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ABRIL DE 2015 ESPECIAL EXPOLONDRINA Dólar favorece exportação de grãos, mas aumenta custo Página 26 e 27 Meta da ExpoLondrina 2015 é elevar público e faturamento Páginas 6 e 8 FALTA BOI, FALTA BOIADA Com a arroba a R$ 150, pecuária de corte estreia um novo ciclo, de desafios e oportunidades, que vai da falta de boi no pasto à reorganização da atividade

Especial Expolondrina 2015

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Revista antecipa tendências que serão apresentadas na Expolondrina 2015

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abril de 2015ESPECIAL EXPOLONDRINA

dólar favorece exportação de grãos, mas aumenta custoPágina 26 e 27

Meta da expolondrina 2015 é elevar público e faturamentoPáginas 6 e 8

falta boi, falta boiada

Com a arroba a R$ 150, pecuária de corte estreia um novo ciclo, de desafios e oportunidades, que vai da falta de boi no pasto à reorganização da atividade

4 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

[editorial

Os Estados Unidos têm o menor rebanho bovino desde a década de 30. No Paraguai, a pecuária de corte assume participação expressiva no PIB. E o Brasil se consolida como o maior exportador de carne bovina

do mundo. Um cenário que promove uma estruturação, ou res-truturação, da cadeia produtiva. Com a arroba do boi a preço de barril de petróleo, sobra mercado, falta boi no pasto e a picanha vira artigo de luxo .

Foi-se o tempo de vacas magras. Hoje, quem tem boi tem ativo. O problema é que há pouco boi no pasto. Uma realidade onde a oportunidade pode virar frustração. A pecuária se justifica no avanço da soja, que estaria tomando área do boi. O outro lado dessa moeda é que a criação de boi precisa ganhar em produtivi-dade. Não dá mais para permitir um animal/hectare quando é possível acomodar de dois a três na mesma área. Aí é possível ter uma pecuária mais rentável convivendo com a expansão da soja. O manejo e o ganho genético, que têm melhorado carcaça e ocu-pação no pasto, prometem mudar esse histórico. Um desafio que precisa caminhar lado a lado com a sanidade e estratégia de mercado, de forma a dar garantias à base da cadeia.

Não por acaso, a pecuária de corte é a capa da segunda edição do ano da revista Agronegócio Gazeta do Povo, publicação que tem como motivação a ExpoLondrina, tradicional reduto da criação de boi e da genética bovina no Paraná e no Brasil.

Boa Leitura!

Giovani Ferreira, coordenador do Núcleo de Agronegócio da Gazeta do [email protected]

O ano é do boi. Mas para quem tem boi

EXPEDIENtE

A revista Agronegócio é uma publicação da Editora Gazeta do Povo. Diretora de Redação: Maria Sandra Gonçalves. Edito r Execu tivo: Giovani Ferreira. Edição: José Rocher e Luana Gomes.

Edito r Execu tivo de Imagem: Marcos Tavares. Edito res de Arte: Alexandre L. De Mari, Carlos Bovo e Dino R. Pezzole. Projeto Gráfico: Dino R. Pezzole, Joana dos Anjos e Marcos Tavares. Diagra­

ma ção: Rodrigo Montanari Bento. Tratamento de Imagem: Edilson de Freitas. Foto Capa: Brunno Covello. Re da ção: (41) 3321-5050. Fax: (41) 3321-5472. Co mer cial: (41) 3321-5904. Fax: (41)

3321-5300. E­mail: [email protected] Site: www.agrogp.com.br. Endereço: R. Pedro Ivo, 459. Curitiba-PR. CEP: 80.010-020. Não pode ser vendido separadamente. Impressão e

acabamento: Gráfica Serzegraf

ExpoLondrina Em Expansão Turbulências econômicas impõem desafio de elevar público e faturamento em 2015

6

novas rEgras nas Estradas lei do Caminhoneiro promete baratear escoamento da produção de grãos

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américa do suL Em Evidência expedição Safra consolida rota sul-americana. região supera as 160 milhões de t de soja

9

gado programado Genética encurta ciclo do boi com agilidade na reposição dos planteis

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churrasco gourmEt Febre da gastronomia chega aos açougues e faz gado europeu ganhar espaço

24

arco nortE Em rEformuLação

Complexos logísticos do Norte e Nordeste consolida uma nova rota à exportação

28

produtividadE turbinada EntrEvista: luiz Meneghel Neto, presidente da Fundação Meridional

13

[índice

5GAZETA DO POVO AGRONegócio

cadê o boi quE Estava aqui?boom dos grãos levou pecuaristas a descartar matrizes para abrir espaço à soja nas fazendas e agora simplesmente não há bezerro suficiente para alavancar rapidamente a produção de carne bovina, como pedem as cotações de r$ 150 a arroba no Paraná

16 a 21duas facEs dE uma mEsma moEda

Se por um lado o dólar acima de r$ 3 confere mais competitividade às exportações brasileiras e abre espaço para o brasil ampliar o embarque de grãos, por outro, produtor vai ter que desembolsar mais para semear a próxima safra e, em tempos de estoques recordes pode obrigar o país a reduzir, pela primeira vez, o plantio de soja no ciclo 2015/16

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6 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

Flávio Bernardes, especial para a Gazeta do povo

:: Depois da tempestade, vem a bonança. O ditado resume bem o que se passou com a agricultura parana-ense nas duas últimas safras de soja no Paraná, especialmente na região Norte do estado. Mas agora, com a confirmação de boa safra em 2014/15, o panorama é bem mais otimista. E a pecuária, com a arroba do boi gordo subindo a R$ 150, completa um qua-dro distinto das dificuldades econô-micas do país. Este é o cenário que embala a 55ª ExpoLondrina, de 9 a 19 abril, realizada pela Sociedade Rural do Paraná (SRP).

As previsões de faturamento e público consideram que, mesmo com o pessimismo do momento econômico nacional, o panorama do agronegócio é favorável. “Eu posso dizer que estou confiante”, diz Moacir Sgarioni, presi-dente da Sociedade Rural do Paraná (SRP). A confiança é reforçada pelos bons números que a feira alcançou em 2014, mesmo diante de tantas dificul-dades nas lavouras. Foram 539,9 mil visitas (7,5% de aumento em relação ao ano anterior) e uma movimentação de R$ 424,65 milhões (alta de 5,5%).

Em sua 55ª edição, a ExpoLondrina espera receber neste ano pelo menos 500 mil pessoas no parque de exposi-ções nos 11 dias de evento. O Parque de Exposições Governador Ney Braga ain-da irá receber quase 10 mil animais, de 30 raças bovinas, além de caprinos, ovinos, equinos e muares, segundo a SRP. Na agenda, cerca de 20 leilões de

todas as raças de animais, além de jul-gamentos, exposições e rodeios. A pro-gramação técnica tem ainda cursos, oficinas, palestras e encontros sobre os mais variados temas do agronegócio.

Sgarioni evita fazer previsões de faturamento pra edição 2015, porém enfatiza: “Se vamos vender mais em relação ao ano passado, eu não sei, mas vamos tentar. Nós estamos em crise no país, portanto, se mantiver-mos esse faturamento global, princi-palmente com veículos e máquinas, já vai estar ótimo.”

Para todos os camposEm 2015, a ExpoLondrina repete o slo-gan “A Melhor do Brasil”. “Melhor por-que é completa”, defende o presidente da SRP. “Eu já visitei várias feiras, a nossa é a única que contempla todo o segmen-to agropecuário. Vamos ter baterias de palestras e atividades em várias áreas, como piscicultura, meio ambiente e economia voltada para o agronegócio.”

Entre as apostas da edição de 2015, está o apoio à diversificação nas pro-priedades. O diretor de aquicultura da Sociedade Rural, Ricardo Neukirchner, conta que os seminários em piscicultu-ra e até a visita do ministro da pesca pretendem capacitar produtores em uma atividade que cresce a taxas de 25% a 28% ao ano em todo o país.

“Hoje a rentabilidade está em 30% sobre o capital investido, depois de seis meses que o sistema é implantado. como o consumo interno vem crescen-do muito, quem iniciar na atividade vai ter demanda certa. E isso pelos próxi-mos 20 anos”, frisa Neukirchner.

Cenário otimista para a agropecuária paranaense

aumenta as expectativas para a exposição. Feira aposta

em eventos técnicos para capacitar produtores

Em tom de recuperação

[ExpoLondrina 2015

atrações como o parque dediversões e a praça de gastronomia chamam público urbano.

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7GAZETA DO POVO AGRONegócio

Além das atrações voltadas ao público urbano, como o parque de diversões, a praça gastronômica, a Feira de Sabores e os shows musicais, a 55ª edição da ExpoLondrina tem uma extensa programação técnica. Confira os principais cursos, oficinas, palestras e encontros da exposição:

Agricultura

• encontro do Café (15/04 )

Pecuária

• 13º Seminário estadual de aquicultura (13/04)

• 3º Simpósio de Ovinocultura Moderna (15/04)

• 1º Seminário de Ovinocultura leiteira (18/04 )

• 3º Curso de andrologia de Pequenos ruminantes (18/04 )

Agronegócio e economia

• Palestra com Carlos alberto Sardenberg (13/04 )

Silvicultura e Sustentabilidade

• 1º Simpósio bem estar na

Fazenda (14/04 )

tecnologia

• V Simpósio eficiência em

Produção e reprodução animal

(16/04 )

Leilões

• leilão 10 Marcas (09/04 )

• 15º leilão Golden Night Quarto

de Milha (11/04 )

• 1º leilão Paraná Promoções

(13/04 )

• 1º leilão de reprodutores Nelore

(14/04 )

• 4º leilão Primor rural (15/04)

• 1º leilão Trabalho Mangalarga

Marchador (17/04 )

Oficinas

• Criação de abelhas sem Ferrão

(13/04)

• Proteção de Nascentes a base de

Solo Cimento (14/04 )

• Captação e armazenamento de

água da chuva e saneamento

(14/04 )

• Soja: Manejo integrado de

pragas, doenças e solos e

tecnologia de aplicação de

agrotóxicos (14/04, 15/04, 16/04 e

17/04 )

• Pomar caseiro produtivo/

fruticultura (14/04 )

• equipamentos para Café

adensado (15/04 )

• Cultivo de Maracujá (15/04 )

• Produção de Palmeiras para

Produção de Frutos e Palmitos

(15/04 )

• Melhoramento Genético do

gado de Corte (15/04)

• Cultivo de Morango em estufas

(16/04 )

• Manejo de Pastagens (17/04)

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expectativa da organização é reunir ao menos 500 mil pessoas.

Em constante expansão:: O cenário nem sempre foi o ideal. Ao longo dos últimos anos, o agronegócio passou por altos e baixos. Mas a ExpoLondrina seguiu em expansão. E em ritmo forte. De 2010 a 2014, o volume de negócios fechado durante a feira aumentou 118,81%, chegando a R$ 424,65 milhões no ano passado. Uma das explicações para o crescimento está em uma relação quase direta: se há mais vendas, é provável que haja mais vendedores. É o que mostram os números: se em 2010, a Expo tinha 1.423 expositores, no ano passado foram 2.487, um incremento de 74,77%.O único item que oscilou de 2010 pra cá foi o público, característica marcante do evento, que se orgulha por unir campo e cidade. Apesar do número de visitantes ter cresci-do 16,46% no período, houve pontos fora da curva. Em 2012, por exemplo, a feira recebeu 29,3 mil visitantes a menos que no ano anterior. Nas edições seguintes, porém, veio a recuperação e, em 2014, a ExpoLondrina fechou com 539,9 mil visitantes. (FB)

PrOgramaçãO Técnica

8 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

Flávio Bernardes, especial para a Gazeta do povo

:: Enquanto a economia brasileira pati-na para escapar de um cenário de retra-ção, o agronegócio parece caminhar por outros trilhos. No ano passado, por exemplo, mesmo diante de adversida-des climáticas, a movimentação finan-ceira da ExpoLondrina cresceu 5,5%, alcançando R$ 424,65 milhões. Para 2015, a expectativa é pelo menos man-ter o volume de negócios.

A feira funciona como uma espé-cie de vitrine para que o setor consiga mostrar força e buscar mais investi-mentos. Para o presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Moacir Sgarioni, os R$ 180 bilhões de crédito anunciados no último Plano Safra, em maio do ano passado, já não dão mais conta de cobrir as des-pesas de custeio e investimento dos produtores.

Isto porque, com o dólar em dispa-rada, ainda que faça a soja ganhar no quesito exportação, eleva os custos de produção. “O Brasil importa mui-tos fertilizantes, somos o quarto maior consumidor de adubo do mundo, e o governo parou de investir na possibilidade de explorar fertili-zantes daqui”, afirma Sgarioni. Para 2015, o setor pleiteia R$ 207 bilhões junto ao governo federal.

O desafio neste ano é fazer com que essa afeição pelo campo leve o público a tirar a carteira do bolso. Com a inflação em disparada e quase tudo mais caro ultimamente, a ten-

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Presidente da Sociedade Rural do Paraná diz que setor tem ajudado a

pagar as contas do país e, por isso, precisa de mais recursos. Em 2015,

desafio é driblar a crise econômica e manter o público

Uma vitrine para o agronegócio

Em um momento como esse, você tem que chamar o público. E, para isso, é preciso investir.”Moacir Sgarioni, presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP)

dência é de que as pessoas se segurem um pouco mais na hora de gastar. Para isso, a receita de Sgarioni é exa-tamente o oposto: investir.

“Em um momento assim, você tem que chamar o público. Para isso, investimos, por exemplo, R$ 400 mil a mais na grade de shows e rodeios”, cita o presidente. O ingresso para o show principal, que antes custava R$

35 antecipado ou R$ 70 na hora, hoje sai R$ 25 e R$ 50, respectivamente. “Desde que assumimos, em 2013, estamos mantendo o preço dos shows e a entrada para feira em R$ 10 em dias normais e R$ 12 nos fins de semana, com direito a meia entrada. É uma forma de dar ao pai a chance de trazer o filho para exposição”, completa Sgarioni.

9GAZETA DO POVO AGRONegócio

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equipe de técnicos e jornalistas visitou produtores em 16 estados brasileiros.

da redação

:: A Expedição Safra Gazeta do Povo percorre nesta semana a Argentina e o Uruguai para uma avaliação do tamanho da safra sul-americana de soja, que deve ser a maior já registra-da na região. Depois de conferir os resultados de lavouras de 16 estados do Brasil e o cinturão de produção do Paraguai, o projeto consolida os dados da temporada 2014/15 com a incursão pelos dois países vizinhos, onde a colheita começa a ganhar rit-mo.

A Argentina registra uma série de previsões locais que divergem entre si, mas apontam para uma colheita recorde de soja, de pelo menos 55 milhões de toneladas. O Ministério da Agricultura do país prevê 58 milhões de toneladas, enquanto a Bolsa de Cereais de Buenos Aires aponta para 57 milhões de toneladas. Pelas previ-sõe s do Depa r t a m e n t o de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o mercado espera 56 milhões de toneladas, 2 milhões a mais do que no ano passado.

No Uruguai, a colheita da soja começa com previsão de safra esta-bilizada em torno de 3,5 milhões de toneladas, 3 milhões delas des-tinadas ao mercado externo. Já a Argentina, deve remeter ao exte-rior 8 milhões de toneladas da ole-

Quarteto formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai colhe mais

de 160 milhões de toneladas, aponta sondagem técnico-jornalística

América do Sul confirma maior safra de soja da história

[Expedição Safra

depois de percorrer brasil e Paraguai, expedição consolida os

dados da temporada 2014/15 com a incursão à argentina e Uruguai.

aginosa, 1 milhão a mais do que no ano anterior.

A meta da região, que inclui tam-bém Brasil e Paraguai, é manter sua participação nas exportações globais da oleaginosa próxima de 64%, apon-ta a Expedição Safra. Juntos, os qua-tro países devem retirar das lavouras 160 milhões de toneladas de soja e 62 milhões serão exportados na forma grãos. Essa participação no mercado global é 25% maior que a prospecta-da para os Estados Unidos, líder na colheita e no embarque, que deve ser de aproximadamente 48 milhões de toneladas em 2014/15.

62 milhões de toneladas devem ser exportados na forma de grão pelo quarteto da soja nesta temporada. Com colheita recorde, região deve concentrar cerca de dois terços do comércio global da oleaginosa, participação 25% maior que a prospectada para os estados Unidos, líder na colheita e no embarque.

10 AGRONegócio Abril de 2015GaZEta do PoVo

Lei do Caminhoneiro entra em vigor no próximo dia 17

com a previsão de baratear o transporte de grãos

Impacto imediato

[escoamento

carlos Guimarães Filho

:: A Lei do Caminhoneiro, assinada a toque de caixa pelo governo federal após a onda de protestos que parali-sou as estradas brasileiras no final de fevereiro, começa a valer a partir da zero hora do dia 17 de abril, em meio ao escoamento da safra recorde de grãos. Ainda com alguns pontos aguardando regulamentação dos órgãos competentes, a projeção ini-cial do setor produtivo é de que o agronegócio seja beneficiado pela nova medida, inclusive com a redu-

ção no custo do transporte do campo até os portos e indústrias.

“No contexto geral, a lei tem pon-tos que beneficiam as cooperativas de transportes e agropecuárias”, afir-ma João Gogola Neto, coordenador de desenvolvimento cooperativo da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). “Não podemos dizer que todos os pontos vão desonerar, pois, por exemplo, a exigência de exames toxicológicos traz aumento de custo para as empresas. Mas, no contexto geral, ela [a lei] é benéfica e ameniza a margem apertada”, com-

plementa.Entre as medidas previstas na

nova legislação, Gogola destaca três pontos que irão trazer impactos ime-diatos para o agronegócio. O pedágio passa a ser calculado de acordo com a quantidade de eixos em contato com o asfalto e não mais sobre o número total de eixos do veículo. “Hoje eu ando com dois eixos ergui-dos e tenho que pagar pedágio. Essa mudança traz economia”, avalia o caminhoneiro Adinaldo Paixão.

Outro item positivo é a possibili-dade do motorista dormir no veículo,

11AGRONegócioGaZEta do PoVo

“Se as mudanças não acarretarem em redução de salário, a nova legislação trará vantagens para os caminhoneiros e não será muito difícil se adaptar.”José Carlos Silveira, caminhoneiro

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Mudanças na jornada de trabalho, períodos de descanso e cobrança de

pedágio estão entre as principais medidas da nova legislação.

o antes era proibido. “Isso desonera o contratante”, segundo Gogola. Por último, a prorrogação da jornada de trabalho permite manter o cami-nhão rodando por mais tempo. Antes, o motorista era obrigado a fazer um intervalo de 30 minutos a cada 4 horas – período que foi esten-dido a 6 horas na nova legislação. As hora extras, antes limitadas a 2 horas, poderão chegar a 4 horas, desde que exista acordo coletivo entre as partes.

“Agora teremos o caminhão rodando mais tempo, ou seja, a ferra-menta de trabalho estará em produ-

ção. Isso é importante para o momen-to do escoamento da safra”, aponta Gogola.

Na estradaPara quem passa boa parte do tempo na estrada, ainda não há consenso sobre os impactos da nova lei. Muitos motoristas não estão totalmente a par do assunto. Porém, a análise ini-cial é de que as novas regras são um avanço, apesar da necessidade de ajustes.

“Não existem muitos pontos de descanso, e não dá para estacionar

em qualquer lugar da estrada. Além disso, como muitos caminhões vão ficar parados simultaneamente pode haver aumento no f luxo das estra-das”, contextualiza o motorista Odilon Bohm.

Com 25 anos de boleia, José Carlos Silveira acredita que não haverá difi-culdades para se adaptar às novas regras. Como ele é contratado, a pró-pria empresa vai exigir o cumpri-mento da legislação. “Para os moto-ristas autônomos realmente será mais complicado”, pondera.

Colaborou Igor Castanho

12 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

[escoamento

O quE diz a LEi

Conheça alguns dos pontos da Lei do Caminhoneiro que entra em vigor no próximo dia 17.

• Veículos que circulam vazios não pagarão pedágio sobre os eixos suspensos.

• Multas por excesso de peso dos últimos dois anos serão perdoadas.

• Na pesagem, haverá tolerância de até 5% sobre os limites de peso bruto total e de 10% sobre os limites de peso bruto transmitido por eixo de veículos à superfície da estrada.

• exames toxicológicos serão exigidos na admissão e no desligamento do motorista, que terá direito a contraprova e confidencialidade dos resultados.

• a jornada diária será estendida a 8 horas, com prorrogação por até 2 horas ou, se previsto em acordo coletivo, por até 4 horas.

“A lei vai ser boa em algumas coisas e ruim em outras. A mudança

da cobrança de pedágio traz economia e as

regras de descanso são positivas, mas não

existem muitos pontos de parada e nem é

seguro ficar na estrada.”

Adinaldo Paixão, caminhoneiro autonômo

:: Parte considerável da frota brasileira de caminhões é comandada por motoristas autô-nomos. Essa parcela, fundamen-tal para o escoamento da safra de grãos, também é atendida pela nova legislação.

Apesar de não constar na pau-ta inicial, a Lei do Caminhoneiro prevê que o dono de caminhão contrate um auxiliar. Desta maneira, caso seja de interesse e havendo carga, o veículo “pode rodar 24 horas”, diz João Gogola Neto, coordenador de desenvol-vimento cooperativo da Ocepar.

A lei permite que o auxiliar seja contratado sem carteira assinada, o que resulta em eco-nomia para o contratante, que não precisa pagar vários impos-tos. Neste caso, o funcionário seria um novo autônomo, com registro específico na Agência Nacional de Transporte Ter-restre (ANTT). (CGF)

Autônomo “pode” rodar 24 horas

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• dirigir por mais de 5 horas e meia ininterruptas será proibido. a cada 6 horas na condução estão previstos 30 minutos para descanso.

• dentro do período de 24 horas, 11 horas de descanso serão obrigatórias, mas poderão ser fracionadas.

• Nas viagens de longa distância, o repouso diário poderá ser feito no veículo.

• em viagens superiores a sete dias, o repouso semanal será de 24 horas por semana ou fração trabalhada, sem prejuízo do intervalo de repouso diário de 11 horas, totalizando 35 horas.

• Nos casos de dois motoristas no mesmo veículo, o tempo de repouso poderá ser com o veículo em movimento.

13GAZETA DO POVO AGRONegócio

[entrevista

Incremento via laboratório

O que é mais desafiante: a irregularidade climática ou a pressão das pragas?Atualmente, acreditamos que fatores climáticos são bem mais desafiadores, pois além de interferirem diretamente na fisiologia das plantas, também exercem uma pressão negativa na aplicação e no funcionamento dos defensivos agrícolas.

Qual a tendência de remuneração paga pela tecnolo-gia na semente? O estabelecimento de valores, para qualquer tipo de tecnologia, é uma prerrogativa do seu obtentor. É claro que cada um interpreta esta situação à sua maneira. Todas as vezes que buscamos uma negociação com o proprietário de uma determinada tecnologia visamos as condições tanto com o produtor de sementes, como com o agricultor.

Quais as perspectivas de participação de empresas nacionais no mercado?Nos últimos 10 anos, empresas obtentoras de genética se instalaram no Brasil, aproveitando uma mudança radical no sistema produtivo. Neste contexto, as variedades já estavam prontas e bastou fazer alguns testes de adaptação. As empresas nacionais precisaram de um tempo maior para buscar o ajuste em seus programas de melhoramento. Hoje temos variedades de soja excepcionais em todos os aspectos. As empresas nacionais continuam com uma significativa parcela de participação no mercado de cultivares.

carlos Guimarães Filho

:: Os limites apertados para expansão territorial das lavouras brasileiras colocam ainda mais pressão no desenvolvimento tecnológico das sementes. Em época de cotação baixa nos grãos e custo de produção elevado, o rendimento das lavouras assume papel de destaque na viabilidade do negócio. É a opinião de Luiz Meneghel Neto, diretor presidente da Fundação Meridional, em Londrina. O executivo ainda ressalta que, após alguns percalços, as empresas nacionais desenvolveram varie-dades excepcionais, fundamental para elevar a parcela de participação no mercado de cultivares. Confira na entrevista outros pontos sobre a pesquisa genética no segmento dos grãos.

Até que ponto o ganho de produtividade pode ser atribuídos à genética? O melhoramento genético continua sendo o único fator preponderante para o real incremento de produtividade na cultura de soja. Mas sem dúvida, o manejo adequado da cultura permite a expressão do potencial genético com muito mais eficiência, aproximando-se do valor máximo.

Quais cases de avanço genético estão em evidência no mercado?Como resultado de nossa parceria com a Embrapa, podemos citar a variedade BRS 284 (soja convencional), pois o sistema radicular agressivo consegue buscar água em maiores profundidades, além de apresentar resistências nematoides formadores de galhas. Outro excelente exemplo é as variedades que possuem eventos transgênicos como Bt e RR2 em seu germoplasma. É o caso da cultivar BRS 1001IPRO, que possui a base genética da BRS 284, associada à tecnologia Intacta RR2 PROTM, conferindo-lhe resistência a um grupo de lagartas e a tolerância ao glifosato.

luiz Meneghel Neto destaca a importância do refúgio e da rotação

para o prolongando funcional das tecnologias

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Hugo Harada / Gazeta do Povo

14 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

15GAZETA DO POVO AGRONegócio

Redução contínua do rebanho, aumento das exportações, falta

de planejamento... as razões são muitas, mas o fato é que a

boiada ficou pequena para a demanda por carne bovina.

Cotações rondam R$ 150 por arroba e abrem porta à expansão

Mercado pede carne, mas falta boi

[pecuária

16 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

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Flávio Bernardes, especial para a Gazeta do povo

:: A cotação da carne bovina ultra-passou todos os seus limites e está rondando os R$ 150 por arroba no Paraná. Não há sinal de queda nos preços há mais de dois anos, mas fal-ta boi no pasto.

A valorização da carne tem sido contínua e, com novo impulso da alta do dólar, estende o convite à expansão da bovinocultura. A força da escalada dos preços apresenta uma questão: por que o setor não programou incremento no rebanho?

A cotação média anual nunca havia chegado perto de R$ 100 no Paraná até 2013, quando alcançou R$ 99,69. A redução de 10% no reba-nho de corte em dez anos mostra que o setor ainda não respondeu a esse apelo do mercado.

De 2004 a 2013, o plantel total do estado, hoje estimado em 9,39 milhões, perdeu 880 mil cabeças. E o gado de corte, por sua vez, caiu de 7,7 milhões para 7 milhões de cabeças. Um recuo que se somou aos fatores que elevaram o preço da carne no mercado interna-cional, inclusive em regiões onde hou-ve expansão da atividade.

O momento agora é de reação, mes-mo onde o rebanho vinha encolhendo. Prova disso é o preço do bezerro, que ultrapassou R$ 1 mil com reajustes 30% maiores que os da arroba do boi gordo (veja infográfico na página 19).

As razões para o recuo são sim-ples. Considerando os custos e a ren-tabilidade de outras atividades, a pecuária valia pouco a pena enquan-to a arroba estava abaixo de R$ 100, aponta o produtor Antônio Sampaio, de Londrina (Norte). Ele reduziu seu rebanho de 600 para 100 cabeças e destinou 285 hectares de pasto para grãos, que agora ocupam pratica-mente toda sua propriedade. “Quem tinha área boa de lavoura foi para a soja e quem não tinha acabou mudando para a cana”, comenta.

17GAZETA DO POVO AGRONegócio

O Paraná abateu 200 mil matrizes nos últimos 2 anos – o que significa 100 mil bezerros a menos por ano. Se hoje há falta bezerro é porque faltou planejamento, avalia o zootecnista Paulo Rossi, coordenador do Labo-ratório de Pesquisas em Bovinocultura da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o LapBov.

Seja para reduzir ou para expan-dir a produção, o setor precisa se pau-tar em indicadores de longo prazo, considera. “Sabíamos da situação, mas não conseguimos nos antecipar. Poderíamos ter diminuído o rebanho, mas para isso teríamos que aumentar a produtividade”, crava Rossi.

Embora não haja avaliações preci-sas sobre o tamanho do espaço que a pecuária tem para se expandir, o con-senso é que a tendência ainda é de alta nos preços. O aumento nas exporta-ções, neste momento, soa como agra-vante da escassez na oferta. Os embar-ques, ainda que considerados fracos para o tamanho do rebanho, cresce-ram 32,4% nesta década, de 22,2 mil toneladas (2010) para 29,4 mil tonela-das (2014). Apesar disso, a participa-ção do estado nas exportações brasi-leiras ainda é pequena, de 1,9%.

AtenuantesSe não houver reação, o Paraná pode se tornar um comprador assíduo de car-ne de outros estados, cogita o presiden-te da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Moacir Sgarioni. “O produtor que sai da pecuária não volta. A agricultura tem sido mais rentável”, avalia.

Para Sgarioni, existem alternati-vas que podem estimular a produção além dos preços recordes: investi-mentos em reprodução e redução de impostos sobre a circulação dos ani-mais. “É muito caro comercializar um bezerro de uma região para outra. No Paraná, pagamos 12% de ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços]”, reclama.

MotivaçãoO consultor da Associação Brasileira de Criadores de Zebuínos (ABCZ) em Londrina, Gustavo Garcia Cid, acre-dita numa recomposição do rebanho

[pecuária

nos próximos anos por conta dos pre-ços, o que ajudaria a tornar a cadeia toda mais lucrativa, e não apenas uma ponta dela. “[Quando os ganhos são limitados], se o vendedor de bezerro ganha muito, alguém está perdendo”, frisa.

Garcia Cid, no entanto, avalia que os preços não devem frear o consu-mo. “Aqui no Brasil, isso pode ocorrer um pouco, com a migração para outras proteínas, como o frango e suíno. Mas o consumo mundial é menos flexível”, acrescenta.

O consenso é que as cotações abrem espaço para o Paraná retomar a produção de carne bovina com mais planejamento e sustentabilida-de. “É uma grande oportunidade de se consolidar, dez anos depois da cri-se da aftosa [que se def lagrou em 2005 e atingiu em cheio o estado em

211,8 milhões de cabeças é o tamanho do rebanho bovino brasileiro, conforme o ibGe - o segundo maior plantel do mundo. O país é o maior exportador da carne do mundo, com 2,03 milhões de t. embarcadas em 2014, segundo o Usda.

2006]”, avalia Rossi, do LapBov. Hoje, o estado encontra-se na 11.ª coloca-ção no cenário nacional, com apenas 4,4% do rebanho brasileiro e pouco mais de 1 milhão de cabeças abatidas anualmente.

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MAPA DO GADOEntre os principais criadores de bovinos, quatro estadosseguiram na contratendência do país, reduziram seusrebanhos e ajudaram a elevar o preço da carne.

Fonte: IBGE. Infografia: Gazeta do Povo.

SaldoEntre 2004 e 2013, o rebanhobovino nacional aumentou em7,25 milhões de cabeças, deacordo com os dados do IBGE.

RecuoNo entanto, juntos, os estadosdo Paraná, Mato Grosso do Sul,Rio Grande do Sul e São Paulopassaram a criar 8,46 milhõesde cabeças a menos considerandoo mesmo intervalo de tempo,segundo o IBGE.

Mato G. do Sul -15

Paraná -9

Rio G. do Sul -4

São Paulo -24

Variação (%)

Sudeste0%

Centro-Oeste0%

Sul -2%

Norte+12%

Nordeste+12%

18 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

:: A redução da cria e recria de bovi-nos surte efeito na ExpoLondrina, com queda no número de animais expostos desde o ano passado. Neste momento, essa escassez tem seu lado positivo, af irma o presidente Sociedade Rural do Paraná. “Muitos criadores estão vendendo direto nas propriedades, o mercado está mais comprador. Isso faz com que ele evite gastos com a logística”, analisa Moacir Sgarioni.

A demanda é considerada forte. “Nunca tinha visto uma procura como essa. Hoje o pessoal reserva o bezerro dentro da barriga da vaca”, conta o produtor Alexandre Turquino, cuja família trabalha com pecuária de corte há mais de 40 anos na Região Norte do Paraná. Os perío-dos de baixa são considerados sazo-nais. “A gente continua, não adianta ficar pulando de galho em galho.”

Turquino não só permaneceu como resolveu investir na bovinocul-tura. Ele atua em duas propriedades, uma no Mato Grosso do Sul, onde cria as matrizes, e outra no Paraná, em Bela Vista do Paraíso, destinada à engorda.

“A gente viaja e acompanha. Eu vi que isso iria acontecer. No Noroeste do Paraná, por exemplo, antes tinha muito gado e agora é só soja e cana. Então, resolvi apostar no retorno da bovinocultura”, conta. Nos últimos cinco anos, aumentou de 2 mil para 3 mil o número de matrizes. Ao todo, o rebanho está com 5 mil cabeças: “Agora estamos começando a pagar as contas”, pondera. (FB)

Para quem ficou, hora de colher os frutos

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Migração em massa para cana e soja era sinal de que faltaria boi, diz Turquino.

“Nunca tinha visto uma procura como essa. Hoje o pessoal reserva o bezerro dentro da barriga da vaca.”

Alexandre turquino, pecuarista

NA DIANTEIRAO valor que os pecuaristasdo Paraná pagam por umbezerro subiu 60 pontospercentuais a mais que opreço da arroba do boi gordona última década.

BOI GORDOPreço da arroba

BEZERROPreço da cabeça

06 07 08 09 10 11 12 13 14 15

48,86

57,07

78,49

73,80

81,1295,57

93,1299,69

121,86

R$ 138,65

+184%

341,92

407,31

567,90581,69

629,96

742,86759,49

774,40

936,97

R$ 1.174,55

06 07 08 09 10 11 12 13 14 15

+244%

Fonte: CIA/LapBov/UFPR. Infografia: Gazeta do Povo.

19GAZETA DO POVO AGRONegócio

20 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

[pecuária

:: A grama do vizinho é sempre mais verde, diz o ditado. No caso dos pecuaristas paranaenses, por muito tempo foi assim. E era mais verde principalmente por causa da soja, que manteve sempre boas cotações.

Agora, com a arroba do boi gordo sendo negociada na faixa de R$ 140 – 18% a mais do que na mesma época do ano passado –, a mesa virou e deve continuar assim por um bom tempo. “Nós temos contra-tos futuro que estão sendo fechados em R$ 153 a arroba para outubro. Se continuarmos exportando, o valor deve chegar a R$ 160 para este mes-mo mês”, prevê o analista Paulo Rossi, ligado à Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Isto porque a alta ocorreu antes mesmo da entressafra, que começa em abril e, por conta dos períodos de estiagem, prejudica o crescimen-to das pastagens. Aí vem o efeito dominó: menos alimento significa menos gado disponível.

Escalada das cotações deve durar até o fim de 2016

“O valor mínimo previsto para a arroba em 2015 é de R$ 135 e, em 2016, R$ 130. E estamos falando de valor mínimo, para cobrir os gas-tos”, pontua Paulo Rossi, que atua como consultor e faz planejamen-tos para dois anos. “Eu acredito que, mesmo depois desse período, o pre-ço não deve ser menor que R$ 120, por causa dos custos de produção.”

Os especialistas alertam para novos sinais do mercado. “A gente vê que a arroba não cede, mas o con-sumo de carne bovina já está um pouco menor. O consumidor é a última ponta da cadeia e eu não des-carto que a redução no consumo seja um indicativo de que os preços chegaram perto de um teto”, obser-va Guilherme Dias, técnico da Comissão de Bovinocultura de Corte da Federação da Agricultura do Paraná (Faep).

“A indústria está pagando caro pelo boi. Eles acabaram compen-sando nos subprodutos, mas chega-ram ao limite. E você também não pode subir demais o preço da carne, senão o mercado engasga. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio”, frisa Paulo Rossi. (FB)

:: O momento é bom, os preços estão em alta, sobra cliente e falta mercado-ria. Um cenário que, a princípio, pode atrair muitos investidores. Mas é preci-so paciência para quem está começan-do do zero ou, pelo menos, sem uma estrutura bem montada. Significa que vai levar um bom tempo até que os pro-dutores consigam dar uma resposta à demanda do mercado.

“Serão pelo menos quatro anos”, avalia o zootecnista Paulo Rossi, da UFPR. “O ideal seria de 15 a 16 meses para emprenhar uma vaca, mas o que a gente vê nas propriedades é que isso leva, no mínimo, 20 meses, mais 9 meses de gestação e 7 meses para o bezerro desmamar. Se o sistema for muito eficiente, ele pode virar um boi gordo em 12 meses. Estamos falando de 48 meses no total.”

“Teve produtor que acabou com as fêmeas. E não tem perspectiva de voltar, porque pra pagar o investimento pode levar 10, 15 anos...”, conta o criador Alexandre Turquino.

Ainda que a redução dos rebanhos seja uma constante no Centro-Sul, a geografia favorece o Paraná. Para o pro-fessor Sérgio De Zen, da Esalq/USP, a localização do estado é um facilitador. “É até melhor do que São Paulo, pois você pode buscar o nelore em Mato Grosso do Sul ou trazer raças europeias do Rio Grande do Sul”, analisa. (FB)

Situação vai levar anos para voltar ao normal

43 kgde carne bovina é o consumo anual per capita do brasil. Índice, que era de 35 kg/habitante/ano em 2004 e vinha aumentando a uma taxa média de 2% ao ano na última década, vem desacelerando o crescimento desde 2012.

Fonte: CIA/LapBov/UFPR. Infografia: Gazeta do Povo.

Evolução dorebanho totale rebanholeiteiro noParaná, emmilhões decabeças

2,03 1,93 1,90 2,13 2,21 2,27Rebanho

leiteiro

2,31

7,73 7,56 7,68 7,43 7,20 7,21

Rebanhode corte

7,16

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

9,76 9,49 9,59 9,56 9,41 9,48 9,47

*Não há dados definitivos entre 2013 e 2015, porém, de acordo com números do Deral, o rebanhode corte está em aproximadamente 6,89 milhões de cabeças e representa 73,4% do total.

-3%

+14%

-7%

Rebanhototal

Variação2006-2012

PLANTEL PARANAENSEMesmo que, proporcionalmente, o rebanho leiteiro tenhaaumentado de forma significativa, houve queda no plantel totaldo Paraná. A explicação está no gado de corte, cujo rebanhodiminuiu em 7,4% entre 2006 e 2012

21GAZETA DO POVO AGRONegócio

:: O aumento recente – e significa-tivo – do preço da carne bovina está deixando o corte preferido do churrasco de fim de semana com um gosto salgado. Uma pesquisa rápida em açougues e supermerca-dos de Curitiba mostra que é difícil encontrar o quilo da picanha por menos de R$ 70. E, dependendo da qualidade da carne, o preço pode ser ainda maior.

Estaria a picanha se tornando presença VIP na churrasqueira? Para Fábio Nuceti, dono de uma casa de carnes na capital, a resposta é não. “O que nós temos percebido hoje em dia é que o brasileiro, mui-tas vezes, está abrindo mão da quan-tidade pela qualidade”, explica. No açougue de Nuceti, que funciona há oito anos e trabalha exclusivamente

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Churrasco de picanha para seis pessoas não sai por menos de r$ 270.

Pasto “vazio” salga churrasco

com a raça Angus, o quilo chega a R$ 89,90 – valor suficiente para levar, por exemplo, três quilos de contra--filé. Um churrasco só de picanha para um grupo pequeno, de seis pes-soas, sairia R$ 270 no total.

Mas há opções ainda mais salga-das. Um único quilo de picanha da raça de Wagyu, origem japonesa, alcança exorbitantes R$ 134,90. “É

um gado alimentado com cevada, que recebe massagem, o tratamen-to é especial. Ele tem o máximo de marmoreio, que é gordura entre-meada nas fibras, que é o que dá o sabor e a maciez”, justifica o empre-sário. Além disso, todos os cortes são rastreados, o que, segundo Nuceti, aumenta a confiança do consumidor. (FB)

22 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

Pecuária de corte investe na redução do ciclo de abate, medida

necessária para atender à crescente demanda do mercado

Mais carne em menos tempo[genética

carlos Guimarães Filho

:: Com o aumento da demanda por proteína vermelha nos mercados interno e externo, a pecuária de corte brasileira passa por uma transforma-ção iniciada em laboratório. Há cerca de uma década, o setor investe pesado no melhoramento genético dos ani-mais. A medida vem de encontro a uma demanda comum às duas pontas da cadeia, produção e consumo: gado mais gordo, com carne de melhor qua-lidade, no menor tempo possível.

O melhoramento genético ocorre na base dos planteis de seleção, tanto nos machos como nas fêmeas. Por

meio da inseminação artificial, os touros melhoradores acumulam material de “elite”. Já nas vacas, a evolução genética propicia fêmeas sexualmente precoces, ou seja, cada vez mais produtivas, e com habilida-de maternal melhor – quanto mais amamentar, o bezerro desmama mais pesado. Posteriormente, os planteis de seleção são transferidos para os rebanhos comerciais.

Apesar de ainda ter um ciclo longo quando comparado a outras cadeias como a avicultura, a bovinocultura de corte contabiliza ganhos significati-vos. Há 10 anos, o processo completo, do nascimento ao abate, demorava 48

meses. Hoje, a média nacional está em 36 meses. A intenção é alcançar 24 meses na próxima década.

“Nós estamos no linear para uma transformação [do setor] com as novas aquisições da ciência e as for-mas diferentes de selecionar os ani-mais. Nos próximos anos, teremos uma segmentação muito forte em função do sistema de produção”, contextualiza Luiz Antonio Josahkian, professor de melhora-mento genética das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu), em Minas Gerais, e superintendente téc-nico da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ).

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Melhoramento genético encurta ciclo do boi e assume papel

fundamental num momento em que o mercado busca agilidade

na reposição dos planteis.

23GAZETA DO POVO AGRONegócio

::Paralelo ao trabalho de redução do ciclo, a seleção genética busca obter um rebanho com maior facilidade de converter ração em carne. E de quali-dade. Animais mais pesados signifi-cam ganhos financeiros em diversas fases da cadeia, seja com a economia na alimentação ou a abertura de novos mercados.

“Hoje existe premiação para os criadores interessados em produzir um boi com melhor acabamento. Por conta da exigência do consumidor, que quer um produto macio, os mer-cados nacional e internacional pagam bônus por carne de qualida-de”, conta Gilson Katayama, criador da Katayama Pecuária, com sede em Guararapes, no estado de São Paulo. A empresa produz cerca de mil tou-ros anualmente.

O avanço genético também con-tribui para a formação estrutural do animal. Hoje, o rebanho brasileiro possui uma arcada mais baixa, fazen-do com que a carcaça seja mais volu-

Produtividade e qualidade postas à prova

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além de redução do ciclo de abate, seleção genética busca também avanços de produtividade e na qualidade da carne .

mosa, principalmente na parte pos-terior, onde está localizada a carne nobre. Além disso, aumentou as áre-as com gordura subcutânea, impor-tantes após o abate, pois funcionam como isolante térmico durante o pro-cesso de resfriamento, evitando o endurecimento, a queda de peso e o escurecimento da carne.

“No Brasil, frigoríficos pagam mais por animais jovens, com bom acabamento, rastreados para merca-do europeu e que atinjam a cota Hilton [determinada quantidade de carne bovina fresca ou resfriada, sem osso e com alto padrão de qualida-de]”, comemora Katayama, que há anos aposta no setor. (CGF)

36 mesesÉ quanto dura hoje, na média, o ciclo da pecuária de corte, do nascimento ao abate. apesar de ainda ser longo quando comparado a outras cadeias como a avicultura, setor contabiliza ganhos significativos. Há 10 anos, o processo completo demorava 48 meses. Meta é reduzir ciclo a 24 meses na próxima década.

Antigamente, o consumidor comprava e torcia para ser uma picanha mole. Hoje, existe uma infinidade de marcas, tudo a vácuo e com garantia de qualidade.”

Gilson Katayama, criador da Katayama Pecuária, com sede em Guararapes (SP)

O desafio é ter animais mais eficientes em ganhar peso. Mas não pode crescer em osso.”

Luiz Antonio Josahkian, professor da Fazu (MG) e superintendente da ABCZ

24 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

carlos Guimarães Filho

:: O tradicional churrasco de fim de semana ganhou novas nacionalida-des. Nos últimos anos, o consumo de carne de raças europeias tem aumentado significativamente no Brasil. Apesar do setor não possuir números fechados, o produto con-quista cada vez mais espaço entre os criadores que buscam ciclos mais curtos e consumidores ávidos por carnes diferenciadas, tanto na qua-lidade como no preço. São os chama-dos cortes especiais.

A “invasão” europeia se intensifi-cou há cerca de cinco anos, quando os animais começaram a ser inseri-dos no rebanho nacional. As raças como o Angus, oriundo da Escócia, e o Hereford, originário da Ingla-terra, hoje se misturaram ao Nelore, que ainda compõe 80% do plantel brasileiro.

Destes cruzamentos surgiram animais mais precoces, com maior rendimento carcaça (relação carne X osso) e com mais gordura entre as fibras. “Essa camada de gordura confere mais maciez e suculência à carne. É fundamental para dar o sabor”, avalia Clóvis Antonio Bassani, médico veterinário que trabalha com controle de qualida-de e autor do livro “Aspectos e generalidades sobre a carne bovi-na”. “Essa gordura também serve para evitar a queima da carne durante a estocagem na câmara fria”, complementa.

De olho no mercado ascendente, alguns núcleos especializados em carnes especiais se estabeleceram

no Paraná. Em Londrina, no Norte do estado, a cooperativa Maria Macia precisou elevar a produção para atender à demanda crescente. Em 2008, quando abriu as portas, abatia 20 cabeças por semana. Hoje, chega a 250 animais/semana. “No início, o pessoal achava que era loucura. Mas quando a clientela começou a conhecer os cortes dife-renciados o crescimento foi espan-toso, rápido demais”, contextualiza Bassani.

Na mesma toada, boutiques de

carnes e restaurantes se especiali-zaram em oferecer cortes especiais como shoulder, choriço, ancho e prime rib, que chegam a ter preços até 30% superiores aos de peças tradicionais encontradas nos supermercados. “Diferente da car-ne de raça não definida, o consu-midor não terá surpresa negativa ao comprar uma picanha de Angus”, garante Marcos Canan, sócio da Bull Prime, açougue e res-taurante de carnes nobres em Curitiba.

Aos poucos, raças europeias conquistam produtores e consumidores.

Animal apresenta características que permitem uma carne mais macia

Gado poliglota[boi gourmet

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demanda por cortes nobres faz gado europeu ganhar espaço do rebanho brasileiro.

25GAZETA DO POVO AGRONegócio

Flávio Bernardes, especial para a Gazeta do povo

:: Equilibrando-se entre os efeitos positivos e negativos do dólar em dis-parada, a pecuária de aves e suínos mantém o otimismo para 2015. Começando pelos contras: com a moeda norte-americana valorizada diante do real, a soja e o milho – que compõem a base da alimentação ani-mal e têm seus preços regulados pela Bolsa de Chicago (EUA) – andam mais caros. Além disso, alguns insu-mos que são importados, como vita-minas e sais minerais, também já foram afetados pela alta do dólar. Isso sem contar os reajustes no com-bustível e na energia.

Por outro lado, o dólar a mais de R$ 3 estimula as exportações. O setor está empolgado com a possibilidade de ampliar os destinos da carne bra-

sileira. No caso da avicultura, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) divulgou recente-mente que o Paquistão – com seus 170 milhões de habitantes – abriu as portas para o frango brasileiro. O setor também pretende aumentar as exportações para a China.

“Estamos apenas esperando a aprovação dos chineses para habili-tar novas plantas. Temos várias empresas com condições para isso, principalmente no Paraná”, afirma o vice-presidente de aves da ABPA, Ricardo Santin. “As exportações devem aumentar entre 3% e 4% em 2015. Isso vai nos ajudar a manter a posição de maior exportador de fran-go do mundo”, ressalta.

Em 2014, o Brasil embarcou, ao todo, 4,1 milhões de toneladas de car-ne de frango e 505,7 mil toneladas de carne suína. Para a suinocultura,

depois de uma baixa no fim do ano, a ABPA prevê que a Rússia deve reto-mar as importações e a Coreia do Sul também pode abrir seus mercados para o produto brasileiro. Hoje, o Brasil ocupa a quarta colocação no ranking dos principais exportadores mundiais de suínos e, pela estimati-va da associação, o volume embarca-do deve subir 2,5% neste ano.

Mercado InternoAinda que o preço da carne de fran-go e de porco possa aumentar, por conta da alta nos custos de produ-ção, Santin acredita que o consumo não vá diminuir. Pelo contrário. Com a carne bovina mais cara, aves e suínos tendem a substituir o boi na mesa dos brasileiros. No caso do frango, por exemplo, 70% da produ-ção fica no país para atender à demanda doméstica.

Apesar de elevar os custos de produção, dólar alto favorece exportações e desenha ano positivo para

os dois setores em 2015. Com novos mercados, avicultura e suinocultura querem expandir embarques

Carne brasileira amplia destinos[aves & suínos

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Com China e Paquistão, avicultura quer embarcar 3% a 4% mais carne de frango em 2015.

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26 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

Moeda valorizada, que neste momento ajuda o produtor, pode jogar contra na próxima safra.

Desempenho das lavouras norte­americanas também vai ser determinante

Um olho no dólar e outro no clima

[grãos

luana Gomes

:: Desde que o dólar cruzou a barreira dos R$ 3, no mês passado, produtores começaram a fazer contas. Depois de quase uma década de expansão, eles podem ser obrigados a reduzir o plan-tio de grãos no próximo verão. Se por um lado a alta da moeda destrava os negócios e ajuda a exportação da safra que está sendo colhida, por outro pesa nos custos de produção e desenha um cenário preocupante para a tempora-da 2015/16.

“Plantar vai exigir muito planeja-mento”, alerta o analista da FCStone Vinícius Xavier. Mesmo com a queda de 55% na cotação do petróleo, o que, teoricamente, deixaria os preços de alguns insumos mais baratos, a taxa de câmbio deve anular esse ganho ou até provocar aumento, explica o consultor

da Cerealpar, Steve Cachia. O grande desafio de 2015 será acer-

tar a tendência do dólar e a melhor forma de se proteger é eliminar o risco da volatilidade, recomendam os espe-cialistas. “É preciso tomar cuidado para não assumir um custo de largada alto e depois acabar tomando um tom-bo se o dólar voltar a cair”, pontua Xavier. Ele recomenda o barter, moda-lidade de compra de insumos com pagamento em produto em que as rela-ções de troca são travadas na hora da contratação.

“Um dólar a R$ 4 pode significar valores maiores na hora da venda, mas também custos de produção mais ele-vados. Por outro lado, um dólar recu-ando de volta para próximo a R$ 3 seria sinônimo de preços em queda no mer-cado interno, mas não necessariamen-te custos de produção caindo tão cedo

ou tão rapidamente”, compara o ana-lista da Cerealpar.

As consequências da disparada atual da moeda norte-americana se tornarão mais graves caso o dólar passe a cair no segundo semestre, como preveem alguns economistas. O descasamento cambial (insumos comprados a um dólar alto e produ-ção vendida a uma cotação mais bai-xa) esmagaria as margens do produ-tor, num movimento oposto ao que ocorre hoje.

Neste momento, a alta do dólar beneficia os produtores brasileiros porque sustenta os preços dos grãos no mercado interno enquanto as cotações internacionais estão sob pressão, expli-ca Cachia. “A soja caiu 30% nos últimos 12 meses na Bolsa de Chicago, mas o valor da saca não recuou no mercado doméstico porque o dólar valorizou 35% frente ao real”, compara.

Com isso, o Brasil também passou a ser mais competitivo nas exportações.

“Mas não podemos esquecer que este é um ano de estoques recordes e quem tiver o melhor preço acaba levando o cliente”, adverte Xavier. Na sua avalia-ção, a soja brasileira tende a continuar competitiva no mercado internacio-nal até julho, quando o clima nos Estados Unidos começa a ditar o rumo das cotações.

Uma safra sem problemas climáti-cos nos EUA elevaria os já recordes estoques de soja a níveis ainda maio-res. Já as reservas de milho, apesar de ainda abundantes, ficaram menos fol-gadas. “Isso seria suficiente para fazer a soja recuar a patamares que não vemos desde 2010 na Bolsa de Chicago”, alerta Cachia.

“Mas o mercado não tem mão úni-ca”, ameniza, explicando que dificil-mente os EUA terão clima tão perfeito quanto em 2014. “Além do mais, pre-ços mais baixos tendem a estimular a demanda e no final os estoques podem até ficar menores”, completa.

:: “Acabamos de sair de um ciclo de pre-ços historicamente altos para um de cotações menores. Mas isto não signifi-ca necessariamente que a bolha estou-rou”, garante Steve Cachia, analista da Cerealpar. Prova disso, complementa o consultor, é que mesmo com cota-ções mais baixas ainda não há um movimento por parte de produtores ao redor do mundo para reduzir área. “Os estoques recompostos já estão precifi-cados”, concorda Vinícius Xavier, da FCStone. “Até porque, sem o colchão do dólar, o produtor norte-americano não tem mais muita gordura para queimar”, diz . Na sua avaliação, os preços já teriam caído demais no últi-mo ano e novas baixas travariam as negociações no mercado físico, reali-nhando as cotações novamente para cima. (LG)

Nem safra recorde derruba Chicago

28 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

iGor castanho

:: A exportação de grãos pelo Arco Norte se consolida como nova opção logística para o agronegócio brasileiro puxada por dois portos situados no Nordeste do país. Juntos, os terminais de Itaqui, em São Luís (Maranhão) e Cotegipe, em Salvador (Bahia), movimentaram 5,1 milhões de toneladas de soja em 2014. O volume equivale a 11,2% dos embar-ques nacionais, numa participação que tende crescer ainda mais com a conclu-são de investimentos que pretendem alavancar a capacidade operacional da região no curto prazo.

Sozinhos, os dois terminais já res-pondem por metade da movimenta-ção de grãos do Arco Norte. A lideran-ça é do porto maranhense, que ganha novo fôlego a partir desta safra com o início das operações do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), no Porto de Itaqui. Financiada pelo setor privado, a estrutura terá capacidade para movimentar 2 milhões de tone-ladas de grãos em 2015, e a meta é chegar a 10 milhões de toneladas em menos de uma década, detalha o por-ta-voz do projeto, Luiz Claudio Santos.

O grande trunfo do Tegram será a integração com a ferrovia Norte-Sul,

Arco Norte ganha impulso no Nordeste

[logística

controlada pela VLI, braço losgístico da Vale, e que garante uma conexão dire-ta entre a região produtora de Porto Nacional (centro de Tocantins) e a cida-de Açailândia (Oeste de Maranhão). De lá as cargas seguem para São Luís pela Estrada de Ferro Carajás (EFC), também controlada pela Vale. No auge das ope-rações, esse modal vai responder por 70% da movimentação do terminal, projeta Santos.

No contraponto, a estrutura de Cotegipe ainda é fortemente concen-trada no modal rodoviário. As cargas mais próximas, oriundas do Oeste da Bahia, em praças como Barreiras e

Com novos investimentos, Portos de Itaqui, em São Luís (MA)

e Cotegipe, em Salvador (BA), ampliam espaço e concentram

maior parcela dos embarques de soja e milho na região

29GAZETA DO POVO AGRONegócio

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Nilson Fogolin, de Cristalina (GO): aposta no milho.

Primeiro carregamento a usar a nova estrutura do Tegram foi realizado em

março com navio que segue para a China.

Luís Eduardo Magalhães, precisam percorrer 700 quilômetros sobre rodas para serem encaminhadas à exportação, elevando os custos.

Para reverter esse cenário, o setor aguarda o avanço das obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que deve abrir uma nova rota para a exportação de grãos via Porto de Ilhéus, no Sul baiano. O projeto deve ser concluído em 2018. “Quando essa obra ficar pronta vamos poder reduzir os gastos com transporte e ainda garantir o frete de retorno com cargas de fertilizante”, prevê o presidente da Associação de

Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato.

Enquanto esses projetos não avan-çam, o consórcio responsável pelo Tegram defende que será viável trans-portar cargas oriundas de toda a fron-teira agrícola do Matopiba (formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), além do Oeste de Mato Grosso e Norte de Goiás. “O Porto de Itaqui não está restrito ao Maranhão. Cada vez mais, ele será uma estrutura focada em atender toda a região da nova fronteira agrícola”, defende o CEO da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), Ted Lago.

:: O aumento na capacidade exportadora dos portos do Arco Norte promete dar novo fôlego à expansão das lavouras de milho na fronteira agrícola do Matopiba. Atualmente, a maior parte da pro-dução regional é direcionada ao abastecimento das granjas avíco-las locais, já que o alto custo com frente inviabiliza o escoamento do cereal para locais mais distan-tes. “Esse mercado doméstico compra um volume baixo. Isso impede que o agricultor produza em escala, já que o risco é alto. A partir de agora essa realidade ten-de a mudar”, defende o porta-voz do Tegram, Luiz Claudio Santos.

A janela de exportação aberta pelo Tegram ocorre em meio à expansão da oferta do cereal na região. Conforme estimativa da Expedição Safra Gazeta do Povo, o Matopiba vai colherá uma safra 3% maior neste verão, chegando a 4,85 milhões de toneladas, num movimento contrário ao observa-do no resto do país, que terá a pri-meira safra do cereal reduzida no ciclo 2014/15. (IC)

Novos terminais potencializam mercado de milho

10,5 milhões de toneladas de soja foram exportadas pelos principais portos do arco-Norte em 2014. além dos dois terminais nordestinos, complexo logístico também contempla os portos de barcarena e Santarém, no Pará, além estrutura instalada ao redor do rio amazonas, que se concentra em Manaus (aM).

30 GAZETA DO POVO Abril de 2015AGRONegócio

carlos Guimarães Filho

:: O Porto de Paranaguá como se conhece hoje deixará de existir nos próximos dois anos, garante o supe-rintende da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Henrique Dividino. Um conjunto de projetos em andamento promete rejuvenescer o “velhinho” de 80 anos, recém-completados no dia 17 de março, com maior agilida-de no embarque dos produtos e menor tempo entre a manobra das embarcações na baía de evolução e as operações de carrega e descarga. “A partir de 2017, nosso desafio será trazer caminhão e vagão para não faltar carga, porque vamos aumen-tar bastante a velocidade de carrega-mento”, contextualiza Dividino.

Entra ainda nesta equação a possi-bilidade de navios graneleiros maio-res, com capacidade para 90 mil toneladas, coloquem o Porto de Paranaguá nos seus roteiros. Hoje, o limite é de até 70 mil toneladas. Desde o início do ano, a Appa investe na retirada de sedimentos do fundo do mar por meio do serviço de draga-gem para aumentar a profundidade dos berços de atracação e da área de manobra dos navios.

A primeira etapa do projeto, que teve início em janeiro com previsão de terminar em junho de 2016, irá deixar os berços de atração com 13,8 metros de profundidade. Atualmente existe um desnivelamento, sendo áreas com no máximo 8,5 metros

(berços mais antigos). O custo para deixar o cais simétrico será de R$ 90 milhões, recurso oriundo integral-mente dos cofres da Appa.

A segunda etapa, prevista para começar no segundo semestre, inclui a dragagem da baía de evolução, área utilizada pelos navios para manobra-rem antes de atracar. A empresa res-ponsável pelo serviço – DTA Engenharia – já está contratada por meio de licitação. Faltam questões burocráticas para que a draga come-ce a operação.

A expectativa é, ao término de um ano e quatro meses, retirar sete milhões de metro cúbicos de senti-mentos, deixando o local com 16 metros de profundidade. A opera-ção será realizada ao custo de R$ 394

milhões, dinheiro cedido pelo governo federal. “Quando o navio entra na baía, tem onda, vento e cor-rentes. Isso exige mais profundida-de, porque o navio trabalha no movimento pendular, para dar segurança, inclusive em dias de res-saca”, diz Dividino.

A instalação de dois dos quatro novos shiploaders (carregadores de navios) do porto já está concluída. Os equipamentos, que estão em opera-ção desde o início de fevereiro, aumentaram em 30% a velocidade de carregamento. São mil toneladas a mais por hora – 500 toneladas extras por shiploader. Os outros dois carregadores estão em processo de montagem, com expectativa de con-clusão em agosto.

Paranaguá investe em obras de aprofundamento dos berços e da baía de

evolução e na troca dos shiploaders, para viabilizar navios maiores e

chegar a 10 milhões de toneladas de soja exportadas a partir de 2017

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Novos shiploaders ampliam em 30% a velocidade de carregamento dos navios.

31GAZETA DO POVO AGRONegócio