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Este livro foi disponibilizado pela equipe do e-Livros
e-Livros.xyz
Copyright © J. J. Benítez, 1981TÍTULO ORIGINAL: Encuentro en montaña roja
PREPARAÇÃO: Alyne AzumaREVISÃO: Ana Carolina F. LopesDIAGRAMAÇÃO: Thiago Sousa | all4type.com.brIMAGENS DE MIOLO: © J. J. BenítezIMAGENS DE CAPA: This is a dream, live it/Getty Images e Juergen Richter/Getty ImagesADAPTAÇÃO PARA EBOOK: Hondana
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B415e Benítez, Juan JoséEncontro na montanha vermelha / J. J. Benítez ; [tradução
Sandra Martha Dolinsky]. - 1. ed. - São Paulo : Planeta, 2013.
Tradução de: Encuentro en ‘Montaña Roja’
ISBN 978-85-422-0133-8
1. Discos voadores - Visões e contatos - Espanha. I. Título.
13-00726CDD: 001.942CDU: 000.94
2013Todos os direitos desta edição reservados àEditora Planeta do Brasil Ltda.Avenida Francisco Matarazzo, 1500 | 3o andar | conj. 32 BEdifício New York | 05001-100 | São Paulo – [email protected]
SUMÁRIO
UM ÚNICO PROPÓSITO
ALGUMA COISA ACONTECE NA MONTANHA VERMELHA
VOO ARRECIFE–LAS PALMAS: “ESTAMOS SENDO SEGUIDOS POR UM ÓVNI”
TÂMARAS E PASSAS PARA TRÊS DIAS
UMA CRUZ NO VULCÃO
PRIMEIRA NOITE: UM ESTRANHO MONÓLOGO
SURPRESA NA EXPLORAÇÃO DO VULCÃO
AS MÁGICAS ONDAS ALFA
UM VOO SOBRE O VULCÃO?
“AMANHÃ, ÀS 23H…”
UM CÍRCULO DE TERRA QUEIMADA
À ESPERA, NA ESCURIDÃO
ÓVNI SOBRE O VULCÃO
UMA HORA ADIANTADO
A NECESSIDADE DE UMA DECISÃO
A NOITE FICOU VERDE
VIAGEM REAL À CHINA: UM ÓVNI DIANTE DE 30 JORNALISTAS
DONA SOFIA: “EU SEMPRE PERCO A CHANCE”
UM ÓVNI ESCOLTOU O FOKKER DO COMANDANTE CIUDAD
COMO UM GIGANTESCO TUBO DE NÉON
UM CONE DE LUZ SOBRE A COSTA MEDITERRÂNEA
RUMO AO MÉXICO
TRÊS ÓVNIS IMOBILIZAM UM AVIÃO DE PEQUENO PORTE
VIAGEM À SELVA
O ASTRONAUTA: 13 SÉCULOS DE ESQUECIMENTO
PAKAL: UM REI, UM MÍSTICO OU UM EXTRATERRESTRE?
O “PSICODUTO”: UM TÚNEL PARA A ALMA
UMMO NA SELVA MEXICANA
AVIACO 501: A NUVEM QUE PAROU O TEMPO
UM ÓVNI SEGUIU A CHEFE DAS COMISSÁRIAS
FORTALEZA VOADORA NA AEROVIA PAMPLONA-BARCELONA
O BRAVO COMANDANTE SEDÓ
MADRI: UM ÓVNI EM DIREÇÃO PROIBIDA
MIRALLES: “ERA COMO UM FUSO”
UMA NAVE-MÃE SOBRE O MEDITERRÂNEO
UM PETROLEIRO A 30 MIL PÉS DE ALTURA
A SAUDAÇÃO A UMA ESQUADRILHA ÓVNI
UMA CASA DE CINCO ANDARES… QUE VOA
“UMA NAVE GRANDE VE M EM MINHA DIREÇÃO”
COM OS REIS, À AMÉRICA
MEUS AMIGOS ME CHAMAM DE ÓVNI
O DESCONHECIMENTO DOS “SUMOS SACERDOTES”
TRÊS HORAS COM A RAINHA
DONA SOFIA SOBREVOA OS PAMPAS DE NAZCA
NASCE A SOPA
COMANDANTE LORENZO: UM ÓVNI NO NARIZ DO CARAVELLE
OUTRO CILINDRO QUE VOA
CINCO CONCLUSÕES
E
m minha obstinada corrida atrás dos óvnis, conheci muitas pessoas que
não aceitam o fenômeno ou se mantêm céticas, porque, segundo elas,
“os objetos voadores não identificados jamais foram vistos por profissionais
de categoria”. Pois bem, um dos motivos que me levaram a escrever este
livro foi mostrar a elas que os óvnis não são observados só por pastores,
agricultores ou pescadores. E, decidido a escolher testemunhas, concentrei-
me naquelas que hoje são consideradas as testemunhas “número um”: os
pilotos.
Se existe alguém qualificado para distinguir um óvni de outros
fenômenos explicáveis – meteoritos, aviões, foguetes, satélites artificiais,
balões sonda etc. –, só pode ser um profissional do ar. Os próprios
militares, ao classificar as testemunhas dos óvnis, situaram os pilotos na
primeira posição, com o carimbo de “Primeira Categoria”.
Embora não conste nesta investigação a totalidade dos pilotos espanhóis
que garantem ter tido algum encontro com esses objetos, acho que a seleção
é suficientemente demonstrativa.
S
ALGUMA COISA ACONTECE
NA MONTANHA VERMELHA
alomé, a sempre doce e paciente telefonista do jornal, anunciou a
ligação das Ilhas Canárias, do comandante Rafael Gárate. Meu grande
amigo Rafa, piloto de um DC-9 da companhia Iberia, sabe de meus afãs e
investigações em busca dos óvnis e não hesitou em me ligar em Bilbao. Ele
tinha uma boa notícia:
– Você pode vir ao arquipélago? – disse à queima-roupa.
– Bem, não sei. O que foi?
– Vi uma coisa estranha.
O comandante Gárate, vasco até a medula, é homem sério, que jamais
teria decidido dar esse passo se não tivesse total certeza. De modo que
minha curiosidade – essa inseparável companheira – despertou
imediatamente.
– Voei sobre a ilha de Lanzarote – prosseguiu –, e nas duas últimas
noites observamos umas luzes muito estranhas.
– Luzes? Mas onde?
– Em um vulcão inativo. Está situado a sudoeste da ilha. Chamam-no de
Montanha Vermelha. Eram muito intensas e pareciam alinhadas no fundo
do vulcão. Achei que poderia interessar.
– Com certeza – respondi entusiasmado –, mas, diga-me, como eram
essas luzes? Poderiam se tratar de veículos ou algo assim?
– Não, não. Perguntei em Arrecife, e, ao redor da Montanha Vermelha,
não há nada: nem casas, nem instalações militares. Nada. Aquilo está
despovoado, é um lugar deserto. Além do mais, as luzes eram muito fortes,
e inúmeras, não podiam ser faróis de veículos. Acho que você devia vir
quanto antes. Poderia descer esse vulcão.
A ideia me entusiasmou. Mas, ao desligar o telefone, voltei à dura
realidade. Ali, a poucos passos de minha mesa, estava o redator-chefe, José
María Portell, e eu teria de convencê-lo. Para mim, sem dúvida, aquela
podia ser uma boa reportagem. Além do mais, parecia simples. Tudo
consistia em chegar até o cume da Montanha Vermelha e descer até o fundo
do vulcão. Depois, só Deus sabia.
Lembro que era segunda-feira, 12 de junho de 1978. Ninguém podia
suspeitar que, 16 dias depois, Portell seria metralhado pelo ETA.
Quando me aproximei dele, José María devia ter notado alguma coisa em
meu rosto. E sorriu maliciosamente:
– O que você descobriu?
– Está interessado em uma boa história? Em primeira mão!
Portell sabia escutar. Seu gênio havia se acalmado nos últimos meses.
Era como se pressentisse alguma coisa.
– Tenho de ir até Lanzarote e descer num vulcão. Acabei de falar com
um piloto da Iberia que afirma ter visto umas luzes estranhas. O que você
acha?
José María Portell não sentia uma predileção especial pelo assunto dos
óvnis, longe disso. Mas tinha discernimento. Reconheceu que aquela,
efetivamente, podia ser uma notícia de primeira página.
– Está bem. Mas tente não quebrar essa sua cabeça de vento.
E antes que ele pudesse se arrepender, saí da redação a galope.
Uma ideia começava a brotar em minha mente. Mas, ao expô-la à
Raquel, minha mulher, ela não pareceu muito satisfeita. E não lhe faltava
razão. Passar três ou quatro dias e noites na solidão de um vulcão lhe
parecia tão absurdo quanto perigoso. Mas, uma vez mais, ela soube me
compreender.
Nesse mesmo dia decolei de Bilbao rumo às Ilhas Canárias. Estava
decidido: se essas luzes descessem novamente sobre o vulcão da Montanha
Vermelha, eu estaria ali, com as câmeras fotográficas preparadas.
O comandante Rafael Gárate com sua família. Sua ligação me fez ir à Montanha Vermelha. (Foto:
T
VOO ARRECIFE–LAS PALMAS: “ESTAMOS SENDO SEGUIDOS
POR UM ÓVNI”
al como o comandante da Iberia me havia antecipado, a Montanha
Vermelha se levanta nas proximidades do farol de Pechiguera, no
extremo sul-ocidental de Lanzarote. A aldeia de Praia Branca, perto de
Berrugo e do castelo de Las Coloradas, era o último reduto de civilização. A
partir dali, segundo o mapa, era necessário caminhar até o cume do vulcão.
E, enquanto o jato cruzava a península, recordei meu encontro com Rafa
Gárate, em Madri. Alguém na companhia Iberia havia me falado desse piloto
e de sua experiência com um óvni.
Se bem me lembro, aquela entrevista com o comandante de Santurce foi
uma das primeiras da longa série que realizei com pilotos hispânicos e do
mundo todo. Gárate me recebeu aquele dia em seu apartamento na avenida
De América, e muito rapidamente nos tornamos grandes amigos. Apesar de
sua juventude, Rafa já contabilizava mais de 20 mil horas de voo. Foi piloto
de combate durante 11 anos, passando depois para a aviação civil, na qual
está há outros dez.
Evidentemente, ele não teve nenhum inconveniente em me relatar o que
aconteceu enquanto voava entre as ilhas de Lanzarote e Grande Canária:
– Naquela época (1977), o mecânico da companhia em Arrecife havia
alertado quase todas as tripulações acerca da aparição de um objeto muito
luminoso que, todas as noites, sistematicamente, surgia sobre os montes
próximos ao aeroporto. Em uma daquelas ocasiões, um dos comandantes,
também de um DC-9 – Juanito Menaya Navarro –, pôde ver saírem daquele
objeto cerca de 14 luzes menores. Naquela noite, quando íamos decolar de
Arrecife rumo a Las Palmas, o comissário de bordo entrou na cabine e me
perguntou se podia ficar conosco. O homem estava curioso, ouvira falar do
tal óvni e pensou que talvez o visse da cabine do DC-9. Às 21h30, já
totalmente escuro, começamos a taxiar para decolar e levantamos voo.
Nesse aeroporto, como você sabe, é preciso virar logo em direção ao mar.
Bem perto, erguem-se algumas montanhas, e é preciso virar à direita
enquanto se vai ganhando altura. E foi o que fizemos. Porém, quando
estávamos mudando a direção para atingir o nível ou altura exigida, já rumo
a Las Palmas, vimos uma luz sobre as colinas e montanhas próximas ao
aeroporto. Era forte, brilhante. Eu diria que um pouco ovalada.
Assemelhava-se à forma de uma lentilha. De repente, a luz começou a se
aproximar do avião; aumentou em tamanho e intensidade e ficou grande
como uma bola.
– A que altura vocês estavam nesse momento?
– A cerca de 2.500 pés[1]. Continuávamos subindo e completando o giro.
Justamente ao dar a volta, os três (o copiloto, o comissário de bordo e eu)
vimos aquela luz misteriosa. O comissário de bordo, com evidente
nervosismo, começou a dizer: “Comandante, comandante, olhe, olhe!”. E o
copiloto, por sua vez, disse: “Comandante, o que vamos fazer?”. Aquilo foi
engraçado. Normalmente, tanto o copiloto quanto o comissário de bordo se
dirigem a mim por meu nome de batismo. Mas, dessa vez, não. Ambos me
chamavam de comandante. E eu, que estava no comando do DC-9,
respondi, tentando tranquilizá-los: “Não olhem!”.
– Você estava vendo?
– Sim, claro. E vi que se aproximava.
– Mas não teve medo?
– Não. Eu sabia, ou intuía, que aquilo não podia nos fazer mal. Se
quisesse nos atacar, já o teria feito enquanto decolávamos.
– Então, por que acha que estava se aproximando do avião?
– Não sei. Talvez por curiosidade, ou para ver nossa reação.
– E o que aconteceu?
– O comissário de bordo e o copiloto continuaram me perguntando o
que fazer. E eu disse que enviassem um sinal de luz. “Quem sabe se estão
distraídos”, pensei comigo.
Tanto Rafa Gárate quanto eu rimos.
– Sim – pontuou o comandante –, eu sei que foi ridículo. Como uma
nave com tamanha tecnologia poderia estar “distraída”? Se nós voamos
com tantos instrumentos, o que não terão eles?
– Então, você acha que aquela luz podia ser uma nave?
– Sim. Comportava-se de maneira inteligente, e era evidente que não
estávamos diante de um avião, um helicóptero ou um meteorito. Você vai
ver. Ao fazer sinais luminosos, a luz não avançou mais. Manteve a mesma
distância. Mas a coisa não acabou aí. Em seguida, subiu na vertical e passou
por cima do avião, posicionando-se do nosso lado esquerdo. E nos
acompanhou até Las Palmas. No total, mais de 20 minutos de voo. Aquilo
era impressionante. O objeto se manteve a uma mesma distância, voando
em paralelo conosco e à mesma velocidade do DC-9. Ou seja, a uns 750
quilômetros por hora. Sua luz branco-amarelada se destacava
extraordinariamente. Vou dizer uma coisa: mentalmente, tentei fazer
alguma experiência do tipo telepática. Eu havia lido alguma coisa sobre isso.
– E houve resposta?
– Não. Pelo menos eu não notei.
– Acha que os seres que talvez tripulassem o óvni eram capazes de
captar seus pensamentos?
Um óvni “escoltou” o DC-9 do comandante Rafael Gárate de Arrecife, em Lanzarote, até Las
Palmas, na Grande Canária. Embaixo, à esquerda, o óvni sobre as montanhas próximas ao
aeroporto. Em cima, à esq., o objeto se aproxima do avião de passageiros. Abaixo, à dir., o óvni
sobrevoa o DC-9 e se posiciona na lateral esquerda da aeronave. A partir desse momento seguiu o
avião da Iberia até Las Palmas.
– Por que não? Se dominam tanta tecnologia, a transmissão de
pensamento deve ser uma brincadeira para eles.
Era emocionante ver que um profissional do ar, com mais de 20 mil
horas de voo, conservava sua mente aberta. O comandante Gárate deve ter
adivinhado meus pensamentos, porque acrescentou:
– É, sei que não é frequente que as pessoas acreditem em
extraterrestres. Mas eu vi alguma coisa que só pode ser associado a uma
tecnologia infinitamente superior à humana.
– Você sabe que alguns cientistas falam das longas distâncias
interestelares e da impossibilidade de contato com outros mundos, não é?
– Falam de nossa impossibilidade de contato. Mas esquecem que em
outros lugares da galáxia podem prosperar uma ou mil civilizações que
tenham superado essas barreiras. Você imagina Sêneca, Platão ou
Aristóteles na cabine do avião que eu faço decolar todo dia?
Estava claro.
– O que aconteceu quando chegaram a Las Palmas?
– Pouco antes de aterrissar o perdemos. Ao fazer a aproximação e entrar
nas nuvens, o objeto desapareceu.
– Em suma, como você qualificaria aquele fenômeno?
– Como um óvni. E a título muito pessoal, como uma nave de fora da
Terra.
– E não poderiam ser russos ou norte-americanos?
– Você sabe que não. Eu pilotei aviões de combate. Sabres e os famosos
104, ou “ataúdes voadores”, e sei as possibilidades da aviação militar. Nem
os mais audazes aviões experimentais podem desenvolver essas velocidades
nem praticar aqueles giros e ângulos retos em pleno voo.
Tornei a ver Gárate algum tempo depois daquela primeira entrevista. E
assim como ocorria agora com o caso da Montanha Vermelha, colocou-me
de novo para seguir a pista de outro apaixonante acontecimento.
M
TÂMARAS E PASSAS PARA TRÊS DIAS
eu coração se acelerou ao aterrissar em Arrecife, Lanzarote. Após
algumas averiguações com os mecânicos de terra e com o oficial de
tráfego, fui até a localidade de Yaiza, ao pé das Montanhas do Fogo de
Timanfaya. Continuava disposto a ficar vários dias na solidão do vulcão à
espera de uma possível descida ou aparição dos óvnis. E, embora o tempo
previsto de permanência no vulcão da Montanha Vermelha não fosse
excessivo, eu precisava reunir algumas provisões, como pelo menos um
saco de dormir.
Mas a noite acabou interceptando meu caminho. E as velhas corcovas
vermelhas dos 30 vulcões do Parque Nacional de Timanfaya desapareceram.
Meu descanso em Yaiza foi breve. Com as primeiras luzes, e como é meu
costume em minhas viagens, adentrei as caiadas ruas da cidade. Logo me vi
diante de uma mesa de madeira de dragoeiro escurecida pela fumaça de
uma não menos escura cantina. A dona do lugar não demorou a colocar
diante de mim um generoso prato de ovos com toucinho, acompanhado pelo
inseparável gofio[*], molho picante e algumas fatias de queijo de cabra que
ultrapassavam os limites da bandeja. Para regar aquele café da manhã –
digno de um miliciano de Juan Bethencourt –, uma jarra de um dourado
vinho malvasia.
Eu sabia que aquela seria minha última refeição com um mínimo de
dignidade e consistência, e tratei de aproveitá-la.
Ali mesmo, entregue ao prazer do último cigarro, informei-me sobre o
lugar mais apropriado para conseguir alguns mantimentos. A mulher me
indicou a Casa Salvadora, às margens da Praia Branca, em frente à Ilha dos
Lobos.
Em pouco tempo eu me encontrava de novo na sinuosa estrada que
cruza La Hoya, em direção às costas do Sul.
Fiquei feliz – quase como uma criança – ao reconhecer o negro vivo
desse misterioso musgo que cobre os quase 200 quilômetros quadrados de
lava relampejante da região. Um mundo mágico. Enfeitiçado, diria eu, pelos
olhos amarelos e vermelhos de mais de 20 vulcões extintos por onde só
andam gaivotas e escorpiões. Intencionalmente, reduzi a marcha de meu
automóvel. Fui descobrindo, a cada curva, as formas esqueléticas, robustas
e kafkianas da escória e das línguas-de-cão compactadas. Quase como
intermináveis mãos ressecadas presas à terra. À direita da estrada, o
mosaico branco das salinas de Janubio.
Não tardei a distinguir o pequeno casario da Praia Branca. Ali, com a
pedra-pomes da ilha dos Lobos ao fundo, conheci a Casa Salvadora.
O proprietário, não sem uma certa estranheza, foi reunindo algumas
coisas que pedi: vários pacotes de passas, tâmaras até encher um pote de
pouco mais de meio litro de capacidade e cinco garrafas de café preto, sem
açúcar.
Alguns dos moradores que aplacavam sua sede na cantina
acompanharam as idas e vindas do homem com tanto interesse quanto
curiosidade. Mas nenhum deles chegou a perguntar a razão daquele insólito
conjunto de mantimentos. No fundo, agradeci esse gesto de prudência. Eu
queria realizar a experiência na mais absoluta reserva. Ao fato – excitante
em si – da espera na Montanha Vermelha, eu queria acrescentar outra
realidade não menos fascinante, pelo menos para mim. Queria conhecer e
anotar até as mais ínfimas reações de uma pessoa submetida – mesmo que
só por três ou quatro dias – a uma solidão absoluta.
Seria eu capaz de suportar? Como minha mente reagiria? E, acima de
tudo, como eu me comportaria no fundo do vulcão, torturando meu
organismo com um severo jejum?
Essas incógnitas haviam levantado consideravelmente meu ânimo. Eu
ardia de desejo de iniciar o caminho rumo ao vulcão. Uma das condições
básicas para a execução desse projeto era guardar o mais completo mutismo
a respeito do lugar exato onde pretendia me instalar. Apenas o comandante
da Iberia o conhecia. Porém, em minha precipitada saída de Bilbao, eu havia
esquecido de avisar Rafa Gárate. Por isso, o piloto não tinha conhecimento,
naquele momento, de minha iminente chegada à Montanha Vermelha.
Nem mesmo Raquel sabia o nome do vulcão, nem sua posição. Assim,
posto que a ilha de Lanzarote reúne mais de 300 vulcões, teria sido
extenuante uma suposta tarefa de busca. Contudo, essa circunstância, longe
de me preocupar, fazia-me vibrar com mais intensidade. Psicologicamente,
me colocava em uma posição ótima, diante de um verdadeiro e descarnado
enfrentamento comigo mesmo e com o que pudesse acontecer no cume do
vulcão. Uma vez abandonada Praia Branca, a comunicação seria zero.
Mas faltava resolver o problema do saco de dormir. Enquanto o dono da
Casa Salvadora concluía os preparativos, fui até o centro da aldeia em busca
de algumas mantas para substituir o já impossível saco de dormir. Não foi
difícil a compra. A Providência me agraciou também com o achado de uma
pequena loja de comestíveis, onde adquiri uma caixa de biscoitos e bastante
tabaco negro.
Com aquele tesouro voltei à praia, onde o esforçado proprietário da Casa
Salvadora me ajudou a estender as provisões sobre as mantas. Uma vez
formada a trouxa, despedi-me do sujeito e depositei a preciosa carga no
porta-malas do Seat 124.
De acordo com o mapa, eu devia seguir até o farol de Pechiguera. Ali
acabava a estrada. Depois, começaria a subir.
O sol ardia já em pleno zênite quando parei meu automóvel à sombra de
um farol todo descascado. Tanto a torre quanto os negros precipícios da
costa de Rubicón estavam desolados. Desertos. O farol, com a chegada do
progresso, havia perdido seus moradores e, com eles, o calor e a cor dos
sentimentos. Agora tudo era feito por uma célula fotoelétrica.
Procurei uma sombra e, ali, ao pé daquele órfão de 20 metros, tentei
organizar minhas ideias. A minha frente, se os mapas não tivessem
mentido, erguia-se a Montanha Vermelha. Mas por que a denominariam
assim? Na realidade, suas escarpadas encostas eram cinza.
O vulcão, contemplado da base, guardava ainda o porte airoso e galhardo
dos jovens filhos do Timanfaya, que entraram em erupção em pleno século
XVIII. Eu havia lido que, lá pelos anos 1730 a 1736, essa parte da ilha sofreu
um violento abalo, e 11 dos casarios que salpicavam a planície foram
sepultados sob a lava, que acabou no mar em meio a colunas de vapor e
impressionantes cataratas de fogo quase sólido. Daquele apocalipse
nasceram 30 bocas fumegantes que, lentamente, foram morrendo. A
Montanha Vermelha, justamente, era uma delas.
Enquanto eu checava minha inseparável bolsa de câmeras fotográficas,
assaltou-me um súbito desejo de deserção. “Por que não?”, perguntei-me.
“Por que não abandonar tudo e voltar? Por que me submeter ao desconforto
e ao desconhecido?”
Levantei-me e, quase com violência, coloquei a bolsa no ombro direito,
fazendo o mesmo com a trouxa onde havia reunido os mantimentos e o
café. Mas dei tanto azar que uma das garrafas, apesar da proteção das
mantas, me acertou no flanco esquerdo. A dor acabou dirimindo minhas
dúvidas. A passos largos, com pressa, fui para o Norte, tentando contornar a
base do grande cone com o objetivo único de encontrar uma trilha um
pouco melhor.
Com 20 minutos de caminhada, desviando das fendas basálticas e
remoinhos de lava preta, meu corpo já suava por todos os poros. Logo me
convenci de que era inútil procurar uma encosta menos abrupta. As paredes
da Montanha Vermelha são formadas por longas crostas de material
vulcânico, e o resto, por escória muito granulada, que brilhava ao sol.
Após uma profunda inspiração, optei por iniciar a subida. Se alguém
tivesse me visto subir por aquela encosta bruta, levando um fardo como um
carregador tibetano, provavelmente teria se benzido. Mas, com exceção das
gaivotas, que saltavam entre os recifes, em um longo raio de terreno não se
via ser humano algum. Por outro lado, quem ia se aventurar em pleno junho
em uma incursão daquelas?
Quinze minutos depois tive de soltar a carga. Aquilo era excessivo. E,
embora quisesse chegar quanto antes à boca do vulcão, os descansos
tiveram de se prolongar conforme a encosta ficava mais complicada.
Enquanto contemplava o incerto perfil do cume do vulcão, eu, que não
acredito no acaso, perguntei-me pela enésima vez que diabos estava
fazendo na Montanha Vermelha. Quem estava me incitando a chegar ao
vulcão? E, acima de tudo, para quê? O que ia acontecer lá em cima?
Essas perguntas entravam e saíam da minha cabeça sem ordem nem
coesão. Só quando minhas botas escorregavam nos rios de escória, fazendo-
me perder parte do terreno conquistado, meu coração e minha vontade se
transformavam em dedos – ou melhor, garras – tentando evitar uma queda
que teria sido fatal. Em mais de uma ocasião, e em plena avalanche de
escória, fui obrigado a me deitar de bruços, afundando até as pestanas na
escória escaldante.
Uma hora depois de iniciada a subida, com os ossos moídos e o ânimo
tão entrecortado quanto meu fôlego, atingi o cume. As batidas de meu
coração se tornaram mais vivas quando meus olhos se cravaram no fundo
do vulcão.
A
UMA CRUZ NO VULCÃO
primeira coisa que me chamou a atenção naquele caldeirão de quase
cem metros de diâmetro foi uma grande cruz branca, pintada entre o
negro da cinza vulcânica e os verdes e ocres do resto da Montanha
Vermelha.
Em uma rápida inspeção – e ainda de meu observatório obrigatório, no
mais alto de uma das paredes do vulcão – verifiquei a ausência total de
atividade vulcânica. Nem gases nem fendas fumegantes. Algo que,
evidentemente, qualquer um teria dado por certo. Mas seria bom me
certificar.
O vulcão estava deserto. Por um momento, aquele fortíssimo vento que
soprava no topo dele me trouxe de volta à realidade. Eram rajadas do leste,
às vezes frias, mas sempre densas e poderosas. Tão fortes que assobiavam
entre os meandros da lava petrificada. Se aquele vento castigasse o fundo do
vulcão com a mesma violência, minha estadia lá poderia se complicar
sensivelmente.
Posto que só havia uma forma de verificar, comecei a descer a passo
lento. Logo deixei para trás pedras e grandes rochas que se acumulavam na
parede e me encontrei no meio da suave esplanada que forma a base do
vulcão. Ali, o terreno era macio. Formado basicamente por uma cinza leve,
entre a qual crescia uma retama esquelética e ressecada, bem como alguns
arbustos anões, alvejados por aquele sol de ferro e que os nativos de
Lanzarote chamam de ahulagas.
“Diante de meus olhos apareceu uma grande cruz branca…” (Foto: J. J. Benítez.)
Fiquei feliz por encontrá-los. As noites naquelas paragens – e mais
ainda a quase 400 metros de altitude – são duras. Essa madeira, fácil de
quebrar, me proporcionaria o calor necessário.
O principal motivo de meu desânimo – o forte vento – havia
desaparecido. Pelo menos no centro do vulcão. Ali, a calma era total.
Embora tenha suposto que as paredes do vulcão defenderiam o fundo da
depressão das tempestades de areia, assim como dos ventos, fui de novo até
o alto de uma dessas paredes, dessa vez para o extremo oposto por onde
havia chegado ao cume da Montanha Vermelha. Ao chegar às rochas surgiu
diante de mim, em direção leste, a desgastada cadeia montanhosa de Los
Morros, com suas corcovas brancas e vermelhas. Ali, como em qualquer
ponto da boca do vulcão, as rajadas de vento eram insuportáveis.
Voltei para o centro do vulcão e tentei determinar o canto adequado
onde montar meu modesto acampamento. Ao pé da parede sul-oriental se
acumulava um grande volume de rochas de tamanho pequeno e médio.
Talvez pudesse fazer uma espécie de parapeito com elas.
E, carregando de novo os mantimentos e o material fotográfico, fui até o
ponto escolhido.
Com o mesmo entusiasmo de uma criança que brinca de construir uma
cabana, eu me entreguei à minha primeira tarefa dentro do vulcão. Duas
horas depois, com o rosto molhado de suor e as roupas definitivamente
descoloridas por conta do pó e das cinzas, retrocedi uns passos e contemplei
minha obra. Não pude evitar o riso. A verdade é que meu futuro como
arquiteto deixava muito a desejar.
Provavelmente, se o vento que cortava a lava no mais alto das paredes
do vulcão fizesse a mínima incursão a meus recentes domínios, aquele
semicírculo de pedra de um metro de altura viria abaixo. Mas era minha
obra, e fiquei satisfeito.
A tarde já começava a escapar, com o vento, rumo ao tabuleiro azul do
Atlântico. Tinha de me apressar. Após colocar as provisões dentro do
semicírculo, fiz um rápido inventário do material que havia encerrado na
bolsa das câmeras. A verdade é que a contagem foi mais que breve:
binóculos Yashica de 10 × 50, inseparáveis em minhas aventuras atrás dos
óvnis; uma lanterna especialmente desenhada por uma casa especializada
em Vitoria, e cujo alcance – sem dispersão – beira os dois quilômetros, e
um grosso caderno de anotações.
E como primeira medida – habitual já em mim –, coloquei no pescoço
uma das câmeras Nikkormat, com uma teleobjetiva de 200 milímetros.
Nunca se sabe quando essas naves podem aparecer. A experiência havia me
ensinado a não me afastar demais das câmeras fotográficas. Em mais de
uma ocasião vi passar diante de mim esses objetos quando estava “nu”,
sem elas.
De repente, lembrei que não havia juntado lenha. Essa devia ser a
próxima e uma das mais importantes tarefas daquele primeiro dia. Posto
que o sol levaria ainda pouco mais de uma hora para se esconder, fui para a
parte mais afastada do acampamento. Se teria de passar várias noites
naquele vulcão, o mais racional era começar consumindo os arbustos mais
afastados. Em caso de cansaço ou de qualquer contrariedade, sempre seria
mais confortável chegar até a lenha próxima ao acampamento.
Antes de começar a carregar os paus brancos e ressecados, parei diante
da grande cruz que evidentemente alguém havia pintado no centro da
esplanada. Ao tocá-la, notei que se tratava de cal. Os dois grandes traços, de
uns 30 a 40 centímetros de largura por quatro metros de comprimento,
haviam sido desenhados sobre a cinza preta do vulcão. Mas por quem e para
quê?
Meu primeiro pensamento foi associar a cruz a um sinal feito para que
alguém pudesse vê-lo do ar. Podia ser algum tipo de balizamento para
paraquedistas ou exercícios de tiro.
“Exercícios de tiro? Meu Deus! Imagine se me encontro em pleno
polígono de bombardeio ou de lançamento de mísseis!”
E retrocedi com espanto. Instintivamente olhei em minha volta, mas
não pude descobrir um único sinal de bombas, crateras ou os clássicos funis
que os projéteis provocam ao explodir em terra. A esplanada do vulcão era
perfeitamente plana e compacta. Estava claro que aquele vulcão não havia
sido cenário – pelo menos não recentemente – desse tipo de exercícios de
fogo ou bombardeio. Isso era o que eu achava. Mas, então, o que significava
a cruz?
O comandante Gárate havia me assegurado que naquela parte da ilha de
Lanzarote não existia sinal óptico algum que servisse de orientação aos
pilotos. Por outro lado, os traços, a base de cal, eram obra humana. Isso
saltava à vista.
Após alguns segundos de inútil reflexão, segui para a ponta do vulcão e
comecei a arrancar todos os arbustos de ahulaga e retama que estavam a
meu alcance. Quando achei que a carga era suficiente, refugiei-me no
semicírculo de pedra, dispondo outras pequenas rochas dentro do próprio
acampamento formando uma lareira. Ali acenderia uma fogueira assim que
as trevas caíssem sobre o vulcão da Montanha Vermelha. E, acomodando-
me como pude, peguei meu caderno de anotações e dei início ao relato
daquele agitado 14 de junho de 1978.
Muito lentamente, o vulcão chamado Montanha Vermelha foi
mergulhando na mais negra escuridão.
E
PRIMEIRA NOITE: UM ESTRANHO MONÓLOGO
u já sabia, de outras situações, o que significa estar só na escuridão. Mas
aquele vulcão…
Quando as sombras ficaram densas, meu ânimo tornou a se encolher.
Era algo físico. A temperatura no vulcão não havia caído demais, de modo
que decidi não acender o fogo. Além do mais, queria que meus olhos se
acostumassem quanto antes àquela situação de negrura pastosa e
desesperadamente silenciosa. Não foi difícil. Em meia hora eu podia
distinguir com relativa facilidade os altos limites daquela espécie de
anfiteatro em cujo fundo me encontrava. A uma distância menor, a trama
sarmentosa e calcinada das retamas e míseros arbustos que cresciam no
fundo do vulcão, talvez por um milagre da Providência.
Mas aquele silêncio… Por mais que tenha aguçado o ouvido, naquela
desolação de lava e cinza vulcânica não se escutava o menor ruído de uma
cigarra ou o ziguezagueante zumbido dos morcegos. Nada. E, não sei por
que, meu coração sentiu pena por aquela natureza aparentemente morta e
condenada ao silêncio.
Talvez por isso eu ame o mar. Enquanto colocava o pote com as tâmaras
sobre os joelhos, levei o olhar ao firmamento. Como descrever aquele
calafrio branco gerado por legiões de estrelas e astros? Só nos cumes
andinos havia assistido a um espetáculo parecido.
Na realidade, aquela abóbada rutilante seria, junto com meus
pensamentos, a única companhia na solidão da Montanha Vermelha. Isso
era no que eu acreditava naquela primeira noite. Dez tâmaras e um copo de
café puro não eram muito para repor forças. Mas era o estipulado se eu
realmente quisesse respeitar o jejum.
Meu plano, enquanto permanecesse naquele vulcão no fim do mundo,
era o seguinte: tentar dormir durante o dia e esperar, vigiar e meditar ao
longo da noite. Simples. Uma “refeição” ao nascer do sol e outra no
crepúsculo. Em caso de sede, café. Quem me conhece sabe que nunca, ou
quase nunca, bebo água. Posso passar semanas sem um único gole. Porém
agora, em uma zona desértica, podia ser diferente. De modo que optei pelo
café.
Eu tinha curiosidade de conhecer minhas próprias reações. Meus
pensamentos e, acima de tudo, meus sentimentos. Como me comportaria se
a sorte me favorecesse e eu visse um óvni? E, indo além com o sonho, o que
eu faria no caso de essa nave descer sobre o vulcão? Como me comportaria
se chegasse a ver seus ocupantes? Fugiria, como já me aconteceu em outras
ocasiões, ao ver os óvnis? Essas perguntas me arrepiavam. E reconheço que
o medo começou a me rondar.
Depois do jantar frugal me enrolei em uma das mantas. Coloquei os
binóculos no pescoço e pendurei a estreita caixa metálica que continha as
baterias da lanterna “mágica” no ombro direito. Com o grande foco de vidro
parabólico na mão, fui até o alto da parede mais próxima. Ali, sentado sobre
a lava, o mais bem agasalhado possível, enfrentei o vento e meus
pensamentos: “Por que a solidão me agrada? Ou não me agrada?”.
Como supunha, a voz da minha consciência – ou não era minha
consciência? – apresentava as respostas à mesma velocidade com que eu
me deixava levar pelas perguntas. Assim, surgiu este monólogo:
– Mas o que é solidão? Por que o ser humano precisa tantas vezes desse
silêncio interior? Será que nosso verdadeiro mundo não se assemelha aos
grandes icebergs? Uma parte sobressai da água, e outras nove permanecem
ocultas.
– Que bobagem!
– Tem certeza?
– Bom, quem sabe?
– A questão é que esta solidão me preenche.
– Talvez você não esteja tão sozinho como pensa. Talvez o que conhece
por Espírito, ou por Mente, ou por Alma, é alguém tão físico e real quanto a
áspera lava sobre a qual está agora…
– Isso são só palavras.
– Sim, mas você sente algo ou alguém dentro de si. Ou não?
– Sim.
– E até que ponto as sensações são importantes?
– Para ser sincero comigo mesmo, cada vez mais. Às vezes, eu me deixo
levar pelo que esse ser interior parece me ditar (esse outro eu, se é que
podemos chamá-lo assim), e as coisas adotam outra cor…
– Bravo! E o que pensaria se eu lhe dissesse que esse ser interior é, na
realidade, você mesmo: o verdadeiro J. J. Benítez?
– Outro indivíduo dentro de mim mesmo? Não entendo.
– Outro não, você. O verdadeiro. O velho…
– Velho? Só tenho 32 anos!
– Sim! São 32 cômputos de tempo, de acordo com os limites do planeta
onde você vive agora.
– Já estamos começando a delirar.
– Não. Você vai concordar comigo: se esse ser existe e demonstra ser tão
prudente e sábio em suas respostas e argumentos, é impossível que você
tenha alcançado tal grau de conhecimentos nesses ridículos 32 anos neste
mundo onde se move.
– Já me disseram que essa voz da consciência podia ser o próprio Deus,
que fala ou dialoga com todos os seres humanos.
– Deus. E o que é Deus?
– Eu sei lá! Talvez seja a grande força ou a energia infinita que preenche
e sustenta tudo. Vai saber!
– Nesse caso, o “velho J. J. Benítez” também deve abrigar um pouco
dessa força. Ou não?
– Tomara!
– Mas não vamos divagar. Não acha absolutamente racional que se esse
ser interior existir, você encontre consolo na solidão de si mesmo?
– Sim, é racional. Mas, então, por que tanta gente foge da solidão? Por
que dizem que a solidão é má conselheira e todas essas coisas?
– Acho que estamos falando de duas solidões diferentes.
– Explique-se.
– Vejamos. Quando um homem ou uma mulher não conhecem a si
mesmos, sempre fogem da solidão. É lógico, estão desarmados, indefesos, e
a solidão aumenta seus medos e suas angústias. E isso ocorre mesmo que a
pessoa se mova entre multidões. Ainda não descobriram sua verdadeira
dimensão, sua força, sua longa e remota sabedoria.
– Quer dizer que não descobriram esse ser interior, tão velho?
– Isso mesmo. Por isso falei de dois tipos de solidões. Aqueles que
chegaram ao conhecimento ou à suspeita, pelo menos, da realidade desse eu
interior, gostam e até buscam essa solidão, que lhes possibilita um diálogo
mais nítido e profundo com o “velho”, se me permite o termo.
– Espere, deixe-me pensar. Como podemos encontrar o velho?
– Para começar, é preciso parar.
– Parar?
– Sim, congelar o relógio da vida. Dar um tempo.
– E depois?
– Simplesmente escutar essa voz interior. Essa que você chama de voz
da consciência. E seguir seus conselhos. Pouco a pouco, esse mergulho em
si mesmo vai proporcionando luz e, especialmente, segurança.
– Então, você acha que se as pessoas se aprofundassem em si mesmas,
acabariam tantas ansiedades, frustrações e tantos suicídios?
– Diga-me uma coisa, por que acha que os lamas, os místicos ou
aqueles que praticam uma vida contemplativa são muito mais sábios e
felizes que os outros?
– Mas, de acordo com essa teoria, nós, que estamos na roda do
consumo, da pressa e desta sociedade contemporânea, jamais
encontraremos a paz.
– Não. O “velho” pode ser encontrado em qualquer lugar e a qualquer
momento. Sua presença em cada um de nós nem sequer depende de nossa
vontade. Ele está ali desde o instante em que somos. O que acontece é que
muitos – a maioria – não percebem sua existência.
– E o que acontece quando a pessoa morre? Para onde vai esse ser
interior?
– Repito que a única e verdadeira identidade de cada pessoa é formada
apenas por esse ser. E, ao sair deste mundo, cada homem ou mulher se
manifesta diante da Suprema Força ou Energia e diante de seus irmãos
como o eu que é.
– Por que estamos nesta vida, então?
– Para aprender.
Não sei se fiz bem. A questão é que aquela estranha conversa comigo
mesmo ficou bloqueada por uma não menos complicada mistura de
sentimentos. Levantando os olhos para aquele firmamento em paz, deixei-
me levar por um pranto limpo e silencioso. Eram lágrimas sem explicação
aparente. Era como se meu coração – talvez esse ser que também se aninha
em mim – tivesse sentido a saudade de outros tempos ou de outras pátrias,
lá em cima. Assim, envolvido em um sossego que jamais esquecerei, vi
rodar as estrelas e conheci meu primeiro amanhecer na Montanha
Vermelha.
Tive de tirar as tâmaras do pequeno pote de metal. Não tinha alternativa
se quisesse aquecer meu corpo anestesiado por um pouco de café. Em
minha precipitação por subir ao vulcão, eu havia esquecido algo
imprescindível, um simples recipiente para aquecer a estimada bebida.
Assim, o que não havia feito durante a fria noite tive de fazer naquele
momento, enquanto o sol devolvia a vida aos verdes e ocres calcinados e
vermelhos da cadeia do Timanfaya.
Como agradeci aquele aroma e o tímido borbulhar do café, brilhante e
vivo entre as altas chamas! Dois longos paus de ahulaga me serviram de
pegador para segurar sobre o fogo a cafeteira improvisada. E, após saborear
minha ração de tâmaras, à qual acrescentei 20 passas e dois biscoitos, bebi
o café defumado e amargo.
Mas o cansaço acabou fechando meus olhos, e meus projetos de
examinar o vulcão com mais calma ficaram em suspenso.
A
SURPRESA NA EXPLORAÇÃO DO VULCÃO
cho que o que acabou me acordando foi o calor sufocante e aquele suor
que encharcava meus cabelos e minha nuca. Aquelas seis horas de sono
profundo em pleno sol haviam sido uma perfeita imprudência. Eu devia pelo
menos ter coberto a cabeça…
Posto que não era minha intenção abandonar o vulcão para me refrescar
na costa de Rubicón, optei por me “lavar” e assear com a cinza do vulcão,
como havia visto os berberes da África Setentrional fazer. Eles, em vez de
cinza vulcânica, costumam utilizar areia, mas também não era hora de
fazer exigências.
Tirei todas as peças de roupa e tratei de estendê-las sobre as rochas, de
tal modo que pudessem arejar. Depois, tendo as botas como única
vestimenta, fui até ao centro do vulcão, onde a cinza era mais abundante.
Sentando-me na esplanada, passei aquele pó ressecado por todo o corpo,
até ficar preto dos pés à cabeça.
Para dizer a verdade, senti um profundo alívio. Mas não era prudente
me expor ao sol. De modo que, após sacudir a cinza, vesti a roupa de novo,
abrindo mão dessa vez da jaqueta pesada, e com o ânimo reconfortado por
um novo e lento gole de café, eu me dispus a concluir a exploração do
vulcão. Se os óvnis tinham aterrissado naquela esplanada, talvez eu pudesse
encontrar alguma marca, algum vestígio.
Para começar, subi outra vez à parte mais alta do vulcão, varrendo-o
metro a metro com os binóculos. Mas não consegui encontrar um único
sinal. Se as luzes vistas pelo comandante tinham sido óvnis, o mais
provável é que não tenham chegado a aterrissar. Ou talvez tivessem descido
sem deixar queimaduras. Também não seria o primeiro caso.
Já que é para especular, aquele vulcão era um lugar ideal para uma
descida desse tipo. Somente do ar, como aconteceu com Rafa Gárate, teria
sido possível observar as naves. E eu sabia, por conta de minhas
investigações, que esses seres costumam repetir suas aparições nos
mesmos lugares. Portanto, havia a possibilidade de que ocorresse uma nova
aterrissagem na Montanha Vermelha. Mas isso só era um sonho.
Muito lentamente, dei início a um minucioso reconhecimento do
terreno. Caminhando em círculos fui examinando cada pedra, cada palmo
de cinza, cada moita.
Se os óvnis tivessem situado um só de seus trens de pouso sobre o
vulcão, eu encontraria a marca. Eu tinha todo o tempo do mundo, e quem
me conhece sabe que consigo tudo a que me proponho.
O fogo daquele sol canarino parecia se concentrar no vulcão. Minha
cabeça era duramente atacada pelos raios, e não tive outro remédio senão
me proteger com a jaqueta amarrando-a como se fosse um turbante.
Prossegui o rastreamento.
De repente, quando havia quase completado a primeira volta em torno
do vulcão, meus olhos se fixaram em um quase imperceptível aro de metal
de uns 20 centímetros de diâmetro que mal se destacava entre as cinzas.
O que era aquilo?
Ajoelhei-me ao lado do meu achado e, antes de retirar a cinza, tentei me
acalmar. No entanto, meu coração estava disparado, e foi preciso esperar
alguns minutos. Por fim, trêmulo, passei a ponta dos dedos no pequeno aro.
Não havia dúvida. Aquilo era metal. Talvez ferro. Mas parecia muito
enferrujado. E, de grão em grão, fui separando a terra e a cinza.
Logo notei que se tratava de uma espécie de cilindro. A face superior era
igualmente metálica. Sobre ela ressaltava-se uma borda que, meio
sepultada pela cinza, havia sido confundida com um aro.
Conforme cavei em volta do misterioso objeto, vi que estava solidamente
embutido na superfície do vulcão. Tomado de uma galopante curiosidade,
coloquei as duas mãos em volta do cilindro e me dispus a tirá-lo à força.
Foi quando me assaltou uma grave dúvida: e se fosse uma bomba? A
ideia me paralisou, e um suor frio começou a escorrer por minhas têmporas
enquanto eu recuava. Era possível que eu estivesse diante de um projétil que
não havia explodido? Nesse caso, o que devia fazer?
O instinto de sobrevivência me aconselhava a me afastar dali. Para bem
longe. Mas, por outro lado, uma forte e crescente curiosidade me mantinha
junto ao artefato mofado. Era como um desafio. Seria eu capaz de
desenterrá-lo sem provocar uma explosão?
O projeto me pareceu tão fascinante quanto perigoso. Se aquilo fosse
realmente uma bomba e explodisse, adeus a tudo. Mas por que me meter
em uma situação dessas? Simplesmente por amor ao risco. Acho que a
maior parte dos repórteres ama a aventura e o perigo. Do contrário, não
seríamos repórteres. E eu estava ali, na maior intimidade com aquilo que,
sem dúvida, parecia uma granada. Era emocionante.
Prossegui a escavação. Dessa vez, infinitamente mais devagar. Com
carinho e medo. Com a tensão daquele que apalpa a figura fria e voluptuosa
da morte. A cinza ia desaparecendo em volta ao cilindro.
“E se for uma mina?”, pensei. Mas o que faria uma mina no alto de um
vulcão? Não conseguia entender. Teria a cruz branca alguma relação com
aquilo?
Procurei não me distrair com essas reflexões. Naquele momento, o que
importava era vencer o medo. Trazer à luz – intacta, claro – aquela possível
bomba.
Quando o cilindro já aflorava entre 15 e 20 centímetros, interrompi a
operação. O suor encharcava de tal forma minha testa que as gotas
escorriam pelos olhos e caíam sobre a cinza, umedecendo o ferro.
Como a escavação em volta do objeto estava ficando difícil, fui até o
acampamento e procurei alguma coisa para continuar. Não consegui
encontrar um único objeto perfurante. Por isso, tive de sacrificar um dos
rolos de filme para utilizá-lo como colher improvisada. Retomei a tarefa
com novos brios.
A bomba, meio desenterrada. (Foto: J. J. Benítez.)
Era evidente que o cilindro não era totalmente oco. O barulho emitido
quando eu batia suavemente com o rolo de filme era seco e próprio de algo
recheado. Mas de quê?
Quando calculei que o artefato já estava praticamente desenterrado,
acariciei-o com as duas mãos e dei início a uma série de levíssimos puxões.
Na terceira ou quarta tentativa, o projétil – porque era disso que se tratava,
efetivamente – se soltou e ficou em minhas mãos. A cabeça não existia. Em
seu lugar – por consequência, sem dúvida, do choque –, restava uma massa
terrosa que se desmanchou assim que a arranhei com os dedos.
Com extremo cuidado tornei a depositar a pesada granada nas rochas da
parede do vulcão, escondendo-a. Previamente eu havia extraído uma porção
daquela massa que parecia fazer parte do conteúdo da bomba. Naquela
mesma noite acendi outra fogueira no extremo oposto do semicírculo de
pedra. Quando as chamas atingiram certa altura, joguei aquela pasta
esbranquiçada no meio do fogo. Quase instantaneamente, uma labareda
azulada multiplicou as dimensões do fogo. Não havia dúvida, eu estava
brincando com uma bomba…
Um novo calafrio me percorreu da cabeça aos pés. Mas as surpresas não
haviam acabado naquele 15 de junho de 1978.
N
AS MÁGICAS ONDAS ALFA
aquela noite comecei a acusar certa fraqueza. Notei inclusive uma
incipiente fraqueza de ânimo. E assim registrei em meu diário.
O forçado jejum à base de passas e tâmaras e alguns biscoitos estava
minando minha vontade. “Por que não desistir agora, quando você ainda
tem forças para descer?” “Os óvnis não vão voltar.” “Esta situação é
ridícula e absurda.” “De que adianta?” “Se seus amigos o vissem,
compreenderiam?” Esses e muitos outros pensamentos me assaltaram já
desde aquelas cansativas horas da segunda noite no vulcão da Montanha
Vermelha.
Havia chegado, então, o momento de contra-atacar. Uma vez
alimentada convenientemente minha única e fiel companheira – a fogueira
vermelha e crepitante –, decidi realizar uma profunda “entrada em nível”.
Porém, antes de passar a relatar minha experiência no nível ou estado
alfa, acho que seria útil explicar em que consiste essa entrada, e como, por
sua vez, ensinaram-me a fazê-la. Devo adiantar que jamais rejeito um
sistema ou procedimento por meio do qual me garantam que posso
estabelecer qualquer tipo de contato com os seres que tripulam os óvnis.
Outra coisa é que, naturalmente, uma vez experimentado, me convença ou
não. Com o denominado nível alfa já me ocorreram algumas coisas
incompreensíveis.
Mas vamos tentar explicar a técnica para entrar nesse estado de
consciência tão especial. Evidentemente, qualquer pessoa pode fazê-lo. Não
importa a idade nem o nível cultural. Na realidade, todos fazemos isso todos
os dias, embora de maneira inconsciente.
Coloquei uma das mantas sobre a esplanada do vulcão e me sentei da
forma mais confortável que consegui.
Quando estamos em casa, e não na desconfortável cratera de um vulcão,
tudo é mais fácil. É sempre recomendável escolher uma hora tranquila. Uma
hora do dia ou da noite em que o lar esteja em paz, sereno e silencioso.
Também é imprescindível se acomodar em um lugar relativamente afastado
ou isolado. Um quarto, por exemplo, onde ninguém vai incomodar.
É conveniente fazer o exercício sentado e com as costas o mais eretas
possível. Ao entrar em alfa deitado em uma cama ou em um sofá, o mais
provável é que a pessoa adormeça. Por isso a recomendação de utilizar uma
cadeira, e, se possível, de encosto bem alto e vertical.
Apesar dessa posição aparentemente espartana, o corpo deve ficar o
mais confortável e solto possível. Uma vez fechados os olhos, e com as
mãos apoiadas nas pernas, começa a experiência.
O que se chama entrada no nível alfa não é mais que um controle, em
estado absolutamente consciente, da mente. Vejamos.
Os cientistas comprovaram que o insuperável computador que constitui
nosso cérebro emite vários tipos de ondas ou impulsos elétricos, e as
batizaram com os nomes de beta, alfa, delta e teta. Pois bem, a cada
modalidade de onda corresponde um estado geral do organismo humano ou
vice-versa. Beta é identificado com o estado de vigília, ou seja, quando
estamos acordados ou desenvolvemos qualquer tipo de atividade física.
Nesse caso, os cientistas demonstraram que nosso cérebro trabalha entre 21
e 24 ciclos cerebrais por segundo, aproximadamente.
Se reduzirmos esse índice, atingindo sete ciclos cerebrais por segundo, o
“computador” terá nos colocado no conhecido nível ou estado alfa. Se o
cérebro prosseguir sua descida em ciclos por segundo, o corpo humano
experimentará as situações conhecidas como delta e teta. Estas últimas
podem ser associadas ao estado geral de uma pessoa anestesiada ou em
coma.
Mas vamos nos concentrar no segundo: o alfa. As experiências clínicas –
à base de equipamentos de eletroencefalograma conectados ao crânio dos
sujeitos – demonstraram que as ondas alfa são registradas
fundamentalmente quando a pessoa dorme. Para ser mais exato, quando
sonha. Nesse caso, logicamente, o indivíduo não tem ciência de sua entrada
no nível alfa, mas a realidade objetiva e científica é que seu cérebro está
emitindo esse tipo específico de ondas ou impulsos elétricos, perfeitamente
diferenciados dos demais.
É justamente nessa situação alfa que o organismo descansa e se
regenera. Por alguma razão que a ciência ainda ignora, a pessoa se
desequilibra quando é privada desses minutos de devaneio ou de emissão de
ondas alfa. Quando o fato se repete sistematicamente – e isso os
especialistas em tortura sabem muito bem –, o organismo humano entra
em colapso, e a pessoa morre.
Foi comprovado igualmente que a diminuição dos ciclos cerebrais por
segundo é acompanhada de um menor consumo de oxigênio e de uma
sensível redução do ritmo das funções metabólicas. Na realidade, não se
sabe se o segundo é consequência do primeiro ou o contrário.
É perfeitamente comprovável que uma pessoa reduz inconscientemente
seu gasto de oxigênio e o tônus das funções de seu organismo quando
dorme. O contrário do estado ou nível beta, por exemplo, em uma corrida
ciclística, na qual, como se sabe, o consumo de oxigênio é muito
considerável.
Como disse antes, a maior parte das pessoas entra no estado alfa de
maneira inconsciente. Ninguém pode controlar essa situação quando está
dormindo.
Pois bem, é possível chegar ao nível alfa de maneira consciente e
dirigida? Nesse caso, o que aconteceria?
O ser humano também faz isso muitas vezes ao dia, mesmo que não
perceba. Vamos dar alguns exemplos:
As crianças. Quantas vezes fomos testemunhas das brincadeiras de
nossos filhos? É apaixonante observá-los. Com uma mísera caixa de papelão
são capazes de construir o mais soberbo e completo castelo medieval. E o
que dizer dos diálogos com personagens ou amigos que nós consideramos
imaginários e que a criança é capaz de criar e destruir só com a vontade?
A falta de informação sobre as possibilidades da mente levou os adultos
a considerar tais atos somente frutos de uma rica e invejável imaginação.
Contudo, ao colocar eletrodos na cabeça dessa criança, os cientistas
verificaram que enquanto ela brinca, cria ou dialoga com amigos invisíveis,
seu cérebro está emitindo as conhecidas ondas alfa.
E o que dizer dos que sonham acordados? Todos fazemos isso. Alguns –
como ocorre com as pessoas que gozam de um intenso mundo interior –
fogem com tanta facilidade quanto frequência da realidade que os envolve
diariamente. Mas o que fazem realmente aqueles que sonham acordados?
Trata-se de pura e simples capacidade imaginativa? A ciência nos ensina
hoje que não.
Se conectarmos o cérebro de um desses sonhadores a um aparelho de
eletroencefalografia, teremos uma grande surpresa. Quando a mente dessa
pessoa dispara rumo às últimas colinas do céu ou atravessa com Moisés o
fundo milagrosamente seco do mar Vermelho, quando é capaz de voar à
altura dos postes de sua cidade ou simplesmente se torna música ou vento,
ou é capaz de penetrar até o fundo a chama de uma vela, ela está emitindo
as ainda incompreensíveis ondas alfa.
O que é, então, sonhar acordado? É realmente criar em uma dimensão
tão física quanto desconhecida? Somos capazes de construir com o que
chamamos de pensamento? Nossos pensamentos são, em si, algo tão físico
e tangível quanto uma rosa ou um beijo? O que nos reserva o futuro nesse
sentido?
Em certa ocasião – meses antes de chegar à Montanha Vermelha –, fiz
um bom amigo em Santa Cruz de Tenerife. Um especialista em eletrônica
que havia construído um protótipo impressionante. Com ele – como
comprovei com meus próprios olhos –, era capaz de medir a força e a
intensidade de um pensamento. Segundo a direção que o ponteiro de seu
medidor adotava, meu amigo podia saber se esse pensamento era positivo
ou negativo. Mas havia mais. Quanto mais linda e simples fosse essa ideia –
sempre de acordo com padrões universais –, o relógio do medidor atingia
cotas superiores. Se o criador desse pensamento desaparecesse rapidamente
da sala, o registro continuava oscilando durante segundos ou minutos.
Aquilo, na opinião do cientista canarino, só podia significar que o
pensamento goza de natureza e consistência físicas, independente,
inclusive, da vontade de seu criador.
É possível imaginar algo mais fantástico? Que tipo de poder ainda
repousa na mente e, especialmente, na vontade dessa criatura que
chamamos de homem?
Portanto, aqueles que sonham acordados fazem muito mais que
imaginar. Sem dúvida, criam. E criam fisicamente. Constroem fora de nosso
próprio espaço-tempo, mas constroem.
É possível que a ciência do futuro nos desvele definitivamente esse
mistério. Assim, é fácil intuir o que acontece na mente daqueles que hoje
chamamos de gênios, artistas ou criadores. Todos eles, ao compor música,
esculpir ou idealizar, fazem-no sempre no estado ou nível alfa.
Também foram feitos testes com músicos consagrados. No meio de um
transe criativo, o cérebro deles emite ondas alfa. Se depois perguntarmos,
quase todos concordam sobre a um fato indiscutível: eles viram, sentiram
ou tocaram a música ou a poesia ou a chamada inspiração.
Criar, em suma, sempre exige entrar no estado alfa.
Mas vamos muito além. O que fazem, na realidade, as pessoas que
rezam? O que é, definitivamente, a oração profunda que nasce do mais
sincero de nosso coração? Se tornarmos a colocar os eletrodos em uma
pessoa que ora, o resultado será o mesmo: poderosas e eletrizantes ondas
alfa.
Sob o prisma científico, a realidade do nível alfa fica, então, fora de
qualquer dúvida. Uma vez apreendido isso, que benefícios ou vantagens
podem proporcionar o conhecimento e, especialmente, o domínio desse
estado? Vou tentar enumerar os mais importantes, de acordo com as
diversas experiências realizadas no mundo todo.
1. A mente, nesse nível, fica livre das amarras do espaço e do tempo. É possível
se projetar a qualquer ponto, dimensão ou tempo. Esse salto ou projeção pode ser
comprovável fisicamente tanto no presente quanto no futuro. Um dos exercícios
mais comuns que ratifica o que aqui exponho consiste na projeção mental à casa de
algum parente ou amigo. Esse domicílio, naturalmente, tem de ser desconhecido
por completo para aquele que realiza a experiência. Uma vez projetado
mentalmente até essa casa, aquele que trabalha no nível alfa a percorrerá com
atenção. E notará até o último detalhe, os móveis etc. Uma vez concluída a viagem,
o interessado pode sempre verificar o que viu com os olhos da mente com uma
visita – dessa vez física – à casa em questão. As surpresas, geralmente, são
imensas.
2. No estado alfa é possível visualizar pessoas conhecidas ou desconhecidas que
se encontrem nos lugares mais remotos. Basta saber o nome e sobrenome, bem
como o local onde residem.
3. Com a entrada no nível alfa é possível programar nossos próprios sonhos.
4. Bastam alguns minutos em alfa para relaxar e descansar nosso corpo por um
tempo equivalente às horas de sono que desejarmos.
5. A insônia desaparece.
6. Nossa mente – sempre no nível alfa – pode emitir uma energia tão
enigmática quanto animadora, capaz de curar, inclusive, a distância. Digo
enigmática porque a ciência, de fato, ainda não conseguiu descobrir sua natureza.
Contudo, assim como acontece com nossos pensamentos, essa energia é tão física
quanto a corrente elétrica ou os campos magnéticos. Talvez no dia em que
consigamos medi-la e utilizá-la, nos encontremos às portas de uma nova era.
Nesse dia, talvez descubramos, por extensão, a essência do que hoje batizamos com
o nome de oração.
Mas os benefícios do nível alfa formariam uma lista interminável.
Então, vamos direto ao ponto: como entrar ou sair do estado alfa? Qual é a
técnica? Como eu dizia anteriormente, todos nós fazemos isso de maneira
inconsciente. Ocasionalmente, até mesmo várias vezes ao dia. Eis aqui o
exemplo mais comum:
Por que cada vez que nos sentimos pressionados, nervosos ou diante de
uma situação grave realizamos uma ou várias inspirações profundas? Por
quê? Essa reação, a maior parte das vezes incontrolável e inconsciente,
geralmente acaba nos acalmando. Mas por quê?
A ciência nos deu a explicação agora. Cada vez que o ser humano pratica
essas inspirações profundas, o cérebro reduz o número de ciclos por
segundo e entra no nível alfa, mesmo que só por alguns segundos. É
justamente essa mudança em nosso cérebro – uma variação mental quase
automática – que nos devolve a segurança em nós mesmos.
Assombrosamente, o genial computador que temos dentro de nosso crânio
entra no modo automático, e o organismo inteiro se vê desconectado dessa
situação difícil ou angustiante.
O mesmo acontece quando, em mícrons de segundos, passamos de um
pensamento a outro. A criança, o artista, o místico ou qualquer um de nós
pode passar do nível beta ao alfa só de querer. Na realidade, é como ligar
um interruptor.
Mas, naturalmente, há outro procedimento muito mais depurado para
entrar no mágico mundo das ondas alfa. Um sistema absolutamente
controlado, no qual a pessoa permanece totalmente consciente de si mesma
e da realidade que a cerca nesse momento.
E me pus a iniciar o experimento.
C
UM VOO SOBRE O VULCÃO?
omo disse, eu me sentei sobre uma das mantas. E, antes de iniciar a
descida, enquanto cruzava as pernas e descansava as mãos nos joelhos,
dirigi um último olhar ao firmamento. Havia cirros de prata que escondiam
uma incipiente lua. Meu coração estremeceu. Fechei os olhos e comecei a
fazer várias inspirações profundas e lentas. Com a mesma lentidão, fui
expulsando o ar, enquanto preparava o corpo para um relaxamento total.
Mentalmente, sempre com os olhos fechados, comecei a percorrer cada
parte de meu organismo. Assim, fui repetindo mentalmente:
“o cabelo… meu cabelo está em repouso… descansado…”
Senti meu cabelo e o couro cabeludo. E os senti relaxados.
“meu rosto… também está descansado… minha cabeça, por dentro e por
fora, está relaxada…”
Muito lentamente, sem nenhuma pressa, procurei relaxar todo o meu
corpo, tanto na parte interna quanto na externa. Essa tarefa foi
acompanhada de frequentes inspirações. Quando acabei o relaxamento
total, o corpo – e muito especialmente os braços e as mãos – pareciam
feitos de papelão ou madeira. Era uma sensação agradável, eu me sentia em
paz, em harmonia com meu próprio coração. Afirmei mentalmente:
“você está no nível mais profundo.”
Novas inspirações e uma ordem:
“para atingir um nível cada vez mais profundo, você vai visualizar em
sua mente os números de um a dez, cada número coincidindo com uma
inspiração cada vez mais profunda.”
Assim o fiz. Ao visualizar em minha mente o número sete, insisti:
“você já está em um nível mais profundo… mais e mais profundo.”
Ao terminar a conta, desejei sair de meu corpo. E foi o que aconteceu.
Como já havia acontecido em outras ocasiões, eu me senti flutuar no espaço
negro daquela cratera vulcânica. Mas eu não poderia ou não saberia dizer ao
certo se o que voava sobre aquelas rochas era minha mente ou meu espírito,
ou simplesmente minha imaginação. Mas também não queria descobrir, só
queria vivenciar aquilo. Sentir e sorver ao máximo aquela sensação de não
gravidade e transparência.
Era divertido. Diante de mim, com a cabeça levemente inclinada sobre o
peito, estava eu mesmo. Mas como podia ser eu se eu tinha consciência de
que estava fora?
Sem tocar a cinza, flutuando docemente, comecei a girar em torno de
meu corpo. Fiquei impressionado ao ver minhas próprias costas e minha
nuca. As chamas avermelhadas da fogueira iluminavam um dos meus lados.
Aquilo me deu uma ideia. O que poderia acontecer se eu me aproximasse do
fogo e o tocasse? Será que me queimaria?
E como a criança que já conhece a resposta, introduzi a mão direita no
meio das línguas flamejantes. Mas não houve sensação. Nem dor. Nem as
chamas alteraram suas ondulações.
Abrindo os braços, desejei voar. E, sem saber como, só pela vontade,
voei disparado para o alto. Eu poderia jurar que senti em meus ouvidos o
zumbido do ar e o frescor das camadas mais altas.
Mas isso era impossível. Parei. Lá embaixo, nas trevas, distingui as
luzes da Praia Branca e a varredura incansável do farol de Pechiguera sobre
o oceano. Muito mais ao Norte, o tilintar das luzes de Yaiza.
Mas estava realmente vendo aquilo, ou era tudo fruto de minha
imaginação? A Montanha Vermelha quase havia desaparecido, confundida
com as corcovas negras da cadeia montanhosa. Apenas a fogueira se
distinguia com dificuldade e como um mísero ponto vermelho.
Eu sabia que depois de um exercício dessa natureza, especialmente
graças ao profundo relaxamento a que havia submetido meu organismo, as
horas restantes no vulcão poderiam ser suportáveis. O esgotamento,
consequência inevitável do jejum, ficaria para trás, pelo menos durante
algum tempo. E reforcei ainda mais a profundidade do nível alfa com várias
inspirações lentas.
Se aquelas sensações se deviam única e exclusivamente à minha
imaginação, como podia ser tão tolo a ponto de não as experimentar com
mais frequência?
O
“AMANHÃ, ÀS 23H…”
mais desconcertante é que, apesar daquele infinito onde eu flutuava –
negro como a asa de um corvo –, minha disposição era de alguém feliz
e acompanhado. Mas por quem?
Foi absurdo olhar em volta, eu sei. Lá em cima, só milhões de olhos
azuis interceptavam meu passo. Ou não? E tentei descobrir. Colei os braços
ao corpo e rumei para aquela praia de estrelas e astros. Mais rápido… mais
rápido!
Era um desafio. Um prazer. Um achado que esse outro ser – talvez o que
agora voava – reconhecia como um dom próprio longamente relegado ao
porão de sua eternidade. Agora, ainda que apenas fugazmente, recuperava-
o.
Freei. Talvez tivesse me afastado demais. Lá embaixo, o planeta Terra
girava mais rápido do que eu teria suposto. Também não era azul, como eu
mesmo havia visto nas fotografias tiradas pelos astronautas. Um pouco
menos da metade do perfil daquela bola de obsidiana brilhava com uma luz
branca. Compreendi que o amanhecer avançava para esta face escura do
mundo.
Senti medo. O fundo opaco do espaço aparecia agora forrado por
milhares de milhões de pontos brilhantes como vaga-lumes. Mas o que era
aquilo? Estavam também à minha volta. E embora indubitavelmente
tivessem ou refletissem luz, não era suficiente para iluminar o vazio.
Abri meus braços em cruz e girei sobre mim mesmo. Mas aqueles
pontos de luz continuavam ali. Nenhum deles se deslocou um único
milímetro.
Outra vez as palavras me interceptavam. Talvez naquele instante eu
estivesse mais perto que nunca da Verdade. Mas, então, se essa era a
Verdade, o que fazia eu preso naquele corpo denso e limitado que me
esperava na esplanada do vulcão?
Assim, me deixei cair. Não importava a velocidade. Eu sabia que frear
era a coisa mais fácil do mundo. Bastava querer.
O reingresso em mim mesmo foi vertiginoso. Com a violência de dois
poderosos ímãs. Lembro que fiz uma nova inspiração profunda e ordenei de
novo a minha mente:
“no três, você vai sair do nível alfa e se encontrará em perfeito estado de
saúde, e muito feliz.”
Mentalmente visualizei o número 1, depois o 2 e, por último, após uma
longa inspiração, o número 3. Finalmente abri os olhos.
O vulcão continuava escuro. Só as brasas agonizavam já entre o
vermelho e o cinza. Esfreguei o rosto com as duas mãos e tentei pensar,
recordar. E consegui, com nitidez. A experiência havia me deixado
descansado, isso era evidente. Meu desânimo anterior havia se extinguido, e
só a fome crescia em meu ventre com uma dor distante.
Levantei-me e caminhei para o centro do vulcão. Enquanto preparava
uma nova carga de lenha, fui assaltado por um pensamento: “amanhã, às
23h… amanhã, às 23h… amanhã”.
Aquela ideia repicava em minha cabeça como uma metralhadora.
Amanhã? Às 23h? O que esse pensamento queria dizer? E por que se repetia
dessa forma em meu cérebro? Por via das dúvidas, deixei a lenha e me
sentei de novo junto ao lume. Peguei meu caderno e escrevi tudo o que
havia visto e sentido naquela minha segunda noite na solidão da Montanha
Vermelha.
Após avivar a fogueira, recostei-me dentro do semicírculo de pedra
enrolando-me até as orelhas nas mantas. Mas não consegui conciliar o
sono. O que havia acontecido? Eu havia viajado realmente no astral, ou tudo
havia sido um sonho?
Mergulhado nessas meditações, e não menos atento ao firmamento,
esperei um novo dia.
A
UM CÍRCULO DE TERRA QUEIMADA
cariciei a última garrafa de café. Pouco havia sobrado. Junto às pedras,
impregnadas de fuligem já por tantas horas de fogo, estavam alinhadas
as outras quatro, já vazias. Com o apreciado líquido negro nas mãos, pensei
o que devia fazer naquele novo dia. Mas a falta de alimentos havia me
debilitado consideravelmente. E sem opor a menor resistência, voltei a
dormir. Era isso que queria.
Também não sei quando acordei. Meu relógio indicava 14h. Mas de que
dia? Era sexta-feira, como acreditava, ou segunda-feira?
É tétrica a facilidade com que o ser humano chega a perder a noção do
tempo. Para piorar, as tâmaras haviam acabado. Contabilizei as passas e os
biscoitos. No total, depois de revistar as mantas e até as cinzas que
forravam o piso do acampamento, 18 frutos secos e meia dúzia de biscoitos,
duros como pedra. Não era um futuro muito alentador.
Contudo, em minha mente continuava vivo aquele súbito pensamento
que havia me abordado na noite anterior. “às 23h… às 23h…”
“Não perco nada se esperar algumas horas”, comentei em voz alta. E
passei a limpar o pó e a cinza que punham em perigo a integridade do filtro
ultravioleta de minha teleobjetiva.
Eu precisava mover meus músculos dormentes. Então, sem pressa,
procurando não consumir muita energia, coloquei-me no alto de uma das
paredes do vulcão. A princípio não me dei conta, mas estava ali. A mais ou
menos 30 metros do semicírculo de pedra. Levantei-me como um autômato.
“Diabos! Mas como não me dei conta muito antes?” Procurei não me
descontrolar. “Calma, rapaz!” E tentei me animar. Mas foi inútil. Meu
coração estava acelerado como um potro no cio.
O que era aquele círculo perfeito que estava diante de mim em plena
cratera do vulcão? Esfreguei os olhos. “Será que estou começando a ter
visões?” Não; quando tornei a olhar, o círculo continuava ali, como um grito
branco na cinza.
Nos dias anteriores eu havia passado várias vezes por aquela parte, e
esse círculo não estava ali. Mas então…
Corri para a esplanada e, a galope, saltando entre a lava, cheguei ao
semicírculo de pedra. Tentei recompor a cena da noite anterior. “Sim, isso
mesmo”, pensei. “A entrada no nível alfa foi aqui mesmo, ao lado do
acampamento. Lembro que as chamas da fogueira iluminavam meu flanco.
Mas isso pode ter nascido em minha imaginação. Tentei me acalmar. Além
do mais, mesmo que a viagem tenha sido real, não vi óvni algum. Não
consigo entender a origem desse círculo. Tenho certeza de não o ter visto
antes.”
Escondi o rosto nas mãos e fiquei alguns segundos com a mente vazia.
Estava tentando recordar. Foi inútil. Ao levantar novamente os olhos para a
esplanada, a mancha circular continuava ali, redonda como uma pedrada.
“Sempre existe a possibilidade de que essa marca estivesse aí muito
antes inclusive de eu chegar ao vulcão.” Mas o argumento não me
convencia. Eu tinha certeza de não a ter visto antes.
Verti uma boa quantidade de café e bebi sem pressa.
“Vamos procurar uma explicação racional”, pensei. E desenvolvi o
seguinte diálogo comigo mesmo:
– Você esteve sozinho nesses últimos dias?
– Claro que sim.
– Precisamos descartar, portanto, que essa mancha tenha sido obra de
caçadores.
– Caçadores? Aqui? Ridículo.
– Sim, vamos procurar outra coisa. Você também não se lembra de
nenhuma tempestade. Sabe, talvez, uma descarga elétrica.
– Aonde quer chegar? Faz meses que não cai uma só gota de água em
toda a ilha. Além do mais, teria deixado um círculo perfeito?
– Não.
– Então, o que nos resta?
– Não sei.
– Pense, por favor. É importante encontrarmos uma explicação lógica.
– É que não me ocorre nada.
– Pense, droga!
– Lamento.
Chegado a esse ponto, levantei-me novamente e, enquanto caminhava
para o círculo, notei que minhas pernas tremiam. Mas atribuí o fato à
fraqueza. Parei a um passo daquela mancha e a contornei muito
lentamente. Devia ter uns 20 metros de diâmetro e formava, efetivamente,
um círculo perfeito. Agachei-me e estendi a mão esquerda disposto a tocar
aquela superfície evidentemente calcinada. Prendi a respiração e pousei a
palma na terra. Recebi uma clara sensação de calor. “Também pode se dever
às inúmeras horas de exposição ao sol”, pensei. Mas algumas das retamas
estavam igualmente calcinadas.
Isso era importante. Antes de entrar no círculo para retirar algumas
amostras de cinza e dos pequenos arbustos alvejados, voltei ao alto da
parede do vulcão e fotografei a suposta marca. Em seguida, procurando
sempre entrar e sair do círculo pelo mesmo caminho, dediquei todo meu
interesse à localização de possíveis orifícios. Se aquilo se tratasse de uma
aterrissagem de óvni, e este houvesse tocado o terreno, era provável que
seus trens de pouso tivessem ficado impressos.
Mas, por mais que inspecionasse, o resultado sempre era negativo. Algo
estava claro em meu cérebro: se aquilo havia sido provocado por um óvni,
só podia ter acontecido enquanto eu dormia. Que outra explicação me
restava?
Ocupei o resto daquele 16 de junho de 1978 em reunir todo tipo de
medições e anotações, tanto sobre o misterioso círculo quanto sobre minhas
reflexões sobre aqueles fatos. Antes que o oceano acabasse de se tingir com
o pranto púrpura do sol, posicionei-me na mais elevada rocha do vulcão. E
preparei as câmeras, o binóculo e a lanterna.
Sem dúvida, uma noite pouco comum me aguardava.
O misterioso círculo de terra calcinada que apareceu na cratera do vulcão extinto. (Foto: J. J.
Benítez.)
A
À ESPERA, NA ESCURIDÃO
brisa do leste me trouxe, inicialmente, a parca fragrância das plumérias
e dos cardos que cresciam na encosta da Montanha Vermelha. Mas,
conforme subia a maré, aquela brisa ganhou força, e, antes que pudesse
saudar as primeiras estrelas, senti a necessidade de me proteger debaixo de
uma das mantas esperanceras[*] marfinenses. Ainda assim, o vento era tão
obstinado que até a respiração ficou difícil.
No entanto, naquela noite nem o mais rebelde dos furacões teria me
feito descer da parede do vulcão. Continuei aguardando.
“às 23h…”
A ideia, o “chamado”, a premonição ou o pensamento surgia de vez em
quando em meu coração. E, conforme caía a noite, uma onda de fogo e
sangue subia desde meu ventre até as têmporas, deixando-os tensos. E a
palma de minhas mãos começou a suar.
Estava com medo? Não, juro. Dessa vez, não. Dessa vez eu estava
disposto a tudo. Com a única finalidade de me distrair e passar o tempo – o
relógio já indicava 22h –, chequei os diafragmas e as velocidades das
Nikkormats. Tudo estava em ordem. Por ora, e por conta do que pudesse
acontecer, ajeitei as objetivas em abertura e velocidades máximas, em um
oitavo de segundo, como era meu costume em situações como aquela.
Era engraçado! A quantos avistamentos de óvnis como esse eu havia ido
nos últimos cinco anos? Não poderia calcular. Talvez uma centena. Apesar
de tudo, cada novo encontro encerrava o mesmo mistério ou um mistério
ainda maior que o primeiro, nos inesquecíveis areais peruanos de Chilca,
onde apareceram dois óvnis.
Minha alma parecia estremecer com a simples ideia de sua aparição. E
eu, de alguma maneira, sabia que aquela noite iam aparecer. Não sei como,
mas sabia.
“22h30.” O crepúsculo havia recuperado toda sua beleza. Nem uma
nuvem em cem quilômetros ao redor. Se não fosse por aquele vento que
fazia até as pedras clamar!
“22h40.” Uma chuva de estrelas cadentes me deixou em alerta total.
Sem dúvida se tratava de algum grupo das chamadas Perseidas. E me
acalmei.
“22h50.” Fiz um novo rastreamento no grande braço da Via Láctea. Os
binóculos oscilavam demais e tive de limitar a observação ao olho nu. Nada!
Nem um único ponto de luz deslizando por entre as constelações. Nada de
nada! E já estava na hora.
Comecei a ficar inquieto. “Esses sujeitos nunca foram pontuais”, pensei
como se aquele encontro com os óvnis fosse a coisa mais natural do mundo.
“23h10.” Apesar das violentas rajadas de vento, fiquei em pé sobre a
lava e apertei o interruptor que alimentava a lanterna de quartzo. No meio
das trevas daquele vulcão extinto e perdido, os dois quilômetros de luz
branca, intensa, perfeitamente cilíndrica, elevaram-se para o espaço, mais
que como um sinal, como um grito.
Se alguma vez um ser humano pôde transformar em luz seus desejos,
essa foi uma delas. Retesando ao máximo as mandíbulas, levantei o foco
acima de minha cabeça e, segurando a lanterna com as duas mãos, tracei na
escuridão um lento, muito lento, e espetacular círculo de luz.
A autonomia da lanterna, segundo os técnicos que a haviam fabricado,
era de uma hora e meia, aproximadamente, eu estava disposto a consumi-
la. Talvez, no fundo, nem mesmo os óvnis me importassem mais. Era algo
mais intenso, mais forte que me mantinha em pé naquela noite, no meio do
nada, com meu espírito prolongado por aquele jorro de luz.
No silêncio, meus sentimentos se fizeram luz também, e desejei, como
jamais antes, abandonar as cinzas da Montanha Vermelha e voltar a minha
verdadeira pátria, em algum lugar nas estrelas. Por alguns segundos, aquela
espada de luz se manteve absolutamente vertical e transmitiu aos céus cada
uma de minhas pulsações, meus medos, minhas angústias e esperanças.
Depois, apaguei a lanterna e me abandonei nas rochas.
Quando pude, perguntei a mim mesmo o porquê daquele pranto
entrecortado. Mas não soube defini-lo. Na realidade, estava chorando de
melancolia. Com saudade de um mundo – o meu – que nada tinha a ver
com a Terra, do qual, às vezes, como agora no alto da Montanha Vermelha,
sentia falta. E recordei aquela velha canção quéchua:
Oh, grandes pais,
que depois de ter semeado frutos escolhidos
sobre um planeta árido e inculto,
nos haveis abandonado, como flores sem orvalho!
Guardiães de uma terra em crescimento,
chegue até vós este canto de espera e dor.
As messes já estão maduras,
as árvores cresceram e produziram em abundância.
Nosso dever terminou.
Os filhos de nossos filhos,
nascidos no sulco de uma terra estrangeira,
esquecerão – talvez – vossa promessa.
Mas nós, frutos da Sabedoria chegada do Céu,
não apagamos da mente o rosto dos pais.
E cada dia e noite que este planeta concede
escrutamos atentos as nuvens,
esperando ver-vos voltar sobre os carros de fogo,
para recolher o que haveis deixado.
À
ÓVNI SOBRE O VULCÃO
s vezes, essas coisas acontecem. Ficamos horas atentos ao céu, e
quando nos descuidamos por uns minutos…
Eu continuava sentado na parede do vulcão, com a cabeça apoiada nos
joelhos. Minhas lágrimas haviam cessado. De repente, chamou minha
atenção um fato singular no qual eu não havia reparado: o vento havia
desaparecido! Não se sentia mais a menor brisa. Foi então que, ao levantar o
rosto, uma chicotada de emoção me paralisou. “Meu Deus… O que é
aquilo?” Estava diante de mim e era redondo. Não, não totalmente! Talvez
um pouco mais estreito na parte inferior. Jesus Cristo, que brilho! Aquilo
tinha uma luz branca no centro, e os contornos eram amarelos e cor de
laranja. Mas tudo formava um conjunto luminoso único e muito intenso.
Nem sequer me levantei. Estava absorto. O silêncio e a majestade
daquilo que havia surgido na vertical do vulcão me impressionaram; estava
tão baixo que, se tivesse podido, talvez o tivesse acertado com uma pedra.
Não se movia. Instintivamente, sem tirar os olhos da luz nem por um
segundo, deslizei a mão direita até a câmera fotográfica, que repousava
sobre a cinza. Meus dedos se agarraram à teleobjetiva, e, pelo tato, eu soube
que se tratava de 200 milímetros.
“Muito bem”, pensei, “é suficiente, contanto que isso se mantenha a
essa distância. Mas seria muito melhor se se aproximasse um pouco.”
Naquele instante, quando eu mal havia acabado de formular esse desejo,
o óvni aumentou sua luminosidade e me deu a sensação de ficar maior. E,
meu Deus, como se tivesse lido meu pensamento, começou a se aproximar
com extrema lentidão. Como se não confiasse, em total silêncio. Senti uma
série de calafrios que percorreram minha coluna vertebral, e um forte calor
arrepiou meus pelos. Ou seria medo?
Por um momento, desejei correr. Fugir encosta abaixo. Acho que, se não
o fiz, foi única e exclusivamente por um último grito de meu instinto de
preservação. Uma corrida naquelas trevas teria acabado em uma queda fatal
entre os penhascos. Além do mais, já estava com a câmera na frente dos
meus olhos. Engoli em seco e procurei aquela “lua voadora” com meu visor.
“Aqui está!” Com as mãos úmidas de suor e emoção, apertei o
disparador. Jamais o som metálico da cortininha de minha câmera havia
soado de maneira tão maravilhosa.
Não tive tempo para mais nada. O objeto, estático de novo, pareceu
vibrar e aumentou ainda mais sua luminosidade, desaparecendo em questão
de décimos de segundo. E ali fiquei eu, mais paralisado que outra coisa.
Estupefato, com a câmera nas mãos e a boca entreaberta.
Quando recuperei o fôlego, consultei meu relógio. Eram meia-noite e
dez.
Aquilo – um óvni, uma nave ou o que quer que tenha sido – havia
desaparecido sem deixar rastro. Era como se tivesse se desmaterializado.
Mas por que haviam chegado com uma hora de atraso?
Quando percebi, o vento, que havia começado a soprar com brios
renovados, deixou-me sem a manta. Foi inútil rastreá-la no meio da lava da
face externa do vulcão. Teria de esperar o amanhecer.
Alguma coisa me dizia que “eles” não voltariam mais aquela noite.
Voltei ao acampamento, procurando alimentar a fogueira de forma que sua
luz me permitisse continuar escrevendo no diário. E uma nova dúvida – não
menos horrorosa – começou a me corroer por dentro: “Aquela única foto do
óvni teria ficado boa?” “Bem”, respondi quase automaticamente, “que
diferença faz? Pode haver alguém no mundo que acredite em tudo isso?”
D
UMA HORA ADIANTADO
ediquei minha última noite na solidão do vulcão quase inteiramente ao
sono. A preocupante fraqueza me deixou quase prostrado. E sobre meu
coração já pesavam muitas emoções. Se naquela noite houve ou não óvnis
sobre o vulcão, sinceramente, ignoro.
Com as primeiras luzes do domingo, 18 de junho, recolhi minhas coisas
e dei início a uma pausada descida em direção ao farol. Antes de abandonar
a Montanha Vermelha, eu me ajoelhei no centro de sua cratera e beijei a
cinza. Agradeci a Deus por sua constante presença junto a este pobre
repórter.
Horas depois, estava parado diante da Casa Salvadora. Meu aspecto
devia ser tão deplorável que o proprietário e os moradores quase me
obrigaram a sentar a uma das mesas, junto ao mar, e devorar metade da
despensa.
Foi ali, na Praia Branca, quando, quase pronto para me despedir daquela
boa gente, comprovei que meu relógio marcava a hora da Península, e não a
do arquipélago. Céus! Isso significava que eu havia vivido todo esse tempo
na cratera do vulcão uma hora adiantado. Mas, então, pensei com grande
alegria, o avistamento do óvni na noite de sexta-feira não foi à meia-noite,
como eu acreditava, e sim às 23h. E essa, justamente, havia sido a hora
prevista.
Posso jurar que minha volta para casa foi muito mais feliz do que eu
poderia ter imaginado.
E
A NECESSIDADE DE UMA DECISÃO
u havia aprendido algo em todos aqueles anos, em minha constante
perseguição àqueles que dizem ter visto óvnis, bem como ao rastro das
próprias naves. Algo que agora se revelava muito útil. Depois de não poucos
desgostos, e diante da indiferença e quase geral deboche de meus colegas,
eu havia aprendido a ficar em silêncio. Não importava o tipo de notícia
sobre óvnis que tivesse conseguido. Eu sabia que, para a maioria dos
profissionais do jornalismo, aquele assunto não interessava. De modo que,
quando voltei de Lanzarote, mal troquei algumas frases com os colegas do
jornal. Limitei-me a escrever minhas experiências no fundo do vulcão. Não
todas, claro.
Mas a tristeza que senti por aquele novo e forçoso silêncio sobre o que
eu havia visto e vivido na Montanha Vermelha desapareceu 48 horas depois
de minha volta à capital biscainha. Tive sorte com a única foto que
conseguira tirar daquele óvni na noite de 16 de junho de 1978. Ali estava,
brilhante. Com aquela luz branco-amarelada que jamais se apagará de
minha mente.
Quantas horas, meu Deus, passei contemplando essa fotografia! E
quantas emoções e recordações ressuscita em mim! Mas, por essas coisas
do destino, nem a série de reportagens nem a foto do óvni chegaram a ser
publicadas.
À sub-reptícia tarefa de encobrir alguns elementos da redação em
relação ao tema dos óvnis, tive de acrescentar naquela época o assassinato
de meu colega e redator-chefe, José María Portell. O ETA o baleou quando,
na manhã de 28 daquele mês de junho, ele acabava de entrar em seu carro e
se preparava para cobrir os 15 quilômetros que separam Portugalete, onde
morava, da redação do jornal, em Bilbao.
Aquilo foi um choque para todos. Tive de assumir o comando da seção
dos repórteres, e isso me afastou durante algum tempo das investigações de
óvnis. Dessa forma, os quatro dias no vulcão da Montanha Vermelha
ficaram inéditos. Só agora decidi publicá-los.
Contudo, aqueles meses de descanso forçado em minhas aventuras
seriam muito mais importantes do que eu calculava. Raquel, pela enésima
vez, foi paciente testemunha de meu nervosismo e de minha crescente
inquietude. Os casos de óvnis continuavam chegando e engrossando meus
arquivos, mas eu continuava com as mãos atadas, sem possibilidade de me
mover.
Foi em meio a essa turbulência psicológica que tomei uma firme
decisão: “Tenho de me afastar por algum tempo do jornalismo ativo e
trabalhar a cem por cento de minhas forças e minha capacidade na
investigação de óvnis.” As provas que eu havia conseguido reunir, depois de
quase 300 mil quilômetros percorridos atrás deles, eram tão
impressionantes que todo o meu ser se rebelava diante da indiferença e
falta de informação de boa parte da sociedade. Era e é preciso mostrar aos
que duvidam o que realmente está acontecendo em nossos céus. O que
guardam os governos – e muito especialmente os militares – em seus
arquivos. O que, definitivamente, existe além de nosso mundo. Meu
encontro na Montanha Vermelha pesava demais para ser guardado.
Em sucessivas conversas, mostrei a Raquel quanto aquela decisão
significava para mim. Era, em suma, como tentar ser fiel a mim mesmo.
Ela, muito antes inclusive de eu falar, soube o que germinava em meu
coração já fazia tempo.
Uma vez tomada a decisão, tudo foi mais simples do que se poderia
imaginar. Na primavera de 1979 estavam resolvidos os detalhes. Então, o
sonho se tornou realidade: eu havia me tornado o primeiro jornalista a
dedicar todo o seu tempo à investigação primeiro e à difusão depois do
ainda obscuro e polêmico fenômeno óvni. Eu jamais havia me sentido tão
feliz.
L
A NOITE FICOU VERDE
ogo eu estava de novo atrás deles. Dessa vez, a testemunha principal do
avistamento era um comandante da companhia Aviaco. Depois de não
poucas tentativas, consegui entrevistar Julián Rodríguez Bustamante, no
Hotel Barajas, em Madri. Eis aqui o que esse piloto também veterano e
todos os passageiros que voavam com ele vivenciaram em uma noite do
outono de 1968:
– Lembro que José Luis Ibáñez era o copiloto. Voávamos em um avião
Fokker entre Tenerife e Las Palmas. Deviam ser aproximadamente dez da
noite. O copiloto pilotava o avião nesse momento, e eu cuidava das
comunicações. De repente, olhei para minha esquerda e vi uma espécie de
estrela – um ponto de luz que se movia. Já estávamos muito perto da costa
da Grande Canária, e, na verdade, a princípio não lhe dei muita importância.
Vemos tantas coisas no céu… Mas, de repente, aquele ponto branco que se
movia no horizonte avançou na nossa direção a tal velocidade que, em
segundos, ou décimos de segundo, estava do nosso lado esquerdo.
– Ou seja, junto à asa.
– Sim. Eu, claro, fiquei sem fala. Aquela luz, de uns três metros de
diâmetro, havia chegado até nós em rota de colisão! Ao vê-lo vindo, e a
tamanha velocidade, pensei o pior. Não há um único corpo que possa
desacelerar em tão curto espaço. E aquilo se precipitou sobre nós como um
meteoro. Mas, subitamente, ficou imóvel! Não precisei dizer nada a Ibáñez,
pois ele mesmo percebeu. Além disso, aconteceu algo que impressionou a
todos nós. A luz avermelhada da cabine foi absorvida pela luminosidade que
aquele objeto desprendia. Tudo, desde os instrumentos até nós mesmos,
ficamos banhados por uma luz verde-azulada, quase metálica. Não se
tratava de uma luz fixa. Tinha intermitências, e muito rápidas.
– E o que vocês fizeram?
– Nada. O copiloto me perguntou o que estava acontecendo, e, em
poucos instantes, a comissária de bordo entrou na cabine, toda verde de
cima a baixo, perguntando o que era aquilo.
– Os passageiros também viram?
O comandante Julián Rodríguez Bustamante, outro piloto veterano espanhol que avistou óvnis.
(Foto: J. J. Benítez.)
O óvni (embaixo, à esq.) apareceu pela lateral esquerda do avião do comandante Julián Rodríguez
Bustamante. Se precipitou, em rota de colisão, para o Fokker (em cima, à esquerda). “Ficou tão
perto de nossa lateral esquerda – explicou o piloto – que sua luz verde inundou o interior do
avião.” (embaixo, à dir.). Após escoltar o avião de passageiros durante alguns segundos, o óvni se
afastou na mesma direção por onde havia surgido (em cima, à dir.).
– Claro! Principalmente os da lateral esquerda. Aquela intensa luz
verde-azulada que piscava encheu também o interior do avião. O objeto
continuou colado à lateral esquerda durante dois ou três minutos, mas, para
mim, pareceu um século.
– A que distância?
– É muito difícil calcular. Contudo, tinha de estar muito perto, posto
que sua luz engoliu a da cabine.
– A uma milha?[2]
– Não, não, muito menos. Talvez a 20 ou 30 metros. Eu me preocupei
com os instrumentos, mas comprovei que não ocorria nenhuma alteração
de tipo magnético. Então, o objeto fez uma espécie de virada e desceu,
subindo rapidamente em seguida. Antes que pudéssemos reagir, afastou-se
de novo em direção ao norte, por onde havia chegado. E à mesma
velocidade. Impressionante!
– Você poderia calcular essa velocidade?
– Não, mas, evidentemente, é muito superior à do som.
– Observaram algum detalhe: janelas etc.?
– Nada. Só luz. A situação também não permitia prestar atenção a
sutilezas. Eu estava atento ao avião.
– Não ocorreu alteração nenhuma?
– Nem a mínima. Aterrissamos com toda a normalidade, e isso foi tudo.
– Houve alguma comunicação com a torre de controle canarina?
– Sim, notificamos o que estávamos vendo, mas não souberam nos
explicar.
– Podemos excluir a possibilidade de que se tratasse de outro avião?
– Totalmente. Já disse que não existe no mundo aparelho algum que
possa desenvolver tamanha aceleração e frear em seco a poucos metros de
um Fokker. Além do mais, aquilo era uma massa luminosa. Não tinha forma
de avião.
– O que aconteceu quando aterrissaram?
– Entre os passageiros estava também o time de futebol de Las Palmas
e, logicamente, os jornalistas ficaram sabendo. O acontecimento foi
publicado na imprensa. Eu soube, já no aeroporto, que o objeto havia sido
visto também em terra, por alguns funcionários da companhia Iberia.
– Em resumo, por quanto tempo ele os escoltou?
– Ele se aproximou de nós a umas 40 milhas do aeroporto e ficou ao
nosso lado esquerdo por dois ou três minutos. Se considerarmos que aquele
Fokker mantinha uma velocidade aproximada de 240 nós[3], o óvni pode ter
nos seguido entre dez e 12 milhas, mais ou menos.
– Você acreditava em óvnis?
– Não. Eu sempre fui, e acho que ainda sou, bastante cético. Mas
aquilo…
Ao chegar ao aeroporto, Julián Rodríguez Bustamante comunicou
oficialmente o que havia acontecido a 9 mil pés[4]. Aqueles, evidentemente,
eram outros tempos, e o Ministério da Aeronáutica, por meio da direção do
aeroporto, proibiu os pilotos de qualquer tipo de manifestação ou declaração
pública. Como tantos outros casos, passou a engrossar o já volumoso
arquivo óvni confidencial das Forças Aéreas.
Nessa mesma noite aterrissaram em Las Palmas e Tenerife mais dois
aviões da companhia Iberia. Dois DC-9 vindos de Sevilha que ratificaram a
presença, na escuridão da noite, de uma imensa e muito forte luz verde.
Justamente entre as ilhas de Tenerife e Grande Canária. Pois bem, um dos
pilotos era meu grande amigo Rafael Gárate que, anos depois, teria também
outro encontro com um óvni, tal como já relatei em páginas anteriores.
Naquela noite, o comandante Gárate encontrou seu colega Rodríguez
Bustamante totalmente aturdido. Não era para menos. “Eu perguntei se ele
também havia visto aquela enorme luz verde, e Julián me contou tudo o que
havia acontecido”, relatou-me Rafa Gárate. E prosseguiu:
– Tanto o DC-9 que voava para Tenerife quanto eu vimos
perfeitamente. Quando estávamos a umas 80 milhas das ilhas, a noite ficou
verde. Comentamos o fato entre os dois aviões: “Você viu isso?” “Sim!”,
respondeu o de Tenerife, que ia à frente. Pensamos que algum barco havia
lançado um sinalizador, mas não podia ser. Seria sinalizador demais! Como
eu disse, a noite se iluminou inteira. Não vimos nenhum objeto, só aquela
espécie de explosão e a intensa luminosidade verde que tomou conta de
tudo. Depois, ao pousar, soubemos o que havia acontecido com Bustamante.
“A luz do objeto engoliu materialmente a da cabine”, declararam os pilotos do Fokker.
Tudo isso, como disse, foi mantido até agora no mais rigoroso sigilo
pelos militares.
O
VIAGEM REAL À CHINA: UM ÓVNI DIANTE DE 30 JORNALISTAS
nde, logicamente, não houve jeito de guardar segredo algum foi no voo
do Sorolla, um DC-8 da companhia Aviaco que fazia naquela noite de
15 de junho de 1978 o trajeto Teerã-Pequim. Porque, que tipo de segredo se
pode observar quando as testemunhas do avistamento de um óvni são 30
jornalistas? Esse foi o caso do avião que precedia o de Suas Majestades, os
reis da Espanha, na histórica viagem de dom Juan Carlos e dona Sofia à
República Popular da China. Uma viagem da qual quase participei, mas, por
questões de trabalho em meu jornal, minha ida teve de ser suspensa.
Lembro que, quando voltei da Montanha Vermelha, encontrei a notícia
em cima de minha mesa, na redação: “Quase 30 jornalistas” – dizia o
teletipo – “foram testemunhas oculares de um óvni de grande
luminosidade que apareceu no caminho do avião Sorolla quando voavam
sobre território chinês”. A coincidência na data me deixou perplexo.
Enquanto os passageiros do voo especial para Pequim viam aquele óvni na
noite de 15 para 16 de junho, acontecia o mesmo comigo, embora em
circunstâncias muito diferentes, no mesmo dia 16 de junho de 1978, na
cratera do vulcão em Lanzarote.
Foi justamente ao refletir sobre essa notícia que comecei a compreender
por que tudo deu errado quando, por várias vezes, tentei me juntar ao grupo
de jornalistas que iam para China com os reis. No fim, como disse, tive de
desistir. Havia problemas demais no jornal, e a longa duração do périplo
pela China complicava ainda mais a situação. Contudo, curiosamente,
poucas horas depois da comitiva real dar início ao voo para o Oriente, eu
recebia a ligação do comandante Rafael Gárate e chegava ao alto do vulcão
da Montanha Vermelha.
Sim, aquilo era muito estranho. Enquanto se fechavam todas as portas
para a viagem à China, abriam-se outras – e de que maneira! – para minha
permanência no vulcão. Era muito estranho. Como já disse uma infinidade
de vezes, eu não acredito em casualidade, mas, sim, em causalidade.
Quando voltaram, os colegas ampliaram a informação da insólita notícia
com toda a riqueza de detalhes. Um dos testemunhos fundamentais foi o do
comandante do DC-8, Juan Pérez Marín, na época diretor de operações da
citada companhia Aviaco. Eis aqui nossa conversa:
– Tenho de deixar claro que sempre fui cético sobre esses assuntos.
– Acho muito bom, comandante. Se todo o mundo acreditasse em óvnis,
estas investigações não teriam sentido, não acha?
– Quero dizer que sempre pensei que o que as pessoas dizem que veem
poderiam ser efeitos ópticos etc.
– E agora, o que acha?
O comandante riu.
– Certamente, o que vimos naquela noite não se tratava de um efeito
óptico. Disso tenho certeza. Mas, veja, o problema é tão importante que
prefiro ir devagar. Tateando. Como são Tomé, compreende?
– Perfeitamente. Mas, diga, o que foi que viram naquela madrugada?
– Estávamos a 2 horas e 55 minutos de voo. O Sorolla – primeiro avião
espanhol a entrar na China – havia saído de Teerã e seguíamos por um
corredor militar rumo a Pequim. Era, como sabe, um voo especial, com 130
passageiros. A maioria, jornalista. Havíamos deixado para trás o
Afeganistão e o Paquistão. Nesse momento, às 2h30 da madrugada (hora
solar do local), fazia dez minutos que voávamos sobre o território chinês. Se
não me engano, estávamos na vertical de Yarkand, na Cachemira. O avião
voava com todas as luzes apagadas. Era muito tarde, e, logicamente, quase
todos estavam dormindo. De repente, à nossa esquerda, entre as 11h e as
10h30 de nossa posição[5], apareceu um ponto focal muito intenso, com uma
espécie de facho luminoso branco, muito branco. Todos na cabine viram:
Luis Pertinat, que era o segundo comandante, Vicente Roig, o terceiro, e eu.
Depois, quando anunciei pelo alto-falante, parte dos passageiros viram,
inclusive o presidente da Aviaco, Manolo Ortiz, que entrou rapidamente na
cabine. O caso é que aquilo dirigiu seu facho de luz para nosso avião. Houve
momentos em que pensamos que estava se aproximando.
– Vamos entrar nos detalhes.
– Era de um tamanho aparente um pouco mais reduzido que o disco
lunar. Claro que não podia se tratar dela, posto que naquela noite não havia
Lua. O céu estava muito preto e estrelado. Liguei o radar, mas não
conseguimos captá-lo.
– A que distância estava, mais ou menos?
– Não faço ideia. Nosso radar alcança umas 12 milhas, mas, como disse,
não recebemos seu sinal. Talvez estivesse mais longe. Em poucos segundos
se afastou a uma enorme velocidade. Depois, desapareceu na mesma direção
que nós, rota 042 (NE). Ficou no espaço aquele facho de luz branca.
– Um rastro?
– Não, não parecia o clássico rastro de condensação. Talvez ache que é
uma bobagem, mas eu tive a sensação de que era uma luz material, sólida.
– Não acho que seja nenhuma bobagem, principalmente se levarmos em
conta que em ufologia já existem muitos precedentes da chamada luz
sólida.
– Eu não sabia – respondeu o comandante surpreso.
– E depois?
– Desapareceu. Em cerca de 14 segundos, o facho de luz sólida
desapareceu.
– Notou algum tipo de alteração nos instrumentos do DC-8?
– Absolutamente nada.
– Muito bem. O que você acha que podia ser aquilo?
– Não sei.
– Um avião, talvez?
– Duvido. A velocidade era incalculável. Sinceramente, aquilo só podia
ser um óvni. Ou seja, um objeto voador não identificado.
– Mas podia estar tripulado?
– Sem dúvida nenhuma. Pelo menos, comportava-se como se estivesse.
Como dizia o comandante, ao anunciar aos passageiros a presença
daquela enigmática luz, alguns dos jornalistas e o então presidente da
companhia Aviaco, Manolo Ortiz, levantaram-se, inclusive, entrando na
cabine da aeronave. O óvni foi visto por um total de 20 a 30 representantes
dos meios de comunicação, bem como pela equipe de assistentes de voo,
comissários de bordo, os três comandantes e o referido presidente da
companhia proprietária do Sorolla. Entre esses destacados jornalistas,
encontravam-se – só para citar alguns nomes – Ignacio Gabilondo, da rede
Ser, Pilar Cernuda, da Colpisa, Jaime Peñafiel, da revista Hola, e Herreros, da
agência Europa Press.
Alguns dias depois da volta da expedição, pude trocar impressões com
Manolo Ortiz, na época, como disse, presidente da Aviaco e hoje embaixador
da Espanha em Cuba. Esta foi sua declaração não menos importante:
– No início, quando o comandante nos comunicou, achei que se tratava
de alguma aurora boreal. Fui imediatamente à cabine e comprovei que não,
que aquilo era outra coisa. À nossa frente, um pouco à esquerda e a nossa
altura, havia uma espécie de esfera muito luminosa. Estava imóvel. Chamou
a atenção de todos. Especialmente sua luz. Eu jamais havia visto algo igual!
Nós a contemplamos por mais de um minuto, e é curioso: quando um dos
comandantes – Pertinat – foi pegar sua câmera fotográfica, a esfera
disparou no céu.
– Algo assim, como se os possíveis tripulantes daquele objeto tivessem
adivinhado o pensamento do comandante?
– Algo assim – respondeu Ortiz em tom desconcertado. – Uma vez
desaparecida da vista, ficou no espaço um facho de luz, com os raios
divergentes. Logo desapareceu. O fato foi amplamente comentado por todos.
Alguns de nós achavam que aquele facho de luz podia ser uma espécie de
foco gigantesco que partia da esfera. Porém, também não podemos afirmar.
O que foi evidente é que o foco, ou facho de luz, tinha quilômetros de
extensão.
B
DONA SOFIA: “EU SEMPRE PERCO A CHANCE”
oa parte dos jornalistas não chegou a saber o que aconteceu quando
voava a mil quilômetros da capital chinesa. Quase todos estavam
dormindo. Muitos, ao acordar e saber do fato, ficaram frustrados. Era uma
pena, por exemplo, que o diretor de meu jornal, Manuel González
Barandiarán – que havia dedicado um intenso zelo ao programar e realizar
inúmeras séries de reportagens sobre casos de óvnis – também estivesse
dormido.
Quando o avião real aterrissou em Pequim, poucas horas depois do
Sorolla, a notícia da aparição de um óvni em frente ao DC-8 da imprensa
chegou aos ouvidos dos reis. E tanto dom Juan Carlos quanto a rainha
mostraram interesse em saber do acontecido.
No primeiro contato com os jornalistas e com os membros da tripulação
da Aviaco, em uma recepção na embaixada espanhola em Pequim, os
monarcas – em especial dona Sofia – puderam conversar com as
testemunhas. A rainha – mulher de vasta cultura e de uma mente não
menos aberta – fez todo tipo de perguntas aos correspondentes, bem como
ao próprio comandante Pérez Marín, que, efetivamente, ratificou diante de
Suas Majestades tudo o que haviam visto e vivido a caminho da China. Dona
Sofia, meio de brincadeira, meio a sério, comentou: “Sempre perco a
chance. Tenho tanta vontade de ver um!”.
Foi justamente nessa visita que o rei declarou ao diretor do meu jornal
seu desejo e o de dona Sofia de que eu os acompanhasse na viagem por
terras americanas, prevista para o mês de novembro do mesmo ano.
De tanto percorrer a América do Sul – sempre atrás de notícias da
aparição dos óvnis ou investigando os apaixonantes temas das linhas e
desenhos dos pampas de Nazca, no Peru; as tribos extintas do Amazonas ou
as lendárias cidades sagradas de Machu Picchu, Tiahuanaco etc. –, eu havia
acumulado uma importante bagagem de dados, entrevistas e documentos.
Dessa forma, me senti muito honrado e feliz por poder oferecer esses
conhecimentos aos reis de meu país. Meu carinho por dom Juan Carlos e
dona Sofia cresceu ainda mais.
Eu já havia tido a grande honra de conversar com eles quando ainda
eram príncipes. Primeiro em 1974 e, poucos meses depois, em 1975. Nas
duas ocasiões fui até a residência de dom Juan Carlos e dona Sofia, no
palácio da Zarzuela. Na primeira e inesquecível conversa com os reis – que
se estendeu por quase quatro horas –, tanto o diretor de meu jornal quanto
eu mesmo expusemos as mais destacadas investigações de óvni realizadas
até então.
Dom Juan Carlos – que está sempre à frente dos acontecimentos –
soube de minhas reportagens por terras peruanas muito antes, inclusive, de
a série ser publicada. Quis saber mais detalhes sobre aqueles supostos
contatos com óvnis. A informação do soberano sobre esse tema era muito
completa e antiga.
Foi dona Sofia quem formulou um número maior de perguntas. Seu
espírito científico parecia se rebelar contra determinadas afirmações, e era
lógico que assim fosse.
Agora, seis anos depois, a rainha foi estimando e avaliando as inúmeras
provas e testemunhos que existem sobre o tema. Assim, sabe que o
fenômeno óvni é tão importante quanto qualquer outro acontecimento que
conduza ao degelo da mente.
Naquela entrevista, quando já nos despedíamos, dona Sofia me observou
com seus lindos olhos azuis e comentou: “Só se abrirmos nossa mente,
poderemos nos compreender e compreender a maravilha do Universo”.
Meses depois, quando voltei de uma nova viagem ao Peru, fui pela
segunda vez até o palácio da Zarzuela, em Madri. A curiosidade e o
crescente interesse dos príncipes por esses temas havia se propagado até
seus auxiliares. Daquela nova conversa – dessa vez com dona Sofia, posto
que outras obrigações impediram a presença de dom Juan Carlos –
participaram homens como o marquês de Mondéjar, José Joaquín Puig de la
Bellacasa, Armada e outros.
Durante várias horas, em um clima cordial e sincero, falamos da recém-
descoberta biblioteca de pedras gravadas de Ica, dos mistérios do cosmo e
das possibilidades de vida em outros mundos, assim como da polêmica
questão dos objetos voadores não identificados.
Tenho certeza de que aquele manifesto desejo dos reis de aprofundar e
conhecer o enigma dos óvnis me deu novas forças para prosseguir em
minhas investigações. E minha solidão se fez menos amarga.
N
UM ÓVNI ESCOLTOU O FOKKER DO COMANDANTE CIUDAD
a realidade, a ideia de reunir o máximo de informações e de casos de
pilotos hispânicos que tivessem tido algum tipo de encontro com óvnis
surgiu lá pelos anos 1975-1976. Tudo começou com uma entrevista na
cidade de Palma de Maiorca. Ao longo de 1975, enquanto eu trabalhava em
outra série de investigações no arquipélago canarino, tomei conhecimento
de um importante acontecimento, registrado poucos anos antes, e que havia
sido protagonizado pelo comandante Andrés Ciudad Aldehuela e pelo
copiloto Paco Andreu.
Em 11 de dezembro de 1976 pude, por fim, entrevistar o comandante
Ciudad em sua residência em Palma. Este foi o relato que ficou registrado
em meu gravador:
– Eu voava naquela época no Fokker 27. Fazíamos a linha regular Las
Palmas-Villa Cisneros, e vice-versa. Por volta das nove da noite (já escuro),
iniciamos a aproximação ao aeroporto de Villa Cisneros. Se não me engano,
estávamos a uns 2 mil pés de altura quando o copiloto, Francisco Andreu,
viu aquela luz à nossa esquerda voando paralelo a nosso avião. Era como um
grande disco luminoso. Branco, com uma luz muito forte.
– Era possível ver o contorno com nitidez?
– Sim. Como disse, era circular.
– Desculpe a insistência nesse ponto, mas é importante.
– Sim, eu lembro muito bem. Era como um disco.
– A que distância poderia estar?
– Perto. Tanto Andreu quanto eu estimamos que não estava muito
longe. Aquele disco nos acompanhou durante uns 50 segundos. Ao iniciar as
operações de aterrissagem, paramos de vê-lo.
– Que impressão lhe causou?
– De algo estranho e desconhecido. Nunca tinha visto nada igual.
Algum tempo depois dessa entrevista com Ciudad, mantive também
uma longa conversa com o então copiloto do Fokker 27, Paco Andreu,
atualmente comandante da companhia Spantax. Andreu ratificou e ampliou
tudo o que Andrés Ciudad disse:
– Naquela ocasião eu era responsável pelas comunicações. Ao ver a luz,
perguntei à torre de controle de Villa Cisneros se havia algum tráfego
naquela posição. A resposta da torre foi esta: “Para sua informação, não
temos nenhum tráfego instrumental relatado”. Em poucos segundos,
quando o comandante começou a fazer o giro para aterrissar, aquele disco
desapareceu de vista, elevando-se a grande velocidade.
– O que você entende por grande velocidade?
– Está claro. Qualquer uma que supere, e muito, a de nossa navegação
aérea.
– Você elimina, então, a possibilidade de que fosse um avião?
– Totalmente. Nem a forma, nem a luz, nem a velocidade de subida
eram de um avião.
Mas vamos voltar à entrevista com o comandante Ciudad.
– Aterrissamos normalmente. Eu não quis fazer muitos comentários
sobre o fato na época, posto que não tinha certeza de nada. Paco Andreu
conhecia o oficial de tráfego e contou a ele daquele estranho disco. Depois
de uma hora, mais ou menos, iniciamos o voo de volta a Las Palmas. Nem
preciso dizer que tanto o copiloto quanto eu estávamos atentos à possível
aparição do óvni.
– Havia lua?
– Não, e o céu estava aberto. Aqui começou a segunda parte dessa
história. Decolamos normalmente e ganhamos altura. Quando havia se
passado apenas um minuto, a torre de Villa Cisneros chamou. Ali, ao lado do
oficial de tráfego, estava o chefe do aeroporto, o médico, um oficial da
Legião e outras pessoas. Comunicaram-nos “que a luz estava agora à nossa
direita e que se aproximava do avião”. Nesse instante, devíamos estar a
pouco mais de 150 metros do chão, em plena decolagem. O oficial de tráfego
(Eusebio Moratilla) continuou nos informando: “Quando vocês rodavam do
estacionamento à cabeceira da pista, o objeto passou por sobre a torre de
controle e parou na vertical do quartel da Legião. Ali parece que esperou a
decolagem do Fokker. Agora está se aproximando de vocês pela direita!” De
fato. De acordo com Paco Andreu, o disco já estava novamente do nosso
lado direito. Eu não consegui vê-lo naqueles primeiros minutos, pois estava
atento aos instrumentos. Uma vez alcançado o nível de voo, já na rota de
Las Palmas, tornei a vê-lo. Apagamos as luzes dos passageiros, e aquilo era
impressionante. Ficou ali até que chegamos a Las Palmas.
– Quanto tempo?
– O voo durava aproximadamente uma hora e 20 minutos. O disco deve
ter nos acompanhamos por um pouco mais de uma hora. Mantinha-se na
mesma altura que nós (entre 14 mil e 16 mil pés) e à mesma velocidade: uns
210 nós. Ou seja, a uns 420 quilômetros por hora. Às vezes, subia e descia, e
ainda mudava de cor, passando do branco ao laranja. Se não me engano,
quando começamos a descer em Las Palmas, ele se perdeu entre as nuvens.
Enquanto tomava um revigorante café, o comandante Ciudad – homem
parco em gestos, mas de uma grande hospitalidade – me falou também dos
assombrosos movimentos e manobras do óvni. Subia tão facilmente quanto
descia, e sempre a uma velocidade desconcertante. Em alguns momentos do
voo chegou a se aproximar a umas quatro ou cinco milhas.
Uma vez em terra, a tripulação do Fokker 27 não fez nenhum
comentário sobre o acontecido. Contudo, no dia seguinte, Andrés Ciudad foi
solicitado pelas autoridades aeronáuticas para que informasse sobre o disco
que os havia escoltado. A declaração foi mantida em sigilo. Eram, repito,
outros tempos. O tema dos óvnis era tratado com uma reserva absoluta.
Cada caso se enquadrava automaticamente na classificação confidencial.
Quando o comandante Ciudad se aproximava de Villa Cisneros, um objeto muito brilhante
apareceu ao lado do avião (embaixo, à esq.). “Era como um disco branco”, declarou o
comandante. “Ao aterrissar, deixamos de vê-lo”. Segundo testemunhas que se encontravam em
terra, o óvni ficou sobre a zona do quartel da Legião (embaixo, à dir.). Quando o avião de
passageiros decolou, o disco se situou novamente ao seu lado e o acompanhou até Las Palmas (em
cima, à dir.).
Evidentemente, o encontro dos pilotos Ciudad e Andreu com aquele
disco reluzente não foi ignorado pelo general-chefe do Setor Aéreo das
Canárias. Pouco depois de colher o testemunho de ambos, o general enviou
um informante até Villa Cisneros a fim de completar o dossiê. Um relatório,
mais um, que, como disse, foi mantido até agora sob o carimbo
“confidencial”.
Antes de me despedir do comandante Ciudad, perguntei se haviam se
sentido observados por aquele óvni.
– A palavra exata – respondeu – seria “inquietos”. A presença daquele
disco nos inquietou.
E concluí a entrevista com outro ponto não menos importante, pelo
menos para mim:
– Sinceramente, você acha que aquele disco estava tripulado?
– Sim.
– Qual sua opinião sobre astronaves extraterrestres? Podem existir?
Ciudad não hesitou ao responder:
– Acho que sim. Por que não?
Alguns anos depois, tendo quase concluído esse trabalho, fiz uma não
menos cordial entrevista com Eusebio Moratilla, atualmente oficial de
tráfego no aeroporto internacional de Madri-Barajas. Moratilla, como me
haviam dito os comandantes Ciudad e Andreu, estava naquela noite na torre
de Villa Cisneros.
– Ao meu lado, lembro muito bem, estava o capitão cirurgião
Hontanilla. Acho que agora ele mora em Las Palmas.
– Você viu o óvni?
– Como todos. Naquela noite, Paco Andreu chegou à torre. Tinha de
fazer o plano de voo. Depois, fomos tomar um café. Quando o avião
começou a rodar novamente pela pista, o médico entrou na sala como um
furacão e me mostrou a esfera. Estava sobre uma parte do aeroporto. Eu
peguei os binóculos 7 × 50 e fiquei contemplando aquilo. Naquele momento,
o Fokker de Ciudad tinha acabado de decolar. O óvni ia de sul a norte, ou
seja, no mesmo sentido do avião. Dei os binóculos ao oficial de serviço do
aeroporto e me dirigi ao microfone da torre. Perguntei aos pilotos se
estavam vendo o mesmo que eu, e me responderam afirmativamente. Era
como uma esfera, de cor amarelo-alaranjada. Quando me recuperei –
prosseguiu Eusebio –, falei de novo com Andreu e Ciudad e perguntei se o
consideravam perigoso. Os pilotos responderam que não.
– Vou fazer uma última pergunta. Acha que aquela esfera podia estar
tripulada?
– Não tenho a menor dúvida.
O
COMO UM GIGANTESCO TUBO DE NÉON
caso do comandante Ciudad me impressionou muito, e decidi iniciar
uma ampla investigação entre os pilotos das diversas companhias
espanholas. Era óbvio que esses profissionais do ar tinham de ter visto
óvnis em suas diversas viagens pelos céus. E eu não estava enganado.
Durante meses revirei a sede de todas as companhias e boa parte dos
aeroportos hispânicos. O resultado foi excelente. No total, meus arquivos
foram alimentados com quase 40 casos de encontros, mais ou menos
próximos, com objetos voadores não identificados. Ao contrário do que
havia imaginado no início do trabalho, a colaboração dos altos diretores das
companhias foi total, bem como dos próprios pilotos.
Um desses encontros me chamou a atenção de imediato por sua
semelhança com os casos de Rafa Gárate e de Andrés Ciudad. Para minha
máxima satisfação, os dois protagonistas desse novo caso eram pilotos com
muita experiência e uma reconhecida seriedade e honradez.
O comandante Vicente Roa e o então copiloto, Alfonso González Romero,
dirigiam-se naquela noite de dezembro de 1965 de Madri a Sevilha e
Málaga. Era um voo da Aviaco. Hoje, ambos os pilotos são comandantes da
Iberia.
Um incrível objeto luminoso em forma de tubo de néon apareceu pela lateral direita do avião do
comandante Alfonso González Romero quando ele voava para Sevilha. (Embaixo, à esq.) Uma vez
no aeroporto de San Pablo, em Sevilha, o óvni mudou de forma e permaneceu imóvel sobre a
cabeceira da pista. (Em cima, à esq.) Ao decolar para Málaga, o comandante se dirigiu ao óvni,
mas este se afastou em direção noroeste.
Em uma tarde agradável, Alfonso González Romero, hoje professor
também da Escola de Pilotos, recebeu-me gentilmente em sua residência
em Madri. Este, em síntese, foi nosso diálogo:
– Era um voo noturno, levando correspondência entre Madri, Sevilha e
Málaga. Era um avião Convair 440. Por volta das 2h30 da madrugada,
aproximadamente, ao chegar à altura do rio Guadalquivir, o radar situado
em Constantina – já muito perto do aeroporto de Sevilha– comunicou que
havia um objeto não identificado à nossa direita. Havíamos iniciado a
descida e devíamos estar já a uns 8 mil pés. Segundo o radar, o óvni voava
em paralelo com o avião. De fato, olhei e vi à minha direita um objeto que
não soube identificar. Era como um tubo de néon.
– Como uma lâmpada fluorescente?
– Sim, e cercado de um halo de luz. Os contornos estavam meio difusos.
Não estava muito longe, talvez a dois ou três quilômetros de nós e um
pouco mais baixo.
– O radar do avião o captou?
– Não estava ligado. A noite era muito clara. Enfim, ficamos
observando-o por um tempo e, ao aterrissar em Sevilha, fomos à torre de
controle. E continuava ali! Estava parado a uns dez ou 12 metros sobre a
cabeceira da pista.
– Quantas pessoas havia na torre?
– Entre 15 e 20. Todos, claro, saíram para vê-lo. Depois de um tempo ele
se deslocou para a direita e ganhou altura, atingindo de novo uns 9 mil pés.
E se posicionou atrás da torre. Nós decolamos e viramos para o objeto, mas
ele se afastou em rota de uns 330 graus. Ou seja, rumo a noroeste.
Perguntamos de novo para o radar de Constantina, e ele confirmou que o
objeto tinha se afastado, desaparecendo da tela – que abarcava 180 milhas
– em dois ou três segundos. Ao se afastar, mudou de cor. Passou do branco
ao azulado.
– Pelo que você está dizendo, deduzo que o objeto permaneceu bastante
tempo sobre a cabeceira da pista, e, portanto, a uma distância não muito
grande da torre.
– Em linha reta pode haver uns cinco quilômetros, e, de fato, ali esteve
por uns 30 minutos.
– Isso quer dizer que a observação foi bastante completa. Que
dimensões acha que tinha aquilo?
– Mais ou menos o dobro do nosso avião.
– Acha que podia se tratar de um avião?
– Não, não era um avião. Pelo menos não como nós o concebemos. Veja
só, naquela época eu tinha umas 14 mil horas de voo. Hoje já passei das 20
mil e posso garantir, sem medo de errar, que aquele objeto não era um
avião.
– É evidente que, se foi captado pelo radar, tinha de se tratar de um
corpo metálico.
– Sim, porque o radar não capta outra coisa. Às vezes, registra núcleos
elétricos ou tormentosos, mas não creio que aquele tubo de néon tivesse
algo a ver com uma tempestade. Além do mais, a noite estava clara e aberta.
Por outro lado, que tempestade se desloca a tamanha velocidade? Quando o
vimos um pouco mais de perto – na cabeceira da pista –, o aspecto era do
clássico disco voador.
A pedido meu, o comandante fez vários desenhos. Primeiro, do tubo de
néon que os acompanhou durante dez minutos, até a aterrissagem no
aeroporto de San Pablo, Sevilha. A seguir, do óvni sobre a cabeceira da pista
27, onde pôde ser contemplado por mais 30 minutos.
E, de fato, a julgar pelo desenho e pela descrição de González Romero,
aquele óvni tinha a típica forma discoidal, com uma espécie de cúpula ou
parte superior mais pronunciada.
– Como estava dizendo, depois desse tempo, foi se elevando na vertical,
girando depois para a área da torre.
O comandante González Romero goza de fama de homem tranquilo,
agradável e pouco impressionável. Contudo, segundo suas próprias
palavras, “o encontro com aquele objeto me marcou profundamente”.
– O que pensa hoje, depois de tantos anos?
– Não sei… Mas confesso que me causa certa inquietude. Gostaria de
saber muito mais a respeito, mas também reconheço que são coisas que
estão fora de nosso alcance.
– Se eu lhe dissesse, como opinião pessoal, que esses objetos são naves
procedentes de outros mundos, o que você pensaria?
O comandante me observou com curiosidade. E respondeu:
– Não acredito nem deixo de acreditar. Se chegamos à Lua, por que não
pode haver outros planetas muito mais adiantados? Se alguém tivesse dito a
Colombo que chegaria o dia em que umas máquinas poderiam atravessar o
oceano Atlântico em três horas, certamente teria acabado na fogueira. O
fato, enfim, de que para nós seja incompreensível uma viagem pelas
estrelas não significa que seja irrealizável. O que sabemos do fator tempo,
por exemplo? O que sabemos do tempo desses seres, supondo que existam?
Não há razão para que seja igual ao nosso.
As palavras do comandante me pareceram tão sensatas quanto
corajosas. Mas aquele não seria o último encontro de Alfonso González com
o desconhecido. Algo muito mais espetacular e misterioso ainda o
aguardava.
A
UM CONE DE LUZ SOBRE A COSTA MEDITERRÂNEA
perplexidade do comandante Alfonso González Romero estava mais que
justificada. Não é todo dia, ou melhor, não é toda noite, que se encontra
um espetáculo como aquele.
Em setembro de 1976 – cerca de 11 anos depois do encontro com o óvni
nas proximidades do aeroporto de Sevilha –, esse mesmo comandante da
Iberia voltava de Frankfurt a Madri via Barcelona, no comando de um avião
DC-9 de carga. Acompanhava-o, como copiloto, um dos alunos da Escola de
Barajas.
– Por volta das quatro, 4h30 da madrugada – prosseguiu Alfonso
enquanto enchia de novo minha xícara de café –, estava sobrevoando a
Catalunha e estabeleci contato com a torre de controle de Barcelona. Nisso,
um colega meu, o comandante Carlos Gómez González, que cruzava os
Pirineus rumo a Paris, ligou e me perguntou se eu estava vendo uma luz
muito forte atrás de meu aparelho. Eu disse que não. Mas Carlos Gómez,
que é comandante-inspetor e que voava também em um aparelho da Escola
de Pilotos, tornou a me avisar e sugeriu que eu desse um giro para ver se a
via. Assim o fiz. Girei 180 graus e dei de cara com a coisa mais estranha que
já vi em toda minha vida.
O comandante estava me deixando curioso.
– Ali, diante do meu avião, havia um raio de luz branca, muito forte,
que parecia proceder do ponto mais alto do firmamento. Aquele cone de luz
chegava até a terra!
– Desculpe – interrompi o comandante –, um raio de luz que partia de
onde?
– Não sei, não conseguimos ver a origem. Era como se uma gigantesca
lanterna estivesse iluminando parte do chão, mas estava tão alta que era
impossível detectá-la.
Quando insisti no dado da altura, Alfonso González Romero se negou a
dar um número:
– Seria absolutamente impossível. A única coisa que posso confirmar é
que estava a uma altura imensa. Imensa!
– E que parte do chão focava?
Um gigantesco cone de luz iluminava parte da costa mediterrânea. Os pilotos não conseguiram
descobrir a origem ou a fonte dela. Simplesmente se perdia no firmamento.
– Iluminava um amplo círculo, um pouco ao norte de Reus. Eu passava,
naquele momento, sobre Maella, ou seja, no meio do caminho, e podia vê-lo
perfeitamente.
– A que altura você voava?
– A uns 30 mil pés, e o facho de luz nascia muito mais acima. O
impressionante é que meu colega, o comandante Gómez González, estava
vendo-o nos Pirineus, a umas 200 milhas de distância. Imagina a altura e o
brilho daquele raio?
A verdade é que essas coisas, quando não as vemos, são muito difíceis
de imaginar. Assim disse a meu interlocutor, mas pedi que prosseguisse.
– Eu me aproximei, dei duas voltas a seu redor e comprovei que o cone
de luz, efetivamente, se alargava conforme descia. Uma vez em terra, aquele
círculo branco podia chegar a quase 65 quilômetros de diâmetro. Era muito
grande!
– A cor da luz lhe chamou a atenção?
– Tudo me chamou a atenção: a luz, que era de um branco muito
intenso; a própria altura do facho; o fato de não ver a origem, tudo!
– Lembra se a iluminação atingia alguma aldeia ou cidade?
– Não, não lembro. O que estava claro é que o grande foco iluminava
parte da costa e do Mediterrâneo.
– Descia verticalmente?
– Não. Observei uma inclinação de uns 45 graus. O que motivava aquela
luz estava, sem dúvida, sobre o mar.
– Em algum momento se mexeu?
– Não, pelo menos não durante a quase meia hora que fiquei vendo.
– Meia hora?
– Sim. Foi esse, aproximadamente, o tempo que levamos para chegar a
Madri e aterrissar em Barajas. Porque o incrível foi que, quando estávamos
quase aterrissando, ainda víamos o facho de luz à nossa direita.
Quase sem querer, uma vez finalizado o relato, o comandante e eu
começamos a examinar as possíveis explicações lógicas e terrestres. Porém,
nenhuma nos convencia. Era madrugada, de modo que foi preciso descartar
qualquer tipo de reflexo solar. A luz, além de tudo, formava um cone
perfeito, iluminando um círculo bem específico da costa mediterrânea. Além
disso, o fenômeno foi observado durante meia hora. Uma observação da
qual participaram dois aviões separados entre si por quase 400 quilômetros.
Naquela mesma tarde tive a sorte de entrar em contato por telefone com
o comandante Carlos Gómez, primeira testemunha do misterioso raio
branco, e que alertou por rádio o DC-9 tripulado por Alfonso. Quando o
questionei sobre isso, na casa de Alfonso, o comandante me informou que,
uma vez localizado o estranho facho, comunicou-se com a torre de controle
de Paris e recebeu a resposta que sim, que o detectavam e que se tratava…
de um cometa.
Essa explicação, com todo meu respeito pelos especialistas em controle
aéreo de Paris, foi uma grande bobagem. Até o mais leigo em astronomia
sabe que um cometa não pode penetrar a atmosfera terrestre. Se entrar, a
parte da cauda que se choca contra as altas camadas se desintegra,
espalhando-se em milhares de pedaços.
Que tipo de cometa pode permanecer imóvel durante meia hora e lançar
um foco de luz perfeito sobre a costa de Reus? Teria sido muito melhor se a
torre de controle de Paris, se não soubesse ou não quisesse esclarecer o
assunto, ficasse em silêncio, ou simplesmente não falasse de algo
desconhecido. Porém, às vezes essas coisas acontecem. Algumas
autoridades aeronáuticas tentam esconder a verdade, oferecendo a
profissionais e leigos a mais absurda e ridícula das explicações.
Qual podia ser, então, a causa daquele facho de luz? A julgar pelas
explicações das testemunhas, o cone luminoso era de uma potência
formidável, e essa intensidade luminosa permanecia constante. Não foram
registradas flutuações nem mudanças aparentes no feixe de luz.
Esse fato, somado à própria perfeição do círculo que iluminava o mar e
parte da costa espanhola, me leva a acreditar – quase por pura dedução
lógica – que o facho tinha uma origem ou fonte claramente artificial e
provocada. Mas por quem e para quê? Nesse caso, só se pode especular.
Por quem? Talvez por um objeto ou nave que estivesse naquele
momento a uma formidável altura e totalmente estático. Do contrário – e
dado o considerável nível a que devia estar situado –, a menor oscilação
teria provocado talvez uma evidente translação do raio luminoso, bem como
do grande círculo projetado no chão. E nada disso aconteceu, segundo o
testemunho do comandante.
É óbvio que só uma mente inteligente, e com um nível tecnológico
muito superior ao nosso, poderia lançar a dezenas ou centenas de
quilômetros de altura, quem sabe, um foco como aquele e, acima de tudo,
congelado, sem o menor movimento, durante pelo menos meia hora. Essa
circunstância elimina uma possível explicação baseada em um avião,
helicóptero ou satélite artificial. Tanto o primeiro quanto o último se
deslocam constantemente.
Quanto à hipótese de um helicóptero, não existe um único modelo entre
os aparelhos atuais que possa subir a níveis como os sugeridos pelo piloto
do DC-9. A esse fato, definitivo em si mesmo, devemos acrescentar um
fator igualmente esclarecedor: que dimensões e potência deveria reunir
uma lanterna para, de uma altura de centenas de quilômetros, iluminar um
círculo de mais de 65 quilômetros de diâmetro? Está claro que o refletor já
teria de ser maior que um helicóptero.
“Eu me aproximei do formidável cone de luz”, explicou o piloto veterano, “e o contornei. Em terra,
a luz podia iluminar um círculo de uns 65 quilômetros de diâmetro.”
Ao chegar a este “ponto morto”, acho que convém recordar que nas
investigações ufológicas já foram observados fenômenos como esse que nos
ocupa. Mas a maior parte de dimensões menos espetaculares. Contudo, há
casos em que as testemunhas afirmam ter observado que do óvni partia um
facho de luz muito forte, que permanecia fixo sobre o terreno, sobre uma
casa ou sobre um automóvel e, inclusive, fazia uma varredura do solo,
alcançando consideráveis distâncias.
É também muito frequente escutar que os óvnis sobrevoam qualquer
localidade, oceano ou campo, iluminando o lugar por onde passam com um
cone de luz de extraordinária intensidade. Portanto, é possível que a fonte
daquele gigantesco facho de luz que os dois aviões espanhóis viram, e até a
própria torre de controle de Paris, procedesse do que nós hoje,
popularmente, identificamos com um óvni.
Mas para que tanta iluminação na costa hispânica? O problema, aqui,
fica muito mais obscuro. Aceitando a possibilidade de uma nave com
tripulação inteligente, que fosse responsável por esse tal cone de luz, uma
das poucas explicações que me ocorrem é a pura e simples investigação. Por
alguma razão que não podemos intuir, esses seres se interessavam por
projetar aquele facho sobre essa área específica do mundo. Ou talvez
obedecesse a outras razões?
A questão é que esse acontecimento permanecia inédito até agora. A
falta total de explicação – pelo menos do prisma humano – fez as
testemunhas, e muito acertadamente, não darem publicidade ao caso.
A
RUMO AO MÉXICO
o voltar para casa – depois dessa nova série de investigações com
pilotos – encontrei uma carta procedente do México. Tratava-se dos
meus grandes amigos Ariel Rosales e Fernando José Téllez, dois dos grandes
especialistas americanos em ufologia. Dentre outros assuntos, informavam
de um caso que, segundo suas próprias palavras, “podia me interessar”.
Três óvnis – dizia a carta – haviam imobilizado um avião mexicano de
pequeno porte.
Não pensei muito. Em poucos dias fui para o país dos astecas. Eu tinha
notícias dos numerosos avistamentos de óvnis que aconteciam quase
diariamente no lindo e lendário território mexicano. No fundo de meu
coração eu sabia que me aguardavam novas surpresas, e isso me fez tremer
de emoção.
Não é frequente que Raquel, minha querida companheira de olhos azuis,
me acompanhe no estudo e rastreamento de novos casos óvni. Mas nessa
ocasião eu mesmo insisti para que esquecesse por uns dias as duras
obrigações do lar. Sei por experiência que a participação de um no trabalho
do outro contribui, em geral, para a melhor solidificação do casamento e,
acima de tudo, permite tornar realidade algo tão difícil como pensar em voz
alta, sem nenhum tipo de reservas, na frente da pessoa amada. De modo
que, em uma quente madrugada de julho, decolamos de Madri-Barajas.
Como acontece quase sempre, e muito mais quando a viagem se
caracteriza pela precipitação, – tive de aproveitar as longas horas de voo
sobre o Atlântico para detalhar e finalizar o programa de trabalho. Quando
fechei meu caderno, eu sabia que algumas daquelas investigações previstas
talvez não fossem realizadas. Sabia também que, como contrapartida, eu
estaria envolvido em outros acontecimentos, tanto ou mais apaixonantes.
Assim como acontece sempre comigo.
Após a escala de praxe no amarelo e impecável aeroporto canadense de
Montreal, nosso DC-9 rumou para o aeroporto internacional Benito Juárez,
na Cidade do México. Justamente o cenário no qual havia se desenrolado a
dramática aventura do piloto mexicano Carlos Antonio de los Santos
Montiel.
C
TRÊS ÓVNIS IMOBILIZAM UM AVIÃO DE PEQUENO PORTE
arlos Antonio de los Santos é um piloto jovem. Quando sofreu – porque
esse é, na minha opinião, o termo exato – seu encontro com os três
óvnis, contabilizava dois anos como profissional e um pouco menos de 400
horas de voo. Estudou em várias escolas de navegação aérea e tem diploma
de piloto comercial e privado (licença número 3.704) e um total de 85 horas
no simulador. Sua família, de reconhecido prestígio e honradez, está
intimamente ligada à aviação. Seu pai é mecânico chefe das linhas aéreas
Mexicana de Aviação, e um tio é atualmente inspetor aeronáutico. De los
Santos não fuma nem bebe. Segundo suas próprias palavras, jamais havia
lido um só livro de ficção científica e óvnis.
Mas vamos ao ponto. O que aconteceu naquele 3 de maio de 1975? Na
sexta-feira, 2 de maio, Carlos Antonio – que então tinha 23 anos – partiu
rumo a Zihuatanejo, no estado de Guerrero. Pilotava um avião de pequeno
porte Piper Asteca (XB-XAU) monomotor de quatro lugares. O aparelho era
de propriedade da companhia Pelletier S. A., dedicada ao estudo e análise de
águas, na qual nosso homem trabalhava como piloto.
Depois de aterrissar no complexo Lázaro Cárdenas, no estado de
Michoacán, onde deixou dois engenheiros, De los Santos prosseguiu voo,
chegando a seu destino ao entardecer. Posto que o Piper não estava
preparado para voos noturnos, ele decidiu pernoitar em Zihuatanejo,
voltando na manhã seguinte ao México, Distrito Federal.
Jantou às oito e foi se deitar. Mas, na manhã seguinte, o tempo havia
mudado. A nebulosidade e a bruma sobre Zihuatanejo eram abundantes, e
essa circunstância o obrigou a prescindir do clássico sistema de orientação
visual no voo de retorno à Cidade do México. Carlos teve de se guiar por
instrumentos, sendo necessária a checagem ao chegar a Tequesquitengo.
Dali rumaria para a capital federal.
Às 10h30 da manhã do dia 3 de maio, sem conseguir tomar o café da
manhã, Carlos Antonio de los Santos foi autorizado a decolar. Tomou a
aerovia G-3 (Zihuatanejo-Tequesquitengo), sob indicação do ADF
(Automatic Diretional Finder). Inicialmente voou a 13.500 pés de altura,
mas o mau tempo o obrigou a subir, situando-se a uns 14.500 pés. Desta
forma, evitou a bruma.
Ao chegar a Tequesquitengo, seus instrumentos marcavam uma altitude
de 15 mil pés. Iniciou uma suave descida, a fim de visualizar a laguna ali
existente. Retificou seu rumo para a Cidade do México (VOR Tequesquitengo
004 a VOR Mex. D. F. 184), enquanto que se situava a uns 14 mil pés. Mas
como não conseguia localizar a laguna, voltou a vista para a frente. Foi
quando teve a sensação de que alguma coisa estava ao lado de seu avião.
– Fiquei petrificado – explicou o piloto. – Ao olhar para minha direita vi
sobre a asa um objeto como jamais havia visto na vida. Era como dois pratos
unidos pelo lado côncavo e estava materialmente colado à asa!
– A que distância?
– A uns 20 centímetros dela e a pouco mais de um metro e meio de
minha cabine. O objeto – continuou descrevendo De los Santos – tinha algo
que parecia uma pequena cúpula na parte superior, na qual via-se também
uma janela. Na parte mais alta tinha algo parecido com uma antena. Ainda
não havia me recuperado do susto quando, pela esquerda, apareceu outro
objeto exatamente igual. Estava na mesma posição – sobre a asa esquerda –
e à mesma distância. Quase simultaneamente, vi um terceiro disco se
precipitar para o nariz do avião. Achei que ia se estatelar no para-brisas,
mas, no último segundo, deslizou para a barriga da Piper. Suponho que
ficou colado à fuselagem, porque escutei um barulho como se algo tivesse
me atingido. Percebi que o avião estava se elevando. Por mais que eu
mexesse nos comandos, não tinha o controle. Eu não sabia o que fazer! Meu
Deus, não desejo essa situação nem a meu pior inimigo! Pensei em deslocar
o avião para acertar o objeto à minha esquerda, mas os controles também
não responderam. Então, tentei soltar o trem de pouso para fazer o mesmo
com o disco que havia se situado embaixo do Piper, mas foi inútil. Também
não saía. Fquei sem fala. Não sabia o que fazer! Comecei a chorar!
Por fim, o piloto conseguiu reagir e tentou se comunicar por rádio com o
controle do México. Eis o diálogo, gravado em fita magnética:
– Centro México do Extra Bravo Extra Alfa União! Mayday, Mayday![6]
– Aqui é Centro México. Prossiga Extra Alfa União.
(Nesse ponto, o piloto do avião repetiu sua chamada duas vezes
consecutivas. Ao que parece, Carlos Antonio de los Santos não recebia a
resposta do Centro de Controle do México.)
– Prossiga Extra Alfa União! Aqui Centro México! Fale!
– Extra Alfa União para Centro México. O avião está descontrolado! Não
estou controlando o avião! Tenho três objetos não identificados voando a
meu redor! Tenho três objetos não identificados voando a meu redor! Um se
precipitou para a aeronave e me acertou na parte inferior do avião. O trem
de pouso está travado e, aparentemente, não se move. Minha posição: estou
estabelecido no Radial 004 do VOR Tequesquitengo. O avião está
descontrolado! Não o estou controlando. Centro México, está me ouvindo?
– Entendido, entendido, Extra Alfa União. Dê sua posição e a situação
em que se encontra. Vamos localizar as autoridades competentes…
(A comunicação foi interrompida.)
– O avião está descontrolado!
Até aqui, observam-se os primeiros dramáticos minutos da
comunicação entre o Piper e o oficial de tráfego. O relógio do Centro de
Controle do México indicava 12h15 da tarde. E foi dado o alarme. O
aeroporto internacional Benito Juárez foi fechado e assim permaneceu por
uma hora.
O que acontecia enquanto isso com Carlos Antonio de los Santos?
– Os três objetos, de cor cinza, continuavam a meu lado. Seu domínio
sobre meu avião era total. Mesmo que eu soltasse os comandos, o Piper
continuava subindo, até chegar aos 15.500 pés. Nesse nível se manteve,
reduzindo a velocidade de 140 milhas náuticas por hora a 120. Quando
deixei para trás o monte Ajusco – mais ou menos à altura da cidade de
Tlalpán –, o disco da esquerda se elevou e passou por cima da cabine,
afastando-se para a direita. Imediatamente, o objeto de minha esquerda o
seguiu, e ambos se perderam em direção aos vulcões de Popocatépel e
Iztaccihuatl. E assim notifiquei de imediato ao Centro de Controle do
México.
– E o terceiro objeto?
– Esse eu não vi se afastar. Mas imaginei que havia desaparecido,
porque com o distanciamento dos objetos recuperei instantaneamente o
controle do aparelho.
Ao ver-se livre, o jovem mexicano tentou soltar o trem de pouso. Mas o
mecanismo continuava bloqueado. O Piper passou um total de oito vezes
sobre a torre de controle do aeroporto da Cidade do México a fim de que lhe
informassem se conseguia algum progresso. Depois de 40 minutos
angustiantes, Carlos conseguiu liberar o trem valendo-se de uma chave de
fenda que atuou como alavanca. Às 13h34 conseguiu aterrissar, são e salvo,
na faixa de grama existente entre as pistas 5 direita e 5 esquerda.
Ali, com o coração na boca, esperavam-no bombeiros, ambulâncias e
funcionários do aeroporto, bem como seu tio, Ignacio Silva de la Mora,
inspetor aeronáutico, com quem o piloto fora analisando por rádio os
possíveis defeitos e os passos a seguir na aterrissagem de emergência.
Felizmente, a aterrissagem foi boa, e os bombeiros não precisaram intervir,
e o piloto desceu do Piper por seus próprios meios.
Na realidade, aqui começariam as verdadeiras dificuldades para ele. As
autoridades aeronáuticas pensaram que Carlos Antonio de los Santos estava
ébrio ou drogado e o levaram à clínica do setor de Comunicações, na mesma
área do aeroporto internacional, onde foi submetido a um exame médico
completo. Essa checagem foi feita pelo doutor Ernesto Gámez Literas, mas
os resultados foram inteiramente satisfatórios. O jovem piloto estava em
perfeito estado.
Três óvnis imobilizaram o avião de pequeno porte do jovem mexicano Antonio de los Santos. Um
deles, inclusive, chegou a bater na barriga do Piper Asteca.
A esse exame clínico seguiu-se uma extensa declaração oficial. Em suas
declarações, Carlos Antonio acrescentou também que os três objetos deviam
ter um diâmetro de cerca de três metros, por 1,20 m de altura. Não tinham
luz alguma de posição, e ele também não observou aberturas nem nada do
tipo.
Poucos dias depois – 7 de maio –, o capitão Ramírez Altamirano, chefe
da Inspeção Aérea da Direção de Aeronáutica Civil, informou à imprensa que
a suposta testemunha dos três óvnis havia sido submetida a uma nova série
de exames médicos, psiquiátricos, neurológicos etc., “para determinar se
realmente havia visto aqueles óvnis…”. Estas foram suas conclusões: “O
piloto havia voado a mais de 10 mil pés de altura, e isso havia provocado
uma hipóxia, ou falta de oxigênio no sangue. Conclusão: os três óvnis
haviam sido apenas fruto de uma alucinação.”
Porém, a confusão de todos os que acompanhavam o caso aumentou
com novas declarações. Dessa vez, por conta do doutor Luis Amezcua
González, chefe do Departamento de Medicina de Aviação do Aeroporto.
“Devido ao fato de o piloto Carlos Antonio de los Santos Montiel” –
afirmou o médico – “não ter ingerido alimentos em um período de 18 horas
(desde as 20h do dia 2 de maio até as 14h, aproximadamente, do dia
seguinte), voando a mais de 10 mil pés de altitude, seu organismo sofreu
uma hipoglicemia, ou falta de açúcar no sangue. Isso, combinado com a
hipóxia, provocou miragens.”
As explicações oficiais não me convenciam, e, ao voltar à Espanha,
realizei uma exaustiva investigação sobre a hipóxia e hipoglicemia. A
privação de alimentos por um período de 16 a 20 horas – principalmente
considerando uma pessoa jovem e saudável – não me pareceu um motivo
justificado para se chegar ao extremo de ver miragens. Nem o fato de voar a
15 mil pés sem equipamento de oxigênio me pareceu um motivo definitivo
para causar alucinações.
Conforme pude averiguar com o próprio piloto, ele já voava havia mais
de dois anos a mais de 10 mil pés de altura e jamais havia tido miragens ou
qualquer outro tipo de perturbação mental.
– Se tivesse acontecido – comentou ele com uma lógica irrefutável –,
certamente eu teria me esborrachado no chão.
– Mas notou algum sintoma anormal durante o voo?
– Nenhum. Só o susto.
Os argumentos oficiais iam ficar definitivamente desacreditados
quando, em 8 de maio, vazou no aeroporto internacional uma notícia que
podia elucidar o assunto: “Os óvnis haviam sido detectados no radar.” O
fato havia sido registrado no mesmo instante em que o piloto De los Santos
comunicava o Controle México do afastamento dos óvnis. Curiosamente, o
eco foi observado na mesma direção apontada pela testemunha.
Nesse sentido, as declarações feitas pelo engenheiro Enrique Méndez,
diretor geral da Rainsa (Radio Aeronáutica Mexicana, S. A.), a meu grande
amigo e investigador Fernando Téllez, foram muito esclarecedoras: “Além
daquilo que o piloto informou no momento preciso em que disse que os
óvnis se afastaram dele, foi detectado um eco no radar a 14 milhas a sudeste
do aeroporto. Rumava para leste. Deu um giro de 270 graus em um raio de
quatro milhas náuticas, a uma velocidade aproximada de 450 milhas por
hora. Depois, afastou-se, efetivamente, para a zona dos vulcões, conforme
relatou o piloto Santos Montiel”.
Questionado sobre a possibilidade de o eco ser outro avião, Enrique
Méndez respondeu:
– Não podia ser um avião. O Piper era o único tráfego na área. O fato foi
notificado a um avião que vinha de Acapulco, mas não chegou a atingir o
avião, e ele também não viu os três objetos.
– O eco foi produzido por algo sólido?
– Sim, isso mesmo.
Outra testemunha do eco na tela foi o controlador de radar no terminal,
Julio César Interián Díaz. Este foi seu testemunho:
– De Tequesquitengo a Cidade do México, são 48 milhas. O avião foi
detectado a 43, ao sul do aeroporto, e como um único eco. Não havia se
estabelecido contato por rádio. Era, enfim, a única nave naquela área. A 20
milhas a sudeste encontra-se a zona dos vulcões, e o Ajusco fica levemente
à esquerda do vetor de voo do Piper. Era impossível saber se havia mais
objetos ali, já que estavam muito juntos. Devido a essa proximidade, só era
possível registrar um único eco. A umas 15 milhas do aeroporto, ou seja, na
zona do monte Ajusco, perdemos o avião, já que essa parte é cega para o
radar. De novo em contato com De los Santos, ele informou ao controlador
de aproximação, senhor Estanol López, e a mim, que os óvnis haviam
subido até 15.800 pés. No total, mantiveram-no sob seu domínio uns por 15
minutos. Perdemos contato via radar, mas não por rádio, e nesse momento
ele nos informou que havia recuperado o controle do avião e que o haviam
descido sobre o Ajusco, a uns 15.400 pés. Antonio de los Santos comunicou
então que os objetos se afastavam rumo aos vulcões e que os estava
perdendo de vista. Nesse instante, detectou-se o avião a 12 milhas ao sul.
No momento que nos dizia que os estava perdendo de vista, viu-se outro
eco a dez milhas da Piper e a 14 a sudeste de nós. O eco realizou, então, um
giro à esquerda de 270 graus, em um raio de três a quatro milhas, a uma
velocidade de 450 a 500 milhas náuticas por hora. Foi algo incrível!
Não faltava razão ao controlador. Hoje, com nossos sistemas de
navegação aérea, um avião precisaria de um raio de 200 milhas para efetuar
um giro dessa natureza. Esse mesmo aparelho, voando a 450 ou 500 milhas
por hora, precisaria de um raio mínimo de oito milhas para efetuar um giro
semelhante.
O caso dos três óvnis sobre o avião Piper mexicano oferecia, na minha
opinião, um alto grau de credibilidade. Ainda mais com a detecção dos ecos
não identificados nas telas de radar. Também não era a primeira vez – nem
será a última – que as autoridades aeronáuticas ou militares do México ou
de qualquer outro país tentavam camuflar a verdade…
Uma vez terminada a investigação, ficou em mim, flutuando como um
fantasma, uma dúvida que ainda não pude dissipar. Se o caso foi realmente
verdadeiro, e esses três óvnis voaram materialmente colados ao Piper, por
que bloquearam o trem de pouso? Que sentido fazia magnetizar as partes
mecânicas do trem, conforme detectaram os técnicos em terra? Se os seres
que tripulavam aqueles três objetos tinham consciência da avaria que
estavam produzindo, seu comportamento se enquadrava na mais
repugnante violência. A não ser – já que estamos especulando – que os
óvnis estivessem tentando ajudar o Piper naquele momento de confusão por
parte do piloto que, como se deve recordar, não conseguia localizar a laguna
de Tequesquitengo.
Contudo, nesse caso, o remédio quase foi pior que a doença. Essa dúvida
sobre a intencionalidade dos tripulantes dos óvnis já havia surgido em
minha mente em outras ocasiões. Alguns casos – tão obscuros quanto o
presente – me obrigavam a levantar a tese de uma bondade generalizada
entre as diversas civilizações que, sem dúvida, nos visitam desde sempre.
Embora também seja certo que esses acontecimentos constituam uma
porção insignificante dentro da casuística óvni, não podemos esquecê-los
com facilidade, especialmente quando passamos horas em lugares remotos
e solitários, em plena escuridão da noite, esperando que apareçam.
Carlos Antonio de los Santos dentro do avião Piper Asteca, pouco depois de aterrissar no aeroporto
da Cidade do México.
L
VIAGEM À SELVA
ogo me vi envolvido no remoinho de novas investigações. Diante de
mim foram surgindo casos desconcertantes de aterrissagens de óvnis,
de tripulantes, de misteriosos desaparecimentos, de naves que entravam e
saíam do golfo do México e das águas vitrificadas do Pacífico, de contatos e
de contatados.
O México era, e é, um foco permanente de avistamentos. É difícil
encontrar alguém que não tenha visto um óvni na vida. E embora, como
acontece em outras partes do mundo, muitos dos casos que se tomam por
óvnis sejam explicáveis, um estudo objetivo e exaustivo reflete, não
obstante, um elevado índice de encontros com esses objetos e com os seres
que os ocupam. Mas não vou me referir, por enquanto, a essas pesquisas e
esses acontecimentos. Teremos tempo.
Poucos dias depois de nossa chegada ao México, tivemos a sorte de criar
uma sólida amizade com meu colega e escritor Pedro Ferriz, diretor geral da
agência de notícias Notimex e da televisão asteca. Fazia muito tempo que eu
conhecia seus livros e suas investigações no campo dos óvnis, e sentia uma
sincera admiração por seu trabalho pioneiro na América. Seu programa de
televisão Un mundo nos vigila e, posteriormente, o livro de mesmo título
causaram um impacto que nem ele mesmo poderia prever. Durante anos foi
sensibilizando a opinião pública em relação ao grave acontecimento dos
objetos voadores não identificados. Isso, somado a seus conhecimentos e
sua experiência em ufologia, transformaram-no em um mestre, com quem
boa parte dos investigadores atuais aprende.
Não esqueceremos jamais sua ajuda e cordialidade durante o tempo que
permanecemos no México. Graças a Pedro Ferriz tive notícia do interesse da
família do presidente López Portillo pelo tema dos óvnis. O próprio
presidente e outros familiares haviam sido, inclusive, testemunhas oculares
da passagem de uma dessas naves.
Em uma manhã, graças às diligências de Ferriz, Raquel e eu fomos
recebidos pela irmã do presidente, dona Margarita López Portillo, diretora-
geral da Radio Difusión Mexicana. Fiquei aturdido tanto com sua
simplicidade quanto com seu interesse pelo fenômeno óvni. Um interesse
que, curiosamente, vai se estendendo entre os estadistas e altos dirigentes
de todo o mundo.
No entanto, meu coração estava inquieto. Eu sabia que algo importante
estava prestes a acontecer. Eu já percebo essas coisas com certa facilidade.
Instintivamente, nos dias seguintes, permaneci em alerta constante.
Minhas investigações e visitas pelo território mexicano foram impregnadas
de um crescente nervosismo. Contudo, nada destacável aconteceu até que
Raquel e eu fizemos uma nova viagem pelo interior do país. Dessa vez,
fomos para o estado de Chiapas, no sul. Era nossa primeira visita ao célebre
túmulo de Palenque, onde se conserva a mundialmente famosa lápide do
astronauta, que recebe o mesmo nome.
Conforme o avião se aproximava do aeroporto de Villahermosa, já em
plena selva, minha excitação crescia. Tinha de estar preparado, pois alguma
coisa singular estava nos sendo reservada.
Há anos, sem que eu possa controlar nem saber por que ocorre, sinto às
vezes uma presença, uma força sutil que parece me conduzir e me proteger.
Alguém, tenho certeza, me acompanha dia e noite. Embora não goste de
falar sem provas, faz tempo que intuo que essa presença tem muito a ver
com os seres que busco tão obstinadamente. A Montanha Vermelha havia
sido mais um indício.
Pedro Ferriz – no centro –, o pioneiro da investigação óvni na América, com Raquel Forniés e J. J.
Benítez.
M
O ASTRONAUTA: 13 SÉCULOS DE ESQUECIMENTO
inha proverbial distração fez nossa chegada à zona arqueológica de
Palenque sofrer um considerável atraso. Mergulhado, como quase
sempre, em mil pensamentos e reflexões, não percebi o horário de saída do
último ônibus que faz a linha entre a cidade de Villahermosa e a selva, onde
se erguem os nove maravilhosos edifícios do conjunto palenquiano.
Torturados por um calor úmido, sufocante, próprio daquela região
subtropical, vimo-nos forçados a arranjar um automóvel, não sem antes
pechinchar com o esperto proprietário. Por fim, o homem concordou em
nos conduzir até Palenque pela razoável quantia de 700 pesos. Por volta das
13h30, depois de suportar o rigor de um asfalto escaldante, a selva mexicana
ficou muito mais fechada. Desapareceram as extensas plantações de banana
e abacaxi, e a paisagem foi dominada definitivamente por uma vegetação
impenetrável, interrompida apenas no alto por corpulentas árvores das
quais os maias extraíram, durante séculos, madeiras duras como mogno,
primavera, ipês, guanacaste e o nobre cedro vermelho. Esses bosques se
entrelaçam entre si, tecendo uma segunda e não menos espessa abóbada de
galhos, cipós e espinhos. No fim, a 132 quilômetros de Villahermosa,
avistamos Palenque.
Sabíamos da existência de um hotelzinho nas proximidades dos
templos, de modo que optamos por dispensar o motorista e passar a noite
ali. Mas o tempo urgia, e era tal meu desejo de conhecer a cripta que, assim
que pusemos os pés na zona arqueológica, contratei os serviços de
Laurencio, um guia especializado. Embora estivesse indo almoçar, o bom
homem – tão perspicaz quanto gentil – notou imediatamente minha
emoção e adiou sua refeição, convidando-nos a segui-lo.
O governo mexicano soube entender o alcance do tesouro arqueológico
chamado Palenque e cuidou com um carinho excelente do conjunto do
palácio, dos sete templos e do Jogo de Bola. Estreitas e limpas trilhas
perfeitamente sinalizadas são desenhadas por entre os terraços sobre os
quais foram erigidos os edifícios. Contornando a área, outra muralha
vegetal – amarela, verde e preta, segundo a hora do dia – que se derrama
em mais de 200 quilômetros quadrados e em cujas entranhas, segundo os
especialistas, restam descobrir mais de 500 construções. Algumas, afirmam
os arqueólogos, talvez tão impressionantes quanto as que tínhamos diante
de nossos olhos.
“Que mistérios aprisionará essa selva?”, perguntei-me enquanto fazia
uma parada na íngreme escadaria que conduz até o Palácio. “Que tesouros
milenares e quantas surpresas nos esperam ainda no interior desse meio
milhar de edificações, sepultado por uma vegetação que avança dia a dia?”
Como já me aconteceu diante das selvas do Amazonas e no meio de
Machu Picchu, no Peru, experimentei um ardente desejo de largar tudo – a
civilização e a sociedade – e adentrar a mata em busca de sabe-se lá que
cidade remota. Porém, uma súbita tempestade de monção me tirou dessas
elucubrações. Durante pouco mais de 15 minutos, o céu de Palenque se
cobriu de umas massas plúmbeas que tocavam as mais altas copas da selva,
e aquela vegetação sem brilho, roída pelo sol, tornou-se verde e brilhante.
Longe de me incomodar, aquela cortina de água, de gotas temperadas e
longas como vagões de trem, foi quase uma bênção. Assim, me deixei
ensopar. As pedras cinza que formam os terraços e as paredes e coberturas
dos templos e do próprio palácio responderam nos primeiros segundos à
chuva com uma tímida camada de vapor branco. Quando o céu azul se abriu
novamente, o perfume das acácias se tornou mais intenso e nos
acompanhou até o anoitecer.
Laurencio Suárez Peredo, nosso guia, dominava seu ofício. Deixou para o
final – como o melhor presente para o espírito – o Templo das Inscrições,
em cujas profundezas foi descoberto, em 15 de junho de 1952, o panteão do
deus Pakal, hoje conhecido no mundo todo, não por seu verdadeiro nome, e
sim por um apelido: “O astronauta de Palenque”.
Devo reconhecer que eu estava enganado. Minha ideia de Palenque se
limitava à já mencionada lápide funerária, sobre a qual foi lavrado aquele
esplêndido e sugestivo relevo que muitos associam a um homem a bordo de
uma espécie de cápsula espacial. Mas, mesmo sendo a parte mais valiosa da
zona arqueológica, não era a única em Palenque. Junto ao citado Templo das
Inscrições, e espalhados em um raio de um quilômetro aproximadamente,
podem ser admirados também o palácio – núcleo da vida social, política e
militar daquele reduto maia –, o Jogo de Bola e os templos denominados do
Sol, da Cruz, do Leão, da Cruz Folhada, do Conde e do Norte. Todos nomes
dados em nossos dias e durante as descobertas.
A organização e o refinamento daquele povo deviam ter sido
consideráveis. Apesar de não conhecer os metais, o arado ou a roda, os
maias foram grandes especialistas em arquitetura, cálculos matemáticos e
astronômicos, urbanismo e engenharia. Ali estavam, para provar ainda
mais, aquele aqueduto, a canalização e a rede de esgoto da cidade, as fossas
sépticas que evitavam a contaminação e até os perfeitos vasos sanitários,
que eram distribuídos estrategicamente pela região e construídos de tal
modo que obrigavam o necessitado a evacuar suas águas maiores e menores
praticamente de cócoras. Essa, como já demonstrou a medicina, é a postura
fisiologicamente perfeita para tais atividades.
O cuidado dos maias nesse sentido era tão minucioso que chegavam a
temperar sua comida com ervas olorosas. Dessa forma, seus excrementos
não emanavam maus cheiros. O palácio, por exemplo, dispunha de quatro
latrinas.
Dormiam em camas de pedra e desenvolveram uma escrita à base de
hieróglifos que, ainda hoje, em pleno século XX, não deciframos.
Justamente esses hieróglifos foram os que deram nome ao Templo das
Inscrições.
O tristemente famoso capitão espanhol Antonio del Río – mais
conhecido entre os nativos, por seus desmandos e espólios, pelo apelido de
La Apisonadora[rolo compressor] – escrevia, em junho de 1787, um informe
à Audiência de Guatemala referindo-se ao templo em questão e descrevendo
as seis lápides, três de cada lado da porta de entrada que dava para a sala
principal do templo, “todas elas cheias dos vários caracteres, hieróglifos ou
cifras supracitadas que se destacam sobre um baixo-relevo”.
Por sorte, La Apisonadora não chegou a descobrir o corredor que, no
porão do citado Templo das Inscrições, levava àquela que, dois séculos
depois, seria a câmara funerária mais famosa da América.
Foi necessário esperar até 1934-1936. Naquela época, o arqueólogo
mexicano M. Ángel Fernández notou a presença, no piso do templo, de uma
laje retangular com 12 orifícios. Essa foi a chave. Alguns anos depois, o
grande especialista Alberto Ruz Lhuillier iniciou as escavações. Ao retirar a
laje, ficou exposta uma escada interna, totalmente sepultada por toneladas
de escombros. Em 1952, como disse, depois de ter extraído 350 toneladas de
material que obstruía o conduto interno da pirâmide, os investigadores se
depararam com um muro de pedra e cal. Ali encontraram uma caixa de
oferenda, feita de alvenaria, que, com outros restos, continha peças de jade,
conchas marinhas, pratos de barro avermelhado, uma pérola em forma de
lágrima e dois alargadores de orelha circulares de jade verde intenso.
Mas os arqueólogos, que ignoravam por completo o que os aguardava do
outro lado daquele muro – precisaram de um novo e penoso esforço para
demolir um maciço de quatro metros formado de pedras e cal. O grau de
umidade no recinto era tal que a cal, ainda fresca, queimou as mãos dos
trabalhadores.
Quando, por fim, os trabalhadores e arqueólogos – dominados pelo
lógico nervosismo – retiraram esse recheio, apareceu ao fundo, na metade
superior, o paramento inclinado da abóbada. No chão, a uns dois metros por
trás do muro, havia dois degraus que conduziam a um patamar um pouco
mais elevado que o piso do corredor. E ali encontraram uma segunda caixa
misteriosa. Ela abarcava toda a largura do corredor e estava fechada por três
grandes lajes, separadas entre si por uma grossa camada de cal. Ao retirar a
última laje, os expedicionários iluminaram a caixa e fizeram uma macabra
descoberta: em um espaço de 1,40 por 1,05 e 0,36 metros, jaziam os
esqueletos de vários corpos humanos. Ficou comprovado que os
responsáveis pelo enterro coletivo haviam depositado cal fresca diretamente
sobre os corpos, uma vez que alguns pedaços do material conservavam
ainda a forma dos crânios.
Segundo os especialistas, tratava-se de cinco ou seis corpos. Pelo menos
um era de uma mulher, e outro, possivelmente, de uma criança. Todos eles
familiares e servidores do deus Pakal.
Mas as surpresas dos arqueólogos – e muito especialmente de Alberto
Ruz, que dirigia a escavação – só estavam começando. No fundo do
corredor, uma vez retirado todo o recheio, observaram uma grande lápide
triangular, embutida na parede que fechava o caminho dos mexicanos. Após
uma minuciosa inspeção, descobriram no canto inferior esquerdo da lápide
um pequeno espaço, também triangular, cheio de pedras e cal. Ao que
parecia, a grande laje havia ficado pequena na base, e os maias viram-se
obrigados a fechar a abertura “dando um jeitinho”. Um “jeitinho” que,
diga-se de passagem, alegrou ao extremo os arqueólogos.
A picareta do trabalhador que encabeçava o grupo penetrou com
facilidade entre as pedras e a cal, e Ruz Lhuillier, com a ajuda de uma
poderosa lanterna elétrica, olhou por aquele vão. Ele era o primeiro homem,
depois de 13 séculos, a contemplar a câmara funerária do deus Pakal Kin, ou
Escudo Solar.
“O que havia por trás da grande laje triangular era uma espaçosa câmera
com relevos de estuque nos muros e um enorme monumento esculpido que
a preenchia quase totalmente”, descreveu Ruz com mal contida emoção.
Dois dias depois, domingo, 15 de junho do ano do Senhor de 1952, era
franqueada a entrada à cripta. Foram instantes tensos. Graves. Só a
respiração agitada dos trabalhadores e arqueólogos quebrava inicialmente o
silêncio denso e milenar do lugar. Com lágrimas nos olhos, Ruz e seus
homens foram passeando os feixes de luz de suas lanternas pelas paredes,
pelo piso e, finalmente, sobre o gigantesco sarcófago, que descansava sobre
seis suportes monolíticos e aparecia adornado com lindos relevos.
Graças a esse extraordinário achado, foi possível obter novos fundos. A
exploração do interior da pirâmide sobre a qual se erguia o Templo das
Inscrições pôde ser retomada quatro meses depois.
Desde o primeiro dia, uma incógnita pairava sobre a equipe de Ruz:
aquele monumento que ocupava a quase totalidade da cripta era maciço? A
única maneira de descobrir seria levantando aquela lápide que o cobria: um
monolito retangular de 3,80 metros de comprimento por 2,20 de largura e
0,25 de espessura.
A princípio, os arqueólogos não sabiam o que pensar em relação àquele
estranho relevo que adornava a tal lápide. Precisavam de mais informação.
Era preciso saber se aquele bloco de três metros de comprimento, 2,10 de
largura e 1,10 de espessura abrigava ou não algum cadáver. Talvez então
pudessem descobrir o significado da enigmática gravação que havia na
lápide sobre o monumento.
Evidentemente, naquele ano de 1952, nem os arqueólogos nem o resto
do mundo, que contemplou maravilhado a descoberta, associaram o relevo
da lápide a um astronauta. Entre outras razões, porque ainda não haviam
ocorrido os primeiros voos tripulados ao redor da Terra.
Em 1957, como o leitor pode recordar, os russos puseram em órbita o
primeiro satélite artificial. Era 4 de outubro quando a então URSS lançava o
Sputnik I. Cinco anos depois, os norte-americanos realizavam o primeiro voo
orbital tripulado[7]. A interpretação do astronauta de Palenque foi muito
posterior. A maior parte dos arqueólogos continua não aceitando que o
relevo representa um astronauta.
Mas vamos deixar para mais adiante as possíveis interpretações da
lápide de rochas dolomíticas.
Ruz temeu que, ao tentar elevá-la, a lápide se quebraria, e preferiu
investigar primeiro. Perfurou o bloco no canto noroeste, mas não encontrou
nenhuma cavidade. A perfuração chegou a 1,75 metro, ou seja, mais ou
menos ao centro do monólito. Mas isso se deveu ao fato de a broca não ter
entrado horizontalmente. Ao contrário, a 1,05 metro, a segunda perfuração
encontrou o vazio.
Um arame introduzido no buraco apresentou, ao ser retirado, partículas
de tinta vermelha, e o facho de luz de uma lanterna projetado para dentro
do bloco revelou aos investigadores uma parede pintada de vermelho.
O mistério ficou apaixonante. O que continha o interior do monólito?
Momento histórico. Os trabalhadores se preparam para demolir o núcleo de pedras e cal, ainda
úmido, que fechava a passagem para a grande cripta onde seria descoberto o astronauta de
Palenque.
Eis aqui uma fotografia muito pouco conhecida da famosa cripta do Templo das Inscrições, nas
selvas de Chiapas (México). Quando foi descoberta apresentava esse aspecto. Algumas estalactites
pendiam do teto. Em primeiro plano, a formidável lápide, com a imagem do misterioso
astronauta.
R
PAKAL: UM REI, UM MÍSTICO OU UM EXTRATERRESTRE?
uz e seus homens chegaram à conclusão de que, para erguer aquela
lápide, precisariam, no mínimo, de macacos de caminhão. Depois de
adotar todas as precauções necessárias, cortaram uma árvore de guanandi,
e o tronco foi dividido em quatro pedaços de alturas diferentes. Sobre esses
quatro pedaços foram situados os macacos, interpondo tábuas entre eles e
as bordas da lápide, a fim de que o metal não danificasse a frágil pedra
caliça e para que a pressão fosse exercida não só nos quatro cantos, mas sim
distribuída ao longo dos dois extremos da lápide.
Na noite de 27 de novembro desse mesmo ano iniciou-se a manobra. À
medida que os macacos levantavam a pedra – milímetro a milímetro –, os
homens colocavam pedaços de tábuas empilhadas entre ela e o bloco maciço
que a sustentava. Dessa forma, se um dos macacos falhasse, a lápide ficaria
devidamente assentada.
Várias horas depois, a equipe, transpirando, havia conseguido levantá-
la 80 centímetros. Então, substituiu as tábuas por seis grossos troncos.
Porém, Ruz não pôde resistir à tentação e, rastejando como uma
serpente, deslizou por baixo da laje, ignorando o grave perigo que
representaria o afundamento da lápide, com seus quase 6 mil quilos. Ali, no
grande bloco, havia uma cavidade de forma inusitada, que estava selada por
outra lápide extremamente polida, cuja forma se adaptava
matematicamente à cavidade. Ruz observou a presença de quatro buracos –
dois em cada extremo –, com seus respectivos tampões de pedra. Tirou dois
e iluminou o interior com sua lanterna elétrica. Já não havia dúvida, o bloco
monolítico guardava um longo esqueleto. Portanto, todo o conjunto era um
monumental sepulcro.
Utilizando os buracos da tampa como devia ter sido feito quando foi
posto em seu lugar – talvez 1.300 anos antes –, passando entre eles e, por
sua vez, colocando um pedaço de pau entre as cordas, o túmulo foi aberto.
Aquilo impressionou Ruz e seus colaboradores. As paredes e o fundo do
sarcófago estavam cuidadosamente polidos e pintados com pigmento
vermelho de zinabre. No centro estavam os restos ósseos de um indivíduo
que havia sido enterrado com suas joias e amortalhado em um sudário
igualmente vermelho. O pano havia desaparecido, mas o pigmento da tinta
tinha aderido aos ossos e adornos. Sobre o esqueleto encontraram-se as
seguintes peças:
Uma máscara humana, formada por mosaico de jade, olhos de concha e
íris de obsidiana. Brincos de jade representando o deus morcego. Dois tubos
curtos de jade, para o cabelo. Um diadema de 41 discos de jade, cinco
pérolas em mau estado de conservação. Dois alargadores e um colar com 118
contas de jade. Outra conta de jade que havia sido colocada na boca do
falecido e um peitilho de 189 contas tubulares. Duas pulseiras de 200 contas
de jade cada. Dois piercings de nariz também feitos de jade. Uma grossa
conta de jade na mão esquerda e uma conta cúbica na direita. Dez anéis de
jade, um em cada dedo. Outra grossa conta, também de jade, perto do pé
esquerdo e uma segunda conta de jade – oca e provida de tampinhas –
junto ao pé direito. Uma estatueta de jade debaixo do púbis e três alfinetes
de osso.
No total, dentro e fora do sarcófago, foram encontradas mais de 900
joias de jade, a pedra mais apreciada pelos maias. Aquela civilização, como
se sabe, não conhecia o ouro.
Eis aqui o sarcófago depois de aberto pelos descobridores. O misterioso deus apareceu
materialmente coberto de joias, em sua maior parte de jade.
Mas quem era esse misterioso personagem? Poderia se tratar – como
afirmam hoje alguns escritores e investigadores do chamado “realismo
fantástico” – de um ser de outro mundo? Um astronauta, talvez? Um
homem de elevada evolução mental e tecnológica que ensinou e governou
aquele povo? Por que aquela ostentação de luxo e aquele túmulo
monumental? A realidade é que pouco, muito pouco, sabemos do
denominado deus Pakal.
O exame antropológico de seus restos nos diz que se tratava,
evidentemente, de um ser humano. Quando faleceu, devia contar entre 40 e
50 anos. Era do sexo masculino, e seu esqueleto media 1,73 metro[8].
E prossegue o relatório médico: “[…] Parece provável que fosse um
indivíduo de alta estatura, bem proporcional, sem lesões patológicas
aparentes e de forte estrutura óssea. Seu crânio apresentava notável
deformação tabular oblíqua, e seus incisivos estavam cortados”.
Segundo os antropólogos: “Não há dúvida sobre a origem nobre ou
aristocrática do personagem. Um detalhe osteológico pode ser utilizado para
confirmar essa asserção: o indivíduo, de alta estatura e compleição robusta,
tinha, porém, mãos finas, delicadas, poderíamos dizer, quase femininas. Os
anéis de jade que encontramos ainda colocados nas falanges de seus dedos
ajustavam-se perfeitamente ao tamanho das mãos de uma mulher de corpo
frágil, como o da atriz mexicana Dolores del Río, que os provou em uma
oportunidade. É óbvio que o personagem do túmulo de Palenque nunca teve
de realizar tarefas que significassem grandes esforços físicos. Por isso,
podemos considerá-lo, com certeza, membro da aristocracia, que constituía
a classe dominante, da qual procediam tanto os chefes quanto os
sacerdotes”.
Estamos, então, diante de um grande chefe maia? Diante de um rei
poderoso e respeitado? Ou, como aponta o próprio descobridor da cripta do
Templo das Inscrições, Alberto Ruz, foi um revolucionário nas crenças
religiosas? Um místico dotado de extraordinária força persuasiva, a quem se
atribuiriam milagres?
Talvez o segredo se encontre nesses seis tabuleiros cheios de hieróglifos
que se conservam na fachada do templo, na parte superior da pirâmide. Ou
nos que adornam as laterais do sepulcro e da célebre lápide que o recobre.
Talvez a chave esteja no relevo conhecido popularmente como o astronauta
de Palenque.
Porém, a escrita maia continua sendo um mistério para nós. Não
obstante, há um detalhe que, em minha opinião, joga por terra a teoria de
uma origem extraterrestre do deus Pakal. Refiro-me à considerável
deformação de seu crânio. Como acontecia com o povo inca e outras
civilizações americanas, os membros da realeza ou das classes dominantes
sofriam a deformação do crânio em geral à base de tabuletas fortemente
presas à cabeça desde os primeiros dias do nascimento. Com o tempo, a
caixa craniana adquiria a forma de um pepino – se me permitem a
comparação –, que distinguia o indivíduo do resto da comunidade.
Se essa operação só podia ser feita com sucesso sendo realizada desde a
mais tenra infância, é lógico pensar que o personagem enterrado em
Palenque, cuja deformação nesse sentido é notável, nasceu naquelas selvas
mexicanas.
Mas essa hipótese também não desvela o mistério do relevo da lápide
sepulcral. Por que essa postura tão forçada da figura central sobre aquilo
que, à primeira vista, parece efetivamente um equipamento mecânico? Será
que aquele deus, ou rei, ou revolucionário, teve acesso a algum tipo de nave
espacial? Seus conhecimentos poderiam proceder do contato com deuses
que chegavam de outros mundos, justamente a bordo de máquinas como a
que parece ter sido lavrada na pedra?
Naturalmente, tudo isso não é mais que pura especulação. E, sendo
objetivo, tão pouco científicas como as investigações que hoje nos oferecem
os arqueólogos. Porque, em meu curto entender, também não fica muito
claro que esse relevo representa “a humanidade descendente dos quatro
primeiros homens feitos pelos deuses, com massa de milho”, como dizem
os citados profissionais da arqueologia.
É certo que o Popol Vuh – a “bíblia” maia – afirma que, depois das
tentativas frustradas da criação do homem à base de barro e madeira, os
deuses tentaram com massa de milho. “De milho amarelo e de milho
branco se fez sua carne; de massa de milho fizeram-se os braços e as
pernas do homem. Somente massa de milho entrou na carne de nossos
primeiros pais, os quatro homens que foram criados”, diz o Popol Vuh.
Interpretar, enfim, o relevo da lápide de Palenque como sendo a
reencarnação do homem na planta do milho me parece mais forçado e
fantasioso, inclusive, que a hipótese de um indivíduo – talvez o deus Pakal
– no interior de um aparelho tripulado que pudesse ter descido naquelas
paragens.
No dia em que o homem conseguir ler os hieróglifos maias e,
especificamente, os do Templo das Inscrições, saberemos então quem se
aproximou da verdade.
L
O “PSICODUTO”: UM TÚNEL PARA A ALMA
aurencio tinha razão de nos prevenir. Os dois lances de escada que
conduzem ao fundo da pirâmide de Palenque são perigosos. A umidade
era tanta que os degraus minavam água, o que os tornava extremamente
escorregadios. Tanto o primeiro lance, que segue para oeste, quanto o
segundo, que desemboca no fundo da pirâmide – a 25 metros abaixo do
piso do santuário – apresentavam, ainda, uma considerável inclinação. Foi
preciso descer por eles com todo tipo de precaução.
As trevas no santuário maia haviam sido rompidas levemente por alguns
pontos de luz amarela alojados no alto do corredor, a uns dois metros de
altura. A luminosidade escorria pelas escadas úmidas, conferindo um tom
dourado e mágico às paredes do canal e aos quase 80 degraus.
Tanto Raquel quanto eu agradecemos aquela mudança de temperatura.
Do fogo tropical da selva havíamos passado a uma atmosfera mais
suportável no negro – e até 27 anos antes – secreto corredor da grande
pirâmide.
Conforme fui descendo para a cripta, as batidas de meu coração ficaram
mais violentas. Ali se percebia uma densa energia. O guia parou no patamar
existente entre os dois lances da escada e apontou uma espécie de segundo
degrau – foi o que me pareceu a princípio – colado ao muro sul do lance
superior que havíamos acabado de descer e que continuava pela parte
inferior do muro oeste, perdendo-se no fundo da pirâmide, igualmente
apoiado sobre os degraus e o muro norte desse segundo lance.
– É o psicoduto – anunciou Laurencio, convidando-nos a tocá-lo –, um
canal oco.
O guia nos explicou que aquela espécie de serpente de placas finas e
quadradas, unidas por cal, se prolongava ao longo de toda a escada como
uma moldura oca. Saía do próprio sarcófago, justamente em forma de
serpente, e subia em seguida como um segundo degrau inútil, até terminar
verticalmente debaixo da lápide perfurada que fechava a entrada para essa
escada, no piso do templo.
– Poderia se tratar – apontou Laurencio com a prudência própria de
quem reconhece as limitações a que nos obrigam tantos séculos de
escuridão e desconhecimento – de um conduto mágico. Um lugar por onde
a alma do falecido poderia escapar do túmulo e ressuscitar.
Eu havia lido que, de fato, o povo maia – como era o caso com os
egípcios e até com os primitivos homens de Cromagnon – acreditava em
outra vida depois da morte. Por exemplo, o Popol Vuh nos descreve a vida
dos senhores de Xilalbá, o país dos mortos. A “bíblia” dos maias afirma que
“jogam bola e aprontam e fazem mal aos que chegam a seu reino”.
Entre os grupos de indígenas que pude encontrar ainda na zona maia,
persistem, por exemplo, costumes que evidenciam a arraigada crença na
passagem para outro mundo. No ataúde, colocam os pertences de que o
falecido supostamente continuaria precisando: roupa, comida, aguardente,
tabaco, instrumentos de trabalho, moedas, adornos, amuletos etc. Em
algumas terras do Yucatán, os idosos me confirmaram que preferem os
enterros sem ataúde. É melhor que embrulhem os corpos em mantas ou
esteiras, a fim de que, livres de uma carga pesada, possam chegar a tempo
ao Juízo Final e voltar à terra no dia de finados.
Em uma missão do estado de Guerrero, e também em Huajaca, eu soube
que os familiares e amigos jamais choram nos velórios e enterros maias.
Dessa forma, não afligem ainda mais o morto. Orientam o cadáver no
velório e no túmulo para que possa ver o leste; e no próprio território de
Palenque celebram o aniversário do falecimento com uma festança.
Colocam, inclusive, a cadeira e os talheres do ausente, assim como os
manjares que mais lhe agradavam.
É uma tradição muito remota para todos os povos maias que se chore
pelo nascimento de um bebê e se dance e se organizem festas quando uma
pessoa morre.
Pensando bem, os maias têm toda a razão. Conta Landa, na conquista
espanhola do Yucatán: “Essa gente sempre acreditou na imortalidade da
alma. Acreditavam que, depois da morte, havia outra vida melhor, da qual a
alma gozava se afastando do corpo”.
Por outro lado, ao se referir ao Mitnal, onde vão parar os viciosos, Landa
diz: “serão atormentados por demônios, passando por grandes
necessidades de fome, frio, cansaço e tristeza”. E: “Essa vida boa e ruim
não tinha fim, por não ter fim a alma”.
Embora Landa negue que os maias tivessem conhecimento da
ressurreição dos corpos, os também especialistas Lizana e Cogolludo
informam que o deus Itzamná ressuscitava os mortos. Ruz conta que, entre
certos povos maias modernos, parece que a ideia dominante implica não na
ressurreição da carne, e sim na transmigração da alma. Para os
cakchiqueles, “o morto se transforma em estrela que, no nascimento de um
bebê, desce e se transforma em sua alma”.
A crença de que a alma dos mortos passa para os recém-nascidos se
encontra também em Belize e em Yucatán, devido, dizem, ao fato de Deus
não ter almas suficientes para repovoar a Terra eternamente.
A metempsicose, ou transmigração da alma de um morto a outro ser
vivo, ocorre em formas específicas para certos pecadores, “que são
transformados em rãs, presos em árvores ou embaixo de pedras. Se
pecaram sexualmente com cunhadas ou comadres, passam aos remoinhos
de vento que se formam durante a queima da montanha, antes da
semeadura. Se deixaram dívidas, são transformados em perus ou veados,
destinados a ser caçados por seus credores, que poderão, assim, recuperar o
montante das dívidas, vendendo sua carne.
Enfim, as lendas e tradições maias são inesgotáveis, e todas elas
evidenciam a sólida fé de seus indivíduos na existência de uma segunda
vida.
Mas como chegaram a uma crença como essa? Por que um povo tão
atrasado em alguns aspectos atingiu, não obstante, tamanha elevação
espiritual? Quem lhes ensinou? Como é possível que duas civilizações tão
distantes como a maia e a egípcia coincidissem na concepção de pirâmides?
Por que, em toda a América, só se encontrou uma única pirâmide funerária:
a de Palenque? Será que esses dois povos tiveram mestres idênticos? Se não,
como entender que as sepulturas reais do Egito coincidam com a de
Palenque? Nesta, assim como nas egípcias, a cripta se encontra no coração
da pirâmide, seu acesso compreende uma entrada secreta, uma escada e um
corredor, e a entrada está igualmente selada com uma grande laje. O
personagem enterrado usa uma máscara facial, e, junto ao sarcófago, são
depositados amuletos, comida, joias etc., tal como acontecia com os faraós
egípcios.
Não é muita coincidência?
Não sei quanto tempo permaneci diante da grande laje do astronauta de
Palenque. Foram Raquel e o guia que me tiraram da contemplação. Estava
ficando tarde.
E, com toda sinceridade, por mais que tenha tentado, não pude me livrar
da sensação de que aquele relevo estava muito mais próximo da ideia de um
veículo espacial que da reencarnação do homem em milho. Eram muitos os
detalhes e as coincidências.
A laje triangular que fechava a cripta havia sido substituída por uma
grade grossa. Dela se podia contemplar, em todo o seu esplendor, a lápide
de quase seis toneladas, suspensa a pouco mais de um metro sobre o grande
sarcófago. Uma iluminação dourada e sutil destacava o relevo.
Eu havia contemplado uma réplica da cripta toda, em tamanho natural,
no térreo da Sala Maia do Museu Nacional de Antropologia na Cidade do
México. Mas era diferente. Ali senti, com maior força, aquela energia que
forçava meu coração e arrepiava meus cabelos.
Em meio ao silêncio peguei minha pequena bússola a óleo e,
disfarçadamente, tentei ver se registrava alguma alteração. Mas nada
aconteceu. Então, que tipo de força remexia meus sentimentos e tirava
calafrios de minhas costas?
Uma vez mais, eu me senti pequeno, indefeso. Impressionado diante do
mistério e de minhas próprias limitações.
Por indicação de Laurencio, descemos os 68 degraus da escadaria
externa do Templo das Inscrições, não frontalmente, como teria sido o
usual, e sim com um giro lateral do corpo. Dessa forma, era menos provável
uma queda pela aguda encosta.
Ao chegar à praça que se estende em frente à pirâmide, deixei-me cair
sobre a redonda pedra cerimonial existente ao pé da escadaria e defini um
firme propósito: A partir daquele instante tentaria, com todos os meios a
meu alcance, me aprofundar no mistério de Palenque. Era importante
decifrar o relevo do astronauta. E, para isso, a primeira coisa que tinha a
fazer era estudar e investigar os hieróglifos que o acompanham. Ali está a
resposta.
Ao nos afastarmos da zona arqueológica, com um sol moribundo e
vermelho às nossas costas já flutuando a duras penas sobre os gigantescos
ciprestes de Montezuma, soube que voltaria muito em breve – dessa vez
sozinho – às selvas maias.
A
UMMO NA SELVA MEXICANA
cho que nunca esquecerei aquela noite de 14 de julho de 1977. Às 19h30
já havia escurecido na selva. Ao nos acomodarmos diante de uma
rústica mesa de madeira, em La Cañada, um restaurante não menos tosco e
primitivo no povoado de Palenque, percebemos que fazia quase 24 horas
que não comíamos nada. Bem mais que o piloto mexicano De los Santos
quando teve seu encontro com os três óvnis. E nem Raquel nem eu
havíamos visto miragens ou alucinações.
Apesar daquele calor úmido que nos mantinha em um perpétuo banho
de suor, ficamos felizes ao ver o menu do dia: postas de robalo e mole[*]
verde. Como se não bastasse, o cozinheiro nos falou de quesadillas,
enchiladas, tacos de frango e feijão frito. Um repertório de tapas, ou
aperitivos, como resumem os mexicanos. Tudo isso bem regado pelo doce
vinho rosado de Yucatán.
O trajeto longo e atento pelos templos e o palácio da zona arqueológica
havia nos aberto um apetite de lobo. Conforme avançou a noite, a algazarra
da selva, com o canto de milhares de papagaios e gralhas e as sempre
misteriosas “senhas” das corujas, foi penetrando a cobertura de folhas de
palma e bambu do local.
Algumas pessoas consumiam chá ou cerveja nas mesas contíguas e
contemplavam com descaso e parcimônia os numerosos turistas – a
maioria japoneses e nórdicos – que foram entrando. Uma hora depois de
nossa chegada, o estabelecimento apresentava um aspecto caótico e uma
desordenada mescla de conversas em espanhol, inglês, japonês e sueco.
Lembro que estava distraído com um dos jornais que havia comprado
naquela mesma manhã no aeroporto da Cidade do México. Estava com a
cabeça inclinada sobre uma das notícias e, com a mão direita, mexia
mecanicamente o café. Só Raquel notou a aproximação daquele homem a
nossa mesa. Quando levantei os olhos do jornal, encontrei, diante de mim,
do outro lado da mesa, um indivíduo que sorria para nós. Era de estatura
mediana, tinha cabelo preto e pele morena, quase cor de oliva, mas suas
feições não eram próprias daquele território maia. Era de uma compleição
muito mais forte e musculosa que o pessoal de Palenque. Eu diria que
guardava certa semelhança com o clássico biótipo mediterrâneo.
Como pude comprovar ao longo daquela noite inesquecível, nem seu
sotaque era mexicano. “Como estão as coisas?”, perguntou ainda sorrindo.
Raquel e eu trocamos um olhar fugaz. Estava claro que nenhum dos dois
o conhecia, mas por pura educação, respondi com um “muito bem”, mais
carregado de estranheza que de outra coisa.
Em décimos de segundo, enquanto o homem continuava em pé, com os
dedos levemente apoiados sobre a tábua da mesa, passaram por minha
mente as mais díspares possibilidades quanto à identidade e,
especialmente, às intenções daquele súbito personagem. No entanto, todos
os meus medos se dissiparam quando nosso interlocutor, que não devia
passar dos 45 anos, pronunciou as palavras óvni e astronauta de Palenque.
Minha confusão já era total, e, instintivamente, guiando-me pelas
sensações, levantei-me, convidando-o a se sentar conosco. Ele assim o fez.
Não houve constrangimento algum naqueles primeiros minutos de
nosso encontro. Como se nos conhecesse desde sempre, aquele homem de
olhos pretos e penetrantes se interessou por nossas impressões sobre o
citado astronauta. Enquanto dávamos respostas vagas e fórmulas de
cortesia, comecei a me fazer algumas perguntas: “Quem era esse indivíduo?
Por que havia se dirigido a nós, se naquele momento mais de 50 pessoas
enchiam o restaurante?” E, acima de tudo, “por que havia começado a
conversa com o assunto do óvni?”.
Era impossível que ele soubesse quem eu era e qual era minha tarefa no
México. Meus livros já haviam chegado à América do Sul e ao próprio
México, mas era totalmente improvável que pudessem me identificar ali, no
meio da selva de Chiapas. Tinha de haver outra explicação.
Como se tivesse adivinhado meus pensamentos, o homem comentou:
“Não tenha medo, estou aqui, possivelmente como você, cumprindo uma
missão”.
Ele deve ter lido a incredulidade em meu rosto, porque imediatamente
sorriu. Naquele instante, cheguei a pensar que havíamos convidado um
louco para se sentar à nossa mesa. Mas não. Observei-o cuidadosamente, e
Manuel Garza Rodarte – assim disse que se chamava – parecia uma pessoa
extremamente sensata, de modos educados e sem a menor sombra de uma
possível paranoia ou qualquer outra perturbação mental.
Conforme fomos adentrando a conversa, essas dúvidas se dissiparam
por completo.
– Mas não entendo – respondi –, por que fala de uma missão? E que
missão você tem?
Manuel não respondeu às minhas perguntas e, sem perder aquele
enigmático sorriso, recomendou-me que tivesse calma.
– Vou tentar responder a todas as suas perguntas, mas, vamos por
partes.
Aquilo não tinha pé nem cabeça. Eu não conseguia compreender, mas
me propus a revelar aquele novo mistério e chegar ao final – supondo que
houvesse algum.
Pedi mais café. Nos olhos de Raquel descobri a mesma curiosidade, ou
uma maior, que a que me enchia desde o princípio. Manuel não aceitou
nada e continuou falando.
– Sei que a lápide da cripta do Templo das Inscrições o intriga. O que
acha do… astronauta?
Era o cúmulo. Como ele sabia que eu tinha um interesse tão profundo
por aquele relevo? Acalmei-me pensando que podia se tratar de uma
simples e lógica dedução. Eu era um turista europeu que visitava Palenque,
e todo o mundo que vê essa lápide se faz perguntas.
– Tenho minhas dúvidas sobre essa teoria de um astronauta maia –
insinuei querendo lhe dar corda.
E antes que ele pudesse articular uma palavra, foi minha vez de
perguntar:
– E você, o que me diz? Era realmente um astronauta, tal como nós o
entendemos?
– Não. Também não acho que essa lápide esteja nos falando de um
astronauta maia. Isso, para mim, é uma profecia. O deus que foi enterrado
debaixo do Templo das Inscrições era um profeta. Mais ou menos como
Buda, Maomé etc. Ele sabia que o homem, um dia, circunvalaria o planeta e
quis que isso ficasse refletido sobre seu túmulo.
– Mas isso é só mais uma teoria – argumentei um tanto decepcionado.
– Se um dia se conseguir decifrar os hieróglifos que contornam a lápide,
você vai ver.
– Supondo-se que isso seja verdade, como o deus Pakal poderia saber
que…
– Pakal-Kin – corrigiu-me. – O maia enterrado em Palenque era
conhecido por esse nome. E isso significa Escudo Solar. Por que acha que o
chamaram assim?
– Não sei.
– Sabe muito bem.
Manuel pronunciou aquelas palavras como se fosse um pai
repreendendo carinhosamente um filho. Fiquei perturbado.
– Embora os arqueólogos o associem a outras interpretações –
prosseguiu –, você sabe que a mitologia e as tradições de muitos povos do
mundo estão intimamente ligadas à presença de fenômenos que, na época,
só podiam ser assimilados como algo sobrenatural ou divino. Os deuses que
desciam dos céus em carros de fogo, escudos solares, serpentes
emplumadas ou nuvens luminosas não eram mais que o que hoje
começamos a conhecer como astronautas ou viajantes do espaço.
– De acordo com isso, o deus Pakal-Kin, ou Escudo Solar, pode ter tido
alguma ligação com esses seres do espaço que nos visitaram há milhares de
anos?
– Sem dúvida. Por isso, talvez, ele tenha tido acesso a conhecimentos
superiores. E por isso, talvez – Manuel concluiu – recebeu o nome de
Pakal-Kin.
– Não entendi. Se esse contato com seres mais adiantados foi real, como
explicar que o povo maia não tenha passado do horizonte neolítico? Como
entender que não lhes ensinaram, por exemplo, o uso da roda, dos metais,
do arado etc.?
– Tudo está programado nos universos. E, nesse momento, aqueles que
desceram sobre estas terras só tiveram influência, talvez, na evolução do
povo maia. Por isso não lhes mostraram isso que você está dizendo.
As perguntas começaram a brotar com maior fluidez:
– Então, que papel você acha que têm esses seres do espaço em um
mundo como o nosso?
– Nem todos têm o mesmo nível espiritual. Ou, se preferir, nem todos
estão na mesma dimensão. Os seres em que você acredita (e que são
conhecidos desde antigamente como anjos ou enviados) vêm desempenhar
uma tarefa, de certo modo, parecida com a dos professores em uma escola
infantil.
– Por que fala de universos e dimensões?
– Porque existem outros que o homem nem sequer pode imaginar.
– Físicos?
– Sim, mas essa concepção é muito distante da que você conhece.
– Isso é como não dizer nada.
– Você poderia fazer uma criança de três anos compreender a realidade
da fusão e da fissão nucleares? Porém, você sabe que esse mundo é real.
– E como e quando chegaremos a esses universos?
– Repito, tudo está programado pela Grande Energia.
– Também nossa passagem, agora, por esta vida?
– Evidentemente. Quando você completar sua missão, morrerá. Pode ter
certeza de que, nem aqui nem em nenhum outro lugar, se dá de presente
um único minuto. Cada um de nós deve passar por centenas de
reencarnações. Depois, quando o nível espiritual já tiver atingido as cotas
precisas, muda de dimensão.
– Quantas dimensões existem?
– Isso só quem conhece é a Grande Energia.
– Diga-me, então, de onde somos realmente?
O curioso personagem que estava à minha frente me observou com
resignação. Como se eu não tivesse entendido o que ele tentava me dizer.
Porém, sem dúvida alguma, não exteriorizou esse sentimento. E me
respondeu com uma única frase:
– Pobre do ser humano que tem pátria! Porque seu lugar é muito
pequeno no Universo.
– Antes, você falou do nível espiritual. Quando o homem pode saber que
está mentalmente maduro?
– Está maduro aquele que se autocritica. Mas isso só os deuses
conseguem. Os humanos sempre encontram justificativas para seus erros.
Manuel continuou falando. Tanto minha mulher quanto eu
permanecemos mudos. Em um momento da conversa – e sem a menor
relação com o que estávamos falando –, Manuel pegou uma caneta e
escreveu a palavra ummo em uma das margens do jornal que havia ficado
sobre a mesa. Aquelas letras foram traçadas a uma enorme velocidade –
talvez em décimos de segundo – e de tal forma que, embora ele estivesse
sentado de frente para mim, eu as pudesse ler na posição correta.
Mas o homem prosseguiu com o tema que nos ocupava:
– Quem nos ataca e critica tem essa missão. Só assim é possível que
encontremos a verdade e que continuemos buscando. Não pode haver
perfeição sem essa crítica.
Não pude mais me conter e o interroguei sobre a palavra que havia
escrito e que, evidentemente, estava traçada com a intenção de que tanto
Raquel quanto eu a pudéssemos ler sem dificuldades.
– Ummo, um planeta? – perguntou ele por sua vez. – Não tem por que
ser um planeta.
Então, eu tomei a caneta e tracei naquele mesmo jornal o conhecido
sinal – uma espécie de H com uma terceira barra no centro – que, dizem,
corresponde ao emblema desse mundo.
– Talvez você saiba – comentei – que em 1967 houve um avistamento
óvni sobre uma localidade espanhola denominada San José de Valderas.
Aquele óvni, que foi fotografado, levava em seu ventre esse mesmo sinal, e
quem afirma ter recebido informes dos ummitas foi advertido com
antecedência da aparição da nave.
Manuel pegou novamente a caneta e, prolongando cada uma das barras
laterais do H, traçou circunferências. Em seguida, desenhou o sinal de + no
centro do círculo da esquerda e o de – no da direita. E me pediu que
prestasse atenção ao que acabava de fazer.
– Sei a que se refere quando fala do planeta ummo. Eu vi um desses
óvnis em 1964, em companhia de outra pessoa. Mas repito que esse sinal
não tem necessariamente de representar um planeta.
Embora eu ardesse de desejo de perguntar sobre o que dizia ter visto em
1964 – três anos antes do de San José de Valderas! –, procurei não
interromper sua exposição.
– Esse pode ser o sinal do Universo. Tudo nele se move e tem dois
sentidos: positivo e negativo.
– Então, os conceitos do bem e do mal?
– São relativos e, evidentemente, complementares. Sem um não pode
existir o outro.
– Isso significa que a ideia do bem e do mal pode ser constante em todo
o Universo?
– Se os mundos se encontrarem em nosso mesmo espaço-tempo, sim.
Vou dar um exemplo. Imaginem três planetas dentro de nosso cosmo. Um
vive no futuro. Outro no passado, e um terceiro, em nosso presente. Neste
último, os conceitos de beleza e maldade podem ser similares aos nossos.
Mas você quer saber o que foi que eu vi em 1964.
Assenti.
– Bem, eu estava caçando com outra pessoa ao leste do México, em
Veracruz. Eram 18h30 de um dia luminoso de verão. De repente, quando
caminhávamos pela montanha, vimos os cães voltando assustados.
Levantamos os olhos e, a uns 80 metros, descobrimos um grande disco
prateado. Ele permaneceu alguns segundos diante de nós, a pouca altura, e
depois disparou na horizontal, afastando-se. Na parte inferior tinha um
desenho como esse que você traçou que ocupava todo o ventre da nave.
Se Manuel estivesse dizendo a verdade, o avistamento desse óvni com o
famosa H em uma das faces do disco ratificava a autenticidade do caso de
San José de Valderas, extremamente discutido atualmente. Mas como
comprovar que aquele homem estava relatando algo verídico? Eu só podia
confiar em sua palavra. Porém, isso não é suficiente para um investigador.
Então pedi que me desse o nome de seu companheiro. Manuel concordou
sem problemas. Contudo, até agora, não pude localizar essa segunda
testemunha vital. Mas sei que, se não estiver morto, cedo ou tarde o
encontrarei.
Nossa conversa se prolongou até a madrugada bem avançada. Antes que
ele se fosse, formulei duas últimas perguntas. Primeira: Qual ele entendia
ser o caminho da felicidade?
A essa, Manuel respondeu assim:
– É muito simples. Tentem sempre fazer que sua mente e seu corpo
estejam em equilíbrio, em harmonia.
Segunda: Por que havia se dirigido justamente a nós naquele
restaurante?
Mas a essa questão o enigmático personagem da selva palenquiana
respondeu com aquele longo e reconfortante sorriso. Jamais tornei a vê-lo.
No dia seguinte, quase ao amanhecer, enquanto Raquel dormia, fui até o
povoado e indaguei sobre Manuel Garza Rodarte. De fato, ele era conhecido
em Palenque como guia profissional da zona arqueológica. Vivia ali fazia
alguns anos e era respeitado por sua seriedade e honradez. Contudo, pouco
pude saber de sua origem e passado. Somente que havia chegado do norte.
Dias depois, ao voar de volta para a Espanha, comecei a compreender a
importância daquela viagem ao país asteca e, muito especialmente, a
importância daquele encontro na selva de Chiapas.
A
AVIACO 501: A NUVEM QUE PAROU O TEMPO
comissária de bordo Ana Fernández de la Calzada, chefe de cabine
daquele voo 501 da Aviaco, de Valência a Bilbao e Santander, perguntou
ao comandante por que estavam demorando tanto a chegar ao aeroporto da
última cidade.
– Os passageiros – comentou a comissária de bordo com Carlos García
Bermúdez – estão inquietos. O tempo está ruim em Santander também?
Nem os passageiros daquele avião Caravelle nem as comissárias de
bordo podiam suspeitar, naquele momento, o que estava acontecendo na
cabine de comando.
Conheci o comandante Bermúdez pouco depois de minha viagem ao
México. O aeroporto bilbaíno de Sondica sempre foi uma espécie de
maldição faraônica para as companhias aéreas, sem falar para os usuários.
As péssimas condições meteorológicas que reinam naquela região, unidas à
falta de auxílio radioelétrico à navegação aérea, situam o citado aeroporto
de Bilbao entre os mais desconfortáveis e perigosos.
Graças a essas nada gratas circunstâncias, um dia me vi sentado em
frente ao jovem comandante da Aviaco, Carlos García Bermúdez. Havia
chegado até mim a agradável notícia de um recorde. Apesar de todas essas
adversidades que pairavam sempre sobre Sondica, o comandante Bermúdez
tinha acabado de realizar sua aterrissagem número mil nas pistas do
mencionado aeroporto basco. Portanto, era o piloto com mais experiência –
para não dizer vontade – dentre todos que entravam e saíam daquele
“buraco”, e meu jornal me incumbiu de fazer uma ampla entrevista com o
herói.
Assim, meu primeiro encontro com Carlos nada teve a ver com o
assunto óvni. Era outono de 1978 e, a partir daquela tarde, no grande salão
do Hotel Ercilla, na capital biscainha, nossa amizade foi crescendo. Fiquei
surpreso. Apesar de seus poucos 37 anos, Carlos García Bermúdez já somava
mais de 10 mil horas de voo. Dessas, 7 mil como comandante.
Naquela primeira conversa, Carlos me falou de seus tempos como piloto
de caça. Cinco anos voando no Messerschmitt 109 em Albacete, na 37a Ala
de Transporte com o Douglas DC3; seus voos pelo deserto, em El-Aaiún;
seis anos fumigando por toda a Espanha, Turquia e Argélia, e aquele
percalço nos Palácios (Sevilha), quando uma nuvem de mosquitos entupiu
seu radiador, e ele salvou a vida graças a sua serenidade e seu sangue frio.
Depois, em 1968, foi requerido para participar como piloto de combate das
filmagens de A batalha da Inglaterra e voou novamente no Messerschmitt e
no Spitfire.
Em dezembro desse mesmo ano, entrou nas linhas aéreas civis.
Primeiro na Companhia Transeuropa, por meio da qual conheceu todos os
aeroportos europeus. Uma de suas rotas mais frequentes foi a de Palma-
Viena-Moscou, transportando equipes de pescadores russos. Depois passou
para a companhia Aviaco, onde estava há mais de dez anos, pilotando o
Caravelle. Seu profissionalismo e sua perícia ficam, enfim, totalmente fora
de qualquer questão.
No fim de nossa entrevista – como ocorre quase sempre – acabei
tocando no assunto que me preocupa: os óvnis. O comandante Bermúdez
me assegurou que nunca tinha visto nada. E mais: considerava-se cético.
“Eu, enquanto não vir com estes olhos…”
Quem podia imaginar que, poucos meses depois – em janeiro e março
de 1979, respectivamente –, esse comandante seria testemunha, junto com
outros pilotos, de dois fatos mais que misteriosos?
Pela segunda vez, a comissária de bordo abriu a porta da cabine e
interrogou os pilotos. O que estava acontecendo naquele trajeto Bilbao-
Santander? Se o tempo normal de voo de um Caravelle entre um ponto e
outro oscila entre 12 e 15 minutos, por que já passavam de 25?
Poucos dias depois daquele 31 de janeiro de 1979, tornei a ver o
comandante Bermúdez. Felizmente para mim, estava com ele o copiloto,
Antonio Pérez Fernández, outro grande profissional e grande amigo. Tanto
um quanto o outro não conseguiam encontrar uma explicação satisfatória
para o acontecido em 31 de janeiro.
– Naquela tarde – contaram-me os pilotos – estávamos fazendo um
voo regular entre Valência e Bilbao. O tempo e as condições meteorológicas
estavam bons. Porém, ao chegar a Sondica, a visibilidade se reduziu
drasticamente, e o aeroporto ficou sem teto. Era impossível aterrissar,
então nos dirigimos ao aeroporto alternativo. Nesse caso, Santander. Não
era a primeira vez que acontecia uma coisa dessas. Uma vez em Santander,
os passageiros seriam levados por terra até Bilbao, e rumamos para o
aeroporto alternativo. Na vertical de Bilbao, pedimos autorização para
descer de 24 mil pés – que era nosso nível de voo desde Valência – até 12
mil. Dessa forma, conforme nos aproximássemos de Santander, iríamos
descendo. De Bilbao a Santander são umas 40 milhas. Pois bem, quando
estávamos a umas 24 milhas de Sondica, entramos em uma nuvem de tipo
lenticular, muito luminosa e densa. Aquela luminosidade tão intensa não
nos pareceu anormal. Há muitas nuvens que nos obrigam, inclusive, a
colocar óculos escuros. Porém, assim que perfuramos a nuvem, os
instrumentos de navegação enlouqueceram. Falharam quatro RMI, dois
MHR4B, os dois HZ4, o radar meteorológico, os dois VHF e o DME.
– E em que consistem?
– Os RMI, ou Radio Magnetic Indicator, são bússolas eletrônicas. Na
realidade são seis, posto que dois equivalem aos dois MHR4B. Três dessas
bússolas eletrônicas são controladas pelo comandante, e as outras três, pelo
copiloto. Tanto um bloco quanto o outro são independentes entre si quanto
ao fornecimento de energia elétrica. Portanto, a falha de uma unidade não
afeta o segundo bloco. Quanto aos MHR4B, são também bússolas
eletrônicas, mas integradas a indicações de radiais VOR. Este consiste em
uma estação que envia sinais aos 360 graus. Os dois HZ4 são outros tantos
horizontes artificiais, e os VHF são dois sistemas de rádio que recebem e
transmitem simultaneamente e que são também independentes entre si.
– E o DME?
– Um medidor de distância. Poderíamos chamá-lo de hodômetro.
– Tudo falhou ao mesmo tempo?
– Instantaneamente. Assim que entramos na nuvem, as bússolas, as
seis, começaram a girar enlouquecidas. Umas para a direita, e outras para a
esquerda. E as seis ao mesmo tempo! Os horizontes artificiais, que sempre
são atrelados aos eixos do avião, estavam fora de si. Enquanto um aparecia
invertido, como se o avião voasse de barriga para baixo, o outro indicava
como se estivéssemos virando a 90 graus para a direita. Em seguida,
posicionou-se para a esquerda. Foi de enlouquecer!
– O que aconteceu com o hodômetro?
– Começou a marcar para trás… o cúmulo!
– Não entendi.
– Ao passar sobre Bilbao, nosso DME, ou “guia de distância”, começou a
contar as milhas que íamos percorrendo. Ou seja, partiu do zero em Bilbao
e, ao chegar à milha número 22 – que foi quando entramos na nuvem –,
parou e começou a contar para trás! Como se o Caravelle tivesse dado a
volta e estivesse voltando para o aeroporto de Bilbao. Chegou a zero milha e
ainda retrocedeu mais, até menos nove milhas.
– Como se voassem para Pamplona?
– Exatamente. Mas isso não era possível.
– Por que não?
– Porque nosso rumo era oeste (entre 290 ou 270 graus, se bem me
lembro). Por último, o DME parou. Apareceu uma barra vermelha que cruza
o monitor e que adverte que o aparelho está desligado ou fora de serviço.
Mas isso não era possível, porque o equipamento de DME continuava
ligado, com a correspondente indicação “ON”.
– E como sabia que seu rumo era oeste?
– Pela bússola de água. Era a única que, graças a Deus, ainda
funcionava. Ela não tem a precisão das eletrônicas (que marcam até os
graus), mas, pelo menos, indicava claramente o oeste.
– Quanto tempo durou aquilo?
– Sete minutos. Ao sair da nuvem, tudo voltou ao normal.
– O radar também falhou?
– Sim. Desligou quando entramos na nuvem. Até esse momento
funcionava e fazia as varreduras corretamente.
– E não conseguiram comunicar a situação às torres de Santander ou
Bilbao?
– Impossível. As duas estações de VHF ficaram mudas. Nem emitíamos
nem podíamos receber. Ficamos chamando sem parar nas frequências de
Santander e Bilbao, já que precisávamos saber as condições do tempo no
primeiro aeroporto. Embora as notificações anteriores confirmassem que
estava bom, já fazia mais de uma hora. Era importante que conhecêssemos
a meteorologia. Se o tempo tivesse mudado, e Santander estivesse
igualmente sem teto, o problema começaria a se complicar. Contudo, nossas
chamadas foram inúteis. Depois soubemos, ao aterrissar em Santander, que
aquela torre ficara nos chamando durante todo esse tempo, mas também
não nos encontraram. Um avião Fokker, que havia decolado desde San
Sebastián com o mesmo rumo que nós, embora em um nível mais baixo,
escutou Santander quando tentava nos localizar por rádio. Foi estranho.
– Por quê?
– Os VHF não transmitiam nem recebiam. Nem mesmo a onda
portadora. Às vezes, acontece de alguém chamar e não ser ouvido, mas se
nota que existe a emissão e se ouve a portadora. Nesse caso, não. Aconteceu
como quando se tira um telefone do gancho, se assopra e não se percebe
nenhum som.
– Com tudo isso, a que hora o Caravelle entrou na nuvem?
– Às 16h45.
– Vamos prosseguir. Ocorreu alguma falha nos geradores?
– Nenhuma. O avião tem um painel (o painel de pânico) que registra
qualquer emergência. No entanto, curiosamente, não apontou falha alguma.
Estávamos preocupados justamente pela presença de qualquer incidência no
abastecimento elétrico. Mas não aconteceu nada. Checamos tudo: geradores,
alternadores, transformadores, amplificadores, inversores etc. Checamos os
voltímetros, amperímetros e até as últimas fontes de energia do avião. E
nada! Em princípio, tudo andava às mil maravilhas.
Ao sair da misteriosa nuvem branca – sete minutos depois de entrar
nela –, os pilotos recuperaram o fôlego ao ver que os instrumentos
tornavam a responder.
– Foi igualmente instantâneo. Ao deixar a nuvem para trás, tudo ficou
como no início. O hodômetro, por exemplo, pulou para a milha número 22,
que era a que, mais ou menos, indicava ao entrar naquele pesadelo. E o
radar ligou imediatamente. Coisa estranha, porque esses equipamentos
sempre precisam de alguns minutos de aquecimento. Evidentemente,
embora não tenhamos citado, o piloto automático também ficou desligado.
Porém, isso foi uma consequência lógica, com a falha dos dois horizontes
artificiais. Uns 40 segundos antes de deixar a nuvem – acrescentou o
comandante Bermúdez –, eu disse a Antonio que devíamos rumar para o
norte, em direção ao mar. Dessa forma, estaríamos livres daquela nuvem. Se
o último horizonte artificial (o de emergência) tivesse falhado enquanto
voávamos dentro da formação nebulosa, nossa situação teria sido
seriamente comprometida.
– Esses 12 sistemas haviam funcionado corretamente antes de
sobrevoar Bilbao?
– Sim. Ao realizar a checagem correspondente, antes de decolar em
Valência, tudo estava em ordem.
Mas as surpresas não haviam terminado com a saída da nuvem
lenticular. As duas ou três entradas da comissária de bordo na cabine,
interessada pelas razões daquela estranha demora na chegada do Caravelle
a Santander, já alertara os dois pilotos. Efetivamente, os relógios do avião
marcavam um tempo excessivo para um voo que deveria ter levado no
máximo 15 minutos.
– O que marcavam os relógios da aeronave ao aterrissar em Santander?
– Algo mais surpreendente ainda: 32 minutos de voo desde Bilbao!
– Isso significa que, se a rota havia sido constante para o oeste, o
Caravelle devia ter chegado a Astúrias…
– Isso mesmo. E, com exceção desses cerca de 40 segundos em que
viramos para o norte, nosso rumo esteve sempre correto.
– Qual foi o consumo de combustível do avião?
– O previsto para 32 minutos de voo. Além do mais, os anemômetros
indicavam perfeitamente a velocidade.
– Não entendi.
– Nós também não.
Resumindo, isso quer dizer que o avião permaneceu no ar 17 minutos a
mais do que logicamente teria precisado para aterrissar em Santander.
– Pensaram na possibilidade de que o Caravelle estivesse voando em
círculo?
– É impossível. Já comentamos que nos guiamos pela bússola, e o avião
não abandonou em nenhum instante o rumo oeste.
– Que dimensões teria aquela nuvem?
– Nossa velocidade de cruzeiro era de uns 300 nós. Se ficamos sete
minutos dentro dela, eu calculo que entre 30 e 40 milhas.
– Havia mais nuvens?
– Ao sair daquela massa luminosa encontramos um céu totalmente azul
e aberto. Só abaixo de nós havia outras nuvens, mas não eram como essa.
– Eu me pergunto se tudo não podia se dever a algum fenômeno
externo, como as famosas cargas de energia estática.
– Achamos que não. Não poderia ter afetado tantos equipamentos ao
mesmo tempo. Além do mais, que me diz desse excesso no tempo de voo?
– O que fizeram ao chegar a Santander?
– Pedimos aos mecânicos que checassem o sistema elétrico, os
instrumentos etc. Porém, não encontraram nada de anormal. Naquela
mesma noite, às sete, decolamos para Bilbao. As condições meteorológicas
haviam melhorado, e pudemos aterrissar em Sondica.
– Houve alguma outra alteração?
– Nada. O voo foi perfeito.
– E a famosa nuvem?
– Não chegamos a vê-la.
– Que visibilidade havia enquanto voavam – já não sei se podemos dizer
assim – dentro da nuvem?
– Nula.
– Então, não viram nada fora do normal?
– Se está se referindo a óvnis, não.
– E os passageiros ou os demais membros da tripulação?
– Também não. Só a chefe das comissárias entrou várias vezes, um
pouco preocupada com a demora. Nesse sentido, os passageiros também
notaram o excesso de tempo.
É realmente difícil entender esse caso. Se a alteração dos sofisticados
instrumentos de navegação não se deveu a uma falha do avião – conforme
atestam seus pilotos –, onde estava sua origem? Como explicar que o DME,
ou medidor de distância, ficasse paralisado, retrocedesse, parasse
novamente e, por último, ao sair da nuvem, voltasse a sua posição inicial:
22 milhas?
E, pior ainda, o que aconteceu com esses 17 ou 20 minutos a mais? A
explicação não parece fácil.
Antes de mergulhar nos possíveis argumentos, é preciso considerar que
o caso dos pilotos espanhóis não é único. Há outros testemunhos,
curiosamente detectados em áreas mágicas e intrigantes como o Triângulo
das Bermudas ou o mar do Diabo, em frente às costas do Japão, e para cujas
águas, diga-se de passagem, pretendo viajar em breve.
O célebre investigador Charles Berlitz compilou alguns testemunhos que
guardam certa semelhança com o que acabo de expor. Diz Berlitz: “Às
vezes, as insólitas névoas ou nuvens eletromagnéticas parecem alterar
também o horário: assim, verifica-se, por exemplo, o incrível ganho de
tempo experimentado em voo por Bruce Gernon Jr., em 4 de dezembro de
1970, quando ia da ilha de Andros a Palm Beach”.
O incidente, que sugere uma aberração tempo-espaço, é confirmado
pelo diário de bordo, o copiloto, a equipe de terra e, inclusive, as contas de
combustível. Gernon é piloto formado, com umas 600 horas de voo, em sua
maior parte entre as Bahamas e a Flórida. Tem 29 anos, mede 1,80 metro, é
de compleição robusta, e seu enfoque do voo é eminentemente prático. Sua
excelente memória para os detalhes lhe permite recordar com perfeição os
singulares acontecimentos daquele voo.
No desenho, uma representação da misteriosa nuvem que apareceu entre Bilbao e Santander, na
qual o Caravelle entrou. O que aconteceu nesses sete eternos minutos que o avião permaneceu
dentro dela?
Acompanhado de seu pai como copiloto, decolou de Andros em um
Beechcraft Bonanza A36 e voou sobre os bancos das Bahamas em rota para
Bimini. Enquanto subia para a altitude proposta de 3.100 metros, descobriu
diante de si uma nuvem de forma elíptica[9]. Declarou o piloto:
– Estava ali, imóvel, inofensiva. Eu estava me ajustando a meu plano de
voo, de modo que não pensei nela. Se o tivesse feito, teria percebido que
devia estar muito mais alta. Sobrevoei-a enquanto subia à razão de 300
metros por minuto, mas descobri que ela também subia, exatamente à
mesma velocidade que eu. Às vezes me ultrapassava e, depois, se colocava
outra vez à minha altura. Estimei que devia ter uns 24 quilômetros de
largura. Pensei em descrever um giro de 180 graus e tentar voltar para
Andros, mas, finalmente, consegui atravessá-la, e o céu ficou claro. Porém,
quando tornei a olhar, vi que a nuvem havia se tornado gigantesca e se
curvava em um enorme semicírculo, com outra parte à nossa frente, de uns
18 mil metros de altura. A base da nuvem parecia entrar diretamente no
oceano, diferente de outros cúmulos, que têm por baixo precipitação ou
espaço livre.
Gernon tentou voar contornando-a, mas, para sua consternação,
descobriu que se encontrava no buraco de uma gigantesca rosquinha,
procurando uma saída. Vendo uma abertura, precipitou-se para ela, que ao
mesmo tempo diminuía, até se transformar em uma espécie de túnel, ou
buraco cilíndrico, na estranha nuvem. Ao chegar ao orifício, a uma
velocidade crítica de 370 quilômetros por hora, sua largura havia se
reduzido a uns 60 metros e continuava diminuindo.
– Era como olhar pelo cano de uma escopeta – relatou Bruce. – Parecia
um túnel horizontal com um quilômetro e meio de extensão, apontando
para Miami. Do outro lado, eu podia ver um céu claro e azul entre o túnel e
a Flórida.
Gernon entrou com seu avião a uma velocidade crítica pelo túnel.
Observou que as paredes eram de um branco fosforescente; estavam
claramente definidas, e pequenos flocos de nuvem giravam em torno delas
no sentido horário.
– Se o piloto automático não tivesse mantido as asas alinhadas no
horizonte, eu provavelmente as teria feito girar com a rotação das nuvens e
teria ido lateralmente contra as paredes – continou ele.
Durante os últimos 20 segundos, as pontas das asas chegaram a roçar as
paredes do túnel de ambos os lados. Naquele momento, Gernon sentiu uma
total ausência de gravidade por vários segundos.
Ao sair do túnel, encontrou uma neblina esverdeada e opaca, em vez do
céu azul visto anteriormente. Embora a visibilidade potencial parecesse se
estender durante vários quilômetros, nada se via, exceto a mesma neblina
branco-esverdeada. Quando tentou determinar a posição, viu que todos os
instrumentos magnéticos de navegação estavam dançando, e que era
impossível estabelecer contato com a torre de controle do radar. Segundo
seu horário de voo, devia estar se aproximando das ilhas de Bimini. De
repente, surgiu da neblina, por baixo do avião, o que parecia ser uma ilha,
mas a uma velocidade imensa. Então, o rádio captou o controle de radar de
Miami, informando que um avião estava voando para o oeste sobre Miami.
Gernon respondeu que deviam ter identificado outro aparelho, porque seu
Bonanza, segundo o horário de voo, devia estar ainda sobre Bimini.
Naquele instante, aconteceu algo ainda mais inusitado:
– Subitamente apareceram à minha volta grandes rachaduras na
neblina, como se estivéssemos contemplando uma paisagem por uma
persiana. Corriam paralelas a nossa direção de voo. As rachaduras foram
ficando cada vez maiores, e pudemos identificar Miami Beach diretamente
abaixo de nós.[10]
Quando ele aterrissou em Palm Beach, Gernon notou que o voo havia
durado apenas 45 minutos, em vez dos 75 normais, e que havia sido
indireto, cobrindo 400 quilômetros em vez de 320. Porém, como o avião
podia ter coberto 400 quilômetros em 45 minutos, com uma velocidade de
cruzeiro máxima de 298 quilômetros por hora?
O piloto quis chegar ao fundo da questão. Checou os recibos de
combustível de voos anteriores e viu que, habitualmente, o avião vinha
gastando uma média de 150 litros no mesmo percurso. Contudo, dessa vez
só havia consumido 110 litros. Isso, segundo Gernon, “se encaixava na meia
hora que faltava, posto que o Bonanza teria utilizado 37 litros de
combustível para voar durante 30 minutos, percorrendo uns 160
quilômetros”.
Embora não tenha nenhuma explicação segura para esse salto no tempo,
Bruce Gernon Jr. sugere que, enquanto se encontrava no túnel, a formação
nebulosa podia estar avançando a uma velocidade de 1.600 quilômetros por
hora, explicando ao mesmo tempo a economia de gasolina. Aponta
igualmente a fantástica coincidência de que Mike Roxby, piloto de Merritt
Island, Flórida, tenha morrido pouco depois, quando seu pequeno avião
entrou em uma nuvem e caiu.
As variações horárias inexplicáveis registradas são, às vezes, mais curtas
que a meia hora perdida por Gernon, e outras, muito mais longas, como
aconteceu com Carlos García Bermúdez e Antonio Pérez. Em um dos
primeiros estudos de casos investigados por Berlitz, descrevem também
outra variação tão breve quanto surpreendente: a dos dez minutos
desaparecidos em um voo da National Airlines a Miami.
O avião, que desapareceu do radar durante dez minutos antes de iniciar
as operações de aterrissagem, reapareceu depois e aterrissou normalmente.
Os pilotos, surpresos ao ver na pista ambulâncias, carros de bombeiros,
extintores etc., mostraram-se ainda mais desconcertados quando o pessoal
da torre e de salvamento perguntou se tinham tido dificuldades enquanto
estavam fora do radar. Segundo o piloto e o copiloto, nada de anormal havia
acontecido, com exceção do voo por dentro de uma névoa que durou uns dez
minutos. Diante das insistentes perguntas a respeito de seu
desaparecimento do radar, checaram os relógios e viram que estavam dez
minutos atrasados. Então, consultaram o cronômetro do avião, os relógios
dos auxiliares de voo e até, discretamente, os de alguns passageiros,
comprovando que todos eles, inexplicavelmente, estavam dez minutos
atrasados. Ou seja, o mesmo lapso de tempo que haviam permanecido fora
do radar.
E o que dizer do caso daquele piloto que entrou em uma nuvem solitária
quando estava muito perto de Bimini? Ao sair dela, 15 minutos depois, sem
identificar ventos contrários nem outras condições pouco habituais,
encontrou-se aproximadamente na mesma posição de antes de entrar na
nuvem.
O que, ou quem, estamos enfrentando? Por que o Caravelle espanhol
consumiu entre 17 e 20 minutos a mais que o habitual no voo entre Bilbao e
a capital da Montanha? Acaso foi congelado ou petrificado em pleno voo?
Claro que não, posto que o consumo de combustível foi proporcional a esse
tempo extra. Por outro lado, os pilotos – de cuja perícia e honradez não se
pode duvidar – garantem que o rumo da aeronave se manteve constante:
sempre para o oeste.
O que nos resta, então? Sem desprezar, claro, outras teorias talvez muito
mais fantásticas, é possível – só possível, insisto – que a nuvem que se
interpôs no caminho do Caravelle fosse muito mais que uma simples
nuvem. Existindo muitos casos conhecidos no mundo – e nos quais os óvnis
aparecem intimamente vinculados a essas misteriosas nuvens –, inclino-
me a pensar que, talvez dentro dessa formação nebulosa, fosse possível
encontrar uma ou várias dessas naves. Nesse caso, e por razões que
ninguém pode saber, os supostos óvnis submeteram o avião a um
desconcertante processo de desaceleração do tempo humano. Há, inclusive,
a possibilidade de que o “pacote” nebuloso se deslocasse em sentido
contrário ao do Caravelle – ou seja, rumo ao leste –, mantendo sempre a
aeronave em seu seio, por meio de algum procedimento que nem sequer
podemos imaginar. Isso, creio, explicaria de alguma maneira a freada do
hodômetro e sua inexplicável marcha a ré, como se o avião – segundo
palavras dos pilotos – voasse em sentido contrário: para Bilbao, Pamplona
etc.
Sei que tudo isso não são mais que puras elucubrações. No entanto, que
outra explicação se pode dar?
O comandante Bermúdez, à esq., no comando de um Caravelle. Ninguém sabe explicar o que
aconteceu quando entraram na gigantesca nuvem. (Foto: Betargi.)
O copiloto do Caravelle, Antonio Pérez Fernández (hoje comandante), outro grande profissional
da aviação espanhola que protagonizou também a estranha aventura do voo 501 da Aviaco, entre
Valência-Bilbao e Santander. (Foto: J. J. Benítez.)
C
UM ÓVNI SEGUIU A CHEFE DAS COMISSÁRIAS
oisas do destino? Não sabemos o que pensar. O caso é que aquela
agradável comissária de bordo da companhia Aviaco, Ana Fernández de
la Calzada – chefe das comissárias no Caravelle que navegou pelo interior
da nuvem fantasma –, também havia sido testemunha de outro objeto
voador não identificado. Em uma de minhas várias entrevistas com os
pilotos do referido voo, Ana – cujo testemunho foi igualmente fundamental
– falou de sua experiência, na madrugada de 2 de agosto de 1974. Sem dar
muita importância ao fato, expôs:
– Às 3h30, 4h da madrugada, estava indo com um amigo pela estrada de
Madri a Santander. Ao subir o porto de El Escudo, vi uma luz no céu. Era
uma estrela impressionante. A atmosfera estava limpa, e vimos que nos
seguia. Paramos o Mini. A luz (muito amarela e luminosa) parou também.
Estava exatamente acima de nós. A verdade é que me assustei. Por quê? Não
sei bem. Estava claro, isso sim, que aquilo, um óvni ou o que quer que fosse,
estava nos observando. Nosso veículo era o único na estrada. Quem estaria
nos seguindo? E, acima de tudo, por que parou quando nós paramos? Vou
dizer uma coisa, Juanjo: Eu não acreditava em óvnis. De verdade. Mas
agora… O caso é que entramos no carro depressa. O objeto desceu e pousou,
ou ficou muito perto, não sei bem, em um vale, à direita da estrada. Então,
pudemos vê-lo melhor. Era amarelo, redondo e cintilava. Talvez não
estivesse nem a 800 metros do Mini. Meu medo aumentou. Ligamos o carro
e, ao começar a andar, o objeto se elevou, seguindo-nos até o alto do porto.
Nesse momento, despontava o alvorecer, e ele desapareceu.
Ao concluir seu relato, perguntei à comissária de bordo se se atreveria a
comparar aquele objeto com algo conhecido, pela forma de voar,
características etc. Ana foi categórica:
– Em absoluto. Aquilo, além de tudo, não fazia barulho. Se fosse um
avião, helicóptero ou qualquer outro aparelho conhecido, eu não teria ficado
com medo.
– Por que acha que sentiu esse medo?
Ana hesitou.
Ana Fernández de la Calzada, chefe das comissárias do voo 501 da Aviaco. Alguns anos antes do
encontro com a enigmática nuvem entre Bilbao e Santander, ela teve oportunidade de observar
um objeto voador não identificado no porto de El Escudo. (Foto: J. J. Benítez.)
– Também não poderia explicar isso muito bem. Talvez eu soubesse, ou
percebesse, que estava diante do desconhecido. Diante de algo muito
superior.
– Agora você acha que os óvnis são realidade?
– Não é que eu ache. Eu sei, posto que vi um.
– Pareceu-lhe um objeto sem controle?
– Nada disso. O óvni voava. Seguia o mesmo caminho que nós. Parou
quando nós paramos. Ficou assim uns minutos, e na hora que entramos no
carro, desceu na vertical. Possivelmente aterrissou. Soltava luz intermitente
e, quando arrancamos, se elevou. Estabilizou-se em determinado nível e
nos seguiu outro bom tanto. Isso pode ser chamado de “sem controle”?
Quem tripulava esse objeto sabia perfeitamente o que estava fazendo.
A lógica da comissária de bordo me deixou sem fala. Tal como
aconteceria, um mês e meio depois de sua aventura com a nuvem, com os
pilotos Carlos García Bermúdez e Antonio Pérez Fernández e uma segunda
tripulação, também da Aviaco, formada pelo comandante Martín L. Sedó
García Tuñón e o copiloto Pedro Pérez Núñez.
O encontro desses dois aviões com outro óvni gigantesco já entrou nos
anais da moderna ciência que chamamos de ufologia.
Na madrugada de 2 de agosto de 1974, um óvni de grande brilho desceu no porto de El Escudo. A
comissária de bordo Ana Fernández de la Calzada foi testemunha ocular da aparição e das
evoluções do objeto.
A
FORTALEZA VOADORA NA AEROVIA PAMPLONA-BARCELONA
princípio, assim que o vi, fiquei em silêncio. Demorei alguns segundos,
talvez um minuto, a comunicar ao copiloto. Também não tinha muita
certeza do que estava à frente do avião. Ao nos aproximarmos um pouco
mais, fiquei atônito. Fiz um sinal a Antonio, que, “casualmente”, como você
diz, também voava comigo naquela tarde de domingo, 11 de março de 1979.
“Veja”, disse a ele. E o copiloto colou o nariz no para-brisas do DC-9. Sem
nem sequer me olhar, soltou um “Que diabos é isso?”.
Quando, na segunda-feira seguinte, dia 12, Carlos García Bermúdez e
Antonio Pérez Fernández aterrissaram em Bilbao, não demoraram a me
ligar. “Venha para o hotel!” – disseram em um tom urgente –, “Precisamos
contar uma coisa para você.”
Quando os pilotos me deram um primeiro resumo do que tinham visto
na tarde anterior, fiquei tão surpreso quanto eles. Haviam se passado
apenas 40 dias desde a experiência com a nuvem, no voo entre Bilbao e
Santander. Como podia ser? Felizmente para eles, não eram as únicas
testemunhas. Mas vamos começar do início.
Às 17h10 desse domingo, Carlos e Antonio, como disse, pilotavam uma
aeronave DC-9 da Aviaco. Era o voo 174. Haviam decolado de Bilbao e se
dirigiam a Barcelona, seguindo a aerovia UG23 (“Verde Superior 23”). O céu
estava limpo. Azul. Com um sol brilhante. Sem uma única nuvem. Tudo
corria às mil maravilhas.
– Ao chegar a umas 25 milhas a leste de Pamplona – ou seja, a pouco
mais de 46 quilômetros –, vi uma massa escura. Antonio e eu nos olhamos,
mas nenhum dos dois sabia o que dizer. Seria uma nuvem? Conforme nos
aproximamos, aquela cor quase preta foi ficando mais clara, como chumbo.
– Mas onde estava aquilo? No solo, no ar?
– Flutuando! Isso era o incompreensível. Nós estávamos um pouco mais
altos. Bem, liguei o radar. E nada!
– Nem como nuvem?
– Nem como nuvem. A tela não dava sinal algum. E, conforme
chegávamos a sua altura, Antonio e eu vimos que estávamos diante de algo
com formas definidas.
– Não era uma nuvem?
– Não. Categoricamente, não. Era simétrico. Passamos por cima, bem na
sua vertical, e era evidente que suas arestas estavam absolutamente
definidas. Repito – acentuou Carlos – que suas formas eram perfeitas.
Antonio, que acompanhava atentamente a conversa, assentiu.
– Visto de cima, parecia uma seta, e o conjunto nos fez lembrar três
pratos, ou discos, sobrepostos. De fato, a cor era cinza chumbo.
– Imagino – comentei em uma nova tentativa de encontrar uma solução
racional – que devem existir nuvens que adquirem formatos estranhos.
– Não. Repetimos que aquilo não era uma nuvem. Qualquer formação
nebulosa, por mais geométrica que seja, apresenta deformações: algo como
farrapos, partes desfiadas. Além disso, não oferece uma sensação de solidez
como aquilo. Parecia estático no centro da aerovia. Bem, se se movia, era
muito lentamente. Lá embaixo, em terra, vimos sua sombra. Era
perfeitamente oval.
O primeiro avião que enxergou a enorme fortaleza flutante foi o DC-9 pilotado por Carlos García
Bermúdez e ia de Bilbao a Barcelona. “Era perfeitamente simétrico, e suas arestas – detalharam
os pilotos – estavam absolutamente definidas. Aquilo, certamente, não tinha nada a ver com uma
nuvem comum.” O segundo avião, que decolou de Pamplona rumo a Barcelona, deu uma volta
completa em torno dela. “O tamanho daquilo era monstruoso”, comentou o comandante.
– Que dimensões podia ter?
– Você não vai acreditar.
– Vamos lá.
– Precisamos de uns sete segundos para atravessá-lo e o fizemos pelo
centro. Se nosso DC-9 voava a umas sete milhas por minuto, aquela coisa
tinha, pelo menos, três quilômetros de diâmetro.
– Chamaram a torre de controle de Madri?
– Pretendíamos, mas, no fim, desistimos.
– Por quê?
– Depois do que aconteceu com aquela nuvem no voo Valência-
Santander? Não! É quase certeza de que não teriam acreditado. Porém,
graças aos céus, assim que deixamos para trás a gigantesca seta, outro
avião que decolava do aeroporto de Pamplona começou a chamar a torre de
Madri. Era um DC-9, também da nossa companhia. “Madri! Madri! Tem
algum sinal de radar com um objeto voador não identificado, a umas 25
milhas ao leste de Pamplona? Madri! Na escuta?” “Negativo, não tenho
nenhum registro”, respondeu Madri. Você não pode imaginar a alegria que
sentimos ao escutar a chamada do comandante Sedó.
– A que distância esse DC-9 voava de vocês?
– A uns três ou quatro minutos. Então, esse segundo avião da Aviaco
pediu permissão a Madri para dar uma volta completa no objeto, e a torre
de Madri autorizou. Sedó, então, foi descrevendo o mesmo que nós
havíamos visto. Logo, um terceiro avião, dessa vez da Iberia, que passava
nesse momento sobre Pamplona rumo à França, notificou Madri da
presença do misterioso objeto. Aquele novo testemunho nos incentivou a
chamar a torre. Peguei o microfone e disse: “Ratifico completamente o que
relatou o Iberia e também o Aviaco Pamplona-Barcelona. Vimos o objeto
bem na aerovia e no ponto descrito pelos voos anteriores”.
– E o que Madri respondeu?
– Nada, que já tinha notícia do fato, mas que não havia sinalização no
radar.
– Se fosse um corpo sólido ou metálico, teria de aparecer na tela, não é?
– Sim. Principalmente tendo em vista as dimensões do objeto. A não
ser, claro, que aquilo gozasse de algum sistema para evitar ou absorver os
sinais do radar.
– Pode ser.
– Não é que “pode ser”. É que era. Do contrário, a monstruosa massa
que aqueles três discos formavam teria aparecido em nossos radares, nos de
Madri e, evidentemente, nos do Comando da Defesa Aérea.
– Estava claro, então, que o objeto era metálico?
– Sim, mas parecia estar coberto por algo extremamente estranho.
A partir desse momento, os dois DC-9 da Aviaco continuaram falando
por uma frequência especial e comentaram o acontecido.
Poucos dias depois dessa nova entrevista com Carlos e Antonio, o
comandante Martín Sedó me recebia gentilmente em seu domicílio, em
Madri. Àquela altura, junto com meus bons amigos Bermúdez e Antonio
Pérez, eu havia amadurecido a ideia de criar uma espécie de associação, ou
clube, formado por pilotos espanhóis – tanto civis quanto militares –, que
se sentissem atraídos pelo tema dos óvnis. Eu já conhecia um bom número
de profissionais que tinham sido testemunhas diretas e outros que, enfim,
queriam conhecer e investigar tão transcendental assunto com o máximo de
rigor e seriedade.
Naquela mesma segunda-feira, 12 de março, o comandante Bermúdez
me ajudou a elaborar uma primeira lista de pilotos, a quem, dias depois,
comuniquei uma reunião preparatória ou de contato para 10 de abril.
Infelizmente, uma série de viagens não previstas até então nos obrigou a
adiar a reunião.
A segunda convocatória – por carta pessoal minha – foi marcada
novamente para 10 de maio de 1979. Tudo estava pronto quando, 48 horas
antes, eu soube que nesse mesmo dia 10 eu teria de ir para a África, em uma
nova viagem com Suas Majestades, os reis da Espanha.
Para a reunião haviam sido convocados oficialmente uns 20
comandantes e copilotos das linhas aéreas espanholas. Ao voltar da África –
e embora eu tivesse notificado por telefone e telegrama quase todos os
interessados de minha impossibilidade de estar presente –, li em uma
revista especializada que havia sido criada uma Coordenadoria de
Informação Óvni entre os pilotos civis, por iniciativa de dois membros da
referida revista.
O fato não merece maiores considerações. Neste país, já se sabe, uns
deitam na cama, e outros é que levam a fama. Assim como acontece em
outras ordens da vida, na classe ufológica deste país jamais poderá existir
uma união sincera e sólida. Pelo menos enquanto não desaparecerem os
ciúmes ridículos, a inveja e, evidentemente, a considerável nuvem de
ufólogos de botequim que se comportam como o cão de El perro del hortelano.
[*]
O triste é que essas situações, longe de contribuir para o
desenvolvimento da investigação, dizimam as possibilidades de grupos e
indivíduos que se esforçam honesta e sinceramente para colaborar com algo
para desvendar o mistério óvni. Por isso, talvez, eu prefira continuar
sozinho. Mas não vamos perder o fio da meada.
O que foi que o comandante Martín Sedó, da Aviaco, viu quando foi
autorizado a dar uma volta completa com seu DC-9 em torno àquela seta
gigante?
O comandante Martín Sedó, um dos mais veteranos e bravos pilotos espanhóis. Após solicitar
autorização a Madri, fez um giro completo em volta do monstruoso objeto que flutuava sobre
Navarra.
A
O BRAVO COMANDANTE SEDÓ
cho que tanto Josefina, a mulher de Sedó, quanto seus cinco filhos,
acompanhavam a narrativa do comandante com a mesma curiosidade
que eu.
– Naquela mesma manhã – começou Martín, enquanto me oferecia uma
reconfortante xícara de café –, eu havia voado de Barcelona a Pamplona. A
área estava encoberta, e fizemos o voo em meio a nuvens, com toda a
normalidade. Aterrissamos no aeroporto navarro e, após uma escala de uns
45 minutos, decolamos novamente rumo a Barcelona. Saímos de Pamplona
às 15h52, mais ou menos. O céu havia mudado. Agora estava totalmente
aberto, sem uma única nuvem. Viam-se os Pirineus com enorme nitidez.
Iniciamos a subida até o nível previsto: 24 mil pés. Quando nos
encontrávamos em 15 mil, comecei a ver algo que, àquela altura, confundi
com uma solitária nuvem lenticular. Pedro Pérez Núñez, o copiloto, e eu,
fizemos um comentário: “Vamos virar um pouco para a direita, porque isso
vai nos chacoalhar”.
– Ou seja, aquilo que vocês identificaram desde o primeiro momento
como uma nuvem, não?
– Qualquer pessoa que a tivesse visto da terra ou de um nível como o
nosso teria acreditado que era uma simples nuvem cinza perolado com
bordas negras. Estava perfeitamente definida. De modo que decidimos
desviar um pouco. Esse tipo de nuvem é formado por efeitos de vento e, em
uma câmara de turbulência, fica encerrada a nebulosidade. São perigosas, já
que, em geral, nas zonas superiores e inferiores da nuvem ocorrem fortes
perturbações. Ao chegar aos 21 mil pés exatamente, nos situamos no
mesmo nível que a nuvem. Sua forma era esta.
Martín Sedó pegou meu caderno de anotações e desenhou o perfil do
objeto.
– Isso – comentei – tem a clássica forma de um prato de barriga para
baixo.
– Parecia um disco voador. Sua base começava aos 21 mil pés, como
disse, e terminava aos 23 mil. Ou seja, aquilo tinha uma altura de 2 mil pés.
– Em metros?
– Uns 600. Eu estava com o DME ligado, e o objeto, ou o que fosse,
estava situado a 21 milhas, ou 42 quilômetros de Pamplona.
– Direção leste?
– Sim. Especificamente em uma rota 120 e sobre a vertical do pântano
de Yesa. Aos 23 mil pés distinguimos a cúpula. Era brilhante. Mas não era só
um objeto. Havia três ali! Estavam sobrepostos, como se estivessem colados
um sobre o outro, e perfeitamente claros e definidos. A forma do conjunto
me recordou esses isolantes dos postes de alta tensão. Aquilo era tão
estranho e surpreendente que chamei a torre de Madri.
– Por que diz que lhe pareceu estranho?
Sedó apontou o desenho e respondeu:
– Porque não era nada conhecido por nós. Não se tratava de uma
nuvem, isso era evidente. O que podiam ser, então, aqueles três enormes
discos um sobre o outro, flutuando imóveis a 21 mil pés de altura? Perguntei
à torre de Madri se tinham algum sinal de radar naquele ponto e me
responderam negativamente. Nesse momento, um avião da Iberia que ia
pela rota de Castejón para a França, a uns 31 mil pés de altura, confirmou
que estava vendo aquela nuvem também. À frente, como você sabe, voava
Bermúdez, que havia passado sobre a vertical do objeto. De modo que pedi
autorização para fazer um 360.
– O que é um 360?
– Uma volta completa em torno da insólita nuvem.
– Desculpe, como foi a história do radar?
– Chamei a torre de Madri e perguntei se estavam captando algo no
radar, mas a cobertura de Madri não chega bem até ali. Então, chamaram
Siesta, em Calatajud. O radar militar nos deu uma senha, e então nos viram
dando a volta em algo. Para eles, tratava-se de uma zona de silêncio.
– O objeto emitia eco?
– Nenhum. Ao contrário. Os militares captaram a nós e registraram o
giro que estávamos praticando, mas, no centro desse 360, o radar só
percebia o que eles chamam de zona de silêncio. Como se houvesse uma
anulação ou talvez uma absorção do raio.
– O giro foi completo?
– Sim. Começamos a 21 milhas de Pamplona e o concluímos a 25. Ou
seja, eu calculo que o diâmetro do objeto devia ser de umas duas milhas,
aproximadamente.
– Três quilômetros e 700 metros!
O comandante Sedó compreendeu meu espanto.
– Parece impossível, não é? Mas era isso mesmo. E se mantinha quieto.
Com uma sombra que se projetava sobre a represa de Yesa.
– Você observou janelas, emblemas, algo?
– De lado era perfeito. Como três pratos totalmente simétricos e
sobrepostos. Com as bordas muito pretas, e o resto de uma cor cinza-
pérola. Mas era todo liso. Não vi nada disso.
– Era metálico?
– Não, eu não tive essa sensação. A princípio me pareceu uma massa
gasosa que envolvia alguma coisa. Em um momento do giro cheguei muito
perto e pensei em lançar nele o jato dos motores para ver se desmanchava.
Mas, ao chegar quase a cem metros, notei que não era uma superfície
gasosa. Eu estava diante de uma massa sólida!
– O que o fez mudar de ideia? Por que não lançou o jato dos motores?
– Porque, antes de tudo, vem a segurança dos passageiros. Aquelas 80
pessoas estavam pagando para ir de Pamplona a Barcelona, não de
Pamplona para o céu.
– Havia algum tipo de luminosidade?
– Sim. Ao vê-lo contra o sol, aquilo produzia um efeito muito estranho.
A cúpula, por exemplo, era nítida. Perfeita. Brilhante. Mas não se tratava do
brilho de uma superfície metálica, que reflete o sol. Tanto o copiloto quanto
as três comissárias de bordo que entraram na cabine também o viram e
concordaram comigo que a parte externa daquilo parecia camuflagem.
Como se estivessem escondendo algo dentro. Se na viagem de ida, de
Barcelona a Pamplona, os três discos estavam ali, poderiam ter passado
perfeitamente inadvertidos entre as nuvens. Mesmo depois, ao se abrir o
céu, qualquer observador da terra os teria confundido com uma nuvem
lenticular.
– Quanto tempo durou o giro?
– Uns cinco minutos.
Durante esse tempo, o comandante da Aviaco foi transmitindo à torre de
Madri o que estava vendo.
– Por último, nós nos afastamos e subimos a 24 mil pés, que era nossa
altitude de cruzeiro, rumo a Barcelona. Justamente nesse momento, ao nos
afastar do objeto, pudemos vê-lo contra o sol e notamos duas linhas que
saíam do disco superior. Pareciam dois jorros ou emanações.
– Ocorreu alguma anormalidade nos instrumentos de navegação?
– Nada.
– Soube se o Comando da Defesa chegou a ordenar a saída dos caças?
– Nesse momento, não. Quando chegamos a Barcelona, Pedro, o
copiloto, ligou para o controlador, que confirmou que a torre de Madri havia
pedido ao radar da Defesa que mandassem os interceptadores, mas a base
de Zaragoza não julgou oportuno. Depois de tudo isso, imaginei que o
comandante do Fokker que fazia a rota San Sebastián--Barcelona havia sido
igualmente testemunha do óvni. Ele passou por Pamplona 30 ou 45 minutos
depois que nós, e o objeto estava sobre a vertical da província de Logroño.
Isso queria dizer que a nuvem havia se deslocado contra o vento. Naquele
dia, vinha do Noroeste. Sendo um anticiclone, devia girar para a direita. A
essa altitude, o vento poderia atingir entre 20 e 25 nós. Como se explica que
pudesse voar contra a corrente de ar? E com um vento de quase 50
quilômetros por hora!
Pouco depois dessas entrevistas com os pilotos espanhóis, tive acesso
aos dados meteorológicos daqueles dias do mês de março de 1979. O Serviço
Nacional de Meteorologia, com sede em Madri, confirmou o seguinte em
relação à área de Pamplona: conforme havia dito o comandante Sedó,
naquele 11 de março, o vento tivera direção norte-noroeste. Às 7h, sua
velocidade havia sido de 11 quilômetros por hora. Às 13h, de 22 quilômetros
por hora, e às 18h, de 25 quilômetros por hora. Se o encontro com a nuvem
fantasma havia ocorrido a partir das 16h dessa tarde, era totalmente
impossível que uma nuvem normal pudesse se deslocar da região de Yesa,
em Navarra, para Logroño, em La Rioja. Dentre outras razões, porque o
vento soprava, como já me havia anunciado o piloto da Aviaco, em sentido
contrário.
O mais impressionante é que o gigantesco óvni não foi captado pelo radar militar de Zaragoza. Os
militares só percebiam uma zona de silêncio.
Pensando, inclusive, em um possível erro na data do avistamento do
óvni-nuvem, consultei também os ventos que haviam se dado na mesma
área do aeroporto navarro nos dias imediatamente anterior e posterior ao 11
de março. Este foi o resultado:
Às 18h do dia 10 de março, o vento tinha direção norte-noroeste, com
uma força de 19 quilômetros por hora. A essa mesma hora do dia 12 de
março, a direção do vento era a mesma – norte-noroeste – com uma
intensidade de 25 quilômetros por hora.
Nos dias 6, 8, 9, 13, 21 e 23 do mesmo mês, o vento esteve calmo. Isso
significa, simplesmente, que nem o dia 11 de março nem os dias anteriores
ou posteriores ofereceram condições meteorológicas propícias para que uma
nuvem qualquer pudesse se mover do leste ao sudoeste, que foi a direção
seguida pela “superfortaleza” voadora.
– Os passageiros o viram?
– Não sei com certeza. Mas creio que não.
– Como pode ser?
– Porque o tamanho era enorme, e o DC-9 estava muito perto. Eles, pela
janelinha, só poderiam apreciar uma massa cinza. Era diferente visto da
cabine.
– Desculpe que insista nesse ponto… Que palavra utilizaria para tentar
definir a cobertura, se é que a podemos qualificar assim, da nuvem?
Sedó pensou alguns segundos e acabou respondendo:
– Talvez gás sólido.
– Já havia visto algo parecido?
– Nunca. Meu copiloto e as comissárias de bordo também não. E veja
que já atravessamos nuvens estranhas!
– Se alguém lhe dissesse que dentro dessa camuflagem podiam se
esconder três óvnis, tal como os conhecemos, o que você pensaria?
O comandante sorriu:
– Olhe, sou um homem de mente aberta. Acredito que o Universo é
suficientemente grande para que muitas outras criaturas vivam nele.
– Mas o que pensaria?
– Eu não sei o que se escondia debaixo daquela estranha formação, o
que lhe digo é que tenho certeza de que não era natural e que podia servir
de proteção ou camuflagem para outra coisa.
Martín Sedó está atualmente há sete anos na companhia Aviaco, com
mais de 12 mil horas de voo. Foi piloto militar, fumigador, e é considerado
na aviação nacional um dos profissionais mais bravos e frios ao mesmo
tempo. Ele bem havia demonstrado isso no encontro com a superfortaleza
voadora.
O que eu não sabia enquanto entrevistava o comandante Sedó é que,
poucas horas antes de seu encontro com o gigantesco óvni, o piloto
veterano, em uma rotineira escala em Madri-Barajas, havia debochado do
ainda recente avistamento de outro objeto voador não identificado por parte
de dois companheiros da Aviaco.
Ironias do destino? Ou estava perfeitamente previsto que Martín Sedó se
encontraria, naquele meio-dia do sábado, 10 de março, com os pilotos
Miralles e José Antonio Silva? Mas, apesar das lógicas brincadeiras, Sedó,
que conhece bem os citados profissionais, afastou-se da mesa onde
almoçavam Silva e Miralles com a alma encolhida. Algo – muito grave –
havia acabado de acontecer sobre Madri.
MADRI: UM ÓVNI EM DIREÇÃO PROIBIDA
Foi engraçado. A última vez que falei com José Antonio Silva foi em
1974, no programa do canal TVE Semanal Informativo. Naquela ocasião, foi
ele quem me entrevistou. Eu tinha acabado de voltar do Peru e contei aos
telespectadores espanhóis minhas experiências com o polêmico IPRI
(Instituto Peruano de Relações Interplanetárias).
Meu primeiro encontro com os óvnis – em 7 de setembro daquele ano
nos areais de Chilca – provocou uma considerável agitação nacional. Agora,
cinco anos depois, tornei a ver Silva, em sua casa de Madri, e era eu quem o
entrevistava. No cúmulo dos paradoxos, também por causa dos óvnis.
José Antonio Silva divide seu tempo, há anos, entre duas áreas que o
apaixonam por igual: o voo e a televisão. Atualmente é um dos mais
populares e sérios profissionais da televisão em nosso país[11]. Lembro que,
ao concluir o programa, naquele mês de novembro de 1974, Silva me falou
de seu grande interesse pelo assunto óvni. “Até agora não tive sorte. Nunca
vi um”, disse-me ele.
Cinco anos depois, José Antonio Silva já não pode dizer o mesmo. No
fundo, o destino parece se divertir às nossas custas.
José Antonio Silva, também testemunha da presença óvni nos céus espanhóis.
Apesar de aquele 21 de abril de 1979 ter sido um dia de folga na intensa
vida de José Antonio Silva, o piloto da companhia Aviaco me dedicou boa
parte da manhã. Este foi seu relato, enquanto acariciava Marlen, sua cadela
dinamarquesa:
– Fazíamos um voo de Pamplona a Madri. Voávamos em um avião DC-
9. Antonio Miralles era o comandante, e eu, o copiloto. Miralles, como
talvez saiba, é um dos pilotos mais competentes da Aviaco. Foi capitão do
exército, inspetor e instrutor. Também voava conosco, entre as comissárias
de bordo, María Aburto, que, além de tudo, é piloto. E uma piloto fora de
série. Passou de primeira em Salamanca. Poucos conseguiram de primeira.
– Ela ia como comissária de bordo?
– Sim. Lá pelas 13h30, com um céu aberto, vento calmo e uma
visibilidade de dez quilômetros, dirigíamo-nos ao VOR de Madri. Nesse
ponto, uma vez autorizados, descemos a 4 mil pés e começamos a
aproximação ao aeroporto de Barajas. Nisso, um avião da Iberia que ia à
frente e que procedia do Sul chamou Madri: “Alô, Madri”, –comunicou o
Iberia ao controle de Paracuellos–, “tenho um tráfego à vista. Está a nossa
esquerda.” “Sim” –respondeu Paracuellos–, “efetivamente. Você tem um
tráfego à vista. Está na tela do radar há duas horas, mas não sabemos o que
é. Demos o alerta a Torrejón. A princípio, achamos que devia ser um
helicóptero, mas, não, já vimos que não pode ser. Agora está a dez milhas e
à sua esquerda.” O Iberia confirmou essas palavras do controle de
Paracuellos. “Sim, de fato. Aí está.” E Paracuellos repetiu que se tratava de
um eco primário.
– Podia ser um avião de pequeno porte distraído?
– Não. Ao ouvir isso, peguei o microfone e, brincando, disse ao avião da
Iberia: “Vejo vocês no programa do doutor Jiménez del Oso!”
– Aquele tráfego não incomodava o avião da Iberia?
– Não. Tanto que passou ao controle da torre de Barajas, e se
prepararam para aterrissar. Quando estávamos a umas cinco ou seis milhas
de “Charli Papa Lima” – o VOR de Madri –, chamamos a comissária de
bordo e, meio de brincadeira, meio a sério, comunicamos sobre o óvni.
Continuamos descendo, e, ao chegar aos 4 ou 5 mil pés, a torre de Madri
ligou: “Aviaco, tem outro tráfego à vista?” A verdade é que o controlador
não se atrevia a dizer “objeto não identificado”. “Agora devia estar à 12
pés”, prosseguiu a torre de Madri. À 12 pés, como sabe, é muito perto”.
Começamos a olhar. Madri aparecia ao fundo. Mas não enxergávamos o
tráfego. Até que, por fim, sobre a cidade de Madri vimos um brilho. Estava
muito longe e meio borrado sobre a cidade. Então, Miralles comentou:
“Deve ser aquilo!” Eu até disse que não, que aquilo parecia um brilho do
solo. Mas não, porque aquilo se movia e se deslocava para nós! E seu
tamanho aumentava claramente!
– Como era?
– Como um ponto de flash. Como esses flashes contínuos de televisão.
Igual. Com um brilho extraordinário e sem forma. Continuou aumentando,
e, então, nós comunicamos que o estávamos vendo. Autorizaram a
aproximação. Na verdade, nesse momento nós estávamos mais atentos à
manobra que ao óvni. Viramos e continuamos descendo. E o óvni se colocou
a nossa esquerda, voando em paralelo com o DC-9. Eu chamei Paracuellos
de novo e disse: “Alô, o tráfego está do nosso lado”. “Sim, está paralelo a
vocês”, responderam.
– Quer dizer que continuavam captando-o no radar do controle de
Paracuellos?
– Isso mesmo.
– A que distância podia estar do avião de vocês?
– Perto. Mais para cá do Cerro de los Ángeles e muito baixo. Talvez a
uns 3 mil pés. A luz continuava muito intensa, e a forma, talvez, um pouco
ovalada.
– E o volume?
– Muito maior que um avião Jumbo.
– Ficou à altura de vocês?
– Sim, e a umas sete milhas de distância.
– Até onde os seguiu?
– Nós o perdemos de vista por causa dos edifícios do bairro do
aeroporto. Então, voou junto a nós até muito baixo. Talvez seguisse a
trajetória da autopista. E aterrissamos.
– Por quanto tempo o viram no total?
– Entre quatro e cinco minutos. Quando chegamos em Barajas, fomos
almoçar, e um dos controladores da torre foi falar conosco. Explicou que
aquele tal objeto estava havia umas duas horas por ali. Que se aproximava
dos aviões e os acompanhava em suas manobras de aterrissagem. Mas isso
não foi tudo. Depois, soubemos que o óvni havia se situado na aerovia. E
voou para Charli Papa Lima e Castejón. Quando se encontrava em um ponto
chamado Yebra, a 16 milhas, dividiu-se em três.
– Em três objetos?
– Isso. Ficaram um tempo voando pela área e, pouco depois, uniram-se
de novo. E o óvni se afastou a uma velocidade descomunal.
– Tudo isso captado nas telas de radar de Paracuellos?
– Tudo. O óvni utilizou materialmente a aerovia, como se fosse um
avião. Com uma diferença substancial, claro.
– Qual?
– Nós usamos essa aerovia para entrar em Barajas, e o óvni fez o
contrário. Saiu por ela!
Ao se aproximar do aeroporto internacional de Madri-Barajas, um objeto ovalado e muito
brilhante se posicionou na lateral esquerda do avião de Miralles e Silva. Ao aterrissar, o óvni
desapareceu da vista dos pilotos. Por último, o objeto – com o dobro do tamanho de um avião
Jumbo – dirigiu-se para o ponto conhecido como Yebra, dividindo-se em três.
M
MIRALLES: “ERA COMO UM FUSO”
eses depois, em um voo de Madri a Bilbao, a sorte voltava a me
acompanhar. Ali, no comando daquele DC-9 da Aviaco, estava
justamente o comandante Miralles. E com o copiloto, José Luis Chisbert,
como testemunha, Antonio foi confirmando tudo que Silva me havia
relatado.
Sim, vimos uma forma ovalada. Como um fuso. E de um branco fosco.
Curiosamente, enquanto nos acompanhava às 9h, o óvni foi se acomodando
às sucessivas mudanças de velocidade do avião. Note que fomos passando
de uns 240 nós a 130, e o objeto se mantinha sempre em nosso nível e
velocidade. Uma vez no restaurante do aeroporto de Barajas, o controlador
de Paracuellos foi até nós e informou que o objeto, uns 20 minutos depois
de nossa aterrissagem, havia se afastado pela aerovia que havíamos
utilizado na aproximação a Madri, dividindo-se em três ao chegar ao
chamado ponto Yebra! Que avião humano pode fazer uma coisa dessas?
Tal como dizia Miralles, o objeto havia se comportado de maneira
absolutamente anormal. Nem é preciso dizer que nessa região – a poucos
quilômetros de Barajas – o tráfego aéreo é tão denso que nenhum avião
militar ou civil pode se permitir o perigoso luxo de brincar com as
aeronaves de passageiros, acompanhando-os em suas delicadas manobras
de aproximação e aterrissagem. A essas horas – em plena luz do dia –,
qualquer tráfego (avião de pequeno porte, caça ou jato de passageiros) teria
sido reconhecido facilmente pelos pilotos. Mas não foi assim. A explicação,
pra mim, é impressionantemente simples: aquele objeto de forma ovalada e
de um tamanho possivelmente superior ao de um Boeing 747 nada tinha a
ver com nossos aparelhos. Aquilo, simplesmente, era uma nave tripulada
alheia à Terra.
Mas se o óvni havia permanecido duas horas sobre Madri, por que não
foi dado o lógico alerta militar? Até hoje, não pude descobrir.
Enquanto Miralles fazia aquilo descer, falou-me de outro caso
igualmente inexplicável:
– Já faz uns 13 ou 14 anos. Voávamos em um Britania, da Inglaterra a
Palma. Era um voo charter, e lembro que Salazar era o comandante. Eu era
copiloto, na ocasião. A noite estava fechada, e o tempo, totalmente aberto.
Pois bem, sobre Bagur, um objeto de grandes proporções e de cor alaranjada
cruzou nosso caminho. Seguia direção sudoeste. Foi questão de oito ou dez
segundos, mas todo mundo na cabine o viu. Ficamos perplexos. Era
redondo! Ao consultar a torre de controle nos disseram que o único tráfego
conhecido era outro avião que voava de Roma a Madri, mas que estava
muito longe. Posso garantir que tinha uma velocidade dos diabos.
Quando a criatura – o DC-9 – tocou a pista de Sondica, não pude evitar
um último comentário:
– Por mais que tente, não consigo entender como vocês conseguem
fazer descer essas coisas.
Miralles sorriu calmamente, enquanto apertava minha mão, e
respondeu:
– Nós também não, J. J.
O óvni ficou duas horas nas telas do radar do Centro de Controle de Voos de Paracuellos del
Jarama, nas proximidades de Madri-Barajas.
O comandante Antonio Miralles definiu a forma do óvni como um fuso. “Evidentemente –
acrescentou – aquilo era dirigido de forma inteligente.” (Foto: J. J. Benítez.)
À
UMA NAVE-MÃE SOBRE O MEDITERRÂNEO
s vezes, eu me pergunto por que ainda me surpreendo em determinadas
situações. Não deveria, a esta altura…
Naquele 11 de julho de 1979, ocorreu um desses curiosos
acontecimentos. Depois de dirigir sem parar de Bilbao à cidade gaditana de
Barbate, eu estava cansado, mas precisava continuar. As investigações com
os pilotos espanhóis não estavam concluídas, longe disso. Naquela mesma
noite de 11 de julho, eu precisava chegar a Palma de Maiorca. Ali,
completaria o segundo bloco do trabalho com comandantes das companhias
Spantax, TAE e Transeuropa.
Uma vez registrados alguns recentes avistamentos óvni no sul da
península, minha primeira intenção foi seguir para Granada. Meu grande
amigo Mariano Carmona Almendros havia me falado de outros casos não
menos interessantes ocorridos naquela província. Depois, forçando a
marcha, precisava passar por Alicante, onde outro querido colega, Luis
Giménez Marhuenda, havia protagonizado um excepcional avistamento.
Supondo que meu velho 124 não explodiria por esgotamento no meio da
estrada, à meia-noite decolaria do aeroporto valenciano rumo às ilhas
Baleares. Porém, tudo se complicou. Um dos eventos óvni, acontecido em
águas do estreito de Gibraltar, tinha uma importância maior do que eu
havia imaginado. Assim, todos os meus planos foram por água abaixo.
No início da tarde de quarta-feira, 11 de julho, eu continuava na
província de Cádiz, com a passagem do avião Valência-Palma de Maiorca no
bolso. Só restava uma possibilidade, e me dirigi ao aeroporto de San Pablo,
em Sevilha. Milagrosamente, conseguiram me colocar no voo de Spantax
que chegava das Canárias e que casualmente, se dirigia a Palma.
Uma vez no Convair Coronado, respirei tão profundamente que uma das
comissárias de bordo veio até mim, perguntando se precisava de alguma
coisa.
– Sim – disse eu, enquanto lutava com a bolsa das câmeras, tentando
acomodá-la entre as pernas –, um uísque duplo.
Ao decolar, chequei a agenda de trabalho. Um dos comandantes que eu
devia encontrar nas Baleares – justamente da mesma companhia que
naquele momento me levava a Palma – era Pedrito Montero. Esse piloto,
segundo minhas informações, havia sido testemunha do que nós,
investigadores, chamamos de uma nave-mãe óvni. Seguindo um primeiro
impulso, dirigi-me a uma das comissárias de bordo:
– Pode me dizer quem é o comandante?
– Não o ouviu pelos alto-falantes?
– Não, claro. Do contrário, não perguntaria.
– É o comandante Pedro Montero.
Uma sacudida me percorreu dos pés à cabeça.
– Você o conhece? – perguntou-me a comissária.
– Sim. Ou melhor, não. Pode lhe entregar um cartão meu? É que eu
investigo casos de óvnis e gostaria de falar com ele.
A bela comissária de bordo me olhou um tanto perplexa. Mas concordou
gentilmente. Minutos depois, voltou até minha poltrona e me convidou a
entrar na cabine.
Desta forma conheci o comandante Montero, um piloto de 48 anos, com
mais de 22 mil horas de voo. Enquanto cruzávamos a península, no meio de
um céu que ia ficando vermelho, Pedro me contou o acontecido quando
realizava um voo entre Marselha e Palma. Foram testemunhas da entrevista
o copiloto, Antonio Tugores, e o mecânico de voo, Jesús Baos.
– Não tenho certeza se foi em 1977 ou 1978, mas podemos checar. Eu
estava voltando com passageiros e devia estar a umas 90 milhas da costa de
Maiorca. Nesse momento, escutei outros aviões – quatro ou cinco – falando
de umas luzes estranhas. Todos voávamos na mesma área, sobre o
Mediterrâneo. De fato, quando me encontrava ao sul de Nice, vi uma luz
muito estranha. Estava às 3h30 de minha posição e um pouco mais baixa. Se
eu voava então a 33 mil pés, aquilo devia estar a uns 25 mil. Permanecia
imóvel. Olhei melhor e vi que eram várias luzes vermelhas que davam ao
objeto uma forma circular. Estavam fixas. Daquelas luzes saíam outras
(também vermelhas), que subiam e desciam. Não tenho certeza, mas acho
que vimos outras brancas. Desciam formando um leque até a superfície do
mar e depois subiam à mesma velocidade. Era uma velocidade rápida:
parecida com a dos jatos. Entravam e saíam do objeto ao mesmo tempo.
Perguntamos à torre de controle de Barcelona se os detectava, mas a
resposta foi negativa. Eu calculo que, dada a respeitável distância à qual se
encontrava de nós, o óvni devia ser muito maior que um Jumbo. Dez
minutos depois, iniciamos a descida para Palma e não o vimos mais.
Ao perguntar a Pedro Montero o que acreditava que podia ser aquilo, ele
respondeu:
– Um óvni. O que tradicionalmente se conhece como objeto voador não
identificado.
– Algo terrestre?
– Não creio. Não existe avião ou helicóptero com tais características.
Um perigoso vento em cisalhamento nos deu as boas-vindas no
aeroporto de Palma. Montero, sem se alterar, revelando nervos de aço,
permitiu que o jovem copiloto enfrentasse aquela turbulência.
Foi quando realmente desejei um uísque duplo.
Depois daquele encontro com o comandante da Spantax, tudo foi muito
mais tranquilo para mim. Nos dias seguintes, tanto Pedro quanto Marisa
Sabaté – outra gentil comissária de bordo da mesma companhia –
proporcionaram-me sua mais desinteressada ajuda. E, graças a eles, pude
duplicar o número de entrevistas programadas.
Possivelmente, o óvni visto pelo comandante Montero sobre o Mediterrâneo era uma nave-mãe.
Dele entravam e saíam outros objetos menores.
N
UM PETROLEIRO A 30 MIL PÉS DE ALTURA
essa nova busca por pilotos testemunhas de óvnis, encontrei um caso
que guarda alguma semelhança com o de Montero. Foi protagonizado,
dentre outros, pelos comandantes Fortunato Lazarán Olmo, da companhia
TAE, e Camps e Delachica, da Spantax. Todos eles com mais de 10 mil horas
de voo.
Foi, igualmente, sobre as águas do Mediterrâneo. E também à noite.
– Os dois aviões – reconstruiu Lazarán – dirigiam-se a Palma, seguindo
a rota de Marselha. Neste momento não posso recordar a data exata.
– O que aconteceu?
– Camps ia na frente. Mais ou menos a umas 70 milhas. Eu os ouvi falar
de um objeto voador não identificado que estavam vendo. “Está à nossa
esquerda”, dizia o Spantax, “entre 50 e 200 milhas de distância!” Olhei
naquela direção e vi uma enorme bola luminosa, de uma tonalidade violeta
forte. Mantinha-se em nosso nível, e a intensidade luminosa aumentava.
Acho que havíamos percorrido umas 40 milhas desde Marselha. Aquele
objeto devia estar entre as ilhas de Córsega e Menorca. Porém, o que mais
causou estranhamento a todos foi seu volume. Era muito maior que um
petroleiro! Apaguei as luzes do avião para apreciá-lo melhor, e, de fato,
ratifiquei minha primeira ideia: se aquele objeto fosse um petroleiro em
chamas, seu tamanho, a essa distância, não teria alcançado tamanhas
proporções.
– Mas o óvni estava no ar.
– Sim. À nossa altura, que devia ser de uns 30 mil pés. Chamei a torre de
controle de Barcelona, mas não o viram na tela. Então, pedi permissão para
desviar, e me concederam. Continuamos vendo aquela esfera, totalmente
imóvel e brilhante, durante mais cem milhas. De repente, embaixo da
grande bola apareceram mais três esferas menores da mesma cor violácea.
Ficaram ali uns 30 segundos e depois se elevaram até se fundir com a esfera
grande. Nesse momento, a intensidade da luz aumentou.
– Ao entrar na nave-mãe?
– Sim, justamente. A seguir, o conjunto desapareceu de nossa vista.
– Afastou-se?
– Não. Acho que se apagou ou simplesmente desapareceu. Eu não
saberia explicar como.
– Que tamanho aquela esfera podia ter?
– Sem dúvida, maior que a lua cheia.
Para qualquer investigador medianamente experiente, tanto o caso de
Pedro Montero como o de Lazarán e Camps se encaixam no que, em
ufologia, denominamos naves-mães. Esse tipo de óvni geralmente tem
grandes dimensões e parece servir como portador das menores, também
qualificadas como de exploração.
Foram vistas em muitas ocasiões, fixas a grandes alturas, enquanto
outras naves minúsculas entram e saem delas. As formas mais comuns
dessas nave-mães ou portadoras – a julgar pelos milhares de testemunhos
recolhidos em todo o planeta – são justamente a esfera, como a descrita
pelos comandantes, o grande charuto ou cilindro e o delta.
É estranho que se aproximem da terra. Quase sempre foram detectadas
ou observadas a alturas consideráveis. Esse comportamento parece lógico.
Se essas naves monstruosas – algumas vezes de até quatro quilômetros de
diâmetro ou extensão – se aproximassem de núcleos urbanos, as
consequências poderiam ser desastrosas. Além do pânico coletivo que
causariam, esses objetos criam sem dúvida formidáveis campos magnéticos
e eletromagnéticos, que talvez perturbassem nosso abastecimento elétrico,
nossos sistemas coletivos de transporte, veículos etc.
Se, além do mais, parece mais que provado que não desejam um contato
direto e aberto com nossa civilização, é lógico – supondo que sua lógica
tenha alguma semelhança com a nossa – que se mantenham em níveis
prudentes e praticamente escondidos.
Quando decidem explorar ou investigar nossos campos, cidades ou
instalações militares, utilizam outro tipo de veículo muito mais reduzido.
São os típicos óvnis que se veem às centenas de milhares há séculos. Óvnis
discoidais, esféricos, ovalados etc., que foram vistos tanto sozinhos como
em esquadrilhas. Assim como aconteceu em 8 de julho de 1979 com outro
grande profissional do ar: o comandante J. Antonio Sierra San Jorge, da
companhia TAE.
É
A SAUDAÇÃO A UMA ESQUADRILHA ÓVNI
um grande mérito, penso eu, que um velho piloto de combate reconheça
que sentiu medo. Isso foi o que, com toda a sinceridade, disse-me hoje
o comandante Sierra, com uma experiência de 10 mil horas de voo. A
entrevista transcorreu em seu chalé, perto da cidade de Palma.
O ocorrido ainda estava fresco em seu ânimo. O encontro com a
esquadrilha óvni havia acontecido no domingo, 8 de julho. Portanto, fazia
só uma semana. Na presença de meu grande amigo, o também comandante
Pedrito Montero, entramos no assunto:
– Eram 2h da madrugada. Fazíamos um voo entre Dublin e Las Palmas,
via Santiago de Compostela e Porto Santo, na ilha da Madeira. Ao chegar ao
ponto que denominamos “Veram”, a umas 250 milhas de Porto Santo,
escutamos um avião da companhia portuguesa TAP. Havia algumas luzes à
sua esquerda. Tanto Vadell, o copiloto, quanto Rocha, o mecânico, e eu,
olhamos na direção indicada pelo TAP. Voávamos quase em paralelo e na
mesma rota. E lá estavam: oito luzes em formação!
– Em uma única esquadrilha?
– Não, em duas. Iam em grupos de quatro. Eram luzes brancas, puxando
para o laranja-amarelado. Estavam às 9h de nossa posição. Às vezes, a
intensidade luminosa aumentava, e davam a sensação de ser uma única luz
forte. Voavam sobre o mar a um nível inferior ao nosso, que era de uns 37
mil pés. Depois de dez minutos observando-os, ocorreu-nos a ideia de fazer
sinais com as luzes das asas do DC-8. Depois de 30 ou 40 sinais de luz, uma
das esquadrilhas – porque a outra havia desaparecido – começou a se
aproximar. Sentimos medo, e Rocha me pediu que não fizéssemos mais
sinais de luz. Não fizemos. Então, a esquadrilha de quatro luzes parou de se
aproximar do avião e desceu para o Atlântico. Era formidável! Quando
passou, a superfície do mar se iluminou. Às vezes, parava sobre o oceano.
Em outros momentos voou atrás de nós.
– Quanto tempo ficaram à vista de vocês?
– Uns 40 minutos. Ao chegar a umas cem milhas de Porto Santo, não os
vimos mais.
– A que velocidade se moviam?
– Mais ou menos na mesma que nosso avião: a umas oito milhas por
minuto. A princípio, ligamos o radar e os vimos a umas 50 milhas. Houve
um momento em que se colocaram às 8h de nossa posição (atrás), e o
volume da luz aumentou. Depois se afastaram outra vez.
– Por que tiveram medo?
O comandante Sierra deu de ombros.
– Veja, nunca se sabe… As duas formações estavam tripuladas, isso era
evidente, mas não eram aviões. E tinham aquela luz que iluminava o mar!
Ficamos com um pouco de medo porque todos tivemos consciência de que
estávamos enfrentando algo desconhecido. Superior. Naquele momento,
não podíamos avaliar suas intenções.
– Podiam ser artefatos de nosso mundo?
– Não sei. Duvido.
Penso, como já comentei em outras oportunidades, que esse medo que a
maior parte das testemunhas de óvnis sente está plena e absolutamente
justificado. O homem que enfrenta de repente, inesperadamente, uma ou
várias dessas naves passa por um duplo processo. Por um lado, a
testemunha – salvo exceções – sofre as reações próprias de quem se depara
com algo desconhecido, insuspeitado e nem remotamente imaginado.
Guardadas as devidas proporções, o terror que essas pessoas podem
experimentar teria certa semelhança com o que talvez pudesse provocar em
qualquer um de nós a repentina presença de um dinossauro na esquina de
nossa casa. No caso do óvni, com o agravante de que o objeto não pode ser
identificado com a mesma rapidez ou facilidade que o monstro
antediluviano.
Como se não bastasse, temos de acrescentar um segundo fator: em
décimos de segundo a testemunha toma consciência da avassaladora
superioridade do que está diante de seus olhos. Seu medo aumenta, posto
que ninguém nessa situação está em condições de fazer uma dissecação fria
e objetiva da possível bondade ou agressividade do óvni ou dos que
evidentemente o tripulam. Se, ainda por cima, a pessoa tiver consciência de
que a nave que está se aproximando, ou que a persegue, é um engenho
extraterrestre, seu pânico pode remontar a cotas mais altas. Embora,
insisto, haja exceções, o normal é que qualquer testemunha – tenha o nível
cultural que tiver – acabe sempre fugindo, vítima de um forte choque.
O que fazer quando não se pode fugir, e um gigantesco óvni se aproxima
da testemunha? E, acima de tudo, o que fazer quando essa testemunha é o
comandante de uma aeronave de passageiros? Esse foi o caso de um piloto
da companhia brasileira Varig quando cruzava o espaço aéreo espanhol. Um
segundo avião – da companhia Aviaco – foi testemunha ocular de tudo o
que aconteceu naquela noite nos céus da Espanha.
A
UMA CASA DE CINCO ANDARES… QUE VOA
notícia do caso do avião da Varig e do da Aviaco que voava
imediatamente atrás chegou até mim no fim de 1976. Em 1978, os
controladores aéreos de Sevilha, que participaram do ocorrido, atenderam a
meu pedido, e pudemos fazer um programa para TVE. Nele, José Galindo
Moya – que naquela madrugada estava de serviço na torre de controle de
Sevilha – e outros profissionais do mesmo lugar expuseram esse e outros
fatos diretamente relacionados a objetos voadores não identificados.
Pouco depois da gravação do programa, transmitido no espaço Más Allá,
do doutor Jiménez del Oso, e já plenamente ocupado na busca de pilotos que
tivessem visto óvnis, marquei uma entrevista com o comandante Prieto,
que naquela noite pilotava o Aviaco 225, de Madri a Sevilha. Neste
momento, estou seguindo a pista do comandante brasileiro.
Saturnino Rodriguez Prieto, de 40 anos, casado, três filhos e 16 anos
como profissional, com 11 mil horas de voo, teve a gentileza de me buscar
no aeroporto de Madri. Pouco depois, e em um hotel no centro da capital,
detalhou-me assim sua experiência:
– Estávamos fazendo um voo noturno para Sevilha e Málaga, e nos
preparamos para a decolagem. Eu pilotava um DC-9. À nossa frente rodava
o 707 da Varig. Estava muito carregado e andava pesadamente. Acho que se
tratava do voo RG-753.
– Tudo isso em Madri?
– Sim, em Barajas. Dali íamos para Sevilha. O Varig, como sabe, fazia
um voo transatlântico, para o aeroporto brasileiro do Galeão. Chamei a torre
e perguntei se podia decolar antes do Varig. “Negativo”, respondeu.
“Espere.” E esperamos. A torre nos fez esperar três ou quatro minutos. Às
2h30 da madrugada, decolamos. Como pode imaginar, estávamos de olho no
Varig.
– Por quê?
– Porque víamos que a distância entre nós e aquele avião era cada vez
menor. Devíamos estar a umas oito milhas, o que não é uma distância
regulamentar. Alertamos a torre, e ela nos disse que já havia notado, que
tínhamos razão. Então Madri me disse que mantivesse um nível inferior e
que eles dariam os níveis livres do Varig. Assim, fomos nos mantendo a 21
mil, 23 mil pés. Justamente para ficar longe do avião brasileiro, que ia
subindo, e exatamente na mesma rota que nós, até Hinojosa del Duque. Se o
Varig subia à razão de 700 pés por minuto, nós o fazíamos a 1500 ou 2 mil.
Ou seja, a proporção era absurda. Enfim, continuamos mantendo a distância
e o nível. Até que o copiloto – Elías Moro – me disse: “Olhe. Agora está à
nossa frente”. Achei estranho. E comentei com Elías: “Você o está vendo aí
na frente?” “Sim”, respondeu, “está vindo para cá.”
– Quanto tempo tinham de voo?
– No máximo 15 minutos. Faltava pouco para chegar a Hinojosa. Foi
quando meu copiloto fez aquela observação. Primeiro vimos uma luz,
perfeitamente redonda. Era como um farol que ia crescendo. Na parte de
trás, havia algo como umas janelinhas. Essa foi nossa primeira impressão,
ao vê-lo ainda longe. Em outras palavras, como se aquilo tivesse forma de
fuso ou cilindro, com janelas no centro. Mas, ao vê-lo mais de perto, vimos
que não era isso. Aquele foco de luz que o suposto cilindro tinha no nariz
era um gigantesco objeto de forma lenticular.
Pedi ao comandante Prieto que fizesse alguns esboços. Efetivamente, o
piloto desenhou um óvni típico, com a conhecida forma de lentilha.
No caderno de anotações de J. J. Benítez, o comandante Saturnino R. Prieto esboçou esses
esquemas e desenhos. Em cima, à esq., a rota seguida pelos dois aviões: o Varig brasileiro e o
Aviaco. À dir., o gigantesco óvni, seguido por outros objetos menores que, em um primeiro
momento, a tripulação do avião da Aviaco confundiu com janelas do óvni em forma de lentilha.
Na parte inferior direita, o tamanho do óvni em relação às janelas da cabine da aeronave da
companhia espanhola Aviaco.
– Tinha uma luz branca puríssima. Era como duas lentes convexas
unidas e perfeitas. A linha, ou parte central, era de um cinza-amarelado
pouco definido. Talvez mais amarelado que cinza.
– E as “janelinhas”?
– O que nos pareceram janelinhas eram outros objetos, menores, que se
moviam seguindo o grande em direção NNE. Havia cinco ou seis e
soltavam… não sei como explicar… Talvez como quando você queima um
plástico e caem alguns pedaços em chamas? Algo assim, mas com um brilho
enorme. Como quando se funde alguma coisa metálica a uma temperatura
elevada.
– Acontecia a mesma coisa com o grande?
– Não, só com os pequenos.
– Mas, desculpe, Nino. Você estava dizendo antes que o copiloto o
alertou sobre uma luz…
– Sim, isso. Quando a vimos, achamos que podia se tratar de um avião.
Talvez o Varig, e fizemos sinais de luz.
– Em que nível voavam?
– Impossível saber. Isso depende do tamanho dos objetos. Se eram
muito grandes, então deviam voar muito alto. A única coisa que posso dizer
é que, independente de seu volume e sua altura, nós o vimos do tamanho ou
maior que um Jumbo.
– Ou seja, podia ser gigantesco.
– Certamente. Quando estava mais perto, quase em nosso zênite,
ocupava uns dois terços do para-brisas do DC-9.
– Passou muito acima de vocês?
– Não. No máximo, a 10 mil pés.
– A propósito, houve alguma resposta a seus sinais de luz?
De acordo com os pilotos, testemunhas do encontro óvni, esse era muito maior que um Jumbo.
(Esses aparelhos atingem 98 metros de comprimento.) O formidável objeto brilhante levava uma
escolta de óvnis menores. Pelo menos – segundo as testemunhas – quatro de cada lado.
– Não. O objeto que ia à frente manteve a mesma intensidade luminosa.
A única coisa que vimos foi que os objetos ou naves menores mudaram de
rumo e se dirigiram para o leste.
– Qual era a cor das naves que iam atrás?
– Igual a esse amarelo-acinzentado do centro da nave grande. Então,
chamei a torre de Madri e perguntei se havia algum tráfego por essa rota.
“Negativo. Deve ser um óvni”, respondeu.
– Disseram isso?
– Sim, mas de brincadeira. Como querendo dizer: “Como você me
pergunta isso se sabe que essa é uma aerovia de descida?” Foi nesse
momento que o Varig e um Iberia que se dirigia ao Rio responderam:
“Então, deve ser um óvni, porque nós também o vimos.”
– Observaram simultaneamente o Varig e os óvnis?
– Não. Quando não víamos mais o Varig, porque o tiraram da aerovia,
começamos a contemplar aquelas luzes. Por isso, Elías achou que era o
avião brasileiro. Ao aterrissar em Sevilha, um guarda particular do
aeroporto comentou: “Que susto vocês nos deram!”. “Por quê?”, perguntei,
intrigado. “É que passou um avião por aqui, e eu disse: ‘Acendam as luzes
que o Aviaco se antecipou’. Mas eu estranhei, porque não havia barulho”.
Naturalmente, o pessoal do aeroporto disse que ele estava louco. Que ainda
faltavam 20 ou 30 minutos para que chegássemos. Então, insisti com o
guarda particular: “Mas o que foi que você viu?”. “Um avião redondo.
Branco. Passou por aqui. E tinha outros atrás. O grande foi para lá, e os
pequenos, naquela outra direção”. Justamente para o leste, para onde nós
havíamos visto os cinco ou seis óvnis que voavam em formação desviarem.
– Isso quer dizer que foi acima do aeroporto sevilhano que se deu a
separação.
– Isso. Quando o grande passou por cima de nós, já estava sozinho.
– Observaram algum detalhe na nave-mãe?
– O ventre era estriado. Como uma placa de uralita, mas brilhante.
Enfim, fomos tomar um café em San Pablo, em Sevilha, e ali a torre nos
comunicou que pouco depois de nossa aterrissagem o óvni tinha sido visto
em Lisboa por um avião da TAP que decolava. Já no avião, a torre nos
informou que uns 40 minutos antes de nosso encontro no céu, aqueles
objetos estavam sobre as Canárias e que haviam sido detectados por outro
avião da companhia South African.
Outro desenho feito pelo comandante do voo 225 da Aviaco. O rumo da aeronave era 196° ou 209°.
O óvni ia em direção contrária. Em determinado momento, os objetos menores abandonam a
formação e se dirigem para o leste.
– Os passageiros viram?
– Não. Só uma comissária de bordo que entrou na cabine nesse
momento. Ficou de queixo caído.
– O que mais o impressionou?
– O tamanho. Aquela primeira nave era descomunal.
– E como era seu voo?
– Horizontal e perfeitamente estável.
– Lembro que o Varig comentou que aquele óvni tinha a altura de uma
casa de cinco andares.
– Sim, podia ser. Leve em conta que eu voava mais baixo, de modo que o
Varig deve tê-lo encontrado quase de nariz. Perguntamos a Madri se o
haviam captado no radar, mas estava fora de serviço. Então, consultamos
Zaragoza, e nos disseram que não o tinham registrado. Isso queria dizer
que, se a cobertura do radar é de 45 mil a 60 mil pés, e aquele óvni voava
acima desse nível, qual seria seu tamanho real, então? Devia ser
monstruoso!
– E a velocidade dos óvnis?
– Igualmente incrível. Pudemos vê-los entre um e dois minutos. Pois
bem, nesse tempo percorreram uma distância enorme. Quarenta minutos
antes, foram observados sobre as Canárias e, uns 15 ou 20 minutos depois
de nossa travessia sobre Hinojosa, estavam em Lisboa, depois de ter
orbitado previamente o VOR de Cáceres. Se com a visão abarcamos umas 150
milhas, aquela coisa as cobriu em dois minutos, no máximo. Isso representa
uma velocidade aproximada de 4 mil milhas por hora. Uma barbaridade!
– Que diferença de volume havia entre a nave grande e as pequenas?
– Se déssemos à nave-mãe um valor dez, as que a seguiam deviam ser
um dois. Menos até.
– Imagino que o tempo estava bom, não?
– Excelente. E com uma lua linda.
– Já havia visto algo parecido?
– Jamais. E posso lhe garantir que vale a pena.
– Então, acredita em óvnis?
Nino me olhou com espanto.
– Mas, homem, se eu os vi!
Eu continuo me perguntando: Depois de escutar testemunhos como
esses, de profissionais da aviação, quem pode continuar duvidando? Quem
questiona a existência dos óvnis?
Às vezes, quando vamos reunindo tantas provas, o ânimo desfalece
diante da insensatez dos hipercríticos e da falta de informação de boa parte
daqueles que negam o fenômeno. Mas, como dizem, a vida é assim.
M
“UMA NAVE GRANDE VEM EM MINHA DIREÇÃO”
eses depois de minha entrevista com o comandante do voo 225 da
Aviaco, Nino Prieto, e embora, como disse, continue seguindo a pista
do piloto do avião brasileiro, chegou até minhas mãos o texto integral a
conversa mantida naquela madrugada entre a torre de Sevilha e a aeronave
da companhia Varig. Eis aqui a conversa em questão, em verdadeira
primeira mão:
3h10
RG753 Boeing 707, brasileiro, VARIG: Torre de controle Sevilha, sobre
Hinojosa del Duque nível 310. Vocês têm algum avião em direção contrária?
3h13
Torre de controle Sevilha: Nenhum. Só um DC9, de Madri para Sevilha,
mas está a seis minutos atrás de você, em nível 250.
3h14
RG753 (VARIG): Sevilha, informo que uma aeronave grande vem na
minha direção e a uma velocidade enorme; pode estar tanto a 31 mil quanto
a 41 mil pés. Não posso verificar.
3h15
AO-225 (AVIACO): Sevilha. Ratifico o que disse o comandante do RG. Eu
também cruzei com ele, e não era um avião por conta do tamanho, da
velocidade e das cintilações vermelhas que emitia.
3h16
Torre de controle Sevilha: Deve ser um objeto não identificado. Vou
avisar a Defesa Aérea, quem sabe podem vê-lo na tela.
RG-753: Pode ter sido um asteroide, mas não creio, porque seu voo era
horizontal e parecia dirigido.
3h17
AO-225: Certamente não era um asteroide. Era uma nave enorme.
3h20
Torre de controle Sevilha: (Uma vez dadas as instruções próprias do
controle e refeito da surpresa, chamamos a torre de Madri para avisar que
um óvni estava entrando em seu espaço aéreo, e, então, Madri respondeu
que nesse mesmo momento dois aviões que voavam pela aerovia G-7, entre
Madri e Lisboa, haviam notificado tê-lo visto sobre Cáceres e não em voo
reto, mas fazendo círculos sobre a cidade.)
3h21
Torre de controle Sevilha: (Chamamos a torre de Lisboa e perguntamos
se sabiam do assunto. Informam que sim, pois o controlador do aeroporto
de Lisboa o havia visto e tinha sido informado pelo piloto de um B-707 da
TAP, que o viu no momento de decolar rumo à Espanha.)
3h22
Torre de controle Sevilha: (Saio para perguntar ao guarda que vigia o
recinto, e, antes de eu lhe dizer qualquer coisa, ele diz: “Já sei o que você
quer”. Eu os vi passar sobre as antenas em grande velocidade. Para
Carmona [Norte]. Talvez fossem mais, mas as árvores os cobriam. Eram
quatro objetos, vermelhos, e não faziam nenhum barulho.)
3h25
Torre de controle Sevilha: (Chamei Iberia-Aeroporto para falar com o
piloto do AO-225, que já havia aterrissado em San Pablo, Sevilha. Ele disse
que, atrás da grande aeronave, chegou a contar oito pequenas naves que a
escoltavam. Todas iguais e cintilando um vermelho brilhante. O pessoal do
estacionamento e das pistas o viu sobre o aeroporto antes.)
Muitas outras testemunhas, tanto em terra como no mar, observaram
também a passagem dessa nave-mãe e da escolta que a seguia. Porque, em
vista das declarações, era isso: uma imensa nave portadora e outros óvnis
menores ou de exploração, que realizaram uma audaz incursão pelos céus
das Canárias e da península Ibérica.
E
COM OS REIS, À AMÉRICA
chegou novembro de 1978. O mês anunciado para a viagem de Suas
Majestades, os reis da Espanha, ao México, Peru e Argentina. Aquele
desejo de dom Juan Carlos e dona Sofia de que eu os acompanhasse por
terras americanas, expresso na China pelos monarcas ao diretor de meu
jornal, havia me enchido de alegria. Era uma honra que compensava tantas
amarguras.
Porém, o destino parecia se divertir às minhas custas. Dias antes da
partida, o diretor do jornal me comunicou que eu não poderia viajar. Ao que
parece, dificuldades econômicas e profissionais o obrigavam a tomar essa
decisão. Fiz todas as tentativas e pressões imagináveis. Recorri inclusive à
possibilidade de tirar minhas férias do ano seguinte, arcando eu mesmo
com os gastos do périplo. Foi inútil. Uma após outra, todas as minhas
propostas foram rejeitadas.
Ninguém pode imaginar até que ponto chegou minha tristeza. Mas o
destino continuava se divertindo, e, umas 48 horas antes da saída do
primeiro avião com os jornalistas, uma ligação do palácio da Zarzuela ao
diretor da Gaceta del Norte mudou o rumo dos acontecimentos. Correndo,
precipitadamente, quase sem conseguir entender o que estava acontecendo,
eu me vi no aeroporto de Barajas a bordo de um Jumbo da Iberia, entre
funcionários do Gabinete de Informação Diplomática e 30 jornalistas da
imprensa, rádio e televisão que iam cobrir uma viagem apaixonante.
Alguns dos colegas eram velhos amigos. Outros pude conhecer a fundo
ao longo daqueles 17 dias. Assim, hoje nos une uma amizade que duvido que
descarrile, nem nesta nem em vidas futuras.
Apesar de minha timidez congênita, em poucos minutos de voo meu
coração estava inflamado com as brincadeiras e o esclarecido bom humor do
pessoal. Ali apertei pela primeira vez a mão de Alberto Schommer, o ilustre
mestre da fotografia. Mais que mestre, mago da imagem. Também, a de
Pilar Cernuda, os olhos verdes mais calorosos da expedição, e a de Ignacio
Gabilondo – A “voz” –, sobre cuja humanidade quase cósmica eu tinha
amplas referências.
Conheci também Anita Zunzarren, outra jornalista cuja aura branca e
luminosa, reveladora da eterna menina que ela carrega dentro de si, a
cidade trepidante não havia danificado. Jaime Peñafiel, incansável buscador
do ouro da verdade. Aparentemente de volta. Gianni Ferrari, parco em
palavras, mas de coração bem-disposto. Um farol que iluminou muitas de
minhas negras singraduras. Finalmente, Ramón Rato, Pepe Oneto, Pilar
Narvión e tantos outros.
Ali, enquanto cruzávamos o Atlântico, Ignacio Gabilonda, diretor de
Hora 25, o popular programa da rede SER, e Pilar Cernuda, da Colpisa,
ratificaram-me tudo o que os pilotos e outras testemunhas do óvni que
interceptou o avião da Aviaco, no voo para Pequim, haviam me relatado
meses antes. Eles também foram testemunhas da passagem do luminoso
objeto voador não identificado. Como eles, outros jornalistas que também
faziam essa mesma viagem ao México.
Como era meu costume, no meio do trajeto solicitei permissão para falar
com os pilotos. Indalecio Rego, comandante do Jumbo, e o resto da
tripulação me receberam gentilmente na cabine.
Na verdade, é tranquilizador voar com o piloto que ostenta o recorde
mundial em horas de voo: 40 mil. Rego, que além de comandante da Iberia
é formado em direito, ciências políticas e ciências econômicas e é membro
do quadro diretivo do Instituto Ibero-americano de direito aeronáutico e do
espaço e da aviação comercial, havia alcançado até esse mês de novembro
de 1978 a “desprezível” quantidade de 18 milhões de quilômetros e mais de
2 mil travessias do oceano Atlântico.
– Porém – insinuou ele um tanto decepcionado –, você vê, nunca
consegui ver um óvni.
– Não posso acreditar. E você, o que pensa desse assunto?
– Dos óvnis? Conheço muitos outros colegas que afirmam tê-los visto.
Como não vou acreditar! Além do mais, Deus Nosso Senhor tem de ter posto
outras muitas criaturas nesse céu.
Ángel Álvarez, a voz de veludo da rádio Nacional, que fazia parte da
tripulação daquele Jumbo, interveio e comentou que ele os tinha visto.
Ao longo da conversa com os pilotos, não pude desviar minha atenção
dos comandos e daqueles três computadores que, segundo me explicaram,
eram os que realmente conduziam o grande pássaro. “Nós nos limitamos a
supervisionar. Somos como vigilantes”, explicaram-me.
De fato, dois dos pilotos, de papel na mão, checavam os dígitos
luminosos dos cérebros eletrônicos. “Tudo está programado. Ao chegar a
determinados pontos, o avião muda de rumo e segue o itinerário previsto.
Tudo automaticamente”, prosseguiram.
E pensei: “Como é possível que o ser humano negue ou resista a aceitar
a existência de outras civilizações mais avançadas e, possivelmente, muito
mais antigas que a nossa, cujas naves dominam uma tecnologia ainda
virgem para nós?”. O que teria dito minha avó se alguém a tivesse tirado de
sua Barbate natal e a sentado diante dos três computadores daquele Jumbo?
Como podemos ser tão presunçosos e nos elevar ao cume da sabedoria se
nem sequer somos capazes de controlar algo tão primitivo como a chuva?
Suponho que nossos netos rolarão de rir ao saber que seus antepassados
evitavam a chuva… abrindo um guarda-chuva.
Se hoje tornamos realidade os bebês de proveta, os transplantes e a
navegação submarina, por que não supor que daqui a cem ou mil anos o
homem poderá dirigir as naves aéreas ou espaciais mediante a amplificação
de sua força mental? Por que sentir náuseas, então, diante da ideia de
outros mundos que já tenham superado esses cem ou mil ou 100 mil anos
que nos separam ainda desses sonhos?
P
MEUS AMIGOS ME CHAMAM DE ÓVNI
oucas horas depois de nossa chegada ao México – Distrito Federal –, a
comitiva espanhola que precedia o avião real foi para Cancun, no golfo
do México. Ali aconteceria o primeiro contato dos monarcas espanhóis com
o país asteca.
Sob o ardente sol do Yucatán, os jornalistas foram tomando posições.
Quem imagina que uma viagem com os reis é uma simples e confortável
excursão está estrepitosamente enganado. Tanto Suas Majestades como
quem as acompanha são submetidos a um ritmo vertiginoso, extenuante.
Mal termina um evento e já está à espera uma visita, uma recepção ou
dezenas de conversas.
Ao longo daquelas semanas pude observar – e muito de perto – dom
Juan Carlos e dona Sofia. Acho que só corações tão espartanos quanto
responsáveis podem resistir a tamanha aceleração. Conforme fomos
queimando as horas à espera do avião real, minha emoção diante do
reencontro com os reis me fez sentir frio. Frio em plena selva, às margens
daquele Atlântico azul, lavrado pelo sol dos maias!
Diante da impossibilidade de levar todos os repórteres à zona
arqueológica de Chichén Itzá – um dos mais esplendorosos conjuntos
cerimoniais daquela região maia onde nos encontrávamos e que seria
visitado por dom Juan Carlos e dona Sofia naquela mesma tarde –, o
Governo do México forneceu um helicóptero, que levou um reduzido grupo
até as pirâmides. O resto deveria esperar em Cancun.
Enquanto eu passeava com outros colegas pelas brancas praias desse
florescente império turístico mexicano, senti a necessidade de também ir
até Chichén Itzá, em pleno Yucatán. Não pensei duas vezes. Aluguei os
serviços de um táxi, e saímos feito um foguete. Em menos de 45 minutos, o
motorista devorou os cem quilômetros por uma estrada aceitável, na qual
ainda era obrigado a ficar de olho na mata.
Um considerável número de pessoas – a maioria, camponeses de cabelos
pretos lisos e pele envernizada – esperava às portas da zona arqueológica.
Alguns seguravam grandes fotografias de dom Juan Carlos e de dona Sofia.
Ali, enquanto eu preparava minhas câmeras fotográficas, conheci Norberto
González Crespo, diretor do Centro Regional do Sudeste, um dos mais
experimentados arqueólogos que tinha justamente a missão de acompanhar
os reis em sua visita às pirâmides de Chichén.
Ao pé da grande escadaria do Templo das Serpentes, Norberto me falou
das frequentes aparições de óvnis sobre a selva. Ele mesmo tinha visto em
uma madrugada, enquanto navegava pela costa, uma esfera vermelha que
cruzou sobre a lancha, iluminando a água e os ocupantes da embarcação
com um tom avermelhado.
Era desconcertante. Será que existe algum lugar do mundo onde essas
naves não tenham aparecido?
Uma hora depois de minha chegada a Chichén Itzá, o capitão da polícia
mexicana nos advertiu de uma mudança de planos. O avião dos reis da
Espanha tinha acabado de aterrissar em Cancun, mas a iminente chegada da
noite tornava impossível o traslado dos monarcas até as pirâmides maias.
Assim, a visita havia sido cancelada.
Na manhã seguinte, já na capital federal, tive oportunidade, na tribuna
reservada à imprensa, de presenciar a calorosa recepção do povo do México
a Suas Majestades. É curioso. Apesar de minha absoluta impermeabilidade
para a política, meu coração balançou ao escutar as primeiras notas do hino
nacional.
A partir daquele momento, a passagem dos reis pelos diferentes estados
mexicanos foi um tornado de vivas, emoção e constantes sessões de
trabalho. Nem nessa ocasião, nem nos dias seguintes na Cidade do México,
tive coragem suficiente para me aproximar dos reis. Às vezes, me pergunto
por que minhas reações são tão paradoxais. Não temo enfrentar mil perigos
ou romper até as mais duras barreiras para realizar uma reportagem ou
uma entrevista, porém, naquele momento, minha timidez me deteve e me
manteve a certa distância, sempre escondido na nuvem de personalidades,
policiais e fotógrafos que os cercavam. Para mim, era suficiente vê-los. Meu
coração estava feliz.
Até que, em uma manhã ensolarada, os jornalistas foram à embaixada
espanhola no México. No vestíbulo, quando menos esperávamos, dom Juan
Carlos apareceu. Com esse estilo descontraído que o caracteriza, foi
cumprimentando, um após o outro, correspondentes e fotógrafos. Para
quase todos teve um gesto, uma brincadeira ou uma pergunta.
Ao estreitar minha mão, o rei sorriu e, com ar divertido e simples,
comentou:
– Homem, Juanjo Benítez! Ainda bem que veio!
E, dirigindo-se aos jornalistas que o cercavam, prosseguiu com um
excelente humor:
– A primeira coisa que a rainha exigiu foi que Benítez, o dos óvnis,
viesse. Eu, claro, bati continência e respondi: “Às suas ordens!”.
O rei, em meio à farra geral, acompanhou aquelas palavras adotando a
posição de sentido e batendo continência.
Acho que o rubor acendeu até minhas pestanas. Pouco a pouco fui
percebendo o caráter afetuoso do rei. Para qualquer pessoa que não o
conheça, é possível que a gravidade de seu rosto nos atos oficiais leve a uma
conclusão precipitada.
A partir daquela manhã na embaixada espanhola no México, meus
colegas e amigos não me conheciam mais pelo nome ou sobrenome, e sim
por “o do óvni”. E devo reconhecer que a alcunha não me desagrada.
M
O DESCONHECIMENTO DOS “SUMOS SACERDOTES”
eu primeiro encontro com dona Sofia em terras mexicanas foi na
cidade de Veracruz. Apesar da obrigatória brevidade, jamais esquecerei
seu gesto. Eu continuava me mantendo, como sempre, a uma prudente
distância, distraído entre as dezenas de acompanhantes. Mas naquela tarde,
enquanto percorríamos as suntuosas dependências da prefeitura da cidade,
a rainha me viu. Apesar de naquele instante eu me encontrar a vários
metros atrás dela, a rainha voltou sobre seus passos, congelando a marcha
de metade da comitiva. Com um sorriso que nascia do coração, estendeu-
me a mão.
Foi um gesto tão súbito e amável que fiquei perturbado, e apertei sua
mão enquanto inclinava levemente a cabeça. No entanto, não consegui
articular uma palavra.
Dona Sofia prosseguiu a visita, mas eu já não conseguia mais raciocinar
direito.
Na véspera de nossa partida do México, os reis dedicaram duas horas ao
Museu Antropológico. Sem sombra de dúvidas, um dos mais bem cuidados e
mais cheios do mundo. A rainha, especialista em temas arqueológicos, gosta
muito dessas visitas.
Eu havia passado muitas horas naquelas soberbas salas e havia
comentado com meus colegas sobre a magnífica réplica da cripta de
Palenque existente no térreo da denominada Sala Maia. Possivelmente, uma
das peças mais famosas.
Embora todos tivéssemos consciência do programa apertado e das
muitas galerias de que consta o museu, ficamos desagradavelmente
surpresos ao saber que, por falta de tempo, o citado túmulo do astronauta
de Palenque não seria mostrado aos reis. Aquilo nos deixou indignados.
Pilar Cernuda e Ana Zunzarren, com firmeza, aproximaram-se de dom Juan
Carlos e dona Sofia insinuando que justamente na Sala Maia havia uma
maravilhosa réplica da lápide de Palenque.
Aquilo foi mais que suficiente. O manifesto interesse de dona Sofia
obrigou os organizadores a conduzi-los até o recinto subterrâneo. Uma vez
ali, na presença do relevo do deus Pakal, alguns jornalistas – dentre os
quais eu me encontrava – comentaram em voz alta a semelhança da
gravura da lápide com uma cápsula espacial. Aquilo acabou deixando o
diretor do museu nervoso, que aludiu de imediato à teoria oficial: a
reencarnação do homem em milho.
Dona Sofia se virou para nós e esboçou em seus lábios um sorriso de
cumplicidade.
Naquela mesma noite, tive a oportunidade de conversar com os dois
ufólogos mais famosos do mundo, pois o investigador mexicano Carlos
Ortiz de la Huerta oferecia um jantar em sua residência. Entre outras
pessoas, havia convidado o doutor Hynek e Jacques Vallée. Ambos estavam
presentes naqueles dias em algumas conferências sobre óvnis, na Cidade do
México.
Meu amigo Fernando Téllez, que tão bons serviços havia me prestado,
também estava no jantar. Ao nos apresentar, Hynek se mostrou vivamente
interessado nos documentos oficiais que o governo espanhol me fornecera
sobre 12 casos de óvnis. “Trata-se de um passo muito importante. Tomara
que todos os governos do mundo sigam o exemplo de seu país!”, disse ele
com entusiasmo.
Mas, ao longo da noite, conforme o diálogo era estimulado, julguei notar
algo em Hynek – e muito especialmente em Jacques Vallée –, que me
desanimou. Tanto um quanto o outro pareciam se encontrar,
ufologicamente falando, em uma espécie de beco sem saída. Não tinham
respostas claras. Quando me interessei por suas opiniões a respeito da
origem dos óvnis, ambos se esquivaram habilmente da resposta. Não sei se
aquilo foi uma manobra de evasão ou desconhecimento.
Mas, diga-se de passagem, eu sou o primeiro a reconhecer que no tema
óvni, quanto mais se investiga e se aprofunda, menos se sabe. Não obstante,
eu imaginava que os “sumos sacerdotes” da ufologia mundial – e acredito
que demonstraram isso categoricamente – já teriam, àquela altura, alguma
noção sobre essa polêmica origem. Mas não. Nem Hynek nem Vallée foram
suficientemente transparentes para que saibamos a que nos ater. Isso,
dados os anos que carregam nas costas de luta na área e os milhares de
relatórios que chegam a suas mãos, é incompreensível.
Vallée, de condição muito mais simples e indulgente, foi um pouco mais
explícito. Não pôde nem quis tirar da conversa suas últimas hipóteses sobre
o parentesco dos óvnis e os fenômenos psíquicos. O magro e introvertido
Vallée havia levado vários anos para chegar a essas conclusões. Até então,
tanto ele quanto o pelotão de ufólogos que o admiram haviam rasgado as
vestes cada vez que alguém, em qualquer congresso ou publicação, abria
timidamente a primeira página dessa possibilidade. O investigador em
questão era agraciado com as gratificações de “anátema”, “falsário”,
“visionário” ou “charlatão”.
Agora, em uma dessas divertidas reviravoltas da vida, os ufólogos de
salão viam-se obrigados a considerar – do ponto de vista científico, era o
que faltava! – a nova teoria dos “sumos sacerdotes”.
– Então – perguntei a Vallée, como se não soubesse de nada –, existe a
possibilidade de que os óvnis tenham algum tipo de relação com os
fenômenos paranormais?
– Acredito nisso, sim. Há muitos dados, fatos e informações que
confirmam isso.
– Então, você repudiaria a possibilidade de um contato com esses óvnis,
por meio da mente, por exemplo?
– Em princípio, não. Vou lhe dizer uma coisa – disse, franzindo suas
densas sobrancelhas –, estou começando a suspeitar que a maior parte dos
casos óvni pode ser criação de nossa mente.
– Quer dizer que eu posso “fabricar” um óvni com o poder de meu
cérebro? Desculpe – respondi mostrando meu total desacordo –, mas isso é
mais fantástico que a própria existência dos óvnis. O que me diz das marcas
que deixam em terra? E das vertiginosas velocidades registradas nas telas
de radar? E das alterações nos instrumentos dos aviões? E dos animais que
mutilam?
A partir desse instante, nossa conversa ficou tão enrolada e confusa que
Hynek – não sei se pelo avançado da hora ou porque aquela conversa com
tantos acólitos o irritava – levantou-se e desapareceu.
Ao vê-lo ir embora, tive a sensação de que a glória havia subido à cabeça
do bondoso Hynek. Claro que cobrando milhares de dólares (uns 200 mil,
por exemplo, pela assessoria no filme Contatos imediatos de terceiro grau), a
quem não aconteceria o mesmo?
U
TRÊS HORAS COM A RAINHA
ma semana depois de iniciada a viagem, nossas forças começaram a
falhar. Naquele mesmo dia de nossa chegada à cidade de Lima, não tive
opção senão conceder uma trégua a meus ossos doloridos. Então, depois de
uma benéfica chuveirada, esqueci o mundo e fui dormir. Mas, poucos
minutos depois, quando já me considerava um homem feliz, tocou o
telefone. Era o inabalável Fernando Gutiérrez, chefe de Informação da
Zarzuela. Um homem querido por todos os jornalistas graças a seu jeito
calmo.
Ele me aguardava no vestíbulo. Era importante que falasse com ele. Ao
que parecia, Sua Majestade, a rainha, queria saber se na manhã seguinte – e
em uma de suas pouquíssimas horas vagas dentro do programa da visita
oficial ao Peru – eu poderia conversar com alguns representantes do IPRI
(Instituto Peruano de Relações Interplanetárias). Dona Sofia sabia da
existência desse instituto, dedicado à investigação astronômica,
arqueológica e ufológica, e desejava se informar sobre seus projetos,
descobertas etc.
Acho que nunca me vesti tão rápido. Uma vez acomodado diante de
Fernando, ele me expôs os detalhes. Pouco depois, eu o acompanhava ao
Palácio do Governo, na Praça de Armas. Acontecia ali um jantar de gala,
com a presença de Suas Majestades, os reis, e o governo inteiro do Peru. Ao
terminar, o próprio general secretário da Casa Real, Sabino Fernández
Campo – um dos homens mais bondosos que já conheci e a quem sempre
imaginei, não como general, mas como monge cartuxo –, marcou a hora da
visita à residência dos reis em Lima. Por volta das 10h30 da manhã, Sua
Majestade, a Rainha, nos receberia com muito prazer.
Naquela noite não consegui conciliar o sono. De manhã bem cedo –
quase ao alvorecer –, eu me dirigi à sede do IPRI, no distrito de Barranco,
um dos bairros nobres de Lima. Acho que no trajeto rezei tudo o que sabia
para que o presidente, Carlos Paz, estivesse em casa. E tive sorte.
Carlos Paz ficou tão surpreso quanto lisonjeado. À hora prevista, dona
Sofia entrava em um dos salões da residência real, em uma das alas
contíguas ao Palácio de Governo, onde esperávamos. A aceleração de meu
coração diminuiu com a doce presença da rainha. Tudo era muito mais fácil
quando ela falava.
A entrevista – na qual estavam presentes também a esposa de
Mondéjar, ministro de Assuntos Exteriores, Silvia de Oreja; o general
Sabino, Carlos Paz e eu – prolongou-se durante quase três horas. Em todo
esse tempo – simplesmente delicioso –, o assunto central foi o mistério dos
óvnis.
P
DONA SOFIA SOBREVOA OS PAMPAS DE NAZCA
ouco antes de sair do palácio, o general Sabino prometeu me ligar
naquela mesma tarde. De acordo com as poucas horas livres que o
programa permitia, tentariam satisfazer o desejo dos monarcas de visitar as
gigantescas pistas e desenhos dos pampas de Nazca, ao sul do país, ou o
museu do doutor Javier Cabrera, na cidade de Ica. Neste último, Cabrera
conseguiu reunir entre 11 mil e 15 mil pedras gravadas, ao que parece, por
uma civilização remota[12].
Os dois projetos entusiasmavam os reis e, em especial, a dona Sofia. Mas
a falta de tempo – como sempre, o pior inimigo – obrigava o sacrifício de
muitas ideias. No fim da tarde encontrei um recado do general no Hotel
Sheraton, onde nos hospedávamos. Ao ligar para Sabino Fernández Campo,
ele me explicou que não havia tempo para muita coisa, que a Força Aérea
havia posto à disposição dos reis uma aeronave, e, bem cedo no dia
seguinte, iríamos nele até os pampas de Nazca.
– Seria maravilhoso – insinuou o general – se María Reiche, a
matemática alemã, pudesse acompanhar a rainha nesse voo. Sua Majestade
tem muito interesse em conhecê-la.
Não precisava falar mais nada. Cerca de 15 minutos depois eu estava na
linha com o Hostal del Turista da cidade de Nazca, onde María reside
habitualmente; ela é também conhecida como a Bruxa dos Pampas. Uma
mulher admirável que, em seus 75 anos, ainda trabalha e estuda as
enigmáticas pistas, linhas e figuras do Vale de Ingenio. Pistas e desenhos
que, como é sabido, só podem ser observadas do ar.
Mas, meu Deus, María Reiche tinha ido para Lima a fim de se submeter
a um tratamento médico. Ainda por cima, os responsáveis pelo hostal não
tinham nem a mais remota ideia de em que clínica ou hospital podia estar a
matemática. E, como o boxeador que acaba de levar um golpe direto no
meio da mandíbula, assim me deixei cair à beira da cama.
O que fazer? Em Lima há mais de cem clínicas e hospitais. Ora, que se
dane! Levantei-me de um salto e peguei a lista telefônica. Se María
estivesse na capital peruana, eu a encontraria. Nem que tivesse de mobilizar
a Guarda Nacional!
A primeira hora foi tão infrutífera que quase joguei a toalha. Não havia
possibilidade humana de encontrar aquela mulher. Acendi um novo cigarro,
tentando pensar. Meu relógio marcava 2h da madrugada. E María e eu
devíamos estar às 8h daquela mesma manhã às portas do palácio!
Um nó, áspero como cortiça, atravessava fazia tempo minha garganta.
Pela enésima vez consultei minha agenda. Até que, por fim, meu dedo
indicador apontou um nome salvador: Palacín, o piloto e gerente da
Companhia Cóndor, velho amigo que havia alguns anos já voava todos os
dia sobre os pampas de Nazca mostrando aos turistas as pistas em questão.
– Alô, quem fala?
A voz meio apagada de Palacín do outro lado da linha recompôs meus
pensamentos. Quando lhe expliquei o problema, o piloto veterano disse:
– Pois a estrela da sorte o acompanha, meu velho. María está aqui, em
minha casa.
– É possível que ela acompanhe a rainha nesse voo?
– Acho que não haverá problemas.
– Mas e seu tratamento médico?
– É um simples check-up. Amanhã justamente ela pretendia voltar aos
pampas.
Às 7h30 da manhã, Palacín e María Reiche apareceram no Sheraton.
Tudo estava pronto. Uma hora depois, uma potente aeronave Fokker 28 das
Forças Armadas peruanas decolava da base de Lima rumo a Nazca. Nele iam
Sua Majestade, a Rainha, – dom Juan Carlos não havia podido ir por conta
de suas obrigações oficiais –, as esposas de Mondéjar e de Marcelino Oreja,
alguns assistentes da casa real e o próprio general Sabino.
Além de Maria, abordamos a aeronave Palacín, um dos homens que
mais vezes sobrevoou a pampa, Pilar Cernuda, Anita Zunzarren, Alberto
Schommer e eu. E junto com os pilotos militares que tripulavam a aeronave,
um general do Alto Estado-maior peruano.
Dona Sofia, alegre e cordial, foi acompanhando com grande atenção as
explicações da matemática sobre a natureza, as dimensões e a possível
origem daquelas figuras. Primeiro, diante de um mapa que María havia
aberto sobre uma pequena mesa. Depois, aos 15 ou 20 minutos de voo, já
diretamente sobre os pampas de Nazca.
Tanto a rainha quanto todos os que a acompanhavam puderam admirar
aquela enorme planície ocre, salpicada aqui e ali por algumas lombadas
sobre as quais também haviam sido traçados os quilométricos desenhos e
pistas. Mas alguma coisa não estava bem. Ao que parece, o piloto não seguia
a rota desejada por María Reiche. Após se desculpar, a matemática se
levantou e caminhou a curtos passos para a cabine, murmurando não sei o
que em alemão.
Dona Sofia aproveitou a momentânea ausência de María para comentar,
jocosa:
– É uma verdadeira alemã!
Palacín complementou com uma frase que corroborou a ideia da rainha.
– Pelo visto, não está satisfeita com o itinerário do piloto… E vai obrigá-
lo a voar por onde ela disser.
E assim foi. Em poucos minutos, a senhora de brancos cabelos explicava
a dona Sofia que a rota determinada por ela era melhor para distinguir as
figuras e os desenhos. Apesar da considerável velocidade da pequena
aeronave, todos pudemos contemplar as intrigantes pistas – nas quais hoje
um avião poderia aterrissar –, o macaco, a aranha, o colibri, as espirais etc.,
que, na opinião da matemática, constituem o maior calendário astronômico
do mundo.
Opinião da qual não compartilho totalmente, diga-se de passagem.
Uma hora depois, a aeronave se dirigia novamente à cidade de Lima.
Mas, antes, sobrevoou a costa de Paracas, entre a capital peruana e Nazca, a
fim de que dona Sofia observasse também o não menos famoso candelabro,
ou tridente. Outra misteriosa obra, traçada sobre um inexpugnável
precipício, que, assim como acontece com Nazca, só pode ser admirado do
ar.
“Como puderam fazer isso?”, era a pergunta sempre presente na boca
da rainha. Foi uma pena – e assim reconhecemos todos – que dom Juan
Carlos não tivesse podido esquecer por uns minutos suas obrigações e dar
aquela escapada até os impenetráveis mistérios de Nazca e Paracas.
Dona Sofia escuta atentamente as explicações de María Reiche, a matemática alemã que estudou
os enigmáticos desenhos e pistas dos pampas de Nazca, no Peru, durante mais de 30 anos. (Foto:
Alberto Schommer.)
O
NASCE A SOPA
primeiro percalço da expedição real – mas, por sorte, de caráter
passageiro – seria protagonizado por dona Sofia quando, na véspera de
nossa partida do Peru, visitamos a cidade sagrada dos incas: Machu Picchu.
Vários helicópteros haviam nos levado aquela amanhã de Cuzco até a
esplanada retangular de relva alta, ao pé do Pequeno Picchu, em pleno
centro do bairro da cidade sagrada. O guia manifestou sua preocupação. Se
os reis não chegassem quanto antes, as nuvens que já escondiam o cume
das montanhas vizinhas acabariam se derramando sobre Machu Picchu.
Isso bloquearia os helicópteros. Mas os rostos se iluminaram quando o eco
de um helicóptero repicou entre as paredes do estreito vale, e um ponto
vermelho e brilhante ao sol dos Andes avançou para nós.
Uma vez na esplanada, o rei saltou a terra, munido de uma câmera
fotográfica. “Esta ocasião merece uma estreia, não acham?”, disse o rei
enquanto respirava a plenos pulmões. Após uma rápida consulta a
Schommer sobre a eficácia de sua nova câmera, dom Juan Carlos iniciou a
visita às ruínas. Atrás dele, a rainha.
Desde o início – e apesar de seus esforços –, notei certa palidez no rosto
de dona Sofia. Seu sorriso não era como o de outros dias. Desaparecia quase
imediatamente ao brotar em seus lábios. Também seus olhos não
mostravam aquele azul mediterrâneo. Imaginei que o ritmo desapiedado
daquela viagem a havia abalado.
Mas não. O problema nasceu com o chamado Mal da altura. A quase
súbita passagem do nível do mar aos 3.400 metros da cidade de Cuzco, sem
alguns minutos para a devida aclimatação, a havia afetado. Quando a
comitiva subia pela cidade sagrada a caminho do intihuatana, ou relógio
solar dos incas, a rainha preferiu parar e descansar. Dom Juan Carlos, em
plena forma, continuou subindo, deixando para trás metade da expedição.
– Estou exausta – comentou a rainha com um fio de voz enquanto se
sentava à sombra de uma das construções. Aquela indisposição de dona
Sofia e as nuvens ameaçadoras, que estariam sobre nós em uma hora,
aceleraram a volta a Cuzco. Quando chegamos ao Dorado Inn, nosso hotel,
os jornalistas tiveram de recorrer também ao chá de coca, a fim de repor as
energias e acabar com o crescente mal-estar provocado por aquela
diminuição da pressão, consequência natural da altura a que nos
encontrávamos.
Aquela viagem ao Peru jamais se apagará de minha mente. Justamente
em tão lendária terra, nasceu – e de que maneira! – uma irmandade, mais
que amizade, entre sete dos profissionais da histórica visita. Sete
compadres que, em uma inesquecível noite no restaurante Trece Coronas,
em Lima, fundaram a fraternidade SOPA (Sociedad de Periodistas Amigos
[Sociedade de Jornalistas Amigos]), com base em pontos inquietantes como
o “descarrilismo”[*] – não importa em que sentido –, a poesia (venha de
onde vier), o deleite dos momentos mágicos, o estrondo, o riso e a exaltação
do Amor.
Obviamente, aqueles anarquistas do espírito não podiam ser outros além
de Ignacio Gabilondo, Pilar Cernuda, Ana Zunzarren (observe-se o
acratismo de nossa sociedade, em que até o representante da rádio foi posto
em primeiro lugar), Gianni Ferrari, Jaime Pefiafiel, Óvni e Alberto
Schommer, único membro capacitado para tocar o sino, que vem a ser como
o cordão umbilical que nos une, em nossas reuniões e congressos, com isso
tão desordenado que chamamos de civilização.
Em memória àquele I Congresso (constituinte) na cidade de Lima, a
SOPA adotou como símbolo – não impresso –, e em homenagem àquele
primeiro menu, o camarão. Mas tanto aquele I Congresso quanto o segundo,
alegremente celebrado em Youmoussoukro (Costa do Marfim) em 13 de
maio de 1979, bem merecem outras atenções.
O Mal da altura afetou Sua Majestade, a rainha, na cidade sagrada dos incas. (Foto: J. J. Benítez.)
Sua Majestade, o rei dom Juan Carlos, conversando com J. J. Benítez durante a visita a Machu-
Picchu, no Peru. Ao fundo, Jaime Peñafiel, redator-chefe da revista Hola!
Tudo é possível na SOPA, a mágica sociedade que nasceu na não menos mágica data de 13 de maio
de 1978: desde o mais puro “descarrilismo” pessoal e coletivo ao Amor (com letra maiúscula),
passando pela poesia, a fraternidade, os óvnis e a aventura. Nenhum de seus membros – nem
mesmo Ramón Rato de Figaredo, admitido no grupo meses depois e após não poucas discussões –
escapa do “descarrilismo”. Da dir. para a esq.: Jaime Peñafiel, Pilar Cernuda, Alberto Schommer,
Ana Zunzarren e Gianni Ferrari. Embaixo, J. J. Benítez e Ignacio Gabilondo.
A
COMANDANTE LORENZO: UM ÓVNI NO NARIZ DO CARAVELLE
quela viagem à América do Sul não podia simplesmente acabar. No
mesmo dia de nossa volta à Espanha, a sorte – ou não será a sorte? –
afastou de mim o cansaço daquela formidável turnê pelo México, pelo Peru
e pela Argentina. Naquela manhã, Pepe Meliá cuidava dos últimos trâmites
– dos passaportes – no balcão da Iberia, em pleno aeroporto de Ezeiza, em
Buenos Aires.
Nossa bagunça devia ser tal que logo vimos chegar um dos pilotos da
companhia. Era Juan Ignacio Lorenzo Torres, comandante do avião que nos
levaria a Madri. Não demoramos a fazer amizade com Lorenzo, mais
conhecido entre os aviadores veteranos como “Cabra”, segundo seu próprio
testemunho.
E pela enésima vez caí na tentação. Diante dos benevolentes sorrisos de
“Chencho” Arias e Ramón Castelo, ambos do Gabinete de Informação
Diplomática, perguntei ao comandante se já havia encontrado um óvni. O
piloto mudou de cor e sentenciou: “Você tem à sua frente o primeiro piloto
espanhol que voou com um óvni colado no nariz de seu avião”.
Todos os presentes se olharam com a incredulidade brilhando no rosto,
mas, o piloto veterano da Iberia falava sério.
A caminho do Rio de Janeiro nos contou sua aventura, diante da mal
disfarçada surpresa de Pepe Oneto, diretor da revista Cambio 16, e o cada vez
mais debilitado ceticismo de Jaime Peñafiel.
– Estávamos, então, em 4 de novembro de 1968, em um Caravelle que
fazia a rota Londres-Alicante.
– Também da companhia Iberia?
– Sim, eu era o comandante do Caravelle. Ao chegar à altura de
Barcelona, o controle daquele aeroporto nos baixou subitamente de nível.
Foi estranho, mas eu pensei que podia se tratar de uma travessia de aviões,
e que por esse motivo nos haviam feito descer. Eu disse ao copiloto, Juan
Celdrán García, que hoje é comandante da Iberia, que fizesse um pouco de
vigilância externa, para ver se via o tráfego.
– Em que nível voavam ao chegar a Barcelona?
– A 310. E nos desceram a 280. Ou seja, a 28 mil pés. Nesse nível havia
um pouco de turbulência, e eu pedi ao copiloto que ficasse alerta. Assim que
víssemos o avião, pediríamos à torre de controle de Barcelona que nos
autorizasse a subir, evitando, assim, aquele incômodo. Pouco depois, Juan
me advertiu: “Aí está”. Era uma luz muito forte, demais para ser um avião.
Vinha de frente. Eu disse ao copiloto que não reportasse ainda a presença do
tráfego, porque aquilo não parecia um avião normal. E eu não estava
enganado. A estranha luz se aproximou muito. De repente, no centro,
apareceu outra luz, como uma bola, que mudava de tonalidade. Passava do
branco ao azul, ao acinzentado. O mais curioso é que pulsava como se
estivesse “respirando”. Como se tivesse vida própria. Nesse momento,
vimos também mais duas luzes laterais, um pouco menores e da mesma cor
apagada.
– Formavam um só corpo?
– Aparentemente, sim. Mas depois ocorreu uma discrepância com o
radar.
– Perdão, Ignacio. A que distância podiam estar aquelas luzes do nariz
de seu avião?
– Muito perto. A uns dez metros!
– Como?
– Sim, a uns dez metros. Mantinham a mesma velocidade do Caravelle.
O comandante da Iberia tinha razão ao afirmar que havia sido o primeiro
piloto espanhol a ter um óvni colado ao seu avião!
– Ficou tão perto do nariz do Caravelle que víamos algo como umas
veias dentro daquela luz central.
– Que volume atingiu a luz quando se colocou a tão curta distância?
– Igual. Como uma bola. Mas sua intensidade era tal que iluminava a
Juan e a mim. O mecânico Cuenca Paneque estava conosco, e diante do
incrível fato, chamamos a comissária de bordo e perguntamos se ela
também estava vendo aquela luz. Ela disse que sim, e perguntou o que era.
Respondemos que só queríamos que visse o que nós também estávamos
vendo. Então, a luz se distanciou. Depois se aproximou de novo. Mas parou.
Para nosso espanto, começou a fazer todo tipo de evoluções em volta do
avião, mas a uma velocidade tal que quase não o podíamos acompanhar.
– Quanto tempo duraram essas evoluções?
– Uns dez minutos. Então, peguei o microfone e falei à torre de controle
de Barcelona: “Para sua informação, digo que temos um objeto não
identificado que se aproxima e se afasta do avião.” A torre de Barcelona
pediu que ligássemos o transponder, que é um código para a detecção no
radar. O óvni continuou fazendo aqueles giros impressionantes em volta de
nós. Uns giros e umas manobras que deviam arrebentar quem estivesse lá
dentro.
– Por quê?
– Eu voo desde os 17 anos e sei que o corpo humano não pode resistir a
pressão superior a 5 g, negativos ou positivos. Quando se supera esse limite,
sobrevém a perda de consciência. Por mais que se use roupa antigravidade.
Aquele objeto desafiava todas as leis da física. Tanto voava em ângulo reto
como traçava hipérboles, parábolas, pulava de um ponto a outro. Era coisa
de louco!
– E o que vocês fizeram?
– Acendemos todas as luzes do avião e começamos a fazer sinais.
– E o óvni?
– Começou a responder de maneira idêntica. Cada vez que nós fazíamos
um sinal de luz, ele fazia o mesmo. Se acendíamos, ele acendia. Se
apagávamos, o óvni apagava. Estava claro que se comunicava conosco.
– Quantos sinais conseguiram fazer?
– Pelo menos 20. Por último – concluiu o comandante –, o objeto fez
um giro à direita e se perdeu em direção a Baleares. Durante todo o voo,
como pode imaginar, ficamos comentando o fato.
– Não sentiram medo?
– Houve um momento, quando ele se aproximou tanto, que temi pela
segurança do avião. Aterrissamos em Alicante e, no dia seguinte, fizemos o
voo Barcelona-Madri. Ao aterrissar em Barcelona recebi um aviso urgente,
da parte do coronel Aleu, que então era chefe da rede de alerta e controle da
região catalã. Ele me pediu que explicasse o acontecido. Então, mostrou-me
o informe da cobertura de radar nacional. Pois bem, todas as estações
militares da metade leste do país haviam detectado a presença do óvni. Eu
pedi uma cópia, e ele me deu. Pouco depois, tiraram-na de mim.
O óvni se colocou a pouca distância do nariz do Caravelle do comandante Lorenzo. Era 4 de
novembro de 1968. Todos os radares militares da costa mediterrânea captaram o eco do óvni. Mas
o segredo oficial recaiu sobre o assunto.
– O que dizia o informe?
– Os radares haviam detectado meu avião, o Caravelle e mais três
objetos, tal como eu havia visto.
– Então, eram três óvnis?
– Sim. Um central e dois que voavam nas duas laterais. Os especialistas
que acompanharam as evoluções dos objetos pelos radares especificaram
que a velocidade dos ecos era incalculável. Um se deslocou para cima; outro,
a 20 milhas, e o último mais além. No ano seguinte, outro avião viu
exatamente o mesmo que eu. E, coincidentemente, Cuenca, o mecânico,
estava no voo. O fato se espalhou, e a imprensa acabou sabendo. O pessoal
da revista La Actualidad Española me procurou, e contei-lhes tudo o que
sabia. Naquela época, o general Lacalle, que era o ministro da Aeronáutica,
disse que o povo não estava preparado e que não podíamos dar declarações.
O assunto virou oficial. Foi nomeado um juiz informante do caso e foi dito à
imprensa (em nota oficial) que o que os pilotos da Iberia haviam visto era o
planeta Vênus. Imagine só! Eu, que voo há 26 anos e já somo mais de 21 mil
horas de voo, não vou saber distinguir Vênus de um objeto que chega, a
ritmo de colisão, até o nariz do Caravelle? E os radares?
Antes de dar por concluído o extraordinário testemunho do comandante
Lorenzo, insisti em um ponto que havia chamado fortemente minha
atenção.
– Você disse que havia algo como umas veias no interior do foco
central?
– Sim. Parecia algo vivo.
– Como o quê?
– Aquilo me recordou um gigantesco olho humano. Quer dizer, essas
veias, ou o que quer que fossem, estavam entrelaçadas e tinham uma
tonalidade diferente. Aquela luz, como disse anteriormente, pulsava.
Realmente o associei a algo vivo.
– Algo dirigido de maneira inteligente?
– Sim, tenho certeza. E vou lhe dizer uma coisa: eu, antes disso, não
acreditava em óvnis. Achava o assunto engraçado.
– O que acha agora?
– Que estão aí, em nosso céu.
– Podem ser naves espaciais procedentes de outros mundos?
– Se não são aviões (que não podem ser, dado seu comportamento,
velocidades etc.), que outra coisa seriam?
– Acha que chegará um dia em que nossa civilização reconhecerá que
estamos sendo visitados por seres inteligentes com supertecnologia?
– Sim, um dia vamos tirar a cabeça do buraco e abandonar a atual
política do avestruz.
O óvni fez as mais incríveis manobras em volta do avião do comandante Lorenzo.
Comandante J. Ignacio Lorenzo Torres conversando com J. J. Benítez no voo Buenos Aires-Rio de
Janeiro. O piloto veterano espanhol foi um dos primeiros a ver um óvni. (Foto: Jaime Peñafiel.)
E
ssa primeira fase de minhas investigações óvni com pilotos espanhóis
terminaria, curiosamente, com um dos primeiros casos de que eu havia
tido notícia: o do comandante Juan Menaya. Lembro que Rafa Gárate, assim
que comecei as investigações, já tinha me advertido sobre esse interessante
acontecimento óvni. E foi em um voo Madri-Frankfurt que, por fim, tive
oportunidade de conhecer o piloto veterano da Iberia. Era um dos primeiros
saltos em uma nova viagem para o Oriente Médio – especificamente para o
Kuwait – e pedi a Pilar Cernuda, redatora-chefe da agência Sapisa, que me
acompanhasse até a cabine.
Pilar assistiu a toda minha entrevista com o comandante.
– Sim – comentou Menaya um tanto jocoso –, foi no ano de 1977. Não
lembro bem se em abril ou maio. Íamos de Las Palmas a Lanzarote em um
DC-9. Por volta das seis da manhã, ainda escuro, vimos um resplendor que
parecia sair do mar. Ao aterrissar em Arrecife, o resplendor havia
desaparecido, e continuamos conversando na cabine. Sergio Valcárcel era o
copiloto, e um fly student, ou estudante de voo, estava conosco. De repente,
sobre o horizonte, vimos um cilindro enorme. Era pardo, como um
gigantesco galão de gasolina. Já era dia, e os passageiros caminhavam pela
pista, prontos para embarcar no DC-9. Ficamos paralisados. Que diabos era
aquilo? O cilindro entrou, ou fabricou uma nuvem, e desapareceu de nossa
vista por dois segundos. Depois, saiu de novo daquela nuvem e começou a
jogar umas luzes azuladas. Eu contei 16.
– Disse que ele entrou em uma nuvem?
– Sim, o que não sei dizer é se a nuvem em questão estava ali ou se o
cilindro a provocou. Eu acho que aquele objeto a fabricou. Depois de
disparar aquelas minúsculas luzes azuladas, o cilindro continuou voando e
passou sobre a vertical da pista do aeroporto. Todos os passageiros o viram.
Acho que um deles inclusive filmou a cena. O cilindro foi cercado por
aquelas luzinhas e assim se perdeu para o leste. Em determinado momento,
as luzes ficaram para trás, e houve um movimento muito curioso: tivemos a
sensação de que os objetos menores aceleravam, recuperando o terreno
perdido e colocando-se ao lado do cilindro. Antes que desaparecessem,
tivemos tempo de sair da cabine e vê-los de fora. Era surpreendente! E tudo
no mais absoluto silêncio.
– Em quantas posições o viram?
– Em três: primeiro no horizonte (a uns 45 graus), depois sobre o teto
da cabine e, por último, de fora do avião, quando se deslocavam para o
leste.
– Por onde saíram as luzes azuladas?
– Sempre por um ponto da parte inferior do cilindro. E deslizavam para
trás.
Naquela ocasião, Menaya fazia a linha Lanzarote-Las Palmas-Tenerife-
Las Palmas-Madri. Me explicou que durante aquele tempo a nuvem
continuou ali, apesar do desaparecimento do cilindro e das demais luzes.
– Havia se transformado – disse – em uma nuvem redonda, não muito
grande e típica do tempo bom. Qualquer um que não tivesse visto o cilindro
a teria tomado por um cúmulo normal. Eu devo ter passado a umas 60
milhas quando voávamos a uns 28 mil pés de altura. A nuvem estava um
pouco mais acima, talvez a uns 35 mil pés.
Quando perguntei a Menaya sobre as características do cilindro, o
comandante – que voa há 27 anos, com mais de 22 mil horas de voo – foi
categórico:
– Aquilo não era normal. Não tinha asas, nem vimos janelas. Era um
corpo opaco, escuro e mais parecido, como disse, com um gigantesco galão
voador. Parece incrível, mas foi isso.
A descrição do piloto da Iberia corresponde, como os seguidores do
fenômeno óvni devem ter adivinhado, a uma nave portadora, ou nave-mãe,
em pleno voo e em plena missão de expulsão de outros veículos menores ou
de exploração.
A
o concluir esta primeira compilação de encontros entre óvnis e aviões
civis, outros casos – tão apaixonantes quanto os já expostos – entraram
em meus arquivos. Isso confirma, uma vez mais, a constante presença dos
objetos não identificados em nossos céus, junto a aviões de todos os tipos e
de todas as nacionalidades.
Contudo, como apontava no começo desta reportagem, acho que esta
seleção de casos, protagonizados por profissionais civis do ar, é ilustrativa o
suficiente para tirar conclusões. Deduções, por outro lado, que vêm reforçar
as já extraídas nas investigações realizadas nos avistamentos de óvnis em
terra ou no mar.
Eis aqui, a título de síntese, algumas dessas conclusões – as mais
sólidas –, derivadas, como disse, dos numerosos testemunhos dos pilotos,
no fim das contas, os profissionais mais capacitados do mundo para
distinguir tudo o que se move em nossos céus:
TRIPULADOS
1. Todos os pilotos que pude interrogar – testemunhas de objetos
voadores não identificados – mostraram-se absolutamente convencidos de
um fato transcendental: são artefatos, e são artefatos tripulados. O
comportamento inteligente dessas naves obriga qualquer mente
medianamente inteligente a aceitar essa hipótese. Esse fato foi e é ratificado
pelos radares civis e militares, que recebem ecos de corpos sólidos, opacos e
metalizados. O caráter de objeto tripulado foi confirmado, ainda, pelos
nítidos intercâmbios de luzes entre as aeronaves e os óvnis, e muito
especialmente pelas milimétricas aproximações às laterais e às asas dos
aviões.
OUTRA TECNOLOGIA
2. Todos os pilotos que viveram uma experiência com óvni reconhecem
que a tecnologia utilizada por essas naves nada tem a ver com a nossa. Suas
acelerações e desacelerações, sua desconcertante velocidade dentro da
atmosfera, seus giros forçados, seus ângulos retos em pleno voo, seu
domínio absoluto das leis gravitacionais, seus deslocamentos silenciosos,
suas luzes, suas mudanças de formas enquanto voam, suas materializações
e desmaterializações e o próprio design dos óvnis os colocam muito acima
das técnicas atuais da navegação aérea do ser humano. Nem os aviões
experimentais nem os mais sofisticados mísseis ou satélites artificiais
podem se equiparar a esses objetos. Estamos, portanto, diante de outra
tecnologia, completamente alheia ao que conhecemos. Eu diria mais:
estamos, talvez, diante do futuro.
EXTRATERRESTRES
3. Quase como uma consequência lógica e obrigatória da conclusão
anterior, muitos dos pilotos consultados se inclinam a aceitar a teoria
extraterrestre como a mais natural. Eu compartilho 100% essa nova
conclusão. Se nossos exércitos ou a aviação comercial não puderam ainda
fabricar naves capazes de voar a 70 mil quilômetros por hora dentro da
atmosfera, e muito menos basear os atuais sistemas de propulsão no
domínio da gravidade, a quem devemos atribuir a paternidade desses
objetos? Simplesmente a outras civilizações com supertecnologia que nos
visitam. Outras civilizações que não são da terra. Pelo menos, que não
pertencem ao nosso presente. A teoria extraterrestre se vê reforçada por
muitas outras provas. Uma das fundamentais para os investigadores de
campo é justamente a abundante presença dos pilotos ou tripulantes desses
óvnis. Os casos investigados se contam aos milhares em todo o planeta.
SÃO PACÍFICOS
4. Contra o que vêm apontando outros escritores do tema dos óvnis, os
pilotos civis e militares que encontraram esses veículos os consideram
geralmente pacíficos. Jamais houve uma prova ou demonstração clara e
contundente de sua agressividade, pelo menos no ar. Outra questão é se
essas violentas aproximações que realizam aos aparelhos podem ser
qualificadas como sintomas manifestos de violência.
ELES NOS OBSERVAM… E ALGO MAIS
5. Talvez a pergunta mais difícil para os investigadores seja esta: O que
pretendem? A julgar pelas descrições e testemunhos dos pilotos, os
tripulantes dos óvnis parecem observar. Aproximam-se dos aviões, e após
alguns segundos ou minutos durante os quais escoltam o aparelho,
afastam-se sem mais nem menos. Quase todas as testemunhas tiveram a
mesma sensação: “Era como se nos observassem”.
Para qualquer cientista – sobretudo para os que trabalham no campo da
investigação –, esse comportamento poderia se encaixar no mais puro
espírito científico. No fundo, e guardadas as devidas proporções, nós,
humanos, fazemos o mesmo com os cardumes de peixes, com os primatas
ou com as colônias de flamingos. Estaria justificado, portanto, que outros
seres muito mais evoluídos que o homem contemporâneo realizassem
aproximações e investigações sobre a grande colônia humana, mergulhada e
sujeita a todo tipo de doenças, guerras e desequilíbrios. Nós fizemos isso, e
ainda fazemos, com as tribos africanas, amazônicas ou australianas que
vivem a outro ritmo ou em outros momentos históricos. A grande diferença
entre o comportamento dos homens em relação a essas tribos da Idade do
Bronze ou da Pedra e os tripulantes dos óvnis em relação à humanidade
pode estar em algo que nós, humanos, ainda não aprendemos: o verdadeiro
respeito à liberdade.
Estou cansado de escutar o mesmo argumento: “Mas, se estão aí, por
que não descem?” Ninguém conhece a verdade, evidentemente. Não
obstante, talvez a chave esteja nas palavras de Von Braun: “A Providência
quer que o progresso técnico rápido seja acompanhado por um progresso
também rápido no que diz respeito à vida moral, e por uma aplicação mais
rigorosa dos princípios éticos que lhe servem de base.”.
Infelizmente, o vertiginoso progresso técnico dos humanos da Terra
pouco ou nada tem a ver com o sentimento do falecido gênio da
astronáutica. É por isso que não conseguimos assimilar a ideia do respeito à
liberdade dos outros. É por isso que, talvez, não compreendamos por que
outros supostos seres extraterrestres não descem. Tenho certeza de que o
dia em que o homem descobrir o verdadeiro e profundo sentido da
liberdade, tudo será mais claro. Mais apaixonante. Mais bonito.
Com que direito entramos ou desembarcamos na América ou na África?
Em nome de que liberdade absorvemos as culturas inca ou maia ou asteca
ou guanche ou sioux? Levamos em consideração a liberdade dos colonizados
ou a nossa? Onde está, nesses conhecidos fatos históricos, o verdadeiro
sentido da Liberdade?
No dia em que o homem entender que nem a Cruz é razão suficiente
para impor ou sobrepor uma cultura, costumes, direitos ou obrigações a
outros povos que têm suas próprias vivências e seu ritmo evolutivo natural,
nesse dia, acredito, o homem estará mais perto da verdadeira Liberdade.
E eu me pergunto: não estará acontecendo isso mesmo com as
civilizações que nos visitam? Que tipo de liberdade praticaria um povo
supercivilizado – procedente de qualquer mundo ou galáxia ou Universo –
que descesse em um planeta como o nosso, infinitamente menos evoluído?
Que seria de nossa própria liberdade? Que seria de nosso deficiente, mas
natural e próprio ritmo evolutivo?
Estou igualmente convencido de que o natural tende a uma aproximação
entre os povos do cosmo, assim como acontece – ou deveria acontecer –
entre os países da Terra ou os membros de uma mesma família. Mas essa
aproximação não pode nem deve provocar o desajuste, o desequilíbrio ou a
mutilação da liberdade e da identidade dos outros. Se os seres humanos
tivessem se comportado dessa maneira com as demais raças que povoam o
globo, a paz não seria hoje um milagre.
Dificilmente poderá entender a liberdade aquele que não a pratica nem a
consente.
* A manta esperancera é característica de Tenerife desde o século XIX. É de fabricação
inglesa; colocada nos ombros, protege os camponeses dos rigores do inverno em alguns
locais dessa ilha. (N. T.)
2. Uma milha náutica (NM): 1.852 metros. Ao longo do livro serão usadas medidas em
milhas.
3. Cerca de 480 quilômetros por hora.
4. Cerca de 3 mil metros.
5. No jargão aeronáutico, as posições dos tráfegos são especificadas utilizando como
referência as horas. Assim, 12h corresponde ao nariz do avião; 9h, ao lado esquerdo; 3h,
ao direito e assim sucessivamente.
7. Em 20 de fevereiro de 1962, John H. Glenn completou três órbitas em volta da Terra em
4 horas e 56 minutos.
8. Segundo Florencia Muller, em sua obra Quintana Roo, do Instituto Nacional de
Antropologia e História do México, “O maia adulto se caracteriza por ser de baixa
estatura, sendo as medidas médias dos homens 1,55 metro, e das mulheres, 1,42 metro.
Têm ombros largos, tronco maciço, com braços relativamente compridos”. A altura do
esqueleto encontrado no interior do túmulo de Palenque pertence a um indivíduo que
devia se destacar sensivelmente do restante da população.
* Prato típico mexicano feito de um cozido de carne de porco, peru ou frango com um
molho, também chamado mole, de diversas pimentas e especiarias. (N. T.)
9. Note-se a grande semelhança com a nuvem na qual entraram os pilotos da companhia
espanhola Aviaco em seu voo Bilbao-Santander.
10. Para o avião de Gernon teria sido impossível voar em minutos de Bimini a Miami.
* Comédia de Lope de Vega, dramaturgo e poeta espanhol dos séculos XVI-XVII. Nessa
analogia, o autor se refere ao personagem do cão, que nem come nem deixa comer. (N.
T.)
11. José Antonio Silva do Porto nasceu em Santiago de Compostela em 19 de maio de 1938.
É químico formado pelas Universidades de Santiago e Sevilha. Instrutor de
aeromodelismo e piloto civil no Aeroclube de Santiago desde 1956. Foi fundador e gerente
da Publiavión, S. A., Trabalhos Aéreos; fly student na companhia Spantax em 1968; piloto
de frete aéreo em 1970, em voos de carga, piloto da Transeuropa em DC-4, DC-7 e
Caravelle 10R e 11R. Atualmente é piloto da companhia Aviaco – desde 1974 – de Douglas
DC-9. Piloto da TVE de avião de pequeno porte e helicóptero em missões informativas.
Pilotou mais de 50 tipos de aviões e soma mais de 9 mil horas de voo entre aviões,
helicópteros e planadores. Foi vencedor da Vuelta Aerea Galaico-Duriense em 1963. Entre
suas principais condecorações estão a Medalha da Cruz Vermelha, por pilotar o primeiro
avião que aterrissou em Damasco e Cairo com medicamentos para os feridos da guerra
árabe-israelita, a medalha de Honra ao Mérito Aeronáutico e a Cruz de Oficial ao Mérito
Civil. Foi comentarista da TVE na Estação Espacial de Robledo de Chavela e Fresnedillas,
em todos os voos espaciais, e conheceu pessoalmente diversos astronautas. Apresentou,
entre outros, os seguintes programas da TVE: A Toda Plana, Telediario, Semanal
Informativo, Crónica de Siete Días e Tribuna de la Historia, tendo desempenhado igualmente
diversas tarefas como enviado especial pelo mundo.
12. Em seu livro Existiu outra Humanidade, J. J. Benítez expõe um amplo relato sobre essas
pedras gravadas que constituem a mais antiga biblioteca.
* Referência a um momento político na Espanha chamado “carrilismo”, quase que uma
equivalência a “stalinismo”. (N.E.)
Conheça os outros títulos de J. J. Benítez lançados pela Editora Planeta:
CAVALO DE TROIA 1 – JERUSALÉM
CAVALO DE TROIA 2 – MASSADA
CAVALO DE TROIA 3 – SAIDAN
CAVALO DE TROIA 4 – NAZARÉ
CAVALO DE TROIA 5 – CESAREIA
CAVALO DE TROIA 8 – JORDÃO
CAVALO DE TROIA 9 – CANÁ
OS ASTRONAUTAS DE YAVEH
O ENVIADO
EXISTIU OUTRA HUMANIDADE
MEUS ENIGMAS FAVORITOS
O MISTÉRIO DA VIRGEM DE GUADALUPE
A REBELIÃO DE LÚCIFER
O TESTAMENTO DE SÃO JOÃO
© Jorge Nagore
J. J. Benítez nasceu em Pamplona, na Espanha, em 1946. Formou-se na
Universidade de Navarra e, aos 26 anos, começou a fazer reportagens
investigativas, em especial sobre temas de mistério para a humanidade.
É também um grande estudioso e apreciador dos ensinamentos de Jesus Cristo,
que inspiraram a famosa saga Cavalo de Troia, um best-seller mundial que já
vendeu mais de 5 milhões de cópias no mundo todo.
Até hoje, escreveu mais de cinquenta livros, milhares de artigos e diversas séries
de documentário para a televisão. Teve quatro filhos, um amor verdadeiro e
milhares de sonhos, a maioria ainda não realizados. Em 27 de julho de 2002,
nasceu pela segunda vez. Desde então, vive praticamente afastado de tudo.
MC-03/17