Especial Gestao Publica

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    1/40

    E S P E C I A L

    Gestão PúblicaEstreitamento das relações entre Estado,iniciativa privada e sociedade civil criou novas

    possibilidades de atuação no setor

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    2/40

    Certamente você já reclamou – ououviu alguém reclamar – da lentidãodos órgãos públicos, da morosidadedo funcionário concursado oudos gastos excessivos do governo.

    Possivelmente, até chegou a desconsiderar aopção de trabalhar no setor por não concordarcom essa realidade e se desanimar diante detantos maus exemplos. Mas fato é que muitagente boa tem assumido o desafio de aprimoraros serviços públicos, sendo ou não contratadospelo Estado.

    Por lidarem diretamente com questões deinteresse da população (como educação,saúde, inclusão social), outras instituições setornaram parte do que especialistas chamamde “espaço público”. Aí entram as organizações

    não governamentais, fundações e também osetor apelidado de “dois e meio” – uma áreaintermediária entre o segundo setor (privado) eo terceiro setor (fins públicos e não-lucrativos),formada por empresas que seguem um modelode negócio social.

    “A noção de espaço público se ampliou”,explica Fernando Abrucio, doutor em CiênciaPolítica pela e coordenador do cursode Administração Pública da . Com isso,aumentaram também as possibilidades de

    carreira para quem tem interesse em gestãopública – tendo formação específica nessaárea ou em cursos afins, como Administraçãode Empresas, Economia, Direito, entre outras.Confira a seguir as principais áreas de atuaçãopara esse profissional:

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    3/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esferapública?

    Os gestores públicos são aqueles funcionários do governoque exercem cargos estratégicos e de direção. A maioria éselecionada por meio de concurso, que oferece uma carreirabastante estável, mas também existem os cargos emcomissão, para os quais a pessoa é nomeada por um superior.Nesse último caso, as funções costumam ser temporárias ede conança, acompanhando o mandato de quem as indicou

    – por exemplo, os Ministros, que podem ou não ser trocadoscom a mudança de presidente. Embora seja normalmenteassociado ao Executivo – governo federal, estadual emunicípios –, o gestor público pode atuar nos três poderes.Também é possível pleitear uma posição política, seja comodeputado, senador, vereador, prefeito, governador, presidente.

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    4/40

    s O descompasso entre a promessa dos políticos e suarealização pelos mecanismos de Estado abriu espaço parao crescimento do número de organizações da sociedadecivil que atuam em questões públicas, como erradicação dapobreza, acesso a moradia, saúde e educação. Para Abrucio, arelação próxima do governo com s e fundações traz reaisbenefícios para a população. “Quanto mais players engajadosnessas causas, melhor o resultado. Mas, para isso, elesprecisam de gente com conhecimentos em administraçãopública”, diz. Por esse motivo, o setor atrai cada vez maisexecutivos da iniciativa privada dispostos a mudar o rumode suas carreiras e alcançar maior realização pessoal eprossional. E os salários costumam estar em sintonia com omercado e podem inclusive atingir cifras bastante altas paracargos de direção.

    Os órgãos estatais que querem aumentar sua eciênciacostumam procurar a visão de agentes externos – comoconsultorias especializadas em gestão pública – para ajudara melhorar seus resultados. “Há um anseio pela melhoriados serviços públicos que dependerá da melhoria da gestão.

    Esse processo vai envolver não só os atores do próprio setorpúblico, mas também olhares de fora que ajudem a alcançarseu objetivo”, diz Abrucio. Esse serviço é prestado tanto porconsultorias multinacionais, como (Ernest & Young) eMcKinsey, quanto por empresas menores especializadasno aconselhamento do setor público, caso da Conam e daFundap, por exemplo.

    Se o empreendedorismo tradicional está em alta no Brasil, omesmo ocorre com o empreendedorismo social – a criaçãode empresas inovadoras focadas não só no lucro, mas nasolução de problemas sociais. Para Abrucio, esse fenômenotende a ser mais forte em países em desenvolvimento, o queé o caso não só do Brasil mas também de grande parte daAmérica do Sul e Ásia, lugares com bastantes oportunidades

    na área. “Houve uma mudança de valores nos jovens doponto de vista do mercado de trabalho. A formação na áreade administração pública envolve também formar liderançaspolíticas e sociais”, explica o professor.

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    5/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    “O Brasil vai ter um boom de concessões públicas e ’s(Parcerias Público-Privadas), o que vai fazer com que asempresas precisem de gente que entenda como funciona osetor público e faça o meio-campo”, diz Abrucio. Em 2013,foram assinados no Brasil 11 contratos de ’s – modelode contrato que foi regulamentado no país em 2004. Comoconstituem uma prática ainda muito recente por aqui, as

    ’s são controversas e enfrentam o desao de se tornarmais transparentes em sua gestão. O governo costuma lançarmão desse mecanismo para diluir custo, compartilhar riscoe garantir qualidade na execução de obras e prestação deserviços de transporte (caso da Linha Amarela do Metrôpaulista), saneamento (caso da Sabesp), saúde, educação,resíduos etc. Em São Paulo, a Artesp é responsável porregulamentar e scalizar as parcerias na área de transportes.

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    6/40

    Isadora Cohendiretora de desenvolvimento de projetosda SPDA

    Com apenas 26 anos, Isadora Cohen é diretora e única mulherda equipe de desenvolvimento de projetos da CompanhiaSão Paulo de Desenvolvimento e Mobilização de Ativos ( )– uma sociedade de economia mista ligada à SecretariaMunicipal de Finanças da capital paulista. Formada emDireito há três anos, a trajetória de Isadora no setor públicoé marcada por uma atuação de destaque, que lhe rendeuascensão rápida a cargos importantes. Fazer carreira nosquadros do governo, porém, nunca fez parte de seus planos.

    Quando começou o curso na Pontifícia Universidade Católicade São Paulo ( - ), Isadora não tinha certeza se queriamesmo ser advogada. Começou a estagiar na área de DireitoAmbiental já no primeiro ano de faculdade. Como lidavabastante com aprovação e viabilização de grandes obras,acabou enveredando para a área de infraestrutura e fez umainiciação cientíca sobre esse tema na Sociedade Brasileira deDireito Público ( ).

    Um ano depois de formada, e já trabalhando como advogadaem um dos maiores escritórios brasileiros – o Machado Meyer–, foi convidada para trabalhar no setor público, em um cargo

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    7/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    de conança ligado à diretoria geral da Agência de Transportedo Estado de São Paulo (Artesp). A razão da proposta? Aentão diretora da agência tinha entrado em contato coma monograa desenvolvida por Isadora, por indicação deum dos professores participantes da banca avaliadora dapesquisa – e adorado!

    A pesquisa de Isadora questionava o postulado do Direitoque diz haver supremacia do interesse público, propondouma análise individual e concreta de conitos e ponderaçãodos interesses contrapostos em face das particularidades decada caso. Essa postura interessou a agência, que lidava comconcessões e parcerias público-privadas ( s). “Eles acharamque eu poderia trazer novos ares, oxigenar o setor público.”

    Isadora aceitou a proposta e assumiu a coordenação dediversos projetos envolvendo grandes obras de infraestrutura.Era a mais jovem de sua equipe e, para compensar a poucaexperiência, recorreu aos funcionários mais velhos. “Tiveque bater na porta de prossionais que já tinham tidoresponsabilidades parecidas. E aprendi muita coisa com eles.”

    Nesse começo, ela investiu a maior parte do seu tempoem reuniões com diferentes áreas, para entender melhoro funcionamento da agência e, ao mesmo tempo, engajare integrar a equipe nos projetos. “É preciso saber os seuspontos fortes e reconhecer suas limitações. Para lidar comos desaos que eu tinha e superar minhas diculdades,resolvi potencializar uma característica minha, que é sercolaborativa”, diz Isadora.

    Ao conversar com tantas pessoas, percebeu que o quesabia até então não dava conta de todas as demandas dosetor público. “Ao lidar com grandes obras, além de saberde leis, você precisa entender um pouco de economia,administração, gestão. Fora o lado técnico, que é próprio decada situação”, diz. Para aprofundar seu conhecimento, fezuma especialização em infraestrutura na Fundação Getúlio

    Vargas ( - ).

    Sua atuação na Artesp lhe rendeu um novo convite, dessavez para assumir a diretoria da . A função da companhiaé auxiliar a prefeitura paulistana na otimização do uxo de

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    8/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    receitas do município e na obtenção de recursos nanceiros,além da realização de investimentos para viabilizar suasinciativas de maior prioridade – mesmo diante de um cenárioem que a prefeitura lida com a administração e necessidadede pagamento da dívida com a União. Para se ter uma ideia,hoje São Paulo deve 57 bilhões de reais aos cofres federais,o que compromete grande parte do orçamento da cidade eimpacta a realização de projetos de infraestrutura.

    Isadora destaca que o cenário da administração públicamunicipal é completamente diferente da estadual.“Enquanto o estado ainda tem saúde nanceira para realizarcertas empreitadas, no município a situação é de altoendividamento. A minha missão é pensar fora da caixa, criarmodos de trazer investimento que viabilize a realização dosprojetos, mesmo em meio às restrições orçamentárias.”

    Para Isadora, quem ocupa cargos públicos precisa saberlidar com frustrações. Dos seis projetos em que trabalhou naArtesp, por exemplo, apenas um saiu do papel – a NovaTamoios, de ampliação da rodovia paulista. Outros, embora

    concluídos, acabaram sendo arquivados. “Isso poderia medesmotivar, mas prero focar nas conquistas (mesmo naspequenas)”, diz.

    O desempenho nos outros projetos também contribuiupara aumentar sua visibilidade, lhe rendendo um cargo deconsultora na própria e a atuação como mentora detrainees do programa de imersão na Gestão Pública do Vetor

    Brasil. “Tudo o que z até hoje faz parte da bagagem quecarrego comigo, independentemente de ter sido efetivamenteimplementado ou não.”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    9/40

    “Para lidar com osdesaos da liderança,é preciso saber seus pontos fortese reconhecer suas limitações”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    10/40

    Mário Corochel ( )e Marisa de Sá ( ) Vereadores de Araras e Guarulhos

    Com apenas 23 anos, Mário Corochel foi o vereador maisvotado em sua cidade natal, Araras, no interior de São Paulo,em 2012. Com pouco mais de 118 mil habitantes, o municípioé um importante centro do agronegócio paulista e estáentre os 65 maiores s do estado. Tratava-se da primeiracandidatura de Mário, mas que já lhe rendeu a segundamaior votação da história local. A vitória também teve um

    signicado pessoal e pôs m a uma antiga frustração familiar.“Meus pais foram candidatos, mas nunca foram eleitos. Fui oprimeiro da família que conseguiu”, confessa. Seu principalpapel hoje é defender os interesses da população de Araras,elaborar leis municipais e propor projetos que melhorem avida na cidade.

    A vontade política vem desde criança e se reete em umasucessão de cargos que começaram com representantede sala e culminaram na presidência da Câmara Jovem deAraras – um projeto que incentiva o protagonismo juvenilna política. Aos 18 anos, quis lançar sua candidatura ocial,mas encontrou resistência familiar. Os pais queriam que elefosse para a faculdade e foi o que acabou fazendo: ingressou

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    11/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    no curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade deSão Paulo ( ) e se mudou para a capital. Logo depois deformado, voltou para Araras e disputou um lugar na Câmarade Vereadores.

    A educadora Marisa de Sá, por sua vez, já era vereadora deGuarulhos em 2012, quando reelegeu-se para um segundomandato. Antes de ocupar o cargo na Câmara, foi professora

    da rede pública durante 13 anos e diretora da Secretaria deEducação municipal. Guarulhos, embora possua um dosmaiores PIBs do estado, apresenta vários desaos na áreapública. Com a construção de rodovias nos anos 1950 e doaeroporto na década de 1980, por exemplo, a cidade cresceurapidamente e sem grande preocupação com urbanização,infraestrutura ou serviços públicos.

    Embora em contextos bastante diferentes, Mário e Marisaenfrentaram diculdades parecidas durante a campanhae depois de eleitos. Muito mais jovem do que os demaiscandidatos, Mário teve que lidar com o preconceito doseleitores em relação à sua pouca idade. De forma espontânea,

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    12/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    Ao longo dos seus dois mandatos, Marisa arma teremplacado 21 projetos de lei, a maioria deles ligada àsescolas. Ela acredita que sua formação em educação – temgraduação e mestrado na área – e a vivência em sala de aulaajudam muito na atuação como vereadora. Em seu mandato,Marisa defende a capacitação do professor e o uso cada vezmaior de ferramentas tecnológicas no ensino. “É preciso

    modernizar a escola, mudar o currículo e inserir novastecnologias”, diz.

    Ao contrário de Marisa, que faz parte da base de apoio doprefeito, Mário é oposição e acredita ter mais liberdade emsuas posições dessa maneira. “Não tenho rabo preso comninguém, não sofro pressão na hora de votar os projetos eposso scalizar a atuação da prefeitura”, diz. A contrapartida

    é uma diculdade maior de conseguir a aprovação de seuspróprios projetos. Por isso, não esconde a pretensão de crescerna política: “Se eu conseguir ser prefeito, aí sim vou poderimplementar muito mais do que aprendi”.

    sua campanha passou a adotar a estratégia de contraporsua inexperiência à formação acadêmica focada emadministração pública, algo raro na cidade.

    “As pessoas começaram a comentar entre elas: ‘Vou votar nomenino que estudou’. E a gente viu que isso era de fato umdiferencial”, conta. Mas destaca: “Fazer campanha não é fácil,precisei trabalhar muito em cima da minha candidatura.”

    A questão nanceira foi outro obstáculo. Filiado ao PartidoProgressista ( ), Mário utilizou 20 mil reais do fundopartidário e 10 mil reais de recursos próprios, preferindo nãoreceber doações de empresários.

    Marisa, liada ao Partido dos Trabalhadores ( ), tambémenfrentou o desao de realizar uma campanha comrecursos limitados e apostou no seu histórico de militância

    para alavancar a candidatura. “Eu vim de baixo, de umaorigem simples e de um contexto militante. Procurei entãomaximizar um ponto forte meu, que é saber mobilizar aspessoas”, conta. “Normalmente, faço campanha na porta dasescolas, falo com a diretora, a cozinheira e os pais, faço dali omeu espaço de diálogo”, complementa.

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    13/40

    “Precisei trabalharmuito em cima daminha candidatura. A questão nanceira foi outro obstáculo.”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    14/40

    Denis MizneDiretor executivo da Fundação Lemann efundador do Instituto Sou da Paz

    O engajamento com causas sociais é uma constante ao longoda carreira de Denis Mizne. Aos 38 anos, ele acumula vastaexperiência no terceiro setor, com uma breve passagem nogoverno federal. Hoje, é considerado referência em duasáreas de grande interesse para as políticas públicas no Brasil:educação e segurança.

    Advogado formado pela Faculdade de Direito da , commestrado em Gestão Pública pela - , ele é atualmentediretor executivo da Fundação Lemann e presidente doconselho do Instituto Sou da Paz, do qual foi fundador. Émembro dos conselhos da Fundação Roberto Marinho e do

    – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas.

    No passado, trabalhou no Ministério da Justiça e integrouuma série de conselhos de política de segurança pública.Ainda participou de um programa de desenvolvimento delideranças na Universidade de Yale e foi visiting scholar noHuman Rights Advocates Program da Universidade Columbia.Conheça mais sobre a trajetória de Denis:

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    15/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    Desde a faculdade, Denis sempre teve bastante envolvimentocom questões de interesse público. Foi inclusive presidentedo Centro Acadêmico do seu curso. Em 1997, organizou comoutros estudantes a primeira campanha da sociedade civil pelodesarmamento no Brasil. Essa campanha, chamada “Sou daPaz”, foi o embrião do instituto que fundaria dois anos depois.

    O que começou como um projeto universitário ganhouprojeção internacional e tem pautado diversas políticasBrasil afora. Hoje, as ações da organização são vistas comoreferência na prevenção da violência, na melhora da políciae no controle do comércio e uso de armas. Ela é reconhecida,por exemplo, por ter reduzido sensivelmente os homicídiosna cidade de São Paulo nos últimos anos – entre 2003 e 2013,o número caiu 81%.

    Denis esteve à frente do instituto por 12 anos e destacaa liberdade que tinha à frente de uma organização nãogovernamental. “A gente tinha uma possibilidade deexperimentação maior, de criar coisas que o Estado muitasvezes está muito engessado para pensar. Mas se você não

    imagina como isso pode dialogar com as políticas públicas épouco provável que faça alguma diferença”, diz. Para ganharescala e multiplicar o impacto, o Sou da Paz sempre apostouem parcerias com o governo.

    Do início da campanha Sou da Paz até a consolidação doinstituto, Denis se formou, ganhou uma bolsa para participar

    de um programa de direitos humanos para jovens ativistas naUniversidade de Columbia, em Nova York, e ainda passou porum cargo no governo federal. Sobre a experiência em Brasília,ele conta: “Foi muito interessante conhecer um pouco damagnitude do setor público”.

    Entre 1999 e 2000, Denis foi assessor especial e chefe degabinete do Ministro da Justiça. À época, ajudou a aprovar no

    Congresso o Estatuto do Desarmamento. “Era muito joveme já tinha uma responsabilidade muito grande lá dentro, mesentia relevante”, conta. “Existe um mito de que no governose trabalha pouco ou que quem vai para o setor público éporque não encontrou espaço no setor privado. Não é bemassim. As questões mais complexas estão na esfera pública. É

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    16/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    muito difícil, por exemplo, melhorar a educação de um país.Para trabalhar com isso tem que ser bom.”

    Para ele, a sociedade só vai resolver seus problemas namedida em que valorizar as pessoas que escolhem dedicarsuas carreiras às causas públicas. “Se a gente quer enfrentaros problemas do Brasil de verdade, precisa trazer as melhorescabeças para atuar no setor público ou junto dele. Acho que

    estamos indo nessa direção”, diz.

    Há três anos à frente da Fundação Lemann, é lá que Denisinveste a maior parte de seu tempo hoje, dividindo oscompromissos de diretor com viagens a diversos paísespesquisando tecnologias e práticas inovadoras na área daeducação. A organização sem ns lucrativos, fundada em

    2002 pelo empresário Jorge Paulo Lemann, tem como objetivomelhorar a qualidade do aprendizado dos alunos brasileiros eformar uma rede de líderes transformadores.

    Para tanto, ela possui um programa de bolsas de estudospara áreas estratégicas como educação e políticas públicas,

    fomentando talentos dispostos a transformar a realidadebrasileira; apoia programas do governo e da inciativa privadaque oferecem ajuda nanceira a jovens que querem estudarno exterior; incentiva o desenvolvimento de políticas públicasde impacto na educação por meio de apoio a pesquisas,plataformas e publicações; também desenvolve projetospara a capacitação de líderes educacionais e professores pormeio de seminários, cursos e programa de talentos. Tudo isso

    porque acredita que para haver educação de qualidade noBrasil é preciso ter bons gestores no setor.

    Em cada uma das instituições em que trabalhou, Denissempre teve momentos de interlocução com o Congressopara advogar em defesa das causas da segurança, sempreque circulavam projetos dessa temática.

    “É impossível que os congressistas tenham conhecimentoaprofundado sobre todas as questões que são discutidas ali,e a imensa maioria vota contra ou a favor de um projeto semter informações sucientes sobre o assunto. Mas há muitoespaço para quem quer dialogar, construir políticas públicas,

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    17/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    contribuir tecnicamente para o debate, seja a partir daacademia, da sociedade civil ou do próprio governo”, diz.

    O balanço nal de quem transitou entre governo eorganizações do terceiro setor é bastante positivo. “Hoje eucomparo a minha vida com a de muita gente que se formoucomigo e está atuando em outras áreas. Tenho a certeza deque a satisfação pessoal que tiro do meu trabalho não podia

    ser maior.”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    18/40

    “Para fazer a diferençano terceiro setor é preciso dialogar sempre com as políticas públicas”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    19/40

    Miriam AscensoGerente de projetos da Fundação BRAVA

    Desde o início da faculdade, Miriam Ascenso esteve envolvidacom o tema de gestão. Primeiro à frente da empresa júniordo curso de Relações Internacionais da Trevisan Escola deNegócios, em São Paulo. Depois, como embaixadora da Brasil Júnior (Confederação Brasileira de Empresas Juniores) naEuropa. Também fez parte da primeira leva de embaixadoresCHOICE, rede de universitários engajados em negócios sociaispromovida pela Artemisia. E participou do Laboratório,programa de jovens lideranças da Fundação Estudar.

    Esse engajamento em entidades estudantis e atividadesextracurriculares lhe proporcionou ter experiências práticasmuito cedo e se aproximar de pessoas inspiradoras nessecaminho. E foi através delas que conheceu a Fundação BRAVA –uma organização familiar sem ns lucrativos que apoia líderestransformadores comprometidos com o desenvolvimento doBrasil – da qual é hoje gerente de projetos, aos 26 anos.

    Criada em 2000, a equipe que faz a BRAVA funcionar éenxuta: são sete pessoas, egressas de cursos como Economia,Administração de Empresas, Gestão Financeira, Engenhariade Produção e Administração Pública. Seu foco é gerarimpacto social através da melhoria da gestão pública. Mas a

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    20/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    atuação da organização acontece nos bastidores: seu papelé articular parceiros experientes do setor privado a m deviabilizar e disseminar soluções inovadoras que consolidem acultura de gestão no Estado e gerem resultados para o Brasil.

    Ao longo dos últimos anos, a organização apoiou mais de30 projetos em administrações municipais e estaduaisbrasileiras – trazendo melhorias para áreas como educação,

    segurança, gestão e equilíbrio scal. Por meio deles, impactoumais de 7 milhões de pessoas diretamente e 100 milhõesindiretamente, além de gerar 15 bilhões de reais entre ganhose economias para o setor público brasileiro.

    Todo seu esforço envolve a promoção, dentro do setor público,de valores comuns no dia a dia de empresas privadas –como meritocracia, foco em resultado e um sonho grande

    desaador que faça todos remarem na mesma direção. Hámais de três anos na organização, Miriam não tem dúvidas:uma gestão pública eciente pode transformar Brasil. “Ogestor público trabalha tão preocupado em apagar incêndiose resolver questões urgentes, que acaba tendo diculdades depriorizar análises de longo prazo”, diz.

    E é aí que a BRAVA e a própria Miriam pretendem deixar umlegado. “Há uma preocupação grande para a evolução dascompetências dos funcionários públicos, já que o que nósqueremos é aumentar o alcance do impacto da organizaçãosem precisar estar lá”, diz. Ela explica que um dos desaos daBRAVA está na continuidade e na longevidade da mudançade cultura no setor público. “Nossos projetos buscamenvolver gestores públicos de carreira em todo o processo e

    institucionalizar os avanços.”

    Recentemente, Miriam esteve envolvida de perto nodesenvolvimento do portal Meu Município – que organizae disponibiliza, de forma bem simples, dados sobre asnanças públicas dos municípios brasileiros, provenientesda Secretaria do Tesouro Nacional e do . Os principaisobjetivos do site são dar transparência às contas municipais,

    estimular a participação do cidadão no acompanhamentodos orçamentos públicos e estimular o gestor público adesenvolver políticas públicas cada vez mais ecientes e demelhor qualidade para o cidadão. “Buscamos disseminar einspirar boas práticas através de projetos como esse”, diz.

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    21/40

    “O gestor público estátão preocupado emapagar incêndios,que não consegue priorizar análisesde longo prazo”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    22/40

    Bruno Correia Técnico em planejamento e gestão da Fundap

    Bruno Correia iniciou sua carreira no governo de São Pauloquatro anos atrás, por meio de um concurso. A ideia nãopassava pela sua cabeça quando, aos 17 anos, mudou-sede Santos para a capital paulista para estudar RelaçõesInternacionais na Faculdade Santa Marcelina. Na época,queria ser diplomata.

    Se já no primeiro ano do curso percebeu que ainda faltavaalgo, o interesse por questões políticas permaneceu aceso.

    Acabou entrando também em um curso correlato, que iamais de encontro às suas expectativas: Gestão de PolíticasPúblicas, na Universidade de São Paulo ( ).

    Formou-se nos dois, e realizou um mestrado em CiênciasHumanas e Sociais na Universidade Federal do . Passoupela inciativa privada e por s antes de integrar os quadrosno governo. Sua motivação, assim como ocorre com outros

    jovens gestores públicos, passa pelo impacto positivo nasociedade. “Não dá para pensar em governo sem pensar emsociedade civil”, defende.

    Hoje, além da carreira de técnico em planejamento e gestãoda Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap),

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    23/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    entidade vinculada ao estado de São Paulo, ocupa na instituiçãoa função de Assessor Técnico em Relações Institucionais.

    Quando a Fundap foi criada, em 1974, a necessidade demodernizar e inovar o estado já era uma preocupação dosgovernantes: a organização tinha a função de melhorara eciência da máquina pública nos serviços prestados à

    sociedade. Hoje, com o crescimento da população paulista eo surgimento de novos desaos na área pública, esse papelparece mais relevante do que nunca.

    “O que impede uma maior eciência do setor público é abaixa capacidade administrativa”, diz Bruno, reforçandoque o problema está mais relacionado com a gestão do quecom dinheiro. Com uma equipe própria de cerca de 300

    funcionários e alguns consultores externos contratados paraprojetos especícos, a missão da Fundap é dar conta dessegargalo administrativo. Para isso, fazem parte do time não sóadministradores, mas também cientistas sociais, cientistaspolíticos, matemáticos, entre outros prossionais.

    A estratégia para reverter essa situação é baseada em trêspilares: pesquisa, consultoria e capacitação. São funçõesda Fundap, por exemplo, contratar todos os estagiários dogoverno paulista, realizar programas de formação continuadapara os funcionários públicos e elaborar relatórios queauxiliem os gestores em suas decisões.

    Para Bruno, esse tripé proposto pela fundação faz sentido.

    Enquanto a pesquisa permite compreender as demandasda sociedade e os pontos críticos da administração pública,é a consultoria que abre as portas para propor pontos demelhoria e maneiras de otimizar os processos nos órgãosestatais, sugerindo formas de gestão mais ecientes. Por m,a capacitação permite aos servidores colocar em prática tudoisso, materializando assim a tão necessária inovação.

    Bruno teve a oportunidade de participar desse ciclo virtuosologo que entrou na Fundap. Fez parte da equipe que elaborou oprojeto Avalia , uma iniciativa que busca medir a qualidadedos serviços públicos por meio da opinião dos usuários. A ideiaé simples: criar um canal de diálogo com o cidadão, em que

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    24/40

    ele possa dizer com o que está satisfeito e com o que andairritado. Quando toda essa informação é processada e levadaao responsável pelo serviço avaliado, ele estará preparadopara planejar políticas públicas mais ecientes. Apesar de tergrande anidade com os propósitos da fundação, Bruno nãodescarta a possibilidade de ir para outros órgãos. Mas temcerteza de que é no governo que quer trabalhar.

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    25/40

    “O que impede umamaior eciência do setor público é a suabaixa capacidadeadministrativa”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    26/40

    Fabian CaetanoDiretor da Conam

    O setor público se transformou em um importante clientedo mercado de consultoria nas últimas décadas. O principalindicador disso talvez tenha sido a transferência da sededa gigante Booz Allen Hamilton para Washington . .,capital norte-americana, em 1992, para car mais próximade seu principal cliente: o governo federal. De sua receitaanual de cerca de 5 bilhões de dólares, estima-se que 99%venha do setor público. Outras grandes consultorias como

    , McKinsey, Bain e Falconi também vêm ampliando seu

    portfólio no governo.

    No Brasil, a Consultoria em Administração Municipal(Conam) dedica-se exclusivamente a atender organizaçõesde diversas cidades, prestando seus serviços a prefeituras,câmaras de vereadores, autarquias, entre outros. Há 35anos no mercado e com sede na capital paulista, atendequase uma centena de clientes espalhados por São Paulo,

    Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, estado em que abriurecentemente uma lial.

    A demanda pela ajuda desses consultores cresceu com duasleis recentes, que obrigaram a prefeitura a rever práticas: a Leide Acesso à Informação, que regulamenta a disponibilização

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    27/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    pública de dados para o cidadão, e a Lei de ResponsabilidadeFiscal, que prevê maior controle nas contas públicas.

    Fabian Rodrigues Caetano, hoje diretor da Conam, viu deperto o desenvolvimento da empresa. Filho de um dosfundadores, cresceu bastante envolvido com o setor público.“Meu pai trabalhava na prefeitura, mas percebeu que,

    naquela época, ia ter diculdades de crescer e adquirir novosconhecimentos. Foi aí que fundou a Conam e começou atrabalhar para, e não mais no setor público”, brinca.

    “Quando eu era criança ele me levava às vezes às prefeituras.Foi aí que eu percebi que o servidor público é muito carentede capacitação, e essa possibilidade de ajudá-lo é o quemais me agrada no que eu faço”, conta Fabian, que formou-

    se em Tecnologia da Informação pela Fundação ArmandoÁlvares Penteado ( ) e desde então tem se focado nodesenvolvimento de projetos envolvendo .

    Ele aposta em um serviço completo, que dá conta dasnecessidades administrativas, jurídicas e tecnológicas dos

    clientes. “Não somos contratados por área, mas para darconsultoria como um todo”, esclarece. Isso explica em grandeparte a composição variada da equipe: enquanto a maioriados 170 funcionários são administradores ou advogados,também estão lá engenheiros, analistas de sistemas eprogramadores. Estes últimos dão conta do desenvolvimentode poderosos aplicativos de informática, um dos elementoschave na estratégia da consultoria.

    A cena folclórica do funcionário de repartição públicasentado atrás de um balcão de madeira, usando máquinade escrever e um carimbo de protocolo é algo que a Conamempenha-se em desconstruir. Há 20 anos a empresacomeçou a investir na área de tecnologia, e hoje desenvolvesoluções tecnológicas próprias para otimizar procedimentos

    especícos do setor público.

    Imagine a seguinte situação: determinada cidade precisaaumentar sua arrecadação. Os consultores podem sugerir,por exemplo, que se institua a nota scal eletrônica comoforma de melhorar a scalização e diminuir a sonegação

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    28/40

    de impostos. Diante disso, a equipe jurídica auxilia naelaboração da lei que obrigará os estabelecimentos autilizarem esse sistema. A equipe de tecnologia, por sua vez,implanta na prefeitura o programa que mais se adequa a essanecessidade e capacita os funcionários.

    Atualmente, a Conam trabalha com um sistema próprio denotas scais na nuvem, o que possibilita maior agilidade

    nas emissões, acesso remoto, além de cruzamento deinformações e insights estratégicos. “É possível saber, porexemplo, qual é o serviço mais ativo na região, e a partirdaí buscar atrair empresas desse ramo”, explica Fabian,reforçando que os dados entregues sempre buscam auxiliar ogestor público em suas decisões.

    O que o Estado espera das consultorias, muitas vezes, é umatransferência de expertise organizacional do setor privadopara o setor público. Para Fabian, no entanto, ter algumaexperiência em administração pública é um diferencial. Dosconsultores, ele espera um conhecimento mais profundode contabilidade, planejamento e planos de conta no setor

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    público. Já em relação aos advogados, é necessário terdomínio de direito tributário, licitações, recursos humanos oudireito público. Para a equipe de tecnologia, não há demandaespecíca de especialização, mas anidade com a áreagovernamental será sempre bem-vinda.

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    29/40

    “O servidor público

    é carente decapacitação, e a possibilidade deajudá-lo é o quemais me agradano que faço”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    30/40

    José Frederico Lyra NettoCofundador do Projeto Vetor Brasil

    Ao se graduar, o desejo de muitos jovens prossionais é de

    trabalhar com algo que realmente “faça a diferença” nomundo, certo? Foi pensando nisso que José Frederico LyraNetto, de 30 anos, criou o Vetor, um projeto que pretende unireste interesse prossional de transformação à gestão públicaem municípios brasileiros.

    A ideia surgiu quando José, que hoje faz mestrado empolíticas públicas em Harvard, Estados Unidos, ainda cursava

    a faculdade de engenharia mecatrônica na Unicamp.E então pesquisou, ao lado de outros colegas, possibilidadesde participar da gestão pública do país. “Nós nosperguntamos: como, enquanto jovens, conseguimos agir paraprovocar mudanças no Brasil auxiliando no curto prazo?”,conta José Frederico.

    Em uma primeira experiência, o grupo selecionou pequenos

    municípios e ofereceu projetos que levassem orientaçõestécnicas interessantes àquelas cidades. Esta vivência os fezperceber que desenhar um plano não garante que ele váser implementado com sucesso. “Então, em vez de focar emplanejar novos projetos, buscamos jovens prossionais paraefetivar projetos em que as prefeituras já tivessem interesse.”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    31/40

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

    Diante deste novo direcionamento, a busca passou a ser porprefeituras que precisam de ajuda e têm líderes que queremefetivar mudanças, o que quer dizer lugares em que os jovensselecionados pelo Vetor encontrarão espaço para trabalhar.

    Já a busca pelos jovens prossionais se deu em parceria comos colegas Joice Toyota e Rafael Martines, além da FundaçãoEstudar. A ideia é dar oportunidade de trabalho para jovens

    que querem ter uma experiência de gerar impacto no setorpúblico, mesmo que eles não queiram continuar na áreadepois. “Por um lado abrimos caminho aos jovens e por outrooferecemos a estas cidades prossionais capacitados”, diz.

    Para a edição piloto do Vetor, mais de 1.700 jovensprossionais se inscreveram, o que, para José, demonstra uma

    demanda alta por este tipo de trabalho. “Sabíamos que há jovens que querem ter uma experiência com o setor público,só faltava um ‘como’ colocar a mão na massa”. Ele acreditaque um dos resultados do programa será, também, umfortalecimento da gestão local.

    Antes de partirem para o projeto, os jovens prossionaisselecionados recebem um treinamento com conteúdoanalítico (como lidar com dados), de gestão pública geral,conteúdo especíco de gestão para a cidade em questão e deética. Além do treinamento, o Vetor oferece suporte em trêsfrentes: contato com mentor que dará apoio à distância paraa equipe; consultoria com especialistas de temas especícos(para projetos desaadores de educação, por exemplo,

    um prossional da área); coaching de carreira no segundosemestre de projeto para pensar nos próximos passos.

    “Esse mesmo suporte é oferecido a outras pessoas locaisenvolvidas no projeto, o que ajuda a qualicar a mão de obralocal”, diz José Frederico. Ao nal do período de um ano, há apossibilidade de levar novas pessoas para dar continuidadeaos projetos nas mesmas cidades.

    Não há exigência por um curso especíco para os jovens quese interessem pelo Vetor. “Não tem muito segredo, buscamosquem queira gerar mudança”, explica José. “A capacidade deresiliência e a vontade de fazer a transformação acontecersão as grandes qualidades aqui.”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    32/40

    Para quem tem grande preocupação com a carreira,participar do programa pode ser interessante para se manterno setor público, mas é também vantajoso pela experiência.E há um auxílio de recolocação no mercado, se for caso, pelaFundação Estudar. “Queremos que esse projeto gere impactode curto prazo, mas principalmente a longo prazo, criandouma rede de transformadores com uma experiência rica e

    profunda”, naliza José Frederico.

    Como fazer a diferençatrabalhando na esfera pública?

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    33/40

    “Sabíamos que

    há jovens quequerem ter umaexperiência como setor público, só faltava um ‘como’colocar a mãona massa”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    34/40

    No Brasil, é de responsabilidade do poderpúblico oferecer ao cidadão um transporte de

    qualidade – existe até uma proposta, aindaa ser votada pelo Congresso, para incluir otransporte como direito social na Constituição Brasileira,através de uma emenda constitucional. Enquantoa locomoção dentro das cidades deve ser garantidapelos municípios, cabe ao governo estadual garantir aqualidade do transporte intermunicipal.

    A m de reduzir os gastos do estado com transporte,iniciou-se no nal dos anos 1990 em São Paulo umprocesso de concessão de rodovias para a iniciativaprivada. A concessão é uma espécie de privatização,mas, em vez de o governo vender algo que é estatal parauma empresa do setor privado, ele apenas transfere a

    Artesp: entenda comofunciona a autarquia pública

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    35/40

    Artesp: entenda como funcionaa autarquia pública

    administração de um serviço público a essa empresa porum período determinado de tempo. No caso das rodoviaspaulistas, por exemplo, as concessões determinam que asestradas retornam para o poder do Estado, com todos osinvestimentos feitos pelas empresas, depois de um período de20 a 30 anos.

    Nesse contexto, surgiu a necessidade de se acompanhar e

    scalizar os serviços de transporte intermunicipal prestadospelo setor privado. Com esse m que, em 2002, foi criadaa Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados deTransporte (Artesp) – uma autarquia pública, ou seja, umaentidade autônoma que realiza atividades de interessepúblico como uma forma da descentralização administrativado governo. A Artesp também foi responsável pelamodelagem (elaboração do contrato) da primeira parceria

    público-privada ( ) relacionada a rodovias em São Paulo: aNova Tamoios, que liga o Vale do Paraíba ao litoral norte doestado – cujas obras devem começar em 2015.

    Os contratos rmados entre o Estado e a iniciativa privada

    para realização do transporte rodoviário costumam incluircifras bastante altas e um grande número de pessoasafetadas. Para se ter uma ideia da dimensão desse negócio,desde que começaram as concessões, já foram investidoscerca de 87 bilhões de reais, interligando mais de 40 milhõesde pessoas.

    O principal papel da Artesp é garantir que esses contratos

    sejam benécos tanto para o governo quanto para asempresas envolvidas. Por um lado, ela busca trazer segurança jurídica aos acordos rmados com o Estado, para que asempresas sintam-se seguras ao fazer os investimentos. Poroutro, busca também implementar modelos de contrato quenão deixem os interesses do poder público em segundo plano.

    Dessa forma, a agência necessita tanto de prossionais

    da área do Direito e Administração Pública, para elaborarmodelos de contratos precisos e complexos, quanto deengenheiros, para acompanhar e scalizar a execução dasobras. A intenção, no m das contas, é garantir o melhorserviço para o usuário.

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    36/40

    Nas concessões realizadas em 2008 e coordenadas pelaArtesp, por exemplo, a licitação deu prioridade à menortarifa de pedágio. Este ano, quando uma empresa começoua praticar tarifa maior do que a estipulada pela Artesp, aagência entrou na justiça para garantir o cumprimentodos valores do contrato. No caso da Nova Tamoios, anegociação permitiu uma economia de 3,92 bilhões de reaisaos cofres públicos – dinheiro que poderá ser utilizado em

    outras prioridades do Executivo e da população paulista.

    Desaos constantes Como resultado do trabalho daautarquia, as rodovias paulistas estão entre as melhores dopaís, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacionalde Transportes ( ). Mas é constante o desao de realizaruma cobrança mais justa ao usuário das rodovias, de modoque ele pague apenas pelos quilômetros que utilizou – e não

    por trechos pré-determinados, como acontece com o sistemade pedágios atual.

    Com isso em mente, a Artesp já implementou de maneiraexperimental em algumas rodovias o Sistema Ponto-a-Ponto,que utiliza uma tag no veículo (como as utilizadas pelo

    Sem Parar e outros serviços de pagamento eletrônico) paracalcular quantos quilômetros o usuário percorreu e cobrarapenas pelo trecho de fato utilizado.

    Artesp: entenda como funcionaa autarquia pública

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    37/40

    Ogoverno brasileiro (federal, estadual emunicipal) emprega 3,2 milhões de pessoas,

    de acordo com os últimos dados do InstitutoBrasileiro de Geograa e Estatística ( ), de2012. É o equivalente a 1,6% da população – se fosseuma empresa, seria maior do que qualquer outra nomundo em número de funcionários! Consequentemente,melhorar a gestão dessa enorme força de trabalho,assim como acontece nas grandes companhias do setorprivado, se tornou uma necessidade para União, estados

    e municípios.Nos últimos anos, muitos governantes têm tomadomedidas nessa direção. A principal delas é sair em buscade servidores com ótima formação acadêmica, capazesde modernizar o serviço prestado à sociedade.

    E, então, será que a carreirapública está alinhada aosseus objetivos?

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    38/40

    E, então, será que a carreira públicaestá alinhada aos seus objetivos?

    Na prática, eles oferecem altos salários associados aos postosde maior qualicação e possibilidade de crescimento.

    A boa notícia é que cada vez mais jovens recém-formadosvislumbram começar sua carreira no setor público. Na esferafederal, por exemplo, o número de funcionários com menosde 30 anos de idade acresceu 113% nos últimos 12 anos,segundo o . O que ainda precisa mudar, porém, na opinião

    de prossionais e especialistas, é o motivo pelo qual muitosdesses jovens escolhem essa carreira – que ao mesmo tempotambém afasta muita gente do setor.

    Desde a crise nanceira de 2008, diante das incertezas daeconomia, muitos deles ainda optam pelo funcionalismopúblico motivados especialmente pela estabilidade doscargos em comparação à alta competitividade do setorprivado – e não por considerar a carreira pública desaadoraou pela chance de contribuir diretamente na construção depolíticas para um país melhor.

    Àqueles jovens prossionais que já consideram o setorpúblico para começar sua carreira e também àqueles que

    acreditam que ser funcionário público é sinônimo de seracomodado, propomos algumas reexões:

    Para Fernando Abrucio, coordenador do curso de AdministraçãoPública da , a antiga ideia de que o setor público é para osacomodados não poderia estar mais errada. “Para aumentara eciência da máquina pública, precisamos de prossionais

    muito qualicados e empenhados”, ele comenta.

    A trajetória de Denis Mizne, diretor executivo da FundaçãoLemann, reforça essa opinião. Ao longo de sua carreira,Denis manteve relação constante com órgãos públicos, tendoinclusive trabalhado para o Ministério da Justiça durante umano. “Existe um mito de que no governo se trabalha pouco ouque quem vai para o setor público é porque não encontrouespaço no setor privado. Não é bem assim. As questõesmais complexas estão na esfera pública. É muito difícil, porexemplo, melhorar a educação de um país. Para trabalharcom isso tem que ser bom.”

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    39/40

    Muitas pessoas buscam cargos públicos de olho na famosaestabilidade prossional. De fato, nossa Constituição garanteaos trabalhadores estatuários (aqueles que passaram emconcursos) uma estabilidade raramente vista em empresas.O afastamento do emprego só pode ocorrer em casos graves –se você parar de aparecer para trabalhar, por exemplo. Porém,esse mesmo benefício não vale para estagiários, ocupantes

    de cargos por indicação e funcionários contratados semconcurso – todos eles também servidores públicos.

    Karla Trindade, diretora da Artesp, diz se decepcionar com jovens que prestam concursos públicos simplesmente embusca de estabilidade. “Se sua principal preocupação aosvinte e poucos anos é essa, você não é a pessoa que eugostaria de ter na área pública”, arma. Para Karla, aquelesque querem trabalhar no setor devem ter o sonho de fazera diferença. “Essa área só serve para quem tem vontade decontribuir de alguma forma para os outros, quem se satisfazem melhorar a vida de alguém”, diz.

    Apesar de ter esse sonho grande, também é necessário nutriruma satisfação com as pequenas conquistas do dia a dia.“Se você espera mudar o mundo inteiro no seu primeiro anode trabalho, a chance de você se frustrar é enorme. O Estadoem geral é lento, e aquele projeto superambicioso em quevocê está trabalhando pode demorar muito mais do que oesperado para sair do papel”, diz Karla.

    Isadora Cohen, diretora da , também insiste na satisfaçãocom as conquistas cotidianas. Ela, que trabalhou em seisprojetos e viu apenas um ser implementado, diz ter ganhadoexperiência e conhecimento com tudo o que fez. O empecilhopara colocar certos empreendimentos em prática pode vir decortes de orçamento ou mesmo de conitos políticos. Paraela, isso é parte do desao. “Se não for possível fazer algodo jeito tradicional, é preciso pensar fora da caixa e buscarmaneiras inovadoras de fazer aquilo acontecer.”

    E, então, será que a carreira públicaestá alinhada aos seus objetivos?

  • 8/18/2019 Especial Gestao Publica

    40/40

    Rafael Carvalho

    Cecília Araújo

    Danilo de Paulo

    Na PráticaShutterstock