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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE CINCIAS FARMACUTICAS
Programa de Ps-Graduao em Frmaco e Medicamentos
rea de Insumos Farmacuticos
Estudo biofarmacognstico
de Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze
Asteraceae
Roberto Tsuyoshi Adati
Tese para obteno do grau de
DOUTOR
Orientador:
Prof. Dr. Vicente de Oliveira Ferro
So Paulo
2006
Roberto Tsuyoshi Adati
Estudo biofarmacognstico
de Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze
Asteraceae
Comisso Julgadora da
Tese para obteno do grau de
Doutor
Prof. Dr. Vicente de Oliveira Ferro
Orientador/Presidente
Prof. Dra. Elizabeth Igne Ferreira
1. Examinador
Prof. Dra. Adriana Lenita Meyer Albiero
2. Examinador
Prof. Dra. Ivana Barbosa Suffredini
3. Examinador
Prof. Dra. Helena Onishi Ferraz
4. Examinador
So Paulo, 21 de fevereiro de 2006.
Toshie!
Obrigado por sua bravura e o orgulho, que possibilitaram que eu e meus
irmos tivssemos a chance de estudarmos, e por provar a todos ns, que podemos
viver nesta sociedade com dignidade e respeito.
Obrigado por ter semeado em nossos coraes o esprito de unio entre
irmos e por mostrar que a vida pode ser muito bela, mesmo estando diante de
inmeras dificuldades.
Meus eternos agradecimentos a voc, por ter tido muito amor, f em Deus e
por ter acreditado e confiado na medicina popular, quando os profissionais da sade
j no criam mais em minha sobrevivncia.
Este trabalho , portanto, dedicado a voc, minha me, pois a voc eu devo
todo meu crescimento e a minha vida!
Tabelas Vll
Tabela 1: Classificao de Asteraceae, segundo 8entham e Hoffmann. 11
Tabela 2: Classificao de Asteraceae, com nmero de subtribos, gneros e 12
espcies.
Tabela 3: Ensaios para deteco de grupos de princpios ativos em partes 35
areas de Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze.
Tabela 4: Grupos de princpios ativos em partes areas de Acanthospermum 60
australe (Loefl.) O. Kuntze.
Tabela 5: Componentes majoritrios do leo essencial de Acanthospermum 63
australe (Loefl) O. Kuntze, extrado por hidrodestilao da droga, constituda
de folhas e caules coletadas em janeiro de 2003, quando a planta encontrava-
se em fase final de frutificao.
Tabela 6: Componentes majoritrios do leo essencial de Acanthospermum 63
australe (Loefl) O. Kuntze, extrado por hidrodestilao da droga, constituda
de caules coletadas em janeiro de 2003, quando a planta encontrava-se em
fase final de frutificao.
Tabela 7: Componentes majoritrios do leo essencial de Acanthospermum 64
australe (Loefl) O. Kuntze, extrado por hidrodestilao de folhas frescas,
coletadas em outubro de 2005, quando a planta encontrava-se em fase de
florao.
Tabela 8: Componentes majoritrios do leo essencial de Acanthospermum 64
australe (Loefl) O. Kuntze, extrado por hidrodestilao de folhas frescas,
coletadas em novembro de 2005, quando a planta encontrava-se em fase
inicial de frutificao.
Tabela 9: Composio percentual do leo essencial de Acanthospermum 67
australe (Loefl) O. Kuntze coletado em diferentes pocas do ano.
Tabela 10: Comparao dos diferentes mtodos de extrao e rendimento dos 68
extratos de Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze.
Tabela 11: Comparao da rea total do estmago, rea total da leso e rea 85
relativa da leso do grupo de ratos controles tratados com gua, via oral, no
ensaio antilcera agudo, com modelo de induo por cido clordrico e etanol.
Tabelas Vlll
Tabela 12: Comparao da rea total do estmago, rea total da leso e 86
rea relativa da leso do grupo de ratos tratados com uma dose de 400
mg/kg de extrato hidroetanlico liofilizado (EHL), via oral, no ensaio antilcera
agudo, com modelo de induo por cido clordrico e etano!.
Tabela 13: Comparao da rea total do estmago, rea total da leso e 87
rea relativa da leso do grupo de ratos tratados com cloridrato de ranitidina
na dose de 100 IJg/kg, via oral, no ensaio antilcera agudo, com modelo de
induo por cido clordrico e etano!.
Abreviaturas
ARL - rea Relativa da Leso
AT - rea Total do Estmago
ATL - rea Total da Leso
CCD - Cromatografia em Camada Delgada
CG - Cromatografia Gasosa
CG/EM - Cromatografia Gasosa acoplada a Espectrometria de Massa
EHL - Extrato Hidroetanlico Liofilizado
EM - Espectro de Massas
1.1 - ndice de Intumescimento
PM - Peso molecular
UFC - Unidade Formadora de Colnia
USP - Universidade de So Paulo
WHO - World Health Organization! ! I
IX
Resumo x
Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze, conhecido popularmente no
Brasil como carrapichinho pertence famlia Asteraceae e utilizado na medicina
popular como hepatoprotetora, diafortica, antiblenorrgica, antimalrica, entre
outras funes. O objetivo do presente trabalho foi estudar a espcie sob o aspecto
botnico, qumico e farmacolgico. Assim, folhas e caules foram analisados macro e
microscopicamente, contribuindo no auxlio da diagnose da espcie. Os rgos em
estudo foram submetidos a ensaios preliminares para a pesquisa dos principais
grupos de princpios ativos provenientes do metabolismo secundrio dos vegetais.
Diferentes extratos foram obtidos por percolao e por decoco, sendo alguns de
seus componentes isolados por CCD preparativa e identificadas por CG/EM. O leo
essencial do vegetal, coletado em diferentes pocas do ano e variados estgios de
desenvolvimento, foi obtido em aparelho de Clevenger modificado, sendo que sua
composio tambm foi analisada por CG/EM. O extrato clorofrmico e o extrato
hidroetanlico liofilizado (EHL) foram avaliados quanto atividade antimalrica e
antileishmania. Com o EHL foi realizado tambm ensaio de atividade antilcera em
ratos Wistar Hannover fmeas e atividade antimicrobiana em bactrias e fungos. A
espcie em estudo, nas condies deste trabalho, apresentou flavonides, taninos,
saponinas, leo essencial e mucilagens. O extrato clorofrmico e hidroetanlico
liofilizado, nas concentraes de 100 IJg/mL, provocaram 100% de morte dos
protozorios de Plasmodium chabaudi AJ, porm ambos no apresentaram
atividade em promastigotas de Leishmania (L.) chagasi nesta concentrao. O EHL
na concentrao de 10 mg/mL demonstrou significativa atividade antifngica contra
o Aspergillus niger, no apresentando nenhuma atividade para Staphylococcus
aureus, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia col e Candida albicans. O mesmo
extrato, na concentrao de 400 mg/kg, administrada por via oral, mostrou-se com
atividade antilcera aguda significativa, reduzindo a rea Total de Leso (ATL) em
49,13% em relao ao controle. O leo essencial, nas condies do experimento,
apresentou diferenas qualitativas e quantitativas quando comparado a estudos j
realizados, sendo constitudo em sua maioria por sesquiterpenos dos grupos
cadinano (a-cadinol e -cadineno), cariofilano (~-cariofileno) e, principalmente,
germacrano (globulol). As anlises permitiram concluir ainda que o ismero do
espatulenol o componente exclusivo e majoritrio do leo essencial de caule e o
ismero do globulol, o componente presente em maior quantidade no leo quando o
vegetal encontra-se em fase de florao.
Abstract Xl
Acanthospermum austra/e (Loefl.) O. Kuntze, known popularly in Brazil as
carrapichinho belongs to the family Asteraceae and it is used in the tradicional
medicine as hepatic protector, diaforetic, blenorragic activity, antimalarial activity
among others. The objective of the present work was to study this species under the
aspect botanical, chemical and pharmacological. Thus, leaves and stems were
analyzed macro and microscopic contributing in the aid of the diagnosis of species.
The aerial parts in study were submitted to preliminary phytochemical screening for
the research of the main groups of secondary metabolites of plants. Different extracts
were obtained by percolation and for decoction being some of their components,
isolated for TLC preparative and identified for GC/MS. The essential oil of the plants,
collected at different seasons of the year and different development stadiums, it was
obtained in a Clevenger apparatus, and it composition, was also analyzed by
GC/MS. The chloroformic extract and liofilized hidroethanolic extract (LHE) were
assayed for the antimalarial and antileishmania activities. Using LHE it was also
assayed for the anti ulcer activity in mice Wistar Hannover females and antimicrobial
activity in bacteria and fungi. The species in study, in conditions of this work,
presented f1avonoids, tannins, saponnins, essential oil and mucilages. The
chloroformic extract and LHE in the concentrations of 100 IJg/mL caused 100% of
death in the blood forms of P/asmodium chabaudi AJ, however nane of them
presented activity in blood forms of Leishmania (L.) chagasi in this concentration.
LHE in the concentration of 10 mg/mL presented significant antifungal activity against
the Aspergillus niger, and no activity against Staphy/ococcus aureus, Pseudomonas
aeruginosa, Escherichia col and Candida a/bicans. The same extract, in the
concentration of 400 mg/kg, administered orally, presented significant antiulcerogenic
activity, reducing the Total Area of Lesion (TAL) in 49,13% in relation to the control.
The essential oil, in the conditions of the experiment, presented qualitative and
quantitative differences when compared to previous studies and constituted in its
majority by sesquiterpenes of the cadinano groups (a-cadinol and -cadinene),
caryophyllano (13-caryophyllene) and mainly, germacrano (globulol). The analyses
still permit to conclude that the isomer of the spathulenol is the exclusive and mayor
component of the essential oil in the stem. Isomer of the globulol is the
representative present in mayor amount in the oil when the plant is in f10wer stadium.
Introduo 2
Doenas infecciosas causam grande sofrimento a milhes de pessoas em
todo mundo, principalmente em pases tropicais e subtropicais em desenvolvimento,
incluindo um forte impacto na economia e problemas Sade Pblica (TROUILLER
et ai., 2001). Dentre as principais doenas tropicais, as causadas por protozorios
apresentam alta morbidade e/ou mortalidade, sendo representadas pela
Leishmaniose, Doena de Chagas e Malria (REMME et ai., 1993). Afetam grandes
populaes marginais ao processo econmico globalizado e, desta forma, no so
vistas como mercados potenciais para indstrias farmacuticas (PECOUL et ai.,
1999).
o uso de compostos naturais extrados de plantas como matria-prima parasntese de novas substncias bioativas, especialmente frmacos, tem sido
amplamente relatado ao longo do tempo. As plantas so fontes importantes de
produtos naturais biologicamente ativos, muitos dos quais constituem-se em
modelos para a sntese de um grande nmero de frmacos (WALL & WANI, 1996).
De forma similar aos microorganismos, as plantas produzem uma grande
diversidade de compostos qumicos. Ao se considerar a perspectiva de obteno de
novos frmacos, dois aspectos distinguem os produtos de origem natural dos
sintticos: a diversidade molecular e a funo biolgica. A diversidade molecular dos
produtos naturais muito superior quela derivada dos processos de sntese que,
apesar dos avanos considerveis, ainda limitada. Alm disso, como produtos de
organismos que possuem muitas similaridades com o metabolismo dos mamferos,
os produtos naturais muitas vezes exibem propriedades adicionais s
antimicrobianas a eles associadas (NISBET, 1997).
A pesquisa fitoqumica tem por objetivos conhecer os constituintes qumicos
de espcies vegetais ou avaliar a sua presena. Quando no se dispe de estudos
qumicos sobre a espcie de interesse, a anlise fitoqumica preliminar pode indicar
os grupos de metablitos secundrios relevantes na mesma (SIMES et ai., 2004).
Informaes obtidas junto populao constituem estratgias para
investigao de plantas medicinais, que permitem combinar dados adquiridos junto a
comunidades locais que fazem uso da flora medicinal, com estudo qumico e
farmacolgico realizados em laboratrios especializados. A seleo de espcies
vegetais para pesquisa e desenvolvimento de frmacos baseada na alegao de um
dado efeito teraputico em humanos, pode se constituir num valioso atalho para a
Introduo 3
descoberta de frmacos, j que seu uso tradicional permite que seja encarado como
uma pr-triagem quanto utilidade teraputica em humanos.
Aproximadamente 2000 espcies com ocorrncia no Brasil so empregadas
na medicina popular (DI STASI, 2002), sendo que muitas delas pertencem famlia
Asteraceae.
As espcies pertencentes a esta famlia so do tipo cosmopolita,
encontradas especialmente em regies montanhosas temperadas ou tropicais e em
campos abertos e/ou secos (JUOD, 1999). uma das mais importantes famlias de
plantas vasculares florescentes no mundo, compreendendo 1535 gneros e
aproximadamente 23.000 espcies (JUOO, 1999). No Brasil ocorrem mais de 180
gneros (BARROSO, 1991).
Por mais de 10 anos, HEGNAUER (1964) resumiu a qumica da Asteraceae
e discutiu as implicaes sistemticas gerando concluses muito importantes.
Segundo Hegnauer, a famlia Asteraceae quimicamente muito distinta, possuindo
substncias como frutose, leo em sementes, algumas contendo cidos graxos,
lactonas sesquiterpnicas, alcois triterpnicos pentacclicos, derivados do cido
cafico, f1avonas, flavonis metilados, leo essencial, flavonides, alcalides e
heterosdeos cianognicos.
Um estudo realizado por HEYWOOO, HARBORNE & TURNER (1977)
comprovou as informaes geradas por HEGNAUER (1964), concluindo que
Asteraceae compreende uma famlia com variedades de plantas com propriedades
medicinais. Alguns exemplos podem ser citados, tais como a Taraxacum officinalis,
Amica montana L., Artemisia absinthium L. (HEYWOOD, 1977) e Acanthospermum
australe (Loefl.) O. Kuntze, popularmente chamada de carrapichinho. Esta ltima
muito comum em nosso pas, conhecida pela medicina tradicional brasileira que
utiliza o extrato, proveniente de partes areas ou mesmo da planta inteira, visando
obteno de vrias atividades como antimalrica, antianmica, anti-sptica do trato
urinrio (MORS, 2000), antiblenorrgica e s vezes em caso de irisipela (CORRA,
1984; LORENZI, 2000; MORS, 2000).
A referida espcie explorada ainda por sua propriedade tnica, diafortica,
mucilaginosa, aromtica e antidiarrica (PENNA, 1941, CORRA, 1984; LORENZI,
2000; MORS, 2000), em casos de febres palustres e intermitentes (CORRA, 1984;
Introduo 4
LORENZI, 2000) e no tratamento da tosse, bronquite, distrbios do fgado e como
expectorante (PENNA, 1941).
Dentre todos os usos populares desta espcie citados anteriormente, a ao
antimalrica chama ateno, devido ao fato da doena ser ainda um problema
mdico-sanitrio com repercusses sociais e econmicas muito importantes
(FERREIRA, 2002), aliado ao fato que para esta doena no esto disponveis
ainda, vacinas.
A malria uma importante causa de doena e morte de crianas e adultos
em pases tropicais (WHO, 2006). Esta parasitose causada por protozorios do
gnero Plasmodium, sendo que o maior obstculo quimioterapia antimalrica o
aumento da incidncia de cepas resistentes de Plasmodium (BABIKER et aI., 2005,
BARNES et aI., 2005; WHO, 2006).
At o final de 2004, 107 pases e territrios apresentavam reas de riscos
para a transmisso desta doena. Aproximadamente 350 a 500 milhes de
episdios clnicos de malria ocorrem anualmente, sendo que a maior parte das
infeces causada por Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax (WHO, 2005).
A malria causada por P. falciparum, concomitante a outras infeces e
doenas, leva a mais de um milho de mortes por ano, principalmente, em crianas.
Dentre os 60% dos casos de malria mundial, aproximadamente 75% causado por
P. falciparum, sendo que mais de 80% de mortes por malria, ocorrem na frica Sul,
no Sahara. Esta doena a maior causadora de anemia em crianas e mulheres
gestantes, assim como tambm pelo baixo peso infantil, partos precoces e
mortalidade infantil (WHO, 2005).
A atual resistncia do Plasmodium falciparum, principalmente aos
medicamentos mais utilizados na cHnica como a cloroquina ou associaes como
sulfadoxina-pirimetamina, vem provocando preocupao e ateno especial por
parte dos pesquisadores (BABIKER et aI., 2005, BARNES et aI., 2005; WHO, 2006).
A descoberta e desenvolvimento de derivados de artemisinina na China e sua
avaliao no sudeste da sia e outras regies originaram uma nova classe de
antimalrico altamente efetivo, que mudou a quimioterapia desta doena no sudeste
da sia. As terapias combinadas baseadas em artemisinina so, atualmente,
consideradas as melhores no tratamento para a descomplicada malria falcipariana
(WHO, 2006).
Estudos dos extratos de Acanthospennum australe (Loefl.) O. Kuntze, in vivo,
utilizando camundongos BALB/c infectados com Plasmodium berghei, apresentaram
considervel atividade antimalrica (CARVALHO et aI., 1991), porm nenhum
estudo foi realizado at o momento contra o clone AJ de Plasmodium chabaudi, o
qual se apresenta usualmente mais resistente a drogas que outros modelos
(MARTINELLI et ai., 2005).
Atravs de anlises genticas, vem sendo demonstrado que o Plasmodium
chabaudi pode ser considerado o modelo de malria de roedor para a malria
humana, com caractersticas importantes, como resistncia a drogas e imunidade
(MARTINELLI et ai., 2005).
Devido ao fato dos dois principais agentes antimalricos (quinina e
artemisinina), serem de origem vegetal, a busca por componentes ativos oriundos de
plantas tm sido uma constante mundial (SAXENA, et ai., 2003).
No presente trabalho, a atividade contra cepas da Leishmania (L) chagasi foi
testada devido ao fato de um membro da famlia, Jasonia glutinosa, ter apresentado
esta atividade, devido a um sesquiterpeno (VILLAESCUSA-CASTILLO et. aI.,
2000).
5Introduo
Publicaes relacionadas qumica dos compostos de Asteraceae, assim
como a do seu exemplar, Acanthospennum australe tm sido relatadas, porm
investigaes envolvendo os aspectos botnicos no existem na literatura. A
importncia em se caracterizar botanicamente uma espcie vegetal atravs de
estudos morfolgicos e anatmicos de seus rgos constitui uma ferramenta de
suma importncia na diagnose de drogas vegetais, influenciando tambm o controle
de qualidade de produtos a partir dela preparados.
As descries de morfologia e anatomia de uma determinada especle
vegetal permitem aos pesquisadores descobrirem se a mesma produz ou no certos
grupos de substncias, dentre eles, o leo essencial. Este grupo de princpio ativo
uma mistura complexa de muitas substncias simples, geralmente monoterpenos e
sesquiterpenos, onde cada um desses constituintes contribui para um efeito benfico
ou adverso do leo.
Apresentando esta comunicao, deseja-se tornar bem conhecida esta
espcie da famlia Asteraceae, uma planta medicinal pouco estudada e facilmente
adquirida em pastos e pomares ou ainda beira de trilhos de trem e que,
selecionada e cultivada poder ter grande aplicao industrial, pelo seu valor
medicinal.
Os leos essenciais so produtos naturais de grande valor, usados como
materiais brutos em muitos campos, incluindo perfumes, cosmticos, aromaterapia,
fitoterapia e alimentos (BUCHBAUER, 2000). Muitos estudos sobre as atividades
biolgicas dos leos essenciais tm sido publicados, relacionando as alteraes de
composio qumica, qualitativas e/ou quantitativas que ocorrem quando seus
respectivos vegetais produtores so provenientes de regies e estgios de
desenvolvimento diferentes, o que implica em aes biolgicas discordantes para os
leos da mesma espcie (PANIZZI, et aI., 1993).
Introduo 6
SOA!lafqo
Objetivos 8
Constituem objetivos desta tese:
- Estudar a espcie vegetal Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze, sob o
aspecto botnico, qumico e farmacolgico.
Sob o aspecto botnico:
- Caracterizar macro e microscopicamente as partes areas, constitudas de folhas e
caules da espcie em estudo.
Sob o aspecto qumico:
- Realizar a triagem fitoqumica com a droga constituda de partes areas deste
vegetal para os mais importantes grupos de princpios ativos;
- Descobrir por mtodos cromatogrficos, baseado no seu uso popular, a substncia
presente no extrato aquoso, obtido por decoco, que oferece ao antimalrica;
- Isolar alguns componentes dos extratos obtidos por percolao e identific-los por
cromatografia gasosa acoplada espectrometria de massas;
- Extrair, identificar e comparar a composio qumica do leo essencial de amostras
do vegetal coletado em diferentes pocas e estgios de desenvolvimento;
- Dosear o teor de taninos no p da droga e no extrato hidroetanlico liofilizado do
vegetal em estudo.
Sob o aspecto farmacolgico:
- Avaliar os extratos hidroetanlico liofilizado e c1orofrmico quanto s atividades
antimalrica e antileishmania;
- Avaliar o extrato hidroetanlico liofilizado quanto s atividades antilcera aguda e
antimicrobiana.
Reviso Bibliogrfica
3- Reviso Bibliogrfica
3.1- Reviso da famlia Asteraceae
3.1.1- Distribuio
3.1.2- Morfologia externa
3.1.3-lmportncia
3.1.4- Substncias do metabolismo secundrio de Asteraceae
3.2- Reviso do gnero Acanthospermum
3.3- A espcie Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze
3.3.1- Estudos botnicos
3.3.1.1- Posio taxonmica
3.3.1.2- Denominao vulgar e cienUfica
3.3.1.3- Caracterlsticas morfolgicas de Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze
3.3.1.4- Propriedades medicinais de Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze
3.3.1.5- Componentes isolados e aes farmacolgicas de Acanthospermum australe (Loefl.)
O. Kuntze
3.3.1.6- Distribuio geogrfica de Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze
3.3.1.7- Agentes antimalricos de origem vegetal
3.1- Reviso da famlia Asteraceae
Segundo BREMER (1994), o botnico francs Henri Cassini foi muito
importante por definir a classificao da Asteraceae. Demonstrou habilidade em
examinar o material da famlia, descrever numerosos gneros e mostrar muitas
tribos que so reconhecidas hoje. Estes resultados foram publicados em jornais
franceses e dicionrios, e devido a este modo de publicao, o impacto de seu
trabalho foi severamente reduzido, apesar de que, muito do que ele props, aceito
hoje, na classificao desta famlia. Em 1816, publicou um diagrama mostrando as
inter-relaes das 19 tribos desta famlia.
O primeiro livro publicado sobre Asteraceae foi no ano de 1832, por Lessing
que apresentou uma classificao muito diferente de Cassini; inclua sete tribos,
algumas com circunscries bastante amplas e artificiais. Um esquema similar foi
adotado por De Candolle, em 1836.
Uma reviso substancial sobre a classificao das tribos foi providenciada
por BENTHAM em Genera Plantarum (1873). Bentham desenvolveu um sistema, e
posteriormente, descobriu ser semelhante ao de Cassini. Por sua insistncia,
Tabela 1: Classificao de Asteraceae, segundo 8entham e Hoffmann.
8entham realizou algumas alteraes considerveis, descobrindo ainda, algumas
associaes errneas das tribos.
Em 1890, HOFFMANN mostrou em Die Natrlichen Pflanzenfamilien uma
classificao mais atualizada e com pequenos diagnsticos sobre todos os gneros;
seu esquema foi utilizado como referncia geral por mais de 100 anos (tabela 1).
Atualmente, a famlia Asteraceae compreende 3 subfamlias e 17 tribos,
como pode ser visto na tabela 2.
11Reviso Bibliogrfica
Bentham 1873 Hoffmann 1890
Vernoniaceae Vernonieae
Eupatoriaceae Eupatorieae
Asteroideae Astereae
Inuloideae Inuleae
Helianthoideae Heliantheae
Helenioideae Helenieae
Anthemideae Anthemideae
Senecionideae Senecioneae
Calendulaceae Calenduleae
Arctotideae Arctotideae
Cynaroideae Cynareae
Mustisiaceae Mutisieae
Cichoriaceae Cichorieae
Tabela 2: Classificao de Asteraceae, com nmero de subtribos, gneros e
espcies (JUDD, 1999).
Tribo Subfamilia GnerolEspcle Gneros representativos
Bamadesioideae 9/92 Bamadesia, Chuquiraga,1- Bamadesieae
Dasyphy/lum
'Cichorioideae" 76/970 Chapta/ia, Gerbera,2- Mutisieae
Gochnatia, Mutisia, Trixis
"Cichorioideae" 83/2500 Carduus, Centaurea,3- Cardueae (= Cynareae)
Cirsium, Cynara, Echinops
"Cichorioideae" 98/1550 Cichorium, Crepis,
Hieracium, Krigia, Lactuca,
4- Lactuceae (= Cichorieae) Pyrrhopappus, Sonchus,
Taraxacum, Tragopogon,
Youngia
5- Vernonieae "Cichorioideae" 98/1300 Elephantopus, Vemonia
6- Liabeae 'Cichorioideae" 14/160 Liabum
7- Arctoteae "Cichorioideae" 16/200 Arctotis, Ber/(heya
8-lnuleae Asteroideae 38/480 Inula, Pulicaria, Telekia
9- Plucheae Asteroideae 28/220 Pluchea, Sphaeranthus
Asteroideae 162/2000 Anapha/is, Antennaria,
10- Gnaphalieae Gamochaeta, Gnapha/ium,
Leontopodium
11- Calenduleae Asteroideae 8/110 Calendu/a, Osteospermum
Asteroideae 174/2800 Aster, Baccharis, Conyza,
12- Astereae Erigeron, Hap/opappus,
So/idago
Asteroideae 109/1740 Achillea, Anthemis,
13- AnthemideaeArgyranthemum, Artemisia,
Chrysanthemum, Tanacetum
Leucanthemum, Seriphidium,
14- Senecioneae Asteroideae 120/3200 Erechtites, Senecio
Asteroideae 110/830 Amica, F/averia, Gaillardia,15- "Helenieae"
He/enium, Pectis, Tagetes
Asteroideae 189/2500 Ambrosia, Bidens, Calea,
16- HeliantheaeCoreopsis, Cosmos, Dahlia,
He/ianthus, /va, Rudbeckia,
Ve~sma, V~u~ra,Zmnffl
Asteroideae 174/2400 Ageratum, Carphephorus,
17- Eupatorieae Eupatorium, Garberia,
Liatris, Mikania
Reviso Bibliogrfica 12
Reviso Bibliogrfica
3.1.1- Distribuio
A famlia Asteraceae, conhecida como lia famlia do girassol", distribui-se por
quase toda terra, envolvendo os mais variados ecossistemas, sendo, portanto,
cosmopolita (JUDD, 1999; BREMER, 1994; CRONOUIST, 1981; HEYWOOD, 1977).
Sua diversidade mxima est associada a reas abertas, freqentemente
temperadas, como pradarias e savanas das Amricas; estepes e gramados da
frica, sia, Austrlia e da Nova Zelndia. As mesmas ascendem muito nas
montanhas (por exemplo, AchiJIea, alquemilas tpicas dos Alpes) e crescem tambm
em desertos, praias, solos salgados e inspitos, contando sempre que a luz lhes
seja oferecida em toda sua plenitude (BREMER, 1994; CRONOUIST, 1981;
HEYWOOD, 1977).
De acordo com JUDD (1999), a famlia compreende 1535 gneros e cerca
de 23000 espcies. Os maiores gneros esto representados por Senecio (1500
espcies), Vemonia (1000), Cousinia (600), Eupatorium (600), Centaurea (600),
Hieracium (500), He/ichrysum (500), Arlemisia (400), Baccharis (400), Saussurea
(300), Mikania (300), Cirsium (270), Aster (250), Jurinea (250), Bidens (200),
Gnaphalium (150) e Solidago (100).
Muitos gneros ocorrem nos Estados Unidos e Canad, sendo
especialmente importantes os gneros Ambrosia, Antennaria, Arlemisia, Aster,
Baccharis, Bidens, Coreopsis, Erigeron, Senecio, Centaurea, Chrysothamnus,
Cirsium, Eupatorium, E/ephantopus, GaiJIardia, Gamochaeta, Gnapha/ium,
Hap/opappus, Helianthus, Hieracium, Liatris, Lactuca, Rudbeckia, So/idago,
Verbesina e Vemonia (JUDD, 1999).
3.1.2- Morfologia externa
As tribos e os gneros em que os botnicos subdividem esta famlia so
unicamente determinados pelo estudo de sua estrutura floral; suas folhas so muito
variadas, sejam inteiras ou fendidas, de disposio alterna ou oposta, podendo ser
latescentes ou no (JOLY, 1966).
A grande maioria dos gneros (aproximadamente 98%) constituda por
plantas de pequeno porte (ervas, subarbustos, trepadeiras ou excepcionalmente
Reviso Bibliogrfica
rvores). As flores so sempre reunidas em inflorescncia caracterstica, o captulo e
as flores so de simetria radial ou zigomorfas, at bilabiadas.
Os captulos podem conter s flores hermafroditas, s femininas nos bordos
e hermafroditas nos discos ou femininas nos bordos e masculinas nos discos ou
ento, s contm flores masculinas ou s femininas em plantas diicas, alm da
presena de brcteas externas, tambm bractolas para cada flor, como o caso,
por exemplo, em Calea, e a dizemos que o receptculo paleceo (JOLY, 1966).
As flores ainda so do tipo pentmeras com clice profundamente modificado,
transformado no papilho (Pappus) e servindo disseminao do fruto.
O papilho pode ser piloso ou s vezes espinhoso. A corola pentmera,
com 5 lobos iguais ou ento ligulada ou bilabiada e o androceu formado por 5
estames frteis, com filetes livres e anteras, introsas, soldadas em um tubo que
atravessado pelo estilete; o ovrio sempre nfero, bicarpelar, unilocular, com um
nico vulo ereto; o estilete apresenta-se freqentemente com um anel de tricomas,
logo abaixo da bifurcao e o fruto seco indeiscente, tipo aqunico, disperso pelo
vento ou excepcionalmente ficando encerrado no captulo, que ento tem brcteas
duras e espinhosas (Xanthium, Arctium) (JOLY, 1966).
Exemplos comuns entre ns so as inmeras espcies de Vemonia,
Piptocarpha, pequenas rvores dos campos; Elephantopus, ervas com folhas em
rosetas e escapo floral com captulos brancos; Helianthus, o popular girassol, com
sementes oleaginosas e enormes captulos, entre outras (JOLY, 1966).
3.1.3- Importncia
A famlia de grande importncia econmica, incluindo alimentos e plantas
agroindustriais (alface, chicria ou escarola, alcachofra, girassol), ornamentais
(dlia, crisntemo, margarida), ervas medicinais (camomila, tarxaco, pico,
artemsia), ervas daninhas importantes (dente-de-leo, cardo) incluindo a espcie
venenosa Senecio jacobaea, responsvel por muitas mortes de animais domsticos.
Algumas das poucas rvores maiores como Montanoa revealii so cortadas para
madeira (JOLY, 1966; BREMER, 1994).
Reviso Bibliogrfica
Os gneros Tanacetum e Pulicaria contm espcies com propriedades
inseticidas e o gnero Ambrosia apresenta as principais espcies causadoras de
febres (JUDD, 1999).
3.1.4- Substncias do metabolismo secundrio de Asteraceae
Entende-se como metabolismo o conjunto de reaes qumicas que
continuamente esto ocorrendo em cada clula, tendo as enzimas especficas
papis importantes no direcionamento dessas reaes, estabelecendo o que se
denomina de rotas metablicas.
Os compostos qumicos formados, degradados ou simplesmente
transformados so chamados de metablitos e as reaes enzimticas envolvidas
respectivamente so designadas como anablicas, catablicas ou de
biotransformao (SIMES, 2001; SIMES, 2004). Estas reaes visam,
primariamente, o aproveitamento de nutrientes para satisfazer as exigncias
fundamentais da clula: energia (derivada basicamente de ATP), poder redutor
(NADPH) e biossntese das substncias essenciais a sua sobrevivncia
(macromolculas celulares).
Substncias essenciais vida de um organismo como as macromolculas
de carboidratos, lipdeos, protenas e cidos nuclicos tm sido definidas como
integrantes do metabolismo primrio, constituindo, tradicionalmente, o contedo das
disciplinas de bioqumica.
Vegetais, microorganismos e, em menor escala, animais, entretanto,
apresentam todo um arsenal metablico (enzimas, coenzimas e organelas) capaz de
produzir, transformar e acumular inmeras outras substncias no necessariamente
relacionadas de forma direta manuteno da vida do organismo produtor. Neste
grupo, encontram-se substncias cuja produo e acumulao esto restritas a um
nmero limitado de organismos, sendo a bioqumica e o metabolismo
correspondente, especficos e nicos, caracterizando-se como elementos de
diferenciao e especializao (WINK, 1990).
A todo este conjunto metablico costuma-se definir como metabolismo
secundrio, cujos produtos, embora no necessariamente essenciais para o
Reviso Bibliogrfica
organismo produtor, garantem vantagens para a sua sobrevivncia e para a
perpetuao de sua espcie, em seu ecossistema.
Durante muito tempo, os metablitos secundrios foram considerados como
produtos de excreo do vegetal, com estruturas qumicas e, algumas vezes,
propriedades biolgicas interessantes. Atualmente, entretanto, sabe-se que muitas
destas substncias esto diretamente envolvidas nos mecanismos que permitem a
adequao do produtor a seu meio. De fato, j foram reconhecidas como funes de
vrias substncias pertencentes a essa classe de metablitos, por exemplo, a
defesa contra herbvoros e microorganismos, a proteo contra os raios
ultravioletas, a atrao de polinizadores ou animais dispersores de sementes (WINK,
1990) e em alelopatias (HARBORNE, 1988).
o aparecimento de metablitos biologicamente ativos na natureza, segundoRHODES (1994), determinado por necessidades ecolgicas e possibilidades
biossintticas, sendo que a co-evoluo de plantas, insetos, microorganismos e
mamferos conduz sntese de metablitos secundrios com funes de defesa ou
atrao, principalmente. Assim, os metablitos secundrios, por serem fatores de
interao entre organismos, freqentemente, apresentam atividades biolgicas
interessantes.
Os metablitos secundrios so de grande importncia ao homem, pois
permitem estudos de rotas biossintticas que podem trazer novos avanos em
conhecimentos tcnico-cientficos em reas diversas como de qumica, fsica e
biocincias. Favorecem ainda pesquisas de snteses de novos frmacos, baseados
em estruturas e atividades biolgicas.
Quimicamente, a famlia Asteraceae apresenta uma diversidade ampla de
metablitos secundrios, despertando assim um grande interesse econmico
mundial em seu estudo. Os f1avonides, as lactonas sesquiterpnicas baseadas em
terpenides, os poJiacetilenos derivados de cidos graxos e os frutanos
polissacardeos so alguns compostos que podem ser mencionados, caractersticos
desta famlia (HEYWOOD, 1977). Estes ltimos so distintivos na bioqumica de
Asteraceae, pois so polissacardeos incomuns que se baseiam em frutose em vez
de glicose, que mais comum em outras famlias de plantas; so conhecidos
tambm como inulinas.
:1I"
Entende-se como lactonas sesquiterpnicas, os terpenides com 15 tomos
de carbono, distinguveis quimicamente de outros sesquiterpenides pela presena
de um sistema a-metileno y-Iactnico (SEAMAN, 1982; IVIE e WITZEL, 1983;
HARBORNE e TURNER, 1984). Primariamente, so classificados de acordo com o
tipo de esqueleto carbocclico em: germacranlidos, pseudoguaianlidos,
eudesmanlidos e guaianlidos (PICMAN, 1986).
A estes terpenides, atribuem-se vrias atividades biolgicas, tais como:
antiinflamatria, citotxica, antitumoral, bactericida, fungincida e antilcera
(RODRIGUEZ, 1977; PICMAN, 1986; ROBLES et ai., 1995; HEINRICH et ai., 1998).
Os poliacetilenos correspondem a um amplo grupo de metablitos
secundrios no nitrogenados. Esses compostos esto relacionados a algumas
famlias como Asteraceae, Apiaceae, Pittosporaceae, Campanulaceae,
Goodeniaceae e Caprifoliaceae (JUDD, 1999).
Os terpenides tambm correspondem a um amplo grupo de compostos
secundrios de importncia em numerosas interaes biticas. So amplamente
distribudos e muitos tm funes fisiolgicas primrias, podendo ser originados a
partir de pigmentos carotenides e hormnios, como cido giberlico e cido
abcsico (JUDD, 1999).
A distribuio de alguns tipos de terpenides taxonomicamente importante.
Assim, monoterpenides e sesquiterpenides constituem os maiores componentes
do leo essencial, caractersticos de algumas espcies das famlias, Myrtaceae,
Rutaceae, Apiaceae, Lamiaceae, Verbenaceae e Asteraceae, que no ocorrem
somente em tecidos vegetais (em cavidades ou canais no tecido parenquimtico),
mas tambm em glndulas florais onde funcionam como atrativos para insetos
(JUDD, 1999).
Reviso Bibliogrfica 17
As lactonas sesquiterpnicas so bastante conhecidas em Asteraceae (onde
so diversas e taxonomicamente teis) e podem ocorrer em outras famlias como as
Apiaceae, Magnoliaceae e Lauraceae (JUDD, 1999).
A figura 1 mostra as principais rotas de produo de metablitos secundrios
em Asteraceae, de acordo com BOHLMANN (1976). As figuras 2 e 3 ilustram as
lactonas sesquiterpnicas encontradas na famlia Asteraceae, segundo HERS
Reviso Bibliogrfica 18
Figura 1: Rotas principais de produtos naturais de Asteraceae (BOHLMANN, 1976).
cumarinas
[ORI~
[ORI~oAo
carboidratos
e muitos outros
H2C(CEClr-G-C=C-CH=CH2S
e muitos outros
0--o:~1={
(1973) e HEGNAUER (1964), respectivamente. A figura 4 mostra algumas estruturas
triterpnicas comuns na famlia, de acordo com HEGNAUER (1964).
Reviso Bibliogrfica
..
Seco Helenanolfdeos (SHE)
O"cO
Seco Ambrosanoldeos (SAM)
I,III
~~
I
'o
Reviso Bibliogrfica
Guaianoldeo--matricina
Eremofilanoldeo-petasoldeo
OH
Yl"Figura 3: Lactonas sesquiterpnicas de Asteraceae (HEGNAUER, 1.964).
Figura 4: Algumas estruturas triterpnicas de Asteraceae (HEGNAUER, 1964).
3f:,
Ursanol
_/~
Shionona
23
O'
Em relao ao leo essencial, membros das Asteraceae, com exceo da
Cichorieae, produzem esta substncia que so depositadas no interior de tricomas
glandulares ou ductos esquizgenos em quantidades apreciveis. Alm dos
monoterpenides e dos sesquiterpenides como constituintes deste leo, fazem
parte da composio, os fenilpropanides, acetilenos e cromonas (HEGNAUER,
1964). A figura 5 ilustra alguns componentes do leo essencial de plantas
pertencentes a esta famlia, de acordo com o mesmo autor.
O cido 3,4-dihidroxicinmico, conhecido comercialmente como cido
cafico [(HO)2C6H3CH=CHC02H], um composto fenlico que est entre os
componentes em maior quantidade nesta famlia de vegetais. Est normalmente
presente como uma mistura de cidos clorognico, incluindo cinarina e algumas
vezes como cido chicrico (HEGNAUER, 1964). Alguns compostos fenlicos e
fenilpropanides de Asteraceae podem ser vistos na figura 6.
A partir de extratos de ervas medicinais de uso popular, utilizados no
combate aos mais diferentes tipos de doenas. podem ser isolados inmeros
metablitos com atividades biolgicas cientificamente comprovadas, como os
antivirais (Calendula arvensis, saponinas triterpenides), (TOMASI, 1991),
antitumorais (Helianthella quinquinervis, o benzofurano 6-metoxi-trimetil-ona),
analgsicos e antiinflamatrios (Cirsium subcoriaceum, o flavonide pectoliarina),
antibacterianos, antimalricos (Artemisia annua, a lactona sesquiterpnica
artemisinina; NGO et ai., 1997), antileishmaniose (Jasonia glutinosa, o
sesquiterpeno [11R]-eudesm-4 (14)-eno-5, 11-12-diol (VILLAESCUSA-CASTILLO et
aI., 2000) e antifngicos (Senecio pampae, furanoeremofilanos). Tais
metablitos servem como padres ou prottipos para desenvolvimento de seus
derivados, bem como de sua sntese.
So tambm comuns na famlia algumas ervas que agem como inseticidas
naturais, pois contm alcamidas especiais como a Spillanthes mauritiana,
(JONDICO, 1986); piretrinas e steres de piretrolona, substncias existentes nas
flores do Chrysanthemum (Pyrethrum) cinerariaefolium, valendo a pena ainda
mencionar que inseticidas piretrides so compostos sintticos que apresentam
estruturas semelhantes da piretrina: aletrina, resmetrina, decametrina, cipermetrina
e fempropanato.
Reviso Bibliogrfica 21
Reviso Bibliogrfica
Diidrobenzofuranide(derivado timol)
I
O~~
I JI
I
HOH, H
22
COCH3
CH2--R
I~I I
~OH//l"R=H: TimolR=OH: Derivadotimol
r-\/ O Ic-/~OAA~CH'-O-
/I ~ 12-acetxi-10, II-deidrongaione", ./ (furano sesquiterpeno)
O
Figura 5: Alguns componentes do leo essencial de Asteraceae (HEGNAUER,
1964).
OH O II
1 yA OI
I ()I I
~,.-r::::- OHOR O O
R=H: Isoprenilato de cido
hidroquinona p-benzoquinona piromecnico
R= g1icosil:arbutin
H'W~OOc=o!O
ICH2
H'W'DBenzoato deDimetxiidroxibenzil
(H'CH(CH'"
HC.
IHCJ>\CH3
R=H: anol isovaleratoR= OCH3: epxido deisoeugenol
OHI
IA/OH
~ ':YiH
H3C-----COOH
IH-----COOH
ORR= cafeil:cido fuquinlicoR= H: cidohidroxipiscdico
O~H'WX)0H,W Y
CH2ICH
1ICH2
Dilapiol(fenilpropanide)
Figura 6: Alguns componentes fenlicos, fenilpropanides de Asteraceae
(HEGNAUER, 1964).
Reviso Bibliogrfica
3.2- Reviso do gnero Acanthospermum (INDEX KEWENSIS)
Espcies descritas do gnero Acanthospermum:
ACANTHOSPERMUM, Schrank, PI. Rar. Hort.
Monac, t. 53 (1819). COMPOSITAE, Benth. &Hook. F. ii. 349.
Centrospermum, H. B. &K. Nov. Gen. Et Sp. Iv. 270. t.397 (1820)
Echinodium, Poiteau, ex Casso In Dict. Sc. Nat. Lix. 235 (1829)
ORCYA, Vell. FI. Flum.344 (1825).
brasilium , Schrank, PI, Rar. Hort. Monac. li. 53.-Bras.
hirsutum, DC. Prod. V. 522 = brasilum.
hispidum, DC. I. c. 522-Bras.
humile, DC. I. c. 522-lnd. occ.
xanthioides, De. L c. 521 = brasilum.
3.3- A espcie Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze
23
Figura 7: Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze.
Reviso Bibliogrfica
3.3.1- Estudos botnicos
3.3.1.1- Posio taxonmica
De acordo com o sistema de Cronquist (CRONQUIST, 1996), a espcie :11
Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze tem a seguinte posio taxonmica:
Diviso:
Classe:
Ordem:
Famlia:
Sub-famlia:
Tribo:
Sub-tribo:
Gnero:
Espcie:
Magnoliophyta Cronquist, Takhtajan,
Magnoliopsida ("Magnoliate") Cronquist
Asterales
Asteraceae (Compositae)
Asteroideae
Heliantheae
Helianthinae
Acanthospermum
Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze
3.3.1.2- Denominao vulgar e cientfica
Denominao vulgar: carrapichinho, cordo de sapo, carrapicho mido, marto,
chifrinho, pico da prata (LORENZI, 2000), pico da praia e poejo da praia (MORS,
2000, PENNA, 1941), espinho de agulha, erva-mijona, erva-mineira (MORS, 2000),
carrapicho-rasteiro e amor de negro (LORENZI, 2000; MORS, 2000, PENNA, 1941),
carrapicho de carneiro e mata-pasto (LORENZI, 2000; MORS, 2000), retirante
(PENNA, 1941), tapecue (SHIMIZU, 1987).
Denominao cientfica: Acanthospermum brasilium Schrank, Melampodium
australe Loef., Centrospermum xanthioides H.B.K. e Oreya adhaerescens Vell.
(CORRA, 1984, LORENZI, 2000), Acanthospermum hirsutum OC., Echinodium
prostatum Poit. e Acanthospermum obtusifolium DC. (LORENZI, 2000),
Acanthospermum xanthioides DC (CORRA, 1984, PENNA, 1941, LORENZI,2000)
Melampodium divaricatum, Plumbago littoralis e Acanthospermum hispidum D.C
(PENNA, 1941).
Reviso Bibliogrfica
3.3.1.3- Caractersticas morfolgicas de Acanthospermum austra/e (Loefl.) O.
Kuntze
Trata-se de uma erva daninha muito comum em lavouras novas de cerrados
e campos e considerada como planta medicinal (LORENZI, 2000), desenvolvendo-
se ainda melhor em terrenos arenosos do litoral (CORRA, 1984).
Possui como caractersticas gerais ser uma planta anual, herbcea,
prostrada (CORRA, 1984, LORENZI, 2000), caules pubescentes e arroxeados
medindo 20 a 40 cm de comprimento (LORENZI, 2000) ou at 1 m (CORRA, 1984;
PENNA, 1941), com reproduo por sementes.
Suas folhas so opostas (CORRA, 1984; PENNA, 1941; LORENZI, 2000),
membranosas, denteadas e pilosas (CORRA, 1984), pubescentes e glandulosas
(LORENZI, 2000), medindo 1 a 4 cm de comprimento e 1 a 2 cm de largura
(LORENZI, 2000) ou at 3 cm de comprimento por igual largura (CORRA, 1984).
O pecolo curto, de aproximadamente 1 cm, pilosos na base (LORENZI,
2000; CORRA, 1984); suas inflorescncias so axilares, em forma de captulos
solitrios e curto-pedunculados, contendo pequenas flores amareladas (LORENZI,
2000).
3.3.1.4- Propriedades medicinais de Acanthospermum austra/e (Loefl.) O.
Kuntze
A parte empregada na medicina popular so as partes areas ou mesmo a
planta inteira, sendo a infuso e a decoco os mtodos de extrao mais utilizados
(PENNA, 1941).
As folhas apresentam propriedades amarga e aromtica (CORRA, 1984;
PENNA, 1941; LORENZI, 2000), tnica, diafortica, mucilaginosa e antidiarrica
(CORRA, 1984; PENNA, 1941; LORENZI, 2000, MORS, 2000), antiblenorrgica,
sendo usadas em casos de irisipela (CORRA, 1984; LORENZI, 2000; MORS,
2000), antimalrica, anemia e doenas do sistema urinrio (MORS, 2000). ainda
muito utilizada contra febres palustres e intermitentes (CORRA, 1984; LORENZI,
2000), assim como para tratamento da tosse, bronquite, molstias do fgado e como
expectorante (PENNA, 1941).
Reviso Bibliogrfica
GARCIA-BARRIGA (1975) informa em seu trabalho que o extrato da planta
inteira de A. australe tem sido usado na Colmbia, no tratamento do cncer.
Os homeopatas empregam as folhas para a tintura que, com o nome de
Plumbago Iiftoralis, tem sido usada nos casos de palpitaes, vertigens, reumatismo
articular e muscular e afeces do peito (PENNA, 1941).
3.3.1.5- Componentes isolados e aes farmacolgicas de Acanthospermum
austra/e (Loefl.) O. Kuntze
Partes areas contm numerosas lactonas sesquiterpnicas e diterpnicas
(HERZ, 1973; SOHLMANN, 1976; MORS, 2000). O flavonide, 5,7,4'-triidroxi-3,6-
dimetoxi-flavona, com atividade inibitria da aldolase foi isolado a partir do
fracionamento de um extrato hidroetanlico 70% de partes areas de A. australe,
proveniente do Paraguai (SHIMIZU et aI., 1987). Outras substncias obtidas pelos
mesmos autores foram o trifolina, hiperina rutina, quercetina e cido cafico.
Extratos brutos de A. australe testados em camundongos infectados com
Plasmodium berghei e testados in vitro contra Plasmodium falciparum mostraram ser
ativos (CARVALHO, 1991).
Extratos de A. australe forneceram muitos melampoldeos, um subgrupo de
germacranoldeo e flavonides (SOHLMANN et aI., 1984; ZDERO, et aI., 1987).
Alguns deles tm sido caracterizados por atividade antineoplsica (HERZ, 1975);
MATSUNAGA et aI. (1996) isolaram uma substncia antineoplsica
denominada de acanthostral (eis, eis, cis-germacranoldeo) a partir de um extrato
benznico de "Tapecu" (A. australe), coletada no Paraguai. Vrios diterpenos
(HERZ, 1981), acanthospermal A, timol, isotimol etc. tm sido isolados desta planta
(SOHLMAN et aI., 1984).
\1I
.II
Reviso Bibliogrfica
3.3.1.6- Distribuio geogrfica de Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze
No Brasil ocorre em Gois, do Piau at o Rio Grande do Sul e Minas Gerais
(PENNA, 1941). A correo das condies de fertilidade do solo geralmente leva
diminuio do nvel de infestao. Ocorre tambm em pastagens e em outros tipos
de solo, porm sua presena est sempre ligada a baixos ndices de fertilidade dos
mesmos (PENNA, 1941; CORRA, 1984; LORENZI, 2000).
Figura 8: Distribuio geogrfica do Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze
(LORENZI, 2000).
3.3.1.7- Agentes antimalricos de origem vegetal
A malria a doena que mais prevalece no mundo, dentre aquelas
causadas por insetos. um exemplo clssico de doena que afeta a produtividade
de indivduos, de famlias e de toda sociedade, sendo mais comum em pases
subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento (WHO, 1993; EKTHAWATCHAI, et
ai, 1999; SAXENA, 2003).
Na frica, seu impacto muito grande (WHO, 1993; EKTHAWATCHAI, et ai,
1999). Outras reas incluem o leste da sia, a China e a ndia. Pesquisadores
estimam que mais de 40% de casos de malria que ocorrem na ndia so causadas
por Plasmodium falciparum (KUMAR, 1994).
Reviso Bibliogrfica
A primeira droga antimalrica descoberta foi a quinina, isolada de cascas de
espcies do gnero Cinchona (Rubiaceae) em 1820. Em 1940, uma outra droga
antimalrica, a cloroquina, foi sintetizada (BHAREL et ai., 1996). Este antimalrico,
amplamente disponvel mundialmente que outrora foi considerado o principal
controlador da doena, hoje, ineficaz na maioria da malria provocada por P.
falciparum de reas endmicas (WHO, 2006).
Tratamentos da malria resistentes cloroquina, foram feitos com frmacos
alternativos ou combinaes de frmacos, que mostraram ter alto custo e algumas
vezes, txicos. Alm disso, essas combinaes no foram sempre baseadas na
farmacocintica dos princpios ativos devido aos poucos conhecimentos sobre o
mecanismo de ao da maioria dos frmacos antimalricos (SAXENA, et ai, 2003).
Por esta razo, grupos de pesquisa esto se desempenhando atualmente para
desenvolver novos compostos ativos como uma alternativa para a cloroquina.
A descoberta da Qinghaosu, conhecida como artemisinina, inspirou a
investigao de alguns outros perxidos de ocorrncia natural por suas atividades
esquizonticidas (KLAYMAN, 1985). Esta substncia uma lactona sesquiterpnica
com atividade antimalrica, isolada das folhas e inflorescncias da Artemisia annua
Linn (Asteraceae). A pouca hidrossolubilidade da artemisinina constituiu, talvez, o
maior problema das indstrias farmacuticas que desenvolveram vrias posologias,
vias de administrao e derivados mais potentes desta substncia no intuito de
solucionar o problema; o mais promissor o seu derivado ter metlico artemeter
(ROBBERS, et ai., 1997), que apresentou atividade tambm em Schistosoma
mansoni (ARAJO et ai., 1991).
A mortalidade anual, estimada a mais de um milho de pessoas, vem
subindo, provavelmente devido ao aumento da resistncia do protozorio aos
frmacos. controle da malria requer uma integridade aproximadacompreendendo preveno que inclui o controle do vetor e tratamentos com
antimalricos efetivos (WHO, 2006).
Devido ao fato dos dois principais agentes antimalricos (quinina e
artemisinina) serem de origem vegetal, a busca por componentes ativos oriundos de
plantas tm sido uma constante mundial (SAXENA, et ai., 2003).
Reviso Bibliogrfica
A seguir, apresentar-se-o alguns resultados de estudos com especles
vegetais que apresentaram alguma atividade contra o protozorio da malria:
- Em 1995, VALSARAJ et aI. avaliaram as espcies vegetais Garcinia gummigutta
(Guttiferae) e Mammea longifolia (Guttiferae) contra o parasita da malria, sensveis
e resistentes c1oroquina na concentrao de 100 mg/mL. A porcentagem da
inibio de crescimento induzida por Garcinia e Mammea foram, respectivamente,
99.5% e 86%.
- Uma atividade antimalrica in vivo do extrato alcalodico total de Golipea longiflora
tem sido confirmada em roedores infectados com P. vinckei patteri, quando do
tratamento oral com uma dose de 50 mg/Kg do extrato (GANTIER, et aI., 1996.).
- Um novo alcalide dibenzilisoquinolnico, nomeado como (+)-2-N-metiltelobino, foi
isolado de Stephania erecta (Menispermaceae), que inibiu o crescimento de cultura
de cepas sensveis e resistentes c1oroquina (VALSARAJ, et aI., 1995). Verificou-se
tambm que o alcalide augustina, isolado de Strychnopsis thouarsi e
Spirospermum penduliflorum exibiu significante atividade antimalrica
(RATSIMAMANGA-URVERG, et aI., 1992).
- Um extrato aquoso proveniente da decoco de cascas de razes de Uapaca nitida
(Euforbiaceae) usado na Tanznia no tratamento da malria. Extrato alcolico de
cascas de razes dessa espcie mostrou atividade antimalrica contra P. berghei em
roedores (KIRBY, et aI., 1993).
- Flavonides isolados de Artemisia annua no demonstraram ser ativos contra P.
falciparum, mas demonstraram um efeito de potencializao seletiva sobre a
atividade da artemisinina (LIU, et aI., 1992).
- O extrato etanlico de Garcinia dulcis (Guttiferae) forneceu 5 xantonas, sendo que
uma delas, a garciniaxantona, apresentou efeito inibitrio sobre o crescimento de P.
falciparum com valor de ICso igual a 0.961Jg/mL (LlKHITWITAYAWUID, et aI., 1998).
- O leo essencial de folhas e caules de Tetradenia ripari mostrou moderada
atividade antimalrica contra duas cepas de P. falciparum (CAMPBEL, et aI., 1997).
- LOPES, et aI. (1999) mencionam que o leo essencial de folhas de Virola
surinamensis, coletadas na ilha de Comb, prximo a Belm-Par, apresentou
Reviso Bibliogrfica
excelente atividade antimalrica in vitro, sendo esta atividade atribuda ao
sesquiterpeno nerolidol.
- MILHAN et ai. (1997) avaliaram os leos essenciais de Artemisia vulgaris,
Eucalyptus globulus, Myrtus comunis, Juniperus comunis, Lavandula angustifoia,
Origanum vulgare, Rosmarinus officinalis e Salvia officinaJis, contra duas cepas de
P. falciparum, FcB1-Columbia e uma cepa Nigeriana resistente cloroquina. Os
melhores resultados foram obtidos com leos de Myrtus comunis e Rosmarinus
officinaJis que inibiram 50% do crescimento do parasita, in vitra, nas concentraes
compreendidas entre 150 Jjg/mL a 270 Jjg/mL.
Material e Mtodos
4- Material e Mtodos
4.1- Aspectos botnicos
4.1.1- Coleta e identificao
4.1.2- Caracterizao macroscpica de folha
4.1.3- Caracterizao microscpica de folha e caule
4.2- Aspectos qumicos
4.2.1-Triagem fitoqumica
4.2.2- Ensaios para o leo essencial
4.2.3- Preparao dos extratos
4.2.3.1- Extratos aquosos
4.2.3.2- Extrato hidroetanlico 70% e Extrato Hidroetanlico Liofilizado (EHL)
4.2.3.3- Extratos hexnico e clorofrmico
4.2.3.4- Extrato acetona:gua
4.2.4- Aplicao dos extratos em CCO
4.2.5-lsolamento do componente comum a todos os extratos por CCO preparativa
4.2.6- Isolamento de um componente comum aos extratos clorofrmico e hexnico por CCO
preparativa
4.2.7- Ooseamento de taninos na droga vegetal e no extrato hidroetan6lico liofilizado (EHL)
4.2.8- Determinao de gua no p da droga e no EHL
4.3- Aspectos farmacolgicos
4.3.1- Atividade antimalrica e antileishmania dos extratos hidroetan61ico liofilizado (EHL) e
clorofrmico
4.3.2- Atividade antilcera aguda
4.3.3- Atividade antimicrobiana do EHL em bactrias, leveduras e bolor
4.1- Aspectos botnicos
4.1.1- Coleta e identificao
O material vegetal correspondente s partes areas de Acanthospermum
australe (Loefl.) O. Kuntze utilizada para os estudos botnico, qumico e
farmacolgico foi coletado em trs momentos diferentes, no Stio Toyota, permetro
urbano da cidade de lacri, situada a 540 Km da cidade de So Paulo, em janeiro de
2003, outubro e novembro de 2005. O vegetal em questo apresentava-se em fase
de florao e frutificao. As condies do tempo, assim como o horrio da coleta
foram levadas em considerao (OLIVEIRA e AKISUE, 1991).
O vegetal foi identificado pelas botnicas, Ora. Rosngela Simo Bianchini,
do Instituto Botnico de So Paulo, Seo de Curadoria do Herbrio e por Rejane
Esteves, do Departamento de Botnica do Horto Florestal - SP, e tambm pelo
professor da Universidade de So Francisco, Bragana Paulista, SP, Dr. Fernando
de Oliveira. A exsicata foi depositada no Instituto Botnico de So Paulo sob nmero
SP 366743.
Material e Mtodos 33
O material foi dividido em duas partes, sendo uma destinada ao estudo
morfolgico e anatmico e a outra destinada aos ensaios qumicos e farmacolgicos.
4.1.2- Caracterizao macroscpica de folha
Folhas adultas, frescas e secas, de vrios tamanhos, foram analisadas
quanto dimenso, forma, aspecto da superfcie, cor, odor, sabor, entre outras
caractersticas consideradas importantes para a diagnose da droga (OLIVEIRA e
AKISUE, 2000). Para tanto, o material foi observado a olho nu ou atravs de lupa de
pequeno aumento e as medidas foram obtidas com rgua e paqumetro.
4.1.3- Caracterizao microscpica de folha e caule
Executou-se o estudo anatmico da folha mediante a elaborao de cortes
mo livre, no tero mdio inferior do rgo conservado em etanol 70%, de acordo
com as tcnicas usuais (OLIVEIRA e AKISUE, 2000). O estudo do caule foi obtido a
partir de cortes realizados em brotos apicais, na regio de estrutura primria
(OLIVEIRA e AKISUE, 2000).
Material e Mtodos
Os cortes foram submetidos dupla colorao com azul de astra e fucsina
bsica (ROESER, 1962) ou com azul de toluidina (O'BRIEN et aI., 1965). Testes
histoqumicos foram tambm realizados, empregando-se as solues de floroglucina
clordrica (SASS, 1951) para estruturas lignificadas; lugol (BERLYN e MIKSCHE,
1976) para amido; reagente Sudan IV (FOSTER, 1949) para substncias lipoflicas;
azul de metileno (OLIVEIRA e AKISUE, 2000) para mucilagem; cloreto frrico
(JOHANSEN, 1940) para compostos fenlicos e cido sulfrico (OLIVEIRA e
AKISUE, 2000) para evidenciar a natureza qumica dos cristais. As fotomicrografias
foram obtidas atravs de aparelho Nikon, utilizando-se escalas nas seguintes
condies pticas: 40 vezes: barra de 0,4 cm equivalendo a 100 jJm; 100 vezes:
barra de 1,1 cm equivalendo a 100 jJm; 200 vezes: barra de 1,1 cm equivalendo a 50
jJm; 400 vezes: barra de 1,1 cm equivalendo a 25 jJm.
4.2- Aspectos qumicos
As folhas e caule do vegetal foram submetidos secagem, em estufa, com
circulao de ar, temperatura de 40-45 C, por 24 horas, sendo posteriormente
pulverizadas em moinho de facas e martelos, obtendo-se p semi-fino
(FARMACOPIA BRASILEIRA, 1988).
4.2.1- Triagem fitoqumica
Realizaram-se os ensaios fitoqumicos em triplicata com folhas e caules do
vegetal pesquisa de alcalides (COSTA, 1978, DOMINGUES, 1973,
FARMACOPIA BRASILEIRA, 1959), saponinas (COSTA, 1978), glicosdeos
cardiotnicos (COSTA, 1978, DOMINGUES, 1973), antraderivados (COSTA, 1978,
DOMINGUES, 1973), flavonides (COSTA, 1978, GRAYER, 1989), mucilagens
(COSTA, 1978), taninos e outros compostos fenlicos (COSTA, 1978, GRAYER,
1989, FARMACOPIA, 1959, SPENCER, 1988), alm de leo essencial (COSTA,
1978). Os mesmos procedimentos foram realizados com as drogas-padro contendo
altas concentraes de cada grupo de princpio ativo.
A tabela 3 mostra todos os ensaios fitoqumicos realizados com as partes
areas da espcie em estudo.
Material e Mtodos
Tabela 3: Ensaios para deteco de grupos de princpios ativos em partes areas
de Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze.
Grupos de princpios ativos Reaes
- Reao de Bertrand
Alcalides - Reao de Mayer
- Reao de Dragendorff
- Reao de Bouchardat
- Reao de Shinoda
Flavonides - Reao com cloreto de alumnio
- Reao com hidrxidos alcalinos
Saponinas *- Teste de espuma
*- Adstringncia
- Reaes com sais de ferro
- Reao com acetato de chumbo
Taninos e compostos fenlicos - Reao com acetato de cobre
- Reao com alcalides
- Reao com gelatina
- Pesquisa de compostosAntraderivados antraquinnicos livres e combinados
- Do ncleo esteroidal:
- Reao de Liebermann-Burchard
- Do anellactnico pentagonal:
Glicosdeos cardiotnicos - Reao de Kedde
- Reao de Baljet
- De 2-desoxiacares:
- Reao de Keller-Killiani
Mucilagens *- Indice de Intumescimento (LI)
Oleo essencial *- Verificao de odor
* Foram obtidos sem o uso de reativos qurmicoso
0,,1
~,
11
t;~ ,I
Material e Mtodos
4.2.2- Ensaios para o leo essencial
O leo essencial das folhas frescas proveniente de duas coletas
(outubro/2005 e novembro/2005), assim como da droga pulverizada, constituda de
folhas e caules e droga pulverizada constituda somente de caule, coletadas em
janeiro de 2003, foi obtido por hidrodestilao em aparelho de Clevenger modificado
(WASICKY e AKISUE 1969), por aproximadamente 6 horas. Para estes
procedimentos foram hidrodestiladas 400 g de folhas frescas e 150 g de droga.
Os rendimentos foram calculados e o leo foi acondicionado em frasco mbar
e conservado em geladeira, sendo posteriormente submetido a ensaios em
cromatografia em camada delgada (CCO), cromatografia em camada delgada
preparativa (CCO preparativa) e anlise de seus componentes em cromatgrafo a
gs acoplado a espectro de massa, com banco de dados (CG/EM).
Os dados do aparelho e as condies de anlise deste trabalho de pesquisa
so mostrados a seguir:
A- Anlise do leo essencial da droga constituda de folhas e caules coletadas em
janeiro de 2003, quando o vegetal encontrava-se em fase final de frutificao:
- Dados do aparelho:
Marca Shimadzu QP 5050 A (CG/EM);
- Condies da anlise:
Solvente: Oiclorometano (CH2CI2);
Temperatura do forno: 100C;
Temperatura do injetor: 230C;
Temperatura da interface: 280C;
Gs carreador: Hlio;
Coluna: 08-5 (5% fenil, metil polisiloxano, 30 m x 0,32 mm);
Rampa: incio a 100C por 3 minutos e velocidade de 5C/min at alcanar 280C,
permanecendo por mais 10 minutos; tempo total da anlise: 49 minutos.
L'
Material e Mtodos
8- Anlise do leo essencial da droga constituda de caules coletados em janeiro de
2003, quando o vegetal encontrava-se em fase final de frutificao:
- Dados do aparelho:
Marca Shimadzu OP 5050 A (CG/EM);
- Condies da anlise:
Solvente: Diclorometano (CH2CI2);
Temperatura do forno: 100C;
Temperatura do injetor: 230C;
Temperatura da interface: 280C;
Gs carreador: Hlio;
Coluna: D8-5 (5% fenil, meti! polisiloxano, 30 m x 0,32 mm);
Rampa: incio a 100C por 3 minutos e velocidade de 5C/min at alcanar 280C,
permanecendo por mais 10 minutos; tempo total da anlise: 49 minutos.
C- Anlise do leo essencial de folhas frescas coletadas em outubro e novembro de
2005, quando o vegetal encontrava-se, respectivamente, em fase de florao e incio
de frutificao:
- Dados do aparelho:
Marca Shimadzu OP 5050 A (CG/EM);
- Condies da anlise:
Solvente: Diclorometano (CH2Cb);
Temperatura do forno: 100C;
Temperatura do injetor: 280C;
Temperatura da interface: 320C;
Gs carreador: Hlio;
Coluna: D8-5 (5% fenil, metil polisiloxano, 30 m x 0,32 mm);
Rampa: incio a 60C por 1 minuto e velocidade de 10C/min. at alcanar 280C,
permanecendo por mais 5 minutos; de 280C at 320C na velocidade de 20C/min.,
permanecendo a 320C durante 10 minutos.
Material e Mtodos
4.2.3- Preparao dos extratos
4.2.3.1- Extratos aquosos
Os extratos aquosos foram obtidos de duas formas: 1_ a frao aquosa
utilizada na extrao do leo essencial, conforme citado no item 4.2.2, foi reservada
para estudo de composio qumica. Este extrato foi submetido a um processo de
liofilizao e o seu rendimento calculado; 2_ uma amostra de 100 g de droga
pulverizada foi levada fervura por 30 minutos, em 1 litro de gua. Deixou-se
resfriar naturalmente o produto, sendo em seguida filtrado por papel de filtro. A
operao foi efetuada por mais duas vezes, utilizando-se 1 litro de gua, em cada
uma. Os lquidos assim obtidos foram reunidos num mesmo frasco e,
posteriormente, liofilizados. O rendimento do liofilizado foi calculado e ambos os
extratos foram submetidos anlise em CCD.
4.2.3.2- Extrato hidroetanlico 70% e Extrato Hidroetanlico Liofilizado (EHL)
Uma amostra de 100 g de droga constituda por partes areas de
Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze foi percolada segundo o mtodo
descrito na Farmacopia Brasileira (1959), empregando-se como lquido extrator,
etanoI70%. O extrato hidroalcolico assim adquirido foi concentrado em evaporador
rotativo, sendo posteriormente submetido a um aparelho de liofilizao,
conseguindo-se finalmente o extrato hidroetanlico liofilizado (EHL), cujo rendimento
foi calculado.
o EHL foi acondicionado em vidro mbar e conservado em dessecador at omomento dos ensaios farmacolgicos; o extrato hidroetanlico 70% foi submetido
anlise em CCD e CG/EM.
4.2.3.3- Extratos hexnico e clorofrmico
Para se chegar aos extratos hexnico e clorofrmico, uma amostra de 50 9
da droga pulverizada de partes areas de Acanthospermum australe (Loefl). O.
Kuntze foi submetida a um processo de percolao, como no item anterior. Os
extratos assim obtidos (percolados) foram concentrados em evaporador rotativo, e
os rendimentos, calculados. Posteriormente, alquotas foram aplicadas em
cromatografia em camada delgada (CCO) preparativa, alcanando-se os respectivos
perfis cromatogrficos. O extrato clorofrmico foi ainda submetido anlise em
CG/EM.
- Sistema cromatogrfico 2:
Suporte: placa de vidro 20 X 20 cm
Adsorvente: slica gel G254 de espessura 300 f.!
Adsorvente: slica gel preparativa PF 254 de espessura 1mm
Fase mvel: acetato de etila:cido actico:cido frmico:gua (100:11:11 :26)
Saturao: completa; percurso: 12 cm ascendente; Revelador: NP/luz UV 366 nm
4.2.3.4- Extrato acetona:gua
Uma amostra de 300 9 de droga pulverizada foi percolada com uma
associao de solventes, acetona:gua (1:1) (HAGERMAN, 1988) de acordo com a
mesma tcnica empregada para obteno dos extratos dos itens anteriores. O
percolado foi concentrado at secura, por evaporador rotativo, sendo calculado o
seu rendimento; alquotas deste extrato foram aplicadas em CCO e CG/EM
39Material e Mtodos
4.2.4- Aplicao dos extratos em CCO
Os perfis cromatogrficos dos extratos c1orofrmico e hexnico foram
obtidos a partir da aplicao das respectivas amostras em CCO, no sistema
cromatogrfico 1 e os perfis cromatogrficos dos extratos aquoso, acetona:gua,
c1orofrmico e hidroetanlico, no sistema cromatogrfico 2, conforme so
apresentadas a seguir.
- Sistema cromatogrfico 1:
Suporte: placa de vidro 20 X 20 cm
Adsorvente: slica gel preparativa PF 254
Fase mvel: tolueno e acetato de etila (85:15)
Saturao: completa; percurso: 12 cm ascendente
Espessura da slica: 800 f.!
Revelador: anisaldedo sulfrico
Material e Mtodos
4.2.5- Isolamento do componente comum a todos os extratos por CCO
preparativa
Aps aplicao dos extratos aquoso, acetona:gua, clorofrrnico e
hidroetanlico no sistema cromatogrfico 2, com espessura de slica de 300 1-1,
observou-se a existncia de um componente comum a todos os extratos. Assim,
isolou-se o mesmo por cromatografia em camada delgada preparativa a partir da
aplicao do extrato acetona:gua 1:1 no sistema cromatogrfico 2 com espessura
de slica de 1mm.
A frao isolada, assim como todos os outros extratos, foi analisada em
CG/EM. Os dados do aparelho e as condies da anlise so mostrados a seguir:
- Dados do aparelho:
Marca Shimadzu OP 5050 A (CG/EM);
- Condies da anlise:
Coluna: D8-WAX (30 m x 0,25 mm);
Rampa: incio a 60C por 2 minutos e velocidade de 10C/min. at 230C.
4.2.6- Isolamento de um componente comum aos extratos clorofrmico e
hexnico por CCO preparativa
Aps aplicao dos extratos clorofrmico e hexnico no sistema
cromatogrfico 1, isolou-se um componente comum a esses extratos. Esta
substncia foi aplicada em aparelho CG/EM e seus espectros foram analisados. Os
dados do aparelho e as condies da anlise so mostrados a seguir:
- Dados do aparelho:
Marca Shimadzu OP 5050 A (CG/EM);
- Condies da anlise:
Coluna: 08-5 (30 m x 0,25 mm);
Rampa: incio a 60C por 1 minuto e velocidade de 20C/min. at 280C,
permanecendo por mais 10 minutos;
Fluxo da coluna: 4,9 mUmin.
Material e Mtodos
4.2.7- Doseamento de taninos na droga vegetal e no extrato hidroetanlico
liofilizado (EHL)
o doseamento de taninos na droga vegetal e no extrato hidroetanlicoliofilizado foi realizado conforme preconizado pela EUROPEAN PHARMACOPOEIA
(2001). O resultado foi expresso em porcentagem de taninos e o mtodo baseia-se
na reao colorimtrica dos polifenis com o cido fosfomolibdotngstico, utilizando-
se como referncia o pirogalol (Sigma).
Os ensaios foram realizados em triplicata.
Doseamento
0,750 g de droga vegetal foram adicionados 150 mL de gua destilada. O
conjunto foi aquecido em banho-maria por 30 minutos, resfriado e transferido
quantitativamente para um balo volumtrico de 250 mL. Aps a decantao dos
slidos, o conjunto foi filtrado por papel de filtro, e foram descartados os 50 mL
iniciais do filtrado (F1). O mesmo procedimento acima descrito utilizando-se 0,300 g
de extrato hidroetanlico liofilizado (F3), tambm foi feito.
Polifenis totais
Quantidade de 5 mL de F1 foram diludos com gua destilada em um balo
volumtrico de 25 mL. 2 mL desta soluo foram adicionados 1 mL do reagente
fosfomolibdotngstico e 10 mL de gua destilada em balo volumtrico de 25 mL e o
volume foi completado com a soluo de carbonato de sdio. Aps 30 minutos, fez-
se a leitura da absorbncia a 760 nm (A1), usando gua como branco.
Desenvolveu-se o mesmo procedimento utilizando-se o filtrado obtido a
partir do extrato hidroetanlico liofilizado (F3).
Polifenis no adsorvidos pelo p de pele
Quantidade de 10 mL de F1 foram adicionados a 0,10 g de p de pele
Merck. O conjunto foi levado agitao em agitador magntico durante 1 hora e, em
seguida foi filtrado atravs de papel de filtro. Cinco mililitros deste filtrado foram
Padro
Clculo
o teor de taninos foi calculado em porcentagem atravs da equao:
42Material e Mtodos
% taninos = 62,S (A1 - A~'> mgA3 m1
Onde: A1= valor de absorbncia dos polifenis totais a 760 nm; A2= valor de
absorbncia dos polifenis no adsorvidos pelo p de pele a 760 nm; A3= valor de
absorbncia do padro de pirogalol a 760 nm; m1= massa da amostra analisada
(droga vegetal ou extrato hidroetanlico liofilizado) em gramas; mr massa dopirogalol em gramas.
Imediatamente antes do uso, 50,0 mg de pirogalol (Merck) foram diludos em
gua em um balo volumtrico de 100 mL. 2 mL desta soluo foram adicionados
1 mL do reagente fosfomolibdotngstico e 10 mL de gua destilada em balo
volumtrico de 25 mL e o volume foi completado com a soluo de carbonato de
sdio. Aps 30 minutos, realizou-se a leitura da absorbncia a 760 nm (A3) , usando
gua como branco.
o mesmo procedimento foi realizado utilizando-se o filtrado obtido a partir doextrato hidroetanlico liofilizado (F3).
diludos com gua destilada em balo volumtrico de 25 mL. 2 mL desta soluo
foram adicionados 1 mL do reagente fosfomolibdotngstico e 10 mL de gua
destilada em balo volumtrico de 25 mL e o volume foi completado com a soluo
de carbonato de sdio. Aps 30 minutos, fez-se a leitura da absorbncia a 760 nm
(A2) , usando gua como branco.
Pd = mfx 100mi
Quantidade de 2 g de droga vegetaJ e 2 g do extrato hidroetanlico liofilizado
foram levados estufa a 100 C, separadamente, por 6 horas. Aps resfriamento do
cadinho de porcelana em dessecador, os mesmos foram pesados at que a massa
entre as pesagens no diferisse em mais de5 mg, em 3 pesagens consecutivas. A
determinao de gua foi calculada em porcentagem em relao massa da
amostra inicial atravs da frmula:
Material e Mtodos
4.2.8- Determinao de gua no p da droga e no EHL
43
Onde: Pd = determinao de gua em porcentagem; mi = massa inicial da amostra
em gramas; mf = massa final da amostra, aps a secagem, em gramas.
4.3- Aspectos farmacolgicos
4.3.1- Atividade antimalrica e antileishmania dos extratos hidroetanlico
liofilizado (EHL) e clorofrmico
- Atividade antimalrica
Animais
O biotrio da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo
ofereceu os animais que foram mantidos em caixas esterilizadas com material
absorvente, recebendo gua e alimento ad Iibitum. A infeco com Plasmodium
chabaudi AJ., ocorreu em camundongos BALBlc fmeas. Todos os procedimentos
realizados tiveram aprovao prvia das comisses de tica em Pesquisa do
Instituto de Medicina Tropical de So Paulo e do Instituto de Cincias Biomdicas da
Universidade de So Paulo.
Ensaio para determinao da CEso
Camundongos BALBlc foram infectados com 1x 107 P. chabaudi AJ e
avaliados diariamente quanto parasitemia, utilizando-se esfregaos sanguneos
corados com Giemsa e visualizados em microscpio ptico. Quando se verificou a
parasitemia de 15%, os animais sofreram sacrifcio em cmara de C02 e o sangue
Cultura dos Parasitas
- Atividade antileishmania
Analisaram-se os dados pelo softaware Graph Pad Prism 3.0, servindo-se de
uma curva do tipo sigmide dose-resposta.
'",11'1
44Material e Mtodos
A contagem da radiao foi determinada em triplicata em um Espectrmetro
Cintilador Rack Beta WALLAC 1209. Utilizou-se o sulfato de cloroquina (16 ~g/mL)
como controle positivo do ensaio. Parasitas incubados na ausncia de frmacos
serviram como controle de viabilidade do ensaio. DMSO foi incubado nas mesmas
concentraes com os parasitas para se verificar a ausncia de toxicidade e
conseqentemente interferncia no ensaio.
Aps a contagem das hemcias em cmara de Neubauer, determinou-se a
parasitemia e houve a aplicao de 5x106 de Plasmodium/poo em placas de cultura
de 96 poos, com volume final de 150 ~L. Os compostos (5 mg), correspondente aos
extratos hidroetanlico liofilizado e clorofrmico, foram previamente dissolvidos em
DMSO e diludos em meio de cultura RPMI 1640 na concentrao de 100 ~g/mL em
triplicata. A placa foi incubada a 37C em sistema "candle jar" (5% Oz. 5% COz, 90%
Nz) por 6 horas e aps este perodo adicionou-se 1 ~Ci/poo de eH] Hipoxantina
(Amersham) por mais 18 h. Ao final, a placa foi lavada em Cel! Harvester e o
material radiativo aderido ao DNA foi coletado em fibra de vidro no mesmo aparelho.
foi coletado atravs de puno cardaca em tubo contendo soluo de 50 ~L de
liquemine (anticoagulante). O material foi diludo em 3 mL de meio RPMI 1640,
suplementado com 10% de soro fetal bovino e posteriormente centrifugado a 200 G
por 8 minutos, para separao das hemcias.
Cultivaram-se promastigotas de Leishmania (L.) chagasi (cepa M 6445) em
meio M199 suplementado com 10% de soro fetal bovino, 0,25% de hemina e a 24C.
Hamsters Gold foram infectados periodicamente para manuteno da cepa, sendo
utilizados nos ensaios as formas promastigotas de no mximo trs passagens em
cultura.
Material e Mtodos
Ensaio de Viabilidade Celular- MTT
A viabilidade das formas promastigotas e macrfagos nos ensaios "in vitro",
foram verificados pejo mtodo do MTT (TADA et aI, 1986). O MTT (3-[4,5-
Dimetiltiazol-2-i1]-2,5-difenil-tetrazoJium brometo) um cromgeno que age como
substrato no processo respiratrio oxidativo de mitocndrias. Devido s
desidrogenases mitocondriais da clula, este produto reduzido a seu subproduto
formazan. Assim, atravs da leitura da densidade ptica (0.0.) a 570 nm possvel
quantificar as clulas viveis do sistema utilizado.
O MTT, na forma de um p amarelo fino, foi dissolvido em meio RPMI-PR
na concentrao de 5mg/ml, e posteriormente esterilizado por filtrao em
membrana de 0,22~m. O MTT (20~lIpoo) foi aplicado e a placa incubada na sua
respectiva temperatura (24C Leishmania e 37C macrfagos peritoniais) por 4
horas. Aps este perodo, adicionou-se 1OO~lIpoo de SOS 10% (dodecil sulfato de
sdio), e aps 18 horas realizou-se a leitura da 0.0. a 570nm, em espectrofotmetro
Labsystems Multiskan MS.
Determinao da Concentrao Efetiva 50% (CEso)
Utilizando-se promastigotas de Leishmania (L.) chagasi determinou-se a
CEso dos extratos, hidroetanlico liofilizado e c1orofrmico, que indica a
concentrao necessria para matar 50% dos parasitas na cultura.
Diluiu-se o composto em anlise (triplicata) em meio RPMI-PR 1640, nas
concentraes iniciais de 1OO~g/mL em placa de 96 poos. Aplicou-se 1x1 06
promastigotas/poo e em seguida incubou-se a placa 24 C por 24 horas.
Verificou-se a viabilidade dos promastigotas atravs do ensaio com MTT,
conforme descrito anteriormente. Os dados foram analisados pelo Softaware Graph
Pad Prism 3.0, utilizando-se uma curva do tipo sigmide dose-resposta.
Material e Mtodos
4.3.2- Atividade antilcera aguda
Animais
Ratos Wistar Hannover fmeas, pesando entre 150g a 180g, provenientes
do Biotrio da Faculdade de Cincias Farmacuticas da Universidade de So Paulo,
foram mantidos em gaiolas apropriadas recebendo rao e gua ad libitum por 5
dias antes do incio do experimento; o ciclo de claro-escuro de 12/12h foi obedecido.
Os testes realizaram-se com lotes de 8 animais controle e 8 animais teste; o
experimento baseou-se na metodologia de MIZUI & DOTEUCHI, (1983) e BACCHI,
(1988).
Ensaio
A avaliao da atividade antilcera do extrato hidroetanlico liofilizado (EHL)
ocorreu atravs do modelo de induo com cido clordrico e etano!.
Respeitado o perodo de adaptao, os ratos foram mantidos em Jejum
durante 24 horas. Em seguida, administrou-se o EHL, via oral, na dose de 400
mg/kg de massa corprea do animal, em suspenso aquosa na concentrao de 40
mg/mL.
Para o grupo controle foi administrado o mesmo volume de gua (10 mLlkg
ou 1 mL por 100g do animal). O c1oridrato de ranitidina, administrado via oral, na
dose de 100 ~g/kg serviu como controle positivo. Aps 30 minutos, usou-se, por via
oral, o agente indutor de lceras HCI 0,3 M em etanol 60%.
Decorrido uma hora, os animais foram anestesiados e mortos com ter. Os
estmagos foram retirados e abertos pela curvatura maior e fixados entre placas de
vidro para avaliao das ulceraes.
Realizou-se a avaliao das ulceraes atravs de dois parmetros: rea
Total de Leso (ATL) e rea Relativa de Leso (ARL). A ATL foi calculada somando-
se as reas de todas as lceras, sendo expressa em mm2. Para a medida das reas
utilizou-se o programa Image Pro Plus. A ARL foi calculada atravs da frmula
conforme descrita a seguir:
Anlise dos Resultados
Candida albicans (ATCC 10231)
Escherichia col (ATCC 10536)
47Material e Mtodos
Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027)
Aspergillus niger (ATCC 16404)
Staphy/ococcus aureus (ATCC 6538)
Na avaliao da atividade antimicrobiana do extrato hidroetanlico liofilizado
empregaram-se os seguintes microrganismos:
4.3.3- Atividade antimicrobiana do EHL em bactrias, leveduras e bolor
Microrganismos empregados
Avaliaram-se os resultados atravs de anlise de varincia, com nvel crtico
igualou menor a 0,05 (5%) para rejeio da hiptese de nulidade, seguido de Tukey
(SOKAL e ROHLF, 1969). Os dados expressos em porcentagem (rea Relativa de
Leso) foram previamente transformados em arcosseno, para posterior anlise
estatstica.
I ARL = ATUAT x 100
Onde, ARL = rea Relativa de Leso expressa em porcentagem; ATL = rea Total
de Leso em mm2; AT= rea Total do Estmago em mm2.
Determinao da atividade antimicrobiana
Preparao das solues padres dos antibiticos
Para os meios de cultura utilizados, caldo e gar de casena soja (TSS e TSA)
e gar de sabouraud dextrose a 4%, seguiu-se as instrues do fabricante.
48Material e Mtodos
Os padres secundrios de c1oranfenicol, amicacina e nistatina foram
dissolvidos com gua destilada at obteno da concentrao de 1mg/mL.
Utilizaram-se o c1oranfenicol no ensaio para Staphylococcus aureus e Escherichia
col, a amicacina em Pseudomonas aeruginosa e a nistatina em Candida albicans e
Aspergillus niger.
A partir de culturas estoques, as bactrias foram repicadas em estrias na
superfcie de meio de cultura gar casena soja inclinado e incubadas a 30-35 Co por
24 horas. Repicou-se a levedura em meio de gar sabouraud dextrose a 4%, sendo
incubada a 20 - 25Co, por 48 horas.
A massa celular resultante do crescimento foi recolhida em 9mL de soluo
salina 0,85% (p/v) estril e a suspenso obtida foi padronizada conforme
metodologia para padronizao da suspenso microbiana.
Meios de cultura
O procedimento do teste para determinao da concentrao mnima inibitria,
pela tcnica de microdiJuio em caldo uma adaptao do procedimento que se
serve de tubos, adaptando-se os volumes de inculo, amostra e meio de cultura
para 200 f.tL. A partir da suspenso padronizada de cada microrganismo, efetuaram-
se as diluies necessrias com soluo salina estril e caldo casena soja (TSS),
para se obter solues com 104 a 105 UFC/mL.
Material e Mtodos
A microplaca utilizada possui 96 alvolos divididos em 12 colunas, com 8 poos
cada. As quatro primeiras colunas serviram como controles (controle do meio de
cultura, controle do solvente, controle do crescimento e controle positivo).
Na primeira coluna foram adicionados 200J.lL de meio de cultura TSB ou SOB;
na segunda coluna, 180-190J.lL de meio de cultura sem microrganismo e 10-20J.lL de
solvente (etanol 70%); na terceira coluna foram adicionados 200J.lL de meio de
cultura inoculado com o microrganismo e na quarta coluna foram adicionados 10J.lL
do antibitico e 190J.lL de meio de cultura inoculado com o microrganismo.
As colunas restantes serviram ao teste propriamente dito, sendo uma coluna
destinada ao controle da tintura e as outras trs colunas para cada tintura testada.
Em cada coluna adicionou-se 10-20 J.lL da amostra e 180-190J.lL de meio TSB ou
SOB inoculado.
Aps incubao de 24-48 horas a 35C ou 5-7 dias a 25C, foi realizada a
leitura das microplacas por espectrofotometria, com detector de Elisa a 630 nm.
Resultados
5 - Resultados
5.1- Aspectos botnicos
5.1.1- Caracterizao macroscpica de folhas
5.1.2 - Caracterizao microscpica de folhas e caule
5.1.2.1- Folha
5.1.2.2- Caule
5.2- Aspectos qumicos
5.2.1- Triagem fitoqumica
5.2.2- Rendimento do leo essencial
5.2.2.1- Cromatografia em fase gasosa do leo essencial
5.2.2.2- Composio qumica do leo essencial
5.2.2.3- Espectro de massas dos componentes majoritrios identificados no leo essencial de
A. austra/e de diferentes coletas da regio de lacri - SP.
5.2.3- Comparao dos rendimentos de diferentes extratos de Acanthospermum austra/e
(Loefl.) O. Kuntze
5.2.4- Perfil cromatogrfico dos extratos clorofrmico e hexnico
5.2.5- Isolamento da frao F4 CHCls por cromatografia em camada delgada preparativa e
identificao por Cromatgrafo a gs/Espectro de massa
5.2.6- Perfil cromatogrfico dos extratos aquoso, acetona:gua, clorofrmico e hdroetanlico
70% e isolamento da substncia F3.
5.2.7- Cromatgrafo a gs/Espectro de massa dos extratos acetona:gua, etanol 70%,
clorofrmico e da frao isolada F3
5.2.8- Doseamento de taninos no p da droga e no EHL
5.2.9- Determinao de gua no p da droga e no EHL
5.3- Aspectos farmacolgicos
5.3.1- Atividade antimalrica e antileishmania do EHL e do extrato clorofrmico
5.3.2- Atividade antilcera aguda
5.3.3- Atividade antimicrobiana do EHL em bactrias, leveduras e bolor
Resultados
5.1- Aspectos botnicos
5.1.1- Caracterizao macroscpica de folhas
A
52
BFigura 9: Acanthospermum australe (Loefl.) O. Kuntze: A- folhas frescas; B- droga
vegetal.
As folhas podem se apresentar inteiras ou fragmentadas, de consistncia
membrancea, superfcie lisa, pilosa, possuindo colorao verde em ambas as
faces, sendo um pouco mais escura na epiderme superior. Quando transformadas
em drogas, apresentam-se enroladas e so friveis; a colorao marrom-castanha. 111
Apresentam fraco odor aromtico, com leve sabor mucilaginoso e amargo.~I
O contorno foliar romboidal a oval, apresentando de 1,5 a 4,5 cm de I!I
comprimento, por 1,0 a 3,0 cm de largura, sendo que em muitos casos, comprimento
Resultados
e a largura so equivalentes. A base foliar geralmente simtrica, o pice obtuso,
a margem denteada a sinuosa e a nervao peninrvea (figura 9A).
O pecolo (figura 9A), piloso na base, de insero lateral, sendo reto e
achatado. A seco transversal canaletada (cncavo-convexa).
5.1.2- Caracterizao microscpica de folhas e caules
5.1.2.1- Folha
- Lmina fotiar
A epiderme de face adaxial, em corte paradrmico, mostra clulas poligonais
de contorno levemente ondeado (figura 10C) com estmatos bastante freqentes,
sendo do tipo anomoctico (figuras 10A e 10C). Na face abaxial, as clulas
poligonais apresentam contorno sinuoso (figura 10B); os estmatos, tambm
freqentes, so anomocticos. H certo grau de espessamento celulsico nas
paredes celulares de ambas as epidermes, sendo a cutcula lisa em ambas as faces
(figuras 10A, 10B e 10C).
Anexos epidrmicos como os tricomas tectores de forma cnica podem ser
observados no mesofilo (figura 11C), na regio de nervura mediana (figuras 11A e
12B), no pecolo (figura 13C) e no caule (figura 14A), podendo ser do tipo bicelulares
unisseriados (figura 11 C) a pluricelulares unisseriados (figuras 100 e 13C); o
espessamento de suas paredes reduzido e a superfcie externa lisa.
Atravs da figura 11C possvel observar que o mesofilo dorsiventral,
apresentando uma nica camada de parnquima palidico (figura 110) e seis a
sete camadas de parnquima lacunoso (figura 11 E); as clulas do parnquima 11
palidico esto voltadas para a face adaxial (figura 11 B), enquanto que as do ~I
parnquima lacunoso (ou esponjoso) para a superfcie abaxial.
Resultados 54