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ESTADO FEDERAL E GUERRA FISCAL NO BRASIL

ESTADO FEDERAL E GUERRA FISCAL NO BRASIL · Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, do CIEE/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior

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ESTADO FEDERAL E GUERRA FISCAL NO BRASIL

Coleção Federalismo e TribuTação

Belo Horizonte2015

ORGANIZADORES

Misabel Abreu Machado DerziOnofre Alves Batista Júnior

André Mendes Moreira

ESTADO FEDERAL E GUERRA FISCAL NO BRASIL

Volume 3

APOIO FINANCEIRO FAPEMIG PARA PUBLICAÇÃO DA OBRA.

321.02 Estado federal e guerra fiscal no Brasil. E79 Misabel Abreu Machado Derzi, Onofre Alves Batista Júnior, 2015 André Mendes Moreira (organizadores). Belo Horizonte: v. 3 Arraes Editores, 2015. (Coleção federalismo e tributação, v. 3) p.405 ISBN: 978-85-8238-116-8 (livro) ISBN: 978-85-8238-114-4 (coleção)

1. Federalismo. 2. Guerra fiscal. 3. Direito tributário. 4. Crédito fictício. 5. ICMS - Guerra fiscal. 6. ICMS. 7. ISSQN. 8. IPVA. I. Derzi, Misabel Abreu Machado (org.). II. Batista Júnior, Onofre Alves (org.). III. Moreira, André Mendes (org.). IV. Título. V. Série.

CDD – 321.02 CDU – 323.17

CONSELHO EDITORIAL

Elaborada por: Fátima Falci CRB/6-nº 700

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora.

Impresso no Brasil | Printed in Brazil

Arraes Editores Ltda., 2015.

Coordenação Editorial: Produção Editorial e Capa:

Revisão:

Fabiana CarvalhoDanilo Jorge da SilvaResponsabilidade do Autor

Álvaro Ricardo de Souza CruzAndré Cordeiro LealAndré Lipp Pinto Basto LupiAntônio Márcio da Cunha GuimarãesBernardo G. B. NogueiraCarlos Augusto Canedo G. da SilvaCarlos Bruno Ferreira da SilvaCarlos Henrique SoaresClaudia Rosane RoeslerClèmerson Merlin ClèveDavid França Ribeiro de CarvalhoDhenis Cruz MadeiraDircêo Torrecillas RamosEmerson GarciaFelipe Chiarello de Souza PintoFlorisbal de Souza Del’Olmo

Frederico Barbosa GomesGilberto BercoviciGregório Assagra de AlmeidaGustavo CorgosinhoJamile Bergamaschine Mata DizJanaína Rigo SantinJean Carlos FernandesJorge Bacelar Gouveia – PortugalJorge M. LasmarJose Antonio Moreno Molina – EspanhaJosé Luiz Quadros de MagalhãesKiwonghi BizawuLeandro Eustáquio de Matos MonteiroLuciano Stoller de FariaLuiz Manoel Gomes JúniorLuiz Moreira

Márcio Luís de OliveiraMaria de Fátima Freire SáMário Lúcio Quintão SoaresMartonio Mont’Alverne Barreto LimaNelson RosenvaldRenato CaramRoberto Correia da Silva Gomes CaldasRodolfo Viana PereiraRodrigo Almeida MagalhãesRogério Filippetto de OliveiraRubens BeçakVladmir Oliveira da SilveiraWagner MenezesWilliam Eduardo Freire

Rua Oriente, 445 – Serra Belo Horizonte/MG

CEP 30220-270

Tel: (31) 3031-2330

[email protected]

V

organizadores

misabel abreu maChado derzi Professora Titular de Direito Tributário da UFMG e das Faculdades Milton Campos. Dou-tora em Direito Público pela UFMG. Presidente da Comissão Permanente de Revisão e Simplificação da Legislação Tributária do Estado de Minas Gerais. Advogada e parecerista.

onoFre alVes baTisTa Junior

Professor Adjunto de Direito Público da UFMG. Doutor em Direito pela UFMG. Mestre em Ciências Juridico-Políticas pela Universidade de Lisboa. Pós-Doutor em Democra-cia e Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra. Advogado-Geral do Estado de Minas Gerais.

andré mendes moreira

Professor Adjunto de Direito Tributário da UFMG. Doutor em Direito Econômico e Fi-nanceiro pela USP. Mestre em Direito Tributário pela UFMG. Membro da Comissão Per-manente de Revisão e Simplificação da Legislação Tributária do Estado de Minas Gerais. Advogado e parecerista.

reVisor

miChel hernane noronha Pires

Advogado.

VI

auTores

alessandro mendes Cardoso

Professor nos cursos de Pós-Graduação da FGV, do Instituto de Educação Continuada da PUC/MG e do IBMEC. Mestre em Direito Tributário pela UFMG. Pós-Graduado em Di-reito de Empresas pelo Instituto de Educação Continuada da PUC/MG.

alessandro rosTagno

Professor convidado dos Cursos de Pós-Graduação lato sensu da Escola Fazendária da Secre-taria da Fazenda do Estado de SP, da FGV e da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ. Mestre em Direito pela PUC/SP. Membro efetivo do Instituto dos Advo-gados de São Paulo (IASP) e da Associação Brasileira de Direito Tributário - ABRADT. Con-selheiro Jurídico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Advogado.

ana Carolina magliano ribeiro romano

Especialista em Direito Fiscal pela PUC/RJ e Advogada.

andré Folloni

Professor de Direito Tributário e de Filosofia do Direito na PUC-PR, nos cursos de gra-duação, especialização e no Programa de Pós-Graduação em Direito. Doutor em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná. Mestre em Direito pela PUC-PR. Advogado.

andré mendes moreira

Professor Adjunto de Direito Tributário da UFMG. Doutor em Direito Econômico e Fi-nanceiro pela USP. Mestre em Direito Tributário pela UFMG. Relator da Comissão Per-manente de Revisão e Simplificação da Legislação Tributária do Estado de Minas Gerais. Advogado e parecerista.

anTônio elmo Queiroz

Pós-graduado em Direito Tributário (IBET/SP), Gestão de Operações Societárias e Plane-jamento Tributário (INEJE/RS) e em Docência do Ensino Superior (UFRJ/RJ). Vice-presi-dente do Instituto Pernambucano de Estudos Tributários (IPET). Advogado.

VII

anTônio reinaldo rabelo Filho

Mestre em Direito Tributário pela PUC/SP e Advogado.

ariane bini de oliVeira

Professora de Direito Tributário e Gestão Tributária em cursos de graduação e pós-gradua-ção. Pós-graduada em Direito Internacional pela PUC-PR. Advogada.

beTina Treiger gruPenmaCher

Professora Associada dos cursos de graduação e pós-graduação em Direito Tributário da UFPR e coordenadora do curso de Especialização em Direito Tributário do IBET, no Para-ná. Mestre em Direito Tributário pela PUC-SP. Doutora em Direito Tributário pela UFPR. Pós- Doutora pela Universidade de Lisboa. Pós-graduada pela Universidade de Salamanca, na Espanha e pela Universidade Austral, na Argentina. Advogada.

Célio loPes Kalume

Procurador-Consultor da Consultoria Jurídica da Advocacia Geral do Estado de Minas Ge-rais. Mestre em Administração Pública pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro de Minas Gerais.

César Vale esTanislau

Mestrando em Direito Tributário pela UFMG. Advogado

Clélio Chiesa

Professor do Curso de Pós-Graduação em Direito Tributário da PUC/COGEAE/SP. Profes-sor do Instituto Brasileiro de Direito Tributário. Professor titular da Universidade Católica Dom Bosco. Doutor e Mestre em Direito pela PUC-SP.

Fabiana del Padre Tomé

Professora nos cursos de pós-graduação stricto e lato sensu da PUC-SP e nos cursos de extensão e de especialização do IBET. Mestre e doutora em Direito Tributário pela PUC-SP.

gioVana Treiger gruPenmaCher.Acadêmica em Direito da UFPR. Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e Monitora - Programa de iniciação à docência da UFPR.

humberTo ÁVila

Professor Titular de Direito Tributário da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

igor mauler sanTiago

Mestre e Doutor em Direito Tributário pela UFMG. Ex-Professor Adjunto de Direito Tri-butário da UFMG. Diretor Científico da Associação Brasileira de Direito Tributário. Mem-bro do comitê de redação da Revue Française de Finances Publiques. Membro da Comissão de Direito Tributário do Conselho Federal da OAB. Advogado.

VIII

iVes gandra da silVa marTins

Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, do CIEE/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME, Superior de Guerra – ESG e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região; Professor Honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia). Doutor Honoris Causa das Universidades de Craiova (Romênia) e da PUC-Paraná, e Catedrático da Universidade do Minho (Portugal). Doutor em Direito pela Universidade Mackenzie e Advogado.

JeFFerson nery ChaVes

Especialista em Direito Tributário pela PUC Minas. Mestre em economia de empresas pela FEAD-Minas. Auditor Fiscal da Receita Estadual. Assessor Especial na Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais.

José eduardo soares de melo

Professor titular de Direito Tributário da Faculdade de Direito da PUC-SP e coordenador do curso de pós-graduação “lato sensu” em Processo Tributário da COGEAE da PUC-SP. Professor do curso de especialização em Direito Tributário do IBET. Visiting Scho-lar da U.C. Berkeley (Califórnia). Doutor em Direito pela PUC-SP. Consultor jurídico e advogado.

luís Carlos marTins alVes Jr.Professor de Direito Constitucional no Centro Universitário de Brasília. Doutor em Di-reito Constitucional pela UFMG. Procurador da Fazenda Nacional perante o Supremo Tribunal Federal. Advogado público federal inscrito na OAB/DF.

marCelo Caron baPTisTa

Professor dos cursos de pós-graduação em Direito Tributário e em Processo Tributário do GVLaw da FGV , da PUC/PR, da Universidade Positivo, do IBET , da Escola da Ma-gistratura do Paraná e do Centro Universitário Curitiba. Professor convidado dos cursos de graduação, mestrado e doutorado da UFPR. Mestre em Direito Tributário pela UFPR. Advogado.

mary elbe Queiroz

Professora do Programa de Doutorado e Mestrado da UFPE. Professora do curso de pós-graduação da PUC-SP, IBET-SP, UFBA-BA, IDP-DF, Escola Superior da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, Escola de Magistrados da Justiça Federal de São Paulo. Pós-Douto-ra em Direito Tributário pela Universidade de Lisboa. Doutora em Direito Tributário pela PUC-SP. Membro Imortal da Academia Nacional de Economia (ANE). Advogada.

onoFre alVes baTisTa Junior

Professor Adjunto de Direito Público da UFMG. Doutor em Direito pela UFMG. Mestre em Ciências Juridico-Políticas pela Universidade de Lisboa. Pós-Doutor em Democra-cia e Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra. Advogado-Geral do Estado de Minas Gerais.

IX

Paulo roberTo Coimbra silVa

Professor de Direito Tributário da UFMG. Mestre e Doutor em Direito pela UFMG.

Pedro guilherme aCCorsi lunardelli

Professor do IBDT, do IBET, da Escola Paulista de Direito e da PUC-SP. Professor Convi-dado da FGV. Doutor e Mestre em Direito pela PUC-SP. Advogado.

Pedro henriQue garzon ribas

Coordenador da Associação Brasileira de Direito Tributário Jovem - ABRADT Jovem. Advogado.

Pedro menegueTTi

Especialista em Direito Tributário pela PUC Minas. Auditor Fiscal da Receita Estadual. Secretário de Estado Adjunto de Fazenda em Minas Gerais.

simone benTo marTins

Pós-Graduada em Direito Tributário pelo IBET.

Thiago ChaVes gasPar breTas lage

Professor de Direito Tributário da UFOP. Mestre em Direito pela UFMG. Conselheiro ti-tular do Conselho Administrativo de Recursos Tributários de Belo Horizonte (CART-BH).

XI

sumÁrio

PREFÁCIO ........................................................................................................................ XV

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................... XXI

CAPíTulO IA GUERRA FISCAL DO ICMS ................................................................................... 1

1.1. A Unanimidade da Aprovação dos Estados para Concessão de Estímulos no ICMS – Cláusula Pétrea ConstitucionalIves Gandra Martins ...................................................................................................... 3

1.2. A Guerra Fiscal: Causas e ConsequênciasJosé Eduardo Soares De Melo ...................................................................................... 15

1.3. A Guerra Fiscal de ICMS e a Resolução nº 13/2012 do Senado FederalHumberto Ávila ............................................................................................................... 35

1.4. Guerra Fiscal e Segurança JurídicaMary Elbe Queiroz Antonio Elmo Queiroz .................................................................................................... 59

1.5. Guerra Fiscal, Crédito Fictício e Não Cumulatividade: Desfazendo IlusõesCélio Lopes KalumeOnofre Alves Batista Júnior.......................................................................................... 77

1.6. Aspectos Relevantes da Guerra Fiscal do ICMSPedro Meneguetti Jefferson Nery Chaves .................................................................................................... 91

XII

1.7. ICMS – Guerra Fiscal: Crítica aos Fundamentos Adotados pelo Estado de São Paulo para a Glosa de CréditosPedro Guilherme Accorsi Lunardelli .......................................................................... 151

1.8. A ‘Guerra Fiscal’ no Contexto Jurídico-Político do Desenvolvimento Regional BrasileiroAlessandro Rostagno ...................................................................................................... 167

1.9. Desacertos no Combate à Guerra Fiscal entre Estados e entre MunicípiosIgor Mauler Santiago .................................................................................................... 179

1.10. A Guerra Fiscal: Causas e ConsequênciasAntônio Reinaldo Rabelo Filho Ana Carolina Magliano Ribeiro Romano ................................................................ 191

1.11. Guerra Fiscal do Comércio EletrônicoAriane Bini de OliveiraBetina Treiger GrupenmacherGiovana Treiger Grupenmacher .................................................................................. 213

1.12. ICMS e o Comércio Eletrônico - Nova Feição do Conflito Federativo em Matéria FiscalAlessandro Mendes Cardoso Simone Bento Martins ................................................................................................... 229

1.13. A Guerra Fiscal no Contexto do Comércio Eletrônico e os Desafios ao Federalismo BrasileiroAndré Mendes MoreiraCésar Vale EstanislauPedro Henrique Garzon Ribas ..................................................................................... 255

1.14. A Guerra dos Portos e a Resolução Senatorial nº 13/2012: Direito Tributário e Desenvolvimento Nacional em Lados OpostosAndré Folloni ................................................................................................................... 269

CAPíTulO IIA GUERRA FISCAL E O ISSQN ................................................................................. 287

2.1. A Guerra Fiscal e o ISSQNMarcelo Caron Baptista ................................................................................................ 289

2.2. A Guerra Fiscal e o ISSQNClélio Chiesa .................................................................................................................... 315

XIII

2.3. A Guerra Fiscal e o ISSQN: Causas e ConsequênciasThiago Chaves Gaspar Bretas Lage ........................................................................... 329

2.4. Guerra Fiscal no ISSQN: A Determinação do Estabelecimento Prestador e Critérios para Quantificação da Base de CálculoFabiana Del Padre Tomé .............................................................................................. 345

2.5. Os Municípios e a Guerra Fiscal do ISSQN: Uma Breve Análise Acerca das Perspectivas e Expectativas do Processo e Julgamento da ADPF 189 Luís Carlos Martins Alves Jr....................................................................................... 361

CAPíTulO IIIA GUERRA FISCAL E O IPVA .................................................................................... 375

3.1. Conflitos Federativos (Guerra Fiscal) em Torno do IPVA e Possíveis SoluçõesPaulo Roberto Coimbra Silva ...................................................................................... 377

XV

PreFÁCio

Foi com muita satisfação que recebi das mãos dos professores Misabel Abreu Macha-do Derzi, Onofre Alves Batista Júnior e André Mendes Moreira o convite para prefaciar este volume da Coleção Federalismo e Tributação. A iniciativa de tomar como objeto de consideração o princípio federativo e seus desdobramentos no campo dos tributos chega em momento muito oportuno, no qual parece haver uma maior atenção das esferas políti-cas e judiciais para o assunto, notadamente no que diz respeito à chamada “guerra fiscal” em suas numerosas variáveis (tanto entre Estados com o ICMS e o IPVA e também entre Municípios no âmbito do ISS).

Nesse cenário, penso que um texto destinado a inaugurar o terceiro volume de obra sobre a matéria mostrar-se-á tão útil quanto mais atiçar o espírito crítico de todos aqueles que travem contato com o escrito. É o que pretendo fazer neste prefácio ao expor breves notas sobre como o ordenamento jurídico brasileiro tem se apropriado do conceito federação e que marcas têm sido impressas nas linhas e, especialmente, nas entrelinhas de suas normas.

Pois bem, a Federação, como forma de Estado, seria, teoricamente, o projeto mais apropriado para realizar os ideais democráticos do povo brasileiro. Assim já se pensava no final do 2º Reinado, com a queda da monarquia num país centralizado e de estrutura unitária. Dada a extensão do nosso território, não bastaria simplesmente desconcentrar o poder, mas descentralizá-lo mesmo, para expandir os focos de decisão até os pontos mais longínquos de suas fronteiras. E a Constituição de 1891, instituindo juridicamente a Re-pública, organizou o Brasil na forma de Estado Federal, seguindo o modelo dos Estados Unidos da América do Norte.

A marcha compassada da História, porém, é implacável. Vários acontecimentos ocor-reram e a resistência à descentralização foi-se firmando para conservar a tradição centraliza-dora. A Revolução de 1930, o episódio do Estado Novo em 1937, o golpe militar de 1964 são apenas algumas referências ao movimento surdo, porém contínuo e sistemático, que minaram a estrutura proposta de Estado Federal, assim como concebida na Constituição de 1891, nada obstante os textos constitucionais subsequentes reafirmarem os propósitos federativos expressamente declarados naquela Lei Fundamental.

O processo de fortalecimento do poder central, todavia, avançou gradativamente, outor-gando-lhe a primazia econômica e depois política, para, em seguida, consagrar-se em termos

XVI

jurídicos. Basta observar as competências constitucionalmente estabelecidas na Carta de 1988 sobre a matéria tributária, instrumento essencial para o exercício da autonomia recíproca entre as unidades da “Federação”. A União recebeu um feixe de competências legislativas que suplanta, largamente, o que foi atribuído aos Estados-membros e aos Municípios. E essa força centrípeta adquiriu, em termos econômicos, reforço extraordinário com a absorção da dívida dos Estados e dos Municípios pela União Federal, em 1975, assumindo, agora, a feição declarada de inequívoca hierarquia. Trata-se de situação denunciada pelo emprego frequente de termos como “entidades subnacionais” ou “entes menores” para fazer referência a Estados e Municípios em meio ao linguajar da política, do direito e da economia.

A linguagem dos números exibe a situação extravagante desse perigoso desequilíbrio. Em 2012, os tributos arrecadados pelo poder público federal atingiram, aproximadamente, 25,38% do PIB nacional; enquanto isso, a participação que coube aos Estados membros foi de 8,96% e a dos Municípios, 1,93%. Tamanha disparidade ganhar contornos ainda mais graves quando se leva em conta a contínua renovação do expediente conhecido por Desvinculação das Receitas da União (DRU) a qual, desde 1994, estimula o incremento da receita pública por meio das contribuições que, diversamente dos impostos, não são submetidos à repartição com Estados e Municípios por intermédio dos respectivos fundos de participação.

Ora, se agregarmos a tais diferenças, que expressam enorme supremacia econômica fundada na discriminação constitucional de competências, à submissão também econômica das dívidas de Estados e de Municípios para com a União, tudo isso acompanhado das ine-vitáveis sujeições políticas que invariavelmente acarretam, o resultado é o reconhecimento cabal do imenso desconcerto que há entre as posições das três pessoas políticas de direito constitucional interno: União, Estados (Distrito Federal) e Municípios.

Não se trata, aqui, de comparar as vantagens jurídico-sociais e políticas de um Estado centralizado e de uma Federação. Nem reafirmar que o caminho mais curto e direto para implantar o valor “democracia” seja o da estrutura federativa, principalmente em face das dimensões do território nacional. Quero ressaltar, tão somente, o descompasso entre o que preconiza a Constituição brasileira, proclamando a forma federativa, com todos os prin-cípios que lhe são imanentes, e a triste e precária realidade nacional, com suas instituições bem concebidas, mas impotentes para realizar a missão jurídico-social que delas seria de esperar. Tudo isso, pelo acentuado grau de distorção entre a macroestrutura jurídica e a base institucional vigente.

Os efeitos, sempre desconcertantes, são, entre outros, a guerra fiscal entre os Estados (e também, entre os Municípios); a disputa desordenada pelos royalties do petróleo; o desacor-do sobre o adimplemento da dívida pública – que, aliás, se tornou praticamente impagável – dos Estados e Municípios para com a União; a inconstitucionalidade dos atuais critérios de divisão do Fundo de Participação dos Estados e a falta de acordo para a propositura e aprovação de nova lei sobre o assunto. São exemplos de problemas que se fazem sentir também pelos contribuintes, na forma de glosa inesperada de créditos, insegurança no pla-nejamento de suas atividades, aumento de carga tributária, só para citar alguns.

De ver está que problemas dessa índole pressupõem um Poder Judiciário forte, pronto para enfrentar e resolver os superiores impasses da Federação. Como se nota, porém, apesar de instigado a fazê-lo, o Supremo não tem conseguido os resultados que a sociedade espera, precisamente em função do desconcerto entre a forma federativa e a realidade de Estado Unitário que o Brasil intensamente vive. Não é por outro motivo que CELSO SEIXAS

XVII

RIBEIRO BASTOS afirmou que a busca pelo federalismo é muito mais retórica do que prá-tica. Não teremos, disse o mestre, uma autêntica democracia no Brasil se não houver forte tendência descentralizadora. Urge, pois, abrir mão de certas velharias inseridas na Consti-tuição, que confundem a ordem federada com um mecanismo de convivência de Estados carentes de unidade nacional para abraçar a Federação como instrumento de democracia.

PAULO BONAVIDES1, em termos mais incisivos e candentes, reconheceu:

“Somos hoje uma federação condenada à morte. Razões políticas, sobretudo sociais, lavram a sentença capital. Que política tem pois esse governo ou tiveram os governos antecedentes para levar a cabo uma reforma do sistema de tributos, suscetível de prevenir a consumação da tragédia federativa; que eu vejo prestes ao desenlace na forma submissa com que os Estados membros e os Municípios se demitem de suas respectivas autonomias? Debaixo das omissões do Poder Central, as desigualdades sociais e regionais se avolumam, ficando os entes fede-rativos sujeitos, por completo, às injunções da política econômica e financeira da União, à instrumentalização da dependência que os oprime e esmaga, quer nas negociações da dívida pública, quer na liberação de devoluções orçamentárias. Ficam, assim, à mercê doutra ditadu-ra, complemento atroz da ditadura constitucional, que dissolve o poder democrático e faz da república e da federação a quimera dos constitucionalistas.”

Ao integrar a comissão de especialistas indicada pela Presidência do Senado Federal, ao lado de outros juristas, economistas e administradores públicos, percebi a extrema dificuldade, a esta altura, de tomar providências importantes para o fortalecimento da federação. Acudiram-me à mente as palavras lúcidas e penetrantes do Professor Bonavi-des, ainda que isso implique a vitória do unitarismo e da centralização do poder jurídico--político no Brasil.

Ora, a guerra fiscal e os demais itens que atormentam a vida econômica e institucio-nal da sociedade brasileira são apenas alguns dos subprodutos desse descontrole que tantos detrimentos já causaram. A tomada de consciência do desequilíbrio existente poderá abrir espaço para sugestões de outra ordem. Por enquanto, contudo, ou permanecemos com as desgastadas aspirações de cunho federalista ou, pelo contrário, deixaremos como está, vale dizer, Estados-membros sem autonomia, União cada vez mais forte, polarizando nela, pes-soa política de direito constitucional interno, o foco ejetor das grandes decisões de caráter nacional. Esse passivo deixar acontecer, porém, significará, certamente, a submissão dos Estados e dos Municípios brasileiros, em ostensiva escala de subordinação jurídica, política e econômica, ao mesmo tempo em que reconheceremos o crescimento do poder de tutela da União, transformada, por conseguinte, em pessoa diversa, pois não poderá chamar-se mais de União Federal. Será o poder centralizador, a partir do qual se irradiarão a totalidade das políticas não somente regionais, mas estaduais e municipais também. O processo já está em marcha. É só esperar que se consolide.

Enquanto isso, os atritos continuarão, rendendo espaço aos problemas com os quais já nos acostumamos a conviver e a outros tantos que estão prontos a manifestar-se, todos advindos do mesmo núcleo produtor de atritos e desalinhos, a contar, como salienta IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, da própria reforma tributária, emperrada pelos mesmos desajustes que alimentam o feixe das retaliações e dos ressentimentos entre os Estados da

1 Discurso proferido em 30 de maio de 2014, por ocasião da outorga da medalha de “Mérito Universitário” que lhe fora concedida pela PUC/RS.

XVIII

“Federação”, tudo sob as vistas aflitas e impotentes daqueles que se interessam por equacio-nar situação de tamanha gravidade.

Gostaria muito de consignar hoje, transcorridos quase três anos dos trabalhos da Comissão, resultados auspiciosos, ao menos no campo específico da guerra fiscal, que tantos e tantos malefícios tem causado ao equilíbrio de nossas instituições e à estabilidade da convivência entre os Estados-membros da Federação. Bastaria até que acordos proce-dimentais estivessem em curso, anunciando eventuais encaminhamentos para a solução desse assunto. Tudo, porém, continua da mesma forma! Diria mais, que o desencontro se acentuou, consideravelmente. Os mecanismos de combate se aperfeiçoaram; os métodos de atuação das unidades federais ganharam novos alentos e recursos sofisticados foram introduzidos no modo menos ostensivo (todavia mais eficaz) de obter os resultados pre-tendidos. Intensificou-se a guerra fiscal, agora disfarçada em expedientes que somente se revelam numa análise mais apurada, o que significa reconhecer sensível dificuldade na utilização dos instrumentos coibitórios.

A Comissão fez seu trabalho, como se pode ver, pensado e organizado como um documento de alto nível técnico, bem apoiado por bases científicas sólidas e definidas. Os trâmites políticos, contudo, que já sabíamos imprevisíveis e altamente complexos, não favoreceram, ainda, a boa marcha do anteprojeto. De qualquer modo, porém, lá estão depo-sitados critérios, diretrizes e formas que podem orientar os órgãos legislativos e de execução, no sentido de conduzir o trabalho em conformidade com os primados da Constituição da República, prestigiando, sobretudo, a Federação brasileira, nos seus traços fundamentais.

Ante este quadro, que é, então, da paridade que deve existir entre elas? Que é da pro-clamada isonomia entre as entidades tributantes? Que é, enfim, da Federação brasileira?

Independentemente das opções políticas ou ideológicas que possamos adotar, creio existirem três caminhos bem nítidos para orientar nossa decisão: a) deixar como está para ver como fica, atitude passiva, tolerante e que denota certa irresponsabilidade com relação aos destinos do país; b) lutar decididamente pela Federação, levando às últimas consequên-cias os princípios constitucionais que lhe digam respeito, bem como zelar pela implantação de normas que signifiquem desdobramentos na cadeia de positivação desse primado; e c) empreender uma campanha aberta, democrática e incisiva pela reorganização do Estado brasileiro como estrutura unitária, o que representaria retorno histórico aos tempos que ante-cederam a proclamação da República. Eis o momento bom para a tomada de posição, sem retórica (no mau sentido), plena de objetividade, com os pés no chão e os olhos no futuro.

Das alternativas mencionadas acima, a primeira é a mais cômoda, se bem que impli-que a distorção tão presente nos dias atuais, conduzindo-nos, num movimento surdo, mas compassado, ao implacável e absoluto domínio da União, nos planos jurídico, político e econômico, em face das demais pessoas políticas. A segunda corresponde a um ideal so-branceiro, já devidamente tratado pelos constitucionalistas, teóricos do Estado e cientistas políticos, alimentada, de modo incessante, pelos ardorosos defensores da democracia. E a terceira, importando inevitável ruptura dos parâmetros constitucionais, haveria de ser a bandeira de todos aqueles que se dizem fartos dos discursos políticos de campanha, numa atitude radical de apego à realidade, sem contemporizações nem promessas ilusórias sobre o porvir de uma pátria idealmente construída, mas que em tempo algum foi praticada. Diriam eles: sejamos realistas! O Brasil é assim mesmo, tem sido assim e, certamente, conti-nuará seguindo essa trajetória. Rendamo-nos à evidência ou, se quisermos, à “sua excelência

XIX

o fato”, consubstanciado em medições numéricas incontestáveis e adotemos, desde logo, os padrões jurídicos de um Estado Unitário, sem embuços, disfarces ou representações. Tratar--se-ia de algo concreto, fruto da evolução histórica de uma sociedade que já se comporta dentro de tais limitações. Novidade alguma seria implantada!

Nutro a convicção que tomar conhecimento do quadro em que vivemos é etapa indis-pensável para que possamos passar da Federação que temos à Federação que queremos. As alternativas estão postas à nossa consciência e são claras e bem distintas, pressupondo, cada uma delas, a preservação irrenunciável das liberdades democráticas, em ambiente de ordem e paz social, valores que, penosamente, vimos lutando para implantar.

Paulo de Barros CarvalhoProfessor Emérito e Titular da PUC/SP e da USP

XXI

aPresenTação

A presente coleção é fruto de um projeto iniciado há dois anos que, para nossa sa-tisfação, contou com a colaboração de mais de cem autores, todos tratando de tema que nos é especialmente caro: a organização federal do Estado e suas relações com o Direito Tributário e Financeiro.

Os debates surgidos na sala de aula dos cursos de Mestrado e Doutorado em Direito da UFMG1 nos estimularam a organizar uma obra que reunisse os pensamentos da aca-demia acerca dos rumos que o Brasil pode e deve tomar na seara tributária e financeira para alçar o desenvolvimento pretendido. Contudo, a empreitada acabou se tornando maior do que o previsto. A cada momento uma nova questão nos incitava a solicitar uma colaboração adicional e, com isso, chegamos ao presente estado da arte: com autores da Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, Colômbia, Espanha, Estados Unidos da América, França, Itália e Portugal, foi possível amalgamar em um só local uma plêiade de juristas que têm muito a dizer, cada um, sobre os desafios da tributação e da repartição de receitas no estado federal.

O apoio tanto da Faculdade de Direito da UFMG como da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG foram, nessa caminhada, essenciais para a concretização do projeto. Outrossim, agradecemos penhoradamente ao Senador da República e Professor da Faculdade de Direito da UFMG, Antonio Augusto Anastasia; ao Professor Titular de Direito Tributário da UFRJ, Sacha Calmon Navarro Coêlho; ao Profes-sor Emérito de Direito Tributário da Faculdade de Direito da USP e da PUC/SP, Paulo de Barros Carvalho; e ao Governador do Estado de Minas Gerais e Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Fernando Damata Pimentel, que nos honraram com belos prefácios que abrem cada um dos quatro volumes desta coleção.

Agradecemos, outrossim, ao esforço dos autores desta coleção que, em meio a inúmeras atividades profissionais, encontraram tempo para colaborar – dentro do mais puro espírito acadêmico – com as discussões aqui travadas em torno do Direito Tributário e Financeiro.

1 Fundado em 1931, o programa de Doutorado em Direito da UFMG foi, à época, o primeiro do Brasil, beneficiado por um fato histórico: o Professor Francisco Campos, que fora catedrático de Filosofia do Direito na Faculdade de Direito da hoje UFMG – a “Casa de Afonso Pena” – uma vez alçado a primeiro Ministro de Educação e da Saúde do Brasil, acabou estimulando sua Casa de origem a inaugurar a experiência brasileira de Pós-Graduação.

XXII

Agradecemos, por fim, aos monitores da disciplina Direito Tributário na UFMG, Michel Hernane Noronha Pires, Thiago Álvares Feital, Douglas Alexander Batista e Victor Teixeira, bem como ao acadêmico da UFMG Juliano Rabelo de Castro Vale, que se empe-nharam sobremaneira no contato com os autores e na formatação dos textos recebidos.

Esperamos que as obras ora trazidas a lume possam, de algum modo, contribuir para que os problemas passados não sejam os futuros. E que o amanhã seja sempre o hoje aper-feiçoado e melhorado.

Boa leitura.

Misabel Abreu Machado DerziProfessora Titular de Direito Tributário da UFMG e das Faculdades Milton

Campos. Doutora em Direito Público pela UFMG. Presidente da Comissão Permanente de Revisão e Simplificação da Legislação Tributária do Estado de

Minas Gerais. Advogada e parecerista.

Onofre Alves Batista JúniorProfessor Adjunto de Direito Público da UFMG. Doutor em Direito pela UFMG.

Mestre em Ciências Juridico-Políticas pela Universidade de Lisboa. Pós-Doutor em Democracia e Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra.

Advogado-Geral do Estado de Minas Gerais.

André Mendes MoreiraProfessor Adjunto de Direito Tributário da UFMG. Doutor em Direito Econômico

e Financeiro pela USP. Mestre em Direito Tributário pela UFMG. Relator da Comissão Permanente de Revisão e Simplificação da Legislação Tributária

do Estado de Minas Gerais. Advogado e parecerista.