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Estresse na raiz da fertilidade

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Pesquisa FAPESP - Ed. 91

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Page 1: Estresse na raiz da fertilidade
Page 2: Estresse na raiz da fertilidade

BRASIL· ASC - LAS' ABAONZINOX' ACATS:;·AGA· AGllENT' AGROSYSTEM' AGrEC' - ALEM MAR- ALFA KIT·I\l.TMAIIIH·A NAlYSER· ANO' APPlIED BIOSYSTEMS' ARSEC' ASTRA' AZAAMATUREN'AYAllA MARKETING' BANAS EDITORA. seu. 8EL EUUlPAMENTOS. BIÓ - 'IOLÓ6ICA - BIOM~R!EO)( • BIOSYSTEMS' aoc EOWAROS· BRASEQ· BAUKEAAXS - BRASil' SRUKEROPTICS· SUNKER ,CAlI' CARlS ZElSS. CaM' CENTRAL CIENTlFlCA • CIENTEC' CRAl,PLAST • CROMACON' CROMATEC' DAC' OAIRIX· OELTECH' DESIGN• OIGIMEO' OISTEK' OP UNION' DTS' ElETAOlA6ANTHOS' ElGA' EQWIPAR' XPOLABOR' FANEM· FEMTO' FGG' FlNNIGAN' FISATOM· FLOWSCIENCE• FLOWSERVICE' GASI\RT' GEHAKA • GENÕMICA' GIBERTINI· GR • GRANQTEC' Gl\® flELLMA - HotUlRAS - HOMIS· HOTPACK • IBRAM 'ICR3 -ILMVAC 'IMPRINT • INERTSll'INLA8'INSTRUCOM .INTECROM 'INTERCIENTlFICA -INTERLAB 'INTERPRISE' KElLER EDITO LABlINEA' ORGLAS.LAtlORMEO -LABOQUIMICA 'LABTRON-LACTEA .LAFAIETE 'LAGROTTA~LATINCHEMICAl' LOM' LECO' LEMF:A'lIM-MEO' MAOASA' MAUUIMP ;MAAtllN"~BI\l.ANÇAS. McWlLL ElllIorf _ -lA PAZ'· MICRONAL' MllLlPORE' MOVLAS' NETZSCH' NOVAANAÚTlCA' NOVAETlGA- NUTRICELL' OMA' OMU' PANAAMERlCAN' PENSALAB' PERKIN ELMER' PERMUT'ON. fflEGITECH' PHILll'S -f'lAST LABOIt-f>LEION-' PLN' PJ)lICONTROl.~ POUMATE • PRECIS'ON' PIlE,CITECH' PROOUlAB • PROMOLAB• ao EDITORA' UUALlSYS' UUELAB • QUIMIS • QUIMLAB' RADCHROM' RBC A CATLAB-J1EVlSTA ~STOOUE fARMA' IlEVISTAJj1\PESP. REVISTA NEI' RICERA. SARSTEOT - SARTORIUS' SCHOTT BRASil'SATELIT· SGIENTCH' SCIENTIFC AMERICAN.SENAC. SHIMAOZU. SIGNUS E OVEREIGN 'SI'ECSOl' SPECl'Rô SOtAMERICANA; SPECTRUN. SUPERLAB. TEADIT- -rEC-LAB' TECNAl· TECNIPLAST· TECNOANAlITlCA • TEOIA • TEKIN • TEKMAR - TIME IN • TOlEOO • TRANTER' ULTRA C' VARIAN - VELP • VErEG - VI SOMES - VR EOfÇOES' 'tA'.' WATERS • WHITE MARTtNS' ALEMANHA' 38 • AlLUOS· AMAREll• ANALYTlK· AQUALYTlCGmbH' ARTUS - BINllER - BOECO • BREITHAUPT R' OATAPHVSíes - DEGENER 'OIRKSEI;&SOHN- JlR MAISCH • ELWE. EPPENOORF - ERWEKA' FINITIPS' GOHLKERN & SOHN• GONOTEC' GUNTER HERRMANN • HAllEmnANN' HEIOOLPH • HEINRINC • HI6T TECH PROM01l0N - HUMAN' HUNO WEÍ'ZLAR. 'KN WAAGEN • KRÜSS OPTRONIC &-LAUOA OR.R.WOBSER 'UEDER· MEMMEÃT .II\E05 - MIELE' MMM M T APPARATEBAU' PHYWE' PLANO' OIAGEN. SCHMIOT MSO' SYMPATEC·THERMOHAAKE· THIES • TSt. UNIEQUIP .-vAculIBRANO • VÔTSCH' W RA' WITE6 • WTW' XERAGON • AUSTAÁUA - CORBETT • PHOTRON·SGE • AUSTRIA - ANTON PAAR' BELGICA-ACROS ORGANICS' CONSORT • CLAISSE INC -LABPLAS- CHINA' B'IOCEEL' BIOPRECISA' BIOVAl- CENTRIBIO' OEG' POlAX -CINGAPURA - ESCO• CORÉIA' OOMET!C. FINE PCR 'IISHIN. LUXEMBURGO' VISION' SEO - ESPANHA. BUROINOLA' J,P.SELECTA' SHARLAU.1tJ<NOCROMA' TElSTAR -ESTADOS UNIDOS - 3M' ACCULAB•ACUMEOIA' ADVANCEO INSTRUMENTS -I\FFYMETRIX' AGTRON • APPlIEO SEPARATION • ARIZONA' ASTORlA-PACIFIC - ATCC' AxYGEN - BACARACH' BARNSTEAD/THERMOlYNE'BAS-BYOANALYTICAL- BBI' BBL' BO' BECKMAN COULTER' BELART' BIOCONl'RôL' 810 RAlt.llIOTEK' BROOKFIELO • BRUKERAXS INe. BYK-GilRNO.ERENGIN.EERING-eM' COS ANAlYTICAL' eEU SIGNAlING' CEM COAPORATION• CHARM SCIENCES • cHEM SERVICE • CHEMETNICS • CHEMTRAC • CHROMACÓl- COl!' PARMER' CO • COPAN' CRI' DECAGONDEVICES' DEFElSKO COAPORATION• OENT$PLV' OENVER' OIFCO. DIGILAB' OILloN GROUP' DIONEX' OYNAMAX' ELETRONIC SENSOR' • GENOVISION' GllSON' GLOBALENVIRONMENTAl' GRETAGMAG BETH - HACH' HAMILTON THORNE' Hil.NNAUSA' HANSON RESEARCH 'JjARVARO' HUMAGEN' jIj'íDEXX 'IKA WORKS'lllINOIS INSTAUMENTS-IN USA 'IUSClENTIFIC 'IRVINE -ISCO .IST. JENCONS. j;r,BAKER MAWNCKROOT _ KONIKjNST. -LABALLlANCE' lse 'LI INDUSTRIES- MATECAPPlIEO SCIENCES· MBRAUN-METONE lNST-S"CIENCES' MEDIA CYBERRETlCS'l/IETROSONlcs, MIOAC COAr _ MIOIA CYBERNETICS BIOLABS' NSG' NUAIRE• OCEÀNOPTlCS' OHIOVAllEY - IÍRION' O-I ANALYTICAL' PARR-.l'ETROSPEC' Pl!YSIS. PIKE TECNOLOGIES - PRECISION SCIENTlFIC' nUAOREX - RHEOffK 'lllGAKÚ/MSC, S.D.I' SENSAOYNE lNSTRUMENT' SHElLAB' SIGMA-ALDRICH' SONICS' SPECAC •SPEC1RUM CHEMICAl' STRATAGENE' SunSRI. TA1NSTRUMENTS' TOX • TEDIA CO.' TELEOYNE' THERMO FlNNIGAN' THERMO FOAMA- THERMO ORION' rHERMO SIIVANT- UNITECH' UNITEO'US BIOSOLUTlON·U.S.PHAAMACOPEIA- UUEST. VISCO:rEK' VOlPI USA· VWR- WAUKESHA. WHfA TON SCIENCE PROD.' WllKS' ZEFA METER. ZETON ALTAMIRA. 2YMARJ<' YSI • FlNlÃNDIA. JENCONS' ORION OIAGNOSTIC' THERMOLABSYSTEMS- m 4ÇA - AES • AlLAFRANCE' AlPHA M.O.S • APELEX• CAO JNSTRUMENTATION' CLlMATS ISAPATRIN • FORMULACTION .IS[- JIPELEC • JOBIN YVON• JOUAN -NAPCO • pRECISION. RADIOMETER- VIl8ER LOURMAT • HOIANDA' AUTO B • BIOSOLVE •MIGRONIC SYSTEMS' SENTRON' THERMO EUROGlAS • ISRAEL - TUTTNAUER -ITÁLIA - BIOllFE' eEAST SPA' OANIINSTRUMENTS _ UOFllCHEM' MAYO-4APÃO' AfAGO E ce- FWI PilOTOALM-HITACHI' HUN • .-lfCTRON-IGS' MFS. NIK(iN' NIPPON INSTRUMEN1S. RfGAKU'TOKAI HIT' TOMY SEIKO' MÉXICO _ HANNAPRO _ POLONIA _ HTL • REINO UNIDO' ABGENE' ADe IJj()SClENTIFlC'ASTELl' BIOT M' E • CIRRUS'CNS FARNELL. OElTA- T OEVICES - OON WHITLEY. GRANT • ORATlCULES - HICRROM' JUNfPER .LACHAT INSTRUMENTS' LLOYOUNsTRUMENTS- OXRlRO-INSTRUMtNTS' PEAKselE NT NTATION.RUSKINN - SKYEINSTRUMENTS' SYNGENE' SCIEPLAST' STABLE MICRO SYSTEMS. SUREACE MEASUIIEMENT' TECllNE' THERMOHYBAID' WPA 'SUIÇA - BIOENGINEERING'-INFORS • INTEGRA BIOSCIENCES - METROHM' METTlER TOLEOO· ORBISPHERE LABORATORIE$. fflEClSA INSTRUMEtlTS - SOCOREX - TECAN' THERMO ARl' TPP' TREFFLAB

Page 3: Estresse na raiz da fertilidade

•Pesq~~aCiência e Tecnologia no Brasil

SEÇÕES

CARTAS 5

OPINIÃO 6José Fernando Perez

CARTA DO EDITOR 7

MEMÓRIA 8Há 590 anos, Brunelleschiredescobria a perspectiva linear

www.revislapesquisa.fapesp.br

REPORTAGENS

CAPAEstresse gerado por brevesausências da mãe depoisdo parto afeta profundamentea vida de filhotes 34

POLÍTICA CIENTÍFICAE TECNOLÓGICA

ACIDENTE

Destruição do VLS sugereuma revisão do ProgramaEspacial Brasileiro 16

MEDICAMENTOSBrasil integra esforço mundialpara o desenvolvimentode novas drogas 20

FOMENTOMinistério firma convênioscom FAPs para incentivarpesquisa regional 24

CITRICULTURAEmpresa de biotecnologiacria exame para identificarmorte súbita dos citros 26

IMPORTAÇÕESPropostas de comprade bens e serviços voltama ser analisadas 27

DIFUSÃOCentro de Óptica e Fotônicadismistifica a física para acomunidade de São Carlos .... 28

INOVAÇÃOCurso de capacitaçãode gestores vai apoiarempresas do PIPE 29

CIÊNCIA

BIOQUÍMICA

Uma nova explicação paraa origem do mal de Parkinsone de doenças raras 40

,(

ESTRATÉGIASDiálogo com os árabes,no idioma da ciência 10Falta convencer os credores 10A genética mobiliza os britânicos 11Livre acesso aos primatas chineses 11A crônica pilhagem do tesouro afegão 11Parque construído em si lêncio 12

No México{ como no Brasil 12Ciência na web 12Osolhos do Brasil sobre Moçambique 13O resgate da memória da ciência 13Aids na fronteira da perdição 14Diversidade no encontro da Anpocs 14O fim do militante da saúde pública 14

PESQUISA FAPESP 91 • SETEMBRO DE 2003 • 3

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________________________ ~~~~~!S~qlli!S....:êl~~ciê=nc=ia=e~~~cn~o,~og~ia~nO~B~ra~sil~~ _FAPESP

SEÇÕES

Bom senso no mundo da patentes 15Nova roupagem, com mais conteúdo 15

LABORATÓRIOAs cores secas ou frescas 30O sagrado sono dos adolescentes 30Cinco anos até publicar um artigo 30

"Êoc

"~

Água não é mais H20 31Comparando ratos e elefantes 31Insulina para correr mais 31O destino do submarino ultraveloz 32Caminho livre para as bactérias 33Fisicos numa mina de ferro 33

SCIELO NOTÍCIAS 60

LINHA DE PRODUÇÃOTransformações na emissão de luz ...•.... 62Ovelhas e gansos entre as vinhas 62O menor motor elétrico do mundo 63Plataforma produz metanol 63Rosto é a senha de acesso 63

Pássaros distantes de curtos-circuitos 64Chip acústico para controlar percevejo 64Secagem com chaminé solar 64Energia eólica oxigena água 65Patentes 65

RESENHA 94Os Caminhos dos Livros, de Márcia Abreu

LANÇAMENTOS 95

CLASSIFICADOS 96

ARTE FINAL 98

4 • SETEMBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 91

REPORTAGENS

GENÔMICAGenoma da cana impulsionouprojetos, empresase carreiras científicas 44

NEUROLOGIADiferença de temperaturanos ouvidos sugereque o sagüi do Cerrado temum cérebro complexo 54

AMBIENTE

São Paulo recupera 3,8%da vegetação naturale inverte tendênciade desmatamento 48

COSMOLOGIAFísicos selecionam as partículascandidatas a compora matéria escura 56

TECNOLOGIA

ENGENHARIA DE MATERIAIS

Polímero derivadodo óleo de mamona,sintetizado no Brasil,ganha mercado externo 66

DIFUSÃOPesquisador cria kit compeças de plástico que mostramestruturas protéicas emforma tridimensional 72

INFORMÁTICA

1\\111

Sistema desenvolvido naUFMG permite controlara privacidade na Internet .... 76

AGRICULTURACompostos orgânicos urbanosutilizados como adubo sãoanalisados por software 78

MEDICINAPatente do Catuama garantemedicamento que revertefibrilação ventricular 82

HUMANIDADES

ILUSTRAÇÃO

Pesquisa recupera a divertidae crítica epopéiasatírica de Manuel de AraújoPorto-Alegre 84

HOMENAGEMMorto aos 73 anos, o poetaHaroldo de Campos nãocabia dentro de rótulos 88

ARQUITETURATese analisa conceitosde patrimôniohistórico de Lúcio Costa ..... 90

Capa: Hélio de Almeida sobre obraA Virgem com o Menino, Filippo Lippi

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Matemática

É lastimável o texto intitulado"Será que o Abel pode ser um Nobel?"publicado em Pesquisa FAPESP (edi-ção nv 90). Na ficha técnica da revis-ta (página 7) se lê "Os artigos assinadosnão refletem necessariamente a opi-nião da FAPESP':Bem, a nota publica-da não está assinada, depreendo que elareflete a opinião da FAPESP.Como otexto é pejorativo à comunidade ma-temática, rogo-me no direito e deverde formular uma resposta ante a mi-nha perplexidade. Em linhas gerais, otexto é maldoso, pois é pouco infor-mativo e diz que a matemática não édigna da criação do Prêmio Abel, por-que não goza de popularidade. O tex-to completo está no final dessa men-sagem. Vejamos algumas pérolas:"longe do apelo popular", "será que amatemática tem charme suficiente pa-ra emprestar ao Abel?","Mas, do pon-to de vista do público, que peso issotem? Talvez nenhum:' Concluo que àFAPESPsó interessa apoiar uma ciên-cia de "apelo popular", é claro que issonão é verdade. O texto deveria divul-gar que na comissão de cinco mate-máticos responsáveis pela escolha da-quele que deveria ser o primeiro a seragraciado com o Prêmio Abel, o Bra-sil teve a honra de contar com o emi-nente matemático brasileiro Iacob :Palis. Isso é apenas um primeiro indi-cativo do prestígio e importância quea matemática brasileira tem nos meiosacadêmicos mundiais. Além disso, oBrasil está numa boa posição no ran-king que mede a pesquisa em mate-mática mundial, ao lado de: Austrá-lia, Bélgica, Hungria, Índia, Polôniae Espanha. Detalhes de como o ran-king é feito podem ser encontradosem www.mathunion.org. Há diver-sos centros onde se faz pesquisa deponta no Brasil, tais como: Unicamp,USP, IMPA-RJ, PUC-RJ, UnB, UFRJ,UFPE. Certamente estou omitindoinvoluntariamente outras instituições.O texto também é maldoso, pois o

[email protected]

tom em que foi escrito só ajuda a ar-raigar ainda mais o preconceito de al-guns com a matemática e a ciênciaem geral, isso é um absurdo, repito:um absurdo, vindo de uma revistaque se propõe a divulgar a ciência. Érealmente lamentável o nível de al-guns jornalistas que escrevem sobreciência no Brasil. Quanta desinfor-mação, quanto preconceito com aciência sobre a qual eles escrevem.

MARCELO MONTENEGRO

Departamento deMatemática do IMECC-Unicamp

Campinas, sr

na Noruega, o rei Harald V passou oprimeiro Prêmio Abel de Matemáticaàs mãos de Jean-Pierre Serre, do Col-lêge de France, em Paris (New Scien-tist, 17 de junho). O prêmio foi ins-tituído para preencher a lacunadeixada por Alfred Nobel, que igno-rou solenemente a matemática aocriar sua premiação. Não que faltemprêmios importantes. O Canadá, porexemplo, oferece a disputada Meda-lha Fields. Mas só acontece de quatroem quatro anos, paga bem menosque o Nobel (em torno de US$ 11mil) e está longe de ter apelo popular.O Abel, por sua vez, será entregueanualmente e, já no nascimento, con-templou Serre com US$ 816 mil. Háquem pergunte: será que a matemá-tica tem charme suficiente para em-prestar ao Abel? Não há dúvida deque Serre é um grande matemático.Foi o mais jovem ganhador da Fields,em 1954; seu trabalho teve influênciaem várias áreas da matemática - dateoria do número à geometria algé-brica - e sua teoria foi fundamentalpara ajudar Andrew Wiles a desen-volver a prova do último teorema deFermat. Mas, do ponto de vista dopúblico, que peso isso tem? Talveznenhum. Por isso, pode ser que conteo estilo da apresentação, no melhorestilo Nobel, com presença de rei etudo. O nome Abel é uma homena-gem a Niels Henrik Abel, matemáticonorueguês do século 19.

Para o autor da nota "Será que oAbel pode ser um Nobel?", número90, o critério para avaliar o charmede um prêmio passa pelas aplicaçõessurgi das da pesquisa premiada e pelo"estilo da apresentação" da cerimô-nia. Para alívio e satisfação geral, opróprio Prêmio Nobel não é conce-dido nesses termos e a ciência básicaainda é autorizada a existir. Esperomesmo assim que sobre algum char-me ao Nobel e à atividade científica.Ironicamente, uma das áreas em quetrabalhou Serre, teoria de números,hoje é indispensável à criptografia,por sua vez empregada na movimen-tação de centenas de bilhões de dó-lares por dia. Ciência é confusa: 60anos atrás, um dos especialistas da teo-ria, Hardy, orgulhava-se da pretensainutilidade do assunto.

CARLOS TOMEI

Departamento de Matemática,rUC-Rio

Nota da Redação: Julgamos despro-porcional a reação dos pesquisadores ànota em questão. Para que o leitor façaseu próprio julgamento, reproduzimoso texto abaixo.

Será que o Abelpode ser um Nobel?

Em cerimônia realizada no dia 5de junho, na Universidade de Oslo,

Correção

Na reportagem "Visão das pro-fundezas" (edição n= 90), o mapa dapágina 51 mostra o fundo do mar en-tre o Espírito Santo e a Bahia - e nãoentre o Rio Grande do Sul e o sul daBahia, como consta na legenda.

Cartas para esta revista devem ser enviadas parao e-mail [email protected], pelo fax (11) 3838-4181ou para a Rua Pio XI, 1.500, São Paulo, SP,CEP 05468-901. As cartas poderão serresumidas por motivo de espaço e clareza.

PESQUISA FAPESP 91 • SETEMBRO DE 2003 • 5

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OPINIÃO

JOSÉ FERNANDO PEREZ

MusArtS, FAPESP e o Ircam

J\:.eleza singela da praça IgorStravinsky, junto ao CentroPompidou, em Paris, con-

duz, naturalmente, o olhar para aslúdicas e sedutoras esculturas deNiki de Saint Phalle. Com isso,pode-se até deixar de notar a sutilarquitetura do edifício de esquinaonde está instalado o Institut de Re-cherche e Coordination Acousti-que/Musique, o Ircam, criado, em1969, por Pierre Boulez, um dosmais influentes músicos do século20. Na frente do edifício, uma placa(foto ao lado) descreve de forma sin-tética e precisa a missão do institu-to: a) desenvolver pesquisas sobreAcústica Musical e Tecnologia; b)transferir conhecimento para diver-sos setores da indústria; c) promo-ver atividades educacionais para es-pecialistas e para o público em geral. Placa no Ircam: missão bem à vistaDesde sua criação, o Ircam tem sidoreferência internacional e fonte de inspiração para a orga-nização da pesquisa nessa interface entre música, ciênciae tecnologia. Músicos e pesquisadores de todo o mundofazem estágios para freqüentar seus cursos, utilizar suasinstalações e interagir com a excelência científica e mu-sical do seu ambiente. A contribuição do Ircam se esten-de também para o desenvolvimento tecnológico, tendo suapesquisa contribuído para, até mesmo, a geração de pa-tentes com produtos cuja relevância se estende para bemlonge do campo da acústica e da música. A indústria ae-ronáutica e a teoria de escoamento de gases são exemplosdesse espectro de alcance.

É fascinante observar a coincidência dessa missão coma definida pela FAPESP para os seus dez Centros de Pes-quisa, Inovação e Difusão (Cepids) - um programa expe-rimental, implantado em 2000, que está testando umnovo paradigma da organização da pesquisa. De fato, ca-da um desses centros deve: a) realizar pesquisas multidis-ciplinares em suas respectivas áreas de conhecimento; b)desenvolver estratégias eficazes de transferência do conhe-cimento gerado por meio de parcerias com empresas ecom o governo; c) implementar projetos educacionais ino-vadores em todos os níveis - isto é, tanto para especialistascomo para estudantes do ensino fundamental e médio.

Inspirada no modelo do Ircam e na experiência daFAPESP com os Cepids, nasceu a proposta do novo progra-

6 • SETEMBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 91

ma, Musica Articulata Scientia (Mus-ArtS), o Instituto Virtual da Músi-ca e Tecnologia. O MusArtS deveráser um programa da FAPESP dedi-cado à pesquisa sobre Música e Tec-nologia, aberto à participação de to-dos os pesquisadores do Estado deSão Paulo, com uma missão idênti-ca à do Ircam, mas com uma estru-tura virtual e descentralizada. Trata-se de utilizar a mesma estratégiabem-sucedida dos projetos genomae Biota - este estudando toda a bio-diversidade do Estado - para o de-senvolvimento de projetos de gran-de complexidade. Essa estratégiacolaborativa, sem custos de infra-es-trutura de prédios e de administra-ção, é ideal para a nossa era domina-da pela Internet. O MusArtS nãopretende ser uma réplica do Ircam,mas deverá ser uma resposta brasi-leira aos mesmos desafios.

O que torna viável um programa como o MusArtS é,sem dúvida, a qualidade dos pesquisadores que vêm tra-balhando no Estado, muitos com o apoio da FAPESP, emprojetos na interface Música- Tecnologia. Só o entusias-mo dessas lideranças e sua disposição para trabalhar deforma cooperativa poderão levar ao sucesso do empre-endimento.

A intensa interação propiciada pelas oficinas de tra-balho e as palestras realizadas de 11 a 15 de agosto per-mitiram criar a base para uma colaboração estável entreo Ircam e o MusArtS em mais de uma dezena de proje-tos de pesquisa. A excelência da atividade de pesquisaem curso no Estado e financiada pela FAPESP foi ampla-mente reconhecida.

A FAPESP está orgulhosa desta iniciativa cujo lança-mento com a presença do Ircam em São Paulo, além depreparar o início dos trabalhos do MusArtS, se constituiuem um marco na vida cultural da cidade e do Estado. AFundação também está feliz por ter propiciado uma ino-vadora parceria com o Ircam, o Instituto Cultural Itaú,o Centro de Documentação Tecnológica (CenDoTeC), oConsulado Francês em São Paulo, a Rádio Cultura FM etantos outros que tornaram possível este evento.

JOSÉFERNANDOPEREZé diretor científico da FAPESP

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PesquisaFAPESP

CARLOS VOGTPRESIDENTE

PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADOvleE·PRESIDENTE

CONSELHO SUPERIORADILSON AVANSI DE ABREU,ALAIN FLORENT STEMPFER,

CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ, CARLOS VOGT,FERNANDOVASCO LEÇA DO NASCIMENTO,

H ERMANN WEVER, JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUDA,MARCOS MACARI, NILSON DIAS VI EIRA JUNIOR,

PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO,RICARDO RENZO BRENTANI, VAHAN AGOPYAN

CONSELHO TÉCNICO·AOMINISTRATlVOFRANCISCO ROMEU LANDI

DIRETOR PRESIOENTE

JOAQUIM J. DE CAMARGO ENGLEROIRETORADMINISTRAT!VQ

JOSÉ FERNANDO PEREZDIRETORCIENT!FICO

PESQUISA FAPESPCONSELHO EDITORIAL

LUIZ HENRIQUE lOPES 00$ SANTOS (COOROENADORClfNTiFICO),EDGAR OUTRA ZANOTTO, FRANCISCO ANTONIO BEZERRA

COUTlNHO, FRANCISCO ROMEU LANDI, JOAQUIM J.DE CAMARGO ENGLER, JOSÉ FERNANOO PEREZ,

LUIZ EUGÉNIOARAUJO DE MORAES MELLO,PAULA MONTERO, WALTER COlLl

DIRETORA DE REDAÇAOMARILUCE MOURA

EDITOR CHEFENELDSON MARCOLlN

EOITORASÊNIORMARIA DA GRAÇA MASCARENHAS

DIRETOR DE ARTEHÉLIO DE ALMEIDA

EDITORESCARLOS FIORAVANTI IClt,C~), CLAUDIA IZIQUE lPOúnCAC&1I

MARCOS DE OLIVEIRA (HCrrot.OC!A), HEITOR SHIMIZU (VERSÃOOH·lINOREPÓRTER ESPECIALMARCOS PIVETTA

EDITORES-ASSISTENTESDINORAH ERENO, RI CARDO ZORZETTO

CHEFE DE ARTETÂNIA MARIA DOS SANTOS

OJAGRAMAÇÃOJOSÉ ROBERTO MEODA, LUCIANA FACCHINI

FOTÓGRAFOSEDUARDO CESAR, MIGUEL BOYAYAN

COLABORADORESALESSANDRO GRECO, BRAZ, CARLOS HAAG,

EDUARDO GERAQUE ION-lI,E), ELlZABETH TOGNATO,FABRicIO MARQUES, GIL PINHEIRO, JOÃO CARLOS LEAL,

LAURABEATRIZ, L1L1ANE NOGUEIRA, urcn.n ATAS, MARCELOFERRONI, MARIA ZILDA FERREIRA CURY,

MARIA MARGARIDA NEGRO, NEGREIROS, MARILI RIBEIRO,SIRIO J,B, CANÇAOO, RENATA SARAIVA, YURI VASCONCELOS,

THIAGO ROMERO ION-lI'E), T1AGO MARCONIASSINATURAS

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ALTO DA LAPA - SÂO PAULO - SPTEL, 11ll3B3B·4000 - FAX: llll 3B3B-41BIhttp://www.revistapesquisa.fapesp.br

[email protected]ÚMEROS ATRASADOS

TEL. llll 3038-1438

Os artigos assinados não refletemnecessariamente a opinião da FAPESP

É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIALDE TEXTOS E FOTOS SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO

FUNDAÇÃO DE AMPARO Â PESQUISA 00 ESTADO DE SÃO PAULO

SECRETARIA DA CltNCIA, TECNOLOGIA,DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E TURISMO•GOVERNO 00 ESTADO DE SÃO PAULO

uma pesquisa cujos resultados, se ce-dêssemos à tentação fácil das transpo-sições mecânicas, se mostrariam alar-mantes para nós, humanos. É quepesquisadores paulistas e gaúchos, quetrabalham conjuntamente num pro-jeto de pesquisa sobre o sistema re-produtor feminino, observaram que oestresse provocado em filhotes de ani-mais de laboratórios por breves perío-dos de separação da mãe, nos diasseguintes ao parto, produz danos cere-brais irreversíveis nos ratinhos recém-nascidos e desencadeia um quadro deinfertilidade em grande parte dessesanimais, durante a vida adulta. Comoobserva o repórter especial Marcos Pi-vetta, autor da reportagem, seria teme-rária, aqui, a comparação simplistaentre ratos e homens - mas, guardadasas necessárias distâncias, não inteira-mente desprovidas de lógica. E tantoé assim que uma das linhas de estudodos pesquisadores envolvidos no pro-jeto procura medir possíveis efeitosnegativos da pouca interação entremães com depressão pós-parto e seusfilhos recém-nascidos, situação quepode guardar alguma semelhança coma experiência de manipulação neona-tal dos ratos.

Ainda nos domínios da ciência,esta edição traz uma reportagem (pá-gina 40) com um balanço do projetoGenoma Cana, aproveitando a opor-tunidade de publicação na GenomeResearch, nos próximos dias, do arti-go científico que descreve as funçõesdos principais grupos de genes daplanta, dentre um conjunto identifi-cado de 33 mil.

Para concluir, na área de tecnolo-gia destacamos a reportagem sobre asmais diversas próteses feitas com umbiopolímero de mamo na desenvol-vido por pesquisadores paulistas (pági-na 62), que agora, certificado pela Foodand Drug Administration, a poderosaFDA dos Estados Unidos, deve ganharo mercado internacional.

CARTA DO EDITOR

Verde, que te quero verde

Pesquisa FAPESP traz encartadonesta edição um presente paraseus leitores: o mapa do verde

em São Paulo. É um pôster, tamanho80 x 52 centímetros, que mostra a ve-getação remanescente no Estado deSão Paulo. E ainda que possam chocaros olhares mais sensíveis os vastos cla-ros na primitiva - e a essa altura sóimaginada - cobertura vegetal do esta-do, na verdade, o mapa é anunciado rde uma excelente notícia: a área verdeem São Paulo está crescendo, aindaque lentamente. É a primeira vez, des-de a chegada dos colonizadores euro-peus a essas terras ao sul do Equador,que se registra uma inversão na ten-dência de desmatamento nestas pla-gas. Os paulistas e todos os brasileirosque se preocupam com as contribui-ções nefastas do país ao amplo rol deameaças perpetradas todos os dias, nomundo inteiro, contra a saúde do pla-neta, podem, neste caso, comemorar.

De nossa parte, estamos comemo-rando não só a boa notícia como aprópria publicação do mapa, um dosprodutos do programa Biota-FAPESP.Ela resulta da cooperação e do esforçoconcentrado de muita gente. Em par-ticular, da equipe de pesquisadores doInstituto Florestal, Francisco 'Kronkaà frente, que coordenou a elaboraçãodo mapa, cuidou de transferi-lo parauma linguagem que facilitasse suapublicação pela revista, acompanhousua finalização na redação de PesquisaFAPESP e, não bastasse isso, empe-nhou-se na procura de parceiros queviabilizassem financeiramente suaimpressão e veiculação sem ônus adi-cional para a revista. Mas há que se re-conhecer aqui também o esforço daprópria equipe da revista e o apoiodas empresas privadas que patrocina-ram esse presente para nossos leitores.Em tempo, a coordenação da repor-tagem que detalha aquilo que sinte-ticamente o mapa permite visualizar,a partir da página 46, é do editorCarlos Fioravanti.

Na reportagem de capa desta edi-ção, a partir da página 30, enfocamos MARILUCE MOURA - DIRETORA DE REDAÇÃO

PESQUISA FAPESP 91 • SETEMBRO DE 2003 • 7

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Exatidão,..."

naar eHá 590 anos,Brunelleschi redescobriaa perspectiva linear

NELDSON MARCOLIN

O arquiteto italianoFilippo Brunelleschi(1377-1446) era

um escultor de talento, masisso não significavaexatamente uma raridadena Florença dos séculos 14e 15. Naquele tempo, oRenascimento desabrochavaem todas as direções e asatividades artísticas da épocaganharam grande relevo.Conta a lenda criada emtorno de Brunelleschi queele optou decisivamentepela arquitetura depois departicipar de um concursopara esculpir uma das portasdo batistério florentino,

entre 1402 e 1403. Osresponsáveis optaram pordar o trabalho para LorenzoGhiberti e Brunelleschi, quese recusou a dividir a obra.A partir daí, ele teria viajadopara Roma com outroescultor, Donatello, ondemergulhou profundamentenos estudos sobrearquitetura e esculturaclássicas. Disso resultou aredescoberta da perspectivalinear, já usada por gregos eromanos na Antigüidade eesquecida por longos séculos.O florentino deu aos seusestudos um caráter maiscientífico do que

propriamente artístico - teriasido o primeiro a medir osmonumentos de arquiteturaantiga procurando sempreentender e passar para opapel a precisão do queanalisava. O próprioBrunelleschi explicou oconceito da seguinte forma:"A perspectiva consiste emdar com exatidão eracionalmente a diminuiçãoe o aumento das coisas queresulta para o olho humanono seu afastamento ou naproximidade: casas, planos,montanhas, paisagens detodas as espécies, figurase outras coisas': Em outras

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Maquete originalda última peça dacatedral, que vaiacima do domo

palavras, a perspectivaé o método que permitea representaçãotridimensional emsuperfícies bidimensionaispor meio de regrasgeométricas de projeção. Asua característica principalé o ponto de fuga, parao qual cada série delinhas paralelas parececonvergir. Embora baseadaem geometria e óptica,essas técnicas tiveramenorme importância paraos artistas renascentistas porser objetiva e racional- algobem diferente dos conceitosusados durante a Idade

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Maquete em madeirado domo, tambémfeita por Brunelleschi

Média. Foi entre 1413 e 1415que Brunelleschi tornousuas idéias claras ao pintaro batistério da cidadeexatamente como era vistoda porta principal dacatedral de Florença.A experiência impressionouseus amigos artistas,Donatello, escultor,e Masaccio, pintor.Hoje, os três sãoconsideradosprecursores da estéticarenascentista. Vinteanos depois, o tambémartista Leon BattistaAlberti, profundamenteerudito, dedicou aBrunelleschi seuTrattato della Pittura,onde explicitava as ba-ses teóricas do método.Como arquiteto,

Interior da igreja (comlinhas e ponto de fuga):

perspectiva perfeita

Brunelleschi foi escolhidopara projetar e finalizara catedral de Santa Mariadel Fiore, em Florença, em1420. A cúpula da igrejaera inteiramente originalpor dispensar o cirnbre, umaarmação de madeira queservia como molde e suportea arcos e abóbadas. A

Pronta, a catedraltornou-se referência e objetode estudo obrigatório

construção da abóbadadeveria ser feita sobre umagrande base octogonal,um bom desafio paraos arquitetos da época.Para levar adiante seuprojeto, ele criou máquinase andaimes especiaise concluiu a obra que,ainda hoje, é referência e

objeto de estudo em todos oscursos de arquitetura. Suafama como arquiteto eratão grande que, ao morrer,foi enterrado na catedralde Santa Maria del Fiore,honra só concedidaaos nobres e integrantesdo clero. Polemista, nãofugiu ao espírito

efervescente daqueletempo e travou boasbrigas com seus pares."Brunelleschi afirmaimplicitamente queo valor da arquiteturanão está na delicadezae na variedade deadornos, mas nalucidez distributiva desua estrutura", diz emseu livro Brunelleschi(Xarait Ediciones), otambém italianoGiulio Carlo Argan(1902-1992) um dosmaiores historiadoresem arte e arquiteturado mundo.

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• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

• ESTRATÉGIAS MUNDO

A União Européia (UE) re-dobra esforços para incluircientistas dos países árabesem seu Programa Quadrode Ciência e Tecnologia. Emjunho, a UE assinou acordode cooperação com o Mar-rocos e a Tunísia e iniciou ne-gociações com o Egito. Osresponsáveis pelo programaapostam que esse tipo deconvênio terá o dom de im-pulsionar a ciência no mun-

Diálogo com os árabes, no idioma da ciência

• Falta convenceros credores

O governo argentino quermultiplicar as fontes de re-cursos para ciência e tecno-logia - e tenta envolver nesseesforço até os credores de suadívida externa, que hoje al-cança US$ 172 bilhões. Aidéia, divulgada no dia 30 dejulho na revista eletrônicaSciDev.Net, é destinar 1%dos juros anuais da dívida aum fundo de apoio à pesqui-sa. Caso os credores aceitemabrir mão do percentual emnome da ciência, serão convi-dados a gerenciar o fundo em

do muçulmano e estimular odiálogo com o Oriente Mé-dio, esvaziando as críticas deque a Europa discrimina osárabes em favor de Israel. Oprograma da União Européiaé quadrienal e, em sua edi-ção 2002-2006, vai destinar17,5 bilhões de euros a pro-jetos de pesquisa de todas asáreas. Teoricamente, cientis-tas de todos os países podeminscrever-se e celebrar parce-

parceria com as autoridades.A proposta, conhecida como"Dívida em troca de conheci-mento", integra um planopara dobrar os investimentosem pesquisa no país que foi

rias com centros europeus.Mas a falta de divulgação eos complexos procedimentosde inscrição desestimulamas candidaturas. Acordosespecíficos, como os firma-dos com o Marrocos e a Tu-nísia, facilitarão os trâmites.Integrante ativo dos Pro-gramas Quadro desde 1988,Israel havia acabado de reno-var sua participação quan-do foi firrnade o acordo

apresentado à Comissão deCiência do Parlamento pelosecretário de Ciência, TulioDel Bono. O plano é formadopor outros dois projetos. Estáprevista a criação de um fun-

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com os árabes. Tanto melhor.Como lembra em editoriala revista Nature (23 de ju-nho), "Israel tem problemascomuns - como a deserti-ficação - com os vizinhosárabes", e, embora pareçadistante o dia em que troca-rão informações em paz, "aciência é uma das poucasáreas em que se pode man-ter um diálogo construtivoentre povos em conflito': •

do de risco, com aparte ini-cial de US$ 6,2 milhões pelogoverno argentino, para fi-nanciar empresas de inova-ção tecnológica. O outro pro-jeto estabelece um sistema definanciamento semelhante aodos fundos setoriais brasi-leiros, abastecido por taxascobradas de empresas de se-tores como biotecnologia,energia, combustível. A metaé fazer com que só uma partedos US$ 79 milhões do orça-mento de Ciência e Tecnolo-gia em 2004 tenha origem noTesouro. O restante seria fi-nanciado por meio dessesfundos. •

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• A genética mobilizaos britânicos

o Reino Unido anunciou uminvestimento de mais de US$80 milhões em pesquisas ge-néticas nos próximos trêsanos (Science, 27 de junho).Os planos prevêem verbaspara várias frentes: desde adifusão de exames de diag-nóstico de males hereditáriosaté estudos sobre as intera-ções de droga usadas em tera-pias genéticas. Um programapretende identificar e tratarcerca de mil pessoas portado-ras de um distúrbio genéticoconhecido como hiperco-lesterolemia hereditária, queeleva as taxas de colesterol dosangue a níveis alarmantes.Outra preocupação das auto-ridades é proteger o cidadãocontra o uso abusivo de in-formação genética. Para isso,vão propor uma lei que proi-birá a realização de testes deDNA sem consentimento ex-plícito das pessoas. O go-verno também reiterou seuapoio a um projeto que proí-be empregadores e agênciasde seguro de requisitarem da-dos genéticos de seus funcio-nários e clientes. Há quemache isso pouco. "Seria preci-so proibir claramente essestestes", protesta David King,ativista do grupo Human Ge-netic Alerts. •

• Livre acesso aosprimatas chineses

Biólogos do Sul da China pla-nejam capitalizar o fácil aces-so a macacos na região paracriar uma reserva de animaispara pesquisas médicas (Na-ture, 17 de julho). O centro,sediado na Universidade SunYat-sem, em Guangzhou, de-verá montar um banco de cé-lulas-tronco e criar grandescolônias de primatas transgê-nicos, para usá-los como mo-

A crônica pilhagem do tesouro afegão

delo para o estudo de doen-ças humanas. Juntos, a uni-versidade e o governo local,investiram cerca de US$ 1milhão no projeto, que conta

Não foi apenas no Iraqueque a guerra descambouna pilhagem do patrimô-nio arqueológico e cultu-ral. No Afeganistão, a des-truição começou há duasdécadas - e continua atéhoje (Science, 4 de julho).Mais de um ano e meio de-pois da queda do regimetalibã, relíquias do passadoafegão continuam a sersaqueadas, enquanto oprincipal museu do país sedeteriora. Especialistas des-cobriram no Paquistão umamplo comércio de moe-das, estatuetas e manuscri-tos pertencentes a sítios

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com intensa cooperação deBruce Lahn, geneticista daUniversidade de Chicago. Oobjetivo é explorar áreas damedicina, como o estudo de

arqueológicos ainda nãolegalmente escavados nonorte do país. Omar KhanMasudi, diretor do MuseuNacional, pediu aos afe-gãos que devolvam as pe-ças, mas tem contra si apobreza generalizada e osaltos preços pagos no mer-cado internacional pelasantigüidades. Graças à sualocalização estratégica, noentrecruzamento de váriascivilizações, o Afeganistãoera um importante guar-dião de riquezas arqueoló-gicas. Duas décadas deguerra - para não falar nadestruição proposital de

~ doenças neurológicas, em~ ~ que o uso de primatas foi li-

5';;' mitado na Europa e nos Esta-dos Unidos. A iniciativa chi-nesa vai na contramão datendência do mundo desen-volvido, no qual o sacrifíciode macacos nos laboratóriosvem sendo abandonado porpressão de ativistas dos direi-tos dos animais. Quinze pes-quisadores já trabalham nonovo centro. De acordo comLahn, eles terão entre 100 e200 macacos para começar apesquisas neste outono. Osfundadores do centro garan-tem que vão respeitar os pa-drões ocidentais de ética naspesquisas com animais. •

monumentos por fanáticosreligiosos - haviam aniqui-lado boa parte dessa he-rança. Em uma reunião emCabul, em 2002, governosde vários países se compro-meteram a destinar recur-sos para a restauração doedifício do Museu Nacional,que já foi várias vezes bom-bardeado e saqueado desdea década de 90. Até agora,porém, só um pedaço in-significante dessa ajudadespontou. Apenas 416 das70 mil peças roubadas domuseu - que já teve umacervo de 100 mil itens -foram recuperadas. •

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• Parque construídoem silêncio

A Malásia montou um planopara transformar sua rica di-versidade biológica numaindústria próspera (Nature,10 de julho). O projeto prevêinvestimento de US$ 160 mi-lhões, em três anos, na cons-trução de um parque biotec-nológico a 45 quilômetros dacapital, Kuala Lampur. Trêsinstitutos de pesquisa serãoconstruídos no local até2006. Três empresas já con-cordaram em se mudar parao parque, e o governo nego-cia a transferência de outras20. Nem o governo nem acomunidade científica que-rem alardear a iniciativa.Não por falta de entusias-mo, mas por cautela. O paísse ressente do fiasco de umgrande plano na área de tec-nologia da informação, em1997. "Preferimos fazer emvez de ficar falando", diz oprimeiro-ministro, Mahatirbin Mohamed. A discriçãotambém ajuda a prevenir in-sinuações de que o governoestaria entregando a biodi-versidade malaia a interessesprivados. Embora os recur-sos naturais sejam realmente

promissores - convênios in-ternacionais estudam, porexemplo, as propriedades daplanta nativa tongkat ali nocombate à impotência -, al-guns analistas apostam queos investidores malaios nãoconseguirão bancar os du-radouros investimentos quecompanhias de biotecnolo-gia demandam. •

• No México,como no Brasil

O presidente do México, Vi-cente Fox, pediu à comunida-de científica que se associe aosetor produtivo para levaravante os 2Ú5 projetos apre-sentados por pesquisadoresao programa Avance del Co-nacyt (Conselho Nacional deCiência e Tecnologia). "Pes-quisadores, governo e em-presas devem trabalhar emequipe, em prol de um pro-pósito comum: criar um apa-rato produtivo competitivopara manter o dinamismo dasexportações, fortalecer o mer-cado interno e gerar novosempregos", afirmou o presi-dente, sublinhando que seugoverno tem como meta re-duzir a distância que separaestes setores. •

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Ciência na webEnvie sua sugestão de site científico para

[email protected]

www.vision.ime.usp.br/-gaspar/neurof.htmlUma infinidade de endereçosde páginas eletrônicascom informações sobre neurociência.

www.dinodata.net/Um espaço repleto de informaçõestécnicas bem organizadas, com lindasilustrações de dinossauros.

UCSF CHIMERA"11 Extensib\to Mok:(:!.Ilar Moddiflg Synem

!7C.::Fa..... ••• IlQbtJ.~._~""."'oIccuIor~Pf_ h ••"", __ ~UC'.<iWr.bopllbWlta:""-- .• h.oow..o, ••••• d)·"'"'""""'"taSf~-'It~--*,- ••••b"•..uC:>"'Fo..:...ni<.....t.bI<& •• <l.cbqtlll" ••....s.nc..,.....-.,t._-pffliI..-dpt'f""""" ••.•. u~~ ••§a.&dbym.}rni~'lmtt.Í2tl'r.~l?n'.!Z!~P41-WIr.sl)

www.cgl.ucsf.edu/chimera/Software que permite a pesquisadoresusar modelos gráficosde moléculas para redesenhá-Ias.

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• ESTRATÉGIAS BRASIL

CBERS-l. Eles, por sua vez,retransmitirão os dados pa-ra uma estação na cidade deBeira. O custo do projeto,de US$ 230 mil, será banca-do pela Unesco, o braço daONU para educação, ciên-cia e cultura. "Para o Brasil,não custará nada ligar os sa-télites quando eles passaremsobre Moçambique", dizWilson Yamaguti, responsá-vel pelo sistema de coleta de

ses por ano, e, na superfíciede terras úmidas, a agricul-tura e a pesca vicejavam.Tudo mudou após a cons-trução de barragens nosanos 60 e 70. Sem as inun-dações anuais, as culturas searruinaram. Quando a águavolta, produz desastres. Foio que aconteceu na enchentede 2001, quando as compor-tas da hidrelétrica Cahora-Bassa foram abertas. •

dados do Instituto Nacionalde Pesquisas Espaciais, oInpe. "E poderemos usar osdados do que acontece naÁfrica para aprimorar nos-sas previsões': O controledo Zambeze, rio que serviude caminho para a coloni-zação portuguesa em 1632,faz parte de um esforço pa-ra amenizar uma tragédiaecológica. O vale em seu del-ta ficava encharcado 7 me-

nuel Domingos Neto, vice-presidente do Conselho Na-cional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico(CNPq) e coordenadordo grupo de trabalho.A comissão foi criadaem resposta à dilapi-dação que atinge al-guns acervos. Umexemplo é o centená-rio arquivo do Depar-tamento Nacional deObras contra a Seca.Registros de expediçõesao sertão nordestino aolongo do século 20 estãoabandonados em um prédioem Fortaleza. Outro impor-

tante acervo, a biblioteca doCNPq, está empilhado num

galpão em Brasília, colo-cando em risco relatórioscinqüentenários. Esseacervo será reabilitadocom a instalação dabiblioteca ao edifício-sede do CNPq. Estásendo discutida umafórmula que estimuleuniversidades e órgãospúblicos a reservar re-

cursos para preservarsua memória. "O Brasil

precisa se reconhecer co-mo o produtor de ciência

que sempre foi", diz Domin-gos Neto. •

Os olhos do Brasil sobre MoçambiqueDois satélites que coletamdados meteorológicos eambientais em 500 pontosdo território brasileiro vãoajudar o governo de Mo-çambique a monitorar a ba-cia do rio Zambeze. Quatroplataformas automáticas decoleta de dados serão insta-ladas no Zambeze e em riosvizinhos e transmitirão in-formações hidrológicaspara os satélites SCD-2 e

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• O resgate damemória da ciência

Uma política para preserva-ção da memória da ciênciavai sair do forno neste mês.Uma comissão criada peloMinistério da Ciência e Tec-nologia deve propor, entreoutras iniciativas, a criaçãode cursos de pós-graduaçãoem história da ciência e o in-vestimento em mão-de-obranacional nas áreas de arqui-vismo e restauro. "Só há trêscursos de história da ciência efreqüentem ente temos de re-correr a especialistas estran-geiros em restauro", diz Ma-

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Aids na fronteira da perdiçãoo extremo norte do Brasilabriga um movimento mi-gratório peculiar. Índios dequatro tribos ignoram, na-turalmente, as fronteiraspolíticas entre o Amapá e aGuiana. E convivem com le-vas de brasileiros paupérri-mos, que cruzam clandesti-namente o rio Oiapoque embusca de oportunidades noterritório controlado pelaFrança. Uma dupla de antro-pólogos saiu a campo parainvestigar o espectro da Aids

• Artigo de brasileirosna Nature Genetics

A edição de outubro da re-vista Nature Genetics, um dosperiódicos científicos commaior impacto na comuni-dade acadêmica internacio-nal, trará um artigo de dezpáginas com os resultadosdo projeto do genoma Schis-tosoma mansoni, uma dasiniciativas da rede ONSA, arede virtual de laboratóriosgenômicos criada no Estadode São Paulo pela FAPESP.Iniciada no primeiro semes-tre de 2001, a empreitada ti-nha como objetivo produzirpelo menos 120 mil ESTs -sigla que, em inglês, significaetiquetas de seqüências ex-pressas - a partir do DNA doparasita, principal agentecausador da esquistossomo-se. As ESTs são fragmentosdos genes presentes no geno-ma de um organismo. Essadoença tropical, que no ho-mem causa lesões no fíga-do, hemorragias e a popularbarriga d' água, afeta 10 mi-lhões de brasileiros, sobre-tudo no Nordeste e Centro-

nessa terra inóspita. O fran-cês Frédéric Bourdier, daUniversidade Victor Sega-len - Bourdeaux 2, e a co-lombiana Claudia LópezGarcés, do Museu ParaenseEmílio Goeldi, constataramque quatro índios, perten-centes às tribos Karipuna eGalibi Marworno, já con-traíram a doença - dois de-les morreram. ''A região émuito vulnerável. Mais pes-soas parecem estar comAids, mas é impossível com-

Oeste, onde é endêmica, emais de 200 milhões de ha-bitantes de zonas pobres doplaneta. Todos os seis está-gios do ciclo de vida do S.mansoni, cujo hospedeirointermediário são caramujosdo gênero Biomphalaria, fo-ram alvo do trabalho do gru-po brasileiro. O artigo devefornecer importantes infor-mações para o desenvolvi-mento de novas formas detratamento ou vacinas con-tra a moléstia. Para gerar in-formações sobre as regiõescodificadoras do genoma doparasita (que dão origem aproteínas), o projeto usou ba-sicamente o método de se-qüenciamento Orestes, de-senvolvido no Brasil. Aindaeste mês, antes da saída desua edição impressa de ou-tubro, a Nature Genetics develiberar, de forma antecipa-da, uma versão eletrônicado trabalho dos pesquisa-dores da ONSA. O projeto dogenoma S. mansoni é coor-denado por Sergio Verjovs-ki-Almeida, do Instituto deQuímica da Universidadede São Paulo. •

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provar porque não há umlaboratório na região", dizClaudia Garcés. Os resulta-dos da pesquisa estão sendousados para pressionar osgovernos brasileiro e fran-cês a estabelecer uma políti-ca pública para a região defronteira, em seus acordosbilaterais. "É muito mais fá-cil obter atendimento naGuiana do que na capital doAmapá, que fica a uma dis-tância maior e tem menosrecursos': afirma Claudia .•

• O militante dasaúde pública

O pesquisador e o políticoconviviam em simbiose nabiografia de Sérgio Arouca, osanitarista e ex -deputadomorto aos 61 anos, no dia 2de agosto. A vocação políticaexpressou-se primeiro: aos 15anos, filiou-se ao Partido Co-munista Brasileiro, hoje Par-tido Popular Socialista, agre-miação pela qual concorreu àvice-presidência da Repúbli-ca, em 1989, e cumpriu doismandatos na Câmara Fede-

Pesquisador e político

ral. A trajetória científica flo-resceu na Unicamp, ondeArouca criou nos anos 60 umcentro de medicina que servi-ria de modelo, duas décadasmais tarde, para implantaçãodo Sistema Único de Saúde.Teve seu grande momentonos anos 80, quando presidiua Fundação Instituto OswaldoCruz. Um dos marcos de suagestão foi a reabilitação de 11pesquisadores expulsos peloregime militar. As duas vo-cações sempre caminhavamjuntas. Em 1980, como con-sultor da Organização Pan-Americana de Saúde, trans-feriu-se para a Nicarágua etrabalhou com o governosandinista. Em 1986, acumu-lou a presidência da Fiocruzcom a Secretaria de Saúdefluminense. Conhecido pelapersonalidade inquieta, pros-seguia na militância. No go-verno Lula, assumiu a secre-taria de Gestão Participativado Ministério da Saúde, masera presença inconstante emBrasília. O câncer no intestino,contra o qual lutou duranteum ano e meio, minara o fô-lego do militante. •

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contrário, referências do pas-sado que voltam em pinturasdo presente. Uma tela de Si-queiros (Explosão na Cidade,1935), lembra de modo es-pantoso a explosão da bombaatômica sobre Hiroshima, dezanos depois. O presente tam-bém participa ativamente dolivro. Os atentados de 11 de

• Bom senso nomundo das patentes

so, não um fim. "Os pesqui-sadores se preocupam muitoem proteger a propriedadeintelectual, mas se esquecemde avaliar o essencial, que é apotencialidade comercial desua obra", diz Claudia Iung-mann, da consultoria 14BIS-ness, que está preparando oguia. O manual será lançadoaté o final do ano. Terá ver-são impressa e estará dispo-nível na internet, num linkda empresa (www.14bisness.com.br). •

Vem aí um guia com orien-tações práticas para obter oregistro de patentes, mar-cas e direitos autorais. Mas agrande novidade é que a ên-fase do manual não está nostrâmites burocráticos. Ele vaiexpor estratégias para a co-mercialização de inovaçõese mostrar que o registro dapropriedade intelectual é ape-nas uma etapa desse proces-

• Nova roupagem,com mais conteúdo

Será lançada em setembro aedição revista e ampliada deNova História Moderna eContemporânea, do professore historiador da UniversidadeEstadual de Campinas (Uni-camp) e Universidade Sagra-do Coração, de Bauru, JoséIobson Arruda, pela Edusc(792 páginas e R$ 90,00). Estaé a 28a edição de uma obraque já tem 30 anos de exis-tência. Nesse período, passoupor duas revisões completas,a primeira em 1980 e a segun-da em 1986, com atualizaçãopermanente em cada edição.As novidades apresentadasagora são numerosas - vãodesde a formatação do livro,diagramação, cores, capa atéa organização do conteúdo.Mas a principal é que este é oprimeiro livro didático de his-tória que contempla a ciênciaproduzida no Brasil. A obraganhou três elementos queajudam na assimilação de con-teúdo: documentos, leiturascomplementares e biblio-grafia e filmografia. Uma dasatrações da nova edição é ouso constante de obras de ar-te que parecem antecipar fa-tos ocorridos no futuro ou o

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setembro e a guerra contra oIraque, marcos deste início deséculo, não são esquecidos. Oavanço da ciência e sua pre-sença cada vez maior na mí-dia são citados e explicadospelo autor. O novo conheci-mento gerado pelos projetosde mapeamento do genomade numerosos organismos élembrado, assim como a de-cisiva participação da FA-PESP no seqüenciamento doprimeiro fitopatógeno (a bac-téria Xylella fastidiosa, queataca os laranjais), que ga-nhou a capa da revista Natu-re em julho de 2000 e o reco-nhecimento, pelo jornal TheNew York Times, de que háum modelo de pesquisa pró-prio - que funciona - nomundo subdesenvolvido. "Aobra destina-se preliminar-mente aos estudantes do en-sino médio, sobretudo candi-datos aos vestibulares, masatenderá aos estudantes uni-versitários em seus cursosiniciais na seara das Humani-dades", diz o autor na apre-sentação do livro. •

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POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA-

ACIDENTE

As lições da tragédiaDestruição do Veículo Lançadorde Satélite sugere uma revisãono programa espacial brasileiro

ois dias depois da maiortragédia da história da tec-nologia brasileira, que re-sultou na morte de 21 enge-nheiros e técnicos e destruiuo Veículo Lançador de Saté-lite (VLS), no Centro Espa-

cial de Alcântara, no Maranhão, em dia22 de agosto, o presidente Luiz lnácioLula da Silva e a Agência Espacial Bra-sileira (AEB) anunciaram que o plane-jamento do programa será mantido.Um foguete suborbital, por exemplo,deverá ser lançado entre junho e julho

do próximo ano. As negociações com aUcrânia, interessada em utilizar a basede Alcântara para lançar seus própriosfoguetes, também não deverão sercomprometidas com o acidente, segun-do o ministro da Defesa, JoséViegas.

O acidente que comoveu o país eganhou o noticiário internacional le-vantou dúvidas sobre o modelo adota-do até agora na condução do ProgramaEspacial Brasileiro. A morte em condi-ções dramáticas dos 21 engenheiros etécnicos do Centro Técnico Aeroespa-cial (CTA), de São José dos Campos,

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cc«

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Base de A\cântara: maior desastrena história da tecnologia brasileira

empenhados em cumprir o desafio queo Brasil se impôs na década de 80 - de-senvolver satélites com tecnologia na-cional e construir foguetes capazes delevá-los ao espaço -, intensificou certa-mente estas dúvidas. "É preciso apren-der com o erro e avançar, em vez de as-sustar-se e fugir, até para valorizar osacrifício das pessoas que morreram noacidente", disse Carlos Henrique deBrito Cruz, reitor da Universidade Esta-dual de Campinas (Unicamp), um ana-lista atento do desenvolvimento cientí-fico e tecnológico nacional.

Maior mobilização - Para avançar maisrapidamente, Brito considera estratégi-co ampliar a freqüência de lançamentos,o que poderia ser obtido com mais re-cursos e a rnobilização de um númeroainda maior de especialistas. Mas enfati-za: "O CTA precisa ser a instituição líderdo programa espacial", alertando para anecessidade de incluir no programa"um conjunto maior de instituições depesquisa, empresas e universidades".

Iniciada há 43 anos com a criaçãodo Grupo de Organização da Comis-são Nacional de Atividades Espaciais, apesquisa espacial no Brasil apresentaum saldo positivo. Sozinho e com su-cesso, o país desenvolveu dois satélitesde comunicação, o SCD-1 e o SCD-2, e,em parceria com a China, produziu oCBERS-1, de sensoriamento remoto. Oprograma também permitiu a naciona-lização de materiais para fabricação depropelentes - compostos químicos usa-dos como combustíveis -, de ligas me-tálicas e materiais cerâmicos. Os prope-lentes desenvolvidos para o ProgramaEspacial Brasileiro são hoje produzidosem escala industrial e utilizados comomatéria-prima na fabricação de colas,tintas e espumas. "O Programa é im-portante por seus objetivos específicos,mas também por ter propiciado o de-senvolvimento de uma indústria brasi-leira de precisão, algo de que o Brasiltem uma grande carência", comentouJosé Fernando Perez, diretor científicoda FAPESP.

É certo que, em qualquer país, pro-gramas espaciais estão sujeitos a riscos.Os Estados Unidos são o país que maisavançou nesse campo e também o quemais registrou acidentes: desde o in-cêndio da nave Apollo 1, em 1967, coma morte de três astronautas, até a explo-são do ônibus espacial Challenger, emfevereiro deste ano, quando morreramos sete tripulantes. No Brasil, o lança-mento dos dois protótipos anterioresdo VLS terminou em fracasso, emborasem vítimas: em 1997 a missão foiabortada 65 segundos após o lança-mento por causa de uma falha no pri-meiro estágio do foguete; em 1999, ofoguete explodiu depois de uma falhano segundo estágio, 33 segundos apósdecolar. O acidente do dia 22, de acor-do com o major brigadeiro Tiago Ri-beiro, diretor do Centro de Tecnologiada Aeronáutica (CTA), foi causado peloacionamento espontâneo de um dosquatro motores do foguete. Essa igni-ção pode ter ocorrido por uma ondaeletromagnética, uma descarga elétrica

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ou o contato de uma peça metálica noreservatório de combustível, que quei-ma até o fim depois de detonado. Ocalor de 3.000° Celsius, equivalente àmetade da temperatura da superfíciedo Sol, derreteu o foguete e a torre delançamento.

cional", comenta Gilberto Câmara, co-ordenador geral do setor de Observa-ção da Terra, do Instituto Nacional dePesquisas Espaciais (Inpe). Na sua ava-liação, o Programa Espacial não haviarecebido investimentos à altura dos de-safios encontrados. Lançado há 42anos, o programa consumiu US$ 300milhões e conta com um orçamento deR$ 30 milhões em 2003, valor conside-rado irrisório na avaliação do própriopresidente da Agência Espacial Brasi-leira (AEB), Luiz Bevilacqua. Ele con-tava com pelo menos R$ 45 milhões, já

Preço da tecnologia - Mas há quemveja na falta de recursos um fator derisco para o programa. «Não há cami-nhos baratos para a tecnologia deponta, que custa caro em termos de in-vestimento, gente e compromisso na-

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Acidente foi causadopelo acionamento espontâneode um dos motores

somados os recursos dos FundosSetoriais, Conselho Nacional do De-senvolvimento Científico e Tecnoló-gico (CNPq) e Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social(BNDES). O desejável seria algo próxi-mo a R$ 100 milhões. Ainda assim, osinvestimentos seriam equivalentes aum terço de países como a Índia. «Comesse nível de investimento, não vamosrealizar o sonho de ter a autonomia es-pacial, pelo qual morreram nossos co-legas",diz Câmara.

Perda irreparável - Na segunda-feira,25, Viegas garantiu à imprensa que afalta de recursos não teria comprome-tido a segurança do VLS. O prejuízocom a explosão foi estimado em R$ 36milhões. Só o VLS estava avaliado emR$ 14 milhões, sem contar o custo daplataforma de lançamento, que ficouinutilizada, e dos dois satélites - um doInpe e outro da Universidade Norte doParaná (Unopar) - que já estavam aco-plados ao foguete e seriam colocadosem órbita.

Mas as perdas humanas são irrepa-ráveis. Entre os mortos, 11 tinham for-mação superior e 10 eram técnicos denível médio, com 20 a 51 anos de ida-de. Sem eles, desfizeram-se equipes in-teiras de especialistas em tecnologiaaeroespacial, cujo domínio é estratégicona medida em que os países que a de-têm, como os Estados Unidos e a Fran-ça, não a repassam por razões estraté-gicas: o uso comercial dos satélites detelecomunicação é um mercado aindarestrito e muito disputado, estimadoem bilhões de dólares. O Brasil tem aomenos uma vantagem geográfica: Al-cântara é o centro de lançamentos quese encontra mais próximo da linha doEquador, o que lhe permite aproveitarao máximo a rotação da Terra para im-pulsionar os foguetes, com economiade combustível e, portanto, custos me-nores (13% a 31% de vantagem em re-lação ao Cabo Canaveral, dos EstadosUnidos). Desde sua inauguração, em1989, o Centro de Alcântara pôs no arcerca de 200 foguetes. •

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• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

MEDICAMENTOS

Brasil integra esforçomundial para o desenvolvimentode sete novas drogas

LucILIA ATAS

Entre 1975 e 1999, apenas 15novos produtos foram desen-volvidos para o tratamento datuberculose e de doenças tro-picais como o mal de Chagas,

a malária, a leishmaniose e a doença dosono. Em comparação, no mesmo perío-do, surgiram 179 novas drogas somentepara atender os portadores de doençascardiovasculares. Vale registrar que tantoaquelas doenças - negligenciadas, para asquais o tratamento, quando existe, é ina-dequado - como as cardiovasculares, res-pondem praticamente pelo mesmo per-centual, em torno de 12% do númerototal de doenças do planeta.

O desenvolvimento de novas drogaspara as doenças que afetam populaçõesem países em desenvolvimento pouco in-teressa à indústria farmacêutica. Esteimenso mercado, apesar de reunir cercade 80% da população mundial, é poucoatrativo já que responde por apenas 20%das vendas globais de remédios. E estedescaso é responsável pela morte de mi-lhões de pessoas em todo o mundo.

Recentemente, graças à iniciativa da ins-tituição humanitária Médicos Sem Fron-teiras (MSF), à qual se aliou a Organiza-ção Mundial da Saúde (OMS), começam abrotar os primeiros frutos de um programafocalizado no desenvolvimento de produtosinovadores - medicamentos e vacinas - pa-ra enfermidades como essas, cujo tratamen-to não figura no mapa das prioridades daindústria e que tampouco têm sido alvode políticas públicas firmes e estruturadas.

20 • SETEMBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 91

Denominado Iniciativa de Drogaspara Doenças Negligenciadas (cuja siglaé DNDi, em inglês), esse programa arti-cula os esforços de instituições científi-cas, governamentais e privadas de váriospaíses. Os investimentos previstos são daordem de US$ 250 milhões para um pra-zo de 12 anos, período em que se calculaobter seis ou sete drogas novas registra-das e um portfólio de oito projetos emdesenvolvimento.

A proposta da MSF - bancada inicial-mente com os recursos do prêmio Nobelda Paz, recebido pela organização em1999 - é, basicamente, utilizar nessa ini-ciativa o mesmo padrão que a indústriafarmacêutica adota na produção de dro-gas "rentáveis", geralmente chanceladaspela chamada tecnologia de ponta. Isto é,desenvolver remédios que representem ver-dadeiras inovações para males antigos,muitos dos quais já não respondem aosmedicamentos convencionais.

Doença e mercado - Os recursos iniciaispara o período 2003-2004 giram em tor-no de US$ 20 milhões. Com o avanço dainiciativa, a expectativa é de que outrosparceiros se juntem ao programa, tecen-do, no campo da saúde, uma rede hu-manitária, científica e social talvez inédi-ta no mundo.

Típicas das regiões subdesenvolvidasdo planeta, as doenças negligenciadas sãogeralmente ligadas à subnutrição e à faltade saneamento. Sob a ótica empresarial,não vale a pena investir tempo e dinheiro

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nessa seara: o retorno financeiro émuito baixo e, em certos casos, prati-camente nulo. As estatísticas mostramque menos de 10% dos gastos totaisem pesquisas de saúde são aplicadosem doenças que representam 90% dacarga global. E às doenças negligen-ciadas cabe uma fatia ainda menor:calcula-se que, dos cerca de US$ 70bilhões gastos em pesquisa e desen-volvimento (P&D) em 2001, menosde 1% tenha sido destinado ao de-senvolvimento de tratamentos paraesses males.

Buscando reverter esse qua-dro de modo duradouro eprofissional, a MSF lançouoficialmente o DNDi emjulho deste ano, em Gene-

bra. Suas bases de ação estão fincadasnas propostas de um grupo que traba-lha no tema há aproximadamente trêsanos. Sob a coordenação e gerencia-mento da MSF e da OMS, a intenção éenvolver instituições públicas e priva-das, bem como laboratórios e empre-sas, numa verdadeira cruzada interna-cional pela cura dessas doenças. Notraçado desse modelo, o desenvolvimen-to de novos remédios resultará no diá-logo entre vários centros de pesquisa,usando-se o aparato e a infra-estruturajá existentes de modo mais racional,produtivo e eficiente.

É o que está ocorrendo no Brasil,com a participação da Fundação Os-

22 • SETEMBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 91

waldo Cruz (Fiocruz), cujo Instituto deTecnologia em Fármacos (Far-Mangui-nhos) é um dos membros fundadoresda DNDi. O médico sanitarista PauloBuss, presidente da Fiocruz, explica quea instituição vem trabalhando em umanova formulação farmacêutica que asso-cia duas substâncias, a artesunato e amefloquina (AS/MQ), no tratamento damalária. Nesse projeto, o Far-Mangui-nhos comanda uma parceria com ou-tros dois centros de pesquisa brasileiros,que passaram pelo crivo dos técnicos daOMS. Os sofisticados testes de toxici-dade - uma das áreas em que a d~fasa-gem tecnológica do país é mais profun-da - são realizados pelo laboratório

. Unitox, da Universidade Santo Amaro(Unisa), de São Paulo. E a Genotox, em-presa incubada no Centro de Biotecno-logia da Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS), encarrega-sedos testes de genotoxicidade, que detec-tam a possibilidade de mutação genéti-ca induzida por substâncias químicasque compõem os medicamentos e ava-liam o seu dano potencial.

A parceria internacional para a ob-tenção desse medicamento - o qual,dependendo dos resultados da fase clí-nica, poderá ser lançado num prazoque varia entre três e seis anos - envol-ve ainda instituições da Tailândia e daMalásia (testes clínicos) e do ReinoUnido (estudos in vitro e moleculares).

Além da formulação AS/MQ, con-duzida pelo Far-Manguinhos, um outro

projeto ligado à malária está em an-damento. Trata-se de uma formulaçãoque associa artesunato e amodiaquina(AS/AQ), cujo desenvolvimento farma-cêutico está sendo elaborado na Fran-ça, cabendo ao Brasil os testes de toxici-dade e genotoxicidade e a Burkina Fasoos testes clínicos em humanos.

Encontra-se também em fase de de-senvolvimento, em âmbito internacio-nal, o paromomicin, droga de uso vete-rinário que está sendo rejuvenescidapara uso humano, sob a forma injetável,para combater a leishmaniose. A cria-ção de outros medicamentos deverá, emlinhas gerais, seguir esse mesmo esque-ma cooperativo: diferentes centros pelomundo encarregam-se de diferentes eta-pas, da formulação à produção.

Competência e resultados - Eloan Pi-nheiro, ex-diretora do Far-Manguinhose membro da DNDi internacional, as-sinala que a presença brasileira nessainiciativa representou a consolidação doFar-Manguinhos no cenário mundial,após a instituição ter desenvolvido asformulações para o coquetel de drogasde combate ao vírus da Aids.

A capacitação científica existente hojeno país é "extraordinária", avalia PauloBuss. O que falta, em sua opinião, é umprojeto mais consistente que combine aparte científica com a área industrial."Porque a pesquisa produz artigoscientíficos; produzir algo tangível não éprática corriqueira, não faz parte da

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cultura universitária brasileira:' Nesseâmbito, o representante da Campanhade Acesso a Medicamentos Essenciaisda MSF no Brasil, Michel Lotrowska,sugere que as instituições brasileiras definanciamento adotem linhas de apoioespecíficas para projetos que focalizemo desenvolvimento de novos produtos,isto é, projetos que ofereçam resultadosconcretos para os pacientes.

Eloan Pinheiro observa queo país tem uma boa com-petência científica insta-lada em várias universida-des e institutos. Esta base

está apta a desenvolver novos pro-dutos para doenças negligenciadas,utilizando tanto plantas medicinaiscomo armas da biotecnologia e dasíntese química.

Apesar disso, há grandes lacunas naárea de farmacologia, toxicologia, testesclínicos e desenvolvimento de metodo-logia clínica. "Temos no país os cérebros,mas faltam áreas estruturadas em quan-tidade e qualidade para a realização dosensaios. Considero isso conseqüência dafalta de uma política industrial no setorde insumos terapeuticamente ativos.Não há ainda uma política de produ-ção de insumos que estão fora de pa-tente': constata Eloan.

Nas últimas décadas, o conhecimen-to científico na área de saúde evoluiubastante e introduziram-se novos me-dicamentos para as doenças globais,

como o câncer e as cardiovasculares.Até mesmo para problemas ligados ao"estilo de vida", como celulite, calvíciee jet leg, têm surgido medicamentosinovadores.

Contrastando com esse quadro deavanço, acentuou-se o abismo que se-para as doenças tropicais e não tropi-cais. Praticamente não se lançaram, nosúltimos 25 anos, remédios mais "mo-dernos" para controlar ou debelar asprimeiras. Muitas dessas enfermidadessão combatidas até hoje com formula-ções existentes há cerca de 40 anos,que não produzem mais os efeitos de-sejados, aumentando o sofrimento daspessoas. Documento da MSF assinalaque até muito recentemente pacientesque sofriam da doença do sono, porexemplo, tinham de submeter-se a umdoloroso tratamento à base de arsêni-co por falta de disponibilidade de umremédio mais eficaz.

Apesar dessas constatações, os espe-cialistas que traçaram as diretrizes daDNDi não culpam apenas a iniciativaprivada pela falta no mercado de novosprodutos, de kits de diagnóstico ou mes-mo de vacinas para as doenças negli-genciadas. O programa indica tambémfalhas na área pública. Nos países menosdesenvolvidos, há, entre outros fatores,uma combinação perversa de falta derecursos financeiros e de estabelecimen-to de políticas de incentivo à produçãoe ao desenvolvimento tecnológico detratamento para essas patologias.

Rede regional - Na fase atual do pro-grama, foram pré-selecionados 71 pro-jetos, informa Michel Lotrowska. Opróximo passo é realizar uma triagempara escolher aqueles que serão efeti-vamente desenvolvidos. A participaçãodo setor privado ainda está sendo de-lineada, tendo havido reuniões com aindústria farmacêutica, mas os tiposde colaboração não foram ainda for-matados.

O representante da MSF diz aindaque a DNDi está montando uma redede escritórios regionais para sincroni-zar melhor os diferentes projetos, emvárias partes do mundo. O "braço" dainiciativa para a América Latina e Ca-ribe deverá funcionar no Brasil pro-vavelmente a partir de 2004. A meta éorganizar um network, para que osprofissionais envolvidos comparti-lhem pesquisas, recursos humanos euso de laboratórios, além de identi-ficar oportunidades de projetos e cap-tar fundos.

Cada uma das etapas definidas pa-ra os projetos aprovados poderá serexecutada em países diferentes, mastodas estarão sob o guarda-chuva ins-titucional da MSF e da OMS no que serefere à coordenação e gerenciamen-to dos projetos. A idéia é que as ino-vações resultantes dos trabalhos deinvestigação constituam patentes pú-blicas, o que garantirá o amplo acessodas populações-alvo aos medicamen-tos produzidos. •

PESQUISA FAPESP 91 • SETEMBRO DE 2003 • 23

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• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

Despesasparti IhadasMinistério firma convênioscom FA Ps paraincentivar pesquisa regional

FOM ENTO

CLAUDIA IZIQUE

p(niãoe o Estado de São Paulofirmaram, no dia 29 de ju-

lho, convênio de coopera-ção técnica e científicapor um período de qua-

tro anos, para o desenvolvimento deprogramas de incentivo à pesquisa noEstado. Essa mesma parceria tambémestá sendo firmada com os demais es-tados e inaugura a nova estratégia doMCT de compartilhar com as Fundaçõesde Amparo à Pesquisa (FAPs) o finan-ciamento de programas de apoio à pes-quisa, entre eles os de Infra-Estruturapara Jovens Pesquisadores; de Bolsas deIniciação Científica [únior; de Apoio aNúcleos de Excelência (Pronex); e, nocaso de alguns estados, do Projeto Pro-teoma. ''A estratégia é integrar as FAPsao programa nacional de desenvolvi-mento científico e tecnológico', explicaErney Camargo, presidente do Conse-lho Nacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq).

24 • SETEMBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 91

No caso de São Paulo, o Ministérioda Ciência e Tecnologia (MCT), a Se-cretaria de Ciência, Tecnologia, De-senvolvimento Econômico e Turismoe ? FAPESP são signatários do con-vênio que prevê a implementação deprogramas no valor total de R$ 43,28milhões. Na Bahia, o convênio repre-sentará investimentos de R$ 14 mi-lhões e, em Minas Gerais, R$ 7 milhões,apenas para citar alguns exemplos."Estam os estimulando a criação dasFAPs onde elas não existiam, como é ocaso do Acre, Roraima e Amapá, alo-cando recursos nas várias regiões dopaís e, ao mesmo tempo, fazendo comque os estados cumpram a exigênciado repasse de uma parcela do Impostosobre a Circulação de Mercadorias eServiços (ICMS), estabelecida pelasConstituições estaduais, para a ciênciae tecnologia", justifica Camargo. Estacooperação, por exigir contra partidados estados, já resultou na ampliação

de recursos destinados à pesquisa noAmazonas, na Bahia, em Alagoas e emSergipe.

Recursos provisionados - Em São Pau-lo, os recursos para o convênio já estãoprovisionados. Os editais para a sele-ção dos projetos já foram publicadosnos Diários Oficiais da União e do Es-tado e estão disponíveis no site da Fun-dação. "Esta parceria vai potencializaros programas que a FAPESP já vemdesenvolvendo, uma vez que duplicaráos investimentos em pesquisa. É umexemplo da boa governança em ciênciae tecnologia", diz Carlos Vogt, presi-dente da Fundação.

O Programa de Apoio à Infra-Es-trutura para Jovens Pesquisadores, deacordo com o edital, vai financiar a ins-talação, modernização ou recuperaçãoda infra-estrutura de pesquisa nas ins-tituições públicas de ensino. Em 2003e 2004, os investimentos previstos, de

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r---·.-----~----------~--------~------~--------------------------------~N~ de capital nos mesmos moldes previstos

para os projetos temáticos da FAPESP, eas propostas poderão prever recursos deaté R$ 1 milhão por um período de qua-tro anos. Os projetos deverão ser apre-sentados até o dia 22 de setembro.

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R$ 5,2 milhões por ano, serão divididosentre a FAPESP e o CNPq. Os propo-nentes devem ser recém-doutores. Se-rão financiáveis todos os itens de capi-tal e custeio. Os interessados têm prazopara encaminhar propostas até o dia 22de setembro.

Para o Programa de Bolsas de Ini-ciação Científica [únior, o convêniooferecerá um total de 500 bolsas novalor de R$ 480 mil. Os alunos do en-sino médio da rede pública serão sele-cionados pela FAPESP, que tambémserá responsável pelo acompanha-mento da execução dos projetos. Ospedidos de bolsa devem ser encami-nhados à Fundação pelos coordenado-res de projetos de pesquisa em anda-mento até o dia 22 de setembro pormeio do e-mail [email protected].

Em São Paulo, o Projeto Proteomacontará com R$ 2,4 milhões, e o finan-ciamento será compartilhado entre aFAPESP e a Financiadora de Estudos e

Projetos (Finep) por meio do Fundo Na-cional de Desenvolvimento Ciehtífico eTecnológico. O convênio terá vigênciade 12 meses, podendo ser prorrogadopor mais um ano. O projeto será coor-denado pelo Centro de Biologia Mo-lecular Estrutural (CeBiME), do La-boratório Nacional de Luz Síncroton.Prevê a implementação de uma rede depesquisa científica que dará suporte àcontinuidade de projetos genoma járealizados, como Xylella fastidiosa, Xan-thomonas citri, do câncer e do bovino,entre outras ações. O convênio vai finan-ciar desde upgrades de grandes equipa-mentos já disponíveis até a aquisição demobiliários e pequenos equipamentosde apoio. As propostas deverão ser envia-das à FAPESP até o final de setembro.

O Pronex, o quarto programa con-veniado, contará com um total de R$ 30milhões para apoiar a execução de pro-jetos de grupos consolidados de pesqui-sa. Serão financiáveis itens de custeio e

os quatro primeiros pro-gramas financiados pormeio do convênio inau-guram uma parcena que,na avaliação do presi-

dente do CNPq, se ampliará "com aexperiência': Representantes da regiãoNorte, sugeriram que CNPq financias-se bolsas de desenvolvimento regionalpara jovens pesquisadores, doutores epesquisadores sêniores de todo o paísque quiserem se instalar na região. Os"estados hospedeiros" ofereceriam um"enxoval" com equipamentos, materialde consumo e custeio, e o CNPq parti-ciparia com "um dote" com valor de atéR$ 50 mil. ''A proposta foi aceita e am-pliada para as regiões Nordeste e CentroOeste': diz Camargo. Alagoas, Sergipe eBahia já firmaram convênio no âmbitodesse novo programa. Esta flexibilidadetambém permitiu que no Paraná e emSanta Catarina fossem firmados convê-nios para a realização de estudos e diag-nóstico das diversas áreas de produçãocientífica nos dois estados para identifi-car as regiões mais carentes.

Descentralização - Os novos convêniospõem em prática a intenção do governode descentralizar a ciência e a tecnolo-gia no país. "Em alguns setores, essaidéia foi mal-entendida e interpretadacomo um seqüestro de recursos das re-giões Sul e Sudeste", lamenta Camargo.''A nossa intenção é trazer outros seto-res para participar das atividades da co-munidade científica, e não fragmentarrecursos:' As críticas às mudanças noPronex - que passou a contar com con-trapartida das FAPs - têm origem, se-gundo ele, nessa má interpretação. "OPronex estava sem recursos, e o repasseera errático", justifica. A parceria comos estados permitirá dobrar os recursosdo programa e, em três anos, atingir acasa dos R$ 100 milhões.

Os recursos do CNPq, de acordocom Camargo, já estão provisionados.A expectativa é de que os estados cum-pram os termos dos convênios. "Se osestados não o fizerem, cabe à comuni-dade científica mobilizar-se:' •

PESQUISA FAPESP 91 • SETEMBRO DE 2003 • 25

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• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

CITRICULTURA

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Diagnóstico precoceEmpresa de biotecnologiacria teste para identificarmorte súbita dos citros

Umaforma rápida e pre-coce de fazer o diagnós-tico da morte súbita doscitros (MSC), uma novae misteriosa doença que

ameaça a citricultura paulista e do sulde Minas Gerais e é capaz de matar emsemanas um pé de laranja, deve ser ofe-recida aos produtores em breve. AAlellyx, empresa privada de biotecno-logia ligada ao grupo nacional Voto-rantim, desenvolveu um teste que per-mitiria descobrir se uma árvore foiinfectada pelo agente causador da mor-te súbita - provavelmente uma muta-ção do antigo vírus da tristeza dos ci-tros, doença que, na década de 40,dizimou 80% da citricultura paulista -antes de os primeiros sintomas da mo-léstia se manifestarem. "Nossa idéia éfechar um acordo de prestação de ser-viço com o setor para aplicarmos o tes-te numa amostra representativa doslaranjais do estado", diz Fernando Rei-nach, presidente da Alellyx, que estimao custo de uma empreitada de tal porteem alguns milhões de reais.

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Sopa de vírus - Segundo Reinach, ospesquisadores da empresa desenvolve-ram um novo método de seqüencia-mento de misturas de vírus. Isso foiimportante porque o patógeno daMSC não parece ser uma simples mu-tação do antigo vírus da tristeza, mas,sim, uma "sopa" de diferentes vírusmutados. "Conseguimos identificar asmutações", afirma ele. Hoje, o diagnós-tico da MSC é sempre tardio. Podem sepassar dois anos entre o momento daentrada do patógeno na árvore e o apa-recimento dos sintomas, como a perdade brilho nas folhas da laranjeira de-corrente do entupimento generalizadodo sistema de condução da seiva elabo-rada da copa para as raízes. Nesse mo-mento, a planta já apresenta queda naprodutividade e, se nada for feito, ca-minha para a morte. A MSC já atingiumais de um milhão de pés de laranjano sul de Minas e São Paulo, causandoprejuízos de mais de US$ 20 milhõespara a citricultura, que somente no ter-ritório paulista emprega algo em tornode 400 mil pessoas.

Doença atingemais de ummilhão depés de laranjas

Para o engenhei-ro agrônomo Mar-cos Antônio Macha-do, do Centro deCitros Sylvio Morei-ra, instituição públi-ca situada em Cor-

deirópolis, interior paulista, ondetambém se pesquisa o agente causadorda morte súbita e formas de controleda doença, ainda não é possível saber seo teste da Alellyx funciona realmente."Não há dúvida de que os pesquisa-dores da empresa são bons, mas nãosabemos em detalhes o que eles fize-ram", afirma Machado.

A MSC preocupa e mobiliza. A Se-cretária da Agricultura de São Paulo e aFAPESP buscam formas de cooperaçãopara combater a doença. No inicio doano, uma força tarefa foi criada para es-tudar a etiologia da doença, definir ca-racterísticas da epidemiologia e desen-volver formas de controle. Uma dasalternativas consideradas pela força ta-refa é a substituição do porta-enxerto.Esta solução, no entanto, poderia terimpacto negativo nos custos de pro-dução do citro. Ao mesmo tempo emque se busca acelerar as pesquisas, aFAPESP organiza um encontro entrepesquisadores de diversas instituiçõesenvolvidas nesta investigação para defi-nir estrutura de ação mais eficaz. •

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• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICAr-------------~----------------------------------------------------------------------------_,~

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IMPORTAÇÕES

Retomada gradativaPropostas de comprasde bens e serviçosvoltam a ser analisadas

j\:APESP vai retomar o pro-cesso de importação de bens

e serviços. A medida foiautorizada pelo Conse-lho Superior que acatou

proposta da diretoria científica da Fun-dação. Até o dia 15 de setembro serãoaceitas solicitações para aquisição dematerial permanente, de consumo eserviços de terceiros, para projetos depesquisa já contratados e com conclu-são prevista para até 31 de outubro de2003. Oportunamente, será divulgadoo cronograma para atender demandasrelativas a projetos com conclusão emdata posterior a esta.

As importações tinham sido inter-rompidas, em agosto do ano passado, emcaráter emergencial, por conta de umadesvalorização de 67,5% do real em re-lação ao dólar registrada até o terceirotrimestre de 2002. Posteriormente, emoutubro, para evitar prejuízos ao de-senvolvimento de pesquisa, a FAPESPpassou a autorizar, em caráter excep-cional, compras externas de material deconsumo e de peças de reposição, ape-nas na quantidade indispensável. Ago-

ra, essas aquisições serão reiniciadas, deforma planejada e gradativa, a fim deevitar danos irreparáveis aos projetosde pesquisa em fase de conclusão.

de US$ 5,4 milhões, que, somados aosUS$ 2,22 milhões relativos às importa-ções emergenciais já em curso, totaliza-rão US$ 7,62 milhões. Esse desembol-so deverá ocorrer num período de, pelomenos, quatro meses e representará gas-tos mensais de cerca de US$ 1,9 milhão.Os investimentos serão realizados comos recursos orçamentários disponíveisem 2003. Por isso, a FAPESP recomen-da aos interessados que renegociem comfornecedores os preços desses bens, paraque seja possível atender o maior nú-mero possível de pedidos.

As solicitações - que serão enca-minhadas ao endereço eletrônico [email protected]. - deverãoconter informações sobre o pesquisador,estágio de desenvolvimento do projeto,prazo solicitado para a sua conclusão eos itens cuja importação é consideradaindispensável. Na descrição desses itensdevem constar quantidade e valor emmoeda estrangeira, empresa fornecedo-ra, razões que tornam a importação in-dispensável e uma breve descrição doparque de equipamentos de mesma na-tureza disponíveis na instituição. •

Pré-requisitos - A FAPESP analisará,em caráter emergencial, solicitações re-ferentes a itens já constantes do Termode Outorga e Aceitação. Somente serãoautorizadas as importações dos bens eserviços considerados "absolutamen-te indispensáveis" para a conclusão doprojeto, de acordo com portaria assi-nada pelo presidente da Fundação,Carlos Vogt. Não serão atendidas assolicitações de compra de equipamen-tos já existentes na instituição à qualestá vinculado o pesquisador. O saldodos recursos de Reserva Técnica, decerca de 25% dos valores concedidos,eventualmente existente no projeto,será utilizado para cobrir os custos deimportação desses bens.

As solicitações que responderem atais pré-requisitos serão atendidas deacordo com a disponibilidade orçamen-tária da Fundação. A estimativa é de quea retomada das importações atinja a casa

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• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

DIFUSÃO

Au Ia públ icaCentro de Óptica e Fotônicadesmitifica a física paraa comunidade de São Carlos

Háoito anos, geralmentena terceira semana deagosto, os pesquisadoresdo Grupo de Óptica doInstituto de Física da

Universidade de São Paulo (USP), emSão Carlos, interrompem suas atividadespara cumprir uma programação intensaque inclui aulas, palestras e semináriospara milhares de estudantes de ensinomédio, superior e de pós-graduação daregião. Nesse período, conhecido comoSemana de Óptica (Semóptica), o Cen-tro de Pesquisa em Óptica e Fotônica(CePOF), um dos dez Centros de Pes-quisa, Inovação e Difusão (Cepids) fi-nanciados pela FAPESP, cumpre umade suas missões: difundir a ciência paraa comunidade. "O evento é divulgado nasescolas e a procura cresce a cada ano",diz Vanderlei Bagnato, coordenador doCePOF, em São Carlos. O CePOF é for-mado por pesquisadores dos institutosde física da Universidade de São Paulo(USP), em São Carlos, e da Universida-de Estadual de Campinas (Unicamp) edo Instituto de Pesquisas Energéticas eNucleares (Ipen).

Em sua oitava edição, realizada en-tre os dias 19 e 23 de agosto, a Semóp-tica reuniu algo em torno de 4 mil estu-dantes. Os alunos puderam optar poraulas sobre diversas áreas da óptica,desde a física da bolha de sabão, pas-sando pela nanotecnologia, até teleco-municações ópticas ou óptica retrativa."Os cursos que utilizam demonstraçãocom laser e lentes são os mais concorri-dos", conta Bagnato.

Em todas as suas edições, a Semóp-tica é antecedida por uma mostra noshopping center da cidade de São Carlos,onde, além de experimentos dos pes-

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quisadores, também são expostosprodutos desenvolvidos por em-presas de alta tecnologia da região.A exposição, neste ano, ocupouuma área de 350 metros quadradose foi visitada por cerca de 7 mil pes-soas. "Essa é uma forma de aproxi-mar a universidade da comunida-de': diz Bagnato.

Premiação - A cada dois anos, osalunos do ensino médio são convi-dados a escrever uma monografiasobre um tema ligado à ciência, coma qual disputam o prêmio MiltonFerreira de Souza, que homenageiaum dos decanos do Instituto de Fí-sica da USP, idealizado r da Funda-ção Parque de Alta Tecnologia deSão Carlos e criador da empresaOpto Eletrônica. No ano passado, ósalunos do ensino fundamental es-creveram sobre o valor social daciência e os do ensino médio, sobreas aplicações médicas do laser. Osprêmios - um laboratório de biolo-gia com microscópio, lupas, entreoutros equipamentos, patrocinadopor quinze empresas locais - vãopara a escola de origem dos vence-dores.

Neste ano, a Semóptica instituiu oprêmio Reconhecimento Científicoe Tecnológico atribuído a uma per-sonalidade com contribuição destacadano desenvolvimento da pesquisa no pe-ríodo. Nesta primeira edição, o prêmiofoi conferido ao diretor-científico daFAPESP, José Fernando Perez, pela ini-ciativa da criação dos Cepids. ''A ho-menagem é à FAPESP, já que essesprogramas foram concebidos de formacoletiva", justificou Perez na cerimônia

de premiação e inauguração da 8" Se-móptica, na qual estiveram presentespesquisadores, entre eles o coordena-dor do CePOF na Unicamp, Hugo Frag-nito, e os coordenadores de dois outrosCepids, o de Biotecnologia MolecularEstrutural, Glaucius Oliva, e o de De-senvolvimento de Materiais Cerâmicas,Elson Longo. •

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1-

• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

INOVAÇÃO

Mira nos negóciosCurso de capacitação degestores vai apoiar consolidaçãodas empresas do PI P E

j\empresas inovadoras têmalto potencial de geraçãode receitas e de em-pregos. Mas tudodepende da boa

gestão do negócio. Para con-solidar a inserção no mer-cado e ampliar o impactosócioeconômico de pe-quenas empresas de ino-vação tecnológica, a FA-PESP, em parceria como Instituto Empreen-der Endeavor e o Servi-ço Brasileiro de Apoioàs Micro e Pequenas Em-presas (Sebrae - SP), lan-çou um projeto de ca-pacitação de empresáriosapoiados pelo Programa deInovação Tecnológica em Pe-quenas Empresas (PIPE), criadopela Fundação em 1997. ''A maiorparte das empresas tem visão mais cla-ra do produto do que do negócio", jus-tifica o diretor científico da FAPESP, JoséFernando Perez.

O projeto Capacitação Gerencial eInserção no Mercado de Empresas doPIPE prevê a realização de cursos semes-trais, com atividades presenciais e de en-sino a distância, reuniões de aconselha-mento estratégico com executivos darede Endeavor, desenvolvimento de pro-jetos de interesse específico em conjuntocom estudantes de pós-graduação, entreoutras atividades. Os cursos serão con-duzidos pelo W-Institute, parceiro edu-cacional contratado, responsável pelocorpo docente, pelo conteúdo, materialdidático e pela infra-estrutura tecnoló-gica exigida pelo ensino a distância. Se-rão realizados em 49 municípios que

abrigam projetos financiados pelo PIPEe a primeira turma contará com 100 par-ticipantes. Os três parceiros integrarão oscomitês de seleção de empresas. A ava-liação técnica dos projetos a serem finan-ciados pelo PIPE continuará sendo deexclusiva responsabilidade da FAPESP.

O Instituto Endeavor colocará à dis-posição do projeto sua rede de 146 exe-cutivos voluntários - da qual fazemparte presidentes e altos executivos degrandes empresas, advogados e investi-dores de risco. Além disso, se responsabi-lizará pelas sessões de aconselhamento,oferecerá vagas gratuitas em seus work-shops semanais, concederá 25% de des-conto aos empreendedores apoiados

pelo PIPE em suas conferências interna-cionais, além de acompanhar e avaliar

as atividades educacionais. A FA-PESP oferecerá a infra-estrutu-

ra para a realização dos cursos.O Sebrae-SP custeará o pro-

grama educacional e inclui-rá os participantes empre-endedores nas rodadas denegociação promovidaspela instituição voltadas

N à área de tecnologia, en-~ tre outras tarefas.

O projeto está orça-do em R$ 808,4 mil. Asempresas participantes

contribuirão com o cus-teio do programa, pagan-

do R$ 100 por empreende-dor. O Sebrae-SP financiará

49% do custo total do projetoe o Instituto Endeavor e a FA-

PESP, juntos, farão contrapartidasfinanceiras correspondentes a 16,910/0

do projeto.O projeto será coordenado por um

especialista contratado pela Endeavor,que será responsável pela implemen-tação do cronograma de trabalho, ela-boração do material de comunicação,operacionalização das aulas, aplicaçãode formulários de avaliação do projetoe elaboração de entrevistas de pré-sele-ção, entre outras atividades. Concluídoo programa, os empreendedores segui-rão participando de grupos de discus-são e reuniões anuais organizadas pelacoordenação do projeto.

A expectativa é de que o curso decapacitação faça evoluir os indicado-res de receitas, geração de emprego eaportes de investimento das empresasparticipantes do projeto..

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• CIÊNCIA

LABORATÓRIO MUNDO

• O sagrado sonodos adolescentes

publicada na Sleep mostrouque os alunos de 11 a 15 anosque dormem mais vão me-lhor, faltam menos e sentem-se mais dispostos na escola queos que dormem menos. •

guido provar um postuladodo astrônomo alemão Iohan-nes Kepler (Nature, 23 de ju-lho). Quatrocentos anos atrás,Kepler havia afirmado que amaneira mais eficiente deagrupar esferas, ocupando omenor espaço possível, era em-pilhá-Ias em pirâmides, comose faz com as laranjas e os li-mões nas feiras. Para chegar àsolução, Hales reduziu o nú-mero infinito de arranjos pos-síveis das esferas a 5 mil varia-

mais de manhã seria uma vio-lação de seu relógio biológico.Recentemente, escolas dos Es-tados Unidos e de Israel adap-taram seus horários a essa ca-racterística e aumentaram oaproveitamento escolar. Emcontrapartida, os jovens sul-africanos dormem em média7 horas e meia por noite -consideradas insuficientes - esentem sono na escola, o queestaria prejudicando o desem-penho escolar. Uma pesquisa

Rapazes e moças estão dor-mindo menos do que necessi-tam. De acordo com especia-listas do laboratório do sonoWits Dial-a-Bed Sleep, naÁfrica do Sul, seria normal oadolescente dormir até tarde,pois sente sono mais tarde etende a protelar a hora de irdormir. Mandá-lo para a camacedo ou despertá-lo cedo de-

• Cinco anos atépublicar um artigo

Há cinco anos, o matemáticoThomas Hales, da Universida-de de Pittsburgh, nos EstadosUnidos, anunciou ter conse-

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ções. Com o auxílio de com-putadores que trabalharamcom um código especialmen-te escrito para analisar o pro-blema, o matemático avaliou100 mil inequações em dezanos. Hales submeteu o traba-lho para publicação nos An-nals of Mathematics, a pedidodo editor Robert McPherson.Mas a análise do artigo se re-velou complicada. De modoincomurn, McPherson enviouo trabalho à apreciação dedoze matemáticos, em vez dedois ou três como é comum.Como não bastava repetir aanálise por computador e eraimpossível verificar linha porlinha o código do programae os resultados das inequa-ções, os especialistas avalia-ram o raciocínio usado emcada passo e a lógica do códi-go. Exaustos, os revisores de-clararam em julho que havia99% de certeza de que a pro-va estivesse correta - não acha-ram erros nem omissões. Masdisseram que a certeza abso-luta só viria com a avaliaçãocompleta do programa. Oseditores liberaram a publica-ção do artigo, que deve sairem 2004 com uma observa-ção: trabalhos que exigem usointensivo de computador po-dem ser impossíveis de se-rem revisados por inteiro. Ha-les não gostou. •

de células e, portanto, o ta-manho de um animal (Jour-nal of Biology, 6 de agosto).Hafens verificou em drosófi-Ias, as moscas-das-frutas, quea ação de uma enzima cha-mada FOXO aumenta quan-do a atividade da insulinaestá baixa. Resultado: dimi-nui o número de células daslarvas da mosca, tornando-asmenores que o normal. Umprocesso semelhante podeexplicar a diferença de tama-nhos entre espécies distintasde mamíferos, que tambémpossuem a enzima. O pesqui-sador viu ainda que, quandoa FOXO não funciona de for-ma adequada, as moscas pa-recem normais, mas são maissensíveis à oxidação celular,associada ao envelhecimento.Em excesso, a enzima causa amorte das células. •

A gota d'água: fórmulas e reações químicas sob revisão

rem em uma escala de 100 a500 attosegundos, já que osestudos a laser nessa escalapermitem seguir a trajetóriado elétron dos átomos para amolécula. •

encontram mais que umátomo e meio de hidrogêniopara cada átomo de oxigênio- algo mais parecido comHl,SO do que com o tradicio-nal H20 (Physical Review Let-ters, 10 de agosto). A fórmulada água não deverá ser a úni-ca a sofrer revisões com essajanela de tempo denominadaattosegundo, capaz de revelarefeitos quânticos de duraçãotão ínfima que antes nem po-diam ser apreendidos. Maisque revisar fórmulas, essasexperiências abrirão cami-nho para o entendimento dasreações químicas que ocor-

• Comparando ratose elefantes

Os elefantes são maiores queos ratos porque têm mais cé-lulas, é claro. Mas a pergun-ta seguinte é mais difícil: porquê? Ernst Hafen, da Univer-sidade de Zurique, pareceter descoberto um mecanis-mo que controla o número

• Insulina paracorrer mais

Cresce o número de pessoasque recorrem à insulina paraturbinar seus corpos. A Britsh[ournal of Sports Medicine de10 de agosto relata o caso deum homem de 31 anos quechegou a um hospital incons-ciente com crise hipoglicêmi-ca, aparentemente de origemdiabética. Ao acordar, confes-sou que era um fisiculturistaque se preparava para umacompetição. Tomava insulinatrês vezes por semana para au-mentar a massa muscular e,na véspera, tinha usado insu-lina de efeito rápido combi-nada a esteróides. Faz senti-do. Os músculos se nutremde glicogênio durante o exer-cício. Quanto mais glicogênioconseguem armazenar, maiora energia obtida. Se os este-róides fazem aparecer mús-culos, a insulina os reforça. Oinconveniente: qualquer des-cuido pode terminar em co-ma diabético ou morte. •

A melhor formade empilharfrutas:computadorespara provarpostuladode 400 anos

• Água não émais H20

A fórmula da água não é maisa mesma, pelo menos do pon-to de vista dos nêutrons e elé-trons que interagem com amolécula da água por unspoucos attosegundos (1 atto-segundo corresponde a 1 tri-lionésimo de segundo). Expe-riências feitas na Universidadede Berlim, na Alemenha, re-velaram que, durante as coli-sões ultra-rápidas com a água,os nêutrons e elétrons não

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Caminho livre para as bactérias..,....------,'"

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Tratamentointerrompido

Comida malconservada

provocada pela Samonellaspp. (acima), comdiarréias e febre. Umestudo da UniversidadeFederal do Rio Grandedo Sul (BrazilianJournal of Microbiology)mostra que quase metadedas contaminaçõesse deve ao consumode maionese feitaem casa sem odevido cuidado. •

anteriores ou tratamentosirregulares contra essadoença e a falta de esgoto,segundo estudo feito noHospital de Maracanaú,Ceará (Jornalde Pneumologia).As conclusões resultamda comparação entreos modos de vida de 134pessoas atingidas porvariedades multirresistentese 185 não afetadas. •

Os casos de tuberculosemultirresistente, causadapor variedades doMycoplasma tuberculosis(acima) não contidas porpelo menos doisantibióticos, propagam-semais facilmente comalcoolismo, tabagismo,número de tratamentos

No Rio Grande do Sul, ouso de ingredientes seminspeção sanitária -sobretudo ovos - nopreparo dos alimentose sua conservação àtemperatura ambiente pormais de duas horas sãoas principais causas dasalmonelose, infecção

• Físicos numamina de ferro

extensão, com 486 lâminasmetálicas octogonais de 7metros de diâmetro quelembram fatias de um pão;e o próximo (near detectar),com 980 toneladas, situadono Fermilab, a 750 quilôrne-

tros de distância. O conjun-to completo, incluindo o fei-xe de neutrinos produzidosno acelerador de partículasFermilab, entrará em opera-ção no começo de 2005. "Jávimos que o detector remo-

to funciona muito bem e fazuma ótima reconstrução doseventos de raios cósmicos de-terminando bem a energiados múons (um tipo de par-tículas) de raios cósmicos", co-menta o físico Carlos Ourívio

Escobar, do Institutode Física da Univer-sidade Estadual deCampinas (Unicamp).Esse projeto congre-ga cerca de 200 físicosde seis países: EstadosUnidos, Brasil - re-presentando pela Uni-camp e Universidade

.de São Paulo (USP) -França, Grécia, Rússiae Reino Unido. •

Começou a funcionar no dia14 de agosto o primeiro de-tector subterrâneo do Mi-nos, sigla de Busca das Osci-lações de Neutrinos Usandoo Injetor Principal, construí-do a 750 metros abaixo dasuperfície, na mina de ferroSoudan, no norte de Minne-sota, Estados Unidos. O cha-mado detector remoto (fardetectar) será utilizado noestudo dos neutrinos, partí-culas elementares que via-jam quase à velocidade daluz e se formam em abun-dância no Solou pela frag-mentação dos raios cósmicosna alta atmosfera terrestre.O Minos consiste de doisdetetores: o remoto, com 5,4mil toneladas e 20 metros de

o detector do Minos:486 placas metálicascomo esta '

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R

CIÊNCIA

Ecosda separação

Estresse gerado por breves ausênciasda mãe nos dias seguintes ao partolesa o cérebro de animais de laboratórioe provoca infertilidade nos filhotes

MARCOS PrVETTA

inguém duvida de que estresse demais pode com-prometer o desempenho sexual e as funções re-produtivas. Mas quem suspeitaria de que a pres-são psicológica de ficar apenas dois minutos pordia longe da mãe, durante os dez primeiros diasimediatamente após o parto, fosse tão intensa aponto de causar danos cerebrais irreversíveis num

rato recém-nascido? E mais: quem acreditaria que essas lesões nervo-sas surgidas na mais tenra infância poderiam desencadear um quadrode infertilidade em grande parte desses animais durante a vida adul-ta, caracterizado pela redução da libido, por alterações hormonais epela dificuldade de ovular, nas fêmeas, e de produzir esperrnatozói-des, nos machos?

Pesquisadores paulistas e gaúchos, que trabalham em conjuntonum projeto temático apoiado pela FAPESP, não só acreditaram nessahipótese como agora a defendem publicamente num artigo a ser impres-so na edição de outubro da revista científica norte-americana BehavioralNeuroscience. No estudo, a equipe mostra que roedores que foram mo-mentaneamente separados da mãe logo depois do nascimento apresen-taram, quando adultos, uma redução da ordem de 30% no número decélulas nervosas de uma pequena região do cérebro, o locus coeruleus.Classicamente ligada à resposta ao estresse, tal estrutura nervosa passou,mais recentemente, a ser relacionada ao comportamento sexual e aofuncionamento do sistema reprodutivo. Aparentemente, a causa da di-minuição na quantidade de neurônios no locus coeruleus foram justa-mente os 20 minutos que esses animais ficaram afastados de sua mãeao longo dos dez primeiros dias de sua vida.

Num segundo trabalho, com resultados ainda preliminares e aindanão publicados em revistas científicas, os pesquisadores constataramuma queda significativa na quantidade de neurônios em outra estru-tura cerebral envolvida na resposta ao estresse e no processo reprodu-tivo, o núcleo paraventricular. "O estresse no período neonatal produz

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Detalhe de A Virgem da Cesta,Antonio Allegri Correggio

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o estressecausou a mortede 30% dosneurônios de umaárea do cérebrodos filhotes

marcas definitivas e estáveis em algu-mas áreas específicasdo sistema nervo-so central que, por sua vez,levam a mu-danças no comportamento sexual e nacapacidade reprodutiva durante a vi-da adulta", explica afisiologista Ianete An-selmo-Franci, da Uni-oversidade de São Pau-lo (USP), em RibeirãoPreto, coordenadorado projeto temático egrande estudiosa dopapel do loeus coeru-leus no sistema repro-dutivo feminino. "Nãosão alterações gene-ralizadas em todas asáreas cerebrais, massim danos em regiõeslocalizadas", comenta o fisiologistaAldo Lucion, da Universidade Federaldo Rio Grande do Sul (UFRGS), queestá à frente do núcleo gaúcho ligadoao projeto. O loeus eoeruleus e o núcleoparaventricular não são estruturas ex-clusivas dos roedores - também estãopresentes em outros mamíferos e noser humano.

Longe da mãe - A perda de células ner-vosas nessas áreas cerebrais se produziuem ratos recém-nascidos que foram sub-metidos a um tipo de intervenção cha-mada no jargão técnico de manipulaçãoneonatal. Para um leigo, tal expressãoremete, erroneamente, à idéia de queos filhotes foram literalmente molesta-

.dos ou maltratados logo após o parto, oque explicaria o seu alto grau de estres-see as lesõescerebrais permanentes ma-nifestadas mais tarde. Mas não é issoque a expressão significa. A manipula-ção neonatal- uma forma da causar es-tresseusada em experimentos com ratosdesde a década de 50 - caracteriza-sepela interrupção momentânea e, à pri-meira vista, quase inofensiva do estrei-to convívio mãe-filho que se estabelecenos dias seguintes ao nascimento. A in-tervenção dos pesquisadores, portanto,limitou-se ao gesto de afastar os filho-tes da mãe durante dois minutos a cadaperíodo de 24 horas. Durante esses 120segundos diários em que ficaram longeda mãe, os ratinhos permaneceramgentilmente alojados nas mãos enluva-das de um pesquisador. Tal procedi-mento foi repetido entre o primeiro e odécimo dia de vida dos ratinhos, que

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compreende a parte mais crítica do pe-ríodo neonatal dos roedores.

Os efeitos da manipulação neonatalsão quase instantâneos e persistem ouaté se agravam com o tempo. No déci-

mo primeiro dia devida dos animais, so-mente 24 horas depoisde terminado o experi-mento, já é possível ve-rificar uma reduçãorelevante na quantida-de de neurônios nasduas áreas cerebraises-tudadas. Quando os ra-tos entram na faseadulta, as lesões con-tinuam lá, às vezes deforma ainda mais se-vera, um indício de

que o estrago em pontos do sistemanervoso central deve ser perene. Os da-nos se manifestam tanto em animais dosexo masculino quanto feminino, em-bora apresentem maior magnitude nasratas. Talvez isso se deva à suspeita deque seu sistema reprodutivo - sobretu-do o processo de ovulação - seja maisdependente da atuação do loeus eoeru-leus, a estrutura nervosa estudada emmais detalhes no projeto. Por ter um ci-clo ovariano bastante semelhante ao damulher, com o mesmo perfil de hor-mônios sexuais envolvidos nesse pro-cesso, a rata é freqüentem ente usadaem estudos que enfocam a reproduçãofeminina. Seu padrão de ovulação tam-bém é espontâneo e regular - com adiferença de que seu ciclo completo

.dura apenas 4 ou 5 dias, enquanto oda mulher leva em média 28 dias. "Nasratas, podemos observar os mesmos fe-nômenos que ocorrem na mulher deforma mais rápida", diz Janete.

As ratas nascem com cerca de l.500neurônios nessa estrutura, um centronervoso do tronco cerebral não mui-to distante da medula espinhal, que noser humano é pigmentado (daí o nomeloeus coeruleus, que quer dizer,em latim,lugar azul). Quando as fêmeas não sãosubmetidas ao processo de estresse de-rivado da manipulação neonatal, há como passar do tempo um ligeiro aumentona quantidade de neurônios nesse local.Elas chegam a apresentar l.800 célulasnervosas no loeus eoeruleus na faseadul-ta, com 90 dias de vida. Já as ratas es-tressadas, que seviram privadas do con-tato materno por alguns minutos no

início do período neonatal, apresentamem seu décimo primeiro dia de vida -somente um dia após o termino da ma-nipulação - 970 neurônios no loeuseoeruleus. Um terço a menos do que nomomento de seu nascimento. "Aindanão se sabe o que causa a morte dessascélulas nervosas': afirma Lucion. E opior é que essa quantidade de neurô-nios praticamente não aumenta quandoas fêmeas entram na fase adulta. Alémde constatar a perda de neurônios, ospesquisadores mediram outro parâ-metro que mostra a retração do loeuscoeruleus nas fêmeas. Na fase adulta, ovolume dessaestrutura em ratas que ha-viam sido estressadas no período neo-natal era quase um quarto menor doque o verificado em fêmeas que não ti-nham sido manipuladas (0,037 milí-metros cúbitos contra 0,050 milímetroscúbicos). Nos ratos machos, ocorre pra-ticamente o mesmo: tanto o número deneurônios como o volume do loeuseoeruleus mostram-se reduzidos.

Alesões cerebrais decorren-tes do estresse no períodoneonatal, que causam umdesbalanço na liberaçãode hormônios sexuais,

repercutem diretamente sobre o seuinteresse sexual e a capacidade de pro-criação. Do ponto de vista comporta-mental, há uma menor ânsia pelo atoreprodutivo. "Os machos quase nãoperseguem as fêmeas na época da ovu-lação, montam menos nas parceiras,ejaculam pouco e a sua produção deespematozóide se reduz", diz Lucion.As ratas, principal foco de estudo dostrabalhos, também agem fora do pa-drão. Durante o cio, quase não fazem alordose, um movimento destinado aestimular a penetração do macho, ca-racterizado pelo empinamento daparte traseira e exposição de sua geni-tália. "A maioria das fêmeas não ovulae dois terços não conseguem engravi-dar", afirma Lucion, da UFRGS.

Seria temerário especular, numexercício de simples transposição me-cânica, que os danos cerebrais veri-ficados em animais - e os problemassexuais e reprodutivos decorrentesdessas lesões - também devam ocor-rer em bebês humanos que, por algummotivo, não receberam a devida aten-ção da sua mãe ou de alguém que re-presente a figura materna durante os

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Detalhe deA Virgem e o Menino,

Thierry Bouts

primeiros dias ou meses de vida. Em-bora haja muitas semelhanças entre osistema nervoso central do rato e o doser humano, há também diferenças quenão podem ser negligenciadas. Em tra-balhos que tentam mapear o impactode um estímulo estressante em recém-nascidos, como os da equipe USP-UFRGS, um detalhe precisa ser levadoem conta: no momento do parto, o cé-rebro de um ratinho que acaba de virao mundo se encontra num estágio deformação mais atrasado do que o cérebrode um recém-nascido humano. Nessafase de desenvolvimento, sua vulnera-bilidade a agressões externas, como umevento estressante, é teoricamente maiordo que a apresentada pelos neurôniosde um bebê no período neonatal.

Apesar disso, ainda que perigosa, acomparação entre ser humano e roedorestá longe de ser desprovida de lógica.Afinal, muito do que se sabe sobre a fi-siologia de nossa espécie - aí incluída a

área de reprodução, ponto-chave dosestudos aqui tratados - decorre de ob-servações feitas previamente em mamí-feros. Por isso, uma das linhas de estudodos pesquisadores paulistas e gaúchos

.procura medir possíveis efeitos negati-vos da pouca interação entre mães comdepressão pós-parto e seus filhos recém-nascidos, uma situação que pode guar-dar alguma semelhança com o experi-mento de manipulação neonatal feitocom ratos. Os resultados desses traba-lhos mostram que a carência de conta-to físico entre mãe e filho e de outrasformas mais sutis de interação podemser fatores de estresse para a criança."Até mesmo a reduzida troca de olharesentre a mãe e o bebê pode ter esse efei-to", diz Lucion.

Exagero? Nada disso. A psiquiatraGisele Manfro, da UFRGS, encontrou,por exemplo, elevados índices de corti-sol, um hormônio esteróide que funcio-na como um marcador de estresse, na

saliva de bebês filhos de mães que apre-sentavam depressão pós-parto. Em ou-tras palavras, há indícios consistentesde que a falta de atenção materna pare-ce ter exercido uma pressão psicológicasobre o recém-nascido. Isso pode serdito. Mas daí a afirmar que esse estresse,a exemplo do que acontece com ratosseparados da mãe no período neonatal,pode provocar pequenas lesões em cer-tas regiões do cérebro e causar infertili-dade na vida adulta vai uma distânciaenorme. "Estabelecer esse tipo de rela-ção em humanos é muito difícil e de-mandaria décadas de estudos", comen-ta [anete, "O que podemos dizer é quenossos trabalhos reforçam a hipótesede que as dificuldades de reprodução dealguns casais, em especial das mulheres,podem derivar de um estado psíquicodo presente ou até do passado."

Para entender as amplas implicaçõesdecorrentes da perda de neurônios nolocus coeruleus é preciso compreender o

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papel desempenhado por essa pequenaestrutura cerebral na manutenção docomportamento sexual e da capacidadereprodutiva dos ratos. Com seus 1.800neurônios, o loeus eoeruleus é o princi-pal núcleo noradrenérgico do cérebro.Tal termo é usado para designar umgrupo de neurônios que, quando esti-mulado, libera noradrenalina, substân-cia intimamente ligada a conceitos comomedo e estresse. Atuando como hor-mônio na corrente sanguínea e neuro-transmissor no cérebro, onde, ao ladode outras substâncias, intermedeia atroca de mensagens químicas entre osneurônios, a noradrenalina é o centrode muitos estudos sobre o papel do sis-tema nervoso central na reprodução."Nas fêmeas, a presença da noradrena-lina é de essencial importância para queocorra um pico na secreção do hormô-nio luteinizante (LH) pela glândula hi-pófise', explica o endocrinologista Cel-so Rodrigues Franci, da Faculdade deMedicina da USP de Ribeirão Preto,outro participante do projeto temáti-co."Sem esse pico, não há ovulação."

Deacordo com [anete,essa função do loeus eoe-ruleus, de estimulado r dopico de LH que antecedee desencadeia a ovula-

ção, foi demonstrada pela primeira vezpor ela e José Antunes Rodrigues, tam-bém da USP em Ribeirão Preto, em1985, na revista Neuroendoerinology. Daípara frente, tal efeito tem sido confir-mado por sua equipe em vários traba-lhos publicados nos últimos anos emrevistas internacionais. Na revista BrainReseareh, entre 1997 e 2002, os brasi-leiros emplacaram três artigos sobre opapel do loeus eoeruleus. O mecanismode ação desse núcleo noradrenérgico -portanto, de uma região do cérebro -sobre a capacidade reprodutiva femini-na é bastante complexo. A ovulação sóacontece se for mantida uma sucessãode eventos e estímulos hormonais sin-cronizados, que coordenam uma sériede ações e reações no organismo. Des-de a década de 30 se sabe que os hor-mônios sexuais produzidos pelo ovário- estrógeno e progesterona - inibem asecreção de LH pela hipófise durante amaior parte do ciclo menstrual. Esse é oprincípio básico da pílula anticoncep-cional, que passou a ser utilizada inter-nacionalmente na década de 60.

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concentração de prolactina, que naslactantes é normalmente alta, e dificul-ta a amamentação.

Um passo para a melhor compre-ensão desse mecanismo foi dado porpesquisadores da Universidade de SãoPaulo (USP), em Ribeirão Preto, e daUniversidade Federal do Rio Grandedo Sul (UFRGS). Eles viram que blo-quear a ação de outro hormônio - aangiotensina 11, mais conhecida porsua ação de constrição dos vasos san-güíneos, com impactos sobre a pres-são arterial - num ponto específicodo cérebro de ratas lactantes que ha-viam sido estressadas evita a espera-da queda na produção de prolactina

Esperança para quando o leite secarA mãe de um bebê recém-nascido

sofre um estresse - bate o carro ou umparente próximo morre - e o leite seca.Todo mundo já ouviu uma história as-sim sobre o impacto de um evento ne-gativo na amamentação. De tão fre-qüente, essa situação é alvo de estudosque tentam entender os mecanismosenvolvidos na interrupção da produ-ção do leite materno. Para isso, os cien-tistas estudam os processos de regu-lação da secreção de prolactina, ohormônio que controla a produção deleite. As lactantes precisam manter ní-veis altos de prolactina para que a pro-dução de leite não seja interrompida.De alguma forma, o estresse derruba a

Mais tarde, no entanto, a literatu-ra científica mostrou que, paradoxal-mente, no meio do ciclo menstrual,em torno do décimo quarto dia, au-mentos na secreção desses hormônioseram absolutamente necessários paradeflagrar o pico de LH e, por conse-guinte, levar à ovulação. Ou seja, co-meçou a ficar claro que, de acordocom a fase do ciclo menstrual, a pre-sença dos hormônios sexuais pode terefeitos opostos: ora inibe a liberação dehormônio luteinizante, ora a estimu-la. Como se sabe, sem a ocorrência dopico de produção de LH, não há ovu-lação. Ainda hoje, essa contraditória·dualidade de funções dos hormôniossexuais sobre a ovulação não é bemcompreendida pelos estudiosos. Mui-

o PROJETO

Sistema ReprodutorFeminino: Controle Neuroendócrinoe Efeitos do Estresse

MODALIDADEProjeto Temático

COORDENADORAJANETE APARECIDA ANSELMo-Franci/Faculdade de Odontologiade Ribeirão Preto/USP

INVESTIMENTOR$ 1.056.714,56

tos pesquisadores tentam, por exemplo,descobrir interações entre esses hor-mônios e estruturas cerebrais que po-dem ser decisivas para que ocorra aovulação. Nessa linha de pesquisa, ogrupo de Ribeirão Preto começou adesconfiar que o loeus eoeruleus pode-ria estar relacionado ao circuito cere-bral que atua sobre a ovulação quando,anos atrás, lesou esse grupo de neurô-nios em ratas adultas e observou osefeitos desse procedimento. "Vimosque as fêmeas não ovulavam", afirmaIanete. Depois de realizar uma sériede experimentos, alguns muito recen-tes e com resultados ainda não publi-cados, o grupo da USP formulou ummodelo que tenta dar conta da ordemdos eventos que levam à ovulação.

De forma esquemática, o modelopode ser assim resumido. No períodopré-ovulatório do ciclo menstrual, aforma mais comum e ativa de estró-geno, chamada estradiol, é secretadapelo ovário e começa a atuar nas célu-las nervosas do loeus eoeruleus, indu-zindo-o à síntese de receptores para aprogesterona, outro importante hor-mônio sexual produzido pelo ovário.Num segundo momento, o folículoovariano maduro, que contém o óvu-lo pronto para ser expulso, passa a se-cretar progesterona. Tal hormônio seliga então a seus receptores no loeuscoeruleus, onde deve estimular a se-

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decorrente de um trauma psicológi-co. Tal efeito, que pode ser benéficoà produção de leite, foi obtido pormeio da injeção de um anti-hiper-tensivo no núcleo arqueado do hi-potálamo, região do cérebro que con-trola a secreção de prolactina. "Essesresultados confirmam, em um mo-delo fisiológico, o papel da angio-tensina II na inibição da prolactina",afirma Gilberto Sanvitto, do Insti-

tuto de Ciências Básicas da Saúde daUFRGS, que realizou o procedimen-to em roedores.

Desde a década de 60, há evidên-cias mostrando que o estresse crônicoou agudo produz um aumento naconcentração do hormônio angioten-sina 11 no sangue e no cérebro. Esseaumento, acreditam os pesquisadores,é um dos fatores que fazem a concen-tração de prolactina cair, o que levaria

a uma inibição da produção de leite.Portanto, em tese, o emprego de umanti-hipertensivo, como feito experi-mentalmente com as ratas, consegui-ria impedir o efeito negativo para alactação do excesso de angiotensina 11decorrente do estresse. "Bloquear aação no cérebro da angiotensina 11 éuma proposta para contornar a faltade leite materno por estresse", dizIanete Anselmo- Franci, da USP, em Ri-

beirão Preto. Ape-sar dos resultadospromissores emanimais, tal proce-dimento ainda estáem fase de testes eseu uso não é reco-mendado na clíni-ca médica em hu-manos.

ereção de noradrenalina. Esse neuro-transmissor ativa um grupo de neu-rônios que produzem o hormônio li-berador de LH, chamado de LHRH. Apresença do hormônio LHRH, porsua vez, é o sinal-chave para que a hi-pófise acelere a secreção do hormônioluteinizante. E é este, quando atingeseu pico de liberação, que, por fim,estimula a ovulação. "Nosso modelodifere dos outros porque defende a idéiade que a progesterona ativa o loeuseoeruleus e essa estrutura é que acionao grupo neurônio LHRH", comentaIanete, "Antes, pensava-se que o estró-geno e a progesterona atuassem dire-tamente sobre o LHRH."

Gravidez em atletas - Não chega a serde todo surpreendente verificar que umaforma de estresse, como a manipulaçãoneonatal em ratas, é capaz de bagunçara produção de hormônios e influir de-cisivamente no desempenho sexual e re-

produtivo. Alguns estudos mostram quegrande parte das mulheres atletas, sub-metidas diariamente a grande pressãopsicológica em treinos e competiçõesna busca por bons resultados, apresen-ta um ciclo ovulatório irregular. Paraessas esportistas, ainda que aparente-mente saudáveis, engravidar pode seruma tarefa mais difícil do que para amaioria da população feminina. "Omesmo pode acontecer com aeromoçasque trabalham em vôos longos, inter-continentais, que vivem mudando defuso horário", comenta o endocrinolo-gista Franci. Nesses casos, certos espe-cialistas acreditam que a ovulação nãoocorre devido ao estresse, que pode le-var ao excesso de noradrenalina ou deoutras substâncias que intermedeiamcircuitos neurais relacionados à secre-ção de LH. Seria uma situação inversa àdas ratas com lesão no loeus eoeruleus,que não ovulavam devido à escassezdesse neurotransmissor.

Numa jogadora de vôlei ou basquete,a pressão psicológica por bons resultados,aliada a uma estafante carga de exercí-cios, estimularia mais do que o necessá-rio - e na hora errada - o loeus eoeruleus,que despejaria sem freios a noradrenali-na no cérebro. Resultado: uma pane naovulação, por excesso de neurotransrnis-soro Por ora, essa idéia ainda é uma hi-pótese, não um fato totalmente compro-vado. Mas há quem a defenda. "Tanto afalta quanto o excesso de noradrealinaalteram o pico do hormônio luteinizan-te, que é imprescindível para a ocorrên-cia da ovulação': afirma Ianete, "Muitas.vezes, uma atleta só consegue engravi-dar quando pára sua atividade esporti-va e o seu ciclo hormonal volta ao nor-mal:' Como quase tudo pode ser um fatorde estresse (um ferimento, uma doença,uma preocupação qualquer), a correria eas preocupações da vida moderna po-dem estar por trás de alguns casos inex-plicados de infertilidade humana. •

Detalhe de Caritas,Cranach, o Velho

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• CIÊNCIA

Fugado labirintoEquipe carioca propõenova explicação paraa origem do mal de Parkinsone de doenças raras que afetam rins,coração, olhos e nervos

BIOQUÍMICA

AOdOmomento o fígado fabricae despeja no sangue milharesde unidades de uma proteínaque funciona como um tele-férico: de maneira alterna-

da, ela se liga a dois compostos essenciaisao funcionamento harmonioso do orga-nismo e os carrega pelo interior de artériase veias para, em seguida, distribuí-los às célu-las do corpo. O nome dessa proteína, trans-tirretina, é na realidade uma sigla que anunciasua função: transportar o horrnônio tiroxi-na, produzido pela glândula tireóide, e o re-tinol, a forma ativa da vitamina A.

Associada ora a um ora a outro dessescompostos, a transtirretina circula pelo san-gue durante quase toda a vida. Com o enve-lhecimento, porém, a transtirretina tende ase unir em longos cordões - ou fibras -, quese acumulam durante décadas no coração.Os longos cordões se tornam uma espéciede muro entre as células, que prejudica ofuncionamento do músculo cardíaco e difi-culta o bombeamento do sangue. Uma emcada quatro pessoas com mais de 80 anosvive esse problema, chamado amiloidose sis-têmica senil.

O químico norte-americano Jeffery Kelly,do Instituto de Pesquisa Scripps, nos Esta-dos Unidos, propôs há quase dez anos um

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modelo teórico para explicar o aparecimen-to dessa forma de amiloidose. Quando ve-lhas, as proteínas são levadas para serem de-gradadas em uma espécie de usina dereciclagem das células denominada lisosso-mo. Ali, as transtirretinas seriam desmonta-das em suas quatro partes básicas - os blocoschamados monômeros, que serviriam dematéria-prima para a formação dos cordõesque se acumulariam nas células e depoisformariam depósitos extra celulares chama-dos de fibras amilóides, que atuariam comoverdadeiros muros entre as células, atrapa-lhando seu funcionamento.

Modelo simplificado - Mas pode não ser bemassim. Em uma série de estudos publicadosrecentemente, pesquisadores da Universida-de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apre-sentam um mecanismo que explica de modomais simples a formação das fibras típicas daamiloidose sistêmica senil pelo acúmulo dastranstirretinas - um processo semelhante aoque se verifica em outras duas doenças ca-racterísticas do envelhecimento, o mal deParkinson, que leva ao descontrole dos mo-vimentos do corpo, com tremores sobretudonas mãos, e o mal de Alzheimer, que provo-ca a perda da memória, cada uma delas cau-sada pela união de uma proteína diferente.

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Nesse novo modelo, a transtirretinanem chegaria a ser desmontada nos li-sossomos e permaneceria inteira nosangue, embora sem se ligar à tiroxinae à forma ativa da vitamina A, cujaconcentração diminui com a idade.Assumiria então uma forma alterada,que deixaria mais expostos seus seg-mentos que repelem as moléculas deágua e servem de ponto de contato.entre duas transtirretinas. Depois, pelamesma razão, outras moléculas detranstirretinas se uniriam sucessiva-mente. O resultado seriam as fibrasamilóides, agora formadas pelo acú-mulo das transtirretinas inteiras e nãopela união das unidades que a consti-tuem, os monômeros. "Essa proposta émais coerente, uma vez que não pres-supõe a passagem da proteína pelos li-sossomos, onde jamais foi vista", diz abióloga Debora Foguel, da UFRJ, quecontou com apoio financeiro da Fun-dação de Amparo à Pesquisa do Estadodo Rio de Janeiro (Faperj) e do Minis-tério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Os pesquisadores do Rio chegarama esse novo modelo após experimen-tos em que submeteram a transtirreti-na a pressões altíssimas, até 3.500 ve-

zes superiores à do nível do mar, que éde uma atmosfera. A alternância entrepressões altas e baixas alterou a formada proteína, que passou a formar fibrasem menos de 30 minutos. Antes, pormeio de reações químicas, as fibras cus-tavam até quatro dias para se consti-tuírem. Ganhou-se assim uma' formamais rápida de obter fibras amilóides,o que abre a possibilidade de uso des-se método na seleção de compostosquímicos a serem usados como medi-camentos.

Defato, a equipe coorde-nada por Debora e pelomédico Ierson Lima daSilva, do Centro de Res-sonância Magnética Nu-

clear da UFRJ, está testando compostoscapazes de combater a formação das fi-bras características da amiloidose senilsistêmica do mal de Parkinson e do malde Alzheimer. Entre os cinco tipos decompostos analisados nos últimos me-ses, os candidatos mais promissores, quese mostraram capazes de impedir a for-mação das fibras características de Alz-heimer e da própria transtirretina, sãoos compostos da família do anilino naf-

taleno sulfonado, um líquido amarelousado apenas como reagente químico,para mapear o enovelamento de proteí-nas. "Mas os resultados são muito pre-liminares", alerta Debora. "Ainda serãonecessários anos de pesquisa até que seconsiga algum medicamento que possaser usado por seres humanos."

Velhos e jovens - Enquanto a formanormal ou selvagem da transtirretinase acumula lentamente e só causa pro-blemas no coração dos idosos, suasformas alteradas - ou mutantes - sãomais agressivas e atacam os rins e osnervos de outro público, os jovens - éa amiloidose familiar polineuropática.Embora rara na maioria dos países,com uma incidência de um caso emcada 1 milhão de pessoas por ano, émais freqüente em comunidades isola-das de Portugal, da Suécia e do Japão,podendo matar antes dos 30 anos. NoBrasil, já se estudou cerca de 30 casosem 24 famílias, todos provocados pelaforma mutante mais comum dessaproteína. Quando diagnosticado, o pro-blema só pode ser resolvido com umtransplante de fígado, o órgão que pro-duz a proteína.

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A proteína transtirretina: defeitosaceleram a formação das fibras

Trabalhando hoje em colaboraçãocom Kelly, a equipe da UFRJ mostrouque duas das 80 formas mutantes datranstirretina já identificadas - a maiscomum delas, conhecida pela siglaV30M, freqüente em Portugal, e a maisagressiva, a L55P, que afeta principal-mente os suecos - se parecem muitocom a proteína normal e também lem-bram uma ampulheta. A diferença étão pequena que, por si só, não basta-ria para explicar a agressividade dasformas modificadas ou mutantes. Numartigo publicado em maio no [ournalof Molecular Biology, Debora descrevecomo surge essa pequena diferença:pequenos defeitos no gene que con-tém a receita dessa proteína, locali-zado no cromossomo 18, causam atroca de apenas uma das 127 unidades(aminoácidos) que compõem cada umdos quatro blocos da transtirretina. Asubstituição de apenas um aminoá-cido - uma metionina por uma valinana V30M ou uma prolina por umaleucina na L55P - faz com que a pro-teína assuma uma forma mais frágilque a selvagem.

«Por ser mais frágil que a proteínaselvagem, a proteína mutante é menosestável e pode mais facilmente assumira forma que gera as fibras amilóides",

afirma Debora. Quando compararama capacidade de agregação das três for-mas da proteína - a V30M, a L55P e aselvagem -, os pesquisadores do Rioconstataram que a versão selvagem daproteína forma fibras amilóides maislentamente que as outras duas. Viramainda que a transtirretina com a alte-ração mais agressiva, a L55P, gerava asfibras mais rapidamente que a formamutante mais comum, a V30M. Essesresultados explicam por que os sinto-mas se manifestam mais cedo, por vol-ta dos 20 anos, nas pessoas que pro-duzem a forma mais agressiva daproteína, a L55P, e mais tarde nos indi-víduos cujas fibras amilóides se for-mam a partir da variedade selvagem.

A importância clínica do trabalhoda equipe do Rio fica mais clara a par-tir dos resultados de outro estudo,publicado em 19 de agosto no Procee-dings of the National Academy of Sei-ences. Dessa vez, Debora decidiu com-parar o comportamento das fibrasamilóides resultantes da união das trans-tirretinas selvagens com as formasmutantes frente à pressão hidrostática.Após submeter as fibras à pressão de3.000 atmosferas, veio a conclusão: cadafibra se desmontava de uma maneiradistinta. Enquanto a fibra constituída

pelas transtirretinas selvagens se des-fazia em unidades menores, aquelascompostas pelas proteínas mutantesnão se desmontavam completamente,apenas geravam fibras mais curtas. «Asfibras encurtadas são muito resistentesà pressão e aparentemente mais tóxicaspara as células", explica Debora.

ais uma vez, os da-dos são compatíveiscom a realidade clí-nica. Maria João Sa-raiva, da Universi-

dade do Porto, em Portugal, haviaestudado portadores de amiloidosefamiliar polineuropática decorrentedo acúmulo das proteínas V30M econstatado que as pessoas com sinto-mas mais avançados da doença apre-sentavam fibras de tamanho interme-diário, e não as mais longas, comoseria de esperar. Esses resultados põempor terra uma antiga crença dos es-pecialistas em proteínas. "Sempre seachou que todo tipo de fibra amilói-de era igual e se comportava da mesmamaneira", comenta a bióloga da UFRJ.«Mostramos que não é assim."

Mas qual seria o comportamentode uma fibra amilóide formada poroutra proteína que não a transtirreti-na? Debora testou em seguida as fibrasamilóides constituídas por uma outraproteína, a alfa-sinucleína, ligada aodesenvolvimento do mal de Parkinson- doença em que o indivíduo perdeprogressivamente o controle sobre osmovimentos e apresenta tremores eparalisia. Ainda de função desconhe-cida, a forma normal da alfa-sinucleí-na parece com um barbante esticado.Em algumas famílias, um defeito ge-nético leva à fabricação de formas mu-tantes da alfa-sinucleína, que passa ase acumular no interior das célulasnervosas (neurônios) de uma regiãodo cérebro responsável pelo controledos movimentos, matando-as. Outrasurpresa: todas as fibras formadas pelaalfa-sinucleína desmontavam-se emsuas unidades básicas, que são tóxicaspara os neurônios. Mas as formas mu-tantes se desfaziam de duas a três vezesmais rápido que a fibra formada pelaproteína selvagem. Conhecer a diferen-ça de comportamento entre as fibras éimportante para traçar as estratégiasmais adequadas para tratar cada umadas doenças. •

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• CIÊNCIA

balho de 22 grupos de pesquisa que se pronti-ficaram a identificar os genes de uma das plan-tas que sustentam a agricultura paulista.

Dois anos atrás, para determinar inicial-mente o número de genes, informação básicasobre qualquer genoma, Silva, então um dou-torando com 29 anos, e Telles, com 27, tiveramde resolver o que ainda não havia sido solu-cionado em nenhum outro laboratório domundo: descobrir como eliminar as repeti-ções e aproveitar do melhor modo possívelas informações contidas em cerca de 300 milfragmentos de genes, chamados de ESTs, ouEtiquetas de Seqüências Expressas. O Ge-noma Cana foi um dos primeiros projetos deplanta no mundo a adotar essa técnica deidentificação de genes. Até acertarem o pas-so, trabalharam pelo menos 12 horas por dia,durante quatro meses, com programas segun-do os quais a cana teria ora 9 mil genes, oramais de 100 mil, ora um valor intermediárioqualquer, que variava de acordo com critériosdiferentes sobre o que é um gene. Num dosmomentos mais emocionantes, descobriramque estavam sendo jogados fora trechos degenes que poderiam ser aproveitados.

Quatro anos depois, notam-se três ganhosmais abrangentes do Genoma Cana, projetoviabilizado com um financiamento da or-dem de US$ 4 milhões da FAPESP e outrosUS$ 400 mil da Cooperativa dos Produtoresde Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo(Coopersucar). Em primeiro lugar, as infor-mações sobre a planta fertilizaram uma sériede pesquisas, algumas com resultados pro-missores, a exemplo de um antibiótico po-tencial descoberto recentemente por um

Farta colheitaGENÔMICA

Saem os dados finais do genomada cana, que impulsionou projetos,empresas e carreiras científicas

CARLOS FIORAVANTI

Se virasse um filme nas mãos de umcineasta de talento, a história do ge-noma da cana-de-açúcar daria algocomo Nós que nos Amávamos Tan-to, um clássico do diretor italiano

Ettore Scola sobre um grupo de amigos queviveram com intensidade uma época de suasvidas e voltam a se encontrar, tempos depois,após terem tomado seus próprios caminhos.Os 240 pesquisadores que participaram des-se trabalho pioneiro, iniciado há quatroanos, ainda não se reuniram num jantar re-gado, claro, a vinho, mas teriam para come-morar a publicação, este mês, de um artigona revista científica Genome Research comuma descrição minuciosa da constituição ge-nética da cana-de-açúcar, a planta cultivada hámais tempo em larga escala no Brasil. Cons-ta que as primeiras mudas dessa plantachegaram em 1532 com o colonizador por-tuguês Martim Afonso de Souza.

Está lá, na Genome Research: o genoma dacana-de-açúcar é constituído por 33.620 pos-síveis genes, dos quais cerca de 2 mil parecemestar associados à produção de açúcar. A ha-bitual frieza da linguagem científica, eviden-temente, deixa de lado a matéria-prima dosuposto filme - a angústia e as alegrias quesustentam essa contabilidade científica. Massó Felipe Rodrigues da Silva, biólogo, e Gui-lherme Pimentel Telles, formado em Compu-tação, sabem realmente como foi torturantechegar a esses números finais, que, de certomodo, põem fim a uma aventura iniciada emabril de 1999, quando Paulo Arruda, profes-sor da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp), aceitou a tarefa de coordenar o tra-

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Nova geraçãoreconhecea importânciado trabalhoem equipe

grupo da Universidade Federal de SãoCarlos (UFSCar). Além disso, há 50projetos em andamento, conduzidos porgrupos de pesquisa que fazem a chama-da garimpagem de dados ou data mi-ning - a busca de informações sobre ometabolismo da cana, de modo a obter,mais rapidamente, variedades maisprodutivas e resistentes à seca ou a so-los pobres. Pelas técnicasatuais de melhoramentogenético, uma nova varie-dade consome dez anosde trabalho, dos primeirostestes à aprovação parauso no campo.

Ainda este mês, os ge-nes da cana tornam-sepúblicos ao serem expos-tos numa base de dadosmundial sobre ESTs, tãologo saia o artigo na Ge-nome. Com 250 mil frag-mentos de genes, a cana será a quintaplanta com mais seqüências descritas,após trigo, milho, cevada e soja. Até ago-ra, pesquisadores de outros países po-diam ter acesso só aos clones - não àsua descrição detalhada -, mantidos noLaboratório de Estocagem e Distribuiçãode Clones, em Jaboticabal. Ali, oito fre-ezers guardam 240 mil clones de genes,resultado dos projetos de seqüenciamen-to já feitos em São Paulo.

Jornada dupla - Como segundo efeito,o projeto também chamado de Sucest(sigla de Sugar Cane EST) colocou maisfermento no ambiente que impulsionouos investimentos que resultaram na cri-ação de três empresas, Allelyx, Scylla eCana Vialis - todas contam com oapoio financeiro da Votorantim Ventu-res, fundo de capital de risco do GrupoVotorantim, e a experiência acumula-da a partir do seqüênciamento do ge-noma da bactéria Xylella fastidiosa, oprimeiro organismo a ser estudado sobesse viés no Brasil. O próprio Arrudadivide hoje seu tempo entre a Uni-camp - onde leciona no Instituto deBiologia e pesquisa no Centro de Bio-logia Molecular e Engenharia Genética(CBMEG), que foi a sede do GenomaCana - e a Allelyx, hoje com 50 pesqui-sadores empenhados em deter, porexemplo, a Clorose Variegada dos Ci-tros, ou amarelinho, a doença causadapela Xylella que abate um terço dos la-ranjais paulistas.

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Telles uniu-se em maio de 2002 aJoão Meidanis, Zanoni Dias e a outrosbioinformatas - os especialistas emcomputação que criam ou adestramprogramas de identificação e análise degenes - e, juntos, criaram a Scylla, umaempresa enxuta, com nove funcioná-rios. Numa demonstração de como évasto o espaço a ser ocupado pela bio-

informática no Brasil, aScylla anunciou no mêspassado seu primeiro pro-duto comercial: um pro-grama que detecta e ana-lisa pequenas variações degenes e pode ser empre-gado para identificar do-enças psiquiátricas. Outroparticipante do GenomaCana, Eder Antonio Gi-glioti, é hoje um dos cin-co sócios da Cana Vialis,todos eles com mais de 30

anos de experiência no melhoramentogenético da cana-de-açúcar, agora àfrente de uma equipe 25 pesquisadoresque vão se valer da genômica e da bio-tecnologia para desenvolver novas varie-dades de cana e otimizar as já existentes.

Mas nem as pesquisas nem as em-presas seriam possíveis sem o terceiroefeito, ainda mais profundo: a qualifi-cação do corpo científico. O GenomaCana aproximou pesquisadores que deoutro modo dificilmente teriam se co-nhecido, consolidou lideranças - em2000, por exemplo, Andrew Simpson, ocoordenador do Genoma Xylella, doqual derivou o Sucest, era provavel-mente o cientista mais conhecido noBrasil- e impulsionou a carreira cien-tífica dos pesquisadores, como se notaem especial com os três doutorandosque trabalharam mais próximos de Ar-ruda: Edson Kemper, André Luiz Vetto-re e Felipe da Silva.

o PROJETO

Durante quase todo o projeto, elescuidavam de tarefas estratégicas comoo controle das finanças do projeto, co-letavam no campo amostras dos teci-dos da cana (da raiz à flor, colhidas tan-to no interior de São Paulo quanto nasplantações de Alagoas), faziam os elo-nes de trechos do genoma, cuidavamda distribuição de material de pesquisaaos 22 laboratórios do projeto e inter-pretavam nos computadores os resulta-dos que voltavam. Em quatro anos, ge-renciaram 9.375 placas com 900 milclones, que formavam as chamadas bi-bliotecas do cDNA, sigla do ácido deso-xirribonucléico complementar ao DNAoriginal da planta.

Talvez os três não tenhamgostado do trabalho exces-sivo, dos finais de semanano laboratório e das bron-cas das namoradas por

mais uma vez adiarem a ida ao cinemapor terem de trabalhar até mais tarde.Mas, um a um, os quase-filhos de Arru-da - no sentido puramente científico,bem entendido - deixaram o CBMEG,tomaram rumos próprios e hoje estãobem posicionados em instituições depesquisas ou em empresas. E, melhor:aplicando o que aprenderam. "O Geno-ma Cana foi um exemplo concreto deque o trabalho em equipe funciona, dáresultados e anima a todos para fazermais e mais", diz Kemper, engenheiroagrônomo reconhecido pela dedicaçãoquase sem limites. Se, por exemplo, osdados dos laboratórios de seqüencia-mento da cana chegavam num final datarde, quando os técnicos de apoio já ti-nham ido embora, ele não via por queesperar até o dia seguinte e, sem hesitar,fazia ele próprio o trabalho, avançandopela noite até que a tarefa terminasse.

Primeiro a partir, em agosto de2000, Kemper trabalha hoje na sede daMonsanto, em Saint Louis, cidade dosEstados Unidos encravada entre os riosMississipi e Missouri. Aos 34 anos, o ex-aluno de doutorado de Paulo Arrudagerencia o Laboratório de Pureza Ge-nética, que nos momentos de trabalhomais intenso abriga até 35 pesquisado-res e técnicos, atentos para que o milhoe a soja transgênicos cumpram os re-quisitos de qualidade definidos pelogoverno norte-americano e pela pró-pria empresa. A planta mais parecidacom uma cana que ele vê por lá é o sor-

Genoma Cana

MODALIDADEProjeto de pesquisa no âmbito doPrograma Especial Genoma FAPESP

COORDENADORPAULOARRUDA- Unicamp

INVESTIMENTOUS$ 4.484.090,61

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go, uma gramínea miúda, de não maisque um metro de altura, usada comoalimento para gado.

"Vivemos juntos uma época deefervescência, não havia vaidade nemobstáculos, e conversávamos de igualpara igual com os pesquisadores maisexperientes", recorda Vettore, o segun-do a deixar o CBMEG. Exímio plane-jador dos gastos e da rotina de traba-lho, Vettore trocou Campinas pelacapital paulista em julho de 2001.Hoje como coordenador do laborató-rio de genética do câncer do InstitutoLudwig de Pesquisas sobre o Câncer,procura identificar marcadores mole-culares para tumores.

Três meses depois, quando as con-clusões do trabalho com a cana já esta-vam avançadas, foi a vez de Silva dizeradeus a Paulo Arruda e a Adilson Leite,seu ex-orientador e um dos coordena-dores do CBMEG, que morreu de cân-cer de pulmão em fevereiro de 2003.Silva passou oito meses em uma unida-de da Embrapa do Rio e desde julho doano passado trabalha em outra unida-de, o Centro Nacional de Recursos Ge-néticos e Biotecnologia (Cenargen), emBrasília, onde tra-balha no ge-no ma do cafée da banana,em progra-mas de com-putador umpouco mais cor-diais que os que teve deenfrentar anos atrás.

"O respeito com que os outrospesquisadores me tratam hoje não tempreço", comenta Silva, que ao terminaro doutorado havia participado de 11artigos científicos. O equilíbrio de for-ças, a seu ver, foi essencial para o gruposobreviver na mesma sala em que tra-balhavam juntos e superar as diferençasde estilo de trabalho - ele, por exemplo,é dispersivo e barulhento (tem umabanda de rock desde os 12 anos), en-quanto Vettore conquistou a fama deser ultra-organizado e metódico.

A própria história da cana emergiaà medida que se acumulavam as desco-bertas sobre seu genoma, anunciadasem 2001 numa edição especial da Ge-netics Molecular Biology e sintetizadasno artigo da Genome Research, assinadopor 57 brasileiros. Os pesquisadoresconcluíram que a cana conserva pelo

menos 70% de similaridade com outrogrupo de plantas, as dicotiledôneas,como o feijão e a soja (a cana é umamonocotiledônea) - entre 50 e 70 mi-lhões de anos, antes de se separarem,havia uma espécie única, com caracte-rísticas dos dois grupos. A comparaçãoentre genomas revela ainda que 71%dos genes da cana encontram-se tam-bém na Arabidopsis thaliana, uma plan-ta - modelo usada em genética que nãochega a 10 centímetros de altura, e 80%dos genes da cana apresentam um cor-respondente em arroz.

Essas informações são importantespor sinalizarem como tornar a canamais produtiva ou mais resistente àseca. Na prática, significa, por exemplo,intensificar a atuação ao menos de par-te dos 2.000 genes ligados à produçãode açúcar do híbrido de cana hoje cul-tivada no Brasil, resultado de cruza-mentos realizados ao longo de cincoséculos entre as espécies Saccharumspontaneum, mais efetiva na produçãode açúcar, e a S. officinarum, mais resis-tente a doenças. Os pesquisadores sa-bem há tempos que estão lidando com

uma planta complexa, cujas célu-las carregam até 12 cópias decada gene. Se por um ladoessas peculiaridades dificul-tam o trabalho, por outrotornam as conquistas mais

gratificantes. "O trabalho como genoma da cana facilitou o

desenvolvimento de ferramentasmais simples de comparação de ge-

nomas, que permitem a qualquer bió-logo tirar conclusões muito boas paraqualquer organismo vivo", comentaCarlos Menck, geneticista do Institutode Ciências Biomédicas da Universida-de de São Paulo (USP). Menck, MichelVincentz, do CBMEG, e um grupo de10 pesquisadores do Sucest, estão fina-lizando um artigo em que compararamgenes da cana e de Arabidopsis e apre-sentam alguns que ainda não haviamsido identificados.

Esse trabalho pôs os cientistas emoutro patamar. Por essa razão, o filmecom os percursos dos cientistas querevelaram a essência da cana não po-deria deixar de reconstruir a cena emque João Meidanis entrou no CBMEGem 1995 na ânsia de conseguir umaseqüência genética pequena. Bastariamtrês mil pares de bases. Com eles, pre-

tendia desen-volver osprogramas

que seriamessenciais,

alguns anosdepois, no estu-

do da Xylella, da canae de outros organismos

já seqüenciados. A desejadamatéria-prima, que naqueles tem-

pos demorava seis meses até ser entre-gue, hoje sairia em dois minutos, en-quanto se toma um café ou, melhorainda, um caldo de cana gelado. •

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• CIÊNCIA

AMBIENTE

A florestarenasce

Vegetação naturalpaulista recupera 3,8%

do espaço perdido nasúltimas décadas e MataAtlântica volta a crescer;embora o Cerradoesteja quase acabando

RICARDO ZORZETTO

CARLOS FIORAVANTI

E MARCELO FERRONI

48 • SETEMBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 91

rescem pelos barrancos figueiras colossais, cujosramos curvam-se para o rio, e que projetam rai-zes multiformes que mergulham nas águas. (...)Concorrem também outras espécies vegetais,das quais destacam-se, pela sua profusão, inga-zeiros capados, cujas flores brancas, de estamesmúltiplos, semelhantes à penugem, atraem mi-ríades de insetos, que voltejam em torno dosseus vastos nectários; imbaúbas de tronco alva-cento e esgalhamento escasso; genipapeiros defolhas lustrosas efrutos aromáticos, e que forne-ciam tinta negra para a tatuagem dos índios."

MAMEDE DA ROCHA

Em 1905, o médico e naturalista Mamede da Rocha descre-via dessa forma poética que aparece na epígrafe a vegetaçãopróxima ao rio Tietê nos arredores de Araçatuba, no oeste pau-lista. Quase cem anos depois, desapareceram os ingazeiros, osjenipapeiros e as árvores de madeira de lei - aroeiras, cabreúvase jequitibás - vistos durante as expedições da Comissão Geo-gráfica e Geológica de São Paulo. As árvores começaram a caircom a chegada da agricultura e das ferrovias, construídas parafacilitar o comércio e a expansão do café no final do século 19.E continuaram a desabar à medida que as cidades se formavam- desde os tempos de Mamede da Rocha, a população do Esta-do aumentou quase 17 vezes, de 2,2 milhões de habitantes paraos atuais 37 milhões, enquanto a economia paulista conquis-tou uma posição respeitável, equivalente a 35% do Produto In-terno Bruto (PIB) nacional. Hoje são claras as conseqüênciasdesse avanço que não se importou em pôr abaixo a mata natu-ral, que já ocupou 82% do território paulista.

De acordo com um levantamento recém-concluído do Ins-tituto Florestal de São Paulo, restam apenas 13,9% da coberturavegetal natural paulista, o equivalente a 3,46 milhões de hectares,ou 34,6 mil quilômetros quadrados (100 hectares equivalem a umquilômetro quadrado). Curiosamente, esses 13,9% correspondemà área de vegetação natural derrubada durante um dos mais in-tensos períodos de devastação, a década de 60, quando ainda nãohavia preocupação com os danos ambientais. É também quaseo mesmo espaço hoje ocupado pelas plantações de cana-de-açú-car, de longe a cultura agrícola que ocupa maior extensão dasterras paulistas.

Esse novo estudo, o Inventário Florestal de São Paulo, traztambém uma boa notícia: no Estado de São Paulo, após quatrodécadas de levantamentos periódicos, houve uma inversão datendência de desmatamento, que pode ser visualizada no pôsterque acompanha esta edição. Desde que os portugueses chega-ram para começar a colonização, é provavelmente a primeiravez que a vegetação natural aumenta em vez de diminuir. A áreapreservada hoje é 3,8% maior do que dez anos atrás, data do le-vantamento anterior realizado pelo Instituto Florestal, queacompanha a evolução dos ecossistemas paulistas desde 1962.Ainda que modesto, o crescimento observado entre os dois in-ventários mais recentes indica algum progresso: são 126,6 milhectares a mais, o mesmo que 1.266 parques do Ibirapuera, omais conhecido da capital paulista, que num domingo ensola-rado recebe cerca de 30 mil paulistanos.

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Mesmo assim, ainda é cedo para co-memorar. Pode de fato haver uma rege-neração consistente da vegetação natu-ral em dez anos, segundo o agrônomoFrancisco Kronka, do Instituto Florestal,um dos coordenadores do inventário.Mas o aumento da cobertura vegetal doEstado não se deve só à ampliação dasáreas de mata original. O uso de imagensdos satélites Landsat 5 e 7 e de fotos fei-tas a partir de aviões que voam próxi-mo ao solo permitiuum nível de detalhepelo menos três vezesmaior que o do inven-tário anterior, realiza-do no início dos anos90. Desse modo, foipossível identificar tre-chos de vegetação antesimperceptíveis, de até4 hectares, em especialos que estão em proces-so de regeneração. Ou-tro ponto importante: o aumento é umamédia e representa o que aconteceu como conjunto da cobertura vegetal paulis-ta - um mosaico formado por florestasdensas entremeadas por mangues àbeira-mar, enquanto no vasto planaltoque se estende pelo interior resistem tão-somente fragmentos de uma vegetaçãocom algumas árvores tortuosas e rarosblocos compactos de florestas. O cená-rio é outro quando se avalia cada tipo devegetação separadamente: alguns enco-lheram, até mesmo drasticamente, eoutros conseguiram recuperar parte doespaço perdido nas últimas décadas.

servação à Mata Atlântica (PPMA),parceria entre a Secretaria de Estado doMeio Ambiente e o banco alemão KfW(Kreditanstalt für Wiederaufbau). OPPMA, no qual já se investiram US$ 30milhões, sobretudo em fiscalização e naconsolidação de unidades de conser-vação, cobre uma área de 22 mil quilô-metros quadrados de vegetação naturalem 72 municípios no litoral e nos valesdo Paraíba e do Ribeira, justamente

onde a recuperação davegetação natural foimais expressiva.

Mas a norte e a no-roeste do Estado, asmesmas terras percor-ridas por Mamede daRocha no início do sé-culo passado, a situaçãoé desoladora - e agra-va um quadro que jánão era nada bom. "Asregiões que têm me-

nos vegetação natural são as que maisperdem", diz Kronka, que divide a au-toria do inventário com João BatistaBaitello e Marco Nalon, do InstitutoFlorestal, Hilton Thadeu Zaratte doCouto, da Escola Superior de Agricul-tura Luiz de Queiroz, da Universidadede São Paulo (USP), e Carlos AlfredoIoly, da Universidade Estadual de Cam-pinas (Unicamp).

À frente da devastação aparecem osmunicípios de Araçatuba e São José doRio Preto, que em dez anos perderam,respectivamente, 16,2% e 12,6% de suasmatas. Por ali, o Cerrado, agora cha-mado de Savana, de acordo com a ter-minologia adotada pelos pesquisado-res, foi substituído progressivamentepor pastagens e plantações de cana-de-açúcar - eis os mares de canaviais, comoum dia as definiu o poeta pernambu-cano João Cabral de Melo Neto. Hojeresta menos de 1% (211 mil hectares)desse tipo de vegetação, que um séculoatrás ocupava um quinto do territóriopaulista. Os trechos restantes aparecemno mapa como pontos dispersos pelasregiões mais baixas e levemente ondula-das do Estado.

o inventárioauxilia asprefeituras arecuperare preservaras matas

Ganhos e perdas - Primeiro, as boasnotícias. O ecossistema mais extenso emSão Paulo, a Mata Atlântica, uma vege-tação fechada e sempre verde, aumen-tou 2,86%, o correspondente a 808 qui-lômetros quadrados. A Mata Atlânticavoltou a crescer principalmente no Valedo Paraíba, a leste, com um ganho de27% sobre a década anterior, e por qua-se todo o litoral, com 12,3% a mais. Édifícil determinar com exatidão as cau-sas desse crescimento. A equipe do Flo-restal o atribui, em primeiro lugar, à to-mada de consciência pela população danecessidade de preservar o ambiente,que se soma a outros dois fatores maistangíveis: a legislação ambiental maisrigorosa e a adoção de medidas contrao desmatamento. Kronka considera efi-cazes iniciativas como o Projeto de Pre-

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Planejamento - A partir de imagens desatélite de todo o Estado obtidas aolongo de 2000 e 2001, a equipe do Ins-tituto Florestal trabalhou na escala de 1para 50 mil, na qual cada centímetro domapa corresponde a 500 metros no

solo. Já assim mais minucioso que osmapeamentos similares no Rio Grandedo Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro, oestudo paulista chegou a um detalha-mento ainda maior, de 1 para 10 mil, aolongo do litoral, com o reforço de fotosaéreas digitais. Com essa ampliação, cin-co vezes maior que a dos levantamen-tos anteriores, a equipe de Kronka de-tectou fragmentos de vegetação nativade apenas 4 hectares, que antes escapa-vam ao olhar do satélite.

Considerado em junho o melhortrabalho do Prêmio Excelência em In-formática Pública em duas modalida-des, melhoria de gestão interna e pro-jetos, o mapa do verde em São Paulo,como é chamado esse mapeamento davegetação, tem sido extremamente útil.Em sua vertente puramente científica,será a base cartográfica sobre a qual seapóiam os 38 projetos de pesquisasdo Biota-FAPESP, programa de levan-tamento da fauna e da flora paulistas."Esse mapa digital torna mais clara adistribuição de plantas e animais noEstado", explica o botânico Carlos Ioly,coordenador do Biota.

Oestudo do Instituto Flo-restal tornou-se tam-bém um instrumento deplanejamento estratégi-co por indicar os alvos

iminentes de ações de proteção ambien-tal. "O mapeamento é uma ferramentavaliosa para identificar novas regiõesque podem se tornar unidades de con-servação", atesta o ambientalista PauloNogueira-Neto, um dos fundadores doDepartamento de Ecologia Geral daUSP. Antes mesmo da conclusão doinventário, Nogueira-Neto encontrou109 manchas de vegetação natural can-didatas a se tornarem áreas protegidas.Um delas é a fazenda Barreiro Rico, nomunicípio de Anhembi, entre as cida-des de Botucatu e Piracicaba. Com2.300 hectares, a Barreiro Rico abrigatrechos de floresta fechada em que ospesquisadores encontraram árvores tí-picas da Mata Atlântica como ipês,quaresmeiras e cedros de até 30 me-tros de altura. Ali vivem quatro espé-cies de macaco ameaçadas de extinção,como o bugio e o muriqui ou mono-carvoeiro, e cerca de 350 espécies depássaros, identificadas com o auxílio deum de seus proprietários, José CarlosReis de Magalhães, um caçador conver-

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Interior pau lista,entre 1905 e 1910:desmatamento abreespaço para os cafezais

nar o inventário detalhado da cobertu-ra vegetal dos 645 municípios paulistas."Essa informação ficará à disposiçãodas prefeituras que se interessarem emrestaurar áreas devastadas", diz ele. Tal-vez assim os municípios consigam re-verter, ao menos em parte, um longoprocesso que, se por um lado levou àdevastação do verde paulista, por outrotransformou São Paulo no Estado maisrico do país.

Iniciadano século 16 com planta-ções de cana-de-açúcar, a perdada vegetação natural intensifica-se com o avanço dos cafezais.Entre 1890 e 1927, o número de

pés de café plantados no Estado saltoude 220 milhões para 1,3 bilhão, segun-do um estudo do agrônomo Mauro An-tonio de Moraes Victor. Naquele tempo,solo bom para o café era aquele cober-to por mata virgem, com uma espessacamada de nutrientes. Sempre que aprodutividade diminuía, os cafezais an-tigos eram abandonados e se avançavasobre a floresta em busca de terras maisférteis. Com desmatamentos de até 150mil hectares por ano, a cobertura vege-tal nativa do Estado caiu à metade noinício do século passado. Nutridos porlucros crescentes, os barões do caféapoiaram a construção de ferrovias queuniam o interior ao porto de Santos,além de facilitar a chegada de imigran-tes europeus que ajudavam a derrubarmais mata e ampliar as plantações.

Reflorestamento - E agora, o que fa-zer? Os pesquisadores asseguram: équase impossível restaurar a situaçãoflorestal primitiva do Estado. Mas tam-bém é certo que é viável avançar umbocado além dos atuais 13,9%. Segun-do Kronka, a adoção de medidas quepromovam a regeneração da flora nati-va remanescente e o aumento da fisca-lização para inibir as queimadas desti-nadas a limpar o solo permitiriam àvegetação natural chegar aos níveis doinício dos anos 60, quando ocupavaquase um terço do Estado - algo próxi-mo do mínimo exigido pela legislaçãoambiental, que determina que as pro-

tido em conservacionista, falecido emagosto do ano passado.

Por ter sido estruturada uma basedigital, com um banco de dados e ma-pas, o inventário do verde em São Paulopode ser aplicado tanto para áreas exten-sas, como todo o Estado, quanto pararegiões menores, a exemplo das baciasdos rios paulistas e dos próprios muni-cípios. A base digital permite também aprodução de mapas contendo modelosdo terreno com detalhes de altitude, in-clinação e formas, além dos tipos de solo.Desse modo, o levantamento indica asmelhores formas de ocupar o espaço,

trocando o empirismo pelo planejamen-to embasado em informações apura-das com método científico. É o que foifeito no Parque Estadual de Porto Fer-reira, área de 611 hectares a nordeste deSão Paulo, ocupada por Mata Atlânticae fragmentos de Savana. A partir dasimagens da cobertura vegetal e de in-formações sobre solo, relevo e faunalocais, os pesquisadores definiramquais áreas devem permanecer intoca-das e quais comportam trilhas e visi-tantes sem danos ao ambiente.

Atualmente, a equipe de Kronka tra-balha em ritmo acelerado para termi-

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priedades rurais preservem 20% da co-bertura vegetal nativa, além da vege-tação à margem dos rios, as chamadasmatas ciliares, e dos topos de morros.

O papel restaurador não caberia sóà natureza. A recuperação das matas edos campos naturais poderia receberajuda por meio do reflorestamento. Umestudo do Instituto Florestal que resul-tou na ampliação da Estação Ecológicade Assis,no oeste paulista, mostrou queo plantio de eucalipto auxiliou o ressur-gimento da vegetaçãonativa.

O inventário das espécies usadas naformação artificial de florestas parafornecer madeira às fábricas de papel ede móveis indica que a área de eucalip-to se manteve estável (612 mil hecta-res), enquanto a de Pinus diminuiu qua-se um quinto e hoje ocupa 158 milhectares - resultado do interesse co-mercial por árvores de fibras curtas,como o eucalipto, para fabricar papel.Além disso, como indicou outro estudodo Instituto Florestal,desta vezna regiãode Santana do Parnaíba, existe muitaterra coberta apenas por pastagens malcuidadas, onde já são visíveis os sinaisda erosão. "Uma estratégia inicial po-deria ser a recuperação desses pontosde mau uso do solo",sugere Kronka.

Mesmo nesse estado crítico, o pou-co que resta da vegetação natural ain-da surpreende. O biólogo João BatistaBaitello, do Instituto Florestal, percor-re há três anos a flora do Parque Esta-dual Iuquery, uma área de quase 2.000hectares com remanescentes da agorachamada Savana (ex-Cerrado), na re-gião metropolitana de São Paulo, e ain-da encontra por lá plantas que se pen-sava não existirem mais. Das cerca de250 espécies que ele próprio catalo-gou, seis eram consideradas presumi-velmente extintas e quatro com sériorisco de extinção no resto do país. É ocaso da Camarea hirsuta, com suas pé-talas redondas e amareladas, da Pas-siflora clathrata, uma planta aparen-tada do maracujá com flores violeta,escondida entre os arbustos, e de umaespécie com uma flor esbranquiçada,a Alophia sellowiana, cujas pétalas só seabrem à noite. "De outubro a novem-bro", diz Baitello, "a incrível diversida-de de formas, cores e tamanhos de flo-res faz com que o parque pareça umlindo jardim natural, onde as plantasflorescem em seqüência, especialmenteapós as queimadas:' •

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Savanas e trêstipos de floresta

Vegetação do Estadode São Paulo agora seguea terminologia nacional

"-Aedida que se apurava o

olhar sobre o que resta deverde em São Paulo, as an-ti~as categorias de veg~t~-çao tornaram-se genen-

cas demais para dar conta de nuancescada vez mais claras.As matas dos arre-dores de Teodoro Sampaio, nas planí-cies do extremo oeste do Estado, comum período chuvoso e outro seco bemdefinidos (as árvores perdem as folhasdurante a seca), por exemplo, eramclassificadas há dez anos como mata -o mesmo termo era empregado paradesignar as florestas de Campos do Ior-dão, a leste do Estado, com árvorescomo as araucárias que crescem a 1.500metros de altitude sob chuva contínuaao longo do ano e jamais perdem as fo-lhas por causa da seca.

Para lidar com as diferenças' decomportamento, solo, clima e relevo,ospesquisadores atualizaram as catego-rias de vegetação do Estado de São Pau-lo, adotando a terminologia do projeto

Radam-Brasil, gigantesco mapeamentodo território nacional feito nos anos 70por meio de aviões,helicópteros e equi-pes terrestres. A região Sudeste havia fi-cado de fora do padrão proposto, já quea prioridade era conhecer e mapear ointerior da Amazônia (Radam quer di-zer Radar da Amazônia) e do Nordeste.

Convertida à terminologia do Ra-dam, as matas e as capoeiras - trechosde mata natural em regeneração - des-dobraram-se em três tipos de vegeta-ção: Floresta Ombrófila Densa, pró-xima ao litoral; Floresta OmbrófilaMista, em áreas altas como Campos deIordão; e Floresta Estacional Sernide-cidual, com períodos chuvosos e secosbem definidos, como em TeodoroSampaio (ombrófila quer dizer "quegosta de chuva", em grego). O termoCerrado, de uso regional, foi substi-tuído por Savana, adotado internacio-nalmente para designar a vegetaçãoformada por árvores tortuosas quecrescem sobre solos pobres e ácidos.

OS PROJETOS

Unidades Fisionômico-EcológicasAssociadas aos Remanescentesda Cobertura Vegetal Naturaldo Estado de São Paulo

MODALIDADEProjeto do Biota-FAPESP

COORDENADORJOÃO BATISTA BAITELLO -Instituto Florestal

INVESTIMENTOR$ 127.875,00

Caracterização e Quantificaçãoda Matéria-Prima Florestal(Pinus e EucaliptoJno Estado de São Paulo

MODALIDADEPolíticas Públicas

COORDENADORFRANCISCOJOSÉ DO NASCIMENTOI<RONKA- Instituto Florestal

INVESTIMENTOR$ 218.476,00

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Área de contato na fazendaBarreira Rico: cerradocercado pela mataestacional semidecidual

densa que a savana típica;savana arborizada (cam-po cerrado), com predo-mínio de vegetação her-bácea, principalmentegramíneas, e pequenasárvores e arbustos bas-tante espaçados entre si;e savana gramíneo-lenho-sa (campo), constituídapor uma vegetação her-bácea, sem árvores.

Mangue - Vegetação en-contrada em áreas emque as águas do mar e derios se misturam, adapta-da à salinidade elevada eao solo lodoso.

"Cerrado, em inglês, corresponderia auma vegetação mais fechada, como ocerradão", observa Baitello. "Temosagora um padrão mais universal, qua-se o nome científico de cada tipo devegetação:'

ferior a 60 dias). Também chamada demata de araucária ou pinheiral. • Os trechos em que esses tipos bási-

cos de vegetação se misturam aparecemno mapa como contatos, também cha-mados de áreas de tensão ecológica. Hánove contatos - entre Savana e FlorestaOmbrófila Mista ou entre Savana e Flo-resta Estacional Semidecidual, porexemplo -, por sua vez divididos emdois grupos. Quando as espécies real-mente se entrelaçam, formam-se oschamados ecótonos, nos quais as carac-terísticas originais de cada tipo de vege-tação se perdem. Há também os cha-mados encraves, nos quais um tipo devegetação - a Savana, digamos - formailhas cercadas por outro tipo - umaFloresta Estacional Semidecidual, porexemplo.

O que fazer com os nomes antigoscomo Mata Atlântica ou Cerrado?Ainda podem ser usados, claro, emboraagora tenham se tornado claramentegenéricos. •

Floresta Estacional Semidecidual -Caracteriza-se por duas estações cli-

. máticas, uma chuvosa e outra seca, quecondicionam o comportamento dasplantas: entre as árvores, de 20 a 50%perdem as folhas durante o períodoseco (dois a três meses). Abrange os tre-chos de Mata Atlântica encontradosno interior do Estado de São Paulo.

Agora são cinco as categorias bási-cas da vegetação paulista:

Floresta Ombrófila Densa - São os tre-chos de Mata Atlântica encontrados aolongo do litoral, em regiões de tempe-ratura elevada (médias de 25° Celsius)e chuvas intensas e bem distribuídas aolongo do ano, praticamente sem esta-ção seca. Inclui, como ecossistema as-sociado, a restinga, que ocorre ao longode praias e planícies costeiras.

Savana (Cerrado) - Vegetação adaptadaa regiões normalmente planas, com cli-mas secos (um a quatro meses semchuva) e solos pobres e ácidos. Apre-senta-se sob quatro formas distintas:savana típica (cerrado stricto sensu),com arbustos e árvores de até 7 metrosde altura, caules e galhos tortuosos re-cobertos por casca espessa; savana flo-restada (cerradão), com árvores de até12 metros de altura, mais fechada e

Floresta Ombrófila Mista - Situada emregiões com altitudes de 1.200 a 1.800metros, chuvas bem distribuídas aolongo do ano e período seco curto (in-

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Biblioteca deRevistas Científicasdisponível na Internetwww.scielo.org

Notícias• Polímeros

Carros de plásticoAs peças plásticastêm sua importân-cia reconhecida comoparte integrante dosautomóveis por tra-zerem economia, se-gurança e flexibili-dade para o produtofinal. Considerandoo volume do material, atualmente é utilizado mais plás-tico do que aço na construção de um automóvel, em razãodo grande número de aplicações que os polírneros encon-traram nesse produto. A média de 30 quilos de polímerosempregada por veículo, na década de 70, passou a repre-sentar cerca de 180 quilos no final da década de 90 e esti-ma-se que nos próximos cinco anos esse valor ultrapasseos 200 quilos. Por conta disso, o artigo Polímeros e a Indús-tria Automobilística propõe uma discussão sobre a dispo-nibilidade de fornecimento de matérias-primas por par-te da indústria de polímeros no Brasil, com o objetivo deidentificar a intensidade do uso do material pela indústriaautomobilística brasileira. O artigo apresenta inicialmenteuma classificação dos polímeros, de acordo com suas ca-racterísticas técnicas e econômicas e, em seguida, faz umaexplanação sobre os principais tipos desse material comaplicação em automóveis. O trabalho traz também umpanorama do relacionamento existente entre a indústriaautomobilística e a indústria de polímeros, em nível inter-nacional, e como essa interação ocorre no Brasil.

POLIMEROS - VOL.13- N° 2 - SÃo CARWS- ABR./JUN.2003

www.scielo.br/scie 10. php?scri pt=sci_arttext&pid=SO 104-14282003000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

• Saúde

Consciência coletivaO artigo Oficinas de Prevenção em um Serviço de Saúde

para Adolescentes: Espaço de Reflexão e de ConhecimentoCompartilhado analisa os resultados de um projeto de ex-tensão universitária realizado em um serviço público desaúde da cidade de Londrina, no Paraná. O programaofereceu atendimento integral a cerca de 850 adolescentespor mês, entre 1999 e 2001, com o objetivo de diminuir avulnerabilidade sociocultural dos jovens. O trabalho de

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prevenção justificou-se pelo aumento dos índices de gra-videz não planejada entre meninas, pelos altos índices deinfecção de doenças sexualmente transmissíveis (DST),Aids entre elas, e pelo uso de drogas. As oficinas repre-sentaram um espaço de reflexão sobre assuntos relacio-nados à sexualidade, temas dificilmente discutidos com afamília ou na escola. De acordo com a Organização Mun-dial de Saúde (OMS), cerca de 50% das novas infecçõespor HIV no mundo ocorrem na adolescência. Segundo aúltima pesquisa feita sobre o assunto pelo Ministério daSaúde, em 1999, do total de indivíduos sexualmente ati-vos pesquisados, 76% não usam preservativo. Porém aavaliação dos trabalhos de prevenção de gravidez e DSTvoltados para adolescentes tende a ser negativa se o espe-rado for a mudança de comportamento, sobretudo nouso do preservativo. Nesse caso, os autores propõem al-gumas alternativas para minorar o problema, como adiminuição de metáforas negativas relacionadas à Aids,aumento dos espaços de discussão para que os jovenspossam refletir sobre os riscos vividos por eles partindode suas próprias experiências e das dificuldades de optarempor práticas de proteção, além da eliminação gradativa demedos e tabus. Segundo os autores do estudo, o ideal se-ria promover um processo de educação sexual exercidonão como uma espécie de domesticação dos indivíduos,mas como uma oportunidade de auto-reflexão.

CrENCIA &.SAODE COLETfVA - VOL.8 - N°2 - SÃoPAUW2003

www.sciélo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232003000200021&Ing=pt&nrm=iso&tlng=pt

• Agricultura

Colheita com precisãoFornecer a fazendeiros meios precisos e de baixo custo

para prever variações na produção de cacau, de modo aauxiliá-Ios na tomada de decisões de caráter estratégico,foi o objetivo principal do trabalho Previsão de ProduçãoAgrícola Baseada em Regras Linguísticas e Lógica Fuzzy, detrês pesquisadores do Departamento de Engenharia Elé-trica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janei-ro (PUC-Rio). O artigo propõe um método que comple-menta a previsão por amostragem, permitindo que ofazendeiro avalie o impacto das suas decisões de tal for-ma que ele consiga melhorar sua margem de lucro. O sis-tema fuzzy, que não exige do produtor conhecimento téc-nico específico, ajusta a estimativa amostral de previsão àmedida que ocorram fatos que afetem a produção. As-sim, o produtor pode reavaliar a previsão de sua colheita

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a qualquer instante. O programa desenvolvido pode serutilizado para simulações de casos, proporcionando umaavaliação do impacto de uso dos recursos financeiros doprodutor. Depois de o sistema ser avaliado por especialis-tas, o próximo passo será testá-Io em condições reais.

de autocuidado, mobilidade e função social. Foram reali-zados testes para comparar os grupos e avaliar fatores deinteração entre idade versus patologia. O estudo concluiuque o desempenho funcional de crianças com SD é infe-rior ao de crianças normais. Entretanto, as interaçõesentre patologia e faixa etária revelaram que esse desem-penho não se mantém constante ao longo do desenvolvi-mento. O estudo mostra que a diferença entre os gruposapresenta-se mais evidente aos dois anos, e, em algumasáreas, essa diferença é menos evidente aos cinco anos deidade. Tal fato apresenta-se como uma maneira de se carac-terizar o atraso apresentado por criança com SD, indi-cando que ele sofre influência direta da idade. Os resul-tados poderão ser utilizados por profissionais da área desaúde para nortear os processos de avaliação e interven-ção, além de ser usados para informar os familiares decrianças portadoras de SD sobre as prováveis conse-qüências desta patologia nas idades investigadas. Alémdisso, o estudo indica as áreas de desempenho e perfis etá-rios onde o atraso apresentado por estas crianças é maisevidente.

SBA CONTROLE & AUTOMAÇÃO - v.14 - N° 2 - CAMPINAS- ABRILI/UN. 2003

www.seielo.brlseielo .php?seri pt=sei_arttext&pid=S01 03-17592003000200003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

• Química

Reciclar é precisoO artigo Processamento da Pasta Eletrolítica de Pilhas

Usadaspropõe uma discussão so-bre os possíveis meios seguros deaproveitamento de pilhas e bate-rias usadas, visto que o descarteem aterros nada mais é do queadiar um grave problema am-biental para o futuro. "Apilha é umtípico exemplo de produto tec-nológico desenvolvido para pro-porcionar conforto e bem-estar ànossa civilização, mas que não levou em conta o períodoapós seu consumo", afirmam os autores. Segundo o estu-do, o processamento de baterias usadas com objetivo dereciclar componentes é uma tarefa muito complexa doponto de vista experimental. Para reciclar a pasta eletrolí-tica, o problema que se coloca é o desmonte mecânico daspilhas, um dispositivo eletroquímico que tem a capacida-de de converter energia química em elétrica, e a possívelseparação dos materiais que a compõem. Outra questãoque dificulta a reciclagem das pilhas e baterias como umprocesso economicamente viável seria a implementaçãode uma coleta seletiva eficaz. Sendo assim, por falta deuma conscientização coletiva ambiental em todo o mun-do, os autores propõem que não somente se tenha umacoleta seletiva e um destino final seguro, mas que se de-senvolvam novas tecnologias de pilhas que sejam compa-tíveis com um ambiente mais saudável para a humanida-de. Estima-se que, levando em conta toda a populaçãomundial, haja um consumo da ordem de 10 bilhões depilhas por ano.

QUIMICA NOVA - v.26 - N°4 - SÃo PAULO- /uU AGO.2003

www.seielo.br/seielo. php?seri pt=sei_arttext&pid=SO 100-40422003000400022&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

• Psiquiatria

Desempenho infantilO estudo Comparação do Desempenho Funcional de

Crianças Portadoras de Síndrome de Down (SD) e Criançascom Desenvolvimento Normal aos 2 e 5 Anos de Idade reu-niu 40 crianças para serem avaliadas pelo teste funcionalPEDI. O teste quantifica o desempenho infantil nas áreas

ARQUIVOS DE NEURO-PSIQUIATRIA - VOL.61 - N° 2B - SÃOPAULO- JUN.2003

www.seielo.br/se ie Io.php?se ript-sct , arttext&p id=SOO04-282X2003000300016&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

• Endemia

Vice-campeãoO Brasil só fica atrás da índia em número de casos de

hanseníase no mundo, doença infecciosa crônica causadapelo Mycobacterium leprae. "Aproximadamente 94% doscasos conhecidos nas Américas e 94% dos novos diag-nosticados são notificados pelo Brasil': diz Marcelo GrossiAraújo, do Serviço de Dermatologia da Faculdade de Me-dicina da Universidade Federal de Minas Gerais, em seuartigo Hunseniase no Brasil. Segundo o estudo, a moléstiapossui características peculiares que tornam seu diagnós-tico simples na maioria dos casos. O tratamento da hanse-níase compreende quimioterapia específica, eliminaçãodos surtos reacionais, prevenção de incapacidades físicase reabilitação física e psicossocial. Pesquisas envolvendoesses tratamentos mostraram que a perspectiva de con-trole da doença no Brasil é real a curto prazo. Por conta dis-so, ao longo das últimas décadas as taxas de prevalênciada doença no país têm declinado ano a ano, resultado daconsolidação do tratamento poliquimioterápico. Entre-tanto, as taxas de detecção de novos casos ainda são eleva-das. No final de 2000, havia 4,6 casos para cada grupo de10.000 brasileiros. ''A expectativa é de que se alcance ameta de eliminação da doença em 2005, quando a preva-lência deverá ser inferior a um caso a cada 10.000 habi-tantes': escreveram os autores do artigo.

REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL

- VOL.36 - N° 3 - UBERABAMAIOI/UN.2003

www.seielo.br/seielo .php?seri pt=sei_arttext&pid=S0037-86822003000300010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

PESQUISA FAPESP 91 • SETEMBRODE2003 • 61

I1I

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ITECNOLOGIA

• LINHA DE PRODUÇÃO MUNDO

Transformações na emissão de luzUma nova maneira de ge-rar luz fosforescente prome-te revolucionar os meios deiluminação artificial conhe-cidos. Pesquisadores dos la-boratórios da Sandia - cor-poração do grupo LockheadMartin -, nos Estados Uni-dos, usaram pontos quânti-cos - nanopartículas semi-condutoras que medemcerca de um bilionésimo demetro - para criar o primei-ro dispositivo emissor deluz branca em estado sóli-do. "O intuito de nosso tra-balho': diz a coordenadorado projeto, Lauren Rohwer,em comunicado da assesso-ria de imprensa da Sandia,"é conhecer a física da lumi-nescência em escala nanomé-trica e estender esse conheci-mento ao desenvolvimento

• Ovelhas e gansosentre as vinhas

A procura por produtos ali-mentícios orgânicos que nãorecebem pesticidas e herbici-das e privilegiam os adubosnaturais chegou até os vinhos.A tendência, que já correspon-de a 3% da produção mundialcom mais de duas mil marcas,está aumentando na AméricaLatina. Depois das Vinícolas

Pontos de luz: nanopartículas semicondutoras

de fontes de luz mais eco-nômicas e eficientes." Defato, até o momento, o queimpede a produção em es-cala de sistemas de ilumina-ção à base de materiais se-micondutores são os altoscustos. Os chamados LEDs

Santa Iulia, na Argentina, como vinho Vida Orgânica, VelhoMuseu, no Brasil, com o Ca-bernet Sauvignon Iuan Car-rau e Vifia Carmem, no Chi-le, com o Nativa, chegou a vezda também chilena Viria Ca-no Sur. Até o final do ano, aempresa colocará à venda oprimeiro lote desse tipo de vi-nho, que será uma mistura deuvas Cabernet Sauvignon eMerlot. Para a empresa, o ma-

(diodos emissores de luz),por exemplo, conseguememitir luz azul, verde e ver-melha, mas necessitam dechips muito caros para com-binar as cores e obter luzbranca. O novo dispositivofunciona de maneira dife-

nejo integrado @ uma opçãopermanente para garantir assoluções naturais e o uso mí-nimo ou nulo de produtossintéticos. Por isso, tudo é re-aproveitado, desde a água atéoutros rejeitas como os restosda vinificação (cascas princi-palmente) que são usados co-mo adubo. Fungos inertes àsvideiras são usados para ma-tar fungos e insetos inimigos.A maior novidade no vinhe-

~ rente. Os pontos quânticos;;l conseguem absorver eficien-

temente a luz na faixa decomprimento de onda pró-xima do ultravioleta. Encap-sulados em silício ou epóxi,são estimulados por LEDsemissores de radiação ultra-violeta a irradiar luz visível.Como a cor emitida depen-de do tamanho da superfí-cie que cada emissor possui,basta alterar esse tamanhopara obter a cor desejada.Além disso, como os pon-tos quânticos são tão mi-núsculos que 70% de seusátomos se concentram nasuperfície, fica fácil sinto-nizar suas propriedades deemissão de luz, de modo quecores diferentes possam seremitidas por um único pon-to de qualquer tamanho. •

do da Cano Sur são os habi-tantes que passeiam por entreas fileiras de parras: ovelhas,gansos, patos e perus. Alémde dissiparem seus rejeitasque funcionam como fertili-zantes naturais para a planta-ção, eles também se alimen-tam dos insetos. O vinhoorgânico vai seguir os preçosbaixos dessa bebida no Chile.Cada garrafa vai custar algoem torno de R$ 17,00. •

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• o menor motorelétrico do mundoQuinze anos depois da cons-trução do primeiro motor emescala micrométrica por umaequipe da Universidade daCalifórnia, em Berkeley, AlexZettl, outro físico da casa,anunciou, em julho, a criaçãodo primeiro nanomotor - ba-sicamente, um rotor de ourocompacto o suficiente para gi-rar na haste de um nanotuboe viajar nas costas de um ví-rus. "É o menor motor já sin-tetizado pelo homem", dizZettl. ''A natureza conseguefazer alguns ligeiramente me-nores, mas estam os chegandolá", disse em comunicado dauniversidade. Já era possívelequipar nanotubos com tran-sistores, mas esse novo sis-tema é diferente e pode sercontrolado, pois ele gira epermite a ligação a fios elétri-cos externos. A peça inteiranão tem mais de 500 nanô-metros, ou 300 vezes menosque o diâmetro de um fio decabelo humano. A parte quegira mede 300 nanômetrosde comprimento e pode serencaixada em um nanotubode aproximadamente 5 a 10nanômetros de espessura.Não faltam pretendentes pa-ra as aplicações. Como podeser posicionado em qualquerângulo, seria muito útil, porexemplo, para redirecionar aluz nos circuitos ópticos oumisturar líquidos em escalamicrométrica. Desbanca dacondição de menor motorelétrico do mundo o chama-do sistema microeletromecâ-

nico (MEMS). Fabricado emsilício, em 1988, pela equipedo professor Richard Muller,da mesma universidade, oMEMS, com seus 100 micrade comprimento, apenas em-pata com o diâmetro de umfio de cabelo humano. •

• Plataformaproduz metanol

Extrair gás natural dofundo do mar e produzirmetanol em uma plata-forma flutuante é o obje-tivo de um megaprojetoque está em execução porum consórcio de duasempresas sul-africanas, oPetroWorld, e mais duasempresas norte-america-nas, a Foster Wheeler e aWaller Marine. Será aprimeira usina desse tipoem escala comercial. Ela vaiextrair gás natural em reservasremotas em alto mar e con-vertê-lo num montante de 12a 15 mil toneladas de metanollíquido por dia. O combustí-vel poderá ser transportadoem navios-tanques comuns eterá preços baixos. Vai servirprincipalmente às usinas deprodução de energia elétricanorte-americanas. A platafor-ma vai custar US$ 700 mi-lhões e será instalada inicial-mente na costa oeste daÁfrica. A intenção do grupoempreendedor é instalar pla-taformas semelhantes na cos-ta litorânea de países quenão têm condições econô-micas de construir usinasde extração de gás e de pro-dução de metanol •

Rosto é a senha de acesso

300

280

260

240

220

200o

Sombra projetada porfonte luminosa permite

medir volume da face

Uma nova forma de reco-nhecimento do ser huma-no, pelo rosto, poderá embreve ser usada para libe-rar o acesso aos cofres deuma agência bancária oumesmo a locais controla-dos, como presídios. Ba-tizado de Projeto Sorface,esse sistema, coordenadopelo professor Jorge Mu-niz Barreto, do Departa-mento de Informática e deEstatística da Universida-de Federal de Santa Cata-rina (UFSC), permite re-conhecer a face humanaem três dimensões, damesma maneira como épercebida pelo olho hu-mano, enquanto os ou-tros métodos existentesbaseiam-se em imagensbidimensionais. O mode-lo tridimensional obtidoé comparado a outrospreviamente armazena-

dos no banco de dadosdo computador. Para cap-tar a imagem, são utiliza-das uma câmera digital euma lâmpada que fun-ciona com uma espéciede rede sobre a fonte lu-minosa. A sombra da re-de projetada sobre a faceé deformada conforme orelevo do rosto. A partirdas linhas da rede, umprograma faz cálculos quefornecem o volume dorosto e o reconhecem nu-ma fração de segundo. •

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Pássaros distantes de curlos-circuitoso joão,.de-barro(Furna-rius rufus), um pássaroencol)trado em grandequantidade na cidade para-naense de Coronel Vtv,ida,quase na fronteira com oEs~do de Santa Catarina,havia elegido os postesde. eletricidade para fazerseus ninhos,provocapdoconstantes interrupçõesde energia. Isso ocorriaporque. o diligente pássa-ro escolhia a Cruzeta(locàlonde ficam os isoladores)de sustentação das linhaspara construir -sua mora-dia, feita de barro úmido e

. pàlha. Ao se. movimentar,encostava no cabo, provo-cauda um curto-circuitoque, além de ser fatal pa-

• Chip acústico paracontrolar percevejo

Os sons emitidos pelos per-cevejos-da-soja, uma pragaque causa grande devastaçãoagrícola,estão sendo gravadose reproduzidos para seremutilizados no controle dessesinsetos.Quando estão na fasede acasalamento, os perceve-jos se comunicam por meiode ondas sonoras produzidaspor movimentos no abdo-me. "Elas lembram o coaxarde sapos, mas são inaudíveisao ouvido humano", explicao pesquisador Miguel Bor-ges, coordenador da equipeda Embrapa, a Empresa Bra-sileira de Pesquisa Agrope-cuária - Recursos Genéticose Biotecnologia, em Brasília,que há mais de 15anos estu-da a comunicação entre inse-tos. "Os machos e as fêmeasemitem ruídos diferentes e

João-de-barro fazninho em postes, __ ••

protegidos comafastador (detalhe)

ra ele, ativava a proteção darede.éíétrica, interrompen-do o fornecimento de ener-gia. A solução encontrada

cada espécietem um padrão:'Segundo o pesquisador, sãocinco as espécies de perceve-jos que atacam a soja, sendotrês as principais. Os sonscapturados são reproduzi-dos e ampliados de 20 a 30vezes em laboratório. A idéiade Borgesé colocar essessonsem chips, que funcionariamcomo uma minicaixa acús-tica para atrair os insetosem armadilhas previamentepreparadas. •

pela Porcel, empresa res-ponsável pelo fornecimen-to de energia à cidade, foiconstruir-um "afastador de-

• Secagem comchaminé solar

Pesquisadoresmineiroscome-çaram a testara chaminésolar,que tradicionalmente funcio-na como usina de produçãode energia elétrica,para secaralimentos como café,tomate,banana, uva, maçã e abacaxi.O protótipo da chaminé, com12 metros de altura e 25 dediâmetro em sua base, foiconstruído por Cristiana San-

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joão-de-barro': A peça emfibra de vidro é instaladana cruzeta, impedindo queo pássaro construa sua casamuito perto dos cabos darede primária de forneci-mento. "Indicamos ao pás-saro o melhor lugar paraele fazer a construção", diz

.J o. engenheiro Roberto..•:i Lang, da Porcel. Colo-e

cado em postes locali-zados próximos a bei-ras de ríqs, riachos elagoas, áreas onde ojoão-de-barro encon-tra a matéria-prima pa-ra fazer seu ninho, o

afastador tem evitado queacidade fique às. escurase permitido ao passarinhoprocriar sem sustos. •

tiago eAndré Ferreira,alunosde doutorado em engenha-ria mecânica da Universida-de Federal de Minas Gerais(UFMG).Os principais bene-ficiados pela novidade serãoos pequenos agricultores,quenormalmente não usam ne-nhum tipo de secador e porisso têm grandes perdas dealimentos. Segundo o coor-denador do projeto, MárcioFonte-Boa Cortez, as medi-das ainda não são definitivas,uma vez que há carência dedados detalhados de tempe-ratura, umidade e velocidadede secagempara cada tipo dealimento. "Partimos de idéiasteóricas, portanto matemáti-cas, para estabelecer as me-didas adequadas", diz Fonte-Boa Cortez. A construção doprotótipo custou R$ 13 mil,financiados pela Fundação deAmparo à Pesquisa de MinasGerais (Fapemig). •

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• Energia eólicaoxigena água

Apenas a energia do vento ésuficiente para colocar em fun-cionamento um aparelho queoxigena a água de tanques decriação de peixes e Camarõese pode também ser usado notratamento biológico de eflu-entes. O aerador de pás flu-tuante, acionado por uma tur-bina eólica de pequeno porte,foi desenvolvido pela empresa

Turbina eólica movimentapás do aerador flutuante

gaúcha Hyperlogic Automa-ção de Sistemas. De constru-ção simples, com duas peçasmóveis, o Jangada 2000, co-mo foi batizado o aparelho, édurável e tem baixo custo. Etem grande potencial parasubstituir os aeradores acio-nados por motores elétricos."O maior diferencial desseequipamento é que não gas-ta energia': diz Sérgio Severo,diretor da Hyperlogic. O dis-positivo flutuante simplifi-ca a forma de orientação daturbina eólica contra o vento.O controle da velocidade daturbina é feito por mergulhoprogressivo das pás e a orien-tação ocorre via movimen-tação completa da torre. •

PatentesInovações financiadas pelo Núcleo de Patenteamento e Licenciamento

de Tecnologia (Nuplitec) da FAPESP. Contato: [email protected]

Resina produzida pelas abelhas tem vários compostos

• Identificação daprópolis brasileiraProcesso químico e separa-ção dos mais diferentes ti-pos de substâncias presentesna própolis brasileira uti-lizando duas técnicas defracionamento, a de croma-tografia líquida de alta efi-ciência e a de cromatografiagasosa acoplada à espectro-metria de massas. Essasduastécnicas permitem identifi-car e quantificar com preci-são os diferentes compostospresentes nessa resina. Apósa identificação e quantifi-cação de distintos marca-dores de própolis, um soft-ware desenvolvido para essefim classifica a própolisanalisada de acordo comum conjunto de tipos pre-viamente estabelecidos.

Título: Processo para Se-paração e Identificação deSubstâncias Químicas emPrópolis BrasileirasInventor: Maria CristinaMarcucci RibeiroTitularidade: FAPESP/Uniban

• Reagentes químicospara análises

Processo de síntese e carac-terização de novos reagen-tes químicos (silanos con-tendo grupos do tipo uréia),para posterior utilização namodificação química dasílica cromatográfica. Es-sas sílicas quimicamentemodificadas são utilizadascomo fase estacionária emcromatografia líquida dealta eficiên~ia, técnica ana-lítica que pode ser empre-gada em diferentes ramosda química. Os silanos dotipo uréia são preparadosem uma única etapa e en-volvem a reação de apenasdois reagentes, enquanto osdo grupo carbamato, bas-tante utilizados para a mes-ma finalidade, necessitamde várias etapas, o que au-menta os custos.

Título: Novas FasesEstacio-nárias para CromatografiaLíquida, ContendoGruposPo-lares do Tipo Uréia Inseridosna Cadeia n-alquila, para aSeparaçãoe a Purificação de

CompostosBásicosInventores: Claudio Airoldi,Isabel Cristina Sales FontesJardim e CésarRicardo SilvaTitularidade: FAPESPIUnicamp

• Elementos ópticosmais eficientes

Os elementos ópticos di-frativos (EODs) são dispo-sitivos ópticos "moldado-res" de ondas luminosas. OsEODs podem ser obtidospor intermédio de relevosgravados na superfície deum material transparen-te, reflexivo ou de padrõesgravados em filmes foto-gráficos. Grande parte dosEODs modula a fase daluz incidente e em algunscasos sua amplitude, masnão ambos. Para contornaressa limitação, foi desenvol-vido um novo elemento óp-tico difrativo capaz de rea-lizar a modulação completade frente de luz. Esse ele-mento foi fabricado comtécnicas precisas, de baixocusto e bem estabelecidaspara uso na fabricação decircuitos eletrônicos inte-grados, obtendo-se 100%de eficiência lumionosa.

Título: Elemento Ópticocom Modulação ComplexaCompleta de Frentes deOndade Luz, e seu Processode ObtençãoInventores: Luiz GonçalvesNeto, Ronaldo DominguesMansano, Giuseppe AntonioCirino, Patrícia Soares PintoCardona e Patrick BernardVerdonckTitularidade: FAPESP/USP

III

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• TECNOLOGIAENGENHARIA DE MATERIAIS

PrótesesdemamOna

Polímero derivado de óleo vegetal,sintetizado por químico de São Carlos,ganha mercado internacional

DINORAH ERENO

Ritade Cássia Xavier da Costa, 46 anos, há três evitava sairde casa para ir ao mercado, a reuniões com amigos e atéprocurar emprego. A reclusão só foi quebrada no final dejunho deste ano, depois de ela passar por uma cirurgia dereconstrução da mandíbula que lhe devolveu a antiga for-

ma do rosto. "Sou outra depois da cirurgia. Perdi o medo de encontraras pessoas, voltei a rir e a mastigar comidas sólidas", conta essa mora-dora de Petrópolis, na serra fluminense. A matéria-prima utilizadapara refazer o maxilar de Rita, corroído por um tumor, é um políme-ro, material semelhante ao plástico, que tem como base o óleo da ma-mona, planta arbustiva muito disseminada pelo Brasil. A síntese dessematerial, que pode ser chamado de biopolímero porque tem alta capa-cidade de interação com as células do corpo humano. e não provoca ca-sos de rejeição como a platina usada até aqui nos maxilares e em ou-tras partes do corpo, é de autoria do professor Gilberto OrivaldoChierice, do Instituto de Química de São Carlos, da Universidade deSão Paulo (USP) ..

O invento de Chierice recebeu, em junho deste ano, a aprovação daFood and Drug Administration (FDA), a agência do governo norte-americano responsável pela liberação de novos alimentos e medica-mentos. Esse certificado abre as portas para o maior mercado do mun-do na área de saúde e garante visibilidade científica e comercial em todoo planeta. No Brasil, o Ministério da Saúde já havia aprovado o bioma-terial em 1999, oito anos depois de iniciados os trabalhos de Chiericenessa área. Ao longo desse tempo mais de 2 mil pessoas - vítimas de aci-dentes com armas, carros, motos e de tumores - foram beneficiadascom próteses para substituir ossos nas mandíbulas, no crânio e na faceou, ainda, como suportes na coluna cervical, no lugar dos testículos, nopênis, nos globos oculares e nas gengivas.

Para conceder a aprovação, a FDA fez testes químicos e biológicos,como o de citotoxicidade (para avaliar se o produto é tóxico ao organis-mo), e uma série de outros que já haviam sido realizados no Brasil. A cer-tificação da agência norte-americana não é nada barata. O custo de US$400 mil foi bancado pela empresa Doctors Research Groups (DRG), dePlymouth, no Estado de Connecticut, que vai distribuir o produto nos

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Estados Unidos e no Canadá. O interes-se deles pelo polímero da mamona sur-giu quando médicos brasileiros foramconvidados a apresentar nos EstadosUnidos cirurgias experimentais com onovo material. Representantes da DRGestiveram em uma dessas apresentaçõese entraram em contato com Chierice.Em setembro do ano passado, foram aSão Carlos pela primeira vez para co-nhecer o produto e, depois disso, volta-ram outras sete vezes ao país, em algu-mas delas para acompanhar cirurgiasde vários grupos médicos.

"Fizeram muitas perguntas e quise-ram ver tudo, mas valeu a pena porquecom o certificado poderemos exportarpara outros países':comenta calmamen-te Chierice, enquanto pica fumo de cor-da para enrolar um cigarro de palha, ri-tual que repete várias vezes ao longodo dia. Para comercializar o produto, oprofessor criou em 1997a empresa Po-liquil, instalada em Araraquara, e depo-sitou a patente do invento no InstitutoNacional da Propriedade Industrial(INPI) em seu nome, no mesmo ano. Aempresa é dirigida desde então por trêstécnicos que trabalhavam com ele. Se-gundo cálculos de Chierice, as exporta-

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ções do polímero de mamo na, apenaspara os Estados Unidos, devem resultarnuma receita de cerca de US$ 500 milpor ano para a Poliquil.

Opolímero registrado noBrasil como compostoósseo de ricinus (COR),em referência ao nomecientífico da planta (Ri-

cinus communis), recebeu nos EstadosUnidos o nome de RG Kryptonite, pa-lavra que lembra o planeta de origemdo Super-Homern, famoso persona-gem das histórias em quadrinhos e deséries da TV e do cinema. O nome, em-bora não confirmado pela empresa, re-laciona o efeito da kriptonita, o metalque tira a força do homem de aço, como biopolímero que deve ganhar merca-do, enfraquecendo as próteses de metal.O material produzido pela Poliquil é

exportado em forma de kit, com duasampolas, compostas de poliol e pré-po-límero extraídos do óleo de semente demamona, os produtos desenvolvidospelos pesquisadores, mais o carbonatode cálcio, misturados apenas no mo-mento em que serão usados.

O sucesso do biopolímero é expli-cado pela compatibilidade que ele temcom o organismo humano. "Na com-posição química desse material existeuma cadeia de ácidos graxos cuja estru-tura molecular está presente nas gordu-ras existentes no corpo humano. Porisso, as células não 'enxergam' a resinade mamona como um corpo estranho enão a repelem': explica Lizeti ToledoRamalho, professora da Faculdade deOdontologia de Araraquara da Univer-sidade Estadual Paulista (Unesp). Aspesquisas realizadas na USP,na Unesp ena Poliquil proporcionaram sucesso no

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exterior mesmo antes da aprovação daFDA."A área em que mais utilizamosessenovo produto foi em cirurgias decoluna, com mais de 500 intervenções,realizadaspor seis grupos distintos decirurgiões", conta Jorge Viscovig, dis-tribuidor do produto no Chile e naArgentina, onde foram feitas cerca de1.700 cirurgias com o polímero. Emuma dessas intervenções, uma argenti-na de 60 anos com fraturas na colunavertebral em decorrência de osteopo-rase, uma doença que desgasta natu-ralmenteos ossos, livrou-se da dor cer-ca de 40 minutos depois de receber aresina de mamo na na forma líquida.Injetadodentro dos ossos com uma se-ringa, por uma técnica conhecida co-movertebroplastia, o líquido viscoso decor amarelo-claro preencheu os espa-çoscorroídos pela doença e se solidifi-cou.Dessaforma, ocorreu a fixação das

fraturas e a paciente sentiu alívio ime-diato da dor. Chierice ressaltaque a van-tagem desse material em relação ao ci-mento acrílico, bastante utilizado nessetipo de procedimento, é contribuir pa-ra a regeneração óssea, e não apenaspara imobilizar a fratura.

;

EISSO mesmo, o osso se rege-nera. Num processo bioquí-mico ainda não totalmenteexplicado,o organismo subs-titui o polímero por células

ósseas. "Ele vai se desmembrando e oosso cresce no lugar", conta Sérgio Au-gusto Catanzaro Guimarães, professoraposentado da Faculdade de Odonto-logia de Bauru, da USP,e coordenadorde pesquisa da Universidade do Sagra-do Coração, da mesma cidade. Eleusouem suas pesquisas a resina para reco-brir defeitos ósseos do crânio e da face.

A capacidade do biopolímero de -rege-nerar ou não o osso está relacionadacom a forma como ele é preparado.Conforme o arranjo molecular dassubstâncias que formam o material, eletanto pode ser absorvido ou não peloorganismo. Esse fator é ressaltado porpesquisadores e cirurgiões que traba-lham com o polímero de mamona,como o médico Edelto dos Santos An-tunes, de Petrópolis. Em agosto, ele re-construiu parte da mandíbula de umpaciente com o polímero em duas tex-turas diferentes. "A parte externa, maisdura, vai ficar sempre como pró tese. Ainterna, que fica em contato com o ossoe é porosa, vai ser substituída por umaestrutura óssea",relata o especialista emcirurgias maxilo-faciais, que já fez 30pró teses com o polímero de mamonanos últimos quatro anos, todas feitaspelo Sistema Único de Saúde (SUS) noHospital Santa Teresa,de Petrópolis.

A resina de mamona surge tambémcomo uma boa promessa na área esté-tica. Uma das linhas de pesquisa maisrecentes mostra que o polímero temgrande potencial, em forma de fiosmui-to finos, para amenizar rugas de ex-pressão e combater a flacidez da pele.

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"Esses fios já foram implantados comexcelentes resultados em animais de la-boratório", diz Lizeti, da Unesp. Paraela, o fio de biopolímero é candidatopotencial a substituir o fio feito de po-lipropileno, um plástico derivado dopetróleo, desenvolvido na Rússia em1999. "O fio russo é muito utilizado porcirurgiões plásticos. Depois de introdu-zido na face por meio de uma cânula,permanece no tecido conjuntivo daderme por tempo indeterminado", rela-ta. "Mas o fio de resina de mamona temmaior biocompatibilidade e não provo-ca rejeições ou alergias como o de poli-propileno", ressalta a pesquisadora, queem agosto apresentou resultados desuas pesquisas para cirurgiões plásticosem um workshop em Araraquara.

Rugas e mandíbulas nempassavam pela cabeça deChierice quando ele ini-ciou os primeiros estudosque resultaram no ecléti-

co polímero. Tudo começou em 1984,quando o Centro de Pesquisa e Desen-volvimento (CPqD), da Telebrás, a entãoholding estatal das telecomunicaçõeslocalizada em Campinas, enfrentavaproblemas com uma resina importadautilizada para proteger da umidade oscabos telefônicos subterrâneos e aéreos.Como estavam se degradando antes dotempo, a empresa procurou o Institutode Química da USP para que avaliasseo material. "Comecei a analisar a resinae concluí que podia fazer coisa melhor",conta Chierice. Era um trabalho previs-to para durar seis meses que foi, depois,estendido para um contrato de três anoscom a Telebrás. "Fizemos um polímeronovo para eles, derivado da mamona,com resultados fantásticos:'

A pesquisa teria provavelmente pa-rado por aí não fosse o interesse que oproduto despertou no começo da déca-da de 90 em um médico do HospitalAmaral de Carvalho, de Iaú, no interiorde São Paulo, instituição que é referên-cia no tratamento de câncer. "Duranteuma visita à USP de São Carlos, o uro-logista Renato Prado Costa, que na épo-ca era diretor clínico do hospital, ficouentusiasmado com a novidade e propôsque fizéssemos algumas pró teses de tes-tículos, para substituir as de silicone,então em uso no hospital': conta Chie-rice. As próteses foram feitas e enviadaspara testes no hospital da Faculdade de

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Dispersão domésticao óleo de mamona, também co-

nhecido no Brasil como óleo de ríci-no, possui uma enorme versatilidadequímica dentro do ramo industrial.Ele pode ser utilizado na indústriade plásticos, de cosméticos, tintas evernizes, na siderurgia, além de serindispensável para impedir o conge-lamento de combustíveis e lubrifi-cantes de aviões a baixíssimas tempe-raturas. Extraído das sementes de umarbusto herbáceo da família das eu-forbiáceas, também conhecido comocarrapateira, o óleo de mamona foilargamente utilizado no Brasil comolaxante e vermífugo.

A existência de um grande nú-mero de variedades dessa planta, en-contradas tanto no continente afri-cano como no asiático, impossibilitaqualquer tentativa de se estabelecersua origem efetiva. Sementes encon-tradas em túmulos mostram que amamona já era utilizada pelos egíp-cios há pelo menos 4 mil anos. Naantiga Grécia, alguns filósofos men-cionaram em seus escritos o empre-go do óleo de mamo na no Egito pa-ra iluminação e na produção deungüentos. ''A mamona é sempre en-contrada onde existem aglomeradoshumanos, indicativo de dispersão do-

retiradas e as análises mostraram per-feita compatibilidade com o organismo.Prado Costa decidiu aprofundar as pes-quisas. "Coloquei 50 pares de prótesesde testículos e 12 penianas, e não foi re-latada nenhuma rejeição", conta. Quasedez anos depois, alguns pacientes ain-da estão com as próteses. Prado Costadiz que conseguiu seu objetivo. "Mos-trei que o polímero é biocompatível eserve para a confecção de pró teses parauso médico': relata. "Sem contar que asde polímero custam até 15% menosque as de silicone,"

Paciente recuperado - Os relatos dasbem-sucedidas experiências chamarama atenção de especialistas em câncer decabeça e pescoço de [aú, que tambémqueriam experimentar o material. Al-gumas modificações nos arranjos dasmoléculas tornaram o polímero mais rí-gido, possibilitando implantes de man-díbulas, por exemplo. Chierice contaque se emocionou quando viu um pa-ciente no Hospital Amaral de Carvalho,que tinha perdido metade da mandíbu-la por causa de um câncer, morder umbife após receber uma pró tese com opolímero. Outro caso semelhante é deAlexandre do Nascimento, um motoris-ta de 30 anos que recebeu o mesmotipo de prótese depois de passar umbom período com inchaços e doresprovocados por um tumor. "Eu comopão, carne e não sinto diferença. Quan-do vou a churrascos, não faço cerimô-nia", relata. "As pessoas não acreditam

Medicina Veterinária de Botucatu, daUnesp. Depois de algum tempo, PradoCosta procurou Chierice para dizer queo material tinha propriedades desco-nhecidas, que precisavam ser estuda-das. Isso porque, segundo o relato dopessoal de Botucatu, o coelho que rece-beu o polímero não apresentou nenhu-ma rejeição. "Até então não se falavaem biocompatibilidade do polímero",diz Chierice. Foram feitos experimen-tos em ratos, porcos e cachorros e os re-sultados confirmaram a experiência como coelho. A partir desse momento, ostestes em humanos foram iniciados.

Prado Costa pediu a Chierice ql.refizesse várias pró teses de testículos, des-tinadas a pacientes terminais com cân-cer de próstata. O urologista conversoucom as famílias dos pacientes, que au-torizaram o procedimento. Quando ospacientes morreram, as pró teses foram

o PROJETO

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Caracterizações de PolímerosPoliuretanos Derivados de Óleode Mamona para ser Utilizadona Área Médica

MODALIDADELinha regular de auxílio à pesquisa

COORDENADORGILBERTO ORIVALDO CHIERICE - IQSC-USP

INVESTIMENTOR$ 99.245,00

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méstica" diz Márcia Barreto de Me-deiros Nóbrega, pesquisador da Em-presa Brasileira de Pesquisa Agrope-cuária, na Embrapa Algodão, emCampina Grande (PB), que trabalhacom melhoramento genético de olea-ginosas. "De Porto Alegre (RS) a Ta-batinga (AM), essa é a situação ob-servável em todo lugar que passo:' Aplanta foi trazida ao Brasil pelos por-tugueses, com a finalidade de utilizarseu óleo para iluminação e lubrifica-ção de eixos de carroças. O clima tro-pical facilitou o seu alastramento.

Durante décadas o Brasil mante-ve o posto de maior produtor e ex-portador mundial de óleo de ma-mona. Mas nos últimos anos perdeuo primeiro lugar e ficou atrás daíndia e da China, respectivamente.Na safra 200112002, o Brasil produ-ziu 82.200 toneladas de bagas (se-mentes) de mamona, com uma pro-dução média de 651 quilos porhectare, segundo dados da Compa-nhia Nacional de Abastecimento(Conab). Desse total, a Bahia produ-ziu 75.700 toneladas.

Utilizada desde o antigo Egito, a mamonaganhou espaço em várias aplicações industriais

que tenho uma pró tese, porque me ali-mento bem e a cicatriz é pequena."

O trabalho de reconstrução de man-díbulas e crânios com o polímero é fei-to em parceria com pesquisadores daFaculdade de Engenharia Mecânica daEscola de Engenharia de São Carlos(EESC), também da USP. Cabe a eles atarefa de projetar e calcular cada deta-lhe da prótese feita sob medida, como olocal exato de encaixe do parafuso quepermite a articulação da mandíbula. Oprimeiro passo do trabalho é obter umatomografia do local que vai receber opolímero. Essa imagem, trabalhada emcomputador, vai para uma máquina deprototipagem, onde a prótese é produ-zida em plástico rígido, para em segui-da ser feito um molde em silicone e naetapa final ser confeccionada no polí-mero. "Quando o paciente vai para amesa de cirurgia, a pró tese já estápronta, personalizada", diz o professorlonas de Carvalho, da EESC. "A inter-

venção, que demorava de 16 a 17 horaspelo método tradicional, leva, em mé-dia, duas horas com esse procedimen-to." Pelo processo antigo, todas as me-dições e acertos da nova prótese eram

. feitos na própria sala de cirurgia. Semcontar que a platina, material utilizadonesse tipo de prótese, pode ser rejeitadapelo organismo, e a mamo na não.

Material modificado - Os estudos en-volvendo o polímero são um capítulo àparte nessa trajetória. Pelos cálculos deChierice, hoje são mais de 200 traba-lhos publicados e cerca de 40 mestradose doutorados, nas áreas de medicina,odontologia, veterinária e engenharia.Parte dos estudos do professor tambémfoi financiada pela FAPESP por meiode um auxílio à pesquisa.

A profusão de estudos sobre o polí-mero da mamo na produziu soluçõesainda não imaginadas pelos pesquisa-dores ligados à produção de próteses.

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Uma delas está no potencial bacterici-da e fungicida do biomaterial, reveladopelas professoras Izabel Froner, da Fa-culdade de Odontologia da USP de Ri-beirão Preto, e Izabel Yoko Ito, da Fa-culdade de Ciências Farmacêuticas damesma universidade. Essa pesquisa re-sultou no registro de dois novos pro-dutos bactericidas, o endoquil, usadono tratamento de canais dentários, e operioquil, para aplicação na periodon-tia (gengivas).

Isolador barato - Na área de engenha-ria elétrica, mais um uso inédito. Mis-turado a outros materiais, o biopolíme-ro foi aprovado como isolador elétricopara redes de alta tensão. "Fizemos umisolador usando a resina e, para melho-rar suas cacterísticas mecânicas e térmi-cas, colocamos diferentes aditivos, comoareia e sílica", conta o professor Ruy Al-berto Correa Altafim, da EESC. "Conse-guimos com esses aditivos baratear cus-tos e manter as características elétricasdo material': diz Altafim, que já reque-reu a patente do isolador polimérico.

Mesmo com tantos resultados ani-madores, nenhuma empresa se dispu-nha a investir no polímero até a meta-de da década de 90. Chierice decidiuentão criar as condições para produziro polímero comercialmente, ainda queem pequena escala. Na mesma época, oprefeito de Araraquara pensava em ins-talar empresas de base tecnológica nomunicípio. Bastou uma reunião paraque a Poliquil tomasse forma. SegundoAntônio Rossi, um dos sócios, hoje aspeças são elaboradas de acordo com anecessidade. "O médico tem a idéia enós projetamos a peça." São 300 itenscatalogados. Outro produto da fábricade Araraquara é uma variedade usadacomo adesivo em filtros de bomba ex-tracorpórea, aparelho que faz a filtra-gem de sangue em cirurgias.

Quando se ouve Chierice e outrospesquisadores falando a respeito dospossíveis usos do biopolímero pareceque ele é uma panacéia para tudo. Masna verdade ele é fruto da pesquisa aca-dêmica que mobilizou estudiosos devárias universidades paulistas e agora setransforma em produtos para a socie-dade. Mas a história desse óleo vegetalparece que não pára aqui. Dado o inte-resse despertado pelo polímero de ma-mona, os pesquisadores ainda prome-tem muitas surpresas. •

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• TECNOLOGIA

mais encontradas na natureza, como ahemoglobina, responsável pelo trans-porte de oxigênio no sistema sanguí-neo, e a insulina, que controla os níveisde glicose no sangue.

Segundo Garratt, não há nada simi-lar no mundo. Por isso, ele fez o pedidode patente no Brasil,no Instituto Nacio-nal de Propriedade Intelectual (INPI),em fevereiro deste ano. Atualmente, eletenta fazer o mesmo com a patente in-ternacional. "Assim que completarmoso processo da patente internacional va-mos estudar a forma de produção e devenda do kit no Brasil e no exterior",dizGarratt. Três formas de comercializa-ção estão em estudo: venda direta, cria-ção de uma empresa para produzir evender ou o licenciamento. "No Brasilainda está indefinido, mas no exterioracredito que o melhor caminho é o li-cenciamento', comenta o professor. Porenquanto, o kit não foi mostrado a ne-nhuma empresa. "Estarnos realizandoalgumas modificações nos moldes eainda não podemos produzir as peçasem grande escala:' Em alguns meses, noentanto, o produto deve estar à venda.O preço não está definido, mas nãodeve ser caro. Para Garratt, seja qual fora forma de comercialização, o intuitoé disseminar o uso do kit em univer-sidades e escolas do ensino médio noBrasil."Não queremos que o preço seja

DIFUSÃO

D . -I me n 50 e5

a proteínaPesquisador desenvolve kit compeças de plástico que mostram as estruturasprotéicas em forma tridimensional

ALESSANDRO GRECO

Umadas conseqüências domapeamento do geno-ma humano e de outrosprojetos semelhantes éo aumento da necessida-

de de estudar as proteínas, compostosorgânicos constituídos de longas ca-deias de aminoácidos e codificados pe-los genes encontrados em todos seresvivos. São responsáveis por várias fun-ções químicas no corpo humano, da di-gestão ao transporte de oxigênio e a re-produção. Um dos maiores problemasde cientistas e estudantes é justamentevisualizar como essas proteínas se rela-cionam e se grudam umas às outras. Adificuldade tem uma razão simples: ascadeias de aminoácidos são estrutura-das em três dimensões. Olhar para umafigura em duas dimensões em um livroe imaginá-Ia no espaço não é tarefa tri-vial. Exige muito treino. Pensando emdiminuir o tempo de aprendizado e fa-cilitar a vida de quem pesquisa essassubstâncias, um professor inglês radi-cado no Brasil, o bioquímico RichardGarratt, do Instituto de Física de SãoCarlos (IFSC), da Universidade de SãoPaulo (USP), resolveu criar um mode-lo concreto capaz de representar asproteínas no espaço tridimensional. Oresultado é um kit de proteínas forma-do por peças de plástico coloridas quesimbolizam as estruturas protéicas

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uma barreira para a aquisição do mate-rial': diz.

A inspiração para criar o materialveio durante o congresso da SociedadeBrasileira de Bioquímica e Biologia Mo-lecular (SBBq) de 2001, realizado na ci-dade de Caxambu (SP). "Eu estava nabeira da piscina do Hotel Glória e a pro-fessora Glória Franco, da Universida-de Federal de Minas Gerais (UFMG), meperguntou se não seria possível reprodu-zir um tipo de modelo de estrutura atô-mica, que já existe há anos no mercado,por um preço bem mais barato, lembraGarratt. "Eu respondi que era possível,mas comecei a pensar que seria muitomais interessante fazer algo diferente.Uma coisa que ninguém tivesse feitoantes e que não estivesse disponível nomercado. Foi assim que tive a idéia."

~

onversa o fez lembrar dasdificuldades em explicarpara seus alunos de pós-graduação como é umaproteína em três dimen-

sões. A preocupação não é nova. Ele jáhavia tentado outros artifícios. Quandocomeçou a dar aulas no IFSC há 11anos, três após chegar ao Brasil, ele im-provisou alguns modelos. "Eu compra-va alguns metros de fios de cobre emcasas de construção e fazia o dobramen-to. Isso significa produzir dobras com amão ao longo do fio de forma que o re-sultado represente o percurso da cadeiade aminoácidos no espaço tridimensi-onal. A idéia é mostrar que a estruturacompacta da molécula está intima-mente relacionada com a sua atividadebiológica." Na verdade, dobrar os fiosfoi também um aperfeiçoamento deuma idéia mais antiga que Garratt viuna Inglaterra. "Dobrar os fios com asmãos foi inspirado na minha orienta-dora de mestrado Ianet Thornton, ago-ra diretora do European BioinformaticsInstitute, na cidade de Cambridge, naInglaterra. Ela costumava dobrar tirasde metal para ilustrar o dobramento deproteínas, só que era difícil de dobrar,além de freqüentemente provocar cor-tes nos dedos", lembra Garratt.

Design e produção - Após a reunião daSBBq, Garratt sedimentou a idéia e re-solveu sofisticar seu modelo. Ele apre-sentou o projeto para a professora LeilaBeltramini, coordenadora de difusãodo Centro de Biotecnologia Molecular

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Estrutural (CBME), um dos dez Cen-tros de Pesquisa, Inovação e Difusão(Cepids) financiados pela FAPESP.Leilagostou do projeto e a dupla, jun-to com a equipe do CBME, começou atrabalhar no design das peças. Em oitomeses, os primeiros protótipos dosmoldes começaram a sair da máqui-na injetora de plástico do Centro de Di-vulgação Científica e Cultural (CDCC)da USP de São Carlos, que está traba-lhando em parceria com o Cepid noprojeto do kit.

Com as pnmeIras peças,Garratt decidiu testar a'eficácia do produto naprática. Elee outros mem-bros do CBME têm apre-

sentadoworkshops em eventos da SBBqe da Sociedade Brasileira de Genética(SBG),propondo um desafio para osalunos presentes (30 a 40 em média):construir uma proteína com as peçasdo kit. Os resultados são animadores.Apósos 20 minutos da apresentação, amaioria dos alunos consegue comple-tar a tarefa em uma hora. O teste já foifeitocom mais de 200 alunos que pre-encheram também um questionárioaofinal do desafio. Nele, 87% das pes-soasdisseram que o kit é de fácil ma-nuseio,99% que ele é capaz de desen-volvero raciocínio reflexivo e 97% que

facilita a assimilação de conceitos. Opróximo passo é testar o kit no ensi-no médio, uma idéia que faz parte doprojeto original de Garratt.

Os kits, no entanto, podem ter usosnão previstos pelo professor. Por exem-plo, professores estão querendo utilizaro kit para ajudá-los em seus trabalhosde pesquisa. "O professor da Universi-dade Yale,dos Estados Unidos, ArthurHorwich viu o kit e disse que pretendeusá-lo para ajudar na visualização daestrutura da proteína fibrosa amilóideassociada a várias doenças como o malde Alzheimer,"diz Garratt.

Na mesma época que criou o kit deproteínas, Garratt teve uma outra idéiainspirada na observação de uma brin-cadeira de seu enteado. "Aovê-lo jogan-

o PROJETO

do supertrunfo, um bara-lho com cartas com dife-rentes carros, tive a idéia defazer o mesmo com ami-noácidos", conta. Nessejogo, cada jogador escolheuma característica do veí-culo que quer apostar(velocidade máxima, porexemplo) e coloca a cartana mesa. Quem possuir ocarro com a maior velo-cidade ganha a rodada.Existem ainda baralhosequivalentes para aviões,motos e agora um comaminoácidos que recebeuo sugestivo nome de Ami-notrunfo. Para quem estu-da a estrutura de proteínasé muito importante co-nhecer as características fí-sico-químicas dos ami-noácidos, mas também émuito chato decorá-Ias. Oaminotrunfo busca tornar

essa tarefa mais atraente. "Idéias pareci-das formuladas por outros membrosda equipe devem levar a novos produ-tos em futuro próximo."

Kits de proteína

MODALIDADECentros de Pesquisa,Inovação e Difusão (Cepids)

COORDENADORRICHARD GARRATT - Centrode Biotecnologia MolecularEstrutural (CBMEl

INVESTIMENTOR$ 80.000,00

Tripé reforçado - Os trabalhos realiza-dos por Garratt, no entanto, não seriampossíveis sem o apoio e financiamentodo Cepid. "Ele foi muito importante,pois nos obrigou a pensar no que po-deríamos contribuir para a difusão doconhecimento." E completa: "O grandemérito do Cepid neste caso é contem-plar o tripé pesquisa (estrutura protéica),difusão (kit usado para criar uma novaforma de ensinar) e inovação (transfe-rir a tecnologia para produção).

Paralelamente ao trabalho deGarratt, Leila fez um kit de DNA. Aidéia surgiu independentemente dokit de protéinas na mesma época etem o mesmo objetivo: facilitar a vidade alunos e professores na sala deaula. Leila fez também uma análise deaproveitamento do uso do kit comprofessores e alunos de universidadese do ensino médio e os resultados fo-ram semelhantes aos obtidos peloprofessor. O desenvolvimento do kitde proteínas, no entanto, não acabou.Ele deve ainda criar um CD para ex-plicar o seu uso e melhorar o manualpara facilitar a utilização entre alu-nos do ensino médio. •

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ITECNOLOGIA

INFORMÁTICA

Máscaras na InternetSistema desenvolvido na U FMGpermite controlar a privacidadena rede mundial de computadores

LILIANE NOGUEIRA

Pouca gente se dá conta damaior facilidade em mantera privacidade no mundo realdo que no, cada vez maiscomplexo, mundo on-line.

Além dos hackers que invadem com-putadores de usuários e servidores, ospróprios provedores (empresas que hos-pedam sites e contas de e-mails) e qual-quer endereço na Internet também po-dem coletar dados, de forma sistemática,com a finalidade de personalizar servi-ços ou de bisbilhotar a vida alheia. Aoacessar a rede mundial de computado-res, o usuário pode, por meio do preen-

chimento de formulários, fornecer da-dos pessoais como endereço, telefone,número da identidade ou do cartão decrédito, além de dar informações, semsaber, sobre seus interesses, costumes,compras e preferências pessoais. Preo-cupados com a perda de privacidadedos milhões de internautas que aces-sam a Internet e não querem ser identi-ficados, pesquisadores do Departa-mento de Ciência da Computação daUniversidade Federal de Minas Gerais(UFMG) desenvolveram um sistema quepermite navegar pela rede com maisprivacidade, protegidos por "máscaras".

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Uma máscara é um tipo de pseudô-nimo associado a um grupo de pessoasque compartilham um mesmo tema deinteresse, em vez de estar associada a umindivíduo específico. Assim, de formaautomática, o usuário ao se conectar aum site sobre turismo, por exemplo, ficaligado a um grupo identificado ao te-ma, no próprio provedor. Os mantene-dores do site registram a visita do gru-po e não do usuário que poderá receberinformações personalizadas, se for o ca-so, sem nenhum tipo de identificação.

O trabalho da equipe da UFMG ga-nhou notoriedade. Foi capa da revista

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o programaserá gratuitoe deverá estarfinalizado atéo final do ano

Security&Privacy (Segurança e Priva-cidade), uma das mais importantespublicações da área nos Estados Unidos,editada pelo Institute of Electrical andElectronics Engineers ou Instituto de En-genheiros Eletricistas e Eletrônicos, orga-nização mais conhecida pela sigla IEEE,que reúne 380 mil membros em 150 paí-ses, nas áreas de engenharia, telecomu-nicações e computação. O artigo Masks:bringing anonymity andpersonalization together(Máscaras: conjugandoanonimato e personaliza-ção) foi escrito pelos pes-quisadores Virgílio AI-meida e Wagner MeiraJ únior, professores daUFMG, e pela doutorandaLucila Ishitani. O protóti-po estará disponível comosoftware livre, de formagratuita, para usuários einstituições - universidades, governo,empresas e provedores - ainda este ano.

sa um site. "Na verdade, a identificaçãodo internauta é realizada usando recur-sos do navegador, tanto do Netscapequanto do Explorer" diz Meira Iúnior,explicando que os cookies estão atrela-dos a eles. Outra forma de ser identi-ficado é através do endereço IP, In-ternet Protocol, que é o registro dosusuários nos respectivos provedorespresente em todas as interações do usu-

ário na rede.Atualmente, o inter-

nauta pode facilmente re-correr a ferramentas paranão ser identificado, co-mo as que desativam oscookies nos próprios na-vegadores, mas fica total-mente anônimo, o que,em alguns casos, dificultaa navegação pela rede daInternet. "As ferramen-tas de anonimato barram

qualquer informação, enquanto a más-cara filtra, mas deixa passar informa-ções que possam ajudar': explica Almei-da. "Um pouco de exposição é benéficae contribui para a melhoria dos servi-ços", complementa Meira [únior, "É ocaso das empresas de telefonia celular,que monitoram todos os movimentosdo telefone, traçam o perfil dos usuáriose lançam planos e pacotes promocio-nais que atendem a maioria dos clien-tes", exemplifica. "As compras nas livra-rias virtuais também podem ficar maisinteressantes se você deixar claro as suaspreferências. Os programas Instaladosno site registram o perfil literário e en-viam preciosas dicas aos clientes virtuais':lembra Almeida, que testou os mecanis-mos de formulação das máscaras nosite de uma livraria eletrônica real.

Mensagens detestáveis - Por outrolado, não faltam motivos para preocu-pação com a privacidade na internet."Existem empresas nos Estados Unidosespecializadas em capturar dados, tra-çar perfis, rnapeá-los e vendê-los', con-ta Almeida. Se hoje as informações sãovoltadas para o marketing direto queentopem as caixas de mensagens dos"selecionados" com os detestáveis spams- e-mails não solicitados e nem autori-zados -, nada impede a essas empresasespecialistas de rastrear as idas e vindasdos surfistas da Internet que decidammudar o foco e ultrapassar os limitesda publicidade personalizada.

Como na rede é possível coletardados em quase todas as operações,inclusive nos correios eletrônicos, essas"inocentes" empresas voltadas para omarketing digital podem estender a cli-entela e passar a vasculhar dados médi-cos em hospitais ou empresas de segu-ros saúde para atender a finalidadesque os usuários desconhecem. Isso semfalar nos projetos desenvolvidos pelogoverno norte-americano que prevêemdetectar comportamentos, considera-dos suspeitos por eles, de pessoas emqualquer lugar do planeta.

Seguro e personalizado - A estruturade máscaras desenvolvida pelos pes-quisadores de Minas Gerais é seguraporque gera uma identificação tempo-rária e anônima, que o usuário adotaenquanto navega, impossível de ser re-cuperada pelos sites e outros progra-mas. Um mesmo usuário recebe váriasidentificações, dependendo dos locaisvisitados. Ao acessar um site que iden-tifica os visitantes, por exemplo, seusdados estarão totalmente protegidos eapenas a identificação da máscara, quenão contém nenhum dado do usuário,será capturada. No entanto, a máscaraoferece informações que podem ajudara personalização dos serviços dos sites.

O sistema é inovador porque selecio-na o grau de privacidade. Como esseconceito é, além de cultural, muito pes-soal, o próprio internauta decide os da-dos pessoais que podem circular pelarede. Em linhas gerais, a arquitetura dasmáscaras funciona com dois recursos:o agente de privacidade e o servidor demáscaras. O agente fica instalado namáquina do usuário e tem a finalidadede negociar com o servidor a máscaramais adequada ao site eventualmentevisitado, além de alertar sobre o nívelde ameaça à privacidade. O servidor, quepode estar em qualquer lugar da rede,tem a função de armazenar as másca-ras e selecioná-Ias de acordo com o sitevisitado. Uma caixa de diálogo alertasobre os dados colhidos pela páginaacessada na Internet e dá a chance aousuário de controlar informações quenão quer revelar. Em determinadas si-tuações, as máscaras devem ser desa-tivadas. "Nos sites seguros, como os debanco, onde a identificação é funda-mental, temos que abrir mão do anoni-mato para usufruir dos serviços on-line', lembra Almeida. •

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Perfil valioso - O problema da falta deprivacidade na Internet é grave porquemuitos internautas desconhecem que arede mundial aloja programas ca-muflados, capazes de monitorar ocomportamento e traçar o perfil dosusuários. O simples fato de acessar umportal já é o suficiente para ser identi-ficado. Segundo Almeida, os pop-ups,aquelas janelinhas com publicidade quese abrem na tela independente da esco-lha do usuário, além de irritantes, iden-tificam de forma compulsória os com-putadores conectados à página, antesmesmo de serem fechados. Não é ne-cessário nenhuma ação do internautàpara que exista essa invasão. Quanto aosbanners (os espaços de publicidade den-tro de um site), basta clicar sobre elese,automaticamente, as informações so-bre a máquina podem ser capturadas.

Uma das formas de monitorar ocomportamento e preferências dosusuários é através dos cookies - arqui-vos armazenados por sites no compu-tador do usuário - com o objetivo detornar possível identificar o internautaque acessa as páginas virtuais, bem co-mo recuperar as atividades anterioresdesse usuário, arquivadas no servidordo site. Esses arquivos são instalados nocomputador do usuário, independenteda vontade do mesmo e sem que ele se-quer perceba, no momento em que aces-

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ITECNOLOGIA

AGRICULTURA

o melhor do lixoSoftware e nova metodologia deanálise indicam a qualidade docomposto orgânico usado como adubo

YURI VASCONCELOS

Umdos recursos usadospor pequenos agricul-tores para adubar asplantações é a adoção docomposto orgânico ob-

tido a partir do lixo urbano. Preparadopor usinas de triagem e compostagema partir de restos de comida, frutas,verduras e legumes e vendido a preçosbem menores que os adubos conven-cionais, o composto é bem aceito prin-cipalmente por quem cultiva hortali-ças. Embora utilizado desde a décadade 70, quando foram instaladas asprimeiras usinas no país, até hoje não

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existe uma legislação específica queestabeleça normas para aplicação agrí-cola desse produto. Com baixa quali-dade, ele pode contaminar os alimentoscom microorganismos, como vírus ebactérias, e provocar sérios danos am-bientais, como a contaminação dosolo e do lençol freático por metais pe-sados e nitratos, substâncias oriundasprincipalmente dos dejetos humanose animais.

Ciente do problema e sabendo dasreclamações dos agricultores, um gru-po multiinstitucional de pesquisadoresresolveu estudar a fundo os compostos

urbanos. Além de estabelecer um sis-tema de análise que pode servir parauma futura normatização do produtono país, eles criaram uma sistemáticapioneira embutida em um software ca-paz de analisar o composto de lixo ur-bano (CLU). Ele informa quais as subs-tâncias existentes em cada amostra deuma usina e fornece indicações sobreseu uso na agricultura.

A equipe é formada por pesquisa-dores ligados à Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa), Es-cola de Engenharia de Piracicaba (EEP),Escola Superior de Agricultura Luiz de

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Queiroz (Esalq), da Universidade deSão Paulo (USP), Universidade Esta-dual de Campinas (Unicamp), Univer-sidade de Taubaté (Unitau) e InstitutoAgronômico de Campinas (IAC). Boaparte das pesquisas que serviram de basepara o desenvolvimento do programafoi financiada pela FAPESP.

O recém-criado software, batiza-do de SistemáticaInteligente para Reco-mendação ao Uso de Composto de LixoUrbano na Agricultura (Sirclua), pro-porcionará um controle maior sobre aqualidade do composto feito no país eauxiliará os produtores rurais no em-prego adequado desse adubo orgânicocom toda segurança ambiental. Usadoaté agora no âmbito da universidade, oprograma passa atualmente por umaadaptação para o uso nas usinas decompostagem.

O primeiro acordo para uso comer-cial do sistema deverá ser fechado coma Urbanizadora Municipal (Urban), aautarquia que administra a coleta delixo,o aterro sanitário e a usina de com-pastagem da cidade de São José dosCampos (SP).Asnegociaçõesestão bemadiantadas. "Queremos controlar maisdeperto o nosso composto, dando maissegurança aos agricultores que o uti-lizam",afirma José Roberto Bráulio deMelo, gerente do Departamento de Tra-tamento de Resíduos da Urbano

O contrato, no valor de R$ 55 mil,prevê o fornecimento do programa pa-ra análise do produto obtido na usina

e também o desenvolvimento de pa-drões para uso do CLU em parques,jardins e na agricultura. A usina decompostagem de São José dos Camposproduz 40 toneladas de composto pordia, que é vendido por R$ 20 a tonela-da. "Nosso composto foi o primeiro etalvez ainda seja o único registrado noMinistério da Agricultura. Nunca re-cebemos denúncias de contaminaçãopor metais pesados", afirma Melo. Talfato é comprovado pelos resultados depesquisa do grupo.

tabeleceuum procedimento padrão parao uso agrícola da compostagem."

Segundo o agrônomo, o em-prego de composto de lixourbano na agricultura trazgrandes benefícios não sópara os produtores, mas tam-

bém para o meio ambiente. "Com autilização do CLU,o agricultor faz umagrande economia, porque substitui ofertilizante químico, que responde por30 a 40% do custo de produção, peloadubo orgânico, muito mais barato",diz ele.Além disso, o composto é umaexcelente alternativa para o processode reciclagem. "Ele fecha o ciclo de vidados elementos que compõem a fraçãoorgânica do lixo,contribuindo para ali-viar a carga poluidora dos aterros sa-nitários, dobrando a vida útil dessesambientes", diz Fábio Silva.

A vantagem da obtenção do com-posto é livrar os aterros dos problemasadvindos da parte orgânica do lixo,eliminando situações desagradáveis,como a exalação de odor, a formaçãode gases e de chorume (líquido mal-cheiroso), que podem gerar risco deimpacto ambiental no local, além deatrair e proporcionar o aumento dapopulação de ratos, baratas, mosqui-tos e outros insetos.

Por enquanto, o Sirclua está capa-citado para emitir recomendações deuso do composto em dez diferentesculturas: arroz, feijão, cana-de-açúcar,

Níveis aceitáveis - "O sistema Sircluaestá capacitado para avaliar a qualida-de do composto, apontando se ele estáou não dentro dos padrões mínimosdesejáveispara o cultivo de cada produ-to agrícola",explica o engenheiro agrô-nomo Fábio César da Silva,pesquisadorda Embrapa Informática Agropecuá-ria e um dos responsáveis pela criaçãoe coordenação da base de conhecimen-to do sistema. O programa avalia, entreoutras coisas,a estabilizaçãofísicae bio-lógica da matéria orgânica, os níveisaceitáveis de metais pesados, os valoresde nitrogênio, fósforo e potássio pre-sentes no composto e a eficiênciado usodos nutrientes nas lavouras. "O progra-ma também faz uma recomendação deadubação, indicando a quantidade a serusada para determinado solo ou vege-tal e, se for o caso, se deve ser comple-mentado com fertilizantes químicos.Desse modo, a equipe acredit~ que es-

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o programarecomendaa quantidadede compostopara cada soloe vegetal

triticale (cereal híbrido entre o trigo eo centeio), milho, mandioca, aveia, al-face, beterraba e chicória. Tudo nascondições de solo de grande parte doEstado de São Paulo. "Aquantidade docomposto a ser usada pelo agricultor ea necessidade ou não de uma suple-mentação química com suas respectivasquantidades vão depen-der do solo e da culturaonde vai ser aplicado",explica o engenheiroagrônomo Ronaldo Se-veriano Berton, pes-quisador do InstitutoAgronômico de Campi-nas (IAC), um dos inte-grantes do grupo. "Comessa ferramenta, inéditano Brasil e talvez naAmérica Latina, criamospadrões de qualidadeque poderão ser usadosna formatação de uma legislação sobrecompostagem no Brasil",diz.

No futuro, a intenção dos pesquisa-dores é oferecer o programa na Inter-net para que qualquer usina ou produtorrural possa acessá-lo gratuitamente."Para manter-se atualizado, o programaé complementado na medida em que oconhecimento sobre novas aplicaçõesna agricultura forem gerados", conta oengenheiro agrícola Luiz Henrique Ro-drigues, da Faculdade de EngenhariaAgrícola da Unicamp, que coordenouo trabalho de desenvolvimento e im-plementação do software.

Compostagem paulistana - O novo pro-grama será muito útil nos locais ondesão produzidos os CLUs mais proble-máticos encontrados pelos pesquisa-dores. "Asduas usinas de compostagemda cidade de São Paulo, de Vila Leo-poldina e de São Mateus, e a de SantoAndré, por exemplo, não operam deforma adequada. Os produtores ruraisdo cinturão verde de São Paulo recla-mam do composto produzido pelasduas usinas paulistanas que os abaste-cem': comenta Silva."O composto e opré-composto (fase em que o produtoainda não foi devidamente 'curado',considerado apenas um lixo pré-trata-do) feitos por elas têm uma grandequantidade de material inerte, comopedaços de vidro, plástico e cerâmica.Até agulhas e cabeça de boneca já fo-ram encontradas nele."

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Opinião semelhante tem o engenhei-ro agrônomo José Carlos Chitolina,professor aposentado da Esalq e vice-diretor da Escola de Engenharia de Pi-racicaba. No final dos anos 90, ele fezum exaustivo trabalho de caracteri-zação química do composto produzi-do pelas três unidades paulistas. "Nas

nossas pesquisas, con-cluímos que, quandocomparado aos pa-drões definidos pela le-gislação de vários paíseseuropeus, como Alema-nha, Itália, França, Suí-ça e Áustria, o compos-to das usinas paulistascontinha teores de me-taispesados,como cobre,zinco, níquel, chumboe, principalmente, cád-mio, acima dos níveisaceitáveis,o que deveria

inviabilizar o uso desse material naagricultura", diz Chitolina. "Mas, infe-lizmente, ele era destinado ao cinturãoverde de São Paulo sem monitoramen-to ambiental e sem uma sistemática decontrole."

"Ashortaliças, por exemplo, devemusar compostos produzidos de lixo decoleta seletiva com índices de metalmuito mais baixos do que os apresen-tados nas amostras coletadas." No tra-balho de Chitolina, o chumbo no pré-composto da Usina de Vila Leopoldinaapresentou um índice 20% maior queo aceitável.Segundo os pesquisadores.ashortaliças devem receber apenas com-postos provenientes de lixo coletado se-letivamente porque se consegue reduzirbastante o risco de contaminação commicroorganismos e os índices de metaispesados ficam muito mais baixos.

O agricultor Manuel dos Santos,ex-presidente da Associação dos Pro-dutores de Hortaliças de Arujá e Região(Apro-Horta), dono de uma proprie-dade rural de 36 mil metros quadra-dos onde cultiva folhagens comestíveis,confirma a duvidosa qualidade do ma-terial enviado pelas usinas. "O compos-to vem bruto, com muito material es-tranho. Depois que o recebemos, somosobrigados a fazer correções e terminara compostagem, antes de aplicar nosolo. Caso contrário, com o passar dotempo, a saúde do trabalhador ficariacomprometida e a terra ficaria inutili-zada em função da grande quantidadede vidro, plástico e metais pesados quevão se acumulando no campo", contao produtor rural.

Mau cheiro e mosquitos - A qualidadedo pré-composto produzido na usinade Vila Leopoldina, localizada na zonaoeste da cidade de São Paulo, na verda-de um lixo pré-tratado, segundo os pes-quisadores, não é o único problema daunidade. O forte odor exalado pela ins-talação e a proliferação de mosquitosvêm, há muitos anos, causando insatis-fação e gerando protestos dos morado-res das redondezas. "A população sofrecom o mau cheiro da usina. Existemdenúncias de que as crianças de umaescola da redondeza chegam a passarmal durante as aulas': afirma o promo-tor do meio ambiente Geraldo Rangel,que pretende propor uma ação cívelpública pedindo o fechamento da usina.

"Tenho um laudo emitido pelaCompanhia de Tecnologia de Sanea-mento Ambiental (Cetesb) atestandoque a usina deve encerrar suas ativida-des por operar muito próxima da co-munidade e não ter condições de evi-

OS PROJETOS

Caracterização Químicade Compostos de Lixo Urbanode Duas Usinas de Compostagemda Grande São Paulo

MODALIDADELinha Regular de Auxílio à Pesquisa

COORDENADORJOSÉ CARLOSCHITOLINA - Esalq-USP

INVESTIMENTOR$ 10.375,00

INVESTIMENTOR$ 24.258,00 e US$ 1.661,00

Definição de Critérios paraAplicação de Composto deLixo Urbano em Cana-de-Açúcar

MODALIDADELinha Regular de Auxílio à Pesquisa

COORDENADORFÁBIO CÉSAR DA SILVA - Embrapa

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PRECISÁO i CONFIABILIDADEtar o mau cheiro. Estou apenas aguar-dando outras informações relaciona-das ao risco de contaminação do pré-composto para propor a ação", afirma opromotor. A equipe de pesquisa tam-bém foi convidada pelo promotor Ran-gel para dar um parecer sobre a situaçãoda qualidade do composto e a neces-sidade de medidas de correção.

Outra denúncia diz respeito às con-dições de trabalho na usina. "Elas sãopéssimas", afirma a química Maria Gri-cia Grossi, pesquisadora da FundaçãoJorge Duprat Figueiredo de Segurançae Medicina do Trabalho (Fundacentro),atualmente na Secretaria de QualidadeAmbiental nos Assentamentos Huma-nos do Ministério do Meio Ambiente,que elaborou um relatório técnico ava-liando as condições e o meio ambientede trabalho na unidade de composta-gem da Vila Leopoldina.

Odiretor do Departamen-to de Limpeza Urbana(Limpurb) da Prefeitu-ra, Fabio Pierdomenico,defende-se das acusa-

ções. Para ele, o problema do odor de-verá ser resolvido em breve. "O Lim-purb já está em fase de aditamento docontrato, que irá possibilitar a implan-tação de um sistema de neutralizaçãode odores, entre outras medidas noplano de mitigação de impactos am-bientais. Esse plano estabelece tambémo recobrimento das baias de armazena-mento de materiais recicláveis", expli-ca Pierdomenico. Quanto às denúnciasa respeito da qualidade do pré-com-posto produzido na usina, o diretor daLimpurb esclareceu que "é difícil seposicionar quando não há parâmetroslegais específicos para fração orgânicae para o composto".

Ele afirma que, segundo testes labo-ratoriais mensais efetuados nos labora-tórios da Esalq, assim como em labo-ratórios particulares, o pré-compostopossui níveis de metais pesados e bac-térias patogênicas abaixo dos preconi-zados pela Companhia de Tecnologiade Saneamento Ambiental (Cetesb), pe-la Embrapa e pela Comunidade Euro-péia.De qualquer forma, é possível dizerque o novo sistema de análise e o soft-ware serão valiosos para a produção deum composto de melhor qualidade emSãoPaulo e no país, garantindo maiorsegurança da cadeia alimentar. •

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ITECNOLOGIA

MEDICINA

Catuama~no coraçao

Patente garantemedicamento quereverte a fibrilaçãoventricular

MARCOS DE OLIVEIRA

nome comercialde Catuama.

A intenção fi-nal dos pesqui-sadores e da em-presa é chegaraté a produçãode um medica-mento intrave-noso que possaocupar o lugardo choque elétri-co. Para garantiros direitos da nova droga, os pesquisa-dores da USP, com o professor IrineuVelasco, do Departamento de ClínicaMédica, à frente, e o Laboratório Cata-rinense depositaram o pedido de pa-tente no Brasil, nos Estados Unidos, naUnião Européia e no Japão, entre osmeses de junho e agosto deste ano, queprotege o uso como desfibrilador dasplantas associadas ao Catuama: catuaba(Trichilia catígua), guaraná (Paullinia eu-pana), muirapuama (Ptychopetalum o/a-coides) e gengibre (Zingiber officinale)."Agora nós vamos estudar as fraçõesdo extrato para verificar quais deles, umou mais, têm a propriedade de cessar aarritmia", explica Velasco. "Daí vamossaber qual a molécula responsável peloefeito terapêutico."

Assim que identi-ficarem a molécula, ospesquisadores vão fa-zer os testes toxicoló-gicos e saber como é ofuncionamento gené-tico em relação às pro-teínas e aos possíveisgenes envolvidos nasdoenças cardíacas. Porfim, eles tentarão re-produzir e sintetizar amolécula em labora-

tório. Só aí ela será testada em huma-nos. Todo esse percurso deve demorarde cinco a oito anos.

Se tudo der certo nos estudosrealizados em parceria entre aFaculdade de Medicina daUniversidade de São Paulo e oLaboratório Catarinense, uma

indústria farmacêutica nacional locali-zada em Ioinville, Santa Catarina, os mé-dicos de todo o planeta vão ter nas mãosum medicamento inédito para comba-ter a fibrilação ventricular. Essa disfun-ção ocorre quando o músculo cardíacose contrai de forma desordenada e semcontrole, impedindo o bombeamento dosangue pelos ventrículos, uma situaçãopresente em várias doenças cardíacas,como o infarto do miocárdio (parede domúsculo cardíaco), ou em conseqüênciada ingestão de drogas e medicamentos.Quando jovem, abaixo dos 40 anos, achance de o indivíduo com esse tipo deinfarto apresentar a fibrilação ventricu-lar, o que pode levar a morte, é grandeporque a irrigação colateral ao múscu-lo cardíaco ainda é pouca. A salvação,hoje, se resume à aplicação em poucosminutos de um desconfortável choqueelétrico com um aparelho chamado des-fibrilador, que coloca o coração no ritmocerto. A esperança de um novo medi-camento está no extrato de um com-posto fitoterápico, produzido peloLaboratório Catarinense, que possui o

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Uso fácil - "Queremos chegar a essemedicamento inédito na forma injetávele por via oral': diz Velasco. A injeção épara os pronto-socorros e equipes deresgate que precisam reverter a fibrila-ção em casos de emergência. Os com-primidos serão úteis como preventivopara pessoas propensas a esse problemacardíaco e que muitas vezes usam desfi-briladores implantados no corpo de for-ma idêntica aos marca-passos. A adoçãode um medicamento mudaria muita coi-sa na prática da desfibrilação. "Hoje, emmuitos países, principalmente na Escan-dinávia (Noruega, Suécia e Dinamarca),

Page 83: Estresse na raiz da fertilidade

desfibriladores portáteis estão sendo co-locados em pontos estratégicos nas ruas,estações de metrô e aeroportos para usoem casos de emergência, além de treina-rem as pessoas para utilizá-los,"

A produção de um medicamento ea boa expectativa dos pesquisadores sebaseiam nos experimentos de laborató-rio executados em corações de coelhose de ratos. "Na verdade, tudo começouquase por acaso, quando testávamos oCatuama (vendido na forma líquida ouem cápsulas) para verificar possíveisdanos ao miocárdio provocados peloremédio': diz Velasco. "Os testes foramem colaboração com o farmacologistaJoão Batista Calixto, professor da Uni-versidade Federal de Santa Catarina(UFSC), que estudava em 2002 as ati-vidades antidepressivas do Catuama,confirmadas posteriormente na cap-tação e liberação das monoaminas (se-rotonina, noradrenalina e dopamina),alguns dos neurotransmissores res-ponsáveis pela regulação do comporta-mento humano. "Ajudávamos o profes-sor Calixto a fazer o controle químicodoproduto. Em um experimento, algunscoraçõesfibrilaram. Aí, aplicamos o me-dicamento para ver o que acontecia e,para surpresa nossa, a arritmia cessou':contaVelasco.

Para continuar os testes emcorações fibrilados, eles pre-cisaram desenvolver ummodelo diferente do usadonormalmente, que também

provoca o infarto. "Por meio de umatécnica desenvolvida por dois alunos deiniciação científica, Anezka CarvalhoRubim de Seles e André Ferrari de Fran-ca Camargo, sob supervisão da pesqui-sadora Vera Pontieri, que colocaram umeletrodo dentro do coração provocandoa fibrilação, conseguimos um modelo ex-cepcional para nossos testes:' Normal-mente, uma arritmia desse tipo deve serrevertida em cinco minutos. Com o Ca-tuama, o coração voltava a bater de for-ma normal dentro desse tempo. "Paranão deixar dúvidas, fizemos uma fibri-lação de 20 minutos, faixa de tempo emque não há volta à normalidade, nem comchoque elétrico. Aplicamos o Catuamae a arritmia cessava. E melhor, depoisdo remédio, mesmo excitado eletrica-mente, o coração não voltava a fibrilar."

A curiosidade científica e a necessi-dade de identificar o que estava fazen-do o coração parar de fibrilar, pois seriaimpossível aplicar diretamente o com-posto fitoterápico no coração humano,levaram os pesquisadores da USP a tes-tar cada extrato de planta do Catuama

em separado. Eles já sabem que umadas plantas é a responsável direta peladesfibrilação, mas a empresa não querdivulgar qual, mesmo com a patentedepositada no Brasil e em vários países.Nesse documento também estão cita-das outras plantas associadas, que po-dem dar uma rapidez maior à ação des-fibriladora da planta principal.

Canal de sódio - Com o extrato princi-pal em mãos, os pesquisadores fizeramtambém testes num equipamento cha-mado Patch-clamp, que serve para ana-lisar os canais das células. Esse aparelhofoi adquirido em um projeto temáticocoordenado pelo professor Velasco e fi-nanciado pela FAPESP para o estudoda solução hipertônica, um preparadocom altíssima concentração de sal (vejareportagem sobre esse assunto e as pri-meiras descobertas sobre o Catuama naedição 78 de Pesquisa FAPESP). O testerealizado com uma célula de coraçãomostrou que o extrato da planta inibeos canais de sódio e com isso produz umrearranjo dos estímulos elétricos no co-ração, fazendo o papel de desfibrilador.

O próximo passo é estabelecer no-vas parcerias para obter financiamentodas agências de fomento ou de indús-trias multinacionais que podem alocarrecursos para o avanço das pesquisas ea formatação do medicamento. "Esta-mos analisando se fechamos parceriascom outra empresa agora ou mais paraa frente", diz o médico Luc Raes, diretorcientífico do Laboratório Catarinense."De qualquer forma, não vamos abrirmão do controle das pesquisas, que de-verão ser feitas no Brasil e sob a super-visão dos professores Velasco e Calixto."

Raes calcula que até o desenvolvi-mento completo de um produto sinté-tico, testado em humanos e com o me-dicamento pronto para ser colocado nomercado, sejam gastos de US$ 200 mi-lhões a US$ 500 milhões durante umperíodo de até dez anos. O LaboratórioCatarinense fatura R$ 35 milhões porano e 3% desse montante é investido empesquisa, além de financiamentos obti-dos em parceria com outras instituições.Da receita, 85% é proveniente de fito te-rápicos como o Catuama e o xarope ex-pectorante Melagrião. "O restante vem demedicamentos como sulfas e analgési-cos e de uma linha fitoterápica consti-tuída de monodrogas como o Gingkobiloba, por exemplo:' •

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I HUMANIDADES

ILUSTRAÇÃO ,---------------------~-----------------------c-~~-~~- ...-> ••-.-~.,·, ~

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ComédiatropicalPesquisa recuperaa divertida e críticaepopéia satíricade Manuel de AraújoPorto-Alegreem A Lanterna Mágica

CARLOS HAAG

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o malandro médico 6::2:;/' /Ndh/ ,MJ4M h,,,/,, "" /o,,::;;::.,: ;";" ',","",',,''',,';"'''//h, ""'/j-'''

em sua versãofrancesa (acima)

e na versão nacional

Rir é o melhor remédio, emespecial para aquelas coi-sas que não parecem terremédio. Esse misto de es-perança idealista e cinismo

pessimista alimentou uma experiênciatão pioneira quanto pouco conhecidada imprensa alternativa no Brasil doséculo 19, a revista A Lanterna Mágica,editada no Rio de Janeiro entre 1844 e1845, redigida solitária e anonimamentepelo escritor, pintor arquiteto, cenógra-fo, poeta, dramaturgo, ensaísta e, ufa,caricaturista Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879). Em 23 números (aidéia era que durasse 366 "atos"), a revis-ta, nos moldes dos trabalhos de ácidacrítica social do desenhista e caricatu-rista francés Honoré Daumier (1808-79), apresentava as aventuras de um parde pilantras sem escrúpulos cujo propó-sito na vida era enriquecer da formamais rápida possível.

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"O propósito crítico do periódicoera denunciar a sociedade de seu tem-po, ironizando os vícios de caráter queobservava e que podemos considerar,lamentavelmente, como intemporais:especulação, corrupção, malandragem",diz Heliana Angotti Salgueiro, curado-ra da mostra (e do recém-lançado catá-logo da exposição) A Comédia Urbana:de Daumier a Porto-Alegre, apresentadade abril a junho no Museu de Arte Bra-sileira da FAAP. O interesse por Porto-Alegre foi assunto de seu pós-doutora-do, em 1995, História da Arte, Históriada Cidade: Atores e Leituras no Brasil doSéculo 19, que teve apoio da FAPESP.Para a exibição, foram reunidas maisde 240 obras, procedentes de 13 mu-seus e bibliotecas de Paris, São Paulo,Rio e Porto Alegre.

Em A Lanterna Mágica, Porto-Ale-gre foi pioneiro ao incluir caricaturaspara ilustrar seus textos, diálogos entre

os dois personagens centrais, Lavemo eBelchior dos Passos. A dupla, antepas-sados do heroísmo sem nenhum cará-ter de Macunaíma, faz de tudo para "sedar bem" na capital carioca: de roman-cistas a médicos, passando pela políticae até pela ópera, os dois fingem enten-der de tudo para arrancar trocados dos"papalvos" da cidade. "Porto-Alegrequeria mostrar, sob a luz de sua lanter-na mágica, os personagens-tipo do seutempo, os 'Lavemos' que gravitavam nasociedade do Rio de Janeiro. Nesse sen-tido, ele é 'moderno' na clarividênciados problemas do seu país e se engajounuma série de combates, nem semprecompreendidos por seus contemporâ-neos': fala a pesquisadora. ''Afinal, apóster vivido sete anos na Paris de Balzac,Hugo, Sue, Daumier, entre outros, numuniverso em que a imprensa ilustrada, oromance de costumes, a industrializa-ção e a dessacralização da imagem, pela

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litografia e pela caricatura, e, em espe-cial, pelo teatro, produziam retratos deum novo tempo de comunicação quese afirmava no espaço urbano. Assim,ao voltar ao Brasil, ele estava à frentede seus compatriotas", observa.

Leitura a vapor - Discípulo de Debret,a abdicação de Pedro I pegou Porto-Alegre de surpresa e o obrigou a partir,em 1831, para Paris, com a ajuda doantigo mestre. A vida na capital france-sa não foi fácil para o brasileiro, mas élá que pôde vivenciar a explosão da im-prensa ilustrada e da "modernidade"visual, em que a imagem, acompa-nhando as transformações por que pas-sava a metrópole, suja e insalubre, sedessacraliza, se industrializa, trocandoa "arte pura e elevada" pelo mercado,pela "leitura a vapor" dos cartazes derua,das revistas de caricaturas que mos-travam os novos tipos dos novos tem-

poso No mesmo espírito dós flâneursque passeiam sem rumo certo pela me-trópole, os textos também passam atrazer a marca da leitura rápida, do pas-sar de olhos pelo texto e pelas imagens,que ganham novo status: a capacidadede sintetizar o real e, de quebra, criticarde forma incisiva essa realidade.

Entre o muito que viu, Porto-Ale-gre impressionou-se com o persona-gem literário e teatral Robert Macaire,um ladrão, assassino e impostor, acom-panhado por seu fiel e estúpido cúm-plice, Bertrand, uma versão em negati-vo de Quixote e Sancho. O sucesso dadupla era imenso e Daumier ilustrou osálbuns Les Cent-et-un Robert Macaíre,sobre textos de Alhoy e Huart. O deta-lhe curioso da fama do canalha era acontrapartida moralista de seus engo-dos. "O personagem central, apesar deseus crimes e de seu cinismo, fazia umacrítica violenta à corrupção, à cupidez,

à desonestidade que grassava entre ospoderosos, sob a máscara da filantropiae da respeitabilidade. E mais: demons-trava o tempo todo enorme habilidadepara assumir várias identidades falsas,enganando os incautos e fugindo da lei.Tudo isso talvez tenha impressionadomuito Porto-Alegre na peça Robert Ma-caíre",analisa João Roberto Faria.

"Entre Daumier e Porto-Alegre háum abismo evidente, mas ambos se en-contram no teatro das experiências dacondição humana, no registro dos tipose dos vícios da comédia urbana moder-na: na tarefa de desenhar do primeiro ede escrever do segundo, de Macaire aLaverno, emerge a consciência da cenatrágica da cidade", nota Heliana. "Emsua diferença, ambos enxergam a expe-riência do encontro com a modernida-de enquanto heróis solitários, excêntri-cos, cujas experiências não se encaixamno 'socialmente mediatizado' das rela-ções humanas:' Para tanto, Porto-Ale-gre usou uma curiosa e complexa metáfo-ra: a lanterna mágica.

Atecessor do cinema, o apa-relho projeta imagens pormeio de lentes e lâminasde vidro sobre os quaissão desenhadas figuras

que, ao serem iluminadas, eram proje-tadas sobre uma tela branca. Ao mes-mo tempo, e de forma sintomática, otermo, no século 19, passou a ser apli-cado igualmente à imprensa ilustradaque exibia "quadros" da realidade aosleitores. "Mas Porto-Alegre frisava queo seu desejo era projetar as imagens doRio de Janeiro que tinha diante dosolhos, não com o intuito de 'fazer ilu-sões a este ou àquele indivíduo', mas, aocontrário, concebendo sua obra como'o teatro onde se representarão as prin-cipais cenas de nossa época", observaRoberto Faria.

No fundo de todo cínico mora umidealista. Ao voltar ao Brasil, em 1837,com a cabeça plena do que vira em Pa-ris em transformação, Porto-Alegreacreditava que o Brasil também pode-ria ser reelaborado e que ele poderiadar sua contribuição com o novo meioque descobrira na cidade-luz. "Ele usa alanterna mágica como um instrumentoque exibe 'a verdade com todas as suasluzes", diz Heliana. E com todos os seusrisos. "Viemos ao mundo para repre-sentar uma vasta comédia: é melhor to-

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Daumier e cena deMacaire: canalha queinspirava virtude comseus crimes e golpes

mar os assentos da frente e os apouca-dos que venham atrás", escreve o reda-tor anônimo de A Lanterna Mágica.Afinal, continua, com cinismo macha-diano, indo ainda mais longe, "o que éo mundo senão uma comédia. Os ve-lhacos são os acrobatas, os néscios, ospalhaços, a mocidade, os galãs; a velhi-ce,os logrados, o povo, os comparsas. Aorquestra é todo este movimento, estezunido de mutucas que se chupam re-ciprocamente. O ferrão mais duro é oque vence':

Estãoaí reunidos, de formainformal, todas as paixões eos ,:"íc.iosda época: o teatro,o cuusmo, o novo, a com-petição e o fim dos valores

diante da era do capital. Mas como nin-guém é de ferro, Porto-Alegre logoemenda com um aviso notável: "Quemtem olho de vidro não espirra forte': Oriso castigando os costumes. "A Lanter-na Mágica mostra também o 'outro'lado de Porto-Alegre, que, como qual-quer homem lúcido oitocentista, reu-nia o realismo, o esplim do cotidianoao 'sonho' progressista, à idealizaçãoda técnica, associando a história e a arte,enquanto elementos de transformaçãodeste cotidiano", avalia Heliana. "Ele éum romântico marcado por um nacio-nalismo retórico, mas ao mesmo tem-po crítico e consciente dos problemas deseu país. É, antes de tudo, um saint-si-moniano típico, expressando-se assimem seus projetos para o Brasil.Seu mes-sianismo letrado e inquieto se prolon-gará em gerações posteriores."

Assim como o banditismo de Ma-caire podia ser inspirado r de virtudes, a

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safadeza de Lavemo e Belchior era'umaforma de, por meio do riso, mostrar oque havia de errado no Brasil e tentarcorrigir a impostura geral."Aatitude de'Porto-Alegre surpreende por várias ra-zões. De modo geral, os escritores ro-mânticos brasileiros afastaram-se darealidade, criando em suas obras umBrasil ideal, retratado de forma super-lativa. Essesentimento de amor à pátrianão trazia nenhuma preocupação emabordar as mazelas sociais da vida coti-diana", lembra Roberto Faria. As exce-ções ficaram por conta das peças deMartins Pena, de Memórias de um Sar-gento de Milícias, de Manuel Antôniode Almeida e, entre outros poucos, dobreve A Lanterna Mágica.

Para tanto, um protagonista à altu-ra do país. "Ele será sempre o imortalLaverno, esse homem prodigioso, es-pécie de Mefistófeles, de judeu erranteque anda entre nós nas praças, nos

templos, nos salões dourados, no parla-mento, nas estalagens, nas lojas e nosranchos das estradas; que se acha, orano mar, ora na terra, e mesmo às vezespor essesares",escrevePorto-Alegre. Osambientes são variados. De início, La-vemo se apresenta como médico ho-meopata, idealizador de um PanteãoHomeopático, receitando para todos osmales a mesma poção feita de água eaçúcar. O alvo seguinte da pena ácidado escritor, por meio de seu temível La-vemo, são os viajantesestrangeiros:"Elesdão a camisa do corpo para irem encai-xar lá na estranja, que é raça descober-ta por eles e então dão-lhe logo umnome esquisito, e escrevem trezentosvolumes sobre o bicho e põem o mun-do naturalista em uma revolução': notao satirista. "Aestranja é a melhor pana-céia conhecida neste país: chegado delaspodes impunemente fazer o que quise-res:' Não é de hoje, então, o amor febril

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Porto-Alegre e cenade A LanternaMágica: sátira ácidacom espirito idealista

tudo se prova por ambos os lados: se oempregado é inteligente, probo, ati-vo ...vai-se pelo artigo do Alcorão: não éde minha confiança; se ele não presta,mas tem padrinho, diz-se que é de mi-nha confiança; e prova-se que ele é oautor de uma gramática sânscrita quehá aí à venda':

Após passar por cantora de ópera, asra. Lavernelli, educador e, entre outrostipos, romancista, a saga de Laverno eBelchior se interrompe e o escroque vaiser primadona nos teatros do Norte doBrasil. "Porto-Alegre tinha um tempe-ramento polêmico, enfrentou desca-so pelo seu trabalho e foi muitas vezestratado como um estrangeiro em seupaís, por causa de suas posturas fran-cas, propostas inovadoras e idéias, en-tão impossíveis de serem acatadas oupostas em prática', conta Heliana. "Fezinimigos e, quando as portas se fechampara ele, da academia às outras instân-cias, ele deixa o país definitivamenteem 1859, 'como diplomata errante esem vintém':'

Curiosamente, ele e Daumier mor-rem em 1879, ambos pobres e esque-cidos, um em Paris, outro em Lisboa.Como poucos, tiveram "narizes" há-beis o bastante para cheirar o que ha-via de podre no ar das metrópoles emmodernização, cada um a sua manei-ra, mas de forma análoga. Ou, nas sá-bias palavras de Laverno: "Um grandeescritor cômico foi acusado de furtosliterários. A tais acusações respondeuo homem que, onde quer que achavauma boa cena, a tinha logo por sua.Digo eu também que onde quer queme deparo com uma boa idéia a tenhologo por minha". •

atualidade de seus 'hérois sem éaráter',cujas atitudes, gestos e frases nada têmde datados, mas que se revelam comoretratos trans-históricos da vida mo-derna', observa a pesquisadora. "Sob rou-pas de sua época, os personagens são detodas as épocas, sobretudo nesta terraem que, como escreveu Porto-Alegre,'andam mais de mil arlequins, vestidosde retalhos de todas as cores e formas,passando por homens superiores:'

do Brasil pelo que vem de fora. Lavernovira, para tanto, o sr. Lavernoff.

"Cá nesta terra, ninguém é o que é,mas o que apregoa ser", é a moral dashistórias, pois "quem escuta a cons-ciência fica com cara de tolo" e "nestemundo não há senão dois homens debem: um é meu compadre e o outromeu compadre dirá quem é': Sua visãodo Brasil é uma carta de Caminha domau caráter: "Esta é a terra da promis-são para os empreendedores e os atre-vidos; e eu o quero ser, para não ficar aolhar ao sinal. Entre nós, cura quemnem é médico nem cirurgião; ensinaquem não sabe da matéria; abre colégioquem da sua pátria para cá fugiu porladrão':

"A Lanterna Mágica é obra funda-dora da sátira tropical, síntese da comé-dia urbana. Pretendida por seu autorcomo uma 'epopéia patriótica' de seutempo, acaba sendo intemporal pela

Abismo - Daí, é claro, uma passagemrápida da dupla pela política, cuja liçãoé sustentar quem está no poder até seperceber que está para cair, momentode dar no pé, pois, "logo que sentirmoscheiro de defunto, dar-lhe-emos umtremendo empurrão, que o precipiteno abismo': Pois "o mundo é de quemmais pilha e a moral do século, a moralde todos os séculos, é obter, não impor-tam os meios': E mais: "Em política,

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• HUMANIDADES

HOMENAGEM

~vaCl

o~nguarda

ao1Sda poesia

Poeta, crítico e ensaísta,além de tradutor brilhante,Haroldo de Camposnão cabia dentro de rótulos

Campos:semântico,retórica e

sonoro

Foiobservando a "dura poesia concreta"das esquinas de São Paulo que um gru-po de jovens poetas decidiu que erahora de deixar de lado "lamúrias 'pes-soais e demagógicas" que, segundo

eles, infestavam a poesia da geração moderna de1945 e fazer a cultura entrar no novo ritmo domundo. Bastava mesmo olhar para os lados eperceber que o país mudara, mas poucos se de-ram a esse trabalho: já se falava em uma nova ca-pital e o presidente apregoava as virtudes do de-senvolvimentismo. À poesia daquele tempo cabiafalar sobre aquele momento. Um desses jovensvisionários foi Haroldo de Campos, morto dia 16de agosto, aos 73 anos. Podia-se gostar dele oudetestá-lo (não havia meio-termo e ele sabia dis-so), mas ninguém pode se dar ao luxo de ignorara sua importância como poeta, crítico, ensaísta e,nos últimos anos, longe da polêmica e perto daacademia, um tradutor brilhante.

Haroldo nasceu em São Paulo em 1929 e for-mou-se em direito pela Universidade de São Pau-lo (USP), em 1952. Quando saiu das arcadas,bem na tradição da escola, queria fazer poesia re-volucionária. Ou, nas palavras dele e de seus co-legas (o irmão Augusto e Décio Pignatari), "poe-

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51.1. que lambe a hélios-sol (sem realeza)

2. o rastro de rei-posto (subalterna) -3. e depois newton vem: a maçã (reza

53.1. da gravidade inscrita no trajeto

2. dos corpos mais pesados do que o ar3. por amor-atração sempre que o objeto

52.1. a lenda) cai-lhe aos pés - maga lanterna

2. vermelha - da alta rama e ao intelecto3. pronto lhe ensina a lei (à queda interna)

54.1. se precipite e tombe sem cessar2. - lei universal seja aos mais pequenos

3. seja aos maiores corpos a ordenar

Acima, trechos deA Máquina do MundoRepensada (2000>; ao lado,poema de 1955/56:transcedência de épocas

oAa mag o

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o

sia de exportação", como oscarros que Juscelino Kubits-chek prometia aos brasileirosque faria aos milhares para osestrangeiros admirarem. O de-sejo de "exportação" fora her-dado de Oswald de Andrade(1890-1954), o guru da novageração poética, ao lado de StéphaneMallarmé (1842-1898) e Ezra Pound(1885-1972).A primeira vez que o gru-po de Haroldo falou em "concreto" foidurante o Festival de Música de Van-guarda do Teatro Arena, em 1955. Noano seguinte, a poesia, gráfica, ganhouexposiçãono Museu de Arte ModernadeSãoPaulo.

O jovem poeta era radical nas suasdeclarações:"Toda poesia digna destenome é concreta: de Homero a Dante,de Goethe a Pessoa. Mais especifica-mente, a poesia concreta representa ocaso limite da poesia, no qual existeuma total sistematização de todos osníveis: semântico, sintático, retórico,sonoro - da palavra". Muitos chama-

boas polêmicas com gente daestatura de Antonio Candido.Sempre com elegância e sabe-doria. Mesmo quando nãoaceitavam as suas "transcria-ções', forma como entendia oprocesso de tradução, aplicadoa Pound, Goethe, Dante, Ioyce,

entre outros, em que o poeta modernointervinha no texto do antigo para tra-zer seu texto ao momento presente. Em2000, Haroldo lançou A Máquina doMundo Repensada (editora Ateliê). "Éum poema cósmico, todo feito em rimadantesca, que mostra Haroldo de Cam-pos não só como um grande poeta, masalguém que não cabe dentro de rótu-los': diz Leda Tenório da Motta, críticaliterária, tradutora e professora da Pon-tifíciaUniversidade Católica de SãoPau-lo. Sua poesia tornou-se cada vez maisfilosófica.Em 2002 encerrou a traduçãoda Ilíada, de Homero, fruto de dez anosde trabalho. No fim, vanguarda e berçoda poesia se encontraram e reconcilia-ram. De forma bem concreta. •

ram tudo aquilo que se representavacomo o "avesso do avesso do avesso doavesso" de "mau gosto, mau gosto': Amúsica popular brasileira (MPB), aliás,se alimentou muito das idéias de Ha-roldo, de Caetano Velosoa Gilberto Gil,que cultuavam o poeta e ensaísta emsuas letras e declarações.

Poemas barrocos - Nessa transcendên-cia de épocas, Haroldo buscou no pas-sado formas antigas para revisitar e"transcriar": em 1963, por exemplo,criou suas Galáxias a partir de poemasbarrocos. Da mesma forma, como en-saísta, resgatou o obscuro poeta Sou-sândrade (1833-1902) e o elevou à ca-tegoria de gênio. Por essas e outras, teve

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• HUMANIDADES

ARQUITETURA

Umatese de doutorado defendida em feverei-ro na Faculdade de Arquitetura e Urbanis-mo da Universidade de São Paulo (FAU/USP)substitui conclusões definitivas e potencial-mente redutoras por referências para uma

reflexão sobre a trajetória de Lúcio Costa.Defendida por Marcos José Carrilho a tese Lúcio Costa -

Patrimônio Histórico e Arquitetura Moderna parte de umahipótese até mesmo conhecida, a de que a essência da arqui-tetura moderna brasileira reside na associação entre vanguar-da e tradição, para ampliar as bases de análise do legado dopai da arquitetura moderna e do patrimônio histórico nacio-nais. Carrilho foi orientado pelo professor Nestor GoulartReis Filho, também da FAU, e participou de um projeto de

auxílio à pesquisa de Goulartsobre Lúcio Costa.

Formado em arquiteturaem Curitiba, Carrilho mudou-separa São Paulo em 1982, após seraprovado em um concurso doConselho de Defesa do Patri-mônio Histórico, Arqueológi-co, Artístico e Turístico do Esta-do de São Paulo (Condephaat).Era inevitável deparar-se coma figura de Lúcio Costa, funda-dor do Serviço de PatrimônioHistórico e Artístico Nacional

(atual Iphan) ao lado de Rodrigo Mello de Franco Andra-de, nos anos 30. "Além da admiração por Lúcio Costa,sempre senti certa identificação com ele, pois, como arqui-teto, divido-me entre as propostas construtivas da arquite-tura contemporânea e a preocupação com o patrimôniohistórico", diz o pesquisador.

Sua pesquisa aborda desde o surgimento da vocaçãovanguardista brasileira, com a Semana de Arte Modernade 22, até o ápice expressivo da arquitetura moderna, como traçado original que Lúcio Costa fez para Brasília. Car-rilho ressalta o caráter paradoxal dos modernistas brasi-leiros, em que tradição e ruptura se misturam. E aponta apermanência desse paradoxo nos anos 30 e 40, quando aprodução intelectual brasileira produziu sob a tutela deum Estado conservador.

De acordo com o pesquisador, as afinidades de Lúcio Cos-ta com o regime de Getúlio Vargas o levaram a analisar van-guardas que também se aproximaram de idéias políticasconservadoras: o Racionalismo Italiano e a Vanguarda Russa."Ao nos compararmos com movimentos como aqueles, per-cebemos que não foi só o modernismo brasileiro que traba-lhou na busca de uma referência histórica", diz Carrilho.

Pois foi na pesquisa do passado que Lúcio Costa se ba-seou para criar algo tão original para o seu tempo. A tese deCarrilho aborda três aspectos do legado do arquiteto: a pro-dução teórica, o patrimônio histórico e sua obra arquitetôni-

Memóriado novo

Tese analisa conceitosde patrimônio históricode Lúcio Costa

RENATA SARAIVA

90 • SETEMBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 91

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Fachada do Palácio Capanema,no Rio de Janeiro: Lúcio Costaincentivou governo a trazer Le Corbusier

capropriamente dita. "A obra de LúcioCosta é relativamente pequena e já foibastanteanalisada, então procurei encon-trar características que ainda não tinhamsido notadas", afirma o pesquisador.

Se no campo teórico Lúcio Costacontribuiu muito para a história da artebrasileira, foi no patrimônio histórico .que ele deixou pensamentos-chave paramuito do que se pensa sobre conserva-ção hoje. "Seu interesse pelo patrimô-nio nasceu cedo. Um momento especialdesse processo foi em 1926, quandovisitou Diamantina", conta Carrilho."Costa encontrou uma cidade com-pletamente intacta e aquilo foi muitoimportante para o trabalho de patri-mônio que desenvolveu depois."

Também os primeiros projetos arqui-tetônicosestavam, a seu modo, baseadosna pesquisa do passado colonial brasi-leiro."Desde que se formou na EscolaNacional de Belas Artes, do Rio, Costadesenvolveudiversos projetos de cunhohistoricista, principalmente neocolo-niais.Era a forma que ele encontrava pa-

ra pesquisar', diz. ''Alguns chegaram aser premiados, como o da Embaixadada Argentina:' O momento de transfor-mação de todo esse resgate para aquiloque se chamaria de arquitetura modernabrasileira, na opinião do pesquisador,pode ser atribuído, no campo das idéias,ao período em que Lúcio Costa foi di-retor da Escola Nacional de Belas Artes,a mesma em que se formara. "Costapromoveu profundas alterações na ori-entação da escola, enfatizando o enfo-que técnico e científico", conta. "Paraele o ensino artístico deveria reforçar aharmonia entre projeto e construção. Ahistória da arquitetura deveria ser estu-dada criticamente ao invés de ser apli-cada diretamente no projeto."

No campo da construção, o mesmodivisor de águas pode ser atribuído aoPalácio Gustavo Capanema, sede do an-tigo Ministério da Educação e SaúdePública, no Rio, o qual, em breve, podeser o primeiro prédio brasileiro a recebero título de patrimônio da humanidadepela Unesco. Costa incentivou o gover-

no brasileiro a trazer Le Corbusier paradesenvolver o projeto. Embora o mes-tre franco-suíço tenha feito o primeirocroqui, o projeto executado teve auto-ria de uma equipe brasileira, entre elesCosta e Oscar Niemeyer.

Para Marcos Carrilho, o Mi-nistério da Educação foi asíntese mais madura dasconcepções de Lúcio Costa,as quais já tinham sido ex-

pressas em projetos como o da Vila Mon-levade, de 1934. Nesse projeto, realiza-do para um concurso promovido pelaCompanhia Belgo-Mineira, mas nuncaconstruí do, Lúcio Costa formulou umade suas propostas mais arrojadas da as-sociação dos procedimentos construti-vos tradicionais com as fórmulas da ar-quitetura moderna: a construção de urnacasa da pau-a-pique (herança de nossopassado colonial e interiorano) sobreuma plataforma de concreto armado.

"O projeto fala por si, mas uma aná-lise mais atenta do memorial descritivo

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Museu de São Miguel das Missões: trabalho ecléticodo arquiteto se deu na construção decolunas sobre os restos das antigas missões

Interior da mansão de Eduardo Guinle,no Parque Guinle: capacidadede reunir o novo e o antigo

92 . SETEMBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 91

me fez perceber que a equação tradi-ção/ruptura não era tão simples quan-to todo mundo sempre evocou: LúcioCosta influenciado por Le Corbusier eresgatando o passado colonial brasi-leiro", diz Carrilho. "Há menções a ar-quitetos de origem anglo-saxã, o que nosmostra um repertório bastante rico",explica o pesquisador.

A complexidade da obra construti-va de Lúcio Costa está também no Mu-seu de São Miguel das Missões, em queo trabalho eclético do arquiteto com oprofissional do patrimônio histórico sematerializou na construção de colunassobre resquícios das antigas missões doRio Grande do Sul. Ligadas por paredesde vidros, elas sugerem a construção deum museu que, ao mesmo tempo queconserva e abriga a memória do local,não se impõe como um elemento inva-sivo na história das missões.

"Além disso, o museu foi construí-do em um local que permite, paraquem está em seu interior, reconstituir,na imaginação, o plano urbanístico dasedificações originais", conta Carrilho."Lúcio Costa é um arquiteto que con-segue, com um projeto, sugerir todo otraçado urbanístico do entorno." Foiassim que, nos anos 40, ele foi chama-do pelos herdeiros de Eduardo Guinlepara construir, no Rio, um grupo deprédios em torno da velha mansão sema descaracterizar.

A análise de Carrilho sugere di-versas evocações do passado nacionalna obra de Lúcio Costa. "Até mesmoo traçado de Brasília, possivelmente odesenho mais famoso dele, pode serinterpretado como uma remissão à pri-meira missa dos portugueses em solobrasileiro, uma vez que o desenho tema forma de uma cruz." •

o PROJETO

Lúcio Costa e as Origensda Arquitetura Modernae do Patrimônio Histórico

MODALIDADELinha regular de auxílio à pesquisa

COORDENADORN ESTaR GOULART REIS FILHO -FAU/USP

INVESTIMENTOR$ 1.507,80

csase

Page 93: Estresse na raiz da fertilidade

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Page 94: Estresse na raiz da fertilidade

Cultura letrada no Brasil ColôniaTrabalho de pesquisadora contribui para a história da leitura

,--------, Os Caminhos dos Livros uma linguagem agradável efluente. A primeira parte - OTrânsito das Letras - nos levapara o conhecimento do con-trole dos "passes" dos livrosda Europa para o Brasil e doscaminhos da censura. A au-tora se dedica, a seguir, a umlevantamento das obras soli-citadas e submetidas à censu-ra portuguesa entre 1769 e1807 que viriam para o Rio.A conclusão a que se chega,

na contramão do que se afirmava nos livros sobre aindigência cultural do Brasil Colônia, é que os ha-bitantes do Rio, nos finais do século 18 e primeirasdécadas do 19, não estavam excluídos do universodas belas letras. Mas quem eram esses leitores? Pas-sa-se, então, pelas relações de livros constantes dosinventários e dos livros de contas de livrarias, pelasbibliotecas dos padres e até por relações de vende-dores não formais e por lugares inesperados comoarmazéns e farmácias.

A segunda parte do livro - Julgar e Sentir - co-loca o leitor na rota de como se lia à época, atravésdos textos que postulavam uma preceptiva, indica-ções sobre a correta maneira de ler e sobre o que sesupunha ser um bom livro, com o objetivo de tra-çar o perfil deste leitor tão distanciado no tempo.Chega-se, assim, ao leitor carioca do período que,muitas vezes, lia insurgindo-se contra a lista dos"recomendados", já que se dedicava aos romances.Debruçar-se sobre o que lia o carioca leva-nos aoúltimo capítulo do livro, A Leitura do Romance, comdireito aos argumentos pró e contra o gênero e aoestudo dos processos de sedução do leitor.

Esta deliciosa viagem pelos caminhos dos livrosproposta pelo brilhante texto de Márcia Abreu,além da disponibilização de farto material de pes-quisa, contribui de modo extraordinário para a his-tória da leitura e de seus mecanismos de circulação,fornecendo uma visão nova sobre a cultura letradano Brasil Colônia.

MARIA ZILDA FERREIRA CURY

Márcia Abreu

Mercado de LetraslFAPESP/ALB

384 páginasR$ 42,00

Efui ter com o anjo,dizendo-lhe que medesse o livro. E ele

disse-me: Toma o livro, edevora-o; e ele fará amar-gar o teu ventre, mas natua boca será doce comomel...

Pois saibam os leitoresque livros também se co-mem, como nos diz o tre-cho acima, tirado ao Apocalipse de São João. A im-portância conferida à leitura do texto sagradoombreia-se à da assimilação adequada da palavrade Deus e à predestinação daquele escolhido paraanunciar os juízos divinos. Há, pois, que se ler beme há que se dar o livro a gente escolhida. O sistemasocial percorre e contamina todo o processamentoda comunicação letrada, desde a natureza mesmada própria linguagem, que é social, até os limites deinterpretação e réplica dos leitores em determina-da época, em determinadas condições político-econômicas, sob determinadas restrições ideológi-cas. Ao ler, um indivíduo ativa seu lugar social, suasvivências, sua biblioteca interna, suas relações como outro, os valores de sua comunidade. E por issoexiste o controle exercido pela sociedade sobre oato de ler, manifesto de formas diversas. Os espaçosde circulação do livro já determinam uma formade exclusão.

Os Caminhos dos Livros traçados por MárciaAbreu colocam o leitor diante de material de pes-quisa surpreendente. O mapa a ser percorrido temcomo ponto de partida, como nos diz a própria au-tora, uma desconfiança. Toma duas referências: ostextos de viajantes queixosos de que aqui não havialeitores, de que não circulavam livros nos primeirosséculos do Brasil colonial e os milhares de pedidosde autorização para envio de material impressoconstantes do Catálogo para exame dos livros parasaírem do reino com destino ao Brasil. "Se aquelaspessoas não liam, por que buscavam tão assidua-mente os censores a fim de obter permissão para terperto de si alguns livros?': é a pergunta que põe emmarcha a pesquisa e que serve de guia ao leitor porum caminho calçado em pesquisa de fontes e le-vantamento rigoroso de referencial teórico, com

OSWIIlaosDOS lIVROS••

94 • SETEMBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 91

MARIA ZILDA FERRElRACURYé professora titular de Teo-ria da Literatura da UFMG, onde coordena o Progra-ma de Pós-graduação em Estudos Literários.

Page 95: Estresse na raiz da fertilidade

~~"~ LIVROSw ~

o Filósofo e sua História:Uma Homenagem a OswaldoPorchatMichael Wrigley e Plínio J. SmithColeção CLE/FAPESP525 páginas I R$ 50,00

Organizado pelo Centro de Lógicae Epistemologia e História da Ciência,

da Unicamp, o volume traz uma série de artigos parahomenagear o filósofo e fundador do Centro de Lógicae Epistemologia (CLE), em 1977, e foi responsável pelaimplementação do programa de pós-graduação emfilosofia na mesma universidade. Entre os vários artigos:"Descartes Cético", "Leibniz", "Liberdade e os Possíveis".

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A Loucura de Isabellae Outras Comédiasda Commedia dell'ArteRoberta Barni (tradução e notas)I1uminuras I FAPESP416 páginas I R$ 43,00

A pesquisadora apresentatraduções críticas de textosde Flaminio Scala, um conhecido ator,

diretor e autor do século 17 e um mestre da chamadacommedia dell' arte, que, fugindo das convenções clássicasdo teatro, trazia enredos dos mais rocambolescos, cheiosde improvisações, piadas de gosto popular e muitacomédia física. A Scala devemos a primazia na impressãodesses improvisos, o que faz do livro um documento.

Editora Iluminuras: tel: (11) 3068-9433 fax: (Ll ) [email protected]

A Jornada e a ClausuraRaquel de Almeida PradoAteliê Editorial245 páginas I R$ 28,00

O romance representou a vitória,na arte, do individualismo burguês,como o veículo privilegiado de suastristezas, amores e alegrias. O estudode Raquel de Almeida Prado faz uma

análise de como se configurou essa estrutura dentro doromance filosófico francês do século 18. Já fomos muitoapresentados ao modelo inglês e daí a novidade da teseda pesquisadora, baseada no estudo de quatro obrasde Rousseau e Diderot, revelando as suas peculiaridades.

Ateliê Editorial: (1I) [email protected]

Não contente em mirar apenas osexemplos das mulheres de Atenas, os pesquisadores destevolume reuniram-se para analisar como se davamas relações de gênero na Grécia, no Oriente e em Roma.O resultado é um painel fascinante de damas e de comofuncionava o feminino e o masculino no mundo antigo.

Editora Unicamp: (19) 3788-7728/[email protected]

Parte integrante de uma grandepesquisa sobre os vários grupos

migratórios, que teve financiamento da FAPESP, este textotraz um registro da chegada dos alemães a São Paulodurante o século 19. O ponto importante é a verificaçãoda onda migratória germânica, que foi fundamental para aconcepção urbana da cidade, de sua indústria e comércio.

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Um belo livro em vários sentidos,de seu conteúdo, preciso, à sua apresentação, primorosa,com fotos de Adriano Gambarini. O estudo mostra comose deu, ao longo da história, a relação do homem com anatureza no Brasil, com o diferencial marcante do país queera uma colônia de exploração. O pesquisador mostra asvárias etapas de como surgiu a cultura da devastação pelolucro e quais as conseqüências que ainda permanecem.

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Uma São Paulo Alemã: VidaQuotidiana dos ImigrantesGermânicos na Região daCapital (1827-1889)Silvia Cristina Lambert SirianiImprensa Oficial I FAPESP327 páginas I R$ 37,00

Natureza, Conservaçãoe Cultura: Ensaio sobrea Relação do Homemcom a Natureza no BrasilEvaristo Eduardo de MirandaMetalivros178 páginas I R$ 96,00

PESQUISA FAPESP 91 • SETEMBRO DE 2003 • 95

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Page 98: Estresse na raiz da fertilidade

-E FINAL:

NEGREIROS

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98 • SETEMBRO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 91

Page 99: Estresse na raiz da fertilidade

INFORME PUBLICITÁRIO,

OS-GRADUENFATIZAQUALIDA

no Diretório de Grupos de Pesquisado CNPq. Estes Grupos congregam97 doutores em regime de tempointegral, diversos mestres em fasefinal de doutoramento, técnicos,bolsistas de Iniciação Científica,além de mais de 300 alunos de pós-graduação matriculados nosProgramas de Pós-Graduação StrictoSensu da Univap, todosrecomendados pela CAPES. A

o Mestrado e Doutorado emEngenharia Biomédica enfocam osprocedimentos de diagnóstico e terapiaa laser, visando a utilização edesenvolvimento de novas técnicaspara diagnóstico não-invasivo, de baixocusto e com alta especificidade.O Mestrado em Planejamento Urbano eRegional, constitui-se num dos poucoscursos existentes no Brasil voltados aessa temática, imprescindível para odesenvolvimento sustentado.O Mestrado em Bioengenharia temenfoque profissionalizante. Asdisciplinas são oferecidas em blocospara possibilitar que profissionaisliberais possam acompanhar oPrograma. Este curso não requerdedicação integral.O Mestrado em Ciências Biológicas

participação do IP&D no Diretório deGrupos Nacional tem sidoexpressiva, na sua última versão aUnivap aparece em 10 lugar na áreade Engenharia Biomédica no Brasil.A estrutura de pesquisa da Univapestá organizada em quatro grandesáreas: Ciências Biomédicas,Planejamento Urbano e Regional,Ciências Exatas e Ciências Humanas.

OS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO

APOIOCULTURAL:

COI -/

CONSULTÓRIOS OOONTOLOGlCOSINTEGRADOS

o Instituto de Pesquisa eDesenvolvimento é o centro dePesquisa da Universidade do Vale doParaíba. A Univap está localizada emSão José dos Campos, situada no eixoque une as cidades de São Paulo e Riode Janeiro. O IP&D é composto porduas sedes e pelos LaboratóriosAssociados que abrigam os Gruposde Pesquisas e Desenvolvimento,atualmente 32, dos quais 25 incluídos

objetiva desenvolver no aluno umavisão integrada, multi e interdisciplinardas Ciências Biológicas, apoiada nasáreas de competência dos docentes!pesquisadores que integram o curso.O Mestrado em Engenharia Mecânicaestá concentrado nas áreas de materiaise ciências térmicas.

As inscrições estão abertas e osdocumentos necessários podem serobtidos no si te da Univap e enviadospela internet ou para o endereço:Av. Sbisbima Hifumi, 2911Urbanova - 12244-000S. J. dos Campos/SP, até 10 defevereiro de 2004.Para mais informações:(12) 3947-1121 / 1129/1122Site: www.univap.br

o estabelecimento de Programas dePG, associados com a implantação delaboratórios de pesquisa e uma políticade agregação de pesquisadores emtempo integral, têm produzido bonsresultados. Na última avaliação pelasComissões e ratificada pelo CTC da.CAPES, todos os Programas foramrecomendados novamente e um deles, oPrograma de Pós-Graduação emEngenharia Biomédica, foi promovidodoconceito 3 para conceito 4.

COITelefone: (41) 332-2024

Rua Baltazar Carrasco dos Reis, 2728CEP: 80250-130 - Água Verde

Curitiba - Paraná - Brasil

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ASTECHNOLOGYTelefone: 0800-7737030 e (12) 3929-5504

Fax: (12) 3929-3936Rua Prof" Ana Izabel Barbosa, 207CEP: 12223-180 - SJC - SP - Brasil

Site: www.coi-pr.com.brE-mail: [email protected]

Site: www.titaniumfix.com.brE-mail: [email protected]

· Engenharia BiomédicaMestradolDoutorado·Bioengenbaria - Mestrado· Planejamento Urbano e RegionalMestrado· Ciências Biológicas - Mestrado· Engenharia Mecânica - Mestrado

Page 100: Estresse na raiz da fertilidade

SEU TALENTOPODE IR

MAIS LONGEDO QUE voct

IMAGINA.

6~PRÊMIO PETROBRAS DE TECNOLOGIA DE DUTOS.

Chegou a hora de você canalizar todo o seu talento

e sua criatividade. Depois de cinco edições de sucesso, o

concurso promete ser ainda mais disputado neste ano.

Serão premiados os melhores trabalhos realizados

por estudantes de

graduação e mes-

trado e seus orien-

tadores. Além disso,

o prêmio pretende

revelar, nas univer-

sidades, equipes ca-

pazes de trabalhar

em parceria com a Petrobras. Não

perca esta chance de mostrar que

você também pode ir mais longe com

o desenvolvimento tecnológico. Solte

a sua imaginação e participe desta

experiência única.

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