pela escola democrática que consiste em ensinar-se a fazer

as coisas, centra-se nas atividades comuns do dia a dia e extrai-se delas todo seu potencial

educativo. Dessa forma, o saber não é um acúmulo de conhecimentos inúteis mas o domínio

68

de um repertório que ajude a resolver problemas pertinentes à condição humana e à

concretização de uma ideal de homem. (TEIXEIRA, nº 62, p.9-10, abril/jun.1956).

Partindo da ideia de que “toda ação é um ato partilhado”, a escola deve promover a

participação de todos, inclusive dos alunos, tendo em vista que o desenvolvimento da criança

é um desenvolvimento em conjunto, ninguém se desenvolve sozinho, mesmo características

particulares de determinado indivíduo só serão desenvolvidas em razão de outros; a escola

deve ser organizada em “comunidades”, sejam elas de pais, de alunos, de professores, de

funcionários onde a “experiência escolar” tenha a possibilidade de se transformar em

“experiência democrática”. (TEIXEIRA, nº 62, p.3-27, abril/jun.1956).

A democracia não vai ser acrescentada à vida, ela vai ser aprendida e praticada na

escola e transplantada para a vida fora da escola, as atividades escolares valorizam a

participação e proporcionam “crescimento emocional, intelectual, e moral” e se afastam dos

velhos métodos de ensino. Afinal,

Na escola tradicional, a segregação, que isola e aliena, manifesta-se de todas

as formas, pelo ensino de culturas passadas sem articulação com o presente,

pelo ensino abstrato sem ligação com os fatos, pelo ensino oral e livresco

sem relação com a vida, pelo ensino de letras, sem referencia com existência,

enfim por todos aqueles exercícios que rompem a continuidade entre o

mundo e a experiência do aluno e a sua aprendizagem. (TEIXEIRA nº 62,

p.3-27, abril/jun.1956).

Anísio afirma que as questões colocadas anteriormente podem até servir como

princípios para uma educação democrática, mas segui-los não significa que se vai se alcançar

essa tão almejada educação.

A escola com uma formação tradicional é uma instituição “especializada”, com “uma

sala de aula, ‘matérias’ para aprender, horários, notas, regras especiais de disciplina...”. A

escola é envolvida por um clima de artificialidade seja no modo de aprender, na disciplina e

no modo de avaliação do rendimento dos alunos. Nessa instituição, a ordem escolar só

poderia ser obtida pela “[...] completa docilidade por parte do aluno ou por dura imposição da

escola”. No entanto, essa instituição tende a gerar “indivíduos conformistas ou rebeldes” que

não contribuem para a construção de uma sociedade democrática. (TEIXEIRA 1956, Nº 62, p.

13).

Quanto à “escola progressiva” os programas e as atividades dos alunos estão

diretamente relacionados com seus interesses e necessidades, o professor não é mais o

detentor de todo o saber, mas um “guia”, um facilitador no processo de ensino. (TEIXEIRA,

69

1956, Nº 62, p. 13), as condições de aprendizagem da escola se assemelham a outras

organizações sociais como a família, o trabalho, o clube, a igreja. As atividades escolares não

são impostas, procura-se estimular a participação dos alunos. Essa nova forma de organização

escolar por si só não garante que teremos uma escola democrática, mas aponta caminhos para

efetivação de uma escola democrática.

Para que se possam ocorrer os processos democráticos de educação a escola precisa

ser transformada numa instituição que favoreça as “experiências formadoras”. A escola

baseada na informação e na disciplina não é capaz de “educar”, mas apenas “ensinar e

adestrar” (1956, Nº 62, p. 14), mas não basta só a transformação dos métodos de ensino, as

relações entre os funcionários da escola, os professores e os dirigentes também precisam ser

baseadas no princípio democrático.

As experiências de participação podem gerar atitudes de “cooperação, de

responsabilidade, reconhecimento dos méritos de cada um, de participação integradora na

vida comum e de sentimento de sua utilidade no conjunto”. (TEIXEIRA, 1956, Nº 62, p. 14)

Na instituição com esses tipos de experiências o processo democrático surgirá naturalmente, a

democracia não será acrescentada à escola, mas ela se dará na forma como são conduzidas as

atividades escolares.

Para Anísio a sociedade democrática é

uma sociedade de pares, em que os indivíduos, a despeito de diferenças

individuais de talento, aptidão, ocupação, dinheiro, raça , religião e mesmo

posição social, se encontram associados, como seres humanos

fundamentalmente iguais, independentes mais solidários.

Não é algo que “exista ou já tenha existido”, também não é algo pelo qual o homem

tenha “tendência natural”, só a partir de uma atividade educativa intencional se poderia

transformar os homens contra suas tendências hereditárias, socais e até biológicas. Uma

sociedade democrática parte-se, portanto de “uma afirmação política, uma aspiração, um ideal

ou, talvez uma profecia...” (TEIXEIRA, 1956, Nº 62, p. 15).

70

Recife

nos Anos 1950 e 1960

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4 RECIFE NOS ANOS 1950 E 1960

E não há melhor resposta

Que o espetáculo da vida:

Vê-la desfiar seu fio,

Que também se chama vida,

Ver a fábrica que ela mesma,

Teimosamente, se fabrica,

Vê-la brotar como há pouco

Em nova vida explodida:

Mesmo quando é uma explosão

Como há de pouco, franzina:

Mesmo quando é a explosão

De uma vida Severina. (MELO NETO, 2012).

O surgimento do IEP dá-se em período bastante conturbado, mas também de

criatividade político-social. A década de 50 é a década da expansão canavieira intensificando

a exploração e marginalização social. “Este processo” argumenta Soares (1982), “se realiza

pela simples incorporação aos canaviais de terras cultivadas por foreiros, moradores e

sitiantes”. Recorrendo a Celso Furtado, esse autor observa que “este avanço dos canaviais

sobre as terras produtoras de alimentos, provoca o acirramento das contradições sociais nas

áreas de expansão, ‘levando com relativa rapidez os camponeses a uma tomada de

consciência de seus interesses comuns’ (SOARES, 1982, p.23).

Prevalecia nessa época uma interpretação político-histórica de que havia uma

“dicotomia entre realidades conflitantes”. Existiam dois blocos enquanto representantes de

classe sociais nessa concepção: “um progressista, constituído pelo proletariado urbano e rural,

pelas classes médias produtivas e pela burguesia industrial, e outro, conservador, onde

estariam os latifundiários, a burguesia mercantil e segmentos da classe média improdutiva”.

Esses representantes expressavam, de um lado, uma sociedade “moderna e capitalista” e a

outra, uma “arcaica e pré-capitalista” (SOARES, 1982, p. 41).

Essa interpretação é originária de uma ideologia que ficou conhecida como “nacional-

desenvolvimentista” que tinha como pressupostos “o pleno incremento das forças produtivas,

o nacionalismo econômico e a incorporação de todas as classes sociais nos seus benefícios”.

Esta ideologia, no entendimento de Francisco Weffort, assume-se como “uma verdadeira

religião nacional” e “os interesses do capital industrial passam a ser assumidos concretamente

como se representassem os interesses de toda a nação” (SOARES, 1982, p.41).

72

Nesse contexto sócio-econômico-político-ideológico emergirá a Frente do Recife, o

Congresso de Salvação do Nordeste e as Ligas Camponesas.

A atuação social do governo federal até então se limitava “a medidas de socorros no

período de seca”. Com a discussão da criação da SUDENE o setor “pré-capitalista”, no dizer

do nacional-desenvolvimentismo, firma posição oposicionista. A Frente do Recife se alia aos

empresários, que recebe apoio também dos comunistas que detinham uma análise de frente

com a burguesia como etapa revolucionária. O PCB defendera aliança com Cid Sampaio

(candidato a governador) identificado com o empresário, e Pelópidas Silveira (candidato a

vice pela esquerda) – fora feita uma aliança que incluía a UDN (a nível nacional, contrário ao

desenvolvimentismo), o PSD (que, parcialmente, defendia o desenvolvimentismo

nacionalmente, e em Pernambuco, seu opositor) o PSB, o PTB e o PCB. Conforme Soares

(1982), “isso revela, além da inconsistência ideológica do quadro partidário pós-46, a

importância da regionalização na política brasileira”. Cid Sampaio é eleito com apoio popular

das Ligas Camponesas e do PCB (p. 69, 72, 75).

A disputa pelo governo do estado entre Cid Sampaio da União Democrática Nacional

candidato da oposição e Jarbas Maranhão, candidato da situação apoiado por Cordeiro de

Farias rendeu algumas páginas nos jornais. Nas matérias publicadas pelo Diário de

Pernambuco a vitória de Jarbas Maranhão era praticamente certa, falavam-se nos famosos

“municípios eleitoralmente fechados”. Havia uma disputa pelo apoio do coronel Chico

Romão à candidatura de governador do Estado de Pernambuco. Segundo Chico Romão, “Cid

Sampaio que era meu parente, mas não nos gostávamos porque éramos inimigos políticos,

começou a me procurar. Ia até de madrugada na pensão, em que ficava no Recife, me acordar.

É um homem danado” (VILAÇA, 2006, p.84).

Aníbal Fernandes, no Diário de Pernambuco, afirma que Jarbas Maranhão tinha ao

seu lado o “jogo do bicho, o fiscal de rendas, o comandante do destacamento, a diretoria do

grupo escolar e até alguns juízes”. Mesmo com os “paus mandados, o eleitorado de cabresto,

os eleitores fantasmas e os recuas de besta do interior” 11

Cid Sampaio vence a disputa pelo

governo do estado.

O nome de Cid Sampaio não foi unânime para candidatura ao governo do Estado,

algumas correntes da Frente do Recife12

preferiam apresentar um candidato mais identificado

11

FERNADES, Aníbal. Muxoxo. Diário de Pernambuco, Recife, 11 nov.1958, p.4.

12 Aliança político-partidária constituída em 1955, entre comunistas, socialistas e correntes de esquerda

Independentes, com base em um programa de cunho democrático e nacionalista. (Soares, 1982, p.21).

73

com as camadas populares, a UDN acreditava que a aproximação do partido comunista

poderia radicalizar a candidatura de Cid. No entanto, o Partido Comunista se opunha

terminantemente à retirada do nome de Cid Sampaio ameaçando se retirar da coligação

oposicionista. Dessa forma, registrou-se a candidatura de Cid Sampaio (SOARES, 1982).

A vitória de Cid Sampaio nas páginas do Diário de Pernambuco é tida como “o maior

acontecimento de 1958”, significava a derrota do PSD, a reforma dos quadros dirigentes e o

término do domínio pessedista em Pernambuco13

; a imprensa local afirmava que “os

‘invencíveis coronéis’ se esfacelaram feito os bonecos de vitalino14

”.

Mas mesmo com toda a expectativa em torno da candidatura de Cid Sampaio, pouco

tempo depois a imprensa local também traz duras críticas ao seu mandato e chama a atenção

para os aspectos do nepotismo em seu governo:

[...] o governador recém-empossado de Pernambuco, Sr. Cid.Sampaio, da

União Democrática Nacional, acaba de dar a demonstração de que é adepto

do ditado popular: ‘Mateus, primeiro os teus’ Senão vejamos: seu irmão Lael

Sampaio foi escolhido para Secretaria da Viação; seu cunhado Miguel

Arrais, para a secretaria da Fazenda; seu primo, tenente-coronel Expedito

Sampaio, comissionado no posto de coronel e nomeado comandante da

Polícia militar; seu outro primo, major do Exército José Cavalcanti, para a

Secretaria de Segurança; seu advogado na Federação das indústrias do

Estado, de que era presidente – Sr. João Monteiro, para a Secretaria do

governo; e finalmente, seu outro advogado na Justiça eleitoral, Sr.José

Neves, para a Secretaria do Interior. (GOVERNO em PE fica mesmo em

família. Diário de Pernambuco, Recife, 07 fev 1959, capa).

Com a eleição presidencial de 1960, Jânio Quadros ganha em Recife, Cid Sampaio

aproxima-se de políticas antipopulares, a UDN revê sua posição política e afasta o PCB de

seu apoio. Conforme Soares (1982), citando a carta do PCB em sua justificativa para seu

afastamento político afirma: “Cid renegou as medidas defendidas na campanha eleitoral,

passou a reprimir o movimento dos trabalhadores, estabeleceu um governo exclusivamente

udenista, ligou-se ao imperialismo americano e procurou esvaziar a SUDENE” (PCB apud

SOARES, 1982, p.78).

Já nas eleições de 1962, há uma refocalização do discurso e objeto político, conforme

entendimento de Paulo Cavalcanti, pois na

13

VITÓRIA da oposição, o maior acontecimento de 1958. Diário de Pernambuco, Recife 01 jan.1959, capa.

14 FERNADES, Aníbal. Muxoxo. Diário de Pernambuco, Recife, 11 nov.1958, p.4.

74

campanha de Cid Sampaio em 57/58 o grande debate fora em torno da

modernização e do desenvolvimento, enquanto que as eleições de 1962

converteram Pernambuco num palco de ‘especulações doutrinárias,

ampliando-se, sobre a origem interna e externa do subdesenvolvimento a

reforma agrária, os trabalhadores como força atuante, enfim a revolução

brasileira posta em questão (Paulo Cavalcante apud Soares, 1982, 89).

A plataforma política de Arraes, representando a Frente do Recife em 1962, fora

limitação das remessas de lucros; reforma de base, especialmente a reforma agrária;

desenvolvimento industrial de Pernambuco; combate às disparidades regionais e necessidade

de maior participação do povo nos assuntos políticos e administrativos do Estado (SOARES,

1982, p. 89).

O seu secretariado poderia ser identificado como “democrático-nacionalista”. Apesar

da vitória, a Assembléia Legislativa foi dominada pelo PSD que detinha os currais eleitorais

no interior. O anticomunismo predomina nos discursos das oligarquias e Miguel Arraes estava

associado aos interesses deles. (Soares, 1982).

O Congresso de Salvação do Nordeste que foi iniciativa dos comunistas, conforme

Paulo Cavalcante, através da Liga de Emancipação Nacional, elabora um documento inicial

que “representa uma proposta de um programa de governo de tendência desenvolvimentista-

nacionalista” e no documento final, a Carta, expressa a transição entre a “concepção

desenvolvimentista-industrialista dominante nos anos 50 e os ideários nacionalistas-

reformistas em destaque no início da década de 60” (SOARES, 1982, p.45).

Em linhas gerais, no plenário final do Congresso, destacam-se:

“a encampação das concessionárias de serviço público estrangeiro que atuam

no Nordeste; proteção à indústria nacional; restabelecimento de relações

comerciais com todos os países do Leste europeu e China; reconhecimento

das comissões intersindicais, do direito de greve e da Confederação dos

Trabalhadores do Brasil e reforma agrária” (SOARES, 1982, p. 46).

Já quanto à Liga Camponesa, foi uma das organizações camponesas, entre tantas

outras, que “mais abalou as instituições políticas nacionais e mais pânico provocou nas

classes dominantes (sem dúvida, foi o acontecimento que mais impacto provocou e mais

questão colocou para as direções das classes populares)” (SOARES, 1982, p. 111). O coronel

Chico Romão de Serrita fala sobre as Ligas Camponesas: “Mas Liga é como uma epidemia.

Vem pegando em tudo e talvez não tarde a aparecer aqui. Só que nossa reação é bala. Bala

muita. O sertão não é brinquedo. Elas estão muito apoiadas por Arraes. Esse governo acaba

com Pernambuco”. (VILAÇA, ALBUQUERQUE, p.74).

75

As questões camponesas e agrárias tomaram conta do Congresso de Salvação do

Nordeste. Logo após esse Congresso, é convocado pelas Ligas e por Josué de Castro, o 1º

Congresso de Camponeses de Pernambuco.

A luta dos camponeses através da Liga, liderada por Julião, proclamava-se pacífica e

pela legalidade do Estado. Mesmo assim, “entre 1955 e 1958, o governo estadual responde à

organização do movimento camponês intensificando a repressão. As sedes das Ligas são

constantemente invadidas e as lideranças presas. O próprio deputado Francisco Julião chega a

ser espancado, em Vitória de Santo Antão, por contingentes da Polícia Militar e conduzido

preso ao Recife” (SOARES, 1982, p. 113). Na eleição municipal de 1959, Julião chama Chico

Heráclito de Leão Desdentado e o coronel responde: “Tens cuidado que o Leão, mesmo

cansado, velho, já por conta do a toa não te alcance com uma patada, quebrando-te os chifres,

tua maior fonte de rendimentos”. (VILAÇA, ALBUQUERQUE, p.149).

A Liga não tinha uma estrutura orgânica e programática definida. O PCB era arredio

às Ligas. Com o acirramento dos conflitos no campo, Julião chega a defender a luta armada

como forma de defesa e reação às oligarquias. Julião chega a defender ação direta e afirmar:

“reforma só na marra, porque a oligarquia dominante não permite que se faça na lei”. Apesar

desse discurso, as Ligas não tinham inserção no meio urbano. (Soares, 1982, 117).

As questões e lutas camponesas e agrárias forçaram o Estado a pautar como um

problema político, instituindo novos sujeitos e reivindicações. Uns apostavam via Estado (o

PCB induzindo seus sindicatos e participando das eleições), as ligas radicalizando e se

deslocando do Estado por ações diretas e outros defendendo a instauração de um Estado

operário (os trotskistas).

Com a incorporação de sindicatos no Estado, com Cid Sampaio, no Consitra

(Conselho Intersindical), a ideologia do desenvolvimentismo se fortalece nos meios populares

organizados e o Estado passa a ser um veículo de luta e aspirações populares (Soares, 1982).

Mas toda esta movimentação e expansão dos meios populares (camponeses e

sindicatos urbanos) não expressavam força efetiva das classes representadas. Assim, finaliza

Soares (1982) ao descrever a fragilidade do movimento operário e camponês para se

contrapor ao golpe militar:

Com a deflagração do golpe de estado, o poderoso CGT esboça uma pálida

reação que não passa da tentativa de uma fracassada greve geral. O

CONSITRA também adere à greve, mas não tem condições de efetivá-la,

limitando-se a emitir pronunciamentos e advertência. Greves parciais são

deflagradas no porto, na Rede Ferroviária do Nordeste e algumas cidades da

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Zona da Mata, sem que uma coordenação as generalize. As lideranças do

sindicalismo nacionalista-populista, que se mostravam tão eficientes nas

campanhas eleitorais, revelam-se perplexas nos momentos de aguçamento

das crises político-sociais. Isso porque, dependendo do jogo político

institucional, não conseguem vislumbrar o encaminhamento de qualquer

saída independente para o proletariado e demais setores. (SOARES, 1982, p.

125).

No Diário de Pernambuco na coluna escrita por Aníbal Fernandes constantemente

encontramos criticas à administração de Cordeiro de farias e denúncias sobre as condições de

vida da população pernambucana como o trecho a seguir: “[...] O grande número de

desajustados e marginais, que moram em mocambos e vivem de pescar nas marés-baixas, o

marisco- pedra (há 400 mil marginais, 150 mil crianças vagabundas) nos recusamos a aceitar

a classificação de ‘terceira cidade do Brasil’[...]”15

. Apesar de Pernambuco destacar-se no

cenário brasileiro pelo alto índice populacional, ainda era marcado por práticas servis, pela

miséria e pela doença.

Apesar de Pernambuco possuir um orçamento de 800 milhões de cruzeiros,16

a

população sofria com “a falta de serviços públicos básicos, como a iluminação elétrica,

transporte, telefone, pronto socorro, abastecimento de água” 17

. Os seus governantes

legislavam em causa própria, como por exemplo, na Lei Cadillac18

19

20

, em que os

parlamentares e seus suplentes poderiam adquirir carros de luxo a preços abaixo do mercado;

até a “Universidade do Recife possuía uma frota razoável de veículos, Chevrolet 1957” 21

.

O orçamento público sofria com a criação de novos e numerosos cargos públicos,

“gastavam-se 54 milhões de cruzeiros para manter o poder legislativo” 22

que nem sequer

comparecia ao local de trabalho, mas que possuía inúmeros privilégios, inclusive o de matar.

Prática que era constantemente denunciada nos jornais locais, inclusive no Diário de

Pernambuco e no Jornal do Commercio.

15

FERNANDES, Aníbal. Interpretação do Recife. Diário de Pernambuco, Recife 04 dez 1958.p.12.

16 FERNANDES, Aníbal. Só por um milagre. Diário de Pernambuco, Recife 03 set 1958, p.4.

17 FERNANDES, Aníbal. Abastecimento de água. Diário de Pernambuco, Recife 18 mar 1958, p.4.

18 FERNANDES, Aníbal. Sono Tutti buona gente. Diário de Pernambuco, Recife 21 mai 1958, p.4.

19 A NAÇÃO suspensa sobre o abismo. Jornal do Commercio, Recife 13 jun 1957.

20 NAÇÃO pobre e saqueada. Jornal do Commercio, Recife 16 jun 1957.

21 FERNANDES, Aníbal. O uso e o abuso de chapas brancas. Diário de Pernambuco, Recife 29 mai 1958, p.4.

22 FERNANDES, Aníbal. Só por um milagre. Diário de Pernambuco, Recife 03 set 1958, p.4.

77

“O desvio das verbas das secas para o Rio Grande do Norte vai a mais de 27 milhões”

23, os recursos que deveriam ser empregados para ajudar as populações atingidas pelas secas,

acabam sendo utilizados em proveitos de “grupos políticos locais, em conivência com os

servidores federais” 24

.

No que se refere às condições de saúde, como tema recorrente nos jornais encontra-se

a questão da mortalidade infantil, agravada pela falta de maternidades, pediatras, habitação,

saneamento, alimentação adequada. Para cada “grupo de mil crianças nascidas no Nordeste,

duzentas e cinquenta morrem antes de completar o primeiro ano de vida. Já na Holanda,

morrem penas dezessete crianças, de 0 a 1 ano, por mil” 25

26

27

. Recife era tido como um

lugar perigoso para se viver. Afinal, de sua área total, apenas 21% eram saneados, era uma

das cidades “onde mais se morria de mortalidade infantil sendo apenas superada por

Bombaim28

(sic).

O Recife da década de 50 com seus mais de 750 mil habitantes e três universidades,

em alguns momentos é comparado a Juazeiro do Padre Cícero de 1911:

Em meio século, o pobre povo pernambucano, atolado na miséria, não sabe

ainda o que é independência política; tem o voto secreto, mas o vende; ou

deixa subornar-se; consente conduzir-se pela mão, como se fora um cego, de

nascença, não sabendo o que é melhor ou pior. E, todavia, tem 3

universidades, tem avenidas, tem palácios, tem teatros, tem” boites” mas até

hoje não aprendeu a tirar o cambão do pescoço”. Juazeiro do Padre Cícero,

1911 Recife, 1958, Diário de Pernambuco. Recife 04 mai 1958.p.4.

E em outros momentos, nossa democracia é confundida com a democracia do sargento

Batista em Cuba29.

Nos jornais da época, tem grande destaque a figura do coronel e o seu poder para

arregimentar votos, “Vimos, há poucos dias, estarrecidos, o próprio governador do Estado ir a

Limoeiro, com o seu chefe de polícia, e pedir para o seu candidato os votos do coronel

23

FERNANDES, Aníbal. Não há motivo de esperança. Diário de Pernambuco, Recife 11maio1958, p.4.

24 SECA nordestina é motivo para desenfreada exploração. Diário de Pernambuco, Recife 06 mai 1958. Capa.

25 MORTALIDADE infantil. Diário de Pernambuco, Recife 20 set 1958.

26 FERNADES, Aníbal. Mortalidade Infantil no Recife. Diário de Pernambuco, Recife 27 set 1958, p.4.

27 O RECIFE campeão nacional de mortalidade geral. Diário de Pernambuco, Recife 14 ago 1958, p.2.

28 FERNANDES. Aníbal. Saneamento do Recife. Diário de Pernambuco, Recife 02 jul 1958, p.4.

29 FERNANDES, Aníbal. Democracia a moda do sargento Batista. Diário de Pernambuco, Recife 20 mai 1958,

p.4.

78

Chico”.30 Fala-se em municípios eleitoralmente fechados, verdadeiros currais eleitorais, dos

quais merecem destaque: Chico Romão – Serrita; Zé Abílio – Bom Conselho (Papacaça);

Chico Heráclito-Limoeiro; Veremundo Soares –Salgueiro; Romão Pereira Figueiras Sampaio

-Jardim; Antônio Joaquim de Santana- Missão Velha; Pedro Silvino de Alencar – Araripe.

O general Cordeiro de Farias, então governador de Pernambuco, é tido como um

aliado dos coronéis. Há relação bastante amigável entre José Abílio e ele como mostra o

trecho a seguir:

“José Abílio foi íntimo meu: deputado estadual com ele, estava, na prática,

diariamente, distingue-me com sua amizade e eu lhe quero muito bem.

Famosos os seus bilhetes e dentro do seu linguajar pitoresco, alguns de

grande profundidade de observação e de senso crítico notável.Um

apaixonado pela sua terra , cujos interesses defendia com vigor e

inteligência”. (ALBUQUERQUE, 2006, p.106).

A denominação “coronel” tem origem na guarda nacional, milícia de cidadãos criada

em 1831, um exército paralelo que teve seu auge de 1831 a 1840. Os títulos de coronel,

tenente- coronel, major e capitão inicialmente foram distribuídos aos proprietários territoriais

responsáveis por manter a ordem pública. Pertencer à guarda nacional era uma forma de

legitimação formal do prestígio do coronel, mas seu poder não estava condicionado a essa

esfera, que foi extinta em 1918. Depois disso, os coronéis tornaram-se chefes de fato e não só

de direito legitimados pelo povo. (REGO, 2008). Mesmo no regime republicano persiste a

figura do coronel e das práticas coronelistas, o voto secreto é trocado por mercadoria,

processos fraudulentos são constantes no processo eleitoral.

Para muitos historiadores, o coronelismo “tem sido entendido como uma forma

especifica de poder político brasileiro que se originou durante a Primeira República, e cujas

raízes remontam ao império”. (Queiroz 1976, p.163). Ainda conforme ela, os municípios eram

feudos políticos transmitidos por herança. Mesmo com a mudança do processo eleitoral e a

implementação do voto secreto, o fenômeno do coronelismo persiste e é explicitado com a

eleição de candidatos ligados aos coronéis.

Ainda segundo Queiroz (1976) a figura do coronel é tida como um elemento sócio-

econômico polarizador, em torno do qual se agrupam os indivíduos; estar sob a tutela de um

coronel pode render vantagens, trazer prestígio e segurança. O domínio do coronel poderia

ultrapassar os currais eleitorais ter um alcance estadual e até nacional. “O coronel se define

30

FERNANDES, Aníbal. Os que falharam e os que vão continuando. Diário de Pernambuco, Recife 10 set 1958,

p.4.

79

pelo poder político: quando o domínio sobre o qual o protetor atua é muito extenso e reúne

grande numero de eleitores, dá-se a esse o nome de ‘coronel’[...]” (BLONDEL, 1957 apud

QUEIROZ, 1976, p.165) a força do coronel é medida pela quantidade de votos que ele

consegue e pelos candidatos que consegue eleger.

A força do coronel também está atrelada à questão econômica; através de condições

econômicas favoráveis, o coronel pode conceder favores, aumentar o seu prestigio e a sua

clientela. Geralmente os meios de se fazer fortuna eram a herança, quando o coronel já

herdava terras ou bens que o colocavam numa situação privilegiada entre os demais membros

da comunidade, o casamento que poderia ser realizado entre os membros da mesma parentela

a fim de manter a fortuna entre os mesmos ou até entre indivíduos de parentelas diferentes a

fim de unir grupos políticos e econômicos. (QUEIROZ, 1976).

O prestígio do coronel geralmente estava ligado ao tamanho de sua parentela. “Esta

era formada por um conjunto de indivíduos reunidos entre si por laços de parentesco ou

carnal, ou espiritual (compadrio) ou de alianças (uniões matrimoniais) (Queiroz 1976, p.179)”

unidos por laços de solidariedade, mas que poderiam ser rompidos a qualquer momento

dependendo dos interesses particulares dos indivíduos que compunham a parentela. O interior

da parentela era hierarquizado e a situação econômica se sobrepunha aos laços de sangue;

quanto mais recursos financeiros os indivíduos tivessem maior seria a sua posição dentro da

parentela.

Além do fator econômico, Queiroz (1976) aponta as qualidades pessoais como

elementos importantes para compor a imagem do coronel; dentre esses elementos se destaca o

carisma – “conjunto de dotes pessoais que impõem um indivíduo aos outros, fazendo com que

estes lhe obedeçam, tornando suas ordens indiscutíveis justamente porque emanam dele”

(QUEIROZ, p.199). Dessa forma, o carisma contribui para o aumento do poder econômico e

político do coronel.

Os coronéis nordestinos ainda na década de 50 trazem um ranço de valores ligados à

brabeza e ao machismo remanescente da sociedade agropecuária do nordeste brasileiro. O

coronel é um “cabra-macho”, tanto no sentido de procriação, de inúmeros filhos ilegítimos

quanto na questão da “brabeza: brabeza de matar, de mandar matar, dar surras [...]”.

(VILAÇA; ALBUQUERQUE, p. 59).

Queiroz (1976) nos traz a questão de que nem sempre os eleitores que estão na zona de

influência do coronel estão subordinados economicamente a ele; muitos eleitores não

80

dependem economicamente do coronel, mas optam por votar nele, numa atividade racional

visando obter vantagens. “Dizem que ali se distribuem aos eleitores “vintemireis” (miseráveis

vinte cruzeiros); e além do mais medicamentos e outras achegas”31

32

33

. O fato de o voto ser

trocado por mercadoria não significava que não existissem também práticas violentas como o

uso de capangas e da força policial para se conseguir o voto. Dessa forma, o processo eleitoral

não visava eleger candidatos capazes e bem preparados, mas era o momento da troca de

favores, quando o voto poderia ser trocado por roupas, sapatos, posse de armas ou até cargos

públicos.

Apesar de o voto só poder ser exercido pelos indivíduos alfabetizados, no Diário de

Pernambuco34

35

36

surgem denúncias de que o analfabeto já votava há muito tempo. O

processo eleitoral, apesar do voto secreto, possuía interferências, seja pelos “técnicos da

fraude, seja pelo domínio dos coronéis sobre as massas rurais, pelas ameaças, pelos subornos

ou pelas promessas de empregos públicos”37

, em que os carros eleitorais transportavam os

eleitores até o local de votação. Nesse processo de arregimentação de rebanhos, temos as

escolas eleitorais que se multiplicavam em épocas de eleições, destinadas a ensinar os futuros

eleitores a assinarem o próprio nome e dessa forma atender às exigências mínimas do superior

tribunal eleitoral38

39

40

.

De acordo com Queiroz (1976) no Brasil existiram vários tipos de coronéis; o

coronelismo variava de acordo com a zona de influência dos coronéis e a quantidade de

eleitores que conseguiam arregimentar. No livro Coronel, Coronéis, os autores fazem um

estudo de caso de quatro coronéis nordestinos com características distintas. Chico Romão

seria o coronel que mais se aproximava do modelo “tradicional” de ser coronel, Zé Abílio

destaca-se como um “coronel-político, urbano”, Chico Heráclito ostenta os títulos de

“coronel-vaqueiro, coronel-político, coronel dominador, coronel-sendo-vencido-pela-

31 FERNANDES, Aníbal. Só por um milagre. Diário de Pernambuco, Recife 03 set 1958, p.4.

32 Os títulos eleitorais. Diário de Pernambuco, Recife 13 mai 1958, p.4.

33 Pistolas e pistolões. Diário de Pernambuco, Recife 22 mai 1958, p.12. 34

ESCOLAS eleitorais. Diário de Pernambuco. Recife 03 mai 1958.

35 ELEITORADO fantasma. Diário de Pernambuco. Recife 17 set 1958, p.4.

36 Cartazes e candidatos. Diário de Pernambuco. Recife 13 set 1958, p.04.

37CORRUPÇÃO eleitoral. Diário de Pernambuco. Recife 09 mai 1958, p.4.

38ELEITORADO fantasma. Diário de Pernambuco. Recife 17 set 1958, p.4.

39 ESCOLAS eleitorais. Diário de Pernambuco. Recife 3 mai 1958.

40 VOTO dos analfabetos. Diário de Pernambuco, Recife 31 ago 1957, p.4.

81

investida-do-asfalto” e Veremundo Soares seria o coronel que mais se aproximava das

práticas da sociedade moderna. (VILAÇA, ALBUQUERQUE, p.66).

Há uma relação um tanto conflituosa entre alguns coronéis e a igreja católica. De

acordo com Vilaça; Albuquerque (2006) Chico Heráclito, coronel mencionado anteriormente,

certa vez estava numa cerimônia de casamento presidida pelo padre Rocha, da diocese de

Nazaré que avisou ao coronel que não poderia realizar o casamento porque o noivo já era

casado; o noivo, por sua vez, era paraninfado de Chico; mesmo diante dos fatos o coronel

ordenou que o casamento fosse feito de todo jeito. O padre afirmou que só poderia realizar o

casamento se alguém jurasse pela condição de solteiro do noivo, “Chico, cauteloso, indagou-

lhe qual a pena, em caso de se constatar, depois, o falso testemunho. E sabendo que era a de

pecado mortal, preso de grande seriedade, disse: ‘ faça o casamento, padre, juro duzentas

vezes”. E dessa forma foi realizado o casamento. (VILAÇA; ALBUQUERQUE, 2006, p.162).

Além de se sobrepor aos votos matrimoniais, outros coronéis negam alguns ritos

religiosos como a confissão. Veremundo Soares afirma: “sou católico. Minha padroeira é

Nossa Senhora da Conceição; mas esse negócio de confissão não aceito. Minha oração é

particular, sozinho, vale muito, muito mais”. (VILAÇA; ALBUQUERQUE, 2006, p.189). O

coronel José Abílio referindo-se ao padre Dâmaso, o padre da igreja de Bom Conselho da

terra do coronel afirma: ‘apesar de todo um esforço de quarenta anos, nunca conseguiu ser

meu inimigo’(VILAÇA, ALBUQUERQUE, p.96) e o padre retruca: ‘Abrindo-se o código

penal, não há uma só página onde haja um artigo em que não se possa enquadrar José Abílio’.

(VILAÇA; ALBUQUERQUE, 2006, p.97).

O coronel na década de 50 se utiliza da modernização econômica, da democratização,

da imprensa, do processo eleitoral para afirmar o seu poder e se institucionalizar nas figuras

do prefeito, do juiz, do delegado que estão sob sua influência. (VILAÇA; ALBUQUERQUE,

2006, p.42). Para tentar sobreviver às mudanças ele tenta dialogar com os elementos

modernos.

Utilizando a expressão de VILAÇA, ALBUQUERQUE (2006, p.31) “trata-se uma

modernidade incompleta, fragmentada de precária sustentação econômica”. Não se pode

ignorar o processo de industrialização e modernização que Pernambuco estava passando com

a criação da SUDENE, as tentativas de renovação com as Ligas camponesas, o Congresso de

Salvação do Recife, a Frente do Recife. Na arquitetura, as construções modernas de acordo

com os altos padrões educacionais coexistiam com os mocambos, os altos índices de

mortalidade infantil e o analfabetismo.

82

O IEP

Expressão Arquitetônica

da Escola Nova

83

5 O IEP: EXPRESSÃO ARQUITETÔNICA DA ESCOLA NOVA

Buscando fazer da escola, como instituição voluntária e intencional, essa

comunidade – ainda meio utopia e meio profecia – que é a comunidade

democrática, teremos criado para as crianças e adolescentes, vale dizer para

os futuros homens, não só o mais eficiente instrumento de educação, como o

melhor presságio de uma possível verdadeira sociedade democrática.

(TEIXEIRA, nº 62, 1956, p.16).

No século XX, a escola tenta afirmar-se como instituição central na sociedade; impor-

se como instituição-chave. A escola da sociedade democrática se nutre de um forte ideal

libertador, tenta romper com um passado bem próximo, com uma instituição escolar

formalista, disciplinar e verbalista, e com uma pedagogia deontológica, abstrata e geralmente

metafísica, alheia ao espírito da demonstração e da teorização interdisciplinar, e

antropologicamente centralizada.

Cria-se uma consciência educativa inovadora com as descobertas da psicologia, que

vinham afirmando a radical ”diversidade” da psique infantil em relação à adulta, como

também o movimento de emancipação de amplas massas populares nas sociedades ocidentais,

que vinham inovar profundamente o papel da escola e o seu perfil educativo, rejeitando seu

aspecto exclusivamente elitista. Nessa conjuntura social surgem as escolas novas, destinadas a

transformar a escola, não só no seu aspecto organizativo e institucional, mas também, e

talvez, sobretudo, no aspecto ligado aos ideais formativos e aos objetivos culturais.

A característica comum e dominante dessas “escolas novas”, que predominaram na

Europa ocidental e nos Estados Unidos, deve ser identificada no recurso à atividade da

criança. A criança é tida como espontaneamente ativa e necessita, portanto, ser libertada dos

vínculos da educação familiar e escolar, permitindo-lhe uma livre manifestação de suas

inclinações primárias. Em consequência desse pressuposto, a escola precisa sofrer algumas

mudanças: afastar o ambiente artificial da cidade e respeitar a natureza global da criança, sem

separar conhecimento e ação, atividade intelectual e atividade prática.

As “escolas novas” são também uma voz de protesto contra a sociedade industrial e

tecnológica. Elas se nutrem de uma ideologia democrática e progressista, inspirada em ideais

de participação ativa dos cidadãos na vida social e política.

Como exemplo de Escola Nova na Itália, podemos citar a Escola-Cidade Pestalozzi,

surgida em Florença, em 1945, por iniciativa de Ernesto e Anna Maria Codignola. A Escola-

84

Cidade tem como objetivo primário a formação social dos rapazes, tornando-os conscientes de

seus deveres e direitos cívicos. O ensino escolar parte diretamente da experiência pessoal da

criança e dos problemas da vida concreta da comunidade, segundo um ideal de interação entre

atividade intelectual e atividade manual.

Nesse debate sobre a renovação da escola, formam-se novas teorias, capazes de

repensar de modo novo e radical a identidade e o papel cultural e político da pedagogia. Na

América, o modelo mais duradouro foi o de Dewey ligado, por um lado, à renovação da

escola, sublinhando sua identidade de “laboratório” e sua função civil e política, igualitária e

emancipatória; por outro, a uma pedagogia que teoriza e atua, ao mesmo tempo, e o faz numa

precisa direção política.

Dewey acreditava que se devia valorizar a criança como protagonista do processo

educativo e também colocá-la no centro de toda iniciativa didática, opondo-se às

características mais autoritárias e intelectualistas da escola tradicional. Segundo ele, o mundo

estava em permanente reconstrução, inacabado, onde o homem seria um agente de

transformação que se daria através da experiência. Por isso, a operação experimental seria

essencial ao processo de conhecimento. O conhecimento não é um produto acabado, ele se dá

através dos fatos da existência.

Buffa afirma que a “Escola Nova que chegava ao Brasil defendia a necessidade de se

colocar a criança no centro do processo de ensino-aprendizagem e, mais ainda, educá-la para

viver num mundo em constante transformação”. (2002, p.65). Nesse novo processo de

aprendizagem, cabe um novo papel ao professor: ele não é mais a figura essencialmente

autoritária que distribui o saber, aquele que controla a aprendizagem de técnicas culturais

específicas por parte dos alunos, mas um guia que organiza e regula os processos de pesquisa

de classe, ou até mesmo um animador das atividades escolares. Nesses novos papéis exercidos

pelos professores, as Escolas Normais têm uma importante contribuição na assimilação das

novas tendências educacionais.

5.1 SURGIMENTO DO ENSINO NORMAL

A primeira instituição escolar para ensino pedagógico dos mestres primários se deu

pelo padre Démia em Lyon, por volta de 1672. O abade La Salle estabeleceu em Reims no

ano de 1685 uma instituição com o nome de escola normal. “Para ensinar bastava saber

apenas aquilo que se ia ensinar”. (FILHO nº 57, p.42, jan/mar.1955).

85

Inicialmente, nessas instituições, o ensino era coletivo e memorístico. No entanto, La

Salle propõe um ensino coletivo e num tom menos formal, sem um programa didático pré-

estabelecido; ensinava-se pelo exemplo, “o mestre aprendia a ensinar, vendo ensinar por

mestres mais experientes no ensino de grupos de crianças”. Nessa prática pedagógica

chamada de ensino normal, houve por princípio a classificação dos alunos pelo adiantamento,

adaptação das atividades à capacidade do aluno, onde só saber ler não era suficiente; os

mestres deveriam dominar o assunto que seria transmitido. (FILHO nº 57, p.43,

jan/mar.1955).

A preocupação com a preparação dos mestres-escolas demonstra-se pelo aumento

dessas instituições pela Europa, na Alemanha com Francke que funda o Semi-narum

Praeceptorum, Julio Hecker estabelece o Lehrer-Seminar, na França com a Convenção

Nacional temos a Escola Normal Superior em 1794. Em 1809, Carlos Augusto Zeller

inaugura em Leipzig a primeira escola oficial para a formação de mestres. Na Inglaterra surge

a preocupação de produzir grandes quantidades de mestres em um espaço curto de tempo;

André Bell e José Lancaster trazem o sistema de monitores, em que um só professor poderia

ensinar centenas de crianças com a ajuda dos monitores. (FILHO nº 57, jan/mar.1955).

Em 1860 nos Estados Unidos há 12 escolas normais que no final do século

multiplicam-se em mais de duzentas. A escola normal de Oswego, que em 1861 foi fundada

por Sheldon, introduz as ideias de Pestalozzi. Em 1897, das 432 instituições de ensino

superior e secundário, 220 ofereciam cursos de pedagogia. A primeira organização de ensino

superior para a formação de professores foi a Columbia University de Nova York. (FILHO nº

57, jan/mar.1955).

5.2 ESCOLAS NORMAIS BRASILEIRAS

As escolas normais brasileiras, de maneira geral, proporcionavam uma formação curta

que se dava logo após o curso de primeiras letras, de maneira precária que visava

proporcionar uma “cultura geral e uma formação técnica”. (FILHO nº 57, out/dez.1955,

p.45), os principais problemas do ensino normal brasileiro eram instalações inapropriadas

onde funcionavam as escolas normais, a falta de prestígio da escola devido à má remuneração

dos professores, a falta de planos de estudo adequados à formação dos futuros professores, a

inadequação dos programas de ensino com a realidade social, os centros de aprendizagem-

escolas de aplicação na grande maioria das vezes não atendiam as exigências da pedagogia

86

moderna, as escolas normais não tinham equipamentos como biblioteca, laboratório, ambiente

para atividades coletivas, espaços recreativos. (CALDEIRA, 1956).

Diante dessas questões, havia o surgimento de vários movimentos de tentativa de

renovação do ensino normal no Brasil que visavam a um maior preparo dos professores.

Afrânio Peixoto em 1917, diretor de instrução do Distrito Federal separou o curso da antiga

Escola Normal em dois ciclos: um preparatório e outro profissional e o desenvolvimento da

escola de aplicação para a prática escolar. O Estado de São Paulo, estabeleceu um curso

complementar, primário, de dois anos para complementar a formação das escolas normais.

(FILHO nº 57, out/dez.1955).

Com a reforma Sampaio Dória (1920-1921) o curso normal aumentou para três anos,

dando ênfase aos estudos de preparação profissional e prática escolar. Na reforma Fernando

Azevedo (1927-1928) no Distrito Federal, a escola normal voltou a ter dois ciclos, um

preparatório e outro profissional e um curso complementar. A reforma Pedro Voss (1925) em

São Paulo aumentava o curso normal para cinco anos. Na reforma Francisco Campos (1928)

em Minas Gerais criava a Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico, para prosseguimento dos

estudos técnicos de professores já diplomadas e em exercício nas escolas públicas. (FILHO nº

57, out/dez.1955).

Em Pernambuco, em 1923, houve a reforma de Ulysses Pernambucano a fim de

melhorar as questões materiais e pedagógicas da Escola Normal, instituiu-se a caixa escolar

para ajudar os alunos mais pobres com o fornecimento de livros, fardamento, passagens e

matrículas; à frente dessa iniciativa havia os professores e as normalistas. Também vale

destacar a fundação do Orpheon escolar com o maestro Euclides Fonseca a fim de contribuir

“na formação do sentimento esthetico que há de apurar a sensibilidade e refinar as tendências

de nossas alumnas” (sic) (PERNAMBUCO, 1939,164).

No Distrito Federal, em 1932, já havia a transformação da Escola Normal em Instituto;

a criação de um Instituto visava à formação técnica de professores primários, secundários e

especializados; a formação do magistério que antes se dava pelo curso de humanidades

agregando-se às cadeiras de psicologia e pedagogia é substituída pelo curso secundário e um

curso de especialização.

Filho (1955) afirma que São Paulo e Pernambuco já tinham remodelado o ensino

normal de acordo com as diretrizes do Instituto de Educação do Distrito Federal, Francisco

Venâncio Tanto no Distrito Federal quanto em Pernambuco houve a transformação de Escola

87

Normal para Instituto, mas a prática educativa por alguns anos continuou ocorrendo nas

instalações das respectivas Escolas Normais.

O Instituto do Distrito Federal era composto de quatro escolas: escola de professores,

escola secundária, primária e Jardim de Infância. Dessa forma podia-se manter uma

continuidade nos estudos e uma observação continuada dos alunos, “ao instituto está

naturalmente reservado o papel de arquivo de pesquisas educacionais”, (FILHO nº 57,

out/dez.1955, p.35). As escolas do Instituto possuíam uma organização autônoma e a

coordenação dos trabalhos e a superintendência administrativa cabia ao diretor da escola de

professores.

Um dos elementos que distinguem um Instituto das demais organizações escolares é a

valorização da experiência e das atividades próprias da vida. Anísio Teixeira, um dos

idealizadores do Instituto Federal do Distrito Federal, acreditava no potencial educativo das

situações concretas em que o aluno não atuava como mero expectador, mas como participante

ativo e nessa perspectiva as instalações físicas cumprem um papel importante; um refeitório

aberto, por exemplo, convida a todos para estarem no mesmo espaço, as reuniões culturais

dentro da escola podem servir para aproximar os pais do ambiente escolar.

A criação do Instituto visava à formação técnica pedagógica do professor dentro dos

preceitos da pedagogia moderna, enquanto na Escola Normal a formação do magistério se

dava por um curso de humanidades agregando-se cadeiras de psicologia e pedagogia. No

Instituto, depois da formação secundária, o aluno se submete a um curso de especialização.

(FILHO nº 57, out/dez.1955).

Alguns organismos internacionais como a UNESCO e o BIE juntamente com o INEP

realizaram vários estudos e até diretrizes para a educação brasileira, sobretudo sobre as

Escolas Normais. Alguns eventos educacionais internacionais influenciaram bastante a

educação brasileira, tais como: Seminário sobre a preparação dos mestres realizado na

Inglaterra em 1948, XVI Conferência Internacional da Instrução (1953-Genebra), Seminário

Interamericano de Educação primária realizado no Uruguai e promovido pela UNESCO e

Organização dos Estados Americanos (1950), resultados da Conferência Geral de Instrução

pública, realizada pela UNESCO e pelo BIE em Genebra, 1953, resultados da Conferência a

educação gratuita e obrigatória na América Latina-Lima (Peru), maio de 1956. (ABREU,

Considerações, 1955).

88

Como recomendações decorrentes dos debates travados nas conferências

internacionais mencionados anteriormente podem-se destacar: fomento aos princípios

democráticos sem discriminação ou distinção, em que pudesse florescer a liberdade, a

cordialidade e a segurança, a escola normal não deveria estar isolada dos outros

estabelecimentos de ensino e deveria interagir com a comunidade, estimular os alunos a

pesquisarem e refletirem sobre os problemas sociais, visando a uma formação integral com

valorização das atividades práticas. (ABREU, Considerações, 1955).

5.3 ESCOLA NORMAL OFICIAL DE PERNAMBUCO

Em Pernambuco, o ensino normal foi instituído em 13 de maio de 1864, de acordo

com a lei Nº. 598 pelo barão de Vila Velha, funcionando no bairro portuário do Recife, no

edifício da Alfândega durante dois anos e teve como primeiro diretor o cônego Francisco

Rochael de Brito Medeiros. Mais tarde, esse estabelecimento de ensino passou a funcionar

num sobrado na Rua Pedro Afonso e tinha como inspetor geral de instrução pública o Dr.

João Barbalho que, juntamente com o Dr. Henrique Pereira de Lucena, depois barão de

Lucena torna o magistério extensivo às mulheres, já que esse estabelecimento servia

inicialmente apenas à formação pedagógica de pessoas do sexo masculino.

Em 1883, a Escola Normal é anexada ao Ginásio Pernambucano que nesse momento

chamava-se Instituto Benjamin Constant. Em 1930 a escola passou a funcionar no bairro de

Santo Amaro onde funciona a atual câmara de vereadores.

De acordo com a lei o curso da escola seria de dois anos, no primeiro ano

constariam: leitura em prosa e verso, caligrafia, noções de essenciais de

gramática nacional, princípios elementares de aritmética, operações com

números inteiros, sistema de pesos e medidas, no segundo ano constariam:

desenvolvimento de aritmética até proporções, leitura dos evangelhos,

elementos de geografia e historia principalmente do Brasil, geometria plana

e agrimensura, desenho linear e métodos do ensino primário.

(CAVALCANTI, 1986, p.230).

O programa arquitetônico da escola normal na década de 30 é composto de pavilhão

para ginástica, muro, gradil, portões para proteção do edifício, jardins em torno da escola,

bebedouros higiênicos, iluminação por eletricidade, horto. Com a reforma de Ulisses

Pernambucano, em 1926, são introduzidos na escola “cinematógrapho” para projeções

científicas e artísticas para auxiliar o ensino, piano, material de Montessori, orpheon escolar,

que fazem parte de uma nova proposta de educação para a Escola Normal. Adota-se o método

intuitivo ou “lição de coisas” baseada nas ideias de Froebel, em que a aquisição do

89

conhecimento se fazia por meio dos sentidos e da observação, a escola que valoriza a

observação e a experiência. (PERNAMBUCO, 1939).

Esse movimento de renovação da Escola Normal é corroborado por Anita Paes Barreto

que se diplomou pela Escola Normal em 1924 e trabalhou com Ulisses Pernambucano na

Escola para “anormais” (como eram chamadas as crianças especiais na época) anexas à

Escola Normal; afirma que a escola normal era “higienizada e aparelhada com os métodos

mais eficientes da pedagogia moderna”, uma escola que procurava desenvolver os aspectos

físico, intelectual e moral dos alunos, uma escola que não se utiliza mais de castigos físicos,

onde a linguagem do professor dever ser alegre e interessante. (PERNAMBUCO, 1939,

p.187).

Maria Lucia Almeida Cascão, aluna do 5º ano da Escola Normal e futura professora,

afirma que o Jardim de Infância “é muito bem aparelhado, possuindo todo o material de Mme.

Montessori e Froebel”, é o lugar onde os futuros professores além de exercerem o papel de

mestres, representavam a figura familiar. Em relação à disciplina dispensada aos alunos

afirma: “devemos discipliná-los com maternal carinho, de envolta com uma suave autoridade

e disciplina”. (PERNAMBUCO, 1939, p.284).

Além das medidas tomadas para renovação do ensino na Escola Normal, a instituição

contava com profissionais de renome da sociedade pernambucana. O corpo docente da Escola

Normal era formado por Jerônimo Gueiros, Júlio Pires Ferreira, Ulisses Pernambucano,

Eustórgio Wanderley, Paulino de Andrade, França Pereira, Pinto de Abreu, Aníbal Bruno,

maestro Euclides Fonseca, Lucilo Varejão, Edwiges Sá Pereira (BELLO, 1982, p.238).

Em 1938, quando Ruy Bello chegou à Escola Normal, o corpo docente era composto

por Sizenando Silveira e Aurino Maciel, de Português; Luiz Freyre e Sizenando Carneiro

Leão de Matemática; Ernesto Silva de Química; Arnaldo Carneiro Leão de Física; Silvio

Rabelo, de Psicologia Educacional; seu irmão Dácio Rabelo, de Geografia; Estevão Pinto, de

História Geral; Valdemar de Oliveira e Gilberto Fraga Rocha, de História Natural; Armando

Gama de Inglês; Meira Lins e Maria Luisa Maranhão, de Anatomia e Fisiologia Humana;

Geraldo de Andrade, de Sociologia da Educação; Fernando Simões Barbosa, de Higiene e

Puericultura, Eulália Fonseca de Metodologia; os três Ivans, o Fonseca de Desenho; o

Alecrim, de Biologia e o Loureiro de Matemática; Oscar Coutinho de Ciências; Naíde Rabelo,

de Trabalhos Manuais; Arlindo Lima e Milton Cabral, de Francês; Padre Silvino Guedes, de

Latim, Mons. João Olimpio dos Santos, de História do Brasil; Maestro Ernani Braga e Maria

90

do Carmo Barbosa, de Música e Canto; e Ana de Sá Pereira, Irma de Edwiges, de Artes

Domésticas. (BELLO, 1982, p.239).

Pouco depois, ainda sob a direção de Ruy Bello, ingressaram Fernando Mota, Mauro

Mota, Amaro Quintas, Lourival Vila Nova, José Costa Porto, José Lourenço de Lima,

Armando Souto Maior, Gilberto Osório de Andrade, Valdemar Valente, José Cavalcanti Sá

Barreto, Paulo Vieira, Orlando Parahym, Kleber Mendonça, Maestro Vicente Fitipaldi, Valter

de Oliveira, José Brasileiro Vilanova, José Rafael de Menezes, Poggi de Figueiredo, Raquel

Caldas, Moacyr de Albuquerque, Geraldo Lapenda, André Carneiro Leão, Nelson Saldanha,

Amerinda Diniz Barreto, Maestro Valdemar de Almeida, Nilo Pereira, Lucilo Varejão Filho,

Maria do Carmo Mousinho, Edson Lima. (BELLO, 1982, p.239).

Grande parte do corpo docente da Escola Normal também fazia parte da Universidade

do Recife, que mais tarde se transformou em Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Mac Dowell, em entrevista concedida, afirma que a criação do regime de tempo integral

repercutiu bastante no ensino; antes dele “cada professor dava sua aula e ia embora, o

professor não tinha gabinete, não tinha maior contato com os colegas”, a “nata intelectual”

ensinava no Ginásio Pernambucano e na Escola Normal e dessas instituições recebiam seu

sustento, “Ora, os salários do magistério superior não eram dimensionados para sustentar

ninguém”. (SANTOS, 2012, p.120).

Bello (1982) reconhece que, apesar de um corpo docente de prestígio e do grande

esforço despendido por esses professores para aperfeiçoar a Escola Normal, os problemas

relacionados à estrutura física do prédio eram agravados pelo número excessivo de alunos. O

autor afirma ainda que sempre foram precárias as instalações da Escola. O espaço não fora

projetado visando a um crescimento do número de matrículas e por isso não comportava

satisfatoriamente a quantidade de alunos inscritos. “Algumas salas de aula foram divididas em

duas, enquanto os laboratórios de Física, Química, as salas de História Natural, História da

Civilização e Puericultura passaram a ser utilizadas como salas de aula comum”, relata Bello

(1982, p.246), mas mesmo essas medidas paliativas não foram eficazes. A estrutura didática

defeituosa também limitava o trabalho a ser desenvolvido na Escola Normal.

91

Ilustração 3 - Edifício da Escola Normal em 1926

FONTE: O Ensino Normal em Pernambuco, 1939

Esta figura mostra a imagem da Escola Normal da década de 30, localizada onde hoje

funciona a atual Câmara de Vereadores; o prédio se destaca das edificações em seu entorno

pelo seu caráter imponente e monumental. Na figura podemos notar que para se ter acesso à

escola se tem que subir alguns degraus antes chegar à entrada principal por onde entram os

alunos devidamente fardados; há também algumas árvores plantadas ao redor do prédio;

apesar de só haver uma mureta nas laterais, o interior da escola é isolado do exterior, grandes

portas e janelas envidraçadas nos lembram a monumentalidade das construções monásticas.

92

Ilustração 4 - Grande festa escolar em homenagem ao exmo. Sr. Sérgio Loreto – Outubro/1925

FONTE: Aspectos Pernambucanos, 1933

Apesar do movimento de renovação do ensino implementadas por Ulisses

Pernambucano, a imagem acima nos remete às formações militares; ao observar a imagem

parece que a distância entre os membros foi medida milimetricamente; há uma linha invisível

entre os que estão se apresentando e os que estão assistindo. Apesar de se tratar de uma festa

escolar ela não está acontecendo dentro da escola, mas nos seus arredores. Essa atividade

escolar parece estar destoante das ideias de Froebel.

93

Ilustração 5 - Jardim de Infância da Escola Normal

FONTE: O ensino Normal em Pernambuco, 1939

A ilustração acima mostra a imagem de uma das salas do Jardim de Infância da Escola

onde a escala monumental das portas e janelas não favorece a escala da criança. A elegância

severa pode ser notada tanto na sobriedade da decoração da sala quanto na organização de

alunos e professores; há 5 professoras com a mesma vestimenta e o mesmo penteado para um

grupo de 27 alunos; 1 professora parece estar acompanhando um aluno até algum lugar e

outra se dedica a apenas 2 crianças que estão trabalhando com objetos manipuláveis que

lembra os objetos montessorianos, e está à parte da atividade do grupo maior de alunos.

Ao fundo temos um membro que parece não estar fardado a observar o trabalho das

professoras; na sala também há algumas plantas e um quadro negro. Nesse ambiente parece

estabelecer-se reciprocidade entre grandeza dimensional e grandeza moral: a arquitetura

transforma-se em pedagogia eloquente, que ensina aos indivíduos os princípios de uma escola

republicana marcada pelo relógio, presença obrigatória na parede da sala de aula.

94

5.4 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE PERNAMBUCO

Em Pernambuco apesar de só ter sido inaugurado em agosto de 1958, desde 1955 foi

autorizado o planejamento técnico para a construção da sede do IEP.

Art.1º - Fica o poder executivo autorizado a despender a quantia de cinco

milhões de cruzeiros (Cr$ 5000.000,00) na preparação do terreno com os

trabalhos de planejamento técnico e arquitetônico e no início dos serviços de

construção do conjunto de edifícios [...] (Brasil. Decreto n.2236, de 21 de

setembro de 1955. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder

Executivo, Recife, 22 set. 1955, p.1544).

Em 1956, o Governo do Estado propõe uma Comissão de Estudo e Planejamento, da

construção do novo prédio do Instituto de Educação de Pernambuco, comissão esta composta

por engenheiros e professores, mas sem nenhum arquiteto. Diante disso, Gilberto Freyre

escreve um artigo no qual sugeria que se convidasse para projetar o novo edifício “arquitetos

de primeira ordem” um Oscar Niemeyer, Lúcio Costa ou um dos Robertos. O Instituto de

Arquitetos do Brasil (IAB) departamento de Pernambuco se posiciona e concorda que haja a

necessidade da figura de um arquiteto para projetar o prédio, mas afirma que temos outros

arquitetos de primeira ordem que não foram mencionados por Gilberto Freyre e por isso exige

que se abra um concurso público para a construção da nova sede, já que se trata de um

edifício público.

Diante disso, o Governo do Estado, através da Secretaria de Educação e Cultura abre o

concurso e designa uma comissão de estudos e planejamento presidida por Aderbal Jurema e

composta pelos engenheiros Murilo Carneiro Leão Paraíso, Humberto Baltar representantes

do Departamento de Obras e fiscalização dos serviços públicos, os arquitetos Edilson R. Lima

e Florismundo Lins Sobrinho, representantes do I.A.B, o arquiteto Fernando de Queiroz

Menezes representante da Prefeitura do Recife e Dácio de Lyra Rabello, diretor e Ruy de

Ayres Bello ambos do Instituto de Educação de Pernambuco e representantes da Secretaria de

Educação e Cultura para escolher o anteprojeto ganhador do concurso para construção da

nova sede do IEP. (Novo edifício para o IEP, Jornal do Commercio. Recife, 1 nov 1956.

p.24).

Aderbal Jurema, presidente da comissão, nesse momento estava ocupando o cargo de

Secretário de Educação e Cultura de Pernambuco (1954 a 58) e foi o grande responsável por

conseguir meios no orçamento estadual e obter auxílios federais para a construção do IEP.

Tinha sido formado em Ciências Políticas, Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do

Recife (1935), ex-diretor do Ginásio da Madalena, Catedrático da Faculdade de Filosofia de

95

Pernambuco da UFPE, Catedrático licenciado da Faculdade de Filosofia, professor titular da

Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, deputado federal.

Quanto aos engenheiros participantes da comissão, Murilo Carneiro Leão Paraíso era

diretor técnico do Departamento de Obras e Fiscalização do Serviço Público- DOFSP, além

de fiscalizar as obras do IEP também estava à frente da fiscalização de outros grupos

escolares no estado.

Os arquitetos envolvidos na seleção do Projeto fomentavam os debates acerca de

arquitetura no Estado; Florismundo Lins fez parte da diretoria do IAB Departamento de

Pernambuco, foi presidente da comissão de construção da sede própria do IAB em 1957 e

publicava regularmente na Folha da Manhã na coluna “notas e comentários”. Edilson R. Lima

foi presidente do IAB Departamento de Pernambuco (1957), presidiu o V Congresso de

Arquitetura e dirigia a coluna de arquitetura do Jornal do Comercio intitulada “modulando”.

Além das visitas técnicas necessárias ao acompanhamento da obra do IEP, visitantes

ilustres como Cordeiro de Farias, Arnaldo Barbalho, Aderbal Jurema, Gilberto Freyre e

Anísio Teixeira já tinham visitado as construções do IEP. Este último, que teve uma

importante colaboração nas condições materiais através do INEP, segundo os jornais “ficou

impressionado com o trabalho” 41

referindo-se as obras do IEP.

Paralelamente à construção do IEP tinha-se a construção de outros grupos escolares

em Pernambuco como o grupo escolar de Nova Descoberta, o grupo escolar de Jardim São

Paulo, Aníbal Falcão em Tejipió, Poção, Triunfo, Vicência, Orobó, Nazaré da Mata, São

Vicente Ferrer, Panelas, Águas Belas, Buíque, Carnaíba e outros que ainda seriam

construídos, como o de Sirinhaém, Joaquim Nabuco, Itapemirim, Jurema, Santa Cruz do

Capibaribe, escola artesanal em Catende, escola artesanal em Arco Verde, Centro

Educacional em Camaragibe. (SE as verbas forem recebidas regularmente estará concluído,

em 1958, o novo prédio do Instituto de Educação de Pernambuco. Folha da Manhã, Recife, 22

nov.1957, p.11).

Em outros estados do Nordeste, como Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas e

Sergipe o ensino normal também estava sendo remodelado de acordo com as novas ideias

pedagógicas. “Natal já assume um Instituto de Educação, em linhas funcionais e cujas

41

SE as verbas forem recebidas regularmente estará concluído, em 1958, o novo prédio do Instituto de

Educação de Pernambuco. Folha da Manhã, Recife, 22 nov.1957, p.11.

96

instalações o situam entre os melhores do país”. INSTITUTO de educação. Diário de

Pernambuco, Recife, 12 set.1958, p.4.

Todas essas construções escolares obedeciam às modernas diretrizes educacionais,

tinham mais de cinco salas de aula, auditório, gabinete médico-dentário, museu, biblioteca,

cantina. O plano de construção do grupo escolar de Jardim São Paulo foi adotado com

adaptações sugeridas pelo INEP e em Alagoas existia um plano idêntico em funcionamento

(SE as verbas forem recebidas regularmente estará concluído, em 1958,o novo prédio do

Instituto de Educação de Pernambuco. Folha da Manhã, Recife, 22 nov.1957, p.11). A

composição arquitetônica do Grupo Escolar de Jardim São Paulo lembra a futura sede do IEP

como mostram as fotos a seguir:

Ilustração 6 - Uma visão do grupo escolar do Jardim São Paulo, construído sob a direção

administrativa do DOFSP

FONTE: SE as verbas forem recebidas regularmente estará concluído, em 1958, o novo prédio do

Instituto de Educação de Pernambuco. Folha da Manhã, Recife, 22 nov.1957, p.11.

97

Ilustração 7 - Quadra coberta do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

Numa cerimônia no salão nobre do IEP, presidida por Aderbal Jurema, foram

escolhidos os pré- projetos vencedores do concurso para a construção da nova sede do IEP.

Para a escolha do vencedor foram pontuados os seguintes itens: tráfego e circulação,

funcionamento, forma plástica e economia e foram classificados os seguintes projetos: 1º

colocados: os arquitetos Carlos Falcão Correia Lima e Marcos Domingues da Silva; 2º

colocados: o engenheiro Jorge Bezerra Martins e 3º o arquiteto Dilson Mota Neves42.

O anteprojeto ganhador do concurso representado abaixo, na figura 10, era composto

de blocos interligados: o atual Instituto de Educação, a Escola de Aplicação, o Pavilhão de

Puericultura e o Jardim de Infância, todos com grandes áreas verdes, espaços para exercício

físico, auditório para 1500 alunos. O projeto se integrava ao Parque 13 de Maio e, mesmo

sendo o projeto mais econômico, teria uma área construída de 10.000m2 (LIMA, 1985, p.97).

42

INSTITUTO de Educação escolhido o projeto do novo conjunto de edifícios do educandário julgados ontem

os trabalhos- o vitorioso. Folha da Manhã. Recife 23 mar 1957, p.4 e 7.

98

Ilustração 8 - Maquete da futura sede do Instituto de Educação de Pernambuco

FONTE: DOIS arquitetos são os vencedores do concurso de anteprojetos para o Instituto de Educação

de Pernambuco. Jornal do Commercio, Recife, 24 mar.1957.

De acordo com a Revista Ingenieria Arquitectura, o projeto ganhador possuía uma

perfeita integração com o terreno, utilizava ao máximo a vegetação existente, tinha boas

orientações para as aulas, o máximo de pavimentos sobre pilotis, acessibilidade, integração

racional entre as diversas unidades do conjunto, equilíbrio entre massa e volume e unidade

arquitetônica. (LIMA, 1985, p.100).

Marcos Domingues, um dos arquitetos ganhadores do concurso, afirma que conversou

com alguns professores do IEP sobre o projeto; sobre o uso do pilotis afirma: “então o pilotis

era uma área que não era construída pra nenhuma atividade propriamente educacional, mas

para o encontro de estudantes, etc.43” A ideia contida no projeto era integrar o IEP ao Parque

13 de Maio e ao seu entorno, gerando uma área de influência social: “O IEP pensava-se que

teria uma influência sobre uma área maior da cidade, os bairros de Santo Amaro, os

estudantes...” não era só uma educação propriamente dita, fechada, mas uma educação ampla,

rica, do ponto de vista da convivência social44.

43

Entrevista Marcos Domingues.

44 Entrevista Marcos Domingues.

99

Marcos Domingues nasceu em 1928. Em 1950 ingressou na Escola de Belas Artes do

Recife, foi aluno de Mario Russo, Acácio Gil Bonsoi, Delfim Amorim e Evaldo Coutinho de

quem foi assistente, “Evaldo Coutinho, que tinha sido meu professor e que admirava muito

como professor, como pessoa, como cabeça pensante” 45

. Formou-se pela Escola de Belas

Artes em 1954, período de grande efervescência construtiva na cidade do Recife; no período

de 1959 a 1961 foi presidente do IAB Departamento de Pernambuco. Reconhece que havia

sobre os arquitetos pernambucanos uma influência muito grande do racionalista

contemporâneo de Le Corbusier e do organicismo americano.

No Jornal do Commercio, na página de arquitetura, encontramos algumas matérias de

sua autoria discutindo projetos residenciais, a função do arquiteto e sobre a questão da

habitação popular. Além do IEP projetou também a planta da residência do Alcoforado em

Recife (1957), a Residência Carneiro Leão (1960), em colaboração com Carlos Correia Lima

projetou a residência Cavalcanti Barreto em Recife (1958) e a Residência Almeida (1960).

(REVISTA DE ARQUITETURA E URBANISMO, ANO 21, Nº 178, JANEIRO DE 2009).

A construção de uma nova sede para o IEP não só atendia a questões quantitativas – já

que o Instituto funcionava nas instalações da Escola Normal construída para atender a 200

alunas e, no entanto, atendia a mais de mil, em turnos diferentes, - mas também qualitativas,

uma instituição que visasse à formação integral do indivíduo. Além de diminuir o déficit

educacional do Estado à construção do novo prédio também atendia a uma necessidade

urbanística, ao embelezamento da cidade, significava o progresso do Recife: A “Escola

Normal começou a influir beneficamente, não só no aprendizado, mas na vida social de

Pernambuco” 46.

Depois de dez meses de construção e gastos de 21 milhões de cruzeiros numa área de

4.566,09 m2 contra os 1.018,10m2 do antigo prédio onde funcionava a escola, foram

inaugurados o Jardim de Infância Ana Rosa Falcão e a Escola de Aplicação, os quais foram

abertos à visitação pública. (INAUGURAM-SE, 1958, p. 3).

Aos olhos de Bello, a nova sede do IEP “não era uma solução perfeita, mas

representava um grande avanço em relação à situação anterior” (1982, p.246). Um dos

defeitos seria sua localização: a nova sede estava localizada numa praça pública, o Parque 13

de Maio, o que poderia perturbar a vida escolar. Segundo ele, o outro defeito seria a estrutura

45

Entrevista Marcos Domingues.

46 O 94º aniversário do Instituto de Educação, Diário de Pernambuco. Recife 14 mai 1958, p.4.

100

do prédio. “A estrutura e o planejamento apresentavam-se defeituosos, atendendo mal as

necessidades de instituição que ali ia funcionar” (Ibid. p. 246). No entanto, reconhece que a

mudança do IEP para sua nova sede possibilitou mudanças no funcionamento do Instituto. A

admissão das candidatas, que anteriormente se dava apenas através das provas de habilitação,

passa a exigir também testes de inteligência e vocacionais. Esses testes, que visavam a uma

maior eficiência do estabelecimento de ensino, eram organizados pelo Serviço de Orientação

Educacional da escola. Liderado pela professora Dulce Dantas, era composto dos seguintes

professores: Raquel de Castro, Celina Didier, Alba Barbosa Lima, Jandira Pedrosa, Osmínia

Ferraz, Teresinha Padilha, Josefina Novaes, Vanusa Carneiro, Terezinha Sampaio, Conceição

Pontual, Maria da Conceição Mariz e Brites Gondra.

Além do Serviço de Orientação Vocacional, funcionava no IEP a Caixa Escolar, para

dar assistência aos alunos carentes economicamente. “[...] essa situação era a da mais

completa pobreza e, algumas vezes até de miséria econômica, com todas as suas

consequências sociais e morais” (BELLO, 1982, p.250).

Cordeiro de Farias é o governador que inaugurará os primeiros blocos do IEP, o

Jardim de Infância Ana Rosa Falcão e Escola de Aplicação Cônego Rochael de Medeiros. Sua

presença é marcante nos efeitos simbólicos de modernização da educação em Pernambuco

(com fotos e presenças na escola) com o que existe de mais moderno em arquitetura, e nas

propostas de educação a serem adotadas pelo Instituto de Educação de Pernambuco e

reconhece que sua política de abrir escolas só foi possível graças à ajuda do INEP. Quanto à

construção dos grupos escolares, havia convênios entre Pernambuco e a União através do

INEP para a construção de novos grupos escolares, em que as verbas seriam repassadas de

acordo com o andamento das construções que eram fiscalizadas pelo INEP.47

Na ilustração abaixo, temos a presença de Cordeiro de Farias na inauguração do IEP

que se deu no dia 2 de agosto de 1958. A inauguração foi presidida pelo governador e contou

ainda com a presença de autoridades civis, militares e eclesiásticas. Na figura podemos

observar que há uma abertura para a passagem de Cordeiro, algumas meninas provavelmente

as normalistas, já que se tratava da inauguração do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão e do

Colégio de Aplicação Cônego Rochael de Medeiros, estavam devidamente fardadas, abrindo

espaço para a passagem de Cordeiro de Farias.

47

ANUNCIA o governador Cordeiro de Farias 25 mil crianças, no interior e na capital, tiveram direito a escola.

Folha da Manhã, Recife, 05 fev. 1957, p.3.

101

Ilustração 9 - Inauguração da Escola 1958

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

O governador de Pernambuco afirma que nos quatro anos de governo construiu “22

grupos escolares no interior do Estado, 10 no Recife e reconstruiu 10 outros, edificou 60

escolas normais e 11 artesanais” 48

.

O IEP é tido como um prédio que atendia às modernas exigências didáticas; “o IEP ele

reflete a preocupação de novas ideias do ponto de vista da arquitetura, a janela corrida, a

ventilação das salas de aula, da integração de diferentes níveis de educação [...]”

(ENTREVISTA MARCOS DOMINGUES). De linhas modernas que correspondia a uma

necessidade do ensino normal em Pernambuco, já que Paraíba Rio Grande do Norte, Alagoas

e Sergipe tinham centros de ensino normal em boas condições.

O Jardim de Infância era circular, composto de quatro salas amplas “a cada sala

corresponde um vazio no piso superior destinado à observação das estagiárias.” 49

, instalações

sanitárias, áreas arborizadas, biblioteca, secretaria, diretoria, cantina (o jardim de infância do

antigo prédio não possuía essa instalação), recreio coberto e uma área interna chamada de

48

INAUGURADOS dois prédios destinados a educação. Folha da Manhã, Recife, 03 ago.1958, p.s/n.

49 INAUGURAM-SE amanhã as duas primeiras unidades do Instituto de Educação de Pernambuco, Diário de

Pernambuco. Recife 01 ago 1958, p. 3.

102

“play ground”. (INAUGURAM-SE amanhã as duas primeiras unidades do Instituto de

Educação de Pernambuco, Diário de Pernambuco. Recife 01 ago 1958. p. 3).

Ilustração 10 - Espaço interno do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão 2011

FONTE: Tirada pelo autor

Na ilustração 10, que é uma foto atual do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão, mas

que possui semelhanças com a disposição dos espaços do prédio inaugurado em 1958,

podemos observar que as salas de aula, a diretoria e o ginásio coberto circundam o pátio

externo. A disposição desses ambientes permite uma rápida evacuação caso haja necessidade,

a área central está com brinquedos, mas na década de 50 eles não existiam e esse espaço era

utilizado para comemoração de datas festivas como, por exemplo, as festas de São João.

103

Ilustração 11 - Visão panorâmica do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

Como pode ser examinado nessa foto da fachada do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão, em 1973, trata-se de uma arquitetura sem ornamentos, econômica, moderna e

funcional, não há muros altos que separem ou isolem a construção escolar da rua, um

transeunte poderia facilmente penetrar em seu interior a partir de um olhar mais atento, ao

mesmo tempo em que os alunos também não estavam isolados do exterior; essa imagem nos

leva acreditar que o prédio tentava se manter próximo ou até mesmo dialogar com a

comunidade na qual estava inserido.

Ilustração 12 - Sala de aula do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão 2011

FONTE: Tirada pelo autor

104

Ilustração 13 - Área externa do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão 2011

FONTE: Tirada pelo autor

As ilustrações 12 e 13 acima são fotos do atual do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão, que, apesar de não sofrer modificações significativas em sua estrutura, mostra

algumas modificações como a pintura da parede, as portas pivotantes e as janelas

basculhantes que dão lugar às grades, por questões de segurança. Na figura 14 percebemos

que as janelas estão no mesmo nível das crianças isso facilita que a própria criança tenha um

maior controle sobre as condições térmicas podendo abrir ou fechar as janelas quando

necessário.

Outro aspecto que podemos notar nas ilustrações 12 e 13 é a abertura da sala para o

exterior que antes, na implantação da escola, eram jardins, “salas abertas para o jardim”

mantendo a conexão entre o espaço interior e o espaço exterior; essa abertura favorece a

utilização da iluminação e da ventilação natural que pode influenciar no bem-estar e na

capacidade de aprendizagem dos alunos.

Em relação aos métodos de ensino do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão, a convite

do INEP, através do Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Recife visitantes ilustres

como os educadores norte-americanos Solon Kimball, membro do Teacher’s College da

Universidade de Columbia e Havighurst, professor de educação na Universidade de Chicago,

ficam impressionados com o programa adotado no Jardim de Infância que acreditam visar a

105

um completo desenvolvimento da criança e mostrava a importância dada ao desenvolvimento

infantil.

Anísio Teixeira, diretor do INEP, órgão que contribuiu para a construção de grupos

escolares de acordo os preceitos escolanovistas em Pernambuco e que teceu comentários

elogiosos à nova sede do IEP, publicamente, acreditava que instalações adequadas e

professores qualificados poderiam contribuir para a melhoria em nossos níveis de ensino. A

escola pode ser um lugar que favorece a aproximação social, que visa à formação comum, um

lugar que valoriza a vida, no qual a aprendizagem se dá pela experiência, as situações comuns

como o ato de comer, brincar podem ser potencialmente educativas. Uma escola que faz com

que os indivíduos saibam “sobre as coisas”, saber fazer fazendo! Uma educação que promove

a participação de todos, que traz um ideal de vida comunitária em que os indivíduos podem

desempenhar ainda que na ficção várias funções sociais. A nova sede do IEP parece ser o

ambiente favorável para a proliferação dessas ideias como podemos observar nas ilustrações

14, 15 e 16 a seguir.

Ilustração 14 - Atividade na quadra coberta

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

106

Ilustração 15 - Atividade na quadra coberta

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

Ilustração 16 - Atividade na quadra coberta

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

107

Sobre as novas instalações do Jardim de Infância afirmam: “se parece com as novas e

boas escolas em todo o mundo”. Trata-se de uma “educação aberta”, os alunos possuem

“salas atraentes” e “professores simpáticos”,50

O escritor Aldous Huxley, teórico dos

processos de educação orgânica “fica impressionado com o tipo funcional das classes e com a

disposição dos serviços” e acredita que naquele espaço as crianças serão capazes de aprender.

“As crianças devem aprender aqui –acentuou- facilmente e com alegria”.51

Mais adiante as ilustrações 17 e 18 referem-se à comemoração junina do Jardim de

Infância Ana Rosa Falcão no ano de 1959. A comemoração acontece no espaço externo do

Jardim de Infância, também chamado de “playground” que fica entre as áreas administrativas,

o pátio coberto e as salas de aula. É um espaço cercado por árvores que além de humanizar o

ambiente, favorecem um assombreamento da área diminuindo a incidência dos raios solares e

contribuem para manter as condições de salubridade. O contato com a natureza através do

chão de terra e das árvores pode estimular o pensamento criativo; do lado esquerdo, ao fundo,

temos algumas mulheres fardadas e em pé possivelmente normalistas, e algumas pessoas com

crianças de colo, pelo grande número de adultos acreditamos que além das professoras havia

outras pessoas de fora da escola possivelmente pais de alunos, dispostos de forma circular.

Na ilustração 17 ao centro, temos algumas crianças se apresentando com trajes

temáticos, a atividade festiva não acontece fora ou os arredores da escola; ela está inserida

dentro do ambiente escolar favorecendo atividades socializantes. Na figura 20, ao centro,

temos um grupo de crianças sentadas que parecem estar observando alguma apresentação que

faz parte da comemoração da festa junina. Merece destaque o fato de que elas estão sentadas

em cadeiras individuais e próprias para o seu tamanho como recomendava Ruy Bello, as quais

podem favorecem diversos arranjos e estimular um trabalho pedagógico criativo que se afasta

da mobilidade dos “velhos tempos”.

50

ESCOLA de Aplicação aproveita expressões criadoras da criança, em Pernambuco: educadores norte

americanos impressionados com os novos métodos de ensino aplicados no Recife- Viajam, hoje, para Timbaúba-

convite do INEP, Diário de Pernambuco. Recife 30 ago 1958, p.3.

51 INSTITUTO de Educação honra o ensino no Brasil, Folha da Manhã. Recife 31 ago 1958, p.03.

108

Ilustração 17 - Festa Junina do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

Ilustração 18 - Festa Junina do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

109

As atividades comemorativas do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão aconteciam

tanto na área externa (ilustrações 17 e 18) quanto na área interna, no pátio coberto (ilustrações

19, 20). Na ilustração 19 observamos que tanto professores quanto alunos estão dispostos de

forma circular e no mesmo nível; nessa ocasião o palco não está sendo utilizado para fazer

distinções hierárquicas. Meninos e meninas se misturam nas atividades, do lado direito temos

duas jovens no piano que provavelmente devem ser as normalistas, alguns alunos estão com

panelas e simulam estarem gerando algum tipo de som e as utilizando como instrumento

musical, transformando-as em material pedagógico.

Ilustração 19 - Comemoração do 1º aniversário do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão – 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

110

Ilustração 20 - Comemoração do 3º aniversário do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão – 1961

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

Na ilustração acima, nota-se que a coberta do ginásio é alta, isso facilita a realização

de apresentações artísticas. Esse espaço não está à parte das outras instalações, mas integrado

ao ambiente; a iluminação do teto favorece apresentações mesmo sem a luz do dia, por ser

aberto e utilizar o pilotis. Mesmo as pessoas que estão nos arredores não estão isoladas das

atividades que estão acontecendo no ginásio. Ao fundo temos elementos vazados que

permitem a entrada de luz e aumentam a ventilação, além de servir como espaço de transição

para as outras áreas do Instituto de Educação como, por exemplo, a Escola de Aplicação

Cônego Rochael de Medeiros. A vegetação que circunda o pátio coberto também contribui

para uma maior ventilação do local.

Mas o pátio coberto não era utilizado apenas para comemoração de datas festivas ou

apresentações teatrais; o espaço também é utilizado para a prática de ritos religiosos como a

primeira comunhão como podemos observar nas ilustrações 21 e 22 que parece ser uma

prática comum no Jardim de Infância, já que encontramos o registro de fotos dessa

comemoração em vários anos diferentes. Na imagem temos os alunos que farão primeira

comunhão numa mesa à parte onde as crianças estão vestidas de branco e com uma cruz no

peito.

111

Ilustração 21 - Primeira Comunhão dos alunos do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão – 1960

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

Ilustração 22 - Primeira Comunhão dos alunos do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão – 1960

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

112

O Instituto de Educação de Pernambucano traz um programa arquitetônico diferente

da antiga escola normal, que não traz referências a estilos históricos, usando formas

geométricas simples, adotando o concreto armado, propondo estrutura independente da

vedação; pátios internos sobre pilotis, salas com abertura para os jardins, uma escola que

precisa de ar puro abundante, luz solar, que leva em consideração a escala da criança, e que

traz a proposta de um edifício que pudesse dialogar com a sociedade.

Este edifício, projetado em 1956, é um dos mais importantes exemplares da

arquitetura moderna recifense, apresentando solução baseada em princípios

modernos, utilizando plantas e fachadas livres, pilotis, janelas horizontais,

estrutura sistemática com módulos de 4.5m x 9m, com cada elemento

arquitetônico possuindo autonomia. A utilização de pilotis foi adotada como

forma de integrar o edifício ao meio, optando pela horizontalidade, como

uma forma de se harmonizar com a paisagem circundante do parque 13 de

Maio, onde a obra está implantada. O volume final foi resultante do uso da

adoção de pilotis mais dois pavimentos, contrapondo a forma em “V” e

retangular para os pilares em concreto com um volume prismático elegante e

muito bem proporcionado (COSTA, 2011).

Ilustração 23 - Cortes e fachadas do Jardim de Infância Ana Rosa Falcão

FONTE: Secretaria de Educação de Pernambuco

113

Essa construção escolar tem preocupações típicas da Escola Nova: a criança é o centro

da aprendizagem e a escola tem que ser alegre, acolhedora, bonita, espaçosa, higiênica, para

favorecer uma educação integral. A fluidez de circulação nesses espaços é evidente, livres de

implantações rígidas, esses modernos edifícios foram situados de forma a privilegiar um

controle da insolação e da ventilação dos ambientes, características inovadoras que se

aproximam, em muitos aspectos, dos conceitos da arquitetura moderna.

De acordo com Loureiro, o prédio do jardim de infância Ana Rosa

atende aos preceitos pedagógicos inspirados nas ideias de Froebel, e,

sobretudo, de Montessori e Dewey, bastante difundidas na década de 30,

cuja ênfase estava nas oportunidades para interação social e em métodos que

se estruturavam em torno das atividades da criança. O foco da edificação nas

áreas de recreação além do uso de cores alegres e dimensão do mobiliário e

instalações adequadas ao tamanho da criança sugerem uma escola que cria

um mundo e brincadeiras, mas em um agrupamento de salas de aula

(LOUREIRO, 2000, p. 130).

A escola moderna exige edifícios flexíveis que atendam à dinâmica do ensino sem a

compartimentalização usual – salas de aula numeradas, laboratórios fechados, bibliotecas com

acesso limitado. A mobilidade infantil é uma constante que tinha de ser levada em

consideração em um bom projeto para a escola. Na escola moderna se propõe um mobiliário

leve, de fácil mobilidade, permitindo diversos arranjos em função do que iria ser estudado; as

atividades físicas, as festas escolares que antes funcionavam à parte do edifício agora são

incorporadas à construção escolar.

Na prática observa-se uma mistura de princípios tradicionais e modernos. Permanecem

salas, mesa do professor, quadro negro e giz, livros e cadernos, a presença de rituais e

membros religiosos característicos da influência da religião na instituição educativa. Porém

observam-se também alguns princípios da Escola Nova como uma maior liberdade de

movimentação dos alunos, ênfase em atividades que favorecem os laços sociais, em que as

condições de aprendizagem se assemelham a de outras organizações sociais como a família, o

trabalho, o clube, a igreja, desenvolvendo relações mais amistosas entre todos os atores da

escola, tudo isso dentro da sociedade patrimonialista brasileira.

114

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema trabalhado ao longo desta pesquisa que estamos em vias de concluir não é

comum no meio educativo brasileiro. Provavelmente os educadores o imaginam como uma

temática da arquitetura, enquanto que os arquitetos o vêem como um assunto para educadores

às voltas com questões de espaço escolar e projeto pedagógico. De fato, a quase ausência de

encontro e diálogo entre esses dois mundos produziu um vácuo temático que poderia ser

amplamente explorado e, ao final, orientar e instruir a feitura de políticas públicas em matéria

de espaço escolar. A verdade é que, ao menos em nossa cidade e, sobretudo, na Rede

Municipal do Recife – apenas para ilustrar nosso argumento – quase não há projeto

arquitetônico para as escolas, que são em geral casas adquiridas e adaptadas, com toda a

precariedade que tais iniciativas implicam.

No entanto, e como vimos ao longo de nossa dissertação, a questão não é

simplesmente observar como o espaço escolar é pensado em determinados momentos de uma

sociedade, ou se tais espaços correspondem, em matéria de relações humanas em um espaço

institucional, às ideias que os arquitetos têm a respeito do que deve acontecer ali dentro.

Tampouco saber se educadores e/ou professores participaram da elaboração e planejamento

desse espaço, o que já seria, em si, um tema legítimo e de grande relevância. A questão que

realmente nos ocupa é a crença – insistentemente repetida – de que a escola é capaz de

transformar a sociedade e inaugurar novas relações entre os homens. A coisa vai mais longe à

medida que (como tentamos demonstrar aqui) projeto de arquitetura escolar se encaixa em

projeto pedagógico (no caso do IEP, o projeto da Escola Nova) e, ambos, em projeto de

modernização social e urbana. Como se o espaço escolar aberto – representado nos vãos livres

sobre pilotis – criasse relações pedagógicas abertas (dialogais) e, estas, relações sociais

abertas (democráticas). A crença num foco irradiador de civilização a partir de um “centro”

(no caso, a escola de arquitetura aerada) que, por efeitos concêntricos, espalharia urbanidade à

sua volta!

A nova sede do IEP, localizada próxima ao Parque 13 de Maio, representava uma

tentativa de renovação do ensino de Pernambuco de acordo com os novos métodos de ensino.

Além de atender a um maior número de alunos, contava com modernas instalações. Dispunha

de biblioteca; diretoria; secretaria; cantina; recreio coberto, utilizado para comemoração de

datas festivas e ritos religiosos, e “playground”, também utilizado para festividades. Suas

salas eram amplas e abertas para o jardim, e possuía áreas arborizadas que favoreciam um

115

assombreamento do local, melhorando as condições térmicas. Recebeu comentários elogiosos

de educadores como Anísio Teixeira, grande responsável pelas tentativas de renovação do

ensino brasileiro, Solon Kimball, membro do Teacher’s College da Universidade de

Columbia, e Havighurst, da Universidade de Chicago.

Apesar de Ruy Bello, professor e diretor do IEP durante 15 anos, não considerar a

nova sede do IEP uma solução perfeita, muitos de seus preceitos parecem se configurar nas

paredes do Instituto. Embora não esteja localizado longe de aglomerações urbanas, como

recomendado, é um lugar acessível do ponto de vista do transporte público, um espaço

pensado e construído para ser uma escola, não uma simples adaptação, que demonstra

preocupação com o conforto dos alunos. A distribuição funcional de seus espaços permite

uma rápida evacuação em caso de necessidade; do ponto de vista da higiene, as salas, abertas

para o jardim, possuem boas condições de iluminação e ventilação. As dimensões dessas salas

são reduzidas, tanto do ponto de vista da quantidade de alunos que comportam (o que

favorece a formação de pequenas comunidades) quanto com relação ao tamanho das portas e

janelas, que se aproximam da escala da criança e se afastam das arquiteturas monumentais

que lembram a arquitetura religiosa.

O mobiliário escolar está diretamente ligado ao tipo educação que se quer

desenvolver, e a disposição física deste pode revelar muito de uma prática educativa. Nesse

quesito, o Jardim de Infância também corrobora a ideia de uma educação adequada ao

desenvolvimento infantil, ao implantar carteiras ou bancos individuais, que trazem mobilidade

ao processo de ensino, favorecendo a formação de novas disposições. Ao contrário, na

educação tradicional, verbalista e conteudista, onde os alunos são sujeitos passivos no

processo de ensino, os móveis são fixos.

A funcionalidade dos espaços e uma maior integração entre eles favorecem a

comunicação entre as pessoas, e a todo momento convidam a comunidade para dentro da

escola. A partir dos registros fotográficos, o Jardim de Infância parece ser um lugar que

valoriza a vida, que favorece os laços sociais e promove situações de camaradagem e

amizade, aproximando indivíduos de diferentes classes sociais. Apesar de existirem alunos em

situação econômica calamitosa, não conseguimos identificá-los nos registros fotográficos,

“todos parecem iguais”. As novas instalações do IEP parecem ser o ambiente favorável para

uma tentativa de renovação do ensino baseada nas ideias de Anísio Teixeira; uma escola que

favorece relações mais democráticas, relações essas que exercerão influência na sociedade.

116

É de grande interesse observar que essa perspectiva “difusionista” – aliás corroborada

pelo próprio conceptor do IEP, Marcos Domingues – também estava presente naquelas

correntes que, em meados do século XIX, sob forte inspiração saint-simoniana, viam na

racionalização urbana e na arquitetura das instituições-chave de uma sociedade (Justiça,

Cultura, Legislação, Governo, Escola) focos de difusão de civilização e de realização de

utopias sociais. Refiro-me à Missão Francesa trazida ao Recife pelo governador da Província

de Pernambuco – Francisco do Rêgo Barros – e que teve em Louis Vauthier seu grande nome

e em Luís Mamede seu principal epígono local.

O Ginásio Pernambucano, de 1855, concebido por Mamede, obedece a um perfil de

arquitetura que em muito se assemelha ao das escolas “republicanas” francesas, cuja

concepção espacial interior aponta para um modelo pedagógico monacal, “centrado no

professor”, “conteudístico” e fortemente hierarquizado, marcas distintivas do espaço escolar

francês pós-Jules Ferry (IIIª República, 1871-1940). No entanto, esse perfil de escola não

correspondia a uma sociedade republicana: estávamos no Segundo Império e numa região

fortemente marcada por relações de mando, clientelísticas, características de uma sociedade

rural, não republicana e não democrática. É muito provável que ali, naquele modelo de escola,

não se estivesse pensando – como no caso francês – na formação do cidadão republicano, mas

na constituição de uma elite esclarecida que, uma vez ocupando postos de mando na

sociedade, instauraria uma nova ordem política, uma outra relação com a coisa pública,

moderna e racional (impessoal). As elites foram certamente formadas, mas a sociedade

patriarcal e rural praticamente não se transformou até a segunda metade do século XX.

E é exatamente no início da segunda metade do século passado quando surge com

inusitado vigor a chamada “questão regional” – com o Congresso de Salvação do Nordeste, os

primeiros balbucios da SUDENE, a vigorosa crítica ao modelo patrimonial de gestão pública

encampado pela Frente do Recife e pelas reivindicações radicais das Ligas Camponesas –,

que se cria o cenário adequado para a modernização das instituições. Percebe-se a aceitação

das ideias da arquitetura moderna, aqui fortemente influenciada pelo racionalismo de Le

Cobusier (que Salvador Dalí entendeu como uma “arquitetura culpada e autopunitiva”!),

presente em diversas edificações da cidade, como mostramos ao longo desta dissertação. O

estranho, no entanto, é que tanto o concurso (1956), realizado ainda no início do “Quadriênio

do Terror”, como ficou conhecido o governo do general Cordeiro de Farias, como a

inauguração, se dão ainda sob uma gestão que não tinha absolutamente nada de democrática

ou aberta. Se compararmos esses dois momentos da história da arquitetura escolar

117

pernambucana (o Ginásio, do século XIX, imperial, e o IEP, no século XX, patrimonial e

coronelístico) ficamos com a clara impressão de estarmos tratando com “ideias fora do lugar”,

para retomar a célebre fórmula de Roberto Schwartz): ideias de arquitetura escolar e de

projeto social num contexto pouco sensível à sua recepção. Ou, talvez, de uma espécie de

“modernização sem mudança”.

Não é de todo estranha essa suposta inadequação: muitas das ideias de Anísio

Teixeira, contidas no Manifesto dos Pioneiros (1932), foram incorporadas pelo Estado Novo,

sob a batuta da modernização autoritária de Capanema. Foi sob a ditadura militar (1971) que a

Lei 5692/71 finalmente incorporou as ideias provindas das pedagogias ativas (aluno como

centro do processo pedagógico, reorganização do tempo escolar e das disciplinas por áreas de

conhecimento etc.). Nessa mesma época, as Propostas Curriculares passaram a centrar na

“formação do cidadão crítico” e o Projeto Minerva (escolarização radiofônica de adultos do

Ministério da Educação) retomou muitas das ideias de Paulo Freire.

Resta a sensação de superficialidade – a crença na transformação das aparências como

motor para a transformação das “estruturas” – mesclada com a imensa generosidade utópica

que marcou uma certa intelectualidade “progressista” (como se dizia na época) recifense que,

pouco depois, se agregaria ao amplo movimento cultural da cidade, conhecido como o

Movimento de Cultura Popular. Nesse Movimento, onde as ideias pedagógicas de Paulo

Freire ganharam corpo e difusão, podemos perceber que as escolas instaladas pelo MCP

utilizavam-se de salas e espaços cedidos por associações, clubes, empresas etc. Não havia

projeto arquitetônico específico, mas ali se realizava uma verdadeira “revolução” pedagógica!

Por sua vez, o IEP, com toda sua dispendiosa inspiração escolanovista, não foi capaz de

realizar a utopia de seus conceptores. O que nos leva a concluir que, embora espaço escolar e

pedagogia possam, com certeza, caminhar juntos e solidarizar-se, essa solidariedade não é

suficiente para fazer da escola e sua arquitetura renovada motores de modernização social.

118

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126

APÊNDICE A- LEVANTAMENTO DE JORNAIS

Título da notícia Jornal Autor Data Foto Página

Edifícios de

apartamentos na Boa

Viagem

Jornal do

Commercio

Everaldo da Rocha

Gadelha

04/11/1956 3765 3

O tricentenário da

igreja dos

Guararapes

Jornal do

Commercio

Tadeu Rocha 11/11/1956 3787 3

A capela de

Rochamps

Jornal do

Commercio

Le Corbusier 18/11/1956 3793 3

A Propósito de

arquitetura popular

Jornal do

Commercio

Edilson Lima 18/11/1956 3793 3

O arquiteto não

onera a construção

Jornal do

Commercio

Matéria não

assinada

25/11/1956 3804 3

Residência em Casa

Amarela

Jornal do

Commercio

Marcos Domingues

da Silva

25/11/1956 3804 3

Uma residência no

Rosarinho

Jornal do

Commercio

Edilson R. Lima 02/12/1956 3820 3

O arquiteto e o

cliente entendido

Jornal do

Commercio

Marcos Domingues

da Silva

02/12/1956 3820 3

Jardins do Recife Jornal do

Commercio

Edilson Lima 02/12/1956 3820 3

Teatro rural do

estudante

Jornal do

Commercio

Affonso Eduardo

Reidy

08/12/1956 3829 3

Arquiteto e

engenheiro

Jornal do

Commercio

Edilson Lima 08/12/1956 3829 3

Residência de Oscar

Niemeyer

Jornal do

Commercio

Matéria não

assinada

16/12/1956 3849 3

127

Título da notícia Jornal Autor Data Foto Página

Clube recreativo

em Atalaia

Jornal do

Commercio

Everaldo Gadelha 23/12/1956 3863 3

Residência nos

Aflitos

Jornal do

Commercio

Projeto Waldecy F.

Pinto

Colaborador Lúcio

Estelita

30/12/1956 3875 3

Residência do

arquiteto

Folha da

manhã

Rodolpho Ortenblad

Filho

04/11/1956 3877

Plano de

residências

Folha da

manhã

Florismundo M. Lins

Sobrinho

04/11/1956 3877

Dois episódios da

história da

arquitetura

brasileira

Folha da

manhã

Joaquim Cardoso 04/11/1956 3877

Habitação popular Folha da

manhã

Marcos Domingues 11/11/1956 3890

Conjunto

residencial em Boa

Viagem

Folha da

manhã

Florismundo Lins e

Heleny Lins

18/11/1956 3896

No mundo das

cores

Folha da

manhã

Florismundo Lins 18/11/1956 3896

Dois episódios da

história da

arquitetura

moderna

Folha da

manhã

Matéria não assinada 18/11/1956 3896

Interiores de

residências

Folha da

Manhã

Matéria não assinada 25/11/1956 3902

Atividades do IAB Folha da

Manhã

Heleny Lins 25/11/1956 3902

Dois episódios da

história da

arquitetura

moderna brasileira

Folha da

Manhã

Joaquim Cardoso 25/11/1956 3902

128

Título da notícia Jornal Autor Data Foto Página

Arquitetura

religiosa

Folha da

Manhã

Florismundo Lins e

Heleny Lins

02/12/1956 3908

Semana do

engenheiro e do

arquiteto

Folha da

Manhã

Florismundo

Marques Lins

Sobrinho

02/12/1956 3908

O mural na

arquitetura

Folha da

Manhã

Ariosto Mila 02/12/1956 3908

Atividades sociais

do IAB

Folha da

Manhã

Matéria não assinada 08/12/1956 3914

Sede do IAB Folha da

Manhã

Heleny Lins 08/12/1956 3914

Exposição que faz

ao C. R. E. A da 2º

região sobre a

resolução nº 100, o

seu presidente,

engenheiro civil

Borba Carvalho

Filho.

Folha da

Manhã

Matéria não assinada 08/12/1956 3914

Residência do

arquiteto

Folha da

Manhã

Ibsen Pivatelli 30/12/1956 3923

Eleições no IAB Folha da

Manhã

Florismundo Lins 30/12/1956 3923

Hospital do Pronto

Socorro

Folha da

Manhã

Arquitetos Acácio Gil

Bonsoi, Paulo B

Magalhães

Engenheiro Airton

Carvalho

01/01/1956 2883

Problemas e

significados da

arquitetura

brasileira II

Folha da

Manhã

Oscar Niemeyer 01/01/1956 2883

Edifício Embassy Folha da

Manhã

Murilo Castro e

Lucio Estelita

08/01/1956 2900

Problemas e

significados da

arquitetura

brasileira II

Oscar Niemeyer 08/01/1956 2900

129

Título da notícia Jornal Autor Data Foto Página

Cidade

universitária do Rio

de Janeiro

Folha da

Manhã

Matéria não assinada 10/02/1956 3000

Obras em ruínas Folha da

Manhã

Edilson Lima 10/02/1956 3000

Edifício Embassy Folha da

Manhã

Mauricio Castro e Lucio

Estelita

15/01/1956 2912

Residência do Eng.

Fernando M. Matos

Folha da

Manhã

Edilson R. Lima 22/01/1956 2922

Os arquitetos e a

futura capital da

república

Folha da

Manhã

Matéria não assinada 22/01/1956 2922

A nova capital

federal

Folha da

Manhã

Edilson R. Lima 22/01/1956 2922

Centro de

recuperação para

menores

delinquentes

Folha da

Manhã

Maria de Jesus Costa 05/02/1956 2971

O prestigio do

arquiteto

Folha da

Manhã

Edilson Lima 05/02/1956 2971

Capela filial Folha da

Manhã

Artur Licio M. Pontual 12/02/1956 2992

I Congresso Pan

Americano de

estudantes de

arquitetura e

urbanismo

Folha da

Manhã

Matéria não assinada 12/02/1956 2992

Arquitetura

brasileira

Folha da

Manhã

Gildo Montenegro 18/03/1956 3030

Edifícios Finusa e

Dona. Fátima

Folha da

Manhã

MM.Roberto 23/03/1956 3036

Estrutura e forma

plástica

Folha da

Manhã

Gildo Montenegro 01/04/1956 3043

Residência na Casa

Forte

Folha da

Manhã

Waldecy Pinto 08/04/1956 3048

130

Título da notícia Jornal Autor Data Foto Página

Residência do dr.

de Thomas Edilson

Folha da

Manhã

Edilson R. Lima 29/04/1956 3069

Curso de projeto e

organização de

hospitais

Folha da

Manhã

Florismundo Lins 29/04/1956 3069

Hotel Hortolândia Jornal do

Commercio

Slioma Setter e

Nestor Lindemberg

03/02/1957 3085

Política

habitacional

Jornal do

Commercio

Edilson R. Lima 03/02/1957 3085

O plano piloto da

nova capital

Jornal do

Commercio

Edilson R. Lima 10/02/1957 3101

131

Título da notícia Autor Conteúdo Jornal Foto Data Página

Instituto de

Educação

Matéria

não

assinada

Pressão para que se dê

prosseguimento às obras

do Instituto de Educação

Diário de

Pernambuco

12/09/1958 3466 4

No 2º semestre a

Escola de

Aplicação

funcionará no novo

prédio do IEP

Matéria

não

assinada

O engenheiro Alde

Salgado afirma que as

alunas do Instituto de

Educação que estagiam

na Escola de Aplicação

vão iniciar o segundo

semestre no novo

edifício do IEP.

Diário de

Pernambuco

08/06/1958 1645 3

Inauguram-se

amanhã as duas

primeiras unidades

do IEP

Matéria

não

assinada

Jornalistas visitam as

obras do Instituto de

Educação de

Pernambuco que serão

inaugurados no próximo

dia.

Diário de

Pernambuco

01/08/1958 1651 3

O novo Instituto de

Educação

Matéria

não

assinada

As novas instalações do

IEP atendiam não só as

modernas exigências

didáticas, mas também

ao déficit educacional no

Estado.

Diário de

Pernambuco

1654

Escola de

Aplicação

aproveita

expressões

criadoras da

criança, em

Pernambuco

Matéria

não

assinada

Educadores norte-

americanos Solon

Kimball e Robert

Havighurst visitam o IEP

e tecem muitos elogios

Diário de

Pernambuco

30/08/1958 1663 3

132

Título da notícia Autor Conteúdo Jornal Foto Data Página

Inauguram-se

amanhã as duas

primeiras unidades

do IEP

Matéria

não

assinada

Jornalistas visitam as obras

do Instituto de Educação

de Pernambuco que serão

inaugurados no próximo

dia

Diário de

Pernambuco

1651

O novo Instituto de

Educação

Matéria

não

assinada

As novas instalações do

IEP atendiam não só as

modernas exigências

didáticas, mas também ao

déficit educacional no

Estado.

Diário de

Pernambuco

03/08/1958 1654 4

0 94º aniversário

do Instituto de

Educação de

Pernambuco

Matéria

não

assinada

Comemoração do último

aniversário do IEP no

antigo prédio

Diário de

Pernambuco

14/05/1958 1601 4

O Instituto de

Educação

Matéria

não

assinada

Discussão sobre a

construção de uma nova

sede para o Instituto de

Educação de Pernambuco

Diário de

Pernambuco

13/04/1957 338

65 prédios

escolares em dois

anos de governo

Matéria

não

assinada

Aderbal Jurema afirma que

o governo de Cordeiro de

Farias iniciara em junho

próximo a construção do

conjunto de novos

edifícios para o IEP.o ante-

projeto premiado no

concurso já estava sendo

transformado em projeto.

No governo de Cordeiro de

Farias em 2 anos foram

construídos 65predios

escolares.

Jornal do

Commercio

14/04/1957 340

133

Título da notícia Autor Conteúdo Foto Data Jornal Págin

a

Liberadas as verbas

da Secretaria da

Educação

Matéria

não

assinada

O diretor do INEP o

professor Anísio Teixeira,

ficou encantado com a

planta do novo Instituto de

Educação de Pernambuco

e submeteu a mesma a

apreciação do ministro

Clovis Salgado que

prometeu ao governador

Cordeiro de Farias ajudar

na construção do

empreendimento.

23/06/1957 Jornal do

Commercio

3

Verbas para o

Instituto de

Educação

Matéria

não

assinada

Aderbal Jurema viaja ao

Rio de Janeiro a fim de

renovar convênios e

conseguir verbas para o

Instituto de Educação

366 12/09/1957 4

Instituto de

Educação honra o

ensino o ensino no

Brasil

Matéria

não

assinada

Depoimentos positivos de

educadores estrangeiros

sobre o Instituto de

Educação de Pernambuco

1820 31/09/1958 Folha da

Manhã

3

Obras do Instituto

de Educação

continuam (em

ritmo mais lento)

Matéria

não

assinada

Murilo Paraíso diretor do

Departamento de obras e

Fiscalizações do Serviço

Público afirma que as

obras do IEP estão lentas

mas não estão paradas, os

dois prédios iniciais foram

construídos num ritmo

diferente porque Cordeiro

de Farias pretendia

inaugurá-las antes de

deixar o governo

1850 11/01/1959 Folha da

Manhã

capa

134

Título da notícia Autor Conteúdo Foto Jornal Data Página

Novo edifício para

o Instituto de

Educação de

Pernambuco

Matéria

não

assinada

Designação de uma

comissão para julgar os

projetos do novo Instituto

de Educação

3754 Jornal do

Comercio

01/11/1956 24

O Instituto de

Educação

Matéria

não

assinada

O Instituto de Educação de

Pernambuco foi deixado

de lado por varias

administrações o que afeta

a política pedagógica local

3762 Jornal do

Comercio

03/11/1956 16

Importância de um

concurso

Edilson

Lima

Abertura do concurso de

projetos para o novo

Instituto de Educação

3770 Jornal do

Comercio

4/11/1956 3

Nomeada a

comissão que

julgara os projetos

do Instituto de

Educação

Matéria

não

assinada

Assinatura do ato

designado à nova comissão

que julgara os novos

projetos do Instituto de

Educação de Pernambuco

3771 Jornal do

Comercio

4/11/1956 3

Edital de

concorrência para o

anteprojeto do

conjunto de

edifícios do

Instituto de

Educação

Matéria

não

assinada

Os trabalhos deveriam ser

entregues ate 21 de janeiro

de 1957

3775 Jornal do

Comercio

07/11/1956

O novo edifício do

Instituto de

Educação

Edilson

Lima

Nomeada a comissão de

estudo e planejamento do

novo Instituto de Educação

de Pernambuco que possui

3 engenheiros e 1

professor e nenhum

arquiteto

2902 Folha da

Manhã

08/01/1956

Ainda o novo

Instituto de

Educação de

Pernambuco

Criticas ao artigo de

Gilberto Freyre publicado

no Diário de Pernambuco

3015 Folha da

Manhã

135

Título da

notícia

Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

Só por milagre Compra de votos;

corrupção.

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

449

03/09/1958 4

A impostura e

o tempo

Surgimento de uma

nova escola no

Recife ,se baseando

no campo da

genética, uma nova

doutrina da biologia

soviética de

Mitchurin e Lissenko

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

452

06/09/1958 4

Osque

falharam e os

que vão

continuando

Lima Cavalcanti e a

compra de votos, a

policia, o jogo do

bicho, oligarquia

Rosa e Silva,

coronelismo,

analfabetismo.

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

455

10/09/1958 4

Habitação

popular

Mocambos, falta de

saneamento e

abastecimento de

água

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco

3

459

10/09/1958 4

Assis Brasil e

seu

pensamento

político

Arregimentação de

rebanhos eleitorais

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

461

11/09/1958 4

Cartazes e

candidatos

Venda do voto,

currais eleitorais

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

470

13/09/1958 4

Eleitorado

fantasma

Eleitorado fantasma,

escolas eleitorais

M

atéria não

assinada

Diário de

Pernambuco

3

472

17/09/1958 4

Lá e Cá Jogo do bicho Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

17/09/1958 4

136

Título da

notícia

Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

Prudência e

conivência

Jogo, analfabetismo,

miséria

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

476

18/09/1958 4

Redução do

eleitorado

com a morte

dos fantasmas

Medidas legislativas

tomadas para reduzir

o eleitorado fantasma

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco

3

478

19/09/1958 3

Mortalidade

infantil

Mortalidade infantil,

campanha

pernambucana pró-

infância

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

483

20/09/1958

O eleitorado Eleitorado

pernambucano,

currais eleitorais

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

486

26/09/1958 4

Mortalidade

infantil no

Recife

Mortalidade infantil,

miséria social

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

487

27/09/1958 4

Eleição ou

loteria

Ausência de

apresentação dos

programas eleitorais

dos candidatos ao

governo do estado

Cid Sampaio e Jarbas

Maranhão

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco

3

490

28/09/1958 4

Um candidato,

só diante do

povo

Eleição para o

governo do estado

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

493

30/09/1958 4

Direi hoje:

“não”! A

Cordeiro!

Eleição para o

governo do estado

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3

495

03/10/1958 4

137

Título da

notícia

Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

A víspora no

alumínio

Pratica e tolerância

do jogo do bicho

entre outros

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3497 07/10/1958 4

Muxôxo Vitoria de Cid

Sampaio

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3499 11/11/1958 4

Antes de tudo,

não fazer mal!

Critica a Otavio

Correia

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3502 18/11/1958 4

Regulamentaçã

o do jogo

Pratica e tolerância

pelo poder publico

do jogo do bicho

entre outros

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3505 18/11/1958 4

Otávio não é de

briga

Mandonismo em

Pernambuco

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3508 20/11/1958 4

Exemplos do

passado

A vitória de Cid

Sampaio ao

governo do estado e

a ocupação dos

cargos públicos

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3511 22/11/1958 4

O

demagogismo

pessedista, o

mocambo e a

instrução.

A herança

pessedista, os

mocambos e o

analfabetismo.

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3513 25/11/1958 4

O retorno do

governador

eleito

O inicio do

mandato de Cid

Sampaio

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3516 26/11/1958 4

Estes dias

alucinados

Administração de

Cid Sampaio

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

3519 28/11/1958 4

O 12º

aniversário da

república

italiana

A força da

democracia italiana

através da imprensa

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

1629 01/06/1958 4

138

Título da

notícia

Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

Embuste O perigo vermelho

trazido pelo apoio

dos comunistas a

candidatura de Cid

Sampaio

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

1633 05/06/1958 4

O que importa

ao eleitor

Os jornais

anunciavam a

possível vitória de

Jarbas Maranhão

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

1635 18/06/1958 4

Ainda a

questão dos “

flutuantes”

Ausência de

apresentação de um

programa eleitoral

tanto e Jarbas

Maranhão quanto de

Cid Sampaio

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco

1638 21/06/1958 4

Mortalidade

infantil

Alto índice de

mortalidade entre 0 e

1 ano de idade

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco

1640 22/06/1958 4

Saneamento

do Recife

Recife tinha apenas

21% de sua área total

saneada

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

02/07/1958 4

Método ou

métodos?

Democrático

O governo de

Cordeiro de Farias e

a eleição de Jarbas

Maranhão

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

1646 12/07/1958 4

Crescimento

do Recife

Mauro Mota –

Serviço social contra

o mucambo

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1648 31/07/1958 4

Urbanismo O urbanismo e a

avenida beira-mar

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1658 27/08/1958 4

139

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

A fraude Processos eleitorais

fraudulentos

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

1661 28/08/1958 4

Aspectos

econômicos do

nordeste, destacam

os relatórios de São

Paulo

Os nordeste do Brasil Matéria

não

assinada

Jornal do

Commercio

1133 05/06/1957

Verbas para

Pernambuco

Dificuldades para

conseguir verbas para

o nordeste mesmo

depois de

consignação

orçamentária

Matéria

não

assinada

Jornal do

Commercio 1135 21/06/1958

A higiene mental e

o cinema para as

crianças

O perigo do cinema e

sua influencia sob o

psiquismo

Matéria

não

assinada

Jornal do

Commercio 1138 09/06/1957

Problemas e

confrontos da

atualidade

Fome, desemprego,

epidemia,politicagem

, falcatrua, luta de

classes

Ruy Pata Jornal do

Commercio

1143 09/06/1957

Sugestões para o

ensino da

matemática no 1º

ano

Influencia da escola

nova nos modos de

ensinar matemática

Isnar de

Moura

Jornal do

Commercio 1145 09/06/1957

Indústria

siderúrgica com

aproveitamento de

nossas matérias

primas

Possibilidade de

implementação da

indústria pesada em

Pernambuco com

aproveitamento da

matéria-prima local

Matéria

não

assinada

Jornal do

Commercio 1152 12/6/1957

140

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

A grave crise

nacional

Aumento da

população, baixa

produtividade,

credito limitado e

inacessível,

transporte

insuficiente e

obsoleto, aumento de

500% no custo de

vida

Matéria

não

assinada

Jornal do

Commercio

1

153

12/06/1957

A nação suspensa

sobre o abismo

A lei Cadillac ,

legislação em causa

própria

Matéria

não

assinada

Jornal do

Commercio

1

156

13/06/1957

Problemas e

confrontos do

mundo moderno

Desemprego,

governo corrupto,

guerra fria

Ruy Pata Jornal do

Commercio

1

158

16/06/1957

O empreguismo

político causa de

todo o déficit nas

finanças do Estado

Déficit orçamentário

devido a criação de

novos e numerosos

cargos públicos

Matéria

não

assinada

Jornal do

Commercio

1

161

16/06/1957

Nação pobre e

saqueada

A lei

cadillac

Matéria

não

assinada

Jornal do

Commercio

1

162

16/06/1957

Problemas do

ensino secundário

Tipos humanos da

atual conjuntura

brasileira, o

golpista,o

conformista, o

desesperado,o

reformista

José Rafael

de

Menezes

Jornal do

Commercio

1

166

20/06/1957 7

Em beneficio de

Pernambuco

Empenho do

governador Cordeiro

de Farias em

conseguir verba para

Pernambuco

Matéria

não

assinada

Jornal do

Commercio

1

170

23/06/1957

141

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

Pernambuco e as

indústrias novas

Aprovação de lei que

favorece a implantação

de indústrias novas

Matéria

não

assinada

Jornal do

Commercio

1

175

28/06/1957

O ensino

secundário e seus

problemas

Dificuldades no ensino

da música, ginástica e

trabalhos manuais

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

1

177

29/01/1957 4

Escolas eleitorais Alfabetização em

tempo Record a fim de

angariar os votos dos

analfabetos

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

570

03/05/1958 4

Kaputt Troca de nomes para a

candidadtura ao senado

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

573

03/05/1958 4

Seca e políticos A seca e a manutenção

dos quadros políticos

em Pernambuco

Adhemar

Vidal

Diário de

Pernambuco 1

575

03/05/1958 4

Juazeiro do Padre

Cícero, 1911

Recife , 1958

Semelhança nos modos

de fazer política entre

Juazeiro de 1911 e

Recife de 1958

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

577

04/05/1958 4

A justiça esta

vigilante contra a

formação de um

eleitorado fantasma

O tribunal eleitoral

regional identifica e

apreende vários títulos

falsos

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

582

04/05/1958 capa

Seca nordestina é

motivo para

desenfreada

exploração

Utilização das verbas

da seca em proveito de

grupos políticos locais,

em conivência com os

servidores federais

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

589

06/05/1958 Capa

142

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

Corrução eleitoral Teoricamente a prática

do voto secreto tem

respaldo na legislação

eleitoral mas encontra

entraves na prática

coronelista, no suborno

e na compra ostensiva

dos sufrágios

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

594

09/05/1958 4

Não há motivos de

esperança

Carreirismo político,

desvio das verbas para

a seca,jogo do bicho

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

597

11/05/1958 4

Os títulos eleitorais Comércio de votos Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

600

13/05/1958 4

A justiça esta

vigilante contra a

formação de um

eleitorado fantasma

O tribunal eleitoral

regional identifica e

apreende vários títulos

falsos

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

582

Seca nordestina é

motivo para

desenfreada

exploração

Utilização das verbas

da seca em proveito de

grupos políticos locais,

em conivência com os

servidores federais

Matéria

não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

589

O Dr. Cleofas vem

Criticas aos

grupos políticos que

governam Pernambuco

a mais de 80 anos

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

603

18/05/1958 4

Democracia a

moda do sargento

Batista

Comparação

entre a democracia

pernambucana e a

democracia do sargento

Batista em Cuba

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

606

20/05/1958 4

143

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

Sono tutti buona

gente

Desvio de verbas da seca,

lei cadillac

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco

1

609

21/05/1958 4

Consciência

democrática

Ausência de consciência

democrática e espírito de

disciplina partidária

Samuel

Soares

Diário de

Pernambuco 1

612

Fomento a miséria

pública

Falta de verbas para as

populações do Agreste.

Em contrapartida, há

verbas para o pagamento

de funcionários que

alimentam a maquinaria

pública.

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

615

23/05/1958 4

Pistolas e pistolões Concessão de porte de

armas em troca de votos

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

617

22/05/1958 1

2

Menores

abandonados e

delinquentes

Os menores abandonados e

as casas de assistência

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 24/05/1958 4

As eleições de

hoje, na Itália

As eleições na Itália e seus

reflexos para a política

brasileira

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

621

25/05/1958 4

O uso e o abuso de

chapas brancas

Lei cadillac. Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

624

29/05/1958 4

O dever das

oposições

A candidatura de Cid

Sampaio e a renovação

para Pernambuco.

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

626

31/05/1958 4

A falta de polidez Recife 3º cidade em

população e 1º em crimes

Olívio

Montenegro

Diário de

Pernambuco 1

437

09/05/1958 4

O governo tão rico

e o interior tão

pobre

Apesar de o governo

proclamar saldos positivos

a população do interior

sofria com a falta de

abastecimento de água.

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

439

09/05/1958 4

144

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

Custo de vida Aumento do custo de

vida no Recife de

27,6%

Samuel

Soares

Diário de

Pernambuco

1

442

09/03/1958 21

O bezerro de ouro Apesar do governo

estar com um saldo de

300 milhões a

população sofria com o

pronto socorro por

construir,apenas 33%

das crianças em idade

escolar estavam

matriculadas

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

443

11/03/1958 4

Os desesperados Comparação entre o

desespero espanhol e o

povo brasileiro

dominado pelas forças

eleitoralistas

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

446

12/03/1958 4

O rodízio e a

Assembléia

Discussão para que se

estabeleça rodízio na

Assembléia

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

449

13/03/1958 4

Articule sua

sucessão general!

Ora lança-se a

candidatura de

Apolônio, ora lança-se

a de Jarbas Maranhão

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

452

15/03/1958 4

O jogo aqui não é

clandestino

A prática de jogos,

inclusive

“ do bicho”

era constante e notória.

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

455

16/03/1958 4

O promotor na sua

comarca

Ausência permanente

dos promotores na

comarca e conseqüente

prejuízo do serviço

público

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

457

16/03/1958 4

145

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

Falta de

policiamento

Apesar de gastar 200milhoes

de cruzeiros com a polícia

militar e 18 milhões com a

segurança pública o

policiamento do Estado não é

satisfatório

Aníbal

Fernandes

Diário

de

Pernam

buco

1

464

27/03/1958 4

Licenças para

matar

Recife é tida como território

sanguinário, da facada e do

tiro

Matéria

não

assinada

Diário

de

Pernam

buco

1

463

26/03/1958 4

Abastecimento

d’água

Rede de distribuição de água

precária

Aníbal

Fernandes

Diário

de

Pernam

buco

1

460

18/03/1958 4

A compra de votos Corrupção dos processos

eletivos

Matéria

não

assinada

Diário

de

Pernam

buco

1

468

04/04/1958 4

Mortalidade

infantil

Índices muito altos de

mortalidades entre a faixa de 0

a 1 ano de idade

Matéria

não

assinada

Diário

de

Pernam

buco

1

469

12/04/1958 4

Uma monocracia Monocracia etelvinista

apoiada por Cordeiro de Farias

Aníbal

Fernandes

Diário

de

Pernam

buco

1

470

13/04/1958 4

Eleitorado

insignificante

Apesar do crescimento

acelerado da população o

número de eleitores diminui

ao longo dos anos.

Aníbal

Fernandes

Diário

de

Pernam

buco

1

473

17/04/1958 4

Muro de

lamentações

Vida parlamentar e imunidade

para crimes, inclusive

assassinato

Aníbal

Fernandes

Diário

de

Pernam

buco

1

480

20/04/1958 4

A falsa educação A civilização moderna que

tanto se desenvolveu na

técnica ainda não conseguiu

desenvolver uma educação

integral

Olívio

Montenegr

o

Diário

de

Pernam

buco

1

483

20/04/1958 4

146

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

A lei da selva na

Assembleia

O presidente da

Assembléia impede a

entrada de jornalistas do

Diário de Pernambuco

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco

1

305

07/09/1957

4

Voto dos

analfabetos

Apesar de legalmente o

analfabeto não poder

votar, como a

alfabetização restringia-

se a assinatura do nome o

analfabeto já votava a

muito tempo

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

293

31/08/197 4

O paradoxo O poder legislativo não

admite ser fiscalizado

pela imprensa

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

308

10/09/1957 4

O Diário de

Pernambuco em

pretório

o Diário de Pernambuco

exige que o regime

democrático seja

respeitado e que a justiça

avalie o impedimento

dos jornalistas as

reuniões do poder

legislativo

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

309

12/09/1957

A lição do mandato Um mandato de

segurança restabelece o

acesso do Diário de

Pernambuco a todos os

órgãos da administração

pública

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

310

13/09/1957 4

O caso da bancada

da imprensa na

Assembléia

Apesar dos

representantes do Diário

de Pernambuco terem

acesso a administração

pública, suas bancadas

são mudadas

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

318

18/09/1957 4

147

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

Uma Assembléia

“non- grata” ao

povo

A Assembléia legislativa

divulga uma lista de

jornalistas non- gratos

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

319

19/09/1957 4

Índice de vida

baixo

A existência media do

brasileiro era a de 44

anos

Matéria não

assinada

1

346

13/10/1957 4

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

O ensino médio no

Recife

O deputado Barreto

Gumaraes solicita ao

governo o aumento do

valor da aula nos dois

estabelecimentos oficiais

de ensino secundário:

Colégio Estadual de

Pernambuco e Instituto

de Educação de

Pernambuco

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

389

14/01/1958 4

Problemas do

Recife

Insalubridade e

corrupção

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

802

04/12/1958 4

Interpretação do

Recife

Elevado crescimento

demográfico e condições

sócias precárias

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

809

04/12/1958 1

2

Ajardinamento e

arborização do

Recife

Recife é tida como uma

cidade sem planejamento

ou planejamentos mau

executados.

O passeio publico do 13

de maio e o Jardim

Botânico não receberam

atenção do poder

publico.

Aníbal

Fernandes

Diário de

Pernambuco 1

813

16/12/1958 4

148

Título da notícia Conteúdo Autor Foto Jornal Data Página

Merval Jurema

assumiu a

secretaria de

educação

Aderbal Jurema deixa a

secretaria de educação

porque vai participar da

campanha eleitoral e

assume o seu cargo

Merval Jurema

Matéria não

assinada

Folha da

manhã

1

816

Um educador em

face da política

Elogios a atuação de

Aderbal Jurema a frente

da secretaria de educação

e cultura

Orlando

Parahym

Folha da

manhã

1

818

15/07/1958 4

Construção de

cerca de 10 grupos

escolares no

interior do Estado

O secretário de educação

Aderbal Jurema viaja ao

Rio de Janeiro em busca

de apressar as remessas

das verbas dos convênios

com o INEP, conseguir a

abertura de crédito de 10

milhões de cruzeiros para

o IEP e apresentação ao

ministro da educação as

reivindicações de

Pernambuco no setor

educacional para 58

Matéria não

assinada

Diário de

Pernambuco 1

340

06/10/1957 Capa

149

Título da notícia Conteúdo Autor Foto Jornal Data Pági

na

O Recife campeão

nacionalde

mortalidade geral

Recife apesar de terceira cidade

do Brasil em população é uma

das capitais mais pobres do

Brasil

Matéria

não

assinada

1835 Diário da

Noite

14/08/19

58

2

Vitoria da oposição o

maior acontecimento

de 1958

A vitória de Cid Sampaio para

governador do Estado

representava a reforma dos

quadros dirigentes de

Pernambuco

Matéria

não

assinada

1847 Diário de

Pernambuco

01/01/19

59

Pernambuco é o

estado que menos

gasta em educação e

cultura

Proporcionalmente a sua

despesa Pernambuco gasta

apenas 8% em despesas

educacionais

Matéria

não

assinada

1854 Folha da

Manhã

02/02/19

59

c

8% para o ensino em

Pernambuco

Os 8% destinado as despesas

educacionais refletem na

insuficiência de instalações dos

grupos escolares e no

rendimento do ensino

Matéria

não

assinada

1856

Pernambuco e a

instrução primária

Apesar de ter três Universidades

no ensino fundamental não há

vagas

Matéria

não

assinada

1857 03/02/19

59

4

Governo em

Pernambuco fica

mesmo em família

Cid Sampaio usa como critério

para assumir cargos públicos, o

parentesco e a amizade

Matéria

não

assinada

1858 07/02/19

59

O clientelismo

eleitoral é que

impede o progresso

da região

Prefere-se o empreguismo do

que obras importantes que

gerassem milhares de empregos

Matéria

não

assinada

1860 24/02/19

59

Problema de

abastecimento

Necessidade de uma refinaria de

petróleo

Matéria

não

assinada

3797 Jornal do

Comercio

150

Título da notícia Conteúdo Autor Jornal Foto Data Página

O momento exige

reflexão

Problemas no plano da

economia, das finanças

públicas e crise de

confiança provocada

pela ausência de

homens políticos

autênticos.

Matéria não

assinada

3800 Jornal do

commercio

22/11/1956 24

Para onde vamos? Os poderes públicos, o

executivo e o

legislativo oneram o

orçamento estadual

com a criação de novos

cargos.

Matéria não

assinada

3816 Jornal do

commercio

1/12/1956 16

Jornada desvairada Repercussão

negativa da emenda de

Ari Pitombo sobre a

importação de

automóveis, a futura lei

cadillac

Matéria não

assinada

3838 Jornal do

commercio

13/12/1956 24

151

ANEXO A- FOTOS DO JARDIM DE INFÂNCIA ANA ROSA FALCÃO

ILUSTRAÇÃO 1- Festa de final de ano 1958

FONTE: Acervo do Jardim de Infância

Ana Rosa Falcão

ILUSTRAÇÃO 2- Comemoração do 1º aniversário

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 3- Comemoração do 1º aniversário

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 4- 1º comunhão 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância na Rosa

Falcão.

ILUSTRAÇÃO 5- 1º comunhão 1961

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 6- 1º diretora do Jardim de

Infância Ana Rosa Falcão

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

152

ILUSTRAÇÃO 7- 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 8- 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 9 - Comemoração do 1º

aniversário 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 10- Comemoração do Dias

das crianças 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 11- Comemoração do dia

das crianças 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 12- Festa do dia das crianças 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

153

ILUSTRAÇÃO 13- Festa do dia das crianças 1959

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 14- Festa de São João 1959.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão.

ILUSTRAÇÃO 15- 1º comunhão 1961.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão.

ILUSTRAÇÃO 16 - 1º comunhão 1960

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 16 – Pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 17 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão.

154

ILUSTRAÇÃO 18 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 19 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 20 - Comemoração do dia do

professor 1962.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão.

ILUSTRAÇÃO 21 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 22 - Festa de Final de ano 1963.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão.

155

ILUSTRAÇÃO 23 - Festa junina 1964.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão.

ILUSTRAÇÃO 24 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 25 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 26 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 27 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão.

ILUSTRAÇÃO 28 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

156

ILUSTRAÇÃO 29 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão.

ILUSTRAÇÃO 30 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 31 – Atividade no pátio

coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 32 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 33 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 34 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão.

157

ILUSTRAÇÃO 35 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 36 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 37 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 38 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 39 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 40 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

158

ILUSTRAÇÃO 41 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 42 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 43 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 44 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 45 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 46 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

159

ILUSTRAÇÃO 47 – Atividade no pátio coberto

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 48 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 49 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 50 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância

Ana Rosa Falcão

ILUSTRAÇÃO 51 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

160

ILUSTRAÇÃO 52 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 53 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 54 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 55 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 56 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 57 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

161

ILUSTRAÇÃO 58 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 59 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 60 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 61 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 62 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

162

ILUSTRAÇÃO 63 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 64 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 65 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância

Ana Rosa Falcão

ILUSTRAÇÃO 66 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 67 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 68 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância

Ana Rosa Falcão

163

ILUSTRAÇÃO 69 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 70 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 71 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 72 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 73 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 74 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

164

ILUSTRAÇÃO 75 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 76 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

ILUSTRAÇÃO 77 – Atividade no pátio coberto.

FONTE: Acervo do Jardim de Infância Ana Rosa

Falcão

165

ANEXO B- ENTREVISTA COM O ARQUITETO MARCOS

DOMINGUES

Talita Maria: Senhor Marcos Domingues fale um pouco sobre o concurso para projeto do

Instituto de Educação de Pernambuco.

Arquiteto Marcos Domingues: Patrocinado pela secretaria de educação do Estado de

Pernambuco, em todo o Brasil poucos arquitetos do Brasil se interessaram por isso eu não sei

por que, sei que um arquiteto no Rio de Janeiro se inscreveu e eu entrei em contato com

Correia Lima que era meu colega de turma e nós resolvemos nos inscrever e apresentar o

projeto e esse projeto foi premiado em 1º lugar... E foi aquela obra que foi construída ali, era

um prédio, um jardim de infância, uma escola de aplicação e os cursos de magistério,

formação de professores.

Flávio Brayner: Diga-me uma coisa doutor Marcos, aquele projeto sobre pilotis com todo

aquele espaço, a escola deveria ser um lugar aberto. Há uma concepção de arquitetura escolar

que vai ser trazida pro Brasil por Anísio Teixeira e que inspirada um pouco pelo modelo

americano em que a escola deveria ser um lugar aberto, lugar espaçoso, lugar onde as pessoas

se encontrassem, o senhor teve algum contato com educadores da época?

Arquiteto Marcos Domingues: Não, a conversa toda foi com o pessoal da secretaria mesmo

e com alguns professores do IEP... Conversamos com alguns professores, o pilotis, nós

tivemos uma preocupação que era integrar os estudantes ao Parque 13 de maio, então o pilotis

era uma área que não era construída pra nenhuma atividade propriamente educacional, mas

para o encontro de estudantes, etc. Que poderiam vir para o parque 13 de maio e ao mesmo

tempo freqüentar o IEP no térreo. Porque a solução em v? Para evitar o maio número de

pilares no térreo, mais livre o térreo, um pilotis mais aberto, mais livre, por isso que foi

adotada aquela solução em v.

Flávio Brayner; Qual foi à repercussão, quer dizer, dentro do grande movimento de

renovação de arquitetura que estava havendo aqui em Recife nos anos 50 com a construção de

vários prédios bastante inovadores como o Acaiaca, o Califórnia, o Pirapama na Conde da

Boa Vista e outros que não me lembro agora, Que influência isso teve? Quem era esse grupo,

esse grupo se reunia? Tava no IAB, tava na Escola de Arquitetura?

166

Arquiteto Marcos Domingues: A escola de arquitetura tinham vários professores

importantes na formação dos arquitetos e na orientação de como fazer a composição

arquitetônica, um dos mais influentes foi Evaldo Coutinho, Evaldo Coutinho inclusive, eu

tenho uma revista ai que tem uma entrevista com ele, ele deu uma entrevista, ele escreveu uns

5 ou 7 livros , Espaço da Arquitetura, Imagem Autônoma e um livro em cinco volumes que é

um tratado de filosofia, então Evaldo Coutinho teve uma influência muito grande, ao mesmo

tempo, professores como Acácio Gil Borsoi que veio pra cá e depois Delfim Amorim de

Portugal e quem mais..., eu acho que esses foram os mais importantes, Delfim Amorim,

Acácio Gil Borsoi... E a parte estética da arquitetura que era ministrada por uma disciplina

orientada pelo professor Evaldo Coutinho.

Flávio Brayner: Diga-me o seguinte, se o senhor um arquiteto comparasse, por exemplo o

prédio do Ginásio Pernambucano da Rua da Aurora com uma arquitetura muito

característica, um pouco das arquiteturas monasteriais, bastante fechada com um arco no meio

e portões altíssimos fechados e comparar isso com a arquitetura que o senhor fazia nos anos

50.

Arquiteto Marcos Domingues: A concepção daquela fase quando nós saímos da escola de

arquitetura havia uma influência muito grande do racionalista contemporâneo que foi lançado

na Europa por Le Corbusier e com uma serie de... Princípios que deveriam ser obedecidos na

elaboração dos projetos de arquitetura, eram pontos do racionalismo contemporâneo, o pilotis,

a estrutura independente quer dizer a parede como vedação, o teto jardim, são coisas ligadas

ao racionalismo contemporâneo.

Arquiteto Marcos Domingues: Ao mesmo tempo, surgia uma expressão maior da...

arquitetura das Américas, dos Estados Unidos que era um pensamento de oposição ao

racionalismo, ele era o que nós chamamos de organicismo, eu acho que as duas correntes

tocaram muito o sentimento dos arquitetos pernambucanos nessa fase. Borsoi vem de um

racionalismo ditado por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa no Rio de Janeiro, porque Le

Corbusier passou no Rio de Janeiro e participou do projeto do Ministério da Educação.

Arquiteto Marcos Domingues: Quem desenvolveu mesmo o projeto foi Lúcio Costa. Oscar

Niemeyer trabalhava com Lucio Costa, eu acho que Oscar Niemeyer era discípulo de Lúcio

Costa e... Não só do trabalho Oscar Niemeyer participou como também elaboração do

Pavilhão do Brasil em Nova York, mas Lúcio Costa disse não eu quero uma solução para esse

pavilhão e Oscar Niemeyer fez um estudo, mas ao apresentar esse estudo ele achou que não

valia à pena machucou e jogou na lata do lixo, Lúcio Costa não se conformou , foi na lata do

167

lixo pegou o projeto e disse não esse projeto você vai desenvolver e o projeto foi premiado,

como mais importante pavilhão dessa exposição de Nova York.

Então Esse grupo, Bruno Levi, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa influenciou muito a formação

dos arquitetos do Brasil inteiro, não só de Pernambuco, mas do Brasil inteiro, e aqui

absorveram essas idéias entre eles Baltar, Antônio Baltar professor de Urbanismo e Borsoi

que tinha concluído o curso no Rio de Janeiro e foi convidado pra ensinar aqui e depois

Delfim Amorim de Portugal.

Flávio Brayner: A Faculdade Arquitetura era na Conde da Boa Vista ?

Arquiteto Marcos Domingues: A faculdade de arquitetura iniciou na Escola de Belas Artes

na Rua Benfica e depois quando ela se separou, porque houve um movimento pra separar o

curso de arquitetura de Belas Artes da Faculdade de Arquitetura, então ela se instalou na

Avenida Conde da Boa Vista.

Flávio Brayner: Diga-me o seguinte doutor Marcos, 58 é um ano chave politicamente aqui

em Recife por causa da eleição de Cid Sampaio e 55 Pelópidas Silveira que havia conquistado

a prefeitura do Recife, não sei se você se lembra, e em 58 estava terminando o governo de

Cordeiro de Farias e tava iniciando o governo de Cid Sampaio, havia, portanto todo um

movimento de renovação política, e que corresponde de certa maneira a certo movimento de

renovação urbana da sociedade, dos novos padrões de arquitetura, das novas técnicas

pedagógicas que estavam sendo introduzidas, como é que o senhor vê a sua obra, o IEP dentro

desse movimento de renovação?

Arquiteto Marcos Domingues: Eu acho que... Todos os estudantes e os interessados no

desenvolvimento de um trabalho em Recife estiveram ligados a esse movimento moderno,

não só na arquitetura, mas na pintura, na produção literária, na poesia, todos eles estiveram

ligados a esses movimentos de renovação do comportamento do artista.

Flávio Brayner: O senhor teve alguma relação com o MCP, o Movimento de Cultura

Popular?

Arquiteto Marcos Domingues: Não, eu não tive uma relação direta com o movimento de

cultura popular não. Não.

Flávio Brayner: Houve um projeto também de residências, de casas populares, o senhor e

lembra-se desse projeto? De habitações populares, há um artigo seu na folha da manhã a

168

respeito de habitações populares. Eu acho que, não sei se você lembra na época de Agamenon

Magalhães.

Arquiteto Marcos Domingues: Nós não chegamos a projetar essas casas, mas nós tivemos

algumas idéias sobre o comportamento de como resolver o problema da habitação popular,

que não era simplesmente construir a casa, era um complexo urbanístico em que a casa estava

inserida, em que haveria a habitação e mais uns serviços complementares de saúde, educação,

de recreação, etc. Quer dizer, a idéia anterior era simplesmente a construção da casa, que é

prejudicial a convivência e a formação da população mais jovens que habita esses conjuntos

populares, porque poderia se criar um bairro, população de renda baixa, de habitação popular

mas um bairro completo do ponto de vista dos serviços que enriquecem a vida comunitária e

isso não acontecia, como hoje em alguns pontos não acontecem ainda, eu tenho visto

recentemente grandes conjuntos de habitação mas pobres do ponto de vista do interesse da

comunidade.

Talita Maria: Nos jornais nós observamos que a discussão da construção da sede do IEP é

antiga, vem de outros governos, o senhor lembra-se disso?

Arquiteto Marcos Domingues: Não, acho que eu não tenho essa publicação não.

Talita Maria: E existiam outros colégios parecidos, porque nos jornais eles dizem que é

inovador o IEP, inovador, moderno, tinham outros colégios com essa mesma arquitetura ou

realmente era uma coisa diferenciada?

Arquiteto Marcos Domingues: É inovador, inovador... Do ponto de vista construtivo, da

construção propriamente, porque inovador agente sabe que é o Ginásio Pernambucano e

outros colégios, o IEP ele reflete a preocupação de novas idéias, preocupação de novas idéias

do ponto de vista da arquitetura, a janela corrida, a ventilação das salas de aula, da integração

de diferentes níveis de educação...

Flávio Brayner: Ao mesmo tempo havia a integração desse espaço arquitetônico ao conjunto

da cidade?

Arquiteto Marcos Domingues: O IEP se pensava que teria uma influência sobre uma área

maior da cidade, os bairros de Santo Amaro, os estudantes... Não era só uma educação

propriamente dita, fechada, mas uma educação ampla, rica, do ponto de vista da convivência

social.

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Talita Maria: Em algumas notícias de jornais fala-se que o IEP, O IEP e o Colégio Estadual

eram os únicos estabelecimentos de ensino gratuito, é isso mesmo, só eram esses dois?

Arquiteto Marcos Domingues: ... A escola era de formação de professores desde o jardim de

infância até as salas de aula, por exemplo..., no caso da escola de aplicação, os estudantes que

estavam se preparando para o magistério freqüentavam as aulas normais, mas através de um

pé direito duplo, tinha um vazio que os estudantes, pra não perturbar o funcionamento da

escola, ficavam em cima, como se fosse um, mas eles ficavam ali em cima olhando e os

estudantes não percebiam a presença dos estudantes, estagiários, a escola se desenvolvia

normalmente sem interrupção dos estudantes do magistério...

Flávio Brayner: Diga-me só uma coisa, do ponto de vista do mobiliário escolar houve a sua

participação na mudança do mobiliário ou foi à secretaria de educação?

Arquiteto Marcos Domingues: Nós sugerimos.

Flávio Brayner: Há! Você sugeriu?

Arquiteto Marcos Domingues: Muita coisa relativa ao mobiliário escolar, porque isso era

importante em relação ao conforto dos estudantes, o conforto dos estudantes.

Flávio Brayner: Mas a questão do conforto ou mais a da questão da relação pedagógica?

Tinha relação com as questões pedagógicas e com o conforto físico para evitar cansaço, então

nós sugerimos algumas coisas em relação a esse mobiliário.

Talita Maria: Agente quando olha o edital o concurso vê que o presidente da comissão do

concurso era Aderbal Jurema.

Arquiteto Marcos Domingues: Aderbal Jurema era secretario.

Talita Maria: Ele teve uma participação efetiva, teve alguma reunião com vocês dizendo o

que queria do projeto?

Arquiteto Marcos Domingues: Não, acho que nós tivemos certa liberdade sem interferências

dos funcionários da secretaria de educação, agora tivemos contato com professores do estado,

por exemplo, o jardim de infância que é uma solução diferente do que vinha sendo feito até

ali, nós tínhamos as salas de aulas ao ar livre pro jardim, o pátio interno onde os estudantes

poderiam se reunir e uma área coberta de recreação e lazer, os estudantes além disso, essa

relação com o parque 13 de maio era importante eles poderiam também freqüentar o parque

13 de maio como uma forma de educação, agora ta mais fechado por causa da questão de

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segurança, hoje ta mais fechado mas as portas por exemplo, das salas de aula, do jardim de

infância elas abriam totalmente, ficavam abertas pro jardim,as salas de aula eram ao ar livre.

Talita Maria: O seu teve influencia de Richard Neutra?

Arquiteto Marcos Domingues: Neutra fazia parte do movimento moderno da arquitetura,

Richard Neutra, porque como eu havia dito, o que os professores de arquitetura assimilaram e

os estudantes de arquitetura foram muito importantes na formação dos arquitetos nessa fase.

Talita Maria: Em algumas partes dos jornais, agente vê que teve uma discussão, inicialmente

a comissão foi formada sem um arquiteto,tinha engenheiro, tinha Aderbal Jurema mas não

tinha um arquiteto e ai o IAB se posiciona em relação a isso dizendo que tem que ter um

arquiteto e ai Gilberto Freire fala numa coluna que realmente tem que ter um arquiteto, um

Lúcio Costa, um Niemeyer e ai os arquitetos novamente se posicionam e afirmam que tem

muitos arquitetos que podem construir o prédio e ai dar-se o concurso, O senhor lembra dessa

discussão?

Arquiteto Marcos Domingues: Não, não me lembro de bem dessa discussão não, faz muito

tempo (risos).

Flávio Brayner: O senhor foi professor da Faculdade de arquitetura até que ano?

Arquiteto Marcos Domingues: Até 87, eu fui assistente de Evaldo Coutinho, quando eu

terminei o curso, eu terminei o curso em 55 e Delfim Amorim tinha chegado de Portugal, e

me convidou para ser assistente dele da cadeira de composições de arquitetura ai eu disse a

ele que eu tinha sido estudante mas não tinha muita experiência com projeto ainda, eu não

gostaria de entrar como assistente dessa cadeira para ensinar os alunos sem nenhuma

experiência profissional ai não aceitei o convite , em 59 Evaldo Coutinho que tinha sido meu

professor e que admirava muito como professor, como pessoa, como cabeça pensante, então

Evaldo Coutinho me convidou e eu aceitei ficar como assistente dele ai eu ficava como

assistente de Evaldo Coutinho, ele dava a parte teórica e eu dava a parte prática da estética da

arquitetura até que em 71 ele se aposentou e eu assumi a cadeira dele, até 87. Eu era

professor de arquitetura, mas eu era arquiteto da prefeitura do Recife ao mesmo tempo, eu

tinha um regime de 40 horas na prefeitura e um regime de 20 horas na Universidade.

Flávio Brayner: Foi Pró- reitor também não foi?

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Arquiteto Marcos Domingues: Fui Pró - reitor de administração pouco tempo, logo depois

Geraldo Lafayette perguntou se eu preferia trabalhar na Pró-reitoria de planejamento, eu

preferia.

Talita Maria: Foi secretário do IAB?

Arquiteto Marcos Domingues: Eu fui presidente do IAB, cheguei a ser presidente do IAB.

Talita Maria: No edital colocam-se algumas delimitações como: a obra mais barata, a

delimitação do terreno, o senhor fez na íntegra o seu projeto ou ele sofreu alguma

modificação devido às questões financeiras?

Arquiteto Marcos Domingues: O IEP eles não estabeleceram taxa de ocupação, área de

construção, simplesmente eles determinaram as dimensões da escola, número de alunos que a

escola deveria abrigar no jardim de infância e nos outros segmentos do Instituto, mas eles não

chegaram a definir a área, qual espaço deveria ser construído, isso ficou a critério dos

arquitetos.

Talita Maria: O senhor estava presente na inauguração do prédio?

Arquiteto Marcos Domingues: Hum? Tava presente.

Talita Maria: O senhor lembra-se de políticos, religiosos?

Arquiteto Marcos Domingues: vagamente. Não lembro exatamente não.

Arquiteto Marcos Domingues: O que me entristeceu um pouco é que o edifício, o conjunto

dos edifícios do Instituto de Educação não foi construído, não foi todo construído de acordo o

projeto elaborado, nós tínhamos entre a escola de aplicação e os outros blocos um auditório e

uma concha acústica voltada para o Parque 13 de maio que iria dar oportunidade a grandes

espetáculos ao ar livre, nesse espaço foi construída aquela... Biblioteca estadual que foi um

prejuízo muito grande para o conjunto do edifício e para o programa que estava em

andamento que seria excelente, que seria um auditório com concha acústica, essa biblioteca

poderia ter sido construída em outro local... Depois eles fizeram inclusive um recreio coberto

eles integraram, completamente desintegrado, sem nenhuma integração com o edifício.

Talita Maria: O senhor lembra-se do público do Ana Rosa depois da inauguração, nos

jornais fala-se num colégio aberto para a toda população, realmente ele era pra toda

população, era para os mais abastados?

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Arquiteto Marcos Domingues: Eu acho que era pra todo mundo eu não sei como era a

questão dos estudantes, dos professores, não sei como o estado resolvia essa questão dos

professores.

Talita Maria: O senhor lembra-se da antiga sede do IEP?

Arquiteto Marcos Domingues: Não, eu não lembro, porque faz tanto tempo né?

Talita Maria: Havia contatos dos arquitetos com os professores?

Arquiteto Marcos Domingues: Os contatos não foram muito frequentes, mas havia sim,

principalmente em relação aos espaços, conforto dos alunos, preocupação com a acústica das

salas de aula.

Talita Maria: O senhor ficou satisfeito com o jardim de infância?

Arquiteto Marcos Domingues: O Jardim de infância foi exatamente o que nós queríamos,

houve algumas pessoas que tentaram interferir...

Talita Maria: Quem são essas pessoas?

Arquiteto Marcos Domingues: Pessoas do Instituto mesmo e os construtores, o pessoal da

parte de projetos complementares, estrutura.

Talita Maria: O que eles queriam?

Arquiteto Marcos Domingues: Queriam facilitar. Economizar (risos).

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ANEXO C- PLANTAS DO JARDIM DE INFÂNCIA ANA ROSA

FALCÃO E DO GINÁSIO PERNAMBUCANO

ILUSTRAÇÃO 1- Planta de locação e coberta

FONTE: Secretaria de Educação de Pernambuco

ILUSTRAÇÃO 2- Planta baixa

FONTE: Secretaria de Educação de Pernambuco

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11

ILUSTRAÇÃO 3- Planta da situação, locação e coberta

FONTE: Secretaria de Educação de Pernambuco

12

ILUSTRAÇÃO 4- Planta da situação existente- pavimento térreo

FONTE: Secretaria de Educação de Pernambuco

13

ILUSTRAÇÃO 5- Planta da situação existente- pavimento superior

FONTE: Secretaria de Educação de Pernambuco