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Informativo do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz PÁGINA 19 - Pesquisador do IOC/ Fiocruz faz balanço da conferência da Rede Mundial de Academias de Ciências PÁGINA 5 - Ministra da Saúde do Haiti reforça Cooperação Tripartite em visita à Fundação MARÇO 2013 6 ESPECIAL COOPERAÇÃO FIOCRUZ – FRANÇA (PARTE 2) PÁGINA 9 - Acordo com Universidade de Princeton atrai estudantes americanos à Fundação Fiocruz e Instituto Pasteur: cooperações históricas e exitosas Thiago Oliveira (Cris) s relações entre a Fiocruz e ins- titutos de saúde franceses fo- ram iniciadas há mais de um século, por meio do Instituto Pasteur, através da atuação internaci- onal de Oswaldo Cruz. Fazendo uso dos meios e ensinamentos adquiridos na instituição francesa, na qual acabara de se especializar em microbiologia, o jovem médico, de volta ao Brasil, deu início a uma campanha de desratiza- ção e fumigação que conseguiu exter- minar a epidemia de peste bubônica que na época assolava o país. Inspira- do no Instituto Pasteur, Oswaldo Cruz criou o Instituto de Medicina Experi- mental de Manguinhos, base do que hoje é o IOC/Fiocruz. A cooperação entre a Fundação e o Pasteur foi formalizada somente em 1991 e, desde então, tem rendido bons frutos. Um deles foi a criação do Cen- tro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) idealizado em 2003 pelo então presidente da Fiocruz e atual co- ordenador do Cris/Fiocruz, Paulo Buss, após visita ao instituto francês. Para dar um impulso em suas relações de ami- zade, as duas instituições assinaram, em 2004, um novo acordo bilateral que pre- vê o intercâmbio de pessoal, a realiza- ção conjunta de programas de pesquisa e seminários bilaterais, além da troca de experiências e de informações em publicações especializadas. risco de transmissão do CHIKV na Amé- rica Latina através da avaliação e com- paração de competência vetorial de Aedes aegypti e Aedes albopictus, co- letados em todo o continente america- no, para diferentes cepas de CHIKV. “Como o vírus da dengue é intensamen- te transmitido por Aedes aegypti em várias partes da América Latina, avaliei o desempenho do CHIKV para infectar e ser transmitido por Aedes aegypti in- fectado com dengue, reproduzindo o caso da introdução de CHIKV num con- texto de circulação de dengue”, expli- ca o pesquisador. Os resultados ainda estão sob análise. Em 2009, a Fundação reno- vou e ampliou seu convênio bilate- ral de cooperação com o instituto. O objetivo foi fomentar parcerias e colaborações para pesquisas cientí- ficas, treinamentos e promoção de serviços em saúde, com a meta de combater as principais doenças in- fecciosas que atingem as populações mundiais. O coordenador-geral do Cris, Paulo Buss, lembra que o acor- do firmado levou dois anos para ser fechado e abre numerosas possibili- dades para a instituição. “A parce- ria põe a Fiocruz em contato direto com institutos europeus e de outros continentes, trazendo a grande van- tagem de manter um relacionamen- to estreito com 32 congêneres de diversos países. Entre eles estão na- ções tropicais, que compartilham com o Brasil problemas comuns e com os quais podemos trocar informações valio- sas em vigilância epidemiológica, contro- le de vetores, entre outros temas”, avalia. Como parte deste acordo, o pes- quisador Ricardo Lourenço, do IOC/Fio- cruz, foi convidado pela coordenadora do Laboratório de Arbovírus e Insetos Vetores do Pasteur, Anna-Bella Failloux, para realizar estudos sobre o vírus Chi- kungunya (CHIKV), transmitido aos se- res humanos por mosquitos Aedes albopictus e Aedes aegypti, o mesmo transmissor da dengue. O projeto, reali- zado entre março de 2012 e janeiro de 2013, teve como objetivo determinar o A O então ministro da Saúde e da Proteção Social da França, Philippe Douste-Blazy (à dir.), chega à Fiocruz para assinatura de acordo entre a Fundação e o Instituto Pasteur, em 2004. Foto: Peter Ilicciev

ESPECIAL COOPERAÇÃO FIOCRUZ – FRANÇA (PARTE 2) … · a Escola de Altos Estudos em Saúde Pública da França (EHESP, na sigla em francês) remete ao final da década de 1990,

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Informativo do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz

PÁGINA 19 - Pesquisador do IOC/Fiocruz faz balanço da conferênciada Rede Mundial de Academias deCiências

PÁGINA 5 - Ministra da Saúde doHaiti reforça Cooperação Tripartiteem visita à Fundação

MARÇO

2013

Nº6

ESPECIAL COOPERAÇÃO FIOCRUZ – FRANÇA (PARTE 2)

PÁGINA 9 - Acordo comUniversidade de Princeton atraiestudantes americanos à Fundação

Fiocruz e Instituto Pasteur:cooperações históricas e exitosas

Thiago Oliveira (Cris)

s relações entre a Fiocruz e ins-titutos de saúde franceses fo-ram iniciadas há mais de umséculo, por meio do Instituto

Pasteur, através da atuação internaci-onal de Oswaldo Cruz. Fazendo uso dosmeios e ensinamentos adquiridos nainstituição francesa, na qual acabarade se especializar em microbiologia, ojovem médico, de volta ao Brasil, deuinício a uma campanha de desratiza-ção e fumigação que conseguiu exter-minar a epidemia de peste bubônicaque na época assolava o país. Inspira-do no Instituto Pasteur, Oswaldo Cruzcriou o Instituto de Medicina Experi-mental de Manguinhos, base do quehoje é o IOC/Fiocruz.

A cooperação entre a Fundaçãoe o Pasteur foi formalizada somente em1991 e, desde então, tem rendido bonsfrutos. Um deles foi a criação do Cen-tro de Desenvolvimento Tecnológico emSaúde (CDTS) idealizado em 2003 peloentão presidente da Fiocruz e atual co-ordenador do Cris/Fiocruz, Paulo Buss,após visita ao instituto francês. Para darum impulso em suas relações de ami-zade, as duas instituições assinaram, em2004, um novo acordo bilateral que pre-vê o intercâmbio de pessoal, a realiza-ção conjunta de programas de pesquisae seminários bilaterais, além da trocade experiências e de informações empublicações especializadas.

risco de transmissão do CHIKV na Amé-rica Latina através da avaliação e com-paração de competência vetorial deAedes aegypti e Aedes albopictus, co-letados em todo o continente america-no, para diferentes cepas de CHIKV.“Como o vírus da dengue é intensamen-te transmitido por Aedes aegypti emvárias partes da América Latina, avalieio desempenho do CHIKV para infectare ser transmitido por Aedes aegypti in-fectado com dengue, reproduzindo ocaso da introdução de CHIKV num con-texto de circulação de dengue”, expli-ca o pesquisador. Os resultados aindaestão sob análise.

Em 2009, a Fundação reno-vou e ampliou seu convênio bilate-ral de cooperação com o instituto.O objetivo foi fomentar parcerias ecolaborações para pesquisas cientí-ficas, treinamentos e promoção deserviços em saúde, com a meta decombater as principais doenças in-fecciosas que atingem as populaçõesmundiais. O coordenador-geral doCris, Paulo Buss, lembra que o acor-do firmado levou dois anos para serfechado e abre numerosas possibili-dades para a instituição. “A parce-ria põe a Fiocruz em contato diretocom institutos europeus e de outroscontinentes, trazendo a grande van-tagem de manter um relacionamen-to estreito com 32 congêneres dediversos países. Entre eles estão na-ções tropicais, que compartilhamcom o Brasil problemas comuns e com osquais podemos trocar informações valio-sas em vigilância epidemiológica, contro-le de vetores, entre outros temas”, avalia.

Como parte deste acordo, o pes-quisador Ricardo Lourenço, do IOC/Fio-cruz, foi convidado pela coordenadorado Laboratório de Arbovírus e InsetosVetores do Pasteur, Anna-Bella Failloux,para realizar estudos sobre o vírus Chi-kungunya (CHIKV), transmitido aos se-res humanos por mosquitos Aedesalbopictus e Aedes aegypti, o mesmotransmissor da dengue. O projeto, reali-zado entre março de 2012 e janeiro de2013, teve como objetivo determinar o

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O então ministro da Saúde e da ProteçãoSocial da França, Philippe Douste-Blazy(à dir.), chega à Fiocruz para assinaturade acordo entre a Fundação e o InstitutoPasteur, em 2004. Foto: Peter Ilicciev

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ESPECIAL COOPERAÇÃO FIOCRUZ – FRANÇA (PARTE 2)

Thiago Oliveira - Cris

Centro de Pesquisas AggeuMagalhães (Fiocruz-PE) atual-mente conta com um importan-te apoio da França na luta

contra o diabetes. Uma pesquisadorado Instituto de Pesquisa para o Desen-volvimento (Institut de Recherche pourLe Développement – IRD, em francês),Annick Fontbonne, é atualmente co-laboradora no centro, atuando no pro-jeto Implementação e Avaliação deuma Intervenção no Modelo de Cui-dados Crônicos Direcionados aos Dia-béticos na ESF: Mais Efetividade eEficiência para o SUS (Interdia). O ob-jetivo é aprimorar as estratégias deacompanhamento dado aos portado-res do diabetes mellitus tipo 2, dentroda Estratégia Saúde da Família (ESF),propondo a adoção de uma nova me-todologia com ações e medidas maiseficientes e de baixo custo.

Segundo o diretor da FiocruzPernambuco e coordenador do Inter-dia, Eduardo Freese, o projeto é com-posto por três subprojetos. O primeiroconsiste na definição, implantação eavaliação de intervenção junto aos di-abéticos no estado. O modelo de in-tervenção escolhido para avaliação éo Qualidia - Educação em saúde parao autocuidado e avaliação contínua dequalidade de atenção ao diabetes noBrasil. A iniciativa é do Ministério daSaúde, com o objetivo de implantar oModelo de Cuidados Crônicos na ESF.“O Qualidia já aconteceu, de junho de2011 a junho de 2012, nos municípiosde Recife, São Lourenço de Mata e Ita-maracá, em Pernambuco, e em outrosmunicípios nos estados do Rio de Ja-neiro e Santa Catarina. No início deabril avaliaremos se a intervençãomudou os processos de trabalho na ESFe o controle dos diabéticos em Pernam-buco”, revelou Freese.

O segundo subprojeto identifica-rá a capacidade instalada de laborató-rios pernambucanos habilitados arealizar o teste de hemoglobina glica-da, que aponta a eficácia do controleglicêmico em um período anterior de90 dias. “Também será estudada a pos-sibilidade de uso de um equipamentoportátil, que emite o resultado em dezminutos, por equipes da ESF, para aaplicação desse teste. O custo econô-mico e a efetividade das diversas estra-

tégias de assistência dada ao portadordo diabetes tipo 2, na atenção primá-ria, será analisada no terceiro subproje-to”, explicou o coordenador. O segundoe terceiro subjprojetos estão em anda-mento. Iniciado em 2011, o Interdia temtrês anos para ser concluído, sendo fi-nanciado pelo Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnoló-gico (CNPq). Segundo Freese, a previ-são é de que o relatório final sejaentregue ao CNPq em dezembro desteano. Também participam iniciativa asuniversidades federais de Pernambuco,da Paraíba, de Goiás e do Rio Grandedo Sul, a Universidade de Pernambucoe o Instituto de Medicina Integral Pro-fessor Fernando Figueira (IMIP).

Outra ação conjunta da Funda-ção com o IRD foi o I Seminário Fran-co-Brasileiro sobre Saúde Ambiental,ocorrido em junho de 2011. O eventofoi sediado pela Fiocruz Brasília e pro-movido pela Embaixada da França comapoio da Opas/OMS, Unesco e Unicef.Com o tema Água, Saúde e Desen-volvimento, o seminário abordou du-rante três dias questões relacionadasà água e à saúde no âmbito do Direi-to, além de propor reflexões sobre ainteração entre água, saúde humanae o desenvolvimento na contextualiza-ção das metas dos Objetivos de De-senvolvimento do Milênio (ODM) e doFórum Mundial sobre Água. O eventoteve como eixos principais questõescomo as consequências da poluiçãodos meios aquáticos, a persistência datransmissão de doenças como malária,dengue e esquistossomose, a elevaçãoda mortalidade devido a doenças liga-das à água (hepatite, febre tifoide, di-arreia); a análise das dinâmicas e dosmeios de transmissão dessas doenças

e as consequências sobre a qualidadede vida das populações.

A cooperação entre a Fiocruz e oIRD não para por aí. Outro fruto dessaparceria, com a participação de outrasinstituições francesas, é o projeto RELAIS(Sistema de Informação Regional da Pai-sagem Epidemiológica na Amazônia),que vai construir um quadro científico in-ternacional para o estudo da saúde am-biental na Amazônia, além de produzirnovos conhecimentos científicos e asso-ciá-los aos já existentes que contém da-dos ambientais, sociais e de saúde. Osresultados vão servir de base para aspolíticas públicas de saúde e ambientedos países amazônicos. A iniciativa, apro-vada em maio do ano passado, está sen-do coordenada por Denise Pires DeCarvalho, professora da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (UFRJ), e por Lau-rent Durieux, pesquisador do IRD. Ocoordenador do Centro Colaborador Fi-ocruz pela OMS em Saúde Ambiental,André Fenner, destaca a importância danecessidade de informações sobre osefeitos das mudanças ambientais na saú-de para a avaliação da tomada de deci-sões e para o desenvolvimento deestratégias de prevenção eficazes. “Issorequer a obtenção de dados necessári-os, a organização de dados e a análiseespacial dos resultados”, afirma.

Ele explica que a meta desta ati-vidade é entender não só os impactosdas alterações ambientais em larga es-cala, mas também como as mudançasno ambiente podem influenciar ou afe-tar diretamente a saúde humana. “Comesse estudo, esperamos obter uma me-todologia de avaliação de ambiente esaúde e possíveis intervenções de saúdeambiental, além de um indicador de de-senvolvimento sobre saúde ambiental,sustentabilidade e vulnerabilidade e o de-senvolvimento de um banco de dadoscontendo todos os resultados referenci-ados espacialmente”, disse Fenner. Oprojeto ainda prevê a criação de umquadro de Regimes Internacionais emSaúde e Ambiente na Região Amazôni-ca (ERISAA), que servirá para identificarcomo se implementam acordos e con-venções internacionais nos países ama-zônicos. Participam do projeto RELAIS ospesquisadores Christovam Barcellos, como Projeto do Observatorium de Clima eSaúde, e Carlos Machado de Freitas, coma proposta de indicadores de saúde eambiente para o bioma amazônico.

Fiocruz e IRD: ações conjuntas no combate ao diabetes

A pesquisadora do IRD, AnnickFontbonne, em uma apresentação sobreo Interdia. Foto: Fiocruz Pernambuco

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ESPECIAL COOPERAÇÃO FIOCRUZ – FRANÇA (PARTE 2)

Thiago Oliveira – Cris com a colabo-ração de Isabela Schincariol -Ensp

cooperação entre a Fiocruz ea Escola de Altos Estudos emSaúde Pública da França(EHESP, na sigla em francês)

remete ao final da década de 1990,quando foi iniciado o Projeto de Acre-ditação Pedagógica de Formação deEspecialistas em Saúde Pública. A ini-ciativa, pioneira no país, foi firmadapor meio de um convênio de coopera-ção técnica entre a instituição france-sa e a Ensp/Fiocruz. O projeto foilançado durante o 10º Congresso Bra-sileiro de Saúde Coletiva (Abrascão2012). A atividade marcou a assinatu-ra do termo de adesão à acreditação– fruto do trabalho da Rede de Escolase Centros Formadores em Saúde Pú-blica. A Rede possui 45 escolas e cen-tros formadores em todas as regiõesdo Brasil com a missão de promover ofortalecimento das escolas e centros for-madores em saúde pública medianteestratégias político-pedagógicas deeducação e produção de conhecimen-to para o SUS, visando à melhoria dasaúde e à qualidade de vida da popu-lação brasileira.

A responsável pelo projeto noBrasil e coordenadora do Grupo de Tra-balho de Acreditação, Rosa Souza,explica que a acreditação pedagógicaé um procedimento de verificação ex-terna e uma forma pactuada de ge-renciamento coletivo da qualidade.“Este projeto se justifica pelo aumen-to vertiginoso dos cursos de pós-gra-duação a margem de qualquer marcoregulatório e pela importância que oscursos de saúde pública representampara o SUS”, explica. Segundo ela,desde o seu início, o projeto contoucom a consultoria especializada de pro-fissionais da EHESP e com a participa-ção ativa da Associação Brasileira deSaúde Coletiva (Abrasco) e de pesqui-sadores da Ensp. Esse processo foi in-terrompido à época e retomado naspautas da Rede de Escola e CentrosFormadores em Saúde Pública. Em2011, foi criado o grupo de trabalho,responsável pela atualização, testageme revisão do Manual de AcreditaçãoPedagógica elaborado na experiência

anterior. Nesta nova fase, revelou Rosa,“estão previstos o desenvolvimento deum curso de formação de acreditado-res, a criação de uma estrutura de go-vernança e a implementação doSistema de Acreditação Pedagógica”.

Para fortalecer as ações da ini-ciativa, uma equipe da secretaria exe-cutiva da Rede de Escolas e CentrosFormadores em Saúde Pública visitoua EHESP em fevereiro desse ano. Avisita pretendeu estruturar as bases decooperação entre a instituição francesae a Ensp/Fiocruz, por meio da Redede Escolas e Centros Formadores,com vistas à organização e implemen-tação de uma agência acreditadorade cursos lato sensu em saúde públi-ca. Segundo a coordenadora da se-cretaria executiva da Rede, TâniaCeleste Nunes, durante esse ano se-rão estruturadas algumas vivências domodelo de acreditação pedagógicaque vem sendo proposto.

Cooperaçãono campo degestão hospitalar

Em novembro de 2011 foi firma-do um novo acordo de cooperação in-ternacional entre a Ensp e a EHESP,no campo da gestão hospitalar. A pro-posta é apoiar e colaborar com o IFF/Fiocruz e o Ipec/Fiocruz na implemen-tação do Instituto Nacional de Saúdeda Mulher, do Adolescente e da Cri-ança e do Instituto Nacional de Infec-tologia. Em junho de 2012, umadelegação de especialistas participoude uma oficina de trabalho com diri-

gentes e pesquisadores da Ensp, do IFFe do Ipec, além de representantes daPresidência da Fiocruz e do Ministérioda Saúde com o objetivo de debatertemas centrais relacionados ao dese-nho e à adoção de ações para essatransformação.

Com o objetivo de trabalharáreas de interesse comum, trocar ex-periências e fortalecer expertises, aEnsp recebeu, no início de 2012, maisuma aluna por meio da cooperaçãoestabelecida com a EHESP. AstridBeudet Astrid, que passou dois me-ses divididos entre a Escola de Go-verno em Saúde Pública e a iniciativaTerritório Integrado de Atenção àSaúde (Teias-Escola Manguinhos), éa terceira profissional que realiza esteintercâmbio institucional e sua vindaao Brasil faz parte de uma formaçãona área de gestão hospitalar neces-sária para assumir cargos públicosneste campo na França. “Antes deestar aqui, acreditava que o sistemade saúde brasileiro era semelhanteao sistema de saúde do meu país,pois a constituição da França, assimcomo a do Brasil, preconiza a saúdecomo um dever do estado e prevêque cada cidadão tenha direito a ela.Porém, percebi que existem muitasparticularidades que nos diferenciame uma delas é o forte desenvolvimen-to do setor privado”, conta.

Dando continuidade ao projeto decooperação técnica entre a Ensp e aEHESP, a Fiocruz recebeu uma comitivafrancesa em janeiro de 2013. Na pautaassuntos como a análise das experiênci-as adquiridas nas áreas da gestão hospi-talar e do cuidado; a discussão deestratégias pedagógicas para um futuroprograma de formação na EHESP; a re-organização e expansão da oferta deserviços dos novos institutos nacionais deInfectologia e da Mulher e da Criança;e a promoção do intercâmbio de profes-sores e alunos. A delegação francesasugeriu que o próximo encontro aconte-ça em maio de 2013, junto com a Con-ferência da OMS, que reunirá diversasautoridades mundiais. A delegação semostrou especialmente interessada naexpertise da Ensp na reorganização daatenção básica brasileira e no exemplodo Teias-Escola Manguinhos.

Parceria para acreditação pedagógicade cursos em saúde pública

AOlivier Ray, conselheiro internacional daMinistra da Saúde da França, e CyrilCosme, do Ministério dos Assuntos Sociaise da Saúde da França. Foto: Virgínia Damas

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ESPECIAL COOPERAÇÃO FIOCRUZ – FRANÇA (PARTE 2)

Thiago Oliveira – Cris e DanielleMonteiro - CCS

tualmente há dois projetos re-alizados em parceria entre la-boratórios da Fiocruz elaboratórios franceses, finan-

ciados pela Agência Nacional da Pes-quisa sobre AIDS (ANRS) da França.Um deles é o projeto de pesquisa davice-diretora do IOC/Fiocruz, MarizaMorgado, intitulado Caracterização daimunidade inata e biomarcadores emdoentes co-infectados com TB e HIV.“A proposta é determinar o envolvi-mento da resposta imune inata, es-pecificamente respostas de células NK,e biomarcadores associados, na evo-lução da infecção pelo HIV em paci-entes com tuberculose submetidos àHAART (Terapia Antirretroviral Alta-mente Ativa), bem como na iniciali-zação das reações inflamatóriasassociadas à síndrome de reconstitui-ção imunológica (IRIS)”, afirma Mor-gado. O projeto ainda está no aguardode autorização para ser iniciado.

A outra iniciativa com participa-ção da ANRS consiste na busca pornovas opções de tratamento dirigido aportadores de HIV com tuberculose. Oprojeto tem participação do Ipec/Fio-cruz, em parceria também com o Mi-nistério da Saúde e centros de pesquisano Brasil e na França – entre eles, oHospital Sanatório Partenon, o GrupoHospitalar Conceição, o Centro de Re-ferência de Treinamento de São Pau-lo, a Universidade Federal da Bahia, oHospital de Nova Iguaçu e o HospitalSaint Louis. A tuberculose é a princi-pal causa de óbito entre soropositivose, assim como a Aids, atinge especial-mente países em desenvolvimento,onde cresce o número de pacientes comas duas doenças.

A Rifampicina é um dos com-ponentes básicos utilizados no comba-te à tuberculose, porém, interage commuitos dos antirretrovirais usados paratratar a infecção pelo HIV, o que podegerar dificuldades no tratamento de co-infectados. O medicamento Efavirenz,em combinação com os fármacos Te-nofovir (TDF) e Lamivudina (3TC), com-põe o esquema antirretroviral utilizado

no tratamento inicial desses pacientes.Entretanto, ainda não há um esquemaalternativo voltado a indivíduos comintolerância ao Efavirenz e a mulheresem início de gestação. Em busca dealternativas para essa parcela da po-pulação, os pesquisadores do projetotestaram um esquema antirretroviralcontendo o medicamento Raltegravir,pertencente à classe de fármacos cha-mada Inibidores de Integrase, compa-rando-o ao que contém Efavirenz. Osresultados foram promissores: o esque-ma com o inibidor mostrou eficácia esegurança semelhantes.

Segundo a infectologista doIpec/Fiocruz e coordenadora do estu-do no Brasil, Beatriz Grinsztejn, os re-sultados apontam para a possibilidadedo uso do inibidor como alternativa ao

Luta contra tuberculose une Brasil e França

Efavirenz. “O Raltegravir tem um bomperfil de tolerância e é fácil de ser to-mado”, afirma. O estudo, que está emfase dois, envolveu 155 soropositivosem tratamento para tuberculose à basede Rifampicina. Os participantes foramdistribuídos em três grupos, sendo queo primeiro recebeu uma dose padrãode Raltegravir (400 mg duas vezes aodia), o segundo uma dose dupla dofármaco e o terceiro a dose usual deEfavirenz. Os três grupos participaramdos testes por 48 semanas e recebe-ram concomitantemente o tratamentopara tuberculose. Para Grinsztejn, osachados indicam a realização de umestudo maior, de fase três, para queresultados definitivos possam ser alcan-çados. “Nossa expectativa para as pró-ximas etapas é otimista”, declara.

O estudo desenvolvido pela Fiocruzem parceria com a ANRS apontoupara um possível esquemaalternativo de tratamento voltado aportadores de HIV com tuberculose.Foto: Arquivo CCS

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destaques

Danielle Monteiro - CCS

Fiocruz recebeu, em 26 demarço, a visita da ministra daSaúde do Haiti, Florence Du-perval Guillaume, e de repre-

sentantes do Ministério da Saúde deCuba. Coordenado pela Assessoria In-ternacional do Ministério da Saúde emparceria com o Cris/Fiocruz, o encon-tro integra a agenda da CooperaçãoTripartite Brasil-Cuba-Haiti, maior pro-jeto de cooperação internacional bra-sileiro. A iniciativa foi criada em proldo fortalecimento do sistema de saú-de haitiano e tem a Fiocruz entre suasparticipantes. “A Fundação é um bra-ço executivo nesta cooperação e temdado uma ajuda muito significativana implementação do acordo de co-operação do Brasil com o Haiti. Essaparceria busca soluções que enten-dem nossas necessidades e levam emconsideração nossa cultura e costu-mes, se constituindo como uma coo-peração sul-sul muito eficiente”,declarou a ministra.

No encontro, que contou coma presença do presidente da Fiocruz,Paulo Gadelha, e de outros gestoresda Fundação, foi feita uma apresen-tação das diversas ações da coopera-ção coordenadas pela Fiocruz, que sãoexecutadas a partir de quatro eixos:epidemiologia; comunicação em saú-de; organização dos serviços de saú-de haitianos; e fortalecimento dacapacidade operacional dos laborató-rios de saúde pública do Ministério daSaúde e da População do Haiti (MSPP)além da capacitação dos seus recur-sos humanos em áreas prioritárias.

Entre as iniciativas da cooperaçãodestacadas no encontro, está a cons-trução dos Espaços de Educação e In-formação em Saúde (EEIS) – que serãoconstruídos para análise sistemática dasituação de saúde da população, pla-nejamento e execução de pesquisasoperacionais e elaboração de políti-cas públicas locais – e o curso de epi-demiologia dirigido a profissionais desaúde dos dez departamentos sanitá-rios do Haiti, que vai dar início a seuquarto módulo no final de abril.

Outra ação mencionada foi aoficina de rádios comunitárias dirigidaa radialistas haitianos, promovida pelaFiocruz em parceria com a DPSPE/MSPP, no ano passado, para incenti-var a promoção da saúde por meiodesses principais veículos de comuni-cação do Haiti. “Nosso papel nesta ini-ciativa não foi repassar conhecimento,mas sim atuarmos como apoiadores earticuladores, concedendo espaço paraque o MSPP fizesse o que sempre de-sejou. Essa foi uma experiência muitopositiva de troca e construção de co-nhecimento”, avaliou a coordenadorado projeto, Márcia Correa, do CanalSaúde/Fiocruz. Embora tenha obtidoêxito, a iniciativa, no entanto, aindatem alguns desafios para enfrentar,segundo a ministra da saúde haitiana.“Precisamos trabalhar para que os jor-nalistas adotem uma postura que nãoseja exclusivamente crítica e comecema contribuir para a veiculação de men-sagens positivas sobre saúde em nossopaís”, alertou.

O coordenador do Cris/Fiocruz,Paulo Buss, destacou que a coopera-ção em saúde no Haiti é uma das par-cerias mais importantes lideradas pelogoverno brasileiro e está na lista demissões da Fiocruz. “Executaremoscom enorme responsabilidade o com-promisso que assumirmos nesta parce-ria, em respeito à história do Haiti e àsdificuldades que o país tem enfrenta-do após o terremoto ocorrido há trêsanos”, declarou. Buss também salien-tou a atuação do Ministério da Saúde

brasileiro na cooperação – o qual, se-gundo ele, tem sido um importantearticulador – e elogiou o papel exerci-do por Cuba na parceria. “Cuba é umaparceira bilateral muito antiga do Bra-sil. Reconhecemos sua importânciapara a cooperação em saúde com suasbrigadas de saúde, produção de vaci-nas e diversos outros trabalhos que temfeito na América do Sul”, afirmou.

Visita ao Teias e reunião doComitê Gestor Tripartite

Além da Fundação, a ministravisitou o programa de atenção primáriaem área urbana do projeto Teias, coor-denado pela Ensp/Fiocruz em parceriacom a Prefeitura do Rio de Janeiro naregião de Manguinhos. A iniciativa per-mitiu a oferta de diversos serviços desaúde – entre eles, equipes de saúdeda família, consultório de rua voltadopara usuários de drogas e clínica da fa-mília – aos 40 mil moradores do local.Florence também aproveitou para co-nhecer os serviços de atenção primáriaà saúde nas Unidades de Pronto Aten-dimento (UPAs) na região.

A agenda da Cooperação Tripar-tite ainda incluiu a reunião do ComitêGestor Tripartite, realizada no dia 28de março. O encontro é promovidomensalmente com todos os participan-tes para a definição dos próximos pas-sos da parceria, que completa três anosdesde a assinatura de seu Memoran-do de Entendimento, em uma respos-ta articulada de ajuda humanitária emdecorrência do terremoto ocorrido em2010. Durante sua estadia no país, Flo-rence também participou do seminá-rio Cooperação Sul-Sul em Saúde noHaiti, em Brasília. O evento foi coorde-nado pelo Ministério da Saúde e apre-sentou as conquistas alcançadas pelacooperação além de aprofundar o de-bate entre as autoridades, especialis-tas dos três países participantes eparceiros do projeto sobre seus desafi-os e perspectivas.

Ministra da Saúde do Haiti visitaa Fundação e reforça cooperaçãotripartite com Brasil e Cuba

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“A Fundação é um braçoexecutivo nesta cooperaçãoe tem dado uma ajudamuito significativa naimplementação do acordode cooperação do Brasil como Haiti”. Foto: Peter Ilicciev

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destaques

Gabriel Cavalcanti - Icict

Cooperação Tripartite Haiti-Brasil-Cuba lançou o vídeo ins-titucional Ann Al Vaksinen –Vamos todos vacinar! 2. O tra-

balho dirigido pela documentaristaMarilu Cerqueira, do Icict/Fiocruz, foirealizado durante a Semana de Ativi-dades Intensivas para a Saúde da Cri-ança, que aconteceu no Haiti entre 21de abril e 5 de maio do ano passado,inserida na 10ª Semana de Vacinaçãodas Américas e 1ª Semana Mundial deImunização. Nele, foram registrados osesforços para imunizar as crianças dezero a nove anos na região noroeste dopaís. O Brasil auxiliou o Haiti a bater ameta de imunizar cerca de três milhõesde crianças contra poliomielite, saram-po e rubéola, com a doação de US$1,4 milhões em vacinas e insumos eapoio nas ações da campanha.

Um dos principais objetivos dovídeo é mostrar ao público em geral, emespecial os parceiros haitianos, comoestão sendo documentadas as ações daCooperação Tripartite. Segundo Marilu,este filme é um segundo teaser, umaespécie de prévia de um documentáriode média-metragem que ainda deverávir por aí. O primeiro vídeo foi lançadoem junho de 2012 e filmado na primeiravisita da documentarista ao Haiti, aindaem 2011. O trabalho foi realizado peloIcict/Fiocruz, com o apoio do Cris/Fiocruze do Ministério da Saúde do Brasil. ParaCerqueira, a documentação e a atua-

ção em campo ajudaram a levar infor-mação para o Ministério da Saúde e daPopulação do Haiti (MSPP), contribuin-do para que o órgão verifique a atuaçãodas equipes, se elas estão armazenan-do corretamente as vacinas e manipu-lando o material devidamente. “É umtrabalho documental com potencial enor-me de ser também um trabalho instruti-vo, educativo e de supervisão”, afirma.

Além dos dados sobre a vacina-ção, o que mais chama a atenção emAnn Al Vaksinen 2 é a alegria e a inte-ração das crianças com a câmera, con-ta Cerqueira: “O contato com ospersonagens deu-se de forma amigá-vel tanto pelo relacionamento já pré-estabelecido pela enfermeira-chefe doPrograma Nacional de Vacinação, MissNoël, que é a narradora do filme, quantopela atração que os balões verdes, queestávamos distribuindo em prol da mo-bilização social, exerciam sobre meni-nos e meninas”. Ela ainda destaca quea proposta do vídeo vai além do sim-ples registro. “Estávamos ali não somen-te para gravar em vídeo ou fotografar,mas também para participar e dar oapoio necessário para o sucesso dasatividades para a saúde da criança”,ressalta. “Fica a mensagem sobre aimportância do compromisso e da coo-peração entre os próprios haitianos eentre os países parceiros para, juntos,reconstruírem, com a força e a alegriade suas próprias crianças, o país ondevivem”, conclui. O vídeo pode ser aces-sado em: http://youtu.be/xRwxcv1e1s4

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Cooperação Tripartite lança novo vídeo sobrecampanha de vacinação no Haiti

Curso deepidemiologiapara profissionaisde saúde haitianos

A Cooperação Tripartite vairealizar, entre 22 de abril e 5 demaio, mais um módulo de forma-ção em epidemiologia de serviçosdirecionada a profissionais de saú-de dos dez departamentos sanitá-rios haitianos. A ação vem sendopromovida desde julho do ano pas-sado e é ministrada por profissio-nais da Fiocruz - com apoio do Crise por meio da Ensp - e da Univer-sidade Federal do Rio Grande doSul (UFRGS) em parceria com a Di-reção de Epidemiologia e Labora-tórios de Pesquisa (DELR) doMinistério da Saúde e da Popula-ção do Haiti (MSPP). A ideia éformar profissionais para atuar nosonze Espaços de Educação e Infor-mação em Saúde (EEIS) que serãoconstruídos no país caribenho.

A professora da UFRGS, Ste-la Meneghel, conta que a iniciati-va vai abordar especialmentetemáticas voltadas a questões degênero. “Mais da metade da po-pulação haitiana é constituída demulheres e muitas delas sofremcom iniquidades de gênero comodivisão sexual do trabalho, violên-cia sexual, entre outros fatores im-pactantes em sua saúde. Ao tratara questão de gênero como políti-ca transversal atrelada a aspectosda vigilância da saúde, por meioda discussão entre os profissionaisde saúde, ajudaremos a proporsoluções para esses problemas fe-mininos no país”, afirma. O quar-to módulo do curso, que vai contarcom a participação de 40 profissi-onais do MSPP, ainda vai incluir umseminário sobre mortalidade ma-terna no Haiti, já que, durante operíodo, está prevista a divulgaçãocompleta dos dados demográficose de saúde do país (DHS) referen-te ao ano de 2012, levantado pelaagência americana de desenvolvi-mento internacional (USAID).

A documentarista Marilu Cerqueira com crianças haitianas durante arealização do filme. Foto: Marcela Lemgruber

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Glauber Gonçalves - COC

cooperação do Brasil com ospaíses africanos tem de seruma construção coletiva. Esseentendimento norteou as

apresentações do simpósio História,Ciência, Saúde e Arte na África, reali-zado no último dia 22, na Tenda daCiência, do Museu da Vida. Do papeltransformador do cinema africano aparcerias do governo brasileiro na áreade saúde e agricultura com outros pa-íses de língua portuguesa, o eventotrouxe para o campus da fundação umasérie de temas e discussões relaciona-dos ao desenvolvimento das nações dooutro lado do Atlântico.

“A atuação do Brasil (na África)tem procurado respeitar as realidadesnacionais e os desafios específicos dospaíses em que coopera, e não repetirpráticas nacionais em países estrangei-ros”, afirmou a pesquisadora da Ensp,Célia Almeida. Ex-coordenadora do Es-critório Regional de Representação da

Fiocruz na África, ela fez um históricoda atuação brasileira em cooperaçãointernacional e abordou projetos im-plantados pela Fundação ou em anda-mento no continente. O foco dessaatuação, segundo a pesquisadora, é ofortalecimento dos sistemas nacionaisde saúde. “O objetivo é colaborar coma criação de instituições estruturantes,como cursos de pós-graduação e es-pecialização e institutos nacionais desaúde, com aquilo que permita que ospaíses construam sua autonomia e nãofiquem eternamente dependentes deajuda”, defendeu.

Presente na abertura do even-to, o assessor internacional da Fiocruzpara a África, Luiz Eduardo Fonseca(Cris/Fiocruz), lembrou que, em 2014,a Fundação comemorará os 20 anos doinício do projeto de cooperação com aÁfrica. “É interessante que essa dataseja lembrada, porque ela dá início aum movimento mais oficial da Fiocruzem relação à cooperação com a Áfri-ca”, disse. Diretor do Escritório Regio-

nal da Fiocruz na África, José Luiz Tellesfrisou a importância do entendimento dacultura local para o desenvolvimento dasatividades da instituição na área de saú-de no continente. “Não somos vetoresde conhecimento. Ninguém transferenada para ninguém. Todos nós somosafetados pelo conhecimento, e tambémpela cultura e pela arte. Esse afeto nospermite uma comunicação de duasvias”, afirmou.

O simpósio foi realizado em con-junto pela presidência da Fiocruz, peloMuseu da Vida / COC/Fiocruz e pelo IOC/Fiocruz, com apoio da Faperj. O eventofoi coordenado por Luisa Massarani, queestá a frente do Museu da Vida, e porWilson Savino, pesquisador do IOC/Fio-cruz. Paulo Elian, vice-diretor da COC/Fiocruz, ressaltou a importância da in-serção da História no seminário e lem-brou a longa tradição de produçãohistoriográfica do Brasil sobre as relaçõescom a África. “Essa iniciativa certamen-te vai gerar outros eventos que possamcontemplar essa temática”, declarou.

Simpósio sobre África: cooperação como continente precisa ser uma construçãocoletiva, defendem participantes

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José Luiz Telles, diretor do Escritório Regional da Fiocruz na África, e Luiz Eduardo Fonseca, assessor internacional paraÁfrica, do Cris/Fiocruz, foram alguns dos participantes do simpósio. Foto: Peter Ilicciev

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Parcerias ajudam afortalecer combate àAids na África

O grave problema da epidemiade Aids na África também foi aborda-do na apresentação de diversas insti-tuições, que mostraram os trabalhosque desenvolvem no continente. O pro-fessor titular do Laboratório de Virolo-gia Molecular da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ), Amilcar Ta-nuri, relatou sua experiência no proje-to de massificação dos testes de HIVem Moçambique. Quando chegou aopaís, apenas 300 testes eram feitos anu-almente. “No primeiro ano (de atua-ção), atendemos 110 mil pessoas. Hoje,são feitos dois milhões de testes nopaís”, afirmou.

Diretora da Unidade Médica Bra-sileira dos Médicos Sem Fronteiras(MSF), Carolina Batista falou sobre suaatuação em iniciativas relacionadas adoenças negligenciadas no continenteafricano, onde estão concentrados cer-ca de 60% dos projetos da organiza-ção. Ela ressaltou que o papel dainstituição na região vai além do trata-mento de pessoas doentes. O objetivoé encontrar subsídios para orientar polí-ticas públicas, por meio da realizaçãode pesquisas e de trabalho de campo.“Nosso trabalho é muito mais do queestar ali tratando, mas influenciar práti-cas de saúde locais, nacionais e até in-ternacionais”, disse. Foi o queaconteceu quando profissionais que atu-am junto à organização descobriramque havia uma prevalência seis vezes

maior de HIV em pessoas que tinhamúlcera de Buruli, doença infecciosa tro-pical, provocada por uma bactéria damesma família do causador da tuber-culose. Com o trabalho, o MSF conse-guiu garantir acesso ao teste de HIV apessoas com a doença no continente.

Desenvolvimentoinstitucional comometa da cooperaçãoBrasil-África

O simpósio abordou ainda ou-tros campos de cooperação entre oBrasil e a África. Um deles foi a agri-cultura, que, ao lado da saúde, con-centra grande parte das parcerias queatravessam o oceano. O assunto foi tra-tado por Marcelo Saldanha, assessorda chefia geral da Embrapa Solos e umdos responsáveis pelo programa decooperação com Moçambique. Essen-cialmente de subsistência e marcadapor características que remontam à pré-história, como o nomadismo, o setoragrícola no país africano tem contadocom o apoio do órgão governamentalbrasileiro para se modernizar. Os desa-fios são grandes, admite o assessor, evão desde a falta de equipamentos einsumos no país ao aumento agressivoda presença chinesa em Moçambiquecom suas plantações de soja e compráticas muitas vezes inadequadas,como desmatamento.

Ex-embaixador do Brasil em Mo-çambique, Antônio de Sousa e Silva de-fendeu a presença contínua do País em

projetos de cooperação com a África.Para ele, parcerias como as apresenta-das durante o seminário levam bastantetempo para apresentar seus primeirosresultados e, por isso, é preciso um es-forço de governos e outras organizaçõespara que sejam mantidos.

Cultura e artecomo elementosimportante dasrelações Brasil-África

A arte e a cultura africana esti-veram no centro das discussões de ou-tro painel do simpósio. A trajetória doMuseu Afro-Brasileiro da UniversidadeFederal do Bahia (UFBA), em Salvador,foi o tema da apresentação da coorde-nadora da instituição, Graça Teixeira.Ela expôs um trabalho educacional fei-to com a sociedade baiana, especial-mente com crianças, para acabar comos estigmas que cercam as religiõesafro-brasileiras, através do contato comobras de arte vindas do continente.

Professor do Departamento deComunicação da UFBA e especialistaem Cinema Africano e da Diáspora, ocosta-marfinense Mahomed Bambatrouxe outro olhar para a discussão. Eleabordou o caráter de catalisador detransformação social que o cinema temem países do continente. Para ele, osdiretores devem buscar levar às telasde maneira crítica um “retrato nãocomplacente” da sociedade e levan-tar questões relevantes, como a condi-ção feminina no continente, muitasvezes de subjugação.

O painel sobre arte e cultura con-tou ainda com uma apresentação dopesquisador do IOC/Fiocruz, Wilson Sa-vino. Ele é o curador da exposição “OCorpo na Arte Africana”, que ocupa es-paço no Palácio Itaboraí, em Petrópolis(RJ). Savino fez um relato sobre suasandanças pelo continente africano emostrou fotos feitas durante seu traba-lho e em expedições em países comoMali e Moçambique. A conferência deencerramento, sobre a diversidade docontinente africano, foi feita pelo histo-riador Alberto da Costa e Silva, membroda Academia Brasileira de Letras (ABL).

Os coordenadoresdo evento: WilsonSavino, pesquisadordo IOC/Fiocruz, eLuisa Massarani,que está a frentedo Museu da Vida.Foto: Peter Ilicciev

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Danielle Monteiro - CCS

cooperação entre a Fiocruz ea Universidade de Princeton,dos Estados Unidos, já rendeubons frutos. Nove alunos da

universidade americana se encontra-ram, no dia 21 de março, com gesto-res e pesquisadores da Fundação paradiscutir possíveis linhas de pesquisa co-muns para os projetos que vão desen-

Cooperação com universidade atrai estudantesamericanos à Fundação

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Os estudantes da Universidade de Princeton em encontro no Cris/Fiocruz. Foto: Peter Ilicciev

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volver durante estágio que vão reali-zar entre junho e agosto desse ano naFiocruz. O grupo aproveitou o encon-tro para também conhecer as ativida-des institucionais em curso e o papelda Fundação na implementação de po-liticas nacionais de saúde e nas parce-rias Sul-Sul. Segundo a coordenadorageral de pós graduação da Fiocruz,Cristina Guilam, encontros como essessão fundamentais, pois permitem que

os visitantes aprofundem parcerias comos pesquisadores da Fundação e conhe-çam a complexidade da instituição.“Como esses alunos já estão inseridosem cursos de pós graduação, eles po-deriam fazer disciplinas avulsas de al-guns de nossos cursos, para que sebeneficiem bastante dessa estadia maislonga no Brasil”, propôs.

Também presente no encontro,a estudante de doutorado em Epide-

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miologia da Fiocruz e pesquisadora par-ticipante do projeto de pesquisa nacio-nal do crack, Neilane Bertoni, destacoua colaboração da Universidade de Prin-ceton na iniciativa para o combate àsdrogas, que foi coordenada pelo Icict/Fiocruz e financiada pelo SecretariaNacional de Políticas de Drogas (Se-nad). A cooperação possibilitou o usode um novo método de estimação cha-mado Scale-up, que é comumente usa-do nos Estados Unidos e ofereceresultados mais precisos sobre o realtamanho da população usuária do cra-ck, em comparação com as metodolo-gias convencionais. “Ao contrário dasoutras ferramentas de mensuração, quetrabalham diretamente com o uso dadroga pelo consumidor, o Scale-up nospermite indagar às pessoas sobre ocomportamento dos indivíduos que fa-zem parte de sua rede social, possibili-tando, com isso, dados mais reais sobrequem de fato consome a droga”, ex-plica. O novo método já foi aplicadonas 27 capitais nacionais e os dadosobtidos serão em breve levados a Prin-ceton para uma análise estatística con-junta, que vai revelar o número deconsumidores da droga em cada umadessas capitais brasileiras. Os resulta-dos finais devem ser divulgados emjulho desse ano.

A ação conjunta no combate àdroga chamou atenção do estudanteamericano de sociologia, Peter Smi-th. “Nesta reunião, percebi como apolítica de drogas envolve atores dediferentes países. Acho que seria in-teressante estabelecer uma coopera-ção entre o Brasil e os Estados Unidospara que os dois países troquem ex-periências sobre a implantação de po-l it icas públicas no combate aoproblema”, sugeriu. Ainda indecisoquanto à temática de seu trabalho aca-dêmico, que deve abordar políticas deenfrentamento a drogas ou questõesligadas ao meio ambiente, Smith dis-se que o encontro foi muito importan-te para a elaboração de sua futurapesquisa. “A partir dessa apresenta-ção, percebi que a Fiocruz está dan-do bons exemplos de cooperaçõesinternacionais, que são primordiaispara a solução de problemas ligadosao meio ambiente”, argumentou.

Para Serena Stein, que fez mes-trado em antropologia e em desen-

volvimento internacional e saúde emPrinceton, a troca de experiências foiuma oportunidade de conhecer maisa fundo o trabalho da Fiocruz e serávaliosa para seu futuro projeto sobrecooperação sul-sul em saúde. “Foi umaexperiência maravilhosa conhecer arede de pessoas da Fundação, umainstituição única no mundo, além deseus trabalhos nacionais e internacio-nais e suas características. Estamosmuito empolgados com essa parce-ria”, disse a estudante, que conduziupesquisas de campo sobre os deter-minantes sociais da tuberculose emdiversos países da América Latina, in-clusive no Brasil, onde pesquisou aimplantação de programas para o tra-tamento da doença na Rocinha, co-munidade do Rio de Janeiro.

Interessada em temáticas comomodificações e rituais do corpo, cirur-gia plástica, sexualidade e gênero,além das intervenções médicas e aces-so à saúde que acompanham essasidentidades, a estudante de antropo-logia, Minerva Pedroza, ressaltou queo encontro a ajudou a adquirir recur-sos para sua futura pesquisa. “Essa tro-ca de conhecimentos me ofereceu

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uma maior contextualização sobremeu campo de trabalho e isso serviráde base para ele”, justificou. Segun-do o assessor do Cris/Fiocruz, LuizEduardo Fonseca, a visita dos estudan-tes de Princeton demonstra a impor-tância da abrangência internacional daFiocruz tanto no campo da pesquisabiomédica quanto da cooperação in-ternacional em saúde. “São futurospesquisadores que terão uma visãomais completa da Fiocruz no momen-to de escolher suas parcerias. Este tipode intercâmbio também poderá gerarmais oportunidades aos cientistas dacasa em instituições americanas”, diz.

O intercâmbio entre estudan-tes de Princeton e pesquisadores daFiocruz é fruto de um encontro ocor-rido no final do ano passado entregestores da Fundação e a reitora dauniversidade americana, Shirley Til-ghman, quando ficou acordado queas duas instituições promoveriam umintercâmbio entre docentes e estu-dantes para que, posteriormente, as-sinem um termo de cooperação.Princeton foi fundada em 1746 e é aquarta universidade mais antiga dosEstados Unidos.

O campus da Universidade de Princeton, em New Jersey, EUA. Foto: Wiki Commons

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Marina Lemle - VPAAPS eAline Câmera - IFF

apacitados por especialistas daFiocruz no reconhecimento pre-coce em 15 minutos dos sinaisde alarme para dengue grave,

profissionais de saúde da organizaçãointernacional humanitária Médicos SemFronteiras (MSF) estão aptos não só aaplicar a técnica em campo, como areplicá-la a colegas mundo afora. Bemsucedida, a parceria entre a Fiocruz eo MSF em atenção à dengue iniciadahá dois anos começa a se ampliar, es-tendendo-se a outras doenças infecci-osas e também ao campo dos agravosnão transmissíveis – no caso, a violên-cia. O Instituto de Pesquisa ClínicaEvandro Chagas (Ipec/Fiocruz), que jápresta assessoria técnica em dengue edoença de Chagas, passará também aapoiar o MSF na atenção a outras do-enças infecciosas. Na área de violên-cia, o aporte virá do CentroLatino-Americano de Estudos de Vio-

lência e Saúde Jorge Careli (Claves),da Escola Nacional de Saúde Pública(Ensp/Fiocruz).

A Fiocruz e o MSF assinaram umacordo de cooperação bilateral em se-tembro do ano passado, que prevê cin-co anos de ações em atenção à saúdee apoio técnico, qualificação e treina-mento, pesquisa operacional e elabo-ração de materiais científicos. Deacordo com a diretora da UnidadeMédica do MSF/Brasil, Carolina Batis-ta, a organização está fazendo o pla-nejamento de operações para o triênio2013/2016 e, para preparar suas inter-venções na América Latina, está levan-tando as demandas da região. “Ter umdiagnóstico da América Latina nos aju-da a traçar um plano regional, preven-do a melhor abordagem e moldandorespostas adequadas”, relata. O Ipectambém dará apoio ao MSF na produ-ção de publicações científicas.

O infectologista Alejandro Has-slocher, do Ipec, destaca a importân-cia da abordagem integral na doença

de Chagas, modelo cada vez mais ado-tado por MSF em seus projetos demanejo da doença. “A abordagemdeve não apenas incluir diagnóstico decampo (teste rápido) e tratamento comremédio específico, mas também iden-tificar desde o paciente que não estádoente, a forma indeterminada, atéaquele que tem cardiopatia, que podeprecisar de condutas terapêuticas demaior complexidade, como, por exem-plo, a colocação de marca-passo”, afir-ma. O MSF atualmente discute comprofissionais do Ipec e outros expertsinternacionais a expansão das ativida-des a fim de ampliar as ações no trata-mento da doença de Chagas em todasas fases, incluindo o manejo de com-plicações cardiovasculares.

A parceria da Fiocruz com MSFem Doença de Chagas existe desde2007 e está em processo de expansãoagora com o Ipec. “O Ipec tem umainterface enorme com o MSF em do-enças infecciosas como Chagas e den-gue. Agora precisamos sair do âmbito

Fiocruz e Médicos Sem Fronteiras ampliam parceria

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teórico para o prático e há uma dimen-são espetacular de atuação junto aoMSF”, aposta Hasslocher. Para Caroli-na, incluir o paciente crônico nas açõesdo MSF em Chagas é uma necessida-de de adaptação, e a parceria com oIpec será fundamental para isso. Comoresultado desta cooperação, ela contaque este ano haverá capacitações parao MSF em Assunção, no Paraguai, eem Cochabamba, na Bolívia.

Violência: novasabordagens

Preocupado em como melhorplanejar respostas à questão da vio-lência, o MSF procurou o Claves, quetem vasta experiência em ensino, pes-quisa, monitoramento e avaliação. Deacordo com a pesquisadora EdinilsaRamos de Souza, a organização já lidacom a questão da violência, oferecen-do atendimento às vítimas ainda mui-to dirigido ao tratamento médico dosferimentos. “Falta sistematizar o co-nhecimento e ampliar a visão, forne-cer atendimento interdisciplinar, comatenção psicológica mais longa do queas atuais duas sessões. As marcas nocorpo e no emocional, como as con-sequências da violência intrafamiliar,

precisam de acompanhamento prolon-gado, de pelo menos um ano, porquesão difíceis até de serem reveladas, eleva tempo para o profissional ganhara confiança da pessoa”, explica. Des-de a sua criação, em 1971, o MSF jáatuou em epidemias de ebola, cóle-ra, terremotos, catástrofes e conflitos,principalmente na África e na Ásia.“O MSF busca descobrir se já existemexperiências bem sucedidas e comoelas podem ser adaptadas para a or-ganização. Temos que estar um pas-so à frente sempre”, conclui Carolina.

Relações fortalecidascom o IFF/Fiocruz

Em viagem ao Brasil para co-nhecer os protocolos assistenciais pra-ticados por instituições de referência,a coordenadora do Departamento dePediatria de Médicos Sem Fronteiras(MSF), Marie-Claude Bottineau, reser-vou parte de sua agenda para conhe-cer o IFF/Fiocruz. Responsável porliderar pesquisas de campo com o ob-jetivo de estruturar o cuidado pediátri-co dos projetos do Unicef no mundo,Marie-Claude salientou a importânciade vivenciar de perto a realidade deentidades como a Fiocruz e a Cruz

Vermelha. “Essas visitas funcionamcomo um laboratório em que temos aoportunidade de aprender novas práti-cas para poder replicar em nossas mis-sões”, afirmou.

Acompanhada do diretor de Re-cursos Humanos da organização inter-nacional, Dominique Arthur Delley, amédica teve a oportunidade de conhe-cer a Enfermaria de Pediatria, a Unida-de de Tratamento Intensivo Neonatal,a Unidade de Pacientes Graves, a Uni-dade de Doenças Infecciosas Pediátri-cas (Dipe), além do Banco de LeiteHumano. O cuidado à criança cronica-mente adoecida e a promoção ao alei-tamento materno foram os aspectos quemais chamaram sua atenção. “Em al-guns países subdesenvolvidos esbarra-mos em questões culturais muito fortes.A crença de que o leite materno é fra-co leva a maioria das mães a abando-narem o aleitamento. Temos interesseem compartilhar a experiência dos ban-cos de leite para entender como o Bra-sil chegou às políticas de apoio àamamentação em prol da saúde dos pe-quenos”, declarou. Durante reunião como diretor do IFF, Carlos Maciel, a repre-sentante do MSF demonstrou interesseem promover um evento no Institutopara divulgar a iniciativa e sensibilizarnovos profissionais a se engajarem.

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Alejandro Hasslocher, do Ipec/Fiocruz, Edinilsa Ramos de Souza,do Claves/Ensp/Fiocruz, e CarolinaBatista, do MSF. (Foto: Marina Lemle)

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Ascom/Fiocruz Bahia

Fiocruz Bahia firmou parceriacom a universidade canaden-se McGill University, medianteassinatura de um memorando

de entendimento. O documento foi assi-nado durante a Oficina de Produção Ci-entífica: Escrevendo e Publicando ArtigosEficientemente, primeira ação da coo-peração entre as instituições. “O convê-nio permitirá a colaboraçãotécnico-científica dos nossos pesquisado-res e estudantes com colegas de umadas universidades de maior prestígio ci-entífico da América do Norte. Além dis-so, os mecanismos estabelecidos noacordo facilitarão a concessão e a im-plementação de bolsas de estudo comoas oferecidas em programas como o Ci-ências sem Fronteiras”, afirmou EdsonDuarte, pesquisador da instituição e umdos idealizadores do projeto.

O memorando institui que “asáreas de cooperação podem incluir qual-quer programa em qualquer instituiçãoque pode ajudar a promover e desen-volver o relacionamento”. Desta forma,algumas atividades podem ser desen-volvidas a partir da cooperação, a exem-

cial até a escolha do periódico. O progra-ma incluiu tópicos como autoria, plágio,revisão bibliográfica e gerenciamento dereferências. “A oficina foi feita para pre-encher uma carência nos cursos de pós-graduação, já que é muito difícil ter umadisciplina estruturada só para escrita deartigos científicos. No período de avalia-ção, percebemos quanto os alunos têmdificuldade em escrever artigos”, lembroua pesquisadora da Fiocruz Bahia, Mariada Conceição.

De acordo com Duarte, a expec-tativa dos organizadores é de que umanova edição ocorra em dois anos. Tam-bém há planos para o desenvolvimentode estudos na área de prevenção do cân-cer relacionado à infecção pelo HPV, leish-manioses, dentre outros. O curso, do qualparticiparam 75 estudantes, foi bem ava-liado e recebeu inúmeras recomendaçõespara ser oferecido de maneira regularcomo parte do programa de disciplinasda pós-graduação. “É essencial um cursode produção científica, já que o objetivode todo aluno de pós-graduação é publi-car o resultado da sua pesquisa. Esse foium dos melhores cursos dos quais partici-pei na Fiocruz” afirmou Letícia de Cas-tro, estudante de doutorado.

Fiocruz firma parceria com universidade canadense

Aplo de intercâmbio de professores e/oupessoal; pesquisa e publicações; parti-cipação em seminários e encontros aca-dêmicos; programas acadêmicosespeciais de curto prazo; e visitas decurto e médio prazo para estudantes depós-graduação (mestrado, doutorado epós-doutorado). A cooperação tambéminclui a possibilidade de intercâmbio deestudantes de graduação e troca de ma-teriais acadêmicos e científicos.

Oficina de ProduçãoCientífica

Um dos professores da oficina,Eduardo Franco, que atualmente é pro-fessor e diretor da Divisão de Epidemiolo-gia do Câncer em McGill, avalia que o“intercâmbio de professores e a troca decolaboração de informações entre os alu-nos na área do câncer e na área de do-enças infecciosas e parasitárias, onde asduas instituições têm força e atuaçõesimportantes, são pontos promissores”. Aoficina abordou temas como o aperfeiço-amento de técnicas de redação científicae as principais etapas da redação de umartigo, desde a elaboração do esboço ini-

O convênio da Fiocruz com aMcGill University, uma dasuniversidades de maior prestígiocientífico da América do Norte,permitirá a colaboração técnico-científica entre pesquisadores eestudantes das duas instituições.Foto: McGill University

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Vanessa Sol - IOC

á pouco mais de dois anos, cin-co estudantes moçambicanosdesembarcaram no Brasil comuma missão: dar início ao cur-

so de mestrado acadêmico em Medi-cina Tropical, com a área deconcentração em virologia, no IOC/Fi-ocruz. A iniciativa, que integra um con-vênio entre o Instituto Nacional deSaúde (INS) de Moçambique e a Fio-cruz, faz parte do Plano Estratégico deCooperação em Saúde da Comunida-de dos Países de Língua Portuguesa –conjunto de ações de aproximaçãoentre o Brasil e os países africanos deLíngua Portuguesa. O objetivo é formarmestres e doutores que possam, combase nos conhecimentos obtidos, im-pactar na situação da saúde local.

A iniciativa é desdobramento doPrograma de Pós-graduação em Ciênci-as da Saúde da Fiocruz, capitaneado peloIOC e realizado em parceria com o INS,coordenado pelos pesquisadores IleshJani (INS) e Wilson Savino (IOC/Fiocruz).A defesa da dissertação Identificação deenterovírus em casos esporádicos de me-ningite asséptica de pacientes de Mo-çambique encerrou o ciclo de formaçãodo mais recente grupo de pós-graduan-dos moçambicanos, que defenderamsuas dissertações entre dezembro de2012 e fevereiro de 2013.

Orientada pelos pesquisadoresEdson Elias da Silva, Eliane Veiga daCosta e Ilesh Jani, a mestranda Gabri-

ela do Carmo Pinto apresentou os re-sultados do estudo sobre a detecçãode enterovírus em amostras de líqui-do cefalorraquidiano (LCR) coletadasde casos esporádicos de meningite as-séptica (meningite viral), em Moçam-bique, no período de julho de 2011 ajaneiro de 2012. Diante da necessi-dade do conhecimento da epidemio-logia dos agentes etiológicos virais dasmeningites assépticas em seu país,Gabriela do Carmo destaca a relevân-cia da iniciativa. “O estudo será útilpara a implantação de futuras açõespor parte dos serviços de saúde deMoçambique”, pontua.

Transferindoconhecimento

O mestrado foi cursado no Bra-sil, mas as pesquisas foram realizadas apartir de amostras coletadas em Mo-çambique, refletindo o interesse de pes-quisa em relação às demandas do país.De acordo com o coordenador do Pro-grama de Pós-Graduação em MedicinaTropical do IOC, Filipe Aníbal CarvalhoCosta, o ciclo de formação de virologis-tas para o INS de Moçambique ilustra oprincípio básico que norteia a Coopera-ção Sul-Sul, que é o seu caráter estru-turante, indutor de capacidades locais.“Países como o Brasil e, nestes, institui-ções como a Fiocruz, assumem um pa-pel de destaque devido a suareconhecida tradição científica. O pro-

grama de Medicina Tropical do IOC seorgulha de, juntamente com os demaisProgramas de Pós-Graduação do Insti-tuto e de outras Unidades da Fiocruz,contribuir nesta ação”, afirma.

Os estudantes fizeram tambémseis meses de estágio nos laboratóriosdo IOC: de Vírus Respiratório e Saram-po; de Enterovírus e de Virologia Com-parada e Ambiental, coordenados pelospesquisadores Marilda Siqueira, EdsonElias e José Paulo Gagliardi Leite, res-pectivamente. E foram tutoriados, atéque eles se vinculassem a um desseslaboratórios, pelos pesquisadores AldaMaria da Cruz, Filipe Anibal CarvalhoCosta e Marta Cecília Suarez-Mutis.

Para a pesquisadora do Labora-tório Interdisciplinar de Pesquisas Mé-dicas, Alda Maria Da-Cruz, asperspectivas para esse primeiro grupode moçambicanos formados em viro-logia serão promissoras. “Certamenteesses profissionais quando chegarem aMoçambique vão ser absolutamenteenvolvidos com as necessidades que jáexistem no país em função da carên-cia de recursos humanos que eles ain-da têm”, destaca. Outro pontoressaltado pela pesquisadora é a trans-ferência de conhecimento entre ospaíses. “Estreitar os laços de colabora-ção e cooperação científica é uma viade mão dupla, pois temos a possibili-dade também de ampliar o nosso le-que de conhecimento ao cooperarmospara entender a dinâmica de endemi-as de outras localidades”, enfatiza.

Brasil e Moçambique: avanço na parceria acadêmica

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destaques

Os participantesmoçambicanos do mestradoacadêmico em MedicinaTropical, do IOC/Fiocruz.Foto: Gutemberg Brito

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Maritiza Neves - Farmanguinhos

armanguinhos há algum tempovive junto ao povo moçambica-no a intensa relação que existeem encontros e despedidas. E

outra vez esse ciclo se repete. No dia15 de março, o farmacêutico AlbertoJequicene Chambe e os operadores deprodução Feniosse Macuacua, JoaquimAlberto Machavane, Ronaldo Carlos

Banzala e Joaquim Hilário Govene ter-minaram mais um módulo do curso decapacitação em Tecnologia de Produ-ção, e, agora, regressam a seu país.Em contrapartida, chegaram à Farman-guinhos, no último dia 18, para dar iní-cio ao processo de capacitação sobreGestão em Indústria Farmacêutica eGarantia da Qualidade, Noémia Muís-sa e Ligia Tembe, respectivamente di-retora executiva e chefe do

Profissionais moçambicanos participam decapacitação para atuar em fábrica de antirretrovirais

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departamento da garantia da qualida-de da Sociedade Moçambicana deMedicamentos (SMM), fábrica de an-tirretrovirais instalada no país africanocom apoio da Fiocruz, por meio deFarmanguinhos.

Para os profissionais responsá-veis pela capacitação, a iniciativa é umciclo constante de troca de tecnologiae conhecimentos culturais. O projetocomo um todo tem uma visibilidadeinternacional pela qualidade e inova-ção da transferência de tecnologia queo Brasil está fazendo. Todas as oportu-nidades estão sendo dadas a Moçam-bique para que, futuramente, o paístenha capacidade de produzir, sozinho,medicamentos para utilização em seupróprio território e para exportação.

Para as profissionais moçambi-canas, ainda há muito trabalho a serfeito, uma vez que Moçambique é umpaís ainda em desenvolvimento e queainda precisa desenvolver a áreafarmacêutica.”Para nós é uma oportu-nidade única poder absorver todo oconteúdo dessa transferência de tec-nologia. A SMM é a pioneira nessa áreae daí a importância desse projeto. Es-tamos com muita sede de conhecimen-to”, disse. Ligia complementou dizendoque sua expectativa nessa capacitaçãoé muito grande. “A indústria farmacêu-tica é algo novo em Moçambique. Te-mos que seguir o padrão deconstrução. Espero aprender bastantee implementar o máximo possível naárea de Garantia da Qualidade, parapoder colocar a SMM funcionandocomo deve”, afirmou.

Com mais conhecimento, apósparticipar do segundo módulo da ca-pacitação, o farmacêutico Alberto Je-quicene Chambe destacou que acapacitação o ajudou a desenvolverseus conhecimentos e a adquirir umaboa capacidade crítica. “Saímos daquicom nossos desempenhos potenciali-zados. E o que é mais gratificante nes-sa transferência de tecnologia é que aSMM está em Moçambique e os me-dicamentos serão feitos por moçambi-canos”, finalizou.

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A diretora executiva Noémia Muíssa e a chefe do departamento dagarantia da qualidade da SMM, Ligia Tembe, e o diretor de Farmanguinhos,Hayne Felipe. Foto: Farmanguinhos

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Modelodesenvolvidopela FiocruzPernambuco seráadotado na Suíça

O modelo do Sistema deMonitoramento e Controle Po-pulacional do Vetor da Dengue(SMCP-Aedes), desenvolvidopela Fiocruz Pernambuco emparceria com o Instituto de Pes-quisas Espaciais (Inpe), seráadotado pela primeira vez noexterior, no cantão de Ticino,na Suíça. Os pesquisadores PieMuller e Tobias Sutter, do SwissTropical and Public Health Ins-titute, e Luca Engeler, do Istitu-to Cantonale di Microbiologia,estiveram na Fiocruz Pernam-buco participando de reuniõesque tiveram como tema princi-pal a aplicação do sistema demonitoramento na Suíça. Naocasião foi realizada uma ofi-cina sobre como desenhar osmapas para o controle do mos-quito Aedes albopictus no can-tão suíço.

A iniciativa faz parte dacooperação entre a Fiocruz Per-nambuco e o Swiss Tropicaland Public Health Institute, quecomeçou em 2012, com o ob-jetivo de desenvolver pesqui-sas sobre o potencial detransmissão de dengue em áre-as infestadas pelos mosquitosAedes aegypti e Aedes albo-pictus, no Brasil e na Suíça. Oprojeto envolve, entre outrosestudos, a identificação dasespécies de hospedeiros pre-feridos pelos mosquitos e a sus-cetibilidade ao larvicida naturalBacillus thuringiensis israelen-sis (Bti) para tentar aperfeiço-ar o sistema de vigilância econtrole desses vetores nosdois países.

Fonte: FiocruzPernambuco

Thiago Oliveira - Cris

ma equipe da Fiocruz, coorde-nada por Luiz Eduardo Fonse-ca, ponto focal do Cris para acooperação com África, e com-

posto por outros membros do Cris, daEnsp e da EPSJV participou de umamissão brasileira na Angola, entre 3 e8 de março, para a realização da Reu-nião Anual do Comitê de Coordena-ção do Proforsa. Esse projeto decooperação tripartite, que envolve Bra-sil, Angola e Japão, visa o fortalecimen-to do sistema de saúde angolano, pormeio do desenvolvimento de recursoshumanos em dois hospitais de referên-cia e quatro centros de atenção primá-ria de Luanda. Segundo o analista decooperação internacional do Cris, Pe-dro Burger, a missão foi de grande im-portância, pois possibilitou umarepactuação política das instituições edos atores envolvidos. “Essa repactua-ção foi fundamental por permitir que oProforsa contornasse alguns desafiosencontrados, ajustando métodos e cro-nogramas para o alcance de nossoobjetivo”, explicou.

O Proforsa está definido de acor-do com a ideia de “cooperação estru-turante em saúde”, buscando o

Reunião do Comitê deCoordenação do projeto Proforsa

fortalecimento das instituições locais ea construção conjunta com as autori-dades angolanas. “Essa cooperação éde grande importância e interesse parao Ministério da Saúde de Angola (MIN-SA), pois eles percebem a necessida-de de melhorias em seu sistema desaúde, mas não desejam incorporarmodelos externos prontos”, concluiuBurger. Entre os resultados da reuniãoestá a definição do plano de trabalho2013-2014 do Proforsa, a inclusão deformação em monitoramento e avali-ação para técnicos do MINSA e a in-clusão do Centro de Saúde Quatro deFevereiro ao projeto.

A missão brasileira incluiu tam-bém representantes da Unicamp, daAgência Brasileira de Cooperação(ABC/MRE) e da Assessoria Internacio-nal do MS/Brasil. Pelo lado Angolano,participaram da reunião representan-tes do MINSA e da DPSL, da Materni-dade Lucrécia Paim e do Hospital JosinaMachel. Pelo lado japonês, represen-tantes da Agência Japonesa de Coo-peração (JICA) da África do Sul,Angola e Brasil. A próxima reunião docomitê coordenador está prevista para2014, e durante 2013 e 2014 ocorre-rão diversas missões técnicas com par-ticipação da Fiocruz.

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A equipe da Fiocruz, que atua no projeto Proforsa, em missão na Angola. FotoLuiz Damião Kilala/ Jica Angola

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Conhecimento semfronteiras

Vanessa Sol - IOC

O Laboratório de Virologia Com-parada e Ambiental do IOC/Fiocruz re-cebeu, entre os dias 11 e 22 de março,representantes de dez países da Amé-rica Latina, membros da OrganizaçãoPan-Americana de Saúde (OPAS), parao curso de Treinamento em Diagnósti-co de Rotavírus. A ideia é fornecer aosprofissionais de saúde da Venezuela,Peru, Chile, Bolívia, Paraguai, Nicará-gua, Panamá, Honduras, El Salvador eGuatemala subsídios para o diagnósti-co da doença e para a análise da geno-tipagem do rotavírus. De acordo com opesquisador do Laboratório, José PauloLeite, é importante que os países lati-no-americanos identifiquem o perfil dosgenótipos do rotavírus para vigilânciaepidemiológica após as estratégias deimunização. “Essas ações estão ocor-rendo em diferentes países ao mesmotempo para a identificação da eficáciada vacina e para verificar se estão sur-gindo novos genótipos”, explicou.

De acordo com a coordenadorada Rede de Laboratórios de Doenças Pre-veníveis por vacinação da OPAS, GloriaReyes, a necessidade do treinamento sur-giu da própria organização em decorrên-cia da importância de qualificar ainda maisos profissionais dos países participantes,para que eles retornem aos seus locaisde origem e implementem a metodolo-gia utilizada pelo laboratório, que é refe-rência em rotavírus. “Esta é a segundavez que representantes da OPAS partici-pam do treinamento. Nosso objetivo é for-talecer a capacidade de respostas doslaboratórios de cada país, que poderãomelhorar a qualidade dos dados sobre orotavírus”, sintetizou a coordenadora. OLaboratório de Virologia Comparada eAmbiental participa constantemente devisitas a laboratórios da América Latina afim de apoiar a OPAS na identificação dacapacidade física e de recursos humanosque esses laboratórios possuem para im-plantação do processo de diagnóstico eda genotipagem do rotavírus.

Fiocruz ajuda nareformulação derevista científicamoçambicana

Danielle Monteiro - CCS eThiago Oliveira - Cris

As revistas científicas da Fiocruzvão servir de modelo para a reformula-ção da Revista de Ciências de Saúde,do Instituto Nacional de Saúde (INS/Mo-çambique). Entre os dias 11 e 15 demarço, a editora da publicação, Ana OlgaMocumbi, esteve reunida com integran-tes do Cris/Fiocruz e gestores de outrosdepartamentos da Fundação para conhe-cer e discutir o processo editorial das re-vistas científicas da instituição, de formaa tomá-lo como base para as novas edi-ções da revista moçambicana. A publi-cação foi criada em 1982, semperiodicidade regular, e não circula des-de 2010. Para Olga, a reformulação darevista vai contribuir consideravelmentepara o sistema de saúde de Moçambi-que, pois vai incentivar a tomada de po-líticas públicas baseadas em evidências.“A implantação do projeto, no entanto,não será tão fácil, pois teremos grandesdesafios pela frente, como levar o pro-cesso adiante de forma contínua e con-seguir o apoio no treinamento da equipee na construção do formato online darevista”, contou.

A publicação será lançada no for-mato impresso e, gradualmente, vai mi-grar para (ou incluir) o formato online.A Fiocruz vai prestar consultoria na ela-boração do primeiro número da revis-ta, previsto para novembro, no que dizrespeito à produção gráfica e à disponi-bilização digital das edições. A parce-ria ainda prevê a realização de umaoficina de trabalho, provavelmente emMoçambique, com foco na gestão deeditoração e no uso de base de dadoseletrônicos. A cooperação entre as duasinstituições deve ser formalizada emabril. O apoio da Fundação na reformu-lação da publicação é fruto de um pla-no estratégico de parceria com o INS/Moçambique renovado em outubro doano passado, durante visita do diretordo instituto moçambicano, Ilesh Jani, àFundação. A Fiocruz dispõe de quatrorevistas científicas: Memórias do IOC,do Instituto Oswaldo Cruz, Cadernos deSaúde Pública, da Ensp, Trabalho, Ci-ência e Saúde, da EPSJV, e História, Ci-ências, Saúde, da COC.

Pesquisadoramexicana fala sobreparceria com o Icict

O Icict/Fio-cruz recebeu, nasemana de 18 a22 de março, aprofessora e pes-quisadora MariaElena ZarmeñoEspinosa, da Fa-culdade de Ciên-cias Humanas daUniversidad Au-tônoma de BajaC a l i f o r n i a(UABC), do Mé-xico. A pesquisa-

dora, que visitou o instituto para selaruma parceria entre as duas instituições,desenvolve uma linha de pesquisa so-bre Geração ou Aplicação Inovadorado Conhecimento e quer estabelecercontato direto com o Laboratorio deComunicação e Saúde – Laces, do Icict.Maria Elena Zarmeño conversou coma equipe do Icict sobre a parceria e otrabalho que desenvolve no México.Confira aqui a entrevista.

Fonte: Icict

A favor da inserção dasaúde nos Objetivosde DesenvolvimentoSustentável

O primeiro encontro do Grupode Trabalho da ONU para a definiçãoda agenda pós-2015 terminou em 15de março alertando para que a saúde,assim como outras temáticas, seja con-templada entre os novos Objetivos deDesenvolvimento Sustentável (ODS).Para o secretário geral da ONU, BanKi-moon, que, no momento, além dasaúde, fez um chamado para a erradi-cação da pobreza e para a educaçãoe o desenvolvimento econômico e so-cial, os ODS devem acelerar os avan-ços dos Objetivos de Desenvolvimentodo Milênio (ODM). O grupo, formadopor 30 representantes, apresentará umrelatório com suas propostas à 68ª ses-são da Assembleia Geral da ONU.

Fonte: Isags

Os representantes de países da AméricaLatina, membros da OPAS, no curso deTreinamento em Diagnóstico deRotavírus. Foto: Gutemberg Brito

Pesquisadora MariaElena ZarmeñoEspinosa em visita aoIcict. Foto: Ascom/Icict

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oportunidades de treinamento

III Fórum Global deRecursos Humanos emSaúde

O Brasil será sede da terceiraedição do Fórum Global de RecursosHumanos em Saúde. O evento, um dosmaiores do setor, terá como tema Re-cursos Humanos para a Saúde: funda-ção para a cobertura universal de saúdee agenda de desenvolvimento pós-2015. Com a participação de cerca deduas mil pessoas de 40 países, o fó-rum será realizado em Recife (PE), de10 a 13 de novembro. O encontro éorganizado pela Aliança Global para aForça de Trabalho em Saúde (GHWA,do inglês Global Health Workforce Alli-ance) e patrocinado pelo governo bra-sileiro, a Organização Mundial daSaúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS).

Fonte: Rets

Brasil e Venezuela:artigo aborda desafiosda cooperação entrepaíses

As pesquisadoras da Ensp EricaKastrup e Luisa Regina Pessôa publica-ram artigo, na revista eletrônica Tem-pus – Actas de Saúde Coletiva, que tratadas questões da cooperação internaci-onal em saúde entre o Brasil e a Vene-zuela. Intitulado Desafios daCooperação Internacional Sul-Sul: Bra-sil e Venezuela, um processo horizon-tal, sustentável e estruturante, o textofoca na estruturação de uma Escola deGoverno e de uma Rede Colaborativade Instituições Formadoras no âmbitoda saúde, com vistas à formação de tra-balhadores. No artigo, as autoras indi-cam que, nos últimos cinco anos, apresença do Brasil tem se mostrado cadavez mais forte na cooperação interna-cional do eixo Sul-Sul, sendo necessá-ria a avaliação dessas iniciativas a partirde aspectos como a relevância, a hori-zontalidade e o caráter sustentável eestruturante da cooperação, em queambos os países ganhem com o pro-cesso. Confira aqui o artigo na íntegra.

Fonte: Ensp

Chamada paraartigos para revistacientífica

O Instituto Nacional de Saú-de (INS) de Moçambique está acei-tando trabalhos originais de pesquisabásica, saúde pública e clínica, arti-gos de revisão, descrição/relato decaso clínico ou epidemiológico ematerial para formação contínuapara publicação na Revista Médicade Moçambique, que está sendoreformulada com nova designação,política editorial e formato. As áre-as de maior enfoque são as de saú-de materno-infantil, nutrição,doenças infecciosas endêmicas, do-enças tropicais negligenciadas, do-enças crônicas, sistemas de saúde esaúde pública. Os artigos submeti-dos deverão ser constituídos de ma-terial inédito não publicado ousubmetidos a outras revistas e escri-tos em língua portuguesa com resu-mo em inglês. Interessados devemenviar seu trabalho para o [email protected].

Fonte: Rets

Pesquisa emlaboratóriointernacional

A Coordenação de Aperfeiço-amento de Pessoal de Nível Superior(Capes) assinou, em 20 de março, oedital para recebimento de propos-tas para projetos de pesquisa, desen-volvimento e inovação tecnológica naárea de nanotecnologia, no Labora-tório Ibérico Internacional de Nano-tecnologia (INL), com sede em Braga,Portugal. As propostas podem ser en-viadas por instituições públicas e pri-vadas de ensino superior quepossuam programas de pós-gradua-ção stricto sensu recomendados pelaCapes, com áreas de concentraçãoou linhas de pesquisa em nanotec-nologia. Também podem ser propo-nentes instituições de pesquisa ecentros de excelência, pesquisa e de-senvolvimento que apresentem pro-jeto em áreas, subáreas e temasrelacionados à nanotecnologia. Maisinformações aqui.

Fonte: Informe Ensp

Seleção deprojetos de pesquisaem conjunto comgrupos belgas

O programa Capes/WBI estáselecionando, até 31 de maio, pro-jetos de pesquisa em conjunto comgrupos da Bélgica nas especialidadesde Ciências Biológicas e da Saúde;Agroindústria; Engenharias (nas es-pecialidades: mecânica, transporte elogística, aeronáutica e espacial); eMeio Ambiente. As atividades serãoiniciadas em 2014. As inscrições sãogratuitas e feitas exclusivamente pelainternet, mediante o preenchimentodo formulário de inscrição e envio dedocumentos. Mais informações peloe-mail [email protected] ou pelo te-lefone 0800 616161 opção 7. Aces-se o edital.

Fonte: Capes

Oportunidadeno setorfarmacoquímico

Através do programa CiênciaSem Fronteiras, pesquisadores bra-sileiros receberão treinamento e po-derão acompanhar por pelo menosum ano, projetos de desenvolvimen-to e pesquisa de medicamentos emtrês centros especializados no exte-rior: Cambridge, na Inglaterra; Pa-ris, na França, e Frankfurt, naAlemanha. A intenção é suprir umdéficit de conhecimento científicosobre pesquisa e desenvolvimentode medicamentos, que ainda serãoproduzidos e que estão em fase detestes iniciais de segurança. O iní-cio do intercâmbio depende somenteda seleção dos candidatos . Mais in-formações aqui.

Fonte: Informe Ensp

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MARCELLO BARCINSKIentrevista

Como surgiu a ideia de secriar a conferência da Rede Mundi-al de Academias de Ciências?

Barcinski: A atual conferênciafoi a sétima da série. A ideia de se cri-ar uma conferência em adição à As-sembleia Geral do IAP, que é umareunião de cunho mais administrativoe na qual são eleitos os co-presidentese as Academias que irão compor oConselho Deliberativo, surgiu da per-cepção de que o número de Academi-as participantes do IAP já erasignificativo e que a discussão de te-mas científicos amplos e abrangentesteria uma repercussão internacionalimportante.

Qual a importância da pre-sença das academias de ciência emdiscussões em prol da redução dapobreza com base no desenvolvi-mento sustentável?

nição dos próximos Objetivos de De-senvolvimento do Milênio. No docu-mento, elas também reforçam seupapel de assessorar governos e to-madores de decisão sobre as melho-res políticas de C&T e afirmam quevão auxiliar na ligação da ciênciapara a sustentabilidade e a Educa-ção além de promover a participa-ção das mulheres na ciência e nasolução de grandes desafios e faci-litar a vinculação de projetos a es-ses desafios.

Um dos integrantes do Comi-tê Organizador da conferência foi opesquisador do IOC/Fiocruz, Marce-llo Barcinski. Ele também é co-presi-dente do Comitê Científico daConferência e Assembleia Geral daRede Global de Academias de Ciên-cias (IAP). Em entrevista ao Crisinfor-ma, Barcinski fez um balanço doencontro, comentando seus princi-pais frutos e destaques.

Barcinski: A atual conferênciafoi a primeira reunião das Academiasde Ciências em que este tema foi dis-cutido. A importância reside no fato deque sua presença consolida a pesqui-sa, seja ela básica ou aplicada, comouma das atividades humanas capazesde resolver o problema da pobreza edo desenvolvimento sustentável. Achoimportante frisar que o objetivo é aerradicação da pobreza e não simples-mente a redução da pobreza. Esta dis-tinção é de fundamental importância,pois, enquanto a erradicação da po-breza é um objetivo que implica emuma atividade permanente, a simplesredução pode atingir um nível consi-derável satisfatório apesar de aindaexistir pobreza. A segunda importân-cia do tema em discussão foi a de per-mitir uma auto-avaliação e umareflexão das academias de ciências doseu papel e da sua responsabilidade

social. É importante frisar que as Aca-demias- com algumas exceções- sãoórgãos de assessoramento e não deexecução de ciência.

Quais são os principais avan-ços alcançados pela IAP?

Barcinski: A Rede Global deAcademias é um fórum permanentepara o aperfeiçoamento das atividadesdas Academias de Ciências e conse-quentemente da ciência. Acredito quea oportunidade de discutir o seu pró-prio papel enquanto uma associaçãode cientistas seja um avanço de gran-de importância.

A discussão entre os 64 ci-entistas presentes no evento trata-ram das temáticas segurançaalimentar, mudanças climáticas eenergia sustentável. Quais foram

Pesquisador do IOC/Fiocruz fazbalanço da conferência da Rede Mundialde Academias de Ciências

OBrasil sediou pela primeiravez, no final do mês de feve-reiro, a conferência da RedeMundial de Academias de Ci-

ências (InterAcademy Panel, IAP), quepromove o debate entre represen-tantes de 55 países sobre a utiliza-ção da ciência para a erradicação dapobreza e para o alcance do desen-volvimento sustentável. O evento foiorganizado a partir do documentoO futuro que queremos, assinado emjunho do ano passado durante aRio+20, indo ao encontro das discus-sões que tem sido promovidas porgrandes fóruns internacionais. Aspropostas discutidas no encontroforam reunidas em um documentochamado Carta do Rio.

Nele, as Academias de Ciênci-as se comprometem em avaliar a for-ça e a fraqueza do atual sistemaoperacional de C&T em todo o mun-do e participar do processo de defi-

Foto: Academia Brasileira de Ciências

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MARCELLO BARCINSKIentrevistanecessária a integração entre ino-vação e ciência. Qual a importân-cia dessa união para vencer osprincipais desafios para a reduçãoda pobreza e o desenvolvimentosustentável?

Barcinski: Pesquisa e inovação(no sentido tecnológico) são duas fa-cetas da criatividade humana com ca-racterísticas que as distinguem.Enquanto que a pesquisa fundamen-tal objetiva reduzir as lacunas entre oque ainda não é conhecido e o que jáse sabe sobre os mecanismos operan-tes na natureza, a pesquisa aplicadaobjetiva reduzir as lacunas entre o queparece promissor e o que realmentefunciona. Certamente esta últimaaproxima-se mais do conceito de ino-vação do que a primeira. Portanto adistinção importante a ser feita é en-tre pesquisa fundamental e inovação.Como dito acima, elas diferem emvários aspectos e o espaço e a oca-sião não são apropriados para essadiscussão. O importante aqui é a ca-pacidade que as Academias de Ciên-cias devem ter de aproximarindivíduos e instituições que façampesquisa básica com indivíduos e ins-tituições capazes de fazer inovação.

No evento, o ministro da ci-ência, Marco Antonio Raupp, pro-pôs a criação de um comitêcientífico global que teria a missãode reduzir a pobreza mundial.Como você enxerga o papel dasAcademias de Ciências na criaçãodesse comitê?

Barcinski: A proposta do minis-tro Raupp, endossada pela ABC que aapresentou na Assembleia Geral do IAP,foi justamente a da criação de um gru-po de trabalho formado por represen-tantes de algumas academias e quetrabalharia especificamente na defini-

ção do “modus operandi” das acade-mias para a erradicação da pobreza.Vejo com muito entusiasmo a forma-ção de um grupo de trabalho com esteobjetivo porque além de definir formasde atuação, manteria viva esta missãodas academias.

Uma das questões discutidasna conferência envolveu o dado doIBGE, que aponta que 35% dos do-micílios brasileiros estão em inse-gurança alimentar, o que gera umasérie de doenças, principalmente ascardiovasculares. Na ocasião, foiapresentado um exemplo de umaação bem sucedida ocorrida na Fin-lândia, onde um esforço conjuntoenvolvendo escolas, universidadese mídia provocou redução expres-siva no índice de doenças cardio-vasculares. Que medidas podem seradotadas pelas Academias de Ciên-cia no Brasil para garantir umamaior segurança alimentar à popu-lação?

Barcinski: Esta discussão ocor-reu como um evento paralelo ao pro-grama da conferência através de umainiciativa muito bem sucedida da as-sessoria de imprensa da ABC, objeti-vando a divulgação para o grandepúblico dos temas em discussão. Emtodo o caso, aqui também, o papel dasacademias é o de facilitar o intercâm-bio entre pesquisadores para a gera-ção de programas de segurançaalimentar, divulgar estes programas eassessorar agências governamentais ede fomento à pesquisa para a sua for-mulação e implementação. As Aca-demias de Ciências podem e devemparticipar ativamente da formulação eda implementação das metas defini-das pelos governos e pelas NaçõesUnidas como a agenda para o desen-volvimento sustentável pós-2015.

os principais destaques e frutosdesse encontro?

Barcinski: Os participantes noevento foram bem mais do que 64 ci-entistas. Houve delegações com maisde um representante, além de obser-vadores e cientistas convidados espe-cialmente como palestrantes para aconferência. Outro destaque foi a par-ticipação significativa quantitativa equalitativamente de jovens pesquisa-dores principalmente membros da GYA(Global Young Academy), uma rede li-gada ao IAP. As temáticas discutidasforam as listadas acima, incluindo-se,também, a saúde global, o acesso àágua potável e saneamento básico e oletramento científico (science litteracy).

As discussões travadas naconferência deram origem a umdocumento chamado Carta do Rio.O primeiro item da Carta diz que aredução da pobreza e o desenvol-vimento sustentável requerem oenfrentamento de grandes desafi-os-chave em saúde, alimentação,água, energia, biodiversidade, cli-ma e educação, gestão de desas-tres, entre outros. Quais são osprincipais desafios nesses camposno Brasil?

Barcinski: Os temas listadosacima são desafios universais com,obviamente, ênfases e obstáculos pró-prios em diferentes países. O Brasil tempela frente todos estes desafios e umpapel especialmente relevante naquestão do acesso à agua e da biodi-versidade por ser um dos repositóriosmundiais de grande importância. Oacesso universal a uma educação dequalidade é certamente um de nossosmaiores, se não o maior desafio, a serurgentemente enfrentado.

A Carta do Rio afirma que,para resolver grandes desafios, é

CRIS INFORMA #6 | MARÇO DE 2013 - ExpedienteCoordenadoria de Comunicação Social (CCS) | Edição e redação: Danielle Monteiro com colaboração de Thiago

Oliveira | Projeto gráfico e edição de arte: Guto Mesquita | Fotografia: Peter Ilicciev e Arquivo CCS

Contato: Danielle Monteiro - Tel: (21) 3885-1065 - E-mail: [email protected]

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